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TRATAMENTO ACÚSTICO

A política de boa vizinhança pode ser seriamente ameaçada depois que montamos
nossos estúdios. Primeiro por um motivo óbvio, o barulho que começamos a fazer. O que nem
sempre imaginamos é quanto os vizinhos podem nos incomodar. Alguns barulhinhos que já
faziam parte da paisagem podem se tornar insuportáveis durante uma gravação. Em muitos
casos, alguns truques podem minimizar o problema. Em outros, só com uma obra mais séria.
De um modo ou de outro, precisamos conhecer os princípios e as técnicas mais usuais da
acústica de estúdios.
A grande maioria dos home studios
opera em um ou dois cômodos da casa ou
apartamento sem tratamento algum. Para
muitos deles, isto não chega a trazer
inconvenientes. É o caso, por exemplo, de
estúdios que produzem música instrumental
eletronicamente, como os estúdios MIDI que
produzem trilhas sonoras. Sem vazamentos
no som, basta mixar em baixo volume, para
que as reflexões do ambiente não confundam
o produtor.
Com microfones duros, pouco
sensíveis, como os dinâmicos, podemos gravar com qualidade razoável em ambientes menos
barulhentos. Contudo, para captarmos vozes e instrumentos com os microfones adequados,
assim como para trabalhar com volumes mais altos, algum tratamento é necessário.
Se você pretende realizar uma obra em seu estúdio, é fundamental contratar um
especialista em acústica de estúdios. Engenheiros e arquitetos em geral são excelentes para
construções e reformas de nossas casas, mas experiência em acústica é uma outra história.
Uma obra ineficaz só se resolve botando abaixo e começando tudo de novo. É um
investimento muito alto para se arriscar.
Conhecendo as principais técnicas,
podemos improvisar soluções criativas que
reduzem alguns problemas do ambiente.
Primeiro, precisamos desfazer alguns mitos
e compreender que temos duas questões
distintas no tratamento acústico: isolamento
e revestimento.
Isolamento. Aqui, queremos evitar
incomodar os vizinhos e evitar que os
vizinhos nos incomodem. Quem puder, opta
pelo quarto mais silencioso da casa. Ou por
uma casa isolada do mundo. Não nos
iludamos: espuma, isopor, caixa de ovo, lã de vidro, carpete ou cortiça não são exatamente
isolantes acústicos. Uns ou outros podem ser úteis no revestimento, que veremos a seguir, mas
o que isola mesmo um ambiente é a massa do material usado em torno dele. Pedra, alvenaria,
madeira, sim, são bons isolantes, quando usados com a espessura necessária.

© 2006 Sérgio Izecksohn/Curso de Home Studio® – Todos os direitos reservados.


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A pressão sonora de nossos estúdios não é a mesma de um estúdio tradicional que


gravava big bands nos anos 1940, com a orquestra atacando junto com o cantor, o coro, mais
piano, guitarra, baixo e – ahá! – a bateria. Para um estúdio desses, só paredes com quase um
metro de espessura. Uma parede fina, com toda essa pressão, se comporta como uma
membrana, vibrando e fazendo vibrar o ar do lado de fora.
A idéia do estúdio flutuante (box in a box, ou uma caixa dentro da outra) se tornou a
tendência predominante nos grandes estúdios: em vez de uma parede muito grossa, duas
paredes com uma camada de ar entre elas. Quando a parede interna vibra com o som, o ar que
está entre as paredes é elástico demais para transmitir as vibrações à segunda. A partir deste
conceito, constroem-se um piso suspenso sobre um molejo, paredes duplas apoiadas sobre o
piso suspenso e teto rebaixado apoiado nas
paredes internas. De fato, uma caixa dentro
da outra. O estúdio flutuante só tem contato
com a sala onde foi construído pelos
molejos ou pelo ar.
Fantástico, porém fora de cogitação
para a grande maioria. O espaço de um
quarto é muito pequeno para ser reduzido
assim. Só que esta técnica pode ser
adaptada, por exemplo, se construímos
paredes de madeira ou outros materiais,
como o gesso acartonado.
Podemos alternar camadas de gesso acartonado e lã de vidro, que contribui na
absorção do som. Aplicamos uma moldura de madeira sobre a placas de gesso e preenchemos
o espaço dentro da moldura com lã de vidro. Cobrindo com outra placa de gesso, fazemos
uma espécie de wafer. Com vários desses objetos fazemos uma parede chamada dry wall, com
a espessura de poucos centímetros e a eficiência de uma parede muitas vezes mais grossa
quanto ao isolamento acústico. O importante, aqui, é usarmos madeira, e não metal, para
montar uma grade onde nossos wafers serão encaixados.
Um item fundamental é não deixar frestas. Onde passar o ar, passará o som. Preencha
as frestas inevitáveis com silicone. Cuidado com os visores entre as salas, que podem causar
vazamentos de som. Use vidros grossos e duplos, formando um ângulo de um para o outro e
com ar entre eles.
Revestimento. Uma vez isolado o estúdio, queremos evitar reflexões excessivas. Se a
sala reverbera muito, como vamos dosar a intensidade dos reverberadores numa mixagem?
Por outro lado, não podemos abafar a sala
ao ponto de não reconhecermos nossa
própria voz. O som deve ser natural, ao
mesmo tempo suficientemente vivo e sem
excesso de reflexões.
Alternamos materiais absorventes e
reflexivos numa proporção que garanta o
sucesso de nossos objetivos. Das quatro
paredes, mantemos uma reflexiva e
revestimos as outras três com materiais
absorventes. A parede reflexiva é sempre a
frontal (junto aos monitores) ou a traseira.
A outra e as laterais podem ser revestidas

© 2006 Sérgio Izecksohn/Curso de Home Studio® – Todos os direitos reservados.


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de lã de vidro coberta por carpete ou tecido. Em casos mais simples, pode ser só um carpete
bem fofo, ou até espuma.
A lã de vidro deve ser aplicada com cuidado, pois
causa forte coceira e pode cegar. Antes de fixar as placas
de lã de vidro numa parede, monte um xadrez com ripas de
madeira e aparafuse-o à parede. As placas da lã serão
encaixadas entre as ripas para melhor fixação à parede.
Depois de cobrir a parede com uma ou duas camadas de lã,
cubra-a com tecido ou carpete.
Quanto ao teto e ao chão, um dos dois é reflexivo e
o outro absorvente. Se usar carpete no chão, deixe o teto
reflexivo (usando alvenaria, madeira, fórmica). Se o piso for de material reflexivo (duro),
cubra o teto com um material absorvente.
Evite deixar ângulos retos nos cantos da sala, quebrando-os com madeira ou outro
material. Ângulos e paredes paralelas causam diversas reflexões indesejáveis.
Ar condicionado. Nos estúdios maiores, com o
rebaixamento do teto, construímos uma cabine isolada e
instalamos nela um condicionador de ar central. Da cabine
até o centro de cada sala, passamos um duto sobre o teto
rebaixado. Esses dutos, que se abrem no centro de cada teto,
realizam as trocas de ar e mantêm o isolamento acústico
graças às curvas que descrevem no caminho até as salas. O
som não se propaga pelas curvas dos dutos.
Os estúdios menores, mesmo sem rebaixar o teto, precisam de ar condicionado. A
solução é escolher aparelhos silenciosos e, se preciso, desligá-los durante os momentos em
que gravamos com microfones, religando-os em seguida. O problema é que o som do exterior
vaza para a sala através do condicionador de ar. Podemos construir um caixote para cobrir o
aparelho na hora de gravar.
Há muitas outras técnicas que merecem ser estudadas, para evitarmos diversos
problemas com as reflexões do som. Mas essas que abordamos podem ajudar na criação de
soluções pessoais que sirvam aos estúdios pequenos e médios.
Para quem vai partir pro quebra-quebra, nunca é demais
insistir que uma obra desse vulto precisa da orientação de um
especialista. Para evitar um possível grande prejuízo, invista na
contratação do melhor profissional que encontrar. E que ele
tenha como indicar operários experientes na construção de
estúdios. Nos grandes centros, contamos com excelentes
profissionais. Visite outros estúdios, sinta o som e peça
indicações.
Depois de sofrer algumas semanas com sua obra, vá à forra. Som na caixa!!!

Fotos: www.drumakustic.com.br

© 2006 Sérgio Izecksohn/Curso de Home Studio® – Todos os direitos reservados.

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