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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE)

CENTRO DE EDUCAÇÃO, LETRAS E SAÚDE (CELS)


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SOCIEDADE,
CULTURA E FRONTEIRAS – MESTRADO E DOUTORADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EM SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS

CRISTIANE FERRARO GILABERTE DA SILVA

COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA:
VOLUNTARIADO, MIGRAÇÃO E TERRITORIALIDADES

FOZ DO IGUAÇU - PR
2020
CRISTIANE FERRARO GILABERTE DA SILVA

COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA:
VOLUNTARIADO, MIGRAÇÃO E TERRITORIALIDADES

Tese apresentada à Universidade Estadual do


Oeste do Paraná – UNIOESTE – para
obtenção do título de Doutora em Sociedade,
Cultura e Fronteiras, junto ao Programa de
Pós-graduação Stricto Sensu em Sociedade,
Cultura e Fronteiras – Mestrado e Doutorado –
Área de concentração em Sociedade, Cultura e
Fronteiras. Linha de Pesquisa: Território,
História e Memória.

Orientador: Prof. Dr. Valdir Gregory.

FOZ DO IGUAÇU - PR
2020
CRISTIANE FERRARO GILABERTE DA SILVA

COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA:
VOLUNTARIADO, MIGRAÇÃO E TERRITORIALIDADES

Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do Título de Doutora em Sociedade,
Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
graduação Stricto Sensu em Sociedade, Cultura e Fronteiras – Mestrado e
Doutorado, área de concentração em Sociedade, Cultura e Fronteiras, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________ _______________________________________
Prof. Dr. Valdir Gregory Prof. Dr. José Manuel Soares Damião Rodrigues
Orientador Membro Efetivo (convidado)

__________________________ __________________________________
Prof. Dr. Oscar Kenji Nihei Prof. Dr. Erneldo Schallenberger
Membro Efetivo (da Instituição) Membro Efetivo (convidado)

__________________________
Prof. Dr. Samuel Klauck
Membro Efetivo (da Instituição)

Foz do Iguaçu, 29 de julho de 2020.


Dedico esta tese à comunidade
conscienciológica, pelos esforços de
exemplificar no cotidiano uma nova forma
de vínculos sociais e a Waldo Vieira, por
compartilhar sua visão de mundo
inspiradora de quebra de fronteiras.
AGRADECIMENTOS

Ao professor orientador Dr. Valdir Gregory pela confiança depositada desde o início
neste projeto de pesquisa e em me conceder liberdade para pesquisar e escrever.
Nessa trajetória, descobri mais do que um orientador, um amigo questionador,
presente e exemplificador do paradigma indiciário o qual ensina. Muito obrigada.
Minha eterna admiração e gratidão.
Ao professor co-orientador Dr. Oscar Kenji Nihei, pela orientação firme e segura nos
trâmites do processo do Comitê de Ética, na aplicação e tabulação dos resultados
do questionário. E ainda sua paciência oriental na revisão das tabelas.
Aos professores Drs. Denise Rosana da Silva Moraes, Erneldo Schallenberger e
Samuel Klauck, pela disponibilidade em se deslocar e realizar a Banca de
Qualificação no Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC), além das
valiosas orientações e questionamentos levantados durante o nosso diálogo. E
posteriormente, aos professores Drs. Erneldo Schallenberger e Samuel Klauck, que
junto com os professores Drs. José Damião e Oscar Nihei, participaram da Banca
Examinadora, trazendo novas observações e contribuições à tese.
À UNIOESTE, na pessoa do professor Dr. Samuel Klauck, por me proporcionar a
licença para qualificação docente.
À CAPES, que viabilizou a realização do estágio no Centro de História da Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), de setembro a dezembro de 2017, por
meio de bolsa de estudo do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE)
(Processo N. 88881.134482/2016-1).
Ao professor, co-orientador estrangeiro, Dr. José Manuel Soares Damião Rodrigues,
pelo acolhimento e orientações no período de estágio na Universidade de Lisboa.
Além da preciosa sugestão para aplicação do questionário, o que enriqueceu
sobremaneira a compreensão da comunidade.
Ao professor Dr. João Moreira, pela atenciosa receptividade durante o estágio na
Universidade de Lisboa, trazendo contribuições fundamentais na qualificação do
questionário.
À professora Dra. Filipa Lowndes Vicente, por me acolher no curso de Fotografia:
arquivo, teoria e história, da Escola de Verão 2017, no Instituto de Ciências Sociais
(ICS-ULisboa), e pelas referências bibliográficas sobre o tema.
Às bibliotecárias do Instituto de Ciências Sociais (ICS-ULisboa) pela colaboração na
localização de referências, pela paciência com as cópias tiradas e pelo gesto
fraterno e espontâneo de doação de livros.
Ao casal amigo Lourdes Sá e Alexandre Fernandes pelo acolhimento e apoio
durante nossa estadia em Lisboa, minha e de meu esposo.
Ao professor Marcos Arcoverde, pela revisão pontual e orientações sobre questões
éticas durante a preparação do questionário.
À minha irmã Tânia, pelas sugestões nos gerenciamentos das respostas do
questionário, com a ajuda na aquisição de artigos e textos para a tese.
Ao casal amigo, Guilherme Kunz, pela ajuda com formulário google durante sua
elaboração e à Milena Mascarenhas, pela troca de ideias e sugestões bibliográficas.
Ao amigo Gabriel Aguiar de Araújo, especialista no software estatístico SPSS, cuja
colaboração foi relevante sobre o tema da migração. E ao amigo Marcelo Silva, pela
indicação do know-how do Gabriel.
Aos amigos Marcond Marchi, Débora Klippel, Luciana Lavôr e Paulo André Norberto
pela ajuda na divulgação do questionário na comunidade conscienciológica.
Aos queridos Rosa Nader, Pedro Fernandes e Oscar Nihei, pela disponibilidade em
colaborar com a pesquisa na condição de sujeitos do pré-teste do questionário.
À querida Adriana Faria de Escalada, pelas traduções de artigos e do abstract da
tese.
À toda equipe da UNICIN – União das Instituições Conscienciocêntricas
Internacionais, representada na pessoa da Marina Thomaz, secretária-geral (Ano-
base: 2018), pelo apoio na ocasião da aplicação do questionário na comunidade
conscienciológica em Foz do Iguaçu, e na pessoa de Polyana Colucci (Ano-base:
2019), secretária-geral subsequente, pela ajuda com informações sobre o histórico
da comunidade conscienciológica.
À Maria Izabel da Conceição, pela ajuda para encontrar documentos na UNICIN e
pela revisão pontual do texto sobre cooperativismo.
A todos os coordenadores das ICs – Instituições Conscienciocêntricas, das pré-ICs,
dos conselhos da UNICIN, das atividades Calepino Conscienciológico e Círculo
Mentalsomático, por terem me recebido em suas reuniões e atividades,
possibilitando a divulgação do questionário.
Aos 368 participantes da comunidade conscienciológica que responderam o
questionário, inclusive colaborando na divulgação do mesmo, viabilizando a
pesquisa e possibilitando um olhar ampliado, histórico e sociológico sobre a
realidade da comunidade em Foz do Iguaçu. Minha sincera gratidão a vocês, os
protagonistas anônimos da materialização e sustentação da comunidade
conscienciológica.
Aos seis entrevistados José Domingos Santos Neto, Moacir Gonçalves, Alexander
Steiner, Nara Oliveira, Everton Santos e Marco Antonio Pizarro, pela disponibilidade
em conceder as entrevistas, em me receber em suas casas, compartilhando suas
memórias, pontos de vista e vivências comigo, com a comunidade conscienciológica
e com o público em geral. Foram momentos especiais que vincaram a minha
memória, possibilitando que eu os admirasse ainda mais. (A divulgação dos nomes
verdadeiros é fruto da cordial permissão de cada um deles).
Aos professores das disciplinas do programa de doutorado, pelos ensinamentos,
debates e encaminhamentos teóricos, que abriram minha mente para os temas da
sociedade, cultura e fronteiras, Drs. Valdir Gregory, Ivo José Dittrich, Regina Coeli
Machado, Marcelo Gomes, Ferenc Diniz Kiss e Luis Eduardo Alvarado Prada.
Às colegas de doutorado Paola Stefanutti e Fátima Cividini, pelas sugestões
bibliográficas.
Às queridas Vânia Maria da Costa Valle e Fátima Oliva, da secretaria do programa,
pela habitual prestimosidade, prontidão e colaboração em qualquer necessidade ao
longo desses quatro anos e meio.
À Bruna Vieira, técnica em geografia e estatística, pelas valiosas dicas e
informações para pesquisa no site do IBGE.
Aos pesquisadores do IBGE, Rogério Seabra e Daniele Bau, pela atenção e ajuda.
Ao amigo Alexandre Zaslavsky, pelo empréstimo de bibliografia publicada sobre
tema da Conscienciologia.
Aos voluntários bibliotecários, hemerotecários e lexicotecários do Holociclo
(CEAEC), pelo prestimoso trabalho desempenhado, tornando disponível o acervo da
Biblioteca Internacional da Conscienciologia, da Hemeroteca e da Lexicoteca a
qualquer pesquisador interessado.
À Holoteca (CEAEC), representada na pessoa de Nara Oliveira, pelo acesso ao
acervo fotográfico conscienciológico (fototeca) e ao precioso relatório de pesquisa
sobre o Centro Integrado de Auto-Estudo (CIAE).
À Consecutivus, representada na pessoa de Dayane Rossa, pelo suporte
tecnológico no dia da defesa da tese.
Aos amigos Andrea Lindner e Leonardo Paludeto pelo empréstimo do livro do SPSS.
Ao casal amigo, Luciana Lavôr, pelos oportunos mimos gastronômicos no período
da escrita da tese, assim como pelos documentos da Conscienciologia e ao André
Silva, pelo suporte tecnológico na defesa da tese.
Ao amigo Ivo Valente, pela referência sobre o viaduto em Foz do Iguaçu.
À Lane Galdino, pelos esclarecimentos jurídicos prestados e documentos fornecidos
sobre as instituições conscienciocêntricas.
À Cristina Arakaki, pela disponibilização dos “estatutos-raízes” de algumas
instituições conscienciocêntricas, valiosos documentos da história da
Conscienciologia.
Aos atenciosos e cordiais Fernando Barbaresco, Fernanda Schroeder e Lívia, pela
ajuda com documentos do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC).
Ao incansável voluntário operoso Cesar Cordioli, pelo apoio na época da aplicação
do questionário, cedendo espaço para divulgação na atividade semanal do “Calepino
Conscienciológico” e pelos esclarecimentos quanto às atividades de engenharia
financeira da AIEC.
Aos amigos Eduardo Azevedo, Flavio Buononato, Karla Ulman, Leonardo Firmato,
Marcus Dung, Melissa Wisnieski e Ruy Bueno pelas informações e esclarecimentos
pontuais.
Aos amigos, madrinhas e padrinhos do Happy, Dionéia Gonçalves & Luiz Ferreira,
Gisele Salles & Ernani Brito, Patrícia Patrício & Pedro Gomes, pelos cuidados e
carinhos dedicados durante os períodos de viagens, em especial durante os meses
de estágio na Universidade de Lisboa.
Aos meus pais, Edvan Ferreira da Silva (in memoriam) e Maria Egraciara Ferraro da
Silva, por me oportunizar a vida e a priorização da educação. Além de meus irmãos,
Ricardo, Tânia e Filipe pela presença positiva em minha vida, mesmo que distantes
fisicamente.
Ao querido parceiro desta vida, Pedro Fernandes, pela paciência, companheirismo,
troca de ideias, revisão textual e contribuições bibliográficas à essa pesquisa. Pedro:
“pedra fundamental” da minha vida. Minha sincera gratidão.
Toda configuração social é o resultado da interação de incontáveis estratégias
individuais: um emaranhado que somente a observação próxima possibilita
reconstituir.
(Carlo Ginzburg)

Quem não conhece o valor das palavras jamais compreenderá os homens.


(Confúcio)

A prática da ciência não é um combate cujo objetivo é ter razão, mas um trabalho
que contribui para aumentar e aprofundar o conhecimento.
(Carl Jung)
SILVA, Cristiane Ferraro Gilaberte da. Comunidade conscienciológica: voluntariado,
migração e territorialidades. 2020. 482 f. Tese – Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE. Foz do Iguaçu.

RESUMO

Essa investigação de doutorado concentra-se sobre a comunidade


conscienciológica. Ela se localiza no bairro Cognópolis, no município de Foz do
Iguaçu, no Oeste do Estado do Paraná, no Brasil. A importância deste estudo está
centrada em se compreender melhor as características de um dentre tantos
agrupamentos sócio-culturais presentes na região da Tríplice Fronteira Argentina-
Brasil-Paraguai, desde 1995. A questão norteadora do estudo foi: o que é a
comunidade conscienciológica? Ao se reconstruir sua historicidade, a comunidade
conscienciológica foi sendo delimitada a partir de 3 dimensões teóricas: o
voluntariado institucional, a migração e a territorialidade. A primeira dimensão
teórica, o trabalho voluntário e as questões que envolvem o chamado Terceiro Setor,
foi abordada em diálogo com Antonio Albuquerque (2006), Paula Bonfim (2010),
Carlos Eduardo Cavalcante (2013), Ricardo A. L. G. Dias (2010), Vasco Almeida
(2011), Henrique Pinto (2011) e Bruno Barcelos Morais (2019), além de dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A segunda dimensão teórica, a
migração, teve como suporte os pontos de vista dos pesquisadores Fernando Luís
Machado (2002), Maria Lucinda Fonseca (2005), Carmem Lussi (2015), Michaela
Benson (2009; 2016), Karen O’Reilly (2009; 2016), Russell King (2012), L. A. G.
Moss (2006), Mari Korpela (2014) e Noel B. Salazar (2014). Também foram
utilizados dados do IBGE a fim de estabelecer cotejo com as informações coletadas
a respeito dos migrantes conscienciólogos. E a terceira dimensão teórica, a
territorialidade, foi discutida a partir da interlocução com os geógrafos Claude
Raffestin (1993), Rogério Haesbaert (2007; 2010) e Marcos Aurélio Saquet (2015).
Trata-se de um estudo interdisciplinar, utilizando o aporte teórico-metodológico da
micro-história e da pesquisa oral temática. As fontes de pesquisa foram questionário,
entrevistas e documentos, tais como atas, relatórios, estatutos sociais, entre outros.
As considerações finais foram elaboradas a partir do conjunto de indícios que
apareceram no texto, possibilitando esboçar conceituação e caracterização da
comunidade conscienciológica. Pode-se mencionar que a comunidade
conscienciológica foi desencadeada pelo voluntariado institucional e foi ganhando
corpo a partir da dinâmica territorial e migratória. As relações iniciais de colegas
voluntários se complexificaram ao se tornarem relações de vizinhança, integrando
família, amizades e colegas profissionais. Concluiu-se que esta comunidade se
constitui em um fenômeno social e cultural caracterizado com traços híbridos do
tradicional e do moderno, ao mesmo tempo, com típicos problemas comunitários,
por outro lado com um forte caráter institucionalizado, ao modo de uma “comunidade
institucionalizada”, porém sem se limitar a essa dimensão.

PALAVRAS-CHAVE: comunidade conscienciológica; voluntariado; migração;


territorialidades.
SILVA, Cristiane Ferraro Gilaberte da. Conscientiological community: volunteering,
migration and territoriality. 2020. 482 f. Thesis (Doctorate in Society, Culture and
Borders) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu.

ABSTRACT

This doctoral research focuses on the conscientiological community. It is located in


the Cognópolis neighborhood, in Foz do Iguaçu, in the west region of Parana State,
Brazil. The importance of this study is centred on better understanding the
characteristics of one of so many socio-cultural groups present in the Triple Border
Region Argentina-Brazil-Paraguay, since 1995. The guiding question of the study
was: what is the conscientiological community? When reconstructing its historicity,
the conscientiological community began to be delimited from three theoretical
dimensions: institutional volunteering, migration and territoriality. The first theoretical
dimension, voluntary work and issues involving the so-called Third Sector, was
addressed in dialogue with Antonio Albuquerque (2006), Paula Bonfim (2010), Carlos
Eduardo Cavalcante (2013), Ricardo ALG Dias (2010), Vasco Almeida (2011),
Henrique Pinto (2011) and Bruno Barcelos Morais (2019), in addition to data from the
Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The second theoretical
dimension, migration, was supported by the views of researchers Fernando Luís
Machado (2002), Maria Lucinda Fonseca (2005), Carmem Lussi (2015), Michaela
Benson (2009; 2016), Karen O'Reilly ( 2009; 2016), Russell King (2012), LAG Moss
(2006), Mari Korpela (2014) and Noel B. Salazar (2014). IBGE data were also used
in order to compare the information collected about conscientious migrants. And the
third theoretical dimension, territoriality, was discussed from the interlocution with
geographers Claude Raffestin (1993), Rogério Haesbaert (2007; 2010) and Marcos
Aurélio Saquet (2015). It is an interdisciplinary study, using the theoretical-
methodological contribution of micro-history and thematic oral research. The
research sources were questionnaires, interviews and documents, such as minutes,
reports, bylaws, among others. The final considerations were elaborated from the set
of evidence that appeared in the text, making it possible to outline conceptualization
and characterization of the conscientiological community. It can be mentioned that
the conscientiological community was triggered by institutional volunteering and was
taking shape from the territorial and migratory dynamics. The initial relationships of
volunteer colleagues became more complex when they became neighborhood
relationships, integrating family, friendships and professional colleagues. It was
concluded that this community is constituted in a social and cultural phenomenon
characterized with hybrid traits of the traditional and the modern, at the same time,
with typical community problems, on the other hand, with a strong institutionalized
character, in the way of an “institutionalized community”, but not limited to this
dimension.
KEY WORDS: conscientiological community, volunteering, migration, territoriality.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 – Fotografia da visita de Waldo Vieira (no centro) com voluntários da
Conscienciologia à sua casa em Uberaba (MG), em 1997 ....................................... 70
Figura 02 – Fotografia de Waldo Vieira (à esquerda) e Chico Xavier (à direita) de
Hazel Morris nos EUA, em 1966 .............................................................................. 72
Figura 03 – Fotografia da reunião de preparação da fundação do IIP realizada na
sala de George Kropotoff na Praça Saens Peña, Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), no
final de 1987 .............................................................................................................. 89
Figura 04 – Fotografia da fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP) no
Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), em 16 de janeiro de 1988 ...................................... 94
Figura 05 – Fotografia da fundação da Cooperativa dos Colaboradores do Instituto
Internacional de Projeciologia (COOIIP), na Glória, no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de
julho de 1995 .......................................................................................................... 137
Figura 06 – Maquete do Plano Piloto inicial do CEAEC, de 1995 .......................... 147
Figura 07 – Fotografia da vista interna de um laboratório de autopesquisa no
CEAEC ................................................................................................................... 152
Figura 08 – Fotografia da vista interna do Tertuliarium – Anfiteatro 360o .............. 165
Figura 09 – Fotografia da Aleia dos Gênios da Humanidade ................................. 167
Figura 10 – Fotografia do Mapa do Campus CEAEC ............................................ 170
Figura 11 – Projetos habitacionais no entorno do Campus CEAEC ...................... 201
Figura 12 – Localização do condomínio Evolução ................................................. 208
Figura 13 – Fotografia da placa de rua sinalizando a localização da
“Conscienciologia” na Rodovia das Cataratas, em Foz do Iguaçu ......................... 229
Figura 14 – Áreas da Conscienciologia na Cognópolis, julho de 2008 .................. 231
Figura 15 – Anexo do Decreto N. 18.887 – Criação do Bairro Cognópolis ............ 235
Figura 16 – Espacialização dos limites do Bairro Cognópolis ................................ 259
Figura 17 – Gráfico da Evolução demográfica da Comunidade Conscienciológica, em
Foz do Iguaçu, de 2000 a 2015 .............................................................................. 277
Figura 18 – Gráfico da importância dos motivos para migrar de migrantes da
Comunidade Conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018 .......................................... 353
Figura 19 – Gráfico de importância dos fatores para migrar por estilo de vida (MEV)
e migração conscienciológica (MC) dos migrantes da Comunidade
Conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018 ................................................................ 355
LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Trabalhos acadêmicos sobre Conscienciologia .................................. 65


Quadro 02 – Estrutura Organizacional da COOIIP em 1995 ................................. 139
Quadro 03 – Espaços previstos para o campus CEAEC em 1995 ........................ 148
Quadro 04 – Laboratórios de Autopesquisa do CEAEC ........................................ 149
Quadro 05 – Nova Estrutura Organizacional do CEAEC em 2002 ........................ 161
Quadro 06 – Instituições Conscienciocêntricas fundadas entre Julho/2005-2008 . 219
Quadro 07 – Instituições conscienciocêntricas fundadas entre 2011 e 2019 ........ 248
Quadro 08 – Matriz de Componente Rotativa dos fatores de motivação para migrar
da comunidade conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018 ....................................... 354
Quadro 09 – Escala Breve de Sentido de Comunidade (EBSC) ............................ 415
Quadro 10 – Escala de Importância da Comunidade (EIC) ................................... 416
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Modo de contato com a Conscienciologia pelos migrantes da


comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018........... 108
Tabela 02 – Intervalo de tempo entre o primeiro contato e se tornar voluntário pelos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 109
Tabela 03 – Motivação na decisão de conhecer a Conscienciologia pelos migrantes
da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ..... 111
Tabela 04 – Ano de primeiro contato com a Conscienciologia pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu (5 em 5 anos) – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 177
Tabela 05 – Motivação na decisão de se tornar voluntário da Conscienciologia pelos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 192
Tabela 06 – Voluntariado antes de mudar para Foz do Iguaçu dos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 194
Tabela 07 – Indicadores sociodemográficas relacionadas ao sexo, idade e
nacionalidade dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu –
julho e agosto de 2018 ........................................................................................... 293
Tabela 08 – Indicador sociodemográfico relacionado à naturalidade dos migrantes
da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ..... 294
Tabela 09 – Indicadores sociodemográficos relacionados à escolaridade e área de
formação dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho
e agosto de 2018 .................................................................................................... 296
Tabela 10 – Indicador sociodemográfico relacionado ao duplo curso de graduação
dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto
de 2018 ................................................................................................................... 298
Tabela 11 – Indicador sociodemográfico relacionado ao bairro que mora dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 299
Tabela 12 – Indicador sociodemográfico relacionado ao tempo de moradia na
Cognópolis dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu –
julho e agosto de 2018 ........................................................................................... 300
Tabela 13 – Indicadores sociodemográficos relacionados ao tipo e divisão da
habitação, além do regime de ocupação dos migrantes da comunidade
conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .............................. 301
Tabela 14 – Indicador sociodemográfico relacionado ao agregado doméstico dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 302
Tabela 15 – Indicador sociodemográfico relacionado à situação profissional dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 303
Tabela 16 – Indicador sociodemográfico relacionado à posição na ocupação
profissional dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu –
julho e agosto de 2018 ........................................................................................... 304
Tabela 17 – Indicador sociodemográfico relacionado ao local físico do trabalho dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 305
Tabela 18 – Indicador sociodemográfico relacionado ao trabalho e residência no
bairro Cognópolis dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
– julho e agosto de 2018 ........................................................................................ 306
Tabela 19 – Indicador sociodemográfico relacionado ao ramo de atividade
profissional dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu –
julho e agosto de 2018 ........................................................................................... 307
Tabela 20 – Cidades diferentes do local do nascimento em que viveu antes de
migrar para Foz do Iguaçu pelos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz
do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ....................................................................... 323
Tabela 21 – Ano em que ouviu falar da “comunidade conscienciológica” pela 1a. vez
pelos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto
de 2018 ................................................................................................................... 324
Tabela 22 – Ano em que se mudou para Foz do Iguaçu pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 325
Tabela 23 – Última cidade e país de residência antes de migrar para Foz do Iguaçu
pelos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto
de 2018 ................................................................................................................... 326
Tabela 24 – Motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 329
Tabela 25 – Conhecidos em Foz do Iguaçu na ocasião da migração pelos migrantes
da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ..... 330
Tabela 26 – Categorias de conhecidos em Foz do Iguaçu quando os migrantes da
comunidade conscienciológica vieram para Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018
................................................................................................................................. 330
Tabela 27 – Companhia quando migrou para Foz do Iguaçu pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 331
Tabela 28 – Quantidade de parentes que mudaram para Foz do Iguaçu dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 337
Tabela 29 – Grau de parentesco do parente que migrou para Foz do Iguaçu dos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 338
Tabela 30 – Parentes moradores de Foz do Iguaçu e voluntários da
Conscienciologia, dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
– julho e agosto de 2018 ........................................................................................ 339
Tabela 31 – Quantidade de parentes moradores de Foz do Iguaçu e voluntários da
Conscienciologia dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
– julho e agosto de 2018 ........................................................................................ 339
Tabela 32 – Parentes moradores de Foz do Iguaçu frequentadores das atividades da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 340
Tabela 33 – Quantidade de parentes moradores de Foz do Iguaçu frequentadores
das atividades da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto
de 2018 ................................................................................................................... 341
Tabela 34 – Parentes moradores de Foz do Iguaçu e de condomínio
conscienciológico dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
– julho e agosto de 2018 ........................................................................................ 342
Tabela 35 – Quantidade de parentes moradores de Foz do Iguaçu e de condomínio
conscienciológico dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
– julho e agosto de 2018 ........................................................................................ 342
Tabela 36 – Situação de conjugalidade no momento da migração para Foz do
Iguaçu dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e
agosto de 2018 ....................................................................................................... 343
Tabela 37 – Motivo da saída de Foz do Iguaçu após ter migrado, tendo retornado,
pelos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto
de 2018 ................................................................................................................... 346
Tabela 38 – Frequência de participação pelos migrantes nas principais atividades da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 366
Tabela 39 – Voluntariado nas Instituições Conscienciocêntricas (ICs) pelos
migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 373
Tabela 40 – Frequência em cada atividade de tempo livre dos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 374
Tabela 41 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
são autores de livro publicado e qual o tema do livro – julho e agosto de 2018 .... 384
Tabela 42 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
possuem artigo publicado e qual o tema do artigo – julho e agosto de 2018 ........ 385
Tabela 43 – Situação conjugal hoje dos migrantes da comunidade conscienciológica
de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ........................................................... 389
Tabela 44 – Se o cônjuge dos migrantes da comunidade conscienciológica de Foz
do Iguaçu é voluntário da Conscienciologia – julho e agosto de 2018 ................... 389
Tabela 45 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
têm filhos – julho e agosto de 2018 ........................................................................ 390
Tabela 46 – Condição dos filhos em relação aos pais migrantes da comunidade
conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .............................. 390
Tabela 47 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
possuem animal doméstico – julho e agosto de 2018 ............................................ 391
Tabela 48 – Os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu que
possuem animal doméstico, especificar qual tipo e quantidade – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 391
Tabela 49 – Predomínio das amizades dos migrantes da comunidade
conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .............................. 392
Tabela 50 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
possuem vizinhos que sejam voluntários da Conscienciologia – julho e agosto de
2018 ........................................................................................................................ 393
Tabela 51 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
possuem colegas profissionais que sejam voluntários da Conscienciologia – julho e
agosto de 2018 ....................................................................................................... 393
Tabela 52 – Sentido de comunidade pelos migrantes da comunidade
conscienciológica em Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ............................. 418
Tabela 53 -–Importância do pertencimento à comunidade conscienciológica de Foz
do Iguaçu na identidade pessoal dos seus migrantes e das pessoas da comunidade
conscienciológica na vida social dos migrantes – julho e agosto de 2018 ............. 419
Tabela 54 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
pensam em morar definitivo em Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 ............. 420
Tabela 55 – Melhorias na comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e
agosto de 2018 ....................................................................................................... 420
Tabela 56 – Se os migrantes da comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu
possuem experiência política, se exerceram cargo político e qual cargo – julho e
agosto de 2018 ....................................................................................................... 433
Tabela 57 – Investimento financeiro em Foz do Iguaçu pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 435
Tabela 58 – Setor de investimento financeiro em Foz do Iguaçu pelos migrantes da
comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu – julho e agosto de 2018 .......... 435
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACIFI – Associação Comercial e Cultural de Foz do Iguaçu
AIEC – Associação Internacional para Expansão da Conscienciologia
AMAC – Associação dos Moradores do Bairro Cognópolis de Foz do Iguaçu
APEX – Associação Internacional da Programação Existencial
ARACÊ – Associação Internacional para a Evolução da Consciência
ASSINVÉXIS – Associação Internacional de Inversão Existencial
ASSIPEC – Associação Internacional de Pesquisas da Conscienciologia
ASSIPI – Associação Internacional de Parapsiquismo Interassistencial
AVA – Apoio a Voluntários e Alunos
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEA – Centro Educacional do IIPC
CCC – Centro de Consciência Contínua
CCCI – Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional
CEAEC – Centro de Altos Estudos da Conscienciologia
CIAE – Centro Integrado de Auto-Estudo
CIAJUC – Conselho de Interassistência Jurídica da Conscienciologia
CIPRO – Congresso Internacional de Projeciologia e Conscienciologia
CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
COMUNICONS – Associação Internacional de Comunicação Conscienciológica
CONBPRO – Congresso Brasileiro de Projeciologia
CONSCIUS – Associação Internacional de Conscienciometria Interassistencial
CONSECUTIVUS – Associação Internacional de Pesquisas Seriexológicas e
Holobiográficas
COOIIP – Cooperativa dos Colaboradores do IIP
COSMOETHOS – Associação Internacional de Cosmoeticologia
DAC – Dicionário de Argumentos da Conscienciologia
DINC – double income and no children (duplo ingresso e nenhuma criança)
DIU – Dispositivo Intra-Uterino
DVD – Digital Versatile Disc (disco versátil digital)
EBSC – Escala Breve de Sentido de Comunidade
EC – Empresa Conscienciológica
ECP1 – Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 1
ECP2 – Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 2
ECTOLAB – Associação Internacional de Pesquisa Laboratorial em Ectoplasmia e
Paracirurgia
EDITARES – Associação Internacional Editares
EFC – Experiência Fora do Corpo
EIC – Escala de Importância da Comunidade
ENCYCLOSSAPIENS – Associação Internacional de Enciclopediologia
Conscienciológica
EQM – Experiência de Quase-Morte
EVOLUCIN – Associação Internacional de Conscienciologia para Infância
FMTM – Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro
GPC – Grupo de Pesquisas Conscienciais
GRECEX – Grupo de Reciclantes Existenciais
GRINFO – Grupo de Informática aplicada à Projeciologia
GRINVEX – Grupo de Inversores Existenciais
GRUPON – Grupo de Pesquisa de Ponta
HO – História Oral
IAC – International Academy of Consciouness (Academia Internacional de
Consciência)
IASB – Associação Internacional de Intercâmbio Acadêmico Sino-Brasileiro
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC – Instituição Conscienciocêntrica
IC TENEPES – Associação Internacional de Tenepessologia
IIP – Instituto Internacional de Projeciologia
IIPC – Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INTERCAMPI – Associação Internacional dos Campi de Pesquisa da
Conscienciologia
INTERPARES – Associação Internacional de Aportes Interassistenciais
IPC – Instituto de Pesquisa da Consciência
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica
JURISCONS – Associação Internacional da Paradireitologia
MPLC – Motion Picture Licensing Corporation (Licença Corporativa de Imagem em
Movimento)
NAIC – Núcleo de Assistência Integral à Consciência
OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras
Ocepar – Sindicato e Organização de Cooperativas do Estado do Paraná
OIC – Organização Internacional em Consciencioterapia
ONG – Organização Não-Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
ORTHOCOGNITIVUS – Associação Internacional para Implantação da Cognópolis
em Santa Catarina
OSCIP – Organização de Sociedade Civil de Interesse Público
PC – Projeção Consciente
PI – Pesquisa Independente
PIB – Produto Interno Bruto
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
REAPRENDENTIA – Associação Internacional de Parapedagogia e Reeducação
Consciencial
RPC – Rede Paranaense de Comunicação
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences (Pacote Estatístico para Ciências
Sociais)
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE – Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido
TDR – Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização
TP – Técnica Projetiva
ULISBOA – Universidade de Lisboa
UNICIN – União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais
UNIESCON – União Internacional de Escritores da Conscienciologia
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UPF – Utilidade Pública Federal
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

CONVITE PRELIMINAR ........................................................................................... 27

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 31

1 TRAJETÓRIA INVESTIGATIVA ........................................................................... 35


1.1 Marcos teóricos ................................................................................................ 35
1.2 Percurso metodológico ................................................................................... 39
1.3 Fontes de pesquisa .......................................................................................... 44
1.3.1 Questionário .................................................................................................... 44
1.3.1.1 Coleta de dados ........................................................................................... 44
1.3.1.2 Instrumento de pesquisa .............................................................................. 46
1.3.1.3 Interação questionário e escala .................................................................... 47
1.3.1.4 Tratamento dos dados .................................................................................. 48
1.3.2 Entrevistas ....................................................................................................... 49
1.3.2.1 Coleta de dados ........................................................................................... 50
1.3.2.2 Tratamento dos dados .................................................................................. 57
1.3.3 Documentos .................................................................................................... 60
1.3.3.1 Fotografias .................................................................................................... 61
1.4 Referências acadêmicas sobre Projeciologia e Conscienciologia .............. 63

2 RAÍZES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA ......................................... 66


2.1 Breve trajetória biográfica de Waldo Vieira ................................................... 66
2.1.1 Infância até juventude ..................................................................................... 67
2.1.2 Parceria assistencial com Chico Xavier .......................................................... 68
2.1.3 Mudança para o Rio de Janeiro ...................................................................... 73
2.2 Centro da Consciência Contínua (CCC) ......................................................... 76
2.2.1 Aspectos estatutários do CCC ........................................................................ 76
2.2.2 Pesquisa institucional ...................................................................................... 78
2.2.3 O livro “Projeções da Consciência” e as palestras públicas ............................ 79
2.2.4 Palestras com experimentos parapsíquicos e o livro “Projeciologia” .............. 83
2.2.5 Transição institucional: do CCC ao IIP ............................................................ 88
2.3 Instituto Internacional de Projeciologia (IIP) / e Conscienciologia (IIPC) ... 92
2.3.1 Fundação do IIP e aspectos estatutários ........................................................ 92
2.3.2 Expansão das Atividades Docentes ................................................................ 96
2.3.3 Sistematização das atividades de pesquisa .................................................. 100
2.3.4 O livro “700 Experimentos da Conscienciologia” e seus efeitos .................... 102
2.4 Considerações do capítulo ............................................................................ 105
2.4.1 Memórias ....................................................................................................... 105
2.4.2 Modo de Contato com a Conscienciologia .................................................... 106
2.4.3 Motivação para conhecer a Conscienciologia ............................................... 110
2.4.4 Colaboração no CCC .................................................................................... 111
2.4.5 Liderança de Waldo Vieira ............................................................................ 112
2.4.6 Imagens ......................................................................................................... 113
2.4.6.1 Figura 01 – Visita de Waldo Vieira (no centro) com voluntários da
Conscienciologia à sua casa em Uberaba (MG), em 1997 ..................................... 113
2.4.6.2 Figura 02 – Waldo Vieira e Chico Xavier ao lado de Hazel Morris
nos EUA, em 1966 ................................................................................................. 115
2.4.6.3 Figura 03 – Reunião de preparação da fundação do IIP realizada na sala de
George Kropotoff na praça Saens Peña, Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), no final
de 1987.................................................................................................................... 116
2.4.6.4 Figura 04 – Fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP), no
Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), em 16 de janeiro de 1988 ..................................... 117
2.4.6.5 Série fotográfica ......................................................................................... 118
2.4.7 Terceiro setor ................................................................................................ 121
2.4.8 “Migração” dos colaboradores ....................................................................... 124

3 GÊNESE COMUNITÁRIA E TERRITORIAL ....................................................... 125


3.1 Grupo de Pesquisas Conscienciais (GPC) - Socin Conscienciológica ..... 125
3.1.1 A Pesquisa sobre o CEAEC .......................................................................... 127
3.1.2 Síntese dos Resultados da Pesquisa do CEAEC ......................................... 130
3.1.3 Doação do terreno em Foz do Iguaçu ........................................................... 132
3.1.4 Elaboração e apresentação do Plano Piloto do CEAEC ............................... 135
3.1.5 Fundação da Cooperativa dos Colaboradores do IIP (COOIIP) ................... 137
3.2 Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC) .................................... 140
3.2.1 Os primeiros migrantes ................................................................................. 140
3.2.2 A materialização do plano piloto do CEAEC ................................................. 143
3.2.3 A construção dos laboratórios do CEAEC ..................................................... 149
3.2.4 A criação da ARACÊ ..................................................................................... 154
3.2.5 Migração de Waldo Vieira para Foz do Iguaçu e suas últimas viagens ao
Exterior ................................................................................................................... 157
3.2.6 Reconfiguração administrativa do CEAEC .................................................... 159
3.3 Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da
Conscienciologia (CEAEC) .................................................................................. 160
3.3.1 Nova estrutura organizacional do CEAEC .................................................... 161
3.3.2 Tertúlias conscienciológicas .......................................................................... 163
3.3.3 Aleia dos Gênios da Humanidade ................................................................. 166
3.3.4 Acoplamentarium ........................................................................................... 167
3.3.5 Edificações do CEAEC .................................................................................. 169
3.4 Considerações do capítulo ............................................................................ 171
3.4.1 Grupalidade e Territorialidade I: Raffestin ..................................................... 171
3.4.2 Territorialidade II: Haesbaert ......................................................................... 174
3.4.3 Territorialidade III: temporalidades e vivências ............................................. 176
3.4.4 Lugares de memória ...................................................................................... 179
3.4.5 Enquadramento ............................................................................................. 180
3.4.6 Instituição Conscienciocêntrica (IC) ............................................................... 182
3.4.7 Pluralismo institucional ................................................................................... 186
3.4.8 Liderança de Waldo Vieira II .......................................................................... 187
3.4.9 Voluntariado I: breve panorama nacional ....................................................... 187
3.4.10 Voluntariado II: motivações .......................................................................... 190
3.4.11 Voluntariado III: características gerais do voluntariado conscienciológico... 194

4 DINÂMICA TERRITORIAL E MIGRATÓRIA ...................................................... 197


4.1 Associação CEAEC: matriz da territorialidade conscienciológica ............ 199
4.1.1 Assentamento ................................................................................................ 199
4.1.2 Criação da Organização Internacional em Consciencioterapia (OIC) ........... 202
4.1.3 Publicação do Homo sapiens reurbanisatus ................................................. 203
4.1.4 Mudança da Sede do IIPC para Foz do Iguaçu ............................................ 204
4.1.5 Mudanças estatutárias e administrativas do IIPC ......................................... 206
4.1.6 Fundação da Assinvéxis ................................................................................ 207
4.1.7 Novos projetos habitacionais ......................................................................... 207
4.1.8 Fundação da Editares, da UNICIN, da AIEC e da IASB ............................... 208
4.1.8.1 Editares ...................................................................................................... 209
4.1.8.2 UNICIN ....................................................................................................... 209
4.1.8.3 AIEC ........................................................................................................... 212
4.1.8.4 IASB ........................................................................................................... 213
4.1.9 Primeira Década do CEAEC ......................................................................... 214
4.2 Da Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional
(CCCI) ao Bairro Cognópolis ............................................................................... 217
4.2.1 O conceito de Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional ... 217
4.2.2 Fundação de 8 instituições conscienciológicas (2005 a 2008) ..................... 218
4.2.3 Primeira Convenção da CCCI ....................................................................... 220
4.2.4 Projeto Cognópolis ........................................................................................ 222
4.2.5 Carta Aberta à População de Foz do Iguaçu ................................................ 224
4.2.6 Placas de sinalização “Conscienciologia” nas ruas de Foz do Iguaçu .......... 228
4.2.7 O terreno do Villa Conscientia Asa Sul e o campus da Assinvéxis ............... 230
4.2.8 Conscienciologia no Shopping ...................................................................... 232
4.2.9 Fundação do Bairro Cognópolis .................................................................... 233
4.3 Desenvolvimento da Cognópolis .................................................................. 238
4.3.1 Conselho dos 500 .......................................................................................... 238
4.3.2 Fundação da Associação de Moradores do Bairro Cognópolis de Foz do
Iguaçu (AMAC) ....................................................................................................... 242
4.3.3 Cineclube Cognópolis .................................................................................... 243
4.3.4 Exercício de cidadania: Viadutos em Foz ..................................................... 245
4.3.5 Fundação de 11 instituições conscienciológicas (2011 a 2019) ................... 247
4.3.6 Noite de Gala Mnemônica ............................................................................. 251
4.3.7 Falecimento de Waldo Vieira ......................................................................... 252
4.3.8 Cognópolis como ponto turístico de Foz do Iguaçu ...................................... 255
4.3.9 O evento “Um Dia na Cognópolis” ................................................................. 256
4.3.10 Delimitação do bairro Cognópolis ................................................................ 257
4.3.11 Integração de condomínios ......................................................................... 259
4.4 Considerações do capítulo ............................................................................ 263
4.4.1 Territorialidade IV: Raffestin e Saquet ........................................................... 263
4.4.2 Territorialidade V: Haesbaert ......................................................................... 267
4.4.3 Instituições ..................................................................................................... 268
4.4.4 O governo da Cognópolis .............................................................................. 273
4.4.5 Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu ........................................... 275
4.4.5.1 Foz do Iguaçu: migrações e imigrações ..................................................... 280
4.4.6 Relação externa da comunidade conscienciológica ...................................... 283
4.4.7 Relações internas da comunidade conscienciológica ................................... 289

5 MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA ................................................................. 291


5.1 O perfil do migrante conscienciólogo .......................................................... 292
5.1.1 Sexo, idade, nacionalidade e naturalidade dos migrantes ............................ 292
5.1.2 Escolaridade dos migrantes .......................................................................... 295
5.1.3 Bairros em que os migrantes moram ............................................................ 298
5.1.4 Tipo de habitação e regime de ocupação dos migrantes .............................. 300
5.1.5 Agregado doméstico dos migrantes .............................................................. 301
5.1.6 Situação profissional dos migrantes .............................................................. 302
5.1.6.1 Posição na ocupação profissional dos migrantes ...................................... 304
5.1.6.2 Local físico de trabalho ............................................................................... 304
5.1.6.3 Trabalho e residência no bairro Cognópolis ............................................... 305
5.1.6.4 Ramo de atividade profissional .................................................................. 306
5.1.7 Discussão do perfil do migrante conscienciólogo .......................................... 307
5.2 Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu ........................................ 322
5.2.1 Aspectos gerais migratórios .......................................................................... 322
5.2.1.1 Cidades diferentes do local do nascimento em que viveu antes de migrar 322
5.2.1.2 Ano em que ouviu falar da comunidade conscienciológica pela 1ª. vez .... 323
5.2.1.3 Ano em que se mudou para Foz do Iguaçu ............................................... 324
5.2.1.4 Última cidade e país de residência antes de migrar para Foz do Iguaçu ... 325
5.2.1.5 Motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu ...................................... 328
5.2.1.6 Conhecidos em Foz do Iguaçu na ocasião da migração ............................ 330
5.2.1.6.1 Categorias de conhecidos em Foz do Iguaçu quando migraram ............ 330
5.2.1.7 Companhia quando migrou para Foz do Iguaçu ........................................ 331
5.2.1.8 Discussão dos aspectos gerais migratórios ............................................... 331
5.2.2 Aspecto específico sobre os parentes envolvidos na migração .................... 336
5.2.2.1 Quantidade de parentes que mudaram para Foz do Iguaçu ...................... 337
5.2.2.2 Grau de parentesco dos parentes que migraram ....................................... 337
5.2.2.3 Parentes moradores de Foz do Iguaçu e voluntários da Conscienciologia. 339
5.2.2.4 Parentes moradores de Foz do Iguaçu frequentadores das
atividades da comunidade conscienciológica ......................................................... 340
5.2.2.5 Parentes moradores de Foz do Iguaçu e condomínio conscienciológico ... 341
5.2.2.6 Situação da conjugalidade no momento da migração para Foz do Iguaçu. 343
5.2.2.7 Discussão do aspecto específico sobre os parentes
envolvidos na migração .......................................................................................... 343
5.2.3 Motivo da saída de Foz do Iguaçu, após ter migrado, tendo retornado ........ 345
5.2.3.1 Discussão sobre o motivo da saída de Foz do Iguaçu após
ter migrado, tendo retornado posteriormente ......................................................... 346
5.2.4 Caracterização da migração conscienciológica ............................................ 347
5.2.4.1 Migração conscienciológica: um subtipo da migração por
estilo de vida ou um novo tipo de migração humana? ........................................... 347
5.2.4.1.2 Questão “Motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu” .................. 349
5.2.4.1.3 Tratamento dos dados ............................................................................. 351
5.2.4.1.4 Resultados ............................................................................................... 352
5.2.4.1.5 Discussão da caracterização da migração conscienciológica ................. 355
5.3 À guisa de conclusão ..................................................................................... 361

6 COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA ........................................................... 365


6.1 Práticas culturais ............................................................................................ 365
6.1.1 Discussão das práticas culturais ................................................................... 367
6.1.2 Voluntariado IV: voluntariado institucional ..................................................... 371
6.1.2.1 Discussão sobre o Voluntariado IV: voluntariado institucional ................... 376
6.1.3 Livros e artigos publicados ............................................................................ 384
6.1.3.1 Discussão sobre livros e artigos publicados ............................................... 385
6.2 Convívio .......................................................................................................... 388
6.2.1 Situação conjugal hoje .................................................................................. 389
6.2.2 Filhos ............................................................................................................. 390
6.2.3 Ter animal doméstico .................................................................................... 390
6.2.4 Amizades ....................................................................................................... 392
6.2.5 Vizinhança ..................................................................................................... 392
6.2.6 Colega profissional ........................................................................................ 393
6.2.7 Discussão sobre o convívio da comunidade conscienciológica .................... 393
6.2.7.1 Família: transformações e múltiplos entendimentos .................................. 395
6.2.7.2 Conversa de Vieira com Jung mediada por Ginzburg ................................ 403
6.2.7.3 Amizades, vizinhança e colegas profissionais ........................................... 409
6.2.7.4 Animais domésticos .................................................................................... 412
6.3 Sentido e Importância da Comunidade Conscienciológica ....................... 413
6.3.1 Sentido ou senso de comunidade ................................................................. 417
6.3.2 Importância de Pertencimento e do Contato social ....................................... 419
6.3.3 Morar definitivo em Foz do Iguaçu ................................................................ 419
6.3.4 Melhorias ....................................................................................................... 420
6.3.5 Discussão do Sentido e da Importância da Comunidade Conscienciológica. 421
6.4 Experiência política ........................................................................................ 432
6.4.1 Discussão da experiência política ................................................................. 433
6.5 Investimento financeiro em Foz do Iguaçu .................................................. 434
6.5.1 Discussão sobre o Investimento financeiro em Foz do Iguaçu ..................... 436
6.6 Comunidade vs. sociedade conscienciológica ........................................... 437
6.7 À guisa de conclusão ..................................................................................... 439

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 443


FONTES ................................................................................................................. 449
REFERÊNCIAS INFOGRÁFICAS ......................................................................... 463
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 468
APÊNDICE ............................................................................................................. 476
ANEXO ................................................................................................................... 479
27

CONVITE PRELIMINAR

Para conhecer o tema em estudo, convido o leitor e a leitora, nesse primeiro


momento, a assistir ao Programa “Meu Paraná”, promovido pela Rede Paranaense
de Comunicação (RPC). O programa retrata a vida, a história, os lugares dos
paranaenses. O “Meu Paraná” exibido em 23 de julho de 2016 aborda a
Conscienciologia e o bairro Cognópolis em Foz do Iguaçu. Foi uma iniciativa da
própria emissora. Sob o título “O Meu Paraná te leva para um passeio pelo
conhecimento”, ficou organizado em dois vídeos: a parte 1 com 11 minutos e a parte
2 com 8 minutos. Os vídeos podem ser encontrados no seguinte site na internet:
<https://redeglobo.globo.com/rpc/meuparana/>, e no campo da busca, deve-se

escrever: O Meu Paraná te leva para um passeio pelo conhecimento.


Desse modo, você irá se colocar no lugar de alguns dos membros atuais da
comunidade conscienciológica que tomaram conhecimento das ideias da
Conscienciologia por meio da internet e/ou da televisão, que juntas representam
5,3% dos modos de contato com essa especialidade, num universo de 360
respostas (100%).
Disponibilizo aqui um pouco deste programa a partir do texto transcrito dos dois
vídeos exibidos pela emissora de TV no seguinte site: <http://g1.globo.com/pr/oeste-
sudoeste/noticia/2016/07/cidade-do-conhecimen-to-em-foz-do-iguacu-recebe-40-mil-
pessoas-por-ano.html>. Estes foram acessados no dia 04 de agosto de 2016, às
21h03. Essa transcrição disponibilizada pela emissora de TV não contém todo
conteúdo dos vídeos: as falas dos entrevistados foram abreviadas e alguns trechos
suprimidos. Repassei para a tese somente alguns trechos dessa transcrição. Tomei
a liberdade de inserir as palavras da apresentadora do Programa, algumas palavras
explicativas entre colchetes sobre o conteúdo ao qual o vídeo se referia e a fala do
empresário do supermercado, por julgar que essas falas podem ser úteis à
compreensão do tema. Optei por não colocar essa transcrição com recuo, conforme
recomendam as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por
ser um trecho longo, visando facilitar a leitura.
O título da matéria é o seguinte:
28

23/07/2016 11h46 - Atualizado em 25/07/2016 16h36

'Cidade do conhecimento' em Foz do


Iguaçu recebe 40 mil pessoas por ano
Centro de Estudos da Conscienciologia abre para visitação todos os dias.
Bairro em que fica possui 7 milhões de m² e em torno de 850 voluntários.
Do G1 PR, com informações da RPC de Foz do Iguaçu

Bom, vamos para o assunto de hoje do nosso programa. Reencarnação, experiência de


quase-morte, viagens fora do corpo são assuntos que fascinam até mesmo alguns dos mais
céticos. No “Meu Paraná” deste sábado você vai conhecer um centro de estudos que pesquisa
os mistérios da alma. É em Foz do Iguaçu. O centro é especializado numa ciência que investiga
estes temas, a Conscienciologia.

Pra onde vamos depois da morte? O que acontece com a nossa alma? Nosso espírito?
Com a nossa consciência? Seguimos para outra dimensão? Para outro plano? Será que já não
estivemos neste mundo antes? Em outro corpo, em outra vida?
O pesquisador Pedro Fernandes coordena um grupo de pessoas que estuda a
possibilidade da existência de vidas passadas. Médico de formação, ele se reveza entre o
consultório e o centro de pesquisas.
"Nós consideramos que a pessoa, hoje, é fruto de uma série de vivência e existências que
ela teve no passado. Então, pesquisando essas memórias, ela consegue entender melhor o dia
de hoje, as reações que têm, o temperamento, a convivialidade, por exemplo dentro de um
contexto familiar. Então, a pessoa vai pesquisando a razão de ser de certas afinidades, de certas
dificuldades de relacionamento", explica.
"O fato é que ela entende melhor o que ela é hoje. Nós trabalhamos de modo a propiciar
que ela lembre dessas vidas, a retrocognição", acrescenta.
Com frequência, eles organizam eventos para tentar despertar essas memórias.
Pesquisam alimentos, músicas, roupas e costumes: tudo para tentar identificar no presente
alguma personalidade histórica.
"Eu, desde a minha infância, me via em um escritório escrevendo. Desde então, já são 25
anos. Eu tenho a hipótese de ter sido um lexicógrafo francês".

Conscienciologia
Muitos desses estudos, como esse de vidas passadas, são realizados no Centro de Altos
Estudos da Conscienciologia (CEAEC) em Foz do Iguaçu, na região oeste do Paraná. É uma
grande estrutura que valoriza principalmente o conhecimento.
O CEAEC foi construído em uma grande área verde, local criado para funcionar como um
centro de produção intelectual. O espaço é livre para conhecer melhor o passado, entender o
presente e planejar o futuro.
No local, são centenas de áreas de estudo. Em uma gigantesca biblioteca, chamada de
Holociclo, estão milhares de livros: títulos de todos os gêneros imagináveis. Tudo à disposição
para ser consultado.
As informações dos livros dividem espaço com quase um milhão de objetos. São coleções
inteiras: bonecas, miniaturas, conchas. Só de gibis, são 35 mil exemplares. É uma das maiores
gibitecas da América Latina. Há também revistas [gibis] em 16 idiomas.
"Esse é um espaço de pesquisa, educação, difusão e democratização do saber. A
Holoteca é um megamostruário do conhecimento humano. A pessoa entra de um jeito e sai de
outro jeito", explica a coordenadora da Holoteca, Luziânia Medeiros.
29

Experiências
Por toda a Cognópolis, como foi batizado o espaço inteiro, é possível encontrar vários
locais para experiências de autoconhecimento. Em um deles, a ideia é que a pessoa passe três
dias, ou seja, 72 horas, sozinha, pensando na vida.
Entretanto, não é preciso passar aperto. Uma estrutura completa oferece todo o conforto:
escritório, cozinha, quarto e banheiro.
"Eu já fiz o experimento. Foi um divisor de águas. Foi Ana Ruiz antes e Ana Ruiz depois.
Você começa a se enxergar de forma diferente. Você faz uma reflexão da vida, de tudo o que
você vivenciou até agora. Então, ele te dá um know-how muito bom de você. Por outro lado, com
as pesquisas, você consegue ter mais ideias, parece que você consegue ficar mais inteligente e
a criatividade transborda. Você consegue ter muitas ideias sobre temas de pesquisa", diz a
voluntária Ana Ruiz.

O segundo vídeo inicia desse modo: “O que acontece com a gente depois da morte? Essa
pergunta que acompanha o ser humano desde sempre fez nascer um centro de estudos em Foz
do Iguaçu, que já mudou a rotina da cidade. O Centro de Estudos da Conscienciologia atrai
curiosos e pesquisadores do mundo todo”.

Cognópolis
Ao redor do Ceaec, os pesquisadores da Conscienciologia que vieram para Foz do Iguaçu
construíram 11 condomínios residenciais e um condomínio empresarial [Discernimentum] para
abrigar mais de 20 associações de estudo.
A região cresceu tanto que se tornou um bairro com sete milhões de metros quadrados.
Pela Cognópolis, a cidade do conhecimento, passam cerca de 40 mil pessoas por ano.
Para toda essa estrutura funcionar, a participação de um grupo de pessoas é fundamental.
Só em Foz do Iguaçu, são quase 850 voluntários. Gente que veio de outras cidades, estados e
até países para ficar.
"A maioria tem formação superior, alguns tem mestrado, outros, doutorado. Tem
advogados, médicos...", conta a pesquisadora Cristiane Ferraro.
No ritmo da migração de tantos profissionais, a região onde fica o centro, que um dia já foi
chamada de área rural, ganhou status de área nobre. Hoje, a vizinhança tem condomínios onde
todos dividem o mesmo endereço e, principalmente, os mesmos interesses.
O administrador do CEAEC, Antônio Magalhães, por exemplo, é português. Ele já
trabalhou no Vaticano, bem perto do Papa João Paulo II, experiência que trouxe para Foz
quando adotou a cidade como casa. De Portugal, trouxe mesmo só o sotaque.
"Eu comprei um sítio no Espírito Santo e, por coincidência, era ao lado de um centro de
Conscienciologia e comecei a conhecer as ideias dessa ciência. Aí, comecei a achar respostas
para perguntas que até então não tinha", explica.
A chegada dos visitantes em busca da evolução da consciência atraiu também
investimento econômico. O símbolo máximo do projeto tem 300 quartos e foi construído bem ao
lado do CEAEC: um hotel para receber visitantes e pesquisadores em busca de um turismo
ainda pouco falado, mas com grande potencial, o turismo intelectual.
Os turistas estão, de fato, chegando. O estilo é o mesmo de quem quer conhecer o que
talvez só tenham visto pela TV, em passos lentos, olham em busca das novidades.
"Professor Waldo" é como o pessoal chama o médico e parapsíquico Waldo Vieira, que foi
o idealizador da Conscienciologia. Ele faleceu no ano passado, aos 83 anos, mas a ciência e a
estrutura planejadas por ele seguem rendendo frutos.
"Foi tudo planejado. Em 1995, quando foi fundado o CEAEC, houve uma inauguração para
a cidade e, na ocasião, se falou que íamos investir US$ 13,5 milhões. Muita gente achou que era
loucura da cabeça porque era uma região muito rural", explica o presidente da Associação
Internacional para Expansão da Conscienciologia, César Cordioli.
Ainda conforme ele, hoje, se constata que só a área dos terrenos já superou o valor.
"Todas as construções que existem aqui, o hotel, tudo contribuiu muito para o crescimento do
bairro", afirma.
30

Aos poucos, o que foi tratado como "loucura" virou um bairro em desenvolvimento. Onde
antes era só calçamento, tem asfalto agora.
Nesse caminho sem buraco nem barro, o supermercado teve que mudar o perfil para
atender esse novo público. “Depois que o pessoal da Conscienciologia se instalou aí,
desenvolveu muito a nossa região, valorizou bem os imóveis, investimentos que começaram a
ter, com certeza. Está vendendo mais. Depois da vinda deles, já fizemos duas ampliações. Para
você ter uma ideia, expandimos as atividades comerciais: o material de construção e o posto.
Eles implantaram condomínios residenciais. Estão implantando um novo loteamento agora. O
pessoal desenvolveu bem a região mesmo”, falou o empresário Marcelo Consalter.

Novo capítulo
Em breve, um novo capítulo dessa história de crescimento deve ser escrito. O próximo
empreendimento é o Megacentro Cultural Holoteca. O projeto foi doado pelo arquiteto Oscar
Niemeyer.
A construção vai ter nove mil metros quadrados, com auditório para 800 pessoas, palco
externo, salas de exposição e biblioteca. O objetivo é tão grande quanto os números. A ideia é
que o espaço se torne um dos maiores atrativos turísticos de Foz do Iguaçu.
"A gente pretende, em breve, dar início à construção, provavelmente, em dois anos.
Estamos numa fase de captação de recursos para poder construir porque é uma obra bem
grande e vai mexer bastante com o turismo de Foz", explica.
A Cognópolis mostra que, no investimento pessoal, de cada pesquisador em
autoconhecimento, também a cidade investe e se desenvolve, numa evolução em conjunto, em
sintonia com uma lei maior, ainda misteriosa para a maioria das pessoas.

Serviço
Ficou curioso para conhecer mais sobre a Conscienciologia? Todos os dias, às 12h30, os
conceitos dessa ciência são apresentados pela internet, é só acessar o g1 Paraná para ver como
acessar. O Centro de Estudos da Conscienciologia em Foz do Iguaçu também recebe visitantes,
de domingo a domingo, das 9h às 17h. Não é preciso pagar nada para entrar. O acervo também
fica à disposição dos turistas.

A intenção em trazer essa matéria jornalística foi promover um primeiro contato


com o objeto de estudo da tese. A transcrição da televisão apresentada não é o
objeto da pesquisa. A ideia foi possibilitar a vocês, leitores, um passeio ou um breve
tour pelo conhecimento do presente texto.
31

INTRODUÇÃO

A presente investigação tem como objeto de pesquisa a comunidade


conscienciológica. Ela se localiza no bairro Cognópolis, no município de Foz do
Iguaçu, no Estado do Paraná, no Brasil.
A questão norteadora do estudo foi: o que é a comunidade conscienciológica?
Tal fio condutor foi sendo complementado com outras perguntas a fim de olhar para
esse objeto por vários ângulos: Quem são os membros dessa comunidade? De que
modo ela se formou e se desenvolveu ao longo do tempo? (Nesta última questão,
encontra-se embutida outra: Por que Foz?). Quando essa comunidade se formou?
Por que essa comunidade surgiu?
As respostas às questões complementares foram aparecendo no decorrer da
escrita e apresentam-se dispostas pelos capítulos. No entanto, vale frisar sobre a
dificuldade de se ter uma resposta objetiva e curta para cada dúvida, uma vez que
se trata de um estudo interdisciplinar, utilizando o aporte teórico-metodológico da
micro-história com enfoque mais “social”, porém com elementos “culturais”, pois a
comunidade conscienciológica tem como fator desencadeante um corpo de ideias
heterodoxas a fim de orientar comportamentos individuais e coletivos; em diálogo
com os métodos da pesquisa oral temática e a história social quantificada.
No esforço de delimitação do objeto, foi se reconstruindo sua historicidade e ao
mesmo tempo construindo conceituações que foram circunscrevendo o objeto de
estudo a partir de 3 dimensões teóricas: o voluntariado institucional, a migração e a
territorialidade.
O tema do trabalho voluntário e as questões que envolvem o chamado Terceiro
Setor foram refletidas em diálogo com os seguintes pesquisadores brasileiros
Antonio Albuquerque (2006), Paula Bonfim (2010), Carlos Eduardo Cavalcante
(2013), Ricardo A. L. G. Dias (2010) e autores portugueses Vasco Almeida (2011),
Henrique Pinto (2011) e Bruno Barcelos Morais (2019), além de dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os estudos sobre migração tiveram como suporte os pontos de vista dos
pesquisadores portugueses Fernando Luís Machado (2002) e Maria Lucinda
Fonseca (2005), além de autores brasileiros tais como Carmem Lussi (2015), e uma
discussão com autores de língua inglesa, Michaela Benson (2009; 2016), Karen
O’Reilly (2009; 2016), Russell King (2012), L. A. G. Moss (2006), Mari Korpela
32

(2014) e Noel B. Salazar (2014). Também foram utilizados dados do IBGE locais e
nacionais a fim de estabelecer um cotejo com as informações coletadas a respeito
dos migrantes conscienciólogos1.
O assunto das territorialidades foi abordado a partir da interlocução com o
geógrafo francês Claude Raffestin (1993), além dos geógrafos brasileiros Rogério
Haesbaert (2007; 2010) e o colega da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) Marcos Aurélio Saquet (2015).
O objetivo geral da presente pesquisa foi investigar a comunidade
conscienciológica localizada em Foz do Iguaçu, a partir dos conceitos de
voluntariado institucional, migração e territorialidade.
Os objetivos específicos foram: a) Historicizar a formação e o desenvolvimento
da comunidade conscienciológica; b) Descrever as primeiras instituições
conscienciológicas, a fim de compreender os movimentos de transformação do
trabalho voluntário institucional da Conscienciologia; c) Apresentar as
territorialidades da comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu; d) Caracterizar
os migrantes da comunidade conscienciológica; e) Expor as motivações dos
membros da comunidade conscienciológica para migrar para Foz do Iguaçu a fim de
discutir este tipo de migração; e f) Conceitualizar a comunidade conscienciológica.
A importância deste estudo está centrada em se compreender melhor as
características de um dentre tantos agrupamentos sócio-culturais presentes na
região da Tríplice Fronteira Argentina-Brasil-Paraguai. Nesse contexto, é importante
citar que se trata de uma pesquisa em ciências humanas, portanto “o homem se
torna, ao mesmo tempo, sujeito e objeto na investigação científica.”2
Tal condição se refletiu na escolha do objeto desta tese. A inspiração veio pelo
trabalho voluntário de registro dos nomes dos voluntários-migrantes da comunidade
conscienciológica, que venho fazendo desde que migrei para Foz do Iguaçu no ano
2000.
Com o surgimento do Programa de Pós-graduação em Sociedade, Cultura e
Fronteiras organizado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE),

1
O termo conscienciólogo é entendido, nessa tese, como aquela pessoa voluntária de alguma(s) das
instituições conscienciológicas, podendo ser migrante ou não, dedicada aos estudos da
Conscienciologia.
2
OLIVEIRA, Paulo de Salles. Caminhos de construção da pesquisa em ciências humanas. In: _____.
(Org.). Metodologia das Ciências Humanas. 2. Ed. São Paulo: Hucitec/UNESP, 2001, p. 23.
33

fiz, como aluna especial, em 2015, a disciplina “Migrações, memórias e fronteiras”,


do professor doutor Valdir Gregory, o que me motivou a ingressar no doutorado.
Também foi utilizada uma variedade de fontes de pesquisa: questionário
aplicado na comunidade conscienciológica; entrevistas com voluntários da
Conscienciologia; documentos, tais como jornal interno da comunidade
conscienciológica, dados censitários internos, fotografias e atas de reuniões; notícias
de periódicos locais, estaduais, nacionais e internacionais; referências acadêmicas
sobre a Conscienciologia (e Projeciologia); aforismos ou pensatas do propositor da
Conscienciologia, além de entrevistas fornecidas por ele à periódicos internos e
externos da comunidade conscienciológica; conversas pontuais com voluntários da
Conscienciologia a fim de esclarecer um tema específico a respeito da comunidade
conscienciológica, entre outras.
Os aspectos teórico-metodológicos acerca do uso das fontes de pesquisa
formaram o primeiro capítulo, caracterizando a trajetória investigativa. Esse estudo
foi realizado a partir da autora que lhes escreve na condição de pesquisadora e
integrante da comunidade conscienciológica, e a partir de fontes majoritariamente
produzidas pela própria comunidade, devido às reduzidas fontes encontradas
externas à comunidade.
Esta tese encontra sua originalidade em abordar o itinerário de pessoas
comuns interessadas em compartilhar suas visões de mundo norteadas por um
corpus de conhecimentos sistematizados por um médico brasileiro para explicar
fenômenos parapsíquicos ou “paranormais” e a própria existência – a
Conscienciologia –, em um local específico – o bairro Cognópolis –, em Foz do
Iguaçu.
Este aspecto determinou a elaboração dos três próximos capítulos. O capítulo
2 apresenta as raízes da comunidade conscienciológica que se encontram
fundamentadas na vida e na obra do propositor da Conscienciologia, Waldo Vieira,
em duas fases, uma inicial no Estado de Minas Gerais e outra no Estado do Rio de
Janeiro, onde duas instituições foram criadas por ele, a primeira servindo de balão
de ensaio para a fundação da segunda mais profissional, que contou com apoio de
voluntários.
O capítulo 3 aborda a gênese comunitária e territorial. A busca por um terreno
que fosse a sede própria institucional dos voluntários da Conscienciologia acabou
adquirindo êxito e desencadeou a criação da terceira instituição conscienciológica,
34

no Estado do Paraná, no município de Foz do Iguaçu. O embrião das discussões


sobre o que seria essa nova instituição ocorreu no interior de um grupo de pesquisa
da Conscienciologia voltado para os estudos das bases de uma “sociedade
conscienciológica”. O surgimento dessa nova instituição configurou-se como um
campus de pesquisa da Conscienciologia, planejado pelos voluntários. O movimento
de planejamento e de materialização dessa nova instituição engendra um
sentimento de pertença a essa coletividade, que se organiza primeiro assumindo a
pessoa jurídica de uma cooperativa e depois de associação de trabalho voluntário.
O capítulo 4 integra a dinâmica territorial e migratória. O território
conscienciológico foi se ampliando na proporção direta da migração dos voluntários
para Foz do Iguaçu. A instituição conscienciológica em Foz do Iguaçu serviu de
matriz ou núcleo em torno da qual a territorialidade conscienciológica foi se
formando, até tomar proporções de um bairro. O desenvolvimento do bairro foi
dando forma à sede de dezenas de instituições da Conscienciologia, acolhendo
centenas de migrantes voluntários em condomínios residenciais.
Os capítulos 2, 3 e 4 fundamentam as discussões mais amiúde realizadas nos
capítulos 5 e 6, sobre a migração e a comunidade conscienciológica
respectivamente. A construção do objeto de estudo nos capítulos 2, 3 e 4 seguiu a
inspiração no modo de exposição utilizado por Giovanni Levi, em seu livro “A
Herança Imaterial”. Julguei importante narrar os acontecimentos formadores da
comunidade conscienciológica desde os seus primeiros movimentos, visando melhor
caracterizar o objeto de pesquisa, bem como pelo fato de ser um tema relativamente
novo no meio acadêmico com escassas referências.
O capítulo 5 expõe e discute quem é o migrante conscienciólogo e a
caracterização da migração conscienciológica. O capítulo 6 aprofunda o debate
sobre aspectos comunitários tais como: práticas culturais, convívio, sentido e
importância da comunidade conscienciológica, entre outros.
E por fim, as considerações finais, elaboradas a partir do conjunto de indícios
que apareceram no texto, possibilitando esboçar conceituação e caracterização da
comunidade conscienciológica.
Por fazer parte da comunidade conscienciológica, na condição de migrante e
voluntária da Conscienciologia, gostaria de advertir o leitor e a leitora que outras
interpretações além das trazidas nesse estudo são possíveis.
35

1 TRAJETÓRIA INVESTIGATIVA

O primeiro capítulo visa apresentar a trajetória de pesquisa realizada até


chegar no texto final. O caminho percorrido seguiu o entendimento de “método” tal
como o professor de psicologia social Paulo de Salles Oliveira1 o concebe, “estrada,
via de acesso e, simultaneamente, rumo, discernimento de direção.”
Organizei as etapas vividas nessa trajetória nos seguintes tópicos: 1.1 Marcos
teóricos; 1.2 Percurso metodológico; 1.3 Fontes de pesquisa; 1.4 Referências
acadêmicas sobre Projeciologia e Conscienciologia.

1.1 Marcos teóricos

Esse tópico visa introduzir os conceitos “Conscienciologia” e “comunidade”. O


primeiro marco teórico a ser comentado é a “Conscienciologia”. Significa estudo da
consciência. O que se entende por consciência? Todo e qualquer ser humano.
Assim, a Conscienciologia é uma proposta de estudo ou ciência da personalidade
humana, porém indo além dos padrões ou abordagens materialistas.
A Conscienciologia sugere o estudo da consciência “não confinada ao
cérebro”, em uma abordagem integral, estudando eu, você (leitor ou leitora), e todas
as pessoas, além do corpo físico, englobando as bioenergias e outros corpos ou
veículos de manifestação; além da atual vida humana, ampliando o escopo para as
vidas passadas e futuras; e além desta dimensão material, quadridimensional,
envolvendo a noção de espaço-tempo mais sutil, acessível através de canais de
percepção além dos cinco sentidos básicos, ou seja, por meio do parapsiquismo ou
“paranormalidade”.
A proposta da Conscienciologia tem como fundamento basilar a auto-
experimentação através do chamado “Princípio da Descrença”: “não acredite em
nada nem mesmo no que lhe informarem aqui. Experimente. Tenha suas
experiências pessoais.”
A Conscienciologia assenta-se na “autovivência interdimensional”, ou seja, “o
predomínio da experiência pessoal sobre todas as crenças, doutrinas e
sacralizações; [...]. Daí nasce a plataforma de princípios pessoais para se viver,

1
OLIVEIRA, Paulo de Salles. Caminhos de construção da pesquisa em ciências humanas. In: _____.
(Org.). Metodologia das Ciências Humanas. 2. Ed. São Paulo: Hucitec/UNESP, 2001, p. 17.
36

acima da opinião pública ou dos conceitos consensuais da Sociedade Intrafísica, ou


Socin”2.
Um dos “primeiros princípios” na metodologia de pesquisa da Conscienciologia
foi discutido pelo propositor na obra “700 Experimentos da Conscienciologia”: “a
própria consciência é a sua instrumentalidade, o seu paradigma (teoria-líder), (...)”,
podendo se exemplificar do seguinte modo: “você autopesquisa a sua consciência.
Eu heteropesquiso também a sua consciência. Ambos pesquisamos as nossas
consciências em conjunto” (método da autopesquisa). Esse processo irá compor
uma “cadeia ininterrupta de pesquisas” convergentes, interligadas. Através da
apresentação dos achados e a socialização das experiências, buscando o
“consenso quanto aos fatos conscienciais dará aquilo que podemos denominar de
verdade relativa de ponta na Conscienciologia”3.
Assim, na proposta da Conscienciologia, o pesquisador é o cientista e o objeto
de estudo ao mesmo tempo. Com isso, a construção da cientificidade passa pela
intersubjetividade ou interconsciencialidade compartilhada.
Essa neociência foi sistematizada pelo médico, odontólogo, lexicógrafo
brasileiro Waldo Vieira (1932–2015) na década de 1980, no século passado. Vieira
iniciou propondo a Projeciologia, ou o estudo de um fenômeno popularmente
conhecido como viagem astral, também chamado de experiência fora do corpo
(Parapsicologia) ou projeção da consciência (Projeciologia). Ele vinculou os estudos
projeciológicos num primeiro momento à Parapsicologia. No entanto, no tratado que
escreveu sobre a “Projeciologia”, publicado em 1986, menciona esta especialidade
adstrita à Conscienciologia. Desde então foi se distanciando da Parapsicologia até
seguir um caminho independente.
O segundo marco teórico desta tese é “comunidade”. O conceito de
comunidade é polissêmico. Segundo a Etimologia, a palavra comunidade deriva do
idioma Latim, comunitas, que significa “comunidade, analogia” que por sua vez
advém de comunis, “que pertence a muitos ou a todos, público, comum”4.
O termo “comunidade” já foi compreendido de diversos modos ao longo do
tempo. No século XIX e início do XX, comunidade era entendida em oposição à

2
VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de
Projeciologia, 1994, p. 73.
3
VIEIRA, 1994, p. 100, grifos do autor.
4
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. reimp.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 782.
37

sociedade. Dois estudos clássicos merecem ser citados para introduzir o tema, o de
Ferdinand Tönnies e o de Max Weber.
O primeiro pesquisador a conceituar o vocábulo comunidade no âmbito
científico foi o filólogo, filósofo e sociólogo alemão Ferdinand Tönnies, com seu livro
“Comunidade e Sociedade” (Gemeinschaft und Gesellschaft), publicado em 1887.
Segundo Tönnies5: “Tudo o que é confiante, íntimo, que vive exclusivamente junto, é
compreendido como a vida em comunidade (assim pensamos). A sociedade é o que
é público, é o mundo.”
Para Max Weber6, a grande maioria das relações sociais têm caráter em parte
comunitário e em parte societário. “Toda relação social, por mais que se limite, de
maneira racional, a determinado fim e por mais prosaica que seja (por exemplo, a
freguesia) pode criar valores emocionais que ultrapassam o fim primitivamente
intencionado”.
Uma geração de sociólogos, que formaram a chamada Escola de Chicago7,
atuante no período entre 1900 e 1950, trouxe importantes contribuições aos estudos
de comunidade. Esses sociólogos, através da perspectiva ecológica, estudaram
áreas específicas da cidade, ou unidades espaciais, por exemplo: bairros populares,
os quais eram vistos como comunidades, a fim de reconhecer as características que
lhes forneciam unidade e identidade.8
Dentre as diversas definições desta Escola, algumas ajudam a pensar a
comunidade conscienciológica, tais como: “o espaço que imprime sua marca em
todos e ao qual todos se acham vinculados”9; “é um grupo territorial de indivíduos

5
TÖNNIES, Ferdinand. Comunidade e sociedade como entidades típico-ideais. In: FERNANDES,
Florestan (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de
aplicação. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973, p.
97.
6
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. de Regis
Barbosa e Karen Elisabete Barbosa. Rev. téc. de Gabriel Cohn. 4.ed. 3.reimp. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2012, p. 25-26.
7
A Escola de Chicago compreende a formação de sociólogos no Departamento de Sociologia e
Antropologia da Universidade de Chicago, em Chicago (EUA), que fizeram o levantamento de todo
tipo de aglomerações humanas desta cidade, nas décadas iniciais do século XX (Ref.: LAKATOS,
Eva Maria. Comunidade e sociedade. In: _____. Sociologia geral. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1985).
8
CARRILLO, Alfonso Torres. El retorno a la comunidad: problemas, debates y desafios de vivir
juntos. Bogotá: CINDE-El Búho, 2013, p. 51.
9
FREYER, Hans. Comunidade e sociedade como estruturas histórico-sociais. In: FERNANDES,
Florestan (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de
aplicação. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973, p.
134.
38

com relações recíprocas, que se servem de meios comuns para lograr fins
comuns”10.
Outro estudo de comunidade que contribuiu para esclarecer processos sociais
de desigualdade humana na sociedade em geral foi apresentado no livro “Os
estabelecidos e os Outsiders”, de Norbert Elias e John L. Scotson, editado em 1965,
na Inglaterra. Segundo Elias11, “as comunidades são organizações de criadores de
lares, são unidades residenciais como os bairros urbanos”. A comunidade
conscienciológica localiza-se em um bairro em processo de urbanização em Foz do
Iguaçu e a abordagem de Elias e Scotson irá contribuir para discutir as relações
internas e externas desta comunidade.
Mais recentemente, pode-se destacar também o entendimento acerca do tema
pelo uso da expressão “comunidades intencionais”, ou seja, comunidades
residenciais projetadas mais ou menos conscientemente para incentivar algumas
formas de interação, podendo manifestar “consciência ambiental (ecovilas), formas
de filiação religiosa ou espiritual, crescimento pessoal ou tomada de decisão
12
radicalmente democrática e governo econômico igualitário” . Apesar desta
expressão ser utilizada em fenômenos coletivos atuais, não se chegou a utilizá-la
como recurso explicativo devido a abarcar tipos de comunidades com características
diversas, sem se localizar uma explicação teórica aprofundada de cada tipo.
E por fim, o conceito de comunidade reflexiva de Scott Lash também será um
aporte teórico para discutir a comunidade conscienciológica. Seriam aquelas em que
a pessoa não nasce nela nem é obrigatória sua participação; as pessoas colocam
para si mesmas de modo consciente a questão da sua criação e manutenção, além
de meios de participação e os produtos tendem a ser culturais e não materiais13.
Buscou-se nesse tópico dar uma visão geral sobre o tema em estudo a partir
da conceituação da Conscienciologia e do termo comunidade.

10
FICHTER, J.H. Definições para uso didático. In: FERNANDES, Florestan (org.). Comunidade e
sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo:
Companhia Editora Nacional; Editora da USP, 1973, p. 154.
11
ELIAS, Norbert. SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de
poder a partir de uma pequena comunidade. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p.
165.
12
PARKER, Martin; FOURNIER, Valérie; & REEDY, Patrick. Dicionário de Alternativas: utopismo e
organização. Tradução de Cristina Cupertino. São Paulo: Octavo, 2012, p. 72.
13
LASH, Scott. A reflexividade e seus duplos: estrutura, estética, comunidade. In: BECK, Ulrich.
GIDDENS, Anthony. LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem
social moderna. Tradução de Magda Lopes. 2. Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012, p. 247-248.
39

1.2 Percurso metodológico

Esse tópico objetiva traçar a caminhada percorrida entre o projeto e esta tese,
assim como apresentar estratégias metodológicas empregadas. O projeto inicial era
investigar o tema da migração a partir do método da História Oral (HO) centrado
principalmente nas narrativas dos migrantes, aliada ao método indiciário,
fundamentado em documentos da comunidade conscienciológica.
Na banca de qualificação, realizada em agosto de 2017, as contribuições dos
professores foram fundamentais para dar maior clareza sobre o objeto de estudo,
direcionando o foco para comunidade e a consequente necessidade de historicizá-la
no período anterior a Foz do Iguaçu.
Logo, em seguida, me afastei da comunidade conscienciológica, no período do
estágio no Exterior, no Centro de História da Universidade de Lisboa, de setembro a
dezembro de 2017. Foi um período de imersão no levantamento e na leitura de
referências bibliográficas. Destaco principalmente a contribuição teórica da migração
por estilo de vida para essa tese. Do ponto de vista metodológico, a contribuição
veio do co-orientador estrangeiro, José Manuel Soares Damião Rodrigues, que
sugeriu a aplicação de um questionário, pois o objeto de estudo tratava de uma
comunidade. Tal ideia enriqueceu a pesquisa. O questionário atende pelo menos
duas funções: descrever as características e medir variáveis de um grupo social14.
No caso desta investigação, o enfoque foi preponderantemente na primeira função.
Elaborei o questionário durante o período do estágio, a partir da inspiração
sociográfica das seguintes fontes: o livro “Os Retornados: um estudo sociográfico”,
de R. Pena Pires e outros (1987), o livro “Contrastes e Continuidades: migração,
etnicidade e integração dos guineenses em Portugal”, de Fernando Luís Machado
(2002) bem como o site na internet do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Tive a oportunidade de contar com a revisão do questionário pelo professor
João Manuel Moreira, também da Universidade de Lisboa, da Faculdade de
Psicologia, especialista em questionários. A partir da sua sugestão, algumas
respostas das questões assumiram um caráter mais detalhado a partir da aplicação
da “Escala Likert”, a qual usualmente utiliza cinco alternativas de resposta, que são

14
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2012, p. 189.
40

níveis de intensidade ou gradação, por exemplo: nenhuma, pouca, mediana, muita e


extrema.
Em 2018, dediquei-me a elaborar o projeto de pesquisa e submetê-lo ao
Comitê de Ética, sob a orientação de Oscar Kenji Nihei, obtendo aprovação. Foi
realizado pré-teste e aplicado o questionário na comunidade conscienciológica por
quase 2 meses. Em seguida, foi tabulado os resultados encontrados. Iniciei as
entrevistas e transcrições no final de 2018. No entanto, foi necessário parar
temporariamente com a pesquisa para submeter mais artigos às revistas científicas
em função da demora nas respostas dos periódicos acadêmicos.
Em final de março de 2019, as entrevistas foram retomadas. A proposta inicial
de 12 entrevistas acabou sendo reduzida para a metade em função do prazo para o
término da tese. O segundo semestre de 2019 até o início de 2020 foram dedicados
à escrita da tese.
Este estudo se utilizou da proposta metodológica da micro-história. Este
método fundamenta-se no paradigma indiciário descrito por Carlo Ginzburg 15 . A
micro-história se dedicou preferencialmente sobre temas deixados à margem, tais
como história de indivíduos, comunidades e enredos envolvendo gente comum.
Possibilitou certa “antropologização” da história assim como valorizou a narrativa. O
paradigma indiciário abrange “disciplinas eminentemente qualitativas, que têm por
objeto casos, situações e documentos individuais, enquanto individuais, [...]”16
Uma coletânea de indícios foi inventariada no decorrer dos capítulos, a partir
dos passos ginzburguianos, a fim de sistematizar características da comunidade
conscienciológica ao final do texto. Tal processo seguiu o entendimento de
“pesquisa como prática artesanalmente construída.”17
Trata-se de uma pesquisa empírica. O paradigma indiciário fundamenta-se nos
fatos sem ter num primeiro momento necessariamente uma teoria clara e objetiva
em mente. A conjectura se baseia num conjunto de indícios, dados, elementos. A
partir da concatenação dos fatos, passa-se a elaboração de hipóteses18.

15
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: _____. Mitos, emblemas, sinais.
Tradução de Federico Carotti. 2. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 143-179.
16
GINZBURG, 2002, p. 156, grifos do autor.
17
OLIVEIRA, 2001, p. 19.
18
DURAND, Jorge. A arte de pesquisar sobre migrações: pressupostos metodológicos para a
pesquisa em ciências sociais. In: _____; LUSSI, Carmem. Metodologia e Teoria no estudo das
migrações. Jundiaí, SP: Paço Editorial, 2015, p. 18.
41

Algumas das estratégias da micro-história foram aplicadas nessa pesquisa: a


primeira foi utilizar o nome próprio, uma marca individual, a fim de conhecer
indivíduos percebidos em suas relações com outros indivíduos. Tal recurso foi
utilizado por exemplo a partir da pesquisa oral temática, com o consentimento dos
entrevistados. A segunda, também por meio das entrevistas temáticas, foi
acompanhar itinerários individuais que fazem aparecer a multiplicidade de
experiências, reconstruindo percursos geográficos, comportamentos demográficos,
estratégias relacionais, por exemplo, do grupo migrante. A terceira, o entendimento
da experiência de indivíduos e comunidade desse estudo como uma modulação
particular e original de alguns aspectos da história global e não como uma versão
atenuada ou parcial de realidades macrossociais19.
“A mudança da escala de análise é essencial para a definição da micro-
história”20. O objeto do presente estudo foi concebido no esforço de alternar a escala
de observação como uma estratégia de conhecimento: “variar a objetiva” 21 ,
aumentando o tamanho do objeto no visor, até chegar, quando possível a outras
referências, como estratégia de iluminação da caracterização e originalidade do
objeto em estudo. Buscou-se exercitar essa estratégia de conhecimento. No entanto,
seguindo a orientação do próprio Revel22, a tendência foi valorizar a redução da
escala, pois é na análise microssocial “que a experiência mais elementar, a do grupo
restrito, e até mesmo do indivíduo, é a mais esclarecedora porque é a mais
complexa e porque se inscreve no maior número de contextos diferentes”.
Uma outra estratégia metodológica adotada foi a seguinte: “O modelo ideal da
exposição micro-histórica consiste, assim, em descrever e interpretar os discursos
contidos nas fontes, em perspectiva microscópica, [...], importa cotejar versões do
mesmo episódio.” 23 Tal procedimento foi aplicado em sintonia com o método da
história oral temática. Procurou-se cruzar as fontes de pesquisa: os enunciados dos
informantes; os documentos endógenos da comunidade; as notícias em periódicos
locais, estaduais, nacionais e internacionais; e os resultados do questionário.

19
REVEL, Jacques. Microanálise e construção social. In: _____ (Org.). Jogos de escalas: a
experiência da microanálise. Tradução Dora Rocha. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998,
p. 21, 22, 28.
20
REVEL, 1998, p. 19.
21
REVEL, 1998, p. 20.
22
REVEL, 1998, p. 32.
23
VAINFAS, Ronaldo. A micro-história nos bastidores. In: _____. Os protagonistas anônimos da
história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 126.
42

A aplicação desse cruzamento de fontes seguiu o entendimento de Michael


24
Pollack de que a história social quantificada e a história oral, campos
aparentemente opostos, apresentam continuidade. Além disso, buscou-se um
controle das informações orais realizando o cruzamento com as fontes documentais
tanto endógenas quanto externas. Conforme alerta Pollack, tal procedimento tem
limites, pois “se pretendermos controlar todos os dados, será muito difícil realizar
isso na prática.”25
Por se tratar de história contemporânea, esse estudo encontrou dificuldades
em cruzar as informações com fontes externas, dispondo-se principalmente de
jornais e revistas. Aí encontram-se inconvenientes, pois periódicos “são
considerados fontes de terceira ou quarta categoria”.26
Quanto ao modo de exposição, a presente pesquisa seguiu o estilo adotado
por Giovanni Levi27, em seu livro “A Herança Imaterial”, especialmente os capítulos
2, 3 e 4, nos quais foram privilegiados os aspectos descritivos da comunidade
conscienciológica.
Sobre esses aspectos descritivos, vale enfatizar a herança antropológica de
Clifford Geertz para a micro-história. A antropologia interpretativista, particularmente
a “descrição densa” conforme entendida por Geertz possui laços próximos ligando a
história à antropologia.28
De acordo com Clifford Geertz29, em antropologia social, o que os praticantes
fazem é a etnografia. Mas, o que a define é, mais do que técnicas e procedimentos,
o tipo de esforço intelectual que ele representa, uma descrição densa. “A etnografia
é uma descrição densa.”30
Essa descrição etnográfica é interpretativa do fluxo do discurso social. A
interpretação “consiste em tentar salvar o ‘dito’ num tal discurso da sua possibilidade
31
de extinguir-se e fixá-lo em formas pesquisáveis.” Além disso, uma outra

24
POLLACK, Michel. Memória e identidade social. Estudos históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10,
1992, p. 208. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/issue/view/276. Acesso
em: out. 2017.
25
POLLACK, 1992, p. 208.
26
POLLACK, 1992, p. 212.
27
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
28
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter. (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 2011, p. 143.
29
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1989, p. 4.
30
GEERTZ, 1989, p. 7.
31
GEERTZ, 1989, p. 15.
43

característica é que ela é microscópica. Em oposição ao estudo de civilizações,


sociedade inteiras e acontecimentos mundiais, o estudo de um “microcosmo” é
resumido do seguinte modo por Geertz: “Os antropólogos não estudam as aldeias
(tribos, cidades, vizinhanças...), eles estudam nas aldeias.” 32 O etnógrafo busca
compreender a multiplicidade de estruturas conceptuais complexas: primeiro
apreendê-las e depois apresentá-las.33
Giovanni Levi afirma a afinidade da antropologia interpretativa com a micro-
história, embora ressalte diferenças. A principal delas é que a antropologia
interpretativa “enxerga um significado homogêneo nos sinais e símbolos públicos,
enquanto que a micro-história busca defini-los e medi-los com referência à
multiplicidade das representações sociais que eles produzem.”34
Levi considera o sistema de Geertz incompleto, por isso afirma não ser
suficiente limitar a discussão ao funcionamento simbólico, tendo como base a
definição geertiziana de cultura como uma busca infinita de informação. Levi
entende que é necessário “formalizar os mecanismos de racionalidade limitada”,
sendo que seus limites variam com os vários modos de acesso à informação, a fim
de possibilitar o entendimento das diferenças entre as culturas dos indivíduos,
grupos e sociedade em épocas e locais diversos.35
Uma outra diferença entre a Micro-história e a Antropologia é que esta se
instala no tempo presente e a primeira possibilita o acesso ao passado. A etnografia
no presente mascara as contradições, as rupturas, os solavancos da vida social.36
Assim, essa tese lançou mão da descrição densa, partindo das orientações do
antropólogo Clifford Geertz, porém seguindo os passos sugeridos pelos micro-
historiadores. E, por último, vale mencionar que, de modo específico e circunscrito,
aplicou-se alguns dispositivos metodológicos para interpretar imagens fotográficas,
conforme as orientações da pesquisadora Ana Maria Mauad, a serem apresentados
mais adiante.
Assim, a trajetória da pesquisa procura estabelecer um diálogo entre a micro-
história, a história social quantificada e a pesquisa oral temática.

32
GEERTZ, 1989, p. 16, grifo do autor.
33
GEERTZ, 1989, p. 7.
34
LEVI, 2011, p. 151.
35
LEVI, 2011, p. 152.
36
BENSA, Riban. Da micro-história a uma antropologia crítica. In: REVEL, Jacques (Org.). Jogos de
escalas: a experiência da microanálise. Tradução Dora Rocha. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1998, p. 54.
44

1.3 Fontes de pesquisa

São as seguintes as fontes de pesquisa: questionário, entrevistas e


documentos.

1.3.1 Questionário

Partindo da premissa de que os membros da comunidade conscienciológica


em Foz do Iguaçu são majoritariamente migrantes, ou seja, não nasceram no
município de Foz, tendo mudado para este local provenientes de diversos
municípios brasileiros e também do Exterior, a elaboração do questionário foi
dedicada exclusivamente àqueles voluntários-migrantes motivados pela
Conscienciologia. Pois, existe uma parcela pequena, talvez uma ou duas dezenas,
de voluntários-migrantes que mudaram para Foz do Iguaçu atraídos por outros
motivos sem ser a Conscienciologia. Dessa forma, esse pequeno público não foi o
alvo do questionário. Assim, os participantes da pesquisa foram: migrantes
brasileiros e imigrantes estrangeiros, da Comunidade Conscienciológica de Foz do
Iguaçu, no Estado do Paraná, com idade igual ou superior a 18 anos.

1.3.1.1 Coleta de dados

Busquei a autorização para aplicação do questionário na União das Instituições


Conscienciocêntricas Internacionais (UNICIN). Esta instituição foi fundada em 2005,
sediada em Foz do Iguaçu, com objetivo de promover a integração da comunidade
conscienciológica, tendo o papel de representatividade da comunidade e das
instituições da Conscienciologia que fazem parte da comunidade, perante a
sociedade em geral.
Após a apresentação do questionário para os membros da UNICIN, em reunião
no dia 03 de abril de 2018, me foi solicitada a exposição da proposta da pesquisa no
Conselho das Instituições Conscienciocêntricas (ICs). Este Conselho reúne-se uma
vez por mês, sendo formado pelos coordenadores gerais das ICs, e dirigido por
membros da UNICIN, com objetivo de apresentar, compartilhar e deliberar sobre
questões gerais da comunidade e das ICs.
45

Apresentei a proposta da pesquisa no Conselho das ICs no dia 08 de abril de


2018, tendo recebido um feedback positivo para fazer a investigação. Retornei a
este Conselho no dia 10 de junho, quando apresentei a aprovação emitida pelo
Parecer do Comitê de Ética (ver ANEXO A) e solicitei apoio dos gestores das
instituições para participação, assim como divulgação entre os voluntários das suas
respectivas ICs.
Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Parecer N. 2.625.817 de
27 de abril de 2018 (CAAE 87240918.7.0000.0107) –, e pelo Conselho de ICs – 08
de abril e 10 de junho de 2018, a pesquisa teve início.
O período de aplicação do questionário foi de 06 de julho até 31 de agosto de
2018. O questionário foi elaborado a partir de plataforma do formulário Google. Foi
realizado pré-teste do questionário com 3 sujeitos de pesquisa, que receberam o link
do questionário por e-mail, tendo-o respondido e feito comentários sobre as
perguntas. Após incorporar sugestões dessas 3 pessoas, se iniciou a divulgação da
pesquisa. Os resultados do pré-teste não foram utilizados na pesquisa, assim como
os 3 sujeitos também não participaram da pesquisa posteriormente.
Grande parte do envio dos e-mails foi realizado a partir de banco de dados da
União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais (UNICIN). A UNICIN
enviou cerca de 700 e-mails, sendo alguns repetidos para os mesmos voluntários,
no período de 06 de julho a 17 de julho de 2018. Eu mesma cheguei a enviar em
torno de 700 links da pesquisa, a maioria via e-mail, mas também por mensagem de
whatsApp, com repetições para o mesmo e-mail, durante todo o período de
aplicação. Também contei com a colaboração do CEAEC, cujo secretário-geral
enviou por volta de 500 e-mails predominantemente no final do período, no dia 13 de
agosto de 2018.
Com a finalidade de divulgação da pesquisa, enviei e-mail para a coordenação
de vinte e uma instituições conscienciocêntricas sediadas em Foz do Iguaçu,
solicitando ponto de pauta em reuniões administrativas dos voluntários. Participei da
reunião de doze instituições explicando o propósito do questionário e solicitando
adesão aos interessados.
Também participei de dois encontros regulares dos voluntários para debate de
ideias (Calepino Conscienciológico e Círculo Mentalsomático) esclarecendo o
objetivo da pesquisa. Além dessas instâncias, foram enviados e-mail para oito pré-
46

instituições conscienciocêntricas, ou seja, organizações ainda em formação, sem o


cadastro nacional de pessoa jurídica (CNPJ). Dentre elas, sete responderam o
chamado, tendo obtido adesão do coordenador e de seus voluntários.
Os sujeitos foram convidados e incluídos na pesquisa conforme amostragem
de conveniência, sem preocupações em generalizar os resultados, somente
objetivando descrever as características principais do grupo em estudo. O
procedimento desse tipo de amostragem busca pessoas voluntárias em participar ou
que frequentam determinado local 37 . Além disso, foram incluídos na pesquisa
apenas os participantes que cumpriam os critérios de inclusão e que concordaram
com o Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido (TCLE) eletrônico, após serem
informados sobre os objetivos da pesquisa.
Portanto, em síntese, os critérios de inclusão na pesquisa foram migrantes
brasileiros e imigrantes estrangeiros, da Comunidade Conscienciológica de Foz do
Iguaçu - PR, com idade igual ou superior a 18 anos, que concordaram com o Termo
de Esclarecimento Livre e Esclarecido (TCLE) após serem informados sobre os
objetivos da pesquisa e os sujeitos alfabetizados.

1.3.1.2 Instrumento de pesquisa

O questionário foi estruturado no idioma português, contendo questões abertas


(32 questões) e fechadas (45 questões). A composição mista de perguntas abertas e
fechadas buscou atender aos benefícios trazidos por ambos os tipos: a codificação
mais fácil a partir das questões fechadas e, ao mesmo tempo, a maior liberdade ao
respondente para expressar suas opiniões, com as perguntas abertas. Além disso,
as questões abertas possibilitam ao pesquisador adquirir mais informações sobre o
tema 38 . Entende-se por questão aberta, aquelas em que o respondente podia
escrever um texto de resposta curta e aquelas que continham a opção “outros” na
qual o participante poderia escrever a sua opção de resposta. E por questão
fechada, aquelas em que o sujeito se limita a assinalar as opções que lhe são
propostas.

37
TORRES, Tania Z. Guillén de. MAGNANINI, Monica M. F., & LUIZ, Ronir R. Amostragem. In:
MEDRONHO, Roberto A. (Org.). Epidemiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2008, p. 413.
38
RICHARDSON et al., 2012, p. 194-195.
47

O questionário continha, primeiro, um Convite à participação, e em seguida, o


Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com 01 questão. Na
sequência, 5 seções, a saber: Seção 1: Dados sócio-demográficos (19 questões),
Seção 2: Conscienciologia (8 questões), Seção 3: Migração para Foz do Iguaçu (18
questões), Seção 4: Convivialidade (10 questões) e Seção 5: Comunidade
Conscienciológica (21 questões), totalizando 77 questões (52 obrigatórias e 25 não-
obrigatórias).
Conforme mencionado, o questionário foi elaborado a partir do referencial
sociográfico utilizado nos livros “Os Retornados: um estudo sociográfico” de R. Pena
Pires e outros (1987) e “Contrastes e Continuidades: migração, etnicidade e
integração dos guineenses em Portugal”, de Fernando Luís Machado (2002).

1.3.1.3 Interação Questionário e Escala

É importante esclarecer o conceito de questionário e de escala uma vez que o


questionário do presente estudo foi construído a partir da interação entre esses dois
instrumentos. Escala é “um conjunto de questões ou itens através dos quais se
pretende medir uma determinada característica numa população de indivíduos” 39
enquanto que questionário é um conjunto de questões associados numa mesma
folha de caderno40. Desse modo, um questionário pode ter várias escalas.
O questionário aplicado na comunidade conscienciológica pode ser classificado
como multidimensional, pois possui mais de uma escala. As questões 71 e 72
correspondem a uma adaptação da Escala de Importância da Comunidade (EIC)
apresentada na dissertação de mestrado de Liliana Marante, defendida em 2010 na
Universidade de Lisboa. Tal escala foi construída pelos professores da Universidade
de Lisboa, João Moreira e Wolfgang Lind, com base numa reflexão sobre zonas de
residência ou bairros apenas utilizados com a função de dormitório41.

39
MOREIRA, João M. Questionários: teoria e prática. Coimbra: Almedina, 2009, p. 115.
40
MOREIRA, 2009, p. 115.
41
MARANTE, Liliana R. P. A reconstrução do sentido de comunidade: implicações teórico-
metodológicas no trabalho sobre a experiência de sentido de comunidade. 2010. 65 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010, p. 22 e
60.
48

E a questão 73 corresponde a “Escala Breve de Sentido de Comunidade”


(EBSC), que é uma adaptação portuguesa da Brief Sense of Community Scale
(BSCS), elaborada por Liliana Marante.42

1.3.1.4 Tratamento dos dados

Trezentos e sessenta e oito participantes responderam o questionário. A


estatística descritiva foi realizada através do programa Excel (Apple, EUA, versão
2011). Primeiro, foi feita uma revisão dos dados na tabela do Excel. Foi identificada
uma inconsistência nas respostas de 19 sujeitos, no cruzamento de duas questões
do questionário, a saber: “Em que ano você ouviu falar da “comunidade
conscienciológica” em Foz do Iguaçu pela 1a. vez?” e “Em que ano você se mudou
para Foz do Iguaçu?”
O que significou essa inconsistência? Por exemplo, um sujeito respondeu que
se mudou para Foz do Iguaçu antes de 1995, mas ouviu falar da “comunidade
conscienciológica” em Foz do Iguaçu pela primeira vez em 2007. Como o
questionário foi direcionado para aqueles voluntários que migraram para Foz do
Iguaçu pelo motivo da Conscienciologia, a resposta mencionada acima foi
considerada inconsistente.
No dia 07 de setembro de 2018, entrei em contato por e-mail com esses 19
sujeitos pedindo esclarecimento sobre as respostas e solicitando um retorno até o
dia 15 de setembro. Dos 19 sujeitos, 17 responderam: 11 corrigiram as respostas
pois haviam cometido erro de digitação e 6 foram excluídos por terem, ou nascido
em Foz do Iguaçu ou terem mudado para Foz por outro motivo. Sendo assim, do
total de 368 participantes, 08 foram excluídos (os 06 que não se encontravam no
público-alvo do questionário e 02 que não responderam o e-mail), totalizando para
análise, 360 respostas.
A partir deste momento, a coluna do Excel com os e-mails dos respondentes foi
excluída, impossibilitando qualquer identificação das respostas. Deu-se início à
tabulação e processamento inicial dos dados. Os totais e percentuais das respostas
foram copiados para tabelas no programa Word (Apple, EUA, versão 2011).

42
MARANTE, 2010, p. 21 e 60.
49

Após a tabulação, foi feita a formatação das tabelas de acordo com as normas
da ABNT. E por fim, uma revisão geral dos dados das tabelas com a planilha de
Excel.
Esses resultados numéricos serão utilizados no decorrer da tese na forma de
tabelas com o propósito de descrever as características da comunidade
conscienciológica e não realizar análise de variáveis do ponto de vista da estatística
inferencial, exceto a questão 33, sobre os motivos da migração, na qual foi aplicada
a técnica estatística da análise fatorial. O objetivo foi avaliar se a migração
conscienciológica poderia ser considerada um subtipo da migração por estilo de vida
(lifestyle migration). O resultado será apresentado no capítulo 5.
Os dados da seção 2 do questionário, “Conscienciologia”, se encontram
dispersos pelos capítulos na medida em que a discussão os exige. Os dados da
seção 1 “Dados sócio-demográficos” e seção 3 “Migração para Foz do Iguaçu” do
questionário são debatidos no capítulo 5. E os dados da seção 4 “Convivialidade” e
seção 5 “Comunidade Conscienciológica” estão no capítulo 6.
O detalhamento do campo “outro” das tabelas foi exposto quando se julgou
esclarecedor ao tema em discussão.

1.3.2 Entrevistas

As entrevistas foram conduzidas a partir do referencial metodológico da


História Oral (HO). As entrevistas foram classificadas como pesquisa oral temática,
ou seja, aquelas que tratam da participação do entrevistado no tema escolhido. As
pessoas são aquelas que participaram ou testemunharam acontecimentos, visões
de mundo, como meio de se aproximar do objeto de estudo, a comunidade
conscienciológica. Muitas pessoas poderiam ter sido entrevistadas, mas devido à
necessidade de adequação ao recorte da pesquisa assim como ao tempo disponível
para realizá-la, foram feitas 6 entrevistas. Nesse contexto, importa lembrar que “a
escolha dos entrevistados de uma pesquisa de história oral segue critérios
qualitativos, e não quantitativos”43. Os informantes foram selecionados por estarem
munidos de informações sobre determinado acontecimento da comunidade. Adiante,
na descrição do perfil de cada um, será explicitada a justificativa.

43
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 3. Ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio
Vargas, 2013, p. 45.
50

1.3.2.1 Coleta de dados

Todos os informantes assinaram o Termo de Doação de Entrevista,


autorizando o uso da sua fala e dos seus nomes na tese e em qualquer publicação
referente à pesquisa. Além desse documento, todos os informantes assinaram um
segundo documento, também denominado, Termo de Doação de Entrevista,
cedendo à Biblioteca Internacional da Conscienciologia, do Departamento Holociclo,
do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC) os direitos de uso e
divulgação do conteúdo da gravação e a transcrição da entrevista. Esse segundo
documento objetivou disponibilizar para a comunidade conscienciológica, de modo
institucional, amplo e irrestrito, as lembranças e experiências dos seus participantes.
Após um primeiro contato esclarecendo os objetivos da entrevista e com a
concordância em participar, foi feito um segundo contato fornecendo uma cópia do
questionário impresso, explicando para a pessoa que a entrevista iria tomar como
base as questões do questionário, que poderia ser preenchido ou não. A partir daí
era agendada a entrevista. Todos os contatos foram feitos pessoalmente.
Para cada informante foi elaborado um roteiro de perguntas, considerando a
sua experiência de vida em relação à comunidade conscienciológica. Porém, isso
que estou chamando de entrevista caracterizou-se mais como uma conversa. Em
tais diálogos, surgiram questões específicas com cada informante. Desse modo,
procurou-se seguir a seguinte orientação metodológica: “É o entrevistado, então,
que imprime o tom à entrevista e cabe ao entrevistador aprender seu estilo para
adequar seu próprio desempenho àquela relação específica” 44 . Daí ter sido
inevitável surgirem novas perguntas no momento da entrevista, “procurando ajustar
o diálogo com base nos dados que lhe fornece o entrevistado a respeito de si
mesmo e de suas limitações”45.
Por isso esses roteiros não foram inseridos em apêndice, uma vez que não
retrataram a conversa que se desenvolveu. No entanto, alguns temas colocados na
forma de perguntas se repetiram, por exemplo: a chegada na Conscienciologia, o
processo de se tornar voluntário, a experiência da migração para Foz do Iguaçu e o
sentimento em relação à comunidade conscienciológica. Somente o roteiro do último

44
ALBERTI, 2013, p. 191.
45
ALBERTI, 2013, p. 191.
51

informante não englobou o tema da migração, por não ser morador de Foz do
Iguaçu.
Ainda sobre a relação interpessoal na entrevista, gostaria de destacar que
foram formuladas perguntas abertas, dando margem ao entrevistado para fornecer
seu ponto de vista. Busquei ouvir mais, contudo também conduzindo a conversa,
falando e perguntando. A escolha pela entrevista diretiva tem como fundamento a
“crença de que uma entrevista conduzida em forma de conversa, na medida do
possível prolongada, produz melhores resultados do que aquela em que o
pesquisador não intervém diretamente”46.
O local de cinco entrevistas foi a própria casa do informante visando com que
ele se sentisse bem à vontade. A última entrevista foi realizada nas dependências do
CEAEC, pois o entrevistado não é morador de Foz do Iguaçu. Buscou-se um
ambiente de privacidade e de interconfiança 47 . Com exceção de um deles, que
questionou a possibilidade do meu esposo estar presente, as demais entrevistas
contaram com a presença apenas da entrevistadora e do(s) entrevistado(s).
As entrevistas foram feitas na sala ou no escritório do entrevistado, em
ambiente silencioso, sentados ao redor de uma mesa, olhando-nos de frente e de
perto. “O recurso à mesa se justifica devido ao manuseio do equipamento de
gravação”. No caso, um celular foi utilizado como gravador junto com um ipad
(gravador de backup), além de “acomodar o material de pesquisa, o roteiro e as
folhas suplementares em que fazem anotações”, havia o caderno de campo e o
roteiro da entrevista, caso fosse necessário48.
No caderno de campo deve ser “registrado todo tipo de observação a respeito
do entrevistado e da relação que com ele se estabeleceu”49. Utilizei-o antes, durante
e depois da entrevista, a fim de registrar o histórico de contato com cada
entrevistado(a), as circunstâncias do primeiro contato, os gestos e as reações dos
entrevistados a determinadas perguntas, interrupções, nomes mencionados durante
a entrevista, ideias advindas no momento da transcrição sobre o objeto de estudo e
tempo despendido nas transcrições.
Quanto à relação entre entrevistadora e entrevistados, não houve um
estranhamento inicial comum quando duas pessoas não se conhecem. Os

46
ALBERTI, 2013, p. 212.
47
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1988, p. 265.
48
ALBERTI, 2013, 196-197.
49
ALBERTI, 2013, p. 187.
52

informantes fazem parte do meu círculo social, com exceção do entrevistado não
morador de Foz do Iguaçu.
No início da entrevista, preenchi o formulário “Ficha com Dados do
Entrevistado” junto com o entrevistado, levantando as seguintes informações: nome
completo, data de nascimento, ocupação do pai, ocupação da mãe, irmãos, irmãs,
formação escolar e acadêmica, atividades profissionais, residências e datas, ano de
casamento, ocupação do(a) marido/esposa e filhos50. O objetivo dessa ficha é “situar
aquele que fala, de que ponto de vista está emitindo suas opiniões e fornecendo
informações”51.
As entrevistas foram realizadas entre outubro de 2018 e junho de 2019, de
modo intermitente. Em outubro, foi feita a primeira entrevista e o contato de outra.
Porém, foi necessário interrompê-las para realizar a tabulação dos resultados do
questionário, assim como a escrita de artigos para serem submetidos às revistas
acadêmicas. O processo foi retomado em março e a última transcrição entregue em
junho para revisão pelos informantes. O perfil dos entrevistados será apresentado a
seguir, tendo seus nomes em negrito.
A primeira entrevista foi com José Domingos Santos Neto. É um homem alto,
magro, com barba e cabelos grisalhos, sorriso largo, olhos arredondados, afro-
descendente, de 60 anos de idade. Nasceu na Tijuca, no Rio de Janeiro, cujo pai foi
funcionário público e a mãe, do lar. Possui uma irmã mais velha, professora
aposentada do Estado. Completou o ensino médio, com formação em desenho
técnico tanto na área industrial quanto na construção civil. Atua profissionalmente
como corretor de imóveis. Tem 1 filho de 15 anos fruto da união estável com
Solange no Rio de Janeiro. Morou em 3 cidades diferentes no Estado do Rio de
Janeiro antes de se mudar para Foz do Iguaçu, em 2017. Hoje, possui união estável
com Neide, cuja ocupação é projetista de móveis. Reside e trabalha
profissionalmente no bairro Cognópolis.
A entrevista foi no dia 19 de outubro de 2018, uma sexta-feira pela manhã.
Domingos me recebeu na sala da sua casa e conversamos ao redor de uma mesa
repleta de fotografias. Domingos fazia, de modo voluntário, o registro fotográfico das
reuniões e eventos da Projeciologia e Conscienciologia. “Eu fazia essas fotografias

50
THOMPSON, 1988, p. 284; ALBERTI, 2013, p. 365, 369.
51
ALBERTI, 2013, p. 365.
53

com sentido até pessoal meu. Hoje está servindo aí para ajudar todo mundo.” 52
Ainda comenta com orgulho: “Eu tenho fotos dos cursos que eu fazia, [e tenho
também] as máquinas que eu tirei as fotos: a Smena Symbol, a Zenit e a outra.”53
Domingos autorizou que eu batesse, com meu celular, fotos das fotografias dele.
Domingos me devolveu o questionário preenchido. É morador do campus
Discernimentum, contíguo ao CEAEC. A escolha por entrevistar o Domingos deu-se
pelo fato dele ser a primeira pessoa a chegar na Projeciologia, no Rio de Janeiro, e
que hoje mora na comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu. Teve seu
primeiro contato com a Projeciologia/Conscienciologia em 1984. Além disso, possui
um acervo de fotografias desde o início dos trabalhos de divulgação de Waldo
Vieira. Eu conheço o Domingos desde 1986, quando nos encontramos em uma
palestra pública ministrada por Waldo Vieira em seu apartamento no Rio de Janeiro.
Neide apareceu ao final da entrevista e me ofereceu um delicioso doce de goiaba.
O segundo entrevistado foi Alexander Miraglia Steiner. É um homem de
estatura média, magro, sem barba, também de sorriso aberto e de sobrancelhas
grossas, descendente europeu, de 49 anos de idade. Nasceu no Rio de Janeiro,
cujo pai foi técnico em contabilidade (hoje aposentado e residente com Alexander) e
a mãe era do lar. Possui um irmão, engenheiro de minas e especialista em
informática, e uma irmã, psicóloga. É médico, atuando como ultrassonografista na
área privada e clínico geral na rede pública de saúde de Foz do Iguaçu. Viveu em 11
cidades diferentes dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e
Paraná, até mudar para Foz do Iguaçu, em 2004. Possui 2 filhos, uma de 9 anos e
outro de 2 anos de idade, frutos da união estável com Cecília, que atua na profissão
de professora universitária. Reside na Cognópolis.
A entrevista ocorreu no dia 29 de março de 2019, uma sexta-feira à noite.
Alexander nos recebeu, eu e meu esposo, Pedro, de modo acolhedor nos mostrando
sua casa junto com seu pai. Sentamos para conversar no escritório ao redor de uma
mesa, tendo eu e o Pedro como entrevistadores. Pedro foi me acompanhando nesta
entrevista, pois o Alexander perguntou se ele iria; eles trabalham na mesma
empresa. A opção de entrevistar o Alexander foi devido a ele ser um dos voluntários
mais antigos da Conscienciologia do Rio de Janeiro, morador da comunidade em

52
SANTOS NETO, José Domingos. Entrevista concedida em 19/10/2018 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
53
SANTOS NETO, José Domingos. Entrevista concedida em 19/10/2018 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
54

Foz do Iguaçu, tendo sido o primeiro a presidir o Instituto Internacional de


Projeciologia e Conscienciologia (IIPC) depois de Waldo Vieira e ter estado à frente,
na liderança da migração institucional dos voluntários da sede do IIPC do Rio de
Janeiro para Foz do Iguaçu, em 2004. Alexander também realizou trabalho
voluntário em proximidade à Waldo Vieira no Rio de Janeiro. Alexander teve seu
primeiro contato com a Projeciologia em 1986. Eu o conheci nesse mesmo ano, a
partir das palestras públicas que Vieira realizava no seu apartamento no Rio de
Janeiro.
Durante a entrevista, me doou uma cópia de dois documentos utilizados na
primeira instituição fundada por Vieira e me mostrou o primeiro notebook de Waldo
Vieira (um “286”), onde segundo ele, Waldo escreveu parte do livro “700
Experimentos da Conscienciologia”. Dias depois da realização da entrevista,
buscando fotografias para preparar uma apresentação para seu aniversário de 50
anos, Alexander encontrou negativos antigos da época da fundação do Instituto
Internacional de Projeciologia (IIP) entre os seus pertences. Ele me emprestou os
negativos a partir dos quais pude revelar todas as 74 fotografias.
O terceiro entrevistado foi Moacir Lima Gonçalves. É um homem alto, magro,
dotado de uma risada singular e contagiante de alegria, de barba e cabelos
grisalhos, descendente europeu, de 76 anos de idade. Nasceu na Mococa, em São
Paulo. O pai foi administrador de fazenda e depois taxista na cidade; a mãe foi do
lar. Possui 5 irmãos, sendo que 3 ainda estão vivos, e duas irmãs, que já faleceram.
Possui formação superior incompleta, tendo cursado até o 3o. ano de Economia.
Posteriormente, chegou a ingressar por duas vezes no curso de Psicologia, mas
desistiu. Quando morava em São Paulo, trabalhou na indústria automobilística como
tipógrafo. Hoje está aposentado. Residiu na Mococa, em Campinas, em São Paulo,
depois foi para São Bernardo do Campo, voltou para São Paulo, e por fim mudou
para Foz do Iguaçu, em 1995. Possui 3 filhos do primeiro casamento que durou em
torno de 23 anos, sendo dois filhos naturais e um adotivo (registrado). Hoje, possui
união estável com Rosemary, economista e empresária. Reside na Cognópolis há
24 anos.
A entrevista foi no dia 18 de abril de 2019, uma quinta-feira à tarde. Moacir me
recebeu na sua casa com seu habitual bom humor e conversamos ao redor da mesa
do seu escritório. Interessante comentar a respeito de um quadro na parede do seu
escritório com uma caricatura dele com uma máquina fotográfica. O Moacir fez, de
55

modo voluntário, o registro fotográfico da construção do CEAEC assim como dos


eventos ocorridos no CEAEC. “Eu calculo que eu deva ter nos meus computadores
mais de 120.000 fotos. E fora o que eu já mandei para Holoteca.”54
Moacir me devolveu o questionário preenchido. Nesta entrevista, levei os
documentos que o entrevistado anterior, Alexander, havia me cedido. Eram
formulários utilizados nas reuniões de experimentos com bioenergias realizadas em
São Paulo. O objetivo de mostrar tais formulários para Moacir era saber se ele os
conhecia e, caso positivo, quais lembranças poderia ter acerca disso. A escolha do
Moacir para ser entrevistado deu-se pelo fato de ele ter sido o primeiro voluntário da
Conscienciologia morador da Cognópolis, tendo mudado para Foz do Iguaçu e se
instalado desde o primeiro dia de chegada, dentro no campus CEAEC. Além disso, é
o voluntário mais antigo da Conscienciologia, que está vivo e integrante da
comunidade conscienciológica, pois teve seu primeiro contato com Waldo Vieira em
1982. Eu conheço o Moacir também desde 1986, pois apesar dele morar em São
Paulo, ele ia eventualmente nas palestras de Waldo Vieira no Rio de Janeiro.
Nara Regina Olmedo de Oliveira e Everton Souza dos Santos foram os
próximos entrevistados. Ambos de estatura média, magros, com cabelos grisalhos e
descendentes europeus. Ele possui barba grisalha e está com 58 anos de idade.
Nara, que está com 55 anos de idade, nasceu no Rio Grande (RS). Seu pai era
construtor e a mãe, do lar. Possui irmão e irmã mais novos do que ela, ambos
formados em educação física. Graduou-se em Serviço Social e fez mestrado em
Sociedade, Cultura e Fronteiras. Já atuou como assistente social, mas sua profissão
há 18 anos é docência universitária. Residiu no Rio Grande, em Porto Alegre, tendo
mudado para Foz do Iguaçu em 1996, juntamente com Everton, onde permaneceu
até o ano 2000, quando mudaram-se para o Rio de Janeiro, tendo retornado para
Foz do Iguaçu no final do mesmo ano.
Everton nasceu em Porto Alegre (RS), cujo pai foi fotogravador de jornal e a
mãe, costureira e modista. Possui um irmão mais velho e uma irmã mais nova,
ambos analistas de sistemas. Graduou-se em Arquitetura e fez especializações em
Arquitetura, Dinâmica de Grupo e Gestão de Recursos Humanos. Já trabalhou como
revisor de jornal e atua profissionalmente como professor universitário e profissional
liberal. Sempre viveu na sua cidade natal até mudar para Foz do Iguaçu em 1996,

54
GONÇALVES, Moacir Lima. Entrevista concedida em 18/04/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
56

onde permaneceu até o ano 2000, quando se mudou para o Rio de Janeiro,
retornando para Foz no final do mesmo ano. Everton e Nara casaram-se em 1988 e
não possuem filhos. Residem na Cognópolis, em um chalé, dentro do campus do
CEAEC.
A entrevista aconteceu no dia 17 de maio de 2019, sexta-feira à tarde.
Diferente dos entrevistados anteriores, no qual a entrevista ocorreu logo em seguida
ao primeiro contato, com o casal seguiu outro padrão. Conversei pela primeira vez
com a Nara em outubro de 2018, enquanto eu pesquisava na fototeca (coleção de
fotos) dentro da Holoteca, departamento do CEAEC, sobre fotos da construção do
CEAEC. Perguntei a ela a respeito de um documento que se encontrava em um
expositor da Holoteca com a história do CEAEC. Ela comentou que esse documento
havia sido produzido pelos voluntários de Porto Alegre, com a sua participação e do
seu esposo. Combinamos deles me contarem essa história oportunamente. Em
função de ainda estar tabulando os dados do questionário e ter que escrever artigos
para o cumprimento dos créditos do doutorado, não pude fazer a entrevista naquele
momento.
Depois, retomei o contato com Nara em abril de 2019, porém o casal só teve
disponibilidade para meados de maio. Fui recebida com uma mesa de lanche, com
direito à pães, geleia e chá. A residência parece uma casinha de boneca, repleta de
objetos e quadros, tudo muito bem organizado. O casal é responsável pelo
departamento da Holoteca do CEAEC e a casa deles parece ser uma extensão
desse departamento, onde se localizam centenas de coleções de objetos. Após
desfrutar de saboroso lanche, iniciamos a entrevista que durou em torno de 5 horas,
com 1 hora de interrupção, ocasião que aproveitamos para tomar mais chá. A
escolha do casal se deveu ao fato deles terem coordenado dois dos três grupos de
pesquisa, no IIP de Porto Alegre, em 1994, responsáveis pelo planejamento do
Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC), em Foz do Iguaçu. Ambos
tiveram o primeiro contato com as ideias da Conscienciologia em 1991. Eu passei a
ter mais contato com o casal a partir do ano 2000, mas os conheci em algum evento
no CEAEC, entre 1995 e 1998.
A sexta entrevista foi com Marco Antonio Pizarro. Ele é o único entrevistado
que não mudou para Foz do Iguaçu. Porém, resolvi entrevistá-lo por entender ser
uma oportunidade de conhecer a trajetória de um dos voluntários mais antigos da
Conscienciologia, com memórias acerca de eventos da Conscienciologia realizados
57

na cidade em que mora, São José dos Campos (SP), na década de 1980. A
oportunidade nasceu da coincidência dele ter vindo pela primeira vez ao CEAEC,
com o propósito de apresentar verbetes da “Enciclopédia da Conscienciologia”, e eu
estar encerrando o período de entrevistas. O primeiro contato dele com as ideias de
Waldo Vieira foi em 1983.
Marco é um homem de estatura baixa, magro, de cabelos grisalhos, sem
barba, dotado de um acentuado sotaque paulista, com 60 anos de idade. Nasceu em
Pirassununga, São Paulo. O pai foi comerciante e a mãe, do lar. Possui um irmão
mais velho, engenheiro civil e uma irmã mais nova, bióloga de formação, que atua
como comerciante. Graduou-se em engenharia elétrica, possui mestrado em
Sensoriamento Remoto e doutorado em Ciências pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA). Atua profissionalmente no Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), ligado à engenharia aeroespacial. Morou em Pirassununga, Rio
Claro e São Carlos. Reside atualmente em São José dos Campos. Casou-se, em
1987, com Ligia, professora aposentada. Possuem dois filhos, uma moça de 25
anos, formada em administração pública e um rapaz com 19 anos, acadêmico de
engenharia elétrica.
A entrevista ocorreu no dia 23 de maio de 2019, quinta-feira à tarde. Optei por
fazer a entrevista em uma das salas administrativas no CEAEC, pois, conforme já
mencionado, Marco não é morador de Foz. Neste caso, não entreguei o questionário
antes da entrevista, como fiz com os demais informantes. Não o conhecia
pessoalmente. Meu contato anterior com ele foi somente através de e-mails, nos
anos de 2003 e 2004, a fim de mediar o envio de artigos científicos pesquisados por
ele para Waldo Vieira e também enviar-lhe materiais da Conscienciologia tais como
anais de eventos e DVDs de cursos.

1.3.2.2 Tratamento dos Dados

Após o término da entrevista, eu procurava registrar no caderno de campo os


momentos mais marcantes recuperando o gestual e o clima da conversa. Eu mesma
fiz a transcrição das 6 entrevistas seguindo as orientações para marcações da
entrevista transcrita pelo “Manual da História Oral”, de Verena Alberti55. O relatório

55
ALBERTI, 2013, p. 287-293, 381-384.
58

da entrevista oral temática também seguiu o modelo do referido manual, com capa,
ficha técnica, sumário, a entrevista e referências, quando existiram.
Realizei o seguinte tratamento em cada entrevista: primeiro, a transcrição;
segundo a conferência de fidelidade da transcrição; e terceiro, o copidesque.56 A
transcrição consiste na passagem da entrevista da forma oral para a escrita,
fornecendo a primeira versão do depoimento. É importante conhecer as orientações
sobre as marcações da entrevista para realizar a transcrição de acordo com elas,
por exemplo, o uso do informal “pra” foi transcrito como “para”.
A conferência de fidelidade da transcrição é o procedimento de conferir se o
que está transcrito é o que foi gravado. É o momento de corrigir erros, omissões e
acréscimos indevidos feitos na transcrição. Também é o momento de realizar
pesquisas paralelas a respeito de algum fato, da grafia de um nome próprio citado,
de títulos de obras referidos, entre outros.
O copidesque objetiva ajustar o documento para a leitura, a fim de ser
consultado em sua forma escrita. O copidesque não modifica a entrevista. Visa
corrigir erros de português, ajustar o texto às normas que foram escolhidas e
adequar a linguagem escrita ao discurso oral com especial atenção à pontuação57.
Com relatório pronto, este era entregue ao informante para ser revisto. Os
informantes em geral fizeram algum acréscimo e pequenas alterações nas
entrevistas. Após realizar essas modificações no texto do relatório, nova versão foi
impressa e entregue ao informante para rubricar cada página da versão final,
juntamente com os dois Termos de Doação da Entrevista para serem assinados.
As seis entrevistas totalizaram 9h30min de gravação e 114 horas de trabalho
envolvendo transcrição, conferência e copidesque. As 4 etapas levaram 38 dias, não
considerando os dias para entrega do relatório, conversas sobre a entrevista
transcrita, enfim os encontros com os informantes, além do dia da entrevista.
A história oral pode servir para várias funções, como por exemplo, recuperar
lacunas a respeito de acontecimentos pouco esclarecidos, porém a principal
característica do documento da história oral é a “recuperação do vivido conforme
concebido por quem viveu”58. Por isso, a história oral é indissociável da biografia e
da memória. A recordação de um acontecimento varia de pessoa para pessoa, de

56
ALBERTI, 2013, p. 282 a 349.
57
ALBERTI, 2013, p. 282 a 349.
58
ALBERTI, 2013, p. 31.
59

acordo com o valor que se dá a esse acontecimento no momento em que ocorre e


no momento em que é recordado.
A condição da entrevista privilegia a biografia e a memória do entrevistado,
porém, com a presença do entrevistador, acrescenta(m)-se outra(s) biografia(s) e
outra(s) memória(s). Assim, ambos constroem, em um dado momento, uma
abordagem sobre o passado condicionada pela relação da entrevista59.
Fazendo um levantamento do perfil dos seis entrevistados, observa-se que são
na maioria homens (somente uma mulher), com união estável ou casados
formalmente, na faixa etária de 49 até 76 anos de idade. Quanto à naturalidade, são
dois cariocas, dois gaúchos e dois paulistas. Considerando somente os 5 primeiros
entrevistados que são moradores de Foz do Iguaçu, nenhum deles é natural deste
município, indicando a migração como um fator importante nas suas biografias. Os
cinco entrevistados são migrantes que vieram para Foz do Iguaçu, entre 1995 e
2017. Desse modo, suas histórias de migração podem ajudar a esclarecer o
processo do desenvolvimento comunitário.
Outro aspecto a ser destacado é que todos os entrevistados tiveram contato
com as ideias da Conscienciologia antes de 1995, ou seja, antes da comunidade
existir em Foz do Iguaçu.
Quatro dos seis entrevistados estão entre os mais antigos voluntários da
Conscienciologia, tendo conhecido Waldo Vieira em uma fase na qual ele falava
predominantemente da Projeciologia, que é tida como um dos aspectos práticos da
Conscienciologia, correspondente ao período de 1982 a 1986.
O esforço foi no sentido de reconstruir a história da comunidade
conscienciológica a partir dos mais “velhos”, não necessariamente coincidindo com a
idade biológica. Pois, somente Moacir se “encaixa” no critério utilizado pela
psicóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP), Ecléa Bosi60 em seu
livro “Memória e Sociedade: lembranças de velhos” no qual estudou as memórias de
idosos com mais de setenta anos de idade. Os mais “velhos” desse estudo são os
“idosos” de tempo de permanência como membros da comunidade
conscienciológica. Os outros dois, o casal de entrevistados, foram testemunhas de
um acontecimento importante da comunidade, que foi o planejamento do que viria a

59
ALBERTI, 2013, p. 31.
60
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. 17. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012, p. 37.
60

se tornar o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC) em Foz do


Iguaçu.
As narrativas são evidências orais que irão retratar a formação da comunidade
conscienciológica entrosadas com as demais fontes da pesquisa e também entre si.
Desse modo, busca-se resguardar os limites próprios das fontes.

1.3.3 Documentos

A micro-história está “ancorada em uma pesquisa exaustiva de fontes


históricas” envolvendo os “fatos efetivamente ocorridos”. 61 O corpus documental
abrangeu informativos e jornais internos da comunidade; atas de reuniões de
instituições conscienciológicas; dados censitários elaborados pela própria
comunidade; cópia de certidões e certificados; pareceres jurídicos; estatutos sociais
das organizações conscienciológicas; relatórios de pesquisa feita pelos voluntários;
relatos de experiência, comunicações em evento e artigos publicados em revistas
internas da comunidade conscienciológica; relatórios com a lista de cooperados;
cartas institucionais públicas; anuário da Conscienciologia; aforismos ou pensatas
do propositor da Conscienciologia, além de entrevistas fornecidas por ele a
periódicos internos e externos da comunidade conscienciológica; notícias e
entrevistas de periódicos locais, estaduais, nacionais e internacionais; documentos
oficiais do poder público municipal; e por fim, fotografias de alguns momentos dessa
história.
Grande parte das fontes documentais foram encontradas nos arquivos do
departamento Holociclo e do departamento Financeiro do Centro de Altos Estudos
da Conscienciologia (CEAEC) e nos arquivos da União Internacional das Instituições
Conscienciocêntricas (UNICIN). Artigos em revistas internas da comunidade
conscienciológica e documentos oficiais do poder público municipal estão
disponíveis na internet. E alguns documentos foram conseguidos com membros da
comunidade conscienciológica.
Foram realizadas também conversas pontuais com membros da comunidade
conscienciológica, seja pessoalmente, por e-mail ou por whatsApp, a fim de
esclarecer circunstâncias de um acontecimento específico registrado em

61
VAINFAS, 2002, p. 127.
61

documentos ou adquirir algum documento para preencher determinada lacuna de


informação.
A menção a essas conversas e às fontes documentais encontram-se em notas
de referência, no rodapé. No caso das fotografias, irei detalhar a seguir o tratamento
metodológico aplicado às imagens.

1.3.3.1 Fotografias

As fotografias utilizadas nesse estudo foram conseguidas com os entrevistados


mencionados, Domingos Santos e Alexander Steiner, assim como do arquivo da
própria autora e da internet.
A fotografia é entendida nessa pesquisa tanto como imagem/documento
quanto como imagem/monumento, ou seja, partindo-se do referencial de Le Goff62
de que “o documento não é qualquer coisa que foca por conta do passado, é um
produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham
o poder.”
Assim, a fotografia deve ser considerada como produto cultural, resultado de
um trabalho social de produção sígnica63. A chave de leitura da análise histórica da
mensagem fotográfica é a noção de espaço, pois a fotografia é um recorte
espacial 64 . A análise do material se processou tanto em cada foto quanto pelo
conjunto das fotos.
Conforme já mencionado, a leitura das imagens fotográficas teve como base a
orientação metodológica histórico-semiótica, proposta por Ana Maria Mauad65. Os
procedimentos envolveram os seguintes passos: a partir da organização de uma
série fotográfica, obedecendo uma cronologia, cada fotografia foi decomposta em
unidades culturais, distinguindo a forma do conteúdo e a forma da expressão.
As unidades culturais são “toda e qualquer coisa culturalmente definida e
individuada como entidade. Pode ser pessoa, lugar, coisa, sentimento, estado de

62
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: _____. História e Memória. Tradução de Irene
Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Ferreira Borges. 5. ed. 2. reimp. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 2006, p. 536.
63
MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro,
vol. 1, n. 2, 1996, p. 11. Disponível em: https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-
BR&as_sdt=0%2C5&q=Mauad% 2C+Ana+Maria+revista+Tempo&oq=Ana+Mar. Acesso em: ago.
2019.
64
MAUAD, 1996, p. 10.
65
MAUAD, 1996, p. 11-14.
62

coisas, pressentimento” ou ainda “os significados que o código faz corresponder aos
sistemas de significantes”.66
A “forma do conteúdo” abrange local retratado, o tema retratado, as pessoas
retratadas, os objetos retratados, o atributo das pessoas, o atributo da paisagem, o
tempo retratado (dia/noite) e o número da foto.
A “forma de expressão” engloba o tamanho da foto, o formato da foto, o tipo de
foto, enquadramento I a IV (sentido da foto: horizontal/vertical; direção da foto:
esquerda/direita/centro; distribuição de planos; objeto central, arranjo e equilíbrio),
nitidez I a III (foco; impressão visual; iluminação), produtor: amador ou profissional e
número da foto.
Tais unidades culturais são, então, realocadas em categorias espaciais
estabelecidas para a análise. São elas: o espaço fotográfico, o espaço geográfico, o
espaço do objeto, o espaço da figuração e o espaço da vivência (ou evento).
O “espaço fotográfico” compreende o recorte espacial processado pela
fotografia, ou seja, natureza deste espaço, como se organiza, que tipo de controle
pode ser exercido na sua composição e a quem este espaço está vinculado, ao
fotógrafo amador ou profissional, além dos itens da forma da expressão, tais como
tamanho, enquadramento, nitidez e produtor.
O “espaço geográfico” envolve o espaço físico representado na fotografia,
características dos lugares fotografados e a trajetória de mudanças pelo período que
a série cobre. É marcado por oposições como por exemplo: campo/cidade, fundo
artificial/natural, espaço interno/externo, público/privado, entre outros. Nessa
categoria estão incluídos os seguintes itens: ano, local retratado, atributos da
paisagem, objetos, tamanho, enquadramento, nitidez e produtor.
O “espaço do objeto” diz respeito aos objetos fotografados tomados como
atributos da imagem fotográfica. Uma tipologia básica para análise é composta por 3
elementos: objetos interiores, objetos exteriores e objetos pessoais. Essa categoria
espacial inclui os seguintes itens: tema, objetos, atributo das pessoas, atributo da
paisagem, tamanho e enquadramento.
O “espaço de figuração” engloba as pessoas e os animais retratados, a
natureza do espaço (feminino/masculino, infantil/adulto), a hierarquia das figuras e

66
ECO, Umberto. As formas do conteúdo. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 16.
63

seus atributos, incluindo os gestos. A categoria é composta pelos itens: pessoas


retratadas, atributos de figuração, tamanho, enquadramento e nitidez.
O “espaço da vivência (ou evento)” está delimitado pelas atividades, vivências
e eventos que se tornam objeto do ato fotográfico. É a síntese do ato fotográfico,
pois inclui todos os espaços anteriores. Ressalta a importância do movimento,
mesmo em figuras fixas: o movimento de quem posa ou é flagrado, ou ainda o
movimento de quem monta a cena ou capta o “momento decisivo”.
Conforme exposto, a mesma unidade cultural pode estar presente em
diferentes campos espaciais. A chave de leitura das mensagens visuais é a noção
de espaço. Mauad 67 conclui orientando que cada “pesquisador vê-se obrigado a
atualizar o método de análise e adequá-lo à sua matéria significante, guardando os
imperativos metodológicos apresentados”.
Seguindo tal método, organizei uma série fotográfica cujo tema orientador foi a
comunidade conscienciológica. Nessa série, procurou-se selecionar fotos que
obedecessem a cronologia da história dessa comunidade.
A série de imagens formada foi incorporada ao texto somente no capítulo 2,
que corresponde ao período mais distante no tempo, equivalente às “raízes da
comunidade conscienciológica”, com o propósito de servir como uma fonte auxiliar
ou complementar às fontes orais e documentais. Foi composta por 4 fotografias.
As demais 11 imagens fornecidas nos capítulos seguintes foram utilizadas
somente com caráter ilustrativo, sem tratamento teórico-metodológico.

1.4 Referências acadêmicas sobre Projeciologia e Conscienciologia68

Esse tópico pretende expor levantamento bibliográfico realizado sobre o tema


no meio acadêmico. Foram feitas buscas referentes às duas palavras-chave:
“projeciologia”, a proposta de ciência para o fenômeno da experiência fora do corpo,

67
MAUAD, 1996, p. 14.
68
O levantamento bibliográfico das referências acadêmicas foi realizado no arquivo da Bibliografia
Internacional da Conscienciologia, localizada no departamento Holociclo, do Centro de Altos Estudos
da Conscienciologia (CEAEC) e na internet por meio do “google acadêmico” utilizando a palavra-
chave “projeciologia” e “conscienciologia”, com acesso em 06 e 07/08/2019. Também cheguei a
consultar o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) no seguinte site: http:// bancodeteses.capes.gov.br, acesso no dia 07/08/2019, às 17h,
utilizando as mesmas palavras-chave, obtendo 8 resultados para “conscienciologia” e 5 resultados
para “projeciologia”, sendo que 3 referências estavam repetidas no resultado de pesquisa das duas
palavras-chave.
64

mais divulgada nas décadas de 1980 e 1990 e “conscienciologia”, que é a proposta


de ciência da consciência humana, mais divulgada a partir de 1990. São escassas
as referências sobre estes temas no meio acadêmico. No entanto, elas existem.
Quanto aos trabalhos acadêmicos, no total, foram encontradas 22 referências:
4 teses, 15 dissertações, 2 Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e 1 trabalho
de estágio. Como citação curta, foram: 3 teses, 6 dissertações e 2 TCCs. Na
condição de objeto de estudo e/ou exemplo, foram: 01 tese, 09 dissertações e 01
trabalho de estágio. A maioria desses trabalhos estão disponíveis para download
(“baixar”) do arquivo.
Quanto aos artigos69 em periódicos, foram encontrados 13 textos na forma de
breve citação, tópico ou como objeto de estudo analisado em um recorte temático e
4 artigos em anais de eventos.
De todo esse levantamento, aqueles trabalhos acadêmicos e artigos que
trazem somente uma citação curta, não contribuíram para o presente estudo. Irei
enumerar a seguir 11 trabalhos acadêmicos que tiveram alguma temática da
Conscienciologia como objeto de estudo ou exemplo (ver Quadro 01), ordenadas por
tipo de trabalho; e dentre esses tipos, em ordem cronológica da mais recente para
mais antiga. Alguns deles contribuíram para discussão a respeito desta tese e serão
mencionados no decorrer dos capítulos.

69
Além das fontes já mencionadas, foi feita uma busca para pesquisar artigos no site de periódicos
da CAPES: http://www.periodicos.capes.gov.br, com acesso em 07/08/2019, às 23h30, com as duas
palavras-chave “projeciologia” e “conscienciologia”.
65

Quadro 01 – Trabalhos acadêmicos sobre Conscienciologia


Tipo de Título Autor Área / Universidade Ano
trabalho
tese de Além do que se vê: magnetismos, Gustavo Sociologia e Antropologia da 2016
doutorado ectoplasmas e paracirurgias Ruiz Universidade Federal do Rio
Chiesa de Janeiro (UFRJ)
dissertação Democracia participativa no Karla Direito da Universidade 2017
de século XXI: análise da Ulman da Presbiteriana Mackenzie
mestrado democracia no bairro Cognópolis Fonseca
– Foz do Iguaçu”
dissertação Correlatos Eletroencefalográficos Rute Maria Psicobiologia da 2013
de do Estado Vibracional Rodrigues Universidade Federal do Rio
mestrado Pinheiro Grande do Norte (UFRN)
dissertação Fluxos do Espiritismo Kardecista Ronaldo Ciências Sociais da Univ. 2011
de no Brasil: dentro e fora do Terra Estadual Paulista (UNESP),
mestrado continuum mediúnico campus de Marília
dissertação Evidências empíricas de Ricardo Administração da 2010
de organizações substantivas: Arthur Lyrio Universidade Estadual de
mestrado estudo de caso em instituição Gonçalves Londrina (UEL)
conscienciocêntrica Dias
dissertação Estudo de usuário como subsídio Antônio Ciência da Informação da 2009
de preliminar à construção de um Marcos Universidade de Brasília
mestrado repositório temático: um estudo Nogueira (UnB)
de caso aplicado à da Costa
Conscienciologia
dissertação A ação do coordenador Andréa Educação na Universidade 2009
de pedagógico e as suas Silva do Federal do Rio Grande do
mestrado contribuições à vivência Nascimento Norte (UFRN)
compreensiva sob a perspectiva
conscienciológica
dissertação Da Projeciologia à Sheila dos Ciência da religião na 2003
de Conscienciologia: a dinâmica das Mares Guia Universidade Federal de Juiz
mestrado tensões entre espiritualidade e de Fora (UFJF)
ciência no movimento Nova Era
dissertação Em busca de um novo paradigma Cláudio Administração Pública da 2000
de organizacional com a Learning Costa Lima Fundação Getúlio Vargas
mestrado Organization: o caso do Instituto Monteiro (FGV)
Internacional de Projeciologia e
Conscienciologia (IIPC)
dissertação O Self perfeito e a Nova Era: Anthony A. Sociologia no Instituto de 1996
de individualismo e reflexividade em Fischer Pesquisas do Rio de Janeiro
mestrado religiosidades pós-tradicionais D’Andrea (Iuperj)
trabalho de Diagnóstico da empresa Centro Jocieli Administração Geral da 2010
estágio de Altos Estudos da Brandão União Dinâmica de
Conscienciologia (CEAEC) Josefi Faculdades Cataratas (UDC)
Fontes: Arquivos do CEAEC; “google acadêmico”; e Banco de Teses da CAPES.

Neste capítulo, busquei apresentar a trajetória investigativa realizada, do ponto


de vista teórico e metodológico. Vamos às raízes da comunidade conscienciológica.
66

2 RAÍZES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA

O capítulo 2 irá tratar das raízes da comunidade conscienciológica. Irei abordar


o tema a partir de três vertentes: 2.1 uma breve trajetória biográfica de Waldo Vieira
(1932–2015), brasileiro, médico, odontólogo, lexicógrafo e propositor da
Projeciologia e da Conscienciologia; 2.2 o Centro da Consciência Contínua (CCC),
a primeira instituição proposta por Vieira, e; 2.3 Instituto Internacional de
Projeciologia (IIP), a segunda instituição liderada por Vieira. Existe ainda um quarto
tópico, Considerações do capítulo, destinado aos comentários e breves análises do
que foi exposto. Esses tópicos dividem-se em subtópicos.
Apresentarei elementos biográficos1 dessa personalidade pelo fato da sua vida
ilustrar ideias e técnicas posteriormente propostas na Conscienciologia e adotadas
por seus alunos de curso e/ou leitores de seus livros, assim como voluntários das
instituições conscienciológicas. Também trarei o depoimento de informantes a fim de
evidenciar o modo com que tiveram contato com a Projeciologia e a
Conscienciologia, os motivos que os levaram a ter contato com Waldo Vieira e suas
ideias, seja por meio de seus escritos ou de aulas, e o tipo de voluntariado prestado
por eles nessa fase conscienciológica inicial de implantação institucional. As fontes
documentais e orais estarão interligadas à fonte imagética.

2.1 Breve trajetória biográfica de Waldo Vieira

Nesse tópico, abordarei a trajetória de vida de Waldo Vieira desde sua cidade
natal, Monte Carmelo, no Estado de Minas Gerais (MG), até a fundação da primeira
instituição coordenada por ele. O texto ficou dividido em 3 subtópicos: 2.1.1 Infância
até juventude; 2.1.2 Parceria assistencial com Chico Xavier; e 2.1.3 Mudança para o
Rio de Janeiro (RJ).

1
A fim de elaborar esse texto biográfico foram utilizadas 4 fontes principais: AFONSO, Fátima. &
ARAIA, Eduardo. Entrevista: Waldo Vieira: Rumo à consciência liberta. Planeta, São Paulo, ed. 285,
ano 24, n. 6, p. 15-21, jun. 1996; KOJUNSKI, Mariana. Papo Sério com Waldo Vieira. Revista 100
Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 9, ed. 100, p. 35, jan. 2014; VIEIRA, Waldo. Projeciologia: panorama
das experiências da consciência fora do corpo humano. 4. Ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Instituto
Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, 1999; e TELES, Mabel. Zéfiro: a paraidentidade
intermissiva de Waldo Vieira. Foz do Iguaçu: Editares, 2014. Este livro foi escrito pela voluntária
Mabel Teles, tendo como fonte 19 entrevistas filmadas com Waldo Vieira, nos anos de 2011 e 2012,
totalizando 41 horas e 49 minutos de gravação.
67

2.1.1 Infância até juventude

Do nascimento até a juventude, Waldo Vieira viveu no Estado de Minas Gerais.


Filho de uma professora e de um dentista, desde os 6 anos de idade Waldo teve
contato com o Espiritismo2, “tomei parte no movimento espírita devido às aulas de
moral cristã do centro espírita3 que meu pai ajudou a fundar na cidade de Monte
Carmelo (MG), onde nasci em 1932.” 4 . Ao passo do desenvolvimento das
habilidades paranormais ou parapsíquicas, a mãe também estimulou seu processo
intelectual, tendo chegado uma ocasião em que Vieira comenta que, na cidade dele,
“não havia mais nada para eu ler.”5
Aos 12 anos de idade, prestou exame e entrou para o internato do Colégio do
Triângulo Mineiro em Uberaba. Devido aos altos custos financeiros para família, ao
final do primeiro ano, seu pai pensou em trazer Waldo de volta para Monte Carmelo,
no entanto, não foi necessário, pois Mário de Ascenção Palmério 6 (1916–1996),
fundador do colégio, educador, político e literato, teve a ideia de empregar o menino,
a fim dele pagar seus próprios estudos, pois o considerava o melhor aluno da
classe7.

2
Nas palavras do propositor Allan Kardec (1804–1869): “O Espiritismo é a ciência nova que vem
revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e
as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural,
porém, ao contrário, como uma das forças vivas (...), como a fonte de uma imensidade de fenômenos
até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso”
(KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp.
Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, [1866] 2011, p. 59). E ainda, segundo o “Dicionário
Histórico de Religiões”, o “Espiritismo é o sistema religioso cuja doutrina baseia-se na sobrevivência
da alma e na presença de fenômenos paranormais, obra dos espíritos desencarnados que se podem
comunicar com as pessoas através de um médium, ou seja, por intermédio entre o mundo dos vivos e
o invisível” (AZEVEDO, Antonio C. do A. & GEIGER, Paulo. Dicionário histórico de religiões. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2002, p. 147-148).
3
O centro espírita chamava-se “Humildade, Amor e Luz”, o primeiro do município de Monte Carmelo,
fundado em 15/12/1934. O nome do pai de Waldo Vieira era Armante Vieira e é mencionado na
relação de frequentadores desse centro espírita, no período de 1938 a 1945 (MATOS, Airton Veloso
de. História do Espiritismo em Monte Carmelo. Goiânia, GO: Kelps, 2007, p. 51, 52 e 95).
4
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 15.
5
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 15.
6
Mário Palmério também é natural de Monte Carmelo. Fundou o Liceu do Triângulo Mineiro, mais
tarde chamado de Colégio do Triângulo Mineiro. Em 1947, fundou a Faculdade de Odontologia em
Uberaba. Em 1950, criou e instalou a Faculdade de Direito, e em 1953, a Faculdade de Medicina.
Nessa mesma época, Palmério exerce o cargo de deputado federal. Também foi nomeado
Embaixador do Brasil no Paraguai, tendo permanecido dois anos no país vizinho. Na área da
literatura, escreveu os livros “Vila dos Confins” e “Chapadão dos Bugres”, tendo feito parte da
Academia Brasileira de Letras. Chegou a morar na Amazônia por dois anos (MATOS, Airton Veloso
de. O velho Carmo: crônicas e outras histórias. Edição do Autor, (2003), p. 65-66).
7
TELES, 2014, p. 71.
68

A partir dessa condição, Waldo buscou conhecer e se entrosar com o


movimento espírita de Uberaba e do Triângulo Mineiro, chegando à condição de
presidente da União das Mocidades Espíritas da região. E em seguida tornou-se
presidente e secretário da diretoria da União das Mocidades Espíritas do Brasil
Central e do Estado de São Paulo8.
“Aos 13 anos, comecei a receber poesia de psicografia, na brincadeira. Agora,
a clarividência e a saída do corpo começaram aos 9 anos.”9. É também nessa idade,
aos 9 anos de idade, que Waldo constitui sua biblioteca: “quis oficializar minha
biblioteca depois que ganhei de Luiz Siqueira, cunhado da minha irmã, grande
coleção de gibis.”10.
Aos 14 anos de idade, Waldo possuía 1.250 livros especializados em
fenômenos paranormais ou parapsíquicos, em cinco idiomas11. É nessa época, que
ele elaborou um quadro sinóptico com 222 fenômenos parapsíquicos e mostrou a
um professor do colégio, que o questionou sobre qual daqueles fenômenos seria o
mais importante. Após refletir sobre o tema alguns dias, Waldo selecionou a
Experiência Fora do Corpo (EFC) como o fenômeno principal a ser estudado. Tal
escolha iria marcar sua vida, pois no livro que ele iria publicar tempos depois, em
1981, o “Projeções da Consciência”, sinônimo de “experiência fora do corpo”, Waldo
acabaria propondo uma ciência para estudar esse tema, a Projeciologia12.
Waldo Vieira concluiu os estudos escolares, tendo em seguida graduado-se no
curso de Odontologia em 1954, e em Medicina, em 1960. Nessa primeira fase da
vida, dois aspectos chamam a atenção: as habilidades parapsíquicas e o interesse
pelo caminho da intelectualidade.

2.1.2 Parceria assistencial com Chico Xavier

Uma segunda fase da vida de Vieira foi o trabalho desenvolvido junto com o
médium Chico Xavier. Em 1955, a pedido da mãe, por intermédio de conhecidos,
Waldo foi até a cidade de Pedro Leopoldo a fim de conhecer Chico Xavier (1910–
2002) e ajudar o movimento espírita, dando início a uma parceria de trabalho

8
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 15.
9
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 15.
10
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 68.
11
TELES, 2014, p. 73.
12
TELES, 2014, p. 73.
69

assistencial. Em 1956, começaram a entrosar as mensagens recebidas por


psicografia que cada um recebia separadamente: um, os capítulos pares e o outro,
os capítulos ímpares; vindo a lançar o primeiro livro em coautoria, “Evolução em
Dois Mundos”, em 1958. Da parceria de Waldo e Chico nasceram 17 livros, de um
total de 26 livros que Waldo escreveu no período que frequentou o espiritismo.
“Quando Chico teve de ir para Uberaba, fui eu quem o levou; peguei dinheiro
do meu bolso, fiz uma casa.” 13 . Chico se mudou de vez entre 1958 e 1959 14 .
“Construí também o local da minha clínica médica gratuita e o Centro Comunhão
Espírita Cristã 15 . (...) De 3 em 3 meses distribuíamos alimentos e roupas aos
carentes.” 16 . Além da criação desse centro espírita, foram fundadas outras
instituições: “fiz um bairro lá em Uberaba, do mesmo jeito que estou fazendo aqui
em Foz. Nisso, já tenho experiência. Trabalhei com Chico ainda dez anos e depois
deixei o movimento.”17.
A rotina nessa época era intensa no Centro Comunhão Espírita Cristã: “ali
tínhamos sessões de desobsessão às segundas, quartas e sextas-feiras e finais de
semana”, e na clínica, “eu fazia atendimento médico gratuito a cerca de 95 pessoas
diariamente”18. Esse ritmo excessivo de trabalho acabou levando-o a um infarto do
miocárdio em 1960, deixando-o hipertenso para o resto da vida.
A rua do Centro Comunhão Espírita Cristã pode ser vista na fotografia 1, a
seguir. O ângulo da foto é da casa onde Waldo morou em Uberaba, localizada ao
lado do citado Centro Espírita, visitado por ele cerca de 30 anos depois, com
voluntários da Conscienciologia.

13
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
14
Sobre a ajuda de Waldo Vieira à saída de Chico Xavier da cidade de Pedro Leopoldo, há breve
comentário de Chico em uma entrevista, no livro do autor espírita Carlos A. Baccelli: “Em princípio de
1958, comecei a sofrer de uma labirintite que me incomodava bastante. (...) nosso amigo Waldo
Vieira convidou-me a experimentar Uberaba. Vim para cá e, graças a Deus, me refiz.” (BACCELLI,
Carlos A. O Espiritismo em Uberaba. Uberaba, MG: Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
Prefeitura Municipal de Uberaba, 1987, p. 96).
15
O Centro Comunhão Espírita Cristã (CEC) localiza-se na rua prof. Eurípedes Barsanulfo, 185, no
bairro Parque das Américas, em Uberaba. A data de fundação foi em 18 de abril de 1959 (BACCELLI,
1987, p. 80 e 354). Na página 80 aparece o ano de fundação em 1959. E na página 354, aparece o
ano de 1956. Provavelmente a data correta é de 1959.
16
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 77.
17
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 37.
18
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 77.
70

Figura 01 – Fotografia da visita de Waldo Vieira (no centro) com voluntários da


Conscienciologia à sua casa em Uberaba (MG), em 1997

Fonte: Arquivo pessoal da autora.


Fonte: arquivo de fotos de Cristiane Ferraro.

A ida à Uberaba foi desencadeada com o objetivo de Waldo Vieira ministrar


uma palestra pública gratuita no dia 31 de julho de 1997 e um curso “Teoria e
Prática do Serenismo” 19 no dia 03 de agosto de 1997, ambos os eventos na
Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) 20 . Tal iniciativa visava
promover as atividades do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia
(IIPC)21 em Uberaba.

19
Serenismo é a “condição íntima, exteriorizada no visual extrafísico [ou seja, em dimensões mais
sutis do que essa material], de serenidade plena, antiestressante, contenção sem toxicidade, e bem-
estar inabalável e indiscutível.” (VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de
Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia, 1994, p. 749). É a principal virtude ou traço-força de
consciências mais evoluídas, com extrema tranquilidade e equilíbrio, encontradas em dimensões
mais sutis do que essa em que nos encontramos, segundo Vieira (1994).
20
Tais eventos ficaram registrados no jornal local chamado “Jornal de Uberaba”, ano 11, n. 3.249, de
sexta-feira, 01 de agosto de 1997, na capa com uma chamada e na página A5 com o título
“Projeciologia prioriza a pessoa, segundo professor Waldo Vieira”.
21
IIPC é uma instituição fundada por Waldo Vieira e colaboradores, no Rio de Janeiro, 20 anos
depois da sua saída do Espiritismo, em janeiro de 1988.
71

Entre 1964 e 1965, Waldo Vieira 22 já havia se dado conta de que não iria
continuar no espiritismo: “O presidente da Federação queria me preparar para
substituí-lo, para liderar o movimento espírita no Brasil. Eu falei que não, pois
achava que teríamos de reformular tudo.” Além disso, Vieira23 afirma: “eu não era da
doutrina, era mais da área da pesquisa, da racionalidade.”
Segundo ele 24 , a gota d’água foi quando propôs a criação da Exposição
Espírita Permanente, que não foi aprovada, “provavelmente porque eles perceberam
que tal empreitada caminharia para a criação de uma Universidade, e isso colocaria
o dogma religioso em xeque.” Waldo25 comunicou a sua mãe e tomou providências
para sua saída: “Olha, eu vou ter de sair. Minha programação de vida não é esta. O
Chico já está ciente disso.’ Então, pus seis pessoas para cada uma tomar conta dos
setores que eu ocupava.”
Em 1965, Waldo Vieira fez uma turnê com Chico Xavier pela Europa e Estados
Unidos, a fim de divulgar o espiritismo no Exterior.26 “Em 66, fizemos uma segunda
turnê. Então Chico voltou para o Brasil e eu só retornei depois que fiz várias
viagens.”27.
Na turnê de 1965, segundo o jornal “Diário da Noite”, de 23/01/1965, os
médiuns psicógrafos “viajarão por conta própria, sem ajuda de espécie alguma,
proveniente do exterior.” Queriam fazer livremente a viagem, por um ou dois
meses.28
As viagens de Vieira em 1966 parecem ter sido patrocinadas ou ao menos
parcialmente custeadas por amigos estrangeiros e simpatizantes do Espiritismo.
Waldo29 mencionou duas amigas norte-americanas, conhecidas desse período do
espiritismo, nas entrevistas fornecidas à Mabel Teles: a primeira foi Hazel Morris, ex-
secretária do general Douglas MacArthur (1880–1964), e Anna Labarbara Ward,
viúva do empresário californiano Lloyd William Dinkelspiel (1899–1959). Quando
retornou ao Brasil, Waldo voltou poucas vezes a Uberaba.

22
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
23
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
24
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 79.
25
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
26
Fonte: CHICO e Waldo vão construir uma ponte entre o coração do Brasil e o dos EE.UU. Diário da
Noite, São Paulo, p. 6, 23 jan. 1965.
27
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
28
CHICO, 1965, p. 6.
29
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 80.
72

O contato com Hazel Morris foi encontrado em registro fotográfico divulgado na


internet, em site espírita (ver figura 02). O texto estava assinado por Irineu Alves, o
qual, segundo a página, acompanhou Waldo Vieira e Chico Xavier na viagem
realizada aos EUA e à Europa, em 1966. A viagem com roteiro de contatos e
divulgação espírita teria durado em torno de 4 meses, visitando 6 países: EUA,
Inglaterra, França, Itália, Espanha e Portugal.

Figura 02 – Fotografia de Waldo Vieira (à esquerda) e Chico Xavier (à direita) de


Hazel Morris nos EUA, em 1966

Fonte: ALVES, Irineu. Chico Xavier e Waldo Vieira nos Estados Unidos e na Europa. Disponível em:
<http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/A_autores/ALVES_Irineu_tit_Chico_Xavier_e_Waldo_Viei
ra_nos_EUA_e_Europa.htm>. Acesso: 24 out. 2019, às 10h25.

Na imagem da figura 02, Hazel Morris encontra-se no centro, entre Waldo e


Chico, estendo a mão para ambos. O site não informou a fonte da foto, supõe-se
que tenha sido um jornal brasileiro, tal qual a notícia encontrada no jornal “Diário da
Noite”, citada anteriormente. A legenda informa que a estadunidense era tradutora
das obras espíritas para o idioma inglês.
73

Interessante registrar que, no período em que morou em Uberaba, Waldo


trabalhou durante 18 anos na Universidade também fundada por Mário Palmério. Foi
professor assistente da cadeira de Clínica Odontológica por 2 anos.30 Também foi
secretário da faculdade de Odontologia durante 9 anos.31
Mário Palmério, além de deputado federal, foi embaixador do Brasil no
Paraguai, e Waldo 32 conta que “às vezes, tinha de sair de Uberaba e levar
documentos para ele assinar, das escolas, lá em Assunção – PY (...). Íamos de
avião e, quando passava por aqui [em Foz do Iguaçu], eu via essa área toda.” Em
uma dessas viagens, em 1958, Waldo visitou Foz do Iguaçu, quando Juscelino
Kubitschek33 (1902–1976) inaugurou o Hotel das Cataratas.
Em 1966, Waldo Vieira se tornou dissidente do espiritismo. Mudou-se para o
Rio de Janeiro, tendo deixado parte de sua biblioteca em uma das casas que
construiu no bairro Parque das Américas, em Uberaba. Quase 10.000 livros haviam
ficado ali, sendo transferidos para o Rio de Janeiro somente 22 anos depois, em
198834.
Nesse período de viagens para pesquisa, em 1966, Waldo viajou pelos
Estados Unidos, tendo ficado um tempo em Hollywood. A partir de indicações das
amigas conhecidas do tempo do Espiritismo, viajou também pela Europa e pela
Ásia35. No Japão, especializou-se em Cosmética e Plástica no Instituto Sakurai de
Tóquio36, a partir do contato com as amigas norte-americanas. Essa segunda fase
da vida de Vieira, o período espírita, pode ser considerada uma preparação para o
trabalho intelectual e parapsíquico que ele iria desenvolver a partir desse momento.

2.1.3 Mudança para o Rio de Janeiro

30
Fonte: Certidão emitida pela Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro e assinada pelo
professor Sebastião de Araújo Falcão, em 13 de abril de 1965, de que Waldo Vieira trabalhou no
cargo de professor assistente da cadeira de Clínica Odontológica, entre março de 1955 a março de
1957.
31
Fonte: Certidão emitida pela Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro e assinada pelo
professor Sebastião de Araújo Falcão, em 13 de abril de 1965, de que Waldo Vieira trabalhou no
cargo de secretário da Faculdade de Odontologia de março de 1955 até março de 1963.
32
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 35.
33
Sobre a relação entre Juscelino Kubitschek com Espiritismo, ver capítulo “JK e Chico Xavier”, no
livro “JK e os Bastidores da Construção de Brasília: sob a ótica da Conscienciologia”, do jornalista
Alexandre Nonato (2010).
34
TELES, 2014, p. 80.
35
TELES, 2014, p. 81.
36
Fonte: Certificado emitido pelo Instituto Sakurai de Tokyo, assinado por Rim Sakurai, em junho de
1966.
74

A vida para Vieira, após se mudar para o Rio de Janeiro, iria abrir novas
possibilidades e oportunidades pessoais e profissionais. A especialização em
Cosmiatria viabilizou a abertura de clínica estética por Waldo, em 1967, em
Copacabana, no Rio de Janeiro. Esta permaneceu em funcionamento até 1970,
ocasião do falecimento de Rin Sakurai, pois o médico japonês lhe fornecia a
medicação para ser aplicada em pacientes a fim de amenizar rugas. “Ele me
orientou em tudo, inclusive no modo que deveria decorar a clínica. Ele passou a me
enviar, então, o líquido pronto para aplicar nos pacientes. Foi um sucesso total.
Atendi a muitas senhoras da alta sociedade carioca e fiz um bom ‘pé-de-meia’”37.
A independência econômico-financeira de Waldo Vieira derivou da aplicação
do dinheiro adquirido na clínica na Bolsa de Valores. Antes de fechar a clínica,
Waldo foi convidado pelo diretor da Companhia Antarctica Paulista, Walter Belian
(?–1975) e por sua irmã, Erna Belian Wernsdorf Rappa (1895–1984), a integrar a
organização com objetivo de “encerrar as atividades da fábrica de destilados da
empresa e encaminhar todos os funcionários, de modo a (sic) que ninguém ficasse
desamparado.” 38 . Vieira ainda explica: “Eu concordei com esta tarefa porque a
Fundação que controlava a Antarctica, na ocasião, prestava muita assistência.” Os
irmãos empresários tinham contato com Waldo Vieira no Centro Comunhão Espírita
Cristã, em Uberaba, a quem recorriam nos momentos de dificuldades da empresa, a
fim de pedir ajuda espiritual.
Em 1970, em uma das viagens na Rodovia Presidente Dutra, entre o Rio de
Janeiro e São Paulo, Waldo sofreu um acidente de carro, tendo entrado em coma.
Waldo teve traumatismo crânio-encefálico e o lado esquerdo do corpo foi bastante
lesionado. Depois de 1 semana no hospital, ele saiu do coma e posteriormente do
hospital para continuar o tratamento em casa. A empresa contratou serviço de
fisioterapeuta para ajudar na recuperação, e após 3 meses de intensos exercícios,
conseguiu voltar as suas atividades de rotina. Este acidente também deixou
sequelas para o resto da vida, como um zumbido permanente no ouvido esquerdo.
Apesar desse contrafluxo, seu esforço parece ter valido a pena: “Trinta e cinco
destilados deixaram de ser comercializados. Uma fábrica inteira foi fechada”39.

37
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 81.
38
VIEIRA apud TELES, 2014, p. 81.
39
TELES, 2014, p. 82.
75

Em 1974, Waldo decidiu se casar com Elisabeth Wernsdorf (1938–1993), filha


de criação de Erna Wernsdorf, empresária da Antarctica, e ter um filho. Tal decisão
parece uma contradição em sua vida, uma vez que ele havia proposto, em 1946,
dentro do movimento espírita, a técnica de vida chamada “inversão existencial”.
Essa inversão da vida consiste em não casar formalmente (mas formar uma união
estável) e não ter filhos, com objetivo de ter maior liberdade e, ao invés de esperar a
aposentadoria para começar a ajudar os outros, começar desde jovem essa tarefa,
com características de esclarecimento, quer dizer, por meio de aulas e livros
esclarecer as pessoas sobre a realidade das bioenergias, dos fenômenos
parapsíquicos e da importância da assistência aos outros40.
A decisão de casar foi tomada em virtude do contexto espiritual do seu irmão
Walter, que sofria de epilepsia e havia falecido em 1962. Segundo Waldo Vieira41:
“Aí o meu irmão, Walter, tinha morrido e eu via que estava sempre comigo. (...)
Disse que queria ficar perto de mim o tempo todo e não sair.” A solução foi casar.
Segundo Vieira42, “eu não queria casar, mas saí igual ao Diógenes com sua lanterna
procurando as mulheres que poderiam ser mãe dele [devido a já ter tido contato de
vidas passadas], inclusive algumas namoradas que tinha tido”.
Desde que deixou o espiritismo em 1966, Waldo deu início à escrita de uma
obra que sistematizasse os fundamentos da proposta de uma ciência do fenômeno
da “experiência fora do corpo” ou “projeção da consciência”, denominada
Projeciologia. Tal fenômeno, segundo o próprio Waldo Vieira 43 “foi esquecido no
espiritismo”, que deu preferência aos fenômenos dos espíritos (chamados nos
estudos da Projeciologia de “consciências extrafísicas”) em detrimento dos
fenômenos da emancipação da alma durante a vida corporal (que seria a
Projeciologia), citados nos tópicos 153 a 171, do capítulo oitavo, do Le Livre des
Espirits (“O Livro dos Espíritos”), lançado por Allan Kardec, em 1857, em Paris.
Porém, antes de publicar essa obra, ele fundou a primeira instituição no âmbito
da Projeciologia, o Centro da Consciência Contínua44. Tal organização constitui a

40
VIEIRA, 1999, p. 80.
41
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 38.
42
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 38.
43
VIEIRA, 1999, p. 80, grifo do autor.
44
A partir desse ponto do texto em diante, além das fontes já citadas, serão utilizadas outras fontes,
tais como: duas outras entrevistas dadas por Waldo Vieira: ENTREVISTA com Waldo Vieira. Revista
Internacional de Espiritismo, Matão, SP, p. 294-296, nov. 1982; e POSE, Joaquim Miralles. Waldo
Vieira: Viagens por outros planos. Planeta, São Paulo, n. 144, p. 11-15, set. 1984; VIEIRA, Waldo.
Projeciologia: panorama das experiências da consciência fora do corpo humano. Rio de Janeiro:
76

segunda vertente a ser apresentada nas raízes da comunidade conscienciológica,


pois possibilitou a formação do primeiro grupo de pessoas interessadas nas ideias
da Projeciologia. A trajetória biográfica de Vieira continua até o final dessa tese, de
modo indireto e fragmentário, a partir dos caminhos trilhados na formação da
comunidade conscienciológica.

2.2 Centro da Consciência Contínua45 (CCC)

Esse tópico sobre o CCC visa apresentar a primeira iniciativa por parte de
Vieira de institucionalizar os estudos sobre o fenômeno da “experiência fora do
corpo” ou “projeção da consciência” (Projeciologia). Está dividido em 5 subtópicos:
2.2.1 Aspectos estatutários do CCC; 2.2.2 Pesquisa institucional; 2.2.3 O livro
“Projeções da Consciência” e as palestras públicas; 2.2.4 Palestras com
experimentos parapsíquicos e o livro “Projeciologia”; 2.2.5 Transição institucional: do
CCC ao IIP.

2.2.1 Aspectos estatutários do CCC

Nesse subtópico, será apresentado os principais objetivos e estrutura


organizacional da nova instituição. O CCC foi fundado em 06 de setembro de 1981 e
possuía endereço em um prédio anexo à residência de Waldo Vieira, na sala 905, da
rua Visconde de Pirajá no. 156, no bairro Ipanema, no Rio de Janeiro46. No entanto,
as atividades desenvolvidas no período dessa instituição, tais como palestras
públicas e reuniões de experimentos de efeitos físicos 47 , ocorriam no próprio
apartamento de Vieira, conforme será visto mais adiante.

Edição do Autor, 1986; o livro “700 Experimentos da Conscienciologia” de Waldo Vieira de 1994 já
citado; além de já incluir as fontes orais dos entrevistados para esta tese.
45
O estado de consciência contínua seria uma condição rara na qual uma consciência, nesta
dimensão material ou em outra mais sutil, consegue manter-se em um estado de continuidade, lúcida,
durante o tempo todo, no decorrer do tempo cronológico. Isso significa que a consciência nesta
dimensão respiratória é capaz de se manter lúcida durante a vigília física ordinária, assim como no
momento de descanso do corpo físico, por meio da projeção para fora do corpo, mantendo sua
atenção e rememoração das ocorrências, descartando assim a condição de dia e noite (VIEIRA,
1986, p. 636).
46
VIEIRA, 1986, p. 658; VIEIRA, 1999, p. 81.
47
Efeitos físicos são manifestações que se traduzem por efeitos sensíveis, por exemplo, ruídos,
movimentos e deslocação de corpos sólidos. Alguns efeitos físicos são espontâneos, ou seja,
independem da vontade dos envolvidos, outros são provocados (MEDEIROS, A. de. et al. Dicionário
de doutrina espírita. Rio de Janeiro: Grupo Espírita Regeneração, 1964, p. 185).
77

O Estatuto do Centro da Consciência Contínua (1981) 48 possui 7 páginas,


sendo que na primeira consta os nomes de toda Diretoria com a respectiva
profissão, endereço residencial e números dos documentos de identidade e CPF.
Eram 7 diretores: diretor presidente, Waldo Vieira; diretor administrativo, Sebastião
Mendes de Carvalho; diretor secretário, Salvador Oggiano; diretor tesoureiro,
Elisabeth Wernsdorf Vieira, esposa de Waldo; diretor de assistência social, Carlos
Oliveira Alves da Cunha; diretor científico, Gilberto Campista Guarino; e diretor de
relações públicas, Pedro Ernesto Stilpen.
Sobre a denominação, no Estatuto49, no artigo primeiro, o CCC está definido
sob a forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, vinculado ao espiritismo, mas
“aqui entendido como conjunto de fenômenos, em bases universalistas, como
traduzindo um capítulo do Estatuto do Universo, especialmente com a popularização
da Projeciologia, para se alcançar a consciência contínua”, abrangendo ainda a
“Parapsicologia e denominações afins, tais como Psicotrônica e Psicobiofísica”.
Observa-se nesse artigo primeiro, a manutenção da relação do CCC com o
Espiritismo, como um movimento de continuidade, mas ao mesmo tempo já com
sinais de contraste, quando enfatiza a Projeciologia, estudo do fenômeno esquecido
no espiritismo, com enfoque maior na autonomia (animismo) e menos na
mediunidade (passividade).
No artigo sexto do Estatuto do CCC50, dentre os objetivos, um deles é dedicado
ao estudo teórico e prático de qualquer linha de conhecimento que se proponha e
desenvolva o “esquema de evolução do espírito”; outro se volta para a assistência
social, tendo inclusive um diretor nessa área; e ainda um último item de incentivo “à
generalização do sistema Cooperativista, além e acima de quaisquer fronteiras.”
Apesar de no Estatuto do CCC conter a expressão “consciência contínua”,
ainda não aparece o termo “conscienciologia”, e sim “espiritismo”, inclusive a palavra
“espírito”, tornando-se claramente um documento do período de transição do corpo
de ideias em desenvolvimento por Vieira. Também é curioso notar a presença do
incentivo ao cooperativismo nesse Estatuto da primeira instituição criada por Vieira,

48
ESTATUTO do Centro da Consciência Contínua, de 6 set. 1981. 7 p. Este documento possui o selo
do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, matrícula n. 66.157, de 01 nov. 2002. Este
documento raro foi cedido pela especialista em estatutos das instituições conscienciocêntricas, a
voluntária Cristina Arakaki, pala qual nutro gratidão. A menção do nome foi autorizada pela
informante.
49
ESTATUTO, 1981, p. 2.
50
ESTATUTO, 1981, p. 2.
78

uma vez que esse seria o sistema de gestão escolhido futuramente na terceira
organização fundada por ele (o Centro de Altos Estudos da Consciência – CEAEC),
14 anos depois.
A estrutura organizacional do CCC era composta de 4 órgãos: a) Assembleia
geral, órgão máximo da Sociedade; b) Conselho Superior, composto por 15 sócios
efetivos e 5 suplentes; c) Conselho Fiscal, composto por 3 membros efetivos e 2
suplentes; d) Diretoria, eleita por 5 anos, responsável pelas deliberações para o
cumprimento dos objetivos da Sociedade, constituída por: diretor presidente, diretor
administrativo, diretor secretário, diretor tesoureiro, diretor de assistência social,
diretor científico e diretor de relações públicas. A Diretoria era sempre escolhida
entre os sócios efetivos51.
O artigo 31 previa 4 categorias de sócios: a) fundadores, aqueles que
compareceram à Assembleia de fundação, considerados também sócios efetivos; b)
efetivos, aqueles que propostos e indicados pela Diretoria, seriam nomeados pelo
Conselho Superior; c) doadores, “aqueles que se filiarem à Sociedade com objetivo
de auxiliá-la financeira e economicamente, de comprovada idoneidade moral”; d)
honorários, “aqueles que, direta ou indiretamente, contribuírem para o
engrandecimento da obra, seja financeiramente, seja por atos considerados de alta
distinção”52. Por fim, juridicamente, o CCC mantinha os laços com o espiritismo e
sinaliza alguns contrastes, que iriam se fortalecer com o passar do tempo.

2.2.2 Pesquisa institucional

No CCC, foram desenvolvidas atividades de pesquisa, mobilizando mais


pessoas. “Com o tempo, criei o Centro da Consciência Contínua que era uma
instituição (...) de pesquisa e de trabalho, com uma equipe interdisciplinar de
consultores técnicos sobre vários assuntos.”53.
No livro “Projeciologia”, Vieira 54 agradece 20 componentes da equipe de
pesquisa do CCC, ali representando todos os demais cooperadores: Laerte Agnelli,
Wagner Alegretti, Jones A. de Almeida, Gilberto M. Azevedo, Sílvia V. Barros,
Wagner D. Borges, Rodolpho Budsky, Sebastião M. Carvalho, Vera Gaetani,

51
ESTATUTO, 1981, p. 3-4.
52
ESTATUTO, 1981, p. 6.
53
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
54
VIEIRA, 1986, p. VII.
79

Gilberto C. Guarino, George B. Kropotoff, Salvador Oggiano, Victor T. Pacheco,


Graciema de S. Porphírio, Elyr dos S. Silva, Irineu Silva, José C. de Souza, Samuel
de Souza, Enedina F. Tristão e José C. Zanarotti. Agradece também seus pais,
Armante Vieira e Aristina Rocha, assim como Francisco C. Xavier, Erna B. W. Rappa
e sua esposa, Elisabeth W. Vieira.
O CCC visava estudar principalmente a projeção da consciência (Projeciologia)
ou experiência fora do corpo. Vieira enviou um questionário 55 para pessoas
interessadas a fim de formar um arquivo de projetores com dados pessoais e
endereços. Além dessa iniciativa, realizou vários levantamentos de dados sobre o
tema: lista de perguntas provenientes de debates projeciológicos públicos; biblioteca
especializada sobre Projeciologia; bibliografia mundial sobre Projeciologia; registros
em vídeo e em áudio de relatos de projetores; viodeoteca com filmes afins ao estudo
da projeção da consciência; catálogo de endereços de interesse projeciológico, entre
outras56.
Vieira também chegou a realizar experimentos chamados de fly-in57, ou seja, “a
experiência da consciência fora do corpo humano de projetores voluntários voando
de fora para dentro do edifício...”58, na sede do CCC, na sala 905, edifício número
156, da rua Visconde de Pirajá, em Ipanema (RJ). Nesse experimento, projetores
voluntários dirigiram-se fora do corpo em dias e horários preestabelecidos a fim de
identificar objetos colocados secreta e periodicamente substituídos em determinada
sala em um edifício. “Fizemos o chamado vôo a distância pela vontade. Marcamos
de nos encontrar à Rua Visconde de Pirajá. Falamos a 40 pessoas, mas só 3 foram
e viram o que foi colocado no local.”59. Por essa iniciativa, observa-se o esforço em
aplicar no Brasil pesquisas que já haviam sido realizadas década(s) antes na
parapsicologia norte-americana.

2.2.3 O livro “Projeções da Consciência” e as palestras públicas

55
Tal questionário possui 200 questões e está publicado no capítulo 369 do livro “Projeciologia”, de
1986, página 534.
56
VIEIRA, 1986, p. 540; VIEIRA apud POSE, 1984, p. 14-15.
57
Essa expressão foi utilizada pelo parapsicólogo Karlis Osis (1917–1997), no projeto experimental
realizado com projetores voluntários no edifício da American Society for Psychical Research (ASPR),
em New York, em janeiro de 1973 (VIEIRA, 1986, p. 657).
58
VIEIRA, 1986, p. 657, grifo do autor.
59
VIEIRA apud POSE, 1984, p. 15.
80

No segundo semestre de 1979, Vieira escreveu o livro “Projeções da


Consciência”, tendo-o publicado em 1981, no Rio de Janeiro e em São Paulo, pela
Lake – Livraria Allan Kardec Editora 60 . Nesse livro-diário, Vieira 61 propôs pela
primeira vez o termo “Projeciologia” como estudo das “projeções da consciência” ou
“experiências fora do corpo”, ou popularmente chamada de “viagem astral”.
Esse livro foi a ponte de contato para chegada de voluntários, como por
exemplo, Moacir Gonçalves. De família católica, ele era o único espírita, e
desenvolveu o interesse pelo fenômeno da experiência fora do corpo, após passar
por essas vivências desde a infância. Ele tinha bronquite asmática e quando o ar
faltava, “eu encostava na cama, de repente eu apagava e eu saía projetado, me via
volitando no meio dos bambuzais, no meio do mato, na cidade, (...) quando eu
voltava aquilo melhorava, me aliviava, e eu dormia, melhorava e tal.”62
Era uma vivência recorrente. Moacir não conhecia Waldo, mas “já tinha lido
todos os livros do Waldo espírita, de André Luiz, (...), porque aquilo me chamava
atenção, porque tinha a ver comigo.” Até que um dia, andando no centro da cidade,
Moacir relata: “vejo uma livraria espírita, bem no centro da Praça da Sé,
pequenininha, eu entro lá dentro e vejo ‘Projeções da Consciência’, aquele livrinho
verde, (...) começo de 82, março, peguei o negócio, o livro, e comprei.”
Uma semana depois, Moacir comprou o jornal “Diário do ABC”, e nele,
encontrou sincronicamente63, “bem pequenininho assim: ‘Palestra com Doutor Waldo
Vieira na Avenida Cruzeiro do Sul, não lembro o número, perto da rodoviária’. Ah,
não deu outra! (...) Fui lá.” A palestra era aos domingos, uma vez por mês. Relata

60
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
61
VIEIRA, 1999, p. 81.
62
GONÇALVES, Moacir Lima. Entrevista concedida em 18/04/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
63
Sincronicidade está sendo usada nesse contexto a partir do entendimento do psicólogo analítico
Carl Jung (2014, p. 39, grifos do autor), ou seja, “um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou
indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com estado psíquico ordinário: é isto o
que chamo de sincronicidade, e sou da opinião que se trata exatamente da mesma categoria de
eventos” das percepções extrassensoriais (PES). Jung (2014, p. 44) apoia-se nos estudos da PES a
fim de compreender as sincronicidades, tendo mencionado que “os resultados dos experimentos ESP
(extra-sensory perception) e PK (psycho-kinesis) proporcionaram uma base estatística para avaliar o
fenômeno da sincronicidade e, ao mesmo tempo, apontam para o papel importante que o fator
psíquico aí desempenha.” (JUNG, Carl G. Sincronicidade. Tradução de Mateus Ramalho Rocha. 21.
Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014). Jung (1963, p. 264) cita em outro livro dele “Memórias, Sonhos,
Reflexões”, a comprovação científica que o pesquisador J. B. Rhine, da Duke University de Durham
(USA) de que o homem é dotado de percepção extrassensorial, mediante experiências com cartas.
(JUNG, Carl G. Memórias, sonhos, reflexões. Editadas por Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da
Silva. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1963).
81

suas primeiras impressões sobre o Waldo: “Fui, cheguei, e estava o Waldo, sem
barba, camisa de seda assim, normal, não tinha nada de branco, camisa de seda.”
Moacir retornou no segundo mês e no terceiro mês, conta com um misto de
alegria e surpresa que, por morar em São Bernardo do Campo nessa época, pegava
o ônibus e descia na rodoviária: “quando eu desço do ônibus, que eu estou
andando, olha quem vem em frente a rodoviária, Cris? Vem o Waldo”. Quando
estava próximo, “ele abriu os braços, (...), e deu aquele sorriso, (...), colocou a mão
nas minhas costas, e falou: ‘Você já almoçou hoje?’ E eu falei: ‘Não.’ (...) ‘Então
você é meu convidado para ir no bandejão na rodoviária.’ E fomos.”
Um tanto desconcertado, Moacir foi almoçar com Waldo. Chegando no
restaurante, mais um choque: “eu estava sem comer carne mais ou menos uns 5
anos, aquele negócio da materialização, porque eu tinha lido o livro Desobsessão;”64
e na hora de se servir, Waldo pegou almôndega. Surpreso, Moacir perguntou: “Você
come carne?’ Aí ele falou: ‘Agora você senta aqui.’ Ele sentou lá. Aí ele começou a
explicar o porquê da carne...”65
Após o almoço, seguiram da rodoviária até a Sociedade Ramatís de São
Paulo, que na ocasião ficava na avenida Cruzeiro do Sul, perto do metrô Santana.
Esse era o local onde ocorriam as palestras públicas gratuitas ministradas por
Waldo. Chegando lá, Waldo falou para Moacir: “Você vai sentar do meu lado na
mesa, na ponta da mesa, eu sento lá, e você senta do outro lado aqui da mesa.”
Nesse momento, Waldo apresentou Moacir para mais 3 voluntários que já
estavam frequentando as palestras: o Wagner Alegretti, o Henrique de Carvalho e o
Samuel de Souza. Daí, Waldo “começou a falar assim: ‘Esses quatro aqui!’ E toda
hora ele falava nos quatro, para mexer. E assim foi. Aí que eu passei a fazer parte
do grupo.”

64
O livro “Desobsessão” foi escrito por Waldo Vieira e Francisco Cândico Xavier, uma psicografia
pelo espírito de André Luiz, 1964. No capítulo 2, “Preparo para a reunião: alimentação”, encontra-se a
seguinte menção: “os amigos ainda necessitados do uso do fumo e da carne, do café e dos temperos
excitantes, estão convidados a lhes reduzirem o uso, durante o dia determinado para a reunião,
quando não lhes seja possível a abstenção total, compreendendo-se que a posição ideal será sempre
a do participante (...) sem quaisquer problemas alusivos à digestão.” (XAVIER, Francisco Cândido;
VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Psicografia por André Luiz. 22. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira, 2002, p. 25-26).
65
Importante observar que a opinião de Vieira sobre a questão da alimentação variou ao longo da
vida. No período espírita, parece que fazia restrição ao consumo de carne, em seguida, voltou a
comer carne. Nos últimos 15 anos de vida, escreveu sobre a dieta frutariana e “a dieta à base de
sementes, grãos, frutas, verduras e legumes (VIEIRA, Waldo. Léxico de Ortopensatas. 2. ed. rev. e
aum. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 639, grifos do autor).
82

Segundo Moacir, as palestras públicas no Ramatís davam de 120 a 200


pessoas. Assim, em São Paulo, ao que parece as palestras públicas gratuitas de
Waldo Vieira tiveram início em março de 1982, na Sociedade Ramatís ou como
também era chamado o local, Zanarotti, que era o nome do dono do local, José
Zanarotti. Depois, a Sociedade Ramatís mudou de endereço e foi para a rua Pedro
Cacunda, onde as atividades tiveram continuidade. De acordo com Moacir, que
conheceu Vieira “logo no comecinho” das suas atividades docentes, a palestra
pública dada por ele seguiu a seguinte sequência: “antes ele dava no Rio de Janeiro,
depois começou a dar em São Paulo, depois deu em Ribeirão, deu em alguns
lugares que alguém levou, em Minas, BH, deu em alguns lugares assim.”
Em 1982, em entrevista a “Revista Internacional de Espiritismo”66, Waldo Vieira
quando questionado sobre a divulgação de seus trabalhos, explicou que realizava
reuniões do Centro da Consciência Contínua “no Rio de Janeiro, à rua Moreira
Vasconcelos, n. 8, no Bairro da Penha, nos segundos e quartos sábados de cada
mês, às 14,30 horas.” E também em São Paulo, “na Av. Cruzeiro do Sul, 2.160,
Santana, Metrô Carandiru, junto à nova Rodoviária de S. Paulo, no primeiro domingo
de cada mês, às 15 horas.” A entrada era gratuita em ambos os locais. Eram
“mesas-redondas abertas, com a participação do público, em maratonas de 4, 5 ou
mais horas, onde se busca intensificar o somatório das ideias libertadoras das
consciências de todos os presentes.”
Em junho de 1983, Waldo Vieira começou a publicar uma coluna mensal no
“Jornal Espírita”, em São Paulo. A coluna chamava-se “Boletim de Projeciologia”,
alcançando 83 edições nos anos subsequentes, até 1990 67 . No entanto, essa
relação mais amistosa com alguns espíritas, não se manteve com todos. Nesse
mesmo ano, sob a ótica de Waldo Vieira68, “são publicados artigos apaixonados de
patrulheiros ideológicos espíritas, extremamente puristas, ortodoxos e sectários,
contra a Projeciologia”.
Esse clima de animosidade, levou Vieira69 a publicar, em agosto de 1983, no
jornal “Folha Espírita”, página 6, a “Carta Aberta aos Espíritas”, na qual apresentava
o seu posicionamento sobre a Projeciologia perante os “espíritas ortodoxos” do

66
ENTREVISTA, 1982, p. 296.
67
VIEIRA, 1994, p. 66.
68
VIEIRA, 1999, p. 81.
69
VIEIRA, 1999, p. 81.
83

movimento kardecista brasileiro. Essa controvérsia veio a atrair atenção maior para
as pesquisas da Projeciologia.
Em relação aos encontros dos pesquisadores, em setembro de 1984, em uma
entrevista, Vieira70 informa que eles se reuniam duas vezes por mês. Parece que ele
estava se referindo apenas aos encontros no Rio de Janeiro, pois conforme o relato
a seguir, havia no mínimo dois encontros no Rio de Janeiro.
Essa entrevista dada em setembro de 1984, para revista “Planeta”, foi o meio
pelo qual José Domingos Santos Neto ficou sabendo da existência da Projeciologia:
“Olha só, eu cheguei no Centro da Consciência Contínua, em 1984 [27 de outubro
de 1984, sábado]71. O professor Waldo não tinha barba. Comecei no apartamento
dele”, pois “eu estava tendo experiência fora do corpo, acordando fora da matéria, e
eu queria ter uma projeção de consciência contínua.”
Domingos complementa sua explicação: “Olha, eu me lembro que o que me
levou lá, além do processo que eu estava tendo experiência fora do corpo, foi
também a Ufologia.” Sobre o começo da participação no CCC, Domingos relata: “a
primeira vez que eu fui no apartamento dele, eu não pude entrar porque já estava
lotado, enchia de gente.” Explica que Waldo morava na rua Visconde de Pirajá, em
um apartamento no 14o. andar e, no 13o. andar ele dava as palestras. “A Lisa, a
esposa dele, falou: ‘Olha, sem ser esse sábado o outro, ele vai a São Paulo, e no
próximo ele vai estar no Rio, você chega cedo”. Foi isso que Domingos fez, “cheguei
cedo e aí continuei.”
Observa-se que a partir da publicação do livro “Projeções da Consciência”,
Vieira começou a intensificar a divulgação das suas ideias pela escrita, no meio
espírita e na mídia impressa, e por palestras gratuitas.

2.2.4 Palestras com experimentos parapsíquicos e o livro “Projeciologia”

As palestras públicas, com o passar do tempo, vão se enriquecendo, passando


a ter não apenas um caráter de debate, mas também de experimentação. Segundo
Domingos, as palestras públicas gratuitas que Vieira dava no apartamento dele no

70
VIEIRA apud POSE, 1984, p. 15.
71
SANTOS NETO, José Domingos. Entrevista concedida em 19/10/2018 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu. Acréscimo feito pelo entrevistado por ocasião da conferência do texto. Não consta da
gravação.
84

Rio de Janeiro, em 1984, eram “sábado sim, sábado não”. Em determinado


momento, essas palestras públicas sofreram um incremento.
Domingos relata o início das atividades com exercícios de parapsiquismo
realizados após a palestra: “o professor Waldo dava as palestras dele e um dia lá,
num sábado desses, falou assim: ‘Hoje recebi a orientação para fazer um negócio
diferente aqui’”. Já estava no final da palestra, com número reduzido de pessoas,
Vieira propôs um experimento: afastou as cadeiras, reduziu a iluminação e pediu
para Lisa: “Olha Lisa [apelido de Elisabeth, primeira esposa de Waldo Vieira], apaga
a luz; você, você e você ficam lá naquele quarto para doar energia, você aqui”.
Ele distribuiu as pessoas entre o ambiente em que estavam e no quarto ao
lado. Depois colocou duas cadeiras, uma de frente para outra, e pediu para uma das
pessoas sentar, para todos olharem ali e relaxarem para ver o que aparecia; “e
começou os trabalhos quase de dinâmica, tipo uma dinâmica, essas de
parapsiquismo [27 de abril de 1985, sábado, início dos experimentos de clarividência
facial no apartamento de Waldo Vieira] 72 .” Domingos conta que foi “ali que eu
desenvolvi muito o processo do parapsiquismo.”
Essa segunda parte prática nas palestras públicas com exercícios
parapsíquicos, clarividência facial e incorporação, também começou a ocorrer em
São Paulo. Segundo Moacir, primeiro no endereço da avenida Cruzeiro do Sul,
depois na rua Pedro Cacunda. Sobre a data de início, afirma: “foi mais pro final,
antes de formar o Instituto. Em 86 já tinha, então, foi antes de 86, talvez em 86, mais
ou menos assim.” O Waldo “convidava uma meia dúzia de pessoas, umas dez
pessoas, mais ou menos assim que era do grupo, nós 4, mais umas outras,” e fazia
um trabalho de energização dos chacras73.
No entanto, essas reuniões de experimentação parapsíquica em São Paulo
não eram realizadas apenas no endereço da Sociedade Ramatís, “nós fizemos
reunião na casa do Wagner, muitas reuniões na casa do Wagner Alegretti, e uma na
casa do Samuel, e uma em Campinas, na casa do Henrique de Carvalho, ...”

72
Acréscimo feito pelo entrevistado por ocasião da conferência do texto. Não consta da gravação.
73
Chacras são “núcleos ou campos limitadores de energia que constituem basicamente o holochacra,
veículo de energia, dentro do corpo humano, fazendo a junção deste com o psicossoma [carne sutil
da alma para Pitágoras; carro sutil da alma para Platão; corpo astral ou corpo das emoções para os
Tibetanos; perispírito para Allan Kardec; segundo corpo para Parapsicologia], atuando como pontos
de conexão pelos quais a força flui de um veículo da consciência para outro (VIEIRA, 1999, p. 282 e
299).
85

Sobre essas reuniões há livros de registro. Durante a entrevista com o


voluntário Alexander Steiner74, ele apresentou um livro de registro das reuniões de
experimentos parapsíquicos de São Paulo nos seus arquivos em casa. Autorizou
que eu o fotografasse. Nesse livro, consta na primeira folha pautada um cabeçalho:
“Reunião Experimental N. 10 – S. Paulo, Local: Rua Dr. Henrique Meyer, 484 apto. 4
(res. Wagner)”, em seguida possui 12 nomes de participantes com respectivas
assinaturas, dentre elas a do Moacir Lima Gonçalves, e a data de 01 de fevereiro
1987.
Se essa era a 10ª. reunião ocorrida na residência de Wagner Alegretti, e se
Waldo Vieira ia uma vez ao mês para lá, a 1ª. reunião nessa residência ocorreu
provavelmente em maio de 1986, caso não tenha ocorrido nenhuma interrupção.
Isso sugere que os encontros de experimentação bioenergética e parapsíquica em
São Paulo começaram a ocorrer aproximadamente 1 ano depois desse mesmo tipo
de experimentos no Rio de Janeiro.
Por sua vez, no Rio de Janeiro, em 1986, Alexander Steiner75 esclarece que
existiam duas reuniões semanais, uma na quarta-feira e outra no sábado. Na quarta-
feira, era para a realização de experimentos parapsíquicos, com um grupo fechado
de cerca de 16 pessoas que frequentavam assiduamente estas reuniões.
Existiam formulários a serem preenchidos, os quais Alexander forneceu cópias
durante a entrevista. Um deles consistia em uma planilha para colocar os dados
referentes ao local, data, tempo de duração, temperatura, umidade, condição
meteorológica externa, nomes dos participantes com respectivo “status” dele
(observador, sentado relaxado, deitado relaxado), além da temperatura, peso,
pressão arterial e frequência cardíaca medidos no início e no final do experimento. O
outro era intitulado “Mapa Demarcador e Identificador” com um desenho do corpo
humano no qual se deveria assinalar os locais no corpo de sensibilidade
exteriorizada, ou onde o campo energético pessoal foi ampliado.
Nessa época, existia um experimento, no qual durante o tempo do transe
parapsíquico76 que Waldo Vieira entrava, ele realizava uma energização em uma

74
STEINER, Alexander Miraglia. Entrevista concedida em 29/03/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
75
STEINER, Alexander Miraglia. Entrevista concedida em 29/03/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
76
Transe parapsíquico é o estado psicofisiológico, ou alterado da mente, com as seguintes
características: redução da lucidez, suspensão da atividade voluntária e dissociação da consciência
86

“bandeja com uma cúpula, para evitar efeito de vento, ou outra coisa, e dentro dessa
cúpula, na verdade, era tipo uma quejeira de plástico, coberto, e dentro ficavam 3
bússolas, soro destilado, água destilada e soro fisiológico.”
O que acontecia é que “muitas vezes as bússolas mexiam com a energização,
ninguém tocava, tinha essa cúpula para evitar [dizer] que foi vento que mexeu na
bússola, etc”. E também a energização do soro, cujo líquido energizado e não-
energizado eram observados no microscópio: se “observava, aí os cristais do cloreto
de sódio, eles se reorganizavam de forma diferente do soro fisiológico que não tinha
sido energizado.”
Aos sábados, eram as palestras públicas que davam “umas 60 pessoas que
iam no apartamento dele e algumas iam embora e não ficavam para parte prática.”
Cerca de metade das pessoas ficavam para a parte prática, e “pelo menos umas 20
pessoas que eram chamadas ali para serem assistidas.”
As palestras se iniciavam “uma e meia da tarde, uma, uma e meia, ia até três
horas, aí de três horas às três e meia era um descanso.” Nesse período do intervalo,
a sala onde Waldo dava a palestra que estava com cadeiras, era reorganizada “em
colchonetes para os participantes do grupo de quarta-feira, para que eles pudessem
sentar. E as outras pessoas que estavam para serem energizadas ficavam de pé.”
Lembrando que nessa época, Waldo morava em Ipanema e ele tinha um
apartamento duplex, e as reuniões ocorriam no andar de baixo. Essa segunda etapa
da reunião, “que era a parte prática, era um campo parapsíquico onde ele entrava
em transe parapsíquico, e fazia energização das pessoas que se dispunham a tal.”
As pessoas eram encaminhadas até um banquinho, sentavam de frente para
ele e eram energizadas. “E os participantes do grupo fechado ficavam sentados
nesses colchonetes, de frente para a cadeira, e ali [ficavam] testando clarividência,
alguns deitavam e procuravam se projetar também, perceber o campo, perceber a
equipe extrafísica77, ...”
No fim da parte prática, Waldo conversava e explicava um pouco o que tinha
acontecido, dentro da percepção dele, trocando informações acerca de percepções

que se torna passiva à manifestação de outra consciência através do emprego dos seus veículos de
manifestação consciencial (VIEIRA, 1999, p. 804).
77
Equipe extrafísica é composta de consciências extrafísicas amparadoras, ou seja, pessoas já
falecidas que se manifestam em dimensões mais sutis que esta em que nos encontramos e são
dotadas de um senso ético elevado.
87

com os participantes também. “E ali era até umas cinco e meia. Eram umas duas
horas de campo, de assistência...”
Alexander Steiner chegou nas palestras de Waldo Vieira através da mãe, que
já estava frequentando os encontros de quarta-feira e de sábado desde fevereiro de
1986. Ela por sua vez, tomou conhecimento do livro “Projeciologia”78, que Waldo
havia lançado em 31 de janeiro de 198679, por meio de uma amiga. Eles haviam feito
um curso chamado Silva Mind Control, o Método de Controle Mental, que ensinava
um pouco o trabalho com as energias. “Nesse curso, a gente acabou conhecendo a
Pia, que tem o mesmo sobrenome, Pia Steiner, apesar de não ser parente; mas lá
no Rio de Janeiro, dois Steiners chamou a atenção e daí acabamos ficando amigos
da Pia.”
Isso foi em 1983, o tempo passou, e por volta da virada do ano de 85 para 86,
a Pia ligou para a mãe do Alexander: “Olha, conheci uma pessoa séria, está
lançando um livro e ele me perguntou se tinha alguém que valeria dar o livro de
presente e eu queria dar para você.” Assim, ela começou a frequentar as palestras
sobre Projeciologia. “E a minha mãe foi na palestra, gostou, e se interessou pela
abordagem do Waldo, e me chamou também para ir. Daí quando foi em abril, eu fui,
em abril de 86.”
Alexander frequentava as reuniões de quarta-feira e as palestras de sábado.
Além disso, passou a voluntariar diretamente com Waldo Vieira, nas terças e quintas
à tarde, Alexander conta que o voluntariado dele era o empacotamento do livro
“Projeciologia” para ser enviado pelos correios aos interessados, “era um livro de
distribuição gratuita e ele então recebia muitas cartas pedindo o livro e ele também
tinha interesse de distribuir para uma série de bibliotecas no mundo afora e para
pesquisadores também.”
Explica que era uma verdadeira linha de montagem: “Tinha que primeiro
colocar o livro dentro de um saco plástico, aí tinha um papelão corrugado que
enrolava, aí tinha o papel pardo que enrolava e tinha que cortar do tamanho, tudo
certinho,...” Alexander não fazia a tarefa sozinho: “eu e o Claudio Paredes, nós dois

78
Foram impressos 5.000 exemplares dessa primeira edição do livro “Projeciologia”, tendo sido
distribuídos gratuitamente para amigos, amigos dos amigos, bem como em palestras e em bibliotecas
públicas brasileiras e de diversos países (VIEIRA, 1999, p. 81). No livro “Projeciologia”, Vieira (1986,
p. 15) afirma que essa nova ciência “antes mesmo de estar adstrita às manifestações da
Parapsicologia”, estaria “estruturalmente vinculada, em definitivo, ao campo vasto da
Conscienciologia”.
79
VIEIRA, 1999, p. 81.
88

que mais trabalhamos com isso daí. E ele obviamente e a Lisa [primeira esposa de
Vieira], na época, também...” Além do empacotamento dos livros, Alexander também
ajudava na “ficha técnica dos livros, catalogação... então tudo isso a gente fazia.”
Sobre esse período de convivência mais próxima com Waldo, Alexander
menciona vários aprendizados e situações que testemunhou e que lhe fizeram parar
para pensar. Uma delas foi quando Waldo chamou em sua casa um especialista
para fazer avaliação de sua coleção de selos da Varig e pediu para Alexander estar
junto. “O cara entra na casa assim: ‘Tem um cinzeiro?’ Aí o Waldo: ‘Sim’. [risos]. Na
hora: ‘Tenho, espera aí.’ Foi lá, catou lá, nas coisas lá. ‘Está aqui’. Um atrás do
outro80.”
Alexander conta sua surpresa: “Então, assim, para quem não conhece o
Waldo, iria falar assim... Não tinha noção o quanto ele era regrado com essas
coisas, e ele abriu mão: ‘Quer fumar aqui dentro? Fuma.” Alexander explica a
postura do Waldo: “Você está avaliando um negócio para mim? O que é que você
precisa? No que eu posso te ajudar, sabe?” Alexander traz para reflexão: “essa
forma de trabalhar, de ser duro com os conceitos, com algumas ideias, mas ao
mesmo tempo, em função do momento, do contexto, saber flexibilizar, ...”, finaliza
dizendo: “Essas situações sempre me fizeram pensar; coisas que eu quero aprender
mais. É difícil isso daí, saber esse contexto, não é?”
Em suma, esse período evidencia o incentivo de Vieira à vivência do
parapsiquismo pelos voluntários e interessados a partir de aulas e exercícios
bioenergéticos, no contexto da publicação do livro “Projeciologia”.

2.2.5 Transição institucional: do CCC ao IIP

A divulgação do novo livro atraiu mais pessoas, levando a necessidade de


fazer mudanças operacionais e institucionais. A rotina de voluntariado do Alexander
durou “até a fundação do Instituto. Ele [Waldo] terminou um pouquinho antes [com
as palestras em seu apartamento] porque começou a ter problema no condomínio. O
síndico começou a implicar porque era muita gente subindo...” No sábado, eram 60
pessoas subindo e descendo nos dois elevadores do prédio residencial. “E aí

80
O entrevistado fez o gesto imitando a pessoa fumando um cigarro atrás do outro.
89

chegou uma hora, que ele [Waldo] chegou e falou assim: “Olha, não dá mais para
fazer aqui não.”
As atividades passaram a ocorrer em outros endereços: na rua Pio Correia, no
Humaitá, “naquele colégio que fica na esquina, quase entrando no túnel”, depois “foi
lá para o Leblon, que foi o Edifício Cidade do Leblon, que foi onde teve a fundação
do Instituto. Também tinham as atividades lá, aos sábados. Aí foi para lá. Aí já
fundou o Instituto...”, mas antes da fundação da segunda instituição, algumas
reuniões de preparação para criação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP)
ocorreram no bairro da Tijuca, “o George [Kropotoff] tinha uma sala na Tijuca que ele
cedeu para fazer as atividades lá também”. Esse momento ficou registrado em
imagem, conforme pode-se observar a seguir, na figura 03.

Figura 03 – Fotografia da reunião de preparação da fundação do IIP realizada na


sala de George Kropotoff na praça Saens Peña, Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), no
final de 1987

Fonte: Arquivo fotográfico de José Domingos Santos Neto.


90

Nessa fotografia, é possível identificar os voluntários do Centro da Consciência


Contínua (CCC) daquela ocasião. Seguindo de trás para frente e da esquerda para
direita, encontram-se na fileira em pé: Basílio Baranoff (de São José dos Campos), o
casal Regina e Júlio Dias (de São Pedro D’Aldeia – RJ), casal de São Pedro
D’Aldeia (RJ), José Coelho de Sousa (RJ), Marina Thomaz (RJ), Drauzio Milagres
(RJ), Osmar (RJ), George B. Kropotoff (RJ), casal de São Pedro D’Aldeia (RJ).
Continuando, na fileira sentada: Carlos Cunha (RJ), senhor não identificado,
Ricardo Ferraro (RJ), Tânia Ferraro (RJ), Rosália Monteiro (RJ), Cristiane Ferraro
(RJ), Cláudio Paredes (RJ) e Sílvia V. Barros (de Santos - SP).
Na fileira seguinte, Moacir Lima Gonçalves (de São Paulo), Samuel de Souza
(de São Paulo), Wagner D. Borges (RJ), Anna Paola Steinhauser (RJ), Danielle
Razigade (RJ), Fernando D’Aragona (RJ) e Ana Maria Steinhauser (RJ) sentada no
banco; e na fileira de frente, Cláudia (RJ), Wagner Alegretti (de São Paulo) e o casal
Waldo Vieira e Elisabeth Wernsdorf (RJ).
Alguns nomes e sobrenomes foram identificados com a ajuda de Domingos e
de Alexander. Interessante observar os trajes despojados das pessoas na foto, típico
de moradores cariocas, devido ao calor frequente do Rio de Janeiro.
Na imagem fotográfica, o grupo está fazendo pose para um fotógrafo oficial,
tanto que o olhar da grande maioria dos presentes está direcionado mais para
direita, para um fotógrafo que não era o Domingos. Ele explica: “Eu fazia essas
fotografias com sentido até pessoal meu, (...) tanto que quando eu tirava as fotos,
normalmente, o pessoal sempre estava olhando para o fotógrafo principal [riso].”
Domingos manifesta o motivo de realizar essas fotografias: “quando eu tiro
uma foto, eu tiro com um intuito. De quê? De tirar um registro meu, registrar o
pessoal todo ali, e o processo todo, aquilo cria um quadro dentro do processo
mnemômico meu, que jamais eu vou esquecer”. Continua explicando seus motivos:
“serve também de resgate, de ponte, para as pessoas que estão todas envolvidas
ali, serve de link de assistência, de melhoria, de a gente fazer um rapport, de um
equilíbrio. De um processo todo ali que a gente está vivenciando.” Veja que para
Domingos, mais importante do que participar da foto, era registrar aquela vivência na
sua memória por meio da fotografia.
A transição do Centro da Consciência Contínua (CCC) para o Instituto
Internacional de Projeciologia (IIP) era necessária, pois, segundo o próprio Waldo
91

Vieira 81 , “o Centro era algo do meu bolso, tudo eu financiava. E não queríamos
continuar com isso.”
Domingos recorda-se que nessa ocasião, Waldo “falou assim: ‘Agora vamos
sair um pouco mais, não vou ser mais paternalista.” Domingos exemplifica uma das
ações paternalistas de Waldo dessa época: o “Waldo comprava (...) livros na casa
de sebo. Aí eu chegava para assistir as palestras no 13o. andar, estavam os livros,
alguns livros empilhados na entrada: ‘Ó gente, passa aí e pode pegar um.” Eram
livros sobre o tema da projeção consciente, por exemplo, do Emanuel
Swedenborg82. Domingos traz a seguinte recordação sobre isso: “Eu me lembro uma
vez que estava aquele livro azul parado ali, ele comprou e deu para cada pessoa 3
livros daquele, (...) Não é fácil! ‘Olha, na página tal, tal, o cara fala isso aí.”
Sugerindo que as pessoas lessem e estudassem os livros.
83
Essa iniciativa de doação de livros também era feita com o livro
“Projeciologia”, lançado em 1986. Sobre isso, Moacir compartilha suas memórias
quando a Sociedade Ramatís mudou de endereço para rua Pedro Cacunda: “foi em
Pedro Cacunda que o Waldo criou... editou o “Projeciologia”, em 86. Lá que ele
editou. Nós distribuímos, eu ajudei a distribuir em São Paulo”. Moacir conta que ele
e os demais voluntários doavam os livros: “demos para todo mundo; quem chegava
na palestra recebia um “Projeciologia”, em São Paulo.
Depois disso, “teve um dia que a gente foi (...) na Federação Espírita de São
Paulo.” Waldo foi a convite da Federação Espírita dar uma palestra sobre o livro
“Projeciologia”. Moacir lembra que “colocamos um monte de livros. Sentou na mesa:
eu, Wagner, Henrique e o Waldo. Aí de vez em quando o Waldo falava assim: ‘Ó,
você aí!’ Apontava para uma pessoa no meio lá. Chamava a pessoa e dava um livro
para a pessoa [riso].”
Segundo Domingos, a proposta de fundar o IIP era fazer “uma instituição séria
mesmo, de pesquisa, que tem os próprios recursos.” Já Alexander sintetiza esse

81
VIEIRA apud AFONSO; ARAIA, 1996, p. 16.
82
Emanuel Swedenborg (1688–1772): foi um filósofo, teólogo e vidente sueco considerado o
precursor da Projeciologia, pois deixou vários volumes com registros de suas experiências fora do
corpo, especialmente o livro “Diarii Spiritualis” (5 volumes), no qual narra suas vivências
extracorpóreas, de 1745 até 1765 (VIEIRA, 1999, p. 61).
83
A doação de livros era um hábito de Vieira. No período em que ele viveu no CEAEC, em Foz do
Iguaçu, a partir do ano 2000, costumava doar livros seus e de outros autores quando recebia
visitantes no Holociclo. No entanto, nessa fase, já não desembolsava dinheiro seu. Foi criada uma
editora para publicar os livros da Conscienciologia que fornecia alguns exemplares para ele doar a
quem quisesse. Essa informação tem como fonte a experiência da autora como voluntária do
Holociclo.
92

período do CCC do seguinte modo: “O Centro da Consciência Contínua foi um


primeiro grupo organizado de desenvolvimento das ideias que levaram ao que é a
Conscienciologia hoje.” Ele também chama atenção para a diferença do CCC para o
IIP: “diferentemente das instituições hoje conscienciocêntricas, o que o IIP foi a
primeira (...), no Centro de Consciência Contínua tudo quem bancava era o Waldo.”
A transição institucional acompanhou a transição de endereços, Domingos
comenta “se não me falha a memória, ele [Waldo] chegou dar [cursos] pouco tempo
ali na Ataulfo de Paiva 135, do Centro da Consciência Contínua, logo em seguida
virou o IIP.”
O IIP foi fundado em janeiro de 1988, assim, ao que parece, o final do ano de
1986 e o ano de 1987 foram marcados pelas atividades em vários endereços no Rio
de Janeiro: rua Ataulfo de Paiva 135 no bairro Leblon; rua Pio Corrêa, 40 no
Humaitá; praça Saens Peña, 33, sala 302 na Tijuca, de acordo com Domingos
Santos.
Conforme visto, o CCC era uma extensão da casa do Waldo. Possibilitou a
formação de um grupo de estudiosos interessados e comprometidos em pesquisar a
“experiência fora do corpo”, que variava de 20 a 40 pessoas, oportunizando dar
início a uma segunda instituição, mais profissional, a terceira e última vertente das
raízes comunitárias a ser apresentada nesse capítulo.

2.3 Instituto Internacional de Projeciologia (IIP) / e Conscienciologia (IIPC)84

Nesse tópico, será apresentada a segunda instituição criada por Vieira e


colaboradores, além da expansão tanto do trabalho voluntário quanto das ideias a
nível nacional e internacional. Está dividido em 4 subtópicos: 2.3.1 Fundação do IIP
e aspectos estatutários; 2.3.2 Expansão das atividades docentes; 2.3.3
Sistematização das atividades de pesquisa; 2.3.4 O livro “700 Experimentos da
Conscienciologia” e seus efeitos.

2.3.1 Fundação do IIP e aspectos estatutários

84
Nesse momento, em 1988, a instituição foi fundada como IIP. Em 1996, o nome passou a ser IIPC,
devido à sistematização da Conscienciologia ter ocorrido em 1994 por meio do tratado “700
Experimentos da Conscienciologia”.
93

A fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP) ocorreu no dia 16 de


janeiro de 1988, na rua Ataulfo de Paiva, 135, no último andar, no bairro Leblon, no
Rio de Janeiro. A sede do IIP passou a funcionar no mesmo endereço do Centro da
Consciência Contínua, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Sobre sua natureza jurídica 85 , o IIP é uma “entidade sem fins lucrativos,
científica, cultural, educacional, apolítica e universalista” 86 . São 4 objetivos, aqui
resumidos: I) pesquisar, divulgar e estimular investigações científicas de fenômenos
físicos e parapsíquicos próprios das manifestações da consciência; II) tratar da
integração da Projeciologia com as demais ciências; III) Promover eventos tais como
palestras, cursos, seminários e outros, para difusão cultural da Projeciologia; IV)
Editar apostilas, revistas, livros, fitas cassetes e vídeos87.
O quadro social do IIP incluía 3 tipos de sócios, “admitidos pela Diretoria sem
qualquer distinção de raça, côr, sexo, nacionalidade, credo politico ou religioso”: a)
sócios contribuintes, aqueles que contribuiriam com uma mensalidade reiterada,
deveriam ser pessoa física maiores de 18 anos, e a proposta de admissão deveria
ser acolhida pela Diretoria; b) sócios honorários, são aqueles que contribuíram
substancialmente para a realização dos objetivos sociais do Instituto, podendo ser
pessoa física ou jurídica, cabendo ao Conselho Deliberativo conferir esse título; c)
sócios beneméritos, aqueles que prestaram relevantes serviços relacionados aos
objetivos sociais, cabendo ao Conselho Deliberativo conceder esse título somente à
pessoa física88.
A estrutura organizacional do IIP na ocasião da sua fundação era formada pela
Diretoria composta de 4 membros representantes do poder executivo e o Conselho
Deliberativo, composto de 15 membros representantes do poder decisório89.
A Diretoria era constituída pelo Presidente, Diretor Administrativo, Diretor do
Planejamento e Pesquisa Técnico-Científica, além do Diretor Econômico-Financeiro.

85
Importante mencionar que o Estatuto social é documento jurídico fruto do somatório de ideias dos
colaboradores que se reuniam para planejar como seria a estrutura organizacional, os objetivos e o
funcionamento do IIP. A construção coletiva do Estatuto Social do IIP de 1988 foi realizada na sala de
George Kropotoff, na Tijuca, ao modo da registrada na fotografia exposta na figura 03.
86
ESTATUTO do Instituto Internacional de Projeciologia, de 16 jan. 1988, p. 1. 6 p. Este documento
possui o selo do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro. Porém, por ser uma cópia,
os números estão falhados. Também agradeço o acesso a esse documento à voluntária Cristina
Arakaki. A menção do nome foi autorizada pela informante.
87
ESTATUTO, 1988, p. 1.
88
ESTATUTO, 1988, p. 2.
89
ESTATUTO, 1988, p. 3-4.
94

A Diretoria se reuniria semestralmente em reunião ordinária e extraordinariamente,


sempre que necessário90.
O Conselho Deliberativo era responsável por traçar as diretrizes básicas do
Instituto, composto por 12 membros, sendo considerados membros natos aqueles
que firmaram o Estatuto na condição de fundadores do IIP e 3 membros eleitos pelo
próprio Conselho, sendo dirigido por um Presidente e um Secretário, que não
integrassem a Diretoria em exercício, eleitos pelos pares. O Conselho reuniria-se
ordinariamente em janeiro e extraordinariamente, sempre que convocado por 2/3 de
seus membros ativos ou por solicitação do presidente da Diretoria91.
Os membros do Conselho Deliberativo e da Diretoria não recebiam honorários
ou remunerações, nem vantagens pecuniárias pelo exercício de suas funções92.
Um parágrafo do Estatuto de fundação do IIP 93 chama atenção por tentar
delimitar, a partir de então, a ruptura com Espiritismo: “Artigo 19 – O Instituto, no
exercício de suas atividades, não poderá fazer uso em hipótese alguma, de rituais
místicos, estabelecer dogmas que caracterizem segmentos religiosos ou
doutrinários, depondo contra os princípios científicos.”
Esse momento ficou registrado em imagem, conforme se observa na figura 04.

Figura 04 – Fotografia da fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP),


no Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), em 16 de janeiro de 1988

90
ESTATUTO, 1988, p. 3-4.
91
ESTATUTO, 1988, p. 3-4.
92
ESTATUTO, 1988, p. 3-4.
93
ESTATUTO, 1988, p. 6.
95

Fonte: fotografia de Geysa Adnet (arquivo pessoal de Alexander Steiner).

Após a entrevista fornecida, o informante Alexander Steiner descobriu em sua


casa negativos antigos os quais me emprestou e autorizou a revelação. Essa foi
uma das 74 fotos reveladas dos negativos encontrados.
Nessa fotografia é possível identificar algumas pessoas presentes: na plateia,
de frente para Waldo Vieira, de blusa listrada é o Alexander Steiner ao lado da sua
mãe, Marilza Andrade; na fileira da frente deles, mais próximo à mesa, Moacir Lima
Gonçalves e Danielle Razigade; na fileira de lado e atrás, encontram-se Drauzio
Milagres e Cristiane Ferraro; na fileira de lado próximo à mesa, Samuel de Souza e
Pia Steiner; ao lado de Waldo Vieira, na mesa, de perfil, Sílvia Barros, Claudio
Paredes e Antônio Carlos.
A fundação do IIP ocorreu no Edifício Cidade do Leblon, em plena zona sul
carioca, no último andar. O ambiente parecia estar em manutenção, a partir dos
sinais do tapume e das manchas de infiltração visíveis no teto. Tais problemas foram
citados por Domingos quando se referia ao endereço no Leblon: “Você se lembra
aquele andar com teto (...) todo mofado, lembra?” Então, apesar da fundação do IIP
96

ser na zona sul do Rio de Janeiro, o espaço onde se realizou sinaliza informalidade,
despojamento e simplicidade.
Depois da fundação do IIP, mais endereços: “antes de ir para Glória, o Instituto
ficou em Botafogo”94. Alexander mudou-se para Belo Horizonte em 1988, e quando
retornou para o Rio de Janeiro em 1990 ou 1991, lembra que o IIP “já estava lá na
Glória.”
A partir do IIP, a divulgação da Projeciologia aumentou, havia mais
“colaboradores”, como eram chamados os voluntários na época. Além do Rio de
Janeiro e São Paulo, as atividades docentes de Waldo Vieira expandiram para mais
cidades, com maior regularidade.
Apesar de que ainda na época do CCC, de 1981 a 1987, conforme visto,
Waldo Vieira chegou a dar palestras em várias cidades. Além do Rio de Janeiro e
São Paulo, foi à Ribeirão Preto e Belo Horizonte. Encontrei referência de atividade
docente ainda da época do CCC também em Brasília (I Seminário de Projeciologia
de Brasília, em 12 a 16 de junho de 1987, registrado em um folheto feito por Basílio
Baranoff) e em Campinas (I Simpósio Brasileiro de Consciência Contínua – SBCC,
em 12 e 13 de dezembro de 1987, realizado no centro de convenções da
Universidade de Campinas – UNICAMP, com 142 participantes)95. O Estatuto do IIP
foi uma construção coletiva pelos colaboradores, já indicando a força de trabalho
envolvida, o que iria caminhar para ampliação de todas as atividades voluntárias,
sejam administrativas, docentes ou da pesquisa.

2.3.2 Expansão das Atividades Docentes

Um exemplo dessa expansão das atividades docentes, agora não apenas


realizadas pelo propositor da Projeciologia, mas por voluntários-professores do IIP
foi em São José dos Campos (SJC), em São Paulo. Segundo Marco Antonio
Pizarro96, ocorreram palestras públicas gratuitas e cursos nos anos de 1988, 1989 e
1991 em São José dos Campos.
Pizarro tomou contato com o tema por intermédio de um colega de mestrado,
Henrique M. B. de Carvalho, em 1983. “Começamos a conversar sobre assuntos

94
STEINER, Alexander Miraglia. Entrevista concedida em 29/03/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
95
VIEIRA, 1999, p. 81 e 82.
96
PIZARRO, Marco Antonio. Entrevista concedida em 23/05/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do Iguaçu.
97

ligados ao espiritismo e depois com o passar do tempo, durante aquele trimestre, ele
começou a falar sobre a Projeciologia e do Centro de Consciência Contínua”.
Pizarro comenta que naquela época “não se falava em Conscienciologia,
falava-se em Projeciologia que foi a primeira abordagem, a primeira especialidade
da Conscienciologia que foi dado enfoque pelo professor Waldo Vieira”.
Em 1988, Pizarro conheceu Basílio Baranoff ou “capitão Baranoff”, da
Aeronáutica. “Eu fiquei conhecendo-o e ele foi várias vezes para São Paulo.
Encontrou com Waldo lá e foi para o Rio de Janeiro, até que ele conseguiu, em 88,
trazer o professor Waldo para São José dos Campos e ficou lá uma semana com a
gente.” Pizarro conta que Vieira “fez palestra no auditório principal do ITA [Instituto
Tecnológico da Aeronáutica]97, que lotou praticamente o auditório (...), mais de 500
pessoas, mais ou menos, (...) ele também deu palestra no Instituto de Proteção ao
Voo (...) e no INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]”.
Em 198998, “ele teve dando palestras lá no ITA. Ele ficou mais restrito ao ITA e
quem levou ele essa vez de novo lá foi o Baranoff. Ele não só deu palestra como ele
também deu o curso “Avançado”99, dos P1, P2, P3, P4”. Pizarro explica que um
professor do IIP esteve lá ministrando as aulas do P1 (Projeciologia 1) ao P4
(Projeciologia 4) e que “tinha uma turma para se formar e aí o Waldo esteve lá em
89 e a turma se formou.” A formatura era o curso “Avançado” com Vieira. Desse
curso, Pizarro não participou porque teve que viajar para ver a família.
Em 1991, Vieira voltou a SJC “para dar o curso ‘Avançado’ de novo. Esse
curso ‘Avançado’ eu fiz, a minha dupla100 fez, e eu acho que foi 91 [05 e 06 de
101
outubro de 1991] . As atividades pedagógicas em SJC continuaram com

97
Sobre tal palestra pública no auditório do ITA, foi encontrado um cartaz no Holociclo, departamento
do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia, em Foz do Iguaçu, PR. A data da palestra gratuita
foi 19 de maio de 1988, 5ª. feira, às 20h, e o tema foi “A projeção consciente e a pesquisa espacial”.
98
Em 1989, Waldo Vieira chegou a publicar um artigo no “Jornal A Cova”, dos acadêmicos do ITA.
Tal referência consta da bibliografia do livro “700 Experimentos da Conscienciologia”: “VIEIRA,
Waldo; Pílulas do Conscienciograma; A COVA: O JORNAL DOS ALUNOS DO ITA; São José dos
Campos, SP; Brasil; Indeterminado; CASD; No. 12; Outubro, 1989; Seção: “Coluna da Projeciologia”;
1 ilus.; p. 2, 4, 12.” (VIEIRA, 1994, p. 928).
99
Há registro da data desse curso “Avançado” no house-organ ou jornal interno denominado “BIPRO
– Boletim de Projeciologia”, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 2, p. 1-4, set. 1989. O curso ocorreu nos dias 24
e 25 de junho de 1989 no ITA, tendo se formado 35 participantes (BIPRO, 1989, p. 2).
100
O entrevistado faz referência ao conceito de dupla evolutiva, a reunião de duas consciências
“afins, maduras e lúcidas, com interação positiva entre si, com objetivo de potencializar a planificação
de suas performances evolutivas, através de convívio produtivo, integral e constante” (VIEIRA,
Waldo. Manual da Dupla Evolutiva. Rio de Janeiro: IIPC, 1997a, p. 11).
101
Acréscimo da data feito pelo entrevistado por ocasião da conferência do texto. Não consta da
gravação. O entrevistado também passou os seguintes dados: esse curso “Avançado” ocorreu no
Prédio Saul Vieira, rua 9 de julho, 211, em São José dos Campos.
98

professores do IIP, mas este curso foi o último que Vieira ministrou lá. Pizarro conta
que “a última vez que encontrei o professor Waldo foi em São Paulo, de novo,
fazendo o curso “Avançado” [21 e 22 de novembro de 1992]102. Eu fiz. Eu e a minha
esposa. Foi em São Paulo lá no primeiro local do Instituto”, tinham em torno de 100
pessoas.
A grade ou o currículo pedagógico do IIP nessa época era composta de 4
módulos (P1, P2, P3 e P4) com 4 aulas cada módulo, culminando no último módulo,
o “Avançado”, dado por Waldo Vieira.
Segundo Moacir Gonçalves, a origem dessa grade foi em São Paulo: “antes de
88. No próprio Zanarotti [Sociedade Ramatís de SP], a gente já dava, ia lá, se fazia
um monte de placa: Aula 1.” Como foi essa história? “A gente foi dar aula, o que é
que aconteceu? (...) eu fui em Santos, fui de ônibus com o... Vasco e a... Silvia.
Pegar todo o material que tinha de curso que ela dava e trazer para cá. Fui lá umas
2 ou 3 vezes.” Moacir conta que trouxe o material para São Paulo e levou para os “4”
trabalharem nas aulas: “dividimos o [livro] “Projeciologia” em 4: primeira parte ficou
comigo, segunda parte ficou com o rapaz, o Nilo, a terceira parte, técnica projetiva
ficou com o Wagner e a quarta parte que era mentalsoma ficou com Samuel.” Assim,
“eu dava a aula 1, o menino dava a aula 2, o Wagner dava aula de técnica projetiva
e o Samuel, mentalsomática.”
De acordo com Moacir, depois da fundação do IIP, “o Samuel pegou aquelas 4
aulas, e das 4 aulas criou o P1, P2 e P3 e (...) P4, e mandou para o Rio de Janeiro,
que viraram as aulas. Mas o inicial mesmo, começou ali, com a gente.” Moacir
comenta que “ninguém sabe disso” e que nesse mesmo período, “no Rio de Janeiro,
já tinha o 1 e o Avançado, (...) o Básico e o Avançado.”
De acordo com Alexander Steiner, essa grade pedagógica organizada foi fruto
da mudança institucional do Centro da Consciência Contínua para Instituto
Internacional de Projeciologia. “A principal diferença com a fundação do IIP é que
primeiro era o engajamento das pessoas, antes tudo, todo mundo dependia muito do
Waldo, porque era tudo na casa dele; então ele dava o tom 100% das coisas”. Com
a fundação do IIP, isso havia mudado, a nova instituição “não era para depender do
dinheiro dele, era para se manter por conta das aulas, das atividades, que
estivessem desenvolvendo.”

102
Acréscimo da data feito pelo entrevistado por ocasião da conferência do texto. Não consta da
gravação.
99

Nesse novo cenário, os cursos começaram a acontecer, “na época começou a


acontecer P1, P2, primeiro era o ‘Básico’, tinha o ‘Básico’ e o ‘Avançado’, o ‘Básico’
eram os professores que iam sendo formados, e o ‘Avançado’ era o Waldo que
dava.” O crescimento das atividades pedagógicas seguiu o seguinte ordenamento:
“do ‘Básico’ começou o P1, P2, P3 e P4. E aí depois fazia o ‘Avançado’. Aí depois
entrou o ECP1103 e o ECP2104. Isso eu já estou falando, o ECP1 já foi em 1991 que
começou e o ECP2 acho que foi em 1992”.
Assim, para Alexander “a grade das atividades do Instituto foi aumentando e se
complexificando também (...). Então isso fez com que mais pessoas tivessem que
realmente se compromissar de: ‘Olha, vou voluntariar tal dia, tal horário, e vai ser
assim”. Isso, então, “foi fazendo com que o Instituto crescesse e que as coisas se
desenvolvessem, e deixou então de ser só na dependência do professor Waldo e
alguns outros que às vezes iam para ajudá-lo”.
Ao mesmo tempo, “o Instituto começou a ter sede fora do Rio de Janeiro: então
começou a ter lá em São Paulo, em Curitiba. A primeira sede oficial do Instituto não
foi no Rio, foi em São Paulo.” Alexander estava se referindo ao primeiro CNPJ –
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. Além disso, revela que “o primeiro cadastro
do Instituto começou lá por São Paulo, o banco de dados do Instituto.” Esse
cadastro continha os registros de todos os alunos e instituições que já haviam feito
alguma palestra gratuita ou curso no IIP.
São José dos Campos foi uma localidade citada para dar um exemplo, mas
assim como esse caso, existiram outros municípios atendidos, pois já havia

103
O curso “Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 1” foi criado em 1991 e realizado a
primeira vez em janeiro de 1992, no Rio de Janeiro (BALONA, Málu. Curso de Extensão em
Conscienciologia e Projeciologia 1 (ECP1). BIPRO, Rio de Janeiro, v. 5, n. 11, p. 11, abr. 1998). O
curso P4 (Projeciologia 4) era pré-requisito para fazer o ECP1. E o ECP1 era pré-requisito para fazer
o ECP2, último curso da grade curricular. O ECP1 visava uma auto-avaliação dos traços de
personalidade e o planejamento de mudanças na vida a fim de aperfeiçoar traços que estivessem
dificultando a auto-realização de metas pessoais dos alunos.
104
O curso “Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 2” foi realizado pela primeira vez em
março de 1993, no Rio de Janeiro. Ministrado por vários anos somente por Waldo Vieira. Passou a
ser realizado no Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC) em Foz do Iguaçu, a partir de
1996 (BALONA, Málu. Curso de Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 2 (ECP2). BIPRO, Rio
de Janeiro, v. 5, n. 11, p. 11, abr. 1998). O ECP2 objetivava uma imersão em campo bioenergético
instalado pelo professor responsável a fim de promover um equilíbrio das energias dos alunos e bem-
estar físico, energético, emocional e mental. Tanto o ECP1 quanto o ECP2 são considerados “cursos
de imersão” porque a turma de alunos entra junto com os professores em um hotel na sexta-feira à
tarde e saem no domingo à tarde. São 2 dias de reflexão, com trabalhos de escrita, debates, aulas e
exercícios de bioenergias.
100

professores itinerantes que iam ministrar os cursos básicos pelo Brasil afora. A
estruturação da grade pedagógica possibilitou maior divulgação.

2.3.3 Sistematização das atividades de pesquisa

Paralelamente ao desenvolvimento da área pedagógica, a área da pesquisa


também ganhou força. Dentre uma série de eventos organizados, um dentre eles
possui um diferencial: o I Congresso Brasileiro de Projeciologia (I CONBPRO)105,
realizado entre 30 de maio e 02 de junho de 1991106, em Brasília. Nessa ocasião,
Waldo Vieira apresentou a técnica da “inversão existencial” (invéxis) já mencionada
anteriormente, a qual ele havia aplicado na vida dele e que pode ser sintetizada na
ideia de inverter o padrão usual da sociedade, em que as pessoas em geral,
somente após se aposentarem começam a fazer assistência aos outros. Ou seja, a
proposta é começar desde a juventude a ajudar as pessoas com aulas, escritos,
debates e energias (com ênfase no esclarecimento). Tal exposição motivou os
jovens voluntários da época a formar um grupo de pesquisa na área.
Em 09 de fevereiro de 1992, teve início o primeiro grupo de pesquisa do IIP. O
nome era inicialmente GPC – Grupo de Pesquisas Conscienciais, expressão que
passou a ser usada para todas as categorias de grupos de pesquisa da instituição, e
esse primeiro grupo passou a se chamar Grinvex – Grupo de Inversores
Existenciais, em outubro de 1992.
Em dezembro do mesmo ano, a diretoria do IIP propôs a organização de 7
áreas de pesquisa: GPC – Grupon (Grupo de Pesquisa de Ponta); GPC – Socin
(Sociedade Intrafísica) Conscienciológica; GPC – Consciencioterapia (terapia
através das ideias da Projeciologia e posteriormente Conscienciologia); GPC –
Grecex (Grupo de Reciclantes Existenciais, técnica de vida para aqueles que
tivessem mais de 26 anos de idade); GPC – Grinvex (Grupo de Inversores
Existenciais, técnica de vida para aqueles que tivessem menos de 26 anos de

105
Fonte: VIAGEM extracorpórea é tema de congresso no DF. Correio Braziliense, Brasília, p. 5, 1
jun. 1991.
106
Encontrei uma nota no Informativo do CEAEC / Informativo da Cooperativa dos Colaboradores do
IIPC, Foz do Iguaçu, ano 3, n. 29, dez. 1997, informando que “desde 1991, o IIPC é reconhecido
como escola pela International Parapsychology Abstract, uma das mais respeitadas instituições de
parapsicologia do mundo.” E ainda cita que o reconhecimento foi devido ao I Congresso Internacional
de Projeciologia, realizado em 4 a 7 de junho de 1990, no Rio de Janeiro. Este evento ocorreu 1 ano
antes do I CONBPRO, em Brasília. Observa-se a preocupação dos projeciólogos em afirmar sua
posição pública vinculada à Parapsicologia, nesse momento.
101

idade); GPC – Grinfo (Grupo de Informática aplicada à Projeciologia) e; PI –


Pesquisa Independente107.
Em 1991 e 1992, segundo Alexander Steiner, “o Instituto na época já tinha
espalhado para várias cidades, então era Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre,
Brasília, Belo Horizonte.” Havia “colaboradores” em todos esses locais. No entanto,
alguns começaram a mudar de residência rumo à sede-matriz do IIP no Rio de
Janeiro. “Aí nessa época, veio em 91, a Mariângela, pós-congresso de Brasília108,
naquele período do congresso, chegou a Mariângela, chegou a Graça.”
Porém, tal movimento não foi somente na direção do Rio, “também começou a
partir desse período, 92, 93, sei lá, 94, em função de abrir novas unidades, de
alguns professores saírem do Rio de Janeiro ou outras cidades para irem para
outras unidades, por exemplo, Málu em Buenos Aires.” Alexander explica que nesse
caso e “no caso da Eliana [também foi para Buenos Aires], elas foram como
empregadas, então não foi algo simplesmente motivacional.” Diferente do caso das
pessoas que foram para o Rio, “como a Mariângela, chegou como voluntária porque
estava querendo desenvolver. A Vassiliki é outra que, nesse período, também foi
para o Rio de Janeiro, em 91.”
Essa mobilização dos colaboradores foi em um crescendo com a criação de
novas frentes de atividades voluntárias. Além da área administrativa e pedagógica,
surgiu o setor de pesquisa, alocando os colaboradores de acordo com suas
motivações e interesses.

107
RAZERA, Graça. FERRARO, Tânia. Apresentação. In: _____. Catálogo de Pesquisas do IIPC. Rio
de Janeiro: IIPC, 1998, p. 11 e 12. A partir do 11º. Congraçamento do IIPC, em 11 a 13/12/1998,
foram adotados novos critérios para participação nos GPCs. Professores e colaboradores ativos do
IIPC podiam ingressas livremente nos grupos de pesquisa. Os alunos poderiam ingressar desde que
tivessem cursado no mínimo o P4 (estágio 4 do Curso Regular de Projeciologia) e só poderiam
permanecer no GPC se ele se tornasse colaborador do IIPC em um prazo de 6 meses. O objetivo era
“aumentar o vínculo consciencial dos pesquisadores do IIPC com o próprio Instituto” e com as ideias
da Conscienciologia (NOVOS critérios de participação. Informativo “CPQ Notícias” – Centro de
Pesquisas Conscienciológicas, departamento da diretoria técnico-científica, Rio de Janeiro, ano 4, n.
8, p. 1, maio 1999). O “vínculo consciencial” é aquele buscado deliberadamente pela pessoa
interessada a fim de prestar serviços voluntários nas instituições conscienciocêntricas, por exemplo o
IIP. Esse vínculo consciencial se opõe ao vinculo empregatício, mais comum na nossa sociedade, a
partir de um trabalho assalariado (VIEIRA, 1994, p. 318).
108
O informante está fazendo referência ao I Congresso Brasileiro de Projeciologia (I CONBPRO),
realizado em Brasília, DF, nos dias 30 de maio a 02 de junho de 1991.
102

2.3.4 O livro “700 Experimentos da Conscienciologia” e seus efeitos

Em 1994, Waldo Vieira lançou o tratado “700 Experimentos da


Conscienciologia”, onde sistematiza a proposta da ciência da consciência, a
Conscienciologia, que havia sido mencionada no livro “Projeciologia”.
Esse tratado estava fundamentado em um outro livro que Waldo viria a lançar
em maio de 1996, o “Conscienciograma”. Este consiste em um teste de auto-
avaliação da maturidade pessoal, um inventário da personalidade a partir da
mensuração da maturidade em relação à dez variáveis: 1) corpo humano; 2)
energias; 3) emoções e 4) discernimento; além da auto-avaliação perante aos
atributos pessoais da 5) liderança; 6) comunicabilidade; 7) priorização; 8) coerência;
9) consciencialidade e; 10) universalidade. O teste contém 2.000 questões
distribuídas em 100 folhas de avaliação, cada uma com 20 questões, para as quais
a própria pessoa se dá uma nota.
O “700 Experimentos da Conscienciologia” 109 é uma obra com 1.058 páginas,
sendo as suas 40 seções correspondentes a 40 qualidades da personalidade
humana e as 100 sub-seções fundamentadas nas 2.000 variáveis de auto-avaliação
a partir do “conscienciograma”.110
Nessa obra “700 Experimentos da Conscienciologia”, Vieira 111 inseriu uma
página ao final, contendo a divulgação institucional. Nela constam, por exemplo, as
seguintes informações: o IIP possuía 4 tipos de estruturas organizacionais: 1) sede-
matriz, no Rio de Janeiro; 2) filiadas, em São Paulo, Curitiba, Recife e São Bernardo
do Campo; 3) núcleos, em 16 cidades, tais como Belo Horizonte, Brasília, Buenos
Aires, entre outras; e 4) pré-núcleos, em 19 cidades brasileiras, tais como Aracaju,
Foz do Iguaçu, Novo Hamburgo, Ribeirão Preto, entre outras.
No seu organograma, são mencionados 59 órgãos, sendo toda essa estrutura
burocrático-administrativa gerida por 424 pessoas nas funções de pesquisadores,
professores e colaboradores. Nessa época, conforme já mencionado, não se
utilizava o termo “voluntário”, mas “colaborador”. Havia 26 grupos de pesquisa,
divididos nas 6 categorias já citadas (excluindo a pesquisa independente).

109
O lançamento desse livro ficou registrado em matéria da revista Planeta. Fonte: GRAZIANO,
Romero. Estratégia Evolutiva no Salto da Consciência. Planeta, São Paulo, p. 27 a 32, jul. 1994.
110
VIEIRA, 1994, p. 7 e 9.
111
VIEIRA, 1994, p. 1.060.
103

Entre os números, também constam 58.350 pessoas e/ou instituições


cadastradas em seu banco de dados; 91 cidades atendidas, sendo 8 internacionais;
também já existiam 46 tipos de cursos diferentes; participação em 47 eventos.
Observa-se um crescimento do trabalho voluntário e da divulgação das ideias em
relação ao existente no Centro de Consciência Contínua.
A mudança de nome de Instituto Internacional de Projeciologia (IIP) para
Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC) ocorreu em 30 de
maio de 1996, data da Assembleia aprovando o novo nome da instituição no
Estatuto modificado112. Conforme visto, o acréscimo “Conscienciologia” se deu em
função da sistematização da proposta da Conscienciologia como ciência no livro
“700 Experimentos da Conscienciologia” (1994).
No mesmo ano, em 1996, a sede-matriz mudou do bairro da Glória (rua Santo
Amaro, 4 – 3º. andar) para Ipanema (rua Visconde de Pirajá, 572 – 6º. andar)113. Tal
mudança parece ter sido motivada pela insegurança pública vivida por alunos e
colaboradores no bairro da Glória114. Essa mudança também pode ser observada a
partir das publicações: no livro “Conscienciograma: técnica de avaliação da
consciência integral”, lançado em maio/96, o endereço do IIP é na Glória, enquanto
que o novo endereço consta da folha de rosto do livro “100 Testes da
Conscienciometria”, de autoria de Waldo Vieira, em 1997.
É interessante notar que alguns voluntários, na mudança de bairro da sede do
IIP, acompanharam o processo e também mudaram de residência. Segundo
Alexander, “nesse período da Glória, as pessoas dentro do Rio de Janeiro, (...) teve
muita gente que foi morar próximo a Glória. E quando a sede foi para Ipanema, as
pessoas também migraram115 para Copacabana, Ipanema, Leblon.” Acrescenta que
o mesmo processo ocorreu quando a sede do IIP foi para o “Downtown”116, “teve
gente que foi para Barra também.” Para Alexander, o objetivo dessas mudanças
residenciais era “facilitar estar próximo ao Instituto, a sede, rapidinho estar lá”.

112
ESTATUTO do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, de 30 maio 1996. 8 p.
Este documento possui o selo do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, sob n. de
ordem 628.152, do protocolo do livro A n. 54, registrado sob n. de ordem de 162.433, do livro A n. 39,
de 25 set. 1997.
113
Tanto a mudança no nome da instituição quanto a de endereço encontram-se registradas no
house-organ do IIPC chamado “BIPRO – Boletim do IIPC”, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 7, p. 6, dez.
1996, na mesma nota chamada “Nova BASECON [base conscienciológica] da Sede Matriz”.
114
GUIA, Sheila dos Mares. Projeciologia e Conscienciologia: multidimensionalidade e espiritualidade
na formação de um paradigma existencial. Rio de Janeiro: Sotese, 2006, p. 86.
115
O entrevistado utilizou o termo “migração” como mudança dentro da própria cidade.
116
Condomínio empresarial na Barra da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro.
104

Ele volta a citar nomes de voluntários que mudaram para o Rio de Janeiro: “aí
nesse período de Ipanema, quem que veio de fora? A Ana Luiza, (...), a Mabel foi
para o Rio de Janeiro também, depois foi lá para Espanha, teve Nova Iorque que a
Mabel e o Flávio foram para lá...” Continua lembrando de mais nomes: “o Ricardo
Caprário, o João, e aí teve muita gente que acabou vindo, começou a atrair muita
gente, já no período da “Glória” mesmo. O João chegou na Glória.”
Todo esse crescimento no número de voluntários tanto na área pedagógica
quanto na de pesquisa, parece ser fruto de uma socialização interna crescente.
Conforme observa D’Andrea 117 , “é importante notar que muitas das atividades
realizadas no IIPC têm sido direcionadas a seus próprios membros. São ‘reuniões’
frequentes, ‘encontros’ específicos e dinâmicas de grupo” em uma quantidade além
das necessidades organizacionais.
118
D’Andrea complementa essa nota: “ainda que seja uma organização
societal, voltada para finalidades e objetivos externos (societas), o IIPC apresenta
um forte traço comunalista (de associação), visando à criação de uma solidariedade
interna, específica e consistente (comunitas)”.
Esse capítulo iniciou com a trajetória biográfica de Waldo Vieira e suas
inquietações em torno de fazer pesquisa sobre o fenômeno da experiência fora do
corpo (EFC) ou projeção da consciência (PC). Vieira acabou por fundar o Centro da
Consciência Contínua a fim de aprofundar as investigações sobre esse fenômeno,
mas ainda fortemente conectado com os laços espíritas e de caráter paternalista.
Essa primeira experiência serviu de balão de ensaio para a fundação de uma
segunda instituição, mais profissional, o Instituto Internacional de Projeciologia. Com
a divulgação dos livros e cursos, o número de colaboradores ampliou, gerando maior
interação entre os próprios colaboradores. Essa necessidade de passar mais tempo
juntos parece estar na raiz do surgimento de um endereço próprio dos voluntários do
IIPC, assunto do próximo capítulo.

117
D’ANDREA, Anthony A. F. O self perfeito e a nova era: individualismo e reflexividade em
religiosidade pós-tradicionais. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 166.
118
D’ANDREA, 2000, p. 167.
105

2.4 Considerações do capítulo

Até aqui deixei todo espaço para as narrativas. Este é o momento que
dedicarei a revisar o que já foi dito, tecendo algumas hipóteses e fazendo análises.
O assunto não irá se esgotar nesse tópico, outros elementos serão incorporados
capítulo a capítulo, permitindo um aprofundamento gradual da densidade
compreensiva acerca da comunidade conscienciológica.
Essa seção ficou dividida em: 2.4.1 Memórias; 2.4.2 Modo de contato com a
Conscienciologia; 2.4.3 Motivação para conhecer a Conscienciologia; 2.4.4
Colaboração no CCC; 2.4.5 Liderança de Waldo Vieira; 2.4.6 Imagens; 2.4.7
Terceiro setor; e 2.4.8 “Migração” dos colaboradores.

2.4.1 Memórias

A reconstrução dos fatos contados a partir das vivências dos participantes


chama atenção para alguns aspectos a serem discutidos. O primeiro deles é a
memória dos informantes sobre a personalidade de Waldo Vieira. Enfatizam
características físicas, tais como sem barba, roupa “normal”, nada de branco. A esse
respeito, é importante mencionar que Waldo criou o que ele chamava de “tipo”: “eu
criei um tipo, mas foi tudo estudado com técnicos em Hollywood. Então, isso de ter
barba branca, roupa branca, foi tudo de caso pensado. Porque com isso, a pessoa
me vê uma vez e não esquece mais de mim, porque sou diferente.”119.
Tal estudo em Hollywood foi realizado em 1966 durante o período de viagens
aos EUA. Em algum momento entre setembro/outubro de 1984 e início de 1986,
Vieira tomou a decisão de deixar a barba crescer e passar a se vestir somente de
branco, pois na revista Planeta120, número 144, de setembro de 1984, ele aparece
em uma fotografia sem barba e usando roupas com cor. E em outubro de 84,
Domingos Santos o conheceu ainda sem barba. A partir de 1986, tais aspectos não
são mencionados pelo informante Alexander Steiner, pois ele já conheceu Vieira
com seu novo “tipo”, que pode ser visto na figura 03, de final de 1987. A fim de
corroborar tal condição, quando eu conheci Waldo Vieira em 12 de julho de 1986,

119
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 35.
120
VIEIRA apud POSE, 1984, p. 11.
106

ele tinha barba e usava somente roupa branca, em geral bermuda, devido ao calor
carioca.
Alexander, que teve uma convivência mais próxima com Vieira nessa época, já
traz recordações a respeito do comportamento dele, como o citado “jogo de cintura”
em saber quando ser duro em posicionamentos pessoais e quando ser flexível
dependendo do contexto.
Outra memória a ser destacada é sobre a alimentação de Vieira. Moacir, o
nosso informante mais antigo, relatou sua surpresa ao vê-lo comendo carne, quando
o conheceu em 1982. Essa situação se encaixa no conceito de dissonância
cognitiva, proposto por Leon Festinger, no âmbito da Psicologia Social. “Uma
situação é dissonante para uma pessoa quando sua expectativa é violada”121.
A magnitude da dissonância pode ser considerada alta nesse caso, uma vez
que Moacir seguia as orientações espíritas de não comer carne, conforme o livro do
próprio Vieira na fase espírita. As explicações dadas em seguida por Vieira atuaram
modificando as cognições existentes, o que leva à redução da dissonância, o “novo
conteúdo faz com que se tornem menos contraditórias entre si, ou sua importância é
diminuída”122.
Um último aspecto a ser mencionado envolvendo o tópico das memórias é que
eu apareço nas narrativas sendo citada pelos informantes e nas imagens, assim é
pertinente dizer que a minha escrita foi influenciada pelas minhas memórias
também.

2.4.2 Modo de Contato com a Conscienciologia

Sobre o modo como os informantes tiveram contato com a Conscienciologia e


o intervalo de tempo entre ter o primeiro contato e se tornar voluntário, observam-se
4 situações diferentes: 1) Moacir ficou sabendo da palestra por meio de nota em
jornal, tendo encontrado o livro “Projeções da Consciência” dias antes; 2) Domingos
tomou conhecimento por meio de matéria da revista “Planeta”; 3) Alexander foi
convidado pela mãe, que por sua vez recebeu o livro “Projeciologia” de uma amiga;
e 4) Marco Antonio, por meio de um amigo do mestrado e posteriormente por um
conhecido da Aeronáutica.

121
RODRIGUES, Aroldo. Psicologia social. 12. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988, p. 157.
122
RODRIGUES, 1988, p. 155.
107

Jornal, revista, familiar e amigo, cada um de um jeito, no entanto o que há em


comum entre esses 4 informantes? Todos estavam buscando aprender mais sobre
temas os quais já tinham vivências e/ou interesse. Moacir (que era espírita) e
Domingos relataram já terem tido experiências fora do corpo, Alexander já havia
frequentado curso sobre o controle da mente, Marco Antonio era espírita.
Inclusive Marco relata que levou um tempo entre tomar conhecimento da
Projeciologia e se tornar colaborador: “naquela época eu frequentava centro espírita
e aquelas conversas às vezes também davam nó na minha cabeça, sabe, porque
era uma nova abordagem, (...) uma nova explicação para o mesmo fenômeno, sem
conotação religiosa.” Na visão dele, “embora o primeiro livro, o “Projeciologia” de 86,
ainda tenha alguns termos usados em Centro Espírita, depois foi renovando,
renovando e a coisa mudou completamente, se desligou, cortou o vínculo, cordão
umbilical.” O próprio Waldo Vieira comenta em entrevista que escreveu o livro
“Projeciologia” “para mostrar aquilo que era além do espiritismo”123.
O caso dos 4 informantes ilustra os resultados encontrados no questionário
aplicado na comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu, ou seja, entre aqueles
que migraram para Foz do Iguaçu pelo motivo da Conscienciologia.
Na questão “De que modo você tomou contato com a Conscienciologia?”, os
principais modos de contato foram amigos (40,3%), familiares (30,8%) e cartaz na
rua (10,8%). Nota-se a rede de contatos de amigos e familiares sendo o principal
meio de divulgação da Conscienciologia, responsável, juntos, por 71,1% dos meios
de acesso às ideias conscienciológicas (Tabela 01).

123
VIEIRA apud KOJUNSKI, 2014, p. 37.
108

TABELA 01 – MODO DE CONTATO COM A CONSCIENCIOLOGIA PELOS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Modo de contato Amigos 145 (40,3)
com a Familiares 111 (30,8)
Conscienciologia Cartaz na rua 39 (10,8)
Jornal ou revista 22 (6,1)
Internet 14 (3,9)
Televisão 5 (1,4)
Livro 6 (1,7)
Direto em Foz do Iguaçu 0 (0,0)
Outros (indefinido) 10 (2,7)
Outro: folder, panfleto ou folheto 6 (1,7)
Outro: Rádio 2 (0,6)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Já na pergunta “Qual o intervalo de tempo entre ter o primeiro contato e se


tornar voluntário da Conscienciologia (seja de instituição ou outro organismo
conscienciológico)?”, o dado mais alto foi entre 1 a 5 anos com 116 respostas
(32,2%). No entanto, somados os resultados das 4 primeiras categorias, ou seja,
“Nenhum, me tornei voluntário(a) em seguida ao primeiro contato” com 28 respostas
(7,8%), “Até 3 meses” com 30 respostas (8,3%), “Entre 3 e 6 meses” com 38
respostas (10,6%) e “Entre 6 meses e 1 ano” com 83 respostas (23,1%), resultam
em 179 respostas ou 49,8% do total. Isso significa que praticamente metade dos
participantes tornaram-se voluntários em até 1 ano após conhecerem as ideias da
Conscienciologia (Tabela 02).
109

TABELA 02 – INTERVALO DE TEMPO ENTRE O PRIMEIRO CONTATO E


SE TORNAR VOLUNTÁRIO PELOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU
– JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Intervalo de tempo Nenhum, me tornei voluntário(a) em 28 (7,8)
entre ter o primeiro seguida ao primeiro contato
contato e se Até 3 meses 30 (8,3)
tornar voluntário da Entre 3 e 6 meses 38 (10,6)
Conscienciologia Entre 6 meses e 1 ano 83 (23,1)
Entre 1 a 5 anos 116 (32,2)
Entre 6 a 10 anos 43 (11,9)
Entre 11 a 15 anos 12 (3,3)
Ente 16 a 20 anos 5 (1,4)
Entre 21 a 25 anos 1 (0,3)
Entre 26 a 30 anos 0 (0,0)
Entre 31 a 35 anos 1 (0,3)
Entre 36 a 40 anos 0 (0,0)
Não sou voluntário(a) 3 (0,8)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Os informantes Moacir, Domingos e Alexander iniciaram o voluntariado no


Centro da Consciência Contínua em seguida ao primeiro contato, de modo imediato,
enquanto que Marco Antonio iniciou por volta de 5 anos depois de ter tido o primeiro
contato. O “nó na cabeça” relatado por Marco também pode ser interpretado como
uma dissonância cognitiva.
Segundo a teoria de Festinger, “nós procuramos um estado de harmonia em
nossas cognições”124. Cognição é entendida como conhecimento, opinião ou crença
sobre o ambiente, a própria pessoa ou acerca de seu comportamento. No caso, um
mesmo fenômeno, a experiência fora do corpo, chamado de “desdobramento” no
espiritismo, explicado por uma nova abordagem, sem conotação religiosa como
Marco disse, pela Projeciologia.
Tal contexto gera uma reflexão: será que nas estatísticas da tabela acima,
aquelas pessoas que levaram 5 anos ou mais para se tornarem voluntárias,
passaram por dissonância cognitiva em uma intensidade maior? Quais cognições
elas tinham a respeito do fenômeno da experiência fora do corpo?

124
RODRIGUES, 1988, p. 154.
110

Considerando que essas pessoas se tornaram voluntárias posteriormente, que


“a dissonância cognitiva é um estado desagradável” 125 e que a “intensidade da
dissonância cognitiva varia de acordo com a importância das cognições em relação
dissonante umas com as outras, e o número relativo de cognições que estão em
relação dissonante”126, supõe-se que essas pessoas demoraram mais para diminuir
a dissonância, por motivos desconhecidos. Essa é uma hipótese a ser investigada,
sendo uma dentre várias outras possibilidades explicativas.
No caso das pessoas que não se tornaram voluntárias, não é preciso
consideração, uma vez que a abordagem da Projeciologia não lhes trouxe interesse
a ponto de aprofundarem o vínculo.

2.4.3 Motivação para conhecer a Conscienciologia

Sobre a motivação na decisão de conhecer a Conscienciologia, conforme visto


no tópico anterior, Moacir e Domingos haviam passado pela vivência do fenômeno
da experiência fora do corpo e fazem parte do grupo que respondeu maior peso para
a segunda motivação listada na tabela abaixo (“Experiência pessoal de fenômeno
parapsíquico”). Alexander parece ter sido movido pela “curiosidade sobre as ideias
da Conscienciologia” ao mesmo tempo “afinidade com as ideias da
Conscienciologia” pelo fato de o convite ter vindo pela sua mãe. E Marco, em função
de seus antecedentes espíritas, parece ter sido motivado pelos mesmos motivos que
Alexander. As histórias relatadas pelos 4 explicitam a realidade retratada dos 360
respondentes do questionário.
Na questão “Assinale o grau de importância ou o peso para cada motivação
listada a seguir na sua decisão de conhecer a Conscienciologia”, dentre as
alternativas de respostas apresentadas ao participante, a resposta com “motivação
extrema” mais alta foi “afinidade com as ideias da Conscienciologia” (60,8%) seguida
de “muita motivação” por “curiosidade sobre as ideias da Conscienciologia” (52,5%)
(Tabela 03).

125
RODRIGUES, 1988, p. 155.
126
RODRIGUES, 1988, p. 155.
111

TABELA 03 – MOTIVAÇÃO NA DECISÃO DE CONHECER A


CONSCIENCIOLOGIA PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Motivação Nenhuma Pouca Mediana Muita Extrema
para Curiosidade sobre 10 12 38 189 111
conhecer a as ideias da (2,8) (3,3) (10,6) (52,5) (30,8)
Conscienci- Conscienciologia
ologia Experiência 27 51 89 104 89
pessoal de (7,5) (14,2) (24,7) (28,9) (24,7)
fenômeno
parapsíquico
Morte de um 267 49 23 12 9
parente e/ou (74,2) (13,6) (6,4) (3,3) (2,5)
amigo
Busca de um 39 29 69 123 100
sentido de vida (10,8) (8,1) (19,2) (34,2) (27,8)

Parente já ser 285 15 25 24 11


voluntário(a) (79,2) (4,2) (6,9) (6,7) (3,1)

Amigo(a) já ser 262 37 26 23 12


voluntário(a) (72,8) (10,3) (7,2) (6,4) (3,3)

Afinidade com as 10 4 22 105 219


ideias da (2,8) (1,1) (6,1) (29,2) (60,8)
Conscienciologia
Outro 35 5 15 34 42
(26,7) (3,8) (11,5) (26,0) (32,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: 360 respondentes por linha, excetuando o item “Outro” que apresentou 131
respostas (36,4%).

2.4.4 Colaboração no CCC

Sobre o tipo de cooperação, colaboração ou voluntariado prestado pelos 4


informantes na época do Centro da Consciência Contínua, nota-se uma condição
ainda informal.
Moacir começou a “voluntariar”, a convite de Waldo Vieira, ficando sentado na
mesa no dia das palestras públicas, o que inicialmente reflete mais um apoio moral,
psicológico ou mesmo “energético” à Vieira. Moacir relatou que posteriormente
ajudou a distribuir o livro “Projeciologia” em palestras públicas e também ajudava
112

nos dias de reuniões com experimentos de energia: “Eu ia lá punha as almofadas na


poltrona para o Waldo, arrumava tudo, e fazia isso.”
Domingos começou a fazer o registro fotográfico dos eventos da Projeciologia
por iniciativa própria. Alexander teve uma tarefa mais sistematizada como voluntário,
embalando os exemplares do “Projeciologia” para serem enviados pelos correios. E
Marco relata o seguinte: “Então todas essas visitas que tiveram, eu participei como
colaborador na divulgação. Eu pegava e fixava os cartazes, espalhava pelo INPE,
espalhava pela cidade, pela Univap [Universidade do Vale do Paraíba]”. Com a
fundação do IIP e organização da área pedagógica e de pesquisa, os serviços
prestados pelos voluntários também foram se profissionalizando e complexificando.

2.4.5 Liderança de Waldo Vieira

A liderança de Waldo Vieira aparece nas várias fontes de pesquisa: nos


documentos, nas narrativas e nas imagens.
Nos documentos, há os que falam dele e de suas ações e há os que ele
mesmo produziu seja pelos seus escritos seja pelas suas palavras registradas em
entrevistas.
Nas narrativas, sua presença é forte, especialmente nas primeiras impressões,
contudo não somente nesse momento inicial, mas nos seguintes, de convivência
mais próxima.
Nas fotografias, selecionei quatro que retratam o período vivido, sendo que em
3 se observa a atenção dos voluntários direcionada para a pessoa de Waldo Vieira,
nas figuras 01 e 04, quando sua liderança foi marcante e decisiva para formação do
grupo de voluntários, primeiro no CCC, e posteriormente, no IIP/IIPC.
Na figura 03, os olhares não estão voltados para ele, mas ele encontra-se no
centro. Na figura 02, Vieira compartilha a liderança com Chico na viagem, no entanto
a iniciativa de realizar a turnê partiu de Vieira. A princípio, Vieira iria viajar sozinho
para realizar estudos médicos, “interessando-se particularmente pelas aplicações
psiquiátricas da parapsicologia”. No entanto, recebeu orientações espirituais para
que Chico o acompanhasse. “Uma voz mais alta se alevanta – disse-nos Waldo,
sorrindo – e de agora em diante a ‘minha viagem’ se transforma na ‘nossa
113

viagem”. 127 Assim, ao menos, parte da viagem de 1966 tomou um caráter de


intercâmbio com os norte-americanos espíritas.
De algum modo, pode-se falar em uma ego-memória ou uma auto-memória,
que até certo ponto, é fruto de uma construção consciente por parte do próprio
Waldo Vieira quando decidiu criar um “tipo” para ser diferente e ter uma imagem
“inesquecível”.

2.4.6 Imagens

“A fotografia comunica através de mensagens não verbais, cujo signo


constitutivo é a imagem.” Assim, a produção da imagem é um trabalho humano de
comunicação, pautando-se em “em códigos convencionalizados socialmente,
possuindo um caráter conotativo que remete às formas de ser e agir do contexto no
qual estão inseridas como mensagens.”128
Partindo desse entendimento, a leitura realizada das fotos foi feita a partir das
categorias espaciais propostas por Mauad 129 , ou seja, o espaço fotográfico, o
espaço geográfico, o espaço de objetos, o espaço de figuração e o espaço de
vivências, conforme explicadas no capítulo 1. A série fotográfica foi composta por 4
imagens, tendo como tema as raízes da comunidade conscienciológica. Uma análise
de cada imagem será apresentada a seguir, entre as subdivisões 2.4.6.1 a 2.4.6.4, e
ao final, do conjunto das fotos, em 2.4.6.5.

2.4.6.1 Figura 01 – Visita de Waldo Vieira (no centro) com voluntários da


Conscienciologia à sua casa em Uberaba (MG), em 1997

Quanto ao espaço fotográfico, o recorte espacial é uma exposição pública de


lembranças de Waldo Vieira aos voluntários na frente da casa onde ele morou em
Uberaba, no Estado de Minas Gerais, no período que trabalhou no espiritismo. A
imagem foi produzida por fotógrafa amadora, no caso, esta autora, o tamanho é 10 x

127
CHICO, 1965, p. 6.
128
MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro,
vol. 1, n. 2, 1996, p. 12. Disponível em: https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-
BR&as_sdt=0%2C5&q=Mauad% 2C+Ana+Maria+revista+Tempo&oq=Ana+Mar. Acesso em: ago.
2019.
129
MAUAD, 1996, p. 13-14.
114

15 cm, o ano da imagem é 1997, é colorida, enquadrada no sentido horizontal e


centralizada, com foco nítido, com boa iluminação.
O espaço geográfico representado na fotografia é de uma das ruas da cidade
de Uberaba, ou seja, em um espaço externo e público.
Quanto ao espaço dos objetos, é possível observar uma filmadora, registrando
as histórias contadas por Waldo Vieira vividas entre sua casa, sua clínica gratuita e
o centro espírita no período em torno de 1958 a 1966. Também aparecem as bolsas
dos voluntários com seus pertences pessoais penduradas no ombro, indicando a
condição transitória do contexto.
O espaço de figuração é composto por adultos, mulheres e homens, que se
encontram com o corpo e os olhares voltados para Waldo Vieira, que tanto relata
suas recordações naquele local e tempo definidos, quanto responde perguntas dos
voluntários, a qual a imagem parece captar justamente um desses momentos ao
qual Vieira olha atentamente para uma senhora localizada próxima a ele.
Esse evento, ou espaço de vivência, foi um fragmento de uma excursão
biográfica130 em Uberaba em 1997. Tal imagem fotográfica pode ser considerada
uma “fotografia-flashback”, termo proposto neste estudo, partindo da premissa que
“toda imagem é histórica”131, pois essa foto retrata um evento cujas circunstâncias
era “fazer história da história”. A autora da fotografia flagrou um instante, sem
chamar atenção dos participantes para cena constituída.

130
Nessa ocasião, ele foi acompanhado por um grupo de voluntários da Conscienciologia nas visitas
aos vários locais da sua trajetória biográfica em Uberaba e em Monte Carmelo. Os locais visitados
em 1997 foram a Universidade de Uberaba (Uniube), a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro
(FMTM), a Comunhão Espírita Cristã, o Hospital espírita psiquiátrico, o “Templo Espírita Casa do
Cinza”, o orfanato “Lar Espírita” em Uberaba, assim como a casa da sua irmã, a casa onde nasceu, a
Biblioteca Pública Opala Pinto, o “Abrigo Espírita Aristina Rocha”, a casa de um amigo espírita Sr.
Manuelzinho e o campus da Uniube na sua cidade natal, Monte Carmelo (Fonte: arquivo fotográfico
da autora). Tal evento caracterizado tal qual uma excursão biográfica por iniciativa dos voluntários se
repetiu no período de 22 a 29 de setembro de 2004, visitando as cidades de Uberaba e Monte
Carmelo. A motivação dessa segunda vez foi o convite por parte da Universidade de Uberaba
(Uniube) para Waldo participar da cerimônia de comemoração do Jubileu de Ouro (50 anos de
formatura no curso de Odontologia). Nessa ocasião, Waldo ministrou um curso em Uberaba chamado
“Grupos Evolutivos”, no dia 26 de setembro de 2004, no auditório A da FMTM. Em 2010, novamente
Waldo retorna à Uberaba atendendo ao convite da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM) a fim de comemorar o Jubileu de Ouro em Medicina, dessa vez com um grupo reduzido de
voluntários. (Fontes: álbum fotográfico da autora e um email com a programação da viagem; além de
notícias em jornais: IIPC e Ceaec promovem curso “Grupos Evolutivos” no domingo em Uberaba.
Jornal de Uberaba, Uberaba, ano XIX, n. 5.404, p. A5, 22 set. 2004; UBERABA recebe professor
Waldo Vieira. Cidade Livre, Uberaba, ano 2, n. 609, p. A-09, 24 set. 2004; JUBILEU de Ouro da
Uniube traz pesquisador da Conscienciologia. Jornal de Uberaba, Uberaba, ano XIX, n. 5.407, p. A6,
25 set. 2004; EX-ALUNO é pesquisador em Conscienciologia. Revelação, Uberaba, ano VII, n. 296,
p. 5, 21 a 27 set. 2004).
131
MAUAD, 1996, p. 15.
115

2.4.6.2 Figura 02 – Waldo Vieira e Chico Xavier ao lado de Hazel Morris nos EUA,
em 1966

Quanto ao espaço fotográfico, o recorte espacial é o encontro de Waldo Vieira


e Chico Xavier com a tradutora de seus livros espíritas para o idioma inglês, a Hazel
Morris, na turnê realizada, em 1966, para os EUA. De acordo com a legenda da foto,
o encontro ocorreu em Shrevenport, no Estado da Lousiânia. Como não se tem
informações da fonte dessa imagem, se supõe que tenha sido produzida por
fotógrafo profissional, tendo em vista a publicação em jornal brasileiro.
A imagem é preta e branca, enquadrada no sentido horizontal e centralizada,
com foco nítido, com boa iluminação. Devido parecer ser uma digitalização de uma
imagem impressa em folha de jornal, a qualidade da imagem diminuiu. Lembrando
que essa imagem foi retirada da internet, de uma página espírita, no meio de um
texto de uma testemunha ocular da viagem de 1966.
O espaço geográfico parece ser uma sala com sofá e cadeiras, ao modo de um
ambiente de recepção para receber visitas e conversar. Possivelmente seja um
cômodo da residência da própria tradutora, um espaço interno e privado. O
enquadramento foi uma quina da sala, captando poucos elementos do ambiente,
pois o foco foi os personagens.
O espaço do objeto diz respeito a um abajour de chão localizado atrás de
Chico Xavier, duas cadeiras onde Hazel e Waldo estão sentados e um sofá onde
Chico está sentado. A cadeira de Hazel e o sofá parecem ser constituídos de
material mais confortável e a cadeira de Waldo parece ser de escritório. Não é
possível distinguir com nitidez, mas talvez atrás de Waldo, tenha alguns livros. Além
disso, dentre os objetos pessoais, tanto Chico quanto Waldo estão usando óculos,
sendo o primeiro, provável que óculos escuros e de grau, e o segundo, óculos de
grau.
O espaço de figuração refere-se aos dois autores espíritas e a tradutora de
seus livros nos EUA. Conforme dito, o espaço parece ser uma sala para recepção
de visitas, um espaço de adultos. A imagem destaca a tradutora, a figura feminina,
centralizada na foto, entre os dois autores masculinos. O gesto dos braços
estendidos pela senhora, um na direção de Chico e o outro na de Waldo, transmite
uma mensagem de conexão ou de união entre os 3. O encontro pareceu ser um
116

evento “formal”, ao menos, sob o ângulo dos trajes masculinos dos presentes,
vestidos de terno e gravata.
O espaço da vivência constitui-se em uma cena onde os 3 personagens fazem
pose para serem fotografados, deixando transparecer um clima de satisfação pelo
trabalho em andamento. Essa mensagem pode ser percebida pelos sinais do gesto
exercido pela senhora e pelos sorrisos nos rostos das pessoas.

2.4.6.3 Figura 03 – Reunião de preparação da fundação do IIP realizada na sala de


George Kropotoff na praça Saens Peña, Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), no final de
1987

O recorte espacial diz respeito a uma reunião de preparação da fundação do


IIP, em uma sala comercial, na Tijuca, no Rio de Janeiro. A sala pertencia a George
Kropotoff, um dos voluntários que está presente na foto. A foto é do tamanho 10 x 15
cm, colorida, do ano de 1987, enquadrada no sentido horizontal e centralizada, com
foco nítido, boa iluminação interna, cujo autor foi o fotógrafo amador Domingos
Santos, um dos nossos entrevistados. O voluntariado dele era o registro fotográfico.
O espaço geográfico da foto refere-se a uma das paredes da sala comercial em
um prédio na praça Saens Peña, na Tijuca, bairro carioca, isto é, um espaço interno
e privado. O enquadramento com o fundo em uma das paredes da sala denota a
cena montada com a finalidade de que todos estivessem presentes na imagem.
Sobre o espaço do objeto, é possível observar um objeto interior, ou seja, um
banco no qual uma das voluntárias está sentada e objetos pessoais, como relógios,
óculos de grau e uma caneta no bolso da camisa de Vieira.
O espaço da figuração compreende sobretudo as pessoas, 31 voluntários do
CCC, 18 homens e 13 mulheres. Alguns continuam até hoje como voluntários e
migraram para Foz do Iguaçu, outros vieram para Foz e já foram embora, outros não
são mais voluntários. Dentre eles, alguns não se tem mais contato, outros continuam
em contato, e há ainda os que já faleceram.
O espaço de vivência revela a pose que o grupo está fazendo para um
fotógrafo oficial, pois os olhares da grande maioria dos presentes estavam
direcionados mais para direita, e uns poucos olhares para frente, para o nosso
fotógrafo amador. Conforme visto, o mais importante para Domingos não era
participar da foto, mas registrar aquele evento na sua memória por meio da
117

fotografia. Nesse caso, a foto pode ser classificada como “fotografia-aide-


mémoire132”, ou seja, a foto sendo usada como “ajuda-memória”.

2.4.6.4 Figura 04 – Fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP), no


Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), em 16 de janeiro de 1988

Em relação ao espaço fotográfico, o recorte espacial é a cerimônia de


fundação do IIP, no último andar de prédio comercial no Leblon, bairro do Rio de
Janeiro (RJ). A foto é do tamanho 10 x 15 cm, preta e branca, de 16 de janeiro de
1988, enquadrada no sentido horizontal e na direção à direita, com foco nítido, com
iluminação externa da janela, por isso há maior claridade nas pessoas sentadas na
mesa e o fundo ficou escuro com pouca definição do rosto das pessoas. A autora foi
uma fotógrafa profissional, Geysa Adnet, a criadora da logomarca do IIP.
Quanto ao espaço geográfico, a fundação do IIP ocorreu no Edifício Cidade do
Leblon, na zona sul carioca, no último andar; era um espaço público, interno,
impessoal, marcando um evento oficial. O ambiente estava em manutenção,
conforme se deduz pelos indícios do tapume e das manchas no teto. O
enquadramento da foto partiu do lugar onde a fotógrafa Geysa estava sentada, em
uma das quinas da mesa, olhando para a plateia, tendo a janela atrás de si.
Sobre o espaço dos objetos, observa-se objetos interiores, tais como a mesa e
as cadeiras de plástico, sinalizando ambiente de simplicidade. Assim como, papeis
nas mãos dos voluntários que estavam sentados na mesa, sendo, provavelmente, o
Estatuto social do IIP. Além de objetos pessoais, como relógio de pulso, máquina
fotográfica, óculos de grau e óculos de sol sendo utilizados por algumas pessoas
devido a claridade vinda da janela, atrás da mesa onde se localizava Vieira e a
equipe de voluntários coordenadora do processo da fundação.
Quanto ao espaço de figuração, observa-se um ambiente tanto feminino
quanto masculino, porém não é possível ver a totalidade do público. Nessa foto, as
pessoas estão escutando a fala de Waldo Vieira, com semblantes mais
compenetrados. Apesar de ser um evento “formal”, observa-se, pelos trajes mais
despojados dos presentes, um clima de informalidade nessa “cerimônia”.

132
Expressão utilizada por Philippe Lejeune, no artigo “O Guarda-memória”, publicado na revista
Estudos Históricos, número 19, em 1997, tradução de Dora Rocha. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/ article/view/2042. Acesso em: out. 2017.
118

A vivência sintetizada nessa imagem fotográfica foi captada pela fotógrafa


profissional por constituir-se em “momento decisivo” para os voluntários: é o epílogo
de um processo em construção para aqueles voluntários do Centro da Consciência
Contínua. Alguns, inclusive, são os mesmos que estão na figura anterior (fig. 3). Ao
mesmo tempo, esse momento também é o início de uma nova fase do voluntariado
projeciológico.

2.4.6.5 Série fotográfica

Nesse item, será feita uma leitura do conjunto das quatro fotografias. “A
imagem não fala por si só; é necessário que as perguntas sejam feitas.”133 Algumas
questões podem ser propostas com base nas imagens: qual a relação da série
fotográfica construída com as raízes da comunidade conscienciológica? Olhando
através dessas imagens, é possível ver indícios da comunidade conscienciológica?
Do ponto de vista temporal, a série composta por essas 4 imagens obedeceu a
uma certa cronologia, no entanto, a primeira foto é de data posterior a das 3 fotos
seguintes, devido a dificuldade de localizar imagens do período espírita de Vieira.
Em função disso, denominei essa primeira imagem como “foto-flashback”, porque
apesar de datada de 1997, o conteúdo que estava sendo exposto nesse evento por
Vieira era sua vivência na fase espírita em Uberaba. Assim, a série ficou delimitada
no tempo em 1997, 1966, 1987 e 1988, cobrindo um corte temporal de 31 anos.
As 4 fotos revelam um contínuo do trabalho de Vieira: a primeira aborda sua
vivência na época espírita, esse passado presente em momento futuro; a segunda
revela o trabalho de divulgação do espiritismo no Exterior junto com Chico Xavier, no
ano de sua dissidência; a terceira, o momento de preparação para criação do IIP,
fase da Projeciologia; e a quarta, a fundação do IIP, continuação e o início da
expansão da Projeciologia, dando origem à Conscienciologia (já existente na data da
primeira fotografia, que é de 1997).
De algum modo, as 4 fotos parecem fechar um ciclo vivencial de Vieira: a fase
espírita (figura 02 – 1966), a fase projeciológica inicial com CCC (figura 03 – 1987),
a fase projeciológica com IIP (figura 04 – 1988) e a fase conscienciológica com IIPC

133
MAUAD, 1996, p. 10.
119

e CEAEC, quando houve um retorno ao espaço onde se sucederam os eventos


espíritas (figura 01 – 1997).
Do ponto de vista espacial, as figuras 01 e 04 guardam mais semelhanças do
que diferenças entre si: o espaço fotográfico de ambas consiste na fala de Vieira, o
espaço de objetos tem como destaque uma filmadora na figura 01 e uma máquina
fotográfica na figura 04 que estão registrando a fala de Vieira; o espaço de figuração
é composto pelos voluntários ouvindo Vieira; o espaço de vivências de ambas as
imagens foram flagrados por duas voluntárias, uma amadora e outra profissional.
A figura 03, apesar das diferenças com a figura 04, consiste no momento
anterior ao acontecimento da figura 04, pois retrata uma das reuniões realizadas
para preparação da fundação do IIP.
A figura 03 merece dois destaques: o primeiro diz respeito ao aspecto da
construção coletiva do Estatuto social do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP),
pois foram realizadas reuniões para discussão em conjunto sobre o conteúdo do
Estatuto, tendo sido retratada na imagem 3 somente um desses encontros. O
segundo destaque refere-se ao espaço da vivência e suas implicações: a foto foi
feita por iniciativa de um dos voluntários, o Domingos, que explicou que tinha como
hábito fotografar para auxiliar o registro do momento na memória pessoal (a
“fotografia-aide-mémoire”).
Tal técnica utilizada por Domingos pode ser identificada na figura 01, quando
se observa Vieira relatando sobre acontecimentos da sua vida para os voluntários,
no local onde morou. Segundo Candau134, a memória é topófila. Cria raízes nos
territórios, nos itinerários, servindo o lugar como índice de recordação. “Os lugares
de memória são estruturas de lembrança para a identidade dos grupos ou dos
indivíduos.” 135 Falar sobre suas lembranças no lugar onde as vivenciou ajudava
Vieira a fixar a sua própria identidade.
Vieira considerava a memória como a “faculdade mental mais séria da
personalidade”136, destacando a importância dela para a própria consciência: “quem
melhora a automemória, aperfeiçoa a essência da própria consciência.”137 Partindo
do pressuposto de que “a literatura aforismática é, por definição, uma tentativa de

134
CANDAU, Joël. Antropologia da memória. Trad. de Miriam Lopes. Lisboa: Instituto Piaget, 2013, p.
188.
135
CANDAU, 2013, p. 145.
136
VIEIRA, Waldo. Léxico de Ortopensatas. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 1.279, grifos do autor. 3
vols.
137
VIEIRA, 2019, p. 1.279.
120

formular juízos sobre o homem e a sociedade a partir de sintomas, de indícios”138, tal


aforismo ou pensata é um indício da vivência do paradigma consciencial proposto
por Vieira: falar de suas lembranças era uma técnica de aperfeiçoar a sua própria
consciência.
Além disso, o que quero destacar tendo em vista a construção do objeto de
estudo desta tese, é um sinal da formação de uma identidade coletiva. Busca-se
com isso “fornecer-se os meios documentais e metodológicos de vincular um
acontecimento histórico singular a sistemas mais abrangentes de dados e de
significações”139. O que quero dizer é que ouvir Vieira falar da sua juventude em
Uberaba na frente da sua ex-casa, assemelhava-se a ouvir um ancestral, como por
exemplo um avô imigrante, a contar suas histórias da terra natal para seus netos,
retornando com eles ao local de suas origens. Tal gesto pode ser interpretado como
as raízes da “família consciencial”, ou seja, a compreensão do convívio entre os
voluntários como uma família, conceito a ser discutido no último capítulo.
Por fim, ainda merece comentário a figura 02, que guarda mais diferenças do
que semelhanças com as demais imagens. O ano dessa foto é 1966, ocasião que
Vieira foi conhecer Hollywood e estudou para construir um “tipo” para sua
apresentação visual. No entanto, na figura 02, Vieira ainda se apresenta sem barba
e com roupas de cor escura. Tal condição contrasta com a imagem com barba e
roupas brancas presentes nas figuras 01, 03 e 04, onde já havia estabelecido esse
“tipo”.
Na figura 02, o que apresenta semelhança com os acontecimentos
porvindouros no período da Projeciologia e da Conscienciologia é a prática de viajar
para divulgar os livros pessoais, fazer contatos e ministrar cursos.
Em suma, a série fotográfica proposta construiu sentidos tanto na afirmação da
liderança forte de Vieira nessa fase inicial de implantação da Projeciologia e da
Conscienciologia quanto sugeriu as raízes da comunidade conscienciológica a partir
de indícios da construção coletiva do Estatuto do IIP antes da sua fundação, além da
excursão biográfica realizada pelos voluntários a fim de ouvir as lembranças de
juventude de Vieira.

138
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: _____. Mitos, emblemas, sinais:
morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 178.
139
REVEL, Jacques. (Org.). Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Tradução de Dora
Rocha. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998, p. 43.
121

2.4.7 Terceiro setor

Sobre o IIPC, é importante esclarecer que essa instituição, fundada em 1988, é


classificada como sendo do “terceiro setor” (third sector) ou “organização sem fins
lucrativos” (nonprofit organization) ou “setor voluntário” (voluntary sector),
expressões utilizadas nos Estados Unidos. Na Inglaterra, se usa “caridades”
(charities), colocando em evidência o aspecto religioso das ações comunitárias com
origem medieval, além do termo mais moderno “filantropia” (philantropy). Na Europa,
utiliza-se com frequência “organizações não-governamentais” (ONGs). No Brasil e
na América Latina, além das já mencionadas, também se usa “sociedade civil”140.
A expressão “organizações da sociedade civil’ vem sendo utilizada como um
conjunto de instituições que se distingue do Estado – embora promova direitos
coletivos – e do mercado.”141.
O terceiro setor é uma área em expansão no mundo, segundo o relatório da
Universidade John Hopkins, que abrange 40 países: “as organizações não
lucrativas’ representam, em média, 4,5% da população ativa” (...). As principais
áreas de atuação são os serviços sociais, a cultura, a educação, a saúde, a
habitação, a defesa de causas e o ambiente.”142
Segundo o relatório dessa mesma universidade, em 1995, o crescimento do
terceiro setor se deve aos seguintes fatores: 1) a “crise do Estado” que vem
ocorrendo na maioria dos países do mundo nas últimas décadas; 2) a terceira
Revolução Industrial (já se fala atualmente na quarta), na qual a tecnologia provocou
mudanças no processo produtivo, eliminando postos de trabalho e levando a mão-
de-obra sem ocupação a transferir-se para economia informal e ao aumento de
demanda pelos serviços estatais, reduzindo a quantidade de contribuintes capazes
de pagar essas despesas; 3) a revolução das comunicações, gerando integração de
mercados, reduzindo a atuação do Estado, além das organizações atuarem mais de
forma horizontal e em redes; 4) a mudança da agenda de financiamento
internacional, que nas décadas de 1960 e 1970 era na América Latina, transferindo-

140
ALBUQUERQUE, Antonio C. C. de. Terceiro setor: história e gestão de organizações. São Paulo:
Summus, 2006, p. 18.
141
ALBUQUERQUE, 2006, p. 19.
142
ALMEIDA, Vasco. As instituições particulares de solidariedade social: Governação e Terceiro
Sector. Coimbra: Almedina, 2011, p. 15.
122

se para África (conflitos civis e religiosos) e o Leste Europeu (processo de


democratização), entre outros.143
Para Paula Bonfim144, a “cultura do voluntariado” no Brasil deve ser vista numa
perspectiva crítica. A autora adverte que o voluntariado tem servido para
proporcionar aos indivíduos a sensação de inclusão social, no contexto da
sociedade brasileira de crise econômica, descrença política e caos social.
Bonfim145 apresenta 4 fatores que possibilitaram o cultivo de uma “cultura do
voluntariado” no Brasil a partir da década de 1990, destacando o aspecto ideológico:
1) a mídia brasileira como principal divulgador do voluntariado utilizando da
estratégia de relacionar o exercício da “cidadania” às práticas voluntárias; 2) os
discursos em prol da solidariedade, utilizados pela mídia e pelas produções teóricas
sobre o terceiro setor, em meio ao individualismo das sociedades liberais; 3) o
aparato jurídico na expansão dessa “cultura”, na promulgação da Lei 9.790, de 23 de
março de 1998, que regulamenta as instituições do terceiro setor, e a Lei do
Voluntariado, n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, assim como um suporte político a
partir da nomeação do Ano Internacional do Voluntariado em 2001; 4) as produções
teóricas atuais sobre o tema, por exemplo de Pierre Rosanvallon que analisa a
sociedade francesa, que segundo a autora desistoriciza e deseconomiciza as
questões sociais, ou a tese de Habermas que “aposta na subjetividade para
desencadear o processo de transformação social”146.
Segundo a autora 147 , a “cultura do voluntariado” no Brasil foi gestada na
tentativa de “conciliar” individualismo com solidariedade, sendo que na década de
1990 se verifica o aumento do desemprego, a flexibilização das relações
trabalhistas, o aumento do trabalho informal, entre outras questões. Enfim, a
principal crítica de Bonfim 148 é a ênfase dada na ação voluntária canalizando
motivações num projeto de sociedade que visa amenizar ou “administrar as
sequelas da ‘questão social”.
Tais discussões a nível mundial e nacional ajudam a contextualizar o fenômeno
de Organizações do Terceiro Setor (OTS). Aliada a essas informações, existe o

143
ALBUQUERQUE, 2006, p. 26.
144
BONFIM, Paula. A “cultura do voluntariado” no Brasil: determinações econômicas e ideopolíticas
na atualidade. São Paulo: Cortez, 2010.
145
BONFIM, 2010, p. 79.
146
BONFIM, 2010, p. 72 e 74.
147
BONFIM, 2010, p. 45.
148
BONFIM, 2010, p. 88.
123

Relatório sobre as Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil


(Fasfil), publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo tal relatório, existiam no Brasil, em 2002, 276 mil organizações dessa
149
natureza (5% do total de organizações cadastradas no Brasil) . Essas
organizações encontravam-se na região Sudeste (44%), seguido do Sul (23%) e o
Nordeste (22%), depois Centro-Oeste (7%) e Norte (4%).
A maioria das Fasfil (62%) foram criadas a partir da década de 1990. E a
grande maioria é composta de pequenas organizações: 77% não têm funcionários e
somente 7% possuem 10 ou mais trabalhadores assalariados.150
Quanto às áreas de atividade, 26% das Fasfil são de atividades confessionais,
ou seja, ligadas à igrejas e instituições religiosas, 16% são organizações de
desenvolvimento e defesa de direitos, seguidas pelas patronais e profissionais
(16%), 14% são instituições com atividades culturais e recreativas e 12% instituições
de assistência social, 6% são da área da educação, 1% atuam na saúde e menos de
1% são organizações do meio ambiente e habitação.151
O IIPC foi fundado em 1988, antes da década de 1990, quando o crescimento
das Fasfil mais que dobrou: “entre 1996 e 2002, o número dessas entidades mais
que dobrou, passando de 105 mil para 276 mil (...) merecem destaque meio
ambiente e desenvolvimento e defesa de direitos (...) e as associações patronais e
profissionais”.152
O IIPC mantinha poucos funcionários no seu quadro de recursos humanos,
sendo a maioria voluntários, conforme mencionado por Vieira 153 . E no Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)154, o IIPC consta com a natureza jurídica de
“associação privada” e como atividade econômica principal, "atividades de
associações de defesa de direitos sociais”, e como atividades econômicas
secundárias, “atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte”
assim como “atividades associativas não especificadas anteriormente”.
Conforme se observa pelos fatos descritos, o IIPC não nasceu fruto da “crise
do Estado” nem pelos efeitos da terceira Revolução Industrial. Também não atuava

149
ALBUQUERQUE, 2006, p. 36.
150
ALBUQUERQUE, 2006, p. 37.
151
ALBUQUERQUE, 2006, p. 37.
152
ALBUQUERQUE, 2006, p. 38.
153
VIEIRA, 1994, p. 1.060.
154
Disponível no site <www.receita.fazenda.gov.br>, na “pesquisa de situação fiscal”, acesso em: 18
ago. 2019, às 20h.
124

nem atua em áreas que são próprias da prestação de serviços do Estado. Nasceu
antes do surgimento dos discursos sobre solidariedade propagados pela mídia e do
aparato jurídico-político brasileiro de apoio ao “voluntariado”. O surgimento do IIPC
parece estar mais relacionado à vontade de Waldo Vieira em formar um grupo
organizado a fim de dar prosseguimento às pesquisas sobre o tema da “experiência
fora do corpo”, do que como resultado dos aspectos citados pelos autores que
discutem terceiro setor no Brasil. Porém, o IIPC, assim como as demais
organizações do Terceiro Setor, beneficiou-se dos incentivos jurídico-políticos
citados anteriormente para o seu desenvolvimento.

2.4.8 “Migração” dos colaboradores

Chama atenção a “migração” dos colaboradores ao acompanharem a mudança


de endereço da sede física do IIP dentro do próprio município do Rio de Janeiro, ora
indo morar no bairro da Glória, ora em Ipanema, ou ainda na Barra da Tijuca.
Observa-se, assim, um embrião do “território projeciológico e conscienciológico”, em
formação ainda no Rio de Janeiro, tema do próximo capítulo.
125

3 GÊNESE COMUNITÁRIA E TERRITORIAL

O capítulo 3 irá tratar do surgimento e do desenvolvimento de um sentimento


de pertença por voluntários em sintonia com a busca e a aquisição do terreno da
sede própria do IIPC em Foz do Iguaçu. Irei apresentar tal processo desdobrado em
4 tópicos: 3.1 o início das discussões do que seria esse lugar da sede própria no
âmbito interno de um grupo de pesquisa do IIPC: da “sociedade intrafísica
conscienciológica – Socin Conscienciológica”; 3.2 o surgimento do primeiro campus
da Conscienciologia, o Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC) e; 3.3 a
mudança de natureza jurídica do CEAEC e a nova fase de desenvolvimento; e 3.4
as Considerações do capítulo. Cada tópico se divide em subtópicos.
Continuarei trazendo as fontes orais, documentais e imagéticas de modo
interligado, porém com maior densidade informacional, a fim de descrever a
territorialização do espaço, os regimes econômico-sociais desenvolvidos nesses
territórios, tanto na base do cooperativismo quanto do voluntariado.
Nesse capítulo, também irei introduzir algumas imagens com finalidade
somente ilustrativa. O depoimento de informantes aliado aos resultados do
questionário aplicado na comunidade conscienciológica ajudarão a esclarecer
informações sobre a população que compõe o voluntariado ao modo do ano de
primeiro contato dos voluntários-migrantes com a Conscienciologia, a motivação na
decisão de se tornar voluntário da Conscienciologia e a condição de ser voluntário
antes da migração para Foz do Iguaçu.

3.1 Grupo de Pesquisas Conscienciais (GPC) - Socin Conscienciológica

Nesse tópico, será apresentado o grupo de pesquisa sobre a sociedade


conscienciológica. A territorialização da comunidade projeciológica e
conscienciológica como sede física em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, foi
desencadeada por um dos grupos de pesquisa do Instituto Internacional de
Projeciologia (IIP), o GPC - Socin (Sociedade Intrafísica) Conscienciológica que teve
início formalmente em dezembro de 1992 como proposta da diretoria do IIP. Porém,
126

na prática, foi iniciado em 27 de agosto de 1993 no Rio de Janeiro1 e em 1994 em


Porto Alegre (Everton Santos e Nara Oliveira2) e Novo Hamburgo, além de outras
localidades sobre os quais não foram encontrados registros escritos. A discussão
sobre comunidade vs. sociedade conscienciológica será feita no capítulo 6.
Esse grupo de pesquisa estava fundamentado no livro “700 Experimentos da
Conscienciologia”, lançado em 1994, nos capítulos dedicados aos diagnósticos da
sociedade da época3, nos quais Vieira traz argumentos de vestígios de patologia
social ao mesmo tempo que propõe melhorias sociais a partir da atuação do
conscienciólogo veterano nas áreas do magistério, da pesquisa, do consultório e da
sociedade em geral, implantando a empresa e a escola conscienciológicas4.
Essa nova proposta social “foi uma das coisas que nos chamou atenção, uma
nova ordem social que se pode estabelecer a partir deste paradigma, a questão do
paradigma consciencial, um novo mundo, uma nova ordem”, segundo Everton
Santos. Nara Oliveira fala em “outros laços, outras formas de relação, outros
sistemas de família, outros sistemas de comunidade.” Esses aspectos motivaram o
casal Everton e Nara formar junto com mais um voluntário, Amaro Krob, o GPC –
Socin Conscienciológica em Porto Alegre. Everton explica: “Eu, a Nara e o Amaro
éramos de Porto Alegre e a Izabel [Maria Izabel da Conceição] desse núcleo em
Novo Hamburgo, uma cidade da Grande Porto Alegre. Então nós 4 éramos o GPC-
Socin.”
Em novembro de 1994, houve o I Encontro do GPC-Socin5 no Rio de Janeiro,
no qual o casal não pode comparecer por questões de trabalho. Maria Izabel foi
como representante da região Sul. Nesse encontro, “foram distribuídas as
pesquisas, várias pesquisas. Teve grupo que pesquisou a escola conscienciológica,
empresa conscienciológica, e assim por diante. E a gente disse: ‘Izabel, veja o que é

1
FERRARO, Tânia (Org.). Catálogos de Pesquisa do IIPC. Rio de Janeiro: IIPC, 1998, p. 75.
2
OLIVEIRA, Nara R. O. de e SANTOS, Everton S. dos. Entrevista concedida em 17/05/2019 a
Cristiane Ferraro, Foz do Iguaçu.
3
Diagnóstico da Sociedade Intrafísica (Socin): pela sedução subliminar (p. 290), através da TV (p.
291), através dos jogos (p. 292), através do boxe (p. 293), através da guerra (p. 294), pelo consenso
adulterado (p. 295), através do bruxiário (p. 296).
4
VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de Janeiro: IIP, 1994, p. 435.
5
Segundo os documentos “CIAE: Centro Integrado de Auto-Estudo, a base física”, de 1995 (ROCHA,
Cíntia R. da; et al. Centro Integrado de Auto-Estudo (CIAE): a base física. Porto Alegre e Novo
Hamburgo, RS, 1995) e o “Informativo do Centro de Altos Estudos da Consciência”, ano 1, n. 1, de
1995, num texto sobre o breve histórico do CEAEC, informa que em setembro de 1994, houve no Rio
de Janeiro o II Encontro Nacional de GPC’s, ou seja, de todos os grupos de pesquisa do IIP, onde o
GPC-Socin Conscienciológica de Goiânia apresentou a minuta de uma proposta experimental de
escola conscienciológica. Devido a grande repercussão, foi agendado o I Encontro Nacional do GPC-
Socin sobre empresa conscienciológica-escola, em 5 e 6 de novembro de 1994, no Rio de Janeiro.
127

preciso, pegue uma linha de pesquisa", explica Everton Santos. Nara complementa:
“a Izabel foi, chegou lá, na hora que se distribuiu os temas, todo mundo foi pegando
os temas que interessava, e sobrou esse, ninguém quis esse.” Maria Izabel trouxe o
tema “num papelzinho, que ninguém nem entendia direito o que é que o Waldo tinha
anotado ali”. Era "Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC) – a Sede, a
principal sede, o campus do IIP", comenta Nara.
A partir desse contexto, esse tópico ficou organizado em 5 subtópicos: 3.1.1 A
Pesquisa sobre o CEAEC; 3.1.2 Síntese dos Resultados da Pesquisa do CEAEC;
3.1.3 Doação do terreno em Foz do Iguaçu; 3.1.4 Elaboração e apresentação do
Plano Piloto do CEAEC; 3.1.5 Fundação da Cooperativa dos Colaboradores do IIP
(COOIIP).

3.1.1 A Pesquisa sobre o CEAEC

Nesse subtópico, será abordado sobre as reuniões de discussão e


planejamento do que viria a ser o primeiro campus de pesquisa da Conscienciologia,
o CEAEC. Segundo Everton Santos, na ocasião do encontro do GPC-Socin, “o
professor Waldo (...) foi viajar numa itinerância dessas dele quaisquer,” e ele havia
dito que “já era época do Instituto ter uma sede própria, uma sede dele, comprada,
ser proprietário, (...) que seria aos modos do Centro de Altos Estudos do Einstein,
então, Centro de Altos Estudos da Consciência.”
Sobre o nome do que seria a futura sede própria do IIP houve uma confusão.
Everton comenta que “o pessoal entendeu lá mal e nós também entendemos mal,
Centro de Auto-Estudo.” Nara cita que “o nome da pesquisa saiu Centro Integrado
de Auto-Estudo, era CIAE. (...) Porque ninguém nem sabia o que era um Centro de
Altos Estudos.”
De posse do tema a ser investigado, Nara, Amaro e Everton propuseram o
tema para todos os voluntários do IIP de Porto Alegre. Na época, eram em torno de
25 pessoas, conforme explicação da Nara: “na reunião quando a gente falou sobre
esse tema, que ninguém sabia exatamente o que é que era, só não levantaram as
mãos duas pessoas. Todo mundo levantou a mão e queria participar da pesquisa.” A
Maria Izabel fez o mesmo em Novo Hamburgo, e houve a adesão de 5 ou 6
pessoas.
128

Em seguida, foi agendado um seminário para “estabelecer os instrumentos de


coleta de dados para fazer uma pesquisa de campo que fosse levantar com os
colaboradores (...) da região sul, como é que esses colaboradores viam uma sede
para o Instituto” (Nara Oliveira).
Assim, dividiram o grupo maior em 3 subgrupos: “um grupo que era a
concepção simbólico-representativa que o Everton coordenou e um grupo que era
pesquisa propriamente dita ou metodologia de pesquisa que eu coordenei junto com
todo (…) o Grinvex de lá da época,” e o da viabilidade econômico-financeira, que a
Maria Izabel, que era de Novo Hamburgo, coordenou. Após essa divisão, “aí a gente
começou a pesquisa do CEAEC”, explica Nara.
De acordo com Everton, o grupo de pesquisa era “para estabelecer qual seria a
melhor metodologia de pesquisa para coletar esses dados”. O grupo da concepção
simbólico-representativa era o projeto arquitetônico e o grupo da viabilidade
econômica-financeira era para estabelecer qual o melhor sistema de gestão do
CEAEC, se seria uma empresa, uma fundação, uma cooperativa, e assim por diante.
Segundo Nara, o grupo da pesquisa “chegou à conclusão de que a pesquisa-
ação6 seria a melhor, porque a pesquisa-ação inferia que no processo tivesse algo
concreto como resultado, o algo concreto seria a sede.” Também definiram por
utilizar a metodologia da pesquisa-ação no próprio seminário que eles organizaram
para o grupo de Porto Alegre, como se fosse um teste, um seminário-piloto para ser
aplicado posteriormente em outros lugares.
A pesquisa-ação é “um tipo de pesquisa social com base empírica que é
concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo”, sendo que os pesquisadores e os envolvidos no problema
estão relacionados de modo cooperativo ou participativo7. É uma pesquisa na qual
as pessoas implicadas têm algo a “dizer” e a “fazer”.
Nara também explicou que antes de começar a pesquisa, eles cadastraram
esse projeto na sede-matriz no Rio de Janeiro, colocando “o nome, o projeto,
objetivo”. Nara expõe que o seminário-piloto foi organizado com “várias dinâmicas
de grupo” e que tomaram “todo o cuidado para não impor nada”. A ideia era “ver o

6
Nara explicou que “a metodologia da pesquisa-ação, eu conhecia por causa da faculdade, mas
mesmo assim, foi uma professora do Nordeste, convidada que veio, senão eu não teria sabido disso,
então, enfim…”
7
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 11. Ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 14 e 16.
129

que é que os participantes, os colaboradores pensam; vamos tirar de lá a


informação.”
Nara conta que esse período de trabalho voluntário teve um ritmo intenso, pois
“todos nós trabalhávamos 8 horas por dia, a gente estudava à noite (...) e a gente
fazia isso nos horários mais esdrúxulos, de madrugada, fim de semana.” A interação
entre os voluntários gaúchos era forte, Everton cita que “do Grinvex, muitos deles
dormiam lá em casa.” Além disso, Nara complementa: “tinha a casa da Margarete, a
casa da Cristina Bassanessi servia também de posto, às vezes era num ou no outro.
Chegavam as coisas num lugar, (...) alguém largava lá ou pegava lá e trazia.”
Everton sintetiza: “Montamos uma espécie de uma indústria. Às vezes a gente saía
à noite, ia na casa de um, na casa de outro, para saber como é que estava o
trabalho, para saber se precisava de alguma ajuda; foi um período muito bacana.”
Com os instrumentos de pesquisa construídos nesse seminário-piloto em Porto
Alegre, eles os aplicaram nos voluntários em Pelotas (RS) e depois em Florianópolis
(SC), onde formaram agentes multiplicadores da pesquisa que por sua vez
aplicaram em outras cidades.
Segundo o casal Nara e Everton, o tempo era curto, tinham em torno de 4
meses, de dezembro de 1994 a março de 1995, para que a pesquisa estivesse
pronta, pois já havia um próximo encontro agendado entre os Grupos de Pesquisa
“Socin” para abril de 1995. Segundo Nara, “a gente estava fazendo a região sul para
em abril apresentar e propor levar essa pesquisa para o Brasil inteiro. Era isso.”
A pesquisa era composta com dinâmicas de grupo, cadernos de campo,
questionário, elaboração de imagens de como os voluntários imaginavam que seria
o campus do IIP. Nara comenta que os dados coletados eram enviados para os
voluntários de Porto Alegre, que os tabulava e organizava. Todo esse histórico da
pesquisa ficou registrado em um documento de 585 páginas dividido em 5 volumes,
que se encontra na Holoteca, departamento do CEAEC, intitulado “CIAE: Centro
Integrado de Auto-Estudo, a base física”8.

8
Os 5 volumes são os seguintes: I – Uma abordagem embasada no estudo de viabilidade; II –
Trajetória da pesquisa: registro dos dados coletados em atividades de grupo; III – Dinâmicas de
grupo: síntese dos dados coletados; IV – Trajetória da pesquisa: registro de dados coletados em
atividade individual (questionário); V – Anteprojeto. Os voluntários que têm seus nomes na folha de
rosto dos 5 volumes são: Cíntia R. da Rosa, Dinéa T. Nunes, Emília Madalena Berwanger, Everton
Souza dos Santos, Felipe Camargo Machado, Gustavo Coelho de Souza, José Amaro Krob, Jussara
Siqueira Gonçalves, Marcello Paskulin, Maria Cristina Bassanesi, Maria de Los Angeles M. C. Möbus,
Maria Izabel da Conceição, Mariana G. Francis, Nara Regina Oliveira, Thaís Rondam, Vilnei Gafree
Dias e Zilda Margarete S. Lucena.
130

De acordo com Everton e Nara, toda essa agitação entre os voluntários da


região Sul chegou aos ouvidos de Waldo Vieira no Rio de Janeiro e, para surpresa
de alguns, ele não só incentivou o trabalho que estava em andamento como solicitou
para acertar a agenda dele para estar presente no dia do encontro dos Grupos de
Pesquisa “Socin” em abril de 1995. “Era para ser em São Paulo e mudou para
Curitiba, porque o Waldo ia estar lá.” (Nara Oliveira).
Uma curiosidade dessa pesquisa foi o resultado encontrado nos poucos
questionários que retornaram de Foz do Iguaçu. Algum agente multiplicador foi até
Foz do Iguaçu, fez algumas dinâmicas de grupo, aplicou o questionário e enviou
pelo correio para Porto Alegre. Nara conta que eles receberam em torno de 5 ou 6
questionários, sendo que na pergunta “Onde é que você acha que deveria ser
construída a sede do Instituto?" A resposta era: "No terreno da Ivani’; ‘Na chácara da
Ivani’; no outro, ‘a chácara da Ivani’; no outro, ‘na chácara da Ivani’; ‘na chácara da
Ivani’. Aí a Ivani: ‘na minha chácara".
Everton recorda desse momento: “Eu lembro da gente na mesa, tabulando, eu
disse... Essa mulher está doando um terreno.” E a Nara respondeu: “Essa mulher
está dando terreno? Não estou entendendo. Como é que é isso? E nós lá.” Everton
relembra: “Até então, Cris, a gente pensava: isso vai ser no Rio de Janeiro, vai ser
no Nordeste, que Foz do Iguaçu, o quê?”
Uma síntese dos resultados dessa pesquisa pode ser encontrada no volume I
do relatório “CIAE: Centro Integrado de Auto-Estudo, a base física”9. No total, foram
107 colaboradores da região Sul que participaram dos seminários, 97 responderam
o questionário, sendo que 12 não foram considerados por não terem chegado em
tempo hábil para análise.

3.1.2 Síntese dos Resultados da Pesquisa do CEAEC

Será apresentada uma síntese dos resultados sobre o projeto arquitetônico e


sobre a viabilidade econômico-financeira sobre o CEAEC. Quanto ao projeto
arquitetônico, os espaços de necessidade dessa futura sede seriam: salas de aula;
biblioteca; salas de pesquisa, estudo e reuniões; sala de experimentos
projeciológicos; alojamento; auditório; área verde. Como resumo das respostas de 4

9
ROCHA, Cíntia R. da; et al. Centro Integrado de Auto-Estudo (CIAE): a base física. Porto Alegre e
Novo Hamburgo, RS, 1995, p. 27, 28, 33, 39, 44-46, 50, 52 e 54.
131

questões 10 sobre as necessidades de espaço, os temas recorrentes foram: mais


espaço físico; imóvel próprio; espaços remodeláveis; fora da região urbana; recursos
financeiros; refeitório; local para ECPs (cursos de extensão em Projeciologia e
Conscienciologia) e TPs (técnicas projetivas); espaços de convivência; local para
consciencioterapia.
A abordagem conceitual do projeto arquitetônico foi elaborada a partir das
respostas a 5 questões 11 , tendo chegado a indicação de que “as construções
deveriam ser semelhantes a um campus universitário/universidades, a centros de
estudos ou pesquisa e a escolas”. Os colaboradores também chegaram a fazer
desenhos buscando materializar a impressão visual que eles tinham do que viria a
ser esse centro de estudo da consciência.
Sobre o estudo de viabilidade econômico-financeira do projeto, um primeiro
aspecto foi a concepção de empresa conscienciológica, entendida pelos
participantes com os objetivos de: “alavancar transformações através da catálise de
seus integrantes”; “agregar o vínculo consciencial além do vínculo empregatício”;
“fazer reuniões sistematizadas de consciencioterapia”; “investir nos princípios e
valores da Conscienciologia e Projeciologia”; “investir nas pessoas”; “intercambiar
com empresas convencionais”; “priorizar a pesquisa”; “remunerar por produtividade,
valorizando a participação”12; entre outros.
Em resposta à questão “M”13, a maioria ressaltou o modelo em ação do IIP, ou
seja, venda de livros e cursos, ampliando para empresas conscienciológicas;
também foram citadas doações, campanhas, vendas, financiamentos, empresas
conscienciológicas, cooperativas e outros.
Em resposta à questão “N” 14 , a maioria citou doações, mas também foram
citados, forma associativa, venda de livros, empresas conscienciológicas. E em

10
“O que falta aos espaços físicos, onde funcionam as unidades do IIP?”; “Cite o necessário para o
CIAE funcionar em uma primeira etapa (o mínimo ideal)”; “E em situação ideal.”; e “Tendo em vista as
tarefas de assistencialidade, como e quais serão os locais para este fim?” (ROCHA et al., 1995, p.
33).
11
“Se você pudesse ir ao CIAE hoje, que tipo de lugar gostaria de encontrar?”; “O prédio, ou os
prédios desse complexo construtivo serão parecidos com o quê?”; “Quais sensações o complexo
deverá provocar ou inspirar?”; “Que idéias irá sugerir?”; e “Que características apresentará?”
(ROCHA et al., 1995, p. 36 e 39).
12
ROCHA et al, 1995, p. 44 e 45.
13
“De onde sairão os recursos financeiros para a sua construção? Que formas ou modelos de
viabilização econômico-financeira institucionais/legais existentes nesta Socin [Sociedade Intrafísica]
mais se aproxima dos princípios cosmoéticos?” (ROCHA et al., 1995, p. 48).
14
“Como os colaboradores contribuirão para gerar recursos?” (ROCHA et al., 1995, p. 51).
132

resposta à questão “O” 15 , foram citadas as empresas conscienciológicas e o


revezamento de colaboradores com vínculo consciencial16, como era e é feito no IIP.
Três questões ainda merecem ser comentadas devido à sua pertinência. A
questão “A” do questionário era: “O que é o Centro Integrado de Auto-Estudo -
CIAE?” Algumas respostas: “pesquisas”, “experiências”, “autoconhecimento”,
“implantação da socin conscienciológica”17.
A questão “L” era: “Onde será construída a Base Física do CIAE?” Várias
respostas indicaram que deveriam ser construídas vários CIAEs. Mais de 20%
mencionaram o Rio de Janeiro (onde se localizava a sede-matriz do IIP), sendo que
Foz do Iguaçu apareceu, entre outras cidades, com menor evidência. Alguns
consideraram que o local não era o fator principal. No entanto, foram citadas como
características principais do “lugar”: “energeticamente apropriado, integrado à
natureza, com vegetação densa e fonte abundante de energias imanentes”;
“geograficamente adequado (alto, clima ameno) e sem poluição”; “central, próximo a
todos (equidistante) e de fácil acesso”; “fora dos centros urbanos, porém com
possibilidades de rápido contato”18.
E por fim, a questão “R” dizia: “Este espaço é para você perguntar o que não
perguntamos, responder o que não foi perguntado e dizer o que não foi dito.
Participe, sinta-se à vontade.” Alguns colaboradores manifestaram discordância
quanto à sigla “CIAE” por a acharem inapropriada por lembrar órgãos públicos do
governo. Um participante deu sugestões a respeito, dentre elas: “Comunidade para
Estudo e Experimentação da Consciência - CEEC” 19 . Esses foram os resultados
principais dos aspectos arquitetônicos e econômico-financeiros.

3.1.3 Doação do terreno em Foz do Iguaçu

A doação do terreno em Foz do Iguaçu foi o fator desencadeante da


concretização do projeto CEAEC. Nos dias 14, 15 e 16 de abril de 1995, nesse II
Encontro do GPC-Socin, realizado na filiada do IIP em Curitiba, o resultado da

15
“Como serão prestados os serviços de manutenção da base física? (ROCHA et al., 1995, p. 53).
16
Vínculo consciencial é aquele exercido pelo trabalho voluntário, sem receber honorários em
instituição conscienciológica mediado pelo “Termo de Adesão”, em oposição ao vínculo empregatício
assalariado, legalizado em geral pela “Carteira de Trabalho” (VIEIRA, 1994, p. 318).
17
ROCHA et al., 1995, p. 57.
18
ROCHA et al., 1995, p. 57 e 58.
19
ROCHA et al., 1995, p. 58 e 59.
133

pesquisa foi apresentado. E a tal senhora de Foz do Iguaçu, Ivani Dall Agnol, estava
presente e “ela então se pronunciou dizendo que ela poderia doar, que ela tinha
noção de que ela tinha que usar esse terreno dela para fazer… para que ali
acontecesse uma grande coisa que ela não sabia bem o que é que era.” (Everton
Santos). De acordo com Nara, “ela tinha projeções recorrentes, ela saía do corpo,
ela tinha sonhos lúcidos, (...), de que aquele terreno tinha que ser usado para uma
coisa que seria importante, mas ela não tinha clareza do que era.”20
Segundo Everton Santos, a Ivani Dall Agnol “já tinha uma espécie de
anteprojeto, tinha alguma coisa, uma planta, ela tinha isso, já tinha isso.” Naquele
momento, Waldo Vieira “perguntou para ela se ela doaria então o terreno, se estava
desimpedida para doar terreno. E ela disse que sim, que doaria.” Vieira também
perguntou para ela “se ela estava disposta a abrir mão daqueles planos dela,
daquela planta, daquilo tudo, para fazer (...) o que eu estava lá apresentando
enquanto proposta, (...) ela disse que abria mão de tudo, estava tudo certo.”
Segundo Nara e Everton, a intenção deles era levar a pesquisa feita na região
Sul para todos os voluntários do IIP, “quanto mais gente, maior participação, melhor”
(Nara Oliveira), porém Waldo Vieira orientou que começasse a realizar o projeto. Ele
disse: "Olha, o negócio é o seguinte: se demorar muito, haverá intercorrências. Uma
coisa dessas é muito grande. Se isso for levado muito tempo, as intercorrências vão
surgir e vão atrapalhar o processo todo" (Everton Santos). Inclusive, sugeriu que
eles, mais os voluntários que estavam à frente do GPC-Socin no Rio de Janeiro,
fossem naquele momento para Foz do Iguaçu para ver o terreno: “E seria bom que
vocês aí, vocês, a Greice, o Tadeu fossem lá em Foz do Iguaçu, agora, ver o
terreno." Assim foi feito.
O encontro continuou. Everton conta que “Eu, Nara, Greice, Tadeu, o Osvaldo,
o Chico Mauro, um outro rapaz lá” foram as pessoas que vieram à Foz do Iguaçu21.

20
Esse acontecimento pode ser entendido sob a ótica do conceito de sincronicidade de Carl Jung.
Ele sugere que os fenômenos de sincronicidade devem ser pensados nos sonhos premonitórios e
nos pressentimentos (JUNG, Carl G. Memórias, sonhos, reflexões. Editadas por Aniela Jaffé.
Tradução de Dora Ferreira da Silva. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1963, p. 262). Jung afirma
que há indícios que mostram que uma parte da psique escapa às leis do espaço e do tempo. A prova
científica já foi amplamente divulgada pelas experiências de Joseph Rhine da Duke University de
Durham (USA). Inúmeros casos de premonições espontâneas, aliados a exemplos da própria vida de
Jung provam que às vezes, “a psique extrapola a lei da causalidade espaço-temporal.” (JUNG, 1963,
p. 264). Assim, as representações que temos do espaço, do tempo e da causalidade são
incompletas.
21
A vinda ao terreno da Ivani ficou registrada na “Ata da 1ª. Reunião CIAE”, disponível na Biblioteca
Internacional da Conscienciologia, no Holociclo (CEAEC). A ata é do dia 16/04/1995, às 11h20, sendo
134

Daquele breve e primeiro momento de “reconhecimento de área”, Everton se


recorda o que tinha: “Um chiqueiro de porco que virou o ‘Salão Verde’. Era isso que
existia. E ¼ do terreno do CEAEC” de hoje, porque a Ivani doou um terreno de
24.000 m2, e quando eles chegaram nele e olharam tudo ali, perguntaram ao
Everton: “E aí, Everton, dá para fazer o negócio?’ E eu disse: ‘Nem pensar.’ O que
se tem pensado no primeiro momento que nem é anteprojeto, não é nada, seria
impossível fazer naquele terreno, não só pela área, mais pela configuração dele que
era uma tripa.”
E aí o que é que aconteceu? “Foi feita uma campanha junto aos voluntários,
(...) de arrecadação de fundos e foram comprados os três terrenos (...) iguais ao que
foi doado. Então aquele terreno doado foi ¼ do terreno original onde foi pensado o
projeto para o CEAEC.” A soma total, 4 vezes 24.000 m2, são 96.000 m2 de área do
CEAEC.
Sobre a questão do terreno doado, já em uma entrevista bem mais recente
para a revista “100 Fronteiras”, Waldo Vieira22 resume da seguinte forma: “A moça,
primeiro deu o terreno para gente, depois o irmão dela quis dinheiro e então
pagamos. A partir daí, começamos a comprar todos os terrenos no entorno. Vi que
era o melhor lugar.”
Everton comenta que foi utilizada uma estratégia por parte de algumas
pessoas que compraram um outro terreno, que hoje é o condomínio “Campo dos
Sonhos” 23 , sendo que “dali que foi sendo tirado lucro, dinheiro para construir as

considerada a 1ª. reunião na Chácara de Ivani em Foz do Iguaçu, com componentes dos GPCs Socin
Conscienciológica, Grinvex e Consciencioterapia com objetivo de avaliar o local para implantação do
ainda chamado CIAE – Centro Integrado de Auto Estudo. Estavam presentes na reunião: Everton
Souza de Santos, Nara Oliveira, José Tadeu Athayde, Greice Gomes Leal Athayde, Julio Cesar
Gonçalves Dias, Regina Maria Gonçalves Dias, Dalton Campos Roque, Andreia Lúcia da Silva, Ivani
Dall Agnol, Elizabeth Genedir Desclovi, Francisco Mauro, Osvaldo Dombrate Filho e Felipe Camargo
Machado. Nessa ata, há o registro de que “segundo Everton, somente a chácara de Ivani seria
pequena para o empreendimento do CIAE.” Ainda consta a seguinte intenção: “No início da obra será
priorizado o prédio que dará abrigo a biblioteca do professor Waldo Vieira para montar a Exposição
Permanente dos Artefatos do Saber.” Tal expressão “exposição permanente dos artefatos do saber”
se encontra grifada em caneta marca-texto de cor amarela no documento.
22
KOJUNSKI, Mariana. Papo Sério com Waldo Vieira. Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 9,
ed. 100, p. 35, jan. 2014.
23
O condomínio “Campo dos Sonhos” está localizado na rua Felipe Wandscheer, a 500m do CEAEC.
Os 71 lotes do condomínio foram vendidos para colaboradores e alunos do IIP. A Cooperativa dos
Colaboradores do IIPC (COOIIPC) foi a responsável pela administração do condomínio. O projeto do
“Campo dos Sonhos” foi aprovado em 1997 na forma de chácaras. Teve que aguardar até 2001
quando a COOIIPC liquidou suas dívidas e obteve a certidão negativa de tributos pagos para iniciar o
repasse das escrituras. No entanto, a legislação mudou e autorizou a divisão da área em lotes
individuais. Em função disso, o projeto anterior foi cancelado até a nova regularização, que foi
liberada em final de 2003. Em fevereiro de 2004, tiveram início as obras de infra-estrutura do
135

primeiras obras do CEAEC,” sendo que nesse meio tempo aconteceram várias
reuniões.
Sobre esse ponto, na publicação do CEAEC, revista Conscientia edição
comemorativa de 20 anos, Izabel Conceição 24 , presidente da cooperativa na
ocasião, fez um breve histórico da primeira gestão do CEAEC (1995–2002), e
menciona que o condomínio “Campo dos Sonhos” foi “o projeto que alavancou
substancialmente as obras edificadas no CEAEC, notadamente o Salão de Eventos,
atual Pavilhão das Dinâmicas Parapsíquicas, os Laboratórios de Autopesquisas
Conscienciais e a Holoteca.” Em suma, a doação do terreno, que por fim, acabou
sendo comprado, foi a linha de abertura para a construção do centro de pesquisa da
consciência.

3.1.4 Elaboração e apresentação do Plano Piloto do CEAEC

Com base nos resultados de pesquisa desenvolvida, um grupo de arquitetos se


pôs a elaborar o plano piloto do CEAEC. Voltando ao II Encontro do GPC-Socin em
Curitiba, que foi realizado em abril de 1995, Everton explica que “chamei o Osvaldo,
eu e o Alexandre Balthazar para nós compormos uma equipe de arquitetos para
pensar então, para organizar essas ideias e propor arquitetonicamente um plano
piloto, um projeto para construção.”
O Osvaldo Dombrate convidou um outro arquiteto, o Sérgio Marques, que não
era voluntário da Conscienciologia mas era um arquiteto que trabalhava na
prefeitura de Curitiba, “uma pessoa sensacional, um cara muito competente
enquanto profissional e um cara de uma índole, um caráter muito assistencial e
colaborativo. Nós quatro trabalhamos de 15 de abril até 15 de junho, dois meses,
(...) em Curitiba.” Osvaldo e Sergio já eram de Curitiba, sendo que Everton ficou indo
de Porto Alegre para Curitiba e o Alexandre ficou indo de Florianópolis para Curitiba.
Os 4 trabalharam para compor o que foi o primeiro plano piloto.

condomínio (Fonte: PARO, Denise. Campos do Sonhos inicia obras de infra-estrutura. Jornal do
Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 8, n. 104, p. 4, mar. 2004).
24
CONCEIÇÃO, Izabel. Primeira Gestão do CEAEC. Revista Conscientia, p. 66, jul. 2015.
136

A diretoria do IIP deu ampla divulgação a uma carta intitulada “Aos


coordenadores, colaboradores e alunos do IIP” 25 , sem data, assinada pela
presidência, Waldo Vieira, pelo diretor administrativo Homero Torres, pela diretora
econômico-financeira Marina Thomaz, e pela diretora técnico-científica Glória
Thiago.
Nela, é feita uma contextualização do surgimento do centro de estudos e
pesquisa para o IIP e o convite para ir até Foz do Iguaçu participar do encontro de
lançamento do projeto CEAEC no dia 15 de junho de 1995, além de uma palestra
pública ministrada por Waldo Vieira no dia 16 de junho e o curso “Teoria dos
Serenões” no dia 17 de junho.
Na mesma carta, estão listados 14 segmentos integrantes do projeto, por
exemplo a “construção de um local para conter todos os livros da biblioteca
particular (5 décadas de acumulações) do Prof. Waldo Vieira, estimado em 30.000
volumes e que foram doados ao Centro de Altos Estudos da Consciência”.
No dia 15 de junho de 1995, o plano piloto foi apresentado pela equipe de
arquitetos no Hotel Internacional, em Foz do Iguaçu. Segundo Everton, “há quem
fale 400, há quem fale 500 pessoas estavam aí. Vieram voluntários, colaboradores
do Brasil inteiro do Instituto para assistirem essa apresentação.” De acordo com a
notícia desse evento no jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, de 18/06/1995, “mais de
700 pessoas lotaram o auditório do Hotel Internacional, sexta-feira.”26
Foi nesse evento que “o Waldo chamou o Moacir para vir morar aqui (...). Eu
lembro porque eu estava junto, no saguão do Hotel Internacional. Fui testemunha
ocular da história. Então, o que é que acontece? As pessoas começaram a vir”
(Everton Santos).27 A apresentação do plano piloto do CEAEC criou condições para
o início do movimento migratório conscienciológico.

25
Encontrei essa carta nos arquivos do departamento financeiro do CEAEC em 16/08/2019, com a
autorização do secretário-geral do CEAEC, Fernando Barbaresco e com a ajuda de Fernanda
Schroeder, responsável pelo setor. A menção dos nomes foi autorizada pelos informantes.
26
LIMA, Jackson. Foz ganhará Centro de Altos Estudos da Consciência. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, p. 11, 18 jun. 1995. Dois dias antes também saiu uma notícia divulgando a palestra e o curso
que seriam ministrados por Vieira: INSTITUTO construirá moderno centro de estudos em Foz. A
Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, p. 02, 16 jun. 1995).
27
Foi encontrado uma notícia de jornal local com uma programação de evento semelhante a essa
realizada em junho/1995, porém nos dias 7 a 9 de setembro de 1995, no Hotel Internacional em Foz
do Iguaçu. No dia 07, uma visita ao terreno do CEAEC; no dia 08, uma apresentação pública do
projeto do CEAEC de 9h às 18h, e às 20h, uma palestra gratuita com Waldo Vieira; e no dia 9, um
curso ministrado por Vieira sobre evolução. Fonte: WALDO Vieira ministrará curso sobre evolução. A
Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.152, p. 09, 5 e 6 set. 1995.
137

3.1.5 Fundação da Cooperativa dos Colaboradores do IIP (COOIIP)

O estudo “do sistema de viabilidade econômico-financeira que ficou definido na


pesquisa era cooperativa”28, explica Nara. Um mês depois da apresentação do plano
piloto, em 15 de julho, foi fundada a Cooperativa dos Colaboradores do Instituto
Internacional de Projeciologia (COOIIP), na rua Santo Amaro, n. 4, Bairro da Glória,
no Rio de Janeiro (RJ), conforme figura 5. Nara comenta sobre o número de cada
cooperado: “a Izabel é um” e Everton complementa: “Eu sou 2, você é 3.”29

Figura 5 – Fotografia da fundação da Cooperativa dos Colaboradores do Instituto


Internacional de Projeciologia (COOIIP), na Glória, no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de
julho de 1995

Fonte: fotografia de José Domingos Santos Neto.


28
A opção pela cooperativa parece ter sido influenciada pela formação acadêmica e experiência de
vida das pessoas do grupo de viabilidade econômico-financeira do projeto do campus do IIP, pois a
coordenadora Maria Izabel da Conceição já havia realizado curso de pós-graduação em
Administração de Cooperativas, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), em São
Leopoldo (RS).
29
Esses números fazem referência à listagem de relação com os nomes dos cooperados. Nos
arquivos do departamento financeiro do CEAEC, encontrei duas listagens, uma de 08/12/1995 com
122 cooperados residentes em várias cidades do Brasil, sendo 3 do Exterior e outra de 05/02/1996
com 160 cooperados, sendo que duas linhas estavam em branco, em um nome estava escrito
“demissão?”, em outro nome estava digitado “demissão” e em um quinto nome estava escrito “erro de
cadastro”, a grande maioria residentes de cidades brasileiras e os 3 do Exterior.
138

A fundação foi na sede-matriz do IIP no bairro da Glória. Nessa fotografia,


aparecem as seguintes pessoas, na fileira de trás, em cima do tablado, da esquerda
para direita: Marina Thomaz (diretora econômico-financeira do IIP), João Aurélio
Bonassi (diretor administrativo do IIP e do conselho de ética da COOIIP), Maria da
Glória Thiago (diretora técnico-científica do IIP e do conselho de ética da COOIIP),
Regina Maria Gonçalves Dias (assessora da ata da assembleia geral de constituição
da cooperativa) e Waldo Vieira (presidente do IIP e do conselho de ética da
COOIIP).
Continuando, na fileira de baixo, da esquerda para direita: José Amaro de
Paula Krob (conselho fiscal da COOIIP), Maria Luíza Catto Alcadipani (conselho
fiscal da COOIIP), Cleusa Félix de Lima (conselheira vogal da COOIIP), Rita de
Cássia Sawaya (diretora secretária da COOIIP), Bernardo Cunha Farina (diretor
financeiro da COOIIP), Cirlena Procópio (membro suplente do conselho fiscal da
COOIIP), Júlio César Gonçalves Dias (membro suplente do conselho fiscal da
COOIIP) e Maria Izabel da Conceição (diretora presidente da COOIIP)30.
Algumas pessoas não puderam estar presentes nessa assembleia de fundação
da COOIIP, mas seus nomes aparecem na Ata, uma delas, por exemplo, é o de
Moacir Lima Gonçalves, que era de São Paulo e já havia migrado para Foz do
Iguaçu nessa data, e se tornou conselheiro vogal. Esses nomes compuseram a
chapa única para gestão da cooperativa do CEAEC, denominada de “Pioneiros de
Foz”.
Essa imagem representa a formalização de um grupo e o início de uma tarefa
grupal a partir dos seguintes objetivos sociais resumidos com base no 1º. Estatuto
Social da Cooperativa dos Colaboradores do IIP 31 , uma cooperativa de trabalho

30
Os nomes e as funções foram copiados da “Ata da Assembleia Geral de Constituição da
Cooperativa”, cuja cópia foi obtida nos arquivos do departamento financeiro do CEAEC.
31
Nesse primeiro estatuto social da COOIIP (ESTATUTO social da Cooperativa dos Colaboradores
do Instituto Internacional de Projeciologia, 15 jul. 1995, p. 4), a admissão do cooperado se dava pela
subscrição do pagamento das quotas-partes do capital social que “não pode ser inferior a 120 (cento
e vinte) quotas-partes, nem superior a 1/3 (um terço) do total subscrito em moeda corrente nacional”,
perfazendo um total de R$ 6.000,00 (seis mil reais), onde o cooperado pode integralizá-lo à vista ou à
prazo com 4 opções de pagamento. A cópia desse Estatuto, o primeiro do CEAEC como associação,
foi adquirido no setor financeiro do CEAEC. Todas as suas páginas encontram-se rubricadas pelos
colaboradores presentes na Assembleia. Essa cópia possui o selo da Junta Comercial do Estado do
Paraná, com a data de registro em 03/06/1996, sob o n. 960959807, protocolo n. 960959807.
139

empresarial32: 1) constituir e administrar o Centro de Altos Estudos da Consciência –


CEAEC; 2) gerar condições para o desenvolvimento de pesquisas científicas; 3)
prestar serviços de treinamento, seleção, assessoria nas diversas áreas do
conhecimento humano; 4) apoio técnico-operacional aos pesquisadores e usuários
do IIP; 5) fundar parques gráficos-editoriais e distribuidoras.
A estrutura organizacional da cooperativa era composta de 4 órgãos:

Quadro 02 – Estrutura Organizacional da COOIIP em 1995


N. Órgão social Constituição Periodicidade Objetivos
1) Assembleia órgão supremo da reunia-se
Geral cooperativa anualmente
para
prestação de
contas
2) Conselho composto de 7 cooperados reuniam-se propor as
Administrativo que formavam a Diretoria uma vez por diretrizes e
Executiva com os cargos de mês metas da
diretor-presidente, diretor cooperativa na
vice-presidente, diretor Assembleia
financeiro, diretor secretário e
3 conselheiros vogais, todos
por 2 anos, sendo obrigatória
a renovação de no mínimo
1/3 de seus componentes;
3) Conselho composto por 3 membros reunia-se fiscalizar a
Fiscal efetivos e 3 suplentes, por 2 uma vez por administração
anos, permitida a reeleição mês do Conselho
de apenas 2 membros Administrativo
4) Conselho de formado pela Diretoria do IIP reunia-se prestar
Ética uma vez a consultoria ao
cada Conselho
trimestre Administrativo
e o Conselho
Fiscal, zelando
pela
manutenção
dos princípios
e valores do
IIP
Fonte: ESTATUTO, 1995, p. 5-8.33

32
Quase 1 ano e meio depois, o estatuto social sofreu algumas alterações, dentre elas, o tipo de
cooperativa que passou de trabalho empresarial para ser de pesquisa, ensino e extensão, segundo a
fonte do Informativo da COOIIP, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 17, dez. 1996.
33
Interessante observar que o Estatuto Social de uma organização não é algo estático e reflete as
mudanças necessárias para otimizar a gestão de acordo com a experiência dos líderes
administrativos. No Estatuto Social da cooperativa alterado em 30 de setembro de 2000, observa-se a
140

Assim, a partir do desafio lançado por Vieira ao grupo “socin conscienciológica”


e a solução gerada por eles realizando a pesquisa entre os colaboradores da região
Sul, surgiu o Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC) que era o nome
fantasia da Cooperativa dos Colaboradores do Instituto Internacional de
Projeciologia (COOIIP)34.
Nesse primeiro tópico 3.1 – Grupo de Pesquisas Conscienciais (GPC) - Socin
Conscienciológica, foram vistas as etapas desde a pesquisa sobre o CEAEC,
passando pela doação do terreno em Foz do Iguaçu, até a fundação da COOIIP, que
iria viabilizar a construção do centro de pesquisa.

3.2 Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC)

Nesse tópico, será feita a exposição do início da migração dos voluntários e a


construção nos territórios, gerando um processo de dinamicidade espaço-temporal e
formação de identificação com o grupo (senso de equipe) 35 entre os envolvidos.
Ficou organizado em 6 subtópicos: 3.2.1 Os primeiros migrantes; 3.2.2 A
materialização do plano piloto do CEAEC; 3.2.3 A construção dos laboratórios do
CEAEC; 3.2.4 A criação da ARACÊ; 3.2.5 Migração de Waldo Vieira para Foz do
Iguaçu e suas últimas viagens ao Exterior; e 3.2.6 Reconfiguração administrativa do
CEAEC.

3.2.1 Os primeiros migrantes

criação de mais um conselho no organograma, o Conselho de Planejamento, com a finalidade de


planejar as diretrizes gerais que iriam nortear as ações a serem implementadas pela cooperativa;
composto por 6 cooperados, sendo que nas reuniões realizadas uma vez por mês, era necessária a
presença do diretor presidente e do diretor financeiro da cooperativa. Outra alteração foi o mandato
do Conselho Administrativo ter passado de 2 para 4 anos (ESTATUTO Social da Cooperativa dos
Colaboradores do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia-CEAEC, 30 set. 2000, p.
31). Essa cópia do Estatuto da COOIIPC de 2000 não possui o selo de Registro de Títulos e
Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas.
34
CONCEIÇÃO, 2015, p. 59.
35
Identificação do grupo é o fundamento da coesão dos membros e do senso de equipe. É por um
lado a caracterização por parte de cada um de sua identidade social pela referência ao grupo (pelo
seu pertencimento) e por outro lado, o ato de considerar como “suas” as realizações do grupo, como
“seus” os seus sucessos e seus fracassos (MUCCHIELLI, R. O trabalho em equipe. Trad. De Monica
Stahel M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1980, p. 145).
141

Esse subtópico demarca o início do movimento migratório. Moacir Gonçalves


tomou a decisão de mudar para Foz do Iguaçu no evento mencionado de junho de
1995. A vontade de mudar, aliada ao convite de Waldo Vieira, fez com que ele se
mudasse junto com Bernardo Farina no dia 04 de julho de 1995. Mas para conseguir
tal objetivo, já na volta do evento em junho, se questionou: “Como é que eu vou para
Foz sem dinheiro?” Decidiu vender sua biblioteca. “Eu tinha mais de 1.000 livros,
revistas, coisas de raridade daquela época, que eu fui comprando ao longo do
tempo. (...) No ônibus para voltar para São Paulo, eu falei: ‘Eu estou vendendo
minha biblioteca, quem quer comprar livro aí?” Começou a vender e “em 1 semana
eu vendi todos os livros”, conta. Com esse dinheiro, Moacir pôde acertar “umas
coisinhas com a família, na boa.”36
Moacir fez a seguinte ponderação: “Você já pensou se eu tivesse ficado em
São Paulo? O que eu tinha perdido? (...) Pensa bem. Eu não conseguia nem dar
aula”. E compara com sua situação atual: “Hoje eu saio daqui, eu vou, olha, fiz 3
viagens internacionais, dei curso no Exterior, Portugal, para 50 e poucas pessoas,
dei curso na Alemanha, sem saber... tudo por causa do parapsiquismo. E outra
coisa, os alemães gostaram, viu? [risos]”.
Moacir viajou de carro com Bernardo Farina para Foz do Iguaçu. “Eu cheguei
aqui 7 horas da noite, já no CEAEC. E não podia dormir aqui, porque tinha gente na
casa ocupando. Aí fui dormir na cidade e no outro dia, vim para cá. Aí [já] fiquei
morando.” As condições de moradia foram ajeitadas dentro do possível: o Bernardo
“fechou uma porta e me deu para morar: um quarto, a cozinha e o banheiro. (...)
Abriram uma outra porta, que ficou a cooperativa”. Havia também “dois banheiros
que tinham ali fora, servia para homem e mulher, dos visitantes. E eu fiquei morando
nesse quartinho”.
Aí, depois foi criada aquela “basecon” [base conscienciológica] pequenininha,
que tinha em frente ali, que tinha 1,90m por 2.” Moacir explica que “é onde é a
cozinha hoje, mais ou menos. E eu morava em frente. (...) Quando fez a “basecon
2”, um lado é um ‘L’, o primeiro ‘L’ eu não vim. No segundo ‘L’, eu vim.”37
Moacir foi o primeiro morador do campus CEAEC. Consequentemente, o
primeiro conscienciólogo do que viria a ser chamado posteriormente bairro

36
GONÇALVES, Moacir Lima. Entrevista concedida em 18/04/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
37
O informante faz referência ao formato do edifício que se assemelhava a letra “L”.
142

Cognópolis. E segundo ele próprio: “e também talvez eu seja o mais antigo da


Conscienciologia hoje em dia. Talvez seja, porque eu olho assim, pelo o que eu vejo,
não tem, de 82, quem é que está?” Moacir recorda-se da Pilar Alegre38: “Ela chegou
6 meses depois de mim.” Porém, complementa: “só que ela não fazia parte da
equipe assim como voluntária. Ela ia assistir as palestras”, tendo se tornado
voluntária depois.
Moacir39 resume o momento de sua chegada no CEAEC do seguinte modo:

Quando eu cheguei aqui era chão batido. A Felipe Wandscheer era


chão batido. Não tinha calçamento. Não tinha telefone. Água, tudo
poluído, com cachorro, gato, tudo assim. Dava pereba nos nossos
braços, nas mãos, em mim, no Alexandre. Aí depois fez o poço
artesiano. E foi melhorando. A gente comprava aquele marmitex40 na
cidade e trazia para cá, além de 4 ou 5, eles traziam. Eu comprei
fogãozinho, fogareiro de duas bocas, pequenininho, para fazer
comida. Não tinha como fazer. Não tinha ar condicionado, nada. Um
frio danado que era terrível. Era [época de] geada quando eu
cheguei aqui. A roupa...não tinha chegado a mudança ainda. Aí a
salvação minha foi o Bernardo que tinha duas jaquetas de couro, ele
arrumou uma para mim e ficou com a outra. Deu uma para mim, foi o
que salvou a vida, senão ia morrer de frio [riso]. Era geada... A gente
saía de São Paulo para pegar geada aqui, como é que é? 04 de
julho, inverno. E uma coisa, uma seca danada. A rua aqui era um pó
danado. Sozinho... Depois que o Bernardo foi embora, eu fiquei
sozinho aqui dentro. Sozinho, sozinho mesmo. Chegava de noite, em
março e em outubro é quando chove mais, era aquela trovoada e
raio. Eu abria a janela e olhava assim [riso].

A situação era realmente precária. Segundo a “Relação de Cooperados” da


COOIIP, de 08/12/95, havia, morando em Foz do Iguaçu, 14 colaboradores
cooperados, 11 migrantes e 3 moradores de Foz. Dois meses depois, em uma outra
“Relação de Cooperados”, de 05/02/96, o número já havia crescido para 23

38
Pilar Alegre também é procedente de São Paulo e migrou para Foz do Iguaçu. Uma curiosidade
relatada por Alexander Steiner é que “o primeiro cadastro do Instituto começou lá por São Paulo, o
banco de dados do Instituto.” Comenta que “a Pilar, eu lembro, Pilar é número 8 do cadastro do
Instituto.” Questionei-o sobre como ele lembrava disso depois de tanto tempo. E ele respondeu:
“Nossa, esse cadastro, eu ficava com ele, para cima e para baixo, e ela como era pessoa já
conhecida nossa, eu sabia que ela era o número 8. Eu acabava vendo a numeração dela e acabei
gravando isso daí.” Alexander foi responsável pelo Centro de Processamento de Dados (CPD) do
IIPC por alguns anos e de modo recorrente se dizia que o cadastro de alunos e empresas do IIPC era
o maior bem institucional.
39
GONÇALVES, Moacir Lima. Entrevista concedida em 18/04/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
40
Sobre esse marmitex, Everton Santos, que mudou para Foz do Iguaçu junto com Nara Oliveira, em
02 de fevereiro de 1996, recorda que “se comia as quentinhas, as quentinhas do Piu-piu; horríveis
mas era o que tinha. Estava bom.”
143

colaboradores cooperados residentes de Foz do Iguaçu, sendo 20 migrantes e 3


moradores de Foz41.
Nessa última listagem, já aparecem os nomes de dois arquitetos que fizeram
parte da equipe de elaboração do projeto piloto em Foz: Alexandre Martins Balthazar
e Everton Souza dos Santos. Enfim, abordou-se a vinda dos primeiros migrantes e o
contexto encontrado por eles no local de destino.

3.2.2 A materialização do plano piloto do CEAEC

A construção do CEAEC teve início a partir da diretriz traçada pelo plano piloto.
Segundo Everton Santos, o que tinha previsto nesse plano piloto era “uma gráfica,
um hotel, uma sede administrativa, a Holoteca, lugar para fazer ECP1 e ECP2,
cursos de campo e um auditório; um grande auditório e tinha espaço para crescer,
salas de aula, basicamente era isso”.
O primeiro projeto que se pensou em implementar era a gráfica, pois o Moacir
tinha experiência na área, porém não deu certo. Depois se pensou em fazer o hotel,
onde é hoje o Salão de Eventos, depois chamado de Salão das Dinâmicas
Parapsíquicas 42 , Pavilhão das Dinâmicas Parapsíquicas e hoje nomeado de
Cognitarium. Então ali “a obra começou para virar o hotel”. Porém, nesse meio
tempo, “o Waldo diz: ‘Gente, vocês precisam fazer um caramanchão." Segundo
Everton, ele falou: "Tem que fazer um espaço aberto e coberto para as pessoas
confraternizarem. As pessoas vêm para cá, tem evento de lançamento da pedra
fundamental e as pessoas ficam aonde? Esse sol todo aqui.”
Assim, os arquitetos construíram 5 pequenos quiosques, que foram
transformados posteriormente em laboratórios. A ideia do quiosque “não funcionou
muito bem, porque o telhado era pequeno, o sol entrava por um lado, pegava por um
outro, a chuva entrava dentro, então (...) não atendeu a demanda que o professor
Waldo colocou. E aí eles foram aproveitados para laboratórios.”

41
Essas duas listagens foram conseguidas nos arquivos do setor financeiro do CEAEC, com
autorização do secretário-geral atual Fernando Barbaresco (Ano-base: 2019) e a responsável do
setor, Fernanda Schroeder. A menção dos nomes foi autorizada pelos informantes.
42
Dinâmica parapsíquica é a atividade realizada em grupo, no mesmo horário e local semanalmente,
com objetivo de promover a desenvoltura bioenergética e parapsíquica (percepções extrassensoriais)
assim como a interassistencialidade (ajuda mútua) por meio das energias às pessoas presentes e às
pessoas ou consciências que passaram pela morte biológica, coordenada por um ou mais
professores com domínio bioenergético (Ref.: GONÇALVES, Moacir. & SALLES, Rosemary.
Dinâmicas Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares, 2011, p. 47).
144

A ideia do hotel também não foi para frente, por que? “Onde se fariam os
eventos, os cursos? Então, a ideia do hotel, o prédio que era para ser o hotel,
começou a ser visto como sendo um salão de eventos e assim foi, funcionou até…”
Na verdade, funciona até hoje para eventos 43 , em especial, para a atividade da
“dinâmica parapsíquica” e também como sede de duas outras instituições
conscienciocêntricas menores e mais novas que o CEAEC.
Everton lembra que esse prédio era “um grande salão aberto sem divisória
nenhuma e os banheiros, então ali aconteciam todos os eventos, cursos, tudo,
convenção do Instituto44 (...). Enfim, o professor Waldo vinha para cá e dava curso, e
tudo acontecia ali no salão de eventos.”
Moacir recorda que “o primeiro ECP2, que teve aqui, quando fez o salão de
eventos, (...) a gente colocava saco de coisa no pé, amarrava para poder não sujar a
roupa, porque era só barro”. Devido à chuva, “tivemos que empurrar o ônibus, para o
ônibus sair daqui porque ele atolou ali. Era assim. Tudo assim. Uma dificuldade
danada. Hoje, tudo asfalto, tudo bonitinho [riso].”
A inauguração da primeira edificação do CEAEC, esse “salão de eventos com
capacidade para 800 pessoas” foi notícia no “Gazeta do Povo”, periódico do Estado
do Paraná, anunciando o evento da II Convenção Internacional do IIPC, de 11 a 22
de dezembro de 1996.45
Então o que é que existia? “Existia este salão, os quiosques que viraram os
cinco primeiros laboratórios, a casa inicial da Ivani que virou a administração do
Ceaec e que virou escritório de arquitetura, a garagem deles que virou a (...)
Holotequinha”. Everton e Nara chamavam esse espaço da garagem de
“Holotequinha”, pois foi ali que o material das coleções de livros, conchas, moedas,
entre outras, pertencentes ao Waldo Vieira e doadas por ele ao CEAEC, começaram
a ser guardadas.

43
A banca de qualificação do projeto de doutorado dessa autora foi realizada em uma das salas
desse “Salão de Eventos”, no CEAEC, por sugestão do orientador Valdir Gregory, em 04/08/2017.
44
A I Convenção Internacional do IIP foi realizada nos dias 15, 16 e 17 de dezembro de 1995 no
Hotel Carimã, em Foz do Iguaçu (Fonte: REUNIÃO geral IIP-1995. Informativo da COOIIP, Foz do
Iguaçu, ano 1, n. 4, edição extra, p. 2, de nov. 1995). A II Convenção Internacional do IIPC foi
realizada em 11 a 22 de dezembro de 1996, inaugurando as atividades do CEAEC. Ocorreu no salão
de eventos, tendo atraído em torno de 400 pessoas (Fonte: II CONVENÇÃO na história do CEAEC.
Informativo da COOIIP, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 17, p. 2, dez. 1996).
45
FOZ do Iguaçu ganha centro para pesquisa. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 36, 10 dez. 1996.
145

Em seguida, “foi o chiqueiro, esse chiqueiro foi aumentado, feito refeitório 46”
(Everton Santos). Nara relembra que “as pessoas vinham e ficava todo mundo na
garagem, antes do prédio estar construído. Ficava-se na garagem, as reuniões eram
naquela garagem, era tudo muito precário, muito precário.”
Depois, “se fez o Village47, se fez os outros Laboratórios e se fez o prédio da
Holoteca 48 . Isso foi a primeira fase” 49 (Everton Santos). O Village ou a Casa do
Pesquisador, como é chamado, é uma pequena hospedaria com 20 quartos, que,
nessa fase inicial do CEAEC administrado pelo sistema de coooperativa, era
composto por 4 leitos em cada quarto e um banheiro por quarto. Foi inaugurado com
a realização do curso “Sensibilização Energética”50, ministrado por Waldo Vieira, de
caráter teórico-prático. Este curso ocorreu no CEAEC e em locais pré-determinados:
nas Cataratas do Iguaçu, no Paraguai e na Argentina.
O plano piloto “foi modificado, alguns diriam que ele foi evoluído, transformado.
A Holoteca, que inicialmente estava prevista para ser no centro, foi lá para baixo.”
(Everton Santos). Nara explica que hoje aonde é o prédio do Holociclo e da Holoteca
estava prevista a realização dos cursos de campo, como por exemplo ECP2. “O
fulcro ou o eixo mentalsomático do projeto que era Holoteca e Holociclo ficavam no
centro de tudo”, ou seja, onde está hoje o Megálito da Paz.
Nara continua expondo que “aqueles quiosques à volta inviabilizaram essa
realidade, aquilo não saiu do jeito que se queria, fizeram o prédio lá embaixo”. No
entanto, com tempo, tudo se ajeitou, “porque aí se comprou os terrenos do lado de
cá, onde nós estamos aqui, agora, por exemplo no chalé, e se você olhar de lá até
aqui, a Holoteca está no centro.” A Holoteca acabou ficando no centro geográfico

46
No Jornal do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 3, n. 31, p. 4, fev. 1998, na nota “Estrutura de apoio à
Pesquisa” cita o restaurante para 70 pessoas e a cozinha industrial que funcionava durante os
eventos.
47
O Village ou a Casa do Pesquisador como era chamado tinha como previsão de inauguração o
mês de dezembro de 1997 (Fonte: “RESEARCHER’S House” no CEAEC. Informativo do CEAEC, Foz
do Iguaçu, ano 3, n. 27, p. 4, out. 1997).
48
O prédio da Holoteca foi inaugurado em 01 de janeiro de 2000, (Fonte: EXALTAÇÃO do saber.
Jornal do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 5, n. 54, p. 1, jan. 2000) ou seja, 4 anos e meio após a
chegada do Moacir. A holoteca foi tema de matéria do jornal “O Estado do Paraná” (KONIG, Mauri.
Foz tem o 1º. Spa do autoconhecimento. O Estado do Paraná, Curitiba, ano 49, n. 14.781, p. 4, 28
maio 2000).
49
No ano de 1996, foram construídas 13 edificações no terreno do CEAEC: o salão de eventos, 5
pavilhões ou quiosques, o marco zero, fossa e sumidouro, 3 observatórios: do rio Tamanduzinho, o
de pássaros e o bioenergético e um depósito para guardar livros e materiais (Fonte: CEAEC entra em
97 no ritmo da pesquisa. Informativo da COOIIP, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 16, p. 3, nov. 1996).
50
O curso “Sensibilização Energética” teve duas turmas seguidas em: 23 a 28 de dezembro de 1997
e de 30 de dezembro a 04 de janeiro de 1998 (Fonte: PARO, Denise. BIPRO, Rio de Janeiro, v. 4, n.
10, p. 8, dez. 1997).
146

dos terrenos, considerando os terrenos com as edificações, adquiridos desde o


início (ver a figura 10, mais adiante), e os terrenos comprados posteriormente, do
outro lado do rio Tamanduzinho, onde se localizam hoje somente os chalés, as
residências de voluntários.
Mas por que o formato circular dos quiosques, que acabaram virando
laboratórios? Everton esclarece que “esses quiosques não estavam previstos. Então
eles foram feitos já dentro desse círculo”, pois “o plano piloto radial previa um círculo
ali mas esse círculo seria preenchido pela Holoteca”. A Holoteca “abarcaria os
laboratórios, seria uma coisa grande no meio”. Seria um prédio grandão e redondo,
“daquele miolo ali subiria vários andares, com rampa por dentro, tipo o Guggenheim
lá em Nova Iorque.” Nara complementa: “Era um prédio grande e os laboratórios
estavam no plano piloto inicial.”
Everton resume: “do que foi pensado, eu poderia dizer que está tudo
encaminhando. (...) O Hotel que era previsto onde é hoje o Salão de Eventos, depois
foi colocado o Village”. Esclarece que o plano piloto é uma estrutura inicial
ordenadora de construções. Então você pode modificar funções, isso não adultera
esse plano (ver figura 6). Nara comenta que os colaboradores que não mudaram
para Foz do Iguaçu, mas fizeram parte da pesquisa no segundo semestre de 1994,
ficaram em Porto Alegre detalhando como seria o prédio da Holoteca. “O Marcello
coordenava esse grupo lá”. Everton evoca alguns nomes: “o Marcello Paskulin; o
Carlos e a Margarete”, dentre outros.
147

Figura 6 – Maquete do Plano Piloto inicial do CEAEC, de 1995

Fonte: livro “Temas da Conscienciologia”, de Waldo Vieira51.

A figura 6 representa a maquete do plano piloto do CEAEC. Ela foi encontrada


nas páginas finais dos livros “Temas da Conscienciologia” (1997b), em um texto
intitulado “Projeto Complexo Conscienciológico”, nas páginas 225 a 230. E também
no “Manual da Dupla Evolutiva”52 (1997a) de Waldo Vieira, além do “Catálogo de
Pesquisas do IIPC”, organizado por Tânia Ferraro (1998), já mencionado.
Nesse texto do livro “Temas da Conscienciologia”, é explicado que o CEAEC é
o centro de pesquisa desse “Complexo Conscienciológico”, onde já estava
funcionando o salão de eventos e onde já tinham ocorrido 103 atividades e recebido
mais de 5.000 participantes. Tinha, até aquele momento, um escritório de
administração, uma biblioteca com livros doados por Vieira e um estoque de livros e
materiais.

51
VIEIRA, Waldo. Temas da Conscienciologia. Rio de Janeiro: IIPC, 1997b, p. 228.
52
VIEIRA, Waldo. Manual da Dupla Evolutiva. Rio de Janeiro: IIPC, 1997a, p. 207.
148

Os espaços previstos para construção eram os que estão listados no Quadro


03 a seguir.

Quadro 03 – Espaços previstos para o campus CEAEC em 1995


1) Projetarium Edificação-laboratório dedicado a predispor às
experiências fora do corpo
2) Holoteca Edifício para exposição permanente dos artefatos do
saber e da biblioteca doada por Waldo Vieira
3) Salão de Pesquisa Salão de eventos
4) Cursos de Imersão Prédio para os cursos de imersão de final de semana, tais
como o ECP1 e o ECP2
5) Clínica de Para o atendimento ao público em geral
Consciencioterapia
6) CEAEC Village Alojamento para pesquisadores e frequentadores
7) Gráfica e editora Para a produção bibliográfica do IIPC, do CEAEC e outras
instituições
8) Escola Esclarecimento dos interessados segundo o paradigma
conscienciológica consciencial
9) Recuperação Com previsão de um bosque de 19.000 m2 (20% da área
ambiental total do CEAEC)
10) Adcon Edifício para as equipes da administração
conscienciológica (adcon)
Fontes: quadro elaborado pela autora a partir das informações do livro “Temas da
Conscienciologia”, de Waldo Vieira53.

Também é mencionado que, em agosto de 1997, a COOIIP possuía 226


cooperados, residentes de vários países, além do Brasil, tais como Argentina,
Canadá, Espanha, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra. Além dessa estrutura, é
citado um condomínio conscienciológico previsto, onde é hoje o condomínio “Campo
dos Sonhos” (o mais antigo), e que já contava na ocasião com 55 condôminos que já
possuíam lote. Em suma, a parte básica prevista pelo plano piloto foi construída
entre 1996 e 1999.54

53
VIEIRA, 1997b, p. 228 e 229.
54
VIEIRA, 1997b, p. 229 e 230.
149

3.2.3 A construção dos laboratórios do CEAEC

Dentre as estruturas previstas para construção, merece destaque um parque


laboratorial com a finalidade de desenvolver a proposta científica da
Conscienciologia. Entre 199755 e 2000, os colaboradores do CEAEC investiram na
construção de 16 laboratórios de autopesquisa, organizados segundo a cronologia
de fundação, de acordo com o Quadro 04, a seguir.

Quadro 04 – Laboratórios de Autopesquisa do CEAEC


N. Nome do Laboratório Data de Objetivo do Laboratório
Fundação
1) Laboratório da 14/09/1997 técnica de domínio da psicomotricidade
Imobilidade Física Vígil pessoal
2) Laboratório de Técnicas 01/01/1998 voltado para técnicas que predisponham
Projetivas à promoção da projeção consciente ou
experiência lúcida fora do corpo
3) Laboratório do Estado 21/02/1998 objetiva experimentar a técnica de
Vibracional dinamização máxima das energias
pessoais através da vontade
4) Laboratório de 22/02/1998 espaço organizado para favorecer a
Retrocognições lembrança de vidas passadas por meio,
principalmente, da escuta de músicas de
culturas variadas
5) Laboratório da Tenepes 08/04/1998 visa a experimentação da técnica da
tarefa energética pessoal, a
exteriorização da energia individual,
assistencial, em prol de pessoas
conhecidas ou não, próximas ou
distantes, em estado de carência ou
enfermidade
6) Laboratório da Proéxis 09/10/1998 para estudo do projeto de vida pessoal
7) Laboratório da Sinalética 23/12/1998 para desenvolver a sensibilidade
Energética energética, como se fosse uma “segunda
pele” ou uma campainha de alarme no
que diz respeito às percepções
extrassensoriais, o que por analogia é
aquilo que se chama de “sensibilidade do
mato”, ou seja, a habilidade de saber por
exemplo quando vai chover
8) Laboratório de 27/12/1998 para estudo da manifestação e
Pensenologia comportamentos pessoais por meio da

55
Em setembro de 1997, foi inaugurada uma casa de 45 m2 construída para que Waldo Vieira
pudesse permanecer mais tempo no CEAEC (Fonte: CONSTRUINDO o CEAEC. Informativo do
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 24, p. 4, jul. 1997). Em dezembro de 1998, essa casa foi reformada
para fazer uma ampliação e melhorias, como por exemplo no teto que recebeu revestimento de
camada de isopor, promovendo maior proteção térmica, reduzindo a temperatura interior (Fonte:
ENTERPRISE mais aconchegante. Jornal do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 4, n. 42, p. 4, jan.1999).
150

teoria dos pensenes: a indissociabilidade


entre pensamentos, sentimentos e
energias (ação)
9) Laboratório de Auto- 29/12/1998 objetiva favorecer o contato da pessoa
organização consigo mesma, tratando o incômodo
sentimento de insatisfação pessoal
10) Laboratório da Dupla 23/09/1999 possibilita a reflexão acerca da técnica da
Evolutiva formação de um casal íntimo com
objetivo de potencializar suas
performances evolutivas
11) Laboratório da 23/09/1999 dedicado ao estudo da herança milenar
Paragenética da própria pessoa por meio das vidas
sucessivas 56 , além da carga genética
herdada dos pais e do meio (mesologia)
12) Laboratório da 23/09/1999 para estudo da condição do “corpo
Despertologia fechado” ou do temperamento mais
predisposto a sofrer menos interferências
de assédio de consciências extrafísicas
(espíritos), por serem mais abertas,
otimistas, assistenciais, de trato mais
fácil, mais felizes e bem-humoradas
13) Laboratório da 23/09/1999 voltado para o desenvolvimento dos
Mentalsomática atributos conscienciais, tais como a
atenção, a concentração e a memória,
por meio de práticas intelectuais da
leitura, escrita e reflexão
14) Laboratório da 23/09/1999 visa o aprimoramento pessoal de temas
Cosmoética da moral e da ética sob a perspectiva do
paradigma consciencial
15) Laboratório da 23/09/1999 dedicado às pessoas que desejam mudar
Evoluciologia sua vida e sua personalidade em prol de
maior satisfação íntima e realização
pessoal a partir do entendimento de que
a evolução se processa de modo lento e
gradual, vida após vida, mas pode ser
acelerada pela vontade própria
16) Laboratório do 27/07/2000 uma técnica de pesquisa em jornais e
Cosmograma revistas através da associação de ideias
para aumentar a visão de conjunto e
capacidade de análise dos fatos
cotidianos
Fontes: VIEIRA, 1999 p. 201-22557,; BOUCHARDET, 2015, p. 150-15658; e PARO, 2007, p.
1 59.

56
Vidas sucessivas ou serialidade existenciais (sériexis) são expressões propostas pela
Conscienciologia para abordar o tema das vidas passadas, da presente e das vidas futuras. A
Conscienciologia propõe que a pessoa já teve múltiplas vidas passadas e terá diversas vidas futuras,
formando séries existenciais. Tais expressões visam substituir a palavra “reencarnação”, por julgá-la
inadequada, uma vez que a consciência “não fica presa à carne” quando nasce. (VIEIRA, Waldo.
Projeciologia. 4. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia e
Conscienciologia, 1999, p. 921).
57
VIEIRA, Waldo. Balneário bioenergético. Revista Conscientia, Foz do Iguaçu, v. 3, n. 4, p. 201-225,
out./dez., 1999.
58
BOUCHARDET, Roberta. Laboratórios do CEAEC: ferramentas avançadas para a autopesquisa.
Revista Conscientia, Foz do Iguaçu, p. 150-156, jul. 2015.
151

Sobre o início da construção dos laboratórios, Domingos Santos60 recorda que:


“eu estive no CEAEC quando nós ganhamos o terreno e depois quando foi a
inauguração do primeiro laboratório, Imobilidade Física Vígil. (...) Fomos nós que
trouxemos a cadeira, eu e Tadeu trouxemos a cadeira do Waldo para cá...”
Domingos estava se referindo à poltrona que Waldo Vieira doou para o
primeiro laboratório construído, em 1997, o Imobilidade Física Vígil: “aquela poltrona,
aquela primeira que ele fez o teste. Eu tenho inclusive as fotos originais lá. E aí
também senti isso aqui, não tão forte como no dia que nasceu. (...) como se fosse
assim: eles conseguiram fazer.” Domingos explica seu sentimento: “Conseguiu
materializar, vincou. Ali eu acho que eu senti. Foi a âncora, o negócio. Conseguiram!
Foi a assinatura ali da... Conseguiram fazer!”
Everton Santos61 esclarece que “professor Waldo sempre falava: ‘Vai fazer um
campus, vai fazer isso, vai fazer aquilo, põe laboratório e põe gente morando lá.’ Ele
sempre dizia isso, era a orientação dele. Gente morando lá, para quê? (...) são os
primórdios da sustentação” de todo o processo.
A finalidade de todos os laboratórios de autopesquisa é promover a
autorreflexão e a melhora do desempenho da pessoa sobre o tema ou a questão
que o experimentador quer se debruçar. Todos os laboratórios estão disponíveis a
qualquer pessoa interessada, diariamente, em horários pré-estabelecidos. É cobrada
uma taxa básica de manutenção: R$ 15,00 para o experimento de 1h30 e R$ 30,00
para o laboratório de 3h30. Caso a pessoa não tenha o conhecimento básico do que
seja a Conscienciologia e os laboratórios, existe uma equipe preparada para orientar
o interessado para a autoexperimentação laboratorial62.
Cada laboratório possui aproximadamente 50m2, sendo composto basicamente
por mesa, cadeira, poltrona, cama, minibiblioteca, luminária, despertador, pasta com
texto de orientação laboratorial, prancheta com papel e caneta (ver figura 7). Todo
laboratório possui uma luminária do lado de fora, que deve ser ligada pelo
experimentador ao chegar nele, sinalizando que está em uso.
59
PARO, Denise. Laboratório da imobilidade física vígil completa 1ª. década. Jornal Campus CEAEC,
Foz do Iguaçu, ano 13, n. 146, p. 1, set. 2007.
60
SANTOS NETO, José Domingos. Entrevista concedida em 19/10/2018 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
61
OLIVEIRA, Nara R. O. de e SANTOS, Everton S. dos. Entrevista concedida em 17/05/2019 a
Cristiane Ferraro, Foz do Iguaçu.
62
Informações disponíveis na recepção do CEAEC tanto pelos voluntários que atuam nesse setor
quanto em cartaz afixado no mural na recepção.
152

Figura 7 – Fotografia da vista interna de um laboratório de autopesquisa no CEAEC

Fonte: http://www.clickfozdoiguacu.com.br/foz-iguacu-noticias/23-razoes-para-voce-
conhecer-a-Conscienciologia-em-foz - acesso em: 13 jan. 2016.

Sob a ótica da pesquisa experimental, conforme entendida pela ciência


convencional: laboratório é “qualquer ambiente de pesquisa ou de coleta de dados
no qual haja um certo nível de controle por parte do pesquisador”, e experimentação
laboratorial é um “tipo de experimentação na qual o pesquisador possui um estreito
controle das condições em que são feitas as observações”63.
Nos laboratórios de autopesquisa do CEAEC, o experimentador entra sozinho
e leva para dentro desse espaço a sua questão, dúvida, pergunta e reflete sobre ela.
O controle que possui é de si mesmo na condição de sujeito e objeto de pesquisa,
pois o objetivo é o autoconhecimento. Vivencia a experimentação, “técnica científica
utilizada para testar hipóteses e oferecer respostas a problemas específicos” 64 ,
porém sem aparelhos ou testemunhas, caracterizando a autoexperimentação.
Os laboratórios de autopesquisa estão fundamentados no paradigma
consciencial, isto é, concepção teórica-metodológica no qual o pesquisador é o
instrumento e o objeto de pesquisa. Tomando como premissa que a experimentação
é uma das bases da ciência, os laboratórios conscienciológicos reúnem condições
para o experimentador se investigar.

63
APPOLINÁRIO, Fabio. Dicionário de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004, p. 92 e 121.
64
APPOLINÁRIO, 2004, p. 92.
153

Diferentes dos laboratórios convencionais, equipados com máquinas e


instrumentos de mensuração dos dados vitais, os laboratórios conscienciológicos
utilizam livros, planilhas para registro, papel e caneta, sendo que o mais importante
é o funcionamento como camêras de reflexão para predispor decisões íntimas que
visam a melhoria da pessoa.
Todos os laboratórios são individuais, ou seja, o experimentador entra sozinho
no laboratório e realiza seu experimento, justamente para não haver nenhum tipo de
indução das ocorrências.
Os laboratórios foram tema de matéria do jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, de
03/01/1999: “CEAEC terá 50 laboratórios para pesquisas da consciência”. Essa
chamada fazia parte de uma matéria maior intitulada: “Ceaec promove cursos
avançados: pesquisadores de 20 países reunidos em Foz no final do ano”65. A duas
notícias juntas compuseram uma página do jornal, além de contar com uma foto de
Waldo Vieira. Em meio a uma crise em Foz, o repórter retratou o CEAEC como “uma
boa notícia para Foz do Iguaçu.”
Nessa mesma linha de abordagem, a vinda de turistas norte-americanos para
passar o final de ano no CEAEC também virou notícia no jornal estadual “Gazeta do
Povo”, de 01/01/1999. Na verdade, eram 22 pessoas de 13 países diferentes que
moravam nos EUA e estavam em busca de autoconhecimento.66 Na ocasião, havia
246 cooperados do CEAEC, moradores de diversas cidades brasileiras e
estrangeiras.
Os laboratórios voltaram a ser notícia em 03 de dezembro de 2000, dessa vez,
no jornal “O Paraná”: “nestes locais, (...) a pessoa procura treinar a mente para ter o
domínio de suas próprias sensações e todas as que interagem no cotidiano.”67
Nesse meio tempo, enquanto as construções no CEAEC estavam a pleno
vapor, o IIPC ganhou a certidão de Utilidade Pública Federal (UPF) pelo decreto de
25 de maio de 1998, publicado no Diário Oficial da União de 26/05/1998, CGC n.
30.120.059/0001-84, por ter apresentado o relatório e o demonstrativo da receita e
despesa referente ao ano de 1998. Tal título foi um reconhecimento do Estado, de
que a instituição possui qualidades que a torna de interesse coletivo, ou seja, presta

65
Fonte: CEAEC promove cursos avançados. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 10, n. 3.068,
p. 10, 03 jan. 1999.
66
TURISTAS buscam autoconhecimento. Gazeta do Povo, Curitiba, ano 80, n. 25.279, p. 12, 01 jan.
1999.
67
CENTRO pesquisa elementos da consciência: Foz conta com uma universidade de estudos da
consciência. O Paraná, Cascavel, ano XXIII, n. 7.378, p. 22, 03 dez. 2000.
154

serviços à coletividade de modo desinteressado, com objetivo do fim público. O IIPC


renovou esse título de 1998 até 2015, por 17 anos ininterruptos, quando a
presidente Dilma Rousseff revogou a Lei da UPF (Lei n. 91, de 28/08/1935), ou seja,
hoje esse reconhecimento pelo Ministério da Justiça não existe mais (art. 9, da Lei
13.204, de 14/12/15)68.
Nesse subtópico, a infraestrutura laboratorial do CEAEC foi apresentada
constituindo um espaço construído com a finalidade de desenvolver uma prática
cultural dessa comunidade, a autopesquisa.

3.2.4 A criação da ARACÊ69

A partir da experiência do CEAEC, começam a nascer novas cooperativas e


instituições, dentre elas a ARACÊ. Nesse mesmo ano de 1998, uma parte dos
colaboradores pioneiros do CEAEC criou o curso “Conscienciologia Aplicada”, com
duração de 2 anos, cujo objetivo era divulgar os aprendizados dessa experiência
grupal. Esse curso foi ministrado em Foz do Iguaçu e em várias cidades brasileiras
nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Segundo Izabel Conceição70, a renda adquirida desse curso dado em São Paulo foi
o que possibilitou a compra do segundo terreno do CEAEC, localizado após o rio
Tamanduazinho, onde hoje estão construídos os chalés, residências para
voluntários. O terreno possuía 147.000 m2 e foi adquirido em julho de 200071.

68
Informações sobre a UPF do IIPC foram obtidas no documento chamado “Utilidade Pública
Federal” organizado pela voluntária Cristina Arakaki, assessoria jurídica do IIPC na ocasião e
disponibilizada cópia pelo setor financeiro e pelo secretário-geral do CEAEC. Assim como, por meio
de esclarecimento por e-mail fornecido pela voluntária Lane Galdino, responsável pelo Conselho de
Interassistência Jurídica da Conscienciologia (CIAJUC), órgão da UNICIN (União das Instituições
Conscienciocêntricas Internacionais) (Ano-base: 2019). A menção do nome foi autorizada pela
informante.
69
As fontes de pesquisa sobre o curso Conscienciologia Aplicada, a cooperativa Teática e
associação Aracê foram: CEAEC cria cooperativa Teática. Jornal do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 5,
n. 56, p. 4, mar. 2000; TEÁTICA: Tecnologia da reurbanização. Revista Conscienciologia Aplicada,
Foz do Iguaçu-PR/Venda Nova do Imigrante-ES, ano 1, n. 3, p. 10-14, ago. 2001; INAUGURAÇÃO da
Associação Aracê. Revista Conscienciologia Aplicada, Foz do Iguaçu-PR/Venda Nova do Imigrante-
ES, ano 1, n. 3, p. 15-16, ago. 2001.
70
CONCEIÇÃO, 2015, p. 65.
71
Fonte: jornal interno do IIPC, chamado “IIPC NEWS – o jornal da comunidade conscienciológica”.
(Fonte: IIPC ganha mais território no Brasil. IIPCNews, Rio de Janeiro, ano 2, n. 7, p. 3, set., out. e
nov. 2000). Interessante observar que esse jornal interno do IIPC foi criado em abril de 1999 e seu
nome era somente “IIPC@News”. A partir do segundo número, em junho de 1999, o título era “IIPC
News – O Jornal do Colaborador” e no número 5, ano 2, de março a maio de 2000, o título passou a
ser “IIPC News – o Jornal da Comunidade Conscienciológica”. No editorial, o diretor administrativo
João Bonassi cita que esse jornal é “mais um serviço que o IIPC presta a toda Comunidade
155

Devido à necessidade de conciliar o trabalho profissional com o trabalho


voluntário, gratuito, no CEAEC, ou seja, ter uma renda mínima para sobreviver com
flexibilidade de horário, era necessário abrir o próprio negócio. Em março de 2000,
esse grupo pioneiro criou uma cooperativa de serviços especializados, chamada
“Teática” (neologismo a partir da junção de teoria + prática), considerada um
embrião de uma empresa conscienciológica. A nova cooperativa contava na
inauguração com 23 cooperados e possuía 3 salas no centro de Foz do Iguaçu.
A atuação inicial foi na área de produção gráfica e editorial. O primeiro produto
da Teática foi a revista “Iguassu Turismo e Eventos” com o tema “50 Motivos para
conhecer o Iguassu”, lançada em setembro de 2000, na feira da Associação
Brasileira de Agentes de Viagem (ABAV), com 3.000 exemplares. A revista pertencia
a dois cooperados que mantinham uma empresa particular antes da criação da
Teática.
O segundo projeto foi o “Guia Iguassu – Um Destino para o Mundo”, produzido
em 1 ano e meio em parceria com a organização não-governamental Instituto Pólo
Internacional Iguassu, cuja missão é a promoção e integração da região trinacional
do Iguassu, Argentina-Brasil-Paraguai 72 . O lançamento da revista ocorreu na
ocasião de comemoração do aniversário de 87 anos de Foz do Iguaçu. Outra área
de atuação da Teática foi a informática, no desenvolvimento de software de internet,
em e-commerce. Outros cooperados aderiram a “Teática”, mas com a condição que
fizessem o curso “Conscienciologia Aplicada” a fim de se habilitar em teorias e
práticas conscienciológicas vivenciadas pelo grupo pioneiro do CEAEC.
Em 14 de abril de 2001, foi criada uma nova instituição, chamada Associação
Internacional para a Evolução da Consciência (ARACÊ)73, cuja sede localizava-se
em Venda Nova do Imigrante (ES), sendo que um dos objetivos era superintender as

Conscienciológica (...), aqueles que se interessam pelas ideias da Conscienciologia transmitidas pelo
Instituto”. Esse título permaneceu até o número 12 do IIPC News, quando houve mudança do editor
responsável. Essa foi a primeira vez que encontrei a expressão “comunidade conscienciológica” em
destaque nos documentos da Conscienciologia.
72
Fonte: MACIEL, Zé Beto. Guia buscará integração no Pólo Iguassu. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 13, n. 3.824, p. 28, 08 jun. 2001.
73
“A efetiva implantação do campus Aracê ocorreu em 14 de setembro de 2001, com a concessão,
em comodato, por 50 anos de um terreno com 11.815 m2, para a Associação administrar, construir e
manter a referida instituição conscienciocêntrica” (Fonte: ASSOCIAÇÃO completa 3 anos. Jornal da
ARACÊ, Venda Nova do Imigrante/ES, ano 2, n. 13, p. 1, abr. 2004). O terreno foi cedido por uma
voluntária do CEAEC. O nome Aracê provém do maior distrito do município de Domingos Martins, no
estado do Espírito Santo. O termo Aracê é de origem tupi que significa amanhecer, aurora (Fonte:
FREQUENTLY Asked Questions – F.A.Q. Jornal da ARACÊ, Domingos Martins, ano 6, n. 54, p. 2,
set. 2007).
156

cooperativas que fossem sendo criadas a partir de então, ou seja, “funcionar como
incubadora de projetos e cooperativas, portanto preparada para a capacitação
pessoal em administração consciencial”74. Assim, a partir do sucesso dos projetos
da Teática-Foz, em 2001, foram criadas “Teáticas” em São Paulo (SP) e em Venda
Nova do Imigrante (ES).
A forma do grupo da ARACÊ trabalhar se dava através das chamadas reuniões
técnicas, atividade desenvolvida na época da construção do CEAEC, nas quais
prevalecia a expertise dos profissionais da área que estivesse em pauta para
75
discussão . Já na ARACÊ, as reuniões técnicas foram denominadas de
“plenárias” 76. Para tanto, foram inauguradas, em dezembro de 2001, construções
com arquitetura arredondada chamadas justamente de “plenárias”.
Também foram previstas construções para moradia dos colaboradores, com
base na experiência do CEAEC, chamadas de “basecon” ou base
conscienciológica 77 , sendo que no ARACÊ, a previsão era de 24 kitinetes, uma
planta única para todas as moradias, sendo que o “inquilino” antecipava o aluguel da
sua futura “basecon”, que seria construída com esse dinheiro e isto lhe daria o
direito de morar no imóvel por um determinado período de tempo.
Assim, a partir de 2002, cooperados da Teática e associados da ARACÊ
começaram transferir residência para Venda Nova do Imigrante (ES) provenientes
de várias cidades brasileiras, chegando a ter 31 pessoas nesse município em abril
de 200278. Além da construção das plenárias e da “basecon”, também foram feitas
edificações para laboratórios.
Domingos recorda-se da sua primeira visita à ARACÊ. “Eu fui o primeiro a ir lá
em ARACÊ, praticamente (...), a Greice e o Tadeu me levaram lá: ‘Vamos te levar

74
Fonte: INAUGURAÇÃO da Associação ARACÊ, Revista Conscienciologia Aplicada, Foz do
Iguaçu/Venda Nova do Imigrante, ano 1, n. 3, p. 16, ago. 2001.
75
CONCEIÇÃO, 2015, p. 63.
76
Fonte: PLENÁRIAS da Conscienciologia Aplicada. Revista Conscienciologia Aplicada, Foz do
Iguaçu/Veda Nova do Imigrante, mar ano 1, n. 1, p. 4, 2001.
77
Segundo Alexandre Balthazar (2015, p. 23), um dos arquitetos que elaborou o plano piloto do
CEAEC, e registrou suas memórias na edição comemorativa de 20 anos do CEAEC na revista
Conscientia, a proposta de “basecon” da ARACÊ foi inspirada na experiência de “basecon” do
CEAEC, que por sua vez tem suas raízes em uma experiência de um grupo de voluntários do IIP que
alugou um grande apartamento no centro de Florianópolis, o que ajudou no suporte das atividades da
Conscienciologia nessa localidade (BALTHAZAR, Alexandre. Campus CEAEC: História e
Prospectiva. Conscientia, Foz do Iguaçu, p. 19-44, jul. 2015).
78
Fonte: COLABORADORES mudam-se para Venda Nova do Imigrante. Revista Conscienciologia
Aplicada, Venda Nova do Imigrante/Foz do Iguaçu, ano 2, n. 4, p. 17, abr. 2002.
157

para um local que você não vai esquecer’. Aí então, dormi na casa deles.” Lá era
“um dos céus mais bonitos que eu já vi. (...) Eu vi os meteoritos, aquela nebulosa...”
Depois dessa vez, Domingos comenta “eu não sei como é que está, eu não
voltei mais para ARACÊ. Logo em seguida, a Solange ficou grávida, nós ficamos
grávidos, e aí...” sua vida seguiu novos rumos. Nesse subtópico, pode-se observar o
surgimento da ARACÊ como fruto do know-how adquirido pelos voluntários pioneiros
do CEAEC.

3.2.5 Migração de Waldo Vieira para Foz do Iguaçu e suas últimas viagens ao
Exterior

Novos ventos iriam soprar com a vinda de Waldo Vieira para o CEAEC. Vieira
procurou dar encaminhamento às últimas pendências relacionadas à administração
do trabalho da Conscienciologia no Exterior até se fixar em Foz do Iguaçu de vez.
Enquanto estava ocorrendo esse movimento de parte dos voluntários do
CEAEC para o Estado do Espírito Santo, em julho de 2000, Waldo Vieira transferiu
residência do Rio de Janeiro para Foz do Iguaçu com sua esposa. Tal iniciativa foi
possível uma vez que ele havia deixado o cargo de presidente do IIPC em dezembro
de 1999, tendo escolhido Alexander Steiner para substituí-lo79.
A respeito da sua mudança, Vieira assim se pronunciou: “Quando chegou o
ano 2000, deixei de viajar e vim para cá, com o objetivo de impulsionar o trabalho”80.
Na verdade, Vieira ainda chegou a fazer quatro itinerâncias dando palestras e
cursos no Exterior, uma no segundo semestre do ano 2000 que estava previamente
agendada, duas em 2001 e a quarta em maio de 2002 para o 3º. Congresso
Internacional de Conscienciologia, em New York (USA).
Na viagem realizada no segundo semestre de 2000, Vieira, junto com
colaboradores brasileiros e europeus, fundou a primeira instituição da
Conscienciologia no Exterior, a International Academy of Conscientiology (IAC), em
Portugal, no dia 28 de outubro de 200081. Tal evento ficou registrado em periódico
português82.

79
Fonte: O NOVO presidente do IIPC. IIPC News: o jornal da comunidade conscienciológica. Rio de
Janeiro, ano 2, n. 5, p. 1 e 5, mar. a maio 2000.
80
KOJUNSKI, 2014, p. 35.
81
De acordo com o informativo “IAC TODAY” (Lisboa, ano 1, n. 1, dez. 2000), a assembleia de
fundação foi no dia 28/10/2000, com a aprovação do estatuto social da cooperativa, durante o curso
158

O IIPC já possuía filiadas no Exterior desde 1992 em Buenos Aires (Argentina),


desde 1994 em Miami (EUA) e Lisboa (Portugal), desde 1995 em New York (EUA) e
desde 1996 em Ottawa (Canadá), além de Londres (Inglaterra) desde 1996 e em
Barcelona (Espanha) desde 1997. Antes da implantação do escritório ou “unidade”,
como era chamado, nessas localidades, ocorreram cursos e palestras até a fixação
em uma base física. No entanto, não eram instituições fundadas no Exterior, mas
filiadas, escritórios com salas de aula onde se ministravam os cursos de
Projeciologia e Conscienciologia83.
Em maio de 2001, Vieira esteve em Portugal para ministrar palestras e cursos
em Lisboa e no Porto 84 . Nas viagens para dar curso no Exterior no segundo
semestre de 2001, Waldo Vieira viu de perto a tragédia do “11/09”, tendo chegado
em New York, 7 horas antes do desastre e permanecido na cidade por 6 dias. Os
cursos foram cancelados, levando Vieira a embarcar para dar cursos na Europa
antecipadamente85.
Ainda em 2001, Vieira iniciou as tertúlias ou conversa entre amigos, de modo
esporádico e informal, dentro do departamento do Holociclo no CEAEC, local onde
ele desenvolveu a elaboração da “Enciclopédia da Conscienciologia”.86
De 17 a 19 de maio de 2002, foi realizado o 3º. CIPRO ou Congresso
Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, em New York, no qual Vieira
participou e lançou o livro “Projeciologia” em inglês. Esse evento contou com a
participação de pesquisadores norte-americanos, como por exemplo, Stanley
Krippner que apresentou sobre “sonhos extraordinários”, P.M.H. Atwater, que
realizou conferência sobre as “experiências de quase-morte” (EQM) e J. Timothy
Green, que passou por uma EQM e proferiu conferência sobre experiência fora do
corpo, sonhos lúcidos e as viagens xamânicas.

“ECP3 – Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 3”, com a presença de 190 pessoas. Nesse
momento, 75 pessoas tornaram-se cooperados. No dia 22/10/2000, foi feito um ato solene de
inauguração no terreno adquirido para a IAC, na localidade de Évoramonte, em Portugal.
82
Fonte: LOURENÇO, Nuno Sá. O Alentejo noutra dimensão. Público, Lisboa, ano 11, n. 3.871, p.
23, 22 out. 2000.
83
Informações sobre o IIPC no Exterior estão disponíveis nas páginas finais 221 a 223 do livro
“Temas da Conscienciologia”, de Waldo Vieira, publicado em 1997, pelo IIPC. Essas informações
também foram encontradas no encarte “Unidades Internacionais do IIPC”, integrante do “BIPRO –
Boletim do IIPC”, Rio de Janeiro, v. 4, n. 10, dez. 1997.
84
Fonte: PORTUGAL liberta energias positivas. Correio da Manhã, Lisboa, ano XXIII, n. 8.022, p. 13,
4 maio 2001.
85
Essa vivência inesperada e trágica do “11/09” foi mencionada no jornal “IIPC News” (Fonte: 11th
SEPTEMBER. IIPC NEWS, Ipanema/RJ e Foz do Iguaçu, ano 3, n. 12, p. 11, dez. 2001 a fev. 2002).
86
FERRARO, Cristiane. ARAKAKI, Kátia. Histórico das Tertúlias conscienciológica. Revista
Conscientia, Foz do Iguaçu, vol. 16, n. 4, p. 355-373, out./dez. 2012. p. 361.
159

Nesse evento, também se tomou a decisão de transferir as filiadas do IIPC no


Exterior para a IAC, instituição fundada em 2000 em Portugal 87 , conforme
mencionado. Em síntese, Vieira organizou a administração do trabalho no
internacional, até poder não precisar mais viajar e impulsionar o trabalho da
Conscienciologia em Foz do Iguaçu.

3.2.6 Reconfiguração administrativa do CEAEC

Enquanto Vieira atendia às demandas internacionais, o CEAEC entrou em um


processo de reforma administrativa. Em 2002, houve dois fatos importantes, um para
o IIPC e o outro para o CEAEC.
Desde 1998, o IIPC tornara pública a necessidade da aquisição de uma sede
própria, dessa vez no Rio de Janeiro. Em maio de 1998, o GPC-Socin do RJ fez um
informativo cujo título era “Campus – IIPC”88. Devido ao crescimento de “unidades”
no Brasil e no Exterior, buscava-se mais espaço para “atender essas demandas
administrativas, científicas e docentes, além de local para estoque de livros e
biblioteca”89. Em março de 2002, a meta foi atingida. Foi inaugurado o campus IIPC
Saquarema, no município de mesmo nome, no Estado do Rio de Janeiro, em uma
área de 320 mil m2, cerca de 2 horas de viagem do centro do Rio90.

87
Fontes: 3º. CIPRO: congresso Internacional de Projeciologia e Conscienciologia. IIPC News, Rio de
Janeiro e Foz do Iguaçu, ano 4, n. 13, p. 6 e 7, abr. 2002 e IAC epicentrará, com transparência e
dinamismo, atividades em 7 países. IIPC News, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, ano 4, n. 14, p. 11,
ago. a nov. 2002.
88
O grupo de pessoas do GPC-Socin do RJ dedicado à aquisição de uma sede própria para o IIPC
no Rio de Janeiro começou a funcionar a partir de 20 de junho de 1997, na sede-matriz. Nessa
ocasião, existiam outros grupos de pesquisa “Socin” em Belo Horizonte, Fortaleza, Londrina, São
Paulo e Salvador (Fonte: EDITORIAL. CAMPUS-IIPC – Informativo do GPC-Socin do IIPC, Rio de
Janeiro, vol. 1, n. 1, p. 1, maio 1998). A primeira fase do projeto previa a compra da sede própria em
Ipanema, no RJ para a sede-matriz e segunda fase previa um campus semelhante ao CEAEC (Fonte:
COMPRA da sede própria. Informativo CAMPUS-IIPC, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 2, p. 1, jul.1998). A
compra da sede própria na zona sul carioca foi realizada no bairro da Barra da Tijuca, no shopping
Downtown em outubro de 2000 com recursos levantados por meio de quotas pagas pelos voluntários
e alunos, além de doações. Porém, tal empreendimento foi vendido na ocasião da mudança da sede
do IIPC para Foz do Iguaçu em 2004 (Fontes: O PROJETO Campus adquire o 1º. Imóvel do IIPC na
cidade do Rio de Janeiro. IIPC News, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, p. 3, dez. a fev. 2001; e
DIRETORIA IIPC. Sede mundial muda para Foz. IIPC News, Rio de Janeiro, ano 6, n. 18, dez. 2003 a
mar. 2004).
89
Fonte: CAMPUS-IIPC. BIPRO – Boletim do IIPC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 12, p. 2, ago. 1998.
90
Fontes: VOLUNTÁRIO inauguram o CIC – Campus Internacional da Conscienciologia, Saquarema-
RJ, Brasil. IIPC News, Rio de Janeiro/Foz do Iguaçu, ano 4, n. 13, p. 11, abr. 2002; e CAMPUS-IIPC.
BIPRO – Boletim do IIPC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 12, p. 2, ago. 1998 e no “Portfólio de Cursos do
IIPC” (2013), documento ilustrado de divulgação institucional.
160

O CEAEC, por sua vez, passou por uma reconfiguração administrativa e


estatutária. A medida provisória n. 1858-9 de 1999 trouxe modificações profundas
com o dispositivo da Lei Complementar n. 70/91, alterando a isenção tributária às
cooperativas.
Tal fato foi tema da reunião técnica realizada para estruturação da Holoteca,
em julho de 2000, no CEAEC. As discussões não foram adiante até que no final de
2001, o tema voltou a ser debatido, culminando na reunião técnica de 9 a 12 de
fevereiro de 2002, em Venda Nova do Imigrante (ES).
O aumento da carga tributária e a dificuldade de arrecadação de recursos para
manter o crescimento do CEAEC fizeram com que o processo de reformulação
administrativa fosse acelerado e não aguardasse o prazo previsto das próximas
eleições da nova diretoria que seria em julho de 2003.
Foi feita então uma “Proposta de Reconfiguração Administrativa do CEAEC”91
com todas as etapas a serem cumpridas para o fechamento da cooperativa e a
constituição da Associação do CEAEC.
O aumento da carga tributária levava à necessidade de ter mais pessoas a fim
de gerenciar os procedimentos fiscais. Além disso não havia possibilidade de obter
isenção dos tributos nem adquirir o título de Utilidade Pública, já alcançado pelo
IIPC. Esses fatores, aliados à inviabilidade do vínculo de trabalho voluntário no
cooperativismo, nos casos de colaborador não-cooperado, levaram à alteração
estatutária do CEAEC de cooperativa para associação.
O novo Estatuto Social da Associação Internacional do Centro de Altos
Estudos da Conscienciologia entrou em vigor na assembleia realizada em 23 de
julho de 2002.
Em suma, nesse tópico 3.2 – Centro de Altos Estudos da Consciência
(CEAEC) foi apresentada a vinda dos primeiros migrantes o que viabilizou a primeira
fase de construção do CEAEC concomitante com a gestão pelo cooperativismo de
1995 a 2002.

3.3 Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia


(CEAEC)

91
O documento com esse título explica o processo da modificação estatutária de cooperativa para
associação no CEAEC. Foi obtido no setor financeiro do CEAEC com autorização da responsável do
setor e do secretário-geral do CEAEC (Ano-base: 2019).
161

Nesse momento, será exposto sobre as mudanças jurídica, onomástica e de


equipe que marcaram nova fase de desenvolvimento do CEAEC. A mudança da
natureza jurídica do CEAEC (ver APÊNDICE A)92 também acarretou alteração no
nome da instituição, que manteve a sigla, porém mudou a última palavra de
“Consciência” para “Conscienciologia”. Segundo Everton Santos, “essa mudança foi
porque (...) tinha muita coisa de consciência por aí. Para diferenciar”. Foi feita essa
modificação, e o CEAEC passou a se chamar Centro de Altos Estudos da
Conscienciologia.
Além da mudança estatutária e no nome, também houve renovação na equipe
administrativa. Conforme visto, alguns colaboradores que construíram o CEAEC
estavam num movimento migratório para a ARACÊ, no Espírito Santo, sendo que no
mesmo período, com a vinda de Waldo Vieira para Foz do Iguaçu em julho de 2000,
alguns voluntários começaram a migrar principalmente do Rio de Janeiro para Foz
do Iguaçu, a fim de trabalhar com ele na escrita da “Enciclopédia da
Conscienciologia”, no Holociclo.
Esse tópico compreende os seguintes assuntos: 3.3.1 Nova estrutura
organizacional do CEAEC; 3.3.2 Tertúlias conscienciológicas; 3.3.3 Aleia dos Gênios
da Humanidade; 3.3.4 Acoplamentarium; e 3.3.5 Edificações do CEAEC.

3.3.1 Nova estrutura organizacional do CEAEC

A nova estrutura organizacional do CEAEC passou a funcionar com 6 órgãos


sociais. As respectivas funções estão resumidas no Quadro 05, a seguir.

Quadro 05 – Nova Estrutura Organizacional do CEAEC93 em 2002


N. Órgão Constituição Periodicidade Objetivos
1) Assembleia composto por reunindo-se 2 aprovar orçamento da
Geral de todos os vezes por ano instituição, apreciar as propostas
Associados associados do Comitê de Planejamento,
discutir e homologar as contas

92
As informações obtidas para esclarecimento desse apêndice A (a transformação do CEAEC em
associação) foram obtidas e autorizadas por e-mail pela voluntária Lane Galdino, responsável pelo
Conselho de Interassistência Jurídica da Conscienciologia (CIAJUC), órgão da UNICIN (União das
Instituições Conscienciocêntricas Internacionais) (Ano-base: 2019). A menção do nome foi autorizada
pela informante.
93
ESTATUTO Social da Associação do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia - CEAEC, 23
jul. 2002, p. 4-11. 14 p. A cópia desse Estatuto, o primeiro do CEAEC como associação, foi adquirido
no setor financeiro do CEAEC. Todas as suas páginas encontram-se rubricadas pelos voluntários
presentes na Assembleia. Essa cópia não possui o selo de Registro de Títulos e Documentos e Civil
das Pessoas Jurídicas.
162

aprovadas pelo Conselho Fiscal


e eleger os participantes do
Comitê de Planejamento,
Coordenadores do Comitê
Executivo e do Conselho Fiscal
2) Comitê de constituído por 8 reunindo-se eleger 3 representantes, dentre
Planejamento participantes, uma vez a seus participantes, para
todos associados cada participar do Colegiado Gestor,
voluntários semestre além das reuniões do próprio
residentes em Foz Comitê, elaborar o planejamento
do Iguaçu, com bianual da Associação assim
mandato de 3 como o orçamento anual e
anos, sendo submetê-lo à apreciação do
possível uma Colegiado Gestor e aprovação
única reeleição da Assembleia Geral
3) Comitê composto por 8 reunindo-se responsáveis por eleger 3
Executivo coordenações: uma vez por representantes, dentre seus
administrativa, mês participantes, cuja presença era
editorial, de obrigatória nas reuniões do
eventos, Colegiado Gestor e nas do
financeira, de próprio Comitê, além de cuidar
infra-estrutura, de da administração geral do
marketing, talentos CEAEC por 3 anos, sendo
e técnico-científica permitida uma única reeleição
consecutiva desde que para
outra coordenação
4) Comitê órgão de uma vez por eleger 3 representantes, dentre
Consultivo cooperação com o mês (no seus participantes, cuja
Comitê de C.Executivo) presença era obrigatória nas
Planejamento e e uma vez a reuniões do Colegiado Gestor
Executivo na cada para apreciação e deliberação
gestão do CEAEC trimestre dos assuntos em discussão e
(C.Gestor) nas reuniões do próprio Comitê
5) Colegiado órgão constituído uma vez a apreciar o Balanço Semestral e
Gestor por todos os cada os relatórios financeiros,
voluntários trimestre escolher o Secretário-Geral,
associados com destituir os membros dos
quórum mínimo de Comitês de Planejamento, do
15 associados, Comitê Executivo, do Conselho
sendo 5 Fiscal e o Secretário-Geral, no
participantes do caso de não cumprimento de
Comitê de suas atribuições, acompanhar a
Planejamento, 5 execução do plano global anual
Coordenadores do das atividades da Associação
Comitê Executivo
e 5 participantes
do Comitê
Consultivo
6) Conselho composta por 3 reunindo-se fiscalizar a administração
Fiscal membros, eleitos uma vez a contábil e financeira do CEAEC
na Assembleia cada
Geral por 3 anos, semestre
sem reeleição
Fonte: ESTATUTO social da Associação do CEAEC, 2002.
163

Além dos 6 órgãos sociais, existia a função do Secretário-Geral, eleito pelo


Colegiado Gestor, para um mandato de 3 anos, sem direito à reeleição, cujas
atribuições eram representar socialmente o CEAEC, convocar e presidir as reuniões
da Assembleia Geral e participar das reuniões do Colegiado Gestor94.
Observa-se o deslocamento do poder da figura do secretário-geral, como é
usual, para o Colegiado Gestor, em uma proposta mais democrática com gestão
participativa 95 . Em suma, essas mudanças jurídica, onomástica e de equipe
marcaram uma nova fase de desenvolvimento do CEAEC.

3.3.2 Tertúlias conscienciológicas96

Concomitante a essas mudanças, a partir de novembro de 2002, as tertúlias


ministradas por Vieira ganharam um caráter mais formal, sendo realizadas no Salão
Verde, espaço do restaurante do CEAEC, após o almoço, até fixarem o horário de
12h30 às 14h30, de terça a domingo; posteriormente, em setembro de 2008, incluiu
a segunda-feira.
O número de participantes era no mínimo 30 pessoas até no máximo 70
pessoas, lotação máxima do espaço do refeitório. Essas tertúlias ou debates sobre
ideias da Conscienciologia, coordenadas por Waldo Vieira visavam alcançar às

94
ESTATUTO, 2002, p. 4-11. Esse Estatuto de 2002 passou por modificações em Assembleias nos
anos de 2003, 2005, 2008, 2016 e 2017. No Estatuto Social da Associação do CEAEC (2017, p. 5),
depois de 15 anos, observa-se a junção de 2 Comitês reduzindo a estrutura para 5 órgãos sociais,
além da exclusão de duas coordenações: editorial e de infra-estrutura, e a criação de uma
coordenação de vendas. Sobre a coordenação editorial, das suas 6 funções, 5 deixaram de existir.
Para dar apenas o exemplo de uma função, o house-organ do CEAEC transformou-se no jornal da
Cognópolis, ou seja, do bairro e não apenas de uma instituição. O que continuou foi a produção da
revista Conscientia. As funções da coordenação de infra-estrutura foram alocadas na coordenação
administrativa do campus CEAEC (Fonte: ESTATUTO social da Associação Internacional do Centro
de Altos Estudos da Conscienciologia – CEAEC, de 21 abr. 2017. 13 p. Este documento possui o selo
do Registro de Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas em Foz do Iguaçu, sob n.
0012500, registrado sob o n. 0035167 e averbação n. 35 no livro A-413, sob as folhas 022/067, de 04
jul. 2017.
95
Essa proposta do Colegiado Gestor parece ter perdurado ao menos nas duas primeiras gestões da
Associação CEAEC (2002 a 2008), e foi gradualmente perdendo a força, pois hoje, no ano de 2019, o
colegiado gestor não está mais em funcionamento na Associação CEAEC. Essa constatação tem
como base os relatos das experiências administrativas dos secretários-gerais de 2002 até 2015 na
revista Conscientia (jul. 2015) e um artigo “Paradireito e gestão participativa conscienciocêntrica” da
voluntária que participou na implantação do colegiado gestor, Cristina Arakaki, na revista Conscientia,
Foz do Iguaçu, vol. 10, n. 4, p. 352-360, de out./dez. de 2006. Disponível em:
http://www.ceaec.org/index.php/conscientia/article/view/131/140. Acesso em: set. 2019.
96
Fonte para elaboração desse subtópico: FERRARO, Cristiane. ARAKAKI, Kátia. Histórico das
Tertúlias conscienciológica. Revista Conscientia, Foz do Iguaçu, vol. 16, n. 4, p. 355-373, out./dez.
2012.
164

verdades relativas de ponta dessa proposta de ciência e foram sendo inseridas


como verbetes na “Enciclopédia da Conscienciologia”, que estava sendo escrita por
Vieira desde 1998, quando ele ainda morava no Rio de Janeiro.
De 2002 até 2005, ainda não havia material escrito. Então a tertúlia era
aproveitada por Vieira para fazer a “técnica da tempestade de ideias” ou
brainstorming a fim de realizar associação de ideias sobre o tema em debate através
de uma enumeração a ser inserida no verbete. A partir de 09 de agosto de 2005,
Vieira começou a entregar, de modo gratuito, verbete redigido por ele e impresso na
sua casa.
Essas tertúlias conscienciológicas não possuíam matrícula de alunos, não
possuíam chamada, não havia controle de frequência e também não se exigia
presença na Prova Geral da Conscienciologia, iniciativa dos voluntários, em 2006,
para aferir o nível de conhecimento pessoal sobre essas ideias discutidas nas
tertúlias.
No entanto, em 20 de fevereiro de 2007, foi feita uma convocação geral para
toda comunidade comparecer à tertúlia. Vieira convidou a todos para escreverem
verbetes a serem incluídos na “Enciclopédia da Conscienciologia”97.
A partir dessa demanda gerada, além de também ser um espaço pequeno para
os frequentadores das tertúlias, foi decidido que seria construído um prédio
específico para as tertúlias, denominado Tertuliarium, no campus CEAEC.
Esse projeto envolveu toda comunidade, que por meio de várias iniciativas tais
como doações, ações entre amigos, cursos, venda de souvenir, conseguiu arrecadar
1 milhão de reais em dez meses. Fruto do esforço de voluntários de várias
instituições conscienciocêntricas (ICs), coordenados pela Associação Internacional
para Expansão da Conscienciologia (AIEC), criada em abril de 2005, com objetivo
de apoiar financeiramente os projetos da Conscienciologia98.
O Tertuliarium foi inaugurado em 30 de novembro de 2008, em clima de festa,
com a lotação máxima de 346 assentos ocupados do novo anfiteatro (ver figura 8).
Importante mencionar que em maio desse mesmo ano, as tertúlias passaram a ser
transmitidas via internet, após meses de testes.

97
Os voluntários começaram a apresentar seus verbetes no Tertuliarium, a chamada “defesa do
verbete”, a partir de 02 de setembro de 2010. Desde então, ficou sendo alternado um bloco de
verbetes de Waldo Vieira e um bloco de verbetes dos voluntários, até o dia 12 de abril de 2012,
aniversário de 80 anos de Vieira, quando ele apresentou o último verbete pessoal para a
“Enciclopédia da Conscienciologia” (FERRARO; ARAKAKI, 2012, p. 369).
98
FERRARO; ARAKAKI, 2012.
165

A inauguração do Tertuliarium foi notícia no jornal da cidade “A Gazeta do


Iguaçu”, de 01/12/2008: “Foz do Iguaçu ganha auditório circular de 360º”:
Tertuliarium fica no complexo do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia e
conta com 346 lugares”99. A matéria ocupou menos de uma página com uma foto do
prédio do Tertuliarium. Trouxe dados sobre o prédio, por exemplo, que possui
823m2, e reforçou que a construção é aberta para visitação turística gratuita e
diariamente.

Figura 8 – Fotografia da vista interna do Tertuliarium – Anfiteatro 360o.

Fonte: http://www.clickfozdoiguacu.com.br/static/image/Conscienciologia_auditorio.jpg - acesso


em: 29 maio 2017.

Em resumo, o Tertuliarium foi palco de fatos importantes para comunidade


conscienciológica: a criação de instituições conscienciocêntricas (ICs) e de
atividades conscienciológicas, por exemplo o Círculo Mentalsomático100. Funciona
como local de encontro dos voluntários da Conscienciologia.

99
Fonte: GODOY, Mayara. Foz do Iguaçu ganha auditório circular de 360º. A Gazeta do Iguaçu, Foz
do Iguaçu, ano 21, n. 6.122, p. C1, 01 dez. 2008.
100
O Círculo Mentalsomático é atividade semanal, com entrada gratuita, sem pré-requisitos, com
duração de 1h45 minutos, com objetivo de debater conceitos, teorias e hipóteses da Conscienciologia
(Fonte: TELES, Mabel. Benesse intelectual. In: FREIRE, Carmen. ALMEIDA, Nazaré. SALLES,
Rosemary. (Orgs.). Círculo Mentalsomático. Volume I: encontros 01 a 10, período de 07 de abril a 09
de junho de 2012. Foz do Iguaçu: Epígrafe, 2019, p. 10).
166

3.3.3 Aleia dos Gênios da Humanidade101

Em paralelo a esse processo das tertúlias, que culminou com mais uma
edificação no campus CEAEC, desde dezembro de 1999, teve início a instalação de
um monumento a partir da entrada do Holociclo, departamento que divide o espaço
do edifício com a Holoteca. O monumento é a Aleia dos Gênios da Humanidade,
uma exposição permanente de bustos de personalidades consideradas
extraordinárias pelas suas contribuições para evolução da Humanidade.
Em 06 de junho de 2002, foi inaugurada essa Aleia Genial com 20 bustos,
dentre eles, o físico alemão Albert Einstein (1879–1955), o inventor brasileiro Alberto
Santos Dumont (1873–1932), o filósofo e taumaturgo grego Apolônio de Tiana (2
AEC–98), o filósofo grego Sócrates (469–399 AEC), o filósofo grego Platão (429–
347 AEC), o psiquiatra e psicólogo suíço Carl Jung (1875–1961), a enfermeira
britânica Florence Nightingale (1820–1910) e a física e química polonesa Marie
Curie (1867–1934), dentre outros.
A inauguração fez parte do calendário oficial de aniversário da cidade,
comemorado no dia 10 de junho. Na inauguração, estiveram presentes voluntários
do CEAEC e autoridades locais, tais como a presidente da Fundação Cultural,
Rosicler Prado e a secretária de Controle e Negócios Jurídicos, Maria Letícia Fiala
representando a prefeitura e o vereador Djalma Pastorelo, pela Câmara de
Vereadores.
Na figura 9, observa-se a Aleia dos Gênios da Humanidade, no trecho que liga
o caminho do Holociclo até o Tertuliarium.

101
Fontes documentais desse subtópico: CENTRO de Altos Estudos da Consciência (Holoteca /
Holociclo). Aléia dos Gênios da Humanidade. Catálogo. Org. Ivanilda Fernandes. Org. de texto Graça
Razera. Foz do Iguaçu, PR: Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC), 2002, p. 21;
VALIENTE, Daniela. No caminho com os Gênios da Humanidade, A Gazeta do Iguaçu. Foz do
Iguaçu, ano 14, n. 4.150, p. 18 e 19, 05 de jun. 2002; e ALÉIA é inaugurada para comunidade, Jornal
do CEAEC. Foz do Iguaçu, ano 7, n. 83, p. 1, jun. 2002.
167

Figura 9 – Fotografia da Aleia dos Gênios da Humanidade

Fonte: fotografia tirada pela autora em 02 de setembro de 2019.

Desde dezembro de 1999, quando chegaram Sócrates e Platão, tem-se


acrescentado mais bustos à alameda. Atualmente, conta com 174 bustos (Data-
base: 02/09/2019). A obra com a cobertura do caminho, com 131 pilares brancos e
240 metros de extensão, teve como objetivo proteger do sol e da chuva os
frequentadores e foi inaugurada em 15 de julho de 2005, no aniversário de 10 anos
do CEAEC 102 . Tal benefício foi patrocinado pela Associação Internacional para
Expansão da Conscienciologia (AIEC)103. Para sintetizar, a Alameda Genial compõe
uma das atrações do CEAEC como ponto turístico local, procurando colocar em
evidência as consciências e os seus legados.

3.3.4 Acoplamentarium

O Acoplamentarium é o primeiro laboratório coletivo do CEAEC. Uma


edificação destinada especificamente para experimentos coletivos, a partir da

102
Fonte: INAUGURAÇÃO da Galeria da Lógica, Jornal do CEAEC. Foz do Iguaçu, ano 10, n. 120, p.
5, jul. 2005.
103
BUONONATO, Flavio. Anuário da Conscienciologia 2013. Foz do Iguaçu: Editares, 2014, p. 73.
168

aplicação da técnica do acoplamento energético e da clarividência facial, com


objetivo do desenvolvimento do parapsiquismo dos participantes. A ideia surgiu
durante o curso “Pilares do Parapsiquismo”104, ministrado por Waldo Vieira105, em
2002. Foi organizada uma nova turma desse curso visando a concretização do
laboratório106, além das duas primeiras turmas do curso Acoplamentarium também
tiveram o objetivo de reverter a verba adquirida para pagamento dos gastos
parcelados com a obra107.
O Acoplamentarium foi inaugurado em 21 de fevereiro de 2003, com uma área
de 92,3 m2 e capacidade para 64 pessoas. É um tipo de anfiteatro, onde na área
central, há duas cadeiras principais reservadas para o professor e o aluno, sendo
que atrás de cada um deles, há 31 assentos dispostos em degraus a fim de
favorecer a visão. As faces dos dois experimentadores, situados no centro do
laboratório, são os principais focos das atenções dos demais participantes a fim de
desenvolver suas percepções extrassensoriais108. A periodicidade desse curso era
mensal tendo passado a condição de quinzenal 11 anos depois, a partir de 2014109.
A técnica do acoplamento energético consiste em um professor (epicon =
epicentro consciencial, professor com domínio das bioenergias) e um aluno ficarem
sentados um de frente para o outro, durante 2 minutos, olhando-se, sendo que o
professor tem o papel ativo de exteriorizar suas energias para o aluno com intuito de
estabelecer o acoplamento energético ou a interfusão das energias entre os
envolvidos, e o aluno procura permanecer em um estado denominado passividade
ativa, ou seja, tranquilo mas atento, de olhos abertos, registrando tudo que está
vendo e sentindo. A partir desse acoplamento energético, pode ocorrer a
clarividência facial ou a visualização das energias desse campo instalado. O

104
O curso “Pilares do Parapsiquismo” tinha a duração de 2 anos, com 8 módulos trimestrais, com
professor Waldo Vieira e equipe de voluntários, cujo objetivo era o desenvolvimento da inteligência
parapsíquica, a fim de alcançar e manter a saúde consciencial (Fonte: PILARES do Parapsiquismo.
Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 08, n. 88, p. 2, nov. 2002).
105
“Há mais de 40 anos, Vieira já tinha a pretensão de criar um laboratório grupal para desenvolver o
o acoplamento áurico através de formação de campos energéticos” (Fonte: MONTEIRO, Cláudio;
NONATO, Alexandre; Acoplamentarium desenvolverá parapercepções; Jornal do Campus CEAEC;
Foz do Iguaçu, ano 08, n. 88, p. 1, nov. 2002).
106
Fonte: MACHADO, Daniel; NONATO, Alexandre. Acoplamentarium: primeiro laboratório coletivo
do CEAEC. Jornal do Campus da Conscienciologia, Foz do Iguaçu, ano 8, n. 87, p. 1, out. 2002.
107
MONTEIRO; NONATO, 2002, p. 2.
108
Fonte: MACHADO, Daniel; NONATO, Alexandre. O que é o Acoplamentarium? Jornal do Campus
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 8, n. 94, p. 2, maio 2003.
109
Fonte: SOUTO, Judite. & OLIVEIRA, Nilse. Eventos do CEAEC. Revista Conscientia, p. 212, jul.
2015.
169

Acoplamentarium junto com a Aleia das Grandes Cabeças foram as primeiras


edificações da fase de transição administrativa do CEAEC.

3.3.5 Edificações do CEAEC

Esse subtópico aborda dois edifícios construídos posteriormente, assim como a


visão geral das edificações do CEAEC. O primeiro foi um auditório próximo ao
laboratório Acoplamentarium, visando atender principalmente ao curso de mesmo
nome, mas também funcionar como local dos demais cursos do CEAEC, inaugurado
em 30 de junho de 2012, batizado de Auditorium.
A segunda construção foi o laboratório do Paradireito110, inaugurado no dia 24
de novembro de 2013, a partir da iniciativa de uma instituição conscienciológica
chamada Juriscons – Associação Internacional da Paradireitologia. O laboratório
surgiu da parceria entre a Juriscons e o CEAEC. Localiza-se próximo do prédio da
Holoteca, do Acoplamentarium e do Auditorium.
Para finalizar, as edificações do CEAEC são atualmente as que podem ser
observadas na figura 10 e que serão citadas após a imagem. Esse mapa localiza-se
entre a recepção da instituição e o pátio de estacionamento, a fim de auxiliar o
visitante a se orientar dentro do campus assim que chega.

110
O Paradireito é uma especialidade da Conscienciologia dedicada ao estudo do conjunto de
normas, princípios e leis das manifestações conscienciais a partir da vivência da fraternidade mais
ampla, considerando tanto as pessoas nesta dimensão material quanto às outras pessoas em
dimensões mais sutis, extrafísicas (Fonte: VIEIRA, Waldo. Enciclopédia da Conscienciologia. 3. ed.
Foz do Iguaçu: Editares, 2007, p. 1.634. 2 v.).
170

Figura 10 – Fotografia do Mapa do Campus CEAEC

Fonte: fotografia tirada pela autora em 02 de setembro de 2019.

De modo objetivo são 13 locais numerados, conforme listagem a seguir:


Legenda 1. Recepção/Restaurante.
Legenda 2. Livraria/Cafeteria.
Legenda 3. Tertuliarium (prédio amarelo com cúpula).
Legenda 4. Village ou a Casa do Pesquisador (hospedaria).
Legenda 5. Laboratórios Conscienciológicos (1-18; edificações em círculo).
Legenda 6. Cognitarium (antigo Pavilhão Pedagógico ou Salão de Eventos).
Legenda 7. Aleia dos Gênios da Humanidade.
Legenda 8. Praça da Paz (o marco central do terreno I do CEAEC).
Legenda 9. Auditorium.
Legenda 10. Holociclo.
Legenda 11. Holoteca.
Legenda 12. Laboratório Acoplamentarium.
Legenda 13. Hotel Mabu Interludium (fora do terreno do CEAEC, localiza-se no
lote ao lado).
171

Nesse terceiro tópico 3.3 Associação do Centro de Altos Estudos da


Conscienciologia (CEAEC), foi apresentada a nova estrutura organizacional do
CEAEC a partir de 2002, assim como as novas edificações materializadas no
decorrer dessa fase. Acoplamentarium (2003), Tertuliarium (2008) e Auditorium
(2012) marcam uma nova fase de construções, tendo como elemento em comum,
novos espaços para interações grupais, não mais individuais como foram as
construções dos laboratórios, numa primeira fase.

3.4 Considerações do capítulo

Após os aspectos descritivos, históricos e mnemônicos, vamos passar à


análise da territorialidade desdobrada em 3 subtópicos: 3.4.1 Grupalidade e
Territorialidade segundo Claude Raffestin, 3.4.2 Territorialidade para Rogério
Haesbaert e 3.4.3 Territorialidade de acordo com as temporalidades e as vivências.
Em seguida, o território do CEAEC é analisado sob o ponto de vista conceitual
dos lugares de memória (3.4.4). No subtópico 3.4.5, estabeleci um diálogo com
autores acadêmicos que escreveram sobre a Conscienciologia. Um aprofundamento
sobre o conceito de instituição conscienciocêntrica é o tema do subtópico 3.4.6.
No subtópico 3.4.7, abordo a questão do pluralismo institucional. A liderança de
Waldo Vieira voltou a ser destacada, em 3.4.8. E nos três últimos subtópicos, 3.4.9,
3.4.10 e 3.4.11, o assunto do voluntariado foi trazido a partir de uma breve visão
geral do ponto de vista nacional, as motivações envolvidas nesse tipo de trabalho e
as características gerais do voluntariado conscienciológico.

3.4.1 Grupalidade e Territorialidade I: Raffestin

O CEAEC está sendo considerado nesse estudo como a matriz ou o principal


ponto de referência da territorialidade conscienciológica 111 . Segundo o geógrafo
francês Claude Raffestin 112 , a territorialidade humana é decorrente das relações

111
Um detalhamento sobre a territorialidade conscienciológica foi realizada em artigo de minha
autoria com o orientador Valdir Gregory, apresentado e publicado nos anais do IX Seminário Estadual
de Estudos Territoriais (IX SEET) / I Seminário Internacional de Estudos Territoriais (I SIET), realizado
em Foz do Iguaçu, Paraná, em 27 a 29/06/2017. A partir do convite da Editora Atena, tal artigo foi
publicado como capítulo no livro “A Geografia na Contemporaneidade 2”, organizado por Ingrid
Aparecida Gomes, no final de 2018, cujo título era “Territorialidade conscienciológica: caracterização
de um fluxo migratório fronteiriço”.
112
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993, p. 162.
172

sociais desenvolvidas em um território, no seu contexto sócio-histórico e espaço-


temporal. É dinâmica, pois as relações entre o sujeito e seu meio variam no tempo.
Também precisa de um lugar e um sistema institucional, político e cultural113.
O território é formado a partir de relações de poder multidimensionais. Para
Raffestin 114 , o espaço é anterior ao território. Este é uma produção a partir do
espaço. O território “é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático
(ator que realiza um programa) em qualquer nível”. O ator “territorializa” o espaço ao
se apropriar dele, concreta ou abstratamente. O território é “um espaço onde se
projetou um trabalho, seja energia e informação”, consequentemente revelando
relações de poder115.
Poder é entendido pelo geógrafo Raffestin como uma relação, e não como uma
coisa ou objeto, assim como não possui um “centro” unitário de onde emana o poder
(diferente, por exemplo, de algumas perspectivas que citam o Estado). Nessa
abordagem ampla do poder, inclui a natureza econômica e simbólica do poder. O
trabalho é entendido como uma força orientada por um saber.
Nessa abordagem de Raffestin, o território é visto como fruto de relações
sociais e a territorialidade é constituída de vivências. Sobre tal aspecto, na revista
comemorativa de 20 anos do CEAEC, os “pioneiros de Foz” foram convidados a se
pronunciar. A responsável pela primeira gestão do CEAEC no período da
cooperativa, Maria Izabel da Conceição116 revela que “de tantas experiências nesse
sentido, aprendeu-se que antes de resultados materiais era preciso compreender o
modo no qual se encontrava a arquitetura de relacionamentos entre os pares (...),
sob pena do projeto não andar”.
Na mesma linha de raciocínio, um dos arquitetos que construiu o CEAEC,
Alexandre Balthazar117 comenta: “escrever sobre a história do CEAEC, à primeira
vista, pode parecer fácil; não é. A descrição não é sucessão de fatos e datas, mas
da construção de grupalidade talvez inédita em nosso grupo evolutivo.”
E ainda, Greice Athayde118, coordenadora do GPC-Socin Conscienciológica do
Rio de Janeiro na ocasião da demanda do projeto CEAEC, destaca que “uma das
experiências mais importantes foi o reencontro com o grupo que construiu o CEAEC,

113
RAFFESTIN, 1993, p. 160-161.
114
RAFFESTIN, 1993, p. 144.
115
RAFFESTIN, 1993, p. 143.
116
CONCEIÇÃO, 2015, p. 68.
117
BALTHAZAR, 2015, p. 19.
118
ATHAYDE, Greice. Como surgiu o CEAEC. Revista Conscientia, Foz do Iguaçu, p. 16, jul. 2015.
173

o primeiro grupo que chegou lá. Tadeu Athayde, Osvaldo Dombrate, Izabel
Conceição, Alexandre Balthazar, Wildenilson Sinhorini, Bernardo Farina, Amaro
Krob e eu.”
De modo mais objetivo, na revista “Conscienciologia Aplicada”, cujo tema era
apresentar as mudanças administrativas a serem implantas na administração do
CEAEC em 2002 e já com a ARACÊ fundada, Maria Izabel da Conceição119 explicita
as relações de poder vivenciadas pelos colaboradores que construíram o território
do CEAEC. “A ‘ingerência’ de pessoas de fora do grupo. Diga-se: fora fisicamente,
pessoas do Rio de Janeiro, de Curitiba, de Porto Alegre, dentre outras localidades
interferiram na maneira administrativa que estava sendo implantada [a gestão do
CEAEC].”
Ela menciona que “o mais sério era que os ‘pitacos’ eram coerentes e com
mais visão do que a equipe diretamente envolvida com as ações. Isso gerava um
desconforto em quem estava no front, ...” Esse incômodo foi tanto que em um
determinado momento, o grupo decidiu excluir “algumas dessas pessoas”. No
entanto, segundo Izabel, “demos com os ‘burros n’água’. Fragilizamos e começaram
as disputas entre nós mesmos”. Tal situação ficou insustentável: “tivemos que voltar
atrás, reconhecer nosso erro e juntos tentarmos recomeçar. O que havia até então
era o jogo pelo poder.”
Esse conflito interpessoal remete a relação estabelecidos-outsiders estudadas
em uma comunidade pelos pesquisadores Norbert Elias e John Scotson 120 . Os
estabelecidos, no presente caso, seriam as pessoas que estavam na liderança da
gestão do CEAEC e os outsiders, as pessoas de fora de Foz do Iguaçu que
gostariam de colaborar com a gestão, mesmo à distância fisicamente.
Ainda sobre esse tema, é oportuno mencionar a carta da diretoria do IIP citada
anteriormente, convidando coordenadores, colaboradores e alunos do IIP para o
evento em junho de 1995, em Foz do Iguaçu, para exposição do plano piloto do
CEAEC. É interessante citar o primeiro parágrafo: “desde a fundação do IIP,
discutia-se a possibilidade da criação de um centro de estudo e pesquisas.
Entretanto a viabilização desta idéia passara pela dificuldade de aquisição do local,

119
NOVA forma administrativa. Revista Conscienciologia Aplicada, Venda Nova do Imigrante/ES e
Foz do Iguaçu/PR, ano 2, n. 4, p. 05-06, abr. 2002, grifos do autor.
120
ELIAS, Norbert. SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de
poder a partir de uma pequena comunidade. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
174

de recursos financeiros e principalmente de pessoal comprometido com a


concretização da idéia.”
Observa-se que o “pessoal comprometido” com essa “ideia” apareceu ou se
destacou entre os “colaboradores” principalmente da região sul do IIP. O que
acabaria motivando outros “colaboradores” de cidades brasileiras também a se
envolverem no projeto, não apenas do grupo de pesquisa “Socin Conscienciológica”.
Em entrevista ao Informativo da COOIIP 121 , de janeiro de 1996, quando
perguntado sobre o que facilitava e o que dificultava o desenvolvimento do projeto
CEAEC, Waldo Vieira respondeu que “sempre o que manda são as pessoas, todo o
resto é secundário: problemas materiais, bens materiais, patrimônio, tudo é
secundário.” Num trecho mais adiante, Vieira cita que “a facilidade é sempre a
pessoa, a dificuldade é sempre a pessoa (o problema é de consciência). Vê se tem
lógica. O resto é moldura, sai na diurese”. Chegou a mencionar que “nós temos uma
coisa aqui [IIP] que falha: é o problema da competência do espírito de equipe.” Ele
complementa chamando atenção para necessidade de entrosamento e de
entendimento do grupo.
Nesse subtópico, abordou-se as vivências dos conscienciólogos no processo
de apropriação do espaço e do surgimento de um senso de pertença a uma
coletividade, e consequente materialização territorial de um projeto grupal,
proveniente da ação de voluntários, não apenas os que migraram para Foz do
Iguaçu.

3.4.2 Territorialidade II: Haesbaert

Uma outra abordagem sobre território e rede discutida pelo geógrafo brasileiro
Rogério Haesbaert 122 também pode ajudar no entendimento da formação do
território conscienciológico. Segundo o autor, há 3 perspectivas na relação território-
rede.

121
ENTREVISTA com Prof. Waldo Vieira sobre o Centro de Altos Estudos da Consciência.
Informativo da COOIIP, Foz do Iguaçu, ano 1, n. 6, p. 2, jan. 1996.
122
HAESBAERT, Rogério. Concepções de território para entender a desterritorialização. In.:
SANTOS, Milton. et al. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. 3. ed. Rio de
Janeiro: Lamparina, 2007, p. 56-59.
175

A primeira é que o território se opõe à rede. A sociedade “territorial” estaria


sendo substituída pela sociedade em rede, por exemplo, a teoria de Manuel
Castells, 1999, no qual contrapõe um “espaço de fluxos” a um “espaço de lugares”.
A segunda é que território e rede formam um binômio em que a rede tanto
pode fortalecer o território internamente (por exemplo, nas redes viárias e de
comunicações) quanto pode se projetar para fora do território, levando a uma
desestruturação, isto é, uma desterritorialização. A posição de Raffestin é de que a
rede é uma das “invariáveis” pertencentes ao território, junto com os “nós ou pólos”
(núcleos urbanos) e as “malhas ou tecidos” (“território percorrido”). Essa segunda
perspectiva leva à formação do conceito “território-rede” (posição do próprio
Haesbaert).
A terceira é que a rede estaria subordinada à de território, e este se confunde
com o espaço geográfico, uma vez que toda relação social também seria uma
relação territorial; a rede ajudaria a integrar o território. Essa perspectiva, a dos
“territorialistas”, é cada vez mais rara.
A partir do posicionamento na condição intermediária, Haesbaert123, propõe 3
“tipos ideais” quanto às formas de organização espaço-territorial: 1) “os territórios-
zona, mais tradicionais, forjados no domínio da lógica zonal, com áreas e limites
(“fronteiras”) relativamente bem demarcados e com grupos mais “enraizados”, no
qual a organização em rede passa a ter um papel secundário; 2) os territórios-rede,
configurados na lógica das redes, ou seja, descontínuos e dinâmicos e; 3) os
aglomerados, mais indefinidos, podendo ser uma mistura de territórios-zona e
territórios-rede, difícil de identificar uma cartografia espacialmente definida.
O autor 124 ainda propõe o conceito de multiterritorialidade, ou seja, seria a
“reterritorialização complexa, em rede e com fortes conotações rizomáticas, ou seja,
não-hierárquicas”. Distingue 2 tipos básicos de efetivação da multerritorialidade: 1) a
crescente facilidade e maior velocidade dos meios de transporte, permitindo um
deslocamento físico rápido, possibilitando pelo menos aos mais privilegiados o
acesso a “múltiplos territórios” no globo; 2) o acesso às tecnologias de comunicação
instantânea, permitindo entrar em contato e agir sobre territórios totalmente distintos

123
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade.
5. ed. rev. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010, p. 306.
124
HAESBAERT, 2010, p. 343.
176

dos nossos, sem ser preciso a mobilidade física; tal condição possui um caráter mais
imaterial e virtual dos territórios.
Até o momento, as territorialidades conscienciológicas assumiram a
característica de uma posição intermediária do binômio território-rede, onde a
formação de um território-zona é auxiliada pela rede, por exemplo nas transmissões
online das tertúlias. Tal conexão virtual possibilitou influências mútuas, tanto dos
“teletertulianos” como eram e são chamados, sobre as tertúlias, pois participavam e
participam até hoje com perguntas e comentários, quanto dos “verbetógrafos”
apresentando seus temas de pesquisa com influência sobre as pessoas que se
encontram à distância, seja em outra cidade brasileira ou do outro lado do mundo, a
partir do exemplo pessoal ou com esclarecimentos às perguntas.
Um outro traço é a multiterritorialidade zonal, ou a ligação em rede de
territórios-zona, quer dizer, a partir da matriz, o CEAEC, houve a formação do
campus Aracê (ES – Brasil) pelo mesmo grupo que construiu o CEAEC, além da
formação de mais dois campi, um em Saquarema (RJ - Brasil) e o outro em
Évoramonte (Portugal). Entre esses campi existiu e ainda existe, especialmente
entre o CEAEC e a Aracê, tanto a mobilidade física pelos meios de transporte
quanto pelas tecnologias de comunicação. Pode-se falar então em uma
multiterritorialidade conscienciológica.

3.4.3 Territorialidade III: temporalidades e vivências

Uma terceira e última abordagem sobre a territorialidade é compreender que o


território, suas fronteiras e a coletividade que o compõem têm historicidades. Isso
significa compreendê-los na dinâmica das dimensões temporais e espaciais.
O território é fruto de histórias de movimento, de migrações, de conflitos e de
transformações de espaços. As temporalidades são diferentes para os migrantes
que vão chegando ao campus CEAEC. A vivência do Moacir Gonçalves, o primeiro a
morar no CEAEC, é diferente do migrante que chega hoje e encontra tudo
construído. A vivência de acompanhar as transformações espaciais
concomitantemente com as relações sociais imbricadas nesse processo é diferente
da vivência de vir visitar ou mesmo morar no CEAEC com espaços já transformados,
que por sua vez continuam se modificando.
177

Quem chega hoje e se depara com tudo construído, às vezes, pode pensar que
houve investimento de verba pública na construção do CEAEC e do entorno.
Contudo, não foram encontrados documentos nem informações nos jornais internos
da comunidade conscienciológica ou mesmo nos relatos dos migrantes voluntários
sobre possíveis financiamentos com verbas públicas ou privadas.
Os fatores citados como fontes de renda, de modo recorrente, para a
construção do CEAEC são as doações de pessoas físicas, a realização de cursos, a
doação de direitos autorais de edição de livros publicados e a venda de lotes nos
terrenos vizinhos ao CEAEC.
Sobre temporalidades e vivências, é oportuno trazer os dados obtidos com a
comunidade conscienciológica a partir do questionário aplicado.
Na pergunta “Em que ano foi seu primeiro contato com a Conscienciologia?”,
ao dividir o período de 1980-2018 a cada 5 anos, descobre-se que o período de
1992 a 1996 foi o mais alto com 109 respostas (30,3%). Separando por décadas, a
década de 1990-1999 foi de maior incidência com 197 respostas (54,7%). E isolando
a informação por ano, o resultado é que o ano de maior contato com a
Conscienciologia foi 1998, com 28 respostas (7,8%) (Tabela 04).

TABELA 04 – ANO DE PRIMEIRO CONTATO COM A CONSCIENCIOLOGIA


PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU (5 EM 5 ANOS) –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Ano de primeiro contato com 1982 a 1986 8 (2,2)
a Conscienciologia 1987 a 1991 60 (16,7)
– 5 em 5 anos 1992 a 1996 109 (30,3)
1997 a 2001 82 (22,8)
2002 a 2006 34 (9,4)
2007 a 2011 34 (9,4)
2012 a 2016 33 (9,2)
2017 e 2018 0 (0,0)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Waldo Vieira participou de programas de televisão e rádio, além de entrevistas


na mídia impressa, divulgando suas ideias, ao longo de sua vida. Na década de
1990-1999, parece que a realização de programas de televisão foi mais frequente,
conforme alguns exemplos: mesa de debate no Programa da Silvia Popovic, cuja
tema era “paranormalidade”, em 1990; entrevista com Jô Soares, em 1992; Globo
178

Repórter, com tema “previsões”, em 1993; Programa Domingão do Faustão, também


com tema “previsões”, em 1998. A maioria desses programas encontram-se
disponíveis na internet 125 e já foram visualizados por milhares de pessoas. Além
disso, após a fundação do IIP em 1988, houve a estruturação da grade pedagógica,
o que possibilitou maior divulgação dos cursos. Esses dois fatores podem explicar a
maior incidência do primeiro contato com a Conscienciologia nesse período.
Moacir, Domingos, Alexander e Marco Antonio tomaram contato com a
Conscienciologia no período de 1982 a 1986, enquanto Everton e Nara, foi em 1991.
Entre os nossos informantes, Nara e Everton foram os primeiros a conhecer o
terreno onde viria a ser construído o CEAEC, em abril de 1995, seguidos pelo
Moacir, Domingos, Alexander, e por último, Marco Antonio.
Moacir migrou em 1995 mesmo; Nara e Everton em fevereiro de 1996;
Alexander migrou para Foz do Iguaçu em 2004; Domingos chegou em 2017 e Marco
Antonio não migrou. Moacir, Nara e Everton fazem parte do grupo dos “pioneiros de
Foz” tendo passado pela vivência dos territórios em construção.
Domingos, que levou quase 20 anos da última vez que esteve no CEAEC para
sua migração em 2017, comenta: “cresceu muito a Conscienciologia. Cresceu muito
com as instituições, esse negócio todo. Um dia desses, (...) eu visitei [a OIC -
Organização Internacional de Consciencioterapia] no mês passado [setembro de
2018 - riso], é linda! Não entrei ainda lá dentro não.” A OIC é uma instituição
conscienciocêntrica com campus próximo ao CEAEC e ao condomínio “Campo dos
Sonhos”.
Marco Antonio Pizarro, que esteve no CEAEC pela primeira vez em 2019,
relata: “eu estou muito feliz por estar aqui. (...) é muito bom ter esse reencontro com
as pessoas da Conscienciologia, sabe, pessoas que têm uma afinidade com a
Conscienciologia.” Além do reencontro com os conscienciólogos, Marco cita as
estruturas, o ambiente de pesquisa, “é um ambiente muito gostoso, eu gosto desse
ambiente, porque lá no INPE a gente só fica pesquisando, lendo artigo, discutindo
situações eventuais de imprevistos, de projetos, isso e aquilo, então é sempre um
ambiente de pesquisa, então aqui é tudo de bom.”

125
Por exemplo, o Programa da Silvia Popovic (https://www.youtube.com/watch?v=JRc7TEXscRc) ou
o Programa Jô Soares (https://www.youtube.com/watch?v=Bnfs06qjAwI).
179

Observa-se que nessa relação das vivências com a espacialidade e


temporalidade, o discurso do Domingos é no sentido da necessidade de uma
atualização das duas décadas que esteve fora enquanto que o discurso do Marco
Antonio é na direção de buscar referenciais da vida profissional aproximados da
experiência que vivenciou no CEAEC, uma vez que veio pela primeira vez à essa
instituição para apresentar dois verbetes que escreveu a fim de se integrar à obra
coletiva da “Enciclopédia da Conscienciologia”.
Nesse subtópico, o intuito foi mostrar a influência de temporalidades e
vivências na percepção sobre territórios em construção.

3.4.4 Lugares de memória

Um outro olhar possível para o território do CEAEC é pelo conceito de lugares


de memória. Segundo o historiador francês Pierre Nora126, os lugares de memória
nascem e se alimentam do “sentimento [de] que não há memória espontânea, que é
preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações,
pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são
naturais.”
São vestígios ou indícios, que podem explicitar a identidade de uma
comunidade. De acordo com antropólogo Joël Candau 127 , “não pode haver
identidade sem memória”, pois a memória é a base da recordação e do
esquecimento do sentimento de identidade, e “não pode haver memória sem
identidade”, a autoconsciência de manifestações sucessivas possibilita a
significação que por sua vez leva ao registro dessa ligação entre elas.
Lugares de memória são criados por grupos e remetem à memória coletiva,
entendida por Nora128 como “o que fica do passado vivido dos grupos, ou o que os
grupos fazem do passado.”
Fundamentado nessa abordagem, o historiador francês Jacques Le
Goff 129 propôs uma tipologia de lugares de memória coletiva que, aplicada ao

126
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Trad. de Yara Aun Khoury.
Proj. História. São Paulo, n. 10, p. 13, dez. 1993. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/revph/article/viewFile/12101/8763. Acesso em: out. 2017.
127
CANDAU, Joël. Antropologia da memória. Trad. Miriam Lopes. Lisboa: Instituto Piaget, 2013, p.
188.
128
ENCICLOPÉDIA Einaudi. Vol. 1: Memória-História. (Jacques Le Goff). Imprensa Nacional. Casa
da Moeda, 1984, p. 44.
180

campus CEAEC, sugere o seguinte: o Holociclo e a Holoteca como lugares


topográficos (ou seja, os equivalentes aos arquivos, às bibliotecas e aos museus); o
Tertuliarium, a Aleia dos Gênios da Humanidade e o próprio prédio da Holoteca com
sua arquitetura em “S”, são exemplos de lugares monumentais (ou seja, “como os
cemitérios ou as arquiteturas”), sendo que o Tertuliarium pode ser considerado
também como lugar simbólico, devido à ocorrência de inúmeras comemorações, de
aniversários de membros da comunidade, de lançamento de livros, de conquistas
FIAcoletivas; e a “Enciclopédia da Conscienciologia” pode ser interpretada tal qual
um lugar funcional, com orientações sobre o desenvolvimento do conscienciólogo,
ao modo de um manual.
Cada “lugar” desses daria uma tese específica, o que não é o propósito desse
texto. Em um artigo publicado por essa autora com orientador Valdir Gregory, a Aleia
dos Gênios da Humanidade foi analisada como um lugar de memória e indício da
identidade coletiva promovendo ao menos 3 efeitos de sentido sobre a própria
comunidade: a inspiração para escrita, a fonte de modelos comportamentais e a
transição do pensamento mítico-religioso para o pensamento racional-científico130.
Nesse subtópico, buscou-se ressaltar os lugares de memória do CEAEC na
condição de indícios da identidade da comunidade conscienciológica.

3.4.5 Enquadramento

Esse subtópico refere-se a tentativa recorrente de acadêmicos em enquadrar a


Projeciologia e a Conscienciologia, e consequentemente, as vivências dos
voluntários, em rótulos.
A Projeciologia e a Conscienciologia foram analisadas como objeto de estudo
e/ou como exemplo em 11 trabalhos acadêmicos encontrados (ver Quadro 01),
sendo que ao menos 3 deles estabeleceram rótulos a respeito dessas propostas, a
saber: no primeiro estudo, aparecem as expressões “espiritismo new age”,
“formação pós-espírita paracientífica”, “sincretismo espírita psicológico” e

129
ENCICLOPÉDIA, 1984, p. 44.
130
Para maiores informações: Cf. FERRARO, Cristiane. GREGORY, Valdir. Aleia dos Gênios da
Humanidade: escutando os mortos. Cantareira, 30ª. ed., p. 130-144, jan.-jun. 2019. Disponível em:
http://periodicos.uff.br/cantareira/article/view/30799. Acesso em: 04 set. 2019, às 21h04.
181

“paraciência pós-espírita”131. Esses rótulos foram criados por Anthony D’Andrea132 a


partir de “quase dez anos de observação participante” no período de 1986 a 1996.
Os estudos da Conscienciologia tinham recém-iniciado, em 1994, e esses
rótulos não ajudam na compreensão da dinâmica vivida pelos conscienciólogos,
como sinaliza Sheila Guia 133 : “essa mudança entre o ‘momento pedagógico’ e o
‘comunitário’ diferencia o ‘estilo’ projeciológico e o conscienciológico”, e D’Andrea
“ao afirmar que a projetabilidade seria a principal categoria simbólica do grupo, limita
sua análise ao momento inicial de estruturação do movimento”. No entanto, Guia134
também situa a Projeciologia e a Conscienciologia como práticas do movimento
Nova Era (New Age movement), considerados no campo semântico de “esoterismo”.
Sheila Guia135 foi aluna e colaboradora da Projeciologia e da Conscienciologia
por alguns anos e realizou sua pesquisa a partir da observação participante no ano
de 2002, visitando o CEAEC em Foz do Iguaçu, o campus em Saquarema (RJ) e o
campus da Aracê no estado do Espíritos Santo.
E, por último, Gustavo Chiesa 136 , apesar de considerar que “certos rótulos
inventados (...), não dizem muito sobre o que pensam os conscienciólogos a
respeito de suas práticas (e como eles as vivenciam)”, citando em nota de rodapé as
expressões criadas por D’Andrea e Guia, também afirma que “a Conscienciologia
pode ser perfeitamente enquadrada (ou formatada) como uma ‘paraciência pós-
espírita’ ou um ‘espiritismo new age”.
137
Chiesa , que analisa magnetismos (Mesmerismo), ectoplasmas
(Metapsíquica) e paracirurgias (Conscienciologia), também propõe uma legenda
para a Conscienciologia: “considero a Conscienciologia uma espécie de síntese
criativa do pensamento da terapêutica de Franz Mesmer [médico alemão que viveu
entre 1734 e 1815] com as ideias e as ‘experiências metapsíquicas de Charles
Richet [médico francês que viveu entre 1850 e 1935]”.

131
D’ANDREA, Anthony A. F. O self perfeito e a nova era: individualismo e reflexividade em
religiosidades pós-tradicionais. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 13, 31, 197 e 200.
132
D’ANDREA, 2000, p. 13 e 160.
133
GUIA, Sheila dos M. Projeciologia e Conscienciologia: multidimensionalidade e espiritualidade na
formação de um paradigma existencial. Rio de Janeiro: Sotese, 2006, p. 48 a 50.
134
GUIA, 2006, p. 30 e 36.
135
GUIA, 2006, p. 18.
136
CHIESA, Gustavo R. Além do que se vê: magnetismos, ectoplasmas e paracirurgias. Porto Alegre:
Multifoco, 2016, p. 165.
137
CHIESA, 2016, p. 169.
182

A tentativa em enquadrar a Conscienciologia em alguma linha de


conhecimento anterior é forte entre os pesquisadores acadêmicos. Nesse estudo, se
procura evitar tal postura, a partir do método indiciário que se caracteriza como uma
pesquisa empírica, fundamentada em “pistas, sintomas, indícios”, autorizando um
conhecimento “conjectural”, aproximando-se das interpretações psicanalíticas e
policiais138. Além disso, a micro-história compreende que “o social não é um objeto
definido, mas que deve ser construído a partir de interrogações cruzadas”139.
Essa construção da realidade social segue a orientação mencionada por
Giovanni Levi140, em seu estudo sobre a comunidade de Santena (Itália) do século
XVII: “se a nossa pesquisa fosse sobre acontecimentos atuais, obviamente
poderíamos dar uma organicidade diferente às informações recolhidas,
simplesmente interrogando os protagonistas”.
Levi afirma que, no caso dele, a leitura de uma vasta documentação
heterogênea e cotidiana é semelhante à pesquisa de campo, como se estivesse na
praça em Santena ouvindo seus habitantes. Nesse estudo, buscou-se ouvir os
conscienciólogos e fazer o cruzamento das fontes de pesquisa: oral, documental e
iconográfica, quando possível.
Em suma, esse esforço de enquadramento evoca as palavras do sociólogo
Michel Maffesoli: “é essa vitalidade que convém conter pois, em seu aspecto
instituinte, ela ameaça as certezas que, naturalmente, as instituições (universitárias,
jornalísticas, políticas) têm tendência a secretar.”141

3.4.6 Instituição Conscienciocêntrica (IC)

O que é uma instituição conscienciocêntrica (IC)? Qual a diferença para


empresa conscienciológica (EC)? Em 1995, quando o CEAEC surgiu como
cooperativa, ele era tratado como uma empresa conscienciológica. Observa-se essa

138
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: _____. Mitos, emblemas, sinais:
morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
139
REVEL, Jacques. A história ao rés-do-chão. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de
um exorcista no Piemonte do século XVII. Trad. de Cynthia Marques de Oliveira. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000, p. 36.
140
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Trad.
de Cynthia Marques de Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 89.
141
MAFFESOLI, Michel. A República dos bons sentimentos: documento. Trad. de Ana Goldberger.
São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2009, p. 87.
183

abordagem no texto do Informativo da COOIIP142 de novembro de 1995, e no artigo


escrito por Maria Izabel da Conceição 143 em 1996, comparando a cooperativa
(princípios do cooperativismo) com a empresa conscienciológica (com base no livro
“700 Experimentos da Conscienciologia”, páginas 306 e 312).
Tanto a expressão “empresa conscienciológica” (EC) quanto “instituição
conscienciocêntrica” (IC) aparecem concomitantemente pela primeira vez em 1994
no livro “700 Experimentos da Conscienciologia”, de Waldo Vieira. No entanto,
algumas características da empresa conscienciológica são: a “colocação de todos os
participantes na condição de acionistas, em quantidades iguais”; a “defesa de uma
economia de subsistência, visando o bem comum”, a “escolha da remuneração do
trabalho e não do dinheiro, jamais fazendo pagamentos de juros sobre
investimentos de risco” e a “criação e um fundo comunitário minuciosamente
planejado”144 enquanto que a instituição conscienciocêntrica seria aquela assentada
no vínculo consciencial, voluntário, lúcido, podendo ter o vínculo empregatício
quando ainda inevitável, sendo citado o IIP como exemplo e utilizando uma
expressão sinonímica para IC, a “cooperativa consciencial”145.
No livro “Nossa Evolução”, Vieira146 define IC como “aquela que centraliza os
seus objetivos na consciência em si, concentrada em sua evolução, ao modo de
uma cooperativa consciencial, dentro da sociedade humana conscienciológica, com
bases no vínculo empregatício e também no vínculo consciencial.”
Também enfatiza que o IIP se preocupa com a eliminação de toda repressão
sobre as consciências de seus colaboradores, pesquisadores, professores e alunos
dos seus cursos. Por isso, é afixado nas paredes da sede, filiadas, núcleos e pré-
núcleos, a placa do princípio da descrença ou “legenda da técnica da antilavagem
cerebral”: “Não acredite em nada nem em ninguém, nem mesmo naquilo que lhe
informarem aqui no Instituto. Experimente. Tenha suas vivências pessoais.”

142
Fonte: POR QUÊ cooperativa? Paralelos entre cooperativa e empresa conscienciológica.
Informativo da COOIIP, Foz do Iguaçu, ano 1, n. 5, p. 1, nov. 1995. Esse informativo consiste em uma
única folha com notícias impressas na frente e no verso.
143
CONCEIÇÃO, Maria Izabel da. Cooperativismo e a empresa conscienciológica. In: II FÓRUM
NACIONAL DE QUALIDADE CONSCIENCIAL, 2, 1996, Curitiba. Anais... Curitiba: Instituto
Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, 1996. p. 57-71.
144
VIEIRA, 1994, p. 312, grifos do autor.
145
VIEIRA, 1994, p. 318.
146
VIEIRA, Waldo. Nossa Evolução. Rio de Janeiro: IIP, 1996, p. 112-113, grifo do autor.
184

147
No livro “200 Teáticas da Conscienciologia”, Vieira define empresa
conscienciológica sendo aquela a caminho da megafraternidade, com senso de
equipe, com predomínio do vínculo consciencial sobre o vínculo empregatício, e este
quando existe, deve priorizar “a remuneração do trabalho e não do dinheiro,
evitando-se pagamento de juros sobre investimentos de risco”.
Apesar do propositor definir EC e IC de modo assemelhado, parece distinguir
ligeira diferença, pois no capítulo 249 – Perfis Básicos de Instituições humanas,
Vieira148 cita o IIP como instituição avançada com filosofia conscienciocêntrica (novo
paradigma consciencial), sem fins lucrativos e não como empresa conscienciológica.
No entanto, tais conceitos parecem que não estavam claros nesses primeiros anos
após sua proposição talvez para o próprio propositor, ou apenas para os voluntários,
quando talvez fossem utilizados como sinônimos.
Nos anais do II Fórum Nacional de Qualidade Consciencial, realizado em 26 e
27/10/1996, em Curitiba, alguns voluntários citam o IIPC como exemplo de empresa
conscienciológica: “O IIPC e a COOIIP são alguns dos exemplos de Empresa
Conscienciológica que temos até então.”149; “O IIPC é a organização que propõe o
150
modelo de empresa conscienciológica” ; “Um exemplo vivo de Empresa
Conscienciológica é o IIPC”151; “O IIPC como empresa conscienciológica: ponto de
encontro das consciências lúcidas”152.
Em suma, vejamos o caso do IIP/IIPC e depois do CEAEC a partir dos seus
estatutos sociais, depois de 1994. No Estatuto do IIP de 1995 153 , o Instituto
Internacional de Projeciologia “é uma Entidade científica, cultural, educacional,
apolítica, universalista e sem fins lucrativos” enquanto que no Estatuto social de

147
VIEIRA, Waldo. 200 Teáticas da Conscienciologia. Rio de Janeiro: IIPC, 1997c, p. 89.
148
VIEIRA, 1994, p. 313.
149
BONASSI, João Aurélio. Abertura do II Fórum Nacional de Qualidade Consciencial. In: II FÓRUM
NACIONAL DE QUALIDADE CONSCIENCIAL, 2, 1996, Curitiba. Anais...Curitiba: IIPC, 1996, p. 4.
150
DANIN, Rosely. & LAZZARO, Neide. A consciencioterapia e a integração do homem na empresa
conscienciológica. In: II FÓRUM NACIONAL DE QUALIDADE CONSCIENCIAL, 2, 1996, Curitiba.
Anais...Curitiba: IIPC, 1996, p. 39.
151
TORNIERI, Sandra. A liderança e a comunicabilidade nas empresas conscienciológicas. In: II
FÓRUM NACIONAL DE QUALIDADE CONSCIENCIAL, 2, 1996, Curitiba. Anais...Curitiba: IIPC,
1996, p. 45.
152
THOMAZ, Marina. A teoria e a prática da grupalidade nas empresas conscienciológicas. In: II
FÓRUM NACIONAL DE QUALIDADE CONSCIENCIAL, 2, 1996, Curitiba. Anais...Curitiba: IIPC,
1996, p. 74.
153
ESTATUTO Social do Instituto Internacional de Projeciologia, de 30 jun. 1995, p. 1. 7 p. Este
documento possui o selo do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, sob n. de ordem
559.651, do protocolo do livro A n. 49, registrado sob n. de ordem de 145.045, do livro A n. 36, de 29
nov. 1995.
185

1996 154 , o Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia “é uma


Entidade conscienciocêntrica, científica, cultural, educacional, apolítica e
universalista, sem fins lucrativos, de caráter privativo”.
No último Estatuto Social do CEAEC155 como cooperativa, de 30 de setembro
de 2000, o CEAEC está definido como “sociedade civil sem fins lucrativos de
responsabilidade limitada”. E no primeiro Estatuto Social do CEAEC 156 como
associação, de 23 de julho de 2002, o CEAEC já está definido como “instituição
conscienciocêntrica, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, científica,
cultural, educacional, universalista e apolítica” tendo como primeiro objetivo:
“desenvolver a ciência Conscienciologia mediante a pesquisa”.
Observa-se a preocupação em incluir a filosofia “conscienciocêntrica” nos
estatutos do IIPC a partir de 1996 e do CEAEC, a partir de 2002.
Tal questão merece atenção pois, a partir de 2002, irão surgir outras
instituições conscienciocêntricas, onde essa terminologia de “IC” irá se estabilizar,
fazendo parte dos seus Estatutos Sociais. E a expressão “empresa
conscienciológica” deixa de ser usada para as instituições do terceiro setor e irá
adquirir nova conceituação.
157
No site da UNICIN (União das Instituições Conscienciocêntricas
Internacionais), instituição conscienciocêtrica dedicada à promoção da integração da
comunidade conscienciológica, fundada em 2005, existe um conselho que faz parte
da sua estrutura organizacional dedicado às empresas conscienciológicas ou
conscienciocêntricas, entendidas “a partir da observação e implementação das
práticas do paradigma consciencial à gestão de empresas e de negócios, com vistas
à independência financeira cosmoética158 de seus componentes”.
Assim, a expressão “instituição conscienciocêntrica” passa a ser utilizada
exclusivamente para as organizações do terceiro setor, de trabalho voluntário,

154
ESTATUTO social do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, de 30 maio 1996,
p. 1.
155
ESTATUTO social da Cooperativa dos colaboradores do Instituto Internacional de Projeciologia e
Conscienciologia – CEAEC, de 30 set. 2000, p. 3.
156
ESTATUTO social da Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia –
CEAEC, de 23 jul. 2002, p. 1.
157
Fonte: ÓRGÃOS sociais. Disponível em: <unicin.org/pt/unicin/órgãos-sociais/>. Acesso em: 06 set.
2019, às 2h26.
158
“A cosmoética é a ética que vigora como padrão de comportamento evolutivo universal,
multidimensional, além dos princípios da moral social, humana ou intrafísica.” A cosmoética passa a
ser necessária depois de determinado nível de lucidez alcançado sobre a multidimensionalidade
(desde esta dimensão material até as mais sutis), a partir da lei dos direitos conscienciais
multidimensionais (VIEIRA, 1994, p. 641).
186

iniciativa coletiva, sem fins de lucro, prioritariamente com vínculo consciencial,


evitando o duplo vínculo e tendo ainda alguns vínculos empregatícios de
funcionários, o mínimo necessário. E “empresa conscienciológica” passa a ser
utilizada por voluntários que desejam abrir um negócio próprio com finalidade
lucrativa para subsistência pessoal, porém fundamentando-se nos princípios da
Conscienciologia e no paradigma consciencial. Tal subtópico pretendeu clarear os
conceitos de instituição conscienciocêntrica e empresa conscienciológica.

3.4.7 Pluralismo institucional

O pluralismo institucional significa uma gama de instituições fundadas por


voluntários e/ou ex-voluntários com objetivos semelhantes ao IIPC e ao CEAEC. Ao
mesmo tempo que as iniciativas de criação do IIPC e do CEAEC aglutinaram
colaborares e cooperados, também é possível identificar sinais de um pluralismo
institucional motivado pelo grupo, no Informativo do CEAEC, de agosto de 1997.
O texto intitulado “Convite à Pesquisa Científica”, assinado por Waldo Vieira,
com a data de 12 de agosto de 1997, inicia afirmando que “toda ciência é
universalista e seu universo não se restringe a uma pessoa e nem a uma única
instituição humana”.159
A partir de uma breve contextualização, o autor convida os interessados a
realizarem “a análise e a comparação das qualidades de conteúdo das propostas de
trabalho, dos cursos, dos livros publicados e das obras em andamento dessas 7
instituições, em confronto aberto com as propostas, cursos, livros e obras do IIPC”.
O objetivo, segundo ele, é “ampliarmos reciprocamente o nosso universo de
achados técnicos (findings) e das pesquisas conscienciológicas em andamento, com
uns pesquisadores enriquecendo as descobertas e os trabalhos técnicos dos outros”
(grifo do autor).
As 7 instituições eram as seguintes: 1) Brasil Bit Informática, em Foz do Iguaçu;
2) Centro de Expansão da Consciência – EPICON, no Rio de Janeiro; 3) Centro de
Estudos Projeciológicos (CEP), em Belo Horizonte; 4) Centro de Pesquisa da
Evolução da Consciência, em Recife; 5) Instituto Cálèhf, em Fortaleza; 6) Instituto de

159
VIEIRA, Waldo. Convite à pesquisa científica. Informativo do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 3, n. 25,
p. 4, ago. 1997, grifo do autor.
187

Pesquisas Psicobiofísicas, em São Paulo e; 7) Instituto de Pesquisas Projeciológicas


e Bioenergérticas (IPPB), em São Paulo.
Somente uma dessas iniciativas não foi de ex-colaborador do CCC ou do IIPC.
As pessoas que fundaram essas instituições não se territorializaram em Foz do
Iguaçu, com exceção dos fundadores da primeira empresa. Os demais criaram
organizações independentes, sem nenhuma vinculação com IIPC ou com CEAEC.
Nem chegando a estabelecer parcerias. Dois desses empreendedores ainda
chegaram a frequentar o CEAEC na condição de voluntários, por um tempo, até se
desvincularem por completo.
Em suma, a partir do IIPC nasceram outras instituições. No caso, o CEAEC
continuou vinculado ao IIPC. No entanto, as demais instituições criadas por ex-
voluntários seguiram rumo próprio, independentes.

3.4.8 Liderança de Waldo Vieira II

O assunto da liderança de Waldo Vieira, já abordado no capítulo 2, retorna


para uma nota com a finalidade de sinalizar mudança na qualidade dessa atuação.
Conforme visto, a liderança de Waldo Vieira foi forte nessa fase inicial. Em 1999,
Vieira deixa a presidência do IIPC e não assume mais função administrativa nem no
IIPC nem em nenhuma outra instituição da Conscienciologia até seu falecimento.
Entre 2000 e 2002, houve uma fase de transição, quando Vieira transferiu
residência para Foz do Iguaçu, porém atuou mais no âmbito internacional. A partir
de 2002, ele instala-se em definitivo no CEAEC, impulsionando os trabalhos,
conforme ele mesmo mencionou. A liderança exercida por ele passa para uma
condição não-oficial, sendo consultado quando os voluntários julgassem necessário.
De acordo com Ulman160, Vieira era reconhecido com autoridade moral para a
colocação do “voto de minerva”, ou seja, o voto de desempate quando ocorriam
situações de impasse entre os voluntários a respeito de questões institucionais e/ou
comunitárias.

3.4.9 Voluntariado I: breve panorama nacional

160
ULMAN, Karla. Democracia: experimentos no bairro Cognópolis-Foz. Curitiba: Editora CRV, 2019,
p. 141.
188

De acordo com João Aurélio Bonassi161, que foi diretor administrativo do IIP na
época de fundação do CEAEC, em 1995, o termo “colaborador” era o utilizado,
“porque não existia a figura do voluntário, reconhecido no Brasil somente em 1998,
por meio de lei específica, e das instituições sem fins lucrativos, sancionada em
1999”.
O ano de 1998 foi quando o IIPC ganhou o título de Utilidade Pública Federal,
provavelmente um incentivo por parte do governo para instituições do terceiro setor.
As leis promulgadas para regulação do terceiro setor foram as Leis Federais n.
9.608/98 (de 18/02/1998) e n. 9.790/99 (de 23/03/1999)162.
Lembrando que na tabela 04, o ano de maior contato com a Conscienciologia
para os respondentes do questionário aplicado foi 1998. Desse modo, o
reconhecimento oficial pelo governo federal, pode ter colaborado para divulgação e
maior aceitação pela população brasileira do conceito do que é ser um voluntário.
Vale lembrar que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o ano de
2001 como o Ano Internacional dos Voluntários. E que, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística 163, em 2018, 7,2 milhões de pessoas de 14
anos ou mais de idade realizaram trabalho voluntário no Brasil, na semana de
referência da pesquisa, correspondendo a uma taxa de realização de 4,3%.
A Região Sul teve a maior taxa de realização em 2018, 4,9%. A taxa de
realização de trabalho voluntário era maior entre as mulheres (5,0%) e entre as
pessoas ocupadas (4,6%). Interessante observar que os trabalhos voluntários da
Conscienciologia tiveram início no Rio de Janeiro, porém vieram a se desenvolver ou
desabrochar na região sul, no Paraná.
A taxa de realização de trabalho voluntário, em geral, cresce com a idade,
sendo que na região Sul, as pessoas de 50 anos ou mais de idade apresentaram a
taxa mais elevada (6,0%) em 2018.
Outro dado é que a realização de trabalho voluntário aumenta quanto maior for
a escolaridade. Essa tendência foi observada em todas as regiões do país. A taxa
era 2,9% para pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto e de

161
BONASSI, João Aurélio. Empreendimento Cognopolita do CEAEC. Revista Conscientia, p. 55, jul.
2015.
162
ALBUQUERQUE, 2006, p. 41.
163
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua- PNAD Contínua – Outras
Formas de Trabalho 2018, p. 2, 10-12. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101650>. Acesso
em: 06 set. 2019, às 21h29.
189

8,0% para aqueles com ensino superior completo. No voluntariado


conscienciológico, esse resultado se repete, conforme será apresentado no capítulo
5.
Quanto ao local de realização do trabalho voluntário, grande parte o faz
vinculado a instituições, ou seja, em congregação religiosa, sindicato, condomínio,
partido político, escola, hospital ou asilo (79,9% em 2018); outros 13,0% o fizeram
em associações de moradores, associações esportivas, ONG, grupo de apoio ou
outra organização.
Ainda existe o voluntariado individual, cuja taxa vem subindo: 9,8% em 2018,
sendo que em 2017 foi 9,0% e em 2016, 8,4%. Segundo Alessandra Brito 164 ,
analista de trabalho e rendimento do IBGE, é necessário maior divulgação do
conceito de trabalho voluntário, pois a maioria das pessoas relaciona trabalho
voluntário a apenas fazer algo no asilo ou em uma ONG. “Precisamos lembrar que
levar a vizinha ao médico, ajudar um amigo com alguma tarefa ou ficar com a neta
do vizinho para ele ir trabalhar também são exemplos de trabalho voluntário
individual”.
A analista fez esse comentário em referência aos que voluntariam sem vínculo
a uma instituição. Interessante observar que as relações de solidariedade passaram
ao longo do tempo a adquirirem um rótulo formal de trabalho voluntário individual,
como se a categoria “trabalho” tão difundida no mundo capitalista e cada vez mais
individualista perpassasse todas as relações do ser humano.
Sobre a frequência do voluntariado, 48,4% responderam voluntariar 4 vezes ou
mais por mês, enquanto 15,6% realizaram eventualmente ou sem frequência
definida. O número médio de horas dedicadas por semana ao voluntariado foi de 6,5
horas em 2018.
Importante citar que o trabalho voluntário para a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE é definido como aquele
não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana de referência, sem
receber nenhuma remuneração em dinheiro ou benefícios, com o objetivo de
produzir bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas não moradoras do domicílio

164
OLIVEIRA, Nielmar. Número de brasileiros que realizam trabalho voluntário cresce 12,9%.
Agência Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/node/1116832>. Acesso em: 06 set.
2019, às 22h15.
190

e não parentes. Os indicadores se referem às pessoas de 14 anos ou mais de idade,


ou seja, à população em idade de trabalhar.
As ações voluntárias podem ser de diversos tipos, por exemplo: limpar, dar
aulas, participar de mutirão, organizar festas ou outros eventos; na conservação do
meio ambiente ou proteção de animais; realizar tarefas domésticas ou de cuidados
de crianças, idosos, enfermos ou pessoas com necessidades especiais, desde que
não sejam parentes nem moradores do mesmo domicílio; e com o mesmo critério,
realizar serviços profissionais de eletricista, pedreiro, advogado, contador, professor
entre outros165.
Em resumo, foi organizado um breve panorama do trabalho voluntário no Brasil
e algumas relações com o voluntariado conscienciológico.

3.4.10 Voluntariado II: motivações

Nesse segundo subtópico sobre voluntariado, o objetivo é analisar as


motivações em se tornar voluntário da Conscienciologia. Segundo o estudo
“Motivação no trabalho voluntário: delineamento de estudos no Brasil”, do professor
166
em administração Carlos Eduardo Cavalcante , ao analisar 20 trabalhos
acadêmicos, sendo 14 dissertações de mestrado sobre motivação no trabalho
voluntário, grande parte deles indicou valores altruístas como motivadores a esta
atividade.
De acordo com Cavalcante167, pode parecer óbvio, no entanto diversos autores
e instituições, incluindo a ONU e no Brasil, os sítios “Portal dos Voluntários” e
Fundação Abrinq pela Defesa dos Direitos da Criança, consideram um caráter de
mutualidade entre os atores, sinalizando que o voluntariado pode trazer ganhos para
quem recebe e para quem faz, o que antagoniza com os valores altruístas, que são
atitudes tendo como base a doação sem esperar nada em troca.
O autor ainda menciona a falta de pesquisa na área, pois não se sabe, no
Brasil, as consequências de apresentar valores altruístas ou mesmo egoístas tanto
para voluntários quanto para as instituições. Os voluntários teriam ganhos na sua

165
IBGE, 2018.
166
CAVALCANTE, Carlos Eduardo. Motivação no trabalho voluntário: delineamento de estudos no
Brasil. Revista Estudos do CEPE, Santa Cruz do Sul, n. 38, p. 161-182, jul./dez., 2013. Disponível
em: https://online.unisc.br/seer/index.php/cepe/article/ view/3719. Acesso em: out. 2019.
167
CAVALCANTE, 2013, p. 178.
191

saúde? Sentiriam maior bem-estar? Os assistidos têm seus problemas diminuídos?


As instituições têm menor rotatividade entre seus voluntários? São lacunas de
pesquisa ainda a serem preenchidas.
Sobre a motivação de se tornar voluntário da Conscienciologia, o casal de
informantes Nara e Everton mencionaram a proposta da Conscienciologia para
formação de uma nova ordem social e novos laços entre as pessoas. Tal motivação
poderia ser classificada em 3 categorias propostas no questionário aplicado aos
migrantes: a “percepção de que as ideias da Conscienciologia fazem parte do seu
projeto de vida”, “busca pela construção de um mundo melhor” e “aprofundamento
sobre os conceitos da Conscienciologia”.
Vejamos o resultado das respostas dos 360 respondentes. Na questão
“Assinale o grau de importância ou o peso para cada motivação listada a seguir na
sua decisão de se tornar voluntário(a) da Conscienciologia”, duas motivações
obtiveram valores altos na “motivação extrema”: “percepção de que as ideias da
Conscienciologia fazem parte do seu projeto de vida” com 217 respostas (60,3%) e
“necessidade de aprender a fazer assistência de modo lúcido” com 181 respostas
(50,3%). E ainda na intensidade de “muita motivação”, aparece
“vontade/necessidade de desenvolvimento do parapsiquismo” com 177 respostas
(49,2%) (Tabela 05).
192

TABELA 05 – MOTIVAÇÃO NA DECISÃO DE SE TORNAR VOLUNTÁRIO DA


CONSCIENCIOLOGIA PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Motivação em se Nenhuma Pouca Mediana Muita Extrema
tornar voluntário - Percepção de que 2 5 21 115 217
da as ideias da (0,6) (1,4) (5,8) (31,9) (60,3)
Conscienciologia Conscienciologia
fazem parte do seu
projeto de vida
- Necessidade de 14 33 81 146 86
esclarecer as (3,9) (9,2) (22,5) (40,5) (23,9)
pessoas sobre os
temas da
Conscienciologia
- Busca pela 6 10 55 146 143
construção de um (1,7) (2,8) (15,3) (40,5) (39,7)
mundo melhor
- Vontade/ 9 11 52 177 111
necessidade de (2,5) (3,1) (14,4) (49,2) (30,8)
desenvolvimento do
parapsiquismo
- Aprofundamento 5 5 45 166 139
sobre os conceitos (1,4) (1,4) (12,5) (46,1) (38,6)
da Conscienciologia
- Ajudar as pessoas 12 25 55 141 127
pela doação das (3,3) (6,9) (15,3) (39,2) (35,3)
energias pessoais
- Necessidade de 7 12 28 132 181
aprender a fazer (1,9) (3,3) (7,8) (36,7) (50,3)
assistência de modo
lúcido
- Outro 16 2 2 39 39
(16,4) (2,0) (2,0) (39,8) (39,8)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
NOTA: 360 respondentes por linha, excetuando o item “Outros” com 98 respostas
(27,2%).

Observa-se que a motivação do casal de informantes reflete a resposta com


maior índice pelos migrantes, de que “as ideias da Conscienciologia fazem parte do
seu projeto de vida”. De algum modo, a proposta da “Sociedade Intrafísica
Conscienciológica”, proposta por Vieira, em seu livro “700 Experimentos da
Conscienciologia” faz eco aos anseios desses voluntários. No entanto, seguindo a
ideia dos informantes de buscar uma nova ordem social e novos laços, sugere uma
motivação com base na mutualidade conforme mencionada por Cavalcante168, pois

168
CAVALCANTE, 2013, p. 178.
193

implica em alteridade. Possivelmente faz bem para quem recebe o trabalho


voluntário e também para quem faz.
A segunda motivação “necessidade de aprender a fazer assistência de modo
lúcido” também sugere uma motivação com base em mutualidade, pois já não
importa a assistência em si, seja lá de qual tipo for, mas a qualidade da assistência
prestada, uma vez que implica em um nível de conscientização sobre o ato de
ajudar, ou seja, quando ajudar, o modo de ajudar, quem ajudar, o porquê ajudar.
Essa qualificação assistencial parece ser a meta dos voluntários a fim de obter uma
satisfação nas suas atitudes doadoras.
A terceira motivação com índice alto, “vontade/necessidade de
desenvolvimento do parapsiquismo”, revela um tipo específico de motivo, diferente
de outras instituições do terceiro setor, pois trata do parapsiquismo, do
desenvolvimento das percepções extrassensoriais (PES) tendo um duplo sentido,
tanto para a própria pessoa se capacitar nesse aspecto quanto para aprender a
aplicar essa habilidade em relação aos outros (aspectos ressaltados por exemplo
nos cursos da Conscienciologia e nas práticas de uso dos laboratórios de
autopesquisa). Essa motivação também parece indicar uma mutualidade de
benefícios para quem faz e para quem recebe.
No entanto, essas cogitações merecem um nível de aprofundamento por meio
de pesquisa específica sobre as motivações no voluntariado da Conscienciologia. O
que se registra é a tendência para motivação com base na mutualidade entre as 3
motivações com índice mais alto nas respostas do questionário aplicado.
A condição do voluntariado é pedra fundamental de sustentação da
Conscienciologia e da formação da comunidade conscienciológica, conforme pode-
se observar pelo resultado do questionário aplicado aos migrantes-voluntários, na
questão seguinte.
Na pergunta “Antes de se mudar para Foz do Iguaçu, você já havia sido
voluntário da Conscienciologia?”, a maioria respondeu que sim (90,3%). O que
indica que a migração para Foz do Iguaçu, para a maioria dos migrantes, foi uma
continuidade do trabalho voluntário anteriormente realizado (Tabela 06).
194

TABELA 06 – VOLUNTARIADO ANTES DE MUDAR PARA FOZ DO IGUAÇU


DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA
DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Voluntariado antes de se Sim 325 (90,3)
mudar para Foz do Iguaçu Não 35 (9,7)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
Vale destacar que a experiência de voluntariado vivenciada em período
anterior à migração foi motivo suficiente para ação de mudar de residência.

3.4.11 Voluntariado III: características gerais do voluntariado conscienciológico

Aqui cabe uma breve explicação sobre o trabalho voluntário conforme exercido
nas instituições conscienciocêntricas (ICs). Em primeiro lugar, ele é regido pela Lei
9.608, de 18 de fevereiro de 1998, na qual “considera-se serviço voluntário, para os
fins desta Lei, a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade
pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que
tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de
assistência à pessoa.” (Redação dada pela Lei N. 13.297, de 2016).169
Assim, as instituições conscienciocêntricas (ICs) possuem características em
comum, apesar de terem objetivos específicos. Todas as ICs são pessoas jurídicas
“de direito privado, constituída na forma de associação civil sem finalidade
econômica e lucrativa, de caráter científico, cultural, assistencial, (...) não dogmática,
político-apartidária e voltada para a pesquisa e educação da ciência
Conscienciologia.”170
Em segundo lugar, o trabalho voluntário realizado nas ICs é caracterizado
como voluntariado formal. Segundo Morais (2019, p. 59) 171, “é aquele planejado e
oferecido por entidades (dentre elas empresas privadas) que intermediam o papel
entre quem doa o seu tempo e o beneficiário direto da ação.” Dentro do voluntariado

169
BRASIL. Lei N. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9608.htm. Acesso em: 07 maio
2020, às 22h54.
170
ESTATUTO social da União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais (UNICIN).
Disponível em: http://unicin.org/pt/unicin/estatuto/. Acesso em: 07 de maio de 2020, às 23h19.
171
MORAIS, Bruno Barcelos. Bases comuns do voluntariado no Brasil e Portugal: entre a tutela e a
emancipação. 2019. 138 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Brasileiros) - Faculdade de Letras
(FLUL) / Instituto de Ciências Sociais (ICS), Universidade de Lisboa, 2020, p. 59.
195

formal, existe a categoria de voluntariado dirigente. Tal denominação significa


“aqueles voluntários que exercem cargo de gestão, ou ocupam órgãos estatutários
(dirigentes) ou de execução (não-dirigente) de entidades sociais.” 172 No nível da
execução, existe uma gama variada de funções. Podendo inclusive ocorrer
sobreposições de funções, onde um dirigente quase sempre é também um executor.
As instituições conscienciocêntricas podem ser caracterizadas como
voluntariado formal, sendo administrada por voluntários, daí podendo também se
encaixar no subtipo dirigente. Além disso, por terem caráter científico e cultural,
quase toda IC possui além da área da gestão, mais duas áreas nos estatutos
sociais: docência e pesquisa. Desse modo, há voluntários que atuam na gestão, seja
em cargos de dirigentes e/ou de executores; na docência, na condição de
professores de Conscienciologia e na pesquisa, em geral na especialidade a qual a
IC se dedica.
Segue um exemplo: o voluntário que atua no receptivo de visitantes no
CEAEC. Ele está em uma função de gestão administrativa, onde a IC está sendo
mediadora entre o voluntário do receptivo e o visitante que irá receber informações a
respeito do CEAEC e da Conscienciologia. Esse mesmo voluntário do receptivo
pode exercer também as funções de professor em cursos do CEAEC e pode realizar
auto e heteropesquisa na mesma instituição.
Em terceiro lugar, em relação à periodicidade, o voluntariado conscienciológico
é predominantemente contínuo173, ou seja, com regularidade, do que pontual. Em
geral, os voluntários desempenham funções administrativas semanalmente, quer
dizer, ao menos 4 vezes ao mês. Alguns interrompem o trabalho voluntário e depois
voltam, outros não voltam e há aqueles que voluntariam de modo ininterrupto por
décadas. A maioria varia de função na gestão, passando a exercer outras funções
após o término do período de mandato previsto no Estatuto social. Também é
comum ao voluntário mudar de instituição conscienciocêntrica, podendo exercer
algum papel na gestão da outra IC. Em geral, os voluntários mantêm uma função na
gestão como executores, e também atuam na docência e na pesquisa.
Em quarto lugar, as áreas de pesquisa, docência e gestão desenvolvidas nas
ICs são “de natureza gratuita, não gerando vínculo empregatício, nem obrigação

172
MORAIS, 2019, p. 61.
173
MORAIS, 2019, p. 61.
196

trabalhista, previdenciária ou afim. Não cabe, portanto, nenhuma remuneração pelos


serviços prestados pelos voluntários, mesmo que dirigentes da IC.”174
Em quinto lugar, o voluntariado conscienciológico não possui distinção social,
racial ou etária, quer dizer, é aberto a todos, inclusivo. Em sexto lugar, existe a
possibilidade de contratação de pessoas nas atividades administrativas da
instituição conscienciocêntrica, com o chamado duplo vínculo, empregatício e
voluntário (ou consciencial), assim como a contratação do vínculo exclusivamente
empregatício.175
Uma sétima característica diz respeito ao objetivo. Retomando a definição
adotada pelo IBGE, o trabalho voluntário na Conscienciologia está alinhado ao
objetivo de produzir bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas não moradoras
do domicílio e não parentes.
O voluntariado como realizado nas instituições conscienciocêntricas será
retomado nos próximos capítulos, configurando aos poucos sua singularidade.
Em suma, nesse capítulo, buscou-se compreender a forma como os voluntários
do IIPC modelaram e organizaram o território no qual se estabeleceram, partindo
das discussões do grupo “socin conscienciológica”, passando a materialização do
campus CEAEC, primeiro, pelo sistema cooperativista de 1995 a 2002, e segundo,
pela gestão da associação, a partir de 2002 até os dias atuais.
A construção do CEAEC em Foz do Iguaçu, primeiro campus da
Conscienciologia, serviu de modelo para 3 novos campi conscienciológicos: em
Évoramonte (Portugal) em 2000 pela IAC, em Venda Nova do Imigrante (ES) em
2001 pela ARACÊ e em Saquarema (RJ) em 2002 pelo IIPC.
Ao mesmo tempo, o CEAEC atuou como uma âncora para o surgimento de
novas instituições da Conscienciologia em Foz do Iguaçu, algumas com campus
também, assim como condomínios no entorno, formando aos poucos um bairro,
modificando o espaço tanto física quanto linguisticamente, revelando novos lugares
e itinerários de migrantes, temas do próximo capítulo.

174
GALDINO, Lane. Manual de Assessoria Jurídica em Instituições Conscienciocêntricas (ICs). Foz
do Iguaçu: Editares, 2020, p. 21.
175
GALDINO, 2020, p. 21-22.
197

4 DINÂMICA TERRITORIAL E MIGRATÓRIA

O capítulo 4 irá expor a continuidade da dinâmica territorial, pois os territórios


conscienciológicos continuam em construção, porém vão se ampliando na mesma
proporção que a migração dos voluntários vai se intensificando. O tema da migração
vai ser inserido de modo integrado à continuação da ampliação dos territórios até
chegar na composição das fronteiras de um “bairro da consciência”, a Cognópolis.
Desde 1995, existe menção da formação de um bairro a partir da construção
do CEAEC: Vieira, em uma entrevista para o Grinvex-SP faz um convite aos jovens
voluntários inversores da época para se envolverem com as atividades de
implantação do Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC): “Eu acho que
vocês, (...) precisavam começar a funcionar com a Socin Conscienciológica. Nesse
plano que estamos levando para fazer a exposição permanente dos artefatos do
saber (Centro de Altos Estudos da Consciência), isso vai ser uma comunidade.” E
continua explicando: “Há gente que vai mudar de cidade e vai começar a formar um
conglomerado como se fosse um bairro. Há muito trabalho a ser feito, acho que o
Grinvex tem que trabalhar nisso.”1
Vieira comenta o que pensa que seria essa futura “comunidade”: “Não é uma
comunidade igual às outras, uma comunidade alternativa. Lá dentro vai ter empresa
conscienciológica, condomínio conscienciológico, consciencioterapia, editora,
processos de estudo tipo universidade, como se fosse um campus, para nós
estudarmos os processos da consciência.” Vieira cita o trabalho da cooperativa do
IIP (COOIIP) e que ela “vai andar em conjunto com o Instituto Internacional de
Projeciologia”2. Conforme visto no capítulo 3, em 1995, a cooperativa já havia sido
criada e foi quando teve início a migração de voluntários de São Paulo, Porto Alegre,
Novo Hamburgo e outras cidades para Foz do Iguaçu.
Em julho de 1997, existe menção no jornal do CEAEC da formação de um
“bairro consciencial”, de modo mais explícito em uma nota que menciona a
construção de um condomínio conscienciológico como o primeiro desafio dos

1
GPC-Grinvex SP. A vida Inversiva do Precursor da Projeciologia: Entrevista com Waldo Vieira.
Jornal da Invéxis, ano I, n. 3, dez. 1995, p. 13.
2
GPC-Grinvex SP,1995, p. 13.
198

colaboradores do projeto CEAEC. A venda de terrenos do primeiro condomínio foi o


que impulsionou o início das obras do CEAEC, conforme visto no capítulo anterior3.
Em dezembro de 1997, Waldo Vieira publicou um artigo curto no Informativo do
CEAEC4, cujo título era “Cognópolis”. O texto explicava que o que se pretendia com
o CEAEC era a materialização teórica e prática possível, por meio dos laboratórios
de autopesquisa, da Holoteca, da hospedaria Village e do condomínio, da primeira
Cognópolis no planeta. A palavra “Cognópolis” significa a cidade ou o bairro do
conhecimento. Vieira citou que a cognição principal é sobre a consciência, ou o
estudo da consciência.
A formação da Cognópolis foi viabilizada pela migração de voluntários
provenientes de diversas localidades brasileiras, e mesmo estrangeiras, para Foz do
Iguaçu. Os dados sobre a evolução demográfica da comunidade conscienciológica,
que serão apresentados nesse capítulo, foram aqueles organizados pela própria
comunidade conscienciológica. 5 Eles estão distribuídos no decorrer dos tópicos e
serão apresentados juntos, por meio de um gráfico, mais ao final deste capítulo.
Tomando como ponto de partida as estatísticas do CEAEC presentes na
revista “CEAEC Newsletter”6, havia 36 colaboradores residentes em Foz do Iguaçu
no ano 2000. No documento “Horário dos Voluntários(as) e Pesquisadores(as)” do
Holociclo, de 15/09/2001, havia 39 voluntários somente nesse departamento. O que
indica que havia mais voluntários em Foz do Iguaçu, contudo não foi encontrado
documento com a quantidade total. No ano seguinte, no documento “Voluntários
Nacionais e Internacionais do Holociclo (14.04.2002 – 5ª. versão)”, do total de 114
voluntários do Holociclo com atuação presencial e à distância, 61 eram moradores
de Foz.
Irei explicitar o processo de transformação que se dá do CEAEC até a criação
do Bairro Cognópolis, passando pela formação da denominação “Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI)”, expressão cunhada por Waldo
Vieira. O capítulo ficou organizado em 4 tópicos: 4.1 – Associação CEAEC: matriz
da territorialidade conscienciológica; 4.2 – Da CCCI ao bairro Cognópolis; 4.3 –

3
UM BAIRRO consciencial. Informativo do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 24, p. 4, jul. 1997.
4
VIEIRA, Waldo. Cognópolis. Informativo do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 3, n. 29, p. 1, dez. 1997.
5
Todos os números e documentos sobre os voluntários que migraram para residir em Foz do Iguaçu
citados nesse capítulo pertencem aos arquivos do Holociclo, departamento do CEAEC, onde são
realizados os inventários demográficos da comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu.
6
CENTRO de Altos Estudos da Consciência: os números da Grupalidade 1995-1999. CEAEC
Newsletter, vol. 2, n. 1, p. 16-17, 2000.
199

Desenvolvimento da Cognópolis e; 4.4 – Considerações do capítulo. Cada tópico se


desdobra em subtópicos.

4.1 Associação CEAEC: matriz da territorialidade conscienciológica

Esse primeiro tópico refere-se ao período de julho de 2002 até julho de 2005,
ou seja, do início da Associação CEAEC até a Primeira Década do CEAEC. Ficou
dividido em: 4.1.1 Assentamento; 4.1.2 Criação da Organização Internacional de
Consciencioterapia (OIC); 4.1.3 Publicação do Homo sapiens reurbanisatus; 4.1.4
Mudança da Sede do IIPC para Foz do Iguaçu; 4.1.5 Mudanças estatutárias e
administrativas do IIPC; 4.1.6 Fundação da Assinvéxis; 4.1.7 Novos projetos
habitacionais; 4.1.8 Fundação da Editares, da UNICIN, da AIEC e da IASB; 4.1.9
Primeira década do CEAEC.

4.1.1 Assentamento

Nesse subtópico, será apresentado o investimento dos voluntários do CEAEC


no entorno da instituição a fim de promover o assentamento deles mesmos e dos
demais que começaram a migrar de modo mais contínuo. Assim, com a intenção de
criar um bairro, um pouco depois da fundação da Associação do CEAEC em julho de
2002, teve início um movimento por parte dos voluntários do CEAEC para
estabelecerem moradias próximas ao campus de pesquisa.
De acordo com Everaldo Bergonzini7, coordenador da Comissão de Habitação
do CEAEC, “esperamos constituir em breve um bairro conscienciológico na região”.
O objetivo era consolidar as estruturas em funcionamento no CEAEC, “permitindo
maiores condições de segurança ao campus e a todos que o frequentam”.
Com tal intuito, a Associação lançou 5 projetos habitacionais no entorno do
campus: 1) a Basecon ou “base conscienciológica”, edificação que já existia dentro
do campus e foi reformada8; 2) Condomínio Campo dos Sonhos, o mais antigo dos
condomínios externos ao campus; 3) Condomínio Serenologia (cuja ata da fundação

7
Fonte: BERGONZINI, Everaldo. Conheça as cinco áreas de habitação do CEAEC. Jornal do
Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 08, n. 93, p. 1, abr. 2003.
8
Fonte: BASECON: Contextualização. Conscienciologia Aplicada, Foz do Iguaçu (PR) / Venda Nova
do Imigrante (ES), ano 2, n. 4, p. 9, abr. 2002.
200

foi de 05/05/20039); 4) Clube Residencial Cosmoética, em fase de implantação na


ocasião; e 5) Chalés Residenciais, dentro do CEAEC, no terreno II, do outro lado do
rio Tamanduazinho (em fase de elaboração do projeto).
A “Basecon” era, na verdade, o mais antigo projeto de habitação, herdeiro da
Cooperativa do IIPC (COOIIPC). Uma residência coletiva com 20 quartos dentro do
campus, cujo principal objetivo era dar sustentabilidade ao funcionamento do
CEAEC por meio do trabalho voluntário, como por exemplo: atender alunos dos
cursos, visitantes e usuários dos laboratórios.10
O “Campo dos Sonhos” também era um projeto habitacional da COOIIPC. A
mudança do projeto de condomínio de chácaras para condomínio de lotes com área
média de 540m2 teve de aguardar o encerramento da primeira proposta, o que
ocorreu em março de 2003, para, logo em seguida, o novo projeto ser protocolado
na Prefeitura. A COOIIPC doou 2 lotes à Associação para revenda.11
No documento “Lista dos Voluntários Residentes em Foz do Iguaçu – CEAEC e
IIPC”, de 06 de abril de 2003, constam os nomes de 97 voluntários. Em outro
documento produzido no mesmo ano, em 12 de setembro, intitulado “Comunidade
Conscienciológica em Foz do Iguaçu”, aparecem 173 nomes de voluntários,
englobando o CEAEC, o IIPC, a OIC e os parentes de voluntários. É a primeira vez
em que aparece a expressão “comunidade conscienciológica” nesses documentos
que registram a lista de migrantes em Foz do Iguaçu.
A empresa “Convivência”, pertencente à uma família de voluntários,
proprietária dos lotes do Condomínio Serenologia doou 11 lotes ao CEAEC, cuja
renda obtida nas vendas desses lotes foi revertida para projetos do campus, nas
áreas de habitação e segurança12. A primeira moradora do condomínio Serenologia
foi Marilza de Andrade, mãe do nosso informante Alexander Steiner.
O Clube Residencial Cosmoética possuía uma área de 24.200 m2, cujo objetivo
era implantar 18 residências. O grupo de 8 sócios-fundadores do Clube, voluntários
da Conscienciologia, doaram o valor de R$ 80 mil à Associação do CEAEC, valor

9
Informação obtida com o condômino Flavio Buononato via whatsApp em 31/08/2019. A menção do
nome foi autorizada pelo informante.
10
Em maio de 2000, 18 voluntários moravam na basecon dentro do CEAEC. Eles “dedicam parte do
seu tempo e trabalho para as atividades do CEAEC” (Fonte: KONIG, Mauri. Foz tem o 1º. Spa do
autoconhecimento. O Estado do Paraná, Curitiba, ano 49, n. 14.781, p. 4, 28 maio 2000).
11
BERGONZINI, 2003, p. 4.
12
BERGONZINI, 2003, p. 4.
201

referente à parte do valor arrecadado com a comercialização de 10 cotas do Clube,


sendo que o saldo restante seria destinado ao término da infra-estrutura.13
E os Chalés residenciais, a serem construídos no terreno II do CEAEC, teriam
como receita o pagamento da comercialização dos lotes da Associação nos
condomínios Serenologia e Campo dos Sonhos, além das doações do Clube
Cosmoética. A previsão era de 60 chalés com 50 a 60 metros quadrados14 de área
útil. Quatro dos cinco projetos habitacionais podem ser visualizados a partir da figura
11 – Projetos Habitacionais no entorno do campus CEAEC.

Figura 11 – Projetos habitacionais no entorno do Campus CEAEC

Fonte: Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 08, n. 93, p. 1, abr. 2003.

13
BERGONZINI, 2003, p. 4.
14
BERGONZINI, 2003, p. 4.
202

No Jornal do Campus CEAEC de dezembro de 2003, a manchete é a seguinte:


“CEAEC lança projeto ‘Chalés da Comunidade Conscienciológica” 15 . Interessante
observar que é a primeira vez que a expressão “comunidade conscienciológica”
aparece em destaque no jornal interno do CEAEC. Nessa matéria, foi divulgado o
custo previsto para cada chalé, em torno de R$ 40.000,00 com a infra-estrutura,
prevendo uma prestação mensal de R$ 1.053,00, parcelados em 40 prestações.

4.1.2 Criação da Organização Internacional em Consciencioterapia (OIC)

Esse subtópico trata da fundação da quinta instituição conscienciocêntrica, a


OIC – Organização Internacional em Consciencioterapia, em Foz do Iguaçu, em
06/09/2003.
A Consciencioterapia é uma das especialidades da Conscienciologia. Estuda o
tratamento, o alívio e a remissão de distúrbios da consciência, por meio de técnicas
fundamentadas no paradigma consciencial. Essa IC tem como base o Grupo de
Pesquisas Conscienciais (GPC) – Consciencioterapia fundado em outubro de 1992.
Por meio dos voluntários da área da saúde, o IIPC foi responsável pela
fundação de clínicas experimentais em São Bernardo do Campo (SP) em 1993 e no
Rio de Janeiro (RJ) em 1995.
A clínica do RJ deu origem ao Núcleo de Assistência Integral à Consciência
(NAIC), em 1996. A partir do NAIC, nasceu a OIC, em 2003, em Foz do Iguaçu. A
ideia da institucionalização do NAIC surgiu em New York, em maio de 2002, durante
o 3º. CIPRO, a partir da sugestão de Vieira16.
A OIC começou a funcionar no centro de Foz do Iguaçu a partir da migração de
voluntários dessa instituição que partiram do Rio de Janeiro, no decorrer do ano de
2003.
Concomitante à fundação da OIC, foi anunciada oficialmente, no dia 06 de
setembro de 2003, a primeira “fusão de instituições conscienciocêntricas”: o Instituto
de Pesquisa da Consciência (IPC) incorporou-se ao IIPC.

15
RESENDE, Mônica. CEAEC lança projeto “Chalés da Comunidade Conscienciológica”. Jornal do
Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 09, n. 101, p. 1, dez. 2003.
16
TAKIMOTO, Nário. Você conhece o NAIC – Núcleo de Assistência Integral à Consciência? IIPC
News, Rio de Janeiro / Foz do Iguaçu, ano 4, n. 15, p. 6, dez. a mar. 2003; e NASCE mais uma
instituição conscienciocêntrica. IIPC News, Rio de Janeiro, ano 5, n. 17, p. 4, ago. a nov. 2003.
203

O IPC foi fundado em Porto Alegre em 27 de julho de 1988 por Haydée Melo.
Essa instituição desenvolvia de modo independente eventos para divulgação da
Projeciologia e da Conscienciologia, inclusive contando com uma unidade em
Caxias do Sul. A união agregou 125 voluntários e 75 docentes ao IIPC17.

4.1.3 Publicação do Homo sapiens reurbanisatus

O livro “reurbanisatus” foi o primeiro que Vieira escreveu no Holociclo. O


objetivo de trazer esse assunto foi informar o modo de fazer pesquisa desenvolvido
por Waldo Vieira com a equipe de colaboradores. O livro Homo sapiens
reurbanisatus foi publicado em novembro de 2003, após 14 meses de trabalho, com
1.584 páginas e uma bibliografia com 7.653 referências.
Segundo Vieira18, foi a primeira vez que havia dezenas pessoas trabalhando na
elaboração de um tratado da Conscienciologia. Esse livro foi o primeiro de uma
trilogia que Vieira pretendia escrever com objetivo de “dar os fundamentos das
técnicas da Enciclopédia” que estava em desenvolvimento.
No capítulo 38 dessa obra, são expostas as 100 técnicas da “Enciclopédia da
Conscienciologia” utilizadas na escrita do tratado “reurbanisatus”. Para citar apenas
uma delas, a “técnica de 50 dicionários”, que consistia na consulta mínima de 50
léxicos temáticos para começar o desenvolvimento de qualquer tema de pesquisa19.
Desse modo, era comum, Vieira solicitar a cada voluntário interessado que
buscasse estudar temas de pesquisa diversos em 50 dicionários da Lexicoteca do
Holociclo, a fim de, ao final desse estudo, redigisse com as suas palavras uma
definição do assunto em pauta. Os benefícios da aplicação dessa técnica eram, por
exemplo, ampliar a visão de conjunto do pesquisador sobre aquele tema, além de
desenvolver o raciocínio analógico.
O lançamento do Homo sapiens reurbanisatus ficou registrado no jornal
estadual “Gazeta do Povo”, de 01/02/2004: “Livro de 1.500 páginas dispensa uso do
‘que’: livro trata de reorganização pessoal e ainda elimina outras 29 expressões.” A
matéria ocupou menos da metade de uma folha inteira do jornal, contendo uma foto
de Vieira segurando um gibi. O motivo da matéria era o novo livro, no entanto o

17
COUTO, Cirleine. Integração do IPC ao IIPC marca a interdependência grupal. IIPC News, Rio de
Janeiro, ano 6, n. 18, p. 1 e 3, dez. 2003 a mar. 2004.
18
VIEIRA, Waldo. Homo sapiens reurbanisatus. Foz do Iguaçu: CEAEC, 2003, p. 3.
19
VIEIRA, 2003, p. 125.
204

destaque ficou para a “façanha” de Vieira ter escrito 1.500 páginas, sem utilizar a
partícula “que”, os artigos indefinidos “um” e “uma”, os pronomes possessivos “meu”
e “minha”, além de outras. Os direitos autorais da obra foram cedidos ao CEAEC.20

4.1.4 Mudança da Sede do IIPC para Foz do Iguaçu

O movimento migratório para Foz do Iguaçu teve um ápice, que foi a decisão
da diretoria do IIPC de transferir a sede para Foz do Iguaçu. Tal decisão foi
anunciada no informativo interno IIPC News (dez. 2003 a mar. 2004)21. Em uma
coluna na página 2, a diretoria do IIPC elencou 4 motivos da mudança: 1) após 15
anos de trabalho em Porto Alegre, o IPC se une ao IIPC, em prol de um
empreendimento maior; 2) a fundação da OIC em Foz do Iguaçu; 3) o aquecimento
dos trabalhos do IIPC em Buenos Aires; 4) o lançamentos dos livros Homo sapiens
reurbanisatus de Waldo Vieira e “Autocura através da Reconciliação” de Málu
Balona, sinalizando o processo de reurbanização e união.
Alexander Steiner 22 relata essa história para nós. Nessa época, ele era
presidente do IIPC. “Desde que o Waldo falou que se mudaria para Foz do Iguaçu,
eu já tinha questionado para ele: ‘Olha, então o Instituto vai também!’ E ele: ‘Não.
Segura as coisas lá do Rio, tem que ficar lá no Rio e tal’. Isso foi em 2000.
“Quando teve o Congraçamento aqui em dezembro de 2002, a Cecília [esposa
do entrevistado] foi uma que fez a pergunta lá na frente porque ela estava em dúvida
se ia para o Rio ou vinha para Foz”. Tanto Alexander quanto Waldo responderam
que o IIPC era lá no Rio de Janeiro.
Em setembro de 2003, teve a fundação da OIC. E, depois da fundação, na
hora da tertúlia, o Werner Scheinpflug [um dos diretores do IIPC] perguntou ao
Waldo: “Olha, o NAIC [Núcleo de Assistência Integral à Consciência] veio, (...) o
pessoal está vindo, e o Instituto?’ Aí Waldo falou: ‘É, agora está na hora do Instituto
vir.”
Alexander conta que isso gerou uma crise na equipe do Rio, “porque a hora
que o Waldo veio para cá, já desde 2000, 2001, várias pessoas começaram a vir do

20
LIVRO de 1.500 páginas dispensa uso do “que”. Gazeta do Povo, Curitiba, ano 85, n. 27.124, p. 9,
1 fev. 2004.
21
SEDE Mundial muda para Foz. IIPC News, Rio de Janeiro, ano 6, n. 18, p. 2, dez. 2003 a mar.
2004.
22
STEINER, Alexander Miraglia. Entrevista concedida em 29/03/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do
Iguaçu.
205

Brasil inteiro e principalmente do Rio de Janeiro, onde tinha um número maior de


voluntários; [e eram] pessoas que já entendiam mais a ideia”.
Com a saída dos voluntários experientes, “iam descalçando o trabalho que
estava sendo feito lá [no RJ], era [por exemplo] professor (...), era não sei o quê, e
tal. Aí chegou num ponto que a gente já sabia: ‘Olha, não vá fazer um curso em Foz,
porque não vai voltar mais! 23 ” [risos]. Alexander ressalta que ele “já tinha
desestressado com isso. O pessoal ficava superestressado: ‘Não. Vamos ligar lá
para o Waldo e falar que não pode!’ ‘Esquece, cara, vamos achar outro aqui para vir
para o trabalho”, Alexander retrucava.
Enfim, depois que o Waldo falou que era a hora do IIPC ir para Foz do Iguaçu,
foi feita uma reunião na diretoria. “E aí a gente já sabia que a hora que isso
acontecesse, não seria só mudar uma instituição, teria um grupo grande de pessoas
que acabaria engajando, mudando”, relata Alexander.
Segundo suas recordações, “eu acho que foi a onda, que veio o maior número
de pessoas, ao mesmo tempo. Foram 150 e tantas pessoas que acabaram vindo ali
no período de 6 meses a 1 ano”. A decisão foi em setembro de 2003 e “em final de
janeiro [de 2004], o Instituto já estava aqui.”
Antes de mudar, a diretoria reuniu-se com os voluntários: “Vamos para Foz?
Como é que é isso?’ E aí a gente falou: ‘Olha, Foz é uma cidade que vai ter que
empreender. Tem muita coisa e não tem muita coisa.” Alexander menciona que “a
gente já sabia que não tinham tantas profissões assim. Não era a mesma coisa lá do
Rio que você conseguia ter um salário digno, (...) para quem tivesse nível superior
por exemplo. Foz é uma cidade que ainda hoje, (...) não basta ter nível superior.”
Para conseguir trabalho “depende muita da área para você ter uma profissão
razoável, vamos dizer assim”. Desse modo, o processo migratório do Alexander foi
“institucional e grupal”, o aspecto pessoal ficou em segundo plano.
O tema da transferência da sede do IIPC voltou a ser notícia no jornal interno
“IIPC News” (abr. a jul. 2004). No editorial, Alexander Steiner24 explica que “até abril
aproximadamente 60 colaboradores e familiares estavam se instalando em Foz do
Iguaçu”. Comenta também que “renovamos as diretorias e coordenações de
departamento e áreas”, além de que “algumas dinâmicas e fluxos de informações

23
O entrevistado fez uma voz imitando sofrimento.
24
STEINER, Alexander. Sede mundial do IIPC em Foz do Iguaçu. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 6,
n. 19, abr. a jul. 2004, p. 2, grifos do autor.
206

também mudaram, refletindo a preocupação com a descentralização e transparência


institucional.” Em um primeiro momento, a sede do IIPC se instalou no centro de Foz
do Iguaçu, em edifício comercial.
Ainda menciona o aspecto das instituições conscienciocêntricas em Foz do
Iguaçu: “começamos a estabelecer as bases da união das instituições
conscienciológicas. Por exemplo (...) também está em andamento a criação de duas
novas ICs: a Assinvéxis, especializada na inversão existencial, e a Editares (Editora
da Conscienciologia)”.
O ano de 2004 foi o de maior fluxo migratório para Foz. Foram impressas 4
versões do documento “Comunidade Conscienciológica em Foz do Iguaçu” no
decorrer do ano. Em 21 de março de 2004, havia 255 voluntários migrantes em Foz
do Iguaçu. Em 09 de maio de 2004, esse número aumentou para 266. Em 28 de
agosto, o total pulou para 306 integrantes da comunidade em Foz. E em 10 de
outubro de 2004, subiu para 310 migrantes em Foz. Isso significa que de março até
outubro de 2004, em 7 meses, 55 pessoas migraram de suas localidades rumo a
Foz do Iguaçu pelo motivo da Conscienciologia, direta ou indiretamente, pois entre
essas pessoas, estão contabilizados os parentes de voluntários.

4.1.5 Mudanças estatutárias e administrativas do IIPC

Seguindo a diretriz de mudanças administrativas do IIPC, no segundo semestre


de 2004, houve uma mudança estatutária e organizacional a fim de atender uma lei
que havia sido promulgada em 2002. A lei federal 10.406/2002, que instituiu o texto
do novo Código Civil, entre outras coisas, orientou que as pessoas jurídicas que se
organizassem para fins não econômicos, estariam submetidas às regulamentações
das associações. O IIPC teve que adaptar seu ato constitutivo às novas
determinações. As mudanças que se destacaram foram a criação da figura do
associado, com direitos e obrigações, assim como a constituição de uma
Assembleia Geral composta necessariamente pelos associados25.
A antiga estrutura organizacional do IIPC era formada pelos sócios, além da
Diretoria e o Conselho Deliberativo, que representavam os órgãos sociais
responsáveis pela gestão e tomada de decisões institucionais.

25
MIKALUCKIS, Valeria. Assembleia geral marca nova etapa para o IIPC. IIPC News, Foz do Iguaçu,
ano 6, n. 21, p. 5, dez. 2004 a mar. 2005.
207

A nova estrutura organizacional foi debatida entre os voluntários durante a “I


Jornada de Administração Conscienciológica”, em Porto Alegre, em 12/09/2004,
sendo que em 09/10/2004, ocorreu a I Assembleia Geral de Associados, visando a
aprovação do documento.
O IIPC passou a ser formado pelos seguintes órgãos sociais: 1) Assembleia
Geral de Associados; 2) Colegiado Gestor; 3) Comitê Executivo; 4) Comitê de
Unidades; 5) Comitê Consultivo; 6) Conselho de Parapedagogia; 7) Conselho Fiscal;
8) Conselho Editorial.
O Comitê Executivo da Sede era formado pela coordenação geral e pelos
coordenadores dos colegiados técnicos (dos campi, de comunicação, de educação,
financeiro, de gestações conscienciais ou publicações, tecnologia organizacional, de
intercooperação, jurídico, de divulgação científica, de projetos e de voluntariado)26.

4.1.6 Fundação da Assinvéxis

A sexta instituição conscienciocêntrica fundada foi a Assinvéxis – Associação


Internacional de Inversão Existencial, em 22 de julho de 2004. Esta instituição é o
ápice de um processo que começou com a aplicação da técnica da inversão
existencial por Waldo Vieira na própria vida, posteriormente sendo aplicada pelos
jovens voluntários do IIP, que fundaram o Grupo de Pesquisas Conscienciais (GPC)
em fevereiro de 1992, tendo o nome mudado para Grinvex.
A partir do primeiro Grinvex, no Rio de Janeiro, surgiram vários grupos em todo
Brasil. Transformou-se em assessoria aos jovens inversores, dentro da estrutura
organizacional do IIPC em dezembro de 1999, até a fundação da instituição,
tornando-se pessoa jurídica independente em 200427. A Assinvéxis se instalou em
uma sala no mesmo edifício comercial do IIPC no centro de Foz do Iguaçu.

4.1.7 Novos projetos habitacionais

26
OBJETIVOS e estrutura administrativa do IIPC. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 6, n. 21, p. 6-7, dez.
2004 a mar. 2005.
27
FERRARO, Cristiane. Histórico invexológico grupal. Conscientia, vol. 13, n. 2, p. 135-148, abr. a
jun. 2009.
208

Enquanto isso, os projetos habitacionais próximos ao CEAEC tiveram


continuidade. Em dezembro de 2004, os 3 primeiros chalés residenciais do CEAEC
já estavam habitados, dando início à ocupação do terreno II do CEAEC28.
Além dos condomínios já citados anteriormente, no Jornal do Campus CEAEC
de janeiro de 2005, há uma divulgação de mais um condomínio conscienciológico,
sob a coordenação do voluntário Everaldo Bergonzini. Chamou-se “Evolução”, e já
se encontrava na fase de implantação da infra-estrutura. “Os recursos das obras
advêm da venda dos lotes. Do total de 16, existem ainda 10 terrenos disponíveis, um
de 700m2 e os demais de 600m2, ao preço de R$ 50,00 por m2.”
Os recursos excedentes seriam destinados ao CEAEC para a realização de
projetos em andamento. A seguir, na figura 12, segue a localização do “Evolução”,
ao lado do condomínio Serenologia.

Figura 12 – Localização do condomínio Evolução

Fonte: Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 10, n. 114, p. 4, jan. 2005.

4.1.8 Fundação da Editares, da UNICIN, da AIEC e da IASB

28
PITAGUARI, Antonio. Notícias da Comunidade Conscienciológica. Jornal do Campus CEAEC, Foz
do Iguaçu, ano 10, n. 114, p. 4, dez. 2004.
209

Mais 4 organizações conscienciocêntricas foram criadas: uma editora


(Editares), uma voltada para os aspectos políticos e de convívio da comunidade
(UNICIN), outra para o aspecto econômico-financeiro da comunidade (AIEC) e uma
dedicada à relação da Sinologia e Conscienciologia (IASB).
Será feita breve explicação até a 10ª. instituição fundada (a IASB), a fim de
descrever a diversidade institucional conscienciológica. A partir da 11ª. instituição,
será apenas citado o nome, a data de fundação e a grande área de atuação.

4.1.8.1 Editares

A sétima instituição fundada foi a Editares, a Editora da Conscienciologia.


Fundada em 23 de outubro de 2004, em Foz do Iguaçu. Segundo Vieira29, a Editares
é “uma conciliação de interesses, um algo a mais, ‘mão na roda’, fator catalisador
(...). Veio preencher uma lacuna.” A Editares nasceu junto com o lançamento de 4
livros publicados por voluntários. A Editares passou a funcionar em uma sala do
mesmo prédio comercial que a OIC, o IIPC e a Assinvéxis, no centro da cidade.

4.1.8.2 UNICIN

Em 22 de janeiro de 2005, fundou-se a oitava instituição da Conscienciologia, a


União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais (UNICIN). A sede era em
Foz do Iguaçu, no mesmo prédio comercial para onde as instituições anteriores
foram. Os objetivos sociais da UNICIN eram diferentes das organizações anteriores.
Em entrevista ao jornal IIPC News, Waldo Vieira 30 explica que “a condição
atual exige integração maior dos interesses das instituições. (...) porque estamos
caminhando para 7 instituições. Antes que a coisa fique mais complicada”. A UNICIN
visava ajudar as instituições que já estão em funcionamento e os grupos que vão
querer fundar novas ICs. Muita coisa poderia ser evitada, as repetições, as
duplicidades e assim por diante.

29
WALDO Vieira fala sobre a Editares. Informativo Editares, Foz do Iguaçu, ano 1, n. 1, p. 3, out.
2004.
30
VIEIRA, Waldo. “UNICIN megafraternidade vivenciada”. Entrevista. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano
6, n. 20, p. p. 4-5, ago. a nov. 2004.
210

Outra prioridade era que a UNICIN deveria se centrar na “visão de conjunto”,


na “cosmovisão”, o caminho da pluralização e da “megafraternidade”. O trabalho da
UNICIN seria essa visão de conjunto de todas as instituições conscienciocêntricas.
Segundo Vieira31, os voluntários que iriam assumir funções dentro da UNICIN
deveriam, “em primeiro lugar, (...) acabar com todo egoísmo, pensar numa
grupalidade, mas já em nível coletivo.” Nessa linha de raciocínio, Vieira32 acrescenta
que “a política individual e a política grupal pequenas (...) têm de ser esquecidas
para caminhar para o Estadismo. O Estadismo é superior à Diplomacia e é superior
à Política ordinária. A UNICIN deve ser centrada no Estadismo, no universalismo33,
na megafraternidade.”
Ainda de acordo com Vieira34, escolas, universidades ou instituições em geral
possuem uma política administrativa e princípios filosóficos. No caso das instituições
conscienciocêntricas, todas elas se fundamentam, inclusive a UNICIN, no “princípio
da descrença”, ou seja, “não acreditar em nada, nem em ninguém, para fazer a
experiência pessoal. Então, vamos entender: é da experiência pessoal que a gente
chega à compreensão da coletividade.”
Para Vieira, partindo da autopesquisa, a pessoa caminha para o coletivismo da
cosmovisão. Exemplifica: “um partido político: ele é sempre pequeno, por que é um
partido, ele não é inteiro. (...) nós temos de caminhar para a democracia ampla,
totalmente socializada. É o caminho, por exemplo, que a ONU (...) está indo, é o
caminho do Estado Mundial”35.
Vieira cita gradações de papeis políticos, desde o político que faz parte de um
partido, passando pelo diplomata ou chanceler ou ainda ministro das relações
exteriores, que seria o nível da Diplomacia de um país, e um terceiro nível que seria
o do estadista, próprio de quem vai trabalhar na ONU, e que seria uma função que
exige uma visão ampla, de atacadista, uma cosmovisão, envolvendo tudo e todos.
“O estadista, propriamente dito, é aquele que já alcançou um nível de
fraternidade maior do que os outros. Agora veja, dentro da UNICIN, é o nível do
Estadismo, é o nível da megafraternidade, é o nível do Estado Mundial.” Vieira ainda

31
VIEIRA, 2004, p. 4.
32
VIEIRA, 2004, p. 4, grifos do autor.
33
“Universalismo é o mesmo que antiegoísmo, cosmismo, ecletismo, ecumenismo,
multidisciplinaridade, generalismo e maxifraternidade” (VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da
Conscienciologia. Rio de Janeiro: IIP, 1994, p. 637, grifo do autor).
34
VIEIRA, 2004, p. 4.
35
VIEIRA, 2004, p. 5, grifos do autor.
211

menciona que “nós falamos isso, parece que somos visionários (...). Nós temos que
começar já a plantar e semear, colocar a semente, desde hoje para amanhã”.
Guardando as devidas proporções, a UNICIN seria a “ONU da
Conscienciologia” assim como uma pequena semente desse futuro cenário possível
do “Estado Mundial”36.
De acordo com o Estatuto da UNICIN 37 , esta seria “uma associação
multidimensional, transnacional, assistencial, universalista, instituição
conscienciocêntrica de caráter educacional e científico, pessoa jurídica de direito
privado, sem finalidade econômica”.
Um dos objetivos principais da UNICIN era: representar a Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI), as Instituições
Conscienciocêntricas (ICs), o Voluntariado Conscienciológico e o Paradigma
Consciencial na sociedade em geral.
Para atender tal objetivo, a UNICIN poderia realizar várias atividades. Dentre
elas, prestar assessoria e fornecer pareceres sobre questões relativas à
Conscienciologia, à CCCI, às ICs e ao Voluntariado Conscienciológico, ao modo de
uma instituição mediadora e integradora de projetos da comunidade
conscienciológica e das instituições conscienciocêntricas38.
O quadro social da UNICIN era composto por associados “admitidos pelo
Colegiado de Intercooperação, sem qualquer distinção de raça, cor, sexo,
nacionalidade, credo político ou religioso”39, abrangendo 3 categorias: a) associado
fundador; b) associado voluntário; c) associado estatutário.
Os associados da UNICIN poderiam: 1) propor a criação de comissões técnicas
e delas participar; 2) apresentar propostas, programas e projetos de ação para a
UNICIN; 3) ter acesso a livros de natureza contábil e fiscal, bem como aos demais
documentos no âmbito da UNICIN; 4) votarem e serem votados na Assembleia
Geral e nos demais órgãos sociais.
A estrutura organizacional da UNICIN em 2005 era formada por: a) Assembleia
Geral; b) Colegiado de Intercooperação, “é a instância deliberativa e parecerista da
UNICIN na análise de questões que não sejam de competência privativa dos demais

36
COUTO, Cirleine. UNICIN: semente do Estado Mundial. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 6, n. 20, p.
6, ago. a nov. 2004.
37
ESTATUTO social da União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais, de 22 de janeiro
de 2005. Registro Civil de Pessoas Jurídicas, registro n. 0035429, de 30 mar. 2005, p. 1-2.
38
ESTATUTO da UNICIN, 2005, p. 2.
39
ESTATUTO da UNICIN, 2005, p. 4.
212

órgãos sociais”; c) Comitês Executivos, de Desenvolvimento, de Gestão Interna, de


Infocomunicação, de Paradiplomacia e de Voluntários; d) Conselho Fiscal; e)
Conselhos Permanentes, tais como: de Epicentros Conscienciais (Epicons), de
Autores, de Neologística, de Assistência Jurídica da Conscienciologia e das
Instituições Conscienciocêntricas40.
Os coordenadores dessas funções não poderiam ser remunerados direta ou
indiretamente pelo exercício desses cargos. O secretário-geral seria eleito para um
mandato de 3 anos, vedada a reeleição no mesmo cargo. Dentre suas atribuições,
inclui representar judicial e extrajudicialmente a UNICIN. Além disso, o Colegiado de
Intercooperação, os Comitês Executivos e os Conselhos Permanentes poderiam
criar Comissões Técnicas quando julgassem necessário para o desempenho de
suas funções41.
Nesse mesmo Estatuto da UNICIN42, no artigo 66, consta que a Assembleia
Geral de Constituição conferia poderes ao Colegiado de Intercooperação de adaptar
este Estatuto no que precisasse a título de experiência durante 1 ano a partir da sua
aprovação. Após esse período experimental, o Colegiado de Intercooperação iria
apresentar à Assembleia Geral sugestões para possíveis alterações estatutárias.
Assim, a UNICIN passou a representar o poder político da comunidade
conscienciológica.

4.1.8.3 AIEC

Logo em seguida, viria a ser fundada a Associação Internacional para a


Expansão da Conscienciologia (AIEC), a nona instituição conscienciocêntrica, em 22
de abril de 2005. Essa organização foi criada com objetivo principal de se dedicar
especificamente à gestão e ao direcionamento de recursos financeiros na
comunidade conscienciológica. Em nota no Jornal Campus CEAEC, há a seguinte
menção: “A Conscienciologia (...) é a pedra inicial da desconstrução da moeda. Todo
o patrimônio das ICs resulta do voluntariado com base no vínculo consciencial e na
interassistencialidade, sem qualquer tipo de subsídio público.”43

40
ESTATUTO da UNICIN, 2005, p. 6-11, 13-15.
41
ESTATUTO da UNICIN, 2005, p. 6-11, 13-15.
42
ESTATUTO da UNICIN, 2005, p. 21.
43
PITAGUARI, Antonio. Lançamento da AIEC. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n.
127, p. 2, fev. 2006.
213

É da parceria entre essas duas instituições, a UNICIN e a AIEC, que o projeto


da Cognópolis, do bairro da consciência, foi se fortalecendo. A primeira comissão
organizada, assim que a UNICIN nasceu, foi a da Cognópolis, envolvendo aos
poucos todas as suas instâncias de conselhos, colegiado e comitês, alcançando o
diálogo com os voluntários da AIEC44.
No documento “Censo da Comunidade Conscienciológica Cosmoética
Internacional (CCCI) – Residentes em Foz do Iguaçu”, de 24 de abril de 2005, havia
o registro de 361 migrantes em Foz do Iguaçu. Havia também uma lista com 30
nomes de voluntários com datas variadas de previsão de mudança para Foz do
Iguaçu, assim como uma outra lista com 11 nomes, sendo 10 de voluntários e 1 de
parente de voluntária, que saíram de Foz do Iguaçu entre 2004 e abril de 2005.

4.1.8.4 IASB

Em 25 de junho de 2005, lançou-se a décima instituição conscienciocêntrica, a


IASB – Associação Internacional de Intercâmbio Acadêmico Sino-Brasileiro. O casal
de voluntários Simone e Kevin de La Tour já vinha realizando atividades acadêmicas
e culturais na China desde 1998, assim como vinham publicando textos sobre a
relação da Conscienciologia com a filosofia chinesa (Confucionismo) em periódicos
acadêmicos chineses e anais de conferências.
O casal participou de eventos na China e em Foz do Iguaçu, chegando a
realizar um evento denominado “I Jornada de Sinologia Intercâmbio Cultural China-
Ocidente”, no dia 07 de março de 2004, no CEAEC, a fim de interagir com a
comunidade chinesa da região da tríplice fronteira.45
Em fevereiro de 2005, o jornal “A Gazeta do Iguaçu” divulgou que o casal de
pesquisadores Simone e Kevin, a convite da Unesco, representando o CEAEC e
“informalmente a cidade de Foz” estavam visitando cidades da China com objetivo
de estreitar as relações do Brasil com aquele país46.

44
CONSCIENCIOCENTER. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 9, n. 28, p. 6, maio 2007.
45
O ORIENTE é logo ali: casal de pesquisadores quer promover proximidade entre culturas oriental e
ocidental dentro da cidade. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 16, n. 4.683, p. 15, 01 mar. 2004.
46
GESING, Leila. Pesquisadores mostram o Brasil para os chineses. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 17, n. 4.967, p. 18, 5 e 6 fev. 2005. Somente a foto desse jornal saiu publicada em outro
periódico local, Jornal do Iguaçu, ano V, n. 1.382, p. 11, 5 fev. 2005, na coluna social.
214

Entre agosto de 2005 e maio de 2006, a IASB distribuiu gratuitamente 1.500


exemplares do livro “Projeciologia” em inglês em território chinês, para professores e
estudantes universitários, em bibliotecas de instituições acadêmicas.47
Ainda nessa linha de intercâmbio cultural China-Ocidente, em outubro de 2005,
foi realizada uma excursão à China com alunos e voluntários da Conscienciologia,
organizada pelos colaboradores Eduardo Martins e Solange Camargos. Eles
levaram 3 anos na organização dessa viagem, explicaram que: “a China é o berço
da Conscienciologia. Foi na China que o filósofo Confúcio, primeiro professor
itinerante do planeta, lançou as bases da Pedagogia moderna (...) mostrou a
importância da Ética (precursora da Cosmoética).” O neto de Confúcio (551–479
a.e.c.), Zi Si (483–402 a.e.c.), aperfeiçoou as bases da Cosmoética há mais de
2.000 anos, continuando os ensinamentos do avô48.
O interesse dos conscienciólogos pelo tema havia levado à tradução do livro “A
Filosofia do Meio”, de Zi Si, para a língua portuguesa, em 2004. Tomou-se como
base a versão inglesa The Doctrine of the Mean elaborada pelo sinólogo britânico
James Legge (1815–1897), que traduziu o livro Zhong Yong, de Zi Si, do chinês.
A tradução do inglês-português foi realizada pela voluntária Elena Kell, a
revisão coube a dez voluntários e a apresentação do livro ao conscienciólogo
Antonio Pitaguari.49
Os recursos levantados com a excursão de 2005 no valor de R$ 39.100,00
foram doados ao CEAEC com a finalidade de dar sustentabilidade ao projeto da
“Enciclopédia da Conscienciologia”, em desenvolvimento no Holociclo50.

4.1.9 Primeira Década do CEAEC

47
IASB. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 125, p. 5, dez. 2005; e TRAZENDO
você até a China... IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 8, n. 24, p. 10, set. 2006.
48
VIAGEM ao berço da Conscienciologia. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 10, n. 119,
p. 4, jun. 2005.
49
Ref.: ZI SI. A Filosofia do meio. Tradução de Elena Kell. 1. ed. Foz do Iguaçu: CEAEC Editora,
2004.
50
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 126,
p. 2, jan. 2006a. O CEAEC, assim como quase todas as instituições conscienciocêntricas, sobrevivem
a partir dos cursos ministrados por seus voluntários. Tomando o Jornal do Campus CEAEC de janeiro
de 2006 como exemplo, no encarte com classificados e a agenda do CEAEC do 1º. Semestre de
2006, dos meses de abril a julho, havia 14 eventos diferentes previstos para ocorrer, uma média de
3,5 eventos por mês. No entanto, eventualmente ocorriam algumas doações, como essa que foi
mencionada.
215

A primeira década do CEAEC constituiu um conjunto de eventos


comemorativos de 10 anos de existência da instituição. O mês de julho de 2005
marcou o fim da primeira gestão da Associação e os 10 anos do CEAEC. Os
voluntários prepararam comemorações, sob a coordenação das voluntárias Nara
Oliveira e Dayane Rossa.
Essa série de eventos foi noticiada no jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, de
09/05/2005, anunciando o que viria acontecer em julho: “Eventos vão ressaltar
aspectos multiculturais da cidade” 51 . Observa-se o apoio da opinião pública aos
voluntários pelos benefícios advindos com os eventos, sobretudo o estímulo ao
estudo.
Na palestra de abertura, realizada no “Espaço das Américas”, anfiteatro
localizado no encontro dos territórios brasileiro, paraguaio e argentino, Waldo Vieira
falou sobre o aniversário da instituição: “Foz do Iguaçu nos recebeu de braços
abertos. É a hora de retribuirmos”52.
O CEAEC programou 6 eventos para homenagear a cidade, durante o período
de 01 a 15 de julho: I Mostra Internacional de Cinema: Multiculturalismo e
Conscienciologia; I Feira Internacional do Livro 53 ; I Expoconsciência; I Fórum de
Diversidade Consciencial: a Diferença Soma54; I Mostra Filatélica e o Aniversário da
1ª. Década no campus CEAEC. Vale ressaltar que “aproximadamente 15 mil
pessoas participaram da 1ª. Feira Internacional do Livro, promovida pela Fundação
Cultural e CEAEC (...) entre os dias 6 e 10, na Praça das Nações.”55.
Nessa palestra de abertura, estiveram presentes 286 pessoas, tendo havido
participação das autoridades locais na cerimônia. Os eventos da “1ª. Década do
CEAEC” tiveram o apoio da Fundação Cultural, Prefeitura de Foz do Iguaçu, Itaipu
Binacional, UDC, Casa do Teatro, Cia. de Teatro Amadeus, Hotel Mabu, Sudário

51
FIGUEIRA, Nelson. Eventos vão ressaltar aspectos multiculturais da cidade. A Gazeta do Iguaçu,
Foz do Iguaçu, ano 17, n. 5.043, p. 20 e 21, 09 maio 2005.
52
PARO, Denise; SANCHEZ, Myriam. Eventos da 1ª. Década valorizam cultura da região trinacional.
Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 10, n. 120, p. 1, jul. 2005.
53
MARTA, Stela. Feira Internacional do Livro começa em Foz do Iguaçu. Jornal do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano VI, n. 1.507, p. 9, 7 jul. 2005.
54
PARO, Denise. Etnias de Foz debatem formas de aproximação: Fórum abre discussão sobre a
convivência de cidadãos de diversas origens. Gazeta do Povo, Curitiba, ano 87, n. 27.652, p. 8, 15
jul. 2005.
55
FEIRA do Livro inicia nova era cultural. Jornal Primeira Linha, Foz do Iguaçu, ed. 832, p. 21, 14 a
20 jul. 2005.
216

Segurança, Boulevard, além de fornecedores do CEAEC, voluntários e instituições


da Conscienciologia56.
Em entrevista ao “Jornal do Campus CEAEC”, Nara Oliveira, responsável pela
visão do projeto “1ª. Década do CEAEC”, afirma que a comunidade
conscienciológica deu início a um terceiro nível de interação social na cidade: o
primeiro é o endógeno, entre as instituições conscienciocêntricas; o segundo seria a
relação profissional dos membros da comunidade conscienciológica na sociedade
iguaçuense; e a terceira seria uma relação direta dos voluntários da
Conscienciologia com a cidade.
Ao final dos eventos, o CEAEC recebeu alguns convites para participar de
modo ativo nas questões locais, como por exemplo: a Associação Comercial e
Cultural de Foz do Iguaçu (ACIFI) convidou o CEAEC para “discutir o impacto
ambiental e sócio-econômico da expansão da rede hoteleira dentro do Parque
Nacional, e para apoiar as negociações sobre o transporte multimodal e logístico da
Baía do Rio Paraná e seus entornos”57.
Concluindo, nesse tópico 4.1 – Associação CEAEC: matriz da territorialidade
conscienciológica, foi visto que novos condomínios residenciais nasceram próximos
ao CEAEC ajudando a promover o assentamento dos voluntários, assim como a
criação de mais 6 instituições conscienciocêntricas em conjunto com a transferência
da sede do IIPC para Foz do Iguaçu que incentivaram o movimento migratório.
O CEAEC atuou como principal ponto de referência da territorialidade
conscienciológica, atraindo os voluntários por meio de habitações e condomínios,
assim como incentivando a criação de novas instituições a partir do planejamento do
plano piloto original.
Ao final da primeira década, pode-se notar incremento da interação da
comunidade conscienciológica com a sociedade iguaçuense.

56
PARO; SANCHEZ, 2005, p. 1.
57
Fonte: OLIVEIRA, Nara. 1ª. Década estabelece novo patamar de interlocução do CEAEC com a
Socin. Entrevista cedida a Antonio Pitaguari. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 10, n.
120, p. 12-13, jul. 2005.
217

4.2 Da Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) ao


Bairro Cognópolis

Nesse segundo tópico, a expansão institucional e territorial continuará até a


formação do bairro, abrangendo o período de 2005 até 2009. Dentro desse contexto,
serão expostos: 4.2.1 O conceito de comunidade conscienciológica cosmoética
internacional; 4.2.2 Fundação de 8 instituições conscienciológicas; 4.2.3 Primeira
Convenção da CCCI; 4.2.4 Projeto Cognópolis; 4.2.5 Carta aberta à população de
Foz do Iguaçu; 4.2.6 Placas de sinalização “Conscienciologia” nas ruas de Foz do
Iguaçu; 4.2.7 O terreno do Villa conscientia Asa Sul e o campus da Assinvéxis; 4.2.8
Conscienciologia no shopping; 4.2.9 Fundação do bairro Cognópolis.

4.2.1 O conceito de Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional

A definição de comunidade conscienciológica proposta pelo propositor da


Conscienciologia surgiu em 2004. Na Revista Conscientia, publicação do CEAEC,
de out./dez. 2004, mas publicada provavelmente em julho ou agosto de 2005, existe
um artigo de Waldo Vieira intitulado “Estratégias Conscienciológicas no Século XXI”,
páginas 223-228, onde o autor utiliza, pela primeira vez, a expressão “Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI)”.
Essa expressão havia sido usada no Estatuto da UNICIN e estava sendo citada
pelos voluntários, mas ainda não havia sido publicada. Vieira58 define a CCCI assim:

é o agrupamento populacional de consciências sem restrição


geográfica, caracterizado por forte coesão com base no
Universalismo, Cosmoética e Maxifraternidade vivenciados e
constituindo holopensene 59 catalisador da realização da
maxiproéxis60 grupal, através do sinergismo gerado pela coexistência

58
VIEIRA, Waldo. Estratégias Conscienciológicas no Século XXI. Conscientia, Foz do Iguaçu, vol. 8,
n. 4, de out./dez. 2004, p. 224.
59
Holopensene é um neologismo da Conscienciologia. O vocábulo é composto da união de
fragmentos de algumas palavras: holo = conjunto; pen = primeira sílaba de “pensamento”; sen =
primeira sílaba de “sentimento”; e = primeira sílaba de “energia”. Assim, holopensene significa o
conjunto de pensamentos, sentimentos e energias.
60
Maxiproéxis é um neologismo da Conscienciologia. O termo é formado pela união de fragmentos
das seguintes palavras: maxi = primeira e segunda sílabas de “máxima”; pro = primeira sílaba de
“programação”; exis = primeira sílaba de “existencial”. Maxiproéxis significa programação ou projeto
de vida ou de existência, máxima ou a maior, ou seja, dedicada conscientemente ao bem da
coletividade (Fonte: VIEIRA, Waldo. Manual da Proéxis. 2. Ed. Rio de Janeiro: IIPC, 1998, p. 17).
218

pacífica e confluência de esforços em prol da evolução consciencial


lúcida, segundo a perspectiva do paradigma consciencial.

Em sequência, explica que a “CCCI é bem conscienciológico ainda mais amplo


se comparada à União das Instituições Conscienciocêntricas Internacionais
(UNICIN),” pois a UNICIN foi “criada para dinamizar, facilitar e equilibrar as
interações e decisões comuns das Instituições Conscienciocêntricas (ICs)”61.
A partir de então, Vieira passa a utilizar somente a expressão “Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI)” nos seus livros e textos. E mais
instituições passam a ser criadas.

4.2.2 Fundação de 8 instituições conscienciológicas (2005 a 2008)

Nesse subtópico, são apresentadas as novas instituições criadas entre julho de


2005 e 2008. Foram fundadas mais 8 instituições conscienciocêntricas, continuando
a contagem da 11ª. a 18ª. IC, enumeradas no Quadro 06, a seguir:

61
VIEIRA, 2004, p. 224.
219

Quadro 06 – Instituições Conscienciocêntricas fundadas entre Julho/2005 a 2008


N. Nome da Instituição Local Data de Grande Área de
Fundação Atuação
62
11 INTERCAMPI - Associação Natal (RN) 23/07/2005 Divulgação da
Internacional dos Campi de Conscienciologia no
Pesquisa da Conscienciologia Nordeste
12 COMUNICONS - Associação Foz do 24/07/2005 Divulgação da
Internacional de Comunicação Iguaçu (PR) Conscienciologia pelo
Conscienciológica Cinema
13 CONSCIUS* - Associação Foz do 24/02/2006 Autoavaliação e
Internacional de Conscienciometria Iguaçu (PR) reflexão íntima, além
Interassistencial de heteroavaliação
14 EVOLUCIN - Associação Porto 09/07/2006 Público: crianças 0 a
Internacional de Conscienciologia Alegre (RS) 12 anos de idade e
para Infância seus pais
15 APEX - Associação Internacional Foz do 20/02/2007 Propósito e projeto de
da Programação Existencial Iguaçu (PR) vida
16 DISCERNIMENTUM – Pólo Foz do 14/10/2007 Campus da embaixada
Conscienciocêntrico Iguaçu (PR) das ICs e ECs
Discernimentum
17 REAPRENDENTIA - Associação Foz do 21/10/2007 Parapedagogia e
Internacional de Parapedagogia e Iguaçu (PR) Reeducação
Reeducação Consciencial
18 UNIESCON - União Internacional Foz do 23/11/2008 Escrita e livros sobre
de Escritores da Iguaçu (PR) Conscienciologia
Conscienciologia
Fontes: criado pela autora com base nas fontes do livro “Projeções Assistenciais”, de
Marilza de Andrade (2018, p. 258-261)63; do livro “Manual da Tenepes” de Waldo
Vieira (2011, p. 146) e DISCERNIMENTUM. UNICIN. Portfolio do Bairro Cognópolis
(2011)64.

62
A Intercampi conseguiu publicar regularmente artigos em uma coluna fixa sobre Conscienciologia
no “O Jornal de Hoje”, de Natal. Foram encontrados 221 artigos no período de 2006 a 2013 no
departamento Holociclo, no CEAEC, em Foz do Iguaçu.
63
ANDRADE, Marilza de. Projeções assistenciais. Foz do Iguaçu: Editares, 2018.
64
DISCERNIMENTUM; UNICIN. Portfolio do Bairro Cognópolis. Foz do Iguaçu: Discernimentum e
UNICIN, 2011.
220

*A CONSCIUS foi a primeira instituição sobre a qual encontrei registro dela ter
passado pela assessoria da UNICIN para sua constituição. Alguns voluntários que
tinham fundado o Colégio Invisível da Conscienciometrologia em 200265 e já vinham
escrevendo sobre autavaliação e o conscienciograma, procuraram a UNICIN que os
orientou para formalizarem uma “pré-instituição conscienciocêntrica” ou “pré-IC”.
Foi elaborado um ante-projeto da pré-IC que foi encaminhado à UNICIN e ao
Waldo Vieira. Menos de 2 meses depois, a “IC” foi fundada. A CONSCIUS também
se instalou no mesmo prédio comercial em que as demais instituições da
Conscienciologia já se encontravam no centro de Foz do Iguaçu.66 A CONSCIUS foi
fundada no último dia da I Convenção da CCCI.

4.2.3 Primeira Convenção da CCCI

A I Convenção da CCCI67 ocorreu entre 17 a 24 de fevereiro de 2006. Contou


com mais de 400 participantes provenientes de 8 países. A programação de eventos
previu I Fórum do Estado Mundial, o Lançamento do Projeto Cognópolis, o
lançamento da pedra fundamental do campus da OIC, apresentação dos trabalhos
em andamento de cada IC, apresentação dos Colégios Invisíveis da
Conscienciologia68 e apresentação do Censo da CCCI realizado pela UNICIN.

65
BUONONATO, Flávio. Anuário da Conscienciologia 2013. Foz do Iguaçu: Editares, 2014.
66
Fonte: PARO, Denise. Conscius aprimora pesquisa da Conscienciometria. Jornal do Campus
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 127, p. 1, fev. 2006.
67
As informações sobre a I Convenção da CCCI foram retiradas das seguintes fontes: PITAGUARI,
Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 126, p. 2, jan.
2006a. E o folheto com a Programação das Atividades da I Convenção da CCCI.
68
Proposta pelo voluntário Roberto Almeida (2000, p. 196), “é uma organização grupal, não-
institucionalizada, de uma ciência, formada por pesquisadores que trabalham numa linha de
conhecimento ou especialidade científica. É a comunidade científica multidimensional e informal com
vínculo consciencial pela ideia pesquisada, sendo implementada na prática pela comunicação efetiva
(...) e por encontros assíduos entre seus membros.” A expressão “colégio invisível” é de autoria de
Robert Boyle (1627-1691), sendo considerada a predecessora informal da Royal Society. De modo
prático, os colégios invisíveis da Conscienciologia seriam grupos de pesquisadores das
especialidades da Conscienciologia que promovem encontros assíduos virtuais e presenciais com
objetivo de comunicarem suas investigações. Estão além das ICs e são compostos por
pesquisadores independentes e de várias instituições conscienciocêntricas. Fonte: ALMEIDA,
Roberto. Colégios Invisíveis da Conscienciologia. Conscientia, vol. 4, n. 3, p. 196-201, jul./set., 2000.
Disponível em: http://www.ceaec.org/index.php/conscientia/article/view/446/433. Acesso em: nov.
2019.
221

Segundo as voluntárias da UNICIN, Ana Luiza Rezende e Eliane Wojslaw69,


organizadoras da I Convenção da CCCI, esse evento veio preencher a lacuna da
visão de conjunto da Conscienciologia, devido ao crescente trabalho voluntário
desenvolvido pela comunidade conscienciológica.
Esse crescimento se reflete nos seguintes números (Data-base: Fevereiro,
2006): 13 instituições conscienciocêntricas (ICs), 17 empresas conscienciológicas
(ECs), 5 Colégios Invisíveis, 6 Campi de ICs, 1.262 voluntários ativos da
Conscienciologia nas ICs, 17 autores da Conscienciologia, 1 Holociclo, 1 Holoteca e
a UNICIN. Por isso, foi necessário criar esse evento para se atualizar de tudo que
estava em andamento da Conscienciologia no Brasil e no mundo. O que existia
antes era o evento chamado de “Congraçamento das ICs”, que iria passar a fazer
parte da Convenção da CCCI, a partir de 2007.
O Censo da Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI)
feito pela UNICIN englobou todos os voluntários ativos da Conscienciologia, não
apenas aqueles moradores de Foz do Iguaçu. Esse censo não é o mesmo do que
vem sendo realizado pelo Holociclo, no CEAEC. O censo da UNICIN abrange todos
os voluntários nacionais e internacionais, enquanto que, no censo realizado pelo
Holociclo, o foco é somente Foz do Iguaçu, com a diferença de incluir, além dos
voluntários, seus parentes.
Os resultados do Censo da UNICIN foram apresentados em um documento em
fevereiro de 2006, no qual se mencionava que havia 1.262 voluntários, constituindo
o universo da pesquisa. Não foi mencionada a forma de aplicação do questionário,
se online ou físico.
Alguns resultados direcionados para Foz do Iguaçu foram: quanto à cidade
onde residiam, 594 pessoas responderam, sendo 187 em Foz do Iguaçu (31,4%);
quanto aos objetivos em Foz do Iguaçu, devido ser uma questão aberta, das 175
respostas, houve 7 categorias de respostas se referindo ao “voluntariado” em
alguma instituição conscienciocêntrica, somando 80 respostas, seguido por “outros”
com 70 respostas, 15 respostas “realização da proéxis” (programação existencial ou
projeto de vida), 6 respostas “Conscienciologia” e 4 respostas “trabalho”70.

69
REZENDE, Ana Luiza; WOSJLAW, Eliane. I Convenção da CCCI. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano
8, n. 23, p. 11, mar. 2006.
70
REZENDE, Ana Luiza. SPERRY, Daniel. BUENO, Ruy. (Orgs,). Censo da CCCI 2006. Foz do
Iguaçu: UNICIN, 2006, p. 4, 9, 11, 13.
222

No documento “Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional


(CCCI) em Foz do Iguaçu”, de 27 de maio de 2006, havia 479 nomes, entre
voluntários e parentes. Em um anexo, o levantamento de pessoas que saíram de
Foz do Iguaçu entre 2001 a 2006, constavam 42 pessoas. E em outro anexo, de
previsão de chegada, havia 19 pessoas.
Na I Convenção da CCCI, foi lançada a 1ª. etapa do Projeto Cognópolis.

4.2.4 Projeto Cognópolis

Nesse subtópico será dado destaque para o projeto da Cognópolis. A 1ª. etapa
do Projeto Cognópolis foi realizada pela Comissão Técnica de Arquitetos da UNICIN.
Consistia inicialmente em adquirir um terreno a ser dividido em 3 áreas: institucional,
residencial e comercial. A adesão dos presentes na compra de 60 lotes de 300 m2,
pelo valor de R$ 10.000,00 à vista, proposta pela Associação Internacional para a
Expansão da Conscienciologia (AIEC) superou as expectativas de venda,
viabilizando a compra de um terreno de 125 mil m2, localizado ao lado da área da
OIC71.
A AIEC havia realizado um contrato de “opção de compra”, ou seja, se
comprometendo com o proprietário do terreno a adquiri-lo em um certo prazo e em
determinadas condições de pagamento. Com a meta não só atingida, mas superada,
foi possível comprar o terreno e em seguida, vendê-lo para a OIC, que manifestava
interesse e já se mobilizava nesse sentido. Devido ao sucesso de vendas dos
terrenos aos voluntários, viu-se a necessidade de adquirir mais terrenos com a
finalidade residencial. Como o terreno foi vendido para OIC, transferiu-se a proposta
das 3 áreas para novos terrenos.72
Surgiu a oferta de um segundo terreno. A proposta foi avaliada pelos
voluntários da UNICIN e da AIEC e teve início a 2ª. etapa do Projeto Cognópolis,
que previa nova aquisição de terreno com uma área maior. E para isso, a AIEC iria

71
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 126,
2006a, p. 2; e informações verbais obtidas com Cesar Cordioli, presidente da AIEC. A menção do
nome foi autorizada pelo informante.
72
De posse dos jornais internos, busquei esclarecimento com Cesar Cordioli, presidente da AIEC, a
respeito da aquisição dos terrenos nos anos de 2006 e 2007, o qual me atendeu prontamente, me
explicando o processo, no dia 07/10/2019, na sede da AIEC. A menção do nome foi autorizada pelo
informante.
223

oferecer mais 70 lotes de 300m2 aos voluntários da comunidade conscienciológica,


pelo valor de R$ 14.400,0073. Essa 2ª. etapa foi lançada no dia 21 de abril de 2006.
No dia 15 de junho, a comunidade conscienciológica foi informada pela UNICIN
da ampliação do empreendimento-âncora da Cognópolis, agora denominado
“Conscienciocenter”74 que seria “o condomínio residencial, empresarial, comercial e
cultural” 75 . Para a aquisição desse segundo terreno, que seria o condomínio
residencial Villa Conscientia Asa Norte (parte do Conscienciocenter), também foi
feito um contrato de “opção de compra” com os proprietários.
Em 15 de dezembro de 2006, nova etapa do Conscienciocenter foi lançada no
CEAEC, quando a UNICIN (incubadora do projeto) transferiu a administração do
empreendimento para a AIEC. Nessa ocasião foi apresentado o anteprojeto do
condomínio residencial Villa Conscientia, posicionado no “Complexo
Conscienciocenter”, sendo oferecidos lotes a preços promocionais e também
descontos para aqueles já proprietários interessados em ampliar o tamanho dos
lotes anteriormente adquiridos76.
Nessa mesma data, o documento “Comunidade Conscienciológica Cosmoética
Internacional (CCCI) em Foz do Iguaçu” acusava 493 pessoas. No levantamento em
anexo sobre as pessoas que saíram de Foz entre 2001 e 2006, havia 51 nomes. E
com previsão de mudança para Foz, havia 18 pessoas.
Depois apareceu a terceira oferta de terreno, limítrofe com CEAEC, que com a
venda das chácaras (terrenos maiores) do condomínio residencial Villa Conscientia
Asa Norte, foi possível viabilizar de modo mais rápido a sua compra. Posteriormente,
esse terreno limítrofe com CEAEC foi denominado de Discernimentum, que
originalmente também seria parte da área do “Conscienciocenter”, dedicada à
embaixada das Instituições Conscienciocêntricas (ICs). O terreno do
Discernimentum localiza-se do outro lado do terreno II do CEAEC (onde estão os
chalés residenciais), na esquina das ruas Felipe Wandscheer e Maria Bubiak. Ele
era o local da antiga Churrascaria Cabeça de Boi.
No total, com a aquisição desses terrenos, houve a ampliação do campus da
OIC, mais o novo campus do Discernimentum com 160.000m2 e o

73
PITAGUARI, 2006a, p. 2.
74
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 11, n. 128,
p. 4, mar. 2006b.
75
Prospecto “Conscienciocenter”, da UNICIN, 2006.
76
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 12, n. 137,
p. 4, dez. 2006c.
224

“Conscienciocenter” com 320.000m2. Estes novos empreendimentos somados aos já


existentes, ou seja, ao campus CEAEC e aos condomínios Campo dos Sonhos,
Serenologia, Cosmoética, Evolução e Rose Garden77, alcançaram uma extensão de
mais de 1 milhão de metros quadrados78.
Em um caderno especial sobre a Cognópolis do jornal interno “IIPC News”
(maio, 2007), consta o objetivo geral do projeto: “consolidar a 1ª. Cognópolis no
planeta, através de um empreendimento que agregue moradia, saúde, educação,
segurança, trabalho, voluntariado, ecologia, ciência, turismo e cultura,” à população
de Foz do Iguaçu, à região trinacional e à CCCI79.
Assim, a proposta do empreendimento do Conscienciocenter estava alinhada
com a filosofia da Cognópolis, tendo como base o artigo “Cognópolis” de Vieira no
Informativo do CEAEC de 1997, citado no início do capítulo. A diferença entre o
Conscienciocenter e o Discernimentum é que o primeiro seria um condomínio
empresarial (serviços), comercial (lojas), residencial (chácaras) e cultural (centro
cultural) enquanto que o segundo seria as embaixadas das instituições
conscienciocêntricas (ICs)80.
Em 25 de março de 2007, foi inaugurado o Discernimentum, condomínio de
embaixada das ICs, mas também para empresas conscienciológicas (ECs). As
obras para reforma do espaço foram coordenadas pela Associação Internacional
para Expansão da Conscienciologia (AIEC). Concomitante com a inauguração desse
novo espaço, o IIPC transferiu sua sede que estava num prédio comercial no centro
de Foz do Iguaçu para o Discernimentum 81 . Começou assim, aos poucos, a
transferência das salas de algumas ICs e ECs do centro da cidade para o
Discernimentum.

4.2.5 Carta Aberta à População de Foz do Iguaçu

77
Nome do condomínio proposto no terreno da Organização Internacional de Consciencioterapia
(OIC).
78
BONASSI, João Aurélio. Cognópolis – a Cidade do Conhecimento. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano
9, n. 28, p. 5, maio 2007.
79
OBJETIVOS da Cognópolis. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 9, n. 28, p. 06, maio 2007.
80
CONSCIENCIOCENTER. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 9, n. 28, p. 6-7, maio 2007.
81
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI: Inauguração do Discernimentum. Jornal do Campus
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 12, n. 139, p. 4, fev. 2007a; e INAUGURAÇÃO do Discernimentum: 25
de março, uma data especial e histórica. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 9, n. 28, p. 8 e 10, maio
2007.
225

Com o aumento da migração, compra de terrenos e inserção dos voluntários no


mercado de trabalho local, começaram boatos a respeito da Conscienciologia. O que
levou a diretoria do CEAEC a redigir uma carta e publicá-la no principal periódico
local. No jornal “A Gazeta do Iguaçu”, de 13 de fevereiro de 2007, a Diretoria do
CEAEC publicou duas páginas (p. 18 e 19), ao modo de uma Carta Aberta à
População de Foz do Iguaçu, intitulada “Conscienciologia: Esclarecimento e
Convite”82.
Nesse comunicado, convida todos os interessados a conhecer diretamente a
Conscienciologia. E justifica tal informe “devido à série de informações infundadas e
distorcidas propagadas a respeito da filosofia e procedimentos da instituição e de
seus voluntários”. São 3 afirmações inverídicas segundo a carta: 1) De que a
Conscienciologia seria uma seita; 2) De que a instituição teria manobras espúrias
junto ao poder público com objetivo de auferir vantagens; 3) De que a
Conscienciologia seria contra crianças.
A carta possui basicamente duas partes: uma primeira com os contra-
argumentos e uma segunda com as estatísticas da instituição e posicionamentos
político-filosóficos dos conscienciólogos. O trecho da carta que expõe os contra-
argumentos será apresentada a seguir de modo resumido.
Sobre a primeira questão, foram arrolados 10 argumentos expondo que a
Conscienciologia não é uma seita, os 6 primeiros contra-argumentaram o conceito
de seita como grupo fechado de pessoas.
Eis os argumentos. O primeiro argumento é que o CEAEC é aberto a quaisquer
interessados, recebendo regularmente visitantes, sejam alunos de escolas públicas
ou particulares, ou universitários.
O segundo é que o CEAEC disponibiliza a Holoteca (biblioteca, gibiteca,
videoteca, miniaturoteca dentre outras) à comunidade iguaçuense.
O terceiro cita que o CEAEC, na ocasião da 1ª. década, em 2005, realizou
junto com a Prefeitura a “I Feira Internacional do Livro” que contou com a
participação de organizações de diferentes formações filosóficas, religiosas e
políticas.
O quarto argumento é um complemento do anterior, pois na mesma ocasião da
1ª. década do CEAEC, esta instituição promoveu o “I Fórum de Diversidade

82
DIRETORIA do CEAEC. Conscienciologia: esclarecimento e convite. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 18, n. 5.576, p. 18-19, 13 fev. 2007.
226

Consciencial: a Diferença Soma”, evento com a presença de múltiplas


nacionalidades, inclusive a Guarani.
O quinto é que o CEAEC promove eventos gratuitos, por exemplo as tertúlias
diárias de 12h30 às 14h30, transmitidas pela internet, além das palestras gratuitas
realizadas pelas demais instituições conscienciológicas.
E o sexto é que o IIPC possuía o título de Utilidade Pública Federal, desde
1998, ou seja, era uma instituição comprovadamente prestadora de contribuições
sociais ao público em geral. O IIPC transferiu sua sede para Foz do Iguaçu em 2004.
A Diretoria do CEAEC também contra-argumentou o entendimento de seita
como teoria de determinado mestre com inúmeros seguidores, sendo o vínculo
fundamentado na relação de dependência intelectual e afetiva, assentado no
dogmatismo, a partir de 4 afirmações.
A primeira é que o campus CEAEC possui 17 laboratórios de autopesquisa, a
partir de verdades relativas.
A segunda é que o dogmatismo não faz parte da cultura da instituição que
estimula o pensamento crítico, por exemplo, pelo curso “Imersão Heterocrítica de
Obra Útil”83 no qual se realiza a leitura, a análise e a crítica de um livro de modo
coletivo.
A terceira afirmação é de que não há nenhuma prática de adoração ou culto à
personalidade viva ou histórica, pelo contrário, é estimulado o conhecimento de
personalidades de diversas áreas científicas, filosóficas, religiosas e artísticas
através da exposição permanente da Aleia dos Gênios da Humanidade.
A quarta é que a principal diretriz filosófica do CEAEC e das demais instituições
conscienciológicas é o “Princípio da Descrença”, colocado em placas nas salas de
aula, nos livros e nos departamentos institucionais: “não acredite em nada. Nem

83
Esse curso teve sua primeira edição nos dias 28/07 a 01/08/1999, de quarta a domingo, promovido
pelo Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC), no South American
Copacabana Hotel, no Rio de Janeiro (RJ). Participaram 69 alunos e 8 monitores. O objetivo é a
aceleração da aprendizagem intelectual a fim de ampliar o discernimento pessoal. Durante o curso
foram elaboradas resenhas críticas de dois livros técnicos analisados e debatidos entre os alunos e
com os próprios autores (Fonte: VIEIRA, Waldo. Imersão Heterocrítica de Obras Úteis. Conscientia,
vol. 3, n. 1, jan./mar. 1999, p. 7-9). Três meses depois da publicação da carta, realizou-se mais uma
edição desse curso. O livro escolhido, debatido e criticado foi “História Universal da Destruição dos
Livros”, de Fernando Báez. O autor foi convidado a vir à Foz do Iguaçu e veio participar do debate
sobre seu livro com 100 alunos (Fonte: FIQUEIRA, Nelson. Conferência aborda efeitos da destruição
de livros à humanidade. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 19, n. 5.656, p. 8, 19 e 20 maio
2007).
227

mesmo no que lhe informarem aqui no CEAEC. Experimente. Tenha suas próprias
experiências.”
Sobre a segunda questão de que a instituição teria manobras espúrias junto ao
poder público com objetivo de auferir vantagens, foram expostos 5 contra-
argumentos.
O primeiro é de que o CEAEC não tem fins lucrativos, não distribui dividendos,
não remunera seus administradores, sendo o resultado financeiro revertido para o
desenvolvimento da própria instituição.
O segundo é que o CEAEC não recebe dotação municipal, estadual, federal ou
internacional. O patrimônio provém de cursos e publicações dos voluntários.
O terceiro afirma que o CEAEC é de natureza “não político-partidária”, não
tendo cunho político, religioso ou místico, de acordo com seu Estatuto social.
O quarto cita que o CEAEC vem recebendo todas as lideranças e grupos
políticos-partidários visitantes, às vezes opositores entre si.
O quinto menciona que o CEAEC também recebe visita de outros tipos de
organizações políticas como associações de natureza comercial, industrial e
educacional.
Sobre a terceira afirmação, de que a Conscienciologia seria contra crianças,
foram apresentados 4 contra-argumentos.
O primeiro é que, dentre as 14 instituições conscienciológicas, da época, já
existia a Evolucin, especializada em educação infantil, que em 2007 ainda tinha a
sede em Porto Alegre, porém posteriormente transferiu-a para Foz do Iguaçu.
O segundo afirma que o CEAEC e as outras instituições promovem cursos
voltados para crianças.
O terceiro posiciona que a Conscienciologia, dentre os milhares de temas de
pesquisa, estuda a antimaternidade voluntária. Tal atitude é um fenômeno crescente
no mundo, conhecido como movimento childfree ou childless 84 , de pessoas que
optaram e optam por não terem filhos e desejosos de poderem exercer o direito de

84
Childless significa “sem filhos” e não define se a intenção é voluntária ou não. Esse termo é mais
neutro do que childfree, “livre de filhos”, que indica a vontade de não ter filhos (Fonte: BADINTER,
Elisabeth. O Conflito: a mulher e a mãe. Trad. Vera Lucia dos Reis. Rio de Janeiro: Record, 2011, p.
161). Sobre o tema, ver também as seguintes fontes: SAFER, Jeanne. Além da maternidade. Trad.
Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Mandarim, 1997. Ou ainda, em língua inglesa: LISLE, Laurie.
Without Child: challenging the stigma of childlessness. New York: Routledge, 1999; MANTEL,
Henriette (Ed.). No Kidding: women writers on bypassing parenthood. Berkeley, CA: Seal Press, 2013.
228

não tê-los. “Daí dizer a opção de não querer filhos ser contra crianças constitui-se
tremenda distorção”.
O quarto contra-argumento é que vários voluntários adotam a antimaternidade
como estilo de vida, por livre vontade, embora outros voluntários não, existindo
casais de voluntários com filhos frequentadores do CEAEC e demais instituições.
Tal carta sinalizou que havia uma subinformação ou desinformação85 por parte
da sociedade iguaçuense em relação aos propósitos do CEAEC.
O modo de interagir com a população local por meio de carta aberta no jornal
não era novidade para os iguaçuenses. Encontrei duas cartas abertas escritas pelo
empresário Fouad Mohamad Fakih, nos dias 18/12/2006 e 22/12/2006, no jornal “A
Gazeta do Iguaçu”86, ou seja, 2 meses antes da carta do CEAEC.
As duas cartas tratavam de um pedido de diagnóstico para Tríplice Fronteira
Argentina-Brasil-Paraguai, em função da crise econômica e social aguçada nesse
período, em função de questões fronteiriças, tais como o contrabando, o tráfico de
drogas, o aumento da violência, o desemprego, a suspeita de terrorismo, dentre
outros. E também uma necessidade de cobrar responsabilidades e respeito das
autoridades locais.
Também pesquisei o jornal “A Gazeta do Iguaçu” nas edições posteriores a
publicação da carta, de 14/02/2007, quarta-feira, até 19/02/2007, segunda-feira, não
tendo encontrado nenhuma nota nem comentário nesse periódico a respeito do
conteúdo da Carta Aberta do CEAEC.

4.2.6 Placas de sinalização “Conscienciologia” nas ruas de Foz do Iguaçu

Nesse subtópico, serão expostas as placas de rua indicando a localização da


Conscienciologia no município. Tal notícia saiu divulgada no jornal interno do
CEAEC, em maio de 2007.”87 (ver figura 13). O que sugere que essas placas foram
colocadas no início do ano, após a efetivação da compra dos terrenos no entorno do
CEAEC, indicando talvez uma possível relação entre tais fatos, e depois também da

85
Entende-se subinformação no sentido de uma informação parcial ou pela metade, e desinformação
seria a informação errônea por interpretação equivocada.
86
FAKIH, Fouad Mohamad. É hora de cobrar responsabilidades e respeito. A Gazeta do Iguaçu, Foz
do Iguaçu, ano 18, ed. 5.530, p. 16-17, 18 dez. 2006; e FAKIH, Fouad Mohamad. Por que o
diagnóstico? A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 18, ed. 5.534, p. 7, 22 dez. 2006.
87
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 12, n. 142,
p. 4, maio 2007b.
229

publicação da Carta Aberta pela Diretoria do CEAEC, o que também pode ter tido
algum efeito de esclarecimento sobre o poder público local.

Figura 13 – Fotografia da placa de rua sinalizando a localização da


“Conscienciologia” na Rodovia das Cataratas, em Foz do Iguaçu

Fonte: fotografia tirada pela autora em 20 de julho de 2019.

A rodovia das Cataratas é um dos principais acessos de quem vem do


aeroporto para o centro da cidade e também da Argentina. Se a pessoa interessada
pegar a conversão à direita obedecendo a placa da rodovia das Cataratas, ela vai
entrar na avenida Iguaçu, onde, ao final, se localiza mais uma placa.
Depois, fazendo a conversão à direita, obedecendo a segunda placa, a pessoa
interessada em visitar o CEAEC e a Conscienciologia, irá entrar na rua Felipe
Wandscheer, a qual seguindo reto por um longo trecho, encontrará uma terceira
placa, indicando a entrada da rua da Cosmoética, onde se localiza o CEAEC. A
distância do CEAEC ao centro de Foz do Iguaçu é de aproximadamente 8km.
230

O universo linguístico-cognitivo da Conscienciologia vem ocupando placas de


rua, nomes de rua88, nomes de condomínios em Foz do Iguaçu, em nível local, mas
também já atingiu o âmbito nacional.
No primeiro semestre de 2010, foi lançado o “Grande Dicionário Sacconi da
Língua Portuguesa: comentado, crítico, enciclopédico”, de Luiz Antonio Sacconi,
pela editora Nova Geração, de São Paulo. Tal léxico trouxe entre seus verbetes, os
seguintes termos conscienciológicos: conscienciologia; evoluciologia; evoluciológico;
evoluciólogo; holossoma; holossomático; pensenologia; pensenológico;
Projeciologia; projeciológico; psicossoma.
Foi a primeira vez que termos conscienciológicos (neologismos) foram
registrados em obra de referência da Língua Portuguesa, cujo autor não tem relação
com a Conscienciologia. Luiz Antonio Sacconi levou 27 anos escrevendo esse
léxico. Ele era professor de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo
(USP), tendo escrito mais de 70 obras voltadas para o estudo e ensino do nosso
idioma89.

4.2.7 O terreno do Villa Conscientia Asa Sul e o campus da Assinvéxis

Em maio de 2007, houve a quarta oferta de terreno e sua aquisição, localizado


ao lado do Villa Conscientia – Asa Norte.
A compra desse terreno foi viabilizada pela parceria estabelecida entre a AIEC
e a Assinvéxis, com o apoio do IIPC. A parceria associava a venda dos terrenos do
condomínio residencial Villa Conscientia – Asa Sul à compra do terreno do campus
da Invexologia.
A AIEC estabeleceu o contrato de “opção de compra” com os proprietários do
terreno, contando que a Assinvéxis iria levantar o dinheiro a partir da venda dos

88
O nome da rua onde se situa o CEAEC passou a se chamar rua da Cosmoética, por sugestão de
Waldo Vieira, tendo sido aprovada pela Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu, por meio da Lei N.
2.240, sancionada pela Prefeitura no dia 15 de setembro de 1999 (Fontes: RUA da Cosmoética é
reurbanizada. Jornal do CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 07, n. 81, p. 1, abr. 2002 e LEI No. 2240 de 15
de setembro de 1999, altera a denominação da rua do Ipês para rua da Cosmoética. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/a/pr/f/foz-do-iguacu/lei-ordinaria/1999/224/2240/lei-ordinaria-n-2240-
1999-altera-a-denominacao-da-rua-do-ipes-para-rua-da-cosmoetica?q=2240>. Acesso em: 02 nov.
2019, às 14h26).
89
SACCONI, Luiz Antonio. Grande Dicionário Sacconi. São Paulo: Nova Geração, 2010; e
CAPORALI, Cathia; e WOJSLAW, Eliane. Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa: uma
contribuição ao esclarecimento e ao desenvolvimento intelectual. Revista Holotecologia, Foz do
Iguaçu, n. zero, p. 167-169, 2013.
231

lotes residenciais. A partir de então, voluntários da Assinvéxis realizaram viagens


para venda dos lotes residenciais pelas unidades ou centros educacionais do IIPC
pelo Brasil.
Com o apoio do IIPC, foi possível a Assinvéxis vender mais de 200 lotes,
garantindo a aquisição do terreno que foi dividido: parte do terreno para o campus
da Assinvéxis e a outra parte para o Villa Conscientia – Asa Sul por intermédio da
AIEC90.
Na figura 14 a seguir, no canto direito, está sinalizado o campus da Invexologia
e o terreno do Villa Conscientia – Asa Norte e Asa Sul, sem o limite de separação.

Figura 14 – Áreas da Conscienciologia na Cognópolis, julho de 2008

Fonte: Jornal da Invéxis, Foz do Iguaçu, ano 14, n. 19, p. 7, abr. 2008.

Um ano e dois meses depois da aquisição do terreno, em 16 de julho de 2008,


houve a inauguração do campus de Invexologia, dedicado aos estudos da técnica da
inversão existencial, sob os cuidados da instituição Assinvéxis. A inauguração do
campus fez parte das atividades pedagógicas e comemorativas que duraram 1
semana e contou com cerca de 150 pessoas.91
Ainda em 29 de maio de 2007, segundo o documento “Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) em Foz do Iguaçu”, 507
pessoas haviam migrado para Foz do Iguaçu pela Conscienciologia. Nessa data, foi

90
CONDOMÍNIO Residencial Villa Conscientia. Jornal da Invéxis, Foz do Iguaçu, ano 14, n. 19, p. 7-
8, abr. 2008; e Ata do Conselho das ICs N. 43, de 10/06/2007, página 117 (documento da UNICIN).
91
INAUGURAÇÃO do campus da Invexologia. Jornal Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 13, n.
154, p. 3, maio 2008.
232

a primeira vez que a lista da CCCI-Foz do Iguaçu foi afixada em algum local público
do CEAEC com objetivo de a própria comunidade fazer a revisão dos dados. Um
dos anexos indica que 63 pessoas saíram de Foz entre 2001 e 2007 e em outro
anexo, havia 15 nomes com previsão de mudança para Foz.

4.2.8 Conscienciologia no Shopping

Ainda em 2007, voluntários da Conscienciologia alugaram um estande de


divulgação no shopping. Em outubro, foi inaugurado o primeiro shopping de Foz do
Iguaçu, o Shopping Cataratas JL, sendo solicitado por iniciativa da voluntária
Cynthia Braga um espaço para divulgação da Conscienciologia.
O estande foi cedido a um preço com desconto, visando uma parceria e um
bom negócio para ambas as partes, para que o shopping não abrisse com espaços
vazios. O espaço foi disponibilizado por 4 meses, não pertencendo a uma instituição
conscienciológica específica, mas para divulgação da Conscienciologia em geral. O
estande passou a ser chamado de “Expoconscienciologia”.
Os custos com o uso do espaço foram rateados entre as instituições da
Conscienciologia. Além do estande, também havia uma pequena vitrine para
exposição de artefatos do saber e divulgação do acervo da Holoteca.92
De 31/10/2007 até 08/01/2008, 830 pessoas foram atendidas no estande,
sendo destacadas algumas frases citadas pelos visitantes: “Isso é uma faculdade?”;
“Nunca vi algo parecido”; “Como faço para ser voluntário?”; “É aberto?”93 Devido ao
trabalho da divulgação e esclarecimento sobre a Conscienciologia, foi decidido
renovar o contrato por 4 meses, com o apoio de empresas conscienciológicas.94
A matéria realizada pelo Jornal Campus CEAEC (fev. 2008) sobre o tema,
informa que no período de 3 de fevereiro a 8 de maio de 2008, foram recepcionadas
711 pessoas de 11 países e 11 estados brasileiros.
Na ocasião dessa matéria, havia 20 voluntários fixos e alguns eventuais
colaborando em 3 turnos: manhã, tarde e noite. Segundo a voluntária que assumiu a
coordenação dessa atividade desde abril de 2008, a argentina Natalia Amêndola, “o
Expoconscienciologia ajuda a divulgar e a desmistificar a Conscienciologia”, pois a

92
Ata N. 50 do Conselho das ICs, de 19/10/2007, páginas 201 e 202 (documento da UNICIN).
93
Ata N. 56 do Conselho das ICs de 13/01/2008, páginas 39 e 40 (documento da UNICIN), Anexo I –
Lojas da Conscienciologia no Shopping JL Cataratas – Relatório preliminar – 12/01/2008.
94
Ata N. 60 do Conselho das ICs, de 17/02/2008, página 70 (documento da UNICIN).
233

maioria desconhece do que se trata e segundo Natalia: “a maioria pergunta ‘o que é


isso de Conscienciologia?’95
As atividades continuaram nos meses de junho, julho e agosto de 2008, sendo
realizadas palestras gratuitas de 2 horas de duração, nas quintas, sextas e sábados
à noite.96
O destaque foi para a exposição do quadrinhista Pedro Marcelino e a mostra
fotográfica de Alexandre Marquetti organizada pela Holoteca para comemorar o 98º.
Aniversário de Foz do Iguaçu. A mostra intitulava-se: “A Foz do Iguaçu de todo
Mundo, Nossa Foz do Iguaçu”. Marcelino resumiu a história de Foz do Iguaçu em
um fanzine e Marquetti retratou a urbanidade de Foz97. Pelo menos até o final de
2008, o estande parece ter permanecido no shopping.98

4.2.9 Fundação do Bairro Cognópolis

O último assunto do segundo tópico a ser apresentado é a fundação da


Cognópolis. No lançamento do livro “Nossa Evolução”, de Waldo Vieira, em braile e
audiolivro, em 01 de março de 2008, no auditório do Discernimentum, estiveram
presentes autoridades locais, tais como o vereador Djalma Pastorello e a professora
Amarílis da Escola Municipal Ponte da Amizade, que atende alunos com deficiência
visual de todas as faixas etárias, tendo recebido uma cópia do livro em braile. A
tradução do livro para o braile foi feita por voluntários da INTERCAMPI, Lucio
Galvão e Milene Menezes.
Nessa ocasião, quebrando protocolo, Cesar Cordioli, presidente da AIEC,
anunciou aos presentes o pedido feito à Prefeitura de Foz do Iguaçu para nomear de
“Cognópolis” toda a região onde está localizada a comunidade conscienciológica99.
De acordo com o documento “Pontoações do CEAEC (Balanço, Portfólio ou Status
da IC)”, de 21/03/2008, havia 538 integrantes da comunidade conscienciológica.

95
PITAGUARI, Antonio. Expoconscienciologia: laboratório de interassistenciologia. Jornal Campus
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 13, n. 151, p. 2, fev. 2008.
96
Panfletos do ExpoConscienciologia com a programação das palestras, um com os meses de junho
e julho e outro, do mês de agosto (documento da UNICIN).
97
MOSTRA declina um olhar sobre Foz. Jornal do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano VIII, n. 2.370, p. 8, 6
jun. 2008.
98
Edital de convocação de Assembleia do Pólo Conscienciocêntrico Discernimentum, de 06/10/2008,
possui um ponto de pauta para discutir a continuidade do Expoconscienciologia (documento da
UNICIN).
99
PITAGUARI, Antonio. Notícias da CCCI. Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 13, n. 148,
p. 3, nov. 2007c.
234

Em 13 de novembro de 2008, foi noticiado pelo jornal local “A Gazeta do


Iguaçu”, a entrega do croqui do Megacentro Cultural Holoteca ao prefeito Paulo Mac
Donald Guisi. Por intermédio da voluntária Solange Camargos que conhecia a filha
do presidente Juscelino Kubitschek, Maria Estela, entraram em contato com o
escritório do Oscar Niemeyer, que por sua vez elaborou o projeto da expansão da
Holoteca do CEAEC100.
Em fevereiro de 2009, a revista “100 Fronteiras” fez uma reportagem sobre o
bairro Cognópolis101, realizando uma retrospectiva a partir de uma entrevista com
Waldo Vieira. Nela, Vieira lembra que no lançamento da pedra fundamental do
CEAEC em 1995, um repórter perguntou o que ele e seus colaboradores pretendiam
fazer aqui. Ele respondeu que o plano oficial era aplicar cerca de 13 milhões de
dólares em Foz do Iguaçu.
Vieira102 disse: “Eles acharam que eu era um visionário. Eu estava falando no
meio das cobras. No mato. Daí eles pensaram, esse careca, com essa barba branca
é um sonhador. Isso é utopia.” Em 2009, esse valor de investimento já havia sido
superado: “Só o processo de compra de terras, esses lotes e os condomínios já
somam 1 milhão e 640 mil metros quadrados. Se você multiplicar isso pelo valor do
metro quadrado já passa dos 13 milhões e isso sem falar das construções.”
“De onde vem o dinheiro?” A repórter perguntou. Waldo Vieira respondeu:
“Tudo isso é produto do voluntariado”, “nós temos 75 autores com livros publicados
e todos doam os direitos autorais. Nós cobramos cursos. Temos livros à venda,
recebemos doações”.
No dia 20 de maio de 2009, o prefeito de Foz do Iguaçu Paulo Mac Donald
Guisi assinou o decreto municipal n.18.887/2009 de criação do bairro Cognópolis. A
cerimônia foi realizada no auditório do Discernimentum, e incluiu também a
assinatura do decreto municipal de aprovação do Condomínio residencial Villa
Conscientia, considerado na época o maior da cidade, com 202 lotes. 103

100
GODOY, Mayara. Foz ganhará Megacentro Cultural Holoteca. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu,
ano 21, n. 6.108, p. A7, 13 nov. 2008.
101
WALDO Vieira e a Cognópolis. Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano V, n. 41, p. 24-28, fev.
2009.
102
WALDO, 2009, p. 24.
103
COGNÓPOLIS: Conheça o mais novo bairro de Foz do Iguaçu. Informativo AIEC, Foz do Iguaçu,
ano 2, n. 2, ed. 1, p. 1, maio 2009; COGNÓPOLIS, o mais novo bairro de Foz de Iguaçu. Jornal da
Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 14, n. 168, p. 1, jul. 2009. Nesses jornais internos, apareceu a data
de 23 de maio de 2009, mas no site das Leis Municipais, a data do decreto é de 20/05/2009
(disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a/pr/f/foz-do-iguacu/decreto/2009/1888/18887/decreto-
n-18887-2009-dispoe-sobre-denominacao-de-bairro>. Acesso em: 28 out. 2019, às 17h22).
235

Tal evento foi notícia em maio e em junho. No jornal local “A Gazeta do


Iguaçu”, de 25/05/2009: “Bairro do conhecimento será o maior condomínio
residencial de Foz: projeto inicial conta com 202 lotes que formam a Villa
conscientia, localizada na Cognópolis, condomínio de estudos criado nas
proximidades do CEAEC.”104
E a notícia na “A Gazeta do Iguaçu”, de 10/06/2009: “Aos 95 anos Foz do
Iguaçu ganha novo bairro: Prefeito Paulo Mac Donald assinou decreto que cria o
Cognópolis, maior bairro de Foz” 105 . A seguir, na figura 15, o anexo do decreto
municipal n.18.887/2009 de criação do bairro Cognópolis.

Figura 15 – Anexo do Decreto N. 18.887 – Criação do Bairro Cognópolis

Fonte: Órgão Oficial do Município de Foz do Iguaçu, ano XII, n. 1047, p. 1, 03 jun.
2009. Disponível em: <pmfi.pr.gov.br>. Acesso em: 01 out. 2019, às 0h.

No artigo 1º. do Decreto 18.887/2009, ficou denominado Bairro Cognópolis o


resultado da sub-divisão da Região do Tamanduazinho, representado graficamente

104
GESING, Leila. Bairro do conhecimento será o maior condomínio residencial de Foz. A Gazeta do
Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 21, ed. 6.265, p. C4, 25 maio 2009.
105
AOS 95 ANOS Foz do Iguaçu ganha novo bairro. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 21, n.
6.279, p. G20, 10 jun. 2009.
236

na forma do anexo deste Decreto, que passou a ser incluído na delimitação de


bairros de Foz do Iguaçu, com o seguinte perímetro:

Tem como ponto inicial e final o entroncamento da Avenida


República Argentina com a Avenida Maria Bubiak, do ponto inicial
segue em sentido Sul pela Avenida Maria Bubiak até atingir a
Avenida das Cataratas (BR-469), seguindo sentido Leste até o Rio
Tamanduá e daí seguindo pelo Rio Tamanduá acima até encontrar a
Rua Argemiro Lemes, seguindo por esta em sentido Norte até a
Avenida República Argentina e daí em sentido Oeste até o ponto de
final no entroncamento da Avenida República Argentina com a
Avenida Maria Bubiak.

A Cognópolis Foz possui em torno de 10.414.000m2 (metragem total do bairro)


(Ano-base: 2011), sendo que 1 milhão e 640 mil metros quadrados pertencem à
Comunidade Conscienciológica (Ano-base: 2009), considerando as propriedades
particulares das instituições conscienciocêntricas mais as propriedades particulares
dos voluntários moradores. Esse empreendimento construído pelo voluntariado
inclui:106
a) 21 instituições da Conscienciologia com sede no bairro, sendo 5 com campi
(CEAEC, OIC, Assinvéxis, AIEC/Discernimentum e Reaprendentia 107 ) (Ano-base:
2019);
b) 11 condomínios residenciais, sendo 7 deles considerados loteamentos
(Cosmoética, Villa Conscientia Asa Norte e Asa Sul, Campo dos Sonhos,
Serenologia, Evolução, Rose Garden) e 4 conjuntos de moradias de voluntários
dentro do campus de alguma instituição (Residencial Intermissivo e Chalés no
CEAEC; Moradias na OIC; e Moradias na Assinvéxis) (Ano-base: 2019), mais de
140 residências construídas com cerca de 261 moradores (Ano-base: 2013);
c) 841 voluntários, parentes de voluntários e moradores frequentadores das
atividades da comunidade conscienciológica (Ano-base: 2015);

106
Fontes: WALDO Vieira e a Cognópolis, 2009, p. 25; DISCERNIMENTUM; UNICIN. Portfólio Bairro
Cognópolis. Foz do Iguaçu: Discernimentum; Unicin, 2011; BUONONATO, Flávio. Anuário da
Conscienciologia 2014. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 29; “Lista da CCCI em Foz do Iguaçu”, de
28/05/2015; BONASSI, João Aurélio; ARAKAKI, Kátia. Cognópolis Foz: um lugar para se viver. Foz
do Iguaçu: Editares, 2016, p. 35-37; “Pontações do CEAEC” (Data-base: 04.08.2019), documento
afixado em mural público no Holociclo, no CEAEC.
107
A Reaprendendia adquiriu o terreno a partir da compra realizada por um de seus voluntários em
agosto de 2012 e doada à instituição (Fonte: DANTAS, Álvarez (Ed.). Momento histórico para a
Reaprendendia. Revista de Parapedagogia, Foz do Iguaçu, ano 2, n. 2, p. 1, out. 2012). A área total
era de 11.980,16 m2. O mesmo voluntário doou também o prédio da sede da Reaprendentia,
construída no ano de 2015, e inaugurada em 13/02/2016 (Fonte: informações obtidas com ex-
coordenador da Reaprendendia Ruy Bueno, por meio de whatsApp, em 19/10/2019. A menção do
nome foi autorizada pelo informante).
237

d) 1 auditório de porte grande para debate (Tertuliarium, com 346 assentos,


com tertúlias diárias, online e gratuitas), 3 auditórios médios e 4 mini-auditórios
(Ano-base: 2016);
e) uma livraria (e também editora): Epígrafe (Ano-base: 2016);
f) uma Holoteca (com 304 coleções de artefatos do saber; 106.686 livros) (Ano-
base: 2019);
g) 1 Holociclo (com 608.781 recortes de periódicos e 7.428 léxicos) (Ano-base:
2019);
h) 1 hotel categoria turística Mabu Interludium com 100 quartos e 300 leitos
(Ano-base: 2016) e 1 hospedaria Village com 35 leitos;
i) além de uma área verde de 249.942,25 m2 (Ano-base: 2016).

Na ocasião do decreto de fundação da Cognópolis, havia 570 integrantes da


comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu, de acordo com o documento
“CCCI em Foz do Iguaçu (06.06.09) – 2ª. versão, 16h30”.
De acordo com o documento “Portfolio do Bairro Cognópolis”, Cognópolis
significa o bairro do conhecimento, “onde se convergem os esforços dos voluntários
da Conscienciologia, visando desenvolver uma comunidade dedicada ao estudo da
evolução da consciência.”108
Em função desse fato, o Jornal do Campus CEAEC, produzido pelos
voluntários do CEAEC, mudou de nome e passou a se chamar Jornal da
Cognópolis: Informativo mensal da CCCI (Comunidade Conscienciológica
Cosmoética Internacional), a partir de julho de 2009.109
Nesse tópico 4.2 – Da Comunidade Conscienciológica Cosmoética
Internacional (CCCI) ao Bairro Cognópolis, foram abordados o conceito de CCCI, a
fundação de 8 instituições, algumas iniciativas de esclarecimento à população de
Foz do Iguaçu a respeito da Conscienciologia, o projeto Cognópolis e a aquisição de
terrenos próximos ao CEAEC, até a criação oficial do bairro.

108
DISCERNIMENTUM. UNICIN, 2011, p. 2; e COGNÓPOLIS: conheça o mais novo bairro de Foz do
Iguaçu. Informativo AIEC, Foz do Iguaçu, ano 2, ed. 1, p. 1, maio 2009.
109
PARO, Denise. Jornal do Campus CEAEC agora é JORNAL DA COGNÓPOLIS. Jornal do
Campus CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 14, n. 167, p. 1, jun. 2009. Essa foi a segunda mudança de
nome do jornal, que no surgimento dele chamava-se Jornal do CEAEC, depois passou a se chamar
Jornal do Campus CEAEC, e por fim, Jornal da Cognópolis.
238

4.3 Desenvolvimento do Bairro Cognópolis

Nesse terceiro tópico, irei apresentar o desenvolvimento do bairro Cognópolis,


compreendendo o período de final de 2009 até 2019. A divisão em subtópicos ficou
do seguinte modo: 4.3.1 Conselho dos 500; 4.3.2 Fundação da Associação de
moradores do Bairro Cognópolis de Foz do Iguaçu (AMAC); 4.3.3 Cineclube
Cognópolis; 4.3.4 Exercício de cidadania: Viadutos em Foz; 4.3.5 Fundação de 11
Instituições conscienciológicas; 4.3.6 Noite de Gala Mnemônica; 4.3.7 Falecimento
de Waldo Vieira; 4.3.8 Cognópolis como ponto turístico de Foz do Iguaçu; 4.3.9 O
evento “Um Dia na Cognópolis”; 4.3.10 Delimitação do bairro Cognópolis; 4.3.11
Integração de condomínios.

4.3.1 Conselho dos 500

O “Conselho dos 500” diz respeito a um conselho criado para decidir


coletivamente as questões do bairro. Um dos cursos que foram enriquecedores em
ajudar a pensar o desenvolvimento do bairro do ponto de vista político, foi o curso
“Heterocrítica de Obra Útil”, na sua 11ª. edição, que trouxe o professor e filósofo J.
Vasconcelos, autor do livro “Democracia pura”, publicado em 2007, à Cognópolis.
O autor foi convidado e veio para participar do curso, concedendo uma
entrevista ao Jornal da Cognópolis 110 , quando explicou sua tese em defesa da
democracia pura: “Democracia pura é a forma de governo em que se possibilita ao
povo a condição de autogovernar, sem intermediários.” Explica que no Brasil o que
existe é a democracia representativa.
O curso ocorreu nos dias 31 de outubro e 01 de novembro de 2009, no
auditório do Discernimentum, com a presença de 112 pessoas111.
Em função dos debates em torno do tema da democracia e do crescimento do
bairro, Waldo Vieira sugeriu na tertúlia ministrada por ele no dia 08 de dezembro de
2009, a formação do “Conselho dos 500”112.

110
PARO, Denise. Entrevista com J. Vasconcelos: Curso traz filósofo à Foz para debater Democracia.
Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 15, n. 170, p. 3, set. 2009.
111
PITAGUARI, Antonio. Imersão Heterocrítica de Obra Útil analisa obra Democracia Pura. Jornal da
Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 15, n. 172, p. 1, nov. 2009.
112
GARCIA, Júlio César. Conselho dos 500 realiza primeira reunião. Jornal da Cognópolis, Foz do
Iguaçu, ano 15, n. 175, p. 1, fev. 2010.
239

Essa expressão “Conselho dos Quinhentos” tem sua origem na Grécia Antiga e
a primeira boulé ou conselho teria sido fundada por Sólon de Atenas (638–558
a.e.c.) com 400 membros. Mas é com Clístenes (565–492 a.e.c.) que se deve o
estabelecimento da Boulé dos Quinhentos, fundamental para organização da cidade.
A boulé ou conselho era a engrenagem essencial para o bom funcionamento da
democracia ateniense113.
Desse modo, a proposta era ser uma nova instância decisória da Cognópolis, a
fim de facilitar a implantação da democracia sem intermediários no bairro. No
entanto, é importante lembrar que, na democracia ateniense, somente os cidadãos
participavam da vida política de Atenas. E quem era considerado cidadão? Aquele
que tivesse pai e mãe atenienses 114 (o que correspondia a cerca de 40 mil
cidadãos). Assim, os estrangeiros (cerca de 100 mil) estavam fora da participação
política. Mais dois grupos ficavam excluídos da vida política ateniense: os escravos
(200 mil) e as mulheres (60 mil). Esses números populacionais referem-se ao tempo
de Clístenes (cerca de 508 a.e.c.) 115 . Assim, é possível observar que, quem
participava da vida política era um grupo restrito e não o povo, no sentido amplo.
Vale considerar também que o número de cidadãos atenienses era em torno de 40 a
42 mil, “no entanto, a frequência à Assembleia do Povo ficava em torno de seis mil
cidadãos.”116.
De acordo com o autor Fabio Konder Comparato 117 , a minoria de cidadãos
ativos que exercia a democracia ateniense representava entre 10% e 15% dos
adultos. Mas, o jurista não cita a quantidade da população ateniense, comenta
somente que os escravos formavam cerca de um terço do total dos habitantes de
Atenas. As mulheres e os estrangeiros não tinham direitos políticos.
Desse modo, a democracia que é considerada “a igualdade entre todos os
‘cidadãos”, foi inventada pelos gregos, porém dentre de limitações que alteraram,
desde a origem, o valor e a eficácia dessa “soberania popular” 118 . Segundo

113
MOSSÉ, Claude. Dicionário da Civilização Grega. Tradução de Carlos Ramalhete. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2004, p. 56.
114
SOUZA, Itamar de. Luzes e sombras da democracia ateniense. Revista FARN, v. 2, n. 1, p. 149-
169, jul./dez. 2002, p. 153. Disponível em: http://revistas.unirn.edu.br/index.php/revistaunirn/
article/view/68. Acesso em: nov. 2019.
115
SOUZA, 2002, p. 152.
116
SOUZA, 2002, p. 166.
117
COMPARATO, Fabio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 2. Ed. rev. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 641.
118
BONNARD, André. A civilização grega. Tradução de José Saramago. Lisboa: Edições 70, 2007, p.
117.
240

Bonnard119, os escravos constituíam metade da população ateniense nesse período


“democrático”.
Feita essa breve contextualização sobre a “democracia ateniense”, o retorno
da ideia do Conselho dos 500, hoje, no bairro Cognópolis, seria mais no sentido de
resgatar a intenção de se fazer uma democracia direta, sem representantes, o que
mesmo nos dias atuais, encontra dificuldades como será visto mais adiante.
Nesse meio tempo, ocorreu a vinda da Câmara Itinerante ao bairro Cognópolis,
em 17 de dezembro de 2009120. Foi a última sessão da câmara do ano. Tal projeto
consistia na ida do Poder Legislativo Municipal até os bairros a fim de ouvir a
população e suas necessidades. A sessão ocorreu no auditório do campus
Discernimentum.
Além do presidente da Câmara, foram mais 5 vereadores, que receberam as
reivindicações do bairro por meio de um documento entregue por Alexandre
Balthazar, gerente-geral do Discernimentum na época. Entre elas estavam melhorias
na iluminação pública, recapeamento de avenidas, construção de calçadas e maior
disponibilidade de linhas de ônibus e horários.
No dia 06 de fevereiro de 2010, foi realizada a primeira reunião do “Conselho
dos 500” com a presença física de 211 participantes mais 30 participantes online,
totalizando 241 pessoas, tendo sido eleita a equipe da primeira gestão com 9
integrantes com mandato de 1 ano, sem direito à reeleição, promovendo a
renovação de 4 ou 5 membros, alternadamente, a cada 6 meses121.
Para participar do “Conselho dos 500”, a pessoa interessada deveria cumprir
os seguintes requisitos: a) ter idade mínima de 16 anos; 2) não havia necessidade
de residir em Foz do Iguaçu; 3) possuir vínculo com o bairro Cognópolis; 4) estar
presente nas reuniões, sem direito a representação, mesmo por procuração.
Também ficou decidido que as deliberações do conselho não precisavam de
quórum mínimo e a periodicidade das reuniões seria de acordo com a demanda,
com convocação prévia.
Para integrar a Comissão de Gestão, seria necessário atender os seguintes
critérios: a) morar em Foz do Iguaçu; b) ser voluntário de alguma instituição
conscienciocêntrica há, no mínimo, 1 ano; c) ter disponibilidade de tempo para

119
BONNARD, 2007, p. 117.
120
BAIRRO Cognópolis faz reivindicações durante Câmara Itinerante. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 22, ed. 6.437, p. e4, 17 dez. 2009.
121
GARCIA, 2010, p. 1.
241

participar das atividades; d) estar familiarizado com as estruturas decisórias da


Cognópolis e instâncias consultivas.122
Quanto às competências do “Conselho dos 500”, ficou decidido o âmbito de
deliberação sobre estratégias gerais da Cognópolis e da comunidade
conscienciológica, a análise e a homologação dos projetos principais da Cognópolis,
a definição de orientações político-administrativas e financeiras de intercooperação
entre os organismos, a atuação profilática em assuntos que gerem impactos para a
Conscienciologia no bairro e a implantação da democracia sem representantes na
Cognópolis123.
A segunda assembleia do “Conselho dos 500” aprovou o Pórtico do bairro em
10 de abril de 2010. A terceira assembleia aprovou as diretrizes do Plano Diretor da
Cognópolis, em 22 de julho de 2010. Tal documento estava em discussão nos
últimos meses.
Em março de 2010, o arquiteto Alexandre Balthazar, que participou da
elaboração do plano piloto do CEAEC, publicou uma notícia no Jornal da
Cognópolis124 de que a Cognópolis estava preparando um Plano Diretor. Ele explica
a diferença: “Plano Piloto é um desenho, enquanto que o Plano Diretor é uma
política de planejamento urbanístico, mais complexa e sistemática.” Comenta ainda
que “o plano piloto, elaborado em 1995, representa menos de 10% da área que
compreende hoje a Cognópolis Foz. A atual área de mais de 1,2 milhões de m2
contém 4 campi e 5 condomínios, além de alguns conjuntos residenciais dentro dos
próprios campi.” A comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu contava, em
15/08/2010, com 607 pessoas, segundo o documento “Pontoações do CEAEC”.
Balthazar125 citou alguns projetos para a Cognópolis cuja discussão ainda seria
aprofundada: a ciclovia interna; a criação de uma cultura cognopolita/consciência
comunitária; a transformação da Cognópolis em uma ecovila; as incubadoras de
empresas conscienciológicas e instituições conscienciocêntricas, uma via interna e
integradora que ligue o Discernimentum ao CEAEC e à Assinvéxis passando pela
Villa Conscientia (ver figura 14 para melhor compreensão); o campus IIPC; o
Megacentro Cultural Holoteca; entre outros.

122
GARCIA, 2010, p. 1.
123
GARCIA, 2010, p. 1; e ULMAN, Karla. Democracia: Experimentos no bairro Cognópolis-Foz.
Curitiba: CRV, 2019, p. 152.
124
BALTHAZAR, Alexandre. Cognópolis prepara Plano Diretor. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu,
ano 15, n. 176, p. 1, mar. 2010.
125
BALTHAZAR, 2010, p. 1.
242

Para a construção desse plano diretor já estavam ocorrendo reuniões com


técnicos da comunidade conscienciológica e oficinas com os voluntários.
A iniciativa do “Conselho dos 500” saiu em notícia do jornal estadual “Gazeta
do Povo”, em duas ocasiões: em 31/05/2010: “Bairro de Foz vive experiência de
democracia pura”126; e em 02/01/2014, na seção “Vida e Cidadania”: “Bairro resgata
a democracia da Grécia: com sete condomínios residenciais na zona rural de Foz do
Iguaçu, Cognópolis está voltado unicamente para a educação. Ali, as decisões são
coletivas.”
Nessa segunda matéria, foram apresentados os números da Cognópolis, tais
como: 7 condomínios, 17 instituições da Conscienciologia, 709 voluntários, entre
outros. A notícia ficou dividida em duas partes: a primeira, explicando o histórico do
bairro, os monumentos do CEAEC e a criação e o funcionamento do “Conselho dos
500”; e a segunda, uma entrevista com Waldo Vieira, intitulada “Uma vida dedicada
à educação”127.
A partir dessas discussões sobre o bairro no âmbito do Conselho dos 500, se
registrou a necessidade de constituição de uma Associação do bairro Cognópolis,
tema do próximo subtópico.128

4.3.2 Fundação da Associação de Moradores do Bairro Cognópolis de Foz do


Iguaçu (AMAC)

Em 16 de outubro de 2010, foi fundada a Associação de Moradores do Bairro


Cognópolis de Foz do Iguaçu (AMAC), no auditório do Discernimentum. A AMAC
tem como objetivo atender todo o bairro Cognópolis, que ultrapassa os limites dos
campi e condomínios conscienciológicos e não possui relação direta com as
estruturas da comunidade conscienciológica.
Estiveram presentes 109 moradores e a cerimônia contou ainda com a
presença do professor J. Vasconcelos, que fez breve exposição sobre a “democracia
pura” e a sua relevância para a nova associação. Vasconcelos foi eleito pelos

126
AZEVEDO, Gabriel. Bairro de Foz vive experiência de democracia pura. Gazeta do Povo, Curitiba,
ano 92, n. 29.421, p. 16, 31 maio 2010.
127
PARO, Denise. Bairro resgata a democracia da Grécia. Gazeta do Povo, Curitiba, ano 95, n.
30.723, p. 11, 02 jan. 2014.
128
ULMAN, 2019, p. 162; GARCIA, Júlio César. Conselho dos 500: Democracia Pura na Cognópolis
Foz, Atividades da Comissão do Conselho dos 500. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 15, n.
180, p. 2, jul. 2010.
243

presentes como associado benemérito. Foi feito debate do Estatuto, que diante de
várias sugestões, teve o prazo de discussão prorrogado.
A primeira diretoria foi eleita pelo sistema de auto-habilitação e sorteio dos
candidatos presentes. Das 10 pessoas da diretoria, 6 eram voluntários da
Conscienciologia e 4 moradores sem vínculo com a Conscienciologia. A sede
provisória ficou definida no Discernimentum129.
Uma das ações da recém-criada AMAC foi um abaixo-assinado solicitando à
prefeitura o recapeamento asfáltico da avenida Felipe Wandscheer, ruas adjacentes,
um ponto de ônibus próximo à rua da Cosmoética, ronda de segurança municipal e
iluminação. No total, foram 400 assinaturas de moradores e amigos do bairro
Cognópolis130.
A AMAC e o “Conselho dos 500” funcionaram paralelamente. Até que no dia 16
de agosto de 2014, última assembleia do “Conselho dos 500”, foi debatido o conflito
de competências entre os objetivos estatutários da AMAC e do Conselho dos 500,
concluindo-se pela compreensão de sobreposição de competências entre os dois
organismos.131
“A ideia principal proposta seria de que o Conselho dos 500 ficasse adstrito a
CCCI, deixando-se as questões macro do bairro na competência da AMAC” 132 .
Porém, não se chegou a um consenso sobre o tema a ser votado, escolhendo-se
por observar, por um período, o desenvolvimento da AMAC. Não houve candidatos
para nova gestão do Conselho. Desde então, o Conselho dos 500 manteve-se
inativo até o presente ano de 2019.

4.3.3 Cineclube Cognópolis

Esse subtópico aborda uma atividade de integração e entretenimento


desenvolvida no bairro Cognópolis-Foz. Inicialmente chamava-se “Sessão Pipoca”.
Consistia na exibição de filme e um debate ao final a fim de intercambiar ideias e
impressões. Era realizada no auditório do Discernimentum, aos domingos à noite.

129
CÉSAR, Júlio. Fundada a Associação de Moradores do Bairro Cognópolis de Foz do Iguaçu.
Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 16, n. 182, p. 1, set. 2010.
130
CAMARGOS, Solange. Abaixo-assinado. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 16, n. 186, p.
2, jan. 2011.
131
ULMAN, 2019, p. 163.
132
ULMAN, 2019, p. 163.
244

Não foram encontradas fontes sobre a data de início e de término dessa


atividade, mas, considerando que o Discernimentum foi inaugurado em 25 de março
de 2007133, a “Sessão Pipoca” provavelmente iniciou suas atividades entre os anos
de 2007 e 2008.
Sabe-se que em 2008, a “Sessão Pipoca” já estava em funcionamento. Um
exemplo é a exibição do filme “Nostradamus”, produção da Discovery Channel, no
dia 19 de outubro de 2008, domingo, às 19 horas, no auditório do
Discernimentum134.
Tal atividade de integração mudou de nome a partir de 10 de junho de 2010,
passando a se chamar “Cineclube Cognópolis”. O novo nome veio a demarcar nova
fase da atividade: o Discernimentum adquiriu autorização formal, a chamada licença
Guarda-chuva (Umbrella Licence) concedida pela Motion Picture Licensing
Corporation (MPLC) para a exibição de filmes.
O contrato autorizava a passar filmes de todos os distribuidores que a empresa
representava, desde que observadas as restrições contratuais. Tal conquista foi
obtida pela união de esforços do CIAJUC (Conselho de Interassistência Jurídica da
Conscienciologia), órgão da UNICIN, e a equipe de gestão do Discernimentum. A
compra da licença anual possibilitava o prosseguimento da divulgação e da exibição
dos filmes135.
Essa nova condição também gerou mudanças na forma de eleição de filmes a
serem transmitidos, passando a utilizar “método de votação mais democrático em
sistema de ranking de filmes.”136
A atividade perdurou até 2011, quando ocorreu o 2o. Festival de Inverno do
bairro Cognópolis, de 25 a 31 de julho. O Festival de Inverno do Bairro Cognópolis
era “um grande evento de confraternização aberto a toda a cidade de Foz do Iguaçu,
voltado à cultura e à convivialidade sadia”137.
O objetivo do evento era “extrair dos participantes o seu talento artístico cultural
a fim de que o mesmo sirva para integrar as pessoas”. O local do evento era no
Discernimentum.
133
PITAGUARI, 2007a, p. 4.
134
Fonte: cartaz da “Sessão Pipoca” encontrado na pasta da instituição “AIEC”, localizada no
Holociclo, departamento do CEAEC.
135
DUNG, Marcus. Cineclube Cognópolis. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 15, n. 179, p. 2,
jun. 2010.
136
DUNG, 2010, p. 2.
137
Fonte: folder do 2º. Festival de Inverno do Bairro Cognópolis, encontrado na pasta da AIEC, no
Holociclo (CEAEC).
245

Segundo o folder com a programação do evento, as atividades culturais eram:


oficina de desenho e arte gráfica, oficina de teatro, oficina de curta-metragem de
animação, oficina de conto e crônica, oficina de dança, oficina de fotografia, além de
feira de doações de cães e gatos, atividade lúdica de quiz, visita à Cognópolis,
caminhada bioenergética, dinâmicas parapsíquicas, cineclube, entre outras.
O término do Cineclube Cognópolis e mesmo do Festival de Inverno têm
relação com a dissolução do Discernimentum na condição de instituição
conscienciocêntrica, pois era essa instituição que dava o apoio para a realização de
tais eventos138. Desde então, o campus Discernimentum passou a ser administrado
pela AIEC. O objetivo desse subtópico era exemplificar atividades de lazer
desenvolvidas no bairro.

4.3.4 Exercício de cidadania: Viadutos em Foz

Os estudos de democracia na Cognópolis têm tido repercussão não apenas no


bairro. Esse subtópico trará exemplo de exercício de cidadania com atuação no
município por parte de voluntários.
Em 11 de maio de 2012, um dos voluntários da Conscienciologia e na ocasião
presidente da AMAC, Ivo Valente, deu início a um movimento para chamar atenção
das autoridades públicas para a necessidade da construção de viadutos em Foz do
Iguaçu.
Ivo realizou um “twitaço” que reuniu centenas de pessoas por meio das redes
sociais. O movimento no Twitter levou a hashtag #ViadutosFoz aos trending topics,
ou seja, o assunto mais comentado do Twitter no Brasil.
Em 20 de julho de 2012, Ivo repetiu o twitaço, além de utilizar outras
ferramentas como o facebook. De acordo com ele, “acho que temos um novo
paradigma na questão do exercício da cidadania.” Ainda complementou: o twitaço “é
apartidário e cidadão, respeita o direito de ir e vir – ou seja, não prega bloqueios – e

138
Fonte: informação obtida com Marcus Dung, um dos coordenadores do Cineclube Cognópolis, via
whatsApp. A menção do nome foi autorizada pelo informante. Sobre a dissolução da instituição
Discernimentum, existe um documento “Comunicado à CCCI”, assinado pela UNICIN, AIEC e
Discernimentum, de 10 de agosto de 2011, informando que a administração do campus
Discernimentum passaria a ser feita pela AIEC, a partir de setembro de 2011 (Arquivo da UNICIN).
246

respeita a ordem, a legalidade e a ética. E eu não sou candidato a nada, brincou


Valente”.139
Ivo acredita que esse movimento colaborou para trazer a obra para a cidade:
“Não tenho dúvida, deu um impulso valioso. O próprio governador entrou em contato
conosco pelo Twitter dizendo que faria a obra.” Em setembro de 2009, o governador
assinou o edital de licitação para construção do viaduto entre a avenida Paraná e a
BR-277140. A obra passou por vários percalços, adiando o prazo de entrega umas 3
vezes, tendo sido concluída em 21/08/2015141.
Em entrevista concedida à jornalista Mariana Kojunski 142 da revista “100
Fronteiras”, Ivo fez primeiro um esclarecimento: “Sou um psicólogo que tenta
exercer minha cidadania protestando sobre a situação da travessia péssima que
temos na BR-277 em Foz.”
E depois, um desabafo: “Muita gente fala que o pessoal do bairro Cognópolis
em Foz é isolado, fica meio elitista e não se preocupa com os problemas da cidade.
Nós achamos esse raciocínio totalmente enganoso.” Ivo continua explicando sua
opinião: “No bairro Cognópolis tem muitos professores e médicos que contribuem
para melhoria da cidade, sem contar que muitos, não somente eu, fazem ativismo
nas redes sociais.”
Ivo provavelmente estava se referindo mais diretamente ao apoio que teve da
comunidade conscienciológica para divulgar a campanha a favor dos viadutos em
Foz nas redes sociais. Nessa mesma entrevista, Ivo deixa sua mensagem: “o recado
que quero deixar é que não vamos parar, da minha parte #ViadutosFoz na internet
não vai parar; pra mim essa obra é um dos pontos de exigência dos moradores de
Foz.” A necessidade de viadutos não era apenas na avenida Paraná e citou ainda
outros pontos que precisam de melhoria da mobilidade: no trevo do Charrua e a
conversão da Costa e Silva.
Além de iniciativas para melhoria da mobilidade no município, Ivo também
desencadeou um “compartilhaço”, com apoio dos voluntários da Conscienciologia,

139
FIQUEIRA, Nelson. Twitaço perguntará a governador a data de início das obras da trincheira. A
Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 24, ed. 7.216, p. a6, 20 jul. 2012.
140
KOJUNSKI, Mariana. Papo sério com Lourival Roman e Ivo Valente. Revista 100 Fronteiras, Foz
do Iguaçu, ano 9, ed. 111, p. 26-29, dez. 2014.
141
QUADRA, Dante. Reni e Pepe Richa inauguram viaduto da Avenida Paraná. Rádio Cultura Foz,
Foz do Iguaçu, 21 ago. 2015. Disponível em: <www.radioculturafoz.com.br/2015/08/21/reni-e-pepe-
richa-inauguram-viaduto-da-avenida-parana/>. Acesso em: 30 set. 2019, às 10h30.
142
KOJUNSKI, 2014, p. 29.
247

no dia 14 de maio de 2013, uma manifestação na rede virtual para chamar atenção
para a necessidade da avenida Maria Bubiak ser asfaltada, no bairro Cognópolis143.
E ainda no âmbito da Cognópolis, Ivo Valente, na condição de presidente da
AMAC, liderou um abaixo-assinado que atingiu mil assinaturas, reivindicando
pavimentação asfáltica de ruas e avenidas de acesso ao bairro, lombadas na
avenida Felipe Wandscheer devido aos acidentes e instalação de câmeras de
segurança no bairro a fim de coibir assaltos no local.144
Esse subtópico pretendeu exemplificar comportamentos adotados por
voluntários no bairro e no município para melhorar o cotidiano dos moradores.

4.3.5 Fundação de 11 instituições conscienciológicas (2011 a 2019)

Nesse subtópico, serão apresentadas novas instituições. No período de 2011


até 2019, foram fundadas mais 11 instituições conscienciocêntricas, continuando a
contagem da 19ª. a 29ª. IC, enumeradas no Quadro 07, a seguir:

143
COMPARTILHAÇO. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 25, ed. 7.462, p. a4, 15 maio 2013.
144
MARQUES, Elson. Abaixo assinado do Bairro Cognópolis alcança a meta de mil assinaturas. A
Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 25, ed. 7.715, p. a6, 21 mar. 2014.
248

Quadro 07 – Instituições conscienciocêntricas fundadas entre 2011 e 2019


N. Nome da Instituição (IC) Local Data de Grande Área de
fundação Atuação
19 RECONSCIENTIA – Associação Foz do 02/07/2011 Métodos de
Internacional de Pesquisologia Iguaçu (PR) pesquisa
para Megaconscientização conscienciológicos
20 ASSIPEC – Associação Jundiaí (SP) 14/08/2011 Reurbanização
Internacional de Pesquisas da
Conscienciologia
21 ASSIPI – Associação Internacional Foz do 29/12/2011 Parapsiquismo,
de Parapsiquismo Interassistencial Iguaçu (PR) Bioenergias
22 ECTOLAB – Assoc. Internacional Foz do 14/07/2013 Ectoplasmia e
de Pesquisa Laboratorial em Iguaçu (PR) Cirurgia à
Ectoplasmia e Paracirurgia distância
23 ENCYCLOSSAPIENS – Foz do 21/12/2013 Enciclopedismo
Associação Internacional de Iguaçu (PR) sob a ótica da
Enciclopediologia Conscienciologia
Conscienciológica
24 CONSECUTIVUS – Associação Foz do 14/12/2014 Vidas passadas,
Internacional de Pesquisas Iguaçu (PR) retrocognições
Seriexológicas e Holobiográficas
25 JURISCONS – Associação Foz do 25/04/2015 Paradireito
Internacional de Paradireitologia Iguaçu (PR)
26 COSMOETHOS - Associação Foz do 03/10/2015 Ética cósmica
Internacional de Cosmoeticologia Iguaçu (PR)
27 INTERPARES – Associação Foz do 15/05/2016 Bolsas de estudo
Internacional de Aportes Iguaçu (PR) em cursos
Interassistenciais conscienciológicos
28 IC TENEPES – Associação Foz do 11/06/2016 Assistência às
Internacional de Tenepessologia Iguaçu (PR) pessoas pela
tarefa energética
pessoal
29 ORTHOCOGNITIVUS – Florianópolis 18/05/2018 Implantação de
Associação Internacional para (SC) uma Cognópolis
Implantação da Cognópolis em SC em Santa Catarina
Fontes: criado pela autora com base na seção Instituições Conscienciocêntricas do livro
“Calepino Consciencológico”, de Cesar Cordioli 145 e do “Dicionário de Argumentos da
Conscienciologia” de Waldo Vieira146.

145
CORDIOLI, Cesar. Calepino Conscienciológico. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 1.213 a 1.217.
146
VIEIRA, Waldo. Dicionário de Argumentos da Conscienciologia. Foz do Iguaçu: Editares, 2014, p.
1.527 a 1.567.
249

No total não são 29 ICs, são 24 instituições, pois cinco instituições se


desvincularam da UNICIN por divergência de pontos de vista ou por dissolução
jurídica.
Duas delas continuaram suas atividades de modo independente, a International
Academy of Consciouness (IAC) com sede em Portugal em 2014 e a ASSIPEC com
sede em Jundiaí (SP) em 2019.147
E três encerraram as atividades organizacionais na condição de instituição
conscienciocêntrica e de associação civil, a IASB em 2008, o Discernimentum em
2011 e a Reconscientia em 2018. No caso da IASB, havia também dificuldades
financeiras para realizar viagens no território chinês a fim de participar de eventos
acadêmicos, agravadas pela imposição do sistema político chinês que
impossibilitava a ocorrência das aulas de Conscienciologia e a venda de livros148.
Em contrapartida, existem 8 projetos de novas instituições conscienciocêntricas
(ICs) ou “pré-ICs” em andamento, a maioria no Brasil e algumas no Exterior (Data-
base: Fev. 2020)149.
A UNICIN é quem faz o gerenciamento das propostas de uma nova instituição
conscienciocêntrica. As diretrizes norteadoras dos procedimentos para o
planejamento e a estruturação de uma nova IC são definidas no “Conselho de ICs”,
composto pelas lideranças das ICs e uma das estruturas do organograma da
UNICIN.
O fluxo de uma “pré-IC” até uma “IC” começa com um grupo proponente de um
pré-projeto de pré-IC para UNICIN. A equipe de secretariado avalia o pré-projeto e
caso o valide, o pré-projeto será analisado no Conselho de ICs, que caso o aprove,
a pré-IC passa a dar início ao desenvolvimento do “Plano Conscienciocêntrico”.
Tal documento inclui definição da proposta de instituição, objetivos, princípios e
valores, especialidades, contextualização histórica, voluntários da primeira gestão da
instituição, potencialidades, dificultadores e matriz de risco, estrutura organizacional
e organograma, descrição dos cargos, lista de voluntários, política de voluntariado,

147
Fontes: Encaminhamento AVA [Apoio a Voluntários e Alunos] N. 01/2014 de 20/03/2014 emitido
pela Organização Internacional de Consciencioterapia (OIC) sobre a IAC, divulgado por e-mail;
Comunicado da UNICIN de 26/06/2019 informando a opção pelo desligamento da UNICIN pela
ASSIPEC, divulgado por e-mail.
148
Fontes: Ata da Assembleia Geral Extraordinária da IASB, de 02/10/2008 (documento da UNICIN);
BUONONATO, 2014, p. 74; Carta “Posicionamento Reconscientia” de 02/04/2018, informando
encerramento das suas atividades institucionais, divulgada por e-mail.
149
LISTA das Pré-ICs. Disponível em: <http://unicin.org/pt/unicin/servicos/apoio-as-ics-e-pre-ics/>.
Acesso em: 13 fev. 2020, às 15h07.
250

atividades parapedagógicas, política parapedagógica, política docente, política


financeira da instituição, dentre outros aspectos150. O “Plano” irá ser analisado pelos
conselhos da UNICIN, que se aprovado, segue para ser analisado pelo Conselho
das ICs. Uma vez aceito, pode-se agendar a data de fundação da IC151.
Sobre os dados demográficos, no documento “Lista da CCCI em Foz do
Iguaçu”, da data de 27 de julho de 2011, havia 616 pessoas. Essa listagem foi
afixada no lado interno da porta de entrada do Tertuliarium com objetivo de a
comunidade fazer a revisão das informações. Permaneceu afixado até 18 de
setembro de 2011. Com essas revisões, o documento “Lista da CCCI em Foz do
Iguaçu – 27.10.11”, foi atualizado chegando a 644 migrantes na comunidade.
Em 25 de setembro de 2012, o mesmo documento sinalizava 689 pessoas. Em
2013, esse documento não foi encontrado. Porém, existe o registro do número de
pessoas residentes em Foz em outro documento, denominado “Pontoações do
CEAEC (Balanço, Portfólio ou Status da IC)” nas datas de 04 de junho de 2013, no
qual constavam 709 residentes em Foz e de 26 de novembro de 2013, no qual se
registrava 724 residentes.
Na “Lista da CCCI em Foz do Iguaçu”, de 09 de março de 2014, constavam
762 pessoas. Mais uma vez, essa lista foi afixada na porta do Tertuliarium para
revisão pela própria comunidade.
As atualizações geraram nova versão do documento, que em 19 de fevereiro
de 2015, foi novamente afixada na porta do Tertuliarium, contendo o número de 813
integrantes da comunidade.
As atualizações feitas pela comunidade geraram a última versão da “Lista da
CCCI – Foz do Iguaçu”, organizada no Holociclo, antes do falecimento de Vieira, em
28 de maio de 2015, com o total de 841 integrantes da comunidade
conscienciológica.
Nessa última lista, além de nome de voluntários e de seus parentes, Vieira
solicitou que fossem acrescentados os moradores de Foz do Iguaçu que estavam
frequentando regularmente as atividades da comunidade conscienciológica, pois
como alunos das tertúlias e/ou dos cursos, estavam tendo uma convivência semanal

150
Fonte: Plano Conscienciocêntrico da “Orthocognitivus”, de fevereiro de 2018, Florianópolis (SC).
Esse documento possui 102 páginas mais 16 anexos. Esta foi a última instituição fundada, tendo
levado em torno de 2 anos para passar de pré-IC para IC (Arquivo da UNICIN).
151
Fonte: slides “Fluxo – Pré-IC; Desenvolvimento do Plano Conscienciocêntrico da Futura IC”
fornecido pela UNICIN (Ano-base: 2019).
251

com os voluntários. Do total de 841 integrantes da comunidade conscienciológica,


44 eram moradores do município.
A frequência nos cursos da Conscienciologia por moradores de Foz é um dos
meios de interação entre os conscienciólogos e os iguaçuenses, evidenciando uma
rota de mobilidade em direção à Cognópolis. O movimento oposto, dos
conscienciólogos para os demais bairros pode ser exemplificado não apenas pelo
trabalho profissional, mas também em busca de prestação de serviços para eventos,
como por exemplo, a Noite de Gala Mnemômica, tema do próximo subtópico.

4.3.6 Noite de Gala Mnemônica

A Noite de Gala Mnemônica foi um evento cultural com objetivo de aprofundar


pesquisas relacionadas a vidas passadas. Para tal fim, cada participante deveria
escolher um traje referente a uma época, acontecimento ou personalidade histórica.
Essa escolha era feita com base em pesquisa histórica, buscando a caracterização
dos trajes e hábitos de época. Isso gerou um movimento na cidade, envolvendo
ateliês, costureiras, alfaiates, lojas de alugueis de roupas, armarinhos e salões de
beleza, além de prestadores de serviços e artistas. Um total de 24 equipes
trabalharam na organização do evento, com antecedência de 6 meses.
O evento foi organizado por uma das instituições conscienciocêntricas, a
Consecutivus. Realizou-se em 06 de junho de 2015, no Hotel Mabu Interludium, no
bairro Cognópolis. Reuniu mais de 300 pessoas. Tal acontecimento foi noticiado na
mídia impressa e televisiva. No jornal “A Gazeta do Iguaçu”, de 08/06/2015, saiu a
seguinte matéria: “Noite de Gala movimenta Foz”.152
A Consecutivus também promove eventos culturais de menor porte com o
propósito de investigar as vidas passadas, como por exemplo, o “Chá Inglês
Retrocognitivo” realizado no dia 21 de abril de 2016, no Hotel Mabu Interludium, no
bairro Cognópolis.
O objetivo do evento foi reproduzir o ambiente da Era Vitoriana (1837–1901)
visando favorecer a lembrança de vidas passadas, a partir de fortes estímulos
sensoriais e histórico-sociais, de acordo com a explicação de Pedro Fernandes,

152
Fontes: NOITE de Gala movimenta Foz. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 26, ed. 8.077, p.
a16, 8 jun. 2015; e PARO, Denise. Noite de Gala: convidados fazem um passeio por outras épocas
vividas. Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 10, ed. 118, p. 97, 102-110, jul. 2015.
252

coordenador da Consecutivus na ocasião. O evento reuniu 70 participantes, contou


com atrações culturais, incluindo música, literatura e exposição. Quanto ao aspecto
musical, houve apresentações de canto de peças folclóricas em inglês, irlandês e
galês, além do Hino da Cornualha, região sudoeste da Inglaterra.153
Outro evento cultural e experiencial com características semelhantes e que
movimentou o comércio local foi o “Salão Intelectual Renascentista”, realizado em 21
de abril de 2017, também no Hotel Mabu Interludium. Teve a participação de 100
pessoas, e contou com atividades de música, banquete, trajes, apresentações e
decoração típicos dos séculos XV e XVI que serviram de estímulos para reacender a
memória dos pesquisadores. Nos dias 22 e 23 de abril, no mesmo local, foram
ministradas aulas e atividades de autopesquisa a fim de aprofundar as vivências do
evento laboratorial do dia anterior154.
O estudo de vidas passadas para a Conscienciologia é importante para se
entender o papel da pessoa no contexto atual e ampliar a percepção para tomada de
decisões futuras, tomando como base a trajetória de vidas anteriores155.
A Noite de Gala Mnemônica é um exemplo de interação de conscienciólogos
com iguaçuenses. O evento antecedeu a última tertúlia matinal ministrada por Waldo
Vieira, no dia 07 de junho, véspera de sua viagem para São Paulo a fim de realizar
cirurgia cardíaca.

4.3.7 Falecimento de Waldo Vieira

No dia 02 de julho de 2015, Waldo Vieira faleceu no Hospital Ministro Costa


Cavalcanti (HMCC), em Foz do Iguaçu. Nesse subtópico, se abordará a morte de
Vieira e a formação de colegiado no processo de continuidade dos trabalhos.
O histórico começou por uma revascularização miocárdica em São Paulo cerca
de duas semanas antes. Após a cirurgia, foi preciso tratar uma pneumonia. Passada
1 semana, a pedido de Vieira, ele retornou a Foz do Iguaçu. Já em Foz, foi
detectada a presença de líquidos no pulmão, o que o levou à internação no Hospital

153
Fontes: CHÁ das Cinco relembra Era Vitoriana e a escritora Marie Corelli. A Gazeta do Iguaçu,
Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.341, p. 25, 25 abr. 2016; e PARO, Denise. Chá das cinco: Consecutivus
promove chá inglês retrocognitivo. Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 11, ed. 128, p.96-101,
maio 2016.
154
PARO, Denise. Salão Intelectual Renascentista: uma volta ao passado. Revista 100 Fronteiras,
Foz do Iguaçu, ano 11, ed. 140, p. 69-75, maio 2017.
155
PARO, 2017, p. 73.
253

Costa Cavalcanti. Em seguida, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), no


dia 26 de junho 156 , tendo permanecido desde então na UTI, vindo a falecer na
semana seguinte.
Tal fato foi a manchete do jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, do dia 03/07/2015:
“Morre Waldo Vieira: o fundador e líder da Conscienciologia estava internado em
uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Costa Cavalcanti desde o dia 26 de
junho”. No verso da capa, na página a2, a notícia: “Aos 83 anos: Morre médico
Waldo Vieira” mostra uma foto dele. Ocupou uma coluna, sendo um texto sobre o
histórico dos tratamentos médicos e outro sobre sua biografia.157
No jornal do dia seguinte, de 4 e 5/07/2015, sábado e domingo, na capa saiu
uma foto aérea do CEAEC em destaque com o título “Projetos continuam”. E na
página a7, saiu a notícia: “Colegiados darão sequência aos projetos do Ceaec” 158 –
Segundo Cesar Cordioli, todos os projetos em andamento terão continuidade. “Nada
vai parar, nada vai mudar.”
A matéria possui duas fotos, uma de Waldo Vieira e outra de 4 voluntários que
recepcionaram a imprensa. Ocupou uma página, tendo um “box” com o depoimento
de 3 personalidades públicas do município a respeito da morte de Vieira: o ex-
prefeito de Foz do Iguaçu Paulo Mac Donald159 (1948–), o diretor-geral brasileiro da
Usina Hidrelétrica de Itaipu Jorge Samek 160 (1965–) e o superintendente de
comunicação da Itaipu Gilmar Piola161.
De acordo com o engenheiro Mac Donald: “Com Waldo Vieira, vieram centenas
de pessoas de altíssimo gabarito. Pessoas de conhecimento que atuaram em áreas
importantíssimas da nossa cidade”. O ex-prefeito de Foz do Iguaçu citou a área da
saúde, “onde mais de 50 médicos ingressaram no sistema público municipal.”
Selecionando apenas um exemplo, dentre os voluntários da Conscienciologia,

156
WALDO Vieira sofre AVC e está em estado grave. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed.
8.093, p. a5, 29 jun. 2015.
157
MORRE médico Waldo Vieira. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.097, p. a2, 3 jul.
2015 (Arquivos do Holociclo, no CEAEC, em Foz do Iguaçu, PR).
158
LIMA, Jackson. Colegiados darão sequência aos projetos do Ceaec. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 27, ed. 8.098, p. a7, 4 e 5 jul. 2015.
159
Paulo Mac Donald foi prefeito de Foz do Iguaçu no período de 2005 até 2012 (fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Mac_Donald_Ghisi; acesso em: 17 out. 2019, às 20h30).
160
Jorge Samek foi diretor-geral brasileiro da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional no período de
2003 até maio de 2016 (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Samek; acesso em: 17 out. 2019, às
20h40).
161
Gilmar Piola era superintendente de comunicação da Itaipu Binacional na ocasião do falecimento
de Vieira. Hoje é secretário de turismo de Foz do Iguaçu (Ano-base: 2019).
254

encontra-se o de Roberto Almeida. Ele é médico e foi diretor técnico do Hospital


Municipal de Foz do Iguaçu durante a gestão de Mac Donald162.
Na opinião do então diretor-geral de Itaipu, o engenheiro Jorge Samek, “Foz do
Iguaçu tem uma dívida de gratidão para com o professor Waldo Vieira, que
contribuiu para fortalecer a sociedade civil local, estimulando a participação e o
trabalho voluntário.”
Para o jornalista Gilmar Piola: “Waldo Vieira irradiava saber, conhecimento, e
nos instigava à busca incessante da autoconsciência. Foi uma liderança carismática,
que propagou os valores da tolerância, da não-violência e da cultura da paz.”
A repercussão da morte continuou na semana seguinte, tendo saído uma
notícia no jornal “Nossa Folha”, de 08/07/2015, de circulação nos municípios da
região Oeste do Paraná: “Morre Waldo Vieira, o propositor da conscienciologia”163.
No contraponto das notícias na mídia local e regional, internamente, o “Jornal
da Cognópolis” parou de circular em julho de 2015 no número 201, sendo retomado
em junho de 2017, número 202.
O silêncio do jornal pode simbolizar a repercussão do sentimento de perda
pelos voluntários da Conscienciologia, pois o falecimento de Vieira não ficou
registrado no jornal da própria comunidade. O registro foi feito 4 meses depois, em
outro veículo de comunicação comunitário, na revista Holotecologia, n. 2, publicada
em novembro de 2015, em uma sessão especial “CEAEC: Duas décadas de
Conscienciologia em Foz do Iguaçu”.
Vieira havia escrito um verbete chamado “Colegiadologia” 164 , em 2012, já
planejando sua ausência em um futuro próximo após ter completado 80 anos de
idade: “julgo que o melhor para substituir-me, em função das múltiplas atividades em
desenvolvimento, seja a constituição democrática de 1 eficiente colegiado”.
Em função dessa orientação, após uma série de reuniões e votações, foi
composto o primeiro grupo para o Colegiado da Conscienciologia, que entrou em
exercício a partir de julho de 2016. O Colegiado possui as funções articuladora,
consultiva, deliberativa, fiscalizadora, mediadora, propositiva, de ouvidoria e

162
CARUSO, Raimundo C. Desafios de Foz do Iguaçu: educação, saúde e segurança. [S. l.]: Edição
do autor, 2011, p. 53 a 63 (Entrevista com Roberto Almeida).
163
HART, Camyle. Morre Waldo Vieira, o propositor da conscienciologia. Nossa Folha, Medianeira,
ano 15, n. 796, p. 18, 08 jul. 2015.
164
O verbete “Colegiadologia” saiu publicado em 2014, no “Dicionário de Argumentos da
Conscienciologia”, obra já mencionada de Waldo Vieira, p. 500 a 502.
255

representativa. Possui 6 membros efetivos e 3 suplentes. O tempo de mandato dos


integrantes é de 5 anos.165

4.3.8 Cognópolis como ponto turístico de Foz do Iguaçu

A consolidação do CEAEC e da Cognópolis, além de gerarem efeitos na


própria comunidade conscienciológica, acabaram tendo consequências turísticas.
Inicialmente, só o CEAEC aparecia como ponto turístico, por exemplo, no caderno
de turismo do jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, em 09/09 e 23/09/2009166, assim
como em notícias citadas anteriormente no capítulo anterior.
Outro exemplo de divulgação do CEAEC como local turístico foi no “Guia 4
Rodas” especial sobre “Foz do Iguaçu e compras no Paraguai e Argentina”. Com
distribuição nacional, o Guia foi publicado em janeiro de 2013, e na página 93 possui
uma foto de Waldo Vieira no Tertuliarium, ministrando as tertúlias. Segundo o Guia 4
Rodas: “Foz do Iguaçu não tem apenas a maior usina hidrelétrica do mundo, no que
diz respeito à geração de energia. A região concentra, também, muita energia
espiritual”167.
Nessa área do turismo, a Cognópolis ganhou um impulso com a construção de
um hotel no terreno ao lado do CEAEC. O hotel foi idealizado e construído por
voluntários da Conscienciologia, mais especificamente da AIEC, com a bandeira da
Rede Mabu Hoteis & Resorts.
No dia 29 de julho de 2013, representantes do bairro Cognópolis, Cesar
Cordioli e Everaldo Bergonzini, voluntários da AIEC e representantes da AMAC,
Marco Antonio Duarte e Arthur Peixoto, foram recebidos no gabinete do prefeito Reni
Pereira, cuja pauta da reunião era informar sobre o investimento hoteleiro em
andamento e também solicitar a revitalização de ruas no bairro e a instalação de
câmeras de monitoramento168.

165
FUNÇÕES e diretrizes. Disponível em: <colegiadodaconscienciologia.org/o-colegiado/funções-e-
diretrizes/>. Acesso em: 29 set. 2019, às 20h50.
166
ATRATIVOS turísticos. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 21, n. 6.354, p. t9, 09 set. 2009;
MEIRELES, Roger. O que fazer nas Três Fronteiras? A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 21, n.
6.366, p. t8, 23 set. 2009.
167
PEIXOTO, Fábio (Ed.). Questão de consciência. Guia Quatro Rodas, São Paulo, ed. 2013, p. 93,
abr. 2012.
168
INVESTIMENTO hoteleiro. Agência de Notícias do Governo do Município de Foz do Iguaçu, 29 jul.
2013. Disponível em: <pmfi.pr.gov.br/noticia/?idNoticia=31898>. Acesso em: 01 out. 2019, às 0h.
256

Em 20 de novembro de 2014, o Hotel Mabu Interludium foi inaugurado com 100


apartamentos e 300 leitos. Segundo Cesar Cordioli, presidente da AIEC 169 , “a
entrega do Mabu Interludium Iguassu Convention à cidade de Foz do Iguaçu, nada
mais é do que uma retribuição dos membros da CCCI a essa cidade que acolheu tão
bem tantos voluntários da Conscienciologia durante esses quase 20 anos de
migração.”170

4.3.9 O evento “Um Dia na Cognópolis”

“Um Dia na Cognópolis” é um evento interativo entre a comunidade


conscienciológica e a sociedade iguaçuense. Em outubro de 2016 e de 2018, foram
realizadas duas edições do evento, organizado pelo CEAEC a partir da proposição
feita pela coordenadora da Holoteca, Nara Oliveira.
O objetivo é “estreitar relações e estabelecer novas conexões com a população
da cidade e região”, ao ar livre, no campus do CEAEC, das 9h às 22h. Todas as
instituições da comunidade conscienciológica são convidadas a participar. São
instaladas tendas com propostas interativas e demonstrações práticas diversificadas
das especialidades da Conscienciologia, como por exemplo: o IIPC fez uma
simulação da projeção consciente ou experiência fora do corpo a partir da realidade
virtual com a ajuda de óculos e filme 3D.
A primeira edição em 2016 contou com a participação de 900 pessoas. Em
2018, 670 visitantes estiveram no campus CEAEC.171
O evento foi noticiado no jornal local “A Gazeta do Iguaçu”, de 24/10/2016:
“CEAEC promove atividades culturais gratuitas à população: Feira de trocas,
exposições, observação do céu, cinema a céu aberto, piquenique e oficinas
interativas fazem parte da programação” 172 . Esse título e subtítulo resumem o
evento.

169
A Associação Internacional para Expansão da Conscienciologia (AIEC) foi reconhecida de
Utilidade Pública Municipal, pela Lei 4.143/13, D.O.M. de 02 de outubro de 2013 e de Utilidade
Pública Estadual pela Lei 18.511/15, D.O.E. de 14 de julho de 2015.
170
BRAGA, Cyntia. Mabu Interludium aproxima a Cognópolis do Circuito Turístico de Foz do Iguaçu.
Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 17, n. 199, p. 1, 2014.
171
EVENTO permitirá ‘degustar’ a Conscienciologia. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 21, n.
216, p. 2, set. 2018; e AMADORI, Rosane. ‘Um Dia na Cognópolis’ reuniu 670 visitantes. Jornal da
Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 21, n. 218, p. 3, nov. 2018.
172
CEAEC promove atividades culturais gratuitas à população. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu,
ano 27, n. 8.492, p. 11, 24 out. 2016.
257

E nova matéria no mesmo jornal no dia do evento, 29/10/2016: “Sobre


consciência, conhecimento e diversão: CEAEC abre suas portas para receber a
comunidade em dia repleto de atividades e conhecimento”, manchete da capa do
caderno “Cotidiano”173.
Em 2018, nova matéria no jornal local “Gazeta Diário”, de 24/10/2018: “CEAEC
promove segunda edição do Dia da Cognópolis.” 174 A matéria ocupou menos de
uma página, com uma foto aérea do CEAEC e cita as atividades previstas: feira de
trocas, origami na praça, vivência na “caverna de Platão, o que é real?”, entre
outras. O objetivo desse subtópico foi apresentar iniciativas do CEAEC de interação
com a população local.

4.3.10 Delimitação do bairro Cognópolis

Esse subtópico abordará a delimitação e a denominação dos bairros do


município. Em 20 de dezembro de 2018, a Lei Complementar N. 303, foi aprovada
pela Câmara Municipal de Foz do Iguaçu e sancionada pelo prefeito dispondo sobre
a criação, delimitação e denominação de Bairros no município de Foz do Iguaçu.
De acordo com uma nota enviada à imprensa pela Prefeitura, até essa data
“não existiam oficialmente bairros em Foz do Iguaçu, apenas Loteamentos. A única
exceção era o bairro “Cognópolis” que havia sido criado por decreto.” No total,
existiam 336 loteamentos em Foz do Iguaçu.
Essa situação causava problemas administrativos para o poder público,
dificultando a localização de imóveis e bagunçava os cadastros da Prefeitura, dos
Correios, da Junta Comercial e da Receita Federal, de modo que cada órgão tinha
uma lista de “bairros” diferentes. Assim, com a Lei, ficaram definidos 36 bairros
divididos em 12 regiões.175
Bairro é entendido nessa Lei como

173
SOBRE CONSCIÊNCIA, conhecimento e diversão. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27,
ed. 8.497, p. 24 e 25, 29 e 30 out. 2016.
174
CEAEC promove segunda edição do Dia da Cognópolis. Gazeta Diário, Foz do Iguaçu, ano 2, ed.
713, p. 10, 24 out. 2018.
175
CALEBE, Josué. Prefeitura esclarece renomeação de bairro em Foz. Rádio Cultura, Foz do
Iguaçu, 7 jan. 2019. Disponível em: <https://www.radioculturafoz.com.br/2019/01/07/prefeitura-
esclarece-renomeacao-de-bairros-em-foz/>. Acesso em: 28 out. 2019, às 17h49.
258

a unidade territorial com densidade histórica e relativa autonomia no


contexto da cidade, que incorpora noções de identidade e
pertencimento dos residentes e usuários, os quais utilizam os
mesmos equipamentos e serviços comunitários, mantêm relações de
vizinhança e reconhecem seus limites pelo mesmo nome (DIÁRIO,
2018, p. 12).176

O decreto n. 18.887/2009 da criação do bairro Cognópolis foi revogado por


essa Lei N. 303/2018, no artigo oitavo. No entanto, tanto o nome quanto a
delimitação foram mantidas. Cognópolis ficou alocado na Região Mista-Leste (R12).
Cada bairro possui seus loteamentos.177
Segundo o Diário Oficial do Município, o bairro Cognópolis possui 11
loteamentos, sendo 7 deles condomínios residenciais habitados majoritariamente
por voluntários da Conscienciologia (Cosmoética, Villa Conscientia Asa Norte e Asa
Sul, Campo dos Sonhos, Serenologia, Evolução, Rose Garden) e 4 condomínios
sem vínculo com a Conscienciologia (Chácaras Natureza, Village Golf Iguaçu
Residence, Reserva do Iguaçu e Verdes Pampas), conforme a figura 16.
É importante mencionar que não existem só conscienciólogos nos 7
condomínios citados anteriormente, assim como existem conscienciólogos morando
nos 4 condomínios sem vínculo com a Conscienciologia. Por exemplo, no Villa
Conscientia há 200 lotes, sendo que já existem 62 residências construídas com 108
moradores. Dentre os moradores, aproximadamente 82% são da Conscienciologia e
18% não tem relação com a Conscienciologia178.
Grande parte da área do bairro é de preservação ambiental. Os loteamentos
localizam-se principalmente próximos da avenida Maria Bubiak, no limite à oeste, e
alguns loteamentos na rua da Cosmoética e na rua Felipe Wandscheer. No canto
superior direito da figura 16, há um mapa menor sinalizando a posição geográfica da
Cognópolis no município de Foz do Iguaçu, mais à sudeste.

176
DIÁRIO Oficial do Município, Prefeitura de Foz do Iguaçu, ano XXII, ed. 3.496, p. 12-46, 21 dez.
2018. Disponível em: http://www.pmfi.pr.gov.br/ ArquivosDB?idMidia=106581. Acesso em: out. 2019.
177
LEI Complementar N. 303, de 20 de dezembro de 2018. Disponível em: <
https://leismunicipais.com.br/a/pr/f/foz-do-iguacu/lei-complementar/2018/30/303/lei-complementar-n-
303-2018-dispoe-sobre-a-criacao-delimitacao-e-denominacao-de-bairros-no-municipio-de-foz-do-
iguacu-e-da-outras-providencias>. Acesso em: 28 out. 2019, às 17h35.
178
Fonte: informação obtida com Melissa Wisnieski, gerente do condomínio Villa Conscientia Asa
Norte, em 05 de novembro de 2019, pelo whatsApp. A menção do nome foi autorizada pela
informante.
259

Figura 16 – Espacialização dos limites do Bairro Cognópolis

Fonte: DIÁRIO Oficial do Município, Prefeitura de Foz do Iguaçu, ano XXII, ed.
3.496, p. 36, 21 dez. 2018. Disponível em: http://www.pmfi.pr.gov.br/
ArquivosDB?idMidia=106581. Acesso em: out. 2019.

Três dos sete condomínios mencionados, passaram recentemente por um


processo de integração, assunto desenvolvido a seguir.

4.3.11 Integração de condomínios

Em março de 2019, concretizou-se a integração de 4 dos condomínios


conscienciológicos, 3 já citados e 1 mais recente que não aparece no Diário Oficial
do município (de 21/12/2018).
Foi feito um café da manhã de confraternização entre os moradores dos
condomínios Serenologia, Cosmoética, Evolução situados na rua da Cosmoética e o
condomínio “Integração” na avenida Felipe Wandscheer (último condomínio criado,
260

até o momento, em 18/02/2013179) que integraram serviços e despesas e passaram


a formar um complexo habitacional de 140 moradores. A entrada de todos os
moradores passou a ser feita pela portaria do Serenologia, na rua da Cosmoética.
Segundo a síndica Jackeline Bitencourt, “a segurança foi a maior motivação”.180
Até chegar nesse ponto da integração de 4 condomínios foi uma longa
caminhada de reuniões e discordâncias a fim de se chegar a um consenso. Em
2014, a UNICIN foi convocada por Waldo Vieira para emitir um parecer sobre as
críticas realizadas por alguns moradores e outros cognopolitas no âmbito do fórum
de debates públicos do Tertuliarium sobre as ações da Comissão de Segurança
Integrada dos Condomínios, que envolvia os condomínios Cosmoética, Evolução,
Serenologia e a casa de um casal de voluntários. Essa comissão fazia parte de uma
comissão maior de segurança da Cognópolis, envolvendo todos os condomínios e
campi conscienciocêntricos181.
O parecer da UNICIN182 possuía caráter consultivo, pois os condôminos eram
cognopolitas e, em sua maioria, voluntários de instituições conscienciocêntricas. O
parecer trouxe o histórico com incidentes de seguranças ocorridos em julho de 2011,
fatos que geraram a criação da Comissão de Segurança Integrada dos
Condomínios. Esta foi formada por 2 representantes de cada condomínio, que
atuaram de modo voluntário. Algumas decisões foram tomadas em curto prazo, por
exemplo: instalação de cerca elétrica nos limites dos condomínios; a construção de
um muro de alvenaria com 3 m de altura nos fundos do condomínio, dentre outras.
Após ouvir especialistas na área, as principais orientações foram: integrar as
portarias dos condomínios em uma única portaria protegida; e proteger os fundos
dos condomínios criando uma área iluminada e com fluxo de carros e pessoas,
reduzindo o risco de invasão pelos fundos.
Sobre tais orientações, foi realizada votação, em dezembro de 2011, entre os
moradores dos 3 condomínios a respeito de ser favorável ou não à integração das
portarias, assim como referente às opções para integração das portarias (foram 5
opções: se a portaria seria no “Cosmoética” ou no “Serenologia” com e sem via

179
Fonte: informação obtida com a moradora do condomínio “Integração”, Karla Ulman, em
15/10/2019, por whatsApp. A menção do nome foi autorizada pela informante.
180
AMADORI, Rosane. Condomínios próximos ao CEAEC integram serviços. Jornal da Cognópolis,
Foz do Iguaçu, ano 22, n. 221, p. 2, mar. e abr. 2019.
181
Fonte: Parecer N. 01/2014, sobre a Integração dos Condomínios, disponível na UNICIN.
182
Fonte: Parecer N. 01/2014, sobre a Integração dos Condomínios, disponível na UNICIN.
261

conectora nos fundos, além de uma opção de construir uma nova portaria no
“Cosmoética” com via conectora nos fundos).
O resultado foi que a maioria foi favorável à integração das portarias e ganhou
a opção 3. A portaria escolhida foi do condomínio Serenologia com via conectora
nos fundos. Após o resultado, foi elaborado um plano de ações encaminhado aos
condôminos, assim como foram feitos orçamentos para as obras, e em maio de
2012, foi apresentado um plano de captação de recursos para os investimentos de
segurança.
Apesar da votação interna dos condomínios envolvidos, as duas orientações
dadas pelos especialistas ainda não tinham saído do papel em 2014, 3 anos depois.
O que paralisou o andamento das obras foram principalmente as objeções de alguns
moradores que não representavam maioria em nenhum dos condomínios. Um
exemplo de objeção foi a forma utilizada pela comissão de segurança na condução
do processo, pois alguns moradores se sentiram pouco informados e ainda
compelidos a aprovar a união dos condomínios.
Essa questão chegou à UNICIN em caráter de consulta. Foi solicitado um
parecer sobre a legalidade e a cosmoética sobre a condução dos trabalhos da
comissão e das ações de integração dos condomínios.
O posicionamento da UNICIN, após reuniões com os envolvidos e análise de
documentos, foi de que a Comissão de Segurança “colocou o bem comum à frente
das necessidades individuais egóicas”, “considerou a análise de especialistas em
segurança durante o processo e não focou o debate em opiniões superficiais”,
“observou até aqui todos os trâmites legais de condomínios”, “realizou diversas
apresentações aos condôminos”, “realizou votação entre todos os moradores e
escolheu a opção mais votada”, “respondeu aos anseios legítimos dos moradores
por mais segurança”, e assim por diante.
A UNICIN concluiu que “as ações de segurança exigem urgência e portanto as
discussões não podem se estender e retardar as decisões” coletivas, “sugere-se
basear a tomada de decisão, sempre que possível, por maioria e não por
unanimidade”, “é no mínimo irresponsável ou anticosmoético antepor-se à maioria
quando o assunto em questão é de tamanha seriedade”. O parecer termina
informando que os documentos da Comissão de Segurança Integrada dos
Condomínios estavam disponíveis para consulta na UNICIN.
262

Esse foi um dos exemplos de conflitos internos da comunidade


conscienciológica em Foz do Iguaçu, no qual o esforço coletivo em busca da solução
por maior segurança iniciou-se em 2011 e finalizou em 2019, tendo a mediação da
UNICIN como um dos recursos de apoio à resolução de conflito coletivo.
O parecer da UNICIN foi divulgado em 2014, porém devido à necessidade de
tramitar todo o processo burocrático nos órgãos competentes, se passaram alguns
anos até unificar a portaria dos 3 condomínios, e neste ano de 2019, incluir a
portaria do condomínio “Integração” nesse complexo habitacional.
A UNICIN, desde a sua fundação, previu um Comitê de Paradiplomacia entre
seus órgãos sociais, o que pressupõe a expectativa de conflitos para serem
solucionados, não apenas entre moradores de condomínios. Mas, possíveis conflitos
entre voluntários, entre instituições, entre instituições e empresas
conscienciológicas, e assim por diante. Tal tema voltará à discussão no último
capítulo.
Em paralelo ao desenvolvimento da Cognópolis Foz, as demais instituições
que possuíam campus em outras localidades do Brasil também começaram a buscar
a formação de um “bairro do conhecimento”. A meta é desenvolver o embrião de
Cognópolis existente no campus Aracê em Domingos Martins (ES), no campus do
IIPC em Saquarema (RJ) e no campus da Intercampi em Natal (RN), tomando a
Cognópolis Foz como exemplo. Para atingir tal meta, vem sendo realizados os
chamados “Encontros Intercognópolis”, com periodicidade bienal, em sistema de
rodízio do campus anfitrião.183
Finalizando, nesse último tópico 4.3 – Desenvolvimento do Bairro Cognópolis,
foram vistas iniciativas de gerenciamento do bairro Cognópolis, por exemplo, pelo
“Conselho dos 500” e da AMAC, a fundação de mais instituições, algumas ações de
interação entre os voluntários da Conscienciologia e a população iguaçuense, o
falecimento de Waldo Vieira, um exemplo de conflito comunitário e os caminhos de
solução encontrados.

183
BALTHAZAR, Alexandre. Encontro Intercognópolis. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 20,
n. 203, p. 2, jul. 2017.
263

4.4 Considerações do capítulo

Nas considerações desse capítulo, irei continuar com a análise territorial


iniciada no capítulo anterior, nos tópicos 4.4.1 e 4.4.2; seguido por explicações a
respeito das múltiplas instituições conscienciológicas fundadas, no tópico 4.4.3; que
levam a refletir sobre o governo da Cognópolis no tópico 4.4.4; em seguida, o
aspecto migratório, essencial para formação da comunidade conscienciológica, é
exposto no tópico 4.4.5; em continuação, será comentada a relação entre a
comunidade conscienciológica e a sociedade iguaçuense, no tópico 4.4.6; assim
como as relações internas da comunidade conscienciológica, em 4.4.7.

4.4.1 Territorialidade IV: Raffestin e Saquet

Nesse capítulo, foi possível observar novamente um embrião do “território


conscienciológico”, que teve início ainda no Rio de Janeiro, se formando novamente
em Foz do Iguaçu.
Com exceção do CEAEC, as demais instituições que foram sendo constituídas
não possuíam terrenos para construir suas sedes quando recém-fundadas. Assim,
se formou no centro de Foz do Iguaçu, em um prédio comercial, um “núcleo
territorial conscienciológico” temporário, onde o IIPC, a OIC, a Editares, a
Assinvéxis, a UNICIN, entre outras instituições alugaram salas comerciais para
poder desenvolver suas atividades. Além das instituições, voluntários também
instalaram suas empresas no mesmo prédio a fim de facilitar a mobilidade entre o
trabalho profissional e o voluntário.
Após a aquisição do terreno da OIC, do Discernimentum, da Assinvéxis e da
Reaprendentia, as instituições mudaram de endereço, concentrando-se no mesmo
bairro. Essa ampliação de territórios institucionais somando-se aos residenciais,
confluíram para a delimitação de “fronteiras” de um bairro, a Cognópolis.
Desse modo, seguindo a proposta de Raffestin184, a energia e a informação
aplicadas nesses territórios foram norteadas pelo saber conscienciológico, por
intermédio do trabalho voluntário. No entanto, não foi só esse saber mobilizado, é

184
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993, p. 143.
264

oportuno ressaltar que esse trabalho foi conduzido por voluntários, que possuem
expertises adquiridas por suas vivências pessoais e pelo exercício profissional.
Outro aspecto a ser considerado é que houve uma relação estreita entre o
processo migratório e a expansão dos territórios, e em consequência, o
enraizamento da comunidade. Se os voluntários não migrassem para Foz do Iguaçu
não haveria necessidade de projetos habitacionais e aquisição de terrenos para
novas instituições.
Ao mesmo tempo, fora de Foz do Iguaçu, houve a formação do campus
INTERCAMPI, em Natal (RN), além dos já existentes, campus da ARACÊ (ES) e o
campus IIPC em Saquarema (RJ). O campus em Évoramonte, em Portugal, deixou
de fazer parte da multiterritorialidade conscienciológica. Tal processo e dinâmica
fazem parte do conceito proposto por Raffestin de territorialização-
desterritorialização-reterritorização (TDR), no qual o território passa por processo de
transformações com o tempo em função de fatores econômicos, políticos e culturais.
Para Raffestin185, as relações de poder estabelecem-se em contexto da vida
cotidiana e são também trans-multiescalares. As territorialidades, entendidas como
vivências espaço-temporalmente, são efetivadas nos níveis intra-familiares, intra-
comunitários e entre as instituições, implicando em relações próximas (alteridade) e
distantes (exterioridade). Assim, para esse autor, não há uma territorialidade, mas
múltiplas territorialidades.
As relações sociais vivenciadas nas territorialidades visam a organização e a
mobilização política com vistas à conquista da autonomia. Tendo como base essa
concepção de Raffestin e de outros autores, o geógrafo e professor da UNIOESTE
Marcos Aurélio Saquet186 argumenta a favor de uma “Geografia das territorialidades
e das temporalidades voltadas para a cooperação, para o desenvolvimento com
mais justiça social, recuperação ambiental, solidariedade, participação”.
A solidariedade entendida como reciprocidade, ajuda mútua, espontaneidade,
vinculada à conquista da autonomia decisória. “A solidariedade precisa ser
construída entre as pessoas, historicamente, nas conversas, nos debates, nas
decisões, na vizinhança, enfim na práxis cotidiana”187.

185
RAFFESTIN, 1993.
186
SAQUET, Marcos Aurélio. Por uma geografia das territorialidades e das temporalidades. 2. ed.
rev. e amp. Rio de Janeiro: Consequência, 2015, p. 123.
187
SAQUET, 2015, p. 127-128.
265

188
Saquet cita a importância da “organização política de gestão e
autonomia” do território. “É necessário construir um novo território para uma nova
sociedade, o que exige, evidentemente, uma práxis diferente para a relação
sociedade-natureza, valorizando os saberes populares, a agricultura camponesa”,
entre outros.
Saquet189 menciona a necessidade de “definir novas práticas territoriais, novas
apropriações e relações que valorizem o patrimônio territorial de cada lugar.” Isso
inclui a concepção de um autogoverno, de governar-se com responsabilidade social
e ambiental sem perder o contato com o mundo, valorizando os conhecimentos dos
moradores, a gestão participativa, a solidariedade e as relações de confiança. Tais
processos podem se estabelecer por meio das associações de bairro, escolares,
dentre outras.
Tal proposta de Saquet está em sintonia com os experimentos de gestão
participativa e de democracia que o bairro Cognópolis vem tentando implantar. Uma
análise sobre os processos de democracia na Cognópolis-Foz foi realizada pela
pesquisadora da área do Direito Karla Ulman e serão apresentados no subtópico
4.4.4 dessas Considerações.
A gestão participativa territorial do bairro é um desafio à comunidade
conscienciológica e aos moradores da Cognópolis. No entanto, a estratégia utilizada
pela AIEC na aquisição dos terrenos se constitui em um indício da participação dos
voluntários e de suas vontades na própria formação da comunidade
conscienciológica. Mesmo a propaganda que a AIEC possa ter realizado na venda
dos lotes não justifica a forte adesão pelos voluntários.
É importante dar um zoom no caso dos 4 terrenos adquiridos entre 2006 e
2007. Todos os 4 terrenos foram adquiridos realizando-se a venda de lotes sem
poder entregar a escritura logo em seguida para os compradores. Estabeleceu-se
uma relação de confiança entre a AIEC e os voluntários que compraram os lotes.
Estes deram o dinheiro antes de ter a garantia do lote adquirido.
Levi 190 , estudando a estratégia das famílias em administrar as terras na
comunidade de Santena, destaca que “devemos observar as formas de
solidariedade e cooperação seletiva adotadas para organizar a sobrevivência e o

188
SAQUET, 2015, p. 133, grifos do autor.
189
SAQUET, 2015, p. 134, grifos do autor.
190
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Trad.
de Cynthia Marques de Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 98.
266

enriquecimento, ou seja, as amplas fontes de favores, dados ou esperados, através


dos quais passam informações e trocas, reciprocidades e proteções.” No caso em
estudo, não diz respeito necessariamente à sobrevivência e ao enriquecimento, pois
a maioria dos voluntários compraram os lotes para moradia futura, porém não é
razoável descartar a possibilidade dos que compraram para revender e ganhar
dinheiro.
Mas o que chama a atenção é a relação de confiança estabelecida entre a
AIEC e os voluntários da Conscienciologia, tendo a AIEC assumido o papel de
mediadora na gestão da aquisição de uma boa parte dos terrenos pertencentes à
comunidade conscienciológica na Cognópolis, seja propriedade privada de
voluntários ou propriedade das instituições conscienciocêntricas.
Aí parece existir um indício da relação de confiança, de um modo de
solidariedade que evoca a definição de comunidade de Ferdinand Tönnies191: “Tudo
o que é confiante, íntimo, que vive exclusivamente junto, é compreendido como a
vida em comunidade (assim pensamos). A sociedade é o que é público, é o mundo”.
Outra definição que contrapõe o conceito de comunidade ao de sociedade é de
Max Weber192: a comunidade seria uma relação social inspirada no sentimento dos
participantes da “constituição de um todo” enquanto que a sociedade seria uma
relação social inspirada em uma “compensação de interesses por motivos racionais
(de fins ou de valores) ou também numa união de interesses com idêntica
motivação”.
Para Weber193, a grande maioria das relações sociais têm caráter em parte
comunitário e em parte societário. É o que parece ter ocorrido nesse contexto da
compra dos 4 terrenos mediada pela AIEC. Uma parte dos voluntários compraram
com a finalidade de morar, de estar junto e pode ter existido aquele voluntário que
comprou para fazer negócio. No entanto, em ambos os casos, estabeleceu-se uma
relação de confiança entre voluntários e a AIEC, uma vez que a escritura só sairia

191
TÖNNIES, Ferdinand. Comunidade e sociedade como entidades típico-ideais. In: FERNANDES,
Florestan. (Org.). Comunidade e Sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e
de aplicação. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973,
p. 97, grifo do autor.
192
WEBER, Max. Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. In: FERNANDES,
Florestan. (Org.). Comunidade e Sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e
de aplicação. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973,
p. 140, grifos do autor.
193
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de
Regis Barbosa e Karen Elisabete Barbosa. Revisão técnica de Gabriel Cohn. 4. Ed. 3. Reimp.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012, p. 25-26.
267

após a compra do terreno e a realização de todos os procedimentos burocráticos


necessários, e não logo em seguida ao pagamento efetuado.
Outro aspecto dessa questão é que a aquisição dos 4 terrenos, o próximo à
OIC, do Villa Conscientia Asa Norte, do Discernimentum e do Villa Conscientia Asa
Sul, só foi possível graças à adesão de dezenas e até mesmo centenas de
voluntários. Houve uma “organização política de gestão e autonomia” na aquisição
dos territórios por parte da comunidade conscienciológica, para falar nos termos de
Saquet. Agora o desafio é essa organização política de gestão dos territórios na sua
manutenção para o bem-estar dos envolvidos.

4.4.2 Territorialidade V: Haesbaert

O conceito de multiterritorialidade conforme proposto por Haesbaert194 a partir


da ideia de “múltiplos territórios” tanto devido à facilidade e velocidade dos meios de
transporte otimizando deslocamentos físicos quanto o acesso às tecnologias de
comunicação, pode ser aplicado ao processo de formação territorial
conscienciológica.
Conforme visto nesse capítulo, o território conscienciológico se ampliou. Essa
expansão ocorreu na mesma condição mencionada no capítulo anterior, ou seja, em
uma posição intermediária na qual território e rede formaram um binômio, sendo os
territórios-zona auxiliados pela rede, principalmente a virtual pelo uso da internet.
Cada instituição faz uso da rede, por meio de tecnologias de comunicação,
para estabelecer contato instantâneo com a finalidade de reuniões tanto intra-
institucionais, por exemplo, os voluntários do IIPC de Saquarema com os voluntários
da sede do IIPC em Foz do Iguaçu, quanto inter-institucionais, por exemplo, entre os
voluntários das instituições Aracê com o CEAEC, com objetivo de estabelecer
parcerias de cursos.
A rede virtual também é o meio pelo qual as instituições ofertam cursos com
aulas à distância, com a participação de alunos brasileiros de vários estados
diferentes e alunos estrangeiros. Os cursos das instituições em geral são pagos,
pois a receita arrecadada é utilizada para manutenção da infra-estrutura
organizacional.

194
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade.
5. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010, p. 343.
268

No entanto, as instituições que já estão melhor estruturadas, costumam


oferecer atividades científicas e culturais gratuitas. O exemplo citado no capítulo
anterior foi o das tertúlias vespertinas, realizadas no horário de 12h30 às 14h30,
diariamente, gratuitas, com transmissão online, no CEAEC, podendo o
“teletertuliano” enviar perguntas instantaneamente.
Além das tertúlias, o debate gratuito intitulado “Calepino Conscienciológico”,
realizado pela AIEC, nasceu desde o primeiro encontro, em 05 de março de 2017,
com transmissão online.
No CEAEC, o debate do “Círculo Mentalsomático”, aos sábados pela manhã,
teve início em 07 de abril de 2012 e passou a realizar transmissão online a partir de
27 de abril de 2019. E o debate da “Tertúlia Matinal”, aos domingos pela manhã,
teve início em 03 de julho de 2016 e passou a ser transmitido online a partir de 28 de
abril de 2019.195
Tais debates e cursos realizados online caracterizam os territórios
conscienciológicos com os traços da imaterialidade ou da virtualidade. Além disso,
as parcerias de cursos e as necessidades de reuniões presenciais entre os
voluntários das instituições estimulam a mobilidade física eventualmente pelos
meios de transportes.
A multiterritorialidade conscienciológica mantém a condição do binômio
território-rede mencionada no capítulo 3, porém ampliada, não apenas com campi
institucionais, mas com territórios-zona bem delimitados no nível do bairro
Cognópolis-Foz (PR), o embrião de Cognópolis na Aracê (ES), na Intercampi (RN) e
em Saquarema (RJ), ao mesmo tempo articulados pela rede virtual.

4.4.3 Instituições

A institucionalização gerada por voluntários motivados para desenvolver uma


área ou especialidade da Conscienciologia é uma prática da comunidade
conscienciológica. Algumas nasceram por sugestão de Waldo Vieira, outras pela
iniciativa de voluntários. Algumas desenvolveram-se a partir de grupos de pesquisa

195
Fontes: E-mail enviado pelo secretário-geral do CEAEC em 26 de abril de 2019; TERTÚLIA
Matinal. Disponível em: <http://www.icge.org.br/?page_id=3127>. Acesso em: 18 out. 2019, às 19h30;
FREIRE, Carmen; ALMEIDA, Nazaré; SALLES, Rosemary. Círculo Mentalsomático: volume I,
encontros 01 a 10, período de 07 de abril a 09 de junho de 2012. Foz do Iguaçu: Epígrafe, 2019.
269

da Conscienciologia (GPCs), outras surgiram para preencher lacunas na


comunidade conscienciológica.
O mecanismo de institucionalização do voluntariado conscienciológico parece
ser um modo de fixação de grupos de estudo e de trabalho assistencial, pois todas
são organizações do terceiro setor. As instituições conscienciocêntricas (ICs)
desenvolvem especialidades propostas pela Conscienciologia, sendo que algumas
tem um caráter mais endógeno quanto ao âmbito de atuação, por exemplo, a
UNICIN direcionada para a própria comunidade e as instituições e a AIEC voltada
para a expansão da Conscienciologia.
A explicação para tal prática pode encontrar respaldo em uma matéria de jornal
que encontrei em uma das pastas intitulada “ICs” localizada na Hemeroteca do
Holociclo, departamento do CEAEC voltado para produção intelectual. O recorte é
do jornal “O Estado de S. Paulo”, de 28/01/2005, cujo título era “O recado dos
espanhóis”196, artigo assinado pelo jornalista, ex-deputado federal e ex-ministro de
Estado João Mellão Neto.
O artigo estava amarelado pelo tempo, com a classificação do tema escrito em
caneta hidrográfica preta no cabeçalho da página “ICs”, sendo o “I” escrito com
serifa e alguns trechos do texto estavam destacados com a cor amarela de caneta
marca-texto.
Minha hipótese é que esse recorte foi selecionado por Waldo Vieira. Tomo
como base a informação de que o Holociclo foi o departamento onde ele trabalhou
intelectualmente no período que morou dentro do CEAEC, de 2000 até 2015. No
Holociclo, especialmente até 2008, Waldo Vieira passava o dia pesquisando e
recortando notícias de periódicos a fim de enriquecer a Hemeroteca.
Vieira tinha como hábito utilizar a caneta marca-texto amarela e escrever com
estilo gráfico serifado. Tal costume também pode ser observado em dicionários
doados e lidos por ele, nos quais constam sua assinatura e que se encontram na
lexicoteca. Esta coleção fica ao lado da hemeroteca. Nos dicionários, além de utilizar
a caneta marca-texto, Vieira escrevia sua opinião sobre o conteúdo, com caneta
hidrográfica preta, por exemplo: “raro”, “precioso” na falsa folha de rosto do léxico. 197

196
MELLÃO NETO, João. O recado dos espanhóis. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 126, n.
40.645, p. A2, 28 jan. 2005.
197
Tais observações estão fundamentadas na experiência da autora como voluntária do
departamento do Holociclo, desde o ano 2000.
270

Os voluntários que trabalhavam e trabalham até hoje, pesquisando em


periódicos no Holociclo, não tinham como procedimento sublinhar o texto ou
assinalá-lo com caneta marca-texto amarela. A seguir, irei abordar o conteúdo do
artigo.
O artigo trata do valor das instituições para uma nação. Comenta a declaração
do primeiro-ministro espanhol na ocasião, José Luis Rodríguez Zapatero (1960–),
direcionada para os brasileiros, condicionando a vinda de investimentos espanhóis a
um fator considerado “a pedra de toque do capitalismo: ‘marcos jurídicos’ foi a
expressão que ele usou. ‘Instituições apropriadas’ foi o que ele quis dizer”198.
Referindo-se aos casos da Espanha e de Portugal o articulista citou: “O
voluntarismo governamental, a cultura do privilégio e o fatalismo religioso, (...)
tiveram de ceder espaço ao não-intervencionismo estatal, à liberdade de iniciativa, à
cultura do mérito”. Mellão Neto afirma que “Portugal é hoje uma genuína nação
europeia (...) e a Espanha se tornou uma potência econômica.” Continua explicando
que o que mudou nesses países foram, basicamente, as instituições.
O caso desses países encontra respaldo em uma moderna corrente de
pensamento econômico chamada “institucionalismo”. Refere-se ao trabalho do
nobelista em Economia, Douglas North (1920–2015), que atribuiu o sucesso ou o
fracasso das nações não a fatores econômicos ou riquezas naturais, mas às suas
instituições. Instituições adequadas levam à prosperidade. O referido nobelista
pesquisou as nações pela história comparada e, segundo ele, instituições “não se
resumem apenas às estruturas jurídico-legais ou aos sistemas de governo.
Instituições são também todos os valores, crenças, costumes e culturas
consensualmente aceitos pela sociedade.”
Desse modo, “o conjunto de instituições de uma sociedade (...) é o que
determina o sucesso ou o fracasso do seu projeto nacional.” Instituições ditas
positivas, possuem valores tais como: “confiança mútua, ética do trabalho,
reciprocidade, senso comunitário, valorização social do mérito e do esforço
individual (...), contribuem para a coesão e a interação harmônica da sociedade.”
Instituições ditas negativas, despertam desconfiança do próximo, valorização do
mínimo esforço, da “esperteza”, o descompromisso com a palavra dada e com as
obrigações assumidas.

198
MELLÃO NETO, 2005, p. A2.
271

De acordo com esse estudo econômico, as pessoas podem achar que o


capitalismo, devido à livre concorrência, se encaixa na segunda opção, porém é o
contrário, instituições negativas são típicas de sociedades em que o capitalismo não
foi implantado. Por exemplo, em “nações africanas, ou foi sufocado, como ocorreu
na União Soviética. O sistema capitalista só funciona onde existem instituições
positivas.”
De acordo com Mellão Neto, a base do sistema capitalista é o crédito, o que
equivale, em sentido amplo, à confiança. “Confiança de todos em todos”. Para que o
sistema capitalista funcione, é preciso ter uma estrutura legal isenta e eficiente,
assim como uma Justiça ágil e eficaz, um Estado impessoal e imparcial, sendo todos
iguais perante a lei.
Tal condição citada por Mellão Neto seria o ideal pensado na teoria. No entanto
o articulista não mencionou as contradições da prática capitalista de exploração da
mão-de-obra trabalhadora nesse texto. Assim, a ênfase nas instituições não parece
ser a panaceia universal, mas ainda assim, a teoria das instituições, proposta por
Douglas North pode auxiliar na discussão sobre a comunidade conscienciológica.
Transpondo o “recado dos espanhóis” para o institucionalismo
conscienciológico: será que o conjunto das instituições conscienciocêntricas ou
atividades institucionais da comunidade conscienciológica determinam o sucesso ou
o fracasso do seu projeto coletivo? Se as instituições conscienciocêntricas não
existissem, a comunidade conscienciológica existiria?
Essa relação instituição conscienciocêntrica e comunidade conscienciológica
será retomada no último capítulo. Mas, no momento, pode-se afirmar que o tema do
institucionalismo abordado nesse artigo, encontrado na pasta das “ICs”, sugere que
a proposta de institucionalização a partir de voluntários encontra respaldo nesse
binômio instituição positiva–nação próspera, sendo que no caso em estudo, em
amostra reduzida, poderia ser traduzido para o binômio “instituições
conscienciocêntricas(ICs)–Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional
(CCCI)”.
Assim como Ginzburg199 encontrou conexão entre as leituras de Menocchio, o
moleiro perseguido pela Inquisição no século XVI, e a cultura oral de seu tempo,

199
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. 1. ed. 10. reimp. São Paulo: Companhia das Letras,
2015, p. 95.
272

“não o livro em si, mas o encontro da página escrita com a cultura oral é que
formava, na cabeça de Menocchio, uma mistura explosiva”, também levantamos a
hipótese de algumas leituras de Vieira terem orientado ou confirmado seu modo de
pensar e agir. Especialmente, como diz Ginzburg 200 , “o importante não é o que
Menocchio leu ou recebeu – é como leu, é o que fez de suas experiências”.
Nesse sentido é que compreendi esse indício: o artigo de Mellão Neto é de
2005, dias depois da fundação da UNICIN, o que sugere não uma influência do
artigo no pensamento de Waldo Vieira, mas a ratificação dos encaminhamentos
sugeridos por ele na direção de criar a UNICIN e novas instituições.
Instituições não resolvem todos os problemas, nem no âmbito microssocial –
na comunidade conscienciológica, por exemplo – nem no macrossocial – nas
nações, no entanto elas ajudam a concretizar e a consolidar valores sociais. As
instituições conscienciocêntricas são a materialização em pessoas jurídicas das
ideias e dos conceitos da Conscienciologia.
201
De acordo com Karla Ulman , a multiplicidade de instituições
conscienciocêntricas tem como objetivo “praticar os conceitos teóricos da
democracia, desenvolvendo-a.” Ulman, fundamentada em Roger Osborne202, sugere
que tal condição em pleno século XXI, considerando ser essa comunidade
majoritariamente de migrantes, teria encontrado inspiração nos gregos antigos.
Nos séculos VI e V a.e.c., os gregos “se viam como descendentes de
imigrantes, porque, historicamente, migraram do norte muito tempo antes do período
clássico com aspectos culturais próprios e marcantes”. Osborne associa o contexto
de migrantes gregos com o futuro aparecimento da democracia, pois a mobilidade
social dos grupos iria se contrapor aos sistemas hierárquicos vigentes. Os gregos
logo perceberam que, para mudar a realidade, era necessário criar instituições a fim
de dar suporte aos encontros que formariam o governo do povo.
Ulman sugere que as instituições conscienciocêntricas estão sendo criadas
para dar suporte aos encontros de pessoas e grupos que formariam o “governo dos
voluntários”.

200
GINZBURG, 2015, p. 194.
201
ULMAN, 2019, p. 134.
202
OBBORNE apud ULMAN, 2019, p. 134.
273

Ainda sobre as lideranças das instituições conscienciológicas, é importante


mencionar que ocorre a indicação livre de candidatos e os membros são eleitos nas
assembleias gerais, sendo que os voluntários têm direito a voz e voto.203
A eleição da coordenação geral das ICs e demais coordenadores em geral
realizam-se em clima de consenso e os candidatos são eleitos por unanimidade
pelos voluntários presentes 204 . O período do mandato varia de acordo com o
Estatuto social de cada instituição, mas o mais importante a ser registrado é que
existe o rodízio de voluntários nas coordenações das instituições, o que é, em si, um
exercício democrático.
Além disso, os voluntários frequentemente mudam de instituições
conscienciocêntricas ou trabalham voluntariamente em duas ou mais, levando o
aprendizado vivido de uma para outra, favorecendo o desenvolvimento do senso
comunitário. Nesse sentido, é oportuno lembrar que um dos princípios do
voluntariado conscienciológico é o não recebimento de qualquer remuneração para
qualquer função exercida, seja de liderança administrativa ou docente, o que
também cria condições favoráveis para o florescimento do senso comunitário, pois o
dinheiro não é elemento motivador para o trabalho.

4.4.4 O governo da Cognópolis

A pesquisadora Karla Ulman levantou o seguinte problema de pesquisa: Quem


governa a Cognópolis? Realizou este estudo no mestrado em Direito Político e
Econômico promovido em parceria pelo Centro Acadêmico Cataratas (UDC) em Foz
do Iguaçu e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (MACKENZIE) em São
Paulo e que resultou em um livro publicado em outubro de 2019.
Karla Ulman partiu da metodologia decisional ou o método de análise de
decisões desenvolvido por Robert Dahl205, no seu livro Who governs? Democracy
and power in an American City (“Quem governa? Democracia e poder em uma
cidade americana”, de 1961), a fim de responder a questão: quem governa, de fato,
a cidade de New Heaven? A análise da democracia na Cognópolis, feita por

203
ULMAN, 2019, p. 151.
204
ULMAN, 2019, p. 151.
205
DAHL apud ULMAN, 2019, p. 143.
274

Ulman 206 , tomou como objeto de exame 3 aspectos: a eleição das lideranças,
algumas decisões tomadas na Cognópolis e as instâncias de poder diretas e
indiretas.
Quanto ao processo eleitoral, a autora analisou os casos da AMAC, da
UNICIN, das ICs, do Conselho dos 500 e do Colegiado da Conscienciologia. Quanto
ao processo decisional, foram analisadas algumas decisões tomadas pela AMAC,
pelo Conselho dos 500 e pelo Colegiado de Intercooperação (órgão máximo
deliberativo dos voluntários da comunidade conscienciológica). Quanto às instâncias
de poder, foi elaborada uma listagem com 51 voluntários que exercem diversos
cargos em um levantamento de 10 instâncias de poder diretas e indiretas 207 , a
saber:
1) Colegiado da Conscienciologia: seus membros;
2) UNICIN: coordenador geral e coordenações exclusivas de 3 comitês
(paradiplomacia, conscienciocentrologia e protocolo);
3) ICs: os coordenadores gerais;
4) Dinâmicas Parapsíquicas: o professor epicon, aquele com domínio das
bioenergias e razoável domínio parapsíquico, considerado formador de opinião;
5) Tertúlias Conscienciológicas: os mediadores considerados formadores de
opinião;
6) Círculo Mentalsomático: os mediadores considerados formadores de
opinião;
7) Conselho de Epicons: os professores epicons ativos considerados
formadores de opinião;
8) Autores: os voluntários que publicaram livros de qualquer assunto,
considerados formadores de opinião;
9) Docentes de Conscienciologia: considerados formadores de opinião e;
10) AMAC: o coordenador geral.

Ulman 208 investigou a sobreposição de lideranças considerando os cargos


políticos e/ou jurídicos, assim como as lideranças que exercem influência direta ou
indireta na formação das ideias da comunidade. Ela encontrou a seguinte

206
ULMAN, 2019, p. 149.
207
ULMAN, 2019, p. 149-165.
208
ULMAN, 2019, p. 165-166.
275

configuração: 1 voluntário se encontrava em 7 instâncias de poder; 4 voluntários em


6 instâncias diferentes de poder; 8 voluntários em 5 instâncias diferentes de poder; 9
voluntários em 4 instâncias de poder; 14 voluntários em 3 instâncias diferentes de
poder; e 15 voluntários em duas instâncias de poder.
Os 51 voluntários analisados que exercem lideranças diretas ou indiretas na
Cognópolis são todos docentes da Conscienciologia. “Este fato demonstra ser a
liderança do bairro Cognópolis formada por 100% de professores voluntários” 209 .
Outro resultado encontrado é que desse total de professores voluntários, 64,7% são
professores voluntários epicons e 35,3% de docentes voluntários, apontando que há
centralização de poderes políticos nas mãos dos membros do Conselho de
Epicons210.
No entanto, Karla Ulman 211 ressalta que, em relação aos cargos eletivos,
sobretudo de ICs, UNICIN e Colegiado da Conscienciologia, estes voluntários foram
eleitos por votação consensual pelos voluntários da comunidade conscienciológica,
“o que demonstra confluência de visão política entre líderes e liderados”.
Ulman 212 concluiu que a “Cognópolis é um bairro com predominância de
pluralismo democrático, governado por seus voluntários, prioritariamente, a partir
das lideranças constituídas por inúmeros docentes da ciência Conscienciologia.” O
pluralismo dos recursos de poder conta com instrumentos participativos para tomada
de decisões, por exemplo: colegiados, conselhos, AMAC, UNICIN, as próprias ICs e
outros organismos conscienciocêntricos213.
Da listagem de 10 instâncias de poder direto e indireto, selecionadas pela
pesquisadora Karla Ulman, 3 são consideradas práticas culturais da comunidade
conscienciológica a serem comentadas no último capítulo (Dinâmicas Parapsíquicas,
Círculo Mentalsomático e Tertúlias Conscienciológicas).

4.4.5 Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu

209
ULMAN, 2019, p. 166.
210
ULMAN, 2019, p. 167.
211
ULMAN, 2019, p. 167.
212
ULMAN, 2019, p. 168.
213
ULMAN, 2019, p. 170.
276

A migração é considerada uma forma particular de mobilidade geográfica na


medida em que são movimentos que implicam uma mudança de residência214. O
conceito é simples, porém a operacionalização para efeitos de quantificação dos
fluxos migratórios é complexa.
A migração conscienciológica é majoritariamente uma migração interna, ou
seja, consiste em deslocamento de pessoas de uma região para outra no mesmo
país, com o objetivo de se fixarem, temporária ou definitivamente, em um novo
local215.
Nesse subtópico, irei me ater somente aos dados trazidos pelos documentos
produzidos pela própria comunidade conscienciológica e apontados no decorrer
deste capítulo, pois o tema da migração irá ser aprofundado no próximo capítulo.
Analisando os documentos disponíveis como fontes, observa-se que houve um
fluxo migratório crescente e constante de 2000 até 2015. Todo ano havia voluntários
chegando e indo embora, sendo que os números de chegada eram superiores aos
de saída, por isso o crescimento manteve-se contínuo. Por exemplo: a partir de
anotações do levantamento de nomes feito de agosto de 2014 (791 pessoas) até 15
de fevereiro de 2015 (812 pessoas), 25 pessoas tinham saído de Foz do Iguaçu,
enquanto que 46 pessoas haviam chegado. Entre os que saíram, havia famílias
compostas de pai + mãe + filho, pai + mãe + 2 filhos, casais e pessoas sozinhas.
Entre os que chegaram, uma família com 7 parentes, o pai e a mãe de voluntários,
uma família composta de pai + mãe + 2 filhas, outra só da mãe + filho, e mãe + filha,
e também pessoas sozinhas.
Os 3 anos com maior fluxo migratório foram: 1) entre abril de 2003 e março de
2004, quando chegaram 158 pessoas; 2) entre abril de 2005 e maio de 2006,
chegaram 118 pessoas; e 3) entre março de 2004 e abril de 2005, chegaram 106
pessoas (ver Figura 17).
Tal período de 2003 a 2005 coincide com a transferência da sede do IIPC do
Rio de Janeiro para Foz do Iguaçu no início de 2004 e também com a fundação da
OIC em setembro de 2003 em Foz do Iguaçu.
Lembrando que a OIC é a instituição dedicada à terapia com base nos
pressupostos da Conscienciologia, tendo, à frente do trabalho, profissionais da área

214
FONSECA, Maria Lucinda. Migrações e Territórios: Programa. Lisboa: Centro de Estudos
Geográficos, Universidade de Lisboa, 2005, p. 49.
215
FONSECA, 2005, p. 53.
277

da saúde. Isso fez com que médicos e psicólogos se mudassem do Rio de Janeiro
para Foz do Iguaçu. Nesse período, estabeleceu-se claramente uma corrente
migratória, ou seja, um fluxo migratório bem definido entre um lugar de origem, no
caso o Rio de Janeiro, e um lugar de destino, Foz do Iguaçu.
É oportuno lembrar que esses dados são aproximados, pois não eram feitas
entrevistas com as pessoas. Às vezes, era feito um contato direto, às vezes, indireto.
Era comum o migrante anunciar a sua chegada no Holociclo, pois esse
departamento funcionava como o escritório de trabalho de Waldo Vieira, a quem
grande parte dos migrantes iam avisar da mudança. Contudo, nem sempre a mesma
pessoa avisava da sua saída posteriormente. Era usual saber por terceiros que
fulano ou ciclano tinham ido embora.

Figura 17 – Gráfico da Evolução Demográfica da Comunidade Conscienciológica em


Foz do Iguaçu, de 2000 a 2015
Integrantes da Comunidade Conscienciológica
900

800

700

600

500

400

300

200

100

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
(set) (abr) (abr) (mar) (abr) (maio) (maio) (mar) (jun) (ago) (jul) (set) (jun) (mar) (maio)

Fontes: CENTRO de Altos Estudos da Consciência: os números da Grupalidade 1995-1999. CEAEC


Newsletter, vol. 2, n. 1, p. 16-17, 2000; “Horário dos Voluntários(as) e Pesquisadores(as)” do
Holociclo, de 15/09/2001; “Voluntários Nacionais e Internacionais do Holociclo (14.04.02 – 5ª.
versão)”; “Lista dos Voluntários Residentes em Foz do Iguaçu – CEAEC e IIPC”, de 06/04/2003;
“Comunidade Conscienciológica em Foz do Iguaçu” de 21/03/2004; “Censo da Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) – Residentes em Foz do Iguaçu”, de 24/04/2005;
“Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) em Foz do Iguaçu”, de 27/05/2006;
278

“Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) em Foz do Iguaçu” de 29/05/2007;


“Pontoações do CEAEC”, de 21/03/2008; “CCCI em Foz do Iguaçu (06.06.09) – 2ª. versão, 16h30”;
“Pontoações do CEAEC” de 15/08/2010; “Lista da CCCI em Foz do Iguaçu”, de 27/07/2011; “Lista da
CCCI em Foz do Iguaçu – 25.09.2012”; “Pontoações do CEAEC” de 04/06/2013; “Lista da CCCI em
Foz do Iguaçu”, de 09/03/2014; e “Lista da CCCI em Foz do Iguaçu”, de 28/05/2015.

A lista da Comunidade Conscienciológica era composta pelos nomes dos


voluntários e de seus familiares que porventura os acompanhassem na mudança.
Nesse mérito, vale destacar o caso de duas voluntárias que chamaram atenção pelo
fato de terem vindo com vários familiares. Em 2010, Nazaré de Oliveira Almeida
comunicou a chegada de 6 parentes em Foz: a irmã com dois sobrinhos, mais a
outra irmã com o cunhado e uma sobrinha. No início de 2015, Vivian Costa avisou
que 7 parentes dela haviam se mudado para Foz do Iguaçu. Vivian migrou para Foz
do Iguaçu em 2009, procedente de Salvador (BA). Antes dela, sua sobrinha já havia
vindo para Foz do Iguaçu.
Interessante observar esse caso no qual um parente “puxa” outro, que por sua
vez “atrai” um grupo de familiares. Os nomes de todos da família fazem parte da
“Lista da Comunidade Conscienciológica”, mesmo que não sejam voluntários, pois o
entendimento, desde o início dos registros, foi que somos seres sociais, possuímos
senso gregário e a família é o primeiro grupo ao qual pertencemos, se ela vem junto
com o voluntário, ela também faz parte da comunidade conscienciológica.
Sobre as fontes documentais utilizadas em relação aos dados migratórios, vale
comentar algumas a fim de que o leitor tenha noção de que tipo de informação era
coletada. O primeiro documento com os nomes dos voluntários foi o de 2001:
“Horário dos Voluntários(as) e Pesquisadores(as)” do Holociclo, de 15/09/2001.
Tinha o nome de 39 voluntários com seus respectivos horários e datas de início do
voluntariado no Holociclo, telefones de contato e temas de pesquisa.
O segundo documento “Voluntários Nacionais e Internacionais do Holociclo
(14.04.02 – 5ª. versão)” continha os nomes e e-mails dos voluntários, cidades onde
moravam (pois incluía voluntários fora de Foz do Iguaçu), temas de pesquisa
pessoal e tipos de serviço a serem desenvolvidos, que basicamente eram de
pesquisa e/ou de doações de materiais, como periódicos ou dicionários.
O terceiro documento “Lista dos Voluntários Residentes em Foz do Iguaçu –
CEAEC e IIPC”, de 06/04/2003, possuía somente os nomes dos voluntários, cidades
onde estavam morando (quase a totalidade era Foz do Iguaçu, mas 3 voluntários
279

eram de Medianeira, município vizinho de Foz) e as instituições onde estavam


voluntariando (CEAEC e/ou IIPC).
O quarto documento “Comunidade Conscienciológica em Foz do Iguaçu” de
21/03/2004 está com o título informando a denominação de comunidade, que vinha
sendo usada desde 2003, mas só continha os nomes dos voluntários com as
respectivas instituições em que estavam voluntariando. Ainda no final de 2004, o
documento passa a ter também as profissões dos voluntários e dos parentes, caso
tivesse vindo algum familiar. O documento “Censo da Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI) – Residentes em Foz do
Iguaçu”, de 24/04/2005 mantém a mesma estrutura.
Somente no final de 2006, no documento “Comunidade Conscienciológica
Cosmoética Internacional (CCCI) em Foz do Iguaçu”, de 15/12/2006, além dos
nomes, instituições conscienciocêntricas e profissões, passou a ter o registro dos
condomínios residenciais dos voluntários. Com a viabilização dos projetos
habitacionais no entorno do CEAEC a partir de 2003, conforme visto, os voluntários
foram se assentando no que viria a ser chamado bairro Cognópolis. Esse item se
justificava para saber a proximidade ou o distanciamento dos voluntários em relação
ao CEAEC.
No documento “Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional
(CCCI) em Foz do Iguaçu” de 29/05/2007, além dos 4 itens mencionados
anteriormente, também se passou a solicitar aos voluntários que preenchessem os
dados referentes à aplicação ou não da técnica da tenepes (tarefa energética
pessoal) e à aplicação ou não da técnica da reciclagem existencial ou da inversão
existencial ou se não aplicava nenhuma técnica de planejamento de vida.
A próxima modificação foi na “Lista da CCCI em Foz do Iguaçu”, de
27/07/2011: foi acrescentado mais um item a ser preenchido, a data de chegada em
Foz do Iguaçu.
A grande maioria dos dados dos migrantes foi coletado no Holociclo, quando
eles anunciavam sua chegada em Foz do Iguaçu. Esse registro era feito em uma
folha em branco. O processo foi se formalizando e, em 2013, passou a se aplicar um
formulário com os 7 itens já mencionados, mais os seguintes: telefone de contato, e-
mail, formação acadêmica, especialização, mestrado, doutorado, se tinha parentes
em Foz e em caso afirmativo, quais os nomes e a data em que estava fazendo o
280

registro. Não apenas os recém-chegados preenchiam esse formulário assim como


os já moradores que quisessem atualizar os seus dados.
Conforme citado no decorrer do capítulo, as listas com os dados da
comunidade de 2007, 2011, 2014 e 2015 foram colocadas em exposição pública
para que todos pudessem revisar. As pessoas escreviam e riscavam à caneta
diretamente sobre a listagem afixada, em geral, na porta do Tertuliarium.
A migração conscienciológica é um dos pequenos fluxos migratórios que se
estabeleceu na região da Tríplice Fronteira Argentina (Puerto Iguaçu)-Brasil (Foz do
Iguaçu)-Paraguai (Ciudad del Este) mais recentemente. No entanto, os fenômenos
migratórios e imigratórios em Foz do Iguaçu vêm de longa data, conforme se verá a
seguir.

4.4.5.1 Foz do Iguaçu: migrações e imigrações

Na ocasião da fundação da Colônia Militar em Foz do Iguaçu, em 1889, a


expedição do Exército fez o levantamento da população local e identificou 324
pessoas, em sua maioria paraguaia e argentina. Contudo, também havia espanhóis
e ingleses. Dedicados à extração da erva-mate e da madeira, exportadas via Rio
Paraná216.
Em 1914, quando foi criado o município de Vila Iguaçu, havia cerca de 2 mil
habitantes217. Em 1950, registra-se cerca de 3 mil habitantes. Na década seguinte,
10 mil habitantes. Na década de 1970, quando começou a construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu, a população saltou de 20 mil para 80 mil habitantes. E na
conclusão da maior hidrelétrica do mundo, na década de 1990, Foz do Iguaçu
alcançou o número de 200 mil habitantes 218 . No ano 2000, Foz do Iguaçu tinha
258.368 mil moradores e em 2002, atingiu 272.939 habitantes219.
Em 2004, Foz do Iguaçu chegou a 293.646 habitantes, abrigando “um universo
dentro de seus limites”, pois eram 72 etnias que conviviam no mesmo território,
totalizando 9.431 estrangeiros residentes. Foz do Iguaçu é considerada uma das
216
EXÉRCITO impulsiona ocupação por brasileiros. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 20, n.
5.975, 9 jun. 2008. Encarte 94 anos de Foz do Iguaçu, p. 3.
217
EM 1914, Foz possuía cerca de 2 mil habitantes. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 20, n.
5.975, 9 jun. 2008. Encarte 94 anos de Foz do Iguaçu, p. 5.
218
PINTO, MÔNICA Cristina. População que agrega as melhores tradições. A Gazeta do Iguaçu, Foz
do Iguaçu, ano 20, n. 5.975, 9 jun. 2008. Encarte 94 anos de Foz do Iguaçu, p. 7.
219
VALIENTE, Daniela. Foz ultrapassa marca de 293 mil habitantes. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 16, n. 4.846, p. 07, 11 e 12 set. 2004.
281

cidades mais cosmopolitas da América Latina em função da sua diversidade


cultural220. Em 2007, Foz do Iguaçu atingiu o número de 311.336 habitantes. Um
aumento de 52.793 moradores em sete anos221.
O povo iguaçuense pode ser classificado em 3 categorias: os nativos, os
migrantes e os imigrantes. Do ponto de vista populacional, os migrantes, brasileiros
de outras naturalidades, ocupam o primeiro lugar no ranking; em segundo lugar,
estão os nativos, indivíduos que nasceram e cresceram no município; e em terceiro,
estão os estrangeiros222.
Segundo os dados da Polícia Federal, os estrangeiros correspondiam, em
2016, a 12.725 indivíduos, provenientes de 89 nacionalidades. Os paraguaios
ocupavam o primeiro lugar, seguidos pelos libaneses, chineses, argentinos,
coreanos e chilenos, para citar os 6 maiores coletivos223.
Vale mencionar que tanto os árabes quanto os chineses foram os primeiros
imigrantes que estabeleceram comércio em Ciudad del Este (Paraguai). Os árabes
estabeleceram-se em Foz principalmente nas décadas de 1940 e 1950. Mas assim
que a Ponte da Amizade foi inaugurada, em 1965, eles começaram a cruzar a
fronteira. São hoje sinônimo do comércio de Ciudad del Este. São em torno de 6 mil
árabes e descendentes 224 . E em Foz do Iguaçu, encontra-se a segunda maior
colônia árabe do Brasil, depois da existente em São Paulo, com 15 mil imigrantes e
descendentes.
Os chineses começaram a chegar em Ciudad del Este em 1969. Na década de
1990, chegaram a morar 26 mil imigrantes ali, porém com a retração comercial, hoje
estima-se que a comunidade deva ter cerca de 6 mil pessoas225. “A Zona Franca de
Ciudad del Este226 talvez seja um dos espaços onde haja maior concentração de

220
A ARTE de misturar culturas. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 17, n. 5.069, 9 jun. 2005.
Encarte de 91 anos de Foz do Iguaçu, p. 4.
221
MEIRELES, Robson. População de Foz é uma das que mais crescem no PR. A Gazeta do Iguaçu,
Foz do Iguaçu, ano 19, n. 5.774, p. 3, 6 e 7 out. 2007.
222
PARO, Denise. Foz do Iguaçu: do descaminho aos novos caminhos. Foz do Iguaçu, PR: Epígrafe,
2016, p. 163.
223
PARO, 2016, p. 168.
224
PARO, 2016, p. 166.
225
PARO, 2016, p. 163.
226
Ciudad del Este, no Paraguai, foi criada por decreto em 1957 pelo general Alfredo Stroessner
(1912–2006). A fim de estimular a economia da cidade criou uma zona franca (“espaço delimitado por
um governo para comercializar produtos sem cobrança normal de impostos”). Em 2014, Ciudad del
Este era a terceira maior zona franca do mundo. Fonte: SILVA, Micael Alvino da. Breve História de
Foz do Iguaçu. Foz do Iguaçu, PR: Epígrafe, 2014, p. 73.
282

produtos chineses para venda fora da China”, tendo estabelecido a conhecida rota
comercial “China-Paraguai-Brasil”227.
A densidade demográfica da população de Foz do Iguaçu tem relação com os
denominados ciclos econômicos e um incremento populacional referente a cada um
desses momentos.
De acordo com dados socioeconômicos divulgados no site da Prefeitura da Foz
do Iguaçu (2011)228, houve o seguinte acréscimo populacional em função dos quatro
ciclos econômicos principais: 1) de 1870-1970, da extração de madeira e cultivo de
erva-mate, com acréscimo de 33.966 habitantes; 2) 1970-1980, da construção da
hidrelétrica de Itaipu, houve um aumento de 102.355 habitantes; 3) 1980-1995, fase
da exportação e turismo de compras, com incremento de 74.861 habitantes; e 4)
1995-2008, período do comércio, turismo de compras e eventos, houve a chegada
de 108.007 pessoas.
Em 2011, Foz do Iguaçu possuía 256.081 habitantes. E em 2013, subiu para
263 mil habitantes229. Segundo o site do IBGE, a população estimada de Foz do
Iguaçu em 2019 era de 258.532 pessoas230, voltando a ter número aproximado aos
do ano 2000.
Além das questões econômicas, a complexidade do fenômeno migratório em
Foz do Iguaçu transparece, por exemplo, na formação de bairros onde os seus
“iguais” procuram se agrupar e dar continuidade aos locais de origem. É o caso, por
exemplo, dos libaneses que habitam o Jardim Central e dos paraguaios moradores
da Vila Paraguaia231.
Processo semelhante ocorreu com o caso em estudo. Esse agrupamento de
estudiosos da consciência humana também procuraram se concentrar em um dos
bairros da cidade, que inicialmente chamava-se Imóvel Tamanduazinho, fazendo
alusão ao rio com esse nome, e que após a instalação desses migrantes passou a
se chamar Cognópolis (Bairro do Conhecimento). No entanto, os voluntários da

227
SILVA, 2014, p. 107.
228
DADOS Socioeconômicos de Foz do Iguaçu 2011. Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu,
Secretaria da Administração/Departamento de Informações Institucionais. Foz do Iguaçu, 2011.
Disponível em: <http://www.pmfi.pr.gov.br/conteudo/?idMenu=1182>. Acesso em: 26 out. 2019, às
16h55.
229
A POPULAÇÃO volta a crescer em Foz. Boletim Informativo da Prefeitura Municipal de Foz do
Iguaçu, Foz do Iguaçu, n. I, p. 13, 2013/2014.
230
IBGE. Municípios. Foz do Iguaçu. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/foz-do-
iguacu/panorama>. Acesso em: 02 nov. 2019, às 17h43.
231
OLIVEIRA, Nara. Foz do Iguaçu intercultural: cotidiano e narrativas de alteridade. Foz do Iguaçu:
Epígrafe, 2012, p. 138.
283

Conscienciologia não são provenientes de um mesmo lugar de origem, mas


encontraram em Foz do Iguaçu, um lugar de chegada em comum, conforme será
analisado em mais detalhes no próximo capítulo.

4.4.6 Relação externa da comunidade conscienciológica

A relação entre a comunidade conscienciológica e a sociedade iguaçuense


parece ter se estabelecido em três momentos: um primeiro de acolhimento e
observação por parte dos iguaçuenses em relação à materialização do CEAEC; um
segundo de desinformação e tensão nessa relação, haja vista a necessidade da
carta aberta à população de Foz do Iguaçu; e uma terceira fase, de entendimento e
de harmonização na relação entre os iguaçuenses e os conscienciólogos.
Esse segundo momento de tensão evoca o ensaio teórico sobre as relações
estabelecidos-outsiders desenvolvida por Norbert Elias e John L. Scotson e
publicada pela primeira vez em 1965. Nesse estudo de uma comunidade de periferia
urbana, Elias e Scotson mostram uma divisão, em seu interior, entre um grupo
estabelecido de longa data e um grupo mais novo de residentes, cujos moradores
eram tratados pelo primeiro como outsiders.
O grupo estabelecido estigmatizava o grupo dos recém-chegados, de modo
geral, como pessoas de menor valor humano. No caso em estudo, observou-se essa
tentativa de estigmatização pelos estabelecidos em relação aos conscienciólogos,
procurando criar a imagem de “seita”, “grupo fechado”, “favorecido pelo poder
público” e “contra crianças”.
Tais estigmas seguem uma “constante universal em qualquer figuração de
estabelecidos-outsiders”: os estabelecidos atribuem a seus membros características
humanas superiores, excluindo os membros do outro grupo do contato social não
profissional com seus próprios membros e o tabu em torno desses contatos são
mantidos por meio de controle social, por exemplo, a fofoca232.
Foi através da fofoca disseminada nos locais de trabalho profissional que os
conscienciólogos ouviram tais rótulos estigmatizadores criados pelo grupo

232
ELIAS, Norbert. SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de
poder a partir de uma pequena comunidade. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p.
20.
284

estabelecido. De acordo com Elias e Scotson233, tal relação estabelecidos-outsiders


costuma se instalar quando há diferenças quanto à classe social, nacionalidade,
ascendência étnica ou racial, credo religioso ou nível de instrução.
Não se conhece as características do grupo de estabelecidos, mas
considerando que frequentavam os mesmos locais profissionais dos
conscienciólogos, supõe-se que não havia diferenças significativas quanto à classe
social, nacionalidade, etnia ou nível de instrução. Uma hipótese seria a diferença
quanto ao credo religioso. Segundo os dados do censo do IBGE de 2010, a
população de Foz do Iguaçu era de 256.088 habitantes. Desse total, 149.956 eram
da religião católica apostólica romana ou 58,5% da população iguaçuense e 70.420
eram evangélicos ou 27,5% dos iguaçuenses, para citar apenas os dois maiores
índices 234 . Por outro lado, os estudos da Conscienciologia fundamentam-se no
princípio da descrença, ou seja, “não acredite em nada nem mesmo no que
informarem na Cognópolis, tenha suas experiências pessoais”. A dicotomia
religiosidade-ceticismo poderia ser a fonte de desconfiança.
Outra hipótese estaria relacionada à migração. Se olhar para esse fenômeno
simplesmente pelo aspecto geográfico stricto sensu, tudo que parece acontecer é o
deslocamento físico de um lugar para outro. No entanto, há sempre o deslocamento
pelos migrantes de um grupo social para outro, tendo sempre que estabelecer
relacionamentos com os grupos já existentes.
De acordo com Elias e Scotson 235 , caso os migrantes tenham padrões,
sensibilidades e costumes diferentes dos já estabelecidos, estes tendem a lhes
atribuir o papel de outsiders. No caso dos voluntários da Conscienciologia, há um
fator agravante, pois não vieram alguns migrantes, mas centenas de migrantes.
Cale lembrar que os voluntários da Conscienciologia estavam em Foz do
Iguaçu desde 1995, não eram recém-chegados. No entanto, até 2003, não
passavam de 100 migrantes em Foz. Os anos de 2004, 2005 e 2006 foram os com
maior fluxo migratório para Foz do Iguaçu, chegando a 500 migrantes em 2007. Os
conscienciólogos já possuíam costumes e práticas culturais próprias a partir do
trabalho voluntário desenvolvido no IIPC, o que pode ter gerado um impacto social
de estranhamento nos grupos sociais locais.

233
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 24.
234
IBGE. Foz do Iguaçu. População residente por religião. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/foz-do-iguacu/panorama>. Acesso em: 02 nov. 2019, às 22h.
235
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 174.
285

Há ainda uma outra possibilidade, que pode se somar às duas hipóteses


anteriores. É que os já estabelecidos podem ter achado que os recém-chegados
seriam concorrentes em potencial por empregos. No entanto, isso parece não ter
ocorrido, pois, conforme visto, uma parte dos conscienciólogos veio a preencher
uma carência profissional local, especialmente na área da saúde na rede pública e
na área da educação na rede pública e privada, sendo que outra parte buscou
empreender.
Em um documento da UNICIN, “Relatório Parcial do Planejamento Estratégico
da Cognópolis Foz do Iguaçu – 2035”236, havia 112 empresas em Foz do Iguaçu
criadas pelos conscienciólogos (Ano-base: 2014). Desse total, 96 eram no setor de
serviços, 14 no comércio e 2 no setor industrial. Quanto à área de atuação, a saúde
estava em primeiro lugar com 37 empreendimentos, entre consultórios psicológicos,
clínicas médicas, clínica de estética, consultório odontológico, clínica de fisioterapia,
consultório de medicina chinesa, entre outros.
Enfim, após a publicação da Carta Aberta pela Diretoria do CEAEC em 2007,
não foram encontrados mais registros de manifestações nesse sentido. Foi
encontrada uma segunda Carta Aberta pela Diretoria do CEAEC, em 10 de agosto
de 2015, mas o contexto era outro. O objetivo foi informar a diferença entre a
iniciativa pessoal de candidatura política ao cargo de prefeito por um voluntário e o
escopo do trabalho coletivo na condição de organização de terceiro setor, com
proposta estatutária “não política-partidária”, e sim de educação, pesquisa e cultura
pelo CEAEC237.
O contexto que antecedeu a carta foi uma matéria publicada no jornal local “A
Gazeta do Iguaçu”, de 16/07/2015: “CEAEC lançará candidatos nas eleições
municipais” 238 , na qual a imprensa foi reunida no Hotel Mabu Interludium com a
finalidade de se “apresentar os projetos da Conscienciologia para Foz do Iguaçu, o
trabalho do voluntariado conscienciológico na região de fronteira e a Comunidade
Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI)”239, pela ocasião de 20 anos de
existência do CEAEC em Foz do Iguaçu. Nesse evento, foi mencionada a intenção
236
Fonte: UNICIN. Conselho das Empresas Conscienciocêntricas (ECs). Relatório Parcial do
Planejamento Estratégico da Cognópolis Foz do Iguaçu – 2035. Foz do Iguaçu, 2014.
237
CEAEC: Esclarecimento à Comunidade. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.129, p.
b6, 10 ago. 2015.
238
PETERS, Thays. CEAEC lançará candidatos nas eleições municipais. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 27, ed. 8.108, p. b1, 16 jul. 2015.
239
CEAEC completa 20 anos em Foz. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.107, p. b3,
15 jul. 2015.
286

de se lançar um voluntário à candidatura de vereador, visando a melhoria dos


bairros, nas eleições municipais de 2016. O voluntário se lançou candidato a
prefeito, envolvendo o nome da Conscienciologia no processo240.
Na carta, a diretoria do CEAEC informa que “não indica, não apoia candidatos
a cargos políticos e nem participa de campanhas eleitorais”, também “não tem
vínculos e participação societária com instituições de Ensino Fundamental, Médio ou
Superior, no setor público ou privado”, assim como “não mantém vínculos e
participação societária com organizações de saúde na esfera municipal, estadual ou
federal, seja pública ou privada”, e o CEAEC “não possui vínculos e participação
societária com meios de comunicação da cidade.”241
A carta segue explicando que “os voluntários do CEAEC, cidadãos de Foz do
Iguaçu e região, exercem funções no município em âmbito profissional, empresarial,
político e social”, porém tais “atribuições não devem ser confundidas com o escopo
de atividades e princípios desta instituição.”242
A carta termina com o recado que o CEAEC “mantém-se de braços abertos a
todas as lideranças, grupos políticos, visitantes e comunidade iguaçuense, em clima
de universalismo e respeito às divergências de opiniões”, por meio do debate de
ideias e projetos em benefício do desenvolvimento de Foz do Iguaçu e região.243
Além do processo político, um outro elemento motivador da carta foi o
esclarecimento também da diferença da atitude individual de um voluntário com a
imprensa local e o trabalho coletivo do CEAEC, que não possui vínculo com os
meios de comunicação da cidade. O caso era que um voluntário estava visitando
agências de publicidade e clientes com a finalidade de buscar apoio para um evento
organizado por ele no âmbito profissional, tendo envolvido o nome das instituições
da Conscienciologia e de um recente empreendimento jornalístico no seu discurso,
gerando mal-entendidos entre os envolvidos244.
Houve um breve clima de tensão, que se desfez com a publicação da carta.
Essa tensão se estabeleceu logo em seguida ao falecimento de Waldo Vieira, o que
pode ter gerado uma certa desconfiança pela opinião pública de que haveria alguma

240
REIS, José (Cazuza). Conscienciologia poderá disputar prefeitura pelo PHS. A Gazeta do Iguaçu,
Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.123, p. b2, 3 ago. 2015.
241
CEAEC, 2015, p. b6, grifos do autor.
242
CEAEC, 2015, p. b6.
243
CEAEC, 2015, p. b6.
244
BONATO, Rogério. Bola pra frente. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.102, p. a4, 9
jul. 2015.
287

mudança no modo de atuação do CEAEC. Ao contrário da repercussão silenciosa


da carta de 2007, foram encontrados comentários na edição subsequente à
publicação da carta, no dia 11/08/2015, pelo diretor do periódico e por dois leitores
do jornal não identificados.
Na coluna de Rogério Bonato245, ele comentou que “a resposta foi precisa”: “a
comunidade é científica e cultural e, não possui vínculos com empresas na área da
Educação, Saúde, Comunicação e menos no setor político.” No texto intitulado
“Verdade”, citou que “o que conhecemos na cidade como Conscienciologia é na
verdade o congraçamento de 23 instituições nos mais diversos segmentos. (...) entre
800 e mil pessoas possuem ligação com a entidade” e em paralelo se dedicam as
suas profissões. “Levam uma vida normal em Foz do Iguaçu. São médicos,
professores, jornalistas, empresários (...). Vivem como qualquer cidadão e pautam
suas tarefas e dedicação à entidade conforme podem.” Além disso, mencionou que
“os voluntários de lá estão livres para atuar em qualquer local da cidade, em
qualquer atividade, até no meio político caso tenham vocação.”
Na coluna “No Bico do Corvo” 246 , duas pessoas comentaram a Carta do
CEAEC publicada no dia anterior. No comentário de R.M.R, “eu tenho acompanhado
alguns pequenos acidentes de percurso e penso que é tudo um pouco natural. Toda
organização que cresce depois de enraizar os seus objetivos,” deve ir se avaliando e
colocando ordem nas coisas. “Foi assim que eu li o aviso do CEAEC na edição de
ontem.” R.M.R. afirmou que “Foz precisa abrir os braços para quem acredita nela e
eu sou testemunha: poucas entidades investiram tanto acreditando em Foz do que
as pessoas ligadas à Conscienciologia.”
Na mesma coluna, a segunda pessoa, J.P.G. comentou o seguinte: “quero me
solidarizar com os voluntários e colaboradores desta magnífica entidade”, (...). Li a
nota publicada ontem e pensei: o que será que está acontecendo?” E concluiu:
“todas as grandes famílias são assim, se reúnem e manifestam seus princípios.
Achei formidável a forma com a qual se manifestaram. Professor Waldo deve estar
orgulhoso.”

245
BONATO, Rogério. Resposta. A Verdade. Paralelamente. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano
27, ed. 8.130, p. a4, 11 ago. 2015.
246
CONSCIENCIOLOGIA e CONSCIENCIOLOGIA II. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27,
ed. 8.130, p. a6, 11 ago. 2015.
288

Apesar desses momentos de tensão, observa-se que a capacidade de


mobilização interna dos voluntários da Conscienciologia foi colocada a serviço do
município de Foz do Iguaçu nos exemplos trazidos no decorrer do capítulo.
Pode-se dizer que a migração dos voluntários da Conscienciologia impactou e
ainda impacta nos aspectos econômicos, sociais, educacionais, culturais do
município de Foz do Iguaçu. Tal observação foi feita pelo repórter Marcio Fernandes,
da revista Rolling Stones, em 2007 247 . Fernandes, nessa matéria sobre Foz do
Iguaçu, comentou sobre os chamados ciclos econômicos-migratórios, comparando a
obra da Usina Binacional de Itaipu com a vinda dos voluntários da Conscienciologia,
“desta vez, porém, as mudanças em curso são mais sutis, mas não menos
transformadoras dos parâmetros sociais.”
Do ponto de vista econômico-social, a vinda de centenas de voluntários
migrantes contribuiu e continua contribuindo para movimentar os setores de
prestação de serviços e comércio, nas diversas áreas. Além disso, de modo regular,
os voluntários da Conscienciologia têm iniciativas pontuais que colaboram com o
aquecimento da economia local, por exemplo, o caso do evento da I Noite de Gala
Mnemônica, em 2015.
Do ângulo cultural, foram várias ações coletivas nesse sentido, desde a I Feira
de Livros de Foz do Iguaçu, exposições em shopping, exposições e oficinas no
Ecomuseu e no centro de Recepção da Itaipu 248 , os eventos “Um Dia na
Cognópolis”, dentre outras. Do aspecto social mais amplo, pode-se citar a
mobilização em prol da melhoria da mobilidade urbana por meio da construção de
viadutos.
Nas áreas da saúde e da educação, os voluntários atuavam e atuam nas
esferas pública e privada, em prol da população, em hospitais públicos e privados,
em clínicas, como também nas escolas e nas universidades. Ainda sob o ponto de
vista turístico, os cursos ministrados pelas instituições conscienciológicas atraem
alunos de todo o Brasil e do Exterior. Do mesmo modo, a Cognópolis em si já foi
considerada como ponto turístico da cidade, recebendo regularmente visitantes
moradores de Foz do Iguaçu e turistas.

247
FERNANDES, Marcio. Terra do Nunca. Rolling Stones, São Paulo, n. 06, p. 44-51, mar. 2007.
248
OLIVEIRA, Nara. Holoteca. Revista Holotecologia, n. zero, p. 32-35, 2013; SANCHEZ, Myriam; &
SANCHEZ, Laura. Vincencio Juan de Lastanosa: o agitador intelectual do século XVII. Revista
Holotecologia, n. zero, p. 52-59, 2013.
289

Por outro lado, as estratégias do poder público, em uma atitude de


reciprocidade, também ficaram registradas a partir das iniciativas de instalação de
placas de sinalização na rua indicando a localização da comunidade
conscienciológica, o próprio decreto emitido pelo prefeito determinando a criação do
bairro Cognópolis, dentre outras.
Tais iniciativas do poder público não implicaram em nenhum tipo de apoio
financeiro ao CEAEC ou qualquer instituição conscienciológica. Conforme visto na
carta aberta de 2007, as instituições “não recebem dotação municipal, estadual,
federal ou internacional; o patrimônio provém de cursos e publicações de
voluntários”249, além de doações cedidas pelos próprios voluntários.

4.4.7 Relações internas da comunidade conscienciológica

O conflito interno dos voluntários-moradores de 4 condomínios no bairro


Cognópolis pode ser entendido como típico “problema comunitário”, de acordo com
Elias e Scotson. Segundo esses autores, “em essência, as comunidades são
organizações de criadores de lares, são unidade residenciais como os bairros
urbanos, os vilarejos, as aldeias, os conjuntos habitacionais ou os grupos de
barracas de acampamento.”250
Um dos aspectos comunitários específicos de uma comunidade é justamente
quando são estabelecidas relações entre as pessoas que “moram juntas num
mesmo lugar”, quando constroem seus lares num mesmo local. “As
interdependências que se estabelecem entre elas como criadoras de lares, nos
quais dormem, comem e criam suas famílias são especificamente comunitárias.”251
A fim de esclarecer o que é um problema comunitário, Elias e Scotson se
expressam do seguinte modo: “importa é reconhecer que os tipos de
interdependências, estruturas e funções encontrados nos grupos residenciais de
famílias que constroem lares com um certo grau de permanência suscitam
problemas próprios”, e o esclarecimento desses problemas é essencial para a
compreensão da especificidade da “comunidade como comunidade.” 252

249
DIRETORIA do CEAEC. Conscienciologia: esclarecimento e convite. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 18, n. 5.576, p. 18-19, 13 fev. 2007.
250
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 165.
251
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 165.
252
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 166.
290

Entre os problemas, nessas redes comunais de famílias, encontra-se aquele


que se refere às distinções de valor atribuído a cada uma dessas famílias. Algumas
famílias, e no caso, pode-se dizer, alguns voluntários da comunidade, são ligados
uns aos outros pelos “fios invisíveis da vizinhança”. Passam a se ver e a ser vistos
pelos outros como “melhores” ou “menos agradáveis” ou qualquer outra
denominação. E é de difícil compreensão, o alcance das ramificações funcionais, a
profusão de associações pessoais entre os indivíduos implicados, e as tensões
inerentes a essas distinções253.
No caso da comunidade conscienciológica, como uma boa parte dos
moradores dos condomínios são voluntários de instituições conscienciológicas,
levanta-se a seguinte questão: quais as implicações de um problema entre vizinhos
de um condomínio para o trabalho voluntário na mesma instituição ou para relação
entre instituições conscienciocêntricas diferentes, caso sejam voluntários de
diferentes organizações?
Pode-se fazer o raciocínio inverso também: quais os efeitos de um conflito
entre voluntários de uma mesma ou de diferentes instituições conscienciológicas
para o convívio na condição de vizinhos de um mesmo condomínio?
Ainda pode-se pensar em um terceiro nível de interação: caso vizinhos
exerçam o trabalho voluntário em uma mesma instituição e ainda trabalhem
profissionalmente na mesma empresa, como fica a atribuição de valor entre essas
pessoas e/ou entre suas famílias, no caso de um conflito?
A comunidade conscienciológica procurou desenvolver uma série de
mecanismos ou recursos que possam ajudar a regular conflitos e tensões na
convivência interna entre seus pares, tema a ser estudado no último capítulo.
Nesse capítulo, abordou-se o período desde julho de 2002 até 2019, passando
pelos projetos habitacionais no entorno do CEAEC, a fundação de mais instituições,
o movimento migratório, a proposição da expressão “comunidade conscieciológica
cosmoética internacional”, as interações entre a comunidade conscienciológica e a
sociedade iguaçuense, a fundação do bairro Cognópolis e seu desenvolvimento.

253
ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 166.
291

5 MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA

Esse capítulo continuará a tratar do tema da migração. Será feito um recorte,


posicionando uma lupa sobre o migrante e o processo migratório, a partir dos dados
produzidos pela aplicação do questionário, conforme explicado no capítulo 1. A
narrativa dos migrantes será incluída no texto a partir do cruzamento com os
achados do questionário, quando for oportuno e esclarecedor à discussão sobre a
dinâmica da comunidade conscienciológica.
Os dados coletados e que serão apresentados na forma de tabelas não visam
a generalização de resultados. Esses dados serão privilegiados nesse capítulo
dentro do procedimento da redução da escala de observação, no nível coletivo,
buscando-se “fazer aparecer regularidades nos comportamentos coletivos de um
grupo social particular”.1
“A micro-história tenta não sacrificar o conhecimento dos elementos individuais
a uma generalização mais ampla, e de fato acentua as vidas e os acontecimentos
individuais.” Contudo, “ao mesmo tempo, tenta não rejeitar todas as formas de
abstração, pois fatos insignificantes (...) podem servir para revelar um fenômeno
mais geral.”2
A amostra da comunidade conscienciológica envolveu um total de 360
pesquisados, representando 54,0% da população migrante da CCCI-Foz. Uma
sociografia da comunidade conscienciológica será apresentada, dentro da
perspectiva de “fenômenos comparáveis”, porém a “estratégia cognoscitiva e os
códigos expressivos permanecem intrinsecamente individualizantes (mesmo que o
indivíduo seja talvez um grupo social ou uma sociedade inteira).”3
O capítulo ficou organizado em 3 tópicos: 5.1 O perfil do migrante
conscienciólogo 5.2 Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu; e 5.3 À guisa
de conclusão. Cada tópico se divide em subtópicos. Diferentemente dos capítulos
anteriores, a discussão sobre os temas foi feita no interior e ao final de cada tópico
uma vez que já se tem noção da constituição da comunidade conscienciológica.

1
REVEL, Jacques. Microanálise e construção do social. In: REVEL. Jacques. (Org.). Jogos de
escalas: a experiência da microanálise. Tradução Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora Fundação
Getúlio Vargas, 1998, p. 33.
2
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 2011, p. 160.
3
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: _____. Mitos, emblemas, sinais.
Tradução de Federico Carotti. 2. ed. São Paulo: companhia das Letras, 2002, p. 157.
292

Haverá uma discussão para o perfil do migrante e a discussão sobre a migração


será feita em 4 partes: quanto aos aspectos gerais, quanto aos aspectos específicos
dos parentes, quanto aos motivos de saída de Foz do Iguaçu e quanto à
caracterização da migração.

5.1 O perfil do migrante conscienciólogo

O perfil do migrante conscienciólogo será apresentado com base nos


resultados da aplicação do questionário na comunidade conscienciológica, referente
à seção 1 – dados sociodemográficos. Foram investigados 17 indicadores sociais:
sexo; idade; nacionalidade; naturalidade; escolaridade; área de formação; duplo
curso de graduação; bairro onde mora; tempo de moradia no bairro Cognópolis; tipo
e divisão da habitação; regime de ocupação da habitação; agregado doméstico;
situação profissional; posição na ocupação profissional; local físico do trabalho;
moradia e trabalho no bairro Cognópolis e; ramo de atividade profissional.

5.1.1 Sexo, idade, nacionalidade e naturalidade dos migrantes

Em relação ao sexo, idade e nacionalidade, do total de 360 respondentes, 222


foram do sexo feminino (61,6%) e 138 do sexo masculino (38,3%). A média de idade
dos participantes foi de 49 anos de idade, sendo que a faixa etária com maior
número de pessoas foi de 40 a 49 anos de idade com 109 participantes (30,3%).
Quanto à nacionalidade, 344 eram brasileiros (95,6%) e 16 estrangeiros (4,4%)
(Tabela 07).
293

TABELA 07 – INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICAS RELACIONADAS AO


SEXO, IDADE E NACIONALIDADE DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Sexo Feminino 222 (61,6)
Masculino 138 (38,3)

Idade 19 a 29 anos 17 (4,7)


30 a 39 anos 71 (19,7)
40 a 49 anos 109 (30,3)
50 a 59 anos 85 (23,6)
60 a 69 anos 65 (18,1)
70 a 79 anos 12 (3,3)
80 anos 1 (0,3)

Nacionalidade Brasil 344 (95,6)


Argentina 5 (1,4)
Espanha 3 (0,8)
Alemanha 2 (0,6)
Portugal 2 (0,6)
Austrália 1 (0,3)
Marrocos 1 (0,3)
Nova Zelândia 1 (0,3)
Uruguai 1 (0,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Quanto à naturalidade, dos 344 brasileiros, 72 eram paulistas (20,0%), 58


gaúchos (16,1%), 48 cariocas (13,3%), 43 mineiros (11,9%) e 42 paranaenses
(11,6%), para citar os cinco maiores grupos por naturalidade, que somados
representam 72,9% dos brasileiros. Entre os estrangeiros, os três maiores grupos
são: 4 argentinos (1,1%) provenientes de Buenos Aires, 2 portugueses (0,6%)
provenientes de Lisboa e 2 espanhois (0,6%) provenientes de Madri (Tabela 08).
294

TABELA 08 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO À


NATURALIDADE DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Naturalidade:
Brasileira Alagoas 1 (0,3)
Amazônia 3 (0,8)
Bahia 8 (2,2)
Ceará 1 (0,3)
Distrito Federal 3 (0,8)
Espírito Santo 4 (1,1)
Goiás 4 (1,1)
Mato Grosso do Norte 2 (0,6)
Mato Grosso do Sul 3 (0,8)
Minas Gerais 43 (11,9)
Pará 2 (0,6)
Paraíba 3 (0,8)
Paraná 42 (11,6)
Pernambuco 7 (1,9)
Piauí 1 (0,3)
Rio de Janeiro 48 (13,3)
Rio Grande do Norte 9 (2,5)
Rio Grande do Sul 58 (16,1)
Rondônia 3 (0,8)
Santa Catarina 20 (5,5)
São Paulo 72 (20,0)
Sergipe 2 (0,6)
NR 5 (1,4)
Estrangeira
Berlim (Alemanha) 1 (0,3)
Buenos Aires (Argentina) 4 (1,1)
Catalunha (Espanha) 1 (0,3)
Chaco (Argentina) 1 (0,3)
Fez (Marrocos) 1 (0,3)
Hessen (Alemanha) 1 (0,3)
Lisboa (Portugal) 2 (0,6)
Madri (Espanha) 2 (0,6)
Montevidéu (Uruguai) 1 (0,3)
Otago (Nova Zelândia) 1 (0,3)
Sidnei (Austrália) 1 (0,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Abreviatura: NR (Não respondeu).


295

5.1.2 Escolaridade dos migrantes

Do ponto de vista da escolaridade, dos 360 participantes, 2 (0,6%) concluíram


os estudos escolares até o ensino fundamental - segundo ciclo (5o. ao 9o. ano), 19
(5,2%) finalizaram até o ensino médio, 85 (23,6%) somente o ensino superior, 145
(40,3%) terminaram especialização, 77 (21,4%) realizaram mestrado, 27 (7,5%)
cursaram doutorado e 5 (1,4%) possuíam pós-doutorado. Ou seja, do total de 360
respondentes, 339 (94,2%) concluíram no mínimo um curso do ensino superior.
Dentre esses 339, as três principais áreas de formação foram: Ciências Sociais
Aplicadas com 64 respondentes (18,9%), Ciências Exatas e da Terra com 63
respondentes (18,6%) e Ciências Humanas com 52 respondentes (15,3%).
Dentre os que têm ensino superior completo, considerando a área de formação
por nível de ensino, dos 85 respondentes que completaram curso superior, a
principal área de formação foi Ciências Exatas e da Terra com 23 respostas (27,1%).
No nível da especialização, dentre as 145 respostas, a principal área de formação foi
Ciências Humanas com 38 respostas (26,2%). Em relação ao mestrado, dentre as
77 respostas, a principal área de formação foi Ciências Sociais Aplicadas com 20
respostas (25,9%). Quanto ao doutorado, dentre as 27 respostas, as duas áreas de
formação empatadas foram Ciências da Saúde e Ciências Humanas, com 6
respostas cada uma, correspondendo a 22,2% cada área. Quanto ao pós-doutorado,
dentre 5 respostas, cada um foi em uma área de formação diferente, 1 em Ciências
Agrárias (20,0%), 1 em Ciências Biológicas (20,0%), 1 em Ciências da Saúde
(20,0%), 1 em Ciências Exatas e da Terra (20,0%) e 1 em Engenharias (20,0%)
(Tabela 09).
296

TABELA 09 – INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS RELACIONADOS À


ESCOLARIDADE E ÁREA DE FORMAÇÃO DOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
continua
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
o o
Escolaridade concluída Ensino Fundamental (5 . ao 9 . 2 (0,6)
(até o nível) ano)
Ensino Médio 19 (5,2)
Ensino Superior 85 (23,6)
Especialização 145 (40,3)
Mestrado 77 (21,4)
Doutorado 27 (7,5)
Pós-doutorado 5 (1,4)
Total 360 (100,0)
Área de Formação Ciências Agrárias 18 (5,3)
(Inclui Ensino Superior, Ciências Biológicas 8 (2,4)
especialização, mestrado, Ciências da Saúde 44 (13,0)
doutorado e pós-dout.) Ciências Exatas e da Terra 63 (18,6)
Ciências Humanas 52 (15,3)
Ciências Sociais Aplicadas 64 (18,9)
Engenharias 32 (9,4)
Linguística, Letras e Artes 13 (3,8)
Outros (Biomedicina, etc) 10 (3,0)
NR 35 (10,3)
Total 339 (100,0)
Área de Formação Ciências Agrárias 4 (4,7)
(no ensino superior) Ciências da Saúde 5 (5,9)
Ciências Exatas e da Terra 23 (27,1)
Ciências Humanas 10 (11,8)
Ciências Sociais Aplicadas 18 (21,2)
Engenharias 10 (11,8)
Linguística, Letras e Artes 5 (5,9)
Outros (Biomedicina, etc) 3 (3,5)
NR 7 (8,2)
Total 85 (100,0)
Área de Formação Ciências Agrárias 9 (6,2)
(na Especialização) Ciências da Saúde 30 (20,7)
Ciências Exatas e da Terra 24 (16,6)
Ciências Humanas 38 (26,2)
Ciências Sociais Aplicadas 26 (17,9)
Engenharias 5 (3,4)
Interdisciplinar 6 (4,1)
Linguística, Letras e Artes 1 (0,7)
Outros (Biomedicina, etc) 3 (2,1)
NR 3 (2,1)
Total 145 (100,0)
297

TABELA 09 – INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS RELACIONADOS À


ESCOLARIDADE E ÁREA DE FORMAÇÃO DOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
conclusão
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Área de Formação Ciências Agrárias 3 (3,9)
(no Mestrado) Ciências Biológicas 3 (3,9)
Ciências da Saúde 6 (7,8)
Ciências Exatas e da Terra 8 (10,4)
Ciências Humanas 15 (19,5)
Ciências Sociais Aplicadas 20 (25,9)
Engenharias 10 (13,0)
Interdisciplinar 2 (2,6)
Linguística, Letras e Artes 4 (5,2)
Outros (Biomedicina, etc) 3 (3,9)
NR 3 (3,9)
Total 77 (100,0)
Área de Formação Ciências Agrárias 1 (3,7)
(no Doutorado) Ciências da Saúde 6 (22,2)
Ciências Exatas e da Terra 2 (7,5)
Ciências Humanas 6 (22,2)
Ciências Sociais Aplicadas 5 (18,5)
Engenharias 5 (18,5)
Interdisciplinar 1 (3,7)
Linguística, Letras e Artes 1 (3,7)
Total 27 (100,0)
Área de Formação Ciências Agrárias 1 (20,0)
(no Pós-doutorado) Ciências Biológicas 1 (20,0)
Ciências da Saúde 1 (20,0)
Ciências Exatas e da Terra 1 (20,0)
Engenharias 1 (20,0)
Total 5 (100,0)

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Para ver as áreas de formação, passe o cursor sobre as opções de áreas no
sentido da direita. Se você tiver dois cursos de graduação, favor assinalar a área de
formação do primeiro curso de graduação.”
Abreviatura: NR (Não respondeu).

Quanto aos que possuem dois cursos de graduação, do total de 360 respostas,
60 possuem duplo curso (16,7%), 8 possuem mais de dois cursos de graduação
(2,2%), 15 estão cursando no momento da pesquisa o segundo curso de graduação
(4,2%) e 277 não possuem dois cursos superiores (76,9%). Assim, a maioria não
possui duplo curso. No entanto, somando os que possuem duplo curso, com os que
298

estão cursando e os que possuem mais de dois cursos, obtemos um total de 83


respostas ou 23,1% (Tabela 10).
Em suma, a maioria não possui dois cursos de graduação (76,9%), mas possui
algum curso de pós-graduação (70,6%), seja especialização, mestrado, doutorado
ou pós-doutorado (Tabelas 9 e 10).

TABELA 10 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO


DUPLO CURSO DE GRADUAÇÃO DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
Duplo curso de graduação Não 277 (76,9)
Sim 60 (16,7)
Estou cursando atualmente o 15 (4,2)
segundo curso de graduação
Possuo mais de dois cursos de 8 (2,2)
graduação
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Para ver as áreas de formação, passe o cursor sobre as opções de áreas no
sentido da direita. Se você tiver dois cursos de graduação, favor assinalar a área de
formação do primeiro curso de graduação.”

5.1.3 Bairros em que os migrantes moram

Na pergunta “Qual bairro de Foz do Iguaçu você mora?”, 172 afirmaram morar
no bairro Cognópolis (47,7%), 186 moram em outros bairros (51,7%) e 2 não
responderam (0,6%). No entanto, 68 afirmaram morar próximo ao bairro da
Cognópolis (18,9%). Ou seja, dois terços dos 360 participantes moram no bairro
Cognópolis ou nas proximidades (66,6%) (Tabela 11).
299

TABELA 11 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO BAIRRO


QUE MORA DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Bairro que mora Alto São Francisco 2 (0,6)
Campos do Iguaçu 1 (0,3)
Centro 33 (9,1)
Cognópolis 172 (47,7)
Conjunto B 1 (0,3)
Conjunto Libra 2 (0,6)
Jardim Bela Vista 11 (3,0)
Jardim Central 1 (0,3)
Jardim Copacabana 2 (0,6)
Jardim das Flores 1 (0,3)
Jardim das Nações 1 (0,3)
Jardim Eldorado 2 (0,6)
Jardim Eliza 2 (0,6)
Jardim Guarapuava 3 (0,8)
Jardim Iguaçu 6 (1,6)
Jardim Lancaster II 2 (0,6)
Jardim Panorama 2 (0,6)
Jardim Panorama II 3 (0,8)
Jardim Santa Rosa 1 (0,3)
Jardim São Paulo II 3 (0,8)
Jardim Tarobá 2 (0,6)
Loteamento Bourbon 3 (0,8)
Loteamento Campos do Iguaçu 2 (0,6)
Loteamento João Paulo II 2 (0,6)
Outro (Santa Terezinha de Itaipu; 6 (1,6)
Hernandarias e Presidente Franco no
Paraguai)
Porto Belo 3 (0,8)
Próximo a Cognópolis (por exemplo: São 68 (18,9)
Roque)
Vila A 2 (0,6)
Vila Carimã 1 (0,3)
Vila Itajubá 5 (1,3)
Vila Maracanã 6 (1,6)
Vila Matilde 1 (0,3)
Vila Portes 1 (0,3)
Vila Yolanda 5 (1,3)
NR 2 (0,6)
Total 360(100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Abreviatura: NR (Não respondeu).


300

E na questão seguinte “Se você é morador da Cognópolis, há quanto tempo


você habita este bairro?”, dentre os 172 moradores do bairro Cognópolis, em
primeiro lugar, aparecem os moradores entre 1 a 5 anos com 57 respostas (33,1%),
em seguida, entre 5 e 10 anos de moradia, com 51 respostas (29,7%) e em terceiro
lugar, com menos de 1 ano de moradia, com 27 respostas (15,7%). Assim, dentre os
172 moradores da Cognópolis (47,7%), quase a metade se instalou recentemente,
ou seja, 84 pessoas (48,8%), com menos de 5 anos de moradia, em comparação
com o restante que estabeleceu moradia há mais de 5 anos na Cognópolis,
totalizando 88 pessoas (51,2%) (Tabela 12).

TABELA 12 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO TEMPO


DE MORADIA NA COGNÓPOLIS DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Moradia na Cognópolis Menos de 1 ano 27 (15,7)
Entre 1 e 5 anos 57 (33,1)
Entre 5 e 10 anos 51 (29,7)
Entre 10 e 15 anos 25 (14,5)
Entre 15 e 20 anos 10 (5,8)
Entre 20 e 25 anos 2 (1,2)
Total 172 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.1.4 Tipo de habitação e regime de ocupação dos migrantes

Na pergunta “qual o tipo de habitação onde você mora?”, um pouco mais da


metade dos 360 participantes mora ou em casa com 3 quartos (31,1%) ou em
apartamento de 3 quartos (27,2%). Na questão “Qual regime de ocupação da
residência?”, para a maioria, o imóvel onde reside é próprio ou da família (53,6%)
(Tabela 13).
301

TABELA 13 – INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS RELACIONADOS AO


TIPO E DIVISÃO DA HABITAÇÃO, ALÉM DO REGIME DE
OCUPAÇÃO DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Tipo e Divisões da
Habitação Apartamento de 1 quarto 5 (1,4)
Apartamento de 2 quartos 15 (4,1)
Apartamento de 3 quartos 98 (27,2)
Apartamento de 4 quartos ou mais 4 (1,1)
Casa com 1 quarto 6 (1,7)
Casa com 2 quartos 51 (14,2)
Casa com 3 quartos 112 (31,1)
Casa com 4 quartos ou mais 60 (16,7)
Quitinete 8 (2,2)
Quarto / parte da casa 1 (0,3)

Regime de ocupação Alugado com contrato 136 (37,8)


Alugado sem contrato 21 (5,8)
Cedido 8 (2,2)
Proprietário do próprio ou da 193 (53,6)
família
Subalugado 1 (0,3)
NR 1 (0,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“O termo ‘quartos’ inclui além do quarto de dormir, escritórios e quartos de tenepes
(1) que porventura possam existir na sua habitação.”
(1) Tenepes: é um neologismo da Conscienciologia constituído a partir da junção de
três palavras: tarefa energética pessoal (tenepes), que significa a tarefa de doação
de energias, todos os dias em prol de consciências necessitadas, comumente com
problemas de saúde, porém não restrita a essa problemática. Essa atividade
assistencial pode ser realizada no quarto de dormir ou em um quarto específico para
tal finalidade.4
Abreviatura: NR (Não respondeu).

5.1.5 Agregado doméstico dos migrantes

Na pergunta “No seu agregado doméstico, o que melhor caracteriza a sua


situação?”, a maioria é de casais sem filhos, com 194 respostas (53,9%) (Tabela
14).

4
VIEIRA, Waldo. Manual da Tenepes. 3. Ed. Foz do Iguaçu: Editares, 2011.
302

TABELA 14 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO


AGREGADO DOMÉSTICO DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU
– JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Agregado
doméstico Casal com filho(s) 48 (13,3)
Casal com filho(s) e outro(s) adulto(s) 5 (1,4)
Casal sem filho(s) 194 (53,9)
Casal sem filhos e outro(s) adulto(s) 9 (2,5)
Mãe com filho(s) com ou sem outro(s) adulto(s) 9 (2,5)
Parentes sem ser casal 7 (1,9)
Pessoa só 81 (22,6)
Pessoas amigas (sem parentesco) 7 (1,9)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.1.6 Situação profissional dos migrantes

A questão “Assinale a(s) alternativa(s) que melhor caracterize(m) sua situação


profissional hoje” era de múltipla escolha. Do total de 402 respostas, quase metade
dos participantes está atualmente exercendo uma profissão remunerada no setor
privado com 179 respostas (49,7%), seguido por 65 respostas que atualmente estão
exercendo uma profissão remunerada no setor público (18,1%) e 63 respostas que
informaram estarem aposentados (17,5%) (Tabela 15).
303

TABELA 15 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO À


SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Situação Atualmente exercendo uma profissão remunerada no 179 (49,7)
Profissional setor privado
Atualmente exercendo uma profissão remunerada no 65 (18,1)
setor público
Atualmente exercendo uma profissão não remunerada 7 (1,9)
Atualmente desempregado(a) à procura do 1o. 0 (0)
emprego
Atualmente desempregado à procura de novo 11 (3,1)
emprego
Sou aluno(a) e/ou estudante 21 (5,8)
Estou aposentado(a) 63 (17,5)
Estou incapacitado(a) permanentemente para o 0 (0)
trabalho
Estou vivendo de rendimentos 30 (8,3)
Outro: Empresário 4 (1,1)
Outro: Empreendedor 7 (1,9)
Outro: Benefício de Prestação Continuada (BPC)5 1 (0,2)
Outro: Autônomo 6 (1,6)
Outro: Pensão 3 (0,8)
Outro: Auxílio familiar 2 (0,5)
Outro: Funcionário do Terceiro Setor 1 (0,2)
Outro: Trabalha 3 meses por ano 1 (0,2)
NR 1 (0,2)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes podiam assinalar múltiplas respostas: foram 360


respondentes (100,0%) e 402 respostas (111,1%).
Abreviatura: NR (Não respondeu).

5
“O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um benefício de renda no valor de um salário
mínimo para pessoas com deficiência de qualquer idade ou para idosos com idade de 65 anos ou
mais que apresentam impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial e que, por isso, apresentam dificuldades para a participação e interação plena na
sociedade. Para a concessão deste benefício, é exigido que a renda familiar mensal seja de até ¼ de
salário mínimo por pessoa.” (Fonte: BENEFÍCIO de prestação continuada. Disponível em: <
http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/mds-pra-voce/carta-de-servicos/usuario/assistencia-
social/bpc>. Acesso em: 06 dez. 2019, às 15h27).
304

5.1.6.1 Posição na ocupação profissional dos migrantes

Na questão “Se você está exercendo uma profissão remunerada hoje, favor
especificar a sua posição na ocupação”, dentre as 369 respostas, o predomínio da
posição na ocupação profissional foi de trabalhadores por conta de outrem com 143
respostas (39,7%) e 108 responderam que essa questão não se aplicava ao caso
pessoal (30,0%), por não estar exercendo profissão remunerada atualmente (Tabela
16).

TABELA 16 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO À


POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO PROFISSIONAL DOS MIGRANTES
DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Posição na Empregador 39 (10,8)
ocupação Trabalhador por conta própria 77 (21,4)
Trabalhador por conta de outrem 143 (39,7)
Membro de cooperativa de produção 2 (0,6)
Esta questão não se aplica ao meu caso 108 (30,0)
(não estou exercendo profissão
remunerada hoje)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
NOTAS: Os respondentes podiam assinalar múltiplas respostas: foram 360
respondentes, e 369 respostas (102,5%). Oito pessoas responderam mais de um
item, ou seja, tem mais de uma posição: Empregador e trabalhador por conta de
outrem = 1; Empregador, trabalhador por conta de outrem e membro de cooperativa
de produção = 1; Trabalhador por conta própria e trabalhador por conta de outrem =
6.
Os participantes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:
“caso você esteja aposentado, desempregado, vivendo de rendimentos ou é
estudante, ou seja, esteja sem profissão remunerada, será necessário assinalar a
opção ‘Esta questão não se aplica ao meu caso (não estou exercendo profissão
remunerada hoje)’.

5.1.6.2 Local físico de trabalho

Na pergunta “Qual o seu local físico de trabalho?”, a maioria trabalha em Foz


do Iguaçu, seja em instituição e/ou residência pessoal com 208 respostas (57,8%) e
101 respostas afirmaram que essa questão não se aplicava ao caso pessoal (28,0%)
(Tabela 17).
305

TABELA 17 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO


LOCAL FÍSICO DO TRABALHO DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU
– JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Local físico de Foz do Iguaçu (instituição/empresa ou 208 (57,8)
trabalho residência pessoal)
Foz do Iguaçu (residência pessoal com 14 (3,9)
trabalho à distância via internet e/ou skype)
Foz do Iguaçu (mescla de trabalho à distância 18 (5,0)
via internet na residência pessoal com
viagens periódicas)
Município próximo de Foz de Iguaçu 6 (1,7)
Ciudad del Este - Paraguai 1 (0,3)
Puerto Iguaçu - Argentina 0 (0,0)
Esta questão não se aplica ao meu caso (não 101 (28,0)
estou exercendo profissão remunerada hoje)
Outro: Foz do Iguaçu (mescla de trabalho 3 (0,8)
fisicamente na cidade com viagens
periódicas)
Outro: cidade(s) de outro estado brasileiro 9 (2,5)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os participantes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“caso você esteja aposentado, desempregado, vivendo de rendimentos ou é
estudante, ou seja, esteja sem profissão remunerada, será necessário assinalar a
opção ‘Esta questão não se aplica ao meu caso (não estou exercendo profissão
remunerada hoje)’.

5.1.6.3 Trabalho e residência no bairro Cognópolis

Na questão “Você reside e trabalha profissionalmente no bairro Cognópolis?”,


223 responderam que “não” (61,9%) (Tabela 18).
306

TABELA 18 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO


TRABALHO E RESIDÊNCIA NO BAIRRO COGNÓPOLIS DOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Trabalho e residência Sim 46 (12,8)
na Cognópolis Não 223 (61,9)
Esta questão não se aplica ao meu caso 91 (25,3)
(não estou exercendo profissão
remunerada hoje)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os participantes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“caso você esteja aposentado, desempregado, vivendo de rendimentos ou é
estudante, ou seja, esteja sem profissão remunerada, será necessário assinalar a
opção ‘Esta questão não se aplica ao meu caso (não estou exercendo profissão
remunerada hoje)’.

5.1.6.4 Ramo de atividade profissional

Na questão “O(s) seu(s) trabalho(s) situa(m)-se em qual ramo de atividade?


Assinale todos os casos que se apliquem”, do total de 441 respostas (122,5%), 106
respostas foram da área da Educação (29,4%), 93 respostas afirmaram que esta
questão não se aplicava ao caso pessoal, por não estar exercendo profissão
remunerada hoje (25,8%) e 75 respostas foram da área da Saúde humana e
serviços sociais (20,8%) (Tabela 19).
307

TABELA 19 – INDICADOR SOCIODEMOGRÁFICO RELACIONADO AO


RAMO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL DOS MIGRANTES
DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Ramo de Agricultura, pecuária, etc 3 (0,8)
atividade Indústrias extrativas 1 (0,3)
profissional Indústrias de transformação 8 (2,2)
Eletricidade e gás 4 (1,1)
Água, esgoto etc 2 (0,6)
Construção 11 (3,1)
Comércio 10 (2,8)
Transporte 2 (0,6)
Alojamento e alimentação 3 (0,8)
Informação e Comunicação 17 (4,7)
Atividades financeiras, seguros etc 10 (2,8)
Atividades imobiliárias 6 (1,7)
Atividades profissionais, científicas e técnicas 44 (12,2)
Atividades administrativas e serviços complementares 19 (5,3)
Administração pública, defesa e seguridade social 11 (3,1)
Educação 106 (29,4)
Saúde humana e serviços sociais 75 (20,8)
Artes, cultura, esportes e recreação 4 (1,1)
Outras atividades e serviços 10 (2,8)
Serviços domésticos 0 (0,0)
Organismos internacionais etc 1 (0,3)
Atividades mal definidas 1 (0,3)
Esta questão não se aplica ao meu caso (não estou 93 (25,8)
exercendo remunerada hoje)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTAS: Os respondentes podiam assinalar múltiplas respostas: 360 respondentes


(100,0%), obtendo 441 respostas (122,5%).
Os participantes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:
“caso você esteja aposentado, desempregado, vivendo de rendimentos ou é
estudante, ou seja, esteja sem profissão remunerada, será necessário assinalar a
opção ‘Esta questão não se aplica ao meu caso (não estou exercendo profissão
remunerada hoje)’.

5.1.7 Discussão do perfil do migrante conscienciólogo

Nesse subtópico final, irá se cotejar os dados encontrados da dimensão social


da comunidade conscienciológica, obtidos em 2018, com os mesmos indicadores
sociais da população de Foz do Iguaçu, de acordo com o censo demográfico de
308

2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ideal


seria fazer a comparação com o censo de 2020, devido à proximidade temporal,
porém não foi possível aguardar, devido aos prazos de finalização acadêmica.
Tal procedimento foi inspirado no método utilizado por Carlo Ginzburg no livro
“O Queijo e os vermes”. Um dos recursos utilizados por Ginzburg foi “comparar,
cotejar. (...) Confrontemos, notemos as diferenças. E, nestas, vejamos sim o que é
irredutível a uma influência.”6
Então, nesse cotejo da dimensão social da comunidade conscienciológica com
a sociedade iguaçuense, o objetivo é notar as diferenças a fim de compreender a
comunidade conscienciológica na sua singularidade. Aqui cabe um alerta que essa
comparação é relativa, mas válida, uma vez que ao menos uma parte dos 360
respondentes do questionário em 2018, membros da comunidade conscienciológica,
provavelmente estavam inseridos no levantamento demográfico realizado pelo
IBGE, em 2010, no município de Foz do Iguaçu. Contudo, considerando o total de
360 conscienciólogos, eles correspondiam a 0,1% da população de Foz do Iguaçu
em 2010.
O perfil do migrante conscienciólogo, tomando como base os indicadores
sociodemográficos apresentados, é na sua maioria mulheres brasileiras que se
encontram na meia-idade, provenientes principalmente da região sudeste (SP, RJ e
MG) e da região sul (RS e PR).
Em 2010, a população de Foz do Iguaçu era de 256.088 habitantes.
Comparando a categoria “sexo” entre os dados da comunidade conscienciológica
(do total de 360 respondentes, 222 foram do sexo feminino – 61,6%, e 138 do sexo
masculino – 38,3%) com os de Foz do Iguaçu, a maioria da população do município
também era feminina com 131.869 mulheres (51,5% da população de Foz) em
relação aos 124.218 homens (48,5% da população de Foz do Iguaçu).7
No entanto, o percentual de diferença entre mulheres e homens no município
(3%) era menor do que o percentual de diferença entre mulheres e homens da
comunidade conscienciológica (23,3%). Quer dizer que em relação ao sexo, a

6
RIBEIRO, Renato Janine. Posfácio. In: GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as
ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. 1. Ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 194-195.
7
CENSO 2010. População residente. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/foz-do-
iguacu/pesquisa/23/25888?detalhes=true>. Acesso em: 25 nov. 2019, às 20hh24.
309

condição de Foz do Iguaçu é mais equânime do que a condição da comunidade


conscienciológica.
Em relação à faixa etária, os dois maiores percentuais da comunidade
conscienciológica foram de 40 a 49 anos de idade (30,3%) e de 50 a 59 anos de
idade (23,6%), correspondente à quase todo o chamado período da meia-idade que
abrange a o intervalo de 40 a 65 anos de idade.8 Enquanto que no município de Foz
do Iguaçu, os dois maiores percentuais foram da faixa etária de 10 a 19 anos de
idade (19,2% da população de Foz) e 20 a 29 anos de idade (17,3%),
correspondente às fases do final da terceira infância, a adolescência e metade dos
jovens adultos.9
Assim, a comunidade conscienciológica está preponderantemente em período
do ciclo da vida posterior ao da população iguaçuense, em relação ao percentual de
faixas etárias.
A maioria dos migrantes conscienciólogos são brasileiros (95,6%), sendo os
estrangeiros, minoria (4,4%). A população residente de Foz do Iguaçu, de acordo
com Censo de 2010, estava organizada por nacionalidade do seguinte modo:
247.317 eram brasileiros natos (96,6%), 3.024 eram naturalizados brasileiros (1,2%)
e 5.747 eram estrangeiros (2,2%)10. A proporção de brasileiros e estrangeiros na
comunidade conscienciológica e na população de Foz do Iguaçu se assemelham,
havendo maior predominância relativa de estrangeiros na comunidade
conscienciológica.
Quanto à naturalidade, a maioria dos conscienciólogos nasceram na região
sudeste (45,2%) e na região sul (33,2%). Em relação à população residente de Foz
do Iguaçu por lugar de nascimento, a grande maioria nasceu na região sul com
217.058 pessoas (84%), seguido pela região sudeste com 17.838 pessoas (7%).11
Os migrantes conscienciólogos possuem alto nível de escolaridade, pois a
grande maioria concluiu no mínimo um curso de ensino superior (94,2%), além da
maioria possuir algum curso de pós-graduação (70,6%).

8
De acordo com a classificação dos ciclos da vida proposta por Diane Papalia e Sally W. Olds (2000,
p. 27) (PAPALIA, Diane; OLDS, Sally W. Desenvolvimento humano. Tradução de Daniel Bueno. Porto
Alegre: Artmed, 2000).
9
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3180#resultado>.
Acesso em: 23 dez. 2019, às 22h27; PAPALIA; OLDS, 2000, p. 27.
10
FOZ do Iguaçu. Disponível em: <censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa/>. Acesso em: 26 nov. 2019,
às 22h59.
11
FOZ do Iguaçu. Disponível em: <censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa/>. Acesso em: 26 nov. 2019,
às 23h06.
310

De acordo com Censo de 2010, de um total de 215.329 pessoas de 10 anos ou


mais de idade em Foz do Iguaçu, 100.877 (46,8%) eram sem instrução e
fundamental incompleto, 40.802 (18,9%) tinham o fundamental completo e médio
incompleto, 50.639 (23,5%) tinham o médio completo e o superior incompleto,
21.114 (9,8%) tinham o nível superior completo e 1.898 (0,9%) não foi determinado
o nível de instrução.12 Os percentuais se distanciam entre população iguaçuense e
comunidade conscienciológica no aspecto da escolaridade, sendo importante fazer
duas ressalvas: 1) a população respondente do Censo de 2010 pelo IBGE possuíam
10 anos de idade ou mais e a população respondente do questionário da
comunidade conscienciológica tinham 18 anos de idade ou mais; 2) a faixa etária
preponderante dos iguaçuenses é em sua maioria de adolescentes enquanto que a
faixa etária dos conscienciólogos é preponderantemente da meia-idade. Isso faz
com que o nível de escolaridade seja mais alto entre os conscienciólogos.
Um dado complementar sobre a escolaridade é que do total dos 21.114
iguaçuenses que tinham o nível superior completo, 20.153 (95,4%) tinham concluído
o nível de graduação, 646 (3,1%) tinham concluído mestrado e 315 (1,5%) pessoas
tinham concluído doutorado.13 Também o percentual de pós-graduados iguaçuenses
é inferior ao percentual de pós-graduados da comunidade conscienciológica.
O migrante conscienciólogo busca morar no bairro Cognópolis ou ao menos
nas cercanias. Dentre os moradores da Cognópolis, o grupo se divide praticamente
ao meio, metade se instalou no bairro com menos de 5 anos e metade com mais de
5 anos. Considerando que faz 23 anos (1995-2018) que o primeiro morador
conscienciólogo se instalou no bairro, o processo de assentamento é lento. Talvez
um fator dificultador para fixação dos conscienciólogos na Cognópolis seja o fato de
não ter opção de apartamentos nem para alugar nem para vender. Os condomínios
são de lotes para construção de casas ou chácaras, exigindo maior investimento
financeiro. No entanto, há um aumento nos últimos anos, especialmente nos últimos
10 anos, indicando que os migrantes conscienciólogos têm feito o movimento de se
deslocar para morar na Cognópolis.
O tipo de habitação da maioria dos conscienciólogos é casa (63,6%), em
segundo lugar vem apartamento (36,1%) e em terceiro lugar, existe a condição de

12
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/1554#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 16h21.
13
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3543#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 16h15.
311

uma pessoa que mora em quarto (0,3%). De acordo com Censo de 2010, dentre o
total de 79.138 domicílios particulares permanentes 14 do município de Foz do
Iguaçu, a casa era o principal tipo de habitação com a quantidade de 69.339
unidades (88,1%), seguido por 8.691 (11%) apartamentos, em seguida por casa de
vila ou em condomínio com 661 unidades (0,8%) e 447 (0,6%) habitações em casa
de cômodos, cortiço ou cabeça de porco15. É importante fazer uma ressalva nesse
aspecto do tipo de habitação: no questionário aplicado na comunidade
conscienciológica, os números referem-se às pessoas e na pesquisa do IBGE do
censo de 2010, os números referem-se às unidades de domicílios particulares
permanentes.
Não se tem o registro da quantidade total de domicílios particulares dos
conscienciólogos em Foz do Iguaçu. O que foi possível levantar foi um dado
estimado da quantidade de domicílios ocupados por conscienciólogos no bairro
Cognópolis a partir da ferramenta do “mapa interativo” disponível na página da
internet do IBGE: 46 domicílios ocupados por 140 pessoas, em 2010.16 No entanto,
não é possível ter precisão de que esses domicílios são todos habitados por
conscienciólogos. Além disso, não foi possível estimar o número de domicílios
habitados por conscienciólogos fora do bairro Cognópolis.
Na pesquisa na comunidade conscienciológica, não foi feita essa
categorização em “casa” e “casa em vila ou em condomínio”. No entanto, se tivesse
sido feita, e considerando somente as habitações no bairro Cognópolis, a opção de
“casa em vila ou em condomínio” provavelmente seria o primeiro lugar. Pois,
observando o território do bairro Cognópolis, percebe-se que a maioria das casas de
voluntários estão em condomínios. Assim, há uma provável convergência para
preferência em morar em casa para iguaçuenses e conscienciólogos, porém os
segundos optam predominantemente pela casa em condomínio.
Quanto ao regime de ocupação, 193 pessoas da comunidade
conscienciológica são proprietárias (53,6%), seguido pelos os que alugam com ou

14
Domicílio particular permanente é o domicílio localizado em habitação que se destina a servir
exclusivamente de moradia, ou seja, em casa, apartamento ou cômodo, independentemente do
material utilizado em sua construção (parâmetros do IBGE).
15
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3152#resultado>.
Acesso em: 23 dez. 2019, às 23h14.
16
GRADE Estatística 2010. Disponível em: <mapasinterativos.ibge.gov.br/grade/default.html>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 18h.
312

sem contrato e subalugam totalizando 158 pessoas (43,9%), em seguida, 8 pessoas


moram em imóveis cedidos (2,2%) e 1 pessoa não respondeu.
No município de Foz do Iguaçu, do total de 79.138 domicílios particulares
permanentes, 53.654 domicílios particulares permanentes eram próprios quitados ou
em aquisição (67,8%), 18.143 domicílios eram alugados (22,9%) e 6.471 eram
cedidos por empregador ou de outra forma (8,2%) e ainda há 870 domicílios em
outra condição de ocupação (1,1%).17
A comparação é difícil de ser feita nesse aspecto do regime de ocupação. Pois,
os números da comunidade conscienciológica são relativos às pessoas e na
pesquisa do IBGE do censo de 2010, os números referem-se às unidades de
domicílios particulares permanentes.
O agregado doméstico dos migrantes conscienciólogos configura-se
preponderantemente de casal sem filhos (53,9%), seguido pelos domicílios
compostos de pessoa só (22,6%) e os domicílios formados de casal com filhos
(13,3%). Esses 3 tipos de família indicam uma composição mais convencional.
Segundo o Censo demográfico do IBGE, Foz do Iguaçu possuía, em 2010, o
seguinte tipo de composição familiar em uma amostra de 68.749 unidades de
domicílios particulares: em primeiro lugar, 35.249 unidades de domicílios formadas
por casal com filhos (51,3%), 12.073 unidades de domicílios de casal sem filhos
(17,6%), em terceiro lugar, 8.979 unidades de domicílios compostas de mulher sem
cônjuge com filhos (13,1%), 3.715 unidades de domicílios de “outro” (5,4%), 3.203
unidades de domicílios formadas por casal com filhos e com parentes (4,6%), 2.499
unidades de domicílios de mulher sem cônjuge com filhos e com parentes (3,6%),
1.378 unidades de domicílios de casal sem filhos e com parentes (2,0%), 1.310
unidades de domicílios de homem sem cônjuge com filhos (1,9%) e por fim, 342
unidades de domicílios de homem sem cônjuge com filhos e com parentes (0,5%).18
Comparando os dados dos conscienciólogos e dos iguaçuenses, observa-se
que o agregado doméstico dos primeiros se constitui preponderantemente de casais
sem filhos, enquanto que os dos iguaçuenses, de casais com filhos.
É oportuno alertar que o fato do agregado doméstico dos conscienciólogos ter
apresentado o dado de praticamente metade deles serem de casais sem filhos, isso

17
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3219#resultado>.
Acesso em: 27 dez. 2019, às 16h42.
18
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3519#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 16h40.
313

não significa que o casal não tenha filhos. Neste domicílio, se os filhos existem, eles
não moram com o casal. Para exemplificar essa situação, vale lembrar do caso de
dois dos nossos entrevistados, o Moacir e o Domingos, que possuem filhos do
primeiro casamento, que não migraram com eles para Foz do Iguaçu.
Quanto à situação profissional, quase metade dos participantes do inventário
aplicado na comunidade conscienciológica está atualmente exercendo uma
profissão remunerada no setor privado (49,7%), seguido pelos os que estão
exercendo uma profissão remunerada no setor público (18,1%), os que estão
aposentados (17,5%), os que vivem de rendimentos (8,3%), os estudantes (5,8%) e
desempregados (3,1%), para citar os principais. Não foram encontrados dados no
Censo de 2010 organizados desse modo, por isso não foi possível compará-los.
O predomínio da posição na ocupação profissional na comunidade
conscienciológica foi de trabalhadores por conta de outrem (39,7%), seguido por
“essa questão não se aplica ao caso pessoal” (30,0%), por não estar exercendo
profissão remunerada atualmente. Cotejando com os dados de Foz do Iguaçu, de
um total de 123.643 pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de
referência, 84.955 eram empregados (incluindo os com e sem carteira de trabalho
assinada, e os funcionários públicos estatutários) (68,7%), 31.629 trabalhavam por
conta própria (25,6%), 4.279 pessoas eram empregadores (3,5%), 1.943 pessoas
eram não remuneradas (1,5%) e 837 eram trabalhadores na produção para o próprio
consumo (0,7%).19 Nas duas populações, há o predomínio de empregados.
Quanto ao local físico de trabalho, a maioria da comunidade conscienciológica
trabalha em Foz do Iguaçu, seja em instituição e/ou residência pessoal com 208
respostas (57,8%). Tal condição é a mesma para os iguaçuenses, de um total de
123.643 pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,
113.630 pessoas trabalhavam no município de Foz (91,9%). Desse total de 113.630
pessoas, 87.229 pessoas (70,5%) trabalhavam fora do domicílio de residência e
26.401 pessoas (21,3%) trabalhavam na sua residência. Além disso, 6.354 pessoas
trabalhavam em país estrangeiro (5,1%), 1.981 pessoas trabalhavam em outro
município (1,6%) e 1.677 pessoas trabalhavam em mais de um município ou país

19
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/1577#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 16h56.
314

(1,3%).20 Vale a ressalva de que os respondentes da comunidade conscienciológica


tinham mais de 18 anos de idade, enquanto os respondentes do censo de 2010 do
IBGE tinham 10 anos ou mais de idade.
Na questão “Você reside e trabalha profissionalmente no bairro Cognópolis?”,
223 responderam que “não” (61,9%). Isso quer dizer que apesar da maioria dos
participantes residir no bairro Cognópolis ou próximo, conforme dado da tabela 10, a
maioria não trabalha profissionalmente no bairro (Tabela 18).
A Cognópolis até o momento tem sido território voltado prioritariamente para a
moradia e o trabalho voluntário. O voluntariar é muitas vezes vivenciado como uma
extensão do morar. O mesmo comportamento vivido no Rio de Janeiro se repete em
Foz do Iguaçu, conforme visto no capítulo 2: segundo o testemunho de Alexander
Steiner, alguns voluntários também transferiam residência quando a sede do IIPC
mudava. Isso ocorreu quando o IIPC funcionava no bairro da Glória e depois quando
foi para Ipanema. Os voluntários “migraram” para as cercanias da sede do IIPC que
segundo Alexander, era para “facilitar estar próximo ao Instituto, a sede, e rapidinho
estar lá”.
Essa interação do morar-voluntariar constitui-se em um indício, em uma
regularidade nos comportamentos coletivos dos conscienciólogos. Conforme
Jacques Revel21 chamou atenção, a micro-história busca essas regularidades nos
comportamentos coletivos de um grupo ou comunidade. As narrativas dos
migrantes, reforçadas pelas respostas encontradas nos questionários, sinalizam um
querer morar perto da instituição onde voluntariam a fim de garantir maior
disponibilidade de tempo no voluntariado. Mas será só isso? Qual o limite vivido
entre estar em casa e estar na instituição conscienciológica pelos voluntários-
vizinhos? Existe fronteira entre o sentimento de pertencer à comunidade
conscienciológica e o sentimento de “estar em casa”?
Na narrativa da migrante e moradora do campus CEAEC, Nara Oliveira, essa
fronteira não existe: “você abre a porta e você sabe que a sua casa é um pedaço
disso, vamos dizer assim. Mas que eu me sinto em casa quando eu estou dentro da
Holoteca, eu me sinto em casa quando estou dentro do Holociclo, eu me sinto em
casa quando estou dentro do Tertuliarium, eu me sinto em casa no refeitório, me

20
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3602#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, às 15h39.
21
REVEL, 1998, p. 33.
315

sinto em casa em todos os lugares quando eu caminho aqui por dentro como se
fosse o pátio da minha casa. Quer dizer, então eu não consigo me imaginar vivendo
de um outro jeito que não desse.”
Nara esclarece seu ponto de vista. “Claro que essa experiência depende de
cada pessoa, a gradação: alguns são mais envolvidos outros são menos envolvidos
etc. E isso depende da história de cada um enfim. Para nós, isso é bem
significativo.” Compara como se sente na comunidade conscienciológica e como um
morador de qualquer bairro em geral se comporta: “você mora numa cidade, ou no
bairro de uma cidade, as pessoas não se sentem responsáveis pela rua, não se
sentem responsáveis pelo bairro etc, elas têm a casa delas e enfim elas vivem ali
aquele espaço. Aqui não, aqui tudo é responsabilidade de todo mundo. A gente
precisa manter, fazer isso funcionar. Quer dizer, faz sentido fazer isso funcionar.”
Esse relato da Nara encontra ressonância no entendimento conceitual de
Pierre Mayol22, colaborador do grupo intelectual de Michel de Certeau, a respeito do
morar e o bairro: este seria um “domínio do ambiente social”, sendo para o usuário
uma porção do espaço público “em que se insinua pouco a pouco um espaço
privado particularizado pelo fato do uso quase cotidiano desse espaço.” Segundo
Mayol, “sair de casa, andar pela rua, é efetuar de tudo um ato cultural, não arbitrário:
inscreve o habitante em uma rede de sinais sociais que lhe são preexistentes (os
vizinhos, a configuração dos lugares etc.).”
Voltemos para nosso cotejo; para questão “O(s) seu(s) trabalho(s) situa(m)-se
em qual ramo de atividade? Assinale todos os casos que se apliquem”. Do total de
441 respostas (122,5%), 106 respostas foram da área da Educação (29,4%), 93
respostas afirmaram que esta questão não se aplicava ao caso pessoal, por não
estar exercendo profissão remunerada hoje (25,8%) e 75 respostas foram da área
da Saúde humana e serviços sociais (20,8%) (Tabela 19).
Em comparação à seção de atividade do trabalho principal do Censo de 2010
do IBGE, dentre o total de 123.643 pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas
na semana de referência em Foz do Iguaçu, as duas áreas com maior percentual
foram Comércio com 31.083 pessoas (25,1%) e Construção com 10.150 pessoas

22
MAYOL, Pierre. O bairro. In: CERTEAU, Michel de.; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do
cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Trad. de Ephraim Ferreira Alves e Lucia Endlich Orth. 12. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2013, p. 40.
316

(8,2%).23 Os principais ramos de atividade profissional diferem totalmente entre a


população iguaçuense e a comunidade conscienciológica. Aqui também cabe a
ressalva de que os respondentes da comunidade conscienciológica tinham mais de
18 anos de idade, enquanto os respondentes do censo de 2010 tinham 10 anos ou
mais de idade.
Outro dado que pode ser comparado é a quantidade de médicos e psicólogos
na comunidade conscienciológica e na população iguaçuense. Em novembro de
2010, havia 41 médicos conscienciólogos em Foz do Iguaçu24 enquanto que Foz do
Iguaçu possuía dentre o total de 123.643 pessoas de 10 anos ou mais de idade,
ocupadas na semana de referência, cerca de 249 médicos no mesmo ano.25 Quer
dizer que os médicos conscienciólogos correspondiam a 16,5% dos médicos do
município.
Na mesma data, havia 66 psicólogos que também eram voluntários da
Conscienciologia26. E em Foz do Iguaçu, dentre o total de 123.643 pessoas de 10
anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, tinham
aproximadamente 246 psicólogos no total, também em 2010. 27 Ou seja, os
psicólogos que também eram conscienciólogos correspondiam a 26,8% desses
profissionais no município.
A quantidade de professores de ensino fundamental, médio e superior, além de
professores de formação profissional, idiomas e informática da comunidade
conscienciológica era cerca de 151 pessoas em 2011.28 Em Foz do Iguaçu, dentre o
total de 123.643 pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de
referência, esses mesmos profissionais do ensino mencionados eram no total em
29
torno de 1.533 pessoas, em 2010. Quer dizer, que os voluntários da

23
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/1575#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, 17h25.
24
Fonte: documento Lista de Médicos(as) da Comunidade Conscienciológica, de 20 de novembro de
2010 (Arquivo do Holociclo, CEAEC).
25
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3592#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, 17h39.
26
Fonte: documento Lista de Psicólogos(as) da Comunidade Conscienciológica, de 20 de novembro
de 2010 (Arquivo do Holociclo, CEAEC).
27
IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: <http://sidra.ibge.gov.br/Tabela/3592#resultado>.
Acesso em: 25 dez. 2019, 17h39.
28
Fonte: documento Lista de Professores(as) da CCCI – Foz do Iguaçu, de 26 de outubro de 2011
(Arquivo do Holociclo, CEAEC).
29
CENSO Demográfico 2010. Disponível em: <sidra.ibge.gov.br/tabela/3592>. Acesso em: 29 nov.
2019, às 20h45.
317

Conscienciologia correspondiam, em 2011, a 9,8% dos professores do município de


Foz do Iguaçu nas áreas mencionadas.
Em síntese, dos 17 indicadores sociais, 7 não puderam ser comparados, pois 3
eram específicos sobre o bairro Cognópolis, 3 não foram encontrados dados
correspondentes no censo do IBGE e 1 tratava de dados de natureza diferentes.
Dos 10 indicadores cotejados, 5 apresentaram semelhanças entre os
conscienciólogos e os iguaçuenses: sexo (maioria mulheres), nacionalidade (maioria
brasileiros), tipo de habitação (preferência pela casa), posição na ocupação
profissional (maioria empregados) e local físico de trabalho (maioria em Foz do
Iguaçu).
E 5 indicaram diferenças. A primeira foi a faixa etária: iguaçuenses são mais
jovens que os conscienciólogos. A segunda foi a naturalidade: a maioria dos
iguaçuenses são da região sul enquanto que os conscienciólogos são
predominantemente da região sudeste, seguida pela procedência da região sul.
O terceiro contraste foi a escolaridade: a maioria dos iguaçuenses não possui
curso de ensino superior enquanto a maioria dos conscienciólogos possui curso de
graduação.
Conscienciólogos não são representativos da população iguaçuense. A alta
escolaridade dos voluntários pode sugerir outros padrões de comportamentos. Por
que pessoas com alto nível de escolaridade tem interesse na Conscienciologia? No
capítulo 2, na tabela 3, as duas principais motivações encontradas nas respostas
dos voluntários à pergunta sobre os motivos na decisão de conhecer a
Conscienciologia, referiram-se à “extrema motivação” pela “afinidade com as ideias
da Conscienciologia” (60,8%) seguida de “muita motivação” por “curiosidade sobre
as ideias da Conscienciologia” (52,5%).
A curiosidade é um traço de personalidade de quem pesquisa, de quem busca
novos conhecimentos. O fato dessas pessoas com alta escolaridade buscarem
conhecimentos não-acadêmicos, marginais à ciência convencional, pode sugerir um
esgotamento do paradigma vigente para essas pessoas?
A dicotomia entre teoria e ação foi contestada pela revolução simbólica de
maio de 1968 30 , essa inquietação parece manifestar-se de vários modos em
diferentes meios sociais. Em 1968, estudantes franceses questionaram a forma de

30
CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. 7. ed. 2. reimp. Campinas, SP: Papirus, 2013, p. 163.
318

organização das disciplinas nas universidades e a relação da teoria com a ação.


Reivindicaram mudanças na estrutura disciplinar e a compartimentalização do saber,
exigindo mais integração e diálogo entre as disciplinas. A interdisciplinaridade pode
ser vista, neste contexto, como a necessidade de acabar com a divisão do
conhecimento, mas ao mesmo tempo também com a divisão social do trabalho, uma
vez que se estabeleceu um diálogo entre os acadêmicos e os trabalhadores das
indústrias. Segundo Michel de Certeau 31 , “a relação da cultura com a sociedade
modificou-se: a cultura não está mais reservada a um grupo social”, não está restrita
a especialidades profissionais, como docentes universitários. A cultura é plural.
Para Certeau32, “somente há revisão estrutural na interdisciplinaridade, onde a
relação pode ser percebida e discutida, onde fronteiras e divisões significativas de
um sistema podem ser contestadas”.
Numa leitura mais recente da sociedade, o sociólogo Michel Maffesoli 33
comenta que “por mais paradoxal que possa parecer, a verdadeira subversão teórica
consiste em estar sintonizado com o senso comum.” Esse “conhecimento que,
sintonizado com o que é vivido, sabe discernir a profunda mutação societal em
curso.”
A micro-história busca justamente essa “reconstrução do vivido”34 por indivíduo
ou comunidade que está na “sombra da história”. A comunidade conscienciológica
está na “sombra da história”. Não se compara aos estudantes de 1968. Cada fato
está dentro do seu contexto histórico-social.
O que os conscienciólogos têm de diferente desses estudantes de 1968?
Comecemos pelos breves pontos de contato. Eles também podem ser considerados
estudantes. O alto índice dos voluntários diplomados sinaliza isso. Também buscam
acabar com a divisão do conhecimento e com a divisão social do trabalho. Mas
como? A primeira questão do conhecimento é estudada a partir da vivência de
teorias e de práticas voltadas para uma compreensão do ser humano de modo mais
integral. Os conscienciólogos não ignoram vivências como sonhos recorrentes;
relatos de experiências fora do corpo; fenômenos de telepatia, sincronicidade,
clarividência ou clariaudiência; e assim sucessivamente, ou seja, todo tipo de

31
CERTEAU, 2013, p. 103-104, grifos do autor.
32
CERTEAU, 2013, p. 183.
33
MAFFESOLI, Michel. A república dos bons sentimentos: documento. Tradução de Ana Goldberger.
São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2009, p. 60.
34
REVEL, 1998, p. 22.
319

35
fenômeno denominado “paranormal” ou parapsíquico sadio. Segundo a
Conscienciologia, existem certos tipos de doenças psiquiátricas que podem
manifestar alucinações, delírios e um conjunto de comportamentos nosográficos que
não devem ser confundidos com manifestações fenomênicas sadias.36
Vivências são registradas, questionadas, discutidas, estudadas, submetidas à
reflexão pessoal nos laboratórios de autopesquisa e à troca de experiências nas
atividades de debate da comunidade conscienciológica. A Conscienciologia estuda o
que a consciência experimenta, seja lá o que for. Não existe divisão do
conhecimento experiencial do teórico. Na comunidade conscienciológica, os estudos
não se restringem aos cânones vigentes da universidade.
Sobre os cânones da ciência convencional, Rupert Sheldrake 37 , doutor em
bioquímica pela Universidade de Cambridge, assim se pronuncia: “muitos cientistas
não sabem que o materialismo é uma pressuposição: eles simplesmente encaram
essa doutrina como ciência, visão científica da realidade”. Os cientistas “não
aprendem esse conceito, nem têm oportunidade de discuti-lo. Eles o absorvem por
uma espécie de osmose intelectual.”
De acordo com Sheldrake38, “a ciência está sendo refreada por pressuposições
seculares que se enrijeceram em dogmas. A ciência estaria melhor sem eles: mais
livre, mais interessante e mais divertida.”
Segundo Charles T. Tart, PhD em Psicologia, em seu livro “O Fim do
Materialismo”, resultado de 70 anos de estudos e vivências, “podemos ser ao
mesmo tempo científicos e espiritualizados, sem a necessidade de uma separação
artificial entre os dois campos”. 39 Tart, ao falar da Parapsicologia, cita que “nos
cinquenta anos que dediquei ao estudo e ao trabalho nessa área, houve uma
profusão de ataques dirigidos a ela pelos pseudocéticos.” Estes, às vezes, são
“cientistas renomados de outros campos, mas eles não se dão o trabalho de ler os

35
VIEIRA, Waldo. Projeciologia: panorama das experiências da consciência fora do corpo humano.
Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1986, p. 49-102, 116-125.
36
VIEIRA, 1986, p. 128-130.
37
SHELDRAKE, Rupert. Ciência sem dogmas: a nova revolução científica e o fim do paradigma
materialista. Tradução de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 16.
38
SHELDRAKE, 2014, p. 14.
39
TART, Charles T. O fim do materialismo: como as evidências científicas dos fenômenos
paranormais estão unindo ciência e espiritualidade. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo:
Cultrix, 2012, p. 25.
320

textos sobre Parapsicologia que são publicados em periódicos respeitados por sua
imparcialidade e não gostam de sujar as mãos com experiências próprias.”40
Tart41 ressalta o que julga o essencial da ciência: “para mim, o aspecto mais
fundamental da ciência (em contraposição ao cientificismo) é essa insistência na
experiência direta – na observação, nos dados e nos fatos – como, prioridade última
de entendimento, apesar de a ciência ser complementada e interpretada pela razão.”
O protagonista de Ginzburg, Menocchio teria algo a dizer aos cientistas
materialistas. Menocchio possuía uma paixão por pensar e falar e “quem sabe não
ensinará a prezar mais o que é refletir, o que é dizer.”42
Por outro lado, indo para a segunda questão sobre acabar com divisão do
trabalho, a comunidade conscienciológica, numa filosofia oposta ao materialismo,
busca valorizar o trabalho voluntário. Não nega a realidade humana material, uma
vez que os voluntários exercem suas profissões remuneradas a fim de se
sustentarem economicamente, como qualquer cidadão. Porém, buscam, no interior
da comunidade, interagir a partir do trabalho voluntário institucional
conscienciocêntrico.
Esse voluntariado conscienciológico faz com que o interessado assuma
diferentes tarefas nas instituições, desde as mais operacionais até as mais
intelectuais, ora atuando como auxiliar nos bastidores administrativos ora atuando
como professor para o público. O rodízio nas funções administrativas pode ser
compreendido à luz da estrutura organizacional e regras de funcionamento social
apresentado nos estatutos das instituições conscienciocêntricas nos capítulos
anteriores. Os voluntários, que estão em funções administrativas, trabalham para dar
sustentabilidade para os voluntários que estão em funções pedagógicas-didáticas e
técnico-científicas. Ora o mesmo voluntário está na administração, ora está na sala
de aula. E essas atividades não dependem de remuneração.
Os estudantes de 1968 e os conscienciólogos assemelham-se por buscar o fim
da divisão do conhecimento e a divisão social do trabalho, porém diferenciam-se,
pois cada um realiza essa busca ao seu modo.
Voltemos às diferenças entre iguaçuenses e conscienciólogos. A quarta
diferença foi o agregado doméstico: dentre os iguaçuenses que moram em

40
TART, 2012, p. 88.
41
TART, 2012, p. 63.
42
RIBEIRO, 2015, p. 192.
321

domicílios particulares, a maioria é de casais com filhos enquanto que em metade


dos lares de conscienciólogos são casais sem filhos. Essa característica poderá ser
melhor discutida no próximo capítulo juntamente com outras questões sobre família
e comunidade.
E a última diferença foi o ramo da atividade profissional: as áreas de maior
percentual entre os iguaçuenses foram o comércio e a construção, enquanto que,
entre os conscienciólogos, foram educação, a condição de não estar exercendo
ocupação remunerada (engloba aposentados, estudantes, desempregados, pessoas
que vivem de rendimento entre outros) e a saúde. Esse achado está relacionado
com a alta escolaridade discutida acima. Esse diferencial dos conscienciólogos
ajudou a suprir lacunas no município nas áreas da educação, saúde, dentre outras.
Tal diferença no ramo da atividade profissional parece destacar um indício ou
mais uma regularidade no comportamento coletivo dos conscienciólogos. A
predominância de atuação profissional nas áreas da Educação e da Saúde pelos
voluntários da Conscienciologia não parece ser fruto do acaso. Parece ser uma
tendência dentro da concepção da valorização da prática da assistência social,
alinhada com a filosofia do trabalho voluntário ou de cooperação com os outros.
Nas palavras do propositor da Conscienciologia: “Em primeiro lugar, deveria
estar sempre a Educação em termos de prioridade política de qualquer governo.
Todas as outras áreas sociais melhoram a partir daí, como consequências
naturais.”43 Ou ainda: “Educação é pensar na coletividade.”44
Na área da Saúde, a Medicina possui destaque: “a Medicina é a porta aberta à
interassistencialidade.”45 A interassistencialidade é entendida como “entreajuda” e
“a interassistencialidade sincera” é considerada “ato dos mais nobilitantes para
qualquer conscin” [consciência intrafísica] ou pessoa.46
Observa-se que as duas áreas, da Educação e da Saúde, são valorizadas na
Conscienciologia. Vieira ainda relaciona as duas áreas quando afirma que:
“Educação é saúde;”47 e “Sem educação não adianta remédio porque a pessoa não

43
VIEIRA, Waldo. Léxico de Ortopensatas. 2. ed. rev. e aum. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 689,
grifos do autor. 3 vols.
44
VIEIRA, 2019, p. 689, grifos do autor.
45
VIEIRA, 2019, p. 1.235, grifos do autor.
46
VIEIRA, 2019, p. 1.079, grifos do autor.
47
VIEIRA, 2019, p. 1.795, grifos do autor.
322

consegue nem ler a bula. Sem educação não há saúde, política útil, progresso ou
lucidez.”48
Retomando o pressuposto ginzburguiano, visto no capítulo 2, de que “a
literatura aforismática é, por definição, uma tentativa de formular juízos sobre o
homem e a sociedade a partir de sintomas, de indícios”49, os aforismos ou pensatas
citados anteriormente formam um conjunto de indícios das concepções da
Conscienciologia, compartilhadas por seus voluntários e seus estudiosos.

5.2 Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu

No questionário aplicado na comunidade conscienciológica, o tema da


migração para Foz do Iguaçu correspondia à seção 3, onde foram abordadas as
questões a serem apresentadas e discutidas a seguir nos seus aspectos gerais da
migração e no aspecto específico sobre os parentes envolvidos no processo
migratório.

5.2.1 Aspectos gerais migratórios

Os aspectos gerais migratórios investigados foram: as cidades diferentes do


local do nascimento em que viveu antes de migrar para Foz do Iguaçu; o ano em
que ouviu falar da “comunidade conscienciológica” pela 1a. vez; o ano em que se
mudou para Foz do Iguaçu; a última cidade e país de residência antes de migrar
para Foz do Iguaçu; o motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu; se tinha
conhecidos em Foz do Iguaçu quando migrou; as categorias de conhecidos em Foz
do Iguaçu quando migrou; e a companhia quando migrou para Foz do Iguaçu.

5.2.1.1 Cidades diferentes do local do nascimento em que viveu antes de migrar

Na questão “Em quantas cidades diferentes do seu local de nascimento você


viveu antes de migrar para Foz do Iguaçu?”, a resposta com maior percentual foi:
viveu em 4 ou mais cidades diferentes da sua cidade natal antes de migrar para Foz
do Iguaçu com 91 respostas (25,3%). Em seguida, a condição oposta, 80 respostas

48
VIEIRA, 2019, p. 690, grifos do autor.
49
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: _____. Mitos, emblemas, sinais:
morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 178.
323

(22,2%) disseram que sempre viveram na sua cidade natal antes de mudar para Foz
do Iguaçu. No entanto, um dado chama atenção: a soma para uma, duas, três,
quatro ou mais cidades totaliza 280 respostas (78,5%), ou seja, a grande maioria já
havia tido uma experiência de migração anteriormente à vinda para Foz do Iguaçu
(Tabela 20).

TABELA 20 – CIDADES DIFERENTES DO LOCAL DO NASCIMENTO EM QUE


VIVEU ANTES DE MIGRAR PARA FOZ DO IGUAÇU PELOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ
DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS N (%)
Cidades diferentes do Nenhuma, sempre vivi na minha cidade 80 (22,2)
seu local de nascimento natal antes de mudar para Foz do Iguaçu
em que viveu antes de 1 70 (19,5)
migrar para Foz 2 71 (19,7)
3 48 (13,3)
4 ou mais 91 (25,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.2.1.2 Ano em que ouviu falar da comunidade conscienciológica pela 1ª. vez

Na pergunta “Em que ano você ouviu falar da ‘comunidade conscienciológica’


em Foz do Iguaçu pela primeira vez?”, a resposta com maior percentual foi: em
1995, com 72 respostas (20,0%) (Tabela 21).
324

TABELA 21 – ANO EM QUE OUVIU FALAR DA “COMUNIDADE


CONSCIENCIOLÓGICA” PELA 1A. VEZ PELOS MIGRANTES
DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Ano em que ouviu falar da 1995 72 (20,0)
"comunidade 1996 23 (6,4)
conscienciológica" em 1997 12 (3,3)
Foz do Iguaçu pela 1a. vez 1998 17 (4,7)
1999 16 (4,5)
2000 26 (7,2)
2001 24 (6,7)
2002 17 (4,7)
2003 26 (7,2)
2004 19 (5,3)
2005 20 (5,6)
2006 11 (3,1)
2007 4 (1,1)
2008 7 (1,9)
2009 4 (1,1)
2010 11 (3,1)
2011 9 (2,5)
2012 12 (3,3)
2013 16 (4,4)
2014 8 (2,2)
2015 5 (1,4)
2016 1 (0,3)
2017 0 (0,0)
2018 0 (0,0)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.2.1.3 Ano em que se mudou para Foz do Iguaçu

Na questão “Em que ano você se mudou para Foz do Iguaçu?”, o ano de 2004
foi o que obteve maior percentual, com 53 respostas (14,7%) (Tabela 22).
325

TABELA 22 – ANO EM QUE SE MUDOU PARA FOZ DO IGUAÇU PELOS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Ano que se mudou para
Foz do Iguaçu Antes de 1995 0 (0,0)
1995 6 (1,7)
1996 7 (1,9)
1997 1 (0,3)
1998 2 (0,6)
1999 5 (1,4)
2000 3 (0,8)
2001 5 (1,4)
2002 13 (3,6)
2003 25 (6,9)
2004 53 (14,7)
2005 25 (6,9)
2006 17 (4,7)
2007 11 (3,1)
2008 10 (2,8)
2009 10 (2,8)
2010 15 (4,2)
2011 8 (2,2)
2012 15 (4,2)
2013 22 (6,1)
2014 25 (6,9)
2015 20 (5,6)
2016 21 (5,8)
2017 27 (7,5)
2018 14 (3,9)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“caso tenha mudado mais de uma vez, considere a primeira vez.”

5.2.1.4 Última cidade e país de residência antes de migrar para Foz do Iguaçu

Na pergunta “Qual foi a última cidade e país de residência antes de migrar para
Foz do Iguaçu?”, a resposta com maior frequência foi a cidade do Rio de Janeiro
(RJ), com 80 respostas (22,2%) (Tabela 23).
326

TABELA 23 – ÚLTIMA CIDADE E PAÍS DE RESIDÊNCIA ANTES DE MIGRAR


PARA FOZ DO IGUAÇU PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
continua
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Última cidade e país de Alegrete, RS - Brasil 1 (0,3)
residência antes de Araraquara, SP – Brasil 1 (0,3)
migrar Barcelona - Espanha 2 (0,6)
para Foz do Iguaçu Belo Horizonte, MG - Brasil 18 (5,0)
Bento Gonçalves, RS - Brasil 1 (0,3)
Brasília, DF - Brasil 7 (1,9)
Buenos Aires - Argentina 7 (1,9)
Cabo Frio, RJ - Brasil 1 (0,3)
Cachoeira do Sul, RS - Brasil 1 (0,3)
Campos Grande, MS - Brasil 3 (0,8)
Campos do Jordão, SP - Brasil 1 (0,3)
Cascavel, PR - Brasil 2 (0,6)
Caxias do Sul, RS - Brasil 6 (1,5)
Charqueadas, RS - Brasil 3 (0,8)
Conceição dos Ouros, MG - Brasil 3 (0,8)
Criciúma, SC - Brasil 2 (0,6)
Cuiabá, MT - Brasil 6 (1,5)
Curitiba, PR - Brasil 25 (6,9)
Domingos Martins, ES - Brasil 2 (0,6)
Entre Rios-Guarapuava, PR - Brasil 1 (0,3)
Florianópolis, SC - Brasil 6 (1,5)
Fortaleza, CE - Brasil 1 (0,3)
Frankfurt, Hessen - Alemanha 1 (0,3)
Goiânia, GO - Brasil 2 (0,6)
Guarapuava, PR - Brasil 1 (0,3)
Ibirité, MG - Brasil 1 (0,3)
Itu, SP - Brasil 1 (0,3)
Jataí, GO - Brasil 1 (0,3)
Jaú, SP - Brasil 1 (0,3)
Ji-Paraná, RO - Brasil 2 (0,6)
João Pessoa, PB - Brasil 1 (0,3)
Joinville, SC - Brasil 3 (0,8)
Jundiaí, SP - Brasil 2 (0,6)
Lisboa - Portugal 2 (0,6)
Londres – Reino Unido 2 (0,6)
Londrina, PR - Brasil 5 (1,3)
Lugo - Espanha 1 (0,3)
327

TABELA 23 – ÚLTIMA CIDADE E PAÍS DE RESIDÊNCIA ANTES DE MIGRAR


PARA FOZ DO IGUAÇU PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
conclusão
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Última cidade e país de Maceió, AL - Brasil 1 (0,3)
residência antes de Madrid – España 2 (0,6)
migrar Manaus, AM - Brasil 2 (0,6)
para Foz do Iguaçu Maringá, PR - Brasil 3 (0,8)
Medianeira, PR - Brasil 2 (0,6)
Monte Aprazível, SP - Brasil 1 (0,3)
Natal, RN - Brasil 11 (3,0)
New York, NY - EUA 2 (0,6)
Niterói, RJ - Brasil 5 (1,3)
Nova Friburgo, RJ - Brasil 1 (0,3)
Novo Hamburgo, RS - Brasil 1 (0,3)
Osasco, SP - Brasil 2 (0,6)
Pelotas, RS - Brasil 1 (0,3)
Porto Alegre, RS - Brasil 31 (8,6)
Porto Velho, RO - Brasil 4 (1,1)
Recife, PE - Brasil 2 (0,6)
Resistência, Chaco - Argentina 1 (0,3)
Ribeirão Preto, SP - Brasil 5 (1,3)
Rio de Janeiro, RJ - Brasil 80 (22,2)
Salvador, BA - Brasil 5 (1,3)
Santa Maria, RS - Brasil 5 (1,3)
Santiago - Chile 1 (0,3)
Santo André, SP - Brasil 2 (0,6)
Santos, SP - Brasil 1 (0,3)
São Bernardo do Campo, SP - Brasil 3 (0,8)
São Carlos, SP - Brasil 2 (0,6)
São José do Cedro, SC - Brasil 1 (0,3)
São José dos Campos, SP - Brasil 3 (0,8)
São Mateus do Sul, PR - Brasil 1 (0,3)
São Paulo, SP - Brasil 33 (9,1)
São Pedro da Aldeia, RJ – Brasil 1 (0,3)
São Sebastião do Caí, RS - Brasil 1 (0,3)
Saquarema, RJ - Brasil 3 (0,8)
Sydney - Australia 2 (0,6)
Torres, RS - Brasil 1 (0,3)
Tubarão, SC - Brasil 2 (0,6)
Uberaba, MG - Brasil 2 (0,6)
Viamão, RS - Brasil 1 (0,3)
Vila Velha, ES - Brasil 3 (0,8)
Vinhedo, SP - Brasil 1 (0,3)
Vitória, ES - Brasil 3 (0,8)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
328

5.2.1.5 Motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu

Na questão “motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu”, as categorias


motivacionais foram selecionadas a partir do referencial teórico sobre a migração por
estilo de vida e a migração conscienciológica, a serem explicadas no tópico 5.2.4 –
Caracterização da migração conscienciológica.
Também foram organizadas em uma escala likert de 5 níveis de intensidade
variando de “nenhuma”, “pouca”, “mediana”, “muita” e “extrema” motivação. Na
categoria “extrema motivação”, as mais pontuadas foram, em ordem decrescente:
Evolução pessoal e grupal com 214 respostas (59,4%), Voluntariado
Conscienciológico com 174 respostas (48,3%), Waldo Vieira com 134 respostas
(37,2%) e Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional (CCCI-Foz do
Iguaçu) com 128 respostas (35,5%). Essas 4 motivações pertencem ao referencial
teórico da migração conscienciológica.
Na categoria “nenhuma motivação”, as mais pontuadas foram, em ordem
decrescente: divórcio, doença ou morte de pessoa amada com 336 respostas
(93,3%), aposentadoria com 316 respostas (87,8%), clima mais quente e família
consaguínea, com 293 respostas (81,4%), cada uma. Essas 4 categorias
motivacionais que menos pesaram na motivação para migrar para Foz do Iguaçu
pertencem ao referencial teórico sobre migração por estilo de vida (Tabela 24).
329

TABELA 24 – MOTIVO NA DECISÃO DE MIGRAR PARA FOZ DO IGUAÇU


PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA
DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Motivo Nenhuma Pouca Mediana Muita Extrema
para migrar Emprego 226 39 49 25 21
para Foz do (62,8) (10,8) (13,6) (7,0) (5,8)
Iguaçu Amigos 96 68 92 77 27
(26,7) (18,9) (25,5) (21,4) (7,5)
Família 293 27 8 23 9
consaguínea (81,4) (7,5) (2,2) (6,4) (2,5)
Voluntariado 14 17 33 122 174
conscienciológico (3,9) (4,7) (9,2) (33,9) (48,3)
Enciclopédia da 82 53 80 89 56
Conscienciologia (22,8) (14,7) (22,2) (24,7) (15,6)
Comunidade 33 19 61 119 128
Conscienciológica (9,2) (5,3) (16,9) (33,1) (35,5)
Cosmoética
Internacional
(CCCI-Foz do
Iguaçu)
Waldo Vieira 52 20 46 108 134
(14,4) (5,6) (12,8) (30,0) (37,2)
Foz do Iguaçu 135 92 89 35 9
(37,5) (25,6) (24,7) (9,7) (2,5)
Evolução pessoal 10 11 18 107 214
e grupal (2,8) (3,1) (5,0) (29,7) (59,4)
Liberdade 138 57 73 58 34
individualista (38,3) (15,8) (20,3) (16,1) (9,5)
Custo de vida 226 60 50 19 5
mais baixo (62,8) (16,6) (13,9) (5,3) (1,4)
Vida mais rural, 192 61 51 39 17
próximo à (53,3) (17,0) (14,2) (10,8) (4,7)
natureza
Clima mais quente 293 36 22 7 2
(81,4) (10,0) (6,1) (1,9) (0,6)
Divórcio, doença 336 11 5 3 5
ou morte de (93,3) (3,1) (1,4) (0,8) (1,4)
pessoa amada
Aposentadoria 316 12 11 14 7
(87,8) (3,3) (3,1) (3,9) (1,9)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: 360 respondentes por linha.


330

5.2.1.6 Conhecidos em Foz do Iguaçu na ocasião da migração

Na pergunta “Quando chegou a Foz do Iguaçu, você tinha pessoas conhecidas


aqui?”, a grande maioria tinha pessoas conhecidas, com 329 respostas (91,4%)
(Tabela 25).

TABELA 25 – CONHECIDOS EM FOZ DO IGUAÇU NA OCASIÃO DA


MIGRAÇÃO PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Conhecidos quando Sim 329 (91,4)
chegou a Foz do Não 31 (8,6)
Iguaçu
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.2.1.6.1 Categorias de conhecidos em Foz do Iguaçu quando migraram

Dentre as “categorias de conhecidos em Foz do Iguaçu quando migrou”, de


490 respostas (136,2%) e 360 respondentes (100%), a que mais se destacou foi
“amigos” com 253 respostas (70,3%) (Tabela 26).

TABELA 26 – CATEGORIAS DE CONHECIDOS EM FOZ DO IGUAÇU


QUANDO OS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA VIERAM PARA FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Categorias de conhecidos Cônjuge 29 (8,1)
quando migraram Filhos(as) 13 (3,6)
Pais 11 (3,1)
Primos(as) 8 (2,2)
Tios(as) 5 (1,4)
Outros familiares 28 (7,8)
Amigos 253 (70,3)
Namorado(s) 18 (5,0)
Outros conhecidos 94 (26,1)
Brancos 31 (8,6)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: O respondente podia assinalar mais de uma resposta. Foram 360


respondentes (100,0%) e 490 respostas (136,2%).
331

5.2.1.7 Companhia quando migrou para Foz do Iguaçu

Na pergunta “Com quem você veio para Foz do Iguaçu?”, o resultado foi:
“sozinho” com 147 respostas (40,8%), “com familiares”, 119 respostas (33,1%) e
“outros” com 94 respostas (26,1%). Esse “outros” englobou principalmente cônjuge,
companheiro, duplista evolutivo e namorado. Somando-se os “com familiares” com
“outros”, pode-se afirmar então que 59,2% (213 respostas), ou seja, mais da metade
migrou com companhia (Tabela 27).

TABELA 27 – COMPANHIA QUANDO MIGROU PARA FOZ DO IGUAÇU


PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Companhias Sozinho(a) 147 (40,8)
quando Com familiares 119 (33,1)
migrou Outro: Com Amigo 2 (0,5)
para Foz Outro: Com Companheiro(a) ou Parceiro(a) 12 (3,3)
Outro: Com Cônjuge 29 (8,1)
Outro: Com Cônjuge e filho 1 (0,3)
Outro: Com Duplista Evolutivo 35 (9,7)
Outro: Com meus Cachorrinhos 1 (0,3)
Outro: Com Namorado(a) 11 (3,1)
Outro: Com Voluntário da conscienciologia 3 (0,8)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Interessante observar que alguns respondentes separaram, nas suas


respostas, o cônjuge masculino ou feminino, o(a) companheiro(a) e o(a) duplista
evolutivo(a), da categoria “familiares”.

5.2.1.8 Discussão dos aspectos gerais migratórios

Vamos começar a discussão pela tabela 21, sobre o ano em que ouviu falar da
comunidade conscienciológica. Os 3 anos com maior índice que se ouviu falar pela
1ª. vez da comunidade foram: 1995, 2000 e 2003. O ano de 1995 foi quando houve
o encontro em Curitiba do grupo de pesquisa da “sociedade intrafísica
conscienciológica”, ocasião da doação do terreno em Foz do Iguaçu. O ano 2000 foi
quando Waldo Vieira transferiu residência para Foz do Iguaçu. E o ano de 2003 foi a
332

fundação da OIC e o anúncio da decisão da mudança da sede do IIPC do Rio de


Janeiro para Foz do Iguaçu. Foram 3 momentos de maior impacto coletivo: o início,
a migração do propositor da Conscienciologia e a migração de mais de uma centena
de voluntários da instituição-mãe, o IIPC.
A grande maioria dos conscienciólogos que migrou para Foz do Iguaçu já havia
tido, no mínimo, uma experiência migratória anterior (Tabela 20). Independente de
motivos pessoais, familiares ou profissionais, em 1991 e 1992, segundo o relato do
informante Alexander Steiner, teve início um movimento migratório para o Rio de
Janeiro, incentivado após o I Congresso Brasileiro de Projeciologia (I CONBPRO),
realizado em início de junho de 1991, em Brasília (DF). Em 1996, novamente, mais
alguns voluntários transferiram residência para o Rio de Janeiro, de acordo com o
mesmo entrevistado. Tais ocorrências configuraram um primeiro fluxo migratório
para o Rio de Janeiro.
Já a respeito do segundo fluxo migratório para Foz do Iguaçu, o ano que
obteve maior percentual foi 2004 (Tabela 22). Esse dado obtido pelo questionário
está convergente com as informações levantadas tanto no relato oral de Alexander
Steiner quanto nos documentos produzidos internamente pela própria comunidade,
abordados no capítulo 4.
Observa-se que 2003, 2004 e 2005 são 3 anos seguidos com maior fluxo. Em
2003, houve a fundação da OIC em Foz do Iguaçu e consequente mudança de
voluntários da área da saúde. Em janeiro de 2004, a sede do IIPC foi transferida do
Rio para Foz e os voluntários do IIPC iniciaram fluxo migratório que pareceu
perdurar de modo mais ostensivo até 2005.
De 2006 a 2012, parece ter havido uma certa estabilidade no fluxo, que oscilou
entre 8 a 17 pessoas por ano. De 2013 até 2017, esse fluxo voltou a aumentar. Em
02 de julho de 2015, houve o falecimento de Waldo Vieira, e mesmo assim o fluxo se
manteve, tendo até mesmo aumentado em 2017. Em 2018, os dados são parciais,
pois o período de resposta ao questionário foi em agosto e setembro.
A expectativa de Everton Santos e Nara Oliveira quando Waldo Vieira viesse a
falecer era que “a gente achava que ia ter uma grande migração, as pessoas iam…
muita gente ia embora. Isso não aconteceu. Isso é uma coisa boa, muito, muito boa,
surpreendente positivamente. E mais, as pessoas continuam vindo para cá.” Essa
expectativa também era externa à comunidade na ótica de Everton: “um monte de
333

gente pensava que depois do Waldo isso aqui ia afundar. Nós estamos aqui, isso
aqui está funcionando.”
Para Everton, aquilo que Waldo “sempre quis, aconteceu: a força das ideias
superou a personalidade dele. Então, a Conscienciologia, enquanto corpus de ideia
continua firme e forte, atraindo pessoas independente da presença do professor
Waldo”.
O relato dos voluntários sinaliza que a expectativa sobre o nível de
dependência da personalidade de Waldo Vieira que se julgava existir pelos
componentes da comunidade conscienciológica era maior do que de fato era. Os
dados migratórios também sugerem uma independência da figura do fundador: a
migração para Foz do Iguaçu se manteve constante, ainda tendo aumentado em
2017.
Segundo Nara Oliveira, o motivo das pessoas não terem ido embora tem
relação com o fato de Waldo Vieira ter feito “do mundo uma coisa muito grande (...)
aqui dentro”. Nara esclarece: “qualquer um de nós que sai e faz qualquer coisa fora
e fica um pouquinho fora, não consegue ter as possibilidades de perceber a sua
realidade do mesmo tamanho que percebe quando está aqui.” Conclui seu
pensamento assim: “ele ancorou o paradigma na convivialidade dessa comunidade
e isso, acho que é difícil de entender e até de perceber, mas o fato é que as pessoas
vão e voltam, porque é isso, é isso.”
Everton Santos complementa: “talvez o fato de as pessoas não terem saído foi
por isso e eles não se dão conta. Acho que as pessoas precisam revisitar e
examinar o significado dessa comunidade para elas, (...) acho que isso prende elas
aqui sem elas entenderem que é isso que prende.”
Essa explicação dos nossos entrevistados parece ter relação com o já
mencionado protagonista anônimo distante no tempo, Menocchio. Ele prezava o
refletir e o dizer50. Essas duas dimensões, o refletir e o dizer, tão ameaçadoras para
mentes dogmáticas, sejam religiosas ou científicas, estão presentes entre as
práticas culturais da comunidade conscienciológica. Os laboratórios de autopesquisa
foram construídos para atuarem como camâras de reflexão individuais. Além disso,
uma série de atividades de debates, por exemplo, as tertúlias conscienciológicas,
foram criadas para permitir o falar sobre as experiências pessoais e trocar ideias a

50
RIBEIRO, 2015, p. 193.
334

esse respeito com os pares. O convívio é estimulado na dimensão individual,


consigo mesmo, e na dimensão coletiva, com os outros interlocutores.
Quantos Menocchios existem dentro das pessoas em geral, ainda de forma
latente ou já germinado, porém são forçados a se enquadrar em algum formato de
ciência ou de religião já existente?
Segundo Maffesoli51, hoje em dia “não se queimam mais os livros e os autores
heréticos. Oficialmente, não existe mais uma ‘lei da blasfêmia’ que proíba duvidar,
publicamente, deste ou daquele ponto da doutrina”. Mas os órgãos de controle
continuam a existir, uma “censura aveludada”, porém “não menos real contra tudo
que questione a ‘Igreja’ estabelecida.” Aqui Maffesoli refere-se mais diretamente às
“Igrejas” da ciência. Os novos inquisidores costumam utilizar duas armas principais:
a conspiração do silêncio e o boato. O silêncio vem das revistas “científicas”, “quase
sempre órgãos desta ou daquela igrejinha teórica.” Depois, quando as coisas ficam
evidentes demais, destilam boatos e maledicências. “Na maior parte do tempo (...), a
priori e sem fundamento, (...) promulgam-se debilidades metodológicas e teóricas.”52
O boato já foi discutido no capítulo 4, no âmbito social, em geral. O que
Maffesoli traz aqui é o boato específico no meio acadêmico. Contudo, os dois tipos
não se excluem mutuamente. E muitas vezes, estão em sintonia.
Mas retornemos às questões. A mesma questão “Em que ano você se mudou
para Foz do Iguaçu?”, classificada em períodos de 6 categorias, de “antes de 1995”,
“1995-1999” e assim sucessivamente até “2015-2018”, observa-se que o segundo
quinquênio corresponde ao maior percentual dos casos, com 99 respostas (27,5%),
correspondendo ao período de 2000 a 2004, reforçando a transferência da sede do
IIPC como fator importante para o incremento da migração dos voluntários.
Quanto ao local de origem da migração conscienciológica, o Rio de Janeiro se
destacou com o índice mais alto de respostas (Tabela 23). Conforme visto, lá se
localizava a sede do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia
(IIPC). O que veio reforçar a ideia de um fluxo migratório anterior ao de Foz do
Iguaçu, confirmado pelo testemunho de Alexander Steiner.
Apesar do fluxo migratório para Foz do Iguaçu se caracterizar como segundo,
sua importância e alcance foi maior do que o primeiro fluxo para o Rio de Janeiro,
pois atingiu um número maior de pessoas e viabilizou não uma única sede própria

51
MAFFESOLI, 2009, p. 84-85.
52
MAFFESOLI, 2009, p. 85.
335

para os voluntários, mas várias sedes próprias para diversas instituições


conscienciológicas no bairro Cognópolis.
Outro fator a ser destacado é que a cidade média como Foz do Iguaçu, reúne
condições mais favoráveis para o desenvolvimento de comunidades do que cidades
com maior densidade populacional.
No entanto, o primeiro fluxo migratório para o Rio de Janeiro teve papel
fundamental para formação da comunidade conscienciológica, pois foi em terras
cariocas que surgiu o embrião do território conscienciológico, formado tanto no
bairro da Glória quanto em Ipanema e na Barra da Tijuca, fermentando o que viria a
se materializar na comunidade em Foz do Iguaçu.
As outras cidades que se destacam, além do Rio, foram as capitais: São Paulo,
Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte. Somando essas 5 capitais com maior
percentual, totalizam 187 pessoas (52%).
Ao agrupar as cidades por Estado, os 5 maiores Estados de origem foram: Rio
de Janeiro com 93 pessoas (25,8%), São Paulo com 59 pessoas (16,3%), Rio
Grande do Sul com 53 pessoas (14,7%), Paraná com 40 pessoas (11,1%) e Santa
Catarina com 14 pessoas (3,8%).
Ao organizar os números dos migrantes conscienciólogos de acordo com a
região: a região sudeste fica em primeiro lugar com 184 pessoas (51,1%), depois a
região sul com 107 pessoas (29,7%), a região nordeste com 21 pessoas (5,8%), a
região centro-oeste com 19 pessoas (5,2%) e por fim, a região norte com 8 pessoas
(2,2%).
Vale a pena destacar também a presença de fluxo imigratório com 23
estrangeiros (6,4%), sendo os dois principais locais de origem a Argentina com 8
pessoas (2,2%) e a Espanha com 5 pessoas (1,4%). Observa-se que a “migração
conscienciológica” é um fenômeno de mobilidade essencialmente brasileiro, sem
desconsiderar o percentual menor, mas existente de mobilidade de origem
estrangeira.
Os motivos que levaram à decisão de migrar para Foz do Iguaçu (Tabela 24)
serão discutidos em destaque no tópico 5.2.4 – Caracterização da migração
conscienciológica.
Importante mencionar também que a grande maioria dos migrantes
conscienciólogos quando foram para Foz do Iguaçu possuíam amigos no local
(Tabelas 25 e 26). Assim, os círculos de amizade, a mais eletiva das redes de
336

sociabilidade, parecem ter tido um papel preponderante na migração


conscienciológica, facilitando conhecimentos acerca do local de destino e
consequentemente favorecendo a perpetuação do fluxo migratório.
Apesar dos dados da tabela 26 sinalizarem a importância atribuída aos amigos
no momento da migração, paradoxalmente eles tiveram nenhum, pouco ou médio
peso entre os motivos na decisão de migrar para Foz do Iguaçu conforme os
resultados da tabela 24. Somente este aspecto da tabela 24 será comentado neste
momento e o restante dos dados sobre motivos para migrar será abordado no tópico
5.2.4, já mencionado.
Esse dado dissonante pode remeter às questões de memória e da
reconstrução da trajetória individual. A esse respeito, o filósofo Paul Ricouer53 cita a
“verdade presumida da representação histórica do passado” e a “fidelidade
presumida da representação mnemônica”. Quer dizer, no momento atual os
migrantes dizem que a amizade não pesou como motivo para a migração, porém ela
foi importante na ocasião da migração. Essa informação sugere que a memória é um
exercício de reconstrução, ou ainda que, o modo como os migrantes veem sua
história individual é uma reconstrução.
Continuando a comentar o processo migratório, a maioria dos voluntários
mudou acompanhado e a principal companhia foi algum familiar (Tabela 27). Esse
dado sugere mais um apoio nessa mobilidade, favorecendo o fluxo contínuo
migratório. As informações sobre o círculo dos parentes serão aprofundadas no
próximo subtópico.

5.2.2 Aspecto específico sobre os parentes envolvidos na migração

O aspecto específico acerca dos parentes participantes da migração envolveu


os seguintes itens: a quantidade de parentes que mudaram para Foz do Iguaçu; o
grau de parentesco do parente que migrou para Foz do Iguaçu; se esses parentes
moradores de Foz do Iguaçu são ao mesmo tempo voluntários da Conscienciologia
e a quantidade desse perfil; se esses parentes moradores de Foz do Iguaçu são ao
mesmo tempo frequentadores das atividades da comunidade conscienciológica, e a
quantidade desse grupo; se esses parentes moradores de Foz do Iguaçu são ao

53
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François et al. 3. reimp.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010, p. 293.
337

mesmo tempo moradores de condomínio conscienciológico, e a quantidade dessa


amostra; a situação de conjugalidade no momento da migração para Foz do Iguaçu.
Por fim, buscou-se saber o motivo da saída de Foz do Iguaçu após ter migrado,
tendo retornado, caso essa situação tenha ocorrido.
É importante mencionar que há a possibilidade de parentes terem respondido o
questionário e ter ocorrido interferência no número e percentual das tabelas 28 a 36,
a serem apresentadas a seguir.

5.2.2.1 Quantidade de parentes que mudaram para Foz do Iguaçu

Na pergunta “Se seus parentes também migraram para Foz do Iguaçu, quantos
vieram?”, o resultado encontrado foi: somando-se todas as respostas possíveis para
quantidade de parentes que migraram, desde 1 até 5 parentes ou mais, o resultado
encontrado foi 219 respostas (60,8%). Assim, a maioria dos migrantes atraiu no
mínimo 1 familiar para Foz do Iguaçu. E a resposta “não migraram” obteve 141
respostas (39,2%) (Tabela 28).

TABELA 28 – QUANTIDADE DE PARENTES QUE MUDARAM PARA FOZ


DO IGUAÇU DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Quantidade de parentes Não migraram 141 (39,2)
que migraram para Foz 1 111 (30,8)
do Iguaçu 2 47 (13,1)
3 24 (6,7)
4 13 (3,6)
Mais de 5 parentes 24 (6,6)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Caso você assinale "Não migraram", você não precisa responder as próximas 7
questões subsequentes (questões Parentes II até Parentes VIII). Continue
respondendo a partir das questões "Relacionamento" e "Saída".”

5.2.2.2 Grau de parentesco dos parentes que migraram

Continuando a questão anterior, perguntou-se “Qual o grau de parentesco


dele(s)? Assinale todos os casos que se apliquem”, obtendo 432 respostas (197%) e
338

219 respondentes (100%). O resultado foi, em ordem decrescente: “cônjuge” com


131 respostas (59,8%), “mãe” com 42 respostas (19,2%), “filha” com 41 respostas
(18,7%) e “irmã” com 38 respostas (17,4%) (Tabela 29).

TABELA 29 – GRAU DE PARENTESCO DO PARENTE QUE MIGROU PARA


FOZ DO IGUAÇU DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Grau de parentesco dos Cônjuge 131 (59,8)
parentes que migraram Mãe 42 (19,2)
Pai 22 (10,0)
Tio 6 (2,7)
Tia 10 (4,5)
Irmão 22 (10,0)
Irmã 38 (17,4)
Filho 26 (11,9)
Filha 41 (18,7)
Sobrinho 14 (6,4)
Sobrinha 14 (6,4)
Primo 5 (2,3)
Prima 3 (1,4)
Avô 2 (0,9)
Avó 4 (1,8)
Outro: companheiro 1 (0,5)
Outro: cunhado(s) 20 (9,1)
Outro: cunhada(s) 11 (5,0)
Outro: enteado 2 (0,9)
Outro: enteada 1 (0,5)
Outro: nora 3 (1,4)
Outro: esposa do meu sobrinho 1 (0,5)
Outro: sogro 3 (1,4)
Outro: sogra 4 (1,8)
Outro: duplista 2 (0,9)
Outro: genro 1 (0,5)
Outro: neto 1 (0,5)
Outro: neta 0 (0,0)
Outro: ex-cônjuge 1 (0,5)
Brancos 1 (0,5)
Total 219 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: O respondente podia assinalar mais de uma resposta: 219 respondentes


(100,0%) e 432 respostas (197,3%).
Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:
“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, a questão não era obrigatória e era possível marcar mais de uma
resposta.
339

5.2.2.3 Parentes moradores de Foz do Iguaçu e voluntários da Conscienciologia

Na pergunta “Os seus parentes moradores de Foz do Iguaçu são voluntários


da Conscienciologia?”, dentre os 219 respondentes (100%), o resultado foi: “todos”
com 98 respostas (44,7%) em primeiro lugar e “alguns” com 58 respostas (26,5%)
em segundo lugar (Tabela 30).

TABELA 30 – PARENTES MORADORES DE FOZ DO IGUAÇU E


VOLUNTÁRIOS DA CONSCIENCIOLOGIA, DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Parentes moradores de Não 47 (21,5)
Foz do Iguaçu e Todos 98 (44,7)
voluntários da Alguns 58 (26,5)
Conscienciologia Já saíram de Foz do Iguaçu 13 (5,9)
Branco 3 (1,4)
Total 219 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória. Os dados analisados foram
somente dos parentes que migraram (219 respondentes – 100,0%).

Dentre os 156 respondentes (100%) da questão anterior, ou seja, que


responderam “todos” ou “alguns” confirmando a condição de parentes moradores de
Foz do Iguaçu e voluntários da Conscienciologia, a maioria possui 1 parente com
esse perfil, com 98 respostas (62,8%) (Tabela 31).

TABELA 31 – QUANTIDADE DE PARENTES MORADORES DE FOZ DO


IGUAÇU E VOLUNTÁRIOS DA CONSCIENCIOLOGIA DOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Quantidade de Parentes moradores de 1 98 (62,8)
Foz e voluntários da Conscienciologia 2 36 (23,1)
3 ou mais 21 (13,5)
Branco 1 (0,6)
Total 156 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
340

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória. Os dados analisados foram
somente para quem respondeu “todos” ou “alguns” na resposta anterior.

5.2.2.4 Parentes moradores de Foz do Iguaçu frequentadores das atividades da


comunidade conscienciológica

Na questão “Os seus parentes moradores de Foz do Iguaçu frequentam as


atividades da comunidade conscienciológica?”, dos 219 respondentes (100%), 119
responderam (54,3%) que todos os parentes frequentam atividades
conscienciológicas (Tabela 32).

TABELA 32 – PARENTES MORADORES DE FOZ DO IGUAÇU


FREQUENTADORES DAS ATIVIDADES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Parentes moradores de Foz Não 21 (9,6)
do Iguaçu que frequentam Todos 119 (54,3)
as atividades da Alguns 56 (25,6)
comunidade consciencio- Frequentaram as 14 (6,4)
lógica atividades
conscienciológicas
enquanto moraram
Não frequentaram as 0 (0,0)
atividades
conscienciológicas
enquanto moraram
Branco 9 (4,1)
Total 219 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória. Os dados analisados foram
somente dos parentes que migraram (219 respondentes – 100,0%).

Dos 175 respondentes da questão anterior, que responderam “todos” ou


“alguns” confirmando a condição de parentes moradores de Foz do Iguaçu e
341

frequentadores das atividades da comunidade conscienciológica, a maioria possui 1


parente com esse perfil, com 101 respostas (57,7%) (Tabela 33).

TABELA 33 – QUANTIDADE DE PARENTES MORADORES DE FOZ


DO IGUAÇU FREQUENTADORES DAS ATIVIDADES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Quantidade de parentes 1 101 (57,7)
moradores de Foz do 2 42 (24,0)
Iguaçu e frequentadores 3 ou mais 30 (17,2)
das atividades da Branco 2 (1,1)
comunidade
conscienciológica
Total 175 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da


questão: “Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para
Foz do Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória. Os dados analisados
foram somente para quem respondeu “todos” ou “alguns” na questão anterior.

5.2.2.5 Parentes moradores de Foz do Iguaçu e de condomínio conscienciológico

Na questão “Os seus parentes moradores de Foz do Iguaçu residem em


condomínio conscienciológico?”, dos 219 respondentes (100%), o maior percentual
dos parentes não mora em condomínio conscienciológico, com 101 respostas
(46,1%). No entanto, somando-se as categorias “todos” e “alguns”, 91 respondentes
(41,6%) possuem parentes que moram em condomínio conscienciológico (Tabela
34).
342

TABELA 34 – PARENTES MORADORES DE FOZ DO IGUAÇU E DE


CONDOMÍNIO CONSCIENCIOLÓGICO DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Parentes moradores de Não 101 (46,1)
Foz do Iguaçu residentes Todos 65 (29,7)
em condomínio
conscienciológico Alguns 26 (11,9)
Residiram em 5 (2,3)
condomínios
conscienciológicos
enquanto estiveram em
Foz do Iguaçu
Não residiram em 11 (5,0)
condomínio
conscienciológico
enquanto estiveram em
Foz do Iguaçu
Branco 11 (5,0)
Total 219 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória.

Dos 91 respondentes (100%) da questão anterior, que responderam “todos” ou


“alguns” confirmando a condição de parentes moradores de Foz do Iguaçu e de
condomínio conscienciológico, a maioria possui 1 parente com esse perfil, com 51
respostas (56,0%) (Tabela 35).

TABELA 35 – QUANTIDADE DE PARENTES MORADORES DE FOZ DO


IGUAÇU E DE CONDOMÍNIO CONSCIENCIOLÓGICO DOS
MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA
DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Quantidade de Parentes 1 51 (56,0)
moradores de Foz do 2 28 (30,8)
Iguaçu e de condomínio 3 ou mais 11 (12,1)
conscienciológico Branco 1 (1,1)
Total 91 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
343

NOTA: Os respondentes receberam a seguinte orientação no cabeçalho da questão:


“Essa questão só deve ser respondida se seus parentes mudaram para Foz do
Iguaçu.” Assim, esta questão não era obrigatória. Os dados analisados foram
somente para quem respondeu “todos” ou “alguns” na resposta anterior.

5.2.2.6 Situação da conjugalidade no momento da migração para Foz do Iguaçu

Na pergunta “No momento da migração para Foz do Iguaçu, qual era a sua
situação de conjugalidade?”, o maior percentual de migrantes estava com situação
conjugal (casado ou união estável), sendo que veio junto com cônjuge, com 155
respostas (43,0%) (Tabela 36).

TABELA 36 – SITUAÇÃO DE CONJUGALIDADE NO MOMENTO DA


MIGRAÇÃO PARA FOZ DO IGUAÇU DOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Situação de Sem situação conjugal (sem relacionamento 138 (38,3)
conjugalidade afetivo)
no momento da Com situação conjugal (casado ou união 155 (43,0)
migração para estável), sendo que vim junto com cônjuge
Foz do Iguaçu
Com situação conjugal (casado ou união 38 (10,6)
estável), sendo que o cônjuge veio antes
Com situação conjugal (casado ou união 29 (8,1)
estável), sendo que o cônjuge veio depois
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

5.2.2.7 Discussão do aspecto específico sobre os parentes envolvidos na migração

A maioria dos migrantes atraiu no mínimo 1 familiar para Foz do Iguaçu. E esse
familiar pertencia em ordem decrescente às categorias de cônjuge, mãe, filha e irmã.
Observa-se a predominância de parentes mais relacionados ao “núcleo” familiar e do
sexo feminino acompanhando o migrante, contribuindo para o sexo feminino ser
majoritário na comunidade conscienciológica.
O tema da migração é complexo devido às conexões que se estabelecem com
outros fenômenos. O processo envolve vínculos de amizade, de família e as
344

relações de trabalho. Isso, por sua vez, estimula mais mobilidade pelas pessoas
interrelacionadas54.
Conforme visto no capítulo anterior e pelas tabelas apresentadas, um
conscienciólogo migra e com isso acaba “puxando” familiares, que por sua vez
estimula novos familiares a mudarem de residência e de localidade.
Do total de 360 respondentes do questionário: 156 pessoas (43,3%) afirmaram
ter pelo menos 1 parente que é voluntário da Conscienciologia; 175 respondentes
(48,6%) indicaram ter pelo menos 1 parente na condição de morador de Foz do
Iguaçu e frequentador das atividades da comunidade conscienciológica; 91 pessoas
(25,3%) afirmaram ter pelo menos 1 parente morador de condomínio
conscienciológico em Foz do Iguaçu.
Observa-se uma aproximação e o cruzamento de dois círculos sociais, o dos
parentes e o dos voluntários. De acordo com a formulação simmeliana do
“cruzamento dos círculos sociais”, “quanto menos a participação num círculo por si
indiciar a participação noutro, mais firmemente a pessoa se define como estando no
ponto de intersecção de ambos” 55. No entanto, a condição sugerida pelos dados
obtidos indica justamente o contrário. O migrante conscienciólogo participa do
círculo social dos voluntários e entrosa o círculo de parentes no primeiro círculo,
formando uma rede de contato social pelos círculos nos quais convive.
Sugere-se nessa abordagem que a inclusão da participação de parentes no
círculo de voluntários da Conscienciologia seja um indício de que o migrante
conscienciólogo forme “redes mais complexas de sustentação material, psicológica e
afetiva”56, que possivelmente vai além do restrito núcleo co-residente.
Giovanni Levi identificou em seu estudo da comunidade de Santena que a
definição de “família como unidade de residência ou como um agrupamento ao redor
do fogo para cozinhar” não satisfazia suas dúvidas e buscou observar as “formas de
solidariedade e cooperação seletiva” adotadas pela comunidade57, obtendo nesse
contexto uma melhor compreensão do conceito de família da comunidade em estudo
e da sua dinâmica interna.

54
LUSSI, Carmem. Teorias da mobilidade humana: revisão bibliográfica. In: DURAND, Jorge; LUSSI,
Carmem. Metodologias e teorias no estudo das migrações. Jundiaí, SP: Paço Editorial, 2015, p. 45.
55
SIMMEL, George. O cruzamento de círculos sociais. In: CRUZ, Manuel Braga da. Teorias
sociológica. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 577.
56
LEVI, Giovanni. A herança material. Prefácio de Jacques Revel. Tradução de Cynthia Marques de
Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 98.
57
LEVI, 2000, p. 98.
345

Do mesmo modo, na comunidade conscienciológica, o conceito de família


parece mais alargado do entendimento da mesma como “unidade de residência”. As
formas de cooperação implicando reciprocidades passam pela sobreposição dos
círculos de convivência familiar e do voluntariado.
Outro dado obtido foi de que a maioria dos migrantes estava com situação
conjugal (casado ou união estável) no momento da migração (222 pessoas ou
61,7%). E a situação mais frequente foi que o migrante veio junto com o cônjuge.
Esse apoio familiar favorece a migração, minimizando riscos e tornando o processo
menos custoso tanto econômica quanto emocionalmente.

5.2.3 Motivo da saída de Foz do Iguaçu, após ter migrado, tendo retornado

Por fim, a última pergunta “Após ter migrado para Foz do Iguaçu, se você
chegou a deixar esta localidade indo residir em outro município brasileiro ou em
outro país e retornou para Foz do Iguaçu, qual o motivo da saída?”, obteve-se 54
respostas (108%) e 50 respondentes (100%), sendo que os 3 principais motivos de
saída foram: “estudo” com 14 respostas (28,0%), “emprego / trabalho” com 11
respostas (22,0%) empatado com “voluntariado conscienciológico” com 11 respostas
(22,0%) (Tabela 37).
346

TABELA 37 – MOTIVO DA SAÍDA DE FOZ DO IGUAÇU APÓS TER


MIGRADO, TENDO RETORNADO, PELOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Motivos de Saída Família consaguínea 8 (16,0)
após ter migrado Estudo 14 (28,0)
tendo retornado para Emprego / Trabalho 11 (22,0)
Foz do Iguaçu Outro: Conflito com grupo de voluntários 1 (2,0)
da Cooperativa
Outro: Cônjuge 1 (2,0)
Outro: Conscienciologia 2 (4,0)
Outro: Motivo não mencionado 1 (2,0)
Outro: Proéxis 1 (2,0)
Outro: Relacionamento afetivo 1 (2,0)
Outro: Situação econômica 1 (2,0)
(aposentadoria) e emocional
Outro: Tratamento de saúde pessoal 2 (4,0)
Outro: Voluntariado conscienciológico 11 (22,0)
Total 50(100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Esta questão não era obrigatória. Houve 50 respondentes (100,0%). Obteve-
se 54 respostas (108,0%).
(1) Proéxis: é um neologismo da Conscienciologia constituído a partir da junção de
duas palavras: programação existencial (proéxis), que significa planejamento de
vida.

5.2.3.1 Discussão sobre o motivo da saída de Foz do Iguaçu após ter migrado, tendo
retornado posteriormente

Os 3 principais motivos de saída, em ordem decrescente, foram: estudo,


emprego / trabalho e voluntariado conscienciológico em outra localidade.
Tais dados reforçam a condição do estudo como um valor para o migrante
conscienciólogo. Este poderia ter ou não trabalho e ter buscado estudo para se
qualificar.
O segundo motivo de saída de Foz do Iguaçu foi emprego e/ou trabalho. Nesse
caso também, o migrante poderia estar na condição de desempregado ou não. Ele
poderia ter trabalho e saiu de Foz do Iguaçu para fazer algo que goste mais ou que
lhe traga maior rendimento econômico.
Observa-se ainda que a partir da comunidade conscienciológica de Foz do
Iguaçu, novos fluxos migratórios menores foram desencadeados pelo motivo do
próprio voluntariado conscienciológico, terceiro motivo de saída de Foz do Iguaçu.
347

Por exemplo: pode-se citar uma ou duas dezenas de voluntários que foram para a
ARACÊ (ES). Alguns ficaram lá e outros retornaram para Foz do Iguaçu.
Contudo, a soma do resultado do motivo “voluntariado conscienciológico” com
o motivo “Conscienciologia” resulta em 13 respostas, configurando-se como 2º.
motivo. Se for feita essa leitura dos resultados, a própria Conscienciologia passa a
ser o segundo motivo de ir, sair e de retornar a Foz do Iguaçu.

5.2.4 Caracterização da migração conscienciológica

Nesse subtópico, será retomada a questão dos motivos envolvidos na decisão


de migrar para Foz do Iguaçu, apresentada em 5.2.1 - Aspectos gerais migratórios.
Essa questão dos motivos para migrar foi formulada visando discutir se a migração
conscienciológica poderia ser classificada como um tipo da “migração por estilo de
vida” ou não.

5.2.4.1 Migração conscienciológica: um subtipo da migração por estilo de vida ou um


novo tipo de migração humana?

O tema da migração conscienciológica na condição de objeto de pesquisa


específico foi apresentado pela primeira vez no meio acadêmico em 2015, no
Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades 58 . O que se
pretende aqui é discutir se a migração conscienciológica pode ser considerada um
subtipo da migração por estilo de vida (lifestyle migration). Parte-se do referencial
teórico de Michaela Benson e Karen O’Reilly (2009, 2016)59 sobre a migração por
estilo de vida.
Existem diversos tipos de migração, envolvendo critérios variados: de acordo
com a distância (intercontinental, internacional dentro da região continental, interna,

58
Cf. FERRARO, Cristiane. Migração conscienciológica para Foz do Iguaçu. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES (CONINTER) 4, 8 a 11 de
dezembro de 2015, Foz do Iguaçu. ISSN 2316-266X, p. 122-140. Disponível em: <http://www.aninter.
com.br/Anais%20Coninter%204/GT%2016/09.%20MIGRACAO%20CONSCIENCIOLOGICA%20
PARA%20FOZ%20DO%20IGUACU.pdf>. Acesso: 02 dez. 2019.
59
BENSON, Michaela, O’REILLY, Karen. Migration and the search for a better way of life: a critical
exploration of lifestyle migration. The Sociological Review, vol. 57, n. 4, p. 608–625, 2009.
http://doi.org/10.1111/j.1467-954X.2009.01864.x
BENSON, Michaela, O’REILLY, Karen. From lifestyle migration to lifestyle in migration: categories,
concepts and way of thinking. Migration Studies, vol. 4, n. 1, p. 20–27, 2016.
http://doi.org/10.1093/migration/mnv015
348

inter-regional e local); segundo o tempo (permanente, temporária e de circulação,


sazonal ou pendular); sob a ótica do ciclo de vida (bebês e crianças pequenas,
jovens, adultos, idosos e de cadáveres); seguindo o critério geográfico (rural-urbana,
urbana-rural, rural-rural, inter-urbana, intra-urbana); pela Cronologia (primeira vez,
de retorno, de repetição, em cadeia, seriada e de transnacionalismo); e por último,
de acordo com a família e gênero (masculina individual, feminina individual, familiar,
masculina grupal, feminina grupal e de massa).60
A migração por estilo de vida é um tipo de migração internacional que tem
como característica principal a busca por maior qualidade de vida. São pessoas
afluentes de todas as idades que querem equilibrar melhor o binômio trabalho-vida,
visando maior auto-realização e liberdade a partir das restrições vindas do
trabalho.61
Os migrantes afluentes possuem um privilégio econômico relativo em um
mundo desenvolvido e global. A migração por estilo de vida é fruto da globalização,
da reflexividade na pós-modernidade ou modernidade tardia, da opção de lugares
com estilos de vida alternativos e da maior facilidade de mobilidade.62
Migração por estilo de vida é mais do que um ato, é uma busca, envolvendo
diversas destinações e sonhos.63 Muitas vezes o estresse de eventos particulares,
por exemplo a aposentadoria ou um luto, são experienciados como traumáticos. E a
migração é apresentada como um caminho de superação do trauma. A vida após a
migração é encarada como a antítese da vida antes da migração.64
Há casos também de migrantes que precisam gerar renda logo em seguida à
migração para se sustentar no novo estilo de vida. Relatos de abertura de negócios
próprios são comuns neste contexto.65
Benson e O'Reilly66 propuseram uma tipologia da migração por estilo de vida
tendo como referência a escolha da destinação. O primeiro tipo é o turismo
residencial. Consiste na escolha de lugares em resorts costeiros e ilhas. Tal

60
KING, Russell. Geography and Migration Studies: Retrospect and Prospect. Population, Space and
Place, n. 18, p. 134–153, 2012. http://doi.org/10.1002/psp.685
61
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 609-610.
62
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 620.
63
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 609-610.
64
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 610.
65
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 610-611.
66
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 611.
349

migração enfatiza a fuga, o lazer, o relaxamento e o turismo como modo de vida.67 O


segundo é o idílio rural, uma migração para destinos rurais. Os lugares são
imaginados como fornecedores de um senso de volta no tempo, voltar para a terra,
uma vida simples com senso de comunidade 68 . O terceiro tipo é dos boêmios
burgueses. Os destinos são caracterizados por certas aspirações espirituais,
artísticas ou criativas e única experiência cultural.69
É comum destinos turísticos tornarem-se destinos migratórios, como por
exemplo, a Costa do Sol (Espanha), o Algarve (Portugal) e Dordogne (França).70
No entanto, a migração por estilo de vida não deve ser confundida com
turismo, muito menos com a migração de contra-urbanização (counterurban
migration), que possui motivações compartilhadas com a migração por estilo de vida,
ou seja, os sentimentos anti-modernos e anti-urbanos, com base no idílio rural.71 E
também não se restringe à migração por amenidade (amenity migration), movimento
gerado em busca de qualidade ambiental e cultura diferenciada, no qual as pessoas
migram para zonas ecológicas, por exemplo áreas montanhosas.72
A migração por amenidade e a migração de contra-urbanização possuem
raízes nos estudos demográficos, populacionais e geográficos e em geral focam no
lugar, enquanto que a migração por estilo de vida tem sua origem na pesquisa
qualitativa de cunho interpretativista, focando mais nas pessoas do que em
lugares.73
A migração por estilo de vida visa fornecer um quadro analítico para
compreensão de algumas formas de migração, da configuração no fazer identitário e
das considerações morais sobre como viver. Foca principalmente nas motivações e
nas vivências, não tendo como meta definir um grupo específico de migrantes.74

5.2.4.1.2 Questão “Motivo na decisão de migrar para Foz do Iguaçu”

67
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 611-612.
68
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 612.
69
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 613.
70
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 614.
71
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 615.
72
MOSS, L. A. G. (Ed.). The Amenity Migrants: Seeking and Sustaining Mountains and their Cultures.
Wallingford: CABI, 2006, p. 3.
73
BENSON; O’REILLY, 2016, p. 23.
74
BENSON; O’REILLY, 2016, p. 21.
350

A fim de verificar se a migração conscienciológica seria um subtipo da


migração por estilo de vida foi elaborada uma questão específica na seção 3 do
questionário aplicado na comunidade conscienciológica. Referia-se ao motivo na
decisão de migrar para Foz do Iguaçu, apresentada no subtópico 5.2.1.5 deste
capítulo.
A questão era uma pergunta fechada, com 15 opções de motivos. O
participante marcava o grau de importância ou o peso para cada motivo na decisão
que o levou a migrar. A escolha pela pergunta fechada, porém com níveis de
intensidade, em escala Likert de 5 graduações (nenhuma, pouca, mediana, muita e
extrema importância), foi devido à familiaridade da autora com a população em
estudo, e por também ser uma migrante.
"Evolução pessoal e grupal", "Voluntariado conscienciológico", "CCCI-Foz do
Iguaçu", "Waldo Vieira" e "Enciclopédia da Conscienciologia" foram os motivos
selecionados para migração conscienciológica. Tiveram como fonte as informações
colhidas no pré-teste com migrantes da mesma população, a familiaridade da autora
com o tema e os resultados de um censo aplicado dentro da própria comunidade
conscienciológica pela UNICIN em 2005.
Dos 597 voluntários que responderam este censo interno, pertencentes a
escritórios das instituições conscienciológicas espalhadas pelo Brasil, 174 haviam
mudado residência para Foz do Iguaçu. Na pergunta "por que mudou para Foz?", 80
responderam "voluntariar na Conscienciologia" ou "voluntariar" em alguma
instituição conscienciológica como o motivo da mudança75.
Os motivos elencados e fundamentados na bibliografia sobre migração por
estilo de vida foram: "liberdade individualista" 76 , "Foz do Iguaçu" 77 (quando
mencionam o caso de destino turístico que se transforma em destino migratório),
"vida mais rural, próximo à natureza"78 (quando citam o tipo de migração por idílio
rural), "custo de vida mais baixo" e "clima mais quente"79 (quando mencionam que
os migrantes por estilo de vida comparam os méritos da comunidade acolhedora
com as deficiências de casa), "aposentadoria" e "divórcio, doença ou morte da

75
FERRARO, 2015, p. 135.
76
KORPELA, Mari. Lifestyle of freedom? Individualism and Lifestyle Migration. In: BENSON,
Michaela; OSBALDISTON, Nick (Eds.). Understanding lifesyle migration: Theoretical Approaches to
Migration and the Quest for a Better Way of Life. London: Palgrave Macmillan, 2014, p. 40.
77
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 614.
78
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 612.
79
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 610.
351

pessoa amada"80 (quando explicam que eventos particulares como aposentadoria ou


luto atuam como traumas e desencadeiam o movimento migratório como auto-
superação).
Os motivos "emprego" e "família consanguínea" foram incluídos por serem
marcadores de qualidade de vida também identificados nas referências sobre
migração por estilo de vida81. Acrescentou-se ainda a categoria "amigos" em função
da citação recorrente na literatura em geral sobre migração como um componente
de rede social.

5.2.4.1.3 Tratamento dos dados

Os dados quantitativos foram tabulados utilizando-se o programa Excel


(Microsoft, EUA, versão 2011) e tratados através de estatística descritiva. Em
seguida, somente na questão em estudo, utilizou-se o software SPSS (IBM, EUA,
versão 20.0) para realizar a análise fatorial, que visou identificar estruturas latentes
de variáveis correlacionadas, agrupando-as em fatores que explicam melhor a
variância dos dados originais82. Para tanto, como o presente estudo visa verificar o
tipo de migração que constitui a migração conscienciológica, optou-se pela técnica
da análise fatorial confirmatória, utilizada para testar hipóteses.83
Conforme visto, nos 15 motivos apresentados na questão como opções de
respostas havia motivos relacionados à migração conscienciológica e à migração
por estilo de vida. Esses 15 motivos foram considerados como 15 variáveis para
análise. Caso elas se apresentassem alocadas a fatores distintos, seguindo o
referencial teórico dos dois estudos citados, o entendimento é de que se trataria de
objetos distintos e, consequentemente, tipos diferentes de migração.
A análise fatorial é uma técnica estatística multivariada. Quer dizer, analisa
várias variáveis em conjunto e não de modo isolado. Logo, contribui para o estudo

80
BENSON; O’REILLY, 2009, p. 610.
81
SALAZAR, Noel B. Migrating Imaginaries of a Better Life...Until Paradise Finds you. In: BENSON,
Michaela; OSBALDISTON, Nick. (Eds.). Understanding lifesyle migration: Theoretical Approaches to
Migration and the Quest for a Better Way of Life. London: Palgrave Macmillan, 2014, p. 125.
82
PREARO, L. C. et al. Avaliação do emprego da técnica de análise fatorial em teses e dissertações
de algumas instituições de ensino superior. REGE, vol. 18, n. 4, 2011, p. 623.
http://doi.org/10.5700/rege 441
83
FIGUEIREDO, D. B.; SILVA, J. A. da. Visão além do alcance: uma introdução à análise fatorial.
Opinião Pública, vol. 16, n. 1, 2010, p. 160–185. https://dx.doi.org/10.1590/S0104-
62762010000100007; e PREARO, 2011.
352

teórico de objetos complexos. Ela possui 3 usos principais: 1) compreender a


estrutura de um conjunto de variáveis (por exemplo, entender a estrutura da variável
latente “inteligência”); 2) construir um questionário para medir uma variável
subjacente (por exemplo, elaborar um inquérito para medir o burn-out ou a exaustão
de determinada classe profissional); 3) reduzir um conjunto de dados a um tamanho
mais administrável enquanto se retém o máximo de informação original possível.84
Algumas críticas são feitas à técnica da análise fatorial. Uma delas é de que ela
fornece de resultado aquilo que o próprio pesquisador lá colocou. Por isso, é
necessário que se cuide da amostragem de pessoas e do conteúdo.
É preciso que a amostragem seja suficientemente representativa da população
em estudo, sendo preferível estabelecer a quantidade de 200 respondentes no
mínimo para a amostra. 85 Vale destacar que tal cuidado foi tomado na presente
pesquisa, que atingiu o total de 360 participantes.
E o conteúdo da(s) questão(ões) deve(m) refletir todas as facetas teoricamente
previstas no conceito que se pretende medir, pois se alguma delas estiver ausente
ou somente representada por um ou dois itens, poderá não aparecer na análise.86
Sobre esse assunto, as categorias motivacionais de ambos os tipos de migração já
foram apresentadas no subtópico anterior.
Todos os testes necessários para julgar os critérios de qualidade da análise
fatorial, comprovando um mínimo de correlação, baixa multicolinearidade,
normalidade e homocedasticidade dos dados87 foram realizados.88

5.2.4.1.4 Resultados

Conforme já frisado, a amostra da comunidade conscienciológica compreendeu


um total de 360 pesquisados. Devido à estimativa de que a população da
comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu seja de 841 pessoas,

84
FIELD, Andy. Descobrindo a Estatística usando o SPSS. Tradução de Lori Viali. 2. Ed. Porto
Alegre: Artmed, 2009, p. 553.
85
MOREIRA, João M. Questionários: teoria e prática. Coimbra: Almedina, 2009, p. 408.
86
MOREIRA, 2009, p. 404.
87
FIGUEIREDO; SILVA, 2010.
88
Os seguintes testes para cada uma dessas premissas foram realizados: Correlação de Pearson
(maior parte dos coeficientes de correlação estão acima de 0,3), Kaiser-Meyer-Olkin
(multicolinearidade), Kolmogorov-Smirnov (normalidade univariada) e teste de Bartlett’s
(homocedasticidade). Também se realizou o teste t com amostras emparelhadas para se verificar se
os fatores encontrados eram significativamente diferentes (FIELD, 2009). Esses testes foram
realizados por meio do software SPSS (IBM, EUA, versão 20.0).
353

considerando-se a população levantada no censo interno de 201589, e que deste


total, 667 sejam os migrantes que cumprem os critérios de inclusão do estudo (foram
descontados: 44 sujeitos já residentes de Foz do Iguaçu, 126 parentes de
voluntários [que vieram por motivos prioritariamente familiares], a própria
pesquisadora e os 3 voluntários participantes do pré-teste), a amostra da presente
pesquisa representa 54,0% da população migrante da comunidade
conscienciológica em Foz do Iguaçu.
Com objetivo de se verificar o motivo pela qual os respondentes migraram e,
consequentemente, identificar o tipo de migração, foi pedido para que os mesmos
indicassem o grau de importância de 15 variáveis relacionadas à migração
conscienciológica e à migração por estilo de vida. A Figura 18 apresenta, em ordem
decrescente de importância, as médias obtidas para cada uma das variáveis
mensuradas.

Figura 18 – Gráfico da Importância dos motivos para migrar de migrantes da


comunidade conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018.

Após uma bateria de cálculos matemáticos 90 , chegou-se a 4 componentes


correspondentes aos tipos de migração. O Quadro 08 apresenta as cargas fatoriais

89
FERRARO, 2015, p. 136.
90
Uma análise de componentes principais (ACP) com rotação ortogonal (varimax) foi realizada nos
15 itens que mensuraram a motivação para a migração. A medida de Kaiser-Meyer-Olkin verificou a
adequação da amostragem para a análise, KMO = 0,783 ("boa" de acordo com Field, 2009), e todos
os valores KMO para itens individuais foram > 0,617, o que está acima do limite aceitável de 0,5
(FIELD, 2009). O teste de esfericidade de Bartlett χ² (105) = 1187,557, p <0,001, indicou que as
correlações entre os itens eram suficientemente grandes para a ACP. Uma análise inicial foi
executada para obter autovalores para cada componente nos dados. Foram identificados que quatro
componentes tinham autovalores acima de 1 pelo critério de Kaiser e em combinação explicaram
354

após os cálculos. Os itens que se agrupam nos mesmos componentes sugerem que
o componente 1 representa uma migração relacionada a aspectos de qualidade de
vida, ou seja, migração por estilo de vida (MEV), o componente 2 uma migração
ligada a aspectos da Conscienciologia (MC), o componente 3 uma migração
relacionada à atividade profissional e o componente 4 questões de ordem familiar.
As cargas fatoriais do Quadro 08 não indicam a importância das variáveis
observadas para os respondentes, são apenas coeficientes (normalmente entre 0 e
1) que indicam a força de aderência (saturação) da variável observada ao respectivo
fator91.

Quadro 08 – Matriz de Componente Rotativa dos fatores de motivação para


migrar da comunidade conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018

Após o número de fatores ter sido definido, realizou-se testes de confiabilidade


(alfa de Cronbach) com intuito de se verificar a validade de conteúdo dos fatores. A
migração por estilo de vida obteve α = 0,758 e a migração conscienciológica, após a
saída das variáveis motivação por “amigos” e motivação por “Waldo Vieira” para
aumentar a consistência interna da análise (maior alfa de Cronbach), obteve α =
0,739, ambos considerados satisfatórios por Field 92 . Os fatores migração por
atividade profissional (α = 0,216) e migração por questões de ordem familiar (α =

54,42% da variância. O scree plot corroborou a retenção dos quatro componentes, portanto a análise
foi realizada em cima destes.
91
KERLINGER, F. N. Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais. 10. Reimp. São Paulo: Editora
Pedagógica Universitária (EPU), 2007, p. 204.
92
FIELD, 2009, p. 594.
355

0,045) não tiveram a validade de conteúdo confirmadas, portanto não foram


considerados um tipo de migração válida para a amostra analisada.
Com intuito de analisar a importância dos tipos de migração para os
respondentes e, consequentemente, entender a principal motivação para migração,
foi realizado o teste t de amostras em pares com intuito de se verificar se há
diferenças significativas entre os fatores encontrados. Cada fator foi composto pela
média aritmética das variáveis que o compõe.
O resultado encontrado (p-valor <0,001) indica que, para a amostra estudada,
os tipos de migração são estatisticamente diferentes. Em termos gerais,
considerando o exposto na Figura 19, a migração conscienciológica, dentro da
escala utilizada, pode ser considerada muito importante, ao passo que a migração
relacionada ao estilo de vida pode ser tida como de menor importância.

Figura 19 – Gráfico da Importância dos fatores para a migração por estilo de vida
(MEV) e migração conscienciológica (MC), dos migrantes da comunidade
conscienciológica, Foz do Iguaçu, 2018.

5.2.4.1.5 Discussão da caracterização da migração conscienciológica

Conforme visto, a análise fatorial confirmatória indicou dois conjuntos


estatisticamente válidos de categorias motivacionais para a amostra do grupo em
estudo, um relacionado ao estilo de vida e outro referente a aspectos específicos da
Conscienciologia. Além disso, o teste t indicou que as médias das respostas eram
356

significativamente diferentes indicando que as categorias motivacionais presentes na


Migração por Estilo de Vida (MEV) tiveram valores significativamente mais baixos.
Assim, os dados indicam dois tipos distintos de migração em comparação, pois
se a Migração Conscienciológica (MC) fosse um subtipo da Migração por Estilo de
Vida, os fatores dos motivos conscienciológicos receberiam alta importância e os
fatores por motivos de estilo de vida também. No entanto, os resultados evidenciam
que na migração conscienciológica os fatores relacionados à migração por estilo de
vida receberam baixa importância enquanto que os fatores envolvidos na migração
por aspectos relacionados à Conscienciologia receberam alta importância. O que
leva à conclusão de que são tipos diferentes de migração, e que os migrantes
pesquisados foram motivados predominantemente por motivos referentes
especificamente com a Conscienciologia e não por variáveis relacionadas
classicamente com a migração por estilo de vida.
Além disso, outros aspectos merecem ser comparados. Conforme visto, a
migração por estilo de vida é uma forma de migração internacional por migrantes
com relativa abundância de bens, enquanto que a migração conscienciológica é
predominantemente uma migração interna, pois 95,6% dos migrantes são
brasileiros. A migração interna em geral é menos onerosa economicamente do que a
migração internacional, favorecendo maior participação de interessados, assim
como, destoando da característica de migrantes afluentes que é comum na
migração por estilo de vida.
A migração conscienciológica ocorreu a partir do movimento de voluntários da
primeira instituição conscienciológica, o IIP, que se encontravam dispersos pelo
território brasileiro. Eles se aglutinaram em Foz do Iguaçu, e com o tempo,
materializaram não somente uma instituição com campus de pesquisa (o CEAEC),
que era a intenção inicial, mas um bairro organizado em torno da comunidade
conscienciológica.
Processo diferente vem ocorrendo com os migrantes por estilo de vida, que são
pessoas de idades variadas, sozinhos, em casais ou mesmo famílias, que vão para
lugares tais como Costa do Sol, Dordogne e Algarve, ou mesmo, Índia ou Tailândia,
que por motivos variados, para o migrante, significa melhor qualidade de vida. No
primeiro caso, há um corpo de ideias que une as pessoas, a Conscienciologia,
enquanto que, no segundo caso, isso não ocorre. Assim como, no primeiro caso,
houve uma migração pioneira concentrada em Foz do Iguaçu e consequente
357

formação de uma comunidade, por outro lado, no segundo caso, os destinos são
variados.
Os destinos até o momento contemplados na migração por estilo de vida têm
sido motivados por aspectos turísticos, rurais, culturais e espirituais. A escolha de
Foz do Iguaçu para migração conscienciológica foi desencadeada por uma doação
de terreno para construção de um campus de pesquisa.
Relembrando as palavras do propositor da Conscienciologia, Vieira: "quando
eu vim para cá, há 14 anos, a intenção era ajudar a criar a cidade universitária em
Foz do Iguaçu, até então uma cidade muito turística e ruralista. Minha vida inteira foi
dedicada à educação". 93 Observa-se que os motivos não foram os aspectos do
turismo, da ruralidade, do comércio ou da diversidade étnica da tríplice fronteira,
pelo contrário, foram prioritariamente educacionais ou mesmo culturais. Waldo Vieira
doou sua biblioteca pessoal e suas coleções de artefatos culturais (selos, gibis,
moedas, conchas e outras) para o primeiro campus de pesquisa da
Conscienciologia, o CEAEC. Esta instituição vem desenvolvendo ações
educacionais e culturais no município, além de possuir projeto de um megacentro
cultural para a cidade, integrado às metas da comunidade, conforme apresentado no
capítulo 4.
As características peculiares da migração conscienciológica envolvem
motivações existenciais, intelectuais e sociais, pois implicam numa escolha por
mudar de cidade ou mesmo país, para realizar trabalho voluntário, e em uma área
de estudo nova, sem vínculos acadêmicos, a Conscienciologia. No entanto, é
importante mencionar que a grande maioria dos migrantes conscienciólogos já eram
voluntários em instituição conscienciológica antes de migrar para Foz do Iguaçu. Do
total de 360 participantes, 325 (90,3%) eram voluntários antes de migrar, ao passo
que 35 (9,7%) tornaram-se voluntários somente após migrar. Nesse caso, as
condições histórico-sociais pré-migração foram determinantes para o fenômeno
migratório. Tal fato sugere que a migração conscienciológica tem como eixo
sustentador o trabalho voluntário nas instituições da Conscienciologia.
Ao que parece, os 3 primeiros fatores, "evolução pessoal e grupal",
"voluntariado conscienciológico" e "CCCI-Foz do Iguaçu" estão fortemente
interligados, e podem ser interpretados da seguinte forma: para o migrante

93
PARO, Denise. Bairro resgata a democracia da Grécia. Gazeta do Povo, ano 95, n. 30, p. 11, 2014.
358

conscienciólogo, o trabalho voluntário em instituição norteada pelo corpo de ideias


da Conscienciologia significa a autopercepção de estar evoluindo, se melhorando e
a percepção de que a comunidade também está progredindo coletivamente ou ao
menos tem a meta de evoluir.
O migrante conscienciólogo parece interpretar que a migração é uma
continuidade de um projeto de vida dedicado ao outro (voluntariado), entendendo
que esse comportamento é indicativo de evolução pessoal, reforçado e reforçando
sua presença em uma comunidade de pessoas que pensam e agem semelhantes a
si. Fazer parte dessa comunidade seria indício da busca pela evolução para o
conscienciólogo, tanto pelos temas estudados quanto pelo modo em que o trabalho
se desenvolve, ou seja, pelo voluntariado, sem receber dinheiro em troca. O
voluntariado pode ser interpretado tanto como uma motivação social quanto uma
motivação existencial.
Buscar o autoconhecimento e participar de debates com a finalidade de extrair
o máximo de sentido da vida através da troca de experiências entre os voluntários e
as pessoas interessadas, sem que os participantes tenham interesse financeiro
nesses encontros, seria um modo de tentar anular, mesmo que hipotética e
temporariamente, a influência material sobre as consciências. Uma utopia? Talvez
para alguns e para outros não.
Essa busca guarda semelhança parcial com o comunismo utópico, entendido
como uma doutrina de igualdade social e crítica às desigualdades associadas à
propriedade individual 94 . No entanto, na comunidade conscienciológica não se
encontram críticas à propriedade privada. Porém, o modo dela se constituir,
fundamentada nas instituições conscienciocêntricas que não são propriedade de
nenhum voluntário e ao mesmo tempo pertencem a todos os voluntários, indica que
em território conscienciológico, os voluntários estão em condição de igualdade
social, ao menos estatutariamente. Porém, na prática, conforme visto no capítulo
anterior, os professores e os epicons possuem maior prestígio nessa comunidade,
alcançando maior visibilidade e ao mesmo tempo responsabilidade sobre a
comunidade e os territórios conscienciológicos. O prestígio e o poder de influência
no interior da comunidade conscienciológica têm o preço de se trabalhar mais por
essa coletividade, ao assumir funções de liderança e de formação de opinião,

94 DUROZOI, Gérard; ROUSSEL, André. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. 5.


Ed. Campinas, SP: Papirus, 2005, p. 97.
359

conforme visto na pesquisa de Karla Ulman, ao final do capítulo anterior.


Para os voluntários da Conscienciologia e para os alunos interessados, as
atividades de debates e os cursos de parapsiquismo, quando se exercitam as
percepções extrassensoriais, possibilitam autodesenvolvimento, trocas de
experiências e a busca de consenso sobre o tema em foco. Para eles, isso não é
utopia, é realidade.
Para Everton Santos, por exemplo, estar em um ambiente onde você pode
falar abertamente sobre os temas do parapsiquismo “é uma coisa que para mim não
tem preço porque essas ideias, elas são tão presentes no nosso cotidiano e eu
sempre tive uma grande dificuldade de ter pares, ter pessoas com quem eu pudesse
falar disso.”
Everton conta que desde a adolescência quando começou a se interessar por
esses temas, tinha dificuldade de encontrar interlocutores: “eu tinha um, dois
amigos, três, meu irmão, (...) que eu podia falar sobre isso, sem o cara achar que eu
era doido, que eu era pecador, que eu era herege, sei lá o quê que o cara poderia
pensar... Então isso era muito restritivo.”
No ambiente de trabalho, as conversas dizem respeito somente aos aspectos
profissionais. Mas, para Everton, “eu não poderia passar uma vida inteira só nessas
circunstâncias, então ter um ambiente onde você pode falar sobre isso, onde você
pode expor suas ideias,” é valorizado como uma conquista da migração para a
comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu.
Tanto no protagonista anônimo de Ginzburg, em “O queijo e os vermes”,
quanto nos protagonistas anônimos da comunidade conscienciológica, o refletir e o
dizer são dimensões raras e preciosas. Menocchio não encontrou interlocutores para
suas ideias e sua forma de ver o mundo, independente de qual fosse. Os
conscienciólogos foram mais felizes e se encontraram para somar experiências e
conhecimentos. Esse encontro foi possível pela necessidade de falar sobre suas
vivências e compartilhar visões de mundo em uma comunidade que interage entre si
e com a comunidade de Foz do Iguaçu.
Por outro lado, os migrantes de estilo de vida estão no contraponto aos
migrantes conscienciólogos, pois eles celebram sua liberdade individualista, a
felicidade e a satisfação individual 95 , posturas contrárias aos dos migrantes

95
KORPELA, 2014, p. 40-41.
360

voluntários. Os valores da liberdade, felicidade e satisfação íntima encontram


espaço entre os conscienciólogos, porém não centrados prioritariamente no
individualismo, mas no coletivismo. Caso contrário não iriam migrar e buscar morar
no mesmo bairro.
O 4o. fator da migração conscienciológica, "Enciclopédia da Conscienciologia"
sugere uma motivação intelectual associada aos 3 fatores citados anteriormente.
Isso provavelmente é decorrente de uma característica marcante do perfil dos
migrantes conscienciólogos: alto nível de escolaridade dos voluntários.
Este é um dos aspectos em que os migrantes de estilo de vida e
conscienciológicos se assemelham. Ambos possuem altos níveis de capital cultural
derivados da educação, habilidades profissionais e conhecimento cultural96. Os dois
tipos de migração têm na autorrealização um papel central 97 , envolvendo auto-
98
exploração e autodesenvolvimento , termos que podem ser considerados
aproximados ao fator "evolução pessoal e grupal", da migração conscienciológica.
Outro aspecto parecido também é a colocação da progressão na carreira
profissional em plano secundário99.
Apesar dessas semelhanças, inclusive ter o lugar de destino em uma condição
secundária, as motivações seriam os fatores fundamentais diferenciadores entre os
dois tipos de migração em debate.
Benson e O'Reilly100 afirmam que, em geral, medidas estatísticas não servem
bem para conceitos desenvolvidos indutivamente, como por exemplo, as motivações
da migração por estilo de vida. No entanto, fez-se a opção por tal caminho
metodológico a fim de mapear e comparar as motivações envolvidas na migração
conscienciológica, devido a se constituir em um primeiro levantamento sobre o tema
e devido às suas singularidades. Quer dizer, a principal característica envolve um
movimento de grupo, com centenas de pessoas interligadas pelas ideias da
Conscienciologia, com rumo a um único destino, Foz do Iguaçu, e não indivíduos
isolados com motivos e destinos variados. Ou seja, a tendência é existir maior

96
SALAZAR, N. B. Migrating Imaginaries of a Better Life...Until Paradise Finds you. In: BENSON,
Michaela; OSBALDISTON, Nick. (Eds.). Understanding lifesyle migration: Theoretical Approaches to
Migration and the Quest for a Better Way of Life. London: Palgrave Macmillan, 2014, p. 119.
97
KORPELA, 2014, p. 35.
98
SALAZAR, 2014, p. 119.
99
SALAZAR, 2014, p. 119.
100
BENSON; O’REILLY, 2016, p. 26.
361

regularidade no que diz respeito às motivações para migrar por ser um fenômeno
grupal do que na migração por estilo de vida em geral.

5.3 À guisa de conclusão

Em suma, irei ressaltar alguns aspectos principais dos migrantes


conscienciólogos e da migração conscienciológica. O perfil dos migrantes
conscienciólogos é na sua maioria mulheres brasileiras que se encontram na meia-
idade, provenientes principalmente da região sudeste (SP, RJ e MG) e da região sul
(RS e PR). Possuem alto nível de escolaridade, pois além da grande maioria ter
concluído um curso de ensino superior, a maioria possui algum curso de pós-
graduação.
A maioria dos conscienciólogos é de trabalhadores empregados em Foz do
Iguaçu e exercem profissão remunerada no setor privado. A atuação principal é na
área da Educação e da Saúde, sendo que outra parte não está exercendo profissão
remunerada hoje.
Uma grande parte dos conscienciólogos que migraram para Foz do Iguaçu já
haviam tido no mínimo uma experiência migratória anterior. O fato de não serem
migrantes de primeira vez facilitou a migração para Foz do Iguaçu. Outro aspecto
encontrado é a caracterização de um fluxo migratório para o Rio de Janeiro tendo
começado no início da década de 1990. A vinda para Foz do Iguaçu caracterizou-se,
portanto, como um segundo fluxo migratório, tendo o ano de 2004 obtido o maior
percentual de migrantes e o Rio de Janeiro como principal local de origem.
Importante notar que o fluxo migratório continuou após 2015, ano de
falecimento de Waldo Vieira. O que sugere certo nível de independência emocional
e intelectual da figura central da Conscienciologia por parte dos conscienciólogos.
Os círculos de amizade tiveram um papel ambíguo na migração
conscienciológica. Alguns dados sugerem sua importância no momento da
migração, contudo os amigos não estão entre os principais motivos dessa
mobilidade. Há evidências de que essa rede social de contatos facilitou a
continuidade do fluxo migratório. Porém, ao que parece a memória desse processo é
uma reconstrução da trajetória individual, redimensionando e ressignificando o papel
da amizade com o passar do tempo. Outro fator facilitador identificado foi que a
362

maioria dos migrantes estava com situação conjugal no momento da migração e


veio junto com o cônjuge.
Quase metade dos voluntários migrantes possui 1 parente que frequenta as
atividades da comunidade conscienciológica. Ainda há os migrantes que possuem
no mínimo um parente como voluntário conscienciológico. Além disso, o migrante
conscienciólogo procura entrosar os parentes com os amigos voluntários, sugerindo
a formação de uma rede mais complexa de sustentação material e afetiva.
Ainda há uma minoria de migrantes conscienciólogos que saíram de Foz do
Iguaçu, tendo retornado, devido a 3 motivos principais: estudo; emprego/trabalho; e
o próprio voluntariado conscienciológico. Observa-se que a comunidade
conscienciológica possui, de modo constante, e com graus variados, desde suas
raízes no Rio de Janeiro, um fluxo contínuo migratório motivado pelo próprio
voluntariado.
Os dados indicam que a migração conscienciológica não parece ser um
subtipo da migração por estilo de vida. O fator “migração conscienciológica” reúne
motivos existenciais ("evolução pessoal e grupal"; "voluntariado conscienciológico"),
intelectuais ("Enciclopédia da Conscienciologia") e sociais ("CCCI-Foz do Iguaçu") e
se mostrou mais importante para os conscienciólogos que migraram para Foz do
Iguaçu do que o fator “migração por estilo de vida” que reúne motivos relacionados à
qualidade de vida, por exemplo, "liberdade individualista", "vida mais rural, próxima à
natureza", "custo de vida mais baixo" e "clima mais quente", entre outros.
No entanto, a migração conscienciológica possui elementos da migração por
estilo de vida, ou seja, os migrantes possuem altos níveis de capital cultural, inserem
a autorrealização como papel central em suas vidas e colocam a progressão na
carreira profissional em plano secundário.
Em paralelo à proposta teórica da “migração por estilo de vida” das
pesquisadoras acadêmicas, uma questão se impõe. O trabalho voluntário pode ou
deve ser pensado como um estilo de vida? Essa questão foi levantada por Henrique
Pinto, organizador do número temático “Migrantes e Voluntariado” da Revista
“Migrações”, editada pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural
em Lisboa, Portugal. O número dessa revista dedica-se a analisar o papel do
voluntariado em Portugal dedicado à Imigração. O autor defende que “o voluntariado
é talvez a mais genuína forma de ser”. Assim, ao invés “de um mero estilo de vida
363

que se decide e abraça quando apetece”, Henrique Pinto defende que os seres
humanos seriam vocacionados para “cooperação com os outros”.101
Desse modo, defende um voluntariado mais informal, que “deixe de espelhar
um exercício de si, alicerçado numa burguesa concepção de dádiva, num ocasional
dar a quem precisa.” Henrique Pinto parte do princípio de que “a gratuidade se
apresenta como marca indelével que é comum a todos os seres, obrigando cada um
a viver-se, não na auto-suficiência ou na imunidade ao outro, mas na reciprocidade
gerando precisamente como seu genuíno (biológico) estilo de vida, o voluntariado
informal.”102
Conforme visto, a migração conscienciológica tem como eixo sustentador o
trabalho voluntário nas instituições da Conscienciologia. Apesar de institucional, o
voluntariado conscienciológico não atua em áreas do Estado-providência. O
voluntariado conscienciológico atua na necessidade das pessoas em compartilhar
vivências teóricas e práticas sobre o sentido da vida e o aproveitamento significativo
da vida. Pensando o voluntariado como um estilo de vida, pode-se também
interpretar a migração conscienciológica como uma migração por estilo de vida.
Mantendo o foco no voluntariado como estilo de vida, mas distanciando a lente
da comunidade conscienciológica e olhando para o mundo, em uma perspectiva
mais abrangente, os 4 elementos mais fortes para o migrante conscienciólogo
("evolução pessoal e grupal"; "voluntariado conscienciológico"; "Enciclopédia da
Conscienciologia"; "CCCI-Foz do Iguaçu") fazem lembrar organizações tais como a
Cruz Vermelha 103 ou o Greenpeace 104 , no que tange ao engajamento com uma
causa, apesar de cada qual ter sua peculiaridade. Essas instituições trabalham com

101
PINTO, Henrique. Introdução: talvez a forma mais genuína de ser – um direito fundamental.
Migrações: Revista do Observatório de Migração, n. 9, out. 2011, p. 20, grifos do autor. Disponível em
http://www.om.acm.gov.pt/publicacoes-om/revista-migracoes>. Acesso em: 06 fev. 2019.
102
PINTO, 2011, p. 24.
103
A Cruz Vermelha Brasileira é uma associação civil, sem fins lucrativos, de natureza filantrópica,
independente, de utilidade pública internacional, de socorro voluntário, auxiliar dos poderes públicos e
dos serviços militares de saúde. É uma das 190 Sociedades Nacionais que compõem o Movimento
Internacional de Cruz Vermelha. A missão é atenuar o sofrimento humano, sem distinção de raça,
religião, condição social, gênero e opinião política. Realiza ajuda humanitária em situações de
guerras e emergências como epidemias, inundações e terremotos (Fonte: CRUZ Vermelha Brasileira.
Disponível em: <http://www.cruzvermelha.org.br/pb/institucional/>. Acesso em: 26 dez. 2019, às
22h19).
104
O Greenpeace é uma organização internacional sem fins lucrativos, financiada por seus
apoiadores, cuja missão é defender um planeta mais verde e pacífico. Realiza expedições marítimas
ao redor do mundo com objetivo de impedir a caça ilegal de baleias, denunciar a realização de testes
nucleares e outras ações a fim de flagrar crimes ambientais em defesa do planeta. (Fonte:
GREENPEACE. Disponível em: <https://www.greenpeace.org/brasil/>. Acesso em: 26 dez. 2019, às
22h02).
364

o voluntariado engajado em uma causa, que envolve mobilidade, em geral,


temporária, sendo esta, parte do ativismo humanitário ou ambiental,
respectivamente.
Assim, a migração conscienciológica é fenômeno complexo, reunindo
elementos atinentes ao estilo de vida, mas propriamente de um sentido ou propósito
de vida, conforme dito, por motivos existenciais, que justifica para os migrantes,
mudanças de localidade nacional e mesmo internacional, a fim de se fixarem mais
permanentemente na comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu, assunto do
capítulo seguinte.
365

6 COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA

Esse último capítulo aborda diretamente o objeto de estudo da comunidade


conscienciológica. Segue o estilo do capítulo anterior. Quer dizer, os dados
produzidos pela aplicação do questionário são trazidos na forma de tabelas em
interação com a narrativa dos migrantes, à medida que auxilie no esclarecimento do
tema.
O capítulo foi organizado em 7 tópicos: 6.1 Práticas culturais; 6.2 Convívio; 6.3
Sentido e Importância da Comunidade Conscienciológica; 6.4 Experiência política;
6.5 Investimento financeiro em Foz do Iguaçu; 6.6 Comunidade vs. sociedade
conscienciológica; e 6.7 À guisa de conclusão. Cada tópico se divide em subtópicos.

6.1 Práticas culturais

Segundo Pierre Mayol 1 , pesquisador do círculo intelectual de Michel de


Certeau, a expressão “prática cultural” significa a combinação de elementos
cotidianos concretos ou ideológicos2 ao mesmo tempo passados por uma tradição,
de um grupo social por exemplo, e realizados dia a dia por meio de
comportamentos, fragmentos visíveis desse dispositivo cultural. O termo “prático” é
fundamental para a identidade de um usuário ou de um grupo, “na medida em que
essa identidade lhe permite assumir o seu lugar na rede das relações sociais
inscritas no ambiente”.3
As práticas culturais desenvolvem-se em um determinado espaço. Este, por
sua vez, surge como um “lugar praticado”. As práticas do dia a dia estão sujeitas a
duas determinações: a dos objetos e a das operações atribuídas aos objetos ou aos
seres humanos, que especificam “espaços” pelas ações de sujeitos históricos. As
práticas culturais referem-se as “combinatórias de operações” que compõem uma
“cultura”.4

1
MAYOL, Pierre. O bairro. In: CERTEAU, Michel de.; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do
cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Trad. de Ephraim Ferreira Alves e Lucia Endlich Orth. 12. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2013, p. 39.
2
Ideologia entendida nesse contexto como conjunto de ideias.
3
MAYOL, 2013, p. 40.
4
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Trad. de Ephraim Ferreira Alves.
22. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 37-38 e 184-185.
366

Esses comportamentos cotidianos foram chamados em uma das questões do


questionário aplicado na comunidade de “atividades”. Na pergunta sobre a
frequência nas principais atividades da Comunidade Conscienciológica, a principal
atividade com frequência “sempre” é o “voluntariado em instituição
conscienciocêntrica (IC) e/ou organismo conscienciológico” com 202 respostas
(56,1%) (Tabela 38).

TABELA 38 – FREQUÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO PELOS MIGRANTES NAS


PRINCIPAIS ATIVIDADES DA COMUNIDADE
CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Frequência Nunca Rara- Ocasional- Frequente- Sempre
de mente mente mente
participação
pelos
migrantes
nas
atividades da Voluntariado na 16 13 26 103 202
Comunidade instituição (4,5) (3,6) (7,2) (28,6) (56,1)
Consciencioló conscienciocêntrica
gica (IC) e/ou organismo
conscienciológico
Dinâmica Parapsíquica 11 42 65 109 133
(3,0) (11,7) (18,1) (30,3) (36,9)
Tertúlia 23 122 166 43 6
Conscienciológica (6,4) (33,9) (46,1) (11,9) (1,7)
(diária, presencial ou
online)
Tertúlia Matinal (aos 37 144 137 34 8
domingos) (10,3) (40,0) (38,1) (9,4) (2,2)
Círculo 38 137 134 42 9
Mentalsomático (aos (10,5) (38,1) (37,2) (11,7) (2,5)
sábados)
Leitura e consulta ao 27 131 125 55 22
acervo na Holoteca (7,5) (36,4) (34,7) (15,3) (6,1)
e/ou no Holociclo
Cursos de 10 40 123 143 44
Conscienciologia (de (2,8) (11,1) (34,2) (39,7) (12,2)
qualquer IC)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: 360 respondentes por linha.

Esse tópico se desdobra nos seguintes subtópicos: 6.1.1 discussão das


práticas culturais; 6.1.2 voluntariado IV: voluntariado institucional; e 6.1.3 livro e
artigos publicados.
367

6.1.1 Discussão das práticas culturais

Cada uma das 7 atividades apresentadas possuem uma historicidade própria.


O voluntariado institucional conscienciológico possui suas raízes desde a primeira
instituição criada por Waldo Vieira, o Centro da Consciência Contínua, apresentado
no capítulo 2, e que será aprofundado no próximo subtópico, de modo isolado.
A Dinâmica Parapsíquica é uma atividade semanal, realizada em grupo, no
mesmo horário e local, com duração de cerca de 2 horas, com objetivo de promover
o desenvolvimento das bioenergias e do parapsiquismo (percepções
extrassensoriais), além de favorecer a interassistencialidade, ou seja, a ajuda mútua
entre os participantes. Essa prática cultural foi proposta pelo voluntário pioneiro da
Conscienciologia, nosso entrevistado Moacir Gonçalves, em 2003. 5 O custo de
participação avulsa em uma dinâmica é de R$ 30,00 (Ano-base: 2020). O princípio
dessa prática é a autoexperimentação, ou seja, a partir de exercícios propostos por
um professor com mais desenvoltura com as bioenergias. O objetivo é propiciar
treinamento da pessoa interessada em percepções além dos 5 sentidos para que ela
possa ter vivências autocomprovadoras de um dos pilares teóricos do paradigma
consciencial, a multidimensionalidade ou a realidade de dimensões paralelas mais
sutis às do mundo material.
A Tertúlia Conscienciológica é atividade diária, vespertina, informal, com
entrada gratuita, sem pré-requisitos, com duração de 2 horas, com a finalidade de
debater temas do momento e obter consensos transitórios de novas pesquisas,
hipóteses e teorias de interesse comum na área da Conscienciologia.6 Teve início
em 2001, no departamento Holociclo do CEAEC por meio de conversas informais
entre Waldo Vieira e os voluntários presentes no momento. Com o tempo foi se
profissionalizando, tendo sido construído o anfiteatro chamado Tertuliarium com o
objetivo de realizar essa atividade. As tertúlias tornaram-se o principal encontro dos
membros da comunidade conscienciológica. 7 Nelas, ocorre a apresentação ou

5
GONÇALVES, Moacir. & SALLES, Rosemary. Dinâmicas Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares,
2011, p. 46.
6
VIEIRA, Waldo. Tertúlia Conscienciológica. Verbete. In: ______. Enciclopédia da Conscienciologia.
CD-ROM. Foz do Iguaçu, PR: CEAEC / Editares, 2011.
7
Em especial, de 2001 até 2013, período no qual Waldo Vieira esteve coordenando as tertúlias
conscienciológicas. (Fonte: FERRARO, Cristiane. ARAKAKI, Kátia. Histórico das tertúlias
conscienciológicas. Conscientia, vol. 16, n. 4, p. 355-375, out./dez., 2012).
368

defesa de verbetes da Enciclopédia da Conscienciologia. O princípio por trás dessa


prática cultural é o diálogo e o somatório de experiências entre os participantes
(debate) a fim de alcançar os consensos temporários acerca de assuntos abordados
pela Conscienciologia.
A Tertúlia Matinal é uma atividade semanal, informal, com entrada gratuita,
sem pré-requisitos, com duração de 1 hora e 45 minutos, aos domingos pela manhã,
com a finalidade do pesquisador apresentar um tema em desenvolvimento a fim de
debatê-lo com os presentes, recebendo heterocríticas e questionamentos a fim de
enriquecer suas hipóteses e ideias. Foi criada em 2016, a partir da proposta da
UNICIN.8 O princípio dessa prática cultural é o diálogo entre os pares, visando o
desenvolvimento científico da Conscienciologia.
Conforme visto no capítulo 3, o Círculo Mentalsomático é atividade semanal,
com entrada gratuita, sem pré-requisitos, com duração de 1h e 45 minutos, aos
sábados pela manhã, com objetivo de debater conceitos e hipóteses da
Conscienciologia, visando ampliar a autoconfiança dos participantes, a fim de
estimulá-los na escrita de livros conscienciológicos. Foi proposta por Waldo Vieira
em 2012.9 O princípio dessa prática é a desrepressão dos participantes, a partir de
questões formuladas ao público com intuito de incentivar o compartilhamento de
vivências e maior compreensão de temas conscienciológicos pela troca de ideias.
A leitura e a consulta ao acervo do Holociclo e da Holoteca referem-se a esses
dois departamentos do CEAEC que possuem horário de funcionamento diário,
inclusive nos finais de semana, em horário comercial, com entrada gratuita,
disponibilizando acervo a qualquer pessoa interessada de, por exemplo, 106.686
livros, 7.428 léxicos e 608.781 notícias de periódicos.10 A Holoteca tem suas origens
na constituição da biblioteca particular de Waldo Vieira em 1941. Em 1996, Vieira
doou seu acervo particular para o CEAEC.11 Os departamentos dividem um mesmo
prédio, sendo o Holociclo voltado para a produção intelectual da Conscienciologia
por meio de publicações e a Holoteca para difusão do conhecimento através de

8
Informação obtida com voluntário Eduardo Azevedo, da equipe da Tertúlia Matinal, via whatsApp,
em 05 de fevereiro de 2020. A menção do nome foi autorizada pelo informante.
9
TELES, Mabel. Benesse intelectual. In: FREIRE, Carmen. ALMEIDA, Nazaré. SALLES, Rosemary.
(Orgs.). Círculo Mentalsomático. Volume I: encontros 01 a 10, período de 07 de abril a 09 de junho de
2012. Foz do Iguaçu: Epígrafe, 2019, p. 10.
10
Documento “Pontoações do CEAEC”, de 04/08/2019, afixado no mural público do Holociclo e da
Holoteca (CEAEC).
11
OLIVEIRA, Nara. Holoteca: comunicação e difusão científico-cultural. Holotecologia, Foz do Iguaçu,
n. 2, p. 89-90, 2015.
369

exposições e oficinas. O princípio da prática de consultar o acervo do Holociclo e da


Holoteca é o desenvolvimento dos atributos mentais, em especial a memória
analógica das pessoas interessadas, favorecendo a cosmovisão. 12 A forma de
organização do acervo dos dois departamentos procura fugir de um modo de ver o
mundo linear, típico do paradigma newtoniano-cartesiano, para uma exposição do
material intelectual de modo mais acessível e integrado, onde, por exemplo, os
léxicos são dispostos horizontalmente em mesas ao invés do usual na posição
vertical, em prateleiras, no Holociclo, e os objetos se encontram próximos e não
separados dos livros que abarcam uma mesma temática, na Holoteca.
Os cursos de Conscienciologia são atividades semanais, promovidas por todas
as instituições conscienciológicas. Apesar de alguns serem gratuitos, tais cursos são
em geral pagos, pois o dinheiro é revertido para a própria instituição
conscienciocêntrica. São ministrados por docentes, que não recebem remuneração
para ministrar essas aulas, fazendo parte do seu voluntariado conscienciológico. Há
cursos sobre fenômenos parapsíquicos, como por exemplo, clarividência e
experiência fora do corpo, assim como existem cursos para a pessoa aprofundar
uma autoanálise de suas manifestações, estudando seus traços de personalidade,
seus comportamentos e metas de vida (propósitos existenciais).13
O início dos cursos conscienciológicos foi exposto no capítulo 2: inicialmente
com as palestras públicas do Centro de Consciência Contínua e depois, de modo
formal, com a fundação do Instituto Internacional de Projeciologia. Todos têm o
princípio da descrença como filosofia norteadora, a fim de evitar qualquer tipo de
dependência dos alunos em relação aos professores. As salas de aula das
instituições conscienciocêntricas possuem o princípio da descrença afixado na
parede ou exposto na forma de banner. Há cursos mais teóricos e outros mais
práticos, sempre visando o princípio da autoexperimentação, bem como momentos
de diálogos e debates.
Observa-se que duas dessas práticas culturais são realizadas em qualquer
instituição conscienciológica: o voluntariado e os cursos. As dinâmicas
parapsíquicas ocorrem em algumas instituições. E as outras 4 atividades, os dois

12
ZASLAVSKY, Alexandre; PARO, Denise. Uma percepção cosmovisiológica do mundo. Entrevista
com Waldo Vieira. Holotecologia, Foz do Iguaçu, n. 0, p. 4-9, 2013.
13
Um panorama sobre os cursos da Conscienciologia pode ser obtido na recepção do CEAEC onde
se encontram os panfletos de divulgação das atividades pedagógicas de todas as instituições
conscienciológicas.
370

tipos de tertúlias, o Círculo Mentalsomático e a consulta aos departamentos


Holociclo-Holoteca são realizadas no CEAEC. Com exceção da dinâmica
parapsíquica e da tertúlia matinal, as outras atividades foram desencadeadas pelo
propositor da Conscienciologia. Será que elas não existiriam se ele não as tivesse
criado? Waldo Vieira inventou um cotidiano: “o enfoque da cultura começa quando o
homem ordinário se torna narrador, quando define o lugar (comum) do discurso e o
espaço (anônimo) de seu desenvolvimento”.14
Nesse contexto, o espaço do bairro Cognópolis surge como um “lugar
praticado”, “onde se manifesta um “engajamento” social ou, noutros termos: uma
arte de conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão ligados a você
pelo fato concreto, mas essencial, da proximidade e da repetição”.15
Norberto Luiz Guarinello16, professor de História da Universidade de São Paulo
(USP), propõe que o cotidiano seja visto não como uma esfera da vida, mas como
um tempo, um momento, um presente, entendido como a ponte que liga passado e
futuro.
Guarinello 17 sugere que o cotidiano é composto, entre outros aspectos, das
interações sociais que são “a dimensão na qual as pessoas se organizam para e por
entrarem em contato, na qual trocam bens, ideias, serviços, se auxiliam, exercem
poder ou obedecem”. E também é formado pelo mundo material, o qual fornece a
estrutura física da vida cotidiana, dando-lhe estabilidade, identidade e
previsibilidade. Essas estruturas do cotidiano são uma abstração e não existem
separadas na vida real. É um recorte da realidade visando explicar tanto as
totalidades sociais quanto “o mundo miúdo das vivências particulares”.18
Esse mundo miúdo infere um espaço, no caso em estudo o bairro Cognópolis,
e as interações sociais, que se manifestam nas diversas práticas culturais. De
acordo com a narrativa da voluntária Nara Oliveira, viver a Conscienciologia
morando na Cognópolis é o modo integral de vivenciar o paradigma consciencial,
pois esse paradigma “infere essa sociabilidade”; “então a Cognópolis ou a
Conscienciologia potencializa o que tem de melhor em você”. Para ela, “as pessoas

14
CERTEAU, 2014, p. 61, grifos do autor.
15
MAYOL, 2013, p. 39.
16
GUARINELLO, N. L. História científica, história contemporânea e história cotidiana. Revista
Brasileira de História, v. 24, n. 48, São Paulo, 2004, p. 7. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882004000200002. Acesso em: 22 maio 2017.
17
GUARINELLO, 2004, p. 8.
18
GUARINELLO, 2004, p. 9.
371

vêm para cá para serem melhores do que elas são”. No sentido de que “você é
melhor porque é mais ético, você é melhor porque você pensa mais limpo, você é
melhor porque você quer saber mais, você quer saber mais porque isso pode ajudar
mais”. Nara conclui que “esse ser mais, ser melhor, interminável no sentido de
inacabável, [enfim] estar sempre investindo nisso... Eu acho que é o grande mote
dessa comunidade.”
O engajamento social, do qual nos fala Mayol, aplicado à comunidade
conscienciológica, parece envolver motivo existencial. Nara Oliveira explica que “a
Conscienciologia diz respeito a isso: apropriar-se da própria consciencialidade,
enfim, de se conhecer e tudo o mais... E eu acho que o que faz as pessoas
permanecerem aqui são as suas vitórias pessoais; são os seus sucessos no desafio
de conviverem com elas mesmas e com outras pessoas.”
Aquilo que o morador ganha quando sabe aproveitar o seu bairro não é
contabilizável. O ganho adquirido proveniente do costume “não é senão a melhoria
da ‘maneira de fazer”, pela qual o morador pode aferir a intensidade da sua inserção
no ambiente social. 19 Na ótica da migrante, as práticas culturais vividas na
Cognópolis possibilitam reforçar tais “maneiras de fazer”, que consistem
essencialmente no autoconhecimento e na interassistencialidade através da
interação com os demais moradores e voluntários.

6.1.2 Voluntariado IV: voluntariado institucional

O voluntariado em instituição conscienciocêntrica apareceu na resposta da


tabela anterior entre as práticas culturais realizadas com maior frequência na
comunidade conscienciológica.
O assunto do voluntariado conscienciológico vem sendo tratado desde o
capítulo 2, permeando todos os capítulos. Recapitulando o que foi visto: no capítulo
2, o subtópico sobre o Terceiro Setor abordou a condição do IIPC, além de também
tomarmos conhecimento sobre as características do trabalho voluntário realizado no
CCC pelos nossos entrevistados, tais como, o auxílio em palestras, o registro
fotográfico e o empacotamento de livros a serem enviados pelos correios.

19
MAYOL, 2013, p. 45.
372

No capítulo 3, o tema foi abordado em três subtópicos, um dando breve


panorama nacional sobre o trabalho voluntário, outro sobre as motivações
envolvidas no voluntariado e as características gerais do voluntariado
conscienciológico.
No capítulo 4, o voluntariado conscienciológico aparece como assunto a ser
zelado pela UNICIN. Outro enfoque foi o bairro Cognópolis sendo construído como
um bairro do voluntariado onde se localizam as instituições conscienciocêntricas
(ICs) e a moradia dos voluntários. Também existe no subtópico “Instituições”,
menção ao fato dos voluntários mudarem de ICs possibilitando a troca de
aprendizados e favorecendo o senso comunitário.
No capítulo 5, é destacada a interação entre a díade morar-voluntariar. O
voluntariado conscienciológico apresenta-se como eixo sustentador da migração
para Foz do Iguaçu. Foi levantada a hipótese do voluntariado conscienciológico
caracterizar-se como um estilo de vida, envolvendo motivos sociais e existenciais.
Conforme visto nos capítulos anteriores, o voluntariado conscienciológico é a
pedra fundamental de sustentação da Conscienciologia e da própria formação da
comunidade conscienciológica. Lembrando que 90,3% dos respondentes do
questionário afirmaram que já faziam trabalho voluntário conscienciológico antes de
migrar para Foz do Iguaçu. Pode ser considerado uma prática cultural básica, de
onde surgiram as demais.
Esse tema merece um destaque pela sua importância no entendimento da
comunidade conscienciológica. O voluntariado ainda se apresenta em duas tabelas.
Na questão “Em qual(is) instituição(ões) conscienciocêntrica(s) você faz
trabalho voluntário?” houve 589 respostas (163,6%). A instituição com maior número
de voluntários foi o CEAEC com 157 respostas (43,6%). Esse resultado talvez seja
pelo fato de o CEAEC ser a organização mais antiga em Foz do Iguaçu e a primeira
a ter campus da Conscienciologia, a matriz da territorialidade conscienciológica
(Tabela 39).
373

TABELA 39 – VOLUNTARIADO NAS INSTITUIÇÕES


CONSCIENCIOCÊNTRICAS (ICS) PELOS MIGRANTES DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Voluntariado nas AIEC 23 (6,4)
instituições APEX 13 (3,6)
conscienciocêntricas ARACÊ (voluntariado em Foz) 3 (0,8)
ASSINVÉXIS 26 (7,2)
ASSIPEC (voluntariado em Foz) 0 (0,0)
ASSIPI 9 (2,5)
CEAEC 157 (43,6)
COMUNICONS 7 (1,9)
CONSCIUS 22 (6,1)
CONSECUTIVUS 25 (6,9)
COSMOETHOS 3 (0,8)
ECTOLAB 21 (5,8)
EDITARES 23 (6,4)
ENCYCLOSSAPIENS 26 (7,2)
EVOLUCIN 9 (2,5)
IC TENEPES 3 (0,8)
IIPC 66 (18,3)
INTERCAMPI (voluntariado em Foz) 2 (0,6)
INTERPARES 4 (1,1)
JURISCONS 9 (2,5)
OIC 26 (7,2)
ORTHOCOGNITIVUS (voluntariado em 0 (0,0)
Foz)
REAPRENDENTIA 12 (3,3)
UNICIN 46 (12,8)
UNIESCON 11 (3,1)
Não sou voluntário 26 (7,2)
Outro: Discernimentum 1 (0,3)
Outro: Pré-IC CINPAR 1 (0,3)
Outro: Colegiado da Conscienciologia 2 (0,6)
Outro: Pré-IC da Liderologia 1 (0,3)
Outro: Pré-IC da Responsabilidade 3 (0,8)
Planetária
Outro: INTERCONS 1 (0,3)
Outro: Pré-IC Extracons 1 (0,3)
Outro: Pré-IC ISIC 4 (1,1)
Outro: ICGE 1 (0,3)
Outro: Uniamérica 1 (0,3)
Outro: Revista Interparadigmas 1 (0,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Essa questão era obrigatória. Por ser possível marcar mais de uma resposta,
foram 360 respondentes (100,0%) e 589 respostas (163,6%).
374

O voluntariado também aparece como achado na questão sobre o que fazer no


tempo livre. Na pergunta sobre “a frequência em cada atividade que você faz em seu
tempo livre (fora o horário do trabalho profissional)”, considerando as frequências
isoladamente, a atividade com maior percentual foi “Ler livros, jornais e/ou revistas”
“frequentemente” com 193 respostas (53,6%). Considerando o somatório das
respostas “frequentemente” e “sempre”, a atividade com maior percentual foi
“Voluntariar em instituição e/ou organismo conscienciológico” com 304 respostas
(84,4%) (Tabela 40).

TABELA 40 – FREQUÊNCIA EM CADA ATIVIDADE DE TEMPO LIVRE DOS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ
DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
continua
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Frequência Nunca Rara Ocasional Frequente Sempre
em cada mente mente mente
atividade
que faz em Visitar familiares 21 97 154 67 21
seu tempo (5,8) (26,9) (42,8) 18,6) (5,8)
livre (fora
o horário do Visitar e/ou sair 6 38 167 134 15
trabalho com amigos (1,7) (10,5) (46,4) (37,2) (4,2)
profissional) Voluntariar em 12 21 23 152 152
instituição e/ou (3,4) (5,8) (6,4) (42,2) (42,2)
organismo
conscienciológico
Voluntariar em 242 72 30 10 6
instituições que não (67,2) (20,0) (8,3) (2,8) (1,7)
são
conscienciológicas
Assistir TV (filmes, 3 43 104 155 55
seriados) (0,8) (11,9) (28,9) (43,1) (15,3)
Ler livros, jornais 0 8 65 193 94
e/ou revistas (0,0) (2,2) (18,1) (53,6) (26,1)
Escrever artigos, 39 74 120 87 40
verbetes e/ou livros (10,8) (20,6) (33,3) (24,2) (11,1)
Ir ao cinema e/ou 26 116 153 56 9
teatro (7,2) (32,2) (42,5) (15,6) (2,5)
Fazer cursos de 8 34 108 162 48
Conscienciologia (2,2) (9,5) (30,0) (45,0) (13,3)
Frequentar 5 28 103 156 68
restaurantes, cafés (1,4) (7,8) (28,6) (43,3) (18,9)
Ministrar cursos de 68 57 98 95 42
Conscienciologia (18,9) (15,8) (27,2) (26,4) (11,7)
em Foz do Iguaçu
Viajar como 159 65 78 42 16
professor itinerante (44,2) (18,0) (21,7) (11,7) (4,4)
de Conscienciologia
375

TABELA 40 – FREQUÊNCIA EM CADA ATIVIDADE DE TEMPO LIVRE DOS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ
DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
conclusão
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Frequência em Nunca Rara Ocasional Frequente Sempre
cada atividade mente mente mente
que faz em seu Passear com 209 41 38 34 38
tempo livre (fora animal (58,1) (11,4) (10,5) (9,5) (10,5)
o horário do doméstico
trabalho Praticar 155 79 70 42 14
profissional) jardinagem (43,1) (21,9) (19,4) (11,7) (3,9)
Andar de 290 42 20 5 3
bicicleta (80,6) (11,7) (5,5) (1,4) (0,8)
Ir à discoteca 330 22 6 1 1
(91,6) (6,1) (1,7) (0,3) (0,3)
Jogar cartas ou 293 48 11 7 1
outro tipo de (81,4) (13,3) (3,1) (1,9) (0,3)
jogos
Fazer exercício 19 48 90 143 60
físico (5,3) (13,3) (25,0) (39,7) (16,7)
Praticar 36 114 170 32 8
turismo (10,0) (31,7) (47,2) (8,9) (2,2)
Estudar para 232 32 31 33 32
universidade (64,4) (8,9) (8,6) (9,2) (8,9)
(na condição
de aluno)
Outro 0 4 13 15 12
(0,0) (9,1) (29,5) (34,1) (27,3)

FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: A questão continha a seguinte orientação: “Se você está aposentado,


desempregado, vive de rendimentos ou é estudante, considere seu tempo livre no
dia a dia.” Além disso, os respondentes receberam a seguinte orientação no
cabeçalho da questão: “‘Outro’. É necessário assinalar a opção "outro" para que
você possa seguir com o preenchimento. Caso não tenha nenhuma atividade de
lazer a ser acrescentada, assinale "nunca" na coluna. Caso queira acrescentar nova
atividade, assinale uma opção entre "raramente" e "sempre" e escreva a nova
atividade de tempo livre na questão seguinte.”
Foram 360 respondentes por linha (100,0%) e no item “Outros” foram 44
respostas (12,2%).
376

6.1.2.1 Discussão sobre o Voluntariado IV: voluntariado institucional

De acordo com Vasco Almeida20, economista e autor do livro “As instituições


particulares de solidariedade social: governação e terceiro sector”, as instituições
são “o conjunto de regras, normas, valores, convenções e hábitos que enquadram a
vida individual e coletiva.” Elas são sujeitas a mudanças, porém tendem para
estabilidade.
As instituições são construções dos indivíduos, no entanto moldam as suas
percepções e as suas preferências. Assim, a ação e a cognição humana são
culturais, influenciadas pelas instituições.21 No entanto, de acordo com Agassi22, que
desenvolveu o conceito de “indivíduo institucionalizado”, por um lado, as instituições
constrangem e incentivam os comportamentos individuais, por outro lado, não
retiram a ideia de intencionalidade, livre arbítrio e imaginação dos agentes sociais.
Olhando-as sob o ângulo político, as instituições cumprem a função de mediar
conflitos sociais. Elas são concebidas para resolver conflitos entre indivíduos
desiguais com interesses divergentes.23 Conforme visto no capítulo 4, no subtópico
“Instituições”, elas não resolvem todos os problemas, mas constituem-se em um
“equilíbrio político entre poderes sociais diferenciados”.24
No âmbito mundial, não foi coincidência que países com taxas mais elevadas
de crescimento no Terceiro Setor são aqueles nos quais houve uma maior alteração
no ambiente institucional, em especial quanto às políticas e as regras formais
reguladoras das parcerias entre Estado e as Organizações do Terceiro Setor
(OTS).25
No micromundo da comunidade conscienciológica, cada instituição
conscienciocêntrica busca desenvolver no mínimo uma especialidade da
Conscienciologia. Por exemplo: a ASSIPI tem como objeto de estudo o
parapsiquismo interassistencial da especialidade Parapercepciologia e a

20
ALMEIDA, Vasco. As instituições particulares de solidariedade social: governação e terceiro sector.
Coimbra: Almedina, 2011, p. 58.
21
ALMEIDA, 2011, p. 59.
22
AGASSI, Joseph. Institutional Individualism. The British Journal of Sociology, vol. 26, n. 2, p. 144-
155, jun. 1975. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/589585?seq=1. Acesso em: 31 dez. 2019,
17h.
23
ALMEIDA, 2011, p. 59.
24
ALMEIDA, 2011, p. 60.
25
ALMEIDA, 2011, p. 60.
377

Consecutivus estuda as vidas passadas pela especialidade Seriexologia (série


existencial = conjunto de vidas passadas).
Conforme visto no capítulo 4, há aquelas instituições mais voltadas para ajudar
a própria comunidade conscienciológica, como por exemplo a AIEC, responsável
pela engenharia econômico-financeira dos projetos de expansão da
Conscienciologia, a UNICIN que cuida, dentre outras atribuições, da orientação do
fluxograma de constituição de novas instituições conscienciocêntricas e a
UNIESCON, voltada para assessorar os autorandos na escrita de suas obras.
Tomando como ponto de partida o aforismo de Waldo Vieira: “entre os
componentes da Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional, as
afinidades variam de 5% a 95%”26, encontra-se aí uma pista ou indício de que as
instituições conscienciocêntricas em si, atuem como mediadoras de possíveis
conflitos entre voluntários. O próprio fato de os voluntários fazerem um rodízio nas
funções exercidas nas instituições ajuda nessa regulação de tensões nas relações
interpessoais. Caso a própria instituição internamente não consiga resolver um
conflito, ela pode recorrer, conforme visto no capítulo 4, a função diplomática da
UNICIN que tem esse foco na mediação de conflitos.
Outro órgão dedicado a auxiliar os voluntários e consequentemente a
comunidade como um todo, é o departamento de “Apoio a Voluntários e Alunos”
(AVA). Este tem suas origens em 1997 dentro do Instituto Internacional de
Projeciologia e Conscienciologia (IIPC) com objetivo de acompanhar os alunos do
curso “Extensão em Conscienciologia e Projeciologia 2” (ECP2). Com o tempo, o
AVA passou a dar um suporte para as demais atividades educacionais do IIPC. E a
partir de 2005, com o aumento do número de voluntários e alunos, a partir de novas
instituições e a fixação da moradia de voluntários no mesmo bairro em Foz do
Iguaçu, ampliou-se a quantidade de voluntários que atuavam nesse departamento,
constituindo a chamada Comissão AVA CCCI, tendo um representante assistente
pelo menos nas instituições conscienciológicas com mais atividades.27
O AVA iniciou-se como departamento dentro do IIPC, vinculou-se à área da
Consciencioterapia ainda no Rio de Janeiro, depois passou a atuar pela UNICIN.
Atualmente continua vinculado à UNICIN, funcionando a partir da Comissão AVA

26
VIEIRA, Waldo. Léxico de Ortopensatas. 2. ed. rev. e aum. Foz do Iguaçu: Editares, 2019, p. 389,
grifos do autor. 3 vols.
27
FIRMATO, Leonardo. O Departamento AVA (Apoio a Voluntários e Alunos): evolução de um
trabalho interassistencial. Conscientia, vol. 12, n. 1, p. 106-117, jan./mar., 2008.
378

CCCI, formada pelos representantes das instituições e do Conselho de Epicons, sob


demanda.28
O AVA busca auxiliar aquele voluntário e aluno que esteja precisando de
assistência, por exemplo, quanto aos seguintes transtornos: alcoolismo,
amoralidade, depressão, desafeição, dogmatismo, doutrinação, inautenticidade,
29
psicopatia e toxicomania. O AVA também atua com grupos, entre eles,
departamento de alguma instituição, empresa conscienciológica, entre outros. Nesse
caso, as manifestações perturbadoras envolvem por exemplo conflituosidade,
autocracia, assédio moral, manipulação e radicalismo.30
Esse departamento também tem atuação no acompanhamento de pessoas
com necessidades especiais, seja voluntário ou aluno.31 O trabalho assistencial do
AVA conta com outros recursos e serviços da comunidade conscienciológica como
auxiliares para o tratamento e a solução de casos mais críticos ou específicos, por
exemplo, a consciencioterapia realizada na OIC e o “Serviço de Apoio Existencial”
promovido pela APEX.32
Devido a atuação do AVA ser em várias instituições de modo integrado, um
voluntário ou aluno que apresente algum problema em determinada instituição, em
geral, é acompanhado pela Comissão AVA CCCI, sobretudo caso reincida nos
mesmos comportamentos em outra instituição.
Uma outra abordagem a ser considerada sobre instituições do Terceiro Setor e,
mais diretamente, sobre instituições conscienciocêntricas, é a que foi realizada em
um dos poucos trabalhos acadêmicos na área da Administração sobre as
instituições da Conscienciologia. Na dissertação de mestrado de Ricardo A. L. G.
Dias33, foi feito um estudo de caso sobre o IIPC a fim de verificar os elementos de
racionalidade substantiva presentes nos processos desta instituição.
A racionalidade substantiva é a principal característica de uma organização
substantiva, que seriam aquelas fundamentadas na isonomia. Tal proposta foi
sistematizada por Alberto Guerreiro Ramos, em 1981 e desenvolvida por Maurício

28
FIRMATO, 2008, p. 107-108. A condição atual do departamento AVA foi fornecida pelo voluntário
Leonardo Firmato, em conversa via whatsApp, em 03/01/2020. A menção do nome foi autorizada pelo
informante.
29
FIRMATO, 2008, p. 111.
30
FIRMATO, 2008, p. 113.
31
FIRMATO, 2008, p. 113.
32
FIRMATO, 2008, p. 114 e 116.
33
Ricardo A. L. G. Dias era voluntário do IIPC na ocasião da pesquisa e permanece voluntário nas
instituições da Conscienciologia até hoje.
379

Serva, em 1997. A racionalidade substantiva é um conceito proposto por Max Weber


e refere-se à racionalidade tendo como base os valores intrínsecos ou inerentes à
ação, e não em expectativas de sucesso (racionalidade instrumental).34
As 5 características da categoria isonomia, indicadoras das organizações
fundamentadas pela racionalidade substantiva são: objetivo básico de melhorar a
vida dos participantes; os membros não dependem financeiramente do ambiente
isonômico, sendo suas atividades altamente gratificantes; as atividades são
desempenhadas de acordo com o perfil individual não como empregos formais e a
recompensa está na própria realização da tarefa e não em ganhos econômicos; não
há distinção entre líderes e liderados, a autoridade é passada de modo contínuo, de
indivíduo a indivíduo, conforme o assunto e a especialidade de cada um (para
Guerreiro Ramos, a isonomia é concebida como uma comunidade); e a fim de
permitir a eficácia desse sistema funcional, é necessário que seus elementos
estabeleçam predominantemente relações primárias, não podendo crescer além de
certo limite, passando a prevalecer relações secundárias.35
Tomando como base a isonomia e os processos organizacionais (hierarquia e
normas; valores e objetivos; tomada de decisão; controle; divisão do trabalho;
comunicação e relações interpessoais; ação social e relações ambientais; reflexão
sobre a organização; conflitos; satisfação individual; dimensão simbólica) de acordo
com método de Serva, Dias analisou a racionalidade substantiva no IIPC a partir de
observação participante, pesquisa documental e entrevistas. Concluiu que o IIPC
pode ser equiparado a uma organização substantiva, aos moldes de uma isonomia,
conforme proposta por Guerreiro Ramos.36
Nas palavras de Dias: “os valores pessoais dos voluntários se confundem com
os valores organizacionais, reforçado pelo compartilhamento de linguagem própria,
recheada de neologismos, o que reforçam os vínculos comunitários.” Ele concluiu
que “seus voluntários se comportam como uma verdadeira comunidade.”37
Entretanto, foram identificados problemas organizacionais no IIPC, não
podendo considerá-lo “totalmente substantiva”, conforme tipo ideal proposto por

34
DIAS, Ricardo A. L. G. Evidências empíricas de organizações substantivas: estudo de caso em
instituição conscienciocêntrica. 2010. 261 p. Dissertação (Mestrado em Administração) –
Universidade Estadual de Londrina – UEL, Londrina, 2010, p. 68, 70 e 76-77.
35
DIAS, 2010, p. 73 e 120.
36
DIAS, 2010, p. 222.
37
DIAS, 2010, p. 223.
380

Guerreiro Ramos. Os processos de tomada de decisão e controle podem ser


aperfeiçoados, visando melhoria contínua.38
É importante observar que pela segunda vez, em duas pesquisas distintas em
momentos diferentes, consideraram o IIPC, a instituição-mãe, vamos dizer assim,
funcionando aos moldes de uma comunidade.39 Esses achados fornecem pistas a
respeito da relação instituição conscienciocêntrica–comunidade conscienciológica.
Voltando a examinar as últimas 3 tabelas, o voluntariado em instituição
conscienciológica apareceu com maior frequência como uma prática cultural e como
uma atividade de tempo livre. Tal ocorrência sugere o esforço da vivência de um dos
conceitos da Conscienciologia chamado de “trinômio motivação-trabalho-lazer”. Foi
proposto por Vieira 40 no livro “700 Experimentos da Conscienciologia”, em 1994.
Significa que a pessoa, ao gostar do que faz, expande a própria motivação, ao ponto
de estar desfrutando daquela vivência na condição de lazer.
É um movimento de dentro para fora, no sentido da doação do que se sabe
para os outros (motivação autossuficiente). Nesse sentido, a escolha da ocupação
pessoal é fundamental, para que o trabalho da pessoa no cotidiano seja ao mesmo
tempo mola motivadora e lazer. Ao que parece, o trabalho voluntário para os
conscienciólogos se encontra nessa condição, por se constituir ao mesmo tempo em
trabalho, mas também como lazer, por ser escolhido com maior frequência entre as
atividades de tempo livre, indicando a motivação subjacente.
Tal aspecto pode ser explicado pelo conceito de ócio criativo proposto pelo
sociólogo Domenico De Masi. Ele sugere uma inovação existencial que seria uma
mistura de atividades pessoais, tais como o trabalho profissional, o estudo e o jogo.
Segundo De Masi, toda ação deve incluir trabalho, jogo e aprendizado. Seja qual for
a atividade: ministrar uma aula ou conversar com um amigo, deve sempre existir um
valor e, ao mesmo tempo, divertimento e formação.41
De Masi explica que tal postura existencial é um resgate da forma como os
filósofos gregos agiam. Por exemplo: no livro “Fedro”, Platão relata que fazia calor e
que Sócrates estava sob um carvalho. Ele encontrou uma fonte, refrescou as mãos,

38
DIAS, 2010, p. 223.
39
A primeira pesquisa mencionada foi a de Anthony D’Andrea no capítulo 2, no subtópico 2.3.4 O
livro “700 Experimentos da Conscienciologia” e seus efeitos.
40
VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de
Projeciologia, 1994, p. 538.
41
DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Tradução de Léa Manzi. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p.
11.
381

repousou à sombra e encontrou ali a perfeita consonância entre si e o que o


circundava. “Isso é dar ‘sentido’ às coisas. (...) As poucas coisas que um filósofo
possui lhe bastam, já que ele sabe enriquecê-las de significado.”42
De Masi explica que este é um conceito determinante para nós, uma cultura na
qual o “sentido” é mais importante do que a quantidade.43
Esta condição pode ser ilustrada pela narrativa da voluntária Nara Oliveira. “Eu
acho que é muito difícil para a maioria das pessoas dimensionar o voluntariado. Eu
acho que quando o Waldo falava de motivação-trabalho-lazer, [no contexto do]
voluntariado, a gente não tem como fragmentar isso. A vida é um contínuo em Foz
do Iguaçu, na Cognópolis.” Nara ainda complementa: “Você tem horas no
voluntariado que você estabelece lá que você vai, mas a sua relação com o
paradigma é integral. Você não esquece dele nunca, quer dizer, ele está o tempo
todo presente”. Exemplifica com uma situação do cotidiano: “você levanta para ir até
à esquina e encontra com fulano e duas horas depois [de ficar tratando com ele]
você volta para casa, porque surgiu não sei o quê. Então, não dá para você
dimensionar o voluntariado.” De acordo com Nara, essas situações de “extrapauta”
são “bem oportunas sempre, (...) especialmente para quem mora na Cognópolis
mesmo, não necessariamente no campus, mas também aqui nos condomínios. Isso
já é resultado da sociabilidade, quer dizer, você nunca sabe o que vai acontecer...”
Com isso, pode-se observar o quanto o voluntariado é misturado na vida
pessoal. Além das questões institucionais, os assuntos extrapolam para o cotidiano
do próprio bairro.
As atividades conscienciológicas são abertas a qualquer pessoa interessada,
voluntária ou não. Porém, é natural que a maior parte dos participantes, ao menos
presencialmente, sejam voluntários. Algumas das atividades são transmitidas pela
internet, abrangendo alunos e curiosos, sendo difícil dimensionar o número de
voluntários com participação à distância.
Essas práticas culturais são coordenadas pelos próprios voluntários. No caso
da tertúlia matinal (semanal) e da tertúlia vespertina (diária), por exemplo, há
voluntários que cuidam da agenda de docentes para as tertúlias, outros cuidam da
monitoria, outros da mediação do debate, entre outros.

42
DE MASI, 2000, p. 34.
43
DE MASI, 2000, p. 34.
382

Esses elementos são encontrados na definição de comunidade reflexiva de


Scott Lash. Primeiro, a pessoa não é nascida nela, é a pessoa que se inclui nela.
Segundo, as comunidades “conscientemente colocam para si mesmas o problema
da sua própria criação, e da constante reinvenção, muito mais que as comunidades
tradicionais”. Terceiro, seus produtos e “instrumentos” tendem a não ser materiais,
porém abstratos e culturais.44
Além disso, os sinais de uma comunidade reflexiva 45 começam a ficar mais
evidentes “quando um determinado estilo de vestir, trajetórias de tempo-espaço
similares e neologismos similares começam sistematicamente a se repetir.”46 Tais
características foram evidenciadas nos capítulos anteriores, por exemplo as
trajetórias migratórias dos voluntários e a criação de neologismos que já
extrapolaram a comunidade e foram incorporados em dicionário de língua
portuguesa.
Quanto ao estilo de vestir, foi visto no capítulo 2 que Waldo Vieira criou um
“tipo” para a apresentação pessoal dele. Nas palavras de Vieira: “os usos da barba e
das roupas brancas, por parte do homem, ajudam as suas exteriorizações de
energias conscienciais (ECs), ou a ectoplasmia.”47 A exteriorização das energias é
técnica e recurso para fazer assistência, seja ajudando pessoas que necessitam de
um reequilíbrio energético, seja auxiliando ambientes com padrão vibratório
“carregado”. Vieira não atribuiu simbolismo às roupas brancas, mas uma razão
“fisiológica”, ou como costumava dizer “parafisiológica”. O estilo de roupas brancas
ou claras foi adotado pelos membros da comunidade conscienciológica

44
LASH, Scott. A reflexividade e seus duplos: estrutura, estética, comunidade. In: BECK, Ulrich.
GIDDENS, Anthony. LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem
social moderna. Tradução de Magda Lopes. 2. Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012, p. 248.
45
Scott Lash discute a comunidade reflexiva em uma antologia com os sociólogos Ulrich Beck e
Anthony Giddens. A modernidade é investida de caráter reflexivo e são abordadas suas
transformações e consequências em termos de configurações atuais. Giddens em trabalhos
anteriores entende que o mundo como um todo está em um período de “alta modernidade” solto das
amarras da tradição. A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas
sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz da informação renovada sobre estas
próprias práticas, alterando assim seu caráter. Enquanto Beck destaca que “o acúmulo de poder do
‘progresso’ tecnológico-econômico é cada vez mais ofuscado pela produção de riscos” (sociedade de
risco). Cf. GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução de Raul Ficker. 2.
reimp. São Paulo: Ed. da Universidade Estadual Paulista, 1991, p. 45 e 175; BECK, Ulrich. Sociedade
de risco. Tradução de Sebastião Nascimento. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2011, p. 15-16.
46
LASH, 2012, p. 246.
47
VIEIRA, 2019, p. 1.778, grifos do autor.
383

principalmente em cursos e atividades que envolvam o trabalho bioenergético de


modo mais intenso, como por exemplo, nas Dinâmicas Parapsíquicas.48
Outro aspecto mencionado por Vieira sobre o mesmo tema é encontrado no
verbete escrito por ele denominado “Veste Única”. Seria o uso de um mesmo tipo de
roupa, “mantendo determinado padrão fisionômico permanente a fim de sustentar
melhor a força presencial.” Argumenta no sentido da “economia de tempo” e ao
mesmo tempo de este hábito ser um “protesto silencioso” contra o abuso das
indústrias na exploração das vaidades humanas.49
A comunidade reflexiva antes de tudo deve “estar no mundo”. Quer dizer,
“quem conhece está presente no mesmo mundo e ‘habita entre’ as coisas e os
outros seres humanos cuja verdade ele busca.” A comunidade “está enraizada em
significações compartilhadas e práticas básicas de rotina”. Essas práticas não são
orientadas por meio de regras, “envolvem um investimento imediato de sentimentos
sobre os instrumentos utilizados – incluindo os signos – e sobre outros seres
humanos com quem as práticas são compartilhadas.”50
Essas práticas do cotidiano do “nós” remetem à obtenção rotineira da
significação: referem-se à produção de bens e são orientadas por uma compreensão
do que é visto como substantivamente bom pela comunidade. Esse “bom” não é
entendido como “imperativo”. Ele está presente no mundo de significações e práticas
em que os indivíduos passam a participar quando se tornam parte do “nós”. “As
significações e as práticas que incorporam o bem substantivo são aprendidas, mas
depois se tornam inconscientes como se se inscrevessem no corpo.”51
52
Para Lash , as comunidades não dizem respeito a “interesses”
compartilhados. Os partidos políticos e as classes sociais, que têm interesses em
comum, não são comunidades. As comunidades também não têm relação com
“propriedades” compartilhadas. Por exemplo, a região e as lojas da “comunidade
chinesa.” Pois, não há proximidade suficiente de significações e práticas
compartilhadas para serem comunidade.

48
Essa afirmação tem como base a experiência da autora em frequentar cursos conscienciológicos e
dinâmicas parapsíquicas.
49
VIEIRA, Waldo. Veste única. In: _____. (Org.). Enciclopédia da Conscienciologia. 9. ed. aum. e ver.
Foz do Iguaçu: Editares; Encyclossapiens, 2018, p. 22.656 a 22.660. Vol. 27.
50
LASH, 2012, p. 241.
51
LASH, 2012, p. 242.
52
LASH, 2012, p. 242 e 244.
384

Uma comunidade “é, antes de tudo, uma questão de significações


compartilhadas.”53 Envolve significação, práticas e obrigações compartilhadas. Em
linguagem mais simples, os envolvidos “vestem a camisa”. Os agentes sociais são
tanto produtores quanto consumidores de um produto cultural.54
Tal entendimento de comunidade encontra ressonância nas palavras da
voluntária Nara Oliveira, “aqui tudo é responsabilidade de todo mundo. A gente
precisa manter, fazer isso funcionar. Quer dizer, faz sentido fazer isso funcionar.” Os
voluntários compartilham significações, práticas e obrigações.

6.1.3 Livros e artigos publicados

A escrita de livros e artigos conscienciológicos é incentivada na comunidade


conscienciológica, principalmente por meio das seguintes práticas culturais: os
cursos voltados para a escrita, o incentivo ao aproveitamento dos espaços do
Holociclo e da Holoteca e a atividade de debate do Círculo Mentalsomático.
Na pergunta do questionário “Você possui livro(s) publicado(s)?”, a maioria não
possui, com 275 respostas (76,4%). Na pergunta em seguida “Se você é autor(a) de
livro(s) publicado(s), o(s) tema(s) dele(s) é(são) sobre:”, foram 85 respondentes
(100%), 39 responderam (45,8%) que o livro é de outro assunto e 35 responderam
(41,2%) que o livro é sobre a Conscienciologia (Tabela 41).

TABELA 41 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU SÃO AUTORES DE LIVRO PUBLICADO E
QUAL O TEMA DO LIVRO – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se possui livro publicado Sim 85 (23,6)
Não 275 (76,4)
Total 360 (100,0)
Se você é autor de livro Conscienciologia 35 (41,2)
publicado, o tema dele é Outro assunto 39 (45,8)
sobre: Conscienciologia e Outro assunto 9 (10,6)
Branco 2 (2,4)
Total 85 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: A segunda questão foi dirigida somente aos autores de livro publicado. Não
era obrigatória.

53
LASH, 2012, p. 249.
54
LASH, 2012, p. 247.
385

Na questão “Você possui artigo publicado?”, a maioria respondeu que sim, com
264 respostas (73,3%). Na questão seguinte “Se você tem artigo(s) publicado(s), o
tema dele(s) é sobre:”, foram 264 respondentes (100%), a maioria é sobre
“Conscienciologia” com 134 respostas (50,7%) e em seguida “Conscienciologia e
Outro Assunto” com 101 respostas (38,3%) (Tabela 42).

TABELA 42 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU POSSUEM ARTIGO PUBLICADO E QUAL
O TEMA DO ARTIGO – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se possui artigo publicado Sim 264 (73,3)
Não 96 (26,7)
Total 360 (100,0)
Se você tem artigo Conscienciologia 134 (50,7)
publicado, o tema dele é Outro assunto 29 (11,0)
sobre: Conscienciologia e Outro 101 (38,3)
assunto
Total 264 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: A segunda questão foi dirigida somente a quem tivesse artigo publicado. Não
era obrigatória.

6.1.3.1 Discussão sobre livros e artigos publicados

O livro é valorizado na comunidade, pois trata-se, antes de tudo, de


compartilhar o seu “laboratório pessoal”, ou seja, as vivências pessoais, um dos
princípios fundamentadores da Conscienciologia. É encarado como uma forma de
ajudar os outros. Um meio do autor conscienciólogo realizar a chamada “tares” ou
“tarefa do esclarecimento”, ou seja, tornar público conhecimentos aprendidos pelo
paradigma consciencial.
Dois aforismos de Vieira fornecem indícios dessa ideia: “no universo dos
princípios da Conscienciologia, ninguém escreve livro objetivando o dinheiro ou a
algibeira pessoal, mas buscando a exemplificação da tarefa do esclarecimento
(tares).”55
Sobre o aspecto de não objetivar dinheiro, os voluntários costumam doar os
direitos autorais da edição do livro conscienciológico publicado para a EDITARES ou

55
VIEIRA, 2019, p. 1.183.
386

alguma instituição conscienciocêntrica. Tal fato já foi mencionado anteriormente nos


subtópicos 3.4.3 Territorialidade III: temporalidades e vivências e 4.2.9 Fundação do
bairro Cognópolis. Essa iniciativa foi tornada pública através do verbete “Edição
gratuita”, de Vieira, divulgado em 2007. Neste verbete, ele menciona também que é
um modo de “combate ao capitalismo selvagem por intermédio da própria obra.”56
E o segundo aforismo: “o livro vale a expressão da vivência e sapiência da
conscin [consciência intrafísica = pessoa] autora, ou seja: o produto da aplicação
pessoal do princípio da descrença (PD).”57
Esse enfoque na vivência pessoal é incentivado uma vez que o objeto de
estudo da Conscienciologia é a consciência humana, entendida em uma perspectiva
integral, considerando as experimentações empíricas com as bioenergias pessoais,
outros corpos possíveis de manifestação além dessa dimensão material e as
múltiplas vidas pretéritas.
Vieira chegou a elaborar a seguinte sentença: “se você não sabe sobre qual
assunto escrever, opte por aquilo que o fez quebrar a cara e indique as
aprendizagens extraídas a fim de ajudar os leitores com o seu exemplarismo.”58
Na visão conscienciológica, a condição do exemplarismo seria a expressão da
vivência pessoal. Compartilhar o aprendizado adquirido a partir de erros ou enganos
pessoais seria um modo de fazer a tarefa do esclarecimento, quer dizer, a profilaxia
de futuros erros a serem cometidos por outras pessoas.
É comum as pessoas ignorarem, desconhecerem ou ainda terem preconceitos
em relação às bioenergias, a possibilidade da existência de outros corpos ou
“veículos” de manifestação em dimensões não-materiais. Assim, o esclarecimento
mais valorizado na Conscienciologia é sobre essas realidades vivenciadas pelas
pessoas de modo espontâneo ou a partir da aplicação do princípio da descrença.
Um exemplo de livro publicado, de uma voluntária da comunidade
conscienciológica de Foz do Iguaçu é o “Voltei para Contar”, de Lucy Lutfi59 (1935–).
Formada em pedagogia, atuou na área do magistério por 40 anos. Passou duas

56
VIEIRA, Waldo. Edição gratuita. In: _____. (Org.) Enciclopédia da Conscienciologia. 9. ed. aum. e
rev. Foz do Iguaçu: Editares; Encyclossapiens, 2018, p. 9.165 a 9.167.
57
VIEIRA, 2019, p. 1.183, grifos do autor.
58
VIEIRA, 2019, p. 1.183, grifos do autor.
59
LUTFI, Lucy. Voltei para contar: autobiografia de uma experimentadora da quase-morte. Foz do
Iguaçu: Editares, 2006, p. 45-46.
387

vezes pelo fenômeno da experiência de quase-morte (EQM)60 em 1972 e em 1980.


A partir de então buscou aprofundar o autoconhecimento, vindo a conhecer o IIPC
em 1994. Iniciou seu livro autobiográfico em 1998, publicando-o em 2006.
A experiência da quase-morte é explicada pela Projeciologia, especialidade da
Conscienciologia, tendo como base a hipótese do corpo objetivo, ou seja, a
“premissa de que o segundo corpo da consciência seria real, embora não-físico.”61
Esta hipótese seria a melhor, segundo Vieira, para explicar uma série de fenômenos
considerados “paranormais”. A consciência (ou a mente como a ciência
convencional chama) não seria produto do cérebro. O corpo biológico é visto como
um veículo de manifestação da consciência. Esta poderia se manifestar em outro
corpo mais sutil do que o biológico, em ambientes não-materiais. Desse modo, a
EQM é entendida como um tipo de experiência fora do corpo, porém forçada, em
geral em circunstâncias críticas de vida ou morte. Difere da experiência fora do
corpo que é um fenômeno espontâneo ou “parafisiológico”, que ocorre todas as
noites.62
A EQM vem desafiando médicos da ciência convencional. 63 Dr. Raymond
Moody Jr64. catalogou 150 casos de EQM na ocasião da escrita do livro “Vida depois
da Vida”. E ele relata que o que mais o surpreendeu “desde o começo do meu
interesse foi a grande semelhança dos relatos, a despeito do fato de que vinham de
pessoas com as mais diversas religiões e diferentes circunstâncias sociais e
educacionais.”
Para a Conscienciologia, essas semelhanças na exposição de fenômenos
parapsíquicos, tal como a EQM, apesar das diferenças sociais e educacionais das
pessoas, possibilitam identificar regularidades nas vivências parapsíquicas ou

60
A experiência de quase-morte é uma ocorrência projetiva, involuntária, ou forçada por
circunstâncias humanas críticas, da pessoa, comum a doentes terminais, pacientes morituros, e
sobreviventes de morte física (Fonte: VIEIRA, Waldo. Projeciologia. Edição do Autor: Rio de Janeiro,
1986, p. 62).
61
VIEIRA, Waldo. Projeciologia: panorama das experiências da Consciência Fora do Corpo Humano.
Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1986, p. 2.
62
VIEIRA, 1986, p. 63.
63
A experiência da quase-morte vem sendo pesquisada desde 1977 por uma instituição internacional
chamada The International Association of Near Death Studies – IANDS (Associação Internacional de
Experiência da Quase-morte). A associação publica dois periódicos: Vital Signs e The Journal of
Near-Death Studies. Maiores informações podem ser obtidas no site da IANDS: www.iands.org.
Nesse site, tem um link para assistir um vídeo produzido pela BBC sobre as EQMs, chamado “The
Day I Died” (2003) ou “O dia que morri”. Nesse vídeo, as pesquisas realizadas por médicos nos EUA,
Inglaterra e Holanda sugerem que a mente não está confinada no cérebro.
64
MOODY JR., Raymond. Vida depois da vida. Tradução de Rodolfo Azzi. Rio de Janeiro: Nórdica,
1979, p. 27-90.
388

“paranormais”, sem diminuir o significado da vivência para o indivíduo. Então,


diferentemente do que se poderia se supor de que o princípio da descrença tornaria
tudo relativo, essas regularidades trazem a possibilidade de uma sistematização
científica. A Conscienciologia valoriza os debates como recurso para troca de
experiências e do significado dessa experiência para a pessoa, e também para
identificação de regularidades, como foi o caso da criação do Círculo
Mentalsomático.
Vieira propôs o debate do Círculo Mentalsomático, que ocorre semanalmente
aos sábados pelas manhãs, para ajudar autores e autorandos, visando favorecer a
desinibição e o exercício do posicionamento e da criticidade pelos voluntários.65 A
maioria dos voluntários ainda não é autor de livros (ver tabela 41). No entanto, a
maioria já publicou artigos (ver tabela 42), o que é considerado “meio caminho
andado” para se chegar no livro.
No capítulo 5, constatou-se o alto nível de escolaridade dos conscienciólogos.
O fato da Conscienciologia desafiar os voluntários para encararem a escrita de um
livro fundamentado em vivências próprias parece ser por um lado, um atrator da
curiosidade e, por outro lado, um gerador de motivação no sentido de colocar em
prática todo capital cultural adquirido.
Esse tópico 6.1 Práticas culturais abordou as principais atividades do cotidiano
dos conscienciólogos, com destaque para o voluntariado e a escrita de artigos e
livros.

6.2 Convívio

Esse tópico diz respeito aos achados encontrados na seção 4 – Convivialidade


do questionário aplicado na comunidade conscienciológica. Abordou as seguintes
questões: 6.2.1 a situação conjugal hoje; 6.2.2 se o cônjuge é voluntário da
Conscienciologia; 6.2.3 se tem filho(s); 6.2.4 qual a condição dos filhos; 6.2.5 se
possui animal doméstico e 6.2.6 tipo e quantidade; 6.2.7 a 6.2.9, se o predomínio
dos vínculos de amizade, vizinhança e colegas profissionais são com voluntários da
Conscienciologia ou com pessoas externas à comunidade conscienciológica; 6.2.10

65
FREIRE, Carmen; ALMEIDA, Nazaré; SALLES, Rosemary. Círculo Mentalsomático: volume I,
encontros 01 a 10, período de 07 de abril a 09 de junho de 2012. Foz do Iguaçu: Epígrafe, 2019, p.
11-12.
389

Discussão sobre o convívio, que ainda se dividiu em quatro partes: 6.2.10.1 Família;
6.2.10.2 Conversa de Vieira com Jung mediada por Ginzburg; 6.2.10.3 Amizades,
vizinhança e colegas profissionais; e 6.2.10.4 Animais domésticos.

6.2.1 Situação conjugal hoje

Na pergunta “Qual a sua situação conjugal hoje?”, a resposta com maior


percentual foi “vivo junto (união estável com ou sem registro)” com 170 respostas
(47,2%) (Tabela 43).

TABELA 43 – SITUAÇÃO CONJUGAL HOJE DOS MIGRANTES DA


COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO
IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Situação Solteiro(a) 59 (16,4)
conjugal hoje Casado(a) com registro 83 (23,1)
Vivo junto (união estável com ou sem registro) 170 (47,2)
Separado(a) 10 (2,8)
Divorciado(a) 26 (7,2)
Viúvo(a) 12 (3,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Na pergunta anterior “Qual a sua situação conjugal hoje?”, houve 253


respostas (100%) nas categorias “casado com registro” e “vivo junto”. Desse total,
questionou-se: “se você ‘vive junto’ ou é casado, favor responder: o seu cônjuge é
voluntário(a) da Conscienciologia?”, a maioria respondeu que “sim”, com 217
respostas (85,8%) (Tabela 44).

TABELA 44 – SE O CÔNJUGE DOS MIGRANTES DA COMUNIDADE


CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU É
VOLUNTÁRIO DA CONSCIENCIOLOGIA – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se o cônjuge é Sim 217 (85,8)
voluntário(a) da Não 35 (13,8)
Conscienciologia Branco 1 (0,4)
Total 253 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Esta questão foi dirigida somente aos que estivessem na condição de “viver
junto” ou fossem casados. Além disso, os respondentes receberam a seguinte
390

orientação no cabeçalho da questão: “Se você é solteiro, separado, divorciado ou


viúvo, não precisa responder esta questão.”

6.2.2 Filhos

Na questão “Tem filho(s)?”, a maioria respondeu que “não”, com 230 respostas
(63,9%) (Tabela 45).

TABELA 45 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE


CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU TÊM FILHOS
– JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se os migrantes têm Sim 130 (36,1)
filho(s) Não 230 (63,9)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

A questão “Se tem filhos, favor assinalar todas as questões que se apliquem ao
seu caso”, dentre os 130 respondentes (100%) com filhos, foram obtidas 169
respostas (130%), sendo que a maioria deles possui filhos que moram fora de Foz
do Iguaçu com 76 respostas (58,5%) (Tabela 46).

TABELA 46 – CONDIÇÃO DOS FILHOS EM RELAÇÃO AOS PAIS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Condição dos filhos em Filho(s) mora(m) em Foz do Iguaçu 39 (30,0)
relação aos pais migrantes Filho(s) mora(m) fora de Foz do Iguaçu 76 (58,5)
Veio com filho(s) 23 (17,7)
Filho(s) vieram antes 12 (9,2)
Filho(s) vieram depois 8 (6,2)
Filho(s) nascido(s) em Foz do Iguaçu 9 (6,9)
Branco 2 (1,5)
Total 130 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Esta questão foi dirigida somente para quem respondeu que tinha filhos na
questão anterior, sendo possível marcar mais de uma resposta. Houve 130
respondentes (100,0%) e 169 respostas (130,0%)

6.2.3 Ter animal doméstico

Na pergunta “Você possui animal doméstico?”, a maioria respondeu que “sim”,


com 223 respostas (61,9%) (Tabela 47).
391

TABELA 47 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE


CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU POSSUEM
ANIMAL DOMÉSTICO – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se possui Sim 223 (61,9)
animal Não 137 (38,1)
doméstico
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Na questão “Se você possui animal doméstico, qual(is) tipo(s) é(são) e quantos
são?”, houve 223 respondentes (100,0%), e o seguinte resultado: o gato é o animal
doméstico mais popular na comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu, pois
140 participantes (62,8%) possuem 1 gato ou mais. Em seguida, vem o cachorro
com 127 respondentes (56,9%) que possuem 1 cachorro ou mais (Tabela 48).

TABELA 48 – OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE


FOZ DO IGUAÇU QUE POSSUEM ANIMAL DOMÉSTICO,
ESPECIFICAR QUAL TIPO E QUANTIDADE – JULHO E AGOSTO
DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Se você Nenhum 1 2 3 ou mais
possui animal
doméstico, Cachorro 96 62 46 19
qual é e (43,1) (27,8) (20,6) (8,5)
quantos são?
Gato 83 45 42 53
(37,2) (20,2) (18,8) (23,8)

Passarinho 222 0 0 1
(99,5) (0,0) (0,0) (0,5)

Jabuti 220 0 2 1
(98,6) (0,0) (0,9) (0,5)

Outro 221 2 0 0
(99,1) (0,9) (0,0) (0,0)

Outro: Gato com 222 1 0 0


adoção compartilhada (99,5) (0,5) (0,0) (0,0)
no trabalho

Outro: Hamster 221 2 0 0


(99,1) (0,9) (0,0) (0,0)
392

FONTE: DADOS DA PESQUISA.

NOTA: Esta questão foi dirigida somente aos que responderam que possuem animal
doméstico na questão anterior. Os respondentes receberam a seguinte orientação
no cabeçalho da questão: “Se você não possui animal doméstico, não precisa
responder esta questão.” Era possível marcar mais de uma resposta. A opção
“Outro” não era obrigatória.
Foram 223 respondentes por linha (100,0%).

6.2.4 Amizades

Na pergunta “Assinale a alternativa que melhor caracterize suas amizades de


modo predominante hoje”, a maioria respondeu que são “voluntários da
Conscienciologia moradores de Foz do Iguaçu” com 305 respostas (84,7%) (Tabela
49).

TABELA 49 – PREDOMÍNIO DAS AMIZADES DOS MIGRANTES DA


COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Predomínio das Voluntários da Conscienciologia moradores 305 (84,7)
amizades de Foz do Iguaçu
Voluntários da Conscienciologia não 6 (1,7)
moradores de Foz do Iguaçu
Amigos sem vínculo com a 13 (3,6)
Conscienciologia, moradores de Foz do
Iguaçu
Amigos sem vínculo com a 13 (3,6)
Conscienciologia, não-moradores de Foz
do Iguaçu
Outro 23 (6,4)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

6.2.5 Vizinhança

Na questão “Você possui vizinho(s) que é(são) voluntário(s) da


Conscienciologia?”, a maioria respondeu que “sim” com 279 respostas (77,5%)
(Tabela 50).
393

TABELA 50 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU POSSUEM VIZINHOS QUE SEJAM
VOLUNTÁRIOS DA CONSCIENCIOLOGIA – JULHO E AGOSTO
DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se possui vizinho que seja voluntário da Sim 279 (77,5)
Conscienciologia Não 81 (22,5)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

6.2.6 Colega profissional

Na pergunta “Você possui colega profissional (trabalha na mesma empresa ou


instituição) que seja ou já tenha sido voluntário(a) da Conscienciologia?”, a maioria
respondeu que “sim” com 198 respostas (55,0%), seguido pela resposta “Esta
questão não se aplica ao meu caso (não estou exercendo profissão remunerada
hoje)” com 99 respostas (27,5%) (Tabela 51).

TABELA 51 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU POSSUEM COLEGAS PROFISSIONAIS
QUE SEJAM VOLUNTÁRIOS DA CONSCIENCIOLOGIA – JULHO
E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se possui colega Sim 198 (55,0)
profissional
(trabalha na mesma Não 63 (17,5)
empresa
ou instituição) que seja Esta questão não se aplica ao meu 99 (27,5)
voluntário da caso (não estou exercendo profissão
Conscienciologia remunerada hoje)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

6.2.7 Discussão sobre o convívio da comunidade conscienciológica

A seção 4 do questionário denominada “Convívio” tinha como objetivo


conhecer redes sociais e orientação de sociabilidade da comunidade
conscienciológica.
394

Sociabilidade é entendida como sinônimo de redes de relacionamento social


cotidiano.66 O que se pretendia saber era com quem se relacionam correntemente
os voluntários migrantes e em que medida essas relações decorrem dentro das
fronteiras da própria comunidade ou envolvem, também de modo regular, não
voluntários da Conscienciologia. A ideia é que quanto mais as sociabilidades forem
orientadas para dentro, a tendência é haver maior senso comunitário, por um lado, e
maior tendência ao fechadismo por outro lado, ao passo que a existência de redes
de sociabilidade extracomunitárias fortes, promoveria, nesse sentido, maior
integração com a sociedade iguaçuense.
Existem vários critérios para qualificar a sociabilidade cotidiana e as redes
sociais. Quer dizer, existem sociabilidades formais, do tipo associativo (institucional),
e as informais, ou ainda as organizadas e as espontâneas; as mais intensas das
mais superficiais; as coletivas e as interpessoais.67
Há também as variáveis que influenciam diretamente a estruturação das redes
de sociabilidade, tais como as de composição social, por exemplo o gênero, a idade,
a classe ou a trajetória social, e as de atributos dos contextos socioespaciais. De
acordo com Machado68, quanto às últimas, sabe-se, por exemplo, “que o grau de
urbanização, e consequente alteração do tipo habitacional predominante, varia de
forma inversamente proporcional com a intensidade das relações de vizinhança.”
Sobre as primeiras, quanto às variáveis de composição social, classifica-se em
3 idades de sociabilidade dos adultos: com os amigos sendo privilegiados na
juventude, os colegas de profissão na maturidade e os laços familiares na velhice.
Também se sabe da preferência das mulheres para as relações familiares e de
vizinhança e dos homens para as relações de amizade e associativas. Ou ainda, da
orientação classista da sociabilidade, “é tanto mais rica em termos de
cumulatividade, quanto mais elevado o estatuto social” (“quem mais visita os amigos
em casa é quem tem trocas mais prováveis com os vizinhos, mais sai com os
colegas e mais pertence a associações”).69
No caso em análise, da orientação da sociabilidade da comunidade
conscienciológica, não foi possível investigar toda essa variedade de aspectos já

66
MACHADO, Fernando Luís. Contrastes e continuidades: migração, etnicidade e integração dos
guineenses em Portugal. Oeiras, Portugal: Celta Editora, 2002, p. 219.
67
MACHADO, 2002, p. 219.
68
MACHADO, 2002, p. 220.
69
MACHADO, 2002, p. 220.
395

estudados nas redes de relacionamento social. Desse modo, priorizou-se cruzar a


composição da sociabilidade dos migrantes, ou seja, relações entre si
(intracomunitária) e relações externas (extracomunitária), com 4 tipos de
relacionamento sociais: os familiares (nesta seção 4, foi priorizado o cônjuge), as
amizades, os vizinhos e os colegas profissionais.

6.2.7.1 Família: transformações e múltiplos entendimentos

Contabilizando as opções de casamento com registro e de união estável, a


conjugalidade hoje é de 70,3% dos conscienciólogos. Comparando com a situação
conjugal no momento da migração, era de 61,7%, considerando-se as 3 condições
(cônjuge veio junto ou veio antes ou veio depois) somadas. Isso significa que houve
um aumento de uniões entre o momento da migração e a data do inquérito (2018).
O resultado encontrado na tabela 44 sobre o cônjuge ser voluntário está
coerente com a tabela 29, apresentada no capítulo 5, sobre o grau de parentesco do
parente que migrou, cujo resultado com maior frequência foi o cônjuge, seguido
pelos parentes femininos: a mãe, a filha e a irmã.
O fato de o cônjuge também ser voluntário sugere a aplicação da técnica da
dupla evolutiva pela Conscienciologia. Waldo Vieira propôs essa técnica em 1970,
porém a sua sistematização ocorreu na publicação do “Manual da Dupla Evolutiva”,
em 1997.70
Segundo a definição de Vieira, conforme já visto em nota de rodapé do
subtópico 2.3.2 Expansão das atividades docentes, a dupla evolutiva é a reunião de
duas consciências, “intrafísicas, afins, maduras e lúcidas, que interagem
positivamente objetivando a potencialização planificada de suas performances
evolutivas, através do convívio produtivo, integral, multímodo e constante.” Em
síntese, seria uma técnica visando a “evolução intercooperativa a dois.” 71
Segundo Vieira, “a dupla evolutiva compõe a família de dois, a família do futuro
ou a família da modernidade.” Essa ideia de Vieira está em convergência com o que
será visto na discussão adiante sobre os filhos. Sabe-se também que há uma
tendência ainda incipiente, mas crescente, para o arranjo familiar de casais sem

70
VIEIRA, Waldo. Manual da Dupla Evolutiva. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia
e Conscienciologia, 1997a, p. 14.
71
VIEIRA, 1997a, p. 11.
396

filhos no âmbito nacional. O número de casais que optam por não ter filhos tem
crescido, contudo essa condição tem “se tornado um fenômeno social importante,
não tanto pela quantidade, mas sim por suas características paradigmáticas.”72 Tal
fato sugere um mesmo fenômeno (casais sem filhos) com explicações e
pressupostos diversos (no nível nacional e no nível da comunidade
conscienciológica), conforme veremos.
Sobre a questão dos filhos, vale a pena retomar os resultados apresentados no
capítulo 5. Observou-se que o agregado doméstico dos conscienciólogos se
constitui preponderantemente de casais sem filhos, enquanto que os dos
iguaçuenses, de casais com filhos.
Também foi feito o alerta de que o fato do agregado doméstico dos
conscienciólogos ter apresentado o dado de praticamente metade deles serem de
casais sem filhos, isso não significava que o casal não tivesse filhos, pois poderiam
não morar com o casal. E foi dado o exemplo dos casos de dois dos nossos
entrevistados, o Moacir e o Domingos, que possuem filhos do primeiro casamento,
que não migraram com eles para Foz do Iguaçu.
Os resultados sobre o “Convívio” apresentados neste capítulo, nas tabelas 45 e
46, identificaram que a maioria dos conscienciólogos não tem filhos e que dentre os
que têm, a maioria dos filhos não é moradora de Foz do Iguaçu.
Assim, esses dados explicam o resultado sobre o agregado doméstico dos
conscienciólogos ser na maioria formado de casais sem filhos, divulgado no capítulo
5.
Essa discussão sobre os filhos remete ao conceito de família. Pela Sociologia,
a família pode ser definida pela existência de vínculos de consaguinidade, adoção
ou casamento entre as pessoas. No entanto, para o IBGE, para fins de investigação,
a família é compreendida principalmente como um grupo cuja definição está limitada
pela condição de residência em um mesmo domicílio, existindo ou não esses laços
entre seus membros.73
O termo família usado pelo IBGE compreende também arranjos familiares onde
existam laços de consanguinidade, dependência econômica e/ou residência em um

72
ALVES, J. E.; CAVENAGHI, S. M.; BARROS, L. F. W. A família DINC no Brasil: algumas
características sociodemográficas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010, p. 7.
73
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira
2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2007, p. 84. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9221-sintese-de-indicadores-
sociais.html?=&t=downloads. Acesso em: nov. 2019.
397

mesmo domicílio, e também, grupos distintos de pessoas que habitam o mesmo


domicílio. O IBGE considera “família”, as pessoas que moram sós (famílias
unipessoais), os grupos de até 5 pessoas que vivem sob o mesmo teto mesmo sem
vínculo de parentesco (famílias sem parentesco) e os grupos que abrangem as
famílias com parentesco.74
Ampliando para o nível nacional, nos dados da Síntese dos Indicadores Sociais
de 2007, do IBGE, referentes ao Brasil, as famílias com filhos ainda predominavam
na sociedade brasileira: 67,6% eram compostas de pai ou mãe e filhos. Contudo,
esse arranjo familiar vem diminuindo: em 1996, o percentual era de 73,3%.75
Os indicadores de 2007, nas áreas urbanas e, principalmente metropolitanas,
apontavam também para tendência da família do tipo monoparental (somente o pai
ou somente a mãe). Outro aspecto que vem crescendo é o arranjo familiar com
liderança feminina, mesmo com a presença do cônjuge.76
Os indicadores sociais de 2014 apontaram para mudanças no interior dos
arranjos familiares do tipo casal, com aumento da proporção de mulheres como
pessoa de referência destas famílias entre 2004 e 2013. No caso de núcleos de
casais sem filhos, a proporção de mulheres como pessoa de referência aumentou de
6,6% (2004) para 19,4% (2013), e no de casais com filhos, de 5,1% (2004) para
20,3% (2013). Nos arranjos monoparentais com filhos, as proporções mantiveram-se
estáveis, 89,3% (2004) e 88,3% (2013).77
Comparando os dados de 2006 com os dados de 2013 do IBGE, as tendências
foram as seguintes: pessoa só ou unipessoal vem aumentando, de 10,7% (2006)
para 13,5% (2013); casal sem filhos também vem aumentando, de 15,6% (2006)
para 19,4% (2013); casal com filhos vem diminuindo, de 49,4% (2006) para 43,9%
(2013); mulher sem cônjuge com filhos diminuiu, de 18,1% (2006) para 16,5%
(2013); outros tipos com parentesco vem crescendo de 6,0% (2006) para 6,3%

74
IBGE, 2007, p. 84.
75
IANNARELLI, Thais. Novo conceito familiar: maior atuação feminina e aumento na expectativa de
vida transformaram o modelo de família. Guia mundial de estatísticas, São Paulo, ano 1, n. 1, p. 97,
2008, p. 96.
76
IANNARELLI, 2008, p. 96.
77
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira
2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2014, p. 73. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9221-sintese-de-indicadores-
sociais.html?=&t=downloads. Acesso em: nov. 2019.
398

(2013); e por fim, outros tipos sem parentesco manteve-se o mesmo percentual de
0,3% em 2006 e 2013.78
De acordo com IBGE, uma análise mais detalhada dos arranjos familiares
formados por casais sem filhos revela o peso significativo de uma parcela específica
deste grupo, os chamados Casais DINC79, cuja característica principal é ambos os
cônjuges receberem rendimentos. Em 2013, a participação dos casais DINC no total
de casais sem filhos era de 19,9%. A Região Sudeste obteve a maior proporção de
casais DINC em 2013 (23,2%) e a Região Sul foi de 20,4%. Para o IBGE, tal
realidade é resultado de maior incidência de fatores, como por exemplo: a maior
participação das mulheres no mercado de trabalho, a postergação da maternidade, a
redução das taxas de fecundidade e o aumento da escolaridade.80
No caso do IBGE, existem duas dificuldades para se definir os casais DINC: 1)
não se tem certeza se estes casais especificados na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD), com o seguinte critério: domicílios particulares permanentes
ocupados com 2 pessoas adultas, um chefe e um cônjuge, nenhum outro parente e
que a mulher nunca teve filho, irão caminhar ao longo do ciclo da vida, para terem
filhos e deixarão de fazer parte da família DINC; 2) como não existe a pergunta
sobre filhos tidos dos homens na PNAD, não há certeza se o marido do casal DINC
teve ou não filho.81
Comparando os percentuais da comunidade conscienciológica com os dados
nacionais de 2013, e não mais municipais, como viemos fazendo até então, o
principal arranjo familiar é de casal sem filhos, que por sua vez ocupa o segundo
lugar percentual no nível nacional. E na mesma tendência, o segundo tipo de arranjo
familiar entre os conscienciólogos é o da pessoa só, o qual ocupa o quarto lugar nas
famílias brasileiras.
Não foi feita a investigação de casais DINC entre os casais de
conscienciólogos sem filhos. Não é possível saber se o total de casais sem filhos

78
IBGE, 2007, p. 85; IBGE, 2014, p. 68.
79
DINC é acrônimo da expressão double income and no children. Nas referências em português
ainda não foi estabelecido um acrônimo. Em geral, é traduzido por duplo ingresso e nenhuma criança.
Sobre tal fenômeno, consultar a publicação: ALVES, J. E.; CAVENAGHI, S. M.; BARROS, L. F. W. A
família DINC no Brasil: algumas características sociodemográficas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. 34 p.
Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv49328.pdf>. Acesso em: 05 jan.
2020.
80
IBGE, 2014, p. 73-74.
81
ALVES, J. E.; CAVENAGHI, S. M.; BARROS, L. F. W. A família DINC no Brasil: algumas
características sociodemográficas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010, p. 7.
399

entre os conscienciólogos são casais DINC ou não. Conforme já citado, há casais


sem filhos, cujo homem teve filhos fruto de uma primeira união, e após a separação,
vive hoje em uma união sem filhos.
De qualquer modo, a realidade dos conscienciólogos é de uma maioria de
casais sem filhos. Aqui parece se encontrar um indício de um entendimento sobre o
conceito de família e sua relação com o de comunidade diferente dos estabelecidos
classicamente na Sociologia. Essa compreensão diferenciada de família está
convergente com a tendência contemporânea de novos arranjos familiares,
conforme visto.
Mecanismo semelhante com temas diferentes ocorreu em estudos micro-
históricos. Ginzburg82 encontrou eco entre o seu protagonista Menocchio e as altas
esferas culturais da sociedade italiana do século XVI no que se refere a “tendência
de reduzir a religião a uma realidade puramente mundana – a um vínculo moral ou
político. Essa tendência era expressa por diferentes linguagens, partindo de
pressupostos diversos.” No caso em estudo, não se trata do tema da religião, mas
da concepção de família. De modo semelhante, parece despontar uma tendência
geral nos dias atuais para novos arranjos familiares expressos de diferentes modos
e com pressupostos diversos também.
Talvez seja possível perceber uma convergência entre os arranjos familiares
nacionais e mesmo internacionais (por exemplo, com a tendência a diminuir a
quantidade de filhos ou mesmo a opção por não tê-los em países europeus83) com o
caso em estudo, da comunidade conscienciológica.
No âmbito internacional, a queda nas taxas de fecundidade não se restringe
aos países europeus. Elas reduziram pela metade no mundo, passando de pouco
menos do que 6 filhos por mulher, em 1900, para cerca de 2,8 filhos, em 2000.84
Em 3 níveis, internacional, nacional e no minúsculo mundo da comunidade
conscienciológica, há uma tendência de queda da taxa de fecundidade; e ao mesmo

82
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. 10. reimp. São Paulo: companhia das Letras, 2015,
p. 82.
83
Os indicadores de fecundidade da Alemanha em 1970 era 2,03 filhos em média por mulher e em
2009 era 1,3. Na Áustria, em 1970 era 2,29 e em 2009 era 1,4. Em Portugal, em 1970 era 3,01 e em
2009 era 1,3, e assim sucessivamente em pelo menos 15 países europeus. Sobre a opção de não tê-
los, por exemplo, “na França, quase 1/3 das mulheres que não tiveram filhos dizem ter feito uma
escolha deliberada” (BADINTER, Elisabeth. O conflito: a mulher e a mãe. Tradução de Vera Lúcia dos
Reis. Rio de Janeiro: Record, 2011, p. 28 e 152).
84
ALVES; CAVENAGHI; BARROS, 2010, p. 10.
400

tempo, no nível nacional e da comunidade em estudo, há uma tendência de


aumento do arranjo familiar formado por casais sem filhos.
Essa tendência tem relação com causas econômicas, sociais, culturais. O
desenvolvimento econômico afetou a dinâmica populacional. Segundo Badinter 85,
“crises econômicas” que ora se intensificam ora se minimizam, geram efeitos como o
desemprego e possuem reflexo nas relações salariais distintas entre homens e
mulheres. A “crise igualitária” que se mede por essa desigualdade salarial entre
gêneros tem relação com a desigual repartição de tarefas familiares e domésticas.
Em geral, as tarefas familiares e domésticas recaem predominantemente sobre os
ombros femininos.
Além desse contexto, existe a “crise identitária”, que atinge vários níveis. Para
mencionar somente uma dimensão, Badinter 86 questiona o seguinte: a partir do
momento que homens e mulheres podem assumir as mesmas funções e exercer os
mesmos papeis, nas esferas públicas e privadas, qual a diferença entre eles? Isso
gera uma série de implicações sócio-culturais.
Alves, Cavenagui e Barros87 resumem as transformações sobre o conceito de
família assim: o modelo de “família normal” integrada e formada por um “pai
provedor, uma mãe dona de casa e seus filhos, como garantia intergeracional do
futuro e da reprodução contínua do mesmo tipo de célula familiar, não corresponde
ao tipo predominante de arranjo doméstico contemporâneo existente no Brasil e em
outras partes do mundo.” Contudo, tipos tradicionais de família são encontrados,
porém, a família, em geral, “não é nem homogênea e nem harmonicamente
integrada como sugerem as descrições de alguns tipos ideais, que não levam em
consideração o contexto de desigualdades sociais existentes em um mundo
globalizado.”
Historicamente, a estrutura familiar foi dominada pelo poder patriarcal, do
marido e/ou do pai, enfim, do cônjuge homem. Porém, no século XX, houve uma
transformação nesse patriarcado; nas vicissitudes do casamento e da parceria
sexual extramarital; e na fecundidade humana. De acordo com Alves, Cavenaghi e
Barros88, tais condições levaram no século XXI, a que o patriarcado deixasse de ser

85
BADINTER, Elisabeth. O conflito: a mulher e a mãe. Tradução de Vera Lucia dos Reis. Rio de
Janeiro: Record, 2011, p. 10-11.
86
BADINTER, 2011, p. 11-12.
87
ALVES; CAVENAGHI; BARROS, 2010, p. 8.
88
ALVES; CAVENAGHI; BARROS, 2010, p. 8.
401

a norma no mundo a partir de Tratados e Convenções da Organização das Nações


Unidas (ONU) que combate as discriminações contra as mulheres; o fim da
“padronização industrial” da ordem sociosexual e a manifestação de uma
complexidade da dinâmica familiar: “casamento e não-casamento, idades variáveis
ao casar, coabitação, uniões informais, temporárias”, entre outros; e o declínio da
fecundidade.”
A transformação da padronização familiar foi marcada por diversos processos:
a urbanização, o assalariamento, escolarização, inserção feminina no mercado de
trabalho, os avanços tecnológicos no campo da regulação da fecundidade (pílula
anticoncepcional, DIU e outros) e as mudanças de caráter jurídico, ou seja, fim da
supremacia do pai e marido, equivalência entre casamento e concubinagem e entre
filhos legítimos e ilegítimos.89
A antropóloga Andréa de Souza Lobo também advoga por um entendimento de
família distante das concepções clássicas. Nos estudos contemporâneos, o conceito
de família vai “se aproximando da ideia de um feixe de relações como práticas
significativas que constituem o sentido de pessoas e de grupos, relações essas
baseadas em noções de proximidade e intersubjetividade.” Lobo explica que essas
relações são construídas, “não podendo ser definidas por a priores biológicos ou
sociais.”90
Assim, conforme Ginzburg descobriu a partir do mundo micro de Menocchio,
uma tendência “expressa por diferentes linguagens, partindo de pressupostos
diversos”; a concepção diferenciada de família na comunidade conscienciológica
encontra ressonância em contextos mais amplos com pressupostos diferentes. De
acordo com Badinter 91 , entre 1980 e 2010, “quase sem que percebêssemos,
aconteceu uma revolução em nossa concepção da maternidade. Nenhum debate,
nenhum estardalhaço acompanhou essa revolução.”
O fenômeno childless já mencionado anteriormente no capítulo 4, no subtópico
4.2.5 Carta Aberta à População de Foz do Iguaçu, parece guardar relação com o
individualismo próprio de nosso tempo.92 Também já foi identificada em pesquisas a
relação entre “a porcentagem de mulheres voluntariamente childless estar

89
ALVES; CAVENAGHI; BARROS, 2010, p. 9.
90
LOBO, Andréa de Souza. Família. In: CAVALCANTI, Leonardo et al. (Orgs.). Dicionário crítico de
migrações internacionais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2017, p. 316.
91
BADINTER, 2011, p. 9.
92
BADINTER, 2011, p. 164.
402

diretamente ligada a seus diplomas e títulos universitários”. Quer dizer, “quanto mais
importantes forem estes, mais interessante é seu trabalho e mais elas preferem não
ter filhos.” E também se descobriu que as mulheres childless trabalham em maior
número e com frequência ocupam postos de destaque como executivas ou diretoras
mais do que as mães.93
No caso da comunidade conscienciológica, não foram encontradas pesquisas
sobre a escolha por não ter filhos. No entanto, tem-se conhecimento que a opção de
não ter filhos faz parte da técnica de vida chamada “inversão existencial” (invéxis),
aplicada por Waldo Vieira e comentada no capítulo 2. Tal técnica supõe-se ser
aplicada ao menos por uma parcela dos voluntários notadamente pelo fato de existir
uma instituição voltada à divulgação, ensino e pesquisa dessa técnica. Essa técnica
propõe que a pessoa ou o casal que aplique a inversão existencial priorize seu
tempo em trabalho voluntário, realizando a tarefa do esclarecimento, aulas e
publicações que esclareçam as pessoas da realidade mais integral da consciência
humana.
Assim, e aqui estamos no âmbito da especulação, ao contrário da relação da
mulher childless com o individualismo, no caso das mulheres da comunidade
conscienciológica, pelo fato de serem voluntárias (não receberem remuneração) e
dedicarem seu tempo em aulas, escritos e na administração de instituições, se
supõe que tenham um senso maior de coletivismo. Paradoxalmente parecem querer
mais liberdade para poderem se dedicar mais aos outros.
Por outro lado, também se supõe que a opção por não ter filhos tenha relação
com o alto nível de escolaridade assim como no fenômeno childless.
No entanto, a concepção de família na comunidade conscienciológica possui
um sentido mais alargado do que a formação de casais sem filhos, dedicados ao
trabalho voluntário. Retomando o indício citado no capítulo 2 no subtópico “2.4.6.5
Série fotográfica”, foi mencionada a compreensão do convívio entre os voluntários
como uma família, a qual Waldo Vieira chamava de “família consciencial”.
No seu penúltimo livro publicado, o “Dicionário de Argumentos da
Conscienciologia” (DAC), em 2014, Vieira94 cita que a família consciencial seria “o
intercâmbio social da Comunidade Conscienciológica Cosmoética Internacional

93
BADINTER, 2011, p. 181.
94
VIEIRA, Waldo. Dicionário de Argumentos da Conscienciologia. Foz do Iguaçu: Editares, 2014, p.
519.
403

(CCCI)”, sendo que nela, é onde “podemos encontrar os melhores exemplos para
servir de modelos”. Outras sentenças sobre o tema: “A Genética estrutura os laços
da família nuclear. A amizade estrutura os laços da família consciencial.”95 E ainda,
em outro trecho, Vieira menciona o “nosso voluntariado conscienciológico, ou família
consciencial”.96
Nesses aforismos de Vieira estão alguns indícios do que seria a família
consciencial: a comunidade em si estruturada pelas amizades e pelo voluntariado.
Esse entendimento evoca a concepção de comunidade tradicional como Ferdinand
Tönnies propôs no século XIX, pois Tönnies 97 propunha a possibilidade de
surgimento de uma comunidade pela aproximação espacial (habitat em comum;
vizinhança; amizade) e também pela aproximação espiritual (compartilhamento de
ideias). Esta última abordagem se aproxima da ideia do voluntariado
conscienciológico no sentido de compartilhar ideias.
Assim, a comunidade conscienciológica parece trazer alguns elementos da
comunidade tradicional, estruturada na base da amizade e das ideias, no sentido de
evocar a noção de fraternidade interpares.
Por outro lado, como foi visto anteriormente no subtópico “6.1.2.1 Discussão
sobre o Voluntariado IV: voluntariado institucional”, a comunidade conscienciológica
possui elementos da comunidade reflexiva de Scott Lash. Ao contrário da família, na
comunidade reflexiva a pessoa não nasce nela, mas se inclui nela. Em segundo
lugar, a comunidade coloca para si mesma o problema da sua criação, conforme foi
evidenciado no capítulo 3 (o surgimento do CEAEC a partir de um grupo de
pesquisa de voluntários do IIPC). Assim como se preocupa com sua constante
reinvenção, muito mais que as comunidades tradicionais, como se pode observar
pelas práticas culturais da comunidade conscienciológica focadas nas vivências, nas
reflexões e nos debates. Em uma terceira perspectiva, seus produtos e
“instrumentos” tendem a não ser materiais como eram os produtos artesanais das
guildas ou os produtos comerciais das comunas medievais, porém abstratos e
culturais, conforme visto no tópico das práticas culturais.

6.2.7.2 Conversa de Vieira com Jung mediada por Ginzburg

95
VIEIRA, 2014, p. 946.
96
VIEIRA, 2014, p.1.230.
97
TÖNNIES, Ferdinand. Community & Society (Gemeinschaft und Gesellschaft). Tradução de
Charles P. Loomis. New York: Harper Torchbooks, 1963, p. 42.
404

Essa discussão pode ser enriquecida pela abordagem do psiquiatra Carl G.


Jung (1875–1961) a respeito do processo de individuação, que significa auto-
experiência e auto-realização, integrando aspectos conscientes e inconscientes. De
acordo com a sua colaboradora Marie-Louise von Franz98, “a conscientização do self
pode criar um vínculo entre pessoas que não participam habitualmente de grupos
mais comuns e naturais, como a família. Este parentesco espiritual consciente pode,
muitas vezes, ser um núcleo de desenvolvimento cultural”. Ela cita como exemplo,
os enciclopedistas franceses no século XVIII. Segundo esta autora, através de “elos
inconscientes, aqueles que foram feitos uns para os outros acabam por encontrar-
se”.99
Interessante observar que um elemento de união da comunidade
conscienciológica é a elaboração da “Enciclopédia da Conscienciologia”, organizada
por Waldo Vieira, o qual escreveu em torno de 2.000 verbetes. Após certo período,
ele convidou os voluntários interessados em se incluir nessa obra intelectual,
redigindo verbetes sobre os temas de pesquisas pessoais e os defendendo nas
tertúlias online diárias.100
O processo de individuação proposto por Jung implica em levar os sonhos
pessoais a sério, uma vez que eles constituem um meio, uma pista de acesso ao
101
inconsciente . Para Jung, o inconsciente possibilita a comunicação de
sincronicidades, de sonhos premonitórios e pressentimentos.102
Jung teve como ponto de partida os estudos de Sigmund Freud (1856–1939),
mas tornou-se dissidente por considerar outros elementos, dentre eles as
percepções extrassensoriais comprovadas pelo parapsicólogo Joseph B. Rhine, da
Universidade de Duke, nos Estados Unidos da América.103

98
FRANZ, Marie-Louise von. O processo de individuação. In: JUNG, Carl G. et al. O Homem e seus
símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinto. 14. imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964, p. 220.
99
FRANZ, 1964, p. 221.
100
O tema da Enciclopédia da Conscienciologia foi abordado anteriormente no capítulo 3, nos
subtópicos 3.3.2 Tertúlias conscienciológicas e 3.4.4 Lugares de memória; no capítulo 4, no subtópico
4.1.3 Publicação do Homo sapiens reurbanisatus; e capítulo 5, no subtópico 5.2.4.1.5 Discussão da
caracterização da migração conscienciológica.
101
SAMUELS, Andrew; SHORTER, Bani; & PLAUT, Fred. Dicionário crítico de análise junguiana.
Tradução de Pedro Ratis e Silva. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1988, p. 110.
102
JUNG, Carl G. Memórias, sonhos, reflexões. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 3. Ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1963, p. 262.
103
JUNG, 1963, p. 264.
405

Ginzburg, ao sistematizar as raízes de um paradigma indiciário, citou os


métodos do psicanalista Sigmund Freud, do analista de quadros antigos Giovanni
Morelli (1816–1891) e do detetive policial Sherlock Holmes – personagem literário
criado pelo escritor Arthur Conan Doyle (1859–1930). A essência do método é se
deter em indícios imperceptíveis para a maioria a fim de esclarecer o caso em
análise. O que os 3 tem em comum? Freud, Morelli e Conan Doyle eram médicos.
Assim, nos três casos, “entrevê-se o modelo de semiótica médica: a disciplina que
permite diagnosticar as doenças inacessíveis à observação direta na base de
sintomas superficiais, às vezes irrelevantes aos olhos do leigo”.
Por meio dos indícios e sintomas descobertos por Jung, especialmente pelos
sonhos, é possível compreender melhor as vivências que unem os conscienciólogos
em torno de uma comunidade. Nas palavras de Jung: “não foram meus próprios
sonhos mas, ocasionalmente os de outras pessoas que, revisando ou confirmando
os meus, deram forma às minhas concepções a respeito de uma sobrevida.”104
Vamos trazer um exemplo de sonho de Jung e um sonho de uma de suas
alunas a fim de ilustrar um dos tipos de vivências que as pessoas que chegam na
comunidade conscienciológica costumam relatar e/ou se interessar.
Na obra “Memórias, sonhos e reflexões”, Jung relata: “alguns meses antes da
morte de minha mãe, em setembro de 1922, tive um sonho que me anunciava isso.”
Sonhou com seu pai, que não lhe aparecera em sonho desde sua morte em 1896.
Parecia rejuvenescido e não manifestava autoridade paterna. O sonho ocorreu na
biblioteca da casa de Jung, ocasião que Jung lhe falou de sua esposa, filhos e de
seus livros. No entanto, seu pai parecia preocupado. Seu pai disse-lhe que por ele
ser psicólogo, gostaria de consultar-se sobre a psicologia do casamento. Jung assim
o fez. Porém, Jung relata que “não pude compreender o sonho como deveria, pois
não tive ideia de que era preciso liga-lo à morte da minha mãe. Só o compreendi
quando ela morreu subitamente em janeiro de 1923.”105
Jung relatou que o casamento dos pais não havia sido uma união feliz. Ambos
haviam cometido erros comuns a casais. De acordo com Jung, depois de 26 anos,
seu pai voltou para se atualizar sobre as dificuldades do matrimômio, “pois chegara
para ele o tempo de retomar o problema.”106

104
JUNG, 1963, p. 265.
105
JUNG, 1963, p. 273.
106
JUNG, 1963, p. 273.
406

A partir dessa vivência, Jung discute o tema da reencarnação nas páginas


seguintes do seu livro. E relaciona esse conceito, conforme entendido pelos hindus,
com a ideia do carma. Ele toma o seguinte posicionamento: “a partir dessa
experiência, observo com maior boa vontade o problema da reencarnação, sem, no
entanto, defender com segurança uma opinião precisa.”107
Jung ainda menciona que, se “admitirmos que há uma continuação no ‘além’,
só podemos conceber um modo de existência que seja psíquica, pois a vida da
psique não tem necessidade de espaço ou tempo.” Desse modo, “a psique poderia
ser essa existência na qual se situa o ‘além’ ou o ‘país dos mortos’. Inconsciente e
‘país dos mortos’ seriam, nessa perspectiva, sinônimos.”108
Tais abordagens de Jung são pertinentes para entender as ideias da
Conscienciologia e o tipo de vivências que conecta os conscienciólogos. Esse relato
de Jung se passou praticamente há um século, mas se encontra atual nos estudos
da Conscienciologia. Talvez utilizar o sonho de Jung com seu pai para dar-lhe uma
interpretação conscienciológica, torne mais claro o paradigma consciencial e as
ideias da Conscienciologia que unem a comunidade.
Pela Conscienciologia, o sonho premonitório de Jung com seu pai é entendido
como uma provável vivência projetiva, ou seja, uma experiência fora do corpo. Um
sonho é algo imaginativo, onírico e fantasioso enquanto que a experiência fora do
corpo é algo real. Nessa perspectiva, Jung estaria projetado, se manifestando, com
seu “segundo corpo” mais sutil. Seu pai, por já estar morto não possuía um corpo
biológico. O pai se manifestava então, com esse segundo corpo sutil. Para a
Conscienciologia, a vida continua após a morte do corpo biológico, a consciência
não morre.
Essa vivência de Jung consegue exemplificar os conceitos-chave do
paradigma consciencial109: o fato de a consciência possuir vários corpos ou “veículos
de manifestação” (holossoma); o fato de a consciência não morrer (somente o corpo
biológico morre); o fato de existirem múltiplas dimensões ou universos paralelos de
manifestação (multidimensionalidade) de acordo com o “veículo de manifestação” e
o estado de lucidez da consciência; o fato de a experiência fora do corpo ser um dos
fenômenos psíquicos ou parapsíquicos mais poderosos no sentido de

107
JUNG, 1963, p. 277.
108
JUNG, 1963, p. 277.
109
VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de
Projeciologia, 1994, p. 87 e 90.
407

autocomprovação da realidade imaterial e consciencial em contraponto à realidade


material e somática e finalmente; de que ninguém perde ninguém.
O segundo exemplo é o sonho da aluna de Jung que também é capaz de
fornecer elementos elucidativos acerca do paradigma consciencial. Na ocasião, ela
estava com aproximadamente sessenta anos de idade e o sonho ocorrera uns dois
meses antes dela morrer.

Ela chegava ao além; numa sala de aula, nos primeiros bancos,


estavam sentadas várias de suas amigas falecidas. Uma atmosfera
de expectativa geral reinava no ambiente. Olhou em torno,
procurando um mestre ou um conferencista, mas não encontrou
ninguém. Fizeram-na compreender que o conferencista era ela
própria, porque todos os mortos deviam, imediatamente depois do
falecimento, apresentar um relatório da soma de experiências por
que passaram em vida. Os mortos se interessavam
extraordinariamente pelas experiências da vida que os defuntos
traziam, como se os fatos e os atos da vida terrestre fossem
acontecimentos decisivos.110

O sonho se passou em um “auditório muito singular, impossível de ser


encontrado na Terra”. E “as pessoas se interessavam ardentemente pelo resultado
final, psicológico, de uma vida humana que, segundo nossa maneira de pensar,
nada tem de notável.”111
Tal experiência “onírica” da aluna de Jung interpretada pela ótica da
Conscienciologia sugere o seguinte: a aluna estaria tendo uma precognição da
morte ou desativação do seu corpo biológico a fim de a preparar para tal evento e o
que ela chamou de sonho seria, na verdade, uma experiência real, uma experiência
fora do corpo, na qual poderia estar acessando os chamados “cursos intermissivos”.
Segundo Vieira112, estes seriam o “conjunto de disciplinas ensinadas de acordo com
programas traçados em série de aulas, adaptados a diferentes níveis de alunos da
Materiologia ou Intrafisicalidade, durante os períodos de intermissão”. A intermissão
é o intervalo extrafísico (ou não-físico) entre duas vidas intrafísicas (ou materiais) e
consecutivas da mesma consciência ou pessoa.

110
JUNG, 1963, p. 265.
111
JUNG, 1963, p. 265.
112
VIEIRA, 1994, p. 604.
408

Sob a ótica de Vieira113, “existe uma intermissão antes de assumirmos o corpo


humano novo e outra intermissão depois que deixamos o corpo humano usado.” Na
intermissão não utilizamos o corpo humano. Vivemos em “um plano não-físico ou
dimensão extrafísica, em um corpo mais sutil.”
Desse modo, observa-se que tanto a psicologia junguiana quanto a abordagem
conscienciológica interessam-se pelos sonhos, valorizam a vida psíquica da
consciência humana. Porém, a primeira visa acessar o inconsciente pessoal,
entendido como memórias perdidas, ideias dolorosas reprimidas e percepções
subliminares, enquanto que a segunda objetiva por meio do estudo dos sonhos,
discernir o que é de fato onírico, no sentido de “válvula de escape” psicológico e
neurológico (“faxina sináptica”), do caráter realista e parapsíquico das experiências
fora do corpo.
Jung e Vieira eram médicos e trabalharam na perspectiva de um paradigma
semiótico, porém cada um ao seu modo, tendo como base as vivências próprias e
de outras pessoas.
De acordo com Vieira114, os “cursos intermissivos” anteriores à presente vida
atuaram “como ponto de partida comum aos componentes da CCCI.” Para Vieira115,
a premissa da criação da Cognópolis e da comunidade conscienciológica foi o curso
intermissivo. Se essa hipótese conscienciológica estiver correta, tais afirmações
sugerem um indício de que o que atrai e fixa as pessoas para os estudos da
Conscienciologia tenha íntima relação com as reminiscências dessas vivências
intermissivas e quem sabe seja a raiz mnemônica de suas motivações em serem
voluntárias e viverem em comunidade.
Seja como for, os conscienciólogos têm como propósito compartilhado estudar
o sentido da vida, ou seja, como tornar a vida mais produtiva do ponto de vista
evolutivo e isso envolve experienciar as capacidades humanas a partir do
parapsiquismo, ou seja, além dos sentidos básicos biológicos. De acordo com Marie-
Louise von Franz116, colaboradora de Jung, “encontrar o sentido profundo da vida é

113
VIEIRA, Waldo. Nossa evolução. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia, 1996, p.
12.
114
VIEIRA, Waldo. Enciclopédia da Conscienciologia. 3. Ed. Foz do Iguaçu: Editares, 2007, p. 813. 2
tomos.
115
VIEIRA, Waldo. Dicionário de Argumentos da Conscienciologia. Foz do Iguaçu: Editares, 2014, p.
719.
116
FRANZ, 1964, p. 224.
409

mais importante para um indivíduo do que tudo o mais, e é por este motivo que o
processo de individuação deve ter prioridade.”
O convívio estreito dos conscienciólogos nos vários círculos sociais: da família,
da amizade, dos vizinhos e dos colegas profissionais, reforçam os laços
comunitários dos conscienciólogos. E essa interseção de sociabilidades pode ser
elucidada nessa fala de Marie-Louise von Franz117: “quando um indivíduo dedica-se
à individuação, ele frequentemente tem um efeito contagiante sobre as pessoas que
o rodeiam. É como se uma centelha saltasse de um a outro.” Tal efeito em geral
“ocorre quando não se tem a intenção de influenciar ninguém e quando muitas
vezes não se empregam palavras.”

6.2.7.3 Amizades, vizinhança e colegas profissionais

Os resultados das tabelas 49 (amizades), 50 (vizinhança) e 51 (colega


profissional) sinalizaram que primeiro, as amizades dos migrantes são
predominantes no círculo social interno da comunidade conscienciológica em Foz do
Iguaçu. Segundo, os conscienciólogos, em sua grande maioria, residem próximos de
outros conscienciólogos. Mais uma vez, na vizinhança há um predomínio do círculo
social interno da comunidade conscienciológica. E, terceiro, no aspecto profissional,
de novo há um vínculo predominante entre os pares, apesar de não haver uma
relação tão forte quanto o resultado encontrado nas amizades e na vizinhança,
provavelmente porque ambas estão fundamentadas na escolha pessoal, enquanto
que o trabalho profissional não depende apenas de um interesse ou uma escolha.
Além disso, um percentual considerável (27,5% dos 360 respondentes) não está
exercendo profissão remunerada hoje.
A amizade é a mais eletiva das relações de sociabilidade. Retomando as
palavras de Vieira, “a amizade estrutura os laços da família consciencial.”118 E em
outra sentença, Vieira afirma que a família consciencial é composta pelo
voluntariado conscienciológico. As relações de amizade entre os conscienciólogos
parecem coincidir com as relações do trabalho voluntário.
Essa configuração remete ao entendimento de amizade de Aristóteles,
conforme comentada pelos pesquisadores Jonathan Barnes e Scott Lash. “Amigos

117
FRANZ, 1964, p. 224.
118
VIEIRA, 2014, p. 946, grifos do autor.
410

dão uma grande contribuição àquilo que torna a vida digna de ser vivida, e ninguém
escolheria viver sem amigos.”119 Assim, “uma boa vida humana tem de ser uma vida
em comunidade.” 120 A amizade como descrita por Aristóteles “se apoiava em
obrigações não apenas entre amigos, mas em relação à uma comunidade ampla, da
prática, de atividades compartilhadas com padrões e objetivos particulares.”121
Outro aspecto da amizade sob o ponto de vista de Aristóteles é que para ele
existem vários tipos de amizade. Porém, “quando temos uma profunda amizade do
melhor gênero, desejamos ao amigo o que desejamos para nós mesmos – vida,
saúde, felicidade e a satisfação de seus desejos.” 122 Nesse sentido, que o
“verdadeiro amigo é como um segundo eu”.123
Ainda segundo Aristóteles, “a melhor atividade humana é a percepção e o
conhecimento.”124 Uma vez que um bom amigo é como se fosse um segundo eu,
“quando se está com um amigo, se está, de certa maneira, percebendo a si
mesmo.” 125 Desse modo, o prazer da atividade é acrescido pelo prazer da
consciência. Nesse sentido, é que os amigos devem contemplar e celebrar em
comum, não somente os prazeres da comida, mas os prazeres da discussão e do
pensamento.126
Esse entendimento parece em consonância com as palavras de Marie-Louise
von Franz sobre o efeito contagiante de uns sobre os outros quando os indivíduos se
dedicam à individuação ou a auto-realização. As práticas culturais da comunidade
conscienciológica exercitam essa reflexão de pensamento e estimulam a discussão
pela troca de experiências entre os voluntários, predispondo a união.
A convergência de sociabilidade dos círculos sociais familiar, de amizade, de
vizinhança e de colegas profissionais é uma evidência do senso comunitário dos
conscienciólogos. No entanto, é necessário trazer 3 problematizações.
Primeira, quanto à vizinhança, coexistência espacial não implica em
sociabilidade. “A partilha de uma zona de residência não se traduz, de forma

119
BARNES, Jonathan. (Org.). Aristóteles. Tradução de Ricardo Hermann Ploch Machado.
Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2009, p. 293.
120
BARNES, 2009, p. 301.
121
LASH, 2012, p. 250.
122
BARNES, 2009, p. 295.
123
BARNES, 2009, p. 295.
124
BARNES, 2009, p. 296.
125
BARNES, 2009, p. 296.
126
BARNES, 2009, p. 297.
411

imediata e generalizada, em relações sociais efectivas entre os seus moradores.”127


A vizinhança permite manter uma espécie de “invisibilidade”, quer dizer, “não
estabelecer qualquer relação, para além do nível mínimo da troca ocasional de
saudações.”128
Conforme visto no decorrer dos capítulos, a territorialização da comunidade
conscienciológica ocorreu a partir dos vínculos formados pelo trabalho voluntário nas
instituições conscienciocêntricas para depois chegar nos laços de vizinhança. As
amizades podem ou não emergir dessa intersecção, o que suscitaria novas
pesquisas capazes de trazer luz a várias questões, tais como: os vizinhos do mesmo
condomínio ou do bairro se veem além dos momentos de troca de saudações? Vão
almoçar e/ou jantar uns na casa dos outros? Se ajudam em caso de necessidade?
Cuidam do animal doméstico do vizinho quando ele viaja?
Quanto ao coleguismo profissional, foi visto no capítulo 5, no subtópico “5.1.7
Discussão do perfil do migrante conscienciólogo”, que há uma predominância de
atuação profissional nas áreas da Educação e da Saúde pelos voluntários da
Conscienciologia, e tal evidência sinaliza uma tendência dos conscienciólogos em
valorizar a prática da assistência social, alinhada com a filosofia do trabalho
voluntário ou de cooperação com os outros. Isso pode colaborar para a aproximação
da convivência entre os conscienciólogos na condição de colegas profissionais.
Essa proximidade também não implica necessariamente em trabalhar juntos, mas
compartilhar o mesmo espaço profissional. Tal perspectiva da sociabilidade
profissional de conscienciólogos merecia também pesquisas especificas.
Enquanto a interseção dos 4 círculos sociais dos conscienciólogos sugere uma
coesão e senso comunitário, pode também passar uma imagem ou mesmo revelar
fechadismo. Iniciativas por parte da comunidade conscienciológica em quebrar essa
impressão foram vistas principalmente no capítulo 4. Por exemplo: as
comemorações dos eventos de uma década do CEAEC, o evento “Um Dia na
Cognópolis”, o exercício de cidadania em prol de viadutos em Foz do Iguaçu, a
assunção de cargos públicos especialmente na área da saúde, o estande e as
palestras públicas realizadas na fase inicial do shopping JL, além da oferta de
palestras gratuitas regularmente promovidas por algumas instituições
conscienciológicas no centro de Foz do Iguaçu.

127
MACHADO, 2002, p. 227.
128
MACHADO, 2002, p. 227.
412

6.2.7.4 Animais domésticos

A maioria dos conscienciólogos (61,9%) possuem animal doméstico. E o gato é


o pet mais popular na comunidade conscienciológica de Foz do Iguaçu, seguido pelo
cachorro (Tabelas 47 e 48). Esse dado pode parecer irrelevante, porém ilustra a
valorização que os migrantes voluntários dão para os princípios conscienciais ou
pré-humanos.
Esse valor dado no convívio com os pets pode ser ilustrado pela seguinte
sentença de Waldo Vieira 129 : “A amizade é o resultado de cultivo continuado e
surge pela seleção dos amigos, a começar pelos pets ou os animais domésticos.”
A relação entre o Homem e os animais é entendida como uma continuidade
evolutiva. “O animal subumano é dominado pelos órgãos dos sentidos. O Homem
domina os sentidos e procura aperfeiçoa-los. Esta é a diferença máxima entre o
animal humano e o animal pré-humano.”130
Através de relatos de pessoas que vivenciam a projeção consciente ou
experiência fora do corpo, foi identificado que “os animais domésticos,
especialmente o cão e o gato, talvez devido à convivência diuturna e mais íntima
com o homem,”131 também se projetam, ou vivenciam a experiência fora do corpo.
Além desse fenômeno, os conscienciólogos admitem que “os animais
domésticos captam os pensamentos e intenções de seus donos”, por exemplo,
“muitos gatos parecem adivinhar que serão levados ao veterinário e se escondem.
Outros parecem saber que seus donos sofreram um acidente ou morreram em
lugares distantes.”132 Rupert Sheldrake133, pesquisador não-conscienciólogo, havia
registrado em seu banco de dados 177 histórias de cães que, aparentemente,
reagiram à morte ou sofrimento de seus amigos humanos, “sobretudo uivando e
ganindo”, e 62 histórias de gatos que manifestaram sinais de sofrimento. Por outro
lado, em 32 casos, as pessoas sabiam quando seu animal de estimação tinha
morrido ou estava necessitando deles, localizando-se à distância.

129
VIEIRA, 2019, p. 89, grifos do autor.
130
VIEIRA, 2019, p. 105, grifos do autor.
131
VIEIRA, 1986, p. 40.
132
SHELDRAKE, Rupert. Ciência sem dogmas: a nova revolução científica e o fim do paradigma
materialista. Tradução de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 255.
133
SHELDRAKE, 2014, p. 255.
413

A relação de convivência entre os seres humanos e os animais pré-humanos e


seus efeitos evolutivos, denominado Antropozooconviviologia, foi tema de livro de
uma voluntária da Conscienciologia, Miriam Kunz, publicado no final de 2019.
O cuidado com a vida animal faz parte da rotina de voluntários da
Conscienciologia. Há os que fazem trabalho voluntário também em ONG protetora
de animais e há também iniciativas pessoais e institucionais de acolher cães e gatos
de rua, tratá-los e encaminhá-los para adoção.
Desse modo, o convívio dos conscienciólogos não se dá apenas com
familiares, amigos, vizinhos e colegas profissionais, mas também com os animais
domésticos, que inclusive, por vezes, servem de elo de conexão entre vizinhos que
saem para caminhar juntos com seus respectivos animais.
Esse tópico 6.2 Convívio tratou dos círculos sociais dos conscienciólogos,
procurando exemplificar o tipo de vivência que os conecta.

6.3 Sentido e Importância da Comunidade Conscienciológica

A questão sobre o “sentido de comunidade” foi inspirada na Teoria de Sentido


de Comunidade de McMillan e Chavis 134 e McMillan 135 , no âmbito da Psicologia
Comunitária. Essa disciplina desenvolveu-se nos Estados Unidos da América (EUA)
pela necessidade sentida por alguns psicólogos de fazer frente à desintegração
social, após a 2ª. Guerra Mundial. Teve a perspectiva ecológica136 como referencial,
possibilitando um conjunto de níveis de análise e um compromisso com a mudança
nos padrões das relações e dos contextos, visando maior qualidade de vida das
pessoas.137

134
McMILLAN, D.; CHAVIS, D. Sense of community: a definition and theory. Journal of Community
Psycholoy, vol. 14, p. 6-23, jan. 1986. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/1520-6629(198601)14:1%3C6::AID-
JCOP2290140103%3E3.0.CO; 2-I. Acesso em: 09 jan. 2020.
135
McMILLAN, David W. Sense of community. Journal of Community Psycholoy, vol. 24, n. 4, p. 315-
325, 1996. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/(SICI)1520-
6629(199610)24:4%3C315::AID-JCOP2%3E3.0.CO;2-T. Acesso em: 09 jan. 2020.
136
A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner propõe um modo de compreender o
desenvolvimento individual a partir da pessoa no contexto de múltiplos ambientes, do mais íntimo, por
exemplo a casa, até o mais amplo, como os padrões culturais, dentro da dimensão do tempo (Fonte:
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally W. 7. Ed. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed Editora,
2000, p. 29).
137
MARANTE, Liliana. A Reconstrução do sentido de comunidade. 2010. 38 f. Dissertação (Mestrado
em Psicologia) – Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010, p. 2.
414

O sentido de comunidade envolve um sentimento de pertença a uma rede de


relações, onde seus membros se preocupam uns com os outros e com todos, e a
crença de que as necessidades dos participantes serão satisfeitas pelo
compromisso de estarem juntos.138
Essa teoria tem a intenção de descrever a dinâmica do sentido de comunidade
levando à identificação dos elementos envolvidos, como por exemplo essas 4
dimensões: Pertença (membership), Influência (influence), Integração e Satisfação
de Necessidades (integration and fulfillment of needs) e Ligações Emocionais
Partilhadas (Shared Emotional Connection).139
A primeira dimensão, a pertença, refere-se ao sentimento de pertencer ou de
compartilhar um senso de relacionamento pessoal. A segunda dimensão, influência,
é um senso de importância, de fazer a diferença para a coletividade e esta importar-
se com seus membros. A terceira dimensão, Integração e Satisfação de
Necessidades, é o sentimento de que as necessidades dos membros serão
atendidas pelos recursos recebidos por sua pertença à comunidade. E a última
dimensão, Ligações Emocionais Partilhadas, diz respeito ao comprometimento e à
crença de que os membros compartilharam e irão compartilhar histórias, lugares
comuns, tempo juntos e experiências similares.140
A operacionalização em uma escala com finalidade de medição estatística foi
realizada em vários estudos. A questão da presente investigação cujo resultado será
apresentado a seguir, na tabela 52, teve como fundamento a escala aplicada na
dissertação de mestrado de Liliana Marante 141 . O nome da escala utilizada por
Marante é “Escala Breve de Sentido de Comunidade (EBSC).” Esta por sua vez é
uma adaptação e tradução da Brief Sense of Community Scale (BSCS). 142 No
entanto, nesta tese, não foi feito tratamento estatístico nos resultados da aplicação
da escala.

138
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 9.
139
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 9. Essas 4 dimensões foram revisadas assumindo novas
denominações, a saber: Espírito (Spirit – correspondendo à pertença), Confiança (Trust – Influência),
Troca (Trade – Integração e satisfação de necessidades) e Arte (Art – Ligações emocionais
partilhadas) (Ver McMillan, D. Sense of community. Journal of Community Psychology, vol. 24, 1996,
p. 315.) No entanto, não são duas teorias diferentes, mas complementares. Irá se utilizar a primeira
terminologia em função das sentenças do questionário referirem-se aos termos da primeira
sistematização teórica.
140
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 9.
141
MARANTE, 2010, p. 20.
142
A BSCS foi validada por N. Peterson e colaboradores (Ver PETERSON, N.; SPEER, P.;
McMILLAN, D. Validation of brief sense of community scale: confirmation of the theory of sense of
community. Journal of Community Psychology, vol. 36, p. 61-73, 2008).
415

A EBSC utiliza as 4 dimensões citadas acima (Pertença, Influência, Satisfação


de necessidades e Ligações Emocionais), sendo avaliadas por duas sentenças
afirmativas sobre cada conceito desse em estudo, conforme Quadro 09, a seguir.

Quadro 09 – Escala Breve de Sentido de Comunidade (EBSC)


Conceito Item Escala Breve de Sentido de Comunidade (EBSC)
Satisfação de EBSC1 Eu consigo obter o que necessito desta comunidade
Necessidades
EBSC2 Esta comunidade ajuda-me a satisfazer as minhas
necessidades
Pertença EBSC3 Sinto-me como um membro desta comunidade
EBSC4 Eu pertenço a esta comunidade
Influência EBSC5 Eu tenho uma palavra a dizer sobre o que se passa
na minha comunidade
EBSC6 As pessoas desta comunidade conseguem
influenciar-se uns aos outros
Ligações EBSC7 Sinto-me ligado(a) a esta comunidade
Emocionais
EBSC8 Eu tenho bons laços com outros nesta comunidade
Fonte: MARANTE, Liliana. A Reconstrução do sentido de comunidade. 2010. 38 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia, Universidade de
Lisboa, Lisboa, 2010, p. 22.

A EBSC é organizada numa escala likert de 5 pontos desde “discordo


fortemente” (1) até “concordo fortemente” (5).
A teoria do sentido ou sentimento de comunidade foi desenvolvida a partir de
dados recolhidos em um contexto de bairro, no entanto mostrou-se versátil na
aplicação a diferentes “comunidades”, tanto as geográficas, relacionadas a um
território, desenvolvidas pela proximidade e não necessariamente por escolha (por
exemplo, a vizinhança), quanto as relacionais, ligadas por interesses e valores
comuns (por exemplo, as associações de jovens e de imigrantes), assim como
comunidades de interesse na internet ou virtuais (por exemplo, o facebook).143
Além disso, também foi aplicada a “Escala de Importância da Comunidade”.
Essa escala foi construída por João Moreira e Wolfgang Lind tendo como base uma
reflexão sobre zonas de residência ou bairros utilizados somente com a função de
dormitório, sendo que a zona de residência teria apenas a garantia de habitação.

143
MARANTE, 2010, p. 5.
416

Outros papeis sociais eram vivenciados provavelmente fora desta zona. Nesse tipo
de bairro-dormitório, o sentido de comunidade não será forte, e consequentemente o
envolvimento com seus pares será reduzido.144
Assim, o objetivo seria verificar a importância relativa atribuída à comunidade
pelos seus membros, como um fator relevante a ser considerado na análise do
sentido de comunidade. A ideia é que a importância que a comunidade tem para os
envolvidos influenciaria o seu grau de envolvimento e investimento nessa
comunidade, assim como os sentimentos e os motivos de identificação com ela.
A “Escala de Importância da Comunidade” é a seguinte:

Quadro 10 – Escala de Importância da Comunidade (EIC)


Conceito Item Escala de Importância da Comunidade (EIC)
Importância da EIC1 Até que ponto a pertença à sua área de residência é
Pertença importante na sua identidade pessoal?
Importância do EIC2 Até que ponto as pessoas que conhece na sua área de
Contato Social residência constituem uma parte importante da sua vida
social?
Fonte: MARANTE, Liliana. A Reconstrução do sentido de comunidade. 2010. 38 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia, Universidade de
Lisboa, Lisboa, 2010, p. 22.

A EIC é organizada numa escala likert de 5 pontos desde “nada importante” (1)
até “extremamente importante” (5).
Além dessas questões sobre Sentido e Importância da Comunidade (6.3.1 e
6.3.2), agreguei os resultados de duas questões, uma sobre se o migrante pensa em
morar definitivo em Foz de Iguaçu (6.3.3) e outra se, na opinião do migrante, ele
teria alguma sugestão de melhoria para a comunidade conscienciológica (6.3.4),
para o mesmo subtópico de discussão (6.3.5).
Julguei apropriado discutir esses 4 aspectos em conjunto, uma vez que o
migrante irá pensar em morar em definitivo em Foz de Iguaçu caso a comunidade
conscienciológica seja importante para ele e o sentido de comunidade seja forte. As
sugestões de melhorias também possuem uma estreita relação se a pessoa se
sente pertencente à comunidade.

144
MARANTE, 2010, p. 22.
417

6.3.1 Sentido ou senso de comunidade

Na questão “Sobre a Comunidade Conscienciológica em Foz do Iguaçu, favor


fornecer sua opinião para cada afirmação”, vejamos a resposta e os resultados com
percentuais mais altos de cada item ou categoria da escala: “Eu consigo obter o que
necessito desta comunidade” – “concordo” com 190 respostas (52,8%); “Esta
comunidade ajuda-me a satisfazer as minhas necessidades” – “concordo” com 196
respostas (54,4%); “Sinto-me como um membro desta comunidade” – “concordo”
com 189 respostas (52,5%); “Eu pertenço a esta comunidade” – “concordo” com 176
respostas (48,9%); “Eu tenho uma palavra a dizer sobre o que se passa na minha
comunidade” – “concordo” com 184 respostas (51,1%); “As pessoas desta
comunidade conseguem influenciar-se uns aos outros” – “concordo” com 216
respostas (60,0%); “Sinto-me ligado(a) a esta comunidade” – “concordo” com 201
respostas (55,8%); e “Eu tenho bons laços com outros nesta comunidade” –
“concordo” com 216 respostas (60,0%) (Tabela 52).
418

TABELA 52 – SENTIDO DE COMUNIDADE PELOS MIGRANTES DA


COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA EM FOZ DO IGUAÇU –
JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIAS RESPOSTAS - N (%)
Sentido de Discordo Discor- Não Concordo Concordo
comunidade fortemente do concordo fortemente
nem
discordo
Eu consigo 5 29 99 190 37
obter o que (1,4) (8,0) (27,5) (52,8) (10,3)
necessito
desta
comunidade
Esta 5 23 74 196 62
comunidade (1,4) (6,4) (20,6) (54,4) (17,2)
ajuda-me a
satisfazer as
minhas
necessidades
Sinto-me 3 10 28 189 130
como um (0,8) (2,8) (7,8) (52,5) (36,1)
membro desta
comunidade
Eu pertenço a 4 5 28 176 147
esta (1,1) (1,4) (7,8) (48,9) (40,8)
comunidade
Eu tenho uma 8 21 91 184 56
palavra a dizer (2,2) (5,8) (25,3) (51,1) (15,6)
sobre o que
se passa na
minha
comunidade
As pessoas 1 7 60 216 76
desta (0,3) (1,9) (16,7) (60,0) (21,1)
comunidade
conseguem
influenciar-se
uns aos outros
Sinto-me 1 3 28 201 127
ligado(a) a (0,3) (0,8) (7,8) (55,8) (35,3)
esta
comunidade
Eu tenho bons 2 0 26 216 116
laços com (0,6) (0,0) (7,2) (60,0) (32,2)
outros nesta
comunidade

FONTE: DADOS DA PESQUISA.


NOTA: Foram 360 respondentes por linha (100,0%).
419

6.3.2 Importância de Pertencimento e do Contato social

Na tabela 53, foram unidas duas questões que tratam sobre a Importância da
Comunidade Conscienciológica: 1) “Até que ponto a pertença à Comunidade
Conscienciológica em Foz do Iguaçu é importante na sua identidade pessoal?” e a
resposta mais votada foi “extremamente importante” com 127 respostas (35,3%) e;
2) “Até que ponto as pessoas que você conhece na Comunidade Conscienciológica
em Foz do Iguaçu constituem uma parte importante da sua vida social?” e a
resposta mais votada foi “fortemente importante” com 131 respostas (36,4%) (Tabela
53).

TABELA 53 – IMPORTÂNCIA DO PERTENCIMENTO À COMUNIDADE


CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ DO IGUAÇU NA IDENTIDADE
PESSOAL DOS SEUS MIGRANTES E DAS PESSOAS DA
COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA NA VIDA SOCIAL DOS
MIGRANTES – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Importância pela pertença Nada importante 6 (1,7)
à Comunidade Pouco importante 19 (5,3)
Conscienciológica Importante 101 (28,0)
na sua identidade pessoal Fortemente importante 107 (29,7)
Extremamente importante 127 (35,3)

Importância das pessoas que conhece Nada importante 6 (1,7)


na Comunidade Conscienciológica em Pouco importante 19 (5,3)
Foz do Iguaçu constituirem parte da Importante 109 (30,2)
sua vida social Fortemente importante 131 (36,4)
Extremamente importante 95 (26,4)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

6.3.3 Morar definitivo em Foz do Iguaçu

Na pergunta “Você pensa em morar definitivamente em Foz do Iguaçu?”, a


maioria respondeu que “sim” com 257 respostas (71,4%) (Tabela 54).
420

TABELA 54 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU PENSAM EM MORAR DEFINITIVO EM
FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se pensa em morar Sim 257 (71,4)
definitivamente em Foz do Não 19 (5,3)
Iguaçu Não sei 84 (23,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

6.3.4 Melhorias

Na questão “Na sua opinião, o que você acha que pode ser melhorado na
Comunidade Conscienciológica de Foz do Iguaçu? (Assinale todas as questões que
se apliquem)”, houve 1.368 respostas (380,0%). A principal melhoria votada foi o
asfaltamento das ruas na Cognópolis com 300 respostas (83,3%). Interessante
observar que durante a aplicação do questionário, foi realizado o asfaltamento da
principal rua do bairro Cognópolis, a Felipe Wandscheer, pedido antigo dos
moradores145 (Tabela 55). Além das 5 opções de melhorias, foram escritas mais 46
outras sugestões de melhorias no campo “Outro”.

TABELA 55 – MELHORIAS NA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ


DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Melhorias na Comunidade Segurança na Cognópolis 277 (76,9)
Conscienciológica de Foz Diálogo e Integração entre as 294 (81,7)
do Iguaçu instituições conscienciocêntricas
Assistência econômica aos recém- 166 (46,1)
migrados e/ou migrantes em
dificuldades financeiras
Assistência aos voluntários idosos 258 (71,7)
sem família consaguínea em Foz do
Iguaçu
Asfaltamento das ruas na 300 (83,3)
Cognópolis
Outro 73 (20,3)
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

145
ACONTECENDO. Jornal da Cognópolis, Foz do Iguaçu, ano 21, n. 215, p. 4, ago. 2018.
421

NOTAS: Essa questão era obrigatória. Por ser possível marcar mais de uma
resposta, foram 360 respondentes (100%) e 1.368 respostas (380,0%).
Não foram discriminadas todas as respostas do campo “outro” para que a
tabela não ficasse extensa. As sugestões de melhorias que tiveram mais de 1
resposta foram trazidas para discussão no subtópico seguinte.

6.3.5 Discussão do Sentido e da Importância da Comunidade Conscienciológica

Vamos retomar o resultado da Tabela 52 sobre o Sentido de Comunidade a


partir de cada uma de suas 4 dimensões. Quanto à Satisfação de Necessidades, as
duas categorias indicaram que mais da metade dos conscienciólogos tem suas
necessidades satisfeitas pela comunidade. Segundo McMillan e Chavis 146 , a
satisfação de necessidades e reforço são uma função primária de uma comunidade
forte. Quer dizer, a comunidade deve ser capaz de criar uma dinâmica de satisfação
e reforço, onde alguém satisfaz as necessidades de outros enquanto satisfaz as
suas próprias, em constante atualização. Assim, essa dinâmica tem ocorrido para
maioria dos componentes da comunidade conscienciológica.
Quanto à pertença, a primeira categoria “Sinto-me como um membro desta
comunidade”, a resposta com maior resultado foi “concordo” (52,5%) e em seguida
foi “concordo fortemente” (36,1%) enquanto que na segunda categoria “Eu pertenço
a esta comunidade”, a resposta com maior resultado foi “concordo” (48,9%) e em
seguida foi concordo fortemente (40,8%). A pertença é entendida como um
sentimento de investimento de si na comunidade, portanto com o direito de
pertencer, mas ao se tornar parte, também possuindo deveres ou
147 148
responsabilidades. Segundo McMillan e Chavis , esse investimento na
comunidade implica em se sentir seguro emocionalmente para o fazer. E essa auto-
exposição é assegurada pelos limites que definem o território físico e/ou emocional
dos membros e não-membros. Nesse contexto de definição de limites, estão
inseridas as práticas culturais compartilhadas, a linguagem compartilhada e o modo
de vestir, realidades com peso na formação da identidade da comunidade. Assim,
pode-se observar que os resultados encontrados sinalizam um forte sentimento de
pertencimento pelos membros da comunidade conscienciológica.

146
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 13.
147
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 9.
148
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 10.
422

Em relação à Influência, a primeira categoria “Eu tenho uma palavra a dizer


sobre o que se passa na minha comunidade” e a segunda categoria “As pessoas
desta comunidade conseguem influenciar-se uns aos outros” obtiveram como
resultado para a maioria, “concordo”. Sob a ótica de McMillan e Chavis 149 , a
“influência” diz respeito a uma relação de bidirecionalidade, a negociação entre a
identidade da comunidade e os diferentes objetivos das pessoas para a coletividade.
O mais sério no processo de influência é a confiança. E esta se desenvolve pelo uso
do poder na comunidade e da solução de problemas derivados da divisão do poder.
De acordo com McMillan 150 , quando uma comunidade desenvolve uma ordem,
capacidade de tomada de decisão (autoridade), autoridade com base em princípios
preferencialmente do que pessoas e, normas sociais que permitam membros e
autoridade a se influenciarem reciprocamente, então a comunidade criou um
ambiente de confiança que evolui para justiça.
A comunidade conscienciológica tem se esforçado na construção desse senso
de ordem a partir de algumas iniciativas. Pode ser citado como exemplo a criação de
orientações normativas, através de pareceres elaborados pelos voluntários da área
do Direito no âmbito da UNICIN (CIAJUC). O parecer n. 09/2006151, cujo assunto era
“conflito de interesse”, versa sobre possíveis condições eticamente condenáveis no
exercício do voluntariado. Por exemplo: um voluntário que tem como profissão a
publicidade e trabalha simultaneamente em uma instituição conscienciocêntrica (IC)
voltada para comunicação social, a COMUNICONS, e em uma empresa
conscienciológica (EC) na mesma área. Nesse caso, como em várias outras
possibilidades, o voluntário estaria fazendo o mesmo tipo de serviço em duas
instituições, sendo uma voluntária e outra com fins de lucro, podendo conseguir
clientes para sua empresa a partir de seus contatos no trabalho voluntário.
Outra situação hipotética seria a do advogado que angaria clientes, mesmo
involuntariamente, por se tornar conhecido entre os demais membros da
organização em que atua voluntariamente no setor jurídico.
O parecer n. 09/2006 sugere que cada instituição conscienciológica elabore
diretrizes gerais referentes aos potenciais conflitos de interesses entre os voluntários

149
McMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 11.
150
McMILLAN, David W. Sense of community. Journal of Community Psycholoy, vol. 24, n. 4, 1996, p.
320. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/(SICI)1520-
6629(199610)24:4%3C315::AID-JCOP2%3E3.0.CO;2-T. Acesso em: 09 jan. 2020.
151
Parecer n.9/2006, da UNICIN, de 23 de outubro de 2006.
423

que possam se chocar com seus objetivos estatutários. E sugere que se verifique se
existe a mesma identidade entre atividade, ramo, área de atuação das instituições e
função exercida pelo voluntário podendo configurar algum conflito de interesses.
Ao modo desse parecer existem outros. O desafio da comunidade
conscienciológica parece ser o de manter-se constantemente em atualização, ao
mesmo tempo em que transmite aos membros mais recentes uma cultura
conscienciológica coerente com os princípios do paradigma seguido, construída por
décadas.
Outro dado importante de mencionar é que a segunda categoria, “As pessoas
desta comunidade conseguem influenciar-se uns aos outros”, foi uma de duas
respostas que obtiveram resultado mais alto, com 216 respostas (60,0%). Essa
sentença é a única que “passa por um reconhecimento das dinâmicas de influências
nas pessoas, no outro, e não no próprio (como o restante dos itens)”.152 Esse dado
revela que a maioria dos conscienciólogos conhece a dinâmica de influência entre
os membros da comunidade conscienciológica.
A última dimensão, das ligações emocionais partilhadas, que envolve a
primeira categoria “Sinto-me ligado(a) a esta comunidade” e a segunda categoria
“Eu tenho bons laços com outros nesta comunidade”, foi a que obteve os resultados
mais altos somando o percentual de “concordo” das duas categorias (55,8% e
153
60,0%). McMillan e Chavis descrevem essa dimensão como uma história
partilhada com a qual as pessoas se identificam e incorporam na sua história
pessoal. Inclui as seguintes características: quantidade e qualidade da interação,
partilha de eventos em conjunto, importância dos membros para a história
comunitária, saldo positivo de acontecimentos, ligação espiritual à comunidade e aos
154
seus membros. As ligações emocionais partilhadas pelos membros da
comunidade conscienciológica são fortes, provavelmente fruto dos encontros
estabelecidos pelas práticas culturais: o trabalho voluntário, as tertúlias vespertinas
e as matutinas, as dinâmicas parapsíquicas entre outras atividades já descritas.
A tabela 53 traz os resultados da “Escala de Importância da Comunidade” que
envolvem duas questões, a primeira sobre a Importância da Pertença, que significa
a identificação com as pessoas com a comunidade, e a segunda sobre a

152
MARANTE, 2010, p. 37.
153
MCMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 13.
154
MCMILLAN e CHAVIS, 1986, p. 14.
424

Importância do Contato Social, ou seja, da interação entre as pessoas, da


construção de história conjunta.155
A Importância da Pertença variou de “importante” (28,0%), “fortemente
importante” (29,7%) até “extremamente importante” (35,3%). E a Importância do
Contato Social variou de “importante” (30,2%), “fortemente importante” (36,4%) e
“extremamente importante” (26,4%). Os resultados sugerem que a comunidade
conscienciológica e seus membros são considerados importantes para as vidas
pessoais, reforçando o envolvimento e o sentimento de pertencimento encontrados
na “Escala Breve de Sentido de Comunidade (EBSC).” E isso explica o resultado da
tabela 54 sobre a maioria ter respondido que pensa em morar em definitivo em Foz
do Iguaçu (71,4%).
Uma minoria não pretende morar em definitivo em Foz do Iguaçu (5,3%). Esse
dado não surpreende, pois parece coerente com percentual de uma minoria que se
repete nos resultados das duas escalas (tabelas 52 e 53). Desse modo, existe uma
minoria que participa da comunidade conscienciológica, mas possui fraco
envolvimento e pertencimento a ela.
Nesse contexto, um dado curioso foi o fato de 23,3% (84 participantes) terem
respondido “não sei” a essa questão. Esse percentual de “não sei” pode configurar-
se em um indício de que para uma parcela menor, mas significativa do ponto de
vista qualitativo dos conscienciólogos a atratividade de viver na comunidade está
ambígua ou incerta. Segundo Marante 156 , “quando a comunidade é considerada
importante é necessário que esta mantenha o investimento na sua atractividade.”
Isso envolve a análise do contexto pessoal e comunitário em vista de perceber como
a atratividade pode ser mantida e melhorada a fim de abarcar as diferentes funções
e propósitos que se buscam.
É possível levantar algumas hipóteses sobre tal ambiguidade em não optar por
morar definitivo em Foz do Iguaçu. De acordo com o ponto de vista do voluntário
Everton Santos, após o falecimento de Waldo Vieira, não teve mais a mesma
aglutinação, “isso desmobiliza”, alguns problemas aumentam, “cada um vai para o
seu lado, viver seu luto, cuidar das suas coisas. Isso está tudo certo, mas sabe, tem
que cuidar para não passar da conta.” A expectativa de Everton Santos é que a
comunidade conscienciológica, “incluindo pessoas e instituições, nós comecemos a

155
MARANTE, 2010, p. 38.
156
MARANTE, 2010, p. 40.
425

ter ações” coletivas para os problemas que vêm surgindo. Ele cita como exemplo, “a
questão da saúde, as pessoas estão envelhecendo, (...), tem que ter uma ação
coletiva para isso.”
Everton entende que “alguns pontos são coletivos, que todos têm que tomar
para si essa responsabilidade.” Ele acha que é difícil, mas tem esperança. Cogita se
a dificuldade de um envolvimento coletivo seria a falta do “senso de cidadania”157.
Este seria “anterior talvez à Conscienciologia”. Quer dizer, o senso “de
pertencimento a uma sociedade.” Para ele, “não é o fato de ter vindo para Foz para
estudar algo e dar sentido para algumas coisas que faria com que essas pessoas
desenvolvessem esse senso. Isso é muito anterior, é muito maior.”
Nara Oliveira complementa a fala de Everton explicando como entende esse
senso de cidadania ou de pertencimento: “é você tornar-se individualmente
responsável por um coletivo de pertencimento. Você sabe que tem responsabilidade
por esse coletivo.”
E Everton, por sua vez, completa seu raciocínio: “mas aí tem uma nuança. A
pessoa pode se sentir pertencendo ou pertencente e não assumir responsabilidade.
Eu faço parte, eu estou aqui, estamos juntos, mas eu não atuo.”
Everton Santos pensa que o que está faltando é “uma frente ampla geral da
comunidade: ‘Gente, pronto, o Waldo saiu, vamos lá, vamos ver o que está faltando,
quais são as pontas, e vamos encarar.” Everton comenta que uma coisa que o
“deixa muito otimista e entusiasmado”, mesmo com as “mazelas naturais de sermos
humanos”, “é que eu vejo aqui na comunidade que as pessoas fazem força para
acertar, as pessoas querem ser corretas, querem ser cosmoéticas, querem ser
assistenciais.”

157
O fenômeno da cidadania é complexo e historicamente definido. Essa noção se desenvolveu
dentro de outro fenômeno histórico que é chamado de Estado-nação e que data da Revolução
Francesa, de 1789. “A luta por direitos sempre se deu dentro das fronteiras geográficas e políticas do
Estado-nação. Era uma luta política nacional e o cidadão que dela surgia era também nacional.” A
construção da cidadania se deu na relação das pessoas com o Estado e com a nação. “As pessoas
se tornavam cidadãs à medida que passavam a se sentir parte de uma nação e de um Estado.” Em
geral, a identidade nacional se constrói a partir de língua e religião comuns, além de guerras contra
inimigos comuns. E a lealdade ao Estado depende do grau de participação na vida política. A
cidadania no Brasil possui características históricas próprias. Algumas dificuldades para a construção
do senso de cidadania brasileira referem-se a singularidades no percurso histórico. Para citar
somente um exemplo: os primeiros direitos a serem implantados foram os sociais, em período de
supressão dos direitos políticos e de redução de direitos civis por um ditador que se tornou popular.
(CARVALHO, José Murilo. A cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: civilização
Brasileira, 2001, p. 8 e 12).
426

Essas colocações geram uma reflexão: constatamos o sentimento de


pertencimento pelos seus membros e que eles consideram a comunidade
conscienciológica importante para eles. No entanto, alguns conscienciólogos
pensam que estão faltando ações coletivas para problemas coletivos. E que talvez o
senso de pertencimento esteja presente no nível cognitivo (“sabe que tem
responsabilidade”) e emocional (“se sentindo pertencendo ou pertencente”), porém
essa pertença não se concretiza no nível da ação (“eu não atuo”). Tomando a
situação mencionada do envelhecimento dos conscienciólogos e considerando que
a maioria dos seus agregados domésticos é formada por casais sem filhos e
pessoas sós, esta situação se caracteriza tipicamente como um problema
comunitário158.
Conforme a proposta teórica de McMillan e Chavis 159 , o investimento na
comunidade gerando o sentimento de pertença envolve direitos e deveres ou
responsabilidades. Se seguirmos as pistas dadas pelo questionário e pela fala dos
entrevistados, uma parcela de membros da comunidade conscienciológica possui o
sentimento de pertença, porém não atua, o que pode implicar em não se sentirem
seguros emocionalmente para o fazer. McMillan e Chavis propõem que essa auto-
exposição é assegurada pelos limites que definem o território físico e/ou emocional
dos membros e não-membros. Essa questão da “pertença sem ação” pode estar
interligada com outros aspectos comunitários a serem comentados mais adiante.
A resposta encontrada na tabela 52 sobre a “Escala Breve de Sentido de
Comunidade (EBSC)” em todos os itens e de todas as dimensões foi unânime:
“concordo”. Tal achado sugere a existência do senso de comunidade. No entanto,
parece sugerir também que a comunidade chegou em um ponto de estabilidade, ou
melhor, em um ponto de manutenção, com significações diversas. Essa condição de
certo “equilíbrio” pode ter se instalado após o falecimento de Waldo Vieira. A saída
de cena do propositor da Conscienciologia, nos estudos de micro-história, se chama
de “situação-limite pelo impacto provocado na comunidade.”160

158
“Problema comunitário” conforme entendido por Elias e Scotson (2000, p. 165-166), e mencionado
no capítulo 4, no subtópico 4.4.7 Relações internas da comunidade conscienciológica. (ELIAS,
Norbert. SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir
de uma pequena comunidade. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p. 165).
159
MCMILLAN e CHAVIS, 1986.
160
VAINFAS, Ronaldo. A micro-história nos bastidores. In: _____. Os protagonistas anônimos da
história: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 137. Vainfas exemplifica como situações-
limite dos estudos microanalíticos o indiciamento do exorcista de Santena (no livro “A Herança
427

Nara Oliveira se pronuncia assim sobre o falecimento de Waldo Vieira: “a


presença dele ou o pertencimento dele a essa comunidade, fazia dessa comunidade
algo diferente do que ela é sem ele evidentemente”. Continua seu pensamento: “do
lado do Waldo qualquer um se sentia mais inteligente, mais corajoso, mais apto,
mais capaz. (...) Ele desafiava você nesse sentido, o tempo inteiro e sempre além
daquilo que você podia dar.” Assim, especulando sobre uma possível
vulnerabilidade da comunidade conscienciológica, diz que: “se de um jeito ou de
outro, a gente arrefece em termos desse desafio ou se a gente não consegue fazer
o mesmo que o Waldo fazia que é estimular as pessoas aos desafios”, a gente tem
pessoas vulneráveis.
De acordo com Everton Santos, Waldo Vieira “sempre insistia muito sobre a
questão da socialização. Ele falava disso no tempo da cooperativa: ‘Vocês têm que
fazer bailes, vocês têm que fazer festas para proporcionar a feitura, a concepção de
duplas evolutivas.” E nos últimos tempos, ele insistia nisso, inclusive em jantares,
“tem que socializar.” Essa é uma carência da comunidade. Juntando com a falta de
senso de cidadania ou “falta de sociabilidade que nós trazemos de fora, (...) isso
repercute negativamente aqui dentro. Então, professor Waldo fez uma força para
isso.” Everton conclui que “isto é algo que sofreu um grande baque com a dessoma
[desativação somática = morte biológica] do professor Waldo.” Pois, “a gente perdeu
também a sociabilidade que ele promovia a partir das tertúlias, das minitertúlias, dos
cursos e tudo mais. Nós nos víamos muito mais, nós nos relacionávamos muito
mais.” Por outro lado, um aspecto positivo ressaltado por Everton Santos é que “a
Conscienciologia, enquanto corpus de ideia, continua firme e forte, atraindo pessoas
independente da presença do professor Waldo e com todo o déficit que a ausência
dele nos traz.”
No ponto de vista de Alexander Steiner, “eu acho que a comunidade aqui ela
tem dois momentos: um com professor Waldo e outro a partir da dessoma [morte] do
professor Waldo. Até então ele como figura central, e os relacionamentos
funcionando muito em cima dessa relação com o Waldo.” Quer dizer, “a presença
dele pacificava muita coisa, mas atiçava os ânimos em outras coisas, das pessoas
quererem aparecer para ele. (...) Então a pessoa queria se mostrar para o Waldo,
(...) e às vezes” atritava com o outro. O segundo momento, “depois da dessoma do

Imaterial” de Giovanni Levi) e a prisão do moleiro do Friuli pelo Santo Ofício no livro “O Queijo e os
Vermes”, de Carlo Ginzburg).
428

professor Waldo, como as pessoas não precisam mais se mostrar (...), elas
relaxaram um pouco nisso daí, e eu acho que estão tentando ter uma convivência
mais sadia.”
Para Alexander, “as pessoas começaram a olhar agora um pouco mais umas
para as outras.” Na sua percepção, isso “pode aumentar esse senso de
comunidade”. Pois, “está chegando um momento que não está amadurecido, eu
acho que ainda vai demorar um tempo, onde a comunidade de fato vai amadurecer
enquanto comunidade, enquanto inter-relações de comunidade.”
Para Moacir Gonçalves, “quando o Waldo dessomou, lógico que deu um
baque, (...) deu uma caída, (...), algumas pessoas foram embora, outros chegaram,
mas hoje em dia, eu acho o seguinte: mais chega gente do que a tendência de sair.”
Segundo ele, “deu uma estabilizada”. Mencionou tudo que já foi construído e os
migrantes que vieram: “o Hotel da Conscienciologia, o Interludium. Os condomínios
estão todos aí funcionando. Quantos médicos, psicólogos, advogados já não vieram
e estão aí.”
Sobre o falecimento de Waldo Vieira, José Domingos Santos Neto relata que
“para mim, mexe, porque (...) professor Waldo é ponto de referência disso aqui.
Inevitavelmente, a pessoa que norteava.” Mas, “agora é tocar, a gente tocar”.
Passados dois anos desse episódio, Domingos migrou para Foz do Iguaçu.
Esse ponto de estabilidade atingido pela comunidade conscienciológica que
mencionei anteriormente confluiu com a fala de Moacir Gonçalves. Essa estabilidade
evoca a definição de identidade de Michel Wieviorka 161 : “implica uma certa
estabilidade, (...) que fixam um universo onde o que sobrevêm é relativamente
previsível, ou pelo menos encontra um sentido, e onde os comportamentos podem,
por conseguinte, ser orientados por valores que não se mudam a todo momento.”
Essa estabilidade de valores e comportamentos formadores da identidade
comunitária continua atraindo migrantes, conforme citado por Moacir e Everton, e
constatado nos achados apresentados no capítulo 5.
No entanto, ao que parece, reunindo os indícios do resultado do “não sei” de
uma pequena parcela dos conscienciólogos em morar definitivo em Foz do Iguaçu,
pelo testemunho dos conscienciólogos e por esse ponto de estabilidade alcançado,
é que a comunidade conscienciológica tem sustentado seus afazeres cotidianos

161
WIEVIORKA, Michel. A diferença. Tradução de Miguel Serras Pereira. Lisboa: Fenda Edições,
2002, p. 188.
429

desde o falecimento de Waldo Vieira, mas precisa realizar um “balanço comunitário”,


de conquistas coletivas, além de novas metas e necessidades coletivas a serem
alcançadas e atendidas a fim de se colocar em movimento de contínua reinvenção.
Partindo da referência da fala de nossos entrevistados, esse movimento passa por
novas propostas de desafios pessoais e coletivos, maior contato e socialização no
sentido de lazer stricto sensu, no qual as pessoas olhem um pouco mais umas para
as outras a fim de interagirem mais com as companhias presentes hoje na
comunidade conscienciológica.
Essas considerações entram em ressonância com os resultados obtidos na
Tabela 55, as melhorias para comunidade conscienciológica. A pergunta sobre as
“melhorias” era obrigatória e também era questão aberta, ou seja, continha a opção
“outros” na qual o participante poderia escrever a sua opção de resposta.
No campo “outros”, houve 46 novas categorias de outras melhorias e 73
respostas. Estas novas categorias de sugestões fornecem pistas das iniciativas que
a comunidade conscienciológica pode desenvolver a fim de continuar em
movimento. Eis a seguir as sugestões que obtiveram mais de uma resposta:
“diálogo, integração e convivência entre os membros da CCCI” (10 respostas); “mais
atividade de convívio e lazer na comunidade” (7 respostas); “amizade entre os
voluntários” (5 respostas); “diálogo e interação entre CCCI e Socin” (3 respostas);
“transporte público (mais opções, melhor acessibilidade)” (3 respostas); “união do
grupo” (2 respostas); “senso de comunidade; senso de pertencimento” (2 respostas);
“acolhimento em vários níveis aos recém-migrados e/ou migrantes” (2 respostas);
“acessibilidade nos campus da Conscienciologia” (2 respostas).
Conforme exposto, as sugestões dadas pelos membros da comunidade aliadas
às falas dos voluntários entrevistados apontam no sentido da necessidade de maior
integração, socialização e convívio entre os membros da comunidade
conscienciológica.
A contribuição dos respondentes do questionário no campo “outros”, não
apenas nessa questão das “melhorias” mas nas outras que tinham essa opção,
ilustram o item “Eu tenho uma palavra a dizer sobre o que se passa na minha
comunidade” (da dimensão Influência), da Escala Breve do Sentido de Comunidade
(tabela 52).
Olhando com atenção os resultados deste item, “Eu tenho uma palavra a dizer
sobre o que se passa na minha comunidade”, e de mais dois itens, “Eu consigo
430

obter o que necessito desta comunidade” e “Esta comunidade ajuda-me a satisfazer


as minhas necessidades” (ambos os itens da dimensão Integração e Satisfação de
Necessidades), observa-se que esses 3 itens da Escala Breve de Sentido da
Comunidade possuem os dois maiores resultados nas respostas “concordo” e “não
concordo nem discordo”, enquanto o restante dos demais 7 itens da escala
encontram-se com as duas maiores porcentagens nas respostas “concordo” e
“concordo fortemente”.
Essa nuança ou detalhe parece um indício de que algo relacionado à dimensão
“Integração e Satisfação das Necessidades” e “Influência” precisa ser objeto de
reflexão pela comunidade. E pode estar relacionado à parcela pequena, mas
significativa de conscienciólogos que responderam “não sei” para a questão de
morar definitivamente em Foz do Iguaçu. Conforme visto, há uma demanda por mais
socialização entre os conscienciólogos.
Assim, essa tendência para ter as necessidades satisfeitas caminhando para
parcialmente satisfeitas pode ter relação com certo “vazio” deixado pelo falecimento
de Waldo Vieira, não somente de sua pessoa, mas da sociabilidade que ele
promovia na comunidade, conforme ressaltado por Everton Santos. Uma certa
“ausência presente”. Também pode ter relação com o envelhecimento dos membros
da comunidade. A pessoa que envelhece, especialmente se é pessoa só, se sente
insegura para realizar algumas rotinas, necessitando de apoio social. Tal situação
cria certa insatisfação das necessidades e também afeta a dimensão da “influência”,
pois esta refere-se basicamente ao senso de importância, de fazer a diferença para
a coletividade e esta importar-se com seus membros.
Esta questão encontra eco nas observações da entrevistada Nara Oliveira, que
assim como Everton, destaca a importância da sociabilidade, dos momentos de
encontro ou de convivência. “A impressão que eu tenho hoje quando eu olho a
comunidade assim de uma maneira geral... Eu olho, e parece assim que todo mundo
acha que todo mundo sabe o que está fazendo, entendeu, ninguém merece atenção
mais, ninguém precisa.” Nara traduz esse contexto como “um esvaziamento da
sociabilidade”. Ela recorda que “era nesses ambientes de sociabilidade que o Waldo
basicamente abastecia de desafios todo mundo. Quer dizer, era onde ele olhava
para pessoa e achava que a pessoa estava meio capenga, como diz o gaúcho”. E
ele lançava um desafio para ela voltar “para o prumo de novo”.
431

Nara pensa que “nesses 4 anos, a impressão que eu tenho é que isso foi
agravando um pouco, esse esvaziamento maior, vamos dizer assim. As pessoas
estão cada uma tocando suas coisas e tal, sua vida, e eu acho que a gente
precisava” encontrar as pessoas. Estar no meio delas para poder fazer isso.
Nara lembra que há encontros nos cursos, porém ali se “está tratando de uma
temática, respondendo perguntas, mas é nesse ínterim quando você termina o curso
ou na hora do almoço (...) que isso acontece mais no ponto a ponto, você vê a
pessoa mais diretamente.”
O entrevistado José Domingos Santos Neto também fala da necessidade de
maior integração entre os voluntários, a começar pelos moradores de dentro do
campus do Discernimentum, onde ele mora. Domingos conta que sua companheira,
a Neide, “às vezes gosta muito de caminhar aqui por dentro. Eu amo caminhar
nessa trilha aqui.” E “tem gente que mora aqui dentro e não conhece isso aqui. Não
conhece nem o caminho [que liga o Discernimentum ao CEAEC].” Tem gente que
prefere andar de carro e “não conhece a natureza aqui dentro.” Resume do seguinte
modo: “Tem que aprender a caminhar para integrar.”
Para concluir essa discussão do sentido e importância da comunidade assim
como o morar definitivo em Foz do Iguaçu e as melhorias da comunidade
conscienciológica, gostaria de retomar uma frase da voluntária Nara Oliveira de que
era nos “ambientes de sociabilidade que o Waldo basicamente abastecia de
desafios todo mundo”. De acordo com Wieviorka162, a identidade coletiva de uma
comunidade organiza-se “num conjunto de traços que só se tornam orientações para
a acção a partir do momento em que ela se vê confrontada com desafios internos e
externos. A identidade colectiva pode ser posta em causa e mobilizar os actores de
várias maneiras.” Pode afirmar-se como resistência a uma ameaça externa assim
como frente a uma crise no interior da coletividade.
Talvez a lacuna de desafios internos e externos possa gerar o “sentimento de
pertencimento sem ação” comentado anteriormente. Ou ainda, pode ter relação com
a dimensão “influência”, que diz respeito a solução de problemas derivada da divisão
de poder. Mesmo com uma liderança informal exercida por Waldo Vieira nos últimos
anos, decisões comunitárias eram, com frequência, consultadas e orientadas por
ele. Tal lacuna de tomada de decisão pode ter relação com esse “sentimento de

162
WIEVIORKA, 2002, p. 169.
432

pertença sem ação”. Pois, seguindo a fala de Alexander Steiner, os relacionamentos


funcionavam muito em cima dessa relação com o Waldo. Para Alexander, “está
chegando um momento que não está amadurecido (...), onde a comunidade de fato
vai amadurecer enquanto comunidade, enquanto inter-relações de comunidade.” A
ausência de Waldo Vieira tanto pode ser sentida pela sua atitude de tomar decisões
comunitárias quanto pela sua habitual postura de distribuir desafios aos voluntários
que, por vezes, eram decorrentes dessas mesmas decisões comunitárias. Ambas as
iniciativas que eram tomadas por Vieira podem estar implicadas no atual
“pertencimento sem ação”.
Em suma, constatou-se que a comunidade conscienciológica é importante para
seus membros, que se sentem pertencentes e ligados emocionalmente a ela.
Também se observou que para que ela continue se reinventando continuamente é
necessário analisar o contexto pessoal e comunitário a fim de convergir os diferentes
propósitos que se buscam.

6.4 Experiência Política

Na questão “Você já teve alguma experiência política (fazer campanha se


filiando ou não a partido político; candidatando-se a cargo político)?”, a maioria dos
respondentes disse que “não”, com 312 respostas (86,7%). Dentre os que disseram
que tiveram experiência política, que foram 48 participantes (100%), a maioria não
exerceu cargo político, com 44 respostas (91,7%). Dentre os que exerceram cargo
político, que foram 4 respondentes (100%), 1 (25,0%) foi cargo comissionado, 1
(25,0%) foi diretor geral de coordenação da Secretaria da Fazenda em Pernambuco,
1 (25,0%) foi coordenador do centro acadêmico de Psicologia da Universidade Santa
Úrsula e 1 (25,0%) deixou a resposta em branco (Tabela 56).
433

TABELA 56 – SE OS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA


DE FOZ DO IGUAÇU POSSUEM EXPERIÊNCIA POLÍTICA, SE
EXERCERAM CARGO POLÍTICO E QUAL CARGO – JULHO E
AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se já teve alguma experiência Sim 48 (13,3)
política (fazer campanha se Não 312 (86,7)
filiando ou não a partido político;
candidatando-se a cargo
político)
Total 360 (100,0)
Se já teve experiência política, Sim 4 (8,3)
se exerceu cargo político
Não 44 (91,7)
Total 48 (100,0)
Se já exerceu cargo político, Vereador 0 (0,0)
qual foi? Deputado Estadual 0 (0,0)
Deputado Federal 0 (0,0)
Senador 0 (0,0)
Prefeito 0 (0,0)
Governador 0 (0,0)
Outro: Comissionado 1 (25,0)
Outro: Diretor Geral de 1 (25,0)
Coordenação da Secretaria
da Fazenda - PE
Outro: Coordenador do 1 (25,0)
Centro Acadêmico de
Psicologia da Universidade
Santa Úrsula
Branco 1 (25,0)
Total 04 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
NOTA: A segunda e terceira questões não eram obrigatórias. Foi orientado que
somente o participante que tivesse experiência política (segunda questão) ou
exercido cargo político (terceira questão) respondesse.

6.4.1 Discussão da experiência política

Observa-se um baixo envolvimento dos conscienciólogos com experiência


político-partidária. Tal característica parece indicar valores compartilhados que
434

fazem parte das orientações jurídicas dos estatutos das instituições


conscienciocêntricas.
Conforme visto no capítulo 3, no tópico “3.4.11 Voluntariado III: características
gerais do voluntariado conscienciológico”, e de acordo com o Manual de Assessoria
163
Jurídica em Instituições Conscienciocêtricas (ICs) , a instituição
conscienciocêntrica é “a pessoa jurídica de direito privado, constituída na forma de
associação civil sem finalidade econômica e lucrativa, de caráter científico, cultural,
assistencial, multidimensional, universalista, não dogmática, político-partidária”,
dedicada a pesquisa e educação da ciência Conscienciologia.
Segundo o mesmo manual, cada IC criada tem objetivos específicos, porém
“todas elas devem explicitar em seus Estatutos as características gerais constantes
do parágrafo acima.”164 Assim, observa-se que a “marca registrada” de uma IC é não
ter objetivo econômico e lucrativo, ser voltada para ciência e cultura, de caráter não
religioso, não dogmático e não político-partidário.
Outra orientação do manual, de filosofia política institucional, é que doações de
pessoas físicas e jurídicas são aceitas, desde que não comprometam “a autonomia
e a independência da instituição perante eventuais doadores.”165 Nessa mesma linha
de raciocínio, “recomenda-se que as ICs não recebam doações e subvenções
estatais e nem celebrem contratos de prestação de serviços com o Estado, para
resguardar a autonomia e independência da Instituição Conscienciocêntrica.”166

6.5 Investimento financeiro em Foz do Iguaçu

Na pergunta “Você tem a intenção de investir ou já investe financeiramente em


Foz do Iguaçu?”, a maioria respondeu “sim” com 205 respostas (56,9%) (Tabela 57).

163
GALDINO, Lane. Manual de Assessoria Jurídica em Instituições Conscienciocêntricas (ICs). Foz
do Iguaçu: Editares, 2020, p. 21.
164
GALDINO, 2020, p. 21.
165
GALDINO, 2020, p. 61.
166
GALDINO, 2020, p. 62.
435

TABELA 57 – INVESTIMENTO FINANCEIRO EM FOZ DO IGUAÇU PELOS


MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA DE FOZ
DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Intenção de investir ou já Sim 205 (56,9)
investe financeiramente Não 132 (36,7)
em Foz do Iguaçu Já investi e o negócio está 23 (6,4)
parado e/ou fechou
Total 360 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.

Na questão “Se tem a intenção de investir ou já investe, em qual(is) setor(es)?”,


houve 455 respostas (126,4%). E o setor mais votado foi o “imobiliário” com 101
respostas, seguido pelo “educacional” e da “saúde” com 60 respostas cada um
respectivamente (Tabela 58).

TABELA 58 – SETOR DE INVESTIMENTO FINANCEIRO EM FOZ DO IGUAÇU


PELOS MIGRANTES DA COMUNIDADE CONSCIENCIOLÓGICA
DE FOZ DO IGUAÇU – JULHO E AGOSTO DE 2018
VARIÁVEL CATEGORIA N (%)
Se tem a intenção de Agrícola 6 (2,6)
investir ou já investe, Industrial 7 (3,1)
em qual setor? Turístico 11 (4,8)
Educacional 60 (26,3)
Imobiliário 101 (44,3)
Comercial 36 (15,8)
Artesanal 5 (2,2)
Saúde 60 (26,3)
Outro: Alimentício 2 (0,8)
Outro: Consultoria 1 (0,4)
Outro: Cultural 2 (0,8)
Outro: Editorial 1 (0,4)
Outro: Serviços 8 (3,5)
Outro: Tecnologia da Informação e 2 (0,8)
Comunicação (TIC)
Outro: Energia Solar Fotovoltaica 1 (0,4)
Outro: Engenharia 1 (0,4)
Outro: Qualquer que se mostrar 1 (0,4)
interessante
Outro: Tecnologia 1 (0,4)
Outro: Tecnologia da Informação (TI) 1 (0,4)
Outro: Voluntariado 2 (0,8)
Total 228 (100,0)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
436

NOTAS: Essa questão não era obrigatória. Por ser possível marcar mais de uma
resposta, foram 228 respondentes (100%) e 309 respostas (135,5%).

6.5.1 Discussão sobre o Investimento financeiro em Foz do Iguaçu

No documento desenvolvido pelo Conselho das Empresas Conscienciológicas


(ECs), órgão da UNICIN, intitulado “Relatório Parcial – Planejamento Estratégico –
Cognópolis Foz do Iguaçu – 2035”167, de 2013, já comentado no capítulo 4, havia
112 empresas dos diversos setores pertencentes aos conscienciológos
individualmente ou em grupo em Foz do Iguaçu. A maioria das empresas atuava na
“grande área” dos serviços, em segundo lugar no comércio e por último na indústria.
Dentre 25 “áreas” diferentes de atuação, as 3 com maior concentração
merecem destaque: 37 empreendimentos na área da saúde; 10 empreendimentos
na área da consultoria; e 9 empreendimentos na área da educação.
Na área da saúde, eram consultórios de psicologia, clínicas de medicina,
clínicas de estética, clínicas de fisioterapia, dentre outros.
No setor de consultoria, a atuação era basicamente empresarial ou ambiental.
E no setor da educação, a atuação variava desde a educação ambiental até
educação formal no ensino médio.
O objetivo do documento era “desenvolver e implementar projeto para
estruturar ambiente adequado para a criação e o desenvolvimento de empresas
sustentáveis relacionadas às pessoas com vínculo na Conscienciologia dentro da
Cognópolis Foz do Iguaçu/PR, tendo como escopo o ano de 2035”.168
Tal iniciativa do “Conselho das Empresas Conscienciológicas (ECs)” da
UNICIN visava favorecer “a radicação vitalícia dos voluntários empreendedores
interessados em morar na Cognópolis-Foz, bem como o acolhimento de
profissionais especialistas para trabalhar nessas empresas”.169
Observa-se, assim, o interesse da maioria dos migrantes conscienciólogos em
se fixar permanentemente em Foz do Iguaçu, e também colaborar com a fixação de
novos migrantes no município.
Essa questão das empresas conscienciológicas evoca o debate entre
comunidade vs. sociedade conscienciológica insinuado no capítulo 3.

167
UNICIN. Relatório Parcial: Planejamento Estratégico: Cognópolis Foz do Iguaçu – 2035. Foz do
Iguaçu: UNICIN/Conselho das ECs, 2014, p. 49-59.
168
UNICIN, 2013, p. 1.
169
UNICIN, 2013, p. 1.
437

6.6 Comunidade vs. Sociedade conscienciológica

No início do capítulo 3, no subtópico 3.1 Grupo de Pesquisas Conscienciais


(GPC) - Socin Conscienciológica, surgiu a questão da comunidade vs. sociedade
conscienciológica.
O CEAEC foi planejado no interior de um grupo de pesquisa chamado Socin
Conscienciológica ou Sociedade Intrafísica Conscienciológica. A concepção de
sociedade conscienciológica estava fundamentado no livro “700 Experimentos da
Conscienciologia”, publicado em 1994. Neste livro, Vieira se dedicou a realizar
diagnósticos da sociedade da época 170 , por exemplo, pela sedução subliminar,
através da TV, através dos jogos, através do boxe, através da guerra, entre outros.
Vieira argumenta no sentido de demonstrar vestígios de patologia social ao mesmo
tempo que propõe melhorias sociais a partir da atuação do conscienciólogo veterano
nas áreas do magistério, da pesquisa, do consultório e da sociedade em geral,
implantando a empresa e a escola conscienciológicas171.
No capítulo 4, no subtópico 4.1.8.2 UNICIN, de certa forma a proposta de
sociedade conscienciológica assumiu contornos mais nítidos ou se esboçou, quando
Vieira propôs a criação da UNICIN com objetivo de integrar as instituições
conscienciocêntricas, em uma perspectiva de pluralização e megafraternidade,
centrada no que ele chamou de Estadismo.
A UNICIN é comparada a “ONU da Conscienciologia”, como uma pequena
semente de um futuro cenário possível do “Estado Mundial” 172 . Vieira ainda
menciona que “nós falamos isso, parece que somos visionários (...). Nós temos que
começar já a plantar e semear, colocar a semente, desde hoje para amanhã”.
Assim, no mundo minúsculo da comunidade conscienciológica, as instituições
conscienciocêntricas criadas nas áreas do magistério ou da educação (por exemplo,
a Reaprendentia), da pesquisa (por exemplo, o IIPC e o CEAEC), do consultório (a
OIC) e da sociedade em geral (demais instituições conscienciológicas) formariam a
estrutura de uma sociedade conscienciológica experimental. Tendo a UNICIN, o
papel correspondente ao da “ONU” na integração das instituições.

170
VIEIRA, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Rio de Janeiro: IIP, 1994, p. 290-296.
171
VIEIRA, 1994, p. 435.
172
COUTO, Cirleine. UNICIN: semente do Estado Mundial. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano 6, n. 20, p.
6, ago. a nov. 2004.
438

Mas comunidade não é sociedade. Como essas concepções se conectam?


Essa proposta da comunidade conscienciológica como uma semente de uma
possível nova ordem social se fundamenta no “princípio da descrença”, no sentido
de que “é da experiência pessoal que a gente chega à compreensão da
coletividade.”173
Alguns sociólogos, como vimos, contrapõe os conceitos de comunidade ao de
sociedade. No entanto, outros sugerem que há certa continuidade e não somente
contraste entre eles. Para Max Weber174, a grande maioria das relações sociais têm
caráter em parte comunitário (sentimento dos participantes da “constituição de um
todo”) e em parte societário (“união de interesses com idêntica motivação”), apesar
de entender comunidade e sociedade conceitualmente diferentes.
“Toda relação social, por mais que se limite, de maneira racional, a
determinado fim e por mais prosaica que seja (por exemplo, a freguesia) pode criar
valores emocionais que ultrapassam o fim primitivamente intencionado” 175 . Na
sociedade, as relações sociais que ultrapassem a ação momentânea realizada por
união com determinado fim, isto é, de longa duração, e não se limitando a
determinadas tarefas objetivas, nos contextos da unidade do exército ou de classe
na escola, mostra, porém, em grau bem diverso, essa tendência. Ao contrário, uma
relação social comunitária pode ser orientada total ou parcialmente de modo racional
direcionada a fins, por parte de alguns ou de todos os participantes.176
Nessa linha de raciocínio, o conceito de racionalidade substantiva proposto por
Weber, aplicado no estudo institucional por outros autores posteriormente a ele,
conforme visto neste capítulo, também sugere que é possível uma instituição
funcionar tal qual uma comunidade.
Os sociólogos da Escola de Chicago, Robert E. Park e Ernest W. Burgess177,
também entendem que os termos sociedade, comunidade e grupo social são

173
VIEIRA, Waldo. “UNICIN megafraternidade vivenciada”. Entrevista. IIPC News, Foz do Iguaçu, ano
6, n. 20, ago. a nov. 2004, p. 4.
174
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de
Regis Barbosa e Karen Elisabete Barbosa. Revisão técnica de Gabriel Cohn. 4. Ed. 3. Reimp.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012, p. 25-26; e WEBER, Max. Comunidade e sociedade
como estruturas de socialização. In: FERNANDES, Florestan. (Org.). Comunidade e Sociedade:
leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo: Companhia Editora
Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973, p. 140, grifos do autor.
175
WEBER, 2012, p. 25-26.
176
WEBER, 2012, p. 25-26.
177
PARK, Robert E.; BURGESS, Ernest W. Comunidade e sociedade como conceitos analíticos. In:
FERNANDES, Florestan (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais,
439

utilizados pelos estudiosos com certa diferença de ênfase, contudo com pouca
diferença de significado. Sociedade é o conceito mais abstrato e inclusivo,
constituída por grupos sociais. Comunidade é o vocábulo aplicado a sociedades e
grupos sociais considerados sob o aspecto da distribuição geográfica dos indivíduos
e instituições de que são compostos. “Segue-se que toda comunidade é uma
sociedade, mas nem toda sociedade é uma comunidade”.
Um indivíduo pode pertencer a diversos grupos sociais, mas em geral fará
parte de uma comunidade, exceto quanto essa comunidade for menor e estiver
incluída em uma maior. Entretanto, um indivíduo não é membro de uma comunidade
somente pelo fato de nela viver, porém mais porque participa na vida comum da
comunidade.178
Pode-se questionar que o posicionamento de Weber e de Park e Burgess
fazem parte do contexto da sociedade industrial, e que hoje vivemos uma sociedade
pós-industrial. No entanto, conforme foi visto, foram encontrados elementos de
comunidade tradicional e de comunidade moderna coexistindo na comunidade
conscienciológica. Assim, tal condição parece possibilitar a constituição de fronteiras
tênues entre as noções de sociedade e comunidade no seio da comunidade
conscienciológica. De modo prático e direto, argumenta-se aqui com base nos
indícios, a favor da configuração social dos conscienciológos no bairro Cognópolis
como uma comunidade, no entanto parece haver uma semente de uma sociedade
experimental na comunidade conscienciológica.

6.7 À guisa de conclusão

Se tentar esquematizar os comportamentos da comunidade conscienciológica,


pode-se caracterizá-la em itens:
a) As práticas culturais desenvolvidas no cotidiano do Bairro Cognópolis
ajudam a formar a identidade coletiva da comunidade conscienciológica. A prática
básica que fundamenta as demais atividades é o trabalho voluntário em instituição
conscienciocêntrica. Os princípios embasadores dessas práticas culturais são a

metodológicos e de aplicação. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Editora da Universidade de


São Paulo, 1973, p. 148.
178
PARK; BURGESS, 1973, p. 148.
440

autoexperimentação, o diálogo, o somatório de experiências, a desrepressão, o


desenvolvimento da cosmovisão e a descrença.
b) O propositor da Conscienciologia, Waldo Vieira, inventou um cotidiano a ser
vivenciado no bairro Cognópolis. A estrutura física das instituições e dos territórios
no bairro Cognópolis fornecem estabilidade e consequentemente, identidade à
comunidade conscienciológica.
c) O paradigma consciencial propõe a união da teoria com a prática, por isso a
necessidade de vivenciar a Conscienciologia no cotidiano. A comunidade foi
formada a partir desse ideal.
d) O trabalho voluntário em instituição conscienciocêntrica segue basicamente
duas diretrizes gerais da Conscienciologia: o autoconhecimento aliado à
autopesquisa e a interassistencialidade.
e) A leitura é a principal atividade de tempo livre dos conscienciólogos (ver
Tabela 40). Tal dado evidencia o caráter de maior escolaridade dos voluntários.
f) Devido a uma gradação variável na escala de afinidade entre os membros da
comunidade conscienciológica, foram criados mecanismos de mediação de conflitos,
entre eles, a própria necessidade de criação constante de novas instituições
conscienciocêntricas pode ser incluída nessa abordagem, entendendo a instituição
sob o ângulo de reguladora de tensões entre os voluntários. Valores e signifcações
compartilhadas não são a mesma coisa de igualdade de temperamento, traços de
personalidade e formação sócio-cultural.
h) A liderança forte de Waldo Vieira evidenciou-se de modo formal de 1981 até
1999, assumindo funções de direção nas instituições conscienciológicas, no Rio de
Janeiro. Passou por uma fase de transição, de 2000 a 2002, quando ele migrou para
Foz do Iguaçu e ao mesmo tempo procurou organizar os trabalhos institucionais da
Conscienciologia no âmbito internacional. E se manteve forte, porém com caráter
informal, até 2015, criando atividades a serem realizadas como práticas cotidianas
pelos voluntários, participando ativamente da formação de territorialidades e da
comunidade conscienciológica.
i) Os voluntários da Conscienciologia são incentivados a escreverem livros
tendo como base as vivências pessoais, inclusive de fenômenos parapsíquicos, tais
como a experiência de quase-morte (EQM) e a experiência fora do corpo (EFC), a
fim de realizar a assistência pelo esclarecimento por meio do exemplo pessoal. A
441

importância desse comportamento tem relação com “os resultados psicológicos da


vida”, ou nos termos da Conscienciologia, o saldo assistencial de uma existência.
j) O tipo de família mais comum entre os conscienciólogos é a formada por
casal sem filhos. Essa configuração está em ressonância com a tendência brasileira
ainda incipiente dos casais DINC e com o fenômeno mundial childless. Fenômenos
similares com pressupostos diferentes. Enquanto as famílias DINC e as famílias
childless parecem ter como motivação o individualismo, as famílias dos voluntários
da Conscienciologia, que optam por não ter filhos, se propõem a priorizar o tempo
ou colocar em primeira prioridade as atividades coletivas, por exemplo o trabalho
voluntário em atividades docentes, administrativas e assistenciais.
k) A comunidade conscienciológica parece ser formada por elementos das
comunidades tradicionais, conforme proposta por Ferdinand Tönnies, e por
elementos da comunidade moderna reflexiva conforme proposta por Scott Lash.
l) O processo de individuação proposto por Jung corresponderia, de certo
modo ou em parte, à busca de autodesenvolvimento na Conscienciologia do
seguinte modo: a individuação procura tornar o indivíduo uma unidade indivisível ou
um “todo”, unindo aspectos conscientes e inconscientes, enquanto que o
autoconhecimento e a autopesquisa conscienciológica objetivam vivenciar e integrar
aspectos materiais e imateriais (parapsíquicos) da consciência humana.
m) A convergência de sociabilidade dos círculos sociais familiar, de amizade,
de vizinhança e de colegas profissionais é uma evidência do sentimento comunitário
dos conscienciólogos. No entanto, há indícios de que estar compartilhando o mesmo
espaço e se sentir pertencente a ele e vinculado às pessoas que o co-habitam, não
implica necessariamente em maior sociabilidade. Há uma demanda por integração
vinda tanto das narrativas dos migrantes quanto dos respondentes do questionário.
É como se um primeiro passo de reunir os voluntários da Conscienciologia num
mesmo local foi dado. Um segundo passo, de estabelecer rotinas, práticas culturais
coletivas foram criadas, quer dizer, um cotidiano segundo o paradigma consciencial
foi inventado. A comunidade vem dando manutenção a essa rotina desde o
falecimento de Waldo Vieira. No entanto, os próximos passos coletivos a serem
definidos pela própria comunidade ainda precisam ser clareados, discutidos e
consensados no sentido de possibilitar a sua permanente reinvenção ao modo de
desafios a serem vencidos.
442

n) Constatou-se um baixo envolvimento dos conscienciólogos em experiência


político-partidária. Tal comportamento está em sintonia com as orientações jurídicas
dos estatutos das instituições conscienciocêntricas, sugerindo o compartilhamento
dos mesmos valores. A confluência de valores pessoais e organizacionais também
foi encontrada nos estudos administrativos de Ricardo Dias no estudo de caso do
IIPC.
Nesse capítulo, as estruturas fundamentais da comunidade conscienciológica
apareceram no contexto de relações estabelecidas pelo voluntariado em instituições
conscienciocêntricas, ao modo de uma “comunidade institucionalizada”, porém sem
se limitar a essa dimensão.
As relações de vizinhança no bairro integrando família, amizades e colegas
profissionais complexificaram as relações de colegas voluntários. Essa
complexidade pode ser entendida como uma intensificação na vivência do
paradigma consciencial, formando não apenas um bairro do voluntariado, mas um
bairro conscienciocêntrico.
A transição do período predominantemente institucional para o período
majoritariamente comunitário implica em ajustar a lente para enxergar essas
dimensões num mesmo espaço.
Instituições conscienciocêntricas e demais organismos conscienciológicos
fazem parte da comunidade conscienciológica. Entretanto, a partir do momento da
territorialização, houve uma transformação qualitativa dessa coletividade, passando
do apenas “voluntariar” para o “morar-voluntariar” (binômio ICs–CCCI ou binômio
Instituições Conscienciocêntricas–Comunidade Conscienciológica Cosmoética
Internacional).
Vida institucional e vida comunitária se intercruzam: instituições que parecem
funcionar como comunidade e; comunidade que parece funcionar a partir de um
conjunto de instituições, porém não se limitando a elas.
443

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunidade conscienciológica localizada nos territórios do bairro Cognópolis-


Foz se formou a partir de escolhas feitas pelos voluntários em migrarem para se
aproximarem e viverem no mesmo local, tendo como propósito de vida a vivência
das ideias propostas pela Conscienciologia.
No capítulo 1, buscou-se indicar os caminhos trilhados na presente pesquisa.
No capítulo 2, explicitou-se que as raízes desta comunidade se encontram na
iniciativa de Waldo Vieira em fazer pesquisa sobre fenômenos parapsíquicos, em
especial e inicialmente sobre a experiência fora do corpo. Segundo Vieira, tal
fenômeno tem a capacidade de comprovar para a própria pessoa que o vivencia os
pilares do paradigma consciencial. Para tal finalidade, foi criada uma primeira
instituição (CCC) em 1981, que serviu de balão de ensaio para uma segunda
organização mais profissional (IIPC) em 1988, voltada para divulgação e pesquisa
da Projeciologia, em um primeiro momento, e depois a Conscienciologia.
A doação de um terreno em Foz do Iguaçu, em 1995, serviu de fator
desencadeador para a fundação de uma nova instituição (CEAEC) pensada para
funcionar como uma comunidade, com biblioteca, auditório de eventos, editora,
clínica de consciencioterapia, entre outras estruturas. Com o assentamento de
voluntários pioneiros nesse terreno, teve início a construção do CEAEC e o
movimento migratório conscienciológico para Foz do Iguaçu. Tais fatos se
desenrolaram no capítulo 3.
No capítulo 4, com a vinda de voluntários, apresentou-se a necessidade de
adquirir terrenos no entorno do CEAEC para fins habitacionais. A sede do IIPC
transferiu-se do Rio de Janeiro para Foz do Iguaçu em 2004, gerando o maior fluxo
migratório dessa comunidade. O que antes estava previsto para funcionar dentro do
campus CEAEC, como a clínica de consciencioterapia e a editora, acabaram se
transformando em novas instituições conscienciológicas. Na ocasião, novos terrenos
foram adquiridos para fins habitacionais e institucionais (expansão territorial).
Centenas de voluntários migraram para o município iguaçuense. Mais de 20
instituições foram criadas, sendo a maioria delas com sede em Foz do Iguaçu. Aos
poucos, foi se formando um bairro nas cercanias do CEAEC. Até se tornar oficial por
decreto da prefeitura, em 2009.
444

O capítulo 5 focou no tema da migração, procurando caracterizá-la e discuti-la


à luz, principalmente, da concepção da migração por estilo de vida, tipo de migração
que mais se assemelhou à mobilidade em estudo.
No último capítulo, discutiu-se o tema da comunidade conscienciológica, a
partir de ângulos das práticas culturais, do convívio, do sentido ou sentimento de
comunidade, entre outros.
Desse modo, a comunidade conscienciológica foi desencadeada pelo
voluntariado institucional e foi ganhando corpo a partir da dinâmica territorial e
migratória. Em síntese, pode-se dizer que o voluntariado, as territorialidades e a
migração atuaram como mecanismos de formação da comunidade
conscienciológica.
Ao reunir os indícios, apontados no decorrer dos capítulos, a partir dessas 3
dimensões delimitadoras do objeto em estudo: voluntariado, migração e
territorialidades, é possível sintetizar os acontecimentos que permitiram caracterizar
o movimento da Conscienciologia em Foz do Iguaçu como uma comunidade com
traços próprios.
A primeira dimensão teórica é o voluntariado. Os indícios foram a construção
coletiva do primeiro estatuto social do IIP na condição de primeiro esforço grupal de
criar um senso de pertencimento; o trabalho coletivo na elaboração do projeto do
campus CEAEC; o fato dos voluntários frequentemente mudarem de instituição
conscienciocêntrica ou fazerem trabalho voluntário em mais de uma instituição
favorece o sentimento comunitário; o fato de não receberem remuneração, nem
mesmo seus dirigentes, também contribui para o desenvolvimento do sentido de
comunidade; pelos fatos arrolados parece que os voluntários não encaram o
voluntariado puramente como um “trabalho”, mas no sentido de unir trabalho-
motivação-lazer, procurando extrair significações dessa prática, pois este é visto
como um modo de vivenciar o paradigma consciencial; voluntariar em instituição
conscienciológica parece ser um meio de estar perto de pessoas que compartilham
vivências parapsíquicas sejam os demais voluntários e/ou alunos de cursos
conscienciológicos.
Na esfera administrativa, a criação de instituições conscienciológicas com
objetivo preponderantemente endógeno, ou seja, de ajudar os membros da
comunidade conscienciológica, como por exemplo, a UNICIN, a AIEC e a
UNIESCON, também é um indício de sentimento comunitário.
445

O voluntariado da grande maioria das instituições conscienciocêntricas


abrange gestão, docência e pesquisa, cujos resultados (aulas, cursos e/ou livros)
são direcionados para o público externo e/ou interno, dependendo do nível de
profundidade do conteúdo pedagógico ou gráfico.
A especialização da Conscienciologia e o desenvolvimento dela pelas
respectivas instituições objetivavam expandir e aprofundar os estudos da
neociência, porém podem ter tido como efeito colateral a tendência de os cursos e
livros serem consumidos preponderantemente pela própria comunidade. Essa
condição reforça ao mesmo tempo o sentimento comunitário de um lado e pode
sugerir um certo fechadismo, por outro lado. Este aspecto merece reflexão por parte
da comunidade, considerando a interseção de sociabilidade dos 4 círculos sociais
dos conscienciólogos, o envelhecimento dos seus membros e o desafio da
perpetuação comunitária.
Na esfera intelectual, um exemplo de sentimento comunitário foi a colaboração
de voluntários com ideias e trabalho de pesquisa para as obras Homo sapiens
reurbanisatus e Homo sapiens pacificus, desenvolvidas no Holociclo. Equipes de
pesquisadores trabalharam integrados em diversas etapas da produção da obra:
pesquisa bibliográfica, revisão, elaboração da bibliografia, digitação, entre outras.
Outro exemplo foi, e ainda é, a elaboração da “Enciclopédia da
Conscienciologia”, que possui mais de 500 colaboradores que redigiram verbetes,
sendo que todos se submeteram e se submetem a um formulário verbetográfico a
ser preenchido e ao dia da “defesa” do verbete na tertúlia conscienciológica,
nivelando todos os participantes. Importante mencionar que a apresentação do
verbete na tertúlia é diária, o que significa que o ritmo de trabalho voluntário de
escrita, leitura, revisão e comunicação é intenso e só é possível pela união dos
voluntários não apenas moradores de Foz do Iguaçu, mas de outras localidades
brasileiras e estrangeiras que voluntariam e participam à distância.
O aspecto intelectual envolve também ideias e linguagem especializada
compartilhada por meio de neologismos para explicar vivências sob a amplitude do
paradigma consciencial, reforçando os vínculos comunitários.
Segundo, sob o ângulo da dimensão migratória, destaco o fato de a grande
maioria dos migrantes conscienciólogos, quando foram para Foz do Iguaçu, possuir
amigos no local. Essa rede social de contatos facilitou a perpetuação do fluxo
migratório, apesar da amizade não estar entre os motivos na decisão de migrar. Tal
446

dado dissonante pode sugerir a influência do processo mnemônico no sentido de


uma reconstrução da trajetória individual e redimensionamento dos pesos atribuídos
aos motivos para migração.
Além disso, chama a atenção a ocorrência de uma migração coletiva, motivada
pelo voluntariado, de mais de uma centena de voluntários do IIPC para Foz do
Iguaçu desencadeada com a transferência da sede para o município iguaçuense.
Não encontrei na literatura dos estudos migratórios, um fluxo migratório de
voluntários. Desse modo, essa investigação pode contribuir com os estudos
acadêmicos sobre a migração humana e sobre comunidades.
A migração conscienciológica pode ser considerada uma migração por estilo de
vida, se o trabalho voluntário for entendido como um estilo de vida. O voluntariado
conscienciológico envolve a busca de um sentido ou propósito de vida, que justifica
para os migrantes, mudanças de localidade nacional e mesmo internacional, a fim
de se fixarem mais permanentemente na comunidade conscienciológica em Foz do
Iguaçu.
Terceiro, da ótica das territorialidades, nas raízes dessa comunidade,
apareceram encontros na casa de voluntários e do próprio propositor da
Projeciologia, para conversar sobre e vivenciar exercícios bioenergéticos e
habilidades parapsíquicas. Desse primeiro momento foi possível estabelecer as
bases do IIPC. No trabalho do IIPC, em uma segunda fase, descobriu-se a
mobilidade ou “migração” intra-urbana ou intramunicipal dos voluntários seguindo a
mudança de endereço da sede do IIPC pelos bairros do Rio de Janeiro. Tal
fenômeno pode ser entendido como “embriões territoriais”. Em um terceiro
momento, essa formação de pequenos “núcleos territoriais” se repetiu no centro de
Foz do Iguaçu, até que fossem adquiridos os terrenos no bairro Cognópolis. E por
fim, em um quarto momento, a concentração das instituições e constituição de
condomínios habitacionais no bairro Cognópolis, espaços apropriados pelos
migrantes e o desenvolvimento das territorialidades conscienciológicas, ainda em
movimento.
Um aspecto merece destaque nessa dinâmica territorial. A confiança dos
voluntários e alunos dos cursos da Conscienciologia na gestão administrativa-
financeira da AIEC para concretização da compra dos terrenos e processamento
burocrático e legal da documentação referente aos lotes de, ao menos, duas
447

centenas de pessoas. Tal contexto configura-se como forte indício de pertencimento


comunitário.
Outro aspecto a ser ressaltado foi a criação dos lugares de memória nos
territórios conscienciológicos. Tomando a Aleia dos Gênios da Humanidade como
exemplo de indício a fim de explicitar a identidade coletiva desta comunidade, ela
inspira os conscienciólogos para a escrita, atua como modelos comportamentais e
ressalta a transição do pensamento mítico para o racional, por monumentalizar
seres humanos, que cometem erros e acertos, e não deuses, inacessíveis.
Mais um elemento das territorialidades é a vivência do “voluntariar” em
interação com a vivência do “morar-voluntariar” no bairro Cognópolis-Foz. A fronteira
entre estar em casa e estar na instituição conscienciocêntrica nem sempre é bem
definida. Para alguns, parece que os limites são tênues.
Há os que são voluntários e moram na Cognópolis-Foz. Há os que são
voluntários e moram fora da Cognópolis, em Foz do Iguaçu ou fora de Foz do
Iguaçu. Há os que ora moram na Cognópolis-Foz ora moram fora do bairro
conscienciocêntrico. Há os que não são voluntários, contudo são alunos regulares
de cursos e das atividades da Conscienciologia, em Foz do Iguaçu e fora deste
município.
Quanto aos que não estão presentes fisicamente na Cognópolis-Foz, sejam
voluntários ou alunos, há os que participam do cotidiano do bairro à distância,
virtualmente, pela internet. Há inclusive um paradoxo daqueles que estando à
distância, conseguem estar mais presentes no cotidiano da comunidade
conscienciológica do que os que se encontram presentes fisicamente na
Cognópolis-Foz. Ausentes-presentes. Presentes-ausentes. Além disso, há embriões
de novas Cognópolis em outras localidades brasileiras. São múltiplas facetas da
comunidade conscienciológica, impossibilitando abarcar todas essas possibilidades
neste estudo.
Concluo, com base nas fontes de pesquisa, que a comunidade
conscienciológica é um fenômeno social e cultural caracterizado com traços híbridos
do tradicional e do moderno, ao mesmo tempo, com típicos problemas comunitários,
por outro lado com um forte caráter institucionalizado. As instituições em si parecem
funcionar como pilares sustentadores da coletividade conscienciológica como um
todo, compreendendo os territórios do bairro Cognópolis-Foz e sua extensão física e
virtual fora de Foz do Iguaçu. Difícil imaginar a existência desta comunidade sem a
448

fundação e atuação constante das instituições conscienciocêntricas. Nesse sentido,


pode-se falar em uma “comunidade institucionalizada” ou “comunidade contratual”.
Não se pode esquecer que as instituições e a comunidade foram se
constituindo com objetivo de desenvolver a ciência da consciência humana
(Conscienciologia). Esta se caracteriza sobretudo como uma proposta de um modo
de viver com base em vivências e em experimentações quebrando as fronteiras
entre o material e o imaterial, entre o psíquico e o parapsíquico, entre teoria e
prática, balizada pelos pares por meio de debates e interações orais e escritas
(intersubjetividade ou interconsciencialidade).
Embora seja mais fácil enumerar as características do que conceituar a
comunidade conscienciológica, vou esboçar uma definição. A comunidade
conscienciológica é um agrupamento formado essencialmente por voluntários,
residentes no bairro Cognópolis-Foz, porém não restrito a esta localidade, reunidos
em práticas cotidianas institucionais e não-institucionais, que envolvem motivos
sociais, intelectuais e existenciais, em uma configuração híbrida do tradicional-
moderno, tendo como elemento comum a vivência do corpus de conhecimento da
Conscienciologia.
Esse estudo procurou evidenciar a complexidade da realidade comunitária
conscienciológica no que tange sobretudo à sua formação em relação ao trabalho
voluntário, à migração e às territorialidades, sem enquadrá-la em tipologias rígidas,
sem simplificações, valorizando a pluralidade de pontos de vista dos
conscienciólogos, acentuando acontecimentos individuais e coletivos.
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ESTATUTO Social do Instituto Internacional de Projeciologia, de 30 jun. 1995, p. 1. 7
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Documentos Entrevistas Orais

GONÇALVES, Moacir Lima. Entrevista concedida em 18/04/2019 a Cristiane


Ferraro, Foz do Iguaçu.
OLIVEIRA, Nara R. O. de e SANTOS, Everton S. dos. Entrevista concedida em
17/05/2019 a Cristiane Ferraro, Foz do Iguaçu.
PIZARRO, Marco Antonio. Entrevista concedida em 23/05/2019 a Cristiane Ferraro,
Foz do Iguaçu.
SANTOS NETO, José Domingos. Entrevista concedida em 19/10/2018 a Cristiane
Ferraro, Foz do Iguaçu.
STEINER, Alexander Miraglia. Entrevista concedida em 29/03/2019 a Cristiane
Ferraro, Foz do Iguaçu.

Documentos Fotografias

Acervo de Alexander Steiner


Fundação do Instituto Internacional de Projeciologia (IIP), no Leblon, no Rio de
Janeiro (RJ), em 16 de janeiro de 1988.

Acervo do Holociclo (CEAEC) – Foz do Iguaçu/PR


Maquete do Plano Piloto inicial do CEAEC (no livro Temas da Conscienciologia, de
Waldo Vieira, 1997).
Projetos habitacionais no entorno do campus CEAEC (no Jornal do Campus
CEAEC, Foz do Iguaçu, ano 08, n. 93, p. 1, abr. 2003).
Localização do condomínio Evolução (no Jornal do Campus CEAEC, Foz do Iguaçu,
ano 10, n. 114, p. 4, jan. 2005).
Áreas da Conscienciologia na Cognópolis (no Jornal da Invéxis, Foz do Iguaçu, ano
14, n. 19, p. 7, abr. 2008).

Acervo de José Domingos Santos Neto


459

Reunião de preparação da fundação do IIP realizada na sala de George Kropotoff na


praça Saens Peña, Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), 1987.
Fundação da Cooperativa dos Colaboradores do Instituto Internacional de
Projeciologia (COOIIP), na Glória, no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de julho de 1995.

Acervo Pessoal

Álbum fotográfico da autora. Viagem a Uberaba e Monte Carmelo, 1997.


Álbum fotográfico da autora. Viagem a Uberaba e Monte Carmelo, 2004.
Aleia dos gênios da humanidade. CEAEC, Foz do Iguaçu, 02 set. 2019.
Mapa do campus CEAEC. Foz do Iguaçu, 02 set. 2019.
Placa de rua sinalizando a localização da “Conscienciologia” na Rodovia das
Cataratas, em Foz do Iguaçu, 20 jul. 2019.

Documentos Jornais

Acervo Holociclo (CEAEC) – Foz do Iguaçu/PR


A ARTE de misturar culturas. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 17, n. 5.069,
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AOS 95 ANOS Foz do Iguaçu ganha novo bairro. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 21, n. 6.279, p. G20, 10 jun. 2009.
ATRATIVOS turísticos. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 21, n. 6.354, p. t9,
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AZEVEDO, Gabriel. Bairro de Foz vive experiência de democracia pura. Gazeta do
Povo, Curitiba, ano 92, n. 29.421, p. 16, 31 maio 2010.
BAIRRO Cognópolis faz reivindicações durante Câmara Itinerante. A Gazeta do
Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 22, ed. 6.437, p. e4, 17 dez. 2009.
BONATO, Rogério. Bola pra frente. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed.
8.102, p. a4, 9 jul. 2015.
BONATO, Rogério. Resposta. A Verdade. Paralelamente. A Gazeta do Iguaçu, Foz
do Iguaçu, ano 27, ed. 8.130, p. a4, 11 ago. 2015.
CEAEC completa 20 anos em Foz. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed.
8.107, p. b3, 15 jul. 2015.
CEAEC: Esclarecimento à Comunidade. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano
27, ed. 8.129, p. b6, 10 ago. 2015.
CEAEC promove atividades culturais gratuitas à população. A Gazeta do Iguaçu,
Foz do Iguaçu, ano 27, n. 8.492, p. 11, 24 out. 2016.
CEAEC promove cursos avançados. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 10, n.
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Iguaçu, ano 2, ed. 713, p. 10, 24 out. 2018.
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CHÁ das Cinco relembra Era Vitoriana e a escritora Marie Corelli. A Gazeta do
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Iguaçu, ano 27, ed. 8.130, p. a6, 11 ago. 2015.
DIRETORIA do CEAEC. Conscienciologia: esclarecimento e convite. A Gazeta do
Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 18, n. 5.576, p. 18-19, 13 fev. 2007.
EM 1914, Foz possuía cerca de 2 mil habitantes. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
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EXÉRCITO impulsiona ocupação por brasileiros. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
Iguaçu, ano 20, n. 5.975, 9 jun. 2008. Encarte 94 anos de Foz do Iguaçu, p. 3.
FAKIH, Fouad Mohamad. É hora de cobrar responsabilidades e respeito. A Gazeta
do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 18, ed. 5.530, p. 16-17, 18 dez. 2006.
FAKIH, Fouad Mohamad. Por que o diagnóstico? A Gazeta do Iguaçu, Foz do
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FEIRA do Livro inicia nova era cultural. Jornal Primeira Linha, Foz do Iguaçu, ed.
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FIQUEIRA, Nelson. Conferência aborda efeitos da destruição de livros à
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FIGUEIRA, Nelson. Eventos vão ressaltar aspectos multiculturais da cidade. A
Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 17, n. 5.043, p. 20 e 21, 09 maio 2005.
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trincheira. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 24, ed. 7.216, p. a6, 20 jul. 2012.
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GODOY, Mayara. Foz do Iguaçu ganha auditório circular de 360º. A Gazeta do
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KONIG, Mauri. Foz tem o 1º. Spa do autoconhecimento. O Estado do Paraná,
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MEIRELES, Roger. O que fazer nas Três Fronteiras? A Gazeta do Iguaçu, Foz do
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MELLÃO NETO, João. O recado dos espanhóis. O Estado de S. Paulo, São Paulo,
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MORRE médico Waldo Vieira. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed.
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MOSTRA declina um olhar sobre Foz. Jornal do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano VIII, n.
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NOITE de Gala movimenta Foz. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 26, ed.
8.077, p. a16, 8 jun. 2015.
O ORIENTE é logo ali: casal de pesquisadores quer promover proximidade entre
culturas oriental e ocidental dentro da cidade. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu,
ano 16, n. 4.683, p. 15, 01 mar. 2004.
PARO, Denise. Bairro resgata a democracia da Grécia. Gazeta do Povo, Curitiba,
ano 95, n. 30.723, p. 11, 02 jan. 2014.
PARO, Denise. Etnias de Foz debatem formas de aproximação: Fórum abre
discussão sobre a convivência de cidadãos de diversas origens. Gazeta do Povo,
Curitiba, ano 87, n. 27.652, p. 8, 15 jul. 2005.
PETERS, Thays. CEAEC lançará candidatos nas eleições municipais. A Gazeta do
Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 27, ed. 8.108, p. b1, 16 jul. 2015.
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PINTO, Mônica Cristina. População que agrega as melhores tradições. A Gazeta do


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PORTUGAL liberta energias positivas. Correio da Manhã, Lisboa, ano XXIII, n.
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REIS, José (Cazuza). Conscienciologia poderá disputar prefeitura pelo PHS. A
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SOBRE CONSCIÊNCIA, conhecimento e diversão. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
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VALIENTE, Daniela. Foz ultrapassa marca de 293 mil habitantes. A Gazeta do
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Iguaçu, Foz do Iguaçu, ano 14, n. 4.150, p. 18 e 19, 05 de jun. 2002.
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WALDO Vieira ministrará curso sobre evolução. A Gazeta do Iguaçu, Foz do Iguaçu,
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WALDO Vieira sofre AVC e está em estado grave. A Gazeta do Iguaçu, Foz do
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Acervo Pessoal

EX-ALUNO é pesquisador em Conscienciologia. Revelação, Uberaba, ano VII, n.


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IIPC e CEAEC promovem curso “Grupos Evolutivos” no domingo em Uberaba.
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JUBILEU de Ouro da Uniube traz pesquisador da Conscienciologia. Jornal de
Uberaba, Uberaba, ano XIX, n. 5.407, p. A6, 25 set. 2004.
UBERABA recebe professor Waldo Vieira. Cidade Livre, Uberaba, ano 2, n. 609, p.
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Documentos Revistas

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GRAZIANO, Romero. Estratégia Evolutiva no Salto da Consciência. Planeta, São


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KOJUNSKI, Mariana. Papo sério com Lourival Roman e Ivo Valente. Revista 100
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PARO, Denise. Chá das cinco: Consecutivus promove chá inglês retrocognitivo.
Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 11, ed. 128, p.96-101, maio 2016.
PARO, Denise. Noite de Gala: convidados fazem um passeio por outras épocas
vividas. Revista 100 Fronteiras, Foz do Iguaçu, ano 10, ed. 118, p. 97, 102-110, jul.
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PARO, Denise. Salão Intelectual Renascentista: uma volta ao passado. Revista 100
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Acervo Pessoal
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476

APÊNDICE
477

APÊNDICE A – A TRANSFORMAÇÃO DO CEAEC EM ASSOCIAÇÃO

Esse apêndice A visa expor a transformação do CEAEC em associação. Das


diversas formas jurídicas possíveis a serem adotadas no terceiro setor, tais como
associação, fundação, organizações religiosas e organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIPs), a “associação” foi a que melhor se ajustou aos
princípios e valores da Conscienciologia.
Associação “é a pessoa jurídica criada com base na união de ideias e esforços
de pessoas em torno de um propósito que não tenha finalidade lucrativa.”1 . São
entidades sem finalidade econômica, entendendo-se finalidade como o fim para o
qual foi concebida, sendo, entretanto, permitida a atividade econômica. Os recursos
gerados são aplicados nas atividades da própria instituição.
Nem o CEAEC nem nenhuma IC virou OSCIP porque esta possibilita a
remuneração dos dirigentes e tal condição não é admitida nas instituições
conscienciocêntricas.
O título de Utilidade Pública Federal (UPF) foi adquirido pelo IIPC pelo período
de 1998 a 2015 e também por uma outra IC fundada em 2003 voltada para a saúde,
porém a aquisição por esta do título foi um pouco antes da revogação da Lei da UPF
(Lei 91, de 28/08/1935), sendo que hoje não existe mais esse reconhecimento por
parte do Ministério da Justiça (art. 9, da Lei 13.204, de 14/12/2015).
O que as ICs têm conseguido, é a imunidade constitucional, pelo fato de serem
sem fins de lucro e prestarem serviço à comunidade através de eventos gratuitos,
tais como tertúlias, cursos e palestras. O poder público entende que essas
instituições são adjuvantes do Estado na prestação de assistência à população.
Essa “imunidade” é a autorização prevista em Lei para não pagar imposto ou
contribuição, por ser associação sem fins de lucro. Contudo, a IC precisa solicitar
esse reconhecimento junto à Prefeitura (para os prestadores de serviço) ou junto ao
Estado (para os contribuintes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços - ICMS).

1
ALBUQUERQUE, Antonio C. C. de. Terceiro Setor: história e gestão de organizações. São Paulo:
Summus, 2006, p. 42.
478

A Lei 9.532, de 18 de dezembro de 1997, no parágrafo 2º., art. 12, reconhece a


imunidade e exige das associações para o gozo de referido benefício constitucional,
a obrigação de cumprir 7 requisitos.
O primeiro é não remunerar seus dirigentes pelos serviços prestados. O
segundo, aplicar na íntegra seus recursos na manutenção dos seus objetivos
sociais. O terceiro, manter livros com os dados completos de suas receitas e
despesas. O quarto, conservar, por 5 anos, os documentos comprobatórios da
origem de suas receitas e de suas despesas, ou ainda de qualquer ato que
modifique sua situação patrimonial.
O quinto requisito é apresentar, todo ano, a Declaração de Rendimentos, de
acordo com as orientações da Secretaria da Receita Federal. O sexto é “recolher os
tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e a contribuição
para a seguridade social relativa aos empregados, bem assim cumprir as obrigações
acessórias daí decorrentes”. O sétimo é assegurar o destino do seu patrimônio a
outra instituição assemelhada, “no caso de incorporação, fusão, cisão ou de
encerramento de suas atividades, ou a órgão público.”
Em síntese, procurou-se esclarecer o porquê do CEAEC ter se tornado uma
associação e não ter assumido outra forma jurídica.
479

ANEXO
480

ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA


481
482

UNIOESTE - CENTRO DE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA
SAÚDE DA UNIVERSIDADE
Continuação do Parecer: 2.625.817

Folha de Rosto folhaDeRosto_Cristiane_Assinado.pdf 09/04/2018 Cristiane Ferraro Aceito


12:38:49
Projeto Detalhado / Projeto_Detalhado.pdf 09/04/2018 Cristiane Ferraro Aceito
Brochura 11:36:57
Investigador

Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não

CASCAVEL, 27 de Abril de 2018

Assinado por:
Dartel Ferrari de Lima
(Coordenador)

Endereço: UNIVERSITARIA
Bairro: UNIVERSITARIO CEP: 85.819-110
UF: PR Município: CASCAVEL
Telefone: (45)3220-3272 E-mail: cep.prppg@unioeste.br

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