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NATAL / RN
2019.1
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NATAL/ RN
2019.1
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Este Artigo foi julgado adequado para obtenção da aprovação no componente curricular
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II do Curso de Pedagogia Presencial Natal-RN.
DATA: 25/06/2019
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Profª. Dra. Marisa Narcizo Sampaio – Orientadora
_____________________________________________________
Profª Dra. Cynara Teixeira Ribeiro (UFRN)
_____________________________________________________
Profª Dra. Cláudia Rosana Kranz (UFRN)
_____________________________________________________
( X ) Aprovado ( ) Reprovado
NATAL / RN
2019.1
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ANA LUIZA OLIVEIRA DANTAS
RESUMO
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Graduanda do Curso de Pedagogia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Natal / RN
– analuizadantas94@gmail.com
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LISTA DE SIGLAS
PL - Projeto de Lei
ESP - Escola Sem Partido
MESP - Movimento Escola Sem Partido
PCESP - Professores o Contra Escola Sem Partido
MBL - Movimento Brasil Livre
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
ESCOLA SEM PARTIDO E A ATMOSFERA DE PERSEGUIÇÃO E MEDO 8
IMPACTOS DO ESCOLA SEM PARTIDO NA SUBJETIVIDADE DOCENTE 16
REFLEXÕES SOBRE A RESISTÊNCIA DOCENTE E O PROJETO ESCOLA SEM
PARTIDO 25
REFERÊNCIAS 28
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INTRODUÇÃO
Meu primeiro contato com a temática se deu por meio de imagens, vídeos e textos
contendo declarações agressivas, vagas e caluniosas direcionadas aos/às professores/as por parte
dos idealizadores e defensores do Movimento Escola Sem Partido (MESP). Em contraponto, e
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proporção qualitativa superior, me deparei com o Movimento “Professores Contra o Escola Sem
Partido” que se mobiliza para denunciar o caráter ideológico e persecutório do PL ESP.
De início foram analisados os Projetos de Lei, o projeto original e seus apensados. Foi
analisado também o histórico de acontecimentos entre o período de criação da associação MESP
(2004) até se tornar Projeto de Lei (2014). Durante 10 anos, período percorrido até se tornar
projeto de lei nacional, o MESP se empenhou em acusar os/as professores/as de doutrinar
ideologicamente seus/suas alunos/as, sem conseguir sequer, nesse tempo, uma prova de que essa
prática aconteça de maneira generalizada.
O MESP surgiu em 2004, por iniciativa do então procurador do Estado de São Paulo,
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Miguel Nagib , motivado supostamente por uma insatisfação pessoal , buscando com o
movimento combater a “doutrinação” política, religiosa e sexual nas escolas. “[...] O site do
movimento o apresenta como “apartidário” e diz que “não defende e não promove nenhum tópico
da agenda liberal, conservadora ou tradicionalista. Logo, não é de direita. Mas os apoiadores do
movimento vêm quase exclusivamente desse espectro [...]” (Revista NOVA ESCOLA, 2016).
Entre os idealizadores do movimento, encontramos uma rede de sociabilidade estranha aos
problemas da Educação Pública no Brasil. Além de Miguel Nagib, coordenador e criador do
MESP e da Associação ESP, temos: Bráulio Porto de Matos, Olavo de Carvalho, Nelson Lehmann
da Silva, entre outros políticos e religiosos, todos filiados ao Instituto Liberal, organização
neoliberal vinculada ideologicamente à direita conservadora no Brasil. Entre os apoiadores do
MESP temos também agremiações como o MBL (Movimento Brasil Livre), um dos protagonistas
na reivindicação pelo impeachment de Dilma Rouseff, e o Revoltados Online (iniciativa popular
de combate aos corruPTos do poder”, como informa a fanpage da organização). O esquema
abaixo mostra as organizações, agremiações e movimentos sociais a favor do Escola Sem Partido
e os discursos dos quais ele se nutre.
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Miguel Francisco Urbano Nagib, define-se como coordenador do movimento. Ele é advogado, articulista do
Instituto Millenium (instituição privada de ensino, da qual o citado se desvinculou recentemente), escritor dos Deveres
do Professor – criado para o ESP – e proprietário da Escola Sem Partido Treinamento e Aperfeiçoamento Eireli – ME
(Treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial) e da Associação Escola Sem Partido (Atividades de
associações de defesa de direitos sociais).
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Entrevista em que Nagib informa sua motivação para o ESP. Disponível em: <brasil.elpais.com/brasil
/2016/06/23/politica/1466654550_367696.html>. Acesso em: 22/09/2019.
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Esquema organizado pela autora (2019)
A falácia da escola neutra é desmontada não só pelo argumento antropológico, de que é
impossível existir uma escola neutra, como também a partir das associações dentro do próprio
movimento, que tem clara base ideológica e política.
O texto do programa foi elevado à projeto de lei em 2014 (PL 7180/14) e tramitou na
Câmara dos Deputados, tendo como autor o então deputado Erivelton Santana (PSC), e como
relator o deputado Flávio Bolsonaro (PSC), compondo assim a primeira comissão do projeto. O
PL ESP tem como objetivo inscrito alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação:
O Projeto de Lei nº 7.180, de 2014, de autoria do Deputado Erivelton Santana,
propõe alterar o art. 3º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para incluir
entre os princípios do ensino o respeito às convicções do aluno, de seus pais ou
responsáveis, dando precedência aos valores de ordem familiar sobre a educação
escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa. (PL
7180/14, 2014)
O PL ESP teve maior repercussão entre 2015 e 2018, quando foi apensado a outros PL de
caráter municipal e estadual; concomitantemente, uma onda de ameaças contra professores/as se
intensificou, legitimada pelos PL antes mesmo de serem votados. Em vista disso, a categoria
dos/as professores/as e estudantes mobilizou-se no sentido de combater a censura na Educação. O
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Professores Contra o Escola Sem Partido (PCESP) é um dos grupos mais atuantes no
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“O Professores contra o Escola Sem Partido começou como uma página no Facebook de reunião e divulgação de
notícias relativas aos avanços do movimento de mesmo nome, “Escola Sem Partido”, criado em 2004 por um
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acompanhamento constante da evolução dos PL, como também na produção de materiais que
investigam e tentam desconstruir as propostas e estratégias presentes no MESP e PL ESP.
Reforçam com essa mobilização, o que Nóvoa (2009) indicaria como a reivindicação da presença
pública dos/as professores/as, a comunicação com a sociedade sobre o trabalho educativo. O
PCESP atua nesse sentido comunicando com a sociedade através de várias plataformas midiáticas
(Instagram, Facebook, blogs, podecast, Youtube).
advogado chamado Miguel Nagib. Somos um grupo de estudantes e professores que se opõem aos projetos de lei
incentivados por este movimento que tramitam em várias casas legislativas do país. Para combater este retrocesso
buscamos na página e neste blog informar e produzir conteúdo de análise e reflexão sobre o crescimento e
organização do ESP, visando fundamentar nossos argumentos para desconstruir o apoio que eles conquistaram nos
últimos anos.” (disponível em: <https://profscontraoesp.org/sobre/> acessado em: 15 junho 2019.
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Beatriz Kicis, advogada e procuradora do DF aposentada, é cunhada de Miguel Nagib e membro do grupo
Revoltados Online.
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– incompatíveis com os que lhes são ensinados por seus pais ou responsáveis. (PL
246/19, 2019)
complementa ainda:
Diante dessa realidade – amplamente comprovada pela Comissão Especial
destinada a proferir parecer sobre o PL 7.180/2014 e apensados, conhecida como
“Comissão Escola sem Partido” ‒, entendemos que é necessário e urgente adotar
medidas eficazes para prevenir a prática da doutrinação política e ideológica nas
escolas e a usurpação do direito dos pais a que seus filhos recebam a educação
moral que esteja de acordo com suas próprias convicções. (PL 246/19, 2019)
A “realidade amplamente comprovada” a que se refere no texto não compreende nenhuma
pesquisa ou documento que possa, de fato, respaldar essa afirmação. O texto infere que práticas de
doutrinação política e ideológica são exclusivamente praticadas por professores/as que não
corroboram dos mesmos princípios, ideológicos e conservadores, que os autores trazem como os
pilares da ética e moral.
É possível identificar que os focos de interesse para as alterações são os mesmos. No
“combate” a ideologia nas escolas, que se mantém desde o projeto original, quer garantir: a) a
precedência dos valores familiares sobre os conteúdos científicos; b) retirar o teor crítico e
reflexivo das discussões político social na escola, a partir do silenciamento das vozes existentes na
comunidade escolar (estudantes, professores/as); c) distanciar a escola do seu compromisso social
no combate às desigualdades. Em síntese, todas essas mudanças têm como foco controlar o
comportamento do/a professor/a, cerceando sua liberdade, autoridade e autonomia. Os PL
reforçam essa intenção através de um conjunto de recomendações, denominado “Deveres dos
professores”, que deverá ser afixado na porta das salas de aula, definindo quais os “limites” da
liberdade do professor, instigando os/as alunos/as a denunciar caso se sintam contrariados. As
denúncias serão analisadas por uma comissão especial, a mesma que defendeu a implementação
do PL arquivado, e caso seja constatado o “crime de doutrinação”, os/as professores/as irão
responder judicialmente.
A possível implementação do PL ESP tem levantado discussões acerca do comportamento,
ou posicionamento, político-social dos/as professores/as nas salas de aula, compreendidos por
alguns grupos identitários como “doutrinadores”. Embora o termo “doutrinadores”, fazendo
menção direta a pessoa professor, tenha sido destituído no PL atual (246/19), por não ser claro
quanto ao conceito, foi observada a substituição dos termos considerados imprecisos no projeto
que foi arquivado. O termo “doutrinadores”, que designa práticas de doutrinação, presente nos PL
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Os conteúdos, ético, moral e político, aos quais os defensores do ESP se opõe são
fundamentais formação crítica e reflexiva, já que o limite posto na liberdade do/a professor/a
limita também a experiência de uma escola plural para os/as alunos/as.
O termo manipulação psicológica compreende “ [...] um tipo de influência social que visa
mudar o comportamento ou a percepção dos outros por meio de táticas indiretas, enganosas ou
dissimuladas [...]” (Wikipedia, 2019). Nesse sentido, “ [...] a manipulação psicológica é qualquer
ação intencional que influencia a pessoa à crença ou comportamento, causando mudanças nos
processos mentais [...]” (Wikipedia, 2019). Dessa forma, relacionar o termo “manipulação
psicológica” à prática docente é uma estratégia dos defensores do ESP para reforçar a ideia de que
existe uma suposta fragilidade do/a aluno/a em relação à autoridade do/a professor/a, que se baseia
em duas premissas questionáveis. De um lado busca alimentar no imaginário social a ideia de que
o/a aluno/a é uma “tábula rasa” e totalmente vulnerável às influências dos/as professores/as,
concepção que já foi desconstruída por pesquisadores da psicologia no século, entre eles Jean
Piaget e Lev Vygotsky. De outro lado, infere que os/as professores/as em geral dominam e
utilizam “técnicas de manipulação psicológica”, tendo total controle sobre os/as alunos/as e se
utilizam dessas para obter adesão deles/delas às suas convicções pessoais. Em ambas
desconsideram que existem diversas influências, contextos, e grupos aos quais os alunos estão
imersos e constituem a própria identidade.
Sob a justificativa de uma suposta busca pela neutralidade no ensino, o PL ESP conduz
seus interesses a serviço da própria ideologia. Em comentário feito em vídeo sobre o projeto de
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lei, o professor VLADMIR SAFATLE (2017, s/n ) diz, em tom eufêmico, que “o projeto ESP
parte de uma premissa correta para chegar a uma conclusão totalmente falsa”. A premissa correta
se trata da necessidade real de uma estrutura educacional que possibilite aos nossos alunos uma
experiência plural” (SAFATLE, 2017, s/n). No entanto, essa estrutura de direito já é garantida nos
parâmetros legais e por isso não se faz necessária uma nova lei ou modificação na lei atual (LDB).
A conclusão falsa, segundo Safatle (2017), corresponde ao fato de que, os idealizadores do PL
ESP,
Pessoas que nunca pisaram em uma sala de aula enquanto professores, chegaram
à uma conclusão difícil e que não é comprovada por nada, a não ser por
experiências que aparecem aqui ou alí, e não tem nenhuma comprovação de
estudo. De que, de fato, nós vivemos em uma situação na qual nossas escolas são
absolutamente monolíticas, monofônicas, que elas não dão espaço para
absolutamente nada, a não ser um tipo de perspectiva unilateral e autoritária. Isso,
eu diria, que é simplesmente falso. (SAFATLE, 2017, s/n)
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As citações diretas de Vladmir Safatle neste trecho são transcrições da fala do professor em vídeo disponível no
YouTube: https://youtu.be/9X4BJcyQAQU.
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https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/11/19/interna-brasil,720153/professores-relatam-amea
cas-por-conta-do-projeto-escola-sem-partido.shtml <acessado em: 15 de junho de 2019>.
8
https://www.revistaforum.com.br/professor-sofre-ameaca-de-eleitor-de-bolsonaro-por-falar-de-lei-rouanet-em-aula/
<acessado em: 15 de junho de 2019>.
9
https://www.avenues.org/pt-br/sp/missao-avenues/
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pretende banir o uso dessa abordagem na rede pública para tornar o ensino mais técnico, menos
crítico e reflexivo. Configura-se assim um contexto segregativo, a escola com liberdade sobre seus
métodos de ensino para os ricos, e a escola pública, técnica, alienada para os pobres.
Os movimentos de cerceamento de liberdade do ensino nas escolas públicas imprimem a
lógica do capital, e operam na manutenção do status quo para que não sejam contestados. Para
manter a massa alienada, uma escola sem voz, sem crítica, sem reflexão. Cabe aqui fazer uma
breve alusão à um conceito trazido por George Orwell em seu livro “1984”. No romance
distópico, Orwell (1949) cria o conceito de Crimideia, que nada mais é que o crime de
pensamento. No contexto criado por Orwell, o governo tenta, por meio da vigilância, controlar os
pensamentos de seus cidadãos a fim de inibir qualquer pensamento subversivo, que pudesse
contestá-lo. Para detectar os sujeitos que fossem capazes de, meramente, pensar em desafiar a
autoridade do governo foi criada uma patrulha policial especial, a chamada “polícia do
pensamento”. “A polícia do pensamento” tinha por função identificar e punir, com a morte, os
sujeitos que cometiam o Crimideia.
A semelhança entre o cenário criado por Orwell e o contexto que vivenciamos no Brasil é
surpreendente. As articulações e o modos operandi das classes dominantes e conservadoras para
fazer valer seus interesses e se manter no poder são as mesmas estratégias montadas por governos
ditatoriais: a alienação da massa; na burocratização dos espaços de debate; na extinção dos das
políticas sociais; na tentativa de desqualificação dos movimentos sociais, e no silenciamento da
voz coletiva. A atmosfera de suspeita e o incentivo ao denuncismo gerada, mesmo antes da
implementação PL ESP, fragiliza as relações entre professores/as e alunos/as e instaura no lugar
do afeto, o medo e a desconfiança. Assim como no contexto criado por Orwell, onde o governo
disponha do Ministério da Verdade, que tinha por função recriar a história do passado para
controlar o presente e convencer a população da necessidade de controle sobre o pensamento dos
“subversivos”, o PL ESP tenta legitimar, por meio dos seus discursos e narrativas vilanescas
veiculadas na mídia, a necessidade de uma lei coercitiva para punir os sujeitos que corroboram
com ideais estranhos aos dos idealizadores do PL.
Com apoio nos pressupostos da Teoria da Subjetividade desenvolvida por González Rey,
concebo a subjetividade, conceito principal deste trabalho, como um:
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5. O compromisso social.
Dentre essas disposições, cabe reforçar a importância do “Compromisso Social” no
exercício da atividade docente no contexto analisado neste estudo. Nóvoa (2009, p. 31) explica
O PL ESP (246/19) se mostra como uma dessas instâncias controladoras da ação docente.
No eixo que se refere aos “Deveres do professor”, Parágrafo único, Artigo 5º, temos um grupo de
recomendações sobre como e o quê o professor não deve ensinar.
direito do Estado de abordar conteúdos intelectuais e culturais, produzidos socialmente. Com isso,
conteúdos que precisam ser tratados com emergência nas escolas, como as desigualdades,
violência, racismo, LGBTfobia, diante das demandas existentes na nossa sociedade, podem ser
concebidos por algumas famílias como inadequados.
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Essencialmente, argumenta Althusser, a permanência da sociedade capitalista depende da reprodução de seus
componentes propriamente econômicos (força de trabalho, meios de produção) e da reprodução de seus componentes
ideológicos. Além da continuidade das condições de sua produção material, a sociedade capitalista não se sustentaria
se não houvesse mecanismos e instituições encarregadas de garantir que o status quo não fosse contestado. Isso pode
ser obtido através da força ou do convencimento, da repressão ou da ideologia. O primeiro mecanismo está a cargo
dos aparelhos repressivos de estado (a polícia, o judiciário); o segundo é responsabilidade dos aparelhos ideológicos
de estado (a religião, a mídia, a escola, a família). (SILVA, Tomaz Tadeu da. 1999).
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para a realidade que vivemos. Segundo Carlos Roberto Jamil Cury (1985), temos a escola como
um ponto central de difusão, produção, e reprodução de culturas à serviço do Estado. Pois,
Fazer com que as escolas e os/as professores/as exerçam suas atividades em sentidos
conservadores e retrógrados, visto que na história da educação já experimentamos duros períodos
de censura e segregação, é ignorar todo o progresso no sentido da superação das desigualdades
como sociedade, e na busca de uma educação de qualidade para todos. Conforme tratado por
Nóvoa (2009) em seu texto “Educação 2021: Para uma história do futuro”, são muitas as
possibilidades para o futuro da educação, porém enquanto investirmos em propostas genéricas e
cristalizadas para resolver os problemas da educação, mais problemas serão gerados, e mais a
sociedade irá sofrer deformações. Em concordância, expõe:
Hannah Arendt escreveu que uma crise apenas se torna catastrófica se lhe
respondermos com ideias feitas, isto é, com preconceitos (1972, p. 225). Tinha
razão. O pensamento contemporâneo tem de ir além do já conhecido e
alimentar-se de um pensamento utópico, que se exprime “pela capacidade não só
de pensar o futuro no presente, mas também de organizar o presente de maneira
que permita actuar sobre esse futuro” (Furter, 1970, p. 7). (NÓVOA, 2009, p. 16)
As propostas sugeridas pelo PL ESP, assim como o cenário criado pelo MESP, causam
impactos direto à subjetividade dos/as professores/as. Pois, para além do controle sobre o fazer
pedagógico, as propostas do ESP reverberam no saber, no pensar e no sentido da profissão. Para
grande parte dos/as professores/as contemporâneos e dos teóricos da educação, o ensino deve ter
um sentido libertador, para a autonomia, no entanto, nas projeções feitas pelo PL ESP, os
professores/as terão, como via de regra, que ocupar um lugar inexistente na profissão e na
sociedade: o lugar neutro. Tal mudança causa um efeito em cadeia, Beatriz Judith Lima Scoz
(2008, p. 9) afirma que:
quando o professor não é reconhecido como sujeito pensante, ele tende a repetir
modelos padronizados e pré-estabelecidos, tornando os projetos pedagógicos
conservadores, limitando, ao mesmo tempo, sua capacidade para construir
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Os PL ESP (7180/14; 867/15; 246/19) aqui analisados têm seus ideais atrelados à filosofia
defendida pelo MESP (2004), que serviu como fonte para o texto dos PL, composto
majoritariamente por políticos da bancada evangélica e agremiações de direita, que, supostamente,
buscam combater a doutrinação ideológica, moral, sexual e política por parte dos/as professores/as
sobre os/as estudantes. A partir dessa premissa, os idealizadores do ESP querem criar mecanismos
jurídicos para controlar e punir os professores/as que ultrapassem os limites definidos por eles.
Esse limite, se apresenta como critério no PL 7.180/14 (arquivado), o largo e abstrato “ respeito às
convicções do aluno, de seus pais ou responsáveis, dando precedência aos valores de ordem
familiar sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa”.
Embora não existam estatísticas ou dados significativos que representam a recorrência do
problema da doutrinação nas escolas para respaldar cientificamente, ou coerentemente essa
premissa, ela foi desmembrada e renovada no PL 246/19 sob novos termos, no:
Esquema organizado pela autora (2019)
Os impactos do Escola Sem Partido na subjetividade dos/as professores/as anunciam um
futuro incerto para a Educação. Por um lado, se não nos organizarmos em defesa da nossa
profissão e produção de vida sucumbiremos às interferências negativas do ESP, que são muitas.
Por outro lado, esse pode ser o momento crucial de organização, a qual todos se unem em defesa
da Educação.
Como prognóstico para esse possível cenário, e também para trabalhar outras dificuldades
relativas à prática docente, refletir sobre a prática é um importante exercício de humanização e
comprometimento, é o caminho para romper com o conservadorismo retrógrado imbricado em
propostas pedagógicas como o ESP, e promover novas políticas educacionais e sociais.
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Projetos Escola Sem Partido no Brasil. Disponível em: <
https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=1AbaBXuKECclTMMYcvHcRphfrK9E&ll=-18.09378639335667%2C
-42.16023121943567&z=3 > (acessado em: 15 de junho de 2019).
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Esquema organizado pela autora (2019)
Evidencia-se nesse esquema não só o conhecimento técnico da profissão, mas o reforço à
dimensão pessoal, histórica, social e cultural inerente à ela. Todas essas dimensões perpassam o
trabalho coletivo na reconstrução dos sentidos da profissão. Os espaços formativos, tais como
Universidades, núcleos de movimentos sociais, comunidades escolares, devem unir-se para
combater todos os projetos, sejam de níveis municipais, estaduais ou nacionais, que visam
depreciar a Educação, de maneira organizada e inteligível. É na mobilização dessas disposições
que produziremos os conhecimentos e a força necessária para ser resistência contra qualquer ideal
que não corrobora os princípios de liberdade democrática, com ensino plural, e com o respeito à
diversidade.
REFERÊNCIAS
Câmara dos deputados. Bia Kicis. Projeto de Lei n. 246/2019. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2190752>. Acesso
em: 15 junho 2019.
Câmara dos deputados. Erivelton Santana. Projeto de Lei n. 7180/2014. Disponível em:
<http://www. camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=606722>. Acesso
em: 15 junho 2019.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Educação e Contradição: elementos metodológicos para uma
teoria crítica do fenômeno educativo. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1985.
FLESCH, KL. Identidades docentes: reflexões sobre ser professor na escola integral. O artigo é
o resultado do Curso de Especialização em Educação Integral Integrada na Escola
Contemporânea, da Faculdade de Educação – FACED/UFRGS. 2013.
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete tecnicismo educacional.
Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
Disponível em: <https://www.educabrasil.com.br/tecnicismo-educacional/>. Acesso em: 12 de
jun. 2019.
NOVA ESCOLA. 14 perguntas e respostas sobre o “Escola Sem Partido”. Disponível em: <
https://novaescola.org.br/conteudo/383/14-perguntas-e-respostas-sobre-o-escola-sem-partido>.
Acesso em: 22 de junho de 2019.
NÓVOA, A. Educação 2021: Para uma história do futuro. Universidade de Lisboa, 2009.
ORWELL, George. 1984. tradução Alexandre Hubner, Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.
Professores contra o Escola Sem Partido. Ódio aos Professores: conceitualizando 001. 2019.
(13m18s). Disponível em: <https://youtu.be/A1fsyH1Xvhw>. Acesso em: 07 maio 2019.
Escola sem Partido - elementos totalitários em uma democracia moderna: uma reflexão a partir de
Arendt: Rev. Bras. Educ. vol.23. Rio de Janeiro 2018 Epub 26-Jul-2018. Disponível em: <
http://dx.doi.org/10.1590/s1413-24782018230042> Acesso em: 18 jul 2019.
SAFATLE, Vladmir. Melhores considerações sobre o Projeto Escola sem Partido. 2017.
(10m7s). Disponível em: <https://youtu.be/9X4BJcyQAQU>. Acesso em: 07 maio 2019.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo.
Belo Horizonte: Autêntica, 1999.