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Bom dia a todos e todas!

Meu nome é Danilo Julião, doutorando em Letras Clássicas, na linha de pesquisa O


discurso latino clássico e humanístico, orientando da professora Drª Ana Thereza
Basílio Vieira.

A pesquisa se ocupa da epigrafia funerária em latim na cidade do Rio de Janeiro,


como parte de uma tradição que emula, principalmente, os hábitos epigráficos na
Antiguidade Romana e no Humanismo durante os períodos colonial e imperial
brasileiros. Esse estudo é uma continuidade do trabalho iniciado no Mestrado, onde o
foco era na epigrafia monumental e de obras públicas. A razão da escolha em retornar a
épocas passadas é simplesmente entender como as relações sociais e político-históricas
influenciaram na expansão e disseminação do hábito epigráfico em língua latina e de
que maneira essas épocas influenciaram as inscrições encontradas na cidade, através de
fórmulas epigráficas, referências às antigas divindades pagãs ou cristãs, a disposição de
informações biográficas e/ou históricas, a presença ou ausência de uma figura que
dedica a inscrição funerária ao morto e seus familiares, entre outros aspectos. Nota-se,
também, que o período temporal abarcado pelo corpus mostra o começo de formação de
uma elite intelectual dentro daquela nação, o que ajudaria a explicar a presença da
língua latina nos registros epigráficos encontrados na cidade, de tal modo que a
presença da datação romana ou mesmo de referências linguísticas ao contexto religioso
(predominantemente católico) são percebidas nos epitáfios e inscrições sepulcrais
coletados.

A partir das referências teóricas como Étienne Wolff, Giancarlo Susini e Alfredo
Buonapane, entre outros, e buscas em acervos virtuais, percebe-se a riqueza e a
complexidade de detalhes ao analisar uma inscrição epigráfica em latim presente na
cidade, entendendo que os parâmetros tipológicos da epigrafia não devem ser utilizados
ao pé da letra, uma vez que observamos traços de duas ou mais tipologias epigráficas no
corpus coletado até o momento; esse aspecto nos chama a atenção, uma vez que é
notável perceber uma comunicação com outras inscrições pertencentes a obras públicas,
de modo a construir capítulos de uma memória da cidade. Através dessas leituras,
pudemos entender a estruturação de uma inscrição, o contexto das inscrições funerárias,
os diferentes tipos de monumentos funerários (alguns deles se apresentando na realidade
colonial e imperial da cidade, como parte da tradição emulativa), de que modo cada
camada social prestava suas homenagens póstumas, entre outros aspectos.

A partir de uma análise inicial do corpus e de nossas leituras teóricas, foi


possível perceber também que, num primeiro momento, a epigrafia encontrada na
cidade se apresentou em maioria na língua latina e, posteriormente, apresentou uma
coexistência entre as línguas latina e portuguesa; o motivo dessa coexistência ainda nos
é desconhecido, mas supomos que o uso da língua latina serviu para delimitar ou
mesmo reconfigurar o acesso à memória da cidade, bem como demonstrar a visitantes
estrangeiros que aquela localidade pertencia a uma civilização, mesmo que fosse
incipiente. É importante perceber que nesse registro do latim, nomeado por estudiosos
como Padberg-Drenkpol e Vieira Ferreira como 'latim epigráfico', o entendimento total
de uma inscrição epigráfica depende da identificação as letras epigráficas, assim como
das abreviaturas, as informações arquitetônicas da edificação ou monumento funerário
em que a inscrição se encontra; outro tópico importante é entender a biografia,
relevância histórica e social do vulto ali enterrado ou homenageado, especialmente,
numa realidade de uma civilização em desenvolvimento histórico e cultural.

Sobretudo, o corpus mostra, diferente do observado no Mestrado, em que o


aspecto propagandístico era predominante, a função memorial ao registrar uma breve
trajetória de vultos ilustres para a história de uma nação relativamente jovem, em busca
de ascensão e apresentação através de um hábito milenar num idioma antigo e, naquele
momento, restrito a ambientes de erudição.

Agradeço pela atenção!

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