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VITÓRIA
2020
ALINNY RODRIGUES EMERICH PORTELA
VITÓRIA
2020
(Biblioteca do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância - Cefor)
CDD: 507
Bibliotecário/a: Viviane Bessa Lopes Alvarenga CRB/06-ES nº 745
Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha,
coitada, por ser preta. — Que não seja boba e venha
— disse Narizinho — eu dou uma explicação ao
respeitável público... — Respeitável público, tenho a
honra de apresentar [...] a Princesa Anastácia. Não
reparem ser preta. É preta só por fora, e não de
nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou,
condenando-a a ficar assim até que encontre um
certo anel na barriga de um certo peixe. Então, o
encanto quebrar-se-á e ela virará uma linda princesa
loura.
Ao meu Deus, pelo cuidado, proteção e força, por sempre abrir as portas certas. Por
ser para mim o meu Deus, meu Pai, meu Amigo e Consolador. Te amo, Aba!
Ao meu esposo, meu maior incentivador nesta vida! Aquele que está sempre com
um sorriso estampado no rosto dizendo “Você vai longe!”. A minha Mel, minha doce
Mel! Filha, obrigada por orar junto comigo para que eu conseguisse alcançar meus
objetivos, por me acompanhar com seus rabiscos durante minhas leituras.
A minha mãe, por tanto amor, cuidado e abdicação. Por sempre vibrar com minhas
conquistas; ao meu pai, pelo exemplo de garra, honestidade e dedicação. Mesmo
ele não estando mais aqui, sei que se alegra por mais esse ciclo concluído em
minha vida. Esta vitória também é sua, meu pai!
A minha irmã, minha segunda mãe. Obrigada pelo tempo, dedicação e amor
destinado a nossa família. Agradeço, também, ao meu cunhado, pela presença em
nossas vidas, pelo exemplo de inteligência e inspiração em tantas áreas para mim.
Enfim, a toda minha família e amigos que sonharam comigo e me dão força ao longo
da minha caminhada.
Ao meu orientador, por todo conhecimento compartilhado, por ser tão generoso
comigo sempre. Creio que em tudo existe um propósito e sei que não poderia ter
orientador mais humano do que ele. Agradeço os ensinamentos, a paciência e a
dedicação a mim, nas diferentes fases que vivi durante o mestrado. Você fez a
diferença em minha vida.
A todos os professores que passaram pela minha vida, da “Tia Maria” a todos os
professores do mestrado, por compartilharem seus ensinamentos e auxiliarem
minha formação.
Aos amigos que torceram por mim durante todo o processo vivido, obrigada por
tudo. Aos amigos conquistados no EDUCIMAT, em especial a Flávia, Joel e Michele,
os que mais de perto convivi e aprendi a admirar, obrigada, os guardarei em meu
coração para sempre. A todos meus amigos, muito obrigada!
This paper aims to discuss the influence of children's literature on the process of (re)
construction of the ethnic-racial identity of black children. The objective of this
research is to answer the following question: how can children's literature contribute
to the (re) construction of ethnic-racial identity in childhood? In the theoretical
frameworks, to understand the social history of children and childhood, Philippe Ariés
stands out, who refers to childhood as an invention of modernity and the result of a
historical process. It discusses the potential of children's literature in the identity
formation of children with input from Maria Aparecida Silva Bento and Edith Piza,
who directed the discussions towards the construction of identity and communication,
suggesting expectations for a broader and significant development of the child's
character. It also explains, based on Guacira Louro, that the school space is a
relevant and influential one in relation to the processes of identity construction. This
is a qualitative research based on Michel Thiollent and René Barbier. In the practical
part, we sought to act effectively and, thus, to stimulate possible changes regarding
the theme of racial equity in the researched space. After the data production, it
became evident how the literature influenced the change in children's posture when
they self-portrayed themselves for the second time, which showed how essential it is
that the school routine offers positive references about African culture and aesthetics.
The educational product of this research is a book composed by the experiences of
the researcher in the study process, which aims to contribute to the pedagogical
practice of educators who wish to work on this theme in their school routine.
Lelê não gosta do que vê. Joga pra lá, puxa pra cá. Jeito não dá, jeito não
tem. De onde vem tantos cachinhos? A pergunta se mantém (O cabelo de
Lelê, de Valéria Belém).
diversidade cultural étnica. Lima (2005) ressalta que é na Educação Infantil que são
formados os primeiros embriões dos valores humanos, os costumes e os princípios
éticos e democráticos da criança. Isso evidencia que é na infância que essa temática
deve ser trabalhada na sala de aula.
Não havia em mim, até aquela época, a consciência de que eu ocupava um lugar de
privilégio, socialmente falando, por ter tom de pele mais clara, cabelos loiros e olhos
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claros. A inquietação gerada motivou-me a ler alguns autores que discorriam sobre a
questão do negro e, assim, pude compreender que, se existe uma camada não
privilegiada, há também a camada privilegiada. Com certeza, foi um momento
desconfortante, mas libertador.
Somado a isso, a curta vivência com o grupo ampliou meu olhar sobre algo que, até
então, era inexistente; assim, a cada encontro, minha consciência se alargava a
respeito de como, no cotidiano, naturalizamos algumas realidades sociais e
inviabilizamos a sociedade negra. Compreendi, desse modo, que, como
pesquisadora branca, assumo um lugar de privilégio que, como negra, não teria.
Por isso comecei em minha prática como professora e, de certa forma, como
observadora, (pois docentes têm uma ótica de que é possível vivenciar de vários
ângulos o que ocorre no cotidiano escolar), ver a outra face da escola, presenciar o
racismo dentro do ambiente escolar sob várias perspectivas, porém agora com novo
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olhar, um olhar não mais indolente. A partir de então nasceu o desejo de pesquisar
essa exclusão que tanto afeta a aprendizagem, analisar quem são os sujeitos que
mais reprovam e cruzar dados entre a exclusão e a negritude, além de associar
essas práticas à evasão escolar.
1.3 JUSTIFICATIVA
Assim, é fundamental investigar essas atitudes, bem como a escola deve intervir,
por meio de trabalhos interdisciplinares, para esclarecer e combater essa prática
discriminatória e nociva. Entre as inúmeras ofensas, por exemplo, vocábulos
relacionados à cor da pele são utilizados com grande carga racista, muitas vezes de
maneira naturalizada, sem que haja uma intervenção sistemática em relação ao
problema.
significado próprio, o qual propicia avanços no que se refere aos direitos desses
grupos (FORDE, 2018, p. 283). Contudo, muito ainda falta ser feito, inclusive
relacionado às consolidações das leis cujo objetivo é promover a igualdade racial.
pesquisa evidenciou como ainda há muito para avançar nas discussões étnico-
raciais e, assim, modificar o quadro atual do país.
Toda pergunta exige resposta. Em um livro vou procurar! Pensa Lelê num
canto a cismar.
A pergunta se mantém. Fuça aqui, fuça lá.
Mexe e remexe até encontrar o tal livro, muito sabido!, Que tudo aquilo pode
explicar. Lelê gosta do que vê! (Valéria Belém in: O cabelo de Lelê).
Neste tópico buscou-se um aporte teórico que dialogasse com o tema pesquisado e
contribuísse para elucidar o caminho da pesquisa. A fim de tornar mais clara e
concisa as discussões, serão abordados tópicos de forma a articulá-los no nível de
uma interpretação teórica que complementem o tema pesquisado e, assim, seja
possível discutir todas as complexas relações desta pesquisa.
A criança era vista como um ser produtivo, substituível e com função utilitária. Aos
sete anos já trabalhavam, frequentavam lugares, como bares, com seus pais e
tinham uma vida sem qualquer censura. Sua existência no meio social dependia
totalmente da vontade do pai e, se a criança nascesse deficiente ou do sexo
feminino, poderia ter tratamento diferenciado, sendo enviada para prostíbulos, era
vendida ou morta.
Segundo Ariés, (1981), a infância não era uma herança tradicional, e sim uma
invenção da modernidade, como consequência de um processo histórico. Ainda para
o referido autor, esse sentimento de infância foi marcado por uma busca da
moralidade na educação das crianças, por um interesse psicológico. O sentimento
de infância tornou-se, então, fruto de uma construção histórica baseada nas
relações sociais e não apenas em função das particularidades da criança.
A não diferenciação da criança era notória até mesmo nos trajes, já que elas eram
vestidas como adultos, não havia uma identidade própria para os trajes infantis
como existe hoje. Os trajes mostravam como a infância era pouco particularizada na
vida real. A Idade Média vestia de forma indiferente todas as fases da idade,
diferenciando apenas o nível hierárquico social. Nada, no traje medieval, separava a
criança do adulto. A partir do século XIV, contudo, os trajes começaram a ser
diferenciados, principalmente, os dos meninos.
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Ariés (1981) ainda descreve que foram vários os fatores que cooperaram para o
processo de formação do sentimento de infância. O processo de escolarização foi
um marco que separou as crianças dos ambientes em que conviviam com adultos.
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Ariés (1981) afirma que a transformação que a criança e a família sofreram ocupa
lugar central na dinâmica social. Assim, ao longo da história, novos conceitos da
representação da infância foram descobertos e formados e esse processo, em que a
criança passou a ser vista de maneira diferente, ocorreu de forma gradativa. No
século XVIII, a infância moderna era vista com liberdade e estimulava-se a
autonomia e a independência; já no século XIX, as crianças eram tratadas como
adultos em miniatura e, no século XX, elas começaram a ser vistas como seres de
direitos e em fase de desenvolvimento; essa visão ocorreu devido à forte influência
de psicólogos e dos educadores.
Ainda para Silveira (1999), o mundo, tão imenso e disperso, estava se tornando
apenas um, sendo regido pelo homem branco que usava o saber científico da época
como mote para suas teorias. A história afirmava que os humanos haviam sido
vítimas de seus conceitos errados, até que, graças à ciência ocidental saneadora,
muda o rumo, trazendo a liberdade. O desejo dos que comandavam esse processo
era de colocar ordem no caos em que as coisas estavam impondo autoridade dos
superiores “naturais” pela força ou razão. Esse foi um dos fortes motivos que fez
com que a ideia de raça se tornasse assunto central na reflexão dos cientistas
sociais (SILVEIRA, 1999).
Munanga (2003) define o conceito de raça, tal como empregado hoje, que nada tem
de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois, como todas as ideologias,
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ele esconde um fato não proclamado: a relação de poder e de dominação. Uma das
concepções sobre raça e racismo defende que a ideia de raça teria surgido no
século XIX, intitulado como racismo científico ou racialismo.
Heilborn, Araújo e Barreto (2010) afirmam ainda que, com o passar dos anos, o
“racismo científico” do século XIX foi desmantelado como ciência, por intermédio das
argumentações da antropologia moderna. Contudo, mesmo com a vinda de novas
teorias científicas, que desmentem a existência de raças, o racismo continua se
perpetuando em nossa sociedade. O escravismo dos afrodescendentes alternou as
práticas racistas mais agressivas e exclusivistas e, mesmo assim, a convivência
íntima não foi alterada, embora hierarquizada, entre dominados e dominantes,
distinguidos pela cor e origem.
Todavia, o Brasil vinha tentando adiar o fim da escravidão, mesmo passando por um
cenário instável e de grande tensão social. Na última década do período imperial
brasileiro, a questão da escravidão era algo importante a ser solucionada. Assim,
sob forte pressão dos países europeus, principalmente a Inglaterra, o Brasil,
atrasadamente, sancionou, no dia 13 de maio de 1888, a Lei Áurea, com um texto
sucinto e direto como pode ser observado a seguir:
A lei libertava cerca de 700 mil escravizados em um país com cerca de 15 milhões
de habitantes. Importante destacar que o número na época não era tão expressivo,
tendo em vista um grande contingente de libertos já existentes no país. Mesmo que
esse processo tenha sido gradual e lento, não se pensou em um plano de
realinhamento social para a população negra, e a consequência foram milhares de
negros pobres, ignorantes, famintos e desempregados pelo país.
[...] o Brasil teve de lidar depois da abolição com o “problema” posto pelos
ex-escravos e descendentes de africanos. A solução adotada pela nação
para este “problema” fornece a chave para o entendimento das relações
raciais no Brasil Republicano. Esta solução não implicou um sistema de
segregação racial semelhante ao dos Estados Unidos, mas o
branqueamento e a integração simbólica dos brasileiros não-brancos
através da ideia da democracia racial [...] (HASENBALG, 1990, p. 2).
serviço que sempre foi feito sem honorários. Apropriamo-nos das palavras de Moura
para explanar o quão desumano era ser negro nesse sórdido processo:
O preconceito está tão enraizado nas práticas educativas pela ideologia dominante
que as desigualdades sociais são visíveis, principalmente, no que tange às
produções das/para as crianças negras. É importante abordar essas diversidades a
fim de fazer perceber a criança como um indivíduo produtivo em seu espaço de
interação. Dessa forma, busca-se, na literatura infantil, seu espaço de pertencimento
cultural.
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Ao contrário do que se pensa, nem sempre houve uma literatura direcionada para as
crianças. Na verdade, ela nem atendia a uma parcela restrita de pessoas nem fazia
parte de momentos coletivos abertos a todas as idades. Inclusive, em alguns
momentos sociais, uma pessoa narrava histórias e emocionava os ouvintes, mas
poucas vezes as crianças eram contempladas, devido à natureza bárbara e iníqua
de muitas histórias.
No passado, a infância não era reconhecida e a formação das crianças não era algo
que trazia preocupação à família, já que o mundo doméstico não era dissociado da
sociedade. As pessoas trabalhavam em um lugar que era a extensão de casa, não
havia uma distância clara entre casa e trabalho, nem entre o mundo da criança e do
adulto. A partilha ocorrida posteriormente fez com que adultos e crianças se
separassem e os contos, então, ficaram em casa com os pequenos. Com essa
partilha, houve uma espécie de refinamento nas histórias infantis, buscando alinhar
cada vez mais a infância. A partir da modernidade começou uma distinção entre
produtos para adultos e produtos para crianças e, com o passar do tempo, cada
idade passou a ter seus produtos de forma bem delimitada (CORSO; CORSO,
2006).
leitura, fica sem sentido e o “ler” não acrescenta nada em sua vida, este, então,
pode se tornar destituído de valor.
Nesse sentido, é preciso auxiliar os alunos a direcionar o olhar para além do texto;
ver que quando leem, estão mais do que treinando sua habilidade em leitura, estão
em busca, embora de forma inconsciente, por algo que irá auxiliá-las a interpretar
suas emoções. A ideia de que uma pessoa aprendendo a ler enriquece sua vida
torna-se uma promessa vazia ao se deparar com histórias que não dão sentido à
vida e, tampouco, às adversidades encontradas nela. Além de não conseguem
transmitir às crianças em estágio de desenvolvimento algo que lhes garanta
substância para seu desenvolvimento no mundo.
Existe dentro da criança uma forte necessidade de entender o mundo no qual ela
está inserida e sua importância nele. Contudo, a maturidade psicológica que dá
significado à própria vida não é adquirida em uma determinada fase ou idade. Para
ser bem-sucedida, a criança necessita de uma educação que a conduza ao
comportamento moral que trará significância para sua existência.
É imprescindível deixar que a criança, por si, alcance certa maturidade, saiba
compreender suas emoções e resolva, sozinha, seus conflitos internos. As
interpretações adultas, embora corretas, retiram da criança a oportunidade de sentir
que ela mesma enfrentou com sucesso uma situação insolúvel.
Apesar de a Lei nº 10.639/2003 ter sido uma grande conquista, sua prática não foi
tão eficiente, pois os educadores não tiveram a oportunidade de participar de uma
formação para uma prática docente que contemplasse um currículo que, apesar de
novo, corroborava para uma reflexão relevante. Isso porque esse currículo revela e
discute as discriminações raciais enfrentadas pelo povo negro no percurso da
história. Discutir essas injustiças e a história da África no espaço educativo, mesmo
que obrigado, é uma conquista e, ao mesmo tempo, um desafio.
O racismo, ainda hoje, é uma questão de grande embate na sociedade atual. Apesar
de o Brasil ser conhecido como o país da diversidade, vivenciamos, diariamente,
práticas racistas que, muitas vezes, são ocultas por uma sociedade indolente que
acredita viver uma democracia racial. Nossa amalgamação cultural faz parte de
nossa identidade, do que é ser brasileiro, no entanto, a política brasileira
desconsidera a pluralidade social. O resultado é a formação de povos que
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ótica quem são os alunos que mais reprovam e traçar dados entre negritude,
exclusão e reprovação.
Fica evidente que o sistema formal de educação pouco colabora para que o aluno
consiga se identificar, de forma positiva, com o modelo escolar. Essa não
identificação pode estar relacionada com o baixo rendimento e os altos índices de
reprovação escolar, em relação aos negros, seguido de evasão. Desse modo, é
imprescindível estimular posturas e promover ações pedagógicas de combate ao
racismo no âmbito escolar, pois essas práticas racistas, uma vez no cotidiano
escolar, provocam distorções de conteúdo e de estereótipos étnicos.
Hall (2006) afirma que um tipo diferente de mudança estrutural contribuiu para a
transformação das sociedades no final do século XX, e essas transformações estão
também mudando a identidade pessoal dos indivíduos, abalando a ideia que cada
sujeito tem de si. O autor chama esse deslocamento de “descentração do indivíduo”
e diz que esta constitui uma crise de identidade do indivíduo.
Para explicitar melhor essa relação de poder e exclusão que a formação das
identidades pode gerar no sujeito, as palavras de Castells (1999) alicerçam essa
ideia, pois ele também acredita que a identidade é uma construção social. Para o
autor, quem constrói a identidade coletiva são os mesmos autores responsáveis pela
diferenciação do conteúdo simbólico sobre o qual essa identidade é construída,
trazendo à tona as relações de poder que definirão as identidades coletivas e a
construção da exclusão. Castells (1999) define três formas e origens para a
construção de identidades coletivas.
essências, por isso não devemos armazená-las em uma caixa e jogá-las no sótão
empoeirado.
Segundo alguns autores, como Vasconcellos (2003), Silva e Martínez (2004), Oakley
e Clayton (2003), Wallerstein (2002), é possível definir empoderamento como um
processo dinâmico que envolve diversos aspectos, tais como o cognitivo, o afetivo e
os condutais. Empoderar significa dar poder, dar autonomia pessoal e coletiva,
principalmente, a indivíduos ou grupos que viviam submetidos a relações de
opressão, discriminação e dominação social (KLEBA, 2009). A busca pela equidade
gera empoderamento, pois ocorre em um contexto de mudança social e
desenvolvimento político, e promove qualidade de vida por meio da cooperação.
Na América dominada e colonizada por europeus, a ideia de raça foi utilizada como
uma maneira de legitimar a dominação imposta pela “conquista” deles. Assim, se
transformou em uma nova maneira de legitimar as práticas de relações de
superioridade e inferioridade entre dominados e dominantes.
Raça e identidade racial foram utilizadas como meios para classificar socialmente
determinado grupo. A imagem do europeu se consolidou com atributos da
supremacia branca do “bom”, enquanto aquele que não era europeu, “não era bom,
era maligno”. Era uma percepção negativa que persiste até os dias atuais. Surgiu,
assim, a ideia de opressão de um povo sobre outro. Esse eurocentrismo pressupõe
uma hegemonia cultural, promove a negação de outras realidades sociais e,
consequentemente, origina preconceitos.
inclusive, ser uma ameaça para a raça branca, daí a ideia da segregação. A ideia da
segregação, no Brasil, não era tão forte, pois a miscigenação já existente no país
era irreversível.
De forma similar a dos demais países americanos, o Brasil foi colonizado por um
país europeu e, para explorar a terra e seus recursos e consequente domínio, os
africanos foram trazidos com o intuito de serem usados como mão de obra escrava.
Esse fato, por si só, já representava a dominação, o poder que serviria como
opressão para as futuras gerações.
Dessa forma, é possível afirmar que, no Brasil, assim como em outros países, a
ideia de raça também foi e é influenciada pela relação de escravidão e colonização.
Há pessoas que se veem como brancos em uma tentativa de negação da condição
de seus antepassados. Todavia, a classificação racial de um indivíduo vai além da
classificação da cor da sua pele, está ligada à visão que tem de si em relação aos
demais. Em outras palavras, a raça se define pelas relações sociais e pelo próprio
indivíduo.
Edith Piza sugere que o branco, ao perceber que possui identidade racial,
assemelha-se a uma pessoa que se choca com uma porta vidro. Isto é, o
branco não enxergaria sua identidade racial porque uma das características
dessa identidade seria se expressar enquanto invisível. Portanto, quando o
branco percebe-se enquanto grupo racial, o efeito é tamanho, que a autora
compara ao impacto do choque de uma pessoa distraída em uma porta de
vidro (CARDOSO, 2011, p. 85).
Mais recentemente, outros pesquisadores têm discutido o tema. Entre eles, Passos
(2013) afirma que “O conceito de branquitude refere-se ao espaço sociocultural de
privilégios e de poder conferidos aos indivíduos da população branca. Em nosso
entendimento a ideologia do branqueamento é o fundamento que dá suporte para a
branquitude brasileira” (PASSOS, 2013, p.16).
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Quanto à outra hipótese, quando ele sustenta que as gerações mais novas
tendem a ser mais flexíveis e que isso levaria ao questionamento da própria
branquitude, estou de acordo com Guerreiro Ramos. Neste ponto levanto a
hipótese de que o movimento negro tem colaborado nesse aspecto. Ou
seja, com a emergência do tema branquitude, os brancos que desaprovam
o racismo tendem a questionar seus privilégios raciais. Os primeiros a
realizarem esta autoreflexão talvez sejam os próprios brancos anti-racistas
teóricos e ativistas. Pessoas especialistas sobre “o outro”, no caso o negro,
que começam a refletir sobre a própria branquitude[...] (PIZZA, 2005 apud
CARDOSO, 2011, p. 87).
Com base nessa falsa democracia, que claramente privilegia o ser pela cor de sua
pele, é fundamental entender o porquê da dificuldade em se aceitar negro e
construir, assim, a própria identidade racial. Souza (1983) afirma que a dificuldade
pode ser atribuída ao alto preço pago pela população negra pelo massacre de sua
identidade racial. Segundo ela, esse “massacre” nasce do forte desejo de ascender
socialmente, identificando sempre essa população com o passado da escravidão e
desvencilhando os valores originais e próprios da população negra. É como se a
história do negro, antes e após a escravidão, fosse anulada, e sua história se
resumisse ao período de escravidão.
Para Ferreira (2000), a identidade é vista como uma categoria, além de pessoal; é
considerada uma referência, como o indivíduo se vê e se aceita, como ele se
autorreconhece e se constitui. Assim, é preciso que, nesse processo, ele se
relacione como o outro e seja frequentemente submetido à dinâmica do processo de
viver. Ferreira (2000) aduz que, nesse processo, o indivíduo assume papel de
autoria, constrói a si e ao seu mundo. Dessa maneira,
55
A fase da “militância” é marcada pelo desabar das velhas estruturas que o regiam e,
ao mesmo tempo, pela construção de uma nova estrutura pessoal, referenciada,
agora, nos valores da cultura africana. Até essa fase, o negro se encontrava
submergido na visão do negro sob a ótica da cultura branca. O estágio de militância
é um importante estágio para o desenvolvimento da identidade racial negra, pois,
nele, o indivíduo se desprende do pensar do outro e busca um próprio, nesse
momento já de acordo com sua nova perspectiva. Esse estágio favorece a
recuperação dos valores da cultura e da história do negro, interferindo, de forma
positiva, no desenvolvimento de uma identidade e da autoestima do indivíduo negro.
possibilita ao indivíduo ser o sujeito autor de sua própria identidade, em vez de ser
definido pelo outro por meio de postulados universais elaborados por um
posicionamento dominante.
A raça e a classe social não são teorias que devem ser estudadas separadas uma
da outra quando se tem como objetivo estudar os propósitos de transformação da
sociedade e questões relacionadas à opressão social. Ao buscar uma sociedade
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mais justa e mais igual, é preciso entender e explicar as relações intrínsecas que
ocorrem entre essas duas variantes históricas. Essas reflexões conduzem a
argumentos para a investigação do tema deste trabalho.
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Ao procurar pela opção metodológica mais adequada para esta pesquisa, entre as
várias existentes, optou-se por aquela que aproximaria a pesquisadora dos sujeitos
a serem estudados, para que, assim, fosse possível compreender melhor seus
sentimentos e ações. Todavia, mais que isso, o desejo não foi apenas constatar
algo, mas intervir na realidade e, por meio dessa intervenção, trazer possíveis
contribuições ao grupo, pois o compromisso foi ir além de observar e, nesse sentido,
gerar uma ação positiva sob a observação realizada; dessa forma, optou-se pela
pesquisa-ação.
Por já ter lecionado nessa escola, tinha ciência dos frequentes episódios de racismo
ocorridos, dentro e fora da sala de aula. Aplicar a pesquisa no local de trabalho
diário teve pontos positivos e negativos. Conhecer a realidade em que estava
inserida fez com que tivesse a certeza de que aquele lugar e as crianças precisavam
de uma vivência na temática pesquisada. Trabalhar na escola significava, de certa
forma, estar ambientada ao cotidiano daquele espaço educativa, porém, algumas
vezes, por ser “familiar”, era mais vista como professora do que pesquisadora e, em
alguns momentos, esse vínculo permanecia.
A turma pesquisada era formada por 35 alunos, sendo que, desses, quatro eram
faltosos. Os alunos tinham entre 10 e 13 anos; 18 dos 31 alunos eram meninos e 13
meninas. Dos 31 sujeitos pesquisados, 19 eram, de acordo com a minha
heteroatribuição, negros, ou seja, 61% da turma. Porém, apenas seis alunos se
autodeclararam como negros no questionário respondido. Optou-se em realizar a
pesquisa nessa faixa etária por supor que, nessa fase, o retorno seria por meio de
respostas concretas, eles compreenderiam melhor o tema e também por
compreender que estão em processo de construção de suas identidades.
Com o intuito de proteger os alunos, seus nomes verdadeiros não foram utilizados,
mas sim nomes de personalidades negras que muito contribuíram, e contribuem,
socialmente, por meio da literatura, da música, da informação ou entretenimento.
Esta fase foi de grande importância para o resultado obtido, pelo fato de encaminhar
as subsequentes fases da pesquisa. Nela foi possível diagnosticar a situação e as
necessidades dos envolvidos no estudo. Embora a pesquisadora lecione na escola
no período vespertino e conheça o espaço físico, a direção da escola e a realidade
social da comunidade na qual a escola está inserida, houve um encontro para
conhecer o corpo pedagógico do período matutino e apresentar a proposta da
pesquisa.
Convém ressaltar que a única professora que teve contato direto com a pesquisa foi
a professora regente de sala, a qual foi convidada a responder a um questionário
(APÊNDICE B), no intuito de diagnosticar o campo de pesquisa, no caso, o quarto
ano. Foi explicado à professora o termo de conhecimento e as implicações de sua
participação na pesquisa, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE A), de acordo com orientações da Resolução nº
466/2012/Conep.
Após esse contato com a equipe pedagógica, as famílias dos alunos receberam um
documento, uma autorização, para assinar e permitir a participação do aluno na
pesquisa. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C)
contém informações a respeito da metodologia, o objetivo da pesquisa e, ainda,
esclarece os riscos e os benefícios que a pesquisa poderia acarretar. Todos os
documentos foram escritos de forma simples, visando uma leitura fácil e
compreensível.
Esta fase, como o próprio nome já diz, consistiu na parte prática das ações
anteriores.
Por fim, na quarta atividade eles fizeram um novo autorretrato. Assim, como última
atividade, os alunos deveriam fazer um novo autorretrato, era uma oportunidade
para representarem a si mesmos, demonstrando suas características fenotípicas. A
finalidade dessa produção foi estabelecer uma comparação com a primeira
atividade.
Vale ressaltar que ao optar por utilizar alguns dos princípios da pesquisa-ação, as
orientações descritas por Thiollent (1994) também foram significativas. Por se tratar
de uma pesquisa na área social, envolvendo diferentes sujeitos com suas histórias
de vida, não é aceitável o pesquisador adotar uma postura passiva perante as
produções e as concepções dos alunos.
Lelê gosta do que vê. Vai à vida, vai ao vento, brinca e solta o sentimento
(Valéria Belém in: O cabelo de Lelê).
Desse modo, à medida que os desenhos eram produzidos pelos sujeitos desta
pesquisa, o objetivo era registrar, ao máximo, as falas produzidas por eles, pois os
desenhos não poderiam ser analisados sem ter um vínculo com o que era dito pelos
alunos. Durante o processo de confecção dos desenhos, comumente as crianças
comparavam os seus trabalhos e interferiam na produção dos colegas, provocando,
de certa forma, mudanças significativas no comportamento de algumas em relação
as suas próprias falas e produções. Vale ressaltar que o que ocorreu foram
mudanças de discurso de determinadas crianças ao se depararem com a
reprovação por parte de um colega de seu trabalho.
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– Você é preto “fi”, tem pra onde correr não... Provocou o riso dos c olegas 5 .
5 As falas dos sujeitos (as partes correspondentes às falas diretas) da pesquisa serão registradas
com recuo de 4cm, alinhamento justificado, espaçamento 1, fonte 10, e foram registradas no Diário
de Itinerância em ago. 2019.
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o que seria feito, foi esclarecido que, além de desenhar, deveriam colorir bem bonito
e não deixar nenhum espaço do desenho em branco.
Em uma mesa foram disponibilizadas várias opções de lápis de cor, giz de cera e
canetinhas e cujas versões de lápis de cor tivessem uma diversidade mais ampla de
tons que se aproximam dos tons de pele. Há alguns anos não existia uma grande
diversidade desse material, mas hoje existe uma boa oferta. O intuito era mostrar a
diversidade nos tons, mesmo que pequena, para verificar se as crianças
escolheriam uma cor mais parecida com a delas ou escolheriam a famosa “cor de
pele”.
Nessa fase inicial, o material apenas foi mostrado disponibilizado, caso eles
quisessem utilizar. Contudo, mesmo ofertando-os, alguns alunos compartilharam
seus materiais entre o grupo e poucos utilizaram o material disponível. Importante
ressaltar que praticamente todos os alunos pediram uma nova folha, pois muitos
desenhavam e apagavam, marcando muito a folha; alguns pediram pela terceira ou
quarta vez uma nova folha. Essa atividade mostrou o quão difícil estava sendo fazer
o autorretrato.
Vale ressaltar que esse aluno tem cabelos escuros e, pela minha heteroatribuição6,
tem tom de pele parda.
- Legal seu desenho, que cor você usou para pintar seu tom de pele?
- Salmão, a cor de pele, sabe? (Procurou o lápis para me mostrar).
Durante a fase de confecção dos autorretratos, com intuito de registrar falas que
pudessem corroborar com nossa análise, ia circulando entre os grupos e
perguntando aos alunos sobre seus traços e escolhas de cores. Era muito comum
ouvir entre eles:
– Que lindo seu desenho, Mariele, qual cor você usou? Apontei para o
rosto, no desenho.
– Foi “o cor de pele”, esse aqui. Mostrou o lápis salmão.
Assim considerando, aquilo que é classificado como bonito é uma construção social
perversa, pois faz com que a criança negue sua identidade, suas raízes, sua cultura.
Dessa forma, é fundamental desconstruir esse ideário de branqueamento para, em
seguida, deixar fluir a beleza do diverso, do que se manifesta para além do que é
posto por um grupo dominante.
72
Sem querer interferir nas produções, ao continuar a passear pela sala, muitos
estavam se pintando com o tal lápis “cor de pele”. Em um dos grupos, Thais, uma
das alunas, estava desenhando seus cabelos, que eram bem cacheados,
preenchendo todos os espaços da folha com seus cachos. Ao passar ao lado,
elogiei:
O sorriso recebido após o elogio feito foi proporcional ao sorriso do seu autorretrato.
É possível afirmar, com segurança, que a autopercepção da Thaís de si mesma é
muito positiva. Nesse grupo, porém, apesar de três das quatro meninas não se
73
pintarem de rosa claro, elas pintaram seus olhos de verde, mesmo tendo olhos
castanho-escuros.
Outro grupo, formado por quatro meninos, chamou muito a atenção porque três
deles se pintaram de rosa “pink”. Ao me aproximar do grupo, já quase no final da
atividade, questionei:
Machado, assim como muitas outras crianças, se reconhece como branco, embora
perceba que não é tão branco como o papel em que ele pinta seu autorretrato.
Possivelmente, ele usou esse argumento para não precisar fazer a pintura, ou seja,
simplesmente estava se poupando de realizar a atividade completa.
Dos 32 alunos que realizaram a atividade, apenas cinco se pintaram como negros
(com lápis marrom escuro), 19 utilizaram o lápis “cor de pele”, três usaram rosa pink,
um usou laranja e quatro não pintaram a pele.
3,12 % 12,5 %
“cor de pele”
9,37 % marrom escuro
rosa pink
59,37 %
laranja
15,62 %
não pintaram a pele
Nenhum dos alunos se coloriu com uma cor mais escura, todos eles, sem exceção,
se pintaram com tons mais claros do que o natural, de acordo com minha
heteroatribuição. Três alunos começaram a se pintar de uma cor e mudaram no
decorrer da atividade, como é possível observar nos desenhos a seguir.
Após a confecção do autorretrato, para o dia seguinte ficou combinado com a turma
que haveria uma apresentação coletiva e cada um mostraria sua produção. Ao
mostrar o autorretrato e se apresentar, o interesse era analisar como os alunos iriam
se expressar por meio da fala.
Essa atitude despertou nossa atenção pelo fato de os próprios colegas denunciarem
uns aos outros. No caso de Sheron, por exemplo, Airton disse:
Essa postura permite deduzir que aquele era o jeito dela de se representar.
Visivelmente, não era a forma como ela seria classificada, mas sim como ela, talvez,
gostaria de ser. A atitude de Sheron e de tantos outros remete, mais uma vez, à
discussão do quanto o eurocentrismo e o ideal do branqueamento está presente no
cotidiano.
Ailton, o aluno que interrompeu Sheron, tem pele negra e cabelo pintado de loiro; em
sua apresentação, não se identificou como negro e, ao se autoclassificar, disse que
era moreno. Sua apresentação despertou nossa atenção:
– Bom, eu sou o Ailton – fez sinal com a mão (sinalizando o “V” usando os
dedos indicador e médio).
A cada frase que ele falava, ria. Como era importante que ele prosseguisse com a
fala, foi estimulado a continuar:
O rápido diálogo com Ailton remete a falas tão comuns no cotidiano, que relacionam
a inteligência ao homem branco e a beleza aos padrões de beleza branca e
presentes na mídia. Isso, porém, gera questionamentos a respeito do que muitas
vezes é dito: “O negro que não se aceita”, “Isso é mimimi”. Entretanto, será mesmo
que o negro não se aceita ou o padrão de beleza normalizado não inclui as
características afro? Essa é uma discussão que precisa ser introduzida nas salas de
aula e propiciar, aos alunos, momentos para refletir sobre o belo e o diverso,
principalmente, no que se refere à formação de um povo.
ao pintar, na fala demonstraram saber que não têm aquela cor, apesar de a pintura
estar diferente da realidade.
Um caso que destoou dos demais foi o da aluna Elisa que, ao contrário da maioria,
se pintou mais escura. Segundo ela, o branco é “tão sem graça” e “queria ter uma
corzinha a mais”.
Durante a pesquisa, o objetivo foi ampliar o contato do aluno com a literatura que
evidenciasse o negro de forma positiva, pois esse poderia ser um dos caminhos
essenciais para que ele tivesse a oportunidade de ver imagens positivas da sua
raça/etnia e isso colaborasse para seu pertencimento étnico-racial. Nesse sentido, a
inclusão de literatura afro-brasileira no cotidiano escolar é um dos caminhos para
fortalecer e estimular a autoestima positiva na criança, resgatando nela sua
identidade étnico-racial.
Todo esse cenário serviu para sustentar ideias racistas que consideravam o povo
não europeu como inferior. Opondo-se à hierarquização, surgiu a ideia do
relativismo na avaliação das culturas. Ainda de acordo com Santos (1996), a
avaliação de cada cultura, do conjunto das culturas existentes, varia dependendo de
81
Diante dessa realidade, concorda-se com Santos (1996), quando afirma não ser
possível refletir sobre culturas e ignorar as desigualdades. Assim, é importante que a
sociedade admita o quão desigual todos somos e o quanto as relações desiguais de
poder hierarquizam povos e nações. Pelo exposto, é imprescindível iniciar as
contações, mostrando histórias que revelam uma África diferente da estereotipada e
que, possivelmente, as crianças estão acostumadas a ver em livros e meios de
comunicação de massa. Para isso, a seguir, será apresentado o trabalho
desenvolvido com as quatro obras escolhidas.
O livro de Rogério Andrade Barbosa e Graça Lima conta uma mágica viagem que
transporta o leitor ao continente africano, mostrando suas lindas cores, sons, gestos
e formas em suas ilustrações e no enredo. Um sabido ratinho conduz a trama; ele
tudo vê, ouve e observa as múltiplas faces dos diversos grupos humanos que
habitam na África. Por esse atento olhar, são mostrados vários costumes e tradições
do povo africano.
82
Para iniciar essa contação, o mapa mundi foi apresentado aos alunos na sala e eles
foram estimulados a responder à pergunta: “Quem conhece a África? ”. Entre as
respostas, surgiram: “é um país”, “lugar muito triste, com muitas crianças
magrinhas”, “acho que é o lugar mais pobre do mundo”. Respostas como essas
foram comuns nesse primeiro momento. Contudo, ao perguntar de onde conheciam
essas informações, quase todos disseram “é o que vejo na televisão”.
Vale ressaltar que a construção e a consolidação sobre a África por meio do não
conhecimento dos fatos históricos produz preconceito, que se constitui em
informações de caráter racistas, produzidas em um imaginário pobre e
preconceituoso, desprovido de informações verdadeiras. Essa, certamente, foi uma
estratégia de dominação da Europa.
Em suma, a cultura africana, que tanto contribuiu para a formação social do povo
brasileiro, foi ocultada por muito tempo. E a necessidade de dominar o grupo dos
escravizados corroborou para que esse ocultamento prevalecesse (LIMA, 2004).
2) As tranças de Bintou
O livro “As tranças de Bintou”, de Sylviane A. Diouf, conta a história de uma menina
que vive na África e sonha em ter tranças longas, enfeitadas com pedras coloridas e
conchinhas, como as de sua irmã mais velha e de outras mulheres de seu convívio.
O livro elege a fantasia como valor capaz de trazer o sentido mais importante da
infância. Suas belas ilustrações permitem, ao leitor, ter uma visão da cultura
africana. O livro, por meio de sua história, propicia uma reflexão a respeito de alguns
valores importantes a serem debatidos. A história se passa em algum país do
continente africano e permite, ao leitor, conhecer um pouco das tradições e de
nomes africanos.
Durante a atividade na sala de aula com esse livro, enquanto os alunos escutavam a
história, era visível a atenção de todos ao momento. Ao fazer perguntas referentes à
história, eles respondiam, unanimemente, que não conheciam a obra e que nunca
haviam visto ou lido antes. No final, com os alunos posicionados em círculo, houve
um período de reflexão sobre a história, e eles deveriam dizer o que mais haviam
gostado. Espontaneamente, ninguém se pronunciou, mas ao começar a fazer
algumas perguntas, no intuito de estimular a participação deles, isso funcionou, pois
eles começaram a interagir. Durante o diálogo, uma fala despertou a atenção, a da
Maria Julia, uma aluna negra que disse:
Os colegas riram.
Durante as discussões sobre esse livro, a participação das meninas foi mais
presente do que a dos meninos. Diante dessa observação é possível afirmar que
para as mulheres, o cabelo tem uma marca social diferente da dos homens. Outra
fala relevante para refletir sobre a relação do cabelo com a identidade foi a de Iza:
– Mas pelo menos no final da história, ela (Bintou) gostou do cabelo dela,
né?
Respondi:
– Sim, ela agora via seu cabelo como macio, bonito, negro e brilhante.
Depois de tudo que ela passou, começou a admirar e gostar de seu cabelo
e entender as tradições de seu povo. Um silêncio pairou no ar, então,
perguntei:
– E nós, gostamos do nosso cabelo?
– Não é que não gosto, mas queria que ele fosse diferente.
– Diferente como? Perguntei.
Uma aluna em tom de risada disse:
– A gente queria um cabelo Pantene, tia. E todos riram.
O “cabelo Pantene”, citado por uma das meninas, se trata do “cabelo de Gisele”,
modelo brasileira e garota propaganda da referida marca que está há muitos anos
entre uma das marcas mais populares de xampu no Brasil. O ocorrido reforça o que
já se sabe: o quanto a televisão e as mídias, de maneira geral, influenciam o belo e
o ideal de beleza, e o quanto a não representatividade negra influencia a identidade
de meninas e de meninos brasileiros que não veem seu padrão de beleza
representado sem estar associado a uma imagem negativa.
Segundo Inocêncio (2006), o cabelo “[...] tornou-se uma referência tão forte na
afirmação da identidade da população branca que inegavelmente repercutiu na
formação das imagens acerca do cabelo afro, constituídas pelo pensamento
europeu” (INOCÊNCIO, 2006, p.187). Ao pensar sobre isso, quantos professores já
não presenciaram cenas racistas em que alunos sofreram preconceitos e até mesmo
eram xingados por terem cabelo afro.
86
Cotidianamente, escuta-se, no espaço escolar, falas como “As negras que alisam
seus cabelos não se aceitam, deveriam assumir e não alisar” ou “A mãe dessa
criança deveria prender o cabelo dessa menina, não dá para ela vir assim para
escola”. Inclusive, em um conselho de classe, uma professora, colega de trabalho,
comentou:
Muitas vezes, atitudes racistas partem dos próprios profissionais que deveriam
educar as crianças para respeitar as diferenças, de fazer compreender que uma
aluna com cabelos black power tem o mesmo direito de ter seus cabelos longos
como outra de cabelos lisos. Infelizmente, essas práticas racistas estão presentes
87
As tantas falas e cenas relatadas neste estudo se direcionam ao que Gomes (2004)
denomina de “dupla inseparável”, o cabelo e a cor da pele. Segundo a autora, a
forma de enxergar essa “dupla” no imaginário social brasileiro pode ser considerada
como expressão dos sentidos do cabelo crespo e também ajuda a compreender e
desvelar as nuances do sistema brasileiro de classificação racial, que, além de
cromático, é estético corpóreo (GOMES, 2004, p.137).
Bruna é uma menina negra, que vive muito só e mora com sua avó, que é africana.
A história escrita por Gercilda de Almeida e ilustrada por Valéria Saraiva conta que a
menina, certo dia, ganhou de sua avó uma galinha d’angola, a qual passou a ser sua
companhia, além de atrair a presença de várias crianças que se tornaram amigas de
Bruna. Na história, a galinha de Bruna ciscava no terreno e, em um belo dia, achou
um baú cheio de panos que a avó da menina havia perdido assim que chegou ao
Brasil. A partir daquele dia, a avó de Bruna, por meio das estampas, contava muitas
histórias para ela, para suas amigas e toda vizinhança. As crianças aprendiam a
pintar tecidos e vivenciavam práticas do cotidiano africano. Umas das histórias
contadas pela avó contém uma versão para a criação do mundo em um dos panos
em que estão estampados um pombo, uma galinha d’angola e um lagarto.
88
Essa fala revela o quanto o termo África é estereotipado e o quão urgente é mostrar
aos alunos uma visão mais realista desse continente, que exerceu e exerce uma
influência imensa na formação do povo brasileiro.
4) O livro “Obax”
O livro de André Neves conta a história de uma menina chamada Obax, destemida e
aventureira. Ela vivia em uma região considerada perigosa para uma criança. Obax
era um pouco solitária e vivia suas aventuras sem muitos amigos e, por isso,
adorava inventar histórias. Certo dia, a menina disse ter visto uma chuva de flores, o
que causou dúvida nos mais velhos, já que o clima da Savana não era favorável à
chuva, muito menos para uma chuva de flores. Obax estava muito brava por não
terem acreditado em sua história e decidiu provar a todos que o que falava era real.
89
Com seu amigo elefante deu a volta ao mundo, tentando buscar algo que provasse a
veracidade de sua história. Ao retornar ao mundo, deparou-se com seus familiares
preocupados com seu sumiço, porém, logo ficaram alegres com as tagarelices de
Obax, que contou tudo o que vivera com seu amigo elefante. Novamente, os adultos
duvidaram de Obax, afinal, dar a volta ao mundo nas costas de um elefante era um
tanto quanto estranho.
Obax ensina as pessoas a serem perseverantes e lutarem por aquilo que acreditam,
mesmo quando não acreditam em si mesmos. As crianças gostaram muito da
história e pediram para mostrar a foto de uma Baobá. Esse momento foi oportuno
para mostrar fotos na internet de Baobás e conversar sobre a planta como elemento
cultural. E como essa foi a última contação de história, foi solicitado às crianças que
produzissem novamente um autorretrato para ter como lembrança delas nos
registros.
Após o momento da contação das histórias, apresentamos aos alunos uma “nova
história” da África, explicitando as contribuições, os feitos e as riquezas desse povo.
Uma apresentação em slides mostrou “A África como você nunca viu”. Ficou
evidente e estava estampada no rosto de cada um a surpresa ao (re)conhecer uma
África “diferente”.
Convém esclarecer que quando a maioria quis ter ao lado seu primeiro autorretrato,
surgiu um temor de que as produções pudessem ser influenciadas, pois o objetivo
era averiguar se após todas as discussões, oriundas das contações e das vivências
ao longo desse curto trajeto, as crianças mostrariam, por meio dos desenhos, alguns
traços de pertencimento, já que tantos se embranqueceram ao se pintar e, até
91
– Mas para que vocês querem um desenho antigo? Vamos fazer um novo.
Uma aluna respondeu:
– Foi muito difícil fazer o primeiro, deixa a gente ver, se desenhar não é
fácil.
Assim, para elaborar o novo autorretrato, foi explicado que quem não quisesse não
precisava produzir outro, era apenas um convite, mas que ficaríamos muito felizes
com esse novo autorretrato. Ficou disponível também, como da primeira vez, o
material da pesquisadora em uma mesa que estava no centro dos grupos; mostrei
as canetinhas, o giz e o lápis, ressaltando que esse material que disponibiliza vários
tons de pele é novo no mercado e que ele contribui para trabalhar a diversidade no
cotidiano. Foi um momento também de abordar a importância de refletir sobre a
nomenclatura, utilizada erroneamente, do lápis salmão, considerado por eles cor de
pele, e discutir que não existe uma única cor de pele, sendo, nesse sentido, inviável
intitular um lápis como cor de pele. Muitas crianças utilizaram o material
disponibilizado e algumas, inclusive, misturaram as cores, tentando alcançar uma
cor mais real do seu tom de pele. As produções, mesmo com o primeiro autorretrato
ao lado, passaram por muitas mudanças, e a fala tão escutada no início “passa o cor
de pele? ”, não foi tão comum.
utilizaram os tons mais claros de tons de pele disponibilizados nas caixas de lápis de
cor emprestadas pela pesquisadora, dando ao desenho um tom de pele pardo.
marrom escuro
marrom mais claro
rosa claro
faltaram
– Tem como colocar a foto daquela mulher que é cientista e Miss? Meu
cabelo parece com o dela, queria desenhar olhando; é mais fácil.
A mulher a quem ela se referiu era Kara McCullough, cientista nuclear e coroada
Miss Estados Unidos em 2017, uma das personalidades negras introduzidas na sala
se aula para discutir não só a estética, mas também aspectos científicos.
Essa aluna havia se desenhado, no primeiro autorretrato, com cabelos longos e lisos
ondulados e a cor da pele rosada. Ela é uma criança visivelmente negra, embora
não tenha um tom de pele muito escuro. É possível estabelecer a comparação
vendo o antes e o depois produzido pela mesma aluna.
Observa-se que Ruth manteve os cabelos cacheados, todavia, trocou o lápis “cor de
pele” pelo marrom, mesmo pressionando-o um pouco para manter o tom claro.
94
Leci, no segundo desenho, além de marcar mais os seus cachos e trocar o lápis “cor
de pele” pelo marrom, também eliminou as bolinhas vermelhas que, geralmente, são
características de pessoas de pele clara.
Lázaro, notadamente pardo e com cabelos escuros, no primeiro desenho optou por
não pintar a pele, pois disse que era branco, inclusive, mostrou o braço para
95
confirmação. No segundo desenho utilizou o lápis marrom, com pouca pressão para
pintar. Coincidentemente, ou não, no primeiro autorretrato desenhou uma camisa
com mangas maiores e gola alta, a qual cobria mais a sua pele; no segundo
autorretrato, a camisa não tinha mangas e era possível ver seu pescoço, o que
revelava mais a sua pele.
Ao fazer essa análise, ficou claro que a literatura ofereceu elementos para que
Miltom ressignificasse o olhar que tinha de si mesmo, assumindo um novo olhar e
bem mais positivo sobre sua origem e a cultura de seus antepassados. Porém, isso,
certamente, ocorrerá quando a criança afrodescendente brasileira puder se enxergar
não apenas como vítima, mas, principalmente, como parte da formação da
sociedade.
Assim como Miltom, Djamila, de loira com cabelos claros, pele rosa e olhos verdes,
em seu segundo autorretrato se desenhou com cabelos marrons, pele mais escura e
olhos pretos.
97
5 PRODUTO EDUCATIVO
6 CONCLUSÃO
Durante a produção de dados para esta pesquisa ficou evidente como as histórias
influenciaram as escolhas das crianças durante a produção dos novos autorretratos,
na última atividade proposta. Ao caminhar entre os grupos de alunos, percebemos o
processo de produção, escutamos e coletamos os materiais para a discussão
conjunta. Personagens dos livros lidos, como Obax, Bintou, Bruna e as demais
personalidades reais mostradas nas aulas eram citadas como referências no
momento da produção do desenho. Desse modo, mesmo em um período curto,
durante o qual as crianças tiveram contato com a literatura que valorizava o negro e
sua ancestralidade, ficaram evidentes as mudanças positivas no comportamento ao
desenharem a si mesmas, ao assumirem suas características físicas, revelando o
pertencimento racial. Isso permite imaginar o que um trabalho contínuo seria capaz
de fazer, ou seja, provavelmente, surtiria um efeito ainda maior, e isso refletiria nas
questões que vivenciamos envolvendo o racismo, por exemplo. Nesse sentido,
confirmaria a necessidade de o professor levar essa temática para sua sala de aula.
Por ser uma pesquisa-ação, este estudo buscou produzir, nas práticas, instrumentos
de mudança que pudessem interferir na realidade dos alunos. A ida a campo não
tinha o intuito de constatar e explicar fatos, mas buscar agir de forma operante por
uma real mudança naquilo que, para mim, como professora na instituição, já era
constatado. Ao observar a produção dos autorretratos, após as contações, foi
possível perceber muitas mudanças.
100
Os benefícios desta pesquisa são reais e relevantes para expandir estudos que
visam o combate ao racismo e a reafirmação do pertencimento racial. Destacam-se
como benefícios a seus participantes o fortalecimento da identidade, a contribuição
para o processo de (re)construção da autoestima, que influencia de maneira direta o
processo de aprendizagem em sala, o contato com diferentes literaturas com
personagens negros de origem africana que, geralmente, não estão disponíveis nas
escolas.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Território brasileiro e povoamento: Brasil, 500 anos. IBGE. Disponível em:
https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/negros.html.
Acesso em: 1 dez. 2017.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 19. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2005.
DIOUF, Sylviane A. As tranças de Bintou. São Paulo: Ed. Cosac & Naify, 2004.
COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Editora
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DIOUF, Sylviane A. As tranças de Bintou. 1. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 30. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. José Olímpio. 19. ed. São Paulo:
Global, 2003.
MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. Rio de Janeiro: Ática, 2000.
MOURA, C. Dialética radical do Brasil negro. São Paulo: Ed. Anita Ltda, 1994.
NEVES, André. Obax. Ilustrações de André Neves. São Paulo: Brinque-Book, 2011.
Eu,_________________________________________________________________________,
RG Nº ______________________ servidor(a) da EEEF “Francisco Alves Mendes” na função de
________________________________, declaro estar ciente de minha participação voluntária na
pesquisa científica intitulada “DE QUE COR? PRETA, DA COR DA PELE: (RE)CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL DA CRIANÇA COM A LITERATURA INFANTIL” que tem como
objetivo compreender a influência da literatura infantil no processo de (re)construção da identidade
étnico-racial na infância, através de leituras e produções de desenhos e autorretratos. A pesquisa
será desenvolvida pela pesquisadora Alinny Rodrigues Emerich Portela e orientada pelo pesquisador
Prof. Dr. Edmar Reis Thiengo, no âmbito do Programa de Pós -Graduação em Educação em Ciências
e Matemática do Instituto Federal do Espírito Santo, acontecerá em doze encontros que ocorrerão no
momento das aulas em atividades lúdicas em que o aluno será convidado a se autorretratar, ouvirá
histórias, que por sua vez trazem como protagonistas personagens negros, os alunos participarão de
rodas de conversas que os levarão a frequentes reflexões sobre o pertencimento racial a identidade
étnico-racial e a valorização das diferenças. Sendo assim, autorizo a utilização das informações
coletadas por meio de registros em diário de bordo, entrevistas e observações, desde que sua
divulgação seja por nome fictício, a fim de resguardar o sigilo necessário. O meu consentimento é
dado na condição de que não haverá minha identificação em nenhum tipo de publicação, escrita ou
não. Estou ciente de que em qualquer etapa do estudo, terei acesso a pesquisadora responsável pelo
endereço Rua Bem te vis, 40- Bairro Morada de Laranjeiras- Serra-ES ou pelo endereço eletrônico
alinnyemerick@gmail.com ou pelo telefone (27) 99224-9519. Ademais, declaro ter sido informado(a)
de que a minha participação não representa riscos para mim, pelo contrário, a experiência pretende
contribuir para minha formação profissional e educacional confiada ao Instituto Federal do Espírito
Santo. Estou ciente também que poderei entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa em
Seres Humanos do Instituto Federal do Espírito Santo, para obter maiores informações sobre ela no
endereço Rua Avenida Rio Branco, 50 – Santa Lúcia, Cep: 29056-255 – Vitória – ES, ou pelos
telefones (27) 3357-7518, ou (27) 3357-7500- ramal 3088 ou até mesmo pelo e-mail:
etica.pesquisa@ifes.edu.br. Além disso, estou ciente de que não terei nenhum custo com a pesquisa
nem receberei nenhuma vantagem financeira sobre ela. Sei que posso recusar minha participação no
estudo e que, a qualquer momento, posso retirar meu consentimento, sem necessidade de
justificativa. Fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e
esclareci minhas dúvidas. Recebi uma via original deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Assim, manifesto meu livre consentimento em participar da referida pesquisa.
Assinatura do Participante
108
99224-9519, ou também poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa – Ifes, na Rua
Avenida Rio Branco, 50 – Santa Lúcia, CEP: 29056-255 – Vitória – ES, telefone (27) 3357-7518, ou
(27) 3357-7500- ramal 3088.
Consentimento Pós–Informação
Eu,__________________________________________________________________, portador(a) do
RG nº _________________________, confirmo que a pesquisadora Alinny Rodrigues Emerich
Portela, explicou-me os objetivos desta pesquisa, bem como a forma de participação e os
instrumentos de produção de dados. As alternativas para a participação do(a) menor
_________________________________________________ também foram discutidas e recebi uma
via original deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Eu li e compreendi este Termo de
Consentimento, portanto, eu concordo em dar meu consentimento para o(a) menor participar como
voluntário desta pesquisa.
Assinatura do responsável
ou representante legal
________________________________________
Eu,_________________________________________________________________________,
aluno(a) da EEEB “Francisco Alves Mendes” quero dizer aqui que estou sabendo da minha
participação voluntária na aplicação da pesquisa científica intitulada “DE QUE COR? PRETA, DA
COR DA PELE: (RE)CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL DA CRIANÇA COM A
LITERATURA INFANTIL”, que tem como objetivo compreender a influência da literatura no processo
de (re)construção da identidade étnico-racial na infância, através de leituras e produções de
desenhos e autorretratos. A pesquisa será desenvolvida pela pesquisadora Alinny Rodrigues Emerich
Portela e orientada pelo pesquisador Prof. Dr. Edmar Reis Thiengo, através do Programa de Pós-
Graduação em Educação em Ciências e Matemática do Instituto Federal do Espírito Santo ,
acontecerá em doze encontros, que ocorrerão no momento das aulas em atividades lúdicas em que o
aluno será convidado a se autorretratar, ouvirá histórias, que, por sua vez, trazem como protagonistas
personagens negros, os alunos participarão de rodas de conversas , que os levarão a frequentes
reflexões sobre o pertencimento racial a identidade étnico-racial e a valorização das diferenças.
Quero dizer aqui que autorizo a utilização das informações coletadas por meio de registros no
caderno da pesquisadora Alinny e seus amigos colaboradores, desde que sua divulgação seja por um
nome diferente do meu, com o objetivo de ficar em segredo tudo o que eu fizer. Estou sabendo que
não vão me identificar em nenhum tipo de publicação. Estou sabendo também de que em qualquer
etapa do estudo posso fazer contato com o pesquisadora Alinny no endereço Rua Minas Gerais
Nº40, Bairro Morada de Laranjeiras, Serra-ES, ou pelo endereço eletrônico
alinnyemerick@gmail.com, ou pelo telefone (27) 99224-9519. Além do mais, quero dizer aqui que fui
informado de que a minha participação na pesquisa pode me causar alguns constrangimentos, mas a
pesquisadora Alinny cuidará para que eles não aconteçam ou, se acontecerem, que sejam mínimos.
A Alinny me disse que se eu quiser, eu também posso entrar em contato com o Comitê de Ética em
Pesquisa em Seres Humanos do Instituto Federal do Espírito Santo, onde esta pesquisa foi aprovada,
para obter maiores informações sobre ela através do endereço Rua Avenida Rio Branco, 50 – Santa
Lúcia, Cep: 29056-255 – Vitória – ES, ou pelo telefone (27) 3357-7518 ou (27) 3357-7500- ramal
3088, ou também pelo e-mail: etica.pesquisa@ifes.edu.br. Além disso, a Alinny me disse que não
preciso me preocupar com nenhum custo quanto a minha participação na pesquisa dele e também
que não vou receber nenhum dinheiro por isso. Sei que posso dizer a Alinny, em qualquer momento,
que não vou mais querer participar da sua pesquisa, caso eu assim quiser, não precisando explicar
nada para ela. Estou sabendo dos objetivos deste estudo de maneira clara e detalhada e tirei minhas
dúvidas sobre ele. Recebi também uma via original desta carta com minha autorização. Assim, quero
dizer aqui que desejo participar desta pesquisa.
_______________________________ Data: ______/______/_______
111
APÊNDICE E – FICHA/QUESTIONÁRIO
1) Alguns dados:
a. Nome: _______________________________________________________
b. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
c. Data de nascimento: ___/___/___ Naturalidade: _____________________
d. Qual a sua cor/raça:
( ) Branco(a) ( ) Pardo(a) ( ) Preto(a) ( ) Amarelo(a) ( ) Indígena(a)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
______________________________________________________