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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

RENATA POLIM

UMBANDA- PONTOS RISCADOS E CANTADOS: MEMÓRIAS, NEGROS E


INDIOS.

SÃO PAULO 2014


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RENATA DOS SANTOS POLIM

UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA


ESCRAVIDÃO.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA


OBTENÇÃO DE DIPLOMA DE LICENCIATURA
EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE NOVE DE
JULHO CAMPUS MEMORIAL DA AMÉRICA
LATINA.SOB A ORTIENTAÇÃO DO PROFESSOR:
LÚCIO DE MENEZES.

SÃO PAULO 2014


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Resumo

Os pontos de Umbanda não nascem de uma simples “inspiração” composta pela literária ou pela
poética, são essenciais no "Ritual da Lei de Umbanda”. Dentro do mundo das religiões e crenças,
são encontrados diversos cânticos sagrados, salmos, mantras e hinos. Na Umbanda, são os pontos.
Os pontos cantados na Umbanda não são apenas para alegrar ou animar os presentes através da
música. Segundo a doutrina das religiões afro Brasileiras, são capazes de resgatar as entidades
espirituais, e mover a natureza. Acredita se que as correntes magnéticas são formadas através dos
atabaques, que geralmente são tocados por homens, os (Ogans)¹.Segundo a crença dos religiosos
dessa matriz, a magia e vibração desse som é capaz de concentrar e preparar o médium para uma
incorporação. Acredita se também, que os pontos cantados e riscados são capazes de resgatar
aquilo que foi vivido pelos escravos durante a escravidão através das letras e recuperar a raiz
histórica da vida de negros trazidos do continente Africano para o Brasil, e não somente o negro,
mas também o índio, e suas raizes. Por trás de muitas metáforas e eufemismos existem narrativas
do que foi a vida de um negro durante a escravidão ². A maioria dos pontos emitem mensagens de
dor e sofrimento, porem resultam que apesar de tudo, agora, a missão dessas “entidades “ é a de
ajudar seja negro , miscigenado ou branco, segundo os praticantes da Umbanda .

As religiões afro-brasileiras se baseiam em sistemas religiosos primevos, por isso possuem um caráter
extremamente absorvente. Todas as etapas da vida estão rodeadas de várias características religiosas, sendo
que estas permanecem constantes na vida dos crentes, que devem permanecer profundamente conscientes de
sua relação com os poderes sobrenaturais. Deles se pode dizer que vive religiosamente, comem
religiosamente e morrem religiosamente. É por esse motivo que é tão fácil serem religiões sincréticas.³

Palavras chaves: Umbanda, negro, religiosidade, afro Brasileiro.

¹ Definição Disponível em: Jornal "A Tarde", de Salvador (http://www.atarde.com.br/mundoafro/?p=4259) Acesso em: Jan/2014

² PEREIRA, Linconly Jesus Alencar (http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/3316)da Religião. Mestrando em Ciência da Religião (ambos pela
PUC/SP) PPGEB - Dissertações defendidas na UFC Acesso em: jan/2014.
³. Verger, Pierre. Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns. São Paulo: Edusp, 2000. Especialista em Ciência da Religião. Mestrando em Ciência da
Religião (ambos pela PUC/SP) PPGEB - Dissertações defendidas na UFC Acesso em: jan/2014

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Introdução

Ao falar em religião o imaginário das pessoas é aguçado, muitas vezes levando ao pré-conceito,
principalmente no que diz respeito às religiões afro brasileiras. Vale lembrar que cada religião tem
a sua história de formação e características que variam de localidades, etnias etc. De todas as
religiões afro-brasileiras, a Umbanda é a que mais se aproxima de doutrinas Espíritas Brasileiras e
do sincretismo católico.

A mistura de fundamentos e preceitos religiosos no Brasil tem origem a quatro vertentes: Católico,
espírita, religião afro negro e a religião indígena (Pajelança).

O Objetivo é rememorar informações sobre um passado colonial do Brasil, através da história da


Umbanda e do imaginário de seus praticantes, para isso a metodologia utilizada é a analise de
pontos riscados e cantados em terreiros, alguns destes pontos foram sincronizados em músicas
brasileiras como veremos em alguns exemplos ao desenvolver o artigo.

Nas doutrina afro-brasileira da religião, são utilizados esses versos, aqui destacados e musicais
denominados de "Pontos Cantados". No âmbito geral, são poemas que caracterizam o mitológico
para rememorar o imaginário dos praticantes com heróis (assim denominado por eles), reis,
representações humanas em geral e fundamentos de sua religião.

Aqui também destacaremos as representações sociais não somente do negro, mas também do índio
e imigrante nordestino, que muito são citados nos pontos da Umbanda.

Em diversas praticas das músicas brasileiras que aqui serão abordadas poderemos encontrar a
hibridação de pontos cantados e riscados da Umbanda através do Samba e MPB, que resgatam
memórias da cultura religiosa afro brasileira, o objetivo ao abordar as músicas do gênero é poder
sincronizar com os pontos , uma possível Influência centro-africana.
Ao desenvolver o projeto, não foi possível localizar muitos materiais que abordassem o assunto, ai
está a importância em destacar o papel fundamental do imaginário presente nos ponto dentro da

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Umbanda, para a formação cultural brasileira, as principais características presentes e as relações
sociais. Portanto o artigo produzido justifica-se exatamente pela necessidade de resgatar uma
pesquisa cientifica no âmbito da produção cultural da questão religioso afro brasileiro. A partir dos
aspectos principais já citados estão presentes também o da música (pontos) para o “controle” das
entidades místicas, a variar por santos católicos e Orixás, espíritos indígenas (caboclos), espíritos
de ciganos, boiadeiros, baianos, escravos (Pretos Velhos e Pretas Velhas) etc.(MOREIRA 2008).

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Por dentro da Umbanda
Antes de iniciarmos as analises dos pontos cantados na Umbanda, levantarei alguns pontos
importantes da doutrina, para que possamos entender a representação das entidades e suas linhas
nos pontos que serão estudados.

http://www.centroespiritaurubatan.com.br/estudos/sete-linhas-de-umbanda.html Acesso em: jan/2014

Exus: OS Exus Sãos guardiões, soldados dos Caboclos e Preto velhos, a ponte entre os homens e
os Orixás, lutador contra o mau, sempre de frente, sem medo, entidades destemidas segundo a
doutrina Umbandista. (Jodelete 2001)

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PRETOS VELHOS

Iniciaremos analisando alguns pontos cantados de Pretos Velhos, na Umbanda.

SAUDAÇAO AOS PRETOS VELHOS - ECOOU UM CANTO FORTE NA


SENZALA
Ecoou um canto forte na senzala (2x)
Negro canta, negro dança
Liberdade fez valer
Não existe sofrimento, não existe mais chibata
Só existe esperança para um novo amanhecer.

Povo negro, povo forte


Trabalhavam pro senhor
E sofriam as maldades praticadas pelo feitor
O sangue, o suor, e a lágrima
Derrubavam só pra vida
Pois sabiam que o sofrimento os preparavam para nova vida.

Ecoou um canto forte na senzala...

Dos tambores de Angola e de Minas


Caminhavam mandou Cambinda
São os velhinhos da Umbanda

Esqueceram de toda a senzala


Do cativeiro a crueldade
Pois voltaram para essa terra para fazer caridade.

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http://www.centroespiritaurubatan.com.br/estudos/sete-linhas-de-umbanda.html Acesso em: jan/2014

[Esqueceu de toda a senzala


Do cativeiro a crueldade
Pois voltaram para essa terra
Pra praticar a caridade]

Pretos velhos, preta velha, vovo ou vovó na Umbanda representam os negros escravos de idade já
avançada, segundo a Umbanda são guias que vem a terra sob a forma de velhos escravos Africanos
Que apesar dos maus tratos, da vida dura, e trabalhos forçados nos cativeiros, conseguiram atingir
idade avançada. Antes mesmo de trabalhar na Umbanda Brasileira, esses pretos velhos
representavam grande importância na cultura religiosa de Angola. São conhecedores de ervas e
“mandingas”. Eram dedicados a cuidar “espiritualmente” e fisicamente de seus irmãos nos
cativeiros. Muitas vezes quando a medicina do homem branco, os senhores, falhavam eram
chamados também a casa grande. Em análise sobre os presentes temas nos cânticos, (Moreira

2008) afirma que é de prática nos Pontos Cantados e riscados de Pretos Velhos, encontradas

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temáticas relativas à vida destes escravos. Com padrões que possam expressar as crenças místicas
trazidas pelos africanos para a cultura Brasileirae claro , as representações sociais .

“Antigamente preto apanhava, branco olhava e ria


Hoje preto velho vem, branco senta no banco e chora”

Preto velho, portanto representam pessoas que vivenciaram o cativeiro até uma etapa mais
avançada de suas vidas, no Brasil do século XIX, e também os negros escravos de idade avançada
de Angola.

Os Pretos Velhos, são Os espíritos da humildade, sabedoria, experiência e paciência. Segundo os


praticantes da Umbanda os pontos de preto velhos , assim como os pontos de orixás servem para
iniciar a presença das entidades, o dá força durante os trabalhos espirituais, que atraves da crenças
desses praticantes é uma força capaz de envolver todos os presentes, com uma classe de
sacerdotes denominados Ogans (ALMEIDA & SOUZA 2012). O ponto que irei citar a seguir
presenciei sua entoação no templo de MÃE JUREMA, um terreiro localizado em São Paulo, qual
me aceitou e deu espaço para que eu possa acompanhar esses pontos.

Ponto de preto velho:

Saudação dos Pretos Velhos quando iniciada uma gira :

Bate tambor
lá na Angola, bate tambor
Bate tambor

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lá na Angola, bate tambor...
Bate tambor, Pai Joaquim...
Bate tambor, Maria Conga...
Bate tambor, Pai Mané...

Eu andava perambulando,
sem ter nada p'ra comer
Fui pedir as Santas Almas
Para vir me socorrer
Foi as Almas que me ajudou
Foi as almas que me ajudou
Meu Divino Espírito Santo
Glória Deus, Nosso Senhor
Nessa casa
tem quatro cantos
Cada canto tem um santo
Pai e filho, Espírito Santo
Nessa casa tem 4 cantos...

Quem vem, que vem lá de tão longe?


São os pretos velhos que vem trabalhar
Quem vem, que vem lá de tão longe?
São os pretos velhos que vem trabalhar
Ô da-me forças pelo amor de Deus, meu pai
Ô da-me forças pros trabalhos teus

Zum zum zum


Olha só Jesus quem é
Eu rezo para santas almas
Inimigo cai
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Eu fico de pé

O preto por ser preto


Não merece ingratidão
O preto fica branco
Na outra encarnação
No tempo da escravidão
Como o senhor me batia
Eu chamava por Nossa Senhora, Meu Deus! Como as pancadas doíam

Tira o cipó do caminho,


oi criança
Deixa a vovó atravessar
Tira o cipó do caminho,
oi criança
Deixa a vovó atravessar

A bênção Vovô
Quando precisar lhe chamo
A bênção Vovô
Quando precisar lhe chamo
Zambi lhe trouxe, Zambi vai lhe levar
Agradeço a toalha de renda de chita de pai Oxalá

Vovô já vai, já vai pra Aruanda...


Abença meu pai, proteção pra nossa banda.

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Nesta narrativa encontramos a suplica de um escravo, que diante do sofrimento e da dor foi trazido
de "Angola" para o trabalho escravo, rememorando o sofrimento dos navios negreiro, a
precariedade, dor e o sofrimento.

[Quem vem, que vem lá de tão longe?


São os pretos velhos que vem trabalhar
Quem vem, que vem lá de tão longe?
São os pretos velhos que vem trabalhar
Ô da-me forças pelo amor de Deus, meu pai
Ô da-me forças pros trabalhos teus ]

Na mesma narrativa o jogo de palavras e suas metáforas que representam em alguns trechos
diretamento o que diz respeito a dor das chibatas , torturas e também chama atenção ao tentar
expressar que após a morte todos são iguais:

[O preto por ser preto


Não merece ingratidão
O preto fica branco
Na outra encarnação
No tempo da escravidão
Como o senhor me batia
Eu chamava por Nossa Senhora, Meu Deus!
Como as pancadas doíam.]

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VOVÓ MARIA CONGA
Todo dia era dia de choro e de muita dor.
Mesmo assim uma escrava chegava de bom humor.
Quem chorava começava a sorrir,
quem caia ficava de pé.
Ela era a esperança, o amor e a fé.
Na partida de um mundo pro outro seu povo sentiu,
e a aquela tão sua alegria não mais existiu.
Ela disse que iria voltar , precisando pode me chamar,
pra Aruanda atabaque pode tocar (repica e começa a tocar em samba cabula)
Conga, vó Maria Conga
estou chamando por você
Conga, vó Maria Conga
tive saudade de você
preta-velha feiticeira rainha do caterêrê
preta-velha mirongueira rainha do caterêrê.

Aqui as mulheres tem um papel de grande importância como curandeiras no período colonial , e
nos traz a memória de escravas já senhoras de idade, quais eram solicitadas para curar com suas
mirongas¹ seu patrões e família .

¹ "Mironga" vem do quimbundo milonga, plural de mulonga, mistério, segredo

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PONTOS DE UMBANDA HIBRIDADOS EM MÚSICAS BRASILEIRAS

Os pontos de “Pretos velhos” também são encontrados em músicas brasileiras .Na musica caipira
“Preto Velho” de Tião Carreiro e Pardinho¹ ,remete a um ponto cantado.Através de pesquisa nota
se que é uma musica bastante conhecida no mundo da cultura sertaneja : Tião Carreiro e Pardinho:
Preto Velho!

Foi composta por Jesus Belmiro, um dos mais respeitados compositores do universo sertanejo.

A música conta a história de um escravo que ao ficar velho é dispensado pelo seu patrão:

Preto Velho
Jesus Belmiro, Lourival dos Santos e Tião Carreiro

Perguntei ao preto velho


Porque chora meu herói?
Preto velho respondeu
É meu coração que dói
Eu já fui bom candeeiro, fui carreiro e fui peão
Já derrubei muito mato, e já lavrei muito chão
Com carinho carreguei
Os filhos do meu patrão
Em troca do que eu fiz, só recebi ingratidão

Perguntei ao preto velho


Porque chora meu herói?
Preto velho respondeu
É meu coração que dói

¹ Produzida em 1982, “Preto velho”, com Tião Carreiro e Lourival dos Santos, gravada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho, no LP “Navalha na
carne”, da gravadora Continental.
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Sempre chamei de senhor
Quem me tratou a chicote
Livrei o patrão de cobra
Na hora de dar o bote
Eu sempre fui a madeira
E o patrão foi o serrote
Sofri mais do que boi velho
Com a canga no cangote

Perguntei ao preto velho


Porque chora meu herói?
Preto velho respondeu
É meu coração que dói
Da terra tirei o ouro
Meu patrão fez seu anel
Mas agora estou velho
E o meu patrão mais cruel
Me está me mandando embora
Vou viver de déu em déu
O que me resta é esperar
A recompensa do céu ¹

¹ Produzida em 1982, “Preto velho”, com Tião Carreiro e Lourival dos Santos, gravada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho, no LP “Navalha na
carne”, da gravadora Continental.

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Em meio a todas as expressões já referentes ao escravo e patrão do período colonial, na
representação do preto velho, esse ponto entoado em musica Sertajena, também resgata as
denominações nordestinas, como seguem alguns exemplos:

candeeiro: Pessoa que anda à frente do carro de bois, guiando-o.

carreiro: É aquele que conduz o carro de boi; guieiro. Aparece na música, de Rolando Boldrin.
Também significa: “No período colonial e após a independência do Brasil, eram os trabalhadores
“livres”, que, junto aos feitores, antigos escravos alforriados, desempenhavam funções remuneradas de
trabalho árduo e pesado, como nas lavouras, principalmente no desmatamento afim de abrir espaço para
plantio de café. “[VIOTTI, Emília. Da Senzala à Colônia. São Paulo: UNESP. PP.:73].

peão: Responsável por manejar o gado. canga: também conhecida como Parelha, é a peça de
madeira que prende os bois ao carro. déu: andar à procura de alguma coisa, de casa em casa, de
porta em porta.

No dia 13 de Maio também é comemorado o dia do Preto Velho, da Umbanda. E por tratar-se do
133º dia do ano é considerado pelas ordens místicas como sendo uma PROPORÇÃO AUREA do
ano! ¹

¹ Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira Disponivel em : http://www.dicionariompb.com.br/ Acesso : Fev/2014

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SAUDAÇAO AOS PRETOS VELHOS - ECOOU UM CANTO FORTE NA SENZALA
Ecoou um canto forte na senzala (2x)
Negro canta, negro dança
Liberdade fez valer
Não existe sofrimento, não existe mais chibata
Só existe esperança para um novo amanhecer.

Povo negro, povo forte


Trabalhavam pro senhor
E sofriam as maldades praticadas pelo feitor
O sangue, o suor, e a lágrima
Derrubavam só pra vida
Pois sabiam que o sofrimento os preparavam para nova vida.

Ecoou um canto forte na senzala...

Dos tambores de Angola e de Minas


Caminhavam mandou Cambinda
São os velhinhos da Umbanda
Que encaminham nossas vidas
Esqueceram de toda a senzala
Do cativeiro a crueldade
Pois voltaram para essa terra
Pra praticar a caridade

Ecoou um canto forte na senzala...

Nos temas da produção dessas poesias e versos ritualísticos é unido a questão musical e à dança,
para uma constante atualização nas narrativas do imaginário de praticantes (Elisabete Nascimento
2008)

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Caboclos na Umbanda

Espíritos indígenas

A palavra cabocla vem do tupi kareuóka, que significa da cor de cobre; acobreado.

Os caboclos na umbanda assumem a forma de "índios", prestando uma homenagem a esse povo
que foi massacrado pelos colonizadores. São caçadores EM SUA MAIORIA e tem profundo
conhecimento das ervas e seus princípios ativos, e muitas vezes, suas receitas produzem curas
inesperadas( segundo preceitos da Umbanda).¹

¹ Revista Orixás, Candomblé e Umbanda – Ano I – Nº 02[http://teaoumbanda.spaceblog.com.br/r18424/religiao/] acesso : 11 Mar


2014

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A História da Umbanda Segundo ZÉLIO DE MORAES acredita se que foi a partir da
“incorporação” da entidade de um caboclo em um centro de mesa espírita, qual segundo os
praticantes da religião se apresentou como Caboclo das sete encruzilhadas.

PONTO CANTADO DO CABOCLO SETE ENCRUZILHADAS

UM ÍNDIO CABOCLO GUERREIRO


UM JEZUÍTA QUE ZAMBI ENVIOU
COM SUA FORÇA E SABEDORIA
ABRAÇOU A UMBANDA COM O SEU AMOR

NO DIA 15 DE NOVEMBRO
ZÉLIO DE MORAES TEVE A INCORPORAÇÃO
FOI EM 1908 NO BAIRRO DE NEVES
UMA REVOLUÇÃO

HOUVE MUITA DISCÓRDIA


NO CENTRO DE MESA COM A REVELAÇÃO
QUANDO ELE DISSE, EU VIM CUMPRIR A MISSÃO
VOU FINCAR A BANDEIRA DA NOSSA NAÇÃO

VITÓRIA MEU PAI, VITÓRIA


DE UM ÍNDIO GUERREIRO UM DESBRAVADOR
CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
QUE PLANTOU A SEMENTE QUE SE ALASTROU

¹ Acredita se que foi o fundador da doutrina Umbandista.

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UMBANDA É AMOR, FRATERNIDADE
UMBANDA É BONDADE
É DETERMINAÇÃO
É LUTAR EM PROL DA CARIDADE PARA OS NOSSOS GUIAS
DA-NOS EVOLUÇÃO

SÃO GLÓRIAS MEU PAI, SÃO GLÓRIAS


SÃO GLÓRIAS PARA HOMENAGEAR
CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
NESTE SOLO SAGRADO DE PAI OXALÁ

“ VITÓRIA MEU PAI, VITÓRIA


DE UM ÍNDIO GUERREIRO UM DESBRAVADOR
CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
QUE PLANTOU A SEMENTE QUE SE ALASTROU”

Neste ponto podemos analisar que acredita se que foi a partir daí que nasceu a Umbanda e se
espalhou pelo Brasil como religião Brasileira de matriz Afro.

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Uma breve descrição da História de um dos caboclos da umbanda: ” Caboclo das Sete
Encruzilhadas”, Segundo : Henrique Landi

“No tempo do Brasil Colônia, mais precisamente no Estado do Rio de Janeiro, em uma localidade
às margens do Rio Paraíba do Sul, chamada hoje de Barra do Piraí.Precisamente neste local,
aonde o rio atingia uma grande largura e o seu leito tomava um aspecto sinuoso, existia uma
fazenda de diversas culturas, entre as quais e em maior escala a do café e da cana-de-açúcar.”

“Tal propriedade era administrada por uma família portuguesa,que ao contrário de outras
existentes nas proximidades, não exigia o braço escravo. Os negros que lá trabalhavam recebiam
além da casa e alimentação uma remuneração em moeda, por isso era a propriedade mais
próspera do local, graças à forma de administração adotada por seus proprietários.”

“Próximo dali, vivia uma tribo de índios da Nação Tupi-Guarani com os quais os fazendeiros
mantinham um excelente relacionamento.”

“O Chefe da tribo era moço e possuía uma razoável cultura pois fora alfabetizado na Capital,
apaixonou-se por uma das filhas do fazendeiro, que correspondeu ao seu afeto vindo a casar-se
com ele, contrariando os costumes de ambas as comunidades.”

“Após a união ela engravidou, tendo que viajar à Capital do Rio de Janeiro para tratamento
médico, demorou-se algum tempo e ao regressar recebeu a horrível noticia de que um grupo de
índios estranhos na localidade, de surpresa, tentaram invadir a fazenda para saqueá-la, os
fazendeiros pediram socorro e os guerreiros Tupi-Gurany vieram, mas não puderam impedir que
os pais da moça e seus irmãos fossem mortos.”

“Na batalha, o chefe Tupi-Guarany, seu marido, ficou gravemente ferido, vindo também a falecer
em conseqüência.”
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“Ao todo, sete pessoas foram assassinadas pela tribo invasora. E todos foram sepultados em uma
ilha situada no Rio Paraíba do Sul, dentro da fazenda. E a moça grávida,única remanescente da
família de fazendeiros, ia todas as tardes rezar na ilha, junto às sete cruzes que demarcavam os
locais onde seus pais, irmãos e esposo foram sepultados.”

“Porém, em uma dessas tardes em que rezava junto ao túmulo do esposo, sentiu-se em trabalho de
parto e ali mesmo deu à luz a um menino, seu filho com o chefe Tupi-Guarany,cujo corpo estava
naquele local sepultado.”

“O menino cresceu cercado do imenso carinho de sua mãe e recebeu ensinamento proveniente de
duas culturas: a cristã adotada por sua mãe e a outra orientada pelo Pagé da tribo de seu pai.
Estudou na Capital do Estado e posteriormente na Côrte, recebendo instrução superior de Direito.

“Como advogado teve intensa atividade profissional em defesa de escravos nos Tribunais do Rio
de Janeiro, que eram acusados de crimes pelos senhores de Engenho. Na qualidade de chefe de
sua comunidade indígena,disfarçadamente, invadia as fazendas de regime escravo, libertando os
cativos e colocando-os em local seguro.”

Henrique Landi (neto) do G.E.E.H.L.Jr da T.E.F.F ¹

¹ Nasceu na Cidade de Campinas, Estado de São Paulo, em 01 de novembro de 1905, filho de HENRIQUE LANDI e MARIA AUGUSTA LANDI,
formou-se na Escola Superior de Mecânica e Eletricidade (São Paulo), em Engenheiro Mecânico-Eletricista. A família transferiu-se, logo após ter
colado grau, para a Cidade do Rio de Janeiro e HENRIQUE LANDI JÚNIOR, foi trabalhar na Fundição Luporini, onde ficou por cerca de um
ano, e logo em seguida ingressou na Firma Manufatura Nacional de Procelanas, logo adquirida por Klabin Irmãos & Cia (Fabricação de
Azulejos), onde trabalhou até o seu desencarne.Iniciou no Espiritismo no Centro Espírita Caminheiros da Verdade, localizado à Rua Atalaia, hoje
Comdor. João Carneiro de Almeida (seu antigo presidente), em Todos os Santos, quase ao tempo de sua fundação e com o rito kardecista, só
posteriormente esta Instituição adotou a Umbanda. Em seguida transferiu-se para a Tenda Fé pela Razão, localizada à época à Rua Adolpho
Bergamini, no Engenho de Dentro, que tinha como mentor espiritual o Caboclo das Sete Encruzilhadas e onde se praticava a Umbanda, rito com o
qual tinha afinidade. Com o afastamento do presidente vitalício da casa para tratamento de saúde, assumiu durante alguns anos a presidência. Com
o retorno de seu antigo presidente, deixou o cargo e com um grupo de trabalhadores que o acompanhou fundou a TENDA ESPÍRITA
FRATERNIDADE DA LUZ, tendo como mentor espiritual o Caboclo das Sete Encruzilhadas. T.E.F.L - C.N.P.J - 10.753.106/0001-10
Copyright © 1948 - 2014 <="" a="">. Site Oficial da T.E.F.L - Casa do Caboclo das Sete Encruzilhadas - Todos os Direitos Reservados. Acesso em
: mar/2014

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(...) se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa
deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem
e, assim,cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos
humildes,simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos encarnados e
desencarnados. E se querem saber meu nome que seja Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque
não haverá caminhos fechados para mim¹

¹ GUIMARÃES, Lucília e GARCIA, Éder Longas (Revisado por Mestre THASHAMARA). Um pouco da
História de Zélio de Moraes. Disponível em <http:// www.nativa.etc.br>. Acesso Mar/2014

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PONTOS DE UMBANDA HIBRIDADOS EM MÚSICAS BRASILEIRAS 2

Assim como os pontos de preto velho, os de Caboclos também são representados em músicas
Brasileiras na MPB existem diversos . Acredita se que na MPB e o SAMBA São os gêneros que
mais abordam pontos riscados de Umbanda Hibridados em suas entonações (SANDRONI 2001)

Linha De Caboclo

Maria Bethânia

Já chegou a hora
Quem lá no mato mora
É que vai agora
Se apresentar
No chão do terreiro
A flecha do seu Flecheiro
Foi que primeiro
Zuniu no ar

Vi Seu Aimoré
Seu Coral, vi Seu Guiné,
Ví Seu Jaguaré,
Seu Araranguá,
Tupaíba eu vi,
Seu Tupã, vi Seu Tupi,
Seu Tupiraci,
Seu Tupinambá.

Vi Seu Pedra-Preta se anunciar,


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Seu Rompe-Mato,
Seu Sete-Flechas,
Vi Seu Ventania me assoviar
Seu Vence-Demandas eu vi dançar
Benzeu meu patuá.

Vi Seu Pena-Branca rodopiar,


Seu Mata-Virgem,
Seu Sete-Estrelas,
Vi Seu Vira-Mundo me abençoar
Vi toda a falange do Jurema
Dentro do meu gongá.

Seu Ubirajara
Trouxe Seu Jupiara
E Seu Jupiara
Pra confirmar
Linha de Caboclo,
Diz Seu Arranca-Toco,
Um é irmão do outro
Quem vem lá.

Com berloque e joia


Vi Seu Arariboia
Com Seu Jiboia
Beirando o mar,
Com cocar, borduna,
Chegou Seu Grajaúna,
Que Baraúna
Mandou chamar.
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Vi Seu Pedra-Branca se aproximar,
Seu Folha-Verde,
Seu Serra-Negra,
Seu Sete-Pedreiras eu vi rolar
Seu Cachoeirinha ouvi cantar
Seu Gira-Sol girar.

Vi Seu Boiadeiro me cavalgar,


Seu Treme-Terra,
Seu Tira-Teima,
Seu Ogum-das-Matas me alumiar
Vi toda a nação se manifestar
Dentro do meu gongá.

No ponto citado, é trabalhado processos utilizados dentro de um terreiro, e acredita se que a


memória de índios e caboclos . E seus feitos místicos, como curandeiros e guerreiros .

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COSIDERAÇÕES FINAIS:

Existem diversos Pontos para diversos modelos sociais desde marinheiros ,Boiadeiros,
"malandros" etc. O que nos leva a crer que os Pontos Cantados e riscados da Umbanda tendem a
memorar inúmeros modelos sociais, porem não existem muitos arquivos voltados ao estudo
cientifico na exatidão da analise de pontos usados pelos praticantes. Em consideração, assim
como a história das classes excluídas , a cultura é um caminho para conhecer essas diversidades, e
as religiões afros Brasileiras, são raízes de nossa história, resgatam nosso passado e origem
miscigenada, que deve ser estudada mais afundo, para entender a própria história e seus recortes.

Fonte :

Os pontos que foram analisados nesta pesquisa são encontrados em : [


http://lituca.files.wordpress.com/2010/12/umbanda_-_livro_de_pontos.pdf] Durante Jan a Mai 2014

BIBLIOGRAFIA E REFERENCIAS :

ALMEIDA, André & SOUZA Ana. Ogans: Músicos de Religiões Afro-Brasileiras. Identidades e
Representações de Poder. In Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia (EMAC/UFG) & IV
Encontro de Musicologia Histórica (UFRJ). 2012. Disponível em PDF:
http://www.emac.ufg.br/uploads/269/original_anais_do_2_simposio_musicologia_4_encontro.pd
f Acesso em jan/fev/mar/2014

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