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ESCRAVIZAR OU NÃO ESCRAVIZAR, EIS A QUESTÃO: o problema religioso da

escravidão na guerra de secessão do Estados Unidos da América.


Marcos Soares da Silva.1
A Guerra de Secessão envolveu não somente questões políticas, mas também religiosas.
Entre as causas, a abolição da escravatura é considerada a principal. A guerra estourou sob o
governo de Abraham Lincoln que, segundo o historiador Leandro Karnal, tinha um discurso
ambíguo: “Seu discurso ambíguo e carregado de retórica foi capaz de administrar, por algum
tempo, a forte pressão sofrida durante o seu mandato. Afirmava, por exemplo, que a “raça
branca” era sim superior. (KARNAL et al., 2007, p. 130-131). No meio religioso as opiniões
se dividiam, havia defensores de ambos os lados ao ponto de, conforme nos informa Azevedo
e Amaral (2018), as igrejas proibirem a discussão do tema e afirmarem que a discussão não
dizia respeito a religião, mas de alçada civil. A seguir delineamos algumas argumentações
possíveis.
Considerando o texto bíblico, regra de fé dos protestantes, encontramos indícios que
não há uma condenação por manter a escravidão, pois a própria Bíblia orienta, não há
necessidade de abolição, mas apenas de que haja justiça no trato com os escravos. Paulo, em
carta à igreja de Colossos (BÍBLIA, 2021, Cl 3.22), orienta aos escravos que obedeçam a seus
donos em tudo, enfatizando que devem fazer isso por temerem ao Senhor.
Em relação aos senhores não há qualquer indicação que deveriam libertar seus
escravos, mas tratá-los com justiça: “Senhores, dêem [sic] aos seus escravos o que é justo e
direito, sabendo que vocês também têm um Senhor no céu.” (BÍBLIA, 2021, Cl 4.1). Desta
forma pode-se perceber que não há necessidade, por exemplo, de um senhor de escravos que
por ventura se torne cristão, se desfazer de sua propriedade.
Em contrapartida evocando o texto de Levítico: "Se alguém do seu povo empobrecer
e se vender a algum de vocês, não o façam trabalhar como escravo.” (BÍBLIA, 2021, Lv
25.39), pode-se perceber que não há como sustentar a possibilidade de manter escravidão,
considerando todo o ensinamento contido nas páginas sagradas. A ordem escrita na lei
mosaica é corroborada com a fala de Jesus (BÍBLIA, 2021, Lc 4.18-19), quando inicia seu
ministério citando o profeta Isaías (BÍBLIA, 2021, Is 61.1-2).
Libertar os presos e oprimidos foi parte do ministério de Jesus e, consequentemente,
de todo aquele que se professa cristão. Não obstante possamos encontrar textos que pareçam
justificar a escravidão, não podemos nos furtar de seguir nosso Mestre. Alguns textos, de

1
Graduado em História pela Unipar, Matemática pela Unioeste e Bacharel em Teologia pela Unicesumar
Paulo por exemplo, podem parecer justificar a escravidão, mas apenas trata-se de orientações
para uma determinada cultura, visando a ordem e o bem comum, não podendo ser utilizados
para justificar e manter o status quo. Podemos ver isso na orientação ao Coríntios: “Foi você
chamado sendo escravo? Não se incomode com isso.” (BÍBLIA, 2021, 1Co 7.21). Nesta
primeira parte o ensino parece corroborar a escravidão, no entanto ele complementa: “Mas,
se você puder conseguir a liberdade, consiga-a.” (BÍBLIA, 2021, 1Co 7.21). Ou seja, o
apóstolo está enfatizando que, na verdade, o Senhor Jesus Cristo é nosso único Senhor e
Dono.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Israel Belo de. AMARAL, Lissânder Dias do. História da Igreja II. Maringá:
UniCesumar, 2018.

BÍBLIA. Português. Bíblia Online. Nova Versão Internacional. Disponível em:


<https://www.bibliaonline.com.br/nvi/index>. Acesso em: 17 set. 2021.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo:
Contexto, 2007.

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