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Cultura Documentos
Editorial ------------------------------------------------------------- p. 05
Victor Viana ovctr ------------------------------------------------- p. 10
Joaquim Cesário de Mello --------------------------------------- p. 29
Sophia Jamali Soufi ----------------------------------------------- p. 36
Leonardo Castelo Branco ---------------------------------------- p. 40
Daniel Rodas ------------------------------------------------------- p. 43
Laura Redfern Navarro ------------------------------------------ p. 47
Daniel Mazza ------------------------------------------------------- p. 52
Isabel Furini -------------------------------------------------------- p. 65
Washington Daniel Gorosito ------------------------------------ p. 69
Martina Sohn Fischer -------------------------------------------- p. 73
Fabiana Rodrigues Carrijo -------------------------------------- p. 77
Letícia Farias ------------------------------------------------------- p. 82
Rafael Martins ----------------------------------------------------- p. 84
Nalberty Medeiros Santos --------------------------------------- p. 89
Géssica Menino ---------------------------------------------------- p. 93
Clara Bezerra ------------------------------------------------------ p. 95
Agradecimentos e Contatos ------------------------------------ p. 102
Editorial
Vai passarinho faz
O ninho na palma da mão
Com as asas diante do cais
O bico entortando o chão
A máfia dos pássaros. Bem-te-vis dominando tudo. Barriga amarela / barriga amarela.
Cabeça preta: contraste na crista branca. Céu de manhã turvosa. O pássaro canta: eu vi!
O pássaro-canto: já vi!
E assim nasce o verso. Inverso que era pra ser. Um ninho de pau. Um ninho de tal. Tal
quê: fulano rabisca o mundo. Pra quê? Fulano atiça o mundo. E faz do verbo asa delta.
Faz do verso asa-gama. Alfa beta e gama. Até o ômega na lata de atum.
O princípio e o fim. Poeta sem laço nem fim. O princípio e o mim. O ego dissolve no
Sim.
Por isso: o pássaro canta. Poeta almoça. Quase nunca janta. Gullar: almoça e janta.
Bandeira: andorinha sou eu!
Poésie c’est moi – bradam os ninhos nos ovos da rua. Mas ninguém ouve – pena! – Há
tantos carros. Só os defeituosos com o lápis na mão. Um livro ou quem sabe uma caneta.
Fazendo ninhos nas copas dos braços.
A força do pássaro é o coletivo. Ninguém canta te-vi – te-vi – se não houver um visto. O
risco é a matéria-prima do ninho. João-de-barro no fim de alta-tensão.
Oh. O passarinho canta. E canta fora: não dentro da gaiola. E quem for doido de metê-lo
na gaiola: aguente a caca da gangue!
Por isso o passarinho canta. O passarinho que é eu e tu. O passarinho que virado pra fora.
Canta no avesso de dentro:
SUCURU!
Equipe Sucuru
*
* *
SOBRE AS FOTOS
Sessão 2: La Rinascita Vivente, por Cleilton Costa, Isadora Marques, Maju Morais, Sa
Vermel e Vitória Ramos.
A mesma roupa
o mesmo lugar
o igual penteado
o idêntico rosto
olhando de frente
pra baixo ou de lado
e aquele final de tarde que nunca passa
Decididamente
este é um dia especial
que ficará em mim guardado
no interior das minhas pupilas refrescadas
durante o tempo em que a alma não for
de mim arrancada
me paso la tristeza
¿Por qué no superé la tristeza?
En la calle
con pasos inseguros
Una vieja grieta atravesó mis heridas
Y el dolor abre la boca
De repente
Caí al final de la oscuridad
fui solo
Regresé más solo que antes
Este fue mi último encuentro conmigo mismo…
Sophia Jamali Soufi is 22 years old and was born in Rasht, Iran. She is an architecture
student. Since she was a child she has been interested in reading books and poetry, opting
for writing from a very young age. Her poems are originally written in Persian, with
translations into Spanish, German, English, French and Portuguese published in various
magazines.
1.
Longe do caos movente da vida urbana, escrevo de portas abertas. Tudo aqui é um convite
à inspiração. O crepitar das estrelas preenche as noites e, nas manhãs, o vento sussurra
segredos às paredes. Há momentos em que me entrego as canções que abrem feridas,
bebo uísque e danço uma valsa descompassada com meus fantasmas. A maior parte do
tempo, porém, é dominada pelo silêncio e pela sobriedade. O frescor do orvalho nos pés
desperta o sol dentro de mim. Me perco em contemplação da lenta garoa que cai na
piscina, serena como uma obra de arte. Gasto horas imerso na lógica enigmática da
arquitetura dos coqueiros ou tentando decifrar o misterioso canto dos pássaros deste lugar,
entoado em Lá maior. É fato, certas questões vão permanecer sem respostas, e é melhor
que assim seja, afinal o que seria de nós sem as estranhas combinações produzidas pelo
acaso? As portas estão abertas para que a poesia possa alçar seu voo.
2.
Plano de viagem
Acabo de retornar de mais uma busca ao inexistente. Lá fora, a vida se resume a aceitar
e se adaptar, estágios inevitáveis do ser humano médio neste mundo caduco. Aqui dentro,
pelo contrário, são 58 metros quadrados de desapego. Neste espaço, posso, enfim,
arrancar os sapatos e sentir o alegre formigamento de meus pés descalços após horas de
trabalho. Em seguida, mergulho em um banho quente, deixando-me embriagar pelo
entusiasmo que precede a escrita. Uma tranquilidade absoluta atravessa o pensamento
quando digito as primeiras linhas, e ela me acompanha até o último ponto final. Satisfeito,
me jogo no sofá e leio poemas, um sorriso filosófico brinca em meu rosto até o sono me
alcançar. Sonho, então, com novas linhas a serem escritas, talvez estas que você lê agora.
Desperto abraçado a algo parecido com a felicidade, mas não é a felicidade, é menos
espalhafatoso. Como se eu redescobrisse o caminho de volta para encontrar aquela parte
de mim que, em algum ponto, se esqueceu de crescer.
a imagem persiste.
não adiantam os fractais
do espelho. o sorriso
agudo. sobrancelhas
curtas. uns olhos de
concha engolindo o rio.
as aves pairam ao redor
das pedras. a imagem
persiste.
MAIOR/MENOR
tempos atrás
a torre em queda
a estrela distante
o sol pendurado na
caveira
VENTO DE AGOSTO
na rua
o redemunho sem
diabo
gira o vento
gira os matos
o diabo fugiu
BRANCA E VERDE
que é
tão /idêntica/ a mim,
(até no nome)
1
“the girl who lived down the lane” ou “a menina da vizinhança” (tradução da autora) é uma expressão
coloquial em inglês para indicar meninas comuns (principalmente nos EUA) sendo também uma das
definições usadas na caracterização da personagem Laura Palmer no seriado televisivo Twin Peaks (1990-
1991).
2
Paul Célan: “em lugar algum / perguntam por ti”. (trad. Claudia Cavalcanti)
UM MAIÔ COM ESTAMPA DE SORVETE
(um exercício com Gertrude Stein)
a perda da inocência é apenas mancha uma mancha nem sempre óbvia. a forma não é
discreta sabe-se bem. quando de frente para o espelho o corpo de laura é amorfo é
gorducho é opulência → a proporção pinica e é contraste. o maiô de laura é branco mas
os babados não, isto significa que não se pode cobrir os buracos, eles ficam à vista. a
perda da inocência são os cones cor-de-rosa, verdinho, azul-bebê. é encardida.
UM CONSELHO
O Duplo
é um espelho, diz Alejandra Pizarnik;
é ele que
recolhe
pássaros e narcisos
o palpável é valioso,
ensina a poeta, mas lembre-se
é i material
PISTAS DO CORPO DE LAURA
2. Sabe-se que o corpo pode ser tanto o espaço em si quanto o instrumento que
mapeia um espaço.
Laura Redfern Navarro (2000) é aquariana, poeta e jornalista graduada pela Faculdade
Cásper Líbero. Desde 2019, produz conteúdo sobre literatura e criatividade na plataforma
@matryoshkabooks. Pesquisa corpo e linguagem nas vicissitudes do feminino. Foi aluna
do Curso Livre de Preparação do Escritor (CLIPE-Poesia) em 2021. Participa da equipe
de poetas do portal FaziaPoesia, Em 2022, venceu, em primeiro lugar, o Edital de
Publicação Inédita em Poesia do ProAC com O Corpo de Laura.
A Morte
As pompas e as honrarias
O luxo, a titulação,
As riquezas e a miséria,
A indigência, a humilhação,
São todos bem misturados
Durante a mastigação,
E, dentro da boca, sabem-me
A um mesmo gosto malsão...
.................................................
subjetivas galáxias
espalham-se
pelo universo mental
as rosas da roseira
os tornados e as nuvens
pois neste mundo
só a imaginação consegue tocar a eternidade
Território ilusório
A faca de prata
Isabel Furini é escritora, poeta e palestrante. Autora de 30 livros, entre eles, do livro de
poemas Os Corvos de Van Gogh, Editora Instituto Memória, 2013. Recebeu Comenda
Ordem de Figueiró; nomeada Embaixadora da Palavra pela Fundação Cesar Egido
Serrano (Espanha); Colunista da Revista Carlos Zemek de Arte e Cultura e do Jornal
Cultural Rol; criadora do projeto Poetizar o Mundo. Participou de exposições de Poesia
no Brasil, Portugal e Argentina. Foi premiada em concursos de Poesia: 1º Lugar no
Concurso Organizado pela Coninter, em Portugal, 2015 1º Lugar no Concurso da
Academia Campolarguense de Poesia/PR, 2013; 1º Lugar Concurso da Academia de
Letras Itapemense, SC, 2010; 1° Lugar no Concurso Internacional Missões/RS, 2005; 1°
Lugar no Conc. Est. de Poesia de São José dos Pinhais/ PR, 2002; 2º Lugar: Concurso da
revista Katharsis da Espanha, 2009, 1º Lugar – Categoria: Acróstico, no Concurso da
Academia de Letras e Artes Paranapuã, Rio de Janeiro, 2020 e 2º Lugar no Concurso de
Poesia Taba Cultural, RJ, 2021, entre outros. Realizou um Recital de Poesia, na 36a.
Semana do SESC & XV Feira do livro de UFPR, Curitiba/PR, (em português e espanhol)
e um Recital EM 2018, na Burlingame Public Library, na Califórnia, USA, com poemas
de sua autoria em idioma espanhol e em inglês,
PROMESAS DE AMOR
Prólogo de fuego.
El sol
te dora, ilumina
y refleja
tu color de espiga.
Y vos
criatura desvestida,
un cuerpo abandonado
piel de perlas.
No sé
si ya existía
o entre los dos
inventamos el amor.
El mar
alberga los sueños de amor,
los amantes
se buscan y se enlazan
entre las algas fosforescentes, corales y estrellas
creando su propio arrecife-.
De pronto,
emerges como la sirena que eres
me abrazas tiernamente.
E nem triste
Inóspito e
inventado
nos olhos
é o grande naufrágio. ainda há fogo correndo pela água e nossos destroços ainda flutuam
aqui e ali, os vejo, acenam sem pedir ajuda. como os mariscos na maré baixa.
Você me lecionara à distância, isto é, sem dar por minha existência ou fazia não
se dar pela vivência do outro, ainda que detivesse a habilidade de ter, em suas mãos, o
Ela prometera novas sensações. Certificara tantos sonhos. Viria – como fruto do
Sim, viria e veio. Mas, no depois, aquela pessoa esqueceu que ficara incapaz de
sentir também sensações outras. Ficara então anestesiada – recebera o corte das sensações
que uma vez outra, de certo modo, concordes muitos e distintos ditam a lição impossível
de ser aprendida/desaprendida – que o amor nos atira nos cipoais dos conflitos e lá já se
faz impossível a preleção lindamente lecionada pela avó de ser sempre mais!
sem medo de lançar-se suicidamente. Cometeu, pois, o autocídio e de lá pode ver que
restara no tempo da an aestesis (sem sensações, sem meios de curar a dor da alma febril)!
Como estaria o outro? Escapando à rotina nefasta de ser sempre ‘rio seco de si’
como um ser de ausências e o movimento contínuo, quase contínuo da água lapidando
marcas; Agora tão somente abalizas e à distância de si, do outro de si, dos outros diversos
de si! As notas contrárias da vida ditando as notas musicais inversas de Si... Dó, Ré, Mi,
Fá, Sol, Lá, Si! As notas inversas da vida especificando as notas avessas à vida. Era
possível?
VENTO NA ROSEIRA
longínquas das suas, abater-se frente ao primeiro e inequívoco contato com o primeiro
amor? Era e sempre foi um ser em alerta – pois na lição mediúnica já havia sido advertida
de que, por alguma razão, tivesse que se manter, por muito e muito tempo, em vigília para
agasalhar as outras duas – carnes de sua carne e pássaros alados de seu mesmo ninho!
de ser um ser que protege outrem! Mas nesta vida – como passara tempo demais naquele
Amou o amor de maneira suicida. Amou e ‘perdeu-se de si’ ainda um tanto mais!
Achou que tinha asas, feito e quando caíra do telhado, como pássaro desplumado ainda
em formação, no colo da avó materna e recebera afagos delicados para sua alma febril.
precipitadamente que amar era se lançar e pensar que poderia uma vez mais ganhar colo!
Poderia? Até poderia, não fosse a precocidade de que amar é ainda querer ficar/restar por
perto, minimamente, do ser amado e sonhar com a casa de bonecas (quase aquela descrita
elogio das lágrimas tão frequentes naqueles que amam e se lançam qual pássaros em seu
sonhasse com aquela personagem generosamente criada/esboçada com pincel bem fino,
dedilhada por mãos gentis e tão caprichosas nas minudências. Ah, os detalhes. Talvez os
tenha amado como reflexo do seu ser tão emaranhado. Sempre querendo ninho, colo,
restou qual rosa seca em meio à vegetação árida (árida por fora, árida de si, árida em ‘si’),
Ela havia versado nesta primeira experiência todos os tentames em uma vez só!
Amou a história do amor; Amou a personagem cunhada, generosamente criada por sua
imaginação enlevada. Amou a música de Satie, amou o ‘diverso de si’. Cobiçou as ragas
do amanhecer e do anoitecer; Amou o tempo que espera pelo amor; Amou o tempo da
espera de ser; Amou e se lançou qual Ícaro em sua jornada incerta. Queria, pois, adentrar
o espaço outro, interdito! Experimentou, pois! E, no depois, por razões óbvias, não soube
pegar o caminho de volta. Queria, pois, o tudo e parecera restar com o nada: paradoxos
sonhado, o prometido, o cobiçado, o imaginado por sua alma sempre febril de ser! E assim
‘No novamente’, restou feito uma roseira seca – encerrada/cerrada para outros e
diversos ventos e cores, e águas outras. Talvez, no agora, o momento seja para sair do
mais profundo de si, dar um salto e partir, feito uma roseira seca que, por ora redescobrisse
o vento em suas pétalas ressequidas/ressentidas, e desejasse “sorrir-se” como verbo
pronominal mesmo (para si, de si, de outrem dentro de si). Será possível? Seria possível
eu vivo entalada
eu vivo de mansinho
eu espero
eu quero
eu preciso me permitir
É possível organizar o excesso? Não – concluo. – O que excede já está fora da ordem
das coisas.
Na prateleira plástica, atrás do espelho, até tenho outros itens: meus comprimidos, meu
sebo de carneiro e meu enxaguante bucal. Mas estão organizados, são essenciais e I
nvisíveis: não malferem a estética do ambiente.
Carolina não retribui a gentileza, mas não me importo. Damo-nos as costas e antes de
fechar os olhos observo que já são 22:34.
Revivo uma cena de infância: Beto oreia seca, Beto oreia seca! Umas crianças da rua
implicam com minhas orelhas, mesmo elas sendo normais — confiro-as até hoje.
Caminho a uma certa distância do meu avô. Ele segue na frente, com o tronco um pouco
encurvado e as mãos unidas para trás, na altura da lombar. Apesar da idade, vovô é grande
e tem uma presença inibidora. Se eu estivesse ao seu lado, certamente as crianças não
caçoariam de mim.
Ele para e observa. Está com seu paletó cinza escuro, surrado, que não orna com a calça,
que é preta com risca de giz. Usa uma sandália de couro que deixa à mostra seus imensos
dedões com unhas grossas, encravadas numa pele morta e esbranquiçada. Na cintura,
carrega uma bainha com uma pequena faca dobrável, que utiliza para descascar laranjas
enquanto repousa em sua cadeira espaguete de fios azuis, sobre o cimentado do jardim.
A ameaça é inútil.
Tem uma coisa dentro de mim. Uma coisa ruim, que parece querer extravasar. E por que
agora?
Choro baixinho.
Insisto na mordida.
Olho para o espelho do aparador e não me reconheço. A cena é feia. Vejo um rosto
sombrio, com olheiras, lágrimas e sangue ao redor da boca. Meu braço pinga sem parar.
Estou louco?
Pego uma camisa no cesto de roupa suja da área de serviço e enrolo no local do ferimento.
Junto um punhado de guardanapos de papel e limpo a sujeira do chão.
— Cacete! — Falo baixo e com a dificuldade que aquele pedaço morto na boca impõe.
O sangue ultrapassa o tecido da camisa e está na iminência de atingir o estofado. Será que
vai manchar? Penso no alvejante como uma alternativa e, de repente, a possibilidade de
uma mácula não me oprime mais.
2. Que busca em mi [entre passado e presente] como parte daquilo que fostes
em ti.
Fruto de um engano, desejo ou talvez do amor?
Não sei, não sei. Sou o que sou e estou aqui, sozinho, como tu estavas,
Como flor decessa e murcha, esperando aquilo que há de vir um dia...
17. Mas tú, para onde fostes? Que caminho talvez trilhastes? Que círculo ti encerra?
Feliz, felicidade tola, pois dessa esperança surda, somente o silêncio impera. Fatal – eis
o pálido brado que ergue, que sai de olhos e de vozes estranhas.
Será? Não sei. O que sei é que estou sozinho, suportando o peso imenso dessa verdade,
a triste verdade que rasga o meu peito. Que verdade? A certeza que parte de mim se foi,
parte daquilo que foi em mim, pequena grande parte de mim. Ente, ente que sou, que
não fui, que me tornei... Mentira!
Onde estás? Que voz ouvistes no segundo fatídico? Que imagem surda vistes no fim?
18. Tivesses tantos e tantas, sementes daquilo que outrora fostes, que agora vive em
mim [em nós], que sou, na verdade, que sou.
Pensastes em quem? Em quem dos teus? Nas Marias? Nós que abrem o mar, nos que
perdem a força, ou naqueles que nem sabes o nome ditar? Não conheces a voz, a
vocação que agora ocupa, nem mesmo o desejo de ser. O primeiro a ser alguém outro,
alguém outro que não o mesmo de nós, pobres, tolos, mortos em vida.
19. Escute, mesmo sem tímpanos para escutar, ou sem órbitas oculares para ver: o
sangue do sangue é apenas sangue que passa, que deixa a saudade, e no fundo que finda
também, no fundo profundo de tudo. Do mundo absurdo, do homem absurdo, do ser
lançado, jogado ao regaço, de lágrimas vestidas, ressequidas entre saudades, esquecidas
entre um tempo, um presente que é, que não passa. Não. Não é isso.
20. Não vemos o amanhar, pois esse nega a passagem, se coloca difuso, confuso em
tudo. Há ainda o presente a romper. Enquanto que o passado, não o vi realmente, pelo
menos não na ausência que fostes. Enfim, a presença é toda e apenas Ela. Que é tudo!
Que está em tudo, no mundo que sou. Mas há ti também. Não posso mentir. Há ti
também nisso que sou.
26. Vivemos aqui e acolá, sempre, sempre em muitos lugares. Longe, perto, mas sempre
perto de ti, muito embora longe de ti,
Filhos teus, não meus,
Pois da vida, o embargo maior trucido em mim. Que a semente nem tornar-se semente
possa ser. Da dor do destino, do mundo absurdo, apenas a mim [eu e ele] e os outros
[que são partes de nós, dos quais somos partes], a semente de ti sem ti.
27. Que a dor com o tempo presente, sem forma e amorfo, termine também. Adeus,
adeus lágrimas vertidas, lágrimas ressequidas. Pai querido... que imagem não tenho, que
dor não sinto [mais], nem lágrimas vertidas também. Mentira! Partistes a tanto tempo.
Não sei. Não sei.
como num buraco negro que até a própria luz não consegue escapar
numa esfera da vida, em que o buraco negro nos espera com nossa
ansiedade incerta e curiosa de sua existência avassaladora que uma foto sua
água de anil
Vejo cenas
Pequenas pedras azuis
Desmanchadas n’água
Para alvejar, clarear
Misticismo, espiritualidade, intuição
A nódoa, a mancha, a sujeira que encarde
O que se dissipa pela mão
Esfrega, coloca de molho, estende ao sol
[para quarar
*
valença
óvulo
No errático
Incerto
Destino
Amor
casulo
Um libertar-se
Próprio, profundo
Único e universal
Um desfazer-se
Até descobrir o prazer
Do fazer
De si
Grão
Solto e solitário
Tocar todos os cantos
Da pele
Ouvir todos os pontos
De areia
Até trocar
De pele
Para sentir
O outro
Sentir-se
Ouro
Em flor
De céu
De sal
De sol
Transformar-se
No seu valor
Mais grão
Espalha
Expande
Chama
Chão
Na teia
Ateia-se
De si
Enfim
Liberta
Libélula
Li bela
Clara Bezerra Sou potiguar, nascida em uma cidade chamada Acari e criada em Cruzeta.
Aos 15 anos fui morar em Natal. Na sequência, me formei em Letras – Português e em
Comunicação Social - Publicidade. Fiz especialização em Planejamento Estratégico em
Comunicação e mestrado em Estudos da Mídia. Trabalho com Comunicação Institucional
e escrevo de forma paralela, além de estudar psicanálise e dançar por prazer. “Roupa de
Ganho”, obra publicada pela editora Paraquedas, é meu primeiro livro.
*
* *
Agradecemos:
A Eva Wilma Rodas Ramalho e Fernando Antônio Ramalho de Amorim – pelo apoio de
sempre;
Contatos
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Envie seu texto em formato word (letra Times 12), juntamente com sua minibio (num
mesmo arquivo word) para o nosso e-mail: revistasucuru@gmail.com. Responderemos o
mais breve possível.
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VIVA A SUCURU!
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