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Muitos talvez não saibam, mas Cristo não era o sobrenome de Jesus,
como alguns podem vir a pensar. Estamos falando de uma época em que
não havia o registro de sobrenomes. As referências dos nomes vinham
da localização, profissão, filiação ou outra característica marcante da
pessoa. Sendo Jesus (Iesous) a forma helenizada do nome hebraico
Josué (Yehoshua), entende-se que este era um nome comum na cultura
israelita. Em seu ministério terreno ele era identificado como Jesus de
Nazaré ou Jesus, o nazareno, referindo-se à cidade onde fora criado.
Outra maneira de identificá-lo era como filho de José e por sua profissão
de carpinteiro. Mais tarde também foi identificado por sua atividade
social e religiosa como mestre (rabi).
Dada essa proximidade mística com a divindade, no início, eles não eram
ungidos publicamente, mas por causa de seu comportamento e prática
vidente, eram reconhecidos pelo povo como homens de Deus. Em outras
palavras, por causa de suas habilidades místicas o simbolismo da unção
com óleo era como que desnecessária ou pelo menos dispensada na
percepção popular. No entanto, há uma única citação sobre a possível
prática de unção de profetas que ocorre na transição entre Elias e Eliseu:
“Unja também Jeú, filho de Ninsi, como rei de Israel, e unja Eliseu, filho de
Safate, de Abel-Meolá, para suceder a você como profeta” (1 Reis 19:16.)
Exercício de reflexão - 02
É muito comum, nos dias de hoje, vermos pastores e líderes sendo
ungidos e ungindo pessoas, ministérios, objetos, relacionamentos
etc. Pensando nesse rito habitual de muitos seguimentos da igreja
contemporânea, reflita sobre a aproximação ou o distanciamento
que essa prática tem com o conceito ou a ato de ungir de acordo
com a argumentação apresentada.
Glossário
Teofania – Expressão originária das palavras gregas theos (deus) e
phanei (aparecer), designando, assim, a ideia de aparição divina. A
teofania seria uma manifestação de Deus captada ou interpretada
pelos sentidos humanos.
Saiba mais
Mitologia grega
A mitologia grega surgiu da curiosidade que os gregos tinham de
explicar a origem da vida e os problemas da existência. Assim,
criaram deuses imortais à semelhança do ser humano.
Os antigos gregos viviam em uma civilização politeísta, ou seja,
tinham a crença em vários deuses. Na Grécia Antiga, o deus que
mais se destacava era Zeus. Considerado o mais importante dentre
os deuses, ele representava a justiça, a razão e a autoridade. Além
dos gregos serem politeístas, seus deuses eram antropomórficos,
isto é, assumiam a forma humana e agiam à semelhança dos
homens, lutavam entre si, e, como os humanos, sentiam ódio, amor,
se casavam e tinham filhos.
Em relação ao casamento, vários deuses se uniram aos seres
humanos mortais. Dessas uniões surgiram os heróis, considerados
semideuses. Sobre seus deuses e heróis, os gregos contavam
muitos mitos, que deram origem à mitologia grega.
A mitologia grega se originou de um conjunto de relatos fantasiosos
e imaginativos em que os gregos procuravam explicar, por exemplo,
a origem da vida, a vida após a morte, dentre outros assuntos.
(https://brasilescola.uol.com.br/historiag/mitologia-grega.htm)
Glossário
Gnosticismo (gnósticos) – A nota chave do gnosticismo era o
conhecimento: a possessão de certos segredos que serviriam
afinal para unir a alma com Deus. O fim do conhecimento era, dessa
maneira, a salvação, a qual incluiria na concepção dos gnósticos,
purificação e imortalidade, e se baseava num arcabouço de filosofia
contemporânea, mitologia ou astrologia; os diferentes elementos
contribuintes e prevalentes davam origem a sistemas diferentes.
No gnosticismo, a total separação entre Deus e a matéria (reputada,
conforme o dogma grego, como inerentemente má) era o ponto
subentendido, e o drama da redenção se efetuava dentro de um
complexo de seres intermediários. A alma do homem que podia ser
salvo, na ideia gnóstica, era uma fagulha da divindade aprisionada
no corpo: a redenção, pois, consistia para eles da libertação da
alma de sua contaminação corporal e de sua absorção pela Fonte
(Walls, 1995, p. 674).
Exercício de fixação - 03
Assinale a alternativa correta, que descreve resumidamente as
quatro correntes filosóficas que tentam explicar a divindade e a
humanidade, simultâneas, de Jesus:
a) Docetismo: defendia que Jesus era totalmente divino e que
sua encarnação era meramente temporária, pois demonstraria
como a alma se liberta do corpo; Modalismo: afirmava três modos
simultâneos do ser de Deus, sendo sempre Pai, Filho e Espírito,
desde o início até o fim; Ebionismo: Jesus não sabia que era
divino, pois precisava cumprir o propósito de viver como homem;
Adocionismo: Jesus foi adotado por Deus, por meio do Espírito
Santo, e somente após isso se tornou o próprio Deus.
b) Docetismo: Jesus não era Deus encarnado, mas foi adotado por
Deus, por meio do Espírito Santo, para cumprir a obra da salvação;
Modalismo: afirmava três modos e tempos distintos, sendo Deus
ora Pai, ora Filho, ora Espírito; Ebionismo: defendia que Jesus era
totalmente divino e que apenas sua aparência era de humano;
Adocionismo: Jesus não era divino, mas era um ungido de Deus
para cumprir determinado propósito.
c) Docetismo: defendia que Jesus era totalmente divino e que
apenas sua aparência era de humano; Modalismo: afirmava três
modos e tempos distintos, sendo Deus ora Pai, ora Filho, ora
Espírito; Ebionismo: Jesus não era divino, mas era um ungido de
Deus para cumprir determinado propósito; Adocionismo: Jesus
não era Deus encarnado, mas foi adotado por Deus, por meio do
Espírito Santo, para cumprir a obra da salvação.
Por outro lado, arrisco dizer que a cristologia baixa não recebe a mesma
atenção por parte da igreja. As histórias dos evangelhos são bem
conhecidas, lidas e repetidas, mas a ênfase acaba recaindo sobre aspectos
místicos e divinos de Cristo, naquilo que ele faz e pode fazer pelos crentes.
Não levamos muito em conta a importância de sua encarnação para
a humanidade. O Deus encarnado mostra concretamente o tipo de vida
que ele espera que as pessoas tenham, paralelamente à adoração, por
isso, temos a máxima do apóstolo Paulo sobre a imitação de Cristo. Essa
recorrente dicotomia, ou desbalanceamento da fé, que pende mais para as
realidades altas do que para as baixas, já estava presente na vivência do
povo de Israel e foi diretamente confrontada pelos profetas. A ideia de que
a adoração tem prioridade sobre a ação ética concreta não possui base
bíblica, afinal somos humanos. Como alertou o profeta Miquéias,
Exercício de aplicação - 04
Considerando a lista abaixo de práticas e ou ações presentes
em nossa vivência na igreja, caracterize quais poderiam ser
relacionadas à perspectiva de Cristologia alta e quais à baixa,
respectivamente:
I. Oração a Cristo por alguma intervenção em nossas vidas;
II. Discipulado de pessoas com encontros para bate-papo;
III. Ensino regular sobre temas diversos;
IV. Canto de louvores exaltando a pessoa de Cristo;
V. Visita a asilos, creches e hospitais.
Saiba mais
Caso tenha interesse em investigar um pouco mais sobre a questão
da apropriação cultural feita por João com o uso do conceito de
Logos para se referir a Jesus, você pode ler um artigo que escrevi
e foi publicado na revista Práxis Evangélica. Ali, menciono e cito
escritos de Heráclito que apontam para algumas confluências de
pensamento. ALMEIDA, Marcos Orison N. Caminho, verdade e vida: a
unicidade dialógica de Cristo. In: Práxis Evangélica, Londrina: FTSA, 2017.
Quando João utiliza o conceito de Logos para identificar Jesus ele não
apenas incita a sua divinização, como aquele que dá origem a todas
as coisas, mas abre um precedente imediato de discussão sobre a
plausibilidade da manifestação do Cristo na forma humana sem que ele
venha a constituir-se em algo derivado ou menor.
Outra maneira com que temos nos acercado da ideia de verdade tem sido
a partir da apologética cristã. Atualmente, o tipo de teologia mais comum
no meio evangélico é aquele que é afetado por uma apologética que é
decorrente da filosofia iluminista e humanista. Procurando entender
um pouco o desenvolvimento da teologia, podemos dizer que no início
da igreja cristã a apologética surgiu para tentar defender a fé cristã
nascente da cultura pagã greco-romana e dos argumentos filosóficos
32 | Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA
que passaram a influenciar diretamente a compreensão teológica. Após
um longo tempo, durante a Idade Média, em que a teologia ditava os
rumos do pensamento, com o advento do iluminismo humanista, a razão
humana passou a ser a referência para o conhecimento da realidade.
Baseado nas perspectivas mecanicistas, objetivistas e cartesianas, o
discurso teológico passou a ser proposicional, ou seja, a maneira para
explicar a Deus e a fé tornou-se um discurso feito com as frases certas
para responder as perguntas certas. A fé e a teologia ficaram aprisionadas
em sistemas teológicos pretensamente exatos e controlados, que a tudo
responde e explica. O resultado disso para a teologia foi que a verdade
ficou refém desse estado de mente. A verdade passou a ser aquilo que
é explicado por uma proposição ou um discurso correto elaborado pela
teologia. O grande problema é que não existe uma única teologia ou
um único discurso. A maior prova disso é a assustadora variedade de
denominações e correntes teológicas que defendem ser representantes
fiéis de Deus no mundo. Talvez motivados por controle ou poder, alguns
grupos pertencentes a correntes e tradições teológicas e denominacionais
acabam adotando uma postura radical e monológica. Em nome da defesa
da sã doutrina e da fé correta, estes grupos tornam-se fiscais dos outros
grupos e reduzem a verdade a seus próprios discursos. Nesse cenário,
quem seria o detentor da verdade? Qual tradição, denominação, grupo,
corrente teológica ou discurso pode garantir que possui a verdade em
detrimento dos outros?
O Logos, que é Jesus, o Cristo, é também Deus, por meio de quem as coisas
vêm à existência, por meio de quem a vida surge. O Cristo é a verdadeira
luz, que é Deus, que ilumina o caminho de todos os seres humanos para
o conhecimento do próprio Deus. O Logos encarnado é, então, cheio de
verdade, pois é a expressão da única fonte de existência, afinal todo o resto
é criado. Portanto, na argumentação de Jesus com Pilatos, a verdade não
34 | Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA
é uma fórmula teológica proposicional, ela é a realidade. Por isso, não se
trata de falar ou dizer a verdade mas de ser da verdade, de pertencer à
verdade ou de ser iluminado pela verdade que é Deus.
Exercício de aplicação - 05
Antes de continuarmos o estudo dessa passagem do Evangelho
de João, é relevante destacar que muitos versículos encontrados
nos demais evangelhos, sobre os quais apoiamos as nossas
explicações e argumentações sobre Cristo, também procuram
responder questões da realidade na qual estão os textos estão
inseridos. Com isso, ao pregarmos, estudarmos ou mesmo
refletirmos sobre um destes textos é sempre indispensável:
a) Lembrar que são textos humanos e, por isso, podem conter
muitos erros sobre quem é Jesus Cristo e a verdade a ser vivida;
b) Observar as questões humanas, mas mantê-las apenas no campo
de informação, pois não são importantes diante da revelação que
vem do Espírito;
c) Buscar conhecer o contexto que cerca aquele autor e a
comunidade para qual ele está escrevendo, conhecendo seus
problemas, crises contextuais, as filosofias, teologias e a cultura
de maneira geral;
d) Entender que os evangelistas formam uma unidade, pois estavam
inseridos nos mesmos contextos, tinham os mesmos destinatários
e possuíam os mesmos objetivos ao escrever.
O Logos é descrito como vida e como luz que ilumina todos as pessoas
para encontrem a Deus em meio às trevas. Poderíamos, portanto,
interpretar essa ideia com o chamado caminho da salvação, o retorno à
casa do Pai. É importante ressaltar que a identificação feita pela tríplice
expressão caminho-verdade-vida surge durante um diálogo de despedida
de Jesus com seus discípulos:
1.3.5. Vida
A tríplice expressão caminho-verdade-vida não tem a intenção de
mostrar três aspectos de Cristo ou três diferentes facetas, propriedades
e atribuições. A tríplice expressão é uma típica maneira judaica de
apresentar uma ideia por meio de sinônimos e paralelos. Jesus ao se
identificar como a verdade e o caminho quer dizer que ele é a própria vida
ou aquilo que é a essência da existência. Sendo o Logos, ele é o criador,
o gerador da vida, conforme já argumentado por João na introdução do
livro: “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (João 1:4).
b) Pão da vida – “Então Jesus declarou: ‘Eu sou o pão da vida. Aquele
que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá
sede [...] Eu sou o pão da vida. Os seus antepassados comeram o maná
no deserto, mas morreram. Todavia, aqui está o pão que desce do céu,
para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu
do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a
minha carne, que eu darei pela vida do mundo’” (João 6:35, 48-51).
Jesus Cristo, portanto, é aquele que sacia a busca por Deus, pela
verdade, pelo caminho a seguir, pelo significado da existência. Isso é ter
sede e fome existencial. A vida humana só possui significado quando
tem como referência a pessoa de Cristo, o Deus encarnado, que é a
expressão da verdade, ou seja, daquilo que é real e não daquilo que é
uma sombra do que podemos ser. Ele é o modelo de ser, de existir, de
viver humanamente. Ele é o caminho existencial a ser percorrido, pela
simples imitação e obediência a seus ensinamentos, com o objetivo de
alcançarmos a plenitude da vida humana, que é estar na casa do Pai e
desfrutar de sua companhia.
Referências bibliográficas
WALLS, A. F. Gnosticismo. In: DOUGLAS, J. D. (org). O novo dicionário da
Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
Exercício de fixação - 06
Sobre a compreensão da messianidade de Jesus é correto afirmar
que
a) Ela ocorreu de forma gradual e paulatina, para alguns foi de
forma plena somente após a ressurreição de Jesus;
b) Ela ocorreu após o batismo de Jesus no rio Jordão, por meio
da voz de Deus;
c) Ela ocorreu apenas após uma revelação especial, aos que
deveriam saber disso;
d) Ela ocorreu de maneira clara e objetiva nos textos do A.T, os
quais afirmam que Jesus é o ungido de Deus.
b) Refúgio no Egito:
• Êxodo 2:9 – “Então a filha do faraó disse à mulher: ‘Leve este
menino e amamente-o para mim, e eu pagarei você por isso’. A mulher
levou o menino e o amamentou”;
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• Mateus 2:13 – “Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu
a José em sonho e lhe disse: “Levante-se, tome o menino e sua mãe,
e fuja para o Egito. Fique lá até que eu diga a você, pois Herodes vai
procurar o menino para matá-lo”.
Ezequiel, por sua vez, ainda que faça referência a Davi, em um tempo mais
apropriado ao exílio, reforça a imagem do pastor, que cuida e consola:
À parte da figura de Davi e do rei, uma nova ideia parece surgir no período
exílico cuja realidade contextual estava bem aquém do período de glória
e prosperidade do então reino de Israel e Judá. Já não há mais glória e
poder presente e a expectativa de um herdeiro real para resgatar aquele
tempo foi esvanecendo. Por assim dizer, o novo ser esperado, também
com características de uma pessoa ungida por Deus, agora é chamado
de Servo e carregará marcas de alguém que sofre, talvez por causa do
pecado e grande distanciamento entre o povo que ele representa e seu
Deus. Isaías é o profeta que melhor descreve essa nova concepção nos
capítulos 52 e 53 de seu livro. Outros textos mais genéricos aparecerão
em oráculos na primeira pessoa, de difícil interpretação, que têm como
pano de fundo o período do exílio (cf. capítulo 59 e seguintes).
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O chamado Servo Sofredor de Isaías contrasta de maneira radical com
a figura de um rei vencedor pautada em Davi. Ele é construído quase
como alguém antagônico. O ungido de Isaías, representado pelo Servo
Sofredor, é uma desconstrução da esperança de prosperidade política
centrada na nação de Israel.
Exercício de aplicação - 07
Com base na última argumentação apresentada, em relação à
esperança que pairava sobre a figura do Messias, qual das opções
abaixo representa mais explicitamente a nossa expectativa ainda
nos dias de hoje?
a) A de sermos libertos da escravidão e domínio do governo
político atual, para que se instaure um novo governo;
b) A salvação diante de possíveis guerras e ataques estrangeiros
que podemos sofrer;
c) Ações grandiosas e miraculosas para resolver os nossos
sofrimentos presentes;
d) Nenhuma dessas esperanças se aplicam a nós hoje.
Glossário
Sinédrio
Embora fontes eminentes — o historiador helenístico-judeu Josephus,
o Novo Testamento e o Talmud — tenham mencionado o Sinédrio,
seus relatos são fragmentários, aparentemente contraditórios e
muitas vezes obscuros. Portanto, sua natureza exata, composição
e função continuam sendo objeto de investigação e controvérsia
acadêmica. Nos escritos de Josefo e dos Evangelhos, por exemplo, o
Sinédrio é apresentado como um conselho político e judicial liderado
pelo sumo sacerdote (em seu papel de governante civil); no Talmude,
é descrito como um órgão legislativo religioso liderado por sábios,
embora com certas funções políticas e judiciais. Alguns estudiosos
aceitaram a primeira visão como autêntica, outros a segunda,
enquanto uma terceira escola sustenta que havia dois sinédrios,
um conselho puramente político, e o outro um tribunal religioso e
legislador. Além disso, alguns estudiosos atestam que o Sinédrio era
um corpo único, combinando funções políticas, religiosas e judiciais
em uma comunidade onde esses aspectos eram inseparáveis. Fonte:
https://www.britannica.com/topic/sanhedrin
Exercício de fixação - 09
Em que momento a messianidade de Jesus é mais bem
compreendida e elaborada no Novo Testamento?
a) A partir do evangelho de Lucas, pois é ele quem irá relatar os
desdobramentos que a morte e a ressurreição trouxeram para a
comunidade seguidora de Jesus;
b) A partir das cartas paulinas, já que Paulo tendo a melhor
formação foi o mais capacitado para elaborar o tema;
c) A partir dos relatos de Atos são os discípulos e apóstolos
quem irão elaborar melhor a messianidade de Cristo. As narrativas
sobre isso se iniciam com duas pregações de Pedro sobre o tema;
d) A messianidade de Jesus não é compreendida por nós cristãos
até os dias de hoje;
• Mateus 20:21 – “’O que você quer?’, perguntou ele. Ela respondeu:
‘Declara que no teu Reino estes meus dois filhos se assentarão um à
tua direita e o outro à tua esquerda’”;
• João 18:33-37 – “Pilatos então voltou para o Pretório, chamou
Jesus e lhe perguntou: “Você é o rei dos judeus? [...] Disse Jesus: ‘O
meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam
para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino
não é daqui’. ‘Então, você é rei!’, disse Pilatos. Jesus respondeu: ‘Tu
dizes que sou rei’ [...]”;
• Lucas 23:42 – “Então ele disse: ‘Jesus, lembra-te de mim quando
entrares no teu Reino’”.
Independente de como se deu essa construção, é no reino escatológico que
Jesus se torna efetivamente o rei messiânico. É o Cristo cósmico, desenvolvido
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teologicamente pelo apóstolo Paulo e por João em seu Apocalipse, que
assume o reino eterno prometido a Davi. Jesus, o Cristo, é aquele que se
assenta no trono celestial, ao lado de Deus, para reinar sobre tudo e todos.
Exercício de reflexão - 10
Apresente uma breve reflexão sobre como as análises feitas
dos ofícios atribuídos à Cristo podem contribuir em nosso
relacionamento com ele e na forma como o imitamos no cotidiano.
Em seu ensino Jesus queria conduzir as pessoas a uma nova forma de ver
a vida, a um novo modo de vida. Ele ensinava nas sinagogas, nas ruas e
em espaços amplos e abertos afastados das cidades. Perceba que o estilo
usado para proferir a maioria de seus discursos possuía um tom professoral.
Também as suas conversas tinham a intenção de orientar, corrigir, estimular
e, principalmente, levar à reflexão e mudança de atitude e de vida. O maior
dos exemplos talvez seja o conhecido Sermão do Monte, cuja introdução do
relato feito por Mateus é clara ao dizer: “Vendo as multidões, Jesus subiu ao
monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou
a ensiná-los, dizendo [...]” (Mateus 5:1-2).
Essa atitude é justificada pela ideia de que Jesus exerceu o seu ministério
independentemente das estruturas e do centro da religião. Em torno
dessa mesma atitude intencional, Jesus também se distancia das esferas
políticas e do centro de poder, tanto político quanto religioso. O ofício de
rei, embora seja o mais importante na construção teológica oriunda do
Antigo Testamento, não é aquele que mais caracteriza o ministério de
Jesus. O reinado de Jesus se dá em outra esfera de atuação e possui
uma realização voltada para o tempo escatológico. Por outro lado, o
ofício de mestre, que não aparece claramente na construção teológica da
expectativa messiânica, é justamente o mais exercido por Jesus em seu
ministério terreno, tornando-se talvez a sua característica mais marcante
e atrativa para a séria consideração da importância da cristologia
baixa para a igreja. Assim, a realização dos ofícios de Cristo, no que se
refere às funções de rei e mestre, se dará nesse ambiente paradoxal de
aproximação e distanciamento de seu povo em sua expectativa quanto
ao Messias. Ao mesmo tempo em que há uma esperança histórica do
Messias, latente na fé do povo de Israel, a realização da mesma não se
dá na mesma proporção e concretude.
• Isaías 42:5 – “É o que diz Deus, o SENHOR, aquele que criou o céu
e o estendeu, que espalhou a terra e tudo o que dela procede, que dá
fôlego aos seus moradores e vida aos que andam nela”;
Uma ilustração que pode nos auxiliar a entender essa ideia é o que
ocorre com aqueles brinquedos infláveis usados em festas infantis tipo
tobogãs, escorregadores e pula-pulas, ou ainda aqueles bonecos que
Exercício de aplicação - 11
Ficou evidente que a palavra ruach está presente em diversos
textos do Antigo Testamento, em contextos e com intenções
diferentes, e, por isso, recebeu diversas traduções em nossas
versões brasileiras: vento, ar, sopro de vida, respiração e espírito.
A palavra espírito, por sua vez, carrega um significado cultural e de
cunho religioso forte que nos induz a pensar imediatamente a algo
místico, pessoal e misterioso. Se passássemos a ler, nos textos
do Antigo Testamento, a palavra ruach como vento ou sopro, quais
das conotações comuns hoje atribuídas ao espírito perderiam
sentido ou se tornariam problemáticas ao tentarmos explicá-las
teologicamente? Pode-se utilizar, por exemplo, o texto de Gênesis
1:2 para responder a questão.
I. Espírito como pessoa
II. Espírito como meio de realizar uma ação
Exercício de fixação - 12
Pensando na ação do Espírito no âmbito da geração de motivação,
inclinação e sentimento, qual das opções abaixo melhor representa
a maneira como o Antigo Testamento constrói essa ideia?
a) A motivação, inclinação e sentimentos provocados pelo Espírito
devem ser vistos como um tipo de possessão em que Deus passa
a ter total controle sobre uma pessoa;
b)A motivação, inclinação e sentimentos provocados pelo Espírito
devem ser vistos como um novo sopro de Deus semelhante ao
processo de conversão;
c) A motivação, inclinação e sentimentos provocados pelo Espírito
devem ser vistos como um tipo de sutil indução semelhante à inspiração;
Há que se ressaltar que Jesus, antes de sua morte, elaborou uma nova
compreensão do ruach (pneuma) para os seus discípulos. Insisto na
referência ao ruach porque devemos lembrar que estamos tratando de
um ambiente teológico de judeus, que falavam hebraico ou aramaico,
e que mais tarde registraram suas histórias em grego por causa do
contexto da igreja gentílica. Com Jesus, o ruach passou a representar
um substituto de sua presença entre eles. Jesus, o Deus encarnado,
haveria de morrer e deixá-los aparentemente sem a presença do seu
mestre e Senhor. Assim, ele os conforta dizendo que não os deixaria sós,
ou melhor, não os deixaria órfãos (João 14:18). Importante notar esse
aspecto de pessoalidade por meio da paternidade substitutiva. Aquele
que viria ocupar o seu lugar vacante não seria a simples ação impessoal
de um vento e sim uma companhia semelhante à de um pai. Contudo,
a imagem mais reforçada, presente na mesma passagem bíblica, e que
foi desenvolvida no Novo Testamento, é a do Espírito como parakletos,
conforme registrada no Evangelho de João: “E eu pedirei ao Pai, e ele
dará a vocês outro Conselheiro [parakleton] para estar com vocês para
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sempre, o Espírito [pneuma] da verdade. O mundo não pode recebê-lo,
porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive
com vocês e estará em vocês” (João 14:16-17).
Exercício de fixação - 13
A partir do que acabamos de ver, como o conceito de pessoalidade
do Espírito Santo é construído no Novo Testamento?
a) Pela sua associação com o Espírito de Deus do Antigo
Testamento;
b) Pela sua associação com o Espírito de Cristo do Novo
Testamento;
c) Pela demonstração de poder, sinais e prodígios, semelhante ao
ocorrido no Antigo Testamento;
d) Pela sua designação como pneuma (vento) quando gerou
Jesus e o capacitou durante o seu ministério;
e) Pela sua designação como consolador e substituto da presença
de Jesus e pelas expressões antropomórficas usadas nos textos.
Essa face do Espírito fica ainda mais latente nos relatos do livro de
Atos e nas cartas do apóstolo Paulo. É nestes textos que percebemos
a enorme quantidade de menções ao Espírito e de interpretações dos
acontecimentos à luz da sua participação e condução dos fatos no
desenvolvimento da igreja e alcance aos gentios. Por hora, ficaremos
apenas com essa afirmação para voltarmos a ela mais adiante em duas
unidades que estudarão o Espírito no livro de Atos.
A segunda razão para fazermos esse estudo no livro de Atos é que ali
estão os textos mais utilizados em nossos dias para se falar, ensinar e
pregar sobre o Espírito Santo, desde o surgimento do pentecostalismo.
Isso é mais notório nas igrejas e comunidades de tradição pentecostal
ou carismática, mas também tem a sua representatividade nas igrejas
históricas que sofreram influência desse movimento. Aliás, a designação
pentecostal vem exatamente da semelhança entre as experiências
ocorridas no início do século XX com um grupo de norte-americanos e o
evento descrito no livro Atos que aconteceu por ocasião da celebração
da festa judaica de Pentecostes.
Por essa razão, é possível que haja muitas pessoas que pensem
na ação do Espírito apenas a partir de Atos. Porém, como visto nas
unidades anteriores, isso seria um equívoco, pois a revelação do Espírito
perpassa todas as Escrituras, Antigo e Novo Testamento. Nesse sentido,
procuraremos analisar algumas passagens do livro de Atos na intenção de
desconstruir algumas noções limitadoras acerca da pneumatologia bem
como de formular uma perspectiva consistente com o todo das Escrituras.
Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA | 103
3.3.1. A descida do Espírito na festa Pentecostes
O livro de Atos inicia-se com o anúncio de uma promessa e o seu
imediato cumprimento. Logo no primeiro capítulo, observamos Jesus
ressurreto orientando os discípulos acerca do importante fato que
haveria de acontecer. A promessa do derramamento do Espírito feita ali
foi entendida por Pedro, dias depois, como sendo o cumprimento do que
havia sido predito pelo profeta Joel (Atos 2:16-21).
Após causar alarde e chamar a atenção das outras pessoas presentes à festa
de Pentecostes, segue-se um sermão explicativo do que estava acontecendo.
O apóstolo Pedro usa uma bela elaboração teológica e bíblica para falar do
Evangelho de Cristo aos ouvintes. O resultado é a conversão de quase três mil
pessoas sem indicar a ocorrência de qualquer outra manifestação especial
do Espírito sobre essas outras pessoas que ali se encontravam.
Glossário
Pentecostes
Pentecostes é um substantivo feminino formado a partir do
numeral pentekostos, quinquagésimo, que é encontrado na língua
Grega de Platão em diante [...] Pentecostes era a segunda grande
festa do ano judaico, um festival da colheita, quando as primícias
da colheita do trigo eram apresentadas a Yahweh. Era comemorada
sete semanas após o início da colheita de cevada (daí “Festa das
Semanas”), 50 dias após a Páscoa (daí “Pentecostes”).
Fonte: DUNN, James D. G. Pentecost, Feast of. In: BROWN, Collin
(ed). The new international dictionary of New Testament theology.
V. 2: G-Pre. Grand Rapids: Zondervan, 1981.
Quase como uma extensão do que havia se passado com Pedro, Estevão
apoderou-se da mesma certeza e, novamente tendo que encarar o
Sinédrio, ele, com coragem, pregou o Evangelho de Jesus e, como
consequência, foi martirizado:
• Atos 9:17 – “Então Ananias foi, entrou na casa, pôs as mãos sobre
Saulo e disse: ‘Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que apareceu no caminho
por onde você vinha, enviou-me para que você volte a ver e seja cheio
do Espírito Santo’”;
108 | Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA
• Atos 11:24 – “Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e
de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor”;
Exercício de aplicação - 14
Considerando as alternativas abaixo, como podemos aplicar às
nossas experiências comunitárias o que aprendemos com os
relatos do livro de Atos sobre a descida do Espírito na ocasião da
festa do Pentecostes?
a) Que o Espírito requer que estejamos preparados para recebe-
lo;
b) Que o Espírito age de forma livre e independente da nossa
vontade e práticas religiosas;
c) Que a manifestação do Espírito é mais poderosa quando nos
reunirmos em oração;
d) Que a dom de línguas ocorre todas as vezes que festejamos o
Espírito em nosso meio;
e) Que o Espírito se manifesta em igrejas pentecostais.
O que quero ressaltar nesse relato é que diferente do que havia ocorrido
em Jerusalém durante a festa de Pentecostes, o Espírito surge na vida
daqueles samaritanos com a intermediação da imposição de mãos dos
apóstolos depois de terem aceito a pregação da palavra e sido batizados.
Mais adiante refletiremos sobre o que isso pode ter significado. Por hora,
olhemos para um terceiro momento que é o acontece com a família do
centurião Cornélio no capítulo 10. O texto relata que de maneira inusitada,
enquanto Pedro ainda falava, as pessoas presentes receberam o Espírito
Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA | 113
Santo, sendo o fato verificado pelo mesmo sinal manifestado aos
apóstolos no derramamento inaugural sobre os judeus em Jerusalém,
que foi o dom de línguas:
Outro evento marcante que não podemos deixar de mencionar foi o que
ocorreu em Éfeso com o apóstolo Paulo:
Referências Bibliográficas
FISHER, Milton C. 1433 sF:n” (nasham). In: HARRIS, R. Laird (org.). Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova: 1998.
PAYNE, J. Barton. 2131a x:Wr (rûah). In: HARRIS, R. Laird (org.). Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova: 1998.
Saiba mais
Parakletos
O conceito do NT
1. A primeira ideia clara relacionada a παράκλητος no NT é a do
advogado da corte de Deus no céu. Em vez de muitos advogados,
os cristãos agora reconhecem apenas um, Jesus Cristo. Ele é
nosso intercessor à direita de Deus (Rm 8:34). Ele dá sua vida
incorruptível ao serviço de seu povo (Hb 7:25). Ele não apenas
reivindica o cargo de juiz, mas também promete ser o defensor
daqueles que lhe confessam (Mt 10:32-33). A ideia cristã de um
Paracleto escatológico remonta ao próprio Jesus.
2. Mais ricamente desenvolvida e difícil de definir, é a ideia em João
de um Paracleto que atua em e em nome dos discípulos. Primeiro é
Jesus (14:16), depois o Espírito, que, completando a obra de Jesus,
leva os discípulos a toda a verdade (14:26), testifica de Jesus (15:26)
e declara o mundo culpado (16:8). Este trabalho é semelhante ao
do advogado do AT e está conectado com descrições do ministério
do Espírito em outras partes do Novo Testamento (Rm 8:26-27;
Mc 13:11; Lc 13:6ss). O termo grego bem pode ser rastreado até
o termo usado pelo próprio Jesus em sua língua materna. Na
tradução, os muitos sentidos secundários eles deixam de fora
qualquer equivalente único. Se queremos evitar “Paracleto”, a ideia
básica é a de “Advogado”; mas a noção mais geral “Apoiador” ou
“Auxiliar” é talvez a melhor tradução.
Fonte: BEHM, J. παράκλητος [abogado, auxiliador]. KITTEL, Gerhard
e FRIEDRICH, Gerhard (ed.). Compendio del diccionario teológico
del Nuevo Testamento. Grand Rapids: Libros Desafio, 2003.
Ora, esse Espírito que acompanhava Jesus durante a sua vida e ministério
foi repassado aos seus discípulos após a sua ressurreição transmitindo
a ideia de que ele provinha do próprio Jesus: “Novamente Jesus disse:
‘Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio’. E com
isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’ (João 20:21-
22). Agora, não era apenas o Espírito de Deus, mas sendo soprado por
Jesus há o reforço da ideia de que ele também era o Espírito de Cristo.
• Não furtem;
• Não mintam;
Vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo. Assim brilhe a
luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e
glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.
• Não jurem de forma alguma. Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’.
• Quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o
que está fazendo a direita.
• Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mas, se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas.
• Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma
forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem,
também será usada para medir vocês.
• Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não
se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
• Toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins.
Exercício de fixação - 17
Qual a melhor maneira de traduzirmos a santificação para nossa
vida prática:
a) A santificação é o estado de pureza que se alcança após a
conversão;
b) A santificação é a abstinência total de todos os prazeres da
carne;
c) A santificação é o processo de conversão em que o nome de
Jesus é confesso publicamente;
d) A santificação é a nova vida no Espírito em que permanecemos
sensíveis à sua condução.
4.2.2. Espiritualidade
Após termos estudado aquilo que chamamos de processo de
santificação, que ocorre como consequência da relação do Espírito
Santo com a pessoa que foi alcançada pelo Evangelho, e de comentar
sobre a expectativa da presença do fruto do Espírito na vida e caráter
do cristão, agora voltaremos nossa atenção para outros conteúdos que
dizem respeito ainda a essa influência no nível subjetivo.
Exercício de reflexão - 18
Em sua caminhada cristã, na busca pela santidade e pelo
desenvolvimento da espiritualidade, o quanto esse processo
se traduziu em algo de benefício comunitário e não apenas de
benefício individual?
Paulo usa uma linguagem simbólica em seu texto para se referir ao Espírito
em função do comportamento humano. Aplicando uma expressão que
designa pessoalidade, conforme já explicado em outra unidade, ele diz
que que as ações negativas no trato com o outro entristecem o Espírito.
Essa maneira simbólica de expressar um distanciamento do padrão de
comportamento esperado por Deus é ampliada no capítulo seguinte de
Efésios quando Paulo comenta sobre o caminho oposto. Ali, usando
outra expressão simbólica, ele propõe o enchimento do Espírito:
O Espírito Santo não está restrito aos ambientes eclesiásticos. Ele não
depende da igreja para agir, mas a usa como instrumento. Assim, a igreja
precisa desenvolver a sensibilidade de perceber a orientação do Espírito
e segui-lo. Algo semelhante ao que aconteceu com Pedro em relação aos
Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA | 157
gentios, relatado em Atos 10, e com Paulo em relação aos macedônios,
relatado em Atos 16.
Exercício de aplicação - 19
Tendo em vista que a preocupação e o cuidado com o meio
ambiente, melhor dizendo, com o restante da criação divina, deve
fazer parte de nossa agenda, enquanto igreja e também enquanto
indivíduos, qual das ações abaixo melhor traduziria uma vida
guiada pelo Espírito — nos remetendo também ao que estudamos
sobre santificação e espiritualidade?
a) Cultuando os elementos da natureza como o sol, a lua e as
estrelas;
b) Levando a igreja para fazer cultos ao ar livre e ensinando-os a
prática de contato com a natureza;
c) Indo à uma cachoeira pelo menos uma vez ao ano para repor as
energias;
d) Diminuindo e separando nosso lixo em casa, estimulando a
igreja a fazer o mesmo, a partir de ações de conscientização e
ensinamentos sobre o assunto.
Referências Bibliográficas
FOSTER, Richard. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento
individual. Deerfield: Vida, 1983.
Exercício de fixação - 01
Reação: A alternativa “e” está correta. Você pode ter achado esse exercício
extremamente fácil, porém, a intenção aqui é apenas reforçar em sua
mente algo que, talvez, tenha ficado por muito tempo sem uma definição
mais precisa. A expressão grega “cristo” traduz uma ideia comum que
é a de algo ou alguém ungido com óleo — o mesmo que “messias” em
hebraico —, que foi recebendo conteúdos teológicos ao longo do tempo
na construção do Antigo e Novo Testamentos.
Exercício de reflexão - 02
Reação: Um exercício reflexivo permite variadas respostas em
função da realidade e tradição de cada pessoa. Entretanto, a partir da
argumentação apresentada, é possível que sua resposta tenha apontado
mais distanciamentos do que aproximações, comparando os ritos de
hoje e os do Antigo Testamento. Primeiro, porque o ungido carregava
uma expectativa muito grande sobre a solução dos grandes problemas
da nação de Israel e, normalmente, não esperamos isso de qualquer líder
religioso ou pessoa comum. Segundo, porque o ungido naquele contexto
tinha uma função pública. Mesmo os profetas que não eram ungidos
em público, eram reconhecidos publicamente por sua função. O ungido
não desempenhava uma função apenas em sua comunidade ou em seu
círculo social, mas, sim, diante de todo o povo. Terceiro, a prática de
unção de objetos, relatada nos textos bíblicos, foi algo muito restrito (Lv
8, Nm 7) e não instituída como uma doutrina ou rito que deveria ocorrer
indistintamente. Com isso, fica-nos o exercício constante de pensar sobre
o conceito bíblico da unção e dos outros ritos que praticamos.
Exercício de fixação - 03
Reação: A resposta correta é a “c”. Caso você tenha errado, não se
preocupe, leia novamente o conteúdo da aula e faça anotações com
Exercício de aplicação - 04
Reação: A alternativa (b) é a que melhor responde à questão. A Cristologia
alta se refere àqueles aspectos do Cristo divino, portanto, as orações e
o louvor se dirigem ao Cristo celeste. Já a Cristologia baixa se refere a
Jesus Cristo mais em seu aspecto humano, que requer de nós uma ação
semelhante a que ele desenvolveu em seu ministério terreno. Assim, Ao
imitarmos a Jesus em sua dedicação em discipular e caminhar perto
de alguns homens escolhidos, ao ensinar as pessoas com quem tinha
contato e ao agir com misericórdia com os necessitados, estamos
enfatizando a perspectiva baixa da Cristologia.
Exercício de aplicação - 05
Reação: A resposta correta é a “c”. Como estamos vendo com os termos
“verbo” e “verdade”, sem o conhecimento necessário podemos incorrer
no equívoco de interpretar o texto de maneira simplista, perdendo a
profundidade da mensagem que o autor pretende passar. Neste sentido,
acabamos ficando reféns da interpretação de expressões que não fazem
sentido no texto e deixamos de lado aquilo que precisa realmente ser
observado. Outros termos importantes que aparecem associados à vida,
ministério e discurso de Jesus e que podem nos causar confusão são
santidade, justiça, piedade, misericórdia, perfeição e até amor. Além disso,
temos o tema dos ofícios de Cristo que serão estudados mais adiante.
Exercício de fixação - 06
Reação: A resposta correta, a partir do que estudamos, é a “a”. Logo no texto
introdutório desta unidade vimos que alguns textos bíblicos utilizados
para interpretação de Jesus como messias são uma releitura posterior,
em que os discípulos, já considerando Jesus como Cristo, passam a ler
Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA | 163
os textos do Antigo Testamento com essa chave hermenêutica. Além
disso, uma questão interessante foi proposta: Se a messianidade de
Jesus fosse tão clara, os judeus conhecedores nos textos sagrados, logo
o teriam notado. Essa percepção, então, foi acontecendo aos poucos e
se tornou plena após o evento da morte e ressureição.
Exercício de aplicação - 07
Reação: A resposta correta é a “d”. O que vimos até aqui é que a figura
do Messias, mesmo após a tradição profética ter contribuído para um
cunho mais místico, estava essencialmente ligada a questões políticas e
sociais, associadas ao domínio de outras nações, conflitos, vassalagem,
etc. Hoje, em nosso contexto, por inúmeros motivos, não nos inserimos
nessas mesmas condições, o que dificulta associar nossas expectativas
sobre o Messias às presentes nos textos do Antigo Testamento. Isso não
significa que os textos do Antigo Testamento não sejam importantes, pelo
contrário, é a partir deles que os discípulos e apóstolos irão ressignificar
a imagem do Messias, como será visto no próximo tópico.
Exercício de aplicação - 08
Reação: A resposta correta é “d”. Repetindo o que foi afirmado anteriormente,
que “Jesus foi enfático ao estabelecer os princípios do seu reino como
algo que extrapolava tanto aquela expectativa quanto às outras formas
humanas de estruturação sócio-políticas”, da mesma forma, ele enfatizou
os princípios e valores do Reino de Deus devem ser posto em prática todos
os dias de nossas vidas, pois ele já é chegado entre nós.
Exercício de fixação - 09
Reação: A resposta correta é a “d”. Durante a caminhada de Jesus,
relatada nos evangelhos, os discípulos ainda demonstravam estar
confusos com a figura de seu mestre, ora pareciam compreender, ora
pareciam ainda o confundir com o Messias das expectativas judaicas,
que libertaria o povo das mãos do Império Romano. Lendo o livro dos
Atos dos Apóstolos, um registro de Lucas, vemos a caminhada de fé
164 | Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA
daqueles que seguiram Jesus após a sua morte e ressureição e, também,
daqueles que iam se achegando durante esse processo. De fato, os
discípulos só compreenderam completamente a messianidade de Jesus
após a experiência de vê-lo crucificado e ressurreto.
Exercício de reflexão - 10
Reação: Uma maneira de refletirmos e aplicarmos o tema dos ofícios
em nossa vivência cotidiana é pensar que o caminho a trilhar é aquele
nos faz perceber, através da vida de Jesus, que muitas coisas precisam
ser ressignificadas. Muitas vezes olhamos para Jesus a partir do
entendimento de conceitos culturais que carregamos. Aquilo que,
comumente, redundaria em poder, fama e influência, como atribuído a
figuras dos reis, sacerdotes e profetas, em Jesus, é colocado de lado
e uma nova percepção se abre. Essa figura empoderada se torna uma
pessoa de proximidade, partilha, convívio, amor, igualdade e assim por
diante. A subversão dos valores e conceitos postos na sociedade que
feita desde a perspectiva do Reino de Deus precisa estar refletida em
nossas vidas diariamente.
Exercício de aplicação - 11
Reação: A resposta correta é a “d”. Como observado no texto, o vento
ou sopro de Deus, traduzido como espírito, está sempre associado
à uma ação divina específica. Este vento gera ou move algo e produz
um resultado, mas não há pessoalidade ou características humanas
atribuídas a ele. É importante observar que este exercício serve não
apenas para que você assimile melhor a argumentação apresentada
nesta unidade, mas também para que você se sinta instigado a continuar
acompanhando a construção bíblica sobre o Espírito em função de
outras perspectivas que trataremos a seguir. Por hora estamos lidando
com o Antigo Testamento, mas atente para os próximos tópicos a fim de
compreender como a pneumatologia bíblica foi construída. Exercício de
Exercício de fixação - 13
Reação: A resposta correta é a “e”. Diferente do que percebemos no
Antigo Testamento, o pneuma no Novo Testamento não apenas inspira,
capacita, muda o curso da história e interfere nos sentimentos e humor
das pessoas, mas exerce uma função muito maior, a de parakletos, que
substitui o vazio deixado pela ausência de Jesus. Além disso, Paulo,
principalmente, é quem irá desenvolver melhor essa questão, trazendo
mais características humanas e pessoais ao pneuma, o que chamamos
de expressões antropomórficas.
Exercício de aplicação - 14
Reação: A resposta correta é a “b”. Vimos que, embora os discípulos
estivessem reunidos durante o festejo de Pentecostes, em sua prática
regular, não houve uma preparação específica por parte deles. O texto
é explícito em registrar que o ocorrido foi “de repente”. Outros textos
também nos informam sobre a maneira inusitada e surpreendente com
que o Espírito de Deus age. Isso deveria nos ensinar que o Espírito de
Deus é livre, age como, quando, onde e em quem quiser.
166 | Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA
Exercício de fixação - 15
Reação: A resposta correta é a “a”. No Antigo Testamento, o Espírito
(ruach ou vento) representava a ação de Deus. No Novo Testamento, o
Espírito (pneuma ou vento) ganha características pessoais, passando
a ser também o parakletos. Entretanto, isso não significa que haja uma
independência do Espírito em relação a Deus ou à Trindade. Também,
não significa que haja uma divisão de tarefas. O Espírito continua sendo
o Espírito Santo de Deus. Por mais difícil que seja a compreensão e
a explicação, que não é matemática exata, nem pretende ser, quer no
Antigo quer no Novo Testamento, os textos apontam para uma unidade
entre o Pai e o Espírito.
Exercício de fixação - 17
Reação: A resposta correta é a “d”. Como estudado, a santificação é a
vivência guiada pelo Espírito que se traduz em uma ação ética profunda,
em que o amor e a justiça são fundamentos de nossas práticas. O fruto
do Espírito, por sua vez, é visto naturalmente na vida das pessoas que se
permitem ser guiadas pelo sopro de Deus. Além disso, num mundo cheio de
corrupção, ambição, guerras e egoísmo, viver sob os fundamentos do amor
e da justiça, guiados pelo Espírito, nos torna separados, santos ou distintos
de tudo isso. Ser separado deste cenário caótico para viver no Espírito, é
santificação. Ser santo é ser separado para fazer diferença e transformar as
realidades contextuais que afrontam a criação em todos os sentidos.
Exercício de reflexão - 18
Reação: É comum pensarmos que precisamos desenvolver uma
espiritualidade que nos traga paz, bons pensamentos, coragem, uma
Teologia Sistemática II - Cristologia e Pneumatologia | FTSA | 167
noite de sono agradável, um estado menos ansioso, menos nervoso, em
que o medo seja vencido. E, além disso, que essa espiritualidade nos
auxilie na busca da santidade, normalmente ligada a ausência de vícios,
promiscuidades, brigas, inveja etc. Em hipótese alguma podemos dizer que
essas coisas não têm o valor e que elas não sejam conquistadas com uma
vida espiritualmente saudável e madura, em que buscamos a santificação
ou sermos guiados pelo Espírito. Entretanto, diante de todos esses
benefícios individuais, acabamos por nos esquecer que a espiritualidade
ou a vida no Espírito é uma prática de vida que reflete a vida de Cristo
e, portanto, deve ter as mesmas implicações comunitárias que as que
vemos nele. A prática do amor, a busca pela justiça, o acolhimento “dos
órfãos, viúvas e estrangeiros”, são próprios daquele que é santo e nascido
do Espírito. Essa espiritualidade deve ser vivida no dia a dia, na família, no
trabalho, na faculdade, na vizinhança, no supermercado, no trânsito, etc.
Exercício de aplicação - 19
Reação: A resposta correta é a “d”. A primeira opção (a) não seria correta
pelo simples fato de que cremos que Deus criou os astros, a fauna e
flora, e apesar de sua beleza e seu esplendor, cultuamos o criador e não
a criação. A alternativa (b) e (c) são dignas de serem postas em prática,
pois, sem dúvida, fariam muito bem à igreja visto que vivemos em uma
sociedade de trabalho excessivo e pouco contato com a natureza. Mas
a preocupação com questões ecológicas e sustentáveis não pode se
limitar a estar em contato com a natureza para nos trazer bem-estar
momentâneo. Essa preocupação deve se traduzir no cumprimento da
primeira tarefa que recebemos como seres humanos, a saber: cuidar da
criação e cultiva-la. Na disciplina de Teologia Sistemática III trataremos
das questões da criação e do envolvimento do ser humano com o meio-
ambiente com maior profundidade. Por hora, basta perceber que estamos
profundamente ligados ao meio-ambiente e que as ações de cuidado,
que beneficiam a natureza, é o que reflete uma vida guiada pelo Espírito
Santo. Por isso, a resposta “d” é a melhor opção, sendo apenas uma das
muitas práticas sustentáveis que precisamos adotar.