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1429
RESUMO
(1)
Recebido para publicação em setembro de 2007 e aprovado em abril de 2008.
(2)
Professor do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. Caixa postal 6001CEP 86051-990
Londrina (PR). E-mail: tavares@uel.br
(3)
Aluno do Curso de Agronomia, UEL. Bolsista UEL.
The dispersion of Oxisol samples can be somewhat difficult due to highly stable
microaggregates that are not always completely destroyed by chemical and mechanical
dispersion. It is therefore important that chemical and mechanical methods are combined,
along with the pretreatment of the sample, for complete and stable soil particle dispersion
throughout the analytical procedures. Thus, this study aimed to evaluate the efficiency of
mechanical dispersion (slow agitation with an orbital shaker – 30 rpm for 16 h, in the
presence of coarse sand, and fast agitation with a cocktail shaker type – 1200 rpm for
20 min) and chemical dispersion with NaOH 1 mol L-1, associated to the pretreatment for
elimination of the organic matter, regardless of its content in the soil sample, during the
routine textural analysis method. For the analyses, 50 completely random samples from
the layers 0–0.20 m and 1,15–1,25 m were collected with a Dutch-type auger in an Oxisol.
Each sample represented a replication. Results showed major dispersion of the samples
with pretreatment for organic matter oxidation. The process of slow agitation was always
more efficient in the dispersion of the soil samples as compared to the fast agitation. The
pretreatment for elimination of organic matter and mechanical dispersion with slow
agitation for 16 hours and 30 g of coarse sand as abrasive was the most efficient in the
dispersion of samples collected in the 0–0,20 m layer as well as at 1,15–1,25 m.
estabilidade dos Latossolos e, assim, incrementar o ((Embrapa, 1997; Oliveira et al., 2002) – sem pré-
teor de argila, quando comparado àquele da tratamento para oxidação da MO (método comum nas
determinação sem a realização de pré-tratamentos, análises de rotina (testemunha - AR1) e com pré-
como observado por Menk & Oliveira (1974). tratamento para oxidação da MO (AR2); (b) agitação
A combinação de métodos químicos e mecânicos lenta por 16 h com agitador orbital de mesa (30 rpm)
associados ao pré-tratamento da amostra é importante mais 30 g de areia grossa (diâmetro > 1,00 mm) como
para se obter completa dispersão das partículas do abrasivo (Oliveira et al., 2002) – sem pré-tratamento
solo e mantê-la estável durante toda a marcha para oxidação da MO (AL1) e com pré-tratamento para
analítica. Para autores como Kilmer & Alexander oxidação da MO (AL2). Como dispersante químico,
(1949), Genrich & Bremner (1972), Grohman & Raij foram usados 10 mL de NaOH 1N ((Embrapa, 1997;
(1974), Carvalho (1985) e Vaz et al. (1997), a agitação Vitorino et al., 2003) e, para oxidação da MO, utilizou-
mecânica com agitação lenta (30 rpm) das amostras se H2O2 30 %, segundo método proposto por Embrapa
de solos em garrafas de Stholmann, com adição de (1997). O tempo de sedimentação para obtenção das
abrasivos e tempo de agitação em torno de 16 h, assim frações argila e silte foi calculado pela aplicação da lei
como o uso de ultra-som e de atenuação de raios gama, de Stokes e temperatura da suspensão. Para esse
têm se mostrado mais eficientes na dispersão das cálculo, considerou-se: valor de 2,65 g cm-3 para
amostras de solo que os métodos de agitação mecânica densidade das partículas, temperatura = 20 °C; Dp–
rápida com agitadores do tipo coqueteleira de alta Df = 1,70; e h = 0,01 poise. Dessa forma, após 4 min
rotação (10.000 a 12.000 rpm) e tempo de operação de repouso da suspensão, foram pipetados 10 mL da
variável entre 5 e 20 min. Em estudo comparativo solução a 10 cm de profundidade (amostragem de silte
dos resultados obtidos nas análises texturais, Rocha + argila), e depois de 4 h de repouso, 10 mL da solução
& Cassoli (1993) concluíram que as diferenças a 5 cm de profundidade (amostragem da argila).
encontradas nos teores de argila de um mesmo solo Após as análises, foram apresentados os momentos
devem-se à dispersão ineficaz, mascarando os estatísticos das frações texturais obtidas segundo os
verdadeiros teores dessa fração, o que pode levar a diferentes tratamentos analisados, para as amostras
erros de caracterização e classificação do solo, com de solo coletadas nas profundidades de 0–0,2 e 1,15–
conseqüências para o seu uso e manejo adequado. 1,25 m; com os resultados dos teores de argila, silte e
Diante do exposto, objetivou-se com este trabalho areia provenientes da dispersão das amostras de solo,
avaliar a eficiência da dispersão mecânica (agitação obtidos pelos vários métodos, calculou-se o coeficiente
lenta com agitador orbital de mesa – 30 rpm por 16 h, de variação e o intervalo de confiança a 95 % para
com abrasivo, e agitação rápida com agitadores do tipo cada tratamento (AR1, AR2, AL1, AL2). Além disso,
coqueteleira – 1.200 rpm por 20 ”) e química com considerando a hipótese de se obter no tratamento AL2
NaOH 1N, associada ao pré-tratamento para a maior dispersão do solo, foi calculada a eficiência
eliminação da MO, independentemente de seu teor na relativa de dispersão do solo (ERd) com base no
amostra de solo, na realização da análise textural percentual de argila, ou seja: ERd = [(teor de argila
utilizada como método de rotina. obtido pelo tratamento considerado/teor de argila
obtido pelo tratamento AL2)*100].
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo foram utilizadas amostras de solo
coletadas em um Latossolo Vermelho eutroférrico Os momentos estatísticos das frações
(Embrapa, 1999), sob cultura perene (citros), localizado granulométricas obtidas segundo os diferentes
no município de Londrina (PR). Nessa área, foram tratamentos, para as amostras de solo coletadas nas
coletadas com trado holandês 50 amostras, de forma profundidades de 0–0,2 e 1,20 m, em Latossolo
inteiramente casualizada, nas profundidades 0–0,20 ° Vermelho eutroférrico sob cultura perene, são
e 1,15–1,25 m; cada amostra representou uma apresentados nos quadros 1 e 2. Pode-se observar que
repetição e, para cada uma delas, foi determinado o o teor médio de MO é superior nas amostras de
teor de MO inicial (Embrapa, 1997) e após pré- superfície, em relação ao valor médio em profundidade;
tratamento para oxidação desta, independentemente nos dois casos, o coeficiente de variação é alto,
de seu teor inicial. provavelmente devido à grande variação de valores
encontrados, principalmente, em profundidade. Após
A análise granulométrica foi realizada conforme o tratamento para oxidação dessa MO, o valor médio
Day (1965), porém com modificações na fase de em superfície não foi zero, ou seja, não se conseguiu
dispersão. As quantidades de argila e silte foram 100 % de oxidação da MO para um coeficiente de
obtidas pelo método da pipeta, e a areia total, por variação bem alto (77 %). Em relação às amostras de
diferença, em relação ao total de argila mais silte, profundidade, o valor médio obtido foi igual a zero,
com os seguintes tratamentos: (a) agitação rápida por porém o coeficiente de variação foi ainda maior
20 min com agitador do tipo coqueteleira (1.200 rpm) (108 %).
No tocante aos teores médios das frações tratamentos entre si (Figura 1). observa-se que AR1
granulométricas obtidas segundo os diferentes trata- não difere de AR2, mas difere dos demais tratamentos;
mentos, verifica-se, em relação ao método considera- AR2 não difere de AL1, mas difere do tratamento AL2;
do padrão (testemunha – AR1), que os valores de argi- e o tratamento AL1 difere do tratamento AL2.
la são crescentes e os coeficientes de variação decres-
centes dos tratamentos com agitação rápida para No caso das amostras coletadas a 1,20 m, observa-
aqueles com agitação lenta, sendo os maiores valores se a mesma tendência ocorrida nas amostras de
de argila encontrados nos tratamentos onde a MO foi superfície, ou seja, aumento nos teores de argila e
oxidada, tanto para as amostras de superfície com para redução nos teores de silte, na seguinte ordem
aquelas coletadas a 1,15–1,25 m de profundidade. (crescente): AR1 < AR2 < AL1 <AL2. Ao comparar os
Entretanto, no caso das amostras coletadas a 1,15– tratamentos (Figura 1), observa-se que AR1 não difere
1,25 m, a magnitude das diferenças é menor entre os de AR2, mas eles diferem dos tratamentos AL1 e AL2,
tratamentos, uma vez que o teor de MO é menor. os quais, por sua vez, não diferem entre si a 5 %.
Portanto, isso pode indicar que a influência na dis- Portanto, nessas amostras de profundidade com menor
persão de argila é bem maior nas amostras de 0–20 m. teor de MO, parece que o que mais influiu foi o tipo de
agitação.
Na figura 1 são apresentados valores médios e
intervalo de confiança (95 %) dos teores médios das Verifica-se portanto que, independentemente da
frações granulométricas (argila, silte e areia) obtidas profundidade estudada e do teor de MO inicialmente
segundo os diferentes tratamentos (AR1, AR2, AL1 e na amostra, o tratamento AL2 (agitação lenta com
AL2), nas amostras coletadas em Latossolo Vermelho oxidação da MO) sempre resultou em maior dispersão
eutroférrico sob cultura perene. Quanto às amostras do solo (maiores teores de argila). Assim, pelos valores
coletadas em superfície, observa-se que ocorreu de eficiência relativa de dispersão do solo apresentados
aumento nos teores de argila e redução nos teores de no quadro 3, confirma-se a viabilidade de uso do
silte, de acordo com a seguinte ordem (crescente): AR1 agitador horizontal sem oxidação da MO (AL1) como
< AR2 < AL1 < AL2. Contudo, ao comparar os um método alternativo de análise granulométrica, por
Quadro 1. Momentos estatísticos das frações granulométricas, segundo os diferentes tratamentos analisados,
para as amostras de solo coletadas na profundidade de 0–0,2 m em Latossolo Vermelho eutroférrico,
sob cultura perene
Quadro 2. Momentos estatísticos das frações granulométricas, segundo os diferentes tratamentos analisados,
para as amostras de solo coletadas na profundidade de 1,15–1,25 m em Latossolo Vermelho eutroférrico,
sob cultura perene
apresentar eficiência de 92,2 % (0–0,20 m) e 97,9 % Wambeke, 1962; Oliveira et al., 2002; Donagemma
(1,15–1,25 m) para o solo estudado. Por sua vez, os et al., 2003), sobretudo os mais oxídicos, devido a
valores de eficiência de dispersão obtidos com o uso do microagregados de alta estabilidade (Seta &
agitador do tipo coqueteleira (1.200 rpm), adotado na Karathanasis, 1996; Lima & Anderson, 1997; Ferreira
rotina de muitos laboratórios de solos, foram de 88 % et al., 1999), que nem sempre são totalmente desfeitos
(tratamento AR2 – oxidação da MO) e 80,7 e 85,9 % pela dispersão química e mecânica. Ademais, solo
(tratamento AR – sem oxidação da MO). com teor mais elevado de MO apresenta agregados
Em comparação com o tratamento AL2 (Quadro 3), mais estáveis, resistentes à desagregação por agentes
o tratamento AL1 subestimou os teores de argila em físicos (Grohmann & Raij, 1977).
7,8 % para as amostras de superfície e 2,1 % para Os resultados obtidos indicam que a melhor
aquelas em profundidade; o tratamento AR2 dispersão das amostras ocorreu no tratamento AL2,
subestimou os teores de argila em 12 % para as em que se fez uma combinação de métodos químicos
amostras de superfície e profundidade; e o tratamento (NaOH 1 mol L-1), agitação mecânica lenta (30 rpm
AR1 subestimou os teores de argila em 19,3 % para por 16 h) com areia grossa e pré-tratamento da amostra
as amostras de superfície e 14,1 % para as amostras para remoção da matéria orgânica. Segundo Kilmer
em profundidade. Essas maiores diferenças nos & Alexander (1949), Genrich & Bremner (1972),
resultados de teor de argila obtidos entre os métodos Grohman & Raij (1974), Carvalho (1985) e Vaz et al.
AL2 e, principalmente, AR1, subestimando os teores (1997), a agitação mecânica lenta (30 rpm) das
de argila dos solos, podem afetar decisões quanto ao amostras de solos em garrafas de Stholmann, com
manejo do solo, além de poder induzir o pedólogo a adição de abrasivos e tempo de agitação em torno de
agrupar o solo dentro de classes texturais diferentes, 16 h, tem se mostrado mais eficiente na dispersão das
no caso de classificação (Oliveira et al., 2002). amostras de solo que os métodos de agitação mecânica
Essas diferenças de resultados podem estar rápida com agitadores do tipo coqueteleira de alta
associadas a problemas de maior ou menor dispersão rotação (10.000 a 12.000 rpm) e tempo de operação
que podem ocorrer em alguns Latossolos (van variável entre 5 e 20 min.
CONCLUSÕES
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - OLIVEIRA, G.C.; DIAS JÚNIOR, M.S.; VITORINO, A.C.T.;
EMPRESA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. FERREIRA, M.M.; SÁ, M.A.C. & LIMA, J.M. Agitador
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