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Josenildes Freitas

DOI: http://dx.doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2021.v30.n61.p103-117

Perro Viejo, de Teresa Cárdenas,


e a perspectiva étnico-racial na
aula de espanhol como língua
estrangeira (ele)
Josenildes Freitas (UFBA)*
https://orcid.org/0000-0003-1194-9310

RESUMO
Neste texto pretendo discutir sobre a importância de se promover um ensino
de espanhol como língua estrangeira (ELE) inclusivo e que proponho aqui
a partir de um trabalho pedagógico com o romance infanto-juvenil Perro
Viejo (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005), da escritora afro-cubana Teresa Cárdenas
Ángulo, a ser realizado com estudantes do Ensino Médio, considerando as
possibilidades que a obra oferece para o exercício de uma prática docente
sensível às identidades que compõem a sala de aula e pautada no resgate da
memória da diáspora negra na América Latina. Para justificar a pertinência
desse trabalho, retomo o debate promovido por intelectuais negras/os/es , como
Nazaré Lima, Florentina Souza, Petronilha Silva, Ione Jovino, Sueli Carneiro,
Nilma Lino, Luis Alberto Gonçalves, Stuart Hall e Achile Mbembe sobre temas
como representação, diáspora, acesso da população negra à educação, e ensino-
aprendizagem em perspectiva étnico-racial.
Palavras-chave: Ensino de espanhol. Identidade étnico-racial. Diáspora. Perro
Viejo.

abstract
PERRO VIEJO BY TERESA CÁRDENAS AND THE PERSPECTIVE ETHNIC-
RACIAL IN SPANISH CLASS
In this text I intend to discuss the importance of promoting a foreign language
Spanish teaching inclusive and which I propose here from a pedagogical work
with the children and youth’s novel Perro Viejo (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005), by
Afro-Cuban writer Teresa Cárdenas Ángulo, to be carried out with high school
students, considering the possibilities that the work offers for the exercise of
a teaching practice sensitive to the identities that make up the classroom and
guided by the rescue of the memory of the black diaspora in Latin America.

* Doutoranda em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestra em Língua Espanhola e Literaturas
Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (USP). Integrante do projeto de pesquisa EtniCidades:
Escritoras/es afro-latinas/os 2, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (ILUFBA/UFBA), Salvador, Bahia,
Brasil. Professora Assistente no Setor de Espanhol do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail:
jdcfreitas@ufba.br

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Perro Viejo, de Teresa Cárdenas, e a perspectiva étnico-racial na aula de espanhol como língua estrangeira (ele)

To justify the relevance of this work, I return to the debate promoted by black
intellectuals, such as Nazaré Lima, Florentina Souza, Petronilha Silva, Ione
Jovino, Sueli Carneiro, Nilma Lino, Luis Alberto Gonçalves, Stuart Hall and
Achile Mbembe on topics such as representation, diaspora, access of the black
population to education, teaching and learning in an ethnic-racial perspective.
Keywords: Spanish teaching. Ethnic-racial identity. Diaspora. Perro Viejo.

RESUMen
PERRO VIEJO, DE TERESA CÁRDENAS, Y LA PERSPECTIVA ÉTNICO-
RACIAL EN CLASE DE ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA (ELE)
En este texto me interesa discutir sobre la importancia de promoverse una
enseñanza de español lengua extranjera (ELE) inclusiva, la que propongo aquí
en un trabajo pedagógico con la novela infanto-juvenil Perro Viejo (CÁRDENAS
ÁNGULO, 2005), de la escritora afro-cubana Teresa Cárdenas Ángulo, a realizarse
con estudiantes de la Enseñanza Media, teniendo en cuenta las posibilidades que
la obra ofrece para el ejercicio de una práctica docente sensible a las identidades
que componen el aula y basada en el rescate de la memoria de la diáspora negra
en Latinoamérica. Para justificar la relevancia de ese estudio, retomo el debate
de intelectuales negras/os/es, como Nazaré Lima, Florentina Souza, Petronilha
Silva, Ione Jovino, Sueli Carneiro, Nilma Lino, Luis Alberto Gonçalves, Stuart
Hall y Achile Mbembe sobre temas como representación, diáspora, acceso de
la población negra a la educación, y enseñanza-aprendizaje en perspectiva
étnico-racial.Palabras clave: Enseñanza de español. Identidad étnico-racial.
Diáspora. Perro Viejo.

Introdução1
O crescente debate em torno do racismo, reiterado a necessidade de encararmos as
aliado aos esforços pelo resgate e/ou revisão tensões raciais como um problema de todos
da memória da diáspora negra, os quais e, portanto, de um maior envolvimento de
ganharam fôlego com a onda de protestos em todas as esferas da sociedade brasileira na
todo o mundo, desencadeados com episódios discussão da pauta racial, que precisa ser
como a morte trágica e violenta de George assumida no contexto educacional, na atividade
Floyd nos Estados Unidos 2 em 2020, têm de ensino, devido ao papel essencial que esta
1 Em observância aos procedimentos éticos da pesquisa,
desempenha na formação cidadã do indivíduo.
este estudo se construiu a partir da revisão bibliográfica Daí que, pensando no contexto de ensino de
sobre temas como diáspora, afrolatinidade, população espanhol como língua estrangeira (doravante
afro-brasileira e educação, ensino-aprendizagem para
relações étnico-raciais, (auto)representação e ensino de designada ELE) no Brasil, acredito que o
espanhol, os quais foram articulados com informações trabalho pedagógico com o romance Perro Viejo
e dados obtidos em materiais impressos e acessados na
internet, com impressões decorrentes de experiências (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005), da escritora afro-
pessoais como docente de língua estrangeira e participação cubana Teresa Cárdenas Ángulo, em turmas
em minicursos e reuniões de grupo de pesquisa.
2 No Brasil, essa onda de protestos ainda foi intensificada do segundo grau favoreceria o surgimento de
após a morte de João Alberto Freitas, espancado e morto ambientes produtivos para tal discussão em
por seguranças de uma unidade do supermercado Carre-
four, em Porto Alegre, em 19 de novembro de 2020, véspera
sala de aula e para a reflexão crítica sobre as
do dia de celebração da Consciência Negra no país. relações étnico-raciais em nossa sociedade.

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Teresa Cárdenas Ángulo nasceu na cidade de personagem Perro Viejo, um velho escraviza-
Matanzas, em Cuba. É narradora, poeta, atriz, do, guardião de engenho. Permite o resgate
bailarina, contadora de contos e ativista social. de experiências afro-diaspóricas comuns a
É integrante da Unión de Escritores y Artistas países como Brasil e Cuba, como insurgências
de Cuba e costuma ser apontada como uma negras apagadas ou minimizadas nos relatos
das vozes mais relevantes da literatura para oficiais do continente latino-americano; o que
crianças e jovens na ilha. Possui várias obras contribui positivamente para a (re)definição
reconhecidas na América Latina, entre as quais de imagens identitárias das comunidades afro-
se destacam: Cartas al Cielo (CÁRDENAS ÁNGU- descendentes brasileiras, de onde procede a
LO, 1997),3 Cuentos de Macucupé (CÁRDENAS maioria do corpo discente das escolas públicas
ÁNGULO, 2001), Perro Viejo (CÁRDENAS ÁN- baianas.
GULO, 2005),4 Tatanene Cimarrón (CÁRDENAS A diáspora negra foi uma experiência co-
ÁNGULO, 2007) e Cuentos de Olofi (CÁRDENAS mum nas Américas e marcou profundamente
ÁNGULO, 2007).5 as relações inter-raciais na América Latina.
A afro-cubana é uma das poucas escritoras Configurou o cenário político, econômico e
da literatura de autoria afro-hispano-ameri- cultural de nações hispanofalantes, assim como
cana conhecidas no Brasil e já esteve presente do Brasil, único país de língua portuguesa
em vários eventos nacionais, como a terceira do continente. Definiu, nesses países, grupos
edição da Bienal Brasil do Livro e da Leitura, marginalizados ou subalternizados, desen-
realizada em Brasília, DF, em 2016; a Flink- cadeou enfrentamentos, resistências negras
Sampa – Festa do Conhecimento, Literatura e e afrodescendentes na área que compõe a
Cultura Negra –, organizada pela Universidade “Améfrica”,7 espaço onde Lélia Gonzalez (1988,
Zumbi dos Palmares e Sociedade Brasileira de p. 77) identifica uma “experiência histórica
Desenvolvimento Sociocultural (Afrobras), em comum que exige ser devidamente conhecida
São Paulo, no mesmo ano; o X Congresso de e cuidadosamente pesquisada” de modo a
Hispanistas, realizado em 2018 na Universi- contribuir no combate ao racismo, presente
dade Federal de Sergipe (UFS) pela Associação nas diferentes sociedades latino-americanas
Brasileira de Hispanistas (ABH), além de minis- às quais pertencemos.
trar minicursos e palestras sobre temas como Nesse sentido, entendo que o conhecimento
diáspora, cultura, literatura negra e racismo em dessa experiência histórica pode ser oportu-
várias universidades por onde passou em sua nizado aos estudantes do Ensino Médio bra-
visita mais recente ao Brasil.6 sileiro, ou potencializado, numa proposta de
A obra Perro Viejo ganhou o Premio Casa de ensino de língua espanhola realizada dentro de
las Américas de 2005, ano de sua publicação. uma “perspectiva de abordagem multicultural
A narrativa remonta a escravidão no território levando principalmente em consideração as
cubano e tem como protagonista da trama o contribuições das culturas africanas para os
3 Romance publicado no Brasil pela Pallas Editora em 2010,
países hispanofalantes” (JOVINO, 2012, p. 24)
sob o título de Cartas a minha mãe. e para o Brasil.
4 Expressão traduzida ao português como “cachorro velho”,
título que o livro recebeu na edição que a Pallas Editora 7 Para Lélia, a “Améfrica”, além de corresponder ao espaço
publicou no Brasil em 2010. Essa versão em português foi geográfico para onde vieram africanos escravizados e
selecionada para compor a lista de romances indicados aqueles cuja chegada às Américas é muito anterior à de
para o exame de vestibular da Universidade do Estado de Colombo, é um território constituído por sociedades que
Minas Gerais (UEMG) do ano de 2017. viveram/vivem sob o mesmo sistema de dominação e são
5 A tradução da obra ao português brasileiro foi publicada profundamente afetadas pelo racismo. Trata-se de um lugar
pela editora Lê, em 2016. onde historicamente se processam adaptações, resistên-
6 A visita ocorreu em 2018, ano em que a escritora também cias, reinterpretações e reelaborações que compõem uma
ministrou o minicurso “Memórias da diáspora negra na intensa dinâmica cultural afrocentrada e são inseridas na
literatura afro-hispano-americana” no Instituto de Letras categoria político-cultural denominada pela autora como
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Amefricanidade” (GONZÁLEZ, 1988).

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Consciente das limitações e dificuldades negros – ‘naturalmente’ nascidos e aptos para


que acometem as aulas de língua estrangeira8 a servidão, mas, ao mesmo tempo, indispostos
na esfera privada e, principalmente, na esfera a trabalhar da forma apropriada à sua natureza
e rentável para seus senhores. O segundo tema
pública, como carga horária reduzida (duas ho- era o inato ‘primitivismo’, a simplicidade e a
ras/aulas de 50min por semana), precariedade falta de cultura que os tornava geneticamente
de recursos e infraestrutura, turmas com ele- incapazes de ‘refinamentos civilizados’. (HALL,
vado número de alunos etc., vejo na adoção do 2016, p. 169-170, grifo do autor).
referido romance a possibilidade de se exercer
O servilismo, a incivilidade e/ou falta de
na aula de ELE uma prática docente mais inter-
cultura foram características associadas a
ventora na sociedade desde quando disposta a
africanos e afrodescendentes para justificar
investir em atividades didáticas reflexivas e de
a escravidão. Tais atributos foram utilizados
combate ao racismo, uma realidade que incide
pelo discurso da colonialidade para defini-los
nas relações sociais brasileiras e, portanto, não
a partir de “representações racializadas” que
afeta apenas o corpo discente, mas todos os
compõem um “regime dominante de repre-
sujeitos que compõem a comunidade escolar,
sentação” (HALL, 2016, p. 223) e perduram
sejam porteiros, professores, auxiliares de lim-
na tradição cultural popular ocidental, são
peza, diretores, merendeiras, coordenadores
veiculadas pela mídia de massa, pela linguagem
pedagógicos etc.
escrita, pela fotografia ou pela imagem (HALL,
Para justificar minha escolha pela inserção
2016) e legitimam estereótipos.
do romance Perro Viejo numa prática educativa
Assim, como salienta Achile Mbembe (2014,
orientada para a abordagem da temática étni-
p. 40), o negro foi “produzido” como “símbolo
co-racial, pautada no resgate da experiência
do homem que enfrenta o chicote e sofrimento”.
afro-diaspórica, da memória da escravidão
Para tanto, o discurso da colonialidade investiu
negra, considero essencial retomar discussões
em um “trabalho quotidiano que consistiu em
de Stuart Hall. Em sua obra Cultura e Represen-
inventar, contar, repetir e pôr em circulação
tação (HALL, 2016), esse autor, ao falar sobre
fórmulas, textos, rituais” de modo a represen-
a imagem do negro, chama a atenção para
tá-lo “enquanto sujeito de raça e exterioridade
“práticas representacionais” utilizadas para
selvagem, passível, a tal respeito, de desquali-
definir o Outro, “a diferença” (HALL, 2016, p.
ficação moral e de instrumentalização prática”
39). Estas remetem a processos de significação
(MBEMBE, 2014, p. 40). Para contestar esse
baseados na categoria racial e são reforçadas
discurso, esse escritor entende como necessá-
no período da escravidão:
ria a construção de outras opções discursivas
As representações populares da ‘diferença’ ra- nas quais o negro possa falar de si mesmo e se
cial durante a escravidão tendiam a aglomerar- propor como agente da própria história.
se em torno de dois temas principais. O primeiro
Prosseguindo nessa linha de raciocínio,
era o ‘status’ subordinado e a ‘preguiça inata’ dos
identifico na obra Perro Viejo uma opção dis-
8 No caso da língua estrangeira espanhol, a essas limitações cursiva, ou melhor, um contradiscurso de auto-
e dificuldades soma-se a retirada da obrigatoriedade de
sua oferta no Ensino Médio com a Medida Provisória nº
ria negro-feminina que disputa pelo direito de
746/2016 (BRASIL, 2016), transformada na Lei Federal relatar a memória da diáspora, de representar
nº 13.415/2017 (BRASIL, 2017), da Reforma do Ensino
as comunidades afro-diaspóricas, e a própria
Médio, a despeito da Lei nº 11.161/2005 (BRASIL, 2005),
que estabelecia como obrigatório o ensino da língua espa- escravidão. Diferentemente do que costuma-
nhola nas escolas da rede pública. Essa medida, que institui mos encontrar na literatura institucionalizada,
o ensino de espanhol em caráter optativo no Ensino Médio,
é justificada pela suposta facilidade de compreensão entre no romance a experiência da escravidão negra
falantes do idioma e do português no continente latino-a- é narrada pela voz de sujeitos tradicionalmente
mericano; uma ideia que míngua as expectativas e o inte-
resse de estudantes em relação ao ensino-aprendizagem
subalternizados africanos e afrodescendentes
dessa língua. da América Hispânica e contrapõe represen-

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tações legitimadas sobre estes, sobre nós, do povo africano desde a formação da socie-
negras(os/es). dade brasileira.
A obra reconstrói a memória do sequestro
Perro Viejo e memórias da e saqueamento do contingente africano pro-
vocados pelo tráfico negreiro iniciado com a
diáspora colonização e de sua dispersão nas Américas.
Em Perro Viejo (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005), Evoca a violenta e abrupta ruptura que o trans-
o discurso narrativo atribui às personagens plante forçado provocou nas identidades afri-
negras, assim como à África, significados que canas e afrodescendentes dispersadas, em seu
permitem subverter representações deprecia- modo de vida. Entretanto, a mesma narrativa
tivas sobre o negro, recorrentes no discurso põe em evidência símbolos, imagens, falares,
oficial das nações latino-americanas, onde a situações e eventos da diáspora nos quais po-
experiência da escravidão foi um denominador demos sublinhar memórias compartilhadas
comum. A representação dessas personagens pelas comunidades negras latino-americanas,
e do continente africano é investida de valores como a afro-cubana e a afro-brasileira, além de
como força, sabedoria, vigilância e insubordi- insurgências, resistências e lutas por reivindi-
nação; é o que se observa em suas imagens cações comuns a estas e que datam do período
ou perfis, na própria escolha dos nomes ou da escravidão.
codinomes que lhe são designados. Ao retratar o modo de vida dos escravizados
O romance revitaliza elementos do acervo nos engenhos, o texto evoca um conjunto de
memorial da diáspora distorcidos, silenciados saberes ancestrais africanos compartilhados
ou soterrados pela memória oficial latino-a- por nossos antepassados, como o profundo
mericana, os quais nos permitem, enquanto conhecimento das plantas medicinais, acio-
professores cientes de nossa responsabilida- nado como estratégia de resistência frente
de social ante o racismo, vislumbrar, dentro às brutalidades praticadas contra estes pelo
e fora do contexto educativo, interpretações regime escravocrata:
mais honestas da experiência afro-diaspórica Los esclavos utilizaban las yerbas con frecuen-
insistentemente reivindicadas pelos estudos cia. Para remedio del cuerpo y del alma. Con
la artemisa calmaban sus dolores y fiebres. El
de negritude desenvolvidos no território,
zumo del apasote servía para ahuyentar las lom-
como ressalta a pesquisadora Florentina Souza brices del vientre de los niños. Con la resina del
(2005, p. 129), isto é: “possibilidades de serem copey cicatrizaban las llagas que producían los
impostas mudanças práticas que, mesmo apa- latigazos. El cocimiento de güira y el de bejuco
rentemente diminutas, interferirão de modo guaco hacía abortar a las mujeres sus criaturas
significativo nos moldes representacionais e […]. Con palo Rompehueso, yerbas bibona, cau-
mao y manajú, mata de la víbora, raspalengua,
comportamentais e, ainda, na ordem social, na
pinipiniche y pimienta china, los hombres del
efetividade das relações sociais”. barracón preparaban embrujos contra el alma
Vejo como bastante produtivos a leitura del señor, contra su cuerpo y su mente. Contra
e o estudo dessa narrativa no contexto de el mayoral y su látigo. Contra los perros y sus
ensino-aprendizagem de ELE, no sentido de colmillos. Contra la vida de trabajos e infelicidad
promover oportunidades de reflexão sobre que llevaban en el ingenio. (CÁRDENAS ÁNGU-
LO, 2005, p. 42).
questões e/ou conflitos étnico-raciais e, ao
mesmo tempo, ressignificar a história da No fragmento anterior, assim como ao longo
população negra e afrodescendente na Amé- do romance, podemos sublinhar no uso das
rica Latina de maneira articulada com a Lei ervas por parte dos escravizados, estratégias
Federal nº 10.639/2003 (BRASIL, 2003) no de sobrevivência e resistência à violência físi-
que diz respeito ao resgate das contribuições ca, psicológica e moral que sofriam, aos tratos

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desumanos aos quais eram submetidos. Nele que se insere na experiência afro-diaspórica
também podemos enfatizar estratégias insur- e é utilizada como argumento para explicar a
gentes como o envenenamento de senhores, execração da coletividade negra e afrodescen-
senhoras e capatazes do engenho, assim como dente, adquire outros sentidos, que remetem
o conhecimento e consumo de abortivos por à bravura, luta e resistência negra, atributos
muitas escravizadas frequentemente estupra- evocados na imagem dos cimarrones e dos
das por aqueles homens, as quais se recusa- montes, lugar onde se situavam os palenques,
vam a contribuir para a perpetuação daquele refúgio dos sublevados.
sistema como reprodutoras de mão de obra Os modos de vida, episódios e situações
(PRATES, 2005, p. 7). evocados nos fragmentos apresentados e em
Na recordação da personagem protagonista, toda a obra contradizem a ideia de passividade
Perro Viejo, a experiência da escravidão negra, e inércia atribuídas a africanos e afrodescen-
que pesa como um estigma sobre os povos da dentes, as quais visavam justificar a escravidão.
diáspora africana e seus descendentes, assume Remetem a resistências negras de maior ou
sentidos distintos daqueles recorrentes nos menor impacto que, de forma visível ou camu-
discursos oficiais, que associam de modo ter- flada, inclusive em “relações de compadrio e
minante à história desses povos uma ideia de até de excessiva subserviência” (SOUZA, 2005,
servidão e de obediência. Tal aspecto pode ser p. 60), insurgiam-se contra aquele sistema.
constatado em fragmentos como o seguinte: Estas, assim como as negociações “pacíficas
Siempre les habían temido a los esclavos. Mientras ou não” entre negros e brancos nas Américas,
más los maltrataban, más les temían. En una oca- favoreceram “a restruturação das relações” na
sión, Perro viejo sonreía de gusto al recordarlo, região (SOUZA, 2005, p. 60).
le había dado un buen susto al señor. Fue cinco Ao longo do romance, aos atributos anterior-
años atrás, cuando la sublevación del ingenio La mente mencionados somam-se outros como a
Paz. Era de noche y las campanas no paraban de sabedoria e a experiência, que se condensam
repicar advirtiendo a los demás señores sobre la
na construção de personagens como Perro
revuelta […] Se decía que los sublevados habían
matado a su amo y a la señora, al mayoral y a Viejo, o vigia ou guardiero do engenho, e Aroni,
dos de los cinco contramayorales. También se apresentada como “vieja cuentera” (CÁRDENAS
rumoreaba que los cimarrones habían bajado del ÁNGULO, 2005, p. 22), “guardiana de todas las
monte para ayudar a los esclavos a matar blancos historias” (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005, p. 45)
[…] Aterrado, el señor mandó a que encerraran e parteira. Em ambos a voz narrativa resgata
a todos, incluso a los que siempre trabajaron en
valores muito caros à tradição cultural africana,
la casona, y a que pusieran doble cerrojo en las
puertas de los barracones. Pero había olvidado al como o respeito aos mais velhos, além da pró-
viejo guardiero y, cuando éste se le apareció en el pria imagem dos griots, guardiões da memória
pórtico con una antorcha en la mano, faltó poco ancestral dessa tradição, conforme recorda
para que se orinara allí mismo. Perro viejo volvió Hampaté-Bâ (2010).
a sonreír cinco años después. Se había sentido Na representação de personagens negro-fe-
poderoso. Él solo hubiera podido arrasar con los mininas, como Aroni e Beira, ainda sobressaem
ingenios y todos los señores de la zona en aquel
valores como a solidariedade, o cuidado, a cora-
entonces. (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005, p. 64).
gem, a proteção, o equilíbrio e a proatividade da
Como também verificamos no segundo frag- mulher negra. Na relação dessa mulher com sua
mento exposto, o discurso narrativo termina comunidade vejo a “dinâmica negro-africana”
por ressaltar não apenas a insubordinação que contribuiu para a sobrevivência e continui-
dos escravizados ao sistema escravagista, mas, dade das comunidades negras neste continente
principalmente, o temor que infligiam aos se- e se reforça “em práticas cotidianas do trançar
nhores de engenho. A tragédia da escravidão, dos cabelos”, “nas receitas das ervas curandei-

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ras passadas da avó para a filha e para a neta”, lores da diáspora e de uma tradição ancestral
assim como nos cuidados e responsabilidades africana, viabiliza um ensino/aprendizagem
assumidas pelas Iyalorixás com as comunida- de ELE inclusivo de “nossas referências étni-
des negras (NJERI et al., 2020, p. 303). co-raciais” (LIMA, 2015, p. 25) e permite ao
Portanto, se a própria literatura, tanto na estudante construir definições mais autônomas
ficção como na poética, contribuiu para fixar de si, de sua coletividade, assim como do Outro.
representações depreciativas sobre o negro A obra evoca uma experiência similar de
e, junto a diferentes mídias, como o cinema, a colonização nesses países que, com suas devi-
publicidade, a novela etc., retroalimentou no das especificidades sociopolíticas, econômicas
imaginário social ideias, expressões e piadas e histórico-culturais, estruturou hierarquias,
racistas que também encontram acolhida no assimetrias, desigualdades raciais que per-
espaço escolar, em Perro Viejo o discurso lite- manecem em suas atuais sociedades e nos
rário se reafirma como uma possibilidade de afetam enquanto afrodescendentes. Revigora
operar significados de maneira a permitir que elementos distantes no espaço geográfico e
o aprendiz afrodescendente construa “um de- temporal que nos fornecem pistas sobre as
senho identitário positivo para si e para o seu relações étnico-raciais em sociedades multir-
grupo” (SOUZA, 2005, p. 62). raciais como Cuba e Brasil, e favorece a criação
Ao propor uma prática pedagógica a partir de ambientes e/ou oportunidades de abordar
da leitura e do estudo desse romance, também tais relações em sala de aula; o que concorre
argumento em favor de um maior investimento para que o ensino/aprendizagem de ELE faça
no gênero textual literário no ensino-aprendi- sentido na vida dos estudantes.
zagem de ELE. Além de reconhecer a grande
contribuição do gênero para a compreensão
e (auto)representação da cultura de um povo,
Perro Viejo: por uma educação
para estimular o interesse leitor, para a for- inclusiva da população negra
mação de leitores críticos e de indivíduos no ensino de ELE
pensantes, assim como Compagnon (2009, p.
47), entendo que a literatura A leitura e estudo do romance Perro Viejo
(CÁRDENAS ÁNGULO, 2005) me leva a acre-
[...] deve, portanto, ser lida e estudada porque
oferece um meio – alguns dirão até mesmo o ditar que, apesar da difícil tarefa de se “des-
único – de preservar e transmitir a experiência montar ou subverter um regime racializado
dos outros, aqueles que estão distantes de nós de representação” (HALL, 2016, p. 223), pois,
no espaço e no tempo, ou que diferem de nós por como diz Hall (2016, p. 223), “não existem ga-
suas condições de vida. Ela nos torna sensíveis rantias absolutas”, o trabalho de (re)construção
ao fato de que os outros são muito diversos e que de representações sobre o africano e o afrodes-
seus valores se distanciam dos nossos.
cendente no imaginário social é extremamente
Desse modo, a leitura e estudo do romance necessário e válido, e demanda a participação
Perro Viejo se insere em uma proposta educati- de todos, inclusive dos professores de língua
va orientada no sentido de contribuir para que, estrangeira.
através de um constante exercício de reflexão, Creio importante atentarmos para o fato
docentes e discentes nos tornemos mais sensí- de que o sistema de ensino por si é um âmbito
veis às diferentes identidades étnico-raciais que legitimador de poder, onde se processa “uma
configuram a nação, constituem a comunidade ritualização da palavra”, “uma qualificação e
intra e extraescolar. O trabalho com essa narra- uma fixação dos papéis para os sujeitos que
tiva, em cujo repertório de símbolos e imagens falam”, como afirma Foucault (1999, p. 44). Esse
sobressaem práticas, costumes, saberes e va- autor ainda acrescenta as seguintes palavras:

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Perro Viejo, de Teresa Cárdenas, e a perspectiva étnico-racial na aula de espanhol como língua estrangeira (ele)

“Todo sistema de educação é uma maneira po- epistemicídio” destinadas a extirpar da socie-
lítica de manter ou modificar a apropriação dos dade brasileira grupos que não correspondiam
discursos, com os saberes ou os poderes que às expectativas criadas em torno de um “pro-
eles trazem consigo” (FOUCAULT, 1999, p. 44). jeto de nação cuja aspiração fundamental era
O espaço educativo, portanto, pode contri- desenvolver o melhor de nossa ascendência
buir para perpetuar no imaginário coletivo europeia”. Assim, representações baseadas em
representações racializadas por meio de ações, “variáveis de cor, raça e etnia” visavam asse-
mecanismos e condutas, inclusive instituí- gurar a “subalternidade social dos negros” ao
das, que concorrem para a inferiorização e garantir privilégios da elite branca no acesso
apagamento da identidade étnico-racial afro- às oportunidades educacionais (CARNEIRO,
descendente e indígena. Como salienta a pes- 2005, p. 114).
quisadora Nazaré Lima (2015), tal apagamento Daí que, para essa filósofa, as desigualdades
se processa na dinâmica da instituição escolar, raciais no Brasil se reproduzem historicamente
“principal agência responsável pela produção, através da educação, que reitera continuamen-
disseminação e inovação dos conhecimentos te o discurso da superioridade europeia sobre
legitimados” (LIMA, 2015, p. 26). Nesse lugar, os segmentos negros e viabiliza a exclusão ra-
“textos, relações interpessoais, estética, ritos, cial por meio do dispositivo do epistemicídio,
imagens, processos pedagógicos, práticas di- o qual se efetiva mediante a operacionalização
versas” (LIMA, 2015, p. 24) concorrem para a articulada de medidas ou ações que desti-
assimilação ou introjeção de “padrões hege- tuem o negro de racionalidade, de capacidade
mônicos”, ao mesmo tempo que desvalorizam cognitiva:
o legado dos grupos culturais não brancos. O epistemicídio é, para além da anulação e des-
Para Nazaré Lima (2015), a exclusão das qualificação do conhecimento dos povos sub-
populações negras e afrodescendentes se jugados, um processo persistente de produção
efetiva na política educacional ofertada pelo da indigência cultural: pela negação ao acesso
à educação, sobretudo de qualidade; pela pro-
Estado brasileiro. O apagamento da identidade dução da inferiorização intelectual; pelos dife-
étnico-racial desses segmentos tem o profes- rentes mecanismos de deslegitimação do negro
sor como um dos seus agentes e remete ao como portador e produtor de conhecimento e
projeto de aniquilação de indígenas e negros de rebaixamento da capacidade cognitiva pela
que integrava o empreendimento colonialista carência material e/ou pelo comprometimento
da autoestima pelos processos de discriminação
proposto no trabalho pedagógico iniciado com
correntes no processo educativo. (CARNEIRO,
os jesuítas, “nossos primeiros professores” 2005, p. 97).
(LIMA, 2015, p. 18).
Tanto Nazaré Lima (2015) como Sueli A fala dessa autora nos permite dizer que
Carneiro (2005) remontam o ambiente hie- o epistemicídio, ou seja, a inferiorização ou
rarquizante e opressor em que nosso sistema deslegitimação dos segmentos africanos e
educacional foi planejado. Ambas as intelec- afrodescendentes como sujeitos cognoscentes
tuais recordam a dificuldade de acesso de é naturalizada na prática docente, é endossa-
africanos e afrodescendentes à educação for- da por condutas e escolhas metodológicas e
mal, mesmo com seus esforços individuais e discursivas indiferentes às pautas raciais, pelo
coletivos, e o contínuo controle desse acesso, persistente silêncio do professorado em rela-
assim como do êxito e da permanência daque- ção ao racismo, em suas esquivas ou omissão
les segmentos nesse sistema. diante do debate desse tema tão urgente na
Segundo Sueli Carneiro (2005, p. 111), tal sociedade brasileira, majoritariamente cons-
controle foi exercido mediante a criação de tituída por um contingente negro e mestiço9
medidas pautadas no “dispositivo racialidade/ 9 Informação apontada em dados do IBGE e do IPEA e reite-

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Josenildes Freitas

no qual se inclui grande parte (ou a maior ELE contribui para acionar um repertório de
parte, como se observa no estado da Bahia) costumes, práticas, falares, saberes, ideias,
dos aprendizes que compõem especialmente performances etc., presentes nas culturas que
a sala de aula da rede pública. dialogam com o universo do corpo discente. Tal
Ciente de que o racismo é um problema ensino-aprendizagem se mostra mais efetivo
que afeta “a população negra no mundo e quando conectado às realidades do aprendiz,
no Brasil” ainda nos dias atuais, como afir- aos seus aportes culturais, os quais são fre-
ma Kabengele Munanga (SANTOS, 2005, p. quentemente invisibilizados por abordagens
11), e escancaram os episódios recentes de pautadas em referências identitárias etnocên-
violência racial ocorridos em escala global, tricas, em situações alheias ou desconectadas
entendo como necessário e urgente conceber- de seu contexto sociocultural, de vida, as quais
mos o ensino de língua estrangeira como um são comumente evocadas ou priorizadas em
ato político em prol de uma sociedade mais aulas de língua estrangeira, em detrimento das
igualitária. Portanto, esta proposta insere- culturas dos estudantes; o que pode terminar
se em um projeto maior que se orienta para por incidir em seu desempenho escolar.
uma abordagem linguística conectada com Ao tratar de temas como população negra,
“questões significativas atuais” (PENNYCOOK, educação no Brasil e desempenho escolar, Na-
2006, p. 68), de maneira a proporcionar uma zaré Lima (2015, p. 30) associa o “problema
maior aproximação ou entrosamento entre de retenção de segmentos negros na pirâmide
a produção de conhecimento e demandas ou educacional” a práticas excludentes, racistas,
pautas da comunidade/sociedade. A prática no espaço escolar que prejudicam os estudan-
pedagógica, como afirma Pennycook (2006, p. tes “afetiva e intelectualmente”. Considerando
69), não pode ignorar aqueles “que falam de estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia
posições marginalizadas” pelo racismo, pela e Estatística (IBGE), essa escritora recorda que
pobreza, pelo sexismo, pela homofobia e outros a maior incidência das desigualdades raciais
tipos de discriminação “cruciais em suas vidas”, recai sobre a juventude negra situada na faixa
inclusive como aprendizes de línguas. etária de 15 a 17 anos, “público de referência
O ambiente educacional configura-se como do nível médio de ensino” (LIMA, 2015, p. 31),
um dos espaços onde se (re)constitui a identi- e de modo particular na cidade de Salvador.
dade social do indivíduo de acordo com as re- Portanto, assim como essa escritora, de-
lações que este estabelece com as informações fendo a inclusão da diversidade étnico-racial
ou conhecimentos que acessa, compartilha em sala de aula e, a partir disso, penso que o
ou adquire dentro e fora desse espaço, e da ensino-aprendizagem de ELE pode contribuir
interação com seus integrantes. Daí que, como para que a educação se efetive de maneira me-
ressaltam as pesquisadoras Susana Ferreira e nos desigual, de forma que seu aproveitamento
Aparecida Ferreira (2011, p. 117), “a escola tem seja significativo para todas/os/es aprendizes.
papel primordial na construção e na manuten-
ção das identidades sociais de seus alunos e
professores”. Desse modo, é essencial atentar
Perro Viejo e aula de ELE:
ainda para o fato de que “a construção de iden- algumas proposições
tidade social de raça/etnia na escola perpassa metodológicas
pelos materiais de ensino utilizados em sala
de aula” (FERREIRA; FERREIRA, 2011, p. 117). O trabalho pedagógico proposto nessa dis-
Assim, a adoção do romance Perro Viejo como cussão dialoga com uma perspectiva pautada
material didático no ensino-aprendizagem de no conceito de “africanidades” que a pesqui-
rada por Kabengele Munanga (SANTOS, 2005).

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Perro Viejo, de Teresa Cárdenas, e a perspectiva étnico-racial na aula de espanhol como língua estrangeira (ele)

sadora Ione Jovino,10 em seu artigo “Apren- Considerando esses aspectos, esse trabalho
dizagem e ensino de africanidades: ensino tem como uma de suas principais premissas
de espanhol numa perspectiva multicultural” estimular a reflexão sobre o impacto desse
(JOVINO, 2012), retoma da pesquisadora processo nas relações étnico-raciais que ca-
Petronilha Gonçalves Silva (2005). Segundo racterizam as sociedades latino-americanas
esta última, as “africanidades brasileiras” se hispanofalantes, como a cubana, e a de língua
referem às “raízes da cultura brasileira que têm lusobrasileira. Portanto, as práticas e condutas
origem africana”, “aos modos de ser, de viver, docentes que se requerem para o bom anda-
de organizar suas lutas, próprios dos negros mento dessa proposta devem atentar para “o
brasileiros”, assim como as marcas da cultura papel educativo que pode ou deve ter o ensino
africana “presentes em seu cotidiano” (SILVA, de línguas, em especial do Espanhol, na forma-
2005, p. 155). ção do estudante, naquilo que esse lhe propor-
Jovino (2012, p. 30) utiliza o conceito de ciona em termos de inclusão social e étnica, na
“africanidades” para se referir a um contin- constituição de sua cidadania, local e global”,
gente maior, neste caso, “os negros latino-a- conforme propõem as Orientações Curriculares
mericanos”, e o aplica ao ensino de ELE para para o Ensino Médio (OCEM) (BRASIL, 2006, p.
tratar de povos hispanofalantes, considerando 129) no referente ao ensino do idioma.
raízes africanas presentes em suas culturas no O ensino-aprendizagem de ELE que defendo
intuito de resgatar modos de vida, insurgências aqui se inscreve no âmbito multiculturalista,
e resistências que podem de alguma maneira “um terreno de luta em torno da reformulação
dialogar com as culturas de origem africana e da memória histórica, da identidade nacio-
afro-brasileiras. nal, da representação individual e social e da
Tal conceito se coaduna com a proposta de política da diferença” (SILVÉRIO, 1999, p. 46)
trabalho pedagógico que, nessa abordagem, que se afina com as orientações estabelecidas
venho defendendo para o ensino de ELE em nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
turmas do Ensino Médio a partir da leitura e Educação das Relações Étnico-Raciais e para
estudo do romance Perro Viejo (CÁRDENAS ÁN- o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
GULO, 2005). Esse trabalho, a meu ver, deverá e Africana, do parecer CNE/CP nº 003/2004
ser orientado a fim de possibilitar ao estudante (BRASIL, 2004).
reconhecer a experiência da diáspora, assim Ao invés de simplesmente reconhecer as di-
como uma tradição cultural ancestral africa- ferenças entre grupos humanos e abordá-las a
na, em modos de vida, hábitos, performances, partir de temas transversais em sala de aula – o
situações e eventos de forma a contribuir para que, para Luis Alberto Gonçalves e Petronilha
situá-lo em um contexto sociopolítico e históri- Silva (2003), contribui para diluir ou genera-
co-cultural mais amplo, afetado pelo processo lizar o sofrimento, tangenciar temas cruciais
colonizatório e que remete à formação da Amé- como o racismo, um problema grave que incide
rica Latina, configurou suas bases estruturais. com maior força em determinados segmentos,
a exemplo das comunidades negras –, essa pro-
10 Ione Jovino é professora da Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG) e defensora da perspectiva das africanida- posta de ensino-aprendizagem adquire sentido
des e da educação para as relações étnico-raciais no ensino desde quando favorece o questionamento de
de línguas estrangeiras, principalmente no ensino de ELE.
Essa perspectiva norteou o projeto, iniciado em 2011, imagens e representações racistas internali-
Ensino de Espanhol, Gêneros Textuais e Africanidades do zadas no imaginário coletivo e veiculadas em
grupo PIBID, na subárea do espanhol, que a pesquisadora
coordenou com a professora e pesquisadora Lígia Paula
práticas discursivas instituídas e naturalizadas
Couto na UEPG. O grupo foi constituído por graduandos nas relações sociais.
do curso de Licenciatura em Letras Espanhol/Português, Trata-se de um ensino-aprendizagem que
professoras de espanhol de escolas públicas do Paraná e
professoras de estágio da própria universidade. incentiva o público discente a detectar pontos

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de vista, identificar intencionalidades, ques- identidade étnico-histórico-cultural, de sua


tionar valores, ideias e imaginários. Estimula identidade de classe, de gênero, de faixa etária,
o aprendiz a inferir sobre práticas discursivas de escolha sexual.”
em diferentes textos, assim como interpretar Dentro dessa perspectiva, a partir da arti-
contextos históricos e socioculturais que mar- culação de aspectos socioculturais, históricos
cam a existência dos sujeitos, sua identidade, e político-econômicos da experiência da diás-
as próprias relações inter-raciais no território pora em Cuba e no Brasil, a discussão da temá-
latino-americano, e a produzir sentidos sobre tica étnico-racial na prática docente em ELE
realidades atuais que o afetam, assim como proporia e exploraria reflexões que gravitam
afetam seu entorno. em torno de temas como (auto)representação
Nesse intuito, a leitura e estudo do romance do negro e do afrodescendente na sociedade,
Perro Viejo, mediados por professores de ELE, estereótipos, preconceitos, desigualdades e
pode contribuir para fomentar e atualizar de- violências raciais, intolerância religiosa, ho-
bates sobre temas como raça, etnia, diáspora, mofobia etc.
escravidão, racismo, gênero, classe, tradição Quanto aos conteúdos ou conhecimentos
ancestral africana, estética negra etc., que atra- linguísticos a serem acionados na aula, uma
vessam os vinte e três episódios curtos da obra. preocupação que aflige professores no traba-
Estes podem ser lidos separadamente e sem lho com propostas semelhantes, sua seleção e
prejudicar a compreensão leitora, de modo a fa- sequenciação deve ser organizada de maneira
vorecer discussões que podem ser suplementa- a contribuir para o desenvolvimento de habi-
das ou enriquecidas com materiais disponíveis lidades leitoras, de escrita e, inclusive, orais.
em diferentes suportes, nas diversas mídias, as Entretanto, considero importante ressaltar que
quais se inserem nessa proposta como fortes nessa proposta a aprendizagem de componen-
aliadas na tentativa de se promover reflexões tes gramaticais e lexicais prioriza a compreen-
sobre a memória da diáspora, preconceitos e são da língua em dimensões mais abrangentes,
desigualdades raciais. de maneira a otimizar a percepção crítica de
Corroborando com a proposta, podemos contextos linguísticos de ELE apresentados
contar com uma série de produções audiovi- em linguagens múltiplas, inclusive ofertadas
suais afro-latino-americanas (filmes, documen- pelas diferentes mídias, e permitir ao apren-
tários, curtas-metragens, videoclipes etc.) nas diz apropriar-se da língua estrangeira para
quais constatamos, desde as últimas décadas conectar-se com o mundo e, consequentemen-
do século XX, um crescente e articulado debate te, melhor intervir nele, pois, como adverte a
sobre esses temas e as relações étnico-raciais. pesquisadora Nilma Lino (2009, p. 430), “[as]
Esse debate encontra ressonância nas produ- palavras e os conceitos não estão separados
ções musicais, de modo particular na música da vida, do mundo, da realidade, das contradi-
rap, a qual tem grande impacto no público ções, do sofrimento humano, das esperanças e
jovem; é o que constatamos em letras e vi- desesperanças”.
deoclipes de músicas afro-cubanas como Mi Para sua melhor efetividade, esse trabalho
belleza, da banda Krudas Cubensi, Los pelos, de demanda um esforço conjunto da comunidade
Obsesión, e Mi raza, de El indivíduo. escolar, para o qual o ensino-aprendizagem de
Desse modo, esse trabalho se mostra como ELE pode contribuir significativamente se de-
um esforço para atender a principal finalidade senvolvido de forma integrada com várias áreas
que Petronilha Silva (2005, p. 157) atribui aos do saber. É o que também ressaltam as OCEMs:
“estudos das africanidades”: “o direito dos des- [...] o ensino da língua estrangeira, reiteramos,
cendentes de africanos, assim como de todos não pode nem ser nem ter um fim em si mesmo,
os cidadãos brasileiros, à valorização de sua mas precisa interagir com outras disciplinas,

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Perro Viejo, de Teresa Cárdenas, e a perspectiva étnico-racial na aula de espanhol como língua estrangeira (ele)

encontrar interdependências, convergências, de em países como Brasil e Cuba, resgatar insur-


modo a que se restabeleçam as ligações de nossa gências e resistências negras nesses países ou
realidade complexa que os olhares simplificado- no continente11 e ainda tratar do impacto des-
res tentaram desfazer. (BRASIL, 2006, p. 131).
ses fatores, eventos e/ou acontecimentos nas
Assim, conteúdos de diferentes disciplinas relações étnico-raciais, nas condições de vida
poderão ser articulados de maneira a otimizar das populações africanas e afrodescendentes
a leitura e abordagem do romance escolhido, de suas sociedades.
a permitir uma percepção mais integrada da Atrelando-se a essas discussões, as aulas
experiência da diáspora na América Latina de Biologia poderiam promover reflexões em
e das relações étnico-raciais no continente, torno do discurso do cientificismo biológico
bem como potencializar o pensamento críti- dos séculos XVIII e XIX, apontar como este foi
co. Essa leitura visa mobilizar conhecimentos utilizado em detrimento dessas populações,
que não se restringem ou interessam apenas endossando estereótipos que justificavam
a um grupo étnico-racial específico, antes fa- uma suposta subserviência, predisposição ao
vorecem a criação de um ambiente educativo trabalho árduo e inaptidão do negro a ativi-
que “problematiza e traz novas questões para dades intelectuais. Tal abordagem também
diferentes áreas do conhecimento, culturas e poderia ser ampliada nas aulas de Literatura,
sujeitos sociais” (LINO, 2009, p. 430). com a leitura e discussão de textos literários
Para tanto, esse trabalho requer um maior diversos (narrativas, contos, poemas etc.),
entrosamento entre professores de ELE e de autoria de escritores afrodescendentes e
de História, Geografia, Sociologia, Biologia, não afrodescendentes, que permitiriam ao
Literatura, Artes, Música etc., a fim de que, aprendiz repensar sobre as representações de
juntos, possam identificar possibilidades de africanos, de afrodescendentes, da experiência
intersecção entre seus programas. Pautando- da diáspora e das tradições culturais africanas
se em critérios definidos, professores dessas na literatura nacional.
disciplinas poderão colaborar com atividades Por sua vez, as aulas de Arte e Música opor-
didáticas precedentes à leitura e estudo do tunizariam aos estudantes o conhecimento de
romance Perro Viejo na aula de ELE, além de uma série de expressões artísticas da tradição
desenvolver outras em momento concomitante cultural ancestral africana que compõem o
e/ou posterior à leitura e discussão da obra, acervo cultural afro-latino-americano. Ambas
de maneira a fomentar o interesse dos apren- as disciplinas poderiam recordar a necessidade
dizes em relação à sua temática e permitir de adaptação de africanos à vida no continen-
uma melhor conexão entre os conhecimentos te devido à migração forçada que os obrigou
acessados em sala de aula. a reelaborar suas artes, saberes, ritos, sua
A partir disso, sinalizo algumas sugestões própria identidade. Poderiam ainda sublinhar
temáticas que podem favorecer a articulação sua criatividade ao confeccionar instrumentos
entre o trabalho a ser realizado na aula de ELE musicais a partir de recursos rudimentares
e aquele a ser desenvolvido por diferentes dis- como pedras, paus, cipó, areia, conchas e tan-
ciplinas. As aulas de Geografia contribuiriam tos materiais que deram origem ao tambor,
para situar o aprendiz na América Latina, con- ao maraca, ao chequeré (shekeré ou agwe), à
siderando a diversidade de grupos humanos e marimba, ao guasá e uma série de outros muito
sociais que a constituem, assim como seus há-
11 Caberia aqui resgatar resistências e insurreições de escra-
bitos, aspectos políticos, econômicos etc. Com vizados ocorridas em Cuba, no Brasil e em outros países
o auxílio de História e Sociologia seria possível hispanofalantes do continente, assim como o nome de
grandes líderes negras(os/es) a exemplo da cimarrona
discutir temas como a colonização no territó- Carlota Lucumí, Zeferina, Luísa Mahín, além de Zumbi dos
rio, a diáspora negra, o sistema escravagista Palmares e Benkos Biohó.

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conhecidos na cultura musical de territórios e impactaram na percepção sobre negras/


de grande concentração negra como o cubano os/es na contemporaneidade. Além disso,
e o brasileiro. contribui para uma percepção mais integrada
Contribuições de outras disciplinas não e consciente da memória coletiva baiana, na
mencionadas aqui seriam bem vindas para pro- qual incidiu a vinda de grandes contingentes
mover a interconexão com a prática pedagógica de africanos escravizados para nosso estado,
a ser desenvolvido na aula de ELE e favorecer fator que repercute no conjunto expressivo de
um ambiente de trocas e/ou compartilhamen- manifestações culturais de origem africana no
tos entre os professores envolvidos, assim território.
como o bom andamento do trabalho. Através da leitura e do estudo de Perro
Viejo vislumbro uma aprendizagem de língua
estrangeira mais conectada com os saberes, as-
Considerações finais pirações, realidades e inquietações do aprendiz
Ao investir na leitura e estudo do romance afrodescendente, de sua comunidade de ori-
Perro Viejo (CÁRDENAS ÁNGULO, 2005), o gem, de modo que este possa reconhecer nela
ensino de ELE contribui para oportunizar a e em si mesmo referenciais de valor; um fator
reflexão sobre a questão racial em países la- que contribuirá para motivar seu interesse em
tino-americanos multirraciais como Brasil e relação à língua em estudo.
Cuba, para desenvolver um pensamento crítico Nesse trabalho defendo ainda a necessidade
sobre as relações raciais em dimensão nacio- de nos situarmos na própria América Latina,
nal e transnacional e na construção de (auto) enquanto professores de ELE, e de situarmos
definições étnico-identitárias mais conscientes nossos estudantes nesse território, haja vista os
e autônomas. vários países hispanofalantes que constituem
Como bem sabemos, numa sociedade como de forma significativa o continente e cujas po-
a nossa, majoritariamente monolíngue, o aces- pulações, assim como a brasileira, vivenciam
so a uma língua estrangeira tem contribuído desigualdades, exclusões, violências e reivin-
para aprofundar desigualdades raciais, pois dicações comuns, que extrapolam fronteiras e
sempre esteve restrito a um público privile- decorrem da questão étnico-racial.
giado. A expectativa de que o conhecimento
dessa língua trará pouco impacto em suas
REFERÊNCIAS
vidas pode motivar em muitos estudantes
oriundos de camadas populares, negras/os/ BRASIL. Presidência da República. Casa Civil.
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a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
ou resistência a esta. Portanto, penso que a
estabelece as diretrizes e bases da educação
relevância do ensino de ELE se reafirma à nacional, para incluir no currículo oficial da Rede
medida que se conecta com realidades atuais de Ensino a obrigatoriedade da temática “História
vivenciadas pelo corpo discente, como o racis- e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
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