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https://novaescola.org.br/conteudo/21714/autoras-negras-para-
trabalhar-em-sala-de-aula
Publicado em NOVA ESCOLA 17 de Julho | 2023
Literatura
Obras podem apoiar o debate sobre temáticas que representam desafios para
as mulheres negras e mais: promover diversidade nas aulas. Getty Images
Exaltar e dar visibilidade à luta contra o racismo e o machismo. É esse o objetivo
do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha,
comemorado em 25 de julho. No Brasil, a data é duplamente importante, já que
aqui também é o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Por
isso, o mês vem sendo chamado de Julho das Pretas, centralizando debates
sobre a temática negra feminina – o que pode, claro, ser aproveitado nas salas
de aula.
Tereza de Benguela virou símbolo de resistência à frente do Quilombo
Quariterê, que reunia negros e indígenas escravizados no Mato Grosso, no
século 17. A ideia da data é trazer visibilidade para o protagonismo, não apenas
da líder quilombola, mas também de outras mulheres negras que fizeram e
fazem história mesmo diante do apagamento, preconceito e machismo.
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, por sua
vez, foi instituído em 1992, após um encontro que reuniu grupos de feministas
negras na República Dominicana para debater o impacto do machismo e do
racismo na vida das mulheres negras e exaltar a luta de todas.
Realidade da mulher negra mostra urgência do
debate
No segundo trimestre de 2022, enquanto o índice geral de desemprego no
Brasil girava em torno de 9,3%, entre as mulheres negras o percentual era de
13,9%. Para homens e mulheres brancas as taxas eram de 6,1% e 8,9%
respectivamente, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Por outro lado, o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), aponta que, em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil
eram negras. Segundo o estudo, para cada mulher não negra morta, morrem
quase duas negras no país.
Para marcar a data, a NOVA ESCOLA ouviu professoras que dão dicas de
autoras e livros que podem apoiar o debate dessas temáticas, valorizar a
atuação de mulheres negras na sociedade, além de promover diversidade nas
aulas.
Confira obras de autoras negras e sugestões de
abordagens
Sonia Rosa
Para o dia 25 – e principalmente para todo o ano – a colunista da NOVA ESCOLA,
professora Selene Coletti, que tem experiência na Educação Infantil e Anos
Iniciais, indica a escritora carioca Sonia Rosa.
“Os textos são de um ritmo gostoso, muitas vezes, com rimas. Trazem temas
relevantes e bastante reflexivos, como o Menino Nito, que trabalha a questão
do choro para os meninos”, explica. Já o livro Alice vê chama atenção pela
ilustração que dá para ser explorada, ‘relida’ e, por que não, reescrita,
principalmente pelas turmas da Educação Infantil. “É de uma singela poesia”,
define Selene.
Outra opção de Sonia Rosa é Enquanto o almoço não fica pronto. A história
aborda o papel do homem na família, mostrando que ele também compartilha
tarefas domésticas, além de trazer uma família negra como protagonista,
“permitindo às crianças pretas se verem retratadas nas histórias. Assim, a
autora pode ser lida tanto pelas crianças da Educação Infantil como dos Anos
Iniciais, aprofundando as conversas de acordo com a turma”, aconselha a
educadora.
Tereza Cárdenas
A professora de Língua Portuguesa, Ana Cláudia Santos, dá aulas nos Anos
Finais, na rede estadual de Minas Gerais, há mais de 20 anos. Também colunista
da NOVA ESCOLA, ela afirma que uma boa escolha é trabalhar com a obra
Cartas para a Minha Mãe, da cubana Tereza Cárdenas.
“Tereza sentia falta de personagens negras em livros infantis. Cartas para Minha
Mãe é a história de uma menina preta que, depois de ficar órfã, começa a
escrever cartas para a mãe. Por meio de sua escrita, descobrimos que as primas
a maltratavam e queriam que ela fizesse um esforço para disfarçar sua cor para
ficar mais parecida com uma pessoa branca”, detalha Ana Cláudia.
Teresa escreveu também o livro Cachorro Velho, com o qual recebeu o Prêmio
Casa de las Américas, na categoria literatura para crianças e jovens. As duas
obras foram publicadas no Brasil.
Carolina de Jesus e Maria Firmina dos Reis