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DESCRIÇÃO DA PESCA DA PESCADA-AMARELA,

Arquivos de Ciências do Mar

Cynoscion acoupa, DA COSTA DO PARÁ


Description of the fishery of acoupa weakfish, Cynoscion
acoupa, off Pará State

Igor Penedo de Matos1, Flávia Lucena2

RESUMO
Considerando a importância sócio-econômica e a escassez de informações sobre a pescada-amarela, Cynoscion
acoupa, este trabalho tem por objetivo descrever aspectos relacionados com sua pesca na costa do estado do Pará. Foram
registrados os comprimentos de 716 exemplares amostrados em pontos estratégicos de desembarque do estado. Informações
foram também obtidas através de registros detalhados de desembarques por viagem para os anos de 2001 e 2002, coletados
em uma empresa de pesca sediada no Estado do Pará além de dados das empresas de pesca coletados junto ao Ministério
da Agricultura. A rede de emalhar empregada na captura da pescada-amarela é confeccionada com fio de multifilamento,
com tamanho da malha variando de 180 a 200 mm (entre nós opostos) e tamanho de 4.500 – 4800 m de comprimento
com 5,0 a 6,0 m de altura. No Estado do Pará, a pescada-amarela é capturada durante todo o ano, principalmente entre
os meses de maio e agosto. A fauna acompanhante da pescaria direcionada para esta espécie, representou 52% a 66% da
captura total, sendo Arius parkeri, Cynoscion steindachneri, Carcharhinus sp. e Sphyrna sp. as espécies relevantes.
O comprimento total dos indivíduos amostrados variou na faixa de 51 - 125 cm, cujo valor mensal manteve-se regular
ao longo do período de amostragem. Não se registrou diferença estatisticamente significante na proporção sexual.
Palavras-chaves: pescada-amarela, Cynoscion acoupa, pesca, Estado do Pará.

ABSTRACT
Considering the socio-economic importance and the lack of information about the acoupa weakfish, Cynoscion
acoupa, this research work has the objective of describing some aspects of its fishery off Pará State, Brazil. The total length
of 716 specimens sampled from important landing sites was registered. Information was also obtained through detailed
log books where information of the catch per fishing trip for the years of 2001 and 2002, from Belém-based fishing
company, in addition to data on total catch collected by the Agriculture Ministry. The gill net used in the capture of acoupa
weakfish is 4,500-4,800 m long and 5.0-6.0 m high, made out of multifilament thread, and stretched mesh size of 180
to 200 mm. In Pará State, acoupa weakfish is caught all year round, but mainly between May and August. The by-catch
of the targeted fishery accounted for 52 - 66% of the total catches, being Arius parkeri, Cynoscion steindachneri,
Carcharhinus sp. and Sphyrna sp. the most important species. The total length of sampled individuals varied in the
range of 51 - 125 cm, whose monthly values showed a regular trend along the study period. No statistically-significant
differences were found to occur for the sexual proportion.
Key words: acoupa weakfish, Cynoscion acoupa, fishery, Pará State.

1
Bolsista PIBIC/CNPq no Departamento de Oceanografia, Universidade Federal do Pará, Campus do Guamá, Belém, PA 66073-110.
2
Professor Adjunto do Departamento de Oceanografia, Universidade Federal do Pará. E-mail: flucena@ufpa.br

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INTRODUÇÃO envolvida. Este trabalho tem o objetivo de descrever a
pescaria (artes de pesca, desembarques, fauna acom-
panhante e composição da captura) da pescada-ama-
Os rios Amazonas e Tocantins deságuam no rela capturada na costa do estado do Pará.
Oceano Atlântico na costa Norte do Brasil, entre os
estados do Pará e Amapá. Esta área, chamada de
Estuário do Amazonas, estende-se na linha de costa MATERIAL E MÉTODOS
destes estados formando um ambiente aquático com-
plexo com uma alta produtividade biológica, que
suporta uma biomassa substancial de espécies de Durante os desembarques os exemplares foram
peixes exploradas por frotas artesanais e industriais medidos do focinho até o final da nadadeira caudal
estabelecidas em ambos os estados. Esta região é con- (comprimento total – CT) com um ictiômetro, e o valor
siderada uma das regiões mais produtivas do País registrado correspondente ao centímetro mais próxi-
(Sanyo Techno Marine, 1998). Estima-se que cerca de mo. Foram registrados os comprimentos de 716 exem-
40% da produção brasileira é originária desta área. plares (nmachos = 75, nfêmeas = 97, nindeterminado = 544)
Esta riqueza faz com que o local seja um grande pólo obtidos no mercado do Ver-o-Peso (Belém, Pará), na
industrial de exploração de recursos pesqueiros. Feira da 25 de Setembro (Belém, Pará; exemplares
capturados em Bragança e Vigia), e em uma indústria
O declínio de alguns recursos pesqueiros no
de pesca sediada em Belém, no período de setembro
Brasil é evidente, o qual é geralmente atribuído ao
de 2002 a junho de 2003.
excessivo esforço de pesca e à captura de exemplares
juvenis de populações com sustentabilidade já com- Para caracterizar as pescarias e artes de pesca,
prometida (Haimovici, 1998; Souza, 2002). Há uma ao final de cada desembarque, os mestres respondiam
necessidade iminente do conhecimento detalhando a um questionário onde constavam informações so-
sobre a atividade pesqueira, parâmetros populacionais bre: tipo da rede (superfície ou de fundo), local da
e padrões de distribuição das espécies de importância captura, dias de mar, número de lances, duração do
comercial no país. Estas informações servem de apoio lance, número total de panos da rede, comprimento
para a avaliação de tais estoques, base da gestão do pano, altura do pano em malhas, profundidade da
pesqueira. captura, espécies-alvos, espécies capturadas e o ta-
manho da malha entre nós opostos.
A pescada-amarela, Cynoscion acoupa
(Lacépède, 1801), é uma espécie da família Sciaenidae Informações foram obtidas através de dados
que ocorre em águas tropicais e subtropicais da costa de desembarques da frota industrial para os anos de
atlântica da América do sul. No Brasil, ocorre em todo 2000 a 2002 de cinco empresas de pesca sediadas no
o litoral. Esta espécie é nectônica, demersal e costeira Pará, fiscalizadas pelo Serviço de Inspeção Federal
de águas rasas; comum nas águas salobras dos estu- (SIF) através de visitas regulares ao Ministério da
ários, lagoas estuarinas, desembocaduras dos rios e Agricultura. A sazonalidade da pesca foi analisada
podem penetrar na água doce. Os espécimes juvenis calculando-se os percentuais relativos (em peso)
são restritos às águas salobras e doces, e encontrados mensais em relação à captura total da pescada-ama-
em pequenos e grandes cardumes nadando próximo rela no ano.
ao fundo. Alimenta-se principalmente de peixes e crus- Para a análise da CPUE (Captura por Unidade
táceos (Szpilman, 2000) e, de acordo com Carvalho- de Esforço) e descrição da fauna acompanhante da
Filho (1999), habita áreas de lodo, areia ou cascalho, pescada-amarela foram utilizados registros detalha-
entre 1 a 35 metros. Penetra rios de água doce e é a dos de desembarques por viagem para os anos de
maior espécie do gênero no Brasil. Ela se aproxima de 2001 e 2002, coletados em uma empresa de pesca
águas mais rasas à noite para se alimentar de peixes sediada no Estado do Pará. A CPUE foi estimada em
e crustáceos, e durante o dia é pouco ativa. Reproduz- cada trimestre como o somatório de captura total di-
se na primavera e verão e as larvas se desenvolvem em vidido pelo somatório do número de viagens daquele
águas rasas e de baixa salinidade. trimestre ( ΣCt/ Σ n.º de viagens). Cento e nove desembar-
Esta espécie é considerada extremamente rele- ques direcionados para a pescada-amarela foram
vante nos volumes de desembarques do estado mas, registrados para o ano de 2001 e 27 para o ano de 2002.
apesar da sua importância sócio-econômica, as infor- Considerando que os dados de comprimento
mações sobre a mesma na costa norte do Brasil ainda não apresentaram variâncias homogêneas, diferen-
são escassas e difusas. Considerando tal relevância, ças entre o comprimento amostrado e meses do ano
torna-se necessária a investigação das principais foram testados através do teste não paramétrico de
características biológicas da espécie e da pescaria Kruskal-Wallis a um nível de significância de 5%.

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RESULTADOS apenas (Figura 2). A pesca direcionada para esta es-
pécie é efetuada durante todo o ano, porém os maiores
índices de abundância (CPUE) foram registrados para
Descrição da pesca
o 3o trimestre de 2001 e o 2o trimestre de 2002.
A rede de emalhar empregada na captura da A fauna acompanhante da pescada-amarela
pescada-amarela no Estado do Pará é confeccionada obtida por redes de emalhar, representou 52% e 66%
com fio de multifilamento, com tamanho da malha da captura total para os anos de 2001 e 2002, respec-
variando de 180 a 200 mm (entre nós opostos) e a rede tivamente. Para ambos os anos, a espécie dominante
medindo de 4.500 – 4.800 m de comprimento com 5,0 foi a gurijuba, Arius parkeri, seguida pela corvina,
a 6,0 m de altura. Este apetrecho atua principalmente Cynoscion steindachneri, cações dos gêneros
entre 10 e 20 m de profundidade. As pescarias se Carcharhinus e Sphyrna, robalo-flexa, Centropomus
estendem por até 30 dias, sendo efetuados entre 60 a undecimalis, e bagre, Arius couma. No ano de 2001, a
80 lances por viagem, com uma duração de 6 horas pirapema, Megalops atlanticus, foi relevante na pesca-
para cada lance. ria direcionada para a pescada-amarela e em 2002,
No Estado do Pará, a pescada-amarela é cap- uritinga, Arius proops, teve uma grande participação
turada durante todo o ano, principalmente entre os nas capturas (Figura 3). A cate,goria “outros” incluiu
meses de maio e agosto (Figura 1). Em relação a abun- uma variedade de espécies como o xaréu, Caranx spp,
dância (estimada pela CPUE), os resultados obtidos e Alectis ciliaris e o mero Epinephelus itajara que tam-
foram similares ao detectado pela análise da captura bém foram parte da fauna acompanhante.

Figura 1 – Produção mensal da pescada-amarela, Cynoscion acoupa, obtida em cinco empresas do


Estado do Pará, nos anos de 2000 a 2002.

a b

Figura 2 - CPUE (kg/viagem) da pescada-amarela, Cynoscion acoupa, nos anos de 2001(a) e 2002(b).

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a b

Figura 3 - Fauna acompanhante da pescada-amarela, Cynoscion acoupa, capturada por rede de emalhar, nos anos de 2001
(a) e 2002 (b).

Analisando a composição da captura da pes- quando a corvina teve sua maior participação. Assim
caria direcionada para a pescada-amarela sazonal- como no ano de 2001, a gurijuba foi abundante no 4o
mente para o ano de 2001, verificou-se que durante trimestre e no 3o trimestre do ano (Figura 5).
três trimestres do ano (1o, 2o e 4o trimestres), o padrão
foi semelhante à tendência anual. No 3o trimestre, A pescada-amarela, por ser capturada em pouca
entretanto, a gurijuba representou 23% e a corvina quantidade, é considerada como fauna acompa-
25% do total da fauna acompanhante das pescarias nhante na pescaria de algumas outras espécies, como
direcionadas para a pescada-amarela (Figura 4). tubarões do gênero Carcharhinus e Sphyrna e dourada,
No ano de 2002, a composição da captura rela- Brachyplatystoma flavicans. Na pescaria do tubarão,
tiva à fauna acompanhante da pescada-amarela dife- esta representa 3% do total capturado e na pescaria
riu entre os semestres do ano. Por exemplo, a uritinga da dourada sua participação é baixa, alcançando no
foi relevante durante todo o ano, exceto no 1o trimestre, máximo 1%.

Figura 4 - Fauna acompanhante da pescada-amarela, Cynoscion acoupa, capturada por rede de emalhar por
semestre do ano de 2001.

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Figura 5 - Fauna acompanhante da pescada-amarela, Cynoscion acoupa, capturada por rede de emalhar por
trimestres do ano de 2002.

Composição da captura em comprimento DISCUSSÃO


Durante o período de setembro de 2002 a junho
de 2003 indivíduos de 51 a 125 cm de CT foram Apesar da importância econômica para o Es-
amostrados. O comprimento total médio (CT) ao lon- tado do Pará , as informações sobre a pescada-ama-
go dos meses amostrados no Pará foi significantemente rela são dispersas e escassas, com destaque para os
diferente (H = 109,93; P < 0,01). Em relação à propor- trabalhos de Sousa (2001) e Matos (2004). Outras in-
ção sexual (nmachos = 75, nfêmeas = 97), não houve formações estão difusas em trabalhos de conclusão de
diferença significativa entre machos e fêmeas captu- curso, dissertações de mestrado, teses e publicações
rados na costa do Pará (χ2 = 0,093; P > 0,05). onde a pescada-amarela é parte coadjuvante do estu-
do juntamente com as demais espécies relevantes para
a região.
Tabela I – Número amostral (n), comprimentos mínimo,
médio e máximo (CT, em cm) da pescada-amarela, Informações sobre a pescada-amarela podem
Cynoscion acoupa, desembarcada na costa do Pará ser encontradas com maior frequência no estuário do
durante os meses de setembro de 2002 a julho de 2003. Rio Caeté com relação à sua abundância (9,5% dos
Meses Comprimento total (cm) indivíduos capturados) e à função do manguezal como
N mínimo médio máximo área de berçário. Larvas e juvenis apresentam densi-
Set/02 44 51 81 108 dades máximas no alto estuário e na estação chuvosa,
Out/02 246 51 96 125 sugerindo que a desova desta espécie deva ocorrer
perto da boca do estuário no final da estação seca
Nov/02 71 60 98 122
(outubro a janeiro), segundo Barletta-Bergan et al.
Dez/02 42 83 100 115
(1999). Classificada como estuarina dependente, uti-
Jan/03 30 64 80 115 liza o ambiente estuarino como berçário durante os
Fev/03 16 63 87 109 primeiros anos do ciclo de vida. Gomes (2003), tam-
Mar/03 23 78 98 105 bém analisando estágios iniciais do ciclo de vida no
Abr/03 207 72 99 120 estuário do Rio Caeté, afirma que esta espécie é abun-
Mai/03 26 69 85 113 dante neste ambiente e tolera baixos níveis de
Jun/03 11 60 100 115
salinidade. Wolf et al. (2000) descrevem um modelo
trófico para a região do estuário do Rio Caeté, onde a
Total 716 51 95 125
pescada-amarela é um importante componente e se

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alimenta de peixes com tamanho superior a 30 cm. amarela) e a serreira (direcionada para a serra) e, em
Seus aspectos biológicos (abundância, composição menor número, a rede fina ou gozeira (direcionada
por tamanho e crescimento) na foz dos rios Amazo- para a pescada-gó), o espinhel e o curral-de-pesca. A
nas e Tocantins foram primeiramente descritos na pescadeira, principal aparelho para captura da pes-
década de 90 (Sanyo Techno Marine, 1998). cada-amarela, é confeccionada com nylon multifi-
Mourão (2004) descreve a pesca artesanal e lamento n.º 210/36 ou monofilamento de 100 – 200
industrial no município de Vigia, onde a pescada- mm de malha. O tamanho da malha varia geralmente
amarela é um componente importante dos recursos entre 175 – 200 mm (medidos entre nós opostos) e a
pesqueiros. Silva (2004) oferece um diagnóstico so- rede mede 1.600 – 1.800 m de comprimento (Matos,
bre a pesca no Estado do Pará, com a descrição de 2004). Segundo Silva (2004) a captura da pescada-
várias pescarias sob seus aspectos ecológicos, téc- amarela ocorre em pesqueiros localizados na costa do
nicos, sócio-econômicos e relacionados ao manejo. Estado do Amapá e a produção é desembarcada prin-
Ali se relatam, entre outras, as pescaria da pescada- cipalmente nos municípios de Curuçá, Bragança e
amarela no estado. Vigia. De acordo com Mourão (2004), sua pescaria é
A pescada-amarela se destaca nos desembar- considerável entre as desembocaduras dos rios
ques da costa do Pará, onde uma produção anual Oiapoque e Caciporé.
média de 17.332 t foi registrada no período de 1997 e De acordo com o presente estudo, a pescada-
2002 (www.ibama.gov.br). Juntamente com outras amarela é capturada durante todo o ano, principal-
espécies como pescada go, Macrodon ancylodon, serra, mente entre os meses de maio e agosto. Silva (2003)
Scomberomorus brasiliensis, e pargo, Lutjanus purpureus, afirma que a espécie é capturada durante o ano in-
a pescada-amarela é considerada de grande impor- teiro, mas a produção se intensifica no segundo se-
tância para economia rural dos habitantes do estado, mestre, especialmente na estação seca, que compre-
especialmente no estuário do Rio Caeté, próximo à ende o período de agosto a setembro (Sanyo Techno
cidade de Bragança (Glaser & Grasso, 1998; Espírito Marine, 1998).
Santo, 2002), e no município de Vigia (Mourão, 2004). A fauna acompanhante da pescada-amarela,
Esta espécie tem um grande valor comercial não so- nas pescarias com rede de emalhar, representa de 52
mente porque sua carne é considerada excelente, mas a 66% da captura total e é dominada principalmente
também porque fornece um produto conhecido como por espécie de médio e grande portes como a gurijuba,
“grude” (bexiga natatória), para se obter uma gelatina corvina, cações, robalo, pirapema, uritinga, xaréu e
utilizada na indústria de bebidas como emulsificantes bagre. Estas são também consideradas como espécies-
e clarificante, na indústria vinícola (Chao, 1978; alvos pelas empresas de pesca da região e são explo-
Menezes & Figueiredo, 1980; Cervigón et al., 1992; radas economicamente, como é o caso da gurijuba,
Cervigón, 1993; Carvalho Filho, 1998; Barletta et al., assim como outras espécies com menor represen-
1998; Camargo-Zorro, 1999; Torres, 1999; Wolf et al., tatividade e comercializadas em pequena escala. Para
2000). No Município de Augusto Corrêa, por viagem, um determinado tamanho de malha, a similaridade
para o ano de 2004, em média 500 kg de pescada- entre a forma do corpo determina quais espécies são
amarela são desembarcadas, o que chegou a render de fauna acompanhante potenciais numa dada pescaria
R$200,00 a R$500,00 por pescador. Nos anos de 2003 alvo (McCombie & Berst, 1969; Reis & Pawson, 1999,
e 2004, a pescada-amarela teve preços de primeira Lucena et al., 2000). Nesse caso, supõe-se que as espé-
comercialização variando entre R$ 2,80 e R$ 3,70/kg cies capturadas juntamente com a pescada-amarela
(Isaac et al., 2004) e a grude seca em torno de R$ possuam perímetro e forma do corpo similar com o da
120,00/kg (Silva 2004). espécie-alvo. Silva (2004) identificou as mesmas espé-
A captura da pescada-amarela na costa norte cies (exceto cações e bagre), e inclui também a doura-
do Brasil é realizada principalmente por embarcações da como componentes da fauna acompanhante. O
artesanais de pequeno e médio portes. O aparelho-de- descarte nessa pescaria é praticamente nulo devido
pesca utilizado é a rede de emalhar com comprimento ao fato de que, em relação ao tamanho da malha
de até 4.800 m e malhas variando na faixa de 180 - 200 utilizado na captura da pescada-amarela, as espécies
mm (entre nós opostos). Especificamente no Municí- da fauna acompanhante, por serem de médio e gran-
pio de Augusto Corrêa, a captura da pescada-amarela de portes, também comercializadas nos mercados
se dá preferencialmente com embarcações motoriza- estadual e nacional.
das. Os petrechos utilizados são redes de emalhar que O comprimento da pescada-amarela, no Estado
têm, em média, 2.100 m de comprimento e 5 m de do Pará, variou na faixa de 51 - 125 cm CT, nos anos
altura (Isaac et al., 2004). No Maranhão, os principais de 2002 e 2003, portanto inferior ao registrado para o
apetrechos utilizados na pescaria da pescada-amare- Maranhão, onde os indivíduos apresentam amplitu-
la são a pescadeira (direcionada para a pescada- de total de 7,0 - 175,0 cm CT, com maior frequência no

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intervalo de classe 97,0 - 103,0 cm. A grande concen- Camargo-Zorro, M. Biologia e estrutura populacional das
tração de indivíduos de pequeno porte registrada neste espécies da família Sciaenidae (Perciformes), no estuário do
estado de deve ao fato de que a captura desta espécie Rio Caeté, município de Bragança, Pará, Brasil. Disserta-
é feita por vários tipos de aparelho-de-pesca (Matos, ção de Mestrado, Museu Paraense Emílio Goeldi/
2004). O comprimento médio é correlacionado com a UFPA, 84 p., Belém. 1999.
profundidade, uma vez que maiores indivíduos são Carvalho Filho, A. Peixes: costa brasileira. Melro, 320p.,
encontrados mais afastados da costa (Sanyo Techno São Paulo, 1999.
Marine, 1998). A pescada-amarela capturada com rede
Cervigón, F. Los peces marinos de Venezuela. Vol. II.
de arrasto no estuário Amazônico mediu de 68,8 a
Caracas, 497p., Vol. II. 2a.ed. Caracas. 1993.
112,0 cm CT e, o comprimento médio dos exemplares
desembarcados em Vigia, Bragança e no Ver-o-Peso Cervigón, F.; Cipriani, R.; Fisher, W.; Garibaldi, L.;
foi de 88 cm, 55 cm e 109 cm CT. respectivamente Hendrickx, M.; Lemus, A.J.; Márquez, R.; Poutiers, J.
(Sanyo Techno Marine, op. cit.). Considerando que M.; Robaina, G. & Rodríguez, B. Guía de campo de las
esta espécie é estuarina dependente (Barletta, 1999), especies comerciales marinas y de aguas salobres de la costa
sua captura em estuários pode contribuir para uma septentrional de Suramerica. FAO, 513 p., Roma, 1992.
maior mortalidade de juvenis, indivíduos com tama- Chao, L.N. A basis for classifying Western Atlantic
nho menor que o comprimento na primeira maturi- Sciaenidae (Teleostei:Perciformes). U.S. Department of
dade, estimado em 53 cm CT (Espinosa, 1972). A Commerce, National Marine Fisheries Service, 65 p.,
comercialização de exemplares de pequeno porte na Washington, 1978.
costa do Pará não é evidente nos principais pontos de Espinosa, V. The biology and fishery of the curvina,
desembarque, provavelmente devido a exigências do Cynoscion maracaiboensis, of Lake Maracaibo. Ser. Recur.
mercado consumidor e à padronização dos apetre- Expl. Pesq., v. 2, n. 3, p. 1-4, 1972.
chos, embora Silva (2004) tenha registrado a captura
Espírito-Santo, R.V. Caracterização da atividade de de-
de espécimes de pequeno porte em áreas estuarinas
sembarque da frota pesqueira artesanal de pequena escala
da costa do Pará.
na região estuarina do rio Caeté, município de Bragança-
Pará-Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade
Agradecimentos - Aos MSc. Marcelo Ferreira Torres
Federal do Pará, 78 p., Bragança. 2002.
e MSc. Luciana Morais pela revisão da versão anterior
deste trabalho. Aos feirantes e pescadores do Estado Glaser, M. & Grasso, M. Fisheries of a mangrove
do Pará, que gentilmente permitiram acesso aos seus estuary: dynamics and inter-relationships between
locais de trabalho contribuindo de forma definitiva economy and ecosystem in Caeté Bay, Northeastern
para a realização deste estudo. Pará, Brazil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, ser. Zool., v.
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