Você está na página 1de 6

A (o ut ra) Arte Contemporânea Brasileira:*

intervenções urbanas micropol íticas


Fernando Cocchiarale

A proliferaçõo de grupos de artistas é hoje um fenômeno manifesto em quase todas


as regiões do Brasil. As intervenções desses grupos se dõo em rede e atuam sobre
aspectos institucionais da arte para colocá-los em pane, para questioná-los em suas
entranhas, pô-los em curto-circuito, ainda que por Instantes.

Arte cont emporânea. grupos de artistas . intervençõo públi ca.

Introdução Cesar, pesquisadora e curadora carioca que vem


estudando o assunto desde as primeiras
A arte brasileira contemporânea possui história tão
manifestações dessa tendência, lá pela passagem
longa quanto a dos países culturalmente
da década de I 990 para a de 2000. A ela, meu
hegemônicos. Dela participam umas quatro
agradecimento.
gerações ou safras de artistas que aqui produziram
- - e hoje emprestam sentido genealógico às Após-breve introdução-a algumas idéias e
gerações mais novas, referenciando-as. Não precedentes históricos, tentarei estabelecer alguns
pretendo com isso negar as influências traços que singularizam essas poéticas da ação na
intemacionais diversas a que estamos atualidade em suas diferenças com as de seus
naturalmente submetidos, mas enfatizar uma pares genealógicos do passado. Finalmente, e essa
tradição intema, cujo sentido singular se encontra será a parte mais importante de minha
em nossa história da arte recente, fruto da tensa intervenção, tentarei passar em mais de 60
interseção do nacional com o global. imagens as propostas de alguns artistas, sem
qualquer apreciação crítica - uma projeção cujo
A observação procede, já que o tema do presente
propósito é visualizar essas intervenções, em lugar
congresso (O Futuro da Arte Contemporânea no
de aprisioná-Ias no discurso crítico.
Horizonte do Século 2 I ) impõe um recorte
específiCO ao complexo conjunto, plural e
heteróclito, tecido nos úH:imos 45 anos, que Temo que a publicação de minha comunicação
perca o essencial de sua dinâmica, já que não
chamamos de produção contemporânea
poderâo ser publicadas todas essas imagens, que
brasileira. Entre sobrevoar a floresta com o
discurso crítico-teórico e a apresentação direta, constituirão a parte mais atraente do tema por
mim escolhido. Por outro lado, é indispensável
visual, de uma de suas espécies, escolhi a segunda
adverti-los de que o que será apresentado
opção.
também não configura um conjunto homogêneo.
Apresentarei um segmento ainda pouco A proliferação de grupos de artistas é hoje
conheCido da mais jovem e recente produção fenômeno manifesto em quase todas as regiões
contemporânea, CUjas intervenções públicaS e do Brasil. Entretanto, a diversidade
institucionais correspondem simultaneamente ao socioeconômica, cultural e até mesmo geográfica
espírito de nossa época e a uma genealogia de dessas regiões imprimiu suas marcas nesses
artistas que começa com as Experiências, de Flávio grupos, tomando seus objetivos bastante
de Carvalho, a participaç.ão do público e a diferenciados. Em certa medida a advertência feita
integração entre arte e vida propostas por Lygia em relação ao conjunto da arte contemporânea
Clark e Hélio Oiticica, passa pela critica brasileira vale também para esses jovens artistas,
institucional de Nelson Leimer, e chega às mas, a despeito das diferenças de suas propostas,
situações e experiências de Artur Banrio e às eles configuram fenômeno único, fundado em
Inserções em Circuitos Ideológicos, de Cildo problemas político-institUCionais e carências
Meireles. Eu não poderia falar sobre esse tema semelhantes.
sem a preciosa colaboração de Marisa Flórido

CO L A BORAÇA O · FERNANDO CO CCH I A RAl E 67


a/e REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS EBA • UFRJ' 2004

Primórdios da contemporaneidade no Brasil Década de 1950 no Brasil: a experiência


moderna condensada
As primeiras manifestações da arte
contemporânea brasileira ocorreram na A resposta provavelmente está na experiência
passagem da década de 1950 para a de 1960. condensada, mas radical, das vanguardas
Duas ações performáticas de Flávio de Carvalho, abstracionistas que fioresceram no país no pós­
a Experiência nº 2 e a Experiência nº 3, realizadas guerra, entre 1948 e 1960. Tal como o de outros
em 193 I e em 1956; I os Bichos, de Lygia Clark países latino-americanos, o Modemismo brasileiro
(1960);2 e os Núcleos e primeiros Penetróveis, se havia desenvolvido desde o começo do século
de Hélio Oiticica (1960),3 podem ser tomados passado em tomo do compromisso com
como emblemas do nascimento da definitiva questões sociais e temas da vida nacional, em
sincronização do país em relação às questões detrimento da investigação plástico-formal, que investigação plástico-formal?
universais da arte ocidental. então movia as vanguardas européias do mesmo
período. Só será, porém, com a emergência da
No entanto, é necessária uma distinção: ainda
arte concreta e abstrata, por volta de 1949, que
que tenham precedido a revolução intema
os artistas brasileiros passarão a investigar
operada na produção de Clark e Oiticica, as
prioritariamente, e em várias direções, as
experiências de Flávio de Carvalho não tiveram,
possibilidades expressivas e poéticas da matéria e
como aquelas dos dois primeiros, quaisquer
dos materiais, do espaço, da cor, da forma, do
desdobramentos nas obras de outros artistas da
plano, do volume e da linha.
época nem mudaram o rumo de sua própria
produção, sempre centrada na pintura. Essas Se a abstração informal direcionava a investigação
duas intervenções só começaram de fato a ser desses elementos plásticos para uma esfera
incorporadas à gênese de nossa arte mais radical subjetivada, as tendências construtivas,
pelo discurso crítico dos anos 90. Sua infiuência, concentradas nas cidades do Rio de Janeir0 6 e de
portanto, é fenômeno retrospectivo, São Paulo,! elaboraram, em contraposição à
recentemente construído, já que nem seu autor primeira, repertórios formais mais objetivos,
as defendia como ações de teor artístico pleno. suscitados pela geometria, apesar das diferenças minimalismo e a universalidade
entre esses agrupamentos de artistas das duas
Em caminho diverso, a radicalização das
maiores urbes do país. - lembrar Danto
propostas inaugurais de Oiticica levou-o, num
processo experimental coerente e deliberado, à Sua tardia implantação e curta duração foram
- Caráter injuntivo da teoria da arte -
realização de maquetes, como a do Projeto seguramente compensadas e potencializadas pelo Cauquelin, notar Danto e a buscar por
Cães de Caça (1961), dos Bólides (1963-1966) conhecimento que esses artistas possuíam a uma expressão universal do que é arte a
e dos Parongo/és ( 1964-1969).4 Com igual respeito de experiências análogas em países
espírito e mesmo sentido, Clark produz o vizinhos, como o Uruguai (Torres-Garcia) e,
busca dos minimalistas por expressar
Caminhando (1964) e as Móscaras Sensoriais,s sobretudo, a Argentina (Arte Concreto-invención, esta universalidade nas obras.
trabalhos que consolidam as posições pioneiras Madí; 1943), mas também pelas experiências
destes dois últimos artistas em relação à origem históricas das vanguardas construtivistas e
e à expansão efetivas da arte contemporânea no abstracionistas européias (Suprematismo,
Brasil. Neoplasticismo, Concretismo, Abstração Línca,
Tachismo, etc.). Foi, entretanto, lapso suficiente
Ainda que consideremos a forte especificidade,
para mudar de modo definitivo nossa posição de
tanto de repertório quanto de método, da
descompasso em relação aos países culturalmente
produção visual brasileira, podemos observar
hegemônicos.
que nos últimos 45 anos ela configura uma rede
inteligível de obras e de ações contemporâneas Essa arrancada final do modemismo brasileiro
que poderiam ser Inscritas e, em alguns casos, já preparou o solo em que na década seguinte
se inscrevem, no debate intemacional. ( 1960) iriam fiorescer os primeiros artistas
contemporâneos do país. Nunca é demais,
Por que essa sincronia foi ocorrer no momento
exato da passagem, nos Estados Unidos e na entretanto, destacar o papel decisivo
Europa, da tradição modemista (centrada na desempenhado nessa renovação pelos mais
pesquisa e invenção formais) para a radicais remanescentes da fase final do
contemporaneidade (retorno ao ícone e à Modemismo brasileiro. O deslocamento dos
narrativa), que introduz, pela primeira vez no eixos poéticos de Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio
campo da arte, a temporal idade como fiuxo ou Oiticica - cujos processos de trabalho terminaram
processo (experiência, apropriação e, com elas, distanciando-os de uma investigação mais formal e
aproximação entre arte e vida)?
espacial, de teor neoconcreto (que buscava a
bom parágrafo
68
integração entre o espaço da obra e o espaço núcleos, tanto de suas cidades, quanto, até
real), para outra mais participativa (que propunha a mesmo, de diferentes estados do país, ou que
aproximação de arte e vida) - teceu as conexões seus integrantes desenvolvam trabalhos individuais
inaugurais de nossa contemporaneidade, a partir e coletivos. Podemos mencionar também alguns
de nossa experiência modemista. A ruptura com artistas que, produzindo apenas de modo
algumas das questões cruciais da modem Idade no independente, individuai, podem por afinidade
Brasil não se deu somente com a emergência da poética e de repertório ser aproximados desses
Nova Figuração brasileira (1965), mas também agrupamentos mutantes.
pode ser observada, em outras medida e direção,
Essas atitudes colidem com a noção de autoria
na própria dinâmica da produção desses três
Individual, que supunha estilo e identidades
artistas.
reconhecíveis, singulares, permanentes, e a
A (outra) Arte Contemporânea Brasileira substituem pela dispersão de conexôes feitas,
desfeitas e refeitas, análoga à rede eletrônica por
Neste início de 2003 os principais grupos de
meio da qual se comunicam. Por conseqüência,
artistas brasileiros dedicados a intervenções
configuram um fenômeno cuja estratégia consiste,
públiCas e efêmeras são: Atrocidades Maravilhosas,
parcialmente, em resistir à categorização e à
Radial, Vapor, Hapax, Rés do Chão, Agora,
Capacete, Açúcar invertido, Interferências Urbanas
classificação pelo discurso teórico-critico e em contestar o campo
criticar os poderes estabelecidos, sobretudo
(Rio de janeiro); Grupo Pontesels, Galeria do
aqueles que atualmente delimitam a instituição
e as regras da arte
Poste (Niterói); Núcleo Performático Subterrâneo,
Arte.
Grupo Los Valderramas, Espaço Coringa, A NTI.
Cinema, Fumaça, ZoX, Manrom, Grupo A respeito dessa nova tendência da arte brasileira,
CONTRA, Linha Imaginária (São Paulo); Alpendre, escreve Marisa Flórido Cesar: "Com poéticas e
BASE, Transição Listrada (Fortaleza); Entomo cogitaçôes distintas, guardam em comum entre si
(Brasília); EmpreZa, NEPp, Grupo Valmet e as cidades a contaminação e a dispersão dos
(Goiânia); Urucum, Invólucro, Cia Avlis em territórios: a flutuação de fronteiras e de
movimento, /v1urucu (Macapá); Torreão, Grupo significados, entre as categorias artísticas, o autor e
Laranja, Flesh nouveau!, Perdidos no Espaço o espectador, a arte e a vida. Uma constituição
(Porto Alegre), Grupo Camelo, Valdisney (Recife); relativa que implica e evidencia a trama de
"Grupo" (Belo Horizonte); Mer-ratos (os ratos relações na qual esses trabalhos se inserem,
estão em toda parte), MOVimento Terrorista A.ndy engendram e criticam: uma trama de afetos,
Warhol - MTAW (sem procedência fixa, única ou sistemas e fenômenos exteriores ao universo bom parágrafo
revelada). soberano e autônomo da arte modema, às
condições abstratas e ideais de espaço e de
Nada garante, porém, a vigência dessa listagem.
tempo que esta reivindicava. Tomando de assalto
Ela não possui qualquer valor taxionômico, uma
o que permanecera às margens de seu universo

vez que esses grupos não estão formados a partir


auto-referente, invadem-se pelas alteridades,

da defesa comum de princípios plástico-formais,


deslocam-se para os espaços do mundo,

estéticos. Sua existência é possível graças à


realizam-se na circunstância e nos encontros

crescente indefinição (e confusão) de fronteiras


fortuitos" 8

entre arte, ética, política, teoria, afeto, sexualidade,


público e privado. Se quisermos estabelecer conexôes genealó~cas
diretas entre essa produção intervencionista atual e o
Manifestação da crise do sujeito (crise da noção
passado recente da arte brasileira, podemos
unitária de identidade tanto na esfera individual
mencionar, entre outras, referências intemacionais,
quanto na cognitiva ), esse deslocamento, do lugar
como o Dadaísmo, Duchamp, o Grupo Fluxus, e
especializado em que se situava a arte modema
brasileiras, tais como as emblemáticas intervençôes
para a ambigüidade transitiva da arte e da vida
de Flávio de Carvalho (Experiências rfl2, 1931 , e rfl
contemporâneas, libera os componentes desses
3, São Paulo, 1956), Hélio Oiticica (Parangolés , Rio
bom parágrafo grupos dos compromissos estáveis (de linguagem
de janeiro, 1964-1969), Lygia C/ark (Cabeça Coletivo,
e grupo) que moviam os artistas até pouco tempo
Paris, 1975), Lma Pape (divisor, Rio de janeiro,
atrás.
1968), Nelson Leimer (Porco Empalhado, IV Salão de
Pelo fato de não estarem aglutinados em tomo de Brasília, 1967), Cildo Meireles (Inserções em Grcuitos
princípios rigorosos e estáveis, esses grupos não Ideológicos/ Projeto Coca-Cola, Projeto Cédula, Rio
possuem uma estabilidade excludente. Nada de janeiro, 1970 -1975), Banro (intervenção no
impede que artistas vinculados a um agrupamento Ribeirão do A.nruda, Belo Horizonte, 1970), A.ntonio
estejam simultaneamente conectados a outros Manuel (Corpobro, Rio de janeiro, 1970).

co LA B o RA ç A o • F ER N A N D o C oc C H I A RA L E 69
a/e REVIS TA DO PRO G R A MA DE PÓS-GR A DUAÇÃO EM A RTE S VISUA I S EB A • UFRJ· 2004

Há um fator decisivo que, a meu ver, expressa a eletrônica que hoje recobre todo o planeta
diferença entre essa vertente da produção artística (embora dela esteja excluída a maioria de seus
da primeira década do novo milênio e aquelas que habitantes), pois ela é apenas um resultado e um
fioresceram nas décadas de 1960 e 1970. A instrumento das destenritorializações em cascata
politização da sociedade brasileira nos anos de que estão na raiz de nosso mundo.
chumbo tinha por divisor de águas a ditadura
Quero aqui destacar que a concepção e a difusão
militar. De um lado seus aliados (setores do capital
de projetos artísticos por meio de circuitos em
industrial e financeiro, setores militares, os
rede precedem em mais de duas décadas o
anticomunistas, conservadores de toda ordem e o
instrumento tecnológico (a intemet) que as
aparato repressivo). De outro a frente pró­
globalizou. São exemplos pioneiros dessa
redemocratização integrada pela esquerda
antecedência no Brasil as Inserções em Circuitos
revolucionária, reformistas, demcx:ratas e
IdeolÓgiCOS, nas quais se incluem o Projeto Coco­
simpatizantes de todos os matizes (intelectuais e
Cola (1970) e o Projeto Cédula (1975),9 de Cildo
artistas, trabalhadores, setores progressistas do
Meireles, cujo método de circulação é comparável
clero e da sociedade civil , estudantes e híppíes).
àquele usado pela geração ativista atual. A trama
Essa polarização reduzia ações políticas plurais e
tecida por essas ações e intervenções, a memória
distintas, tanto à direita quanto à esquerda, a duas
e as referências que seus feitos geram possuem
macroposições: uma que defendia os govemos
dinâmica e transitrvidade articuladas de um ponto
militares, outra que lutava pelo retomo à
de vista análogo ao das redes.
democracia. O restabelecimento pleno dos direitos
civis no Brasil combinado à subjetividade que Mas não é só a difusão das intervenções atuais
permeia a cultura e o cotidiano contemporâneos desses artistas e grupos que se dá conforme esse
imprime um caráter micropolítico às ações e modelo. Sua estratégia política também opera de
intervenções dos ativistas dessa passagem de modo semelhante ao de outro componente hoje
século. inseparável da web: o vírus. Concebido na
contramão da limpeza e eficiência asséptica dos
Se o caráter político da arte nos anos 60 e 70
programas que configuram a alma dos
decorria do fato de que todas as formas de
computadores, o vírus introduz no corpo desses
oposição atingiam um alvo comum que as unificava
programas um desconforto e o descontrole que,
numa única e grande luta, atualmente elas se
estranhos à eficácia esperada em aparatos
manifestam contra alvos não tão facilmente
tecnológicos, os fragilizam, tomando-os mais
designáveis, posto que difusos, que podem estar
próximos das vicissitudes da condição humana.
situados em quaisquer esferas dos campos ético,
político e estético, indiscriminadamente, conforme As intervenções de muitos desses grupos
objetrvos provisórios (traço que revela e traz à tona possuem, portanto, um sentido virótico. Elas
a crise do sujeito no mundo definitivamente não se aplica ao cenário extremamente bipolarizado da atualidade (2021)
contemporâneo).
No campo das artes a subjetivação não se
manifesta apenas no eixo da produção, mas
também no âmbito institucional. A existência
de novos agentes, como o curador (cuja
subjetrvidade, se considerado o poder que
possui, pode vir a resultar em exposições
cujos temas e questões sejam estranhos aos
artistas que delas participem), gera
fatalmente uma tensão entre a produção
artística e esses poderes habituados à
primazia que de forma institucional lhes foi
concedida.
Existe um ar comum nas intervenções
propostas pelos jovens artistas brasileiros
dessa passagem de milênio que os distingue
e especifica em relação ao passado. O
paradigma que atualmente empresta sentido
a seus deslocamentos e conexões é o da
rede. Não me refiro apenas aqui à rede

70
invadem sistemas codificados por nonmas uma vlrtualidade em empreendimento concreto ( ...)
Pegue uma dessas tiras de papel que envolvem um livro,
estabelecidas para colocá-los em pane, para corte-a na largura e cole-a de maneira a obter o anel de
questioná-los em suas entranhas, pô-los em curto­ Moebius . Em seguida , tome uma tesoura, crave um
ponta na superfície e corte continuadamente no sentido
circuito, ainda que por instantes. Minhas do comprimento. As MóscQrQs Sensoriais (1967) não
especulações, porém, não possuem o mesmo convocam o público à contemplação, mas à participação.
apelo nem despertam interesse equivalente àquele Possuem propriedades sinestésicas. Ao serem usadas
pelo público cnam ruídos, experiências táteis e olfativas".
que certamente será despertado pelas imagens de
ações inteNencionistas que passarei a exibir agora. 6 A arte construtiva produzida no RJo de janeiro pode ser
mapeada em três fases: o período pioneiro, com
Abraham Palatnik, Almir Mavignier e Ivan Serpa ( 1948­
1949); o período concreto do Grupo Frente, formado
em torno de Serpa ( 1953-1959); e, finalmente. o
neoconcreto, integrado por artistas do extinto Grupo
Õ' Palestra feita no Congress o O Futuro da Arte
Frente e por novas adesões (1 959-1960). Dentre seus
Contermpor~nea no Limiar do Século 2 1. Realizado em integrantes destacamos: Aluísio Carváo, Amilcar de
Valencia. Espanha, em março de 2003. Castro. Décio VIeira, Franz Weissmann, Hélio O iticica.
Lygia Clark e Lygla Pape, além de Hércules Barsotti e
Femando Cc<chiaraJe é cr ítico de arte: professor de estérica do Willys de Castro, neoconcretos residentes em São Paulo.
De partamenLO de Filosofia e do curso de especialização em história da
arte e arquitetura do Brasil, na pue -Rio: e professor da EAV I Pa rque
7 O Concretismo paulistano pioneiro tem por marco a
Lage. Assume a curadoria do MAM. Rio de Janeiro. em novembro de
2000. É autor, com Mna BeUa Geiger. do livro Abstracionismo
inauguração da filial do Art Club Internacional em 5ão
GeoméUlco e Informol e de textos p:..rblicados em catálogos e revistas de Paulo (1949). O vice-presidente da agremiação.
arte. P-..rticipa como curador-ccordenador do programa Rumos Itaú Waldemar Cordeiro, torna-se, desde então, o maior
Cultural Artes Visuals. das e d~õe s 1999/2000 e 200 I /2002. divulgador das idéias da Arte Concreta. O Lançamento
Coordenador de artes visuaisda Funarte. entre 199 1 e 1999; atua como do Manifesto do Grupo Ruptura, em 1952, consolida a
membro de júns e comissões de seleção de eventos como o 10"- e o fase inicial do movimento. Ao longo da década de 1950.
ISº Salão Nacional de Artes PláslIcas. Rio de Janeiro. 1987 e 1995: e embora Integrado pelos mesmos artistas, passa a ser
curador. entre outras. das exposlç6es O Moderno e o Contemporâneo, designado apenas por Concretismo. nome que
Coleção Gilberto Chãteaubriand. 198 1 (com 'Mlson Coutinho): e Rio permanece até sua dispersão, por volta de 1960. Dentre
de Janeiro 1959/1960. Experiência Neoconcreta. ambas no MAJ'1. Rio seus participantes destacam-se: Anatol Wladyslav,
de Janeiro , 1991. Hermelindo Fiaminghl , Geraldo de Barros, judith Lauand,
Kazmer Fejer, Leopoldo Haar, Lothar Charroux, Luiz
Sacilotto e Waldemar Cordetro.

8 Cesar, Marisa Flórido. Sobre(a)ssaltos, In Catálogo da mostra


Notas de mesmo título.

I Em 193 I , Flávio de Carvalho caminhou, sem tirar o chapéu 9 O Projero Coco-Colo consistia em colar em garrafas de coca­
da cabeça, no sentido contrário ao de uma procissáo em cola um adesivo com a sentença, em letras brancas,
São Paulo. Em 1956 saiu pelas ruas centrais da mesma Yankees go home. As garrafas eram trocadas nos bares,
cidade usando o N(}Io Homem dos Trópicos, roupa quando da compra de garrafas cheias, reutilizadas nas
constituída por um chapéu transparente, blusa de náilon, fábricas e relntroduzidas no mercado consumidor.
saia curta pregueada, meias arrastão e sandálias de Começaram então a CIrcular pelo país com os dizeres
couro . adesivados. O Projeto Cédula . em lógica semelhante,
carimbava em papéis-moeda a pergunta Quem Matou
2 Conjunto de obras tridimensionais construídas por placas de Herzog1 , referente ao assassinato, em Sáo Paulo, pela
metal recortadas em diversas formas. articuladas por ditadura militar, do jomalista \Niadimir Herzog, em 1975.
dobradiças e de configuração variável, conforme a
manipulação do espedacor.

) Feitos a partir de 1960. no RJo de janeiro, os Núcleos e os Bibliografia


PenetráveIS dão continuidade à busca das possibilidades
CESAR, Marisa FIÓrido. Sobre(a)ssaltos, in catálogo da mostra
da pintura fora do quadro Ganela renascentista). Placas
Sobre(a)ssaltos. Belo Horizonte: Itaú Cu~ural. fev,fabr.
monocromáticas de cores quentes (amarelo, laranja e
2002.
vermelho), suspensas por fi os, desdobram o plano
pid ónco no espaço real (núcleos). Os Penetróveis são em COCCHIARALE, Fernando e GEIGER, Anna Bella (org.).
escala muito maior do que os Núcleos e devem ser Abstracionismo Geométrico e InformQI: a vanguarda
penetrados pelo espectador para que possa interagir brasileira nos anos cinqüenta. Rio de janeiro: Funarte,
com o espaço cnado pela cor. 1987.

4 O Projeto Cães de Caça ( 1961) só eXIste em maquete. GUASCH, Anna Maria (org.). Los Manifiestos dei Arre
Integrado por cinco PeneU'óveis, pelo 'Poema Enterrado' , Fbsmodemo - Textos de Exposlciones 1980- 1995.
de Ferreira Gullar, e pelo TeaU'o Integrol, de Reynaldo Madrid: Akal Ediciones, 2000.
jardim. Os Bólides (1963 - 1966) sáo obras pictóricas
resu ~antes da inserção de pigmentos em recipientes de MATTAR, Denise (org.). FláVIO de Carvalho 100 Anos de um
VIdro. de plástico, de madeira vazada e sacos plásticos, Revolucionário Romântico . Rio de janeiro: Centro Cultural
combinados ou em si mesmos. Os Parangolés são capas Banco do Brasil, 1999.
feitas pela reunião de tecidos, plásticos. de cores
VÁRIOS. 22' Bienal Internacional de São Paulo: Salas Especiais .
variadas, que, quando usadas pelo espectador e co­
São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1944.
partícipe, emprestam às cores que as compõem,
dinâmica e movimento. . Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio
----ortIcica/prefeitura da Cidade do Rio de janeiro. 1997.
s O Caminhando levou Lygia Clark a afirmar: "Daqui em
diante, atribuo uma importância absoluta ao ato
imanente realizado pelo participante. O Cammhando ( .. )
Permite a escolha, o Imprevisível, a transformação de

COLA BO RAÇ Ã O ' FE R NANDO COCCHI ARA LE 71

Você também pode gostar