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Sumário - V.13, N.

1 (2019)
EDITORIAL

ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: O PAPEL DO AMBIENTE CONSTRUÍDO NA MOBILIDADE ATIVA, SAÚDE E


QUALIDADE DE VIDA
Eleonora d´Orsi

ARTIGOS ORIGINAIS

O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM


RELATO DE EXPERIÊNCIA
Patrick da Silveira Gonçalves, André Osvaldo da Silva Furtado, Cristina Marin Ribeiro Gonçalves

OS PREDITORES MOTIVACIONAIS DA TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (TAD) PARA A ADESÃO E


ADERÊNCIA À PRÁTICA DE CROSSFIT: UM ESTUDO TRANSVERSAL
Francine Costa De Bom, Rachel Machado

ESTILO DE VIDA E QUALIDADE DO SONO DE ESCOLARES


Marcos Antônio Araújo Bezerra, Gabriela Gomes de Oliveira Bezerra, Jeferson da Silva Sousa, Lara Belmudes
Bottcher

ANÁLISE DA COORDENAÇÃO MOTORA E EQUILÍBRIO DE CRIANÇAS DO ENSINO INFANTIL DE UMA ESCOLA


PÚBLICA DE TERESINA - PI
Ayara Kathleen Santana, Carla Santana Silva dos Santos, Victor Geovani Soares de Sousa, Mara Jordana
Magalhães Costa

ÍNDICES DE OBESIDADE EM ESCOLARES COM SÍNDROME DE DOWN DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DO


PARANÁ
Daniel Zanardini Fernandes, Nicole Lahara Ienke, Mayla Fernanda Carvalhães, Verônica Volski Mattes

AVALIAÇÃO DO PERFIL MOTOR EM ESCOLARES DA ZONA RURAL DE TERESINA - PI


Renata Costa Silva, Mara Jordana Magalhães Costa

EFEITO DE UMA CURTA INTERVENÇÃO DE EXERCÍCIOS AQUÁTICOS SOBRE OS SINTOMAS DE ANSIEDADE


EM ADULTOS DE MEIA IDADE
Leonardo Geamonond Nunes

APTIDÃO FÍSICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PRATICANTES DE MINI-TÊNIS


Flávia Évelin Bandeira Lima, Mariane Aparecida Coco, Talles Augusto dos Santos

INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS DE ESCOLARES DE 6 A 14 ANOS DE IDADE DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE


XANXERÊ - SC
Mateus Augusto Bim, Jean Carlos Parmigiani De Marco, Larissa Lunardi, Deonilde Balduíno, Sandro Claro
Pedrozo

PERCEPÇÃO DE VIVER BEM MEDIANTE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA DE IDOSAS


Giovana Zarpellon Mazo, Franciele da Silva Pereira, Raquel de Souza Philippi, Bruna da Silva Vieira Capanema,
Priscila Rodrigues Gil, Pedro Silvelo Franco
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UNIDADE DIDÁTICA EM PRÁTICA
Tchiago Brigo

AVALIAÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA DE ESCOLARES: UM ESTUDO COMPARATIVO EM ESCOLAS DE


TERESINA - PI
Mariane de Oliveira Pinto, Mara Jordana Magalhães Costa

REVISÕES

ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NO PÓS-OPERATÓRIO DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS PEDIÁTRICAS


Jefferson Nascimento dos Santos, Antonia Érica Freire Rodrigues de Moura, Antonia Liliana Lopes de Sousa,
Ivani Simeão Rodrigues, Lizandra Tereza de Souza Vasconcelos, Maria Erisnilda Nunes Irineu, Thais Silva Frota
Cavalcante Modesto
EDITORIAL

ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: O PAPEL DO AMBIENTE


CONSTRUÍDO NA MOBILIDADE ATIVA, SAÚDE E QUALIDADE DE
VIDA

D´ORSI, Eleonora1

O envelhecimento saudável é o foco da Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 2015-


30 (WHO 2015). Este conceito nos remete ao balanço entre potenciais e déficits ao longo da vida,
cuja a mensuração envolve os indicadores de saúde, mobilidade, políticas públicas e avaliação
no nível individual e coletivo. Aproximadamente dois terços da variabilidade no envelhecimento
são resultantes do impacto cumulativo de fatores de risco e proteção ao longo da vida, incluindo
fatores individuais como condições sociais ao nascimento, gênero, etnia, escolaridade, renda,
bem como fatores coletivos como condições sociais, meio ambiente e políticas públicas. A
OMS define envelhecimento saudável como “o processo de desenvolvimento e manutenção da
capacidade funcional que permite o bem-estar em idades avançadas”. Isso requer o atendimento
das necessidades humanas básicas, capacidade de tomada de decisão, mobilidade, construção e
manutenção de relações sociais e contribuição para a sociedade (WHO 2011). Para isto, ações
devem ser realizadas em qualquer idade e abrangem vários níveis e setores.
A mobilidade ou capacidade de circular pelo sistema urbano com segurança, conforto
e eficiência é fundamental para um envelhecimento saudável. A mobilidade ativa se refere aos
deslocamentos nas cidades por caminhada e bicicleta. Estes são modais considerados benéficos
à saúde, pois possibilitam a prática de atividade física simultaneamente aos deslocamentos
(CARVALHO; FREITAS 2012; MUELLER et al., 2015). Estudos mostram que as pessoas
que se movimentam por modais ativos têm melhor saúde e capacidade funcional (MARQUET;
MIRALLES-GUASCH 2015; MATHIS et al., 2017). O ambiente construído tem um papel
central para facilitar e promover a mobilidade ativa. Há uma inter-relação entre o ambiente físico
e social, por exemplo, idosos vivendo em um bairro de baixa segurança e alta criminalidade,
que relatam mais barreiras à mobilidade ativa, como falta de parques, barulho de trânsito,
interseções perigosas, falta de calçadas, terreno acidentado e ruas em condições precárias,
estão mais predispostos ao isolamento social, menor capacidade funcional e pior qualidade
de vida (RANTAKOKKO et al., 2012; TOMA; HAMER; SHANKAR, 2015). Por outro lado,
a percepção de boa caminhabilidade no bairro (LOO et al., 2017; SAWCHUK et al., 2011;
ZHAO; CHUNG, 2017), bom transporte público (SPINNEY; SCOTT; NEWBOLD, 2009),
acesso a serviços de boa qualidade (HOGAN et al., 2016; ZHAO; CHUNG, 2017) estética
1
Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. E-mail: eleonora.dorsi@ufsc.br
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Envelhecimento saudável: o papel do ambiente construído na mobilidade ativa, saúde e qualidade de vida

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e beleza da cidade (HOGAN et al., 2016; ZHAO; CHUNG, 2017), lugares que propiciem
interações sociais (LOO et al., 2017; PARK; LEE, 2017; SPINNEY; SCOTT; NEWBOLD,
2009) e presença de lugares para realizar atividade física (CLARKE; GALLAGHER, 2013;
LOO et al., 2017; SPINNEY; SCOTT; NEWBOLD, 2009) afetam positivamente a qualidade de
vida. Uma das principais razões pelas quais as cidades existem é precisamente para otimizar os
deslocamentos ativos. A tendência mundial é que as pessoas à medida que envelheçam possam
viver mais perto dos serviços e que a infraestrutura urbana facilite que as pessoas saiam de casa
a pé ou de bicicleta.
Idosos que vivem em ambientes mais seguros são mais propensos a sair para caminhar
e/ou pedalar, o que auxilia a manutenção da capacidade funcional, promove interações sociais e
melhora a qualidade de vida. Quando a infraestrutura urbana não atende às necessidades desta
população, ocorre uma diminuição nos deslocamentos e piora da capacidade física (RYDIN et
al., 2012).
A maioria dos estudos sobre o ambiente construído, mobilidade, saúde e qualidade de
vida estão sendo conduzidos em países de alta renda (OSWALD; KONOPIK, 2015; PARK;
LEE, 2017; SATARIANO et al., 2016; SPINNEY; SCOTT; NEWBOLD, 2009; TOMA;
HAMER; SHANKAR, 2015). Há falta de conhecimento sobre essas relações em países de
renda média e baixa que estão passando por um processo acelerado de envelhecimento, como
o Brasil. O conhecimento sobre o possível efeito do ambiente construído sobre a mobilidade
e a saúde pode reforçar a importância das políticas públicas para reduzir as desigualdades
em saúde nesses países. É necessário motivar gestores públicos e membros da sociedade
civil a desenvolverem e implementarem estratégias que tenham o contexto ambiental no
centro das discussões. Dessa maneira, será possível promover a melhoria das condições de
saúde da população urbana, especialmente da população idosa. O ambiente construído deve
proporcionar condições adequadas e seguras de mobilidade tais como calçadas planas, rampas
de acesso, ciclovias e segurança no trânsito. Os espaços urbanos devem ser acessíveis a todos,
oferecendo oportunidades equitativas e inclusivas aos seus usuários. As políticas públicas de
mobilidade urbana devem garantir que os idosos possam e queiram sair de casa de forma ativa
com segurança, independentemente de sua condição social.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, M. L. DE; FREITAS, C. M. de. 2012. Pedalando Em Busca de Alternativas


Saudáveis e Sustentáveis. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 6, p. 1617-1628, 2012.

CLARKE, P. GALLAGHER, N. A. Optimizing Mobility in Later Life: The Role of the Urban
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HOGAN, M. J. et al. Happiness and Health across the Lifespan in Five Major Cities: The
ISSN: 2317-3467

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Envelhecimento saudável: o papel do ambiente construído na mobilidade ativa, saúde e qualidade de vida

D’ORSI, E.

176. 2016.

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Envelhecimento saudável: o papel do ambiente construído na mobilidade ativa, saúde e qualidade de vida

D’ORSI, E.

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ZHAO, Y.; PAK-KWONG, C. Neighborhood Environment Walkability and Health-Related


Quality of Life among Older Adults in Hong Kong. Archives of gerontology and geriatrics,
v. 73, p. 182-186, 2017.
ISSN: 2317-3467

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Cruz Alta, RS
O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

The use of information and communication technologies in the lessons of


physical education: an experience report

GONÇALVES, Patrick da Silveira1


FURTADO, André Osvaldo da Silva2
GONÇALVES, Cristina Marin Ribeiro3

RESUMO ABSTRACT

A Educação Física, em uma perspectiva direcionada Physical Education in a larger concept of education
ao ensino escolarizado, deve procurar abordar os should seek to approach individuals in their complexity,
indivíduos em sua complexidade e não dedicar-se not to focus solely on the physical and motor development
apenas ao aspecto do desenvolvimento físico e motor aspect of the students. The great demand for content
dos alunos. A grande demanda de conteúdos que o that the teacher must address during the school year,
professor deve abordar durante o período letivo, aliada combined with the time constraints he often encounters,
as restrições de tempo que muitas vezes encontra, end up challenging him to elaborate different teaching
acabam desafiando-o para elaborar metodologias methodologies that escape the time and space available
de ensino diferenciadas e que fogem ao tempo e in school institutions. The technological advance and
espaço disponibilizado nas instituições escolares. O the emergence of Information and Communication
avanço tecnológico e o surgimento da Tecnologia Technology (ICT) are possible allies to fulfill the
da Informação e Comunicação (TIC) mostram-se teaching tasks. Therefore, the present study had the
possíveis aliados ao cumprimento das tarefas docentes. objective of reporting on the experience of a teaching
Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo methodology of Physical Education from the use of
apresentar o relato de experiência de uma metodologia ICT in an Elementary School located in an urban
de ensino de Educação Física a partir do uso da TIC em neighborhood of the municipality of Esteio / RS,
um estabelecimento de ensino fundamental localizado located in the metropolitan region of Porto Alegre, with
em um bairro urbano do município de Esteio/RS, a 9th grade class, composed of 24 students aged 13 to
localizado na região metropolitana de Porto Alegre, 16 years. As a result, it was observed that students were
com uma turma de 9º ano, composta por 24 alunos com effectively involved with the proposed activities, had an
idades entre 13 e 15 anos. Como resultado, observou- understanding that Physical Education is not only the
se que os alunos se envolveram efetivamente com as repetition of physical exercises, and the involvement
atividades propostas, tiveram uma compreensão de with important themes that cross contemporary society,
que a Educação Física não é apenas a repetição de juvenile drugs, pathologies related to sedentary and the
exercícios físicos e gestos motores e o envolvimento adoption of healthy habits.
com temas importantes que atravessam a sociedade
contemporânea como, por exemplo, a drogadição Keywords: Information and Communication
juvenil, as patologias relacionadas ao sedentarismo e a Technologies. Pedagogical practice. School Physical
adoção de hábitos saudáveis. Education.

Palavras-chave: Prática pedagógica. Educação Física


Escolar. Tecnologias da Informação e Comunicação.

1
Mestre em Ciências do Movimento Humano - PPGCMH/UFRGS. Professor de Educação Física na rede
municipal de Gravataí/RS. E-mail: patrick.edufis@hotmail.com.
2
Mestre em Ciências do Movimento Humano - PPGCMH/UFRGS. Professor de Educação Física na rede estadual
do Rio Grande do Sul. E-mail: profandrefurtado@gmail.com.
3
Mestra em Geografia - POSGEA/UFRGS. Professora de Geografia na rede estadual do Rio Grande do Sul.
E-mail: cristinmarin@gmail.com.
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BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
O uso das tecnologias da informação e comunicação nas aulas de educação física: um relato de experiência

GONÇALVES, P. S. | FURTADO, A. O. S. | GONÇALVES, C. M. R.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o cenário que se apresenta na educação, no que diz respeito à prática


pedagógica da Educação Física, é de que está comumente associada à simples prática de
exercícios físicos, esportes para competição e jogos para recreação (CARVALHO JUNIOR,
2015). Entretanto, considerando o papel de socialização e instrução da escola, a Educação
Física não pode limitar-se a prática física e, deste modo, contemplar os alunos também nas suas
dimensões cognitivas e socais. Contudo, o tempo destinado à Educação Física na escola é por
vezes limitado frente à demanda de conhecimentos que ela deve abordar. Tais conteúdos, como as
ginásticas, as lutas, os jogos e brincadeiras, os esportes e as danças estão previstos nas diretrizes
curriculares que regem as instituições, como a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,
2017) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), tornando necessária a investida
do professor em formas alternativas que tornem significativas e prazerosas as aprendizagens.
Uma das ferramentas que o professor pode encontrar para poder “dar conta” de todo o conteúdo
programático é a utilização de técnicas alternativas de aprendizagem. Neste aspecto, salienta-
se o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) (KENSKI, 2012), como uma
metodologia que pode auxiliar na ampliação de tempos destinados aos processos de ensino-
aprendizagem da Educação Física.
O constante avanço tecnológico que atravessa a sociedade contribui para a democratização
do acesso à informação, tornando cada vez mais raro encontrar alguém que não tenha acesso
a dispositivos digitais como celulares, tablets e computadores com acesso à internet. A
popularização destes dispositivos tem contribuído para que as pessoas se tornem cada vez mais
aptas a receber e transmitir informações quase que instantaneamente.
Na escola, uma das instituições que constituem a sociedade, não é diferente. É cada
vez mais comum encontrar professores que utilizam estes meios eletrônicos para planejar e
executar suas aulas. Inclusive, não é raro encontrar professores que se utilizam destes meios
para desenvolver atividades pedagógicas, nas mais diversas áreas do conhecimento, exemplo
disto são as diferentes plataformas digitais que estão ampliando a sua atuação no mercado da
educação a distância. A Educação Física não se mostra alheia a este movimento de informatização
que atravessa a contemporaneidade. Ainda que geralmente esteja associada à exclusividade de
práticas corporais e atividades físicas, esta área tem acompanhado o movimento tecnológico no
meio educacional (CAMARGO, 2015).
Compreende-se que a Educação Física desempenha o papel onde a prática de exercícios
físicos não é o único fim deste componente curricular. Segundo a Base Nacional Comum
Curricular - BNCC (BRASIL, 2017), documento que orienta a formação curricular das
instituições de educação básica brasileiras, a Educação Física se estrutura dentro da área das
linguagens. Assim, o seu objetivo, além das práticas mecanizadas de segmentos do corpo, busca
promover o acesso, a reflexão e a criticidade sobre conhecimentos e saberes que somente são
acessíveis através das práticas corporais. No entanto, esta área do conhecimento vem perdendo
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O uso das tecnologias da informação e comunicação nas aulas de educação física: um relato de experiência

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espaço quando as discussões sobre quais saberes devem se fazer presentes no currículo escolar
e também sobre o papel do corpo humano na constituição dos sujeitos (NEIRA, 2018).
Este relato de experiência apresenta uma proposta de metodologia de ensino utilizando
as TIC como forma de contemplar as demandas exigidas no contexto escolar, no que se refere
as diretrizes curriculares estabelecidas nas instituições de ensino.

2 O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E O USO DE TECNOLOGIAS DA


INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

A Educação Física está historicamente ligada às práticas de exercícios físicos que bus-
cam aprimorar as aptidões motoras e as capacidades físicas (COLETIVO DE AUTORES,
1992). No entanto, entende-se que ela deve ser compreendida como um processo mais amplo
dentro de uma perspectiva da educacional (FALKENBACH, 2002). Também de maneira his-
tórica, compreende-se que a sociedade tem negado a pessoa como um todo, tendo a escola se
voltado às tarefas cognitivas através de uma metodologia rígida, que buscou transmitir o co-
nhecimento a um indivíduo privado de movimentos ou de sua expressão através das diferentes
linguagens (BRASIL, 2017).
Frente a isso, é possível pensar que a Educação Física tem encontrado dificuldades
em se legitimar nas instituições escolares. No entanto, vale destacar que, nas últimas décadas,
ocorreu um esforço em considerar a ampla e diversificada abordagem que pode ter, ao consi-
dera-la um dos componentes voltados aos processos da linguagem (BRASIL, 1997). Dentro
da perspectiva da área das linguagens, a Educação Física tem, entre seus objetivos, a função
de abordar e despertar no aluno conhecimentos, reflexões e análises que podem ser expressas,
experimentada, criadas e recriadas pelas práticas corporais.
Salienta-se também, que a partir de uma visão neoliberal, que vem consolidando-se
como o discurso hegemônico na educação, é possível pensar o corpo humano como uma ferra-
menta que deve apenas produzir trabalho e gerar renda (APPLE, 2003; GANDIN; HYPOLITO,
2003). Quando ocorre o início da trajetória da escolarização, há certo condicionamento para
priorizar as ciências que supostamente desenvolvem o intelecto, como sendo as únicas essen-
ciais para o desenvolvimento humano. Em contraponto a isto, a Educação Física vem, além de
ser a ciência que estuda o corpo humano e seus movimentos, contemplar o ser humano em sua
plenitude, não deixando de lado os sonhos e pensamentos de cada um, além da contribuição
social que cada indivíduo pode trazer (NEIRA, 2016).
À luz dos estudos de Figueiredo (2004a; 2004b; 2008), o ser humano carrega na sua
formação adulta marcas que foram constituídas através das suas vivências na fase da escolariza-
ção. Tais marcas podem vir a influenciar as escolhas destes estudantes na fase adulta. Portanto
torna-se de suma importância o docente entender quais ferramentas utilizar e a forma de abor-
dar o componente curricular, afim de auxiliar no desenvolvimento do seu educando.
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Entende-se que a Educação Física pode tratar o indivíduo na sua plenitude, e não li-
mitar-se somente às performances que o corpo pode desempenhar. Todavia, não é necessário
excluir os jogos, esportes e movimentos das aulas de Educação Física, com isso o próprio nome
da profissão já não teria mais sentido, o importante é perceber que, através destas atividades,
podemos alcançar objetivos maiores, contemplando o ser humano em sua complexidade, como
o conhecimento do próprio corpo e sua utilização como forma de expressar-se (NEIRA, 2016).
Compreende-se que a Educação Física deve ter um caráter relacional com o educando,
trazendo atividades que são do interesse do aluno e que tenham por finalidade principal o seu
pleno desenvolvimento no âmbito físico, cognitivo, profissional, social e afetivo, tornando-o um
ser humano melhor. Deve, ainda, ser uma ferramenta de luta contra a discriminação e exclusão
social de qualquer tipo (SOLER, 2003), transformando e beneficiando, também, a sociedade.
A Educação Física pode também ir ao encontro da abordagem da saúde renovada
(DARIDO, 2003), buscando se inteirar sobre o que o discente já conhece e o estimulando - a
partir daí - à adoção de hábitos saudáveis não só dentro da instituição de ensino, mas por todo
o seu cotidiano e se estendendo ao longo de toda a sua vida. Uma vida fisicamente ativa pode
diminuir os níveis de ansiedade e evitar psicopatologias mais graves (ROSA, 1999), como a
depressão, por exemplo, principalmente em adolescentes, que estão atravessando uma fase de
difíceis decisões, com muitas responsabilidades e desafios pela frente.
Assim sendo, a Educação Física, mais do que legítima, tem se mostrado necessária,
ainda que não seja tratada com relevância por algumas esferas do sistema de ensino brasileiro,
que a trata com desprezo ou, no mínimo, percebe, equivocadamente, como um método de
melhora de aptidão física através de exercícios que exigem o esforço do corpo humano. A
Educação Física, num conceito maior de educação, aborda o corpo humano como um todo,
explorando todos seus limites e suas possibilidades. Com isto, sugere-se que não pode se ater
somente aos aspectos físicos, mas, também, cognitivos, afetivos e sociais, para que possa tornar
todo ser humano melhor com ele mesmo, contribuindo, assim, para uma sociedade melhor.
Na atualidade, os sistemas de ensino geralmente reduzem a Educação Física a curtos
espaços de tempo (cerca de duas horas-aula) tornando, assim, o trabalho docente no que tange
os princípios de cultura corporal do movimento quase que inexequíveis. Ao professor é delegada
a tarefa de abordar as especificidades dos esportes, jogos, ginásticas, lutas, danças provenientes
das diretrizes curriculares e dos planos de estudos das escolas em tempo e espaço que nem
sempre o favorecem (CONTRERAS, 2012; HARGREAVES, 2005; WITTIZORECKI, 2001).
Desta forma, é viável compreender o professor como um indivíduo desestimulado frente à
tarefa de cumprir todas as demandas escolares ou, por outro lado, desafiado a criar estratégias
para que o ensino se torne significante e motivador aos alunos.
O termo tecnologia pode ser utilizado para se referir ao conjunto de conhecimentos
empregados para a construção, planejamento e utilização mediante algum equipamento para
alguma atividade (KENSKI, 2012). Nesse conceito, a tecnologia pode ser utilizada para
inúmeras atividades humanas, inclusive atividades pedagógicas. Os constantes avanços
ISSN: 2317-3467

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 5-17, Abril/2019
Cruz Alta, RS
O uso das tecnologias da informação e comunicação nas aulas de educação física: um relato de experiência

GONÇALVES, P. S. | FURTADO, A. O. S. | GONÇALVES, C. M. R.

tecnológicos trouxeram a possibilidade de que muitos indivíduos possam ter facilmente o


acesso à comunicação e à informação.
O convite para a reflexão sobre as novas formas de integração os artefatos tecnológicos
e a escola, feito por Cruz Junior e Silva (2010), sugere que o avanço das TIC modificaram os
modos em que a sociedade acessa e produz informações também nas instituições de ensino.
Atualmente, é muito comum que dentro do contexto escolar, professores e alunos acessem os
mais diversos dispositivos digitais como tablets, celulares e computadores para planejarem ou
executarem as tarefas que serão/foram vistas em sala de aula.
Ainda que a Educação Física esteja comumente relacionada à exclusividade da prática
de exercícios físicos, ela não pode ter seu meio e fim nas atividades corporais, tendo em vista
que, dentro de um contexto educacional, ela deve instruir e socializar, produzindo indivíduos
críticos e autônomos na produção de sua própria história (CARVALHO JUNIOR, 2015).
Compreende-se então que a Educação Física pode se utilizar deste movimento da sociedade
para a democratização do acesso as TIC para promover aulas mais atrativas, que explorem
os diversos tipos de linguagem e proporcionando um tempo de aprendizado maior do que
tradicionalmente conhecido nos ambientes escolares.

3 DESENVOLVENDO UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA A


PARTIR DO USO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Partindo da concepção de que a Educação Física não se limita somente à prática de


exercícios físicos, mas estar entrelaçada com os princípios maiores de instrução e socialização
da educação (CARVALHO JUNIOR, 2015), o presente relato traz a experiência de uma proposta
didática desenvolvida em uma escola municipal de ensino fundamental localizada no município
de Esteio/RS, , na região metropolitana de Porto Alegre, em uma turma de 9º ano do Ensino
Fundamental, composta por 24 alunos com idades entre 13 e 15 anos. A prática pedagógica se
origina a partir de uma perspectiva de saúde renovada (DARIDO, 2003).
A organização da grade curricular da instituição é separada por áreas do conhecimento
e a disposição da carga horária semanal com quatro períodos de 55 minutos e com um intervalo
de 20 minutos, totalizando 4 horas diárias. Entretanto, às sextas-feiras, ocorrem as reuniões
pedagógicas, onde professores e equipe diretiva se reúnem para refletir e elaborar propostas
ao cotidiano escolar. Com a diminuição da carga horária disponível para as aulas, os períodos
de sexta-feira são reduzidos para 23 minutos. Frente aos conteúdos exigidos na docência da
Educação Física e o curto espaço de tempo disponibilizado na escola, foi experimentado durante
o trimestre letivo, o uso de TIC como forma de desenvolver mais amplamente o aprendizado
dos alunos.
Como forma de minimizar o impacto da redução de tempo aos componentes curriculares,
a escola mantém uma rotatividade nos dias destinados a cada área do conhecimento. Ou seja,
disciplinas que frequentemente sofriam com a incidência de feriados escolares e aquelas que se
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O uso das tecnologias da informação e comunicação nas aulas de educação física: um relato de experiência

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encontravam nas sextas-feiras eram substituídas por aquelas que obtiveram maior carga horária
no semestre seguinte. Com isso, as aulas de Educação Física para a turma em questão eram
limitadas a 55 minutos semanais durante o primeiro trimestre letivo.
Durante o primeiro trimestre, em contraponto à baixa carga horária disponibilizada para
a disciplina da Educação Física, foi proposto aos alunos uma forma de complementar a carga
horária destinada às aulas, abordando os conteúdos previstos no plano de estudos da disciplina.
Cabe salientar que o plano de estudos é refeito periodicamente pelos professores da escola
e aborda temáticas consideradas relevantes para a comunidade escolar, com a observância dos
aspectos e diretrizes legais. Para o primeiro trimestre do 9º ano em questão, estavam previstos
conteúdos que abordassem a saúde, o bem-estar e aspectos táticos dos principais esportes
coletivos.
Na impossibilidade de abordar todos os conteúdos previstos ao primeiro trimestre,
foi proposto aos alunos a execução de atividades através de um blog, uma página na internet
onde o professor é responsável por publicar temas e tarefas onde os alunos devem refletir e
dissertar sobre as questões propostas no espaço destinado aos comentários. Ressaltamos que
esta iniciativa se deu a partir de uma pesquisa informal prévia sobre qual atividade principal
que realizavam em casa, onde observou-se que os alunos ficavam 2 horas ou mais acessando
a internet por computador, celular e/ou tablet, e que todos tinham acesso à internet em suas
residências.
Após a percepção de que todos os alunos tinham acesso às ferramentas digitais, o blog
iniciou com uma saudação aos alunos e um breve tutorial de como eles deveriam proceder
para registrar suas respostas. Após esta primeira publicação, iniciou-se os temas e as tarefas
avaliativas. Ao todo, foram propostas sete tarefas, precedidas de um breve texto introdutório,
imagens e/ou vídeos relacionados com a temática. Os conteúdos abordados surgiram com base
nas previsões do plano de estudos e nos assuntos que os alunos comentavam entre uma aula e
outra.
A primeira tarefa trazia como texto introdutório o seguinte trecho:

Todos viram que o vocalista de uma banda famosa faleceu esta semana aos 42 anos
de idade. A polícia achou o apartamento dele todo revirado e quebrado. No meio da
bagunça, foram achadas latas de cerveja, energético e um pó branco que acredita-se
ser cocaína [...] (GONÇALVES, 2013, on-line)

O assunto em questão surgiu após diversos comentários dos alunos sobre um músico de
rock popular entre os adolescentes. A possibilidade do músico ter falecido pelo uso indevido de
drogas ilícitas fez suscitar o debate sobre drogadição na escola. Tendo em vista que a adolescência
é um período onde o indivíduo dificilmente aceita conselhos e acaba, por si só, se expondo aos
riscos de testar os próprios limites (MARQUES; CRUZ, 2007; WITTIZORECKI, 2001; ROSA,
1999). A atividade em questão visou proporcionar aos alunos a reflexão sobre os motivos pelos
quais alguém começa a utilizar as drogas ilícitas e quais podem ser as consequências deste uso.
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Deste modo, a atividade proposta foi de que os alunos pudessem entender o contexto no qual o
artista estava inserido e que, mesmo com fama e dinheiro, deixou-se levar pelo uso indevido de
drogas, resultando no suicídio.
O tema voltou a ser debatido em parte da aula subsequente, e que levou ao debate sobre
o que o corpo humano pode e o que não pode ingerir. Com isso, a próxima tarefa abordou os
aspectos referentes à alimentação saudável. Portanto segunda tarefa trouxe uma imagem da
pirâmide alimentar, e o seguinte excerto:

[...]. A pirâmide alimentar é um guia geral para que tu possas escolher uma alimentação
saudável. Quanto mais perto da base estiver o alimento, maior é a necessidade do
nosso organismo de ingeri-lo. [...] Por isso, a Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, após anos de estudo, descobriu que para mantermos os nossos corpos
saudáveis devemos ingerir os alimentos certos (que sejam ricos em nutrientes e não
tão calóricos) e também praticar diariamente exercícios físicos, aliando sempre à uma
boa hidratação, como podemos observar na figura acima. Alimentos como carnes
vermelhas, refrigerantes e pão branco devem ser evitados ao máximo, pois nos enchem
de calorias inúteis e não possuem tantas vitaminas (GONÇALVES, 2013, on-line).

A educação alimentar e a adoção de hábitos saudáveis são temas que perpassam todo o
currículo escolar e estão fundamentados nas diretrizes do Ministério da Educação e Ministério
da Saúde (CERVATO-MANCUSO et al., 2013). Ainda que os alimentos ofertados pela escola
sejam pautados pelos princípios nutricionais saudáveis, pouco é oportunizado aos alunos refletir
e saber identificar quais nutrientes ingerem no seu cotidiano. Foi instigado aos alunos através
de questões que buscassem informações sobre os nutrientes que compõem os alimentos que
eles ingerem diariamente, e como classificariam em uma escala de relevância apresentada pela
pirâmide alimentar.
Corroborando com a ideia de adoção de hábitos saudáveis, a terceira e a quarta tarefas
buscaram a reflexão, além da qualidade dos nutrientes ingeridos, a quantidade de calorias que
contém cada alimento e como se mantém um balanço energético:

A atividade da semana é sobre ingestão de calorias. Para quem não sabe, caloria (cal)
ou Quilocaloria (Kcal) é a unidade de medida de energia que um alimento fornece
ao nosso corpo. Estamos sempre gastando calorias (quando andamos, respiramos,
dormimos, etc.) e por isso devemos repô-las para garantir o bom funcionamento
do nosso organismo. A figura abaixo nos mostra alguns alimentos e  sua respectiva
quantidade de calorias (GONÇALVES, 2013, on-line).

Manter o corpo em movimento, seja praticando algum esporte, algum exercício físico
ou atividades domésticas como lavar roupa, lavar louça, varrer a casa, entre outras,
é fundamental. Caso contrário, se vivermos no sedentarismo, ou seja, a falta, ausência
e/ou diminuição de atividades físicas ou esportivas, pode contribuir para uma série
de consequências negativas para a nossa saúde [...] (GONÇALVES, 2013, on-line).

Ainda que a saúde possa estar diretamente relacionada aos aspectos físicos do indivíduo,
ela corresponde aos aspectos cognitivos, emocionais e sociais, na adoção de atitudes que sejam
benéficas ao indivíduo (SOUZA et al., 2005). Embora a busca por uma qualidade de vida tenha
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que se manter permanente no cotidiano de cada uma e cada um, a busca excessiva pela saúde,
impulsionados pelos ideais neoliberais que instigam os indivíduos ao consumismo desenfreado
às buscas de um padrão instituído pelas relações comerciais, não é raro encontrar casos onde
adolescentes desenvolvem patologias psicológicas na busca excessiva de um corpo mais bonito
(GONÇALVES et al., 2013).
Desta forma, a quinta tarefa tratou de orientar os estudantes quanto aos transtornos
alimentares que afetam os sujeitos, que, numa relação complexa, abdicam da saúde para ter
corpos mais belos:

Todos sabem que a vida dos adolescentes de hoje não é a mesma de antigamente.
Vivemos em um mundo tecnológico, sendo bombardeados por fontes de estresse por
todo lado como, por exemplo, televisão, rádio, mensagens, Facebook, páginas da
web, outdoors, jornais, camisetas de times, entre muitos outros.
Esta busca pelo padrão de beleza faz, muitas vezes, com que adolescentes desenvolvam
transtornos alimentares como a anorexia, a bulimia, a vigorexia e a ortorexia
(GONÇALVES, 2013, on-line).

Por fim, a sétima tarefa trazia como proposta uma avaliação das atividades geradas
pelo blog onde foi possível verificar como os alunos participaram das atividades, quais temas
consideraram mais relevantes e como relacionam as abordagens à Educação Física e ao seu
cotidiano. Respeitando os aspectos éticos, os nomes dos alunos foram preservados e substituídos
por letras. Os sujeitos participantes, portanto, serão apresentados sob as seguintes abreviaturas:
Sa, para o aluno A; Sb, para o aluno B, Sc para i aluno C, e assim sucessivamente. Também
foi recolhida a assinatura destes alunos e seus responsáveis no Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, autorizando reprodução dos dados colhidos quanto à utilização de escritas neste
relato. Ressaltamos que serão transcritos os trechos mais significantes e não repetitivos para
este relato.
A observação que mais aparece nos relatos diz respeito a quantidade de temas abordados.
Ainda que os temas tenham sido temporalmente pontuais, acreditamos que a relação entre os
temas - e dos temas com o cotidiano dos adolescentes - possam ter feito com que se lembrem
da maioria ou todos eles, como segue:

Sa: Durante esse tempo no blog nós executamos várias atividades sobre: saúde,
dependência química, entre outros assuntos.

Sb:[...] neste blog falamos de vários assuntos interessantes sobre, saúde, transtornos
alimentares, sedentarismo isso me ensinou muitas coisas

Sc: Nesse blog nós abordamos vários assuntos, como o cantor e o uso de drogas
no mundo dos artistas, falamos sobre alimentação e a pirâmide alimentar, sobre as
calorias, o sedentarismo, a vigorexia e a anorexia e por último também falamos dos
padrões de beleza.

O contato com os temas abordados fez com que os alunos pudessem refletir sobre temas
que comumente não são abordados no cotidiano escolar. O conhecimento, quando abordado
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de maneira que possa ser transportado para o cotidiano, aquém do que é vivenciado no interior
da instituição escolar, possibilita a aprendizagem significativa (DARIDO, 2003). Os relatos a
seguir demonstram que alguns dos alunos desconheciam os temas abordados.

Sh: A iniciativa de ter um blog foi muito interessante, no blog aprendemos muitas
coisas.

Sk: [...] eu também aprendi muitas coisas no blog que eu não sabia.

Sm: Esses assuntos foram bons para nós tirarmos muitas dúvidas e conclusões.

Os temas abordados, os quais se relacionam com o corpo, contribuíram para um novo


olhar sobre a Educação Física, ampliando a diversificação dos conhecimentos que esta área
aborda. Nas aulas de Educação Física, além de se praticar esportes, pode-se e deve-se ser
abordados conhecimentos que contribuam para uma melhor qualidade de vida dos indivíduos
e também na vida social que experimentam (NEIRA, 2016). A desmitificação por parte dos
alunos de que a Educação Física tem seu fim nos exercícios físicos é observada nos relatos a
seguir:

Sb: Na educação física nós não praticamos só esportes mas também aprendemos a
conviver um aos outros, e também é bom ter hábitos saudáveis nas nossas vidas.

Sj: A Ed. Física não é só fazer alongamento, jogar futebol, handebol [...].

Sk: E ele nos mostrou que educação física é importante para o nosso dia a dia,
e que é possível fazer exercícios até mesmo com as tarefas domesticas. Eu acho
que nenhum assunto abordado foi desnecessário. Todos os assuntos foram muito
importantes.

Sl: A importância da educação física é que isso ajuda desde pequeno a reduzir o
índice de obesidade na infância

Sn: Esse blog é a prova de que Educação Física não é só correr e fazer exercícios,
mas também interatividade em conhecimentos gerais.

Por fim, destacamos que os alunos conseguiram compreender que a busca de uma vida
saudável deve ser praticada diariamente. O reconhecimento da Educação Física como um
componente capaz de orientar os indivíduos à busca da qualidade de vida e de atitudes voltadas
à saúde auxilia na compreensão de que esta área do conhecimento não deva ser estritamente
prática (DARIDO, 2003). Os estudantes compreenderam que, além dos momentos de prática
durante o período escolar, é imprescindível que sejam adotados hábitos que promovam a saúde,
como é possível observar nos relatos que seguem:

Sg: Esse blog falou e debateu vários assuntos sobre os cuidados que nós devemos
tomar com o nosso corpo, tais como o sedentarismo, as drogas e os outros assuntos
que foram passados no blog. O blog foi uma maneira de nos alertar as doenças e os
perigos que a no mundo a fora.
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Sj: [...] eu gostei muito foi sobre o sedentarismo e uma boa observação de que não
importa se seja um exercício físico tradicional ou um exercício normal como lavar a
louça ou estender a roupa (ressaltando novamente que foi muito bom este assunto).

Sm: Um dos assuntos que mais gostei foi do sedentarismo, que fala muito sobre o
nosso dia-a-dia.

Ainda sobre a participação dos alunos no blog, constatou-se que todos os alunos
frequentes participaram efetivamente de quatro ou mais atividades. Os alunos infrequentes (que
não compareceram à aula alguma) e transferidos (egressos) não participaram das atividades. Isto
corrobora com a perspectiva de Cruz Junior e Silva (2010) sobre o conjunto de conhecimentos
sobre o corpo que a Educação Física pode fomentar não estar apenas relacionado aos momentos
em que os estudantes estão na escola, desenvolvendo alguma prática corporal. Neste tocante,
ainda conforme os autores, a Educação Física pode se apropriar dos movimentos tecnológicos,
que ampliam o acesso à informação e a comunicação aos diversos adolescentes das áreas
urbanizadas. Os alunos puderam acompanhar durante todo o trimestre a sua participação nas
atividades e foi disponibilizado, ao término do trimestre, a execução das tarefas que por motivo
ou outro, não realizaram no prazo pré-estabelecido.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este relato, é viável salientar ser de extrema relevância, que o componente
curricular Educação Física disponha de tempos e espaços dignos dentro do contexto escolar
para que o docente consiga efetivar a sua prática pedagógica. Em alguns casos, é necessária a
reivindicação por parte de uma comunidade engajada ao pleno desenvolvimento do ser humano.
Considera-se, também, que existem situações que podem vir a contribuir para a
diminuição da carga horária destinada ao componente curricular e que fogem à descaracterização
da Educação Física, mas decorre da impossibilidade da escola em ofertar o mesmo período de
tempo a todas as turmas, incidindo na diminuição da carga horária de diversos componentes.
Caso este que deu origem a este relato. Conclui-se, portanto, que a Educação Física, em uma
abordagem que não se sustente apenas na prática exaustiva de exercícios físicos, pode utilizar-
se também das TIC como metodologia de ensino para que o aprendizado dos estudantes se torne
maior, ampliando os tempos e espaços para tal.
Assim sendo, o constante avanço da tecnologia e o crescimento do acesso a dispositivos
de informação e comunicação podem se tornar aliados do professor, quando este se significa
diante da quase inexequível tarefa de cumprir com todos os conteúdos programáticos previstos
pelos gestores educacionais.
Importante ressaltar que o presente relato buscou aproximar a Educação Física, uma área
historicamente classificada como componente que trata da prática corporal, aos conhecimentos
que transversalmente atravessam a sociedade contemporânea. Acreditamos que esta prática
pedagógica possa contribuir para a reflexão dos docentes e profissionais ligados a Educação
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Física escolar, engajados na contribuição que a Educação Física pode ter na construção de uma
sociedade mais livre e justa.
A partir destes pressupostos é o possível que o presente relato venha contribuir para que o
componente curricular da Educação Física continue a sua caminhada de legitimação diante dos
demais componentes curriculares e, consequentemente, pelos alunos seja reconhecido não só
como uma disciplina que trata os esportes, mas sendo aquela que o auxilia no desenvolvimento
do conhecimento sobre as demais abordagens que o componente pode apresentar e em conjunto
com as TIC auxiliar o aluno na construção de um saber mais amplo.

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 5-17, Abril/2019
Cruz Alta, RS
OS PREDITORES MOTIVACIONAIS DA TEORIA DA
AUTODETERMINAÇÃO (TAD) PARA A ADESÃO E ADERÊNCIA À
PRÁTICA DE CROSSFIT: UM ESTUDO TRANSVERSAL

The motivational predictors of self-determination theory (TAD) for adherence


and adhesion to crossfit practice: a cross-sectional study

DE BOM, Francine Costa1


MACHADO, Rachel2

RESUMO ABSTRACT
O Crossfit é uma modalidade de treino de Crossfit is a strength training modality that
força que vem ganhando destaque no cenário has gained prominence in the national setting
nacional da Educação Física. O desempenho of Physical Education. Performance in
nos treinamentos depende da adesão e da training depends on adherence and adherence
aderência dos participantes, e podem ser of participants, and can be determined by
determinados por fatores motivacionais.
O presente estudo baseou-se na teoria da motivational factors. The present study was
autodeterminação (TAD) e teve como objetivo based on the theory of self-determination
verificar quais são os preditores motivacionais (TAD) and had as objective to verify which are
para a adesão e aderência de praticantes the motivational predictors for the adherence
da modalidade de Crossfit em Orleans/SC. and adherence of practitioners of the modality
Participaram da pesquisa 32 alunos de ambos of Crossfit in Municipality / State. Thirty-two
os sexos (feminino = 62,5% e masculino students of both sexes (female = 62.5% and
= 37,5%), de um box de Crossfit da cidade male = 37.5%) participated in the study, from
com tempo de prática variando entre um a a City Crossfit box with practice time ranging
seis meses ou mais. O instrumento de coleta from one to six months or more. The collection
foi o questionário BREQ -2. Os resultados
foram maiores para a Motivação intrínseca instrument was the BREQ-2 questionnaire. The
(feminino = 14,75; masculino = 14,92) seguido results were higher for Intrinsic Motivation
da Regulação identificada (feminino = 9,7; (female = 14.75, male = 14.92) followed by
masculino = 10,33) Como conclusão aponta- the Regulation identified (female = 9.7, male
se que, a maioria da amostra se encontra = 10.33). is self-determined in practicing the
autodeterminada em praticar a modalidade de modality of crossfit either in the adhesion or
crossfit seja na fase de adesão ou de aderência. adhesion phase.
Palavras-chave: Treinamento de Resistência. Keywords: Resistance Training. Motivation.
Motivação. Autodeterminação Self-determination.

1
Professora (Mestra) em Ciências da Linguagem - Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). E-mail:
costafrancine@hotmail.com.
2
Bacharel em Educação Física - Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). E-mail: rachelmachado01@
gmail.com.
18
BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
Os preditores motivacionais da teoria da autodeterminação (TAD) para a adesão e aderência à prática de crossfit:
um estudo transversal

DE BOM, F. C. | MACHADO, R.

1 INTRODUÇÃO

O Crossfit é uma modalidade de treino de força que vem crescendo muito nos últimos
anos. Foi criado na década de 90 por Grag Glassman e de acordo Tibana et al. (2015) a prática
pode ser definida como uma modalidade baseada em movimentos funcionais, constantemente
variados e de alta intensidade, a qual otimiza o trabalho de resistência cardiovascular e
respiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potencia, velocidade, coordenação
agilidade, equilíbrio e precisão.
Segundo Rios (2018) o treino de Crossfit tem duração média de uma hora e segue uma
ordem que se inicia com um aquecimento seguido de um exercício para desenvolver força ou
melhorar a habilidade em algum movimento específico, para somente então começar a parte
relacionada ao condicionamento físico. Em conjunto, todos esses componentes fazem parte do
popular “WOD”, ou “Work of the day”, que é realizado sempre priorizando a execução em alta
intensidade. Os treinos podem ser realizados de duas maneiras: com um número de repetições
a ser realizado no menor tempo ou o máximo de repetições possível durante um tempo fixo.
A prática de Crossfit traz diversos benefícios, como melhora na composição corporal
(redução do percentual de gordura e aumento da massa magra) e no consumo máximo de
oxigênio (SMITH et al., 2013; AUNE; POWERS, 2016); melhora na motivação e autoestima
(SCHULTZ et al., 2016); melhora na aptidão física por completo, tanto na capacidade física
aeróbia quanto na anaeróbia (POSTON et al., 2016). Porém, apesar dos benefícios relacionados
a esta modalidade de treino, o estudo de Smith et al. (2013) aponta o desenvolvimento de lesões
nos praticantes.
O Crossfit possui grande destaque devido ao forte apelo mediático e por seu tipo de
treino, que possui caráter motivacional e desafiador. Além disso, sabe-se que os exercícios são
realizados em alta intensidade e tem como objetivo promover benefícios globais em um tempo
de prática menor quando comparado aos modelos tradicionais de treino. Assim, Heinrich et al.
(2014) cita que este é um fator muito importante para adesão e aderência nesse programa de
treinamento que reúne uma combinação variada de atividades aeróbias, ginástica e resistência
em exercícios multiarticulares.
O alcance dos resultados em qualquer treinamento físico depende de aderência, que
segundo Saba (2001) é a prática regular, sem interrupções, para além de seis meses, podendo
ser interrompida mesmo após esse intervalo de tempo. O autor sugere que, até seis meses o
indivíduo está em fase de adesão, e mais suscetível a desistência. Essa aderência depende de
fatores motivacionais e pode ser interrompida as qualquer momento, exigindo que o indivíduo
retome a prática regular novamente em seu cotidiano, passando novamente pela fase de adoção
em primeiro plano.
De acordo com Tamayo et al. (2001), para um individuo aderir (adesão) à atividade
física, precisa estar disposto a disponibilizar espaço na sua rotina para a modalidade em local
apropriado, e normalmente não considera as barreiras que surgem.
ISSN: 2317-3467

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 18-25, Abril/2019
Cruz Alta, RS
Os preditores motivacionais da teoria da autodeterminação (TAD) para a adesão e aderência à prática de crossfit:
um estudo transversal

DE BOM, F. C. | MACHADO, R.

Já a aderência, conforme Saba (2001) representa os motivos que geram permanência


num programa de exercícios físicos. O autor destaca que no processo de aderência a exercícios
físicos há cinco fases progressivas: a primeira fase seria a de pré-contemplação onde além de
não realizar nenhum exercício físico, não há a intenção de realiza-lo. A segunda fase é a de
contemplação, onde o individuo desenvolve a vontade de praticar algum exercício determinado.
A terceira fase é a de preparação, onde há algumas alterações nos hábitos do individuo e o
mesmo começa a se planejar para a realização do mesmo. A quarta fase é a de ação onde
tem uma participação nos exercícios de forma eventual, começando a sentir os benefícios da
atividade física. E por fim a fase de manutenção, a qual a aderência se constitui, revelando uma
participação continua e independente num programa de exercício físico.
Neste contexto, Samulski (2009) esclarece que o sucesso de programas de exercícios
físicos, é diretamente relacionado à motivação dos participantes, que segundo Weinberg
e Gould (2007) nada mais é do que um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta,
sendo considerada uma variável fundamental para a aderência. Os autores elucidam ainda
que, a motivação para o inicio da prática são determinadas por fatores pessoais (intrínsecos)
e ambientais (extrínsecos). Assim, compreende-se que a motivação possui caráter dinâmico, e
uma relação entre aspectos biológicos, cognitivos e sociais, que impedem ou facilitam a prática
de exercícios físicos.
Deci e Ryan (2000) apresentam a Teoria do Autodeterminação por meio de um conti-
nuum apresentado na Figura 1 o qual inclui a motivação intrínseca, a motivação extrínseca e
suas diferentes regulações, e a amotivação, respectivamente partindo do preditor motivacional
mais autodeterminado para o menos autodeterminado.

Figura 1 - Continuum da Autodeterminação mostrando os tipos de motivações com seus tipos de regulação e os
processos reguladores correspondentes.

Fonte: Fernandes e Vasconcelos (2005) adaptado de Decy & Ryan, 2000.

Silva e De Bom (2015) buscaram identificar os preditores da TAD para a adoção e ade-
rência à prática de musculação em um Município do Sul de Santa Catarina. Concluiu-se que a
Regulação Identificada é o preditor motivacional determinante nas fases de adoção e aderência
à prática de musculação, seguido do preditor de motivação intrínseca.
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um estudo transversal

DE BOM, F. C. | MACHADO, R.

De Bom (2013) buscou descrever quais são os preditores motivacionais positivos e ne-
gativos que influenciam a adesão a prática de exercícios físicos com base na TAD, chegando à
conclusão de que a motivação intrínseca e a regulação identificada são os preditores de maior
influência (positiva) para a adesão à prática de exercícios físicos seja a curto quanto a longo
prazo, em diferentes perfis populacionais tais como: mulheres, jovens, adultos, adolescentes e
idosos sedentários ou não.
Considerando a relevância do conhecimento da adesão e aderência de praticantes de
Crossfit, e a motivação para se manterem ativos, o presente estudo teve como objetivo verificar
quais são os preditores motivacionais da TAD para a adesão e aderência de praticantes da mo-
dalidade de Crossfit em um box no município de Orleans/SC.

2 MÉTODOS

A pesquisa apresenta-se como um estudo de corte transversal e quantitativo e contou


com uma amostra por conveniência, de 32 praticantes de Crossfit, (20 mulheres e 12 homens)
com média de idade de 28,74 ± 5,70. O campo de estudo foi o único box de Crossfit localizado
no município de Orleans/SC.
O questionário utilizado para a coleta de dados foi o BREQ-2 (Behavioural Regulation
in Exercise Questionnaire), adaptado para a modalidade de crossfit em seus questionamentos,
conforme sua validação. Além disso, foi acrescentado um cabeçalho para coletar informações
quanto as características etárias, de sexo e de tempo de prática da amostra, haja visto que o
BREQ-2 é exclusivo para os preditores, de acordo com o continuum da Figura 1.
O instrumento é composto por 19 subescalas do tipo Likert com cinco opções de resposta,
onde zero equivale a ‘não é verdade para mim’ e quatro a ‘muitas vezes é verdade para mim’,
onde são avaliados os construtos: amotivação, regulação externa, introjetada e identificada e
motivação intrínseca. Durante a aplicação do instrumento, a pesquisadora acompanhou a coleta
de dados, permanecendo durante todo o tempo no local, para o esclarecimento de possíveis
dúvidas quanto ao preenchimento.
Os dados coletados foram organizados e analisados com auxílio do programa IBM
Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 23.0. As variáveis quantitativas
foram expressas por meio de média e desvio padrão e, mediana e amplitude interquartil. As
variáveis quantitativas foram expressas por meio de frequência porcentagem.
As análises estatísticas inferenciais foram realizadas com um nível de confiança de
95%. A investigação quanto a normalidade da distribuição das variáveis quantitativas foi feita
por meio do teste de Shapiro-Wilk. A investigação quanto a homogeneidade da variância das
variáveis quantitativas foi realizada por meio de teste de Levene.
A comparação das médias das variáveis quantitativas entre as categorias das variáveis
qualitativas dicotômicas foi realizada por meio dos testes t de Student independente e U de
Mann-Whitney.
ISSN: 2317-3467

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um estudo transversal

DE BOM, F. C. | MACHADO, R.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta as características da amostra selecionada para o estudo. A média de


idade da amostra é 28,74 ± 5,70 com predominância de sexo feminino, que representa 62,5% da
amostra e 37,5% do sexo masculino.
Em relação ao tempo de prática de Crossfit, 90,7% da amostra encontra-se na fase de
adesão à prática da modalidade entre um e quatro meses; 9,4% ou estavam em estágio de
transição para a aderência, ou já se encontravam em estágio de aderência. Saba (2001) determina
o estágio de aderência somente após seis meses de prática regular.

Tabela 1 - Caracterização dos praticantes de Crossfit da Orleans/SC. Brasil, 2018 (n=32)

Variáveis Média ± Desvio Padrão, n (%)


Idade 28,74 ± 5,70
Sexo
Feminino 20 (62,5)
Masculino 12 (37,5)
Tempo de Prática
1 Mês 5 (15,6)
2 Meses 11 (34,4)
3 Meses 3 (9,4)
4 Meses 10 (31,3)
5 meses ou mais 3 (9,4)
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Conforme a Tabela 2, não houve diferença significativa entre os sexos masculino e


feminino, e os preditores motivacionais de amotivação e regulação externa da TAD para a
prática de Crossfit apresentaram valores extremamente baixos, o que significa que a amostra
parece não estar motivada a praticar Crossfit por pressão externa intensa.
Em relação à regulação introjetada, foi utilizado valor de mediana visto o tamanho
do desvio padrão. É possível observar valor elevado para ambos os sexos, feminino = 9,50
e masculino = 8,00, o que significa que, principalmente indivíduos do sexo feminino, são
motivados pela culpa e comparecem às aulas para não se sentirem culpados ou envergonhados.
Quanto à regulação identificada, os resultados de média para o sexo feminino foi de 9,70
e masculino 10,33 mostrando desta forma que, principalmente indivíduos do sexo masculino,
possuem conscientização dos benefícios da prática de Crossfit. Assim, embora a motivação
possa ter vindo de fora, a pessoa a identificou como importante para si.
ISSN: 2317-3467

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Tabela 2 - Preditores motivacionais da TAD para a prática de Crossfit. Orleans/SC Brasil. 2018 (n=32).

Mediana (AIQ), Média ± DP


Motivação Feminino Masculino Valor-p
n=20 n=12
Reg externa 0,00 (0,00 – 0,50) 0,00 (0,00 – 2,50) 0,526¥
Reg introjetada 9,50 (6,00 – 10,0) 8,00 (4,00 – 12,00) 0,376Ŧ
Reg identificada 9,70 ± 1,89 10,33 ± 2,27 0,289¥
Intrínseca (Reg. Intrinseca) 14,75 ± 1,77 14,92 ± 1,38 0,985¥
Amotivação 0,00 (0,00 – 3,50) 0,00 (0,00 – 0,00) 0,366¥
Escore de tad 49,25 ± 10,92 52,75 ± 9,07 0,359Ŧ
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
¥
Valor obtido após aplicação do teste U de Mann-Whitney
Ŧ
Valor obtido após aplicação do teste t de Student para amostras independentes.
DP – Desvio Padrão
AIQ – Amplitude Interquartil
TAD – Teoria da Autodeterminação

Sobre o preditor da regulação identificada, Reis e De Bom (2015) comentam que


embora esta regulação esteja relacionada à motivação extrínseca, observa-se no Continuum
da Autodeterminação de Ryan e Deci (2000) que a mesma se encontra muito próximo da
motivação intrínseca demonstrando assim que parcela significativa da amostra está finalizando
o processo de internalização, chegando à etapa de manutenção à prática regular de Crossfit, e
consequentemente ao nível de motivação intrínseca.
Sobre o processo de internalização, Matsumoto e Takenaka (2004) explicam que a
ideia é que as motivações devem ser internalizadas de maneira que a motivação, que antes era
extrínseca, vá, aos poucos, se transformando em mais intrínseca. Dessa forma, a TAD pressupõe
que, mesmo tendo um comportamento extrinsecamente motivado, ele pode, ocasionalmente,
mudar para um comportamento motivado intrinsecamente através do processo de internalização.
Em relação a motivação intrínseca, obteve-se a maior média para ambos os sexos,
feminino = 14,75 e masculino = 14,92, mostrando que o sentimento de bem-estar, prazer ao
realizar a atividade é o preditor de grande influência na adesão e aderência a prática da atividade
na amostra pesquisada.
Este resultado vai de acordo com o estudo de De Bom (2013), que através de uma revisão
sistemática, buscou descrever quais são os preditores motivacionais positivos e negativos que
influenciam a adesão a prática de exercícios físicos com base na TAD. Os resultados da autora
apontaram que a maior parte dos estudos por ela analisado (91,6%) concluem que a motivação
intrínseca é um preditor motivacional positivo para a aderência a prática de exercícios físicos;
seguido da Regulação Identificada com 83,36%. Desta forma, concluiu-se através dos estudos
que motivação intrínseca e a regulação identificada são os preditores de maior influência
(positiva) para a adesão à prática de exercícios físicos seja a curto quanto a longo prazo, em
diferentes perfis populacionais tais como: mulheres, jovens, adultos, adolescentes e idosos
sedentários ou não.
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um estudo transversal

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Sobre este resultado, Moreno e Martinez (2006) afirmam que as intenções que se
desenvolvem de maneira intrínseca para se exercitar, como gostar ou sentir-se bem com a
atividade, tipicamente demonstram melhores níveis de aderência aos exercícios físicos do que
quando estes são realizados por motivos externos, como pressão, prêmios ou outros tipos de
vantagem.
Apesar dos resultados encontrados Biddle e Nigg (2000 apud MATIAS et al. 2014)
alertam que mesmo que a prática de exercícios seja motivada exclusivamente por motivos
intrínsecos é importante que o profissional de Educação Física planeje, convença e estruture
objetivos que impliquem aspectos internos relacionados ao prazer pois, a não preocupação
com essas questões está entre as razões pelas quais uma elevada proporção de indivíduos que
iniciam um programa estruturado de exercícios físicos os abandona em menos de seis meses.

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que o preditor motivacional positivo para a prática do crossfit da amostra


pesquisada é a motivação intrínseca, seguido da regulação identificada, sendo que regulações
externas possuem pouca influência sobre esse comportamento.
Este resultado aponta que grande parte da amostra pratica a atividade por motivos internos
como prazer e satisfação pessoal, os quais são inerentes ao comportamento autodeterminado.
Em seguida, ainda positivamente e por reguladores de motivação identificada, outra parte da
amostra se encontra em processo de internalização, caminhando para a ação do regulador de
motivação intrínseca. Nesse caso, eles já compreendem e usufruem com maior tranquilidade
dos benefícios que a tarefa executada lhe proporciona.

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 18-25, Abril/2019
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ESTILO DE VIDA E QUALIDADE DO SONO DE ESCOLARES

Lifestyle and quality of sleep school children

BEZERRA, Marcos Antônio Araújo1


BEZERRA, Gabriela Gomes de Oliveira2
SOUSA, Jeferson da Silva3
BOTTCHER, Lara Belmudes4

RESUMO ABSTRACT

Contextualização: A adolescência é uma etapa Background: Adolescence is a confusing and dynamic


confusa e dinâmica da vida do ponto de vista físico e stage of life from the physical and emotional point
emocional do ser humano em que o estilo de vida se of view of the human being in which the lifestyle
torna um dos fatores mais alterados durante todo esse becomes one of the most altered factors throughout
processo, afetando diretamente a qualidade do sono this process, directly affecting the sleep quality of this
dessa população. Objetivo: Identificar a qualidade do population. Objective: To identify the quality of sleep
sono e o estilo de vida de escolares. Métodos: Trata-se and the lifestyle of schoolchildren. Methods: This is a
de uma pesquisa de campo, descritiva com abordagem descriptive field study with quantitative cross-sectional
quantitativa de corte transversal, na qual a amostra do approach, in which the convenience-type sample
tipo conveniência foi constituída por 176 escolares do consisted of 176 male and female schoolchildren from
sexo masculino e feminino da rede estadual de ensino the Várzea Alegre state school system. As instrument
de Várzea Alegre. Como instrumentos forma utilizados form used the Pentacle of Well Being and the Mini
o Pentáculo do Bem Estar e o Mini questionário do sleep quiz. Data analysis was performed through
sono. A análise dos dados foi executada através de descriptive statistics by frequency distribution, t-test
estatística descritiva por distribuição de frequência, for independent samples, Cohen’s D-test, Pearson’s
teste t para amostras independentes, teste D de Cohen, and Spearman’s correlation. We adopted a significance
Correlação de Pearson e Spearman. Adotou-se um nível level of p <0.05. Results: The results indicate that
de significância de p < 0,05. Resultados: Os resultados 65.7% of schoolchildren have a “regular” lifestyle,
apontam que 65,7% dos escolares tem um estilo de vida with differences between the sexes for physical activity
“regular”, existindo diferença entre os sexos para os and preventive behavior, with Physical Activity having
domínios atividade física e comportamento preventivo, a moderate effect in fact on the individual’s sex . They
sendo que a Atividade Física sofre um efeito moderado also indicate that 62.8% of schoolchildren have some
em fato ao sexo do indivíduo. Indicam ainda que sleep disturbance. The study indicates that there is no
62,8% dos escolares possuem alguma alteração de correlation between the components of the lifestyle and
sono. O estudo indica não existir correlação entre os the quality of sleep. Conclusion: In conclusion that
componentes do estilo de vida e a qualidade do sono. schoolchildren mostly have a regular lifestyle and that
Conclusão: Conclui-se que os escolares possuem em sleep is evidenced mostly with changes in their quality.
sua maioria um estilo de vida regular e que o sono é
evidenciado em sua maioria com alterações na sua Keywords: Sleep deprivation. Lifestyle. Sleep.
qualidade.

Palavras-chave: Privação do sono. Estilo de vida.


Sono .

1
Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente - Universidade Estadual do Ceará –
UECE. Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, Juazeiro do Norte, CE. E-mail: marcosantonio@leaosampaio.
edu.br.
2
Programa de Pós Graduação Latu-Sensu em Docência do Ensino Superior e Educação Física. Centro
Universitário Dr. Leão Sampaio, Juazeiro do Norte, CE. E-mail: gabriela.o.bezerra@gmail.com.
3
Licenciatura em Educação Física – Centro Universitário Dr. Leão Sampaio Centro Universitário Dr. Leão
Sampaio, Juazeiro do Norte, CE. E-mail: jefersonguib@hotmail.com.
4
Doutorado em Ciências da Saúde – Faculdade de Medicina do ABC Paulista. Centro Universitário Dr. Leão
Sampaio, Juazeiro do Norte, CE. E-mail: larabottcher@leaosampaio.edu.br.
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BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
Estilo de vida e qualidade do sono de escolares

BEZERRA, M. A. A. | BEZERRA, G. G. O. | SOUZA, J. S. | BOTTCHER, L. B.

1 INTRODUÇÃO

A adolescência trata-se de uma etapa confusa e dinâmica da vida do ponto de vista


físico e emocional do ser humano, tal processo ocorre dos 10 aos 19 anos de idade, é nesse
tempo que acontecem diversas modificações no corpo, em que repercutem exatamente no seu
desenvolvimento da personalidade e no comportamento adotado em meio a sociedade buscando
sua autonomia social, emocional e cognitiva, adotando um estilo de vida para seguir. (VALLE;
MATTOS, 2011).
Na atualidade há uma grande preocupação em investigar a qualidade de vida e os
fatores associados a mesma, onde instiga-se diversos aspectos tais como nutrição, atividade
física, comportamento preventivo, relacionamento social e estresse, fatores esses que segundo
Nahas (2006) são componentes que aferem o estilo de vida de uma pessoa. Outro fator de suma
importância é a qualidade do sono
O estilo de vida é um hábito em que os adolescentes escolhem para sua vida, em que são
motivados e alterados pela socialização em que o mesmo se encontra, Santos (2014) afirma que
o estilo de vida do adolescente está diretamente interligado a um conjunto de séries e atitudes
que levam o indivíduo a conduzir um comportamento que pode vir a produzir diversos riscos
a sua saúde, comprometendo seu estado físico e mental, onde devem ser tomadas medidas de
aceitação e de comportamentos que sejam beneficentes para sua vida.
Um sono de boa qualidade se faz necessário em todo o ciclo da vida do indivíduo, na
fase da adolescência Pinto (2017) afirma que o sono é um fator fisiológico indispensável na vida
e que dentro desse processo ocorre a restauração das suas condições físicas e psicológicas do
organismo depois de um grande desgaste durante o estado de vigília.

2 MÉTODOS

Esta pesquisa se caracteriza como uma pesquisa de campo, descritiva com abordagem
quantitativa de corte transversal, na qual a amostra do tipo conveniência foi constituída por
176 escolares do sexo masculino e feminino, matriculados e assíduos em escolas públicas
regulares de ensino da rede estadual do Ceara, especificamente do município de Várzea Alegre.
Excluiu-se dessa pesquisa escolares que fazem o uso de medicamento Rivotril e Valerimed ou
outro medicamento para mesmo fim, que segundo a literatura alteram o padrão do sono. Para
selecionar os escolares foi utilizada a técnica de estratificação por turmas, de acordo com o
número de alunos e sexo, possibilitando chances iguais de participação.
Foram respeitando todos os critérios da resolução 466/12 a respeito da ética em trabalhos
de pesquisas com seres humanos, o presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética do
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, sob o parecer de número 2.747.041.
Para identificar as características gerais dos escolares coletados os dados antropométricos
de peso, altura e índice de massa corporal (IMC). O instrumento utilizado foi cálculo do
ISSN: 2317-3467

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 26-33, Abril/2019
Cruz Alta, RS
Estilo de vida e qualidade do sono de escolares

BEZERRA, M. A. A. | BEZERRA, G. G. O. | SOUZA, J. S. | BOTTCHER, L. B.

índice de massa corporal (IMC = kg/m2), para isso foi utilizado balança digital eletrônica com
capacidade de até 150 kg, com precisão de 50 g, marca Sanny e a estatura foi medida com
auxílio de uma fita métrica inextensível de 1,5 m fixada perpendicularmente em uma parede
plana, após 1 m do chão, sem rodapé (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Para obter os resultados sobre o estilo de vida dos escolares foi utilizado o Pentáculo
do Bem Estar desenvolvido por NAHAS (2000), que tem como intuito de verificar o estilo de
vida individual, que por sua vez tem características nutricionais, atividade física, controle de
estresse, comportamento preventivo e relacionamento social. O Pentáculo do bem estar é um
questionário objetivo de 15 perguntas, onde cada questionamento vai de uma escala de 0 (Zero)
Nunca, 1 (um) às vezes, 2 (dois) Quase sempre, 3 (três) Sempre, classificando o estilo de vida
do indivíduo como positivo, regular e negativo.
Para obtenção dos dados referentes à qualidade do sono, foi utilizado o mini questionário
do sono proposto por Zomer (1985), que tem como objetivo avaliar as características do
indivíduo durante a sua noite de sono com perguntas relacionadas a dificuldade para adormecer,
cansaço após uma noite de sono, dificuldades para adormecer novamente após acordar, se tem
sono agitado e se ronca. A seguinte classificação foi utilizada: escores de 10 a 24: Sono Bom;
25 a 27: Sono Alterado; 28 a 30: Sono Moderadamente Alterado e maior que 30: Sono Muito
Alterado.
As análises dos dados foram conduzidas através do software JASP na versão 0.9.0.1,
através de estatística descritiva e por distribuição de frequência, onde foi utilizado para análise
a Média (Tendência central), o desvio padrão (Dispersão). Para verificação da normalidade e
homogeneidade dos dados foi usado o teste de Shapiro-Wilk e o de Levene, respectivamente.
O Teste t para amostras independentes foi utilizado para comparar os componentes do
Estilo de Vida. O tamanho do efeito foi estimado a partir do teste D de Cohen. Valores <0.30
são considerados fracos, <0.30 a >0.80 são considerados moderado e >0.80 são considerados
fortes. (COHEN, 1977). Correlação de Pearson foi utilizada para avaliar correlações entre os
componentes do estilo de vida. Correlação de Spearman para identificar a correlações entre a
qualidade do sono e os componentes do estilo de vida. Adotou-se um nível de significância de
p < 0,05. Logo após foram confeccionados tabelas e gráficos para melhor compreensão dos
dados.

3 RESULTADO

O referido trabalho teve como objetivo verificar a correlação entre a qualidade do


sono e o estilo de vida de escolares. Participaram da pesquisa 51,7% de escolares do sexo
masculino e 48,3% do sexo feminino com idade média de 16,43±1,02 anos. A Tabela 01
revela as características gerais da amostra, nota-se que não houve diferença estatisticamente
significante entre a variável idade e antropométricas de Peso e IMC , o que torna a população
mais homogênea, no entanto a estatura se demostrou diferente entre homens e mulheres.
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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 26-33, Abril/2019
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Estilo de vida e qualidade do sono de escolares

BEZERRA, M. A. A. | BEZERRA, G. G. O. | SOUZA, J. S. | BOTTCHER, L. B.

Tabela 01 – Características gerais de escolares de ambos os sexos.

Descritiva Comparativa
Idade/
Homens Mulheres
Antropometria
Média DP Média DP T P
Idade 16,4 1,06 16,3 1,01 0,665 0,507
Estatura 1,89 0,10 1,60 0,07 5,270 0,000*
Peso 58,36 14,5 58,72 12,2 -0,112 0,911
IMC 20,75 3,58 21,66 3,96 -1,495 0,137
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
*p<0,001

Os resultados demonstram que os escolares possuem um estilo de vida regular (65,7%).


Estudo realizado por Lima e Krug (2017) colabora com os achados, em que a maioria dos alunos
mostrou um estilo de vida regular (44,22%). Verifica-se na tabela 02 que valores diferentes entre
os sexos para a variável Atividade Física e de Comportamento Preventivo foram encontrados.
Os resultados do presente estudo ressaltam ainda que a variável Atividade Física sofre um efeito
moderado em fato ao sexo do indivíduo, fato esse que Alberto e Junior (2016) relatam acontecer
devido a fatores sociais, históricos e biológicos que fazem com que a ideia de fragilidade e
delicadeza de meninas sejam conservadas.

Tabela 02 – Descrição e comparação dos componentes do estilo de vida em escolares de ambos os sexos.

Componente do Estilo D de
Descritiva Comparativa
de Vida Cohen
Homens Mulheres
Média DP Média DP T P

Nutrição 1,40 0,70 1,25 0,60 1,505 0,134 0,230


Atividade Física 1,43 0,83 0,96 0,73 3,939 0,001** 0,601
Comp. Preventivo 0,99 0,67 0,78 0,54 2,278 0,024* 0,348
Relac. Social 1,69 0,86 1,57 0,73 0,963 0,337 0,147
Estresse 1,60 0,82 1,48 0,72 1.016 0,311 0,155
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
*p<0,05; **p<0,001

Estudos realizado por Voser (2017), corrobora com esses achados, já que relata que
homens são em sua maioria mais ativos fisicamente que mulheres. Fato é que o meio cientifico
ainda não conseguiu explicar com argumentos biológicos o porquê que indivíduos do sexo
masculino se destacam como mais ativos que os indivíduos do sexo feminino. Em tese, tal fato
se dá porque meninos desde de muito novos são estimulados a práticas esportivas, sejam esses
incentivos via seus pais, professores ou próprios amigos (GUEDES, 2001). Contudo surge a
necessidade de um olhar especial do profissional de Educação Física, o qual deve estimular o
público feminino à pratica de atividades físicas e esportivas diminuindo assim as probabilidades
ISSN: 2317-3467

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de diversas patologias e promovendo a saúde das mesmas. (VASCONCELOS, 2001).


No que se refere ao comportamento preventivo, pesquisa realizada por Westphal (2016)
aponta existir uma diferença estatisticamente significativa entre os sexos onde predomina
os escores das mulheres. A Figura 01 demonstra que 62,8% dos escolares possuem alguma
alteração de sono, os resultados apontam ainda que dentre os escolares que se encontraram
classificados com o sono bom, são em sua maioria homens (67,2%). Já quando analisados os
escolares classificados com um sono fortemente alterado, identificou-se que 64,1% são do sexo
feminino.
Os resultados do presente estudo discordam dos achados de Poyares et al. (2005), os
quais afirmaram que o comportamento de sono alterado é mais comum de ser observado em
homens. Ressalta-se que independentemente do sexo, adolescentes que dormem pouco têm
maior probabilidade de adotar outros hábitos não saudáveis, tais como inatividade física, hábitos
alimentares inadequados e comportamentos sedentários. (SHORT, 2013).

Figura 01 – Classificação da qualidade do sono dos escolares.

60

50

40 37,2% 37,2%

30
%

20
12,2% 13,4%
10

0
Sono Bom Lev Alterado Mod Alterado Fort. Alterado

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Estudo realizado por Silva et al. (2017), relatou que as mudanças dos elementos
ambientais, sociais e comportamentais apresentam ser fundamentais na mudança do padrão
do sono, tanto na qualidade como na quantidade, por estarem ligados aos fatores biológicos e
maturacional, mudanças de comportamentos e sociais, especialmente o aumento das obrigações
escolares.
A Tabela 03 relata a correlação entre os componentes do estilo de vida e a qualidade do
sono dos escolares, observou-se entre os componentes do estilo de vida uma correlação positiva,
moderada e significativa entre variável Estresse e Relacionamento Social (r=0,52), todas as
demais correlações se demostraram positivas, fracas e significativas. Não foi identificado
correlação entre a qualidade do sono e os componentes do estilo de vida.
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Tabela 03 – Correlação entre fatores determinantes do estilo de vida de escolares e qualidade do sono em
escolares de ambos os sexos.

Correlação 1 2 3 4 5 6
1 Nutrição 1 - - - - -
2 Ativ. Física 0,001** 1 - - - -
3 Comp. Preventivo 0,001** 0,001** 1 - - -
4 Relac. Social 0,001** 0,001** 0,001** 1 - -
5 Estresse 0,001** 0,003* 0,001** 0,001** 1 -
6 Qualidade do sono 0,410ª 0,434ª 0,063ª 0,606ª 0,772ª 1
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
ª Spearman; *p<0,01; **p<0,001

Segundo Silva, Teixeira e Ferreira (2014), a nutrição é de fundamental importância para


a vida do indivíduo, principalmente na idade escolar, pois determina situações favoráveis para
o crescimento e desenvolvimento. Ao analisar o relacionamento social, Dellani et al. (2014)
relata que a vida do ser humano é feita de relacionamentos, por isso é de grande relevância estar
bem consigo mesmo, se sentir bem e preservar os relacionamentos obtidos ao longo da vida,
fato esse primordial dentro do processo escolar.
Dellani et al. (2014) relata ainda que o comportamento preventivo na idade escolar se
relaciona ao conhecimento que o indivíduo tem de conhecer e verificar os riscos que tem na
atividade, de modo a diminuir a possibilidade de situações indesejadas para si e para os outros.
Estudo realizado por Ferreira et al. (2016), relata que o estresse ocasiona diversos males na vida
do ser humano, em que as principais causas do estresse estão associadas as condições laborais
não adequadas, relacionamento interpessoal, desrespeito e reponsabilidades excessivas fato
esse, presente no dia a dia das escolas brasileiras.

4 CONCLUSÃO

De acordo com o objetivo proposto conclui-se que os escolares investigados possuem em


sua maioria um estilo de vida regular existindo diferença entre os sexos apenas para os domínios
atividade física e comportamento preventivo, conclui-se ainda que o sono é evidenciado em sua
maioria com alterações na sua qualidade.
As principais limitações deste estudo são o uso de questionário para avaliar de forma
indireta as questões de sono e estilo de vida, o que pode levar a medidas subestimadas ou
superestimadas pelos adolescentes, à amostra de conveniência, a dificuldade de investigar
condições de baixa prevalência já que se trata de um estudo transversal. Com isso, recomenda-
se outros estudos na qual levem em considerações as limitações destacadas sejam realizados
podendo abranger também os escolares que realizam suas atividades em tempo integral.
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ANÁLISE DA COORDENAÇÃO MOTORA E EQUILÍBRIO DE
CRIANÇAS DO ENSINO INFANTIL DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE
TERESINA - PI

Analysis of motor coordination and equilibrium of children’s education in a


public school of Teresina - PI

SANTANA, Ayara Kathleen1


SANTOS, Carla Santana Silva dos2
SOUSA, Victor Geovani Soares de3
COSTA, Mara Jordana Magalhães4
RESUMO ABSTRACT

O objetivo do estudo foi analisar a coordenação motora The objective of the study was to analyze the motor
e o equilíbrio de crianças de uma escola municipal coordination and the balance of children of a Teresina-PI
de Teresina-PI. Dito isto, este estudo foi conduzido Municipal School. That said, this study was conducted
com a participação de 40 crianças com idades entre with the participation of 40 children between the ages
quatro e cinco anos, de ambos os sexos, que estudam of four and five, of both sexes, who study at a municipal
em uma escola municipal, localizada na zona sudeste school, located in the southeast of the city of Teresina
da cidade de Teresina - PI, que foram selecionadas - PI, which were randomly selected. The tests used to
de forma aleatória. Os testes utilizados para avaliar a assess motor coordination and balance were performed
coordenação motora e o equilíbrio foram realizados using the Rosa Neto Motor Development Scale (2002).
utilizando a Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa For the statistical analysis, the chi-square test was
Neto (2002). Para a análise estatística utilizou-se o teste used with the significance level adopted of 5% and the
do qui-quadrado com o nível de significância adotado statistical program used was STATA 12.0. The results
foi de 5% e o programa estatístico utilizado foi o STATA showed that of the 40 students surveyed, only 10% of
12.0. Os resultados encontrados mostraram que, dos 40 the students were successful in the Equilibrium test.
alunos pesquisados apenas 10% dos alunos obtiveram Regarding motor coordination, of the 40 students who
sucesso no teste de Equilíbrio. Quanto à coordenação performed the test, the same percentage of error (90%)
motora, dos 40 alunos que realizaram o teste, observou- was observed as shown by the equilibrium result. When
se o mesmo percentual de erro (90%) mostrado pelo compared with sex, the female presented “error” in the
resultado do equilíbrio. Quando comparados com execution of both tests, showing a poor result when
relação ao sexo, o sexo feminino apresentou “erro” na compared to the male sex. Another observed fact is
execução de ambos os testes, mostrando um resultado that a minority of students do physical activity outside
ruim quando comparado com o sexo masculino. school (10%). Therefore, it was verified that the balance
Outro dado observado é que uma minoria de alunos profile and motor coordination of the students studied
faz atividade física fora da escola (10%). Portanto, was below average and the male subjects presented a
verificou-se que o perfil de equilíbrio e coordenação better level of coordination and balance than the female
motora dos alunos pesquisados se encontra abaixo da subjects.
média e os indivíduos do sexo masculino apresentam
melhor nível de coordenação e equilíbrio do que os Keywords: Motor Coordination. Physical Education.
indivíduos do sexo feminino. Balance

Palavras-chave: Coordenação Motora. Educação


Física. Equilíbrio.

1
Graduada em Educaçãao Física pela Universidade Federal do Piauí - UFPI, Teresina, Piauí. E-mail: ayara.
menezes@hotmail.com.
2
Especialista em Atividade Física e Saúde. Professora de Educação Física da Universidade Federal do Piauí –
UFPI, Teresina, Piauí. E-mail: kakast01@hotmail.com.
3
Pós-Graduando em Fisiologia do Exercício – UFPI, Teresina, Piauí. Mestrando em Educação Física - UFMA.
Professor de Educação Física. E-mail: geovgss@gmail.com.
4
Doutora em Saúde Pública – FSP – USP. Professora Adjunta do curso de Educação Física na Universidade
Federal do Piauí, Teresina, Piauí. E-mail: marajordanamcosta@gmail.com.
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BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
Análise da coordenação motora e equilíbrio de crianças do ensino infantil de uma escola pública de Teresina - PI

SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

1 INTRODUÇÃO

A Educação Física Escolar (EFE) não pode ser apresentada como uma disciplina que
escolhe qual a técnica que deve ser ensinada, necessita ter como tarefa ofertar uma base motora
adequada a partir do qual o aluno possa praticar de forma eficiente (LOPES et al., 2001). Ainda
nesse contexto, Ribeiro et al. (2012) ressaltam que a EFE é entendida como um conhecimento
da cultura corporal de movimento que busca com profundidade o ensinar, no qual não significa
apenas transferir ou repetir conhecimentos, mas possibilitar sua produção crítica, valorizando a
contextualização dos fatos e do resgate histórico.
A escola deve trabalhar o desenvolvimento motor da criança para que ela entenda o
seu corpo e então perceba o contexto onde vive. Experiências de movimento são fundamentais
para que a criança comece a perceber e aprimorar suas habilidades motoras (GALLAHUE;
OZMUN, 2003). Na infância, acontece um grande enriquecimento das habilidades motoras,
que proporciona à criança um amplo controle do seu corpo em diversas atividades (ROSA
NETO et al., 2010). E essa construção e aquisição de habilidades motoras estão associadas tanto
à percepção do corpo, espaço e tempo, como para as habilidades constituintes das habilidades
motoras para as atividades de formação escolar (TANI et al., 2013).
Dessa forma, por meio do movimento as crianças expressam o que sentem e ampliam
seu repertório de habilidades motoras básicas, sendo a partir desta fase que a Educação Física
deve possibilitar para a criança, por meio do trabalho com elementos motores, um aumento do
seu repertório motor (LOURENÇO, 2015). Por isso que, segundo Rosa Neto et al. (2010), o
corpo é a maior referência que a criança tem de si, sendo o movimento corporal, o responsável
pela criança descobrir sua personalidade e vivenciar várias experiências e atividades.
Dentre os elementos psicomotores que a Educação Física deve trabalhar no Ensino
Infantil, destaca-se o equilíbrio e a coordenação motora (ROSA NETO et al., 2010). O
equilíbrio é o movimento básico e é influenciado por estímulos visuais, somatossensoriais e
vestibulares (PICCOLO; SANTOS; KARLOH, 2018). Ele é uma das habilidades motoras em
desenvolvimento nessa fase e é definido como a manutenção de uma postura do corpo com um
mínimo de mudança (equilíbrio estático) ou a manutenção da postura durante a execução de
uma habilidade motora que tenda a desequilibrar a orientação do corpo (equilíbrio dinâmico)
(RIBEIRO et al., 2012).
Quanto à coordenação motora, Andrade (2011) a define como a
capacidade que o corpo tem de realizar movimentos articulados entre si, como por
exemplo, pular, andar e outros. Assim, observa-se que quase todos os movimentos voluntários
do corpo humano exigem coordenação motora.
Nesse contexto, observa-se como as aulas de Educação Física no Ensino Infantil são
importantes para a melhoria do desenvolvimento motor das crianças, sendo evidenciado pela
obtenção de um leque espectro de habilidades motoras, o que acarreta à criança um grande
domínio do seu corpo em várias posturas, movimentos, manipulações de objetos e estabilização
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SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

(TEIXEIRA et al., 2010). Dessa forma, a aula de Educação Física é um instrumento de grande
reforço no processo de melhoria nos padrões de movimento (MEDEIROS et al., 2018).
Diante da importância do trabalho com as habilidades motoras no Ensino Infantil e a
preocupação com o nível de coordenação e equilíbrio das crianças nessa fase, o presente estudo
teve como objetivo analisar a coordenação motora e o equilíbrio de crianças de uma escola
municipal de Teresina-PI.

2 METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como descritivo e transversal, com abordagem


quantitativa. A amostra do estudo foi composta por 40 crianças na faixa etária entre quatro a
cinco anos, de ambos os sexos, que estudam em uma escola municipal, localizada na zona sudeste
da cidade de Teresina - PI. Essas crianças foram selecionadas de forma não probabilística, por
conveniência. Tendo como critérios de inclusão: estar devidamente matriculado na instituição
de ensino; não apresentar nenhuma limitação física ou cognitiva que pudesse interferir na
realização dos testes motores.
Os testes utilizados para avaliar a coordenação motora e o equilíbrio foram realizados
utilizando a Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa Neto (2002). Todos eles foram
realizados na escola durante uma semana no horário do intervalo, os alunos realizaram os testes
individualmente em ordem aleatória e com ajuda da pesquisadora e do professor.
O teste foi realizado por um aluno de cada vez. Este ficou com os olhos abertos, os
pés juntos e as mãos apoiadas nas costas. Ao sinal do avaliador, o aluno flexionava o tronco
em ângulo reto para frente e mantinha essa posição por um tempo superior a 10 segundos.
O avaliador ficou atento aos erros comuns como o movimento dos pés, flexão das pernas. A
criança poderia realizar duas tentativas.
O aluno ficou com os pés e pernas juntos e tinha que manter-se sobre a ponta dos
pés, com os olhos abertos, com o olhar para o horizonte, e com os braços ao longo do corpo,
mantendo essa posição por 10 segundos. O avaliador ficou atento aos erros comuns como o
desequilíbrio, apoiar um ou os dois pés totalmente no chão. A criança poderia realizar três
tentativas. O aluno realizou sete ou oito saltos sucessivamente, sobre o mesmo lugar com as
pernas levemente flexionadas. Os movimentos deveriam ser contínuos sem interrupção. Com
os olhos abertos o aluno percorreu 3 metros em linha reta, posicionando o calcanhar de um pé
contra a ponta do outro sem perder o equilíbrio.
Antes da coleta de dados, apresentou-se à diretoria da escola o Termo Institucional, para
que a pesquisa fosse autorizada. Após a autorização do responsável pela escola, foi entregue
aos pais dos alunos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual os mesmos
foram informados dos objetivos, riscos e benefícios da realização deste estudo.
Os resultados da bateria dos testes foram analisados de acordo com o protocolo de Rosa
Neto (2002). Para a análise dos dados, realizou-se uma estatística descritiva, apresentados por
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SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

meio de percentuais. Em seguida realizou-se o teste do qui-quadrado, para verificar associações


entre as variáveis qualitativas. O nível de significância adotado foi de 5% e o programa estatístico
utilizado foi o STATA 12.0.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra do presente estudo foi composta 40 crianças, estudantes de uma escola da


zona sudeste, no qual 50% eram do sexo feminino e 50% do sexo masculino, com idades entre
4 a 5 anos.
Quanto ao equilíbrio, observou-se que a maioria (90%) apresentou “erro” ao realizar os
testes que avaliam essa valência física (Tabela 1).

Tabela 1 – Classificação do equilíbrio, nível de acertos e erros na realização dos testes.

Classificação do equilíbrio n %
Acerto 4 10
Erro 36 90
Total 40 100
Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Foi possível observar que dos 40 alunos pesquisados que realizaram os testes de
equilíbrio (equilíbrio com o tronco flexionado para os alunos com 4 anos e equilíbrio na ponta
dos pés para os de 5 anos), apenas 10% dos alunos obtiveram sucesso no teste.
Para Batista (2009), a coordenação motora e o equilíbrio devem ser desenvolvidos e
avaliados durante o período que compreende a infância, pois o desenvolvimento da aprendizagem
motora nas fases posteriores a esta vai necessitar das habilidades básicas aprendidas na
infância. Em estudo similar Lemos (2016) obteve resultados em que a coordenação e agilidade
das crianças melhoram com o aumento da idade cronológica e sobre o resultado de equilíbrio
postural, tiveram correlações significativas com os resultados dos testes motores, sendo elas, em
sua maioria, moderadas, fato que difere dos resultados obtidos nesse estudo, uma vez que aqui
foi possível identificar que os sucessos foram alcançados apenas pelos indivíduos pertencentes
a faixa etária de cinco anos.
Em contraposição ao nosso estudo, Bessa e Pereira (2012) ao avaliar um grupo de 240
crianças em duas escolas da rede pública com idade de quatro e cinco anos, obtiveram resultados
no qual o grupo de quatro anos, 49 crianças (81,7%) da escola conseguiram realizar o teste de
forma satisfatória, enquadrando-se em um nível considerado bom de equilíbrio.
Quanto à coordenação motora, dos 40 alunos que realizaram o teste, observou-se o
mesmo percentual de erro (90%) anteriormente mostrado pelo resultado do equilíbrio.
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SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

Tabela 2 – Classificação da coordenação nível de acertos e erros na realização dos testes.

Classificação da coordenação n %
Acerto 4 10
Erro 36 90
Total 40 100
Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A coordenação motora é tida como a capacidade de usar de forma mais eficiente os


músculos esqueléticos, resultando em uma ação global mais prática e econômica. Quanto aos
níveis de coordenação das crianças pesquisadas foi possível observar que apenas um pequeno
percentual (10%) demonstrou possuir um nível de coordenação mais eficiente. Reis e Wienhage
(2014) em seu estudo concluíram que, a todas as crianças estudadas estava em condições normais
com relação aos níveis de coordenação, pois a maioria delas obteve sucesso na realização dos
testes utilizados, tais fatos, porém vão contra os resultados obtidos nesse estudo, pois nesta
pesquisa apenas 10% das crianças que realizaram os testes obtiveram sucesso.
Bessa e Pereira (2012) em seu estudo observaram que, no grupo de quatro anos da
escola A, 39 crianças (65%) demonstraram bom desempenho em mais de 75% dos testes
realizados, para apenas 4 crianças (6,6%) da escola B mostraram bom desempenho no teste de
coordenação, fato que vai em contradição com esse estudo, pois em seus resultados os autores
obtiveram cerca de 34,2 % de sucesso na realização dos testes.
Quando comparados os resultados de equilíbrio e coordenação com relação ao sexo, os
resultados mostraram que o sexo feminino apresentou “erro” na execução de ambos os testes,
mostrando um resultado ruim quando comparado com o sexo masculino. A associação foi
estatisticamente significativa (p=0.035 para o equilíbrio e coordenação) (Tabela 3).

Tabela 3 - Associação entre o equilíbrio e coordenação entre os sexos. Teresina-PI.

Sexo Acerto % Erro % % Total p


Feminino 0 0 20 100 20/100 0.035*
Masculino 4 20 16 80 20/100
Total 4 10 36 90 40/100
Fonte: Elaborado pela autora (2017).
* valor de p <0.05

O sexo feminino apresentou resultados ruins quando comparados com o sexo masculino.
Quando se mostra que o grupo do sexo masculino se encontra em melhor nível de equilíbrio
e coordenação, o estudo corrobora o de Bessa e Pereira (2012) que obtiveram resultados que
apresentaram que 83 alunos obtiveram sucesso na realização dos testes, sendo 46 (19,1%) do
sexo masculino e 37 (15,4%) do sexo feminino. Em uma pesquisa realizada por Alves et al.
(2013) observou-se que, o resultado dos valores feminino foi maior que do masculino e ao
compararmos os gêneros de cada faixa etária de oito e nove anos, foram observadas diferenças
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SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

significativas para o teste de equilíbrio postural.


Foi questionado aos pais sobre a prática de atividade física (esporte ou dança) da criança
fora da escola. Observaram-se associações foram estatisticamente significativas (p=0.000)
entre realizar atividades no ambiente extraescolar e o equilíbrio e coordenação, no qual aquelas
crianças que faziam atividades físicas fora da escola, obtiveram melhores resultados.

Tabela 4 – Associação entre prática de atividade física fora da escola e equilíbrio e coordenação.

Equilíbrio/coordenação
Faz atividade física fora Acerto Erro
p
da escola n % n % n %
Não 1 2,78 35 97,22 36 100
Sim 3 75 1 25 4 100 0,000*
Total 4 10 36 90 40 100
Fonte: Elaborado pela autora (2017).
*
p<0.05

Foi possível observar que uma minoria de alunos faz atividade física fora da escola
(10%). Desta forma, supõe-se que tais resultados foram ruins porque a maioria das crianças
avaliadas não realiza atividades físicas fora da escola. De acordo com Leite et al. (2018), ao
realizar outras atividades fora do ambiente escolar, as crianças aumentam a capacidade de
controlar o equilíbrio do corpo, melhorando assim variáveis antropométricas, condicionamento
físico e assim aumentando a funcionalidade do corpo ao realizar as atividades da vida diária
das crianças.
Corroborando um estudo similar com crianças de Educação Infantil onde havia um grupo
da amostra que era praticante de atividade física e/ou lúdica fora da escola e outro grupo não
praticante, Sá et al. (2014) revelaram que, as crianças do grupo A, que exploravam um ambiente
além da sua casa e da escola, conseguiram ter melhor desempenho no equilíbrio e coordenação,
uma vez que o resultado obtido por estes escolares indica que os mesmos possuem uma boa
coordenação, diferente dos escolares do grupo B, que apresentam menor exploração de outros
ambientes e atividades físicas e/ou lúdicas direcionadas.
Santos, Neto e Pimentar (2014) puderam perceber em sua pesquisa realizada, onde
foram avaliadas 136 crianças de 8 a 9 anos, de ambos os sexos, de 40 escolas públicas, e
o achado foi que as atividades extraescolares são de suma importância para a coordenação
motora, desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. Portanto, a prática esportiva é
fundamental para a criança sendo saudável, e ainda incentivando o convívio social da criança,
sempre respeitando seus limites.
Desta forma, podemos observar como realizar atividades físicas também no ambiente
extraescolar é importante para que as habilidades motoras possam ser aprimoradas e elementos
da psicomotricidade como coordenação e equilíbrio, possam ser melhorados.
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Análise da coordenação motora e equilíbrio de crianças do ensino infantil de uma escola pública de Teresina - PI

SANTANA, A. K. | SANTOS, C. S. S. | SOUSA, V. G. S. | COSTA, M. J. M.

4 CONCLUSÃO

Nesta pesquisa verificou-se que, o perfil de equilíbrio e coordenação motora dos alunos
pesquisados se encontram abaixo da média, pois em sua maioria os alunos não conseguiram
realizar os testes, ou seja, obtiveram fracassos.
Outro ponto observado com a realização deste trabalho foi que os indivíduos do sexo
masculino apresentam melhor nível de coordenação e equilíbrio quando comparados aos
indivíduos do sexo feminino. Outro ponto importante a ser observado foi o fato de que os
indivíduos que obtiveram sucesso possuíam histórico de pratica de atividade física fora do
ambiente escolar.
A realização de estudos sobre o desenvolvimento motor dos indivíduos da Educação
Infantil é de extrema importância, pois em grande parte das escolas esta etapa da Educação
Básica não possui o auxílio e orientação do profissional designado par trabalhar tal fator, para
tanto fica aqui a sugestão de novo estudos sobre este tema que apesar de ser muito estudado é
de suma importância.

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Análise da coordenação motora e equilíbrio de crianças do ensino infantil de uma escola pública de Teresina - PI

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ÍNDICES DE OBESIDADE EM ESCOLARES COM SÍNDROME DE
DOWN DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DO PARANÁ

Obesity indexes in schoolchildren with Down Syndrome of a municipality in the


interior of Parana

FERNANDES, Daniel Zanardini1


IENKE, Nicole Lahara2
CARVALHÃES, Mayla Fernanda²
MATTES, Verônica Volski²

RESUMO ABSTRACT

O objetivo desse estudo foi verificar os índices The objective of this study was to verify the
de obesidade em escolares com Síndrome de obesity indexes in students with Down Syndrome.
Down. Participaram da pesquisa 18 escolares de A total of 18 schoolchildren from a public special
uma instituição pública de Educação Especial de education institution in the city of the Paraná
um município do interior do estado do Paraná, state, Brazil, participated in the study, being 11
sendo 11 homens com idade entre 8 e 27 anos e men aged 8 to 27 years and 7 women aged 8 to
7 mulheres com idade entre 8 e 22 anos. Foram 22 years. Four tests were performed to verify
realizados quatro testes para verificar os índices the obesity indexes of these individuals: BMI,
de obesidade desses indivíduos: IMC, dobras skinfolds, circumference / waist-hip ratio (WHR)
cutâneas, circunferência/relação cintura-quadril and bioimpedance test. It was verified that the
(RCQ) e exame de bioimpedância. Verificou- BMI considered within the established standards
se que o IMC considerou dentro dos padrões for obesity 45,4% of the men and 57,1% of the
estabelecidos para obesidade 45,4% dos homens women. Regarding the measurement of skinfolds,
e 57,1% das mulheres. Em relação à medida the values ​​indicated that 10% of men and 75%
de dobras cutâneas, os valores indicaram que of women are adequate with values of ​​ body fat.
10% dos homens e 75% das mulheres estavam According to cut-off points for WHR, 100% of
adequados com os valores de gordura corporal. men and 66.6% of women have adequate WHR.
Segundo os pontos de corte para RCQ, 100% The bioimpedance test was the one that had the
dos homens e 66,6% das mulheres apresentavam most variation in the classification in the %G,
RCQ adequada. O exame de bioimpedância foi indicating that 50% of the women and only 10% of
o que mais apresentou variação na classificação the men are within the adequate values. Although
no percentual de gordura, apontando 50% das individuals with Down Syndrome have a greater
mulheres e apenas 10% dos homens dentro dos predisposition to the percentage of body fat, due
valores adequados. Embora os indivíduos com to the higher incidence of metabolic alterations,
Síndrome de Down possuam maior predisposição the majority of study participants are within the
ao percentual de gordura corporal, em razão da indicated values. In this way, one must follow the
maior incidência de alterações metabólicas, a reference tables of each test, taking into account
maior parte dos participantes do estudo estava the gender and age group.
dentro dos valores indicados. Dessa forma, há que
se seguir as tabelas de referência de cada teste, Keywords: Intellectual deficiency. Obesity. Down
levando em consideração o sexo e a faixa etária. syndrome.

Palavras-chave: Deficiência intelectual.


Obesidade. Síndrome de Down.

1
Programa de Pós-graduação Associado em Educação Física UEM/UEL, Londrina, Paraná, Brasil.
2
Departamento de bacharelado educação física da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, Paraná,
Brasil.
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Índices de obesidade em escolares com Síndrome de Down de um município do interior do Paraná

FERNANDES, D. Z. | IENKE, N. L. | CARVALHÃES, M. F. | MATTES, V. V.

1 INTRODUÇÃO

Deficiências podem ser caracterizadas por problemas em estruturas ou funções do


corpo humano, como um desvio significativo ou uma perda (OMS, 2013). Contudo, o termo
funcionalidade parece mais abrangente para tratar das funções e estruturas corporais, denotando
aspectos positivos na relação entre o indivíduo e os fatores ambientais e pessoais. Da mesma
forma, o termo incapacidade parece mais abrangente ao tratar das deficiências, indicando os
aspectos negativos da mesma relação (OMS, 2013).
A deficiência intelectual corresponde a um funcionamento intelectual significativamente
abaixo da média. Se caracteriza por uma inadequação da conduta adaptativa e pode se manifestar
até os 18 anos (GORGATTI, 2005), coexistindo maiores dificuldades relacionadas com dois ou
mais das seguintes áreas de comportamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, vida
doméstica, aptidões sociais, uso comunitário, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade
acadêmica, lazer e trabalho (GORLA, 2009). Dessa forma, a deficiência intelectual faz parte
dos transtornos do neurodesenvolvimento e, além da avaliação cognitiva, é critério fundamental
avaliar a capacidade funcional adaptativa para seu diagnóstico (APA/DMS-5, 2014).
A causa mais frequente de deficiência intelectual é a Síndrome de Down (SD), sendo a
anormalidade mais estudada pela ciência. Fruto de uma distribuição cromossômica inadequada
que ocorre durante a meiose (GORGATTI, 2005), essa anormalidade na divisão cromossômica
da SD resulta numa série de caracteres peculiares. De modo geral, pessoas com SD apresentam
dentes pequenos, língua protusa e palato elevado, prega epicantal (no canto dos olhos) e formato
oblíquo de fenda palpebral, mãos grossas, curtas e dedo mínimo arqueado, cabeça e porção
occipital do crânio achatada, genitais pouco desenvolvidos (GORGATTI, 2005). Além disso,
algumas características a serem observadas na SD são a hipotonia muscular, anomalia cardíaca,
instabilidade atlantoaxial e a obesidade (GORLA, 2009).
Além das características apresentadas acima, observamos nas pessoas com SD
prevalência de excesso de peso e obesidade superiores às verificadas em populações adultas
saudáveis (SILVA; SANTOS; MARTINS, 2006). A obesidade tem sido pouco estudada em
indivíduos com SD no Brasil (BERTAPELLI et al., 2011), é considerada uma doença crônica
não transmissível em que o acúmulo de gordura acarreta riscos à saúde e qualidade de vida,
sendo considerada, atualmente, um problema de saúde pública de países desenvolvidos e em
desenvolvimento (BRASIL, 2018). No Brasil, segundo dados do Censo 2010, 32% das crianças
de cinco a nove anos apresentavam excesso de peso e 11,8% eram obesas. Já entre 10 a 19 anos,
20,5% possuíam excesso de peso e 4,9% obesidade (IBGE, 2010).
A obesidade é considerada uma epidemia que acomete também crianças e adolescentes
com SD. Embora, nas últimas décadas, pesquisas tenham levantado subsídios para servir
de referência de análise das variáveis relacionadas ao peso corporal em indivíduos com SD
(CHAVES, 2008) não há um parâmetro consensual para diagnosticar obesidade nessa população
(MARTIN, 2015). A obesidade pode ser definida através de diferentes protocolos, com pontos
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de cortes específicos considerando a idade e o sexo biológico. Dentre os principais métodos


podemos destacar: o Índice de Massa Corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), relação
cintura-quadril (RCQ), percentual de gordura pelo protocolo de dobras cutâneas, exame de
bioimpedância, entre outros. Da mesma forma, vários destes protocolos são utilizados para a
avaliação de índices de obesidade em pessoas com SD, contudo, ainda não se encontra definido
na literatura quais métodos de avaliação podem ser mais precisos na identificação da obesidade
nessa população.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi verificar os índices de obesidade em escolares
com SD matriculados em uma instituição pública de Educação Especial de um município do
interior do Paraná. Além disso, utilizar diferentes protocolos a fim de verificar suas semelhanças
e distanciamentos em relação aos índices de obesidade no SD, bem como quais as principais
dificuldades/recomendações para o uso destes nesta população.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Tipo de estudo

Esta pesquisa se caracterizou como descritiva e de cunho quantitativo. Pesquisas


descritivas têm por objetivo descrever características de fenômenos ou populações específicos,
utilizando-se de técnicas padronizadas para a coleta dos dados. Já as pesquisas com abordagem
quantitativa são aquelas que traduzem em números as opiniões e informações, para classificá-
las e organizá-las (GIL, 2008).

2.2 Amostra

Foram selecionados por conveniência 18 alunos, entre crianças, adolescentes e adultos,


com SD e matriculados em uma instituição pública de Educação Especial da cidade de
Guarapuava, interior do Paraná. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos, sob parecer número 2.554.055/2018 – COMEP/UNICENTRO.

2.3 Procedimentos

As coletas foram realizadas durante o horário de aula dos alunos, de modo que todos
os testes fossem realizados no mesmo dia com cada indivíduo. Cada aluno levou cerca de 20
minutos para que todas as medidas fossem tomadas. Foram realizados os seguintes métodos:
Índice de Massa Corporal (IMC), relação cintura-quadril, percentual de gordura pelo protocolo
de dobras cutâneas e o exame de bioimpedância. Posteriormente, essas medidas foram utilizadas
para verificação dos índices de obesidade, através do o IMC e os demais métodos utilizando o
percentual de gordura total.
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2.4 Instrumentos

2.4.1 Índice de Massa Corporal (IMC): utilizou-se o padrão adotado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) para calcular o grau de obesidade de um indivíduo. Para o cálculo do IMC
utilizou-se a equação: massa corporal pela estatura ao quadrado. Após o cálculo do índice, os
alunos foram classificados de acordo com as tabelas de referências da OMS (2010) para indicar
os graus de obesidade.

Tabela 1 – Classificação de obesidade para ambos sexos segundo a OMS (2016).

Sexo masculino
Idade Baixo peso Adequado Sobrepeso
10 Até 14,41 14,42 a 19,5 A partir de 19,6
11 Até 14,82 14,83 a 20,34 A partir de 20,35
12 Até 15,23 15,24 a 21,11 A partir 21,12
13 Até 15,72 15,73 a 21,92 A partir de 21,93
14 Até 16,17 16,18 a 22,76 A partir de 22,77
15 Até 16,58 16,59 a 23,62 A partir de 23,63
16 Até 17 17,01 a 24,44 A partir de 24,45
17 Até 17,3 17,31 a 25,27 A partir de 25,28
18 Até 17,53 17,54 a 25,94 A partir de 25,95
19 Até 17,79 17,8 a 26,35 A partir de 26,36
Sexo feminino
Idade Baixo peso Adequado Sobrepeso
10 Até 14,22 14,23 a 20,18 A partir de 20,19
11 Até 14,59 14,6 a 21,17 A partir de 21,18
12 Até 19,97 14,98 a 22,16 A partir 22,17
13 Até 15,35 15,36 a 23,07 A partir de 23,08
14 Até 15,66 15,67 a 23,87 A partir de 23,88
15 Até 16 16,01 a 24,28 A partir de 24,29
16 Até 16,36 16,37 a 24,73 A partir de 24,74
17 Até 16,58 16,59 a 25,22 A partir de 25,23
18 Até 16,7 16,71 a 25,55 A partir de 25,56
19 Até 16,86 16,87 a 25,84 A partir de 25,85
Sexo masculino e feminino (20 a 59 anos)
Baixo peso Peso adequado Sobrepeso Obesidade
< 18,5 ≥ 18,5 e < 25 ≥ 25 e < 30 ≥ 30

2.4.2 Percentil de gordura: após o cálculo do percentual de gordura, especifico para cada aluno,
foram adotadas as classificações do percentual de gordura ideal de acordo com sexo e idade
sugeridos na literatura (ACSM, 1986).

2.4.3 Medida de dobras cutâneas: O método das dobras cutâneas tem sido utilizado no estudo
da composição corporal, com objetivo de predizer a gordura corporal relativa (GCR) e a massa
gorda (MG), através de equações de regressão (BARILLO; BURGUER; MACHADO, 2005).
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Este método está baseado na relação entre gordura subcutânea, gordura interna e densidade
corporal (PETROSKI, 1999). Para a realização das medidas de dobras cutâneas foi necessário um
equipamento denominado compasso de dobras cutâneas ou adipômetro. Foi adotado o protocolo
de Guedes e Guedes (1995), para pessoas entre 18 e 27 anos, com três dobras (características
brasileiras), sendo para homens tríceps, supra Ilíaca e abdome e mulheres subescapular, supra
ilíaca e coxa. Para crianças e adolescentes de 07 a 17 anos utilizou-se o protocolo de Guedes
com duas dobras cutâneas: tríceps e subescapular.

2.4.4 Circunferências: utilizando-se de uma fita métrica, avaliou-se as mediadas da cintura e do


quadril (LOHMAN et al., 1988).

2.4.5 Relação Cintura-quadril: Para a análise da relação cintura-quadril se utilizou da seguinte


fórmula:

RCQ = Circunferência da cintura (cm)


Circunferência do quadril (cm)

Para a classificação do risco de morbidades utilizou-se os pontos de corte da Organização


Mundial da Saúde (WHO, 1998).

Tabela 2 – Classificação de risco de morbidades para o RCQ (WHO, 1998).

Sexo Risco aumentado


Homens ≥ 1,0
Mulheres ≥ 0,85

2.4.6 Bioimpedância: é um exame que mede através de uma leve corrente elétrica que passa
pelo corpo, a quantidade de água, gordura e massa magra. Através dos pés e das mãos do
avaliado passa a corrente elétrica insensível à percepção, que nos forneceu informações sobre a
composição corporal do mesmo.
As tabelas de referência, utilizadas na classificação do percentil de gordura ideal nos
avaliados estão descritas abaixo:

Tabela 3 – Faixa de percentual de gordura ideal de acordo com sexo e idade (ACSM, 1986).

Crianças e adolescentes (07 a 17 anos)


Classificação Masculino Feminino
Excessivamente Baixa Até 6% Até 12%
Baixa 6,01 a 10% 12,01 a 15%
Adequada 10,01 a 20% 15,01 a 25%
Moderadamente alta 20,01 a 25 % 25,01 a 30%
Alta 25,01 a 31% 30,01 a 36%
Excessivamente alta Maior que 31,01% Maior que 36, 01 %
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Adultos (18 anos acima)


Faixa Etária Homens Mulheres
De 18 a 29 anos 14% 19%
De 30 a 39 anos 16% 21%
De 40 a 49 anos 17% 22%
De 50 a 59 anos 18% 23%
Acima de 60 anos 21% 26%

2.5 Análise dos dados

Os dados foram apresentados individualmente para a classificação de cada participante,


em relação a obesidade e para cada método. Utilizou-se da estatística descritiva de frequência
percentual e relativa para apresentação dos dados da amostra como um todo. A análise descritiva
foi realizada no pacote estatístico SPSS, versão 20.0.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação e análise dos resultados obtidos pela presente pesquisa foram descritas
separadamente, levando em consideração cada protocolo utilizado para a avaliação dos índices
de obesidade em escolares com SD.

3.1 Avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC)

A avaliação do IMC será apresentada de acordo com o sexo dos escolares, de acordo
com a Tabela 4, a seguir:

Tabela 4 – Índices de obesidade em SD através do IMC. Guarapuava, 2019 (n=18).

Sexo masculino
Indivíduo MC (kg) Estatura (cm) Idade (anos) IMC Classificação
1 28,9 138 8 15,18 Adequado
2 33,6 133 10 19,0 Adequado
3 89 143 12 43,5 Sobrepeso
4 56,3 151 15 24,7 Sobrepeso
5 70,8 166 15 25,7 Sobrepeso
6 42,1 149 17 19,0 Adequado
7 33,2 150 16 14,8 Baixo peso
8 64,1 149 18 28,9 Sobrepeso
9 64,3 145 19 30,6 Sobrepeso
10 55,9 160 27 21,8 Adequado
11 26,2 136 8 14,2 Adequado
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Sexo feminino
Indivíduo MC (kg) Estatura (cm) Idade (anos) IMC Classificação
12 33,9 120 9 23,5 Obesidade
13 23,8 111,5 8 19,1 Adequado
14 25,7 118 10 18,5 Adequado
15 29,8 125 11 19,1 Adequado
16 33,7 126 11 21,2 Adequado
17 62,8 133 21 35,5 Sobrepeso
18 67,1 131 22 39,1 Sobrepeso
Legenda: MC: massa corporal.

Diante essas informações, vemos que o IMC considerou dentro dos padrões estabelecidos
para obesidade 45,4% dos homens e 57,1% das mulheres. 9% dos homens estão com baixo peso
e 45,4% deles com sobrepeso. Já as mulheres, 9% com obesidade e 28,5% com sobrepeso.
Silva et al. (2009) verificou a prevalência de sobrepeso e obesidade, utilizando o IMC.
Na sua análise das variáveis por sexo não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas nas médias do IMC do grupo masculino quando comparado com o feminino.
Silva, Santos e Martins (2006) procurou caracterizar uma amostra de indivíduos da
população portuguesa com SD, quanto à composição corporal, segundo o sexo e a idade. Pelo
índice de massa corporal, a prevalência de excesso de peso e de obesidade foi de 68,5% nos
homens e de 82,3% nas mulheres e não foram encontradas diferenças significativas ao IMC
entre as diferentes faixas etárias e sexo. Como foi apresentado acima.
O IMC para efeitos de estudos epidemiológicos ainda subsiste como um bom indicador
da obesidade corporal (MENDONÇA; PEREIRA, 2008). No entanto, o IMC apresenta algumas
desvantagens, pois não distingui massa gorda de massa magra livre de gordura, sendo uma
medida pouco específica (SILVA et al., 2009).
Freire et al. (2014) a partir dos resultados encontrados em seu estudo, concluiu que
o IMC apresenta forte correlação com o percentual de gordura, demonstrando ser um bom
indicador de sobrepeso e obesidade para pessoas com SD.

3.2 Percentual de gordura

3.2.1 Medida de dobras cutâneas

Os resultados obtidos na mensuração das dobras cutâneas estão expostas na Tabela 5,


levando em consideração o sexo e a idade dos participantes do estudo.
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Tabela 5 – Índices de obesidade em SD através das dobras cutâneas. Guarapuava, 2018 (n=14).

Sexo masculino
Indivíduo Idade %G Classificação

1 8 38,80 Excessivamente alta

2 10 20,45 Moderadamente alta

3 12 60,06 Excessivamente alta

4 15 26,71 Alta

5 15 33,24 Excessivamente alta

6 17 29,45 Alta

7 16 15,10 Adequada

8 18 21,92 Ruim

9 19 27,88 Muito Ruim


10 27 17,32 Muito Ruim
Sexo feminino
Indivíduo Idade %G Classificação

13 8 4,01 Adequada

17 11 2,90 Adequada

18 11 21,55 Excessivamente alta

19 10 1,70 Adequada
Legenda: %G (percentual de gordura).

Alguns escolares não participaram deste teste, por ficarem constrangidos com o
protocolo de medidas ou sentirem medo do instrumento (adipômetro) utilizado. Vale ressaltar
que o risco foi mínimo. Leva-se em consideração o pouco contato entre avaliado e avaliador, o
que potencializou o constrangimento dos avaliados. Uma maior interação entre os participantes
com o pesquisador para que houvesse mais confiança e segurança entre os mesmos possibilitaria
maior adesão dos alunos.
Os valores indicaram, para esse teste, que um homem (10%) e três mulheres (75%) estão
adequados com os valores de gordura corporal. Vemos variações na classificação dos homens:
dois (20%) deles estão com um alto percentual de gordura corporal, dois (20%) estão com esse
percentual “muito ruim”, um (10%), está classificado como “ruim”, um (10%) moderadamente
alto e três (30%) “excessivamente alto”. Uma (25%) das mulheres está com os valores de
gordura corporal excessivamente altos.
Freire et al. (2014) comparou os indicadores de crescimento e obesidade em função
do sexo, como também verificou a correlação das variáveis de dois indicadores de obesidade,
IMC e %G em crianças e adolescentes com SD. Em seu estudo, o sexo feminino atingiu valores
maiores de mediana quando comparado ao sexo masculino. Para tanto, os autores avaliaram
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crianças e adolescentes com SD de 7 a 17 anos de idade.


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3.2.2 Circunferência (RCQ)

Os resultados da avaliação da circunferência, através da razão cintura-quadril (RCQ)


estão descritas na Tabela 6:

Tabela 6 – Índices de obesidade em SD através da RCQ. Guarapuava, 2018 (n=18).

Sexo masculino

Indivíduo Cintura Quadril RCQ Classificação

1 58 66 0,88 Adequado

2 62 70,7 0,88 Adequado

3 99 107,5 0,92 Adequado

4 75 88 0,85 Adequado

5 83 100 0,83 Adequado

6 64 77 0,83 Adequado

7 56 70 0,80 Adequado

8 84 98,5 0,85 Adequado

9 84 98 0,86 Adequado

10 75 92 0,82 Adequado
Sexo feminino

Indivíduo Cintura Quadril RCQ Classificação

13 57 69 0,83 Adequado

14 56,5 62,5 0,90 Risco aumentado

15 58,2 70 0,83 Adequado

16 60 75,5 0,79 Adequado

17 86 103,5 0,83 Adequado

18 93 108 0,86 Risco aumentado

Seguindo os pontos de corte para RCQ, 100% dos homens e 66,6% das mulheres
apresentam RCQ adequada, 33,3% das mulheres apresentaram um risco aumentado. Levando
em consideração a falta de uma medida, pois a avaliada ficou constrangida no momento da
avaliação. Leva-se em consideração novamente as perdas cognitivas e as capacidades adaptativas
dos avaliados.
Silva et al. (2009) no índice RCQ, verificou que a média do grupo masculino foi superior
à média do grupo feminino de forma significativa, já em nosso estudo, todos os indivíduos do
sexo masculino estão dentro dos valores adequados. A utilização dessas medidas na estimação
da distribuição de gordura corpórea tem a vantagem da simplicidade de determinação e
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de basear-se em medidas de fácil obtenção. Por isso, a sua introdução entre os indicadores
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antropométricos, seja na prática clínica, na vigilância nutricional ou na pesquisa, torna-se um


instrumento de grande valia (PEREIRA; SICHIERI; MARINS, 1999).

3.3 Bioimpedância

Os resultados obtidos através do exame de bioimpedância estão apresentados na Tabela


7.
Tabela 7 – Índices de obesidade em SD através da bioimpedância. Guarapuava, 2018 (n=15).

Sexo masculino
Água MCM Gordura
Indivíduo Idade IMC TMB Classificação
(%) (%) (%)
1 8 66,4 90,7 9,3 15,2 11,53 Baixa

2 10 70,2 95,8 4,2 19 18,18 Excessivamente Baixa

3 12 46,9 64 32 43,5 16,81 Excessivamente Alta


4 15 57,9 79 21 24,7 14,86 Moderadamente Alta

5 15 60,7 83,1 16,9 25,7 18,07 Adequada

6 17 66,5 91 9,1 19 13,62 Baixa


Sexo masculino
Água MCM Gordura
Indivíduo Idade IMC TMB Classificação
(%) (%) (%)
8 18 52,4 71,6 28,4 28,9 14,8 Muito ruim

9 19 53,8 73,6 26,4 30,6 14,77 Abaixo da média

10 27 64 87,5 12,5 21,8 15,25 Acima da média


Sexo feminino
Água MCM Gordura
Indivíduo Idade IMC TMB Classificação
% % %
13 8 61,8 84,5 15,5 19,5 10,75 Adequada

14 10 62,9 85,7 14,3 17 10,81 Adequada

15 10 62,4 85,2 14,8 19,1 11,54 Baixa

16 11 62,3 85,2 14,8 21,2 11,98 Adequada

17 11 41,7 87 43 35,5 12,54 Excessivamente alta

18 21 41,4 56,6 43,4 39,1 12,64 Excessivamente Alta


Legenda: MCM (massa corporal magra); TMB (taxa metabólica basal).

O exame de bioimpedância foi o que mais teve variações na classificação do percentual


de gordura. Novamente, alguns avaliados ficaram de fora do teste. Por tratar-se de um exame,
os avaliados sentiam medo. Por conta da fiação do aparelho achavam que levariam “choque”.
Verificou-se que três mulheres e apenas um homem estão dentro dos valores adequados. Dois
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homens (20%) estão com o percentual de gordura baixo; um (10%) está abaixo e um (10%)
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acima da média; um (10%) com o percentual de gordura excessivamente baixo e um (10%)


excessivamente alto; um (10%) com o percentual de gordura moderadamente alto e um (10%)
classificado “muito ruim”. Quantos as mulheres, uma (16,6%) está com a medida baixa, duas
(33,3%) excessivamente alta e três (50,1%) adequada.
Souza, Rodrigues e Ferreira (2013) avaliaram a prevalência de excesso de peso e gordura
corporal, bem como caracterizou a ingestão alimentar pessoas com SD. A composição corporal
dos avaliados foi medida por meio da bioimpedância. A massa gorda em homens teve média
percentual de 20,6% e 37,5% em mulheres. No presente estudo, 10% dos homens estão com o
percentual de gordura excessivamente alto e 33,3% das mulheres.
A bioimpedância é considerada uma alternativa confiável, quando comparada a métodos
mais sofisticados e complexos utilizados para avaliação da composição corporal em crianças
acima de cinco anos e adultos (PIETROBELLI et al., 2003).
Mendonça e Pereira (2008) não obtiveram diferença estatística entre a composição
corporal de adultos com SD, avaliados por meio da bioimpedância. Os métodos apresentaram
alto índice de correlação, indicando o uso da bioimpedância na avaliação da composição
corporal em pacientes com SD.
Com base nos dados encontrados na literatura, o excesso de peso é prevalente nessa
população, principalmente em adultos. Além disso, mulheres apresentaram percentual maior de
gordura em relação aos homens (SOUZA; RODRIGUES; FERREIRA, 2013).
Ante essas considerações, embora os indivíduos com SD possuam maior predisposição
ao percentual de gordura corporal, em razão da maior incidência de alterações metabólicas, a
maior parte dos participantes deste estudo está dentro dos valores indicados, seguindo as tabelas
de referência de cada teste e levando em consideração o sexo e a faixa etária.

4 CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados, pode-se concluir que as medidas de IMC e CC


apresentaram resultados semelhantes aos de bioimpedância e dobras cutâneas, bem como
tiveram maior adesão e facilidade de aplicação. As medidas de dobras cutâneas e o exame
de bioimpedância apresentaram valores semelhantes, demonstrando serem bons indicadores
de sobrepeso e obesidade para pessoas com SD. Entretanto, eles nos trazem desvantagens e
limitações, devido a necessidade de experiência do avaliador, maiores custos e uma necessidade
de confiança por parte dos alunos.
Dessa forma, sugerem-se novas investigações a fim de corroborar e complementar os
índices de obesidade aqui apresentados, associados com a SD, contribuindo para a promoção
de saúde e qualidade de vida dessa população.
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Agradecimentos

À Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Guarapuava-PR.

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AVALIAÇÃO DO PERFIL MOTOR EM ESCOLARES DA ZONA RURAL
DE TERESINA - PI

Motricity profile evaluation in public school children from rural area in


Teresina - PI

SILVA, Renata Costa1


COSTA, Mara Jordana Magalhães2

RESUMO ABSTRACT

O desenvolvimento motor é um processo de mudanças Motor development is a process of changes that evolve
que evolui amplamente ao longo do tempo de acordo over time according to human body functioning. The
com o funcionamento do indivíduo. Este estudo teve present study aimed to evaluate the motor profile
como objetivo avaliar o perfil motor de escolares of schoolchildren aged between 6 and 10 years from
com idades entre 6 e 10 anos de escolas públicas da public schools in the rural area of the city of Teresina,
zona rural da cidade de Teresina, Piauí. Trata-se de Piauí. It is a cross-sectional and descriptive study with
um estudo de caráter transversal, descritivo, com a quantitative approach. The sample is composed by 38
abordagem quantitativa, sendo a amostra composta por children selected in a non-probabilistic way. The Motor
38 crianças selecionadas de forma não probabilística, Development Scale (EDM) was used to evaluate the
por conveniência. Para a avaliação do perfil motor, foi motor profile, which approaches the following areas:
utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), fine motricity, global motricity, balance, body schema,
que avalia as áreas: motricidade fina, motricidade global, spatial organization and temporal organization. The
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e data were analyzed with descriptive statistic, Student’s
organização temporal. Os dados foram analisados por t test for independent samples and the chi-square test.
meio de uma estatística descritiva, teste t de student The significance level adopted for all analyzes was
para amostras independentes e o teste do qui-quadrado. p <0.05 and the statistical program used was STATA
Para verificar a correlação entre Idade Cronológica e 12.0. The Pearson linear correlation was used to verify
Idade e Idade Motora Geral utilizou-se a correlação the relation beetween chronological and general motor
linear de Pearson. O nível de significância para todas age. The results showed the sample was considered
as análises foi de p<0,05 e utilizou-se o programa normal for chronological and motricity ages for both
estatístico STATA 12.0. Os resultados mostraram que genders. 94% of children were considered with normal
94,74% das crianças foram consideradas normais motor profile (7,89% ‘normal high’; 60,53% ‘normal
(7,89% normal alto; 60,53% normal médio; 26,32% medium’; 26,32% ‘normal low’). There was no
normal baixo). Não houve diferenças significativas nas statistical differences in general motor ages (p=0,46)
idades motoras gerais (p=0,46) e quocientes motores and general motor quotient (p=0,41) when comparing
gerais (p=0,41) quando comparados por sexo, estando sex, being classified within normality. However, there
classificados dentro da normalidade. Porém, houve was statistically meaningful difference beetween the
diferença estatisticamente significativa entre os grupos gender groups for balance (p=0,0204) showing a higher
na idade motora equilíbrio (p=0,0204) com valor value for girls. As conclusion, the general motor ages
superior apresentado pelas meninas. Pode-se concluir were evaluated as normal when compared with the
que as médias das idades motoras gerais dos escolares chronological ages.
estão de acordo com suas idades cronológicas.
Key words: Motor Development. Motor Profile. Shool
Palavras-chave: Desenvolvimento Motor. Perfil Children. Rural Area.
Motor. Escolares. Zona Rural.

1
Professora de Educação Física/UESPI. Especialista em Fisiologia do Exercício. E-mail: renatacosta1986@
hotmail.com.
2
Doutora em Saúde Pública – FSP – USP. Professora Adjunta do curso de Educação Física na Universidade
Federal do Piauí, Teresina, Piauí. E-mail: marajordanamcosta@gmail.com.
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Avaliação do perfil motor em escolares da zona rural de Teresina - PI

SILVA, R. C. | COSTA, M. J. M.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento motor é um processo de mudanças no nível de funcionamento de um


indivíduo e seu comportamento motor adquirido ao longo do tempo (GALLAHUE; OZMUN;
GOODWAY, 2013). Desde o momento da concepção, o organismo humano tem uma lógica
biológica, uma organização, um calendário maturativo e evolutivo, uma porta aberta entre a
interação e a estimulação. As possibilidades motoras da criança evoluem amplamente com sua
idade e se tornam cada vez mais variadas, completas e complexas (ROSA NETO, 2015). É
importante o desenvolvimento das habilidades motoras e sua estimulação nas tarefas escolares,
pois sabe-se que déficits nesta área podem influenciar o avanço em tarefas relacionadas com
aprendizagem em geral (MEDINA-PAPST; MARQUES, 2010).
Monitorar o desenvolvimento na Educação Infantil significa melhorar a qualidade de
vida e promover o desenvolvimento integral das crianças (ROSA NETO, 2015). A avaliação
motora desempenha papel importante no desenvolvimento infantil. Por meio dela é possível
monitorar alterações do desenvolvimento, identificar atrasos e obter esclarecimentos sobre
estratégias instrutivas e intervencionistas (VIEIRA; RIBEIRO; FORMIGA, 2009). Além disso,
minimiza os erros na programação de uma intervenção, assegurando assim o caminho concreto
entre a condição do indivíduo e os objetivos educacionais propostos (SILVEIRA et al., 2005).
Pesquisas científicas no Brasil, com diferentes tipos de população foram realizadas
com o protocolo da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) que tende a colaborar para
a avaliação completa e elucidativa do desenvolvimento motor. Esta escala, que possui um
método de aplicação de testes atrativos para crianças matriculadas na Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Educação Especial, compreende um conjunto de provas diversificadas
e de dificuldade graduada, com níveis progressivos (2 a 11), abrangendo diferentes áreas do
desenvolvimento motor, permitindo a avaliação da motricidade fina, da coordenação global,
do equilíbrio, do esquema corporal, da organização espacial e da orientação temporal (ROSA
NETO, 2014).
Grande parte dos pesquisadores investigaram crianças com desenvolvimento motor
atípico, com indicadores de alguns tipos de distúrbio e escolares com dificuldades na
aprendizagem, que por decorrência dessas desordens apresentam desenvolvimento mais tardio
nas funções motoras e cognitivas (ROSA NETO et al., 2010). Algumas pesquisas realizadas com
a EDM de Rosa Neto (2014) avaliaram o desenvolvimento motor de escolares com indicadores
de Transtornos do Déficit de Atenção/Hiperatividade (GOULARDINS et al., 2013), com
dificuldades na aprendizagem (MEDINA-PAPST; MARQUES, 2010; ALANO et al., 2012),
transtorno do espectro autismo (ROSA NETO, 2013) e com deficiência mental.
No entanto, segundo uma pesquisa feita por Rosa Neto em 2015 com 421 escolares,
com idades entre 6 e 10 anos de Séries Iniciais do Ensino Fundamental da rede pública de São
José/SC, Brasil, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento motor de crianças típicas sem
queixas de dificuldades na aprendizagem, obteve como resultado o desenvolvimento motor
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Avaliação do perfil motor em escolares da zona rural de Teresina - PI

SILVA, R. C. | COSTA, M. J. M.

dentro dos parâmetros de normalidade em 95% dos escolares. De acordo ainda com o estudo, a
avaliação motora deve ser rotina nas escolas, possibilitando um melhor diagnóstico da criança,
com um conhecimento mais aprofundado de suas possibilidades e limitações reais. A avaliação
do desenvolvimento motor nessa população pode contribuir no estabelecimento de programas
de atuação motora mais eficazes, tendo em vista que a intervenção pode evitar ou atenuar
incapacidade para desempenhar atividades esperadas para a faixa etária.
As oportunidades de brincar, do tempo disponível para o brincar, dos objetos e tipos
de brincadeiras e o espaço disponível para brincar e para a prática desportiva são fatores que
afetam o desenvolvimento motor, que se mostram diferentes em meios demográficos diferentes
(MARMELEIRA; ABREU, 2007). Segundo Nave (2010) e Marmeleira e Abreu (2007), no
meio rural o tempo e o espaço são fatores que levam a defesa deste meio demográfico como
o melhor para o desenvolvimento motor e, vários estudos apontam que as capacidades de
mobilidade, a exploração corporal, os arremessos e a coordenação em geral mostram resultados
melhores neste ambiente.
Tendo em conta o referido anteriormente, podemos dizer que crianças que vivem no
meio rural possuem vivências motoras que estimulam o desenvolvimento motor. A avaliação
do desenvolvimento motor de escolares no meio rural pode comprovar e contribuir no
estabelecimento de programas de atuação motora mais eficazes, tendo em vista que a intervenção
pode evitar ou atenuar incapacidade para desempenhar atividades esperadas para a faixa etária.
Considerando a avaliação motora essencial na contribuição e identificação do perfil motor de
crianças escolares, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil motor de escolares com idades
entre 6 e 10 anos de escola pública da zona rural da cidade de Teresina/PI (Brasil).

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo de caráter transversal, com abordagem quantitativa. A


amostra foi constituída por 38 crianças, de ambos os sexos, sendo selecionadas de forma não
probabilística, por conveniência.
Para estarem incluídos no estudo, os pais deveriam autorizar a participação dos filhos
previamente, as crianças deveriam estar na faixa etária entre 6 e 10 anos na data da avaliação e
estarem devidamente matriculados na escola. O critério de exclusão foi: crianças que possuíam
algum problema físico e/ou condição médica geral que as impedisse de realizar a coleta.
O questionário e os testes aplicados ocorreram mediante autorização dos responsáveis
pelas escolas. Foram realizados em horários previamente agendados na escola e com os pais. A
EDM foi aplicada integralmente por dois avaliadores previamente treinados (profissionais de
Educação Física). O tempo médio da aplicação dos testes foi de 35 minutos durante um período
de 60 dias.
Para a caracterização das crianças participantes da amostra foi elaborado um questionário
aplicado aos pais e professores contendo questões fechadas e semiabertas relativas aos dados
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da criança (data de nascimento, sexo); dados dos pais ou responsáveis (profissão, escolaridade,
situação conjugal); frequência e metodologia das aulas de Educação Física; desenvolvimento
motor (habilidades motoras) e condições socioeconômicas (renda familiar, tipo de moradia).
Para avaliar o perfil motor das crianças foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor-
EDM (ROSA NETO, 2015), que avalia as seguintes áreas do desenvolvimento: motricidade
fina (IM1), motricidade global (IM2), equilíbrio (IM3), esquema corporal (IM4), organização
espacial (IM5), organização temporal (IM6). Este instrumento determina a idade motora (obtida
através dos pontos alcançados nos testes) e o quociente motor (obtido pela divisão entre a idade
cronológica multiplicado por 100).
Com exceção dos testes de lateralidade, as outras baterias consistiam em 10 tarefas
motoras cada, distribuídas entre 6 e 10 anos, organizadas progressivamente em grau de
complexidade, sendo atribuído para cada tarefa. Em caso de êxito, um valor correspondente
a idade motora (IM), expressa em meses. Em cada bateria, o teste é interrompido quando a
criança não concluir a tarefa com êxito, conforme protocolo. Ao final da aplicação, dependendo
do desempenho individual em cada bateria, é atribuída à criança uma determinada IM, em
cada uma das áreas referidas anteriormente (IM1, IM2, IM3, IM4, IM5, IM6), sendo após,
calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança. Esses
valores foram quantificados e categorizados, permitindo classificar as habilidades analisadas
em padrões: “muito superior” (130 ou mais), “superior” (120-129), “normal alto” (110-119),
“normal médio” (90-109), “normal baixo” (80-89), “inferior” (70-79) e “muito inferior” (69 ou
menos).
Os pais das crianças participantes assinaram um Termo de Consentimento e Livre
Esclarecimento e as crianças um Termo de Assentimento, sendo informados sobre os objetivos
do estudo, procedimentos aos quais foram submetidas e possíveis benefícios e riscos atrelados
à execução do estudo.
Para a análise descritiva dos dados, foram utilizados os cálculos de frequências, médias
e desvios padrão. Para verificar a correlação entre a variável Idade Cronológica e Idade e Idade
Motora Geral, utilizou-se a Correlação Linear de Pearson. Além disso, foi realizado teste do
qui-quadrado e o test t de Student. O nível de significância adotado para todas as análises foi de
5%. O programa estatístico utilizado foi o STATA 12.0.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade, com o número
do CAAE 80425617.7.0000.5602.

3 RESULTADOS

A amostra do presente estudo foi composta por um total de 38 crianças, com média de
idade de 8.38 anos (± 0,97). Do total de crianças, a maioria foi do sexo feminino (52,63%).
As crianças eram matriculadas no ensino fundamental menor (1o ao 3o ano) sendo a maioria
(55,26%) matriculada no 3o ano.
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A Tabela 1 apresenta a classificação do desenvolvimento motor geral conforme a EDM


de ROSA NETO (2002). De acordo com a tabela, 94,74% (n=36) da amostra foi classificado
dentro da normalidade (“Normal Alto”, “Normal Médio” e “Normal Baixo”), sendo a maioria
classificada como “Normal Médio”, 60,53% (n=23). Pode-se observar ainda que uma pequena
parte da amostra, 5,26% (n=2), foi classificada abaixo da normalidade (“Inferior”), sendo
considerado de risco para o desenvolvimento e nenhuma apresentou resultados superiores.

Tabela 1 – Classificação do desenvolvimento motor geral dos escolares conforme a EDM, Teresina-PI, Brasil.

Escala Classificação Frequência Percentual


Muito Superior - -
Superior - -
Normal Alto 3 7,89%
Normal Médio 23 60,53%
Normal Baixo 10 26,32%
Inferior 2 5,26%
Muito Inferior - -
Total 38 -
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A Tabela 2 apresenta a comparação do desenvolvimento motor entre os grupos masculino


e feminino, se tratando de grupos homogêneos. Foi utilizado o test t-Student, p<0,05. Houve
diferença estatisticamente significativa entre os grupos na idade motora em equilíbrio (p=0,0204)
com valor superior apresentado pelas meninas, porém, os dois grupos foram classificados
dentro da normalidade pela EDM. Em se tratando das variáveis idade motora geral e quociente
motor geral não se observou diferença estatisticamente significativa entre os grupos masculino
e feminino.

Tabela 2 – Análise descritiva da avaliação motora dos escolares por sexo, Teresina-PI, Brasil.

Masculino Feminino Test compar.


Variáveis
Média DP Média DP (p)
Idade Cronológica - IC 100,11 13,06 101,05 10,61 0,8084
Idade Motora Geral - IMG 93,67 14,31 97,05 13,7 0,4616
Motricidade Fina - IM1 97,33 20,12 89,1 24,41 0,2672
Motricidade Grossa - IM2 105,33 20,8 103,8 14,18 0,7904
Equilíbrio - IM3 95,33 21,18 111 18,62 0,0204*
Esquema Corporal - IM4 80,67 18,77 79,8 15,21 0,8761
Organização Espacial - IM5 86,66 24,19 94,2 23,45 0,3365
Organização Temporal - IM6 96,67 28,65 104,4 20,27 0,3395
Quociente Motor Geral - QMG 93,17 8,59 95,445 8,30 0,4104
*valores com p<0,05 indicam diferença estatisticamente significativa.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
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A Tabela 3 apresenta a classificação do desenvolvimento motor geral nos grupos


masculino e feminino de acordo com a EDM. Na classificação dos resultados dos segundo
a escala de desenvolvimento motor nos grupos masculino e feminino, observou-se maior
percentual de meninos (61,11%) na classificação “Normal Médio”. Na classificação “Inferior”
observa-se que somente os meninos (11,11%) obtiveram percentual maior que zero. Nenhum
grupo apresentou classificação “Muito Superior”, “Superior” ou “Muito Inferior”.

Tabela 3 – Classificação do desenvolvimento motor geral dos 38 escolares conforme a EDM, Teresina/PI, Brasil.

Masculino Feminino
Escala Frequência Percentual Frequência Percentual

Muito Superior - - - -
Superior - - - -
Normal Alto 1 5,56 2 10
Normal Médio 11 61,11 12 60
Normal Baixo 4 22,22 6 30
Inferior 2 11,11 - -
Muito Inferior - - - -
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A Figura 1 demonstra, como esperado, uma correlação forte (0,77) entre as variáveis de
idade cronológica e idade motora geral haja visto os resultados apresentados na Tabela 1 com
classificação normal para a grande maioria das crianças participantes deste estudo. Além disso,
não participaram deste estudo crianças com déficit de desenvolvimento motor.

Figura 1 – Correlação entre idade motora geral e idade cronológica em meses


para os escolares participantes deste estudo.
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4 DISCUSSÃO

O presente estudo buscou avaliar o perfil motor de escolares com idades entre 6 e 10
anos de escolas públicas da zona rural e verificou-se que os alunos apresentaram um perfil de
desenvolvimento motor dentro da normalidade (94,74%), ou seja, compatíveis com a idade
cronológica (média de 100,61 meses) na qual se encontravam. Esses dados condizem com os
encontrados por Rosa Neto (2002), em um estudo realizado com 75 alunos de 1ª à 4ª Séries do
Ensino Fundamental. A média da Idade Motora Geral (IMG) neste estudo é de 95,44 meses,
quando comparando com o estudo citado, o presente trabalho apresentou valores semelhantes
aos valores encontrados que foram 95,03 meses.
Tais resultados corroboram ainda com resultados alcançados por De Souza et al. (2015)
que tiveram como objetivo traçar o perfil de desenvolvimento motor de alunos de oito anos das
escolas públicas estaduais, no qual 96% da amostra ficou dentro da normalidade. No entanto,
tais resultados diferem dos resultados alcançados por De Souza et al. (2015) no qual 4% da
amostra, apresentaram superioridade na classificação, não apresentando resultado inferior
como do presente estudo.
No estudo de Ferreira et al. (2015), de escolares com dificuldades de aprendizagem, no
qual foi utilizada a EDM para avaliar o desenvolvimento motor, foi verificado classificação
Inferior (11,5%), concordando com os dados do presente estudo, onde 5,26% da amostra foi
classificada como Inferior, apesar de ser um estudo feito com crianças típicas.
Haywood e Getchell (2010) apontam que a interação entre o indivíduo, o ambiente e
a tarefa atuam como aspectos influenciadores do processo de desenvolvimento motor e que
nessa perspectiva é coeso dizer que diversos são os fatores de risco que podem aumentar a
probabilidade de atrasos no desenvolvimento.
No presente estudo, as meninas apresentaram resultados superiores aos meninos em
relação ao desenvolvimento motor geral. De acordo Rodrigues e Gabbard (2007), em seu nível
de desenvolvimento, cada criança apresenta uma variação individual, que pode ocorrer devido
a um conjunto de fatores, vistos por meio do ambiente e das tarefas vivenciadas pelas crianças,
influenciando o desenvolvimento motor.
Em relação ao equilíbrio, quando comparado os grupos feminino e masculino,
observamos que as meninas apresentaram resultados superiores aos meninos, corroborando
com os estudos de Rosa Neto (2015) que avalia o desenvolvimento motor de escolares com
idades entre 6 a 10 anos no Ensino Fundamental. O achado vai de encontro ainda com os
estudos de Humphriss et al. (2011) em um estudo de corte com 5.402 crianças com idade entre
7 e 10 anos, o qual teve como objetivo descrever resultados de teste de equilíbrio para servir de
referência para análise clínica pediátrica. Nesse estudo foram identificados valores inferiores
para meninos em comparação aos de meninas para todos os testes de equilíbrio.
Nos estudos de Da Silveira et al. (2014), que avaliou o desempenho das habilidades
motoras de crianças com 9 e 10 anos de idade, as meninas apresentaram melhores resultados,
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apesar de não ser estatisticamente significativo, nas atividades de equilíbrio, que demandam
concentração. Olds, Papalia e Feldman (2010) afirmam que meninas têm mais domínio em
atividades que necessitam de movimentos precisos. No entanto, Mastroianni et al. (2006)
verificaram o contrário: as meninas apresentaram atraso motor maior que os meninos em
relação ao equilíbrio.
Observou-se também que a área de esquema corporal apresentou, ainda dentro de
uma normalidade, o menor resultado para ambos os sexos, apesar de não apresentar diferença
significativa, quando comparamos com as outras variáveis estudadas. De acordo com Rosa
Neto (2002), o instrumento de avaliação utilizado aceita um déficit de até 24 meses. Segundo
Assaiante et al. (2014), o esquema corporal está vinculado com a compreensão e execução de
uma ação, além de intenções sociais. Nas outras áreas específicas, motricidade fina e global,
organização espacial e temporal, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa
entre os sexos.
O presente estudo obteve forte correlação entre as variáveis idade cronológica e idade
motora geral. Da mesma forma, um estudo feito por Rosa Neto et al. (2010) demonstrou haver
alta correlação (0,800) entre idade cronológica e idade motora geral.
A grande maioria das crianças deste estudo está dentro da normalidade em seu
desenvolvimento motor. A forte influência dos estímulos existentes no meio rural onde a criança
está inserida, espaço suficiente e liberdade de movimento para atividades diversas como correr,
subir em árvores, brincar na grama e na areia, propicia um ambiente que ajuda suprir suas
necessidades de crescimento favorável ao desenvolvimento.
No entanto, em algumas variáveis deste estudo, foi encontrado baixo desenvolvimento
motor na classificação geral dos escolares. A baixa frequência de aulas de Educação Física
pode ser fator contribuinte, mas não o principal. Na zona rural, as aulas de Educação Física são
oferecidas somente uma vez na semana durante duas horas, sendo uma hora de aula orientada
pelo professor e uma hora as crianças ficam livres sem orientação. As aulas, em sua maioria,
não são lecionadas por professores formados em Educação Física e sim por estagiários ou
professores formados em outras áreas.

5 CONCLUSÃO

No presente estudo foi apresentado os parâmetros motores de crianças escolares da zona


rural com faixa etária de seis a dez anos em diferentes áreas do desenvolvimento: motricidade
fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização
temporal.
Os resultados indicaram que não houve diferenças significativas nas idades motoras
gerais e quocientes motores gerais quando comparados por sexo, estando classificados dentro
da normalidade. As médias de todas as idades motoras ficaram dentro da normalidade. Foi
verificado que o gênero influencia o desenvolvimento motor, pois as meninas apresentaram
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maior desempenho no desenvolvimento motor geral e na variável equilíbrio quando comparadas


aos meninos. Além disso, foi identificada correlação positiva forte entre as variáveis idade
cronológica e idade motora geral. Pode-se concluir que as médias das idades motoras gerais dos
escolares estão de acordo com suas idades cronológicas.
Como trabalhos futuros propõem-se a realização de trabalhos similares com uma
quantidade maior de crianças abrangendo a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Para
permitir melhores conclusões, indica-se a realização de estudo com comparativo entre os
elementos básicos desenvolvimento motor e desenvolvimento físico de crianças escolares e
entre escolas de zonas diferentes.

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 56-65, Abril/2019
Cruz Alta, RS
EFEITO DE UMA CURTA INTERVENÇÃO DE EXERCÍCIOS
AQUÁTICOS SOBRE OS SINTOMAS DE ANSIEDADE EM ADULTOS
DE MEIA IDADE

Effect of a short intervention of aquatic exercises on the symptoms of anxiety in


middle adults

NUNES, Leonardo Geamonond1

RESUMO ABSTRACT

Objetivo: Avaliar o efeito do exercício Objective: To evaluate the effect of aquatic


aquático sobre os sintomas de ansiedade exercise on anxiety symptoms in middle-
em adultos de meia idade. Métodos: aged adults. Methods: Experimental clinical
Estudo clínico experimental de abordagem study of quantitative approach. Eight female
quantitativa. Foram avaliados 08 adultos do adults with mean age (58.8 ± 8.0) years of
sexo feminino com média de idade (58,8 ± water exercises in the city of Uberlândia-
8,0) anos praticantes de exercícios aquáticos MG were evaluated. The test, Beck Anxiety
na cidade de Uberlândia-MG. Foi aplicado o Inventory (IAB), was applied to evaluate the
teste, Inventário de Ansiedade de Beck (IAB), anxiety symptoms among the participants.
para avaliar a sintomatologia de ansiedade Results: The evaluated adults presented the
entre os participantes. Resultados: Os adultos following values in the total IAB pretest (18.1
avaliados apresentaram os seguintes valores, ± 15.2). After 12 sessions of intervention with
no pré-teste IAB total (18,1 ± 15,2). Após aquatic exercises the volunteers presented the
doze sessões de intervenção com exercícios following results in the total IAB posttest (4.1
aquáticos os voluntários apresentaram os ± 3.7), (Δ = 77%; p = <0.04). Conclusion: The
seguintes resultados no pós-teste IAB total present study showed that a short intervention
(4,1 ± 3,7), (Δ = 77%; p = <0,04). Conclusão: of aquatic exercises presented significant
O presente trabalho nos mostrou que uma curta results when minimizing the anxiety symptoms
intervenção de exercícios aquáticos apresentou in middle-aged adults.
resultados significativos ao minimizar os
sintomas de ansiedade em adultos de meia Keywords: Adults. Anxiety. Water Exercises.
idade. Physical Exercise and Health.

Palavras-chave: Adultos. Ansiedade.


Exercícios Aquáticos. Exercício Físico e
Saúde.

1
Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, Uberaba, MG, Brasil.
E-mail: nunes_leonardo@yahoo.com.br.
66
BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
Efeito de uma curta intervenção de exercícios aquáticos sobre os sintomas de ansiedade em adultos de meia idade

NUNES, L. G.

1 INTRODUÇÃO

Ansiedade é um problema de saúde pública que afetam indivíduos de várias faixas


etárias, sexo e nível social em todo o mundo. Caracterizada como uma síndrome psiquiátrica
estima-se que 3 a 5% da população mundial já apresentou diagnostico de ansiedade e 7,6%
da população brasileira já manifestou ou manifesta de forma aguda ou crônica sintomas de
ansiedade (BATISTA; OLIVEIRA, 2016; GORDON et al., 2017). Os transtornos mentais são
distúrbios universais, que desencadeiam grande peso emocional, associados com prejuízos em
atividades básicas e instrumentais de vida diária, levando o indivíduo a isolamento social e
depressão (BATISTA; OLIVEIRA, 2016).
O exercício físico é uma ferramenta não farmacológica que está sendo bem estudada nos
últimos anos, com foco no eixo temático saúde mental e aspectos psicofisiológicos do desempenho
humano. Estudos em modelos animais indicaram que o exercício físico sistematizado apresentou
resultados satisfatórios com relação à neurogênese, cognição e aprendizagem (KANDOLA et
al., 2016). O exercício físico pode apresentar melhorias sobre a cognição nos três pilares da vida,
durante a infância, fase adulta e envelhecimento ou senescência (COTMAN; BERCHTOLD,
2002).
No estudo de Richards e colaboladores (2003), foi relatado que o exercício físico
pode proporcionar aumento da capacidade de reserva cognitiva do cérebro, além de reduzir a
taxa de envelhecimento cerebral e consequentemente atenuar os riscos de desenvolver algum
comprometimento neurológico (RICHARDS; SACKER, 2003).
O declínio físico-funcional e cognitivo, associado com comportamento sedentário
compromete a saúde da população e aumenta os riscos de morte prematura (NEVILLE et al., 2014).
Por outro lado os benefícios proporcionados pelo exercício físico para a população já estão bem
elucidados na literatura quando relacionados à capacidade funcional, aptidão física e condição
cardiorrespiratória (ELIAS et al., 2012; FERNANDES et al., 2012; BALASUBRAMANIAN;
CLARK; GOUELLE, 2015; REICHERT et al., 2015).
Exercícios aquáticos como a hidroginástica é uma ótima opção para adultos e idosos que
encontram dificuldades severas sobre o caminhar, dançar e entre outras modalidades esportivas
disponíveis na comunidade. A hidroginástica proporciona efeitos positivos sobre as funções
biopsicossociais dos indivíduos praticantes da mesma (QUADROS; DIAS; MARQUES, 2012).
Os exercícios aquáticos proporcionam melhorias sobre os escores de desempenho
cognitivo e reduzem os riscos de quedas na população idosa respectivamente (NUNES, 2018).
Quando referimos ao avaliar o efeito de exercícios aquáticos sobre os transtornos
psicológicos, encontramos lacunas na literatura brasileira que devem ser suprimidas. Com esse
propósito o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de uma curta intervenção de exercícios
aquáticos sobre os sintomas de ansiedade em adultos de meia idade. A hipótese do estudo
está direcionada na vertente que os exercícios aquáticos irão proporcionar maiores benefícios
psicofisiológicos e consequentemente minimizar os sintomas de ansiedade.
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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 66-73, Abril/2019
Cruz Alta, RS
Efeito de uma curta intervenção de exercícios aquáticos sobre os sintomas de ansiedade em adultos de meia idade

NUNES, L. G.

2 MÉTODOS

Esta investigação trata-se de um estudo clínico, experimental de abordagem quantitativa.


Para início da pesquisa foi obtido uma autorização por escrito para coordenação da
empresa, para realização dos procedimentos de coleta de dados com os voluntários.
O grupo participante das aulas de atividades aquáticas era constituído por 25 indivíduos.
Destes 20 eram pessoas com 50 anos ou mais. Foram convidados a participar do estudo 20
indivíduos de ambos os sexos praticantes de exercícios aquáticos em uma escola de Atividades
Aquáticas em Uberlândia, Minas Gerais. As atividades exercidas na água eram ministradas três
vezes por semana e, cada aula tinha a duração de 45 minutos. Após o convite concordaram em
participar deste estudo 08 indivíduos.

Fonte: Do autor

Os voluntários que participaram da pesquisa foram considerados saudáveis e preenchiam


os seguintes critérios de inclusão: ausência de perda visual e/ou auditiva, não fazer uso de
cadeira de rodas, não ter sequelas graves de acidente vascular encefálico com perda localizada
de força. Foi realizado a pré-avaliação utilizando um instrumento validado e após doze sessões
(aulas), os voluntários foram reavaliados pelo mesmo pesquisador.
As atividades exercidas na água seguiam o seguinte protocolo:
ISSN: 2317-3467

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BIOMOTRIZ, v. 13, n. 1, p. 66-73, Abril/2019
Cruz Alta, RS
Efeito de uma curta intervenção de exercícios aquáticos sobre os sintomas de ansiedade em adultos de meia idade

NUNES, L. G.

Fonte: Do autor.

A intensidade aplicada aos exercícios aquáticos foi de leve à moderada, avaliada


através da percepção subjetiva de esforço (BORG, 1982). Os voluntários deveriam ter 100%
de frequência para serem reavaliados. A pré e pós-avaliação dos sintomas de ansiedade dos
voluntários foi realizada de maneira individualizada em uma sala localizada na escola de
Atividades Aquáticas pelo próprio pesquisador.
O estudo cumpriu com os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinquía e
do Conselho Nacional de Saúde (Resolução CNS 196/96). Para segurança e credibilidade da
pesquisa todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), que informava os procedimentos realizados, riscos e benefícios da pesquisa.
Elaborou-se um questionário contendo questões referentes à idade, sexo e escolaridade.
Para a avaliação da ansiedade, a equipe recorreu a um instrumento validado, além de ser um
teste de fácil aplicação e que necessita de pouco tempo para execução. O teste aplicado para
avaliação foi o seguinte: Inventário do Transtorno de Ansiedade de Beck (IAB).
Este instrumento é utilizado com foco nos sintomas somáticos da ansiedade. O IAB
é administrado por auto relato e inclui a avaliação dos sintomas como nervosismo, tontura,
incapacidade de relaxar e etc. São 21 perguntas aplicadas aos voluntários sobre o desconforto
desses sintomas ao longo da semana anterior com pontuações de 0 (nada) a 3 (severamente). A
pontuação total varia de 0 a 63 pontos, sendo de 0 a 9 pontos, normal ou sem ansiedade; 10 a
18 pontos, ansiedade leve a moderada; 19 a 29 pontos, ansiedade moderada a grave; e 30 a 63
pontos, ansiedade severa (BECK et al., 1988).
A análise dos dados IAB, foi realizada por estatística descritiva (delta percentual, mínima
e máxima, média e desvio padrão) e intervalo de confiança de 95%. A avaliação inferencial foi
feita através do teste T para comparação dos dados entre pré e pós-intervenção por meio do
programa BioEstat 5.3.
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3 RESULTADOS

Tabela 1 - Valores Individuais sobre Inventário de Ansiedade de Beck.

Voluntários Pré-Avaliação Pós-Avaliação


Voluntário 1 10 Pontos 5 Pontos
Voluntário 2 53 Pontos 0 Pontos
Voluntário 3 4 Pontos 3 Pontos
Voluntário 4 18 Pontos 9 Pontos
Voluntário 5 8 Pontos 2 Pontos
Voluntário 6 15 Pontos 0 Pontos
Voluntário 7 22 Pontos 11 Pontos
Voluntário 8 15 Pontos 3 Pontos

Na Tabela 1 apresentamos os valores individuais da pré-avaliação e pós-avaliação ao


término da intervenção de exercícios aquáticos.

Tabela 2 - Dados mínimos e máximos sobre as pontuações do IAB.

PRÉ-AVALIAÇÃO PÓS-AVALIAÇÃO
Variáveis Mín. a Máx. Mín. a Máx.
IAB 4 a 53 pontos 0 a 11 pontos
IAB: Inventário de Ansiedade de Beck.

Na Tabela 2 apresentamos os valores mínimos e máximos da pré-avaliação e pós-


avaliação respectivamente.

Tabela 3 - Valores descritivos e inferenciais dos voluntários participantes do programa de exercícios aquáticos.

PRÉ-AVALIAÇÃO PÓS-AVALIAÇÃO
Variáveis M±D 95% IC M±D 95% IC Δ%
Idade 58,8 ± 8,0 - - - -
Escolaridade 6,5 ± 2,7 - - - -
IAB 18,1 ± 15,2 7,6 – 28,3 4,1 ± 3,7* 1,2 – 6,7 77,3%
Legenda: M: Média; DP: Desvio padrão.
IC: Intervalo de Confiança.
Δ: Delta percentual.
*: p <0,04.
IAB: Inventário de Ansiedade de Beck.

Com relação à Tabela 3, apresentamos os resultados descritivos e inferenciais sobre


a curta intervenção de exercícios aquáticos. Os dados exibidos foram significativos. Na pré-
avaliação os adultos avaliados apresentaram os seguintes valores: IAB total (18,1 ± 15,2). Após
doze sessões reaplicamos o teste e os voluntários retrataram os seguintes resultados, IAB total
(4,1 ± 3,7), (Δ = 77,3%; p = <0,04).
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4 DISCUSSÃO

Já estão bem consolidados na literatura os reais benefícios do exercício físico sistematizado


agudo e/ou crônico, sobre os parâmetros hemodinâmicos e metabólicos ocasionados na saúde da
população. Os dados técnicos científicos do exercício físico sobre os aspectos psicobiológicos
do desempenho humano, ainda são superficiais na literatura latino-americana e precisam ser
investigados (IGLESIAS MARTÍNEZ; OLAYA VELÁZQUEZ; GÓMEZ CASTRO, 2015;
BATISTA; OLIVEIRA, 2016).
Sobre os dados apresentados houveram mudanças significativas sobre os sintomas de
ansiedade. Na pré-avaliação os adultos avaliados apresentaram os seguintes valores: IAB total
(18,1 ± 15,2). Após doze sessões reaplicamos o teste e os voluntários retrataram os seguintes
resultados, IAB total (4,1 ± 3,7), com delta percentual de (Δ = 77,3%; p = <0,04).
Sabemos que exercícios físicos de intensidade leve a moderada, retardam o declínio
funcional, essa intervenção não farmacológica proporcionam melhorias relevantes sobre a
saúde mental além de atenuar possíveis transtornos como ansiedade, depressão e prováveis
demências (SILVA et al., 2014).
O fato de realizar exercícios em meio aquático, já nos propiciam uma sensação prazerosa,
além do convívio social que permitem ao indivíduo a oportunidade de conhecer outras pessoas
e se interagir como um ser biopsicossocial (NUNES, 2018).
Segundo Coelho e Virtuoso Júnior (2016), os benefícios psicobiológicos do exercício
físico podem ser adquiridos nos três níveis de intervenção sendo, na atenção primária – prevenir
quanto ao surgimento de doenças; secundária – identificar quando ainda é assintomática; e
terciária – atenuar a progressão da doença.
Sabemos que pessoas com transtornos mentais se exercitam em menor quantidade,
comparados a indivíduos sem algum distúrbio. Esse comportamento pode estar associado à
própria doença, que com sua progressão levará o indivíduo a lentidão psicomotora, isolamento
social e depressão (VEIT; ROSA, 2015).
Exercícios físicos e esportes têm potencial neuroprotetor sobre a saúde mental da
população em geral, pela estimulação da produção de fatores neurotróficos derivados do cérebro
responsáveis pela neurogênese, angiogênese e neuroplasticidade (FERREIRA et al., 2018).
Neste contexto, os profissionais de Educação Física devem se especializar sobre este
eixo temático em expansão, saúde mental, exercícios físicos e esportes, para que possam aplicar
o conhecimento adquirido com autonomia, segurança e qualidade, a população que sofre com
algum transtorno psicológico.
Algumas limitações foram impostas neste estudo, a ausência de um grupo controle para
averiguar se o exercício aquático proporciona melhoras psicofisiológicas no grupo treinado em
comparação ao grupo destreinado.
Nossa hipótese foi aceita pela melhora no escore sobre o IAB, precisamos de mais
estudos sobre o eixo temático aspectos psicobiológicos do desempenho humano sobre o esporte
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e o exercício físico, para que possamos consolidar nossos achados perante a literatura latino-
americana.

5 CONCLUSÃO

O presente estudo nos mostrou que o exercício aquático é uma ótima ferramenta não
farmacológica que contribui no eixo biopsicossocial do ser humano sobre os três pilares
da vida. O exercício físico deve ser aplicado à população nas três esferas de intervenção,
primária, secundária e terciária. A curta intervenção mostrou ser eficiente quanto aos benefícios
psicofisiológicos relatados pelos voluntários e comprovados pelo escore apresentado no
inventário de sintomas de ansiedade. Sugerimos a população, que de início a um programa
de exercícios físicos sistematizados contínuos para que outros benefícios psicofisiológicos e
sistêmicos sobre a saúde global possam ser obtidos.

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APTIDÃO FÍSICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PRATICANTES
DE MINI-TÊNIS

Physical fitness in mini-tênis practicing children and adolescentes

LIMA, Flávia Évelin Bandeira1


COCO, Mariane Aparecida2
SANTOS, Talles Augusto dos3

RESUMO ABSTRACT

Contextualização: A prática de atividades físicas Background: The practive of physical activity is


é o passaporte para um modo de vida saudável, the passport to a healthy way of life, bringing with
trazendo consigo diversos privilégios no que it various privileges concerning the promotion of
tange a promoção de saúde e desenvolvimento health and motor development of children and
motor de crianças e adolescentes. Objetivo: O adolescents. Objective: The present study aims to
presente estudo tem como objetivo verificar a verify the influence of Mini-Tennis in the physical
influência do Mini-Tênis na aptidão física de fitness of children and adolescents. Methods: This
crianças e adolescentes. Métodos: Esta pesquisa research is characterized as quantitative, descriptive
é caracterizada como quantitativa, descritiva and cross - sectional methodological design. The
com delineamento metodológico transversal. A sample consisted of children and adolescents aged
amostra foi composta por crianças e adolescentes between 7 and 16 years. The 18 evaluations were
com idade entre 7 e 16 anos. As 18 avaliações evaluated in three stages: one with one month
foram avaliadas em três etapas: uma primeira of practice, the second with one year of practice
com um mês de prática, a segunda com um ano and the third with two years of practice. There
de prática e a terceira com dois anos de prática. was a change in the number of samples due to the
Houve alteração no número de amostras devido ao admission of new participants in the evaluated
ingresso de novos participantes na turma avaliada class and absence of some practitioners on the
e ausência de alguns praticantes nos dias da coleta. days of collection. The test protocol used was
O protocolo de testes utilizado foi do PROESP- PROESP - Br (2016). Results: When comparing
Br (2016). Resultados: Ao comparar os três the three evaluated moments of practice, we can
momentos avaliados de prática, nota-se a diferença see the difference between the indicators of height,
entre os indicadores de estatura, envergadura, size, BMI, flexibility, cardiorespiratory fitness,
IMC, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória, explosive strength of the minor, agility, speed.
força explosiva da menor, agilidade, velocidade. Conclusions: In this way, it was concluded that
Conclusão: Desta forma, concluí-se que o Mini- Mini-Tennis exerts significant influences on the
Tênis exerce influências expressivas na aptidão physical fitness of its practitioners, both related to
física de seus praticantes, tanto relacionada à health, and related to motor performance.
saúde, como relacionada ao desempenho motor.
Keywords: Tennis. Child. Adolescent.
Palavras-chave: Tênis. Criança. Adolescente.

1
Doutorado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, São
Paulo, Brasil. Professora Titular da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná, Brasil.
E-mail: flavia.lima@uenp.edu.br.
2
Graduação em Educação Física - Licenciatura e Bacharelado, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná.
Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná, Brasil. E-mail: mariuenpedf@gmail.com.
3
Graduação em Educação Física - Licenciatura, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná. Universidade
Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná, Brasil. E-mail: talles303@gmail.com.
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Aptidão física em crianças e adolescentes praticantes de mini-tênis

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1 INTRODUÇÃO

A prática de atividades físicas é o passaporte para um modo de vida saudável, trazendo


consigo diversos privilégios no que tange a promoção de saúde e desenvolvimento motor de
crianças e adolescentes. Em qualquer idade, é um hábito importante para a manutenção da
saúde, prevenção de doenças, bem-estar e desenvolvimento psicomotor, apresentando relação
com o balanço energético e o controle da massa corporal (COSTA et al., 2014). Hábitos de
atividade física, incorporados na infância e adolescência possivelmente possam acompanhar
o indivíduo até a vida adulta (GUEDES et al., 2001). De acordo com o Colégio Americano
de Medicina Esportiva, a aptidão física para as crianças e adolescentes deve ser desenvolvida
como primeiro objetivo de incentivo a adoção de um estilo de vida apropriado com a prática
de exercícios por toda a vida, com o intuito de desenvolver e manter condicionamento físico
suficiente para melhoria da capacidade funcional e da saúde (ACMS, 2007).
Vieira et al. (2009) evidenciam que crianças e adolescentes que tem uma boa base
motora (vivências/experiências motoras), demonstram vantagens em muitas situações, como na
aprendizagem de habilidades motoras complexas e na precisão dos movimentos, contribuindo
para melhora na percepção do desempenho motor. O desempenho motor é o aspecto observável
do movimento e influenciado por muitos fatores como: motivação, condição física, fadiga
(SCHMIDT; WRISBERG, 2010). Para Gallahue; Ozmun e Goodway (2013), é considerado
como o nível de desempenho atual de um indivíduo, influenciado por fatores como movimento,
velocidade, agilidade, equilíbrio, coordenação e força. O ser humano adquire habilidades
motoras, progredindo de movimentos simples, desorganizados e sem habilidade, para execução
de habilidades motoras altamente organizadas e complexas (MARQUES, 1996). Barela (1999)
afirma que, todas as habilidades motoras presentes no repertório motor do ser humano, via
regra, passam pelo longo caminho “do inexperiente ao habilidoso”.
Esportes com raquetes demonstram que as habilidades adquiridas nesses esportes fazem
uma relação importante com os movimentos fundamentais e com as habilidades especializadas
(GALLAHUE et al., 2013). O tênis é uma prática física corporal e mental, que deixa transparecer
facilmente a personalidade de quem o realiza. Portanto, o valor do Mini-Tênis como jogo
desportivo a ser desenvolvido, parece mais que recomendado, se pensar na sua contribuição no
progresso motor e no desenvolvimento de novas habilidades das crianças em conjunto com o
desenvolvimento das capacidades biomotoras e, por fim, efetivamente contribuirá na formação
integral das crianças, aspectos esse que o jogo pode proporcionar.
Para Crespo e Miley (1998), uma das formas mais eficazes de introduzir tênis de campo
para as crianças de uma maneira divertida e ativa usando uma abordagem com base nos jogos é
o Mini-Tênis, pela condição que as elas têm de jogar em um ambiente compatível com as suas
capacidades físicas. A sua prática não requer equipamentos sofisticados, mas adaptados, além de
possuir regras simples e a quantidade de técnica ensinada é básica e de fácil aprendizado. Para
Brustolin (1995), o Mini-Tênis é o tênis em proporções menores; quadras menores, raquetes
menores, rede mais baixa, bolas mais leves, regras mais simples e a base do aprendizado está
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no controle da bola e nos jogos.


De acordo com Bompa (2002), as diversas formas de jogos e brincadeiras quando
bem conduzidos tende a desenvolver de uma maneira geral o sistema cardiorrespiratório, a
capacidade de força e de velocidade, além de ser uma ótima estratégia metodológica, pois a
criança se exercita de uma maneira lúdica e prazerosa. Já, Chiminazzo e Azzi (2005) dizem
que, o jogo de tênis, por ser um esporte individual, precisa de um grande esforço por parte de
seus praticantes. O jogador deve ter consciência de que se ele não usufruir do jogo, com certeza
o seu parceiro também não usufruirá. Este embasamento deverá ser adquirido pelo processo
educativo. É fundamental jogar com o outro e não contra o outro.
Alicerçado nos estudos de especialistas que se preocupam em estudar a criança no que
tange ao desempenho motor relacionado à aptidão física e à saúde, certamente se pensar de
forma racional a proposta da implantação de um estudo, relacionado ao desempenho motor
como promotor de saúde, juntamente com o Projeto de Extensão Mini-Tênis, pela sua dinâmica
e pela sua característica efetivamente poderá contribuir e muito com o progresso motor das
crianças. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo verificar a influência do Mini-
Tênis na melhora da aptidão física de crianças e adolescentes, por meio da aplicação do projeto
de extensão intitulado: “Projeto Mini-Tênis para crianças e Adolescentes”.

2 METODOLOGIA

Essa pesquisa caracteriza-se em um estudo quantitativo descritivo com delineamento


metodológico transversal, pois associa e correlaciona a aptidão física e o desempenho motor
e sua relação com a saúde em crianças e adolescentes iniciantes/praticantes de Mini-Tênis.
Aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP-UENP pelo parecer n.3083384/2018. Foi
responsabilidade dos pesquisadores a condução dos testes e avaliações referentes às variáveis
antropométricas e as capacidades de desempenho motor durante a pesquisa.
A amostra do presente estudo foi composta por crianças e adolescentes com idade entre
7 e 16 anos, participantes do projeto de extensão intitulado “Projeto Mini-Tênis para Crianças e
Adolescentes” da Universidade Estadual do Norte do Paraná, na cidade de Jacarezinho-PR. As
avaliações foram realizadas em três etapas: a primeira com um mês de prática (18 avaliados), a
segunda com um ano de prática (23 avaliados) e terceira com dois anos de prática (9 avaliados).
Houve alteração no número da amostra devido ao ingresso de novos participantes e a desistência
de outros.
Para a seleção da amostra, foram utilizados os seguintes critérios: Ter entre 7 e 16 anos
de idade; Ter assinado junto com seus pais ou responsável legal o TCLE; Participar de todos os
testes referentes ao estudo; Ter no mínimo 75% de frequência nas aulas do projeto de extensão;
São motivos de exclusão os que não se enquadrarem nas referências acima, bem como os que
possuírem impedimentos para prática esportiva.
Para que acontecesse as coletas, os pais foram devidamente comunicados e informações
sobre a importância, os objetivos e a metodologia do estudo, receberam o Termo de Consentimento
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Livre Esclarecido para a autorização dos adolescentes na pesquisa. Todos os participantes foram
informados dos propósitos, riscos e benefícios do estudo, sendo respondidas todas as dúvidas
sobre o referido estudo. Também, foram informados que não haveria remuneração como
forma de ressarcimento ou pagamento por suas participações na pesquisa e que poderiam, sem
constrangimento, deixar de participar da pesquisa quando desejassem. Todos os dados coletados
durante a realização desse estudo foram utilizados apenas para fins de pesquisa e somente
os pesquisadores envolvidos nesse trabalho tiveram acesso às informações. Estas precauções
foram adotadas com o objetivo de preservar a privacidade e o bem-estar dos participantes.
O protocolo de testes utilizados foi o do PROESP-Br (GAYA et al., 2016). Para a
aplicação dos testes foi obedecida a seguinte sequência: Massa Corporal, utilizou-se uma
balança portátil com precisão de até 500 gramas, as crianças e adolescentes foram medidos
em trajes de Educação Física e descalços, em pé com os braços estendidos e juntos ao corpo;
Estatura, utilizou-se fita métrica de 1,50 metros de comprimento presa à parede a 1 metro do
solo, o avaliado posicionava-se ao lado da fita métrica, encostando a cabeça e os calcanhares
na parede; Envergadura, foi fixada uma trena métrica paralelamente ao solo a uma altura de
1,20 metros para os alunos menores e 1,50 m para os alunos maiores. O aluno se posicionou
em pé, de frente para a parede, com os braços elevados e cotovelos estendidos em 90 graus
em relação ao tronco, com as palmas das mãos voltadas para a parede, foi medida a distância
entre a extremidade do dedo médio esquerdo, até o direito; Teste de sentar-e-alcançar, foi
estendida uma fita métrica no solo e na marca de 38 cm desta fita colocou-se um pedaço de fita
adesiva de 30 cm em perpendicular, o adolescente foi avaliado descalço, com os calcanhares
na marca dos 38 cm, joelhos estendidos e as mãos sobrepostas, o aluno inclinou-se lentamente
e estendeu as mãos para frente o mais distante possível, até a distância ser anotada; Teste de
corrida/caminhada dos 6 minutos, utilizou-se trena métrica, cronômetro e ficha de registro, os
alunos correram o maior tempo possível, evitando piques de velocidade intercalados por longas
caminhadas; Teste de resistência abdominal, o avaliado se posicionou em decúbito dorsal com
os joelhos flexionados a 45 graus e com os braços cruzados sobre o tórax. Ao sinal a criança
iniciou os movimentos de flexão do tronco até tocar com os cotovelos nas coxas, retornando a
posição inicial, realizando o maior número de repetições completas em 1 minuto; Arremesso
da medicineball, o avaliado sentou-se no solo com os joelhos estendidos, as pernas unidas e
as costas completamente apoiadas à parede, segurando a medicineball junto ao peito com os
cotovelos flexionados lançou a bola à maior distância possível, mantendo as costas apoiadas
na parede; Salto horizontal, o avaliado posicionou-se atrás da linha de partida, com os pés
paralelos, ligeiramente afastados, joelhos semiflexionados, tronco ligeiramente projetado à
frente e ao sinal do avaliador saltou a maior distância possível aterrissando com os dois pés
juntos; Teste do quadrado, foi demarcado com cones um quadrado de quatro metros de lado ao
sinal do avaliador, o avaliado deslocou-se em velocidade máxima e tocou com uma das mãos
no cone situado em sua diagonal, na sequência, correu para tocar o cone à sua esquerda e depois
se desloca para tocar o cone em diagonal novamente, e para finalizar, correu em direção ao
último cone, que corresponde ao ponto de partida. O cronômetro foi acionado pelo avaliador
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no momento em que o avaliado tocou pela primeira vez com o pé o interior do quadrado e foi
travado ao tocar no último cone; Teste de corrida de 20 metros, uma pista de 20 metros foi
demarcada com três linhas paralelas no solo da seguinte forma: a primeira (linha de partida); a
segunda, distante 20m da primeira (linha de cronometragem) e a terceira linha, marcada a um
metro da segunda (linha de chegada). Ao sinal do avaliador, o avaliado deslocou-se, o mais
rápido possível, em direção à linha de chegada. O avaliador acionou o cronômetro no momento
em que o avaliado deu o primeiro passo pela primeira vez com um dos pés além da linha de
partida e o cronômetro foi travado quando o aluno cruzou a linha de cronometragem.
Os testes foram realizados na mesma hora do dia para evitar possíveis efeitos do ciclo
circadiano, ocorrendo das 9:00 as 10:00 horas nas turmas matutinas e das 14:00 as 15:00 nas
turmas vespertinas.
A avaliação da aptidão física para o desempenho esportivo é referenciada a normas
estatísticas (normas de referência), de acordo com as variáveis da aptidão física para a saúde,
o PROESP-BR (2016) estabelece como normas e critérios de avaliação, pontos de corte ou
valores críticos estratificados por idade e sexo. Valores abaixo dos pontos de corte é considerado
como ZONA DE RISCO À SAÚDE e valores acima, ZONA SAUDÁVEL (GAYA et al., 2016).
Utilizou-se na classificação do IMC dos adolescentes, o protocolo de Conde Monteiro
(2006) que estabelece pontos de corte de acordo com a idade em meses e sexo. Apresenta
valores críticos para classificação do baixo peso, excesso de peso e obesidade para a população
brasileira entre 2 a 19 anos.
Após a coleta os dados coletados foram tratados por meio do pacote computadorizado
Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 24.0. Para a análise das variáveis
numéricas recorreu-se aos procedimentos da estatística descritiva (frequência absoluta e
relativa), posteriormente, para identificação de eventuais diferenças, ao teste U de Mann-
Whitney (mediana), segundo resultados do teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. As
variáveis categóricas (proporção de frequência de acordo com os pontos de corte considerados)
foram analisadas mediante tabelas cruzadas, envolvendo testes de qui-quadrado (X2), para
identificação de diferenças estatísticas entre os grupos (comparações múltiplas ajustadas pelo
método Bonferroni. Os valores de p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos
para todas as análises.

3 RESULTADOS

A amostra inicial foi composta por 18 participantes (9 meninas, 9 meninos), na segunda


e na terceira bateria de testes o número da amostra alterou-se em consequência da mudança de
alguns integrantes do projeto de extensão. Desta forma, foram avaliados na segunda bateria
de testes 23 participantes (5 meninas, 18 meninos), e na terceira 9 participantes (4 meninas,
5 meninos). Ao realizar o teste de normalidade os dados se apresentaram não normais. A
descrição dos valores de medidas de tendência central (média, desvio padrão, mediana, mínimo
e máximo) para idade, massa corporal, estatura, envergadura, IMC, PC, flexibilidade, resistência
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muscular localizada, aptidão cardiorrespiratória, FMI, FMS, agilidade e velocidade, bem como
a comparação desses indicadores em três momentos, encontra-se na Tabela 1.
Identifica-se diferenças significativas, entre os momentos, nos indicadores de idade
(p=0,005), estatura (p=0,003), envergadura (p=0,014), IMC (p=0,000), flexibilidade (p=0,000),
aptidão cardiorrespiratória (p=0,005), FMI (p=0,017), agilidade (p=0,002) e velocidade
(p=0,008).

Tabela 1 - Valores de medidas de tendência central e de dispersão para os indicadores antropométricos e de


desempenho motor de crianças e adolescentes praticantes de Tênis.

G-1mês (18) G-1ano (n=23) G-2anos (n=9) “U”


Média Mediana Média Mediana Média Mediana
p-valor
(±dp) (min-max) (±dp) (min-max) (±dp) (min-max)
9,9 9,9 11,5 11,2 11,6 11,7
Idade (anos) 0,005*
(±1,4) (7,8-12,5) (±1,6) (8,3-16,7) (±1,9) (7,5-13,90)
Massa Corporal 41,5 38,8 40,7 38 37,1 41,6
0,369
(Kg) (±8,5) (31,7-62) (±8,1) (31-61,4) (±7,2) (29,6-52,5)
1,39 1,41 1,47 1,47 1,53 1,54
Estatura (m) 0,003*
(±0,1) (1,22-1,57) (±0,1) (1,32-1,64) (±0,1) (1,39-1,68)
1,42 1,43 1,48 1,47 1,57 1,57
Envergadura (m) 0,014*
(±0,12) (1,22-1,62) (±0,09) (1,32-1,71) (±0,13) (1,30-1,81)
21,3 20,6 18,9 18 14,1 13,8
IMC (kg/m2) 0,000*
(±4) (15,9-31,3) (±3,3) (16,1-30,1) (±1,7) (10,6-16)
65,2 62,5 64,6 62 65,5 62,5
PC (cm) 0,940
(±9,1) (55-87) (±8) (57-89) (±9,7) (59-89)
10,53 10 13,63 14 37,56 37
Flexibilidade (cm) 0,000*
(±5,4) (5-26) (±5,7) (2-24) (±6,7) (28-50)
Resistência
24,9 25 30,3 31 31,56 29
Muscular localizada 0,107
(±9,3) (7-41) (±6,5) (20-43) (±8,6) (20-46)
(quantidade)
Aptidão
901,2 903 1086,3 1134 1019,3 982,5
Cardiorrespiratória 0,005*
(±130,3) (645-1146) (±229,4) (557-1484) (±200,8) (783-1389)
(m)
Força Explosiva de
1,47 1,48 1,68 1,65 1,76 1,73
Membros Inferiores 0,017*
(±0,2) (1,04-1,80) (±0,3) (1,15-2,24) (±0,3) (1,35-2,21)
(m)
Força Explosiva
2,33 2,30 2,63 2,40 2,78 2,50
de Membros 0,072
(±0,4) (1,80-3,50) (±0,5) (1,85-3,75) (±0,7) (1,75-3,70)
Superiores (m)
7,76 7,84 7,28 7,12 6,43 6,34
Agilidade (s) 0,002*
(±0,9) (6,45-9,88) (±0,6) (6,06-8,75) (±0,8) (5,22-7,91)
4,44 4,39 4,07 3,99 4,5 4,62
Velocidade (s) 0,008*
(0,5) (3,74-5,35) (±0,3) (3,48-4,71) (±0,4) (3,63-5,12)
IMC: índice de massa corporal; PC: perímetro da cintura.
(* diferença p<0,05).

A Tabela 2 apresenta a proporção entre o tempo de prática dos indicadores antropométricos


e desempenho motor dos participantes do projeto de extensão. Analisando a prevalência
entre os grupos verifica-se diferença significativa apenas nos indicadores de IMC (p=0,038),
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flexibilidade (p=0,000), aptidão cardiorrespiratória (p=0,006) e agilidade (p=0,002). Apesar da


maioria dos indicadores não apresentarem valores estatisticamente significativos, observa-se
a migração dos avaliados para a zona saudável a saúde, de acordo com a variável de gordura
visceral.

Tabela 2 – Proporções (%) entre tempo de prática dos indicadores antropométricos e desempenho motor de
crianças e adolescentes praticantes de Tênis.

G-1 mês (18) G-1 ano (n=23) G-2 anos (n=9)


Variáveis Categorias
f (%) f (%) f (%) p-valor(x²)
Zona não saudável 8 (44,4) 5 (21,7) 0 (0) 0,038*
IMC (kg/m2)
Zona saudável 10 (55,6) 18 (78,3) 9 (100)
Gordura Visceral Zona não saudável 5 (27,8) 2 (8,7) 1 (1,1) 0,231
(Cintura/Estatura) Zona saudável 13 (72,2) 21 (91,3) 8 (88,9)
Zona não saudável 17 (94,4) 22 (95,7) 2 (22,2) 0,000*
Flexibilidade (cm)
Zona saudável 1 (5,6) 1 (4,3) 7 (77,8)
Resistência muscular Zona não saudável 7 (38,9) 8 (34,8) 6 (66,7) 0,245
localizada (quantidade) Zona saudável 11 (61,1) 15 (65,2) 3 (33,3)
Fraco 7 (38,9) 3 (13) 1 (11,1) 0,006*
Razoável 3 (16,7) 0 (0) 5 (55,6)
Aptidão
Cardiorrespiratória Bom 2 (11,1) 5 (21,7) 0 (0)
(m)
Muito Bom 4 (22,2) 8 (34,8) 2 (22,2)
Excelente 2 (11,1) 7 (30,4) 1 (11,1)
Fraco 3 (16,7) 1 (4,3) 0 (0) 0,613
Razoável 3 (16,7) 4 (17,4) 1 (11,1)
Força Explosiva de
Membros Inferiores Bom 6 (33,3) 6 (26,1) 2 (22,2)
(m)
Muito Bom 6 (33,3) 9 (39,1) 5 (55,6)
Excelente 0 (0) 3 (13) 1 (11,1)
Fraco 7 (38,9) 9 (39,1) 4 (44,4) 0,796
Força Explosiva de Razoável 5 (27,8) 5 (21,7) 3 (33,3)
Membros Superiores
(m) Bom 5 (27,8) 5 (21,7) 2 (22,2)
Muito Bom 1 (5,6) 4 (17,4) 0 (0)
Fraco 12 (66,7) 17 (73,9) 3 (33,3) 0,002*
Razoável 5 (27,8) 5 (21,7) 1 (11,1)
Agilidade (s)
Bom 1 (5,6) 1 (4,3) 1 (11,1)
Muito Bom 0 (0) 0 (0) 4 (44,4)
Fraco 9 (50) 10 (43,5) 7 (77,8) 0,692
Razoável 5 (27,8) 8 (34,8) 2 (22,2)
Velocidade (s)
Bom 3 (16,7) 4 (17,4) 0 (0)
Muito Bom 1 (5,6) 1 (4,3) 0 (0)
IMC: índice de massa corporal; PC: perímetro da cintura. Teste “qui-quadrado” (x2). (* diferença p<0,05).
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Aptidão física em crianças e adolescentes praticantes de mini-tênis

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4 DISCUSSÃO

A presente pesquisa verificou a influência do Mini-Tênis na aptidão física de crianças


e adolescentes, por meio da aplicação do projeto de extensão intitulado “Projeto Mini-Tênis
para Crianças e Adolescentes”. Ao comparar os três momentos avaliados de prática, nota-se
diferenças significativas nos indicadores de estatura, envergadura, IMC, flexibilidade, aptidão
cardiorrespiratória, força explosiva de membros inferiores, agilidade, velocidade. Esse resultado
pode ser explicado pelo projeto de extensão contar com aulas voltadas ao aperfeiçoamento das
habilidades motoras, assim como as capacidades coordenativas das crianças e dos adolescentes.
No início da pesquisa, em consequência de os alunos não praticarem atividade física
regularmente, verifica-se desempenho fraco na maior parte dos testes motores em relação ao
desempenho esportivo. Após intervenção, nota-se evolução significativa no cenário da saúde e
do desempenho motor, ainda que alguns indicadores não foram estatisticamente significativos.
O projeto desse estudo contribui positivamente para o aumento dos níveis de atividade
física das crianças e dos adolescentes aliados aos aspectos físico-motor, intelectual, afetivo-
emocional e social, através de atividades lúdicas que proporcionam o prazer juntamente com o
desenvolvimento dos praticantes de Mini-Tênis.
Ao realizar a primeira bateria de testes, maior parte dos avaliados encontravam-se
classificados na zona de risco à saúde, já nas avaliações seguintes, observa-se migração dos
mesmos para a zona saudável. Desta forma, afirma-se a preocupação dos participantes em manter
os níveis adequados da aptidão física relacionada à saúde, uma vez que a finalidade do projeto de
extensão não é somente o talento esportivo. Os indicadores antropométricos e de desempenho
motor, em relação aos três momentos analisados, demonstraram valores significativos em nove
das treze variáveis avaliadas, sendo verificados nos medidores de idade, estatura, envergadura,
IMC, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória, força de membros inferiores, agilidade e
velocidade. Assim, percebe-se que a participação dos alunos no projeto de extensão está sendo
efetiva, provocando evoluções em suas habilidades e capacidades motoras. Comprovando os
efeitos positivos de um projeto de intervenção, Costa et al. (2014) evidenciam que, a proposta
pedagógica se fez eficaz promovendo o desenvolvimento das habilidades motoras revelando-se
como uma opção viável para promover o desempenho motor das crianças.
Ainda que, nesse estudo verifica-se a evolução nos indicadores de desempenho motor
das crianças e adolescentes durante o período entre as baterias de testes, os mesmos não foram
suficientes para o talento esportivo. Corroborando, Rodrigues (2011) analisou o desempenho
motor e escolar de crianças de 6 a 10 anos de uma escola pública de Porto Alegre–RS, onde
constatou que 94,9% dos meninos e 97,8% das meninas avaliadas não apresentaram desempenho
motor equivalente à sua faixa etária. Esse resultado sugere que novos projetos ofertem atividades
físicas ou esportivas a fim de contribuir para o desenvolvimento motor e integral das crianças
e adolescentes, uma vez que o baixo nível de atividade física e o aumento do sedentarismo se
potencializou em crianças em adolescentes nos últimos anos (SIGMUND et al., 2015).
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Considerando as limitações do estudo, destaca-se a variação de participantes do projeto


de extensão, nos períodos que antecederam as baterias de testes. A falta de literatura disponível
que comparassem os momentos, não o sexo. Alguns estudos utilizaram metodologia semelhante
ao desse trabalho, no entanto utilizando escolares de outra faixa etária e/ou atletas de rendimento.
Contudo, a pesquisa acompanhou a evolução motora dos alunos praticantes de Mini-Tênis no
período avaliado, diferente de outros estudos que utilizaram de avaliações em um só momento.

5 CONCLUSÃO

Considerando os resultados apresentados, percebe-se a melhora dos indicadores


antropométrico e de desempenho motor das crianças e adolescentes participantes do projeto
de extensão voltado a iniciação do tênis. Esse resultado nota-se principalmente nas variáveis
de flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória e agilidade. Houve melhora também nos outros
indicadores avaliados, porém não se obteve diferenças estatísticas significativas. Desta forma,
conclui-se que práticas de intervenção provocam influências expressivas na aptidão física
relacionada à saúde e no desempenho motor de seus praticantes. A prática regular de atividade
física traz benefícios não só na infância e adolescência, mas se mantém até a vida adulta, assim,
ratifica-se a importância de projetos de intervenção durante a fase escolar dos praticantes.

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INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS DE ESCOLARES DE 6 A 14
ANOS DE IDADE DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE XANXERÊ - SC

Anthropometric indicators of school children aged between 6 and 14 years old


from a public school of Xanxerê - SC
BIM, Mateus Augusto1
DE MARCO, Jean Carlos Parmigiani2
LUNARDI, Larissa3
BALDUÍNO, Deonilde4
PEDROZO, Sandro Claro5
RESUMO ABSTRACT

Contextualização: A obesidade é caracterizada Background: Obesity is defined as excessive fat


pelo acúmulo excessivo de gordura corporal e está accumulation and is associated with the development
associada ao desenvolvimento de doenças crônicas of chronic noncommunicable diseases, impairing health
não transmissíveis, prejudicando a saúde e reduzindo a and reducing life expectancy. Objective: This study
expectativa de vida. Objetivo: o presente estudo buscou aimed to verify the prevalence of general and central
verificar a prevalência de obesidade geral e central de obesity among school children of a public school in
escolares de uma escola pública municipal de Xanxerê- Xanxerê-SC. Methods: 473 school children aged from
SC. Métodos: participaram do estudo 473 escolares 6 to 14 years (241 females) participated in the study.
com idades de 6 a 14 anos (241 do sexo feminino). Body mass, height and waist circumference (WC) were
Foram coletadas as medidas de massa corporal, estatura collected to calculate the body mass index (BMI), waist-
e perímetro da cintura (PC) para calcular o índice to-height ratio (WHtR) and to estimate the general
de massa corporal (IMC) e a razão cintura/estatura obesity (BMI) and central obesity (WC and WHtR). The
(RCE) estimando a obesidade geral (IMC) e obesidade statistical procedures used were descriptive statistics,
central (PC e RCE). Os procedimentos estatísticos the Kolmogorov-Smirnov test to verify the normality
utilizados foram a estatística descritiva, o teste de of the data distribution, the Mann-Whitney U test to
Kolmogorov-Smirnov para verificar a normalidade da verify differences between the sexes and the Spearman
distribuição dos dados, o teste U de Mann-Whitney correlation test to verify the correlation between the
para verificar diferenças entre os sexos e o teste de anthropometric indicators. Results: 33.6% of the school
correlação de Spearman para verificar a correlação children were overweight, 21.6% had WC higher than
entre os indicadores antropométricos. Resultados: dos normal and 23.5% were in the risk zone. There was a
escolares avaliados 33,6% possuem excesso de peso, moderate correlation between the WHtR with WC (r =
21,6% possuem o PC acima do normal e 23,5% RCE na 0.618) and with BMI (r = 0.614) and strong correlation
zona de risco. Houve correlação moderada da RCE com between WC and BMI (r = 0.876). Conclusion: the
o PC (r= 0,618) e com IMC (r= 0,614) e forte entre o PC results showed that the indicators presented a moderate
e IMC (r= 0,876). Conclusão: os resultados mostraram correlation (WHtR with WC and BMI) and strong (WC
que os indicadores apresentaram correlação moderada and BMI), and that the prevalence of overweight and
(RCE com PC e IMC) e forte (PC e IMC) e que a central obesity in school children is high.
prevalência de excesso de peso e obesidade central dos
escolares está elevada. Keywords: School children. Obesity. Abdominal
obesity.
Palavras-chave: Escolares. Obesidade. Obesidade
Abdominal.
1
Mestrando em Ciências do Movimento Humano. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Florianópolis, Santa Catarina. mateus.bim@unoesc.edu.br.
2
Graduado em Educação Física. Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Xanxerê, Santa Catarina.
jean.carlos@unoesc.edu.br.
3
Graduada em Educação Física. Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Xanxerê, Santa Catarina.
larissa_lunardi1@hotmail.com.
4
Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do Curso de
Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Xanxerê, Santa Catarina. deonilde.
balduino@unoesc.edu.br.
5
Mestre em Biociências e Saúde pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Professor do curso
de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Xanxerê, Santa Catarina. sandro.
pedrozo@unoesc.edu.br.
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BIOMOTRIZ, Cruz Alta, RS
Indicadores antropométricos de escolares de 6 a 14 anos de idade de uma escola pública de Xanxerê - SC

BIM, M. A. | DE MARCO, J. C. P. | LUNARDI, L. | BALDUÍNO, D. | PEDROZO, S. C.

1 INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (2018) define obesidade como acúmulo anormal ou


excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde. Sua ocorrência é de caráter multifatorial,
podendo ser resultado da combinação de fatores genéticos e fisiológicos com um ambiente
obesogênico, caracterizado, principalmente, pela presença de atividade física insuficiente e de
hábitos alimentares inadequados (MINISTÉRIO DA SÁUDE, 2006).
Para o Ministério da Saúde (2010), as doenças não transmissíveis vêm aumentando
(DCNT), e no Brasil são as principais causas de óbito em adultos, com a obesidade sendo um
dos fatores de maior risco para adoecimento deste grupo. A presença dessas doenças requer
cuidado continuado de média e alta complexidade, o que eleva o custo da prestação de serviços
em saúde (MAZZOCCANTE; DE MORAES; CAMPBELL, 2013).
Em 2014, mais de 1,9 bilhões de adultos estavam com sobrepeso e mais de 600 milhões
desses casos eram de obesidade (OMS, 2013). Nos adolescentes também pode-se observar
aumento dos indivíduos com excesso de peso. Na década de 1970, apenas 3,7% dos adolescentes
do sexo masculino e 7,6% do sexo feminino apresentavam sobrepeso. Em levantamento
feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010 mostrou que este
número saltou para 21,7% e 19,4% para os sexos masculino e feminino, respectivamente. Em
concordância, a prevalência de obesidade saltou de 0,4% para 5,9% nos meninos e de 0,7% para
4,0% nas meninas.
Pesquisadores identificaram que a epidemia de obesidade foi causada por mudanças
enfrentadas nos ambientes econômicos, sociais e físicos (STURM; RUOPENG, 2014).
A obesidade, em qualquer de suas formas de manifestação, aumenta o risco para doenças
cardiovasculares, Diabetes Melittus, doenças musculoesqueléticas e alguns tipos de câncer,
problemas de respiração e problemas psicológicos (OMS, 2018). E também pode causar uma
notável redução na expectativa de vida e qualidade de vida (MAZZOCCANTE; DE MORAES;
CAMPBELL, 2013).
O âmbito escolar é um dos primeiros contatos que as crianças têm socialmente fora
do núcleo familiar. Assim como é dever da família criar e educar os filhos, a escola tem o
dever de ensinar e conscientizar os alunos de forma geral. Infância e adolescência são
períodos importantes para o desenvolvimento de um estilo de vida saudável, uma vez que os
comportamentos adquiridos nessa fase provavelmente serão repetidos na vida adulta (SOUZA
et al., 2011). Neste sentido, o papel do professor de educação física é fundamental para norteá-
los sobre a importância de cuidar da saúde, desenvolver e manter hábitos saudáveis por toda a
extensão da vida (MAZZOCCANTE et al., 2014).
Desta forma, este estudo teve como objetivo avaliar a obesidade geral e obesidade
central de escolares de seis a 14 anos de uma escola pública de Xanxerê através de diferentes
indicadores antropométricos.
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Cruz Alta, RS
Indicadores antropométricos de escolares de 6 a 14 anos de idade de uma escola pública de Xanxerê - SC

BIM, M. A. | DE MARCO, J. C. P. | LUNARDI, L. | BALDUÍNO, D. | PEDROZO, S. C.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo correlacional, de corte transversal.


A amostra do estudo foi composta por 473 alunos de uma escola pública do município de
Xanxerê-SC, sendo 232 meninos e 241 meninas com idades entre 6 e 14 anos.
Para o estudo foram coletadas as medidas de peso, estatura e perímetro da cintura para
identificação do estado nutricional medido pelo Índice de Massa Corporal (IMC) e da obesidade
central medida pelo Perímetro da Cintura (PC) e Razão Cintura Estatura (RCE). As coletas
foram realizadas no ano de 2017, em uma sala disponibilizada pela escola, onde os avaliadores
fizeram as mensurações de forma individual para garantir a integridade física e psicológica dos
avaliados.
Os materiais utilizados nas coletas foram uma balança da marca Ultra Slim Wiso com
precisão de 100g, um estadiômetro da marca Alturexata com resolução de 0,1cm e uma fita
antropométrica inelástica com resolução de 0,1 cm da marca Sanny e uma ficha de coleta de
dados.
Os critérios de inclusão foram estar regularmente matriculado na escola, ter participado
das mensurações de todas as variáveis (peso, estatura e perímetro da cintura) e possuir idade
entre 6 e 14 anos.
Após coleta e tabulação dos dados foram realizados os cálculos de IMC (kg/m²) e RCE
(perímetro da cintura/estatura). Para classificação do IMC foram utilizados os parâmetros
propostos por Conde e Monteiro (2006), para PC foram utilizados os parâmetros propostos por
Balduíno, Artuzi e Pedrozo (2016) para 6 a 13 anos, e para 14 anos por Pedrozo et al. (2014).
Para classificação da RCE foi utilizado o ponto de corte proposto por Ashwell e Hsieh (2005).
Os dados foram analisados no software IBM SPSS Statistics 22.0. Para caracterização
da amostra e variáveis do estudo foi utilizada a estatística descritiva correspondendo a média,
desvio padrão e frequência. Para verificar a normalidade de distribuição dos dados foi utilizado
o teste Kolmogorov-Smirnov, o teste U de Mann-Whitney para verificar possíveis diferenças
entre os sexos e a Correlação de Spearman para verificar a correlação entre os indicadores
utilizando o nível de significância de p<0,05.

3 RESULTADOS

Este estudo apresenta a obesidade central e geral de crianças e adolescentes, e as


correlações entre os diferentes indicadores antropométricos. O grupo de estudo avaliado
consistiu em 473 alunos de uma escola pública do município de Xanxerê-SC, sendo 232
meninos e 241 meninas com idades entre 6 e 14 anos.
A Tabela 1 apresenta as médias e desvio padrão das variáveis investigadas na amostra
total e por sexo, apenas as médias de RCE foram diferentes entre os sexos, sendo maiores no
sexo masculino.
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Tabela 1 - Caracterização da amostra.

Geral Masculino Feminino


(n=473) (n=232) (n=241) p-valor
x̅ (dp)
Idade (anos) 10,04 ± 2,56 9,85 ± 2,54 10,22 ± 2,57 0,096
Peso (kg) 39,00 ± 15,03 38,55 ±15,17 39,44 ± 14,92 0,514
Estatura (m) 1,41 ± 0,16 1,40 ± 0,16 1,42 ± 0,15 0,109
IMC (kg/m²) 18,99 ± 4,20 19,00 ± 4,11 18,98 ± 4,28 0,697
CC (m) 0,65 ± 0,11 0,66 ± 0,12 0,65 ± 0,11 0,138
RCE (m) 0,46 ± 0,06 0,47 ± 0,06 0,46 ± 0,06 <0,001*
n: amostra; x̅ : média; dp: desvio padrão; IMC: índice de massa corporal; PC: perímetro da cintura; RCE: razão
cintura/estatura; *p<0,05.

Conforme apresentado no primeiro gráfico (Figura 1), observou-se que 64,7% dos
escolares possuem IMC normal, 20,7% com sobrepeso, 12,9% obesos e 1,7% com baixo peso.
O sexo masculino apresentou 34,1% classificados com IMC acima do normal (22%
sobrepeso e 12,1% obesidade) e no sexo feminino foram 33,2% acima do normal (19,5%
sobrepeso e 13,7% obesidade). Observou-se que apesar de o sexo masculino apresentar maior
prevalência de sobrepeso, o sexo feminino apresentou maior prevalência de obesidade.

Figura 1 - Distribuição por frequência do Índice de Massa Corporal dos escolares em %.

Fonte: Os autores.

A Figura 2 apresenta a prevalência de obesidade central da amostra investigada.


Observou-se que 21,6% estão com o PC acima do normal (10,6% moderada e 11% elevada).
Os meninos apresentaram maior prevalência de obesidade central, 9,9% moderada e 13,8%
elevada. Nas meninas 11,2% apresentou classificação moderada e 8,3% elevada.
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Figura 2 - Distribuição por frequência do perímetro da cintura dos escolares em %.

Fonte: Os autores.

A RCE, também utilizada para verificar a obesidade central é apresentada na Figura


3. Nela pode-se verificar que 23,5% da amostra encontra-se na zona de risco, sendo 28% dos
meninos e 19,1% das meninas.

Figura 3 - Distribuição por frequência da relação cintura/estatura dos escolares em %.

Fonte: Os autores.

De acordo com a Tabela 2, houve correlação positiva forte entre o IMC e o PC (r= 0,876;
p<0,001). A RCE apresentou correlação positiva moderada com o IMC (r= 0,614; p<0,001) e
com o PC (r= 0,618; p<0,001).
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Tabela 2 - Correlação entre os indicadores.

IMC PC RCE
RCE 0,614* 0,618* 1
PC 0,876* 1 -
IMC 1 - -
*p<0,001; IMC: índice de massa corporal; PC: perímetro da cintura; RCE: razão cintura estatura.

3 DISCUSSÃO

O presente estudo buscou identificar a prevalência de obesidade corporal verificada pelo


IMC e obesidade central verificada pelo PC e RCE, de escolares de 6 a 14 anos de uma escola
pública do município de Xanxerê-SC e a correlação entre estes indicadores.
Quando analisados os resultados de IMC, foi possível observar que este estudo apresentou
maiores prevalências de sobrepeso em relação a achados na literatura. Travassos et al. (2017)
avaliaram o estado nutricional de 70 escolares (60% meninas) de 6 a 14 anos de um município
de Sergipe. Os autores encontraram na amostra avaliada 78,57% com IMC adequado, 11,42%
com sobrepeso e 7,14% obesos e 2,85% com baixo peso. No estudo de Aires et al. (2009),
onde foram avaliadas 99 escolares de 6 a 14 anos de uma escola pública de Santa Maria, 66%
estiveram com o IMC adequado, 13,4% com sobrepeso, 12,4% obesos e 8,2% com baixo peso.
Um estudo com 2146 alunos de escolas municipais de Guarapuava-PR, com idades de 7 a 11
anos é corroborado pelo presente estudo, sendo que 19,20% classificaram-se com sobrepeso e
11,79% com obesidade (PAULI et al., 2017).
Em estudo realizado no mesmo município, Balduíno; Artuzi e Pedrozo (2016), ao
investigar 1598 escolares (814 meninos e 784 meninas) de escolas públicas da rede municipal de
ensino de Xanxerê-SC, encontraram valores inferiores de prevalência de obesidade. Os autores
constataram no geral, que 2,1% dos escolares estavam com baixo peso, 66% com IMC adequado,
23,8% com sobrepeso e 8,1% com obesidade (3,9% a menos em relação ao presente estudo).
Ao analisarem os escolares com IMC acima do adequado por sexo, os autores observaram
resultados semelhantes entre os meninos (25,4% sobrepeso e 8% obesidade) e as meninas
(22,2% sobrepeso e 8,2% obesidade). Já no estudo Bim e Pedrozo (2017), ao investigarem
1174 escolares de 6 a 13 anos de escolas públicas da rede municipal de Xanxerê, os autores
encontraram resultados semelhantes ao do presente estudo, em que 21,1% dos escolares estavam
com sobrepeso e 12% com obesidade, sendo que as meninas apresentaram valores maiores de
obesidade (13,5%) em relação aos meninos (10,5%). Com resultados superiores de prevalência
de sobrepeso, ao comparar com o presente estudo, Santos et al. (2015), investigaram 147 alunos
de 7 a 17 anos de uma escola pública de Xanxerê e encontraram 46% acima do peso (33% com
sobrepeso e 13% obesidade).
Os achados dos estudos no município de Xanxerê vão ao encontro de estudos que
afirmam que a obesidade é maior em escolares nos estados do sul do país (PELEGRINI et al.,
2008; PELEGRINI et al., 2010).
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BIM, M. A. | DE MARCO, J. C. P. | LUNARDI, L. | BALDUÍNO, D. | PEDROZO, S. C.

No estudo de Balduíno, Artuzi e Pedrozo (2016), em que foram propostos os pontos de


corte para PC utilizados no presente estudo, 19,1% apresentaram o PC acima do normal (13,6%
moderada e 5,5% elevada). Ao verificar por sexo os autores encontraram no sexo masculino
13,9% com o PC moderado e 5,1% elevado e no sexo feminino 13,3% moderada e 6% elevada.
Bim e Pedrozo (2017) verificaram com PC moderado e elevado 13,1% e 9,7% respectivamente.
No sexo masculino 10,8% moderada e 12,4% elevada e no sexo feminino 15,6% moderada
e 6,8% elevada. Em estudo realizado em Fortaleza-CE, com 727 escolares de 6 a 11 anos de
12 escolas públicas, foi avaliado o PC dos participantes do estudo, identificando 27,2% com
obesidade central. A prevalência de obesidade central no sexo masculino e feminino foram de
26,8% e 27,6% respectivamente (DAMASCENO et al., 2010).
Os resultados do presente estudo corroboram os encontrados por Pauli et al. (2017) que
também avaliaram a RCE dos escolares e identificaram 77,63% na zona saudável e 22,37% na
zona de risco. Em estudo que investigou a RCE de escolares de 6 a 12 anos das escolas públicas
do município de Xanxerê-SC (dados de 2016), os pesquisadores verificaram em 898 escolares
18,7% na zona de risco. Na análise por sexos foram encontrados 20,8% e 16,4% acima do ponto
de corte no sexo masculino e feminino respectivamente (BIM et al., 2018).
Possuir valores de PC acima do adequado está relacionado a maiores chances de risco
para doenças cardiovasculares (BERGMANN, 2010; FRAPORTI; ADAMI; ROSOLEN, 2017;
SOUZA, et al., 2017) mesmo que a criança possua IMC normal (PAZIN et al., 2017), assim
como valores elevados de RCE estão associados ao excesso de peso, PC e pressão arterial
elevados (CHRISTMANN; DAL BOSCO; ADAMI, 2016; SILVA et al., 2017).
Comparando os resultados deste estudo com outros realizados na mesma cidade,
percebeu-se que de acordo com os indicadores antropométricos utilizados, a prevalência de
obesidade aumentou.
A faixa etária investigada no estudo está em constante crescimento e desenvolvimento
maturacional, sendo assim quando identificados desvios do estado nutricional devem ser
tomadas atitudes imediatas de tratamento e prevenção de doenças e distúrbios relacionados à
alimentação (AIRES et al., 2009), pois na infância e adolescência é o melhor momento para
realização de intervenções para desenvolver hábitos de vida saudáveis perdurarão até a vida
adulta (ENES; SLATER, 2010).
Assim como no presente estudo, Ricardo, Caldeira e Corso (2009) também encontraram
dentre os indicadores antropométricos a melhor correlação entre o perímetro da cintura e o
IMC. Damasceno et al. (2010) também encontraram correlação forte entre IMC e CC (r= 0,816
p<0,001). Schneiders e Ribeiro (2017) encontraram correlações forte e muito forte entre CC e
IMC para escolares nas faixas etárias de 11 a 15 anos de ambos os sexos.
Um estudo envolvendo 1441 escolares de 10 a 16 anos apresentou correlação do IMC
com a PC e a RCE de r= 0,89 (p<0,001) para ambos e de r= 0,92 (p<0,001) entre RCE e PC
(MOSER et al. 2013). A correlação encontrada por Bim et al. (2018) da RCE com a PC e IMC
foi de r=0,701 e r=0,653 respectivamente (p<0,001). O estudo de Halpern et al. (2013) verificou
correlação forte entre IMC e PC de uma amostra de 2007 (r=0,862) e de 2011 (r=0,861).
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Analisando estes estudos percebe-se que os indicadores antropométricos (IMC, PC


e RCE) apresentam correlações significativas de moderada a muito forte. Estes indicadores
antropométricos surgem como ferramentas de baixo custo e acessíveis para a identificação de
gordura corporal de adolescentes possibilitando o monitoramento da saúde destes de acordo
com seu estado nutricional (PELEGRINI et al., 2015).
A aula de Educação Física é um espaço propício para ações que busquem o
desenvolvimento de hábitos saudáveis e é neste momento que a avaliação antropométrica
deve ser utilizada no intuito de possibilitar o planejamento de estratégias que provoquem
mudanças no comportamento dos escolares (BECK et al., 2007). Para Araújo, Brito e Silva
(2010), o professor, a partir de suas ações realizadas durante as aulas de e Educação Física, deve
conscientizar os alunos sobre a importância dos cuidados com a alimentação e a realização de
exercícios físicos, não somente durante as aulas, mas também em períodos extraclasse. Papel
este de suma importância, visto que crianças insuficientemente ativas tendem manter estes
hábitos durante a vida adulta (AZEVEDO et al., 2007).
Este estudo apresentou como limitação a ausência no controle de variáveis como hábitos
relacionados a alimentação e/ou atividade física, impossibilitando avaliar a principal causa
do excesso de peso e obesidade desta população. Como ponto forte, considera-se o fato de
esta escola ser a maior da rede pública do município de Xanxerê, Santa Catarina, servindo de
referência para o acompanhamento e a implementação de diferentes ações voltadas à saúde da
população infanto-juvenil.

4 CONCLUSÃO

Os resultados encontrados neste estudo apontam que apesar de a maior parte da amostra
investigada apresentar níveis satisfatórios nos indicadores utilizados, a prevalência de excesso
de peso e obesidade abdominal é alta e, ao comprar as prevalências com estudos prévios
realizados com esta mesma população percebeu-se aumento da obesidade principalmente no
sexo feminino, gerando preocupações em maiores riscos de saúde relacionados a doenças e
distúrbios alimentares. Os indicadores antropométricos apresentaram correlação moderada e
forte, sendo a melhor correlação entre o PC e o IMC.
Sugere-se que em futuros estudos sejam investigados os fatores associados à obesidade
dos escolares a fim de identificar possíveis determinantes de risco e auxiliar no planejamento de
intervenções de prevenção e tratamento da obesidade.

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Cruz Alta, RS
PERCEPÇÃO DE VIVER BEM MEDIANTE O NÍVEL DE ATIVIDADE
FÍSICA DE IDOSAS

Perception to live well through the level of physical activity of aged

MAZO, Giovana Zarpellon1


PEREIRA, Franciele da Silva2
PHILIPPI, Raquel de Souza3
CAPANEMA, Bruna da Silva Vieira4
GIL, Priscila Rodrigues5
FRANCO, Pedro Silvelo6

RESUMO ABSTRACT

Contextualização: A percepção subjetiva de viver bem Background: The subjective perception of living well
é um indicativo de qualidade de vida (QV), que pode is an indication of quality of life (QoL), which can
ser influenciado pelo nível de atividade física (AF) das be influenced by the level of physical activity (PA)
pessoas. Objetivo: relacionar as categorias da percepção of the people. Objective: to relate the categories of
de viver bem com o nível de AF dos domínios da AF the perception of living well with the level of PA
(trabalho, atividades domésticas, transporte e lazer) in the domains of PA (work, domestic activities,
das idosas. Método: A amostra foi composta por 198 transportation and leisure) of the elderly. Methods: The
idosas, com 65 anos ou mais, participantes de Grupos sample was composed of 198 elderly women, aged 65
de Convivência em Florianópolis/SC. As idosas years and over, participants of the Cohabitation Groups
foram questionadas referente a identificação (sexo, in Florianópolis / SC. The elderly were questioned
idade, escolaridade e estado civil), sobre a opinião “o regarding identification (gender, age, schooling and
que é viver bem?” e os domínios da AF por meio do marital status), opinion about “what is to live well?”
Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), And the domains of PA through the International
adaptado para idosos. Foi utilizada análise de conteúdo Questionnaire of Physical Activity (IPAQ), adapted for
categorial temática nas repostas da questão aberta e the elderly. Thematic categorical content analysis was
o teste do Qui-Quadrado para verificar associações used in the answers to the open question and the chi-
entre as categorias de viver bem e o nível de AF nos square test to verify associations between the categories
domínios da AF. O nível de significância foi de 5%. of living well and the level of PA in the domains of
Resultados: A amostra apresentou média de idade de PA. The level of significance was 5%. Results: The
73,6 ± 5,9 anos. Houve associação entre a categoria mean age of the sample was 73.6 ± 5.9 years. There
de viver bem “relações afetivas, sociais com a família” was an association between the category of living well
e o nível de AF dos domínios transporte (p=0,029) e “affective and social relationships with the family” and
lazer (p=0,045), e da categoria “lazer” com o domínio the level of PA of the transport (p = 0.029) and leisure
transporte (p=0,023). Conclusão: As idosas que (p = 0.045) domains, and the “leisure” category with
destacaram “as relações afetivas, sociais com a família” the transport domain = 0.023). Conclusion: The elderly
como aspectos relevantes para viverem bem eram mais women who emphasized “affective, social and family
ativas fisicamente no domínio da AF de lazer e no relationships” as relevant aspects to live well are more
transporte, e as que se referem ao “lazer”, eram mais physically active in the field of leisure and transport PA,
ativas no domínio transporte/deslocamento. and those that refer to “leisure” are more active in the
transport / displacement domain.
Palavras-chave: Idoso. Envelhecimento. Qualidade de
vida. Atividade física. Keywords: Aged. Aging. Quality of life. Physical
activity.
1
Professora Doutora em Ciências do Movimento Humano. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC.
2
Mestre em Ciências da Reabilitação. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC.
3
Profissional de Educação Física. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC.
4
Profissional de Educação Física. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC.
5
Mestre em Educação Física. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC.
6
Mestre em Educação Física. Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Florianópolis/SC – Brasil.
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1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é fenômeno de amplitude mundial e reflete não apenas a


esperança média de vida, mas também na proporção de idosos na população total (IBGE, 2018).
No Brasil a esperança de vida ao nascer, passou de 62,4 para 73,5 anos de 1980 a 2010 (IBGE,
2018) em continua a aumentar, dependendo do sexo, para as mulheres (79,6 anos) e para os
homens (72,5 anos), em 2017 (IBGE, 2018).
Esse incremento na esperança de vida é almejado pelas sociedades quando acompanhado
de qualidade aos anos adicionais de vida (ILCB, 2015). A saúde é reconhecida como um aspecto
importante para a QV, pois possibilita que o indivíduo participe em todas as esferas da sociedade
(ILCB, 2015). Contudo, esse aumento nem sempre está associado à melhoria da qualidade de
vida (QV) das pessoas, sendo de fundamental importância intervenções em cuidados de saúde,
como é o caso da prática de atividade física (AF).
Estudo de revisão apontou que a QV parece estar associada positivamente com a prática
de AF, independentemente da idade, porém, mais estudos são necessários (PELOZATTO;
FERNANDES, 2011) e voltados a população idosa.
Mazo et al. (2008) estudaram a relação entre o nível de AF e sua influência sobre a QV
de idosas e verificaram que as mais ativas foram as que apresentaram médias mais elevadas nos
domínios psicológico e físico, demonstrando com isto, que as idosas que são ativas têm melhor
QV.
Estudo de revisão sistemática (VAGETTI et al., 2014) sobre a associação entre AF e QV
em idoso, verificou associação positiva consistente entre AF e os seguintes domínios de QV:
capacidade funcional; QV geral; autonomia; atividades passadas, presentes e futuras; morte e
morrendo; intimidade; psicológico; vitalidade; e saúde mental e, concluiu que a AF foi positiva
e consistentemente associada a alguns domínios de QV entre idosos, apoiando a noção de que a
promoção da AF nos idosos pode ter um impacto na saúde física (VAGETTI et al., 2014).
Nesta revisão foi verificado o aumento de estudos na temática no transcorrer dos anos
(2000 a 2012), principalmente, com pesquisas do tipo transversais, com diferentes questionários
medindo a AF e com a utilização de instrumentos de QV, versões longas e curtas do SF-36 e do
WHOQoL-Bref (VAGETTI et al., 2014).
Diante disto, observa-se lacuna no conhecimento de estudos sobre a QV com base em
pergunta aberta sobre a percepção subjetiva dos idosos sobre o que é viver bem para eles.
Acredita-se que das respostas podem surgir categorias de análise que reportem, conforme
WHOQOL Group (1993), aos aspectos que norteiam a percepção do indivíduo de sua posição na
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações, que podem não ser encontradas em instrumentos fechados
de avaliação de QV, como exemplos SF36 e WHOQOL-bref. Também, outro aspecto relevante
a ser abordado são os domínios da AF (trabalho, atividades domésticas, transporte e lazer) e
seus níveis de AF, que possibilitam verificar se as idosas atingem as recomendações mínimas
de AF para terem benefícios à saúde (HASKELL et al., 2007) e consequentemente, melhor
qualidade de vida.
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MAZO, G. Z. | PEREIRA, F. S. | PHILIPPI, R. S. | CAPANEMA, B. S. V. | GIL, P. R. | FRANCO, P. S.

Deste modo, este estudo teve como objetivo relacionar as categorias da percepção de
viver bem com o nível de AF dos domínios da AF (trabalho, atividades domésticas, transporte
e lazer) de idosas.

2 MÉTODO

O presente estudo transversal e descritivo foi aprovado pelo Comitê de Ética em


Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina e protocolado sob
nº 95/2007.
O estudo foi composto por com uma população de 2.261 mulheres com 65 anos ou
mais de idade participantes de Grupos de Convivência para Idosos, nos 12 Distritos da cidade
de Florianópolis/SC, Brasil. Para obter a amostra o processo amostral probabilístico seguiu a
técnica de seleção aleatória estratificada pelos 12 Distritos de Florianópolis e pelas mulheres
idosas de diferentes grupos etários, participantes dos Grupos de Convivência.
Assim, a amostra constituiu-se de 198 idosas, sendo distribuídas nos seguintes grupos
etários: 57 idosas (65 a 69 anos); 58 (70 a 74 anos); 48 (75 a 79 anos); 35 (80 anos ou mais) e
participantes de 33 Grupos de Convivência para Idosos.
Foram aplicadas nas idosas, em forma de entrevista individual, no próprio local onde
ocorria as atividades do Grupo de Convivência, os seguintes instrumento de coleta de dados: o
formulário com dados de identificação (sexo, idade, estado civil, escolaridade, trabalho, renda
mensal familiar e ocupação atual) e a questão aberta: Na sua opinião, “O que é viver bem?”. A
coleta de dados ocorreu de 2001 a 2002.
Também, foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), adaptado
para idosos por Mazo e Benedetti (2010). O IPAQ foi aplicado em forma de entrevista individual,
com respostas referentes a uma semana rotineira das idosas. Esse instrumento permite estimar o
tempo semanal gasto na realização de AFs, de intensidades moderada a vigorosa, em diferentes
domínios de AF (trabalho, atividades domésticas, transporte e lazer), possibilitando também
estimar o tempo dispendido em atividades mais passivas (realizadas na posição sentada).
Na pesquisa foi adotado critério de somatório dos tempos (minutos/semana) de
atividades físicas moderadas e vigorosas, com base nos quais as idosas foram classificadas de
acordo com o seu nível de AF em: pouco ativa (idosas que realizavam menos de 150 minutos
da AF por semana) e mais ativa (idosas que realizavam pelo menos 150 minutos por semana)
em seus diferentes domínios. Esta classificação foi aplicada para os domínios de AF (trabalho,
transporte, atividades domésticas e lazer). Essa classificação é baseada em recomendações
mínimas de AF para gerar benefícios à saúde (MARSHALL, 2001; HASKELL et al., 2007).
Para analisar as respostas das idosas na questão sobre “O que é viver bem?” utilizou-se a
análise de conteúdo categórica temática (MINAYO,1998) e a idosa foi identificada com o nome
de flor, para manter o sigilo de identidade em seu depoimento. A análise estatística dos dados
foi realizada com auxílio do programa estatístico SPSS, versão 20.0. Foi empregada estatística
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descritiva, de frequência simples e percentual. O teste do Qui-Quadrado foi empregado para


verificar associação entre as variáveis categóricas (viver bem) e os domínios – nível de AF
(pouca ativa e mais ativa), adotando-se, quando necessário, o Teste Exato de Fisher, com
intervalo de confiança de 95%. O nível de significância adotado foi de 5%.

3 RESULTADOS

A população da pesquisa apresentou média de idade de 73,6 ± 5,9 anos. A fim de descrever
a população da pesquisa, evidenciou-se, na Tabela 1, que a maioria é “viúva” (60,6%); tem entre
um e três anos de escolaridade (69,7%); não trabalha (85,4%) e tem a renda familiar mensal
de um a dois salários mínimos mensais (42,9%). As idosas são, principalmente, pensionistas
(34,3%) e aposentadas (35,4%).

Tabela 1 - Frequência (f) e porcentagem (%) das características sociodemográficas da amostra. Florianópolis/SC,
Brasil, ano de coleta (n=xx).

Características Sociodemográficas f %
Estado Civil
Solteira 11 60,6
Casada 56 28,3
Divorciada/Separada 11 5,6
Viúva 120 5,6
Escolaridade
Sem instrução 30 15,2
1 a 3 anos 138 69,7
4 a 7 anos 14 7,1
> 8 anos 16 8,1
Trabalho
Sim 29 14,6
Não 169 85,4
Rendimento Mensal Familiar (salário mínimo)
1― 2 85 42,9
2― 3 41 20,7
3― 8 47 23,7
>8 25 12,6
Ocupação Atual
Sustentada pela Família 14 7,1
Aposentada 68 34,3
Pensionista 70 35,4
Pensionista e Aposentada 46 23,2
Total 198 100,0

A partir da análise de conteúdo da opinião das idosas sobre “o que é viver bem”, definiu-
se sete categorias (Ter saúde; Aspectos pessoais e espirituais; Comportamento social nas
relações sociais; Relações afetivas, sociais com a família; Condições de vida; Lazer; Aspecto
financeiro). Estas categorias foram associadas com os domínios da AF (Trabalho; Transporte;
Atividade doméstica e Lazer) e seu nível de AF (Pouco ativa; e Mais ativa).
Verifica-se, na Tabela 2, que houve associação entre a categoria de viver bem nas
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“Relações afetivas, sociais com a família” e os domínios de AF transporte (p=0,029) e AF


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lazer (p=0,045). Há uma tendência de 13,9% e de 40,5% das idosas que consideram viver bem
terem “Relações afetivas, sociais com a família” de serem ativas fisicamente no domínio AF
transporte e AF lazer, respectivamente. Para Rosa viver bem é: “ter saúde, paz na família, união
e bom casamento”.
Em relação a categoria “Lazer” houve associação com a domínio de AF transporte
(p=0,023) e verifica-se que há tendência de 27,3% das idosas ativas fisicamente no domínio AF
transporte de considerarem viver bem o “Lazer”, que significa para elas, passear, viajar, dançar
e caminhar (Tabela 2).

Tabela 2 - Frequência (f), porcentagem (%) e teste Qui-quadrado (X²) entre os domínios AF no Transporte e
Lazer (pouco ativa e mais ativa) e as categorias do viver bem das idosas. Florianópolis/SC, Brasil, ano de coleta
(n=xx).

Atividade Física no Transporte


Categorias do viver bem Pouco Ativa Mais Ativa X²
f % f % Valor p
Relações afetivas, sociais com
a família
Sim 68 86,1 11 13,9ª
4,772 0,029
Não 113 95,0ª 6 5,0
Lazer
Sim 8 72,7 3 27,3ª
5,182 0,023
Não 173 92,5ª 14 7,5
Atividade Física de Lazer
Relações afetivas, sociais com
a família
Sim 47 59,5 32 40,5ª
4,024 0,045
Não 87 73,1ª 32 26,9
TOTAL 134 64
ª Valor do resíduo ajustado >[2].

4 DISCUSSÃO

Este estudo corrobora com resultados de outras pesquisas qualitativas sobre a percepção
de idosas acerca de QV, que, de modo geral, encontraram como resultado a valorização de
uma rede social sólida, com bons relacionamentos afetivos; de saúde física e mental; de boas
condições de vida, incluindo o aspecto financeiro e o lazer. (VECCHIA et al; 2005; FLECK;
CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2006; BROWLING et al., 2003)
Ao avaliar a QV subjetiva em 365 idosos da cidade de Botucatu/SP, Vecchia, Ruiz e Bocchi
(2005) encontraram dez categorias bastante semelhantes às emergidas em nossa pesquisa. Ao
quadro de categorias encontrado, os autores analisaram a coincidência nas respostas dos idosos
quanto ao significado de QV, obtendo uma classificação da amostra em três grupos: o primeiro
mencionava situações referentes a relacionamentos interpessoais, equilíbrio emocional e boa
saúde, ou seja, é o idoso que prioriza a questão afetiva, familiar e de saúde; o segundo grupo
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mencionava hábitos saudáveis, lazer e bens materiais, ou seja, é o idoso que enfatiza o prazer
e o conforto; e o terceiro grupo, a espiritualidade, trabalho, retidão e caridade, conhecimento
e ambientes favoráveis, ou seja, o idoso identifica QV como a prática de seu ideário de vida.
Aqui também se observa que as categorias de QV encontradas no nosso estudo têm resultados
semelhantes, embora obtidos em contextos diferentes, mesmo sem levar em consideração a
prática de AF.
Em contrapartida, estudos como de Gordia et al. (2007) e de Carvalho e Carvalho (2008),
que compararam a QV de mulheres idosas praticantes e não praticantes de exercícios físicos,
constataram que as idosas praticantes obtiveram melhores resultados em todos os domínios da
QV avaliados pelo WHOQOL-Abreviado, ou seja, houve unanimidade em todos os domínios
pesquisados.
Já Pascoal, Santos e Broek (2006) constataram forte influência do contexto sociocultural
dos idosos na representação da QV, embora a AF seja destacada unanimemente como algo que
lhes dá prazer e contribui para a satisfação de suas necessidades físicas, emocionais e sociais.
Ao relacionar a QV com os domínios de AF das idosas neste estudo, verificou-se
associação entre a categoria “Relações afetivas com a família” e o domínio de AF doméstica e,
a categoria “Lazer” com o domínio AF no transporte. Suplementarmente aos nossos resultados,
pesquisa (PUTS et al., 2007) com idosos de 67 a 90 anos de idade, alegam que ter boa saúde,
sentir-se bem, ser ativo, ter relações sociais, ajudar outras pessoas e morar em uma boa casa e
em uma boa vizinhança são os fatores relevantes para uma boa QV.
Ainda, segundo Mazo (2008) a prática de exercícios físicos no lazer é forte indicador
de incorporação de estilo de vida mais saudável. Os idosos praticam de forma prazerosa os
exercícios de recreação (jogos, danças, ginástica, esportes, gincanas, passeios, caminhadas, entre
outros) sem se comprometer com as regras, discriminação e performance, pois o importante é
realizar as necessidades físicas e sociais.
Contribuindo aos achados, Penna e Santo (2006) verificaram em sua pesquisa que os
idosos participantes de AF em grupo sentiam-se orgulhosos com os constantes elogios dos
familiares, porque se auto cuidavam, buscando um convívio social extrafamiliar. Essas práticas
têm tornado o idoso mais consciente das possiblidades e dos recursos para preservar e melhorar
sua vida, sua saúde e seu bem-estar, sendo testemunho de que é possível aumentar a QV na
velhice, usufruindo de um envelhecimento ativo e saudável (GÁSPARI; SCHWARTZ, 2005).
Por fim, destaca-se a relação entre saúde social, atividade física no transporte e bem-estar,
expressando que a família e amigos representa tanto um suporte social para os idosos quanto
um bem-estar dos mesmos, definindo envelhecimento saudável como elemento interligado nos
aspectos físicos, sociais e emocionais.
Esta pesquisa possui algumas limitações. Primeiro, como mencionado anteriormente,
aplicamos questionários para coleta de dados, assim um viés de seleção pode ter ocorrido já que
os participantes respondiam voluntariamente baseado em recordatórios, ou seja, não é possível
controlar totalmente as respostas imprecisas, superestimadas ou não. Por último, nossa pesquisa
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avaliou somente mulheres idosas, assim esses resultados não podem ser generalizados para
todos idosos, além de um contexto longitudinal, já que a pesquisa é transversal.

5 CONCLUSÃO

Baseado nas categorias do questionamento “o que é viver bem?”, as idosas que


destacaram “as relações afetivas, sociais com a família” como aspectos relevantes para viverem
bem são mais ativas fisicamente no domínio da AF de lazer e no transporte e as que se referem
ao “lazer”, são mais ativas no domínio transporte/deslocamento.
Com isso, percebe-se que as atividades físicas praticadas pelas idosas, contribuem
para seu bem-estar e QV. As atividades propostas em programas de AF devem estar voltadas à
socialização, para alcançar o um envelhecimento saudável e prazeroso.

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Percepção de viver bem mediante ao nível de atividade física de idosas

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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
UNIDADE DIDÁTICA EM PRÁTICA

Physical Education in the Preschool: Didactic Unit in practice

BRIGO, Tchiago1

RESUMO ABSTRACT

O objetivo desse trabalho é compreender como The objective of this work was to understand how
o brincar na Educação Física Escolar contribui the toy in Physical Education for the development
para o desenvolvimento das aptidões humanas na of human skills in childhood, especially in
infância, especialmente na promoção da autonomia promoting the child’s learning through motor
da criança por meio do desenvolvimento motor. development. The act of playing is inherent to the
O ato de brincar é inerente ao ser humano em human being at any stage of life. However, it is
qualquer fase da vida. Entretanto, é na mais tenra at a younger age that play allows the exploration
idade que a brincadeira possibilita a exploração of oneself, others and the world around them with
de si, dos outros e do mundo a sua volta com greater impact on the teaching-learning network.
maior impacto na relação ensino-aprendizagem. The child interacts and learns by actions, through
A criança interage e aprende por ações, por meio the medium of his own experiences. This act is
de suas próprias vivências. Esse ato é intrínseco e intrinsic and occurs in any environment, but it is
acontece em qualquer ambiente, mas é na escola at school that the animation requires intentionality
que o brincar necessita ter intencionalidade for the educational process to be effective. It is
para o processo educacional ser efetivo. Dessa the physical, cognitive and social development of
forma, é essencial que o professor de Educação children from zero to five years of age, since it is
Física, especialmente na Educação Infantil, responsible for the development of cognitive and
compreenda o desenvolvimento físico, cognitivo social skills of the corporate children historically
e social das crianças de zero a cinco anos, pois constructed by the humanity. The research
é o profissional responsável por oportunizar is qualitative, descriptive, with steps of data
um leque de habilidades e competências nas collection and analysis. Case study, study of a
práticas corporais construídas historicamente didactic unit in Early Childhood Education of the
pela humanidade. A pesquisa se caracteriza como Preschool of the city network of Brusque-SC. You
qualitativa, estudo descritivo, com procedimentos can check the involvement and involvement of the
de coleta e análise de dados. Investigação de majority of the class’s students as well as increase
estudo de caso, relatando uma unidade didática the understanding of the involvement of the body
na Educação Infantil para turmas da pré-escola da in the different practices performed. To observe,
rede municipal de Brusque-SC. Pode-se verificar also, an active participation of the students in
a participação e envolvimento da maioria dos the promotional games - it is the autonomy of
alunos da turma, bem como, um aumento de the medium of development of experiences with
compreensão da corporeidade dos envolvidos ample repertoire.
nas diferentes práticas realizadas. Observou-se
ainda que a participação ativa dos discentes nas Keywords: Physical Education in the Preschool.
brincadeiras promoveu-lhes autonomia por meio Play. Autonomy. Motor development.
do desenvolvimento de vivências com amplo
repertório motor.

Palavras-chave: Educação Física Infantil.


Brincar. Autonomia. Desenvolvimento Motor.

1
Professor de Educação Física da rede Municipal de Educação de Brusque, Santa Catariana. Possui graduação
em Educação Física - Licenciatura - pela UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (2015) e Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Física Escolar pela Faculdade São Luís de
Jaboticabal (2018).E-mail: tchiagobrigo@hotmail.com.
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Educação física na educação infantil: Unidade didática em prática

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1 INTRODUÇÃO

A referente pesquisa busca relatar prática de intervenção pedagógica do componente


curricular de Educação Física na Educação Infantil. O trabalho foi realizado em uma escola
da rede municipal de Brusque–SC, envolvendo três turmas da pré-escola. O tema de estudo
proposto foi promover o desenvolvimento motor e a autonomia nos discentes por meio de uma
unidade didática de 12 aulas de 45 minutos cada aula.
O tema surgiu do diagnóstico das turmas realizado pelo professor no primeiro trimestre
do ano. Verificou-se que as crianças estavam no estágio caracterizado pelo desenvolvimento da
capacidade simbólica, que se expressa na fala, pelo desenho e também pelas brincadeiras de
interesse dos discentes. Nesta fase inicia-se o processo de maturação das habilidades motoras
básicas por meio de jogos e brincadeiras.
Conhecer a criança e seu modo de interagir no mundo são fatores primordiais na
Educação Física Escolar (EFE), especialmente na Educação Infantil. O preparo pedagógico
para docência deve atentar para o processo de maturação e desenvolvimento dos mecanismos
afetivos, cognitivos e sociais dos indivíduos, compreendendo o ser humano em constante
plenitude, não um projeto no porvir.
A EFE instiga as crianças a desenvolverem novas formas de atuação do seu corpo nos
mais variados ambientes, proporcionando interação no mundo com seu próprio corpo e com as
outras crianças. Práticas de movimentos relacionados a jogos, brincadeiras, danças, ginásticas,
esportes, lutas, atividades aquáticas e atividades na natureza disponibilizam um leque de
possibilidades de aprendizados das manifestações da cultura corporal do movimento.
Educação de qualidade é fator de qualidade de vida. Quanto mais ampla e rica a educação
básica maior o campo de possibilidades ofertadas para
o indivíduo futuramente. Educação de qualidade requer colocar o discente como
protagonista no processo ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, os objetivos do trabalho realizado foram: a) apresentar algumas
definições de criança e infância, realizando análise propositiva para as práticas de intervenção;
b) legitimidade e contribuições da Educação Física na Educação Infantil c) planejamento da
unidade didática; e d) resultados das aulas de Educação Física.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A infância e a criança na contemporaneidade

As crianças, consideradas o futuro da humanidade, vivem inseridas nos mais variados


ambientes da sociedade. No ambiente familiar, escolar e em outros espaços elas representam
sujeitos concretos que integram uma categoria geracional, etária e social (SCHWENGBER;
CARVALHO, 2013).
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Atualmente, percebe-se a criança como um ser em constante aprendizado e que necessita


incentivos para aprender. Tradicionalmente, as crianças são consideradas como adultos em
potencial, ou seja, elas devem aproveitar esta fase da vida para aprender aquilo que já foi
produzido na sociedade: conhecimentos culturais, espirituais e científicos. Para que, quando
em idade adequada, possam também produzir conhecimentos pautados nas construções já
existentes e, a partir de então, estruturar suas próprias análises.
Nesse viés, por serem compreendidas como indivíduos em preparação para o mundo
adulto, as crianças são referenciadas como um ser “vazio”, imaturo e incapaz (SILVA, 2007).
Segundo Santin (2001), visão conhecida por adultizar as criança. Apesar desse ideal ser
constantemente confrontado no campo teórico de desenvolvimento da criança (FREIRE, 1989),
ele ainda se mostra evidente na sociedade.
Portanto, há necessidade de realizar uma ressignificação de criança, para podemos
discutir sobre ser criança. A partir disso, poderemos pautar ações a realizar no ambiente escolar
para estar de acordo com a especificidade desta fase da vida.
Segundo o que aponta as DCNEI (2009), criança é um “sujeito histórico e de direitos
que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal
e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”. Ou seja, todo ser humano
deve ser entendido como ser completo e em constante construção desde a mais tenra idade.
Além disso, deve-se observar a criança em seu contexto sócio-cultural, pois, conforme
aponta Berleze (2016), o Ser criança não é algo homogênio, mas variante entre culturas
e sociedades. Sendo assim, para compreender a criança deve-se ter uma visão abrangente e
profunda sobre o Ser criança, no sentido de compreende - lá em sua totalidade e globalidade.
Já a infância é entendida como sendo a fase em que a criança vive. Consideram-se
diversas variáveis para definí-la: cultural, etnia, classe social, gênero, enfim, todo o ambiente
social que a cerca. Schwengber e Carvalho (2013) dizem que não existe uma concepção
singular de infância. Ao contextualizarmos a infância em relação ao tempo, ao local e à cultura,
é possível afirmar que ela é múltipla e cambiante.
Além disso, numa visão macroscópica, podemos analisar que a infância, tão frágil
como o papel, é o mais perfeito indicador de desenvolvimento de uma nação, revelando
melhor a realidade de um país do que o ritmo de crescimento econômico ou renda per capita
(DIMENSTEIN, 1994).
Relacionar criança/infância na Educação Escolar é primordial. Compreender as crianças
como atuantes na criação do seu próprio sujeito, observando suas condições individuais, é a
melhor maneira de educar. Acredita-se que se faz necessário superar o discurso tradicional –
do desenvolvimento motor - para a formulação de metodologias pautados na valorização da
criança e suas especificidades.
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2.2 A linguagem e a aprendizagem da criança

A linguagem como meio de construção da comunicação e do pensamento é fator


fundamental para ensinar a criança no ambiente escolar (VYGOTSKY, 2009). Deve-se conhecer
a linguagem própria da criança para haver comunicação entre professor e aluno.
Para Skinner (apud BIGGE, 1997), a questão da linguagem é restrita as formas verbais.
Com estímulos e respostas a criança aprende por meio da imitação e reforço. Um dos fatores
primordiais para essa aprendizagem é o treinamento. O autor defini-o como condicionamento
operante onde, em presença de certo estímulo, o individuo emite uma certa resposta que o
ambiente reforça ou não.
Nessa perspectiva, entende-se que a criança não tem oportunidade de pluralizar seus
conhecimentos na linguagem corporal. Ou seja, a linguagem nesse sentido é estudada do ponto
de vista lingüístico e não da função simbólica.
Na perspectiva de construção de pensamentos segundo Kunz (2004) as crianças
descobrem o mundo a seu redor a partir do “Se-Movimentar”; a linguagem da criança é o
“Brincar-e-Se-Movimentar”, não restrita a palavras. Podemos entender, assim, que “o brincar é
uma das primeiras formas de expressividade da criança, uma maneira dela ser comunicar com
o mundo, de interagir, e de se conhecer, uma fonte de fomentar a criatividade e a imaginação”
(BERLEZE, 2016).
A linguagem deve ser entendida como instrumento do educar, como ensinamento
transmitido na escola e que transforma a vida do aluno. Transforma no sentido de melhorar a
compreensão de si mesmo, do mundo e dos seres humanos em sociedade. Aprendizagem que
vai da infância até o fim da vida.
Segundo Piaget (2001), o crescimento orgânico da criança é inseparável do crescimento
cognitivo. Na fase inicial da vida, o conhecimento está diretamente ligado ao amadurecimento
natural das funções orgânicas do corpo. Conforme o autor, a fase sensório motor (0 a 2 anos), o
pensamento/conhecimento do ser humano acontece a partir de ações, não por palavras. Portanto,
deve-se oportunizar a criança o maior leque possível de movimentação. A aprendizagem dessa
fase acontece por experiências concretas. Na fase pré-operacional (2 a 6 anos) a comunicação
verbal já se faz presente no cotidiano das crianças. Entretanto, a linguagem verbal não é a
única, nem a principal na infância. Para Vigotsky (2001), o conhecimento é influenciado pelo
contexto social e momento histórico vivido pelos indivíduos. Ou seja, o aluno é um ser ativo,
imerso na relação social e, portanto, produz conhecimento na relação interpessoal.

2.3 A Educação Infantil e as contribuições da Educação Física

A Educação Infantil, conforme dispõe a LDB, Lei 9.394/96, artigo 29, “[...] é a primeira
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de
zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social,
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complementando a ação da família e da comunidade”. A Educação Infantil tem como objetivo


proporcionar condições adequadas para promover o bem-estar da criança, seu desenvolvimento
físico, emocional, intelectual, moral e social, a ampliação de suas experiências e estimular o
seu interesse pelo processo de conhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade (MEC,
1999).
Oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais
não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam
em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de
ensino e submetidos a controle social (DCNEI, 2009).
Sobre a organização curricular da Educação Infantil, entende-se que ela se estrutura
em eixos, centros, campos ou módulos de experiências que devem se articular em torno dos
princípios, condições e objetivos propostos nessa diretriz. Deve-se planejar a realização semanal,
mensal e por períodos mais longos de atividades e projetos, fugindo de rotinas mecânicas.
A boa escola ou a escola de qualidade é aquela em que as crianças aprendem (FREIRE,
1989). Parece uma questão óbvia, mas muitas vezes acontecem desencontros nessa afirmação.
Educação de qualidade é construir conhecimento de maneira efetiva e eficaz. Ou seja, da melhor
maneira possível nos quesitos: espaços adequados, recursos materiais, qualificação profissional
dos docentes, tudo isso voltado para melhorar a instituição escolar.
A boa escola produz resultados por um processo que contribui para a formação integral
do aluno, cognitiva, social e ética. O cerne do ensino volta-se para formar seres pensantes e
capazes de criticar, selecionar, respeitar e compreender que existem diferentes pensamentos
e pessoas no contexto em que estão inseridos (SOARES, 2014). Portanto, é função básica
da escola assegurar a aprendizagem de conhecimentos significativos e valores necessários à
socialização dos sujeitos.
Segundo Freire (1989), a criança se insere no mundo de uma forma contextualizada.
Corpo e movimento, razão e emoção, sendo o corpo a expressão dela mesma. Sendo assim, todo
conhecimento na Educação Infantil parte de uma prática. E essa preocupação de interagir em
sala de aula está permanentemente no plano de ensino dos professores.
Experiências práticas, vivências, interações com materiais e outros indivíduos promovem
o desenvolvimento do discente. Por meio de um cronograma de horários, proporcionar ambientes
diversificados para a criança interagir com as outras crianças e com o universo ao seu redor. Em
sala de aula, disponibilizar espaços diversos para a criança interagir. As alturas dos mobiliários,
por exemplo, devem estar de acordo com a altura das crianças, além de espaços coloridos para
a interação e aprendizagem.
Nesse sentido, as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação
Infantil são ações que devem fazer parte da proposta pedagógica da escola. Elas se constituem
em uma série de atividades que fazem com que a aprendizagem ocorra em sua forma mais ampla
da expressão. Ela deve abraçar questões físicas, emocionais, afetivas e sociais (PIMENTA,
2005). Dessa maneira, o conhecimento se amplia e se valida nas crianças. Preparar a escola para
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a criança desenvolver uma concepção de mundo, tempo e espaço adequado em sua faixa etária
se faz por meio da mobilização de pais, professores e funcionários.
Sendo assim, observamos que o conhecimento científico hoje disponível autoriza a
visão de que, desde o nascimento, a criança busca atribuir significado a sua experiência de
vida e, nesse processo, encaminha-se para conhecer o mundo material e social, ampliando
gradativamente o campo de sua curiosidade e inquietações. Ela é mediada pelas orientações,
materiais, espaços e tempos que organizam as situações de aprendizagem e pelas explicações e
significados a que ela tem acesso (NASCIMENTO, 2007).
A Educação Física, inserida nesse contexto, é compreendida como disciplina integrada
à proposta curricular da escola. Segundo Vago (1995), esse componente curricular coloca os
alunos diante do patrimônio construído pela humanidade, compreendida como cultura física
(BETTI, 1991), cultura de movimentos (BRACHT, 1968) ou cultura corporal (COLETIVO DE
AUTORES, 1992). Nesse sentido, é dever da disciplina garantir ao aluno o conhecimento das
práticas corporais de inúmeras manifestações desse patrimônio.
O professor de Educação Física deve educar por meio de jogos e brincadeiras,
organizando um ambiente de cuidados essenciais, como proteção, organização do tempo e da
rotina, além da sequência de tarefas das aulas.
Em síntese, contribuir para que a criança aproprie-se de saberes - habilidades e
competências - que desenvolvam suas aptidões humanas para melhor desfrutar de seu viver é
fundamental nessa etapa de ensino. “Aparelhar” o aluno com sabedoria adquirida de vivências
para desenvolver sua autonomia.

2.4 As aptidões humanas: comportamento motor

Percebe-se que as crianças, desde que nascem, movimentam-se, e à medida que vão
estabelecendo novas relações de interação com o mundo, aprendem a movimentar-se de formas
diferentes, como engatinhar, andar, correr, saltar. Esses movimentos constituem uma cultura
corporal manifestada na dança, no jogo, nas brincadeiras, nos esportes (RNCEI, 1998).
Segundo Souza (2005), os domínios do comportamento do ser humano podem ser
classificá-los em categorias, sendo: cognitivo, afetivo e motor. Nessa pesquisa, o tipo de
aprendizagem predominante é a motora. Entretanto, o autor cita que se compreende os domínios
como indissociáveis e irrestritos, sendo observados dois princípios fundamentais:
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a) Princípio da Totalidade: em qualquer habilidade nós temos todos os domínios representados;


e,
b) Princípio da Especificidade: um deles predomina sobre os outros.
Além disso, segundo o Referencial Curricular de Educação Física, González e Fraga
(2009) citam que a Educação Física mobiliza conteúdo em três dimensões: 1) Saberes
Conceituais (saber sobre): competência cognitiva de informações, conceitos, nomenclaturas; 2)
Saberes Procedimentais (saber fazer): competência motora, capacitando movimentos corporais;
e, 3) Saberes Atitudinais (saber ser): a formação de valores, normas através de seu sistema de
crenças.
Sendo assim, vale ressaltar que mais do que aplicar tarefas em busca da progressão e
amadurecimento motor e sua consequente autonomia, busca-se identificar ações para valorização
do aluno em sua totalidade. Compreender o discente como protagonista da tarefa que aprende
além do movimento, mas também as interações sociais e o pensamento cognoscível. Nesse
sentido, é fundamental compreender as brincadeiras e jogos como ações caracterizadas pela
liberdade e espontaneidade de cada criança em confronto com aquilo que se aprende com o
outro (CREPALDI, 2010)

3 METODOLOGIA

A pesquisa se caracteriza como qualitativa, um estudo descritivo, utilizando os


procedimentos de coleta e análise de dados. Partindo do entendimento de Molina (2004), a
pesquisa compreende atividades de investigação e descrição dos traços específicos e comuns com
o objetivo de atingir uma interpretação da realidade pesquisada pelo viés qualitativo. Conforme
o autor enuncia, a coleta de dados é um processo de comunicação, relação e intervenção social.
Portanto, espera-se que os dados coletados, considerando as limitações inerentes a qualquer
produção cientifica, sejam os mais próximos da realidade.
Nesse sentido, o estudo foi realizado por meio de uma pesquisa-ação na docência, com
3 turmas da pré-escola na Educação Infantil, com crianças entre 4 e 5 anos de idade, da rede
municipal do estado catarinense. Os dados foram coletados ao longo de 4 semanas, totalizando
12 aulas ministradas em cada turma.
Os planos de aula foram realizados seguindo as tarefas propostas na Unidade Didática,
a qual será apresentada posteriormente. Além disso, respeitou-se o limite físico e cognitivo
de aprendizagem individual, sempre tentando conduzir as atividades de maneira que todos
conseguissem alcançar os objetivos propostos na respectiva aula.
Cury (2005) ensina que a metodologia deve se adequar aos alunos e não os alunos se
adequar a metodologia. Segundo o autor, e necessário, sim, ter sistematização de conhecimento,
mas é também importante ter sensibilidade na hora de ensinar. Ou seja, os conteúdos devem
servir para a vida dos alunos e não o contrário.
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A escola disponibilizou materiais para as aulas, como cordas, bolas, raquetes, fitas, etc.
Alguns destes adquiridos recentemente. Os locais onde ocorrem as aulas de Educação Física
foram em dois parques abertos, em um auditório com ampla área, na própria sala de aula das
turmas, além de um corredor disponível entre as salas de aula.
É necessário ressaltar a importância da rotina nessa fase da educação. Para melhor dispor
de organização espaço-temporal, foi construída uma rotina comum as turmas para facilitar
a execução das aulas. Entretanto, ela não se manteve rígida, sofrendo alterações constantes,
conforme múltiplos fatores se apresentavam em cada aula: recepção dos alunos na primeira aula
do dia, intempéries do clima, modificação do tempo estimado em cada objetivo estabelecido,
entre outros.

Quadro 1 – Rotina das aulas.

Objetivo Tempo estimado


Deslocamento até o local das tarefas 2 min
1ª Tarefa 12 min
2ª Tarefa 12 min
3ª Tarefa 12 min
Deslocamento para a sala de aula / Hidratação / Uso dos banheiros 4 min
Preenchimento da chamada 3 min
TEMPO TOTAL DE CADA AULA 45 min
Fonte: elaborado pelo autor.

3.1 Unidade didática

Foram elaboradas 3 tarefas em cada aula. O objetivo das tarefas eram internalizar um
comportamento motor e/ou capacitar o pensamento das crianças.
Sabe-se que cada professor é o senhor da sua atividade. Ele planeja, prepara e executa
com intencionalidade e objetivos suas aulas. Entretanto, mesmo preparado teoricamente,
deve adaptar-se a realidade a que se insere e estruturar sua aula conforme múltiplos fatores
emergentes, dos quais não haviam previsto.
Flexibilidade é definida pela capacidade de adaptabilidade frente a situações diferentes
ou a pessoas que pensam e agem diferente daquilo que esperaríamos que elas agissem. Portanto,
mesmo com as tarefas planejadas, por diversas oportunidades o planejado “escapou” entre as
mãos, sendo novas estruturas construídas para alcançar o objetivo central.
Desta forma, a Unidade Didática ficou assim construída:
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Quadro 2 – Unidade didática.

OBJETIVO: Exercitar e vivenciar as dimensões motora, cognitiva e social de sua corporeidade em situações
lúdicas em ambientes escolares diversificados para construção de autonomia por meio do domínio do
comportamento motor.
AULA TAREFAS/ATIVIDADES
- Interação com o grupo por meio de caminhada/corrida: individual, em dupla e em grande grupo.
- Segue o líder: imitar os movimentos de um colega que irá a frente da caminhada/corrida.
1
- Segue o líder: com modificações por meio de apitos, deverão prestar atenção ao comando do
professor: troca de direção/posição, modificação da velocidade de corrida, etc.
- Circuito: em duas filas, executar circuito segurando a bola, depois, passar para o colega que está
na fila, até o ultimo colega passar.
- Circuito: sentados em fila, passar a bola para o colega que está atrás, o último que estiver na fila
2
deverá levantar e sentar na frente, até que todos passem com a bola para frente.
- Caçador: quem tiver com a bola deverá “caçar” o colega, o primeiro que for acertado com a bola,
será o caçador na próxima rodada.
Sentidos humanos:
- Caminhada com guia ou circuito com corda, vendado.
3 - Encontrar um colega pela voz, vendado.
- Sem utilizar a fala, apenas por meio de mímicas: indicar o objeto a se apanhar e o local a depositar.
- Colocar o chapéu, sem utilizar os braços e as mãos.
- Jogo de roda: onde há apenas uma bola de plástico, cada aluno com uma garrafa cortada ao meio,
depositará a bola na garrafa do colega, não podendo deixar cair no chão, nem usar as duas mãos.
- Jogo de roda: cada aluno com uma garrafa cortada ao meio e uma bola de plástico, deverá realizar
4
movimentos livremente com o corpo e, principalmente, com as mãos, sem deixar a bola cair no chão.
- Brincadeira: jogar bola com a qual apanhou e de maneira harmônica com seus colegas. Caso deseje
a bola de outro colega, solicitar a troca com o mesmo, sem pegar quando não houver acordo.
- Circuito: o aluno deverá conduzir uma bola de basquete ate o cesto, passando pelos obstáculos sem
derrubá-los, no mais breve período de tempo. Caso derrube o obstáculo, deverá colocá-lo novamente
no lugar, antes de prosseguir.
5 - Faz de conta: com um lençol, todos devem segurá-lo, ao comando do professor, todos jogam o
lençol e ficam embaixo dele escondidos. No próximo comando, todos correm para o local mais
distante do lençol.
- Corrida do saco: devem entrar no saco e deslocar-se ate a área onde possam apanhar a bola.
- Circuito: realizar o circuito equilibrando uma bola na raquete, após terminar, passar para o colega
que estará na fila aguardando a sua vez.
- Jogo de roda: garrafa pega-pega: em uma roda girará uma garrafa, a ponta da garrafa será o pegador
6
e o lado oposto o fugitivo.
- Jogo de roda: montando o jogo: peças de xadrez devem montar o jogo, mas cada equipe deverá
buscar as peças espalhadas em diferentes locais. Devem apanhar uma a uma.
- Realizar circuito motor com ênfase no agachar /levantar/ pegar.
- Realizar disputa de cabo de guerra.
7
- Dança das cadeiras: enquanto tocar a música deve caminhar em volta do círculo de cadeiras.
Quando a música para deverá sentar, antes que não tenha mais lugar disponível.
Situações – problemas individual e em grupo:
- Passar pelo circuito pegar peças corretas, disponível em uma sacola, depositar no local adequado.
8
- Encontrar as letras do alfabeto de acordo com seu nome.
- Jogo da memória com letras.
Brincadeiras populares:
- Esconde-esconde
9
- Pega-pega
- Batata-quente
Brincadeiras populares modificadas:
- Esconde-esconde invertido: um se esconde e todos procuram
- Pega-pega invertido: um foge e todos pegam. Primeiro todos buscam individualmente, depois em
10
duplas, trios e grande grupo.
- Batata-quente com duas bolas no círculo: fazendo uma bola girar no sentido horário e outra no
sentido anti-horário.
Passa-bola: em uma única coluna, todos devem levantar os braços e fazer com que a bola passe ate
o ultimo colega. Variações: sentado e de pé.
11 Túnel: todos de pé, em fila, deverão passar por baixo das pernas dos colegas.
Ponte com as mãos: em dupla, levantar os braços e dar as mãos aos colegas que estão na frente, em
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dupla, deveram passar por baixo da ponte.


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Espelho meu: em duplas, um na frente do outro, deverão imitar os gestos dos colegas.
Disputa de bola: em duplas, sentados, um de frente com o outro, deveram encostar as mãos nas
12 partes do corpo que o professor anunciar. Quando falar bola, deverá pega-la antes que seu colega o
faça.
Pega bola: dois alunos passam a bola, enquanto um terceiro aluno tenta interceptar a jogada.
Fonte: elaborada pelo autor.

4 DISCUSSÕES E RESULTADOS

O brincar é a primeira conduta inteligente do ser humano e surge desde o nascimento


da criança; as brincadeiras são tão essenciais como o sono e a alimentação (SANTOS, 2010).
O papel do brincar na Educação é elementar no desenvolvimento das aptidões, sendo na escola
uma prática pedagógica riquíssima para a formação humana.
O professor deve considerar o brincar como processo de desenvolvimento da autonomia.
É necessário permitir que os discentes interajam ativamente, propondo sugestões e ações
que os tornem protagonistas. Isso parece essencial na Educação: construção de habilidades e
competências de maneira a possibilitar sua autonomia por meio do desenvolvimento motor.
Quando propomos um jogo ou uma brincadeira, objetivamos alcançar domínios
cognitivos, afetivos e motores. Esperamos que nossas crianças sejam capazes de, por exemplo,
respeitar limites das regras, socializar pensamentos, explorar sua criatividade, interagir,
aprender a investigar, etc. “Ser criança é experimentar uma sucessão de surpresas espetaculares
a cada interação com coisas que na vida adulta consideramos banais” (BARROS FILHO;
CALABREZ, 2017, p.245).
As crianças de hoje tornaram-se ativas, opiniáticas e críticas. Por meio dos veículos de
comunicação e tecnologias disponíveis, acumulam grandes quantidades de informações antes
nunca sonhadas por gerações anteriores. Os questionamentos e as interações são constantes,
tanto que, na maioria das vezes, não ficam mais do que alguns minutos atentas a algum jogo,
brincadeira ou brinquedo. Pode-se dizer que a criança atualmente está aprendendo a partir de
seus próprios interesses.
É preciso esclarecer, ainda, que o momento da avaliação do ensino-aprendizagem não é o
término do processo (DARIDO, 2011). Compreende-se que todo o processo está organizado na
relação prática – teoria – prática, onde cada aula é compreendida num círculo de planejamento
→ execução → avaliação → planejamento → execução → avaliação. O processo de resultados
aqui apresentado se estende da observação feita por este professor sobre o aprendizado dos
alunos, aula a aula, bem como da estrutura da aula organizada e executada nesse período.
Além disso, é através das modificações operadas no comportamento exterior,
observável, que se vê se o sujeito aprendeu. É necessário que no seu interior haja um processo
de transformação e de mudança. Isso é aprendizagem, o centro de toda Educação.
Sendo assim, observou-se que a aderência das crianças nas tarefas programadas foi as que
possuíam, primordialmente, dois requisitos: a) produziam prazer nas crianças; e, b) possuíam
competitividade. No sentido de fazer com que os alunos se tornassem ativos e participativos,
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por meio da possibilidade de expor suas idéias e colocá-las em prática, foi escolhidas tarefas que
se evidenciavam esses dois requisitos. Além disso, percebe-se que o docente apresentando-se
bem humorado e disposto na demonstração, explanação ou exemplificação da tarefa mantinha
a adesão e continuidade dos alunos durante maior tempo nas aulas.
O saber fazer, nesse sentido, inseriu os alunos em diferentes possibilidades corporais
construídas pelo homem. A cultura corporal de movimento disponibilizou um leque de
possibilidades de ações, onde as produções humanas das práticas corporais apareceram como
formas de aprendizagem.
O saber sobre possibilitou aos alunos conhecer partes do corpo, conhecer e identificar
os sentidos humanos e obter noções de cuidados antes, durante e após as práticas corporais
realizadas.
Sobre o saber ser, o discente teve convivências de como se comportar em jogos e
brincadeiras com seus colegas. Valores como respeito mútuo, respeito às regras, cooperação e
solidariedade, além de autoconfiança, coragem, autoimagem positiva foram temas abordados
constantemente.
Seguindo o que diz Freire (2013), ensinar não é transferir conhecimento, mas oportunizar
a cada indivíduo sua própria produção, sua própria construção. Nesse sentido, procurou-se
tornar as aulas de Educação Física terrenos férteis de ensino-aprendizagem. As crianças tiveram
oportunidade de permanecer continuamente em tarefas de adaptação ao meio e aos brinquedos,
bem como de interações sociais. Além disso, as aulas sendo pautadas em vivências lúdicas, com
trabalhos individuais e grupais, buscou-se ao máximo o protagonismo dos alunos nas tarefas.
Acredita-se que essa intencionalidade elevou o nível de autonomia dos alunos por meio do
domínio do comportamento motor.
A seguir, algumas imagens das aulas dessa Unidade Didática. Destaca-se nas fotos: a)
número da aula, bem como a tarefa realizada; b) o espaço utilizado; c) materiais utilizados; e, d)
tempo de espera para execução da tarefa (não exceder o “tempo do aluno”: o ânimo pela tarefa
não pode se torna angústia pela espera).
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Figura 1 – Aula 1: corrida em dupla. Figura 2 – Aula 5: corrida do saco

Fonte: Elaborado pelo autor.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 3 – Aula 7: circuito motor Figura 4 – Aula 8: disputa da letra

Fonte: Elaborado pelo autor.

Fonte: Elaborado pelo autor.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi realizada com o escopo de compreender como o brincar na Educação
Física Escolar contribui para o desenvolvimento das aptidões humanas na infância, especialmente
na promoção da autonomia da criança por meio do desenvolvimento motor. Pretendeu-se,
dessa maneira, afirmar os potenciais pedagógicos da Educação Física no contexto escolar,
especificamente na Educação Infantil.
É notório que a sistematização e planejamento das aulas são os condutores de boas
práticas pedagógicas. Sem a preparação das aulas, o significado do brincar pode ficar limitado
e acabar prejudicando o processo ensino-aprendizagem.
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O ato de brincar na escola está repleto de significados. Representados pela criança na


maneira como compreende a si mesma, os outros e as coisas no mundo, bem como, projetado
pela intencionalidade do professor em ensinar algo que considera valioso para vida dos discentes.
Quando a criança brinca expressa muito além de desempenho das aptidões humanas.
Demonstram sentimentos, desejos, vontades, inerentes a sua personalidade. Entretanto, nesta
pesquisa, pretendeu-se observar em que medida a autonomia das crianças é desenvolvida nas
aulas de Educação Física.
Portanto, percebe-se que as aptidões humanas se desenvolvem na criança na medida da
conscientização de si e de suas ações no mundo, por meio das interações com o ambiente, com
seus colegas, mediados pelas intervenções do professor. Nesse sentido, as tarefas propostas
promoverão aprendizados nos domínios sociais, afetivos e motores, por meio da evidência de
elementos da brincadeira intencionalmente programados na unidade didática. Assim, evidencia-
se que o docente deve constantemente planejar aulas que possibilitem o ato de brincar pela
criança.

REFERÊNCIAS

BARROS FILHO, Clóvis de; CALABREZ, Pedro. Em busca de nós mesmos. Porto Alegre:
Editora CDG, 2017.

BERLEZE, Daniele Jacobi et al. O brincar-e-se-movimentar: a linguagem da criança, 2016.

CREPALDI, Roselene. Jogos, brinquedos e brincadeiras. Curitiba: IESD, Brasil S.A., 2010.

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uma Educação Física “para” e “com” as crianças, 2002.

DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel. A infância, a adolescência e os direitos, 1994.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipione, 1989.

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Física. Lições do Rio Grande: linguagens, códigos e suas tecnologias. Rio Grande do Sul.
Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico (Org.), v. 1, p. 113-181, 2009.

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1996.

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Educação física na educação infantil: Unidade didática em prática

BRIGO, T.

uma reflexão introdutória. In: TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva; MOLINA NETO, Vicente;
GIL, Juana Maria Sancho [et al.] (Orgs.). A pesquisa qualitativa na Educação Física:
alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/Sulina, 2004.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)/ Ministério da Educação e


do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. O brincar na escola: metodologia lúdico-vivencial,


coletânea de jogos, brinquedos e dinâmicas. Petrópolis: Vozes, 2010.

SCHWENGBER; Rodrigo Saballa de Carvalho; VIONE; Maria Simone. Infâncias e crianças


na contemporaneidade, 2014.

SILVINO, Santin. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. 2. ed. rev.
Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2003.
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AVALIAÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA DE ESCOLARES: UM
ESTUDO COMPARATIVO EM ESCOLAS DE TERESINA - PI

Evaluation of motor coordination of schools: a comparative study in


Teresina - PI schools

PINTO, Mariane de Oliveira1


COSTA, Mara Jordana Magalhães2

RESUMO ABSTRACT

A coordenação motora é de grande importância The motor coordination is of great importance to


para aprimorar o desenvolvimento motor do improve the motor development of the individual
indivíduo e deve ser desenvolvida na escola dentro and must be developed in the school within the
das aulas de Educação Física. O presente estudo classes of Physical Education. The present study
teve como objetivo analisar o nível da coordenação aimed to analyze the level of motor coordination
motora de alunos do Ensino Fundamental menor of lower elementary school students in Teresina-
em escolas de Teresina-PI. Trata-se de uma PI schools. This is a cross-sectional, quantitative
pesquisa transversal, quantitativa, realizada com survey of 41 schoolchildren of both sexes, aged
41 escolares de ambos os sexos, com idades between six and 13 years, regularly enrolled in two
entre 6 a 13 anos, regularmente matriculados em public schools and two private schools, located in
duas escolas públicas e duas escolas privadas, the southern and eastern zones of Teresina - PI.
localizadas nas zonas, sul e leste de Teresina - PI. The instruments used for the data collection were
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados Coordination Test were analyzed in the STATA
foram Teste de Coordenação e os dados foram 12.0 program, in which a descriptive and an
analisados no programa STATA 12.0, no qual inferential statistic was performed through the chi-
realizou uma estatística descritiva e uma inferencial square test and the student’s t-test for independent
por meio do teste do qui-quadrado e teste t de samples. The level of significance was set at
student para amostras independentes. O nível de p≤0.05. The results showed that the majority of
significância adotado foi p≤0,05. Os resultados those surveyed are from public schools (51.2%)
mostraram que a maioria dos pesquisados é de and males (56.1%). In relation to the level of motor
escola pública (51,2%) e do sexo masculino coordination, 90.24% of the schoolchildren were
(56,1%). Em relação ao nível de coordenação classified as “normal”, and between the boys, the
motora, 90,24% dos escolares foram classificados boys obtained an average motor quotient superior
como “normais”, e entre os sexos, os meninos to that of the girls (p = 0.00). Regarding the type of
obtiveram média da coordenação motora superior school, no statistically significant differences were
ao das meninas (p=0,00). Quanto ao tipo de escola found between the motor coordination quotients (p
não foram encontradas diferenças estatisticamente = 0.30). Regarding the practice of physical activity
significativas entre os quocientes da coordenação outside of school, most of the students do not
motora (p=0,30). Em relação à prática de atividade practice extracurricular activities and among those
física fora da escola, grande parte dos alunos não who do, most are from public schools and practice
praticam atividades extra escolares e dentre os soccer. It can be concluded that the students
que fazem, a maioria é da escola pública e pratica evaluated had normal motor coordination.
futebol. Pode-se concluir que os alunos avaliados
apresentaram uma coordenação motora normal. Keywords: Motor Coordination. Schoolchildren.
Physical Activity.
Palavras-chave: Coordenação Motora. Escolares.
Atividade Física.

1
Graduada em Licenciatura em Educação Física pela UFPI. E-mail: marianeoliveira595@gmail.com.
2
Doutora em Saúde Pública – FSP – USP. Professora Adjunta do curso de Educação Física na Universidade
Federal do Piauí, Teresina, Piauí. E-mail: marajordanamcosta@gmail.com.
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Avaliação da coordenação motora de escolares: um estudo comparativo em escolas de Teresina - PI

PINTO, M. O. | COSTA, M. J. M.

1 INTRODUÇÃO

A atividade física está presente no contexto da humanidade desde os primórdios da


civilização. Segundo Bagnara, Lara e Calonego (2010), as informações mais antigas sobre a
atividade física vêm da pré-história com a atenção do homem em ser forte para se proteger
de animais ferozes e caçar seu alimento. Com o passar dos anos cada civilização desenvolveu
a Educação Física com um objetivo diferente desde preparação para guerra até exercícios
terapêuticos.
Atualmente, a Educação Física está inserida no contexto escolar como disciplina
obrigatória na Educação Básica que compreende a Educação Infantil, Ensino Fundamental
menor e maior e Ensino Médio. Segundo a Lei n.13.415 de 2017 no qual a Educação Física é
componente curricular obrigatório integrado a proposta curricular da escola (BRASIL, 2017).
Guimarães (2013) fala da importância da Educação Física para contribuir no
desenvolvimento dos alunos nos aspectos motores oportunizando por meio disso a criação de
novas habilidades e movimentos. Neste ponto observa-se a relevância desta área no contexto
escolar a qual possibilita melhora nas habilidades dos alunos assim como na coordenação
motora dos mesmos.
Dessa forma, um dos conceitos da coordenação motora é a capacidade de utilizar os
músculos esqueléticos com eficiência e economia (UNESCO, 2013). As aulas de Educação Física
precisam, por meio dos conteúdos estabelecidos, desenvolver essa coordenação em atividades
realizadas no ambiente escolar a fim de aprimorar as habilidades motoras dos escolares.
Nesse sentido, Rosa Neto et al. (2010) afirmam que ter um acompanhamento nas aulas
de Educação Física é uma excelente medida preventiva para problemas de aprendizagem, uma
vez que ao ser detectado algum problema é possível traçar medidas didático pedagógicas para
saná-los. Assim é clara a importância do monitoramento e avaliação motora em crianças na fase
escolar.
Andrade (2011) ressalta que o trabalho para aquisição de coordenação motora na escola
é fundamental tanto para a melhora do desenvolvimento motor como para melhora nas relações
sociais e para a inserção dos alunos a atividades esportivas no futuro.
Portanto, ao perceber a importância da coordenação motora para crianças, é válido
afirmar que a Educação Física enquanto componente curricular obrigatório, desenvolve a
cultura corporal do movimento e por meio dela deve proporcionar os meios de desenvolver a
coordenação motora dos indivíduos.
Nesse contexto, o desenvolvimento da coordenação motora para realização de atividades
físicas, segundo Malina e Bouchard (2002), é um dos principais objetivos na infância e todas as
crianças com exceção daquelas com problemas graves de desenvolvimento, tem a capacidade
de assimilar e desenvolver habilidades fundamentais que são incorporadas a um conjunto de
movimentos padrão essenciais para crescimento funcional e por meio da atividade física é
possível alcançar uma excelente evolução das capacidades físicas.
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Diante disso, o presente estudo tem relevância por mostrar o nível de coordenação
motora dos alunos das Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Menor) e assim contribuir
para que o professor possa planejar suas aulas diante os resultados encontrados. Avaliar os
escolares permite ao docente desenvolver objetivos educacionais e detectar aspectos motores
que necessitem de atenção. (ROSA NETO et al., 2010).
Assim, o presente estudo teve como objetivo geral comparar o nível da coordenação
motora de alunos do Ensino Fundamental menor em escolas públicas e privadas de Teresina-PI.

2 METODOLOGIA

O presente estudo se caracteriza quanto à abordagem como uma pesquisa quantitativa,


sendo ainda descritiva e transversal. A amostra foi composta de 41 indivíduos de ambos os
sexos, com idades entre seis a 13 anos, regularmente matriculados em duas escolas públicas e
duas escolas privadas, localizadas nas zonas sul e leste de Teresina - PI. As escolas e os alunos
foram selecionados de forma não probabilística, por conveniência. Os critérios de inclusão
foram: ter idade entre 6 a 13 anos, estar matriculado nas escolas e frequentar regularmente as
aulas de Educação Física.
O instrumento de coleta de dados foi o Teste de Coordenação Corporal para Crianças
(KTK) desenvolvido por Kiphard e Schilling em 1974. Este protocolo consiste em quatro
atividades: trave de equilíbrio no qual o participante deveria andar de costas em cima de uma
trave de madeira sobre o chão objetivando chegar ao final da mesma sem tocar os pés no chão.
As traves tinham 6 cm, 4,5 cm e 3 cm respectivamente. Para cada trave, três tentativas eram
realizadas; saltos monopedais, onde o estudante deveria realizar saltos com apenas uma perna no
chão para transpassar uma espuma de 5 cm, a cada acerto, uma nova espuma era acrescentada e
para cada altura, o participante tinha 3 chances; Saltos laterais, no qual o avaliado deveria saltar
sobre uma base de madeira de um lado para outro de forma mais rápida possível durante 15
segundos; transferência sobre plataformas onde o indivíduo tinha que deslocar-se lateralmente
sobre pranchas de madeira durante 15 segundos.
Além deste protocolo, foi elaborado um questionário pela pesquisadora a fim de
averiguar se havia prática de alguma atividade física (ex: natação, futebol, etc.) regular fora do
ambiente escolar com o tempo de prática da mesma.
Os dados foram analisados no programa STATA 12.0, no qual se realizou uma estatística
descritiva bem como uma inferencial por meio do teste do qui-quadrado e teste t para amostras
independentes. O nível de significância adotado foi p≤0,05.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
Piauí-UFPI, com o número CAEE: 89110618.8.0000.5214.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada com 41 indivíduos, sendo a maioria do sexo masculino (56,1%)
tendo média de idade de 9,41 anos (± 1,62). Além disso, a maioria (51,2%) dos alunos era da
escola pública. Quanto ao ano escolar, 43,9% encontram-se no quinto ano (Tabela 01).

Tabela 01 - Distribuição dos participantes da pesquisa quanto ao sexo, idade, tipo de escola e ano escolar de
Teresina-PI, 2018.

VARIÁVEIS n %
SEXO
Feminino 18 43,9
Masculino 23 56,1
ESCOLA
Privada 20 48,7
Pública 21 51,2
ANO
1º 2 4,8
2º 5 12,2
3º 2 4,8
4º 14 34,1
5º 18 43,9
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Observou-se que a maioria era do sexo masculino e a média de idade foi de 9,4 anos.
Estudo realizado por Soares et al. (2014) em Timon-MA com 108 escolares, encontrou resultados
diferentes do nosso quanto à idade e o sexo, no qual os escolares tinham idades entre 10 a 12
anos e a maioria dos participantes era do sexo feminino (50,9%), com média de idade de 10
anos. Porém, com relação ao tipo de escola, os dados corroboram com os do presente estudo,
no qual 51,85% dos escolares avaliados são de escola pública.
Quanto à classificação geral da coordenação motora dos alunos de ambas as escolas,
observou-se que 90,24% dos escolares estão na categoria “normal”. Na Tabela 02, em relação à
média, desvio padrão, valor máximo e mínimo dos alunos pesquisados, o teste trave de equilíbrio
apontou maior média (97,24) sendo seguido de salto monopedal, salto lateral e transposição
lateral com médias de 89,94, 82,21 e 59,36 respectivamente.

Tabela 02 - Classificação da coordenação motora dos escolares pesquisados em Teresina-PI, 2018.

CLASSIFICAÇÃO n %
Coordenação boa 2 4,88
Normal 37 90,24
Perturbação na coordenação 2 4,88
TOTAL 41 100
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
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Resultados encontrados por Carminato (2010) diferem dos resultados desta pesquisa no
qual seu estudo mostrou que a maioria das crianças pesquisadas (42,5%) apresenta perturbação
na coordenação motora indicando baixo nível de desempenho motor.
Quando comparada a média da coordenação motora entre os tipos de escola, observou-se
que as médias do quociente motor geral da coordenação motora dos escolares, não apresentaram
diferenças estatisticamente significativas (p= 0,3) quando comparadas entre os tipos (pública e
privada) de escolas.
Resultados encontrados por Soares et al. (2014) divergiram aos resultados desta
pesquisa, já que no referido estudo, houveram diferenças estatisticamente significativas (p =
0,03) na qual, alunos da escola pública obtiveram melhores resultados no nível da coordenação
motora (76,79% dentro da normalidade) quando comparados aos alunos da escola privada, que
apenas 51,93%estavam dentro dos padrões normais.
Quando investigado sobre a prática de atividade física extra escolar, 70,73% dos alunos
não praticavam a mesma, enquanto 29,27% realizava. Dentre os que praticavam, 26,83%
praticam futebol e 2,44% realizam judô. Já na comparação da frequência semanal dos que
realizam, 18,46% fazem de uma a duas vezes na semana, 9,76% de 3 a 4 vezes por semana e
4,88% cinco vezes durante a semana. Em relação ao tempo de prática, 75,01% praticam de um
a 12 meses e 24,99% de 24 a 36 meses.
Quando comparado os quocientes da coordenação motora entre os que praticam e
que não praticam atividade extra escolar, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre as médias (p=0,7), ou seja, crianças que realizam atividade física fora da
escola não obtiveram diferença quanto ao nível de coordenação motora. Isso pode ser explicado
pelo curto tempo de prática de atividade física extraclasse.
Este resultado assemelha-se aos achados de Pelozin et al. (2009) realizado com 145
estudantes do Ensino Fundamental de duas escolas da rede estadual de ensino de Florianópolis-
SC e de Sá; Carvalho e Mazzitelli (2014) que avaliaram 90 escolares da rede pública de São
Caetano e São Paulo com idades de 8 a 12 anos. Nas duas pesquisas, as atividades físicas
realizadas fora da escola não influenciaram os resultados da coordenação motora dos alunos
avaliados.
Quando comparado o quociente motor geral da coordenação motora por sexo, foi
encontrada uma média do sexo masculino superior à do sexo feminino, sendo 103,69 e 95,11
respectivamente (p=0,00) (Figura 1).
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PINTO, M. O. | COSTA, M. J. M.

Figura 01 - Comparação entre as médias do quociente motor geral, entre os sexos. Teresina, 2018.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Observou-se na Figura 01 que os meninos apresentam um quociente maior quanto aos


níveis da coordenação motora. Este resultado corrobora com os estudos de Carminato (2010),
Ramos (2014) e Pelozin et al. (2009) que também encontraram melhores níveis de coordenação
motora entre os indivíduos do sexo masculino. Uma possível explicação para isto pode ser a
prática do futebol como atividade física extraclasse praticada pelos alunos pesquisados, já que
a mesma apresenta uma maior frequência entre os meninos.
Estudo realizado por Freitas e Rodrigues (2015) com 22 alunos do Centro Educacional
Nossa Senhora da Rosa Mística, ambos na cidade de Alfenas-MG submetidos ao KTK e divididos
em grupo de praticantes de futebol e não praticantes concluiu que o desempenho foi melhor nos
praticantes sendo 54,5% destes com coordenação normal, enquanto o grupo controle teve 9,1%
de coordenação normal. Este dado aponta que o futebol proporciona benefícios motores aos
seus praticantes pela variedade de estímulos motores que a modalidade oferece.
A Tabela 03 mostra os resultados da comparação das médias do quociente de cada
teste da coordenação motora por escola na qual, apenas no teste de equilíbrio os resultados
apresentaram relação estatisticamente significativa (p=0,01), tendo a escola pública maior
média (Tabela 03).

Tabela 03 - Comparação das médias dos testes trave de equilíbrio (T1), salto monopedal (T2), salto lateral (T3) e
transposição lateral (T4) respectivamente entre os tipos de escolas pesquisadas. Teresina-PI, 2018.

MÉDIA DESVIO MÉDIA DESVIO


ESCOLA p
EPR PADRÃO EPU PADRÃO
0,01*
T1 93,6 10,3 100,7 7,05
T2 82,1 14,8 87,6 17,8 0,28
T3 83,05 14,29 81,04 13,41 0,70
T4 58,45 10,41 60,23 7,44 0,52
*p≤0,05. Legenda: EPR= escola privada; EPU= escola pública.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
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Os resultados demonstraram que alunos da escola pública têm médias superiores quanto
ao Teste de equilíbrio na trave, nos demais testes ainda que as médias não sejam significativamente
superiores, as médias são mais elevadas na escola pública, com exceção do teste T3. Estes
dados são semelhantes aos do estudo de Soares et al. (2014) que objetivaram avaliar os níveis
de coordenação motora de escolares em referência a sexo, idade, estado nutricional e instituição
de ensino, no qual os estudantes da escola pública obtiveram os melhores resultados quanto
aos níveis de coordenação motora dentro da normalidade (76,79%), quando comparados aos
escolares da instituição particular (51,93%).
A Tabela 04 mostra a associação entre atividade física realizada fora da escola e o tipo de
escola dos alunos. Obtiveram diferenças estatisticamente significativas (p=0,00) entre praticar
ou não atividade física e o tipo de escola, no qual os alunos da escola pública apresentaram
maior percentual quanto a prática de atividade física.

Tabela 04 - Associação entre atividade física extra escolar e tipo de escola pesquisada. Teresina-PI, 2018.

ESCOLAS ATIVIDADE FÍSICA EXTRA ESCOLAR

NÃO SIM TOTAL p

n % n % n %

Privada 18 90,0 2 10,0 20 100,0


0,00*

Pública 11 52,38 10 47,62 21 100,0

TOTAL 29 70,73 12 29,27 41 100,0


*p≤0,05.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Dentre os indivíduos que realizam atividade extra escolar, a modalidade futebol


praticada pelos alunos da escola pública apresentou maior percentual (47,62%) demonstrando
associações estaticamente significativas (p=0,00). O futebol é uma das modalidades mais aceitas
e praticadas pelos estudantes e segundo Silva (2014) contribui significativamente no processo
socioeducativo já que contribui para a formação cidadã dos alunos. Além disso, proporciona o
desenvolvimento das habilidades motoras e interação social (ASSIS; COLPAS, 2013).
Por ser um esporte de baixo custo, se torna acessível a pessoas de renda mais baixa.
Observou-se que próximo às escolas públicas pesquisadas haviam quadras públicas disponíveis
que possibilitam a prática dessa atividade pelos escolares. Isso pode ter contribuído para o
melhor desempenho nos testes da coordenação motora dos alunos da escola pública.
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Cruz Alta, RS
Avaliação da coordenação motora de escolares: um estudo comparativo em escolas de Teresina - PI

PINTO, M. O. | COSTA, M. J. M.

4 CONCLUSÃO

Foi possível concluir que a maioria dos pesquisados é do sexo masculino e estudantes
da escola pública. Quanto ao nível da coordenação motora, a maioria estava dentro do padrão
da normalidade. Quando comparado o nível da coordenação motora entre as escolas (públicas
e privadas), os alunos das escolas públicas apresentaram melhores resultados.
Ao comparar o nível da coordenação entre os sexos, o sexo masculino obteve média
superior ao das meninas. Em relação à prática de atividade física fora da escola, grande parte dos
alunos não realizam atividades extra escolares e dentre os que praticam, a maioria é da escola
pública e pratica futebol. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em
relação à coordenação motora dos alunos que fazem ou não fazem práticas fora do ambiente
escolar.
Sugere-se que mais estudos sejam realizados em mais escolas objetivando avaliar a
coordenação motora dos seus alunos, assim como também estudos que analisem a influência de
atividades físicas fora da escola com o nível de coordenação motora dos alunos.

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Cruz Alta, RS
Avaliação da coordenação motora de escolares: um estudo comparativo em escolas de Teresina - PI

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ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NO PÓS-OPERATÓRIO DE
CARDIOPATIAS CONGÊNITAS PEDIÁTRICAS

Physiotherapy in the postoperative of pediatric congenital cardiopathies

SANTOS, Jefferson Nascimento dos1


MOURA, Antonia Érica Freire Rodrigues de¹
SOUSA, Antonia Liliana Lopes de¹
RODRIGUES, Ivani Simeão¹
VASCONCELOS, Lizandra Tereza de Souza¹
IRINEU, Maria Erisnilda Nunes¹
MODESTO, Thaís Silva Frota Cavalcante2

RESUMO ABSTRACT

As cardiopatias congênitas são desordens Congenital cardiopathies are cardiac disorders


cardíacas decorrentes de más-formações durante o that occur due to malformations during gestational
desenvolvimento gestacional e impactam diretamente development, having direct impact on health and the
na saúde e no desenvolvimento normal da criança. regular development of the child. Physiotherapy then
A fisioterapia torna-se fundamental ao promover becomes fundamental, once it diminishes permanence
diminuição do tempo de permanência em centros time in intensive therapy units and hospital internments
de terapia intensiva e internações hospitalares, ao by improving clinical condition on pre-, peri- and
melhorar o quadro clínico nos períodos pré, peri e pós- postoperative, preventing and helping recovering
operatório, prevenindo e recuperando as complicações from cardiorespiratory complications. Therefore,
cardiorrespiratórias. Portanto, objetivou-se realizar this piece intends to review the specialized literature
uma revisão acerca da atuação fisioterapêutica no pós- on the physiotherapeutic actuation in the congenital
operatório de cardiopatia congênita. Realizou-se buscas cardiopathy postoperative condition. The following
nas bases: Literatura Latino-Americana e do Caribe databases have been searched through: LILACS
em Ciências da Saúde; BIREME; Scientific Eletronic (Latin-American and Caribbean Center on Health
Library Online; PubMed e Physiotherapy Evidence Sciences Information); BIREME, Scientific Eletronic
Database. Foram incluídos artigos disponíveis na Library Online; PubMed and Physiotherapy Evidence
íntegra, idioma português e inglês, publicados entre Database. In this piece were included fully available
2007 e 2018 abordando a atuação fisioterapêutica em articles, in Portuguese and English, published between
cardiopatias pediátricas. Critérios de exclusão: estudos 2007 and 2018, on the physiotherapeutic actuation in
epidemiológicos e revisões ou que não abordassem o the congenital cardiopathy postoperative condition.
tema. Após a filtragem, leitura e análise, selecionamos The exclusion criteria were epidemiological studies
seis artigos. Algumas complicações pós-operatórias, são and reviews or articles that on different topics. After the
déficits ou alterações pulmonares, como a diminuição filtering, reading and analysis, six articles were selected.
da complacência pulmonar e resistências de vias aéreas. Some postoperative complications are pulmonary
A partir dos achados, evidencia-se que o apoio manual deficits or alterations such as the decrease of pulmonary
no tórax, promove aumento de saturação do oxigênio. complacency and airway resistance. Based on the
O treinamento de força muscular inspiratória mostrou- findings, it is evident that manual chest compression
se tolerável e auxiliador no desmame ventilatório. E promotes oxygen saturation increase. It proved to be
programas de exercícios aeróbicos, promovem ganhos the case that inspiratory muscle strength training is
de motricidade, possuindo viabilidade e resultados tolerable and helps with ventilator weaning. Besides,
a curto prazo. A fisioterapia mostra-se eficaz no aerobic exercise programs are viable, promoting
tratamento de condições clinicas advindas da cirurgia e motricity gains and short-term results. Physiotherapy,
para o acompanhamento do desenvolvimento. therefore, showed to be efficient in treatments for
clinical conditions that originate from surgery, and also
Palavras-chave: Pediatria. Cardiopatias congênitas. for development tracking.
Fisioterapia.
Keywords: Pediatrics. Congenital heart diseases.
Physiotherapy.

1
Discentes do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Ateneu – UniAteneu, Fortaleza, Ceará, Brasil.
2
Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Ateneu – UniAteneu, Fortaleza, Ceará, Brasil.
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Atuação fisioterapêutica no pós-operatório de cardiopatias congênitas pediátricas

SANTOS, J. N. S. | MOURA, A. É. F. R. | SOUSA, A. L. L. | RODRIGUES, I. S.


VASCONCELOS, L. T. S. | IRINEU, M. E. N. | MODESTO, T. S. F. C.

1 INTRODUÇÃO

As cardiopatias congênitas (CC) referem-se às desordens cardíacas decorrentes das


más-formações advindas durante o desenvolvimento gestacional. Dados dos Estados Unidos
apontam a CC em neonatos como a principal causa de mortalidade infantil, porém, o Brasil ainda
carece de dados consistentes e concordantes sobre a CC nacionalmente. O avanço das cirurgias
e da saúde materno - infantil possibilitou uma maior sobrevida dos indivíduos nascentes com
alguma anomalia congênita, pois muitos não passavam da primeira infância (BERKES et al.,
2010; AMORIM et al., 2008; RAZZAGHI et al., 2015).
A CC, por ser um agravo na saúde perdurante por toda a vida, enquadra-se no conceito
de doença crônica. Desta maneira ocorrem impactos significativos na saúde física, mental
e social do indivíduo. Ao analisarmos estas situações em crianças, os resultados claramente
são impactantes, pois influenciam diretamente no desenvolvimento normal da criança, e as
repercussões na qualidade de vida para quem porta uma CC podem ser fortemente negativas.
A criança acaba por se ver em uma situação privativa de sua vida, não podendo manter a
socialização com outras da mesma idade, por suas incapacitações funcionais, por ter que privar o
ato de brincar, além de passar boa parte da primeira infância dentro do ambiente hospitalar, com
medos e frustrações (VIEIRA, DUPAS e FERREIRA, 2009; BERKES et al., 2010; BARROS,
2016).
A CC é classificada clinicamente em cianótica ou acianótica. Dentre as cardiopatias
acianóticas podemos exemplificar: comunicação interatrial (CIA); defeito no septo atrioventricular
parcial (DSAVP) ou total (DSAVT); comunicação interventricular (CIV); coarctação da aorta
(CoA); estenose aórtica e a persistência do canal arterial (PCA). Já a tetralogia de Fallot (T4F)
é a principal CC cianótica, este grupo possui alta gravidade clínica ao causarem reduções de
concentração da hemoglobina no sangue arterial, além de altas taxas de óbito por agravamento
clínico, principalmente no pós-operatório. Também integram o cianótico a transposição das
grandes artérias (TGA); atrésia pulmonar com ou sem CIV; doença de Ebstein; e a síndrome de
hipoplasia do ventrículo esquerdo (ARAGÃO et al., 2013; BORN, 2013; LÚCIA et al., 2008)
Aragão et al. (2013), realizou estudos epidemiológicos em um hospital de referência
na cidade de Aracaju - Sergipe. A partir de seus resultados é possível estabelecer um perfil do
paciente com CC no nordeste brasileiro. Não há predomínio de incidência entre os gêneros,
sendo os lactentes e crianças na idade pré-escolar até seis anos, os maiores acometidos, obtendo
assistência médica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O defeito do grupo acianótico com
maior frequência foi a PCA, e o do grupo cianótico a T4F, responsável pela maior taxa de óbitos.
A relação de prevalência e gravidade de comorbidade é diretamente proporcional
com a complexidade do defeito. Existe ainda uma correlação das cirurgias invasivas e/ou
reconstrutivas poderem causar sequelas no desenvolvimento neuropsicomotor infantil, como
atrasos cognitivos, motores, déficits de aprendizagem e visuomotoras. Sendo importante
observar qualquer indício de atraso no desenvolvimento (RAZZAGHI et al., 2015; RAJANTIE
et al., 2013).
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SANTOS, J. N. S. | MOURA, A. É. F. R. | SOUSA, A. L. L. | RODRIGUES, I. S.


VASCONCELOS, L. T. S. | IRINEU, M. E. N. | MODESTO, T. S. F. C.

A fisioterapia é de fundamental importância nas cirurgias de CC, pois promove a


diminuição do tempo de permanência em centros de terapia intensiva, internações hospitalares e
auxiliam na deambulação precoce. O trabalho consiste ainda, na melhora do quadro clínico nos
períodos pré, peri e pós-operatório ao prevenir e recuperar possíveis complicações pulmonares
a médio e longo prazo, principalmente (SILVA et al., 2011).
A fisioterapia ainda pode auxiliar no processo de reabilitação social, reduzindo os efeitos
nocivos ou prejudiciais à saúde que podem estar associados a restrição ao leito, melhorar a
oxigenação, preservar condições satisfatórias de VM pulmonar, e a integridade da capacidade
pulmonar funcional. Infere-se a importância da reabilitação cardíaca nestes pacientes,
interferindo diretamente na qualidade de vida (SILVA et al., 2011).
Ressaltamos a importância da presente revisão, em relatar e discutir os tratamentos com
boa evidência científica empregados pela fisioterapia, ao prestar assistência no pós-operatório
de CC. Encontra-se uma grande escassez de estudos voltados para a temática principalmente
relato de caso e ensaios clínicos com bons desenhos metodológicos.
Portanto, o estudo servirá como um mecanismo de consulta e base de novas discussões
acerca da temática, reunindo boas evidências e demonstrando as possibilidades de aplicação
clínica para com a CC. Objetivou-se neste estudo realizar uma revisão acerca da atuação
fisioterapêutica no pós-operatório de cardiopatia congênita.

2 MÉTODOS

O presente estudo tratou-se de uma revisão integrativa, utilizando-se as seguintes etapas:


discussão do problema; coleta de dados, avaliação, análise e interpretação dos dados coletados
e construção do manuscrito.
Afim de nortear a revisão elencou-se as seguintes questões: qual a atuação do
fisioterapeuta frente ao pós-operatório cardíaco em crianças? de que forma age a fisioterapia no
tratamento de cardiopatias pediátricas? E quais técnicas são empregadas durante o tratamento
destas patologias?
Foram realizadas as buscas de dados junto à Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) pela
base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS);
portal Scientific Eletronic Library Online (SciELO); PEDro e (PubMed) compreendidos entre
2007 e 2018. A seleção do material ocorreu nos meses de março e abril de 2018, por meio dos
descritores: pediatria (pediatrics); cardiopatias (heart diseases); cardiopatias congênitas (heart
defects congenital); cuidados pós-operatórios (postoperative care) e fisioterapia (Physical
Therapy specialty)
Após a busca inicial por meio das palavras-chave, ocorreu a leitura prévia dos títulos
e resumos para filtragem das pesquisas. Posteriormente, foram analisadas e selecionadas as
publicações de interesse para esse estudo obedecendo aos critérios de inclusão: textos na forma
de artigos disponíveis na íntegra em meio eletrônico, nos idiomas português e inglês, publicados
em periódicos nacionais e internacionais; os artigos deveriam abordar cardiopatias pediátricas
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VASCONCELOS, L. T. S. | IRINEU, M. E. N. | MODESTO, T. S. F. C.

ou a atuação fisioterapêutica destas. Quanto a critério de exclusão: qualquer estudo que não se
voltasse metodologicamente para pediatria ou que apresentasse caráter epidemiológico.
O Fluxograma 1, detalha o processo metodológico de seleção para o presente estudo.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 - Revisão da literatura

AUTOR OBJETIVO AMOSTRA PRINCIPAIS RESULTADOS


Verificar efeito do apoio
O apoio manual resultou em aumento da
ASSUMPÇÃO manual nos parâmetros
20 lactentes de SpO2, sem apresentar alteração de dor e
et al., 2015 cardiorrespiratórios, em
0 a 12 meses desconforto. Em relação a dor o GA melhorou
lactentes cardiopatas
significativamente comparado com o GC
submetidos à cirurgia
Verificar a repercussão
da vibrocompressão
manual e aspiração Não houve diferença estatística significativa
nasotraqueal sobre nos parâmetros de Fc; Fr; SpO2; escala NIPS
ASSUMPÇÃO os parâmetros 20 lactentes de e BSA. Entretanto foi observado aumento
et al., 2013 cardiorrespiratórios, 0 a 12 meses relativo de SpO2; diminuição de Fr após
dor e desconforto intervenção e ausência de efeitos deletérios
respiratório, em lactentes relativos à dor e desconforto respiratório.
no pós-operatório de
cirurgias cardíacas
9 pacientes tiveram valores medianos de 92
Abordar a viabilidade e
pontos no QM; abaixo do valor de referência
efeito de um programa
MÜLLER (100 pontos). Após o programa o QM atingiu
de treinamento motor de 14 crianças de
et al., 2013 95 pontos. Entretanto o QM de 7 crianças
baixa dose na habilidade 4 a 6 anos
aumentou 5% após três meses do programa.
motora em crianças com
Desta forma o treino motor se mostra
CC
satisfatório
Legenda: BSA – Boletim de Silvermann-Anderson; CC – cardiopatia congênita; Fc – frequência cardíaca;
Fr – frequência respiratória; GA - grupo apoio; GC – grupo controle; NIPS – Neonatal Infant Pain Scale; QM –
quociente motor; SPO2 – saturação de oxigênio.

Quadro 2 - Revisão da literatura

AUTOR OBJETIVO AMOSTRA PRINCIPAIS RESULTADOS


As manobras de recrutamento alveolar
Relatar a assistência associada a terapia de higiene brônquica
SANTOS
fisioterapêutica de uma 1 neonato de 29 objetivando manutenção de trocas gasosas, não
et al., 2013
criança com múltiplas dias obteve sucesso. Entretanto pode ser decorrido
más-formações cardíacas de complicações clínicas apresentada pelo
neonato como o desvio de traqueia.
Descrever o treinamento
O IMST foi bem tolerado pelos lactentes,
de força muscular 1 lactente de
havendo o aumento da pressão inspiratória
SMITH et al., inspiratória (IMST) em 2 meses e 21
máxima, força e padrão respiratório. Tolerando
2012 conjunto com estratégias dias;
bem o processo de desmame ventilatório sem
convencionais para 1 lactente de 3
apresentar complicações. São necessários
facilitar o desmame pós- meses e 22 dias
ainda maiores estudos acerca do tema
operatório (PO)
Avaliar incidência e o Os pacientes desenvolveram atelectasia ou
risco de complicações pneumonia no PO. Entretanto o Grupo 1 que
pulmonares em crianças recebeu fisioterapia no pré e pós-operatório
FELCAR submetidas a intervenção tiveram índices menores de complicações
135 crianças de
et al., 2008 fisioterapêutica pré e pulmonares (25%) e o Grupo 2 que recebeu
0 a 6 anos
pós-operatória cardíacos, intervenção apenas no PO obteve índices
comparando com apenas de 43,3%. Desta maneira intervenções
a intervenção pós- fisioterapêuticas pré e pós-operatórias reduzem
operatória a probabilidade de complicações respiratórias
Legenda: IMST - treinamento de força muscular inspiratória; PO – pós-operatório.
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As cirurgias cardíacas, possuem procedimentos complexos, que promovem


intercorrências clínicas agudas ou crônicas na saúde global da criança, podendo influenciar
negativamente na funcionalidade deste indivíduo. Tendo como base essa proposição podemos
enfatizar a importância da fisioterapia ao prevenir ou atenuar possíveis complicações advindas do
processo cirúrgico, e principalmente melhorando a qualidade de vida do paciente restabelecendo
o máximo possível de funcionalidade destas crianças (CORDEIRO et al., 2016; SHAKOURI
et al., 2015).
Segundo Lima et al. (2018), os países com baixa condições socioeconômicas tendem
a apresentar uma maior frequência de defeitos congênitos. O tratamento cirúrgico sempre
que possível busca a correção definitiva dos defeitos, o controle dos sintomas e a melhor da
qualidade de vida dos pacientes, além de prevenir futuros eventos (ARAGÃO et al., 2013).
A grande problemática durante o pós-operatório de CC, refere-se aos déficits ou alterações
pulmonares advindas das cirurgias, como aumento da complacência pulmonar e resistências
de vias aéreas. Contribuindo para altas taxas de mortalidade e morbidade (GORAIEB et al.,
2008). A literatura vem apontando que esse comprometimento respiratório pode ser associado
ao quadro álgico decorrente das incisões cirúrgicas.
A esternotomia usualmente é a técnica utilizada para o acesso cirúrgico, entretanto gera
uma diminuição na complacência pulmonar no PO imediato e processo álgico; sintomatologia
decorrente de alterações biomecânicas e prejuízo na relação anátomo-fisiológica torácica
(CASECA, ANDRADE e BRITTO, 2006; GIACOMAZZI, LAGNI e MONTEIRO, 2006).
Assumpção et al. (2015), concluiu que a simples técnica de apoio manual em tórax de
um neonato, repercute diretamente na SPO2 e algias. Houve elevação dos valores médios de
SPO2, quando comparado à pré-intervenção, sem interferir negativamente na dor apresentada
pelos lactentes, visto que não houveram alterações de piora para a dor. Portanto é uma técnica
a ser encorajada para aplicação clínica, visto seu potencial de eficácia e facilidade de aplicação
ainda no ambiente hospitalar.
Cordeiro et al. (2016), afirma que a administração de medicamentos sedativos induz uma
depressão no centro respiratório, sendo necessário o uso de ventilação mecânica invasiva no PO
de CC. O tempo prolongado da prótese ventilatória gera piora sobre a capacidade pulmonar e
redução da força muscular, além da imobilização no leito e o tempo de intubação orotraqueal e
hospitalização.
Um dos poucos estudos nacionais, que analisaram a função pulmonar e seus componentes
no pré e pós-operatório cardíaco. Constando em correção de valvulopatia reumática. A
população da amostra não portava CC, mas seus resultados claramente reforçam as ideias
expostas anteriormente, logo, possivelmente a partir destes resultados podemos imaginar que
as repercussões cardiorrespiratórias na CC são negativamente maiores (CASECA, ANDRADE
e BRITTO, 2006).
Ele relata que os níveis de volume minuto (VM), capacidade vital forçada (CVF) e
capacidade inspiratória (CI), caem drasticamente nas primeiras 24 horas de PO, e apresentam
crescimento gradual nos 5 dias subsequentes até atingirem valores estatísticos semelhantes aos
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apresentados antes da intervenção cirúrgica. Na CC podemos supor que a normalização da


função pulmonar leve mais tempo, ao observamos a complexidade e risco das intervenções ao
qual são submetidos.
Fecal et al. (2008), demonstrou que somente a fisioterapia em PO imediato não é
totalmente eficaz para prevenir ou mesmo reduzir as complicações pulmonares. Entretanto
quando feito um acompanhamento no pré e pós-operatório as taxas de complicações tem
redução significativa, principalmente em quadros de pneumonia.
Após a alta hospitalar, normalmente estas crianças não passam por nenhum
acompanhamento a longo prazo ou por equipe multidisciplinar, a fim de acompanhar o
desenvolvimento infantil. Não realizar este tipo de trabalho repercute negativamente na saúde
geral, mas principalmente na funcionalidade das crianças. A literatura vem debatendo uma forte
relação entre o PO de CC e o desenvolvimento motor e acadêmico, entretanto, não há ainda
um consenso sobre os limites de inferência da CC na motricidade e vida acadêmica, não sendo
possível afirmar com certeza, contudo, há uma possível probabilidade desta relação ser maior
do que se pensa, já que sem o devido acompanhamento em médio ou longo prazo, não há como
identificar se o indivíduo está seguindo um desenvolvimento neuropsicomotor, sem atrasos
(NAEF et al., 2017; GAYNOR et al., 2015; MAJNEMER et al., 2006; SHILLINGFORD et al.,
2008).
Müller et al. (2013), propôs um programa de exercícios em torno de 60 minutos semanais,
visando trabalhar a motricidade das crianças em idade pré-escolar. Logo após a submissão
ao protocolo, ao analisar o grupo não houve ganho de habilidade motora estatisticamente
significativa, possivelmente por estarem no mesmo grupo crianças com e sem atraso motor.
Entretanto ao analisar apenas o subgrupo com atraso de desenvolvimento, houveram ganhos
significativos, os quais foram potencializados ao final dos três meses de intervenção. Concluindo
que é um programa viável e com resultados satisfatórios já em curto prazo.

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que as cirurgias invasivas podem causar atraso no desenvolvimento da


criança, devidos os procedimentos complexos que influenciam na funcionalidade do indivíduo.
Portanto a fisioterapia é essencial no acompanhamento dessas crianças tanto no pré quanto no
pós-operatório, podendo intervir de maneira precisa prevenindo ou diminuindo sequelas futuras
de possíveis complicações pulmonares e/ou motoras, diminuindo o tempo de internação do
paciente, e possibilitando uma melhora na qualidade de vida e bem-estar social.
O presente estudo possui limitações tais como escassez de pesquisa clínica e de
intervenções fisioterapêuticas voltada para a cardiopatia pediátrica, principalmente com
variáveis psicossociais e de funcionalidade, em seguimento hospitalar ou pós hospitalares. E há
um déficit significativo de dados confiáveis em escala nacional sobre a temática, impossibilitando
análises aprofundadas.
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Atuação fisioterapêutica no pós-operatório de cardiopatias congênitas pediátricas

SANTOS, J. N. S. | MOURA, A. É. F. R. | SOUSA, A. L. L. | RODRIGUES, I. S.


VASCONCELOS, L. T. S. | IRINEU, M. E. N. | MODESTO, T. S. F. C.

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