Você está na página 1de 2

A Revolução está em curso

O feminismo é um fazer, é ação que põe em cena


o desejo daquelas, que sendo mulheres, no mais
amplo sentido dessa palavra, lutam contra o seu
encarceramento, sua domesticação, sua
escravização e sua docilização, sem perder e vista
que mulher é uma marcação do patriarcado que foi
resinificada no feminismo, (TIBURI, Marcia,
2018).

Tem pessoas quem pensa que a revolução tem hora exata e data marcada para acontecer.
As que pensam dessa maneira, perde do campo das suas percepções a parte mais sensível
e subjetiva das transformações sociais, ou seja, o processo, por vezes lento e gradual, por
vezes mais acelerado, mas que não para de seguir. A título de exemplo, o capitalismo
levou mais de três séculos para torna-se vitorioso, se considerarmos seu início no século
XV a sua consolidação no século XVIII. Por que o feminismo deveria ser vitorioso em
um pouco mais de um século e meio? A revolução feminista é lenta, mas efetiva e cheia
de lutas, vitórias e derrotas.
A luta contra o patriarcado às vezes é solitária. No entanto, quando minhas forças estão
se exaurindo eu lembro que escolhi o caminho que julgo valer a pena. Para as coisas certas
vale a pena viver e morrer, como disse certa vez o revolucionário Carlos Marighella. Em
outros termos, mas com a mesma mensagem, Hugo Chávez nos lembra: só vale a pena
morrer pelas coisas (causas) que não vale a pena viver sem elas. E a luta pela dignidade
é uma causa que vale o esforço e sacrifício.
As estruturas patriarcais são fortes e se utilizam de estratégias psicológicas para
manipular os egos femininos por meio de pequenos estímulos como no processo de
domesticação de cães. Ou seja, quando são boazinhas ganham algo em troca. E assim,
permanecerem sob as rédeas do patriarcado. Essa é uma das diversas artimanhas para
convencer que o feminino nasceu apto à servidão. Desse modo, muitas mulheres, são
levadas a crer que “a família e o amor fazem todo o trabalho valer a pena, muito embora
a devoção à família seja justamente para amenizar a escravidão escrachada vivida pelas
mulheres nos ambientes domésticos”. Por isso, mesmo sendo vítimas dessa opressão, se
toram exímias opressoras de si e de outras mulheres. Afinal, “quando a educação não é
libertadora o sonho do/da oprimido/a é ser opressor (a) ”, já dizia Freire. No caso, a
educação emancipadora nos foi/é negada. Bem como, Beauvoir tinha razão ao afirmas
que “o opressor não seria tão forte se não tivesse cumplices entre os próprios oprimidos”.
Já há bastantes tutoriais ou mesmo manuais, escritos por homens, querendo nos ensinar
algo, (os homens sempre têm algo a nos ensinar), desde como nos portarmos em público
e privado, como nos vestirmos, como amá-los etc. Afinal, os homens aprendem a amar
muitas coisas e as mulheres aprendem a amar os homens. Na verdade, querem nos ensinar
a sermos mulheres. Mas mulher moldada ao seu bel prazer, submissa, docilizadas,
domesticadas, exploradas e conformadas. Esse intento nada mais é do que “imputar a
mulher à um regime estético-moral, evitando assim sua rebeldia e emancipação”
(TIBURI, 2018). Isso implica em retirar de nós a nossa essência humana de termos
impulsos de rebeldia e desobediência.
O mito do ideal feminino, muito propalado nas mídias sociais e no senso comum, de modo
mais direto, nos colocam nas sendas da escravização dos nossos corpos e almas. Para
suavizar essas dominações se utilizam e subterfúgios diversos e um deles é o uso de
conceito/termo de mulher guerreira. Pois, essas (mulheres ideais), são as que suportam
todo tipo de explorações de suas forças de trabalho, mesmo assim estão com um sorriso
largo na cara e o treino atualizado no final do dia. Já as que se negam a esse voluntarismo
à escravização e, se rebelam contra as estruturas do patriarcalismo, são taxadas de loucas,
mal-amadas, insanas e depravadas. Ou melhor como nos diz o refrão, são as tristes, loucas
e más. Esse é o léxico utilizado para se referir as mulheres que não aceitam que colonizem
seus corpos.
Na verdade, não somos guerreiras, somos da paz. Se fossemos da guerra queríamos
vingança por todos esses séculos de opressão/exploração e não apenas igualdade de
direitos. Ou melhor, direito a ter direitos humanos que nos assegure o básico, ou seja,
direito a vida, ir e vir com segurança, sem medo de sermos violadas e que nos assegure
um trabalho digno. É plausível lembrar que direito difere imensamente de privilégio e, é
essa a nossa luta.
Esse universo masculino que sente confortável em ditar modo de ser do feminino, nos
apresentam na prática um modelo de barbárie. A violação dos nossos corpos se tornou
uma linguagem. Pois, nem na infância, adolescência, adultas e idosas somos poupadas
dessa violação. Nem parto, nem no necrotério somos respeitadas.
A saga da tirania da opressão feminina se atualiza na difamação, exposição e
culpabilização desses corpos secularmente estigmatizados por um gênero, reforçando o
coro da dominação em mais uma sessão de violência gratuita.
Não nos subestimemos a esse mundo machista opressor! Coragem para sermos quem
somos, mulheres, libertárias, livres! A cada dia vamos colocando na prática o mantra que
La Boétir nos ensinou: “ sejamos resolutas em não servir e seremos livres.

A mulher livre está apenas nascendo!


Paz entre nós e guerra a nossos senhores!

Você também pode gostar