Você está na página 1de 151

ORIENTAÇÃO

EDUCACIONAL

Autoria: Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Graciele Alice Carvalho Adriano


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2018


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

P581o

Pianezzer, Lúcia Cristiane Moratelli


Orientação educacional. / Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer –
Indaial: UNIASSELVI, 2018.

151 p.; il.


ISBN 978-85-53158-13-3

1.Orientação educacional. II. Centro Universitário Leonardo


Da Vinci.

CDD 371.42

Impresso por:
Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer

Pedagoga com habilitação em Educação


Infantil e Séries Iniciais, com especialização na
mesma área. Professora com 25 anos de experiência na
Educação Básica. Desenvolve Formações Continuadas
para Educadores Infantis, Anos Iniciais e Finais, bem
como para Gestores Educacionais. Atualmente, atua
como Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil
e do Ensino Fundamental I, no Colégio Metropolitano
de Indaial, ministra uma disciplina no Curso de Gestão
e Coordenação Pedagógica de pós-graduação
e Formação Continuada IPEGEX (Indaial e
Blumenau) e é Docente no Curso de Pedagogia
da Uniasselvi. Especialista também em Gestão
e Tutoria, pela mesma Instituição.
Sumário

APRESENTAÇÃO.....................................................................07

CAPÍTULO 1
Orientação Educacional: Conceito e Trajetória
Histórica..................................................................................09

CAPÍTULO 2
A Formação do Orientador: Gestor no Contexto da
Atualidade...............................................................................43

CAPÍTULO 3
O Orientador Educacional e a Gestão Democrática......109
APRESENTAÇÃO
Caro pós-graduando!

É com muito carinho e satisfação que compartilhamos este livro de estudos


a respeito da Orientação Educacional (OE). Por meio dele, conheceremos o
conceito, a origem e a importância da OE ao longo da história (especialmente
no Brasil) e, a partir disto, teceremos significativas reflexões; identificaremos a
função e a formação do orientador educacional como um gestor no contexto da
atualidade e o perceberemos como sujeito fundamental às ações e intervenções
pedagógicas.

Para tanto, os conteúdos encontram-se distribuídos em três capítulos,


subdivididos em seções. Ao final de cada capítulo, contemplaremos atividades
de estudo e algumas considerações que objetivam auxiliá-lo na aquisição do
conhecimento.

No primeiro capítulo, apresentaremos o conceito, a história e os objetivos da


Orientação Educacional, além de trazermos a formação, áreas de atuação e os
princípios éticos do orientador educacional. No segundo capítulo, detalharemos
as características e atribuições desse profissional, com os desafios da atualidade,
tanto dentro, quanto fora da instituição escolar. E para finalizar, no terceiro capítulo,
trataremos da aproximação entre o orientador educacional, a comunidade escolar
e as famílias, numa gestão dialógica, participativa e democrática.

Além do conteúdo do caderno, sugerimos a realização de algumas leituras


complementares. Aproveite para ampliar seus conhecimentos!

Bons estudos!

Professora Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer


C APÍTULO 1
Orientação Educacional:
Conceito e Trajetória Histórica

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender o conceito e a trajetória histórica da Orientação Educacional.

 Identificar, reconhecer e valorizar o papel do orientador educacional em suas


áreas de atuação, com seus princípios, atribuições e características.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

10
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

ContextualiZação
A Orientação Educacional, como se configura atualmente, é o resultado de
processos construídos mediante as manifestações próprias de cada época, como
a forma de viver de cada povo, de organizar a sociedade e de compreender a
função da escola.

Com o passar do tempo, conceitos foram modificados e reconstruídos para


atender às necessidades da escola com seus novos desafios.

Neste sentido, este capítulo apresenta a trajetória histórica da Orientação


Educacional, com seus objetivos, além de trazer a formação, princípios éticos e
áreas de atuação do orientador educacional, do passado e do presente.

Partindo desse pressuposto, não há como compreender e refletir sobre a


Orientação Educacional da atualidade sem dar uma voltinha no tempo e conhecer
esta história, concorda?

Antes mesmo de iniciarmos nossa viagem ao passado, cabe aqui uma


pergunta: o que é Orientação Educacional? Como você definiria cada uma destas
palavras?

DeFinição de Orientação Educacional


Grinspun (2011, p. 11) auxiliará na compreensão do que vem a ser, de fato,
Orientação Educacional:

[...] vejo, hoje, tal qual o início do século XX, um renascer da


nova Orientação Educacional que tem - mais do que nunca -
um compromisso com e para o aluno, não apenas para orientá-
lo no seu desenvolvimento a partir de suas necessidades, mas
para oferecer os meios e as possibilidades de uma formação
mais segura e mais abrangente, que não se limita ao aqui e
agora, não apenas a ajudá-lo nas dificuldades na/da escola,
mas para orientar para a vida, para ser, cada vez mais, um
indivíduo multiplicador e transformador de seu tempo. [...] uma
orientação que tem o papel mediador, dinamizador do contexto
atual em prol de uma educação de qualidade.

Após esta citação, torna-se fácil perceber a dimensão que permeia a função
do orientador educacional, pois orientar significa guiar, ajudar, mediar, dinamizar,
transformar e educar, ou seja, vai muito além dos muros escolares, estende-se à
vida. Logo, é grande a missão deste profissional.

11
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Para Grinspun (2008, p. 70), deve-se:

[...] mostrar o sentido pedagógico da Orientação, identificando


seu papel na instituição, sua colaboração para superar junto
com/na Escola seus desafios no/do cotidiano, e as possibilidades
que temos para um trabalho articulado integrado, no qual a
mediação é o eixo da realização das nossas atividades na
escola. A Orientação Educacional é parte de um todo, faz parte
da escola que com ela interage permanentemente, assim como
a própria sociedade.

Grinspun (2011, p. 24) diz também que:

A Educação é uma prática social, e a Orientação deve ser


vista como uma prática que ocorre dentro da escola, mas cujas
atividades podem e devem ultrapassar seus muros; uma prática
que caminha no sentido da objetividade, da subjetividade e da
totalidade da Educação. É perceptível que a Orientação está
cada vez mais junto à Educação como um todo, na busca das
finalidades de um projeto político-pedagógico formulado para a
escola, em favor de seus próprios alunos.

Portanto, parte-se do pressuposto de que a Orientação Educacional, nos


dias atuais, cumpre um papel bastante significativo junto aos professores, alunos
e familiares, dando-lhes atenção e assistência.

Essa nova Orientação tem o intuito de prevenir, ultrapassando as pequenas


dificuldades ou falhas no decorrer do percurso escolar, ou seja, preocupa-se com
a vida do estudante, mas nem sempre isso foi assim. A Orientação Educacional
sofreu alterações conforme as modificações em sua volta, melhorando e tornando-
se mais atuante, participativa e consciente de seu papel na sociedade.

O esquema a seguir, apresentado por Giacaglia e Penteado (2010, p. 13),


traz a evolução da Orientação Educacional no Brasil:

Quadro 1 – Evolução da orientação educacional no Brasil


OE de interesse OE de interesse OE de interesse OE de interesse
social social social individual/social
Pragmática, profis-
Terapêutica. Preventiva.
sionalizante.
Centrada no aluno; Visa ao desenvolvi-
Corretiva; Visa adaptar o
visa adaptar o mento e à felicidade
visa adaptar o aluno. aluno.
aluno. do aluno.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 13).

Este esquema leva à compreensão de uma mudança de paradigma, pois o


aluno deixa de ser visto apenas como mão de obra futura, para ser visto como um
ser em pleno desenvolvimento e em busca de felicidade.

12
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

Contexto Histórico da Orientação


Educacional no Brasil
Qualquer sujeito, desde os tempos mais remotos, orientou ou foi orientado por
alguém. Isso também acontece entre os animais irracionais, que preparam seus
filhotes a partir do nascimento para que aprendam a viver de forma independente.
Com o ser humano ocorre o mesmo: aprende-se com os pais ou com as pessoas
mais velhas sobre aspectos culturais, sociais, religiosos ou de sobrevivência, que
se carrega por toda a vida. Provavelmente, estes conhecimentos serão passados
aos descendentes, e isto se chama educação informal. Giacaglia e Penteado
(2010, p. 3) confirmam essa informação:

Entre os humanos, tem-se notícia de que, desde priscas eras,


sempre existiu a necessidade, por parte das gerações mais
velhas, não só de prover como também de socializar e instruir
as gerações mais novas, utilizando-se, para tanto, a princípio,
da educação e da orientação informais e, mais tarde, da
instrução formal, via escolarização.

A educação informal, conforme mencionado, repassada dos mais velhos


aos mais novos, abrangia principalmente os núcleos familiares ou as pequenas
comunidades. Porém, quando essa educação passou à formalidade em âmbitos
escolares, tornou-se necessária a realização de algumas adaptações, passando-
se a focá-la na instrução (especialmente após a Revolução Industrial), buscando
satisfazer às necessidades da própria sociedade.

A Revolução Industrial foi preponderante à educação escolar, e para melhor


compreensão, Giacaglia e Penteado (2010, p. 4) acrescentam:

Em primeiro lugar, vale lembrar que tal revolução causou a


retirada, em grandes proporções, de adultos de seus lares,
afastando-os, portanto, do cuidado pessoal e próximo dos
filhos. Como primeira consequência, esses passariam a ser
cuidados e educados por terceiros. Como a grande parte
da população adulta se encontrava também ocupada nas
incipientes indústrias, a solução foi agrupar os educandos,
em números cada vez maiores, em instituições formais e
especializadas, para que os pais pudessem se dedicar às
novas formas de trabalho, em novos locais.

A partir de então, a escola deixa de ser um espaço ocupado prioritariamente


pela elite e passa a atender a outras camadas da população consideradas menos
favorecidas, mas que a partir daquele momento, e de acordo com os interesses
da sociedade, passariam a receber instrução.

13
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 1 – Revolução Industrial

Fonte: Disponível em: <http://www.portaldovestibulando.com/2016/07/


revolucao-industrial-1-e-2-fase.html>. Acesso em: 15 jun. 2017.

De acordo com Giacaglia e Penteado (2010, p. 6):

No novo cenário que se delineara a partir dessa importantíssima


revolução, a OE tornou-se essencial à nova educação.
Entretanto, ela agora retornaria de maneira mais diferenciada,
explícita, profissional e com novas finalidades. Isso se explica
pelo motivo de que essa revolução modificou profundamente
a vida dos países em que ela ocorreu, o que veio provocar a
necessidade da formação de mão de obra especializada, cujo
provimento foi delegado à escola, e nela, à OE.

Desde então, passaria a ser papel do orientador educacional identificar,


sugerir e aconselhar as pessoas certas para ocuparem os lugares certos, ou seja,
conhecer de perto as características de cada indivíduo, objetivando seu preparo
de maneira “conformada” para determinada função. Ele era o profissional perfeito
para realizar este trabalho com as crianças e jovens dentro da escola.

De acordo com Garcia (1990, p. 10), “Ao orientador caberia selecionar,


orientar e encaminhar aqueles que pretendiam ingressar em cursos universitários
e aqueles que precisavam se profissionalizar imediatamente”.

Nesta época, a prioridade de seu trabalho encontrava-se na seleção e


preparo dos que seriam os próximos líderes ou liderados, numa sociedade
altamente capitalista. Sua função era encontrar as pessoas certas para ocuparem
os lugares certos dentro das indústrias, tão equipadas de novos maquinários e,
justamente por isso, necessitadas de mão de obra.

14
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

Esse caminho percorrido pela Orientação Educacional iniciou-se em alguns


países da Europa e nos Estados Unidos, mas em nosso país, de acordo com
Grinspun (2011, p. 26):

No Brasil, a Orientação Educacional teve, em sua implantação,


uma grande influência da orientação americana, em especial
o ‘counseling’ (aconselhamento), e da orientação educacional
francesa. [...] as primeiras experiências datam da década de 20.

A partir dos escritos de Grinspun (2011, p. 26-35), será traçada uma espécie
de linha do tempo da Orientação Educacional no Brasil:

Quadro 2 – Linha do tempo da orientação educacional no Brasil


Ano e local Acontecimento relacionado à Orientação Educacional
Roberto Mange, engenheiro suíço, iniciou no Liceu de Artes e Ofícios
1924
os primeiros trabalhos para a criação de um serviço de seleção e ori-
São Paulo
entação profissional para os alunos do curso de Mecânica.
Com Roberto Mange e Ítalo Bologna, teve início na Estrada de Ferro
1930
Sorocaba um serviço de seleção, orientação e formação de alunos
São Paulo
em cursos de aprendizagem mantidos por aquela instituição.
Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de orientação profis-
1931
sional no Brasil, que depois prosseguiu no Instituto de Educação da
São Paulo
Universidade de São Paulo até 1935, quando foi extinto.

Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schmidt começaram a estrutu-


1934
rar os serviços de Orientação, nos moldes americano ou europeu, no
Rio de Janeiro
Colégio Santo Amaro Cavalcanti.
Surgem as Leis Orgânicas, fazendo com que a orientação tivesse
1942 sua regulamentação, significativamente ligada à sua origem na orien-
tação profissional.
Com o Decreto n. 4.048, de 22/1/1942, criou-se o SENAI e a orien-
1942 tação foi caminhando em sua trajetória no Brasil, agora fortificada por
ser legalmente instituída.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a orientação
1961 tem destaque legal na Educação brasileira, ressaltando a formação
de orientadores educacionais para os cursos primário e secundário.
A Lei n. 5.564/68 regulamenta o exercício da profissão de orientador,
1968 ampliando o destaque da Orientação, uma vez que surgiu a profis-
sionalização na área.
A Orientação foi vista como uma decisão importante dos legisladores,
que lhe deram um lugar de destaque, através do artigo 10 da Lei
n. 5.692/71, instituindo-a obrigatoriamente nos estabelecimentos
de ensino de 1º e 2º graus. O que se pretendia, na realidade, era
1971
confirmar um ensino profissionalizante, obrigatório que, através do
aconselhamento vocacional, ofereceria a oportunidade de escolha de
uma profissão futura, compatível com as necessidades do mercado
de trabalho.
O Decreto-Lei n. 72.846/73, que determinou as atribuições do orienta-
dor educacional, confirmou o caráter psicológico da Orientação, man-
1973 tendo a conceituação de tal área, numa visão individualizada e pes-
soal, comprometida com os que necessitavam de uma “orientação”
revestida de um aconselhamento psicológico.
15
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

O MEC elaborou o documento “Orientação Educacional e Linhas de


Ação”, que abordava os dois planos de atuação da Orientação Ed-
ucacional: o plano de ação integrada, atuando junto com a direção,
1976
professores, alunos e demais técnicos, planejando, executando e
avaliando a ação educativa, e o plano de ação direta, em que o orien-
tador deveria atingir o aluno, sobretudo através do trabalho de grupo.
Ficou tratado no VII Congresso Brasileiro de Orientação Educacional
1984 Fortaleza/
que “ninguém poderia ser orientador educacional sem ter compreen-
CE
dido o conceito de homem, de mundo e de sociedade”.
Nas recomendações do IX Congresso Brasileiro de Orientação Edu-
1986 Florianópo- cacional, concluiu-se que o “Orientador, a partir de então, deveria ter
lis/ SC uma linha de trabalho que colocasse as questões sociais, econômi-
cas, políticas e culturais como pontos fundamentais para sua prática”.
Uma série de acontecimentos caracteriza os novos rumos da Orien-
tação, que passa a desempenhar um papel muito mais significativo
1990 junto à educação. Ela passa a ser parceira inseparável em todos os
rumos e finalidades. Os orientadores passam a ser coadjuvantes da
prática docente.
A Lei n. 9.394/96 não traz mais a obrigatoriedade da Orientação, mas
por efetiva consciência profissional, o orientador tem espaço próprio
junto aos demais protagonistas da escola para um trabalho pedagógi-
co integrado, compreendendo criticamente as relações que se esta-
1996
belecem no processo educacional. O orientador, mais do que nunca,
deve estar atento ao trabalho coletivo da escola, atuando harmonio-
samente com os demais profissionais da educação, num trabalho in-
terdisciplinar.
A Orientação tem que se desenvolver por meio de um trabalho partic-
ipativo, em que o currículo deve ser construído por todos, e onde a in-
Na atualidade
terdisciplinaridade deve ser buscada, para uma melhor compreensão
do processo pedagógico da escola.

Fonte: Grinspun (2011, p. 26 - 35).

Analisando esta linha do tempo, pôde-se perceber que a história da


Orientação Educacional sofreu modificações interessantes. No início, possuíam
mais características da orientação vocacional (relacionada à vocação profissional,
sendo aplicada na escola) e, com o passar do tempo, tornou-se mais pedagógica,
democrática e integrada ao processo educativo.

Quando a autora menciona a palavra interdisciplinaridade, deixa claro


que todas as áreas do conhecimento contribuem para o trabalho do orientador
educacional em sua práxis pedagógica, pois deve-se considerar o homem como
um ser biológico, psicológico, histórico-social e filosófico. A seguir, as contribuições
da psicologia, história e sociologia da educação para o orientador educacional.

16
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

ContriBuiçÕes da PsicoloGia,
História e SocioloGia da Educação
Para o Orientador Educacional
O orientador educacional precisa compreender que a criança ou adolescente
é um “ser psicológico” e que a emoção está presente em suas atitudes, algumas
vezes, manifestadas por meio do choro, da raiva, da alegria e, em outras vezes,
escondidas, por meio do silêncio ou isolamento.

Quando fazemos algo com alegria, as reações emocionais de


alegria significam que, a partir daquele momento, tentaremos
fazer o mesmo. Quando fazemos algo com repulsão, isso
significa que tenderemos, por todos os meios possíveis,
interromper esta tarefa. (VYGOTSKY, 2003, p. 117)

Considerar o aluno como um ser psicológico é buscar entender o seu


comportamento e admitir que as emoções e sentimentos influenciam em seu
processo de ensino-aprendizagem. O orientador educacional, assim como os
professores, também precisa atentar-se a este fator, pois:

Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem


mais o pensamento, devemos fazer com que essas atividades
sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a
pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção
é recordado mais sólido, firme e prolongado que um feito
indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno, tentem
afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos
importante que o pensamento. (VYGOTSKY, 2003, p. 121).

Diante disso, há que se considerar que

[...] a psicologia, [...] contribui para o trabalho de adequação do


ensino a cada fase do desenvolvimento do educando; leva a
considerar cada aluno como personalidade única e preconiza
a canalização dos motivos próprios de cada discente para os
objetivos de ensino. (NÉRICI, 1986, p. 39).

Além de compreender que o aluno é um ser psicológico, o orientador


educacional também precisa percebê-lo como um “ser histórico e social”, daí a
relevância destas áreas do conhecimento em sua formação profissional.

Na construção de sua própria história e na interação com outras pessoas


é que o sujeito aprende a aprender. Nestes momentos, ele é capaz de realizar,
construir, mudar, rever, transformar e organizar os processos de aprendizagem e,
consequentemente, obter conhecimento.

17
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A presença do outro passa a fazer parte da constituição de cada


ser. É um orientador, uma sentinela, um juiz, mas também um
facilitador para que o sujeito tenha confiança em conseguir o
que deseja. A presença do outro é um estímulo para que sinta
confiança em experimentar a vida, desenvolvendo-se como um
ser integral e interagindo ao meio social. (MOREIRA, 1996, p. 67)

À medida que as crianças e adolescentes vão interagindo com os outros,


ampliam sua visão de mundo e criam diferentes maneiras de agir, pensar, ser
e viver em sociedade. Essa interação favorece a percepção do orientador
educacional, estimulando-o à busca de novas propostas de ensino-aprendizagem,
adequando-as às necessidades dos alunos em pleno desenvolvimento.

Neste sentido, vale lembrar o primeiro fundamento da Lei de Diretrizes e


Bases n. 9.394/96, que em seu artigo 1º diz que

A educação abrange os processos formativos que se


desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais.

Ao orientador educacional cabe, portanto, a tarefa de possibilitar o


desenvolvimento integral do ser humano, a partir do conhecimento de teorias e
práticas que possibilitem este olhar tão dinâmico e interdisciplinar.

Este é apenas um dos objetivos da orientação educacional na atualidade, a


seguir outros serão mencionados.

OBjetiVos da Orientação Educacional


Os objetivos da orientação educacional no passado estavam centralizados
basicamente nas seguintes questões:

• atendimento a alunos que apresentavam dificuldades de


aprendizagem;
• identificação e aconselhamento a alunos com problemas de
comportamento;
• assistência a alunos com dificuldades de adaptação;
• estímulo de bons hábitos de estudos, aos alunos;
• busca por recursos ou estratégias que refletissem na melhoria do
rendimento escolar, envolvendo os professores.

Para ampliar e atualizar a lista de objetivos da Orientação Educacional na


atualidade, serão tratadas no texto de Andrade (2010), de maneira completa, as

18
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

atribuições/ações do orientador educacional, que foram construídas para/pelos


orientadores educacionais do Distrito Federal, mas que podem ser aplicadas aos
orientadores de todo o Brasil. Neste momento, essas atribuições/ações serão
tratadas também como objetivos.

a) Ações no âmbito institucional

• Objetivo geral: conhecer a clientela e identificar a demanda


escolar a ser acompanhada pelo orientador educacional.

Figura 2 – Instituição

Fonte: Disponível em: <http://criancaria.com.br/escola-


manha-ou-tarde/>. Acesso em: 17 jul. 2017.

• Procedimentos específicos:

− conhecer o regimento escolar e a proposta pedagógica da


instituição educacional em que atua;
− colaborar na análise dos indicadores de aproveitamento escolar,
evasão, repetência e infrequência;
− colaborar e participar de ações que viabilizem a avaliação das
atividades pedagógicas da instituição educacional em que atua;
− participar do processo de elaboração e de execução da proposta
pedagógica, promovendo ações que contribuam para a im-
plantação e para a implementação do currículo em vigor na rede
pública de ensino do Distrito Federal;
− orientar a comunidade escolar sobre o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente;

19
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

− elaborar e aplicar instrumentos de coleta de dados, sempre que


necessário;
− elaborar e aplicar instrumentos de coleta de dados com a direção,
secretário escolar, merendeiras, agentes de portaria, vigilantes,
agentes de conservação e limpeza, para percepção da dinâmica e
do contexto escolar, sempre que necessário;
− analisar e interpretar os dados coletados;
− elaborar hipóteses diagnósticas da situação detectada, bem
como discuti-las com os professores, com coordenadores e com
a direção, considerando o contexto pedagógico da instituição
educacional;
− elaborar o plano de ação anual do Serviço de Orientação
Educacional;
− participar do processo de avaliação das ações realizadas pela
instituição educacional.

b) Ações junto ao corpo docente

• Objetivo geral: integrar suas ações às do professor, como


colaboração no processo de aprendizagem e no desenvolvimento
do educando.

Figura 3 – Professores

Fonte: Disponível em: <http://centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com.


br/2016/03/a-importancia-do-orientador-educacional.html>. Acesso em: 15 jun. 2017.

20
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

• Procedimentos específicos:

− participar do planejamento, da execução e da avaliação das atividades


pedagógicas coletivas;
− realizar ações integradas com o corpo docente no desenvolvimento de
projetos sobre saúde, educação sexual, prevenção ao uso indevido de
drogas, meio ambiente, ética, cidadania, convivência saudável, cultura de
paz e outros; de acordo com as prioridades elencadas pelo grupo e com a
proposta pedagógica da instituição educacional;
− participar das reflexões/discussões referentes à aplicação de normas
disciplinares;
− auxiliar na reflexão e na sensibilização do corpo escolar para a prática da
educação inclusiva;
− participar das coordenações coletivas semanais com o corpo docente;
− participar do conselho de classe;
− acompanhar ações do professor conselheiro de turma;
− estimular a participação dos professores na identificação, no
encaminhamento e no acompanhamento dos alunos com dificuldades
de adaptação, de convívio social e/ou com dificuldades específicas de
aprendizagem;
− contribuir com sugestões e informações nas reuniões pedagógicas
com professores e com o conselho de classe, bem como nas reuniões
extraordinárias;
− incentivar o corpo docente, os pais/familiares e os alunos a participarem
do conselho de classe;
− refletir e dialogar com o corpo docente sobre os resultados das avaliações,
apresentando propostas de solução às disfunções detectadas;
− participar de estudo de caso dos alunos em situação de dificuldade,
quando necessário;
− promover atividades que contribuam para a formação continuada dos
professores, bem como reflexões sobre a prática pedagógica;
− colaborar no encaminhamento de aluno que apresente dificuldades
de aprendizagem e/ou problemas de ajustamento psicossocial para o
acompanhamento especializado adequado no âmbito educacional e/ou
da saúde, quando necessário;
− proceder à devolutiva dos atendimentos/encaminhamentos dos alunos
aos professores, à direção, à coordenação e aos familiares.

c) Ações junto ao corpo discente

• Objetivo geral: contribuir para o desenvolvimento integral do


educando, ampliando suas possibilidades de interagir no meio
escolar e social, como ser autônomo, crítico e participativo.

21
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 4 – Alunos

Fonte: Disponível em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1034/inclusao-o-


papel-de-articulacao-do-orientador-educacional>. Acesso em: 15 jun. 2017.

• Procedimentos específicos:

− apresentar aos alunos o Serviço de Orientação Educacional;


− instrumentalizar o aluno para a organização eficiente do trabalho escolar,
tornando a aprendizagem mais eficaz;
− acompanhar, individual ou coletivamente, os alunos, dinamizando temas
que atendam às suas necessidades;
− estimular a participação dos alunos nas atividades escolares e nos
projetos da instituição educacional, contribuindo para desenvolver a
capacidade de criticar, de opinar e de assumir responsabilidades.
− acompanhar e orientar ações dos representantes de turma;
− promover atividades que favoreçam ao aluno a reflexão-ação da
importância de ter atitudes de cooperação, de sociabilidade, de respeito,
de consideração, de responsabilidade, de tolerância e de respeito às
diferenças individuais, com vistas à construção de uma convivência
escolar social e pacífica;
− proporcionar ao aluno a análise, a discussão, a vivência e o
desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos fundamentados
em princípios universais;
− realizar ações preventivas contra a discriminação por motivos de
convicções filosóficas, religiosas, ou qualquer forma de preconceito
de classe econômica, social, étnico e sexual, enfatizando o respeito à
diversidade cultural;
− apoiar e subsidiar os segmentos escolares, como: conselho escolar,
conselho de segurança escolar, grêmio estudantil e associação de pais e
mestres, entre outros;

22
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

− utilizar instrumentos específicos (fichas e questionários) que


permitam o registro dos atendimentos, dos acompanhamentos e dos
encaminhamentos;
− elaborar projetos que favoreçam a socialização, a disseminação de
valores humanos e a aquisição de atitudes e de hábitos saudáveis;
− promover ações que permitam o conhecimento do Estatuto da Criança e
do Adolescente;
− participar de reuniões do grêmio estudantil, do conselho escolar e do
conselho de segurança escolar, sempre que necessário;
− proporcionar ao aluno as informações e reflexões a respeito do mundo do
trabalho;
− proporcionar ao aluno a vivência em situações de aprendizagem que
favoreçam a escolha da profissão de forma consciente.

d) Ações junto à família

• Objetivo geral: participar ativamente do processo de integração família/


escola/comunidade, realizando ações que favoreçam o envolvimento dos
pais no processo educativo.

Figura 5 – Família

Fonte: Disponível em: <http://gestao2itag.blogspot.com.


br/2013_04_01_archive.html>. Acesso em: 15 jun. 2017.

• Procedimentos específicos:

− identificar e trabalhar, junto à família, as causas que interferem no avanço


do processo de ensino e de aprendizagem do aluno;
− orientar a família sobre o sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente;

23
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

− contribuir com a promoção de relações saudáveis entre a instituição educa-


cional e a comunidade;
− orientar os pais e/ou responsáveis para a compreensão da cultura escolar e
para a importância dos hábitos de estudo na criança e no jovem;
− promover momentos reflexivos (palestras/encontros/oficinas) que con-
tribuam com a educação das crianças/adolescentes/jovens, na prevenção
de conflitos escolares e outros temas que sejam necessários;
− sondar possíveis influências, no ambiente familiar, que possam prejudi-
car o desenvolvimento do aluno na instituição educacional, intervindo e/
ou encaminhando para a rede social de apoio interna/externa, sempre que
necessário;
− identificar as expectativas dos pais e/ou dos responsáveis e as necessi-
dades de informação dos/as alunos/as em relação à orientação sexual;
− atender individualmente e/ou coletivamente pais e/ou responsáveis;
− informar aos pais e aos familiares sobre os serviços de apoio social.

e) Ações na área de estágio supervisionado em Orientação Educacional

• Objetivo geral: proporcionar a vivência teórico-prática aos estudantes


na área de Orientação Educacional.

Figura 6 – Estágio em orientação educacional

Fonte: Disponível em: <http://estagiogestaoufal2016.blogspot.com.br/2016/07/


atividade-1-estagio-supervisionado-i_68.html>. Acesso em: 17 de jul. 2017.

• Procedimentos específicos:

− colaborar com a formação e o preparo do futuro profissional da área de


Orientação Educacional;

24
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

− proporcionar ao estagiário a vivência de situações reais e o conhecimento


das eventuais dificuldades que permeiam as atividades da Orientação
Educacional;
− levar o estagiário à reflexão de condutas éticas para atuar conforme as
normas do código de ética da Orientação Educacional;
− apresentar o trabalho do serviço de Orientação Educacional;
− apresentar a orientação pedagógica do Serviço de Orientação Educacional
da rede pública, bem como a proposta pedagógica da instituição
educacional.

Como se pode perceber, o trabalho do orientador educacional é de imensa


responsabilidade, pois ele atua em várias frentes. Para desempenhar seu trabalho
com excelência, como qualquer outro profissional, necessita estar preparado,
buscando, para isso, formação específica que será tratada a seguir.

O Orientador Educacional: Formação


e Áreas de Atuação
Antes de prosseguir, faz-se necessário conhecer as leis a respeito deste
profissional desde o seu surgimento da orientação educacional, no Brasil.
Conforme Garcia (1990, p. 10):

Quadro 3 – Leis que dizem respeito ao orientador educacional

Lei Orgânica do Ensino Industrial (1942): refere-se ao orientador educacional


facilitando as escolhas profissionais, esclarecendo e aconselhando.
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961): refere-se à orien-
tação educacional e vocacional como ajuda ao aluno em suas escolhas.
Lei 5.564 (1968): embora amplie as atribuições do orientador educacional, con-
firma a sua responsabilidade em relação à orientação vocacional. E quando o
Decreto 72.846 (1973) especifica as responsabilidades do orientador educacio-
nal, é dada grande ênfase à orientação vocacional, à sondagem de aptidões e
interesses, ao papel do orientador educacional, articulando a escola e o mundo
fora da escola (família, comunidade e o mundo do trabalho).
Lei 5.692 (1971): define o orientador educacional como responsável pela articu-
lação escola-família-comunidade e pela preparação para o trabalho.

Fonte: Garcia (1990, p. 10).

25
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Garcia (1990, p. 10) provoca uma reflexão sobre “[...] como e porque os
orientadores educacionais, criados e formados para desempenhar um papel
conservador, tornaram-se hoje agentes de transformações nas escolas”.

Sabe-se que esta mudança foi acontecendo aos poucos, a partir dos
congressos brasileiros que discutiram a orientação educacional no Brasil,
especialmente em Fortaleza e em Brasília, ambos em 1984.

Desde então, o cenário educacional passou a contar com este importante


profissional, que prioriza o bem-estar dos alunos e lhes dá assistência, visando
sua formação integral. Para Penteado (1976, p. 12):

[...] orientar é auxiliar o aluno a proceder aos ajustamentos


necessários, relativos à escola em particular e à vida
extraescolar em geral, procurando promover mudanças de
comportamento duradouras e prospectivas que permitam ao
jovem enfrentar o futuro e as transformações com adequado
preparo. O orientador, tomando como ponto de partida o
estudante, visa à formação do homem.

Partindo deste pressuposto, o orientador educacional precisa ter formação


específica na área para que possa executar sua função com maior segurança,
conhecendo o exercício de suas atribuições e seu Regimento, garantidos na
forma da Lei. É sobre a formação do orientador educacional que se tratará a partir
deste momento.

Formação do Orientador Educacional


O orientador educacional é um profissional da Educação, formado no curso
de Pedagogia, em nível de graduação ou especialista na área em nível de pós-
graduação. Cabe a ele realizar o exercício de suas atribuições, conforme o que
dizem as leis e de acordo com sua formação e experiência docente.

A partir de Grinspun (2008, p. 151-153) será tratado da estrutura e


organização histórica e legal da formação de orientadores:

• Decreto-lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939: organizou a antiga Faculdade


Nacional de Filosofia, tornando obrigatório, juntamente com o diploma
de licenciado em Pedagogia para o magistério em cursos normais, o
bacharelado para o exercício dos cargos técnicos em educação;

• Lei de Diretrizes e Bases n. 4.024, de 1961: instrui sobre a formação


de orientadores educacionais classificados em dois tipos: os do Ensino
Primário (art. 64) e os do Ensino Médio (art. 63) com formação em curso

26
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

especial a que tinham acesso os licenciados em Pedagogia, Filosofia,


Psicologia ou Ciências Sociais;

• Parecer Conselho Federal de Educação n. 292, de 1969: estabeleceu


estudos pedagógicos e superiores mínimos de currículo e duração para o
Curso de Graduação em Pedagogia. Neste parecer foram previstas cinco
habilitações: Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão
Escolar, Inspeção Escolar, Ensino das disciplinas e atividades práticas
dos cursos normais;

• Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996: a Orientação


Educacional não aparece explicitamente, mas o artigo 64 diz que a
formação de profissionais de educação para Orientação Educacional
na educação básica será feita em cursos de graduação em Pedagogia
ou em nível de pós-graduação, garantindo dessa forma a base comum
nacional. A partir disso, pode-se dizer que o orientador educacional é
um profissional que procura assistir o orientando, considerando o seu
ajustamento pessoal e social e relaciona-se com todos os envolvidos no
processo educativo, como mediador.

Dentro do Curso de Pedagogia serão abordados, a partir de Grinspun (2008,


p. 153), os textos legais específicos da área de Orientação Educacional, são eles:

Quadro 4 – Textos legais para a OE

Provê sobre o exercício da profissão


Lei n. 5.564, de 21/12/1968
de orientador educacional;
Fixa diretrizes e bases para o ensi-
Lei n. 5.692, de 11/08/1971 no fundamental e médio e dá outras
providências;
Decreto-lei n. 72.846, de 26/09/1973
Provê sobre o exercício da profissão
- que regulamenta a Lei 5.564, de
de orientador educacional.
21/12/1968
Fonte: Grinspun (2008, p. 153).

Ainda de acordo com Grinspun (2011, p. 158), “O profissional da Orientação


Educacional é o único, no que diz respeito – em termos de especializações – que
tem características de profissão regulamentada pela Lei n. 5.564/68”.

A formação que possibilita atuar como orientadores educacionais é de


importância fundamental, não apenas pelas exigências legais, mas pela
necessidade e consciência de que é preciso estar preparado para executar com
excelência este papel dentro da escola. De acordo com Grinspun (2008, p. 155):
27
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Enfatiza-se a premência que o Curso de Pedagogia forme


licenciados cada vez mais sensíveis às solicitações da vida
cotidiana e da sociedade, profissionais que possam conceber
alternativas de execução para atender às finalidades e
organização da escola básica, dos sistemas de ensino, dos
processos educativos não escolares, contribuindo para uma
sociedade mais justa, equânime e igualitária.

Além dos cursos de Pedagogia, esta também é a intenção dos cursos de


pós-graduação, especialmente em relação à Orientação Educacional: formar
profissionais cada vez mais sensíveis às necessidades da contemporaneidade.

Áreas de Atuação do Orientador


Educacional
Como visto, os orientadores da atualidade necessitam atuar em várias
frentes, objetivando o desenvolvimento integral dos sujeitos, tanto dentro, quanto
fora da escola, na comunidade. Pianezzer (2013, p. 29) sintetiza, no quadro a
seguir, algumas de suas atribuições:

• planejar e coordenar a OE nas escolas;


• assessorar os professores;
• conhecer os alunos;
• realizar a integração entre escola, família e comunidade;
• participar da construção do currículo e dos processos de avaliação.
• acompanhar e encaminhar, quando necessário, alunos a especialistas.

Com base em Giacaglia e Penteado (2010, p. 66-67), serão abordados


os artigos 8º e 9º do Decreto n. 72.846, de 26/09/1973, que demonstram mais
detalhadamente, no âmbito federal, as atribuições do orientador educacional:

a) São atribuições privativas do orientador educacional (artigo 8º)

• planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de


Orientação Educacional dos órgãos do serviço público federal, estadual,
municipal e autárquico; das sociedades de economia mista, empresas
estatais, paraestatais e privadas;

• coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-o ao


processo educacional global;

28
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

• coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades


do educando;

• coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas


à orientação vocacional;

• sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao


conhecimento global do educando;

• sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando


a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial;

• coordenar o acompanhamento pós-escolar;

• ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação Educacional,


satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino;

• supervisionar estágios na área da Orientação Educacional;

• emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação Educacional.

b) Compete, ainda, ao orientador educacional as seguintes atribuições


(artigo 9º)

• participar no processo de identificação das características básicas da


comunidade;

• participar no processo de caracterização da clientela escolar;

• participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola;

• participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e


grupos;

• participar no processo de avaliação e recuperação dos alunos;

• participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários;

• participar no processo de integração escola-família-comunidade;

• realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.

29
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Com base nestas funções, o orientador, segundo Grinspun (1994, p. 81), terá
possibilidade de:

• refletir e analisar o espaço da Orientação segundo uma visão abrangente


e contínua oferecida pela história do pensamento;

• perceber que a dialética social impõe ao orientador uma visão mais crítica
e um posicionamento mais preciso de suas funções frente à própria
sociedade e caminhar em direção a ela;

• utilizar-se de uma metodologia filosófica para interpretar as características


do orientando, os valores de sua época e sua própria natureza;

• valer-se de uma postura filosófica, podendo-se, dessa forma, construir o


suporte teórico necessário ao desempenho de suas funções.

Depois de conhecer em detalhes as suas atribuições (que não são poucas),


o orientador educacional poderá iniciar seu trabalho, traçando metas/objetivos e
planejando criteriosamente cada passo de sua caminhada, tendo o cuidado de
não assumir mais funções dentro da escola.

Figura 7 – Planejando a caminhada

Fonte: Disponível em: <https://www.sewardpublicschools.org/vnews/display.v/


SEC/Our%20District%7CDirections>. Acesso em: 15 jun. 2017.

Por não saber negar um pedido, ou não querer se indispor com os colegas,
preferindo atender todas as solicitações da equipe, o orientador educacional
pode sofrer uma sobrecarga de tarefas e ver-se perdido, sem rumo ou direção. É
preciso manter o foco, como alertam Giacaglia e Penteado (2010, p. 67):

30
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

Tão e às vezes mais importante que saber quais são as


atribuições do Or. E. é conhecer quais atribuições não são
da alçada dele, isto porque ele poderá vir a ser solicitado a
executar funções ou tarefas não só que não lhe competem,
como também lhe são vedadas por lei. Dado o caráter
assistencial de sua atuação profissional, o Or. E. pode ser
solicitado e/ou sentir-se no dever de prestar alguns tipos de
atendimento que são próprios de outros profissionais.

Após conhecer todas as possibilidades de trabalho e as áreas de atuação do


orientador educacional, a partir deste momento será compreendida a importância
deste profissional dentro da escola.

Por Que e Para Que ter um


Orientador Educacional na Escola?
Certamente, há quem questione a importância dos orientadores educacionais
na escola. Esse fator se deve, muitas vezes, à falta de conhecimento de suas
funções e atribuições junto à comunidade escolar. De acordo com Pianezzer
(2013, p. 36):

No momento histórico em que a função social da escola passou


a ser discutida de maneira a enxergar o aluno como um sujeito
integral e em pleno desenvolvimento, não focando apenas em
instrução/preparação para o mercado de trabalho, a Orientação
Educacional sofreu transformações relevantes e o orientador
educacional tornou-se presença indispensável na escola.

O que acontece, em alguns casos, é que por falta de interação, parceria e


divulgação de seu trabalho junto aos alunos e à comunidade escolar, a presença
do orientador educacional passa despercebida na escola ou até mesmo
confundida com os demais profissionais que fazem a gestão pedagógica.

A Orientação Educacional precisa ser atuante na formação dos sujeitos e


na transformação do ambiente institucional, refletindo diretamente na comunidade
escolar.

Para Grinspun (2011, p. 176), a orientação educacional “[...] vai permitir avançar
- junto com os professores - num conteúdo que possibilite ir além dos conhecimentos
programados no currículo da escola, atingindo um currículo que esteja comprometido
com a construção do sujeito/aluno na formação de sua cidadania”.

31
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A grande missão da Orientação Educacional, atualmente, é diferente do que


se esperava no passado, pois seu principal objetivo era “ajustar” os alunos que,
de alguma maneira, não se enquadravam ao que se esperava deles, pois não
aprendiam ou não sabiam se comportar adequadamente.

Estes alunos, considerados “problemáticos”, eram encaminhados ao


orientador educacional para que ele “desse um jeito”, utilizando-se de métodos ou
estratégias didático-pedagógicas ou disciplinares, para resolver a situação.

Com o passar do tempo, este profissional foi ganhando espaço pedagógico,


objetivando melhorias no processo educativo. Passou a envolver-se com toda
a comunidade escolar (alunos, pais, gestores e professores), não apenas com
os alunos considerados “problemáticos”, o que fez dele um conhecedor dos
diferentes contextos sociais e culturais, capaz de transformar realidades.

[...] a ação organizacional não depende apenas do desejo


daqueles que a administram. Ela depende, em grande
parte, do empenho daqueles que vão pôr em prática as
decisões, da vontade destes em transformá-la em sucesso.
(VASCONCELLOS, 1996, p. 231).

Figura 8 – Transformando realidades

Fonte: Disponível em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/233/o-


papel-do-orientador-educacional>. Acesso em: 15 jun. 2017.

O orientador educacional contemporâneo deve ser “[...] um profissional


competente, interferente, participativo, comprometido, reflexivo, situado
historicamente”. (URBANETZ; SILVA, 2008, p. 73).

Grinspun (2008, p. 148) apresenta o que ela chama de “doze razões e


argumentações para a existência desses profissionais na escola”, conforme o
quadro sintetizado a partir disso:

32
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

Quadro 5 – As doze razões

1) A complexidade da vida moderna trouxe para a escola uma complexidade


específica além de sua própria finalidade.
2) A problemática dos conflitos sociais e dos dilemas na escola, às vezes, fun-
ciona como único lugar para resolvê-los ou atenuá-los.
3) Os novos conhecimentos e os meios para aquisição desses conhecimentos
e saberes dispostos na sociedade.
4) A necessidade de se fazer a formação voltada para um sujeito social, e não
apenas dotar um indivíduo de uma formação escolar.
5) A educação tem princípios e valores na sua própria dimensão teleológica e,
portanto, precisa ser percebida não como um rol de disciplinas e programas,
mas como uma instituição que tem uma filosofia própria e específica.
6) A dimensão da escola com uma dinâmica própria que precisa ser conhecida,
compartilhada e entendida em termos de sua cultura escolar.
7) A questão dos currículos em que dois dados são significativos: a interdiscipli-
naridade e a contextualização.
8) O projeto político-pedagógico da escola.
9) As relações pedagógicas que ocorrem no interior da escola e nas suas impli-
cações com os outros fatores da sociedade.
10) A construção do conhecimento aliada à construção de valores e atitudes.
11) A discussão dos dados colocados na sociedade, em especial a questão do
trabalho.
12) A dimensão da subjetividade, fazendo com que o indivíduo tenha condições
de receber e vivenciar, além de aspectos cognitivos, os aspectos afetivos/emo-
cionais necessários à sua formação como pessoa.
Fonte: Grinspun (2008, p. 148).

Ter um orientador educacional na escola é um privilégio, pois suas áreas de


atuação refletem diretamente na qualidade do trabalho que é desenvolvido na
instituição. Ele funciona como mediador nos processos educacionais e preocupa-
se com todos os sujeitos que atuam na escola (principalmente com os alunos),
lançando sobre eles seu olhar pedagógico na busca pela excelência.

[...] A orientação faz um trabalho de interdisciplinaridade entre


fatos/situações, ações/razões e emoções que levem o indivíduo
a agir de determinada maneira, ou mesmo a instituição a agir
de determinada forma. (GRINSPUN, 2008, p. 76)

33
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quer saber mais? Leia o livro “Supervisão e Orientação


Educacional: perspectivas de integração na escola”, organizado por
Mírian Paura S. Zippin Grinspun. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
Neste livro, você encontrará interessantes sugestões de ações e
intervenções pedagógicas. Vale a pena conhecer!

O trabalho do orientador educacional envolve responsabilidade coletiva,


empatia, solidariedade, respeito às diferenças e postura ética.

PrincÍPios Éticos do Orientador


Educacional
Princípios éticos não se separam do sujeito, ou seja, aquilo que o orientador
educacional é enquanto pessoa e enquanto profissional faz dele um espelho, um
modelo para todos que o cercam.

Diante desta constatação, reforça-se a importância de o orientador


educacional manter uma postura exemplar, já que este profissional acaba se
aproximando demais dos alunos, pais e comunidade escolar.

O orientador valoriza a dinâmica das relações e nesse


sentido estão presentes conflitos, tensões, divergências;
estão presentes os saberes e as emoções; estão presentes
as diferenças, as igualdades, os limites e as possibilidades.
[...] o trabalho do orientador nesta perspectiva é de mediador,
dinamizador. (GRINSPUN, 2008, p. 79).

Diante disso, será abordado o Código de Ética dos Orientadores


Educacionais, publicado no Diário Oficial de 5 de março de 1979, pois todo
orientador educacional precisa conhecê-lo para poder vivenciá-lo na prática.

34
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

CÓDIGO DE ÉTICA DOS ORIENTADORES DO BRASIL

De acordo com a Federação Nacional dos Orientadores


Educacionais (1979), o presente Código de Ética tem por objetivo
estabelecer normas de conduta profissional para os orientadores
educacionais. Somente pode intitular-se orientador educacional e,
nesta qualidade, exercer a profissão no Brasil, a pessoa legalmente
habilitada, nos termos da legislação em vigor.

TÍTULO I
DAS RESPONSABILIDADES GERAIS

CAPÍTULO I
DEVERES FUNDAMENTAIS

Artigo 1º São deveres fundamentais do orientador educacional:

a) Exercer suas funções com elevado padrão de competência, senso de


responsabilidade, zelo, discrição e honestidade;
b) Atualizar constantemente seus conhecimentos;
c) Colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, sem permitir que
prevaleça qualquer interesse particular ou de classe;
d) Ter uma filosofia de vida que permita, pelo amor à verdade e respeito
à justiça, transmitir segurança e firmeza a todos aqueles com quem se
relaciona profissionalmente;
e) Respeitar os códigos sociais e expectativas morais da comunidade em
que trabalha;
f) Assumir somente a responsabilidade de tarefas para as quais esteja
capacitado, recorrendo a outros especialistas sempre que necessário;
g) Lutar pela expansão da Orientação Educacional e defender a profissão;
h) Respeitar a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana;
i) Prestar serviços profissionais desinteressadamente em campanhas
educativas e situações de emergência, dentro de suas possibilidades.

CAPÍTULO II
IMPEDIMENTOS

Artigo 2º Ao orientador educacional é vedado:

35
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

a) encaminhar o orientando a outros profissionais, visando a fins


lucrativos;
b) aceitar remuneração incompatível com a dignidade da profissão;
c) atender casos em que esteja emocionalmente envolvido, por certos
fatores pessoais ou relações íntimas;
d) dar aconselhamento individual através da imprensa falada e/ou
escrita;
e) desviar, para atendimento particular próprio, os casos da instituição
onde trabalha;
f) favorecer, de qualquer forma, pessoa que exerça ilegalmente e,
em desacordo a este Código de Ética, a profissão de orientador
educacional.

CAPÍTULO III
DO SIGILO PROFISSIONAL

Artigo 3º Guardar sigilo de tudo que tem conhecimento, como


decorrência de sua atividade profissional, que possa prejudicar o
orientando.

§ Único Será admissível a quebra do sigilo quando se tratar de


caso que constitua perigo iminente:

a) para o orientando;
b) para terceiros.

Artigo 4º Assegurar que qualquer informação sobre o orientando


só seja comunicada à pessoa que a utilize para fins profissionais,
com a autorização escrita por parte do mesmo, se maior, ou dos pais,
se menor.

TÍTULO II
DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

CAPÍTULO I
COM O ORIENTANDO

Artigo 5º Esclarecer ao orientando os objetivos da Orientação


Educacional, garantindo-lhe o direito de aceitar ou não sua
assistência profissional.

Artigo 6º Proteger a identidade do orientando, assegurando o


sigilo dos dados que lhe dizem respeito.

36
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

Artigo 7º Promover assistência contínua, sem interrupção,


exceto por motivos relevantes.

Artigo 8º Usar quando necessário, e com a devida cautela,


instrumentos de medidas-teste de nível mental, de interesse, de
aptidão e escalas de atitudes como técnicas pertinentes ao trabalho
do orientador educacional.

CAPÍTULO II
COM OS ORIENTADORES EDUCACIONAIS

Artigo 9º Abster-se de interferir junto ao orientando, cujo


processo de orientação educacional esteja a cargo de um colega,
salvo quando solicitado.

Artigo 10º Dispensar a seus colegas apreço, consideração e


solidariedade, que reflitam a harmonia da classe.

§ Único O espírito de solidariedade não pode induzir o orientador


a ser conivente com conduta profissional inadequada do colega.

CAPÍTULO III
COM OUTROS PROFISSIONAIS

Artigo 11º Desenvolver bom relacionamento com os componentes


de outras categorias profissionais.

Artigo 12º Reconhecer os casos pertinentes aos demais campos


de especialização, encaminhando-os aos profissionais competentes.

CAPÍTULO IV
COM A INSTITUIÇÃO EMPREGADORA

Artigo 13º Respeitar as posições filosóficas, políticas e


religiosas da instituição em que trabalha, tendo em vista o princípio
constitucional de autodeterminação.

Artigo 14º Realizar seu trabalho em conformidade com as


normas propostas pela instituição e conhecidas no ato de admissão,
procurando o crescimento e a integração de todos.

37
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

CAPÍTULO V
COM A COMUNIDADE

Artigo 15º Facilitar o bom relacionamento Instituição X


comunidade.

Artigo 16º Respeitar os direitos da família na educação do


orientando.

Artigo 17º Empenhar-se por uma crescente aproximação entre a


família e a instituição.

CAPÍTULO VI
COM A ENTIDADE DE CLASSE

Artigo 18º Procurar filiar-se à entidade de classe.

Artigo 19º Colaborar com órgãos representativos de sua classe,


zelando pelos seus dirigentes e jamais se escusando de prestar-lhes
colaboração, salvo por justa causa.

Artigo 20º Comunicar à entidade de classe competente os


casos de exercício ilegal da profissão ou de conduta profissional em
desacordo com este Código.

TÍTULO III
DO TRABALHO CIENTÍFICO

CAPÍTULO I
DA DIVULGAÇÃO

Artigo 21º Divulgar resultados de investigações e experiências,


quando isso importar em benefício do desenvolvimento educacional.

Artigo 22º Observar, nas divulgações dos trabalhos científicos,


as seguintes normas:

a) omitir a identificação do orientando;


b) seguir as normas estabelecidas pelas instituições que
regulam as publicações científicas.

38
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

TÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

CAPÍTULO I
DA DIVULGAÇÃO E CUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA

Artigo 23º Divulgar este Código de Ética é obrigação das


entidades de classe.

Artigo 24º Transmitir os preceitos deste Código de Ética aos


estudantes de Orientação Educacional é dever das instituições
responsáveis pela sua formação.

Artigo 25º Fazer cumprir, fiscalizar, prever e aplicar as penalidades


aos infratores deste Código de Ética é competência exclusiva dos
Conselhos Federal e Regionais de Orientação Educacional.

Artigo 26º Este Código de Ética entrará em vigor após a sua


publicação no Diário Oficial da União.

Fonte: FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ORIENTADORES EDUCACIONAIS.


ATA n. 88. In: Livro de Atas, folhas 59-62, 1978. v. 2. Publicado no Diário
Oficial [República Federativa do Brasil], em 5 de março de 1979.

Atividades de Estudos:

1) Depois de estudar a respeito das atribuições do orientador


educacional, apresente e comente pelo menos cinco delas no
exercício de sua função:
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2) Faça um breve esquema diferenciando os objetivos da Orientação


Educacional quando ela surgiu no Brasil e como se configura
atualmente.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________

39
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

3) O orientador educacional necessita atualizar-se constantemente,


manter um olhar compreensivo e sensível diante de cada nova
situação ou problema e, além de tudo isso, manter-se numa
postura ética. O que significa isso? Escreva o que você entendeu:
__________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________

AlGumas ConsideraçÕes
Neste primeiro capítulo, estudamos um pouco da história da Orientação
Educacional e vimos como foi evoluindo, especialmente com o marco da
Revolução Industrial, quando a escola deixou de ser um espaço ocupado
prioritariamente pela elite e passou a atender a outras camadas da população
consideradas menos favorecidas, mas que a partir daquele momento e de acordo
com os interesses da sociedade, passaria a receber instrução.

Neste novo contexto da história, coube então à OE a responsabilidade de


“orientar/treinar” as crianças para o trabalho, voltada à orientação profissional/
vocacional (no final do século XIX, primeiramente nos EUA e na França,
espalhando-se posteriormente para outros países, inclusive no Brasil), quando
seu principal objetivo era encontrar e/ou preparar as pessoas certas para
ocuparem os lugares certos. Com o passar do tempo, os alunos deixaram de ser
vistos apenas como mão de obra futura, para serem vistos como seres em pleno
desenvolvimento e em busca de felicidade.

Além disso, compreendemos a importância da qualificação deste


profissional da Educação, formado no curso de Pedagogia, em nível de graduação
ou especialista na área, em nível de pós-graduação.

Percebemos que a Orientação Educacional sofreu transformações relevantes


e o orientador educacional tornou-se presença indispensável na escola. Saber o
que pensam seus alunos; assessorar os professores; compreender a expectativa
dos pais em relação aos filhos e à escola; estar disposto a transformar realidades,
respeitando os contextos sociais e culturais da comunidade, passaram a ser os
novos desafios do orientador educacional a partir de então.

40
Capítulo 1 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITO E TRAJETÓRIA
HISTÓRICA

E, por fim, destacamos o papel dos princípios éticos do orientador


educacional, pois ele acaba se aproximando e se expondo demais diante dos
alunos, dos pais e da comunidade escolar, tornando-se um “modelo” de pessoa,
tanto dentro da escola, quanto fora dela.

Esperamos que tenha gostado de trilhar seu caminho conosco até aqui, pois
ainda temos muito a aprender. Continue firme em seus estudos. Muito obrigada e
até o segundo capítulo!

ReFerÊncias
ANDRADE, L. Atribuições do Orientador Educacional na Rede Pública de Ensino
do Distrito Federal. Orientação Educacional em Ação. SEEDF, dez. 2010. Dis-
ponível em: <http://orientacaoeducacionalemacao.blogspot.com.br/p/atribuicoes-
do-oe-no-distrito-federal.html>. Acesso em: 24 jun. 2017.

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ORIENTADORES EDUCACIONAIS. Ata n. 88.


In: Livro de Atas, folhas 59-62, 1978. v. 2. Publicado no Diário Oficial [República
Federativa do Brasil], 5 mar. 1979.

GARCIA, R. L. (Org.) Orientação educacional: o trabalho na escola. São Paulo:


Loyola, 1990.

GIACAGLIA, L. R. A.; PENTEADO, W. M. A. Orientação educacional na prática:


princípios, histórico, legislação, técnicas e instrumentos. 6. ed. São Paulo: Cen-
gage Learning, 2010.

GRINSPUN, M. P. S. Z. A prática do orientador educacional. São Paulo: Cortez,


1994.

____. (Org.). Supervisão e orientação educacional: perspectivas de integração


na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

____. A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a


escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

MOREIRA, A. F; SILVA, T. T. (Orgs.) Cultura popular e pedagogia crítica: a vida


cotidiana com base para o conhecimento curricular. In: Currículo e programas no
Brasil. São Paulo: Papirus, 1996.

41
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

NÉRICI, I. G. Introdução à supervisão educacional. 5. ed. São Paulo: Atlas,


1986.

PENTEADO, W. M. A. Fundamentos de orientação educacional. São Paulo:


EPU, 1976.

PIANEZZER, L. C. M. Orientação educacional. Indaial: Uniasselvi, 2013.

URBANETZ, S. T.; SILVA, S. Z. Orientação e supervisão escolar: caminhos e


perspectivas. Curitiba: Ibpex, 2008.

VASCONCELLOS, J. G. M. O coronelismo nas organizações: a gênese da


gerência autoritária brasileira. In: Recursos Humanos e Subjetividade. Petrópolis:
Vozes, 1996.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

42
C APÍTULO 2
A Formação do Orientador: Gestor
no Contexto da Atualidade

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Reconhecer as características necessárias a um orientador educacional da


atualidade.

 Estabelecer relação entre a teoria e a prática nas áreas de atuação do


orientador.

 Perceber a preocupação com o processo ensino-aprendizagem, envolvendo


alunos e professores.

 Conhecer o Serviço de Orientação Educacional (SOE) e sua aplicabilidade.

 Aprender estratégias e técnicas de intervenção para auxiliar alunos e


professores a atingirem seus objetivos.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

44
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

ContextualiZação
No capítulo anterior, realizamos uma viagem no tempo para compreender o
surgimento e os objetivos da Orientação Educacional até chegar ao que é hoje.
Fizemos a mesma caminhada histórica em relação às atribuições do orientador
que, ao longo do tempo, teve sua função aprimorada, ou seja, passou a ter uma
dimensão mais ampla de seu papel dentro da escola, focando no desenvolvimento
integral dos sujeitos.

Neste capítulo, o orientador educacional será nosso foco de atenção, pois


conheceremos as características necessárias a este gestor no contexto da
atualidade.

Além disso, compreenderemos sua preocupação com o processo de ensino-


aprendizagem; suas estratégias de liderança e de acompanhamento a alunos e
professores e os desafios que ele terá de enfrentar na escola contemporânea,
como indisciplina, drogas, bullying, entre outros.

Ao final do capítulo, tomaremos conhecimento a respeito do Serviço de


Orientação Educacional (SOE), compreendendo sua funcionalidade dentro da
escola.

Bons estudos!

CaracterÍsticas de um Orientador
Educacional ContemPorÂneo
O orientador educacional contemporâneo necessita ser um profissional
especial, pois deve trabalhar pelo bem-estar dos alunos.

Partindo desse pressuposto, deve oferecer-lhes suporte e assistência nos


diferentes aspectos de sua vida, dentro e fora da escola, pois fatores psicológicos,
problemas emocionais ou biológicos certamente causarão interferência em sua
aprendizagem.

Vale lembrar que nem tudo estará ao alcance deste profissional, mas
perceber a necessidade e fazer os devidos encaminhamentos também faz parte
de suas atribuições.

45
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 9 – O que o orientador educacional precisa

• Gostar de lidar com todo tipo de gente, com as diferentes idade e


ser desprovido de qualquer preconceito.
• Servir à comunidade escolar, auxiliando todos os alunos, não
apenas os que apresentarem dificuldades de aprendizagem.

• Saber ouvir, compreender, aceitar, aconselhar e,


especialmente, respeitar as pessoas que fazem parte de seu
contexto educacional.
• Exercer uma liderança democrática, cooperativa e participativa.

• Estabelecer parceria com os pais e com a comunidade, dentro e


fora da escola.
• Ser líder exemplar e conquistar o respeito de seus orientados, sem
ser autoritário.

Fonte: Pianezzer (2013, p. 20).

Atividade de Estudos:

1) Ser líder exemplar, o que significa isso para você?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

Giacaglia e Penteado (2010, p. 61) buscam auxiliar na compreensão do


conceito de liderança, pois elas afirmam que há basicamente três tipos:

a) a autoritária, em que o líder se impõe e é acatado pelo medo que


desperta nos seus liderados;
b) a do tipo laissez-faire, em que o líder se caracteriza por ser omisso,
pouco engajado, fugindo de situações difíceis e que, portanto, não se
impõe, é ignorado pelos alunos e por toda a comunidade, mantendo-se
pela titulação e pela força de seu cargo;

46
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

c) e a liderança democrática, em que o líder consegue:

– a adesão voluntária das pessoas com quem tem de interagir;


– a confiança e a colaboração delas, graças à sua personalidade, à
qualidade de seu trabalho e ao tipo de liderança consensual que
consegue estabelecer na comunidade, tanto dentro como fora da escola,
em relação a todos, ou a maior parte de seus membros.

A liderança recomendável para o orientador educacional da atualidade é a do


tipo democrática.

Para ser líder democrático, precisa-se possibilitar que todos “tenham direito
a vez e voz; sintam-se parte integrante do processo educativo; possam ajudar a
gerir a instituição escolar e contribuam na tomada de decisões e na definição de
estratégias” (PIANEZZER, 2013, p. 22).

Se a questão da Gestão Democrática lhe desperta grande


interesse, não se preocupe! Falaremos mais sobre esta postura no
terceiro capítulo deste caderno de estudos, aguarde!

Além de ser um líder democrático, o orientador educacional da atualidade


precisa apresentar as seguintes características:

• ser consciente de seu papel, mantendo postura ética e profissional;

• gostar de ajudar, pois precisará atuar com alunos, pais, professores e comu-
nidade em geral;

• não ter medo de novos desafios, pois é preciso enfrentá-los com segurança;

• ser imparcial e justo na tomada de decisões (ninguém gosta de se sentir


injustiçado);

• estar atento às novidades tecnológicas e às atualidades da vida, para man-


ter-se informado e levar o que acontece no mundo para dentro da escola,
tornando-a mais interessante;

• ser agente de mudança (sentindo-se responsável pela busca do bem-estar


de todos), com otimismo e criatividade;

47
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• colaborar para o bom clima institucional, possibilitando que a escola seja um


lugar de gente alegre e solidária, em que a confiança e a união prevaleçam;

• ser pesquisador de comportamentos, estudioso da legislação e um profis-


sional que busca atualização constante a fim de sentir-se preparado para os
desafios da profissão.

Além destas características, Grinspun (1994, p. 81) apresenta mais algumas:

• refletir e analisar o espaço da orientação segundo uma visão abrangente e


contínua oferecida pela história do pensamento;

• perceber que a dialética social impõe ao orientador uma visão mais crítica e
um posicionamento mais preciso de suas funções frente à própria sociedade
e caminhar em direção a ela;

• utilizar-se de uma metodologia filosófica para interpretar as características


do orientando, os valores de sua época e sua própria natureza;

• valer-se de uma postura filosófica, podendo-se, dessa forma, construir o


suporte teórico necessário ao desempenho de suas funções.

Folberg (1984, p. 21) afirma que:

Para o desempenho responsável de seu papel como


profissional, é necessário, além do comprometimento pessoal,
conhecer as atividades inerentes à sua função, a legislação
em que se apoia, seus direitos e deveres. Quando não há este
conhecimento, podem ocorrer conflitos de papéis, levando a
um sentimento de menos valia profissional e pessoal.

Como já visto no capítulo anterior, são muitas as áreas de atuação do


orientador educacional, não obstante, ele ainda é solicitado para a realização
de outras tarefas (que não lhe competem), gerando um excesso de funções e,
consequentemente, a falta de tempo para os assuntos que de fato sejam de sua
competência e responsabilidade.

48
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Figura 10 – Excesso de funções

Fonte: Disponível em: <http://sinpra.blogspot.com.br/>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Ressalta-se que o orientador educacional pode auxiliar nas demandas


da escola na medida do possível e mediante as necessidades da instituição
naquele dado momento, mas que esta não seja a regra, pois ele não deve servir
de “bombeiro – apagando incêndios”; nem ser o “quebrador de galhos” e, muito
menos, o “faz tudo”. Ele tem formação específica e, como tal, precisa ter sua
identificação profissional respeitada.

O orientador educacional deve ser o agente de informação


qualificado para a ação nas relações interpessoais dentro
da escola, adotando a prática da reflexão permanente com
professores, alunos e pais a fim de que eles encontrem
estratégias para o manejo de problemas recorrentes.
Esse profissional não deve assumir posturas isoladas,
pois a excelência de seu papel é a mediação qualificada
(CONCEIÇÃO, 2011, p. 49).

A partir do que já foi visto até o momento, o papel do orientador educacional


vem sendo delineado, compreendido e valorizado, pois “[...] há necessidade, hoje,
de se ter na escola um profissional que além de ensinar ou ensinar a aprender
a aprender, ajude o aluno a fazer as novas leituras que o mundo está a exigir de
forma crítica, investigativa e reflexiva” (GRINSPUN, 2008, p. 86, grifos no original).

Com base em Grinspun (2008, p. 86-95), a seguir, uma lista de ações que
representam as diferentes atribuições do orientador educacional:

• formar alunos mais críticos e cidadãos;

• valorizar emoções, valores, afetos e sentimentos;

49
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• auxiliar o trabalho efetivo de uma educação de qualidade;

• ajudar os agentes da escola a compreenderem e buscarem sua verdadeira


missão, mesmo num mundo repleto de contradições e desafios;

• atuar com os demais professores da escola;

• participar de projetos coletivos em prol de uma educação transformadora;

• argumentar, discutir e refletir sobre as problemáticas existentes;

• tornar o aluno mais crítico e consciente na sociedade, evidenciando os con-


ceitos de parceria, coletividade, solidariedade, num país que se almeja ser
mais justo, mais humano e mais solidário;

• voltar seu trabalho para a formação do cidadão;

• contribuir para um novo momento da escola, das instituições, agindo coleti-


vamente em prol de uma transformação desejada;

• buscar uma visão mais completa da realidade e do sujeito, caminhando


junto aos que buscam educação de melhor qualidade e, se possível, numa
dimensão mais ampla de um mundo melhor;

• estabelecer papel integrador, mediador e, principalmente, de interdisciplin-


aridade entre o saber e o fazer, entre o ter e o ser, entre o querer e o poder;

• articular e mediar a prática educativa;

• construir projetos dentro do projeto político-pedagógico da escola;

• superar dificuldades e construir espaços participativos;

• discutir temas polêmicos com os alunos, como: drogas, violência, aids, éti-
ca, sexualidade, entre outros;

• ser pesquisador da realidade;

• desenvolver trabalhos/atividades a partir da realidade, tentando trans-


formá-la;

• ajudar, propor, provocar, instigar;

• apoiar iniciativas de mudança, confiar no grupo e pesquisar a própria prática;

• criar espaços para ouvir e entender os anseios dos alunos;

• estabelecer bons relacionamentos na escola, discutir a questão de vínculos


e promover a reflexão com e dos alunos;

50
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

• organizar reuniões que podem ser momentos de: partilha, dúvidas ou


angústias; troca de experiências; descobertas; sistematização da própria
prática; estudos e pesquisa; discussão de temas da atualidade; revisão de
normas/critérios; organização de eventos; participação de fóruns internos
e externos; discussão de temáticas da escola; organização de atividades
complementares ao projeto pedagógico, criação de alternativas para vencer
obstáculos/dificuldades etc.

Depois de se conhecer as características do orientador educacional,


chegou o momento de se saber como ele atua, mediante o processo de ensino-
aprendizagem, junto aos alunos e professores.

O Orientador Educacional e o
Processo de Ensino-APrendiZaGem
Conforme a trajetória histórica do orientador, deixou de se preocupar,
basicamente, com o ajustamento do aluno à escola e à sociedade para focar
na transformação do sujeito e da sociedade, pelo viés do conhecimento, numa
postura mais dialógica, democrática e pedagógica.

De acordo com Grinspun (2008, p. 70): “A Orientação Educacional é parte de


um todo, faz parte da escola que com ela interage permanentemente, assim como
com a própria sociedade”.

Figura 11 – Orientação educacional e a inter-relação com a sociedade

Fonte: A autora.

51
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A sociedade e a escola interagem coletivamente, em prol da educação


integral das crianças – futuros cidadãos –, que devolverão à sociedade tudo o que
aprenderam na escola, com a mediação do orientador educacional numa inter-
relação proativa, cooperativa e participativa.

Para sua melhor compreensão, Grinspun (2008, p. 77) apresenta um quadro


explicativo a partir da figura anterior, em que “[...] as partes interferem no todo e o
todo se dilui nas partes”:

Quadro 6 – As partes do todo

ORIENTAÇÃO
SOCIEDADE EDUCAÇÃO ESCOLA
EDUCACIONAL
Social Política Organização civil Papéis
Mediação (escola/
Política Legislação Tipo de escola
sociedade)

Articulação
Cultural Valores Relações de poder (professores/
alunos/Direção)

Integração
Econômica Teorias Gestão da escola (particular/geral/
particular)
Dados Relações
Histórica Ações
estatísticos pedagógicas
Questões
Planejamento Dificuldades/conflitos Aluno
locais
Questões Aspectos técnicos Conhecimento de si
Educação formal
mundiais administrativos e de sua realidade
Educação Construção da
Tecnologia Currículo escolar
informal subjetividade.
Educação Projeto político-
Profissional pedagógico
Fonte: Grinspun (2008, p. 77).

Analisando o quadro anterior, pode-se concluir que “o orientador educacional


é o responsável pela articulação do trabalho pedagógico desenvolvido na escola
em prol dos alunos e de uma educação de qualidade que refletirá em mudança/
transformação da sociedade” (PIANEZZER, 2013, p. 87).

A escola atual enfrenta grandes desafios; a família delega à escola cada vez
mais responsabilidades; a sociedade espera que ela devolva sujeitos críticos,
autônomos e instruídos, e o orientador educacional precisa entrar em ação para
que tudo isso aconteça.

52
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

A Orientação Educacional desenvolvida na escola interfere,


então, no seu projeto, enquanto dele participa sendo seu
principal papel o da mediação, que deve ser percebido como
a articulação/explicitação, o desvelamento necessário entre o
real e o desejado, entre o contexto e a cultura escolar, entre o
concreto e o simbólico, entre a realidade e as representações
sociais que fazem os protagonistas da prática escolar
(GRINSPUN, 2008, p. 70-71).

Não é fácil orientar crianças e adolescentes em um mundo altamente


tecnológico, complexo e adverso, mas é preciso comprometer-se com a formação
integral do sujeito, conhecendo suas angústias e necessidades.

Hoje a Orientação Educacional – como já nos referimos – tem o


papel de mediação na escola para analisar, discutir, refletir com
e para todos que atuam na escola – em especial os alunos,
não com um tom preventivo, corretivo, mas com um olhar
pedagógico. Mais importante do que resolver o problema do
aluno José, por exemplo, que está suspenso, ou que está com
notas abaixo da média em matemática, é discutir e analisar o
que leva um aluno a ser suspenso, quais são as oportunidades
que se oferecem de educar antes de punir/cobrar, discutir
as metodologias utilizadas, a avaliação oferecida, o ritmo de
aprendizagem do aluno etc. (GRINSPUN, 2008, p. 76).

Figura 12 – Olhar atento aos alunos

Fonte: Disponível em: <http://lainhacarlos.blogspot.com.br/2012/04/texto-reflexivo.html>.


Acesso em: 16 jun. 2017.

53
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Estas características, voltadas à formação do sujeito, segundo Grinspun


(2008, p. 83), “[...] apontam a necessidade de um novo sentido à escola, de
assumir a função educativa que lhe compete, de apresentar as características
de seus alunos, a fim de propor um programa que permita ensinar além dos
conteúdos, as ações/intervenções internas e externas no sujeito”.

Se uma criança ou adolescente não está aprendendo, cabe uma investigação


diretamente com o aluno, seus professores e familiares, para ver se não há
nenhum problema cognitivo, físico ou psicológico que o esteja impedindo de
aprender.

Diante da descoberta, pode-se sugerir novos recursos ou estratégias didático-


pedagógicas aos professores para que estimulem a aprendizagem de todos.

Quando o assunto é o acompanhamento dos professores nos processos


de ensino e aprendizagem, o orientador educacional, de acordo com Pianezzer
(2013, p. 88), necessita:

• assessorar/orientar os professores;

• criar debates e discussões acerca de metodologias adotadas ou avaliações


realizadas, durante as reuniões pedagógicas;

• fortalecer os vínculos afetivos entre professores e alunos;

• concentrar forças, realizar reflexões e buscar soluções para superar as difi-


culdades encontradas.

Para não parecer adverso aos professores, aos alunos e à comunidade em


geral, aconselha-se ao orientador educacional, quando chegar numa instituição,
que realize este acompanhamento com calma e humildade, para ser aceito e
atendido pela equipe num clima de parceria, diálogo e democracia.

A partir disso, seguem algumas sugestões com base em Pianezzer (2013, p.


89), que poderão auxiliar neste processo de acolhida e aceitação à frente de um
novo grupo:

54
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

CHEGADA E ACEITAÇÃO DO ORIENTADOR


EDUCACIONAL NA ESCOLA

1. Quando chegar à escola, o orientador educacional necessitará se


apresentar à equipe de maneira humilde, colocando-se ao lado (não
acima) dos professores, numa parceria pedagógica, estabelecendo
com eles uma gestão democrática e participativa.

2. Em relação às pessoas que compõem a direção, precisa mostrar-se


aberto às necessidades da escola e disposto a auxiliar na superação
das mesmas. É importante também, nesta conversa, definir os papéis
que caberão a cada um, para que os espaços não sejam invadidos.

3. Uma vez decididos os papéis, ou seja, as atribuições que caberão


especificamente ao orientador educacional, faz-se necessário
comunicá-las aos professores, de preferência numa reunião
pedagógica e por escrito, para que os mesmos não manifestem
dúvidas em relação às funções do orientador educacional e não
cobrem dele ações/intervenções/atitudes ou posturas que não lhe
cabem.

4. Depois de ter se apresentado à direção da escola e aos professores,


é interessante também que o orientador educacional se apresente
aos demais funcionários: secretárias, merendeiras, zeladores,
auxiliares de limpeza etc. Todos devem saber quem é orientador
educacional na escola e a sua função.

5. Seguindo a mesma lógica, o orientador educacional necessita ser


conhecido pelos alunos, pais e comunidade em geral. Este momento
de apresentação poderá acontecer numa reunião pedagógica/
administrativa ou num evento interno da escola. O importante é
comunicar a todos que o principal foco do trabalho do orientador
educacional está centrado no aluno e no seu processo de ensino-
aprendizagem.

6. Enquanto comunica aos alunos, pais e comunidade a respeito


de suas atribuições dentro da escola, necessita estabelecer uma
postura dialógica, empática, participativa e democrática. As pessoas
precisam perceber que o orientador educacional veio à escola para
ajudar, orientar, acompanhar e superar dificuldades, não (conforme
ainda temem) para vigiar, proibir, condenar ou punir.

55
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

7. Feitas as apresentações, chega a hora de iniciar o trabalho de


acompanhamento e Orientação Educacional, propriamente dito.
Aconselha-se que, no início, seja observador e cauteloso, ou seja,
é preciso conhecer a realidade da escola e as pessoas que a
constituem, para atuar com sabedoria, eficiência e responsabilidade.
De acordo com Grinspun (2011, p. 112):

Conhecer a organização da escola é conhecer seu dia a dia,


seus profissionais, seus valores e crenças, é compreender
o significado de suas ações, mas também, principalmente,
conhecer seu projeto político-pedagógico, através do qual o
aluno se forma não só para esta escola, mas para a vida.

Fonte: Pianezzer (2013, p. 89).

Para acompanhar o processo de ensino, é preciso caminhar ao lado dos


professores, conhecer seus métodos, formas de planejamento, de avaliação e de
aprendizado, ou seja, saber o que pensam e como agem neste processo.

E em relação à aprendizagem, é preciso acompanhar os alunos e identificar


neles possíveis dificuldades, expectativas, desilusões, problemas físicos,
emocionais ou de relacionamentos, que podem interferir direta ou indiretamente
na aquisição de novos conhecimentos.

Uma vez diagnosticado um problema de aprendizagem do aluno ou de


“ensinagem” do professor, o orientador educacional pode auxiliar neste processo
intervindo no Conselho de Classe, quando se possibilita a reflexão a respeito
deste caminhar ao lado dos alunos e professores.

ParticiPação e InterVenção
PedaGóGica do Orientador
Educacional no ConselHo de Classe
Geralmente, os Conselhos de Classe existem para a exposição e definição
de notas, que resultam de processos avaliativos, em que os professores justificam
as notas atribuídas aos alunos dentro de sua disciplina para aquele bimestre ou
trimestre letivo. Além de notas, também são expostas questões comportamentais.

56
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Em resumo, na maioria das escolas, o Conselho de Classe é um momento


de relatar episódios, com pouco espaço para discussão ou avaliação do processo
de ensino-aprendizagem.

Cada escola tem uma dinâmica própria; mesmo sendo pública


ou particular, suas características são específicas e distintas.
Cada escola desenvolve seu próprio conjunto de normas
e valores e, principalmente, sua própria cultura. Em cada
escola os valores são processados, traduzidos e combinados
de acordo com os interesses, algumas vezes conflitantes, da
escola e da comunidade onde ela está inserida (GRINSPUN,
2011, p. 113).

Porém, sabe-se que este momento poderia (e deveria) ser de reflexão, de


busca por soluções, de diálogo aberto, de mudança e transformação de uma
realidade real para uma realidade ideal, quando o assunto é o aluno.

O papel da escola em relação ao aluno é garantir a


aprendizagem dos conhecimentos socialmente necessários
em um determinado momento histórico. Conhecimentos estes
que permitam ao aluno compreender a realidade social e
natural e possibilitem-lhe a ação coletiva consciente na direção
da construção de uma sociedade justa e igualitária (ALMEIDA;
SOARES, 2010, p. 89).

A partir desse pressuposto, sugere-se que o orientador educacional realize


outro modelo de conselho, denominado Conselho de Classe Participativo, em
que não se apresentam apenas listas de alunos com problemas de notas ou de
comportamentos, mas aconselhe a participação de alunos e pais para discussão
coletiva e proposta de novos encaminhamentos aos processos educacionais.

Libâneo (2004, p. 303) ajudará a compreender melhor o que é um Conselho


de Classe Participativo:

O conselho de classe é um órgão colegiado composto


pelos professores da classe, por representantes dos alunos
e, em alguns casos, dos pais. É a instância que permite
acompanhamento dos alunos, visando a um conhecimento mais
minucioso da turma e de cada um e análise do desempenho
do professor com base nos resultados alcançados. Tem a
responsabilidade de formular propostas referentes à ação
educativa, facilitar e ampliar as relações mútuas entre os
professores, pais e alunos, e incentivar projetos de investigação.

57
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 13 – Conselho de classe participativo

CONSELHO DE CLASSE

S
NO
U
AL

PROFESSORES

Fonte: Disponível em: <http://escoladuarte.blogspot.com.br/2012/05/consel-


ho-de-classe-participativo.html>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Foi elaborado um quadro, a partir das sugestões de Pianezzer (2013, p. 91-


92), para que o orientador educacional se sinta encorajado e para preparar pelo
menos um Conselho de Classe Participativo por ano:

DICAS PARA REALIZAR UM CONSELHO DE CLASSE PARTICIPATIVO

• O orientador educacional necessita ouvir a opinião dos alunos


(e também dos professores) a respeito das aulas e até mesmo
da escola. Esse exercício pode se dar através de questionários
(entregues dias antes de o Conselho acontecer), aqui denominado
de pré-conselho, envolvendo questões que dizem respeito à
participação nas aulas; pontualidade na entrega de tarefas; aulas
preferidas, fáceis, difíceis ou temidas; avanços, retrocessos
ou dificuldades de relacionamento com os professores. Cada
orientador educacional pode formular o próprio questionário de
acordo com os aspectos que pretende sondar a respeito da escola
ou dos professores.

• Para garantir a veracidade nas respostas, o orientador educacional


deve sugerir que os alunos não se identifiquem. Alunos maiores,
por exemplo, poderiam deixar de responder o que pensam por

58
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

medo de represálias e esta postura não agregaria valores à


intenção real do pré-conselho.

• O ideal é que o orientador educacional possa coordenar e


acompanhar este processo de entrega e recolhimento do pré-
conselho, explicando aos alunos o porquê deste movimento antes
do Conselho de Classe, deixando claro que o objetivo estará
voltado à reflexão e à qualidade do trabalho no processo de ensino-
aprendizagem, não necessariamente às críticas sem fundamento.

• Sugere-se também que o professor regente da turma, naquele


momento, deixe-a com o orientador educacional apenas, pois
sua presença poderá vir a inibir o aluno, exercendo, mesmo que
involuntariamente, uma certa pressão.

• Depois de respondidas as questões, o orientador educacional


recolhe e tabula as informações, com o cuidado de não expor
os alunos e, na sequência, leva estes resultados ao Conselho,
provocando questionamentos, reflexões e discussões diante da
realidade observada tanto pelos docentes quanto discentes, em
busca de melhorias, reprogramando, se for o caso, o Plano de
Trabalho dos professores, na maneira de agir, ensinar, planejar e
avaliar.

• Além dos alunos, os pais também podem responder a um pré-


conselho especialmente elaborado para eles, com questões
relacionadas ao tempo de estudo do filho em casa; dedicação nas
tarefas; capricho; pontualidade e assiduidade; participação familiar
nos assuntos pedagógicos, entre outras questões do interesse e
realidade da escola ou do orientador educacional.

• Em datas específicas e com o aval dos professores, alunos


representantes de cada turma poderão fazer parte dos Conselhos
de Classe Participativos, ou até mesmo os pais podem ser
convidados (quando isso se tornar oportuno).

• Um Conselho dentro destes padrões caracterizaria a escola como


um espaço onde se pratica a democracia, a liberdade de expressão
e a construção plena da cidadania.

Fonte: Pianezzer (2013, p. 91-92)

59
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na


formação da cidadania crítica, e a escola, na organização e
realização de seu projeto pedagógico. Isso significa ajudar
nosso aluno ‘por inteiro’: com utopias, desejos e paixões. A
escola, com toda sua teia de relações, constitui o eixo dessa
área da Orientação, isto é, a Orientação trabalha na escola em
favor da cidadania, não criando um serviço de orientação para
atender aos excluídos (do conhecimento, do comportamento,
dos procedimentos etc.), mas para entendê-los, através das
relações que ocorrem (poder/saber/fazer/saber) na instituição
Escola (GRINSPUN, 2011, p. 37).

O Conselho de Classe nesses moldes possibilita a aplicabilidade da


democracia na escola, prevista na LDB 9.394/96, artigo 14, de acordo com Brasil
(1996):

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo
com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração
do projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.

Ouvir o que a comunidade escolar (alunos, pais e professores) têm a dizer


e procurar maneiras de ajudá-la, promovendo iniciativas que favoreçam o direito
de aprender, sentir-se parte da escola e ser acolhido por ela, também é uma das
incumbências do orientador educacional.

O Orientador Educacional e os
Alunos NoVos – RecePção e
AdaPtação
Quando um estudante chega numa nova escola, traz consigo sentimentos
que vão desde a ansiedade ao medo, gerando insegurança e apatia, na maioria
dos casos. Porém, se ele for bem acolhido e gostar do ambiente escolar, será
garantida grande parte de sua adaptação à nova instituição.

Ao orientador educacional cabe construir pontes, que se interligam e se


complementam, conduzindo alunos, famílias, professores e funcionários em
geral a se conhecerem e a contribuírem positivamente, uns com os outros, pelos
diversos caminhos entre os saberes e fazeres de uma escola/comunidade.

60
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Pode-se dizer que, em grande parte, experiências positivas ou


negativas vivenciadas na escola irão refletir-se pela vida toda
do indivíduo. Gostos, traumas, aversões por determinadas
matérias, opções profissionais, amizades e até apelidos em
geral tiveram suas origens nos bancos escolares. Portanto,
a adaptação do estudante à escola torna-se muito importante
e deve ser preocupação de todos, inclusive do orientador
educacional, desde o início da vida escolar, para que a escola
apresente um ambiente acolhedor e afetivo [...] (GIACAGLIA;
PENTEADO, 2010, p. 190).

a) Quanto à recepção de alunos novos

Chegar num ambiente novo não é algo muito fácil ou tranquilo, ainda mais se
este novo lugar estiver ocupado por outros sujeitos há mais tempo. Neste primeiro
momento, há o sentimento de insegurança, vergonha, retração e se busca
silenciosamente o olhar atento de alguém que o receba, estenda a mão e ofereça
atenção. Com raríssimas exceções, isso já aconteceu ou ainda deverá acontecer
com todo mundo, pelo menos uma vez na vida.

Figura 14 – O primeiro dia na escola

Fonte: Disponível em: <http://guiadobebe.uol.com.br/adaptacao-na-


escola-em-diferentes-momentos/>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Repare na imagem anterior. Imagine que este é o primeiro dia desta criança
na nova escola e responda as questões a seguir:

61
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Atividades de Estudos:

1) Como ela está se sentindo?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2) Quais são seus medos?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

3) Quais são suas principais expectativas?


__________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
__________________________________________________

Pela imagem, é possível perceber que esta chegada não é fácil para
ninguém, mesmo os adultos ficam receosos deste “primeiro momento” em um
novo emprego, novo curso, nova instituição de ensino. Imagina, então, como deve
ser difícil para as crianças e adolescentes deixar a escola anterior, com os seus
melhores amigos e professores.

Ao entrar para a escola, deve-se considerar que o aluno irá


passar nela muitas horas do dia e muitos dias de sua vida.
É importante, pois, que ela se constitua em um ambiente
interessante e agradável que, além da formação intelectual,
favoreça o desenvolvimento sadio do educando (GIACAGLIA;
PENTEADO, 2010, p. 190).

Esta dificuldade inicial pode ser minimizada quando os alunos novos e


seus familiares chegarem à nova escola e forem bem acolhidos pela equipe de
funcionários e pelos colegas de turma. De acordo com Pianezzer (2013, p. 99):

62
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Os primeiros contatos acontecem normalmente na secretaria,


local em que se buscam informações de cunho burocrático e
se assinam os papéis. O orientador educacional deve, então,
apresentar-se à família e aguardar de maneira simpática a
finalização deste primeiro momento. Assim que esta primeira
etapa estiver concluída, cabe ao orientador educacional
sentar-se com o aluno e com a família a fim de esclarecer
com eles possíveis dúvidas ou conhecer suas expectativas
em relação à escola, num bate-papo informal, nada de
questionários investigativos, ainda. Se houver coordenador
pedagógico na escola, este também poderá participar da
conversa, deixando a família a par do Projeto Pedagógico
da escola. Caso este profissional não faça parte da equipe, o
próprio orientador educacional poderá esclarecer as dúvidas
da família, neste sentido. Assuntos como material escolar,
utilização de equipamentos eletrônicos na escola e uso do
uniforme precisam ser abordados. Esclarecendo a respeito
do funcionamento da escola e de suas regras, os pais podem
ajudar os filhos a se adaptarem mais facilmente.

Após essa conversa inicial, com o aluno e com a família, sugere-se que o
orientador educacional realize as seguintes etapas, de acompanhamento e
assistência ao aluno, pelos próximos dias, de acordo com Pianezzer (2013, p.
100-101):

• colocar-se no lugar da criança ou adolescente e tentar lembrar-se de como


se sentia/agia quando precisava ir a um lugar que não conhecia, frequentar
sozinho um evento, apresentar-se num novo emprego, readaptar-se a no-
vas pessoas, e o encoraje a vencer este novo desafio;

• conversar com o novo aluno, procurar saber se ele gosta de estudar, qual
sua matéria preferida, se gosta de ler, escrever ou praticar esportes. Olhar
em seus olhos para que ele perceba que o orientador e a escola o recebem
de braços abertos;

• convidar este aluno novo e sua família para uma caminhada pela escola a
fim de que possam conhecer seus diversos espaços;

• durante esta caminhada, dar atenção às pessoas e abrir espaço às pergun-


tas, numa linguagem dialógica e afetiva;

• transmitir segurança aos novos membros da escola e aos poucos conquis-


tar a confiança deles;

• caso o ano letivo já esteja em andamento, apresentar o aluno à nova turma


e seus professores. Lembrar-se de situá-los a respeito do novo aluno, men-
cionando seu nome, série/ano e lugar de origem (bairro, cidade, estado...);

63
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• convidar os alunos da turma para que o apresentem ao novo aluno a outros


colegas e espaços de integração onde costumam ficar na hora do recreio;

• depois de concluída a caminhada, deixar o aluno com a turma correspon-


dente. Mesmo após entregar o aluno à nova sala de aula, acompanhar seus
primeiros dias, oferecer ajuda na organização e compreensão da metodolo-
gia da escola;

• observar se ele está integrado, se interage com outros colegas ou se está


isolado, lanchando ou brincando sozinho, por exemplo;

• caso o aluno já esteja no Ensino Fundamental, avaliar seu histórico esco-


lar, bem como suas notas, diagnósticos de especialistas ou dificuldade de
aprendizagem e direcionar estas informações relevantes para o conheci-
mento da equipe pedagógica no Conselho de Classe. É necessário manter
os professores informados de qualquer fator que possa interferir na apren-
dizagem do aluno.

O aluno que se transfere de uma escola para outra (e, às vezes,


muda até de cidade, estado ou país), qualquer que seja a série
em que tal ocorra, poderá sentir-se inseguro e deslocado, pois,
ao chegar, já encontrará grupos formados e de difícil acesso,
e, caso seja tímido, terá, ainda, mais dificuldades de adaptação
e de integração. Cabe ao orientador educacional, mais uma
vez, dar-lhe assistência, planejando atividades que visam
recepcionar, envolver e integrar aqueles que ingressam na
escola (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 193).

E, se mesmo com todos os esforços do orientador educacional e dos demais


membros da comunidade escolar, o aluno apresente problemas de adaptação,
Giacaglia e Penteado (2010, p. 191) aconselham:

Quando determinada criança começa a apresentar problemas


sérios de adaptação, o orientador educacional pode analisar
com os pais as possíveis causas desses problemas, chegando
até a sugerir a conveniência de mudança de escola. Essa
providência costuma funcionar nos casos mais severos de
adaptação e, claro, quando há a possibilidade de tal mudança.
Mesmo quando for este o caso, a nova escola deverá ser
analisada com cuidado, para evitar que a prática de mudança
de escola seja repetida toda vez que o aluno não goste de
uma escola ou tenha alguma contrariedade, pois as sucessivas
mudanças poderiam se tornar um hábito ruim, isto é, o aluno
poderia, toda vez que contrariado, querer mudar de escola.

Com base em Giacaglia e Penteado (2010, p. 196-197), serão apresentados


“possíveis sintomas de não adaptação de alunos” que podem ser acompanhados
de perto pelo orientador educacional:

64
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Figura 15 – Sintomas de alunos não adaptados

Fonte: Adaptado de Giacaglia e Penteado (2010, p. 196-197).

Uma dúvida frequente dos pais é escolher a escola para o filho e, algumas
vezes, essa escolha se dá sem grandes reflexões, optando, por exemplo, por uma
escola que:

• fique perto de casa;

• alguém tenha indicado;

• é a mais barata;

• tem tradição na cidade;


• é bonita;

• aprova para o vestibular.

De acordo com Giacaglia e Penteado (2010, p. 191), os pais “esquecem de


se questionar sobre o principal, isto é, se a escola escolhida com um ou vários
desses critérios será aquela em que seu filho aprenderá melhor e, principalmente,
será mais feliz”.

Vale ressaltar que a não adaptação ou problemas de integração


também podem afetar alunos que já fazem parte da escola e que não sejam
necessariamente novos naquele ambiente, quando estes se sentem rejeitados e
não aceitos como parte de um grupo. Questões como preconceito, discriminação
social ou racial podem contribuir para este problema.

65
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Para Giacaglia e Penteado (2010, p. 194), “Em escolas de nível


socioeconômico elevado, um aluno bolsista, de família pobre, pode ser facilmente
discriminado, sentindo-se só ou até sofrendo com a hostilidade e desprezo dos
demais”.

O orientador educacional precisa prestar atenção em alguns momentos do


dia a dia, quando as situações de exclusão acontecem, muitas vezes sem que os
professores se deem conta, por exemplo:

• não é escolhido para os trabalhos em grupo;


• é o último a ser escolhido para os times na educação física;
• tem lanchado sozinho;
• não é aceito no grupo por haver as populares “panelinhas”.

A partir destas observações, deve-se “[...] levar estas questões às reuniões


pedagógicas com os professores e, posteriormente, desenvolver um trabalho
intenso com os alunos a fim de solucionar estes problemas” (PIANEZZER, 2013,
p. 104).

Giacaglia e Penteado (2010, p. 195) contribuem com esta discussão


afirmando que, em relação a esses alunos discriminados, o orientador educacional
deve:

[...] recorrer à técnica de aconselhamento para ajudá-los a


enfrentar situações difíceis que irão vivenciar na escola e na
vida em geral. Entretanto, não basta dar apenas assistência
às vítimas de discriminação. Ele deve, também, aproveitar o
ensejo para orientar as maiorias que exercem a discriminação.
[...] se não for dada a devida atenção a tais problemas, eles
poderão contribuir para a deterioração das relações entre a
totalidade da classe e causar sérios problemas na escola.

Uma vez diagnosticadas as dificuldades de interação ou adaptação de alunos,


é hora de colocar em prática algumas sugestões para o orientador educacional e
sua equipe, que ajudarão o aluno na superação destes problemas e na aceitação
dos mesmos perante o grupo:

• sugerir aos professores que realizem sorteios para os trabalhos em


grupo, favorecendo que todos se conheçam e que aprendam a trabalhar e
interagir com diferentes pessoas, quebrando as “panelinhas” de sempre;

66
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

• propor aos professores de educação física que variem as lideranças e que


os alunos que sempre ficam para o final da escolha sejam os cabeças-de-
chave, podendo escolher antes a equipe deles;

• criar gincanas de integração, com jogos de cooperação, contribuindo para


o estreitamento das relações;

• promover rodas de conversa ou debates a respeito de inclusão,


diversidade, preconceito, discriminação, amor, respeito, violência, paz;

• chamar os alunos que apresentam comportamento inadequado de rejeição


ou exclusão para uma conversa a fim de entender porque praticam este
tipo de atitude, conscientizando-os a mudarem de postura;

• assistir aos filmes que retratem situações de rejeição, preconceito ou


discriminação, para gerar discussões e estabelecer pontes entre a ficção e
a vida real.

Sugestões de filmes:

 Escritores da Liberdade, 2007 (história baseada em fatos reais);


 Como estrelas na terra, toda criança é especial, 2007;
 Um sonho possível, 2010 (inspirado numa história real);
 Lixo extraordinário (documentário brasileiro, filmado de 2007 a
2009, no Rio de Janeiro).

Além de tudo isso, de acordo com Pianezzer (2013, p. 109), é importante que
o orientador educacional:

Não faça de conta que está tudo bem, não diminua o problema,
não acredite que o tempo resolverá estas questões entre as
crianças ou adolescentes, pois normalmente não é isto que
acontece. Em muitos casos, o tempo tende a piorar o que já
não era bom, ou seja, quando sentimentos de não adaptação/
integração começam na infância, tendem a agravar-se na
adolescência, que já se caracteriza, normalmente, como um
período de preferências/grupos formados/panelinhas. Aluno
que percebe a não aceitação de seu grupo tende a desenvolver
uma destas posturas: a de fazer tudo o que o grupo pede,
submetendo-se até a situações humilhantes, que certamente
evitaria, só para ser aceito, ou a de se afastar de vez daquele

67
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

grupo que não o aceita, preferindo lanchar sozinho, brincar


sozinho, ficar na sala...e, desta forma, não se sente feliz,
nem tem prazer de estudar ou ir à escola, demonstrando-se
apático diante dos colegas ou professores e, inclusive, tendo
rendimento inferior ao esperado.

Já foi visto que fatores externos podem atrapalhar o rendimento do aluno e


sugestões foram mencionadas para sua mediação, porém, pergunta-se quando
estes fatores são internos, e o que fazer. A seguir, as respostas.

AProVeitamento Escolar – AsPectos


FÍsicos e PsicolóGicos
A escola realmente precisa preocupar-se com as questões de ordem física
e psicológica de seus alunos? Ela não deveria preocupar-se apenas com os
processos de ensino-aprendizagem?

Mesmo que a escola tenha que se preocupar prioritariamente com o ensino,


não há como deixar de lado o conjunto de aspectos físicos e emocionais que
formam o indivíduo em sua educação integral, não é verdade?

[...] o indivíduo que aprende é um ser complexo que se


desenvolve não só no aspecto intelectual, como também,
e concomitantemente, no afetivo-emocional, físico-motor,
social, sexual, vocacional, enfim, em todos os aspectos de sua
personalidade. Por esta razão e também porque dificuldades ou
problemas nessas áreas poderão afetar o rendimento escolar
do aluno, o orientador educacional não pode desconsiderá-los
no seu trabalho (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 211).

Diante disso, a função do orientador educacional é a de acompanhar o


desenvolvimento dos alunos também nestes aspectos, a fim de atuar sobre o que
observa, no sentido de prevenir ou aconselhar alunos e familiares em relação à
própria saúde física ou mental.

Cabe também ao orientador educacional orientar os demais membros da


escola em relação à aceitação e ao acolhimento dos alunos com qualquer tipo de
necessidade.

A partir deste momento, apresentamos dois quadros que especificam em


detalhes as diferenças entre os aspectos físicos e psicológicos, de acordo com
Giacaglia e Penteado (2010, p. 211-215), para facilitar o acompanhamento do
Orientador Educacional:

68
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

ASPECTOS FÍSICOS

• Recomenda-se que as crianças tenham seu desenvolvimento


acompanhado por pediatra, oculista, otorrinolaringologista,
ortopedista, dentista, entre outros especialistas.
• Às vezes, torna-se necessário consultar fonoaudiólogo ou
psicólogo, quando houver indicação para tal.
• Ao efetuar a matrícula, deveria ser obrigatório que a escola
exigisse atestado de saúde do escolar, bem como sua ficha de
vacinação em dia.
• Com a recomendação atual de que crianças com necessidades
especiais frequentem as mesmas classes, torna-se fundamental
que todo o pessoal da escola esteja apto a lidar com esta nova
situação, visando não apenas a inclusão física desses alunos nas
classes, como também o preparo para a aceitação e o acolhimento
especial a eles.
• Cabe aos professores alertarem os orientadores educacionais
sempre que notarem que algum(ns) aluno(s) possa(m) apresentar
problema que necessite de atendimento especializado, e cabe
ao orientador educacional comunicar-se com os responsáveis
para que estes procurem ajuda ou, se for o caso, indicar a eles
profissionais ou postos de saúde que atendem os alunos daquela
escola.
• Mesmo estudantes que não apresentam problemas sérios de
saúde precisam ser instruídos e orientados sobre doenças, higiene
pessoal e hábitos alimentares.
• É vedado ao orientador educacional ministrar remédios aos alunos.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 211-215).

69
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

ASPECTOS PSICOLÓGICOS

• Além da saúde do corpo, a escola - e nela o orientador educacional


- deve também se preocupar com os aspectos psicológicos dos
alunos, pois a frequência de alunos com problemas emocionais
tem aumentado gradativamente.
• Muitos alunos apresentam comportamentos agressivos, de revolta
ou de apatia. Outros, mostram-se tímidos ou superprotegidos.
Enquanto que os primeiros chamam a atenção e são, muitas
vezes, atendidos, alunos excessivamente tímidos tendem a passar
despercebidos, por não causarem problemas para a escola.
• Alunos superprotegidos no ambiente familiar que recebem todas
as atenções e cuidados, tendo os seus desejos amplamente
satisfeitos, ao entrarem na escola, necessitarão ter iniciativas
para acompanhar a rotina escolar e, diante disso, desenvolvem
comportamentos inadequados a fim de receber a atenção
do pessoal da escola e/ou se negam a cumprir com todas as
obrigações escolares. É necessário que os professores e o
orientador educacional estejam dispostos e preparados para
auxiliá-los na aquisição de independência.
• Há manifestações de caráter emocional que necessitam ser
observadas e trabalhadas nos alunos, tais como: medo excessivo,
fobias, acessos e manifestações desproporcionais de raiva,
insegurança ou apego exagerado a algum adulto.
• Há casos em que as crianças passam por situações traumáticas,
após experiências negativas com a escola, com determinados
professores, com certas disciplinas ou provas. Às vezes, uma
ironia, uma humilhação em público, uma ameaça velada, uma
injustiça sofrida, podem (dependendo do tipo e da situação de
quem as sofre) resultar num trauma duradouro.
• Dificilmente tais alunos conseguirão superar sozinhos esses
problemas, que acabam por interferir tanto na sua saúde mental
como em seu desempenho escolar. Além da ansiedade geral,
existe a ansiedade de prova, em que alguns alunos chegam a ficar
doentes, o que os impede de demonstrar todo o conhecimento
que possuem.
• Como nem todos os professores conhecem bem todos os seus
alunos e nem todos eles sabem diagnosticar e lidar com a
ansiedade da prova, cabe ao orientador educacional alertar todos
os professores e orientá-los sobre como proceder.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 211-215).

70
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

De acordo com os dois quadros, é possível constatar que nenhum aspecto


é mais importante que o outro, pois ambos (aspectos físicos e psicológicos)
precisam estar em sincronia, funcionando bem, para que a aprendizagem ocorra
da melhor maneira possível. A respeito disso, Pianezzer (2013, p. 114) traz a
seguinte reflexão:

Cuidar do corpo e da alma nos parece uma forma inteligente


de intervir nos processos de ensino-aprendizagem dos
estudantes, pois a aquisição do conhecimento (aspecto
cognitivo) não ocorre de maneira isolada, como se todo o resto
(aspectos físicos e emocionais) fosse menos importante, e
sim, de maneira integrada visando o desenvolvimento global
do educando (PIANEZZER, 2013, p. 114).

Figura 16 – Bem-estar físico e emocional

Fonte: Disponível em: <http://www.segredosdoenem.com/dicas>. Acesso em: 16 jun. 2017.

O orientador educacional necessita tratar destas questões com a equipe


pedagógica, promovendo reflexões importantes sobre a verdadeira inclusão de
todos os alunos na escola, não só aos que apresentarem necessidades especiais
de atendimento.

Para tanto, precisa-se discutir na escola questões como preconceito,


exclusão, desigualdade e discriminação com os próprios alunos, oferecendo apoio
aos familiares dos alunos com necessidades especiais de atendimento.

[...] no que diz respeito ao processo de inclusão dos alunos


com deficiência e necessidade educativa especial, destacamos
que essa é uma questão polêmica na atualidade, no campo
das políticas educacionais. Muito tem sido discutido a respeito
da necessidade de que a inclusão desses alunos no ensino
regular aconteça de forma responsável e com qualidade,
evitando, dessa forma, que o aluno não seja, de fato, excluído
por não ter as condições adequadas para seu atendimento
(ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 94).

71
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Portanto, o orientador educacional precisa mobilizar esforços, “num trabalho


conjunto, articulado, participativo e solidário, visando o atendimento adequado às
necessidades do educando e a aceitação de todos, promovendo a integração do
aluno com os colegas, professores e funcionários da escola” (PIANEZZER, 2013,
p. 130-131).

Neste sentido, as ações do orientador educacional para o processo de


inclusão, segundo Almeida e Soares (2010, p. 95):

Devem estar direcionadas para a busca, em conjunto com


a mantenedora, da garantia do acesso à aprendizagem no
que se refere aos recursos físicos (adequação do prédio e
do mobiliário), materiais (recursos pedagógicos específicos,
por exemplo, textos ampliados para aluno com baixa visão)
e humanos (professores com formação adequada e serviços
especializados, como fonoaudiologia, psicologia, neurologia,
fisioterapia, entre outros).

De acordo com Pianezzer (2013), o orientador educacional precisa


acompanhar o processo de ensino-aprendizagem do aluno com necessidades
especiais, especialmente nas questões relacionadas à avaliação e à integração
do mesmo com o grupo a que pertence, pois, a partir destas observações, deverá:

[...] refletir com o corpo docente novas ações e, se for o caso,


propor mudanças na maneira de ensinar e avaliar cada caso,
com o propósito de avançar no processo de construção e
aquisição do conhecimento. Se problemas de relacionamento/
aceitação diante do grupo forem percebidos, eles necessitam
ser trabalhados de maneira urgente, pois tenderão a dificultar
o processo evolutivo da criança, agindo fortemente na questão
emocional, que, normalmente, é mais delicada e sensível
nestes alunos (PIANEZZER, 2013, p. 131)

Atividades de Estudos:

1) Almeida e Soares (2010, p. 94-95) propõem refletir a respeito de


algumas questões que poderão nortear as ações do orientador
educacional na perspectiva da educação inclusiva na escola.
Partindo destas reflexões, disserte uma resposta que esteja de
acordo com suas impressões e conhecimentos a respeito de
inclusão.

72
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

• É possível falar em inclusão das pessoas com necessidades


educativas especiais na sociedade capitalista tal como está
organizada hoje?

• Seria necessário falar de inclusão se a sociedade estivesse


organizada sob outra lógica?

• A escola que se tem hoje dá conta de incluir as pessoas com


necessidades educativas especiais?

• O professor do ensino regular está preparado para ensinar


aos alunos com necessidades educativas especiais e aos
demais alunos ao mesmo tempo?

• A comunidade escolar possui suficiente compreensão do


problema da inclusão para lidar com ele sem discriminações
e preconceitos?

• Faz parte da “nossa” cultura a prática da solidariedade e o


respeito pela diversidade?

• Em que condições a cidadania do indivíduo comum é


considerada? Em que medida os direitos do cidadão,
proclamados pelas leis, são devidamente respeitados?

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

73
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 17 – Escola para todos

Fonte: Disponível em: <http://apnendenovaodessa.blogspot.com.br/2011/09/


aprovado-projeto-de-lei-do-deputado.html>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Vale lembrar que alunos que não possuem diagnóstico de especialistas,


mas apresentam relevantes déficits de aprendizagem, não podem passar
despercebidos ou serem ignorados; pelo contrário, merecem atenção especial
dos professores e do orientador educacional, pois, independentemente de
suas dificuldades, necessitarão ser incluídos dentro do processo de ensino e
aprendizagem desenvolvido pela escola.

Quando o professor percebe algum sinal de que há algo a ser investigado no


aluno, precisa comunicar o fato ao orientador educacional, cujo papel será o de:

[...] auxiliar os professores na busca da compreensão


teoricamente fundamentada do que se considera ‘dificuldade
de aprendizagem’ e de que forma a escola pode lidar com
estes problemas em conjunto com a família do aluno e com
o apoio de outros profissionais que estão, muitas vezes, além
do âmbito escolar: psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas,
fisioterapeutas entre outros (ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 99).

O orientador educacional deverá atuar na avaliação e encaminhamento dos


alunos com dificuldades de aprendizagem, para que estes especialistas identifiquem
a causa e ofereçam apoio pedagógico. Conceição (2011, p. 56) pontua:

[...] situações de dificuldades de aprendizagem geram


encaminhamentos a profissionais especialistas quando
extrapolam os limites da atuação escolar. Essa possibilidade
é extremamente satisfatória, uma vez que existem áreas
de conhecimento e saberes específicos de outras esferas
profissionais que muito nos ajudam a lidar com as situações
não previstas.

74
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

O orientador educacional deve alertar a equipe de professores a respeito dos


comentários feitos em relação aos alunos, mediante suposições próprias, sem
fundamentos ou testes específicos, resultando em simples suposições: “acho que
esse aluno tem dislexia”; “acho que aquele outro é hiperativo”; “acho que este
aluno é autista”; e assim por diante.

Um aspecto importante do trabalho da orientação é de deixar


de dar status científico à discriminação feita em relação
aos alunos, como acontecia até há algum tempo: diante de
qualquer problema, o professor já rotulava o aluno (‘problemas
neurológicos’, ‘déficit de atenção’, ‘hiperatividade’ etc.) e
contava com o endosso da orientação. Tal prática alimentava
uma outra distorção: a ‘síndrome de encaminhamento’ (prática
de mandar aluno para a orientação ou direção para que
“dessem um jeito”, que, por sua vez, provocava outra síndrome:
a do ‘chamamento’ (ficar convocando os pais para dizer que ‘o
filho tem problema’) (VASCONCELLOS, 2007, p. 80).

Além de tudo o que foi citado, em relação aos aspectos físicos e emocionais,
cabe ao orientador educacional também conhecer os aspectos comportamentais,
que representam, atualmente, um dos maiores desafios nas escolas.

Estes aspectos de ordem comportamental podem interferir no aproveitamento


escolar dos alunos. Dentre eles, podem-se citar: a indisciplina; o uso de drogas; a
prática do bullying e da violência; o uso exagerado da tecnologia; e outros. Esses
desafios serão tratados a partir de agora.

O Orientador Educacional e os
DesaFios da Atualidade
O mundo, as crianças, os adolescentes e os profissionais da educação
mudaram. Diante disso, é preciso mudar para acompanhar essas novas gerações
(altamente conectadas e tecnológicas) e para se atualizar diante da complexidade da
vida, dentro e fora da escola. De acordo com Giacaglia e Penteado (2010, p. 307):

Nem tudo o que mudou ocorreu no campo da tecnologia e nem


tudo resultou em benefício para a humanidade. Como sempre
ocorre com inovações, algumas delas foram benéficas, outras
constituíram malefícios e a maioria delas, dependendo do uso
que delas se faz, podem ser consideradas benéficas ou não à
sociedade, à humanidade, à educação dos jovens na escola
ou fora dela.

Com as mudanças atuais, os alunos aprimoraram a forma de ver o mundo,


buscando possibilidades de transformação, pelo viés da educação. Eles
modificaram também as formas de ser, de viver, de se relacionar e de aprender.

75
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quando o orientador educacional tem consciência a respeito


da importância que o lado social traz à vida dos estudantes,
ele passa a enxergá-los de maneira global, levando em
consideração, também, sua vida fora da escola. A partir de
então, valoriza a diversidade em que estão inseridos os
estudantes, quer sejam elas: culturais, religiosas ou de valores,
compreendendo o quanto assuntos/problemas como drogas,
violência ou bullying interferem diretamente na aprendizagem
dos mesmos (PIANEZZER, 2013, p. 120).

A partir destas constatações, o orientador educacional necessita traçar


metas importantes com a equipe de professores e demais profissionais da escola,
na condução, aconselhamento, orientação e, se possível, resolução de tais
problemas.

Questões como indisciplina, drogas, bullying, violência e uso exagerado


da tecnologia também acompanharam a chegada da modernidade em nossas
escolas.

Diante disso, o orientador educacional precisa propor atividades que abordem


estas questões, em forma de debates ou mesmo atividades de conscientização e
mudança, conforme detalharemos a seguir.

ComPortamento/IndisciPlina
Será abordado, neste momento, um olhar do orientador educacional
voltado às questões disciplinares/comportamentais, popularmente chamadas de
“indisciplina” em algumas escolas. “Esse foi, por muito tempo, o foco da atuação
do orientador educacional, sendo este visto como ‘a solução’ para as questões
de indisciplina na escola, ou então, questionado por sua ‘incapacidade’ em não
resolvê-las” (ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 103). De acordo com Pianezzer (2013,
p. 142-143):

A questão a ser discutida não é a indisciplina por si só, de


maneira isolada, irresponsável e inconsequente, mas o
‘porquê’ da mesma, ou seja, o que tem levado determinados
alunos a apresentarem este tipo de comportamento agressivo,
revoltado ou desinteressado dentro da escola. Podemos
nos perguntar também: Por que a disciplina é importante
no ambiente escolar? Por que trabalhar a autodisciplina e a
autonomia nos alunos? Qual o papel do orientador educacional
frente a estes questionamentos?

Sabe-se que a disciplina não deve ser algo imposto de maneira autoritária às
crianças e especialmente aos adolescentes, pois:

76
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

[...] o simples fato de o aluno obedecer às normas estabelecidas


pela escola e pelo professor não pode ser entendido como
disciplina. A disciplina não é estabelecida com medidas
disciplinares, mas a partir da organização de todo o trabalho
pedagógico, como o resultado do conjunto de determinações
que atuam sobre o aluno (ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 104-
105).

Mesmo precisando de limites e regras, os alunos necessitam compreender o


que se espera deles, de maneira que a obediência seja construída e compartilhada
coletivamente, de maneira autônoma, consciente, participativa e responsável.

Quando os alunos participam na construção de regras, tendem a cumpri-las,


pois elas não lhe foram impostas. Desta forma, o aluno sai da condição de “alguém
‘obediente e passivo’ para tornar-se alguém que tenha autocontrole, autonomia e
autodisciplina, tanto para os aspectos da escola, quanto aos aspectos da vida,
fora dela” (PIANEZZER, 2013, p. 143).

Muitas vezes, os problemas de indisciplina podem oferecer pistas


interessantes ao orientador educacional. É como se os alunos quisessem,
conforme Pianezzer (2013, p. 143), demonstrar as suas insatisfações, alertando
que:

• determinada regra imposta pela escola ou pelo professor não é


necessária ou não funciona;
• a aula está descontextualizada, cansativa, desinteressante;
• o professor não tem domínio do conteúdo ou da turma;
• precisam-se de novos e interessantes desafios.

Dessa forma, o orientador educacional:

[...] em sua ação orientadora, tem o papel de discutir com


professores e alunos sobre a necessidade da disciplina para
atingir os fins propostos pelo trabalho educativo. Ela diz respeito
à definição e ao cumprimento de regras que se referem ao
funcionamento da escola como um todo e às relações que se
estabelecem nesse espaço, bem como à autonomia intelectual
que o aluno deve desenvolver gradativamente no processo de
aprender (ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 105).

O fato é que a indisciplina por parte de poucos alunos ou de uma classe


inteira chama a atenção do orientador educacional, que precisa atentar-se às
discussões coletivas e às possíveis causas que a têm gerado dentro da escola.

Diante disso, o orientador educacional precisa observar a organização do


trabalho pedagógico e propor momentos de avaliação e reflexão com o coletivo

77
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

da escola, de maneira justa e respeitosa, em que professores e gestores ajam


como parceiros nesta busca.

É pertinente que o orientador educacional esteja na escola


para auxiliar os professores em relação ao comportamento
dos alunos em sala, mas há que se ter um cuidado quando
estes encaminhamentos tornam-se rotineiros demais, pois
quando o professor sempre encaminha alunos indisciplinados
ao orientador educacional, diretor, coordenador pedagógico ou
supervisor, está mostrando aos alunos que ele (o professor)
não tem autoridade para lidar com tais dificuldades, delegando
a outros esta responsabilidade. Os alunos poderão interpretar
que apenas eles (os profissionais da Gestão Escolar)
representam a autoridade na escola e que o professor não lhes
é digno de respeito e obediência (PIANEZZER, 2013, p. 145).

Neste momento, é importante que o aluno perceba que há uma boa equipe
de trabalho por trás de cada gesto e atitude. Uma equipe que trabalha em parceria,
pelo êxito coletivo da escola.

[...] construir esta boa equipe de trabalho se mostra num


vaivém constante e permanente entre o individual e o grupal,
entre o eu e o outro, entre o mim e o nós, entre o egocentrismo
que garante a sobrevivência e a cidadania que possibilita apoio
no coletivo. Construir uma equipe de trabalho suficientemente
boa envolve pensar e agir buscando uma coerência ética
(GRINSPUN, 2008, p. 26-27).

Para tanto, o orientador educacional precisa construir uma equipe sintonizada


de trabalho “em que a comunicação exercida ofereça apoio profissional em todos
os sentidos, desde a expressão dos afetos e das contradições à proteção e
segurança de estar fazendo junto [...]” (GRINSPUN, 2008, p. 26). Algumas das
tarefas do orientador educacional são:

• conversar com os alunos;


• ouvir seus anseios e dificuldades;
• deixá-los falar sobre o que sentem, vivem, esperam da escola e da vida
como um todo;
• fortalecer laços de amizade e confiança que, posteriormente, estenderão
aos colegas e aos professores, num ambiente cooperativo em que todos
tenham direito de se expressar, sejam respeitados e aprendam também a
respeitar.

Conforme Conceição (2011, p. 116):

A equipe escolar deve acreditar e potencializar sua habilidade


de reconhecer as dificuldades dos alunos; de manejar a

78
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

frustração diante de um resultado ruim dos alunos; de usar


sua instrumentalização para lidar com as dificuldades de
aprendizagem e de sociabilidade do grupo, oferecendo
interpretações sobre os fatos e receptividade para aceitar
interpretações diferentes das que considera correta.

Esse tipo de intervenção modifica naturalmente o comportamento dos


alunos, não por medo de castigos ou humilhações, mas pela compreensão de
suas responsabilidades, enquanto alunos e cidadãos do mundo.

Enfim, há um longo caminho a percorrer nesta investigação a respeito


dos fatores que podem desencadear a “indisciplina escolar”. Garcia (1990, p.
31) permite pensar a respeito disso, traçando um perfil da escola que existe,
diferentemente da escola que se deseja.

A escola que temos produz alunos sem identidade, sem


participação nos debates e decisões. Isto porque o currículo
não é adequado à realidade. As diversas realidades regionais
não são levadas em conta, os períodos de aulas e de férias
são cumpridos obrigatoriamente em todo o território nacional,
num total desconhecimento dos períodos sazonais (zona
rural), climáticos etc. Os nossos livros didáticos, cobrindo as
mais diversas realidades regionais e sociais, não respondem
às características dos alunos. O planejamento é elaborado
ignorando a participação dos alunos, da comunidade, da
memória histórica local e regional, numa postura autoritária. O
aluno sofre pressão de todas estas forças estranhas, e precisa
se ‘ajustar’. Caso contrário, é decidida pela escola a sua
‘inaptidão’ para ser aluno dela. A escola que queremos deverá
ser uma escola que envolva professores, alunos, orientadores
e supervisores, diretores e pessoal de apoio, criando um clima
de respeito à realidade, de participação, de liberdade, de amor,
integração e vida.

Enquanto se pensa na escola que se deseja, pressupõem-se que se tenta


melhorar a escola existente. A seguir, serão apresentados mais alguns problemas
da atualidade.

a) Bullying

O bullying representa um tipo de violência física ou verbal que, na realidade,


sempre existiu nas escolas, mas que atualmente é mais conhecido e preocupante.
“Em inglês, o verbo bully significa intimidar, dominar, perseguir, atormentar,
aterrorizar, oprimir” (GIACAGLIA; PENTEADO, 2012, p. 334). No Brasil, essa
nomenclatura é recente e não recebe tradução para o português.

79
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quadro 7 – Dez causas que podem levar ao bullying


6) Idade (normalmente
1) Discriminação de qualquer tipo.
adolescentes).
2) Preconceito, a causa mais comum do
7) Religião.
bullying.

3) Inveja de notas altas, de elogios ou de


8) Condição econômica.
roupas bonitas.

4) Ciúmes de amigas, professores ou 9) Etnia, raça.


namorados.

5) Tipo de corpo (bonito, feio, gordo,


10) Cor da pele.
magro, alto, baixo etc.).

Fonte: A autora, com base em Giacaglia e Penteado (2012, p. 334-335).

O orientador educacional precisa estar atento, pois dificilmente as vítimas de


bullying procuram ajuda de professores ou gestores, por vergonha ou medo de
represálias.

Há várias formas e níveis de gravidade para o bullying.


Constituem formas de bullying: xingamentos, provocações,
ameaças, socos, chutes, empurrões, até assassinatos,
apelidos pejorativos, divulgação de boatos, verdadeiros ou
falsos, e exclusão de alunos nas gangues ou simplesmente nas
atividades normais do dia a dia das escolas, como trabalhos
em grupos ou times de jogos (GIACAGLIA; PENTEADO, 2012,
p. 335).

Conforme a citação, existem várias formas de bullying, mas nos casos mais
graves, os alunos são agredidos ou são humilhados em público. Este tipo de
agressão física ou verbal pode vir a desencadear na vítima uma série de problemas
psicológicos, que poderão prejudicá-la tanto na escola, quanto fora dela.

Um problema que vem crescendo com a modernidade e com o acesso livre à


internet é o bullying virtual, ou seja, o cyberbullying:

Além do bullying real, uma nova forma dele é o cyberbullying,


por meio de fotos e vídeos postados na internet ou em
aparelhos celulares, em que colegas são ridicularizados ou
denegridos. Com a expansão do uso do celular e da internet,
o problema vem se agravando cada vez mais (GIACAGLIA;
PENTEADO, 2012, p. 336).

Quando o orientador educacional se depara com este tipo de situação na


escola, necessita, em conjunto com toda sua equipe de educadores, estudar o
problema e buscar soluções.

80
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Pensando nisso, segue uma lista de sugestões a serem seguidas,


especialmente pelo orientador educacional, baseadas em Giacaglia e Penteado
(2012, p. 341-342):

• procurar conhecer o que é o bullying, como se manifesta na prática, quais


são seus indícios, as possíveis causas e consequências;
• procurar documentos legais sobre o assunto e notícias de como ele vem
sendo tratado em diferentes escolas;
• estar atento para a possível existência ou a ocorrência de bullying na
escola;
• ao suspeitar de que haja bullying em uma determinada classe, verificar se
há casos de exclusão. Detectado um problema, estudá-lo mais a fundo
para saber suas causas e trabalhar os alunos envolvidos, para chegar a
uma solução;
• discutir, com os alunos e com seus responsáveis, preconceitos, como
forma de prevenir o bullying;
• convocar e realizar rotineiramente reuniões com professores e
funcionários da escola;
• realizar reuniões preventivas com alunos e, se for o caso, também
reuniões remediativas;
• oferecer palestras de esclarecimento para todos os pais, informando,
inclusive, sobre as implicações legais do exercício do bullying;
• atender às denúncias de vítimas de bullying e a seus pais ou responsáveis;
• ouvir professores e funcionários sobre a existência de casos de bullying
na escola;
• procurar soluções para os casos de bullying;
• sugerir à direção da escola, ao coordenador pedagógico e aos docentes
que incluam atividades extraclasse, como forma de canalizar a energia e
usar o tempo ocioso dos alunos para atividades educativas.

Toda forma de violência física, verbal, moral ou psicológica merece atenção,


tema este a ser tratado a seguir.

b) Violência

A violência deveria passar bem longe da escola, pois esta instituição é um


lugar de crianças e adolescentes, novas aprendizagens, novos conhecimentos,
novos desafios, novas descobertas, grandes amizades, muita interação,
cooperação e ajuda mútua. Deveria ser um lugar onde predominasse a paz, mas
nem sempre é assim, deve-se estar preparado para este cenário. “Desprestigiada
a escola, como instituição, e desprestigiados por todos, os professores, bem
como todos os adultos que nela atuam, tornam-se alvo fácil para a manifestação
de violência por parte dos alunos” (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 325).

81
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Giacaglia e Penteado (2010, p. 326) ajudam a compreender as possíveis


causas de violência na escola:

[...] muitos atribuem a violência nas escolas a causas externas


a ela, como a violência que campeia na sociedade, a reação
contra o autoritarismo, contra a situação de vida das pessoas,
contra o tipo de educação violenta que receberam. [...] há
quem atribua o aumento da violência nas escolas ao aumento
populacional não só nas grandes cidades, como também nas
próprias escolas. São muitas as possíveis causas, e esta
questão fica sem resposta. O que se pode supor é que haja
causas gerais para a violência na escola e contra ela, além de
possíveis causas específicas em cada caso.

Atividade de Estudos:

1) Diante de um quadro desolador de violência na escola, o que


precisa ser feito? Os integrantes da escola encontram-se
preparados para lidar com este problema? Qual é o papel do
orientador educacional diante da violência na escola? Registre
sua opinião:
__________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________

Para auxiliar na compreensão, segue uma lista com as principais ações que
caberão ao orientador educacional, com base em Giacaglia e Penteado (2010, p.
331-333):

A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

• Na qualidade de educador, o orientador educacional não pode ficar


alheio à violência envolvendo alunos, seja como praticantes, seja
enquanto vítimas dela.
• Sua atuação deve ser preventiva, não cabendo a ele a repressão
ou a punição.

82
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

• Seu âmbito de atuação vai desde o aluno até os professores,


funcionários, pais e diretor.
• Para melhor atuar, é necessário que o orientador educacional
estude e analise os tipos de manifestações violentas em geral e
procure estabelecer as causas desses tipos de violência.
• Bem preparado, o orientador educacional poderá usar as técnicas
de que dispõe para a prevenção da violência: palestras, dinâmicas
de grupo, atendimento a casos particulares de alunos, tanto
daqueles que apresentam comportamentos agressivos, como aos
que se sentem vítimas de agressões.
• É importante que o orientador educacional trabalhe também com os
pais, pois muitos casos de violência têm origem, direta ou indireta,
no comportamento dos pais no lar.
• Ele pode também contar com a criatividade dos alunos, a quem
deve pedir sugestões sobre o que fazer para prevenir a violência.
Tais sugestões podem vir de forma aberta ou por meio de caixa de
sugestões, de forma anônima ou confidencial.
• O orientador educacional deve se perguntar a respeito das causas
de comportamentos violentos na escola. Para maior compreensão
e tomada de providências, seguem algumas:
1. Seriam comportamentos próprios da exuberância juvenil?
2. Seriam manifestações da falta de atenção, de carinho ou de
limites dos pais?
3. Seria uma maneira de demonstrar ou desabafar o
descontentamento com uma escola que não lhes diz respeito e
que cobra muito deles?
4. Seria uma maneira de lidar com o tédio gerado pelo ócio?
5. Seria uma forma de chamar a atenção dos adultos, principalmente
dos pais?
6. Seria revolta contra os professores prepotentes que exigem
demais dos alunos?
7. Seria a sensação de uma escola totalmente afastada da realidade
e sem o menor significado para os alunos?
8. Seria a sensação de estar confinado em um ambiente que não
lhes diz respeito, quando há muita coisa mais interessante para
se fazer fora dele?
9. Seria a imposição de um código disciplinar sobre o qual eles não
foram chamados a opinar, em relação ao qual não assumiram
nenhum compromisso?
• Perguntas como essas devem ser feitas e analisadas pelo Serviço de
Orientação Educacional (SOE) e discutidas com toda a comunidade
que trabalha na escola, além dos responsáveis pelo aluno infrator.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 331-333).

83
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Procurar maneiras para evitar a violência “[...] não é uma tarefa apenas
do orientador educacional, mas de toda a comunidade escolar” (GIACAGLIA;
PENTEADO, 2010, p. 333).

As drogas contribuem fortemente para o aumento da violência na escola, a


seguir será possível compreender os motivos.

c) Drogas

Milhares de crianças e adolescentes do mundo têm abandonado a escola por


terem se tornado vítimas das drogas, e o pior, algumas delas tiveram seu primeiro
contato com este mal dentro da própria instituição.

Antigamente, esse tipo de preocupação era incomum, diante da tranquilidade,


relatada por Giacaglia e Penteado (2010, p. 318): “[...] os portões das escolas não
precisavam ser necessariamente trancados e a maior parte dos alunos podia ir a
pé ou de ônibus comum para as escolas. Era também impensável a necessidade
de policiais e de rondas nas cercanias dos estabelecimentos de ensino”.

De acordo com as autoras Giacaglia e Penteado (2010, p. 318), “hoje esse


quadro mudou sobremaneira e as drogas constituem preocupação dentro e fora
das escolas”.

Figura 18 – Drogas

Fonte: Disponível em: <http://jovempan.uol.com.br/noticias/


averdadesobreasdrogas/2012/10/E-preocupante-o-trafico-de-drogas-realizado-nas-
escolas-particulares-pelos-proprios-alunos.html>. Acesso em: 16 jun. 2017.

O problema com as drogas é muito sério. É preciso afastar as crianças e


jovens desse perigoso inimigo.

84
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

“Fica difícil entender por que, apesar de ter acesso a tanta informação,
crianças e jovens tornam-se dependentes de vícios, quer seja do cigarro, da bebida
alcóolica, de medicamentos ou mesmo de drogas mais pesadas” (PIANEZZER,
2013, p. 159). Os motivos seriam, segundo Giacaglia e Penteado (2010, p. 319):

[...] alguns o fazem meramente por curiosidade, outros como


forma de desafio aos adultos, por se tratar de algo proibido,
ou de mostrar independência, de se firmar perante seus
pares ou, ainda, usam o cigarro como forma de suprir certas
carências psicológicas para enfrentar a realidade e até fugir
dela. Por desinformação, ou falta de informação suficiente,
acham que podem experimentar e parar quando quiserem,
por mera decisão própria. Enquanto alguns, de fato, não se
viciam por terem experimentado drogas, para outros o perigo é
grande, pois ou possuem propensão física para se viciarem ou
descobrem que as drogas podem constituir uma forma de lidar
com os próprios problemas ou, ainda, por descobrirem nelas
uma fonte de prazer.

Figura 19 – A busca pelas drogas

Fonte: Disponível em: <http://febradeq.org.br/impulsividade-pode-


levar-adolescentes-as-drogas-2/>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Quanto mais informação, melhor. As crianças e jovens precisam ser alertados


dos reais perigos que as drogas trazem à vida de seus usuários. Segundo
Giacaglia e Penteado (2010, p. 320):

A situação é bastante alarmante. Estudos realizados em 2009,


nos Centros Estaduais de Atendimento, mostraram que o
número de atendimentos a menores, em dois anos, aumentou
107%, além de estarem sendo queimadas etapas na passagem
de drogas mais leves para as mais pesadas. Preocupado com
as dimensões que o problema vem assumindo na sociedade, o
governo federal disponibilizou verba especial para o combate
a elas.

85
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Diante deste preocupante cenário, questiona-se se a escola precisa assumir


mais esta responsabilidade; o que fazer diante deste problema; e a quem recorrer.

Os educadores que atuam na escola, diretores, equipe


técnica, docentes, profissionais da área da saúde e todos
os demais funcionários, como merendeiras, inspetores de
alunos, profissionais da limpeza, enfim, todos devem estar
atentos e contribuir para o combate ao uso e ao tráfico de
drogas nas escolas e nas suas vizinhanças. Isso não significa
que devam atuar diretamente no combate às drogas, pois se
trata de assunto perigoso, dado o poder do tráfico. Uma vez
constatado ou sob suspeita do problema, esses educadores
devem procurar os canais competentes para lidar com ele
(GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 321).

Como alerta a citação anterior, o combate às drogas é uma tarefa de todos


os profissionais da escola e da comunidade em geral, ou seja, não cabe ao
orientador educacional resolvê-la sozinho, mas buscar parcerias com os órgãos
competentes, na prevenção e combate às drogas na escola.

Segundo Giacaglia e Penteado (2010, p. 322), são atribuições específicas do


orientador educacional no que se refere às drogas:

ATRIBUIÇÕES DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

1. Estar muito bem informado sobre as drogas: tipos, características,


estatísticas gerais de uso mais comuns consumidos na região.
2. Conhecer os principais indícios de uso, tais como: mudanças
rápidas de comportamento, furtos e roubos, até na própria
residência do aluno, agressividade, ansiedade, inquietação,
irritação, pupilas dilatadas, desinteresse pela escola, diminuição
do rendimento escolar, falta de apetite, náuseas.
3. Solicitar a colaboração dos professores de Ciências e de Biologia
no sentido de mostrarem as consequências do emprego de
drogas, da dependência, solicitando, inclusive, trabalhos escolares
sobre o tema.
4. Ser capaz de detectar alunos que possivelmente estariam fazendo
uso de drogas.
5. Prover informações sobre o assunto para alunos, pais, professores
e demais funcionários.
6. Trazer especialistas de várias áreas relevantes para discorrer
sobre o assunto.

86
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

7. Se possível e na medida do necessário, realizar excursões com os


alunos para mostrar as consequências do emprego de drogas.
8. Trabalhar a autoafirmação dos alunos para que não precisem
partir para o uso de drogas, detectando e encaminhando para
psicólogos alunos que aparentam ser mais vulneráveis, sempre
tomando todos os cuidados éticos que o assunto requer.
9. Trazer, se possível e na medida do necessário, depoimentos de
ex-drogados.
10. Passar filmes e vídeos educativos para os alunos.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 322).

Tratando-se de filmes educativos, a tecnologia pode ser uma grande aliada


quando o assunto é informação e entretenimento, mas também pode ser um
problema se houver mau uso da mesma, assunto a ser tratado na sequência.

d) Tecnologias

De acordo com Pianezzer (2013, p. 134-135), durante a leitura deste caderno


de estudos, o mundo se transforma, especialmente na questão da tecnologia:

Aparelhos eletrônicos estão sendo aprimorados numa


velocidade assustadora; fábricas têm sua produção aumentada
e as máquinas substituindo o trabalho humano; pessoas estão
circulando em carros, metrôs, navios ou aviões cada vez
mais sofisticados; espectadores sentem-se fascinados pelos
cinemas de última geração; milhões de indivíduos estão, neste
momento, assistindo televisão: cada vez maior, mais fininha
e com imagens impressionantes; bilhões de internautas estão
digitando em seus computadores ou falando ao celular, e tudo
isso, num movimento desenfreado, acelerado e contínuo.

Parece impossível viver sem toda essa tecnologia, pois o hábito de utilizar
estes aparelhos e seus benefícios faz pensar ser normal, mas nem sempre foi
assim, e nem todo mundo sabe usar a tecnologia a seu favor:

87
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 20 – Tecnologia para todos

Fonte: Disponível em: <http://leoninadigital.blogspot.com.br/2008/05/


cdigo-de-barras.html>. Acesso em: 16 jun. 2017.

“A tecnologia está em toda a parte e acessível a todas as pessoas, de qualquer


idade, sexo, cor ou nacionalidade” (PIANEZZER, 2013, p. 136). A questão é que
nem todo mundo tem condições financeiras para usufruir desse recurso.

Há muito para se falar a respeito da tecnologia, mas o foco será dentro das
escolas e na atuação do orientador educacional, diante deste novo cenário.

O primeiro aparelho que chegou às escolas para facilitar a vida dos


estudantes foi a calculadora e, junto com ela, muitas dúvidas, conforme nos relata
Pianezzer (2013, p. 138):

Quadro 8 – A chegada da calculadora


Que tal utilizá-la apenas para conferir
A escola deve permitir seu uso?
os exercícios?
A máquina pensará no lugar do aluno? Como controlar e impedir seu uso?
Com a calculadora, como fica o raciocí-
Ela deve constar na lista de materiais?
nio lógico?
O aluno ficará com preguiça de pensar E os que não tiverem condições de
se puder usar sempre a máquina? comprar uma calculadora, como ficam?
Ela poderá ser usada em dia de prova? Ela agilizará a resolução de problemas?
Fonte: Pianezzer (2013, p. 138).

88
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Tudo é uma questão de bom senso. Conforme Giacaglia e Penteado (2010,


p. 312):

[...] a permissão ou não de seu uso, em cada série escolar e


em cada circunstância, deve ser discutida pelos professores,
direção, pessoal técnico, pais e alunos mais velhos. As regras
devem ser claras, explícitas e respeitadas. Algumas dessas
máquinas são tão avançadas que resolvem os problemas
propostos nas provas com a mínima interferência dos alunos.

Da mesma forma como aconteceu com a calculadora, anos depois aconteceu


com o computador (internet) e o celular nos ambientes escolares. Estes aparelhos
geraram e continuam gerando muita discussão a respeito de seus usos.

Sabemos que não há como fugir da tecnologia, não há como


impedir o acesso dos alunos a elas, mas então, o que fazer?
O orientador educacional deverá manifestar-se, sugerindo
o estabelecimento de regras de uso do computador/internet
e celular na escola. Para tanto, necessitará envolver alunos,
pais, professores e demais funcionários, como membros da
comunidade escolar, nesta importante decisão com direito
a escolha e votação das regras, em Assembleia Geral. Este
movimento é mais democrático, pois percebe-se que após a
votação pelas propostas e decisão da maioria, a tendência
é que os alunos cumpram com tranquilidade o que ficou
estabelecido, já que vivenciaram e participaram de todo o
processo, e aí, não há o que questionar (PIANEZZER, 2013,
p. 138-139).

A internet auxilia muito na vida estudantil das crianças e jovens, especialmente


quando o assunto é pesquisa. Porém, vale ressaltar que existem certos cuidados
ao utilizar a pesquisa como fonte de conhecimento, e você, no papel de orientador
educacional, precisa conhecer para auxiliar seus alunos e professores, com base
em Pianezzer (2013, p. 139):

• ensine seus alunos a pesquisarem em outras fontes bibliográficas,


inclusive em livros impressos;
• incentive-os a realizar uma leitura crítica a respeito do assunto pesquisado;
• estimule-os a copiar as principais informações, para retomá-las sempre
que necessário;
• questione-os a respeito da síntese e compreensão daquilo que está sendo
pesquisado.

Além disso, não esqueça de selecionar bons sites de busca; ajudar os alunos
a perceber os que são confiáveis e os que não são confiáveis para a pesquisa, e
por fim, não deixe de explicar o que é plágio, pois não se pode apenas copiar e
colar informações, em nome da pesquisa.

89
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Não há mais como ignorar ou proibir a utilização da internet dentro e fora da


escola, até porque ela é uma ferramenta importante, quando bem utilizada.

Tal como ocorreu com a televisão, a internet pode educar,


deseducar e ser até perigosa para os seres em formação.
O seu uso passa a ser mais uma preocupação de todos os
educadores, inclusive dos orientadores educacionais. A
internet pode ser um instrumento perigoso nas mãos dos
jovens, basta atentar para os maus usos de que se tem notícia.
Além da pedofilia, com extensão internacional, ela possibilita o
linchamento moral de pessoas, o denegrir de reputações, jogos
que simulam estupros e outros tipos de violência. Ela também
pode viciar pessoas no seu uso, retirando-as da convivência
social e de afazeres, bem como de exercícios físicos e de uma
vida mais saudável (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 315).

E no caso dos telefones celulares, como lidar e “competir” com eles? Dentro
da escola encontra-se um caminho, de acordo com Pianezzer (2013, p. 141):

Sua utilização até hoje ainda causa muitas controvérsias entre


as escolas: umas permitem que os alunos utilizem o celular
livremente, inclusive como aliado na educação; outras não
permitem seu uso de jeito nenhum; há ainda as que permitem
que os alunos o utilizem durante os intervalos... enfim, cada
escola tem autonomia para decidir o que fazer em relação
ao uso ou não do aparelho celular dentro da escola, mas já
podemos antecipar que, mesmo estabelecendo regras, o
controle é muito difícil.

Figura 21 – Telefone

Fonte: Disponível em: <http://vidadesuporte.com.br/tag/


tecnologia/>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Ao circular pelos corredores e observar o início da aula, o recreio e o final


da aula de uma escola que libera o uso do celular, “o orientador educacional
perceberá facilmente o quanto, de fato, ele ‘rouba’ o tempo de lanche, de
socialização com os colegas e de brincadeiras ao ar livre dos estudantes. É um
jeito novo de comunicação e interação” (PIANEZZER, 2013, p. 141).

90
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Mesmo parecendo assustador, sabe-se que este é um caminho sem volta,


pois não há como competir com a tecnologia; não há como retornar; não há como
proibir ou ignorar a existência destes meios de comunicação na vida das pessoas.

Diante deste novo cenário, será exigido sabedoria, criatividade e


discernimento para a melhor utilização destes recursos. Precisa-se atualizar
tecnologicamente, caso contrário, pode-se vir a ter sérios problemas, conforme
nos alertam Giacaglia e Penteado (2010, p. 314):

A formação dos professores, já considerada problemática,


está se tornando cada vez mais difícil, pois esses professores
antes, aos olhos dos alunos, detentores de todo o saber, irão
deparar-se com alunos avançados no uso dos instrumentos
eletrônicos e no acesso a conhecimentos, de tal forma que,
não obstante os anos de estudos dos professores, estes não
conseguem acompanhar todo o conhecimento facilmente
obtido na internet. Professores defasados deixam alunos
enfadados nas salas de aula em que devem permanecer por
horas. Estes, por consequência, muitas vezes, reagem com
desacato e até indisciplina, acabando tais alunos na sala do
orientador educacional.

Esta sala, mencionada pelas autoras, pode ser um lugar de grandes


conversas, descobertas e reflexões, deixando de ser o espaço mais temido pelos
alunos. Isto só acontecerá se ela for uma sala destinada ao Serviço de Orientação
Educacional (SOE) e não apenas um espaço de “levar broncas, suspensões ou
advertências, com fins disciplinares”. A seguir, a próxima reflexão.

SerViço De Orientação Educacional


(SOE)
Bem como não existe apenas um modelo de Projeto Político-Pedagógico
a ser seguido pela escola, também não existe um padrão para o SOE, pois ele
precisa ser elaborado pelo orientador educacional, mediante as necessidades de
cada instituição.

Antes de prosseguir, faz-se necessária uma explicação mais aprofundada


com o auxílio do quadro-síntese, a partir de Giacaglia e Penteado (2010, p. 85-
87), a respeito deste serviço:

91
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quadro 9 – Serviço de orientação educacional


O que é o Que docu- Quem é o
Por que é im-
Serviço de Cada escola mentos pre- profissional
portante ter um
Orientação precisa ter o cisam ficar responsável
espaço próprio
Educacional seu SOE? arquivados na pelo SOE na
para o SOE?
(SOE)? sala do SOE? escola?

É o local Ainda que se A existência de Materiais O orientador


onde se chegasse a um um local próprio próprios do educacio-
encontram consenso, un- para o SOE orientador nal, será o
concentra- indo todos os ti- é importante, educacional, responsável
das e inte- pos de escolas porque nele muitas vez- pelo SOE,
gradas, nos de uma região; se concentra es, de na- porém, vale
estabeleci- se conseguisse o trabalho do tureza confi- lembrar que
mentos es- a adesão de orientador edu- dencial sobre a existência
colares, as todas elas a um cacional; nele é os alunos e de um local
atividades mesmo SOE; e mantido o ma- seus famil- predetermi-
de OE, se optasse, de terial próprio da iares, são nado não sig-
bem como acordo com o OE e também arquivados nifica, entre-
os perten- modelo francês porque, para a também no tanto, onde
ces desse ou com o mod- execução de SOE, doc- o orientador
serviço. elo norte-amer- seu trabalho, o umentos educacional
Portanto, icano, pela orientador edu- pedagógicos deva per-
além de se criação de um cacional coleta ou de outra manecer por
caracterizar SOE sediado e conserva da- natureza que todo o seu
como um e funcionando dos a respeito não podem período de
serviço, o fora de um dos alunos e ficar guar- trabalho con-
SOE con- dado estabelec- seus familiares. dados em finado. Da-
stitui um imento de ensi- Cada escola, qualquer lu- das as suas
ponto de no, para prestar por menor que gar ou espal- atribuições
referência serviços de OE seja, precisa ter hados pela e à nature-
da OE em a mais de uma um espaço fixo, escola. za de suas
cada escola. escola de uma no mínimo uma funções, ele
dada comuni- sala, para o poderá estar
dade ou região, orientador edu- - e provavel-
seria desejável cacional atender mente estará
a existência de alunos, pais e - frequentan-
um local, em comunidade em do vários
cada escola, geral, a qual ele locais da es-
dedicado à OE. designará como cola, durante
SOE. sua jornada
de trabalho.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 85-87).

92
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Na hora de construir o Plano Anual do Orientador Educacional, deve-se


pensar nas expectativas e nos objetivos gerais e específicos, de curto, médio ou
longo prazo, que precisam ser divulgados aos demais profissionais que atuam na
escola, além dos pais e alunos.

Giacaglia e Penteado (2010, p. 116-120) trazem subsídios para a elaboração


de dois quadros distintos: um deles se refere aos objetivos gerais do SOE e o
outro aos objetivos específicos de cada área.

OBJETIVOS GERAIS

• Assistir o aluno no desenvolvimento de sua capacidade de fazer


opções, levando-o a identificar suas potencialidades e limitações, as
do meio e a adquirir habilidades necessárias ao processo decisório.
• Colaborar com a direção e professores na realização do processo
educativo, visando ao desenvolvimento integral e ajustamento do
educando.
• Atender aos alunos nas várias áreas da Orientação Educacional.
• Manter contato com os pais ou responsáveis pelos alunos.
• Atuar, de forma preventiva, em relação a prováveis problemas que
poderiam envolver alunos.
• Coletar e sistematizar informações necessárias ao desenvolvimento
das atividades do orientador.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 116-120).

Em relação aos objetivos específicos, foi apresentado (baseado nas mesmas


autoras) um quadro síntese com as informações que julgamos mais importantes
para facilitar sua leitura e compreensão do assunto. Neste quadro serão
abordados os objetivos:

• em relação à área de orientação à família;


• quanto à área de orientação escolar;
• quanto à educação moral, cívica e religiosa;
• quanto à integração e ajustamento dos alunos à escola;
• em relação à saúde física e mental dos alunos;
• quanto à área de orientação vocacional;
• para a área de acompanhamento pós-escolar;
• para a área de estágio supervisionado em orientação educacional.

93
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quadro 10 – Objetivos específicos

• colaborar com a família no desenvolvimento e educação


do aluno;
• contribuir para o processo de integração esco-
la-família-comunidade, atuando como elemento de
ligação e comunicação entre todos;
• desenvolver atitudes favoráveis à efetiva participação
Em relação à área dos pais na tarefa educativa;
de orientação à • orientar os pais para que tenham atitudes corretas em
família: relação ao estudo dos filhos;
• identificar possíveis influências do ambiente familiar que
possam prejudicar o desempenho do aluno na escola e
atuar sobre eles;
• realizar palestras e promover discussões para a orien-
tação dos pais diante de problemas;
• promover atividades que possam trazer as famílias à
escola.
• colaborar na análise dos indicadores de aproveitamento
escolar, evasão, repetência e absenteísmo;
• desenvolver uma ação integrada com o corpo docente
e a coordenação pedagógica, visando à melhoria do ren-
dimento escolar, por meio da aquisição de bons hábitos
Quanto à área de
de estudo;
orientação escolar:
• orientar e auxiliar professores na formação de grupos
de estudos de alunos, de acordo com as características
da comunidade;
• identificar e assistir alunos que apresentem dificuldades
de ajustamento à escola, problemas de rendimento esco-
lar e dificuldades.
• levar o aluno a analisar, discutir, vivenciar e desenvolver
valores, atitudes e comportamentos fundamentados em
princípios universais;
• desenvolver o respeito à dignidade e às liberdades fun-
damentais do homem;
Quanto à educação • desenvolver a compreensão dos direitos e deveres da
moral, cívica e reli- pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos
giosa: demais grupos que compõem a comunidade e a cultura
em que vive o aluno;
• despertar no educando a consciência da liberdade, o
respeito pelas diferenças individuais, o sentimento de re-
sponsabilidade e confiança nos meios pacíficos para o
encaminhamento e solução de problemas humanos.

94
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

• recepcionar pais de alunos novos e esses educandos;


• colaborar com a equipe escolar na adaptação e inte-
gração do aluno à escola;
Quanto à inte- • desenvolver relações humanas cooperativas, visando à
gração e ajusta- formação de um espírito de equipe na escola;
mento dos alunos à • desenvolver no aluno atitudes de cooperação, sociabi-
escola: lidade, consideração, responsabilidade, tolerância e res-
peito às diferenças individuais;
• estimular a cooperação dos professores na identifi-
cação, encaminhamento e ajuda a alunos com problemas
ou dificuldades de ajustamento.

• assistir o aluno nas áreas afetiva e sexual, de acordo


com a filosofia da escola e os valores da família;
• atuar preventiva e remediativamente, via encaminham-
ento, em relação à saúde física e mental dos alunos;
Em relação à
• complementar o papel da família no que diz respeito aos
saúde física e men-
aspectos afetivo e sexual do desenvolvimento do aluno;
tal dos alunos:
• identificar indícios de uso e/ou tráfico de drogas e de
violência na escola;
• elaborar e implementar planos para a prevenção de
problemas que costumam ou que podem vir a ocorrer
com os alunos.

• levar o aluno a vivenciar situações de aprendizagem fa-


voráveis à realização de opções profissionais racionais.
• desenvolver atitudes de valorização do trabalho como
meio de realização pessoal e fator de desenvolvimento
social;
Quanto à área de
• levar o aluno a reconhecer a necessidade de assumir o
orientação voca-
papel de agente da sua escolha profissional;
cional:
• levar o aluno a identificar suas potencialidades, carac-
terísticas básicas de personalidade e limitações, prepa-
rando-o para o exercício de suas opções profissionais;
• desenvolver o autoconhecimento do aluno por meio de
técnicas de sondagem de interesses, aptidões e valores,
visando a uma escolha vocacional adequada.

95
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• contribuir para a diminuição da evasão escolar, por meio


de providências relacionadas aos fatores identificados
como causadores desse fenômeno;
• conhecer opiniões e sugestões de ex-alunos sobre a
Para a área de
programação desenvolvida pela escola;
acompanhamento
• identificar indicadores que expressem a adequação ou
pós-escolar:
inadequação do currículo da escola;
• propiciar ajuda, apoio, esclarecimento, informações a
ex-alunos, sempre que necessário;
• estimular a cooperação de ex-alunos nas atividades e
necessidades da escola.

• colaborar com a formação e preparo do futuro profis-


sional;
• sensibilizar o estagiário para as responsabilidades do
orientador educacional e para a necessidade de uma
preparação específica, visando a uma maior eficiência no
seu futuro trabalho;
• levar o estagiário a uma percepção realista das qual-
Para a área de es- idades necessárias ao desempenho da função que es-
tágio supervisiona- colheu;
do em Orientação • levar o estagiário a estabelecer um vínculo significativo
Educacional: entre a teoria e a prática, permitindo, assim, que ele se
posicione e forme sua filosofia educacional;
• levar o estagiário a observar e vivenciar experiências
relativas ao planejamento, implantação, desenvolvimento
e avaliação do SOE.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 116-120).

De posse dessa lista de objetivos específicos, torna-se mais fácil elaborar o


Plano Anual do Orientador Educacional.

Para que o orientador educacional possa exercer, da melhor


forma possível, as suas funções, constitui condição básica a
existência de um SOE bem organizado. Portanto, ao assumir
o cargo, ele deverá verificar, primeiramente, se já existe um
SOE na escola. Se não houver, ele irá implantá-lo. Havendo
tal serviço, a primeira providência será a análise do seu nível
de organização. Qualquer que seja o caso, deve-se considerar
que, como cada tipo de escola e cada unidade escolar
tem características, recursos e limitações próprios, estes
necessitam ser tomados como ponto de partida para o trabalho
a ser desenvolvido (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 127).

96
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

EstratÉGias e TÉcnicas de Ação


EmPreGadas no SOE Pelo Orientador
Educacional
Para alcançar seus objetivos no SOE, o orientador educacional faz uso de
diferentes estratégias a fim de levantar dados, planejar ações ou ainda, atrair
alunos, pais e a comunidade à escola.

Pensando nisso, serão abordadas, a partir dos escritos de Giacaglia e


Penteado (2010, p. 244-251), algumas destas estratégias:

ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO ORIENTADOR EDUCACIONAL

• Uma das estratégias empregadas pelo orientador educacional para


coleta de dados, consulta ou análise é constituída pela aplicação de
questionários.

• O orientador educacional não deve coletar dados inúteis apenas


para mostrar serviço. Ele os coleta somente tendo em vista alguma
finalidade importante.

• Estas estratégias empregadas pelo orientador educacional têm


finalidades diagnósticas, que são empregadas apenas como
subsídios para implementar as estratégias de ação.

• Os dados obtidos por meio dos questionários são complementados


ou esclarecidos por outras estratégias usadas pelo orientador
educacional, como as entrevistas e as observações.

• As estratégias de ação desdobram-se em estratégias preventivas


(que se antecipam aos problemas, para que eles não ocorram) e
estratégias remediativas (na busca de uma solução para o problema
apresentado).

• Algumas vezes, o orientador educacional precisa empregar


estratégias que são ao mesmo tempo remediativas e preventivas.
No caso de indisciplina, por exemplo, não basta punir os culpados,
mas precisará encontrar uma maneira de acabar com ela.

97
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• Entrevistas: a entrevista com os alunos e/ou pais, professores ou


funcionários poderá ser marcada por convocação do SOE ou por
solicitação dos interessados. As entrevistas, sempre que possível,
devem ser agendadas. Deve haver objetividade na prestação das
informações e aproveitamento do tempo. Terminada a entrevista,
deve-se fazer um registro do que foi tratado e colocá-lo na pasta do
aluno, do professor ou do funcionário, conforme o caso.

• As entrevistas tanto podem ser solicitadas pelos pais para pedir


esclarecimentos, orientações ou falar sobre dificuldades escolares
ou problemas de relacionamento de seus filhos; como podem
ser convocadas pelo orientador educacional para tratar do baixo
rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem, problemas de
disciplina ou de questões na família que estejam interferindo no
desempenho escolar.

• Reuniões: o orientador educacional costuma realizar vários tipos


de reuniões, seja com alunos e/ou com pais, seja com o pessoal
que atua na escola e até com elementos da comunidade. Ele
deverá planejar bem tais reuniões, pois elas constituem o recurso
mais prático e frequente de interação escola-família, tornando-
se também o mais comum. São pré-requisitos: boa organização
e planejamento; periodicidade, datas, duração e escolha de
horários favoráveis à presença do maior número possível de pais;
pontualidade, elaboração de pautas contendo temática de interesse
geral, convocação por escrito e local adequado. Não se deve fazer
reuniões muito longas, pois costumam cansar os participantes,
desestimulando-os para as próximas. Deve-se começá-las na
hora marcada, com qualquer número de presentes, admitindo-se a
entrada de retardatários que não tenham podido chegar no horário.

De acordo com Conceição (2011, p. 52):

Acompanhar o desenvolvimento dos filhos é a motivação


dos pais para participar das reuniões coletivas que,
nesse segmento, variam muito em formato e frequência.
Algumas instituições apresentam o panorama da
série no início do ano é só realizam outras reuniões
em caráter excepcional; outras, as promovem a cada
bimestre ou trimestre; há ainda as que não oferecem
essa possibilidade, remetendo os documentos aos pais
e atendendo-os em separado, quando solicitadas.

• Em todas as ocasiões, deve-se deixar claro que não é o momento


para tratar assuntos particulares relativos a filhos e/ou professores,

98
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

ou, ainda, fazer reclamações e repreensões em público. Esses


assuntos deverão ser tratados em entrevistas agendadas.

Conceição (2011, p. 52) traz a seguinte reflexão:

[...] as reuniões são tratadas como demanda da escola,


com caráter informativo, prestação de informações
relevantes. Nada contra isso, mas alguém já perguntou
aos pais o que eles esperam dessas reuniões? Se
preferem as conversas privadas, deixando para a esfera
pública o conhecimento dos demais pais? Se desejam
debater assuntos interessantes e trocar experiências?

Exemplos de pautas de reuniões do SOE com os pais de alunos:

Pauta para a primeira reunião ordinária

1. Apresentação do orientador educacional e do SOE.


2. Sistemática da reunião (finalidade, duração, o que deverá ocorrer).
3. Assuntos a serem tratados.
4. Objetivos do SOE para o ano letivo.
5. Cronograma para o primeiro semestre.
6. O que se espera dos pais.
7. Canais de comunicação entre pais e escola e entre escola e pais.
8. O que está previsto para a próxima reunião.
9. Assinar folha de presença.
10. Esclarecimento de dúvidas e sugestões.

Pauta de reunião ordinária semestral ou bimestral

1. Consecução dos objetivos do primeiro semestre (ou bimestre).


2. Proposição do objetivo para o segundo semestre (ou bimestre).
3. Avisos gerais do SOE e comunicações gerais para os pais.
4. Preparo e pauta para a próxima reunião.
5. Esclarecimento de dúvidas e sugestões.

Pauta para a última reunião ordinária do ano

1. Avaliação geral do trabalho do SOE e da atuação junto às


famílias.
2. Avisos gerais do SOE e da escola.
3. Comunicações, dúvidas e sugestões dos familiares.

• Palestras: outro tipo de estratégia comumente empregada pelo ori-


entador educacional são as palestras. Estas são recursos valiosos

99
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

que podem ser usados tanto na escola como na comunidade. Na


escola, poderão destinar-se a todos, como também ser direcionadas
apenas a determinados segmentos, como alunos, professores, pais
etc., dependendo do que deva ser tratado. O tema da palestra deve
ser amplo, de interesse geral e transmitido em linguagem adequada
à plateia à qual se destina, além de bem elaborado, fundamentado e
dosado.

• A palestra não deve ser muito longa, prevendo-se um tempo, ao final,


para a proposição de perguntas, esclarecimento de dúvidas e coleta
de sugestões para as próximas palestras.

• Várias estratégias empregadas pelo orientador educacional visam at-


rair os pais e alguns membros da comunidade para a escola. Além
dos fatos relativos à vida escolar do aluno, outra maneira de atrair
os responsáveis por ele à escola é a realização de eventos abertos
ao público. Havendo condições, é possível, ainda, recorrer a festas,
como as juninas, da primavera, de aniversário da escola ou outras de
âmbito mais amplo. Tais eventos - pelo seu caráter festivo e de lazer
- contribuem para desvincular a ideia de que a presença de pais na
escola significa reclamação sobre o aluno. É importante mostrar que
as relações escola-família não se restringem a punições ou recrimi-
nações mútuas e, sim, no espírito cooperativo e integrativo.

• A partir das informações colhidas de várias fontes e do convívio nas


circunstâncias já descritas, o orientador educacional terá a oportuni-
dade de conhecer melhor os pais e saber do interesse, das capaci-
dades e da disponibilidade deles para colaborar com as atividades
da escola.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 244-251).

Modelos de Instrumentos Necessários


ao SOE
“Tanto a organização do SOE como a elaboração de diferentes instrumentos que
visam à obtenção de informações necessárias para agilizar as suas atividades exigem
tempo, conhecimento e experiência” (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 134).

100
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Para auxiliar na compreensão das estratégias e técnicas utilizadas no


SOE, a seguir, alguns modelos que servirão apenas como sugestões, podendo
(e devendo) sofrer alterações de forma a adaptar-se à realidade do trabalho
desenvolvido na escola. Estes modelos foram selecionados a partir de Giacaglia e
Penteado (2010, p. 135-137-141).

MODELO DE COMUNICAÇÃO DE OCORRÊNCIA EM


SALA DE AULA DO PROFESSOR PARA O SOE

Aluno
Série

1. Descrição objetiva do fato ocorrido


2. Participação de outros alunos na ocorrência. Quais? Como?
3. O que foi feito a respeito na ocasião?
4. Qual a frequência do ocorrido?
5. O que tem sido feito em ocasiões anteriores?

Professor
Disciplina
Data

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 135-137-141).

MODELO DE IDENTIFICAÇÃO DE PROFESSORES E


DE FUNCIONÁRIOS

1. Nome
2. Cargo ou função na escola
3. Tarefas exercidas ou matéria(s) lecionada(s)
4. Endereço residencial
5. Telefone para contato
6. Horário de trabalho na escola
7. Outro(s) local(is) de trabalho
Endereço: Telefone: Horário de trabalho:

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 135-137-141).

101
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

MODELO DE CONTROLE DE COMUNICAÇÕES

Comunicações enviadas
Para quem Assunto Resolvido?
Pais dos alunos
1.
2.
3.
Etc.

Professores
1.
2.
3.
Etc.

Funcionários
1.
2.
3.
Etc.

Outros
1.
2.
3.
Etc.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 135-137-141).

De acordo com Pianezzer (2013, p. 177):

O orientador educacional necessita adaptar as técnicas e


estratégias do SOE aqui sugeridas, à realidade da instituição
em que atua, traçando metas, executando planejamentos e,
consequentemente, buscando resultados. Para isso, pode
amparar-se em instrumentos/modelos já existentes ou optar
por construir novos, gerando, desta forma, maneiras singulares
de agir e atuar dentro do SOE.

Depois de finalizado o trabalho do SOE durante o ano letivo, é o momento de


avaliar a atuação, assunto a ser tratado na sequência.

102
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

AValiação da Atuação do SOE


Como visto anteriormente, quando o ano começa, o orientador educacional
estabelece seu plano de ação, pensando formas de ação e intervenção pedagógicas
para o SOE, e “quando o ano termina, é coerente que este mesmo profissional
realize uma avaliação em relação ao que planejou e à atuação do Serviço de
Orientação Educacional, dentro da escola” (PIANEZZER, 2013, p. 177).

Avaliar o processo é fundamental, para que os possíveis sucessos ou


fracassos sejam analisados com coerência e sabedoria, dentro dos objetivos
gerais e específicos que se pretendia alcançar.

Terminado o processo de avaliação, deverá ser redigido um


relatório do qual constará tudo o que foi alcançado de modo
plenamente satisfatório; o que deve ser reformulado; quais
metas não foram atingidas com o levantamento das possíveis
causas para isso; as sugestões e perspectivas para o próximo
ano (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 284).

Surgem questões importantes, como: de que forma avaliar; quais questões


levantar; e como realizar o registro para facilitar a escrita do relatório. Pensando
nisso, a seguir um exemplo de planilha de avaliações da atuação do SOE,
apresentada por Giacaglia e Penteado (2010, p. 285-286):

AVALIAÇÃO DO SOE

Ano letivo__________
Objetivos e metas finais totalmente cumpridas a contento:
1.
2.
3.
Etc.
Sugestões para o próximo ano:
1.
2.
3.
Etc.
Objetivos e metas parcialmente cumpridas:
1.
2.
3.
Etc.

103
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Razões para o não cumprimento completo:


1.
2.
3.
Etc.
Sugestões para o(s) próximo(s) ano(s):
1.
2.
3.
Etc.
Objetivos e metas não cumpridas:
1.
2.
3.
Etc.
Razões para o não cumprimento:
1.
2.
3.
Etc.
Sugestões para o(s) próximo(s) ano(s):
1.
2.
3.
Etc.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 285-286).

Partindo desta avaliação em forma de sondagem, o orientador educacional


poderá estabelecer novas metas para o SOE, refletindo sobre as potencialidades
e fragilidades deste serviço dentro da escola.

Quando se conclui que algumas metas do SOE não foram atingidas, deve-se
buscar soluções e não culpados, para que haja crescimento coletivo, cooperação
e superação de problemas, numa crescente busca por melhorias.

104
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

Figura 22 – Trabalho coletivo

Fonte: Disponível em: <http://www.vltadvogados.com.br/


portoalegre/parceiros>. Acesso em: 17 de jun. 2017.

A partir disso, o orientador educacional sentir-se-á mais preparado e seguro,


diante dos relevantes aspectos e desafios do cotidiano.

Atividade de Estudos:

1) Neste capítulo aprendemos sobre todos os olhares que o


orientador educacional precisa ter no exercício de sua função,
desde as questões pedagógicas às questões sociais, emocionais
e culturais que envolvem o educando e a comunidade escolar.
A partir de suas percepções, monte um ciclo de atividades
essenciais a um orientador educacional:

Orientação
Educacional

105
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2) Analise o ciclo que você acabou de construir e, a partir dele,


elenque pelo menos 10 características marcantes para um
orientador educacional contemporâneo:
_______________________________________________________
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

AlGumas ConsideraçÕes
Neste capítulo vimos que quando o orientador educacional tem consciência a
respeito da importância que o lado social traz à vida dos estudantes, ele passa a
enxergá-los de maneira global, levando em consideração, também, sua vida fora
da escola. Dessa forma, ele valoriza a diversidade em que estão inseridos seus
estudantes, quer sejam elas culturais, religiosas ou de valores, e compreende
o quanto assuntos/problemas como drogas, violência ou bullying interferem
diretamente na aprendizagem dos mesmos.

Compreendemos também que o orientador educacional necessita traçar


metas importantes com a equipe de professores e demais profissionais da escola,
na condução, aconselhamento, orientação e, se possível, resolução de problemas
ou necessidades da comunidade escolar, garantindo a inclusão e a adaptação de
todos os alunos.

E para finalizar o capítulo, trouxemos informações a respeito do Serviço de


Orientação Educacional, o SOE, que reforçaram a importância da postura que
o orientador educacional deve manter diante dos desafios encontrados; a ética

106
Capítulo 2 A FORMAÇÃO DO ORIENTADOR: GESTOR NO CONTEXTO
DA ATUALIDADE

no tratamento com alunos, pais ou professores; o respeito pela privacidade; o


olhar atento, o ouvido disponível e o coração aberto para ajudar, aconselhar e
orientar; a empatia, a parceria e a solidariedade junto à comunidade escolar e a
cumplicidade que se dá no doar-se ao outro, pelo outro.

Desta forma, encerramos o segundo capítulo e já lhe convidamos a continuar


conosco, pois o terceiro capítulo será igualmente especial. Até mais!

ReFerÊncias
ALMEIDA, Claudia Mara de; SOARES, Kátia Cristina Dambiki. Pedagogo esco-
lar: as funções supervisora e orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes


e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da União], Brasília, DF, 20 dez.
1996.

CONCEIÇÃO, Lilian Feingold. Coordenação pedagógica e orientação educa-


cional: princípios e ações em formação de professores e formação do estudante.
2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.

FOLBERG, Maria Nestrovsky. (Org.) Orientação educacional em questão. Por-


to Alegre: Movimento, 1984.

GARCIA, Regina Leite. (Org.) Orientação educacional: o trabalho na escola.


São Paulo: Loyola, 1990.

GIACAGLIA, Lia Renata Angelini; PENTEADO, Wilma Millan Alves. Orientação


educacional na prática: princípios, histórico, legislação, técnicas, instrumentos.
6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa Zippin. (Org.). Supervisão e orientação ed-


ucacional: perspectivas de integração na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

______. A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a


escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

______. A prática do orientador educacional. São Paulo: Cortez, 1994.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed.


Goiânia: Alternativa, 2004.

107
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

PIANEZZER, Lúcia Cristiane Moratelli. Orientação educacional. Indaial: Unias-


selvi, 2013.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico:


do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 8. ed. São Paulo:
Liberdade, 2007. (Coleção Cadernos Pedagógicos).

108
C APÍTULO 3
O Orientador Educacional e a Gestão
Democrática

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Perceber o papel do Orientador Educacional na condução de uma gestão que


abra espaço para a discussão e participação coletiva de toda a comunidade
escolar, especialmente no que diz respeito à construção do PPP.

 Identificar e aplicar estratégias de comunicação e aproximação


eficazes entre a escola, a comunidade e as famílias.

 Manifestar interesse em investigar, diagnosticar e resolver problemas


de baixo aproveitamento escolar, de determinados alunos.

 Compreender a definição de Gestão Democrática e


seus desdobramentos dentro e fora da escola.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

110
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

ContextualiZação
Neste último capítulo falaremos a respeito da importância da comunidade
escolar na tomada de decisões, especialmente na construção do Projeto Político-
Pedagógico (PPP).

Reforçaremos também o valor de um trabalho coletivo, pois o Orientador


Educacional, que busca parcerias em sua atuação tende a conquistar os objetivos
traçados com maior eficácia, pois conta com o apoio de toda a comunidade
escolar, composta pelos alunos, professores, familiares e gestores.

Ainda neste capítulo, caracterizaremos a postura de um Orientador


Educacional democrático como um profissional que saiba ouvir, que atenda com
excelência, que aceite sugestões, que acolha as críticas como construtivas e que
busque, na parceria com a comunidade, resolver os problemas cotidianos que
possam afetar o rendimento dos alunos.

E ao final, compreenderemos que para ter êxito, o Orientador Educacional


precisa dedicar-se à parceria com a equipe de trabalho, com as famílias e com a
comunidade em geral, procurando dialogar, caminhar junto, estimular a autonomia,
melhorar a educação e a cidadania das crianças e adolescentes, visando o bem-
estar individual e coletivo de toda uma sociedade.

Bons estudos e excelentes reflexões!

Parceria nas DecisÕes: Construção


do Projeto PolÍtico-PedaGóGico
Quando se trata de Projeto Político-Pedagógico, ou simplesmente PPP,
deve-se ter a compreensão de que é um importante documento que deve ser
construído com a participação de todos os membros que compõem a escola.
Neste contexto, encontram-se gestores, professores, alunos, demais funcionários,
pais e comunidade em geral.

O Projeto Político-Pedagógico é um processo em que as


pessoas realmente participam porque a elas são entregues
não só as decisões específicas, mas os próprios rumos que se
devem imprimir à escola. Os diversos saberes são valorizados,
cada pessoa se sente construtora – e realmente o é – de um
todo que vai fazendo sentido à medida que a reflexão atinge
a prática e esta vai esclarecendo a compreensão, e à medida
que os resultados práticos são alcançados em determinado
rumo. (GANDIN, 1988, p. 82-83).

111
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A partir disso, a elaboração do PPP e o sucesso da escola não são apenas


tarefas de um ou de outro profissional, mas de toda a comunidade que participou
nas decisões e buscou espaço para opinar, decidir e praticar a democracia, em
prol da educação e da cidadania.

A educação é uma prática social, e a Orientação deve ser vista


como uma prática que ocorre dentro da escola, mas cujas
atividades podem e devem ultrapassar seus muros; uma prática
que caminha no sentido da objetividade, da subjetividade e da
totalidade da educação. É perceptível que a Orientação está
cada vez mais junto à Educação como um todo, na busca das
finalidades de um projeto político – pedagógico formulado para
a escola, em favor de seus próprios alunos. (GRINSPUN,
2011, p. 24-25)

Figura 23 – PPP

Fonte: Disponível em: <http://educaja.com.br/2011/01/projeto-politico-


pedagogico-como-elaborar.html>. Acesso em: 9 ago. 2017.

É importante frisar que cada instituição e comunidade escolar apresenta


características singulares e que, portanto, este documento precisa ser construído
por ela, não devendo ser copiado de outra instituição.

A tarefa de coordenar estas discussões acerca da construção ou


reformulação do PPP não é do Orientador Educacional, mas o diretor da
instituição. O Orientador Educacional participa ativamente de todas as etapas, da
mesma forma que os demais membros que compõem a equipe, mas não com
a incumbência de coordenar este momento – a menos que seja convidado pelo
diretor a protagonizar este processo.

112
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Enquanto participa do planejamento, o Orientador Educacional


consegue contribuir de maneira significativa, bem como
também receber contribuições importantes da equipe, para a
tomada de decisões no processo educativo, ampliando sua
visão da escola em relação aos aspectos positivos ou aos que
necessitam ser melhorados. Na maioria dos casos, quanto
mais tempo o Orientador Educacional atua na escola, maiores
são suas contribuições, pois conhece bem a comunidade, os
alunos e professores com os quais atua. (PIANEZZER, 2013,
p. 65).

Cabe ao Orientador Educacional, portanto, participar, planejar, acompanhar e


colocar em prática o que se projetou na construção coletiva do PPP (como intenção
e finalidade). Ele realizará esta tarefa de maneira articulada e fundamentada,
dentro dos princípios e objetivos pedagógicos da instituição.

A participação da Orientação Educacional no projeto


Político-Pedagógico da escola é um trabalho de parceria,
de colaboração. Ela, a Orientação, faz parte da construção
coletiva desse projeto, portanto, dele participa questionando,
discutindo, refletindo e buscando soluções plausíveis para a
realidade existente. (GRINSPUN, 2011, p. 101).

Nesta perspectiva, as decisões da escola que se consolidam no PPP


passam a ser entendidas como fruto da interação entre os objetivos e as
prioridades elencadas pela equipe que estabelecem, por meio da discussão e da
reflexão coletiva, as necessidades da instituição (ações e melhorias), exigindo
comprometimento de todas as pessoas envolvidas.

Um dos grandes objetivos da parceria entre a escola e a comunidade, na


tomada de decisões e na construção coletiva do PPP, apoia-se na ideia de que a
partir das discussões, investigações e descobertas, seja possível traçar estratégias
que conduzam nossas crianças e adolescentes à busca pela transformação e
pela cidadania. Esta cidadania, segundo Grinspun (2011, p. 119), é vivida quando:

a) discutem-se processos de aprendizagem, objetivos, conteúdos,


metodologias e avaliações dos alunos;
b) organizam-se para discutir os rumos das disciplinas, o planejamento
participativo, a escola que se quer;
c) criam-se canais de participação e não se omitem na hora do
posicionamento e da tomada de decisões;
d) articulam-se os movimentos sociais do mundo com os movimentos
sociais de dentro da escola;
e) discutem-se a questão do trabalho – como responsabilidade da escola
em termos de uma formação adequada – e as ligadas ao trabalhador;

113
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

f) priorizam-se a questão da evasão e repetência em nossa prática


pedagógica, discutindo o que se entende por fracasso escolar;
g) refletem-se sobre preconceitos, estereótipos e marginalizações que
ocorrem dentro e fora da escola;
h) respeitam-se o outro, seja ele minoria ou maioria, resgatando suas reais
possibilidades em confronto com a realidade social;
i) trabalham-se a questão dos valores nas diferentes dimensões e
abordagens pelas quais eles são reconhecidos dentro e fora da escola.

Figura 24 – Cidadania

Fonte: Disponível em: <https://professorajanainaspolidorio.


wordpress.com/tag/cidadania/>. Acesso em: 9 ago. 2017.

Vale ressaltar, prezado acadêmico, que o PPP é um documento aberto, que


necessita ser manuseado, conhecido, estudado, reelaborado, atualizado e revisado,
pelo menos a cada dois anos, se não houver necessidade antes disso. Ele não pode
e nem deve ser um documento de gaveta, mero material burocrático, muitas vezes
desconhecido pela equipe. Ele precisa ser vivo e atuante, refletindo o trabalho e a
proposta pedagógica de sua instituição. Para Barcelos (1992, p. 34):

Não existe, na construção do projeto político-pedagógico da


escola, um pronto, ótimo (final), se não pontos de partida com a
possibilidade de serem renovados a cada instante, ritualizados
e ampliados em sintonia com o mundo em que vivemos, numa
incessante busca de significados novos para viver.

O PPP de uma instituição deve considerar a formação integral dos alunos,


respeitando as características pertinentes às novas gerações e às comunidades
em que estes alunos se encontram inseridos, buscando a participação de todos
os envolvidos em sua construção.

114
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

O conceito de participação se fundamenta no de autonomia,


que significa a capacidade das pessoas e dos grupos de livre
determinação de si próprios, isto é, de conduzirem sua própria
vida. Como a autonomia opõe-se às formas autoritárias de
tomada de decisão, sua realização concreta nas instituições
é a participação. Portanto, um modelo de gestão participativa
tem na autonomia um dos seus mais importantes princípios [...]
(LIBÂNEO, 2004, p. 102).

Além de possibilitar a participação de toda a comunidade escolar na


construção ou reelaboração do Projeto Político-Pedagógico, o Orientador
Educacional precisa estreitar seus laços com as famílias, mas, muitas vezes, não
tem ideia do que fazer para atrair as famílias à escola.

Figura 25 - Família na escola

Fonte: Disponível em: <http://emgmsa.blogspot.com.br/2014/05/palestra-


importancia-da-familiad-na.html>. Acesso em: 15 jan. 2018.

DiáloGo ABerto na TrÍade: Escola,


Aluno e FamÍlia
Conforme visto nos capítulos anteriores, em algumas escolas, ainda existem
professores que encaminham alunos com problemas de aprendizagem ou de
disciplina ao Orientador Educacional, que, rapidamente, deve resolver este tipo de
problema. Desta forma, transferem toda a responsabilidade para este profissional,
quando, na verdade, a responsabilidade é de todos os membros da comunidade
escolar.

115
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 26 – A sala do orientador

Fonte: A autora.

Partindo do pressuposto de que a responsabilidade pelo aluno precisa ser


compartilhada com toda a comunidade escolar, principalmente com a família,
pergunta-se: como fazê-la sentir-se parte deste processo? Como torná-la
parceira na educação do filho, em conjunto com a escola? Quais estratégias de
comunicação e aproximação utilizar?

A base de toda essa discussão encontra-se nas características fundamentais


da família, que, independentemente de sua constituição, número de membros ou
classe social, fortalecem os laços que os unem: o amor, a proteção e a segurança.

Portanto, se o Orientador Educacional demonstrar que se preocupa com


estes três eixos, ele passará a contar com a confiança e a parceria dos pais, na
busca pela formação integral dos sujeitos.

Para Grinspun (2008, p. 93), “são muitos os papéis da OE [...] papel integrador,
mediador e, principalmente, papel de interdisciplinaridade, entre o saber e o fazer,
entre o ter e o ser, entre o querer e o poder”.

Além destas características, duas necessidades se apresentam, de acordo


com Grinspun (2008, p. 140), “[...] a de qualificar e a de ampliar o sentido de família”.

116
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

• a qualificação de família vincula-se ao seu direito de viver


com dignidade (e nesse aspecto consideram-se os direitos
ao trabalho, moradia, saúde, educação, lazer) e ao dever do
Estado em garanti-lo. Sem condições de vida, a família se
desestrutura;
• a ampliação da família vincula-se, também, ao direito à
dignidade e qualidade de vida das crianças e jovens que não
têm a presença, o convívio, a segurança de um pai, de uma
mãe, um contexto familiar. [...] É esse o sentido da família
ampliada. E poderá ser também esse o sentido de um trabalho
integrado e integrador da Supervisão Pedagógica e Orientação
Educacional, no interesse, seja da formação de valores, seja
do alcance, ampliado, do conceito da escola, como “família”.
(GRINSPUN, 2008, p. 140).

Figura 27 – Escola e família

Fonte: Disponível em: <http://escolakids.uol.com.br/familia-


e-escola.htm>. Acesso em 10 ago. 2017.

Quando se pensa na escola como uma extensão da família, não se pode


esquecer de que este cenário pede envolvimento, participação, integração,
parceria e, principalmente, comunicação da OE com as famílias dos alunos. Sem
comunicação, não há como haver interação entre a escola e a família.

Com base em Giacaglia e Penteado (2010), apresentaremos um quadro que


traça um paralelo da relação entre a família e a escola:

117
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quadro 11 – Relação família e escola


FAMÍLIA ESCOLA
A criança, de modo geral, desenvolve-se
na instituição familiar que é encarrega-
da de prover os recursos necessários à Por sua vez, a instituição escolar está
sua sobrevivência; de propiciar-lhe uma incumbida de realizar a educação for-
base afetiva; de dar-lhe assistência na mal das crianças e dos jovens.
área de saúde e de ministrar-lhe os pri-
meiros ensinamentos.

Cada família alimenta expectativas dif- O mesmo ocorre com a escola em


erentes em relação ao papel da escola. relação à família.

Tanto a escola como a família possuem características próprias. Surge então,


como condição básica para que possam ser cumpridas as finalidades educa-
cionais, a necessidade do conhecimento mútuo entre ambas para a compatibili-
zação das expectativas e da integração entre as duas instituições.

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 150).

O Orientador Educacional precisa provocar a participação das famílias nas


decisões da escola, criando espaços que possibilitem o diálogo, a reflexão e o
posicionamento, quer seja para criticar ou sugerir melhorias. Para tanto, faz-se
necessário valorizar todos os tipos de famílias e todas as formas de comunicação
e contribuição, no processo de ensino-aprendizagem dos filhos.

Penteado (1976, p. 102) pontua como objetivos da Orientação Familiar, sob


a incumbência do Orientador Educacional: “Integrar os pais nas atividades da
escola; dinamizar todo o grupo da escola no sentido de fazer com que docentes,
pais e comunidade, em geral, trabalhem juntos no processo educativo; levar pais
e alunos a um melhor relacionamento”.

Participar das decisões não significa estar na escola todos os dias, pois isso,
não seria possível para a maioria dos pais ou responsáveis. É possível estabelecer
parceria entre a família e a escola por meio de pesquisas de satisfação, avaliações
institucionais, questionários, comunicados etc.

Momentos de reunião pedagógica, formação para pais ou conselhos


participativos são extremamente saudáveis para a instituição e as famílias,
mas quando isso não acontece, outras formas de comunicação precisam ser
providenciadas.

118
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

O conhecimento da família e uma comunicação efetiva entre


ela e a escola, além de condições básicas para a realização
de uma Orientação Familiar eficiente, são essenciais para a
busca de uma unidade de princípios e de atuação entre ambas
as instituições. (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 150-151).

Figura 28 – Reuniões pedagógicas

Fonte: Disponível em: <https://emefmyrthes.blogspot.com.br/2015/03/


reuniao-de-pais-2015.html>. Acesso em 13 ago. 2017

Quando as famílias acompanham de perto o processo de aprendizagem


dos filhos e conhecem as diretrizes da escola, tornam-se parte integrante dela,
sentindo-se à vontade para participar e repartir com o Serviço de Orientação
Educacional (SOE) a responsabilidade na educação dos mesmos.

Porém, de acordo com Pianezzer (2013, p. 203), alguns questionamentos


surgem sobre os e ações na OE em relação às famílias. Dentre eles, citam-se:

a) Como saber sobre o relacionamento familiar que se estabelece nos


diferentes lares dos alunos, sem parecermos invasivos ou meramente
especuladores?
b) Como descobrir aspectos pertinentes à aprendizagem do aluno,
relacionados diretamente com problemas familiares, se muitas vezes o
aluno prefere o silêncio na escola?
c) O que é realmente pertinente investigar/descobrir em relação às famílias
e aos cuidados que elas dedicam aos filhos/alunos, em questão?
d) Que estratégias utilizar para estas investigações familiares?

Todas as respostas para estas perguntas encontram-se embasadas


na confiança, na comunicação, no diálogo, na escuta e no olhar atento do
Orientador Educacional e de toda a equipe de profissionais que lidam com o
aluno e com a família.

119
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Uma estratégia interessante e menos invasiva do que a


entrevista, não havendo contato pessoa/pessoa, seria
a resposta de questionários, elaborados pelo SOE, de
acordo com a realidade da escola, da comunidade onde ela
encontra-se inserida, ou dos objetivos que pretende alcançar.
(PIANEZZER, 2013, p. 203)

Partindo desse pressuposto, a seguir, dois modelos de questionários,


elaborados por Giacaglia e Penteado (2010, p. 154). O primeiro deles refere-se
ao relacionamento familiar, a ser preenchido pelo aluno, e o segundo envolve
perguntas a respeito do aluno, a ser preenchido pelos pais.

Quadro 12 – Primeiro modelo

QUESTIONÁRIO SOBRE RELACIONAMENTO FAMILIAR


(A ser preenchido pelo aluno)
Data:____/____/_____
1) Nome do aluno Sexo
2) Série Período:
3) Complete ou responda, da forma mais sincera, as frases de 1 a 15:
Esteja seguro de que as informações deste questionário serão mantidas rigoro-
samente em SIGILO.
1) Meus pais vivem ( ) juntos ( ) separados. Desde quando?
2) O que mais gosto na minha família é...
3) O que menos gosto é...
4) Pode-se dizer que o relacionamento entre meus pais é...
5) Meus pais me tratam...
6) Meu relacionamento com meus avós é...
7) Meu relacionamento com meu(s) irmão(s) é...
8) Meu relacionamento com minha(s) irmã(s) é...
9) Tenho maior afinidade com...
10) O ambiente emocional em minha casa é...
11) Quando estamos todos juntos...
12) Meu pai ( ) e/ou ( ) minha mãe trabalha(m) muito.

13) Meu pai ( ) e/ou ( ) minha mãe não liga(m) para mim.
14) Nas questões seguintes, indique a(s) alternativa(s) que mais corresponde(m)
ao seu caso. Na minha família, sinto-me:
( ) mimado
( ) tratado normalmente
( ) rejeitado
( ) tratado com muita severidade
( ) ignorado
( ) tratado diferente de meus irmãos. Como?

120
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

15) Quando tenho problemas, prefiro recorrer a:

( ) meu pai ( ) minha mãe ( ) meu irmão. Qual?

( ) minha irmã. Qual? ( ) namorado(a) ( ) meu professor. Qual?

( ) Orientador Educacional ( ) sacerdote ( ) amigo. Qual?

Outro. Quem?
Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 154)

Quadro 13 – Segundo modelo


QUESTIONÁRIO SOBRE O ALUNO
(A ser preenchido pelo pai ou responsável)
Data ___/___/____
1) Nome do aluno Sexo
2) Série Período
3) Data de nascimento Localidade
4) Endereço Bairro
5) Telefone (residencial) Telefone (trabalho)
6) Nome do pai ou responsável
7) Profissão
8) Local de trabalho
9) Telefone para contato
10) Endereço para correspondência
11) Da família, quem, provavelmente, viria às reuniões da escola?
12) Em caso de emergência, quem deve ser avisado?
Nome Parentesco
Telefone (residencial) Telefone (trabalho)
Para onde o aluno deve ser encaminhado?
Local Telefone
13) Doenças que o aluno já teve
Quando tomou vacina antitetânica?
Tem alergia a alimentos? ( ) não ( ) sim. Quais?
Tem alguma restrição alimentar? ( ) não ( ) sim. Quais?
Tem alergia a remédios? ( ) não ( ) sim. Quais?
O aluno tem problemas de saúde? Quais?
14) O aluno tem quantos irmãos: mais velhos ( ) e mais novos ( )?
O aluno tem quantas irmãs: mais velhas ( ) e mais novas ( )?
Algum(a) irmão(ã) estuda nesta escola? ( ) não sim ( )
Nome série período
( ) só trabalham ( ) só estudam (estudam) trabalham e
Quantos irmãos:
15) Outras pessoas moram com a família? ( ) não ( ) sim. Quantos?
Nome Grau de parentesco
16) Qual é a religião do aluno?
Ele a pratica? ( ) sim ( ) não. Por quê?
É a mesma da família? ( ) sim ( ) não
Se diferente, qual a dos outros membros
da família?

121
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

17) O aluno trabalha? ( ) não ( ) sim


Horário de O que faz no
Local de trabalho trabalho trabalho?
( ) sim. O que
18) O aluno ajuda em casa? ( ) não faz?
19) O aluno frequenta outros cursos? ( ) não ( ) sim. Quais?
20) O aluno pratica algum esporte?
21) A que horas o aluno acorda, normalmente, em dias úteis?
22) A que horas, normalmente, vai dormir?
23) Assiste à TV no quarto?
24) A quantas horas de TV, em média, o aluno assiste por semana?
25) A que tipos de programas assiste com maior frequência
26) Quando o aluno quer ver um programa de TV diferente dos outros, ele...
28) Quem frequentou mais anos de escola Nome Até que curso
na família? e série fez?
29) Com que tipo de condução o aluno vai para a escola? Por quê?
30) Há quanto tempo o aluno reside no bairro?
( ) em
31) O aluno mora: ( ) em casa apartamento
32) O imóvel é: ( ) próprio ( ) alugado
( ) sim. Qual?
33) O aluno frequenta algum clube? ( ) não O que ele faz
no clube?
34) O que ele faz nas férias?
35) O que ele faz nos fins de semana?
36) Na casa do aluno há:

Não Sim Quantos


Rádio
TV
DVD
Geladeira
Carro
Bicicleta
Banheiro
Batedeira
Liquidificador
Máquina de lavar roupa
Micro-ondas
Computador
Assinatura de jornal

37) O aluno recebe mesada? ( ) não ( ) sim. De quanto?


38) Quais os gastos que o aluno cobre com a mesada?
39) Na sua opinião, o aluno deve receber ( ) sim ( ) não Por quê?
mesada?
( ) pouco
40) O que seu filho acha do valor da ( ) muito
mesada que recebe? ( ) razoável

122
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

41) Se tivesse melhor condição econômica, quanto acha que seria conveniente
dar a seu filho de mesada?
42) Algum membro da família teria
interesse e disponibilidade para colaborar ( ) não ( ) sim. Quem?
com as atividades da escola?
43) Quais as habilidades dele(a)?
44) De que forma e em que poderia colaborar?
45) Os pais gostariam que o aluno ( ) não ( ) sim
recebesse orientação vocacional na escola?
46) O que esperam que a escola realize nessa área?
Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 154).

Como estes questionários são bem extensos, sugere-se que o OE o adapte à


realidade da instituição em que trabalha, pois nem sempre estes questionamentos
apresentados serão pertinentes aos anseios e necessidades do SOE.

Além disso, podem-se dividir os questionários por assuntos, facilitando o


preenchimento dos mesmos, conforme Giacaglia e Penteado (2010, p. 154):

• informações gerais a respeito da casa, endereço e mobiliário;


• membros que fazem parte da família e como se relacionam;
• estado de saúde/doenças;
• rotina do aluno quando não está na escola.

Vale ressaltar que os questionários não podem ser entregues num dia e
recolhidos no outro, pois muitas famílias não os responderiam alegando falta de
tempo. Permitam que os pais respondam com cautela, tendo pelo menos uma
semana para o seu preenchimento e entrega.

Esta ação/comunicação entre a escola e a família precisa ser


bilateral, ou seja, a escola precisa valorizar os pais, chamá-los
a cooperar no processo educativo ou mesmo propor a eles que
ministrem oficinas na escola, de acordo com suas habilidades:
artesanato, culinária, marcenaria etc., proporcionando
desta forma, maior integração, levando-os a perceber sua
importância, como partes do processo, na educação dos filhos.
(PIANEZZER, 2013, p. 207)

123
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 29 – Pais na escola

Fonte: Disponível em: <http://ceuemefguarapiranga.blogspot.com.


br/p/escola-de-pais.html>. Acesso em: 10 ago. 2017.

Nesta parceria, em que a escola abre espaço e valoriza as famílias, o


contrário também precisa acontecer, ou seja, as famílias precisam apoiar e
valorizar as decisões da escola, respeitando toda a equipe que atua nela, com
seus saberes e fazeres pedagógicos. O respeito aos profissionais precisa ser
transmitido aos filhos.

[...] a atuação da escola em relação ao aluno é bastante


ampla e diversificada, não se atendo apenas aos aspectos de
aprendizagem de conteúdos escolares. São, pois, inúmeros os
aspectos, em que é necessário haver concordância de princípios
e de atuação entre a família e a escola. Desde o primeiro
contato, os pais devem ser alertados sobre a importância de
comunicarem ao SOE novos eventos na família que possam
interferir no aproveitamento escolar e no comportamento geral
do aluno, como: nascimento de irmão; ciúmes; brigas no lar;
alcoolismo; separação ou divórcio dos pais; abandono do lar;
mudanças; agressões às crianças; morte; assaltos; acidentes;
doença prolongada ou grave; desemprego; despejos etc. Tais
informações serão tratadas com a máxima discrição e sigilo.
(GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p.155).

Para ser um Orientador Educacional democrático, envolver a família no


processo de ensino-aprendizagem do filho, conquistar a confiança dos alunos,
orientar os professores e ainda dar conta de cumprir os objetivos do SOE
(aproximando as famílias da escola), há que se estar bem preparado e utilizar
diferentes estratégias. É sobre isso que se tratará a seguir.

124
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

EstratÉGias de Comunicação e
AProximação da Escola com as
FamÍlias
Acredita-se que não seja novidade o quanto é importante saber comunicar-
se com as pessoas que se convivem, quer seja na vida pessoal ou profissional.
No caso do Orientador Educacional, a comunicação é uma das principais
características a ser desenvolvida, pois dela dependerão o estabelecimento e a
manutenção saudável das relações.

O Orientador Educacional precisa saber comunicar-se com seus gestores,


professores, estudantes, pais e demais profissionais que atuam direta ou
indiretamente nos processos educacionais.

Uma boa relação com todos estes agentes educativos favorecerá o seu
trabalho na construção de uma escola democrática e aberta à efetiva participação
da comunidade, especialmente das famílias.

A eficiência do trabalho na área de Orientação Familiar


depende, em grande parte, do conhecimento da comunidade
e das famílias dos alunos. Boa parte dos dados necessários
é encontrada na caracterização da comunidade, que, como
vimos, é uma das partes do plano escolar. Informações
mais específicas podem ser obtidas na secretaria da escola,
nos arquivos e fichários do SOE e/ou via questionários.
(GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 158).

Como visto anteriormente, uma das estratégias para efetivar a comunicação


e a aproximação do Serviço de Orientação Educacional (SOE) com as famílias
pode se dar por meio de questionários, direcionados aos pais ou responsáveis,
bem como também aos alunos.

Os questionários direcionados aos pais ou responsáveis costumam ser


preenchidos em casa e entregues na secretaria, devido à grande quantidade de
questões, o que se tornaria inviável de ser feito em reunião de pais e mestres.

Já os questionários direcionados aos alunos podem ser feitos durante o


período em que estão na escola, sem problemas.

As reuniões pedagógicas entre pais e mestres precisam ser planejadas


cuidadosamente, para que sejam dinâmicas, interativas, interessantes, caso
contrário, eles comparecem às primeiras e depois não mais, já que, segundo eles,
as reuniões são sempre iguais.

125
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Por isso, torna-se importante o Orientador Educacional


primeiramente pesquisar a frequência dos pais à escola,
quando convidados ou convocados, depois as razões da
não frequência de alguns deles, para posteriormente tomar
providências para que o comparecimento dos pais à escola
em cada convocação seja realmente necessário. O Orientador
Educacional deve tomar cuidado para não convidar ou
convocar pais para tratar de assuntos que não digam respeito
a seus filhos. Convocados nessas condições por uma ou mais
vezes, eles tenderão a não mais comparecer, mesmo quando
sua presença seria importante. (GIACAGLIA; PENTEADO,
2010, p. 160).

Figura 30 – Reunião de pais e mestres

Fonte: Disponível em: <http://paranagua.educacaoadventista.org.br/destaques/1/


geral/537/reuniao-de-pais-responsaveis-e-professores.html>. Acesso em: 13 ago. 2017.

Além de tratar de objetivos pedagógicos, as reuniões também podem abordar


questões que envolvam orientação às famílias quanto à educação e à cidadania
em geral, envolvendo assuntos que extrapolam os muros da escola, na busca pela
transformação pessoal e pela excelência educativa.

Quando os pais não comparecem à escola com certa frequência, cabe uma
investigação apurada, pois a causa desse desinteresse pela vida escolar dos
filhos deve ter um motivo, uma razão de ser, que o SOE desconhece.

Com base em Giacaglia e Penteado (2010, p. 160), serão apresentados um


modelo de questionário para que o Orientador Educacional possa pesquisar sobre
o comparecimento, ou não, dos pais na escola, acompanhe:

126
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Quadro 14 – Pesquisa com os pais

MODELO PARA PESQUISA SOBRE O COMPARECIMENTO, OU NÃO,


DE PAIS À ESCOLA
É importante para a melhor comunicação dos pais com a escola, para a melhor
atuação desta e para aprimorar a atuação da Orientação Educacional, visando
oferecer, conjuntamente com a família, uma educação e instrução de melhor
qualidade e mais integrada, que os senhores retornem este questionário, ex-
pressando suas experiências e opiniões.
Aluno número ano turno
Nome do responsável

Costumo comparecer à escola, quando convidado ou convocado:


Sempre ( ) sempre que posso ( ) quase nunca ( ) nunca ( )
Por quê?________________________________________________________

Em anos anteriores, costumava comparecer:


Sempre ( ) sempre que podia ( ) quase nunca ( ) nunca ( )
Por quê?________________________________________________________

Gostaria e acho importante comparecer, mas não posso.


Por quê?________________________________________________________

Pelas minhas experiências de comparecimento anteriores, avalio os meus com-


parecimentos à escola como:
Quase sempre úteis ( ) às vezes úteis ( ) quase sempre inúteis ( )
Por quê?________________________________________________________

Pelas minhas experiências anteriores, avalio os meus comparecimentos como:


Agradáveis ( ) nem agradáveis, nem desagradáveis ( ) desagradáveis ( )
Por quê?________________________________________________________

Tenho alguma(s) sugestão(ões) a fazer para tornar o comparecimento dos pais


à escola mais útil? Qual ou quais?
E mais agradável? Qual ou quais? ___________________________________

Fonte: Giacaglia e Penteado (2010, p. 160).

Após a análise da pesquisa, se os dados apontarem que a maioria dos pais


não participa das reuniões, por não as considerar interessantes ou pertinentes à
educação dos filhos, há algo muito sério a ser feito, pela equipe gestora e pelo
SOE, pois há que se encontrar formas de atrair as famílias para dentro da escola.

127
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Se as reuniões pedagógicas por si só não atraem, deve-se criar outras


estratégias de aproximação com as famílias, tais como: eventos entre pais e
filhos, palestras, festas de integração, passeios, seminários, promoções, eventos
socais, enfim, outros momentos de trocas de experiências e aprendizagens.

Figura 31 – Pais na escola

Fonte: Disponível em: <http://igay.ig.com.br/2014-04-26/


dia-da-familia>. Acesso em: 13 ago. 2017.

As famílias precisam gostar de participar das iniciativas propostas pela


escola; devem perceber que podem contribuir com ela e com o processo de
ensino-aprendizagem do filho, além de descobrir que o resultado dessa interação
pode ser positivo.

Mais importante do que ‘participar por participar’ é desejar


conhecer a dinâmica da escola frequentada pelo(s) filho(s).
Conhecer, no sentido mais amplo da palavra, implica escolhê-
la como escola ideal, defendê-la, apoiá-la em suas decisões
e, acima de tudo, cooperar com a mesma, em seus processos
educativos, posturas pedagógicas ou ações comunitárias.
Discordar, às vezes, de alguma postura, não significa deixar
de ser parceiro, pelo contrário, indica preocupação e zelo pela
instituição, desde que isto seja feito diretamente com o SOE, de
maneira construtiva. (PIANEZZER, 2013, p. 210).

Nestes momentos, de troca de experiências presenciais entre a família e a


escola, são que a comunicação direta acontece, porém, também pode acontecer
de forma indireta, via telefone, e-mail ou comunicado na agenda escolar. O que
importa é que essa comunicação aconteça sempre, pois:

[...] a preocupação da escola é fazer-se conhecer pela família,


apresentado-se como parceira na educação do(s) filho(s); A
preocupação dos pais é buscar as informações necessárias na
escola, fortalecendo a comunicação entre ambas. Vale lembrar

128
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

que um deve ir ao encontro do outro, objetivando a busca


de resultados e não apenas aguardando por eles. Mesmo
tendo objetivos comuns, cada um deve fazer a sua parte.
(PIANEZZER, 2013, p. 211).

Figura 32 – Pais parceiros

Fonte: Disponível em: <http://blog.wpensar.com.br/gestao-escolar/5-motivos-que-podem-


deixar-os-pais-de-seus-alunos-insatisfeitos-com-sua-escola/>. Acesso em: 13 ago. 2017.

Já foi estudado sobre a importância da comunicação com as famílias,


porém vale ressaltar que a questão não é apenas comunicar, mas o que e como
comunicar, pois alguns assuntos nem sempre são fáceis de ser abordados. Dentre
eles podem-se citar os que necessitam de encaminhamento para atendimentos
nos setores de saúde: física, psicológica ou neurológica, entre outros.

São muitos e variados os tópicos que o Orientador Educacional


precisa tratar com as famílias dos alunos, como também são
muitos e variados os tipos de famílias com quem o Orientador
Educacional deverá interagir. [...] o Orientador Educacional
deverá escolher os aspectos em relação aos quais sua
atuação seja, naquelas circunstâncias, mais importante e/ou
necessária. (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 155).

Com base em Giacaglia e Penteado (2010, p. 155-158), serão listados


alguns questionamentos que poderão servir de subsídio para as discussões entre
o Orientador Educacional e as famílias:

• Aproveitamento escolar: A família tem se interessado e acompanhado


o processo educativo do filho? Na opinião deles, o filho está rendendo o
que deveria render? Tem se dedicado o suficiente às tarefas escolares
e cumprido com os prazos de entrega? Tem estipulado horários para o
estudo? Tem estudado para as avaliações? Gosta de seus professores?
Procura ajuda quando não compreende a matéria? Compartilha
momentos da escola em casa? Entrega os comunicados da escola aos
pais ou responsáveis em tempo hábil?

129
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• Integração do aluno à escola: O filho está feliz na escola? Gosta de


seus colegas de classe? Sente-se integrado e aceito? Valoriza seus
professores e sente-se valorizado por eles?

• Desenvolvimento físico e emocional: O filho tem se desenvolvido


adequadamente, conforme a idade e o processo de maturidade?
Tem sofrido algum problema de ordem física ou emocional? Tem
acompanhamento médico ou diagnóstico de especialistas? Necessita de
atendimento especial?

• Educação religiosa, moral e cívica: O educando tem desenvolvido


sua formação integral? Tem agido com valores e atitudes, dignas da
orientação que recebeu em casa e na escola? Demonstra atitudes de
preservação à vida e ao ser humano? Respeita a diversidade religiosa,
social ou cultural de seus colegas? Relaciona-se bem com os outros?

• Educação sexual e afetiva: Como o filho relaciona-se com a família? Em


que momentos ele se aproxima e em quais ele se isola? Como a questão
da afetividade interfere na sua aprendizagem? A família o acolhe em suas
dificuldades ou mantém-se distante e alheia? Como é tratada a questão
da sexualidade na família? Os pais dialogam e orientam seus filhos em
relação ao sexo? O aluno sofreu algum tipo de abuso? Foi vítima de
pedofilia?

• Orientação Vocacional: Como a família tem discutido a questão da OV


com o filho? Tem lhe prestado algum auxílio neste sentido? Tem procurado
ajuda na escola? Sabe como agir diante das escolhas do filho e como
orientá-lo nesta difícil decisão? Considera pertinente interferir na decisão
dos filhos, ou pretende deixá-los seguir o caminho que escolherem?

• Problemas de natureza econômica: A família tem passado alguma


dificuldade financeira? O filho tem o material necessário para a escola e
sabe cuidar dele? Ele recebe mesada? Como o filho lida com as questões
de modismo, status e consumo? Ele é educado economicamente?

• Desigualdade social: Como o filho lida com a questão do dinheiro?


Sente-se importante ou inferior pelo fato de vestir ou não roupas de
grife? Deseja materiais supérfluos e caros que não apresentam nenhuma
relação com a melhora do rendimento escolar, apenas por status?
Apresenta dificuldades de relacionamento com seus colegas pelo excesso
ou escassez de dinheiro? Como lida com a situação financeira da família?

130
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

• Preconceito ou discriminação: Age com respeito aos colegas de


classe, sem manifestar nenhuma forma de discriminação ou preconceito?
Relaciona-se bem com todos os membros da família? Aceita a diversidade
religiosa, cultural, econômica ou sexual das pessoas de seu convívio
familiar ou escolar? Lida com tranquilidade em relação às próprias
características físicas ou econômicas, ou autodiscrimina-se?

• Drogas: O filho já teve ou tem contato com algum usuário de drogas?


Há casos de dependentes químicos na família? Quem são os melhores
amigos de seu filho? Por onde andam quando não estão na escola? O
filho tem apresentado características diferentes das até então conhecidas?
Como ele tem se relacionado com a escola e com a família? Como tem
sido seu aproveitamento escolar? Como orientá-lo em relação à prevenção
de drogas? Caso ele já esteja envolvido, como reverter esta situação?

• Bullying: Seu filho sente-se humilhado na escola? De quem ele costuma


queixar-se? O que ele tem comentado em casa? Como ele se sente?
O que será feito a partir destas descobertas? Como lidaremos frente a
este tipo de violência? O que caberá à escola resolver? De que forma
auxiliaremos este aluno?

• Violência familiar: Seu filho sofre algum tipo de violência doméstica? Por
parte de quem? Quais os motivos, ou seja, o que ele faz para merecer este
tipo de tratamento? O que leva o agressor a praticar violência contra os
membros da família? Como poderemos ajudar? O que se espera da família
em relação a atitudes a serem tomadas para a resolução deste problema?

• Vestuário (uniforme): Seu filho gosta de vestir uniforme? Quais são seus
argumentos para não usá-lo? Quais os aspectos positivos e negativos
para seu uso? Sua liberação não reforçaria as diferenças econômicas
entre os alunos ou a utilização de trajes inadequados na escola?

• Limites (disciplina/comportamento): A educação de seu filho em


casa é empregada de maneira segura, estabelecendo limites para seu
comportamento? Ele tem horários preestabelecidos para assistir TV, usar o
computador, fazer tarefas, dormir, acordar, brincar, comer? Ele tem disciplina
no lar? Relaciona-se bem com os pais ou irmãos? Obedece às regras?

Estes questionamentos, quando discutidos pelo Orientador Educacional


junto às famílias, tendem a auxiliar no comportamento e aproveitamento escolar
dos estudantes, pois geram importantes reflexões, que podem resultar em
transformações no estabelecimento de uma educação integral, preparando-os
para a vida, de maneira consciente, autônoma e responsável.

131
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A partir do parágrafo anterior, desejamos provocá-lo a pensar nas seguintes


possibilidades: 1) Quando esse resultado positivo tão esperado não acontece, o
que fazer? 2) Como o Orientador Educacional deverá posicionar-se em relação
ao mau aproveitamento escolar dos alunos? 3) Como o SOE buscará as famílias
nesta parceria para ajudar o filho na superação das dificuldades?

A Parceria Entre a FamÍlia e a Escola


Diante do Mau AProVeitamento
Escolar do Aluno
O aluno é o personagem principal da instituição e é por ele e para ele que os
educadores buscam o que há de melhor na arte de ensinar.

Partindo desse pressuposto, cabe ao SOE, na pessoa do Orientador


Educacional, acompanhar de perto como se dão todos os processos pedagógicos,
atendendo às necessidades e expectativas dos alunos, transformando-os em
sujeitos conscientes de seu papel e importância na sociedade.

O sucesso ou insucesso das crianças é também o sucesso do Orientador


Educacional.

Porém, vale lembrar que esse resultado na aprendizagem depende de vários


fatores, conforme nos alertam Giacaglia e Penteado (2010, p. 164):

[...] são importantes e contribuem para a aprendizagem: fatores


socioeconômicos e culturais, ambientes escolar e familiar
próprios; professores bem preparados e motivados; métodos
de ensino e material didático (adequados), além de, por parte
do aluno, assiduidade, adaptação à escola, disciplina, bons
hábitos de estudo, condições físicas e psicológicas favoráveis
e bom relacionamento com professores e demais funcionários,
bem como com os colegas.

Quando somados positivamente, estes fatores contribuem significativamente


para a aprendizagem do aluno. Porém, quando estes mesmos fatores apresentam
fragilidades, pode haver interferência negativa na questão da aprendizagem.

132
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Figura 33 – Problemas de aprendizagem

Fonte: Disponível em: <http://centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com.br/2015/07/


intervencao-psicopedagogica-na-escola.html>. Acesso em: 17 ago. 2017.

Quando ocorre esta segunda situação, que provavelmente resultará em mau


aproveitamento escolar do aluno, cabe ao Orientador Educacional investigar as
causas e atuar na resolução deste possível problema.

O acompanhamento do processo de aprendizagem dos


educandos deve fazer parte da prática do Orientador
Educacional. Ele deve estar sempre atento ao aproveitamento
escolar do aluno, tanto no aspecto de aprendizagem quanto
no que se refere às mudanças comportamentais. Nesse
acompanhamento, o Orientador deve ir detectando as áreas
que apresentam defasagem de aprendizagem e planejar, junto
com a professora da turma, atividades que venham a atender
as necessidades dessas áreas. E para facilitar o estudo das
mudanças comportamentais, o Orientador deverá conseguir
que os professores realizem observações sistemáticas,
registrem-nas e emitam conceitos a respeito do educando.
(LOSSO, 2008, p. 72).

Diante da constatação de que há alunos com baixo rendimento, o


Orientador Educacional precisa refletir e responder (para si mesmo) os seguintes
questionamentos e, só depois disso, consciente de seu papel, agir.

133
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Figura 34 – Questionamentos

Fonte: A autora.

Vale lembrar que todos os alunos já chegam à escola com uma vasta
bagagem de conhecimentos e que o natural seria ampliá-los, à medida que
estabelecem relação entre aquilo que já conhecem (conhecimento prévio) com
aquilo que passaram a conhecer na escola (conhecimento científico).

Porém, essa relação entre o conhecimento prévio e a aprendizagem nem


sempre acontece, resultando em mau aproveitamento escolar, para alguns alunos.

Neste caso, cabe uma investigação, pois quando um aluno apresenta


dificuldades, os indicadores podem estar na escola, no indivíduo ou na família,
conforme segue:

Traumas, aversões, falta de gosto ou de interesse de alunos


em relação a disciplinas específicas devem ser trabalhados
para que este fator, que pode ser revertido, não afete a vida
escolar subsequente do aluno. O excesso de faltas e/ou de
notas baixas pode indicar a existência de problemas pessoais
ou familiares. Alunos regulares e até bons alunos, sob
pressões deste tipo, costumam apresentar aumento nas faltas
e/ou queda no rendimento escolar. O Orientador Educacional
deve estar atento para esses indicadores de que algo não vai
bem na vida particular do aluno e procurar ajudá-lo o mais cedo
possível. (GIACAGLIA; PENTEADO, 2010, p. 180).

134
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Figura 35 – Aluno com problemas particulares

Fonte: Disponível em: <http://centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com.


br/2014/10/a-interferencia-da-dificuldade-de.html>. Acesso em 17 ago. 2017.

A partir do momento em que o Orientador Educacional detecta problemas que


venham a interferir na aprendizagem dos estudantes, deve traçar estratégias de
ação ou intervenção pedagógica, junto à direção, aos professores e às famílias,
buscando, se necessário, ajuda de outros especialistas.

[...] O Orientador precisa estar atento para, em parceria com


o professor, perceber, na diversidade de fatores, que podem
ser responsáveis por estas dificuldades de aprendizagem,
aquilo que é de sua alçada e que ele deverá, portanto, ter
competência para fazer o atendimento. Sabe-se que não só
é bastante complexa a identificação exata da dificuldade,
como também nem sempre é tarefa fácil para o Orientador se
posicionar pelo melhor atendimento e/ou encaminhamento.
(LOSSO, 2008, p. 72).

Afinal, uma vez constatado o mau rendimento escolar do aluno, sugere-se


que o Orientador Educacional realize um banco de dados, ou seja, uma pesquisa
com os professores e familiares desse aluno, a fim de compreender as causas do
seu insucesso.

Com base em Pianezzer (2013, p. 223-224), algumas questões (muitas


outras poderão ser feitas) a seguir que auxiliarão nesta pesquisa:

• Por que o aluno tem apresentado baixo rendimento escolar?


• Sempre foi assim ou tem algo diferente acontecendo com ele?
• Está tudo bem com ele: fisicamente, mentalmente ou emocionalmente
falando?
• O aluno tem se relacionado bem com seus colegas de classe e
professores?

135
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• Tem feito suas tarefas e estudado adequadamente?


• Tem vindo à escola regularmente?
• Tem entregue seus trabalhos ou tarefas nos prazos determinados?
• Tem enfrentado algum problema familiar?
• Tem participado ativamente das aulas?
• Tem se queixado de algum fator específico, tanto em relação à escola
quanto fora dela?

Depois desse levantamento, o Orientador Educacional precisa perceber onde


se encontram as fragilidades (quer seja na família ou na escola) e agir em direção
à superação de tais problemas.

Se o problema se encontra no seio familiar, pode-se aconselhar, orientar


ou até mesmo encaminhar as famílias a especialistas, tendo sempre o cuidado
de não ser invasivo demais, visando apenas o bem-estar físico e emocional dos
alunos.

De acordo com Losso (2008, p. 74), “Não só é imprescindível que o Orientador


faça uma avaliação criteriosa e um acompanhamento compatível, como também
é fundamental o encaminhamento, quando necessário, para outro profissional
apropriado ao atendimento das necessidades do aluno”.

Quando o problema se encontra na escola, precisa ser considerado prioridade


no trabalho pedagógico do Orientador Educacional, pois ele certamente afetará o
aproveitamento escolar dos alunos, conforme Giacaglia e Penteado (2010, p. 178):

Os problemas que têm origem nas circunstâncias da escola


costumam afetar quase todos ou a maior parte dos alunos de
uma escola ou de uma classe. Em uma escola descuidada,
com direção fraca, excesso de faltas do pessoal, falha
em planejamento, com sérios problemas de violência e
de indisciplina, o problema do mau rendimento acomete,
praticamente, todos os alunos.

Para cada segmento da escola (Educação Infantil, Ensino Fundamental e


Médio) utilizam-se diferentes estratégias e métodos didático-pedagógicos. Da
mesma forma, cada segmento apresentará diferentes problemas que possam
desencadear o baixo rendimento escolar.

Para justificar tal afirmação, as contribuições de Giacaglia e Penteado (2006,


p. 81), separando os problemas específicos de cada segmento, interferindo na
aprendizagem e aproveitamento escolar dos alunos:

136
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

a) Educação Infantil (se for o caso) e primeiras séries (1º e 2º ano) do


Ensino Fundamental:

• adaptação à situação escolar;


• horários e disciplina;
• relacionamento com colegas;
• problemas de visão e de audição;
• problemas familiares;
• problemas emocionais;
• concentração;
• prontidão;
• hábitos de estudos;
• falta, repetência e evasão.

b) Segundas, terceiras e quartas séries (3º, 4º e 5º ano):

• disciplinas novas;
• mais de um professor;
• repetência e evasão;
• hábitos de estudo.

c) Quintas séries (6º ano):

• hábitos de estudo;
• muitos professores;
• diferentes exigências e diferentes personalidades do professor;
• tratamento mais impessoal do aluno;
• tratamento de “adulto”;
• mudança de período e de escola;
• namoricos;
• drogas.

d) Sextas e sétimas séries (7º e 8º ano):

• número grande de disciplinas;


• diferentes professores, diferentes exigências;
• transformação da puberdade;
• drogas.

e) Oitavas séries (9º ano):

• decisões vocacionais: cursos, trabalho atual e/ou futuro;


• eventual mudança de turno ou de escola;

137
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

• drogas;
• namoro.

f) Ensino Médio (Primeiras e segundas séries):

• nova escola, período, prédio, colegas;


• disciplinas novas;
• eventual trabalho ou maiores responsabilidades fora da escola;
• namoro;
• drogas.

g) Ensino Médio (Terceiras séries):

• decisões profissionais e/ou escolares;


• término do curso, saída da escola;
• cursinho e vestibular;
• namoro;
• drogas.

Figura 36 – Ensino médio

Fonte: Disponível em: <http://coachtalitamartinss.blogspot.com.br/2011/05/


coaching-para-adolescentes-e-jovens.html>. Acesso em: 17 ago. 2017.

É importante frisar que, independentemente do segmento em que se encontra


o aluno, se a assiduidade não for respeitada, pode-se ter mau aproveitamento
escolar, pois se o aluno falta ou atrasa demais, acaba prejudicando o fluxo normal
das aulas, principalmente se o mesmo já apresenta um quadro de dificuldade.

É preciso que cada estudante compreenda que deve fazer “a sua parte”,
disciplinando-se para o estudo diário, conforme nos alertam Giacaglia e Penteado
(2010, p. 167):

138
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Para aprender, o aluno precisa primeiramente saber estudar.


[...] revisar a matéria dada após as aulas e não estudar
apenas para as provas. O bom rendimento escolar depende
da organização, disciplina, responsabilidade e distribuição
adequada das tarefas em função do tempo disponível, do
volume, da complexidade das tarefas e das dificuldades
específicas do aluno.

Figura 37 – Estudar é preciso!

Fonte: Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/3621/


calvin-e-seus-amigos>. Acesso em: 17 ago. 2017.

Ser organizado com os próprios materiais, com as tarefas, trabalhos e estudos


pode contribuir muito no aproveitamento escolar do aluno, visto que grande parte
das “crianças ou adolescentes que apresentam dificuldades de aprendizagem,
apresentam também dificuldades de organização, o que em nada contribui para a
superação de seus problemas” (PIANEZZER, 2013, p. 228).

Com base em Giacaglia e Penteado (2010, p.167-168), uma lista a seguir


com algumas estratégias que facilitarão esta organização, por parte dos alunos:

a) colocação dos horários de aulas e de outras atividades escolares, em


local visível para consulta rápida e fácil;

b) mural de avisos, para a visualização fácil de datas de provas ou entrega


de tarefas ou trabalhos escolares;

c) o uso adequado de uma agenda organizada que traga espaços


específicos para:

d) dados sobre a escola (endereço, telefone etc.) e sobre o aluno;

139
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

e) calendário do ano em curso e do próximo;

f) horário das aulas;

g) horário das atividades extraclasse;

h) nome dos diretores, do Orientador Educacional e dos CPS, dos


professores e dos demais funcionários;

i) calendário escolar com as datas do início das aulas; períodos de


planejamento; feriados e dias sem aulas; início e término das férias;
reuniões de pais; períodos de provas; períodos de recuperação; conselho
de classe; matrícula e pré-matrículas, enfim, todas as atividades
importantes da escola;

j) folhas contendo os dias de cada mês, com espaço suficiente para o


aluno anotar exercícios, trabalhos a serem entregues, pesquisas e outras
atividades programadas;

k) folha de registro de provas e/ou outras avaliações;

l) espaço apropriado para recados e solicitações da escola, por parte do


diretor, professores, SOE, Serviço de Orientação Pedagógica, biblioteca
etc. É importante lembrar, entretanto, que a agenda será usada durante
todo o ano letivo, devendo a escola evitar colocar nela observações
comprometedoras sobre o aluno, pois elas poderão ser lidas por colegas
ou outras pessoas;

m) espaço para comunicações dos pais ou responsáveis para a escola, bem


como justificativas para atrasos, ausências, saídas antecipadas, falta de
material ou de uniforme, se for o caso;

n) local para registro de notas bimestrais e faltas, bem como para gráficos
de aproveitamento escolar do aluno e da classe.

Diante dessas estratégias que poderão auxiliar a escola em relação às


questões de organização e rotina de estudos, pergunta-se: como os pais podem
auxiliar seus filhos em casa para que o trabalho mantenha a mesma linha de
atuação que é conduzida na escola?

A primeira dica reforça a ideia de que “ajudar o filho na superação de suas


dificuldades não significa em hipótese alguma fazer as tarefas ou trabalhos por
ele” (PIANEZZER, 2013, p. 230). É preciso estimular a autonomia e o pensamento!

140
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Figura 38 – Como ajudar os filhos?

Fonte: Disponível em: <discoverykidsbrasil.uol.com.br/pais/artigos/


como-ajudar-os-filhos-a-estudar/>. Acesso em: 17 ago. 2017.

Pensando especificamente na família, para Giacaglia e Penteado (2010,


p. 168-171) uma série de sugestões podem e devem resultar num trabalho
cooperativo, objetivando a melhoria no aproveitamento escolar dos filhos:

a) o Orientador Educacional deve orientar os pais sobre hábitos de estudos


em casa, por exemplo, ter um local calmo e livre de distrações, para a
realização das tarefas escolares e do estudo. Estudar sempre em um
mesmo local também ajuda muito;

b) o local onde o aluno irá estudar deve estar livre de distrações, como
cartazes, fotos, quadros, brinquedos e excesso de material escolar;

c) o normal é que o aluno consiga fazer suas tarefas sem a ajuda de


familiares, pois há crianças que não se esforçam para realizar as próprias
tarefas, preferindo fazê-las perto de adultos para ficar perguntando a
eles, em lugar de tentarem resolver sozinhas ou pesquisar as respostas
em livros ou dicionários;

d) por outro lado, os professores não devem exigir dos alunos a realização
de tarefas que necessitam da ajuda dos pais. Esse assunto precisa ser
discutido, logo no início do ano letivo, com os professores, os pais e os
alunos, para que se evitem incidentes desagradáveis.

e) outro problema que costuma afetar o rendimento escolar do aluno


é o desrespeito, por parte de seus responsáveis, pela distribuição e
pela organização do tempo do aluno, e o desequilíbrio em relação às
atividades desenvolvidas por ele nesse tempo. Deve-se evitar o excesso;

141
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

f) o aluno precisa ter seu tempo organizado, isto é, distribuído de forma


balanceada entre cuidados pessoais, descanso, estudo, obrigações
familiares e/ou trabalho e lazer. Qualquer sobrecarga em alguma dessas
áreas acarretará problemas de rendimento escolar;

g) a criança precisa alimentar-se adequadamente, pois aluno mal


alimentado não apresentará condições ideais para a aprendizagem. O
mesmo pode ser afirmado em relação à higiene pessoal e ao descanso.
Alunos que frequentam as aulas no período matutino devem deitar-se
cedo, para que não fiquem sonolentos;

h) cuidado com o excesso de atividades extras, não sobrando tempo para o


lazer e o descanso da criança;

i) também não é recomendável que o aluno passe noites em claro


estudando para a prova do dia seguinte, teria sido muito melhor ter
estudado um pouco por dia, de preferência no mesmo dia em que a
matéria foi passada;

j) os pais podem adotar um horário-base de atividades com seus


respectivos horários, para organizar a rotina, que deve servir de guia e
ser flexível;

k) é comum o aluno esquecer em casa parte do material de que necessitará


durante as aulas do dia. Por isso, a necessidade de haver um horário
de fácil visualização, com as disciplinas e os materiais necessários para
cada uma delas;

l) à medida que o aluno for crescendo, essas preocupações vão se


tornando desnecessárias, bem como a supervisão dos familiares.

Se todos os pais compreendessem a influência que eles exercem na


vida escolar dos filhos e a importância que o acompanhamento deles tem nos
resultados, certamente investiriam mais tempo nessa relação, pois:

[...] se os pais orientarem seus filhos em relação às tarefas


escolares e em relação à própria organização da mochila e
dos materiais necessários para o dia seguinte; se os auxiliarem
na organização da agenda com as datas previamente
estipuladas para a entrega de tarefas, trabalhos ou realização
de avaliações; se os orientarem também quanto ao espaço e
o horário da realização das tarefas e o local para os estudos;
se os ensinarem a elencar as prioridades e ir vencendo cada
etapa - grande parte de sua missão em auxiliar o filho na

142
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

superação das dificuldades escolares estará cumprida, e isto


certamente será gratificante aos pais, além de ser um fator de
grande motivação aos filhos. (PIANEZZER, 2013, p. 235).

A família e a escola formam uma dupla importantíssima em relação ao


desenvolvimento integral do aluno. Ambas, quando bem articuladas, traçam
metas comuns e caminham na mesma direção, o que facilita o desenvolvimento
pleno de seus filhos ou alunos. Para tanto, há que se ter na escola um Orientador
Educacional que pratique uma gestão democrática. É sobre isso que falaremos, a
partir de agora!

O Orientador Educacional e a
Gestão Democrática, na Prática
O Orientador Educacional que acredita num trabalho cooperativo; que é
capaz de delegar funções; que busca ouvir a opinião dos outros; que investe no
grupo; que acredita na força coletiva para a tomada de decisões e que busca a
troca de experiências em sua liderança, abrindo mão do monopólio como recurso,
pode ser considerado democrático.

Quando a escola apresenta este tipo de gestão, todos saem ganhando, pois
os espaços se ampliam, deixando entrar a participação, o diálogo, as sugestões
de melhoria ou críticas construtivas, de todo um grupo, que faz parte (de forma
integral e cidadã) daquela instituição.

Figura 39 – Participação democrática

Fonte: Disponível em: <http://lendomundo.wordpress.com/2011/04/06/consideracoes-


sobre-a-gestao-democratica-na-educacao/>. Acesso em: 18 ago. 2017.

143
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

“É preciso incentivar a participação, bem como manter um vínculo mais


orgânico entre representante-representados, pois alguns membros, depois de
eleitos, passam a falar por si, sem ter o cuidado de dialogar com seus pares”
(VASCONCELLOS, 2007, p. 84).

Quando entendem a importância de sua participação na escola, alunos, pais,


professores, demais funcionários e comunidade em geral auxiliam a direção da
escola na tomada de decisões e no estabelecimento de novas regras. De acordo
com Pianezzer (2013, p. 244), ser democrático significa:

a) saber ouvir e valorizar a opinião dos outros;

b) acreditar que todos os membros da comunidade escolar têm algo a


contribuir na gestão;

c) abrir as portas da escola ao diálogo e à participação de seus membros;

d) abrir a “cabeça” para aceitar sugestões daqueles que caminham ao


nosso lado e estão dispostos a nos ajudar naquilo que for preciso.

Afinal, como atrair a comunidade para dentro da escola? Que estratégias


utilizar para que ela se sinta interessada pelos assuntos da instituição? Como
desenvolver nos demais membros o senso de corresponsabilidade pela educação
de seus filhos ou alunos? Garcia (1990, p. 49) responde:

[...] facilitando a consciência de que todos possuem saber em


qualquer que seja o campo do conhecimento e da vida. [...]
é do confronto de saberes que poderemos, juntos, produzir
um novo saber capaz de dar novos rumos à educação escolar
[... ]. Este pode representar um primeiro passo no sentido de
implementar na escola a criação de um espaço democrático,
em que tanto pais como alunos e comunidade venham a sentir-
se mobilizados e estimulados a participar da formulação do
projeto político-pedagógico da escola.

Esta citação faz pensar que todos têm o que aprender e o que ensinar; novos
saberes a compartilhar; testemunhos e experiências para trocar; sentimentos
e valores para demonstrar. Cada um do seu jeito, com suas habilidades ou
dificuldades, mas com o mesmo propósito: educar.

Além do convite à participação na formulação do PPP mencionada na citação


anterior, outras oportunidades possibilitam a participação do aluno e da família na
escola, com base em Pianezzer (2013, p. 246), tem-se:

144
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA ESCOLA

• nos eventos da escola (como convidados ou mesmo como


responsáveis por palestras, oficinas, projetos culturais, sociais
ou desportivos);
• nos conselhos de classe;
• nos eventos com fins lucrativos: festas, pasteladas, promoções;
• nas gincanas de integração;
• nos jogos internos (esportivos);
• nos grupos de formação continuada;
• no grupo de pais e amigos da escola, entre outros.

Fonte: Pianezzer (2013, p. 246).

Vale lembrar que não se faz gestão democrática deixando crianças


e adolescentes fora do processo, como se eles não fossem capazes de
compreender o que é e para que serve a democracia. É preciso envolvê-los nas
decisões, principalmente os jovens. A respeito deste assunto, Conceição (2011, p.
57) acrescenta:

[...] o jovem busca conhecer-se e encontrar seu lugar no


mundo [...] e o papel da escola é o de construção conjunta
de uma possibilidade real, num mundo real. [...] portanto, além
dos conhecimentos tradicionais, a escola deverá ocupar-se
de atividades cuja finalidade inclua a reflexão e a ação sobre
a realidade próxima dos alunos, facilitando e mediando a
passagem de uma condição de adolescência para a de um
adulto incipiente, cujas escolhas de vida e de carreira possam
estar pautadas pela possibilidade de ele se ver como agente
de transformação social.

Quando crianças e jovens percebem que têm seu espaço garantido dentro
da escola e que têm respeitados seus direitos e deveres, passam a gostar dela,
desejando estar e atuar na instituição, em favor da própria transformação e de
toda uma sociedade, da qual fazem parte e também são responsáveis.

Para Grinspun (2011, p. 102), “A escola democrática é aquela que aceita


desigualdades na entrada e propicia igualdades na conclusão do curso”. Ou seja,
“uma escola que trabalha valores humanos; que ensina a respeitar a diversidade
social, cultural ou religiosa das pessoas da comunidade, da escola ou de qualquer
outro espaço físico; que educa para a vida dentro e fora dos portões da escola”
(PIANEZZER, 2013, p. 247).
145
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Quanto mais cedo as crianças começarem a exercitar a democracia,


melhor, pois estes momentos de discussão, debate, contradição, argumentação
ou negociação na fase adulta tendem a permanecer guardados, pelo medo ou
vergonha da exposição.

A questão de falar em público e defender um ponto de vista precisa ser uma


prática incentivada na escola, com todas as pessoas que compõem a comunidade
escolar: do filho ao pai ou responsável; da criança ao professor; do funcionário da
limpeza ao gestor. A respeito dessa questão, Garcia (1990, p. 47) afirma que:

Para que a comunidade escolar se sinta encorajada a participar


coletivamente, deve contar com a oportunidade do exercício de
debater, discutir, criticar, apreciar e propor. O aprendizado da
participação, portanto, se realiza no próprio ato de ir influindo
em diferentes instâncias no processo decisório escolar.

A iniciativa destes momentos de integração e gestão democrática precisa


partir da escola, pois os pais e demais membros da comunidade aguardam este
tipo de manifestação de forma passiva, para não parecerem invasivos em relação
às questões institucionais. A respeito disso, Garcia (1990, p. 47) afirma que:

[...] o estímulo à participação de alunos e pais fortalece sua


capacidade de interferir e contribuir com originalidade na luta
pela transformação da sociedade, em direção à conquista de
uma real cidadania, que lhes torne verdadeiramente legítimo o
direito à educação, saúde, habitação, justiça, igualdade jurídica
e liberdade. O direito à vida.

Existem alguns conceitos que se encontram relacionados diretamente com


uma gestão que seja, de fato, democrática. Dentre eles e conforme a imagem a
seguir:

a) autonomia: para desejar o sucesso e caminhar em busca dele;

b) transparência: para dizer o que pensa, o que sente e o que deseja;

c) valorização dos sujeitos: para exercer uma gestão participativa e


democrática;

d) participação: para sentir-se integrado à escola e à comunidade, como


protagonista.

146
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Figura 40 – Gestão democrática

AUTONOMIA

PARTICIPAÇÃO GESTÃO
(Conselhos)
TRANSPARÊNCIA
DEMOCRÁTICA

VALORIZAÇÃO
DOS SUJEITOS

Fonte: Disponível em: <http://elainepernambuco.blogspot.com.br/2010/09/gestao-demo-


cratica-uma-luta-continua.html>. Acesso em: 18 ago. 2017.

Garcia (1990, p 46) afirma que a participação dos Orientadores Educacionais


na construção de uma escola democrática, implica em:

a) buscar o trabalho coletivo na escola, incluindo toda a equipe escolar:


professores, supervisor, diretor, serventes, merendeiras, alunos e
orientador;

b) promover a discussão coletiva sobre o papel da escola na comunidade


onde se situa e na sociedade em que se vive;

c) levantar as expectativas da comunidade sobre suas aspirações em


relação à escola;

d) propor a realização de um diagnóstico dinâmico e participativo tanto da


realidade interna da escola, como da realidade da comunidade onde
vivem os alunos;

e) valorizar a realidade do aluno na definição dos projetos escolares;

f) rediscutir o currículo escolar - compreendido como todas as atividades


realizadas na escola - com a participação dos envolvidos no processo
educativo, inclusive o aluno e a comunidade;

g) participar da reconstrução do currículo escolar, evidenciando as


informações colhidas na investigação da realidade do aluno, para
que esta se torne ponto de referência no processo de socialização do
conhecimento científico;

147
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

h) promover a discussão por toda a equipe escolar sobre a questão da


educação e cidadania;

i) trabalhar a questão da representatividade;

j) estimular e referendar a participação dos pais e da comunidade na


elaboração dos projetos escolares, buscando opiniões, sugestões e
críticas;

k) criar espaço para a participação do aluno nas decisões escolares,


inclusive do aluno trabalhador na definição dos horários escolares, de
modo que possa compatibilizar estudo e trabalho, e comprometer-se
com suas responsabilidades com a escola;

l) estabelecer contato com o local de trabalho do aluno, buscando a


garantia de que seu horário de estudo seja respeitado;

m) enfatizar a necessidade de incluir no currículo a discussão sobre trabalho.

Para finalizar, vale reforçar que não há como pensar em gestão democrática
sem levar em conta a igualdade de direitos, a diversidade cultural, a inclusão
social, a justiça e os valores humanos.

Diante disso, a responsabilidade da Orientação Educacional, conforme


Grinspun (2011, p. 191):

[...] Em face das transformações que vivemos no mundo e que


repercutem em todas as instituições, o papel da Orientação
Educacional é muito significativo, ao possibilitar ao sujeito
compreender e analisar esse mundo, compreendendo-se nesta
relação com o outro, e também ajudando a Escola na interação
de suas relações e de seu projeto político-pedagógico, de modo
que possamos viver e conviver neste mundo de forma mais
crítica e consciente, buscando alternativas, criando estratégias
para uma escola de mais qualidade, uma sociedade mais justa
e um mundo que aposte na paz.

Com esta citação, encerra-se este caderno de estudos, na esperança de


que ele tenha sido um importante instrumento de leitura, reflexão, informação
e conhecimento a respeito da Orientação Educacional e todos os seus
desdobramentos.

Muito obrigada pela companhia e pela certeza de que é maravilhoso educar.

148
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

Atividades de Estudos:

1) Grande parte dos problemas enfrentados pelas escolas da


atualidade refere-se a falhas na comunicação, especialmente em
relação à família e à escola. Partindo desse pressuposto, qual
a importância da comunicação entre o Serviço de Orientação
Educacional e as famílias? Assinale a alternativa CORRETA:

( ) Quando uma escola mantém a comunicação ativa com as


famílias, elas passam a sentir-se parte integrante do processo
educativo dos filhos.
( ) Quando a comunicação é falha, as famílias participam de
eventos pedagógicos ou de integração com maior interesse e
motivação.
( ) Quando não há comunicação entre escola e a família, significa
que está tudo bem com o filho, caso contrário a família seria
comunicada.
( ) Estabelecer comunicação entre a escola e a família não é viável
no dia a dia, pois olhar agenda ou preencher questionários
exige muito tempo dos pais.

2) O Orientador Educacional deve buscar estabelecer parcerias


com as famílias, conscientizando-as de suas responsabilidades
e orientando-as em relação ao tipo de ajuda que as mesmas
poderão estender ao filho, em casa, estimulando-os dentro do
próprio processo de ensino-aprendizagem. Diante disso, assinale
V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Espera-se que os pais ou irmãos auxiliem a criança em suas


tarefas escolares, estimulando-os e não realizando as tarefas
por eles.
( ) Espera-se que os pais acompanhem o filho durante as tarefas,
e caso ele não consiga realizá-las sozinho, façam por ele para
que o mesmo não seja prejudicado.
( ) Espera-se que os pais deleguem toda a responsabilidade escolar
aos filhos, não necessitando acompanhar tarefas ou estudos.
( ) Espera-se que os pais auxiliem a criança com a organização da
agenda, de tarefas, avaliações e do próprio material escolar.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

149
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

( ) F – V – V – F.
( ) V – F – V – F.
( ) F – V – V – V.
( ) V – F – F –V.

AlGumas ConsideraçÕes
Neste capítulo vimos o quanto é importante estabelecer parceria com toda
a comunidade escolar, especialmente com as famílias dos alunos, pois tomar as
decisões com o apoio das pessoas que fazem parte da instituição é sempre mais
tranquilo.

Quando o assunto é a construção ou reformulação do PPP, compreendemos


que juntos somos mais fortes, para refletir, decidir e agir, na busca pela excelência.

Trouxemos dicas que podem ajudar pais e professores, sob o olhar do SOE,
para a resolução de problemas relacionados ao mau aproveitamento escolar de
determinados alunos.

Além disso, compreendemos a definição de gestão democrática e seus


desdobramentos, tanto dentro quanto fora dos muros da escola.

E, por fim, percebemos o papel do Orientador Educacional na condução de


uma gestão democrática que abra espaço ao diálogo e à participação coletiva
de toda a comunidade escolar, reforçando a comunicação e a interação como
essencial nesta parceria.

Esperamos que tenham gostado!!!

Prezado acadêmico, quer você se torne um Orientador Educacional,


Coordenador Pedagógico, Diretor Escolar ou assuma outro cargo na gestão
de uma instituição, leve nosso abraço e nossa gratidão pelo tempo em que
“estivemos” juntos. Muito obrigada!!!

“Ame sua profissão. Ame seus alunos, pais e demais membros da


comunidade escolar. Ame cada novo desafio. Ame cada dificuldade que lhe faça
crescer e evoluir. Ame, ame e ame!”

Um forte abraço e sucesso em sua caminhada!


Com muito amor e respeito,
Lúcia
150
Capítulo 3 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

ReFerÊncias
BARCELOS, Eronita. A escola também é conteúdo, contexto e educação. Ijuí:
UNIJUÍ, 1992.

CONCEIÇÃO, Lilian Feingold. Coordenação pedagógica e orientação educa-


cional: princípios e ações em formação de professores e formação do estudante.
2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.

GANDIN, Danilo. Escola e transformação social. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988.

GARCIA, Regina L. (Org.) Orientação educacional: o trabalho na escola. São


Paulo: Edições Loyola, 1990.

GIACAGLIA, Lia Renata Angelini; PENTEADO, Wilma Millan Alves. Orientação


educacional na prática: princípios, técnicas e instrumentos. São Paulo: Thom-
son Learning, 2006.

______. ______. Orientação educacional na prática: princípios, histórico, legis-


lação, técnicas, instrumentos. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

GRINSPUN, Mírian Paura S. Zippin. A orientação educacional: conflito de para-


digmas e alternativas para a escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

______. (Org.). Supervisão e orientação educacional: perspectivas de inte-


gração na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

LOSSO, Adriana Regina Sanceverino. Orientação educacional. Indaial: Grupo


Uniasselvi, 2008.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed.


Goiânia: Alternativa, 2004.

PENTEADO, Wilma Millan Alves. Fundamentos de orientação educacional.


São Paulo, EPU, 1976.

PIANEZZER, Lúcia Cristiane Moratelli. Orientação educacional. Indaial: Unias-


selvi, 2013.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico:


do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 8. ed. São Paulo:
Liberdad, 2007. (Coleção Cadernos Pedagógicos).
151

Você também pode gostar