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CURITIBA/PR
EDITORA HUMAITA/SEED-PR
2018
Homem Afroparanaense. Grafite sobre papel de Luz Amorin e Candiero.
Edna Aparecida Coqueiro; Melissa Reinehr; Adegmar J. Silva (org.)
CADERNO PEDAGÓGICO
ORALIDADES AFROPARANAENSES
CURITIBA/PR
EDITORA HUMAITA/SEED-PR
2018
Capa
Homem Afroparanaense.
Grafite sobre papel, de Luz Amorim e Candiero.
Letras
Raphaela Corsi.
Revisão ortográfica
Michelle Renata Borsatto
Editora Humaita
CNPJ 23.058.439/0001/70
Contatos:
E-maisl: humaitacentrocultural@gmail.com
oralidadesafroparanaenses@gmail.com
41.99161-7961 / 41.98499-1845
https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/editora-humaita/
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que seja citada a fonte.
Coordenação das Relações Étnico-Raciais e Escolar Quilombola
Edna Aparecida Coqueiro
Organização
Adegmar J Silva (Candiero)
Edna Aparecida Coqueiro
Melissa Reinehr
Colaboradores
Clarissa Grassi
Itaercio Rocha
Maria Angélica Marochi
Orientadoras
Celia Regina Tokarski
Edimara Soares
Tania Mara Pacífico
Autores/as
Ana Crhistina Vanali
Ana Lucia Mathias Fernandes Coelho
Claudinei Mendes Bispo
Clemilda Santiago Neto
Edicelia Maria dos Santos de Souza
Jane Marcia Madureira Arruda
Lucia Helena Xavier
Nabor Mauricio Oliveira Chagas
Natalia Apolonia Belino Bonfim da Silva
Paulo Henrique Mueller
Romilda Oliveira Santos
Silviane Cabral da Cunha
Vanessa Dybax
APRESENTAÇÃO
“Construir o Caderno Pedagógico Oralidades Afro-paranaenses tendo
professores/as do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE como
produtores do material, valoriza, incentiva e engrandece o potencial que
temos disponível na rede estadual de ensino”.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
Representações, símbolos e saberes
afro-paranaenses
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
CAPÍTULO 2
As narrativas das mulheres negras:
memórias, lutas e resistência
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CADERNO PEDAGÓGICO
CAPÍTULO 3
Presença negra no Paraná
AUTORES/AS........................................................................................................236
ORIENTADORAS...................................................................................................241
ORGANIZAÇÃO......................................................................................................242
12
Temos todos, por
ação ou omissão,
estímulo ou
incompreensão,
a responsabilidade
dos fatos
da História.
T. Vilela
ORALIDADES AFRO-PARANAENSES
CAPÍTULO 1
REPRESENTAÇÕES
SÍMBOLOS E
SABERES AFRO-
CADERNO PEDAGÓGICO
PARANAENSES
UNIDADE 1
DA TAIPA À
ENGENHARIA:
TECNOLOGIA AFRICANA
NA CONSTRUÇÃO
DO PARANÁ
DA TAIPA À ENGENHARIA:
TECNOLOGIA AFRICANA
NA CONSTRUÇÃO
DO PARANÁ
Nabor Mauricio Oliveira Chagas
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
Adobe, taipa de pilão, taipa de mão são técnicas construtivas com terra crua
para casas e edifícios, encontradas em grande escala no período colonial,
mas em uso até hoje, e que foram introduzidas e difundidas no Brasil pelos
africanos.
Desta forma, fica evidenciada a participação dos grupos étnicos africanos
na construção desse país.
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CADERNO PEDAGÓGICO
CONSTRUÇÕES
NO PERÍODO COLONIAL
Durante o período colonial, uma das técnicas amplamente utilizada na
construção de habitações era a taipa. Dentre as construções em taipa destacam-se
a taipa de pilão, a taipa de mão, o adobe e a cantaria.
Nos prédios de maior importância social, tais como igrejas, prédios
administrativos e os casarões das classes mais abastadas financeiramente, eram
encontrados a técnica da cantaria (pedras talhadas) e adornos diversos.
Os critérios de escolha do barro não se conservaram plenamente, pois
dependia de tradição oral que ficou perdida no tempo. Sabe-se apenas que deve
ser uma mistura bem dosada de argila e areia e alguma fibra vegetal, crina de
animal ou mesmo estrume. Podia-se também misturar óleo de baleia.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
19
CADERNO PEDAGÓGICO
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
→ Trabalhar com cálculo de volume utilizando as dimensões das fôrmas
utilizadas para a confecção do adobe e da taipa de pilão.
→ Trabalhar com a proporção envolvida na mistura de barro e fibra vegetal
na fabricação dos tijolos de adobe e nas paredes de taipa.
Construções Coloniais
no estado do Paraná
Existem muitas construções no estado do Paraná que foram feitas no
período colonial e que, certamente, utilizaram a tecnologia e a mão de obra negra
especializada.
Em um registro feito por Debret, pintor que integrou a Missão Artística
Francesa, observa-se uma imagem da cidade de Curitiba no ano de 1827. Na
pintura pode-se notar a presença de um negro cortando pedras, um mestre
canteiro, trabalhando nas Ruínas de São Francisco.
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CADERNO PEDAGÓGICO
A antiga Igreja do Rosário dos
Pretos de São Benedito foi
construída em 1737 pelos negros
e para os negros e reformada
nas primeiras décadas do século
XIX, em estilo colonial simples.
Foi a segunda igreja de Curitiba.
Serviu de matriz de 1875 a 1893,
durante a construção da Catedral,
na Praça Tiradentes.
Figura 11 - Antiga Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito. Fonte: http://www.curitiba-parana.net.
Figura 12 - Atual Igreja do Rosário - Santuário das Almas.
Fonte: http://curitibaparanaocuritibanos.blogspot.com/2011/07/igreja-do-rosario.html.
De Mestres Construtores
a Engenheiros e Engenheiras
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
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CADERNO PEDAGÓGICO
Antônio Pereira Rebouças Filho nasceu na Cidade do Salvador aos
13 de junho de 1839 e André Pinto Rebouças nasceu em 13 de janeiro de
1838. Ambos e mais seis irmãos, eram “filhos legítimos” do deputado negro
e autodidata Antônio Pereira Rebouças, filho de uma escrava alforriada e
de um alfaiate português.
Os irmãos são considerados os primeiros afrodescendentes
brasileiros a cursar uma universidade e os dois maiores engenheiros do
Brasil no século XIX. Após concluírem seus estudos na Europa, chegam ao
Paraná, recém emancipado de São Paulo, para transformar uma província
ainda em construção. Especializados na construção de estradas, deixaram
como legado a Estrada da Graciosa e a Ferrovia Paranaguá-Curitiba,
considerada a maior obra da engenharia férrea nacional.
Em 1871, fizeram a primeira canalização de água potável na capital.
Foram responsáveis por diversas
obras no Brasil. E homenageados com
nomes de ruas, avenidas e dão nome
a um bairro de Curitiba. No entanto,
poucos conhecem suas trajetórias e sua
negritude.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Roberto. A África está em nós: história e cultura afro-brasileira. Editora
Grafset, 2006.
SITES
ARQUIDIOCESE de Curitiba. Disponível em: http://arquidiocesedecuritiba.org.br.
Acesso em: 05 set. 2018.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
CAPÍTULO 1
REPRESENTAÇÕES SÍMBOLOS
E SABERES AFROPARANAENSES
UNIDADE 2
BAOBÁS E GAMELEIRAS:
SÍMBOLOS MAJESTOSOS
AFRICANOS
CADERNO PEDAGÓGICO
E AFRO-BRASILEIROS
Jane Marcia Madureira Arruda
MULHERES
DE AXÉ
(...)
No período sombrio da evolução humana,
as sacerdotisas,
mães sagradas, guardiãs do axé,
souberam se posicionar
frente às imposições dos dominadores.
Extremas perseguições,
legislativas, corporativas, militares...
Pessoais.
Nossos terreiros
foram a primeira forma
de resistência social
da comunidade negra
contra o holocausto da escravidão,
contra o racismo
(...)
BAOBÁS E GAMELEIRAS:
SÍMBOLOS MAJESTOSOS
AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
Jane Márcia Madureira Arruda
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
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CADERNO PEDAGÓGICO
espaço religioso.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
A Figura 2 apresenta
um grupo de Baobás,
comuns nas estepes
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco (2016)
africanas e no semiárido
de Madagascar.
Waldman (2012)
FIGURA 2 – Baobá Africano.
reafirma o simbolismo
do Babobá na cultura
afro, relacionando a
forma única dessa árvore
e sua força, à capacidade
de resistência dos filhos
da mãe-África.
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CADERNO PEDAGÓGICO
Da mesma forma, Vaisencher (2016) registra a importância do Baobá
como símbolo da africanidade.
[...] incorpora [...] múltiplas prefigurações, subsidiadas, é claro, por suas
qualidades naturais intrínsecas. Virtudes estas que expressam, em si mesmas,
a aspiração africana em manter suas raízes e resistir às forças que pretendem
desqualificá-la, inferiorizá-la e oprimi-la. Assim, o Baobá continua a inspirar as
novas gerações de africanos e afro-descendentes na afirmação de sua identidade
(VEISENCHER, 2016, p. 3).
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Como enfrentar a invisibilidade negra em Curitiba, pelo prisma da
religião de matriz africana?
Por meio da exploração e da busca por informações sobre as Gameleiras
Brancas (Iroko) da região central de Curitiba, cuja existência evidencia a
presença das manifestações culturais negras.
ATIVIDADE 1
Sensibilização.
TEMA
Gameleiras Brancas.
JUSTIFICATIVA
O estudante precisa despertar para elementos e informações relativos à
presença da cultura afro na sua cidade.
OBJETIVO
Sensibilizar o aluno para as descobertas que a intervenção lhe proporcionará,
tornando-o apto à identificação de aspectos até então invisíveis, ocultos
no cenário social contemporâneo em que a presença negra na história é
desconsiderada.
CONTEÚDO
O que é uma Gameleira Branca? Qual o seu significado e onde encontrá-la no
cenário curitibano, carregado de marcas europeias?
RECURSOS
Áudio-video, texto impresso, site da Linha Preta Curitiba.
METODOLOGIA
→ Apresentar aos alunos, imagens e vídeos da Praça Tiradentes mostrando
as Gameleiras Brancas ali existentes e explicar sua função religiosa dentro da
cultura afro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=m5ptJ-piK-o;
→ Reproduzir a música Gameleira Branca, de Glória Bonfim: exercício de
apreciação musical e de reconhecimento dos termos específicos nela utilizados;
leitura e interpretação da letra da música em estudo;
→ Promover uma pesquisa (internet) sobre as entidades (divindades)
mencionadas na música, reunindo subsídios para um debate sobre as religiões
de matriz africana.
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CADERNO PEDAGÓGICO
ATIVIDADE 2
Visita à Praça Tiradentes:
reconhecimento do Irôko.
TEMA
Irôko da Praça Tiradentes.
JUSTIFICATIVA
Necessidade de promover o contato real do aluno com espaços especiais
para as religiões de matriz africana.
OBJETIVO
Aproximar o aluno do espaço público onde se insere o Irôko para o
reconhecimento do local como sagrado e destinado a determinadas práticas
religiosas, em que a natureza é reverenciada e reconhecida como forma de
conexão entre os homens e as divindades.
CONTEÚDO
Pesquisa sobre o significado das Gameleiras para a memória da presença
negra em Curitiba, no site da Linha Preta Curitiba; visita à praça e registro
fotográfico do local; valorização dos espaços sagrados para as religiões de
matriz africanas.
RECURSOS
Acesso à internet; fotografias digitais (celular) e anotações pessoais;
materiais levantados no último encontro para a realização do debate.
METODOLOGIA
→ Apresentação das fotos realizadas e partilha das informações e impressões
sobre a visita;
→ Apresentação dos conteúdos levantados na pesquisa realizada no último
encontro;
→ Realização de um Seminário sobre religiões de matriz africana;
→ Produção textual individual sintetizando os conhecimentos construídos
sobre os conteúdos trabalhados.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
ATIVIDADE 3
Umbanda e Candomblé:
intolerância religiosa e preconceito.
TEMA
Conhecendo a Umbanda e o Candomblé.
JUSTIFICATIVA
Necessidade de proporcionar aos alunos oportunidades de conhecer
aspectos das duas religiões da cultura afro mais difundidas no Brasil.
OBJETIVO
Promover o conhecimento do aluno sobre a Umbanda e o Candomblé,
desmistificando preconceitos e promovendo o respeito à diversidade
religiosa na escola e na sociedade.
CONTEÚDO
Umbanda e Candomblé, da África para o Brasil e América do Sul.
RECURSOS
Textos impressos.
METODOLOGIA
→ Leitura e interpretação de trechos do texto Lugares de axé: notas
sobre um inventário de terreiros de candomblé em Curitiba e região
Metropolitana, presentes nas páginas 248-269 do livro Abordagem
sociológica sobre a população negra no Estado do Paraná, de Ana
Zaiczuk Raggio, Regina Bergamaschi Bley e Silvia Cristina Trauczynski
(org.) (PARANÁ, 2018);
→ Apontamentos pessoais sobre os principais conceitos relacionados às
religiões de matriz africana, visando eliminar os estereótipos vigentes que
alimentam preconceitos;
→ Debate e produção textual de síntese individual.
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CADERNO PEDAGÓGICO
ATIVIDADE 4
Baobás africanos:
mais que uma árvore de formas únicas.
TEMA
Conhecendo o Baobá africano.
JUSTIFICATIVA
Compreender a importância da natureza na conexão do homem com o
sagrado.
OBJETIVO
Aprofundar conhecimentos sobre o Baobá africano, relacionando–o com
a Gameleira Branca e a importância de ambas no contexto das religiões de
matriz africana.
CONTEÚDO
Baobás: características e importância social e cultural para os africanos.
RECURSOS
Textos impressos e imagens da internet.
METODOLOGIA
→ Leitura e interpretação de textos:
→ Baobá, de Semira Adler Vainsencher (VAINSENCHER, 2016);
→ O Simbolismo da Árvore-Mundo no Candomblé: Conexão entre o
Mundo dos Homens e o Mundo dos Deuses. Cristiano Henrique Ribeiro dos
Santos (SANTOS, 2001);
→ Gameleiras Brancas, poema de Mel e Candiero, disponível na
Revista Curitiba Afro (HUMAITA, 2013, p. 45);
→ Produção textual individual, apontando diferenças e similaridades entre o
Baobá e a Gameleira Branca em seus aspectos culturais;
→ Material complementar:
Vista minha pele. Link: https://youtu.be/LWBodKwuHCM ;
Intolerância Religiosa nas escolas. Link: https://youtu.be/rLPm_BhDT6A ;
Intolerância religiosa para crianças. Link: https://youtu.be/Wp80wkree0E ;
→ Debate e produção textual de síntese individual.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
ATIVIDADE 5
Intolerância religiosa.
TEMA
Religião e igual acesso aos direitos.
JUSTIFICATIVA
O aluno precisa reconhecer manifestações de preconceito, resistir à
invisibilidade e combatê-la, assim como conhecer as leis que tratam da
liberdade de culto e também aquelas que tratam dos preconceitos praticados.
Deve saber também que, embora existam direitos assegurados pela legislação
vigente, na prática, as religiões de matriz africana têm, muitas vezes, essa
garantia violada.
OBJETIVO
Debater sobre o preconceito e a invisibilidade do negro no ambiente escolar e
na sociedade, com ênfase no preconceito contra as religiões de matriz africana.
CONTEÚDO
Art. 5° e 215 da Constituição Federal de 1988, disponível no link: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
RECURSOS
Vídeos e textos impressos.
METODOLOGIA
Apreciação de vídeos que tratam da intolerância contra as religiões de matrizes
africanas no Brasil e valorização da diversidade:
→ A intolerância contra as religiões de matrizes africanas no Brasil
ONU-Brasil. Disponível em: https://youtu.be/tSbl2LwFB1s?list=PLH2UU-
5dpdTNIV71YiqbZll6mEJlnPnkYw.
→ Intolerância contra religiões de matriz africanas é racismo. SEPPIR
PR. Disponível em: https://youtu.be/BczjxqX557M?list=PLH2UU5dpdTNI-
V71YiqbZll6mEJlnPnkYw.
→ Documentário Reparação: Cultura Afro-descendente. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=5MLbYkJMzvA.
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CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
ANTONACCI, Maria Antonieta. Memórias ancoradas em corpos negros. São
Paulo: EDUC, 2013.
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ORALIDADES AFROPARANAENSES
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CADERNO PEDAGÓGICO
VÍDEOS
A INTOLERÂNCIA CONTRA AS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS
NO BRASIL. ONU-Brasil. Disponível em: https://youtu.be/tSbl2LwFB1s?lis-
t=PLH2UU5dpdTNIV71YiqbZll6mEJlnPnkYw.
OUTROS SITES
INSTAGRAM DA LINHA PRETA CURITIBA. Disponível em:
https://www.instagram.com/linhapreta.curitiba/
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GAMELEIRAS BRANCAS
Folhas verdes brilhantes
Troncos e galhos...
Raiz viril rasgando a terra
Vi nas Gameleiras uma nova era
Um ciclo que recomeça
Fazendo florescer
A negra ancestralidade
Em nossa cidade, terra dos pinheirais
Do rio Iguaçu, da gralha azul
Inicia-se um jamberessu
Os tambores de corda
Acordam... dentro da pequena calunga
Uma beleza que assusta nossa capital
Em frente à catedral
Um xirê de árvores ancestrais
Inicia o rito de homenagem
Aos primeiros...
Que a história escrita esqueceu.
Quem não viu
Ouvirá falar das Gameleiras sagradas
Da capital do Paraná.
UNIDADE 3
PARANAGUÁ
CORMORANT
CADERNO PEDAGÓGICO
ALGUNS SEGREDOS
Edicelia Maria dos Santos de Souza
Grande mar...
Paranaguá
Ilha da Cotinga, das Peças,
dos Valadares, Guaraqueçaba,
Quintilha, Ilha do Mel...
Turismo cultural e religioso.
Branco, índio...
Contribuição negra apagada...
Memória ancestral invisibilizada, submergida
(...)
Mar Negro. In.: REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar.
Oralidades Afroparanaenses:
fragmentos da presença negra na História do Paraná.
Editora Humaita, 2016. Disponível na pág. 60 deste Caderno.
CADERNO PEDAGÓGICO
A HISTÓRIA DO CORMORANT
Edicelia Maria dos Santos de Souza
Esta pesquisa baseia-se na minha curiosidade em pensar, repensar e
descobrir o porquê do Incidente do Cormorant.
50
ORALIDADES AFROPARANAENSES
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CADERNO PEDAGÓGICO
enseadas.
Em 1845, a Inglaterra promulgou o Slave Regência Trina:
período em que D.
Trade Supression Act, ou Lei Bill Aberdeen, que
Pedro I abdicou
dava poderes aos ingleses de aprisionar qualquer navio do trono brasilei-
negreiro que cometesse o crime de tráfico de escravizados ro deixando em
e escravizadas na costa brasileira, procurando forçar o seu lugar seu filho
Brasil a cumprir tratados anteriores. Entre os anos de Pedro de Alcân-
1845 a 1851, esta lei causou muitos conflitos no Brasil. tara, então com 5
anos. Políticos que
Neste período, foram apreendidas 368
ocupavam cargos
embarcações brasileiras que supostamente estavam públicos adminis-
praticando o tráfico negreiro nos mares do Atlântico traram o Brasil de
Sul. Westephalen afirma em suas pesquisas sobre o 1831 a 1840, quan-
Incidente do Cormorant: do foi antecipada a
maioridade de D.
Nesse período os navios brasileiros começaram Pedro II, então com
a usar documentos de carga e registros falsos 14 anos.
para burlar a fiscalização inglesa. Daí que veio a
expressão pra inglês ver. (JORNAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS,
2018)
Ainda segundo a autora, esses registros falsos iam desde alterar o nome
da embarcação quanto registrar de maneira propositadamente errada o tipo
de embarcação, e isso com a anuidade de autoridades responsáveis para evitar
essas fraudes. Era comum nesse período, que os
navios negreiros desembarcassem a “carga” em Slave Trade Supression
locais em que não havia fiscalização ao longo da Act: a Lei Aberdeen
costa brasileira e depois rumarem para o porto mais proibiu o tráfico de pessoas
próximo a fim de regularizar sua situação. Dessa no Hemisfério Sul. Desta
forma, os traficantes de escravizados conseguiam maneira, qualquer navio que
burlar a pouca fiscalização que as autoridades saísse da África e chegasse
ao continente americano,
brasileiras se dispunham a realizar.
poderia ser interceptado pela
Segundo Westphalen (1988), em várias marinha britânica e tratado
ocasiões as autoridades solicitavam que como "navio pirata".
funcionários públicos verificassem a introdução de
escravizados africanos no litoral paranaense, pois havia indícios de que estava
ocorrendo o tráfico de africanos para essa região, embora os relatórios enviados
aos presidentes da província desmentiam esse fato. Porém em 1848, o inspetor
da Alfândega de Paranaguá denunciava o aumento do tráfico de africanos e
africanas para escravização no Paraná através do litoral de Paranaguá. Pela
denúncia do referido inspetor, o maior traficante era o próprio delegado de
polícia da cidade e, que por isso, não atuava com eficiência para coibir tal ação.
52
ORALIDADES AFROPARANAENSES
O nome da
As autoridades brasileiras não procuraram,
"Ilha das Peças", efetivamente, extinguir o tráfico humano. O
na Bahia de desenvolvimento das lavouras cafeeiras no Sudeste
Paranaguá, faz incentivavam o comércio de africanos. Embora já existissem
referência aos leis que proibiam o tráfico de escravizados vindos da África,
escravizados elee se multiplicava de forma gigantesca e só passou a ser
(peças) ali
comercializados.
ilegal a partir de 1850. Em 1826, para o reconhecimento
da independência do Brasil, a Inglaterra obrigou D. Pedro
I a assinar um tratado em que o governo brasileiro se
comprometia a proibir o tráfico de pessoas nas costas da
África e seu desembarque nos portos do país. Em 1831,
no Período Regencial, o Regente Feijó criou uma lei que
considerava livres os africanos e africanas desembarcados
no Brasil através do comércio de pessoas.
Portanto, entre os períodos compreendidos entre
1831 e 1850, o comércio desumano de pessoas já era
proibido pelas leis brasileiras. No litoral paranaense,
persistiu até aproximadamente 1856.
Bethel apud Ferrarini (1971) calcula em 486.526, o
número de escravizados/as importados/as. Já David Eltis
apud Ferrarini (1971) mostra um montante de 760.100
escravizados/as traficados/as clandestinamente durante
1830-1852. Segundo o IBGE, desembarcaram no Brasil
entre 1831-1855, 718.800 escravizados ilegais. O fim dessa
prática ilegal desagradava tanto os brasileiros quanto
os africanos que lucravam com isso. Somente em 1850,
o tráfico negreiro seria "extinto de forma verdadeira".
Entretanto, o Brasil não cumpriria o tratado e, por mais
alguns anos, o tráfico continuaria existindo.
Desde o início do século XVIII havia notícias de
contrabando de escravizados no litoral paranaense,
suspeitando-se que os traficantes utilizavam o porto de
Paranaguá como local de desembarque de escravizados/
as cujos impostos não haviam sido pagos para a Coroa
portuguesa.
Cerca de cinquenta a sessenta mil escravizados/
as desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, em Santa
Catarina, no Rio Grande do Sul e, principalmente, em
Paranaguá, que até o ano de 1853 era comarca da província
de São Paulo. A historiadora Westhephalen afirma que:
53
CADERNO PEDAGÓGICO
Era composta por seis navios de guerra, mais dois de apoio para ressuprimentos
sob o comando do almirante Barrington Reynolds,
HMS Southampton: Capitão Nicholas Cory (Nau Capitânia - Fragata);
HMS Cormorant: Capitão Herbert Schomberg;
Corvetas a vapor:
HMS Sharpshooter: Tenente John Barley;
HMS Rifleman: Tenente Stephen S.L. Crofton;
HMS Harpy: Tenente John Dalton;
HMS Tweed: Lord Francis Russell.
(JRI, 2018, p. 1)
54
ORALIDADES AFROPARANAENSES
55
CADERNO PEDAGÓGICO
56
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Os traficantes de escravizados
Continuaram com determinação
Praticando o tráfico de escravizados
Com muita sede e opressão.
57
CADERNO PEDAGÓGICO
58
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
→ Realizar a leitura individual de textos poéticos diversos sobre a
temática e organizar uma leitura coletiva desses textos, à exemplo dos
"Saraus Afro";
→ Transcriar outros textos de forma poética, livremente;
→ Procurar as palavras desconhecidas nos textos e criar um glossário;
→ Análise de textos em prosa sobre o incidente do Cormorant;
→ Produção de fotos, textos e vídeos sobre a presença negra na Baía de
Paranaguá;
→ Produção de roteiro turístico sobre o local onde ocorreu o incidente
do Cormorant e outros lugares de memória negra, a exemplo do site
"LINHA PRETA CURITIBA";
→ Roteirização e dramatização do incidente com o Cormorant;
→ Criação e apresentação de paineis com imagens e textos;
→ Produção de histórias em quadrinhos;
→ Fazer um levantamento básico de memórias orais junto aos mais
antigos sobre este e outros incidentes de memória negra local e do
referencial teórico pertinente, caso seja possível.
59
CADERNO PEDAGÓGICO
Mar Negro
Grande mar... Paranaguá.
Ilha da Cotinga, das Peças, dos Valadares,
Guaraqueçaba, Quintilha, Ilha do Mel...
Turismo cultural e religioso...
Branco, índio, contribuição negra apagada...
Memória ancestral invisibilizada, submergida,
Como o Astro do Cruzador Cormorant...
Pelos cândidos historiadores, pelo IPHAN,
Pela prefeitura municipal.
A marca do racismo institucional
Solidamente estruturada
Em nossas terras, em nosso mar.
Na história da Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres,
Engenharia branca européia... Militar,
Construída estrategicamente na entrada da baía
De Paranaguá.
Trincheiras de pedra e areia...
No sopé do Morro da Baleia,
Paredes de um metro e meio de espessura.
Monumento belo, imponente...
Erguido pelos braços fortes
Dos homens índios e negros.
Uma morada pra Ogum Beira Mar,
Orixá do ferro, senhor dos caminhos.
Com seu minério fizeram a proteção,
Em plena época da Escravidão...
Caminhos até hoje conhecidos como Labirinto dos Canhões.
Um forte... Pensamento caucasiano.
Concretizado por homens mandingueiros:
Bantos, Congos , Nagôs, Angolas, Fulanis, Malês,
Que concluíram seus trabalhos no dia do santo guerreiro.
Ogunheeee...
23 de abril de 1769... Salve Mukumbe, salve São Jorge!
Afrodescendentes registrando seus saberes
60
CADERNO PEDAGÓGICO
61
ORALIDADES AFROPARANAENSES
62
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
FERRARINI, Sebastião. A escravidão negra na província do Paraná. Curitiba, Editora
Lítero-Técnica,1971.
SITES
LINHA PRETA CURITIBA. Disponível em:
https://linhapretacuritiba.wixsite.com/linha-preta
63
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPÍTULO 1
REPRESENTAÇÕES SÍMBOLOS
E SABERES AFROPARANAENSES
UNIDADE 4
COMUNIDADES
REMANESCENTES
DE QUILOMBOS:
CADERNO PEDAGÓGICO
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTABILIDADE
E O FAZER PEDAGÓGICO
Clemilda Santiago Neto
ORALIDADES AFROPARANAENSES
(...)
Os conhecedores do garimpo
Fundaram cidades
Do nosso imenso Brasil negro.
Contestado. Contestando.
Contextualizando uma história
Apagada do imaginário.
Palmas... Batam palmas
Para os negros tropeiros andantes,
Que saíam do Viamão
para ir até Sorocaba.
Caminhos ancestrais,
Um verdadeiro corredor cultural.
Afrodescendentes desbravadores...
Plantaram as sementes
de cidades que vingaram.
Trilharam
os milenares carreiros indígenas,
Viram picadas virar estradas.
Uma corrente ancestral...
(...)
65
CADERNO PEDAGÓGICO
INTRODUÇÃO
Clemilda Santiago Neto
66
ORALIDADES AFROPARANAENSES
COMUNIDADE REMANESCENTE DE
QUILOMBO CAMPINA DOS MORENOS
No poema Campina dos Morenos, de Mel e Candiero (REINEHR; SILVA
2016, pg. 55), lê-se:
67
CADERNO PEDAGÓGICO
Prefessora, o vigário que rezava as missa aquí na igreja do bairro, disse pránóis
que Campina dos Moreno é muito feio, então mudô prá Curitibinha, mas
nóis qué que no ducumento que vem lá de Brasília, como a sinhora falô, seje
Campina dos Moreno sim sinhora, esse otro nome, esse não é o nosso não….
A PRODUÇÃO COLONIAL
No período colonial foi necessário a fabricação de instrumentos e
equipamentos para suprir as necessidades de trabalho. Como eram realizados
os trabalhos, as técnicas utilizadas, as origens destas técnicas e quem os fazia
não consta na história oficial, o que seria muito importante para que possamos
compreender o nosso passado e trajetória histórica.
No Brasil tudo o que se refere a trabalho foi realizado pelos africanos e seus
descendentes, desde 1531, com o início da colonização, até 1888 com a abolição
do sistema escravocrata.
Os engenhos para produção de açúcar envolveram uma diversidade de
especializações e de máquinas e produtos. Desde produtos cerâmicos, como
tijolos e recipientes de barros para esfriamento do açúcar, até grandes estruturas
de madeira como moendas e instrumentos de ferro. Foi também na indústria de
ferro, em todas as áreas da agricultura, que as técnicas africanas foram realizadas.
As imagens a seguir foram feitas, pela professora Célia Regina Tokarski, na
Comunidade de Remanescentes de Quilombos de João Surá, localizado na região
paranaense conhecida como Vale do Ribeira, mais precisamente no município
de Adrianópolis, no evento realizado pelo Grupo de Trabalho - GT Clóvis
Moura em fevereiro de 2006, reunindo mil lideranças quilombolas Paranaenses
e Paulistas.
1 Em entrevista concedida à autora durante o levantamento básico das comunidades
remanescentes quilombolas, realizado pelo estdo do Paraná, entre 2005 e 2010, no Grupo de
Trabalho - GT Clóvis Moura.
DIAMANTES NA BACIA
DO RIO TIBAGI – SÉCULO XVIII
No município de Tibagi, a Comunidade Tradicional Negra Tibagiana
conserva ainda hoje os sobrenomes como Taques, Bittencourt, Barbosa,
Ribeiro, Machado, Novaes, Mercer e Santos, entre outros. O município tem
aproximadamente 70% de sua população formada por afrodescendentes que
tiveram e têm importante participação política e cultural na formação histórica
da cidade, segundo o Sr Neri Aparecido Assunção, que nos relata2:
O Senhor José Félix veio aqui para Tibagi, o dono da Fazenda Fortaleza, no
século 18. Trouxe com ele, mais ou menos, de 100 a 150 negros e negras com
suas crianças, todos escravos [escravizados], para trabalhar na lavoura.
69
CADERNO PEDAGÓGICO
hoje Zimbábwe, antes de 1500. Nas palavras de Davidson Basil (1981), este fato
“revela a capacidade inventiva dos Africanos, pois o princípio básico destas
fornalhas não diferia da dos fornos modernos”.
O ciclo do ouro é compreendido como o período em que vigorou a extração
e exportação do ouro como principal atividade econômica na fase colonial. Com
o ouro, a prata e os diamantes, vieram as cidades e os centros urbanos.Todos
estes progressos econômicos têm como ponto de partida as aplicações técnicas
e desenvolvimentos de engenharia produzidos por africanos e descendentes de
africanos.
As Comunidades de Remanescentes de Quilombos no Vale do Ribeira,
com exceção de Porto Velho, Praia do Peixe (Adrianópolis), Varzeão (Dr Ulisses),
Areia Branca (Bocaiúva do Sul), possuem na sua trajetória histórica a fuga das
Minas auríferas de Apiaí (São Paulo).
No Brasil Colônia, a fabricação de embarcações de madeira exigia um
conjunto de aplicações técnicas em madeira e velas, o que nos remete aos grandes
rios africanos onde embarcações de modelos semelhantes se desenvolveram
durantes séculos.
70
ORALIDADES AFROPARANAENSES
TROPEIRISMO
O tio Mirinho da Comunidade Remanscente Quilombola Castorina
Maria da Conceição, do município de Palmas, nos relatou3 que os quilombolas
do município, pertencentes as CRQs de Castorina, Adelaide e Tobias Ferreira,
trabalharam como tropeiros no transporte tanto de cargas de mulas como de
cargas em carros e carroças e produziram equipamentos, peças e rodas, o que
envolvia conhecimento específico.
AGRICULTURA
Com relação a esta questão é importante considerar a forma de uso da
terra, pois, nestas comunidades pratica-se uma agricultura baseada em formas
tradicionais de manejo na qual o uso de agroquímicos e máquinas agrícolas é
reduzido ou inexistente. Ocorre um rodízio no uso das terras para os roçados
que, após 2 a 4 anos de uso são deixados em descanso para serem utilizados
apenas vários anos depois quando a mata recobre o lugar, formando as capoeiras.
ETNOCONHECIMENTO
É o que entendemos como sabedoria popular. Os chás que as avós e as
tias, nas gerações mais antigas preparavam quando estávamos doentes é um
tipo de conhecimento adquirido ao longo das gerações, o uso de plantas e ervas
curativas, a utilização de alguns tipos e espécies da fauna e flora para uso no
cotidiano como remédios, na prevenção e cura de doenças, e também como
alimentos, assim como todo o conhecimento sobre o ritmo da natureza, o tempo
de reprodução dos seres humanos (as parteiras) e dos animais.
72
ORALIDADES AFROPARANAENSES
MATERIAL DE APOIO
No portal da Secretaria de Estado da Educação você encontra álbuns de
fotos de algumas Comunidades de Remanescentes de Quilombos (CRQ) do
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Respeitar, resgatar e preservar os saberes das comunidades tradicionais
negras e quilombolas é uma tarefa para toda a sociedade e também para a
ciência, pelas próximas gerações. Eles contribuem para que possamos entender
as relações entre o ser humano e o ambiente à sua volta, a cultura envolvida
nesse processo e as tecnologias desenvolvidas, além dos recursos utilizados para
as mais diversas finalidades, desde a alimentação, passando pela vestimenta, até
o uso das ervas, raízes, legumes e verduras no tratamento de doenças.
É na escola que este processo de respeito, resgate e preservação de saberes
podem começar a ocorrer, valorizando e incentivando o aprender com as
gerações anteriores, na oralidade dos conhecimentos passados dos avós e avôs
para os netos e netas, dos pais e mães para os filhos e filhas.
Reverencio aqui as matriarcas, detentoras e guardiãs deste conhecimento
ancestral, algumas já de saudosa memória:
73
CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
BORGES, K. N.; BRITTO, M. B.; BAUTISTA, H. P. Políticas públicas e proteção
dos saberes das comunidades tradicionais. Revista de Desenvolvimento
Econômico, Salvador, ano X, n° 18, p.87-92, dez. 2008. Disponível no link: https://
revistas.unifacs.br/index.php/rde/article/view/1041/819.
SUGESTÕES DE LEITURA
AZEVEDO, Célia Maria Marino. Onda negra, medo branco: o negro no
imaginário das elites, Século XIX. São Paulo: Editora Annablume. (2a. edição).
2004. Disponível em: http://rapefilosofia.blogspot.com/2015/07/livro-em-pdf-
-onda-negra-medo-branco-o.html.
BRITTO, Maura Silveira Gonçalves de. Com luz de ferreiro: Práticas do ofício
nas Minas do ferro escravistas, século XIX. Mariana: Mestrado em Historia.
Universidade de Ouro Preto. 2011. Disponível em: http://www.repositorio.ufop.
br/handle/123456789/2424.
74
ORALIDADES AFROPARANAENSES
DIOP, Cheikh Anta. Nations nègres et culture. Paris: Presence Africaine .1955.
OLIVER, Roland / FANGAN, Brian. Africa in the Iron Age. Cambridge Press.
1975.
75
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPÍTULO 1
REPRESENTAÇÕES SÍMBOLOS
E SABERES AFROPARANAENSES
UNIDADE 5
QUILOMBOS
NO PARANÁ:
CADERNO PEDAGÓGICO
IDENTIDADE VIVA
DA PRESENÇA NEGRA
Vanessa Dybax
ORALIDADES AFROPARANAENSES
(...)
A maior Revolta negra do Brasil Império,
Cem anos de resistência cultural negra
Invisibilizada, ocultada,
Apagada da História do Paraná.
Resistência quilombola...
Abafada pela força militar...
Vencida,
Mas não desmoralizada
(...)
Resistência Afroparanaense:
1864-2014 sesquicentenário da maior revolta negra
do Brasil colonial - fazenda Capão Alto, Castro-PR.
In.: REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar J. Oralidades Afroparanaenses:
fragmentos da presença negra na história do Paraná.
Curitiba: Editora Humaita, 2016.
E-book disponível em:
http://bit.ly/2GdWi3AfroParanaense
77
CADERNO PEDAGÓGICO
QUILOMBOS NO PARANÁ:
IDENTIDADE VIVA DA PRESENÇA
NEGRA
Vanessa Dybax
78
ORALIDADES AFROPARANAENSES
QUILOMBOS
O trabalho no Brasil, no período colonial, foi marcado por diversas
manifestações de resistência à escravização. Os povos africanos “lutaram contra
a opressão senhorial e buscavam alternativas de autonomia com expectativas
políticas diversas” (GOMES, 2006, p. 123). Aconteceram revoltas rurais,
insurreições urbanas, escapadas individuais, suicídios, assassinatos de feitores e
outras formas de resistências cotidianas.
Uma dessas manifestações de grande importância na época foi a
constituição dos quilombos, uma das mais ousadas e bem articuladas ações que
buscavam quebrar as imposições da administração colonial. Apesar de muito
relevante, os quilombos ainda hoje são associados por muitas pessoas como algo
restrito ao passado e existem poucos registros que demonstram a presença e o
funcionamento dessas instituições no período colonial. “Portanto, é preciso ter
clareza de que a questão quilombola resulta de um processo histórico, e não de um
fenômeno social datado, fincado no período colonial ou no século XX” (SILVA,
2018, p. 437). Atualmente, essas comunidades estão presentes em praticamente
todo território nacional brasileiro.
Os quilombos, palavra que significa acampamento para a maioria das
línguas do povo banto da África Central, eram locais afastados dos centros
urbanos. No meio das matas, selvas e montanhas, alguns tinham uma grande
concentração de pessoas que conseguiam fugir e se reuniam em comunidades
muito diferentes das comunidades criadas pela ação dos portugueses.
Na documentação colonial do ano de 1575 constam informações sobre os
primeiros quilombos que surgiram. Os moradores dos quilombos eram chamados
de quilombolas, termo que aparece na documentação desde o século XVI. Os
quilombolas participavam de todas as atividades para a obtenção de alimentos
como a farinha de mandioca. Também trabalhavam em oficinas onde fabricavam
suas roupas, utensílios domésticos, ferramentas de trabalho e móveis. Muitos dos
habitantes dos quilombos, além de cultivar suas próprias terras, comercializavam
os excedentes em mercados locais. “A produção de seus roçados servia de
subsistência e quando haviam excedentes, comercializava-se ou trocava-se por
produtos que não conseguiam ou não podiam produzir” (SILVA, 2018, p. 435).
Alguns quilombolas trabalhavam para os latifundiários.
Devido a característica de um movimento de resistência, o quilombo
não era uma simples comunidade, era formado em locais de difícil acesso, pois
visava impedir a recaptura dos seus habitantes. Os quilombos, definidos como
agrupamentos de fugitivos, que podiam chegar a milhares, não estavam limitados
apenas a africanos, era comum servirem de moradia para indígenas e quaisquer
pessoas que fugiam da justiça da época. Sendo assim, o quilombo muitas vezes
era organizado nas proximidades das estradas para que os quilombolas pudessem
realizar trocas mercantis e integrar suas formações econômicas.
79
CADERNO PEDAGÓGICO
O QUILOMBO DE PALMARES
Entre os séculos XVI e XIX, surgiram inúmeros quilombos. Um dos mais
importantes quilombos do período colonial foi Palmares, na Serra da Barriga,
Estado de Alagoas. O Quilombo de Palmares, formado nas últimas décadas do
século XVI, abrigava uma série de quilombos menores e constituía uma grande
comunidade integrada por milhares de pessoas. O período de maior expansão
desse quilombo aconteceu durante as invasões holandesas, momento em que
várias pessoas aproveitaram do distúrbio para fugirem dos engenhos. O local
era ideal para recomeçar a vida, pois tinha uma considerável proteção natural.
A riqueza da flora e da fauna garantiam sua sobrevivência. Foram necessários
conhecimentos sobre topografia, geografia e botânica para fazer da natureza sua
aliada, já que a região, para alguns, não era nada semelhante às suas regiões de
origem africana.
Palmares foi constituído por africanos de identidades étnicas diversas e de
línguas diferentes, sendo assim, mantinham práticas religiosas e culturais distintas,
reelaborando uma cultura própria e original deste quilombo. Os “quilombolas
forjaram um mundo próprio para viverem sua liberdade. Recriaram ali culturas
e organizaram-se militarmente para combater os invasores” (GOMES, 2006, p.
126), reinventando uma África no Brasil.
80
ORALIDADES AFROPARANAENSES
COMUNIDADES REMANESCENTES
DE QUILOMBOS: CONCEITO
Nos últimos anos, os movimentos sociais e autoridades estaduais e
federais se mobilizam para o reconhecimento das comunidades remanescentes
de quilombos. O termo “remanescentes de quilombos” passou a ser utilizado
oficialmente na Constituição Brasileira (1988), ano do centenário da abolição
da escravatura, uma definição abrangente e ao mesmo tempo operacional no
sentido de cidadania e do reconhecimento dos direitos sobre a posse da terra.
82
ORALIDADES AFROPARANAENSES
19 DE NOVEMBRO DE 1965
QUILOMBOS NO PARANÁ
O Paraná, considerado historicamente um estado europeu, fica localizado
na região Sul do Brasil e teve a presença negra estereotipada e omitida em sua
história oficial por muitos anos, tornando invisível a participação do negro e do
índio na formação social, cultural, econômica e política deste Estado.
A presença dos africanos no Paraná ocorreu a partir do século XVII com
a exploração do ouro de aluvião no litoral. No século XVIII, a mineração entra
em decadência e a mão de obra africana foi remanejada para a agricultura e
a pecuária. No século XIX, a mão de obra africana também foi utilizada na
extração, beneficiamento e transporte da erva mate. Além dessas atividades, os
africanos trabalhavam na extração de madeira para exportação. Os negros no
Paraná, como em outras regiões do país, também buscavam formas resistir ao
sistema escravista por meio de fugas, revoltas e formações de quilombos.
1 Texto da página 7, disponível em: https://informativocentroculturalhumaita.files.
wordpress.com/2011/09/revista-digital_prc3aamio-orirerc3aa-cabec3a7as-iluminadas.pdf
83
CADERNO PEDAGÓGICO
TRADIÇÕES CULTURAIS:
COMUNIDADE QUILOMBOLA
JOÃO SURÁ
As comunidades quilombolas do Paraná têm perfis distintos (GT, 2010).
Segundo a professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Liliana Porto, doutora em antropologia, as comunidades têm
origens diferentes e algumas não possuem uma história direta com a escravidão.
"É claro que a presença negra no Brasil tem relação com a escravidão, mas isso
não quer dizer que o grupo individual tenha tido uma história de escravidão.
Esses processos são muito mais complexos". Muitos africanos chegavam ao
Brasil após a lei de 7 de novembro de 1831, que proibiu o tráfico de pessoas
pelos escravizadores. Denominados “livres” apenas na palavra, trabalhavam em
condições similares à escravidão, pois ficavam submetidos ao Estado por 14 anos
para então reivindicar a plena liberdade.
Nas comunidades quilombolas a tradição da oralidade é mantida, os
mais velhos transmitem seus conhecimentos aos mais novos contando sobre a
formação dos quilombos e as histórias dos antepassados.
João Surá é o nome de uma dessas comunidades remanescentes de
quilombolas. Localizada a 50 quilômetros da sede do município de Adrianópolis,
região do alto Vale do Rio Ribeira do Iguape, na divisa entre os estados do Paraná
e São Paulo. O nome da comunidade é em razão de um garimpeiro francês que na
ganância pelo ouro morre em uma cachoeira que deságua no Rio Pardo, região
do Vale da Ribeira.
A comunidade foi formada há mais de 200 anos por africanos/as de uma
mina de ouro em São Paulo, que buscavam liberdade. Estabeleceram relações com
os povos indígenas que moravam na região. Lugar de difícil acesso e mata fechada,
apresenta-se em grande parte do seu território um relevo ondulado e montanhoso,
84
ORALIDADES AFROPARANAENSES
As atividades desenvolvidas
na comunidade são de subsistência,
voltadas ao extrativismo. A
agricultura, a pesca e a criação de
animais são praticadas pelas famílias.
Segundo Souza (2012): “Toda
produção obedece a rituais seculares.
É raro existir nestas comunidades
práticas que não sejam, relativamente,
sustentáveis.”
As famílias compartilham a
casa da farinha, considerada como
um símbolo da subsistência coletiva.
Enquanto participam do processo de
torragem da farinha de mandioca,
as mulheres cantam, mantendo suas
tradições culturais da musicalidade.
As tradições culturais
também são vivenciadas por meio da união e da fé nas festas de Santo Antônio,
da Recomendação, da Quaresma, do Divino e da Dança de São Gonçalo.
A religiosidade, que mistura elementos do catolicismo com as religiões de
matriz africana, são referências culturais importantes para as comunidades
remanescentes de quilombolas. As festas são também ocasiões de agradecimento
às graças alcançadas com a boa saúde e a boa colheita.
Outras tradições importantes são mantidas nas comunidades quilombolas,
sendo o artesanato uma delas. Uma forma de arte muito antiga que o homem usa
como meio de expressão. Objetos feitos em argila e madeira são manifestações
da arte e da cultura desses povos.
85
CADERNO PEDAGÓGICO
SUGESTÕES
DE MATERIAL
AUDIOVISUAL
Quilombolas de João Surá - 200 Anos - Parte I. II e III
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=1gcX-khUkPU
https://www.youtube.com/watch?v=Yv1qqpabiuU
https://www.youtube.com/watch?v=pwU6thN9VxQ
86
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
DOCUMENTÁRIO
No documentário Terra, Fé e Cidadania na Comunidade Quilombola de
João Surá (VALE DO RIBEIRA, 2009), vemos as tradições da musicalidade e
da religiosidade mantida por esta comunidade. A partir do documentário, os
alunos poderão realizar pesquisas sobre os instrumentos musicais utilizados nas
comunidades quilombolas, as festas populares e brincadeiras infantis.
POEMA
Após a leitura de trechos de poemas, como este do poema Campina dos
Morenos do livro Oralidades Afroparanaenses: fragmentos da presença
negra na História do Paraná (REINEHR; SILVA, 2016), solicitar aos alunos que
pesquisem memórias e histórias com os mais velhos da sua localidade ou criem
poemas com ilustrações para confeccionar um caderno de poemas denominado
Presença Negra no Paraná.
87
CADERNO PEDAGÓGICO
www.folhadelondrina.com.br/geral/comunidades-quilombolas-tem-perfis-
Figura 3 - Fonte:
-distintos-962008.html.
88
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Rio de Janei-
ro: FAE, 1989.
Sites consultados
FOLHA DE LONDRINA. Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.
br/geral/comunidades-quilombolas-tem-perfis-distintos-962008.html.
89
ORALIDADES AFROPARANAENSES
CAPITULO 2
AS
NARRATIVAS
DAS MULHERES
NEGRAS
CADERNO PEDAGÓGICO
MEMÓRIAS,
LUTAS
E RESISTÊNCIA
UNIDADE 1
NARRATIVAS DE
VIDA DAS MARIAS:
VIVIDAS, SOFRIDAS
E NÃO RECONHECIDAS
NARRATIVAS DE VIDA
DAS MARIAS:
VIVIDAS, SOFRIDAS
E NÃO RECONHECIDAS
Ana Lucia Mathias Fernandes Coelho
92
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Para obter êxito na prática da Lei 10.639/2003, a escola e suas/ seus professoras/
es não podem improvisar. É preciso desconstruir essa mentalidade racista e
discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando
relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. Isto não
pode ficar reduzido a palavras e a raciocínios desvinculados da experiência de
ser inferiorizado, vivida pelos negros, tampouco das baixas classificações que
lhe são atribuídas nas escalas de desigualdades sociais, econômicas, educativas e
políticas. (CAVALLEIRO, 2000, p. 35).
Contribuir para universalizar a formação de crianças, jovens e adolescentes
para o conhecimento do patrimônio cultural afro-brasileiro, disseminando
conteúdos teóricos e práticos sobre o tema, assim como contribuir para a
efetivação da Lei 10.639/03, que estabelece a valorização dos conteúdos de
Ciências da Natureza sobre História da Cultura Afro-brasileira e Africana no
currículo escola, é o objetivo geral desta pesquisa. Assim, propomos uma prática
aos professores/as, uma relação professor-aluno/a, quanto ao trato das questões
étnico-raciais presentes no espaço da escola e da sala de aula; sobretudo aquelas
que são ligadas às questões religiosas e territórios sagrados preservação cultural
e guardiões da memória de um povo que estão construindo “olhares inclusivos”,
para uma cultura que é preservada na sua ancestralidade (ARRUDA, 2007).
Nesse contexto, devemos promover, proporcionar, ampliar, melhorar e
incentivar o trato das questões relacionadas às temáticas étnico-raciais no espaço
da escola e de sala de aula, de acordo com objetivos específicos:
• Lutar pela equidade, valorizando as diferenças;
• Valorizar o múltiplo, o plural, as muitas diferenças na sala de aula e
fora dela;
• Estabelecer o diálogo, ouvindo a todos;
• Caminhar para além do senso comum;
• Afirmar a esperança, investindo na mudança;
• Exercitar a escuta para os vários possíveis interlocutores;
• Aprofundar os próprios conhecimentos e incentivar que outros o
façam;
• Permitir o desenvolvimento das ideias trazidas pelo Caderno
Pedagógico Oralidades AfroParanaenses para além da esfera do saber acumulado;
• Reconhecer o racismo, se opondo a ele.
93
CADERNO PEDAGÓGICO
A INVISIBILIDADE DA PRESENÇA
NEGRA: UM ESTUDO SOBRE
A QUESTÃO FEMININA
Durante a leitura do livro Oralidades Afroparanaenses: fragmentos da
presença negra na História do Paraná (REINEHR; SILVA, 2016), entre um poema
e outro, o que mais me chamou atenção foi o poema Trajetórias de Muitas Vidas:
fragmentos da presença negra em Palmas. O texto narra histórias aprendidas
com uma professora guerreira da cidade de Palmas, dona Maria Arlete, negra e
quilombola do Paraná.
Raízes afrodescendentes, negras, afroparanaenses, que fizeram por
onde serem lembradas e homenageadas, no livro Oralidades Afroparanaenses:
fragmentos da presença negra na História do Paraná.
Assim, inspirada no respeito demonstrado à professora Maria Arlete, peço
licença nesse momento para homenagear mais uma grande Maria, também
através de um conto, de uma narrativa, resgatando a história de uma mulher
negra fantástica. Uma mulher única, sofredora, batalhadora e vencedora de todos
os desafios que um ser humano poderia passar e que nunca desistiu de lutar. É a
minha mãe esta grande guerreira.
94
ORALIDADES AFROPARANAENSES
contexto, como a família não facilitava para que dona Maria pudesse ter uma vida
social normal como qualquer outra cidadã, ela passou a pular pela janela do quarto
quando fosse dormir e assim encontrando-se com as colegas para se divertirem
na quermesse, que no momento era o único lazer que a cidade proporcionava aos
finais de semana.
Foi nessas saídas às escondidas que conheceu o meu pai, José Victor, um negro
bonito, alto, em torno de 1,90cm, esbelto, super bem trajado. Assim, iniciou-se
uma grande paquera e os encontros tornaram-se habituais na vida de ambos.
Após dois anos houve o interesse de se casarem e, aproveitando a oportunidade,
terem uma vida familiar normal, como todos/as cidadãos/as paranaenses. Assim,
achava que poderia ser feliz e, finalmente, abandonar aquela vida tão sofrida sem
perspectiva nenhuma. O casamento tão esperado aconteceu no ano de 1.954,
com uma festa de arromba, aliás, dançaram a noite toda e o cardápio simples,
apenas pão com linguiça, mas segundo minha mãe estava divina a comida de
seu casamento. A partir daí, como uma boa dona de casa, dona Maria saiu do
emprego para construir sua grande família e foi morar junto com a sogra, dona
Antônia Constância. Minha avó, essa negra maravilhosa com quem tive o prazer
de conviver também.
Dona Maria achava que era apenas por um tempo pois, segundo meu pai José
Victor, apenas até que conseguisse arrumar uma casa para os dois. O que eles não
sabiam é que ambos ficariam desempregados.
Assim, com a idoneidade de dona Maria ou pela sua própria criação, resolveu
procurar outro emprego, mas sem sucesso, então iniciou um trabalho na roça como
boia fria. Passaram-se dois, três anos e nada de mudarem para sua própria casa.
Logo após, os filhos começaram a chegar. Meu irmão mais velho, Luiz Roberto
Mathias, nasceu em 13 de setembro de 1956 e, mesmo assim, meu pai continuou
sem trabalhar. Minha mãe todos os dias por volta das 5 horas da manhã pegava o
caminhão para a roça e retornava após as 20 horas. Depois de muitos anos, dona
Maria percebeu que o homem com quem havia se casado, era apenas um boêmio
que vivia de sonhos e aparências, esquecendo de suas responsabilidades para com
sua família. Em seguida, nasceu o meu segundo irmão Eloir Gilberto Mathias,
que infelizmente foi assassinado no ano de 1997, sem qualquer possibilidade de
defesa. Lógico, um negro que estava perto de ser bem-sucedido na vida. Mas seus
sonhos foram interrompidos.
Aos finais de semana minha mãe, para aumentar a renda de casa, lavava roupa
para a vizinhança, as famílias do poder de Santo Antônio da Platina. Após quatro
anos, nasceu essa pessoa que está com a palavra. Eu, Ana Lúcia Mathias e, após
mais quatro anos, nasceu meu irmão caçula, Maurício Mathias. Infelizmente, na
década de 60, os métodos contraceptivos ainda não eram bem vistos na sociedade
e as esposas eram literalmente submissas aos seus maridos, mesmo que não
fossem os homens mais perfeitos da face da terra. Nesse contexto, não se pensava
em profilaxia relacionada à gravidez.
Mesmo com tantas dificuldades, dona Maria Francisco não desistiu de sua
luta. Apesar de não ter nenhum grau de escolaridade, sua escola era a colheita de
arroz, café, algodão, feijão e cana de açúcar e ela era uma mulher com uma astúcia
de dar inveja a qualquer pessoa.
Assim cresci, vendo e observando esta negra maravilhosa e com toda essa
fortaleza. Até aí, eu ainda não entendia esse tal de sofrimento. Eu não conseguia
perceber o sofrimento estampado no rosto de minha mãe. E nasci numa casa de
95
CADERNO PEDAGÓGICO
pau a pique e lá cresci até aos cinco anos de idade. Foi quando comecei a entender
o porquê de eu ficar na escola o dia todo. E o porque do meu pai ficar o dia inteiro
com seus amigos importantes e não ajudar a minha mãe. Mas mesmo assim eu
conseguia vê-lo como um rei. Eu achava o meu pai lindo por demais. Um negro
alto e de olhos caramelos, eu ficava todo cheia quando andávamos de mãos dadas
pelas ruas da pequena cidade de Santo Antônio da Platina. A minha mãe nunca
falou uma palavra que pudesse diminuir essa fascinação que eu tinha por ele.
Logo após essa fascinação toda, eu comecei a ver mais exatamente a realidade
dessa mulher que eu achava forte, corajosa e lutadora, pois antes de completar seis
anos, eu convivi com a primeira realidade. Foi um choque total, eu presenciei a
primeira surra que meu pai deu em minha mãe. E, só pra ajudar, logo em seguida
fomos despejados da casa de pau a pique por falta de pagamento do aluguel, que
minha mãe não tinha condições nenhuma de pagar no momento, e o dono da
casa, seu Pedro Brito, necessitava de pagamento em dia, pois tinha suas obrigações
para acertar.
Fomos para debaixo do assoalho de uma casa da minha tia, ou seja, aquelas
casas de madeiras, com pilares altos, pois exatamente aí que moramos por quase
quatro meses, fazia chuva ou sol, estávamos sempre juntos. Mas lembranças que
não gosto de ter, pois minha tia não permitiu que morássemos dentro da casa dela
e exatamente por esse motivo, fomos parar debaixo do assoalho. Mas incomodado,
seu Pedro Brito, pela situação que dona Maria se encontrava com seus quatro
filhos e pela idoneidade de minha mãe que a conhecia muito, resolveu ajudá-la
com toda sua bondade, conseguiu nos alugar uma casa com o valor muito inferior
do que propriamente valia e que fossem pagos os meses que ela pudesse.
E, assim, acabei estudando ao lado de casa, na Escola de Aplicação Edith de
Souza Prado de Oliveira, onde iniciei uma nova batalha na minha vida. Com
apenas sete anos, eu cuidava de casa e do meu irmão menor, pois dona Maria
levantava todos os dias às três horas da manhã para pegar o seu caminhão de
boia-fria. Assim, anos e anos se passaram. Ela percorria várias fazendas, como a
Fazenda São Geraldo, a Fazenda Jacutinga, a Fazenda Renó, entre outras, e todas
no município de Santo Antônio da Platina/PR. Minhas principais lembranças em
relação à escola são as sopas que sobravam todos os dias e eram levadas para minha
casa, para que pudéssemos nos alimentar. Muitas vezes era tudo o que realmente
tínhamos a semana toda. A sempre com a esperança de chegar o sábado, quando a
mãe recebia da roça e podíamos comprar toucinho para fazer torresmo. Era muita
alegria.
Assim a vida continuava. Dona Maria sempre na roça e, aos finais de semana,
lavava roupas para os professores/as da minha escola. Lembro muito bem de
ajudá-la a tirar água do poço, vários e vários baldes. E também não me esqueço do
batedouro onde batia as roupas, colocava para quarar no sol e enxaguava com anil.
Elas ficavam super limpas e totalmente brancas.
O tempo passou e dona Maria continuava com a mesma vida. Meu pai como
sempre e cada vez mais na sua boemia e nada de trabalho, mas as agressividades
continuavam e sempre quando chegava à casa bêbado e não tivesse carne ou algo
que gostaria de comer. Ela apanhava e assim por várias madrugadas, quando
chegava ou pouco antes da mãe sair para pegar o caminhão de boia-fria, também
apanhava, meus irmão e eu ficávamos quietinhos, fingindo que dormíamos para
não apanhar também, mas mesmo nessa circunstância, dona Maria não abria a
boca para falar algo que pudesse afetar a imagem daquele negro, esbelto e bonito,
96
ORALIDADES AFROPARANAENSES
que eu chamava de pai. Ao passar dos anos, crescemos vendo e sentindo toda a dor
dessa grande mulher.
O meu irmão mais velho deixou de ser engraxate na Rodoviária e nos deixou,
indo trabalhar na cidade de Santos-SP. Meu irmão do meio começou a trabalhar
de Office boy para ajudar em casa.
Nesta grande trajetória, dona Maria resolveu tomar uma atitude em relação a
sua vida, ou seja, estava cansada de ser espancada. Numa tarde que meu pai chegou
bêbado de uma noitada e resolveu agredi-la novamente, foi a primeira e última vez
que vi minha mãe enfrentá-lo. Entre socos e ponta pés de ambas as partes, percebeu
que não conseguiria detê-lo, então pegou o facão que usava como ferramenta na
roça, no corte de cana de açúcar para se defender. Quando meu pai percebeu saiu
correndo e, nessa fúria, dona Maria arremessou o facão, atingindo o calcanhar
do meu pai. Com o ocorrido, ele acabou indo para o hospital, levando quase 10
pontos e, assim, ficamos praticamente mais de uma semana numa enfermaria do
hospital Nossa Senhora da Saúde, o mais antigo da cidade do norte pioneiro.
Devido a sua internação, aquele parecia o melhor momento que estávamos
passando em casa. Sem brigas, gritos e agressões físicas, até o nosso sono melhorou.
Mas, de repente, dona Maria foi convocada a comparecer no hospital. Deixou
de ir para roça e, atendendo o chamado dos médicos foi verificar o que estava
acontecendo.
Foi quando se deparou com a notícia de que meu pai estava com um problema
no fígado, cirrose hepática avançada devido à bebida alcoólica. O seu quadro era
gravíssimo. Mesmo assim, chegando a casa nos avisou que o pai estava doente,
mas que iria melhorar com muita fé. Na época, ela era devota de Nossa Senhora
da Aparecida e, algumas vezes, ajoelhada no chão e com muita fé, pedia a cura de
meu pai, sempre com uma vela acesa. Passaram-se dois meses de internação e meu
pai retornou para casa cheio de recomendações médicas, como repouso total.
Olha, o impossível estava acontecendo. Logo quando chegou do hospital, ele
quis conversar conosco e prometeu que nunca mais iria colocar uma gota de álcool
na boca e jamais colocaria a mão em minha mãe para surrá-la novamente, chorou
muito e pediu perdão. Essa cena eu tive o prazer de assistir quando tinha apenas
nove anos. Fiquei muito orgulhosa pela minha mãe. Por um momento, achei que
poderia me esquecer de todas as agressões verbais e físicas para com minha mãe,
mas o sonho durou muito pouco.
Um mês depois ele passou muito mal e retornou para o hospital vomitando
puro sangue. A única lembrança que ficou foi de realizar as visitas pela janela
do jardim do hospital, pois eu era uma criança e não podia entrar. Ele fazia um
grande esforço e se levantava e ficava perto da janela pra que eu pudesse vê-lo. Isso
ocorreu duas vezes e, a última, foi numa sexta-feira.
Retornei pra casa e, durante a madrugada, chegou a notícia de que infelizmente
ele havia falecido. Dona Maria não se entregou à tristeza. Ao contrário, sentimos
que ela ficou mais fortalecida e seguiu sua trajetória de Maria. Vivida, Sofrida e
não Reconhecida.
No entanto, não posso esquecer-me de pessoas que fizeram parte da vida dessa
extraordinária negra chamada Maria Francisco. Pessoas que deram continuidade
para que pudesse criar os filhos/as com a mesma dignidade. Pessoas como o
açougueiro Miro. Cada vez que eu entrava no açougue sem dinheiro, ele deixava
alguns ossos limpos com pouquíssima carne e dizia, “toma, leva pra sua mãe fazer
um caldo de tutano pra vocês ficarem fortes". Tinha também o seu Lídio da máquina
97
CADERNO PEDAGÓGICO
de arroz. Quando eu passava para comprar meio quilo de arroz quebradinho, ele
misturava com arroz inteiro. O Edgar farmacêutico vendia remédios para minha
mãe, devido aos seus problemas de saúde, para pagar quando pudesse.
Esta é uma das narrativas sobre trajetórias de vida das Marias, como palavra
falada, mas essa Maria é a minha mãe. Maria, negra, analfabeta, batalhadora,
reconhecida apenas pelas pessoas que a respeitavam. Uma Afro Paranaense que
vocês perderam de conhecer, pela sua astúcia, liberdade de expressão e honestidade.
Infelizmente ela nos deixou no ano de 2010. Foi vítima de uma depressão profunda
desde que perdeu um filho assassinado, apenas com trinta e sete anos, como já
citado. Ela lutou por dez anos com a perda deste filho, depositando todas as suas
forças. Mas não resistiu a tamanha dor e infelizmente também acabou falecendo,
dentro da minha própria casa, em território paranaense e com o mesmo discurso
de sempre. “O que tanto você estuda menina?! Já não terminou “a tal” de faculdade
que queria tanto?"
Por isso eu afirmo: a minha Maria, vivida, sofrida, será reconhecida.
Nessa obra, visibilizada. Presença negra feminina paranaense.
98
ORALIDADES AFROPARANAENSES
99
CADERNO PEDAGÓGICO
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Como proposta de atividades sugerimos algumas temáticas que
contemplam as relações étnico-raciais e o ensino de história e da cultura
afro-brasileira e africana, possíveis de serem desenvolvidas no ensino de ciências
da natureza.
VALORES CIVILIZATÓRIOS
Responderam: “eu bato, vou pra cima”, disseram alguns. A maior parte
do grupo disse já ter passado por alguma situação de discriminação. Muitas
disseram que “na escola acontece muito”, nas “brincadeiras com os amigos/as”
“nas brigas”.
Perguntamos: O que se faz após alguma situação de discriminação?
Muitos responderam “nada, fico calado” “fico triste”, “passa e esquece”.
O objetivo desta primeira atividade é sistematizar com exemplos do
cotidiano escolar, e além dele, a maneira que as pessoas negras são identificadas.
Principalmente as meninas negras, devido às características de seus cabelos.
RACISMO E PRECONCEITO
101
CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Jorge. Africanidades e Brasilidades Aplicando a Lei 10.639/03.
Saberes, Sabores e Fazeres, Livro Temático I. Ed. Dinâmica, João Pessoa- PB, 2007.
102
ORALIDADES AFROPARANAENSES
(...)
Guarapuava que esconde as histórias
Das várias etnias indígenas.
Guarapuava da Revolta dos Cayeres, no Forte Atalaia.
Doze tribos reunidas
Não assimilaram a colonização sem lutar.
Quase exterminadas,
Foram Palmares no sertão frio do Paraná.
Guarapuava
Dos canhões, flechas e correntes,
Do estupro das negras da terra...
Miscigenação forçada.
Terra vermelha... Terra preta.
Solo encharcado com o sangue dos donos da terra.
Mataram os guerreiros,
Deixaram as donzelas.
Guarapuava,
Deserto populacional grande como o mar,
O maior município do Estado.
Mais de duzentos anos de história oficial pra contar
E seis mil anos de história não escrita,
Tradição Humaita.
Guarapuava
Do Tratado de Tordesilhas,
Da passagem do Cabeza de Vaca.
Guarapuava espanhola
(...)
REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar J. Co Ivy Oguerecô Iara...
Esta terra tem dono. In: Oralidades Afroparanaenses: fragmentos
da presença negra na história do Paraná. Curitiba, Editora Humaitá, 2016.
103
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPÍTULO 2
AS NARRATIVAS DAS MULHERES NEGRAS
MEMÓRIAS, LUTAS E RESISTÊNCIA
UNIDADE 2
VOZES DE
MULHERES NEGRAS
CADERNO PEDAGÓGICO
EM MOVIMENTO
(...)
Todas as mulheres
dêem-nos licença.
Mulheres negras,
Mães de santo,
Mães criadeiras,
Mães de tantos.
Santas mulheres,
dêem-nos licença para falar
das Yalorixás... Yalodês...
Grandes Damas da nossa sociedade
(...)
MEL; CANDIERO. Mulheres de axé.
In.: Mulheres de axé. E-book. Curitiba, Editora Humaita, 2017.
Disponível em: https://issuu.com/humaita5/
docs/mulheres_de_ax__.compressed.
105
CADERNO PEDAGÓGICO
Esta unidade temática foi elaborada a partir da poesia Alma das Ruas: uma
crônica para a alma negra curitibana, que traz uma reflexão sobre a presença
de negras e negros na sociedade paranaense.
Essa obra nos faz pensar sobre os silêncios e a necessidade de olharmos
para diferentes facetas da história do Paraná, para rompermos com uma visão
unilateral que induz a construção de uma identidade paranaense, sob aspectos
exclusivamente eurocêntricos.
O texto revela episódios da vida de personalidades femininas negras que
viveram no Paraná, evidenciando a contribuição dessas pessoas para a formação
do Estado. Apresenta elementos da história e da cultura construídos a partir das
matrizes africanas, possibilitando uma visão multiperspectivada dos fatos e uma
abordagem intercultural da história do Paraná.
O foco da unidade é visibilizar mulheres afroparanaenses que atuam nos
movimentos sociais.
Na escolha das mulheres negras que destacamos, não houve critérios que
definiam quais eram as mais ou menos importantes para o Paraná, é apenas
um recorte. Não temos a pretensão de registrar as lutas individuais de todas as
mulheres negras paranaenses, marcamos a história de algumas delas. Porém,
temos a consciência de que assim como as que foram citadas, tantas outras
tiveram intensa participação política na luta pela igualdade de gênero e raça.
A partir desta produção, temos a intenção de contribuir com possibilidades
de práticas pedagógicas que evidenciam a vida de sujeitos que compõe a história
deste Estado e que são invisibilizados.
Dessa forma, nossa abordagem dá ênfase às memórias, lutas e resistências
de mulheres negras que enfrentaram o preconceito e a discriminação de gênero
e raça.
Nosso objetivo é destacar a participação de mulheres negras nos
movimentos sociais e suas contribuições nas lutas pela igualdade racial e de
gênero no Estado do Paraná.
A proposta pedagógica sugerida aqui apresenta algumas possibilidades
de práticas, elas não esgotam o tema e podem ser adaptadas de acordo com a
necessidade e o interesse de professoras(es) e aluna(os).
O disparador para o trabalho, parte da leitura da poesia Almas das Ruas,
escrita por Mel e Candiero (REINEHR; SILVA, 2016).
106
ORALIDADES AFROPARANAENSES
(…) (...)
Quanta dor nos gerou Muitas águas ainda vão jorrar neste
esta maldita escravidão chafariz
E a Santa Inquisição Maria vai ao morro
nas terras dos pinheirais com sua lata d'água
Fogueira de vaidades Cheia de histórias
Invisibilizando negras em sua alma …
o negro paranaense (...)
(...) “Santa Maria Bueno”
No silêncio da brancura Negra escravizada,
dos tempos imemoriais… alforriada, embranquecida
Negra era a cor da nega (…)
(...) O mulato Zacarias
Ancestrais são invocados de Goes e Vasconcelos
Memórias desenterradas E a sua primeira dama
O que está invisível aparece a afrodescendente
(…) Ana Carolina
Um “Brasil diferente” (...)
começa a surgir Da engenheira negra brilhante
Sentir … Enedina Alves Marques
algumas histórias cruéis Que na Serra do Mar
Acontecidas bem aqui esculpiu um poema na rocha
no centro da cidade (...)
Que nega suas incomodas Da professora Maria Nicolas,
ancestralidades mulher negra rica
Como o caso da escravizada liberta boa de briga, pintora, poeta
Brígida Escritora … A Alma das Ruas
A curandeira de 1798 (…)
(...) O que será que aconteceu
Como a escrava Ignácia com a bela mulher negra
Que tirou a vida que teve um filho do barão?
do próprio filho E com esse filho afrodescendente?
para não vê-lo escravizado Quantas negras e negros guerreiros
(…) paranaenses …
O caso de Maria Aguedá (…)
Mulher negra livre
Que em 1804 enfrentou
a “elite e a milícia curitibana”
107
CADERNO PEDAGÓGICO
(...)
Ancestrais são invocados
Memórias desenterradas
O que está invisível aparece
108
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Disponível em http://historias-parana.blogspot.com/2013/12/historias-do-parana-historias-de.html
109
CADERNO PEDAGÓGICO
→ Atlas da Violência/2017;
→ Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça/2015;
→ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)/2017;
→ Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das
mulheres negras no Brasil/2013;
110
ORALIDADES AFROPARANAENSES
FEMINISMO NEGRO
O racismo estrutural da sociedade brasileira, construído historicamente,
se manifesta das mais diversas formas: na falta de representatividade de homens
e mulheres negras nos espaços públicos, na exclusão, pobreza, exposição à
violência e falta de acesso a políticas públicas.
Este racismo é resultado da dominação colonial moderna, onde se
desenvolvem justificativas que expliquem o uso de mão de obra escravizada
de africanos e seus descendentes com base em características físicas e “morais”
que estabelecem padrões considerados normais e adequados para os europeus e
padrões inferiorizantes para os não europeus (PETRUCELLI, 2013, p. 18).
O projeto de dominação colonial foi tão eficaz, que continua presente na
sociedade brasileira. Impregnou de tal forma a cultura brasileira, que ainda hoje
se faz necessário ações que desconstruam preconceitos e estereótipos criados
para estabelecer relações de poder baseadas em uma superioridade branca,
masculina e europeia.
Nessa perspectiva, desde o período colonial, criou-se uma visão
estereotipada da mulher negra. Ora consideradas como mulheres “mais fogosas”
e vistas como meros objetos sexuais, ora como excelentes trabalhadoras braçais.
A necessidade de lutar contra o racismo e o sexismo que impõem barreiras
que dificultam o acesso ao pleno exercício da cidadania, motivou grupos de
mulheres negras a se organizarem nos movimentos sociais para exigir que seus
direitos fossem respeitados, denunciar a situação de opressão e exploração
presentes no país.
Desde então, muitas vozes dentro do movimento feminista e do movimento
negro, buscam analisar os efeitos que o preconceito racial e de gênero causam
nas trajetórias de vida das mulheres negras. Surge nos movimentos sociais, o que
se denomina feminismo negro.
As ativistas do feminismo negro denunciam as opressões de gênero, raça e
classe e buscam instrumentos que propiciem às mulheres negras a superação das
desigualdades provocadas por essas opressões.
111
CADERNO PEDAGÓGICO
112
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Heliana Hemetério
Historiadora que iniciou sua vida na militância social em 1986, quando
se engajou politicamente com o movimento negro. Inclui na sua pauta de
defesa questões raciais e de gênero.
113
CADERNO PEDAGÓGICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da identidade paranaense oculta a presença da população
negra como uma das matrizes que constituem a formação étnica do Estado. Esta
unidade temática apresenta-se como uma iniciativa para romper esta barreira.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido para atingir este objetivo.
A poesia que motivou este trabalho, indica afroparanaenses que não
podem ser esquecidos na História do Paraná.
Acreditamos que suas trajetórias tenham que ser apresentadas tanto pelos
seus feitos individuais, quanto contextualizados a partir de seu pertencimento e
de um lugar destinado a eles de subalternidade, resistência e superação.
Nesse contexto, ao propor práticas pedagógicas que tenham como
protagonistas ativistas negras paranaenses, é fundamental que hajam reflexões
sobre as construções históricas que estabeleceram o lugar social das mulheres
negras na sociedade brasileira, bem como suas lutas pela cidadania.
As militantes escolhidas para compor esta unidade temática trazem
a oportunidade de debater o tema em sala de aula em uma perspectiva
contemporânea, ao mesmo tempo que dá voz, sem intermediários, a grupos
específicos da sociedade paranaense em suas estratégias de luta pela cidadania.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, Sandra. Teorizando sobre Gênero e Relações Raciais. Estudos
Feministas. Rio de Janeiro. Tomo 5. n. especial. 1994.
114
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SITES:
ATLAS DA VIOLÊNCIA 2017
Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/2/atlas-2017
115
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPÍTULO 2
AS NARRATIVAS DAS MULHERES NEGRAS
MEMÓRIAS, LUTAS E RESISTÊNCIA
UNIDADE 3
VISIBILIDADE DA
MULHER NEGRA,
UMA VERDADE
CADERNO PEDAGÓGICO
INCONVENIENTE
(…)
Quanta dor nos gerou
esta maldita escravidão
E a Santa Inquisição
nas terras dos pinheirais
Fogueira de vaidades
Invisibilizando
o negro paranaense
(...)
117
CADERNO PEDAGÓGICO
118
ORALIDADES AFROPARANAENSES
O TRÁFICO DE MULHERES E AS
CONSEQUÊNCIAS NO PROCESSO
No processo da conquista das Américas pela Europa Ocidental, a partir de
1492, com o quase extermínio da população indígena por ocasião da conquista
e com a introdução das doenças pelos conquistadores europeus, nesse momento
o continente Africano assume no sistema econômico do Atlântico importante e
nefasto papel com aproximadamente 22 milhões de indivíduos sendo levados da
África para o resto do mundo. Entre1500 e1890, aproximadamente 15,4 milhões
de homens e mulheres foram levados através do Atlântico e 6,9 milhões pelo
Saara, pelo Mar Vermelho e pelo Oceano Índico. Esse intenso tráfico de pessoas
reduziu a capacidade de reprodução da população na África Negra, assim como
gerou sérios problemas econômicos.
Nesse momento, em uma análise da composição por idade e gênero da
população, observa-se grande número de mulheres em idade maternal, sendo
possível avaliar a ação dizimadora imposta pelo escravismo mercantil europeu.
Para se compreender o aspecto único e fundamental do escravismo mercantil
europeu basta analisar a sua base que se fundamenta nas teorias racistas. Para
120
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Skidmore (2012 apud SANTOS; SILVA, 2018), “as três principais correntes
de teorização racista foram a etnológico-biológico, a histórica e a darwinista
social, ou seja, um tríplice racismo científico, que destituíam os africanos de sua
condição humana, tornava-os animais de carga ou ferramentas para geração de
lucro, estampando-os com a marca de uma inferioridade inata em que o cativeiro
seria sua salvação”.
Quando, em algumas partes da África nos séculos XVIII e XIX, o tráfico
tornou-se prática maciça, tratava-se não de um fenômeno africano, mas da
integração das sociedades locais ao sistema econômico capitalista mundialmente
dominante (INIKORI, 1982 apud UNESCO). No contexto do tráfico através do
Saara e do Mar Vermelho, havia uma prioridade para mulheres jovens e bonitas,
devido a demanda por concubinas sendo uma proporção de duas mulheres por
homem conforme figura 01. Para Inikori, na “região da Nigéria, entre o Golfo de
Benin e o Golfo de Biafra, exportaram grande proporção de mulheres, atingindo
entre dois quintos a metade das
exportações totais”.
121
CADERNO PEDAGÓGICO
122
ORALIDADES AFROPARANAENSES
ENEDINA A. MARQUES
A REPRESENTAÇÃO DA SUPERAÇÃO
NEGRA NOS BANCOS ESCOLARES
Para Adelino (2011, apud SANTANA, 2013), “com palavras e abraços dos
colegas que durante o curso nem mesmo falavam com ela. A alta sociedade da
época era diferente, a elite não se misturava, não se relacionava com o povo, nem
de classe média nem de classe pobre”.
Durante a vigência do sistema escravista, por mais de 300 anos, manteve-se
a população negra, distante da educação escolar, sendo esta proibida, pois a
consideravam uma ameaça à ordem social e influência perigosa a esse espaço.
Observa-se que no processo pós-abolicionista vários instrumentos foram
utilizados para esse fim, dentre eles o Decreto n° 1331, de 17 de fevereiro de
1854, o qual determina que, nas escolas públicas do país não seriam admitidos
escravizados, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da
disponibilidade de professores, e seguindo o mesmo critério de exclusão o Decreto
n° 7031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecendo que os negros estudassem no
período noturno. Esses dois instrumentos indicam com certa precisão as origens
das desigualdades escolares entre brancos e negros, que desde sempre evoluíram
e se mantiveram (SEED/PR, 2018).
Henriques (2001) aponta através de pesquisa sobre desigualdade racial
no Brasil a evolução das condições de vida na década de 90. Constata-se que
“55% do diferencial salarial entre brancos e negros está associado à desigualdade
educacional e a outra parte decorre da herança da discriminação educacional
infligida às gerações dos pais dos estudantes”, conforme segue:
123
CADERNO PEDAGÓGICO
124
ORALIDADES AFROPARANAENSES
e negros. Desse modo, o racismo científico foi adotado em larga escala pelas
elites brasileiras com dois objetivos específicos: “reinterpretar ideários liberais,
tais como a igualdade entre cidadãos e a igualdade política, procurando assim
impedir suas tendências democratizantes, e em segundo momento possibilitar
a consolidação e perpetuação de estruturas sociais e políticas autoritárias, no
Brasil" (VENTURA 1991).
Fig. 05 - Negros e brancos abaixo da linha da pobreza. Fonte: IPEA, 2007. In: Silvério (2009,
p. 31)
125
CADERNO PEDAGÓGICO
[...] ela foi reprovada algumas vezes, não sei em qual ano, em qual situação,
que situação..., ela sempre falava prá gente, porque ela foi reprovada e ela
dizia: Eu não desisto, eu vou até o fim, um dia eles enjoam da minha cara
e me aprovam. E foi o que realmente aconteceu, ela não desistiu não, foi em
frente (apud SANTANA, 2013).
128
ORALIDADES AFROPARANAENSES
PRECONCEITO ACADÊMICO
E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
A capacidade técnica de Enedina pelos serviços prestados “à sociedade
paranaense foi reconhecida no campo político, porém mesmo inserida na
elite intelectual de Curitiba e desenvolvendo serviços, sofreu preconceitos e
discriminação racial por parte dos seus novos pares”. As conseqüências dos
contínuos processos de discriminação levaram Enedina a um processo de auto
rejeição desprezando sua própria imagem pois, conforme testemunhou Eleny, em
2009 (apud SANTANA, 2013):
socialmente e passa a negar cada vez mais uma identidade de mulher negra.”
Em certo sentido, “os estigmas que lhes foram atribuídos, às vezes, de
maneira tão implícita, sutil pelos meios que transitou seja na sociedade, trabalho,
ou no ambiente acadêmico, que marginalizada incorporou os ou reforçou esses
padrões de inferioridade impostos” (SANTANA, 2013).
TRAJETÓRIA DE SUCESSO PROFISSIONAL:
MULHER, NEGRA, ENGENHEIRA
Enedina Alves Marques ao “enfrentar dificuldades, preconceitos e
estereótipos na Faculdade de Engenharia do Paraná e em Curitiba, conseguiu
superar barreiras sociais, econômicas, culturais, políticas e étnicas ao demonstrar
ser uma mulher do seu tempo de olho no futuro”. A pergunta de Santana (2013)
é “porque, de modo geral, as mulheres negras durante a sua vida acadêmica
foram invisibilizadas ou possuem uma menor notoriedade quanto aos feitos
comparados aos homens e as mulheres brancas?” Conforme análise, na figura
04, do crescimento profissional de Enedina, a mesma se fez visível, através do seu
trabalho onde é notório o seu o crescimento profissional, pessoal e social.
RECONHECIMENTO ETERNO
POR PARTE DOS GOVERNOS
A capacidade técnica de Enedina pelos serviços prestados à sociedade
paranaense foi reconhecida no campo político durante a passagem, por duas
vezes, de Moisés Lupion no governo do Estado do Paraná, pois
Conforme figura 05, Enedina eternizou sua memória através dos seus
feitos.
CONCLUSÃO
A construção desta unidade do caderno pedagógico, com a temática da
Visibilidade da mulher negra, uma verdade inconveniente, parte da fala de
Werneck (2015) “Somos 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população
130
ORALIDADES AFROPARANAENSES
132
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ANÁLISE DE DADOS
Desenvolver, através de uma Dinâmica de Grupo, a análise de dados, de modo
a levar o aluno a compreender e identificar a violência sofrida pelas mulheres
negras como uma construção sócio-histórica, política e cultural onde foi negada
a interseccionalidade e visibilidade da mulher negra. As fontes de pesquisa são:
ANÁLISE DE DADOS
Desenvolver, através de fundamentação bibliográfica, dinâmica de grupo,
abordagem qualitativa e quantitativa baseada na pesquisa-ação, relacionada
a análise de dados, de modo a levar o aluno a compreender e identificar as
práticas como: preconceito, exclusão de classe social e étnica racial, gênero e
sua diversidade sexual como uma construção sócio-histórica, política e cultural
baseada na ideologia racial e que deve ser combatida.
133
CADERNO PEDAGÓGICO
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
A partir dos vídeos elencados abaixo, desenvolver uma dinâmica de grupo,
onde o aluno deverá compreender e identificar a diferença entre o preconceito
e a discriminação sofrida pelas mulheres negras. Nesse contexto, desconstruir
estereótipos e aprender a respeitar os valores culturais e as suas respectivas
manifestações.
SUGESTÕES DE LEITURA
MARCHA DAS MULHERES NEGRAS 2015 CONTRA O RACISMO E A
VIOLÊNCIA E PELO BEM VIVER. Disponível em: https://www.geledes.org.br/
manifesto-da-marcha-das-mulheres-negras-2015-contra-o-racismo-e-violen-
cia-e-pelo-bem-viver/.
134
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
COQUEIRO, Edna. Educação das Relações Étnico-raciais: desnaturalizando
o racismo na escola e para além dela. Artigo para Educação Básica e Educação
Escolar Quilombola. SEED, PR, 2008. Disponível em: http://www.educadores.
diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1501
LARKIN, Elisa (org.) A matriz africana no mundo. São Paulo, Selo Negro, 2008.
Disponível em: https://afrocentricidade.files.wordpress.com/2016/04/a-matriz-a-
fricana-no-mundo-colec3a7c3a3o-sankofa.pdf
135
CADERNO PEDAGÓGICO
SANTOS, Jorge Luís Rodrigues dos. A verdadeira face da Lei Áurea. 2010.
Disponível em: https://www.geledes.org.br/verdadeira-face-da-lei-aurea/.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. New York, Co-
lumbia University Press. 1989, p.21. Tradução: Christine Rufino Dabat
Maria Betânia Ávila. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf.
136
ORALIDADES AFROPARANAENSES
VARGAS, Marcia de; WAMBIER Sandro Marlus. A história das mulheres negras
no Brasil: no enfrentamento da discriminação e violência. In: PARANÁ. Secreta-
ria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. O professor PDE e os
desafios da escola pública paranaense, 2016. Curitiba: SEED/PR.(Cadernos PDE).
Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pde-
busca/producoes_pde/2016/2016_artigo_hist_ufpr_marciadevargas.pdf.
137
CADERNO PEDAGÓGICO
ORALIDADES AFROPARANAENSES
CAPÍTULO 3
NO PARANÁ
NEGRA
PRESENÇA
(...)
Melaninados migrados a força
Muitos condenados a forca
Mulheres e homens de pele de bronze
Herança áurea do astro Rei
E o povo africano e indígena
se tornou por força da vontade divina
Uma etnia fundante da Vila
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
(...)
UNIDADE 1
MELANINADAS E
MELANINADOS
NO PARANÁ:
CADERNO PEDAGÓGICO
PRESENÇA, BELEZA
E RESISTÊNCIA
MELANINADAS E MELANINADOS
NO PARANÁ: PRESENÇA, BELEZA
E RESISTÊNCIA
141
CADERNO PEDAGÓGICO
142
ORALIDADES AFROPARANAENSES
143
CADERNO PEDAGÓGICO
Cheik Anta Diop afirmava, com todo rigor, que “raça” é uma construção
fenotípica e sociocultural, não uma condição biomolecular. Ele dizia
com frequência que é possível um sueco e um banto sul-africano serem
geneticamente mais próximos entre si do que cada um deles a outras pessoas de
sua própria raça. Mas, na África do Sul de 1980, o sueco seria um homem livre,
enquanto o banto seria mais um integrante da maioria oprimida e violentada
pelo apartheid.
[...] uma nova compreensão das leis da hereditariedade humana, cuja aplicação
visava a “produção de nascimentos desejáveis e controlados” e preocupava-se
em promover, casamentos entre determinados grupos e desencorajar certas
uniões consideradas nocivas à sociedade. (SCHWARCZ, 1993, P.79)
144
ORALIDADES AFROPARANAENSES
145
CADERNO PEDAGÓGICO
VENUS
HOTENTOTE
descrição física e sugerem préstimos das escravizadas, sendo
que as de pele mais clara e cabelos menos cacheados seriam Em 1789 ,
as preferidas para trabalhar mais próximas dos senhores. nasce na África
Os negros livres e libertos são retratados a partir de do Sul a mulher
um padrão branco não somente no que se refere às vestes conhecida como
e acessórios, mas também às posturas que, dessa forma, Saartige que ficaria
denunciam a pertença a uma sociedade autoritária e racista.
conhecida como
Nesse momento, não temos a estética como forma de
"Vênus Hotentote".
identidade e resistência, mas no Paraná, já no início do século
XIX, nossa melaninada Maria Águeda, mulher livre e pobre, Pertencente ao
dá exemplo de coragem e resistência ao se negar a obedecer às povo hotentote, do
ordens da esposa do capitão-mor da vila e ser presa por isso. qual apresentava as
características, um
Após a assinatura da Lei Áurea, a imprensa negra e
as associações afro-brasileiras passam à reivindicar uma "avental frontal"
nova abolição, vinculando-se a educação formal, política e que denotava a
cultural, a fim de romper com os estereótipos ligados a essa hipertrofia de seus
população nos séculos anteriores, relacionadas à suposta lábios vaginais e
preguiça, deseducação, vício da cachaça e uma suposição de a esteatopigia,
inferioridade congênita. A voz do negro, portanto, volta-se que lhe conferia
ao negro em termos políticos, educativos e estéticos. um acúmulo
A estética ganha atuação política e os concursos de gordura nas
de beleza, muito frequentes nesse período, além de tentar nádegas, maiores e
promover a construção de um conceito de beleza negra, se mais salientes que
tornam uma resposta à imagem da mulata promíscua. o padrão europeu.
Há uma valorização dos cabelos cacheados, embora Saartige foi levada
a busca pelo alisamento surja como forma de status social,
para Londres em
voltando mais uma vez ao ideal de beleza eugênico.Apesar das
1810, onde foi
dificuldades encontradas, essa movimentação tem êxito ao
fazer do negro participante ativo da realidade racial brasileira. exposta em feiras,
A partir de 1943 ocorre a ampliação e o amadurecimento circos e teatros
do movimento negro e aumenta a presença das negras e negros devido aos atributos
no mercado de trabalho, que passa a ser mais competitivo. físicos considerados
Esses fatores aumentam a discriminação, levando a surgir, exóticos aos olhos
como oposição aos movimentos negros, o mito da democracia europeus. A figura
racial e do racismo às avessas, bem como a diferenciação entre da Vênus Hotentote
o negro pobre e o negro rico. Ao mesmo tempo em que cresce era ligada à
o movimento negro, a cultura nacional continua visando ao prostituição e à
encantamento da mulata, especificamente, surgindo nesse homossexualidade,
contexto o sentido filológico da palavra mulato e sendo que a representando a
designação negro só retorna em 1980. mulher sexualizada,
Deise Nunes é eleita, em 1986, a primeira miss Brasil
fonte de corrupção
e doença.
146
ORALIDADES AFROPARANAENSES
147
CADERNO PEDAGÓGICO
148
ORALIDADES AFROPARANAENSES
149
CADERNO PEDAGÓGICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença negra em Curitiba e no Paraná, apesar de ter sido
negada, escondida e embranquecida na história oficial, sempre existiu.
É necessário, portanto, (re)escrever a história de Curitiba e do Paraná,
de forma a corrigir a distorção racista e eurocêntrica e dar visibilidade
a essa importante parcela da população.
Nessa proposta de trabalho teve-se a intenção de possibilitar
o reconhecimento da presença negra em Curitiba, bem como de
demonstrar alguns exemplos de como as negras e negros resistiram
e vem resistindo na cidade. Para além do passado, a população negra
permanece presente na cidade e tem, atualmente, a estética como uma
das formas de resistência, construção de identidade, promoção de
visibilidade e luta contra o preconceito.
A intenção é que esse material, juntamente com a proposta
de atividade nele contida, seja utilizado nas escolas, visando o
reconhecimento da presença negra, no passado e no presente, e a
valorização da atual presença negra através da estética, com a intenção
de promover a identidade de nossas alunas negras e nossos alunos
negros.
Será utilizada como base para essa proposta, a metodologia
da problematização, evitando a abordagem descritiva e repetitiva
e levando as envolvidas e envolvidos a tomarem consciência de seu
meio e atuar intencionalmente para transformá-lo de maneira crítica.
A base para aplicação da Metodologia da Problematização. É o Arco
de Maguerez, que, segundo Bordenave e Pereira (1995) se faz por meio
de cinco etapas, conforme mostra a imagem:
150
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
TEORIZAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
DOS PROBLEMAS HIPÓTESES
(PONTOS CHAVE) DE SOLUÇÃO
OBSERVAÇÃO APLICAÇÃO
DA REALIDADE À REALIDADE
REALIDADE
FONTE: A autora. Adaptado de Bordanave e Pereira (1989).
PROBLEMATIZAÇÃO
Será utilizada como base para essa proposta, a metodologia da
PROBLEMATIZAÇÃO, evitando a abordagem descritiva e repetitiva e
levando as envolvidas e envolvidos a tomarem consciência de seu meio e atuar
intencionalmente para transformá-lo de maneira crítica. A base para aplicação da
Metodologia da Problematização é o Arco de Maguerez, que, segundo Bordanave
e Pereira (1995) se faz por meio de cinco etapas, conforme mostra a imagem
acima.
Na sequência será apresentado um resumo das características básicas
de cada etapa, bem como nossa sugestão para sua aplicação. Sendo que não se
pretende aqui montar um roteiro a ser reproduzido, mas uma fonte de recursos,
que pode ser adaptada a cada realidade.
151
CADERNO PEDAGÓGICO
IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS
(PONTOS-CHAVES)
Nessa etapa deve-se conduzir ao levantamento e definição dos
conhecimentos que se têm nesse momento inicial e os pontos a estudar, a
investigar, no caso, os pontos – chaves.
Como enfatiza Berbel (1999) nessa etapa o mais importante é o processo e
não o produto.
Nossas sugestões de estudo para esse momento são:
a) Leitura do poema Alma das Ruas: Uma crônica para a lama negra curitibana
– Mel e Candieiro, do qual extraímos alguns trechos, relacionados diretamente
ao nosso trabalho;
Caso não seja possível visitar a Linha Preta, utilizar os textos, fotos e vídeos
disponibilizados no site da Linha Preta Curitiba, mostrando algumas evidências
da presença negra no Paraná como, por exemplo:
152
ORALIDADES AFROPARANAENSES
TEORIZAÇÃO
(REFERENCIAL TEÓRICO):
É o momento do estudo propriamente dito; nesse momento buscam-se
embasamentos para avaliar os pontos chaves e diferentes ângulos do problema
são analisados. Como referencial, podem ser utilizados os seguintes documentos:
154
ORALIDADES AFROPARANAENSES
→ A leitura e discussão do poema Almas das Ruas: uma crônica para a alma
negra curitibana, de Mel e Candiero (REINEHR; SILVA, 2016);
→ A leitura e a interpretação de texto de outros poemas do livro Oralidades
afroparanaenses: Fragmentos da Presença Negra na História do Paraná, de Mel e
Candiero (REINEHR; SILVA, 2016);
→ A música O Nego do cabelo bom, Max de Castro que fala sobre cabelo,
alisamento e discriminação. Letra e música disponível em:
https://www.letras.mus.br/max-de-castro/140608/;
→ Para falar sobre o afrofuturismo, pode-se utilizar o filme Pantera Negra
– 134 minutos. Direção: Ryan Coogler. O filme, une a ancestralidade africana às
tecnologias futuristas de Wakanda, relacionando-se ao movimento afrofuturista;
→ O vídeo Melanina Sim: Racismo e Estética Negra. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=e87wlfRiJQw.
APLICAÇÃO À REALIDADE
Planejam-se as ações que serão colocadas em prática e essas são elaboradas.
Essa é a etapa de aplicação à realidade, de prática, de ação concreta de acordo com
as sugestões de interferências propostas.
Nesse momento, o mais importante é promover uma transformação naquela
parcela da realidade, mesmo que essa transformação seja pequena (BERBEL,
1999, p. 6).
155
CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
APP Sindicato. Sociedade 13 de maio: 120 anos de história, 120 anos de
resistência. Disponível em: http://appsindicato.org.br/?p=12113/. Acesso em: 20
out. 2018.
156
ORALIDADES AFROPARANAENSES
MAGNUS, R. de Mello Pereira. Uma praça para Maria Agueda. In.: Informativo
Centro Cultural Humaita, 2016. Disponível em:
https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/2018/04/03/uma-
praca-para-maria-agueda/. Acesso em: 28 out. 2018.
MAYA, Ale. A vida de Maria Boenno pelo pesquisador Edvan Ramos. Eu amo
Curitiba. Disponível em:
http://www.euamocuritiba.com.br/coisas-de-curitibano/fatos-e-curiosidades/a-
vida-de-maria-bueno-pelo-historiador-edvan-ramos/. Acesso em: 05 out. 2018.
PENA, Sergio D. J. Humanidade sem raças? São Paulo: Publifolha, 2008 – (Série
21).
157
CADERNO PEDAGÓGICO
SANTOS, Ana Paula Medeiros Teixeira dos; MATTOS, Ivanilde (Ivy) Guedes de
Mattos. Empoderamento Feminino e revolução. In: KOMINEK, Andrea Maila
Voss e VANALI, Ana Crhistina. Roteiros temáticos da Diáspora. Porto Alegre,
RS, Editora Fi, 2018, p. 265-287.
158
ORALIDADES AFROPARANAENSES
FONTES CONSULTADAS:
Curitiba em 1827, por Jean Batiste Debret.
Disponível em: http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/pintores-da-paisagem-
paranaense/. Acesso em: 03 nov. 2018.
Sociedade 13 de maio.
Disponível em: https://www.facebook.com/soc13demaio/. Acesso em: 31 out.
2018.
Maria Agueda.
Disponível em: https://docs.ufpr.br/~coorhis/robsonluan/maria.agueda.html.
Acesso em: 28 out. 2018.
Pantera Negra.
Disponível em: https://filmow.com/pantera-negra-t58708/ficha-tecnica/. Acesso
em: 03 nov. 2018.
Pretinhosidade.
Disponível em: https://www.facebook.com/search/top/?q=bloco%20pretinhosidade.
Acesso em: 03 nov. 2018.
159
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPITULO 3
PRESENÇA NEGRA NO PARANÁ
UNIDADE 2
NEGROS PAMPHILO:
PERSONALIDADES
NEGRAS DA
CADERNO PEDAGÓGICO
SOCIEDADE
CURITIBANA
DO SÉCULO XX
NEGROS PAMPHILO:
PERSONALIDADES NEGRAS DA
SOCIEDADE CURITIBANA DO SÉCULO XX
Ana Crhistina Vanali
162
ORALIDADES AFROPARANAENSES
163
CADERNO PEDAGÓGICO
Curitiba, mostrando que esse discurso foi construído com a ajuda da historiografia
tradicional4. A etnia negra é parte importante da população curitibana. Quase
um quinto da população de Curitiba se declara parda (16,9%) e 2,8% são pretos.
Os dados são do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Temos que refletir sobre como nos relacionamos com a cidade de Curitiba,
que imagem temos dela e de seus habitantes, o que implica na formação da nossa
própria identidade, ou pelo menos parte significativa dela. O que é ser paranaense,
ser curitibano? Um dos objetivos desse texto é fornecer aos alunos uma carga de
conhecimento para poderem refletir sobre novos discursos e sobretudo acerca das
identidades paranaense e curitibana, multiplicando suas perspectivas, evitando o
discurso único do Paraná Europeu. Nossa História mistura diversos elementos
e devemos desenvolver uma consciência mais propriamente histórica, que nos
proporcionará uma consciência crítica.
4 Consultar Ianni (1988) e Moraes; Souza (1999). Por historiografia tradicional nos referimos sobretudo a
Romário Martins (1995) e Ruy Wachowicz (1988).
5 Consultar Lei Nº 14 de 22/12/1837 do Rio Grande do Sul e Lei Nº 1331 de 17/02/1854 do Rio de Janei-
ro.
164
ORALIDADES AFROPARANAENSES
165
CADERNO PEDAGÓGICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O preconceito racial no Brasil é constitutivo de sua sociabilidade. Durante
o sistema escravista formou-se essa cultura racista. Ianni (1988) já apontou em
suas pesquisas que seus informantes lhe declaravam que em Curitiba não havia
negros e que o negro curitibano era o polaco, assimilando o preconceito que os
alemães desenvolveram na Europa contra os poloneses. Por isso, discutir sobre o
problema do negro e a questão racial é tão importante, pois deve-se questionar
os muitos mitos que são constitutivos da ideologia dominante e acabam
neutralizando o outro. Novos estudos devem ser realizados demonstrando a
situação real das relações raciais no país. E no caso do Paraná, o mito da não
participação do negro na constituição da sociedade paranaense deve ser visto
antes de tudo como político e social, pois acaba servindo aos interesses das elites
dominantes. Quanto elementos negros como Pamphilo D’Assumpção e Pamphilo
dos Santos alcançaram êxito, mas foram embranquecidos pela história oficial,
por isso se questiona se eles realmente eram negros? Conforme destaca Mel e
Candiero (REINEHR; SILVA, 2016, p. 27 e 28):
166
ORALIDADES AFROPARANAENSES
167
ABAIXO O 13 DE MAIO
P/ VALDIR IZIDORO SILVEIRA
Da minha metade negra por parte Aí é que está o furo da questão
da minha mãe, protesto, mais de uma vez, toda.
contra essa comemoração do 13 de Maio, Pra começo de conversa, liberdade
o Dia da ‘Liberação dos Escravos”, como é o tipo da coisa que não se concede.
aprendemos nos estúpidos manuais Liberdade se conquista. Se preciso, com
escolares, que sempre contam a história armas na mão.
a partir da perspectiva dos vencedores e Passivos como escravos, os negros
das classes dominantes. receberam, passivamente, esta liberdade
Nesse dia, aprendemos, a boboca que, como tudo o mais, lhes vinha de cima.
da Princesa Isabel, uma panaca bem Do mesmo lugar donde costumavam vir
parecida com Papai Pedro II (o Pedro as chicotadas do feitor.
Banana, dos “chargistas” da época), que Mas isso, ainda é pouco comparado
nunca fez coisa alguma de memorável, com a sacanagem maior.
em 13 de maio de 1888, Isabel assinou, O escravo liberto, em 13 de maio,
com pena de ouro, a quarta não recebia nenhum
lei abolicionista, dando tipo de compensação,
por extinta a escravidão nem em terra nem
no Brasil (depois da Lei em dinheiro, que lhe
da Proibição do Tráfico, permitisse começar sua
do Ventre Livre e dos vida como cidadão livre.
Sexagenários). Com a Lei Áurea, os
Grande bosta. negros foram atirados
A essas alturas, o do inferno agudo da
Império já estava caindo senzala, do chicote e da
de podre, e os militares tortura, para o inferno
o derrubariam no ano crônico da pobreza,
seguinte. A escravidão do analfabetismo e do
já era, há muito tempo, despreparo intelectual,
uma instituição arcaica, Fonte: Correio de Notícias, 13/05/1986, p. 9.
inferno onde, ainda hoje,
absurdamente onerosa vegeta parte da população
diante das relações capitalistas de dos negros e mulatos do Brasil.
produção, baseadas no salário. Milagres um Gilberto Gil, um Pelé,
Um empregado é infinitamente um Guerreiro Ramos, um Ney Lopes.
mais barato que um escravo [uma pessoa Da senzala, o negro saiu para a
escravizada]. favela. Da escravidão para o crime.
Não precisa alimentá-lo, nem Parte considerável da nossa
obrigá-lo, não precisa cuidar da saúde população carcerária é constituída por
dele e, se morrer, é só contratar outro. gente de pele escura.
Quer dizer, a Lei Áurea foi E a polícia não tem dúvidas. Todo
absolutamente inútil, um gesto o negro é um criminoso em potencial.
retardatário e meramente ornamental, Mãos para cima, negão, e vai contando
que só consagrava uma situação de fato. tudo, se não quer ir para o pau-de-arara.
A força do gesto está no significado Esse foi o grande crime social
simbólico, abolir a escravidão, conceder cometido pela Lei Áurea.
a liberdade a milhares de seres, que A condenação da raça negra,
mourejavam no cativeiro. 168
ORALIDADES AFROPARANAENSES
3
Disponível em http://iappr.org.br/site/1917-1932/.
Acesso em: 18 set. 2018.
171
CADERNO PEDAGÓGICO
João Pamphilo Velloso D’Assumpção. Rio de Janeiro, 1909. Fonte: Acervo da Casa da Memó-
ria. Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
REFERÊNCIAS
BOIA, Wilson. Pamphilo D’Assumpção (fundador). In: Bibliografia da Academia
Paranaense de Letras. Curitiba: Posigraf, 2001, p. 51.
172
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE LEITURA
CANDIERO; MEL. Alma das Ruas: uma crônica para a alma negra curitibana.
Curitiba: Editora Humaitá, 2015.
173
CADERNO PEDAGÓGICO
ANTENOR PAMPHILO
DOS SANTOS
Nascimento: Salvador/BA, 1º de junho
de 1895
Falecimento: Curitiba/PR, 09 de feve-
reiro de 1967
Pamphilo dos Santos.
Curitiba, 1962. Fonte:
Acervo da Faculdade de
Medicina da UFPR
Foto: Ana Vanali
176
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Quando Pamphilo
dos Santos faleceu em 9 de
fevereiro de 1967 aos 72
28
O ex-aluno não permitiu sua identificação. anos a Reitoria da Universidade Federal
29
Henrique Packter, ex-aluno. In: Três crônicas de natal do Paraná decretou luto simbólico de três
de 2017 (23/12/2017). Disponível em http://www.
clicatribuna.com/colunista/henrique-packter/david-lui- dias. A Prefeitura de Curitiba e a Secretaria
z-boianovsky-primeiro-pediatra-10911. Acesso em: 23 Estadual de Educação decretaram luto
abr. 2018. Grifo da autora.
30
O Dia (PR), 04/01/1947, p. 5.
oficial de dois dias32 em reconhecimento
31
Diário do Paraná, 01/10/1960, p. 4. a todo serviço prestado nas instituições
32
Diário do Paraná, 10/06/1959, p. 5. Diário do Paraná, pelas quais passou.
11/05/1963, p. 10.
32
O Diário do Paraná, 10/02/1967, p. 7.
177
CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
APUFPR. APUFPR Sind - 50 anos de História. Fascículo 1. Curitiba, 2010.
178
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ATIVIDADE 1 - Pedir para os alunos produzirem um texto de no máximo 15
linhas respondendo a seguinte questão: Se você tivesse que contar para uma
pessoa de fora da cidade como foi a fundação de Curitiba, como seria a sua
narrativa? Para os alunos que não são originários da cidade, relatar a imagem
que possuíam dela antes de aqui chegarem e como essa imagem foi construída
por eles.
179
CADERNO PEDAGÓGICO
180
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. SP: Editora Brasiliense, 1990.
________________A ilusão biográfica. In: Razões práticas: sobre a teoria da
ação. 10ª ed. Campinas: Editora Papirus, 2010 , p.74-82.
REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar J. Alma das ruas: uma crônica para a alma
negra curitibana. In.: Afrocuritibanos: crônicas, manifestos e pensamentos
azeviche. Curitiba: Editora Humaitá, 2015.
ELIAS, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. RJ: Zahar Editores, 1995.
GOMES, Oscar Martins. O professor Pamphilo D’Assumpção: perfil póstumo.
In: Revista da Faculdade de Direito. Curitiba: Universidade do Paraná/Papelaria
Requião, v. 6/7, p. 379-383, 1959,.
IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo. SP: Hucitec, 1988.
MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Travessa dos Editores, 1995.
MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente. 2ª edição. SP: Editora T.A.Queiroz,
1989.
MORAES, Pedro Rodolfo Bode; SOUZA, Marcilene Garcia de. Invisibilidade,
preconceito e violência racial em Curitiba. In: Revista de Sociologia e Política,
Nº 13, nov. 1999, p. 7-16.
SARTRE, Jean Paul. Questão de método. Lisboa: Difusão Europeia do Livro,
1966.
SARTRE, Jean-Paul. O idiota da família. Volume 1. SP: LP&M, 2013.
Significado de PÂNFILO. In: Dicionário de nomes próprios. Disponível em
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/panfilo/. Acesso em: 18 set.
2018.
REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar J. Oralidades Afroparanaenses:
fragmentos da presença negra na história do Paraná. Curitiba: Editora Humaitá,
2016.
SILVA, Paulo Vinícius Baptista; BORBA, Carolina dos Anjos; VANALI, Ana
Crhistina; VASCONCELOS, Daiane da Silva. Políticas afirmativas. In: SILVA,
Paulo V.B. da et al. (orgs). Educação das relações étnicos raciais: o estado da
arte. Curitiba: NEAB/UFPR e ABPN, 2018, p. 561-621.
VANALI, Ana Crhistina. Reflexões sobre a Universidade do Mate: análise
da distribuição de cor/raça dos docentes e discentes de pós-graduação da
UFPR. Curitiba: Relatório de pesquisa relativo ao Estágio de Pós-Doutorado
em Educação desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná, 2018.
WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. 6ª edição. Curitiba: Editora Gráfica
Vicentina Ltda, 1988.
181
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPITULO 3
PRESENÇA NEGRA NO PARANÁ
UNIDADE 3
NEGROS E NEGRAS
NO PARANÁ:
CADERNO PEDAGÓGICO
MEMÓRIA E
RESISTÊNCIA
183
CADERNO PEDAGÓGICO
pensar as relações entre sujeito, corpo e memória para compreender a população negra
no Brasil requer uma disposição para analisar como as identidades dos sujeitos, suas
formas de representação e suas estratégias de sobrevivência se articulam em condições
adversas que, via de regra, afetam de modo devastador esse segmento específico em
nossa sociedade.
184
ORALIDADES AFROPARANAENSES
185
CADERNO PEDAGÓGICO
de sua cor, pela diminuição de sua capacidade em função dela ou ainda pela
completa supressão de sua existência.
Não raro isso também acontece na escola, local fundamental para a
motivação e o exercício do conhecimento e do protagonismo que acaba palco do
preconceito e da discriminação entre alunos, funcionários e professores.
Cabe à instituição de ensino atuar como um local de diálogo entre as
representações internas e externas da construção da identidade de estudantes
afrodescendentes. E isso é possível com a pesquisa, divulgação, valorização e
investimento em modelos positivos de experiências educativas nesse âmbito
passíveis de serem acionados pelos alunos também em suas vidas sociais.
186
ORALIDADES AFROPARANAENSES
das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2003, p. 13).
Em vista disso, percebe-se como abordagem ideal a oferecida pela
Pedagogia Histórico Crítica, segundo a qual a educação,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que é fundamental investir na formação e atualização a
respeito da história e da presença do negro e da negra no Paraná a fim de (re)
escrever uma história que foi negada, apagada, embranquecida, diminuída ou
destruída. O compromisso com o resgate dessa identidade, bem como com o do
conhecimento e ampliação da memória particular e plural do negro no estado
para além da escravidão, é urgente.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ATIVIDADE 1
Região mais branca e estado mais negro: como assim?
Objetivo
Perceber espaços, lugares e momentos históricos em que ocorre (ou não) a
presença da população negra no Paraná.
188
ORALIDADES AFROPARANAENSES
ATIVIDADE 2
Existem provas da presença da população negra em Curitiba?
Objetivo
Conhecer o processo de inserção do negro na sociedade curitibana.
→ Áreas envolvidas: História, Arte, Língua Portuguesa
→ Tempo: 2 aulas (de 50 minutos cada)
→ Materiais: projetor multimídia (para a imagem e os vídeos)
Passo 1
Leitura da imagem de Jean Baptiste Debret – Primeira imagem conhecida da
cidade de Curitiba. Aquarela sobre papel, 1827 (Disponível em: http://www.
gilsoncamargo.com.br/blog/pintores-da-paisagem-paranaense/ Acesso em: 05
set. 2018.)
Passo 2
Leitura de texto. Disponível em: https://www.esmaelmorais.com.br/2016/04/
os-negros-de-curitiba/ Acesso em: 12 set. 2018.
Pesquise:
189
CADERNO PEDAGÓGICO
Passo 3
Apresentação de vídeos.
Vídeo 1
Descobrindo a cultura negra em Curitiba. Reportagem realizada por Juliana
Cordeiro, Dicélia Queiroz e Juliano Gondim, para a disciplina de Telejornalismo,
UFPR, objetiva mostrar que, ao contrário do que muitos acham, Curitiba também
tem muitos negros, mas que infelizmente existe o problema da invisibilidade
deste povo e da sua cultura devido à imagem da cidade estar relacionada como a
capital europeia. As imagens da matéria foram feitas durante a comemoração do
Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes. As manifestações que muito se
parecem com as que corriqueiramente se vê na Bahia, foram feitas no Largo da
Ordem, Praça Tiradentes e outros espaços da cidade. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=9lVXV5e4bvU Acesso em: 24 set. 2018.
Video 2
Roteiro turístico conta a história da população negra em Curitiba. Reportagem
sobre o novo roteiro Linha Preta no centro de Curitiba destaca a importante
contribuição dos negros na história da capital paranaense. O roteiro foi elaborado
por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Centro Cultural
Humaita, em parceria com estudantes de jornalismo da Unibrasil.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tBoyqD8cntU> Acesso em:
24 set. 2018.
190
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Passo 4
Leitura e debate. Disponível em: <https://www.bemparana.com.br/noticia/po-
pulacao-branca-encolhe-no-parana-negros-e-pardos-aumentam-diz-o-ibge->
Publicado em 24/11/2017. Atualizado em 03/03/2018. Acesso em: 24 set. 2018.
Passo 5
Levantamento de informações: pesquise sobre a presença do povo negro em sua
cidade.
VOCÊ SABIA?
Não dá para esquecer a contribuição dos negros à cultura e à formação da cidade de Curi-
tiba. Digo isto no meu livro “Luz dos Pinhais, História e Estórias de Curitiba”* (...)
Importante notar que o primeiro “retrato”, a primeira imagem que se conhece, da cidade
de Curitiba é uma aquarela de Debret, datada de 1827, onde o protagonista é um homem
negro trabalhador. Naquela aquarela preciosa, da coleção Newton Carneiro – que comprei
para o acervo da Prefeitura de Curitiba – para o acervo da Casa da Memória de Curitiba
– que também fiz construir, podemos ver, em primeiro plano, um escravo [na verdade,
um homem negro livre] pedreiro, com barrete frígio vermelho, lavrando pedras que po-
dem ser tanto da Capela de São Francisco de Paula (1809) ou da igreja do Rosário (1737).
Depende de como se lê a perspectiva. Adiante o arruamento do centro histórico, com a
ladeira de São Francisco, o Largo da Ordem, até o Largo da Matriz, que aparece vista de
fundos, trancando a rua Fechada. Vê-se ainda o sobrado da Casa da Câmara e Cadeia, e o
casario de uma Curitiba com cerca de 10.000 habitantes. Em terceiro plano, a aquarela de
Debret revela os charcos e as matas ciliares dos rios formadores do Iguaçu. No horizonte,
brilha em azul, a Serra do Mar, a cordilheira cedendo nas curvas das três gargantas: Gra-
ciosa, Itupava e Arraial.
___________________
* GRECA, Rafael. Luz dos Pinhais, história e estórias de Curitiba. Curitiba: Editora Solar do Rosário,
191
2018.
CADERNO PEDAGÓGICO
ATIVIDADE 3
De onde vieram os negros curitibanos?
Quem eram? O que faziam? Ainda vivem por aqui?
Objetivo
Conhecer o processo de inserção do negro na sociedade curitibana.
VOCÊ SABIA?
192
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Passo 1
Leitura expositiva dialogada do poema Resistência Cultural Afrocuritibana,
de Mel e Candiero. In.: REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar. J. Candiero.
Oralidades Afroparanaenses: fragmentos da presença negra na história do
Paraná. Curitiba: Editora Humaita, 2016. (Disponível na p. 200)
* Dimensão histórica:
trabalho – personalidades – opressão histórica legalizada
* Dimensão científica:
genética (cor da pele, tipo de cabelo)
* Dimensão social:
preconceito – invisibilização – identidade individual e coletiva – resistência
* Dimensão cultural:
religiosidade – música – dança – capoeira
* Outras dimensões.
Passo 2
Para Refletir
→ Agora acesse, no mesmo portal, a página Curta Curitiba sobre os Dez locais
para celebrar a história dos povos formadores da cidade. Disponível em: http://
www.curitiba.pr.gov.br/noticias/dez-locais-para-celebrar-a-historia-dos-povos-
-formadores-da-cidade/43130.
193
CADERNO PEDAGÓGICO
ATIVIDADE 4
O problema é real.
Objetivo
Dissertar e argumentar a respeito do tema de formas variadas.
→ Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia, História, Arte
→ Tempo: 2 aulas (de 50 minutos cada – 1 para elaboração, outra para
apresentação)
→ Materiais: Sala de informática
Passo 1
Planejamento e produção de texto dissertativo-argumentativo em diferentes
formatos. Elaborar um texto síntese sobre o tema estudado.
194
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Passo 2
Exposição oral com auxílio de recurso audiovisual e/ou divulgação em página
criada pelo grupo no Facebook, por exemplo.
ATIVIDADE 5
O problema é real. O que fazer?
Objetivo(s)
Exercitar a empatia e a solidariedade; conhecer leis contra o preconceito, racismo
e discriminação;
→ Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia
→ Tempo: 1 aula (50 minutos)
→ Materiais: Sala de informática e/ou cópias das letras e poemas.
Passo 1
Exposição oral com auxílio de recurso audiovisual
195
CADERNO PEDAGÓGICO
REFERÊNCIAS
ARAUJO, D. A. C. Pedagogia histórico-crítica: proposição teórico metodológica
para a formação continuada. Anais do Sciencult, 1, 2009. Disponível em: http://
periodicos.uems.br/novo/index.php/anaispba/article/viewFile/180/114.
PEREIRA, Magnus R. de Mello Uma praça para Maria Agueda. Disponível em:
<https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/2018/04/03/uma-
-praca-para-maria-agueda/>Acesso em: 4 out. 2018.
196
ORALIDADES AFROPARANAENSES
SITE:
MÚSICAS que refletem o que é ser negro no Brasil.
Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/2017/06/20/29-musicas-que-
-refletem-o-que-e-ser-negro-no-brasil_a_22093843/> Acesso em: 15 set. 2018.
197
RESISTÊNCIA CULTURAL AFROCURITIBANA
Mel e Candiero (In.: REINEHR; SILVA, 2016)
PEQUENO GLOSSÁRIO
199
ORALIDADES AFROPARANAENSES
CAPITULO 3
PRESENÇA NEGRA NO PARANÁ
UNIDADE 4
RECONHECENDO
A PRESENÇA
CADERNO PEDAGÓGICO
NEGRA
NA SERRA DO MAR
RECONHECENDO A PRESENÇA
NEGRA NA SERRA DO MAR
Paulo Henrique Mueller
202
ORALIDADES AFROPARANAENSES
203
CADERNO PEDAGÓGICO
204
ORALIDADES AFROPARANAENSES
205
CADERNO PEDAGÓGICO
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Por onde passa a estrada de ferro?
Vamos conhecer um pouco sobre o trajeto da Estrada de Ferro Curitiba-Para-
naguá. Para isso, sugerir aos alunos identificarem com lápis de cor ou caneta
marca texto a representação da linha férrea e completarem o mapa abaixo
com o nome dos municípios que fazem parte do trajeto da estrada de ferro,
citados no poema Os Igarapés de Kissimbi: Uma viagem pitoresca às entra-
nhas da Serra do Mar de Mel e Candiero (REINEHR; SILVA, 2016).
207
CADERNO PEDAGÓGICO
208
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Um pé de quê?
O conhecimento oral dos ancestrais é fundamental para reconhecer
e valorizar a história de um povo e, mais proximamente, de sua família e
comunidade. Desta forma, conversar com familiares mais velhos sobre os possíveis
conhecimentos envolvendo o plantio, a manutenção, a coleta e a preparação de
plantas pode aproximar o estudante do seu familiar, além de propiciar a ele a
percepção e valorização dos conhecimentos das gerações anteriores. Ao mesmo
tempo, um levantamento deste tipo permite a compreensão de que conhecimento
e técnicas estão intrinsicamente ligadas, assim como a Ciência e a Tecnologia
(VERRANGIA, 2013).
Para o desenvolvimento desta atividade, solicite aos alunos que entrevistem
familiares e moradores da região, preferencialmente de gerações anteriores aos
pais, sobre seus conhecimentos sobre plantas, em especial as medicinais. Produza
com os estudantes um questionário básico para padronizar as entrevistas. Entre
os pontos que podem ser citados, destaca-se:
a. Plantas medicinais (ou não) conhecidas;
b. Métodos e época de plantio;
c. Manutenção da horta;
d. Época e técnicas de coleta (incluindo questões culturais que
podem influenciar, mesmo sem embasamento cientifico, mas que
devem ser valorizados, como melhor horário para a coleta, período
da lua mais adequado, procedimentos religiosos que possam existir
nesta coleta);
e. Modos de conservação;
f. Preparo e utilização das plantas.
Após o compartilhamento em sala das entrevistas realizadas pelos alunos,
onde cada um descreve para os demais como foram as entrevistas, que tal reunir
o material e produzir um livro de “receitas de receitas” sobre plantas medicinais?
209
CADERNO PEDAGÓGICO
210
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
ANTONELLI, Diego; SANTOS, Leandro Luis dos. Ferrovia 130 anos. Curitiba,
PR: Gazeta do Povo, 2015. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/
vida-e-cidadania/especiais/ferrovia-130-anos/a-primeira-ferrovia.jpp. Acesso
em: 01 set. 2018.
211
CADERNO PEDAGÓGICO
212
ORALIDADES AFROPARANAENSES
(...)
Quanto mais andamos
Mais a mata se fecha
Torna-se densa
O ar puro deixa a floresta com ar de mistério
Prenhe de vida
A inspiração surge do nada
Com um palácio de águas doces e cristalinas
O calor queima
Minha pele preta se arrepia
Os raios do sol passando pelo meio das pequenas
folhinhas de Aroeira
Dá um tom amarelado em suas corredeiras
Uma pequena serpente dourada
vem nos recepcionar
Simpática, elegante
Nos mostra quem é a dona lugar
Tenho uma boa impressão ao chegar
Borboletas brancas vêm nos abençoar
Uma cachoeira...
Próxima da Estrada dos Jesuítas
Uma nascente de água
Uma santa cascata
Pequena... Mas de grande importância
Imponente
Morada de mamãe Oxum
Um recanto natural
Sangrando
Um coração verde pulsando
Oasis sagrado
Para o povo afrodescendente do Paraná
(...)
Os igarapés de Kissimbi: Uma viagem pitoresca às entranhas
da Serra do Mar. In.: REINEHR, Melissa; SILVA, Adegmar J.
Oralidades Afroparanaenses: fragmentos da presença negra
na História do Paraná. Editora Humaita, 2016.
213
ORALIDADES AFROPARANAENSES CAPITULO 3
PRESENÇA NEGRA NO PARANÁ
UNIDADE 5
POEMA
OU POESIA
CADERNO PEDAGÓGICO
AZEVICHE?
216
ORALIDADES AFROPARANAENSES
consegue ficar calada ou imóvel por muito tempo, usaremos a roda da capoeira e
a conversa informal para sensibilizar e preparar os alunos para o trabalho:
Comece com a audição do CD ou vídeo da música da capoeira:
AEIOUUOIEAAEIOU
Eu aprendi a ler
Aprendi a cantar
E foi na capoeira
Que eu aprendi a jogar
Eu estudo na escola
E treino na academia
Eu respeito a minha mãe
O meu pai e minha tia
Fonte: http://capoeiralyrics.info/songs/a-e-i-o-u.html
217
CADERNO PEDAGÓGICO
JONGO
Le le le le le le le le le
Fonte: https://www.letras.mus.
br/a-quatro-vozes/1657190/.
Dica: não se fala em jongo sem mencionar o Mestre Darcy! Veja o vídeo
Saravá Jongueiro, Darcy do Jongo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=AgrbjtOjvcE
Uma vez detectadas as aspirações, valores e familiaridades dos alunos com o tema
proposto, a etapa seguinte consiste no atendimento do horizonte de expectativas, ou
seja, proporcionar à classe experiências com os textos visuais / literários que satisfaçam
as suas necessidades em dois sentidos.
219
CADERNO PEDAGÓGICO
O jongo Oéjongo
um ritmo que teve
é um ritmo suassuas
que teve origens nanaregião
origens regiãoafricana
africana dodo Congo-Angola.
Congo-Angola.
Chegou ao Brasil-Colônia com os povos de origem Bantu trazidos
Chegou ao Brasil-Colônia com os negros de origem Bantu trazidos para o trabalho para o forçado
trabalho
forçado nas fazendas
nas fazendas de Vale
de café do cafédo
doRioVale do RionoParaíba,
Paraíba, interior no
dosinterior
estados dos estados
do Rio do Rio
de Janeiro,
deMinas
Janeiro, Minas
Gerais e SãoGerais
Paulo.eA São Paulo.por
demanda A mão
demanda
de obrapor mão-de-obra
para o trabalho na intensificou
mineração o
tráfico humano depara
e nas fazendas café ointensificou
trabalho onatráfico
mineração
humano.e Comnas afazendas
decadência deeconômica
café. Com de a
decadência econômica
outras regiões do país,de umaoutras
massaregiões
imensadodepaís, uma emassa
homens imensa
mulheres de escravizados
escravizadosos foi
foideslocada
deslocada para o Sudeste onde, em alguns momentos, mais da metade da populaçãoda
para o Sudeste onde, em alguns momentos, mais da metade
população
era formada erapor
formada pora africanos,
africanos, maioria de aascendência
maioria deBantu.
ascendência Bantu. A influência
da naçãoA Bantu foi fundamental na formação da cultura
influência da nação Bantu foi fundamental na formação brasileira. Parabrasileira.
da cultura acalmar a
revolta e o sofrimento
Para acalmar a revolta edos negros com
o sofrimento dosanegros
escravização e distrair eodistrair
com a escravidão tédio dos brancos,
o tédio dos
osbrancos,
donos das isoladas fazendas de café permitiam que seus africanos
os donos das isoladas fazendas de café permitiam que os africanos dançassem
dançassem o
jongo nos dias dos santos católicos. Para esses africanos e seus filhos, o jongo era um
o jongo nos dias dos santos católicos. Para esses homens e mulheres, o jongo era um
dos únicos momentos permitidos de trocas e confraternização.
dos únicos momentos permitidos de trocas e confraternização.
220
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Sou Negro
à Dione Silva
Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu
o batismo dos tambores atabaques,
gonguês e agogôs
[...]
Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...
221
CADERNO PEDAGÓGICO
A escolha destes dois poemas nesta etapa se deu pelo fato de serem mais ou
menos curtos e ambos tratarem do orgulho de ser negro.
Leitura em voz alta do poema de Solano Trindade (1961):
Apresente o autor e sua biografia, acompanhada de uma imagem (para dar
visibilidade).
Comente o quanto Solano Trindade foi importante para a luta de resistência
do povo negro no Brasil.
Entregue uma cópia da poesia para cada aluno;
Oriente aos alunos que façam uma leitura silenciosa do texto;
O professor pode fazer uma leitura dramática do texto (ritmo e entonação);
Explore o texto com os alunos.
O eu-lírico se assume negro, declara sua descendência, da valentia, fala da
escravização do seu povo, da cultura (maracatu, samba), da
resistência (Luta dos Malês, BA.).
Professor: Solano Trindade além de poeta foi um ativista
das causas do negro em meados do século XX, tal qual seus
antecessores do século XVIII como Domingos Caldas Barbosa
com a Viola de Lereno (1798), segundo Assis Duarte, 2014.
E, Luiz Gama, no século XIX com a publicação de
Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, fala sobre sua
negritude. A coletânia, cuja primeira edição foi lançada
em dezembro de 1859, apresenta o eu-poético do autor,
se assumindo negro. Merece atenção em especial, a poesia
Domingos Caldas Barbosa (Lere-
no Selinuntino). Fonte: https:// satírica Bodarrada Quem sou eu?
pt.wikipedia.org/wiki/Domin-
gos_Caldas_Barbosa.
Eu bem sei que sou qual Grilo [...]
Se negro sou, se sou bode,
pouco importa.
O que isto pode? [...]
Estética negra
Espelho, espelho meu
Existe alguém mais negro do que eu?
Não, não, não...
Não é prepotência
É auto afirmação
Não importa o teor de melanina
Candiero. Fonte: http://www.curiti- Nossa história ensina
ba.pr.gov.br/noticias/escritor-curiti- Tenho que manter minha autoestima em dia
bano-e-publicado-em-coletanea-na- Minha consciência negra
cional/44638.
Para não adoecer...
Preciso me agarrar ao legado dos meus ancestrais
Não me esquecer do que fizeram no passado
Para não voltar a acontecer
Deixar meu cabelo crescer naturalmente
Estudar... Pesquisar
Desenvolver minha consciência/mente
Nos meus dreds... Não entra pente
Desde os tempos da escravidão
Arrumamos nossos cabelos com as mãos
Trança raiz ... turbante
Estética negra/africana
Respeite minha cabeça... Minha beleza negra
Minha coroa
No meu Ori... Só quem é puro de coração põe a mão
Não fui eu que inventei
É a essência da nossa tradição...
224
ORALIDADES AFROPARANAENSES
225
CADERNO PEDAGÓGICO
MAGIA NEGRA
Sérgio Vaz
226
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Professor(a):
Prepare uma caixa com os poemas que você pretende
trabalhar, dê preferência, nesta etapa, a poemas
nos quais o eu-lírico assume a sua cor, a sua etnia, a
capoeira, a luta, etc. Exemplos de poesias: Estética
Negra, Rua do Rosário, Batuqueiros, Roda de Rua,
Angoleiros, Capoeira Angola (Candiero); Sou Negro
(Solano Trindade); A Palavra Negro, Extrato, Educação
(Cuti).
227
CADERNO PEDAGÓGICO
Curitiba Afro
Mel e Candiero
Aula de 50 minutos
Distribuir cópias do poema ou passar na lousa para que anotem no
caderno. Leitura em voz alta da poesia completa Curitiba Afro.
Levantar questionamentos para reafirmar a bagagem de compreensão
de texto do aluno. Ex: Qual o tema do poema? O poema no remete a lugares
físicos que conhecemos ou já ouvimos falar? Quais? O poema traz nomes de
personalidades negras conhecidas ou não? Se sim, quais? Todas as observações
dos alunos devem ser levadas em conta e valorizadas.
Aula de 50 minutos
Após essa compreensão de texto iniciar questionamentos sobre a estrutura
física do gênero textual. Ex: Como podemos classificar esse tipo de texto? Por quê?
Chamar à atenção para os números de versos e como podem ser classificados.
Temos estrofes ou não? Podemos classificar essas estrofes como?
Como todos os poemas de Mel e Candiero apresentam um caráter narrativo
histórico, este é muito rico, pois, traz uma síntese de fatos importantes para a
população negra paranaense. O eu-enunciador (vou chamar de eu-enunciador
porque o poema apresenta características da narrativa, falade um presente e
de um passado, suas dores, seus lamentos). Pode-se fazer ligação com várias
disciplinas da grade curricular. (Português, História, Geografia, Sociologia, Arte,
etc.).
228
ORALIDADES AFROPARANAENSES
CURITIBA AFRO
Um grito engasgado ecoou
E a Curitiba Afro se libertou
Mesmo com o apagamento
A história do negro
Hoje se revelou
Curitiba é negra
Hoje na avenida vou louvar meus ancestrais
Busco invocar nossa história
Reavivar nossa memória
Na vida e no carnaval
De Zacarias a Rebouças
Se iniciam caminhos e novos trilhos
Que construíram nossa capital
Vou falar de Enedina
Mulher negra na engenharia
Com seu toque magistral
Também não me esqueço dos tropeiros
Os trabalhadores eram negros
E viviam na capital
Paraná
Estado mais negro do sul
Seu símbolo é uma gralha azul
Com uma cabeça singular
Passado presente na memória
Suas marcas são histórias
Deste povo milenar
Mel e Candiero
(REINEHR; SILVA, 2016)
230
ORALIDADES AFROPARANAENSES
Caro professor, essa leitura nos permite estabelecer pontes com as diversas
disciplinas da grande curricular.
A quinta etapa é “a ampliação do horizonte de expectativas”, segundo
Bordini e Aguiar (1993).
Os alunos, nessa fase, tomam consciência das alterações e aquisições
obtidas através da experiência com a literatura. Cotejando seu horizonte inicial de
expectativas com os interesses atuais, verificam que suas exigências tornaram-se
maiores, bem como que sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi
aumentada (BORDINI e AGUIAR, 1993, p.90-91).
Para Oliveira Santos (2015), nesta etapa
231
CADERNO PEDAGÓGICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Paraná ao adquirir o status de unidade política e cultural em agosto de
1853, sentiu a necessidade de uma identificação que o projetasse como Estado
em progresso econômico e cultural. A sua elite política delineia um arcabouço
de estereótipos físicos e culturais que o permitisse aproximar-se do modelo
europeu. Narrativa traçada, com objetivo de convencer a todos brasileiros,
inclusive a população paranaense, à época mestiça. Uma narrativa, iniciada por
Wilson Martins, da não existência de negros do Paraná, foi contada e recontada
mais, mais e mais, até que a população foi convencida da sua branquitude em
detrimento de toda uma história (fundante) azeviche paranaense.
A narrativa azeviche foi calada por muito e muito tempo, seus indícios
foram camuflados, diluídos e branqueados. A glória dos especialistas, mestres do
corte da pedra, da extração do ouro, do cultivo da erva-mate, dos tropeiros, etc.,
foi redirecionada para protagonistas brancos ou não tão mestiços. Mas, não foi
esquecida pelos mais velhos e, segundo Adegmar J. Silva - Candiero, continuou
sendo contada em rodas de conversas, de capoeira, de batuques, reisados,
maracatus e congadas nas pequenas vilas e grandes cidades paranaenses. Essa
voz azeviche firme, foi mais fortalecida, após muitas lutas do povo negro, com a
Lei 10.639, de 2003. A obrigatoriedade do ensino nas instituições educacionais
da Cultura e História Africana e Afro Brasileira fortalece os movimentos negros
a contarem e recontarem a história do seu povo.
Intelectuais se juntam aos escritores, poetas e griots (os mais velhos) para
jogarem luz na história fundante do estado do Paraná. Poetas estes, através
de uma poesia de cunho histórico, de estudos e pesquisas juntando materiais
cavoucados nos museus, delegacias e coleções particulares, analisadas a partir de
uma ótica científica e registradas. A poesia de Mel e Candiero traz a contribuição
dos povos negros fundantes deste Estado. Cabe, agora, a nós, companheiros de
luta, disseminar a sua história, a nossa história. Contar a versão do leão, pois,
enquanto ouvirmos somente a versão dos caçadores, a lacuna da história negra
ficará em aberto.
232
ORALIDADES AFROPARANAENSES
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Roberto. A África está em nós: história e cultura afro-brasileira.
v.1. Editora Grafset, 2004.
CUTI. Negroesia: antologia poética. 2ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010.
233
CADERNO PEDAGÓGICO
SITES CONSULTADOS
VAZ, Sérgio. Magia Negra. http://colecionadordepedras1.blogspot.com/2012/07/
magia-negra-magia-negra-era-o-pele.html . Consultado em: 8 nov. 2018.
234
ORALIDADES AFROPARANAENSES
É necessário uma
aldeia inteira
para se educar
uma criança.
Ditado popular africano
235
AUTORES/AS
ANA CRHISTINA VANALI
VANESSA DYBAX
EDIMARA SOARES
EDNA COQUEIRO
MELISSA REINEHR
Oralidades
Afroparanaenses