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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

KAREN MILLEY COELHO SERO SILVA


LARISSA KELLY FONSCECA CARVALHO
RACHEL JALES ARAÚJO
RAQUEL OLIVEIRA ROCHA
TAINÁ NASCIMENTO PEREIRA

OFICINA DE HABILIDADES SOCIAIS: IMPACTO DE


TRANSMISSÃO ENTRE GERAÇÕES

Janeiro/2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO CURSO
DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

KAREN MILLEY COELHO SERO SILVA


LARISSA KELLY FONSCECA CARVALHO
RACHEL JALES ARAÚJO
RAQUEL OLIVEIRA ROCHA
TAINÁ NASCIMENTO PEREIRA

OFICINA DE HABILIDADES SOCIAIS: IMPACTO DE


TRANSMISSÃO ENTRE GERAÇÕES

Trabalho apresentado ao curso de Psicologia, da


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
com vistas à avaliação parcial do componente
Temas Atuais em Psicologia

Docente: Junnia Moreira

Janeiro/2022
INTRODUÇÃO

As habilidades sociais constituem um conjunto de comportamentos sociais com alta


probabilidade de produzir consequências positivas imediatas ou mediatas, tanto para um
indivíduo como para as pessoas do seu grupo social (Del Prette & Del Prette, 2010) à medida
que contribuem para o desenvolvimento da competência social (Del Prette & Del Prette,
2017). A competência social é um construto que avalia a qualidade do desempenho de
alguém e os seus resultados (imediatos, a médio e a longo prazo) em tarefas interpessoais -
não somente para o indivíduo, mas para o outro, o grupo de ambos e a comunidade - (Del
Prette & Del Prette, 2018), buscando alcançar o objetivo da interação social, melhora ou
manutenção da autoestima e da relação entre os participantes da interação, respeito dos
direitos humanos e tentativa de equilíbrio de ganhos e perdas dos envolvidos (Del Prette &
Del Prette, 2017).
As HS são aprendidas no decorrer da vida dos indivíduos através dos processos de
interação interpessoais, sendo então influenciadas pela cultura e contingências imediatas do
ambiente (Del Prette & Del Prette, 2018). A partir da consideração do caráter interacional na
aquisição do repertório de HS, torna-se importante a reflexão sobre as variadas relações
sociais que são estabelecidas ao longo da vida, em especial entre filhos e genitores (Comodo
et al., 2017). Nesse sentido, Comodo et al. (2017) mencionam alguns estudos (e.g. Shaffer,
Burt, Obradovic, Herbes, & Masten, 2009) que vêm sendo desenvolvidos a fim de observar o
comportamento dos pais/mães e dos filhos, e de compreender como e por que os
comportamentos dos filhos reproduzem ou não os de seus genitores. Até então, os resultados
encontrados mostram que há transmissão intergeracional de comportamentos.
A transmissão de comportamentos se refere às diversas maneiras que as pessoas
aprendem com outros indivíduos padrões de comportamentos (Comodo, et al., 2017). E nesse
contexto, faz-se essencial a análise na intergeracionalidade (ou transmissão intergeracional),
considerada por alguns estudos, em um sentido mais estrito, como a repetição de um padrão
relacional pais-filhos que seria adotado pelos filhos com os seus descendentes no futuro
(Comodo, et al., 2017). Outros autores, a exemplo de Bowers e Yehuda (2016), entendem que
a transmissão intergeracional relaciona-se à repetição de quaisquer padrões comportamentais
no decorrer das gerações. Nesse sentido, os resultados encontrados apontaram a
intergeracionalidade em, por exemplo, comportamentos de preservação do meio ambiente, de
dirigir, de racismo, dentre outros (Comodo, et al., 2017). No Brasil, estudos indicaram a
transmissão intergeracional de violência conjugal, estilos e práticas parentais, comportamento
moral, obesidade, anorexia nervosa (Comodo, et al., 2017).
Segundo Gresham (2009 como citado em Comodo, et al., 2017), o aprendizado de HS
se dá através de três principais estratégias: modelação, manejo de consequências e instrução.
No caso da intergeracionalidade, a modelação mostra-se muito importante, dada a imitação
dos comportamentos dos genitores pelos filhos. Baum (2004 como citado em Comodo, et al.,
2017) traz que existem três condições importantes para a imitação: a frequência em que os
comportamentos ocorrem na sociedade (quanto mais ocorre um comportamento, maiores são
as chances de imitação); comportamentos frequentemente bem-sucedidos (reforçados);
modelos que são vistos com mais frequência pela pessoa (a exemplo dos pais, amigos,
celebridades e outros). Esta última condição justifica o desenvolvimento de intervenções que
foquem não só em genitores, mas que se estendam aos cuidadores de referência de crianças e
adolescentes.
É importante mencionar que se o ambiente do indivíduo for desfavorável, poderão
haver falhas e/ou dificuldades na aquisição e/ou aperfeiçoamento das HS, uma vez que o
cuidador, além de não apresentar modelo, não saberá distinguir comportamentos habilidosos
e inabilidosos para, então, reforçar aqueles que se apresentam adequados à situação. A falta
desse repertório impacta nas relações intersociais e esta, por sua vez, na qualidade de vida
destes, uma vez que, enquanto indivíduos sociais, temos diversos reforçadores que são
mediados por outros indivíduos da mesma comunidade.
Levando esses aspectos em consideração, foram desenvolvidos procedimentos que
possibilitaram a estruturação de programas de Treinamento de Habilidades Sociais (THS),
que se caracterizam pelo conjunto de atividades preparadas e voltadas a processos de
aprendizagem, mediados por um terapeuta/coordenador e que tem em vista: o aumento da
frequência e/ou melhora da proficiência de HS já aprendidas; o ensino de HS significativas
novas; diminuir ou extinguir comportamentos concorrentes com tais habilidades (Del Prette
& Del Prette, 2017).
Considerando, pois, a intergeracionalidade, o caráter interacional na aquisição das
habilidades sociais, a relevância das relações entre crianças/adolescentes e os seus cuidadores
(pais ou não), bem como que as habilidades sociais são organizadas em classes e subclasses,
que possibilitam, inclusive, a identificação de recursos e déficits de cada pessoa, além da
avaliação e promoção das que sejam relevantes para cada cliente (Del Prette & Del Prette,
2018), foi desenvolvido o presente plano de intervenção a partir dos resultados encontrados
em Comodo et al. (2017), estudo esse realizado a partir de uma pesquisa de levantamento de
informações quantitativas com 142 adolescentes (entre 12 e 17 anos), 131 mães e 131 pais
(sendo válido ressaltar sobre a diferença existente na quantidade de pais/mães para filhos, já
que alguns dos filhos eram irmãos) a fim de identificar a possível transmissão de HS de pais e
mães para filhos adolescentes, tendo como resultado a existência de quatro fatores que
pareciam estar relacionados ao conceito de transmissão intergeracional, sendo eles a empatia,
assertividade, desenvoltura social e abordagem afetiva.
Objetivando-se, pois, intervir junto ao público-alvo formado por cuidadores de
referência de criança e/ou adolescente com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos
participantes sobre habilidades sociais e intergeracionalidade, além de realizar atividades que
possibilitem identificar e praticar comportamentos socialmente habilidosos, foi feito um
levantamento de informações buscando-se avaliar a demanda do público-alvo, identificando
as necessidades específicas do grupo para que, então, fossem alinhados os objetivos da
presente intervenção.
Dessa forma, através de um formulário eletrônico, com perguntas relacionadas aos
aspectos das habilidades sociais que em Comodo et al. (2017) pareciam estar relacionados ao
conceito de transmissão intergeracional foram obtidas respostas que direcionaram o foco da
prática, possibilitando uma intervenção mais significativa para os participantes, com relação
aos fatores de empatia, capacidade de apreender sentimentos e de identificar-se com a
perspectiva do outro, manifestando reações que expressam essa compreensão e sentimento
(Del Prette e Del Prette, 2001); e de assertividade, uma classe de habilidades sociais de
enfrentamento em situações que envolvem risco de reação indesejável do interlocutor, com
controle da ansiedade e expressão apropriada de sentimentos, desejos e opiniões. Ela implica
tanto na superação da passividade quanto no autocontrole da agressividade e de outras
reações não habilidosas (Del Prette & Del Prette, 2005).

MÉTODO
2.1 Recrutamento
Com o objetivo de formar um grupo de 15 participantes, sem distinção por gênero,
composto por cuidadores primários de criança e/ou adolescente, foi produzido um cartaz
digital contendo informações necessárias para a compreensão do formato e conteúdo da
oficina. O cartaz, que tem indicado o grupo e instituição responsáveis, título, público alvo,
quantidade de vagas e previsão do período de realização, foi exclusivamente divulgado e
compartilhado por meio de redes sociais, acompanhado por um link de encaminhamento para
o formulário de inscrição, a fim de obter um maior alcance de pessoas. O formulário foi
desenvolvido pelo Google Forms, um aplicativo do Google de coleta de informações de
pessoas. Ele seguiu uma estrutura com 14 quesitos, sendo 9 destinados a extrair informações
pessoais tanto dos inscritos como das crianças e/ou adolescentes vinculados, 1 para escolher o
dia e horário preferido para a realização da oficina e os outros 4 foram itens retirados do
IHS-Del-Prette (Del Prette & Del Prette, 2001) e adaptados ao formulário, a fim de observar
o padrão de respostas dos inscritos e desenvolver a oficina dando foco as classes de
habilidade sociais que demonstraram estar mais deficitárias.

2.2 Critérios de Seleção

Na busca de um grupo heterogêneo, a seleção de participantes ocorrerá em conformidade a


três critérios: o inscrito se enquadrar na categoria de cuidador primário de criança ou
adolescente, a ordem de inscrição e, por último, disponibilidade nos dias e horários indicados
no formulário de inscrição.

2.3 Estrutura da intervenção


A oficina consistirá em um único encontro com duração média de duas horas e meia,
havendo um breve intervalo dentro desse tempo. A data será decidida com base na
preferência e disponibilidade apresentada pela maioria dos inscritos. Inicialmente, será
realizado um contrato verbal a fim de explicar como a oficina irá acontecer, ressaltar a
importância do sigilo, uso de fones e de se manter em um ambiente confortável. Em seguida,
será realizada uma dinâmica de quebra-gelo, onde será solicitada uma rápida apresentação
com nome, idade, o que motivou a participar da oficina e contar uma grande qualidade sua.
Após a apresentação, haverá um momento de exposição, mediado por duas das
integrantes, onde serão definidas as habilidades sociais, apresentadas as habilidades que serão
abordadas no encontro -empatia, desenvoltura social, abordagem afetiva e assertividade- e o
importante papel da transmissão intergeracional. Vale ressaltar que apesar do momento
possuir caráter mais expositivo, será incentivada a contribuição dos participantes. Em
seguida, mediado por outra integrante, serão apresentados vídeos curtos de interação e, a
seguir, os participantes deverão indicar se aquele é um comportamento habilidoso e, se não,
qual seria uma sugestão de comportamento a ser adotado, questionar se os participantes já
haviam emitido ou observado alguém emitir o comportamento socialmente não habilidoso e
quais os sentimentos envolvidos quando se emite ou é vítima desse tipo de conduta. Ao final
desse momento, será dado um intervalo de tempo a ser acordado com os participantes.
Ao voltar do intervalo, teremos um outro momento expositivo que irá abordar a
transmissão intergeracional das habilidades sociais com base nos aspectos apontados por
Baum (2004), ressaltando que o repertório social dos genitores pode ser importante para
transmitir -dar modelo- tais comportamentos para os filhos, mas que também é importante
que eles consigam ensinar comportamentos para os adolescentes por meio de
consequenciação e instrução. Assim como no momento expositivo anterior, esse também terá
aspecto colaborativo.
Após, será realizado um momento de role-play entre os participantes. Eles serão
divididos em duplas -caso o número de participantes seja ímpar, contaremos com um trio- e
encenarão uma situação conflituosa que será situada brevemente por uma das mediadoras. O
momento contará com sugestões dos outros participantes e, caso necessário, com sugestões
das mediadoras da oficina.
Ao final das atividades propostas, uma mediadora realizará o encerramento da oficina
e solicitará que os participantes respondam um questionário -de forma anônima- para que
avaliem o quanto a intervenção lhes ajudou a compreender melhor o construto, quais aspectos
da oficina lhes agradaram e quais poderiam ser aprimorados.

RESULTADOS ESPERADOS

Com o término da oficina, espera-se que os participantes tenham ciência do conceito de


habilidades sociais e das implicações da transmissão entre gerações, por conseguinte,
compreenderem as consequências positivas que elas podem proporcionar para o indivíduo e
para as pessoas do seu grupo social e, assim, desencadear maior interesse e procura por esses
temas. Dessa maneira, espera-se que os cuidadores passem a se preocupar mais com os
próprios comportamentos habilidosos e não habilidosos, e desenvolvam o propósito de
aperfeiçoarem as habilidades sociais, beneficiando as relações sociais já constituídas e
delineando um cuidador que seja modelo e referência para a criança/adolescente.

REFERÊNCIAS
Baum, W. M. (2004). Understanding behaviorism: Behavior, culture and evolution.
Wiley-Blackwell
Bowers, M. E., & Yehuda, R. (2016). Intergenerational transmission of stress in humans.
Neuropsychopharmacology, 41(1), 232-244.

Comodo, C. N., Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2017). Intergeracionalidade das
Habilidades Sociais entre Pais e Filhos Adolescentes. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online].
2017, v. 33

Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2017). Habilidades Sociais: programas efetivos em
grupo. São Paulo: Pearson

Del Prette, A. & Del Prette, Z.A.P. (2018). Competência Social e Habilidades Sociais:
Manual Teórico-prático. Petrópolis: Editora Vozes

Del Prette Z. A. P., & Del Prette, A. (2010) Habilidades sociais e análise do comportamento:
Proximidade histórica e atualidades. Perspectivas em Análise do Comportamento, 1(2),
104-115.

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância:
teoria e prática. Petrópolis: Vozes.

Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das Relações Interpessoais: vivências
para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes

Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2001). Inventário de Habilidades Sociais
(IHS-Del-Prette): Manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do
Psicólogo

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