Você está na página 1de 11

MULHERES PRETAS TÊM HISTÓRIA

21 DE JULHO DE 2021, NUM. 5


Nessa edição trouxemos a letra de mulheres O silenciamento das trajetórias dessas mulheres diz
pretas. Estamos em julho, um mês que marca respeito ao processo de invisibilização da memória e
nossas lutas e nossas travessias... O dia 25 de da história do povo negro no Brasil. Estamos aqui a
julho foi reconhecido pela ONU em 1992 como o propor uma reflexão sobre as mulheres negras
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-
invisibilizadas e não podemos deixar de pensar nos
Americana e Caribenha. Na ocasião, foi realizado um
encontro de mulheres na República Dominicana, em caminhos tomados pela História na produção dos seus
que debatiam formas de enfrentamento ao racismo e referenciais e como isso nos afeta desde muito cedo.
ao machismo.
Aí reside o que a escritora Chimamanda Adichie
Aqui no Brasil, essa data é lembrada também
chamou de “perigo da história única”, que é a história
como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da
Mulher Negra, desde 2014. O fato é que Tereza de contada pelo discurso hegemônico, cujo padrão é
Benguela é uma desconhecida para uma parcela masculino, branco, cis, heteronormativo e rico. Nesse
significativa da população (mesmo na Academia), processo, as mulheres são cada vez mais colocadas
assim como Maria Felipa, Zeferina, Luiza Mahin e num plano de desqualificação e silenciamento,
tantas outras mulheres negras. especialmente as mulheres negras. Qual a lógica?
Esta é a inquietação principal que move a minha
análise sobre esta data. Aliás, é importante ressaltar,
que o 25 de julho não é um dia para festejos ou
comemorações. Infelizmente ainda termos a
necessidade de discutir formas de enfrentamento ao
racismo e ao machismo em pleno século XXI, quase
30 anos após aquela conferência e mais de 130 anos
após a abolição jurídica da escravidão.

Como disse, a data marca também o dia da mulher


negra brasileira, em homenagem a Tereza de
Benguela, para muitxs, uma ilustre desconhecida!
Infelizmente, a trajetória da “rainha do Quariterê”, que
comandou um quilombo no Mato Grosso durante mais
de 20 anos no Brasil Colonial, na segunda metade do
século XVIII ainda é uma lacuna para muitxs de nós.
Isso nos leva a uma reflexão sobre a invisibilidade da
mulher negra na História e como esse processo de
invisibilidade constrói e reforça a solidão da mulher
negra em vários aspectos, bem como o silenciamento
da sua fala.

Quantos dos livros didáticos de História trazem


referências a Tereza de Benguela ou a algumas
outras mulheres negras? Quem de vocês ouviu
falar sobre Tereza na escola? Sobre Maria Felipa?
Sobre Luiza Mahin? Sobre Aqualtune? Sobre
Acotirene? Sobre Dandara? Nas suas aulas de Aline Najara Gonçalves é doutoranda em História
Literatura, vocês leem Maria Firmina dos Reis? Social (UFRRJ), mestra em Estudo de Linguagens
Carolina Maria de Jesus? Miriam Alves? (UNEB), especialista em História e Cultura Afro-
Conceição Evaristo? Cristiane Sobral? brasileira(FAVIC) e licenciada em História (UNEB).
É professora substituta no Colegiado de História
da Universidade do Estado da Bahia (UNEB –
Campus XIII). É autora do livro Luiza Mahin: uma
rainha africana no Brasil.
ENCONTROS ENTRE MULHERIDADES NEGRAS

NA AMÉFRICA LADINA*

Por: Aline de Moura Rodrigues

Venho de um lugar que não me imagina como sendo "de lá". Não tenho os olhos azuis e os cabelos
loiros que estão no imaginário social sobre "a mulher gaúcha". Sempre gostei de pensar em
imaginários, talvez por que acreditasse que não cabemos nos olhares dos outros e às vezes
desaguamos em palavras que, nada sutilmente, reinscrevem as gentes dentro de "fronteiras
imaginárias". A expectativa do viver posto em prática, "ousando" conhecer outros mundos possíveis,
é o ponto chave deste capítulo que carinhosamente escrevo para todes que por ventura leiam os
desalinhos de um amefricana ao sul do Sul, encantada em encontrar negritudes e pretinhosidades
para além do espelho.

Compartilho abaixo um trecho do segundo capítulo de meu trabalho de conclusão do bacharelado


em Ciências Sociais, defendido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em maio deste ano.
Nele eu falo de um outro julho. Um julho pré-pandêmico e no qual eu lidava ainda com algumas
feridas abertas por perdas e desesperanças que 2018 escreveu nas minhas páginas vazias. Acho
importante um alerta: minha escrita é realmente alinear, então misturo "acadêmico" e "não-
acadêmico" sem vergonha nenhuma. Me apropriei das letras e com elas caminho, convidando
sempre que os olhos e ouvidos que me leiam em algum momento, sinta-se em casa, prontos a ficar
confusos e criar novas conversas a partir deste encontro. Prazer, eu sou Aline e gostaria de lembrar
que por trás da letra que você lê, existiu uma vida de uma mulher negra, com trajetória distinta de
outras, carregada de nostalgias e saudades, assim como de memórias.

O ENCONTRO DE JULHO DE 2019

Sonriza, Arena [1] e eu chegamos à Rodoviária de Pinotepa Nacional um dia antes do início do
evento. Estava ansiosa. De San Cristóbal fomos nós – Arena e eu – e uma outra pesquisadora
negra colombiana, estudante do doutorado em Estudos Feministas, que chegou alguns dias depois
em Corralero. Em San Cristóbal haviam várias organizações de mulheres se articulando para outros
dois encontros: o 2º Encontro Nacional de Mulheres em Veracruz e o II Encuentro de Mujeres que
luchan, em território zapatista.

Sobre o Encontro de Mulheres Negras, as únicas pessoas que de fato falavam sobre ele eram as
pessoas negras. Arena e eu nos questionávamos: o que fazia com que não houvesse divulgação do
evento em San Cristóbal? Porque as mulheres não estavam também se organizando para ir ao
Encontro ou tentar saber mais sobre?
A primeira conclusão chegamos foi que por tratar-se de um encontro de mulheres afromexicanas,
pessoas de diferentes gêneros e localizações raciais não se sentiram convidados a participar.
Porém o silêncio sobre o evento em si era o que chamava a atenção, visto que algumas das
principais organizações e projetos que pautam as desigualdades étnico-raciais em relação a
população negra atuam no contexto de San Cristóbal.

Posteriormente, quando retornei a Corralero para uma estadia mais longa, em novembro, soube que
mesmo dentro da comunidade haviam mulheres que não sabiam previamente o que estava
acontecendo. Esse evento, que é organizado por coletivos e movimentos sociais, especialmente o
Movimento Negro Mexicano, advém de uma crescente ação interseccional, onde as mulheres
negras mexicanas tem papel central para as ações em torno do reconhecimento constitucional da
afromexicanidade como uma identidade legitimamente mexicana. A autodefinição em relação a sua
mulheridade coexiste com a autoafirmação de sua africanidade ou negritude nacional.
Assim, compartilho aqui reflexões etnográficas a partir
da participação no III Encuentro Nacional de Mujeres
Afromexicanas, em que pude conhecer algumas
referências do movimento de mulheres negras
mexicanas, a comunidade corralense e suas questões
urgentes, tanto por meio das atividades que
compuseram o programa do encontro, quanto no
convívio com a família de Nzinga e as hermanas da
coletiva Flores de Jamaica, que ali também estiveram.

Quando cheguei a Corralero para o Encontro, sentia


que carregava comigo as mulheres que me ensinam
histórias de resistência e de vida, muitas das quais
forjaram as minhas possibilidades de estudar.

Esse aspecto também está presente nas entrevistas


que compõem este trabalho. Mar, por exemplo, conta
que embora estudar não fosse algo que sonhasse
para ela, tinha muita honra de ter realizado o sonho
que movia o estímulo de seus pais, que por diversas
questões não puderam concluir seus estudos
primários.Por sua vez, Afropurepécha se utilizou da
necessidade de elaborar uma pesquisa final para Aline de Moura Rodrigues - Amefricana do sul do Sul,
cortadora de cabelos e escrevivente. Faço parte do Coletivo
ingressar em um processo de retomada de sua Atinúkẹ́, do GT Cuerpos, Territorios y Resistencias (CLACSO) e
própria história enquanto mulher negra mexicana. Já co-organizo a Encruzilhada Produções Culturais. Sou também
Mestranda em Antropologia Social (UFRGS) e Bacharel em
Lua conta que teve oportunidade de sair de Corralero, Ciências Sociais (UFRGS). Minhas pesquisas são sobre afro-
mas é com as tias e a mãe que “ela existe e aprende”. nacionalidades, políticas publicas e escrevivências na
Améfrica Ladina/Abya Yala.
Mobilizadas pelos movimentos feitos antes de nós, uma geração de mulheres negras jovens, entre
25 e 35 anos, constroem trajetórias de coletividade em encontros que para algumas das “nossas
mais velhas” pareceriam impossíveis.

Os Encuentros Nacionales de Mujeres Afromexicanas nascem do questionamento da


representatividade das mulheres negras mexicanas dentro do movimento, que tem pelo menos 20
anos de existência, se contabilizado a partir da organização em torno do reconhecimento
constitucional. Em 2019, edição que pude participar, o tema do evento era "visibilização,
reivindicação e inclusão". Foi realizado na comunidade de Corralero, localidade do munícipio de
Pinotepa Nacional. Ali reuniram-se cerca de 100 mulheres, entre mexicanas, brasileiras,
colombianas, estadunidenses e de outras geografias.

Comecei este capítulo falando sobre imaginários e compartilho aqui com vocês algumas
inquietações. Tanto a experiência do encontro com mulheres negras de outros lugares, quanto o
questionamento da minha própria existência como mulher negra gaúcha, se articulam no confronto
com os episódios da vida cotidiana. Porque eu não imaginava que poderia estar junto com mulheres
negras mexicanas? Porque fomos ensinadas a limitar, inclusive geograficamente nossa existência
no mundo? Porque nutrir uma ilusão incabível em existências transatlânticas? Perguntas que
mobilizam, juntamente com outras perguntas, vontades de virar letra e encontrar gentes, mesmo
depois de cambiar de existência, virar vento ou mar.

O trabalho intitulado "Encontros entre Améfrica y Abya Yala: negritude e mexicanidade de


mulheres negras", foi uma tentativa de letrear a experiência de campo realizada no México, entre
as cidades de San Cristóbal de Las Casas, Cidade do México e Pinotepa Nacional, partilhando
momentos e existires conjuntos com hermanas negras mexicanas e brasileiras, organizadas
diferentemente em relação a interseccionalidade de raça, gênero e nacionalidade.

Pertinente compartilhar neste julho de 2021, registros de encontros entre mulheridades negras da
Améfrica Ladina, para nos lembrarmos de que somos sementes e estamos semeadas ao largo do
mundo, simbólica e materialmente, no ontem e no hoje. Seguimos florescendo e nos polinizando
amor negro como cura. Ofereço carinhosamente este capítulo reinventado, para as mulheres negras
que me forjaram, as que me nutrem constantemente, as hermanas que generosamente me
receberam e principalmente para minhas mães: Vera Lúcia Costa de Moura e Yemanjá.

*O trecho citado no texto é parte do trabalho de conclusão de curso "Encontros entre Améfrica y Abya Yala:
negritude e mexicanidade de mulheres negras", escrito por Aline de Moura Rodrigues para o Bacharelado em
Ciências Sociais, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2021). Em breve estará disponível no
repositório virtual da Universidade.

[1] Nomes fictícios utilizados para resguardar a identidade das pessoas retratadas no trabalho.
Meu nome é Ana Claudia Santos Gonçalves,
Licenciada em História pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB. É importante destacar
que toda a minha educação/formação se deu
em escola pública. Me formei no ano de 2012,
ingressando na universidade através das cotas
em 2014. Filha de mãe separada e feirante fui a
primeira da minha família a ingressar no ensino
superior.

É dentro do curso dos meus sonhos (História),


que me percebo mulher preta. Que entendo as
contradições históricas que acompanham a
formação do país e o quanto teria que lutar para
permanecer na universidade. Os dois primeiros
semestres foram extremamente desafiadores por
vários motivos, sobretudo pela falta de dinheiro
para continuar. É nesse momento que consigo a
bolsa de iniciação científica. A bolsa não só me Ana Claudia Santos Gonçalves,
permitiu continuar como também me idealizadora do Fórum da Juventude Preta Baiana.
apresentou a pesquisa.

Minha jornada acadêmica foi dividida entre: as


aulas, o trabalho e minha atuação no movimento E tomando as rédeas da situação, ao estar
estudantil. Fui presidente do centro acadêmico majoritariamente controlando a direção desse
de história, fiz parte do diretório central dos coletivo. Os debates, a organização do espaço,
estudantes, além de ser a criadora do Fórum da tudo isso e muito mais foi se transformando
Juventude Preta Baiana, no ano de 2018, de lá numa grande bola de neve.
para cá o FJPB, criou corpo e já realizou diversos
eventos com o intuito de chamar a atenção para Ao nos reunirmos com nossos pares no evento,
violência que a juventude preta da Bahia começamos a fazer mini GD, e assim, questionar
enfrenta diariamente. tudo o que estava acontecendo de errado.
Percebemos uma distância entre o que o
Essa ideia surge no momento em que fui para coletivo pregava e o que era de fato praticado.
um evento na cidade de São Paulo, evento de Um evento dominado por pessoas brancas, de
um coletivo de juventude, em uma viagem uma entidade de juventude que não
muito conturbada. Muitas coisas já não faziam representava de forma alguma a juventude preta
mais sentido, e fomos mesmo assim. e suas lutas e desafios. Foi dessa reunião de um
Encontramos amigos e assim a viagem seguiu. A pequeno grupo que começamos a questionar
primeira coisa que já incomodava era a essas coisas sabe? E então, eu Ana, decidi que ao
quantidade grandiosa de pessoas brancas retornar para a Bahia criaria um evento para as
presentes no evento. pessoas pretas. A ideia do fórum nasceu daí.
O projeto piloto parte então de diálogos com o
movimento negro da cidade de Alagoinhas/BA.

O evento começou a ser desenhado e tomar


corpo. Começamos com pouquíssimos recursos
ainda em 2018. Tivemos apoio da Secretária de
Assistência Social de Alagoinhas, dos
movimentos sociais e da Universidade do Estado
da Bahia. E então o evento aconteceu entre os
dias 28 e 30 de novembro de 2018. Foi uma
atividade maravilhosa, e superou naquele
momento muitas das expectativas. E o fórum
começa sua caminhada.

Em 2019, tentamos mais uma edição, dessa vez


em Serrinha/Ba. Foi também outro evento que
superou nossas expectativas, a grande
mobilização dos movimentos sociais presentes,
do apoio da UNEB e da Prefeitura Municipal da
cidade, assim como, as lojas e empresários da
cidade que abraçaram o evento. O público foi de
aproximadamente 250 pessoas nos três dias.

Infelizmente, não pudemos realizar a 3ª edição


do evento no ano passado (2020). Vivemos um
dos momentos mais difícil do nosso país. Nossa 3ª edição ocorrerá entre os dias 30 e 31 de
outubro de 2021. Nos uniremos para falar da
São inúmeras vidas perdidas para a COVID 19, a autonomia do povo preto. Se liga no nosso tema:
população negra e indígena no Brasil foram as Afirmando a emancipação do povo preto:
mais atingidas pela pandemia e acometidas pelo construindo quilombos. Nossa terceira edição
vírus. ocorrerá de forma on-line, mas isso não
diminuirá o brilho do evento muito menos a
Graças ao desgoverno do dito (des)presidente da importância das discussões e ações que dele
República. Além do coronavírus, todos os dias sairá. Por isso, convocamos a toda a juventude
vemos a favela sagrar. preta para fazer parte dessa rede.

O mundo assiste bestializado a periferia sendo Cole com a gente.


lavada pelo sangue dos jovens, pretos e pobres
do nosso país. GRITAMOS BASTA E JÁ @juventudepretaba
ESTAMOS PREPARANDO NOSSA 3ª EDIÇÃO! juventudepretaba
Shayane Santos da Silva Santana | Instagram: @santanashay
| Estudante de graduação em Ciências Sociais com
habilitação em Políticas Públicas (Universidade Federal de
Goiás). Carioca amefricana, nascida no Rio de Janeiro e de
família majoritária baiana, Brasil. Bolsista no Projeto Sistema
de Mapeamento da Educação em Saúde (SIMAPES),
vinculado à Fundação de Apoio à Pesquisa (FUNAPE - UFG),
foi também bolsista de desenvolvimento acadêmico no
Programa Abdias do Nascimento
Por: Shayane Santos da Silva Santana

O amor cura e cuida!

Nasci fazendo parte de uma família matriarcal


presente, que tem majoritariamente a figura forte,
segura e obstinadas de mulheres - pretas - que
tiveram e ainda tem que se virar para serem mulheres,
mães, donas dos seus lares, corpos e destinos, muitas
vezes sozinhas.

Numa sociedade racista e sexista como a nossa, já


conhecemos muito bem essa história, em casa ou
perto da gente. Dentro desse entendimento de como
viver, me senti na obrigação de ser forte também,
como minha mãe, avó e tias, na obrigação de ser tão
boa quanto – o papo de ser 100x melhor, sabe? – mas
nem sempre esse ser só forte me cabe.

Me cabe melhor ser forte no amor!

Nesse julho comemorativo às pretinhas, eu venho


falar e ecoar amor! Tenho vivido desafios dentro de
uma grande experiência que é vivenciar meu
crescimento pessoal conjuntamente com meu
crescimento intelectual, e mais do que isso, me olhar
mais enquanto mulher, preta e que ama (e também
sou amada). Me abracei, com minhas falhas e virtudes,
como ser social, interna e externamente, que chora, ri
e ama.

Amor é uma palavra engraçada e que nem sempre


damos conta de retribuir sabendo compreender as
diferenças que fazem parte de como xs seres são, com
toda sua complexidade na individualidade. Minha
mãe quebrou ciclos familiares me amando como ela
me ama, cuidando das minhas irmãs como teve
possibilidade. Esse exemplo de como amar, amar em
essência, para mim é sabedoria ancestral.

Venho no exercício de ressignificar o amor, fora do


romantismo heterossexual-brancx-monogâmicx,
diante das trocas que tenho vivido e que me fazem
crescer e olhar para o mundo com mais carinho,
Que possamos nos acompanhar, caminhar, sorrir e
sabendo que de alguma maneira meus caminhos se
entrelaçarão com de outras mulheres pretas que com chorar, olhar para o lado e contribuirmos para um
amor caminharão comigo. futuro com lógicas de uma sociedade preta com mais
amor. Amor que multiplica, que leva tempo e
É uma enorme negociação, interna e criativa, trocar dedicação para se firmar nas bases do amor que
afetos amorosos em meio a dores, racismos, tragédias, cuida e que cura. O conhecimento ancestral e repleto
preconceitos e dificuldades, mas o amor cura e cuida,
em especial amor preto e amor entre mulheres. de amor que carregamos pode ter significado de
Estarmos entre nós e nos amarmos é desafiador, potência! Venho aprendendo e fazendo de reza pro
porém viver não é isso. Orí ecoando as palavras que bell hooks: O amor cura!
Te convido, vamos ecoar juntes?
Maria Felipa de Oliveira,
presente!
Por: Deise Wonka

Maria Felipa de Oliveira, nasceu na Ilha de Itaparica,


no distrito da Gameleira, provavelmente no ano de
1799. De acordo com os registros do memorialista
Ubaldo Osório, ela faleceu em quatro de janeiro de
1873 e o sepultamento foi realizado no cemitério de
São Lourenço na mesma Ilha.

Negra e marisqueira, aos olhos de Jorge Amado, era


uma exímia capoeirista. Para outro literato baiano,
Xavier Marques, ela era vista como uma grande
heroína. Segundo Ubaldo Osório, Maria Felipa era
uma mulher forte e destemida.Pela descrição física,
acredita-se que descendia de africanos do Sudão. Os
sudaneses se destacam pela sua estatura, geralmente
são os africanos mais altos.

Maria Felipa de Oliveira se destaca em meados dos


anos de 1822, durante as batalhas da Independência
do Brasil na Bahia. A guerra de Independência foi
travada em várias localidades da Bahia. Em cidades
como Salvador, Cachoeira, Santo Amaro da
Purificação, as tropas eram formadas por voluntários
vindos de todas as partes da Bahia, principalmente do
Recôncavo. Grande parte das tropas era formada por
homens que se voluntariaram.

Maria Felipa participou ativamente dessas batalhas


com a sua habilidade de capoeirista e, outras vezes,
como informante indo da Ilha de Itaparica a Salvador
e também levando munições da capital para a ilha.

Um dos episódios de destaque na história de Maria


Felipa é que ela fazia parte de um grupo feminino
chamado de “vedetas”. Essas mulheres estavam
encarregadas de vasculharem a costa de Itaparica
durante a noite e avisar aos homens se vissem algum
navio português se aproximando da ilha. Em uma das
rondas, avistaram uma frota se aproximando. Após os
navios ancoraram na costa itaparicana, cerca de
quarenta mulheres, chefiadas por Maria Felipa,
aproximaram-se das embarcações, ludibriaram os
marinheiros, servindo-lhes bebidas alcoólicas e
seduzindo-os, atearam fogo nas embarcações. Dessa
forma, as vedetas evitaram que esses navios se
aproximassem de Salvador e fortalecessem a frota de
Madeira de Melo. Deise do Nascimento David, "Deise Wonka",
(@deisewonka) é uma sapatão preta antirracista,
licenciada em História. Atuante na área da educação e
militante no movimento de casas estudantis.
Durante as batalhas, seu grupo ajudou a incendiar a canhoneira Dez de Fevereiro, em 1º de outubro
de 1822, na praia de Manguinhos, e a barca Constituição, em 12 de outubro de 1822, na Praia do
Convento. Maria Felipa liderou aproximadamente 40 mulheres na defesa das praias de Itaparica.
Armadas com peixeiras e galhos de cansanção, surravam os portugueses, para depois atear fogo aos
barcos usando tochas feitas de palha de coco e chumbo.

Essas histórias tornaram-se conhecidas entre os moradores de Itaparica e principalmente do


povoado de Gameleira, sobrevivendo na tradição oral até os dias atuais. Sem sombra de dúvidas, a
historicidade de Maria Felipa pouco importa para os insulanos, pois essas narrativas são encaradas
como absolutamente reais.

Desta forma assim podemos conhecer a história de uma mulher preta, que lutou em vida e foi
silenciada em morte, pois ela foi esquecida dos "annales" de História, e a certeza que fica é que a
história do Brasil foi por muito tempo escrita pelo homem branco.

Os feitos de Maria Felipa de Oliveira jamais devem ser esquecidos, pois sua historia é de fundamental
importância para a representação da mulher preta. A partir do tratamento que historiadores e
historiadoras deram às mulheres ao longo da história, surgiu um questionamento sobre a ausência de
Maria Felipa na Escrita História. Será que o esquecimento acerca da personagem se deve à sua
condição de mulher? A História do Dois de Julho tem duas personalidades femininas
conhecidíssimas: a soldado Maria Quitéria e a soror Joana Angélica, ambas tiveram participação nos
embates na Bahia. Então, a ausência se deve ao fato de Maria Felipa ser uma mulher negra,
marisqueira, capoeirista? Ou decorre da suposta inexistência de provas documentais que
comprovem a sua existência?

Imagem do Google
Equipe
falapretxs@gmail.com
@falapretxs

Coordenação Geral, Editoração e Revisão dos Textos:


Profª Ms. Aline Najara da Silva Gonçalves
@_najaragoncalves

Bolsista:
– Tarcísio Marques
@eucisio

Monitoras
– Aline Fernandes Gama
@alinefg13
– Lavínia Souza
@lazzarott

Apoio
LEAFRO - Laboratório de Estudos Africanos e do Espaço
Atlântico (UNEB, Campus XIII)

Você também pode gostar