Vamos refletir sobre as ideologias presentes no nosso cotidiano, o
conservadorismo, neoconservadorismo e racionalismo. O que vem a ser essas ideologias? O conservadorismo moderno surgiu com Edmund Burke, em finais do século 18, em oposição à revolução burguesa e aos valores ilustrados. Que valores? Humanismo, a razão, a liberdade e a ideia de progresso. Burke era contrário as rupturas com a ordem feudal e com a tradição das instituições básicas como: a família, a igreja e as corporações. Ele negava o divórcio, os movimentos feministas, a entrada da mulher no mercado de trabalho, entre outros. Dois séculos depois, em 1962, o serviço social brasileiro, através da sua entidade ABESS publica um código moral que diz o seguinte: “o assistente social será inimigo de toda a prática contrária ao respeito à família e a vida conjugal, o amor livre, o concubinato, o adultério, a limitação ilícita dos nascimentos, a inseminação artificial, o aborto, mesmo aqueles considerados terapêuticos.” Nesse mesmo período, nos Estados Unidos, tem início o movimento neoconservador, em oposição aos movimentos contrários à Guerra do Vietnã, aos movimentos sociais de libertação das mulheres, dos negros e dos homossexuais. Com os governos Reagem e Bush, o neoconservadorismo passa se configurar como política de governo, acrescido dos valores neoliberais, da militarização e da religião. O neoconservadorismo é a forma atualizada do conservadorismo moderno, acrescido dos princípios neoliberais, como a não interferência do Estado no mercado, a meritocracia, o empreendedorismo etc. Em resumo, um projeto neoconservador é um projeto neoliberal na economia e conservador nos costumes. O conservadorismo ou o neoconservadorismo preserva os valores conservadores, a hierarquia das instituições básicas, a autoridade constituída, o predomínio da moral nas relações sociais e a preservação da família patriarcal e da tradição, com a garantia da propriedade privada. A primeira experiência latino-americana do neoconservadorismo foi com Pinochet, no Chile, e os Chicago Boys, os garotos da escola de Chicago. Partia-se do suposto de que para dar certo, essa experiência precisava acontecer numa ditadura. Nosso atual ministro da economia passou por lá e se entusiasmou com a ideia da ditadura e da austeridade. O triste painel da pandemia Covid no Brasil atesta o trágico resultado de uma política negacionista, nítida expressão do irracionalismo que como diz o filósofo Luckacs, manifesta o que existe de animalidade no homem capitalista. O fascista é irracionalista, o irracionalista é anti-humanista, nega a ciência e a cultura, afirma o preconceito, é elitista, é racista, é anti-comunista, anti marxista, é ávido de uma liderança autoritária, é anti-intelectual, não discute, pois está apoiado em suas verdades inquestionáveis e é violento, entre outros aspectos. Nosso cotidiano está repleto de exemplos de práticas neoconservadoras, irracionalistas e fascistas. Identificá-las para compreender os seus fundamentos nos habilita para o enfrentamento da Bárbara em curso.
Conservadorismo e o Serviço Social: gênese e expressões
contemporâneas Yolanda Guerra - Docente UFRJ https://www.youtube.com/watch?v=E9zf17KiyF0&t=12s
O conservadorismo trata da busca por preservar determinado sistema
social, garantindo o seu processo de produção e reprodução. O conservadorismo tem uma base material e uma base ideopolítica que se articulam entre si em uma unidade dialética, visando a reprodução da sociedade e da sua sociabilidade. No caso da sociedade capitalista, a preservação se dá, de um lado com a preocupação com a valorização e a reprodução do valor, que é resultado da apropriação privada da riqueza que, por sua vez, vem da exploração do trabalho pelo capital. De outro lado, ela necessita também de mecanismos ideológicos que deem sustentação a esse modo de produção e reprodução. Essa base material econômico-social só pode ser explicada pela economia política, pois se refere a um determinado modo de produzir reproduzir, de se apropriar da riqueza, mas também de justifica-la. A base econômica social tem, portanto, uma relação com o modelo de produção e reprodução, mas também com a divisão social e técnica do trabalho. O Brasil é um país de capitalismo tardio e dependente que não rompeu com seu passado colonialista, patrimonialista, autoritário, escravocrata. Por isso, ele tem particularidades do modo como a riqueza é produzida e apropriada, que se relacionam com a escravidão, com os processos de alijamento da massa das decisões e do acesso a bens e serviços. Tem particularidades em relação a divisão social, racial, sexual do trabalho, cujas implicações estão no âmago dos processos contemporâneos: o desemprego, a brutal precarização do trabalho e a destruição de direitos. As tendências contemporâneas da barbarie são expressões da profunda crise estrutural que mostra que o capital está agonizando, mas não morreu. A inserção no mercado de trabalho tem determinações classistas, racistas, patriarcais, racionalistas, que desqualificam a força de trabalho negra, feminina, migrante, a população LGB, principalmente os travestis e transexuais. Mas isso não ocorre sem lutas e resistências. Nesse confronto entre os interesses antagônicos das classes sociais, como manifestação das desigualdades de raça gênero e nacionalidade e de outras, que chamamos de questão social, o Estado burguês vai se organizando para buscar formas de amenizar as desigualdades, e o faz, hora com medidas coercitivas repressivos como caso de polícia, e hora com medidas de consenso, tratando como questão política, política através de políticas sociais. Assim, o modelo de política social que vai se desenhando carrega todos os pressupostos do conservadorismo moral. Não é casual que elas têm a premissa do higienismo, do Darwinismo Social, do liberalismo clássico, que fundamentam a existência da pobreza como questão biológica, questão psicológica, questão sanitária e questão moral. Assim, a maneira de enfrentá-la é através da mudança comportamental de seus vulnerabilizados, de onde surgem as diferentes formas de ajustamento, de adaptação e de estabelecimento de critérios de elegibilidade, condicionalidades, dentre os constrangimentos. Estou chamando a atenção para um conjunto de valores e ideologias que sustentam as formas de enfrentar a desigualdade no Brasil, tanto a base da criminalização, quanto da moralização e também via orientações tecnocráticas, ou seja, o predomínio de orçamentos em detrimento da vida. Formas essas que vão atribuindo configurações ao nosso trabalho profissional. As políticas sociais foram e são as formas políticas de enfrentar a chamada questão social, cujos fundamentos estão na economia e na política. Essa forma contraditoriamente também carrega uma dimensão democrática cuja premissa é enfrentar a desigualdade com medidas redistributivos, a dependendo do estágio da luta de classes. As políticas sociais requisitam profissionais tanto no âmbito da sua formulação, quanto no âmbito da sua implementação, demandando profissionais que se colocam à sua execução. É aí que elas abrem o mercado de trabalho para assistentes sociais. Certamente se espera que as políticas sociais incidam sobre o controle e disciplinamento da força de trabalho ocupada e excedente. Por isso as políticas sociais atuam na reprodução material e espiritual dos sujeitos, incidindo na construção da sociabilidade burguesa e de um sujeito que responda a ela. É nesse contexto de relações sociais que o serviço social se insere, de modo que suas requisições surgem de demandas que visam conservar a ordem social, chamada status quo, atende também demandas da classe trabalhadora, de sobrevivência e de sua reprodução com classe social. Constitui-se, assim, um dos mecanismos de reprodução social. No Brasil, o serviço social se gesta e se desenvolvem como profissão reconhecida pela divisão social e técnica do trabalho e a partir de um determinado nível de desenvolvimento capitalista e de expansão urbana. Processos esses que fazem emergir as classes sociais, proletariado e burguesia industrial. Fundamentalmente, o serviço social surge de alterações nas funções do Estado desde seu início no Brasil a profissão está visceralmente imbuída dos pressupostos valorativos da doutrina e das premissas técnico-operativos da Igreja Católica. Como parte do seu processo de cristianização, a Igreja Católica tem um papel fundamental na educação e na formação profissional. O movimento laico da Igreja Católica liderado por mulheres investe na formação do apostolado para intervir de maneira mais sistemática nas obras sociais que atendiam a população pauperizada. A profissão recebe também fluxo da Democracia Cristã e muitas de suas figuras ilustres herdeiras da militância católica estiveram vinculados ao partido Democrata Cristão, aliado à filosofia de São Tomás de Aquino, que ficou conhecida como neotomismo, que está na base da doutrina social da igreja, o serviço social brasileira também é influenciando por correntes de pensamento da Europa, especialmente franco-belga, e dos Estados Unidos da América, confluindo para o que Netto chama de sincretismo científico. Para dar um exemplo, as formulações do serviço social nas suas raízes colocam como objeto de intervenção os indivíduos com seus desajustamentos sociais e familiares. Isso está no documento de Araxá, de 1967. Ao final da década de 1970, a visão de que o serviço social se realiza por uma metodologia de ação que se utiliza de processos de caso grupo e desenvolvimento de comunidade como o seu modus Operandi, mostra em que sese uma visão completamente fragmentada de homem de sociedade. O objetivo era um só promover a integração do chamado cliente ao seu grupo e ou a sua comunidade. Sabemos que é central nas ideologias conservadoras uma noção de harmonia social, ou seja, a possibilidade de convivência harmônica entre interesses antagônicos do capital e do trabalho. No pensamento conservador, a contradição, que de fato é motor no movimento da realidade, passa a significar desajustes e deve ser eliminada, suprimida, de onde surge a recorrente utilização de ideologias que buscam esconder e escamotear sem sucesso a luta de classes. Essa perspectiva individualizante típica do liberalismo, acrescida da crença da necessidade da reforma moral está na base do tratamento que o estado da a chamada questão social. É assim que as políticas sociais públicas se constituem estratégias que atuam uma mudança de comportamento dos sujeitos diante da realidade em que vive, visando a sua adaptação e resiliência a ela. Aos fundamentos do liberalismo clássico de individualização e responsabilização dos sujeitos pelos seus próprios problemas como pressuposto das políticas sociais se alia à perspectiva de atuação psicologizante de ajustamento e adaptação dos sujeitos sociais por meio de ações sócio educativas e terapêuticas visando melhorar o seu funcionamento social e prepará-los para enfrentar os seus próprios problemas. Se torna evidente a perspectiva de controle do social, imanente as requisições da profissão, e que se coaduna com a configuração das políticas sociais especialmente no Brasil. A formulação das políticas sociais segue as metodologias que comparecem até hoje e visam solucionar problemas e ou manipular comportamentos. Contudo a profissão tem um movimento de avanço e recuo frente ao pensamento conservador. É a luta de classes que põe e repõe demandas a profissão e os dilemas nos quais ela atua. No seu processo de enfrentamento ao histórico conservadorismo na profissão, tivemos um movimento de reconceitualização latino-americana que foi um marco na tentativa de enfrentar serviço social tradicional, que segundo o professor José Paulo Netto, a prática empirista, repetitiva, paliativa, burocratizada, fundamentada em concepções funcionalistas. No Brasil, o processo de renovação da profissão gera uma tendência que se opõem sistemática e de maneira contundente ao conservadorismo, porque a sua própria antítese. Trata-se da perspectiva chamada de intenção de ruptura que é fundamentada no Marxismo. Portanto, ao mesmo tempo em que processos de renovação da profissão se gestam, também se gestam tendências que repõem o tradicionalismo ou o pensamento conservador no serviço social, produzindo inclusive algumas tendências neoconservadores. Mas a reconceitualização, que foi um marco, dentro dos seus limites, ao criticar o tradicionalismo do ponto de vista das suas opções prático-profissionais e políticas não realizou com o mesmo empenho a crítica dos seus fundamentos teóricos. Não alcançou a crítica de uma racionalidade, que para mim é o que sustenta o conservadorismo. Apesar de que ele se modifica nas suas expressões fenomênicas, estou falando da racionalidade hegemônica na sociedade burguesa, refiro-me a razão formal abstrata. Essa racionalidade limitada instrumental influencia o tipo de resposta que nós assistentes sociais damos as requisições institucionais. Não temos estudado suficientemente a influência do pensamento conservador no serviço social que nos dificulta perceber o avanço desse na atualidade. Seguramente, não se explica a profissão nem muitas de suas características sem a problematização do projeto da modernização conservadora, de sua cultura autoritária, corporativa e suas instituições. A heteronomia e as práticas anti-democráticas são a marca de uma sociedade na qual se valoriza o favor, o clientelismo, os casuismos, os fisiologismos. Por isso é preciso entender como essas práticas da cultura política brasileira atravessam e entretecem o Estado e as suas instituições e como as políticas sociais e suas requisições carregam essa identificação e, portanto, colocam questões para o serviço social. Como uma profissão também recebe isso e reage e resistir a essas investidas na conformação de seu modo de ser e de responder a realidade. Na atualidade, estamos vivendo um período de clara regressão conservadora. Temos observado um avanço da tendência de criminalização da pobreza, de extermínio de jovens, negros e negras, população LGBTI, em especial, que são sujeitos das políticas e do nosso trabalho. Fazer a crítica do conservadorismo demanda fazer a crítica dos seus fundamentos teóricos, ético-políticos e prático-operativos. Esse é um passo necessário, mas não é suficiente. Eu penso que seja necessário identificar o conservadorismo no nosso cotidiano profissional. As instituições requisitam da profissão histórica e sistematicamente um padrão de resposta, que são as respostas instrumentais que tenham a capacidade de solucionar as situações imediatas, emergenciais, ainda que de maneira pontual, focalizada naquilo que a instituição elege como prioridade, não se importando como e nem por quais meios essa solução se dará. Essa conjuntura de pandemia, e certamente de pós-pandemia, é a mais propícia a hegemonização da razão instrumental que opera uma ruptura entre meios e fins ela tem o foco nas ações nas quais não importam os meios, lícitos ou não, éticos ou não, socialmente relevante ou não. Então, pouco se pergunta a que interesses esses fins voltam a atender. Tal padrão prático-operativo, de resposta instrumental, não considera as mediações mobilizados nas respostas. Se não consideramos que toda a resposta profissional corresponde a um projeto ético-político, do qual depende meios éticos, bem como de que cabe as profissionais reconfigurar a demanda inicial, a demanda institucional, a demanda emergencial, a tendência é de recebermos a demanda institucional como imperativo categórico; faça, execute a política nos moldes dos manuais dentro dos padrões em que foi formulada. Atuamos, mas nem sempre identificamos os fundamentos sócio-históricos que determinam as demandas institucionais e a dos usuários e a relação destas com as requisições institucionais. A racionalidade positivista nos exige decidir sobre fazer ou não, sobre se é ou não competência, atribuição privativa. Mas não nos permite pensar em alternativas a elas. Dessa racionalidade advem a concepção de aplicar a teoria, de encaixar teoria na prática, de modo a colocar as ideias numa forma restauradora, numa visão moralista e moralizante da sociedade, atribuindo a responsabilização aos sujeitos e porque não dizer culpabilizando- os. Hoje se tem várias instituições sociais e várias políticas que fazem condicionalidades, metodologias prontas para a mera utilização do profissional. A literatura mais recente e crítica da profissão não nos deixa dúvidas de que o serviço social é fecundado na sua gênese, parametrado e dinamizado pelo pensamento conservador. E este o é pela razão instrumental, expressa no pragmatismo, no empirismo, no metodologismo como tendências históricas presentes na profissão. Em geral, não identificamos no nosso trabalho as teorias sociais que estão subjacentes “às nossas ações. Quer um exemplo, Emile Durkheim, que é uma expressão do conservadorismo moderno, é um autor dos mais criticados na profissão, mas nós não identificamos o que fazemos na nossa prática como sendo intervenções pautadas no pensamento de Durkheim. Não há nada mais positivista e mais conservador do que ter uma visão fragmentada e naturalizada os processos sociais, de entender os fenômenos sociais como dados da natureza, do tipo sempre foi assim, ou quando dizemos aqui já tentei de tudo não há mais nada a fazer. Ora, estamos lendo a realidade pela lente da concepção totalmente positivista, considerando os fenômenos sociais com naturais, eternos e imutáveis. A moralização e naturalização da questão social estão fundamentadas no pensamento de Durkheim, assim como quando no nosso trabalho nós nos voltamos para reforma moral de homens e mulheres que deles demandam. Quando consideramos os sujeitos das políticas sociais meramente como números ou priorizamos as metas em detrimento da qualidade, estamos orientados por fundamentos do neopositivismo. Quando desconsideramos os fundamentos das teorias e atuamos apenas nas suas manifestações fenomênicas, apenas manipulando variáveis para solução imediata, pontual, momentânea de problemas sem nos importarmos com os valores acionados ou com projeto profissional que estamos reforçando, nós estamos orientados pelo pragmatismo, que é uma derivação do positivismo, e é um pensamento conservador. O tecnicismo, a negação do nosso papel de intelectual, a negação da nossa condição de classe assalariada se fundamenta no pensamento conservador. Assim é que mesmo questionando em nível do discurso, mantemos na nossa intervenção uma orientação positivista, de necessária integração e controle do sujeito das políticas, das famílias, dos trabalhadores, impondo a eles condicionalidades e constrangimentos. O conservadorismo como um projeto que oferece sempre alternativas de manutenção da sociedade para a preservação da Ordem Social, dente outras alternativas, está condicionado pela racionalidade instrumental manipulatória. Tem havido também a ressignificação da relação do serviço social e a religião, em inúmeras provas de que as diferentes religiões têm considerado a assistente social como uma profissional capaz de transmitir valores e operar a disciplina e o controle necessários ao repasse das suas doutrinas que, no limite, visam a manutenção da Ordem Social. Eu terminaria dizendo que o avanço e a ascensão do pensamento conservador não podem nos fazer esquecer e investir no pensamento Progressista, no pensamento crítico. Quais são as perspectivas teóricas que são capazes de fazer frente, fazer a crítica ao conservadorismo e organizar estratégias para o seu enfrentamento. Ora, a crítica ao conservadorismo impõe uma matriz de pensamento que seja radical. O tecnicismo, a negação do nosso papel de intelectual, a negação da nossa condição de classe trabalhadora se fundamenta no pensamento conservador. Assim é que mesmo questionando em nível de discurso, mantemos na nossa intervenção uma orientação positivista. É necessária a integração e o controle dos sujeitos das políticas sociais, das famílias, do trabalhador, impondo a eles condicionalidades e constrangimentos. O conservadorismo como projeto oferece sempre alternativas de manutenção da sociedade para preservar a ordem social. Entre essas alternativas está a racionalidade instrumental manipulatória. Tem havido também a ressignificação da relação do serviço social com a religião. Há inúmeras pesquisas que vêm mostrando que as religiões consideram a assistente social como profissional capaz de transmitir os valores e operar a disciplina e o controle necessários ao repasse das doutrinas que, no limite, visam a manutenção da Ordem Social. Eu terminaria dizendo que o avanço da ascensão do pensamento conservador não pode nos fazer esquecer de investir no pensamento progressista, no pensamento crítico, pois as perspectivas teóricas que são capazes de fazer a crítica ao conservadorismo e organizar estratégias para o seu enfrentamento. A crítica ao conservadorismo impõe uma matriz de pensamento que seja radical, ou seja, que alcance os seus fundamentos, permitindo a sua crítica ontológica. Ao mesmo tempo, a reflexão dialética que porta uma razão inclusiva deve nos garantir o estudo das formas de resistência ao pensamento conservador. E, com certeza, uma apropriação rigorosa do pensamento social de Marx, da tradição marxista e das vertentes que operam uma crítica ao capitalismo são as formas mais adequadas de enfrentamento teórico político e profissional dessa influência do pensamento conservador na profissão e na sociedade. A racionalidade crítico-dialética, como fundamento da formação profissional, nos permite identificar a relação entre limites e possibilidades. Estas possibilidades, se não existem, precisam ser construídas. Só há limites porque existem possibilidades, mas isso não é um dado da natureza. Só a percepção explicitação dos limites e que permitem ao sujeito descortinar as possibilidades e, para isso, existem os sujeitos preparados e capazes de entender essa dialética, de construir estratégias, de consumir argumentos plausíveis, de negociar, de dar respostas alternativas. E aí, uma sólida formação com base na teoria social de Marx faz toda a diferença. Nessa direção, a formação profissional tem um duplo desafio: investir em pesquisas, que possam fazer a crítica do histórico conservadorismo na profissão, especialmente de como ele se renova no seu interior, e aqui eu ressalto a necessidade de pesquisas e debates sobre os fundamentos dos valores do nosso projeto ético-político, pois pensamento conservador tem tentado se apropriar desses valores, tais como a democracia, liberdade, direitos, emancipação e ressignificá-los neste contexto de regressão conservadora. Segundo desafio: formar sujeitos que sejam capazes de dar respostas genuínas, críticas e criativas que se coloquem com autonomia, frente às exigências das políticas sociais, que saiba reconfigurar as demandas, encontrar argumentos e estratégicas para enfrentar com competência a lógica do capital. Estou convencida de que os conteúdos curriculares nas diretrizes permitem a análise crítica dos fundamentos do conservadorismo na profissão, seja no âmbito das políticas sociais, seja das requisições que nos chegam, sejam nos espaços sócio-ocupacionais que estamos inseridas, seja no âmbito das instituições nas quais atuamos. Como diz Marx, só o pensamento crítico é capaz de nos libertar dos grilhões, eu incluiria, do conservadorismo, para que ao nos livrarmos deles possam brotar flores vivas.”
Palestra de Lúcia Barroco CRESSMGvideos
O tema do evento foi "Serviço Social e Ética: Fundamentos Ontológicos" A atividade aconteceu em Belo Horizonte, em agosto de 2013 https://www.youtube.com/watch?v=Gv8nGXzukF4&t=1614s