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GRUPO DE PROCESSAMENTO DE ENERGIA E CONTROLE

Departamento de Engenharia Elétrica


Centro de Tecnologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

HARMÔNICOS EM SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

Profa. Ruth P. S. Leão


Email: rleao@dee.ufc.br

- 2010 -
Sumário

Página
Capítulo 1 Fundamentos sobre Harmônicos 4
1.1 Introdução 4
1.2 Representação de Harmônicos 6
1.2.1 Série de Fourier 7
1.2.2 Funções Ortogonais 9
1.2.3 Coeficientes da Série de Fourier 9
1.2.4 Série Complexa de Fourier 13
1.2.5 Transformada Direta e Inversa de Fourier 16
1.2.6 Transformada Discreta de Fourier 20
1.2.7 Transformada Rápida de Fourier 21
1.3 Características de Harmônicos em Sistemas de Potência 23
1.3.1 Simetria 23
1.3.2 Sequência de Fase 25
1.3.3 Independência 41
1.4 Medidas de Distorção Harmônica 43
1.4.1 Requisitos para Medição de Sinais 43
1.4.2 Valor Eficaz 51
1.4.3 Fator de Crista 56
1.4.4 Fatores de Distorções Harmônicas de Tensão e Corrente 57
1.4.5 Potência Eficaz, Aparente, Reativa e de Distorção 65
1.4.6 Fator de Potência 69
1.4.7 Fator de Desclassificação K 79

Capítulo 2 Harmônicos: Regulamentação e Normalização


2.1 Introdução
2.2 Normas IEEE
2.2.1 Considerações sobre Limites de Distorção de Corrente
2.3 Regulamentação ANEEL

2.3.1 Procedimentos de Rede para Qualidade da Energia Elétrica


ii

2.3.2 Procedimentos de Distribuição para a Qualidade da Energia


Elétrica
2.4 Norma Européia EN
2.5 Norma IEC

Capítulo 3 Harmônicos em Sistemas de Potência


3.1 Introdução
3.2 Fontes de harmônicos
3.2.1 Conversores estáticos
3.2.2 Fornos a arco
3.2.3 Lâmpadas a arco elétrico
3.3 Efeitos de harmônicos
3.3.1 Motores e geradores
3.3.2 Transformadores
3.3.3 Cabos elétricos
3.3.4 Capacitores
3.3.5 Medidores
3.3.6 Relés e chaves

Capítulo 4 Mitigação de Harmônicos em Sistemas de Potência


4.1 Introdução
4.2 Filtros harmônicos
4.3 Conversores estáticos
4.4 Transformadores
4.5 Máquinas elétricas
4.6 Bancos capacitores

Capítulo 5 Estudo de Harmônicos – Modelagem de Componentes de


Sistema
5.1 Introdução
5.2 Banco de capacitores
5.3 Cargas

Capítulo 6 Projeto de Filtros Harmônicos


6.1 Introdução

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iii

6.2 Filtro sintonizado série


6.3 Filtro amortecido de 2ª ordem
6.4 Filtro de sintonia múltipla

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Capítulo 1 Fundamentos sobre Harmônicos

1.1 Introdução

Harmônicos são normalmente definidos como senóides ou co-senoides com


freqüências que são múltiplos inteiros da freqüência fundamental da fonte de
alimentação. Um sistema elétrico que opera p.ex. em 60 Hz, a 2ª harmônica é 120
Hz, a 3ª harmônica é 180 Hz e a n-ésima harmônica é n.60. (As freqüências que
estão entre estas freqüências harmônicas são chamadas inter-harmônicas (como
p.ex. 100 Hz), ou seja, são freqüências não-múltiplas inteiras da fundamental.
Freqüências abaixo da fundamental são chamados sub-harmônicas (como p.ex. 8
Hz), e muitas vezes contribuem para o fenômeno da cintilação da luz.) Os
harmônicos, interharmônicos e subharmônicos têm a propriedade de causar
deformação em uma onda senoidal, tornando-a distorcida.
Tabela 1.1 Componentes espectrais de formas de onda de freqüência f.

Harmônica f = hf1 em que h é um número inteiro maior que zero


Componente cc f = hf1 para h=0
Inter-harmônica f = hf1 em que h é um não inteiro maior do que zero
Subharmônica f > 0 Hz e f < f1
f1 = frequência fundamental da onda

A palavra ‘harmônico’ foi originalmente usada na área de som com significado de


vibração de uma corda ou coluna de ar para um múltiplo da freqüência
fundamental. Na engenharia, o termo 'harmônico' ou 'harmônica' é usado
indistintamente.

A presença de harmônicos em um sinal elétrico não é um fenômeno novo. A


preocupação com a distorção harmônica surgiu durante o início da história dos
sistemas de potência em ca. Em 1916 Steimetz publicou um livro que devotou
considerável atenção ao estudo de harmônicos em sistemas de potência
trifásicos. A principal preocupação de Steimetz estava voltada às correntes
harmônicas de terceira ordem causadas pela saturação magnética do ferro em
transformadores e máquinas, e foi Steimetz o primeiro a propor a conexão delta
para confinar as correntes harmônicas de terceira ordem.

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Mais tarde, com o advento da eletrificação rural e dos serviços telefônicos, os


circuitos de energia e comunicação foram construídos na mesma faixa de
servidão. As correntes harmônicas produzidas pela corrente de magnetização dos
transformadores causavam interferência indutiva nos sistemas de telefonia com
condutores nus. A interferência era às vezes tão severa que a comunicação de
voz tornava-se impossível. Este problema foi estudado e mitigado pela filtragem e
imposição de limites de projeto nas correntes de magnetização de
transformadores.

Mais recentemente os harmônicos têm se destacado pela co-existência de duas


tendências: o crescente uso de banco de capacitores nos sistemas de potência
para a melhoria do fator de potência, e a crescente aplicação na indústria,
comércio, residências e serviços da eletrônica incorporada aos equipamentos
elétricos para aumento da eficiência e confiabilidade dos equipamentos. A
presença simultânea de bancos de capacitores para correção de fator de potência
e de cargas eletrônicas pode resultar na amplificação da tensão e corrente.

Com a popularização dos equipamentos que fazem uso da eletrônica, problemas


de qualidade de energia nas instalações começaram a surgir, do tipo: disparos
intempestivos de disjuntores, sobre-aquecimento de transformadores, corrente
excessiva nos condutores neutros, explosões de capacitores de correção de fator
de potência, dentre outros problemas. Tais problemas, em sua grande maioria,
têm como causa a presença de harmônicos decorrentes do novo perfil da carga
de natureza não linear que leva a distorção em estado permanente na forma de
onda da corrente e da tensão.

Os estudos de harmônicos são conduzidos para investigar o impacto de


dispositivos não lineares com o objetivo de calcular os fatores de distorção,
analisar situações harmônicas de interesse, e em especial detectar ressonâncias.
O estudo consiste de uma avaliação dos efeitos da penetração de harmônicos na
instalação. Uma varredura em freqüência é realizada, a qual consiste na
determinação da magnitude da impedância diagonal em diferentes barras de
interesse versus a variação de freqüência, e é útil na identificação de ressonância.
Uma redução significativa na magnitude da impedância implica em ressonância
série. Por outro lado, a ressonância paralela é identificada pelo aumento

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acentuado na impedância. Um estudo de fluxo de carga harmônico calcula a


componente fundamental e as harmônicas das correntes de linha e tensões
harmônicas de barra. Os valores calculados são comparados aos valores limites
estabelecidos em normas, e problemas na instalação podem advir como resultado
da violação de limites [George J. Wakileh, Power Systems Harmonics, Springer, 2001].

Quando um estudo do efeito de penetração de harmônicos é realizado em um


sistema, é de grande importância que os componentes do sistema sejam
corretamente modelados para garantir precisão nos resultados obtidos.

Dentre as soluções para atenuar os efeitos dos harmônicos a filtragem é uma das
mais aplicadas. Várias alternativas de filtros e a análise da resposta da filtragem
podem ser examinadas por simulação.

Os próximos capítulos e seções têm como objetivo desenvolver e apresentar


conceitos, indicadores de severidade e normas que levem a um melhor
entendimento dos harmônicos, suas causas e efeitos, e conhecer técnicas e
ferramentas para atenuação de harmônicos nos sistemas elétricos de potência e
instalações industriais.

1.2 Representação de Harmônicos

Formas de ondas senoidais são condições almejadas nos sistemas elétricos uma
vez que transformadores, máquinas e aparelhos elétricos são projetados com
base em um suprimento senoidal. Entretanto, uma forma de onda senoidal é algo
ideal e que na prática é comumente não encontrada.

Uma onda periódica distorcida, deformada ou sem conformidade com uma


senóide pode ser decomposta em uma série finita ou infinita de ondas senoidais e
co-senoidais. A onda periódica distorcida possui uma componente denominada de
fundamental que, em geral, determina a freqüência de oscilação da onda
distorcida, e um conjunto de ondas, denominadas de harmônicos (ou
harmônicas), responsáveis pelo maior ou menor grau de distorção da onda
distorcida.

A fundamental é a onda de menor freqüência do conjunto de ondas cujas


freqüências são múltiplas inteiras da fundamental. Cada múltiplo inteiro da

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fundamental é chamado de ordem do harmônico. A fundamental é também


conhecida como a componente da onda de primeira ordem. O sistema elétrico
brasileiro, por exemplo, opera a uma freqüência de 60 Hz, sendo esta a
freqüência fundamental do sistema.

Alguns exemplos de formas de ondas distorcidas são ilustrados nas Fig.1.1 a 1.4.

Fig. 1.1 Corrente de Lâmpada Fluorescente Fig.1.2 Corrente de Lâmpada Vapor de


Compacta Neonda – 15W Mercúrio Philips – 400W

Fig.1.4 Corrente de Inversor de UPS.


Fig.1.3 Corrente de Inversor de Frequência

Para a identificação das componentes harmônicas presentes em uma onda não


senoidal e a quantificação do grau de distorção é empregada uma ferramenta
matemática desenvolvida em 1822 pelo matemático francês Jean Baptiste Joseph
Fourier (1768-1830), denominada de Série de Fourier.

A freqüência, a amplitude e a fase de cada senóide são determinadas por meio da


análise de Fourier aplicada à onda não senoidal. A análise de Fourier é o
processo de conversão de formas de onda no domínio do tempo em suas
componentes de freqüências.

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A Série de Fourier permite estabelecer uma relação simples entre uma função no
domínio do tempo com a função no domínio da freqüência.

1.2.1 Série de Fourier

Uma função periódica genérica pode ser definida como:

f ( t ) = f ( t + hT ) , h = 0, ± 1, ± 2,… (1.1)

A menor constante T positiva define o período da função periódica, h é o conjunto


de números inteiros e t o tempo.

Segundo Fourier, a função f(t) pode ser representada matematicamente pela


expressão:

a0
f (t ) = + ∑ h =1 ⎡⎣ ah cos ( hω1t ) + bh sen ( hω1t ) ⎤⎦

(1.2)
2
em que
a0/2 valor médio de f(t), e a componente cc do sinal
ah, bh amplitudes ou valor de pico da componente de ordem h da série
ω1 frequência angular fundamental de f(t) definida como ω1 = 2π T

h ordem do harmônico

A função f(t) em (1.2) é uma representação no domínio da freqüência de uma


função periódica. A função f(t) pode ser representada pela superposição de senos
e co-senos numa combinação de amplitudes e freqüências.

A série de Fourier quando aplicada a um sinal no domínio do tempo, contínuo e


periódico, resulta em uma soma de componentes senoidais de freqüências
discretas de diferentes valores. O sinal decomposto pode ser analisado por seu
conteúdo de freqüência mostrando que freqüências têm um papel importante no
formato do sinal e quais não têm.

A série como definida em (1.2) é denominada de série trigonométrica de Fourier.


A série pode ser re-escrita como:

f ( t ) = c0 + ∑ h =1 ch sen ( hω1t + φh )

(1.3.a)

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ou

f ( t ) = c0 + ∑ h =1 ch cos hω1t + φh − 90

( )
(1.3.b)
= c0 + ∑ h =1 ch cos ( hω1t + ϕ h )

em que:
c0 = a0 2 magnitude da componente cc do sinal

ch = ah2 + bh2 valor de pico da componente de ordem h da série

φh = tan −1 ( ah bh ) ângulo de fase da componente de ordem h da série em seno

ϕh = − tan −1 ( bh ah ) ângulo de fase da componente de ordem h da série em co-seno

A magnitude ch e o ângulo de fase φh de cada harmônico de ordem h determina o


formato resultante da onda f(t). A função em (1.3) é denominada de série
compacta de Fourier.

A Eq.(1.2) pode também ser representada por sua forma exponencial como:


f (t ) = ∑Ce
h =−∞
h
jhω0t
, h = 0, ± 1, ± 2, (1.4)

com

1
f ( t ) ⋅ e− jhω0t dt
T 2
Ch =
T ∫ −T 2
(1.5)

1.2.2 Funções Ortogonais

Um conjunto de funções ⎨ϕ(t)⎬ é denominada ortogonal em um intervalo α<t<β se


todos os grupos de quaisquer duas funções ϕi(t) e ϕj(t) no conjunto ⎨ϕ(t)⎬ satisfaz

β ⎧ 0, i ≠ j
∫α ϕ ( t )ϕ ( t ) dt = ⎨⎩γ , i = j
i j (1.6)

em que γ é um valor diferente de zero. As funções ⎨1, cosω1t, ..., cós(hω1t), ...,
senω1t, ..., sem(hω1t), ...⎬ é um conjunto ortogonal de funções senoidais em um
intervalo de –T/2<t<T/2.

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1.2.3 Coeficientes da Série de Fourier

Usando as relações ortogonais, podem-se obter os coeficientes a0, ah e bh da


série de Fourier. O coeficiente constante a0 da série pode ser calculado
integrando os dois lados de (1.2) sobre um período de 0 a T ou –T/2 a T/2.

⎡ a0 ⎤
f ( t )dt = ∫ ⎢ 2 + ∑ h =1 ⎣⎡ ah cos ( hω1t ) + bh sen ( hω1t ) ⎦⎤ ⎥ ⋅ dt
T 2 T 2 ∞
∫−T 2 −T 2
⎣ ⎦
(1.7)

A série em (1.7) do lado direito da igualdade é integrada termo a termo. O


primeiro termo iguala-se a (a0/2)T, enquanto os outros se tornam nulos pela
condição de ortogonalidade. Portanto, a componente cc do sinal é dada por:

2 T
f ( t ) dt
T ∫0
a0 = (1.8)

Os coeficientes ah podem ser determinados multiplicando (1.2) pelo termo


cos(kω1t), onde k é qualquer número inteiro positivo, e integrando sobre um
período.

⎡ a0 ⎤
f ( t ) cos ( kω1t ) dt = ∫ + ∑ h =1 ⎡⎣ ah cos ( hω1t ) + bh sen ( hω1t ) ⎤⎦ ⎥ ⋅ cos ( kω1t ) dt
T 2 T 2 ∞
∫−T 2 ⎢

−T 2 2

= 0 ∫ cos ( kω1t ) dt + ∑ h =1 ⎡ ∫ ah cos ( hω1t ) cos ( kω1t ) dt ⎤
a T2 ∞ T 2

2 −T 2 ⎣⎢ −T 2 ⎦⎥
+ ∑ h =1 ⎡ ∫ bh sen ( hω1t ) cos ( kω1t ) dt ⎤
∞ T 2

⎢⎣ −T 2 ⎥⎦

(1.9)

O primeiro termo à direita da igualdade em (1.9) é zero, assim como são todos os
termos em bh uma vez que sen(hω1t) e cos(kω1t) são funções ortogonais para
todo h e k. De modo semelhante, os termos em ah são nulos por serem
ortogonais, com exceção da condição em que h=k. Neste caso (1.9) torna-se:

f ( t ) cos ( kω1t ) dt = ah ∫ cos 2 ( kω1t ) dt


T 2 T 2
∫−T 2 −T 2
(1.10)
a a
cos ( 2hω1t ) dt
T 2 T 2
= h
2 ∫−T 2 dt + 2h ∫−T 2

O segundo termo à direita da igualdade em (1.10) é nulo, resultando para ah:

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2 T2
f ( t ) cos ( hω1t ) dt , h=1,… ,∞
T ∫−T 2
ah = (1.11)

Para determinar os coeficientes bh, a expressão em (1.2) é multiplicada por


sen(kω1t) e, por uma manipulação matemática semelhante à acima tem-se que:

2 T2
f ( t ) sen ( hω1t ) dt , h=1,… ,∞
T ∫−T 2
bh = (1.12)

Os coeficientes da série de Fourier representam a contribuição de cada seno e


co-seno para cada freqüência. Note que enquanto a0/2 é o valor médio da função
f(t), os coeficientes ah e bh são as componentes retangulares do h-ésimo
harmônico. O correspondente fasor do h-ésimo harmônico é:

( )
ah cos ( hω1t ) + bh sen ( hω1t ) = ah sen hω1t + 90 + bh sen ( hω1t )
= bh + jah (1.13)
= ch ∠φh

A magnitude e ângulo de fase de ch∠φh são dados por:

ch ch = ah2 + bh2 (1.14)


ah
φh
bh ⎛ ah ⎞
φh = tg −1 ⎜ ⎟ (1.15)
Fig.1.5 Diagrama Fasorial ⎝ bh ⎠

O componente ch∠φh em (1.13) pode ser representado por uma função senoidal
ou co-senoidal de freqüência angular hω1, h=1,...,∞. A magnitude de ch independe
do tipo de sinusóide adotada; o ângulo φh, porém, será dado por (1.15) para a
representação em seno como em (1.13), e deslocado de 90º caso as funções
sejam permutadas para co-seno ( ϕh = tg −1 ( −bh ah ) = −tg −1 ( bh ah ) ).

Para uma série de Fourier construída na forma de (1.16) o par formado por ch e φh
contém toda a informação capaz de descrever a onda.

f ( t ) = c0 + c1sen (ω1t + φ1 ) + + ch sen ( hω1t + φh ) + (1.16)

ou

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f ( t ) = c0 + c1 cos (ω1t + φ1 − 90 ) + (
+ ch cos h (ω1t + φ1 − 90 )) + (1.17)
= c0 + c1 cos (ω1t + ϕ1 ) + + ch cos ( h (ω1t + ϕ1 ) ) +

Uma lista de freqüências ou ordem da harmônica, amplitudes, e ângulo de fase


das componentes harmônicas é denominada de espectro harmônico da onda.
Esta informação é crítica na especificação do projeto de filtros harmônicos.

A Fig. 1.6 mostra alguns termos da série de Fourier de uma onda quadrada e a
soma dos 10 primeiros termos ímpares. Os termos pares da onda quadrada são
todos nulos. Observe que existem várias passagens por zero, com o que um
equipamento que utilize como referência a passagem por zero não funcionará
corretamente.

Fig. 1.6 Sinal de uma Onda Quadrada com Fundamental de 1 MHz, suas Componentes até a 7ª
Ordem e a Soma das 10 Harmônicas Impares.

A Fig. 1.7 mostra o espectro da onda quadrada até a harmônica 30 e os valores


de amplitude das 10 primeiras harmônicas ímpares da onda quadrada para um
sinal de amplitude 50 mVpp. A fase de todas as componentes é 90o. As
harmônicas pares são nulas.

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f(MHz) ΙVΙ (mV) ΙVΙ/Vpp

1 31,8310 0,636
3 10,6103 0,212
5 6,3662 0,127
7 4,5473 0,091
9 3,5368 0,071
11 2,8937 0,058
13 2,4485 0,049
15 2,1221 0,042
17 1,8724 0,037
19 1,6753 0,034

Fig.1.7 Espectro de Amplitude de uma Onda Quadrada com Fundamental de 1 MHz até
Harmônica de Ordem 30 e a Amplitudes das 10 Primeiras Harmônicas Impares.

Uma onda quadrada expressa em função do tempo é dada por:

4V p 4V p 4V p (1.18)
f (t ) = sen ω1t + sen 3ω1t + sen 5ω1t +
π 3π 5π

em que Vp é o valor de pico ou máximo da onda quadrada.

As vantagens de se usar a série de Fourier para representar formas de onda


distorcidas é que cada componente harmônica pode ser analisada
separadamente e, a distorção final é determinada pela superposição das várias
componentes que compõem o sinal distorcido.

1.2.4 Série Complexa de Fourier

A série de Fourier complexa está baseada na representação das componentes de


freqüência como fasores que giram no plano complexo. Tal representação permite
a interpretação geométrica da relação entre formas de onda nos domínios do
tempo e freqüência.

Seja um fasor que gira uniformemente, de amplitude constante A/2 e ângulo de


fase que varia no tempo igual a φ=2πft + θ, onde θ é o ângulo inicial quando t=0.
Um segundo fasor de mesma magnitude e ângulo de fase -φ girará em direção

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contrária. O ângulo de fase negativo pode ser considerado como uma freqüência
negativa.

A soma dos dois fasores sempre repousará ao longo do eixo real, com a
magnitude oscilando entre A e –A de acordo com:

Amplitude máxima
Im
A/2 Amplitude instantânea

θ A jφ A − jφ

e + e = A cos φ (1.19)
Re 2 2

Fig. 1.8 Vetores em Contra-rotação Produzindo


Fasor de Amplitude Variável

Assim, cada componente harmônico de um sinal pode ser representado por dois
fasores de amplitude dividida por dois que giram em velocidade contrária.

O seno e co-seno da série de Fourier em (1.2) podem ser resolvidos em termos


de freqüências positivas e negativas usando a identidade trigonométrica:

e jhω1t + e− jhω1t
cos ( hω1t ) = (1.20)
2

e jhω1t − e − jhω1t
sen ( hω1t ) = (1.21)
2j

Substituindo (1.20) e (1.21) em (1.2) resulta:

∞ ⎡ ⎛ e jhω1t + e − jhω1t ⎞ ⎛ e jhω1t − e − jhω1t ⎞⎤


f ( t ) = ∑ ⎢ ah ⎜ ⎟ + bh ⎜ ⎟⎥
h =0 ⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2j ⎠⎦ (1.22)

⎡1 1 ⎤
= ∑ ⎢ ( ah − jbh ) e jhω1t + ( ah + jbh ) e− jhω1t ⎥
h =0 ⎣ 2 2 ⎦

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Definindo Ch como:

1
Ch = ( ah − jbh ) (1.23)
2

e substituindo as expressões deduzidas para ah e bh em (1.11) e (1.12)


respectivamente, tem-se:

f ( t ) ( cos ( h ω1t ) − jsen ( hω1t ) )dt


1 T2
T ∫−T 2
Ch =
(1.24)
1 T2
= ∫ f ( t ) e − jhω1t dt
T −T 2

O conjugado de Ch, representado por Ch*=C-h é então:

1
Ch* = ( ah + jbh )
2
= ∫ f ( t ) ( cos ( h ω1t ) + jsen ( hω1t ) )dt
1 T
(1.25)
T 0
1 T
= ∫ f ( t ) e jhω1t dt
T 0

Assim f(t) em (1.22) pode ser re-escrito como:

f ( t ) = ∑ h =0 Ch e jhω1t +∑ h =0 C− h e− jhω1t
∞ ∞

= ∑ h =0 Ch e jhω1t +∑ h =0 Ch e jhω1t
∞ −∞
(1.26)

= ∑Ce
h =−∞
h
jhω1t

sendo

1
f ( t ) e − jhω1t dt
T 2
Ch =
T ∫
−T 2
(1.27)

Todos os sinais periódicos de interesse prático em sistemas de potência possuem


série de Fourier que pode ser expressa como uma função exponencial com limites
de integração de menos até mais infinito. Os coeficientes Ch da série exponencial
fornecem diretamente a amplitude e fase de cada componente espectral de
frequência ω=hω1 do sinal.

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1.2.5 Transformada Direta e Inversa de Fourier

A transformada de Fourier e sua inversa são usadas para mapear qualquer


função, no intervalo - ∞ a + ∞, quer no domínio do tempo, quer no domínio da
freqüência, em uma função contínua no domínio inverso. A série de Fourier,
portanto representa um caso especial da transformada de Fourier aplicada a um
sinal periódico.

A análise de Fourier, quando aplicada a um sinal periódico, contínuo, no domínio


do tempo, resulta em uma série de componentes de frequência discretas no
domínio da frequência.

Fazendo com que o período de integração tenda a infinito, o intervalo entre as


freqüências harmônicas, ω, tende a zero e os coeficientes de Fourier, Ch, de
(1.27) tornam-se uma função contínua, como [J. Arrilaga et al, Power System
Harmonic Analysis, Wiley,1997]:


F (ω ) = ∫ f (t )e − jωt dt (1.28)
−∞

A expressão para a função f(t) no domínio do tempo, a qual é também contínua e


de intervalo infinito, em termos de F(ω) é então:

1 ∞
f (t ) = ∫ F (ω ) e jωt d ω (1.29)
2π −∞

A função F(ω) é conhecida como a função densidade espectral de f(t). As


Equações (1.28) e (1.29) formam o par da Transformada de Fourier. A Eq. (1.28)
é denominada de Transformada Direta, pois transforma a função f(t) no domínio
do tempo em um sinal correspondente F(ω) no domínio da freqüência, e a
Equação (1.29) é denominada de Transformada Inversa.

Em (1.28) o período T da componente fundamental foi aumentado sem limite


realizando a transição de uma função periódica para uma função aperiódica.
Portanto, a transformada de Fourier se aplica a sinais aperiódicos. Ondas não
periódicas apresentam um espectro contínuo.

Para o sinal da Fig.1.10 a transformada de Fourier é dada por:

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⎧⎪V t ≤T 2
f (t ) = ⎨
⎪⎩0 t >T 2

T T t

2 2

Fig.1.9 Onda Retangular Aperiodica


F (ω ) = ∫ f (t )e − jωt dt
−∞
(1.30)
=∫ (
V 1 − jπ fT
)
T 2
− j 2π ft
Ve dt = − ⋅ e − e jπ fT
−T 2 π f 2j

Usando a identidade:

senθ =
1 jθ
2j
(
e − e − jθ ) (1.31)

a transformada torna-se:

V 2V ⎛ω ⎞
F (ω ) = sen (π fT ) = sen ⎜ T ⎟ (1.32)
πf ω ⎝2 ⎠

A transformada de Fourier informa apenas que componentes de freqüência estão


contidas em um sinal, não informa, porém em que tempo as componentes de
freqüência ocorrem – essa informação não é necessária quando o sinal é
estacionário (o conteúdo de freqüência não varia no tempo).

Fig.1.10 Sinal Estacionário.

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18

O sinal da Fig.1.10 é dado por:

f (t ) = cos(2π 10t ) + cos(2π 25t ) + cos(2π 50t ) + cos(2π 100t ) (1.33)

Enquanto sinal estacionário não é necessário conhecer em que tempo os


componentes de frequência ocorrem. O espectro de frequência da onda é
mostrado na Fig.1.11. As componentes de frequência são 10, 25, 50 e 100 Hz.

Fig.1.11 Espectro de frequência de onda estacionária.

A Fig.1.12 mostra um sinal não estacionário, o conteúdo de frequência varia


continuamente no tempo, i.e., as freqüências não aparecem o tempo todo.

Fig.1.12 Sinal Não Estacionário.

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19

Freqüências:

0<t<300ms→ 100 Hz
300<t<600ms→50 Hz
600<t<800ms→25 Hz
800<t<1000ms→10 Hz

100 Hz 50 Hz 25 Hz 10 Hz

Fig.1.12 Sinal Não Estacionário

A transformada de Fourier do sinal da Fig.1.12 é mostrada em 1.13.

Fig.1.13 Transformada de Fourier de Sinal Não Estacionário.

Os dois exemplos de sinal estacionário e não estacionário apresentam as


mesmas componentes de freqüência 10, 25, 50 e 100 Hz embora os sinais no
domínio do tempo sejam diferentes.

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20

No domínio da freqüência o gráfico do sinal não estacionário (1.13) é similar ao


gráfico do sinal estacionário (1.11). No domínio do tempo os dois sinais são bem
distintos (1.12 e 1.10). Exemplos de formas de onda não estacionárias são os
transitórios causados na operação de fornos a arco, chaveamento de banco de
capacitores, partida de motores, energização de linhas, correntes de energização
de transformadores, etc.

A Transformada de Fourier não distingue sinais estacionários de não


estacionários. TF pode ser usada para sinais não estacionários se há interesse
apenas em que componentes de freqüência estão presentes no sinal.

A teoria de Wavelets permite o conhecimento simultâneo de tempo e frequência


de um sinal.

Fig.1.14 Decomposição de um sinal em componentes de frequência no tempo.

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21

1.2.6 Transformada Discreta de Fourier

Na prática, os dados de um sinal são em geral disponíveis na forma de uma


função amostrada, representada por uma série no tempo de amplitudes,
separadas por intervalos fixos de tempo de duração limitada (N amostras por
período).

Quando lidando com dados amostrados é usada uma modificação da


Transformada de Fourier, a Transformada Discreta de Fourier. A implementação
da Transformada Discreta de Fourier, por meio de um algoritmo da Transformada
Rápida de Fourier (FFT), forma a base dos mais modernos sistemas de análise
harmônico e espectral.

A transformada de Fourier discreta é definida como:

1 (1.34)
F ( fk ) = ∑ f ( tn ) ⋅ e − j 2π kn N
N −1
n =0
N
E sua inversa por:

f ( tn ) = ∑ k =0 F ( f k ) ⋅ e j 2π kn N
N −1 (1.35)

É na forma discreta que a transformada de Fourier é mais apropriada para


avaliação numérica por computador. O uso da TF discreta forma a base dos mais
modernos sistemas de análise harmônica e espectral.

–j2π/N
A equação (1.34) pode ser re-escrita considerando W=e :

N −1
1
F ( fk ) =
N
∑ f ( t )W
n =0
n
kn
(1.36)

Para todas as componentes de freqüência, (1.36) torna-se uma equação matricial,


em que:

1
F ( fk ) = ⎡⎣W kn ⎤⎦ ⋅ f ( tn ) (1.37)
N

Com

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22

F ( fk ) Vetor representando as N componentes da função no domínio da


freqüência
f ( tn ) Vetor representando as N amostras da função no domínio da
freqüência
⎡⎣W kn ⎤⎦ Matriz de dimensão (NxN) em que cada componente é um fasor
unitário que gira no sentido horário com deslocamento sucessivo entre
componentes

1.2.7 Transformada Rápida de Fourier


Para grandes valores de N, o tempo e custo de computação para realizar N2
multiplicações complexas da Transformada Discreta de Fourier se tornam
proibitivos. A Transformada Rápida de Fourier lança mão da semelhança entre
muitos dos elementos da matriz [Wkn] e calcula os mesmos componentes de
freqüência com apenas N/2log2N multiplicações para a solução da Equação
(1.37). Assim, para o caso N=1024=210, há uma economia em tempo de
computação por um fator de 200 [J.Arrillaga, B.C. Smith, N.R.Watson and A.R.Wood. Power
System Harmonic Analysis,Jonh Wiley & Sons, 1997].

Como conclusão e resumo desta seção podem ser dito que:

ƒ A análise de Fourier é a ferramenta matemática que permite obter a


decomposição de uma função nas suas componentes espectrais.

ƒ Ondas periódicas não senoidais podem ser decompostas em uma série infinita
de ondas senoidais com magnitudes e ângulos de fase calculados pela série
de Fourier.

ƒ Uma onda periódica não senoidal pode ser decomposta em:

• Harmônicos pares
• Harmônicos ímpares
• Componente CC

ƒ A cada harmônico está associado uma ordem, frequência, magnitude e ângulo


de fase.

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23

ƒ A componente fundamental de uma onda periódica não senoidal define o


período do sinal distorcido por ser a fundamental a senóide predominante do
sinal.

ƒ Ondas periódicas não senoidais possuem:

• uma componente fundamental


• um conjunto de ondas harmônicas responsáveis pelo maior ou menor
grau de distorção da componente fundamental

ƒ O somatório de sinusóides de freqüências múltiplas resulta em uma onda


distorcida

ƒ A série trigonométrica de Fourier pode ser representada por sua forma


exponencial com limites de integração de menos até mais infinito cujos
coeficientes Ch fornecem diretamente a amplitude e fase de cada componente
espectral do sinal.

ƒ A análise de Fourier quando aplicada a um sinal no domínio do tempo


periódico, contínuo resulta em uma série de componentes de freqüência
discretos no domínio da freqüência. Ondas não periódicas apresentam um
espectro contínuo.

ƒ A transformada de Fourier se aplica a sinais aperiódicos, sob a consideração


que o período tem comprimento infinito, e permite mapear qualquer função no
intervalo - ∞ a + ∞ do domínio da frequência para o domínio do tempo e vice-
versa.

ƒ Quando o período de integração estende-se ao infinito a distância entre as


freqüências harmônicas tendem a zero e o coeficiente Ch torna-se uma função

contínua.

ƒ A transformada de Fourier estende o conceito fasorial a funções não


periódicas que são mais gerais que as senóides e cujos espectros de
amplitude e fase são contínuos e não discretos.

ƒ Os espectros de freqüência são úteis para o cálculo de faixas dominantes de


freqüências.

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24

ƒ A Transformada de Fourier não informa quando no tempo as componentes de


freqüência ocorrem - esta informação é desnecessária para sinais
estacionários.

1.3 Características de Harmônicos em Sistemas de Potência

Simplificações no cálculo dos coeficientes da série de Fourier podem ser obtidos


segundo as simetrias apresentadas pelo sinal periódico.

1.3.1 Simetria
Simetria ímpar é caracterizada por um sinal que satisfaz (1.38):

f ( −t ) = − f ( t ) (1.38)

e resulta em todos os coeficientes em co-seno (função par) nulos, ah=0, na série


de Fourier. Em sendo a onda de simetria ímpar, somente os coeficientes da
função seno podem ser não nulos, inclusive o termo a0.

Simetria par é caracterizada por um sinal que satisfaz (1.39):

f ( −t ) = f ( t ) (1.39)

e resulta em todos os coeficientes em seno (função ímpar) nulos na serie de


Fourier, bh=0. Em sendo a onda de simetria par, somente os coeficientes da
função co-seno podem ser não nulos, inclusive o termo a0.

f(t)

0 T T t 0 T T t
2
2

Fig.1.15 Onda retangular com simetria impar Fig.1.16 Onda retangular com simetria par

Se a onda par ou ímpar é simétrica em relação ao eixo horizontal, o coeficiente a0

é nulo, o que indica que o valor médio da onda é zero ou não existência de
componente cc.

Em uma função nem par nem ímpar os dois tipos de termos estão presentes.

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25

Simetria de meia onda é definida como:

f (t ± T 2) = − f (t ) (1.40)

Em sinais com simetria de meia onda, a componente cc da série de Fourier é


nula, a0=0, e resulta no cancelamento de harmônicas de ordem par (h=2,4,6, ...).
Esta condição leva a ignorar harmônicos pares em sistemas de potência uma vez
que os sistemas apresentem componentes bilaterais que atuam de forma
simétrica e periódica e produzem tensões e correntes com simetria de meia onda.
A Fig. 1.17 mostra uma forma de onda típica de uma corrente de linha de um
conversor de 6 pulsos com transformador Y-Y.

Fig.1.17 Forma de onda de corrente de linha de conversor de 6 pulsos [Fonte: Wakileh, Power
Systems Harmonics, Springer, 2001]

A forma de onda da Fig.1.17 exibe simetria ímpar ((f(-t)=-f(t))., com ah=0,


componente cc nula, a0=0, e não possui componentes pares (f(t±T/2)=-f(t)).

Calculando os coeficientes da série de Fourier resulta:

a0 =
1
2π (∫ 5π 6

π 6
a ⋅ d (ω1t ) − ∫
7π 6
11π 6
)
a ⋅ d (ω1t ) = 0 (1.41)

ah =
2 5π 6
2π ∫π 6 ( a ⋅ cos ( hω1t ) d ( ω 1t ) −
11π 6
∫7π 6 a ⋅ cos ( hω1t ) d (ω1t ) )
(1.42)
a ⎡ ⎛ 5π h ⎞ ⎛πh ⎞ ⎛ 11π h ⎞ ⎛ 7π h ⎞ ⎤
= ⎢ sin ⎜ ⎟ − sen ⎜ ⎟ − sen ⎜ ⎟ + sen ⎜ ⎟⎥ = 0
πh ⎣ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠⎦

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26

bh =
2 5π 6

2π π 6 ( a ⋅ sen ( hω1t ) d (ω1t ) − ∫
11π 6

7π 6
a ⋅ sen ( hω1t ) d (ω1t ) )
a ⎡ ⎛πh ⎞ ⎛ 5π h ⎞ ⎛ 11π h ⎞ ⎛ 7π h ⎞ ⎤
= ⎢ cos ⎜ ⎟ − cos ⎜ ⎟ + cos ⎜ ⎟ − cos ⎜ ⎟⎥ (1.43)
πh ⎣ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 6 ⎠⎦
⎧ 1 h=1,11,13,
2 3a ⎪
= ⎨−1 h=5,7,17,19,
πh ⎪
⎩0 demais

A forma de onda em função do tempo é definida como:

f ( t ) = ∑ bh sin ( hω1t )
h =1

2 3a ⎛ 1 1
= ⎜ sen (ω1t ) − sen ( 5ω1t ) − sen ( 7ω1t ) (1.44)
π ⎝ 5 7
1 1 ⎞
+ sen (11ω1t ) − sen (13ω1t ) ∓ ⎟
11 13 ⎠

Em geral, nos sistemas de potência os harmônicos de ordem ímpar são


dominantes e os harmônicos de ordem par, quando presentes, são relativamente
menores. A presença de componentes pares resulta em assimetria em relação ao
eixo do tempo, mesmo que a0 = 0.

Os harmônicos de ordem par têm um impacto incomum sobre a instalação porque


criam dc offsets em dispositivos magnéticos a exemplo de motores,
transformadores, etc. A presença de harmônicos pares não implica componente
cc no sinal.

1.3.2 Sequência de Fase

Em um sistema trifásico equilibrado, os componentes harmônicos são de


seqüência positiva ou direta, negativa ou inversa e zero ou nula como pode ser
visto através da representação da série de Fourier para as tensões de fase.

va ( t ) = V1 cos (ω1t ) + V2 cos ( 2ω1t ) + V3 cos ( 3ω1t ) + V4 cos ( 4ω1t )


(1.45.a)
+V5 cos ( 5ω1t ) + V6 cos ( 6ω1t ) + V7 cos ( 7ω1t ) +

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27

( ) (
vb ( t ) = V1 cos ω1t − 120 + V2 cos 2ω1t − 240 )
+V cos ( 3ω t − 360 ) + V cos ( 4ω t − 480 )
3 1 4 1

+V cos ( 5ω t − 600 ) + V cos ( 6ω t − 720 )


5 1 6 1

+V cos ( 7ω t − 840 )
7 1 (1.45.b)
= V cos (ω t − 120 ) + V cos ( 2ω t + 120 ) + V cos ( 3ω t )
1 1 2 1 3 1

+V cos ( 4ω t − 120 ) + V cos ( 5ω t + 120 ) + V cos ( 6ω t )


4 1 5 1 6 1

+V cos ( 7ω t − 120 )
7 1

( ) (
vc ( t ) = V1 cos ω1t + 120 + V2 cos 2ω1t + 240)
+V cos ( 3ω t + 360 ) + V cos ( 4ω t + 480 )
3 1 4 1

+V cos ( 5ω t + 600 ) + V cos ( 6ω t + 720 )


5 1 6 1

+V cos ( 7ω t + 840 )
7 1 (1.45.c)
= V cos (ω t + 120 ) + V cos ( 2ω t − 120 ) + V cos ( 3ω t )
1 1 2 1 3 1

+V cos ( 4ω t + 120 ) + V cos ( 5ω t − 120 ) + V cos ( 6ω t )


4 1 5 1 6 1

+V cos ( 7ω t + 120 )
7 1

A tensão de linha é dada por:

υab ( t ) = υa ( t ) − υb ( t )
( )
= 3 ⎡⎣V1 cos ω1t + 30 + V2 cos 2ω1t − 30 + 0 ( )
(1.46)
( )
+V4 cos 4ω1t + 30 + V5 cos 5ω1t − 30 + 0 ( )
+ V cos ( 7ω t + 30 ) +
7 1

que mostra que as triplas desaparecem nas tensões de linha.

Examinado as expressões acima nota-se que:

• A componente fundamental é simétrica, com mesma magnitude, ângulo de


defasagem de 120º entre as fases e seqüência de fase positiva ou direta, abc.

• As harmônicas de 2ª ordem apresentam seqüência negativa ou inversa, cba.

• As harmônicas de 3ª ordem apresentam o mesmo ângulo de fase, com mesma


direção, tendo, portanto, seqüência nula.

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28

• A fundamental e as harmônicas 4, 7, ... têm seqüência positiva.

• As harmônicas 2, 5, ... têm seqüência negativa.

• As harmônicas triplas têm seqüência zero.

• As harmônicas triplas (seqüência zero) não estão presentes nas tensões de


linha.

A Tab. 1.2 apresenta a configuração da seqüência de fase dos harmônicos em


um sistema trifásico equilibrado baseado na expansão da série de Fourier.

Tab.1.2 Sequência de Fase dos Harmônicos em um Sistema Trifásico Equilibrado

h 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Seq. + - 0 + - 0 + - 0 + - 0 + - 0
h 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Seq. + - 0 + - 0 + - 0 + - 0 + - 0
h 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45
Seq. + - 0 + - 0 + - 0 + - 0 + - 0
h 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
Seq. + - 0 + - 0 + - 0 + - 0 + - 0

Assim, os sinais harmônicos são classificados quanto à sua ordem (h), frequência
(f=h.f1) e seqüência.

Deve ser observado que:

• Se harmônicos estão presentes, então correntes de seqüência negativa e zero


existem mesmo que o sistema seja equilibrado.

• A regra tradicional de que sistemas de potência balanceados não apresentam


componentes de seqüência zero ou componentes de seqüência negativa não
é válida quando harmônicos estão presentes.

• Componentes harmônicos com freqüências múltiplas de três - triplas -


apresentam seqüência nula.

• As correntes harmônicas triplas balanceadas em sendo de seqüência zero não


podem fluir para uma conexão delta ou na ausência de conexão a terra.

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29

A. Valor Eficaz de Tensão e Corrente

O valor eficaz de uma onda periódica qualquer é definido como:

1 T
∫ ⎡⎣ f ( t ) ⎤⎦ dt
2
Frms = (1.47)
T 0

Como visto anteriormente, ondas de tensão e de corrente periódicas, não


senoidais, podem ser representadas por uma função f(t) em uma série de Fourier
com componente cc, fundamental e os componentes harmônicos.

a0
f (t ) = + ∑ h=1 ah cos ( hω1t ) + ∑ h=1 bh sen ( hω1t )
∞ ∞
(1.48)
2

ou


f ( t ) = c0 + ∑ ch cos ( hω1t + φh ) (1.49)
h =1

Substituindo f(t) em Frms ou valor eficaz FEF, obtém-se:

1 ⎛ a02 ∞ 2 ∞ 2 ⎞
FRMS = ⎜ + ∑ ah + ∑ bh ⎟ (1.50)
2 ⎝ 2 h=1 h =1 ⎠

1 ∞ 2
FRMS = c + ⋅ ∑ ch
2
0 (1.51)
2 h =1

Considerando que ah, bh e ch são valores de pico de sinusóides (h=1,2,3,...) e que


o valor de pico de uma sinusóide é igual a 1,4142 vezes seu valor eficaz, tem-se
que:

a02 ∞ 2 ∞
FRMS = + ∑ aEF ,h + ∑ bEF2
,h (1.52)
4 h =1 h =1

FRMS = c02 + ( cEF )1 + ( cEF )2 + ( cEF )3 + + ( cEF )n


2 2 2 2
(1.53)

Assim, valor rms verdadeiro para uma tensão e corrente, periódicas, não
senoidais é definido como:

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30

1 ∞ 2
Vrms = Vcc2 + ∑Vh
2 h =1
∞ (1.54)
= V + ∑V2
cc
2
rms , h
h =1


I rms = I + ∑ I h2
2
cc
h =1

∞ (1.55)
= I +∑I2
cc
2
rms , h
h =1

O valor rms da tensão de fase υa e de linha υab em (1.45.a) e (1.46),


respectivamente, é dado por:

va ( t ) = V1 cos (ω1t ) + V2 cos ( 2ω1t ) + V3 cos ( 3ω1t ) + V4 cos ( 4ω1t )


+V5 cos ( 5ω1t ) + V6 cos ( 6ω1t ) + V7 cos ( 7ω1t ) +

Vrms ,a =
2
(V1 + V22 + V32 +
1 2
+ V72 + )
1 ∞
= ∑ h =1Vh2 (1.56)
2
= ∑ h =1Vrms
∞ 2
,h

υab ( t ) = 3 ⎡⎣V1 cos (ω1t + 30 ) + V2 cos ( 2ω1t − 30 ) + 0


+V4 cos ( 4ω1t + 30 ) + V5 cos ( 5ω1t − 30 ) + 0

(
+ V7 cos 7ω1t + 30 + ) ⎤

3
VLL ,rms = ∑
2 h =1
Vh2 = 3∑ Vh2,rms , h ≠ 3n, n = {1, 2,3,
h =1
} (1.57)

B. Corrente no Neutro em Conexão Y Aterrada

Em uma carga trifásica equilibrada, conectada em Y aterrada, a corrente no


neutro e dada por:

I N = I a + Ib + Ic (1.58)

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31

Harmônicos de seqüência positiva e negativa se anulam no neutro. A corrente em


neutro aterrado é composta apenas de componentes triplas:

I N = 3 ( I a 3 sen ( 3ω1t ) + I a 6 sen ( 6ω1t ) + I a 9 sen ( 9ω1t ) + ) (1.59)


= 3∑ I 0,hsen ( hω1t ) h= {3,6,9,12, }

O valor eficaz da corrente no neutro é obtido como:

I rms , N =
2
(
9 2
I a 3 + I a26 + I a29 + I a212 + ) = 3⋅ 1

2 h∈{3,6,9, }
I h2 (1.60)

ou

I rms , N = 3 ⋅ (I 2
rms , a 3 + I rms
2
, a 6 + I rms , a 9 + I rms , a12 +
2 2
) = 3⋅ ∑ I h2,rms (1.61)
h∈{3,6,9, }

Isso implica que, podem ocorrer situações em que pelo condutor neutro pode
circular uma corrente de ordem tripla que é três vezes maior do que a corrente
tripla que percorre cada condutor fase.

Fig.1.18 Corrente no Neutro em Sistema Trifásico Equilibrado com Componente Harmônica de


Terceira Ordem [Fonte: Harmônicas nas Instalações Elétricas – Causas, Efeitos e Soluções. Hilton
Moreno. Procobre]

Pela expressão (1.61) pode-se deduzir que quando a participação da 3ª


harmônica é de 33%, a corrente no neutro é igual ou maior que a corrente na
fase.

Pode-se então dizer que:


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32

• Carga equilibrada apresenta corrente no neutro.

• Pelo neutro de uma carga não linear equilibrada fluem apenas harmônicos de
ordem tripla.

A Fig. 1.19 apresenta formas de onda de tensão e corrente medidas em um


quadro de distribuição que alimenta cargas não lineares. Se a carga é constituída
somente por computadores e televisores a corrente pelo neutro do circuito pode
ser superior à corrente de fase.

Fig. 1.19 Formas de onda em quadro de distribuição com cargas não lineares. [Fonte: Harmônicas
nas Instalações Elétricas – Causas, Efeitos e Soluções. Hilton Moreno. Procobre].

A medição da corrente no quadro de distribuição que alimenta cargas equilibradas


e não senoidais é apresentada na Tabela 1.3.

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33

Tabela 1.3 Corrente eficaz de fase e no neutro.

Ordem h Corrente Fase A, B, C Corrente no


(rms) Neutro (rms)
1 1,201 0,000
3 0,977 2,931
5 0,620 0,000
7 0,264 0,000
9 0,068 0,204
11 0,114 0,000
13 0,089 0,000
15 0,029 0,087
17 0,042 0,000
19 0,044 0,000
21 0,019 0,057
23 0,020 0,000
Total 1,698 A (100%) 2,940 A (173%)

Na Tabela 1.3 pode ser observado:

ƒ Consumo similar nas três fases.


ƒ Pelo neutro circulam as harmônicas ímpares múltiplas de 3.
ƒ Corrente no neutro é 1,73 vezes a corrente de fase – neutro em sobrecarga.

Sobrecarga no neutro é o problema mais comum em instalações comerciais. A


corrente no neutro é equivalente à corrente de fase quando o percentual de
cargas eletrônicas é cerca de 65% da carga em um circuito trifásico.

Fig. 1.20 Estimativa do Percentual de Corrente no Neutro em relação ao RMS da Corrente de


Fase em Função do Percentual de Cargas Eletrônicas Presentes no Circuito

Numa instalação contendo muitas cargas monofásicas não lineares – caso típico
de edifícios comerciais e análogos contendo grande quantidade de aparelhos de

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34

iluminação fluorescente e microcomputadores – a corrente no neutro nos circuitos


de distribuição a 4 fios, mesmo havendo um equilíbrio razoável entre as cargas, é
superior à corrente de desequilíbrio.

Em sistema trifásico tetrafilar as correntes de cargas monofásicas circulam em


cada fase e retornam pelo condutor comum neutro.

Fig. 1 21. Circuito Trifásico com Neutro Comum

O cancelamento de componentes de corrente no neutro é completo para


correntes harmônicas de seqüência positiva e negativa – cargas monofásicas
equilibradas. Correntes harmônicas triplas ímpares - seqüência zero - retornam
pelo neutro. Quando cargas eletrônicas estão presentes, compartilhar o neutro
pode causar problemas, como:

ƒ Sobreaquecimento no neutro

ƒ Aumento da tensão neutro-terra, VA0= VAN+ΔVN


ƒ Perdas de dados

T
r i
a V aplicada V carga Carga
f
i
o

0 volt
Terra
ΔVN=Queda de Tensão no Neutro

Fig.1.22 Medição de tensão neutro-terra.

A medição da tensão entre neutro e terra checa a queda no condutor neutro


desde o ponto de medição até o ponto onde o neutro e o terra estão conectados

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35

juntos. Os fabricantes de computadores em geral especificam um máximo de 1V a


3V de tensão neutro-terra.

Neutro com impedância Z N ,h = Rh + jωh X 1 , em que h representa a ordem da

harmônica, a queda de tensão é dada por:

ΔVN = ∑ I h ( 3Z N ,h ) (1.62)

Em (1.62) nota-se a interação entre a corrente no neutro com a impedância do


condutor. Correntes harmônicas no neutro contribuem para a elevação de
potencial do neutro. Quanto menor a seção do condutor, maior a impedância e
maior a perturbação causada pela tensão neutro-terra.

Transitórios, inclusive aqueles causados por chaveamento do dispositivo


eletrônico, muitas vezes resultam em correntes transitórias no neutro que por sua
vez cria transitórios neutro-terra. Construir neutros separados para cada fase do
circuito pode reduzir os transitórios entre neutro-terra de 2/3.

Segundo a norma ABNT NBR 5410: 2004 que dispõe sobre condutor neutro
(seção 6.2.6.2):

− O condutor neutro não pode ser comum a mais de um circuito.

− O condutor neutro de um circuito monofásico deve ter a mesma seção do


condutor de fase.

− Quando, num circuito trifásico com neutro ou num circuito com duas fases
e neutro, a taxa de terceira harmônica e seus múltiplos for superior a 15%,
a seção do condutor neutro não deve ser inferior a dos condutores de fase,
podendo ser igual a dos condutores de fase se essa taxa não for superior a
33%.

NOTAS: Tais níveis de correntes harmônicas são encontrados, por


exemplo, em circuitos que alimentam luminárias com lâmpadas de
descarga, incluindo as fluorescentes.

A maioria das cargas eletrônicas monofásicas conduz corrente somente durante o


pico de tensão. A principal componente harmônica dessa corrente é a terceira.

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36

Fig. 1. 23. Corrente de carga monofásica não linear.

Sob condição de carga não linear, um neutro comum pode transportar quase 2
vezes a corrente de linha (ver Tab.1.3). O risco de uma sobrecarga no neutro é
bem real uma vez que o condutor neutro pode ter sido projetado para ter a
mesma bitola ou até bitola menor do que a do condutor fase.

A seção do condutor neutro quando o conteúdo de terceira harmônica das


correntes de fase for superior a 33% deve ser baseada no valor de corrente no
neutro [ABNT NBR 5410 2004]:


N
I = fh I 2
k =1 k
(1.63)

Tabela 1.4 Fator de Correção para Corrente no Neutro.

Taxa de 3ª fh
harmônica Circuito trifásico Circuito com duas
com neutro fases e neutro
33% a 35% 1,15 1,15
36% a 40% 1,19 1,19
41% a 45% 1,24 1,23
46% a 50% 1,35 1,27
51% a 55% 1,45 1,30
56% a 60% 1,55 1,34
61% a 65% 1,64 1,38
≥ 66% 1,73 1,41

Na falta de uma estimativa mais precisa da taxa de terceira harmônica esperada,


recomenda-se a adoção de um fh igual a 1,73 no caso de circuito trifásico com

neutro e igual a 1,41 no caso de circuito com duas fases e neutro.

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37

C. Corrente de Linha em Conexão Y sem Retorno

Quando o neutro de uma carga conectada em Y não tem corrente de retorno, a


impedância no neutro ZN é infinita, o que equivale à condição de circuito aberto e

IN=0. Nesta condição, as correntes triplas (seqüência zero) não estão presentes

nas correntes de linha. Para comprovar a afirmação, tem-se que:

I a + Ib + Ic = I N = 0 ∴
( )
= I a1 cos ωt + I a1 cos ωt − 120 + I a1 cos ωt + 120 + ( )
I a 2 cos 2ωt + I a 2 cos ( 2ωt + 120 ) + I a2 (
cos 2ωt − 120 + )
(1.64)
I a 3 cos 3ωt + I a 3 cos 3ωt + I a 3 cos 3ωt +
= 3( I a 3 cos 3ωt + I a 6 cos 6ωt + ...) = 3∑ I a ,h =0, h = {3,6,9, }
Para que IN seja zero é preciso que Ih, h={3,6,9,...} seja nulo.

D. Corrente de Linha em Conexão Delta

Se a carga é conectada em Δ, as correntes triplas circulam no interior do Δ e não


estão presentes nas correntes de linha. Considere as correntes de fase em (1.65)
com componentes harmônicas impares e equilibradas.

I ab = I ab1 cos ω1t + I ab 3 cos ω3t + I ab 5 cos ω5t +


( )
I bc = I ab1 cos ω1t − 120 + I ab 3 cos ω3t + I ab 5 cos ω5t + 1200 +( ) (1.65)
I ca = I ab1 cos (ω t + 120 ) + I
1 ab 3 cos ω3t + I ab 5 cos (ω t − 120 ) +
5
0

A soma das correntes de fase resulta em apenas componentes de seqüência


zero, h=⎨3,6,9,12,…⎬:

I ab + I bc + I ca = 3I ab 3 cos ω3t + (1.66)


= 3∑ I ab ,h cos ωht , h = {3,6,9, }

Portanto, circulando no delta estão apenas correntes harmônicas de seqüência


zero.

As correntes de linha são dadas por:

( ) (
I a = I ab − I ca = 3I ab1 cos ω1t − 30 + 3I ab 5 cos ω5t + 30 + )
I b = I bc − I Profa
ab = Ruth
3I P.S.
cos
ab1 (ω t − 150 ) + 3I cos (ω t + 150 ) +
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1 ab 5 1

I c = I ca − I = 3I cos (ω t + 90 ) + 3I cos (ω t − 90 ) +
bc ab1 1 ab 5 1
38

(1.67)

Ica1

Iab1

√3Iab1cos(ω1t-30o)
- Ica1

Fig. 1.24. Diagrama Fasorial da Componente Fundamental

Para as equações de Ia, Ib, e Ic, foi considerado que as componentes harmônicas
de corrente de fase Iabh, h={1,5,7,11,...} apresentam ângulo de fase 0o.

Assim, pode-se afirmar que:

ƒ As harmônicas de seqüência zero {3,6,9,12,...} não estão presentes na


corrente de linha de uma carga equilibrada conectada em Δ e Y sem retorno.

ƒ Na corrente de linha de uma carga equilibrada sem retorno (Δ e Y) estão


presentes apenas componentes de seqüência positiva e negativa
{1,2,4,5,7,...}.

ƒ Em sistemas desequilibrados componentes de seqüência positiva e negativa


de harmônicas de ordem triplas podem estar presentes na linha.

ƒ Componentes harmônicas não triplas {1,5,7,11,...} podem circular no neutro


como resultado de cargas desequilibradas.

ƒ Em sistemas desequilibrados componentes de seqüência zero de harmônicos


de seqüências direta, inversa e nula podem circular no neutro.

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39

E. Harmônicos em Sistemas Desequilibrados

Seja um sistema trifásico tetrafilar, desequilibrado, com cargas não lineares


monofásicas, e correntes com componentes ímpares até a 5ª ordem como em
(1.68).

I a = I a1senω1t + I a 3 sen3ω1t + I a 5 sen5ω1t


( ) (
I b = β ⎡⎣ I a1sen ω1t − 120 + I a 3 sen3ω1t + I a 5 sen 5ω1t + 120 ⎤⎦ ) (1.68)

( ) (
I c = I a1sen ω1t + 120 + I a 3 sen3ω1t + I a 5 sen 5ω1t − 120 )
β representa o fator de desequilíbrio de magnitude.

Considerando:

β =2
I a1 = 1, 0 p.u.
(1.69)
I a 3 = 0,5 p.u.
I a 5 = 0,3 p.u.

Tem-se na forma fasorial as componentes de correntes de linha como


apresentadas na Tabela 1.4.

Tabela 1.4 Fasores de Componentes Harmônicos de Corrente

Fases Componentes de Fase


Fundamental 3ª Harmônica 5ª Harmônica
A Ia1=1∠0o Ia3=0,5∠0o Ia5=0,3∠0o
o o
B Ib1=2∠-120 Ib3=1,0∠0 Ib5=0,6∠+120o
C Ic1=1∠+120o Ic3=0,5∠0o Ic5=0,3∠-120o

O valor eficaz das correntes nas fases A, B e C é calculado como:

I a ,rms = I c ,rms =
1
2
( 2 2
)
1 + ( 0,5 ) + ( 0,3) = 0,81[ p.u.]
(1.70)
I b ,rms =
1 2
2
( 2
)
2 + 1 + ( 0, 6 ) = 1, 7 [ p.u.]

Aplicando o teorema de Fortescue para as correntes desequilibradas de 1ª, 3ª e


5ª ordem, obtém-se as seguintes componentes de seqüência de desequilíbrio.

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40

Fig.1.25 Componentes de Seqüência da Corrente Fundamental Desequilibrada.

Fig.1.26 Componentes de Seqüência da Corrente Harmônica de 3ª Ordem Desequilibrada.

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41

Fig.1.27 Componentes de Seqüência da Corrente Harmônica Desequilibrada de 5ª Ordem.

A Tabela 1.5 resume as componentes de seqüência obtidas para cada


componente harmônica de corrente desequilibrada.

Tabela 1.5 Componentes de Seqüência para Correntes Harmônicas Desequilibradas

Componentes Componentes de Sequência


Harmônicas Positiva Negativa Zero
Fundamental Ia1=1,33∠0o Ia2=0,33∠+120o Ia0=0,33∠-120o
Ib1=1,33∠-120o Ib2=0,33∠-120o Ib0=0,33∠-120o
Ic1=1,33∠+120o Ic2=0,33∠0o Ic0=0,33∠-120o
3ª Harmônica Ia1=0,17∠+120o Ia2=0,17∠-120o Ia0=0,67∠0o
Ib1=0,17∠0o Ib2=0,17∠0o Ib0=0,67∠0o
Ic1=0,17∠-120o Ic2=0,17∠+120o Ic0=0,67∠0o
5ª Harmônica Ia1=0,10∠-120o Ia2=0,40∠0o Ia0=0,10∠+120o
Ib1=0,10∠+120o Ib2=0,40∠+120o Ib0=0,10∠+120o
Ic1=0,10∠0o Ic2=0,40∠-120o Ic0=0,10∠+120o

A corrente que flui no neutro, de seqüência zero da fundamental, da harmônica de


3ª e 5ª ordem, pode ser expressa como:

( ) (
I N = 3 ⎡⎣0,33sen ω1t − 120 + 0, 67 sen3ω1t + 0,10sen 5ω1t + 120 ⎤⎦ ) (1.71)

E seu valor eficaz resulta em:

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42

1⎡
( 0,33) + ( 0, 67 ) + ( 0,10 ) ⎤
2 2 2
IN = 3
2⎣ ⎦ (1.72)
= 1, 6 [ p.u.]

Se a carga fosse equilibrada e linear pelo neutro não circularia corrente. Se a


carga fosse desequilibrada e linear, pelo neutro circularia somente a componente
de seqüência zero da fundamental, i.e.,

0,33
IN = 3⋅ = 0, 7 [ p.u.] (1.73)
2

Se a carga fosse equilibrada e não linear pelo neutro circularia apenas a


seqüência positiva da componente de 3ª ordem, i.e.:

1
IN = 3⋅ ( 0,5 ) = 1, 06 [ p.u.]
2
(1.74)
2

Como a carga é não linear e desequilibrada pelo neutro circula 1,6 p.u., um
aumento cerca de 51% em relação à condição de carga equilibrada e não linear.

Pela linha B, a de maior corrente, flui uma corrente igual a 1,7 p.u, maior que a
corrente no neutro. No entanto, a corrente no neutro é 97% maior que a corrente
nas linhas A e B (IA=IB=0,81 p.u.)

Em sistema desequilibrado, as componentes de seqüência zero das harmônicas


triplas são aditivas às correntes de seqüência zero das demais componentes
harmônicas.

1.3.3 Independência

A propriedade que redes lineares em sistemas de potência equilibrados têm


respostas para diferentes harmônicos independente de outras, permite tratar cada
harmônica separadamente. O circuito equivalente para cada harmônico é
construído, no domínio da freqüência, e resolvido para correntes e tensões. A
resposta total é obtida pela adição dos componentes harmônicos no domínio do
tempo.

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43

1.4 Medidas de Distorção Harmônica

1.4.1 Requisitos para Medição de Sinais

Os harmônicos são caracterizados como fenômeno de estado permanente à


semelhança do desequilíbrio de tensão e da cintilação luminosa ou flicker.

Para medição das características de um sinal elétrico é comum o uso de


equipamentos que operam segundo o princípio da amostragem digital.

Os instrumentos de medição devem observar o atendimento aos protocolos de


medição que define os requisitos necessários à reconstrução do sinal amostrado:

− Taxa ou Frequência de amostragem

− Nível de discretização (no. de bits do conversor A/D)

− Janela de integração ou intervalo de tempo de medição

− Fórmula de cálculo

A. Taxa ou Frequência de Amostragem

A taxa de amostragem define o número de amostras por unidade de tempo


(segundo ou ciclo) tomado de um sinal contínuo para construir um sinal discreto.
Para sinais no domínio do tempo, a freqüência de amostragem é medida em hertz
(Hz).

Sempre que um sinal contínuo (analógico) for medido por amostras (discreto)
deve-se certificar-se que a freqüência de amostragem fs seja suficientemente

rápida para que todas as variações no sinal possam ser reconstruídas. Se fs é


muito baixa, detalhes de variação na onda contínua serão perdidos. Por exemplo,
em um transitório elétrico, o tempo de subida da onda é rápido, da ordem μs. Por
outro lado, se fs é muito alta uma quantidade desnecessária de dados será
coletada e processada. Uma alta taxa de amostras resulta em melhor
representação da forma de onda do distúrbio e maior requisito para
armazenamento.

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44

O teorema de amostragem de Nyquist-Shannon estabelece que a reconstrução


perfeita de um sinal é somente possível quando a freqüência de amostragem é
maior que o dobro da freqüência máxima contida no sinal amostrado.

A metade da freqüência de amostragem é chamada freqüência de Nyquist fN e


corresponde ao limite máximo de freqüência do sinal que pode ser reproduzido.

1
fN = fs (1.75)
2

Se taxas menores que a taxa de Nyquist são empregadas, a informação do sinal


original não pode ser completamente reconstituída a partir do sinal amostrado. O
sinal reconstituído apresentará distorções denominadas de aliasing (disfarce).

Aliasing refere-se à distorção que ocorre quando o sinal reconstruído a partir de


amostras é diferente do sinal original contínuo (Fig.1.28). O termo alising refere-se
também a um efeito que faz com que diferentes sinais tornem-se indistinguíveis
(ou aliases um do outro) quando amostrados (Fig.1.29).

Fig.1.28 Um exemplo de disfarce (alising) na letra A em Times New Roman. Esquerda: imagem
aliased (com degraus). Direita: imagem anti-aliased ou disfarçada.

Fig.1.29 Duas senóides diferentes que se encaixam no mesmo conjunto de amostras.

Freqüências acima da frequência de amostragem são espúrios para o sinal a ser


reconstruído, necessitando ser filtradas (filtro anti-alising).

Para garantir que o sinal a ser medido não contenha freqüências acima da
freqüência de Nyquist, é necessário filtrar o sinal com um filtro passa baixa com
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45

freqüência de corte igual (ou menor) que a freqüência de Nyquist, denominado


filtro anti-aliasing.

1
f anti − ali sin g ≤ f N = fs (1.76)
2

Assim, a largura de banda de um instrumento usado para medir um sinal deve ser
maior do que o espectro de freqüência esperado do evento a ser monitorado.

Segundo o Prodist, Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica, os instrumentos


para medição de harmônicos devem considerar, para fins de cálculo da distorção
total, uma faixa de frequência que considere desde a componente fundamental
até no mínimo a 25ª ordem harmônica. A norma IEC 61000-4-30 estabelece que
equipamentos de medição sejam capazes de medir harmônicas no mínimo até
50ª ordem (Classe A) ou 40ª ordem (Classe S).

Exemplo 1

Qual a menor taxa de amostragem para representar a frequência de 25ª ordem?

Solução

A análise harmônica para a 25ª ordem (25 x 60 = 1500 Hz) requereria uma
frequência de amostragem fs de pelo menos 2 x 1500 = 3000 Hz.

3000 a - 1s
1 (1.77)
x -
60 → 50 a c

A menor taxa de amostragem capaz de capturar harmônico da 25ª ordem é de 50


a/c Ξ 3 kHz. Como a frequência de Nyquist é a metade da frequência de
amostragem, tem-se que fN = 1,5 kHz.

A Aneel, em sua Resolução No.505 de 2001, Art.14, estabelece taxa de


amostragem para a tensão de regime permanente de 16 a/c, com indicação a
partir de 2005 de taxa de amostragem de 64 a/c em 60 Hz, porém, ao compilar
todas as suas resoluções através do Prodist, aprovado em 31.12.2008 em sua
última revisão, manteve a taxa de amostragem de 16 a/c. Uma taxa de
amostragem de 16 a/c não é capaz de capturar harmônico de 25ª ordem.

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46

Filtragem anti-alising e amostragem de um sinal analógico são apenas a primeira


fase de aquisição de dados por um equipamento de medição. O processamento
seguinte exige ainda que as amostras sejam quantizadas: valores analógicos são
convertidos em formato digital.

B. Quantização do Sinal

Um conversor analógico-digital é um dispositivo eletrônico que converte uma


entrada analógica de tensão (ou corrente) em um número digital.

A resolução do conversor indica a largura do passo ou intervalo de medição e é


normalmente expressa em bit (binary digit). Em conseqüência, o número de
valores discretos disponíveis, ou "níveis de quantização" (ou códigos),
normalmente é uma potência de dois. Para um conversor de 12 bits, o passo de
medição ou o número de passos discretos é de 212 = 4096.

A resolução Q de um conversor A/D, expressa em volts, é igual à faixa de


medição da tensão dividida pelo número de intervalos discretos, como em (1.78).

EFSR EFSR
Q= = (1.78)
2M N

Em que

EFSR Faixa de tensão de fundo de escala


M Resolução do conversor A/D em bits
N No. de intervalos dado pelo número de níveis disponíveis

Exemplo 2

Se a faixa de medição de fundo de escala é de 0 a 10 volts e a resolução do


conversor é de 12 bits, qual a resolução em volts/código?

Solução

10 − 0 10
Q= 12
= ≅ 2, 4 [ mV código ] (1.79)
2 4096

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47

Se a faixa de medição de fundo de escala é de -10 a 10 volts e a resolução do


conversor é de 14 bits, qual a resolução em volts/código?

10 − ( −10 ) 20
Q= 14
= ≅ 1, 22 [ mV código ] (1.80)
2 16384

Exemplo 3

Para um conversor de 3 bits, faixa de fundo de escala de 0-8 V (máximo valor do


sinal), com código binário de saída igual a m=101, determinar o valor da tensão
medida.

Solução

A resolução do conversor em V/código é de:

8
Q= = 1[V código ] (1.81)
23

O valor Vx da tensão é representado pelo número binário m de n bits – m=[a0 ...

an-1]

Para expressar a tensão medida, o código binário deve ser convertido para a
base 10 e então multiplicado pela resolução do conversor.

VX = m(10)Q (1.82)
3 bits
(
m(10) = 1× 2 + 0 × 2 + 1× 2
2 1 0
)=5 (1.83) m1 000
001
m2 010
VX = 5 ⋅1 = 5 [V ] (1.84) m3 011
A/D 100 23=8
101
VX 110
mn 111

Fig.1.30 Conversor A/D

Quanto maior o número de intervalos N em (1.80), menor é o intervalo, e mais


próxima a amostra digital estará do sinal analógico. A todos os valores dentro do

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intervalo de quantização (p.ex. um Vx entre m2 e m3) será aferido o mesmo valor


(ou m2 ou m3).

A resolução de uma forma de onda depende da taxa de amostragem (fs define a

resolução temporal do sinal - horizontal) bem como do número de bits disponíveis


para armazenamento ou processamento da amostra adquirida (resolução de
amplitude – vertical).

O Prodist, Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica estabelece o requisito


mínimo para medição de sinal de tensão em estado permanente conversor de 12
bits (N=4096 códigos) e precisão de até 1% da leitura.

A precisão pode ser caracterizada em termos de desvio-padrão das medições.


Quanto menor o desvio padrão, maior será a precisão. A precisão está
relacionada a reprodutibilidade de uma medição. A exatidão é por sua vez quão
próximo a leitura está do valor verdadeiro.

Fig.1. 31 Conceitos de exatidão e precisão.

O ideal é que um instrumento de medição seja capaz de medir com exatidão e


precisão, com todas as medições próximas e agrupadas em torno do valor
conhecido.

Os resultados dos cálculos ou uma medida pode ser exato, mas não preciso,
preciso, mas não exato, nem um nem outro, ou ambos como ilustra a fig.1.32.

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49

Este é um modelo exato, mas não


Este é um padrão preciso, mas não
preciso. Os dardos não estão
exato. Os dardos são agrupados
agrupados, mas sua posição "média" é
juntos, mas não atingiu a marca
o centro do olho do touro.
desejada.

Este é um padrão aleatório, nem


Este padrão é ao mesmo tempo
precisa, nem exato. Os dardos não são
preciso e exato. Os dardos são bem
agrupados e não estão perto do olho
agrupados e sua posição média é o
do touro.
centro do olho do touro.

Fig.1.31 Ilustração do conceito de precisão e exatidão.

C. Janela de Integração

A forma de onda de um sinal de tensão e corrente é obtida a partir de amostras


de valores instantâneos da onda. O número de amostras é integralizado para uma
janela de tempo que considera a periodicidade do sinal em regime permanente
(60 ou 50 Hz).

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50

t2
t0 t1

Figura 1.31 Janela de Dados com 4 Amostras

A largura de tempo das janelas de integração pode variar segundo disposição do


instrumento de medição e do sinal a ser medido, podendo variar desde ½ ciclo até
um múltiplo inteiro do ciclo relativo à frequência industrial (60 ou 50 Hz). As
larguras de janelas mais comuns são as de ½ ciclo ou de 1 ciclo para sinais com
rápidas variações e janelas, p.ex. de 10/12 ciclos para fenômenos de regime em
sistemas de potência de 50 Hz e 60 Hz respectivamente.

Além da definição do tamanho da janela de integração, há a considerar o tipo de


janelamento ou modo de atualização das amostras no cálculo de um parâmetro,
que pode ser contínuo ou discreto. Na atualização contínua os cálculos são
efetuados a cada nova amostra - a janela é movida a cada nova amostra do sinal
e o cálculo do parâmetro é atualizado pela substituição da amostra inicial da
janela pela nova amostra. Na atualização discreta (modo mais comum) a janela
desloca-se a cada ½ ciclo, a cada ciclo ou a cada múltiplo de ciclo.

Medidores digitais computam o valor eficaz a partir de amostras de valores


instantâneos tomando uma janela de tempo que considera a periodicidade do
sinal em regime permanente.

A norma IEC 61000-4-30 e o Prodist, Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica


regulam que os sinais quase-estacionários como tensão, harmônicos, cintilação,
considerados fenômenos de regime permanente devem ser calculados a partir
das amostras coletadas em janelas sucessivas. Cada janela compreenderá uma
seqüência de 12 ciclos (0,2 s em 60 Hz) a 15 ciclos (0,25 s em 60 Hz).

Muitos parâmetros relacionados à Qualidade da Energia Elétrica (tensão,


harmônicos, flicker) podem mostrar variações entre dias da semana e final de
semana. Por esta razão a Aneel através do Prodist (Módulo 8) e a norma IEC

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51

61000-4-30 estabelece que o período de avaliação ou a campanha de medição


seja no mínimo de 1 semana (ou um número inteiro de semanas).

1.4.2 Valor Eficaz


Instrumentos que medem o valor eficaz verdadeiro calculam a raiz quadrada da
média aritmética do quadrado de valores instantâneos tomados sobre um
intervalo de tempo (janela de integralização) especificado e uma dada largura de
banda (frequência de amostragem).

N
1
Vrms =
N
∑ υ ( k Δt )
k =1
2
(1.85)

Em que

N No. de amostras no intervalo de integração


Δt Intervalo de amostragem
NΔt Largura da janela – período sobre o qual o valor rms é calculado

O erro de Vrms será tanto menor quanto menor forem os níveis de discretização

(Q) e o intervalo de amostragem (Δt = T/N, em que T é o período da frequência


industrial e N o número de amostras por ciclo).

O número de amostras dentro de uma janela de tempo depende da taxa de


amostragem. Aplicando os requisitos mínimos de medição de sinal em regime
permanente regulamentado pelo Prodist, tem-se que para uma taxa de
amostragem de 16 a/c e uma janela de integração de 12 ciclos, totalizando 192
amostras, um valor rms de tensão é calculado para esse conjunto de amostras
instantâneas.

Quando se deseja avaliar o nível médio da tensão de suprimento é necessário


eliminar o efeito causado pelas variações de curta duração. Para reduzir a
sensibilidade do valor eficaz às variações momentâneas, as janelas de amostras
do sinal devem ser aumentadas para conter vários períodos da fundamental.

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52

O método de largura de janela de integração de vários ciclos é apropriado para se


caracterizar a tensão de suprimento em regime quase estacionário e verificar se
está na faixa prevista (VNOM ± 5%).

Quando variações rápidas na tensão precisam ser capturadas, a taxa de


amostragem é maior (p.ex. 128 a/c) e a janela de integração é menor (1/2 ciclo ou
1 ciclo).

O valor rms verdadeiro de tensão e corrente distorcidas é calculado a partir da


decomposição do sinal em suas componentes de freqüências, conhecidas as
amplitudes de cada componente. O cálculo de Vrms e Irms está mostrado em (1.54)
e (1.55).

A. Métodos de Cálculo de Valor Eficaz

Os instrumentos usuais de medição de tensão e corrente são projetados e


construídos para uma adequada leitura de sinais perfeitamente senoidais que
estão cada vez mais raros de serem encontrados. Na presença de harmônicas, as
leituras desses instrumentos podem apresentar erros grosseiros. Os instrumentos
quando projetados podem usar diferentes técnicas de medição baseadas em:
valor médio, valor de pico e valor verdadeiro.

ƒ Valor Médio

Os instrumentos portáteis mais usuais são os multímetros e alicates


amperímetros projetados para medir sinais sem distorção harmônica.

Os instrumentos de valor médio empregam a relação que existe entre o valor


eficaz e o valor médio em meio período para calcular o valor eficaz do sinal. Esse
tipo de instrumento utiliza sempre o coeficiente 1,11 que relaciona o valor eficaz
com o valor médio em meio período de um sinal senoidal, ou seja, o valor médio
de um sinal senoidal retificado. O coeficiente 1,11 é somente válido quando o
sinal é senoidal. Esses instrumentos são chamados de "valor médio", capazes de
medir sinais senoidais corretamente com os erros típicos associados à classe de
exatidão do equipamento.

Para um sinal senoidal dado por:

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53

υ ( t ) = V p sen (ω1t ) (1.86)

O valor médio da senóide retificada:

Vp T 2
sen (ω1t )dt
T ∫0
Vmédio =
2
T 2
Vp ⎛ 2π ⎞
= − cos ⎜ t⎟
π ⎝ T ⎠0
Vp
= − ( cos π − 1) (1.87)
π
2V p
=
π
= 0, 6366 ⋅ 2Vrms

Assim,

Vrms
= 1,11 (1.88)
Vmédio

A fig.1.32 mostra um circuito típico utilizado pelos equipamentos que medem


corretamente valor eficaz para sinais sem distorção harmônica.

Fig. 1.32 Circuito de Instrumento de Medição de Valor Médio [Fonte: Hilton Moreno. Harmônicas
nas Instalações Elétricas. Instituto Brasileiro do Cobre – Procobre, 2001].

O circuito em (1.32) é basicamente constituído por uma ponte retificadora de onda


completa a diodo, que retifica a onda, um circuito amplificador que multiplica o
sinal por 1,11 e um circuito que calcula o valor médio. O resultado é o valor eficaz,
independente da frequência do sinal sem harmônicos.

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54

ƒ Valor de Pico

De modo semelhante aos instrumentos de valor médio, aqueles baseados na


relação entre valor de pico e valor eficaz de uma onda senoidal empregam o
coeficiente 0,707 para o cálculo do valor eficaz.

Com base em (1.86) que define uma onda senoidal, tem-se que:

V p2 T
= ∫ sen 2 ωt ⋅ dt
2
V rms
T 0

V p2
[1 − cos 2ωt ] ⋅dt
T

2T ∫0
= (1.89)
V p2 ⎡ T T 4π T ⎤ V p
2

= t − sen t =
2T ⎢⎣ 0 4π T 0 ⎥⎦ 2

Vrms 1
= = 0, 707 (1.90)
Vp 2

ƒ Valor Eficaz Verdadeiro

Os instrumentos de valor eficaz verdadeiro, denominados também de "true rms"


aplicam-se a sinais senoidais e não senoidais. Uma especificação importante no
caso de instrumentos de valor eficaz verdadeiro é a sua largura de banda. A
largura de banda refere-se à faixa de freqüências do sinal que o medidor é capaz
de realizar medidas confiáveis. Para leitura de harmônicas até a 25ª ordem a
largura da banda de passagem do instrumento deve ser no mínimo igual a 1,5
kHz.

A Tabela 1.6 mostra valores de sinais de diferentes conformidades senoidais


medidos por instrumentos de valor eficaz verdadeiro, valor médio e valor de pico.
Pode-se observar que o instrumento de valor eficaz verdadeiro é capaz de medir
com exatidão o valor rms do sinal, enquanto que para um mesmo sinal os
instrumentos de valor médio e valor de pico apresentam valores diferentes.

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55

Tabela 1.6 Sinais com Diferentes Graus de Conformidade Senoidal

Tipo de Medidor
True rms 1,11 Vmédio 0,707 Vpico
Onda senoidal 100% 100% 100%
Onda quadrada 100% 110% 82%
Onda triangular 100% 96% 121%
Corrente AVV 100% 86% 127%
Corrente PC 100% 60% 184%
Controlador de luz 100% 84% 113%

Exemplo 4

Calcular o valor rms para as funções:

a) f ( t ) = 10 cos ( t ) + 2 cos ( 2t ) + sen ( 3t )

b) f ( t ) = 10 2 cos ( t ) + 10 2 sen ( t )

Solução

A função a) apresenta componentes harmônicas de ordem h=1, 2 e 3. Embora a


componente de 3ª ordem esteja expressa em seno a sua amplitude mantém-se a
mesma se expressa em co-seno (cos(3t-90º )), não alterando o valor eficaz do
sinal.

Frms =
1
2
(102 + 22 + 1) = 7, 246 (1.91)

A função b) apresenta uma única ordem de harmônico expressa na forma


trigonométrica expandida em seno e co-seno. A amplitude da componente
trigonométrica compacta (seno ou co-seno) é calculada como:

( )
2
c = a 2 + b 2 = 2 10 2 = 2 × 10 (1.92)

A função b) é então re-escrita como:

f ( t ) = 20 sen ( t + ϕ ) (1.93)
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56

De (1.15) tem-se que φ é dado por:

⎛a⎞
ϕ = tg −1 ⎜ ⎟ = 45 (1.94)
⎝ ⎠
b

O valor eficaz de (1.94) é então 20/√2=14,14.

1.4.3 Fator de Crista

O fator de crista FC é definido como a relação entre valor de pico e o valor eficaz
de um sinal que pode ser de corrente ou tensão, resultando em um indicador
admensional.

Ip
FC = (1.95.a)
I rms

Ou

Vp
FC = (1.95.b)
Vrms

Baseado em (1.95), observa-se que o fator de crista de um sinal cc é unitário uma


vez que o valor rms e a amplitude do pico são iguais. Quando o sinal é senoidal o
fator de crista é igual a √2 = 1,414.

Em dispositivos com interruptores eletrônicos, a condução de corrente, em geral,


ocorre apenas durante parte do semi-ciclo do sinal periódico de regime
permanente. A Fig. 1.33 ilustra o fator de crista típico de uma fonte chaveada. Em
tais condições pode-se perceber um FC diferente de 1,414.

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57

Fig. 1.33 Ilustração do Fator de Crista

Para notar a importância de conhecer o fator de crista de um sinal, considere dois


sinais de corrente, um senoidal de carga linear e outro correspondente à corrente
de entrada de um conversor de frequência monofásico. Os valores medidos para
os dois sinais são mostrados na Tabela 1.7.

Tabela 1.7 Valores de Crista para Sinal Senoidal e Distorcido

Carga linear Conversor de frequência


Corrente de pico (A) 2,63 7,45
Corrente rms (A) 1,86 1,86
Fator de crista (FC) 1,414 4,00

Fig.1.34 Sinais 1 e 2 da Tab.1.7 com mesmo valor eficaz e diferentes valores de pico. [Fonte:
Procobre]

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58

Note que embora os sinais em (1.7) apresentem um mesmo valor eficaz, a


corrente de pico é bem diferente. No exemplo apresentado a corrente de pico do
conversor é quase três vezes maior que a corrente de pico da carga linear. Isso
leva a entender que onde há a presença de harmônicos, o valor eficaz da corrente
ou tensão por si só é uma informação não completa. Assim, em sinais distorcidos
é importante conhecer o valor de pico e o grau de distorção harmônica.

A Tabela 1.8 mostra o fator de crista para algumas formas de onda. Note que FC
para uma onda quadrada é unitário independente de seu duty cycle.

Tabela 1.8 Fator de Crista para Diferentes Tipos de Forma de Onda [John DeDad, Crest Factor: A
Key Troubleshooting Parameter. EC&M, Mar 2008]

Um instrumento de medição de valor rms verdadeiro em geral especifica o valor


de crista do instrumento, o qual diz respeito ao valor de pico que o instrumento
pode medir sem erro. Por exemplo, seja um multímetro digital com uma exatidão
de 0,03%, a qual é sempre especificada para um sinal senoidal, e um erro
adicional de 0,2% para valores de crista entre 1,414 e 5,0. Se uma onda triangular
é medida cujo valor de crista é 1,732, então o erro total na leitura deste multímetro
será de 0,23% (0,03 + 0,2%). Quanto maior o fator de crista de um instrumento
melhor seu desempenho. Valores usuais de FC estão compreendidos entre 2,0 e
7,0.

Quando uma fonte ininterrupta (UPS) é especificada para alimentar uma carga
não linear é importante considerar o FC nominal do UPS e o FC requerido pela
carga. O UPS deve ser capaz de suprir ambos, o valor de pico e o valor rms de
corrente requerida pela carga, do contrário a carga não operará adequadamente.
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59

Quando a fonte não é capaz de suprir a corrente requerida e esta é cortada


(clamped), a tensão de alimentação da fonte se tornará deformada. Portanto, se
uma UPS não é dimensionada para suprir o FC da carga, a forma de onda da
tensão de saída da fonte será distorcida.

O fator de crista requerido por um PC variará dependendo da fonte que o supre.


O fator de crista pode inclusive variar quando o PC é movido de uma tomada ac
para outra na mesma sala. É comum acreditar que o FC é uma característica
inerente de um PC quando na verdade o FC resulta da interação entre a carga e a
fonte ac.

Para uma fonte senoidal, um PC com não correção de fator de potência apresenta
em geral um FC entre 2 e 3. Um alto FC é indesejável porque causa elevada
dissipação de calor diminuindo a confiabilidade e a vida útil de uma fonte
chaveada.

1.4.4 Fatores de Distorções Harmônicas de Tensão e Corrente


As distorções harmônicas são fenômenos associados com deformações na forma
de onda das tensões e correntes em relação à onda senoidal da frequência
fundamental [Prodist - Módulo 8].

A. Distorção Harmônica Total

Um dos índices mais comuns usado para indicar o conteúdo harmônico em um


sinal é o DHT - Distorção Harmônica Total [IEEE Std 519-1992, pg.63], ou do
inglês Total Harmonic Distortion.

A DHT é a medida do grau de distorção de uma onda em relação a uma sinusóide


pura. A DHT tem valor nulo quando se tratar de sinusóide pura, somente com a
freqüência fundamental.

A DHT para tensão é definida como:

N
1 (1.96)
DHTV =
V1
∑V
h=2
h
2

V1 representa a componente fundamental do sinal. Os valores de V1 e Vh podem


ser de pico ou rms.

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60

Pode ser observado em (1.96) que:

− A componente cc não faz parte no índice DHT.

− DHT mede o conteúdo harmônico em relação à componente fundamental.

− Se as magnitudes das componentes harmônicas são pequenas ou nulas, DHT


será pequeno ou nulo independente da ordem da freqüência presente no sinal.
Dessa forma, devem-se buscar nas instalações elétricas valores de DHT mais
próximos de zero quanto possível.

− Quando um único harmônico maior que ω1 domina o espectro de freqüências


de um sinal, a DHT torna-se simplesmente Vh/V1.

A tensão rms verdadeira pode ser calculada a partir da DHT.

Vrms = V1,2rms + V2,2rms + V3,2rms +

⎛ V2,2rms V3,2rms ⎞
= V 2
1, rms ⎜⎜1 + 2 + 2 + ⎟⎟ (1.97)
⎝ V1,rms V1,rms ⎠

(
= V1,2rms 1 + DHTV2 )
Rearranjando (1.97) de modo a explicitar DHTV, obtém-se DHTV quando
conhecida a tensão rms verdadeira e o valor rms da fundamental:

2
⎛V ⎞
DHTV = ⎜ rms ⎟⎟ − 1 (1.98)
⎜V
⎝ 1,rms ⎠

De modo análogo tem-se a expressão de cálculo para a distorção harmônica total


para a corrente DHTI.

2
N ⎛ I ⎞
DHTI =
1
∑ I = ⎜ rms
2
⎟⎟ − 1 (1.99)
I1 ⎜I h
h=2 ⎝ 1,rms ⎠

(
I rms = I1,2rms 1 + DHTI2 ) (1.100)

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61

Exemplo 5 [Fonte: Wakileh, Power Systems Harmonics, Springer, 2001]

Para a onda representada na fig.1.17, calcular o valor rms verdadeiro e a DHT.

Solução

Como a onda apresenta simetria de meia onda, tem-se que são nulos os
coeficientes da série de Fourier a0=0 e ah=0. O coeficiente bh obtido é dado por:

⎧ 1 h=1,11,13,
2 3a ⎪
bh = ⎨−1 h=5,7,17,19, (1.101)
πh ⎪
⎩0 demais

Como ah=0, ch = bh, e o valor rms da função é dado por:

1 N 2
Frms = ∑ ch
2 h =1

( 2 3a )
2
⎛ ⎛ 1 ⎞2 ⎛ 1 ⎞2 ⎛ 1 ⎞2 ⎛ 1 ⎞2 ⎞
= ⎜⎜ 1 + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ + ⎟⎟ (1.102)
2π 2 ⎝ ⎝ 5 ⎠ ⎝ 7 ⎠ ⎝ 11 ⎠ ⎝ 13 ⎠ ⎠
2
= a
3

Pela forma de onda em função do tempo mostrada em (1.103) o valor rms pode
também ser obtido como em (1.102).

f ( t ) = ∑ bh sin ( hω1t )
h =1

2 3a ⎛ 1 1
= ⎜ sen (ω1t ) − sen ( 5ω1t ) − sen ( 7ω1t ) (1.103)
π ⎝ 5 7
1 1 ⎞
+ sen (11ω1t ) − sen (13ω1t ) ∓ ⎟
11 13 ⎠

O valor rms poderia ser obtido a partir da definição básica como:

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62

1 2π
Frms = ∫ f 2 ( x ) dx
2π 0

=
a2
2π (∫ 5π 6

π 6
dx + ∫
11π 6

7π 6
dx )
(1.104)
a 2 ⎛ 2π 2π ⎞
= ⎜ + ⎟
2π ⎝ 3 3 ⎠
2
= a = 0,816497 a
3

A fundamental tem rms igual a:

2 3a 6a
F1,rms = = (1.105)
π 2 π

A DHT do sinal é então:

2
⎛ F ⎞
DHTF = ⎜ rms ⎟⎟ − 1
⎜F
⎝ 1,rms ⎠ (1.106)
π 2
= − 1 = 0,3108 = 31, 08%
9

Exemplo 6

Para o espectro de corrente rms de fase referente a um PC de 200 W


apresentado na Tabela 1.2, calcule a distorção harmônica total e o valor rms
verdadeiro da corrente de fase.

h 1 3 5 7 9 11
Ih 1,201 0,977 0,620 0,264 0,068 0,114
I h% 100 81,3 51,6 22,0 5,7 9,5
h 13 15 17 19 21 23
Ih 0,089 0,029 0,042 0,044 0,019 0,020
I h% 7,4 2,4 3,5 3,7 1,6 1,7
Solução

A DHT e rms verdadeiro são assim obtidos:

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63

N
1
DHTI =
I1,rms
∑I
h=2
2
h , rms

=
1
1, 201
(
( 0,977 ) + ( 0,62 ) + ( 0,264 ) + ( 0,068) + ( 0,114 )
2 2 2 2 2 (1.107)

)
1

+ ( 0,089 ) + ( 0,029 ) + ( 0,042 ) + ( 0,044 ) + ( 0,019 ) + ( 0,02 )


2 2 2 2 2 2 2

= 0,9994 = 99,94%

I rms = I1,rms ⋅ (1 + DHT ) I


2

= 1, 201 1 + ( 0,9994 )
2
(1.108)
= 1, 698 [ A]

Para sistema trifásico equilibrado a 4 fios, a tensão linha-neutro é usada para o


cálculo de DHTV. Quando o sistema é trifásico trifilar é calculado o DHTV entre
fases. Em condição de desequilíbrio há um DHTV para cada fase. Em se tratando
de sistemas trifásicos desequilibrados surgem DHT do tipo:

– DHT Balanceado – calculado a partir das componentes de seqüências positiva


ou negativa do sinal.

– DHT Residual – calculado para as componentes de seqüência zero.

O DHT residual, em geral, é muito mais danoso do que o TDH balanceado porque
não existe o efeito de cancelamento pelo defasamento de 120o entre as fases.

O DHTV de tensão é em geral menor que 5% - valores acima de 10% são


inaceitáveis e causarão problemas para cargas sensíveis, enquanto DHTI de
corrente varia de poucos por cento a mais de 100%.

A fig.1.35 mostra o registro de DHT para as tensões de fase tendo o valor de 5%


como referência.

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64

Fig.1.35 Registro de Distorção Harmônica Total.

Como visto em (1.99), o nível de distorção harmônica da corrente pode ser


medido pela DHTI, porém este índice pode ser mal interpretado. Por exemplo,
muitos acionamentos a velocidade variável apresentam alta taxa de DHTI para a
corrente de entrada quando tais dispositivos estão operando com cargas leves.
Tal fato não é necessariamente preocupante porque a magnitude da corrente
harmônica é baixa, embora a distorção relativa seja alta.

Para caracterizar as correntes harmônicas de forma consistente, a norma do IEEE


519-1992 define o índice denominado Taxa de Distorção de Demanda - TDD.
Este termo é o mesmo que o DHTI em (1.99), exceto que a distorção é expressa
como um percentual da média anual da corrente fundamental da demanda
máxima (medida em intervalos de 15 a 30 min), invés de um percentual da
magnitude da corrente fundamental, a fim de prover uma base comum para
avaliação no tempo. Assim, a TDD mede o conteúdo harmônico na forma de onda
da corrente.

∑I
h=2
2
h
TDD = (1.109)
IL

A magnitude da corrente fundamental de demanda máxima IL considerada é a


média dos últimos doze meses da demanda máxima mensal.

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65

Quando o valor de IL não é conhecido, pode ser estimado como:

∑I
h=2
2
h
I1
TDD = ⋅
I1 IL (1.110)
⎛ Corrente Fundamental da C arg a ⎞
= DHTI ⋅ ⎜ ⎟
⎝ Corrente No min al do Circuito ⎠

Exemplo 7

Uma carga consistindo inteiramente de lâmpadas fluorescentes compactas tem


TDHI de corrente de 150%. A corrente fundamental da carga é 100A em um
circuito de corrente nominal de 400A. Determine TDD.

Solução

Aplicando (1.110) tem-se que:

100
TDD = 150 ⋅ = 37,5% (1.111)
400

A norma européia define a distorção harmônica total como sendo a relação entre
a raiz quadrada da soma dos quadrados das componentes harmônicas pelo valor
eficaz verdadeiro do sinal (DIN 40110 – Norma alemã).

( h2 ) + ( h3 ) + ( h4 ) + + ( hn )
2 2 2 2

DIN = (1.112)
( h1 ) + ( h2 ) + ( h3 ) + ( h4 ) + + ( hn )
2 2 2 2 2

em que h1, h2, ..., hn representam o valor eficaz dos harmônicos de ordem 1, 2, ...,
n de corrente ou tensão.

O indicador DIN pode ser expresso em função de DHT:

∑h 2
n
(h )
2
⋅ DHT 2 DHT 2
DIN =2 n =2
= 1 = (1.113)
N N
1 + DHT 2
( h1 ) + ∑ h ( h1 ) + ∑ h
2 2 2 2
n n
n=2 n=2

DHT
DIN = (1.114)
1 + DHT 2

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66

ou

DIN
DHT = (1.115)
1 − DIN 2

O valor de DIN tende a ser menor que DHT, portanto menos conservativo. DIN e
DHT são iguais para sinais de baixa distorção em torno de 20%. A partir de 30%,
pequenas diferenças são encontradas. Por exemplo, para DHT=50% tem-se
DIN=45%, ou quando DHT=100%, DIN=70%. O uso de DIN e DHT é ditado por
preferência pessoal. O DIN torna-se unitário para uma onda altamente distorcida,
enquanto o DHT torna-se infinito. Alguns profissionais consideram um desses
níveis indicativo mais significante do que o outro, nesta circunstância.

350
300
DIN(%); DHT(%

250
200
DIN
150
TDH
100
50
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
(%)

Fig.1.36 Valores de DIN e DHT em relação ao percentual de distorção.

Qualquer que seja a expressão usada para o cálculo da distorção harmônica total,
verifica-se que na ausência de componentes harmônicas a distorção harmônica
total é nula. Dessa forma, devem-se buscar nas instalações elétricas valores de
DHT, ou DDT, ou DIN mais próximos possíveis de zero.

Em um breve sumário sobre o indicador Distorção Harmônica Total pode-se


relacionar:

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67

Tabela 1.9 Vantagens e Desvantagens do Índice DHT

Vantagens Desvantagens
ƒ É facilmente calculado. ƒ Informação do espectro é perdida:
ƒ É o índice mais comum na área de amplitude e frequência dos
QEE. componentes.
ƒ Permite uma rápida medida do grau ƒ Sinais de diferentes freqüências são
de distorção de uma onda. tratados igualmente, i.e., mesmo
ƒ É largamente usado em normas e peso.
recomendações. ƒ Não mostra o impacto da
interferência do sinal.

B. Distorção Harmônica Individual

Para quantificar a distorção harmônica individual de tensão e corrente utiliza-se o


chamado Fator Harmônico que é a percentagem de determinada componente
harmônica em relação à sua componente fundamental, expresso como:

Ch
DHI = ⋅100 ( % ) (1.116)
C1

em que Ch representa a componente harmônica de tensão ou corrente de ordem


h em relação à fundamental.

A violação da DHI orienta a uma medida corretiva como a colocação de filtros


harmônicos, ou caracteriza a condição de ressonância.

1.4.5 Potência Eficaz, Aparente, Reativa e de Distorção

A série de Fourier para ondas de tensão e corrente distorcidas pode ser expressa
como:

υ ( t ) = V0 + V1 cos (ω1t + ϕ1 ) + V2 cos ( 2ω1t + ϕ 2 ) +


(1.117)
i ( t ) = I 0 + I1 cos (ω1t + ϕ1 ± θ1 ) + I 2 cos ( 2ω1t + ϕ2 ± θ 2 ) +

A potência instantânea é definida como:

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68

p (t ) = υ (t ) ⋅ i (t )
(1.118)
= ⎡⎣V0 + ∑ Vh cos ( hω1t + ϕh ) ⎤⎦ ⋅ ⎡⎣ I 0 + ∑ I h cos ( hω1t + ϕ h ± θ h ) ⎤⎦

A potência média, eficaz, real ou útil é calculada como:

1 T
υ ( t ) ⋅ i ( t ) ⋅ dt
T ∫0
P= (1.119)

Desenvolvendo (1.119), tem-se:

1⎡ T
V0 I 0 dt + ∫ Vh I h cos ( hω1t + ϕh ) cos ( hω1t + ϕh ± θ h ) dt ⎤
T
P= ∫
T ⎣⎢ 0 0 ⎦⎥

ou

Vh I h T
cos ( hω1t + ϕ h ) ⎡⎣cos ( hω1t + ϕh ) cos θ h ∓ sen ( hω1t + ϕ h ) senθ h ⎤⎦dt
T ∫0
P = V0 I 0 +

VI
= V0 I 0 + h h cos θ h ∫ cos 2 ( hω1t + ϕ h )dt ∓ senθ h ∫ sen ( hω1t + ϕh ) dt
T T

T 0 0
(1.120)
cos θ h ∫ (1 + cos 2 ( hω1t + ϕh ) )dt
Vh I h T
= V0 I 0 +
2T 0

VI
= V0 I 0 + h h cos θ h , h = 1,2,3,
2

A potência real pode ainda ser re-escrita como:

N
P = V0 ⋅ I 0 + ∑ Vrms ,h ⋅ I rms ,h ⋅ cos θ h
h =1 (1.121)
= Pcc + Ph h = 1, ,N

Observa-se que somente os componentes harmônicos de mesma ordem


contribuem para a potência útil. Quando a distorção da tensão é pequena, a
potência média é aproximadamente igual ao produto da componente fundamental
de tensão e corrente e o co-seno do ângulo de fase. Neste caso, a potência
média independe do grau de distorção da corrente.

P = Vrms ,1 ⋅ I rms ,1 ⋅ cos θ1 (1.122)

A potência aparente é definida como o produto dos valores eficazes de tensão e


corrente.

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69

S = Vrms ⋅ I rms
⎛ N ⎞ ⎛ 2 N 2 ⎞ (1.123)
= ⎜ V0 + ∑ Vrms
2 2
⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ I 0 + ∑ I rms ,h ⎟⎟
⎜ ,h
⎝ h =1 ⎠ ⎝ h =1 ⎠

A potência aparente é grandemente influenciada pela distorção quer na tensão,


quer na corrente ou em ambas. Se a distorção na tensão é desprezível, a
potência aparente é simplificada para:

⎛ N ⎞
S = Vrms ,1 ⋅ ⎜ I 02 + ∑ I rms
2
⎟⎟
⎜ ,h
(1.124)
⎝ h =1 ⎠
= Vrms ,1 ⋅ I 02 + I rms
2
,1 + I rms ,2 +
2

A potência reativa por sua vez é obtida por:

N
Q = ∑ Vrms ,h ⋅ I rms ,h ⋅ senθ h (1.125)
h =1

Semelhantemente à potência útil, somente as componentes harmônicas de


tensão e corrente de mesma ordem contribuem para a potência reativa. Quando a
distorção da tensão é pequena, a potência reativa torna-se do grau de distorção
da corrente.

Q = Vrms ,1 ⋅ I rms ,1 ⋅ sen ( ±θ1 ) (1.126)

Diferentemente do que ocorre em sinais senoidais em que o quadrado da


potência aparente é igual à soma dos quadrados da potência útil e potência
reativa, em sinais distorcidos não se verifica a igualdade. O termo que
complementa a igualdade é definido como potência de distorção.

A potência de distorção é definida como o produto de tensão e harmônicos de


ordens diferentes.

⎛ N ⎞⎛ N ⎞
D = ∑ Vk cos (ωk t + ϕ k ) ∑ I m cos (ωmt + ϕm ± θ m ) ⎟
⎜ ⎟ ⎜ (1.127)
⎜ k =1 ⎟ ⎜ m =1 ⎟
⎜ k ≠m ⎟ ⎜ m≠k ⎟
⎝ ⎠⎝ ⎠

A potência de distorção não produz potência útil. Sua unidade é dVA. A


componente D representa a contribuição adicional para a potencia aparente dada
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70

pela interação entre os harmônicos de tensão e corrente de diferentes


freqüências.

S 2 = P2 + Q2 + D2 (1.128)

P
S
Q
Fig.1.37 Diagrama com as relações entre as diferentes potências.

A Fig.1.38 ilustra um levantamento de potências em diferentes lâmpadas


eficientes.

120,00

100,00

80,00 Pot. Aparente


% Potência

Pot. Distorção
60,00
Pot. Reativa
40,00 Pot. Útil

20,00

0,00
Niko 11W

Niko 9W
Osram

Osram

Neonda

Philips

Crown 9W
11W
21W

15W

15W

Fig.1.38 Potência aparente, útil, reativa e de distorção de lâmpadas com reator eletrônico.

Os valores obtidos para a lâmpada compacta Osram de 15 W foram:

P = 15,6 W (46,29%)
Q = 6,47var (19,20%)
D = 29,2 dVA (86,65%)
S = 33,7 VA (100%)
com os quais pode-se atestar a relação S2=P2 + Q2 + D2.

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71

1.4.6 Fator de Potência

O fator de potência mede o fator de utilização de um equipamento ou instalação.


É uma medida que indica quão eficientemente uma carga retira potência útil da
fonte de alimentação e é definido pela relação entre potência útil e potência
aparente.

P
FP = (1.129)
S

Em uma instalação com componentes lineares o fator de potência é medido


simplesmente pelo co-seno do ângulo de defasagem entre as componentes
fundamentais da tensão e corrente. Neste caso, o fator de potência é denominado
de fator de potência de deslocamento (FPD).

P VEF ,1 I EF ,1 cos θ1
FPD = = = cos θ1 (1.130)
S VEF ,1 I EF ,1

Na presença de sinais distorcidos de tensão e corrente, o fator de potência dito


verdadeiro é medido por:

N
V0 I 0 + ∑ VEF ,h I EF ,h cos θ h
FP = h =1
(1.131)
N N
V + ∑V
0
2 2
EF , h ⋅ I +∑I
2
0
2
EF , h
h =1 h =1

Observa-se que a capacidade de utilização de um circuito diminui quando


presentes sinais distorcidos de tensão e corrente.

Em condições de baixa distorção na tensão o fator de potência verdadeiro torna-


se:

VEF ,1 I EF ,1 cos θ1 I EF ,1
FP = = cos θ1
N I EF
VEF ,1 ⋅ I + ∑ I
2 2

(1.132)
0 EF , h
h =1

I EF ,1
= ⋅ FPD
I EF

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72

Observa-se que embora apenas a corrente seja distorcida, o fator de potência


verdadeiro é menor do que o fator de potência de deslocamento. Em (1.132)
observa-se que uma carga não linear pode apresentar um fator de potência de
deslocamento alto, no entanto em decorrência da deformação da onda de
corrente, o fator de potência verdadeiro pode ser baixo.

O fator de potência verdadeiro apesar de englobar os efeitos do deslocamento e


dos harmônicos na ocupação total do sistema não permite distinção entre os dois
fenômenos, ou seja, a utilização pelas componentes fundamentais e não
fundamentais. A vantagem em conhecer separadamente está em sinalizar ao
consumidor a causa da taxação de excedente (por reativo da fundamental
somente ou em decorrência da presença de harmônicos) permitindo uma ação
apropriada para a solução.

A Tabela 1.10 mostra o fator de potência para diferentes tipos de circuitos. Note
que a potência de distorção contribui para a redução do fator de potência.

Tab.1.10 Fator de Potência em circuitos lineares e não lineares.


Tipo de Circuito Fator de Potência
Circuito Linear CC 1 Unitário
FP = FPD
P1 Deslocamento
Circuito Linear CA = cos θ1 FP = FPD
S1
P Verdadeiro
Circuito Não Linear CA FP ≤ FPD
P2 + Q2 + D2

Exemplo 8

Para as componentes de frequência de tensão e correntes de fase mostradas na


Tabela 1.11:

Tabela 1.11 Valores rms de componentes de frequência.

Frequência (Hz) Tensão Corrente

60 1∠0o 1∠-30o
180 0,2∠20o 0,2∠80o
420 0,05∠10o 0,15∠-20o

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73

a) Expressar v(t) e i(t) no domínio do tempo.

b) Calcular o valor eficaz de tensão e corrente.

c) Calcular potência ativa, reativa, aparente e de distorção.

d) Calcular o fator de potência de deslocamento de distorção e verdadeiro.

e) Determine a distorção harmônica total de tensão e corrente.

Solução

Os sinais v(t) e i(t) são:

( ))
υ ( t ) = 2 1cos ( 2π 60t ) + 0, 2 cos ( 2π 180t + 20 ) + 0, 05cos ( 2π 420t + 10
= 2 cos ( 377t ) + 2.0, 2 cos (1131t + 20 ) + 2.0, 05cos ( 2639t + 10 ) (1.133)

( ) ( )
i ( t ) = 2 cos 377t − 30 + 2.0, 2 cos 1131t + 80 + 2.0,15cos 2639t − 20 ( ) (1.134)

O valor eficaz de tensão e corrente:

Vrms = 1 + 0, 22 + 0, 052 = 1, 021[ p.u.]


(1.135)
I rms = 1 + 0, 22 + 0,152 = 1, 031[ p.u.]

A potência média:

( )
P1 = V1 I1 cos θ1 = 1⋅ cos −30 = 0,866 [ pu ]
P3 = V3 I 3 cos θ3 = 0, 22 ⋅ cos 60 = 0, 020 [ pu ]
(1.136)
( )
P7 = V7 I 7 cos θ7 = 0, 05 ⋅ 0,15 ⋅ cos −30 = 0, 006 [ pu ]

∑P h = 0,892 [ pu ]

A potência reativa:

( )
Q1 = V1 I1senθ1 = 1⋅ sen −30 = − j 0,5 [ pu ]
Q3 = V3 I 3 senθ3 = 0, 22 ⋅ sen60 = j 0, 035 [ pu ]
(1.137)
( )
Q7 = V7 I 7 senθ 7 = 0, 05 ⋅ 0,15 ⋅ sen −30 = − j 0, 004 [ pu ]

∑Q h = − j 0, 469 [ pu ]

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74

A potência aparente:

S = VEF I EF = (1, 021) ⋅ (1, 031) = 1, 052 [ pu ] (1.138)

A potência de distorção:

D= S − P2 − Q2
2

(1.139)
(1, 052 ) − ( 0,892 ) − ( 0, 469 ) = 0,302 [ pu ]
2 2 2
=

O fator de potência de deslocamento e verdadeiro:

(
FPD = cos −30 = 0,866 atrasado )
FP =
∑P h
=
0,892
= 0,848 (1.140)
S 1, 052
I EF ,1 1
= ⋅ FPD = ⋅ 0,866 = 0,84
I EF 1,031

A DHTV e DHTI são assim calculadas:

V32 + V72 0, 22 + 0, 052


DHTV = = = 20, 62%
V1 1
(1.41)
I 32 + I 72 0, 22 + 0,152
DHTI = = = 25%
I1 1

A. Relação entre Fator de Potência e Distorção Harmônica Total.

Como visto em (1.97), o valor eficaz verdadeiro de um sinal está relacionado com
a taxa de distorção harmônica desse sinal. Assim, o fator de potência verdadeiro
de um sinal ac pode ser expresso como:

Pmédia1 + Pmédia 2 + Pmédia 3 +


FP = (1.142)
VEF ,1.I EF ,1 ⎛⎜ 1 + ( DHTV ) ⎞⎟ . ⎛⎜ 1 + ( DHTI ) ⎞⎟
2 2

⎝ ⎠⎝ ⎠

Com base nas seguintes considerações, o fator de potência verdadeiro ou total


em (1.142) torna-se então:

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75

a) Uma vez que DHTV é, em geral, menor do que 10%, então da expressão VEF =

(VEF)1. 1 + ( DHTV ) tem-se que VEF ≈ VEF1.


2

b) Na maioria dos casos, a contribuição para a potência média de harmônicas


acima da fundamental é pequena, assim tem-se P=Pmédia1.
FPD
FP = (1.143)
1 + DHTI2

A Fig.1.39 ilustra o FP verdadeiro, FPD e DHTI de lâmpadas eficientes


comerciais.

210
180
FP(%) e DHT (%)

150
FP Deslocamento
120
FP Verdadeiro
90
DHTi
60
30
0
Neonda

Crown
Osram

Osram

Philips

Niko 11W

Niko 9W
21W

15W

11W
15W

9W

Fig.1.39. Fator de potência de deslocamento, verdadeiro e DHTI de lâmpadas compactas.

O coeficiente que relaciona fator de potência verdadeiro ao fator de potência de


deslocamento é denominado de Fator de Potência de Distorção.

FP 1 I
FD = = = EF ,1 (1.144)
FPD 1 + DHTI 2 I EF

Assim, obtém-se que o fator de potência verdadeiro FP é o produto do fator de


potência deslocamento FPD e o Fator de Potência de Distorção FD.

FP = FD ⋅ FPD (1.145)

Os fatores de potência de deslocamento e de distorção assim definidos têm


valores unitários (máximos) na ausência de defasagem entre a tensão e corrente

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76

da componente fundamental e na ausência de harmônicos, respectivamente, o


que equivale à carga de natureza resistiva linear.

O fator de potência de deslocamento assume o valor zero quando a defasagem


entre tensão e corrente é de ±90o, indicando carga puramente indutiva ou
capacitiva. Já o fator de potência de distorção tende a zero à medida que o
conteúdo harmônico tende a infinito, i.é., carga infinitamente não-linear.

Como o fator de potência de deslocamento FPD não pode ser maior do que a
unidade, (1.143) mostra que o fator de potência verdadeiro FP em condições não
senoidais apresenta limite superior expresso como:

1
FP ≤ FD = (1.146)
1 + ( DHTI )
2

A Fig.1.40 mostra a natureza do fator de potência de cargas eletrônicas de


potência, em especial as cargas monofásicas.

1,0
Máximo F.P.

0,9
Verdadeiro

0,8
0,7
0,6
0,5
0 20 40 60 80 100 120 140
DHT da Corrente (%)

Fig.1.40. Máximo Fator de Potência Verdadeiro

Cargas eletrônicas monofásicas tendem a ter uma alta distorção de corrente,


próxima de 100% (DHTI =1). Portanto, o FP verdadeiro é menor do que 0,707
(veja 1.145), embora o FP de deslocamento seja próximo à unidade.

Por outro lado, as cargas eletrônicas trifásicas apresentam distorções de


correntes menores do que as cargas eletrônicas monofásicas e assim valores
maiores de fator de potência de distorção FD. Quanto maior o número de pulsos,
melhor o fator de potência de entrada da estrutura e menor o ripple na corrente de
carga. Entretanto, se as cargas trifásicas empregam chaves controladas (controle

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77

na condução da corrente), o FP verdadeiro pode ser baixo devido ao baixo FP de


deslocamento.

A Fig.1.41 mostra a onda da corrente suprida pela fonte ac de tensão E1 para


diferentes ângulos de disparo ou de retardo θ. Pode-se observar em (1.41) que
durante o ciclo positivo de E1 a corrente de carga é zero, até ωt = θ1 quando um
pulso de pequena duração é aplicado ao gatilho do tiristor. θ =0 é definindo como
o instante em que um diodo iniciaria a condução se estivesse no lugar do tiristor.

Em ωt = θ2 a condução no tiristor é bloqueada devido à tensão inversa em seus


terminais. Ao se variar o ângulo de disparo do tiristor varia-se a tensão média na
carga R.

Fig.1.41 Influência do ângulo de disparo no fator de potência de deslocamento.

Para θ≠0 ou θ≠π, o sistema ca alimentará o circuito com energia reativa como
ilustra a Fig.1.42. O aumento de θ reduz o fator de potência de deslocamento do
retificador controlado, quer monofásico de meia-onda e onda completa, quer
trifásico.

P, Q

P
0

θ
π/2 π

Fig.1.42 Suprimento de potência a circuitos com chaves controladas.

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78

Portanto, o fator de potência é afetado em decorrência do controle de fase. Para


ângulo de disparo igual a zero θ=0, o fator de deslocamento é unitário, como
resultado o retificador não absorve potência reativa da linha. Para θ≠0, o fator de
deslocamento não será mais unitário. Isto significa que o retificador absorve
potência reativa do sistema ca ao qual está conectado. Isto é válido para
conversor operando como retificador ou inversor.

Exemplo 9

Com base no relatório de saída de tensão e corrente sobre a carga R1 de uma


ponte monofásica, calcule: fator de potência de deslocamento e verdadeiro.

Fig.1.43 Ponte monofásica de meia onda representada no PSpice.

Solução

A resposta em tensão e corrente sobre R1 é mostrada na Fig.1.44.

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79

Fig.1.44 Tensão V(R1) e corrente I(R1).

Os relatórios de saída para tensão e corrente do circuito são apresentados na


Fig.1.45.

FOURIER COMPONENTS OF TRANSIENT RESPONSE V($N_0002)


DC COMPONENT = 3.129104E+01
HARMONIC FREQUENCY FOURIER NORMALIZED PHASE
NO (HZ) COMPONENT COMPONENT (DEG)

1 6.000E+01 4.930E+01 1.000E+00 -8.608E-03

TOTAL HARMONIC DISTORTION = 4.404266E+01 PERCENT

FOURIER COMPONENTS OF TRANSIENT RESPONSE I(R_R1)


DC COMPONENT = 6.258209E-02
HARMONIC FREQUENCY FOURIER NORMALIZED PHASE
NO (HZ) COMPONENT COMPONENT (DEG)

1 6.000E+01 9.859E-02 1.000E+00 -8.609E-03

TOTAL HARMONIC DISTORTION = 4.404266E+01 PERCENT

Fig.1.45 Relatório de saída do circuito da Fig. 1.43.

O ângulo de fase da corrente e tensão são iguais, o que caracteriza FP de


deslocamento unitário, i.e. FPD=1. O calculo do FP verdadeiro e obtido por:

FPD 1
FP = = = 0,92 (1.147)
1 + DHTI 1 + ( 0, 44043)
2 2

Fator de potência 0,92 é o que é visto pela fonte.


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80

É importante ressaltar que, em geral, não se pode compensar um baixo fator de


distorção FD com a adição de capacitores shunt. Nesses casos, a adição de
capacitores shunt pode piorar o fator de potência pela possibilidade de
ressonâncias com o conseqüente aumento nos níveis dos harmônicos. Uma
solução mais apropriada é adicionar filtros passivos ou ativos para remover os
harmônicos produzidos pelas cargas não lineares, ou usar cargas eletrônicas de
potência com baixa distorção.

1.4.7 Fator de Desclassificação K

Historicamente, a potência nominal e o calor que um transformador dissipa em


regime de plena carga são calculados com base na hipótese de que o sistema é
composto por cargas lineares que, por definição, não produzem harmônicas. As
características nominais dos transformadores baseiam-se no aquecimento
provocado por correntes senoidais de 60 Hz. No entanto, se pelo transformador
circular corrente que contenham harmônicos, ele sofrerá um aquecimento
adicional que poderá levá-lo a avaria. Qualquer transformador que transporta
corrente harmônica deve ser avaliado para verificar se opera em condições
nominais ou em sobrecarga.

Existem duas abordagens para a avaliação de transformadores que alimentam


carga rica em harmônicos: a) projetando de forma antecipada a capacidade
harmônica do transformador – sistema americano; b) desclassificando
transformadores convencionais para suportarem uma dada capacidade harmônica
– sistema europeu.

Um transformador convencional destinado a cargas lineares tem fator K igual a


um, K=1. Um transformador com fator K > 1 é construído para suportar maiores
distorções na corrente do que os transformadores convencionais. Os
transformadores de fator K tipicamente encontrados no mercado são da categoria
K-4, K-9, K-13, K-20, K-30, K-40 e K-50. Em geral o primário é conectado em
Delta e o secundário em estrela. Algumas unidades apresentam seis tapes de
2,5% - dois acima do nominal e quatro abaixo do nominal.

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81

Fonte Carga

Fig.1. 46. Ligação típica de transformadores que alimentam cargas não lineares.

Para definir um transformador apropriado a atender uma carga com harmônicos


de corrente o fator K é calculado por:

2
N
⎛I ⎞
K = ∑h ⎜ h ⎟2
(1.48)
h =1 ⎝ I1 ⎠

em que h é a ordem do harmônico e Ih/I1 é a distorção harmônica individual de


corrente. O fator K em (1.148) é calculado baseado na consideração que a perda
por corrente Foucault (ou eddy) no enrolamento do transformador produzida por
cada componente harmônica de corrente é proporcional ao quadrado da ordem
do harmônico e o quadrado da magnitude da componente harmônica.

O aumento na perda por corrente eddy em transformadores é expressa por:

N
Peddy ,h = P1 ⋅ ∑ h 2 I h2 (1.149)
h =1

em que Peddy,h é a perda total por corrente eddy, P1 é a perda por corrente eddy
na frequência fundamental, h é a ordem da harmônica de corrente e Ih é o valor
rms da harmônica de ordem h. As perdas aumentam com o aumento da
frequência e, portanto, componentes harmônicas de maior frequência podem ser
mais importantes do que componentes de frequência baixa no aquecimento de
transformadores. Em geral, as harmônicas de maior frequência apresentam
pequenas amplitudes, que tende a cancelar os efeitos da ordem.

Para uma carga com teor harmônico de corrente como dado na Tabela 1.12, o
transformador deve ser de fator K =2,875. O valor comercial capaz de atender ao
calculado é Fator K = 4.

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82

Tabela 1.12 Corrente distorcida para cálculo do Fator K

Ordem h Ih/I1 (Ih/I1)2 h2.(Ih/I1)2


1 1,0 1,0 1,0
5 0,175 0,031 0,775
7 0,110 0,012 0,588
11 0,045 0,002 0,242
13 0,029 0,001 0,169
-3
17 0,015 0,255x10 0,065
19 0,010 0,1x10-3 0,036
Σ 1,046 2,875

As mudanças no projeto do transformador de modo a adequá-lo ao suprimento de


cargas não lineares de modo a não sobreaquecer devido às componentes
harmônicas de corrente são:

ƒ Aumento de bitola do enrolamento em Δ devido às correntes harmônicas


triplas e de um modo geral devido às componentes harmônicas de
seqüência zero.

ƒ Duplicação do neutro do secundário para conduzir as harmônicas triplas ou


de seqüência zero (conexão Y aterrada).

ƒ Projeto do núcleo magnético com uma baixa densidade de fluxo normal,


usando para tanto ferro de grãos maiores.

ƒ Condutores do secundário de menor bitola, isolados, enrolados em


paralelo e transposto para reduzir o aquecimento devido ao efeito pelicular
(skin) e a resistência associada.

O fator K quando usado como fator de desclassificação indica quanto se deve


reduzir a potência máxima de saída quando existirem harmônicas. A expressão
matemática aproximada mais usual para o fator K é definida como:

Ip FC
K= = (1.150)
I rms ⋅ 2 2

Observe que K como definido em (1.150) é igual a 1 para condição senoidal ou


sem distorção. A máxima potência fornecida por um transformador que alimenta
carga de corrente não-senoidal é dada por:

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83

Snom
S max = (1.151)
K

Para utilização de (1.151) deve-se determinar, por medição (em instalações já


existentes) ou por cálculo (em caso de projetos), o valor de pico e a corrente
eficaz em cada fase do secundário do transformador, calcular as médias desses
valores e assim obter o valor de K. Assim, se p.ex., o fator K determinado para
certo transformador de potência nominal de 1000 kVA é 1,2, então a máxima
potência que esse transformador pode fornecer sem que haja sobre aquecimento
é igual a 1000/1,2 = 833 kVA.

Em regra, um transformador cuja DHTI de corrente é superior a 5% em plena


carga é um forte candidato para redução da capacidade normal (de-rating).

A norma ANSI/IEEE Standard C 57.110-1986 recomenda práticas para adequar a


capacidade de transformadores quando alimentam cargas com correntes não
senoidais. Segundo a norma, a corrente máxima eficaz que suporta um
transformador trifásico com conexão Δ/Y é calculada por:

1,15
I max = I nom ⋅ (1.152)
1 + 0,15K

em que K é definido como:

2
N
⎛I ⎞
∑ h ⎜ h⎟ 2

K=
h =1 ⎝ I1 ⎠ (1.153)
2
N
⎛ Ih ⎞
∑ ⎜ ⎟
h =1 ⎝ I1 ⎠

Para os valores de corrente apresentados na Tabela 1.12, o fator K segundo


(1.152) é igual a:

2,875
K= = 2, 749 (1.154)
1, 046

O que resulta para Imax:

1,15
I max = I nom ⋅ = 0,904 ⋅ I nom (1.155)
1 + 0,15 ⋅ 2, 72

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84

o que indica que o transformador deverá alimentar 90,4% de sua carga nominal.

O fator K pode também ser calculado a partir de (1.153) como:

2 2 2
N
⎛I ⎞ N
⎛ Ih ⎞ N
⎛I ⎞
∑ ∑ ∑
N


2 2
h ⎜ h⎟ h2 2
hI h ⎜ ⎟ h2 ⎜ h ⎟
K=
h =1 ⎝ I1 ⎠ = h =1
=
h =1 ⎝ I1 ⎠ = h =1 ⎝ I1 ⎠ (1.156)
⎛ Ih ⎞
2 N
⎛ Ih ⎞
2
1 + DHTI2

N N

∑ 1+ ∑⎜ ⎟
2
I
⎜ ⎟ h =1
h
h =1 ⎝ I1 ⎠ h = 2 ⎝ I1 ⎠

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