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canal MIDI. Podemos, assim, registrar um arranjo com muitos “instrumentos” sem
gastar uma pista sequer de áudio.
Mais do que em estúdios de grande porte, o seqüenciador é imprescindível no
home studio. Todos aqueles instrumentos que sejam difíceis ou impossíveis de gravar,
como uma orquestra ou, em muitos casos, a bateria, ou qualquer outro, podem ser
substituídos por sons eletrônicos facilmente seqüenciados.
O estúdio MIDI. Para tocarmos os trechos que serão seqüenciados, usamos um
instrumento controlador. Pode ser um teclado, uma guitarra MIDI, pads de percussão
eletrônica ou outros formatos. Geralmente, tocamos no controlador e depois editamos os
detalhes no seqüenciador. Alguns músicos conseguem produzir toda a música
adicionando as notas passo-a-passo em vez de tocar, usando, por exemplo, o mouse.
Os sons são gerados por diversos tipos de instrumentos eletrônicos, aqui
chamados de escravos. Eles podem ter a forma de teclados, módulos, racks ou placas de
multimídia. Os geradores de sons, independente do formato do instrumento, podem ser
sintetizadores, samplers ou presets. Veja mais em MIDI.
Conexões. Seja usando um computador com interface MIDI ou um seqüenciador
em hardware, as ligações são idênticas. A saída MIDI out do controlador é conectada à
entrada MIDI in do seqüenciador ou placa MIDI. A saída MIDI out do seqüenciador ou
da placa é conectada á entrada MIDI in do escravo ou gerador de sons (sintetizador).
Se o seqüenciador ou a placa só tem um MIDI out e usamos vários sintetizadores
escravos, estes são ligados em série: do MIDI out do seqüenciador para o MIDI in do
primeiro escravo; do MIDI thru deste para o MIDI in do segundo escravo; do MIDI thru
deste para o MIDI in do terceiro escravo e assim sucessivamente.
Em muitas interfaces MIDI para computadores dispomos de várias portas MIDI
de saída, ou MIDI out. Cada uma se conecta por um cabo a diferentes instrumentos
escravos, transmitindo comandos por 16 canais. Várias portas permitem o uso de mais
canais e ainda evitam as ligações em série via MIDI thru dos sintetizadores. Com mais
canais MIDI, exploramos melhor os recursos dos instrumentos multitimbrais. Há
interfaces com duas até oito portas, alcançando a marca de 128 canais MIDI. Veja mais
em MIDI.
Local on/off. Existem vários controladores mudos, mas é comum o uso de
teclados sintetizadores para controlar o seqüenciamento de sons. Como estamos lidando
com múltiplos sons eletrônicos em diferentes canais MIDI, não convém que o teclado
controlador soe junto com um escravo quando estamos usando um som deste último. É
muito inconveniente, por exemplo, seqüenciar uma bateria usando as teclas de um
sintetizador e ouvir um piano repetindo a mesma nota toda vez que tocamos a tecla do
bumbo ou da caixa. Isto acontece porque estamos seqüenciando uma bateria
remotamente, usando as teclas do sintetizador, e este vai tocar junto com ela na hora de
gravar. Enquanto a bateria é acionada via MIDI, o sintetizador é acionado internamente
pelo próprio teclado. Para evitar este problema, usamos no sintetizador controlador a
função MIDI Local.
O instrumento fica sempre no modo Local off, para que só toque a si próprio
através das conexões MIDI, nunca internamente (localmente). No seqüenciador
determinamos em que canal MIDI estamos trabalhando, tanto faz se usamos naquele
instante um som do próprio controlador ou de um escravo. Com o controle Local na
posição off, só aquele canal soará quando tocamos o teclado. Ao mesmo tempo, o
seqüenciador toca todos os canais MIDI em uso, de quaisquer escravos.
poderemos usar 32 canais MIDI ‘externos’. Uma interface com oito portas MIDI out
permite ao seqüenciador usar até 128 canais MIDI de instrumentos ‘físicos’.
Se usarmos só uma porta de saída num sistema com vários sintetizadores
externos teremos que definir em cada um deles os canais MIDI a que irão responder,
dentro do limite total de 16 canais. Ou seja, com um única porta, mesmo dispondo de
dois ou mais sintetizadores multitimbrais, não poderemos usar todos os canais
disponíveis em cada um. Desabilitamos alguns canais nos próprios instrumentos para
que compartilhem os 16 canais sem sobrepor os seus timbres em indesejáveis uníssonos.
Placas simples para multimídia também podem interfacear sintetizadores ao
computador. Com um cabo adaptador, ligado à entrada para joystick de jogos da placa,
temos um MIDI in e um MIDI out.
Conecte a saída MIDI out de seu instrumento controlador à entrada MIDI in da
interface ou placa MIDI. Conecte a(s) saída(s) MIDI out da interface à(s) entrada(s)
MIDI in do(s) instrumento(s) escravo(s). Se tivermos vários sintetizadores e apenas uma
saída MIDI na interface, ligamos essa saída ao MIDI in do primeiro sintetizador. Da
saída MIDI thru conectamos outro cabo ao MIDI in do segundo sintetizador e assim por
diante. Veja mais em MIDI.
Pistas de gravação. O seqüenciador armazena os comandos MIDI em pistas ou
trilhas (tracks), como se fosse um gravador de áudio. Nesse sentido, a operação é muito
semelhante à de um gravador multipista, já que usamos uma pista para “gravar” um
piano, outra para a bateria, enquanto ouvimos as pistas já gravadas. Escolhemos um
instrumento (eletrônico ou virtual), uma pista, uma porta, um canal MIDI e o programa
(patch) do sintetizador que vamos seqüenciar. Depois, é só acionar a tecla RECORD e
tocar o sintetizador através do controlador.
Podemos usar várias pistas para seqüenciar um mesmo canal MIDI. Dois
exemplos típicos: um piano em que gravamos primeiro a mão direita numa pista e
depois a mão esquerda em outra, ambas no mesmo canal; uma bateria, usando um único
canal MIDI, pode ser seqüenciada peça por peça, pista por pista, tocando primeiro o
bumbo, depois a caixa, os tambores e os pratos, cada um em uma pista.
Exemplos como esses tornam mais fácil a execução musical nos instrumentos
controladores. O som desses canais independe de eles terem sido seqüenciados em uma
ou em muitas pistas. A diferença é a praticidade da operação. Se quisermos, após
editarmos cada pista, podemos reuni-las numa só, sem prejuízo da sonoridade.
Num seqüenciador em software, como o Sonar, as pistas aparecem na tela em a
forma de faixas horizontais, uma abaixo da outra. Nelas costuma haver dois setores. O
da esquerda contém diversas informações de configuração que determinamos, como o
canal e a porta MIDI, o volume, o pan, o programa (patch) do sintetizador e outros. No
setor direito, vão surgindo gráficos referentes ao material musical que estamos
registrando, para visualizarmos os trechos que serão editados em seguida. Visualmente
temos uma boa noção do conteúdo de cada pista, sem necessidade de ouvi-la para
identificar o material ali registrado.
Podemos gravar trechos numa pista sobre outros trechos já gravados na mesma
pista. Quando fazíamos isto num gravador de fita, já conhecíamos bem o resultado: o
material anterior era apagado, dando lugar ao novo. Uma importante diferença do
seqüenciador de MIDI ou de áudio para os gravadores de fita é que podemos “gravar
por cima” do material já seqüenciado sem perder o que já existia, acrescentando notas
que tinham sido omitidas, por exemplo. O seqüenciador nos dá a opção de substituir ou
acrescentar o material novo sobre o antigo.
Processos de gravação. Antes de começarmos a seqüenciar precisamos escolher
o compasso, o andamento e acionar o metrônomo do seqüenciador. Assim, o material
que gravamos é sempre organizado segundo o tempo musical, em compassos. Qualquer
mudança de andamento ou divisão deve ser indicada no seqüenciador. Toda a edição
posterior do material, como a quantização e a própria localização dos diversos trechos e
mensagens, depende da correta configuração do projeto.
Podemos, contudo, alterar todos esses ajustes a qualquer momento, no decorrer
do trabalho. Por exemplo, gravar devagar e mixar mais rápido (no mesmo tom ou em
qualquer outro) ou gravar num só andamento e criar um rallentando depois.
Na realidade, o termo gravação é usado aqui de forma figurada, já que ao
seqüenciar comandos MIDI não estamos registrando nenhum som, apenas a
performance ou o desempenho do músico. Mas a forma de atuarmos costuma ser muito
parecida com uma gravação de áudio, tanto no instrumento como no seqüenciador. No
instrumento porque podemos tocá-lo normalmente; no seqüenciador porque o operamos
com comandos play, stop, record, rewind, trabalhando nas diversas pistas.
As semelhanças acabam aí: em tudo o mais, o processo é totalmente distinto de
uma gravação real. Por isso, damos preferência ao verbo “seqüenciar”, em vez de
“gravar”.
Podemos seqüenciar pistas MIDI de várias formas. Tocando normalmente ou em
loops (trechos que se repetem continuamente) ou ainda adicionando as notas uma a uma
com o instrumento ou com o mouse. Com um seqüenciador, um trecho de difícil
execução pode ser gravado num andamento mais lento, ou mesmo numa tonalidade
mais cômoda para o instrumentista. Depois mudamos o andamento ou o tom do material
seqüenciado.
As telas de edição gráfica como a partitura (staff ou score) ou o piano-roll
também podem servir para gravarmos músicas ou trechos acrescentando nota por nota.
Todos esses modos podem ser usados em diferentes momentos da produção de uma
mesma música, de acordo com a necessidade.
Como o seqüenciamento é um processo digital, todos os eventos são registrados
segundo uma determinada resolução do contador de tempo. Assim como as imagens na
tela do computador ou num scanner têm um certo número de pontos por área, as notas e
outras mensagens MIDI são seqüenciadas segundo um número de pontos ou pulsos (ou
ticks) por semínima (PPQ = pulses per quarter note).
Os primeiros seqüenciadores MIDI usavam a resolução de 96 PPQ. Dessa forma,
uma colcheia vale 48 PPQ e uma semicolcheia, 24, enquanto uma mínima tem 192 PPQ
e assim por diante. Os seqüenciadores de hoje trabalham com essas e outras resoluções,
ultrapassando a marca de 960 PPQ, que dá maior precisão ao registro rítmico da
performance instrumental. Um ritmo de bateria pop não obtém vantagens em altas
resoluções se for quantizado, mas um piano erudito com certeza perderá nuances de sua
divisão rítmica com um baixo número de pulsos por semínima.
Gravação linear. Este modo de seqüenciamento é o mais natural. Tocando num
instrumento controlador e ouvindo um ou vários sintetizadores, o músico se comporta
como numa gravação de áudio tradicional. Escolhida a pista e determinado o canal
MIDI e alguns outros parâmetros, acionamos a tecla RECORD e tocamos o trecho ou
toda a música. Depois a ouviremos com o comando PLAY. Cada timbre dos
sintetizadores faz o papel de um diferente instrumento, registrado numa pista através de
um canal MIDI. Em cada pista, vamos registrando a performance desses
“instrumentos”, um a um. Ouvindo os demais sons enquanto gravamos, acrescentamos
pouco a pouco todo o arranjo, tocando normalmente as notas e os controles (pedais e
outros) num sintetizador.
Antes de começar, é preciso determinar no seqüenciador o andamento e o
compasso do trecho. Ao dispararmos a tecla RECORD, ouvimos um metrônomo ou
‘clique’ que marca os tempos dos compassos. Ele soa através de um dos canais MIDI do
sintetizador ou é gerado pelo próprio programa no computador. Seu uso é fundamental
para a posterior edição do material. Para localizarmos um trecho que tem que ser
editado ou para realizarmos certos tipos de edição rítmica, como a quantização, é
necessário que a pulsação da música corresponda ao contador de tempo do
seqüenciador. Quando as pistas rítmicas de percussão ou harmonia já estão prontas
podemos desligar o metrônomo e nos guiar pelo ritmo delas.
Cada trecho mal executado pode ser instantaneamente apagado através do
comando “desfazer” (undo). Usando o controlador MIDI mais adequado à sua técnica
instrumental, todo instrumentista, profissional ou iniciante, pode seqüenciar pelo
processo linear. Os trechos mais difíceis de executar podem ser gravados em outros
andamentos e tonalidades. Basta mudar o andamento do seqüenciador ou o tom das
diversas pistas, gravar e depois fazer o seqüenciador retornar ao andamento ou à
tonalidade inicial.
Gravação passo-a-passo. Em muitas ocasiões, precisamos acrescentar eventos,
sejam notas ou outros controles, um de cada vez. Em vez de tocar, podemos acrescentar
esses dados com uma atenção específica. Alguns músicos usam estes recursos
eventualmente, em certos trechos das músicas. Outros nunca, preferindo sempre tocar.
Compositores e arranjadores que não tocam ou não dispõem de um teclado ou um outro
controlador podem recorrer o tempo todo ao modo step by step.
Nos seqüenciadores, este modo consiste em determinarmos as durações das
notas manualmente, tocando-as uma a uma e acionando os controles do instrumento um
de cada vez. Alimentado com estas informações, o seqüenciador está apto a tocar a
música em tempo real.
Nos computadores, podemos usar as diversas telas de edição gráfica para
acrescentar notas e eventos um por um. Com esses recursos, até uma sinfonia pode ser
seqüenciada pelos dois botões de um mouse. A qualidade do som depende dos seus
sintetizadores e samplers e a expressão, do talento musical de quem opera o
seqüenciamento.
Na tela com a partitura, por exemplo, onde vemos cada pista em forma de um
pentagrama isolado ou em sistemas (grades) com várias pistas, acrescentamos e tiramos
notas com o botão esquerdo, enquanto determinamos sua dinâmica e duração com o
botão direito. De acordo com a duração indicada, os comandos MIDI note on e note off
surgem na tela em forma de figuras musicais como semínimas e colcheias.
No piano-roll, em dois gráficos cartesianos x/y, as notas e os controles têm o
aspecto de traços ao longo do tempo. O gráfico das notas mede a relação altura
(‘afinação’) x tempo. Um teclado desenhado na vertical mostra a posição de cada altura
numa linha horizontal. Numa analogia com a pauta musical, em que os compassos se
sucedem no tempo com as figuras das notas intercaladas em diferentes alturas no papel,
as notas do piano-roll têm suas durações medidas com grande exatidão pelo
comprimento dos traços. Barras de compasso e de tempo ajudam a localizar o início e o
fim de cada nota. Com o mouse acrescentamos e tiramos notas, mudamos suas alturas e
durações.
O gráfico dos controles, com curvas e traços verticais, mede a intensidade de
cada controle MIDI (volume, pedal de sustain, modulação e outros) ao longo do tempo.
Escolhido o controle que vamos visualizar numa pista, o seu gráfico pode ter diferentes
aspectos, como traços verticais isolados ou consecutivos, em curvas, que sempre
medem as variações desses controles.
Com o mouse desenhamos os movimentos deles ao longo do tempo. Um
exemplo de seu emprego é a correção da dinâmica (velocity) de cada nota, representada
pelo comprimento de uma linha vertical.
A linha vertical da dinâmica coincide com o início do traço horizontal da nota no
gráfico. Seu comprimento significa maior ou menor velocity. Modificá-lo desenhando
um corte horizontal com o mouse torna a nota mais forte ou suave.
A curva de volumes também pode ser “desenhada” em tempo real na tela com a
mesa de som virtual. Com a música tocando, segurando e arrastando o mouse, gravamos
o movimento do fader do canal desejado.
A lista de eventos é outra tela que usamos para acrescentar notas e controles
passo-a-passo. É a tela mais tradicional, presente em todos os formatos de
seqüenciadores.
Gravação em loop. Parecida com a gravação linear, esta modalidade permite
que toquemos um trecho de maior ou menor duração repetidas vezes sem interrupção,
acrescentando os toques pouco a pouco. É ideal para a produção de padrões rítmicos. O
trecho marcado fica tocando sem parar, enquanto vamos escolhendo o tempo exato para
acionar cada nota ou controle.
Quando o seqüenciador permite gravar cada take ou tomada numa diferente
pista, podemos tocar inúmeras vezes seguidas sem parar e só depois escolher a melhor
versão.
Edição e processamento de trilhas. A mais importante inovação trazida pelo
seqüenciador são os poderosos recursos de edição do material musical. Recortar, copiar
e colar trechos, quantizar tempos, mudar as durações, alturas, timbres, intensidades e
outros parâmetros de cada som representam em si uma verdadeira revolução na Música.
A própria criação, antes limitada pela técnica instrumental e pela escrita musical
do compositor, encontra a partir da edição dos eventos MIDI novas fronteiras rumo à
sua constante expansão.
Nivelados agora pela habilidade em dominar recursos tecnológicos cada vez
mais acessíveis, compositores, arranjadores e instrumentistas ocupam um mercado antes
restrito a virtuoses, maestros, engenheiros de som e executivos, ainda por cima tendo (a
maioria) um cômodo da casa como estúdio. Barreiras tradicionais como capital,
erudição cultural e relacionamentos sociais dão lugar à multiplicidade de culturas, à
segmentação de mercados e á democracia na produção musical. Com a internet vêm as
novas tecnologias para distribuição de fonogramas e arquivos MIDI que trazem grandes
expectativas de total pluralização do setor. O resto, a partir daí, é a música de cada um.
A edição dos sons eletrônicos como eventos MIDI é tão rica em recursos que, se
realizada com persistência e ousadia, leva uma produção caseira até um nível altamente
profissional.
Cada pista MIDI, nota ou grupo de notas do seqüenciador pode sofrer inúmeros
processos de edição. A quantização torna os ritmos mais homogêneos e menos
imprecisos. Ela também permite definir as durações das notas. Com comandos de
alteração de velocity podemos mudar a dinâmica dos trechos sem alterar o volume,
apenas a expressão mais forte ou suave dos toques. Marcamos com o mouse as notas,
pistas e trechos que serão editados.
Associando diferentes comandos podemos criar recursos interessantes. Se
copiamos um trecho de melodia, colando-o em outra pista, e depois transportamos o
tom dessa cópia, criamos uma “segunda voz” para a frase melódica. Se em vez de
transportar o tom arrastamos a cópia para que soe atrasada em relação à original,
criamos um excelente “eco”.
Todos esses recursos de edição devem ser usados com criatividade,
experimentalismo, ousadia, persistência e disciplina. Qualquer semelhança com a
gravação e a edição de áudio é mera coincidência. A edição do seqüenciador pode ser
uma arte como executar uma composição num instrumento ou dirigir uma orquestra.
Quantização. Sempre que tocamos um instrumento, por mais precisa que seja a
execução, alguns sons são sutilmente adiantados ou atrasados. No início imperceptíveis,
essas imprecisões rítmicas tendem a tirar o peso dos arranjos e tornar confuso o discurso
musical à medida em que outros instrumentos vão sendo adicionados à gravação.
Se quisermos que um trecho tenha um ritmo absoluta ou relativamente preciso,
recorremos à quantização. Ela consiste em uma alteração dos eventos MIDI no tempo,
aproximando-o de frações de tempo estabelecidas. Por exemplo, se quantizarmos um
trecho em compasso 4/4 com semínimas, colcheias e semicolcheias temos que escolher
a menor figura, no caso a semicolcheia, como a fração ou a resolução da quantização.
No caso, o seqüenciador divide cada compasso em 16 partes iguais (semicolcheias),
carregando cada nota que estiver fora de tempo para a fração de tempo mais próxima.
O trecho quantizado é absolutamente preciso em relação ao seu ritmo. Isto ajuda
muito a programação de baterias, percussões, baixos e instrumentos de harmonia. Nos
solos e melodias, pode ser melhor, em certos estilos, evitar a quantização para que a
execução não soe muito “mecânica”.
A quantização também pode ser relativizada. No modo percentual ou
“humanizado” estabelecemos uma margem de imprecisão rítmica tolerável. As
variações em torno do tempo absoluto são aleatórias, dentro dessa margem. Na
quantização por “groove”, outra pista gravada serve de modelo para a realocação dos
sons no tempo. Isto faz com que uma pista seqüenciada se comporte ritmicamente com
o mesmo estilo da outra.
A quantização sempre divide o compasso numa “grade” em que cada ponto
corresponde à fração de tempo escolhida. Esta fração pode ser uma figura musical,
como a colcheia e a semifusa, ou uma certa quantidade de PPQ (pulsos por semínima).
Toda nota que não coincide com um ponto da grade é transportada até o ponto mais
próximo, por isso é que temos que escolher como fração a menor figura do trecho.
Se uma nota tocada estiver tão adiantada ou tão atrasada que seja quantizada
para o tempo errado, só temos duas opções: corrigir este erro manualmente numa tela de
edição ou tocar de novo.
Edição gráfica. A maior vantagem dos seqüenciadores em software são as telas
de edição gráfica. Podermos ver um grande trecho das pistas a editar, ou um detalhe
delas, facilita e agiliza o processo. Com habilidade podemos mesmo escrever a música
na tela com o mouse e ouvir imediatamente o resultado. Visualizar a música nesses
gráficos e interagir com eles permite identificar e remover erros com rapidez e conforto.
Partitura, staff ou score. Como as notas MIDI são registradas com suas
posições no tempo e no compasso, o seqüenciador imediatamente escreve essas notas
numa pauta ou pentagrama. A tela mostra uma pauta ou um sistema (grade) com várias
delas, de acordo com as pistas marcadas ao ser aberta. Ao acionarmos a tecla PLAY, as
notas mudam de cor enquanto são tocadas, facilitando sua identificação.
Além de acrescentar e retirar notas, podemos mudar suas durações, alturas
(afinações) e posições no tempo diretamente dessa tela. As pistas de percussão podem
aparecer em pautas de cinco linhas ou de uma linha, como as melódicas e harmônicas
podem ser escritas em qualquer clave e mesmo em sistemas de duas pautas (piano),
automaticamente. Indicando o tom do trecho ao seqüenciador, as armaduras de clave a
alterações acidentais como sustenidos, bemóis e bequadros são corrigidas
automaticamente.
Essa tela também se aplica à impressão de partituras. Se um trecho não é
quantizado, podemos quantizar apenas sua visualização na pauta para um melhor
resultado na impressão.
As indicações de expressão, pedal de sustain e dinâmica também podem ser
inseridas na tela staff.
Piano-roll e controles. Essas são as telas mais úteis dos seqüenciadores.
Permitem uma edição precisa da maioria dos parâmetros dos eventos MIDI. Gráficos
com linhas, colunas e curvas ao longo do tempo, essas telas podem ser usadas pelos que
não lêem partituras, embora sejam mais úteis ainda aos que lêem, por serem mais
completas que a própria tela staff.
As duas telas, o piano-roll e a curva de controles, costumam vir juntas, uma
sobre a outra, para vermos a atuação dos controladores alternativos (pedais e outros) ao
mesmo tempo que as notas.
O piano-roll é um gráfico cartesiano do tipo x/y, com valores verticais e
horizontais. Na vertical estão as alturas ou o pitch das notas, cada uma numa linha
horizontal. Um teclado desenhado verticalmente na borda da tela serve para
identificarmos a altura certa de cada nota no gráfico. O eixo horizontal representa o
tempo. Cada nota aparece como um traço ou barra horizontal, cujo comprimento
representa sua duração. Notas de mesma afinação, portanto, aparecem sempre como
traços numa mesma linha, enquanto as notas de afinação mais alta ficam mais para o
alto da tela e as mais baixas para baixo.
Com o mouse, além de acrescentarmos e retirarmos notas com um simples
clique, temos ainda as opções de modificar suas alturas, durações, intensidades e
posições no tempo, bastando clicar e arrastar, com muito mais precisão que na tela staff.
A curva de controles permite acrescentar, retirar e modificar valores dos demais
controles MIDI, como o bend ou wheel, velocity, modulation, after touch, volume, pan e
todos os outros. Situada abaixo ou acima do piano-roll para podermos ver as notas que
tocam junto com a ação dos controles, a curva de controles também tem o aspecto de
um gráfico x/y, onde o eixo horizontal determina igualmente o tempo musical. Na
vertical temos a intensidade do controle escolhido, em forma de uma linha. Quanto mais
longa, mais alto o valor daquele parâmetro.
Na curva de controles escolhemos um parâmetro de edição de cada vez. Se
quisermos editar a intensidade das notas, escolhemos a função velocity. Quanto mais
longa a linha vertical associado ao início de cada nota do piano-roll, maior a intensidade
ou a força (velocidade) do toque. Na função volume, podemos indicar um nível, pelo
comprimento do traço, ou uma sucessiva variação (fade in ou fade out), em que os
múltiplos traços aparecem lado a lado formando uma curva. Tudo isso é feito ao
clicarmos e arrastarmos o mouse, em poucos segundos.
Alguns parâmetros podem ter uma curva em torno de um eixo central. O pitch
bender ou wheel, como sempre retorna ao centro, aparece aqui como uma linha
horizontal central quando em repouso. Acionado para cima, tem a forma de uma curva
sobre essa linha, enquanto com o bender para baixo faz uma curva abaixo da linha.
Controles que só têm as posições on e off, como o pedal de sustain, aparecem
como uma linha vertical de comprimento máximo (valor MIDI = 127) quando
acionados e um ponto na parte de baixo da tela (valor MIDI = 0) quando os soltamos.
Em alguns programas, como o Sonar, essa tela de controles pode estar oculta
após a instalação. Na tela piano-roll aparece uma barra horizontal na parte de baixo, que
deverá ser arrastada para cima com o mouse, permitindo a visualização dos controles.
Lista de eventos. O mais tradicional recurso de edição dos seqüenciadores
aparece como uma lista, em que cada evento e seus parâmetros ocupam uma linha. Nos
seqüenciadores em hardware com um pequeno visor podemos ver, em geral, um evento
de cada vez, não toda a lista. Nos softwares visualizamos muitas linhas ao mesmo
tempo, como numa folha de caderno, em que cada linha contém um diferente evento,
seja uma nota ou um controle.
Cada linha contém diversos parâmetros de um evento MIDI, como o momento
em que se inicia e em que acaba, escrito tanto em tempo musical (compasso, tempo e
frações de tempo em PPQ) quanto cronológico (horas, minutos, segundos e quadros ou
frames por segundo). Aparecem ainda o número ou nome do evento (note on, note off,
volume ou sustain, por exemplo), seu valor (qual nota ou quanto volume) e outras
indicações, como velocity das notas.
Podemos acrescentar, eliminar ou mudar valores dos eventos nessa lista, usando
o mouse e o teclado. Embora trabalhosa de consultar, a lista de eventos é útil para
editarmos certos controles, como o program change, que muda o som do sintetizador no
meio da música.
Arquivos MIDI (Standard MIDI Files). Os arranjos MIDI podem ser
arquivados no hard disk ou em disquetes. São arquivos levíssimos, como um texto
simples, já que só contêm comandos de ativação e desativação dos recursos dos
sintetizadores. Não contendo som (gerado externamente pelos instrumentos eletrônicos
ou internamente por outros programas, que são instrumentos virtuais), são os arquivos
musicais de menor consumo de memória.
Usamos o formato de arquivo nativo do programa quando só trabalhamos com
aquele seqüenciador. Cada software tem o seu próprio formato, identificável pela
gravando o seu som. Enfim, podemos editar e mixar, um a um, os diversos instrumentos
do arranjo, como num grande estúdio.
Mais tesouros escondidos: "fit improvisation". O Sonar traz um outro recurso
ainda menos conhecido que é uma ferramenta fantástica, muito útil e poderosa. Adapta
o andamento do programa a qualquer interpretação instrumental, por mais livres que
sejam os tempos executados pelo instrumentista. Seu nome, fit improvisation, pode ser
traduzido como "ajuste da improvisação".
Mesmo que o músico toque sem se apoiar nos tempos de um "clique" ou
metrônomo, esta função ajusta o programa de modo que os andamentos sempre estarão
de acordo com o que ele tocou, ainda que variando o número de batidas por minuto a
cada instante. Assim, podemos quantizar os tempos, localizar as notas nos compassos
com rapidez e realizar as demais operações da edição MIDI. Inclusive tornar o
andamento inalterado, com quantas batidas por minuto quisermos.
Todos os usuários dos
seqüenciadores MIDI sabem que uma de
suas funções mais interessantes é a
quantização ou quantize.
Automaticamente, torna as pistas
MIDI totalmente precisas no tempo,
mesmo que tenham sido tocadas um
pouco "frouxas", digamos assim.
Democrática, a utilíssima ferramenta de
quantização faz soar bem tocadas aquelas
pistas MIDI que, originalmente, não
foram tão bem executadas assim. Com
isso, o próprio compositor ou arranjador
pode tocar e gravar as partes de seu
arranjo, mesmo que ele não seja um
exímio instrumentista.
Alguns acham que as partes
quantizadas de uma música soam muito
"mecânicas" ou artificiais, quando, na verdade, é a dinâmica que executamos no
instrumento que dá a característica mais "humana" à música. Ninguém quer tocar fora
do ritmo. O ‘suingue’ aparece na acentuação dinâmica, a cada toque, não na imprecisão
rítmica.
Só que a quantização exige que
toquemos junto com um metrônomo ou
clique, que é gerado pelo próprio
programa na hora de gravar. Assim,
cada nota tocada já fica próxima de seu
tempo real. Com isso, a quantização tem condições de aproximar cada nota tocada do
seu tempo exato, tornando a execução perfeita quanto ao seu ritmo.
O problema é que nem todos os músicos estão dispostos a tocar com um clique.
E aí, como quantizá-los? A historinha a seguir exemplifica bem a situação.
Um pianista clássico foi gravar sua composição de 42 minutos num estúdio
MIDI. O produtor preparou a pista de gravação do seqüenciador, escolheu o canal
MIDI, o som do teclado e o andamento da música com a quantidade exata de batidas
por minuto (BPM) que seu cliente pediu. Assim que ele acionou Record, ouviu do
cliente:
– Desligue esse metrônomo! Não consigo tocar ouvindo este clique!
Ele retrucou:
– O clique é necessário para localizar rapidamente qualquer compasso da música
para fazer correções e também para quantizar o seu ritmo depois!
O pianista devolveu:
– Sei de tudo isto, mas só uso metrônomo para estudar, nunca para gravar!
E ouviu do produtor:
– Mas esta não é exatamente uma gravação, estamos seqüenciando um sampler
com som de piano. Assim, poderemos ajustar seu ritmo depois, quantizar o seu piano
para ele ficar bem preciso...
– Não importa, vamos sem metrônomo – cortou o pianista.
Em seguida, foi feita a gravação, ou melhor, o seqüenciamento da pista MIDI do
piano.
Assim que terminou de tocar e o produtor teclou Stop, o pianista saiu-se com
esta:
– Agora, me quantize!
Não é piada, é uma história real, ocorrida no Rio de Janeiro na década de 1990,
em plena era do Cakewalk Pro Audio. E o problema foi resolvido, graças ao comando
"Fit improvisation", que já existia no pai do Sonar. O material foi devidamente
quantizado e, ainda por cima, foram corrigidas até a perfeição todas as variações de
andamento, acelerando ou retardando o tempo, que o instrumentista involuntariamente
executou.
Como usar o fit improvisation? A palavra fit significa encaixar, ajustar ou
adaptar. Adaptar a pulsação do Sonar ao ritmo ‘improvisado’ do músico. Digamos: se a
montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha. Então, se o instrumentista não se
adapta ao andamento do Sonar, o Sonar se adapta ao andamento do instrumentista!
Vejamos, passo a passo, como fazer isto.
Primeiro, desligamos o metrônomo. Clicamos no menu <Options>, nos
comandos <Project> e <Metronome> e desabilitamos a caixa <Recording>. Então,
gravamos o instrumentista sem clique. Ele vai tocar livremente, sem se ater à pulsação
do programa nem à contagem interna de tempos e compassos.
Em seguida, temos que gravar um clique com a mesma pulsação utilizada pelo
músico numa outra pista MIDI. Tocamos uma única nota, batendo os tempos. O ideal é
que o próprio músico toque, marcando o tempo que ele tinha em mente quando gravou a
pista anterior. Afinal, este é um "tempo pessoal" daquele instrumentista. Ele deve gravar
as batidas, sempre na mesma nota, incluindo um compasso em branco antes e outro
depois da pista do piano.