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Juiz de Fora
2021
Yago Pereira dos Anjos Santos
Juiz de Fora
2021
Ficha catalográfica elaborada através do Modelo Latex do CDC da UFJF
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
The main purpose of this work is to demonstrate the equivalences between the
Axiom of Choice, Zorn’s Lemma and Zermelo’s Theorem. We start by defining fundamental
concepts such as function, partial order, and families and then formally introduce the
aforementioned statements. We first present the Axiom of Choice and some of its applica-
tions, such as the result that states that every infinite set has an infinitely enumerable
subset. Then, Zorn’s Lemma is presented followed by some applications, among which
is the result that states that every vector space has a base. We then define the concept
of a well-ordered set and present an application of this concept, namely the Principle of
Transfinite Induction, and then formalize the statement of Zermelo’s Theorem. Finally,
for the final result, we prove, in the following order, that: The Axiom of Choice implies
Zorn’s Lemma; Zorn’s Lemma implies Zermelo’s Theorem; Zermelo’s Theorem implies the
Axiom of Choice.
2x + 1
Figura 3.2.1 – Gráfico da função f : N × N → R definida por f (x, y) = . 38
2y
Figura 5.0.1 – Uma ilustração do Axioma da Escolha. Por: Fschwarzentruber. 46
LISTA DE SÍMBOLOS
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.1 UMA BREVE HISTÓRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 OS AXIOMAS DE ZERMELO-FRAENKEL . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 RELAÇÕES E FUNÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.1 RELAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.2 DOMÍNIO E IMAGEM DE UMA RELAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.3 PROPRIEDADES DAS RELAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.4 FUNÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3 ORDEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.1 CONJUNTOS PARCIALMENTE ORDENADOS . . . . . . . . . . . . 35
3.2 ORDEM TOTAL E ELEMENTOS NOTÁVEIS EM CONJUNTOS
PARCIALMENTE ORDENADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4 FAMÍLIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5 AXIOMA DA ESCOLHA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.1 APLICAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.1.1 CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO DE VITALI . . . . . . . . . . . . . . 51
6 LEMA DE ZORN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.1 APLICAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
7 TEOREMA DE ZERMELO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
8 RESULTADO FINAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
21
1 INTRODUÇÃO
2 PRELIMINARES
Este axioma nos diz que existe um conjunto que não possui elementos, isto é, um
conjunto X tal que, para todo elemento x, x ∈ / X. Algumas abordagens na literatura
formulam este axioma de outra maneira dizendo apenas que existe um conjunto e a
existência do conjunto vazio decorre de outro axioma. Quando a Teoria dos Conjuntos é
abordada com o rigor de uma lógica de primeira ordem, é possível garantir que o universo
em que trabalhamos é não vazio, de modo que o Axioma da Existência pode ser omitido
26
Conhecendo o fato de que o conjunto vazio é único, vamos denotá-lo pelo símbolo:
∅.
B = {x ∈ A ; S(x)}.
27
Teorema 2.1.2 (Paradoxo de Russell). Para todo conjunto X, existe um conjunto A tal
que A ∈
/ X.
Demonstração. Suponhamos que exista um conjunto X tal que, para todo conjunto Y ,
Y ∈ X. Pelo Axioma da Especificação, existe o conjunto Z = {A ∈ X ; A ∈ / A}. Pela
definição do conjunto X, temos, em particular, Z ∈ X e, diante disso, Z ∈ Z se, e somente
se, Z ∈/ Z. Absurdo.
Teorema 2.1.3. Dado um conjunto não vazio X existe um conjunto Y tal que Z ∈ Y se,
e somente se, Z ∈ B para todo B ∈ X.
B∈X
não vazia de conjuntos, ou interseção da família não vazia de conjuntos, em X.
Axioma do Par. Se X e Y são conjuntos, então existe um conjunto Z tal que A ∈ Z se,
e somente se, A = X ou A = Y .
Axioma da Fundação. Para cada conjunto X não vazio, existe A ∈ X tal que A∩X = ∅.
Axioma da União. Para toda coleção de conjuntos C , existe um conjunto U tal que
A ∈ U se, e somente se, A ∈ X para algum X ∈ C .
Exemplo 2.1.1. Consideremos a coleção de conjuntos C = {∅, {∅}}. Então, pelo Axioma
da União, existe A = {∅}.
[
A∈C
B∈C
Agora, dado A ∈ Z, existe B ∈ C tal que A ∈ B. Visto que B = X ou B = Y , segue que
A ∈ X ou A ∈ Y . Portanto, A ∈ Z se, e somente se, A ∈ X ou A ∈ Y .
Axioma da Substituição. Seja P (x, y) uma sentença. Suponha que para todos x, y, z,
P (x, y) e P (x, z) implica y = z. Então, para todo conjunto X, existe o conjunto
{y ; P (x, y) para algum x ∈ X}.
Axioma da Potência. Para cada conjunto X existe um conjunto P tal que A ∈ P se, e
somente se, A ⊂ X.
Teorema 2.1.7. Sejam X e Y conjuntos. Então existe um único conjunto contendo todos
os pares ordenados (x, y) com x ∈ X e y ∈ Y .
I∈C
Demonstração. Como ∅ ∈ I para todo conjunto indutivo, segue que ∅ ∈ J. Agora, seja
A ∈ J. Então A ∈ I para todo I indutivo. Portanto, A+ ∈ I para todo conjunto I ∈ C ,
isto é, A+ ∈ J.
X∈A
2.2.1 RELAÇÕES
Seja R uma relação em um conjunto X não vazio. A seguir, listamos algumas pro-
priedades que a relação R pode possuir e que a torna interessante em certas circunstâncias.
Dados x, y, z ∈ X:
(a) A relação R = {(a, a), (b, b), (c, c), (c, a)} ⊆ X × X é reflexiva. No entanto, S =
{(c, c), (c, a), (a, b)} ⊆ X × X não é reflexiva, uma vez que (a, a), (b, b) ∈
/ S.
(b) A relação R = {(b, b), (a, c), (c, a)} ⊆ X × X é simétrica em X, enquanto que
S = {(a, a), (c, b)} ⊆ X × X não é uma relação simétrica em X.
(c) A relação R = {(b, b), (c, a), (a, b), (c, b)} ⊆ X × X é transitiva em X. Contudo,
S = {(a, a), (b, c), (c, a)} ⊆ X × X não é uma relação transitiva em X.
32
(d) A relação R = {(a, a), (b, b), (a, c), (c, b)} ⊆ X × X é antissimétrica em X. Porém,
S = {(a, a), (a, c), (c, a)} ⊆ X × X não é uma relação antissimétrica em X.
Definição 2.2.5. Seja X um conjunto não vazio. Dizemos que P ⊂ P(X)\{∅} é uma
partição de X se:
(1) A, B ∈ P implica em A = B ou A ∩ B = ∅;
(2) X =
[
A.
A∈P
x∈X
portanto, x ⊂ X. Agora, seja u ∈ X. Então, como ∼ é uma relação de equivalência,
[
x∈X
vale a propriedade reflexiva, isto é, u ∼ u. Desta forma, u ∈ u e, como u ⊂ x, temos
[
[ x∈X
u∈ x.
x∈X
Portanto, X =
[
x.
x∈X
2.2.4 FUNÇÕES
Definição 2.2.8. Dizemos que uma função f : X → Y é sobrejetora se, para todo y ∈ Y ,
existe x ∈ X tal que y = f (x).
3 ORDEM
Definição 3.1.1. Seja X um conjunto não vazio. Uma relação de ordem parcial em X,
denotada por , é uma relação que possui as propriedades reflexiva, antissimétrica e
transitiva.
Neste caso, (X, ) é dito parcialmente ordenado. A seguir, são apresentados alguns
exemplos de conjuntos parcialmente ordenados.
Exemplo 3.1.1. Seja A um conjunto não vazio. Considere o conjunto P(A) das partes
de A. Então, P(A) é parcialmente ordenado com a relação de inclusão.
De fato, sejam X, Y, Z ∈ P(A).
Propriedade Reflexiva: É claro, pois X ⊆ X ∀X ∈ P(A).
Propriedade Antissimétrica: Se X ⊆ Y e Y ⊆ X, então os conjuntos X e Y
possuem os mesmos elementos. Portanto, segue do Axioma da Extensão que X = Y .
Propriedade Transitiva: Suponhamos que X ⊆ Y e Y ⊆ Z. Dado a ∈ X, como
X ⊆ Y , temos a ∈ Y . Visto que Y ⊆ Z, temos a ∈ Z. Logo, X ⊆ Z.
Portanto, o conjunto P(A) com a relação de inclusão é parcialmente ordenado.
(x, y) (z, w) ⇔ (2x + 1)2w ≤ (2z + 1)2y para todo (x, y), (z, w) ∈ N × N,
Exemplo 3.1.4. Considere novamente o conjunto N × N, desta vez com outra relação
tal que, para todo (x, y), (z, w) ∈ N × N:
Exemplo 3.2.1. O conjunto P(A) como no Exemplo 3.1.1 é totalmente ordenado se, e
somente se, ou A é o conjunto vazio ou é um conjunto unitário.
(⇒) Com efeito, suponhamos A 6= ∅. Então, existe a ∈ A, isto é, {a} ∈ P(A).
Seja x ∈ A. Como {x}, {a} são elementos do conjunto totalmente ordenado P(A), temos
{x} ⊆ {a} ou {a} ⊆ {x}. Em ambos os casos, x = a, de modo que todo elemento de A é
igual a a. Portanto, A = {a}.
(⇐) Reciprocamente, se A = ∅, então P(A) = {∅}. Assim, se X, Y ∈ P(A) então
X = Y = ∅. Consequentemente, X ⊆ Y e Y ⊆ X. Logo, P(A) é totalmente ordenado.
Por outro lado, suponhamos que A = {u}. Então, P(A) = {∅, {u}}. Sejam X, Y ∈ P(A)
tais que X = ∅ e Y = {u}. Segue que X ⊆ Y . Portanto, P(A) é totalmente ordenado.
Com efeito, suponhamos que (0, 0) não seja o menor elemento de N × N. Isto
significa que existe (x, y) ∈ N × N tal que (x, y) (0, 0) e (x, y) 6= (0, 0). Então, temos
x < 0 ou x = 0 e y ≤ 0. Como x ∈ N, x = 0 e y ≤ 0. Da mesma forma, y = 0. Assim,
(x, y) = (0, 0), uma contradição. Portanto, (0, 0) é o menor elemento de N × N.
2x + 1
– Figura 3.2.1 – Gráfico da função f : N × N → R definida por f (x, y) = .
2y
Observação. Para X conjunto não vazio e não unitário, P(X)\{∅} não possui menor
elemento.
De fato, suponhamos que P(X)\{∅} possua o menor elemento A. Então, A ⊂ B
para todo B ∈ P(X)\{∅}. Em particular, A ⊂ {x} e A ⊂ {y}, para x, y ∈ X, x 6= y, o
que implica A = {x} e A = {y}. Isso contraria a unicidade do menor elemento. Logo,
P(X)\{∅} não possui menor elemento.
4 FAMÍLIAS
Definição 4.0.1. Seja X um conjunto não vazio. Uma família em é uma função x : I → X,
onde o conjunto não vazio I, domínio da função, é chamado de conjunto de índices e
cada elemento i ∈ I é chamado de índice. A imagem da função x é chamada de conjunto
indexado e cada x(i) = xi ∈ X é chamado de termo da família.
Definição 4.0.2. Seja {Ai }i∈I uma família de subconjuntos de um conjunto não vazio X.
A união da família {Ai }i∈I é a união de todos os seus termos Ai com i ∈ I.
i∈I i∈I
para algum i ∈ I.
Definição 4.0.3. Seja {Ai }i∈I uma família não vazia de conjuntos não vazios. A interseção
da família {Ai }i∈I é a interseção de todos os seus termos Ai , onde i ∈ I.
i∈I i∈I
para todo i ∈ I.
Naturalmente, podemos generalizar as leis associativa e comutativa para a união
de famílias.
k∈K
( Ai ).
[ [
j∈J i∈Ij
k∈K
existe j0 ∈ J tal que k0 ∈ Ij0 . Assim, a ∈ Ak0 ⊂ ( Ai ). Portanto,
[ [ [
Ai ⊂
i∈Ij0 j∈J i∈Ij
( Ai ).
[ [
a∈
j∈J i∈Ij
42
j∈J k∈K
k∈K i∈K
k∈K
é uma função bijetora, existe i0 ∈ K tal que k0 = xi0 . Visto que Axi0 ⊂ Axi , temos
[
i∈K
Axi .
[
a∈
i∈K
Seja a ∈ Axi . Então, existe i0 ∈ K tal que a ∈ Axi0 . Como xi0 ∈ K, segue que
[
i∈K
Ak e, consequentemente, a ∈ Ak .
[ [
Axi0 ⊂
k∈K k∈K
Proposição 4.0.3. Sejam {Ai }i∈I e {Bj }j∈J famílias de subconjuntos de um conjunto
não vazio X. Então:
1. ( Ai ) ∩ ( Bj ) = (Ai ∩ Bj );
[ [ [
2. ( Ai ) ∪ ( Bj ) = (Ai ∪ Bj ).
\ \ \
(i,j)∈I×J
(i,j)∈I×J
Consequentemente, x ∈ Ai0 e x ∈ Bj0 , com i0 ∈ I e j0 ∈ J. Daí, x ∈ Ai e x ∈ Bj .
[ [
i∈I j∈J
Logo, x ∈ ( Ai ) ∩ ( Bj ).
[ [
i∈I j∈J
(i,j)∈I×J
Bj , obtemos, de modo análogo, x ∈ (Ai ∪ Bj ).
\ \
x∈
j∈J (i,j)∈I×J
(i,j)∈I×J
Suponhamos que x ∈ Ai . Daí, x ∈
/ Ai0 para algum i0 ∈ I. Porém, x ∈ Ai0 ∪ Bj
\
/
i∈I
para todo (i0 , j) ∈ I × J. Assim, x ∈ Bj para todo j ∈ J, e portanto x ∈ Bj . Logo,
\
i∈J
x∈( Ai ) ∪ ( Bj ).
\ \
i∈I j∈J
Definição 4.0.4. Seja {Xi }i∈I uma família de conjuntos não vazios. Definimos o produto
cartesiano da família {Xi }i∈I como o conjunto de todas as famílias {xi }i∈I em Xi tais
[
i∈I
que xi ∈ Xi para cada i ∈ I.
i∈I
44
45
5 AXIOMA DA ESCOLHA
Proposição 5.0.1. Seja {Xi }i∈In uma família finita de conjuntos. Então, o produto
n
cartesiano Xi = ∅ se, e somente se, Xj = ∅ para algum j ∈ In .
Y
i=1
i=1
Agora, suponhamos que exista uma família {xi }i∈I2 tal que xi ∈ Xi para todo
i ∈ I2 . Então, Xi 6= ∅ para i = 1, 2. Reciprocamente, se X1 6= ∅ e X2 6= ∅, existem x1 ∈ X1
e x2 ∈ X2 . Daí, obtemos uma família {xi }i∈I2 tal que xi ∈ Xi para todo i ∈ I2 . Logo, o
2
produto cartesiano Xi é não vazio. Portanto, 2 ∈ S.
Y
i=1
(ii) Supondo que k ∈ S, provaremos que k + 1 ∈ S.
Suponhamos que exista uma família {xi }i∈Ik+1 tal que xi ∈ Xi para todo i ∈ Ik+1 .
Segue imediatamente que Xi 6= ∅ para cada i ∈ Ik+1 . Reciprocamente, consideremos a
família {Xi }i∈Ik+1 . Suponhamos que Xi 6= ∅ para todo i ∈ Ik+1 . Em particular, Xi = 6 ∅
para todo i ∈ Ik . Por hipótese, existe uma família {xi }i∈Ik tal que xi ∈ Xi para cada i ∈ Ik .
Além disso, o conjunto Xk+1 6= ∅ e, consequentemente, existe xk+1 ∈ Xk+1 . Definimos
a família {xj }j∈Ik+1 de maneira que xj = xi se i = j e j ∈ Ik , e xj = xk+1 se j = k + 1.
Desta forma, obtemos uma família finita {xj }j∈Ik+1 tal que xj ∈ Xj para todo j ∈ Ik+1 .
Logo, k + 1 ∈ S.
Portanto, pelo Princípio da Indução Finita, S = N∗ .
A proposição anterior nos garante que se tivermos uma família finita de conjuntos
não vazios, então o produto cartesiano dos conjuntos dessa família também é não vazio.
A princípio, não é claro que o resultado seja válido para coleções infinitas de conjuntos.
46
O nosso próximo passo é generalizar esse resultado para o caso de famílias arbitrárias de
conjuntos.
Definição 5.0.1. Seja C uma coleção não vazia de conjuntos não vazios. Uma função
escolha para C é uma função f : C → A tal que f (A) ∈ A para todo A ∈ C .
[
A∈C
Exemplo 5.0.1. Seja C o conjunto de todos os países da Terra, sendo cada país um
conjunto de cidades. Então, C é uma coleção não vazia de conjuntos não vazios e Aé
[
A∈C
o conjunto de todas as cidades da Terra. A função f : C → A que associa a cada país
[
A∈C
sua cidade capital é uma função escolha para C .
A∈C
min(A), onde min(A) denota o menor elemento de A, é uma função escolha para C . O
Princípio da Boa Ordem em N nos diz que a função f está bem definida.
Axioma da Escolha. Para toda coleção não vazia de conjuntos não vazios existe uma
função escolha.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=48219447
(2) o produto cartesiano de uma coleção não vazia de conjuntos não vazios é não vazio;
47
(3) se {Xλ }λ∈Λ é uma coleção não vazia de conjuntos não vazios dois a dois disjuntos,
então existe um conjunto A tal que A ∩ Xλ é um conjunto unitário para cada λ ∈ Λ;
Demonstração. (1) ⇒ (2): Seja C uma coleção de conjuntos não vazios. Por hipótese,
existe uma função f : C → A tal que f (A) ∈ A. Note que f é um elemento do produto
[
A∈C
cartesiano dos conjuntos em C . Portanto, segue o resultado.
(2) ⇒ (1): Seja C uma coleção de conjuntos não vazios, digamos, C = {A}A∈C .
Por hipótese, existe uma família f : C → A tal que f (A) ∈ A, isto é, um elemento do
[
A∈C
produto cartesiano dos conjuntos em C . Por definição de função escolha, segue que f é
uma função escolha para C .
(1) ⇒ (3): Seja {Xλ }λ∈Λ uma coleção não vazia de conjuntos não vazios dois a
dois disjuntos. Pelo Axioma da Escolha, existe uma família {xλ }λ∈Λ tal que xλ ∈ Xλ para
todo λ ∈ Λ. Tomemos A = {xλ ; λ ∈ Λ}.
Afirmação: A ∩ Xλ = {xλ } para cada λ ∈ Λ.
Com efeito, seja λ0 ∈ Λ.
(i) {xλ0 } ⊂ A ∩ Xλ0 : Como xλ0 ∈ A e xλ0 ∈ Xλ0 , vale a inclusão.
(ii) A ∩ Xλ0 ⊂ {xλ0 }: Suponhamos que essa inclusão não seja verdadeira. Então,
existe xλ ∈ A ∩ Xλ0 tal que xλ 6= xλ0 . Consequentemente, λ 6= λ0 e xλ ∈ Xλ ∩ Xλ0 , o que
é uma contradição do fato dos conjuntos da coleção {Xλ }λ∈Λ serem dois a dois disjuntos.
Portanto, a inclusão é verdadeira.
Logo, A ∩ Xλ é um conjunto unitário para cada λ ∈ Λ.
(3) ⇒ (1): Seja {Xλ }λ∈Λ uma coleção não vazia de conjuntos não vazios. Para cada
λ ∈ Λ, consideremos Aλ = {Xλ } × Xλ . Assim, obtemos a coleção de conjuntos {Aλ }λ∈Λ .
Para cada λ ∈ Λ, o conjunto Aλ 6= ∅, pois Xλ ∈ {Xλ } e Xλ 6= ∅. Além disso, (x, y) ∈ Aλ
se, e somente se, x = Xλ e y ∈ Xλ , λ ∈ Λ. Portanto, um elemento do conjunto Aλ é um
par ordenado (Xλ , xλ ) tal que xλ ∈ Xλ .
Afirmação 1: Dados Aλ1 e Aλ2 , tem-se Aλ1 ∩ Aλ2 = ∅ ou Aλ1 = Aλ2 .
Com efeito, suponhamos que Aλ1 ∩ Aλ2 6= ∅. Assim, existe a ∈ Aλ1 ∩ Aλ2 e,
consequentemente, a = (Xλ1 , xλ1 ) e a = (Xλ2 , xλ2 ) tal que xλ1 ∈ Xλ1 e xλ2 ∈ Xλ2 . Daí,
(Xλ1 , xλ1 ) = (Xλ2 , xλ2 ) e, em particular, Xλ1 = Xλ2 . Logo, Aλ1 = Aλ2 .
Diante disso, {Aλ }λ∈Λ é uma coleção não vazia de conjuntos não vazios dois a dois
disjuntos. Assim, existe um conjunto A tal que A ∩ Aλ = {(Xλ , xλ )} para cada λ ∈ Λ.
Tomemos f = {(Xλ , xλ ) ; (Xλ , xλ ) ∈ A ∩ Aλ para cada λ ∈ Λ} ⊂ {Xλ }λ∈Λ × Xλ .
[
λ∈Λ
Afirmação 2: f é uma função.
48
λ∈Λ
para todo λ ∈ Λ, isto é, f é uma função escolha para {Xλ }λ∈Λ . Portanto, vale o Axioma
da Escolha.
(1) ⇒ (4): Seja R ⊂ A × B uma relação. O domínio de R é o conjunto D(R) =
{a ∈ A ; (a, b) ∈ R para algum b ∈ B}. Para cada a ∈ D(R), definamos Xa = {b ∈
B ; (a, b) ∈ R}. Note que Xa 6= ∅. Desta forma, obtemos a família não vazia de
conjuntos não vazios {Xa }a∈D(R) . Pelo Axioma da Escolha, existe uma função escolha
f : {Xa }a∈D(R) → Xa tal que f (Xa ) = xa ∈ Xa para cada a ∈ D(R). Portanto,
[
[ a∈D(R)
x : D(R) → Xa dada por x(a) = xa para todo a ∈ D(R) é uma função. Mais
a∈D(R)
especificamente, o subconjunto de R, {(a, xa ) ; a ∈ D(R)} é uma função.
(4) ⇒ (1): Seja C uma coleção não vazia de conjuntos não vazios. Considere a
relação R = {(A, a) ; A ∈ C e a ∈ A}. Notemos que R é um subconjunto de C × Ae
[
A∈C
uma relação com domínio C . Por hipótese, R contém uma função f com o mesmo domínio.
Assim, para cada A ∈ C , existe um único f (A) ∈ A tal que (A, f (A)) ∈ f . Portanto,
f :C → A é uma função escolha em C .
[
A∈C
5.1 APLICAÇÕES
A∈C
particular, temos u ⊆ N∗ × X. Uma vez que (1, a) ∈ A para todo A ∈ C , temos (1, a) ∈ u.
Agora, suponhamos que (n, x) ∈ u. Então, para cada A ∈ C , tem-se (n, x) ∈ A, de modo
que (n + 1, f (x)) ∈ A. Assim, (n + 1, f (x)) ∈ u. Logo, u ∈ C .
Afirmação: u é uma função.
Seja S = {n ∈ N∗ ; (n, x) ∈ u para um único x ∈ X}. Note que 1 ∈ S. Com
efeito, suponhamos que 1 ∈ / S. Então, para algum b ∈ X, b 6= a, tem-se (1, b) ∈ u.
Assim, (1, a) ∈ u \{(1, b)}. Além disso, se (n, x) ∈ u \{(1, b)}, então (n + 1, f (x)) ∈ u e
(n + 1, f (x)) 6= (1, b). Daí, (n + 1, f (x)) ∈ u \{(1, b)} e, portanto, u \{(1, b)} ∈ C . Logo,
u= A ⊆ u \{(1, b)}, o que implica em u = u \{(1, b)}. Absurdo.
\
A∈C
Suponhamos agora que n ∈ S. Então, existe um único x ∈ X tal que (n, x) ∈ u.
Provaremos que n + 1 ∈ S. De fato, se n + 1 ∈ / S, existe b ∈ X, b 6= f (x), tal que
(n + 1, b) ∈ u. Como 1 6= n + 1 para todo n ∈ N , segue que (1, a) ∈ u \{(n + 1, b)}. Além
∗
Definição 5.1.1. Dizemos que um conjunto infinito Y é enumerável se existe uma função
bijetora g : N∗ → Y .
Teorema 5.1.3. Seja {Xi }i∈N∗ uma coleção de conjuntos enumeráveis. A reunião X =
Xi é enumerável.
[
i∈N∗
(1) ∅, X pertencem a B;
n=1 n=1
cada n ∈ N, µ(Un ) = µ(U ).
∞
Afirmação 2: [0, 1] ⊂ Un ⊂ [−1, 2].
[
n=1
Seja x ∈ [0, 1]. Então, pela definição do conjunto U , existe u ∈ C tal que x ∼ au .
Assim, x − au = r ∈ Q. Como 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ au ≤ 1, segue que −1 ≤ x − au ≤ 1. Logo,
r = rn0 para algum n0 ∈ N e, consequentemente, x = au + rn0 . Disso decorre que x ∈ Un0
∞
e, portanto, x ∈ Un .
[
n=1
∞
Agora, seja x ∈ Un . Então, existe j ∈ N tal que x = au + rj , com au ∈ U . Uma
[
n=1
vez que −1 ≤ rj ≤ 1 e 0 ≤ au ≤ 1, segue que −1 ≤ au + rj ≤ 2. Portanto, x ∈ [−1, 2].
Diante disso,
∞ ∞
1 ≤ µ( Un ) = µ(U ) ≤ 3.
[ X
n=1 n=1
∞ ∞ ∞
Como µ(U ) ≤ 3, decorre que µ(U ) = 0. Por outro lado, 0 < 1 ≤ µ(U ).
X X X
6 LEMA DE ZORN
Apresentaremos neste capítulo o Lema de Zorn, que nos fornece uma condição
suficiente para que um conjunto tenha um elemento maximal. Veremos algumas de suas
aplicações que nos mostrarão a importância desse lema tão conhecido.
6.1 APLICAÇÕES
X = {B ⊂ V ; B é linearmente independente}.
λ∈Λ
cota superior de C em X . De fato, temos Aλ ⊂ A para todo λ ∈ Λ. Além disso, como
C ⊂ X , temos A ⊂ V .
Afirmação 1: A é um conjunto linearmente independente.
Com efeito, seja {v1 , v2 , ..., vn } um subconjunto finito de A. Então, para cada
i = 1, . . . , n, existem αi ∈ Λ tais que vi ∈ Aαi . Como C é totalmente ordenado, existe
α ∈ {αi ; i = 1, . . . , n} tal que Aαi ⊂ Aα para todo i ∈ {1, . . . , n}. Por conseguinte, vi ∈ Aα
n
para todo i = 1, ..., n. Como Aα é linearmente independente, segue que λi vi = ~0 implica
X
i=1
λi = 0. Logo, A é linearmente independente.
Portanto, A ∈ X .
Desta forma, mostramos que X é um conjunto parcialmente ordenado tal que
todo subconjunto totalmente ordenado possui cota superior. Pelo Lema de Zorn, existe
um elemento maximal M ∈ X .
Afirmação 2: M é uma base de V .
Com efeito, se M não for uma base de V , deve existir v ∈ V , v = 6 ~0, que não é
combinação linear dos vetores de M . Assim, o conjunto M ∪{v} é linearmente independente,
o que é um absurdo, pois contraria o fato de M ser elemento maximal de X . Portanto,
M gera o espaço V e é linearmente independente.
Logo, M é uma base de V.
54
Definição 6.1.3. Dizemos que uma sequência (xn )n∈N em um espaço vetorial normado
V converge para um vetor v se, para todo > 0, existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica
kxn − vk < . Neste caso, dizemos que (xn )n∈N é convergente em V .
Definição 6.1.4. Dizemos que uma sequência (xn )n∈N em um espaço vetorial normado V
é uma sequência de Cauchy se, para todo > 0, existe n0 ∈ N tal que m, n > n0 implica
kxm − xn k < .
Neste caso, dizemos que V é um espaço vetorial munido do produto interno h·, ·i.
Um produto interno em um espaço vetorial induz uma norma no espaço como a
seguir.
Demonstração. Sejam u, v ∈ V e λ ∈ K.
q
• Se kuk = 0, então hu, ui = 0 e, assim, hu, ui = 0. Logo, u = ~0, pois caso contrário,
hu, ui > 0. Agora, suponhamos que u = ~0. Dado v ∈ V , temos h~0, vi = 0.
Com efeito,
h~0, vi = h~0 + ~0, vi = h~0, vi + h~0, vi ⇒ h~0, vi = 0.
q
Em particular, para v = ~0 = u, kuk = hu, ui = 0.
q
• Se u 6= ~0, então hu, ui > 0 e, desta forma, kuk = hu, ui > 0.
Definição 6.1.7 (Espaço de Hilbert). Seja V um espaço vetorial com produto interno.
Dizemos que V é um espaço de Hilbert quando V , munido da norma proveniente do
produto interno, é completo.
56
(1) kuk = 1;
λ∈Λ
C⊂H.
Afirmação 1: C é ortonormal.
Dado u ∈ C, temos u ∈ Cλ para algum λ ∈ Λ e, assim, como Cλ é ortonormal,
kuk = 1.
Sejam u, v ∈ C. Então, existem λ1 , λ2 ∈ Λ tais que u ∈ Cλ1 e v ∈ Cλ2 . Visto que
Cλ1 ⊂ Cλ2 ou Cλ2 ⊂ Cλ1 , existe α ∈ {λ1 , λ2 } tal que Cλi ⊂ Cα para todo i = 1, 2. Assim,
u, v ∈ Cα e, como Cα é um conjunto ortonormal, hu, vi = 0.
Portanto, C ∈ C .
Além disso, como Cλ ⊂ C para todo λ ∈ Λ, C é uma cota superior de {Cλ }λ∈Λ em
C . Logo, pelo Lema de Zorn, existe um elemento maximal M ∈ C .
Afirmação 2: M é um conjunto ortonormal completo.
Suponhamos que exista u ∈ H não nulo com kuk = 1 tal que hu, mi = 0 para
todo m ∈ M . Então, o conjunto M ∪ {u} é um conjunto ortonormal contendo M . Como
M é maximal, segue que M = M ∪ {u}, isto é, u ∈ M . Consequentemente, hu, ui = 0.
Absurdo, pois kuk2 = hu, ui = 1.
Portanto, o único vetor de H ortogonal a todos os vetores de M é o vetor nulo, isto é, M
é um conjunto ortonormal completo.
57
Agora, veremos que o produto cartesiano de uma família arbitrária de espaços topo-
lógicos compactos é compacto. Para tanto, alguns resultados preliminares são necessários.
(1) ∅ e X pertencem a τ ;
(2) se A1 , . . . , An ∈ τ , então A1 ∩ . . . ∩ An ∈ τ ;
(3) dada uma família arbitrária {Aλ }λ∈Λ , Aλ ∈ τ para todo λ ∈ Λ, tem-se Aλ ∈ τ .
[
λ∈Λ
Definição 6.1.13. Diremos que uma família {Aλ }λ∈Λ de subconjuntos de um conjunto
X é maximal com a propriedade da interseção finita se para toda coleção A de partes de
X com a propriedade da interseção finita tal que {Aλ }λ∈Λ ⊂ A , tem-se {Aλ }λ∈Λ = A .
j=1
j6=i
n n
Aλj = (X\Aλj ). Daí, A ⊂ X\Aλk para algum k ∈ {1, . . . , n}\{i}. Por
\ [
A ⊂ X\
j=1 j=1
j6=i j6=i
conseguinte, A ∩ Aλk = ∅. Absurdo. Logo, Bλ1 ∩ . . . ∩ Bλn 6= ∅.
58
Como {Aλ }λ∈Λ é maximal com a propriedade da interseção finita, {Aλ }λ∈Λ =
{Bλ }λ∈L e, portanto, A ∈ {Aλ }λ∈Λ .
(⇐) Seja C uma coleção de subconjuntos de X com a propriedade da interseção
finita tal que {Aλ }λ∈Λ ⊂ C . Para todo A ∈ C , temos A ⊂ X e para cada λ ∈ Λ,
A ∩ Aλ 6= ∅. Assim, por hipótese, A ∈ {Aλ }λ∈Λ . Portanto, {Aλ }λ = C , isto é, {Aλ }λ∈Λ é
maximal com a propriedade da interseção finita.
Lema 6.1.1. Seja {Xλ }λ∈Λ uma família de subconjuntos de um conjunto X com a
propriedade da interseção finita. Então, existe uma família M de subconjuntos de X,
maximal com a propriedade da interseção finita e contendo {Xλ }λ∈Λ
i∈I
i∈I
família de subconjuntos de X contendo a família {Xλ }λ∈Λ . Logo, {Xλ }λ∈Λ ⊂ Fi .
[
i∈I
i∈I
que Fj ∈ Fij . Uma vez que {Fi }i∈I é totalmente ordenado, existe k ∈ {1, . . . , n} tal que
Fij ⊂ Fik para todo j = 1, . . . , n. Desta maneira, {F1 , F2 , . . . , Fn } ⊂ Fik . Como Fik
possui a propriedade da interseção finita, F1 ∩ F2 ∩ . . . ∩ Fn =6 ∅. Logo, Fi possui a
[
i∈I
propriedade da interseção finita, isto é, Fi ∈ X .
[
i∈I
Portanto, Fi é uma cota superior de {Fi }i∈I em X . Pelo Lema de Zorn, existe
[
i∈I
um elemento maximal M ∈ X .
Definição 6.1.16. Um espaço topológico X é compacto se, e somente se, para toda
família {Fλ }λ∈Λ de subconjuntos fechados de X, com a propriedade da interseção finita,
tem-se Fλ 6= ∅.
\
λ∈Λ
Teorema 6.1.3 (Teorema de Tychonov). Se {Xα }α∈L é uma família de espaços topológicos
compactos, então X = Xα é compacto.
Y
α∈L
Demonstração. Seja {Fλ }λ∈Λ uma família de subconjuntos fechados de X, com a proprie-
dade da interseção finita. Então, pelo Lema 6.1.1, existe uma família M de subconjuntos de
X, maximal com a propriedade da interseção finita e contendo {Fλ }λ∈Λ . Para cada α ∈ L,
considere a família Aα = {pα (M ) ; M ∈ M } de subconjuntos de Xα , onde pα : X → Xα é
dada por pα (x) = xα para todo x = (xα )α∈L ∈ X.
Assim, Bα = {pα (M ) ; M ∈ M } é uma família de subconjuntos fechados de Xα .
Afirmação: Bα possui a propriedade da interseção finita.
Com efeito, seja {M1 , . . . , Mn } ⊂ M finito. Como M possui a propriedade da
interseção finita, M1 ∩ . . . ∩ Mn 6= ∅. Assim,
∅=
6 pα (M1 ∩ . . . ∩ Mn ) ⊂ pα (M1 ) ∩ . . . ∩ pα (Mn ) ⊂ pα (M1 ) ∩ . . . ∩ pα (Mn ).
M ∈M
dado {Uα1 , . . . , Uαn } finito, com cada Uαi aberto contendo xαi temos, pelo Corolário 6.1.1,
α1 (Uα1 ) ∩ . . . ∩ pαn (Uαn ) ∈ M e, consequentemente, (pα1 (Uα1 ) ∩ . . . ∩ pαn (Uαn )) ∩ M 6= ∅.
p−1 −1 −1 −1
Portanto, x ∈ M .
Diante disso, x ∈ M para todo M ∈ M . Em particular, x ∈ Fλ = Fλ para todo
λ ∈ Λ, ou seja, x ∈ Fλ . Logo, X = Xα é compacto.
\ Y
λ∈Λ α∈L
Finalizamos este capítulo com uma aplicação sobre anéis com unidade. Primeira-
mente, definiremos os conceitos de anel e ideal.
Seja A um conjunto não vazio munido de duas operações, as quais chamaremos de
soma e produto em A e denotaremos por + e ·, respectivamente.
60
Assim:
+: A×A→A ·: A×A→A
(x, y) 7→ x + y (x, y) 7→ x · y
(A6) Distributividade à esquerda e à direita: x·(y +z) = x·y +x·z e (x+y)·z = x·z +y ·z;
(A8) x · y = y · x.
(A9) x · y = 0 ⇒ x = 0 ou y = 0.
x, y ∈ B ⇒ x + y ∈ B e x · y ∈ B
Agora veremos uma classe de subanéis muito importante na teoria dos anéis.
F = {I ⊂ A ; I é ideal de A e I 6= A}.
λ∈Λ
Portanto, U ∈ F .
Sabemos que Aλ ⊂ U para todo λ ∈ Λ, de modo que U é uma cota superior de
C em F . Pelo Lema de Zorn, existe um elemento maximal M ∈ F . Portanto, M é um
ideal maximal de A.
62
63
7 TEOREMA DE ZERMELO
Exemplo 7.0.1. O conjunto dos números reais não negativos tem o zero como menor
elemento, enquanto o conjunto dos números irracionais maiores do que zero não tem menor
elemento.
Além disso, n ∈ A para todo n ≤ a − 1. Desta forma, por (ii), a ∈ A. Absurdo. Portanto,
N∗ \A = ∅, ou seja, A = N∗ .
(2) ⇒ (1) Seja A ⊂ N∗ tal que:
(i) 1 ∈ A;
(ii) se k ∈ A, então k + 1 ∈ A.
Provaremos que A = N∗ . Por (i), temos 1 ∈ A. Suponhamos que n ∈ A para todo n ≤ k.
Em particular, k ∈ A e, por (ii), temos k + 1 ∈ A. Portanto, pelo Princípio de Indução
Finita (2ª forma), A = N∗ .
Teorema de Zermelo. Para todo conjunto não vazio X existe uma relação de ordem
que o torna bem ordenado.
66
67
8 RESULTADO FINAL
Definição 8.0.1. Diremos que τ ⊂ X é uma torre se as seguintes condições são satisfeitas:
(1) ∅ ∈ τ ;
λ∈Λ
λ∈Λ λ∈Λ
Como {Cλ }λ∈Λ é totalmente ordenado, existe λ ∈ {λ1 , λ2 } tal que Cλi ⊂ Cλ para todo
i = 1, 2. Desta forma, x, y ∈ Cλ . Como Cλ ∈ X , isto é, Cλ é totalmente ordenado com a
ordem parcial induzida por X, temos x y ou y x. Logo, Cλ ∈ X .
[
λ∈Λ
Proposição 8.0.3. Se {Xi }i∈I é uma família não vazia de torres em X , então Xi é
\
i∈I
uma torre em X .
i∈I
i∈I
que g(A) ∈ Xi . Assim, g(A) ∈ Xi .
\
i∈I
i∈I
Xi ⊂ Xj , de modo que {Cλ }λ∈Λ ⊂ Xj . Como {Cλ }λ∈Λ é totalmente ordenado e cada
\
i∈I
Xj é uma torre, então Cλ ∈ Xj para todo j ∈ I. Portanto, Xi .
[ [ \
Cλ ∈
λ∈Λ λ∈Λ i∈I
Mostraremos a seguir que a torre τ0 é totalmente ordenada, isto é, que todo elemento
de τ0 é comparável.
• Como ∅ ∈ τ0 e ∅ ⊂ A, então ∅ ∈ U .
λ∈Λ
Caso 1: Bλ ⊂ A para todo λ ∈ Λ.
Neste caso, temos Bλ ⊂ A. Logo, Bλ ∈ U .
[ [
λ∈Λ λ∈Λ
Caso 2: Bλ0 6⊂ A para algum λ0 ∈ Λ.
Como Bλ0 ∈ U , temos g(A) ⊂ Bλ0 . Então, g(A) ⊂ Bλ e, assim, Bλ ∈ U .
[ [
λ∈Λ λ∈Λ
λ∈Λ
Caso 1: Cλ ⊂ D para todo λ ∈ Λ.
Neste caso, temos
[
Cλ ⊂ D.
λ∈Λ
Caso 2: Cλ0 6⊂ D para algum λ0 ∈ Λ.
Como Cλ0 ∈ C , Cλ0 é comparável, e por isso D ⊂ Cλ0 . Diante disso, D ⊂ Cλ .
[
λ∈Λ
70
Portanto, Cλ ∈ C .
[
λ∈Λ
Logo, o conjunto C ⊂ τ0 é uma torre.
A∈τ0
g(C0 ) ∈ τ0 e g(C0 ) ⊂ C0 . Pela definição de g, C0 ⊂ g(C0 ) e, portanto, g(C0 ) = C0 . Logo,
pela Proposição 8.0.1, o conjunto C0 é maximal em X .
Visto que C0 é um subconjunto totalmente ordenado de X, existe m ∈ X tal
que c m para todo c ∈ C0 . O conjunto C0 ∪ {m} ⊂ X é totalmente ordenado e
C0 ⊂ C0 ∪ {m}. Como C0 é maximal em X , temos C0 = C0 ∪ {m}. Logo, m ∈ C0 .
Se n ∈ X é tal que m n, então C0 ∪ {n} é um subconjunto de X totalmente
ordenado. Como C0 é maximal em X , segue que C0 = C0 ∪ {n}. Daí n ∈ C0 e, por isso,
n m. Desta forma, m = n. Portanto, m é maximal em X.
Definição 8.0.3. Dados (A, ≤A ), (B, ≤B ) ∈ Z , diremos que (A, ≤A ) (B, ≤B ) se, e
somente se:
(1) A ⊂ B;
i∈I
arbitrários. Como C é totalmente ordenado, existe i ∈ I tal que x, y ∈ Ai . Diremos que
x ≤A y se, e somente se, x ≤Ai y.
72
x ≤A y ⇔ x ≤Ai y ⇔ x ≤Aj y.
Demonstração. Sejam x, y, z ∈ A.
Propriedade Reflexiva: Como x ∈ A, segue que x ∈ Ai para algum i ∈ I. Da
propriedade reflexiva da relação de ordem em Ai , temos x ≤Ai x. Logo, x ≤A x.
Propriedade Antissimétrica: Suponhamos que x ≤A y e y ≤A x. Então, x, y ∈ Ai
e x ≤Ai y e, também, x, y ∈ Aj e y ≤Aj x. Como o conjunto C é totalmente ordenado,
(Ai , ≤Ai ) (Aj , ≤Aj ) ou (Aj , ≤Aj ) (Ai , ≤Ai ). Suponhamos sem perda de generalidade
que (Ai , ≤Ai ) (Aj , ≤Aj ). Neste caso, Ai ⊂ Aj e x ≤Ai y ⇔ x ≤Aj y. Por outro lado,
y ≤Aj x e pela propriedade antissimétrica em Aj temos x = y.
Propriedade Transitiva: Suponhamos que x ≤A y e y ≤A z. Então, x, y ∈ Ai e
x ≤Ai y e, também, y, z ∈ Aj e y ≤Aj z. Como C é um conjunto totalmente ordenado,
(Ai , ≤Ai ) (Aj , ≤Aj ) ou (Aj , ≤Aj ) (Ai , ≤Ai ). Suponhamos que (Ai , ≤Ai ) (Aj , ≤Aj ).
Assim, Ai ⊂ Aj e x ≤Aj y. Por outro lado, y ≤Aj z, e da propriedade transitiva da relação
de ordem em Aj temos x ≤Aj z. Logo, x ≤A z. No caso em que (Aj , ≤Aj ) (Ai , ≤Ai ),
temos Aj ⊂ Ai e y ≤Ai z. Como x ≤Ai y, da propriedade transitiva da relação de ordem
em Ai , obtemos x ≤Ai z. Consequentemente, x ≤A z.
Portanto, o conjunto (A, ≤A ) é parcialmente ordenado.
De agora em diante, suponhamos que valha o Lema de Zorn. Assim, como cada
subconjunto C ⊂ Z totalmente ordenado tem cota superior em Z , então existe um
elemento maximal (M, ≤M ) ∈ Z .
Proposição 8.0.13. M = X.
Demonstração. Seja {Xi }i∈I uma família não vazia de conjuntos não vazios. Consideremos
a união da família X = Xi . Pelo Teorema de Zermelo, existe uma relação de ordem
[
i∈I
em X tal que (X, ) é bem ordenado. Assim, para cada i ∈ I, Xi ⊂ X possui menor
elemento, digamos xi . Tomemos f : {Xi }i∈I → Xi tal que f (Xi ) = xi para todo
[
i∈I
i ∈ I. Desta forma, f é uma função escolha para {Xi }i∈I . Portanto, vale o Axioma da
Escolha.
Observação. Não podemos proceder da seguinte forma: Para cada conjunto não vazio
Xi consideramos uma ordem ≤Xi tal que (Xi , ≤Xi ) é bem ordenado. Assim, para cada
i ∈ I, Xi possui menor elemento, digamos xi . Daí, tomamos f : {Xi }i∈I → Xi tal que
[
i∈I
f (Xi ) = xi . Pois para cada i ∈ I, o conjunto Oi = {≤Xi ; (Xi , ≤Xi ) é bem ordenado} é
não vazio. Desta maneira, {Oi }i∈I é uma família não vazia de conjuntos não vazios. Então,
procedendo desta maneira, estamos utilizando o Axioma da Escolha para provar o mesmo.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
[2] LIMA, E. L. Análise Real volume 1. Funções de Uma Variável. 12ed. Rio de Janeiro:
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Coleção Matemática Universitária), 2017.
[3] HALMOS, P. R. Naive Set Theory. Princeton, N. J., Van Nostrand, 1960.
[4] SILVA, Samuel Gomes da; JESUS, João Paulo Cirineu de. Cem Anos do Axioma da
Escolha: Boa Ordenação, Lema de Zorn e o Teorema de Tychonoff. Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2008.
[5] BARTLE, R. G. The Elements of Integration and Lebesgue Measure. Wiley Classics
Library, 1995.