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09/09/2022 10:23 Yuri Steklov | História da Primeira Internacional – Aetia Editorial

Yuri Steklov | História


da Primeira
Internacional
10/08/2021

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Yuri Mikhailovitch
Steklov foi primeiro editor-
chefe do Известия
(Izvestiya), o diário oficial
da URSS de 1917 a 1991,
além de um dos
responsáveis pela adoção
do hino soviético baseado
na antiga canção de guerra
francesa, “L’Internationale”.
Resgatar aquela canção
tradicional era mais do que
um ato simbólico:
significava trazer à tona a
expressão do princípio
mais inovador do
movimento da classe
trabalhadora, o
internacionalismo.

Por que a insistência no


internacionalismo? A
resposta foi dada por Marx
e Engels lá atrás: em
função de sua exclusão
dos bens da terra e meios
de produção,
“trabalhadores não têm
nação”. Para
reconquistarem o que é
seu, seria necessário se
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unir e articular uma revolta


conjunta contra a classe
que há séculos opera
internacionalmente: a
classe dos capitalistas.

Naquele período de
guerras mundiais e
inimizades mortais entre
países pode soar
contraditório dizer isso,
mas Steklov constrói seu
argumento a partir das
premissas:

(1) o capitalismo teve de se


tornar internacional para
remediar as crises internas
e revoltas de suas
populações. Marx já
observava na década de
1840 que, quando greves
locais eram feitas em prol
da melhoria das condições
do trabalhadores, os
capitalistas de países mais
avançados recorriam à
importação de mão-de-
obra estrangeira com
padrões de vida menores.
Com o tempo, essa curiosa
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tendência convenceu os
trabalhadores de se
solidarizarem em seus
interesses, e da
necessidade de juntarem
forças na luta pela melhoria
de sua condição. Essa
melhoria devia ser
internacionalmente
articulada e as primeiras
conquistas dos socialistas,
já depois da morte de Karl
Marx, se expressou na
criação de leis laborais
internacionais (a fixação de
jornadas de trabalho em
1919 foi uma delas).

(2) daí vem a reação


capitalista: houve na época
a formalização de um
mercado global com regras
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mais ou menos
estabelecidas, que
romperia com as barreiras
entre as nações e
pavimentaria o caminho
para o alastramento de um
espírito internacional. Aqui
passamos a falar de “Livre-
comércio” em escala
global: há diferentes
demandas e diferentes
ofertas pelo globo, e
através dessa ideia os
capitalistas justificam que
trabalhadores na Tailândia
produzam o tênis da moda
por centavos de dólares,
ao passo que o mesmo
trabalhador na França teria
que ganhar centenas de
dólares pelo mesmo
trabalho. A consequência
lógica para tal princípio de
lucro levou a um
desabastecimento da
indústria na França,
independentemente de
como isso afeta os
trabalhadores individuais.
Até hoje, o
internacionalismo que os
capitalistas aplicam é uma
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extensão do antigo
princípio de exploração,
contra qualquer interesse
nacional legítimo. Já em
1923, Steklov argumenta
que aqui reside a falência
do mundo que viria a se
tornar ‘globalizado’: hoje só
estamos vendo uma
amplificação do mesmo
princípio.

(3) além disso, a ideia de


solidariedade dos povos
não durou por muito tempo
em círculos burgueses. O
mesmo capitalismo
internacionalista, com seu
mercado global, promoveu
o fortalecimento da
exclusividade nacional
mediante conflitos e a
guerra que assegurassem
o tal mercado. Em outras
palavras, o método de
produção capitalista frustra
seus próprios objetivos ao
intensificar inimizades
nacionais,
sistematicamente gerando
conflitos entre os vários
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povos. A Guerra Mundial


vivida por Steklov pode se
explicar com base nisso:
ela foi também uma disputa
por mercados coloniais.
Quem perdeu o braço, a
vida e parentes ali foi a
gente trabalhadora, não os
donos dos meios de
produção; nesse sentido, a
geração que viu a eclosão
de duas guerras mundiais,
uma atrás da outra, viu-se
imbuída de destruir o
Estado-nação ou esperar o
fim da humanidade — não
havia outra solução.

(4) como consequência, a
noção de uma fraternidade
internacional encontrou um
defensor ativo no
proletariado, ele próprio
criado por força do
desenvolvimento da
pauperização das
sociedades modernas;
essa camada explorada
acabou sendo impelida em
direção à luta pela
reconstrução da sociedade
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sobre fundamentos
comunalistas. O socialismo
deveria ser mais
internacional que o
capitalismo — ele deveria
ser efetivamente
internacional e promover o
auxílio mútuo (não a
competição) entre nações.
Como diferencial do que
acontecia naquela época
de competição assassina
entre os países, o
internacionalismo do
proletariado é nutrido e
perpetuamente fortalecido
pela solidariedade ativa
dos interesses de todos os
trabalhadores,
independentemente de
onde habitam ou de sua
nacionalidade.

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Em seu livro, Steklov conta


como esse
desenvolvimento ocorreu
na prática. Ele começa
tratando de agrupamentos
de trabalhadores britânicos
no Movimento Cartista e
os Democratas
Fraternais já em meados
de 1840. Karl Marx e
Friedrich Engels, é claro,
tiveram um papel crucial
aqui ao desenvolverem
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teorias que explicam o


atual estado de mundo de
forma histórica, não
através de princípios
abstratos, elegendo o
internacionalismo como
uma das armas
necessárias para a
reconstrução de uma
sociedade pós-capitalista.

A primeira realização
desses princípios ocorreu
na Convenção de
Londres em 28 de
setembro de 1864. A
proposta era singela: havia
de se pensar novas formas
de organização, fundos de
suporte mútuo para greves
e auxílio a trabalhadores
que — como Marx e
Engels — viviam em
condições de exílio no
estrangeiro e não tinham
garantias mínimas contra
acidentes ou dispensa
imediata. A partir daí, a
ideia se alastrou em meios
anarquistas, socialistas e
comunistas: a Associação
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Internacional dos
Trabalhadores, como foi
chamado o grupo
inicialmente, ganhou
prestígio e chegou a um rol
de membros de
(estimadas) 800.000
pessoas em 1869. Dois
anos mais tarde,
trabalhadores franceses se
aproveitam da fragilidade
do governo francês
(derrotado na Guerra
Franco-prussiana), e
tomaram o controle de
Paris nas mãos: surge aí a
Comuna de Paris. Aquela
foi a primeira experiência
anarco-comunista real, o
prenúncio da efetividade de
uma sociedade autogerida
a partir de princípios que
superavam os reveses do
capitalismo. Mais uma vez,
o internacionalismo dos
burgueses vence: a França
faz uma aliança
vergonhosa com seus
antigos inimigos, os
alemães, junta exércitos
para massacrar os
parisienses covardemente
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e instaura uma ditadura. A


antiga elite volta ao poder.

A Comuna de Paris foi um


dos desdobramentos
vivenciados na época
como frutos daquela nova
forma de fraternidade pan-
europeia. Mas nem Marx,
nem Engels, viveram para
ver as outras importantes
articulações desse espírito
internacional — é aqui que
Steklov dá continuidade à
história, chegando até a
Revolução Bolchevique e
expressando a polêmica
opinião de que a
formalização da URSS só
seria um passo
intermediário para os
russos e povos aliados. O
objetivo primeiro — a
transição do capitalismo
industrial para um sistema
comunalista, mais justo e
efetivo — só seria atingido
com a concretização
efetiva do princípio
internacional. Isso
representava a passagem
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da teoria para a práxis,


digamos, que em textos
clássicos do marxismo
como “O Manifesto do
Partido Comunista” e “O
Programa de Erfurt”,
consta como mera
previsão.

Em 1924, Steklov
participou da confecção da
primeira Constituição da
URSS. Em 1936, foi preso
pelo regime por conspirar
contra o Estado soviético
que, por diversos motivos,
voltava-se cada vez mais
para dentro, para o
desenvolvimento interno e
disputa contra as potências
ocidentais. O princípio
leninista de
autodeterminação nacional
acaba por trair os objetivos
prementes do
internacionalismo, na sua
opinião, abrindo uma
discussão que até hoje é
relevante para a esquerda
revolucionária.

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Os objetivos deste
lançamento

Nosso primeiro objetivo é


historiográfico: o de
entender a prática do
internacionalismo como
pauta de instituições,
sindicatos e partidos
políticos históricos. Como
ele pode ser atingido?
Quais tipos de
internacionalismo existem?
Como ele transcende a
mera comunicação entre
células espalhadas pelo
mundo e pode, de fato,
promover não só um apoio
moral entre as pessoas,
mas também ajuda mútua
efetiva, boicotes e
mudança legislativa
pautada nos interesses das
classes trabalhadoras de
todo o globo?

Em segundo lugar: o
objetivo teórico de Steklov
aposta na transformação
do internacionalismo
inconsciente dos
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trabalhadores em um
internacionalismo
articulado. Esse livro será
de utilidade para
pensarmos no estágio atual
do internacionalismo das
esquerdas, em um impasse
que parece contradizer o
que disseram Marx e
Engels no Manifesto
Comunista de 1848:

“O verdadeiro fruto de suas


batalhas não é o sucesso
imediato, mas sua união
continuamente crescente.
A união é fomentada pela
melhoria nos meios de
comunicação garantido
pela indústria de larga
escala, o que traz os
trabalhadores de diferentes
localidades em contato
mais íntimo. Nada mais é
necessário para que se
canalize a multiplicidade de
disputas locais, que são
todas do mesmo tipo, a um
disputa nacional, a luta de
classes.

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Contudo, toda luta de


classes é uma luta política.
Os citadinos medievais,
cujo melhor meio de
comunicação era ruas
acidentadas, levaram
séculos para atingir sua
unidade. Graças às
ferrovias, os proletários
modernos podem unir
forças dentro de uns
poucos anos. […] Na
proporção que a
exploração de um indivíduo
por outro chega ao fim, a
exploração de uma nação
pela outra cessará. O fim
da oposição de classes
dentro das nações acabará
com as hostilidades
mútuas entre as nações.”

A grande novidade da
época era a máquina a
vapor; hoje temos o avião e
a internet, que amplifica
infinitamente as
possibilidades de contato
entre pessoas. Como
explorar o potencial

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coesivo de nossas
tecnologias efetivamente?

Por fim, o
internacionalismo
continua sendo uma
necessidade em 2021,na
medida em que se traduz
como um projeto de paz
mundial, como uma
interferência nas dinâmicas
das relações internacionais
como conhecemos,
pautadas por disputas
econômicas e interesses
nacionais míopes. Antes de
tudo, há um trabalho sério
a ser feito que diferencie
nosso internacionalismo
aos das relações
internacionais oficiais —
que forma nossos
diplomatas e
comunicadores
internacionais. A
modalidade do capitalismo
tardio se pauta no
pragmatismo
antidemocrática (que serve
menos às populações e
mais a uma meia dúzia de
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velhos ricos), nos


‘interesses da soberania
nacional’ que, por vezes,
está entregue nas mãos de
psicopatas eleitos: em
uma entrevista recente
para o podcast Guilhotina,
o sociólogo Daniel Aldana
Cohen nos lembra que, se
formos pensar nos líderes
das maiores potênciais
ocidentais atuais (de Putin
a Erdoğan),
os menos reacionários são
Joe Biden e Angela Merkel.
Esta é, por si só, uma
constatação de crise.
Pensar em uma
reformulação da dinâmica
social por lentes
internacionais é uma
necessidade; Steklov pode
ser de auxílio aqui.

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