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Ensino Secundário _______________________

Teste de avaliação de Português


12.º
Data: janeiro de 2019

TÓPICOS DE CORREÇÃO

VERSÃO 1 e 2

Grupo I (100 pontos)


A
Leia o seguinte poema com atenção e responda às questões apresentadas.

Ah o som de abanar o ferro da engomadeira

1 Ah o som de abanar o ferro da engomadeira


À janela ao lado da minha infância debruçada!
O som de estarem lavando a roupa no tanque!
Todas estas coisas são, de qualquer modo,
5 Parte do que sou.
(Ó ama morta, que é do teu carinho grisalho?)
Minha infância da altura da cara pouco acima da mesa...
Minha mão gordinha pousada na borda da toalha que se enrodilhava.
E eu olhava por cima do prato, nas pontas dos pés.
10 (Hoje se me puser nas pontas dos pés, é só intelectualmente.)
E a mesa que tenho não tem toalha, nem quem lhe ponha toalha...
Estudei o fermento da falência
Na demonologia1 da imaginação...
Álvaro de Campos

1. Interprete o poema, relevando a importância da sensação presente no seu início. (20 pontos)
Sensação auditiva que funciona como um indutor das memórias de infância… o poeta a partir da
audição dos sons do abanar do ferro ou do estarem a lavar a roupa no tanque recorda-se a criança que
foi…e revela a sua nostalgia…constata que se tornou num solitário que nem tem ninguém que lhe
ponha a toalha na mesa…

2. Assinale a figura de estilo presente no verso seis e aprecie o seu valor expressivo. (15pontos)
Hipálage. A ama seria uma senhora de cabelos grisalhos que o acarinhava…agora, no tempo presente
e solitário, o poeta quer saber, revelando uma enorme angústia e desespero, onde está esse carinho de
outrora….
A apóstrofe também pode ser considerada.
E também a interrogação retórica.

3. Comente a importância dos dois últimos versos no contexto global do poema. (20 pontos)
O poeta termina o poema dando conta da sua situação presente. Afirma, recorrendo a imagens
metafóricas, que estudou a maneira de fazer crescer (fermentar) o falhanço… -“fermento da falência”
– através da imaginação a que ele atribui caraterísticas demoníacas…

4. Identifique o tema do poema. (5 pontos)


Nostalgia de infância.

1
Demonologia: estudo sobre os demónios.

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5. Relacione o poema com um outro de Álvaro de Campos estudado na aula e justifique a sua escolha.
(15 pontos)
Resposta livre … poema “Aniversário” talvez o mais óbvio…

Leia o seguinte texto, com atenção e responda às questões apresentadas.

1 Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra
preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me
quando, abrindo a janela para a rua do meu sonho, esqueço a vista no seu movimento. (…)
A minha mania de criar um mundo falso acompanha-me ainda, e só na minha morte me abandonará.
5 Não alinho hoje nas minhas gavetas carros de linhas e peões de xadrez – com um bispo ou um cavalo
acaso sobressaindo – mas tenho pena de o não fazer… e alinho na minha imaginação,
confortavelmente, como quem no inverno se aquece a uma lareira, figuras que habitam, e são
constantes e vivas, na minha vida interior. Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas
próprias, reais, definidas e imperfeitas.
10 Alguns passam dificuldades, outros têm uma vida boémia, pitoresca2 e humilde. Há outros que são
caixeiros-viajantes3 (poder sonhar-me caixeiro-viajante foi sempre uma das minhas grandes ambições
– irrealizável infelizmente!). Outros moram em aldeias e vilas lá para as fronteiras de um Portugal
dentro de mim; vêm à cidade, onde por acaso os encontro e reconheço, abrindo-lhes os braços
emotivamente… E quando sonho isto, passeando no meu quarto, falando alto, gesticulando… quando
15 sonho isto, e me visiono encontrando-os, todo eu me alegro, me realizo, me pulo, brilham-me os olhos,
abro os braços e tenho uma felicidade enorme, real, incomparável. (…)
Há também as paisagens e as vidas que não foram inteiramente interiores. Certos quadros, sem
subido relevo artístico, certas oleogravuras que havia em paredes com que convivi muitas horas –
passaram a realidade dentro de mim. Aqui a sensação era outra, mais pungente4 e triste. Ardia-me não
20 poder estar ali, quer eles fossem reais ou não. Não ser eu, ao menos, uma figura a mais desenhada ao
pé daquele bosque, ao luar que havia numa pequena gravura dum quarto onde dormi já não em
pequeno! Não poder eu pensar que estava ali oculto, no bosque à beira do rio, por aquele luar eterno
(embora mal desenhado), vendo o homem que passa num barco por baixo do debruçar-se de um
salgueiro! Aqui o não poder sonhar inteiramente doía-me. As feições da minha saudade eram outras.
25 Os gestos do meu desespero eram diferentes. A impossibilidade que me torturava era de outra ordem
de angústia. Ah, não ter tudo isto um sentido em Deus, uma realização conforme o espírito de meus
desejos, não sei onde, por um tempo vertical, consubstanciado5 com a direção das minhas saudades e
dos meus devaneios! Não haver, pelo menos só para mim, um paraíso feito disto! (…)

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

6. Divida o texto em duas partes lógicas. (5 pontos)


1ªparte: três primeiros parágrafos; 2ªparte: último parágrafo

7. Comente e explicite, em síntese, os dois tipos de sonho presentes em cada uma das partes. (20 pontos)
Na primeira parte, o sonho parte da sua vida interior…explicar… e causa-lhe grande felicidade…
Na segunda parte, o sonho parte de algo exterior a ele – um quadro, por exemplo… - e traz-lhe uma
enorme tristeza…explicar…

2
Pitoresco: relativo à pintura; vivo cintilante.
3
Caixeiro-viajante – empregado comercial que viaja de terra em terra.
4
Pungente: triste, doloroso.
5
Consubstanciado: unido.

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Grupo II (60 pontos)

Considere o texto do Grupo I - B e responda agora às seguintes questões gramaticais.

1. O tempo e modo da forma verbal presente em: “Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida.” (l. 1)
é (6 pontos)
(A) Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.
(B) Pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo.
(C) Pretérito perfeito composto do indicativo.
(D) Pretérito perfeito composto do conjuntivo.

2. O valor aspetual configurado na afirmação: “A minha mania de criar um mundo falso acompanha-me ainda,
e só na minha morte me abandonará.” (l.4) é (6 pontos)
(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) genérico.
(D) habitual.

3. O processo de formação da palavra “caixeiros-viajantes” (l.11) designa-se por: (6 pontos)


(A) Conversão.
(B) Derivação não afixal.
(C) Composição morfológica.
(D) Composição morfossintática.

4. O verbo em “Vêm à cidade” (l. 13) é (6 pontos)


(A) transitivo direto.
(B) transitivo indireto.
(C) transitivo predicativo.
(D) intransitivo.

5. A modalidade presente em: “(embora mal desenhado)” (l.23) designa-se por (6 pontos)
(A) modalidade epistémica com valor de possibilidade.
(B) modalidade epistémica com valor de certeza.
(C) modalidade apreciativa.
(D) modalidade deôntica.

6. As orações sublinhadas em: “Não poder eu pensar que estava ali oculto (…) vendo o homem que passa num
barco (…) (ll.22-23) classificam-se, respetivamente, como subordinadas (8 pontos)
(A) relativas adjetivas restritivas.
(B) relativas adjetivas restritiva e explicativa.
(C) relativa adjetiva restritiva e substantiva completiva.
(D) substantiva completiva e relativa adjetiva restritiva.

7. Indique as funções sintáticas desempenhadas pelos segmentos sublinhado em: (10 pontos)

a) “Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida” (l. 1). Predicativo do sujeito; sujeito
b) “gravura dum quarto” (l.21) complemento do nome

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8. Identifique o mecanismo de coesão lexical presente em: “Certos quadros, sem subido relevo artístico, certas
oleogravuras que havia em paredes com que convivi muitas horas – passaram a realidade dentro de mim.” (l. 17-18). (6
pontos)
Repetição
Hiperonímia- hiponímia

9. Indique o referente do pronome sublinhado: “Ardia-me não poder estar ali, quer eles fossem reais ou não.” (ll.19-20)
(6 pontos)
Certos quadros (…) certas oleogravuras

Grupo III (40 pontos)

«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo
de escravos.»
António Lobo Antunes, entrevista ao Diário de Notícias, 18 de novembro de 2003

Partindo da perspetiva exposta na citação acima reproduzida, e num texto de opinião bem estruturado, com
um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, apresente uma reflexão sobre a
relação entre cultura, leitura e liberdade. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois
argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

A professora
Arminda Gonçalves

4/4

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