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Manual de Sistema de Plantio Direto de Hortalicas Epagri Ci Organicos Organicsnet
Manual de Sistema de Plantio Direto de Hortalicas Epagri Ci Organicos Organicsnet
SISTEMA DE
PLANTIO
DIRETO DE
HORTALIÇAS
Método de transição para
um novo modo de produção
Sistema de Plantio Direto
de Hortaliças
Método de transição para um
novo modo de produção
ISBN 978-85-7743-365-0
ORGANIZADORES:
Jamil Abdalla Fayad
Valdemar Arl
Jucinei José Comin
Álvaro Luiz Mafra
Darlan Rodrigo Marchesi
2ª edição
Florianópolis, 2019
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)
Rodovia Admar Gonzaga, 1347, Itacorubi - Caixa Postal 502
88034-901 - Florianópolis, SC - Brasil
Fone: (48) 3665-5000
Fax: (48) 3665-5010
www.epagri.sc.gov.br
Foto de capa:
Fotos: acervo dos autores.
Ficha Catalográfica
FAYAD, J.A; ARL, V.; COMIN, J.J.; MAFRA, A.L.; MARCHESI, D. R. Sistema
de Plantio Direto de Hortaliças. Epagri: Florianópolis, 2019. XXXp.
ISBN 978-85-7743-365-0
É permitida a reprodução parcial deste trabalho desde que a fonte seja citada.
COLETIVO DOS ORGANIZADORES
CLARA INES NICHOLLS engenheira agrônoma, Profa. PhD., Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA
CLÁUDIO ROBERTO FONSECA SOUZA SOARES engenheiro agrônomo, Prof. Dr., UFSC/CCB, Florianópolis, SC
HENRIQUE VON HERTWIG BITTENCOURT engenheiro agrônomo, Prof. Dr., UFFS, Laranjeiras do Sul, PR
LUIZ VAZQUEZ engenheiro agrônomo, PhD., Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecología, SOCLA, Cuba
MARCOS ALBERTO LANA engenheiro agrônomo, Prof. Dr., Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, Uppsala, Suécia
MIGUEL ÁNGEL ALTIERI engenheiro agrônomo, Prof. PhD., Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA
PEDRO IVAN CHRISTOFFOLI engenheiro agrônomo, Prof. Dr., UFFS, Laranjeiras do Sul, PR
SAMIRA JAMIL FAYAD química, Profa. Dra., Pós Doutoranda UFSC, Florianópolis, SC
STEFANO CESCO engenheiro agrônomo, Prof. PhD., Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Livre de
Bozen - Bolzano, Itália
TANJA MIMMO engenheiro agrônomo, Prof. PhD., Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Livre de Bozen
- Bolzano, Itália
TATIANA DA SILVA DUARTE engenheira agrônoma, Profa. Dra., UFRGS, Porto Alegre, RS
YOURY PII engenheiro agrônomo, Prof. PhD, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Livre de Bozen -
Bolzano, Itália
JAIME BOLZANI lavoureiro, Videira, SC RANULFO PELOSO educador popular, CEPIS, São
Paulo, SP
JEAN CLÁUDIO GUADAGNIM engenheiro agrônomo,
MSc., IMA, Lages, SC REGINALDO DE FREITAS lavoureiro, Sombrio, SC
ROBERTO BOLZANI técnico agrícola e lavoureiro,
JONAS SIMÃO DIAS lavoureiro, Angelina, SC
EPAGRI, Videira, SC
JORGE ARBOLEYA engenheiro agrônomo, PhD, INEA,
RODRIGO BINOTTO engenheiro agrônomo, Prefeitura
Uruguay
Municipal, Rio das Antas, SC
KATIÚCIA MICHELE VISENTAINER engenheira agrô-
ROSEMILDA BUTTCHEVITZ DIAS lavoureira,
noma, EPAGRI, Ituporanga, SC
Angelina, SC
LAURO KRUNVALD engenheiro agrônomo, EPAGRI,
SANDRO LUIZ SCHLINDWEIN engenheiro agrônomo,
Agrolândia, SC
Prof. Dr., UFSC, Florianópolis, SC
LEANDRO FREDERICO EHARDT lavoureiro, Angelina, SC
SADI ZILI técnico agrícola, Epagri, Rio das Antas, SC
LEANDRO HILLESHEIM lavoureiro, Angelina, SC
SÉRGIO MENIM lavoureiro, Caçador, SC
LEONILDO SCHULTER lavoureiro, Anitápolis, SC
SÉRGIO SUZIN lavoureiro, Caçador, SC
LILIAN MARIA COELHO MENIN lavoureira, Caçador, SC
SILVINO COPPINI lavoureiro, Rio das Antas, SC
LORIVAL KNAUL lavoureiro, Ituporanga, SC
SOLANGE BACK lavoureira, Anitápolis, SC
LÚCIA BACCHI lavoureira, Caçador, SC
VALDEMAR LAURO DA SILVA lavoureiro, Alfredo
LÚCIA SCHMITT lavoureira, Antônio Carlos, SC Wagner, SC
LUIZ CARLOS BALATKA lavoureiro, Caçador, SC VALDONIR HOFFMANN lavoureiro, Ituporanga, SC
LUIZ PETRYKOWKI lavoureiro, Caçador, SC VALMIR ZANELLA lavoureiro, Caçador, SC
MARCIONEI PETRY lavoureiro, Ituporanga, SC VANESSA ARENHART engenheira agrônoma, exten-
MARIANI HAMES lavoureira, Angelina, SC sionista e lavoureira, Rancho Queimado, SC
MARILÉIA HAMES lavoureira, Angelina, SC ZITA KLOPPEL HOFFMANN lavoureira, Ituporanga, SC
NILVO KNAUL lavoureiro, Ituporanga, SC
OLIVO DAMBRÓS engenheiro agrônomo, Dr., Livre
Docente e Educador Popular, Coronel Vivida, PR
PAULO FRANCISCO DA SILVA engenheiro agrônomo,
MSc., EPAGRI, Florianópolis, SC
ASSESSORIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
7. COMO O USO DE ADUBOS ORGÂNICOS PODE SER UMA ALTERNATIVA NO SPDH?. . . . . . . . . . . . . . . 127
1. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
2. Adubação orgânica e produtividade de culturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
3. Adubação orgânica e atributos químicos, físicos e biológicos do solo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
4. Recomendação de adubação orgânica em SPDH. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
5. É possível utilizar somente adubos orgânicos em SPDH?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
6. Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Promoção da saúde de planta
Cultivando plantas
1. Introdução
Numa trajetória de mais de 25 anos do mo- a ruptura e a superação do velho, sendo ela me-
vimento do SPDH, tem-se como desafio a sistema- diada pela prática da construção de outro modo
tização dos conhecimentos acumulados ao longo de produzir alimentos de verdade para toda a
dessa caminhada junto com a agricultura fami- sociedade, assegurando a unidade íntima entre
liar e demais profissionais do campo e suas ins- teoria e prática.
tituições representativas, compreendidos como Portanto, o processo de transição, que é
sujeitos sociais com potencial transformador do epistemológico, passa pelos conhecimentos de
sistema de produção da agricultura industrial seus agentes, que deverão olhar o conteúdo de
para um sistema com base ecológica. Nessa pers- seu aprendizado e, também com ele, encontrar e
pectiva de construir outro modo de produção, produzir saberes, que fortalecerão os princípios
propõe-se, neste capítulo, refletir sobre as suas do SPDH, desde a produção e melhoramento de
práticas e as mudanças de valores que foram sementes e mudas, até a interferência na compo-
acontecendo nas relações sociais entre os parti- sição da parede celular, na nutrição, na forma do
cipantes durante o processo de transição. sistema radicular e suas melhores associações
O caminho passa pela reinterpretação e bioquímicas e nas relações políticas entre os par-
ressignificação dos conhecimentos técnicos e ticipantes, dentre outras.
científicos disponíveis de modo que eles possam Nesse momento, as lavouras escolhidas
ser agregados aos conhecimentos produzidos pela comunidade para serem implantadas em
que formarão novas tecnologias associadas aos unidades familiares, dentro dos princípios do
princípios do SPDH. Nesse processo dialético de SPDH, e que são acompanhadas por todas as fa-
absorver e negar as atuais teorias, ciências e tec- mílias e técnicos durante o ciclo de cultivo, desde
nologias que, de certo modo, compõem o velho a preparação da área com as plantas de cobertura
sistema de produção agrícola, reside o fenôme- até a colheita (lavouras de estudos), necessitam
no da transição, onde o velho caminho contribui respostas. Respostas que expliquem como deve-
com o novo, que já não é mais o anterior e, sim, remos produzir mudas que transmitam saúde e
sua superação, produzindo permanentemente produtividade à planta adulta ou como manejar
novas ciências e tecnologias capazes de melho- a broca pequena e a requeima do tomateiro, den-
rar a saúde da planta e do sistema aumentando tre tantas demandas produzidas na pesquisa e
a produtividade dos cultivos e criações. Cada nas lavouras de estudos ─ LE (Figura 1).
passo dessa transição realizada coletivamente é
28
O processo de dimi-
nuir até eliminar o uso
de agrotóxicos e adubos
altamente solúveis, manter
ou aumentar a produtivida-
de dos cultivos, minimizar
ao máximo a dependência
da Agricultura Familiar
(A.F.) a fatores externos
(FAYAD et al., 2016), amplia
sua autonomia por meio do
aumento da funcionalidade
e complexidade dos siste-
mas, conferindo-lhe maior
resistência e resiliência. Es-
ses fatos, segundo Vázquez
(2007), melhoram a articu-
lação da A.F. com entidades
e pessoas comprometidas
Figura 1. Visita em uma lavoura de estudo em Caçador/SC (2001), local onde
agricultores, pesquisadores, lavoureiros e técnicos da extensão rural trocam com as possibilidades de
experiências e se capacitam ao interpretar e praticar os passos para a constru- superação coletiva da ex-
ção do SPDH tomate. ploração e dominação. Esse
processo é da classe tra-
Por que a maior parte dos métodos al- balhadora e, no campo, é exclusivo da A.F. e suas
ternativos ao agrotóxico não vingaram junto à organizações. Assim, entende-se que o SPDH se
maioria dos agricultores familiares, principal- constitui como práxis transformadora à medida
mente nos centros de maior produção do agro- de seu amadurecimento e rigor da aplicabilidade
negócio onde são aplicadas as tecnologias de de seus princípios técnico-científicos e político-
ponta do atual modo de produção (foco lumino- -pedagógicos.
so)? A resposta está na genética? Na composi- É na A.F. que encontramos uma cultura
ção mineral e na biota do substrato? Na compo- que prioriza a solidariedade e cooperação, a ca-
sição da parede celular? No ciclo do inseto? Na pacidade de produzir alimentos biologicamente
nutrição? Onde? melhores para a mesa dos trabalhadores e, fun-
damentalmente, ela possa, no campo, dividir a
Nesse processo contraditório, devemos
renda e riqueza nacional pela sua reprodução e
levar em conta temas consolidados, que fazem
multiplicação. Trata-se de modo de vida e de
parte do atual modo de produção, como lucro,
sistemas de produção que resistem e se opõem
individualismo, produtividade, monocultura,
a determinados padrões impostos pelo sistema
lavoura limpa de mato, conceito de vigor da
a exemplo do trabalho realizado pela família, do
planta e uso de agroquímico. Por outro lado,
mutirão, da produção alimentar autossuficiente,
neste mesmo ambiente da agricultura familiar, da diversificação de atividades, da produção e
encontramos preocupações com a saúde da sua troca de sementes e raças e da menor dependên-
família e dos consumidores, produção limpa de cia de insumos externos.
agroquímico, diminuição do custo de produção No Sul do Brasil, em especial Santa Cata-
e da poluição ambiental, também fazendo parte rina, a composição diversificada da paisagem
do sentimento majoritário da sociedade. Essas constituída de bosques, corredores ecológicos,
contradições contribuem com a proposta da rios, matas ciliares, lavouras e criações (Figura
transição do SPDH, que transforma tanto o sis- 2) conspiram a favor da transição proposta, pela
tema de produção como seus agentes, apontan- melhoria do microclima e aumento da biodiver-
do para outro modo de vida. sidade e da complexidade.
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realidade dos envolvidos e que permita perceber onde este assume dois papéis: de pesquisador
e transformar criticamente essa realidade. e participante. Tanto o grupo como o pesquisa-
Nessa linha, Freire (1996) afirma que dor precisam estar conscientes da dinâmica da
o processo educativo é sempre um proces- situação social em evolução.
so de criação e recriação de conhecimentos, Na transição promove-se o encontro das
praticado por meio de um conjunto organizado contradições entre dependência e autonomia ao
de atividades de ensino-aprendizagem. Por isso, baixar custos de produção com aumento de pro-
quando pensamos em falar de “metodologia”, dutividade, em diminuir o uso de agroquímicos
nos referimos ao próprio processo de conheci- aumentando o conforto do trabalho humano ou
mento que se realiza por meio de uma proposta na hierarquia do conhecimento superada pela
educativa. complementaridade dos saberes. Essa descober-
Desta forma, chamamos de concepção ta apreendida durante a transição vai transfor-
metodológica para que se compreenda o sentido mando a consciência comum em práxis.
mais profundo que deve guiar a nossa busca de Assim, no centro das aproximações me-
como orientar e organizar estrategicamente as todológicas está a participação, onde participar
práticas de educação popular, cujos pilares são: não é apenas dar opinião, sugerir ou informar;
a formação (técnica, tecnológica e política), a significa compartilhar uma ação. Na construção
organização (produtiva, política e social – cam- de processos populares, a participação não é
po e cidade), e a multiplicação (horizontaliza- apenas uma dinâmica ou um meio de, mas, sim,
ção, massificação e verticalização) na afirmação uma forma de ser coletivamente, que incorpora
e articulação de múltiplos sujeitos em processos dimensões estratégicas de superação dos valores
educativos (JARA, 1985; CEPIS, 1996). e da lógica do atual sistema de produção. Uma
Quando partimos da realidade em que se participação que de fato se constitua em poder,
encontra a A.F., imbricada e inserida num modo que é capaz de influenciar e mudar a realidade e
de produção que promove desigualdade, exclu- a sociedade (SÁNCHEZ VAZQUEZ, 2007; FREIRE,
são e individualismo, entende-se que é necessá- 1975).
rio transformá-la. Nesse processo utiliza-se da Para a qualificação da perspectiva de
concepção metodológica dialética, embasada transformação da realidade e dos envolvidos,
na ação dialógica dos saberes entre agriculto- inspira-nos a Pesquisa Ação Participativa (IAP)
res e técnicos para desvelar as contradições das de Fals Borda (1978). Esta base metodológica
relações de produção, onde ambos são sujeitos promove a integração de conhecimento e ação,
por meio da interação, do aprendizado, da socia- uma vez que ela admite que os envolvidos devem
lização e da ação transformadora das relações aprender a interpretar e transformar a realidade
de produção (JARA, 1985; BRANDÃO & STRECK, em estudo e propor ações para a solução dos
2012). problemas identificados por eles, tornando-
Com a finalidade de superar o desafio re- -se sujeitos das mudanças e transformações da
sultante da histórica dicotomia entre o conhe- realidade e da sociedade em que vivem. Trata-se
cimento acadêmico/científico com o conheci- de um processo dialético que busca a transforma-
mento popular/tradicional, uma ferramenta é a ção de contextos, bem como dos sujeitos que fa-
metodologia da pesquisa-participante (BRAN- zem parte deles, por meio da práxis na interação
DÃO & STRECK, 2012). Ela nos fornece avanços constante e unitária entre teoria e prática, onde a
significativos para esta perspectiva, pois permi- ação tem origem em um conhecimento, mas que
te a inserção do pesquisador como um dos su- é geradora de novos conhecimentos, que levam
jeitos no processo, o que possibilita a percepção à novas ações numa interminável espiral ascen-
de fenômenos sociais mais difíceis de serem dente.
percebidos de fora. Essa condição de inserção Enquanto inspiração metodológica, va
do pesquisador como sujeito no processo pre- le referenciar ainda o Campesino a Campe-
cisa ser consentida e assumida pelo grupo todo, sino (HOLT-GIMENEZ, 2006), que propicia
31
Figura 4. Reunião de planejamento com a participação de agricultores(as), técnicos e entidades para planejar as ações
de SPDH. Caçador/SC, 2000.
33
Figura 5. Agricultura de montanha com lavoura de estudos de brócolis em diversos estádios de desenvolvimento
rotacionado com adubos verdes espontâneos. Local de produção, adaptção, socialização e aprofundamento de conhe-
cimentos. Anitápolis/SC.
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• Manejo dos adubos verdes espontâneos, Tive uma desilusão sobre o modelo conven-
utilizando rolo-faca e roçadeira, de for- cional, pois ameaçava a nossa saúde, nossa
ma que possam melhorar o sistema com e de nossos filhos e de nossos esposos, e eu
plantas mais adaptadas às condições locais pensava que o que eu queria pra minha fa-
e sem prejudicar a produção da cultura mília também quero para as outras pessoas,
econômica, evoluindo para o plantio direto a consciência é para todos. (Vanilde Suzin
no verde (objetivando eliminar o uso dos Menin, 54 anos)
herbicidas); Sobre o movimento, pode-se evidenciar o
• Diminuição até a eliminação do uso de adu- nível de atuação dos agricultores na época rela-
bos altamente solúveis e de agrotóxicos; tado por Gerson Antonio Menin (48 anos, lavou-
• Produção de mudas e sementes em con- reiro, Caçador, SC):
dições de enfrentar o estresse abiótico e Nunca pensei em fazer baderna, mas
biótico relacionado ao estabelecimento da conscientes de que deveríamos mudar a
futura planta no campo e sujeitas a agentes situação... e nós precisava de ajuda... a ju-
patogênicos prejudiciais, passando pela as- ventude estava indo embora. Era um mo-
sociação do sistema radicular e aéreo à bio- delo escravagista.
ta promotora de saúde, assim como ativação Esta caminhada, que durou aproximada-
do sistema de defesa da planta; mente quatro anos, foi capaz de forjar novas lide-
• Diminuição dos custos de produção e am- ranças que constituíram uma vanguarda técnica
biental, aumentando a produtividade das e política na região do Alto Vale do Rio do Peixe.
culturas e das criações; Essa vanguarda foi composta pela direção do Si-
• Promoção, na paisagem rural, da associação truc e pela base organizada, como coordenação
de matas, corredores ecológicos e bosques do SPDH; pela coordenação do movimento de
às lavouras e criações no SPDH. mulheres agricultoras e pela pastoral da saúde
Para complementar a compreensão desse e da juventude rural. Esse compromisso com a
processo histórico, os autores realizaram entre- mudança, contido na pastoral da saúde e no mo-
vista com agricultores familiares envolvidos na vimento de mulheres agricultoras, é explicitado
construção do SPDH, entre fevereiro e abril de no depoimento da lavoureira Lilian Maria Coelho
2018. Em uma das entrevistas, Luiz Petrykovski Menin (39 anos, Caçador, SC):
(58 anos, Caçador, SC), liderança e lavoureiro do Quem estava no poder pensando o agri-
SPDH, analisou as condições em que se encontra- cultor? Porque só se ouvia sobre... soja,
vam os produtores de tomate: algodão... e os pequenos? Foram inquieta-
Chegou um momento em que nós não dava ções que me deixavam triste, incomodada
conta dos custos de produção... baixo preço na época. Hoje eu tenho filhos e gostaria
do atravessador com cheque sem fundo... de vê-los bem, para poder ficar aqui e se
a degradação do solo... o próprio modelo manter na agricultura e ter o campo como
vigente de fazer agricultura exigia aplica- modo de vida.
ção de agroquímico... muitos gastos com Era preciso pensar outra forma de produ-
maquinário. A crise levou ao ato chamado ção, reduzindo custos com mais qualidade de vida,
tratoraço que levou o movimento a fechar conforme o relato do lavoureiro Sérgio Suzin (53
os bancos pedindo anistia. Os agricultores anos, Caçador, SC):
já se davam por conta de que o modelo con- Os custos aumentavam e não sobrava nada,
vencional de fazer agricultura já não com- o que gerou revolta... até que um grupo se
portava mais. reuniu para discutir... o que vamos fazer?
Nos depoimentos realizados pelas mulheres Vamos viver de quê? Uma questão era não
agricultoras, referindo-se à perspectiva de condi- pagar as dívidas e a outra era encontrar
ção de vida da família, declararam: alternativas, um novo jeito de fazer agri-
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cultura, principalmente, com a produção partes envolvidas, vai além da orientação para a
de tomate. execução das ações e atividades planejadas. Per-
Portanto, esse trabalho desenvolvido no mite acompanhar a continuidade e a evolução do
período de 1994 a 2004 em Caçador se constituiu processo, realizar avaliação constante, facilitar a
num movimento político que abarcou todos os se- visualização para novos participantes dos passos
tores da sociedade regional e ameaçou as famílias já trilhados. É um processo dialético, portanto,
detentoras do poder econômico e político. Estas se contraditório, dinâmico e construído a partir e
organizaram para impedir o avanço e promover o sobre a prática dos participantes, fortalecendo as
desmonte de instituições populares. Neste campo relações de confiança.
de luta, o movimento apresentou suas contradições
Para colaborar com a elaboração do contra-
internas e gerou conflitos que desestabilizaram a
to que inclui a construção dos objetivos coletivos
continuidade do trabalho.
e individuais, utiliza-se a imagem da vaquinha
Em que pese esse contexto, o trabalho do
(Figura 6), facilitando a prática do planejamento
SPDH se reestabeleceu na região de Ituporanga a
de trabalho na forma de contrato, apresentando
partir de 2004, na Estação Experimental da Epagri
os compromissos firmados ao longo da linha do
em Ituporanga, Santa Catarina, e na comunidade de
Ribeirão Klauberg. Nessa comunidade foi elabora- tempo. Ela é um recurso pedagógico que desafia
do o contrato de trabalho com vinte e oito famí- os participantes a uma refle xão sobre o modelo vi-
lias, que instalaram lavouras de estudo cultivando gente, com objetivo de superá-lo pelos princípios
fumo, milho, tomate, cebola, melancia e criação de e perspectivas propostos pelo SPDH.
gado de corte em pastagem. Parte das famílias op- É possível fazer várias interpretações a
tou por utilizar o sistema em toda a propriedade, partir da imagem da vaquinha, dentre elas, re-
transformando-a em unidade familiar de estudo. fletir se o sistema vigente é uma cooperação ou
Como consequência, os conjuntos das unidades fa- exploração e a quem interessa. A reflexão evi-
miliares compuseram a comunidade de estudo que dencia o desafio de retirar gradativamente as te-
passa a exercer a função de uma escola do SPDH, ao teiras, melhorando as condições de promoção de
receber mais de seis mil visitantes de outros locais, saúde da planta e a capacidade de resistência e
organizados em viagens de estudo no período de resiliência do sistema. Na prática, é possível pro-
2004 a 2009.
4. Contratuando o SPDH
duzir sem lavrar o solo? Deixar de utilizar herbi- A importância do contrato é analisada pelo
cida? É possível retirar outra teteira e diminuir lavoureiro Luiz Petrykovski (Caçador, SC) durante
gradativamente o adubo altamente solúvel e o a entrevista:
agrotóxico, manter e até aumentar a produtivi- Neste meio, a decisão de fazer o movimento
dade? A imagem da vaquinha expressa a neces- o que segurou foi que havia um acordo cha-
sidade de libertação dos agricultores familiares mado “contrato” que era o nosso compro-
do contexto de submissão ao sistema que domi- misso... tinha um debate sobre cooperação
na e explora e, por outro lado, instiga à busca de que criaria um sujeito coletivo.
novas possibilidades por meio da transição com Também reafirmado pela lavoureira Zita
bases ecológicas. (54 anos, Ribeirão Klauberg/Ituporanga, SC):
É no contrato que ficam definidas as for- O contrato gera o compromisso de procu-
mas de organização, a metodologia, as ações de rar fazer sempre o melhor, é a maneira de
mobilização e a articulação política. Numa linha refletir através da troca de ideias no grupo,
de tempo, ficam registradas as atividades pro- porque seria mais cômodo fazer o conven-
gramadas, como as discussões, cursos, nomes cional. Tem que querer, o nosso sentimento
dos lavoureiros, instalações das lavouras de é de algo que sempre está em construção.
estudos, viagens de estudo, reuniões técnicas, Para dar conta da demanda formalizada no
contrato de trabalho é necessário que o agente de
periodicidade de visita do técnico aos lavourei-
ATER também seja um pesquisador fazendo ex-
ros, encontro de lavoureiros nas lavouras de es-
perimentos junto às LE e, quando necessário, nas
tudo (lavoureiro visita lavoureiro), encontro de
Estações Experimentais. Desta forma, a pesquisa
agricultores nas lavouras de estudo (agricultor
tradicionalmente realizada nas Estações Experi-
visita lavoureiro) e encontro para avaliação e
mentais desempenha o papel de ferramenta com-
socialização dos resultados, com renovação ou
plementar à outra forma de pesquisa fortemente
não do contrato para mais um período de traba- imbricada na realidade na qual lavoureiros, exten-
lho (Figura 7). sionistas, professores, pesquisadores e estudan-
Figura 7. Contrato simbolizado em uma linha do tempo, contendo as atividades programadas para um ano agrícola,
por agentes de ATER e agricultores, na cultura do tomate. Caçador/SC, 2000.
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tes, estudam e interagem nas áreas experimentais Outros recursos utilizados para mobili-
e LE. É fundamental que a estrutura das Estações zação, conscientização, organização e articula-
Experimentais do Estado, como equipamentos, la- ção dos envolvidos são jornais, entrevistas nos
boratórios, funcionários de campo e área experi- meios de comunicação e participação em pales-
mental, bem como a estrutura das universidades tras, congressos, reuniões, encontros (Figura 9),
também estejam acessíveis e a serviço desse agen- visitas e viagens de estudo.
te de ATER e, consequentemente, dos lavoureiros.
Esses agentes, por estarem
diretamente conectados à
realidade dos sistemas de
produção, poderão atender
as demandas de pesquisa
produzidas nas LE.
Cabe ressaltar que
faz parte da concepção me-
todológica a elaboração de
boletins didáticos escritos
coletivamente por técnicos
e lavoureiros como forma
de socialização de seus co-
nhecimentos e experiências.
O primeiro publicado foi “O
cultivo do tomate no Alto
Vale do Rio do Peixe em 101
respostas dos lavoureiros”,
Figura 8. Modelo de convite distribuído para encontro das famílias da comunidade
seguido pelo do Chuchu, de Rio Fortuna. Angelina, 2012.
Moranga, Brássicas, Tomate,
Guia Prático do SPDH, Ce-
bola e Mandioquinha-sal-
sa. Também faz parte da
concepção o convite para
as atividades que envolvem
técnicos, agricultores e la-
voureiros. Como mais um
exemplo de prática, ele é
elaborado para ser forma-
tivo e informativo, promo-
vendo discussões sobre o
tema na família e na comu-
nidade, anterior à atividade.
É elaborado de forma lúdi-
ca, utilizando figuras, falas,
conversas, prosas e poesias
relacionadas ao tema (Fi-
gura 8) e entregue pesso-
Figura 9. Momento de reflexão sobre os trabalhos em SPDH, utilizando-se de car-
almente por lavoureiros da tazes numa linha do tempo de quatro anos, realizado na comunidade do Ribeirão
comunidade. Klauberg. Ituporanga/SC, 2008.
38
É neste contexto que o SPDH se desenvolve dades na concepção tática e estratégica da tran-
e se amplia, dando ênfase à produção de tecnolo- sição, assim como na produção de tecnologias
gias para a transição da agricultura familiar de- que promovam a saúde da planta, com aumento
pendente para outro modelo com bases ecológi- da produtividade e diminuição do custo de pro-
cas, de maior autonomia. Porém, além do desafio dução. Seu potencial é envolver toda agricultura
da sua organização como movimento estratégico familiar neste movimento de produzir alimentos
que busca a afirmação da agricultura familiar na de verdade para toda a sociedade.
produção de alimentos de verdade numa rela- Com esta identidade e com a possibilidade
ção positiva com o meio ambiente, está o desa- de transformar-se em movimento político, tem
fio principal de se firmar como um tema gerador como desafio articular e somar com movimen-
que contribua para a construção coletiva de uma tos estratégicos como o plano camponês (Via
sociedade preponderantemente solidária, coo- Campesina), a reforma agrária popular (Movi-
perativa e altruísta nas relações entre todos os mento dos Trabalhadores Sem Terra) e a plata-
seus segmentos. forma da comida saudável (Fórum Regional das
Neste sentido, o SPDH precisa dialogar e Organizações e Movimentos Sociais do Campo e
se aproximar de outros movimentos sociais do da Cidade), Movimento das Mulheres Campone-
campo e da cidade, por meio de suas particulari- sas, dentre outros afins.
Bibliografia
1. Introdução
agências bancárias, manifestações nas rodovias, tos desafios e questões subjacentes às articula-
assembleias massivas e articulações políticas, ções a serem superadas na educação popular:
em um processo social crescente de avanço no Como gerar novas formas de participação?
sentimento de pertença e superação coletiva dos Como construir espaços democráticos?
medos e limites, na afirmação crescente de uma Diante do técnico, como fica a iniciativa po-
identidade de projeto. Esse movimento surge em pular? Qual a relação entre governo e parti-
um período histórico de enfraquecimento grada- do? Partido e Movimento? Bases e direção?
tivo dos movimentos populares e na diminuição Como recriar as bases de relacionamentos
da sua capacidade de mobilização. entre diferentes companheiros? Como revi-
ver valores como o companheirismo, a so-
lidariedade, a aliança, a confiança? (CEPIS-
-CEPAGRI, 1996, p. 9)
2.2. Início da crise do movimento popular Realizaram-se, na seqüência, diversas Jor-
A unidade e capacidade de mobilização nadas de Educação Popular, junto às experiên-
do movimento popular no Brasil começa a per- cias práticas para avaliação, aprofundamento
der força a partir de 1989. Da mesma forma vai e ressistematização a partir das metodologias
perdendo força e saindo da pauta a proposta de exercidas nessas práticas (por exemplo, no or-
um Projeto Estratégico transformador do modo çamento participativo em Porto Alegre). Uma
de produção em vigor. Diante desse contexto, no destas jornadas se deu junto à experiência do
início da década de 1990, questionava-se sobre próprio Cepagri à luz da educação popular na
o papel da Educação Popular e se a mesma ain- agroecologia.
da tinha sentido, pois era evidente o retrocesso Dado o refluxo dos Movimentos Popu-
do movimento popular. lares e o crescente imobilismo social no início
Na busca de respostas ao momento de da década de 1990, era necessário “provar que
crise, afirma-se uma articulação entre o Cepa- o sonho de transformação social não acabara”,
gri (Centro de Assessoria e Apoio aos Traba- frente à conjuntura de retrocessos político-
lhadores Rurais) e o Cepis (Centro de Educação -ideológicos em nível nacional e internacional.
Popular do Instituto Sedes Sapientiae), numa Constatava-se que os processos de forma-
aproximação com outras entidades de Edu- ção de lideranças (Cursos, seminários, plenárias
cação Popular da América Latina, na busca de e outros) eram insuficientes e inefetivos; poucos
qualificação estratégica e metodológica. Reali- novos ativistas se formavam; algumas lideranças
zaram-se diversos encontros de estudos, sen- antigas iam buscar, agora com mais condições,
do que, a partir de meados da década de 1990, seu próprio projeto de vida com cargos e bons
implementam-se algumas iniciativas práticas e salários em espaços institucionais; o trabalho de
esforços de sistematizações propositivas. base não avançava e a organização popular se en-
Dentre os momentos marcantes desse pe- fraquecia. Era necessário retomar o trabalho de
ríodo, destaca-se o Encontro Nacional de Edu- base, mas teria que ser de outra forma.
cadores Populares, realizado no Instituto Caja- Tinha que recuperar a paixão e o “tesão”,
mar/SP, em novembro de 1994, que tinha como re-animar (devolver o ânimo, a alma),
objetivo reunir educadores populares na pers- voltar a ter esperança, re-acender a cria-
pectiva de manter o “horizonte da transforma- ção de novos valores, de novas práticas,
ção social” na sua atuação. Dentre as principais de novos homens e das novas mulheres,
conclusões do debate evidencia-se a necessida- pra nova sociedade que estamos a gestar.
de de articular “os objetivos gerais de constru- Tinha que sair dos gabinetes, dos sindica-
ção de uma nova sociedade e as necessidades tos, das quatro paredes, voltar a ganhar
imediatas das pessoas”. Houve alguns avanços as ruas, invadir campos e construções,
propositivos, mas este encontro levantou mui- acender novos archotes, re-construir a
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“revolução”. E acima de tudo, conhecer a prática, ação e reflexão, em processos onde o téc-
realidade, se por em sintonia com os no- nico e o político são inseparáveis como processo
vos tempos, incluir os excluídos em nosso permanente de construção da consciência crítica
projeto de libertação e multiplicar, multi- e ampliação da visão de mundo de cada pessoa
plicar com qualidade, mas também com envolvida no exercício da participação como for-
quantidade e com velocidade. Pois custam ma de ser coletivamente. Uma participação que
vidas, muitas vidas, quanto mais tarda o de fato se constitua em poder, que é capaz de in-
amanhã. (CEPIS-CEPAGRI, 1996, p. 10) fluenciar e mudar a realidade e a sociedade. A or-
Era necessário um saber de qualidade, ganizAÇÃO das pessoas no local onde elas vivem,
científico, mas, também, um “saber popular”. nos desafios que enfrentam no dia a dia, e na luta
Retomar e multiplicar a capacidade para con- mais ampla na sociedade. A formação qualifica o
trapor o discurso da qualidade total e do capi- protagonismo e a organização amplia a força da
tal social, da lógica tecnicista de um mundo da ação por meio do sujeito social coletivo. A forma-
individualização, da disputa e do consumismo. ção e organização estão no centro de processos
Tirar o povo da “domesticação” e alienação, e sociais da luta da classe trabalhadora, desencade-
acender o protagonismo popular, pois a força re- ada a partir de desafios da realidade concreta, nas
side no povo. Resgatar a condição de “ser huma- conquistas imediatas, mas também no exercício
no” diante da crescente “coisificação” e da condi- da transformação da sociedade e construção do
ção de “uso” a que são submetidas. Reconhecer poder popular. Segundo Duarte (2014) no bojo
e respeitar a subjetividade humana, retomar a deste projeto estratégico que a formação para o
autoestima e resgatar a cidadania. trabalho, em qualquer atividade produtiva neces-
Nasce daí uma proposta de Formação Básica sária para o bem estar da sociedade, encontra o
Multiplicadora, como uma experiência metodoló- seu sentido político e contribui para a dignidade
gica implementada em diversos espaços e realida- coletiva”. Por último, a multiplicAÇÃO e a articulA-
des: junto ao MST (Movimento dos Trabalhadores ÇÃO se fazem necessárias para afirmação e susten-
sem Terra) de Sorocaba/SP (1993), os metalúrgi- tação da massificação do “novo” em permanente
cos do ABC (1993); Escola Sul da CUT (1994); APP construção, afirmando novos sujeitos sociais para
Sindicato dos Professores/PR (1994). Na parceria construção de processos sociais amplos.
Cepagri e Cepis, ainda em 1994, a proposta foi Esse esforço de análise crítica e de
lapidada e sistematizada em um caderno como reelaboração metodológica e estratégica
“Formação Básica Multiplicadora”, a partir de ini- contribuíram em alguns aspectos na constru-
ciativas junto a assentamentos da reforma agrária ção estratégica do SPDH, mas, ao mesmo tempo,
em Lebon Régis, Santa Catarina, comunidades ru- contribuíram para a formação de “quadros” e
rais e movimentos populares. construção de um movimento político em proces-
A Formação Básica Multiplicadora (FBM) so social maior na região. Esse movimento teve
se apresentava como “uma tentativa de aliar impactos mais fortes em Caçador, onde aproxi-
a capacitação ─ a arte de tornar-se capaz ─ e a mou mais de 50% da população em torno de uma
mística que provoca a indignação dos oprimidos, proposta de Projeto Popular, no qual se inseriu o
re-acende o ânimo do povo, qualifica o trabalho SPDH como expressão do campo, transformando-
de base e incentiva a ligação das frentes de luta e -se em poder que ameaçava a hegemonia conser-
de convivência”. Sustentava-se que qualquer ini- vadora do neo coronelismo regional. Ameaçava,
ciativa coletiva, qualquer AÇÃO, seja em torno de sobretudo, a hegemonia do modelo agroquímico/
questões ainda mais específicas ou em questões industrial protagonizado com muito vigor, exerci-
mais amplas para se tornar transformadora, de- do regionalmente pelas lojas agropecuárias, asses-
veria incorporar quatro dimensões: formAÇÃO ─ sorado pela pesquisa e extensão estatal, explorado
organizAÇÃO ─ mobilizAÇÃO ─ multiplicAÇÃO. pelo mercado de hortifrutigranjeiros e cada vez
A formAÇÃO (processo unitário de interação mais exercido por grandes produtores rurais por
entre formação e ação), ou seja, interação teoria e meio de “meeiros”. Esses “enfrentamentos” e a
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força popular que se construíam foram a raiz das (no formato do sistema brasileiro de Associa-
reações conservadoras para a desarticulação des- ções de Crédito e Assistência Rural ─ ABCAR).
se movimento político antes que se consolidasse Em Santa Catarina foram criadas posteriormen-
a condição de autonomia do processo de organi- te entidades como a ACARESC (1957), a ACAR-
zação popular. PESC (1968) o Instituto CEPA (1975), a CIDASC
(1979) e o IASC (1981), todas entidades públi-
cas voltadas para o fomento da modernização
produtiva do meio rural catarinense. Em para-
2.3. A presença de instituições do Estado da lelo foi criada uma estrutura de pesquisa volta-
agricultura em Santa Catarina, avanços e da à geração de tecnologias: Sistema EMBRAPA,
contradições nacional e EMPASC1 (1975).
Contraditoriamente, no interior destas
Outro fator histórico objetivo que contri-
estruturas públicas estatais, há grupos de ex-
buiu enormemente para a construção da meto-
tensionistas e alguns pesquisadores articulados
dologia do SPDH foi a existência de uma série
aos movimentos e organizações dos trabalha-
de instituições voltadas à agricultura, criadas e
dores, que no momento da crise da tomaticul-
mantidas pelo Estado de Santa Catarina, rema-
tura convencional, nos anos 1990, participaram
nescentes do modelo que havia implementado a
do processo político-organizativo desenvolvido
revolução conservadora do processo produtivo,
na região de Caçador.
denominada de Revolução Verde.
Esse compromisso abriu espaço no in-
Santa Catarina foi um dos estados bra-
terior da Epagri para discutir, dialogar e ex-
sileiros onde se implantou de forma comple-
perimentar a construção do SPDH, sendo que,
ta o modelo sugerido pelo governo dos Esta-
dos Unidos da América (USA) e pela Fundação posteriormente, esse salto metodológico em-
Rockefeller nos idos dos anos 1950-60. Para preendido fosse assumido institucionalmente
revolucionar o modelo produtivo e tecnológico como uma estratégia técnico-científica própria
da agricultura brasileira, sem recorrer à refor- para enfrentamento aos limites do modelo pro-
ma agrária, essas instituições, aliadas ao bloco dutivo da revolução verde, porém, sem avançar
burguês-militar-latifundiário no poder no país, na crítica política ao mesmo modelo.
sugeriram a implementação de uma série de
instituições voltadas à realização de uma re-
forma modernizadora, porém, de matiz conser-
vador, ou seja, que não afetaria as relações de 2.4. A trajetória da agroecologia
poder no meio rural brasileiro. O domínio histó-
rico exercido pelo latifúndio no país, não conse- O surgimento de questionamentos ao
guia assegurar, contudo, respostas às demandas modelo tecnológico da Revolução Verde já come-
de crescimento da produção agrícola em vistas çam a surgir nos anos 1960, inicialmente com
de sustentar o fornecimento de alimentação, vozes isoladas se manifestando no cenário inter-
mão de obra e matérias-primas baratas para as nacional (CARSON, 1962). No Brasil um movi-
indústrias, ao passo que também gerava poucos mento de resistência começa a se fortalecer ao fi-
excedentes exportáveis, necessários à alavanca- nal dos anos 1970 com a campanha pela criação
gem de recursos em moeda forte, para fomentar da Lei dos Agrotóxicos e no que se irá constituir
a industrialização do país. como o movimento pela Agricultura Alternativa,
Foram implantadas, a partir de 1956, ini- que nos anos 1980 realiza quatro encontros na-
cialmente em forma de parcerias público-priva- cionais multitudinários (EBAAS), gerando uma
das, organizações como o Escritório Técnico de força social e tecnológica importante, ainda que
Agricultura (ETA) que juntavam crédito rural embrionária, pela agroecologia (LUZZI, 2008).
subsidiado com assistência técnica, educativa e 1 Em 1991 é realizada a fusão dos vários órgãos da Secretaria de
social para as famílias de pequenos agricultores Agricultura, criando-se a EPAGRI. A respeito da fusão recomenda-
-se a leitura de SANTOS (2001).
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Os anos 1990 e início de 2000 se caracteri- um movimento em si, perpassa o movimento po-
zam pela consolidação do movimento Agroecoló- pular e, assim, fragiliza-se na mesma medida da
gico, tendo nisso influência das obras de Miguel fragilização deste movimento, ou das lutas com
Altieri e Stephen Gliessmann, que contribuíram perspectiva de transformação societária.
para a difusão de uma perspectiva científica de Mas, para um contexto atual que nos coloca
enfrentamento ao modelo cartesiano da Revolu- diante do desafio da resistência e, sobretudo, re-
ção Verde, ainda dominante nas escolas de Agro- visão/re-elaboração estratégica adequada para o
nomia. No Brasil essa tendência ganha força com enfrentamento a este novo ciclo do capitalismo
a criação de Redes Regionais (Ecovida e outras), mundial, ousamos fazer algumas considerações
entidades nacionais como a Articulação Nacional tentando identificar contradições, limites e de-
de Agroecologia (ANA) com perfil de movimento safios presentes com mais ou menos intensidade
social e a Associação Brasileira de Agroecologia nas diferentes iniciativas de transição agroecoló-
(ABA) de caráter mais científico e a assunção, gica.
pelos governos progressistas de políticas de estí- Um dos aspectos mais recentes e relevantes
mulo à agroecologia ─ ainda que absolutamente que emerge com a institucionalização da agroe-
marginais frente ao volume de recursos e priori- cologia é o seu crescente enquadramento no “pa-
dade dadas ao agronegócio capitalista. radigma do capitalismo agrário’’, num ajuste con-
A agroecologia no Brasil avançou muito juntural às tensões do mercado, no exercício da
desde o início do Movimento pela Agricultura “certificação orgânica” e até mesmo na execução
Alternativa da década de 1980, tanto nas inicia- de políticas públicas quando descoladas da forma-
tivas de produção e organização, na construção ção e organização popular. É o que se convenciona
do conhecimento envolvendo crescentemente resumir como o embate orgânico x agroecológico.
a academia, e também ganhou espaço nas polí- Evidenciam-se tensões e contradições entre o
ticas públicas. Contudo, questiona-se, ainda se- “econegócio” (selos verdes, nicho de mercado,
gue avançando? Há uma massificação crescente sobrepreço...), a perspectiva científica (campo
das experiências? As metodologias e estratégias de confluência de conhecimentos científicos) e a
estão suficientemente adequadas ao momento? condição de movimento popular transformador.
Quais são os limites e as contradições que entra- A superação do paradigma do capitalismo agrário
vam seu desenvolvimento? depende de transformações estruturais (meios de
As discussões e construções metodológi- produção, regras, normas etc.) pois meros ajus-
cas e estratégicas para transição agroecológica tes conjunturais e compensações não criam con-
somam inúmeras experiências e elaborações em dições capazes de transformar a realidade com a
grande diversidade de situações. É difícil fazer profundidade e radicalidade exigidas.
uma análise crítica que alcance essa amplitude Outro aspecto refere-se à dificuldade
de condições. Vale considerar também que mi- de massificação, resumindo-se a grupos pe-
lhares de famílias camponesas ainda praticam quenos, que muitas vezes aparecem como um
uma agricultura independente e integrada ao “corpo estranho” nas comunidades, visto o iso-
meio ambiente, que se enquadram numa condi- lamento a que são submetidos voluntária ou
ção tradicional, bastante próxima de uma possi- involuntariamente, pela diferença de condições
bilidade agroecológica, como base da sua “condi- e desafios que vão se construindo, ou até mesmo
ção camponesa” (PLOEG, 2008). por questões políticas que envolvem os ativistas
Deve-se considerar a correlação de for- do movimento. Há muito tempo se constroem
ças desfavorável nos territórios, na disputa de unidades de referência, mas parece faltar algo
projetos e até mesmo nas condições materiais nessa estratégia, pois o efeito multiplicador é
concretas que se consegue construir, tanto no limitado. A idéia da substituição de insumos in-
desenvolvimento das forças produtivas como siste em se sobrepor à condição de novo enfoque
nas condições de acesso a mercados. E, ainda, o científico sistêmico, holístico e da necessária
movimento agroecológico apesar de ser também quebra paradigmática.
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Apesar da conclusão de que avançamos tes tempos, pois as pessoas foram submetidas a
muito no campo das ideias, não temos conse- diversos processos históricos e são articuladas
guido avançar suficientemente na materialida- ou estão relacionadas a sujeitos sociais distin-
de necessária para a transição agroecológica tos, muitas vezes com posições contraditórias
no conjunto da agricultura familiar. Evidencia- e até mesmo em campos opostos na disputa
-se a redução e fragilização programática dos ideológica (ainda que não necessariamente na
processos de formação política, prevalecendo a estrutura de classes sociais).
formação técnica/tecnológica, que é fundamen- Estas condições se apresentavam no
tal, mas, isolada, não consegue dar conta dos início do SPDH no final da década de 1990. O
elementos da totalidade. Pois, a formação téc- desafio do contexto naquele momento era mui-
nica leva ao saber fazer, desenvolve habilidades to maior do que aquilo que havíamos acumula-
e competências. É um conhecimento necessário do historicamente, tanto nas tecnologias como
para a reprodução material da existência mas, nas metodologias. Era preciso reinventar o jeito
por si, não potencializa o pensamento analítico de fazer. Por isso, o princípio da práxis norteou
sobre as contradições da realidade. A formação todo o processo de construção do SPDH. O que
tecnológica possibilita aprender fazer a pro- emergiu, inspirando-se na educação popular, foi
dução material e conhecer os princípios que uma práxis coletiva, consensuada nas unidades
orientam a criação das técnicas num determi- e comunidades de estudo, em que os(as) agri-
nado tempo e sociedade. Faz uma abordagem cultores(as) tinham lugar central na tomada de
inicial das implicações das técnicas na socieda- decisões sobre o que experimentar, visto inclu-
de de classes: relações econômicas, sociais e po- sive que suas lavouras (e renda), dependiam do
líticas, ajuda a entender os modelos. sucesso dessas modificações graduais implan-
É a formacão política que prepara a clas- tadas nos processos produtivos.
se trabalhadora para a disputa e o exercício do A confiança no método potencializou o
poder. Só existe em processos de luta popular e amplo envolvimento das famílias agricultoras
de classe. Opta pelo polo da luta de classe que que, impulsionadas pelo contexto, sentiam-
se dispõe a transformar, pela raiz, a estrutura da -se parte neste processo social que se iniciava,
sociedade capitalista. É preciso conhecer como mesmo que em diferentes níveis de engajamen-
funciona a sociedade, estrutura e conjuntura, to, da vanguarda a condições mais passivas, mas
como se organiza, seus fundamentos sociológi- em transformação num processo permanente e
cos e filosóficos, a economia política, conhecer evolutivo para a situação de “sujeito”, na afirma-
os modos de produção e a evolução das relações ção crescente do “sujeito coletivo”.
sociais de produção.
Outro aspecto importante a considerar
nos processos de transição agroecológica é a 3. O exercício da práxis na construção do
diversidade de compreensões políticas, de con- SPDH: aspectos teórico-metodológicos na
dições estruturais e financeiras, e até mesmo transição agroecológica
diversidade de aspectos culturais existentes no
campo da agricultura familiar/camponesa que Naquele momento histórico identificava-
desafiam e impõem diferentes tempos e condi- -se Caçador como um “foco luminoso”, um pon-
ções em um possível processo mais massivo de to avançado do modelo produtivo e tecnológico
transição. Portanto, a proposta que acentua as capitalista de tomaticultura e, historicamente,
dicotomias (ou se é agroecológico ou é conven- se constituiu como polo do conservadorismo re-
cional) e as definições temporais previamente gional, dominado por um neocoronelismo, com
estabelecidas não se aplicam de forma impera- trajetória de violência e dominação econômica
tiva. Até mesmo a necessária ruptura político- que remontam à Guerra do Contestado. Eram
-ideológica se dá em diferentes níveis e diferen- evidentes as relações de medo e subserviência.
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Contrariamente a essa situação social, o modelo Haviam alguns acúmulos, mas pareciam
produtivo adotado no cultivo de tomates den- insuficientes e, ainda, como exercê-los nesse
tro do modelo agroquímico destacava-se en- contexto desafiador que se apresentava? Estava-
tre as melhores produtividades do país. Foi -se sempre perguntando, com o cuidado de não
por muito tempo considerado um caso de su- se afirmar nada que não tivesse experimentado,
cesso do modelo produtivista convencional do e sempre analisado coletivamente. A ideia era a
agronegócio. de ir formando as pessoas no processo, confor-
Diante da grave crise resultante desse mo- me a metodologia da educação popular. Não se
delo, na segunda metade dos anos 1980, além da seguia regras, perguntava-se muito. Faziam-se
luta pela resistência, sobrevivência e continuida- acordos (contratos) políticos, no sentido de que
de da agricultura familiar, era consenso a neces- não eram pensados para ter validade legal mas,
sidade de se transformar o modelo. Para pensar sim, algo como um acordo entre as partes, que
numa saída era possível contar com os acúmu- deveria ser honrado por companheiros e compa-
los históricos da agroecologia, mas era preciso nheiras de caminhada (Figura 1).
ir muito além. Assim, a pesquisa se antecipa em Os princípios eram dados pela educação
alguns aspectos técnico-científicos, envolven- popular, pois precisava ser de um outro jeito,
do a identificação da taxa diária de absorção de resolver os problemas concretos para superar a
nutrientes (TDA), já buscando a saúde da plan- crise, mas também ir contribuindo para um pro-
ta, com trabalhos utilizando a calda bordalesa e jeto maior. Tratava-se de um projeto materializa-
plantas de cobertura do solo. do em condições ou contexto específico, mas que
Porém, a discussão não se limitava à di- precisava se estender (prolongar) e servir para
mensão técnica, pois estava na pauta a sobrevi- toda a sociedade. Era preciso afirmar uma iden-
vência da agricultura familiar, da produção de tidade de projeto, definir sua posição e forma
alimentos saudáveis e a transformação das rela- de relação na sociedade, fortalecer o poder po-
ções capitalistas de dominação e exploração. Es- pular buscando a transformação da sociedade e
tava na pauta também a discussão da saúde das assumir, na prática, um projeto de vida diferente
famílias agricultoras e do meio ambiente. Muitos (Figura 1).
questionamentos se faziam
presentes:
• Como envolver todas
as famílias num pro-
cesso de transição?
• Como não as frustrar
com resultados pou-
co satisfatórios?
• Como dar conta da
amplitude de dimen-
sões colocadas nesta
pauta?
• Como desenvolver as
forças produtivas e
transformar as rela-
ções sociais no pro-
cesso produtivo?
• Como organizar esse
movimento e trans-
formá-lo em proces- Figura 1. As Lavouras de Estudo, a organização e articulação do Movimento do
so social popular? SPDH.
49
agroecológica, ou com os que não podiam ser Isso se deu num processo gradativo, de
vistos junto com um movimento assumidamente diálogo e experimentação, respeitando os me-
político de contestação social, como foi o proces- dos e cautelas dos agricultores que apostavam
so em sua primeira fase. suas lavouras e suas vidas nas experimentações
Desde o início, ainda em Caçador, buscou- realizadas em condições reais de produção a
-se construir coletivamente o desvelamento do campo. A cumplicidade, os acordos politicamen-
movimento do real, tendo como foco o processo te construídos, o respeito dos técnicos à decisão
de produção e circulação econômica do tomate, coletiva dos agricultores, seja quanto ao ritmo
as tecnologias empregadas e os seus fundamen- dos avanços, seja quanto ao que se deveria ex-
tos científicos. Portanto, se trabalhou também perimentar primeiro, nos momentos em que os
no desvelamento das Relações Sociais de Pro- mesmos se descobriam pesquisadores, com ob-
dução e, portanto, de exploração e dominação servações precisas e até mesmo identificando as-
na sociedade, expressas na subalternidade das pectos que os técnicos demorariam muito tempo
organizações camponesas e dos camponeses para descobrir. Essa cumplicidade, essa identida-
mesmos, frente aos bancos, às empresas agro- de de um projeto coletivo enraizou-se e trouxe
químicas, ao poder do capital, materializado em frutos, representados pela redução nos custos
figuras como os gerentes de banco ou os comer- de produção, exercendo uma interação positiva
ciantes atravessadores. no meio ambiente e aumentando a qualidade
Ao mesmo tempo que promoveu transfor- biológica dos alimentos produzidos.
mações nas forças produtivas, o SPDH contribuiu Também ocorreu um processo interes-
para a ruptura e a superação paradigmática com sante de diálogo fertilizador, propiciado pela
relação a vários aspectos científicos da transição metodologia da práxis, em que pesquisas car-
agroecológica, seja na compreensão da impor- tesianas também foram integradas ao processo
tância em se focar na saúde das plantas e nas (em laboratórios ou em campos experimentais
interações planta-solo-biocenose, que na prática das unidades de pesquisa), contribuindo para a
resultaram em maiores produtividades, com di- compreensão de aspectos específicos do sistema
minuição drástica e eliminação crescente do uso em transição. Obviamente, o que unificava esses
de agrotóxicos. A busca pela saúde de plantas e elementos era a práxis mediada das lavouras de
a compreensão científica da necessidade nutri- estudo, as visitas programadas dos técnicos e
cional ao longo do ciclo vegetativo, levaram ao pesquisadores, os momentos de debate e apro-
questionamento a respeito do uso de adubos sin- fundamento sobre temas muitas vezes de fron-
téticos prontamente solúveis, até então conside- teira, onde nunca se havia trilhado ainda.
rados restritos e até mesmo não recomendados Compreendeu-se que um dos equívo-
no cultivo agroecológico. cos centrais do modelo convencional é a super
Estabeleceu-se um novo entendimento da adubação das lavouras no início do ciclo pro-
relação dos minerais com a planta e desafiaram- dutivo. Esse excesso resulta em desperdício
-se algumas compreensões e normas da produ- de nutrientes no solo mas, também, e princi-
ção orgânica, que se tem, ainda hoje, como verda- palmente, na criação de plantas doentes que,
des absolutas. O exemplo central nesse aspecto necessariamente, precisarão de pulverizações
diz respeito ao uso de adubos sintéticos pronta- químicas para sobreviver e produzir. Plantas que
mente solúveis. O estudo dos processos de pro- não se alimentem em demasia, mas também não
dução levou à descoberta da Taxa de absorção ficam com fome, nos momentos decisivos de seu
diária de nutrientes minerais e sua disponibiliza- desenvolvimento, são mais saudáveis. Esta é uma
ção em doses precisas, frente à necessidade real condição muito difícil de se perceber, nesse nível
das plantas, sugerindo não só uma perda mínima de equilíbrio e detalhe, nos cultivos agroecoló-
no ambiente mas, sobretudo, estabelecendo um gicos, pois a solubilização dos compostos orgâ-
equilíbrio nutricional adequado ao momento fi- nicos é muito dinâmica e difícil de ser controla-
siológico da planta. da, podendo facilmente proporcionar perdas e
51
excessos mas, também, carências cruciais para práxis houve aprofundamento nas relações den-
o desenvolvimento saudável da planta. Aqui o tro e entre famílias, nas categorias de cooperação,
problema já não é mais a solubilidade dos mine- solidariedade e confiança em oposição ao indivi-
rais. Também houve avanços na compreensão da dualismo e competição. Porém, os avanços foram
interação entre crescimento, absorção mineral menores em relação à autonomia e empodera-
e fatores abióticos e os sinais contidos no corpo mento, ou seja, houve um enxugamento da politi-
da planta, possibilitando que os ajustes finos na zação implícita no desenvolvimento metodológi-
adubação promovam sua saúde. No diálogo so- co do SPDH. Mesmo com esses avanços menores
bre os resultados obtidos e os fundamentos para permitidos pelas condições históricas e culturais
isso, muitos cientistas da área foram surpreendi- das famílias do Ribeirão Klauberg e sua situação
dos pela nova abordagem representada pelo sis- financeira estável, podem-se situá-los no circui-
tema e pelo seu potencial científico e tecnológico. to da construção da hegemonia como classe ao
Com o SPDH, portanto, avançou-se além de vizualisar e superar, em parte, o entendimento
certos limites atuais da transição agroecológica. sobre a dominação e exploração, possibilitado
Adotou-se inúmeras práticas inovadoras, mas se pelos aspectos técnico-científicos do método.
efetivou também saltos no domínio científico do Há de se considerar que esse recuo, ao dar
porquê vários elementos funcionam ou não na ênfase menor nas relações sociais de produção,
produção agroecológica. de espoliação e exploração, de cooperação e
competição, de organização em vista do merca-
do, da compreensão das contradições históricas,
com que se defrontavam agricultores e técnicos,
5. O SPDH como tecnologia social também limitou a construção de estratégias po-
Ainda na primeira parte deste relato, cons- lítico-organizativas que apontassem para que os
truiu-se a ideia de que o SPDH possuiu desde o agricultores envolvidos pudessem se apropriar
início um conteúdo fortemente compromissado de forma mais ampla dos ganhos de produtivida-
com a classe dos camponeses especializados. As- de e de qualidade obtidos no processo ─ ou, dito
sumiu-se, no processo, um compromisso explí- de outro modo, do valor gerado no processo de
cito pela superação dos limites tecnológicos em trabalho.
conjunto com um processo de empoderamento Esses elementos todos remetem à discus-
das pessoas, numa jornada pela autonomia e são conceitual no campo das tecnologias sociais,
emancipação como seres humanos plenos. Na uma vez que toda tecnologia:
sequência do processo, houve uma ruptura po- "implica em si mesma, a partir das con-
lítica impactando na continuidade da construção dições em que é gerada, em um con-
do SPDH regional, motivada pelas interações que dicionamento, ou ao menos em certas
o processo havia provocado com as diversas di- restrições de ordem política. Toda tec-
mensões do poder local em Caçador. nologia incorpora a política, por pres-
Essa experiência repressiva, vivenciada no supor escolhas em sua concepção e
processo de construção do método, conduziu a desenvolvimento, consequentemente os
outra fase de sua evolução, que ocorreu no Alto resultados dessas escolhas afetam de ma-
Vale do Rio Itajaí e tem seu centro na comunida- neira diferente, sujeitos sociais distintos."
de de Ribeirão Klauberg, em Ituporanga, onde os (CHRISTOFFOLI, 2019)
agricultores familiares possuiam condições cul- O movimento da tecnologia social consi-
turais, históricas e financeiras distintas dos de dera que as tecnologias “demarcam posições e
Caçador. Ao longo de seis anos discutem e prati- condutas dos atores; condicionam estruturas de
cam o SPDH dando ênfase no processo tecnoló- distribuição social; custos de produção, acesso a
gico da promover saúde em plantas, reduzindo bens e serviços; geram problemas sociais e am-
em mais de 80% o uso de agroquímico e o custo bientais; facilitam ou dificultam sua resolução”
de produção e ambiental. Nesse curto período da (THOMAS, 2009 p. 2). Essa condição remete à
52
ideia de que nos movemos imersos em sistemas mesmo diante do recuo metodológico necessário
sociotécnicos: “as tecnologias são construções em relação ao desvelamento das relações de po-
sociais tanto como as sociedades são construções der existentes na agricultura e na sociedade, ob-
tecnológicas” (THOMAS, idem). Logo, a constru- servou-se que começaram a “pipocar’’ ─ dentre
ção tecnológica implica, sim, em desnudar rela- as 27 famílias inicialmente acompanhadas e nas
ções de poder na sociedade, sob pena de as ocul- comunidades de estudo ─ questionamentos, ain-
tar, como se neutras fossem. da que incipientes sobre as injustas relações de
Como tecnologia social, o SPDH acumulou produção. Também emergiram relações ─ inédi-
entre outros, nos seguintes elementos: tas entre aqueles agricultores ─ de cooperação,
a) aplicação do método da Práxis via Lavou- de troca de saberes, de abertura para dialogar
ras de Estudo/Propriedades de Estudo/ acerca do processo, entre os envolvidos e tam-
Comunidades de Estudo; bém com as diversas caravanas de agricultores e
técnicos visitantes dessa experiência.
b) processos de evolução gradual, consen-
Tais elementos nos fazem refletir até que
suada com os agricultores, no processo
ponto processos mediados pela práxis, como foi
de pesquisa e desenvolvimento tecnológi-
o da gestação do SPDH em seus vários momen-
co;
tos, remetem, por si só à ocorrência de saltos, em
c) afirmação de um “contrato” entre técnicos termos de consciência, numa perspectiva desa-
x famílias no desenvolvimento do método lienadora dos envolvidos. Ainda que esses mo-
e das tecnologias; mentos sejam lampejos descolados da realidade
d) interação horizontal entre técnicos e agri- opressora, em que muitas vezes os mesmos sujei-
cultores com papéis diferenciados, mas tos estejam imersos em relações alienantes com
não necessariamente hierarquizados; outros agricultores ou seus próprios familiares.
e) interação entre pesquisadores-professo- Contudo, devido aos limites já apontados,
res-extensionistas. o método não conseguiu se inserir amplamen-
Seguindo, portanto, na análise do SPDH, te dentro do movimento da agroecologia, nem
tampouco do movimento das tecnologias sociais,
entende-se que a segunda fase de construção do
permanecendo a certa distância do que se veio
método (pós-Caçador) pode ser caracterizada
construindo em nível nacional. Em certa medida,
de outra maneira, diferentemente da primeira.
os avanços teórico-metodológicos e científicos
Essa fase ─ que compreendemos como reduzida
alcançados pelo SPDH, com a sua fragilização en-
à perspectiva holística e não mais da totalidade
quanto movimento político, deixaram de dialo-
do real ─ ainda possibilitou avanços significati-
gar e contribuir para o movimento agroecológico
vos, mostrando o potencial universal do método mais amplo.
desenvolvido. Passou-se a trabalhar não apenas O entendimento do porquê desse aspec-
com o tomate e moranga, mas com outras cul- to necessitaria ser melhor aprofundado. Talvez,
turas como a cebola, batata-salsa, chuchu, alho, em parte, isso tenha se dado pelas mudanças na
brássicas (couve, repolho, brócolis) e outras cul- perspectiva política da tecnologia gerada e, em
turas. parte, pela condução institucionalizada do mé-
Essa perspectiva holística foi capaz de todo no interior da Epagri e das universidades
abordar um conjunto de elementos da realidade, parceiras (CAV-UDESC e UFSC) a partir da segun-
que influenciam no processo produtivo; contudo, da fase de construção do método. De outro lado,
não possibilitou o salto compreensivo capaz de em alguns aspectos devido uma certa ideologia
municiar os participantes de elementos de análi- populista presente no movimento agroecológico,
se e ferramentas de ação na esfera da luta social onde uma militância avessa às interações com o
e econômica, de forma explícita e, portanto, mais saber gerado nas universidades e institutos cien-
contundente e efetiva. tíficos de agricultura (identificados com o mode-
Entretanto, mesmo em ltuporanga, já na se- lo dominante do agronegócio) bloqueiam parce-
gunda fase do processo de construção do método, rias profícuas.
53
Diante dessas inquietações quanto à efe- turas o período vegetativo exato em que a falta de água resulta,
inevitavelmente, em comprometimento da produtividade do
tividade na transição agroecológica, e dado o cultivo agroecológico.
54
dela, buscando a superação dos limites estudo e o questionamento das relações so-
metodológicos do cartesianismo. Os achados ciais de produção (RSP), que englobam e con-
dessa ciência não foram negados ou deixados dicionam a produção agrícola e a vida em so-
de lado. Inclusive, em vários momentos bus- ciedade.
cou-se aprofundar estudos e pesquisas utili- Tal recuo, já descrito, foi motivado por
zando-se de seu ferramental metodológico e revezes políticos no movimento de construção
dialogando com seus acúmulos, para melhor do SPDH que resultaram no recuo da ONG Ce-
compreensão dos processos. pagri e na censura política e restrição de espa-
Contudo, o inverso não seria verdadeiro. ço aos pesquisadores envolvidos no processo.
O SPDH não teria se desenvolvido caso não ti- Isso significou uma espécie de amputação na
vesse articulado um processo complexo e co- perspectiva da totalidade, agora tolhida pe-
laborativo, um conjunto de relações sociotéc- los constrangimentos da institucionalidade
nicas e científicas, numa perspectiva dialógica burguesa, que governa os institutos públicos
e de busca da compreensão da totalidade dos agrícolas no nosso país. O método seguiu avan-
fenômenos. çando, contudo, restringindo sua esfera de atu-
ação a aspectos técnico-científicos.
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3
1. Introdução
Figura 1. Estratégia de transição da agricultura industrial para outra com base ecológica passa pelo aumento da di-
versidade de cultivos e criações com componente arbóreo.
substâncias necessárias para a reprodução de al- fortalecimento das funções ecológicas dentro do
guns insetos e patógenos das culturas agrícolas. agroecossistema, permitindo que os agricultores
Chaboussou postulou que as pragas e doenças eliminem gradualmente os insumos externos e
crescem e se multiplicam mais rápido quando as sintéticos, dependendo, assim, das funções dos
plantas contêm nutrientes livres solúveis prove- ecossistemas.
nientes da inibição da síntese proteica. Ele tam- A integridade de um agroecossistema em
bém acreditava que um solo com vida microbiana processo de transição depende da sinergia entre
equilibrada era fundamental para a absorção de a diversidade de plantas e a comunidade micro-
micronutrientes pelas plantas. Isso é importante, biana do solo, a fim de otimizar a decomposição
pois, a deficiência de micronutrientes também dos resíduos orgânicos e o incremento da maté-
pode causar a redução da síntese proteica, que ria orgânica. Solos com alto teor de matéria orgâ-
por sua vez leva à acumulação de nutrientes li- nica e atividade biológica exibem redes alimen-
vres, necessários para a reprodução e multiplica- tares complexas, povoadas por microrganismos
ção de pragas e doenças (CHABOUSSOU, 2004). benéficos que diminuem a incidência de pragas
e doenças. Pode-se argumentar que agroecossis-
temas diversificados nos quais a ciclagem de nu-
triente é mediada pelas redes alimentares do solo
5. Conclusão possuem maior estabilidade ecológica, assim
Um princípio ecológico-chave que deve ser como maior resiliência a perturbações externas.
aplicado desde o início do processo de transição Portanto, o gerenciamento deve ser orientado a
de sistemas produtivos convencionais é a diver- fim de aumentar a capacidade de uma cultura
sificação do agroecossistema. Com isso serão agrícola resistir a pragas e doenças pela mani-
adicionados componentes regenerativos, como o pulação das propriedades biológicas associadas
aumento da biodiversidade do agroecossistema a uma infraestrutura vegetativa que irá abrigar
pelo uso de consórcio de plantas, culturas agrí- inimigos naturais de pragas, bem como insetos
colas e árvores em sistemas agroflorestais, ani- polinizadores. A melhora das interações ecológi-
mais e árvores em sistemas silvopastoris, plan- cas positivas por meio da integração das práticas
tas de cobertura leguminosas solteiras ou em de manejo de solo e pragas constitui um caminho
rotações etc. Uma comunidade de organismos robusto e sustentável para otimizar a função e a
em um agroecossistema torna-se mais complexa produtividade do agroecossistema.
quando a biodiversidade é aumentada, levando a Fundamentar o processo de transição em
mais interações entre artrópodes e microrganis- práticas específicas tende a abordar isoladamen-
mos que fazem parte de redes alimentares, tanto te os componentes, com foco na otimização de
acima como abaixo do solo. À medida que a di- um único componente (fertilidade do solo, nutri-
versidade aumenta, também aumentam as opor- ção de plantas, crescimento de culturas etc.), dei-
tunidades de convivência e interações benéficas xando de explorar propriedades que emergem
entre espécies que beneficiam a sustentabilidade por meio da interação dos vários componentes
dos agroecossistemas. agrícolas. A substituição de insumos torna-se
Diversos sistemas proporcionam redes principalmente reativa movendo os esforços
alimentares complexas, que implicam em mais para resolver problemas à medida que eles sur-
conexões potenciais entre plantas, insetos e gem, melhorando sintomas ao invés de abordar
microrganismos, criando caminhos alternati- as causas. Muitos pesquisadores consideram os
vos para o fluxo de energia e matéria. Por esta problemas das pragas e doenças ou a deficiên-
razão, uma comunidade mais complexa exibe cia nutricional como um sintoma de falha de um
menos flutuações no número de organismos in- processo ecológico (controle biológico ou cicla-
desejáveis e produção mais estável. Ao aumen- gem de nutrientes) e, portanto, tentam descobrir
tar a diversidade funcional, um dos principais as causas de tal desequilíbrio. A agricultura de
objetivos do processo de transição é alcançado: o base agroecológica, ao invés de se concentrar em
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Promoção da saúde do solo
A palavra ecologia é popularmente en- elas serão distribuídas na área, a fim de promo-
tendida como a conservação do meio ambiente ver a ocupação de todos os estratos do dossel de
e dificilmente é ligada a aumentos de produção, modo complementar, e aumentar a eficiência de
porém, basta observar uma área agrícola recen- uso do solo, dos recursos naturais e a biodiversi-
temente abandonada para verificar o quão vigo- dade no agroecossistema.2 Essa técnica de ocu-
rosa é a regeneração natural a partir da ocupa- pação do dossel em diversos estratos é típica dos
ção da área por plantas espontâneas herbáceas, sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas,
arbustivas e arbóreas (posteriormente), que pro- que são sistemas agrícolas, em que espécies ar-
duzem grandes quantidades de biomassa servin- bóreas são manejadas em associação com espé-
do de cobertura para o solo. Nesse processo, o cies herbáceas, arbustivas e/ou forrageiras num
aumento na fertilidade do solo pode ser acelera- determinado arranjo temporal e, espacialmente,
do dependendo das interações entre as diversas em uma mesma área ou unidade de manejo.
espécies de plantas, animais e microorganismos, Cultivar diferentes plantas que se comple-
o que resulta do efeito de pousio. Essa eficiência mentam em uma mesma área diminui as perdas
de uso do solo em áreas em processo de regene- de produtividade devidos a doenças, insetos ou
ração natural pode ser reproduzida e acelerada outras ‘pragas’ que se alimentam das culturas.
em áreas agrícolas, realçando os processos mais Tal regulação da saúde do cultivo funciona quan-
desejáveis da regeneração de forma mais fácil de do o consórcio de culturas promove condições
manejar, pela sucessão agroflorestal1. para inimigos ou competidores naturais dos in-
Para “imitar” o processo de regeneração setos ou microorganismos causadores de perdas,
natural em áreas agrícolas é preciso utilizar téc- desde que o manejo propicie um microclima ade-
nicas que promovam a sucessão agroflorestal em quado para cada cultura.
policultivos, por isso é importante escolher cui- Em sistemas agroflorestais, assim como
dadosamente as plantas e planejar a forma como em uma área em plena regeneração de floresta,
¹ Sucessão agroflorestal é o processo dinâmico, organizado, ² Agroecossistemas são ecossistemas domesticados que incluem
adaptável, de diferenciação dos estratos ao longo do as lavouras ou roças e seu entorno influenciado pela agricultura,
desenvolvimento do SAF a partir do início do plantio. assim como as pessoas que interferem na agricultura.
70
ocorre um incremento constante na fertilidade no interior do SAF. Já as podas mais leves duran-
do solo, devido não só a quantidade de biomassa te o verão favorecem o sombreamento no inte-
produzida, mas também em função da diversi- rior do SAF.
dade de biomassa incorporada ao solo e à vida Consorciar hortaliças com plantas de hábi-
alimentada nesse processo. Essa deposição de tos de crescimento tão diferentes, como arbustos
biomassa é acelerada por podas constantes que e até mesmo árvores (Figura 1), pode parecer
fazem com que as plantas que compõem a agro- uma ideia ousada, principalmente em função do
floresta mantenham um alto ritmo de produ- sombreamento que pode ser prejudicial para o
ção de biomassa. Ao contrário do que acontece desenvolvimento das hortaliças. Contudo, é pos-
na regeneração natural, em que a biomassa das sível organizar as plantas de modo a fazer com
plantas só entra em contato com o solo depois que as hortaliças com maior exigência por radia-
que as plantas senescem e tombam, em sistemas ção solar sejam plantadas logo após a aplicação
agroflorestais a biomassa é cortada e depositada de podas drásticas, ou mesmo após o corte raso
no solo, sempre antes da planta diminuir o seu das espécies arbóreas para a incorporação de
ritmo de crescimento. biomassa ao solo. Caso o SAF seja voltado apenas
Nem todas as plantas cultivadas no SAF são para a produção de hortaliças pode-se utilizar ci-
escolhidas para fins econômicos diretos. Tam- clos curtos de produção, a fim de permitir a cons-
bém são incluídas espécies que têm a função de tante entrada de luz no interior do SAF.
melhorar o microclima do SAF ou mesmo plantas Portanto, incorporar os princípios e prá-
que têm apenas a função de produzir biomassa ticas agroflorestais ao SPDH tem potencial para
que ao ser incorporada ao solo favorece o au- torná-lo mais eficiente, produtivo e sustentável
mento de fertilidade em função da sua constante em função da aplicação de técnicas de manejo
decomposição. Um exemplo de manejo com o in- pautadas pela ecologia. Neste sentido, a suces-
tuito de estabelecer microclima é a poda drástica são agroflorestal representa um empurrão na
durante o inverno, que favorece a entrada de luz transição agroecológica da horticultura para uma
Figura 1. Sistema Agroflorestal (SAF) com canteiros de hortaliças intercaladas entre linhas perenes para adubação ver-
de, inicialmente dominadas por bananeiras e árvores tolerantes a podas drásticas dos galhos laterais que criam uma
sombra filtrada e um microclima ameno para as hortaliças durante o verão. Sítio Florbela. Florianópolis/SC.
71
produção rentável e diversificada, pouco depen- cinais, entre outros produtos obtidos de SAFs
dente de insumos externos, resiliente a impactos (SCHULER, 2017). Indiretamente, a diversifi-
climáticos e biológicos. No que segue, pretende- cação também promove benefícios econômicos
mos dialogar entre conhecimentos científicos da pela exclusão competitiva de plantas espontâ-
ecologia e conhecimentos práticos de agriculto- neas invasoras (PICASSO et al., 2008), pela re-
res e educadores agroflorestais para organizar tenção e reciclagem de nutrientes (SCHROTH et
critérios para o planejamento da produção de al., 2001), pela melhora das propriedades físi-
hortaliças em sucessão agroflorestal. cas, químicas e biológicas do solo (SILESHI et
al., 2008), pelo estímulo de inimigos naturais de
pragas e doenças (EKSTRÖM & EKBOM, 2011;
LICHTENBERG et al., 2017), entre outros be-
2. SAFs como uso racional dos recursos nefícios indiretos (LETOURNEAU et al., 2011).
naturais Por isso, a ocupação da paisagem rural por SAFs
garante o fornecimento simultâneo de diversos
2.1. Evidências científicas e práticas da benefícios socioambientais, além de ter poten-
conservação pelo uso agroflorestal cial para a adaptação do agroecossistema às
mudanças climáticas (ISBELL et al., 2011; LIN,
Em monocultivos dependentes de uso in-
2011; CARDINALE et al., 2012).
tensivo de agrotóxicos, adubos sintéticos e energia
Uma abordagem que aperfeiçoa as si-
fóssil, ocorrem drásticas perdas de biodiversidade
nergias entre alta diversidade, plantio aden-
que comprometem o funcionamento dos ecossis-
sado e cortes frequentes, enquanto simplifica
temas, geram problemas socioeconômicos e, em
e organiza ergonomicamente o manejo, foi
longo prazo, diminuem a capacidade produtiva
a agricultura sintrópica3, cunhada por Ernst
do agroecossistema. Os ganhos de produtivida-
Götsch (MATSUMURA, 2016; PASINI, 2017). A
de na agricultura convencional frequentemente alta produtividade e relativa facilidade de ado-
não compensam os prejuízos econômicos de- ção permitiu que a agricultura sintrópica seja
correntes da degradação dos recursos naturais atualmente multiplicada, adaptada por cente-
(POWER, 2010). Por outro lado, SAFs têm poten- nas de educadores agroflorestais especialmen-
cial para conservar uma proporção significativa te no Brasil e crescentemente em outras partes
da biodiversidade dentro do agroecossistema do mundo. Projetos como ‘Agroflorestar’ e ‘Flo-
(BHAGWAT et al., 2008), sequestrar carbono no ra’ têm ajudado centenas de famílias de agricul-
solo e na vegetação (LAGANIERE et al., 2010), tores em condições socioeconômicas precárias
mitigar a lixiviação de nutrientes (LEHMANN & a adaptar, aprimorar e ensinar para outros as
SCHROTH, 2003) e erosão do solo via cobertura práticas da agrofloresta sintrópica altamente
morta e viva (STEENBOCK et al., 2013), entre di- produtiva e biodiversa em poucos anos (NETO
versos outros serviços ecossistêmicos de regula- et al., 2016). Experiências desse tipo de pro-
ção (BALVANERA et al., 2006). dução agroflorestal ‘nova’ e também de práti-
A diversidade de espécies vegetais em cas tradicionais de cultivo agroflorestal no Sul
SAF mantém diversas funções produtivas dire- do Brasil têm sido sistematizadas pela Rede
tas (ISBELL et al., 2011), realça sinergias entre de Sistemas Agroflorestais Agroecológicos do
serviços ecossistêmicos de provisão e de regu- Sul do Brasil (Rede SAFAS)4, desenvolvendo
lação (SIDDIQUE et al., 2007; TSCHARNTKE et
ferramentas e estruturas de comunicação e
al., 2011) e estimula a produtividade de bio-
articulação para socializar mais amplamente
massa devido ao princípio de complementari-
essas experiências bem sucedidas (PARRA et
dade (CARDINALE et al., 2007). Esse estímulo
al., 2018).
se traduz em maiores ‘serviços ecossistêmicos
³ Definição e explicações breves: LIFEINSYNTROPY.ORG/PT
de provisão’, incluindo o conjunto de alimentos, ⁴ Cartilhas, vídeos, banners, bancos de dados, artigos, contatos
materiais para construção, combustíveis, medi- etc. da Rede SAFAS: LEAP.UFSC.BR/SAFAS
72
com espécies de crescimento médio e lento, Embora a complexidade esteja relacionada com
como ipê roxo (Handroanthus impetiginosus), diversos benefícios, como a eficiência no uso de
jabuticaba (Plinia cauliflora), jacatirão-açu (Mi- recursos naturais e a resiliência do SAF, do ponto
conia cinnamomifolia) e licurana (Hieronyma de vista da praticidade do manejo ela pode re-
alchorneoides). Essa combinação de árvores presentar uma dificuldade para a manutenção
permite que os estratos médio e alto logo sejam do SAF. Plantas com atributos diferentes reque-
ocupados por espécies de rápido crescimento rem manejos diferentes em épocas diferentes,
que receberão poda frequente de seus ramos portanto a complexidade no SAF implica em ne-
interiores e médios de modo a serem mantidas cessidade de manejo complexo e, por isso, existe
na sua estratificação. Quando as árvores de rá- um claro “conflito” entre facilidade de manejo
pido crescimento ultrapassam a altura de fácil e complexidade. Uma possível saída para essa
poda dos galhos laterais é feita a poda apical, questão é a utilização dos grupos funcionais em
geralmente na altura de 4 a 7 m (dependendo um sistema organizado com espécies arbóreas e
da espécie). Os rebrotes, logo abaixo desse cor- arbustivas plantadas apenas em linhas, forragei-
te apical, serão fáceis de podar nos seguintes ras somente nas faixas de capim e hortaliças ape-
anos enquanto o fuste principal se desenvolve e nas em canteiros. Dessa forma é possível manter
aumenta o seu diâmetro. Quando as árvores de o SAF dentro de um dimensionamento, que man-
mais lento crescimento atingem o estrato emer- tenha a complexidade, sem que o seu manejo se
gente, os fustes das espécies de rápido cresci- torne inviável.
mento podem ser colhidos ou mantidos confor-
me a finalidade de cada espécie.
A presença de plantas com atributos fun-
cionais diversificados em um mesmo espaço con- 2.3. Utilizar a ecologia como critério para
tribui para aumentar a complexidade (Figura 2). desenhar SAFs
funcionais das plantas a serem consorciadas, pro- podem ser supridas no momento de implantação
curando combinar plantas com diferentes atribu- do SAF, sendo necessário esperar um determinado
tos funcionais (Figura 3) e ocupar os diferentes período de tempo para que a incorporação de bio-
estratos de maneira complementar, desde que se massa no solo promova a reestruturação do solo
leve em consideração o ciclo de vida e o ritmo de e o incremento de fertilidade que dará suporte ao
crescimento das plantas, ou seja, a sucessão. Na estabelecimento de grupos funcionais mais exi-
prática as plantas a serem inseridas no SAF são gentes em fertilidade.
reunidas em função dos seus atributos em grupos
funcionais, com a finalidade de aumentar a diver-
sidade funcional em função do número de grupos
funcionais. Além disso, o número de indivíduos de 2.4. Sucessão agroflorestal
cada grupo deve ser pensado de modo a estabele- A sucessão agroflorestal é um processo di-
cer uma proporção entre os grupos, evitando-se nâmico e ordenado em que as plantas, em função
desequilíbrios na proporção do efeito que cada da expressão dos seus atributos, ocupam e criam
grupo tem sobre o ambiente. novos nichos ecológicos,
formando um dossel com
diferentes estratos, em um
ciclo de desenvolvimento
direcionado pelo manejo
aplicado ao SAF. Na medi-
da em que os estádios de
desenvolvimento ocorrem,
o SAF atinge, novos pata-
mares de complexidade e
de diversidade funcional.
Pode ocorrer uma visível
melhora de eficiência na
interceptação da luz em
função das diferenças de
demanda por luminosida-
de dos grupos funcionais
posicionados em cada ex-
trato do dossel.
Existem diversos mo-
Figura 3. Milho, eucalipto, mandioca, plantas com diferentes atributos funcionais
ocupando o mesmo espaço. delos agrícolas, que traba-
lham com sucessão de cul-
turas em diferentes épocas
Muitas vezes não é possível inserir todos do ano, porém, em agrofloresta são feitos policul-
os grupos funcionais presentes no desenho do tivos com plantas de diversos grupos funcionais
SAF logo na sua implantação. Por exemplo, gru- ao mesmo tempo, pois a ideia é justamente au-
pos funcionais com plantas que precisam de am- mentar a eficiência em função da ocupação do es-
biente sombreado e úmido serão inseridos no SAF paço com plantas com diferentes atributos. Assim,
apenas quando os grupos funcionais com plantas as plantas que farão parte de cada policultivo são
heliófitas estejam estabelecidos, gerando um am- escolhidas em função das suas características e do
biente sombreado no sub-bosque. Em outros ca- tempo do seu ciclo. Por exemplo, uma planta com
sos, podem existir grupos funcionais com plantas alta demanda por sol e porte baixo deve ser “en-
muito exigentes em fertilidade do solo, que não caixada” no SAF de uma forma tal que as plantas
75
Figura 4. Plantio sucessional de hortaliças com foco em produção de rúcula, alface roxo, repolho roxo e batata yacon
(no centro) e espécies arbóreas (nas laterais) 30 dias após a implantação.
Figura 5. Mesmo SAF mostrado na Figura 3, dez meses após a implantação. Observa-se na imagem a batata yacon no
ponto de colheita e as espécies arbóreas no ponto de poda.
77
Figura 6. Mesmo SAF da Figura 5, quatorze meses após a implantação do SAF, no centro da imagem plantio de horta-
liças estabelecido após a poda e incorporação de biomassa das espécies arbóreas.
possível manter as faixas de capim no SAF inde- As espécies escolhidas devem apresentar
finidamente (Figura 7), bastando favorecer entra- bom desenvolvimento em relação ao clima e ao
da de luz na parte inferior do dossel, utilizando-se solo da propriedade, além disso deve-se ter cuida-
podas frequentes nas plantas de hábito arbustivo do ao utilizar plantas com fácil propagação vege-
e arbóreo. O corte da faixa de capim deve ser fei- tativa como Pennisetum purpureum e Tithonia di-
to, preferencialmente, quando as plantas estão no versifolia que podem se estabelecer nos canteiros
estádio vegetativo que precede o início da sua fase a partir da biomassa depositada. Algumas plantas
reprodutiva. Essa prática tem o duplo propósito que têm sido usadas com sucesso em faixas de ca-
de evitar a disseminação de sementes no SAF e pim são o capim-tanzânia (Panicum maximum cv.
também manter o ritmo de produção de biomassa Tanzânia), capim-mombaça (Panicum maximum
em função do corte que sempre é realizado antes cv. Mombaça) que no inverno do Sul do Brasil se
que a planta entre em fase de senescência. consorciam bem com as ervilhacas (Vicia Sativa
As plantas, que fazem parte da faixa de ca- cv. V. Pillosa).
pim, são o principal fator determinante da com-
posição da biomassa que será incorporada no
solo, por isso a combinação de plantas deve ser
pensada de modo a manter uma determinada 3. Manejo do SAF para o conforto da hortaliça
proporção entre leguminosa e gramíneas. Caso a As plantas apresentam respostas fisiológi-
biomassa seja muito pobre em nitrogênio o de- cas aos estímulos do ambiente, portanto, desenhar
senvolvimento vegetativo das plantas pode ser o SAF de modo a favorecer o desenvolvimento da
afetado causando perdas na produção, porém planta com estímulos que tornem o ambiente
em casos que a biomassa é muito rica em nitro- mais confortável para a mesma é uma estratégia
gênio a sua decomposição ocorre rapidamente e fundamental para aumentar a eficiência do SAF
o solo fica desprotegido e suscetível à erosão. (GLIESSMAN, 2000). As modificações na umida-
Figura 7. A faixa de capim como mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça) entre linhas arbóreas jovens (no fundo)
pode ser roçado até 5 vezes por ano e adubar as linhas de árvores ou hortaliças próximas enquanto as árvores ainda
não produzem suficiente biomassa. Sítio Florbela. Florianópolis/SC.
79
de, temperatura e luminosidade do SAF, que ocor- no interior do sistema de cultivo, apresenta uma
rem em função do manejo e planejamento do agri- diminuição da variação térmica em relação ao
cultor, são de grande importância para a criação campo aberto. Em florestas e SAFs com múltiplos
de um microclima que favoreça a produção, equi- estratos, a menor variação da temperatura ocorre
líbrio e resiliência do sistema de produção. próximo à palhada, a qual amortece ainda mais a
variação térmica na superfície do solo. Evitar que
o solo aqueça muito ou esfrie excessivamente aju-
da promover maior saúde da biota do solo e dos
3.1. Umidade cultivos. No entanto, alguns processos fisiológicos
de maturação de frutas requerem uma amplitu-
A ocorrência de chuvas é um fator de extre-
de térmica no dossel. Nestas situações também é
ma importância, tanto na agricultura em mono-
indicada a poda seletiva ou drástica de partes do
cultivos como para a agrofloresta, uma vez que o
dossel.
agricultor não tem o poder de mudar diretamente
a quantidade e a distribuição da chuva. O manejo
adotado num pequeno estabelecimento agrícola
provavelmente não influencia significativamente 3.3. Luz
a precipitação de chuvas da região. Porém, a umi-
dade, através do microclima, pode ser fortemen- A demanda por luz de uma planta ou de um
te influenciada pelo sistema de manejo adotado. determinado grupo funcional é uma das principais
Por esse motivo, o desenho utilizado para o SAF características a ser levada em consideração ao se
deve ser capaz de influenciar a umidade de modo desenhar um SAF. Isso acontece porque a compe-
a favorecer o desenvolvimento das plantas. Pode- tição por luz costuma ser acirrada em ecossiste-
-se ter um sistema de podas que permita maior mas de clima tropical e subtropical. Já em SAFs
entrada de luz no SAF durante a estação chuvosa instalados nesse mesmo tipo de clima o agricultor
e maior sombreamento durante a estação mais pode interferir no sistema de forma a diminuir a
seca, mantendo a umidade média próxima do competição por luz e aumentar a complementa-
ideal durante o ano todo. riedade entre as plantas que compõem o sistema.
A estratificação é uma característica do As plantas apresentam diferentes carac-
dossel do SAF, que ajuda a interceptar a chuva, terísticas em relação à forma como se adaptam
diminuindo o impacto direto das gotas d’água no a oferta de luz, plantas com rota fotossintética
solo. Além disso, a biomassa depositada no solo C4 (p.ex. cana de açúcar, milho) estão adaptadas
também tem o importante papel de fazer com que a ambientes com abundância de luz, já plantas
a água entre em contato com o solo lentamente, com rota fotossintética C3 (p.ex. feijão, crotalária)
preservando a estrutura dos agregados do solo. costumam apresentar maior tolerância ao som-
breamento. O agricultor pode usar combinações
de plantas com diferentes adaptações à oferta de
luminosidade, fazendo com que as plantas mais
3.2. Temperatura adaptadas em ambientes com alta luminosidade
ocupem posições mais altas no dossel e plantas
A velocidade de crescimento e desenvolvi- com adaptação a ambientes com menor oferta de
mento das plantas e outros organismos aumenta luz fiquem posicionadas na parte inferior do dos-
com a temperatura até um ponto ótimo diferente sel – de acordo com o princípio-chave da estrati-
para cada espécie, acima do qual o excesso de ca- ficação em SAFs (Figura 8). Outra estratégia útil é
lor prejudica o crescimento e a saúde. Por isso, no a poda drástica das espécies que foram inseridas
desenho do SAF deve-se levar em consideração as com objetivos de adubação no SAF, especialmente
exigências térmicas das culturas e também a pos- daquelas que têm alta capacidade de rebrote, pois
sibilidade de alterar a temperatura através do mi- permitir a entrada de luz no interior do sistema
croclima. Na medida em que as plantas crescem também é importante para prevenir doenças pela
e ocupam novos extratos do SAF, a temperatura, evaporação de umidade excessiva.
80
A vantagem central
da produção de hortaliças
em sucessão agroflorestal
é o potencial de aproveitar
simultaneamente três con-
juntos de contribuições:
1. O rápido retorno finan-
ceiro que aumenta com o
tempo;
Figura 8. A sombra migra rapidamente entre canteiros de hortaliças durante o 2. A recuperação e manu-
dia porque apenas a ponta da copa das árvores dominantes é poupada nas podas
tenção do funcionamento
drásticas (eucaliptos na superior direita e margem esquerda). Fustes podados ou
desbastados são picados e encostados diretamente no solo mineral sobre caminhos do ecossistema e do seu
(centro-esquerda da foto). Semeadura direta de outras espécies arbóreas toleran- potencial produtivo;
tes à poda como paineira (Chorisia speciosa, na margem esquerda) na linha das 3. Benefícios sociais, cul-
árvores perpetua a adubação verde lenhosa para além da colheita de fustes dos
eucaliptos. Sítio Florbela. Florianópolis/SC.
turais, econômicos e am-
bientais indiretos.
As demandas confli-
tantes (tradeoffs) aparentes entre a viabilidade
3.4. Vento financeira, integridade ambiental e o bem-estar
social podem ser amenizadas ou superadas com
O vento é um fator que exige cuidado no
planejamento de agroflorestas, pois além de cau- o aprimoramento das experiências com plane-
sar danos físicos às plantas, como perda de flores jamento, manejo, beneficiamento, comercializa-
queda de frutos ou mesmo o rompimento de ga- ção e aproveitamento cultural da biodiversida-
lhos, pode ter um efeito enorme na temperatura de.
e umidade no interior do SAF, prejudicando a ma-
nutenção do microclima. É necessário observar a
direção dos ventos predominantes e plantar que-
4.1. Rentabilidade financeira
bra-ventos de modo a diminuir a velocidade dos
ventos antes que atinjam as culturas mais sensí- O potencial para rápido retorno financeiro
veis no interior do mesmo. é frequentemente citado como uma das motiva-
Os quebra-ventos também podem ser uti- ções iniciais para agricultores optarem pelo cul-
lizados como corredores verdes, aumentando a tivo agroflorestal. Frequentemente a atenção dos
conectividade da paisagem rural com os rema- próprios agricultores agroflorestais para o sus-
nescentes florestais, servindo como abrigo para tento alimentar de qualidade, a conservação da
a biodiversidade e, muitas vezes, como refúgio água e do ambiente ganha força como motivação
para insetos predadores de ‘pragas’ de cultivos. (POUBEL, 2006). A experiência de abundância e
Em médio prazo, é possível utilizar as áreas de diversidade de alimentos agroflorestais disponí-
81
veis para consumo e partilha tende a estimular a (HOFFMANN, 2013). Nos seguintes ciclos de
diversificação alimentar na escala da família e da hortaliças vão diminuindo os custos com adubos
comunidade. Este processo reforça a curiosidade, externos e ganhando proporção a produção de
aprendizagem e resgate cultural de conhecimen- adubos verdes perenes nessas linhas adubadei-
tos alimentares populares e evolução cultural da ras. Paralelamente entram em produção econô-
sociobiodiversidade associada às agroflorestas mica as primeiras frutíferas nas mesmas linhas
(PARRA, 2018). arbóreas (p.ex. banana, amora, pitaia, figo, uru-
Retornos financeiros podem ser adianta- cum, limão etc.). Nos seguintes anos as primei-
dos e aumentados com um aprimoramento da ras árvores madeiráveis de rápido crescimento
ocupação produtiva de nichos ecológicos duran- podem ser colhidas, embora a sua implantação
te a sucessão agroflorestal na medida em que já tenha sido paga pelo primeiro ciclo de horta-
seja aumentada a produtividade total de biomas- liças. Desta forma os investimentos recuperados
sa e/ou a proporção economicamente aprovei- no primeiro ciclo de hortaliças rendem até às se-
tável dessa biomassa. O planejamento de agro- guintes safras de hortaliças, aromáticas, frutífe-
florestas sucessionais é voltado para aumentar ras e madeiras mais lucrativas.
ambas pela alta densidade de plantio em deli-
neamentos substitutivos. De modo simplificado,
isto significa que hortaliças maiores ou de ciclo
mais longo são plantadas nas densidades reco- 4.2. Recuperação do funcionamento do
mendadas para monoculturas (p.ex. yacon de 12 ecossistema
meses, Figura 5). Nos espaços, que ficam vazios
A alta produtividade econômica dos con-
durante a primeira metade do ciclo da cultura,
sórcios agroflorestais de hortaliças é acompa-
são plantadas nos mesmos canteiros, adicional-
nhada por uma intensa produção simultânea de
mente, culturas de ciclo médio que são colhidas
biomassa e as frequentes podas que contribuem
antes de competir com as culturas de ciclo lon-
com quantidades grandes de matéria morta.
go (p.ex. manjericão de 4-10 meses). Nas late-
Depois de 1-2 anos esta supera a produção de
rais das linhas de hortaliças de ciclo longo, nos
serapilheira e renovação de biomassa radicular
mesmos canteiros são plantadas adicionalmente
em florestas secundárias da mesma idade. Am-
hortaliças de 4 meses (p.ex. brássicas como re-
bas as fontes de carbono orgânico promovem
polho, Figura 4). Nos espaços que ainda ficarão
uma intensa atividade biológica no solo e acú-
sem cobertura viva nos primeiros 2-3 meses são
plantadas hortaliças que alcançam seu ponto de mulo de carbono na cobertura morta e no solo
colheita nesse período (p.ex. alface americana (STEENBOCK et al., 2013). A alta produtividade
ou acelga). Os pequenos espaços vazios no iní- de biomassa é possibilitada não somente pelo
cio nos mesmos canteiros são preenchidos com plantio adensado e frequentes podas, mas prin-
hortaliças colhidas em até 45 dias (p.ex. rúcula, cipalmente pela ocupação otimizada de nichos
rabanete ou coentro). Por colheitas escalonadas, em alturas, graus de sombreamento e fases de
horticultores agroflorestais têm alcançado entre desenvolvimento das culturas, de modo a otimi-
150% e 400% de aproveitamento econômico de zar a interceptação da luz (EWEL & MAZZARI-
um canteiro se comparado a um monocultivo, NO, 2008). A consequente sintonia maior entre
usando a mesma quantidade de adubo e irriga- liberação de nutrientes pela decomposição e
ção no mesmo espaço (NETO et al., 2016). reabsorção pelas raízes e biota do solo aumen-
O conjunto dessas safras no primeiro ci- ta a retenção e taxas de ciclagem de nutrientes,
clo de um mesmo canteiro frequentemente já disponíveis para culturas vegetais que ocupam o
pagam os custos de insumos e mão de obra seu nicho (EWEL & BIGELOW, 2011; LOVELOCK
da implantação não somente deste canteiro & EWEL, 2005).
mas também de canteiros adjacentes que con- A alta diversidade funcional em agroflo-
tém linhas de árvores adubadeiras e frutíferas restas sucessionais também promove habitats e
82
recursos alimentícios variados para uma ampla se intensificam com o tempo na medida que os
rede trófica de predadores que atuam no con- resultados dos benefícios obtidos refletem nas
trole biológico de populações de insetos poden- tomadas de decisões. Neste sentido, as agroflo-
do, potencialmente, se tornar ‘pragas’. Portan- restas sucessionais podem ser utilizadas como
to, a alta biodiversidade favorece um equilíbrio processos de recuperação produtiva e emancipa-
dinâmico que atua na regulação de ‘pragas’ e dora de uma sociedade, porém, várias barreiras e
‘doenças’ além de atuar na manutenção das po- gargalos dificultam o início do processo.
pulações de polinizadores e dando suporte a
sanidade na produção de hortaliças (GROENE-
VELD et al., 2010; RATNADASS et al., 2012).
5. Desafios
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No Brasil, não há consenso do melhor mé- de modo que a tomada de decisão para a reapli-
todo para definir a quantidade de calcário a ser cação superficial de calcário, em sistema conso-
aplicado ao solo, cabendo ao técnico a definição lidado, é quando o pH em água for menor que
do critério para a recomendação. Desse modo, 5,5 (na camada 0 a 10 cm), pois nessa condição
o cálculo da necessidade de calagem pode ser o Al³⁺ reaparece no solo (CQFS-RS/SC, 2016).
baseado nos seguintes métodos (SOUSA et al., Em sistemas com rotação de culturas em que há
2007): da curva de incubação com CaCO₃; da espécies com diferentes sensibilidades à acidez,
neutralização da acidez trocável; da solução- a calagem deve ser feita em função da cultura
-tampão SMP, do pH e do teor de matéria orgâ- com maior potencial de retorno econômico (CF-
nica do solo, da neutralização da acidez trocável SEMG, 1999).
e elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis e da Na correção da acidez antes da implanta-
saturação por bases. Para solos arenosos e/ou ção do SPDH, recomenda-se que o calcário seja
pobres em matéria orgânica (baixo poder tam- incorporado em profundidade (≥20 cm), pois
pão) o índice SMP pode subestimar as doses de novas aplicações após a instalação do sistema
calcário necessárias para elever o pH até o valor são feitas superficialmente (CQFS-RS/SC, 2016).
desejado. Nesses casos é idicado utilizar equa- Nessa fase de implantação, o ideal é utilizar cal-
ções polinomiais que consideram o teor de ma- cário com reatividade das partículas (RE) de
60% para que o efeito residual seja maior, pois
téria orgânica e de alumínio trocável para a de-
por princípio do sistema, o solo não será mais re-
fnição da dose de calcário (CQFS-RS/SC, 2016).
volvido (LOPES et al., 2004).
Nos Estados de Santa Catarina e do Rio
Ao se considerar que as plantas quan-
Grande do Sul, a definição da necessidade de
do novas são mais sensíveis a acidez e aliada
aplicação de calcário é de acordo com a sensi-
ao fato da baixa solubilidade dos calcários co-
bilidade à acidez da cultura, do nível de acidez
muns, recomenda-se fazer a aplicação do calcá-
do solo e, em alguns casos, também depende do rio a lanço em área total, de 3 a 6 meses antes
sistema de produção que pode ser o convencio- do plantio (FURTINI NETO et al., 2001; LOPES &
nal ou o sistema de plantio direto consolidado GUILHERME, 2000). Durante a calagem é impor-
(CQFS-RS/SC, 2016). Nesses Estados, as cultu- tante assegurar a uniformidade de distribuição e,
ras são agrupadas de acordo com o pH do solo ao mesmo tempo, que o solo não deve estar em
mais adequado para o crescimento e o desen- condições de seca ou excesso de umidade, para
volvimento das plantas, de modo que, para a que a eficiência do corretivo não seja reduzida
maioria das culturas, o pH (H₂O) de referência (LOPES & GUILHERME, 2000).
é 6,0. No entanto, para solos em boas condições Mesmo com todos os avanços da pesquisa
de manejo a exemplo do SPDH, na ausência de para predição da calagem ainda persistem algu-
Al³⁺ obtido a partir de pH 5,5, já se observam mas lacunas quando se trata da complexidade do
condições adequadas para o pleno desenvolvi- SPDH (Quadro 2).
mento e produção das plantas. A definição das
doses de calcário para solos de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, que vão receber o corre-
tivo pela primeira vez, deve ser feita pelo índi- 2.2. Adubação
ce SMP. Para as reaplicações de calcário, outros A amostragem de solo deve ser feita crite-
métodos podem ser utilizados para a definição riosamente, pois uma pequena porção de terra
da dose. No entanto, os técnicos devem fazer o representará áreas muito maiores e um erro co-
acompanhamento das lavouras dos agricultores metido durante a amostragem não poderá ser
para que não ocorra supercalagem nas áreas de corrigido posteriormente (FURTINI NETO et al.,
cultivo (Quadro 1). 2001). Assim, a avaliação da fertilidade do solo
Para o cultivo da maioria das hortaliças inicia-se na amostragem de solo que deve ser
no SPDH o pH de referência e o desejado é 6,0, representativa. Nos sistemas de plantio direto,
89
Quadro 1. Exemplos de área onde a calagem foi feita seguindo critérios técnicos e de área onde ocorreu supercalagem.
% pH- Índi- P K Al Ca Mg
nº de Área Mat. M.O.
Ref Argila Água ce mg/ mg/ Cmolc/ Cmolc/ Cmolc/
amosta (ha) Org. %
m/v 1:1 SMP dm³ dm³ dm³ dm³ dm³
Exp. N
35227 -- 39 5,9 5,7 24,6 126,0 3,5 0,0 6,5 2,5
fundos
Sd.
35228 Palha -- 39 6,0 5,8 33,6 104,0 3,5 0,0 6,9 2,3
Direita
% de Saturação Soma
nº de Mat. H+Al Cmolc/ CTC pH7.0 na CTC Bases Relações
Ref
amosta Org. dm³ Cmolc/dm³
Al V S Ca/Mg Ca/K Mg/K
Exp. N
35227 6,2 15,49 0,00 60,00 9,29 2,59 20,08 7,76
fundos
Sd.
35228 Palha 5,2 14,65 0,00 64,49 9,45 2,99 25,87 8,65
Direita
com o tempo de cultivo, a variabilidade horizon- a maior variabilidade horizontal acontece para
tal dos parâmetros da fertilidade do solo ocorre, P e K (OLIVEIRA et al., 2002). No sentido ver-
principalmente, em função das aplicações em li- tical a variação é devida à aplicação superficial
nha ou superficial de fertilizantes e corretivos de corretivos e fertilizantes e, especialmente,
sem posterior revolvimento do solo. Em geral, à presença de resíduos de plantas depositados
90
Quadro 3. Exemplo de análise de solo coletada de forma estratificada de 0-10 cm (amostra 14643), de 10-20 cm
(amostra14644) onde não ocorreu correção do pH e há presença de alumínio na camada 10-20 cm.
91
cultura será maior ou menor se o teor de nutrien- de nutrientes pela planta, o operacional de ma-
te estiver abaixo ou acima do teor crítico respec- quinários e a tomada de decisões do produtor.
tivamente. Dessa forma, de acordo com os teores Geralmente, os nutrientes poucos móveis como
dos nutrientes no solo, as seguintes adubações o P são aplicados no plantio e o de maiores mo-
são recomendadas (CERETTA et al., 2007; CQ- bilidades como o N são aplicados parte no plan-
FS-RS/SC, 2004): de correção quando os teores tio e o restante em cobertura (HIGASHIKAWA &
estão abaixo dos teores críticos; de manutenção KURTZ, 2016).
quando os teores no solo são altos e de reposição O local de aplicação do fertilizante é defi-
quando os teores são muito altos e a adubação é nido pela forma ou pelo modo de aplicação des-
feita para repor os nutrientes que são exporta- se insumo que para culturas anuais é na linha
dos pelas culturas. Essas recomendações gerais de plantio ou a lanço em área total. O local que
encontradas na literatura visam a produtividade os nutrientes vão estar para serem absorvidos
das culturas e, em hortaliças, outros fatores tam-
pelas plantas dependerá dos seguintes fatores
bém devem ser considerados (Quadro 6).
(CERETTA et al., 2007; FURTINI NETO et al.,
2001; IPNI, 2013): teor de nutriente no solo;
o nutriente e a quantidade a ser aplicado; tipo
Quadro 6. As recomendações de fertilizante; dinâmica do nutriente no solo
de adubação em SPDH, além quanto a sua disponibilidade e mobilidade; sis-
da fertilidade do solo, devem tema de produção; equipamentos disponíveis;
também considerar a qualidade características do solo; histórico da fertilidade
do produto da área e local de crescimento das raízes. Em re-
lação à adubação a lanço, a restrição a essa prá-
Atualmente, nas adubações das tica é maior quando se aumenta a declividade
hortaliças, não é correlacionado o da área e quanto menor for a cobertura do solo
fornecimento de nutrientes com com resíduos culturais, pois nessas condições
a cor, o aroma, o sabor das partes há maiores predisposições de perdas do ferti-
comestíveis e conservação pós-co- lizante por influência das chuvas (CERETTA et
lheita. al., 2007).
O consumidor tem dado preferên-
cia a hortaliças de bom aspecto vi-
sual, porém, menores. Pode-se citar
o caso das brássicas, onde os con- 3. Matéria orgânica e dinâmica de nutrientes
sumidores têm preferido peças que em solos sob SPDH
caibam em pequenas bandejas.
O manejo da fertilidade do solo no SPDH
Em razão desse perfil de consumo é diferenciado do Preparo Convencional (PC),
atrelado à complexidade do SPDH, uma vez que neste, a camada arável do solo
é necessária a definição de novas (0-20 cm) é revolvida mecanicamente, homo-
classes de fertilidade do solo, es- geneizando o solo a cada cultivo. No SPDH, os
pecíficas para cada hortaliça, em resíduos das culturas são mantidos na super-
função da qualidade das partes co- fície, o que, aliado às aplicações superficiais
mestíveis que são definidas pelo ta- de corretivos e fertilizantes, contribui para a
manho, cor, aroma, sabor e conser- formação de um gradiente de concentração
vação pós-colheita. no perfil, diferindo a fertilidade do solo na ca-
mada superficial (0-10 cm) da subsuperficial
(10-20 cm), principalmente em relação a fós-
A época de aplicação envolve a sincroni- foro, potássio, pH e matéria orgânica (CIOTTA
zação dos nutrientes no solo com a absorção et al., 2002).
94
microbiana, promovendo incrementos nos teo- vegetais. Em ambos os estudos os autores sa-
res e estoques de MOS (ERNANI, 2016). lientam que, no SPDH, os atributos avaliados se
Nos sistemas de plantio direto há um au- equipararam ou estiveram próximos aos valo-
mento gradativo do teor de MOS em função do res observados para uma área de mata avaliada
não revolvimento do solo, manutenção dos re- como referência.
síduos das plantas de cobertura na superfície, No entanto, no SPDH, para promover au-
redução da taxa de decomposição, rotação de mentos nos teores de MOS e melhoria nos atri-
culturas e controle de erosão (OLIVEIRA et al., butos químicos, físicos e biológicos do solo, é
2002). No Brasil, as taxas de acúmulo de MO em necessária uma produção mínima anual de bio-
cada região depende das culturas utilizadas nas massa vegetal de 10 toneladas por hectare. Mas
rotações, da quantidade de fitomassa produ- quanto maior a produção de biomassa vegetal
zida, da temperatura e umidade do solo e das e adições de outros compostos orgânicos (es-
práticas de adubação e calagem (ANGHINONI, tercos, compostos, resíduos vegetais e animas)
2007). O aumento gradual do teor de MO, com mais rapidamente será o incremento da MOS e
o passar do tempo de adoção do sistema, prin- recuperação dos demais atributos do solo.
cipalmente na camada superficial (0 a 10 cm)
implica também mudanças graduais do pH a to-
xidez do Al e a dinâmica de nutrientes (LOPES 3.2. Dinâmica de formas de P
et al., 2004). Entre as hortaliças, as culturas mais exi-
No cultivo de hortaliças, a adoção do sis- gentes em P são o alho, a beterraba, a cenoura e
tema plantio direto proporciona aumento da
a batata (CQFS-RS/SC, 2016). A agricultura bra-
agregação e, consequentemente, maior pro-
sileira é altamente dependente da importação
teção do C no solo. Nesse sentido, Loss et al.
de fertilizantes contendo P inorgânico para a
(2015) avaliaram a agregação e os teores de
produção das culturas (WITHERS et al., 2018).
carbono orgânico total (COT) em solo maneja-
Além disso, apesar do P ser um macronutriente
do sob SPDH e com o uso de diferentes plantas
exigido em menores quantidades pelas plan-
de cobertura comparativamente a um solo ma-
tas, é frequentemente o nutriente aplicado em
nejado sob Sistema de Preparo Convencional
maiores quantidades nas adubações feitas no
(SPC). Os autores observaram maiores índices
Brasil (FURTINI NETO et al., 2001). Isso se deve
de agregação e teores de carbono orgânico total
ao fato de que a maior parte do P aplicado via
(COT) no solo manejado sob SPDH, evidencian-
do que a adoção de práticas de manejo conser- adubação ser adsorvido pelo solo e, consequen-
vacionistas melhora a qualidade do solo. Além temente, ser menos disponível às plantas (OLI-
disso, Loss et al. (2017) também observaram VEIRA et al., 2002), principalmente nos solos
que o SPDH com uso de plantas de cobertura com baixos teores do nutriente. Em razão dessa
proporcionou aumento da porosidade total do forte interação do elemento com os constituin-
solo e da umidade volumétrica, em comparação tes do solo, especialmente com os oxihidróxidos
ao SPC, evidenciando aumento da capacidade de ferro e alumínio, há baixa concentração de P
de infiltração e retenção de água no solo, quan- na solução do solo em relação aos outros macro-
do da adoção de sistemas conservacionistas. nutrientes, com concentrações de 0,001 mg L⁻¹
Nesse mesmo experimento, Santos et al. (2017) em solos de baixa fertilidade (BRADY & WEIL,
avaliaram os atributos químicos em macroagre- 2013), situando-se em valores próximos de 0,1
gados e observaram que o SPDH proporcionou mg L⁻¹ em solos de alta fertilidade da região Sul
incrementos nos teores de COT, pH, Ca, Mg e do Brasil (RHEINHEIMER, 2000). Além disso,
K, o que reflete em aumento da fertilidade do essa baixa disponibilidade de P na solução é
solo, quando da adoção de sistemas conserva- devido à elevada tendência de remoção de P da
cionistas que proporcionem maior proteção do solução quando este elemento é adsorvido em
C adicionado ao solo pela deposição de resíduos óxidos de Fe e Al e também quando o P precipita
96
com Al, Fe e Ca (FURTINI NETO et al., 2001). As de adsorção contribuindo para a menor fixação
raízes absorvem o P da solução do solo na forma do P e formam complexos do tipo fosfohumatos
de HPO₄²¯ (solos alcalinos) e H₂PO₄¯ (solos áci- que são menos estáveis e assim aumentam o
dos) (BRADY & WEIL, 2013). Cerca de 15 a 70% P-lábil no solo (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006).
do teor de P no solo, que varia de 500 a 2500 kg Contudo, é importante ressaltar que muitos tra-
ha⁻¹, encontra-se na forma fortemente adsorvi- balhos foram realizados em solos brasileiros e
da ou inorgânica insolúvel e o restante existe na mostram que na região Sul do país, devido ao
forma de P orgânico (WHITE, 2009). As formas clima subtropical, se o sistema plantio direto
de P do solo são classificadas de acordo com a promover o acúmulo de matéria orgânica, as
disponibilidade para as plantas e podem ser lá- formas orgânicas de P não participam da dis-
bil, quando disponível, e não-lábil, que é a forma ponibilidade de P para as plantas, sendo apenas
indisponível, e também considera-se a categoria uma forma de acumulação no solo. O uso do P
intermediária denominada de moderadamente orgânico só se torna efetivo em caso de revolvi-
lábil (SANTOS et al., 2008). Com relação ao P or- mento do solo ou quando cessa a adubação e o
gânico, a mineralização biológica disponibiliza fósforo inorgânico lábil é consumido (GATIBO-
este nutriente para a planta e ocorre quando a NI et al., 2013, 2007). Por outro lado, em am-
relação C:P é menor que 200 e quando a rela- bientes tropicais, a maior taxa de decomposição
ção é maior que 300 o P fica temporariamente da matéria orgânica faz com que P provido de
imobilizado pelos microrganismos decomposi- formas orgânicas recicle mais rapidamente no
tores (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006). Contudo, sistema.
nem sempre a relação C:P é um bom parâmetro, De maneira geral, a resposta das culturas
pois microrganismos e algumas plantas conse- à adição de fósforo em SPD tem sido relativa-
guem mineralizar fósforo de formas orgânicas mente pequena e as doses baixas desse nutrien-
por meio da extrusão de enzimas fosfatases, às te, como pode ser verificado no Quadro 7 para
quais retiram P sem necessidade de decompo- culturas de grãos. Isso, provavelmente, pode
sição do carbono. Quando isso ocorre, a relação ser devido ao fato de se atingir rapidamente o
C:P não é seguida, ocorrendo mineralização do teor crítico das culturas, à ineficiência do mé-
P mesmo acima de valores de 300:1 (McGILL & todo Mehlich-1 em detectar a disponibilidade
COLE, 1981). das formas orgânicas de fósforo no solo e à di-
A dinâmica do P em sistemas de plantio ficuldade de interpretação do nível de resposta
direto difere do convencional nos seguintes a esse nutriente em uma rotação ou sequência
pontos (ANGHINONI, 2007): o não revolvimen- de culturas (SÁ, 1999; 2004). As vantagens do
to do solo diminui as reações de adsorção do P sistema plantio direto em relação ao convencio-
pela redução do contato entre o íon fosfato e os nal quanto à disponibilidade desse nutriente se
colóides do solo; a decomposição dos resíduos devem, inicialmente, à eliminação da erosão e,
vegetais e das raízes mantidos na superfície do posteriormente, ao maior teor de água (meca-
solo produzem formas orgânicas de P que são nismo de difusão), à menor adsorção pelo solo
menos suscetíveis a adsorção e, portanto, mais (não exposição a novos sítios), à descida desse
móveis no solo. A mineralização do P orgânico nutriente no perfil do solo, à sua reciclagem, à
e a resultante liberação de fosfato para a so- complexação do alumínio por compostos orgâ-
lução do solo ocorre pela desfosforilação dos nicos e à melhoria da fertilidade do solo como
compostos orgânicos fosfatados, por meio da um todo, obtida com o tempo de cultivo no sis-
atuação das fosfatases que são enzimas produ- tema (ANGHINONI, 2009).
zidas por raízes de plantas e por microrganis- Em trabalho de pesquisa realizado por
mos (FURTINI NETO et al., 2001). Em sistemas Camargo (2011) com sistemas de rotação de
com aporte adequado de MO, as substâncias hú- culturas com a cultura da cebola, observaram-
micas competem com os íons H₂PO₄¯ por sítios -se significativos incrementos nos teores de
97
mente do que ocorre para a maioria dos outros das plantas para plantio direto) e posterior plan-
nutrientes (LOPES et al., 2004). As transforma- tio da cultura principal em consórcio com as le-
ções do N do solo estão associadas aos seguintes guminosas (CASTRO et al., 2004). Na literatura
processos (MALAVOLTA, 2006): amonificação; foi observado que esse sistema de plantio direto
nitrificação; mineralização; imobilização; desni- de hortaliças em consórcio com leguminosas não
trificação e fixação biológica de N. As formas de reduziu a produtividade de inhame (OLIVEIRA et
N mineral absorvidas pelas plantas são os íons al., 2004) e de berinjela (CASTRO et al., 2005).
NH₄⁺ e NO₃⁻, dessa forma, o N orgânico necessita Em sistema de plantio direto de cebola há maior
ser mineralizado para que o N esteja disponível aporte de N total na camada de 0 a 5 cm do solo
para as plantas (WHITE, 2009). quando a mucuna preta (Mucuna aterrima) é in-
Em sistemas de plantio direto a disponi- cluída na rotação de culturas (CAMARGO, 2011).
bilidade de N depende, principalmente, da di- Em relação à mineralização de N dos resíduos
nâmica da decomposição dos resíduos vegetais de plantas de cobertura solteiras e consorciadas
depositados na superfície do solo e da MO (OLI- (aveia preta ─ Avena strigosa Schieb, centeio ─
VEIRA et al., 2002). A velocidade de decomposi- Secale cereale L., nabo forrageiro ─ Raphanus sa-
ção ou taxa de mineralização para transformar o tivus L., aveia preta + nabo forrageiro e centeio
N contido nos resíduos vegetais em N mineral é + nabo forrageiro) em Cambissolo Húmico com
dependente da relação C:N mas também do con- histórico de cultivo de cebola, a disponibilida-
teúdo de lignina, celulose, hemicelulose no teci- de de N-mineral no solo na forma de N-NO₃⁻ é
do, dos valores de pH do solo e conteúdo de nu- maior do que na forma de N-NH₄⁺ (MARTINS et
trientes, bem como da temperatura, umidade do
al., 2014). Estes autores também verificaram que
solo (LOPES et al., 2004), quantidade do material
os resíduos do nabo forrageiro e do consórcio
orgânico presente e aeração (CAMARGO et al.,
centeio + nabo forrageiro apresentaram maior
2008). Quando os resíduos vegetais em decom-
disponibilidade de N e observaram que os resí-
posição apresentam relação C:N maior que 30,
duos de aveia preta apresentaram uma tendên-
há imobilização temporária de N pela biomassa,
cia de liberação mais lenta de N para o solo. No
no entanto, quando a relação é menor que 20 a
entanto, Oliveira et al. (2016) avaliaram os efei-
mineralização predomina sobre a imobilização e
tos dos resíduos de plantas de cobertura (plantas
há liberação de N para as plantas (MOREIRA &
espontâneas, aveia preta, centeio, nabo forragei-
SIQUEIRA, 2006). A maior taxa de mineralização
ro, nabo forrageiro + aveia preta e nabo forragei-
líquida de N ocorre nos resíduos vegetais que
apresentam carbono orgânico mais facilmente ro + centeio) nas propriedades químicas de um
degradável (MONTEIRO et al., 2002). Nos siste- Cambissolo Húmico, no cultivo de cebola, e veri-
mas em que os resíduos vegetais não são incor- ficaram que os resíduos de centeio apresentaram
porados, a cobertura morta com N imobilizado é liberação mais lenta de N em comparação com os
um importante reservatório de N para as cultu- resíduos da aveia preta. Estes autores também
ras (ANGHINONI, 2007). No entanto, apesar do observaram que a adição de resíduos de plantas
plantio consorciado entre leguminosa e gramí- de cobertura no cultivo de cebola incrementou a
nea reduzir a taxa de decomposição dos resíduos produção em 2,5 t ha⁻¹. De acordo com Koucher
vegetais, a liberação da maior parte do N ocorre et al. (2017), a contribuição dos resíduos de nabo
nos primeiros quinze dias (AITA & GIACOMINI, forrageiro, aveia preta e nabo forrageiro + aveia
2003). Consequentemente, o N liberado pelos re- preta para a nutrição da cebola com N foi de ape-
síduos pode ser superior a quantidade de N acu- nas 4%. Por essa razão, os autores recomendam
mulado pelas culturas devido à baixa demanda que a escolha dessas plantas de cobertura seja
por N pelas plantas em fase inicial de desenvol- feita em função dos benefícios físicos e da qua-
vimento. Para uma maior entrada de N nos siste- lidade biológica do solo proporcionadas por elas
mas de plantio direto de hortaliças, a adubação no sistema de produção e não pela quantidade
verde pode ser feita em pré-cultivo (com roçada de N disponibilizado.
99
mais exigentes em K são aquelas produtoras de de aveia preta e ervilhaca apresentou uma taxa
amido, açúcar e fibras (FAQUIN, 2005). Dentre de liberação de K mais lenta em relação aos re-
as hortaliças, as culturas mais exigentes em K síduos culturais da ervilhaca cultivada de forma
são o alho, a beterraba, a cenoura, a mandioqui- isolada. Dessa forma, a liberação mais lenta de
nha-salsa, o tomateiro, a batata e a batata-doce K proporcionado pelo plantio consorciado pode
(CQFS-RS/SC, 2016). Na agricultura brasileira, resultar na redução das perdas deste nutriente
depois do P, o K é o nutriente mais consumido no solo. Ao se considerar a liberação de nutrien-
como fertilizante (FAQUIN, 2005; RAIJ, 2011). tes (N, P, K, Ca, Mg e S) da palhada de milheto o
Além disso, mais de 90% do fertilizante potás- K foi quem apresentou a mineralização mais rá-
sico consumido no Brasil é importado (IPNI, pida independentemente do estádio em que as
2018). Ao contrário do N, P e S, o comportamen- plantas foram cortadas (CARPIM et al., 2008).
to do K, encontrado na solução do solo como K⁺, Oliveira et al. (2016) avaliaram os efeitos dos
é influenciado por processos de trocas catiôni- resíduos de plantas de cobertura (plantas es-
cas e de intemperismo (BRADY & WEIL, 2013), pontâneas, aveia preta, centeio, nabo forrageiro,
pois, o K não está estruturalmente ligado a ne- nabo forrageiro + aveia preta e nabo forrageiro
nhum composto orgânico (ERNANI et al., 2007) + centeio) nas propriedades químicas de um
e, por essa razão, o K é prontamente liberado Cambissolo Húmico no cultivo de cebola, e ve-
ao solo, na forma iônica, após transformações rificaram que os resíduos do centeio se diferen-
físicas na matriz dos resíduos vegetais (MOREI- ciaram dos demais apresentando uma liberação
RA & SIQUEIRA, 2006). Os feldspatos e as micas mais lenta de K ao solo. Esse comportamento
são os minerais primários potássicos mais im- está ligado ao fato de que o centeio apresentou
portantes (RAIJ, 2011) e podem representar de o maior tempo de meia vida dos seus resíduos
90 a 98% do teor total de K no solo (MALAVOL- na superfície do solo em relação à cobertura
TA, 2006). O K é suscetível a perdas por lixivia- morta de outras plantas avaliadas. A conversão
ção, no entanto, em menor intensidade que o N do cultivo convencional para o plantio direto de
(BRADY & WEIL, 2013). A lixiviação de K é mais cebola utilizando plantas de cobertura (aveia
expressiva quanto maior a presença de nitrato, preta, centeio, nabo forrageiro, nabo forrageiro
cloreto e sulfato na solução do solo que acompa- (14%) + centeio (86%), nabo forrageiro (14%)
nham o K na descida pelo perfil do solo (FURTI- + aveia preta (86%)) promoveu o aumento dos
NI NETO et al., 2001). Entretanto, nos sistemas teores de K dos macroagregados das camadas 0
de plantio direto, devido à ciclagem proporcio- a 5, 5 a 10 e 10 a 20 cm, após cinco anos (SAN-
nada por plantas de cobertura e ao aumento da TOS et al., 2017).
CTC do solo, da elevação do teor de MO e do pH,
há redução das perdas de K por lixiviação (AN-
GHINONI, 2007). As raízes dos adubos verdes
atuam em camadas além daquelas exploradas 3.4. Dinâmica de micronutrientes
pelas culturas comerciais e absorvem e retor- Os micronutrientes Cu, Zn, Mn, B, Fe, Ni,
nam o K à superfície e, além de reduzir a lixivia- Cl e Mo, com exceção do Fe e do Mn em alguns
ção, essas plantas de cobertura são fontes de K solos, apresentam concentrações totais no solo
após a decomposição de seus resíduos vegetais normalmente abaixo de 1000 mg kg¯¹ (FURTINI
(SILVA et al., 2014). Giacomini et al. (2003), ob- NETO et al., 2001; WHITE, 2009). Os micronu-
servaram que quase todo o K foi liberado nos trientes podem ser divididos em dois grupos, os
primeiros 29 dias durante a decomposição dos catiônicos (Cu, Fe, Mn, Ni e Zn) e os aniônicos
resíduos de cultivo solteiro de ervilhaca (Vicia (B, Cl e Mo) (DECHEN & NACHTIGALL, 2006).
sativa L.) do nabo forrageiro (Raphanus sativus Embora os micronutrientes sejam exigidos em
L.) e do cultivo consorciado de aveia preta (Ave- menores quantidades, eles são tão importan-
na strigosa Schieb) e ervilhaca. No entanto de tes quanto os macronutrientes para a nutrição
acordo com os autores, o cultivo em consórcio das plantas (POTAFOS, 1998). Em função das
101
pequenas quantidades exigidas pelas plantas, de que, com o passar dos anos da implementa-
as deficiências de micronutrientes tardam a ção dos sistemas de plantio direto, em função
aparecer nos cultivos em solos considerados do aumento do teor de MO, pode haver diminui-
férteis (RAIJ, 2011). No Brasil, as deficiências ção da disponibilidade de Cu para as culturas
de Zn e B são as que ocorrem com maior fre- (LOPES et al., 2004). No entanto, a complexação
quência (FURTINI NETO et al., 2001). Em solos ou formação de quelatos de Zn e Cu com ácidos
arenosos com baixo teor de MO e baixo pH pode orgânicos de baixo peso molecular aumentam
ocorrer deficiência de Mo e B, e nos mesmos so- a disponibilidade desses dois micronutrientes
los, quando o pH está elevado, Zn, Cu, Fe e Mn (SILVA et al., 2014). Os solos de textura areno-
podem ser deficientes (CQFS-RS/SC, 2016). As sa tendem a ter menor disponibilidade de B, Cu,
deficiências de micronutrientes e o consequen- Mn, Mo e Zn pela maior predisposição de per-
te ganho de importância da adubação com esses das desses nutrientes por lixiviação (DECHEN &
elementos, tem ocorrido no Brasil pela utiliza- NACHTIGALL, 2006). As reações de oxirredução
ção de culturas mais produtivas que extraem e influenciam principalmente a disponibilidade
exportam mais macro e micronutrientes do solo de Fe e de Mn, de modo que condições muito
e pelo uso de fertilizantes concentrados sem redutoras aumentam a disponibilidade desses
micronutrientes (ABREU et al., 2007; LOPES & dois micronutrientes, a ponto de poder ocasio-
ABREU, 2000; POTAFOS, 1998). Diferentemen- nar toxidez (ABREU et al., 2007). Quando a con-
te dos macronutrientes, as faixas de suficiência dição de redução é provocada por alta umidade
dos micronutrientes, que ficam entre as faixas pode ocorrer toxidez de Cu, Mo e Zn devido ao
de deficiência e de toxidez, são estreitas, de aumento da disponibilidade desses micronu-
modo que as adubações com esses elementos trientes (DECHEN & NACHTIGALL, 2006). No
podem ocasionar toxicidade às plantas depen- Brasil, tanto para o S como para os micronu-
dendo da dose utilizada (BRADY & WEIL, 2013). trientes, há poucas pesquisas de longa duração
Os principais fatores que podem afetar sobre a calibração de dados de análise de solo e
a disponibilidade de micronutrientes paras as de análise foliar para estimativas de respostas à
plantas são (DECHEN & NACHTIGALL, 2006): adubação (LOPES et al., 2004). Isso cria limita-
pH do solo, teor de MO, textura do solo, ativi- ções para os técnicos na tomada de decisão so-
dade microbiana, drenagem do solo, condições bre o uso eficiente de micronutrientes no solo
de oxirredução e as condições climáticas. O au- (ABREU et al., 2007).
mento do pH do solo tende a aumentar a mi-
neralização da MO e diminuir a do Fe, Mn, Zn e
Cu (FURTINI NETO et al., 2001). Pode ocorrer
redução da disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn e 4. Considerações finais
B, nos primeiros centímetros da superfície do O SPDH é um sistema que envolve diver-
solo, devido à elevação de pH, mesmo em áreas sas hortaliças e diversas plantas de cobertura
que receberam doses pequenas de calagem de que podem assumir diferentes combinações.
manutenção em áreas de sistemas de plantio Cada hortaliça e cada adubo verde possuem
direto (LOPES et al., 2004). Nesses casos, os suas próprias características de manejo, de exi-
autores não recomendam a aplicação a lanço gências nutricionais e efeitos no solo e a com-
desses micronutrientes sendo preferencial o binação dessas diferentes plantas em rotação
uso de fertilizantes NPK contendo esses ele- tornam a dinâmica desse sistema de produção
mentos. Em áreas de sistemas de plantio direto, complexa e desafiadora. As dinâmicas dos nu-
os compostos da MO podem formar complexos trientes no SPDH diferem de uma região para
orgânicos com Fe, Mn, Cu e Zn de maneira que outra devido as diferenças de clima, do solo e,
os complexos formados com Cu podem ser tão principalmente, pelas características locais no
estáveis a ponto de causar deficiência deste nu- cultivo de determinadas hortaliças e pelo uso
triente (ABREU et al., 2007). Isso explica o fato de plantas de cobertura mais adaptadas a cada
102
região para a produção de alimentos. Além da lidade do solo, de física do solo e especialmente
necessidade de aprofundar os estudos sobre as de indicadores biológicos com a finalidade de
dinâmicas dos nutrientes, sobretudo para aque- avaliar o SPDH de forma holística. Para a cria-
les em que há poucas informações, o SPDH tam- ção e o desenvolvimento desses novos indica-
bém requer estudos multidisciplinares para a dores considera-se imprescindível a construção
geração de conhecimentos e para compreensão conjunta dos conhecimentos envolvendo os téc-
de toda a relevância que este sistema de produ- nicos da pesquisa, da extensão rural e os agri-
ção pode alcançar. cultores.
É necessário o desenvolvimento de novos
parâmetros e indicadores de qualidade de ferti-
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6
1. Introdução
proposta. E, uma vez que o termo foi considerado aqui no Brasil, durante a FertBio 2016, apresen-
relevante para o entendimento dos ecossistemas tou a questão: “Por que Saúde do Solo ao invés de
produtivos, o Comitê ficou responsável por identi- Qualidade do Solo?” e respondeu “Somente coi-
ficar atributos do solo úteis para descrever e ava- sas ‘vivas’ podem ter saúde. Solo não é um meio
liar a Qualidade do Solo. de crescimento inorgânico, mas sim um recurso
Tendo como base os conceitos de Larson & dinâmico em conjunto com bilhões de micró-
Pierce (1991) e Doran & Parkin (1994), Karlen e bios que são a base de um elegante ecossistema
colaboradores, em 1997, publicaram o relatório simbiótico.”1. Em resumo, “Qualidade do Solo é
do Comitê S-581 da SSSA. Nele está posto que a a capacidade do solo funcionar” (KARLEN et al.,
“Qualidade do Solo é a capacidade de um solo fun- 1997).
cionar dentro dos limites de um ecossistema na- Na primeira fase do debate sobre Qualidade
tural ou manejado, para sustentar a produtivida- do Solo, final década de 80 até os anos 2000, o fun-
de de plantas e de animais, manter ou aumentar cionamento ecossistêmico do solo estava apoiado
a qualidade do ar e da água e promover a saúde apenas em quatro funções, fortemente relaciona-
das plantas, dos animais e dos homens” (KARLEN das às questões produtivas. Três das quatro fo-
et al., 1997). ram propostas inicialmente por Larson & Pierce
Qualidade do Solo é entendida, então, como (1991):
um processo ecológico que atende três pilares: a 1) Servir como meio para o crescimento das
produtividade, a saúde e a qualidade de todos os plantas, indicando que é preciso ter suporte
componentes do ambiente, como demonstrado na físico adequado, porosidade para comportar
Figura 1. água e ar nas quantidades satisfatórias para
o desenvolvimento das plantas e dos orga-
nismos edáficos;
2) Regular e compartimentalizar o fluxo de
água no ambiente, também demandando
que o solo tenha estrutura com boa relação
de tamanho de poros que drenem e rete-
nham água e, ao mesmo tempo, permitam
espaço poroso suficiente para a vida no solo;
3) Atuar como tampão ambiental, que é a capa-
cidade do solo em exercer o papel de filtro e
detoxificador de compostos que podem ser
prejudiciais ao ambiente. Mas somente com
espaço poroso, distribuição adequada de
água e a presença de organismos vivos é que
Figura 1. Os três pilares da Qualidade do Solo apresen- esses processos acontecerão;
tados em Doran & Parkin (1994). Modificado a partir 4) Função proposta por Doran & Parkin (1994),
dos autores. que consiste em estocar e promover a cicla-
gem dos elementos na biosfera. Para isso é
Na publicação de Karlen et al. (1997), apa-
preciso favorecer as cargas do solo, oriundas
rece a discussão do Comitê S-581 sobre o termo principalmente da matéria orgânica, além
“capacidade”, em que houve propostas de trocar de promover a vida no solo, que é a respon-
para “habilidade” ou “aptidão”. O debate foi para sável pelas transformações bioquímicas. Só
construir um conceito interdisciplinar que en- assim o processo de estoque e ciclagem de
volvesse valores pessoais, expectativas institu- elementos acontece.
cionais ou culturais dos formadores de opinião. Se analisarmos a linha do tempo em relação
Similar reação ocorreu em resposta ao uso ao tema Qualidade do Solo, que está represen-
de Qualidade do Solo ou Saúde do Solo. A SSSA
¹ (disponível para download em http://www.eventosolos.org.br/
considera os termos intercambiáveis. Karlen, fertbio2016/palestrantes/).
109
responsável pelos processos e transformações avaliação da Qualidade do Solo deve ser tal que
intimamente relacionados às funções do solo. O possa identificar as propriedades resultantes
solo é resultado de relações direcionadas pela dos processos direcionados pela vida no sistema
vida. Os trabalhos sobre Qualidade do Solo ao solo.
longo da sua história revelam esse olhar. A visão integradora de Qualidade do Solo
Na década de 90, Addiscott publicou o assentada na sustentabilidade ambiental, vi-
trabalho (ADDISCOTT, 1995) que se tornou um sando os seres vivos, especialmente os huma-
clássico, o qual propõe analisar a sustentabili- nos, está diretamente relacionada aos Serviços
dade do solo por meio da avaliação do sistema Ecossistêmicos. Antes de apresentar o conceito
solo-planta-organismos-atmosfera. Ressalta-se, de Serviços Ecossistêmicos, contextualizaremos
aqui, que a discussão sobre Qualidade do Solo a definição de ecossistema2. É por meio dos flu-
sempre esteve associada à sustentabilidade, con- xos de energia e matéria ─ entre os organismos
firmando a visão do solo de forma sistêmica. A e o meio ─ que ocorrem os processos ecológi-
avaliação de Addiscott (1995) consiste em fazer cos, como a ciclagem de nutrientes, a produção
uma “auditoria” (nas palavras dele) de pequenas de biomassa e a decomposição de resíduos. Es-
moléculas produzidas, pois é um indicativo que ses processos ecológicos geram benefícios para
um sistema estaria degradado se nele predomi- a humanidade. É o que caracteriza os Serviços
nar pequenas moléculas, versus um sistema com Ecossistêmicos. Portanto, “Serviços Ecossistêmi-
predomínio de grandes moléculas. cos são os benefícios que as pessoas obtêm dos
Essa também foi a linha de pensamento de ecossistemas” (MEA, 2005).
Coleman, Hendrix e Odum, ecologistas do solo, Assumimos, aqui, que Serviços Ecossistê-
micos não são sinônimos de Serviços Ambientais.
em 1998, que propuseram avaliar a relação en-
Para nós, estes são os serviços prestados pelos
tre o carbono fixado pela fotossíntese e o libe-
humanos para a manutenção dos ecossistemas
rado pela respiração em um sistema solo-planta
e aqueles são serviços prestados pelos ecossis-
(COLEMAN et al., 1998). Se a relação for menor
temas para os humanos, ou seja, as direções são
que um, o sistema está perturbado; se for igual
inversas.
a um, o sistema está em estado estável; se for
Os Serviços Ecossistêmicos abrangem qua-
maior que um, o sistema está com qualidade.
tro categorias:
E a nossa compreensão sistêmica do solo
1) Serviços de Suporte: sustentam todos os
está pautada em que esse recurso é resultado
outros serviços e, por isso, o nome. Nesta
de um todo de componentes e relações. Enten- categoria estão os serviços de formação do
demos o solo como um sistema vivo, em que solo, a produção primária e a ciclagem de
minerais, plantas e organismos constituem sua nutrientes;
estrutura organizada em forma de rede, em que 2) Serviços de Provisão: referem-se ao abas-
as relações internas dos componentes interagem tecimento de alimentos, ervas medicinais,
entre si e conduzem o seu funcionamento. princípios ativos, ao fornecimento de ma-
Como todo sistema vivo, as relações entre deira e fibras e, também, de água potável,
os componentes têm vínculo de causa (CAPRA & tanto subterrânea como superficial;
LUISI, 2014). É por meio da rede de relações que 3) Serviços Reguladores: controlam o clima,
passa o fluxo de energia e matéria e, somente por as inundações, a qualidade da água, as
isso, o solo se mantém organizado da forma que doenças e a decomposição de resíduos;
é. Portanto, a estrutura do solo sofre influência 4) Serviços Culturais: são os benefícios não-
dos fluxos de energia e matéria, que são condu- -materiais que as pessoas obtêm a partir
zidos pelos compostos orgânicos. Em outras pa- do contato com o ecossistema, incluindo
lavras, é a vida pulsante no sistema solo que o
² Conjunto de seres vivos de diferentes espécies que vivem em
faz se constituir como é, degradando ou gerando uma determinada área específica e, que por isso, interagem en-
qualidade. Logo, o manejo desse sistema deve tre si e com os fatores do meio (ar, água, nutrientes, minerais,
favorecer processos que promovam a vida e a temperatura), e essa interação produz fluxos de energia e maté-
ria (REECE et al., 2015).
111
racterizar a campo, juntamente com os agricul- próximos do lado externo do gráfico representam
tores, técnicos, estudantes ou pesquisadores, o sistema que mais se aproxima da condição ideal.
indicadores de solo associados ao perfil cultu- A identificação dos indicadores e das ca-
ral. Como reportado em Vezzani & Mielniczuk racterísticas que representam um solo com qua-
(2009), compilando a proposta de vários au- lidade, pela percepção dos agricultores de forma
tores, deve-se buscar o uso de indicadores que participativa, ocorrerá por meio de encontros
integrem as propriedades biológicas, físicas e e práticas de capacitação para desenvolver o
químicas do solo, que representem processos processo metodológico em conjunto. Dessa
relevantes para as funções do solo e que sejam forma, os agricultores passam a ter autonomia
sensíveis a mudanças decorrentes das práticas para aplicarem a avaliação e fazer parte da to-
de manejo. Também é desejável que os indica- mada de decisões em relação às futuras práticas
dores sejam de fácil uso pelos agricultores e de manejo que posteriormente serão adotadas.
técnicos, permitindo a sua adequada análise e A ideia de avaliar os sistemas agrícolas quanto
interpretação. à Qualidade do Solo, utilizando propostas me-
Uma vez escolhidos os indicadores de Qua- todológicas de avaliação participativa com os
lidade do Solo e definido como os mesmos serão agricultores também pode auxiliar no processo
avaliados, atribuem-se notas aos indicadores em de conversão de sistemas agrícolas convencio-
uma escala que pode variar de 1 a 10 ou de 1 a nais, para o sistema de manejo agroecológico
5. No caso do intervalo de 1 a 10, a nota 1 será (VERONA, 2008; COMIN et al., 2016).
atribuída à pior condição para aquele indicador, Neste caso, os agricultores que estão pas-
ou seja, no cenário indesejável, a nota 5 será atri- sando por um processo de transição e apren-
buída a uma condição minimamente aceitável e a dizado nos sistemas de cultivo, conseguem ob-
nota 10 será dada àquela condição desejável, ou servar por meio dos indicadores e da avaliação,
seja, à situação ideal, semelhante a uma área de quais ações devem ser realizadas para que os
vegetação nativa. Evidentemente, notas interme- mesmos alcancem a produtividade desejada de
diárias podem ser atribuí-
das aos indicadores.
Para facilitar a atri-
buição de notas aos indica-
dores, recomenda-se usar
cenários de referência,
como por exemplo, uma
mata nativa situada sobre o
mesmo tipo de solo e topo-
grafia e, preferencialmente,
em área adjacente ao sis-
tema a ser avaliado, para
garantir a mesma condição
climática. Após a atribuição
das notas aos indicadores,
os resultados (média arit-
mética de diferentes ava-
liadores) são plotados em
gráficos do tipo radar ou
teia (Figura 4). Estes recur-
sos permitem aos agricul- Figura 4. Exemplo de gráfico tipo teia confeccionado em campo após a avaliação da
tores uma fácil visualização Qualidade do Solo. Em verde, avaliação de mata em estágio sucessional secundário
do estado da Qualidade do com interferência antrópica e, em vermelho, gleba em pousio anteriormente culti-
Solo, pois os valores mais vada por longos anos com hortaliças. MO = matéria orgânica.
114
forma sustentável. Por conta das notas atribuí- sociais (menor intensidade de trabalho e qualida-
das, é possível pensar em quais práticas de ma- de do produto e da vida dos agricultores).
nejo sustentável. Por conta das notas atribuídas, A seguir, a título de exemplo, apresentamos
é possível pensar em quais práticas de manejo um conjunto de indicadores passíveis de serem
serão adotadas durante a transição, e em qual cro- utilizados para a avaliação da Qualidade do Solo
nologia, tais como: a eliminação de agrotóxicos ou (Quadro 1). A avaliação participativa da Qualida-
da maioria destes, aumento da proteção do solo de do Solo pressupõe a escolha de indicadores
e da diversidade de plantas pelo uso de culturas com base no conhecimento dos participantes e
de cobertura, convívio com plantas espontâneas tais indicadores devem ser adaptados à realidade
e redução na necessidade de insumos externos local e adequados para atender aos objetivos pre-
como fertilizantes e combustíveis, além de fatores viamente definidos.
Quadro 1. Exemplo de indicadores de Qualidade do Solo com os respectivos valores (mínimo, médio e máximo) e
características de avaliação. A abreviação de cada indicador está apresentada entre parênteses.
• Primeiramente, deve-
-se identificar a esta-
ção de trabalho, isto
é, o local que repre-
sente as condições
gerais do sistema a
ser avaliado. No local
escolhido, abrir uma
trincheira em que
será analisado o per-
fil cultural do solo.
• A trincheira deve
ser cavada per
Figura 5. Vista de uma trincheira com o ponto de observação perpendicular ao
pendicular ao sentido
sentido da semeadura e em posição em que a luminosidade não interferirá na
da se meadura e ao interpretação visual do perfil. O solo retirado da trincheira foi disposto fora da zona
deslocamento dos de segurança, situada em frente à face de observação (área delimitada pelas ferra-
implementos. mentas).
116
Figura 9. Perfil de solo sob pomar de uva e amora, e cultivo de feijão e hortaliças nas entrelinhas sob plantio direto.
vegetação arbórea implantado em 2012; gleba feijão (Phaseolus vulgaris) e hortaliças nas entreli-
com pomar de uva (Vitis labrusca), implantado nhas das frutíferas sob plantio direto com capina
em 2006, e de amora (Morus nigra) em 2017. ou roçada das plantas de cobertura.
Os núcleos de vegetação arbórea continham, O solo nas glebas é classificado como Cam-
em média, 8 plantas de juçara (Euterpe edulis), bissolo Háplico (Figuras 6, 7, 8 e 9) que apresenta
4 bracatingas (Mimosa scabrella), 1 inga (Inga perfis medianamente profundos a profundos, co-
edulis), 1 canela amarela (Nectandra lanceolata), res brunadas e, neste caso de estudo, em posição
1 tucaneira (Cytharexyllum myrianthum), 1 an- de relevo ondulado a forte ondulado. Esta classe
gico vermelho (Anadenanthera macrocarpa de solo ocorre em todo o Estado de Santa Cata-
(Benth.) Brenan). A avaliação da Qualidade do rina, sendo a mais representativa, com ±40%.
Solo nesta área foi realizada na borda do núcleo Para não confundir com a classe dos Latossolos,
de vegetação arbórea. As áreas sob PRV são pas- os Cambissolos têm perfil com presença e até
toreadas por 2 dias com carga animal de 25 ca- abundância de materiais ainda não intemperiza-
britos e ficam em período de repouso de 40 dias. dos ou, mesmo, pedregosidade associada a solos
As espécies forrageiras presentes nas áreas sob menos profundos.
PRV são hermathria (Hemarthria altíssima), mis- A avaliação da Qualidade do Solo foi
sioneira gigante (Axonopus Compressus), Pani- efetuada por sete pós-graduandos e está apre-
cum maximum cv aruana, amendoim forrageiro sentada na Figura 10. Para a avaliação, foram
(Arachis pintoi). escolhidos os indicadores matéria orgânica, pro-
Antes da implantação do PRV, as áreas fo- fundidade de raízes, estrutura do solo, compac-
ram cultivadas por 20 anos com as culturas de tação, erosão e atividade biológica, pois o grupo
fumo e mandioca, sob preparo convencional do de avaliadores entendeu serem os indicadores
solo ficando 18 anos em pousio. A área do pomar mais pertinentes para a avaliação dos cenários
foi cultivada por 20 anos com as culturas de fumo em questão. Verifica-se que os manejos do solo
e mandioca sob preparo convencional do solo, em com PRV com núcleo de vegetação arbórea e
seguida ficou 13 anos em pousio e, desde 2006, PRV a pleno sol, propiciaram valores dos indi-
está sob manejo agroecológico com o uso das cadores de Qualidade do Solo, profundidade de
plantas de cobertura ervilhaca (Vicia sativa) e aze- raízes, estrutura do solo, compactação e erosão
vém (Lolium multiflorum). No verão, foi cultivado muito semelhantes àqueles da área de floresta
118
recuperação da Qualidade
do Solo, enquanto o uso de
frutíferas e plantio direto
de feijão e hortaliças foi
mais lento em recuperar
a Qualidade do Solo, uti-
lizando o sistema floresta
primária como referên-
cia. Destaca-se ainda que,
entre todos os perfis ava-
liados, aquele da área de
pomar (Figura 9) é o mais
didático para mostrar e
discutir com as famílias
de agricultores e/ou agen-
tes de assistência técnica
e extensão rural e/ou es-
tudantes sobre os efeito
Figura 10. Diagrama de avaliação da Qualidade do Solo em área sob floresta primá- negativos do preparo con-
ria, PRV a pleno sol, Pastoreio Racional Voisin com núcleo de vegetação arbórea e vencional do solo no pas-
pomar de uva e amora, cultivo de feijão e hortaliças sob plantio direto. sado. No cenário em que o
manejo recuperou menos
primária. Já os valores dos indicadores ativida- a Qualidade do Solo, tem-se mudança abrupta
de biológica e matéria orgânica da área sob PRV de coloração mais escura para cores mais bru-
com núcleo de vegetação arbórea diferenciaram- nadas entre os 15 a 20 cm nesse perfil, o que já
-se daqueles da área sob PRV a pleno sol e se não é mais perceptivel nas áreas sob PRV (Figu-
aproximaram dos valores da floresta primária. ras 7 e 8).
Bigardi (2016) verificou que a presença do com-
ponente arbóreo em pastagens contribuiu para
o aumento dos teores de carbono orgânico do 4. O que a avaliação da Qualidade do Solo
solo, dos teores de nutrientes, melhoria da re- reflete no sistema de plantio direto de
tenção e da sua disponibilidade para as plantas, hortaliças?
por conta do aumento da soma de bases e capa-
O SPDH prevê, em seu eixo técnico-cientí-
cidade de troca de cátions do solo. O componen-
fico, a promoção da saúde da planta, orientada
te arbóreo em pastagens também favorece o au-
pela minimização dos estresses nutricionais, de
mento da densidade e equidade da macrofauna
salinidade, de disponibilidade de água, de tem-
no solo sob a copa das árvores, em especial no
peratura, de luminosidade, de pH, entre outros;
inverno, em comparação à pastagem em mono-
a rotação de culturas e de plantas de cobertura e
cultivo (SILVA, 2015).
adubos verdes, sejam cultivados ou espontâneos;
Por outro lado, a área com pomar e cultivo a rotação com animais manejados no sistema de
de feijão e hortaliças apresentou os menores valo- Pastoreio Racional Voisin; a adição de matéria
res para os indicadores matéria orgânica, profun- seca superior a 10 toneladas por hectare anual
didade de raízes, estrutura do solo e compactação. por meio dos planos de consorciação e/ou rota-
Apenas o valor do indicador erosão se aproximou ção de culturas; o revolvimento do solo restrito
das áreas sob PRV e o indicador atividade biológi- às linhas ou berços de semeadura e plantio; o ma-
ca se igualou àquele da área sob PRV a pleno sol. nejo dos adubos verdes espontâneos sem preju-
Assim, percebe-se que nos cenários ava- dicar a produção da cultura econômica, evoluin-
liados, o uso do PRV acelerou o processo de do para o plantio direto no verde (consorciação
119
das espécies cultivadas com outras plantas ainda & GERMIDA, 1988; OADES 1993; TIVET et al.,
vivas). 2013). Na Figura 11, é possível observar a pre-
Portanto, o SPDH contribui para que o solo sença abundante de macroagregados e distribui-
cumpra as suas funções na natureza (LARSON ção uniforme de raízes em solo, com cultivo de
& PIERCE, 1991; DORAN & PARKIN, 1994; MA- cana de açúcar, por cinco anos, sem revolvimen-
CBRATNEY et al., 2014). Isto porque o solo como to.
sistema vivo, depende da qualidade e quanti- Em sistemas como o SPDH têm-se pro-
dade de compostos orgânicos contribui para a priedades como: resistência do solo à erosão
construção da estrutura do solo e as práticas de (PANACHUKI et al., 2011; LOSS et al., 2017);
manejo propostas no SPDH contribuem para que maior infiltração e retenção de água no solo
sistema solo atinja a vida. (SIDIRAS & ROTH, 1987; BLANCO-CANQUI
Por meio dos planos de rotação, do cultivo & LAL 2007, 2009; PANACHUKI et al., 2011;
diversificado de plantas e/ou o manejo das plan- BALWINDER-SINGH et al., 2011; GAVA et al.,
tas espontâneas, o SPDH contribui para incre- 2013); aumento dos teores de matéria orgâni-
mentar os teores de matéria orgânica do solo e, ca e nutrientes; maior capacidade de troca de
consequentemente, para a melhoria da estrutura cátions; complexação de compostos orgânicos
do solo. Essa melhora se dá, principalmente, pela e inorgânicos (SOUZA et al., 2013; OLIVEIRA et
formação de bioporos do crescimento e poste- al., 2016; OLIVEIRA et al., 2017; SANTOS et al.,
rior decomposição das raízes das plantas, além 2017; SANTOS et al., 2018), e estímulo ao cres-
da estabilização dos agregados do solo (OADES, cimento da vida no solo – micro e macrobiota
1993). Os macroagregados são formados e esta- (GATIBONI et al., 2009; LIU et al., 2016). De ma-
bilizados pelo emaranhamento físico de raízes e neira oposta, em um sistema de produção agrí-
hifas de fungos, incluindo os fungos micorrízicos cola pouco diversificado que fornece pequena
arbusculares e a deposição de polissacarídeos quantidade de compostos orgânicos, a exemplo
proveniente de mucilagens de origem microbia- do Sistema de Preparo Convencional (SPC), pre-
na e vegetal (TISDALL & OADES, 1982; GUPTA dominarão os microagregados.
Figura 11. Perfil de solo cultivado com cana de açúcar conduzida em SPDH por 5 anos. Observa-se a preponderância
de macroagregados na camada de 0-10 cm e distribuição uniforme de raízes no perfil.
120
Figura 12. Perfil do solo após sucessivos cultivos de hortaliças com preparo excessivo do solo. Nota-se a presença de
grandes torrões compactados na camada de 0 a 20-25 cm, inexistência de macroagregados e distribuição desuniforme
e superficial de raízes de plantas espontâneas.
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1. Introdução
O uso de adubos orgânicos na agricul- em locais irregulares. Essa atitude, além de cau-
tura é uma prática milenar que apresenta sar poluição ao ambiente, desperdiça materiais
grande destaque em regiões onde a atividade ricos em nutrientes e com elevado potencial de
agropecuária é intensa, como é o caso do Estado serem transformados em fertilizantes.
de Santa Catarina. Dentre os resíduos orgânicos Os dejetos de animais são aplicados ao
mais utilizados em Santa Catarina, destacam-se solo na forma in natura após passarem por
os dejetos líquidos de suínos, dejetos líquidos um processo de estabilização em esterqueiras
de bovinos e cama de aves. O estado é o maior anaeróbias, no caso dos dejetos líquidos (suínos
produtor de suínos do Brasil, com 26,8% da e bovinos), ou em pilhas ao ar livre, no caso dos
produção nacional, o segundo maior produtor dejetos sólidos (cama de aves). Já o composto
de frangos, com 15,4% da produção nacional orgânico de resíduos agroindustriais necessita
(EMBRAPA, 2018a), além de ser responsável por passar pelo processo de compostagem, o qual
9,6% da produção nacional de leite (EMBRAPA, elimina significativamente os agentes patogê-
2018b). Essas atividades geram volumes consi- nicos, desenvolve uma decomposição aeróbica,
deráveis de dejetos que necessitam de destino reduzindo a emissão de metano e gás sulfídri-
adequado para diminuir o potencial poluente, co, que contribuem para o efeito estufa e o mau
sendo o uso como fontes orgânicas de nutrien- cheiro. Além disso, o processo de compostagem
tes em culturas uma das principais alternativas melhora as características agronômicas dos re-
adotadas pelos produtores. síduos. Isso porque, o composto se devidamente
Nos últimos anos também tem ganhado elaborado, concentra e disponibiliza facilmente
destaque o uso de compostos orgânicos, produ- o nitrogênio (N) e os demais nutrientes.
zidos com os mais diversos resíduos oriundos A produção de composto orgânico e sua
de atividades agropecuárias e também indus- utilização como fonte de nutrientes para as
triais. Em Santa Catarina há grande preocupa- culturas, especialmente hortaliças, vem cres-
ção em relação aos resíduos gerados pelo se- cendo de maneira acelerada em Santa Catarina
tor agroindustrial, pois dezenas de toneladas (SCHALLENBERGER et al., 2008; CANTÚ et al.,
desses materiais são destinadas diariamente a 2016). Além dos compostos orgânicos, a utiliza-
aterros sanitários e muitas vezes depositadas ção de biofertilizantes a base de resíduos que,
128
Os estudos sobre a utilização de composto hortaliças com uso de composto orgânico, como
orgânico em SPDH mostram resultados excelen- é o caso do trabalho de Tavella et al. (2010), que
tes na avaliação da produtividade das culturas, observaram incrementos lineares (de até 6,5
dentre os quais destaca-se o trabalho conduzido Mg ha⁻¹) na produção de coentro (Coriandrum
na Epagri – Estação Experimental de Itajaí, Santa sativum L.) com doses crescentes de composto
Catarina. Nesse trabalho, utilizando um experi- aplicado. Já Araújo Neto et al. (2010), constata-
mento conduzido por 10 anos, foi avaliado o uso ram que a massa seca da parte aérea da cebolinha
de adubação com composto
orgânico em SPDH, em
Sistema de Preparo Con-
vencional (SPC) do solo e
adubação mineral em SPC.
Dentre os principais resul-
tados obtidos, destacam-se
a produtividades acima das
médias da região nos culti-
vos de pepinos para picles
(110 Mg ha⁻¹), repolho (74
Mg ha⁻¹) (Figura 1) e espi-
gas de milho verde (54,6
Mg ha⁻¹). Esses resultados
demonstram que é possível
obter elevadas produções
de hortaliças, até acima das
obtidas no sistema conven-
(a)
cional de produção, e ainda
melhorar a qualidade do
solo e a saúde das plantas
(SCHALLENBERGER et al.,
2011). Outros estudos con-
duzidos pela Universidade
Federal de Santa Catarina e
pela Epagri em Ituporanga
(SC) também encontraram
resultados positivos com
o uso exclusivo de fertili-
zante orgânico em SPDH
agroecológico de cebola,
atingindo produtividades
satisfatórias para a cultura
(SOUZA et al., 2013; LOSS et
al. 2015).
No âmbito nacional,
trabalhos desenvolvidos
com uso de composto or-
(b)
gânico em SPDH encon- Figura 1. Início do cultivo de repolho em SPDH adubado com composto orgânico
traram resultados positi- (a); final do cultivo de repolho em SPDH adubado com composto orgânico (b) (Epa-
vos na produtividade de gri EEI, 2018).
130
(Allium fistulosum) aumentou linearmente devi- Os adubos orgânicos também podem au-
do ao efeito residual da adubação com composto mentar a disponibilidade de nutrientes, a capa-
orgânico em plantio direto. Além disso, a aduba- cidade de troca de cátions (CTC), a saturação
ção com composto orgânico aumentou a produti- por bases e os teores de carbono orgânico total
vidade de rúcula (Eruca sativa Miller) em plantio (COT) no solo (ADELI et al., 2008; SCHERER et
direto e promoveu o incremento de matéria or- al., 2010). Em trabalh o avaliando os atributos
gânica no solo (SOLINO et al., 2010). Utilizando químicos de um Latossolo Vermelho sob SPD,
a adubação orgânica suplementar em cobertura, em Chapecó (SC), com uso de diferentes doses
no cultivo da berinjela (Solanum melongena) cul- de composto orgânico elaborado com dejeto lí-
tivada em plantio direto, com doses de nitrogê- quido de suínos e maravalha, conforme Scherer
nio de 391 kg ha⁻¹, foi obtido produtividade de et al. (2009), Lourenzi et al. (2016) observaram
50,6 Mg ha⁻¹, que é o dobro da média nacional incrementos nos teores de P, K, Cu, Zn, Ca, Mg,
(CASTRO et al., 2005). CTC, saturação por bases e matéria orgânica do
Esses resultados apresentados demons- solo, sendo os efeitos mais acentuados observa-
tram o potencial fertilizante dos adubos orgâni- dos nas maiores doses do composto orgânico.
cos, refletido em produtividade das culturas. En- Além dos atributos químicos, o uso de
tretanto, é preciso ter cuidado no uso de adubos adubação orgânica também promove melhorias
orgânicos, pois a aplicação de doses excessivas nos atributos físicos do solo, como observado
ou com adição de quantidades desbalanceadas por Comin et al. (2013) em trabalho avalian-
de nutrientes em relação à exigência nutricional do o uso de dejeto líquido e cama sobreposta
das culturas, pode ocasionar acúmulo excessivo de suínos em Argissolo Vermelho sob SPD, em
de nutrientes no solo. Como consequência, isso Braço do Norte (SC), após 10 anos de condução
pode ocasionar um desbalanço nutricional nas do experimento. Os autores observaram incre-
plantas e, consequentemente, afetar a saúde das mentos na agregação do solo, na estabilidade de
plantas, um dos princípios básicos do SPDH. agregados e na porosidade, além de redução da
resistência à penetração e da densidade do solo,
especialmente com o uso de cama sobreposta de
suínos. No mesmo experimento, Londoño et al.
3. Adubação orgânica e atributos químicos, (2011) avaliaram a biomassa microbiana, a res-
físicos e biológicos do solo piração basal e o quociente metabólico, e obser-
varam que o uso da cama sobreposta de suínos
O uso de adubos orgânicos, como já de- aumentou a biomassa microbiana e a respiração
monstrado anteriormente, proporciona resul- basal, indicando maior atividade microbiana no
tados positivos na produtividade das culturas, solo, influenciada pelo adubo orgânico.
Apesar dos adubos orgânicos proporcio-
mas também pode alterar atributos químicos,
narem inúmeros benefícios nos atributos do
físicos e biológicos do solo. Essas alterações
solo, conforme relatado anteriormente, as alte-
podem ser benéficas, como o aumento dos va-
rações promovidas podem não ser benéficas, es-
lores de pH e redução dos teores de saturação
pecialmente para o ambiente. Isso ocorre quan-
por Al, especialmente em solos com maiores
do há aplicação de quantidades de nutrientes
níveis de acidez (CERETTA et al., 2003; ADELI acima da demanda das plantas, causando acú-
et al., 2008). Em trabalho desenvolvido após 19 mulo excessivo desses elementos no solo, como
aplicações de diferentes doses de dejeto líquido observado por Lourenzi et al. (2013). Esses
de suínos em Argissolo Vermelho sob SPD, em autores, ao avaliarem os efeitos de diferentes
Santa Maria (RS), Lourenzi et al. (2011) obser- doses de dejetos líquidos de suínos no acúmulo
varam aumento dos valores de pH do solo, até de nutrientes em um Argissolo Vermelho, após
8 cm de profundidade, e redução dos teores de 19 aplicações dos dejetos, observaram que os
saturação por Al, até 20 cm de profundidade. teores de P disponível no solo apresentavam-se
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Promoção da saúde de planta
FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO E
NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Jamil Abdalla Fayad
Darlan Rodrigo Marchesi
Samira Jamil Fayad
1. Introdução
Neste capítulo será relacionada a demanda garantindo aos outros seres vivos sua liberdade
de nutrientes ao crescimento e desenvolvimento de andar, voar e rastejar no ambiente. Este altru-
da planta e os fatores que influenciam na sua pro- ísmo e cooperação são partes integrantes da na-
dutividade e saúde. O aprofundamento do tema tureza e fortemente arraigadas nas comunidades
pode ser encontrado em diversas literaturas, sen- integradas de plantas, biota, animais e homens.
do este capítulo baseado principalmente nos re- Esse novo organismo é composto, de forma
sultados dos trabalhos científicos desenvolvidos simplificada, por duas partes com funções espe-
em SPDH nas Estações Experimentais da Epagri cíficas que habitam ambientes distintos: a parte
em Caçador e Ituporanga, nas Lavouras de Estu- aérea que desenvolveu as folhas como órgão de-
dos (LE) e nas revisões bibliográficas em Horst dicado ao processo fotossintético, onde a captura
Marschner, Mineral Nutrition of Higher Plants; da luz solar e CO₂ irá produzir energia química
Emanuel Epstein & Arnold Bloom, Nutrição Mi- na forma de ATP e NADPH e armazenar em ca-
neral de Plantas; Manlio Silvestre Fernandes, Nu- deias carbônicas de alta energia; e as raízes, que
trição Mineral de Plantas; Lincoln Taiz & Eduardo se desenvolvem no solo com a função primária
Zeiger, Fisiologia Vegetal e Walter Larscher, Ecofi-
de minerar nutrientes e absorver água. A comu-
siologia vegetal.
nicação e a troca de água e nutrientes entre as
Ao sair do meio aquático para habitar o
raízes e a parte aérea é realizada por uma rede
terrestre, por volta de 430 milhões de anos atrás,
de vasos que compõem o sistema vascular da
as plantas desenvolveram adaptações ao novo
planta. Isso possibilita o intercâmbio de compos-
ambiente, modificando tanto o sistema radicular
tos carbônicos energéticos e de metabólitos es-
quanto a parte aérea afim de possibilitar a mine-
senciais ao crescimento e desenvolvimento. Esta
ração de nutrientes, a absorção de água na nova
troca tende a obedecer um equilíbrio funcional
matriz sólida e melhorar a eficiência fotossintéti-
ca. Assim, aprimorando sua vocação de organis- onde aproximadamente 40% dos compostos
mo autotrófico que produz a base alimentar da carbônicos produzidos na fotossíntese chegam
humanidade e dos animais, da macro e microbio- às raízes com a função de manutenção e cresci-
ta, incluindo a formação dos atuais solos e sua ma- mento radicular; absorção de íons; metabolismo;
téria orgânica. Neste período da evolução da vida produção de exsudatos e associação com a biota
na terra, a planta aumentou sua eficiência produ- na rizosfera. Já grande parte da água e nutrientes
tiva ao trocar sua liberdade de locomoção, fixan- que chegam à parte aérea são absorvidos pelas
do-se, ao desenvolver seu sistema radicular, mas raízes, porém, cada parte especializada tende a
142
de fotofosforilação acoplada à transferência de de ATP para cada CO₂ fixado. A enzima Rubisco é
elétrons. Já a passagem de prótons de volta para chave nesse processo, sendo que evolutivamen-
o estroma pela ATP sintase gera ATP a partir de te realiza reações de carboxilação (fixação de C)
ADP e Pi, e limitações destes podem paralisar o ou oxigenação (fixação de O₂) aos esqueletos de
transporte de elétrons. Dessa forma, condições carbono.
ambientais estressantes que reduzam o consu- O armazenamento de energia na forma de
mo de ATP ocasionam problemas na produtivi- carbono ocorre principalmente como sacarose e
dade e na saúde da planta. Outras condições es- amido. A sacarose é a principal forma transportá-
tressantes presentes no ambiente agrícola são vel de carbono entre células fonte (local de produ-
aquelas relacionadas à escassez e excesso de ção de fotoassimilados) e células dreno (local de
nutrientes, temperatura abaixo e acima da faixa consumo ou armazenamento de fotoassimilados)
adequada e a falta e excesso de água. e condições que geram acúmulo deste açúcar indi-
Os nutrientes possuem papéis-chave na cam redução da capacidade de consumo dos dre-
planta, sua falta ou excesso ocasionarão estres- nos. Já a síntese de amido ocorre sob condições em
ses nutricionais, comprometendo o desenvolvi- que a taxa fotossintética excede a exportação de
mento saudável da planta. Eles exercem funções sacarose. Isso ocorre em duas condições: quando
de oxirredução, são componentes de compos- há excesso de radiação luminosa, especialmente a
tos orgânicos, participam no armazenamento partir do meio dia, e redução de dreno. Neste caso
de energia, na osmorregulação, nas reações de a inibição da síntese da sacarose gera o acúmulo
transferência de elétrons e nas estruturas vege- de amido para permitir que o processo fotossinté-
tais, como cofator enzimático. Por exemplo, en- tico seja mantido. Esse amido é quebrado durante
quanto o N e S participam da formação dos com- a noite e convertido a sacarose no citossol para
plexos proteicos II e I, o Fe, S e Cu participam do exportação, ou consumido no processo de glicó-
complexo de transferência de elétrons da plas- lise para formação de outros compostos ou para
toquinona, citocromo e ferrodoxina. Já na for- produção de energia (respiração).
mação final do ATP e NADPH há participação do Os carboidratos produzidos na fotossínte-
Mg, Cu, Zn, P e Fe. Assim podemos inferir que na se são utilizados no suprimento de esqueletos
escassez de qualquer um destes minerais haverá de carbono para reações biossintéticas e para
diminuição na taxa fotossintética da fase lumino- o armazenamento de energia, a qual é liberada
sa comprometendo a fase escura da fotossíntese, durante a quebra dos carboidratos no proces-
quando ocorre a fixação de carbono. Logo, as- so de respiração via ATP. A respiração envolve
pectos ambientais relacionados a radiação solar, a glicólise, o ciclo de Krebs e a cadeia transpor-
temperatura, água e nutrientes exercem grande tadora de elétrons. O ciclo de Krebs também é
influência no balanço fotossintético. Assim, a de- importante por produzir os ácidos orgânicos,
finição do período mais adequado ao cultivo re- em especial α-cetoglutarato, esqueleto de car-
sulta em plantas com melhor rendimento e saú- bono utilizado na assimilação de nitrogênio. Na
de, visto que posicionam cultivos em momentos cadeia transportadora de elétrons, semelhante
favoráveis. ao que ocorre na fotossíntese, os elétrons acu-
Acoplada à fase luminosa, há fase escura mulados na forma de NADH e FADH₂ são trans-
da fotossíntese, conhecida como Ciclo de Calvin- feridos até o complexo que origina a redução
-Benson, onde ocorre a redução do CO₂ a car- do oxigênio, formando água ao mesmo tem-
boidratos, com o consumo de ATP e NADPH. O po que ocorre transferência de prótons para a
primeiro produto estável formado possui três matriz mitocondrial, originando um gradiente
carbonos, conhecido como triose, que será utili- de potencial eletroquímico necessário para o
zado na formação de cadeias carbônicas de alta funcionamento da enzima ATPsintase, cujo aco-
energia. Esse ciclo é composto por três etapas: plamento do ADP ao Pi resulta na formação de
de carboxilação, redução e regeneração da RuBP, ATP. Cerca de mais da metade da produtivida-
que consome duas moléculas de NADPH e três de fotossintética diária das plantas pode passar
145
pela respiração, sendo determinada por fatores carbono, sendo fontes. O mesmo ocorre com ór-
como a idade do tecido, concentração de oxigê- gãos acumuladores de reservas como sementes
nio e temperatura. Em situações de estresses, e raízes tuberosas.
principalmente de temperatura e água, a respi- Além de transportar fotoassimilados,
ração terá que transformar fotoassimilados em pelo floema também circulam água, compostos
mais ATP, ou seja, gastar mais energia para re- nitrogenados reduzidos, fitohormônios, mine-
parar danos. rais, proteínas, RNAs. O movimento é bidire-
Acoplado ao metabolismo primário está o cional, porém, dentro de cada vaso individu-
secundário, cujas rotas metabólicas têm a habi- almente é unidirecional, sendo modulável ao
lidade de sintetizar moléculas fundamentais ao
longo do tempo, de acordo com o desenvolvi-
crescimento e desenvolvimento das plantas. Os
mento dos órgãos e posicionamento das fontes
minerais serão incorporados a estes compostos
e drenos.
orgânicos para formar açúcares, amidos, ami-
O carregamento do floema utiliza meca-
noácidos, aldeídos, ácidos, enzimas, hormônios,
proteínas, celuloses, entre outros, que formarão nismo simporte, onde a sacarose acompanhada
tecidos e substâncias básicas para o crescimen- do próton é transportada do apoplasto para o
to e desenvolvimento das plantas. interior da célula companheira. Nesse processo,
há gasto de energia na forma de ATP, utilizado
para manter o gradiente eletroquímico. As co-
nexões que formam o “continuum celular”, co-
3. As relações fonte-dreno nhecido como plasmodesmos, realizam a trans-
ferência dos açúcares para o elemento de tubo
A atividade fotossintética e respiratória
condiciona a produção de fitomassa e a capa- crivado. Com isso, o potencial osmótico gerado
cidade de dreno das plantas. Da mesma forma, pela sacarose depositada no floema torna-se
em sentido contrário, a condição de consumo e mais negativo, originando movimento da água
uso de fotoassimilados modula a função fonte. do xilema para o floema. Essa pressão osmótica
O maior crescimento e formação de biomas- criada entre a porção do floema que se localiza
sa fotossintetizante (fonte), ampliam a área de mais próxima da fonte em relação ao dreno é a
captação de luz e favorecem a atividade fotos- força motriz necessária para o transporte passi-
sintética. Essa maior capacidade produtiva de vo da região do floema.
substratos é utilizada para a produção de nova Para que o descarregamento do floema
biomassa (dreno). Assim, o balanço de acúmulo ocorra é necessário que seja mantido um gra-
energético e a adequação com o consumo são diente de concentração. O consumo rápido de
realizados de forma dinâmica e periódica pelas sacarose pelas células dreno, utilizando os com-
plantas. Como exemplo, a maior produção de postos transportados no crescimento, produção
açúcares estimula a diferenciação celular para de amido, respiração e metabolismo secundá-
ampliar o número de sementes e frutos, sendo rio geram um gradiente de concentração para
que estes órgãos consumidores, por sua vez, de- que haja o rápido descarregamento do floema.
mandam maior atividade fotossintética. Quanto maior a diferença de pressão existente
Diferentes órgãos das plantas funcionam entre as regiões do floema próximas ao dreno
como dreno ou fonte de acordo com determina- e à fonte, mais rápido o fluxo de descarrega-
das condições de desenvolvimento do vegetal. mento. Toda vez que há algum distúrbio nesse
Há conversões de dreno em fonte e vice-versa, mecanismo de descarregamento os efeitos são
por exemplo, como em folhas que na fase inicial percebidos e se verificam quedas nas taxas fo-
de crescimento atuam como drenos e quando tossintéticas e de respiração. Estes distúrbios
atingem cerca de 2/3 do seu tamanho final pas- podem ser ocasionados pela retirada de por-
sam a atuar positivamente na assimilação de ções da planta que estejam funcionando como
146
Os quadros de desconfortos para a planta, nos eventos de maior taxa fotossintética, de cres-
conhecidos como estresse, dificultam as expres- cimento e, consequentemente, de maiores taxas
sões das suas potencialidades com saúde, uma de absorção de nutrientes.
vez que esta depende da minimização das condi- Outra situação que pode levar à falta de al-
ções estressantes, ou seja, de proporcionar con- guns nutrientes em nível celular é aquela ocasio-
forto a ela. É importante salientarmos que alguns nada pela alta concentração de um nutriente no
estresses podem ser benéficos, como o hídrico e solo, impondo maior proximidade física frente à
o de luminosidade às mudas antes do plantio ou proteína transportadora em relação aos demais
o hídrico logo após o “pegamento” da muda no elementos que ficam diluídos, modificando a pro-
campo. Alguns sintomas destes estresses podem porcionalidade entre elementos e diminuindo a
ocasionar confusão na interpretação da expres- probabilidade de serem absorvidos. Um exem-
são sintomatológica. plo clássico nos cultivos de hortaliças no sistema
convencional é a alta concentração de potássio
no solo ocasionado pela excessiva adubação com
dejetos orgânicos e químicos que dificultam,
5. Alguns aspectos da absorção de
principalmente, a absorção de cálcio e magné-
nutrientes minerais
sio. Este excesso de elemento com carga posi-
A eficiência na obtenção de todos os ele- tiva faz com que a planta absorva íon negativo
mentos minerais essenciais do solo pela planta numa tentativa de realizar o “equilíbrio elétrico”
depende das raízes receberem fotoassimilados ou “neutralidade de carga”, que nada mais é que
da parte aérea para serem convertidos em ATP tentar absorver a mesma quantidade de cargas
nas mitocôndrias das células do sistema radicu- negativas e positivas. Este exemplo de excesso de
lar, pelo processo respiratório. A absorção de nu- potássio no solo apresenta duplo problema: um
trientes é um processo “morro acima”, isto é, com ao receber esta carga positiva em detrimento de
gasto de energia, uma vez que esse sai do meio outras cargas positivas como do cálcio e magné-
menos concentrado para o mais concentrado, sio e, outro, ocasionado pela sua imposição física
contra um gradiente de potencial eletroquímico. sobre a proteína transportadora, dificultando a
Esta energia é consumida pela ATPase que é uma aproximação de outros nutrientes. Veja só, nes-
bomba extrusora de prótons que atravessa a te exemplo, a falta de Ca²⁺ provoca o fundo pre-
membrana plasmática para criar um diferencial to nos frutos do tomateiro e melancia, quadro
de potencial hidrogênio iônico entre o interior que pode ser ainda mais prejudicial ao realizar
celular e seu exterior, o apoplasto. Este potencial adubação de N na forma amoniacal (NH₄⁺). Nes-
de membrana pressiona o fluxo do H⁺ para den-
te caso a opção é adubar com N na forma nítri-
tro da célula conjuntamente com um nutriente
ca (NO₃⁻) para equilíbrio de carga e facilitar a
mineral por meio das diversas proteínas trans-
absorção de cálcio e magnésio. É comum que o
portadoras contidas na membrana. Esta condição
excesso de potássio ocasione sintomas de defi-
primária de potencial de membrana é a energia
ciência de magnésio nas folhas mais velhas dos
propulsora para a entrada dos minerais da solu-
ção do solo para o citossol que é um ambiente de vegetais, fato mais frequente de ser observado
maior concentração. A bomba iônica de extrusão no cultivo do tomateiro. Entre outros exemplos
de prótons é o mecanismo central no processo de de relações entre nutrientes podemos citar o ex-
nutrição mineral de plantas e vale lembrar que cesso de P e a sobre calagem. Nesta condição o
este evento é dependente da presença de oxigê- P se liga, principalmente, com o Zn, Cu, Fe e Mn,
nio em nível radicular para efetivar a respiração. formando compostos inaproveitáveis, semelhan-
Portanto, a maior velocidade de difusão do O₂ te ao que ocorre na sobre calagem, normalmente
pela matriz sólida depende da estrutura grumosa na camada até 10 cm, que faz “desaparecer” al-
do solo desde sua superfície para garantir todo o guns nutrientes na forma de compostos indispo-
potencial celular de absorção, primordialmente níveis para a planta, como o Zn, Cu, Fe, Mn e P.
148
Quadro 1. Consumo de nutrientes e produção de matéria seca em relação ao conteúdo total ao longo do ciclo da cul-
tura do tomateiro, cv. Carmem (1999).
Figura 4. Acúmulo de nutriente e biomassa (a) e Taxa Diária de Absorção de Nutrientes pelo tomateiro e de cresci-
mento absoluto (G) (b), cv. Carmem, EECaçador, 1999.
Figura 5. Acúmulo de nutriente e biomassa (a) e Taxa Diária de Absorção de Nutrientes e de crescimento absoluto (b),
Moranga Híbrida Tetsukabuto, EECaçador, 1999.
Figura 6. Acúmulo de nutriente e biomassa (a) e Taxa Diária de Absorção de Nutrientes e de crescimento absoluto (b),
cebola cv, Crioula, EEItuporanga, 2004.
plantas apresentam sintomas de deficiência de 58% do Ca, 56% do Mg, 52% do Fe, 61% do Mn,
elementos minerais, ocasionado pelo pH fora 56% do Zn, 64% do Cu e 60% do B absorvidos
da faixa ideal e pela falta ou excesso de outro do total ao longo do ciclo cultural do tomate.
nutriente. Práticas que proporcionam retrans- Portanto, este é um dos períodos que dispensa
locação em massa das folhas mais velhas às maior rigor em minimizar os eventos estres-
regiões de crescimento intenso, enfraquecen- santes com luz, água, O₂ radicular, nutrientes e
do tecidos para entrada de patógenos prejudi- temperatura. Proporcionar conforto às plantas
ciais. A consequência desta forma de pensar e muitas vezes depende de trabalhos anteriores
executar adubação tem produzido estresses à a atual safra, objetivando a maturidade do sis-
planta na forma de sintoma de deficiência e de tema com rotação de culturas, quantidade de
sucetibilidade a doenças e pragas. biomassa produzida no plano de rotação, cor-
Outra observação contida no Quadro 1 é reção da acidez e fertilidade do solo, adição de
o período concentrado nas intensas taxas diá- adubos orgânicos, manejo das plantas e da ir-
rias de produção de matéria seca e absorção de rigação, entre outros.
nutrientes que têm suas máximas aproximada- Com a taxa diária de absorção de nutrien-
mente em torno da 11a semana. Quanto mais tes, contida no Quadro 1 e 2, é possível imple-
próximo da máxima for o período selecionado, mentar programas de adubação para a cultura
maior será a quantidade de nutriente absorvi- do tomateiro, inclusive pela irrigação por go-
do e de matéria seca produzida dentro do curto tejamento onde usualmente aplicam-se o N, P,
espaço de tempo, significando que é a fase do K e B. Em cada realidade é possível construir
ciclo cultural de maior intensidade fotossinté- um programa mais adequado às necessida-
tica e, portanto, de maior exigência de água, des das plantas e possibilidades do agricultor,
nutrientes minerais, temperatura e luz solar. mediante a utilização destes dados comple-
É neste período que a produtividade pode ser mentados com outras análises e conhecimento
aumentada ao minimizar estes fatores estres- do histórico da área de plantio. É preciso que o
santes. Pode-se selecionar aleatóriamente o sistema de cultivo contenha todos os nutrien-
período de 56 aos 98 DAP e aí estará concen- tes em quantidades suficientes para satisfazer
trado aproximadamente 62% da produção de as taxas de crescimento e, consequentemente,
materia seca e 59% do N, 52% do P, 62% do K, as taxas diárias de absorção de nutrientes.
Quadro 2. Quantidade de nutrientes absorvidos pela planta e alocados nos frutos ao longo do ciclo da cultura do to-
mateiro, cv. Carmem (1999).
Quadro 3. Ajuste da quantidade de adubação de cobertura, principalmente N e K, com base na associação dos sinais
da planta, condições climáticas e estoque de nutrientes no solo, para a cultura do tomate.
1.0 - Período com temperatura ótima (20 a 28°C), tempo ensolarado, com as plantas apresentando
diferença de cor verde entre as folhas maduras e novas e sem frutos: MANTER OU AUMENTAR EM
30% A QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
1.1 - Repetindo as condições anteriores (1.0), porém com frutos: AUMENTAR EM 30% A ADUBAÇÃO
RECOMENDADAPARA A SEMANA OU DIMINUIR;
1.2 - Repetindo as condições anteriores (1.1), porém havendo pouca ou nenhuma diferença de cor
verde entre folhas maduras e novas: DIMINUIR APROXIMADAMENTE 50% A ADUBAÇÃO RECOMEN-
DADAPARA A SEMANA.
2.0 - Período com temperatura ótima (20 a 28°C), tempo nublado, com as plantas apresentando
diferença de cor verde entre as folhas maduras e novas e sem frutos: DIMINUIR EM 30% A QUANTI-
DADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
2.1 - Repetindo as condições anteriores (2.0), porém com frutos: MANTER A QUANTIDADE DE ADU-
BOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
2.2 - Repetindo as condições anteriores (2.1), porém havendo pouca ou nenhuma diferença de cor
verde entre folhas maduras e novas: PODE-SE DIMINUIR EM MAIS DE 50% A QUANTIDADE DE ADU-
BOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA OU DEIXA-SE DE APLICAR A ADUBAÇÃO.
3.0 - Período com temperatura baixa (16 a 19°C), tempo ensolarado, sem frutos, com as plantas apre-
sentando diferença de cor verde entre as folhas maduras e novas: DIMINUIR EM 50% A QUANTIDADE
DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
3.1 - Repetindo as condições anteriores (3.0), porém com frutos: MANTER OU DIMINUIR EM 30% A
QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
3.2 - Repetindo as condições anteriores (3.1), porém com as plantas apresentando pouca ou nenhuma
diferença de cor verde entre folhas maduras e novas: DIMINUIR EM MAIS DE 50% OU DEIXAR DE
APLICAR A QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA.
4.0 - Período com temperaturas baixas (16 a 19°C), tempo nublado, apresenta diferença de cor verde
entre as folhas maduras e novas, sem frutos: DIMINUIR EM MAIS DE 50% A QUANTIDADE DE ADU-
BOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA OU DEIXAR DE APLICAR;
4.1 - Repetindo as condições anteriores (4.0), porém com frutos: DIMINUIR EM ATÉ 50% A QUANTI-
DADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
4.2 - Repetindo as condições anteriores (4.1), porém com as plantas apresentando pouca ou nenhuma
diferença de cor verde entre folhas maduras e novas: DEIXAR DE APLICAR A QUANTIDADE DE ADU-
BOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA.
Bibliografia
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9
As propriedades físicas (ex: textura do solo), metálicos, e também alterando as formas com
químicas (ex: capacidade de troca de íons e teores que esses elementos são encontrados em solução
de matéria orgânica do solo (MOS)), e biológicas, como as formas de hidróxidos [Cu(OH)₂, Zn(OH)₂
(ex: atividade microbiana no solo), determinam etc.] não absorvidas pelas plantas. Em contrapar-
a disponibilidade dos nutrientes às plantas bem tida, quando o pH do solo se apresenta em níveis
como a suscetibilidade dos nutrientes às perdas abaixo do ideal para as hortaliças, ocorre aumento
por escoamento superficial e lixiviação. A textura das cargas positivas pH dependentes, diminuindo
do solo afeta a disponibilidade de nutrientes como a disponibilidade de elementos aniônicos como o
o P (encontrado preferencialmente nas formas de P e aumentando a disponibilidade de elementos
H₂PO₄¯ e HPO₄²¯), pois, quanto mais argiloso o tóxicos às plantas como o Al³⁺, o qual é neutrali-
solo, maior é a retenção desse elemento as cargas zado quando o pH do solo atinge valores, normal-
positivas, normalmente associadas a presença de mente, maiores que 5,5.
óxidos de Fe e Al na fração argila. Solos de textura As plantas acidófilas, como a mandioqui-
argilosa e com maiores teores de matéria orgâni- nha-salsa e a melancia são as que suportam/to-
ca tendem a apresentar maiores valores de capa- leram ou até necessitam de quantidades relativa-
cidade de troca de cátions (CTC), conferindo-lhe mente grandes de Mg, Mn, Zn, B, Fe, Cu etc., por
maior capacidade de adsorver (reter) nutrientes outro lado precisam de menor quantidade de Ca
como o Ca²⁺, Mg²⁺ e K⁺, evitando processos de para seu metabolismo. As plantas de ambiente
perdas desses elementos. Entretanto, elevados de pH neutro são mais tolerantes à deficiência
teores de MOS podem aumentar a complexação da maior parte dos micronutrientes, precisando
de alguns micronutrientes como o Cu²⁺, Zn²⁺, de quantidades pequenas, mas são exigentes em
Mn²⁺ e Fe²⁺, diminuindo a disponibilidade desses macronutrientes. Em pH inadequado às plantas
elementos às plantas. Além disso, a presença de (acima ou abaixo do ideal), nutrientes essenciais
MOS aumenta os estoques de nutrientes em for- podem estar ligados fortemente ou mobilizados
mas orgânicas, com destaque para o N, P e enxofre totalmente, tornando-se deficientes ou dispo-
(S), possibilitando maior disponibilidade desses nibilizados em excesso, respectivamente, sendo
elementos às plantas pela ação dos microorganis- que no segundo caso chegando a níveis de toxidez
mos e consequente mineralização da MOS. A pre- para a planta, o que pode resultar em diminuição
sença da MOS, além das funções já citadas, tam- considerável do crescimento, influenciando na
bém favorece à estruturação do solo, auxiliando produtividade e às vezes chegando ao colapso da
na retenção de água e na velocidade de difusão do cultura. Devemos descartar a ideia de que os mi-
oxigênio e, consequentemente, interfere na absor- cronutrientes são menos importantes que os ma-
ção de nutrientes. cronutrientes, o que os diferencia é a quantidade
O pH é fator essencial na nutrição das plan- absorvida. O N, P, K, Mg, Ca e S são tão essenciais
tas dado a sua influência na dinâmica de disponi- para a nutrição da planta quanto o B, Mn, Zn, Cu,
bilidade dos nutrientes no solo. No caso da aplica- Fe, Cl e Mo, pois a deficiência de qualquer desses
ção de doses excessivas de calcário, fato comum na elementos resultará em impactos negativos nas
camada 0 a 10 cm em sistemas convencionais de funções vitais da planta. A título de exemplo, o
produção de hortaliças, pode ocorrer a elevação Mo, que é o micronutriente requerido em menor
dos valores de pH acima daqueles considerados proporção pela planta em relação aos demais, é
adequados para o bom desenvolvimento da maio- essencial para a fixação e assimilação do N, sendo
ria das hortaliças (pH 5,5 a 6,0). Nesse caso, ocor- que os sintomas de deficiência de Mo são, muitas
rem ligações do P com Ca [Ca₃(PO₄)₂] e a maioria vezes, confundidos com os de N.
dos microelementos metálicos (Cu²⁺, Zn²⁺, Mn²⁺, O diagnóstico visual foliar de carência de
e Fe²⁺) e boro (H₃BO₃) terão a sua disponibilida- determinado nutriente e o seu suprimento ime-
de diminuída para as plantas. A elevação do pH diato tem permitido atacar o problema em tempo
do solo promove aumento das cargas negativas para evitar a perda total de determinada safra. Po-
pH dependentes associadas aos argilominerais e rém, quando certo sintoma (sinal) aparece no cor-
MOS, aumentando a retenção dos microelementos po da planta, denota um problema que já afetou a
159
produção. As ações visam diminuir os efeitos ne- condições estressantes para que a planta esteja
gativos na sanidade da planta e na produtividade. num local que proporcione conforto, expressan-
do seu potencial genético na produtividade e
com saúde.
Iniciemos nosso olhar ao atual modo de
3.1. Desvendando o sistema de informação produção hegemônico em que é comum encon-
das plantas a partir dos sinais trar lavouras inteiras com plantas de crescimen-
to rápido, haste e broto vigoroso, folhas grandes e
Propomos expor aqui a embrionária ex-
arqueadas e com coloração verde escura intensa.
periência de um conjunto de profissionais que
Esse conjunto tem constituído o padrão de vigor
trabalham como pesquisadores, extensionistas,
e produtividade em sistemas de produção con-
lavoureiros, professores e universitários nestes
vencional. Num olhar mais crítico chegaremos à
últimos vinte anos, em lavouras de estudos e
conclusão que esse padrão pode ser decorrente
experimentos. A ideia é interpretar a reação da
de uma condição estressante, provavelmente de-
planta à ação combinada dos agentes abióticos vido a aplicação de altas doses de NPK, esterco
sobre sua vida diária, no meio em que vive, na na base e em cobertura, estando longe daquele
forma de sinais, que são padrões de arquitetura padrão de saúde e, portanto, exigirá vários trata-
e aparência, compondo uma parcela do conjunto mentos com agrotóxicos.
sistêmico de informações deste organismo. Em
condições ótimas de crescimento e desenvolvi-
mento, as plantas expressam sinais caracterís-
ticos de saúde. Considerando que nas condições 3.2. Sinais (padrões de arquitetura e
naturais é quase impossível sua vida sem estres- aparência) das plantas e suas possíveis
se e, consequentemente, o paradigma de saúde é interpretações
algo a ser sempre perseguido. Interpretar esses
sinais numa determinada cultura e desenvolver A seguir apresentamos alguns sinais de
padrões de planta próximo do “ótimo” é o objeti- respostas da planta do tomateiro frente às con-
vo desta especialização. Dissemos anteriormen- dições ambientais. Estes podem ser aplicados a
te que focamos na minimização, ao máximo, das outras espécies (Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8).
Figura 2. Formato do corpo de planta: a) planta com formato de pirâmide, indicando elevada adubação de base, segui-
da de redução gradual nas demais de cobertura; b) planta com formato de cilindro, indicando adubação uniforme ao
longo do ciclo, conforme a TDA; c) planta com formato de pirâmide invertida, indicando adubação inicial deficiente,
seguida por aumento gradual da adubação de cobertura; d) planta com formato de pirâmide invertida e folhas bai-
xeiras amareladas, indicando adubação inicial deficiente que persistiu por longo período, que resultou na realocação
intensa de nutrientes, seguida por aumento gradativo da adubação de cobertura chegando ao excesso.
160
Figura 9. Nota-se nesta lavoura em início de ciclo de cultivo a presença de plantas com tamanho, coloração e arqui-
tetura uniforme. Isso indica pouca variação na fertilidade e na correção da acidez. Tem-se indicação de adequado
funcionamento do sistema de fertirrigação e nutrição de acordo com a TDA e seus devidos ajustes. As folhas novas
verde-claras (20% do total) e o restante com coloração verde-escura estão na proporcionalidade recomendada. Ainda
percebe-se a presença de matéria seca (palhada de aveia preta e ervilhaca) suficiente para cobrir a totalidade do solo
e retardar o desenvolvimento de plantas espontâneas. A condução verticalizada das plantas tem por objetivo melhorar
a circulação de ar e a incidência de raios solares para diminuir o tempo de molhamento da planta e também melhorar
a eficiência de possíveis pulverizações (p.ex., calda bordalesa e indutores de resistência).
164
Figura 10. Nesta lavoura em fase inicial de colheita, observa-se individualmente e no conjunto das plantas a uniformi-
dade de cor e da parede formada ao longo da linha de plantio. Isto indica pouca variação de fertilidade e da correção
da acidez, como também uma distribuição uniforme de água e nutrientes ao longo do ciclo cultural do tomateiro, sem
a ocorrência de entupimento de bicos e/ou corte nas mangueiras do equipamento de irrigação. O manejo das plantas
espontâneas efetuado com roçadeira permitiu acumular matéria seca e a convivência com a vegetação espontânea,
aumentando a diversidade vegetal na lavoura.
165
Figura 11. Destaca-se a presença de plantas verde-escuras e plantas verde-claras. Esta falta de uniformidade pode ser
decorrente de grandes manchas de fertilidade no solo, ocasionada por erros na distribuição da adubação de base e/ou
na correção da acidez e fertilidade do solo. Também pode ser decorrente de defeito no equipamento de irrigação por
conta de bico entupido ou mangueira furada, fato que ocasiona locais com deficiência e outro com excesso de água e
nutrientes. A presença da vegetação espontânea – plantio direto no verde – aumento da diversidade vegetal e, conse-
quentemente, da complexidade do sistema e seu equilíbrio dinâmico, acarretam em melhoria da saúde dos cultivos.
Figura 12. A saúde das plantas de mandioquinha-salsa cultivadas em montanhas é obtida por meio da promoção do
conforto delas pela minimização dos estresses abióticos; da nutrição com base nas taxas diárias de absorção de nu-
trientes, adequando-a às condições ambientais, às reservas nutricionais do solo e aos sinais apresentados pela planta;
da rotação de culturas e uso de plantas de cobertura; da adição de matéria seca superior a 10 t ha⁻¹ ano⁻¹ e do revol-
vimento do solo restrito às linhas de plantio com a manutenção dos camalhões ao longo do tempo.
166
Figura 13. Nesta lavoura de estudos de Moranga Híbrida Tetsukabuto em que os lavoureiros estão realizando a po-
linização manual, verifica-se a uniformidade no tamanho e na cor verde-clara das folhas, inclusive as folhas mais ve-
lhas; não se verificando a retranslocação em massa de nutrientes. Isto indica que a adubação de cobertura foi efetuada
conforme a TDA e foram realizados os devidos ajustes.
(a)
(b)
Figura 15. A uniformidade do tamanho das plantas (a) refletiu na uniformidade do tamanho dos bulbos (b). Obser-
va-se que do início da implantação da lavoura até a colheita, a palhada de aveia preta se manteve, indicando que o
manejo das plantas de cobertura foi feito em estágio posterior ao de grão leitoso, propiciando maior durabilidade do
material de cobertura do solo.
168
c) Aparência das folhas (Figuras 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22 e 23).
Figura 16. A uniformidade das plantas de couve-flor, a posição ereta das folhas, a diferença de cor verde entre as fo-
lhas novas, maduras e folhas baixeiras indicam a adubação feita de acordo com a TDA e seus devidos ajustes. Por isso
não se percebe retranslocação em massa de nutrientes (ausência de folhas baixeiras amareladas).
(a)
(b)
Figura 18. A planta de repolho não recebeu a última adubação recomendada, o que é percebido nas folhas novas com
cor verde-claras (a). A planta de brócolis que recebeu a última adubação há aproximadamente uma semana apresenta
as folhas novas com cor verde-escura, que ao se desenvolverem ficarão com a cor do restante do corpo da planta (b).
170
Figura 19. Planta de couve-flor com folhas grandes, arqueadas, enrugadas, flácidas e com cor verde-escuras, brilhante
e intenso. É sinal de que há excesso de adubação, o que pode favorecer o aparecimento de bacteriose e hérnia.
Figura 20. Observa-se nas plantas de berinjela em plena frutificação a diferença da cor verde entre folhas maduras e
as novas e, nas entrelinhas, o desenvolvimento das plantas espontâneas que indica o momento de realizar a roçada.
As folhas baixeiras verde-escuras indicam a realização de adubação conforme a TDA e com seus devidos ajustes, sem
apresentar sinais de realocação em massa de nutrientes das folhas velhas para os frutos e as novas brotações.
171
(a)
(b)
Figura 21. Moranga Tetsukabuto com folhas novas verde-claras e folhas desenvolvidas verde-escuras, indicando que
a adubação de cobertura foi feita com base na TDA (a). Na figura (b) nota-se que as folhas novas e desenvolvidas
apresentam cor verde-clara, indicando a adubação de cobertura aquém da demanda da planta. Contudo, há tempo de
correção, que se faz urgente, porque as folhas mais velhas ainda estão com cor verde-escura, indicando a ausência de
importante realocação nutricional.
172
Figura 22. As folhas novas das plantas de chuchu apresentam coloração verde-clara, enquanto as mais velhas apre-
sentam cor verde-escura e não se observa a presença de folhas amareladas (ausência de retranslocação em massa de
nutrientes), apesar da grande quantidade de frutos. É provável a existência de um sistema radicular extenso e profun-
do, fator determinante para a minimização de estresse por água e nutrientes, mesmo com plantas produzindo mais do
que 800 frutos na safra. No SPDH criam-se condições para minimizar estresses de temperatura, circulação de ar e luz
solar, contribuindo para o conforto da planta.
Figura 23. Vista aérea do chuchuzal conduzido no sistema latada, em que observam-se folhas novas na coloração
verde-clara e as folhas desenvolvidas verde-escuras, demonstrando a aplicação da adubação segundo a TDA e seus
devidos ajustes.
173
(b)
(a)
Figura 26. As três fileiras centrais da foto (a) são de plantas oriundas de mudas produzidas em bandejas de 128 célu-
las, e as plantas situadas à direita (b) são de mudas produzidas em tubetes com 12 cm de profundidade. A produção
de mudas em tubete permite manter intacto o sistema radicular pivotante, que após o transplante se desenvolverá
em maior profundidade e suportará maior crescimento vegetativo da planta, alimentando-a com água e nutrientes,
mesmo com muitos frutos e em condições ambientais estressantes. Portanto, um sinal importante é o “tamanho do
sistema radicular”, que deve respeitar uma proporcionalidade com a parte aérea da planta. Percebendo o desequilí-
brio entre as duas partes da planta, deve-se fazer um ajuste do tamanho da parte vegetativa conforme o tamanho do
sistema radicular pela poda apical, mantendo-se um número de frutos compatíveis com a arquitetura da planta.
e, assim, sua saúde no SPDH. Porém, é A leitura dos sinais constitui uma temá-
possível que alguns sinais, que hora ob- tica de cunho visual, preciso, claro e de aplica-
servamos de forma subjetiva, possam ser bilidade fácil e rápida, exigindo do profissional
validados por outros sistemas. Neste caso, permanente refundação desta informação e,
o desafio está em transformar os conheci- principalmente, procurar relacioná-la às pos-
mentos em tecnologias apropriadas pelas síveis causas pelas disciplinas da agronomia,
diversas formas da agricultura familiar. ecologia, física, química e biologia. Portanto,
4. Por meio dos sinais pode-se fortalecer ou sua especialidade é arte e é ciência, à medida
corrigir as causas com a prática de melho- que sua compreensão, sistematização e aplica-
ria das rotações, poda, condução vertica- ção, têm colaborado com a diminuição das con-
lizada, condução em latada e entrada de dições estressantes, aumento da produtividade
luz, arranjos espaciais, uso de indutores e, acima de tudo, promovendo a saúde vegetal.
de resistência e da calda bordalesa 0,3%,
entre outras práticas que melhorarão a
saúde da plantação no SPDH.
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10
1. Introdução
As plantas se desenvolvem em íntima asso- proximidade relativa da raiz e, portanto, sob sua
ciação com os microrganismos que naturalmente influência: a “endorizosfera” que compreende as
habitam o solo, ambiente este que pode ser con- porções do córtex e endoderme da raiz, onde os
siderado o maior reservatório de biodiversidade íons minerais e os microrganismos residem no
do planeta. A estreita zona de contato entre as espaço apoplástico entre as células, o “rizopla-
partículas do solo e as raízes é chamada de rizos- no”, que corresponde à superfície limítrofe en-
fera, nela os microrganismos (bactérias, fungos tre a raiz e o solo, incluindo a epiderme da raiz
e actinomicetos, principalmente) encontram o e mucilagens, e a “ectorizosfera” que é a região
primeiro ambiente influenciado pelas plantas mais externa da raiz (McNEAR Jr., 2013). É im-
que pode ser utilizado para potencializar o seu portante considerar que a rizosfera não é um
crescimento e, em contrapartida, contribuir para “ambiente” estanque mas, sim, possui tamanho
o crescimento das plantas e melhoria da qualida- e forma variáveis no tempo e no espaço e apre-
de do solo. senta um gradiente de propriedades químicas,
Essa zona de intensa, dinâmica e complexa físicas e biológicas, dependendo da distância da
interação raiz-solo-microrganismo (Figura 1) foi raiz (HINSINGER et al., 2009; McNEAR Jr., 2013).
descrita pela primeira vez em 1904, pelo agrô- Segundo Dantas et al. (2009), o tipo, a umidade e
nomo e fisiologista de plantas Lorenz Hiltner, a composição do solo podem afetar o tamanho e
quando definiu a “rizosfera” como a região do a forma da rizosfera.
solo que é influenciada pelas raízes das plantas A importância da rizosfera reside nos efei-
por meio da liberação de substâncias químicas tos que as interações, que nela se processam,
e, por consequência, abundante em microrganis- produzem nas plantas, nos microrganismos e no
mos (HARTMANN et al., 2008). A rizosfera pode solo. O efeito mais desejado dessas interações
ser subdividida em três zonas baseadas na sua é a promoção do crescimento e a proteção das
178
floração e teor de N e P nas sementes (BERTA et controle sobre sua liberação; e exsudatos com
al., 1995; LU e KOIDE, 1994). finalidades específicas, onde a planta tem certo
grau de controle (JONES et al., 2004).
As raízes no solo liberam uma quantidade
significativa e variável de compostos orgânicos
3. Fatores que influenciam a rizodeposição e inorgânicos (via rizodeposição) de baixo e ele-
vado peso molecular, os quais contribuem para
O termo rizodeposição se refere aos com- a alteração das propriedades químicas, físicas
postos carbonados liberados por raízes vivas e biológicas da rizosfera (MARSCHNER, 2012).
e mortas no solo, que alteram as propriedades Na Tabela 1 tem-se os principais compostos
químicas, físicas e biológicas no entorno dessa identificados nas rizodeposições, que, em geral,
região conhecida como rizosfera. Esses com- consistem em células inteiras ou porções delas,
postos liberados se dividem em duas classes: mucilagens (polissacarídeos, pectinas etc.) e ex-
exsudatos perdidos como resultado de difu- sudatos radiculares.
são passiva, ou seja, quando a planta não tem
Células inteiras/
Fragmentos ----------------Tipos de compostos -------------
de células
Mucilagem Pectinas, polissacarídeos
(mucigel)
Exsudatos radicu- Açúcares Arabinose, glucose, frutose, maltose, rafinose, ramnose,
lares orgânicos ribose, sacarose, xilose
Aminoácidos e amidas Todos os 20 aminoácidos essenciais, ácido aminobutíri-
co, homoserina, cistationina, fitossideróforos derivados
de ácido mugineico (ac. deossimugineico, idrossimugi-
neico, epidrossimugineico, ac. avenico, ac. disticonico A)
Ácidos Alifáticos Ácido fórmico, acético, propiónico, málico, cítrico, iso-
cítrico, oxálico, fumárico, malónico, succínico, maleico,
tartárico, oxaloacético, pirúvico, glicólico, ß-cetoglutôni-
co, ácido chiquímico, cis-aconítico, ácido trans-aconíti-
co, ácido valérico, glucônico
Ácidos aromáticos ácido p-hidroxibenzoico, ácido cafeico, p-cumárico,
ferúlico, gálico, gentísico, protocatecuico, salicílico,
sinápico, siringico
Compostos fenólicos Flavonóis, flavonas, flavanonas, antocianinas, isoflavo-
nóides
Ácidos graxos Linoleico, linolênico, oleico, palmítico, esteárico
Esteróides Campestrol, colesterol, sitosterol, estigmasterol
Enzimas Amilase, invertase, celobíase, desoxirribonuclease,
ribonuclease, fosfatase ácida, fitase, pirofosfato apirase,
peroxidase, protease
Outros Vitaminas, reguladores de crescimento (auxinas, citoci-
ninas, giberelinas) sulfuretos de alquilo, etanol
Exsudados radiculares inorgânicos H⁺, K⁺, nitrato, fosfato, HCO₃⁻, OH⁻
Fonte: Modificado de acordo com Marschner (2012).
183
Tabela 2. Tipo e quantidade de ânions orgânicos liberados em relação às espécies vegetais e ao tratamento sub-
metido.
Função Ação
Aquisição de nutriente
Quelante / solubilizante Solubilização e absorção de nutrientes (p.ex., fitossideróforos)
Modificadores Modificação do solo rizosférico (p.ex., prótons, agentes reduto-
res)
A parte quantitativamente mais signifi- móveis, tais como o Fe e P. No que diz respeito ao
cativa das rizodeposições é representada por Fe, foi demonstrado que as plantas respondem à
compostos de baixo peso molecular e alta solu- disponibilidade limitada do elemento, ativando
bilidade em água (por exemplo, açúcares, ácidos mecanismos que variam dependendo da espécie.
orgânicos, aminoácidos e fenóis, Tabela 1). A lis- As plantas dicotiledôneas e monocotiledôneas
ta de compostos químicos pertencentes a estas não gramíneas utilizam o mecanismo conheci-
categorias é muito ampla e representada essen- do como Estratégia I (Figura 3), no qual ocorre
cialmente pela variedade de componentes de cé- a mobilização do Fe³⁺ por meio da acidificação
lulas vegetais. No entanto, para alguns deles (por da rizosfera (mediada por H⁺-ATPases), comple-
exemplo, fitossideróforos, ácidos orgânicos po- xação com moléculas orgânicas liberadas pelas
licarboxílicos, ácidos aromáticos, flavonóides), raízes e redução de Fe³⁺ complexado a Fe²⁺ pela
papéis específicos têm sido destacados na aqui- Fe(III)-quelato-redutase, para posterior absor-
sição de elementos nutritivos e na comunicação ção por meio da ação de um transportador espe-
entre as células da raiz e os microrganismos da cífico (AtIRT1, por exemplo) para o íon divalen-
rizosfera. As condições nutricionais, juntamente te. As respostas das raízes são frequentemente
com fatores como temperatura, intensidade lu- localizadas nas áreas subapicais e associadas
minosa, suprimento de água e presença de ele- a alterações morfológicas. Simultaneamente,
mentos tóxicos, são de particular importância
pela influência que podem ter na quantidade e
qualidade das rizodeposições (MARSCHNER,
2012).
No solo, os sistemas radiculares são geral-
mente encontrados em contato com soluções de
concentração variável e composição iônica, que
podem refletir em condições de disponibilidade
limitada de nutrientes ou concentração excessiva
de elementos tóxicos. Estas situações requerem
sistemas de resposta apropriados para permitir
a manutenção de fluxos de nutrientes adequados
às necessidades da planta ou a limitação da ab-
sorção de elementos tóxicos. A combinação des-
tes fenômenos pode envolver formas morfológi-
cas, fisiológicas e bioquímicas de adaptação, que
também se reflete em alterações das condições
da rizosfera, capaz de fazer este ambiente mais
favorável para o desenvolvimento e sobrevivên-
cia da planta. A atividade de absorção das raízes
altera a concentração de nutrientes na rizosfera,
criando áreas específicas de acumulação ou em-
pobrecimento na interface solo-raiz. Além disso,
a absorção preferencial de ânions ou de cátions
(por exemplo, de nitrato e de amônio) pode cau-
sar alterações no pH da rizosfera, causando as-
sim um impacto importante sobre a mobilidade Figura 3. Tipos de estratégias das plantas gramíneas e
dos elementos presentes em formas pouco so- não-gramíneas para aquisição de Fe em condições de
deficiência deste nutriente. IRT1 é um transportador
lúveis no solo. O pH da rizosfera também pode
específico para Fe²⁺ em plantas com Estratégia I, e YS1
mudar como consequência da ativação de meca- é um transportador específico para fitossideróros FeIII
nismos de resposta das plantas à limitação nu- (FS-FeIII) em plantas com estratégia II. (Fonte: Rõmheld
tricional, como no caso de pequenos elementos e Schaaf, 2004).
186
ocorre a liberação de ácidos orgânicos e com- competição por sítios de adsorção. A eficiência
postos fenólicos, os quais podem complexar Fe de mobilização desses ácidos orgânicos está in-
trivalente e/ou, no caso dos compostos fenóli- timamente ligada à estabilidade dos complexos
cos, participar para a redução de nutrientes. Nas que podem se formar com o Fe, Al e Ca. Portanto,
gramíneas, os processos de aquisição do Fe são é influenciada pelo pH do solo.
caracterizados por mecanismos completamente Em várias espécies de plantas, a falta de
diferentes, conhecidos por Estratégia II (Figura P também determina a produção e liberação de
3). De fato, essas espécies vegetais liberam para compostos fenólicos das raízes. O papel destes
a rizosfera, em condições de deficiência de Fe, compostos pode ser atribuído às suas proprie-
quantidades consideráveis de aminoácidos não dades antimicrobianas (isoflavonóides), que po-
proteinogênicos chamados fitossideróforos (FS),
dem limitar a degradação dos ácidos orgânicos
produzidos a partir da metionina e caracteriza-
liberados pela raiz. Além disso, foi demonstrado
dos por uma alta capacidade de complexar o Fe
que alguns flavonóides podem desempenhar um
trivalente (MIMMO et al., 2014).
papel como moléculas sinal para a germinação
A liberação de fitossideróforos varia de es-
de esporos e crescimento de hifas micorrízicas.
pécie para espécie vegetal, havendo uma relação
Além disso, em deficiências de P, algumas
próxima entre a concentração de FS liberado e
espécies de plantas promovem a liberação de en-
capacidade de tolerar a ausência de Fe (cevada
zimas, tais como a fitase e fosfatase, resultando
> trigo > aveia > centeio > milho > sorgo > ar-
em uma maior hidrólise de ésteres orgânicos de
roz). Nas espécies mais eficientes, a concentra-
P e ajudando a aumentar a absorção do P inor-
ção destes compostos na rizosfera pode atingir
valores de cerca de 0,1 a 0,5 mM. A eficiência gânico. A produção e liberação dessas enzimas
na mobilização de Fe pelas gramíneas também podem variar dependendo da espécie da planta,
pode ser usada para o benefício das plantas da por exemplo, plantas de tremoço branco, Titho-
estratégia I, pois em experimentos de consórcio nia diversifolia e Tephrosia vogelii, têm mostrado
de espécies vegetais foi demonstrado que o com- promover a hidrólise de fontes orgânicas de P na
plexo de Fe(III)-FS, produzido pela atividade de rizosfera, mas plantas de milho não mostraram
gramíneas, pode ser utilizada pela Fe(III)-que- essa capacidade (GEORGE et al., 2002). Obser-
lato-redutase presente na membrana das dico- vou-se que a liberação de exsudatos capazes de
tiledôneas. Foi observado que a deficiência de P mobilizar P a partir de espécies eficientes, pode
pode alterar substancialmente a composição dos favorecer a absorção de nutrientes por espécies
exsudados radiculares, em particular os ácidos associadas ineficientes. As respostas das raízes
orgânicos; este processo é muitas vezes acompa- à deficiência de P estão frequentemente associa-
nhado por uma acidificação acentuada da rizos- das a alterações na arquitetura e na morfologia
fera, devido à ação de H⁺-ATPases da membra- do sistema radicular (proliferação de pelos ra-
na plasmática (VALENTINUZZI et al., 2015). No diculares). A atividade de liberação, acidificação
entanto, deve-se notar que existem diferenças e absorção de exsudato é particularmente rele-
significativas entre as plantas, tanto na quanti- vante nas porções de raízes afetadas pela proli-
dade de produção e liberação de ácidos orgâni- feração de pelos radiculares.
cos. Por exemplo, enquanto no caso das plantas A liberação de ânions de ácidos orgânicos
de tremoço, espécie extremamente eficiente na (malato, citrato, oxalato, fumarato, succinato,
adaptação às condições de deficiência de P, uma tartarato) das raízes é considerada um dos prin-
concomitância entre os dois fenômenos é obser- cipais mecanismos de tolerância à toxicidade do
vada, no tomate, em vez disso, apenas a acidifi- Al, que é frequentemente encontrado em solos
cação é aumentada, enquanto no trigo nenhum ácidos (MA et al., 2001). A magnitude destes pro-
destes fenômenos é observado. Ácidos orgâni- cessos varia de espécie para espécie e com ele a
cos mobilizam P por meio de diferentes meca- capacidade para resistir a certas condições de
nismos, como troca de ligantes, solubilização e toxicidade a partir de concentrações elevadas de
187
de nematóides. É importante ressaltar que em -químicos dos elementos nutritivos, por meio de
todas essas relações citadas anteriormente ocor- suas atividades metabólicas, como a liberação de
re uma seleção bidirecional, em que as plantas CO₂, ácidos orgânicos (OA) e aminoácidos (AA),
selecionam os microrganismos na rizosfera e os podendo alterar o pH do solo, mas também com-
microrganismos, que conseguem sobreviver na plexando metais. Além disso, as RPCPs podem
rizosfera, podem afetar a produção de exsudatos, produzir moléculas orgânicas análogas aos hor-
por meio do próprio metabolismo, produzindo mônios vegetais, que promovem efeitos no cres-
substâncias que vão interagir com as raízes (Fi- cimento das plantas, bem como um conjunto de
gura 4). sinais, ainda não bem caracterizados (sinais des-
Os exsudatos radiculares, além de alterar o conhecidos, Figura 4), que podem afetar as ati-
equilíbrio físico-químico dos nutrientes na rizos- vidades bioquímicas e moleculares das próprias
fera, também constituem uma fonte de carbono plantas.
de fácil acesso para os microrganismos do solo Nesse âmbito do microbioma associado às
(HINSINGER et al., 2009). O perfil qualitativo e raízes das plantas, as RPCPs constituem um gru-
quantitativo dos exsudatos liberados pelas plan- po de bactérias da rizosfera, que podem exercer
tas é, portanto, responsável pela seleção da co- efeitos positivos no crescimento das plantas, por
munidade microbiana da rizosfera. meio de dois tipos de mecanismos (Figura 5).
As plantas liberam exsudatos com a finali- Os mecanismos diretos incluem a promoção do
dade de solubilizar nutrientes ainda não disponí- crescimento por meio, por exemplo, da melhoria
veis. Entretanto, os microrganismos do solo po- da aquisição de nutrientes (ALEGRIA TERRAZAS
dem usar esses exsudatos como fonte de carbono et al., 2016; PII et al., 2015a) ou da modulação
para seu sustento, consequentemente, a concen- do balanço hormonal (auxinas e etileno) no teci-
tração da população bacteriana é consideravel- do radicular (GLICK, 2012). Os modos indiretos
mente maior no solo rizosférico do que no solo de ação, no entanto, incluem todos os mecanis-
não rizosférico (massa de solo solto, Figura 4). mos que são baseados na proteção das plantas
Além disso, as atividades biológicas das raízes contra o ataque de microrganismos patogênicos
também podem resultar em uma variação qua- (LUGTENBERG & KAMILOVA, 2009) por meio da
litativa da comunidade microbiana da rizosfera. ativação da resistência sistêmica induzida (ISR)
Nesse compartimento do solo, até os micror- e da produção de metabólitos induzidos por es-
ganismos podem alterar os equilíbrios físico- tresses bióticos (PARRAY et al., 2016).
Figura 4. A interação entre microrganismo solo-planta determina a disponibilidade de nutrientes minerais para a
rizosfera. MO=microrganismos, OA=ácidos orgânicos, AA=aminoácidos.
190
Figura 5. Influência direta e indireta das rizobactérias promotoras do crescimento de plantas. (Fonte: Adaptado de
Weyens et al., 2009).
encontram em estado de deficiência de nitrogê- TERRAZAS et al., 2016). No que se refere às fon-
nio. Os flavonóides vão induzir a expressão dos tes orgânicas, foi demonstrado que a atividade da
genes nod, de nodulação, a sintetizar o fator nod, fosfatase de várias linhagens microbianas, como
desencadeando toda cascata de processos levan- Bacillus, Enterobacter, Klebsiella, Lactobacillus,
do à formação dos nódulos nas raízes das plantas Penicillium e Pseudomonas (AZEEM et al., 2015),
(JONES et al., 2007). pode determinar a mineralização de diversas
Em sistema plantio direto, ao se propor moléculas orgânicas contendo P, causando a li-
o uso diversificado de espécies de plantas em beração de grupos ortofosfato (RODRÍGUEZ et
sistema de rotação, é possível incluir espécies al., 2006).
principalmente leguminosas, tanto de inverno
quanto de verão, favorecendo a nodulação e po-
tencializando a fixação biológica ao longo dos
cultivos (MERCANTE et al., 2014). 4.1.3. Produção de sideróforos
da planta; este aspecto ocorre, principalmente, de acordo com o tipo de planta (pulverização
devido ao envolvimento de um sinal baseado em foliar vs. imersão das raízes) (ESITKEN et al.,
jasmonato e/ou etileno, que estimula os meca- 2006; RYU et al., 2011). As RPCPs utilizadas para
nismos de defesa da planta frente a uma ampla inoculação de fruteiras pertenceram aos gêneros
gama de patógenos (VERHAGEN et al., 2004). Na Pseudomonas e Bacillus e, em particular, ao uso
planta, há ISR pela percepção de determinantes de Bacillus sp. OSU-142, promovendo o aumento
bacterianos, como proteínas de flagelo, quitina, dos parâmetros de produção, peso e qualidade
β-glucanas e surfactantes lipopeptídicos cíclicos nos frutos testados (ESITKEN et al., 2006; RYU
(ANNAPURNA et al., 2013). et al., 2011). Apesar destes dados encorajadores,
as principais preocupações no uso de RPCPs, em
condições de campo aberto, para a produção de
produtos hortícolas e frutas dizem respeito: I) a
4.3. Usos de RPCPs na agricultura persistência de cepas bacterianas no solo após a
aplicação e sua interação com a microflora nati-
4.3.1. Microrganismos como bioestimulantes va, e II) a sobrevivência de RPCP em formulações
comerciais durante o armazenamento. Nesse
O termo bioestimulante refere-se a todas sentido, macieiras inoculadas com Pseudomo-
aquelas substâncias que promovem o crescimen-
nas spp. mostraram um aumento de, aproxima-
to de plantas se aplicadas em pequenas quanti-
damente, duas vezes na produção de frutos por
dades, mas não são nutrientes, corretivos para
duas estações consecutivas, sugerindo que as ce-
o solo ou pesticidas. No entanto, a falta de uma
pas bacterianas eram efetivamente persistentes
descrição legal e normativa em nível mundial
e ativas no pomar (ASLANTAS et al., 2007). No
impede uma classificação precisa de todas as
entanto esta evidência específica foi obtida em
substâncias e microrganismos que podem ser
material vegetal inoculado antes da implantação
classificados como bioestimulantes (DU JARDIN,
no pomar, de modo que a RPCP pudesse efeti-
2015). No entanto, algumas classes de compos-
vamente colonizar as raízes sem competir com
tos e microrganismos (como os ácidos húmicos
e fúlvicos, hidrolisados proteicos e compostos a microflora nativa do solo; por outro lado, esta
contendo N, extratos de algas, quitosana, biopo- prática não é aplicável em pomares já estabeleci-
límeros e RPCPs) são amplamente reconhecidas dos. Entretanto a persistência de cepas bacteria-
como bioestimulantes pela comunidade científi- nas introduzidas na rizosfera foi monitorada em
ca, legisladores e partes interessadas (HALPERN poucos estudos e isso se deve a dificuldades na
et al., 2015). recuperação específica de bactérias inoculadas
No caso das culturas hortícolas, a maioria (VON FELTEN et al., 2010). Além disso, a inocu-
dos experimentos foram conduzidos em condi- lação de culturas com preparações bacterianas
ções controladas (por exemplo, câmara climática frescas é difícil de implementar, do ponto de vis-
ou estufa) e apenas alguns no campo aberto. Ex- ta agronômico, portanto, a pesquisa está cami-
perimentos conduzidos em campo aberto sobre nhando para o desenvolvimento de métodos de
brócolis e alface, inoculados com Brevibacillus inoculação a seco (BASHAN et al., 2014; RUZZI &
reuszeri / Rhizobium rubi e Rhizobium legumino- AROCA, 2015) como na formulação encapsulada,
sarum bv. Phaseoli P31, respectivamente, mos- na qual as bactérias são imobilizadas dentro de
traram um efeito de promover o crescimento do uma matriz polimérica, tal como alginato de Ca
sistema radicular, um aumento no rendimento e com adição de ácidos húmicos, leite desnatado,
uma maior absorção de macro e micronutrientes, amido ou bentonita (MINAXI & SAXENA, 2011;
destacando a eficácia das cepas de RPCP utiliza- YOUNG et al., 2006).
dos nos estudos (YILDIRIM et al., 2011). Outros Em relação à cultura do tomate, que no cul-
experimentos também foram realizados em fru- tivo convencional usa-se bastante agrotóxicos e
teiras (por exemplo, maçã, damasco, banana, ce- pesticidas, segundo Olivares et al. (2015) há uma
reja), com técnicas de inoculação diferenciadas, demanda global pela produção orgânica desta
195
cultura. Segundo os autores, o cultivo de tomate uma determinada doença ou a rizosfera pode
orgânico em condições tropicais é restrito, assim ser supressiva quando a microbiota, que reside
como os estudos relacionados com a produção na rizosfera, protege a planta do ataque de pa-
para processamento industrial são incipientes. tógenos. Em estudo realizado por Mendes et al.
Sendo assim, Olivares et al. (2015) realizaram (2011), identificaram os principais táxons bac-
um estudo pioneiro no Brasil intitulado “Biofor- terianos e genes envolvidos na supressão de um
tificação do substrato combinado com aplicação patógeno fúngico das raízes e verificaram que,
de sprays foliares de RPCP e substâncias húmicas em plantas de beterraba cultivada em solo su-
com a finalidade de aumentar a produção de to- pressivo com inoculação de fungo patogênico, a
mates orgânicos”. Neste trabalho, os autores uti- capacidade de produzir certas substâncias que
lizaram a combinação dos benefícios das RPCP, recrutavam do solo para a rizosfera microrga-
neste caso a bactéria Herbaspirillum seropedi- nismos capazes de evitar o desenvolvimento da
cae e as substâncias húmicas (ácidos húmicos e doença. Mais de 33.000 espécies bacterianas e
fúlvicos extraídos de vermicomposto de ester- archaea foram detectadas, como Proteobacte-
co bovino), produzindo um biofertilizante. Este ria, Firmicutes e Actinobacteria consistente-
foi aplicado no substrato de crescimento das mente associadas à supressão da doença.
mudas de tomate para estimular o crescimento Além das RPCPs, existem muitos relatos
de plântulas de tomate em casa de vegetação. sobre as interações entre colonização micorrí-
Posteriormente, o biofertilizante foi usado na zica de plantas e a incidência e gravidade das
forma de pulverização foliar, após o transplan- doenças causadas por agentes patogênicos
te das mudas produzidas em casa de vegetação (SMITH & READ, 2008). Os efeitos mediadores,
para as condições de campo (Campos dos Goy- nessa interação, são variáveis e influenciados
tacazes, RJ). Os benefícios desta combinação fo- por características do solo, como pH, nível de
ram evidentes, tanto no crescimento quanto no fertilidade, teor de matéria orgânica, porosi-
desenvolvimento das plântulas. A biomassa dos dade e capacidade de retenção de água, entre
frutos aumentou significativamente em relação outros, e características das plantas como nu-
às plantas testemunha. Após o transplante para trição das plantas, se eram ou não micorrizadas
o campo, a pulverização foliar deste biofertili- antes de ser desafiada com propágulos do pató-
zante promoveu um efeito adicional na produção geno, bem como características intrínsecas aos
de frutos e resistência a doenças, proporcionan- inoculos, como densidade relativa do inoculo do
do maior produção de frutos. Este maior rendi- patógeno e fungos micorrízicos.
mento foi associado a melhorias na captação de Uma série de mecanismos pode explicar
nitrato e atividade da nitrato redutase. Olivares as menores perdas de doenças em plantas mi-
et al. (2015) concluíram que a nova geração de corrizadas, estes incluem proteção física, que
produtos biológicos à base de vermicomposto, representa a competição nos sítios de coloni-
substâncias húmicas solúveis e RPCP seleciona-
zação, de modo que a ocupação por um fungo
das oferece oportunidades de aumento dos os
micorrízico reduz as oportunidades de colo-
insumos biológicos para a produção sustentável
nização por patógenos; interações químicas e
de alimentos, fibras e energia.
bioquímicas, que incluem a produção de ami-
noácidos e açúcares redutores, a alteração na
fisiologia radicular, o aumento da espessura da
4.3.2. Microrganismos como biofungicidas parede das células corticais, a maior lignificação
das raízes; alteração nos mecanismos de defesa
Um efeito muito importante da interação da planta durante a colonização micorrízica; in-
entre plantas e os microrganismos da rizosfera dução de resistência, expressa pela produção de
é a supressão de doenças. O solo pode ser con- proteínas específicas (proteínas relacionadas à
siderado supressivo quando um patógeno está patogenicidade) ou pela ativação de enzimas
presente, mas as plantas não são afetadas por hidrolíticas, derivadas do hospedeiro que tem
196
potencial antimicrobiano, sem afetar os FMA; não tóxicos para os seres humanos, animais e o
estado nutricional que é melhorado, o que au- meio ambiente. Além disso, para maximizar sua
menta a resistência das plantas ao ataque por efetividade em condições de campo, é necessário
organismos da doença e a da tolerância à doen- identificar o mecanismo de ação, o momento e as
ça, particularmente ao dano radicular. condições de melhor aplicação. Por isso, antes de
A descoberta das propriedades antagonis- colocar um biofungicida no mercado, é necessá-
tas das RPCPs contra organismos fitopatogênicos rio coletar uma grande quantidade de evidências
estimulou por muito tempo a ideia de sua possí- e, por conseguinte, não surpreende que as cepas
vel implementação como fungicidas biológicos mais estudadas na literatura sejam realmente os
(STUTZ, 1986). A maioria das cepas utilizadas ingredientes ativos dos principais produtos co-
como biofungicidas foram isoladas de solos su- merciais (VELIVELLI et al., 2014).
pressivos (CHET, 1981) ou identificadas como
antagonistas efetivos de patógenos de plantas,
em placas de cultura dupla (TJAMOS et al., 2004).
Essas abordagens de triagem podem explicar por 4.3.3. Microrganismos como bioherbicidas
que a maioria dos ingredientes ativos dos bio-
As ervas daninhas são um problema sério
fungicidas atuais funciona, principalmente, por
na produção agrícola, pois competem na absor-
meio da produção de enzimas líticas, sideróforos
ção de água e nutrientes com as culturas de inte-
e antibióticos ou como hiperparasitas (VINALE
resse econômico nas lavouras e, portanto, estão
et al., 2008; ATANASOVA et al., 2013). Apenas
associadas a uma limitação de produtividade das
recentemente, a indução de resistência de RPCP
culturas (HARDING & RAIZADA, 2015). Neste
recebeu atenção crescente, graças a resultados
contexto, a gestão agrícola foi modificada pela
promissores obtidos sob condições controladas
introdução de herbicidas seletivos, que permi-
(PERAZZOLLI et al., 2012). No entanto, sua eficá-
tem o controle de pragas sem afetar as culturas
cia tangível em condições de campo ainda é deba-
tida (DAGOSTIN et al., 2011). Embora um grande não alvo, ou pelo menos reduzir o efeito sobre
número de espécies e linhagens tenham demons- elas, devido às diferenças nas plantas em nível
trado propriedades antagônicas contra muitos dos mecanismos bioquímicos (MITHILA et al.,
patógenos de plantas, os ingredientes ativos da 2011). Entretanto o uso de uma variedade li-
maioria dos biofungicidas existentes são princi- mitada de herbicidas levou ao desenvolvimento
palmente poucas cepas bacterianas, pertencentes de uma população de ervas daninhas resisten-
aos gêneros Bacillus e Pseudomonas (JACOBSEN tes em resposta à pressão seletiva, exacerbando
et al., 2004; WELLER, 2007) e cepas fúngicas, a necessidade de encontrar novos métodos de
pertencentes aos gêneros Trichoderma e Conio- controle de pragas, a fim de preservar a produ-
thyrium minitans (VINALE et al., 2008). tividade agrícola (MITHILA et al., 2011). Neste
Uma vez identificada a estirpe adequada, o contexto, o controle biológico, ou seja, a introdu-
microrganismo benéfico é geralmente produzido ção de organismos no ecossistema para prevenir
em fermentadores industriais (fermentação sub- o desenvolvimento de espécies indesejáveis, tem
mersa ou de estado sólido), formulado e aplicado recebido grande atenção nas últimas décadas,
em grandes quantidades para o solo (MONTESI- focando, principalmente, no possível uso de bac-
NOS, 2003). Um dos papéis mais importantes da térias e fungos como organismos de controle (LI
formulação é garantir uma vida útil suficiente do et al., 2003; BAILEY et al., 2011). No contexto do
produto fitofarmacêutico, para ser compatível controle biológico de plantas daninhas, podem-
com o modelo de negócio da empresa distribui- -se distinguir duas abordagens principais: I) os
dora e com as necessidades práticas dos produ- métodos clássicos, que são baseados na libera-
tores (SEGARRA et al., 2015). Os fungicidas à base ção de predadores naturais e/ou patogênicos de
de cepas microbianas estão sujeitos ao mesmo espécies indesejáveis com o conhecimento de
protocolo de aprovação de fungicidas químicos, que eles persistirão no ambiente, dificultando o
o que significa que devem ser comprovadamente crescimento de pragas em todo o ecossistema ou
197
II) a estratégia bioherbicida (também conhecida Colletotrichum também codifica a via bioquímica
como controle biológico inundativo), na qual as para a biossíntese do ácido indol-3-acético (au-
bactérias ou esporos fúngicos são propagados xina), cujos análogos e derivados são herbicidas
e, então, liberados somente dentro da área a ser bem consolidados (GAN et al., 2013).
tratada, com uma carga muito alta que não ocor- Dentro do gênero Phoma, a espécie P. ma-
reria naturalmente no ecossistema (CALDWELL crostomata tem sido estudada em detalhes por
et al., 2011). sua capacidade de inibir, especificamente, o cres-
Um grande número de bactérias foi estu- cimento de plantas dicotiledôneas (BAILEY et al.,
dado para seu possível uso como bioherbicidas. A 2011, SMITH et al., 2015). A estratégia adotada
Pseudomona fluorescence, geralmente caracteriza- por P. macrostomata para combater o crescimen-
da por sua capacidade de promover o crescimen- to das plantas consiste na produção e liberação de
to das plantas (GAMALERO et al., 2005), também macrocidina, membro da família do ácido tetrami-
mostrou efeitos inibitórios sobre a germinação e co, que compromete o processo fotossintético nas
crescimento das plantas. A cepa D7, em particular, folhas novas (BAILEY et al., 2011).
foi isolada do trigo de inverno (Triticum aestivum)
e demonstrou caracterizar uma atividade inibitória
na germinação e crescimento da planta daninha
Bromus tectorum (GEALY et al., 1996), provavel- 5. Influência da rizodeposição na
mente graças a uma combinação de péptidos extra- disponibilidade de nutrientes e formação de
celulares e lipopolissacárideos (GURUSIDDAIAH agregados do solo
et al., 1994). Até o momento, a mais estudada é a
linhagem WH6, que tem mostrado alterar a germi- 5.1. Aquisição de nutrientes
nação de 21 espécies de monocotiledôneas e 8 di-
cotiledôneas (BANOWETZ et al., 2008). A principal via pela qual as plantas acessam
Xanthomonas campestris é outra espécie água e nutrientes do solo é pelas suas raízes. As
bacteriana estudada como potencial candidata interações que ocorrem entre plantas e microrga-
ao bioherbicida; cepas diferentes (por exemplo, nismos da rizosfera afetam direta e indiretamente
JTP482, LVA-987) mostraram controlar ervas a dinâmica dos nutrientes no solo, uma vez que
como fienarola anual (Poa annua) e saeppola ca- durante essas interações os exsudatos e secreções
nadense (Conyza canadensis); no entanto, até o liberadas pelas raízes são capazes de estimular ou
momento, os compostos fitotóxicos efetivos ainda inibir processos microbianos, complexar íons me-
não foram identificados (BOYETTE e HOAGLAND, tálicos (ação como agente quelante), modificar o
2015). pH e o potencial redox do solo alterando a mobili-
Além de bactérias, os fungos também têm dade e a solubilidade dos nutrientes (SUBBARAO
sido estudados como bioherbicidas potenciais et al., 2009; MEENA et al., 2017). Além disso, os
e um levantamento da literatura científica sobre vários compostos orgânicos, principalmente os
este tópico mostrou que, principalmente, dois carbonados, exsudados pelas raízes atraem para
tipos de fungos têm relevância nesta área: Colle- rizosfera e estimulam à atividade de microrganis-
totrichum e Phoma. Várias espécies pertencentes mos capazes de solubilizar, mobilizar e minerali-
ao gênero Colletotrichum são capazes de contro- zar nutrientes como N, P, K, S, e Zn (KUMAR et al.,
lar ervas daninhas como Sesbania exaltata e Xan- 2017; MEENA et al., 2017). Por exemplo, na cul-
thium spinosum (SCHISLER et al., 1991); os meca- tura do tomate, Kirankumar et al. (2008) repor-
nismos utilizados por esses fungos para inibir o taram que plantas inoculadas com RPCPs tiveram
crescimento das plantas ainda não foram elucida- a absorção de N, P e K sensivelmente aumentada.
dos, mas a análise do genoma revelou a presen- Resultados semelhantes também foram observa-
ça de sequências associadas à patogênese, como dos nas culturas do milho (SARABIA et al., 2018),
genes que codificam enzimas para degradação pepino (PII et al., 2015a,b), soja (MIRANSARI,
da parede celular (GAN et al., 2013). Além disso, 2016), arroz (RODRIGUES et al., 2008) e trigo
o genoma de membros pertencentes ao gênero (KUMAR et al., 2017).
198
et al., 2017), conforme descrito anteriormente e naturais e/ou sintéticas contribuem para o su-
exemplificado na Figura 4. De modo geral, os si- cesso do desenvolvimento das plantas, pois ao
deróforos são compostos de baixo peso molecu- aumentar a biodisponibilidade dos nutrientes no
lar, alta estabilidade e com elevada afinidade por solo aumentam as chances de sua absorção pelas
íons metálicos (GLICK et al., 2012). Como exem- raízes (AHKAMI et al., 2017). Além disso, o enten-
plo, devido a baixa solubilidade do Fe em solos dimento de como a rizodeposição afeta a disponi-
aerados e/ou com elevado pH (acima de 7,0) a bilidade dos nutrientes, possibilita a manipulação
presença de sideróforos é muito importante para da quantidade e/ou composição dos rizodepó-
o adequado suprimento de Fe as plantas (PII et al., sitos e dos microrganismos da rizosfera e então
2015a,b; 2016). As plantas leguminosas (Estra- contribui para o aumento da eficiência de uso
tégia I, Figura 4) utilizam-se de três mecanismos dos nutrientes pelas plantas e por consequência
para capturar Fe do solo, I) acidificação da rizos- a produtividade das culturas (RYAN et al., 2009;
fera, por meio da extrusão de prótons; II) redução MEENA et al., 2017). Diante disso, a descoberta
do FeIII insolúvel para FeII mais solúvel pela ação de substâncias biologicamente produzidas e com
da ferro-quelato redutase (FRO2); III) transporte capacidade de estimular e/ou inibir processos
para dentro das células das raízes mediado pelo envolvidos no ciclo biogeoquímico dos nutrientes
transportador ferro-regulador 1 (IRT1) (GLICK pode dar novo rumo aos estudos sobre nutrição
et al., 2012; KOBAYASHI & NISHIZAWA, 2012). de plantas, revolucionar as boas práticas de uso
As gramíneas, por outro lado (Estratégia II, Figu- de fertilizantes e apontar o caminho com menor
ra 4), secretam aminoácidos (fitossideróforos ─ impacto sobre o agroecossistema.
FS), os complexam com o FeIII e absorvem o com-
plexo FeII-FS via transportadores (KOBAYASHI &
NISHIZAWA, 2012). Na Itália, Pii et al. (2015a,b)
inocularam um solo alcalino (pHCaCl2 7,72) com a 5.2. Agregação do solo
bactéria promotora de crescimento Azospirillum
Como descrito anteriormente, na rizosfe-
brasilense e, após o cultivo de pepino, observaram
ra há um ambiente rico em nutrientes e, portan-
um aumento de 20% na concentração de Fe nos
to, propício ao crescimento e desenvolvimento
tecidos das plantas, o resultado foi atribuído, pe-
de fungos antagonistas e benéficos (micorrízas)
los autores, à maior rizodeposição de sideróforos
pelas raízes quando inoculadas. Outro efeito indi- e outros integrantes da microbiota do solo, po-
reto pode ser associado aos sideróforos, pois ao dendo essa combinação resultar em melhores
complexar o Fe disponível na rizosfera tornam-no condições físicas do solo, tais como, maior infil-
menos disponível a fitopatógenos, que também tração de água no solo e porosidade total, assim
necessitam do nutriente, inibindo assim o cres- como na formação de agregados do solo de dife-
cimento do competidor (MEENA et al., 2017). É rentes tamanhos.
importante destacar ainda que os sideróforos Os agregados podem ser divididos em
desempenham valioso serviço ambiental ao con- classes: microagregados quando seu tamanho
tribuir na fitorremediação de ambientes contami- está compreendido entre 20 a 250 µm, ou ma-
nados, uma vez que aumentam a tolerância das croagregados em casos de tamanho >250 µm
plantas a elementos em excesso ou tóxicos. Isso (TISDALL & OADES, 1982). Os agregados se for-
só é possível porque os sideróforos podem formar mam no solo através da interação de diferentes
complexos estáveis com íons metálicos, como ní- fatores, tanto por forças mecânicas exercidas
quel, cádmio, cobre, chumbo e zinco (PUSCHEN- por pressão como por compostos químicos, que
REITER et al., 2017). são conhecidos como os agentes cimentantes.
Não pretendemos esgotar o assunto nesta Esses podem ser divididos em transicionais,
seção, mas fornecer alguns elementos mostran- temporários ou recalcitrantes no solo e sua ação
do como os rizodepósitos podem influenciar a é se ligar com as partículas minerais ali presen-
disponibilidade de nutrientes as plantas. Já está tes. Enquanto os dois primeiros estão mais as-
claro que os rizodepósitos oriundos de interações sociados a polissacarídeos e hifas de fungos, os
200
agentes persistentes ou recalcitrantes são, ge- organismos do solo, acaba servindo como uma
ralmente, associações de material humificado cola, que une esses elementos, estabilizando,
com óxidos de ferro (BASTOS et al., 2005). então, os agregados. Czarnes et al. (2000), ava-
Dentre os possíveis atores da agregação liando os processos que ocorrem na rizosfera
no solo, as raízes das plantas têm papel fun- usando um modelo experimental com polissa-
damental, pois estas crescem em amplas dire- carídeos bacterianos e mucilagens análogas às
ções no solo, desenvolvendo pelos radiculares, das raízes, verificaram o efeito dessas mucila-
que atraem as partículas minerais, favorecem a gens e dos microrganismos, como também dos
formação dos agregados, assim como estão em ciclos de umedecimento e secagem decorrente
constante renovação, liberando material orgâ- da evapotranspiração, na estruturação do solo.
nico, a partir de sua decomposição que serve Normalmente, os agregados em zonas ra-
de alimento a outros organismos presentes no diculares são mais estáveis do que fora da rizos-
solo. Cabe destacar também os fotoassimilados fera. Essa característica se dá pelo fato de ser
das raízes que tem papel de auxiliar na dispo- encontrado maiores conteúdos de carbono da
nibilidade de nutrientes para as plantas, mas biomassa microbiana e de carboidratos solúveis
também funcionam como agentes formadores em água na rizosfera, o que se traduz em mais
de agregados. agentes ligantes para interagir com as partícu-
A formação dos fotoassimilados se dá a las do solo. Outro ponto interessante é a elevada
partir do estímulo dos cloroplastos pela luz so- presença de hidrolases, tais como a urease, fos-
lar, gerando energia e acumulando carboidratos fatase ácida e β-glucosidase nesses agregados
e outros elementos nas folhas. Dessa forma, são da rizosfera, permitindo maior disponibilidade
movimentados os diversos ciclos bioquímicos de nutrientes para as plantas (HAYNES e FRAN-
na planta. Os produtos resultantes desses ciclos CIS, 1993; CARAVACA et al., 2002).
são solubilizados e distribuídos via transporte A decomposição das raízes disponibiliza
ativo nas membranas celulares, chegando às material orgânico rico em carbono e também
raízes, onde podem ser liberados por difusão outros elementos, como nitrogênio. Estes, por
nas células da coifa ou da epiderme das raízes, sua vez, são utilizados pela comunidade micro-
fazendo o caminho da fonte para o dreno (CAR- biológica do solo que depende desses aportes
DOSO e NOGUEIRA, 2007). para se estabelecer (LI et al., 2015). Dentre os
Os fotoassimilados podem ser exsudatos microrganismos, se destacam as micorrízas que
solúveis de baixo peso molecular (aminoáci- por meio do carbono da decomposição ou da ri-
dos, fenóis e ácidos orgânicos) e de alto peso zodeposição se desenvolvem, aumentando a sua
molecular (mucilagens, polissacarídeos e pro- biomassa e, consequentemente, as quantidades
teínas), conforme apresentado na Tabela 1. Es- de hifas emitidas. As hifas acabam por aproxi-
sas substâncias, por sua vez, interagem com as mar os compostos minerais e orgânicos do solo,
cargas presentes nos óxidos e filossilicatos no emitindo também glomalina, cujas proprieda-
solo, formando quelatos e complexos organomi- des proteicas servem também como um agente
nerais, dando início ao processo de agregação cimentante temporário (RILLING e MUMMEY,
das partículas, atuando assim como agentes ci- 2006).
mentantes temporários e permanentes, ou seja, Os microrganismos, para obter energia,
atraindo colóides e formando agregados (BAIS se utilizam do material orgânico das raízes
et al., 2006). em decomposição, produzindo mucilagens e
A mucilagem é uma das substâncias se- gomas, que interagem com os íons e as argi-
cretadas pelas raízes mais estudada, composta las silicatadas, resultando, então, em uma liga
por polissacarídeos e proteínas, comportando- de compostos humificados que estruturam
-se como um gel que recobre as raízes. Por es- microagregados (OADES, 1984). Na sequência,
tar em contato com as partículas minerais e os esses microagregados podem se unir e fomar os
201
diminuição de agroquímicos. Isto é possível, pois que os atributos bioquímicos e químicos avalia-
a rizosfera é considerada o segundo genoma de dos podem ser utilizados como indicadores das
plantas, sendo um “hotspot” para as interações alterações no solo promovidas pelas culturas de
raiz-solo-microrganismo (BERENDSEN et al., inverno e pelas sequências de verão.
2012; ZHANG et al., 2017). Dependendo do sistema de manejo e das
Os microrganismos, com destaque para os práticas agrícolas adotadas, diferentes efeitos
fungos e bactérias, são essenciais para manuten- poderão ser observados na diversidade de mi-
ção e, ou, melhoria da qualidade do solo, pois os crorganismos do solo. No SPC, o qual caracte-
mesmos estão direta e indiretamente envolvi- riza-se pela mobilização periódica da camada
dos na dinâmica da matéria orgânica, ciclagem superficial do solo, com consequente incorpo-
de nutrientes e decomposição dos resíduos ve- ração e fragmentação dos resíduos vegetais,
getais (ACOSTA-MARTÍNEZ et al., 2008). O sis- que estavam depositados sobre o solo, tem-se
tema de manejo do solo, a exemplo do Sistema menor atividade e diversidade biológica. Outra
de Preparo Convencional (SPC) e do Sistema de ameaça à atividade biológica do solo é a com-
Plantio Direto (SPD), pode alterar a comunidade pactação, pois solos compactados terão menor
microbiana do solo, porém entre o SPC e o SPD, proporção dos macroporos, ocasionando em
este último quando planejado e conduzido corre- menor espaço disponível para a vida no solo.
tamente, pode ser considerado autossustentável, A diminuição do espaço poroso pode favore-
pois propicia a conservação e o aumento do con- cer as condições de anaerobiose do solo, o que
teúdo de matéria orgânica, com consequente au- influência a distribuição de organismos no solo
mento da população microbiana no solo (DORAN e altera as cadeias tróficas, podendo causar a
et al., 1998). No SPD, o uso contínuo de plantas perda de nutrientes e redução do crescimento
de coberturas e rotação de culturas planificada radicular (MEIRA-HADDAD et al., 2009). A utili-
promove mudanças significativas na qualidade zação de pesticidas e inseticidas, a exemplo do
e quantidade de resíduos vegetais, em compa- uso do glifosato para dessecar as plantas de co-
ração aos monocultivos e ao SPC. Dessa forma, bertura no SPD convencional, também pode di-
tem-se alterações na biomassa microbiana e na minuir a atividade biológica de forma drástica.
dinâmica da comunidade microbiana, o que irá Segundo Römheld et al. (2007), é na rizosfera
refletir na ciclagem de carbono e nitrogênio por que ocorrerá a transferência do glifosato aplica-
meio das mudanças na decomposição dos resí- do na planta-alvo (invasoras) para a planta não-
duos vegetais (WRIGHT et al., 2008). -alvo (cultura de interesse econômico).
Avaliando o efeito da rotação de culturas Com o revolvimento constante do solo
de inverno (milho ─ Zea mays, girassol ─ Helian- e, ou, com aplicação de pesticidas, inseticidas,
thus anuus e guandu ─ Cajanus cajan) sobre se- inevitavelmente ter-se-ão alterações negativas
quências de culturas no verão (soja/soja, milho/ na comunidade microbiana do solo. Sendo as-
milho e soja/milho) em SPD, nos atributos bio- sim, tem-se que buscar o equilíbrio nutricional
químicos (amilase, urease, celulase e protease) do solo, para promover a diversidade biológica.
e químicos (carbono orgânico total ─ COT, car- Dentre os elementos mais requeridos pelos mi-
boidratos totais e proteínas totais) em solo ri- crorganismos, o carbono é o mais limitante para
zosférico (SR) e não rizosférico (SNR), Cordeiro a atividade biológica do solo. O aporte vegetal
et al. (2012) verificaram que as atividades das (aéreo e radicular) das plantas de coberturas e
enzimas amilase, celulase, protease e urease no das culturas, adubos e compostos orgânicos for-
SR foram 16, 85, 62 e 100% maiores do que no necem carbono ao solo e, via de regra, afetam
SNR; para COT e proteínas totais a diferença foi positivamente a atividade biológica na rizosfe-
de 21%. Das culturas de inverno, o milho foi a ra. A diversidade microbiana do solo também é
que mais estimulou as atividades das enzimas dependente das plantas de cobertura e das cul-
no SR, bem como no SNR. Os autores concluíram turas utilizadas, pois estas podem servir como
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Preparando o ambiente para o
cultivo das plantas
1. Introdução
(b)
2.1. Uso conservacionista do solo
A produção de fito-
massa dos adubos verdes
(massa seca) no inverno de
2008 variou de 3,1 a 5,1 Mg
ha⁻¹, não diferindo entre os
tratamentos (Tabela 1). No
verão de 2008, a produção
de fitomassa dos adubos
verdes variou de 0,87 a 3,1
Mg ha⁻¹, sendo os tratamen-
tos 1 e 5 os mais produtivos,
podendo ser atribuído à
contribuição do milho e mi-
lheto. No verão de 2009, a
produção de fitomassa dos
adubos verdes variou de 6,2
a 16,5 Mg ha⁻¹. No inverno
de 2010 constatou-se que a
Figura 6. Experimento na Estação Experimental em Ituporanga, Santa Catarina,
produção de fitomassa va-
para analisar os sistemas de rotação com cebola, milho e adubos verdes influen- riou de 0,84 a 5,6 Mg ha⁻¹
ciando na emergência e desenvolvimentos de plantas espontâneas. de massa seca.
Assim, os adubos
mucuna-centeio e cebola; T7. consórcio de verão, verdes avaliados mostraram, desconsiderando
com a sequência milheto-mucuna-girassol e ce- os problemas climáticos, fitossanitários e pousio,
bola. Comparativamente foi avaliada uma área satisfatória produção de fitomassa, variando de 3
com Preparo Convencional (PC), com sucessão a 16 Mg ha⁻¹ de massa seca. No geral, os adubos
milho-cebola (T8). As variáveis relacionadas à verdes de verão têm maior potencial de produ-
cobertura do solo avaliadas foram produção de ção de fitomassa se comparados aos de inverno.
massa seca dos resíduos culturais e dos adubos Espécies com alta produção de fitomassa como
verdes. Os seus atributos químicos e físicos fo- milho e milheto são interessantes para o sistema
ram avaliados nas camadas de 0 a 5, 5 a 10 e 10 de plantio direto de cebola. O uso do consórcio
a 20 cm. A produtividade de bulbos de cebola foi de espécies como estratégia para cobertura do
avaliada nas safras de 2007 a 2017. solo aumenta a produção de fitomassa total.
Tabela 1. Produção de fitomassa (MS Mg ha⁻¹) da parte aérea de adubos verdes de inverno e verão, para cultivo de
cebola em plantio direto, sob diferentes tratamentos envolvendo rotação de culturas nos anos de 2008, 2009 e 2010.
Ituporanga/SC.
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12
1. Introdução
(a)
4. Preparo do berçário
No início do sistema
é necessário preparar ber-
çários individuais ou em
linha com o uso de disco
de corte frontal e o facão
com o dedo de ema. Deve-
-se dar preferência a disco
de corte corrugado e com
17” de diâmetro. É nesse
local que são alocados os
fertilizantes e as sementes
ou as mudas. Pode-se uti-
lizar adubadoras de uso
comum do plantio direto
ou as desenvolvidas espe-
cificamente para o SPDH.
É importante se fazer a
prática de construção do
berçário e linha de plantio
logo após a rolagem dos
adubos verdes. Neste pon-
to as plantas de cobertura Figura 4. Equipamentos a tração animal para agricultura de montanha sendo que
estão mais tenras, facili- ambos realizam corte das plantas de cobertura e preparo do berçário. A diferença
tando o corte pelo disco está na deposição do fertilizante feita pelo segundo modelo. É um equipamento de
frontal e a colocação dos alto rendimento de trabalho sem o custo adicional de máquinas de tração motora
e gasto de combustível. Além disso, tem a vantagem de apresentar baixo índice de
adubos em profundidade compactação do solo.
(Figuras 4, 5, 6, 7 e 8).
233
(a)
(b)
Figura 6. Equipamentos com tração por microtrator desenvolvido para cortar plantas de cobertura e construir o
berçário em linha, com roda de ferro contendo disco de corte com 24”, porém, com rotativa adaptada para duas linhas
com espaçamento varável (0,8 a 1,0 m) revolvendo 6 cm de largura. Neste equipamento as facas da enxada rotativa
são desgastadas para revolver o mínimo de solo. Atrás das enxadas são posicionadas calhas de metal que evitam que o
solo seja projetado para longe da linha de cultivo. É um equipamento desenvolvido para preparar berçário de cebola,
porém, pode ser utilizado para outras hortaliças como as brássicas. O corte de palhadas resistentes, como de mucuna,
é garantida pela substituição dos pneus do microtrator pela roda de ferro especial com disco de corte. Uma vez que
grande parte do peso da máquina recai sobre os discos, o corte da palhada torna-se mais fácil que em outros equipa-
mentos mais leves.
235
(a)
(b)
Figura 7. Detalhes de dois equipamentos onde o primeiro apresenta disco de corte corrugado e sulcador com terminal
em dedo de ema de 2 cm de largura, que ocasiona fraturas no solo de baixo para cima como um “mouchão invertido”,
com a vantagem de evitar a exposição do solo desde que usado na velocidade de trabalho correta (a). O segundo mo-
delo tem o disco de corte liso, mas as rodas firmam a palha para facilitar o corte (b).
236
Figura 8. Equipamento para trator, acoplado ao sistema hidráulico, com discos de corte corrugados e sulcadores, de-
senvolvido para cortar plantas de cobertura, abrir e depositar fertilizantes no berçário em linha. Pode ser usado para
o plantio de mudas de tomate, pimentão, berinjela, melancia, abóbora Tetsukabuto, couve-flor, repolho e brócolis. As
linhas de trabalho podem ser reguladas para vários espaçamentos.
237
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direto de hortaliças (SPDH): o cultivo da moranga
13
O processo de produção de sementes e para agricultura limpa. Vale salientar que a pro-
mudas em SPDH está associado à promoção da dução de mudas fundamentada nesta lógica da
saúde das plantas no viveiro, o que irá contri- saúde de plantas ainda é embrionária.
buir com a saúde das plantas adultas no campo.
Nesta fase, é possível agregar estímulos fisioló-
gicos com o acondicionamento de sementes e
mudas preparadas para condições de estresses 1.1. Produção de sementes
abióticos como temperatura, hídrico e luminoso.
Adicionalmente, também podemos preparar as A semente pode ser proveniente de produ-
plantas para estresses bióticos relacionados ao ção própria ou adquirida em estabelecimento co-
enfrentamento de agentes prejudiciais “doenças mercial legalmente registrado. A semente deve ser
e pragas”, como ativação do sistema de defesa da selecionada das plantas matrizes de acordo com
planta. O desenvolvimento das mudas deve estar características desejáveis relacionadas à habilida-
associado à biota benéfica presente no solo, subs- de produtiva e à capacidade de tolerar estresses.
trato, sistema radicular e aéreo, proporcionando Selecionadas as matrizes, deve-se escolher fru-
saúde ao indivíduo. Além disso, deve promover tos com as características desejadas e saudáveis.
o desenvolvimento de sistema radicular extenso As espécies de frutos carnosos caracterizam-se
e profundo, com sua forma anatômica original pela continuação do processo de maturação das
preservada, ou seja, raiz pivotante ou fasciculada. sementes mesmo após a colheita do fruto, no pe-
Certamente essa condição é construída a partir ríodo que pode ser denominado de repouso pós-
da complexidade ativa no ambiente de produção -colheita, aumentando seu vigor. Esta prática é
das mudas. É fundamental estabelecer na nutri- importante para pimentão, tomate, berinjela, abó-
ção das plantas a capacidade em produzir tecido bora, moranga, pepino, melão e melancia.
íntegro com a determinação e uso da Taxa Diária A extração das sementes destas espécies é
de Absorção de Nutrientes (TDA) e de massa seca feita abrindo os frutos e removendo-se manual-
(G) a fim de construção o programa de adubação mente as sementes aderidas à placenta. Em se-
e realizar seu ajuste de acordo com as condições guida devem ser lavadas em água corrente para
ambientais, características dos substratos e sinais remoção da fina camada de mucilagem que as
da planta. Estas abordagens, dentre outras, con- recobre. As sementes saem do processo de lava-
tribuem para a saúde da futura planta, de acordo ção com 40% de umidade, e devem ser secadas
com as fases de crescimento e desenvolvimento, imediatamente. Para evitar perdas de vigor e ger-
possibilitando maximizar seu potencial genético minação, as sementes recém-lavadas devem ser,
produtivo, fortalecendo o processo de transição inicialmente, espalhadas em finas camadas em
240
ambiente ventilado por período entre 24 e 48 ho- Já para melancia, a colheita de frutos pode
ras. A temperatura recomendada para secagem ser realizada antecedendo a maturação fisioló-
de sementes é de 32°C. Esta secagem ainda é in- gica das sementes sendo, neste caso, necessário
suficiente para permitir o armazenamento, sendo manter frutos em repouso depois de colhido para
necessário uso de secador ou estufa elétrica, onde que as sementes completem a maturidade. Um
a temperatura de secagem pode ser mantida em dos indicativos do ponto de colheita em melancia
40°C. Um período adicional de 24 a 48 horas nessa está associado a senescência da primeira gavinha
condição reduz a umidade da semente para 5-6%, próximo ao pedúnculo. O rendimento de semen-
o que permite o armazenamento em ambiente tes de melancia varia de 100 a 250 kg/ha. Espe-
com controle de temperatura e umidade por pe- cificamente para moranga, abóbora e abobrinha,
ríodos maiores. o ponto de colheita está associado a mudança de
No tomateiro, o fruto escolhido deve ter coloração verde do pedúnculo para palha e a parte
preferencialmente coloração avermelhada. Se- do fruto em contato com o chão de branca para
mentes de frutos imaturos resultam em menor amarelo-alaranjado, sendo recomendado retirar
taxa de germinação e perda de vigor. A seguir, os as sementes 20 a 30 dias após colheita (FAYAD et
frutos são triturados e mantidos em repouso em al., 2015).
uma vasilha de vidro por cerca de 48 a 72 horas. As plantas que produzem sementes em
Tem-se por objetivo a decomposição da parte inflorescências como alface, repolho, couve-flor,
gelatinosa, sendo que fases iniciais do processo brócolis e cebola necessitam da colheita das se-
fermentativo podem combater principalmente mentes maduras e seu posterior acondicionamen-
bactérias. Tempo excessivo de fermentação escu- to (FAYAD et al., 2016a). Para estas espécies a ma-
rece a semente e temperatura acima de 21°C pode turação desuniforme de sementes representa um
provocar a sua germinação. A operação seguinte é desafio para estabelecer o melhor momento para
lavar a massa fermentada em água corrente, dei- a colheita. Na produção de sementes em folhosas
xando a semente limpa, alocando-as sobre papel como a alface, a indicação é de que a colheita seja
toalha, colocando-a para reduzir o teor de umida- realizada quando 80% dos capítulos estiverem
de em local sombreado para depois acondicioná- maduros. Na colheita, as plantas são cortadas,
-la em recipiente e, de preferência, na geladeira. preferencialmente, no início da manhã, quando
Há relatos que, quando assim acondicionadas,
ainda estão úmidas pelo orvalho, evitando que
as sementes podem manter alta percentagem de
as sementes sejam liberadas da inflorescência.
germinação, por mais de seis anos e também há
O rendimento na produção de semente de alface
trabalhos demonstrando germinação de 90 e 59%
situa-se entre 225 a 550 kg/ha. Em brássicas, a
após 15 e 30 anos, respectivamente. O rendimen-
tendência de degrana de sementes é uma caracte-
to de sementes do tomateiro geralmente resulta
rística específica que exige cuidado especial para
em cerca de 6 a 10 kg de sementes por tonelada
minimizar perdas. Se a colheita de rácemos for an-
de frutos. Já o peso de mil sementes varia de 2,3 a
3,5 gramas (FAYAD & MONDARDO, 2004; FAYAD tecipada, isso pode resultar em sementes com me-
et al., 2016b). nor viabilidade e vigor, por outro lado, se retarda-
Para pimentão, o fruto a ser colhido deve da, as perdas podem ser significativas. Melhores
apresentar entre a coloração verde-avermelhada resultados na qualidade de sementes de brássicas
a totalmente vermelho. Após colhidos, os frutos são obtidos quando colhidos com maturidade fi-
de pimentão verde-avermelhados devem perma- siológica estabelecida, o que é identificado pela
necer por aproximadamente uma semana com mudança da cor das síliquas de verde para ama-
as sementes, possibilitando finalizar a matura- relada e das sementes com coloração marrom.
ção fisiológica. Os frutos colhidos vermelhos não Outra forma de avaliação do ponto de colheita é
necessitam de repouso após a colheita. As semen- exercer pressão com os dedos sobre a semente, de
tes que atingiram maturação fisiológica, quando forma que esta não se separe em duas metades.
secas e armazenadas corretamente podem man- Os rendimentos médios na produção de semente
ter viabilidade e vigor por meses (PEREIRA, 2009; em brócolis, situam-se entre 900 a 1.100 kg/ha
OLIVEIRA et al., 2016). (FAYAD et al., 2016a).
241
A cebola é uma hortaliça de ciclo bienal inflorescências formam as cápsulas que contêm
apresentando fase vegetativa e reprodutiva. A pri- as sementes no seu interior e que se rompem na
meira fase é a vegetativa, influenciada por diferen- época da maturação.
tes fatores ambientais, sendo os mais importantes Quando a colheita é manual, e devido à de-
o fotoperíodo e a temperatura. É uma planta que suniformidade da maturação das sementes é re-
fisiologicamente exige dias longos para a bulbifi- comendável iniciar a colheita quando as umbelas
cação, explicando porque o plantio é realizado no começam a amarelar. Quando aproximadamente
inverno e a colheita no verão. Na fase reprodutiva, 10% das sementes já estejam expostas, pode-se
a temperatura é o principal fator responsável pela realizar a colheita em duas etapas. Colheitas mais
iniciação do processo. tardias permitem obtenção de melhor qualidade
A iniciação floral normalmente requer quanto à germinação e vigor, mas também au-
temperaturas baixas, com faixa favorável entre 9 mentam as perdas por desgrane.
e 13°C, como efeito do processo de vernalização. Na região do Alto Vale do Itajaí, produtores
Com relação à seleção dos bulbos para produção da agricultura familiar conseguem rendimento de
de semente, algumas características são desejá- sementes, em torno de 8 a 12% maior que outras
veis como formato arredondado, cor, retenção de localidades. Porém, com custo mais elevado, em
películas (catafilos), conservação no armazena- função do clima mais úmido, exigindo mais tra-
mento, resistência as doenças e pragas, resistên- tamentos fitossanitários. A produção local de se-
cia ao florescimento precoce na fase vegetativa, mentes tem a vantagem de obter cultivares adap-
com centro único, tamanho e uniformidade (mé- tadas.
dios 100 gramas) e estabilidade de produção ao A secagem das umbelas pode ser feita ao
longo dos anos. sol e à sombra em galpões ventilados ou em se-
Devemos ter cuidado especial com relação à cadores com ar quente. Nos secadores o processo
escolha do local para instalação da lavoura (cam- de secagem é mais rápido e mantém a qualidade
po de produção), o qual deve apresentar condi- das sementes. Na sequência faz-se a trilha das um-
ções que propiciem saúde às plantas e que seja belas, podendo ser manual ou utilizando peque-
manejado seguindo os princípios do SPDH. Além nas máquinas para esta operação. A limpeza das
disso, é necessário manter isolamento de 2.000 sementes nas propriedades rurais pode ser feita
metros entre campos de semente evitando o cru- com peneiras de diferentes tamanhos e ou com
zamento com plantas de outras lavouras por ação auxílio de ventiladores.
dos agentes polinizadores. Por fim, recomenda-se a secagem artificial
No momento do plantio, deve-se proceder o da semente, onde o teor de umidade deve ser
corte dos bulbos logo abaixo do pseudocaule para reduzido de 15% para 6%, com temperatura de
uniformizar e facilitar a brotação, além de se apro- 35°C por 2 a 3 horas, para posterior acondiciona-
veitar apenas os bulbos com centro único mais to- mento na embalagem.
lerantes as bacterioses, eliminando aqueles com
mais de um centro que geram as cebolas “duplas”
com menor valor comercial.
A quantidade de bulbos utilizada no plantio 1.2. Condicionamento osmótico de sementes
deverá ficar entre 3.000 e 3.500 kg/ha, utilizando-
-se um espaçamento de 1,1 metros entre linhas e O condicionamento osmótico consiste em
30 centímetros entre bulbos. tratar as sementes em solução osmótica que via-
A semente de cebola é originada de uma biliza os processos iniciais de germinação, sendo
inflorescência (umbela), com uma quantidade de interrompida antes da emissão da radícula. Este
flores que pode variar de 50 até 2.000 e apresenta processo favorece à uniformidade e a rapidez da
o fenômeno da protandria, ou seja, o pólen ama- emergência das plântulas que foram semeadas
durece e torna-se viável antes que o estigma, fato definitivamente na área de cultivo, por apresen-
que exige intensa presença dos agentes poliniza- tar menor dependência da temperatura. Porém,
dores que encontrarão a viabilidade da fecunda- em condições de produção da muda em abrigo,
ção entre as plantas maduras da população. Estas onde as condições de temperatura e umidade
242
N P K Ca Mg S Fe Mn Zn Cu B
mg planta⁻¹ µg planta⁻¹
19,94 2,6 21 13 2,75 3,5 187 83,2 20 7,9 4,2
N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B
mg planta⁻¹ µg planta⁻¹
4,48 0,24 1,10 0,85 0,08 10,98 34,93 4,77 1,39 1,90
nutrição no viveiro e contribui para uma rápi- íntegras contribuem na forma de reserva nutri-
da adaptação desta muda, no novo ambiente de cional, para a rápida formação radicular, acele-
cultivo. Além disso, estas folhas cotiledonares rando o processo de estabelecimento no campo.
Também há uma redução
significativa na perda de
mudas pelos estresses
causados pelo ataque de
microorganismos e inse-
tos prejudiciais, além de
contribuir na uniformida-
de da planta durante todo
ciclo de cultivo.
Outro sinal está na
intensidade do verde e
tamanho da folha, onde
folhas grandes e com ver-
de-escura podem repre-
sentar excesso, principal-
mente de nitrogênio. Por
outro lado, folhas peque-
nas e verde-amareladas
indicam a restrição de nu-
Figura 3. Mudas de brócolis produzidas em bandejas de 200 células com folhas
trientes.
cotiledonares amareladas, apresentando retranslocação em massa de nutrientes. Mudas com talo tor-
Anitápolis/SC, 2016. to é uma característica
causada, principalmente
nas brássicas, pelo déficit
de água ocorrido no pe-
ríodo do crescimento no
viveiro, comprometendo
a circulação de água e nu-
trientes e aumentando o
tombamento no campo.
Isto resulta do desequi-
líbrio na distribuição do
peso da parte aérea da
planta. Plantas que re-
cebem água e nutrientes
em quantidade e propor-
ção corretas, atendendo à
TDA e seus ajustes, apre-
sentam folhas e talo firme,
inclusive as cotiledonares,
normalmente com gra-
Figura 4. Muda de couve-flor produzidas em bandejas de 128 células, apresentan- diente de coloração verde
do folhas cotiledonares e verdadeiras íntegras sem retranslocação em massa de entre as folhas novas e as
nutrientes. Águas Mornas/SC, 2017. formadas.
246
A primeira chama-
da está em manter a pro-
porcionalidade entre o
sistema radicular com a
parte aérea, respeitando
a relação de, aproximada-
mente, 1:1 (Figura 5). Ou-
tro aspecto importante é
manter a natural arquite-
tura do sistema radicular
pivotante ou fasciculado
segundo a espécie, objeti-
vando planta adulta com
sistema radicular capaz de
suprir as demandas máxi-
mas de absorção de água e
nutrientes na fase de cres- Figura 5. Mudas de couve-flor produzidas em bandeja com 128 células, apresen-
cimento e produção. tando relação da parte aérea com sistema radicular proporcional. Águas Mornas/SC,
2017.
Em brássicas, ob-
serva-se a antecipação da
colheita em até 15 dias,
quando mantida a propor-
cionalidade entre sistema
radicular e parte aérea
no momento de plantio
da muda. Além disso, essa
muda inicia rapidamente o
processo de enraizamen-
to e formação de novas
folhas e raízes trazendo
vantagens no seu estabe-
lecimento em relação às
plantas espontâneas (Fi-
gura 6).
As mudas de toma-
te, pimentão e berinjela
cultivadas em bandeja for-
mam um sistema radicular
(b) (a)
fasciculado. No caso da
semeadura definitiva, as Figura 6. Lavoura de Estudo de couve-flor com 35 dias de transplante, conduzida
em SPDH pela família Schmitz, no município de Águas Mornas a partir de mudas
plantas mantêm a raiz pi- produzidas em bandejas com 128 células e nutrição seguindo a TDA (a) e mudas
votante (Figura 7), que na com mesma idade produzidas em bandeja plástica com 200 células (b). Águas Mor-
fase adulta, podem chegar nas/SC, 2018.
247
(a) (b)
Figura 7. Planta de tomate obtida a partir da semeadura direta mantendo a raiz pivotante (a) e planta de tomate obti-
da a partir da semeadura em bandejas com 128 células apresentando perda da raiz pivotante (b). Anitápolis/SC, 2017.
(a) (b)
Figura 8. Muda produzida em bandeja de isopor de 128 células e 36 cm³ após 28 dias (a) ao lado de muda de tomate
produzida em tubete com 12,5 cm de altura e 55 cm³ de substrato, mantendo a raiz pivotante e equilíbrio entre parte
aérea e sistema radicular (b).
(b)
(a)
Figura 9. Lavoura de Estudo conduzida em SPDH, pela família Hoffmann, a partir de muda de tomate produzida em
bandeja de 128 células e 36 cm³ (a) e em tubete com 12,5 cm de altura e 55 cm³ de substrato (b). Lavoura com 45 dias
idade apresentando cinco cachos florais, enquanto a produzida em bandeja dois cachos florais. A diferença está no
tamanho e arquitetura do sistema radicular. Angelina/SC, 2017.
249
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Janaúba, MG.
Cultivando plantas
CULTIVO DO TOMATEIRO
Jamil Abdalla Fayad
Valdemar Arl
Nauro José Velho
Vilmar Müller Jr.
Renato Guardini
Bárbara dos Santos Ventura
Rafael da Rosa Couto
Carlos Koerich
O tomateiro é uma planta perene que é cul- O consumo de tomate in natura e industrial
tivada anualmente, tendo seu centro de origem no Brasil ultrapassa 20 kg/pessoa/ano. O fruto é
na região andina que vai do Norte do Chile ao fonte de ácido fólico, vitamina C, potássio e caro-
Sul do Equador. Esta é uma das hortaliças que tenóides, sendo o licopeno (antioxidante) o mais
fazia parte da culinária das diversas civilizações destacado. Ademais, o tomate contém as vitami-
da atual região da América Central e a Asteca, no nas E e K e flavonóides. Tem baixo teor calórico
México, a qual chamavam de tomatl, muito antes (20 kcal/100 g de fruto). Seu sabor é conferido,
do seu genocídio causado pelo invasor europeu principalmente, pelos teores de açúcares (fruto-
(Harvey et al., 2002). Porém, os remanescentes se, glucose, sacarose) e ácidos orgânicos (málico
destes povos mantêm esta tradição até os dias e cítrico). À medida que o fruto amadurece, os
atuais. Há relatos de seu cultivo e consumo pelos teores de frutose e glucose aumentam e o teor
fenícios e mais tarde pelos árabes, possivelmen- dos ácidos decresce (Quadro 1).
te trazidas por seus habilidosos navegantes e co- Os frutos são apreciados pela aparência,
merciantes em tempos imemoriais. sabor, aroma, valor nutricional e seus antioxi-
(média de 4 carpelos); e o
italiano (de dois carpelos).
Frutos de tomate são com-
postos pelo pericarpo e pele
(compondo a parte carnu-
da) e celulose (placenta e
tecido locular, incluindo as
sementes). Em geral, a pol-
pa representa menos de
um terço da massa de fruta
fresca. O pericarpo é oriun-
do da parede do ovário, que
pode ser dividida em pa-
rede exterior, paredes que
separam lóculos e a parede
interior, podendo incluir
grandes espaços de ar que
causam aparecimento de
tecido branco. A maioria da
Figura 4. Planta conduzida na vertical, com duas hastes, nove chachos, fertirriga-
divisão celular do pericarpo da por gotejo e sobre palhada de aveia + nabo forrageiro + ervilhaca. Sistema que
ocorre durante os primeiros beneficia a saúde da planta facilitando a luminosidade, ventilação e diminuindo o
10 a 14 dias após a antese. tempo de molhamento foliar.
Existem dois ramos princi-
pais do sistema vascular em frutos: um estenden- a luz solar são fatores que influenciam direta-
do-se a partir do pedúnculo pela parede exterior mente sobre o metabolismo da planta, afetando
do pericarpo e o outro que passa pelas paredes in- seu crescimento e rendimento. A taxa de respi-
ternas radiais e para as sementes, formando uma ração de manutenção é uma função exponen-
rede fechada, com poucas terminações “cegas”. cial quando relacionada com a temperatura, de
A planta é exigente em luz, principalmente forma que a taxa é duplicada com um aumento
aquela da manhã, que colabora com a diminui- de temperatura de 10°C, mas ao longo do ciclo
ção do tempo de molhamento foliar, interferindo cultural o efeito da temperatura na taxa de res-
no desenvolvimento das doenças (Figura 4). A piração de manutenção é pequeno. Isso ocorre
luminosidade interfere na quantidade de licope- porque em temperaturas baixas a taxa de res-
no, conferindo a intensidade da cor vermelha do piração é inferior por unidade de biomassa. De
fruto. A temperatura influencia na produção da forma inversa, em temperaturas mais altas a
planta, notadamente a diferença de 6 a 7°C entre a biomassa é reduzida o que, por sua vez, com-
diurna e noturna, assim como na mescla de colo- pensa o aumento da taxa de respiração por uni-
ração vermelha e amarelada do fruto (LANGTON,
dade de biomassa (DE KONING, 1994).
F. A., COCKSHULL, K.E., 1997). Em períodos enso-
Em uma planta de tomate com hábito de
larados e temperaturas até 30°C produzem frutos
crescimento indeterminado, a temperatura afe-
de cor vermelho intenso.
ta a taxa de aparecimento de folhas, a iniciação
floral, o desenvolvimento floral, a frutificação e
o crescimento dos frutos simultaneamente, e o
3. O clima seu efeito está intimamente associada com as
condições de luz. No espectro de temperatura
As informações contidas nesta seção fo- de 17 a 23°C o aparecimento foliar é linear, e
ram sintetizadas, principalmente, do livro de perto de 20°C aparecem 3 folhas a cada semana,
autoria de Heuvelink (2005). A temperatura e enquanto a 17°C aparecem 2,5 folhas e a 23°C
259
3,5 folhas por semana. Em condições de muita em menor crescimento do fruto (PEARCE et al.,
luz solar as folhas são menores e mais grossas e, 1993). A temperatura média em longo prazo
normalmente, a área foliar aumenta com a tem- determina o crescimento e a produtividade em
peratura. Sob temperaturas ótimas e luz insufi- culturas de tomate (DE KONING, 1990).
ciente, o desenvolvimento floral pode sofrer ou Temperaturas acima de 28°C e, principal-
até mesmo resultar em aborto (HO, 1996). mente, se associadas à baixa luminosidade, fa-
A temperatura ótima para o crescimento vorecem a formação do β caroteno, o qual con-
vegetativo é de 18°C a 25°C, enquanto a taxa de fere a cor amarelada ao fruto. A radiação solar
floração aumenta quase linearmente quando a interfere na quantidade de licopeno, conferindo
temperatura aumenta de 17°C a 27°C. A tempe- a intensidade da cor vermelha ao fruto, de for-
ratura ideal para antese é de 19°C, e a frutifi- ma que em períodos ensolarados e temperatu-
cação é interrompida acima das temperaturas ras ótimas, entre 24 a 28°C, produzem frutos
dia/noite de 26/20°C (EL AHMADI, 1977), sen- de coloração vermelho intenso. Os pigmentos
do o ideal entre 20 a 23°C/11 a 17°C. combatem os radicais livres, tendo o licopeno,
As temperaturas elevadas podem reduzir propriedade anticancerígena.
a qualidade do pólen, aumentar anomalia floral
e, consequentemente, reduzir o número de fru-
tos (DORAIS et al., 2001). Uma temperatura bai-
4. A produção e a alocação de biomassa
xa durante o período noturno (10 a 13°C) pode
induzir a muda a produzir um maior número de As principais informações deste capítulo
flores (HO, 1996). Uma temperatura baixa no são os resultados dos trabalhos experimentais
início da formação da planta pode causar flores realizados na UFV que compuseram a disserta-
mal formadas. A formação do fruto pode ser ini- ção de Jamil Abdalla Fayad, orientado pelo Pro-
bida sob baixa temperatura, como resultado da
fessor Paulo Cezar Rezende Fontes, em 1997, e
baixa viabilidade do pólen a 10°C (HO, 1996).
na EECaçador de 1998 a 2003 (Figura 5) e dis-
Existe influência direta da temperatura
cutidos a luz dos livros de Heuvelink (2005) e
sobre partição de fotoassimilados, e a taxa de
Fontes & Silva (2002).
crescimento dos frutos (TCF) está fortemente
O rendimento da colheita de tomate é de-
relacionada com a temperatura e o fornecimen-
terminado pela produção total de biomassa e
to de água (PEARCE et al., 1993). A TCF aumen-
sua partição com a parte vegetativa, que segue
ta rapidamente no início do dia, com picos ao
basicamente uma curva padrão em sigmóide
meio-dia, e, em seguida, diminui até ao final do
(Figura 6). Já a produção de biomassa é impul-
dia (EHRET & HO, 1986). O aumento da taxa de
sionada principalmente pela fotossíntese que,
crescimento durante a manhã pode ser bem re-
por sua vez, depende da irradiação interceptada
lacionado ao aumento de temperatura quando
condição hídrica da planta não é limitante. e da manutenção da área foliar verde.
O período de crescimento do fruto pode Diversos fatores interferem na partição da
variar de 73 dias com temperatura de 17°C e biomassa produzida pela planta, sendo a princi-
apenas 42 dias a 26°C. Também, em tempera- pal delas a força do dreno. Em experimento rea-
turas mais elevadas, uma quantidade quase se- lizado na EECaçador, verificou-se que, com o to-
melhante de assimilados tem de ser distribuída mate longa vida Carmem, cultivado em plantio
para um maior número de frutos, resultando em direto, verticalizado, espaçamento 1,10 x 0,40
uma média inferior no seu peso. O peso poten- m, uma haste, cinco cachos e fertirrigado por
cial do fruto a 23°C é de cerca de 40% inferior gotejamento, sob coquetel de plantas de aveia,
que a 17°C (DE KONING, 1994). Assim, o au- nabo forrageiro e ervilhaca, que foram acama-
mento da temperatura pode aumentar a trans- das, a produção de biomassa seca total da parte
piração e induzir ao estresse hídrico, resultando aérea foi de 547 g planta⁻¹ na última colheita
260
aproximadamente, toda a
matéria seca alocada na
parte aérea da planta foi
repartida entre folhas e
caule. Porém, do total de
matéria seca alocada na
parte aérea, durante o pe-
ríodo dos 45 aos 60 dias,
28% foi para a parte vege-
tativa (folhas, caule e ca-
cho) e 72% para os frutos
(Figura 7).
Entre os 45 e 90 DAP,
observou-se um aumento
deste diferencial, ficando
18% para a parte vegeta-
tiva e 82% para os frutos
Figura 7. Fração da matéria seca total do tomateiro alocada na parte vegetativa e
(Figura 7). Deste período nos frutos, cv Carmem. EECaçador/SC, 1999.
até a última colheita, aos
120 dias, este diferencial
diminui, ficando 34% para
a parte vegetativa da plan-
ta e 66% para os frutos. As
frações indicam a alta for-
ça do dreno principal, re-
presentado pelos frutos, a
partir dos 45 DAP. Verifica-
-se assim, a fase de transi-
ção de fluxo de assimilados
entre a parte vegetativa e
reprodutiva, modificando
o padrão de distribuição
de matéria seca na planta.
A taxa de crescimento ab-
soluto (G) foi crescente até
os 75 DAP, atingindo 7,6 g
dia⁻¹ planta⁻¹, decrescen-
do a 2,5 g dia⁻¹ planta⁻¹, Figura 8. Taxa de crescimento absoluto (G) do tomateiro, ao longo do ciclo da cul-
aos 120 dias (Figura 8). tura, cv Carmem. EECaçador/SC, 1999.
A planta apresentou
aumentos decrescentes na produção de matéria A taxa de crescimento relativo (R) foi de-
seca a partir dos 75 dias até a última colheita crescente ao longo do ciclo cultural, iniciando
de frutos, permitindo observar a velocidade de em 0,356 g g¯¹ dia¯¹ planta¯¹ e chegando a 0,005
crescimento ao longo do seu ciclo cultural. Pos- g g¯¹ dia¯¹ planta¯¹, dos 15 aos 120 DAP (Figura
sivelmente este fato se deva à poda apical, ao 9), respectivamente. Este resultado permite ob-
crescimento e colheita dos frutos e autossom- servar a produtividade do tomateiro em função
breamento foliar (LAMBERS et al., 1990). da sua capacidade fotossintética, pois a taxa de
262
5. Preparo do berçário
Quadro 3. Quantidade de adubo fosfatado e adubo orgânico para composição do berçário, em grama por metro de
sulco.
Baixo 35 400
Médio 26 300
Alto 18 200
264
Figura 11. Solo com agregados estáveis e visíveis por consequência do uso da rotação de culturas e de adubos verdes
por mais de 4 anos.
Figura 12. Plantio das mudas no berçário. Nilvo e Dalvo Knaul, comunidade Três Barras. Ituporanga/SC, 2005.
265
Figura 14. O início do crescimento e desenvolvimento da muda de tomate no SPDH em meio à palha. Como o solo
apresenta temperaturas mais amenas, o crescimento é mais lento e a muda apresenta maior sanidade.
266
aumenta, até certo ponto, com aumento da den- Em sistemas de cultivo como o agroecoló-
sidade e número de cachos. Os resultados en- gico, recomenda-se manejar a cultura com me-
contrados pelo grupo do Professor Valter Ro- nor quantidade de cachos por planta, diminuin-
drigues Oliveira da UFV (OLIVEIRA et al., 1987), do o espaçamento entre as plantas e mantendo
que avaliaram a distribuição de fruto nos cachos o espaçamento de 1,50 m entre linhas. Uma op-
em plantas conduzidas com uma e duas hastes, ção é a condução com uma haste e três a qua-
foi que a quase totalidade de frutos graúdos e tro cachos ou duas hastes com três cachos na
médios concentram-se nos primeiros cinco ca- principal e dois na secundária. Esta condução
chos em plantas conduzidas com uma haste. Já tende a obter o melhor da planta ainda jovem,
em plantas com duas hastes, os frutos graúdos colheita de fruto graúdo em menor tempo e boa
e médios concentraram-se nos cinco primeiros produtividade.
cachos da haste principal e nos quatro da se- Uma vez definido o espaçamento e o
cundária. modo de condução da planta, é hora de pensar
A partir desses resultados, em conjunto na construção do estaleiro para planta tutorada
com aqueles obtidos nas LE conduzidas desde na vertical, com taquara ou fitilho. Esta tarefa
2001, foi possível chegar a uma distribuição es- requer habilidade e tempo, evitando queda ou
pacial das plantas mais adequada, interferindo desalinhamento que podem ser ocasionados
positivamente no tempo de colheita e tamanho pelo vento e o peso do conjunto de plantas do
e qualidade de fruto. Assim, pode-se ter como tomatal. Itens como palanques reforçados nas
orientação o espaçamento de 0,35 m entre plan- cabeceiras da linha, esticador de arame, com-
tas conduzidas com uma haste e podadas na ter- primento máximo da linha e, principalmente,
ceira folha acima do 5° cacho. Em plantas con- as escoras de sustentação lateral da linha são
duzidas com duas hastes, o espaçamento entre fundamentais. No município de Ituporanga, no
plantas deverá ser de 0,50 m, recomendando-se Alto Vale do Itajaí, os irmãos Knaul e a família
a poda apical na terceira folha acima do 5° ca- Hoffman desenvolveram a técnica de constru-
cho da haste principal e na terceira folha acima ção do estaleiro para tomate tutorado na ver-
do 4° cacho da haste secundária. O espaçamento tical (Figura 16) composto por linha de planta
entre linhas deverá ficar próximo a 1,5 m. com 50 m de comprimento, um palanque em
cada extremidade, conectados por arame 14 e pelo tomateiro será variável conforme o seu
mantido esticado por catracas instaladas em estádio de desenvolvimento, que pode ser divi-
cada extremidade superior do palanque. Isso dido, de forma simplificada, em três fases com
não impede comprimentos maiores de linhas, semelhante taxa de produção de biomassa (G) e
desde que não dificulte o transporte da colhei- de absorção de nutrientes (TDA). Isso significa
ta. As taquaras serão alocadas na vertical, sen- que o acúmulo de biomassa e de nutriente tem
do colocada uma mais forte e com altura de 2,1 estreita relação ao longo do ciclo cultural: a)
metros a cada 20 metros. Essas taquaras mais Fase Inicial, que vai aproximadamente, do plan-
altas são para o reforço lateral interligadas na tio da muda até o início da frutificação (0 aos 38
transversal à linha de plantio com arame 14 e DAP); b) Fase Intermediária, que vai, aproxima-
mantidas esticadas por catracas instaladas em damente, do início da frutificação até próximo
cada extremidade. a 2° colheita dos frutos (38 aos 108 DAP); e c)
Há estaleiros construídos com vários pa- Fase Final que, aproximadamente, vai da 2° até a
lanques na linha, além daqueles das extremi- última colheita (108 aos 130 DAP) (Figura 17).
dades, geralmente de 20 em 20 metros, dando Na primeira fase são consumidos aproxi-
segurança na sustentação no sentido interno da madamente 17% do total dos nutrientes absor-
linha e entre linhas. Normalmente é recomen- vidos durante o ciclo do tomateiro, isto porque
dado para cultivos em relevos declivosos. a planta é pequena e está passando da fase juve-
No caso do uso da taquara como tutor da nil ao início da frutificação. Nesta fase deve-se
planta é recomendado instalá-la antes ou logo evitar efetuar adubações pesadas de N, P e K na
em seguida ao plantio da muda, se realizada base. Na fase Intermediária, a planta consome
mais tarde pode ocorrer dano às raízes da plan- em torno de 70% de todos nutrientes absor-
ta favorecendo a entrada de patógenos. vidos no ciclo cultural, caracterizada pela fase
adulta ou reprodutiva, com maior intensidade
de consumo de água e nutrientes. Na fase final a
7. Nutrindo as plantas com base nas taxas planta consome somente 13% do total dos nu-
trientes absorvidos, por ser a fase de enchimen-
de crescimento e absorção de nutrientes e
to dos últimos frutos a serem colhidos.
ajustadas pelo estoque de nutrientes no solo,
Avançando no entendimento básico das
sinais da planta e condições climáticas
taxas diárias de produção de biomassa (G) e a
Os organismos fotossintéticos saíram da taxa de absorção de nutriente (TDA) durante as
água para habitar a terra há mais de 400 mi- fases de crescimento da planta de tomate, pode-
lhões de anos, evoluindo para os atuais vege- mos associá-las às condições climáticas, sendo
tais, que aprimoraram sua relação com o meio importante ter em mente que esta hortaliça é
em que vivem por meio de mecanismos ainda sensível, principalmente, à temperatura e à lu-
pouco conhecidos pela ciência, principalmente minosidade, que interferem no seu crescimento
no campo da promoção de saúde em vegetais. e desenvolvimento, que também dependem da
No esforço de compreender essa relação planta- atividade fotossintética e respiratória.
-ambiente e a promoção de saúde de planta, Assim, deve-se notar que estas taxas va-
tem-se avançado na área da nutrição ajustando riam diariamente com a interferência destas
a tabela de adubação de cobertura, construída duas condicionantes climáticas que podem per-
a partir da taxa diária de absorção de nutrien- sistir por vários dias. É neste evento persistente
tes (TDA), pela interpretação dos sinais apre- que se pode aumentar, diminuir e até eliminar a
sentados pela planta, do estoque de nutrientes adubação semanal contido na tabela de aduba-
no solo e as condições climáticas (FAYAD et al., ção de cobertura com reflexo direto na produ-
2016). Assim, a exigência de água e nutrientes ção e na saúde das plantas de tomate.
269
d) Pequena diferença no
tamanho dos frutos no ca-
cho e entre os cachos: sig-
nifica que a planta recebeu
oferta de água e nutrientes
corretamente (Figuras 21,
22 e 23);
e) Diferença de intensida-
de da cor verde entre fo-
lhas maduras e novas: sig-
nifica que a adubação está
ajustada à demanda e à
saúde da planta (Figura 24).
Nas lavouras de es-
tudo aprendemos a adi-
cionar mais adubo de co-
bertura naqueles eventos
Figura 18. Pequena diferença no tamanho dos frutos entre cachos, significando
climáticos ótimos, dentre
que a planta recebeu oferta de água e nutrientes corretamente. As folhas mais bai- eles as temperaturas diur-
xas da “saia” estão começando a apresentar coloração verde-clara, indicando ainda nas e noturna e muita luz
equilíbrio entre adubação e demanda do dreno, com uma retranslocação de nu- solar, nos quais podemos
trientes normal, no limite.
aumentar a produtividade
sem prejudicar a saúde da
planta. Muitos destes even-
tos persistem por uma ou
mais semanas, momento
de aumentar a quantidade
de nutrientes, contido na
tabela de adubação de co-
bertura, em aproximada-
mente 30%. Esse aumen-
to está condicionado aos
sinais da planta, sendo a
diferença da tonalidade do
verde entre folhas desen-
volvidas e novas e quanti-
dades de frutos, os princi-
pais sinais. Neste caso, ao
deixar de adubar a quanti-
Figura 19. Parede, formada pelo corpo das plantas, contínua e uniforme na cor e
dade que a planta está pe-
tamanho. dindo, caracterizando um
erro conhecido por estres-
c) Formato do corpo da planta: significa que se nutricional, haverá prejuízo na produtivida-
o seu crescimento e desenvolvimento de e saúde da planta.
relacionado com o clima e manejo da água e A absorção de nutrientes pode ser afe-
adubo ao longo do ciclo cultural (Figura 20); tada por temperaturas abaixo de 15°C e acima
271
Figura 20. Formato do corpo do tomateiro: a) planta com formato de pirâmide, significando forte adubação de base
que foi diminuída mais tarde; b) planta com formato de cilindro, indicando adubação pela TDA; e c) planta com forma-
to de pirâmide invertida, indicando adubação inicial deficiente, seguida por adubação excessiva.
Figura 22. A pequena diferença no tamanho dos frutos entre cachos, formando uma longa pirâmide de base estreita,
indica que a adubação atendeu a demanda da TDA. Anitápolis/SC, 2013.
No experimento rea-
lizado, em 1999, na EECa-
çador, com o tomate longa
vida Carmem, cultivado em
SPDH, verticalizado, no es-
paçamento 1,10 x 0,40 m,
uma haste, cinco cachos e
fertirrigado por gotejamen-
to, sobre a palha do consór-
cio de aveia, nabo forrageiro
e ervilhaca, acamados com
rolo-faca, o consumo de nu-
trientes pelas plantas de to-
mate foi crescente durante
o ciclo da cultura (Figuras
25 e 26), acompanhando o
acúmulo de matéria seca na
planta (FAYAD et al., 2000).
Resultados semelhantes fo-
ram encontrados por Fayad Figura 25. Curvas de extração de macronutrientes pelas plantas de tomate ao lon-
et al. (2002), com a cv. Santa go do ciclo cultural, cv Carmem. EECaçador/SC, 1999.
274
Em relação à taxa
diária de absorção de nu-
trientes, os valores máxi-
mos para N; P; K, Ca e Mg
foram de 189; 26; 254; 183
e 29 mg dia⁻¹ planta⁻¹, res-
pectivamente, aos 74; 66;
66; 81 e 73 DAP. Assim,
as plantas de tomate ab-
sorveram as quantidades
de 4,29; 0,59; 5,76; 4,15 e
0,66 kg ha⁻¹, de N; P; K; Ca
e Mg, respectivamente, no
dia de máxima absorção.
Para Fe, Mn, Zn e
Cu, as maiores taxas de
absorção foram de 683;
1.531; 277 e 6.656 µg dia⁻¹
Figura 26. Curva de extração de micronutrientes pelas plantas de tomate ao longo planta⁻¹, respectivamente,
do ciclo cultural, cv Carmem. EECaçador/SC, 1999. aos 109, 62, 76 e 84 DAP.
A menor taxa diária de
A planta de tomate apresentou acúmu- absorção ocorreu na emergência da plântula,
lo máximo aos 120 DAP de 14,28; 1,84; 16,66; para todos os nutrientes, com os valores de 22;
13,89 e 2,31 g planta⁻¹ para N; P; K; Ca e Mg, 2,9; 22; 19 e 4 mg dia⁻¹ planta⁻¹ para N; P; K;
respectivamente, e de 51,76; 96,61; 22,04 e Ca e Mg, respectivamente, e 92; 136; 38 e 237
415,60 mg planta⁻¹ para Fe; Mn; Zn e Cu. Deste µg dia⁻¹ planta⁻¹ para Fe; Mn; Zn e Cu, respecti-
total, foi alocada nos frutos a quantidade de 9,4; vamente. Aos 120 DAP, as taxas foram de 67,7;
1,2; 11,8; 1,5 e 0,7 g planta⁻¹ para N; P; K; Ca e 5,0; 38,8; 92,0 e 11,3 mg dia⁻¹ planta⁻¹ para N;
Mg, respectivamente, e de 24,0; 7,4; 8,6; 6,8 e P; K; Ca e Mg, respectivamente, e 664; 158; 123
3,7 mg planta⁻¹ para Fe; Mn; Zn; Cu e B, repre- e 2.677 µg dia⁻¹planta⁻¹ para Fe; Mn; Zn e Cu,
sentando a quantidade exportada de nutrientes. respectivamente.
Com o início da frutificação, a partir dos Com o desenvolvimento da planta, o cres-
45 dias, a maior parte do N; P; K e Fe absorvidas cimento dos diversos órgãos é intensificado até
pelas plantas de tomate foram alocadas nos fru- chegar ao máximo, em consequência do intenso
tos, atingindo 75; 76; 82 e 51% do total absorvi- acúmulo de biomassa e nutrientes. A estabiliza-
do, respectivamente. Porém, do total de Ca; Mg; ção do crescimento dos órgãos da planta, assim
Fe; Mn; Zn e Cu absorvido, a maior percentagem como a colheita de frutos, diminuiu a força do
foi alocada na parte vegetativa, atingindo 89; dreno, com consequente diminuição no incre-
70; 54; 92; 61 e 98%, respectivamente. Estes mento de biomassa (TAIZ e ZEIGER, 2013) e
padrões de distribuição ocorrem durante os es- nutrientes, alterando o padrão das taxas de ab-
tádios de desenvolvimento da planta nos órgãos sorção (LAMBERS et al., 1989).
com alto metabolismo, que são os de maior de- Não houve retranslocação em massa de
manda de nutrientes. Os órgãos de maior me- nutrientes entre a parte vegetativa (folhas, cau-
tabolismo são as folhas e os frutos, ou seja, são le e cacho floral) e frutos, ao longo do ciclo cul-
os maiores drenos de nutrientes das plantas tural das plantas de tomate, fato que pode ter
de tomate. Os trabalhos conduzidos por Fayad colaborado com a saúde da planta, pois as folhas
(1998) apresentaram padrão semelhante de mantiveram-se verdes até a última colheita de
distribuição dos nutrientes. frutos (ZAMBOLIM et al., 1997). Fayad (1998)
275
obteve resultados diferentes com a cv. Santa sendo, portanto, a época em que os nutrientes
Clara, verificando retranslocação em massa de da adubação deverão estar mais disponíveis
N, P, K, Zn e Fe da parte vegetativa para os fru- para a planta, exigindo aplicações mais fre-
tos. É possível que tais diferenças residam na quentes. Nos demais intervalos, a quantidade
forma, época e quantidade de nutrientes aplica- de nutrientes é menor, podendo ser aplicada
dos e sistema de cultivo do tomateiro. com menor frequência. Geralmente, neste pro-
Com a taxa diária de absorção de nu- grama aplicam-se o N e K, mas no programa de
trientes é possível implementar o programa de adubação foliar aplicam-se, geralmente, Ca, Mg,
fertirrigação por gotejamento, adubação de co- B e Zn, com ênfase no Ca e B dirigidos aos frutos.
bertura e, ou, de adubação foliar. Com os dados Em cada situação é possível construir um
contidos no Quadro 4 exemplifica-se o percen- programa mais adequado às necessidades das
tual semanal de absorção de nutrientes. Com os plantas e possibilidades do agricultor, mediante
percentuais semanais e os dados contidos no utilização destes dados, complementados com
Quadro 5, é possível definir a quantidade dos outras análises e conhecimento do histórico da
nutrientes para adubação a ser adicionada na área de plantio. Entretanto, na aplicação deste
água de irrigação. Geralmente, neste programa programa, outras variáveis deverão ser consi-
aplica-se o N, P, K e B. deradas para diminuir ou aumentar a quantida-
Para o programa de adubação de cober- de dos nutrientes, objetivando-se manter a pro-
tura, é possível identificar três épocas distintas dutividade e a saúde das plantas. Alguns destes
na dinâmica de absorção de nutrientes. A pri- fatores são a dinâmica de mineralização da bio-
meira, de 0-30 dias, a segunda, de 30-80 dias e, massa de cobertura, o estoque de nutrientes no
a terceira, de 80-120 dias. A segunda fase é ca- solo, a temperatura, o vento, a radiação solar e
racterizada pela intensa absorção de nutrientes os sinais (aparência) das plantas.
Quadro 4. Consumo de nutrientes (%) em relação ao conteúdo total ao longo do ciclo das plantas de tomate.
Nutrientes (%)
Dias N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B
7 4,4 4,1 3,3 4,1 5,6 7,2 3,4 5,3 1,4 4,0
14 1,7 1,8 1,6 1,4 1,9 1,6 1,8 1,8 0,7 1,5
21 2,2 2,5 2,3 1,9 2,5 2,0 2,6 2,3 1,0 2,2
28 2,9 3,5 3,2 2,5 3,2 2,4 3,7 3,0 1,5 2,8
35 3,9 4,7 4,5 3,3 4,1 2,9 5,2 3,8 2,1 3,6
42 4,9 6,0 6,0 4,2 5,1 3,4 6,9 4,8 3,0 5,1
49 6,0 7,5 7,7 5,2 6,1 4,0 8,7 5,8 4,1 6,2
56 7,3 8,8 9,2 6,3 7,2 4,7 10,2 6,8 5,6 7,3
63 8,2 9,7 10,3 7,4 8,0 5,4 11,0 7,7 7,2 7,6
70 9,0 10,0 10,6 8,3 8,6 6,2 10,8 8,4 8,9 8,2
77 9,3 9,6 10,1 8,9 8,7 6,9 9,7 8,8 10,3 9,1
84 9,0 8,6 8,9 9,2 8,5 7,6 8,0 8,7 11,1 9,3
91 8,3 7,2 7,3 9,0 7,9 8,3 6,2 8,3 11,1 9,4
98 7,3 5,7 5,6 8,4 7,0 8,8 4,6 7,5 10,2 8,5
105 6,2 4,4 4,2 7,5 6,0 9,1 3,2 6,5 8,8 6,1
112 5,0 3,3 3,0 6,4 5,0 9,2 2,2 5,5 7,1 4,8
120 4,4 2,7 2,3 6,0 4,5 10,4 1,7 5,1 5,2 4,3
276
Quadro 5. Quantidade de nutrientes absorvidos pelas plantas de tomate e acúmulo nos frutos.
O início da aplicação da adubação de co- tamanho de frutos entre os cachos da planta, vi-
bertura, contida no Quadro 6, deve ocorrer logo gor e coloração do corpo da haste com sua parte
após o plantio da muda e, de preferência, via nova, a diferença da coloração verde mais escuro
água de irrigação por gotejo. Nesta adubação é das folhas maduras com o verde-clara das folhas
recomendado aplicar, principalmente, N, K e B, novas e a intensidade da florada. Estes sinais de-
na forma de nitrato de amônio, cloreto de potás- vem ser associados às condições do clima, como
sio e ácido bórico, respectivamente. Os dois pri- a temperatura (diferença entre a diurna e notur-
meiros adubos estão sendo recomendados, prin- na), a radiação solar, ventos e umidade relativa
cipalmente, por apresentarem o menor custo do ar.
econômico por unidade de N e K. Porém, quando, Além destes fatores, é necessário adequar
por necessidade técnica de alterar a salinidade, o as informações do Quadro 6 ao cultivo atual com
pH do solo ou da rizosfera, evitar excesso de Cl aquelas apresentadas nas condições experimen-
ou alocar outros nutrientes, como S e Ca, pode-se tais em que se geraram os dados.
utilizar outros adubos, como nitrato de cálcio, ni- Por exemplo, em condições climáticas
trato de potássio e sulfato de potássio. mais quentes, como no litoral, onde a planta
Para o uso das informações contidas no cresce mais rapidamente, o primeiro fruto esta-
Quadro 6, merece alerta aos técnicos e agricul- rá do tamanho de uma azeitona, possivelmente,
tores familiares que as condições experimentais entre 38 e 42 DAP. Neste caso, pula-se a aduba-
que determinaram a quantidade e época de apli- ção recomendada para a 6a semana e aplica-se
cação destes nutrientes foram aquelas que ocor- aquela da 7a semana, pois a demanda do dreno
reram na Estação Experimental da Epagri em é equivalente àquela ocorrendo nesta semana.
Caçador, Santa Catarina, de novembro de 1998 Outro ajuste importante, referente à aplicação
a abril de 1999, com a cv. Carmem (FAYAD et da 11° semana, que é para o tamanho da planta,
al., 2000). Nestas condições, aos 49 DAP, o fru- e que também pode ser maior (cultivar, número
to maior apresentava tamanho de uma azeitona de cachos e de hastes). As três adubações des-
e a primeira colheita ocorreu aos 90 DAP. Por- ta semana devem ser repetidas quantas vezes
tanto, como estas condições jamais se repetirão, forem necessárias até serem colhidos, aproxi-
são necessários alguns ajustes das informações madamente, 50% dos frutos contidos na planta,
do Quadro 6, levando em consideração a época para depois se aplicar as quantidades recomen-
e região de plantio, a quantidade e gradiente do dadas na 12a semana.
277
Quadro 6. Adubação de cobertura com N, K e B, na forma de nitrato de amônio, cloreto de potássio e ácido bórico, para
plantas de tomate fertirrigado por gotejo (área de 01 hectare).
Quando o tempo estiver ensolarado, com erro pela adubação deficiente, é provável que
temperaturas amenas (entre 18 e 25°C), em ocorra intensa retranslocação de nutrientes
tomatal com plantas com grande quantidade das folhas e ramos mais velhos para os drenos
de frutos, presença de gradiente da coloração mais fortes, que são os frutos. Por outro lado, o
verde intenso das folhas maduras e verde-clara excesso de adubação vai ocasionar um cresci-
das folhas novas, e presença de vento ameno, mento vegetativo exagerado, tendo, em ambas
indica-se a necessidade de aumentar a aduba- as situações, um quadro de facilitação da entra-
ção em até 30% do que está recomendado no da das “doenças” e, por consequência, do uso de
Quadro de adubação para a semana. fungicidas, acaricidas e inseticidas.
Pode-se adiar este aumento ou diminuir a
adubação se a planta não estiver apresentando
gradiente na coloração verde intensa entre as
folhas maduras e as novas, significando que a 8. Ambiente estressante
planta recebeu carga de adubação indevida no
período anterior ou ocorreu uma situação de Em geral, os problemas relatados pelos
baixo crescimento vegetativo, ocasionado por produtores de tomate têm uma relação dire-
período com baixa temperatura, tempo nubla- ta com o desenvolvimento e crescimento da
do e ventos frios. cultura em época adversa em que fatores ex-
No Quadro 7 está apresentada uma breve ternos, sobretudo temperatura, nutrição, água
descrição dos sinais da planta de tomate rela- e luminosidade, estão fora dos limites requeri-
cionados às condições climáticas que servem dos pela planta. Em consequência, ocorrem al-
para o ajuste das recomendações contidas no terações fisiológicas, geralmente, irreversíveis,
Quadro 6. A finalidade destas informações é originando anomalias ou desordens que podem
subsidiar os iniciantes nesta atividade, essen- comprometer significativamente o desempenho
cialmente qualitativa, para interpretar os sinais da cultura e, consequentemente, levar ao uso de
apresentados pela planta e relacioná-los com o agrotóxicos.
clima. No caso de agentes de ATER experientes Alguns desses problemas podem ser evi-
na condução da cultura e agricultores familiares tados instalando a lavoura de tomate em SPDH,
lavoureiros do SPDH, esta evolução em associar respeitando o uso de rotação de culturas, coque-
os sinais da planta com as condições climáticas téis de plantas de adubação verde, fertirrigação,
vem da repetição de situações e da diversifica- condução verticalizada, maior espaçamento en-
ção de respostas da planta frente às interferên- tre linhas e menor número de cachos florais por
cias humanas. planta. A instalação deve ser feita preferencial-
Em uma outra situação, na qual a tempe- mente na exposição Norte, evitando baixadas,
ratura está abaixo daquela para o bom cresci- onde a temperatura será mais fria, proximidade
mento vegetativo e frutificação (<16°C), com de açudes e sombra, principalmente, na parte
tempo nublado e ventos fortes, recomenda-se a da manhã, mesmo que em parte da lavoura. A
diminuição da quantidade de adubos recomen- importância destas recomendações práticas e
dados no Quadro 6. No caso de o vigor vegeta- básicas para esta cultura, altamente sensível
tivo e a coloração verde das folhas novas estar aos estresses, visa evitar variações de umidade,
intensa, a adubação semanal não precisará ser melhorar a ventilação da plantação e a tempera-
efetuada. tura, além de diminuir o tempo de molhamento
No caso de uma leitura equivocada dos si- foliar e, consequentemente, evitar um meio ad-
nais da planta e sua relação com o clima, poderá verso para desenvolvimento de doenças.
ocorrer diminuição da produtividade por falta As informações sobre o efeito do N, P e K
de adubação, ou no caso de excesso de adubação, na resistência ou suscetibilidade das plantas a
poderá favorecer o aparecimento de “doenças e fungos foram adaptadas dos livro de Marschner
insetos praga”. Caso se incorra na repetição do (2012). Por exemplo, no caso do N, os efeitos
279
Quadro 7. Ajuste da quantidade de adubação de cobertura, principalmente N e K, contida no Quadro 6, com base na
associação dos sinais da planta, condições climáticas e estoque de nutrientes no solo.
1.0 - Período com temperatura ótima (20 a 28°C), tempo ensolarado, com as plantas apresentando diferen-
ça de cor verde entre as folhas maduras e novas e sem frutos: MANTER OU AUMENTAR EM 30% A QUAN-
TIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
1.1 - Repetindo as condições anteriores (1.0), porém com frutos: AUMENTAR EM 30% A ADUBAÇÃO RECO-
MENDADA PARA A SEMANA OU DIMINUIR;
1.2 - Repetindo as condições anteriores (1.1), porém havendo pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre folhas maduras e novas: DIMINUIR APROXIMADAMENTE 50% A ADUBAÇÃO RECOMENDADA PARA
A SEMANA.
2.0 - Período com temperatura ótima (20 a 28°C), tempo nublado, com as plantas apresentando diferença
de cor verde entre as folhas maduras e novas e sem frutos: DIMINUIR EM 30% A QUANTIDADE DE ADU-
BOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
2.1 - Repetindo as condições anteriores (2.0), porém com frutos: MANTER A QUANTIDADE DE ADUBOS
RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
2.2 - Repetindo as condições anteriores (2.1), porém havendo pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre folhas maduras e novas: PODE-SE DIMINUIR EM MAIS DE 50% A QUANTIDADE DE ADUBOS RECO-
MENDADOS PARA A SEMANA OU DEIXA-SE DE APLICAR A ADUBAÇÃO.
3.0 - Período com temperatura baixa (16 a 19°C), tempo ensolarado, sem frutos, com as plantas apresen-
tando diferença de cor verde entre as folhas maduras e novas: DIMINUIR EM 50% A QUANTIDADE DE
ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
3.1 - Repetindo as condições anteriores (3.0), porém com frutos: MANTER OU DIMINUIR EM 30% A QUAN-
TIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
3.2 - Repetindo as condições anteriores (3.1), porém com as plantas apresentando pouca ou nenhuma dife-
rença de cor verde entre folhas maduras e novas: DIMINUIR EM MAIS DE 50% OU DEIXAR DE APLICAR A
QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA.
4.0 - Período com temperaturas baixas (16 a 19°C), tempo nublado, apresenta diferença de cor verde entre
as folhas maduras e novas, sem frutos: DIMINUIR EM MAIS DE 50% A QUANTIDADE DE ADUBOS RECO-
MENDADOS PARA A SEMANA OU DEIXAR DE APLICAR;
4.1 - Repetindo as condições anteriores (4.0), porém com frutos: DIMINUIR EM ATÉ 50% A QUANTIDADE
DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
4.2 - Repetindo as condições anteriores (4.1), porém com as plantas apresentando pouca ou nenhuma di-
ferença de cor verde entre folhas maduras e novas: DEIXAR DE APLICAR A QUANTIDADE DE ADUBOS
RECOMENDADOS PARA A SEMANA.
sobre fungos são diferentes para parasitas obri- tolerância de plantas a parasitas facultativos.
gatórios e facultativos. Os parasitas obrigató- Este efeito geral do N sobre a susceptibilidade
rios dependem de assimilados fornecidos por às doenças das plantas pode ser modificado por
células vivas, enquanto parasitas facultativos fatores adicionais, tais como a espécie de planta
são semisaprófitas e preferem tecidos em se- e condições de seu crescimento.
nescência (tecidos velhos) ou liberam toxinas O aumento da suscetibilidade da planta
que danificam ou matam as células vegetais do com o aumento da oferta de N é explicado pelas
hospedeiro. Assim, os fatores que suportam as necessidades nutricionais do parasita e pelas
atividades metabólicas do hospedeiro e atra- alterações na anatomia e fisiologia da planta
sam a senescência, aumentam a resistência ou hospedeira. O N aumenta a taxa de crescimento,
280
de modo que durante a fase de crescimento ve- EECaçador e EEItuporanga nos anos de 1999,
getativo, a proporção de tecidos jovens aumenta 2000 e 2004. O melhor resultado foi encontra-
em relação àquela de tecidos maduros e o teci- do com o tratamento com calda bordalesa 0,3%,
do jovem é mais susceptível ao ataque de para- mais um indutor de resistência à base de fosfito,
sitas. Além disso, um aumento na concentração sendo este último aplicado quinzenalmente, e a
de aminoácidos no apoplasto (espaço entre calda pulverizada levando em conta a tempera-
células) e na superfície da folha, induzido por tura, umidade relativa e tempo de molhamento
aumento na concentração de N na planta, pode foliar.
estimular a germinação e crescimento dos coní- Na prática, em períodos com muita chuva
dios (esporos assexuados) do fungo. O aumento é indicado uma pulverização semanal. Na medi-
da concentração de N também pode reduzir a da em que o clima vai ficando seco, ensolarado,
atividade de certas enzimas chaves para o meta- com vento ameno e, portanto, folha menos mo-
bolismo e síntese de compostos fenólicos (com lhada, o intervalo de aplicação deve ser aumen-
ação fungistática) e a deposição de lignina (que tado. A título de exemplo, em uma Lavoura de
funciona como barreira física ao patógeno). Estudo em Caçador (SC), as condições climáti-
As alterações anatômicas e bioquímicas cas possibilitaram aplicar a calda bordalesa so-
das células, juntamente com o aumento de com- mente 45 dias após a última aplicação.
postos orgânicos de baixo peso molecular nos A preparação da calda bordalesa se baseia
espaços entre células, que são substratos para no derramamento lento da base, corresponden-
os parasitas, são os principais fatores respon- te ao leite da cal, sobre o ácido, que é a calda de
sáveis para a correlação estreita entre o forne- sulfato de cobre. Para o total de 100 litros da
cimento de N e susceptibilidade da planta para calda bordalesa são recomendados 300 gramas
parasitas obrigatórios. Este efeito do aumento de sulfato de cobre dissolvido em 50 litros de
do N é reforçado pelo aumento da permeabili- água em um recipiente e em outro recipiente
dade da membrana celular, também induzida 300 gramas de cal hidratada “nova” dissolvida
por deficiência de B, Ca e Zn. em 50 litros de água. Além de fazer a mistura
O aumento da concentração de K na plan- lenta do líquido com a cal sobre aquele com o
ta diminui a incidência de parasitas obrigatórios sulfato, deve-se proceder agitação intensa du-
e facultativos. No entanto, além do suprimento rante a operação. A calda fabricada com cal
ótimo de K para o crescimento, não existe au- nova e sulfato de cobre com alta pureza, terá pH
mento da resistência com o aumento do supri- próximo a 10,5. Por isso é recomendado medir
mento de K ou da sua concentração. A adição de o pH.
K só é eficaz no controle de doenças se aliviar A construção de um sistema de cultivo de
a deficiência de K. Esta reduz a síntese de com- tomate em transição, uma das hortaliças mais
postos de elevado peso molecular (proteínas, suscetíveis ao ataque de doenças e pragas, para
amido e celulose) e conduz a uma acumulação outro sistema sem o uso de agrotóxicos é ainda
de compostos orgânicos de baixo peso molecu- embrionária, principalmente no enfrentamento
lar, que servem como fontes de nutrientes facil- ao ataque da broca pequena do fruto e da ne-
mente disponíveis para os parasitas. cessidade do uso eventual de fungicida curativo
Em relação ao P, em geral, o suprimento para o manejo da requeima. Na linha da pro-
ótimo aumenta a resistência a doenças em plan- moção de saúde das plantas tem-se que avan-
tas. çar para criar condições de fortalecer a parede
Para um manejo complementar e preven- celular e aumentar a resistência das plantas ao
tivo à instalação de algumas doenças fúngicas e ataque de patógenos e insetos. Outras estraté-
bacterianas nas plantas de tomate, em compara- gias complementares podem ser o uso de con-
ção ao sistema convencional baseado no uso de trole biológico, ensacamento do fruto, tela em
agrotóxicos, foram instalados experimentos nas abrigo plástico etc.
281
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15
CULTIVO DO CHUCHUZEIRO
Marcelo Zanella
Rosilda Helena Feltrin
Cassiele Lusa Mendes Blay
1. Introdução
(c)
Figura 3. Flores masculinas com a presença de: a) abe-
lha africanizada; b) vespa; c) abelha nativa mandaçaia.
(a) Anitápolis/SC, 2012.
286
2.3. As cultivares
Na região da Grande
Florianópolis, os agriculto-
res cultivam diversos gru-
pos varietais de chuchu que
Figura 5. Floração e frutificação do chuchuzeiro. Da esquerda para a direita: flor são selecionados de forma
feminina, ovário com óvulo fecundado e ovário com óvulo não fecundado.
massal há anos. A preserva-
ção do material genético e
Na mesma área foi realizado outro a melhoria das características varietais têm sido
experimento, entre dezembro de 2011 e maio realizadas pelos próprios agricultores familiares,
de 2012, período em que as plantas estavam em que orientam a seleção pela preferência dos con-
plena produção. Neste experimento foi verificado sumidores por determinado tipo de fruto, produ-
que mais de 80% das flores femininas e dos tividade e sanidade da planta.
287
Os frutos podem ser agrupados em três O fruto verde-clara, pouco rugoso, sem “espi-
tipos mais cultivados na região, caracterizados nhos,” com o formato de pera e alongado é o
pela coloração: branca ou creme, verde-clara e preferido pelos consumidores. Atualmente, vem
verde-escura (Figura 6) (PBMH, 2008). Dentro aumentando a demanda por chuchu pequeno
destes grupos há variações no tamanho, forma- tipo conserva, variedade comum na região e
to, rugosidade e “espinhos” (acúleos) no fruto. ainda pouco cultivado para comercialização.
em condições de alta matéria orgânica, que nas época de preços tradicionalmente mais baixos. Já
regiões tropicais e subtropicais indica boa ativi- o plantio precoce de verão, até final de fevereiro,
dade biológica e, consequentemente, solos es- possibilita maior tempo para o enraizamento e
truturados, propiciando sistema radicular com o acúmulo de reservas nas raízes, propiciando
maior extensão e profundidade. uma brotação vigorosa na primavera, após a
planta passar o inverno em “dormência” (Figura
7). Neste caso, a produção de frutos aumenta na
primeira metade do ciclo. Em geral, recomenda-
2.5.1. Vegetativo e reprodutivo (frutificação)
-se realizar a renovação das plantas das lavouras
O chuchuzeiro tem a capacidade de arma- a cada dois anos, alternando as filas de plantio
zenar reserva energética nas raízes, sendo que sob a parreira em produção.
antigamente era a parte mais consumida pelos b) Regiões mais quentes, litorâneas ou
povos em seu centro de origem. Esta caracte- com altitudes até 300 m
rística indica que a planta desenvolveu como Nesses ambientes, tem-se o indicati-
estratégia de sobrevivência e perpetuação da vo de mudar a época tradicional de plantio do
espécie, seja frente aos estresses bióticos e ou fruto-semente, que é realizada entre fevereiro
abióticos. e março, para os meses de agosto e setembro.
a) Regiões frias e com altitudes entre 400 Isto possibilita que os brotos se desenvolvam
e 600 m no aramado da latada até meados de dezembro,
Com base nos conhecimentos gerados, quando a alta temperatura do verão paralisa o
obtiveram-se indicações para antecipar o plan- crescimento da planta, que volta a rebrotar no
tio do chuchu, que é realizado tradicionalmente mês de março (Figura 8). Nessas regiões mais
entre agosto e setembro, para os meses de feve- quentes os produtores estão fazendo a reno-
reiro e março. Essa estratégia tem o objetivo de vação anual das plantas. A produção de fru-
promover o acúmulo antecipado de reservas e tos inicia em maio e perdura até meados de
reduzir os estresses nas plantas. Por outro lado, dezembro. Verifica-se que pequenas diferenças
independentemente das
épocas de plantio, a co-
lheita inicia em novembro
e vai até maio, sendo que
com a chegada do inverno,
com a incidência de ventos
frios ou geadas, ocorre a
diminuição até a paraliza-
ção da produção.
Quando o plantio
é realizado nos meses
de agosto e setembro, as
plantas não têm tempo
suficiente para armazenar
reservas nas raízes e, por
consequência, a produ-
ção, além de apresentar
tendência em atrasar, ela
se concentra na segunda Figura 7. Plantas de primeira safra rebrotadas após o período de inverno. Família
metade do ciclo de colheita, Back. Anitápolis/SC, 2016.
289
(Cmolc/dm³) e saturação
de bases (%), em função da
profundidade amostrada
(Tabela 1).
Esta distribuição ra-
dicular confirma citações
de que o chuchu desenvol-
ve raízes em pH baixo e na
presença de alumínio, o que
justificaria estudos para
aprofundamento deste co-
nhecimento. Também foi
observado que o alcance
horizontal das raízes nessas
áreas pode ir além de três
metros.
A partir das observa-
ções do desenvolvimento
do sistema radicular é pos-
Figura 10. Desenvolvimento do fruto a partir da flor, cinco, dez e vinte dias após a sível fazer inferência sobre
fecundação. a capacidade da planta em
produzir mais de 600 frutos
a floração e a produtividade. A emissão de flo-
res também esta associada ao crescimento e a
emissão de novos ramos.
(a) (b)
Figura 12. Perfis de solo em áreas cultivadas com chuchu sob SPDH: a) chuchuzal de quatro anos da família Schmitt,
Antônio Carlos/SC; b) chuchuzal de primeiro ano da Família Back. Anitápolis/SC, 2011.
Tabela 1. Valores de pH em água, alumínio e saturação por bases nas profundidades de 0 a 10, 10 a 20, 20 a 40 e 40 a
60 cm em lavoura sob SPDH de chuchu. Antônio Carlos/SC (Epagri, 2012).
Tabela 2. Quantidade de fósforo (g de P₂O₅/berçário) para adubação de plantio do chuchu relacionada com o conteúdo
de fósforo no solo e o espaçamento de plantio.
Os nutrientes neces-
sários para o rebrote e o
início do crescimento da
planta estão contidos no
berçário, que foi preparado
com as quantidades reco-
mendadas de fósforo e de
adubo orgânico. A aduba-
ção de cobertura (Tabelas
3 e 4) deve ser adiada, por
prazo necessário, quando
for observado o vigor ex-
cessivo da nova brotação.
Ou seja, enquanto as plan-
tas apresentarem folhas
Figura 17. Condução em latada com haste única. Angelina/SC, 2018. grandes, brilhosas e cor
verde intensa, com ramos
vigorosos e de coloração
verde-escura, não se deve
adubar. Nas condições de
cultivo em SPDH consolida-
do, as primeiras adubações
de cobertura irão coincidir
com a primeira colheita.
Acrescentar adubo nesta si-
tuação promoverá desequi-
líbrios na planta, gerando
vigor excessivo e aumento
da ocorrência de “pragas
e doenças”. O excesso de
nitrogênio durante a fase
de crescimento vegetativo
aumenta a proporção de te-
cido jovem em relação à de
tecido maduro (os tecidos
jovens são mais susceptí-
veis ao ataque de organis-
Figura 18. Parreiral com latada fechada, não permitindo a entrada de raios solares. mos prejudiciais). Isso tam-
Antônio Carlos/SC, 2012. bém aumenta a quantidade
296
ou seja, é fundamental observar as condições verde mais escura das folhas maduras com o ver-
diárias da produção fotossintética que, por sua de-claro das folhas novas, a intensidade da flora-
vez, pode ser determinada por sua relação com a da e a quantidade de frutos que ficaram na planta
transpiração. (LARCHER, 2000; TAIZ & ZEIGER, após a colheita anterior (Figuras 21 e 22). Estes
2009) sinais devem ser associados às condições do clima
Nas Tabelas 3 e 4 estão indicadas a época como a temperatura, a radiação solar, os ventos e
e a quantidade de nitrato de amônio e de clore- a umidade relativa do ar.
to de potássio recomendadas, respectivamente, Para exemplificar a interpretação das in-
para a região quente e litorânea, e para as regi- formações descritas acima e do Quadro 1, no caso
ões um pouco mais frias e de altitude entre 400 de tempo ensolarado com vento fraco e tempe-
a 600 metros. Estes dois adubos minerais estão raturas amenas (entre 20 e 25°C) em chuchuzal
sendo recomendados principalmente por apre- com grande quantidade de frutos remanecentes
sentarem o menor custo econômico por unida- após a colheita semanal, que apresenta gradien-
de de N e K. Porém, por necessidade técnica em te da cor verde entre folhas maduras e novas no
alterar a salinidade, o pH do solo ou da rizosfe- ramo, deve-se aumentar a adubação em até 30%
ra, evitar excesso de cloro (Cl) ou alocar outros em relação àquela recomendada nas Tabelas 3
nutrientes como enxofre (S) e cálcio (Ca). Podem e 4 para a semana em questão. Pode-se adiar o
ser utilizados outros adubos como o nitrato de aumento desta adubação se a planta não estiver
cálcio, nitrato de potássio e sulfato de potássio. apresentando gradiente na cor verde intensa en-
Para o ajuste da quantidade e época de apli- tre as folhas maduras e as novas, significando que
cação dos adubos contido nestas tabelas, como ci- a planta recebeu excesso de adubação no perío-
tado anteriormente, são levados em consideração do anterior. Também, pode ter ocorrido período
os sinais da planta relacionados com o clima. Os de pouco crescimento vegetativo ocasionado por
indicadores (sinais) mais consagrados entre os baixas temperaturas, tempo nublado ou deficiên-
técnicos e os lavoureiros do SPDH de Anitápolis cia hídrica, somados à adubação química.
(SC) e de Antônio Carlos (SC), são: a intensidade Em outra situação, onde a temperatura está
da cor verde e o tamanho da folha nova, o vigor e abaixo do ideal para o bom crescimento vegetativo
a coloração dos ramos novos, a diferença da cor e para a polinização (<16°C), quando o tempo está
298
Tabela 4. Adubação de cobertura com N e K, na forma de nitrato de amônia e cloreto de potássio, para o chuchu culti-
vado em regiões com altitudes entre 400 a 600 metros, estimando-se a produtividade em 65 Mg ha⁻¹.
nublado, com ventos fortes e com poucos frutos uma situação de baixo crescimento vegetativo
remanescentes, após a colheita semanal, indica- ocasionado por períodos com baixa temperatu-
-se a diminuição da quantidade de adubo reco- ra, tempo nublado e ventos frios. No caso de in-
mendado nas Tabelas 3 e 4. Se, por outro lado, o terpretação errônea dos sinais da planta e da sua
vigor vegetativo e a cor verde da folha nova for relação com o clima, pode haver diminuição da
intensos, pode-se até zerar a adubação semanal. produtividade por falta de adubação, como tam-
Estes sinais compõem um quadro esperado em bém facilitar a entrada de “doenças e insetos pra-
gas” por seu excesso. Caso
se incorra na repetição do
erro em função de aduba-
ção deficitária, é provável
que ocorra intensa retrans-
locação de nutrientes das
folhas e ramos mais velhos
para as folhas e ramos mais
novos (drenos mais fortes).
Por outro lado, o excesso
de adubação vai ocasionar
um crescimento vegetativo
exagerado em detrimento
da frutificação, havendo,
em ambas as situações,
um quadro de facilidades
para a entrada de “doen-
ças ou pragas” e, como
consequência, o aumento
Figura 21. Plantas de chuchu apresentando diferença de coloração verde entre fo- no uso de fungicidas, acari-
lhas maduras e novas. Anitápolis/SC, 2012. cadas e inseticidas.
Nas lavouras de es-
tudo das famílias Schimtz
e Pitz, em Antônio Carlos
(SC), foi aplicado menos de
50% do adubo nitrogena-
do recomendado na Tabe-
la 3, pelo fato dos adubos
verdes estarem alocando
nitrogênio ao sistema. Esta
redução foi feita com base
na observação dos sinais
da planta associando-os aos
climáticos. Pode-se estimar
a quantidade de nitrogênio
fornecida pelos adubos ver-
des conhecendo-se o teor
médio de nitrogênio das es-
pécies utilizadas e avalian-
Figura 22. Folhas novas, grandes e de coloração verde intenso indicando excesso
do-se a matéria seca dispo-
de adubação. Antônio Carlos/SC, 2011. nibilizada para o sistema.
300
Quadro 1. Ajuste da quantidade de adubação de cobertura, principalmente N e K, contida nas Tabelas 3 e 4, com base
na associação entre os sinais da planta e as condições climáticas (Fayad, Comin & Bertol, 2013).
1.0 - Período com temperatura amena (20 a 25°C), tempo ensolarado, grande quantidade de frutos
remanescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas maduras e as novas: AU-
MENTAR EM 30% A QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMENDADOS PARA A SEMANA;
1.1 - Repetindo as condições anteriores (1.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: MANTER A ADUBAÇÃO CONTIDA NA TABELA PARA A SEMANA OU DIMINUIR SE...
1.2 - Repetindo as condições anteriores (1.1), porém com pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre as folhas maduras e as novas: DIMINUIR APROXIMADAMENTE 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL
OU DEIXAR DE APLICAR.
2.0 - Período com temperatura amena (20 a 25°C), tempo nublado, grande quantidade de frutos re-
manescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas maduras e as novas: MANTER
A ADUBAÇÃO SEMANAL CONTIDA NA TABELA;
2.1 - Repetindo as condições anteriores (2.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: DIMINUIR APROXIMADAMENTE 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL;
2.2 - Repetindo as condições anteriores (2.1), porém com pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre as folhas maduras e as novas: PODE-SE DIMINUIR EM MAIS DE 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL
OU DEIXAR DE APLICAR.
3.0 - Período com temperatura baixa (16 a 19°C), tempo ensolarado, grande quantidade de frutos re-
manescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas maduras e as novas: MANTER
A ADUBAÇÃO SEMANAL CONTIDA NA TABELA OU DIMINUIR EM ATÉ 50%;
3.1 - Repetindo as condições anteriores (3.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: DIMINUIR EM 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL;
3.2 - Repetindo as condições anteriores (3.1), porém com pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre as folhas maduras e as novas: PODE-SE DEIXAR DE APLICAR A ADUBAÇÃO SEMANAL.
4.0 - Período com temperatura baixa (16 a 19°C), tempo nublado, grande quantidade de frutos rema-
nescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas maduras e as novas: MANTER A
ADUBAÇÃO SEMANAL CONTIDA NA TABELA OU DIMINUIR EM ATÉ 50%;
4.1 - Repetindo as condições anteriores (4.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: PODE-SE DEIXAR DE APLICAR A ADUBAÇÃO SEMANAL;
4.2 - Repetindo as condições anteriores (4.1), porém com pouca ou nenhuma diferença de cor verde
entre as folhas maduras e as novas: DEIXAR DE APLICAR O ADUBO CONTIDO NA TABELA.
5.0 - Período com temperatura muito baixa (<15°C), tempo ensolarado, grande quantidade de frutos
remanescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas maduras e as novas: PODE-
-SE DIMINUIR EM MAIS DE 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL CONTIDA NA TABELA;
5.1 - Repetindo as condições anteriores (5.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: DEIXAR DE APLICAR;
6.0 - Período com temperatura muito baixa (<15°C), tempo nublado, grande quantidade de frutos
remanescentes da última colheita, diferença de cor verde entre as folhas as maduras e as novas: DI-
MINUIR EM 50% A ADUBAÇÃO SEMANAL PODENDO DEIXAR DE APLICAR;
6.1 - Repetindo as condições anteriores (6.0), porém com poucos frutos remanescentes da última
colheita: DEIXAR DE APLICAR O ADUBO CONTIDO NA TABELA.
301
5. Comercialização e
classificação
A classificação dos
frutos é realizada duran-
te a colheita, em lotes
visualmente homogêneos,
obedecendo a padrões
pré-estabelecidos pelos
consumidores da região, e
acondicionada em caixas
contendo 22 kg de frutos
(Figuras 23 e 24).
Em 2014, alguns
produtores, preocupados
com a redução das perdas
pós-colheita bem como na Figura 23. Colheita dos frutos e acondicionamento em caixas plásticas, família
Back. Anitápolis/SC, 2012.
diminuição da penosidade
do trabalho de colheita e
transporte nas lavouras,
sugeriu o uso de caixas
com 12 kg (Figura 25). In-
felizmente o mercado não
levou em consideração a
proposta, mantendo a co-
mercialização em caixas
de 22 kg. O Programa Bra-
sileiro para a Moderniza-
ção da Horticutura, sobre
as Normas de Classificação
de chuchu (PBMH, 2008)
propõe uma organização
para o setor. A classifica-
ção por grupo é utilizada
para caracterizar os gru-
pos varietais. Os lotes de Figura 24. Frutos de chuchu acondicionados para comercialização no Ceasa de São
chuchu são caracterizados José/SC e para “sacolões” (varejistas), 2013.
por seu grupo varietal,
classe (tamanho) e categoria (qualidade). Tam- A produção de chuchu é comercializa-
bém está em discussão com os agricultores o da principalmente no Ceasa de São José/SC,
uso de embalagens contendo dois ou tres frutos nos “sacolões” (varejistas) e diretamente nas
(Figura 26), objetivando atender a demanda de redes de supermercados da região da Grande
supermercados da região. Florianópolis.
303
Figura 25. Frutos de chuchu acondicionados em caixas Figura 26. Frutos de chuchu embalados para comercia-
de 12 kg para comercialização no Ceasa de São José/SC lização em supermercados da região da Grande Floria-
e para “sacolões” (varejistas), 2014. nópolis, 2012.
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16
Quanto à aparência, o consumidor tem mais pesados, isto é, com maior rendimento de
preferência pelo fruto com peso entre 2,5 e 3,5 polpa. Apresentamos na Tabela 2 os principais
kg, pouco achatado e com coloração verde-es- produtores de semente de morangas e que são
cura. Todavia, em algumas regiões os consumi- plantadas pelos agricultores da região do Pla-
dores procuram frutos menores, achatados e nalto Serrano Catarinense.
Tabela 2. Características dos principais cultivares comerciais de moranga utilizados pelos produtores da região do
Planalto Serrano Catarinense.
A flor masculina da
moranga produz pólen in-
viável para fecundar suas
flores femininas, caracte-
rizando a esterilidade do
macho. Assim, é necessário
o uso de cultivares polini-
zadores. Os mais indicados
são Moranga-exposição,
Goianinha, Coroa, Mogan-
go e Pataca, que iniciam a
produção suficiente de flor
masculina duas semanas Figura 5. Polinização natural com abelha.
310
entre 11 e 18°C. Baixa umidade do ar e tempera- ocorrer a presença de folha, gavinha, flor e raiz
turas entre 20 e 30°C, mesmo durante a noite, são fixadora, e nos primeiros nós há somente folhas;
as melhores condições para o desenvolvimento mais tarde aparecem folha, gavinha e raiz fixado-
vegetativo e reprodutivo da espécie. Seu cresci- ra, e após isso folha, flor feminina ou masculina,
mento paralisa abaixo de 12°C e ela não suporta gavinha e raiz fixadora.
frio intenso nem geadas. Em dias com período de Em experimento conduzido na EECaçador
12 ou mais horas de luz, a planta produz maior em 1998, com a Moranga Híbrida Tetsukabuto
quantidade de fotoassimilados, capazes de man- cultivada no SPDH, com fertirrigação e poda do
ter seu ótimo desenvolvimento vegetativo e re- ramo principal após a emissão da quinta folha
produtivo. definitiva, determinou-se a produção de matéria
Temperaturas elevadas e dias longos au- seca da germinação à maturidade. A produção
mentam a quantidade de flores masculinas, en- de matéria seca total da parte aérea chegou a
quanto temperaturas amenas e dias curtos es- 1.941,2 g planta⁻¹ na época da colheita dos fru-
timulam maior produção de flores femininas. tos, aos 105 dias após a emergência da plântula
A abertura da antera e a antese necessitam de (DAE). Contribuíram para esse acúmulo a parte
temperaturas superiores a 18°C, tendo seu ótimo vegetativa e os frutos, com 35,1% e 64,9% res-
entre 20 e 21°C. pectivamente (Figura 11).
O clima influencia o trabalho do princi- Durante todo o ciclo da planta, tanto a par-
pal agente polinizador dessa cultura, a abelha te vegetativa como os frutos acumularam massa
africanizada (Apis mellifera), que apresenta sua seca, isto é, comportando-se como drenos. Por-
maior intensidade de visitas entre as 7 h e as 11 tanto, mesmo após o intenso crescimento dos
h, quando o tempo está ensolarado e com tem- frutos não houve retranslocação em massa de
peratura acima de 18°C. Nas manhãs mais frias, matéria seca da parte vegetativa para os frutos,
a maior intensidade das visitas se dá a partir das como era de se esperar em razão de sua inten-
9 h e se prolonga até as 14h. Sua atividade é re- sa demanda por fotoassimilados. Nos primeiros
duzida ou paralisada em dias com ventos fortes e 30 dias após a emergência da plântula (DAE), a
chuvosos e tempo nublado. Os agricultores rela- parte vegetativa contribuiu com 100% do total
tam que, nessas condições climáticas, as abelhas da fitomassa acumulada (Figura 11). Com o iní-
permanecem mais tempo e em maior número cio da floração e frutificação aos 38 DAE, inicia
dentro da flor para depois retornarem à colmeia. a fase de intenso acúmulo de matéria seca. Aos
Em função do tamanho e da forma de suas 60 dias, a contribuição de matéria seca da parte
folhas (lobulares e grandes), as plantas da mo- vegetativa foi de 387,8 g, enquanto dos frutos foi
ranga apresentam, geralmente, nas horas mais de 329,8 g. A partir desse ponto, o maior dreno
quentes do dia, murchamento foliar como meio da planta passou a ser representado pelos frutos,
de defesa ao excesso de energia solar, propor- o qual permanece até o final do ciclo. A partir dos
cionando mudança do ângulo de incidência 45 dias, observou-se aumento na diferença de
entre a folha e o sol. Isso evita maior tempo de acúmulo de massa seca entre a parte vegetativa
fotoinibição. e os frutos, chegando a 681,8 e 1.272,6 g, ou seja,
34,9% e 65,1% aos nos 90 DAE (Figura 11).
Desse período até a colheita, aos 105 dias,
essa diferença diminuiu para 35,1% do vegeta-
3.2. Crescimento e desenvolvimento tivo e 64,9% dos frutos (Figura 11). As frações
As plantas da moranga apresentam ciclo indicam a alta força (maior importância) do dre-
anual entre 90 e 110 dias desde a germinação no principal, representado pelos frutos, a partir
até a colheita. Seu porte é herbáceo e os ramos dos 45 dias após o transplante das mudas. Esses
são prostrados, longos, de seção arredondada e resultados mostram a fase de transição de fluxo
com dominância apical do ramo principal sobre de assimilados entre a parte vegetativa e os fru-
os ramos laterais. Na inserção de cada nó pode tos, com modificação do padrão de distribuição
314
4. A semeadura e o
plantio
do coquetel de plantas de cobertura, seguido pelo 17). Mais tarde, a partir de 1986, foi desenvolvido
corte dessa matéria seca, sulcamento do solo e o cultivo mínimo com semeadura no espaçamento
alocação do adubo orgânico. Quando necessário, de 3 x 1 m com uma semente, mantendo uma área
aplica-se fertilizante fosfatado, utilizando rolo-fa- próxima a 3 m² planta⁻¹, com melhor distribuição
ca e máquina de plantio direto respectivamente. espacial das 3.333 plantas no hectare.
O plantio da muda é manual e preferencialmente Resultados de trabalhos experimentais
realizado no mesmo dia do preparo do berçário, realizados pela equipe do professor Paulo Cezar
visando antecipar o desen-
volvimento da planta da mo-
ranga em relação às plantas
espontâneas. Em trabalho
realizado pela equipe do
professor Cassandro, da
Udesc/CAV, com a finalidade
de avaliar a importância das
folhas cotiledonares na pro-
dução das primeiras folhas
verdadeiras e do sistema
radicular, concluiu-se que
a remoção dos cotilédones
até 6 dias após a emergência
(DAE) afetou o acúmulo de
matéria seca e área foliar e
até os 14,8 DAE o sistema
radicular, podendo ocorrer
diminuição em 65% des-
ses parâmetros avaliados. Figura 15. Semeadura de moranga em berçário individual. Angelina/SC, 2014.
Assim, é necessário manter
no mínimo uma folha coti-
ledonar na plântula a partir
dos 6 DAE e tomar cuidado
com o manejo da vaquinha.
O cultivo tradicional
da moranga, praticado pela
maioria dos agricultores fa-
miliares, prevê a semeadura
definitiva em berçário indi-
vidual no espaçamento de
3 x 3 m com três sementes
com alternativa do espaça-
mento de 3 x 2 m com duas Figuras 16. Arranjo das plantas no espaçamento 3 x 2 m em berço individual. An-
sementes (Figuras 15, 16 e gelina/SC, 2013.
317
planta⁻¹ dia⁻¹ aos 62, 65, 61, 55 e 55 dias, para N, pectivamente no dia de máxima absorção. Para
P, K, Ca e Mg respectivamente. Assim, a moran- Fe, Mn, Zn, Cu e B as maiores taxas foram de
ga absorveu a quantidade de 3.736, 467, 4.343, 5.909, 3.258, 1.644, 515 e 1.495 µg planta⁻¹ dia⁻¹
4.720 e 1.117 g ha⁻¹ dia⁻¹ de N, P, K, Ca e Mg res- respectivamente aos 56, 60, 61, 60 e 57 dias após
emergência.
Houve retransloca-
ção intensa de nutrientes
da parte vegetativa para
o fruto entre os dias 73 e
80, 73 e 92, 80 e 105, 81 e
86, 81 e 84 e 82 e 105 após
a emergência da plântula
respectivamente de N, K,
Mg, Fe, Zn e B. Pela taxa
diária de absorção de nu-
trientes foram montadas
as Tabelas 3 e 4 para faci-
litar a recomendação de
adubação de cobertura e
foliar.
A partir dessas tabe-
las, organizamos as Tabelas
Figura 20. Área experimental para determinação das taxas diárias de absorção de 5 e 6 de adubação de co-
nutrientes. EECaçador, Caçador/SC, 1998.
Tabela 3. Consumo de nutrientes (%) pela moranga em relação ao conteúdo total absorvido ao longo do ciclo da
cultura.
Tabela 4. Quantidade de nutrientes absorvida pela moranga e alocada nos frutos, em kg ha⁻¹.
bertura, sendo a primeira mais apropriada para qualitativa, a qual exige aperfeiçoamento e
aplicação via irrigação por gotejo, e a segunda adequação constante das leituras dos sinais
para aplicação manual com auxílio do saraquá, apresentados pela planta e relacioná-los com o
sendo importante nesse caso associá-la aos dias clima. Para os técnicos com experiência com a
de chuva. É possível utilizar fermentados orgâ- cultura da moranga e os agricultores familiares
nicos na fertirrigação, na adubação foliar e na lavoureiros do SPDH, essa evolução em associar
manual, seguindo os mesmos quadros. as condicionantes qualitativas vem da repetição
Há várias maneiras de construir um pro- de situações e da diversificação de respostas da
grama de adubação de cobertura, sendo impor- planta ante as interferências humanas e as va-
tante considerar a taxa diária de absorção (TDA) riações climáticas. Os indicadores “sinais” mais
e a possibilidade prática de poder entrar no abo- consagrados entre os técnicos e os lavoureiros
boral e aplicar os adubos. Uma das recomenda- do SPDH são: a intensidade da cor verde e o ta-
ções é misturar nitrato de amônio e cloreto de manho da folha nova, o vigor e a coloração dos
potássio na proporção de 2:1 e aplicar confor- ramos, a diferença da cor verde mais escura das
me a recomendação apresentada na Tabela 6, folhas maduras com o verde-clara das folhas
totalizando aproximadamente 70% da demanda novas (Figura 21), a intensidade da florada e a
da planta em N e K, considerando as perdas e a quantidade de frutos. Esses sinais devem ser as-
eficiência dos adubos. Porém, se o aboboral não sociados com as condições do clima, tais como
estiver totalmente fechado, é possível aplicar se- temperatura, radiação solar, ventos e umidade
manalmente mais uma ou duas vezes essa mistu- relativa do ar.
ra na quantidade de 50 g planta⁻¹. Especificamente para a Tabela 6, sugere-
É importante salientar que essas duas -se o acréscimo de uma recomendação de ajuste
tabelas de adubação são recomendações para o período do plantio aos 20 DAP:
baseadas nas necessidades que a planta apre- Planta nova, com até duas semanas
sentou numa condição que jamais se repetirá, de idade, T° entre 21 e 30°C, tempo ensola-
necessitando ajustes. Tais ajustes são apresen- rado, folhas definitivas pequenas, cor ver-
tados no Quadro 1, levando em consideração de-clara ou amarelada e as cotiledonares
as condições prováveis que poderão ocorrer no “desgastadas”: acrescentar uma adubação
campo e as respectivas ações que deverão ser aos 14 DAP igual à primeira da Tabela 6 e,
tomadas em face da leitura dessas situações se necessário, aumentar em 30%.
(Figura 21). Lavouras que receberam esse tratamen-
A finalidade deste trabalho é subsidiar to de ajuste desenvolveram-se sem apresentar
os iniciantes nessa atividade essencialmente retranslocação de nutrientes das folhas mais
321
Tabela 5. Quantidade de sais na água para fertirrigação por gotejamento calculada para área de 01 hectare.
Tabela 6. Quantidade da mistura de nitrato de amônio e cloreto de potássio (na proporção de 2:1) para adubação
manual de cobertura.
Época (DAP) 20 30 40 50 60
Quantidade (g planta¯¹) 10 20 30 40 50
velhas para os drenos (Figura 22). Normalmen- gundo a necessidade nutricional relacionada às
te, a planta apresenta retranslocação em massa taxas de crescimento (Figura 23).
de nutrientes das folhas velhas para os drenos Para exemplificar a interpretação das
mais fortes (frutos e folhas novas) quando não informações descritas no Quadro 1, caso em
são realizadas as adubações de cobertura se- que as folhas definitivas estejam grandes, com
322
Quadro 1. Ajuste da quantidade de adubação de cobertura, principalmente N e K, apresentada nas Tabelas 5 e 6, com
base na associação entre os sinais da planta e as condições climáticas.
1.0 - Folhas definitivas grandes, com cor verde mais escura que as novas e aquelas da gema de cres-
cimento, T° entre 21 e 30°C, tempo ensolarado: MANTER A ADUBAÇÃO DA TABELA OU AUMENTAR
EM 50%;
1.1 - Repetindo-se as condições anteriores (1), porém iniciando a floração: AUMENTAR A ADUBA-
ÇÃO DA ÉPOCA EM 30%;
1.2 - Repetindo-se as condições anteriores (1.1) em planta com fruto: AUMENTAR A ADUBAÇÃO DA
ÉPOCA EM ATÉ 50%;
2.0 - Folhas grandes com verde-escuro brilhoso, pouca diferença com as da gema e baraço vigoroso
com cor verde intenso, T° entre 21 e 30°C, tempo ensolarado: DIMINUIR EM 50% EM RELAÇÃO A
TABELA PARA O PERÍODO OU MANTER A ADUBAÇÃO;
2.1 - Repetindo-se as condições anteriores (2), porém iniciando a floração e a frutificação: MANTER
A ADUBAÇÃO DA ÉPOCA;
3.0 - Folhas grandes com verde-escuro brilhoso, pouca diferença com as da gema e baraço vigoroso
com cor verde intenso, T° entre 21 e 30°C, tempo nublado: DEIXAR DE ADUBAR OU DIMINUIR EM
50% AQUELA CONTIDA NA TABELA PARA O PERÍODO;
3.1 - Repetindo-se as condições anteriores (3), porém iniciando a floração e a frutificação: DIMI-
NUIR EM 50% A ADUBAÇÃO DA ÉPOCA;
4.0 - Folhas definitivas grandes com cor verde mais escuro que as novas, inclusive aquelas da gema
de crescimento, T° entre 18 e 20°C, tempo ensolarado: DIMINUIR ATÉ 50% DA ADUBAÇÃO DA TA-
BELA OU MANTER;
4.1 - Repetindo-se as condições anteriores (4), porém iniciando a floração e a frutificação: MANTER
A ADUBAÇÃO DA ÉPOCA;
5.0 - Folhas definitivas grandes com cor verde mais escuro que as novas (principalmente aquelas
da gema de crescimento), T° de 18 e 20°C, tempo ensolarado: DIMINUIR EM 30% A ADUBAÇÃO DA
ÉPOCA OU MANTER A DA TABELA;
5.1 - Repetindo-se as condições anteriores (5), porém iniciando a floração e a frutificação: MANTER
A ADUBAÇÃO DA ÉPOCA;
6.0 - Folhas definitivas grandes com cor verde mais escuro que as novas, inclusive aquelas da gema
de crescimento, T° entre 18 e 20°C, tempo nublado: DIMINUIR EM ATÉ 50% A ADUBAÇÃO DA TA-
BELA OU EM 30%;
6.1 - Repetindo-se as condições anteriores (6), porém iniciando a floração e a frutificação: DIMI-
NUIR A ADUBAÇÃO DA ÉPOCA EM ATÉ 30%;
7.0 - Folhas definitivas grandes com verde-escuro brilhoso, pouca ou nenhuma diferença com as da
gema e baraço vigoroso com cor verde intenso, T° entre 18 e 20°C, tempo nublado: DEIXAR DE ADUBAR.
cor verde mais escura que as novas e da gema Em outro exemplo, em que a planta apre-
de crescimento, temperatura ótima para o senta folhas mais velhas com tamanho grande
desenvolvimento, entre 21 e 30°C e tempo en- e coloração verde-escura brilhosa, semelhante
solarado, deve-se manter a adubação para o coloração com as folhas novas, gemas e baraço
período contida na tabela ou aumentar em até vigoroso com cor verde intensa, em condições
30% em caso de floração e 50% quando a plan- climáticas ótimas para o desenvolvimento da
ta estiver com fruta. planta, deve-se diminuir em 50% a adubação
323
8. Conclusão
Figura 26. Fruto em crescimento e próximo do ponto de
Desde a década de 1960, na pauta da maio-
colheita, observado pela mudança da cor verde intensa
ria dos movimentos populares e de parte da aca-
para a cor palha do pedúnculo.
demia havia espaço para a produção de alimentos
O pedúnculo é cortado com tesoura de poda saudáveis e a proteção do meio ambiente. Nesse
de cabo comprido no máximo com 2 cm de com- sentido, o SPDH é construído como uma proposta
primento para evitar danos mecânicos em outros de transição agroecológica, caracterizada em seu
frutos. Os frutos são amontoados na lavoura e eixo técnico-científico pela promoção da saúde
recolhidos para armazenagem em galpão ou em das plantas e, em seu eixo político-pedagógico,
local sombreado e coberto com vegetação (Figu- pelo esforço por criar um movimento de massa
ra 27). Recomenda-se uma altura do amontoado englobando a agricultura familiar e técnicos do
com 1,5 m e tempo de armazenagem máximo de 3 setor público para produzir alimentos limpos de
meses, deixando os frutos com a polpa mais adoci- agroquímicos, assim como preservar e melhorar
cada e menos fibrosa e com a coloração tendendo o meio ambiente.
326
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17
As informações contidas nesta seção são 2) Brassica juncea (n = 18) é um híbrido entre B.
baseadas em experimentos conduzidos nas Es- rapa (n = 10) e B. nigra (n = 8), sendo a B. jun-
tações Experimentais da Epagri, nas lavouras de cea cultivada como fonte de óleo vegetal tendo
estudo, no livro de Geoffrey R. Dixon (2007) e de importância na Índia, enquanto em toda a Ásia,
revisão bibliográfica. Compreender as origens especialmente na China e no Japão, a planta tem
e os cruzamentos das brássicas envolve uma uma grande diversidade de formas de cultivo e
viagem biológica fascinante ao longo do tempo, são utilizados como legumes básicos de imensa
observando populações de plantas selvagens importância na dieta. 3) B. napus (n = 19), este
acasalando e formando híbridos estáveis. Diver- híbrido tem formas selvagens na Suécia, Dina-
sidade genética e flexibilidade são característi- marca, Holanda e Reino Unido. É desenvolvido a
cas de todos os membros da família Brassicaceae partir de B. rapa (n = 10) e B. oleracea (n = 9).
(anteriormente classificada como crucífera), Este híbrido pode ter formado cultivares da B.
com evidência de que muitos dos selvagens de oleracea que expandiu seu habitat ao longo da
Brassica spp. e seus familiares próximos habitam costa do Norte da Europa e a B. rapa expandindo
regiões costeiras e ambientes áridos em meio a nas regiões do Irã.
rochas e desertos desde a China, Japão, Paquis- A notável diversidade de couve-flor (B.
tão, Índia, Irã, Iraque, Palestina, Síria, Etiópia, oleracea L. var. Botrytis L.) e de brócolis (B. Ole-
Quênia, Egito, Europa e toda Costa Mediterrânea racea L. var. Italica Plenck) desenvolvido na Eu-
que abrange o Norte africano e Sul europeu. ropa podem ter origem de variedades da Itália
A humanidade levou os pais selvagens e que evoluíram a partir de germoplasma do medi-
sua descendência híbrida, refinando-os pela se- terrâneo oriental, introduzido na época romana.
leção e combinação, sempre objetivando maio- Nos últimos 400 anos a couve-flor se espalhou
res colheitas para o abastecimento mundial de da Itália para a Europa Central e do Norte, que
alimentos, chegando às três espécies híbridas de se tornaram centros secundários importantes da
particular interesse como ancestrais das brás- diversidade para as couves-flor anuais e bienais
sicas cultivadas: 1) Brassica carinata (n = 17) agora cultivadas em todo o mundo em clima tem-
foi formado a partir de B. oleracea (n = 9) e B. perado. A couve-flor, adaptada às condições tro-
nigra (n = 8). Esta espécie é caracterizada pelo picais quentes e úmidas, evoluiu na Índia durante
crescimento lento e constante sendo domestica- os últimos 200 anos a partir de couve-flor bienal
da em áreas de planalto da Etiópia e mais ao Sul trazidas da região britânica por comerciantes e
do Quênia. Os agricultores locais as cultivam em colonizadores ingleses. A couve-flor é uma erva
“jardins de couve” como fonte de legume e óleo. anual ou bienal, com 50 a 80 cm de altura na
328
fase vegetativa e 90 a 150 centímetros quando marítimas. Foram sendo selecionadas as plantas
na floração. O sistema radicular é fortemente de couve com folhas próximas umas das outras
ramificado, concentrando-se nos primeiros 30 ao longo da haste e sobrepondo-se para formar
cm do solo, com laterais grossas penetrando nas uma cabeça compacta, com coração rodeado por
camadas mais profundas. O caule é ramificado, folhas jovens. A cabeça possui forma esférica,
de 20 a 30 cm de comprimento e engrossando achatada ou cônica, com folha lisa ou ondulada.
a partir da base para cima. As folhas são em ro- A produção de sementes de repolho é relativa-
seta com 15 a 25 unidades, de formato grande, mente simples proporcionando um grande nú-
oblongas e eretas que cercam a cabeça compacta mero de variedades regionais e locais que foram
composta de flores. Normalmente as gemas late- selecionadas para as características climáticas e
rais não se desenvolvem nas axilas das folhas. As de manejo particulares. A partir do século 16 em
folhas são revestidas com uma camada de cera, diante, os colonizadores europeus introduziram
possuem cor variando do cinza para o azul-ver- repolhos em todo o mundo. Imigrantes escandi-
de composta por veias na cor esbranquiçada. As navos e alemães introduziram o repolho na Amé-
folhas variam a partir de duas formas básicas rica, iniciando seu cultivo nas regiões tropicais
onde uma tem bordas curvas é curta e larga (40 restrito a áreas de altitudes e nas estações mais
a 50 cm por 30 a 40 cm) e outra com bordas li- frias. A maioria dos cultivares são híbridos F1
sas é longa e estreita (70 a 80 por 20 a 30 cm). A provenientes de um grupo circunscrito de plan-
cabeça é constituída por uma cúpula de meriste- tas com parentesco próximos.
mas florais que vai da cor branca ao creme com A pequena erva de Arabidopsis thaliana
numerosos pedúnculos curtos e carnudos que tornou-se uma fonte para a biologia molecular,
possuem uma estrutura que varia da frouxa para por apresentar ciclo rápido de desenvolvimento,
muito sólida, da achatada para a forma globular sendo importante ferramenta de ensino e pes-
com diâmetro de 100 a 400 mm. As folhas jovens quisa. Incentivou estudos que elegeram as brás-
podem envolver a inflorescência até um estágio sicas como alimento funcional e com papel na
muito avançado de desenvolvimento. O pendoa- luta contra o câncer e doenças coronárias. Cons-
mento na couve-flor pode ser composto por vá- titui boa fonte de vitaminas A, C, D, complexo B,
rias hastes florais. potássio, fósforo, sódio e ferro. Na Tabela 1, es-
O brócolis que se tornou popular no Norte tão apresentados alguns valores nutricionais do
da Europa do século 18 é uma palavra derivada brócolis.
do latim, brachium. Quando composto por vários Os atributos ao bem-estar e à saúde pro-
“brotos” de flor com cor verde, roxa ou branca porcionados pelas brássicas se encontram em
é denominado de “brócolo”. Brócolis com uma suas habilidades para reduzir a incidência de
única cabeça verde foi introduzida na América câncer humano e as doenças coronárias quando
por imigrantes italianos no início do século 20, consumidas em longo período de tempo, como
tornando-se popular no Brasil a partir dos últi- parte de uma dieta. A este respeito, há interes-
mos 30 anos. se especial pelo brócolis devido ao seu conteú-
As civilizações antigas utilizavam diversas do em sulphorathane que está associada com a
variedades de repolho e estes provavelmente fo- redução de espécies de oxigênio reativo em te-
ram refinados em domesticação no início da Ida- cidos, podendo proporcionar proteção contra o
de Média no Noroeste da Europa como parte im- câncer e as doenças coronárias. Anteriormen-
portante da dieta humana, na medicina e como te, este gênero era evitado pelo consumidor em
forragem animal. Sugere-se que os seus proge- grande parte devido à presença de aminoácidos
nitores foram as couves selvagens (B. oleracea) contendo enxofre, que liberava odores inaceitá-
que são encontradas nas margens costeiras da veis quando cozido e por ser ligeiramente tóxico.
Europa Ocidental, especialmente na Inglaterra Os benefícios à saúde estão relacionados
e na França. Os romanos descreveram métodos com o seu conteúdo de glucosinolatos. Estes são
para a preservação do repolho feito nas colônias, um grupo de metabolitos secundários à base de
como o chucrute que se tornou fonte importan- enxofre que estão presentes em pelo menos 16
te de vitaminas no inverno e em longas viagens famílias das plantas dicotiledôneas (FAHEY et al.,
329
Tabela 1. Conteúdo de energia, água, fibras, minerais e vitaminas, presentes em 100 g de flores de brócolis.
do primórdio floral (botão floral) e a iniciação da Para uma melhor compreensão do cresci-
floração são dependentes da temperatura, acú- mento e desenvolvimento em Brássica foi inicia-
mulo de fotoassimilados e da nutrição, em espe- do estudos com a couve de Bruxelas (B. oleracea
cial a quantidade de nitrogênio. var. gemmifer) possibilitando vasto conhecimento
sobre as demais plantas deste gênero. As Brassica
spp. são de fotoperiodismo neutro e a floração é
induzida por baixas temperaturas. Em condições
2.1. O clima e a fisiologia do desenvolvimento de temperaturas altas, as plantas permanecem na
fase vegetativa. Se as plantas estão expostas a bai-
A fisiologia descreve e mede os processos
xas temperaturas no outono e no inverno, a flora-
genéticos de crescimento e reprodução, relacio-
nando estes a fatores ambientais, como tempe- ção normalmente começa na próxima primavera.
ratura, radiação, fotoperíodo e disponibilidade O grau e rapidez de floração são determinados
de nutrientes, num esforço para compreender a pela idade da planta e pelo tempo de exposição
interação entre genótipo e ambiente. A fisiologia ao frio (STOKES e VERKERK, 1951). Nas cultiva-
da produção tem significado prático imediato, res de verão, como a maioria dos brócolis e algu-
permitindo a previsão das taxas de crescimento mas couve-flor e repolho, a vernalização ocorre
e da maturidade afetados pela mudança nos pa- com temperaturas próximas a 25°C. A maioria das
drões de clima e outros eventos. Cada vez mais o brássicas necessitam de vernalização com tempe-
conhecimento detalhado das fases de crescimen- raturas abaixo de 10°C e precisam que o diâmetro
to da planta e sua alteração pela temperatura do caule seja no mínimo de 10 mm e de preferên-
está facilitando horticultores a planejar e prever cia com 15 mm. Antes desta fase a planta pode não
datas de plantio e colheita. responder a temperaturas baixas.
Para muitas culturas, a utilização de valo- Durante a fase juvenil, anterior à emissão do
res de temperatura acumuladas acima do míni- primórdio floral, há acúmulo intenso de matéria
mo necessário, fornece uma escala de tempo pelo seca na haste, tornando-se um órgão de reserva
qual pode-se acompanhar a cultura do plantio até nutricional. A quantidade de biomassa acumulada
à maturidade. Este método só é aplicável quando nas folhas e raízes atinge valores máximos na fase
a velocidade do desenvolvimento é uma função juvenil e depois permanece constante ao longo
linear com a temperatura
(MONTEITH, 1981). Em
gramíneas, por exemplo,
a taxa de aparecimento de
folhas e o relacionamento
com o tempo para ocorrer
a antese (florescimento)
está linearmente relacio-
nada com a temperatura
(GALLAGHER, 1979). Apa-
recimento de folhas em al-
gumas dicotiledôneas como
a beterraba (MILFORD et
al., 1985), também está
relacionada com a tempe-
ratura. Lamentavelmente,
a previsão do desenvolvi-
mento das brássicas rela-
cionado ao seu ambiente Figura 1. Representação esquemática das fases de germinação, crescimento, flo-
revelou-se menos simples rescimento e formação de sementes em população de Brassica rapa. (Adaptado de
(Figura 1). P.H. Williams).
331
do ciclo cultural. A formação de gemas axilares e 4 - fase final de formação da cabeça (nova ini-
alteração da morfologia no ponto de crescimento ciação de primórdios de inflorescência
apical são acompanhadas por acúmulo máximo em torno da inflorescência de primeira
de biomassa de armazenamento na haste. ordem);
A mudança para o estágio floral é acom- 5 - fase de iniciação dos órgãos florais na flor,
panhada por alterações na morfologia geral da formando as sépalas;
planta. Isto resulta numa redução do compri- 6 - fase de formação de pistilo e estame;
mento do pecíolo e produção de folhas, locali- 7 - formação da pétala;
zadas na parte superior da planta, na forma de 8 - fase de alongamento da pétala.
cinta longa. Estas folhas têm um ângulo cada vez Normalmente, o ponto de colheita da cabe-
maior com a haste (STOKES e VERKERK, 1951). ça da couve-flor e brócolis corresponde ao pri-
Na primeira fase de crescimento da cul- mórdio da inflorescência que não se desenvolveu
tura, a densidade de planta na área de cultivo além do estado de protuberância primário (está-
não tem qualquer influência sobre o número de gios 3 e 4). Seguido pelo amadurecimento, com o
folhas formadas. Porém, as folhas formadas em alongamento do pedúnculo da inflorescência e o
densidade elevada ficam menores em relação desenvolvimento do botão floral com as sépalas,
ao espaçamento mais largo. Índice de área foliar estames e pistilos (estágios 5, 6, 7 e 8). A cabeça
(IAF, área foliar por unidade de área de terreno) madura é composta por uma única haste de flor
atinge valores máximos (5 a 6), até o pendoa- e numerosas inflorescências que se ramificam
mento e depois diminui para valores de 1 a 2,5. várias vezes. Existem numerosos primórdios de
O desenvolvimento do IAF é mais rápido em inflorescência em um estado de protuberância
plantações do tarde, mas é fortemente influen- primário sobre a superfície de uma cabeça de
ciado pela densidade de plantio. A couve de couve-flor e brócolis.
Bruxelas pode interceptar até 90% da radiação O desenvolvimento da planta, do plan-
disponível com IAF entre 3,5 a 3,8. Valores de tio da muda até a colheita, pode ser dividido
IAF de 3,5 são alcançados mais rapidamente fisiologicamente em três fases distintas, que
em plantios nas estações mais quentes. A es- respondem de forma diferente a temperatura
tratégia mais eficaz é desenvolver alta IAF o ambiental: juvenil, indução da inflorescência e
mais cedo possível para interceptar ao máximo inflorescência.
a radiação solar.
Atherton et al.
(1987) mostraram que
a iniciação é mais rápida
em planta mais pequena,
numa fase mais precoce do
desenvolvimento, depois
de ser exposta a tempera-
turas de 5 ou 10°C durante
4 semanas. A resposta mais
acentuada ao tratamento
foi nas cultivares mais pre-
coces onde a temperatura
ideal para vernalização foi
de 5,5°C (ROBERTS e SUM-
MERFIELD, 1987).
Temperaturas fora
do intervalo entre 0 a 22°C
são consideradas como
Figura 2. Fase juvenil ou vegetativa do brócolis. inibidoras da iniciação
dos primórdios florais. Em
e Struik (1990). A couve-flor e o brócolis che- cultivares de verão, foi necessário tratamento
gam a ‘idade fisiológica’ antes do aparecimento de refrigeração de 0 a 14°C, apesar do aumen-
da cabeça, sendo iniciado na sequência de um to de carboidratos na gema apical durante este
período de temperaturas mais baixas. Algu- período, mostrando que o simples processo de
mas pesquisas sugerem que a taxa com que a acúmulo de matéria seca não explica o efeito da
idade fisiológica é atingida por ser manipulada
por tratamento a frio em sementes (FUJIME e
HIROSE, 1979).
2.4. Particularidades do
repolho (Brassica oleracea
var. capitata)
A previsão da ma-
turidade de cabeça do re-
polho, usando métodos
de acumulação de unida-
de de calor sugerido por
Isenberg et al. (1975), não
foi aceito para uso práti-
Figura 6. Iniciação floral em brócolis. co. Estimativas de maturi-
dade ainda permanecem
Em brócolis a iniciação da inflorescência subjetivas e empíricas, com base em avaliações
e seu espessamento podem progredir com a flo- visuais e testes de firmeza com o dedo (Figura
ração. Assim, os botões florais chegam à fase de 7). O repolho responde a temperaturas induti-
formação de pétala antes do ponto de colheita. vas na germinação e, aparentemente, não há na
A couve-flor possui um mecanismo que impede fase juvenil nenhum indício de iniciação floral
a progressão de botão de flor durante a forma- quando a vernalização está concluída. O repolho
ção e espessamento da cabeça. A inflorescência necessita de temperatura mínima de 18°C para
do brócolis é composta por órgãos semelhantes reduzir o florescimento no campo. Os processos
335
Na safra onde o plantio é no final de verão colheita. O diâmetro de flor aos 56 DAP foi de um
há maior número de folhas na fase juvenil. As centímetro, chegando na colheita aos 77 DAP, com
primeiras evidências produzidas por Wellington aproximadamente 17 centímetros (Tabela 2).
(1972) identificaram uma correlação empírica Durante todo o ciclo analisado, do plantio
entre o início da inflorescência com a tempera- até a colheita da infloresência imatura, a planta
tura durante a fase vegetativa. Sua quantificação apresentou acúmulos crescentes de biomassa
posterior mostrou que a planta mantida acima seca em todos os órgãos chegando ao máximo de
de 15,6°C manteve-se vegetativa, e o tempo de 96,7 g planta⁻¹, aos 77 DAP distribuido na folha
exposição a condições de calor era cumulativo com 62,5 g planta⁻¹; no talo com 13,0 g planta⁻¹
(HAINE, 1959). A razão mais provável para estas e na flor com 21,2 g planta⁻¹. A curva de cresci-
variações são as diferenças no tempo de iniciação mento da planta não apresentou seu ponto de
da inflorescência. Mais recentemente, Wurr et al. estabilização aos 77 DAP devido a interrupção
(1981b) mostraram que a influência da tempera- do ciclo da planta ocasionado pela colheita da in-
tura na indução da inflorescência é limitada pelo florêscencia imatura.
Observando o crescimento da planta que
genótipo. Wurr e Fellows (1998) mostraram que
acumulou quantidade de massa seca em três fa-
tanto a luz como a temperatura são importantes
ses distintas: a primeira até os 21 DAP com 2,79
reguladores da produção de folhas em duas se-
g equivalendo a 2,9% do total acumulado de
leções de couve-flor. O aumento da temperatura
massa seca. Na segunda fase, entre 21 e 49 DAP,
durante o crescimento da planta aumentou o pe-
acumulou 24,01 g equivalendo a 24,8% do total
ríodo para a iniciação da inflorescência.
e a última fase, entre 49 e 77 DAP, acumulou 69,9
g equivalendo a 72,3% do total de massa seca
acumulada até a colheita da cabeça de brócolis
2.8. A produção e alocação de biomassa (Figura 8).
A dinâmica de crescimento da couve-flor,
A base deste capítulo são os resultados dos cv. Verona, é semelhante ao do brócolis. Acumu-
trabalhos experimentais realizados pela Epagri e lou continuamente massa seca ao longo do seu
UFSC-CCA (Núcleo de Ensino, Pesquisa e Exten- cultivo até a colheita da cabeça aos 69 DAP, che-
são em Agroecologia – NEPEA/SC) em 2012 na gando ao máximo com o total de 283 g. Esta bio-
unidade familiar dos Schulter, em Anitápolis (SC), massa foi distribuída no caule com 23 g planta⁻¹,
onde determinou-se semanalmente o acúmulo e nas folhas com 175 g planta⁻¹ e na cabeça com
partição de biomassa em brócolis cv. Avenger e 90 g planta¯¹. Neste período, a planta aumentou o
do trabalho da equipe de Castoldi et al. (2009) IAF até a colheita com o valor de 4,243 cm² cm⁻²,
com couve-flor cv. Verona. A planta apresentou índice maior que em repolho onde o melhor IAF
aos 35 dias após plantio (DAP) treze folhas, dos para a cultura foi de 2,88 cm² cm⁻², encontrado
42 aos 49 DAP quinze folhas, chegando ao máxi- pela equipe de Aquino et al. (2005).
mo de dezenove folhas a partir dos 56 DAP até a
Tabela 2. Acúmulo semanal de biomassa seca pela planta de brócolis e a alocada na folha, talo e inflorescência, cv.
Avenger.
convencional. Praticam-se
plantios com duas linhas,
principalmente na Euro-
pa, no espaçamento de 0,4
a 0,5 x 0,5 m distanciadas
da outra fileira dupla por
0,7 m. Experiências de
campo recentes na Aus-
trália Ocidental (STIRLING
e LANCASTER, 2005) de-
monstraram que as plan-
tas cultivadas em uma
configuração de quatro
carreiras produziram sig-
nificativamente mais do
que as plantas cultivadas
em uma configuração de
Figura 10. Lavoura de brócolis com espaçamento 0,5 x 0,6 m possibilitando o ma- duas linhas. A uniformida-
nejo das plantas espontâneas com roçadeira costal. de de maturação da inflo-
rescência melhorou quan-
adotando espaçamentos mais quadrados (Fi- do o número de linhas de plantas foi aumentado
gura 11). Neste caso, para brócolis tem-se utili- de dois para quatro. O peso diminuiu significa-
zado o espaçamento 0,5 x 0,5 m e para repolho tivamente quando a configuração de plantio
e couve-flor o espaçamento de 0,7 x 0,7 m. Ex- foi alterada de duas para quatro fileiras. Den-
perimentos recentes com repolho de verão cv. tro da configuração de quatro carreiras, houve
Kenzan, conduzido na UFV
pela equipe de Aquino
et al. (2005), permitem
concluir que o aumento
das doses de N aumenta
o peso e tamanho da ca-
beça, enquanto a redução
do espaçamento diminui o
peso da cabeça do repolho
colhido. Os espaçamentos
utilizados no experimento
foram de 80 x 30; 60 x 30 e
40 x 30 cm e as doses de N
foram de 0, 75, 150, 225 e
300 kg ha⁻¹. Encontraram
no espaçamento 40 x 30
cm e na dose 253 kg ha⁻¹
a melhor combinação para
Figura 11. Lavoura de brócolis com espaçamento quadrado 0,5 x 0,5 m com gran-
atender as exigências do
de quantidade de biomassa em cobertura e sincronização da rolagem dos adubos
produtor e do consumidor, verdes e plantio das mudas, desfavorecendo o desenvolvimento de plantas espon-
em condições de cultivo tâneas até a colheita.
339
persistente que podemos aumentar, diminuir ça na intensidade da cor verde entre as folhas
e até eliminar a adubação recomendada na ta- velhas e novas, c) sinais de retranslocação dos
bela, refletindo direto na produção e na saúde nutrientes das folhas baixeiras (saia da planta)
das brássicas. Assim, períodos com temperatu- para o dreno principal (inflorescência) e d) ta-
ras ótimas para a fase da cultura, associados a manho da planta.
dias de céu limpo, portanto com muita lumino- Munidos com estes conhecimentos, en-
sidade, aumentam a produção fotossintética e tramos na lavoura para observar os sinais e
também da evapotranspiração, sendo possível entender o que está ocorrendo com as plantas
que a planta necessite de mais nutrientes (com no sistema de cultivo para poder melhor inter-
certeza de mais água). Por outro lado, com a di- ferir no seu manejo, gastando menos energia
minuição da fotossíntese que pode ocorrer em em procurar “perebas”, pois nosso foco é saúde.
dias nublados e com temperatura abaixo do óti- Para o agente de ater-pesquisador e lavoureiro,
mo, é possível que a planta necessite de menos o principal é olhar a lavoura em alguns aspectos
nutrientes (com certeza de menos água). gerais, como:
É possível, por quê? Há outro elemento a a) Se as folhas baixeiras estão verdes ou
ser incorporado na tomada de decisão em abas- amareladas: sinalização de retransloca-
tecer a demanda de nutrientes pelas brássicas, ção em massa de nutrientes ocasionada
obter boa produtividade e manter sua saúde. A pelo modo de adubar relacionada à força
planta expressa sinais característicos na parte do dreno. Quando amarelada, a adubação
aérea e radicular (Figura 13) que podem ser in- não supriu a demanda da planta (Figuras
terpretados pelos técnicos e agricultores expe- 14 e 15);
rientes na cultura e tomar decisões mais acerta- b) Se há uniformidade no tamanho e cor da
das sobre seu manejo como: a) tamanho da folha planta: indicativo sobre manchas de fer-
e da intensidade do brilho e da cor; b) diferen- tilidade do solo e uniformidade na distri-
buição de fertilizante (Fi-
gura 16);
c) Formato do corpo da
planta (folhas e talos ere-
tos e uniformamidade da
cabeça e altura de planta):
indica seu crescimento e
desenvolvimento relacio-
nado com o clima e manejo
da água e adubo ao longo
do ciclo cultural (Figura
17);
d) Vigor da planta (tama-
nho da folha e haste);
e) Cor verde intenso, apre-
sentando cerosidade
com forte brilho (Figu-
ras 18 e 19);
Figura 13. Plantas com mesma idade apresentando diferenças entre profundidade f) Diferença de intensida-
e volume do sistema radicular. Planta com raízes mais profundas, ocupando maior de da cor verde entre
volume de solo e em constante crescimento pode proporcionar adequada absorção folhas maduras e novas
de água e nutrientes, associando-se melhor à biota do solo e suportando eventos
estressantes.
(Figuras 20).
341
(a) (b)
Figura 14. Folhas baixeiras amareladas pela ocorrência de retranslocação em massa em brócolis (a) e em couve-flor
(b).
Figura 15. A terceira e a quarta folha estão com cor verde normal e a última com verde passando ao intenso. A cor
amarelada da primeira folha foi ocasionada pela retranslocação em massa de nutrientes.
342
Figura 16. Plantas de couve-flor com cor verde-clara característico, uniformidade no tamanho e folhas eretas, são
sinais de saúde.
Figura 17. Planta de brócolis saudável, apresentando cor verde-clara e planta e folhas ereta, sem retranslocação.
343
Figura 18. Intensidade de cor e tamanho de folha em brócolis, sendo as duas primeiras com cor verde normal e as
demais com coloração e brilho intensos, geralmente ocasionado pelo excesso de nitrogênio. Lavouras com plantas com
falta e excesso de nutrientes são mais suscetíveis às doenças.
Figura 19. Intensidade de cor, brilho (cerosidade) e tamanho de folha em couve-flor a esquerda e brócolis a direita,
sinais de excesso de nitrogênio. Sem diferença de cor entre folhas velhas e novas. Nesta lavoura haverá maior possibi-
lidade da presença de bacteriose e hérnia nas plantas.
344
Figura 20. Diferença de intensidade da cor verde entre a folha velha e nova e sem retranslocação. Sinal de que as
plantas estão sendo nutridas conforme a taxa de crescimento.
Nas lavouras de estudo, aprende-se a alo- entre a parte interna e externa da membrana
car os adubos de cobertura conforme os even- das células radiculares e desencadear a absor-
tos climáticos que, em caso assertivo, pode-se ção de nutrientes via “proteínas transporta-
melhorar a produtividade, a saúde da planta e a doras”. Não menos importante na velocidade e
uniformidade da inflorescência do brócolis, do quantidade de absorção dos nutrientes, é a umi-
couve-flor e da cabeça de repolho. Eventos de dade do solo, que influencia na taxa de transpi-
céu aberto e temperatura amena com duração ração por meio do fluxo de água no sistema so-
de uma a duas semanas e planta com folhas de lo-planta-atmosfera. Portanto, de nada adianta
coloração verde-clara e com diferença da in-
adubar as plantas sem promover condições de
tensidade do verde entre folhas desenvolvidas
solo estruturado, local onde a planta irá habitar
e novas, deve-se aumentar a quantidade dos
com seu sistema radicular e se relacionar com a
nutrientes e água. Neste caso, ao deixar de dis-
biota, minerar os nutrientes e beber água para
ponibilizar a quantidade de fertilizante que a
sua manutenção, seu crescimento e desenvolvi-
planta está demonstrando, caracteriza um erro
conhecido por estresse nutricional e que pode mento da inflorescência.
prejudicar a saúde e produtividade da planta.
A absorção de nutrientes pode ser afeta-
da por temperatura abaixo de 15°C e acima de 5. Absorção de nutrientes
30°C, por interferência notória nos processos
bioquímicos. Este conhecimento se reveste de A base deste capítulo são os resultados dos
importância confomre a presença de oxigênio trabalhos experimentais realizados pela Epagri e
no sistema radicular. Este elemento afeta na UFSC-CCA (NEPEA/SC) em 2012 na unidade fa-
atividade respiratória das raízes, que necessi- miliar dos Schulter, em Anitápolis (SC), onde de-
tam de energia para construir a diferença de pH terminou-se semanalmente o acúmulo e partição
345
de biomassa em brócolis cv. Avenger. Também Juvenil-2 que vai dos 21 DAP até a visualização
serão discutidos resultados encontrados pela do botão floral e a fase Adulta, que vai do botão
equipe de Castoldi et al. (2009) em couve-flor cv. floral até a colheita da inflorescência imatura.
Verona. A taxa de absorção de nitrogênio nas três fases
Em Anitápolis (SC) foi determinado o corresponde a 4,3%; 28,9% e 66,8% do total ab-
acúmulo de nutrientes na planta e sua partição sorvido pela planta, respectivamente. A taxa de
nas folhas, talo e inflorescência. Nas Tabelas 3 absorção de potássio nas três fases corresponde
e 4 estão apresentados o teores de nitrogênio e a 2,6%; 18,9% e 78,5% do total absorvido pela
potássio acumulados semanalmente. As plantas planta, respectivamente. O acúmulo de P, Ca e Mg
acumularam, em média, 4.703,4 mg planta⁻¹ de na planta aos 77 DAP foi de 0,18; 0,59 e 0,20 g
N e 1.404,8 mg planta⁻¹ de K. É possível sepa- planta⁻¹, respectivamente (Figura 21). O Fe, Mn,
rar em três períodos a intensidade de acúmulo Zn, Cu e B acumularam aos 77 DAP a quantidade
de N e K, que vai do plantio da muda até os 21 de 26,7; 9,0; 3,8; 0,9 e 1,3 mg planta⁻¹, respecti-
DAP, fase a qual caracterizamos por Juvenil-1 a vamente (Figura 22).
Tabela 3. Acúmulo semanal de nitrogênio pela planta de brócolis e a alocada na folha, talo e flor, cv. Avenger.
Tabela 4. Acúmulo semanal de potássio pela planta de brócolis e a alocada na folha, talo e flor, cv. Avenger.
No cultivo da couve-flor o acúmulo total de 920 mg planta⁻¹ respectivamente. O Fe, Mn, Zn,
N foi 9000 mg planta⁻¹ e destes 3500 mg planta⁻¹ Cu e B acumularam aos 69 DAP a quantidade de
(aproximadamente 38,9% do total) foram aloca- 31; 9,71; 6,19; 0,87 e 4,57 mg planta⁻¹, respecti-
dos na inflorescência. O total de K acumulado foi vamente.
de 5810 mg planta⁻¹ e deste total (aproximada- Foram realizados outros dois experimentos
mente 5,1%) foram alocados na inflorescência. pela Epagri e UFSC-CCA (NEPEA/SC), em 2013 e
Portanto, do total de K acumulado 94,9% foram 2014, sendo o primeiro testando épocas de apli-
alocados na parte vegetativa da planta. A relação cação de nitrogênio e o segundo as doses de ni-
entre N:K foi de 1,55:1. O acúmulo de P, Ca, S e trogênio. No primeiro experimento envolvendo
Mg na planta aos 69 DAP foi de 590; 440; 990 e épocas de aplicação de N (Figura 23), aplicou-se
346
Observação:
a) Para ajuste da aduba-
ção de cobertura de- Figura 25. Desenvolvimento inicial da inflorescência, momento para realizar a úl-
vem-se considerar tima adubação de cobertura.
349
Tabela 5. Ajuste da quantidade de adubação de cobertura, principalmente N e K, contida nas “propondo adubação
de cobertura”, com base na associação entre os sinais de planta, condições climáticas e estoque de nutriente no solo.
1.0 - Período com temperatura ótima (verão: 20 - 25°C; inverno: 18 - 22°C), tempo ensolarado, planta ereta, folhas
grandes de verde-clara e posição ereta, com discreto brilho. Talo ereto e verde claro. Folhas maduras de verde mais
escuro que folhas novas. Fase juvenil: MANTER OU AUMENTAR EM 30% A QUANTIDADE DE ADUBOS RECOMEN-
DADOS PARA O PERÍODO;
1.1 - Repetindo as condições anteriores (1.0), porém aparecendo botão floral ou iniciando cabeça: AUMENTAR EM
30% A ADUBAÇÃO CONTIDA NO PERÍODO OU DIMINUIR;
1.2 - Repetindo as condições anteriores (1.1), planta vigorosa, folhas enormes e arcadas para baixo com verde-es-
cura e brilho intenso. Talo verde-escura, alguns curvados. Não há diferença do verde entre folhas maduras e novas:
DIMINUIR APROXIMADAMENTE 50% A ADUBAÇÃO PARA O PERÍODO;
1.3 - Repetindo as condições anteriores (1.0), planta pequena, folha verde-clara e pequena. Folhas mais maduras
verde-amareladas. Talo claro, fino e alguns curvados: AUMENTAR EM 30% A ADUBAÇÃO CONTIDA NO PERÍODO.
2.0 - Período com temperatura ótima (verão: 20 - 25°C; inverno: 18 - 22°C), tempo nublado, planta ereta, folhas
grandes de verde-clara e posição ereta, com discreto brilho. Talo ereto e verde-clara. Folhas maduras de verde mais
escuro que folhas novas. Fase juvenil: DIMINUIR EM 30% A ADUBAÇÃO CONTIDA NA PROPOSTA DE ADUBAÇÃO;
2.1 – Repetindo as condições anteriores (2.0), porém aparecendo botão floral ou iniciando cabeça: MANTER A
ADUBAÇÃO CONTIDA NA PROPOSTA DE ADUBAÇÃO;
2.2 - Repetindo as condições anteriores (2.1), planta vigorosa, folhas enormes e arcadas para baixo com verde-es-
cura e brilho intenso. Talo verde-escura, alguns curvados. Não há diferença do verde entre folhas maduras e novas:
PODE-SE DIMINUIR EM MAIS DE 50% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO OU DEIXAR DE APLICAR;
2.3 - Repetindo as condições anteriores (2.0), planta pequena, folha verde-clara e pequena. Folhas mais maduras
verde-amareladas. Talo claro, fino e alguns curvados: MANTER A ADUBAÇÃO CONTIDA NA PROPOSTA DE ADUBA-
ÇÃO.
3.0 - Período com temperatura baixa (verão: <16°C; inverno: <10°C), tempo ensolarado, planta ereta, folhas grandes
de verde-clara e posição ereta, com discreto brilho. Talo ereto e verde-clara. Folhas maduras de verde mais escuro
que folhas novas. Fase juvenil: DIMINUIR EM 50% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO;
3.1 - Repetindo as condições anteriores (3.0), porém na fase aparecendo botão floral ou iniciando cabeça: MANTER
OU DIMINUIR EM 30% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO;
3.2 - Repetindo as condições anteriores (3.1), planta vigorosa, folhas enormes e arcadas para baixo com verde-es-
cura e brilho intenso. Talo verde-escura, alguns curvados. Não há diferença do verde entre folhas maduras e novas:
DIMINUIR EM MAIS DE 50% OU DEIXAR DE APLICAR A ADUBAÇÃO DO PERÍODO;
3.3 - Repetindo as condições anteriores (3.0), planta pequena, folha verde-clara e pequena. Folhas mais maduras
verde-amareladas. Talo claro, fino e alguns curvados: MANTER OU DIMINUIR EM 30% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO.
4.0 - Período com temperatura baixa (verão: <16°C; inverno: <10°C), tempo nublado, planta ereta, folhas grandes
de verde-clara e posição ereta, com discreto brilho. Talo ereto e verde-clara. Folhas maduras de verde mais escuro
que folhas novas. Fase juvenil: DIMINUIR EM MAIS DE 50% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO OU DEIXAR DE APLICAR;
4.1 - Repetindo as condições anteriores (4.0), porém aparecendo botão floral ou iniciando cabeça: DIMINUIR EM
ATÉ 50% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO;
4.2 - Repetindo as condições anteriores (4.1), planta vigorosa, folhas enormes e arcadas para baixo com verde-es-
cura e brilho intenso. Talo verde-escura, alguns curvados. Não há diferença do verde entre folhas maduras e novas:
DEIXAR DE APLICAR O ADUBO CONTIDO NA PROPOSTA DE ADUBAÇÃO;
4.3 - Repetindo as condições anteriores (4.0), planta pequena, folha verde-clara e pequena. Folhas mais maduras
verde-amareladas. Talo claro, fino e alguns curvados: MANTER OU DIMINUIR EM 50% A ADUBAÇÃO DO PERÍODO.
353
de entrada e assimilação
dos demais nutrientes em
seus respectivos sítios de
ligação, prejudicando a
composição dos novos te-
cidos. Em plantas com sis-
tema radicular composto
por poucas raízes novas
e ativas (tecidos menos
suberificados), a absor-
ção daqueles nutrientes
pouco móveis e imóveis
no interior das células,
como o cálcio e o boro, é
prejudicada, promovendo
um quadro de distúrbios
fisiológicos. Este proble-
ma facilita a entrada de
Figura 29. Ambiente de cultivo no SPDH propiciando conforto e saúde às plantas. doenças e pragas, refle-
Tabela 6. Taxa de absorção aproximada dos nutrientes tindo a estreita base ge-
por plantas cultivadas em solução nutritiva. nética das cultivares comerciais que privilegia
a produção vegetativa e reprodutiva em detri-
Grupo Taxa de absorção Nutriente
mento do sistema radicular. Raízes de repolho,
1 Rápida N-NO₃; N-NH₄; P; couve-flor e brócolis podem atingir 100 cm ou
K; Mn mais e a forma do sistema radicular é de cone
2 Intermediária Mg; S; Fe; Zn; Cu; invertido onde a maior intensidade de enraiza-
Mo mento está nos primeiros 20 cm de solo (Figura
3 Lenta Ca e B 30). Deficiência de cálcio localizada nas folhas,
Fonte: Compilado de Fernandes (2006) que adaptou de em tecidos de crescimento rápido e com baixa
Bugbee (1995). taxa de transpiração, é agravado pela elevada
umidade relativa, o que estimula a perturbação
de nitrogênio há uma menor produção de
relacionada com cálcio e boro. Estes nutrientes
aminoácidos, proteínas, fitoalexina, hormônios e
são transportados principalmente no xilema,
fenóis, comprometendo a formação de novos te-
chegando aos tecidos meristemáticos de cresci-
cidos, os processos fotossintéticos e a respiração.
mento depndendo da taxa de transpiração. Os
tecidos com baixa transpiração irão apresentar
deficiências de cálcio. O cálcio se acumula nas
6.1. Evitando desordem fisiológica folhas externas durante o dia por fluxo de mas-
sa, impulsionado pela transpiração (pressão
A desagregação necrótica dos tecidos negativa), e na cabeça durante a noite, quando
marginais das folhas em cabeças de repolho, é ocorre o mecanismo da “pressão de raiz” (pres-
atribuída à deficiência de cálcio e relacionada são positiva), empurrando o cálcio até os teci-
ao genótipo, às condições meteorológicas pre- dos que formam a cabeça. Uma vez que o cálcio
valecentes e a disponibilidade de fertilizante e boro são absorvidos preferencialmente pelas
nitrogenado. Grande disponibilidade de nitro- raízes não suberificadas, a quantidade de raízes
gênio pode aumentar a taxa de crescimento da jovens é referência para absorção destes ele-
planta a uma velocidade maior que a capacidade mentos. Consequentemente, a arquitetura da
354
7. Colheita
vos anteriores, que foram quase exclusivamente tecidos. Para culturas de flores como couve-flor
dirigidos à melhora da eficácia e eficiência das e brócolis, basta a presença de pequenas quan-
operações na fase de campo, visando somente o tidades de etileno para acelerar a senescência
maior retorno econômico das unidades familia- e aumentar a deterioração do alimento. As ta-
res rurais. xas de respiração dos vegetais aumentam em
resposta ao aumento das temperaturas, princi-
palmente em tecidos jovens e imaturos como o
brócolis e a couve-flor.
7.1. Manejo na colheita e ambiente de O brócolis e a couve-flor são colhidos no
armazenamento ponto de floração imatura, sendo altamente pe-
recíveis, com tempo de armazenamento de 2 a
A maioria das pesquisas mostram que as
3 dias em temperaturas de 20°C (MAKHLOUF et
melhores taxas de conservação de brássicas em
al., 1989). Por isso, a refrigeração é o principal
ambiente controlado ou são alcançadas pela
meio de abrandar a taxa de senescência e man-
diminuição da temperatura, do aumento subs-
ter a qualidade destes alimentos. A principal
tancial da concentração de dióxido de carbono e
limitação do armazenamento em temperatura
da diminuição da concentração de oxigênio. Em
ambiente é o rápido amarelecimento dos bo-
termos gerais, temperaturas reduzidas combi-
tões florais, devido à quebra de clorofila, pro-
nadas com concentrações de dióxido de carbo-
dução de etileno e abertura das flores.
no entre 2,5 e 7% e de oxigênio entre 2,5 a 6%
As recomendações de armazenamen-
são necessários para manter a coloração verde,
to padrão para brócolis são de 2°C de tempe-
aparência fresca e a textura do alimento (cro-
ratura, com umidade relativa de 95%, 1 a 2%
cância). Brássicas armazenadas em condições
de dióxido de carbono e 5 a 10% de oxigênio.
de atmosfera modificada e com uso de contro-
Para a couve-flor mantém-se as mesmas con-
ladores de níveis de etileno podem manter-se
dições, porém com temperatura entre 4 e 6°C
comercializáveis por mais de 10 meses.
para evitar danos nas inflorescências pelo frio.
A taxa de perda de água aumenta com o
Nestas condições, esses vegetais podem ser ar-
aumento da temperatura e é exacerbada através
mazenados por um período de até seis sema-
da diminuição da umidade relativa do ar e da
nas, desde que este armazenamento seja feito
pressão atmosférica. Para a maioria dos vege-
imediatamente após a colheita. Neste sentido, é
tais uma perda de água entre 5 e 10% provoca a
importante que seja aplicado resfriamento rá-
deterioração visual. Após a colheita, as mudan-
pido, diminuindo a água livre na inflorescência,
ças no conteúdo de carboidratos, ácidos orgâ-
além de evitar condições de umidade e tempe-
nicos e metabólitos secundários, afetam a qua-
ratura elevadas. Durante o processo de colhei-
lidade do alimento. Provavelmente, a liberação
ta, é aconselhável evitar ferimentos nas partes
de etileno tem o efeito mais importante sobre
comerciais (cabeça e inflorescência) evitando a
a qualidade. O etileno está envolvido na acele-
entrada de patógenos.
ração do amadurecimento e na senescência dos
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18
CULTIVO DA CEBOLA1
Claudinei Kurtz
Édio Zunino Sgrott
Jucinei José Comin
Fábio Satoshi Higashikawa
Monique Souza
A cebola (Allium cepa, L.) é uma das mais tima década foi responsável por mais de 30% da
antigas hortaliças cultivadas e remonta mais de produção brasileira. No Sul do Brasil, que respon-
5.000 anos. Possivelmente tenha sido domestica- de por mais de 50% da produção nacional, a ce-
da inicialmente nas regiões montanhosas da Ásia bolicultura é uma atividade predominantemente
Central que inclui Turcomenistão, Uzbequistão, desenvolvida por agricultores familiares e possui
Tajiquistão, Norte do Irã, Afeganistão e Paquistão grande importância socioeconômica contribuin-
(BREWSTER, 2008). do significativamente para a geração de renda e
No Brasil, o marco inicial da cultura da ce- empregos.
bola é atribuído aos imigrantes açorianos que co-
lonizaram a região de Rio Grande (RS), no século
18. Em Santa Catarina o cultivo de cebola teve iní-
cio na década de 1930 e na sequência foi introdu- 1.1. Cultivares
zida no Estado de São Paulo. No Nordeste do país,
a cebola começou a ser cultivada no final da déca- Segundo Barbieri (2007), as variedades
da de 1940, no Vale do São Francisco (BARBIERI & de cebola cultivadas no Sul do Brasil têm ori-
MEDEIROS, 2007). gem em três categorias principais: Baia Perifor-
Atualmente, a cebola é uma espécie olerá- me, a Pêra Norte e a Crioula que são mantidos
cea amplamente cultivada e consumida em todo até hoje por pequenos produtores. A primeira
o mundo, fazendo parte de diversas culinárias. O delas é composta por populações derivadas de
Brasil está entre os dez maiores produtores mun- uma cebola portuguesa conhecida como Garra-
diais desta hortaliça sendo a terceira em impor- fal. Foi trazida por imigrantes açorianos para a
tância econômica no país, superada apenas pela região de Rio Grande (RS), em particular no dis-
batata e pelo tomate. trito de Quitéria.
Foram cultivados 55,9 mil ha de cebola no Por mais de um século, dezenas de subpo-
Brasil em 2016, cuja produção foi de 1,58 milhão pulações de Baia Periforme foram mantidas por
de toneladas, com rendimento médio de 28,2 t produtores locais. Estes materiais apresentam
ha¯¹ (IBGE, 2017). O Estado de Santa Catarina é notável adaptação ao cultivo em condições de
o principal produtor nacional de cebola e na úl- clima úmido, com bulbos de formato perifor-
¹ Esse capítulo é adaptação de Fayad et al. (2018). me, coloração amarelada, pungente e casca fina.
360
Possui também intensa cerosidade foliar, o que fotoperíodo-temperatura (ALVES et al., 2016).
contribui para sua adaptação à região tropi- De maneira geral, os cultivares híbridos têm
cal e subtropical de clima úmido (BARBIERI & maior potencial produtivo comparativamente
MEDEIROS, 2007). aos cultivares polinização livre, porém os hí-
O grupo Pêra Norte agrupa genótipos tar- bridos exigem maior cuidado na lavoura e ten-
dios, possivelmente originados a partir de ge- dem a ser mais suscetíveis a efeitos adversos
nótipos egípcios da África do Norte que após in- do meio (ALVES et al., 2016). Estes fatores têm
trodução, na Ilha de Açores, chegaram ao Brasil dificultado a adaptação destes materiais na re-
trazidos pelos imigrantes açorianos. Este mate- gião Sul do Brasil que apresenta clima subtropi-
rial ainda é mantido por produtores dos muni- cal úmido.
cípios de Rio Grande, (RS) e São José do Norte Atualmente, para Santa Catarina, a Empre-
(RS). Apresenta bulbos de formato piramidal, de sa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de
coloração acastanhada e boa retenção de esca- Santa Catarina – Epagri – recomenda seis cultiva-
mas. Possui dormência prolongada, pungência res de cebola para plantio (Tabela 1 e Figura 1).
alta e com boa capacidade de armazenamento.
Também possui boa cerosidade foliar, permitin-
do adaptabilidade às condições de clima úmido.
A cultivar Crioula surgiu na região pro- 2. Produção de mudas
dutora de cebola do Alto Vale do Itajaí (SC).
No Estado de Santa Catarina e nos demais
Provavelmente, resultou do cruzamento entre
estados do Sul, a produção de cebola é em sua
populações do tipo Pêra Norte e do tipo Baia Pe-
maioria realizada via transplante. A produção de
riforme, seguido de seleção feita por produto-
mudas é uma etapa importante dentro do siste-
res locais. Apresenta bulbos globosos com casca
ma de produção de cebola. Entretanto, ainda não
de coloração marrom acastanhada. Há também
se dispõe de tecnologias consolidadas a nível de
variedades locais de populações do tipo Criou-
produtores para a produção de mudas no SPDH,
la, que apresentam bulbos com coloração roxa,
embora a nível de pesquisa já foi demonstrado
denominados de Crioula-Roxa.
principalmente com o uso da solarização do solo.
Em trabalho de pesquisa realizado na Estação
Experimental da Epagri em Ituporanga, Santa
1.2. Escolha do cultivar Catarina, foi avaliado produção de mudas em
canteiros com plantas de cobertura que após se-
Escolher um cultivar adequado é um dos rem roladas é realizado o “processo de solariza-
principais pontos a serem observados. A es- ção” nos meses de dezembro até abril quando é
colha equivocada de um cultivar certamente retirado o plástico e semeado a cebola (Figura 2).
comprometerá o restante do sistema produtivo, Esses canteiros são permanentes para produção
culminando com perdas ou até mesmo inviabi- de mudas de cebola em rotação com adubos ver-
lizando a lavoura. Cultivares mal adaptados às des e outras culturas e processo longo de solari-
condições edafoclimáticas, com ciclo vegeta- zação. O local onde será estabelecido o canteiro
tivo irregular ou muito suscetíveis aos estres- de produção de mudas deve ser de fácil acesso,
ses contribuem para a redução da produção e preferencialmente plano, com exposição solar
tornam necessário o aumento das aplicações de norte, próximo a uma fonte de água e afastado
agrotóxicos (LOPES & SIMÕES, 2007). de locais que propiciem a formação de sombra e
A falta de adaptação do cultivar é o fator neblina (EPAGRI, 2013).
que mais limita o uso de um mesmo cultivar em O canteiro deve ser implantado em áreas
diferentes regiões, principalmente pela peculia- com pH, fósforo e potássio corrigidos com base
ridade da cultura no que se refere ao binômio na análise de solo. Devem ser “levantados”,
361
Tabela 1. Cultivares de cebola recomendados pela Epagri para plantio em Santa Catarina.
Data
Cultivar Ciclo Cor Forma
Semeadura Transplante Colheita
SCS366 Super-
Amarela Globular Abril Junho Outubro
Poranga precoce
Figura 1. Cultivares de cebola desenvolvidos e recomendados pela Epagri para plantio na região Sul do Brasil, em
especial para Santa Catarina. Fonte: Alves et al. (2016).
362
2.1. Semeadura
A semeadura a lanço
é o método mais utilizado
pelos produtores catari-
nenses. Ela consiste em
distribuir as sementes nos
canteiros com posterior
cobertura com no máximo
2 cm de serragem, casca de
arroz incinerada, composto
Figura 2. Construção de canteiros para posterior solarização para produção de mu- orgânico ou “vermicom-
das no SPDH. posto” (húmus de minho-
ca) peneirados. Ensaios de
seguindo as linhas de nível do terreno, a uma pesquisa indicam o composto como a melhor
altura de 10 a 15 cm, com largura de 1,0 a 1,2 m e cobertura a ser utilizada após a semeadura.
comprimento variável de acordo com a área dis- Esta também pode ser realizada em pequenos
ponível e a necessidade de mudas a serem produ- sulcos transversais, de 1 a 1,5 cm de profundi-
zidas. Recomenda-se que a superfície do canteiro dade, abertos transversal ou longitudinalmente
seja uniforme, melhorando a germinação da se- no canteiro, distanciados em 10 cm entre si, nos
mente. Faz-se a semeadura do adubo verde com quais as sementes serão distribuídas unifor-
máquina de semeadura direta ou a lanço (Figura memente. A semeadura recomendada é de 2,5
3). Quando estas plantas estiverem com aproxi- a 3,0 g de sementes por m² de canteiro. Assim,
madamente 20 cm de altura pode ser realizada são necessários cerca de 2 kg de semente para
Figura 3. Semeadura dos adubos verdes de verão e inverno nos canteiros de produção de mudas para o transplante.
O sistema a ser adotado pode ser com e sem a solarização. No primeiro, a semeadura será realizada após retirada do
plástico e o sem solarização após rolagem das plantas de cobertura, atendendo as épocas de semeaduras recomenda-
das para cada cultivar.
363
obtenção das mudas destinadas ao transplante mesmo após períodos longos de crescimento.
de 1 hectare de lavoura de cebola. É importante Satisfeitas as exigências em fotoperíodo, tem
salientar que densidades menores proporciona- início a mobilização de reservas para a base das
rão ambiente mais arejado facilitando a saúde da folhas e consequente formação dos bulbos, in-
planta. dependentemente do tamanho da planta. A bul-
bificação apenas se inicia quando a combina-
ção dos fatores determinantes da bulbificação
(fotoperíodo e temperatura) de cada cultivar é
3. Ecofisiologia
atingida e a taxa de bulbificação é diretamen-
É uma planta bianual, sendo no primeiro te proporcional ao fotoperíodo e temperatura
ciclo a fase vegetativa responsável pela forma- (BREWSTER, 2008).
ção do órgão de reserva (bulbos) e a estrutura
basilar do caule, que é um disco-rizoma, conten-
do o meristema vegetativo, reprodutivo e radi-
cular. A planta é herbácea e as folhas são sim- 3.1. Fotoperíodo
ples, incompletas e constituídas de duas partes: É definido como o intervalo de tempo
a bainha e o limbo. As bainhas das folhas exte- transcorrido entre o nascimento e o pôr do sol,
riores (mais velhas) são coriáceas e brilhantes e estando o disco solar visível ou não. Entre os
formam as escamas ou casca da cebola. Atuam fatores ambientais que influenciam o desenvol-
como protetoras das bainhas das folhas mais vimento e a adaptação de cultivares de cebola a
internas e dos primórdios foliares que se sobre- diferentes regiões geográficas, o fotoperíodo é
põe e acumulam substâncias de reserva na base, um dos mais limitantes, considerando-se que a
formando um bulbo tunicado. As folhas são co- planta de cebola só formará bulbos se o compri-
bertas por uma camada cerosa. O caule é de mento do dia for igual ou superior a um mínimo
formato discoidal com entrenós muito curtos, fisiologicamente exigido. Quanto à exigência de
constitui a base do bulbo e localiza-se abaixo do luz para que ocorra a bulbificação, os cultivares
nível do solo. No centro do disco caulinar está de cebola são classificados em três grupos: ce-
o meristema apical, de onde surgem as folhas, bolas de dias curtos (DC), cebolas de dias inter-
opostas e alternadas. O sistema radicular é do mediários (DI) e cebolas de dias longos (DL). Os
tipo fasciculado, formado por raízes adventí- cultivares de DC são aqueles que requerem foto-
cias que emergem ao redor do caule durante o período de 10 a 12 horas para que a bulbificação
ciclo vegetativo. No segundo ciclo, ocorre a fase seja induzida. Os cultivares de DI requerem foto-
reprodutiva com a formação de inflorescências período de 12 a 14 horas para que haja bulbifica-
que são umbelas constituídas de agregados de ção e os cultivares de DL exigem um fotoperíodo
pequenas inflorescências que se desenvolvem igual ou superior a 14 horas (BREWSTER, 2008).
na extremidade do escapo floral. A inflorescên- Os cultivares de cebola também são de-
cia possui em média 300-400 botões, podendo nominados precoces, médios e tardios. Seguin-
variar de 50 a 2000 botões florais (OLIVEIRA et do essa classificação, os cultivares precoces são
al., 2015). sinônimos de DC, os médios de DI e os tardios
O fotoperíodo em interação com a tempe- de DL (LEITE, 2007). Na prática, essa denomi-
ratura são os fatores climáticos que controlam a nação se refere ao ciclo de maturação da cebola,
formação de bulbos. A cebola é fisiologicamente podendo haver subdivisões, por exemplo: super-
de dias longos para bulbificação e, de modo ge- precoce, hiperprecoce e semitardio. A escolha do
ral, não bulbifica em dias com duração inferior cultivar deve ser realizada em concordância com
a 10 horas de luz. Sob fotoperíodos inferiores o fotoperíodo do local de cultivo, sabendo-se
ao mínimo fisiologicamente exigido, as plantas que o fotoperíodo varia com a latitude e a época
emitem folhas continuamente e não bulbificam, do ano. O plantio de cultivares em locais ou em
364
épocas do ano em que o fotoperíodo não esteja cultivar Bola Precoce no sistema convencional, em
de acordo com as necessidades do cultivar pode- 2011. Ambos foram conduzidos na Estação Expe-
rá comprometer toda a produção (ALVES et al., rimental da Epagri em Ituporanga, Santa Catarina,
2016). em área de SPDH consolidado. O conhecimento dos
padrões de acúmulo de massa seca de uma cultura
permite entender melhor os fatores relacionados
com a nutrição mineral e consequentemente com
3.2. Temperatura a adubação, visto que a absorção de nutrientes é
O fotoperíodo é um dos principais fato- influenciada pela taxa de crescimento da planta
res para a indução da bulbificação, porém, sua (MARSCHNER, 2012), numa correlação direta.
interação com a temperatura deve ser cuidado-
samente analisada. Em condições indutivas de
fotoperíodo, a bulbificação é acelerada a altas
4.1. Cebola em SPDH agroecológico (Cv.
temperaturas e atrasada quando em condições
Crioula Alto Vale)
de baixas temperaturas (BREWSTER, 2008).
Dessa forma, a bulbificação tem início somente
após ser atingido um patamar mínimo do binô- 4.1.1. Crescimento e acúmulo de biomassa
mio fotoperíodo-temperatura para o cultivar.
A dinâmica do acúmulo de massa seca na
Assim, a bulbificação é, de modo geral, direta-
planta inteira (parte aérea + bulbo) foi contínuo
mente proporcional ao fotoperíodo e à tempe-
do plantio da muda de cebola até a colheita dos
ratura (BREWSTER, 2008).
A temperatura ideal para bulbificação bulbos, totalizando 16,1 g planta¯¹ (Figura 4).
fica entre 15 e 30°C. Temperaturas superiores Deste total o bulbo ficou com 12,7 g e as folhas
a 30°C podem acelerar muito o processo de bul- com 3,4 g, correspondendo a 78,9% e 21,1%,
bificação, levando à formação de bulbos peque- respectivamente. Do plantio da muda ao início
nos, enquanto temperaturas menores que 15°C da bulbificação, aos 35 dias, a planta acumulou
podem aumentar o florescimento precoce, um 1,9 g de matéria seca, correspondendo a 11,8%
fator indesejável, pois es-
ses bulbos não possuem
valor comercial. Dessa for-
ma, optar por cultivares
que se adequem à região
de cultivo para evitar per-
das na produção devido às
condições climáticas (AL-
VES et al., 2016).
4. Crescimento, absorção
de nutrientes e produção
Foram conduzidos
dois experimentos para de-
terminar o crescimento e a
produção da cebola, um no
sistema agroecológico com o
cultivar Crioula Alto Vale na Figura 4. Dinâmica do acúmulo de matéria seca ao longo do ciclo cultural da cebola
safra de 2004 e outro com o cultivada em plantio direto agroecológico, cv. Crioula, 2004.
365
do total acumulado ao longo do ciclo cultural. Do A dinâmica de saldo negativo tem início
início da bulbificação até a colheita, a planta acu- aos 67 DAT, equivalente aos 32 dias após o iní-
mulou 14,2 g de matéria seca, correspondente a cio da bulbificação, indo até a colheita do bulbo,
88,2% do total. Os resultados encontrados por representado pela taxa de crescimento absolu-
Haag et al. (1970) diferem destes na quantidade to da planta (G) menor que o alocado no bul-
de matéria seca acumulada na planta inteira que bo, indicando retranslocação de matéria seca,
foi de 36,7 g planta¯¹ e no bulbo de 22 g planta¯¹, principalmente, das folhas para os bulbos. Este
devido, provavelmente, ao sistema de cultivo em fato pode ser explicado em parte pelo padrão
ambiente protegido e em hidroponia. Porém, Por- de translocação na relação fonte-dreno (TAIZ
to et al. (2006) encontraram dados semelhantes & ZEIGER, 2009), onde a força do dreno, repre-
para a planta inteira de 18,61 g planta¯¹ e de 13,2 g sentado pelo bulbo, foi maior no requerimento
planta¯¹ para o bulbo. A produção total de bulbos de biomassa que a produzida pelo sistema fo-
do experimento (massa fresca) foi de 17,65 t ha¯¹. tossintético da planta. Assim, o requerimento
A taxa de crescimento absoluto (G) foi cres- de biomassa foi suprido pelas reservas contidas
cente até aos 59 dias após o transplante (DAT) principalmente nas folhas. Esta dinâmica de al-
com 0,361 g planta¯¹ dia¯¹, sendo o dia que a plan- tas taxas diárias de produção e de transferência
ta mais acumulou biomassa durante seu ciclo e de biomassa ocorreu aproximadamente a partir
a partir daí decresceu até a colheita (Figura 5). dos 49 DAT até a colheita, fato que propicia sus-
No início da bulbificação, aos 34 DAT, o G chegou cetibilidade às doenças.
a 0,143 g planta¯¹ dia¯¹ e na colheita de 0,086 g Assim, constatam-se três fases distintas
planta¯¹ dia¯¹. No bulbo o G máximo foi de 0,370 quanto ao acúmulo de biomassa na parte aé-
g bulbo¯¹ dia¯¹, aos 76 DAT ou aos 42 dias após o rea da planta, ao longo do ciclo seu cultural. A
início da bulbificação. Observa-se que neste dia primeira fase é caracterizada por ganhos cres-
de maior alocação de biomassa no bulbo, a planta centes e vai do plantio aos 52 DAT. A segunda
produziu somente 0,224 g planta¯¹ dia¯¹, repre- fase vai dos 53 aos 66 DAP e está caracterizado
sentando um saldo negativo de 0,146 g planta¯¹ por ganhos decrescentes de massa seca, segui-
neste dia, massa realocada das folhas. do pela terceira fase onde há transferência de
biomassa seca da parte aé-
rea da planta para seu dre-
no principal, o bulbo. Esta
última fase vai dos 67 DAT
até a colheita.
Experimentos
realizados por Vidigal et
al. (2002) e Pôrto et al.
(2006) produzem dados
que se aproximam a es-
ses no que se refere à di-
nâmica de acúmulo de
biomassa seca na planta
inteira e no bulbo que fo-
ram crescentes até o final
do ciclo. Eles obtiveram
uma distribuição de 36%
e 64% para os primeiros
Figura 5. Taxa de crescimento absoluto acorrido ao longo do ciclo cultural da cebo- autores e de 30% e 70%
la cultivada em plantio direto agroecológico, cv. Crioula, 2004. para os segundos autores,
366
Tabela 2. Acúmulo de nutrientes em relação ao conteúdo total em porcentagem ao longo do ciclo da cultura da cebola,
cv. Crioula, 2004.
Nutrientes (%)
DAP
N P K Ca Mg Mn Zn Cu B
7 1,8 0,9 1,3 1,0 1,7 0,8 1,3 1,1 0,3
14 2,6 1,5 1,9 1,8 2,3 1,4 1,9 1,6 0,6
21 4,1 2,8 2,9 3,4 4,0 2,5 2,9 2,6 1,3
28 6,0 4,9 4,5 6,1 6,3 4,2 4,5 4,1 2,8
35 8,6 8,1 6,7 10,1 9,3 6,9 6,5 6,1 5,5
42 11,1 12,0 9,3 14,7 12,6 10,4 8,9 8,7 10,0
49 13,1 15,4 11,8 17,3 14,6 13,8 11,4 11,5 15,6
56 13,6 16,5 13,5 16,5 14,6 15,8 13,1 13,5 19,3
63 12,5 14,4 13,7 12,6 12,6 15,0 13,6 14,1 18,1
70 10,2 10,5 12,3 8,2 9,3 12,1 12,4 13,0 12,9
77 7,6 6,8 9,8 4,7 6,3 8,5 10,3 10,6 7,6
84 5,3 3,9 7,2 2,5 4,0 5,4 7,7 7,8 4,0
91 3,5 2,3 4,9 1,3 2,3 3,2 5,5 5,4 2,0
367
Tabela 3. Acúmulo de nutrientes pela planta inteira e a alocada no bulbo ao longo do ciclo da cultura da cebola, cv.
Crioula, cultivada em SPDH agroecológico, 2004.
4.2.2. Absorção de
nutrientes
As curvas de acú-
mulo de nutrientes para a
planta de cebola possuem
comportamento similar
às curvas de acúmulo de
massa seca. Segundo Kurtz
et al. (2016), ocorre um
acúmulo menor de MS na
primeira metade do ciclo
(16%) do que a absorção
da maioria dos nutrientes,
exceto para K, Mg e B (Ta-
bela 4). De maneira geral,
verificam-se grandes acú-
mulos e maiores taxas de
acúmulo de nutrientes na
segunda metade do ciclo
da cultura, durante a fase
de bulbificação. As taxas
diárias de acúmulo de to-
dos os nutrientes, exceto
Fe, na parte aérea, aumen-
taram até início da bulbifi-
cação e decresceram após
essa fase. Dessa forma,
observa-se que a planta de
cebola prioriza a alocação
de fotoassimilados e nu-
trientes para o bulbo, as-
sim que inicia a formação
desse órgão (BREWSTER,
2008), que é o dreno maior
Figura 6. Acúmulo de matéria seca (a) e taxa de crescimento absoluto (G) (b) na da planta no período do
planta toda ( ), parte aérea ( ) e bulbos ( ) de cebola da cv. Bola Precoce cultivada
início da bulbificação até a
em sistema de transplante.
colheita.
Conforme resultado do experimento de Avaliando a proporção de acúmulo de
Kurtz et al. (2016), da massa seca total acumu- matéria seca e de nutrientes durante as qua-
lada, 4,6% foi composta por minerais dos dez tro fases do ciclo, com duração de aproxima-
nutrientes avaliados (N, P, K, Ca, Mg, Fe, Mn, damente 30 dias cada, verifica-se um acúmu-
lo muito baixo nos primeiros 30 dias (fase de
Zn, B e Cu). Na parte aérea (9,26 g) o acúmulo
pegamento das mudas), acumulando em média
dos dez nutrientes foi de 5,4% da MS, superior
4% do total de nutrientes e 2% de MS (Figura
proporcionalmente ao acumulado nos bulbos 7). Nessa primeira fase há um maior acúmulo
(15,33 g), que foi de 4,1% da MS. de N, Zn e Cu, equivalente a 6% do total e me-
369
Tabela 4. Acúmulo de nutrientes na planta inteira, no bulbo, por tonelada produzida, antes e após a bulbificação e
período das taxas máximas de acúmulo de nutrientes pelo cultivar de cebola Bola Precoce para uma produtividade de
37,34 t ha¯¹.
Tx. máxima
Acúmulo de nutrientes
de acúmulo
Nutrien- Planta tonelada Antes Após Planta
Bulbo Bulbo
te toda bulbo bulbif.2 Bulbif.3 toda
Macron. kg ha¯¹ kg ha¯¹ % kg t¯¹ % % DAT¹
N 101,4 58,3 57,4 2,72 27,0 73,0 73 119
P* 34,9 23,9 68,5 0,93 17,3 82,7 86 96
K** 86,5 45,7 52,8 2,32 13,2 86,8 80 97
Ca 46,6 19,7 42,3 1,25 20,6 79,4 78 116
Mg 12,1 7,0 57,3 0,33 11,2 88,8 83 112
Micron. g ha¯¹ g ha¯¹ g t¯¹
Fe 761,2 285,9 37,6 20,38 16,8 83,2 99 114
Mn 149,6 62,7 41,9 4,01 17,0 83,0 79 105
Zn 84,1 61,9 73,6 2,25 27,3 72,7 73 94
Cu 33,7 24,1 71,6 0,90 21,2 78,8 86 104
B 220,6 155,9 70,7 5,91 10,8 89,2 95 105
¹ DAT: Dias após o transplante; 2 Período do plantio aos 60 DAT; 3 Período dos 61 até a colheita (119 DAT).
* 80 kg ha¯¹ de P₂O₅; ** 104 kg ha¯¹ de K₂O. Fonte: Kurtz et al. (2016).
terizou-se como a fase de maior crescimento equipamentos que ajudarão a construir o berçá-
e absorção de nutrientes com aproximada- rio para o plantio (Figura 8 e 9). Na maioria dos
mente 50% do total acumulado de nutrientes casos, a distância entre linhas está ajustada para o
e MS. Os nutrientes com maior acúmulo foram intervalo de 33 a 40 cm.
o K, Mg e Mn com 56, 54 e 52% do total, res- Em sistemas orgânicos e agroecológicos
pectivamente. Na última fase (91 a 119 DAT), de produção podem ser utilizadas densidades
quando ocorre o pleno
enchimento de bulbos
também se observou um
importante acúmulo de
MS e nutrientes, totalizan-
do em média, 31 e 40%,
respectivamente. Os nu-
trientes com destaque em
acúmulo nessa fase foram
o B e o Fe com 47 e 44%,
respectivamente.
Em regiões sujeitas
a neblina durante parte do
dia e frequentemente como Figura 8. Área sistematizada no “liso” para atender o palntio da muda, tratos cultu-
a região produtora de me- rais da cultura e adubos verdes contidas no plano de rotação.
nor altitude do Alto Vale do
Itajaí, devido ao aumento de
problemas fitossanitários,
indica-se o uso de no má-
ximo 400 mil plantas por
hectare (EPAGRI, 2013).
Nas regiões com atitudes
maiores (superior a 800 m)
como nas regiões produtora
do planalto catarinense é
possível adotar populações
de até 600 mil plantas por
hectare, principalmente, no
sistema de semeadura dire-
ta em campo definitivo.
No SPDH a movi-
mentação do solo é res-
trito a linha de plantio, o
espaçamento entre linhas
irá variar segundo a distân- Figura 9. Plantio das mudas de cebola sobre palhada de aveia preta com preparo
cia entre os conjuntos dos do solo restrito a linha na propriedade de Valdemar L. da Silva. Alfredo Wagner/SC.
371
populacionais menores que as indicadas. Nesse que proporcionará uma densidade populacional
caso, recomendam-se espaçamentos maiores, de de, aproximadamente, 400 mil plantas por hec-
40 a 50 cm entre linhas e de 10 a 15 cm na linha, tare (Figura 11).
porque nas densidades populacionais menores O desafio é de melhorar o desempenho
proporcionarão maior ventilação entre as plantas, da semeadura direta de cebola em SPDH sobre
menor sombreamento e menor competição por coberturas de palhadas mais densas (10 a 12
nutrientes, água e luz tornando-as mais vigorosas Mg ha¯¹ de massa seca). Outras prioridades de
e mais resistentes às doen-
ças foliares.
Recomenda-se quando
do aumento da densidade
de plantas, que seja obti-
da pelo estabelecimento
de mais linhas de plantio,
porque a competição entre
plantas pelos fatores de pro-
dução (luz, água, nutrientes
etc.) sempre será maior.
6. Sistema de semeadura
direta
A semeadura direta
na área de cultivo pode ser
realizada por máquinas e
Figura 10. Semeadura direta em campo definitivo em SPDH sobre palhada de mi-
implementos que devem
lheto com aproximadamente 8 t/ha de massa seca.
ser adaptadas ao SPDH,
principalmente, no disco
de corte da palhada. Tam-
bém carece de maior preci-
são na profundidade de se-
meadura, fator primordial
para emergência uniforme
das plântulas. Isso também
influencia diretamente no
estande final da lavoura e,
consequentemente, na pro-
dutividade e qualidade da
produção (Figura 10). O es-
paçamento entre linhas uti-
lizado varia de 25 a 35 cm,
sendo em média de 30 cm,
com densidade de semea-
dura de 18 sementes por
metro linear, visando ao
estabelecimento de 10 a 14 Figura 11. Semeadura direta em campo definitivo em SPDH sobre palhada de aveia
plantas por metro linear, o por ocasião da colheita (170 dias após a semeadura).
372
pesquisa no sistema de semeadura direta são o derando a planta toda, ocorreram aos 86 DAT e
manejo de plantas de cobertura associado às má- verificou-se uma taxa de alocação de P para o bul-
quinas de semeadura e manejo de plantas espon- bo elevada no período próximo aos 96 DAT, mo-
tâneas sem o uso de herbicida. mento que ocorreu a taxa máxima de alocação do
elemento (Figura 12b). Cerca de 83% do total de
P foi acumulado no período de bulbificação. Após
o início da bulbificação, ocorre o decréscimo rápi-
7. Nutrindo as plantas com base nas taxas do da taxa de alocação de P para a parte aérea, o
de crescimento e absorção de nutrientes, que também foi observado por Pôrto et al. (2007).
ajustada pelo conteúdo de nutrientes no Segundo Araújo & Machado (2006), ocorre inten-
solo, sinais de planta e condições climáticas so processo de redistribuição de P dos tecidos
vegetativos para órgãos reprodutivos. Para esses
No esforço de compreender parte da re- autores, nas culturas de grãos, a proporção entre
lação planta-ambiente e a promoção de saúde a quantidade de nutrientes nos grãos e a quanti-
de planta, tem-se ajustando a Taxa Diária de Ab- dade de nutrientes na biomassa também é maior
sorção de nutrientes (TDA) pela interpretação para o P do que para os demais macronutrientes,
dos sinais apresentados pela planta, correla- indicando uma redistribuição preferencial de P
cionado com o estoque dinâmico de nutrientes para os órgãos drenos de maior força.
no solo e com as condições climáticas. Assim, a
exigência de nutrientes é variável conforme o
seu estádio de desenvolvimento que pode ser
dividido de forma simplificada em vegetativa Resposta da cebola a adição de fósforo (P)
e bulbificação, sendo que do plantio até o iní-
De maneira geral, a cultura da cebola
cio da bulbificação a planta acumula entre 13 a
apresenta uma resposta alta à adição de fós-
23% e do início da bulbificação até a colheita
entre 87% a 77% do total de nutrientes absor- foro quando os teores do elemento são baixos
vidos, respectivamente para SPDH agroecológi- no solo. Normalmente as doses aplicadas de P
co e convencional (FAYAD & MONDARDO, 2004; são semelhantes às de N e K, mas o conteúdo
KURTZ et al., 2016). de P nas plantas e a extração são menores que
estes nutrientes e semelhantes aos de S, Mg e
Ca (BISSANI et al. 2008). Isso ocorre devido à
alta fixação de P no solo e a formação de com-
7.1. Absorção, manejo dos nutrientes e plexos pouco solúveis com Fe e Al em pH baixo e
recomendações de adubação com cálcio em pH alto, além de sua ligação com
a superfície de argilominerais que diminuem,
7.1.1. Fósforo desse modo, a eficiência da adubação fosfatada.
Dos nutrientes essenciais às plantas, o fósforo
Absorção do Fósforo é aquele que mais frequentemente limita o de-
Kurtz et al. (2016), ao avaliarem o acúmulo senvolvimento, pois encontra-se em concentra-
de P pela cebola para a cv. Bola Precoce, observa- ções muito baixas na solução do solo (com valo-
ram que o P foi o quarto nutriente mais acumu- res normalmente menores do que 0,1 mg L¯¹),
lado pela planta de cebola depois de N, K e Ca, em função de ser adsorvido muito fortemente
com acúmulo de 140,13 mg planta¯¹, totalizando pelos compostos sólidos minerais do solo (ER-
34,9 kg ha¯¹ ou 80,3 kg ha¯¹ de P₂O₅ (Figura 12a). NANI, 2016).
Dentre os macronutrientes, o P foi o que, propor- Por ser um nutriente de pouca mobilida-
cionalmente, teve maior acúmulo no bulbo com de no solo e considerando que o sistema radicu-
69% do total, enquanto a parte aérea contribuiu lar da cebola é do tipo fasciculado, com raízes
com 31%. As taxas máximas de acúmulo, consi- bastante superficiais, raramente ramificadas e
373
Em trabalhos expe-
rimentais conduzidos em
Ituporanga em um solo
Cambissolo Húmico em
sistema convencional, veri-
ficou-se uma alta resposta
da cebola para a adubação
fosfatada (superfosfato tri-
plo) em área com baixo teor
de P (4 mg dm⁻³ ─ extrator
Mehlich-1). Na média de
três safras, as respostas fo-
ram lineares com aumento
de 56% na produtividade
na maior dose avaliada de
400 kg ha¯¹ de P₂O₅ em re-
lação à testemunha, sem
adição de P (Figura 13).
Para concentração
alta de P no solo (20 e
32 mg dm¯³, extrator
Mehlich-1) não houve res-
posta para a adição de P
em experimentos con-
duzidos por duas safras
em Ituporanga num solo
Cambissolo Húmico tam-
bém em manejo conven-
cional (Figura 14). Desse
modo, quando os teores
de P no solo são altos ou
muito altos, as doses de P
indicadas pelas tabelas de
recomendação são relati-
Figura 12. Acúmulo (a) e taxa de absorção diária (b) de fósforo pela cultura da vamente baixas em com-
cebola (cultivar Bola Precoce. Fonte: Kurtz et al. (2016). paração aos solos pobres
em P, mesmo para a obten-
sem pelos radiculares, exige alta quantidade de ção de altos rendimentos, pois elas visam aten-
P para compensar a baixa exploração do solo der à extração pela cultura somada às possíveis
pelas raízes (LEE, 2010). Segundo Costa et al. perdas por fixação em argilominerais e outras
(2009), a cebola apresenta um sistema radicu- reações no solo anteriormente mencionadas.
lar limitado se comparado a outras plantas. As No sistema de plantio direto sob rotação
raízes de cebola podem alcançar a profundida- de culturas tem sido registrado maiores teores
de de 60 cm e lateralmente até 65 cm, mas isso de matéria orgânica, fósforo, potássio, cálcio e
ocorre em solos bem estruturados, com boa ae- magnésio na camada superficial do solo, em re-
ração e onde não existem impedimentos físicos lação às camadas mais profundas (SÁ, 1993; DE
(WEINGÄRTNER, 2016). MARIA et al., 1999; SILVEIRA & STONE, 2001)
374
Tabela 5. Interpretação do teor de fósforo no solo extraído pelo método Mehlich-1, conforme o teor de argila para a
cultura da cebola (Grupo 2) (CQFS-RS/SC, 2016).
Interpretação
Fósforo Absorção de K pela cebola
do teor
kg de P₂O₅ ha¯¹
de P no solo Experimento realizado em Ituporanga com
Muito baixo 280 o cultivar Bola Precoce (Kurtz et al., 2016) o K
foi o segundo nutriente em quantidade acumu-
Baixo 200 lada pela cebola, totalizando 345,9 mg planta¯¹
Médio 160 ou 86,5 kg ha¯¹ (104 kg ha¯¹ de K₂O), sendo su-
perado apenas pelo N (Figura 15a). Resultados
Alto 120
estes semelhantes aos de May et al. (2008), San-
Muito alto ≤80 tos (2007) e Menezes Júnior et al. (2014). No
376
acúmulo de K em função da deposição dos re- Tabela 8, um adicional de 3 kg de K₂O por to-
síduos na superfície, da adubação superficial e nelada de bulbos a serem produzidos. Caso os
das menores perdas e maior eficiência da adu- teores de K no solo forem três vezes maiores
bação neste sistema sem revolvimento. Estes do que o teor crítico (nível superior da inter-
resultados também demonstram a possibilidade pretação de teor médio), não se recomenda
de redução das doses de potássio a serem adi- adicionar potássio.
cionadas no SPDH após a consolidação do sis- O fertilizante potássico (mineral ou orgâ-
tema. nico) utilizado para adubação de manutenção
pode ser aplicado antes da semeadura a lanço
ou no sulco de semeadura/plantio. Não é re-
Recomendação de potássio para cebola comendável a adição de doses superiores a 60
kg ha¯¹ de potássio na linha de semeadura ou
Para a recomendação do potássio na cul- transplante. Para doses médias e altas, aplicar
tura da cebola com base na análise de solo é parte do K (50%) a lanço no transplante/se-
necessária associar a interpretação do teor de meadura e o restante em cobertura juntamen-
K no solo conforme a Tabela 7 à indicação das te com o N aos 60 e 85 dias após o transplante
doses contidas na Tabela 8. ou aos 110 e 135 dias após a semeadura direta
Para a expectativa de rendimento maior em campo definitivo (Figura 18 e 19)
do que 30 t ha¯¹, acrescentar aos valores da
Tabela 7. Interpretação do teor de potássio no solo extraído pelo método Mehlich-1, conforme CTC do solo para a
cultura da cebola (Grupo 2) (CQFS-RS/SC, 2016).
Tabela 8. Recomendação de dose de potássio a ser adicionado para a cultura da cebola (CQFS-RS/SC, 2016).
Figura 18. Estádios fenológicos (dias após o transplante ─ DAT) para a cultura da cebola (cultivares OP – cultivares de
polinização aberta) em sistema de transplante com a indicação do momento adequado para realização da adubação
de plantio e cobertuda com potássio.
Figura 19. Estádios fenológicos (dias após a semeadura ─ DAS) para a cultura da cebola (cultivares OP – cultivares de
polinização aberta) em sistema de semeadura direta em campo definitivo com a indicação do momento adequado para
realização da adubação de plantio e cobertura com potássio.
380
Figura 24. Estádios fenológicos (dias após o transplante ─ DAT) para a cultura da cebola (cultivares OP ─ cultivares
de polinização aberta) em sistema de transplante e a indicação do momento adequado para realização da adubação
com nitrogênio.
384
Figura 25. Estádios fenológicos (dias após a semeadura – DAS) para a cultura da cebola (cultivares OP – cultivares de
polinização aberta) em sistema de semeadura direta em campo definitivo e a indicação do momento adequado para
realização da adubação com nitrogênio.
perior a 50%, mesmo com adoção de um bom pa- sas, orienta-se para Cambissolos a dose de 60
drão tecnológico. A carência de S é mais comum kg ha¯¹ de S quando os teores do nutriente no
em solos mal manejados, em sistema convencio- solo forem inferiores a 15 mg dm¯³ e a adição de
nal, degradados, arenosos e com menor teor de 30 kg ha¯¹ de S quando os teores estiverem na
matéria orgânica, mas também ocorre em solos faixa 15 a 20 mg dm¯³ e não adicionar S quando
bem manejados em SPDH. o teor for superior a 20 mg dm¯³. Para os Nitos-
Segundo o Manual de Recomendação de solos recomenda-se a adição de 30 kg ha¯¹ de S
Calagem e Adubação para o RS e SC (CQFS-RS/ quando os teores estiverem inferiores a 10 mg
SC, 2016), não se orienta a adição de S quando os dm¯³.
teores no solo forem acima de 10 mg dm⁻³ para
a cultura da cebola. No entanto, conforme os re-
sultados obtidos em experimento (KURTZ et al.,
2018), essa recomendação não está adequada 7.1.5. Micronutrientes
para a cultura da cebola para os dois Cambisso- As respostas a adição de micronutrientes,
los avaliados, os quais abrangem a grande maio- comumente, são menores ou inexistentes em so-
ria das áreas cultivadas com cebola em Santa Ca- los bem manejados como no SPDH. Entretanto,
tarina, pois nesses solos houve resposta para a a cultura da cebola tem demonstrados resposta
adição de S mesmo quando os teores foram de para a adição de zinco e manganês mesmo em
16,6 mg dm¯³ no Cambissolo Húmico e de 18,7 solos bem manejados em SPDH e teores médios
mg dm⁻³ no Cambissolo Háplico. Desse modo, é e altos de matéria orgânica. Já para o B, em solos
indicado a adição de S nestes dois solos sempre com teores médios e altos de matéria orgânica
que os teores de S forem inferiores a 20 mg dm¯³. (MO) e bem manejados em SPDH, rotação de
Já para o Nitossolo Bruno avaliado, mesmo com culturas ou com adição de adubos orgânicos a
teores menores (13,6 mg dm⁻³), não houve res- possibilidade de resposta a adição de B é baixa.
posta para a adição de S para a cultura da cebo-
la, indicando que o nível crítico de 10 mg dm⁻³
estaria adequado, conforme recomendação da
CQFS-RS/SC (2016). Isso possivelmente decor- Resposta da cebola a adição de Mn
re da maior disponibilidade do S para a cultura
devido ao maior teor de argila neste solo (54%), Em Santa Catarina, nas áreas onde as plan-
enquanto nos dois Cambissolos o teor de argila tas têm apresentado sintomas de deficiência de
é inferior a 40%. O pH do solo, os teores de ma- Mn, o pH do solo geralmente é superior a 6,0
téria orgânica, a argila e os óxidos se relacionam ou a incorporação do calcário é inadequada, há
com a disponibilidade de S-SO₄²⁻ e as respostas à predomínio de monocultivo e, em geral, os solos
adubação sulfatada são mais prováveis em solos são intensivamente cultivados (EPAGRI, 2013).
com baixos teores de matéria orgânica e argila e A deficiência de Mn também é comum nos solos
também com pH elevados. Cambissolos Húmicos (chamados na região de
“faxinais”). Esses solos, comuns na região do Alto
Vale do Itajaí e no Planalto Catarinense, apresen-
tam coloração escura por causa dos teores altos
Recomendação de enxofre para cebola de matéria orgânica, nesses solos provavelmente
Com base nos trabalhos de pesquisa rea- também há uma quelação dos íons de Mn pela
lizados pela Epagri em associação com a UFPR, fração orgânica do solo, tornando o elemento
recomenda-se a reposição desse elemento com baixa disponibilidade na solução do solo.
quando os teores no solo forem inferiores a 20 Nestes solos, mesmo conduzidos com manejo
mg dm¯³ para os solos Cambissolos e quando adequado em SPDH observa-se comumente defi-
forem menores de 10 mg dm¯³ para Nitossolos ciência deste elemento. Segundo trabalhos reali-
(KURTZ et al., 2018). Com base nessas pesqui- zados por Kurtz & Ernani (2010), em Ituporanga
386
(SC), em Cambissolo Háplico, a aplicação de Mn foi necessário adicionar em média 3,5 kg ha¯¹ de
não alterou a produtividade, o peso médio de Zn. A aplicação de Zn nas folhas não alterou a pro-
bulbos e a perda no armazenamento em nenhu- dutividade de cebola em nenhuma das safras. A
ma das três safras avaliadas, independentemente aplicação de seis pulverizações foliares com sul-
do método de aplicação (ao solo ou via foliar). A fato de zinco, na concentração de 0,5%, propor-
ausência de resposta neste estudo para a aplica- cionou produtividade de bulbos semelhante à
ção de Mn, provavelmente se deve ao valor de pH da testemunha, onde não foi aplicado Zn. Outros
relativamente baixo das áreas experimentais (5,6 autores também observaram que a adição de Zn
a 5,9) e pelo adequado manejo do solo adotado aumenta a produtividade de cebola em diversas
na área com adubação equilibrada, revolvimento situações. Foi o que verificou Peña et al. (1999),
mínimo do solo e rotação de culturas. Entretan- na Venezuela, que obtiveram incremento de 28%
to, Bührer et al. (1996) obtiveram aumentos na pela aplicação de 2,52 kg ha¯¹ de Zn; com Gupta
produtividade de cebola com aplicação de sulfa- et al. (1985), na Índia, onde o incremento foi de
to de manganês tanto ao solo quanto por meio 30% pela adição de 5 kg ha¯¹ de Zn; e com Asif et
de pulverizações foliares, em Ituporanga (SC). al. (1976) em solo arenoso da Nigéria. El-Tohamy
Os melhores resultados ocorreram com pulve- et al. (2009) avaliaram o efeito da aplicação de mi-
rizações foliares nas concentrações de 1 e 0,5% cronutrientes na produtividade de cebola em um
ou com 8 kg ha¯¹ de sulfato de Mn adicionado ao solo arenoso do Egito. Eles pulverizaram as folhas
solo. Resultados similares foram obtidos em ou- de cebola com Zn, na concentração de 0,3 g L¯¹, e
tras áreas da região que mostravam sintomas de verificaram incrementos no rendimento de 60 e
deficiência de Mn (BOING et al., 1996). de 43% nas safras 2006 e 2007, respectivamente.
Em algumas circunstâncias, entretanto, não tem
havido resposta da cultura da cebola à adição de
Zn ao solo (CAMPBELL & GUSTA, 1965).
Recomendação de manganês para cebola As tabelas oficiais de recomendação de adu-
Em áreas deficientes de manganês, orien- bação usadas nos estados do RS e de SC, mencio-
ta-se realizar de 2 a 4 pulverizações foliares nam que, a partir de 0,5 mg kg¯¹ de Zn no solo, é
com sulfato de manganês na concentração de baixa ou nula a possibilidade de resposta à aplica-
0,5 a 1% em intervalos de uma a duas semanas. ção desse nutriente aumentar a produtividade das
A correção do Mn via solo também pode ser culturas (CQFS-RS/SC, 2016). Entretanto, mesmo
adotada com a adição de 5 a 20 kg ha¯¹, prefe- em solo que apresentava teor entre 2,2 e 3,2 mg
rencialmente, na linha de plantio ou semeadura, kg¯¹ de Zn, a aplicação desse nutriente incremen-
contudo, a adubação com Mn via solo, normal- tou o rendimento de bulbos de cebola (KURTZ &
mente, apresenta baixa eficiência em função da ERNANI, 2010). Isso pode ser elucidado pela alta
imobilização do nutriente no solo. exigência da cebola por Zn e, também, pelo seu
pequeno sistema radicular, o que resulta na ex-
ploração de um menor volume de solo em relação
a outras culturas, requerendo, portanto, maior
Resposta da cebola a adição de Zn concentração de Zn no solo. Na safra 2010/2011
foram conduzidos experimentos com Zn em três
Em trabalho de pesquisa realizado por propriedades de produtores de cebola em Santa
Kurtz & Ernani (2010) em Ituporanga (SC), em Catarina nos municípios de Vidal Ramos, Aurora
solo Cambissolo Háplico, observou-se que a adi- e Atalanta. Das três áreas estudadas, todas mane-
ção de Zn ao solo aumentou a produtividade jadas em sistema convencional de manejo do solo,
de bulbos de cebola. Nas três safras avaliadas duas apresentaram resposta significativa para
(2006/07, 2007/08 e 2008/09) houve um acrés- rendimento pela adição de Zn via solo com incre-
cimo médio no rendimento superior a 11%. Para mento de 6 e 18%, nas áreas dos municípios de
obtenção da máxima eficiência técnica estimada, Atalanta e Vidal Ramos, respectivamente.
387
Tabela 11. Adaptação da quantidade de adubação de cobertura com N, baseado na associação entre os sinais de plan-
ta, condições climáticas e estoque de nutriente no solo.
1.0 - Período com temperaturas ótimas (de 15 a 28°C), tempo ensolarado, folhas de cor verde-clara
(amarelecimento e/ou secando as pontas) e eretas em fase vegetativa: ANTECIPAR E AUMENTAR
EM ATÉ 20 A 30% A QUANTIDADE DE NITROGÊNIO RECOMENDADO NA TABELA PARA A ÉPOCA/
PARCELA;
2.0 - Período com dias nublados ou chuvosos frequentes com temperaturas baixas e folhas de cor
verde-clara (amarelecimento e/ou secando as pontas) e eretas em fase vegetativa: MANTER A QUAN-
TIDADE DE NITROGÊNIO RECOMENDADO NA TABELA PARA A ÉPOCA/PARCELA;
3.0 - Período com dias nublados ou chuvosos frequentes com temperaturas baixas e folhas de cor
verde-clara (amarelecimento e/ou secando as pontas) e eretas em fase vegetativa: MANTER A QUAN-
TIDADE DE NITROGÊNIO RECOMENDADO NA TABELA PARA A ÉPOCA/PARCELA;
4.0 - Período com dias nublados ou chuvosos frequentes com temperaturas baixas e plantas com
coloração de verde intenso com arquitetura foliar “embaraçada” (folhas mais velhas “deitadas” e
quebradas): DIMINUIR DE 20 A 30% A QUANTIDADE DE NITROGÊNIO RECOMENDADO NA TABELA
PARA A ÉPOCA/PARCELA.
em função de adubação deficitária, é provável que menos eretas, tortas e quebradas que indicam o
ocorra intensa retranslocação de nutrientes das excesso de N (Figura 26). Estes sinais das plantas
folhas para o bulbo (drenos mais fortes). Por ou- podem ser relevantes orientadores no ajuste da
tro lado, a demasia de adubação vai ocasionar um adubação nitrogenada.
crescimento vegetativo rápido, gerando tecidos A expressividade do verde das folhas tam-
malformados (“moles”) e coloração verde exu- bém tem sido utilizada com sucesso em diversos
berante e brilhoso. Ambas situações, que devem estudos como critério indireto para avaliar o
ser evitadas, geram quadros de facilidades para a nível de nitrogênio na planta em tempo real, de
entrada de organismos prejudiciais e ataque de in- maneira não destrutiva. Isso devido ao fato de di-
setos e, como consequência,
o uso de fungicidas, acari-
cidas e inseticidas. “Lem-
bre-se que pouco adianta
adubar as plantas se não
houver uma terra estrutura-
da (“fofa”), construída pela
biomassa, sistema radicular
e atividade biológica”.
A cultura da cebola
apresenta respostas de vá-
rias maneiras pela adição
de nitrogênio. São respos-
tas comuns relacionadas ao
crescimento, expressivida-
de na cor verde das folhas,
rendimento e outras como,
por exemplo, a arquitetura
foliar apresentando plantas Figura 26. Número de folhas eretas de cebola em função da adição de doses cres-
mais eretas, que é o deseja- centes de nitrogênio ao solo, em duas safras. *: significativo (p ≤0,05). Fonte: Kurtz
do, ou plantas com folhas et al. (2012).
391
Figura 27. Intensidade de cor verde avaliada pelo índice de clorofila em folhas de cebola dos cultivares Bola Precoce e
Crioula em função da adição de doses crescentes de N em quatro épocas na safra 2013/14. Fonte: Adaptado de Kurtz
(2015).
8.2. Cura
O processo de cura
consiste na secagem das
películas externas e do Figura 28. Estalamento da cebola indicando ponto de colheita. Nesta lavoura de
pseudocaule (pescoço), estudos foi realizado o corte das folhas para facilitar colheita, transporte e arma-
tornando o bulbo mais re- zenagem.
sistente a danos e infecções
por microrganismos, incrementando a qualidade recolhidos e transportados até o armazém acon-
comercial da cebola e aumentando seu período dicionados em caixas plásticas, “big bags”, sacos
de conservação. A cura serve para eliminação da que permitam a ventilação ou em caixotes de ma-
umidade externa dos bulbos e para secagem das deira (“bins”) (Figura 29), os quais os bulbos po-
partes verdes, tornando o colo bem fechado, di- dem ser armazenados até a comercialização. No
minuindo a respiração e proporcionando a cor armazém, a cura se completa em poucas semanas,
característica de cada variedade de cebola. Bul- obtendo-se um produto seco, de melhor coloração
bos bem curados podem ser armazenados por e facilmente conservado. Em períodos chuvosos,
longo período de tempo e transportados a longas todo o processo de cura pode ser efetuado em gal-
distâncias, enquanto a cebola colhida prematura- pões, sobre estaleiros com boa ventilação. Após
mente, ou que foi mal curada, é de difícil conser- a cura, os bulbos poderão ser em seguida comer-
vação durante o transporte e o armazenamento. A cializados ou, então, armazenados em condições
cura deve ser iniciada no campo, por um período adequadas para aguardar o momento oportuno
de 3 a 14 dias, dependendo do clima. Por ocasião de venda (EPAGRI, 2013).
da colheita, deixam-se os bulbos em molhes sobre
o chão, arrumados em fileiras com as folhas de
uns cobrindo os outros para protegê-los da inso-
8.3. Armazenamento
lação direta, evitando-se, assim, o desenvolvimen-
to de pigmentação verde e queimaduras. Como o Após o arranquio ou a cura, a cebola pode
objetivo da cura é secar as plantas, é relevante que ser comercializada ou armazenada. Neste caso, o
a lavoura esteja livre de alta infestação de plantas sistema de armazenagem em estaleiros é o mais
espontâneas, pois o sombreamento delas poderá empregado para a cebola. No entanto, nos últimos
dificultar a cura. Chuvas leves durante o período anos tem aumentando rapidamente a armazena-
de cura, praticamente não acometem os bulbos, gens em caixotes de madeira buscando facilidade
porém, se chover muito pode haver prejuízo à e redução de mão de obra (Figura 30). Em galpões
cura e um produto mal curado não se armaze- apropriados, ventilados naturalmente, a cebola é
na bem. Depois de curada, os bulbos devem ser disposta nos estaleiros em pilhas de 30 a 50 cm,
393
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19
CULTIVO DA MANDIOQUINHA-SALSA1
Nuno Rodrigo Madeira
Tatiana da Silva Duarte
Carlos Alberto Koerich
Renato Guardini
nova cultivar com raiz de coloração amarelada e nômica, muito produtiva. Aparentemente, pode
alta produtividade, vigor e saúde. ser a Amarela Comum devido à grande similari-
Há uma variedade mantida nos bancos de dade de características morfológicas. A seguir,
germoplasma da Epagri, coletada no município as variedades cultivadas no Brasil são apresen-
de Agronômica (SC), chamada de Epagri-Agro- tadas na Tabela 3 e nas Figuras 2, 3 e 4.
Tabela 3. Variedades de mandioquinha-salsa cultivadas no Brasil, suas principais características agronômicas e em-
presas que lançaram e promovem a cultivar.
3. Ecofisiologia
Tabela 4. Formação de matéria seca ao longo do ciclo cultural da mandioquinha-salsa, cv. Senador Amaral
experimento da EEITU ter sido realizado em cortadas com o objetivo de aumentar a área de
SPDH, onde se espera que o maior aporte de ma- exposição vascular, onde serão formados os calos
téria orgânica e a maior capacidade de retenção para emissão das novas raízes (CÂMARA, 1990)
de água no solo tenham favorecido o desenvol- e mudas brotadas e com raízes, respectivamente.
vimento vegetativo e induzido a uma menor ne- Segundo Casali & Sediyama (1997), o pre-
cessidade de acúmulo de reservas nas raízes. Se- paro dos propágulos têm diversas variações que
gundo Câmara (1984), a planta é estruturada de determinam diferenças na velocidade de enrai-
modo a ter suas reservas na parte subterrânea, zamento, crescimento e que, por sua vez, influem
menos sujeitas a variações climáticas e ao ata- na produção e ciclo vegetativo.
que de insetos, garantindo energia para sua fase Madeira e Carvalho (2016) apresentam
reprodutiva, a partir do segundo ciclo de desen- sistema de produção de mudas desinfestadas
volvimento. Cabe lembrar que em sua região de com cloro ativo e para as técnicas de pré-enraiza-
origem, como não ocorre estresse climático, veri-
mento em canteiros e pré-brotação em água, ser-
fica-se um único ciclo de desenvolvimento contí-
ragem (Figuras 8 e 9) ou areia. Essas técnicas as-
nuo, sendo raríssima a indução ao florescimento
seguram maior taxa de pegamento, economia em
(HERMANN, 1997; RIVERA VARÓN et al., 2015),
irrigação na fase inicial e proteção às intempé-
havendo inclusive citações de se tratar de planta
que aparentemente não floresce, reproduzindo ries, em especial geadas nas primeiras semanas
somente de forma vegetativa (HODGE, 1949). de desenvolvimento, assegurando maior estande
e produtividade (Figuras 10 e 11). Madeira et al.,
(2017) apresentam uma proposição de sistema
de produção de mudas certificadas, inclusive
4. Propagação e produção de mudas com uma primeira proposta de limites máximos
de insetos e doenças causadoras de danos como
Para formação de lavouras comerciais a
alguns nematoides, broca, mofo-branco, entre
multiplicação da mandioquinha-salsa é feita
outros, visando reduzir sua disseminação.
via vegetativa através dos rebentos, filhotes ou
propágulos produzidos na
parte superior e lateral da
coroa. O ideal é fazer clas-
sificação da muda, reben-
to ou filhote por tamanho
(idade fisiológica dos re-
bentos), no mínimo em três
classes, sempre eliminando
o rebento do centro da tou-
ceira que gerou toda a nova
touceira (Figura 7). O obje-
tivo desse procedimento é
a uniformidade de brotação
e crescimento, diminuindo
o risco de falhas na lavoura,
sendo recomendado plan-
tá-las em áreas separadas
por idade fisiológica. Estas
mudas possuem as caracte-
rísticas do clone que as ori- Figura 7. Separação dos rebentos conforme sua posição na coroa, observando sua
ginou. Na Figura 8 (a) e (b) idade fisiológica. O filhote original, que possui a maior idade, é para descarte. A idade
são apresentadas mudas diminui do 1 ao 4, que são separados para o preparo das mudas e plantio.
405
(a) (b)
Figura 8. Área vascularizada aumentada pelo corte em bisel do propágulo e o início da formação dos calos (a). Muda
pré-brotada no sistema de serragem e pronta para o plantio (b).
(a) (b)
Figura 9. Produção de muda no sistema de pré-brotação na serragem umedecida (a e b).
406
Figura 10. Planta em desenvolvimento inicial e com saúde obtida a partir de mudas com qualidade definida pelas
técnicas desenvolvidas na pesquisa e nas lavouras de estudos.
Figura 11. O estande ideal e a uniformidade das plantas na área mantêm alta a produtividade, constituindo os princi-
pais fatores que influem na qualidade das mudas.
407
Figura 12. Plantio em leira larga com duas linhas de plantio espaçadas entre si por 50 cm e entre leira de 120 cm.
Figura 13. Em agricultura de montanha o plantio de mudas de mandioquinha-salsa sem fazer o corte da palhada e
sem revolvimento do solo na linha dupla de plantio. Angelina/SC, 2018.
Figura 14. Colheita da mandioquinha-salsa cultivada sem mochão em área de SPDH com mais de 10 anos de cultivo
rotacionado de culturas e adubos verdes de inverno e verão.
409
Figura 15. Colheita da mandioquinha-salsa cultivada sem mochão em área de SPDH consolidado onde a estrutura do
solo torna-se favorável para o desenvolvimento das raízes e da colheita.
Figura 16. Lavoura de estudo sendo preparada para o cultivo da mandioquinha-salsa sistematizada em camalhões
com aveia preta como planta de cobertura de inverno.
410
Figura 17. Adubação verde de inverno composto por aveia, ervilhaca e nabo forrageiro. A aveia está na fase de enchi-
mento do grão, o nabo em floração e a ervilhaca iniciando a floração
Figura 18. Área contendo coquetel de plantas espontâneas com predomínio do papuã após o final de ciclo pronta para
o plantio.
411
(a) (b)
Figura 19. Plantas de mandioquinha-salsa cultivadas na mesma lavoura, apresentando diferença no sistema radicular.
Uma com sistema radicular pouco desenvolvido, cultivada em solo com pH 6,5 (a). Na figura (b) planta com sistema ra-
dicular desenvolvido em solo com pH 5,6.
412
Portanto, a plan-
ta possui mecanismo de
acúmulo de nutrientes
e matéria seca ao longo
do ciclo cultural, seguin-
do proporcionalidade na
quantidade deste acúmulo
e, consequentemente, da
sua respectiva taxa mensal.
Este fato indica que andam
juntas a absorção de nu-
trientes e a produção de
fotoassimilados, residindo
aí uma das possibilidades
em promover saúde vegetal.
Observa-se, como exemplo,
aos 300 DAP que o percen-
tual mensal de acúmulo de
Figura 20. Preparo de material para análise de acúmulo de nutrientes e matéria matéria seca foi de 40,6%
seca em mandioquinha-salsa, EEITU. em relação ao total, seguido
por semelhante dinâmica
Ca e Mg foi de 10.097; 1.638; 23.346; 1.914 e 641 para quase todos os nutrientes. Outra observação
mg planta¯¹, respectivamente. Para Fe, Mn, Zn, Cu simples é que alguns nutrientes não apresentam
e B foi de 82.767; 3.762; 11.528; 5.863 e 5.137 µg esta dinâmica aos 270 e 330 DAP. De outra forma,
planta¯¹, respectivamente (Figura 21). para cada taxa de crescimento absoluto (R) ocorre
Importante observar que as TMA acompa- uma TDA proporcional (Tabela 5).
nharam as taxas de cresci-
mento mensais (R) e, conse-
quentemente, as TMAmax
também coincidiram com
as máximas de acúmulo
mensal de matéria seca que
ocorreram no décimo mês
após o plantio da muda com
257,9 g mês¯¹ planta¯¹. Para
o N, P, K e Mg também ocor-
reu no décimo e para Ca no
nono mês com os valores
3.861; 500; 7.484; 641 e
604 mg mês¯¹ planta¯¹, res-
pectivamente. Para Fe, Mn,
Zn, Cu e B as TMAmax fo-
ram no décimo mês, sendo
para o Fe o décimo primeiro
mês, nos valores de 39.477;
Figura 21. Absorção de nutrientes e acúmulo de matéria seca (%), pela mandioqui-
1.387; 5.135; 2930 e 2.087
nha-salsa ao longo do ciclo de produção, com a indicação das épocas de aplicação
µg mês planta¯¹, respectiva- das adubações de cobertura com nitrogênio e potássio, representadas pelas flechas
mente. vermelhas
413
Tabela 5. Acúmulo de nutrientes e produção de matéria seca (%) em relação ao conteúdo total, ao longo do ciclo da
mandioquinha salsa, cv. Senador Amaral.
Tabela 6. Níveis de P (mg/dm³) no solo e recomendação de adubação na linha de plantio com superfosfato triplo
(SFT) por hectare.
Tabela 7. Níveis de potássio no solo e recomendação de K (mg/dm³) e da adubação de cobertura com cloreto de po-
tássio (KCl) em kg/ha.
Tabela 8. Níveis de matéria orgânica (%) no solo e recomendação da adubação de cobertura com nitrogênio, na forma
de nitrato de amônio NH₄NO₃ ou sulfato de amônio (NH₄)₂SO₄ nas épocas recomendadas.
Época Quantidade de N e K
(dias após
plantio) Adubo nitrogenado Cloreto de Potássio
(Tabela 8) (Tabela 7)
80 a 100 30% do recomendado 15% do recomendado
150 a 180 25% do recomendado 20% do recomendado
200 a 230 25% do recomendado 30% do recomendado
250 a 280 20% do recomendado 35% do recomendado
416
6.5. Ajustando a
adubação de cobertura
pelo manejo e sinais de
planta
As adubações re-
comendadas de N e K em
cobertura devem suprir a
planta com esses nutrientes
e promover sua saúde desde
que realizados os devidos
ajustes (Figura 23). É co-
mum observarem-se folhas
baixeiras amareladas em
plantas oriundas de mudas
preparadas no sistema de
pré-brotação ou de pré-en-
raizamento, indicando re- Figura 23. Planta de mandioquinha-salsa apresentando todas as folhas na cor
translocação de nutrientes verde claro, inclusive as baixeiras e uniformidade de tamanho. Isso indica que a
correção da acidez e fertilidade e a adubação de base foram realizadas segundo as
em massa para a região de recomendações técnicas e a adubação de cobertura feita pela TDA, ajustada pelos
crescimento vegetativo e ra- sinais e condições climáticas.
dicular. Isto pode ocorrer no
período compreendido en-
tre o plantio e aproximada-
mente 50 dias após, porque
o sistema radicular é pouco
desenvolvido (Figura 24), li-
mitando sua capacidade de
absorver a quantidade de
nutrientes e água requerida
pela planta. Neste caso, su-
gere-se antecipar a primeira
adubação de cobertura em
aproximadamente 30 dias.
Quando a planta
apresentar folhagem exu-
berante e verde escura e
folíolos grandes, pode ser
atrasada, reduzida ou até
mesmo eliminada, confor-
me a intensidade desses
sinais, a adubação nitroge- Figura 24. Muda produzida no sistema de pré-brotação em serragem, aos 35 dias
após plantio, apresentando sistema radicular pouco desenvolvido.
nada em cobertura, prin-
cipalmente a última que é
recomendada aos 250 a 280 DAP.
Quando a colheita for realizada no nono cobertura com N e K deve ser antecipada para 150
mês de idade a segunda e a terceira adubação de a 170 e 210 a 230 DAP, respectivamente.
417
para a cultura, muitas vezes fora dos limites re- induzido por aumento da concentração de N na
queridos pela planta. Em consequência, ocorrem planta, pode estimular a germinação e o cres-
alterações fisiológicas, geralmente irreversíveis, cimento dos conídios (esporos assexuados) do
originando anomalias ou desordens que podem fungo. Também o aumento da concentração de
comprometer significativamente o desempenho N pode reduzir a atividade de certas enzimas-
da cultura e, consequentemente, levar ao uso de -chave para o metabolismo e síntese de com-
agrotóxicos. postos fenólicos (com ação fungistática) e a de-
É fundamental entender o processo de posição de lignina (que funciona como barreira
propagação e a fase de preparo de mudas como física ao patógeno).
ponto chave para o sucesso no estabelecimento As alterações anatômicas e bioquímicas
do campo e nos resultados da colheita. Apesar das células, juntamente com o aumento de com-
de óbvio, ainda é bastante comum a obtenção de postos orgânicos de baixo peso molecular nos
mudas a partir de plantas com problemas fitos- espaços entre células, que são substratos para
sanitários, baixo vigor, sem o devido tratamento os parasitas, são os principais fatores respon-
e sem pré-brotação ou pré-enraizamento. sáveis para a correlação estreita entre o forne-
As informações sobre o efeito do N, P e K cimento de N e susceptibilidade da planta para
na resistência ou suscetibilidade das plantas a parasitas obrigatórios. Este efeito do aumento
fungos foram adaptadas de Marschner (2012), do N é reforçado pelo aumento da permeabili-
como o caso do N, onde os efeitos sobre fungos dade da membrana celular, também induzida
são diferentes para parasitas obrigatórios e fa- por deficiência de B, Ca e Zn.
cultativos. Os parasitas obrigatórios dependem O aumento da concentração de K na plan-
de assimilados fornecidos por células vivas, ta diminui a incidência de parasitas obrigatórios
enquanto parasitas facultativos são semi sa- e facultativos, no entanto, além do suprimento
prófitos, preferem tecidos em senescência (te- ótimo de K para o crescimento, não existe au-
cidos velhos) ou liberam toxinas que danificam mento da resistência com o aumento do supri-
ou matam as células vegetais do hospedeiro. mento de K ou da sua concentração. A adição de
Assim, os fatores que suportam as atividades K só é eficaz no controle de doenças se aliviar a
metabólicas do hospedeiro e atrasam a senes- deficiência do mesmo. A deficiência de K reduz
cência, aumentam a resistência ou tolerância de a síntese de compostos de elevado peso mole-
plantas a parasitas facultativos. Este efeito geral cular (proteínas, amido e celulose) e conduz a
do N sobre a susceptibilidade às doenças das uma acumulação de compostos orgânicos de
plantas pode ser modificado por fatores adicio- baixo peso molecular, que servem como fontes
nais, tais como a espécie de planta, condições de de nutrientes facilmente disponíveis para os pa-
crescimento da planta e a quantidade associado rasitas.
aos ajustes preconizados anteriormente.
A maior suscetibilidade da planta está
relacionada com o aumento da oferta de N e
9. Beneficiamento e industrialização
explicado pelas necessidades nutricionais do
parasita e pelas alterações na anatomia e fisio- A comercialização de mandioquinha-salsa
logia da planta hospedeira. O N aumenta a taxa é in natura, mas é crescente a demanda da raiz
de crescimento, de modo que durante a fase de como matéria-prima para indústrias de alimen-
crescimento vegetativo, a proporção de tecidos tos processados na forma de sopas, cremes, pré-
jovens aumenta em relação àquela de tecidos -cozidos, alimentos infantis (“papinhas”), fritas
maduros e o tecido jovem é mais susceptível ao (palha, fatiadas na forma de “chips”) e “purês”.
ataque de parasitas. Além disso, um aumento O consumo mais frequente de mandioqui-
na concentração de aminoácidos no apoplasto nha-salsa dá-se na forma cozida pura ou em cal-
(espaço entre células) e na superfície da folha, dos ou sopas, o que a faz ser mais utilizada no
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20
A CULTURA DO MARACUJAZEIRO
1. Introdução
A produção de frutas, assim como de qual- princípios e bases sólidas passíveis de adaptação
quer outro alimento, em sistemas de base susten- para a construção de um novo modelo de produ-
tável é uma necessidade global, devido a exigência ção, sendo essa uma possibilidade de transição
por parte da população em alimentos de alta qua- efetiva para a fruticultura de base ecológica. Isto
lidade, isentos de contaminantes (principalmente é, o resultado da geração e adaptação coletiva do
os intencionais, como os agrotóxicos) e que sejam conhecimento e pelo fato de diminuir custo de
produzidos em sistemas amigáveis ao ambiente e produção, aumentar a produtividade e diminuir
a sociedade. até eliminar o uso de agroquímico, são benefícios
O consumo de frutas é incentivado devi- econômicos, sociais e ambientais.
do ao seu alto potencial nutritivo, basicamente
pelo fornecimento de minerais, vitaminas e an-
tioxidantes associados a baixas calorias que es-
2. O maracujazeiro no Sistema de Plantio
tes alimentos exibem. Além disso, o consumo de
Direto de Hortaliças em Santa Catarina
frutas está associado a hábitos de vida saudáveis,
proporcionando longevidade e qualidade ao ho- O maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis)
mem. Há um incentivo para que haja incremento é uma das cinco frutas mais produzidas e é a base
no consumo de frutas em todas as faixas etárias, da economia de aproximadamente 800 famílias
principalmente pelas crianças. Este hábito saudá- em Santa Catarina. Em 2017, o estado se tornou
vel deve, em poucos anos, gerar aumento na de- o terceiro maior produtor nacional dessa fruta
manda. Com o consumo de alimentos inócuos em (PAM/IBGE, 2019). É uma planta de rápido cres-
expansão, a fruticultura tem como desafio a oferta cimento e pode começar a produzir no mesmo
de frutas produzidas em sistema de base susten- ano em que foi implantado o pomar.
tável, reduzindo ao máximo o uso de insumos ex- O cultivo do maracujazeiro no sistema con-
ternos associado a uma maximização da eficiência vencional maneja o solo limpo de vegetação com
do uso dos recursos naturais, principalmente solo, o uso de herbicidas, várias pulverizações com in-
luminosidade solar, CO₂ e água. seticidas e fungicidas, adubações excessivas com
Nesse contexto, o cultivo do maracujá no N, P e K. Essa condição aumenta o custo de pro-
SPDH vem se expandindo junto aos fruticultores dução e ambiental e também causa instabilidade
familiares. Esse sistema apresenta um conjunto de na produtividade (Figura 1).
424
Figura 1. Pomar de maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis) sob sistema de cultivo convencional. Sombrio/SC.
das mamangavas do
gênero Xylocopa;
5. Produção de mudas
saudáveis e constru-
ção de vazio sanitário
regional de 30 dias
entre uma safra e ou-
tra, para manejo de
viroses.
Os pomares de mara-
cujá devem ser protegidos
pela instalação de quebra-
-ventos visando diminuir
o estresse causado pela
ação do vento. Além disso,
uma cortina bem instala-
da é capaz de aumentar a
eficiência do uso de água,
aumentando o crescimen- Figura 3. Pomar de maracujazeiro-azedo com manutenção de cobertura vegetal
to da planta, a eficiência e espontânea permanente em área total.
426
princípios e perspectivas. Isso por ser cultivo fique limitado apenas na diminuição das perdas
permanente, com características fisiológicas di- de solo, água e nutrientes, mas também na dimi-
ferenciadas em cada estágio de desenvolvimento, nuição gradativa até a eliminação do uso de agro-
desde o plantio até final do ciclo de produção, tóxicos e adubos altamente solúveis, diminuindo,
que em algumas espécies supera 20 anos. assim, o custo ambiental e de produção. O olhar
Mesmo em pomares onde se utiliza cober- abrangente que o SPDH tem, mas ao mesmo tem-
tura vegetal para o controle da erosão, melhoria po focado na produção de saúde de planta e con-
da estrutura do solo, adição de nitrogênio e abri- sequentemente do sistema de produção como
go para inimigos naturais, ainda se utiliza altas um todo, contribui em muito para a realização
cargas de agroquímicos. Há uma necessidade de desses objetivos.
construção de um sistema de produção que não
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