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ISBN 978-85-518-3219-6
CDD B869.1
isbn: 978-85-518-3219-6
1ª edição, novembro de 2021.
A jornada entre o mundo interno e o mundo externo, é esse o tema central da obra.
A qual deve ser lida do começo ao fim, como um único poema de mais de 3000 versos. Os
sonhos, a morte, a infância, a alienação das cidades, os mitos, a busca incessante pela
paz, tudo se mistura e ressoa como quando somos levados para o fundo de um pesadelo.
Ele foi escrito como tal entre 2008 e 2018, porém, o poema mais antigo incluído na
obra data de 2005. Foi o segundo livro que conclui. É posterior ao livro Poemas Esparsos
(poesia) e é anterior aos livros As Realidades Invisíveis (prosa; também publicado pela
Autografia) e A Melancolia (poesia). Foi minha obra mais ambiciosa e onde reuni os maiores
esforços.
Entre as influências da obra estão a poesia de T.S Eliot; o romantismo inglês (como
o poema Darkness de Lord Byron e Kubla Khan de Coleridge); os Últimos Poemas, do
poeta chinês da dinastia Tang: Meng Chiao; os Vinte Poemas de Amor e uma Canção
Desesperada, de Pablo Neruda; o Altazor de Vicente Huidobro; o já clássico Paranóia do
nosso Roberto Piva; o Trilce do peruano César Vallejo; a obra brilhante de Sylvia Plath; o
obsessivo Edgar Allan Poe; e a poesia francesa do fim do século 19, como As flores do mal
de Baudelaire e as Iluminuras de Rimbaud.
Mas é da música, principalmente do rock progressivo e psicodélico dos anos 60 e
70, que vem a maior inspiração para a obra. Tanto em relação às imagens e aos
sentimentos presentes como ao ritmo, ao conceito e à sequência entre os poemas. Pink
Floyd (desde o Piper at the Gates of Dawn do Syd Barret ao The Wall e além) e King
Crimson (como pode ser visto inclusive na capa) foram essências ao livro, foi dali que veio
grande parte da essência da obra. E o próprio título surgiu ao ouvir em um bar de rock uma
música do Cream, grupo que também influenciou muito no espírito dos versos.
Assim, em parte, este livro tenta transpor essas correntes de música para a literatura.
Além de dezenas de ideias e imaginações da época, enquanto vagava pelas ruas ou pela
universidade e pensava no mundo.
É um livro que vejo como colorido e ao mesmo tempo sombrio. E espero que, de
alguma forma, impacte vocês.
Sim, eu conhecia cada um de meus gritos. Olhava a cidade como um espelho estranho
ao meu ser e me punha a ouvir como minha própria voz ecoava sem saída, se debatendo em
labirintos negros de corais, como um animal esganiçado, como o grito de uma criança que se
afoga. Sim, eu passei a vida rascunhando gritos em uma sala de espelhos...
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“Pai, quantos barcos de papel ainda flutuam pela sala? A casa está se inundando e não
consigo reviver minhas lembranças”. “E onde, onde está a minha alma?” - Eu me via em um
cemitério junto a milhares de seres que seguravam guarda-chuvas, junto a uma estátua que se
corroía pelo ar estagnado... E depois meu pai, ao me mostrar um mapa-múndi, me dizia: por
mais que eu te soletre o mundo tens que te desmembrares dessa sepultura em que nasceste”.
E ao pé da escada eu ficava lançando bolinhas para o alto, vendo como as lagartixas subiam
e desciam as paredes...
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“Eu passei a vida rascunhando gritos em uma sala de espelhos!” - gritei – “Eu passei a
vida rascunhando gritos em uma sala de espelhos!” E agora me lembrava deles girando e
girando a minha volta, e eu flutuando entre os ecos, tentando desesperadamente segurar a
minha sombra.
Levantei-me da cama e havia realmente espelhos em volta de mim. “Sou o rei dos
espelhos” – gritei - passei anos e anos sonhando com eles e agora estão aqui, bem ao meu
lado. “Jenny!” “Narciso!” “Pandora!” Arco íris!”... Jenny! Narciso! Pandora! Labirintos! Arco íris!
Negros Arco íris!... Ouvi que repetia vários desses nomes e não entendia nada o que dizia. Mas
eles, com seus mil olhos me incitavam a dizê-los, e eu ia me transformando em criaturas
mitológicas, pedaços de sonhos, alegorias infaustas e inúteis. “Sou o rei dos mortos!” – repeti.
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Mas eu sabia que isso não era a verdade. Quase me arrastando, abri a porta do quarto,
atravessei a sala e sai.
No começo senti uma brisa suave, um sol que me fazia sentir vivo, e fiquei distraído
vendo as pessoas de dentro de seus quartos, contemplando as montanhas que cercavam a
cidade, sentindo ao longe o mar que me esperava. Mas logo vi que não haviam montanhas,
que o mar não existia e que as pessoas se assemelhavam a fantoches. Com o desespero de
quem busca uma miragem procurei a mulher de olhos oceânicos, a mulher que com sua tristeza
compensaria essa ausência... ...Mas, em toda essa jornada, o único que me deparei foi com o
deserto e a névoa...
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“Por que vocês riem? É assim que eu vejo o mundo! Uma massa acéfala de sombras
que apenas ficam grunhindo e grunhindo.”
“Eu não sou um espantalho... Eu sou um artista, o maior dos artistas! E sabem por
quê? Porque eu sou o rei dos mortos, não há nada sobre a morte que eu não saiba.”
Os vultos dos mantos e dos vestidos me cercaram. Da janela, ouvi o começo de uma
incessante tempestade.
“E o que nos importa? Nos só queremos rir e dançar! Não queremos saber sobre a
morte ou sobre a sua Irmã, que é a infância.”
“E acredite! Não há nada melhor do que beber vinho e sentir as joias escorrendo de teus
dedos, rir de um vulto que quer voltar ao seu mundo e não deixamos!”
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“Você não sabe quem sou? Enquanto dormia estivemos juntos e eu te dei a mão e te
guiei por todos os tempos e lugares, por todos os Templos onde a aurora é abolida e os animais,
como escravos, sacrificados para a lua”
“Não, você está errado. Foram vinte anos passados nesta cama, vinte anos sem ao
menos ver ou sentir o formato das nuvens.”
“Não Gonzalo. Você não lembra de nada. Você se levantava todas as noites e com os
olhos semiabertos dava voltas pela cidade. Parecia mais alguém com insônia do que um
sonâmbulo em si. E ao voltarmos mergulhávamos em livros, voávamos montanhas, tínhamos
crises de choro terríveis em que nada saia dos nossos olhos mas inundava de deserto nossas
almas.”
- Alma??! Penso que o problema é que ficamos muito tempo presos nela. E isso só diz
respeito a nós, entende? Vivemos anos e anos de ilusões, miragens, perdidos naquele algo
que os outros chamam de loucura.
- Mas é aí que está, o eu é o mundo e o mundo é o eu. Não há nada no mundo que não
seja um reflexo da alma e nada na alma que não seja um escombro do mundo. Tudo o que
pensamos diz respeito ao que vemos.
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E nisso lembrei de tudo com a lucidez de um vidente. Um dia, quando eu era criança, o
vento estagnado contou-me um segredo: “por mais que as pessoas pareçam reais, elas se
desvanecem, na noite, como sombras” e sim, foi desse momento em diante que decidi
adormecer...
“Eu pintei os cinco painéis do cérebro humano!” – gritei – Eu pintei os cinco painéis que
me farão recompensar ser o senhor dos vazios!!”
E então, entre os espelhos que ressurgem, e com o orgulho arquejado de quem sonha
muitas mortes por minuto, eu me levanto e grito aos que como eu não passam de
espectros: “Jenny! Narciso! Arco íris! Negros Arco-íris!!” “Jenny! Narciso! Pandora!
Pavilhões! Labirintos! Arco íris! Negros Arco íris!!!”
A infância e a morte.”
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O O O O
O O O O
O O O O
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Árido:
Rocha áspera sob um céu avermelhado.
Algumas aves, poucas criaturas,
Sombras simples caminhando
Rumo a um inatingível infinito...
Submarino:
Afogamento, escuro, ecos
Inúmeros peixes, nenhuma criatura
Ao longe apenas
Um grito
E mais distante ainda - nas tempestades
Do sonho
Uma vaga e melancólica esperança de socorro...
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LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA
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Narciso? Prometeu?
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E sentados em assentos de pedra estão os sábios, petrificados diante do mundo das ideias eles pensam
controlarem a antecâmara e terem a luz que dos astros não vêm em suas mãos. Ao perguntar como chego à sala dos
jardins (onde o sonho de cada homem se refaz) eles não dizem nada, estão distraídos a observar a inércia de uma
iguana, a inércia de uma iguana que se ilude acerca da luz que absorve, acerca de ser um asceta à espera do arco
íris...
Uma menina, no entanto, que entre o marasmo das samambaias se distrai,i me diz que está indo para lá (a
sala dos jardins) e aponta a porta, perdida na distância, entre o tempo, na neblina...
Antes de ir, porém, observo o aquário e escuto os seres pela lua enfeitiçados. Eles não podem escapar dessa
prisão, a luz artificial nunca os revive
E a iguana, imóvel
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Senhores e senhoras
O grande teatro das ilusões perdidas
Havia se fincado finalmente
No coração da cordilheira de meus nervos!
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...
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TA TÁ!
TA TA TA TÁ!
TÁ! TÁ!
TA TA TA TÁ!
CORO:
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(Dentro de um quadro várias figuras se movem. Elas às vezes parecem que discutem, outras
que murmuram entre si)
.....
Mas
Eles jamais conseguem alcançá-la. ESTAMOS
ESPERANDO UMA DOSE MAIOR DE SOFRIMENTO. Eles dizem.
UMA CHAMA, SIM, QUE NOS TRANSFORME EM OUTROS SERES
E
- rrrrtarckll!
- rrrrrrtarlatál!!
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.
(E agora uma figura se destaca entre as demais. Ela brada em meio aos corpos
para que se juntem ao redor da sua alma)
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(Entre os antigos pilares o feiticeiro ressurge. Ele faz o que pedem e os venda enquanto
gritam:
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II
DÁ! DÁ!
DA YÁ!
DÁ! DÁ!
DÁ! DA YÁ!
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Sonâambulas sonâaambulas
A cada vez que vão comerem
As sombras se flagelam, tentando
Esquecerem que são sombras,
Sonâaambulas sonâaaambulas
Como uma procissão de avestruzes sem pescoço
Enterradas em lodo de pútridas vertigens
Elas tentam encontrar a luz que não existe
Ignorando a tempestade de fora do palácio
E a funesta orquestra dos relógios
Que o eterno trauma do nascimento
perpétua,
Sonâaaambulas sonâaaaambulas
Sempre insones por não saberem-se insones
Sempre buscando o amor em cinzas retorcido
E sempre ansiando o dínamo mais fundo do relógio
Elas se arrastam pelos corredores úmidos de sangue
E arranham os que choram os seus corpos decompostos
Enquanto as paredes se comprimem e os pêndulos da lua
(Ah, os pêndulos lunares que distorcem as estrelas!)
Irrequietos lançam griitttos que enlouquecem as paredes
Irridentes intranquilas incandentes riiidencias
E, girando e girando a minha volta
As sombras me conduzem ao exílio,
- Para fora para fora para fora
DAS CORTES DO REI ESCARLATE.
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E eu me perguntava:
“De quem era a culpa?
Era do bosque? Do castelo?
De ambos?”
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- Um homem, novamente
Está enlouquecendo.
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.....
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ortuooresoãnedorucseo
omsemoresõanedorucseo
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Abretereidosespelhos!
Detrás de cada escuro
Há uma estátua que se arqueja
Sem nenhuma humildade
Sob a face das estrelas -
E detrás de cada grito
Que a todas
As penumbras
Produziu,
Uma única palavra de mil faces
Ressoa na constelação do ser humano:
Abreteauroraparadentrodosespelhos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Abretereidosespelhos
Qual a causa desse girar sem reflexo
De nós mesmos? Desse
Tentar tocar o fundo sem fundo da pupila?
Nós, sempre aspirantes da verdade
Tentamos buscar o norte e o sul
Neste sol que é uma lua sem limites
Escura em todas as estações da morte,
Abretereidosespelhos
O escuro nos pensa através
Há uma voz sem o seu rosto
A pupila se expande pelo mundo-oceano
Não há norte não há centro não há sul
Só uma lâmpada vazia
Abretereidosespelhos
Tudo é leve e é espesso
A voz que sai de dentro e de fora
Não é humana nem não-humana
Ela brilha e escurece, ela é
O que simplesmente é
Abretereidosespelhos
Quando vemos os estilhaços da lâmpada escura
Contemplamos aquilo que vem
De todas as escuras auroras...
A verdade, essa Deusa de olhos turvos
Nebulosa que nos envolve e evapora
Abretereidosespelhosparadentrodetimesmo
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Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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...
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Sublunar
Sublunar
Anjos caíam
Como balas sem refúgio
E eu - um animal noturno -
Procurava nas asas da noite
Um ovo de ouro
Denso como um sonho
Que sempre me esquecera sonhar.
...
Sublunar
Sublunar
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......rá rá rá......
.............rá rá rá ráá......rá.......rááá........................................................
....................... ... ... .. . . . .
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Era uma silhueta tímida que se perdia no horizonte. Era uma silhueta tímida que não
parava de correr perseguindo e fugindo do horizonte.
A silhueta foi crescendo até se transformar em um espelho tão grande como o céu. E era o único
que eu via. O único rosto que habitava meus sonhos. A silhueta a esgueirar-se entre as montanhas sempre
fugindo, sempre buscando, sempre vazia...
Então, um dia, entre as agruras do sonho, eu lhe dei o grito mais alto que pude. As nuvens todas
nesse momento se abriram, os pássaros de todos os céus se silenciaram. E então ela veio e começou a
contar a sua história (a sua pungente e magnífica história) enquanto caminhávamos, sem pressa, através
das íngremes escarpas que, como uma escada em espiral, ora iam ao céu ora ao inferno, sob aquele
horizonte ora amarelo e estridente, ora violáceo e frio...
“Vês estas cruzes?” – ele me disse apontando um pequeno cemitério- “não posso te dizer se estou
vivo ou se estou morto. Minha vida sempre esteve tanto ali como na desenfreada busca do horizonte, ela
sempre me pareceu como um sonho sem sentido”.
(As nuvens todas formando um olho se juntaram - no leito de morte os pássaros seus cantos retomaram)
Então ele abriu um dos túmulos daquele extenso descampado. Dentro do âmago das trevas um feto
estava morto – e seu coração pulsava
todavia.
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TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOO
LA LA LA LA LA LA LA LA LA
OOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
LA LA LA LA LA LA LA LA LA
Desagregando-me destruindo-me arrastando-me
Desvanecendo-me dissolvendo-me perdendo-me
Eu estou fora estou dentro estou entre
Passei a vida perseguindo fantasmas
Quem me vê vê meu espectro
Jamais conseguirei deixar-pegar o trem
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Apitos Estrondos Cataclismos Suicídios
Disparos Comoções Enterros Fogos-fátuos
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah
Desagregando-me desmembrando-me arrastando-me
Desvanecendo-me dissolvendo-me para sempre me perdendo
Voz da morte propaga sono entre os viventes
Homem triste carrega mala da verdade
“O tempo passa passa passa
E as janelas da estação jamais se rompem”
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTT T T T T T T T TTTTTTTTT
Nesta estação em que passou-se a vida inteira
Nesta estação em que apenas ouvem-se os gritos
Ou o silêncio absoluto de estar morto
Eu espero o trem e não sei sequer o que este significa
Mas apenas que em sua presença ou ausência
Há uma agonia que morte alguma seria capaz de superar
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah
Daqui a pouco o trem chegará
E eu irei rumo a seu centro
Rumo a seu centro inexistente como um túnel
Rumo a seu centro do qual as almas jamais voltam
TTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTT
Voltam voltam voltam voltam
Sombras arquejantes dando as mãos
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
“Que horas são?” “São três da tarde
E ele sequer abriu os olhos”
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
LA LA LA LA LA LA LA LA LA
Mas uma pergunta, uma única pergunta
Aflora nesta estação de espera interminável:
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TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOO
Eu que vivo em sonhos e que em sonhos morrerei
Terei alguém para levar-me para dentro desse trem
Ou acompanhar-me no exílio de estar fora?
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Eu que vivo em sonhos e que em sonhos morrerei
Poderei encontrar nesta cápsula de aço
Um refúgio que mimetize o paraíso
Ou que me faça pelo menos esquecer
Que tudo nesta vida
Não passa de miragem de miragem de miragem?
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
OOOOOOOOOOOOOOOOOO
LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
TTTTttttTTTToTTTtTTTTTtTTTTTTTTT
TTTTTttttTTTTOTlaLaTTTttttTTTTTtTtTTTT
TTTTTtttttOOOOLALaTTTahAHHhAhhhaHhhhTTTTTTTT
Poderei, enfim, regurgitar minhas ruínas?
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...
E porque não consigo brincar eu imagino castelos de ar, eu faço do meu quarto um refúgio, eu passo as horas
reinventando o passado, eu fito os olhos de meus bonecos sem vida
e eles me dão medo
pois brilham no escuro como se fossem humanos ...
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À deriva À deriva
Segurando
Um relógio Pulsante
De carne eu
A um estanque
DE ÁGUAS MORTAS
Flutuava
Onde
Com a dissolução
Das clepsidras
Os morcegos
Em enormes
Répteis
De asas negras
Se tornavam
E a morte
Da memória
Carregavam
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......................................
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Como um
Redemoinho
Em que as águas
De todas
As cavernas
Em dejetos
E em mortos
Revivessem
Como um
Rede-moinho
Em que os órgãos
Do meu corpo
Em espasmos
E em sangue
Se solvessem
Dessa forma
Pela boca
Do gigante
Eu nadava
E,
Vomitando
Vomitando as lem-
branças a saliva as saudades
as hemácias as ausências Tudo
Dessa forma
Ao fundo
Do meu pâncreas
Eu caia
E
No fundo
Desse órgão
Eu ouvia,
Eu ouvia
Os seres
Ancestrais
Que repetiam,
ESTE É O TRIBUNAL
DOS CEGOS IMORTAIS.
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A enfermeira ohh
De um olho ela está cega, de um olho
Ela não pode ver metade da caverna!
Oh Oh Oh Oh
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O ESCURO A LUZ
O ESCURO A LUZ
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ELES QUEREM FURAR OS NOSSOS OLHOS ELES QUEREM FURAR OS NOSSOS OLHOS
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ELES QUEREM FURAR OS NOSSOS OLHOS ELES QUEREM FURAR OS NOSSOS OLHOS
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Olhos-orifícios das paredes me contemplam. Aranhas ao cruzá-las despertam gritos surdos. “Deverias
respirar os tribunais sem expeli-los, deverias até que te dirão que te dirão “Passaste a vida a ver os
pêndulos que oscilam” e ao flutuariarás terás uma visão: Pedaços de carne pendiam das paredes, a
enfermeira os provava e ao fazê-lo
saboreava carne humana
Vômitos ventosidades ventres ventrículos vitrina cidade multidões música orquestra morte muletas totens
tesouros tiaras araras fissuras varandas pegadas dados docas maremotos touros carrapatos mortos mortos
mortos
- Mortos que mataste, mortos que mataram, mortos suicidas, mortos genocidas, mortos que não sangram, mortos que perdem
os cabelos, mortos de açúcar, mortos de mentira, mortos que não morrem, mortos que não vivem, mortos sempre
mortos, mortos nunca sempre vivos mortos mortos natimortos
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(A enfermeira tira a roupa lentamente. Sorri como se se tocasse diante de um espelho. Ela me chama com seus dedos
sorrateiros. Me envolve em carícias suaves e sonoras)
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Abro a porta. Eles te dirão que te dirão Passaste a vida a olhar os pêndulos que oscilam E flutuariarás como um olho entre os
mortos O escuro se avoluma
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Mas tudo é visto pela mosca. Ela ronda o mundo e vê as casas que perdem inquilinos
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é é é é
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Ele contou as horas para que sua mãe voltasse. Não conseguindo entender como ela o
deixara, passeou o olhar por aquele imenso salão. Mesmo a biblioteca parecendo um sonho,
entre os livros e CDs se sentiu entediado. Encostado na janela, ficou observando um trem
que se perdia no horizonte...
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brilhooscuro
horizontes
Para dentro
de um espaço
Inviterno
al
O OCASO!!
almahazen!
quasares
penínsulas
CORSÁRIOS
Ilha-estrelas
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Há um fogo que se expande no horizonte dos planetas sem tempo – uma a uma as
estrelas e as estátuas se corroem no espelho do infinito
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É um corredor o céu é laranja pessoas violetas caminham há um peso sem fim no coração
é um os olhos gritam que flutuam não há portas no poente uma fratura está escuro exposta nos
Um cabelo cor de esôfago percorre as ruas que percorrem o infinito de folhas diamante d daria
E é esse
O sol
Argênteo
que exala
marasmo
catatônico
candente
Mas tudo é visto pela mosca. Ela junta os cacos do abismo, os põe
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...
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Mãe, me deste o livro que contém o universo. Um dia, meu pai abriu-o e soletrou-o para mim. Não
posso deixar suas imagens. Canta o mundo sua tênue melodia, mas ele nunca canta para mim... Apenas tu
me cantas a canção de ninar, apenas com tua voz eu adormeço sem temer não acordar...
Não posso deixar suas imagens. A noite do mundo acabaria mas eu jamais veria estas estrelas, o
choro secaria mas jamais saciaria esta sede…Com teu livro abro todos os livros, abro, desperto, as nuvens
de todos os sonhos... E são tantas as imagens, tantas, que eu nunca poderei acabar a obra que escrevo,
que eu nunca a deixarei completa como o Livro que me dás…
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em um abismo infinito…
Mãe, não te afastes... Não antes que me leves para o fundo de teus sonhos...
Os pavilhões não podem parar de repetir-se... Lampiões alumbram os antigos condenados... “Dorme,
filho dorme, abre a porta”. Em um pátio um menino lê um livro, ele se levanta e vê o horizonte: Gueixas
penteiam seus cabelos como a neve, uma outra está chorando...”Por que sofres? -eu pergunto- e ela me olha
como se eu não soubesse da verdade... ...De uma torre há um vapor que cobre o mundo, ruelas estreitas são
cobertas pela neve: os lampiões vermelhos se repetem, janelas se abrem entre os infindáveis
pavilhões... “Fecha a janela, mãe, tenho medo” AS ESTRELAS UMA A UMA SE APAGAM
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Eternamente me abandona...
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Deverei,
Se eu parar
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En el oscuro porvenir"
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“O granizo caindo nos telhados, los juguetes se cubriendo por los hongos
Estarei,
Enlouquecendo?
De um quarto
Fechado
A outro
Assim
Eternamente
Em todos
Os lugares
Que se esteve
Em todos
Os universos
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Ao fundo
Do todo
Ser tocado
Ao fundo
Do sangue
Ser contido
Escada
Em teus vãos
Eu chorava
O mundo
Embaixo
Em festa
Continuava
Parque
Me encobriam
Tuas folhas
246
Fechado
A outro
Assim
Eternamente
Em todos
Os lugares
Que se esteve
Em todos
Os universos
Da mente
Desde
A primeira
Tempestade
Até
O mar
Que traga
A tempestade
Os gritos
Se perdendo
Os gritos
Os gritos
Se perdendo
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No escuro
Abuela, mientras mamá no llega, canta una canción para que duerma
No, no para siempre, solo mientras abuelo arregla este reloj... Mis padres,
Los cuartos
Los cuartos
De nuevo
Están vacíos
Estamos
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Mamá, ¿qué puntitos son esos a lo lejos a lo lejos, en el cielo azul celeste? Son barquitos que pescan los sueños de la aurora, hijo, los
que dan la luz al mar... Papá, que bueno es ir en tus hombros y ver al elefante, a la jirafa, al león y no sentirlos tan inmensos, tan
feroces... Leamos el libro de la selva, armemos el rompecabezas infinito... juguemos a construir naves, castillos, barcos de piratas...
¿Dónde está el tesoro, papá? ... ¡Tengo miedo, mamá, tengo miedo del oscuro!... cuéntame, cuéntame cuantos carneritos hay para
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Estarei,
Estarei
Enlouquecendo?
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OOOOOOOOOOOOOOO
LA LA LA LA LA LA LA LA LA LA
OOOOOOOOOOOOOOO
LA LA LA LA LA LA LA LA LA
252
RUMO AO ÂMAGO DA
RUMO AO ÂMAGO DA
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A porta enferrujada se abre, é o sótão, pego um boneco que está embaixo da cama. Uma voz, atrás de
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seus cabelos fiquem brancos e caiam por completo. Mas, por mais que me apresse, nunca consigo
alcançá-lo
Tento atravessar a ponte alagada, chove tanto que não consigo ver o que há do outro lado. Com
medo vou saltando de cimento em cimento, tentando não escorregar no lodo que os recobre. Em
um deles eu fico a ver o que há no fundo, do nada saem peças brilhantes e sem forma, a água escura
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