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65-81 ]
I. Objecto
O presente trabalho visa ser um modesto contributo sobre um tema
que, em nosso juízo, não tem merecido grande atenção da doutrina e
que traz a jurisprudência dividida. Trata-se de saber se o art. 1906.º
do Código Civil (doravante, CC), na sua actual redacção, consagra
ou não a possibilidade de guarda alternada dos menores, no âmbi-
to das responsabilidades parentais partilhadas e, em consequência,
da admissibilidade ou não da sua residência também alternada. Em
[1]
O autor agradece vivamente o auxílio no trabalho de pesquisa jurisprudencial
do Sr. Dr. João Fernandes Moreira que esteve na base do presente artigo.
[ 66 ] Revista do Ministério Público 151 : Julho : Setembro 2017
implica, no que aqui diz respeito, que o Estado deva não só abster-
-se, mas também criar condições positivas no sentido de garantir, na
medida do possível, uma intervenção paritária de ambos na condu-
ção da educação dos seus filhos, não sendo hoje admissível qualquer
preferência de princípio por qualquer um deles. Sabe-se que, durante
muito tempo, em virtude de concepções ideológicas, morais, religio-
sas, sociológicas e de outro jaez, as legislações e, em consequência,
os Tribunais, afirmavam uma «preferência maternal» que, à luz do
novo edifício constitucional saído da Revolução de 1974, passou a
ser materialmente inconstitucional. Em igualdade de circunstâncias,
qualquer um dos progenitores – pai ou mãe – deve exercer as res-
ponsabilidades parentais que lhe cabem e, portanto, decidir os des-
tinos da vida dos seus filhos. E isto, em especial, em situações de
crise na relação afectiva entre ambos, como ocorre no âmbito de um
processo de divórcio sem consentimento do outro cônjuge, p. ex..
Regressaremos a este ponto.
Diga-se, por outro lado, que, mesmo a designação de «responsa-
bilidades parentais» aponta, em sentido convergente, para uma cons-
ciencialização colectiva no sentido de que os menores, em situações
de ruptura de casamento ou de outras uniões que lhe sejam equipa-
radas, tenham, quanto possível, um contacto regular com ambos os
progenitores, de modo a que a sua personalidade se forme de maneira
harmoniosa, segundo um contributo necessariamente distinto e mul-
tifacetado dos progenitores. Se dúvidas existissem quanto a este ponto,
o legislador, nas suas vestes penais, deu-nos essa indicação ao incre-
mentar, por via da Lei n.º 61/2008, de 31 de Outubro, com entrada em
vigor a 1 de Dezembro do mesmo ano, o âmbito de tutela típica do
crime de subtracção de menor nas hipóteses do art. 249.º, n.º 1, al. c),
do Código Penal, sobre o qual já tivemos oportunidade de escrever [3].
[3]
Veja-se o nosso «O crime de sub- in: Julgar, 7 (2009), pp. 99-131, acessível -Lamas-Leite-Subtrac%C3%A7%C3%A3o-
tracção de menor – uma leitura do também em http://julgar.pt/wp-content/ -de-menor-249-CP.pdf (consulta em
reformado art. 9.º do Código Penal», uploads/2016/04/05-Andr%C3%A9- 4/2/2017).