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A BELEZA DAS QUARESMEIRAS

Olá pessoal, em tempos de quarentena, a Escola de Jardinagem te chama à


atenção para algumas árvores que estão colorindo de roxo e rosa a cidade.
Estamos na época da floração das quaresmeiras (Tibouchina granulosa,
atualmente Pleroma granulosum). São árvores de flores roxas ou róseas muito
bonitas, e recebem esse nome porque florescem no período da Quaresma. A
palavra “quaresma” vem do latim QUADRAGÉSIMA, que significa o período de
40 dias entre o Carnaval (Quarta-feira de Cinzas) e a Páscoa. É um período de
circunspecção, jejum e abstinência para várias religiões. Na Cidade de São
Paulo as quaresmeiras florescem nos meses de fevereiro-março, no final do
verão, e florescem novamente na primavera, nos meses de setembro-outubro.
Nativa do Brasil, a quaresmeira é uma árvore de médio porte e de rápido
crescimento, atinge geralmente de 8 a 12 metros de altura. É utilizada em
arborização urbana, em calçadas, praças e canteiros centrais. Não suporta
muitas podas, mas é uma espécie rústica que pode ser cultivada em vários
tipos de solos. Após as flores vem as cápsulas, frutos secos que se abrem e
liberam centenas de sementes diminutas, com pouco material de reserva, que
germinam facilmente sob a luz.
A quaresmeira faz parte da Família Melastomataceae. Essa família apresenta
flores vistosas, com pétalas livres, anteras em forma de foice, e folhas
características com nervuras curvinérveas. A textura das folhas da quaresmeira
lhe rende o nome específico de “granulosa”, devido à aspereza.
A Família Melastomataceae possui cerca de 4.500 espécies distribuídas em
150 gêneros. No Brasil existem em torno de 1.350 espécies, encontradas em
todos os estados da federação e domínios fitogeográficos, exceto na Caatinga.
As quaresmeiras têm outras plantas aparentadas consagradas no paisagismo.
Os manacás-da-serra são árvores de porte menor (alcançam até uns 10m) e
produzem flores que mudam de cor: os botões são arroxeados, e à medida que
a flor amadurece tornam-se brancos. Daí vem o antigo nome específico
Tibouchina mutabilis, hoje Pleroma mutabile. É espécie característica da
encosta úmida da Serra do Mar que ocorre do Rio de Janeiro até Santa
Catarina, na floresta pluvial da encosta Atlântica. De acordo com a literatura, a
espécie é encontrada quase que exclusivamente na mata secundária, pois as
sementes germinam nas clareiras abertas devido a deslizamentos ou
desmatamento. É multiplicada por sementes e por estacas.
Outra espécie bastante ornamental é a orelha-de-onça, Tibouchina clavata (às
vezes identificada como Tibouchina holosericera). Suas folhas são
arredondadas e aveludadas, lembrando as orelhas do felino. É encontrada nos
estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, na restinga,
ambiente litorâneo úmido que geralmente apresenta solo arenoso e muita
iluminação. No verão apresenta flores arroxeadas, sendo cultivada em renques
como cerca viva. Multiplica-se por estacas após a floração.
De porte herbáceo temos a quaresmeira-rasteira, Schizocentron elegans. Seus
ramos se alastram e vão se enraizando, formando um tapete, com cerca de
30cm de altura. Tem origem mexicana e fica florida o ano todo. É planta de sol
direto, por pelo menos metade do dia, mas com regas diárias e solo orgânico e
drenado. Não suporta muito frio. A quaresmeira-rasteira pode ser propagada
por estacas de ramos e por sementes, que, após embebição, requerem luz
para germinar.
Geralmente as plantas da família Melastomataceae são polinizadas por
abelhas, e algumas espécies podem forçar a liberação do pólen das anteras
por vibração das asas.
Aproveitem esse período da quaresma para apreciar a florada das
quaresmeiras!
Até a próxima postagem!
Bióloga Ana Maria Brischi
UMAPAZ/EMJ

Bibliografia:
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Quaresmeira roxa (Pleroma granulosum) Foto de Ana Maria Brischi


Manacá-da-serra (Pleroma mutabile) Foto de Ana Maria Brischi
Orelha-de-onça (Tibouchina clavata) Foto de Ana Maria Brischi
Orelha-de-onça na restinga de Ilha Comprida Foto de Ana Maria Brischi

Quaresmeira-rasteira (Schizocentron elegans) recebendo visita da abelha-das-


orquídeas (Euglossa)

Foto de Bianca Lopes

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