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CURSO DE PEDAGOGIA
RIO DE JANEIRO
2021
THIAGO DE ARAUJO DUARTE
RIO DE JANEIRO
2021
CATALOGAÇÃO BIBLIOTECA CENTRAL
CENTRO UNIVERSITÁRIO GAMA E SOUZA
DUARTE, Thiago de Araujo. A importância da representatividade negra na literatura infantil
brasileira. 2021, 47 fls. Monografia (Graduação em Pedagogia) Coordenação do Instituto
Superior de Educação. Coordenação do Curso de Pedagogia. UNIGAMA.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Professora Doutora Julia Oliveira Costa Nunes – UNIGAMA (Orientador)
_______________________________________________________________
Professor Doutora Dennis da Silva Castanheira – UFF
______________________________________________________________
Professora Mestre Luana da Silva Cruz – UFRJ
______________________________________________________________
Professora Doutora Janaína de Fátima Silva Abdalla – UNIGAMA (Suplente)
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 43
7
1. INTRODUÇÃO
Com isso, acredita-se que a criança negra, através das histórias infantis, terá meios
de se identificar com personagens os quais fazem parte de seu biotipo, dando-lhe meios
de conhecer a cultura e costumes de seus ancestrais e também a se sentir aceita e
representada. Além disso, como a autora diz, essas narrativas também servem para que
as crianças não negras entendam como é importante que se tenha essa
representatividade a fim de mostrar a elas que há minorias as quais não têm os mesmos
privilégios que elas, mas que, de forma lenta, estão buscando exercer seus direitos de
forma igualitária.
Com o presente trabalho, pretende-se fazer uma reflexão acerca da importância da
representatividade do negro na literatura infantil de forma que as crianças negras
possam se espelhar e se aceitar de forma prazerosa através das personagens que
condizem às suas características. Para tanto, a pesquisa e a reflexão foram baseadas nos
seguintes objetivos específicos:
Pode-se entender a literatura como “uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto
da imaginação criadora, cujo meio específico é a palavra, e cuja finalidade é despertar
no leitor ou ouvinte o prazer estético.” (COUTINHO, 1955, p. 71). A partir disso, é
possível notar que ela é uma manifestação da arte através dos textos escritos, resultando
assim em um misto de sentimentos que atingem os leitores. Por exemplo, em um livro,
o leitor consegue esboçar diversas reações, tais como: diversão, comoção, indignação,
reflexão sobre a sua própria realidade.
Verifica-se o quão importante é o ensino da literatura, principalmente da que será
tratada no presente trabalho: a literatura infantil. Isso se dá pelo motivo de que ela é
fundamental para que o homem, quando criança e está passando pelo seu processo de
ensino aprendizagem, construa a sua identidade, formando-se, assim, cidadão e tenha
um vasto conhecimento de mundo através da subjetividade que a disciplina
proporciona.
Para Nelly Novaes Coelho (1991), a literatura infantil tem como características:
Dessa forma, entende-se que a literatura, mais precisamente a que é tratada nesse
trabalho: a literatura infantil amplia o conhecimento de mundo e a construção do
pensamento social do ser humano, sendo ela de grande importância no desenvolvimento
e aprendizado das crianças.
Ao fazer uma breve análise da literatura infantil até a contemporaneidade,
percebe-se que ela passou por diversos momentos até se concretizar de fato a ideia de
que era um tipo de literatura em que seu público-alvo era as crianças. Em síntese, Lajolo
& Zilberman (2007) explicam que ela começa a aparecer no século XVII quando,
durante o classicismo francês, há histórias escritas que foram tratadas como um tipo de
literatura adequada às crianças, como foi o caso das Fábulas, de La Fontaine editadas
10
Entende-se que a instituição família foi um meio mais prático da burguesia ganhar
um maior apoio da população, tendo em vista que a classe burguesa pregava a
preservação de um modo de vida mais doméstico e também do estilo de vida familiar
em que há uma divisão do trabalho entre os membros: o pai era o patriarca, o qual dava
sustento a família; enquanto a mãe estava ligada às atividades domésticas. Por sua vez,
essa ideia da burguesia acaba gerando um novo beneficiário que até então não tinha
muito valor à sociedade da época: a criança.
Observa-se, então, que, nesse momento, as crianças começam a obter um papel
mais relevante à sociedade, o que resulta no surgimento da literatura infantil, tendo em
vista que, com o capitalismo, o mercado literário infantil teria uma grande busca.
Quanto a escola, as autoras observam: “Tendo sido facultativa, e mesmo
dispensável até o século XVIII, a escolarização converte-se aos poucos na atividade
compulsória das crianças, bem como a frequência às salas de aula, seu destino natural”
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(idem, 2007, p. 16). Antigamente, a escola não era democrática, fazendo com que
apenas parte da população tivesse acesso à escolarização. Os que tinham esse acesso
ainda podiam escolher se frequentavam ou não as instituições. Entretanto, com as ideias
burguesas, a escola passa a ser aberta a todos, sob a ótica de que, quanto mais gente
letrada, mais alto será a proliferação do comércio de livros voltados ao público infantil.
Desse modo, mesmo que as primeiras obras literárias infantis tenham surgido na
França, é na Inglaterra que a sua divulgação ganha mais força, por ela ser o epicentro do
comércio naquela época. A literatura, como dita anteriormente, é tida como mercadoria,
no entanto, para que ela vendesse, dependia que a população fosse letrada, uma vez que
haveria procura pelos livros.
É importante ressaltar que “a fascinação pelos anos da infância, um fenômeno
relativamente recente” (HEYWOOD, 2004, p. 13). A noção de criança passou por
diversas transformações até chegar no que de fato é ser criança na contemporaneidade.
Quando se faz uma relação da literatura infantil com a essa noção de criança, sob o
contexto da revolução industrial e francesa, pode-se perceber que, nessa época, elas
eram tratadas como auto informativas, isto é, desde o momento em que os pequenos
começassem a ler, por exemplo, ela já estava sendo preparada para a vida adulta. Nesse
sentido, elas só tinham valor para a sociedade a partir do momento em que fosse capaz
de ler e compreender os textos escritos.
Diferentemente, nos dias atuais, a noção de criança que é considerada pelo
Referencial Curricular Nacional para a Educação (Brasília, 1998) é de que “as crianças
possuem uma natureza singular, que as caracterizam como serem que sentem e pensam
o mundo de um jeito próprio”. A criança é capaz de criar um pensamento único sem que
ela precise da ajuda de um adulto ou ainda pensar como tal. Os livros infantis surgem,
exatamente, na expectativa de fazer com que fosse derrubado o modo de como os
adultos queriam que as crianças enxergassem o mundo ao modo deles, tendo em vista
que, através da literatura a criança conseguirá expandir a sua imaginação e ter
autonomia.
Além disso, quando se fala em literatura infantil, não se pode deixar de citar duma
das características primordiais que faz parte dos conteúdos desses livros: os contos de
fadas, tendo em vista que é um gênero textual que se dispõe de personagens simples e
fáceis de serem compreendidos pelas crianças, como é o caso dos heróis os quais
sempre travão uma grande batalha contra o mal. Farias e Rubio (2012) colocam que “A
essência do conto de fadas é o de abstrair conceitos formadores de caráter, uma vez que
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estabelece relação entre ‘bem e mal’, ‘certo e errado’.” Os contos de fadas, portanto, ao
tratarem dessas antíteses que existem na vida, transmitem aos pequenos a ideia de que
esses empecilhos podem ser superados, ajudando-os a lidar com as suas frustrações e
seus medos, e ainda permitindo a eles a se identificar com as personagens e a
problematizar de forma significativa as demais situações abordadas nas histórias.
típica das colônias” (CUNHA, 1999, p. 23). Com essa grande modernização e
aparecimento do mercado literário, começa uma grande atenção no que diz respeito a
escola e principalmente a alfabetização, uma vez que, para que esse mercado tivesse
uma maior eficiência, era preciso que a população soubesse ler. Porém ainda era muito
comum a falta de material didático nas escolas brasileiras.
Nesse sentido, começa a aflorar, então, a ideia que Lajolo & Zilbermam destacam:
Dessa maneira, através do que foi exposto, percebe-se que com Lobato fazendo
parte do mercado literário infantil, as obras começam a ganhar um grande destaque para
a realidade que compõe o espaço brasileiro, indo de encontro aos padrões das obras
europeias. Além disso, é possível notar que o autor foi o ápice para impulsionar o
mercado literário infantil brasileiro, dando assim oportunidades para autores que
também posteriormente viriam compor este tipo de literatura.
Nessa linha de raciocínio, quando se olha para a escola, a qual até então tem uma
ideia democrática, percebe-se que seu objetivo é formar pessoas com autonomia do
pensamento crítico. Desse modo, é aqui que entra o papel fundamental da leitura no
ambiente escolar, tendo em vista que, como já foi citado, ela permite ao homem ter um
maior conhecimento de mundo e explorar a sua imaginação.
No entanto, nem sempre a teoria se aplica a prática, pois:
Ressalta-se ainda que, para o prazer da leitura ser despertado no aluno, é preciso
entender qual é o papel do professor mediante a essa situação. De acordo com Magda
Soares:
Isto é, esse papel é efetivado quando o docente consegue preparar o aluno para a
leitura. Por sua vez, ele conseguirá entender que há diversos tipos de culturas e
costumes, os quais merecem respeito, junto a capacidade de elaborar textos escritos e
interpretar aspectos implícitos, ou seja, aspectos que vão além do que está escrito nos
textos.
Outrossim, é preciso que o docente se disponha de alguns pontos relevantes para
se ensinar a literatura para os alunos. Dentre eles, há o que Filipouski (2005: 224) cita:
“Para [a leitura literária] ser desenvolvida na escola, é fundamental que os professores
tenham construídos previamente seu repertório de leitura literária, isto é, que sejam
leitores de literatura”. Nesse sentido, o professor precisa ter um contato com o livro
antes de trabalhá-lo em sala de aula, uma vez que é essencial que o docente tenha
entendimento sobre qual é o assunto das histórias que ele vai levar à sala de aula, e
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também conhecer as histórias dos livros que a escola exige e do porquê eles serem
exigidos.
Graça Paulino (2005: 63) afirma o seguinte “a leitura literária deve ser processada
com mais autonomia tendo os estudantes direito de seguir suas próprias vias de
produção de sentidos, sem que estes deixem, por isso, de serem sociais.” O docente
precisa compreender que há uma infinitude de gêneros textuais e que cada um deles
desempenha um papel social. Junto a isso, entender que cada aluno tem a sua própria
interpretação e por causa disso nunca impor que os pequenos pensem igual a eles já que
as interpretações de cada um são diferentes.
Santos e Paiva (c2016, p. 4 apud ABRAMOVICH, 1997, n.p) “discute como
desenvolver, por intermédio da literatura, o potencial crítico da criança.” Nesse sentido,
quando o docente seleciona um livro que tenha um potencial qualitativo, proporcionará
a criança a desenvolver um pensamento crítico em consonância com a sua formação de
leitor a fim de entender o que acontece tanto nas histórias quanto no mundo em que ela
está inserida.
A Literatura infantil, como visto, proporciona as crianças um misto de
sentimentos ao passo em que lê as obras literárias, contribuindo ainda tanto para o
prazer da leitura quanto para a sua formação cidadã e autonomia do seu pensamento. É
comum ainda, que ao lerem os livros, elas passem por um processo de construção de
identidade.
Entende-se então que a criança, quando tem contato com as obras literárias,
consegue se identificar com os momentos em que as personagens da história estão
passando, proporcionando a ela uma certa autonomia, ou seja, não precisa que um
adulto imponha o que ela deve pensar no seu modo de ver o mundo. Além disso,
proporciona meios para que os pequenos entendam e resolvam conflitos internos que as
mesmas podem estar presenciando.
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No entanto, é comum ver que nem todas as crianças, aqui mais especificamente a
criança negra, se sentem representadas. Envolve nesse caso toda uma questão em torno
da construção das personagens, levando em consideração as questões étnico-raciais e os
estereótipos giram em torno dessa comunidade. Desse modo, como será abordado no
próximo capítulo, buscou-se nesse trabalho discutir a importância da representatividade
do negro na literatura infantil e como isso afeta a vida das crianças.
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Mediante ao que tem sido falado sobre literatura infantil, um dos pontos que
merece destaque a ser discutido é o seu papel dela na construção da identidade,
principalmente, no que diz respeito a identidade construídas pelos que estão à margem,
como é o caso dos negros os quais serão tratados no decorrer desse capítulo. Para
entender melhor esse processo identitário causado pela literatura, retoma-se a ideia de
que a ela sempre vai causar um misto de sentimentos em seus leitores; logo, a partir
disso, percebe-se que esse é um dos motivos fundamentais na construção de identitária
do indivíduo, uma vez que ele poderá se espelhar nos personagens dos livros.
Como foi visto anteriormente, a literatura infantil se caracteriza por desenvolver o
campo imaginário e crítico da criança, e agora a construção identitária das mesmas. O
mundo da literário voltado para as crianças sempre teve uma forte presença dos contos
de fadas, principalmente os que são de fora do Brasil, o que por sua vez, resulta que a
criança tenha uma interligação do que é imaginário e o que é real, já que esse gênero
textual mescla tanto o campo da realidade quanto o da imaginação.
A partir desse exposto sobre a literatura infantil, começa uma certa problemática
em torno do estereótipo que é criado sobre as personagens desses contos de fadas. Isso
fica reforçado quando se percebe que a maioria dos contos infantis europeus foram
importados pelo Brasil. Quando se olha para a famosa história a Branca de Neve, por
exemplo, Rhodes et. al. (2017: 2) afirmam que as crianças as quais não se encaixam no
padrão da personagem brancas têm duas opções: ou se identificam com a Branca de
neve, o que faria com que elas estivessem negando a sua identidade, ou repelir a
personagem já que ela não apresenta o mesmo biotipo delas.
Os autores ainda indagam “Qual criança, normal, não se apaixonaria por anões,
abóboras se transformando em carruagens, etc? Até as adultas!” (idem, 2017, p. 2). Por
sua vez, essas observações dos autores reforçam a ideia de que essas histórias
contribuem mais ainda para as crianças negarem a si mesma do que repelir a
personagem. Aliás, todos querem ser vistos como a personagem do conto já que ela
apresenta boas qualidades como a beleza, a gentileza e ainda se comunica com os
animais. Infelizmente, essa visão só corrobora com a questão do estereótipo e não
identificação à construção da identidade da criança negra.
Ao analisar a questão que envolve os negros na literatura, os autores afirmam:
“No passado, o negro era praticamente ausente nas obras literárias infantis, em algumas
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raras aparições, sua presença era tão somente para enfatizar a raça, quase sempre mudo
e serviçal” (idem, 2017, p. 2). Além disso, ao analisar a situação do negro também nas
obras literárias, a autora Flora Sussekind (1982: p.15) diz: “um eterno abrir e fechar
portas, entrar e sair de cena, ou a obedientes cumprimentos de ordem. Chega-se à
conclusão que o negro só tinha presença nas histórias de acordo com as situações
análogas aos contextos decadentes em que eles sempre estiveram inseridos.
Não obstante, os autores trazem uma reflexão sobre o apagamento do negro na
literatura que, segundo eles (idem, 2017, p. 2), ocorre em detrimento do branco, fazendo
com que os brasileiros sintam uma certa repulsa da cultura negra. Conclui-se que esse
fato não se passa de um racismo estrutural, isto é, atitudes que foram ficando
internalizadas na sociedade com o passar do tempo a fim de que uma etnia passe a ser
melhor que a outra. Por sua vez, esse apagamento do negro acaba destoando o real
sentido de literatura, já que ela representa a cultura de um povo e ainda a sua identidade.
Luiz Henrique Silva de Oliveira ao fazer uma análise do negro na literatura
brasileira, do século XX, diz o seguinte: “majoritariamente foram os autores brancos
que cumpriram a função de escrever, ‘de fora para dentro’, os afrodescendentes”
(OLIVEIRA, 2014, p. 15). Percebe-se que a maioria desses personagens, quando
apareciam em algum livro, era justamente representado de acordo com o que o escritor
branco traçava sobre ele. A explicação mais plausível para esse fator era a falta de
oportunidades ou até mesmo rejeição dos negros no mercado literário, sendo assim
reinando a visão do branco ao retratar os personagens de acordo como eles viam ou
achavam que eram.
Como se sabe, a literatura contribui para a ampliação do conhecimento de mundo
e construção do pensamento social da criança, permitindo que elas, quando leem ou
escutam histórias possam se identificar com as personagens, já que cada um dispões de
características que mais as chamam atenção seja o mais belo, corajoso, que sempre
ajuda. Isso, por sua vez, corrobora para a construção identitária dessa criança.
Entretanto, quando se olha para a criança negra, percebe-se que nem sempre ela
consegue ter essa disposição de personagens já que nem sempre elas se assemelham a
seu biotipo devido a questão do racismo ou até mesmo pela falta de representatividade
dos contos que são oriundos da Europa.
Atualmente, no Brasil, pode-se dizer que há um certo aumento nas produções
literárias infantis feitas por negros para as crianças negras. Por sua vez, isso acaba
facilitando a criança a ter uma maior aceitação e também um exemplo a quem se
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espelhar, tendo em vista que, quando um escritor negro escreve para uma criança negra,
ele tem ciência que ali irá mostrar toda a cultura negra àquela criança, com o intuito
dela moldar o seu senso crítico de acordo com as mazelas sociais que os negros ainda
perpassam. Diferente, por exemplo, de quando se vê um escritor branco retratando
algum personagem negro como principal, tendo em vista que ele vai transpor naquelas
personagens a sua visão idealizada de como é ser um negro. Essa perspectiva do branco
em representar personagens negros acaba resultando num fenômeno bem recorrente
nessas obras: o colorismo.
Ao se falar sobre o colorismo, é preciso fazer um breve recorte de como ele surgiu
e como afeta a sociedade em geral. É inegável que o Brasil é um país miscigenado, ou
seja, há diversas pessoas que são diferenciadas por suas cores, já que o país vivenciou o
período de colonização pela Europa. Devido a esse histórico, surge então a necessidade
de fazer a separação entre as raças que são tratadas como superiores brancos e mestiços
e as inferiores: negros.
Tainan Silva, em sua pesquisa sobre o colorismo, pontua:
O colorismo é uma forma de discriminação racial que surge com o intuito de fazer
a divisão dos indivíduos pela cor da pele. É nesse ponto que então entra uma outra
denominação para o colorismo: a pigmentocracia a qual seria uma forma de excluir uma
pessoa que tem a pele mais pigmentada como é o caso dos negros os quais são mais
retintos, ou até mesmo, como Silva (2017) coloca: os aspectos fenotípicos, isto é, os
cabelos que podem ser crespos, o nariz que é um tanto largo e arredondado, visto que,
essas características, são vistas em pessoas de descendência africana, influenciando
mais ainda que haja a discriminação propagada pelo colorismo. Nesse sentido, é
possível perceber que só o padrão branco, de cabelos lisos e olhos claros são bem
aceitos, enquanto o negro é visto como feio e ruim.
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Além disso, vale destacar que a pigmentocracia contribui para a manutenção desse
colorismo não só por pontuar as diferenças de brancos e negros, mas também pelas
diferenças entre os próprios negros. Acontece que, há ainda uma divisão feita entre a cor
dos negros que são mais retintos, isto é, que têm a pele mais escura e os negros que são
caracterizados como negros de pele mais clara. Silva (2017) diz “Ainda que não
considerados como brancos, tem-se que os negros de pele mais clara gozam da
possibilidade de serem tolerados em ambientes de predominância branca.” Viavelmente,
tal fato ocorre pelo simples motivo de que o negro que tem a pele mais clara, por mais
que ele não exerça todos os direitos que uma pessoa branca tem o privilégio, tem uma
facilidade de ser mais aceito na pelo homem branco. Aline Djork afirma o seguinte:
É evidente que nas falas da autora há sim uma classe de negros – de peles mais
claras – que serão mais aceitos pela branquitude, visto que, neles, é possível encontrar
traços que convergem com o homem branco. Entretanto, como Silva (2017) coloca, por
mais que essa aceitação aconteça, o colorismo não tem a intenção de fazer com que esse
negro de pele mais clara seja mascarado no ambiente da branquitude, isto é, como um
acolhimento. Pelo contrário: “A tolerância por pessoas negras cujos traços físicos são
mais aceitos pela branquitude em espaços que essa mesma branquitude pretendia manter
exclusivo, ressalta tão somente como o racismo ainda é camuflado em sociedade”
(SILVA, 2017, p. 12). Dessa forma, é perceptível que essa pigmentocracia só faz
perpetuar a discriminação racial, resultando ainda no surgimento de uma segregação
inter-racial a qual surge por essa necessidade de que querer branquear a população
negra do país.
Na perspectiva da Literatura infantil brasileira, corroborando com o que foi
tratado sobre o colorismo e a pigmentocracia, quando se analisa personagens negros que
foram elaborados por escritores brancos é muito comum que se veja ocorrências do
colorismo. Acontece que as personagens acabam sendo submetidas a um único tipo de
tonalidade em sua pele, chegando a ser tratada como marrom para designar a tonalidade
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restrita apenas aos negros que são mais claros, ou seja, os que estão mais próximos dos
traços da branquitude, enquanto o negro mais retinto acaba ficando à margem. Por sua
vez, acaba restringindo de forma negativa a identidade racial da criança negra.
Para Gomes (2005: 42), “reconhecer-se numa identidade supõe, portanto,
responder afirmativamente a uma interpelação e estabelecer um sentido de
pertencimento a um grupo social de referência.” Ou seja, sabendo que a literatura
infantil é um instrumento que vai auxiliar a criança, mais especificamente a criança
negra, no seu processo de construção de identidade, é importante que ela tenha
elementos que sirvam de referência como personagens que seja representados de
acordo com seu biotipo e traços fenotípicos para que a criança possa se sentir
representada de forma positiva.
Além disso, vale retomar o papel do professor nesse assunto, pois, como Oliveira
e Ferreira (2020) afirmam, é de fundamental importância que haja discussão a respeito
de raça nas salas de aula. Esse motivo se dá justamente porque existem muitas crianças
negras que acabam não se reconhecendo como negra, tendo em vista, por exemplo, pela
falta de representatividades que são positivas. Sobre esse viés, Gomes se refere à
identidade negra:
Partindo dessa colocação, percebe-se o quão importante será para os alunos que a
escola e o professor, mais especificamente quando se trata de trabalhar com textos
literárias para o atuem nesse processo de construção da identidade do aluno, trazendo
discussões a respeito das questões raciais e da representação e aceitação do aluno negro.
É nesse sentido que a literatura infantil entra como uma dentre as diversas
possibilidades de discussão para essa questão, já que, os livros infantis, além de
ajudarem no processo de formação do leitor e explorar a imaginação e o conhecimento
de mundo das crianças, ainda traz ilustrações, por exemplo, que destacam o perfil das
personagens como cabelo, cor de pelo, traços físicos.
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Sendo assim, em suas obras, é comum que o leitor encontre elementos que são de
praxe nos livros voltados ao público infantil: castelos, fadas, príncipes, monstros;
entretanto, mais do que isso, Monteiro ainda mesclou em suas narrativas elementos que
são imprescindíveis da base cultural brasileira como é o caso do folclore. Não obstante,
o escritor, além dessas características, utiliza uma linguagem acessível as crianças, o
que torna a leitura dos livros mais divertidas e atraentes à curiosidade dos pequenos,
sem contar. Com isso, o pai da literatura infantil conseguiu fazer com que muitas
crianças pudessem ter referência de personagens os quais tinham características comuns
à sua realidade, proporcionando a elas, então, a construção de sua realidade.
No entanto, ao se tratar dessa construção identitária, é indiscutível que, mesmo
Lobato tenha sido um gênio e um grande autor para a literatura infantil brasileira, as
suas obras são um tanto problemáticas quando se trata das personagens negras
construídas por ele. A partir disso, selecionou-se uma de suas obras mais conhecidas e
aclamadas “O Picapau Amarelo”, o qual foi o décimo sétimo livro de sua coletânea
chamada “Sítio do Picapau Amarelo”, a fim de discutir como era a representação do
negro em um livro infantil um pouco mais antigo.
Em “O Picapau Amarelo”, a história central se passa no Sítio de Dona Benta,
onde moram as personagens do mundo real – a vó Dona Benta, os seus netos Pedrinho e
Narizinho, e a empregada Tia Nastácia – e as personagens que compõe o mundo
fantástico – a boneca Emília, o sabugo de milho Visconde de Sabugosa e aquelas que
virão passear pelo sítio, tais como: O Pequeno Polegar, Dom Quixote, Branca de Neve e
os sete anões, Belerofonte entre outros. Em um determinado dia, os moradores do Sítio
recebem uma carta de um personagem que mora no “mundo das fábulas” O Pequeno
Polegar. Através disso, os moradores do sítio têm a brilhante ideia de trazer todos os
reinos do mundo das fábulas para o mundo real, começando então o clímax de uma
história cheia de diversão e de aventuras.
É nesse sentido que se pode identificar a genialidade do autor em duas óticas. A
primeira é justamente a sua excelente ideia em mesclar as personagens as quais são
cânones das mais diversas famosas narrativas infantis, como as que estão nos Contos de
Fadas, nos Contos das Mil e uma Noites e nas Mitologias. O resultado disso, por sua
vez, é proporcionar ao leitor uma ampla imersão cultural, retratando a forma como cada
personagem do imaginário infantil é retratado nos diferentes países.
Já o segundo ponto que é possível destacar é o paradoxo que o livro traz entre o
mundo real e o mundo das mentiras. Magno Silveira afirma:
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Isto é, se por um lado o Sítio de Dona Benta é bem popular para o “mundo de
mentira; por outro, observa-se que o lugar não é parte desse mundo dos contos de fadas,
mas sim do real.
A partir disso, entende-se que para Lobato excluir os elementos que fazem parte
da construção do imaginário infantil é também excluir tudo o que é impalpável. O autor
traz essa discussão usando a imagem de um ser divino:
não estudada. A personagem quase não tem fala na história, e, quando aparece, é para
indicar que está fazendo alguma comida
Pra tudo há remédio, Seu Sancho. Ali no forno tem uma perna de
porco assando, dessas da gente comer e berrar por mais. Tenha
paciência. Daqui a meia hora tá no ponto...
(LOBATO, [1938] 2020, p. 128).
[...] Estavam nesse debate, quando Tia Nastácia entrou com o café.
- Ué Sinhá! Então está de neta nova? – Disse ao ver Branca no colo de
Dona Benta
(LOBATO, [1938] 2020, p. 107).
É interessante notar nesse ainda a forma como Tia Nastácia se refere a Dona
Benta “sinhá”. Essa palavra pode ser definida como o modo que os negros escravizados
se referiam a seus donos. Partindo dessa ideia, essa caracterização da personagem leva a
entender que ela é retratada não só como uma simples empregada, mas como também
uma mulher que foi escravizada e que tem o papel apenas de servir as vontades de sua
senhora. Além disso, ainda leva a entender que ela é uma personagem ignorante por não
conhecer uma das personagens mais famosas das histórias infantis.
Há ainda dois outros pontos que merecem ser destacado. O primeiro diz respeito
ao excesso da utilização da palavra “negra” (9) ou ainda “preta” (14), as quais,
contabilizam uma soma de 23 vezes, todas as vezes que a Tia Nastácia aparece na
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história. Muitas vezes, dá-se a entender que o autor se utilizou desses termos não para
exaltar a negritude da personagem, mas sim de zombar pelo fato dela ter esse biotipo. O
segundo está relacionado à personagem ser a única que tem um dialeto marcado, isto é,
entende-se que o negro, diferente das outras personagens “cultas”, era aquele que não
“sabe falar português”.
Sinhá diz que limão é bom contra uma tal doença de navio
chamada de “escrubuto”– explicou ela, estropiando a palavra
“escorbuto”.
(LOBATO, [1938] 2020, p. 170).
Desse modo, percebe-se que quando uma criança negra não consegue se
identificar com as personagens que representam o seu biotipo, ela vai acabar se sentindo
como um inferior, como sem importância, o que acaba, por sua vez, prejudicando-a
futuramente. Foi pensando assim que se buscou falar de forma geral a respeito de livros
infantis em que o protagonista é negro, levando em consideração uma perspectiva de um
escritor negro e de um escritor branco e como isso corrobora na construção identitária
da criança afrobrasileira.
É inegável como a obra “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado,
mesmo tendo sido lançada em 1986, ainda é uma das mais conhecidas quando se quer
discutir, por exemplo em sala de aula, a representatividade por meio da literatura
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infantil. O livro conta a história de um coelho que queria ser preto e de uma menina bem
pretinha. A princípio, a garotinha não tem nome, mas é conhecida como a Menina
bonita do laço de fita. A história é contada por um narrador que, logo na primeira página
do livro, descreve a menina:
No decorrer das páginas, o leitor se depara com um coelho branco que era vizinho
da menina. Ele estava sempre elogiando-a e fazendo perguntas para saber como ela era
preta, pois o sonho dele era ter uma filha igual a garota:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que
nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão
pretinha?
(MACHADO, [1986] 2016, p. 7-8).
Certo dia, entretanto, o coelho faz a mesma pergunta à menina a qual, dessa vez,
está acompanhada da mãe. Antes mesmo da garota responder a pergunta do coelho:
[...] a mãe dela, que era uma mulata linda e risonha, resolveu se
meter e disse: - Artes de uma avó preta que ela tinha...
(MACHADO, [1986] 2016, p. 15).
A partir disso, o coelho tem a ideia de procurar uma coelhinha pretinha para que
eles pudessem se casar e assim terem um filhote pretinho. Só que, além de nascer uma
coelhinha preta, na ninhada teve filhotes de diversas cores.
Tinha coelho pra todo gosto: branco bem branco, branco meio
cinza, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma
coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que
morava na casa ao lado.
(MACHADO, [1986] 2016, p. 21).
A coelhinha pretinha, por sua vez, feliz por ter nascido assim, sempre que alguém
a questionava a mesma pergunta que o seu pai fazia à Menina, respondia:
Analisando a obra, pode-se ver que o livro aborda de forma simples a diversidade
cultural, permitindo assim que as crianças negras mais especificamente possam se
identificar com a Menina bonita do laço a qual tem a sua negritude exaltada no texto.
Além disso, destaca-se de forma implícita na ninhada dos coelhos uma alusão do Brasil
o qual é conhecido por ser um país miscigenado a inversão de status, tendo em vista que
há um personagem branco fazendo de tudo para tentar ser negro. Ainda ensina os
pequenos que há todo um passado ligado à sua ancestralidade para que eles, assim como
as meninas, pudessem ter nascidos negros, por mais que isso tenha sido tratado de
forma rasa no livro que é quando a mãe fala brevemente que é por conta da avó da
personagem. Enfim, a forma como o negro é tratado no livro é um avanço e tanto para o
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que antes era visto como uma demonização, tendo suas características como feias ou
apenas aparecendo nas narrativas para servir a seus senhores.
Todavia, por mais que o livro seja uma ótima opção para se trabalhar a
representatividade do negro, Machado, assim como alguns autores negros que possam
vir escrever sobre personagens negros, acaba em alguns pontos traçando pontos que são
um tanto problemáticos. Um desses pontos é que o livro já pelo título e capa dá a
entender que a história será de uma menina negra, o que não é excluído em sua
totalidade, tendo vista que fala sim sobre uma garotinha que é pretinha. Entretanto, é a
personagem branca (coelho) que ganha mais destaque em sua busca insaciável para
tentar se transformar em negra a todo custo, destaque ainda para a mãe que é não é
negra mais sim designada como mulata que nada mais é, biologicamente, o resultado do
cruzamento entre um branco com o negro. A segunda está ligada com a zero falta de
conhecimento da menina em saber de suas origens o que a faz dar respostas
mirabolantes para cada pergunta que o coelho faz, dando a entender que se não fosse
por ele, talvez, ela nunca soubesse de onde veio.
Outrossim, é como o narrador caracteriza a cor da menina, comparando-a com
uma pantera. Por mais que isso talvez não soe como constrangedor, é interessante notar
que os negros na maioria das vezes são comparados com animais, fazendo com que sua
imagem seja denegrida. Olhando a construção de personagens brancos é muito comum
ver que ela é feita de forma simples, sem que haja uma animalização. Ressalta-se ainda
uma passagem em que a mãe da menina faz tranças no cabelo dela as quais são
enfeitadas com o laço de fita e o narrador diz:
Interessante notar que esse trecho traz uma qualificação muito simplória a respeito
da negritude da menina, porém é um tanto estranho quando se observa que a menina,
por ser negra, tem o seu direito limitado a ser alguém reconhecida apenas por um lugar
só de negros que é a África, diferente de uma princesa branca a qual será tratada apenas
como princesa.
33
Talvez não tão conhecida quanto a citada anteriormente, porém mais recente, a
obra “Amoras”, de Emicida, o qual é negro e adaptou sua música e para livro, tem uma
grande relevância à literatura afro-brasileira infantil por abordar a construção da
identidade do negro. Publicada em 2018, o livro, contado em forma de poesia, traz a
satisfação do eu lírico, no caso, a de um pai ao ensinar a sua filha sobre a
representatividade negra e como isso pode ser prazeroso para o desenvolvimento da
autoconfiança dela.
Em Amoras, a história se dá quando um dia o pai está passeando com a filha num
pomar onde há amoreiras, isto é, árvores que dão amoras. A partir disso, ele mostra à
filha a beleza das amoras o que por sua vez faz com que a menina reflita e chegue à
conclusão de qual era a sua identidade, tendo em vista que é nesse momento que a
menina começa a pensar como ser negro também é doce.
Em um passeio
Com a pequena no pomar,
explico que as pretinhas
são o melhor que há.
Amoras
Penduradas a brilhar,
quanto mais escuras, mais doces.
Pode acreditar.
(EMICIDA, 2018, p. 16-20).
Então a alegria
acende os olhos da menina;
que conclusão incrível
alcançou a pequenina?
(EMICIDA, 2018, p. 22).
Além dessa aceitação, o rapper trouxe para o livro elemento que fazem referência
à cultura negra, como na religião a mitologia yorubá² em consonância com grandes
ativistas que lutaram pelos direitos dos negros:
Pode olhar,
lá tudo é puro e profundo
que nem Obatalá, o orixá
que criou o mundo.
1
Um tipo de penteado usado por homens e mulheres negras que é simbolizado pela resistência e
empoderamento negro.
² Mitologia que está relacionada as religiões africanas, baseando-se em uma vida harmônica e em
comunidade.
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Forte como um
lutador no ringue
e gentil
como Martin Luther King,
Seguindo o que foi discutido nessa pesquisa, elaborou-se uma atividade com o
tema: Identidade Negra na Literatura Infantil a fim de mostrar uma forma de se
trabalhar na prática o que foi abordado aqui nesse trabalho. Para isso, levou-se em
consideração a discussão da identidade do negro, utilizando como base o livro Amoras,
do Emicida. A atividade foi aplicada na disciplina de Língua Portuguesa para uma
36
• O livro: Amoras;
• Tesoura;
37
• Cartolinas;
• Lápis;
• Cola;
• Fita;
• Cartolinas;
• Material impresso.
Em seguida, foi a vez da leitura coletiva em que o professor foi lendo para eles,
enfatizando não só os elementos verbais, mas também os não verbais.
A terceira etapa ficou encarregada da discussão do livro, de acordo com as duas
habilidades da BNCC (2017) EF15LP10 e EF15LP15, a qual foi elaborada com os
seguintes questionamentos, sendo alguns deles referentes as respostas que os alunos
deram nas perguntas da primeira parte.
ponte sobre o Dia da Consciência Negra e explicar aspectos do tipo: O porquê desse dia
ser importante e ser celebrado; explicar o que era racismo e também o porquê de não
existir racismo com pessoas brancas; falar que devemos respeitar uns aos outros e que
qualquer discriminação é crime.
Figura 3 – Martin Luther King (esq.) e Zumbi dos Palmares (dir.) (Fonte:
Google Imagens)
Dessa maneira, foi interessante notar que a atividade conseguiu atingir o objetivo
maior que era de mostrar as crianças a importância da diversidade, principalmente
utilizando a literatura. Permitiu a elas entenderem como é fundamental a tanto a
representatividade, tendo em vista que permite às pessoas poderem se identificar e
assim passarem por sua construção identitária, como também é importante que não se
discrimine e que todos possam ter todos os direitos exercidos de forma equalitária.
41
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, por mais que tenha sido tarde, a independência das histórias literárias
infantis vindas da Europa foi de grande importância para o Brasil, tendo em vista que o
país pôde produzi histórias as quais estão de acordo com a realidade que é vivenciada
por muitos brasileiros. Lobato foi uma figura emblemática para a ascensão de uma
literatura infantil fidedigna a realidade brasileira, haja vista que o autor primordialmente
rompe com os padrões literários que chegavam da Europa, valorizando, assim, a os
costumes e valores culturais como preservação do ambiente local e do folclore. Além
disso, consegue elevar o mercado literário infantil, abrindo espaço para diversos autores
que viriam a participar desse comércio.
A literatura infantil se torna necessária na sala de aula, justamente, por fazer com
que as crianças além de sentir o prazer pela leitura, tenham meios de se sentirem
inclusas e representadas pelos protagonistas das mais diversas narrativas. A Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) ajuda o professor a entender o quão importantes
são esses aspectos do Eixo Literatura para os alunos, uma vez que, através desse eixo,
eles terão contato com uma ampla diversidade cultural e também o desenvolvimento do
seu senso crítico, discutindo e debatendo assuntos que são relevantes à sociedade. Para
isso, o discente, quando trabalhar com a representatividade com histórias infantis,
precisa ter um amplo campo de pesquisa sobre as questões étnico-raciais em
consonância com maneiras para que o tema da representatividade possa ser aplicado de
forma contínua.
Por mais que seja de forma lenta, é possível notar que as histórias infantis têm
evoluído no que diz respeito ao tratamento de personagens negros, propiciando à
criança negra a sua aceitação e a se identificar com as qualidades das personagens que
fazem parte de seu biotipo. Ao se olhar para a obra O Picapau Amarelo, de Lobato, vê-
se que autor foi muito importante para a literatura infantil brasileira, porém isso não
impediu que o pai da literatura infantil cometesse problemas na caraterização de suas
personagens como foi o caso das que eram negras, fazendo com que os leitores negros
se sentissem excluídas e ridicularizados. Ana Maria Machado, por sua vez, traz questão
da representatividade negra em sua obra Menina bonita do laço de fita de forma
simpática e divertida. Porém a autora de certa forma cria a personagem negra é de forma
superficial e estereotipada. Além do mais, o protagonismo que, a princípio, pensa-se ser
da menina acaba sendo do coelho branco. No entanto, em Amoras, de Emicida, há uma
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construção fiel da personagem negra, abordando aspectos dos valores afro como a
culturais, a religião, personagens que são emblemáticos na luta pela igualdade racial, a
afetividade, a aceitação das crianças negras. É sobre esse viés que é importante notar a
diferença do tratamento da perspectiva de uma pessoa branca escrevendo sobre negros e
de negro escrevendo sobre personagens negros. Infelizmente, por questões, raciais tais
como o colorismo e a pigmentocracia, é muito comum que se trabalhe com autores
brancos, o que acaba ainda deixando a discussão sobre a representatividade negra
estigmatizada, no entanto cabe aqui dizer que o professor terá mais facilidade em
trabalhar as questões da representatividade negra ao selecionar livros em que o
protagonista, além de ser negro, foi desenvolvido por um autor negro, tendo em vista
que esse tem mais conhecimento e autonomia para transpassar as questões que
concernem os costumes e valores afro-brasileiros.
A pesquisa desenvolvida apresentou uma proposta pedagógica de como se
trabalhar a representatividade negra em sala de aula, levando em consideração aspectos
através do livro Amoras, tais como a aceitação, a afetividade, a sensibilização das
crianças não brancas e também valores culturais da comunidade afro-brasileira como a
religião, a ancestralidade. Além do mais, uma forma didática de como se aplicar a todo
esse conhecimento de forma prática a fim de fazer com que a criança possa fixar o que
aprendeu.
Mediante a tudo que foi discutido sobre a representação do negro na literatura
infantil, conclui-se que a pesquisa mostrou como é imprescindível a atuação da
literatura infantil na formação das crianças, principalmente no que diz respeito as
crianças negras, trabalhando o seu processo de aceitação por meio da representatividade
negra nas histórias infantis. Ao trazer essas questões para a sala de aula, o discente deve
primordialmente saber selecionar o(s) livro(s) que deseja trabalhar com sua turma, os
materiais e também a elaboração de um plano de aula, tendo em vista que fará com que
o ele atinja de forma efetiva o ensino-aprendizagem das crianças. É crucial que
professor não fique só na teoria, mas de forma prática traga meios o tanto que a criança
negra se sinta inclusa e representada nas mais diversas histórias, quanto para que a
criança branca se sensibilize que há grupos que não se dispõe do mesmo privilégio que
elas.
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REFERÊNCIAS
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CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e prática. 18 ed. São
Paulo: Ática, 1999.
DJORK, Aline. Colorismo, o que é e como funciona. Portal Geledés, 2015. Disponível
em: <https://www.geledes.org.br/colorismo-o-que-e-como-funciona>. Acesso em: 13 de
junho de 2021
FILIPOUSKI, Ana Maria Ribeiro. Para que ler literatura na escola? In: ______. Teorias
e fazeres na escola em mudança. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2005.
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MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita do Laço de Fita. Ilustração de Claudius, São
Paulo, Ática, 2016.
SANTOS, Daniele da Costa Leão; PAIVA, Sílvia Cristina Fernande. Literatura infantil
e a formação do professor formador de leitores. DocPlayer, 2015. Disponível em:
45
https://docplayer.com.br/9910200-Literatura-infantil-e-a-formacao-do-professor-formad
or-de-leitores-daniele-da-costa-leao-santos-1-silvia-cristina-fernandes-paiva-2.html.
Acesso em 24 de abril de 2021
SILVA, Ivanda Maria Martins. Literatura em sala de aula: da teoria literária à prática
escolar. Anais do Evento PG Letra. 30 Anos, vol. I (1): 514-527. Disponível em:
https://pibidespanholuefs.files.wordpress.com/2015/07/texto-para-o-encontro-de-amanh
c3a3.pdf. Acesso 13 de julho de 2021.