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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

EROS GIBSON MAINIERI DA CUNHA PINTO

MAPEAMENTO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS EIXOS


TEMÁTICOS CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E O MOVIMENTO DE LÉSBICAS,
GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS INDEXADOS NA BRAPCI

NATAL/RN
2022
EROS GIBSON MAINIERI DA CUNHA PINTO

MAPEAMENTO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS EIXOS


TEMÁTICOS CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E O MOVIMENTO DE LÉSBICAS,
GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS INDEXADOS NA BRAPCI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Biblioteconomia do Departamento de
Ciência da Informação da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

NATAL/RN
2022
EROS GIBSON MAINIERI DA CUNHA PINTO

MAPEAMENTO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA


CONVERGÊNCIA ENTRE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E O MOVIMENTO DE
LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel
em Biblioteconomia.

Aprovada em: 08 / 07 /2022

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________
Profª. Dra. Ilaydiany Cristina Oliveira da Silva (UFRN)
Orientadora

_____________________________________________________
Profª. Dra. Mônica Marques Carvalho Gallotti (UFRN)
Examinadora interna

_____________________________________________________
Profª. Ma. Maria da Conceição Davi (UFRN)
Examinadora interna
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que me ajudaram neste longo caminho, direta e
indiretamente. Se eu consegui chegar até aqui, foi por mérito de todos vocês também.
À minha mãe, que sempre sonhou com este momento e sempre esteve ao meu lado,
me apoiando e amando incondicionalmente. Ao meu companheiro Luis, que me
motivou a não desistir e me apoiou desde o começo da graduação. Ao meu
companheiro Pablo, que esteve ao meu lado nessa reta final, sempre que precisei,
me dando todo o suporte quando eu achava que tudo iria dar errado. Aos meus
familiares, aos meus amigos, aos meus professores. Dedico a todos vocês.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores e professoras do curso de Biblioteconomia,


do Departamento de Ciência da Informação da UFRN, sem eles eu não conseguiria
chegar até aqui, em especial à Andréa Carvalho, Fernando Vechiato, Ilaydiany Silva,
Jacqueline Souza, Jacqueline Cunha, Luciana Moreira, Monica Gallotti e Nadia Vanti.
Cada um de vocês teve um impacto gigantesco na minha trajetória acadêmica e de
vida, eu só tenho a agradecer por tudo que pude aprender com vocês, jamais me
esquecerei.
“Somente a informação pode combater o preconceito contra pessoas LGBTQIA+”
(Autoria desconhecida)
LISTA DE SIGLAS

CID Código Internacional de Doenças


DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e
ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação
FEBAB Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários,
Cientistas da Informação e Instituições
Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz
GTs Grupos de Trabalhos
Icict Instituto de Comunicação e Informação Científica e
Tecnológica em Saúde
LGBTQIA+ Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers,
Interssexuais e Assexuais
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero
LGBTQIAP Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queers,
Interssexuais, Assexuais e pansexuais
PUC Minas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
PPGB Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia
PPGCI/UFPB Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal da Paraíba
PPGGOC Programa de Pós-Graduação em Gestão da Organização e
do Conhecimento
TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
UnB Universidade de Brasília
UNESP Universidade Estadual Paulista
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFCA Universidade Federal do Cariri
UNIVESP Universidade Virtual do Estado de São Paulo
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Significado da sigla LGBTQIA+ ................................................................... 23


Figura 2 – 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU ........................ 28
Figura 3 – Relações entre os autores selecionados ............................................. 40
Figura 4 – Relações entre os termos mais representativos da temática............... 46
Tabela 1 – Ranking dos autores com mais publicações na temática ................... 37
Tabela 2 – Ranking dos periódicos mais produtivos sobre a temática ................. 42
Quadro 1 – Principais conceitos no espectro de gênero e sexualidade ............... 21
Gráfico 1 – Anos de produção ............................................................................ 45
RESUMO

Este trabalho discute as características presentes nas publicações científicas


relativas à temática do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros,
Queers, Interssexuais e Assexuais e a incorporação destas na área de Ciência da
Informação e que estão indexadas na Base de Dados Referencial de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação. O estudo apresenta um breve panorama
conceitual e histórico do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros,
Queers, Interssexuais e Assexuais no mundo e no Brasil. Também discute sobre a
importância da comunicação científica direcionada sobre a temática dentro da área
de Ciência da Informação como forma de ampliar as discussões e promover o
conhecimento sobre o tema de modo a contribuir para diminuir o preconceito com a
população que integra as diversas formas de gênero existentes. Tem como objetivo
realizar um mapeamento bibliométrico da produção científica presente na
convergência entre a Ciência da Informação e o Movimento Movimento de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers, Interssexuais e Assexuais.
Metodologicamente a pesquisa se caracteriza como sendo de natureza aplicada, com
abordagem quantitativa e com objetivos descritivos e explicativos, utilizando um
aporte teórico bibliográfico em seu referencial. A coleta dos dados foi feita por meio
da busca pela palavra-chave LGBT* na Base de Dados Referencial de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação, onde foram recuperados 88 artigos, 347
palavras-chave indexadas aos artigos, 157 autores e 29 periódicos e ou eventos, no
período que compreende entre 2013 e 2022, anos em que foram produzidos artigos
a respeito das temáticas. Apresentam-se rankings com os autores que mais
publicaram, os periódicos que deram mais visibilidade aos trabalhos e anos de maior
produção bem como são apresentadas as palavras-chave mais utilizadas no processo
de indexação dos artigos. Considera-se que até os dias de hoje a quantidade de
trabalhos sobre o Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers,
Interssexuais e Assexuais ainda é insuficiente, necessitando uma maior participação
dos autores da área da Ciência da Informação para divulgação da temática,
suscitando a necessidade de novas contribuições no campo de modo a ampliar a
visibilidade sobre esta importante temática.

Palavras-chave: Movimento LGTBQIA; Produção científica; Bibliometria.


ABSTRACT

This work discusses the characteristics present in the scientific publications


related to the Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, Intersexual and Asexual
movement and their incorporation in the area of Information Science and which are
indexed in the Reference Database of Articles of Journals in Information Science. The
study presents a brief conceptual and historical overview of the Lesbian, Gay,
Bisexual, Transgender, Queer, Intersexual and Asexual Movement in the world and in
Brazil. It also discusses the importance of directed scientific communication on the
subject within the area of Information Science as a way of expanding discussions and
promoting knowledge on the subject in order to contribute to reducing prejudice
against the population that integrates the various forms of gender. existing. It aims to
carry out a bibliometric mapping of the scientific production present in the convergence
between Information Science and the Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer,
Intersexual and Asexual Movement. Methodologically, the research is characterized
as being of an applied nature, with a quantitative approach and with descriptive and
explanatory objectives, using a theoretical bibliographic contribution in its reference.
Data collection was carried out by searching for the keyword LGBT* in the Reference
Database of Articles of Journals in Information Science, where 88 articles were
retrieved, 347 keywords indexed to articles, 157 authors and 29 journals and or events,
in the period between 2013 and 2022, years in which articles on the themes were
produced. Rankings are presented with the authors who published the most, the
journals that gave more visibility to the works and years of greater production, as well
as the most used keywords in the article indexing process. It is considered that until
today the amount of work on the Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer,
Intersexual and Asexual Movement is still insufficient, requiring greater participation
of authors in the area of Information Science to disseminate the theme, raising the
need for new contributions in the field in order to increase the visibility of this important
theme.

Keywords: LGTBQIA+ Movement; Scientific production; Bibliometrics.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 14

2 INCURSÃO TEÓRICA ................................................................................ 18

2.1 MOVIMENTO LGBTQIA+: ABORDAGEM HISTÓRICO CONCEITUAL ....... 18

2.2 COMUNICAÇÃO E PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O MOVIMENTO DE

LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS NA ÁREA DE

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ........................................................................ 27

2.3 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O

MOVIMENTO LGBTQIA+ ............................................................................. 30

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 33

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS ........................................ 37

5 CONSIDERAÇÕES ..................................................................................... 48

REFERÊNCIAS........................................................................................... 50
14

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, em nossa sociedade, há discussões mais atenuadas acerca de


movimentos sociais que envolvem questões sobre gênero, sexualidade, etnia,
sindicatos, capacitistas, ideológicas, dentre outras. Essas discussões se dão devido
às mudanças sociais que impulsionam um comportamento diferente dos indivíduos no
tocante à aceitação das diferenças sociais.

Destaca-se que vivenciamos uma era informacional onde os indivíduos


possuem um amplo acesso às informações devido o advento das Tecnologias Digitais
de Informação e Comunicação (TDIC), mais precisamente a internet e a web. Essas
tecnologias têm propiciado uma melhor comunicação entre os indivíduos, que por sua
vez, têm tido mais conhecimento sobre informações que possibilitam sua
compreensão acerca dos seus direitos e deveres, e, consequentemente, isto amplia
as discussões sobre questões sociais, visto que as pessoas, através da internet, têm
uma maior facilidade de se organizar socialmente, em movimentos, junto com seus
pares.

Nesse cenário, surgem os movimentos sociais com a prerrogativa de garantir


os direitos entre os indivíduos de forma igualitária. Assim, Touraine (1998) ressalta
que os movimentos sociais tratam-se de um chamamento do indivíduo como uma
resistência a uma forma de dominação social contra a qual se invocam valores e
orientações gerais da sociedade.

Dessa forma, pode-se refletir que os movimentos sociais da atualidade focam


na luta pela democratização das relações sociais e conforme Laclau (1986) tendem a
ocupar e politizar espaços alternativos de lutas.

Assim, dentre os movimentos existentes, destaca-se neste estudo o Movimento


de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers, Interssexuais e Assexuais
(LGBTQIA+) que levou décadas para ser descrito desta maneira, pois surgiu como
pequenos grupos de homens gays e mulheres lésbicas que procuravam espaços
seguros para se educar e socializar (CARTER, 2009). Ressalta-se que o “+” existente
na sigla, que se refere a todas as identidades de gênero e orientações sexuais que
não se encaixam nos outros termos. O Fundo Brasil, aponta que “o símbolo de ‘mais’
15

no final da sigla aparece para incluir outras identidades de gênero e orientações


sexuais que não se encaixam no padrão cis heteronormativo, mas que não aparecem
em destaque antes do símbolo.”

Este movimento não possui um objetivo específico e unificado, pois varia de


acordo com a região e o contexto social em que seus membros estão inseridos. Pode-
se dizer, contudo, que “os movimentos LGBTQIA+” pelo mundo e pelo Brasil, tem em
comum a luta contra a LGBTQIA+fobia pelo direito de ter suas identidades de gêneros
e sexualidades respeitados. Esta luta também perpassa por questões de classe, de
etnia, sexismo, capacitismo e muitos outros temas, até mesmo dentro do próprio
movimento e devem ser discutidas pelas pessoas LGBTQIA+ e para a sociedade
como um todo, buscando assim a conscientização sobre os assuntos que cercam as
lutas do movimento.

Diante de tamanha relevância, destaca-se que é imprescindível a importância


de se discutir este movimento em meio a nossa sociedade. Uma das portas de acesso
à essa informação são as universidades, uma vez que se constituem em fóruns
privilegiados que para o fomento de estudos que contribuam para a ciência,
propiciando um espaço de fala para estes grupos sociais, e por meio do surgimento
de pesquisas científicas que auxiliam na divulgação da informação sobre o assunto
para estes movimentos, além de evidenciar a importância de tratar desse assunto na
literatura científica e de acompanhar como esta discussão tem se incorporado dentro
da comunicação científica da área da Ciência da Informação.

Nesse contexto científico, destaca-se que a área de Ciência da Informação por


atuar diretamente com informações e por possuir uma corrente teórica voltada para
estudos em produção e comunicação científica também deve voltar seus olhares para
produções sobre esta temática, como forma de acompanhar as características que
permeiam as produções científicas que abordam as questões LGBTQIA+ dentro das
áreas de Ciência da Informação e de Biblioteconomia.

Assim, o autor deste trabalho, que é graduando em Biblioteconomia, ao se


deparar com o tema de pesquisa, se indagou a respeito da produção científica sobre
o Movimento LGBTQIA+ dentro da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. E
problematizou: Será possível verificar características das produções científicas sobre
o Movimento dentro da área de Ciência da Informação? Esse questionamento
16

subsidiou o entendimento para elencar informações pertinentes sobre autores,


temáticas, anos de publicação e outros elementos que circundam essa produção
científica. Para tanto, essa problematização serviu de delimitação para a definição dos
objetivos.

No tocante ao objetivo geral, destaca-se que visa analisar a produção científica


acerca do Movimento LGBTQIA+ dentro da área da Ciência da Informação publicada
na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação
(BRAPCI). E os objetivos específicos são:

a) verificar quais os autores têm produzido sobre o tema;


b) apontar quais os periódicos que dão mais visibilidade às produções sobre a
temática;
c) identificar os assuntos abordados dentro da temática do Movimento
LGBTQIA+;
d) elencar a periodicidade dessas produções dentro da área de Ciência da
Informação.

A pesquisa justifica-se que uma vez que o Movimento LGBTQIA+ é um tema


amplamente discutido na sociedade e suscita a necessidade e importância da
compreensão do que se trata perante os indivíduos, de modo a favorecer informações
que possam contribuir para ampliar o acesso aos direitos dos integrantes do
Movimento e favorecer a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, com
mais empatia pelo próximo e respeitando os espaços em que estes estão inseridos.

Nessa perspectiva, essa discussão se estende a necessidade de expansão


dessa temática também dentro da ciência, para que sejam realizados estudos e
pesquisas que fortaleçam o Movimento, além de contribuir com a troca de ideias entre
a sociedade científica, a sociedade em geral e os membros e membras do Movimento,
para que seja possível a imersão de novas ideologias e o fortalecimento destes grupos
sociais.

Evidencia-se que a escolha deste tema de pesquisa se deu, majoritariamente,


devido ao autor deste trabalho ser uma pessoa LGBTQIA+ e pela necessidade de
analisar a produção científica no Brasil, em específico na BRAPCI, sobre este
Movimento dentro das áreas de conhecimento em que está inserido, a Ciência da
Informação e a Biblioteconomia.
17

O autor deseja a partir deste estudo também, contribuir com a produção


científica na Ciência da Informação acerca desta temática, estimulando outros
pesquisadores a se sentirem inquietos para que possam construir novos caminhos a
partir de questionamentos e motivações atuais.

Assim, o trabalho está organizado em 04 seções. Na primeira é apresentada a


introdução da pesquisa, ou seja, um apanhado geral dos temas a serem abordados
ao decorrer do estudo. Já na segunda seção apresenta-se o referencial teórico, onde
é abordada uma breve revisão histórica sobre o movimento LGBTQIA+ no mundo e
no Brasil, e trata da discussão da comunicação e produção científica sobre o referido
movimento dentro da ciência buscando discorrer sobre sua importância.

Na terceira parte, são descritos os procedimentos metodológicos e de coleta


de dados, explanando os passos seguidos para obtenção das informações,
programas utilizados para filtrar e tabular os dados, além de apresentar as
características de abordagens, naturezas e objetivos da pesquisa, a partir da
conceituação de autores da área.

Na quarta parte é tratada a análise e discussão dos resultados, são


apresentados através de gráficos e tabelas o ranking dos autores que mais produzem,
os termos mais utilizados, os autores que mais publicam entre si e os periódicos e
eventos que divulgaram as pesquisas, afim de responder os objetivos e a
problematização propostos neste estudo. Assim, na próxima seção será abordado o
referencial teórico que subsidiou o entendimento da temática aqui estudada.
18

2 INCURSÃO TEÓRICA

Nesta seção será abordada uma breve revisão acerca do movimento


LGBTQIA+, se aprofundando em uma abordagem histórica e conceitual que busca
delimitar os principais acontecimentos acerca do surgimento do movimento, marcos
históricos e as mudanças conceituais que ocorreram com vistas a abrangência das
discussões e representações sociais que foram se modificando ao passar dos anos.
Em seguida trata da discussão da comunicação e produção científica sobre o
movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros dentro da ciência, como
forma de relatar a importância da temática em pesquisas científicas. Também é
discutida a relevância científica da área de Ciência da Informação como produtora de
conhecimento acerca da temática e contribuição de seus pesquisadores para a
comunicação científica com a premissa de expandir as discussões e permitir estudos
científicos que venham a possibilitar melhorias e aceitação do movimento à toda
sociedade.

2.1 MOVIMENTO LGBTQIA+: ABORDAGEM HISTÓRICO CONCEITUAL

O Movimento LGBTQIA+ pode ser descrito como um grupo (ou grupos) de


indivíduos de múltiplos gêneros e sexualidades, que por muitas décadas foram, e
ainda são marginalizados pela sociedade heteronormativa. Estes indivíduos são
pessoas, que juntos lutam diariamente, a partir do momento em que existem (e
resistem), ocupando o lugar que desejam na sociedade, para que possam ser
respeitados, ter uma vida digna e viver em um mundo mais igualitário.

Assim, compreende-se que a temática LGBTQIA+ envolve muitas siglas e


buscando contribuir com a compreensão do leitor acerca das derivações e conceitos
que abarcam a temática em questão, será apresentada nesta seção uma abordagem
conceitual para situar o leitor(a). Pois, discutir sobre gênero e sexualidade dentro da
ciência é importante, visto que ainda hoje percebe-se uma dificuldade de grande parte
do público em diferenciar sexo, gênero, sexualidade, identidade de gênero, etc.
19

Sabe-se que sexo se relaciona com o tipo de genitália, que é uma característica
biológica, na qual o indivíduo nasce com um órgão sexual, podendo este ser um órgão
masculino ou feminino, porém há indivíduos que nascem com os dois órgãos e nestes
casos são chamados de Intersexual, ou hermafrodita como era chamado antigamente,
e que se refere as pessoas que nascem com características tanto masculinas quanto
femininas, podem possuir ambos os cromossomos XX e XY e genitálias (ou parte do
sistema reprodutor) de ambos os sexos. Jesus (2012), esclarece que Intersexual é
uma

Pessoa cujo corpo varia do padrão de masculino ou feminino


culturalmente estabelecido, no que se refere a configurações dos
cromossomos, localização dos órgãos genitais (testículos que não
desceram, pênis demasiado pequeno ou clitóris muito grande, final da
uretra deslocado da ponta do pênis, vagina ausente), coexistência de
tecidos testiculares e de ovários (JESUS, 2012, p. 14).

O gênero se refere à identidade de gênero de um indivíduo, e até meados do


século XIX se definia como gênero o masculino (homem) ou feminino (mulher),
dependendo do órgão genital que o mesmo nascia. Porém, estudos como os de Reis
e Pinho (2016) afirmam que desde a década de 70 existem estudos que discutem a
existência de gêneros além dos que foram citados, incluindo-se assim os cisgênero,
ou cis, que são os indivíduos que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído
ao nascer; o transgênero, ou trans, que se refere as pessoas que não se identificam
com o gênero que lhes foi atribuído ao nascimento; pessoas não-binárias que se
refere aos indivíduos que se identificam com dois ou mais gêneros; e pessoas
agêneros (dentro do espectro da não-binaridade) que são pessoas que não se
identificam com nenhum dos gêneros (JESUS, 2012).

Na sociedade é muito comum as pessoas confundirem transgênero com


transsexual, por isto evidencia-se aqui que transgênero é um “grupo diversificado de
pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com comportamentos e/ou
papéis esperados do gênero que lhes foi determinado quando de seu nascimento”
(JESUS, 2012). E acerca do termo transsexual ainda há um debate sobre quando se
deve utilizar este termo, pois muitos o associam a intervenções cirúrgicas (tais como
implantes ou redesignação sexual) para se referir a pessoas que não se identificam
com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer e transicionam de um gênero (ou sexo)
para outro (JESUS, 2012).
20

Nesse sentido ainda para Jesus (2012) a transexualidade é um:

Termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica com o


gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento. Evite utilizar
o termo isoladamente, pois soa ofensivo para pessoas transexuais,
pelo fato de essa ser uma de suas características, entre outras, e não
a única. Sempre se refira à pessoa como mulher transexual ou como
homem transexual, de acordo com o gênero com o qual ela se
identifica.

Assim, afirma-se que “gênero vai além do sexo: O que importa, na definição do
que é ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou a conformação genital, mas
a autopercepção e a forma como a pessoa se expressam socialmente” (JESUS, 2012,
p. 6). Compreende-se então que gênero é uma classificação pessoal e social. Logo,
Identidade de Gênero se refere ao gênero com que uma pessoa se identifica, seja ele
de acordo ao gênero que o foi dado ao nascer ou não.

Já a sexualidade, ou orientação sexual como é popularmente conhecida,


engloba questões de atração, seja ela sexual, física e/ou afetiva, podendo ter
indivíduos que não sentem atração por nenhuma destas características. Nesse
contexto, Nogueira (2010, p. 19) afirma que:

A orientação sexual refere-se ao indivíduo como alguém que tem uma


identidade pessoal e social com base nas suas atracções,
manifestando determinados comportamentos e aderindo a uma
comunidade de pessoas que compartilham da mesma orientação
sexual (APA apud NOGUEIRA, 2010, p. 19).

Nesse tocante, há pessoas heterossexuais, que sentem atração por


indivíduos do sexo oposto e os homossexuais que sentem atração por pessoas do
mesmo gênero que se identifica, onde denominamos de lésbica quando se trata de
uma mulher que sente atração por outra mulher, e o gay que se refere a um homem
que sente atração por outro homem. Os bissexuais ou pansexuais são homens ou
mulheres que sentem atração por todos ou mais de um gênero. Os assexuais não
sentem atração sexual por outras, ou sente pouca atração, ou ainda, sente atração
apenas em situações condicionais. Por fim, os alo sexuais se caracterizam por toda
e qualquer pessoa que sente atração sexual por outra, independente do sexo ou
gênero (JESUS, 2012).
21

No tocante ao termo em inglês queer, este se refere a uma gíria utilizada de


forma pejorativa para se referir aos homossexuais. O termo tem sido utilizado como
“guarda-chuva” para representar “uma coalizão de identidades sexuais culturalmente
marginalizadas”, mas que ainda precisa se consolidar culturalmente (JAGOSE, 1996,
p. 106).

Assim, compreende-se que existem diversos gêneros e orientações sexuais,


contempladas na sigla LGBTQIA+, e como forma de sintetizar as principais ideias
tratadas até aqui, apresenta-se o quadro 01 abaixo com as informações resumidas.

Quadro 1 - Principais conceitos no espectro de gênero e sexualidade (continua...)

CONCEITO DESCRIÇÃO

Sexo Classificação biológica das pessoas como machos ou fêmeas,


baseada em características orgânicas como cromossomos,
níveis hormonais, órgãos reprodutivos e genitais.

Gênero Classificação pessoal e social das pessoas como homens ou


mulheres. Orienta papéis e expressões de gênero. Independe
do sexo.

Identidade de Gênero Gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não
concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu
nascimento. Diferente da sexualidade da pessoa. Identidade
de gênero e orientação sexual são dimensões diferentes e que
não se confundem. Pessoas transexuais podem ser
heterossexuais, lésbicas, gays ou bissexuais, tanto quanto as
pessoas cisgênero.

Transgênero Conceito “guarda-chuva” que abrange o grupo diversificado de


pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com
comportamentos e/ou papéis esperados do gênero que lhes foi
determinado quando de seu nascimento.
22

Quadro 1 - Principais conceitos no espectro de gênero e sexualidade (conclusão)

Intersexual Pessoa cujo corpo varia do padrão de masculino ou feminino


culturalmente estabelecido, no que se refere a configurações
dos cromossomos, localização dos órgãos genitais (testículos
que não desceram, pênis demasiado pequeno ou clitóris muito
grande, final da uretra deslocado da ponta do pênis, vagina
ausente), coexistência de tecidos testiculares e de ovários.

Orientação Sexual Atração afetivo-sexual por alguém. Sexualidade. Diferente do


senso pessoal de pertencer a algum gênero.

Assexual Pessoa que não sente atração sexual por pessoas de qualquer
gênero.

Bissexual Pessoa que se atrai afetivo sexualmente por pessoas de


qualquer gênero.

Heterossexual Pessoa que se atrai afetivo sexualmente por pessoas de


gênero diferente daquele com o qual se identifica.

Homossexual Pessoa que se atrai afetivo sexualmente por pessoas de


gênero igual àquele com o qual se identifica.

Transexual Termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica


com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento.
Evite utilizar o termo isoladamente, pois soa ofensivo para
pessoas transexuais, pelo fato de essa ser uma de suas
características, entre outras, e não a única. Sempre se refira à
pessoa como mulher transexual ou como homem transexual,
de acordo com o gênero com o qual ela se identifica.

Queer O “queer”, enquanto adjetivo, já foi utilizado como uma gíria


para homossexual ou, em perspectivas piores, um termo de
abuso homofóbico (JAGOSE, 1996). Nos últimos anos, aponta
Jagose (1996), o vocábulo tem sido empregado de maneiras
diferentes. Um conceito “guarda-chuva” para “uma coalizão de
identidades sexuais culturalmente marginalizadas” (JAGOSE,
1996, p.106) ou para identificar um movimento teórico nascente
que se desenvolveu para além dos tradicionais estudos gays e
lésbicos. Entretanto, argumenta Jagose (1996), é preciso
apontar que “queer” é uma categoria em processo de formação,
o que não significa que esta ainda precisa se solidificar, mesmo
que a elasticidade e a indeterminação sejam elementos
constitutivos do “queer”.

Fonte: Adaptado de (JESUS, 2012).


23

Após o embasamento conceitual do tema, envereda-se na abordagem


conceitual da construção do termo. Dessa forma, pode-se dizer que o termo
LGBTQIA+, surgiu de uma derivação do termo LGBT, que segue preceitos advindos
do XII Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Transgêneros, que ocorreu em 2005,
onde a letra “B”, de bissexuais, foi incluída oficialmente na sigla, assim como a letra
“T” passando a se referir igualmente a pessoas travestis, transexuais e transgêneros
(ANAIS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS,
TRAVESTIS E TRANSEXUAIS – GLBT, 2008).

Em 2008 durante a I Conferência Nacional LGBT que ocorreu em Brasília e que


teve como objetivo reunir pessoas LGBT para discutir aspectos de interesse deste
público e repensar o seu papel na sociedade, decidiu-se incluir novas letras para
representar novas homossexualidades, como o “i” de intersex, o “q” de queer e o “a”
de agêneros e assexuais. E assim, surgiu a sigla LGBTQIA+, que inclui as duas
categorias anteriormente mencionadas e o “+”, que vem a indicar a possibilidade da
inclusão de sexualidades e identidades de gêneros (ANAIS DA CONFERÊNCIA
NACIONAL DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS –
GLBT, 2008). E que pode ser melhor compreendido através da figura 01 abaixo:

Figura 01 – Significado da sigla LGBTQIA+

Fonte: Cielo (documento eletrônico, não datado)


24

Todavia, o termo sofreu alterações de acordo com aspectos regionais e


culturais, tendo derivações diferentes em diversas partes do mundo, conforme coloca
Jesus (2012, p. 17) na asseveração abaixo:

Acrônimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.


Eventualmente algumas pessoas utilizam a sigla GLBT, ou mesmo
LGBTTT, incluindo as pessoas transgênero/queer. No Chile é comum
se utilizar TLGB, em Portugal também se tem utilizado a sigla
LGBTTQI, incluindo pessoas queer e intersexuais. Nos Estados
Unidos se encontram referências a LGBTTTQIA (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Transgêneros, Travestis, Transexuais, Queer,
Intersexuais e Assexuados) (JESUS, 2012, p. 17).

É importante salientar que a história sobre o surgimento dos movimentos


LGBTs no mundo se entrelaça com a história sobre o entendimento da
homossexualidade que advém desde o período de final da Antiguidade, perpassando
pelo início da Idade Média, onde ocorriam muitas práticas de apedrejamento,
decapitação, enforcamentos; afogamentos; e morte na fogueira, principalmente
durante a Idade Média, visto que Igreja considerou a sodomia um crime hediondo
(MOTT, 2001; MELO, 2016). Porém, este trabalho não abrangerá tal história, pois,
apesar de possuir uma vasta bibliografia sobre o assunto, os limites deste estudo não
abarcam o foco da pesquisa que é direcionada sobre o período pós criação dos
movimentos LGBTs.

Sendo assim, evidencia-se que o marco inicial registrado na literatura científica


sobre o Movimento ocorreu em 1950 nos Estados Unidos onde se formou a
Mattachine Society, cuja foi uma organização política semiclandestina de gays e
lésbicas que visava à integração dessas pessoas na sociedade, visto que elas eram
consideradas marginalizadas (GOMES; ZENAIDE, 2019).

Gomes e Zenaide (2019) ressaltam que em maio de 1968 ocorreu na França,


uma militância da juventude europeia, que questionava os valores morais da época.
Assim, o autor e a autora relatam que:

A revolta estudantil de 1968 desencadeou o aparecimento do


movimento de contracultura, com o movimento hippie, com a luta das
mulheres em busca de sua afirmação na sociedade, como também
dos negros que protestavam por direitos civis (GOMES; ZENAIDE,
2019, p. 5).
25

Já em 1969, mais precisamente no dia 28 de junho, ocorreu um dos mais


famosos episódios que envolvem a criação do movimento LGBT, a Revolta de
Stonewall Inn, em Nova Iorque. Onde ocorreu a primeira rebelião de pessoas LGBTs
devido a forma como eram tratadas por policiais e autoridades ao serem consideradas
desviantes das normas sociais. Este fato deu início as paradas do Orgulho Gay que
se espalharam pelo mundo afora (CANABARRO, 2013).

O fato ocorreu na cidade de Nova York, no bar The Stonewall Inn,


localizado na Christopher Street, número 53, um espaço frequentado
por gays, lésbicas e travestis, em que cotidianamente aconteciam
batidas da polícia, e seus frequentadores eram forçados a sair e, na
maioria das vezes, sofriam repressão policial, porém, nesse dia, “ao
invés de fugir, eles, liderados por travestis, trancaram os policiais no
bar, incendiaram e atiraram pedras e garrafas quando os policiais
tentavam sair” (OKITA, 2007, p. 73).

Assim, um ano após a Revolta ocorreu uma passeata que reuniu quase dez
mil homossexuais para comemorar a Rebelião de Stonewall, e o dia 28 de junho ficou
conhecido como Dia do Orgulho Gay. Assim, foi formada a Gay Liberation Front
(Frente de Libertação Homossexual) que a partir dela centenas de organizações de
homossexuais começaram a surgir no mundo (OKITA, 2007, MACRAE, 2011).

No contexto brasileiro, a história do Movimento LGBTQIA+, como movimento


organizado, tem como marco inicial o ano de 1978 com a criação do jornal Lampião
da Esquina, que desafiando a censura da Ditadura Civil-Militar, era feito por
homossexuais e denunciavam a violência sofrida por pessoas LGBTQIA+
(CANABARRO, 2013).

Vale destacar que no Brasil o Movimento LGBT nasceu como um ato de


resistência em plena Ditadura Civil-Militar, um período marcado pela repressão,
censura e por ideais conservadores. Assim, Ferreira e Sacramento (2019, p. 236)
afirmam que neste período “começou a haver especialmente ao final da década de
1970 a consolidação de movimentos identitários que estabeleceram novas agendas
públicas (movimento negro, movimento feminista, movimento homossexual)”. E Após
este período, já em 1978, é fundado o grupo Somos, em São Paulo capital, onde se
inicia a luta política dos homossexuais de maneira organizada (SANTOS, 2016).

Posteriormente, entre 1980 e 1990, nascem diversos grupos de defesa às


pessoas LGBTs como o GGB - Grupo Gay Bahia (1980), que foi um dos primeiros a
26

pesquisarem e estudarem sobre o tema, e que resiste até os dias de hoje. Nesta
mesma década, ocorre o primeiro Encontro Brasileiro de Homossexuais, e um ano
depois, a primeira celebração do Dia do Orgulho Gay, em 28 de junho (CANABARRO,
2013). Com isso, surgem filiais do Somos - Comunicação e Sexualidade, espalhando-
se através do Brasil, concomitantemente a novas organizações de travestis e
transexuais.

Vale destacar que foi apenas em 1985, que no Brasil o Conselho Federal de
Medicina removeu a homossexualidade da classificação de doenças através de uma
campanha nacional que obteve o apoio de mais de 16 mil pessoas, entre intelectuais
renomados, políticos e artistas, se pondo à frente até de resolução semelhante da
Organização Mundial e Saúde (CANABARRO, 2013). Assim, a Organização Mundial
de Saúde remove de seus catálogos médicos em 1990 o “homossexualismo” (o sufixo
ismo neste caso se remetia à doença e caiu em desuso) de seu DSM - Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e CID - Código Internacional de
Doenças, passando a se chamar “homossexualidade” como orientação sexual
individual (CANABARRO, 2013).

Por fim, em 13 de junho de 2019, por oito votos a três, o Superior Tribunal
Federal determinou que a homofobia passasse a ser punida pela Lei de Racismo
(7716/89), que a partir deste momento prevê crimes de discriminação, ou preconceito
por raça, cor, etnia, religião e procedência nacional (FERREIRA; SACRAMENTO,
2019).

De forma geral, pode-se afirmar que ocorreram vários avanços ao longo das
décadas no tocante às lutas pelos direitos das pessoas LGBTs, com vistas à formação
de uma sociedade mais igualitária e tolerante que respeite as diferenças e os espaços
dos indivíduos que nela integram. Mas, ainda há muito a se discutir junto à sociedade
com vistas a diminuir os preconceitos entre os indivíduos. Por isso, há a necessidade
de se falar sobre o assunto dentro das universidades, instigar estudos científicos
acerca deste grupo social, de forma a quebrar barreiras sociais e promover uma ampla
divulgação sobre quem são estes indivíduos que são marginalizados há décadas.
Para tanto, a seção a seguir abordará a importância da discussão dessa temática na
ciência.
27

2.2 COMUNICAÇÃO E PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O MOVIMENTO DE


LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS

A comunicação científica é um processo que ocorre entre acadêmicos e


pesquisadores com a finalidade de desenvolver por meio da troca de ideias, projetos
e informações científicas acerca de temas relacionados às questões e problemas
sociais, ambientais, políticos, dentre outros. Nessa perspectiva, Caribé (2015, p. 90)
afirma que:

[...] o termo comunicação científica é um termo genérico. Infere-se que


difusão científica, divulgação científica, popularização da ciência,
disseminação científica são termos subordinados e específicos de
comunicação científica. Estão relacionados às atividades
desenvolvidas por diferentes pessoas e instituições, com o objetivo de
levar a informação científica a determinado grupo social. Esses termos
são vistos como processos, ou seja, atividades desenvolvidas com o
objetivo de levar a informação científica ao cliente, o grupo social
(CARIBÉ, 2015, p. 90).

Sendo assim, por comunicação científica, se entende que engloba desde a


emissão e divulgação de informação elaborada e amparada por meio de métodos
científicos, por cientistas, pesquisadores e técnicos de suas áreas, ou por meio de
conversas e eventos, com o objetivo de propagar estudos para grupos da sociedade,
sejam pares ou leigos.

Nessa perspectiva, evidencia-se que a comunicação científica se materializa


por meio de dois tipos de canais: os formais e os informais. E a respeito destes canais
informacionais, Vital (2006), os diferenciam da seguinte maneira:

Fontes formais são aquelas obtidas através de publicações, livros,


periódicos, teses, patentes, entre outras. Fontes informais são
conversas, seminários, contatos telefônicos, fornecedores, folders,
entre outras. O que difere uma da outra basicamente é o suporte e o
nível de processamento ao qual a informação foi submetida.
Informação disponibilizada de forma organizada e estruturada é
considerada formal (VITAL, 2006).

Tendo esse entendimento, destaca-se que a comunicação científica possui um


alcance maior através dos canais de comunicação formais, pois estes possibilitam
para além do registro das informações científicas que estas sejam propagadas para
um alcance maior à sociedade científica e geral como um todo. Os canais informais
28

se materializam por meio de conversas, em eventos, através de contatos pessoais ou


remotos, mas não necessariamente serão registrados. Os canais formais, são aqueles
que estão disponibilizados, nos dias de hoje, em sua maior parte no âmbito digital, são
de fácil acesso, pois a informação são representadas por meio de livros e e-books,
artigos de periódicos, anais de eventos, facilitando assim sua busca e recuperação.

Assim, enfoca-se que a maior parte dessa produção formal é oriunda das
universidades e centros de pesquisa, os quais possibilitam o desenvolvimento de
pesquisas que irão contribuir com a resolução ou minimização dos problemas
existentes. Estas produções possibilitam uma visão por diversos atores sociais sobre
questões que permeiam a vida da sociedade. E por isto há a importância de ampla
divulgação destas temáticas científicas para que os indivíduos tenham conhecimento
acerca dos problemas que os cercam e possam contribuir com ideias e opiniões sobre
os assuntos relacionados a estes indivíduos.

Neste cenário de divulgações e descobertas, destaca-se a necessidade de se


produzir cientificamente pesquisas acerca do Movimento LGBTQIA+ com vistas a
contribuir com a divulgação desses assuntos em canais formais e com isso, possibilitar
uma visão mais ampla da sociedade a respeito desta temática que envolve a formação
de uma sociedade mais igualitária, com menos preconceitos e mais conhecimento
acerca das diferenças que envolvem a questão do gênero e da sexualidade.

A importância de se discutir sobre o movimento LGBTQIA+ nas universidades


vai ao encontro da Agenda 2030 estabelecida pela Organização das Nações Unidas
(ONU) que estabelece 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (figura 1).

Figura 2 - 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU

Fonte: Brasil. Nações Unidas (2022).


29

Dentre os objetivos apresentados, destaca-se o número 05 e 10 que segundo


o site das Organizações Unidades (https://brasil.un.org/pt-br/sdgs), se referem
respectivamente a igualdade de gênero que busca alcançar “a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas” e a redução das desigualdades que objetiva
“reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países”. Assim, estes dois
objetivos também abordam como as discussões como as do Movimento LGBTQIA+
que luta pela redução das desigualdades entre as pessoas, podem contribuir com a
melhoria dos aspectos sociais.

Por isso, evidencia-se a importância de as universidades trabalharem essas


temáticas, como forma de promover o ensino e pesquisas que possibilitem a
compreensão social acerca das diferenças e aceitação da sociedade quanto a
igualdade dos gêneros, independentemente de sua orientação sexual. Visto que,
Segundo Ottonicar et al (2019, p. 485):

O preconceito ocorre quando indivíduos desconhecem por diversas


questões, o fenômeno em que estão julgando, como valores
ensinados desde a infância, medo do desconhecido, desejo
inconsciente em fazer parte do objeto criticado e o desconhecimento
histórico das práticas e interpretações.

A discussão dessas temáticas dentro das universidades por meio de projetos


de extensão permitem a intersecção entre pesquisadores e a comunidade,
possibilitando conhecer os indivíduos que a integram, conhecendo suas
necessidades, hábitos e desejos, como forma de instigar pesquisas que promovam a
melhoria na qualidade de vida dos grupos sociais que integram os LGBTQIA+, e assim
possam promover ações sociais focando a melhoria da qualidade de vida, voltadas às
questões de saúde, emprego, moradia, educação e segurança.

Dessa forma, a partir do desenvolvimento dessas pesquisas ocorrerá uma


maior comunicação científica dentro das universidades, possibilitando uma maior
produção formal e informal de suportes informacionais que por sua vez contribuem
com a divulgação e compreensão dos assuntos inerentes ao movimento LGBTQIA+.
30

2.3 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O


MOVIMENTO LGBTQIA+

Compreende-se que a Ciência da informação por se tratar de uma área que


atua na questão da produção, tratamento, acesso, disponibilização e uso de
informações, pode assim contribuir com a ampliação da divulgação dessa temática
dentro das unidades de informação que são utilizadas pela sociedade, de modo a
orientá-la e informá-la com vistas auxiliar na diminuição da ignorância, que é a base
do preconceito e intolerância contra pessoas LGBTQIA+ que existente em nossa
sociedade1.

Além do que, a Ciência da Informação atua com duas temáticas denominadas


“Letramento em informação” e “Competência em informação”, que possuem a
premissa de construir no indivíduo as habilidades para saber selecionar informações
úteis a serem consumidas de modo a torná-los capazes de contribuir com sua
formação social, psicológica, política, dentre outras, visando assim formar cidadãos
críticos e pensantes.

Nessa perspectiva, Gasque (2013, p. 5) afirma que letramento informacional é


um:

[...] processo de aprendizagem voltado para o desenvolvimento


de competências para buscar e usar a informação na resolução
de problemas ou tomada de decisões. O letramento
informacional é um processo investigativo, que propicia o
aprendizado ativo, independente e contextualizado; o
pensamento reflexivo e o aprender a aprender ao longo da vida.
Pessoas letradas têm capacidade de tomar melhores decisões
por saberem selecionar e avaliar as informações e transformá-
las em conhecimento aplicável (GASQUE, 2013, p.5).

Na mesma linha de pensamento, Gasque (2013, p. 5) ressalta que a


competência informação,

[...] refere-se à capacidade do aprendiz de mobilizar o próprio


conhecimento que o ajuda a agir em determinada situação. Ao
longo do processo de letramento informacional, os aprendizes
desenvolvem competências para identificar a necessidade de

1
Reforça-se a ideia de que este estudo não pretende esgotar a temática e sim indicar suas premissas
principais.
31

informação, avaliá-la, buscá-la e usá-la eficaz e eficientemente,


considerando os aspectos éticos, legais e econômicos
(GASQUE, 2013, p.5).

Assim, tanto o letramento informacional quanto a competência informacional


despertam a importância da aprendizagem como um exercício à cidadania e autores
como Beluzzo (2007), Ottonicar e Feres (2014) e Gasque (2013), comungam desse
pensamento. Nesse entendimento, Ottonicar et al (2019, p. 486) afirma que a
competência em informação “contribui para que o indivíduo aprenda sobre a
diversidade da humanidade e da relevância dessas diferenças para compor a
sociedade”.

Nessa perspectiva, evidencia-se a importância de a área de Ciência da


Informação produzir cientificamente estudos sobre a temática LGBTQIA+, de modo a
incentivar a formação de uma sociedade informada e menos preconceituosa, visto que
“as pesquisas e estudos sobre a temática LGBTQ+ contribuem amplamente para a
multidisciplinaridade profissional do bibliotecário, bem como auxilia na constante
atualização e referências sobre determinados assuntos (BIASIOLI; ZAFALON, 2018,
p. [4]).

Pois, é percebido que na área de Ciência da Informação ainda é preciso ampliar


discussões que vão desde a decolonialidade até o preconceito enraizado em nossa
sociedade, que delimita discursos e instrumentos de trabalho profissional, pois:

Por vezes, questões de preconceito, de formação acadêmica e vieses


(também discutidos pela Organização e Representação da
Informação) prejudicam o processo de representação documental, e,
por consequência, ações de recuperação e atendimento ao usuário
(BIASIOLI; ZAFALON, 2018, p. [4]).

Por isso destaca-se a importância de a Ciência da Informação produzir


pesquisas que possibilitem a reflexão acerca de atributos e questões existentes dentro
da área que impedem uma maior visibilidade dos grupos sociais subalternados. Pois,
conforme Santos, Targino e Freire (2017, p. 120) a Ciência da Informação, por estar
abarcada dentro das Ciências Sociais Aplicadas, “deve dedicar sua atenção à
execução de pesquisas sobre os fenômenos sociais em pauta, propondo ações que
atinjam os indivíduos LGBT e cumprindo com sua responsabilidade social”. E esta “diz
32

respeito ao desenvolvimento de ações que contribuem para melhor qualidade de vida


dos cidadãos, pensadas a partir de fundamentos éticos de responsabilidade para com
o próximo e com a sociedade.” (SANTOS, TARGINO, FREIRE, 2017, p. 121). E diante
de tais reflexões, este referencial embasa esta pesquisa, a qual apresenta uma
metodologia que servirá de base para a sua execução. Assim, a metodologia se
apresenta na seção a seguir.
33

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção, será abordada a metodologia empregada para a elaboração


deste estudo enfocando, as abordagens, naturezas e objetivos da pesquisa. A
pesquisa realizada caracteriza-se pela natureza aplicada, pois de acordo com Silva e
Menezes (2005, p. 20) teve como objetivo “gerar conhecimentos para aplicação
prática e dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses
locais”.

Assim, este estudo realizou uma coleta de dados sobre a produção científica
acerca do Movimento LGBTQIA+ dentro da área da Ciência da Informação e
Biblioteconomia publicada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos
em Ciência da Informação (Brapci) com vistas a gerar novos entendimentos acerca
de características que permeiam essas publicações.

No tocante a abordagem, a pesquisa é quantitativa, pois foram coletados dados


numéricos que subsidiou o levantamento de palavras-chave para identificar quais
assuntos são tratados nas produções que abordam a temática, além de verificar
quantos e quais autores mais produzem publicações sobre a temática, e quais
periódicos que mais dão visibilidade a produções científicas sobre o Movimento
LGBTQIA+, além de identificar a periodicidade das publicações analisadas. Assim,
por abordagem quantitativa, Fonseca (2002, p. 33) infere que:

Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa


quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente
são grandes e consideradas representativas da população, os
resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda
a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na
objetividade.

Os objetivos da pesquisa são de natureza descritiva, pois tiveram "como


objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou
fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis" (GIL, 2002, p.42).
E também é explicativa por ter, segundo Gil (2002, p.42), "como preocupação central
identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos." Assim, este estudo buscou descrever e explicar os fenômenos
relacionados ao mapeamento das produções científicas acerca do movimento
LGBTQIA+ dentro da área de Ciência da Informação.
34

No tocante aos procedimentos técnicos utilizados, a pesquisa é bibliográfica,


que como Lakatos (2003, p. 158) caracteriza-a como sendo:

[...] um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados,


revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados
atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura
pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar publicações e
certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações,
podendo até orientar as indagações.

Para a coleta dos dados dessa pesquisa, foi realizada uma busca acerca das
publicações científicas sobre o movimento LGBTQIA+ na Brapci (https://brapci.inf.br/),
buscando dessa forma identificar todas a produções sobre a temática dentro da área
de Ciência da Informação, de modo a identificar características nessas publicações
que subsidiam o entendimento acerca da importância da temática por autores e
período.

A busca foi realizada no dia 13 de maio de 2022 e utilizou-se os campos de


título, palavras-chave, resumo e texto completo, a partir do seguinte termo: LGBT*.
Utilizou-se o operador de truncagem asterisco (*) de forma a recuperar todas as
derivações do termo LGBT, tais como: LGBTQ, LGBTQIAP, LGBTTQIAP, entre
outras. Utilizou-se como temporalidade os anos de 1972 a 2022 que foram
estabelecidos pela própria base. De modo a identificar o período em que teve início
as produções científicas sobre essa temática dentro da área de Ciência da
Informação.

Foram recuperados um total de 88 artigos, os quais foram exportados para o


formato XLS, onde os dados estavam organizados por autoria, título, ano de
publicação, número da revista, palavras-chave, resumo, nome da revista/evento onde
foi publicado. Logo após, minerou-se esses dados buscando a padronização dos
nomes dos autores, palavras-chave e nome dos periódicos de forma a retirar a
duplicidade e variações da apresentação dos nomes dos autores. E em seguida, os
dados foram copiados em outra tabela onde se aplicou as três Leis Bibliométricas, Lei
de Lotka, Lei de Bradford e Lei de Zipf.

A Lei de Lotka, ou lei do Quadrado Inverso, identifica os pesquisadores


supostamente de maior prestígio em uma determinada área do conhecimento, por
produzirem mais do que outros pesquisadores, supostamente de menor prestígio. A
35

Lei de Bradford, ou lei da Dispersão, verifica o grau de relevância de periódicos de


uma área do conhecimento, de modo a identificar os periódicos que produzem o maior
número de artigos sobre um dado assunto. A lei de Zipf, ou Lei do Mínimo esforço,
possibilita apontar as frequências de ocorrência das palavras nos artigos científicos
analisados, de modo a identificar os termos mais representativos para um
determinado assunto (BORSCHIVER; GUEDES, 2005).

Para aplicação da Lei de Lotka, extraiu-se todos os nomes dos autores e os


organizou de acordo com a quantidade de suas publicações, independente se foram
em coautoria, autoria múltipla ou única autoria. Foram contabilizados 238 autores que
publicaram sobre a temática. É importante ressaltar que, o somatório para cada
publicação equivale a 1 ponto, de forma a realizar uma contagem completa. Essa
definição partiu dos estudos de Alvarado, que afirma:

A contagem direta, quando somente os autores sênior ou principais


(os autores nomeados em primeiro lugar) são considerados,
ignorando-se os autores secundários (colaboradores); a contagem
completa, em que cada autor (principal e/ou secundário) recebe o
crédito de uma contribuição; e a contagem ajustada, quando se atribui
a cada autor (principal e/ou secundário), uma fração ou porção da
contribuição total, ou seja, no caso de cinco autores de um único artigo,
cada autor recebe o crédito de 1/5 do artigo (ALVARADO, 2003, p. 190)

Após a identificação dos autores com maior produção, estabeleceu-se um


ranking desses autores e aplicou-se a fórmula de Lotka, que apontou a quantidade de
produções dos 20% dos autores mais produtivos, conforme foram apresentados nos
resultados dessa pesquisa.

Logo após, foi identificada as relações de coautorias através do software


VosViewer que possibilitou a elaboração de um grafo com as relações existentes e
permitiu identificar quais os autores são mais participativos em meio a estas
produções em coautoria.

Para a aplicação da Lei de Bradford, retirou-se todos os títulos dos periódicos


e eventos onde estes artigos foram publicados. Logo após, essa listagem foi
organizada por quantidade de publicações e criou-se um ranking com as 29 revistas
e ou eventos que publicaram sobre o tema.

Depois aplicou-se a fórmula de Bradford que separa as revistas de acordo com


três esferas. A lei divide o total das produções em 1/3, dessa forma cada esfera é
36

responsável por 1/3 das publicações. Assim, é possível identificar quais são os
periódicos que mais contribuem com a publicação de determinada temática.

No tocante a Lei de Zipf, foram analisadas as 347 palavras-chave indexadas


nos artigos. Estas palavras foram agrupadas e contabilizadas de acordo com a
quantidade de vezes que foram utilizadas, de forma a criar um ranking. Logo após se
aplicou a fórmula que calcula a enésima posição das palavras, tendo como ponto de
partida a palavra que mais se utilizou como termo indexador para representar a
temática no grupo explorado. Assim, é possível identificar quais termos representam
as informações triviais sobre a temática, quais são informações relevantes e quais são
ruídos, ou seja, que não apresentam muita relevância para a temática. A partir desta
definição é possível sugerir um conjunto de termos que devem ser utilizados no título,
resumo e palavras-chave das produções sobre aquela determinada temática.

Com os dados também é possível identificar qual o ano em que essas


publicações começaram a ganhar espaço nas produções científicas e em qual ano se
teve uma maior produção acerca do tema analisado. Além disso, também foram
analisadas todas as referências utilizadas nos artigos e identificou-se quais
referenciais teóricos são mais utilizados nessas produções.

A partir dos dados coletados partiu-se para a elaboração dos resultados, os


quais serão apresentados na seção a seguir.
37

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Nesta seção serão apresentados os resultados por meio de gráficos e tabelas


que serão analisadas a partir de discussões baseadas no referencial teórico deste
estudo para subsidiar a compreensão acerca dos resultados encontrados. Para uma
melhor organização, os resultados foram apresentados de acordo com cada objetivo
específico traçado na introdução deste trabalho.

a) Autores que mais produzem sobre o tema – Lei de Lotka

No tocante aos autores que mais publicam, identificou-se que 238 autores
integram este estudo e pôde-se constatar por meio da aplicação da Lei de Lotka que
20% destes, ou seja, 46 autores são os mais produtivos quanto a temática LGBTQIA+
dentro da área. Buscando representar estes autores, elaborou-se a tabela 01 abaixo
com a relação dos 39 autores, visto que a quantidade de publicações por autor são
poucas e que a partir da 40ª colocação, os demais autores possuem apenas 01
publicação. Dessa forma, listou-se os autores que publicaram até 02 artigos sobre a
temática, conforme a tabela abaixo.

Tabela 1 - Ranking dos autores que mais publicam sobre LGBTQIA+ nas produções da área
de Ciência da Informação indexadas na Brapci
QUANT. DE
RANKING AUTORES
PRODUÇÕES
1 BRITO, Jean Fernandes 8
2 MATIAS, Márcio 5
3 SANTOS, Raimundo Nonato Macedo dos 4
4 OLIVEIRA, Dalgiza Andrade 4
5 CORTES, Gisele Rocha 4
6 VIANA, Azilton Ferreira 4
7 SILVA, Rafaela Carolina 3
8 SILVA, Laelson Felipe da 3
9 LIMA, Gláucio Barreto 3
10 SOARES, Gilberta Santos 3
38

QUANT. DE
RANKING AUTORES
PRODUÇÕES
(Continuação)
11 MELO, Maytê Luanna Dias de 3
12 SANTANA, Sérgio Rodrigues 2
13 FONTES, Leonardo Augusto Silva 2
14 SILVA, Diego Barbosa da 2
15 JORENTE, Maria José Vicentini 2
16 GIRARD, Carla Daniella Teixeira 2
17 APOCALYPSE, Simão Marcos 2
18 SANTOS, Bruno Almeida dos 2
19 LOPES, Luiz Rogério 2
20 SILVA, Leyde Klebia Rodrigues da 2
21 LUBISCO, Nídia M. L 2
22 SOUZA, Edivanio Duarte 2
23 MARTINS, tradução Elizabeth 2
24 SAMPAIO, Denise Braga 2
25 MATA, Marta Leandro da 2
26 SANTANA, Sérgio Rodrigues de 2
27 CAULFIELD, Sueann 2
28 COVELLO, Lucas Gatto 2
29 BISSOLI, Bruna da Silva 2
30 FERREIRA, Vinicius 2
31 NASCIMENTO, Marcela Aguiar da Silva 2
32 SILVA, Luiz Rogério Lopes 2
33 BOTELHO-FRANCISCO, Rodrigo Eduardo 2
34 FREIRE, Isa Maria 2
35 OLIVEIRA, Henry Poncio Cruz de 2
36 TARGINO, Maria das Graças 2
37 PISSELI, Bianca Iris 2
38 SACRAMENTO, Igor 2
39 LIMA, Izabel de França 2
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
39

Os dados apresentam que o autor que mais publica na área e que está no topo
do ranking com 8 publicações é Jean Fernandes Brito2, que é professor facilitador de
aprendizagem na Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP),
doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP),
mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e Bacharel em Biblioteconomia pela Unesp.

Em segundo lugar, com 5 publicações, está Marcio Matias3 Professor adjunto


de Graduação e de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Doutor em Engenharia
de Produção pela UFSC, mestre em Ergonomia, com graduação em Ciência da
Computação.

Em terceiro lugar, com 4 publicações, destaca-se o professor associado do


Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), Raimundo Nonato Macedo dos Santos4, que é doutor em Information
Stratégique Et Critique Veille Technol - Université Paul Cézanne Aix Marseille III,
mestre em Information Stratégique Et Critique Veille Technol - Université Paul
Cézanne Aix Marseille III e graduado em Engenharia Civil pela Universidade de
Brasília (UnB).

Em quarta colocação, com também 4 publicações, tem-se Dalgiza Andrade


Oliveira5, ela é Professora Associada da Escola de Ciência da Informação/Programa
de Pós-Graduação em Gestão da Organização e do Conhecimento (PPGGOC) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciência da Informação
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG. Mestre em
Ciência da Informação pela UFMG. Bacharel em Biblioteconomia pela UFMG.

Em quinta posição, com 4 publicações, Gisele Rocha Côrtes 6, que é professora


associada do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB). Mestre e Doutora em
Sociologia pela UNESP. Graduada em Pedagogia e Ciências Sociais pela UNESP.

2
Curriculo disponível em: http://lattes.cnpq.br/3145813415160978
3
Curriculo disponível em: http://lattes.cnpq.br/1501432966944448
4
Curriculo disponível em: http://lattes.cnpq.br/2595121603577953
5
Curriculo disponível em: http://lattes.cnpq.br/2803696275869287
6
Curriculo disponível em: http://lattes.cnpq.br/9665648668089568
40

No sexto lugar, com 4 publicações, está Azilton Ferreira Viana 7 que de acordo
com seu currículo Lattes é mestre em Ciências da Informação pela UFMG, e possui
Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas).

De modo geral, foi possível observar que existem apenas 88 artigos com
temática sobre o movimento ou pessoas LGBTQIA+ produzidos no Brasil e indexados
à plataforma no período que compreende desde 1972 a 2022. Ou seja, durante 50
anos de produção científica, na Ciência da Informação, foram produzidos apenas 88
artigos dentro da referida temática, um número extremamente baixo se comparado a
outros temas dentro da CI.

Não obstante, destaca-se a falta de produção por parte de pesquisadores da


área e seus interesses, visto que mais do que 80% destes autores tiveram apenas
uma única publicação sobre o tema, o que evidencia que eles não dão continuidade
em suas pesquisas e que a maior parte publica em coautoria, conforme é apresentado
na figura 2 abaixo.

Figura 3 - Relações de coautoria dos autores das publicações sobre LGBTQIA+ indexadas
na Brapci

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

7
Currículo disponível em: http://lattes.cnpq.br/6549772701166007
41

Nessa perspectiva, ao analisar as relações de coautoria das 88 publicações


que integraram este estudo, pôde-se verificar através da figura 2 a formação de 04
redes de relacionamentos, ou clusters, as quais apresentam-se nas cores: vermelho,
verde, amarelo e azul.

Destaca-se que o nó central da rede, ou seja, o autor com maior número de


publicações em coautoria é Jean Fernandes Brito, que também se destacou na tabela
1 quanto ao primeiro lugar no ranking de quantidade de publicações, apresentando 08
produções.

Jean Fernandes Brito mantem relação com todos os clusters apresentados na


figura 2, inclusive com Márcio Matias que ficou em segunda colocação no ranking da
quantidade de produções. Dentre os demais autores que constam na rede
colaborativa, apenas Rafela Carolina Silva está no ranking da tabela 01. Depreende-
se que os autores que mais se destacam nessas relações são professores
universitários e isto pode estar relacionado com o fato de o mesmo orientar trabalhos
de alunos de pós-graduação e iniciação científica que tem interesse em discutir a
temática e isto pode justificar as relações apresentadas na figura acima.

O estudo também comprovou que 19 publicações foram escritas por apenas 01


autor; 36 publicações tiveram 02 autores; 15 publicações foram escritas por 03
autores; 11 publicações tiveram 04 autores; 05 publicações foram escritas por 05
autores; 01 artigo teve 06 autores; e 01 artigo foi escrito por 07 autores.

b) Periódicos que dão mais visibilidade às produções sobre a temática – Lei de


Bradford

Quando analisados os periódicos identificou-se 39 produções que se dividem


em artigos de revistas científicas e artigos de anais de eventos, e ambos são
considerados periódicos por serem publicados com periodicidade. Pois, segundo a
norma NBR 6023/2002, da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas,
assevera que um periódico científico é um “tipo de publicação seriada, que se
apresenta sob a forma de revista, boletim, anuário, etc. editada em fascículos com
42

designação numérica e/ou cronológica, em intervalos pré-fixados (periodicidade), por


tempo indeterminado.”

Após a aplicação da Lei de Bradford, os periódicos foram divididos em 03


esferas (tabela 02), onde cada uma representa 1/3 das publicações analisadas.

Tabela 2 – Ranking dos periódicos mais produtivos sobre a temática LGBTQIA+ na


área de Ciência da Informação
PERIÓDICOS QUANT. DE
PUBLICAÇÕES
Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em 19
1ª Esfera

Saúde
Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da 9
Informação
Revista Folha de Rosto 7
Acervo - Revista do Arquivo Nacional 6
2ª Esfera

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 5


Múltiplos Olhares em Ciência da Informação 4
Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência 3
da Informação
Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia 3
Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som - Policromias 3
Informação & Informação 3
Brazilian Journal of Information Science 2
Logeion: filosofia da informação 2
Informação em Pauta 2
AtoZ: Novas Práticas em Informação e Conhecimento 2
Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação 2
Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação 2
3ª Esfera

Archeion Online 2
Convergência em Ciência da Informação 1
Hipertext.net (Espanha) 1
Revista Fontes Documentais 1
Seminário Nacional de Gestão da Informação e do 1
Conhecimento
Congresso de Gestão Estratégica da Informação, 1
Empreendedorismo e Inovação
Ponto de Acesso 1
Em Questão 1
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina 1
43

PERIÓDICOS QUANT. DE
PUBLICAÇÕES
Cadernos BAD (Portugual) 1
Comunicação & Informação 1
Ciência da Informação em Revista 1
Informação & Tecnologia 1
Fonte: Dados da pesquisa (2022).

A primeira esfera foi composta por 02 periódicos, a segunda esfera por 06 e a


terceira por 21 periódicos. Nos resultados deste trabalho serão discutidos os
periódicos que integraram a primeira e segunda esfera.

Na primeira esfera destaca-se a Revista Eletrônica de Comunicação,


Informação e Inovação em Saúde8, com 19 artigos publicados. A revista é editada pelo
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O escopo da revista são as áreas de comunicação,
informação e saúde coletiva.

O segundo periódico que se destaca na primeira esfera é o Encontro Nacional


de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB)9, com 9 publicações, que é o
principal evento de pesquisa e de pós-graduação da área de Ciência da Informação
do Brasil. O ENANCIB possui 12 Grupos de Trabalhos (GTs), estes são:

GT 1 – Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação


GT 2 – Organização e Representação do Conhecimento
GT 3 – Mediação, Circulação e Apropriação da Informação
GT 4 – Gestão da Informação e do Conhecimento
GT 5 – Política e Economia da Informação
GT 6 – Informação, Educação e Trabalho
GT 7 – Produção e Comunicação da Informação em Ciência, Tecnologia & Inovação
GT 8 – Informação e Tecnologia
GT 9 – Museu, Patrimônio e Informação
GT 10 – Informação e Memória
GT 11 – Informação & Saúde
GT 12 – Informação, Estudos Étnico-Raciais, Gênero e Diversidades

8
Disponível em:
https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/about/editorialPolicies#focusAndScope
9
Disponível em: https://www.ufrgs.br/enancib2022/
44

Apesar do evento ter um GT específico para as questões de gênero, ressalta-


se que este não existia até o ano de 2021, e só será integrado no XXII Encontro que
será realizado neste ano de 2022.

Na segunda esfera tem-se 6 periódicos, dentre eles, apresenta-se a "Folha de


Rosto: revista de biblioteconomia e ciência da informação10", com 7 publicações, é um
periódico científico publicado pelo Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia
(PPGB), através do Mestrado Profissional em Biblioteconomia, da Universidade
Federal do Cariri (UFCA). O escopo da revista é a área de Biblioteconomia, Ciência
da Informação e áreas afins.

A Acervo, Revista do Arquivo Nacional11 publicou 6 artigos sobre a temática. A


revista é publicada desde 1986 e possui como objetivo disseminar pesquisas das
áreas de ciências humanas e sociais aplicadas, especialmente história e arquivologia.

Já a Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 12 apresentou 5


artigos. Esta revista é o órgão oficial de comunicação da Federação Brasileira de
Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições - FEBAB. É um
periódico especializado da área de Biblioteconomia, Ciência da Informação e
conhecimentos afins.

A Revista Múltiplos Olhares em Ciência da Informação 13 apresentou 4


publicações. Ela é uma revista vinculada à Escola de Ciências da Informação da
UFMG e promove a comunicação científica das produções de pesquisas dos
discentes de graduação e pós-graduação do campo da Ciência da Informação.

A Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da


Informação14 publicou 3 artigos. Ela é um periódico do Programa de Pós-graduação
em Ciência da Informação da UFSC que tem como escopo novos conhecimentos em
Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e áreas correlatas.

10
Disponível em: https://periodicos.ufca.edu.br/ojs/index.php/folhaderosto/about
11
Disponível em: https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/about
12
Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/about/editorialPolicies#focusAndScope
13
Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/moci
14
Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/sobre_a_revista
45

A Revista Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia15,


com 3 publicações, é editada pelo Grupo de Pesquisa Informação e Inclusão Social,
sendo publicada no Portal de Periódicos da UFPB.

Compreende-se que a baixa produção de publicações nessas revistas também


deve ser relacionada a baixa quantidade de produções realizadas pela comunidade
acadêmica brasileira. E por isto que este estudo traz à tona a importância de se discutir
a temática de LGBTQIA+ dentro das universidades, com vistas a promover mais
pesquisas que contribuam com melhorias, lutas e conquistas por essa comunidade.

c) Periodicidade das produções sobre LGBTQIA+ dentro da área de Ciência da


Informação.

Esses periódicos identificados acima foram responsáveis por 88 publicações


que começaram a ser publicadas no ano de 2013, conforme o gráfico apresentado
abaixo.

Observa-se que o ano de 2014 foi o período com a menor quantidade de


publicações, mas que até 2019 essas publicações foram aumentando, apresentando
uma diminuição no decorrer do ano de 2020, talvez tendo relação com a pandemia de
Covid-19 que surgiu no mesmo ano. Reforça-se o argumento de que os dados
coletados em 2022 não representam a totalidade do ano, visto que estes dados foram
coletados no dia 13 de maio de 2022.

Gráfico 1 – Perspectiva temporal das publicações sobre LGBTQIA+ na Ciência da


Informação
35
29
30
Quant. de publicações

25

20
16
15 13
11
10 8

5 2 3 3

0
2013 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Anos

15
Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/pbcib/about
46

Fonte: Dados da pesquisa, (2022).

d) Assuntos indexados sobre a temática do Movimento LGBTQIA+ - Lei de Zipf

Ao tentar aplicar a Lei de Zipf nesta pesquisa pôde-se constatar que os poucos
dados coletados não permitiram construir as classificações de termos triviais,
interessantes e ruídos, propostas por Zipf. Assim, definiu-se estabelecer uma rede de
relações dos termos existentes através da formação de um grafo representado na
figura 3 abaixo.

Figura 4 – Grafo das relações entre os termos mais representativos da temática

Fonte: Dados da pesquisa (2022)

Ao analisar o grafo percebe-se que a palavra-chave “LGBT” se destaca nas


relações e foi encontrada em 12 artigos recuperados neste estudo. Em segundo lugar,
a palavra-chave “ciência da informação” aparece com 9 artigos relacionados a
47

temática do movimento LGBTQIA+. Em terceiro lugar, a palavra-chave “sexualidade”


recuperou 7 artigos relacionados. Em quarto lugar, a palavra-chave “Biblioteconomia”
também relacionado à temática, recuperou 6 artigos. Em quinto lugar, a palavra-chave
em espanhol “Sexualidad” aparece em 6 artigos recuperados enquanto em sexto lugar
a palavra-chave em língua inglesa “Sexuality” também está presente em 6 artigos. Em
sétimo lugar a palavra-chave “gênero” é encontrada em 6 artigos.

Os termos aqui apresentados são considerados importantes para o processo


de indexação e representação das informações contidas nas produções analisadas,
porque retratam os assuntos relacionados que estão sendo abordados nas
publicações sobre o movimento LGBTQIA+ dentro da área de Ciência da Informação.

A partir da análise do grafo acima identificou-se que a maior parte dos termos
indexados são relacionados a sexualidade e as áreas de Biblioteconomia e Ciência
da Informação. Fato este que desperta o entendimento que a maior parte dos estudos
realizados desde então tratam da questão da afirmação do Movimento LGTQIA+
dentro da sociedade, buscando discutir as variações de gêneros com a comunidade
acadêmica e disseminando através destas publicações informações que possibilitem
a compreensão dos assuntos que cercam o Movimento para a sociedade em geral,
de modo a diminuir os preconceitos vivenciados pela comunidade LGBTQIA+.

Sendo assim, este estudo parte para as conclusões da pesquisa, que serão
apresentadas na seção a seguir.
48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho mostrou-se ser de relevância para a área de Ciência da


Informação, porque indicou de forma mais sistematizada e por meio de análises das
tendências no campo, uma maior necessidade de ampliar a produção científica
relativamente a temática do movimento LGBTQIA+ dentro da área de Ciência da
Informação e possibilitou despertar o anseio de uma maior divulgação e incentivo de
uma maior produção científica acerca da temática do movimento LGBTQIA+ dentro
da área de Ciência da Informação. É nítido que a produção ainda é baixa, dada a
quantidade de artigos encontrados num período de 50 anos, o que dificultou a análise
dos resultados por amostragem, pois uma amostragem reduzida não fornece tantos
subsídios para as análises mas percebe-se que esta produção vem aumentando ao
longo dos anos. Se faz necessário, entretanto, um maior empenho da produção de
conhecimento científico dentro da área por parte dos profissionais da informação e de
áreas adjacentes indicando-se a necessidade da ampliação de grupos de pesquisa,
fóruns científicos dedicados a pesquisa desta importante temática.

Foi analisada a produção científica acerca do Movimento LGBTQIA+ e sua


incorporação à área da Ciência da Informação, em que foram encontrados apenas 88
artigos publicados. Foram identificadas 347 palavras-chave indexadas nestes artigos,
em que as mais utilizadas são respectivamente: LGBT, Ciência da Informação,
Sexualidade e Biblioteconomia, ou seja, assuntos relacionados aos temas
pesquisados.

Foram recuperados 157 autores que produzem sobre a temática, sendo os que
mais produzem: Jean Fernandes Brito, Márcio Matias, Raimundo Nonato Macedo dos
Santos, Dalgiza Andrade Oliveira e Gisele Rocha Cortês. Entretanto, a maior parte
destes autores não realizaram quantidade significativa de trabalhos entre si,
destacando-se relações de coautoria limitadas, com apenas uma formalização de
relações deste tipo entre os pesquisadores/autores Jean Fernandes Brito e Márcio
Matias. Portanto, é possível verificar que para além da escassez de trabalhos
publicados na área, o assunto é tratado de forma dispersa o que concorre para o
enfraquecimento a discussão na academia.
49

Foi obtido o número de 29 revistas e ou eventos que dão mais visibilidade ao


tema, sendo eles: a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em
Saúde; e o Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da
Informação e a periodicidade da produção se deu entre 2013 e 2022, não havendo
registro de produção em período anterior na base de dados Brapci. Sendo os anos de
2014 o de menor produção, com apenas uma publicação, e o ano de 2019 o de maior
produção com 29 artigos publicados.

O estudo foi pertinente para constatar que ainda é preciso explorar ainda mais
a temática LGBTQIA+ na esfera da Ciência da Informação, pois é possível observar
que houve um declínio na produção do ano de 2019 (29 publicações) para 2020
(apenas 8), porém houve um aumento no ano de 2021 (13 artigos) que ainda não foi
alcançado no ano corrente de 2022 com até então 3 artigos recuperados na data em
que foi feita a coleta de dados. Mas, compreende-se que muito ainda precisa ser
modificado, desde a discussão maior sobre esta temática dentro da academia como
na própria sociedade em geral, de modo a possibilitar a diminuição de preconceitos
que desfavorecem a presença e aceitação da população LGBTQIA+ em diversos
âmbitos da sociedade.

Por fim, reflete-se que este trabalho poderá ser expandido em pesquisas
posteriores, visando identificar e caracterizar as produções científicas da área de
Ciência da Informação indexadas em outras bases de dados, como a Web of Science
e Scopus, de modo a retratar as características dessas produções em nível
internacional.
50

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