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ORDEM E MINISTÉRIOS – SACRAMENTOS IV


(TEO 1261) – PUC-RJ 2019.2 (Seminário do RJ)

Bibliografia
*AUER, J.-RATZINGER, J. (edizione italiana a cura di Carlo Molari). I Sacramenti
della Chiesa. Assisi, v. 7: Cittadella, 19892. (ORDEM: pp. 389-484).

*JOÃO PAULO II. Homilia na Missa de Ordenação Sacerdotal no Rio de Janeiro, em


02 de jolho de 1980.

*BARTMANN, B. Teologia Dogmática. Sacramentos – Escatologia. S. Paulo, v. 3:


Paulinas, 1964. (pp. 360-384). Importante também para a Parte Dogmática.

GOMES, C. F. Riquezas da Mensagem Cristã. Comentário ao “Credo do Povo de


Deus”. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 19892 (revista e ampliada), pp. 541-544.

SCHNEIDER, T. (org.). Manual de Dogmática. Petrópolis, v. 2: Vozes, 20094. (pp.


309-325).

*PAULO VI. Motu proprio “Ministeria Quaedam”, de 15 de agosto de 1972.

SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia. S. Paulo: Paulinas,


Paulistas, 1992. (pp. 828-829: parte bíblica; pp. 1029-1044: sobre o “Sacerdócio”).

*SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação. S. Paulo, tomo 3: Loyola, 2005 (pp. 80-
88; 162-166;192;214;219-221;276-279)

Apostila da Escola Teológica sobre a Ordem e Ministérios.

1
Introdução

•leitura e comentário de: JOÃO PAULO II. Homilia na Missa de Ordenação Sacerdotal
no Rio de Janeiro, em 02 de julho de 1980, nn. 1-5 (pp. 92-97 da edição Paulinas, S.
Paulo2, 1980.)

2
Alguns elementos sobre o conceito de ‘sacerdócio’ nas
culturas em geral1

•em todas as culturas, o sacerdote sempre foi o mediador oficialmente reconhecido entre
o homem e Deus, entre o mundo humano e o divino (sacerdote = sacra dare);
•os três âmbitos de exercício da sua função nas sociedades: 1º. a imolação do sacrifício,
distinto quanto ao propósito (p. ex.: propiciatório, expiatório, etc.), quanto ao modo (p.
ex.: cruento, incruento), quanto à vítima (humana, animal, de coisas), etc.; 2º. a prática

1
Extraídos de: SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia. S. Paulo: Paulinas, Paulistas,
1992 ,p. 1029.
2

do exorcismo (purificação de toda sorte do mal); 3º. a revelação de oráculos (prática de


adivinhações, manifestação do curso futuro dos acontecimentos, etc.).
•simultaneamente, em virtude do amálgama, entre os povos, entre religião e sociedade,
a função sacerdotal possuía grande influxo sobre a ordem social e política dos povos.
Daí, a existência não rara de sacerdotes-reis. No Império Romano, p. ex., ao Imperador
se outorgou também a função do Sumo Pontífice, para o exercício da ação sacrificial; no
Egito, sacerdotes eram inseridos dentre os oficiais reais
•por outro lado, em certas sociedades ou períodos da história, o sacerdote é reduzido a
simples adivinho ou exorcista, ou perito do cerimonial religioso;
•em certas ocasiões, sua função se degradou ao nível da feitiçaria.

3
Fundamentação Bíblica da Ordem

3.1
O sacerdócio de Israel2

•antes do período da monarquia israelita:


→funções sacerdotais eram exercidas pelos Patriarcas, sem que houvesse uma
instituição ou família sacerdotal propriamente dita:
Ex.: Caim e Abel (Gn 4,3ss); Noé (Gn 8,20); Abraão (Gn 22,13); Jacó (Gn 31,54; 46,1);
alguns dos Juízes (Gedeão: Jz 6,25, etc.);
→a função sacerdotal estava associada à Arca da Aliança e ao Santuário;
→exercício do oráculo através do uso do urim e do thummim. Todavia, os sacerdotes do
antigo Israel não se confundiam com os adivinhos e videntes pagãos, baseados em
práticas idolátricas, vetadas aos israelitas;

→Moisés possui um papel central no sacerdócio israelita, enquanto mediador entre


Deus e o Povo. A ele, vários textos atribuíram explícitas funções sacerdotais (p. ex.: Nm
14,10-20: Moisés intercede; a ele se refere a investidura sacerdotal dos filhos de Aarão
(Nm 15-17);
→existência de santuários sacerdotais (p.ex., o de Silo);

•durante a monarquia:
→o sacerdócio exerce várias atividades de destaque, resumidas na bênção da tribo de
Levi: consultar a Deus; ensinar, julgar à luz da Lei, cumprimento do sacrifício cruento e
oferecimento do incenso (cf. Dt 33,8.10);

•depois do exílio:
→existência de várias correntes sacerdotais; a figura do sumo sacerdote é central
(funções minuciosamente descritas em Lv 1-6); levitas subdivididos em classes (cf.
livro das Cr), com função mais cultual que magisterial ou de pregação; período de
grande ênfase à sacralidade sacerdotal, e restrição das ações cultuais aos sacerdotes;
sacerdócio sempre mais exercido como função hereditária, prática de normas rituais e
prescrições legais, para a manutenção da pureza sacerdotal da Lei. Ainda que seja visto
como uma função sacral que separa o sacerdote do resto do povo, não se perde

2
Cf. SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia.,p. 1029-1031.
3

entretanto a noção geral, presente em Ex 19,6, da consagração geral do Povo: “Vós


sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.”;

•no Judaísmo tardio:


→comunidades judaicas da diáspora eram dirigidas por um colégio de “anciãos”, os
pais de família;
→“em casos especiais, uma ou no máximo duas pessoas eram encarregadas de tarefas
específicas bem delimitadas.”3 Tal função (a šalia = missionário, enviado) é vista como
análoga àquelas de Barnabé e Saulo (cf. At 11,22-23) e Judas Bársabas e Silas (cf. At
15,22) (seriam os apóstolos itinerantes, precursores do episcopado monárquico ou
residente de Inácio de Antioquia, posteriormente?).

3.2
O sacerdócio de Cristo4

•o presente tópico tem por objetivo expor como já nas Escrituras neotestamentárias
Jesus é reconhecido como Sacerdote;
•é bem verdade que nenhum outro escrito do NT, senão a epístola aos Hb, atribui a
Jesus claramente o título de sacerdote. De fato, ele não pertencia à tribo sacerdotal de
Levi, mas sim à de Judá;
•ao contrário, suas palavras e gestos o associavam muito mais a um profeta, e como tal
foi reconhecido: cf. Lc 7,16: “Um grande profeta surgiu entre nós, e Deus visitou o seu
povo.”5;
•Ele mesmo se aplicou tal título: cf. Lc 4,24: “Em verdade vos digo que nenhum profeta
é bem aceito em sua pátria.”6;
•porém, é inegável que o Senhor mesmo tenha feito seus discípulos compreenderem
que, pelo seu sacrifício do Calvário, Ele era simultaneamente vítima e sacerdote, pois é
Ele a vítima da imolação, e é Ele que se entrega ao Pai na Unção do Espírito pela
remissão dos nossos pecados. Isso se torna bem patente, por exemplo, nas tradições
sinóticas de Mt e Mc, com a narrativa da instituição:
cf. Mt 26,27-28: “...tomou um cálice...dizendo: ‘...isto é o meu sangue, o sangue da
Aliança...’ ”;
cf. Mc 14,24: “E disse-lhes: ‘Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança...’ ”;
cf. Lc 22,20 acrescenta: “...a Nova Aliança...”.
•note-se que se trate ali de uma explícita alusão a Ex 24,8. Depois de terem sido
imolados novilhos a Deus aos pés do Sinai, disse Moisés: “Este é o sangue da Aliança
que Adonai fez convosco...”. Há pois um claro paralelo entre tais passagens;
•1Cor 10,14-22 contrapõe a ceia do Senhor aos sacrifícios pagãos: estes, segundo Paulo,
são ritos idólatras, demoníacos, diverso daquele. Todavia, ambos são de natureza
sacrificial;
•além disso, Paulo identifica Jesus como vítima, como Cordeiro: cf. 1Cor 5,7;
•o Evangelho de Jo confere igualmente à última Ceia um caráter pascal: cf. Jo 13;
•todavia, é a epístola aos Hb, como dito acima, que reconhece claramente Jesus como
Sacerdote. Isso aí ocorre certamente porque Hb se trate de uma teologia que conseguiu
sintetizar o pensamento de correntes anteriores, chegando assim à conclusão de que, no
fundo, em Jesus se aglutinam e se cumprem plenamente as funções de Profeta, Messias

3
SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia.,p. 1030.
4
Cf. SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia.,p. 1031-1032.
5
Ressurreição do filho da viúva de Naim.
6
Jesus na sinagoga de Nazaré.
4

e Sacerdote, que o Judaísmo havia seccionado a tal ponto de não reconhecer as


prefigurações veterotestamentárias se confluirem e cumprirem na Pessoa do Senhor.
São particularmente relevantes os seguintes textos de Hb: 2,10.17; 3,1; 4,14ss; 5,1ss;
7,1ss.
•como se caracteriza o Cristo-Sacerdote, segundo a teologia de Hb?
1. é de caráter universalista e messiânico. Ao contrário do sacerdócio levítico, que
exigia a pertença à genealogia da tribo de Aarão,7 o sacerdócio de Cristo é sem
genealogia, eterno,8 imutável, não restrito aos limites de uma nação, tribo, linhagem ou
família. Por isso, segundo Hb 7,3, encontra em Melquisedec, rei de Salém, seu tipo
teológico (cf. também Hb 7,11: um outro sacerdócio, não segundo a ordem de Aarão).
Além disso, o seu sacerdócio, por causa da oblação da cruz, cumpre a função
messiânica redentora do pecado, já prefigurada na missão do Servo de Adonai, do livro
de Is; é “...princípio de salvação eterna...”(5,9).
2. é misericordioso. Assim se lê em 2,17 (“...um sumo sacerdote misericordioso...”). E o
motivo é, em uma palavra, o seguinte: a sua Encarnação. Justamente porque teve em
comum com os seres humanos a carne e o sangue, se fez intimamente solidário com
eles, assumindo a condição a que haviam sido levados por causa do pecado.9
3. é fiel. De novo, aponta 2,17: “...um sumo sacerdote...fiel.” E fiel “...em relação a
Deus...”, i.e, nas coisas que se referem a Deus, e na fidelidade e submissão ao Pai (cf.
5,7). Por causa disso, apesar de possuir a mesma condição divina do Pai, sendo dEle seu
Filho, submeteu-se obediente por meio do sofrimento (5,8). Nisso se encontra a
perfeição de seu sacerdócio (“...levado à perfeição...”: 5,9);
4. apesar de ser superior ao sacerdócio levítico, ele cumpre todavia, em grau de
perfeição, todos os elementos já contidos, em figura, naquele: o sacrifício expiatório
(como se fazia com as vítimas dos animais), a (nova) Aliança (assim como foram
estabelecidas alianças no AT), a missão de serviço (redentor, tal como o Servo de
Adonai, prefigurado em Is), etc. Ou seja: o sacerdócio de Cristo, segundo Hb, possui
tanto um caráter de continuidade (caráter convergente com o do AT: não se trata
absolutamente de uma contraditoriedade com o sacerdócio da antiga Lei), quanto o de
distinção (caráter divergente),10 bem como de plenificação (caráter escatológico: é o
Sacerdócio por excelência).11 Há pois linearidade, e ruptura.
5. é santo, inocente, imaculado; solidário ao pecador, sem ser pecador, 12 de dignidade
não humana, mas mais alta do que os céus. É o que se lê em 7,26.

3.3
A instituição da Ordem por Cristo

•trata-se de um assunto particularmente relevante, haja vista o fato de ter sido,


especialmente a partir da Reforma, posto em xeque. A questão consiste no fato se Cristo
teria na verdade intencionado constituir hierarquicamente a sua Igreja;

7
“Aarão, o levita” (Ex 4,14 ), onde o termo designa aqui uma função, i.e, a função sacerdotal de Aarão.
Levi era também o nome do terceiro filho de Jacó com Lia, cf. Gn 29,34, e antepassado de Aarão e
Moisés, cf. Ex 6,16.18.20, na sequência seguinte: Levi gerou Caat (6,16)→Caat gerou Amram
(6,18)→Amram gerou, de Jocabed, Aarão e Moisés (6,20).
8
7,24.
9
2,14: “...também ele participou da mesma condição...”.
10
Não é de linhagem sacerdotal, não oferece sacrifícios no Templo, não possui prestígios honoríficos, etc.
11
Ou, em outras palavras: cf. Hb, isso é que é ser Sacerdote, por antonomásia. Em Cristo, o Sacerdócio
atinge o seu te,loj!
12
7,26: “...separado dos pecadores...”.
5

•antes de mais nada, vale a pena lembrar aquilo que afirma S. Tomás, no que tange ao
tema instituição dos Sacramentos: “Diz-se que alguém instituiu algo quando dá à coisa
força e vigor, como fica evidente no caso das instituições das leis.”. 13 Tal princípio,
sintetizado pela Teologia medieval, pauta o conceito católico de Sacramento nessa
matéria, e resolve satisfatoriamente a pergunta a respeito da instituição da Ordem,
quanto ao seu rito sacramental, por parte de Cristo (instituição indireta);
•perdura todavia a primeira pergunta: para além da universal consagração de todos os
membros do Povo de Deus por meio do Batismo – que se fundamenta sobre o texto de
1Pd 2,9 – Cristo quis constituir um sacerdócio especial, ministerial? A resposta é, sem
dúvida, afirmativa, pois que vem apoiada por vários textos do NT que o demonstram;
•assim é que, ao longo de sua missão pública, o Senhor escolheu, dentre os que o
seguiam, os Doze, dando-lhes poder, em termos de função de autoridade (evxousi,a).
Vejamos os textos:

→Mt 10,1: Kai. proskalesa,menoj tou.j dw,deka maqhta.j auvtou/ e;dwken auvtoi/j evxousi,aj)))
(“E tendo chamado a si os seus Doze discípulos, deu-lhes poder...”).

→Mc 3,14: kai. evpoi,hsen tou.j dw,deka @ou]j kai. avposto,louj wvno,masen# i[na w=sin
met´auvtou/ kai. i[na avposte,llh| auvtou.j khru,ssein kai. e;cein evxousi,an evkba,llein ta.
daimo,nia\ (“E constituiu [criou] os Doze [que também denominou apóstolos], a fim de
estarem com Ele, e enviá-los a anunciar e ter poder para expulsar os demônios;”).

→Lc 6,13: kai. o[te evge,neto h`me,ra( prosefw,nhsen tou.j maqhta.j auvtou/( kai. evklexa,menoj
avp´auvtw/n dw,deka( ou]j kai. avposto,louj wvno,masen))) (“E quando se fez dia, dirigiu-se a
seus discípulos, tendo eleito (por si) do meio deles Doze, que também denominou
apóstolos...”).

→Jo 20,21: ei=pen ou=n auvtoi/j @o` vIhsou/j# pa,lin( Eivrh,nh u`mi/n\ kaqw.j avpe,stalken me o`
path,r( kavgw. pe,mpw u`ma/j) (“Disse-lhes pois Jesus de novo: paz a vós; como enviou-me
o Pai, assim vos envio.”). Apesar de não aparecer aqui o termo evxousi,a, a ideia é a
mesma, do momento em que Cristo transfere aos Apóstolos o que recebera do Pai;

•é interessante fazer notar que o termo grego evxousi,a já aparece na Literatura Clássica
Grega pré-cristã, e possui ali o sentido não somente de poder, autoridade, mas
igualmente de um encargo constituído (p.ex., um magistrado). Não se trata portanto
apenas de algo abstrato, mas se configura palpavelmente em uma função constituída;
•além disso, aos Apóstolos o Senhor deu tarefas particulares, bem como poderes
particulares, tais como o de ensinar (anunciar) o Evangelho (cf. Mt 28,19; Mc 16,15),
administrar o batismo (cf. Mt 28,19; Mc 16,16), celebrar a Eucaristia (pelo “Fazei isto
em memória de mim!”), perdoar os pecados (Jo 20,23). Eles são os alicerces da Igreja, a
Esposa do Cordeiro (cf. Ap 21,14).
•tudo quanto foi dito, associado já ao testemunho dos primeiros escritos dos Padres da
Igreja, nos fazem concluir que mesmo a Igreja primitiva compreendeu muito cedo o
caráter hierárquico do Povo de Deus, que se constitui por meio do sinal sacramental da
pessoa dos ministros ordenados.

13
S.Th. III, q. 64, a. 2.
6

3.4
A Ordem no NT

•trataremos neste tópico a respeito da constituição dos ministérios ordenados no NT;


•conforme vimos anteriormente, e ainda que mantida a verdade a respeito do sacerdócio
comum de todo o Povo de Deus, é incontestável para os estudiosos o fato de que o NT
apresenta nas primeiras comunidades cristãs a constituição de pastores que lhes serviam
de guias, e:
1º. que tinham um papel preponderante de intervenção nas lutas contra as heresias;
2º. dos quais eram requeridas virtudes especiais (o que se revela especialmente em At e
nas Epístolas Pastorais);
3º. aos quais se atribuíam funções de governo, ensino e santificação;
4º. para os quais, no que tange aos evpi,skopoi( presbu,teroi e dia,konoi, existia mesmo
um gesto visível de transmissão e investidura no poder espiritual: a imposição das mãos
(ceirotoni,a( evpi,qesij tw/n cei,rwn).14

•é, portanto, bem verdade que o NT apresenta, ao lado dos três graus da Ordem que hoje
conhecemos (o episcopado, o presbiterado, e o diaconato) tantos outros ministérios, que
se tratavam muito mais de atividades pastorais (sem que tenhamos maiores notícias do
que se tratavam exatamente) que de funções ‘hierárquicas’ propriamente ditas. Dentre
eles, aparecem os “apóstolos” (não os Doze), profetas, doutores, e todos os demais
especialmente citados em 1Cor 12,28. Muito rapidamente, porém, se rende claro o
discernimento das primeiríssimas comunidades cristãs acerca das funções
verdadeiramente indicativas do ministério ordenado. De fato, assim afirma Bernard
Sesboüé:
O Novo Testamento apresenta inúmeros e pouco coordenadas denominações relativas aos
ministérios. Os primeiros documentos patrísticos são testemunhos de uma progressiva
15
decantação desse vocabulário, que permanece ainda variado.

•assim sendo, no que tange aos três graus da Ordem (nitidamente distintos já em época
bastante primitiva do cristianismo, como testemunhado na Patrística Apostólica,
particularmente em Inácio de Antioquia [†ca. 135]), se observa ainda na terminologia
neotestamentária uma ausência de clareza quanto aos termos “epíscopo” e “presbítero”.
À guisa de exemplo, podemos considerar os versículos 17 e 28 do capítulo 20 de At,
como se vê abaixo:
→At 20,17: vApo. de. th/j Milh,tou pe,mpaj eivj ;Efeson metekale,sato tou.j
presbute,rouj th/j evkklhsi,aj)16

14
É bem verdade que tal gesto não era exclusivo da transmissão dessas funções, mas possuía também
outros significados, tais como o da transmissão do Espírito Santo aos já batizados (cf. At 8,17-19; 19,6),
bem como o de bênção ou cura dos enfermos (cf. a afirmação do Senhor em Mc 16,16). Também o envio
em missão de Paulo e Barnabé, em At 13,1-3, é feito por meio da imposição das mãos de um grupo de
“profetas e doutores”. Mais tarde, na Tradição, existem aqui e acolá alguns testemunhos – que não se
tratam de uma unanimidade – da imposição das mãos para a constituição de outras funções, a saber: 1. do
leitor e do subdiácono, no livro VIII das “Constituições Apostólicas”, séc. IV; 2. de todos os nove graus
até então conhecidos (bispo, presbítero, diácono; subdiácono, acólito, leitor, exorcista e ostiário) nos cân.
90 a 98 dos Statuta Ecclesiae Anntiqua, fim do séc. V (Gália meridional): cf. AUER, J.-RATZINGER, J.
I Sacramenti della Chiesa., p. 420.
15
SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação., p. 81.
16
“E de Mileto, [Paulo] tendo enviado um mensageiro a Éfeso, convocou os presbíteros daquela Igreja.”
7

→At 20,28: prose,cete e`autoi/j kai. panti. tw/| poimni,w|( evn w-| u`ma/j to. pneu/ma to. a[gion
e;qeto evpisko,pouj poimai,nein th.n evkklhsi,an tou/ qeou/( h]n periepoih,sato dia. tou/
ai[matoj tou/ ivdi,ou)17
•nota-se claramente, portanto, nos exemplos acima extraídos do mesmo trecho bíblico, o
uso indiferente dos dois termos para o mesmo grau da Ordem.
•em modo semelhante, (e diverso do que testemunhou Inácio, na sua diocese de
Antioquia da Síria, em suas cartas de princípios do séc. II) o mesmo ocorre em alguns
dos primeiros textos dos Padres da Igreja, ainda do séc. I. Assim Clemente Romano, ao
escrever a sua 1ª. Carta aos Coríntios coloca,18 ao lado dos diáconos, ora os “presbíteros
que exercem a função episcopal”, ora somente o termo “bispo”, confundindo-os. Ele diz:
De fato seria para nós uma culpa não pequena, se removêssemos do episcopado aqueles
que ofereceram as oblações em modo irrepreensível e santo. Felizes os presbíteros que
nos precederam (no nosso caminho), os quais tiveram um fim frutuoso e perfeito. 19

•oportuno, nesse sentido, é o que diz Sesboüé em: SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da
Salvação. S. Paulo, tomo 3: Loyola, 2005, pp. 80-81. Tal explicação pode ser ainda
mais esmiuçada, se considerarmos a possibilidade – como pensam alguns estudiosos –
da existência de um desenvolvimento progressivo, nas comunidades cristãs
contemporâneas ou imediatamente subsequentes ao tempo dos Apóstolos, de duas
correntes ou formas de constituição da hierarquia:
1) a primeira, de cunho mais judaico, denominada de Corrente Petrina;
2) a segunda, de cunho mais greco-romano, denominada de Corrente Paulina.

→as comunidades cristãs de Corrente Petrina eram aquelas que, por conservarem a
influência judaica em sua estrutura hierárquica, mantiveram o costume de constituírem
os conselhos de anciãos (“presbíteros”) como responsáveis das comunidades, seus
conselheiros, com responsabilidades, encargos e tarefas determinadas. De tempos em
tempos, à modo das comunidades judaicas, um dentre eles era eleito para seu presidente
(o presbítero-epíscopo?), mais particularmente dedicados à pregação e ao ensino. Pode
se ter formado mesmo, a partir disso, o grupo dos presbíteros “supervisores”
(epíscopos), diferenciado dos demais anciãos-presbíteros. Além disso, teriam sido esses
presbíteros-epíscopos, com carisma da pregação, a agirem na sequela missionária dos
Apóstolos, levando o Evangelho a todas as partes. Esse primeiro modelo, a modo de um
governo de colegialidade presbiteral sobre as comunidades, é o que se reflete em
Jerusalém e Palestina, expandindo-se para o Egito, Norte da África e Espanha
Meridional;20
→já as comunidades cristãs de Corrente Paulina eram aquelas que, nascidas no mundo
greco-romano, receberam o Evangelho por meio da ação missionária dos Apóstolos, e
dos seus sucessores-itinerantes, devotados à pregação e ao ensino, e que eram delegados
pelas primeiras comunidades a visitarem as novas comunidades (presbíteros-
epíscopos?). À medida em que as Igrejas se multiplicaram (já no séc. I, e início do séc.
II), se sentiu a necessidade da residência fixa desses sucessores-itinerantes, que

17
“Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho, no qual o Espírito Santo vos colocou como epíscopos
para pastorear a Igreja de Deus, que (Ele) adquiriu por meio do seu próprio sangue.”
18
Escrita entre 96 e 98dC.
19
Ἁμαρτία γὰρ οὐ μικρὰ ἡμῖν ἔσται, ἐαν τοὺς ἀμέμπτως καὶ ὁσίως προσενεγκόντας τὰ δῶρα τῆς
ἐπισκοπῆς ἀποβάλωμεn) Μακάριοι οἱ προοδοιπορήσαντες πρεσβύτεροi( οἵτινες ἔγκαρπον καὶ
τελεὶαν ἔσχον τὴν ἀνάλυσιν·: CLEM. ROM., ad Cor 44,4-5.
20
Cf. BAROFFIO, B. Sacerdócio. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia., p.
1034.
8

passaram então a exercer a função de presidente-chefe de cada comunidade, com sua


cidade-sede própria. Teria surgido assim a figura do episcopado monárquico ou
residencial. Esse segundo modelo é o que se vê em Antioquia da Síria (tal como
testemunhado nas Cartas de Inácio de Antioquia), e que se teria expandido para a Ásia
Menor, Ilíria, chegando até às Gálias.21
Ambas as formas teriam coexistido, até que finalmente vieram a se fundir na estrutura
tripartida dos três graus do episcopado-presbiterado-diaconato, como já vem
testemunhado no início do séc. III pela Tradição Apostólica.

•em síntese, sobre o presente tópico, temos portanto, no NT, dois problemas a
considerar acerca da Ordem:

a) o primeiro é que, ao lado dos bispos, presbíteros e diáconos, existem tantos outros
ministérios ali mencionados, aos quais igualmente se teria atribuído, ao menos lato
sensu, uma função de pastoreio. Por que não entraram nos graus da Ordem?
Pode-se encontrar, como uma das respostas, o fato de que às demais não se encontra, no
NT, o uso de um rito que as tenha constituído por meio da imposição das mãos.
Uma segunda resposta a esta pergunta é aquela que nos remete ao testemunho da
Tradição Patrística (à qual por força devemos recorrer, devido à lacuna deixada pelos
escritos neotestamentários): é a Tradição que rapidamente apontará essas três funções
como as de dirigentes hierárquicos na Igreja.

b) o segundo problema diz respeito à falta de clara distinção, no NT, no que tange aos
termos “epíscopo” e “presbítero”, suficientemente considerado acima.

Passamos agora ao próximo tópico.

4
Os termos “Ordenação”, “Ordem”

•os termos “Ordenação”, com que a história deste Sacramento fixou a sua denominação
até nossos dias, encontra a sua origem no termo latino ordinatio. Ele foi usado pela
primeira vez, pelo que se sabe, por Tertuliano, em sua obra polêmica contra os grupos
sectários que haviam caído na heresia, o De Praescriptione Haereticorum, escrito por
volta do ano 200.22 Igualmente é nesse autor que se encontra o uso do termo latino ordo
(“Ordem”), nas expressões ordo clericalis, sacerdotalis, ecclesiasticus.23
•o mesmo termo reaparece, sob a forma verbal, na primeira metade do séc. III (ca. 235),
na Tradição Apostólica, ao falar da ordenação dos bispos. Assim diz:
O bispo seja ordenado (ordinetur), eleito por todo o povo, o qual, quando for pronunciado
o nome, e tiver sido do agrado de todos, o povo se reunirá junto com o presbitério, e com

21
Cf. BAROFFIO, B. Sacerdócio. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia., p.
1034; cf. também: SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação., p. 82.
22
Diz o autor, a respeito dos que eram constituídos ministros pelas comunidades heréticas: “As
ordenações deles são temerárias, levianas, inconstantes. Uma hora colocam neófitos, outra os
empenhados na vida secular, outra os nossos apóstatas, para os vincular por fama, já que não o podem por
meio da verdade.” (Ordinationes eorum temerariae, leves, inconstantes. Nunc neophytos conlocant, nunc
saeculo obstrictos, nunc apostatas nostros ut gloria eos obligent quia veritate non possunt.):
TERTULIANO, praescr. haer. 41,6 (SChr 46,147-148); a mesma palavra se repete, no autor, em De
Monogamia 12,2.
23
TERTULIANO, idolol. 7.
9

eles, os bispos que estiverem presentes, no dia de domingo. Consentindo todos,


24
imponham sobre ele as mãos, e o presbitério permaneça sem nada fazer.

•infelizmente, o termo grego correspondente a Ordo, Ordinatio não chegou até nós nas
fontes que nos são disponíveis, as quais conservaram apenas as expressões referentes ao
gesto ritual da imposição das mãos, como já visto acima (evpi,qesij tw/n cei,rwn e
ceirotoni,a). Seria ordo, por exemplo, a tradução latina para o grego ta,xij (“táxis”)
nessas fontes?
•sabemos também que os Padres Apostólicos (até primeira metade do séc. II)
empregaram, nesse mesmo sentido, o verbo kaqi,sthmi (“kathístēmi”), “estabelecer,
conferir um encargo”.
•sabemos que a palavra ordo advem de ambiente militar, e servia para indicar os
soldados, enfileirados em ordem de batalha, ou mesmo as várias classes de níveis
diversos do exército. O termo latino se referia também à classe senatorial romana. 25
De consequência, ordinatio consistia no ato por meio do qual alguém era admitido,
associado a uma ou outra das classes militares. Por fim, conclui Giuseppe Ferraro:
O termo tem significado colegiado; não se trata tanto de receber uma ordem, porém bem
mais de entrar em uma ordem. (...) Analogamente, os termos ‘ordenação’ e ‘ordenar’, que
designavam, na antiguidade romana, a nomeação dos funcionários, passaram a indicar na
literatura cristã a escolha e a colocação das pessoas no exercício de uma tarefa: ‘ordem’
eclesiástica. O ingresso em uma ‘ordem’, que comportava funções e tarefas litúrgicas,
era, em si, liturgia, e, por conseguinte, o termo ‘ordenação’ foi usado para significar este
26
momento ritual, litúrgico, sacramental, durante o qual ocorria uma investidura sagrada.

5
A Ordem na Tradição

•consideramos agora – ainda que sinteticamente – os graus do Sacramento da Ordem tal


como se apresentaram, a começar da Era Patrística;
•é no Heptenário das Cartas de Inácio de Antioquia, levado entre cadeias a Roma como
sentenciado à morte, que claramente se encontra a menção do monoepiscopado, i.e, o
fato da existência de um bispo residente em uma diocese, em torno ao qual se encontra
um colégio de presbíteros e de diáconos. Assim ele afirma, por exemplo, na Carta aos
Esmirnenses:
Segui todos ao bispo, como Jesus Cristo segue ao Pai, e ao presbitério como aos
apóstolos; respeitai os diáconos como à lei de Deus. Sem o bispo, ninguém faça nada do
27
que diz respeito à Igreja.

24
Episcopus ordinetur electus ab omni populo, quique cum nominatus fuerit et placuerit omnibus,
conveniet populum una cum praesbyterio et his qui praesentes fuerint episcopi, die dominica.
Consentientibus omnibus, inponant super eum manus, et praesbyterium adstet quiescens.: TRAD.
APOST. 2 (SChr 11bis, 40).
25
“A palavra ‘ordem’ era usada nas instituições da Roma antiga para indicar determinadas classes sociais,
isto é, os senadores e os cavaleiros, pois estes se distinguiam do povo. Fora de Roma, nas colônias, a
palavra ‘ordem’ indicava o conjunto daqueles a quem era confiado o governo da coisa pública”:
FERRARO, G. Ordem/Ordenação. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia., p. 828.
26
FERRARO, G. Ordem/Ordenação. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A.M. Dicionário de Liturgia., p.
828.
27
INÁC. ANT., ad esm. 8,1. Ainda outras passagens sobre o ‘bispo’ no Heptenário de Inácio: ad ef. 3,2:
“os bispos ...estão no pensamento de JX.”; ad ef. 5,3: opor-se ao bispo é não “estarmos submissos a
Deus.”; ad ef. 6,1: “se deve olhar para o bispo como para o próprio Senhor.”; ad mag. 2,1: estar sujeito ao
10

•todavia, somente no séc. III, na Tradição Apostólica, é que se encontrará uma precisa
descrição da consagração de bispos, presbíteros e diáconos. Dela, infelizmente, não
possuímos o texto grego original completo, mas apenas alguns trechos. Todavia, é
interessante se notar que, apesar da imposição de mãos comum a cada um dos graus,
existe uma oração para cada qual, que invoca:

→para o bispo, o poder do espírito de governo, 28 a fim de que “aquele que escolheste
para o episcopado, para pastorear o teu santo rebanho, exerça por Ti irrepreensivelmente
o sumo sacerdócio...”;29

→para o presbítero, o espírito da graça e do conselho no presbitério, dizendo:


Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, olha para este teu servo e concede-lhe o espírito
da graça e do conselho (próprio para os) presbíteros, a fim de que o ajude; e governe teu
30
povo com um coração puro...
→para o diácono, o espírito da graça e do zelo, em correspondência aos diversos
deveres...
...porque o diácono não é ordenado para o sacerdócio, mas para o serviço do bispo, para
fazer aquilo que este aí o indique. (...) Ele não recebe o espírito comum do presbitério, do
31
qual participam os presbíteros, mas aquilo que lhe é confiado sob o poder do bispo.

•significativa igualmente, nesse sentido, é a menção à estrutura eclesiológica da Igreja


apresentada pelo Papa Cornélio (†253), na carta que escreveu a Fábio, bispo de
Antioquia, da qual alguns trechos nos foram reportados por Eusébio de Cesareia na
Historia Ecclesiastica. Trata-se da menção mais antiga daquelas que, até a modificação
realizada pelo Papa Paulo VI, eram chamadas as “Ordens Maiores” e as “Ordens
Menores”.
Na carta, Cornélio se refere a um bispo que, incautamente, ordenara bispo ao cismático
Novaciano (ou Novato), mas que retornara à comunhão, arrependido. Diz o Papa:
Não sabia, por acaso, tal defensor do evangelho, que numa comunidade católica deve
haver um só bispo? Nela, ele não o ignorava (e como poderia ignorar?), existem quarenta
e seis presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, quarenta e dois acólitos, cinquenta e
dois exorcistas, leitores e ostiários, mais de mil e quinhentas viúvas e indigentes, todos
32
sustentados pela graça e pelo amor aos homens de seu Senhor.

bispo é como estar sujeito à graça de Deus; ad mag. 3,1: submeter-se ao bispo é submeter-se “ao Pai de
JX, Bispo de todos.”; ad mag. 6,1: o bispo está “em lugar de Deus”; ad mag. 13,2: estar sujeito ao bispo
“como JX está sujeito ao Pai, segundo a carne” (i.e, segundo a natureza humana); ad trall. 2,1: submissão
ao bispo é submissão a JX; ad trall. 3,1: bispo é imagem do Pai; ad trall. 13,2: bispo como mandamento
do Senhor; ad esm. 8,1: bispo comparado ao Pai.
28
th.n du,namin)))tou/ h`gemonikou/ pneu,matoj: TRAD. APOST. 3 (SChr 11bis,44).
29
o[n evxele,xw eivj evpiskoph.n poimai,nen th.n poimnh,n sou th.n a`gi,an avrcierateu,ein soi avme,mtwj.: TRAD.
APOST. 3 (SChr 11bis,44). “evxele,xw” é a 2ª.p.s. do Aoristo médio de evkle,gw (=escolher, eleger).
30
“D(eus) et pater d(omi)ni nostri Ie(s)u Chr(ist)i, respice super servum tuum istum et inpartire sp(iritu)m
gratiae et consilii praesbyteris ut adiubet et gubernet plebem tuam in corde mundo...”: TRAD. APOST. 7
(SChr 11bis,56).
31
“...quia non in sacerdotio ordinatur, sed in ministerio episcopi, ut faciat ea quae ab ipso iubentur (...)
non accipiens communem praesbyteri(i) sp(iritu)m eum cuius participes praesbyteri sunt, sed id quod sub
potestate episcopi est creditum.”: TRAD. APOST. 8: SChr 11bis, 58.60.
32
EUS. CES., h. eccl. 6,43,11.
11

•seguem nessa mesma linha de ensinamento Tertuliano (séc. II), S. Cipriano de Cartago
(séc. III), e S. Agostinho (sécs. IV-V), para os quais também a Ordem clerical se
subdivide nos três graus do episcopado, presbiterado e diaconado.33 Em Agostinho,
numerosas são as indicações a respeito dos graus da hierarquia eclesiástica. 34 Assim,
assevera claramente em certa ocasião, durante a homilia de uma Ordenação Episcopal,
que o episcopado consiste no vértice do serviço ministerial da Igreja, o que exige dele
ser mais discípulo e fiel ouvinte de Cristo, do que portador de um título de honra. Assim
diz:
Mas, quem é que porta o nome de bispo, e não é isso? É aquele que mais se compraz com
a honra do que com o proveito da grei de Deus; aquele que neste vértice do serviço
ministerial busca o próprio interesse, e não aquele de Jesus Cristo. É chamado bispo, mas
não é bispo: para ele, é um nome vão. (...) Portanto, para que seja aquilo que é chamado,
não escute a mim, mas comigo: escutemos juntos; sejamos juntos condiscípulos, na única
escola, aprendamos de Cristo, o único Mestre, o qual, tanto possui a cátedra no céu,
quanto antes sobre a terra teve a cruz como cátedra. Ele ensinou a via da humildade: no
descer para elevar-se, indo visitar aqueles que jaziam embaixo, para elevar quantos
queriam estar unidos a Ele.35

5.1
O Episcopado

•apesar do que foi dito acima pairaram, ao longo da História da Teologia deste
Sacramento, dúvidas a respeito da sacramentalidade do episcopado. Encontram-se, no
Oriente, vozes como as do presbítero Ério de Sebaste, o qual foi violentamente
combatido pelo bispo Epifânio de Salamina.36
•todavia, no Ocidente, testemunhos eminentes como o do Ambrosiaster e o de S.
Jerônimo se opuseram a reconhecer uma distinção entre a consagração presbiteral e a
episcopal.
•para o Ambrosiaster, o fato de ambos – episcopado e presbiterado – serem
denominados sacerdos já seria um garante desta identidade entre esses graus, de modo
que o bispo teria uma ascendência sobre o presbítero apenas em ordem de preeminência
(o bispo seria um ‘primeiro presbítero’).
•para Jerônimo, mais de um texto do NT fundamentaria a sua identidade; 37 a distinção
teria sido disposta pela Igreja, que outorgou ao bispo o encargo superior, dando-lhe o
poder de ordenar.
•nessa mesma linha se posiciona um escrito pseudojeronimiano, denominado De Septem
Ordinibus, do séc. V.

33
Cf. JONCAS, J.M. Ordinazione, ordini. In: FITZGERALD, A. (ed.). Agostino dizionario
enciclopedico. Roma: Città Nuova, 2007, p. 1026. Cf. por exemplo, nesse sentido, a sua epístola 21,1.
34
NOCENT, A. Ordine-Ordinazione. In: DI BERARDINO, A. Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità
Cristiane. Genova-Milano: Marietti, 20072, col. 3646.
35
AGOSTINHO, s. 340/A,4.
36
Nasceu cerca de 315, na Palestina (Besanduque, próximo a Eleuterópolis), e morreu em 403, em alto-
mar, de retorno a Chipre. Foi bispo de Salamina, nesta mesma ilha, de 365 a 403.
37
Cita, por exemplo, na ep. 146,1 (PL 22,1193), o texto de Tt 1,5ss, em que o Apóstolo intercala os
termos “presbíteros” (v. 5) e “epíscopo” (v.7) na mesma perícope, precedendo tal citação pelo seguinte
comentário: “E, para que ninguém obstinadamente sustente ter existido vários bispos em uma só igreja,
ouça também um outro testemunho, no qual se comprova manifestamente ser uma mesma coisa um bispo
e um presbítero.” (“Ac ne quis contentiose in una Ecclesia plures Episcopos fuisse contendat, audi et
aliud testimonium, in quo manifestissime comprobaturm eumdem esse Episcopum atque Presbyterum.”).
12

•também S. Isidoro de Sevilha (séc. VII), no seu De ecclesiasticis officiis, transmitiu e


divulgou esse mesmo ensinamento.
•muitos dos autores que se opõem à distinção entre o episcopado e o presbiterado
argumentam dizendo serem frágeis os motivos aduzidos para tal diferença, tais como,
por exemplo, o fato de se reservar ao bispo a administração da Crisma, a consagração
dos Santos Óleos e a Ordem aos presbíteros. Entretanto, a esse respeito afirmam Auer-
Ratzinger:
(...) os textos litúrgicos das consagrações indicam desde o princípio o motivo mais
profundo para esta preeminência, e exprimem a distinção entre bispo e presbítero. Em
Hipólito (...) e, ainda mais claramente, nas Constituições Apostólicas (...), nas orações de
consagração é implorado para o bispo o espírito de governo (h`gemonikou/ sou pneu/matoj,
cf. Sl 51,14), que Deus doou ao seu Filho Jesus Cristo e que este transmitiu aos seus
santos apóstolos que fundaram a igreja. Por isso os bispos são enumerados entre os
“príncipes e os sacerdotes” (a;rcontaj kai. i`erei/j). Quanto a isso, para o presbítero é
38
implorado somente o espírito da graça e do conselho (pneu/ma ca,ritoj sumbouli,aj) (...).

•todavia, apesar do pensamento teológico contrário (como vimos acima, p. ex., em S.


Agostinho), a ideia do Ambrosiaster e de Jerônimo continuou a exercitar a sua
influência ao longo da Idade Média, seja em comentários bíblicos (p. ex., nas Catenas),
seja em obras litúrgicas. Autores como Hugo de S. Vítor, Pedro Lombardo, Alexandre
de Hales, S. Boaventura e S. Alberto Magno seguem, com qualquer natural nuança de
diferença, nessa mesma linha: apesar da distinção de dignidade e poder, o episcopado
não consistiria em um grau distinto ao do presbiterado.39
•por outro lado, autores como Guido de Orchelles (†1225/1233), Guilherme de Auxerre
(†1231) e João Teutônico (†1252) sustentaram a sacramentalidade da consagração
episcopal. Também mais tarde, Duns Scoto (†1308) pende para essa opinião (embora
mencione também a oposta).
•o motivo normalmente aduzido pelos autores contrários à sacramentalidade do
episcopado está relacionado ao poder da consagração eucarística, haja vista o fato do
presbítero e do bispo não se distinguirem sob tal aspecto.
•de fato, nem mesmo S. Tomás se afastou desse viés. Para ele, pelo fato do episcopado
conferir ao bispo um poder hierárquico superior, enquanto chefe dos presbíteros (como,
por exemplo, à frente de um exército existe sempre um general, um comandante), a ele é
dado, sim, um poder espiritual superior ao do sacerdote na sua consagração. Todavia, a
consagração episcopal não é sacramento, nem tal poder pode ser denominado ‘caráter’.
Ele afirma:
Na consagração de um bispo, se lhe concede um poder que permanece para sempre nele,
ainda que não se possa chamar caráter, porque por ela não se ordena o homem
diretamente a Deus, mas ao corpo místico de Cristo. E, todavia, permanece
40
indelevelmente, como o caráter, e se confere pela consagração.
E, mais ainda:
O sacerdote possui dois atos: um principal, a saber, consagrar o Corpo de Cristo; e outro
secundário, o de preparar o povo para a recepção deste Sacramento, como antes foi dito.
Quanto ao ato principal, a atividade do sacerdote não depende de poder algum superior, a

38
AUER, J.-RATZINGER, J. I Sacramenti della Chiesa., p. 429. As Constituições Apostólicas são “uma
compilação canônico-litúrgica”, de fins do séc. IV: SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação., p. 84.
39
“...não uma ordo, mas uma dignidade que se acrescenta ao sacerdócio.”: SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais
da Salvação., p. 163.
40
STh Supp. q.38 a.2 ad 2.
13

não ser do divino; ao contrário, quanto ao secundário, depende de um poder superior e


humano. Pois todo poder que não pode pôr-se em ato, senão pressupostas algumas
determinações, depende daquele poder que delega aquelas determinações. O sacerdote
não pode, por exemplo, absolver ou reter, sem a pressuposta jurisdição com a qual a ele
são submetidos aqueles que ele absolve. Mas pode consagrar qualquer matéria
determinada por Cristo sem que se exija nada mais quanto seja de necessidade do
Sacramento (...). E assim é claro que importa existir um poder episcopal sobre o
41
sacerdotal quanto ao ato secundário do sacerdote, mas não quanto ao principal.
E também:
A Ordem pode ser entendida em uma dupla acepção. Uma, enquanto é um sacramento. E
assim, como foi dito antes, toda a Ordem se ordena ao sacramento da Eucaristia. Como o
bispo não possui um poder de consagrar superior ao do sacerdote quanto a isto, o
episcopado não é Ordem. Por outra acepção, pode ser considerado Ordem, segundo
possui certas atribuições a respeito de algumas funções sagradas. E assim, já que o bispo
possui um poder nas ações hierárquicas, a respeito do Corpo Místico, sobre o sacerdote, o
42
episcopado é Ordem. E é a respeito disso que falam as autoridades aduzidas.

•em síntese, assim afirma, a respeito disso, Wolfgang Beinert:


Visto que o direito de presidir a Eucaristia era considerado a essência da Ordo, a Idade
Média reconhecia a plenitude do sacramento na ordenação dos sacerdotes; a ordenação do
bispo era apenas um sacramental que apontava uma jurisdição. É apenas no século XX
que ambas as questões são decididas em prol do fortalecimento do ofício do bispo. O
mérito principal cabe ao Concílio Vaticano II, que (...) tentou equilibrar a constituição
43
eclesiástica por meio de uma teologia episcopal (LG 20-27).

•ainda antes, porém, do Vaticano II, o Papa Pio XII chegou a enumerar o episcopado ao
lado do presbiterado e do diaconado, enquanto grau do Sacramento da Ordem, ao
definir a sua matéria, forma e ministro, na sua Constituição Apostólica “Sacramentum
Ordinis” (de 30 de novembro de 1947). Trata-se sem dúvida de um documento
importante, no que tange à solução quanto à matéria e à forma da Ordem. Todavia, não
traz um maior aprofundamento a respeito da teologia em si do episcopado (como, p.ex.,
quanto à sua especificidade, no que o distingue dos demais graus). Abaixo, cito um
trecho deste Documento:
Corresponde portanto, entre todos os Sacramentos da Nova Lei, na qualidade de sinais
sensíveis e eficientes da graça invisível, tanto deverem significar a graça que realizam,
quanto realizarem aquilo que significam. Ora, os efeitos, que pela Sagrada Ordenação do
Diaconado, do Presbiterado e do Episcopado devem tanto serem produzidos quanto
significados, isto é, o poder e a graça, são encontrados significatos suficientemente em
todos os ritos da Igreja universal dos diversos tempos e regiões, pela imposição das mãos
e pelas palavras que a determinam. (...) Enfim, na Ordenação ou Consagração Episcopal a
matéria é a imposição das mãos que é feita pelo Bispo consagrante. A forma porém
consta das palavras da “Fórmula”, de que estas são essenciais, e requeridas igualmente
44
para a validade (...).

41
STh Supp. q.40 a.4 ad resp.
42
STh Supp. q.40 a.5 ad resp.
43
BEINERT, W. Bispo. In: BEINERT, W. – STUBENHAUCH, B. (eds.) Novo Léxico da Teologia
Dogmática Católica. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 74.
44
“Constat autem inter omnes Sacramenta Novae Legis, utpote signa sensibilia atque gratiae invisibilis
efficientia, debere gratiam et significare quam efficiunt et efficere quam significant. Iamvero effectus, qui
14

•além disso, três anos antes, Pio XII havia publicado a Constituição Apostólica
“Episcopalis consecrationis” (de 30 de novembro de 1944). Igualmente ali não se trata
da sacramentalidade do episcopado, mas de uma questão de cunho litúrgico-canônico: a
validade da consagração episcopal conferida excepcionalmente por um só bispo. Ele
diz:
Está fora de qualquer dúvida e comprovado por uma práxis de longo tempo, que o
ministro da Consagração Episcopal é o Bispo, e que para a validade desta Consagração é
suficiente um único Bispo que realize os ritos essenciais com a devida intenção de mente.
Todavia, desde tempos antigos da Igreja, muitos bispos estiveram presentes a uma
Consagração deste tipo, e também em nosso tempo se prescreve pela autoridade do
“Pontifical Romano” ser oportuno que estejam presentes dois outros bispos, ainda que em
circunstâncias peculiares das realidades se conceda, por uma antiga convenção, a
45
dispensa, caso não se possa ter os cosagrantes.
•é enfim o Concílio Vaticano II que claramente desenvolverá, de maneira explícita, a
teologia da sacramentalidade do episcopado, mais precisamente na Constituição
Dogmática Lumen Gentium, e no Decreto Christus Dominus, nos números abaixo
citados:
→LG 20: “...permanece o múnus dos Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser
exercido para sempre pela sagrada ordem dos Bispos.”46
→LG 21: trata-se do número da LG particularmente dedicado a fundamentar a
sacramentalidade do Episcopado. Menciona-se claramente que, assim como os
Apóstolos “foram enriquecidos por Cristo com especial efusão do Espírito Santo” a fim
de desempenharem ofícios de tamanha envergadura (Ad tanta munera explenda), os
mesmos Apóstolos “transmitiram aos seus colaboradores mediante a imposição das
mãos este dom espiritual...que chegou até nós pela sagração episcopal.” (adiutoribus
suis per impositionem manuum donum spirituale tradiderunt..., quod usque ad nos in
episcopali consecratione transmissum est.). Note-se a explícita afirmação de que, pela
Ordenação Episcopal, não ocorre apenas uma simples investidura em um cargo ou
função eclesiástica, mas:
1º) se transmite um dom espiritual (trata-se pois da comunicação de algo sagrado, do
alto, ou seja, a graça sacramental);
2º) que se reporta aos Apóstolos (sucessão episcopal) e, em última análise, ao próprio
Cristo;

Sacra Diaconatus, Presbyteratus et Episcopatus Ordinatione produci ideoque significari debent, potestas
scilicet et gratia, in omnibus Ecclesiae universalis diversorum temporum et regionum ritibus sufficienter
significati inveniuntur manuum impositione et verbis eam determinantibus. 5. (...) Denique in Ordinatione
seu Consecratione Episcopali materia est manuum impositio quae ab Episcopo consecratore fit. Forma
autem constat verbis « Praefationis », quorum haec sunt essentialia ideoque ad valorem requisita (...).”:
PIO XII. Constituição Apostólica Sacramentum Ordinis 3;5. Disponível em:
http://w2.vatican.va/content/pius-xii/la/apost_constitutions/documents/hf_p-
xii_apc_19471130_sacramentum-ordinis.html Visita em 22/03/2020.
45
Episcopalis Consecrationis Ministrum esse Episcopum et ad huius Consecrationis validitatem unum
solum sufficere Episcopum, qui cum debita mentis intentione essentiales ritus perficiat, extra omne
dubium est diuturnaque praxi comprobatum. A priscis tamen Ecclesiae temporibus plures Episcopi
huiusmodi Consecrationi adstiterunt, ac nostra quoque aetate « Pontificalis Romani » auctoritate
praescribitur duo alii Episcopi Consecrationi adsint oportere, quamvis in peculiaribus rerum adiunctis a
vetere instituto dispensatio concedatur, si Adsistentes haberi nequeant.: PIO XII. Constituição Apostólica
Episcopalis Consecrationis. Disponível em: http://www.vatican.va/content/pius-
xii/la/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19441130_episcopali-consecrationis.html Visita em
22/03/2020.
46
Note-se a explícita associação do Episcopado com os Apóstolos, enquanto “sagrada ordem” (i.e,
“grau”) bem definida. O negrito destas citações, bem como das demais, é meu.
15

3º) por meio de um rito, que inclui um gesto bem característico (e já anteriormente
definido como matéria da Ordem por Pio XII): a imposição das mãos.

→LG 22: “Alguém é constituído membro do Corpo Episcopal pela sagração


sacramental (vi sacramentalis consecrationis)...”.
→LG 26: “O Bispo, distinguido pela plenitude do sacramento da Ordem...”.
→LG 41: “Eleitos à plenitude do Sacerdócio, são dotados da graça sacramental...”.

→CD 15: “...os Bispos gozam da plenitude do Sacramento da Ordem.”

5.2
O Presbiterado

•conforme já mencionado acima, é no Heptenário das Cartas de Inácio de Antioquia


(início do séc. II) que claramente se encontra a nítida distinção terminológica e
conceitual do presbiterado, distinto do episcopado e do diaconado.47
•é bem verdade que se encontra, mesmo na Literatura Patrística posterior, o emprego do
termo com o significado genérico de ‘pessoa anciã, sábia, venerável’; ou, ao contrário, o
uso de termos como ‘pastor’, ‘aquele que comanda’, para indicar quem ocupa o segundo
grau da Ordem.48 Entretanto, pouco a pouco, o termo se impõe como tecnicamente
distinto do episcopado e do diaconado.
•Tertuliano (séc. II), por exemplo, ainda em sua fase católica, cita o uso de prostrações
dos penitentes diante dos presbíteros, em um período da história em que o ministro da
Reconciliação é, por excelência, o bispo.49
•mais tarde, no séc. III, a Tradição Apostólica dará uma precisa descrição da
consagração dos presbíteros, distinta da dos bispos e diáconos, como visto acima.
•em termos históricos, se verá igualmente um crescimento do papel da figura e das
funções do presbítero, quando este foi enviado para lugares distantes da presença do
bispo, no interior das dioceses.50
•ainda no séc. V, o Papa Inocêncio I (402-417), em sua Carta “Si instituta ecclesiastica”,
escrita ao bispo Decêncio de Gúbio (19 de março de 416), afirma que os presbíteros
“ocupam o segundo lugar no sacerdócio”.51
•o progresso da doutrina acerca do presbiterado encontra sua síntese, em termos
litúrgicos, no Decretum pro Armenis,52 do Papa Eugênio IV,53 no qual se afirma ser a

47
Cf. NDPAC vol. 3, col. 4316. Como já estudado no tópico “A Ordem no NT”, é bom nos lembrarmos
mais uma vez que os termos epíscopos e presbýteros na literatura neotestamentária ainda se substituem
mutuamente, podendo ali significar, um e outro, tanto o primeiro quanto o segundo graus da Ordem.
48
Cf. NDPAC vol. 3, col. 4317.
49
Ele afirma, no De Paenitentia: “A ‘exomológhesis’ manda prostrar-se diante dos presbíteros, e
ajoelhar-se perante os altares de Deus” (exomológhesis (...) mandat (...) presbyteris aduolui, (et) aris Dei
adgeniculari): Tert., de paen. 9, 2-4. A “exomológhesis” era a penitência pública, conforme a disciplina
daquele tempo.
50
“Nos primeiros tempos, de fato, os presbíteros como conselheiros do bispo, viviam em torno dele;
somente depois, a difusão do cristianismo e a fundação de pequenas comunidades no campo, levarão a
confiar aos presbíteros individualmente a cura e a responsabilidade de uma porção do povo cristão e a
ampliar as suas tarefas não só em relação ao governo, mas também ao serviço da Palavra e à
administração dos sacramentos.”: FERRARO, G. Ordem/Ordenação. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A.
M. Dicionário de Liturgia., p. 830.
51
“...presbyteri, licet secundi sint sacerdotes...”: DH 215.
52
Bula sobre a união com os armênios Exsultate Deo, de 22 de novembro de 1439: DH 1310-1328.
53
03/03/1431 – 23/02/1447.
16

matéria da Ordem o rito da entrega do cálice com o vinho, e da patena com o pão; 54 e a
sua forma, as palavras: “Recebe o poder de oferecer o sacrifício na Igreja pelos vivos e
defuntos, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”55 A importância desta
referência, ainda que de caráter litúrgico-sacramental, é fundamental também sob a
ótica dogmática, já que sintetiza o afunilamento cada vez maior da compreensão
teológica do presbiterado, da Era Patrística à Medieval, centrado sobre o aspecto
cúltico, na celebração da Missa, na potestas para consagrar o pão e o vinho;56
•apesar disso, os rituais do início da Idade Média, (tais como os antigos rituais
romanos Veronense e Gregoriano), ainda sob o influxo da teologia patrística,
evidenciam na Ordem do presbiterado: a função de cooperadores da Ordem episcopal
(cooperatores ordinis nostri) e participantes de uma função de valor segundo (secundi
meriti munus); colaboradores do bispo como governantes do povo, para edificar a Igreja
por meio da pregação e do exemplo (ut praedicatione atque exemplo aedificetis domum,
id est familiam Dei); e também o poder (potestas) de conceder o perdão dos pecados na
Confissão.57
•para S. Tomás, o presbiterado se caracteriza igualmente pela potestas de consagrar o
pão e o vinho na Eucaristia, como já visto acima, no tópico sobre o episcopado.58
•coube ao Concílio de Trento, por força das controvérsias da Reforma, a síntese da
doutrina medieval e escolástica acerca do dogma da Ordem do presbiterado. Nele, vem
reafirmada com clareza a sacramentalidade do presbiterado como matéria de fé. Trento
chegou a afirmar o seguinte:
O sacrifício e o sacerdócio estão tão unidos por plano de Deus, que em toda Lei existiram
ambos. Havendo, pois, no Novo Testamento, recebido a Igreja católica por instituição do
Senhor o santo sacrifício visível da Eucaristia, deve-se também se confessar que existe
nela um novo sacerdócio, visível e externo, no qual foi transladado o antigo. Pois foi este
o que foi instituído pelo mesmo Senhor Salvador nosso, e que aos apóstolos e seus
sucessores no sacerdócio lhes foi dado o poder de consagrar, oferecer e administrar o

54
DH 1326. Trata-se da Traditio instrumentorum, já presente no rito de Ordenação Presbiteral dos
sacramentários veronense (ou leoniano) e gelasiano (originário do séc. V, de fora de Roma?): cf.
FERRARO, G. Ordem/Ordenação. In: SARTORE, D. – TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia., p.
830. A respeito dos sacramentários veronense e gelasiano, veja o que diz Adrien Nocent,
respectivamente, em: MARSILI, S. et alii. Panomara Histórico Geral da Liturgia. S. Paulo: Paulinas,
1986, pp. 163; 167, à nota 13 (coleção Anámnesis 2).
55
DH 1326.
56
A respeito disso, assim afirma Sesboüé: “Difunde-se então a imagem do sacerdote como ministro do
culto e, sobretudo, do sacrifício da missa.”SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação., p. 162. Sobre
isso, ainda diz Wolfgang Beinert: “Assim, a ideia do sacerdócio é cultualmente restringida: Ser sacerdote
significa possuir o ‘poder’ de ‘apresentar o sacrifício a Deus e de celebrar a missa’ (Pontifical Romano-
Germânico [século X] 16,35).”: BEINERT, W. Sacerdote. In: BEINERT, W. – STUBENHAUCH, B.
(eds.) Novo Léxico da Teologia Dogmática Católica. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 416.Nesse mesmo teor,
explica Dorothea Sattler: “No início da Idade Média o ofício sacerdotal se concentrava em presidir a
Eucaristia. A entrega dos instrumentos litúrgicos (patena e cálice) e a unção das mãos são elementos
constitutivos da transferência sacramental do ofício.”: SATTLER, D. Sacramento da Ordem. In:
BEINERT, W. – STUBENHAUCH, B. (eds.) Novo Léxico da Teologia Dogmática Católica. Petrópolis:
Vozes, 2015, p. 427.
57
Cf. MARSILI, S. et alii. Panomara Histórico Geral da Liturgia. S. Paulo: Paulinas, 1986, pp. 292-294.
E ainda, quanto ao presbiterado na Idade Média: “A análise da evolução ulterior exigiria a atenção a toda
a história do Pontifical romano-franco: na opinião dos peritos revela-se suficiente a consideração da
edição feita por Guilherme Durand, bispo de Mende, pelo fim do século XIII, considerada
contemporaneamente como o estádio conclusivo de evolução complexa e fonte privilegiada (será
retomada de modo substancialmente inalterado) daquele que será o Pontifical romano que chegou até a
recente reforma.”: MARSILI, S. et alii. Panomara Histórico Geral da Liturgia., p. 279.
58
Cf. STh Supp. q.40 a.4 ad resp.; STh Supp. q.40 a.5 ad resp.
17

corpo e o sangue do Senhor, assim como o de perdoar ou reter pecados, fato que as
Sagradas Letras manifestam, e a Tradição da Igreja católica ensinou sempre. 59
E ainda:
Se alguém disser que no Novo Testamento não existe um sacerdócio visível e externo, ou
que não se dá poder algum de consagrar e oferecer o verdadeiro corpo e sangue do
60
Senhor e de perdoar os pecados, (...): seja excomungado.
•mais adiante, voltaremos a considerar o Presbiterado em Trento na Abordagem
Dogmática da Ordem.
•por fim, quanto ao Vaticano II, a natureza sacramental desse grau da Ordem é
claramente afirmada. É o que se constata nas seguintes passagens:
(...) o sacerdócio dos Presbíteros (...) é conferido por aquele Sacramento peculiar
mediante o qual os Presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são assinalados com um
caráter especial e assim configurados com Cristo Sacerdote, de forma a poderem agir na
61
pessoa de Cristo cabeça.

Pelo Sacramento da Ordem os Presbíteros se configuram com Cristo Sacerdote, na


qualidade de ministros da Cabeça, para construir e edificar todo o Seu Corpo que é a
62
Igreja, como cooperadores da Ordem episcopal.

Embora os Presbíteros não possuam o ápice do pontificado e no exercício de seu poder


dependam dos Bispos, estão contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal. Em
virtude do Sacramento da Ordem (...) eles são consagrados (...), de maneira que são
63
verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento .

5.3
O Diaconato

•encontramos muito cedo, ainda no final do séc. I, a menção aos diáconos ao lado dos
bispos, na 1ª. Carta de Clemente Romano aos Coríntios, ao afirmar: “Os Apóstolos (...)
proclamando a palavra no interior e nas cidades, estabeleciam suas primícias, como
Bispos e Diáconos, dos futuros fiéis, depois de prová-los pelo Espírito.”64
•um pouco mais tarde, são novamente os testemunhos das Cartas de Inácio de Antioquia
que avalizam o Diaconato como elencado dentre os três graus da Ordem. Eles são ali

59
DH 1764.
60
DH 1771. A respeito disso, é ainda válida e útil a afirmação do teólogo dominicano Fr. Armando
Bandera, que diz: “Todos os teólogos católicos, sem exceção, admitem como verdade de fé que o
presbiterado é ordem sacramental. Por ele se recebe o poder de celebrar o sacrifício eucarístico e o de
perdoar os pecados, poderes que são os mais característicos do sacramento da Ordem. A existência de um
sacerdócio externo e visível, transmitido por um rito sacramental, é uma das verdades definidas no
Concílio de Trento. Não insistiremos sobre um ponto acerca do qual não cabe controvérsia.”: TOMAS
DE AQUINO. Suma Teologica. Tratado del Ordem. Versión e introducciones del Padre Fr. Armando
Bandera. Madrid, vol. 15: BAC, 1956, p. 75.
61
PO 2.
62
PO 12.
63
LG 28.
64
Ad 1Cor 42,1.4.
18

mencionados quinze vezes, 65 assemelhados ao serviço (diaconia) de Jesus Cristo,66 e por


isso devem ser respeitados como Àquele.67 São frequentemente citados ao lado dos
bispos e presbíteros.68 Todavia, são postos a eles subordinados.69
•a marca que os diferencia dos demais graus é o fato de serem ordenados não ad
sacerdotium sed ad ministerium.70 Em modo semelhante, se expressa a Tradição
Apostólica (séc. III): “Ao se ordenar um diácono, somente o bispo imponha as mãos, já
que não é ordenado no sacerdócio, mas ao ministério do bispo, para fazer aquilo que for
por ele ordenado.”71
•em síntese, se elencam os seguintes deveres do diácono na Igreja antiga:

1) o cuidado sobre a administração, em auxílio ao bispo;72

2) o serviço da caridade para com os pobres e as viúvas. É por isso que a desonestidade
de alguns lhes valeu uma séria reprimenda no Pastor de Hermas, que diz:
(...) aqueles que têm manchas são diáconos que administraram mal a sua função,
roubando a subsistência de viúvas e órfãos. Enriqueceram-se com os recursos que
receberam para socorrer. Se continuarem nessa ambição, já estão mortos e não têm mais
nenhuma esperança de viver. Contudo, se fizerem penitência e desempenharem retamente
o seu ministério, poderão viver.73

3) o serviço litúrgico nas celebrações presididas pelo bispo, a leitura do Evangelho, a


ordem dentro da igreja, a apresentação das oblatas para a consagração,74 a distribuição
da Comunhão, e seu envio aos ausentes,75 a administração do cálice. Devia igualmente
dar instrução aos fieis durante o serviço litúrgico, bem como aos catecúmenos, e
serviam nos batismos.

•pouco a pouco, especialmente a partir do final do primeiro milênio até o século XX, a
diaconia passou a ser um grau de passo rumo ao presbiterado. É bem verdade que o
Concílio de Trento procurou ampliar, e determinou restaurar efetivamente o papel e a

65
Cf. PAULO EVARISTO ARNS. Cartas de Santo Inácio de Antioquia. Comunidades Eclesiais em
Formação. Petrópolis, vol. 2: Vozes, 19843, p. 21 (coleção “Fontes da Catequese”).
66
ad Mag. 6,1. Já Policarpo de Esmirna diz: “...os diáconos...são servidores de Deus e de Cristo, e não
dos homens.”: ad Phil. 5,2.
67
ad Trall. 3,1.
68
ad Phil. 4,1; ad Smyrn. 12,2; ad Mag 6,1.
69
ad Mag 2,1, em que menciona “...o diácono Zócio, cuja companhia me daria prazer, porque está sujeito
ao bispo como à graça de Deus e ao presbitério como à lei de Jesus Cristo...”.
70
Constitutiones Ecclesiae Aegyptiacae III,2; Didascalia et Constitutiones Apostolorum II; Statuta Eccl.
Ant. 37-41. A mesma expressão reaparece na LG 29.
71
“In diacono ordinando solus episcopus imponat manus, propterea quia non in sacerdotio ordinatur, sed
in ministerio episcopi, ut faciat ea quae ab ipso iubentur.”: trad. apost. 8.
72
trad. apost. §24. Afirma Auer-Ratzinger: “Do séc. IV ao séc. VII os denominados ‘arquidiáconos’ eram
os delegados do bispo para o cuidado dos pobres e os administradores da casa e do patrimônio
episcopal.”: AUER, J.-RATZINGER, J. I Sacramenti della Chiesa., p. 434.
73
past. 9ª. Parábola, 103,1.
74
“Apresentem-lhe (i.e, ao bispo) os diáconos a oblação”: trad. apost. §10.
75
“Depois que o presidente deu ação de graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam
ministros ou diáconos dão a cada um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre os quais se
pronunciou a ação de graças e os levam aos ausentes. Este alimento se chama entre nós Eucaristia (...)”:
JUSTINO, I apol. 65-66; “Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos
consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos.”: JUSTINO, I apol. 67.
19

importância da função do diaconato na hierarquia.76 Todavia, ele só foi efetivamente


restaurado no Vaticano II (cf. LG 29). 77
•por fim, no que tange a este tópico acerca da Ordem do Diaconato na Tradição, é muito
recomendável o estudo do parágrafo 2 (“A ordem do diaconato”) da Introdução das
Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes, publicadas em
forma conjunta pelas Congregação para a Educação Católica e Congregação para o
Clero, em 22 de fevereiro de 1998. (à p. 13, ed. 1998, Paulinas- Documento 157).

6
Abordagem dogmática do Sacramento da Ordem

1. A matéria do sacramento da Ordem é a imposição das mãos do bispo. A forma


consiste nas palavras de oração correspondentes a cada um dos três graus.

Afirma a Constituição Apostólica Sacramentum Ordinis, de Pio XII:

(...) e, sendo assim, invocada a luz divina, com a Nossa Suprema Autoridade e ciência
segura, declaramos e, até onde for necessário, discernimos e dispomos que a matéria
única das Sagradas Ordens do diaconato, do presbiterado e do episcopado, é a imposição
das mãos, e a forma, do mesmo modo única, são as palavras que determinam a aplicação
desta matéria,as quais univocamente significam os efeitos sacramentais, isto é, o poder da
Ordem e a graça do Espírito Santo, e como tais são recebidas e usadas pela Igreja.78

76
Assim afirma o Concílio de Trento, em seu decreto De Reformatione de 15 de julho de 1563: “Já que
desde o tempo dos Apóstolos (as funções) do diaconato ao ostiariato foram recebidas louvavelmente na
Igreja como (ministérios) dos santos, e por algum tempo em muitos lugares interrompidas na prática,
sejam restabelecidas segundo os sagrados cânones, e não sejam desonradas como ociosas pelos hereges.
O Santo Sínodo, ardendo no desejo da restituição daquele antigo costume, decide que, para o futuro, os
ministérios desta natureza sejam exercidos somente pelos que foram constituídos nas ditas Ordens.” (“Ut
sanctorum a diaconatu ad ostiariatum functiones, ab apostolorum temporibus in Ecclesia laudabiliter
receptae, et pluribus in locis aliquamdiu intermissae in usum iuxta sacros canones revocentur, nec ab
haerecitis, tamquam otiosae, traducantur, illius pristini moris restituendi desiderio flagrans sancta synodus
decernit, ut in posterum huiuscemodi ministeria non nisi per constitutos in dictis Ordinibus exerceantur
(...).”: SACRA CONGREGATIO DE PROPAGANDA FIDE, Canones et decreta Sacrosancti
Oecumenici Concilii Tridentini sub Paulo III, Iulio III et Pio IV Pontificibus Maximis cum appendice
theologiae candidatis perutili, Roma, 1893, 163-164. Entretanto, tal prescrição nunca encontrou de fato
aplicação concreta. De fato, assim afirmam as Normas Fundamentais para os Diáconos Permanentes: “O
Concílio de Trento dispôs que o diaconato permanente fosse retomado, como era antigamente, segundo a
natureza própria, como função originária na Igreja. Mas tal prescrição não encontrou aplicação
concreta.”: CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. CONGREGAÇÃO PARA O
CLERO. Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes. S. Paulo: Paulinas, 1998,
p. 16.
77
“Foi o Concílio Vaticano II a estabelecer que o diaconato pudesse “no futuro ser restaurado como grau
próprio e permanente da hierarquia...”.: CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA.
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos
Permanentes. S. Paulo: Paulinas, 1998, p. 16.
78
Quae cum ita sint, divino lumine invocato, suprema Nostra Apostolica Auctoritate et certa scientia
declaramus et, quatenus opus sit, decernimus et disponimus : Sacrorum Ordinum Diaconatus,
Presbyteratus et Episcopatus materiam eamque unam esse manuum impositionem; formam vero itemque
unam esse verba applicationem huius materiae determinantia, quibus univoce significantur effectus
sacramentales, — scilicet potestas Ordinis et gratia Spiritus Sancti, — quaeque ab Ecclesia qua talia
accipiuntur et usurpantur.: PIO XII. Sacramentum Ordinis, 4 (30 de novembro de 1947). Disponível em:
https://w2.vatican.va/content/pius-xii/la/apost_constitutions/documents/hf_p-
xii_apc_19471130_sacramentum-ordinis.html Visita em 27/05/2020.
20

→já havíamos estudado acima (nos tópicos “A Ordem no NT” e “A Ordem na


Tradição”) os elementos bíblicos e históricos que fundamentam tal decisão de Pio XII,
que veio dar epílogo a uma longa indefinição, sobretudo na Igreja do Ocidente, a
respeito desse assunto;
→de fato, os demais ritos foram sendo incluídos pouco a pouco na Ordenação,
sobretudo na Igreja do Ocidente, sem todavia um ato oficial determinante da Igreja, e
certamente com escopo muito mais litúrgico, e no intuito de se explicar mais
precisamente o poder e a natureza da Ordem.79
Assim sendo, “todos os demais gestos, como a entrega dos vasos litúrgicos, a unção das
mãos, etc. são agora ritos explicativos.”80
→e, para encerrar a questão, o mesmo Pio XII assim esclareceu:
Daqui se segue que declaremos, como para encerrar o caminho a toda controvérsia e
ansiedade de consciência, com nossa autoridade apostólica realmente declaramos e, se
alguma vez legitimamente se houver disposto outra coisa, estabelecemos que, ao menos
daqui por diante, a entrega dos instrumentos não seja necessária para a validade das
81
Sagradas Ordens do diaconato, presbiterado e episcopado.

2. O ministro do sacramento da Ordem é o bispo.

•a respeito dessa matéria de fé, e a despeito da problemática já anteriormente exposta


quanto à história relativa à sacramentalidade do grau do episcopado, sempre se manteve,
em termos gerais ao longo dos tempos, a doutrina de que ao bispo fosse reservado o
múnus de conferir a Ordem.
•é bem verdade que, em virtude da discussão quanto à distinção sacramental entre
bispos e presbíteros já existente na Era Patrística, existiu a opinião teológica de que o
Papa poderia, por motivo de seu Supremo Poder Apostólico, conferir a um simples
presbítero o poder de ordenar outro presbítero, ou um diácono.
Assim é que, de fato, nos informa Müller:
(...) o Papa Bonifácio IX, em 1400 (DH 1145s.) e o Papa Inocêncio VIII, em 1489 (DH
1435), conferem a abades o poder da conferição da ordenação diaconal. O Papa Martinho
V confere, em 1427, a alguns abades o poder da ordenação sacerdotal (DH 1290). (...)
Contudo, visto que o ministério episcopal é de direito divino, que também não pode ser

79
tal como, por exemplo, a entrega dos instrumentos, introduzida a partir dos séculos IX e X, até
generalizar-se nos séculos XIII e XIV: cf. BARTMANN, B. Teologia Dogmática. Sacramentos –
Escatologia. S. Paulo, v. 3: Paulinas, 1964, p. 369. Acerca disso, diz ainda Auer-Ratzinger: “Esse
desenvolvimento particular dos ritos de Ordenação na Igreja ocidental, em relação àquela oriental, que
permaneceu fiel ao ordenamento da Igreja antiga, contido na Escritura e nas Constituições Apostólicas,
levou, desde a Idade Média à questão de quais ritos fossem necessários e essenciais para o sacramento da
Ordem e para os seus diversos graus, e quais, ao invés, deveriam ser considerados mera solenidade ou
explicação exterior do sentido do sacramento.”: AUER, J.-RATZINGER, J. I Sacramenti della Chiesa., p.
446.
80
SCHNEIDER, T. (org.). Manual de Dogmática. Petrópolis, v. 2: Vozes, 20094, p. 316. Uma boa síntese
da paulatina inclusão dos elementos rituais da Ordenação é exposta em: BOROBIO, D. História e
Teologia comparada dos Sacramentos. O princípio da analogia sacramental. S. Paulo: Loyola; Ave-
Maria, 2017, pp. 165-169.
81
Hinc consequitur ut declaremus, sicut revera ad omnem controversiam auferendam et ad
conscientiarum anxietatibus viam praecludendam, Apostolica Nostra Auctoritate declaramus, et, si
unquam aliter legitime dispositum fuerit, statuimus instrumentorum traditionem saltem in posterum non
esse necessariam ad Sacrorum Diaconatus, Presbyteratus et Episcopatus Ordinum validitatem.: PIO XII.
Sacramentum Ordinis, 4 (30 de novembro de 1947). Disponível em: https://w2.vatican.va/content/pius-
xii/la/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19471130_sacramentum-ordinis.html Visita em
27/05/2020.
21

suspenso pelo papa (DH 3051; 3061), tais privilégios de ordenação deveriam ser vistos
como exceções ‘altamente questionáveis’ (...). De resto, elas não podem questionar a
inviolável práxis e convicção da Igreja, pelas quais o bispo, em virtude do direito divino,
é o único ministro da ordenação episcopal e presbiteral. 82

•apesar disso, o Magistério confirmou o ensinamento comum da Tradição de que ao


bispo é reservada a transmissão do poder espiritual da Ordem. De fato, assim se
pronunciaram, seja o Papa Eugênio IV, na Bula Exsultate Deo (Decreto pro Armeniis),
de 22 de novembro de 1439; bem como o Concílio de Trento, de forma bastante clara,
como se lê abaixo:
O ministro ordinário deste sacramento é o bispo.83
Por isso, declara o santo Concílio que, sobre os demais graus eclesiásticos, os bispos (...)
são superiores aos presbíteros e (...) ordenam aos ministros da Igreja e podem fazer
muitas outras coisas, em cujo desempenho nenhum poder têm os outros de Ordem
inferior.84
Se alguém disser que os bispos não são superiores aos presbíteros, ou que não têm poder de (...)
ordenar, ou que o que têm lhes é comum com os presbíteros, ou que as Ordens por eles
conferidas sem o consentimento ou vocação do povo ou do poder secular são inválidas, ou que
aqueles que não tenham sido legitimamente ordenados e enviados pelo poder eclesiástico e
canônico, mas que procedem de outra parte, são legítimos ministros da Palavra e dos
85
Sacramentos: seja anátema. Enviei até aqui em 27maio2020.

3. O sujeito da Ordem é todo batizado, de sexo masculino, que é livre e capaz de


manifestar seriamente a intenção de receber o sacramento.

•é evidente que o ministério ordenado requer, previamente, a inserção do sujeito no


sacerdócio comum dos fieis de todo Corpo Místico de Cristo, por meio do Batismo;

•maior explicação requer aquilo que se diz em seguida, i.e, a reserva do Sacerdócio
ministerial ao sexo masculino. Antes de mais nada, é preciso que se considere que tal
ensinamento pertence ao depositum fidei desde o início da Igreja, como aliás já atesta a
própria Sagrada Escritura. Assim:

1º) o Senhor Jesus escolheu, dentre seus seguidores, apenas Doze homens, para
constituir-lhes seus Apóstolos, e lhes dar, na Última Ceia, a ordem de celebrar a
Eucaristia, bem como, após sua Ressurreição, o poder de perdoar os pecados.

2º) não se pode alegar contra isso a mentalidade e cultura da época, haja vista o fato do
Senhor mesmo ter lidado com as mulheres de maneira bem diversa aos padrões do seu
tempo (p.ex., a Samaritana; as irmãs Marta e Maria de Betânia; a adúltera de Jo 8; a

82
MÜLLER, G. L. Dogmática Católica. Teoria e prática da teologia. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 525.
Acrescenta Bartmann a respeito disso: “(...) Bonifácio IX, no ano de 1400, concedeu a um abade inglês
(de Saint’Osith) e aos seus sucessores, o direito perpétuo de conferir aos seus professos, não só as Ordens
menores, senão ainda o subdiaconato, o diaconato e o presbiterato. Mas o privilégio foi revogado no ano
de 1403. Assim, uma bula de Martinho V, de 16 de nov. de 1497 (1427?), concedia ao abade cisterciense
de Altzelle, na diocese de Meissen, o privilégio de conferir as Ordens maiores aos súditos da sua
jurisdição (...).:BARTMANN, B. Teologia Dogmática., v. 3., p. 375.
83
DH 1326.
84
DH 1768.
85
DH 1777.
22

cananeia, de Mt 15; a pecadora que o ungiu na casa do fariseu, em Lc 7, etc.). E foi a


elas que se manifestou por primeiro, após sua Ressurreição.

3º) na eleição apenas de homens para a sua sucessão, “o mesmo fizeram os Apóstolos,
quando escolheram os seus colaboradores...”, cf. 1Tm 3,1-3.12; 2Tm 1,6; Tt 1,5-6.86

4º) apesar de exercerem algumas tarefas auxiliares, não há nenhuma prova de que elas
tenham ocupado funções de governo ou de cargos mais elevados nas comunidades
cristãs. Ao contrário, descontado qualquer exagero oriundo de influxo cultural nas
passagens que serão referidas logo em seguida, se pode concluir dessas uma exclusão de
qualquer papel hierárquico feminino na Igreja primitiva, cf. 1Cor 14,34; 87 1Tm 2,11-
1288.

5º) Quanto às assim chamadas “diaconisas” da Igreja primitiva (tal como Febe,
mencionada em Rm 16,1), assim diz Bartmann:
As diaconisas da antiga Igreja ocupavam-se da instrução das mulheres catecúmenas,
auxiliavam no Batismo de imersão das mulheres, vigiavam a porta das mulheres, durante
a liturgia, e dedicavam-se às obras de caridade (Const. apost. 8,28). S. Epifânio observa:
‘Embora haja na Igreja uma ordem de diaconisas, todavia, não foi instituída para as
funções sacerdotais ou para um serviço semelhante, mas para velar pelos bons costumes
do sexo feminino’ (Haer. 79,3).89
E complementa Müller:
Na Igreja primitiva, as diaconisas foram, em parte, contadas dentro do clero (...), em
parte, porém, não (...). Os diáconos do sexo feminino não exerceram as funções litúrgicas
do diácono. Epifânio de Salamis (haer. 79,9) fala a propósito do fato de a seita dos
montanistas terem admitido mulheres na ordem dos bispos e presbíteros. 90

•note-se que esse “contadas dentro do clero”, mencionado por Müller, se trata de uma
referência muito pontual, de uma função nem de caráter governamental, e nem
identificada com as funções litúrgicas diaconais.
•o fato da Ordem ser reservada somente aos homens revela igualmente o sinal esponsal
de Cristo, Cabeça e Esposo da Esposa e Mãe Igreja.

•ainda acerca deste assunto, é de muita utilidade o estudo:


→ da Declaração Inter insigniores, da Congregação para a Doutrina da Fé, de
15/10/1976;
→ da Carta Apostólica Mulieris Dignitatem 26, de João Paulo II, de 15/08/1988;
→ da Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II, de 22/05/1994;

86
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis (22/05/1994). Disponível em:
http://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1994/documents/hf_jp-
ii_apl_19940522_ordinatio-sacerdotalis.html Visita em 30/05/2020.
87
“...as mulheres estejam caladas nas assembleias, pois não lhes é permitido tomar a palavra...”.
Afirmação que vem mais aliviada em 1Cor 11,5: “...toda mulher que ore ou profetize com a cabeça
descoberta desonra a sua cabeça.”
88
“Durante a instrução a mulher conserve o silêncio, com toda submissão. Eu não permito que a mulher
ensine ou domine o homem. Que ela, pois, conserve o silêncio.”
89
BARTMANN, B. Teologia Dogmática., v. 3., p. 377.
90
MÜLLER, G. L. Dogmática Católica. Teoria e prática da teologia. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 526.
23

→ da Carta “A propósito de algumas dúvidas sobre o caráter definitivo da Doutrina da


Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis”, do Cardeal Luis F. Ladaria, Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, de 29/05/2018.

4. Com a Ordenação, é comunicada a graça do Espírito Santo e é impresso o caráter


sacramental.

•trata-se de uma clara afirmação de Trento, fundamentada sobre as passagens bíblicas


de Lc 22,19 e 1Cor 11,24 – a partir das quais afirma a intenção do Senhor de instituir a
seus Apóstolos e a outros como sacerdotes91 – e sobretudo as de 1Tm 4,14 e 2Tm 1,6-7.
Acerca destas duas últimas, acrescenta ainda significativamente a menção ao consenso
unânime dos Padres, que já fora elencado, no Vaticano I, como critério de infalibilidade
na interpretação das Escrituras.92 Assim diz:
Sendo coisa clara pelo testemunho da Escritura, pela tradição apostólica e pelo consenso
unânime dos Padres, que pela sagrada Ordenação, que se realiza por palavras e sinais
externos, se confere a graça; ninguém deve duvidar que a Ordem é verdadeira e
propriamente um dos sete Sacramentos da santa Igreja. Diz com efeito o Apóstolo: “Eu te
admoesto a que faças reviver a graça de Deus que está em ti pela imposição das mãos.
93
Porque Deus não nos deu um espírito de temor, mas de virtude, amor e sobriedade.”

•e Trento acrescenta, agora em modo disciplinar:


Se alguém disser que pela sagrada Ordenação não se dá o Espírito Santo, e que portanto
em vão dizem os bispos: “Recebe o Espírito Santo”; ou que por ela não se imprime o
caráter; ou que aquele que uma vez foi sacerdote pode novamente se tornar leigo: seja
94
anátema.

•note-se a explícita menção, no texto acima, dos efeitos da Ordem: em primeiro lugar, a
graça santificante, que consiste no dom do Espírito Santo, que em 1Tm 4,14 e 2Tm 1,6
é chamado pelo Apóstolo Paulo com o termo ca,risma. Tal dom consiste na força
sobrenatural que confere, a quem o recebe, tanto os poderes necessários para o exercício
do ministério correspondente à sua nova condição ontológica, quanto a santidade e
dignidade espirituais próprios do mesmo, a fim de edificar a Igreja. 95 Trata-se portanto
de um “aumento da graça santificante já recebida no Batismo.”
•em segundo lugar, confere igualmente o caráter, que se trata de uma marca indelével, o
qual, como afirma S. Tomás, “visa a tudo quanto diz respeito ao culto divino.” 96

91
Cf. DH 1752.
92
O que é sem dúvida importante, haja vista a afirmação do Concílio Vaticano I, em sua sessão 3, cânon
2: “Nós (...) declaramos que (...) se há de conservar por verdadeiro sentido da Sagrada Escritura aquele
que sustentou e sustenta a santa Mãe Igreja (...); e, portanto, a ninguém é lícito interpretar a mesma
Escritura Sagrada (...) contra o unânime consenso dos Padres (...): DH 3007.
93
DH 1766.
94
DH 1774.
95
Como diz Müller, “a graça concedida na Ordenação não serve principalmente à santificação pessoal,
mas justamente à edificação da Igreja por meio do serviço à Palavra e aos sacramentos, portanto, à
santificação das pessoas.”: MÜLLER, G. L. Dogmática Católica. Teoria e prática da teologia., p. 530.
96
“Os sacramentos da Nova Lei imprimem caráter, enquanto nos incumbem do culto a Deus segundo o
rito da religião cristã. (...) Ora, o culto divino consiste em receber o que é divino ou em transmiti-lo aos
outros. Para ambas as ações requer-se uma potência: para transmitir aos outros, uma potência ativa; para
receber, uma potência passiva. Portanto, o caráter comporta certa potência espiritual que visa a tudo
quanto diz respeito ao culto divino. (...) possuir o caráter sacramental cabe aos ministros de Deus.”: S.Th.
III,63,a.2.
24

•em terceiro lugar, a graça sacramental que lhe é específica, que consiste no aumento de
todas aquelas virtudes e dons indispensáveis ao profícuo cumprimento dos deveres do
ministério, tais como o dom da piedade, da sabedoria e da prudência, em suma, para a
eficaz personificação sacramental de Cristo, no exercício dos três múnus de santificar,
ensinar e governar a Igreja.

•também o Concílio Vaticano II fundamenta essa comunicação de um particular poder


sagrado na Ordenação através de tantas outras passagens bíblicas, para além daquelas
elencadas por Trento. Trata-se dos textos de Rm 12,4; 15,15-16; e 1,1.97
•e afirma claramente:
→na Constituição Dogmática Lumen Gentium:
Para apascentar e aumentar sempre o Povo de Deus, Cristo Senhor instituiu na Sua Igreja
uma variedade de ministérios que tendem ao bem de todo o Corpo. Pois os ministros que
são revestidos do sagrado poder servem a seus irmãos para que todos os que formam o
Povo de Deus e portanto gozam da verdadeira dignidade cristã, aspirando livre e
98
ordenadamente ao mesmo fim, cheguem à salvação.
→no Decreto Presbyterorum Ordinis:
Pelo sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados com Cristo sacerdote, como
ministros da cabeça, para a construção e edificação do seu corpo, que é a Igreja, enquanto
cooperadores da Ordem episcopal. Já pela consagração do Batismo receberam com os
restantes fiéis, o sinal e o dom de tão insigne vocação e graça para que, mesmo na
fraqueza humana (1), possam e devam alcançar a perfeição, segundo a palavra do Senhor:
«Sede, pois, perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5, 48). Estão, porém,
obrigados por especial razão a buscar essa mesma perfeição visto que, consagrados de
modo particular a Deus pela recepção da Ordem, se tornaram instrumentos vivos do
sacerdócio eterno de Cristo, para poderem continuar pelos tempos fora a sua obra
admirável, que restaurou com suprema eficácia a família de todos os homens (2). Fazendo
todo o sacerdote, a seu modo, as vezes da própria pessoa de Cristo, de igual forma é
enriquecido de graça especial para que, servindo todo o Povo de Deus e a porção que lhe
foi confiada, possa alcançar de maneira conveniente a perfeição d'Aquele de quem faz as
vezes, e cure a fraqueza humana da carne a santidade d'Aquele que por nós se fez
pontífice «santo, inocente, impoluto, separado dos pecadores» (Heb. 7,26). Cristo, que o
Pai santificou ou consagrou e enviou ao mundo (3), «entregou-se a Si mesmo por nós,
para nos remir de toda a iniquidade e adquirir um povo que Lhe fosse aceitável, zeloso do
bem» (Tit. 2,14), e assim, pela sua Paixão, entrou na glória (4). De igual modo os
presbíteros, consagrados pela unção do Espírito Santo e enviados por Cristo, mortificam
em si mesmos as obras da carne e dedicam-se totalmente ao serviço dos homens, e assim,
pela santidade de que foram enriquecidos em Cristo, podem caminhar até ao estado de
varão perfeito.99
•por fim, é preciso que se diga ainda que, após o Vaticano II, se difundiu cada vez mais
o emprego da fórmula “ministério sacerdotal”, de modo a melhor expressar essa função
de serviço em prol da edificação do Corpo Místico de Cristo.

97
Cf. SESBOÜÉ, B. (dir.). Os Sinais da Salvação., p. 276.
98
LG 18.
99
PO 12.
25

7
Breve Abordagem acerca dos Ministérios não-ordenados
•estudo da Carta Apostólica do Papa Paulo VI Ministeria Quaedam, de 15 de agosto de
1972.

Disponível em: https://www.liturgia.pt/pontificais/Leitores_Acolitos.pdf

Visita em 17/06/2020.

•estudo da Carta Apostólica do Papa Francisco Spiritus Domini, de 10 de janeiro de


2021 acerca do acesso das pessoas de sexo feminino ao Ministério instituído do
Leitorado e do Acolitado.

Disponível em:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-
francesco-motu-proprio-20210110_spiritus-domini.html

Visita em 09/08/2022.

•estudo da Carta Apostólica do Papa Francisco Antiquum Ministerium, de 10 de maio de


2021 pela qual se institui o Ministério de Catequista.

Disponível em:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-
francesco-motu-proprio-20210510_antiquum-ministerium.html

Visita em 09/08/2022.

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