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MULHER, ADVOGADA E EMPODERADA, MAS, PORÉM, CONTUDO, TODAVIA...

E no mês de março, “mês das mulheres”, nada melhor para falarmos


sobre as questões que envolvem toda essa nossa luta de cada dia, tecendo
considerações sobre as mesmas, bem como o quanto já conquistamos e
caminhamos e o quanto está sendo emblemático o momento, que evidencia todo
esse empoderamento para a manutenção e para a abertura de novas perspectivas
de avanço na igualdade de gêneros na nossa classe de advogadas e advogados.

Inicialmente, não há como falar da mulher advogada sem mencionar


Myrthes Gomes de Campos, que concluiu o curso de Ciências Jurídicas e Sociais
em 1898, tendo sido a primeira mulher bacharelada na área e primeira advogada do
Brasil, que levou oito anos para ser admitida no Instituto dos Advogados do Brasil
(IAB), face a resistência do machismo em aceitar uma mulher advogada como
sócia.

Quanto as nossas conquistas, o Conselho Federal da OAB criou em 08


de março de 2013 a Comissão Especial da Mulher Advogada (CNMA) com o intuito
de fortalecimento da mulher, no exercício da nossa profissão e, consequentemente,
em nossa sociedade, incentivando o empoderamento mediante troca de
informações entre as seccionais e mapeamento atualizado do perfil das advogadas
do Brasil.

Em outubro de 2014 foi realizado o primeiro painel sobre a mulher


advogada durante a Conferência Nacional dos Advogados do Brasil, onde foi
iniciado um movimento em prol da defesa da cota de 30% das vagas para as
mulheres advogadas, tendo sido aprovado o pleito pelo Conselho Federal. E, em
abril de 2015 surge em Roraima o Movimento Mais Mulheres na OAB, tendo havido
a adesão de todas as Seccionais após o lançamento do mesmo durante a 1ª
Conferência Nacional da Mulher Advogada, em Maceió.

No ano de 2016, a Ordem dos Advogados do Brasil reconheceu nossa


importância quando instituiu o Ano das Mulheres no Brasil, onde houve na Seccional
do Rio de Janeiro a implementação do Plano Nacional de Valorização da Mulher
Advogada, criado pelo Provimento no. 164/2015, que tinha como meta fortalecer os
nossos direitos humanos, contribuindo para diversas garantias criadas a nosso favor
como o fortalecimento das prerrogativas da mulher advogada, benesses
diferenciadas oferecidas pela Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de
Janeiro (CAARJ) e conscientização da necessidade de modificações estruturais no
judiciário, perante várias Instituições pertencentes.

Também em 2016 tivemos direitos legalizados, direcionados à advogada


gestante, lactante e adotante, através da Lei no. 13.363/2016, que alterou a Lei no.
8.906/1994, acrescentando o art. 7-A, nos trazendo benefícios impactantes, nunca
antes reconhecidos.

E as mais recentes e não menos grandes conquistas para nós, mulheres


advogadas, ocorreram em setembro de 2018 e dezembro de 2019, onde,
respectivamente, o Conselho Federal aprovou a exigência para o registro de chapas
de no mínimo de 30% e máximo de 70% para candidatura de cada sexo, alterando o
art. 131 do Regulamento Geral da OAB, bem como inserindo os art.s 156-B e 156-
C, contribuindo para maior participação política institucional da mulher advogada,
bem como, na OAB, Seccional do Rio de Janeiro, mediante cumprimento de
promessa de campanha e sempre pioneira, aprovou também a obrigação da
presença, em eventos realizados em todos os âmbitos da Seccional, a mesma cota
acima, contribuindo para maior participação feminina em palestras.

Inclusive a referida decisão impactou o Conselho Nacional, que aprovou


por unanimidade, em 10 de fevereiro, a proposição no.
49.0000.2019.013134-1/COP, no mesmo sentido, concedendo um prazo de 90 dias
para que as Seccionais deliberem sobre o assunto.

Devemos comemorar com muita obstinação todas as conquistas, tanto


institucionalmente, quanto no exercício pleno da nossa profissão, onde já somos a
maioria, mesmo necessitando ainda de superar muitos desafios na advocacia,
desafios dobrados ou triplicados pela nossa condição de gênero, diante da
persistência da cultura machista, bem como a reprodução do machismo por parte de
algumas colegas, vez que o desrespeito ainda existe, sendo muito difícil de prová-lo
por estarmos num ambiente com mulheres conhecedoras de seus direitos, onde as
ocorrências machistas, impositivas e preconceituosas são sempre sutis, na tentativa
de exposição desqualificadora da mulher advogada ou discriminatória decorrente do
gênero feminino.

Já somos a maioria e, portanto, lideramos a advocacia enquanto


mulheres habilitadas a exercer a profissão, restando liderarmos institucionalmente
os quadros políticos da Ordem dos Advogados do Brasil, pois, desde a existência da
referida Instituição, fundada em 1930, nunca houve uma mulher presidindo o
Conselho Nacional, com a participação significativa de apenas duas mulheres que
ocuparam cargos em sua diretoria: Dra Cléa Carpi, como Secretária Geral na gestão
2007-2010 e Dra Márcia Melaré, Secretária Adjunta na gestão 2010-2013, sendo
pouquíssimas presidindo as Seccionais, porém já com alguma pequena expressão
nos cargos de Vice-presidência.

Mas o fato de atualmente não possuirmos qualquer representatividade na


Diretoria do Conselho Nacional da OAB, podemos constatar que ainda existem
retrocessos e o quanto ainda precisamos lutar para a efetivação dos nossos direitos
pela defesa da igualdade de gênero.
Constatamos também que se faz extremamente necessário no atual
contexto a efetivação plena do verdadeiro empoderamento feminino, nos colocando
como sujeitas autênticas do processo, nos oportunizando a nossa participação
social, econômica e polîtica na luta pelos nossos direitos, bem como aplicando os
sete princípios básicos, tão explicitados pela ONU Mulheres, onde os homens
também precisam contribuir, favorecendo o êxito da igualdade com as mulheres na
sociedade.

E quanto a sororidade, devemos lutar para a verdadeira união e aliança


entre mulheres, baseadas na empatia e companheirismo, em busca de objetivos
comuns e salutares, equivalentes e áditos aos anseios para a efetiva igualdade de
gênero, quebrando paradigmas negativos, contrários ao empoderamento e à
referida sororidade, para podermos recuperar os retrocessos e avançarmos nas
conquistas e fazermos com que cada mulher advogada identifique, reconheça e
acredite na sua competência, cooperando para o seu empoderamento e,
consequentemente, somando forças convergentes para o combate do machismo,
inclusive o institucional, e êxito de ocupação dos espaços de poder, não só políticos
como no mercado de trabalho.

Dra Ana Tereza Basílio

Vice-Presidente OAB-RJ

Dra Barbara Ewers

Presidente AMAZOESTE-RJ

Conselheira CODIM

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