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15/09/2022 21:02 ConJur - Vogado e Marques: Nova LIA torna taxativo rol do artigo 11

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OPINIÃO

Nova Lei de Improbidade Administrativa


torna taxativo o rol do artigo 11
29 de abril de 2022, 11h07 Imprimir Enviar

Por Ana Vogado e Anderson Marques

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Dentre as louváveis alterações na redação da Lei de Improbidade


Administrativa (Lei nº 8.429/92), inseridas pela Lei n.º 14.230/21, deve ser
destacada a inclusão do artigo 1º, §4º, que expressamente dispôs serem
aplicáveis ao sistema da Improbidade Administrativa "os princípios
LEIA TAMBÉM
constitucionais do direito administrativo sancionador" [1]. OPINIÃO
Menicucci e Freitas: Nova LIA e a
Com isso, o legislador expressamente
jurisprudência do TRF-1
reconheceu que o caráter da Lei de
Improbidade Administrativa (LIA) é OPINIÃO
punitivo e repressivo, mostrando-se Koehler e Flumignan: Afetação por
como verdadeiro desdobramento do repercussão geral
poder punitivo estatal, motivo pelo
qual deve ser assegurada uma maior OPINIÃO

segurança na aplicação da Lei de Rizzardo: Revogação de condenações


Improbidade àqueles agentes em ações de improbidade
acusados de cometer um ato ímprobo. OPINIÃO
Guilherme Barcelos: Nova LIA e
Essa "simples" disposição, no sentido de pautar o sistema da improbidade
"doutrina Teori"
administrativa como punitivo e repressivo, levou à reforma de diversos artigos
da Lei nº 8.429/92, dentre eles o artigo 11, que dispõe sobre os atos de
improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Facebook Twitter
Pública.
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Ao reformar o artigo 11, o legislador inovou em dois pontos. Agora, para a
condenação com fulcro no referido dispositivo legal, além de ser necessária a
comprovação de dolo específico de praticar a conduta ímproba, foi também
adotada a tipificação que complementa e restringe o caput, de forma que
apenas as condutas descritas nos incisos do artigo 11 possam ser apenadas
("caracterizada por uma das seguintes condutas")[2].

https://www.conjur.com.br/2022-abr-29/ana-vogado-lia-torna-taxativo-rol-artigo-11#:~:text=%5B2%5D Artigo 11.,Direito administrativo sancionador. 1/4


15/09/2022 21:02 ConJur - Vogado e Marques: Nova LIA torna taxativo rol do artigo 11

Essa mudança buscou de forma expressa e literal limitar a aplicação do artigo


11. Agora, apenas as condutas que violem os princípios da Administração
Pública e que estejam taxativamente dispostas nos incisos do dispositivo
reformado podem ser punidas com o rigor da Lei nº 8.429/92.

Mas porque a caracterização do sistema de improbidade administrativa como


punitivo e repressivo levou à limitação da aplicação das disposições da Lei de
Improbidade Administrativa?

Primeiramente, conforme as lições de Fábio Medina Osório, o Direito


Administrativo Sancionador nasce da convergência entre o Direito Penal e o
Direito Administrativo. Em razão disso, o Direito Administrativo Sancionador
— âmbito no qual se insere o sistema da Improbidade Administrativa —
herdou os princípios constitucionais tanto do Direito Penal quanto do Direito
Administrativo [3].

Nesse sentido, dentre os princípios constitucionais do Direito Administrativo


Sancionador, que agora são expressamente aplicáveis ao sistema da
Improbidade Administrativa, nota-se uma grande primazia do princípio da
tipicidade sob a ótica da legalidade, positivado no artigo 5º, inciso XXXIX, da
Constituição, segundo o qual "não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal".

Com efeito, no Direito Penal, o crime, para assim ser caracterizado, deve estar
previa e expressamente disposto na Lei. Em mesma linha, no âmbito do Direito
Administrativo Sancionador, para que exista um ilícito administrativo passível
de penalidade, há também a expressa exigência de que aquela conduta tida por
irregular esteja descrita em Lei e seja anterior à irregularidade.

Ou seja, a regra geral tanto em âmbito criminal quanto em âmbito


administrativo é a de que, para ser passível de punição, o ilícito deve
estar descrito em Lei. Esse ato de descrever com precisão uma conduta
tida como crime/infração é denominado como "tipificação".

Tendo isso em mente, devemos observar que as alterações na redação do artigo


11 da Lei de Improbidade Administrativa privilegiaram largamente a aplicação
do princípio da tipicidade sob a ótica da legalidade para limitar a
caracterização do ato ímprobo.

Em verdade, a aplicação restrita é indispensável ao artigo 11. Isso porque,


enquanto o artigo 9º pune o enriquecimento ilícito e o artigo 10 pune o
prejuízo ao erário público, o artigo 11, por sua vez, almeja a proteção aos
princípios e deveres basilares da Administração Pública, quais sejam: a
honestidade, a imparcialidade, a legalidade e a lealdade.

Assim, por se tratarem de princípios amplos, com larga aplicação em diversas


esferas públicas, era comum que Ações de Improbidade Administrativa
buscassem a punição de agentes públicos com fundamento unicamente na
violação de algum dos princípios encartados no caput do artigo, de maneira
completamente genérica.

Em razão disso, no vigor da antiga redação, meras irregularidades, passíveis de


correção administrativa, eram tidas como condutas ímprobas e punidas com o
rigor das sanções da Lei de Improbidade Administrativa, extrapolando o objeto
do diploma legal e levando ao punitivismo estatal desenfreado.

Com efeito, tal interpretação trouxe o resultado de tornar justificável a


incidência da LIA em qualquer situação em que houvesse uma violação aos

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princípios dispostos no caput do artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

Cumpre destacar que embora tais irregularidades sejam passiveis de apuração e


penalidades, sua penalização não deve se dar sob o âmbito do sistema da
Improbidade Administrativa, que possui sanções por vezes mais nefastas que
aquelas dispostas no Direito Penal, o que levaria ao desvirtuamento do objeto
da Lei de Improbidade Administrativa.

Assim, a nova redação da LIA, privilegiando o princípio da tipicidade, buscou


trazer uma maior precisão ao artigo 11 justamente para afastar completamente
qualquer tipo de interpretação extensiva dos institutos dispostos na Lei de
Improbidade Administrativa.

Ao reformar o artigo 11, dispondo que apenas as condutas descritas nos incisos
do artigo 11 possam ser apenadas ("caracterizada por uma das seguintes
condutas") é notável que o legislador buscou equilibrar as disposições da LIA
com a ótica garantista da Constituição Federal, limitando o arbítrio repressivo
do Estado, que somente pode incidir sobre aquelas condutas precisamente
descritas no texto legal.

Portanto, não basta apenas que a conduta viole os princípios da


Administração Pública dispostos no artigo 37 da Constituição Federal, mas
também é necessário que a conduta se amolde em alguma das hipóteses típicas
dispostas nos incisos do artigo 11 da Lei nº 8.429/92. Caso contrário, a
conduta será atípica e não punível em sede de Improbidade Administrativa.

Portanto, ao privilegiar o princípio da legalidade sob a ótica da taxatividade,


nenhuma conduta poderá ser punível pelo rigor do jus puniendi estatal se não
estiver descrita previamente na Lei.

Assim, ao limitar o arbítrio estatal punitivo do artigo 11 da LIA, fica evidente


que a nova norma buscou se adequar ao regime garantista da Constituição
Federal, auxiliando a aplicação justa da letra da Lei e evitando a imposição das
pesadas sanções da Lei de Improbidade Administrativa sem critérios rígidos,
evitando-se a intromissão abusiva e autoritária do Estado na esfera de
dignidade da pessoa dos agentes públicos.

[1] Lei nº 8.429/92 — Artigo 1º, §4º. Aplicam-se ao sistema da improbidade


disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais do Direito Administrativo
Sancionador.

[2] Artigo 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os
deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por
uma das seguintes condutas:

[3] OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. Thomson


Reuters, Revista dos Tribunais. 6ª ed., 2019.

Leia mais

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Ana Vogado é diretora executiva e Sócia do Escritório Malta Advogados, mestranda em


Direito pela Universidade de Brasília (UnB), assistente de docência em Direito
Administrativo Sancionador na Universidade de Brasília (UnB), pós-graduada na Escola
Superior de Direito e ex-membro do Grupo de Estudo em Constituição Empresa e Mercado
da UnB.

Anderson Marques é bacharelando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e


estagiário no escritório Malta Advogados.

Revista Consultor Jurídico, 29 de abril de 2022, 11h07

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