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SOM ANALÓGICO E SOM DIGITAL

Para gravarmos os sons numa fita ou no HD temos que convertê-los primeiro em sinais
elétricos e depois em informações digitais. E para usarmos bem toda essa tecnologia cada dia
mais disponível, um pouquinho de teoria ajuda. Engorda e faz crescer o nosso som.
Ondas sonoras. Primeiro, recordemos alguns princípios da física do som. Todos os
sons são vibrações dos meios físicos, como o ar. Um alto-falante ou o tampo de um violão ou
nossas cordas vocais movimentam-se e pressionam o ar em vaivém. O ar é comprimido e
rarefeito, sucessivamente. Uma vibração ou um ciclo ocorre cada vez que o ar é comprimido e
rarefeito. Quando estas vibrações ocorrem entre 20 e 20 mil vezes por segundo ouvimos um
ou mais sons.
O nome do físico Hertz, que descobriu esses fenômenos, foi adotado para a medida de
‘ciclos por segundo’. Ouvimos então, do grave para o agudo, vibrações nas freqüências de
20 Hz até 20 kHz (quilohertz), aproximadamente.
O gráfico com o desenho de ondas sonoras ou oscilograma, presente em muitos
programas de gravação, mostra a compressão e a descompressão do ar ao longo do tempo. Na
vertical, a variação na pressão do ar determina os volumes ou intensidades do som. Na
horizontal, o tempo decorrido.

Som analógico. Um microfone tem uma membrana que acompanha as vibrações do ar


e um circuito que gera uma corrente elétrica, cuja tensão ou voltagem varia, oscilando
juntamente com as vibrações da membrana. Uma boa comparação com a variação da
voltagem é o movimento de abrir e fechar suave e sucessivamente uma torneira. Ou, se você
usar um dimmer para clarear ou escurecer um ambiente, você, ao girar o botão, estará
deixando passar mais ou menos energia para a lâmpada. Estará fazendo oscilar a voltagem ou
tensão elétrica que chega à lâmpada, fazendo-a iluminar o ambiente com mais ou menos
intensidade.
É isso o que o microfone faz. Todas as vibrações sonoras que ele consegue captar do ar
com sua membrana são transformadas em oscilações na tensão do sinal elétrico que ele manda
pelo cabo até o amplificador. De lá até o alto-falante, trabalhamos com variações de tensão
elétrica. Quando o sinal elétrico do áudio chega ao alto-falante, este faz o movimento inverso

© 2006 Sérgio Izecksohn – Curso de Home Studio.


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ao do microfone: seu cone vibra acionado pelas variações elétricas e, assim, põe o ar em
movimento, produzindo novamente som mecânico.
Entre a membrana do microfone e o cone do alto-falante temos o sinal elétrico do
áudio, ou o som analógico. Analógico e não análogo, que quer dizer parecido. Analógico por
se basear numa analogia, ou semelhança, no caso entre as vibrações do ar e as oscilações da
voltagem.
Som digital. Quando mandamos o som analógico para uma placa de som de
computador ou para uma mesa digital, o sinal elétrico terá que ser digitalizado, ou convertido
em informações expressas em números. Na entrada do aparelho (placa ou mesa de som) onde
conectamos o cabo há um conversor analógico/digital, ou AD. Na saída, existe um
respectivo conversor DA, digital/analógico. O AD precisa transformar voltagens em
números. O DA faz o contrário, recriando o som analógico depois de ele ter sido processado
pelo computador para que o alto-falante possa nos mostrar o resultado.

O conversor AD transforma as vibrações sonoras em números por um processo de


amostragem. Milhares de vezes por segundo, ele “anota” o estágio da oscilação e lhe atribui
um valor numérico. São, na verdade, milhões de números anotados numa pequena canção. Ao
ser representada graficamente, essa lista de números adquire uma forma de onda semelhante
ao gráfico do som original. Porém, se olharmos de perto, veremos que as curvas da oscilação
parecem uma escadinha, a onda faz um ziguezague. De fato, o som digital não é contínuo, ele
é como um pisca-pisca muitíssimo rápido. Quanto mais vezes por segundo são colhidas as
amostras da oscilação do som, mais o som digital se assemelha ao som original.

Taxas de amostragem. A coleta de amostras também é medida em Hertz.


Examinemos o que aconteceria com três diferentes sons digitalizados em 10 mil amostras por

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segundo. Dizemos que essa taxa de amostragem é de 10 kHz. Um som grave de 100 Hz, um
som médio de 1 kHz e um agudo de 10 kHz. Cada ciclo da onda sonora de 100 Hz terá cem
amostras, já que são 10 mil amostras para 100 ciclos. Com 100 amostras, este ciclo será
razoavelmente bem representado por uma “escadinha” quase curva.
Cada ciclo da onda de 1 kHz terá apenas dez amostras, o que não chega a definir tão
bem o seu desenho ao longo do tempo. Mas repare que cada ciclo de onda do som de 10 kHz
terá apenas uma amostra, já que são dez mil ciclos de onda e dez mil amostras em um
segundo. Se tivermos apenas uma amostra por ciclo, elas não nos permitem visualizar (nem
ouvir) uma oscilação. Quando o conversor DA for ligar essas amostras para que o alto-falante
nos mostre o som, teremos ausência de oscilação, o que significa silêncio: aquela freqüência
não será ouvida. No desenho das ondas sonoras ao longo do tempo, uma linha horizontal
equivale a uma corda de violão parada, sem produzir som.

Para permitir a audição de uma oscilação numa certa freqüência, a amostragem deve
ser de, no mínimo, o dobro daquela freqüência, o que, pelo menos, já caracteriza uma
oscilação: uma amostra para algum ponto do “morro” e outra para um ponto do “vale” que
formam o ciclo.
Assim, como ouvimos freqüências até 20 kHz, precisamos de uma taxa de amostragem
de, no mínimo, 40 kHz. Há décadas, a indústria do áudio, ao criar o CD, teve que adotar uma
taxa de amostragem superior a 40 kHz. Escolheu 44,1 kHz, ou 44 mil e cem amostras por
segundo, que é a única amostragem utilizada na confecção de um CD de áudio.
Já a indústria da multimídia sonorizava programas em CD-ROM com amostragens
mais baixas, como 22,05 kHz ou mesmo 11,025 kHz, para desobstruir o tráfego de
informações entre o leitor de CD-ROM e a memória do computador. O resultado era um som
abafado, quase sem agudos, já que na amostragem de 22.05 kHz só ouvimos freqüências até
11.025 Hz e na taxa de 11,025 kHz nossos ouvidos atingem apenas cerca de 5,5 kHz de
freqüências audíveis. Procure os pratos da bateria na música de um antigo jogo ou programa
multimídia em CD-ROM. Só com o advento de arquivos compactados, como o MP3, os
programas puderam soar mais naturais. Mas esta é outra história, que veremos noutro capítulo.
Na outra ponta da tecnologia, o DVD-vídeo usa 96 kHz e o DVD-áudio vai a 192 kHz.
O resultado são agudos mais claros e precisos.
Você não consegue melhorar o som aumentando a taxa de amostragem após ele ter
sido digitalizado. Mas consegue piorá-lo se diminuir.
Bits. Cada amostra digital ou sample é um ponto que marca a posição da oscilação
sonora num certo instante. De tanto em tanto tempo (por exemplo, num arquivo com a taxa do
CD de áudio, a cada 1/44100 de segundo ou 0,000023 seg.) o conversor AD marca se a

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voltagem subiu ou desceu. Indica com um valor numérico uma variação na amplitude da onda,
uma variação no sentido vertical do desenho. Quantos valores podemos usar para expressar
essa variação na amplitude da onda? Depende do conversor AD e do programa utilizado. Ele
pode usar uma quantidade maior ou menor de valores, como uma régua dividida em
milímetros ou em centímetros, o que vai interferir na dinâmica, na variação dos volumes dos
sons.
A quantidade de valores possíveis para indicar a amplitude em cada amostra da onda é
expressa em ‘bits’. Isto porque o computador, para fazer seus cálculos, usa o sistema binário.
Como temos dez dedos, geralmente usamos o sistema decimal, com dez algarismos, para
fazermos contas. Com um dígito formamos dez números: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Com dois
dígitos, cem números, 00 a 99; três dígitos, mil números e a cada dígito multiplicamos o total
de valores por dez.
No computador, um bit é um instante em que ele verifica a presença ou ausência de
eletricidade e ele representa as duas opções com os dígitos zero e um. Como só dispõe de dois
algarismos, 0 e 1, em um bit, o computador forma o número zero ou o número um. Mas em
dois bits, forma quatros números, 00, 01, 10 e 11, que correspondem a 0, 1, 2 e 3. Com três
bits, 000, 001, 010, 011, 100, 101, 110 e 111, temos oito números, de 0 a 7. Em quatro bits, de
0000 a 1111, formamos números de 0 a 15. Cada bit a mais dobra a quantidade de valores
possíveis.
Confira na tabela:

Números binários → Números decimais

1 bit: 0=0 4 bits: 0000 = 0


1 = 1 (dois valores possíveis) 0001 = 1
0010 = 2
2 bits: 00 = 0 0011 = 3
01 = 1 0100 = 4
10 = 2 0101 = 5
11 = 3 (quatro valores possíveis) 0110 = 6
0111 = 7
3 bits: 000 = 0 1000 = 8
001 = 1 1001 = 9
010 = 2 1010 = 10
011 = 3 1011 = 11
100 = 4 1100 = 12
101 = 5 1101 = 13
110 = 6 1110 = 14
111 = 7 (oito valores possíveis) 1111=15 (16 valores possíveis)

Para obtermos a quantidade de valores de certo número de bits, basta elevarmos 2 à


mesma potência. Por exemplo, para sabermos quantos números podemos formar com oito bits,
basta efetuarmos o cálculo: 28 = 256.
Já que oito bits permitem formarmos 256 números, o som digitalizado em oito bits só
tem 256 volumes possíveis ao longo do tempo. E a dinâmica captada pelo ouvido humano é
muito mais ampla, permitindo distinguir desde o bater das asas de um mosquito até o ruído
gerado pelas turbinas de um jato, som milhões de vezes mais forte.
Em 16 bits (216 = 65.536), que é o formato usado nos CDs de áudio, temos 65.536
volumes possíveis, o que já é um imenso salto qualitativo.
Os 24 bits (224 = 16.777.216) usados no áudio do DVD permitem 16.777.216
variações na amplitude sonora, a mesma ordem de grandeza da dinâmica de nossa audição.
Podemos trabalhar com arquivos maiores, como 24 ou 32 bits e depois converter para 16 bits
ou menos, já que esses valores representam múltiplos uns dos outros.

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Cabos digitais. Entre dois dispositivos digitais, como uma mesa e um gravador ou
uma placa de som, o som pode transitar já digitalizado, economizando conversões
desnecessárias no meio do caminho. Para isso, são usados diversos cabos, conectores e
formatos. Os mais comuns são o AES/EBU, estéreo profissional com plugue XLR; S/PDIF
(Sony/Philips Digital InterFace), estéreo doméstico em cabo RCA ou ótico; ADAT, com oito
canais em um cabo ótico e T/DIF, também de oito canais num cabo multipinos.

Cabo XLR (Cannon) usado na conexão AES/EBU

Cabo ótico usado nas conexões S/PDIF ótica (dois canais) e


ADAT light pipe (oito canais)

Plugue RCA usado na conexão S/PDIF coaxial.

Conector de 25 pinos usado na conexão TDIF (oito canais)

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