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Goiânia
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE HISTÓRIA
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar,
gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), regulamentada pela Resolução CEPEC nº
832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei 9.610/98, o documento conforme permissões assinaladas
abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.
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violação de quaisquer direitos autorais ou outro direito de terceiros.
1. Identificação do material bibliográfico
[ X ] Dissertação [ ] Tese [ ] Outro*:_____________
*No caso de mestrado/doutorado profissional, indique o formato do Trabalho de Conclusão de Curso, permitido no documento de área, correspondente ao programa de pós-graduação, orientado
pela legislação vigente da CAPES.
Exemplos: Estudo de caso ou Revisão sistemática ou outros formatos.
Documento assinado eletronicamente por Raquel Machado Gonçalves Campos, Professora do Magistério Superior, em
10/04/2023, às 15:27, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.
Documento assinado eletronicamente por Gabriela Santos Almeida, Discente, em 10/04/2023, às 15:51, conforme horário oficial
de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.
Goiânia, 2023
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.
CDU 94
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE HISTÓRIA
Ao/s vinte e quatro dias do mês de março do ano de dois mil e vinte e três, a partir da(s) 14h00,
via Videoconferência, realizou-se a sessão pública de Defesa de Dissertação intitulada “A família escrava
nos livros didáticos de História”. Os trabalhos foram instalados pelo(a) Orientador(a), Professor(a)
Doutor(a) Raquel Machado Gonçalves Campos (ProfHistoria/UFG), com a participação dos demais
membros da Banca Examinadora: Professor(a) Doutor(a) Maria Lemke (FH/UFG), membro titular externo;
Professor(a) Doutor(a) Juçara da Silva Barbosa de Mello (PUC-Rio), membro titular externo. Durante a
arguição os membros da banca não fizeram sugestão de alteração do título do trabalho. A Banca
Examinadora reuniu-se em sessão secreta, a fim de concluir o Julgamento da Dissertação, tendo sido(a) o(a)
candidato(a) aprovado(a) pelos seus membros. Proclamados os resultados pelo(a) Professor(a)
Doutor(a) Raquel Machado Gonçalves Campos, Presidente da Banca Examinadora, foram encerrados os
trabalhos e, para constar, lavrou-se a presente ata que é assinada pelos Membros da Banca Examinadora,
ao(s) vinte e quatro dias do mês de março do ano de dois mil e vinte e três.
AGRADECIMENTOS
This dissertation aimed to analyze how the 7th and 8th grade History textbooks for
Elementary School approved by the PNLD of 2020 address issues such as the existence
of slave families, slave resistance to captivity, the participation of slaves in social
movements and their participation in the abolitionist struggle, based on recent
historiographical discussions. First, an overview of the historiography on slavery in
Brazil and the main historiographical tendencies on the subject are presented. Next, the
content of the textbooks is examined. From the reading and analysis of the books, it can
be seen that the great majority of the approved textbooks present and are based on recent
historiographical studies, however many do not address, or address very briefly, the
existence of slave families. And it is taking into account this gap, that the “Manual
Didático – FAMÍLIA E AFETIVIDADE ESCRAVA NO SÉCULO XIX" is proposed. In
this material, I have tried to present support texts and suggestions of periodical sources
for teachers to approach in class the various types of family constitution and affectivity
among slaves. Besides, in this material I also try to present the trajectory of the
historiography about the theme in Goiás.
Capítulo 1. 14
Antigas e novas perspectivas: como a escravidão e a abolição esta sendo
estudada na academia?
Capítulo 2. 33
2.1. Escravidão e abolição retratada nos livros didáticos
2.1.3. Historiar 61
2.1.5. História.doc 77
Referências 214
Anexos 216
INTRODUÇÃO
11
miscigenação, e as rupturas do pensamento freyreano frente à intelectuais da época. Em
seguida é discutido as contraposições da “Escola Paulista de Sociologia”, que a partir de
referenciais marxistas, relacionam raça e questões econômicas no Brasil e se opõem a
“benignidade” da escravidão de Gilberto Freyre, enfatizando que pelo contrário: a
escravidão foi uma nódoa na sociedade brasileira, marcada pela extrema violência. Por
fim, discuto como surgem novas perspectivas sobre a escravidão a partir da década de
1980, alguns de seus representantes e as transformações que proporam para se pensar a
escravidão no Brasil, enfocando principalmente, nos estudos sobre resistências e família
escrava.
No capítulo seguinte foi feita a análise das onze coleções da disciplina de História
que foram aprovadas no PNLD de 2020 para os anos finais do Ensino Fundamental.
Foram estudados os volumes do 7º e 8º ano, analisando inicialmente as propostas do
material do professor e sem seguida, investigando capítulo por capítulo do livro do aluno,
como os autores incorporam no material do aluno e nas sugestões ao professor novas
perspectivas e estudos recentes sobre a escravidão, sobre o sistema colonial, e
principalmente sobre a formação de famílias escravas. Também é pontuado como são
utilizadas fontes e documentos históricos nestas obras.
Em seguida, é exposto como as coleções foram recebidas pela comunidade
escolar, ordenando quais obras foram mais adquiridas pelo PNLD. Para esta investigação,
foi necessário organizar os dados estatísticos publicados no website do FNDE, a tabela
divulgada apresentava os valores pagos para a aquisição de todas as coleções de todas as
disciplinas dos anos finais do Ensino Fundamental que seriam utilizadas a partir do ano
de 2020. Portanto, foi necessário filtrar apenas os valores gastos para adquirir as coleções
de História, e em seguida, organizar estes dados de forma decrescente, ordenando as
coleções mais adquiridas até as menos adquiridas. Estes dados foram comparados com
dados já divulgados pelo FNDE sobre as coleções mais utilizadas no edital no PNLD
anterior, evidenciando que além de muitas obras se repetirem, as três obras mais
adquiridas no último edital são as mesmas do penúltimo edital.
No mesmo capítulo, é feito uma síntese geral de como as coleções se utilizam e se
baseiam em estudos recentes da historiografia e estudos sobre famílias escravas.
Elencando e exemplificando como algumas coleções utilizam-se de forma satisfatória ou
não, destes conhecimentos.
Por fim, ainda no segundo capítulo é discutido brevemente sobre algumas
propostas sobre o uso de novas fontes históricas e documentos em sala de aula, e sobre
12
como o professor pode incorporar os jornais e periódicos em aulas de história. Esta
discussão é fundamental para se entender a proposta do produto final da dissertação, um
manual exposto no capítulo seguinte.
A proposta de produto final para esta dissertação é um manual didático voltado a
professores de história, intitulado “Manual Didático – Famílias e afetividade escrava no
século XIX”. Este material é dividido em quatro partes principais, uma introdução, onde
se contextualiza as circunstâncias sociais da população negra no Brasil, e aborda a
legislação e as diretrizes educacionais que reforçam o ensino de relações étnico raciais.
Nas orientações iniciais discorre-se sobre a metodologia para o uso das fontes do
material, além de se pontuar a sua importância para a construção do conhecimento
histórico e criticidade. Logo após, é proposto uma sequência didática com três momentos,
que tem como objetivo compreender as diversas formas de representação de famílias
escravas em jornais oitocentistas. Por fim, textos de apoio e sugestões de fontes
periódicas são apresentadas. O conteúdo destes textos e dos excertos de jornais
desenvolvem a temática sobre relações familiares entre escravos no século XIX, e um
tópico específico, analisa a produção historiográfica sobre as famílias escravas em Goiás.
13
Capítulo 1 – Antigas e novas perspectivas: como a escravidão e a abolição esta sendo
estudada na academia?
As tendências historiográficas e os estudos sobre a escravidão brasileira podem
ser classificados a partir de três eixos principais:
Inicialmente, vejo a necessidade de analisar e apresentar os debates
historiográficos sobre a escravidão no Brasil. Nesse sentido, parto da divisão adotada por
historiadores como Suely Robles Reis Queiroz1, Rafael de Bivar Marquese2, que
defendem o desenvolvimento dos estudos sobre escravidão a partir de três eixos
principais: a publicação de Casa-grande & Senzala, em 1933, por Gilberto Freyre, com a
defesa do patriarcalismo e da benignidade as relações senhoriais no Brasil, quando
comparada às de outros países escravistas, em particular os EUA. Em seguida, a partir de
1950, atrelados a uma perspectiva de explicação marxista e inicialmente patrocinados
pelo projeto Unesco, Florestan Fernandes, Roger Bastide e Oracy Nogueira, entre outros,
desenvolvem diversos artigos sobre a questão racial e as desigualdades no Brasil,
evidenciando as relações entre a raça e condições socioeconômicas. Ainda inspirados
pelas teorias marxistas, intelectuais como Fernando Novais, Fernando Henrique Cardoso,
Ciro Flamarion Cardoso, Emilia Viotti, etc, dão continuidade às interpretações
estruturalistas. De modo geral, seus trabalhos divergem das teorias de Gilberto Freyre,
defendendo, entre outros pontos, a relação entre escravidão e acumulação de capital e sua
inserção em um contexto mundial de formação do capitalismo, a negação da amenidade
das relações, acompanhada da ênfase na violência como instrumento fundamental para a
exploração do trabalho de escravizados. Por fim, a partir da década de 1980, devido às
crises e esgotamento dos modos de explicação estruturais, à estruturação e ao
crescimento dos programas de pós-graduação no Brasil, dentre outros motivos,
pesquisadores passaram a analisar as relações escravistas a partir de outras perspectivas.
Influenciados pelas mudanças da historiografia no exterior e formados profissionalmente
para serem historiadores, retornaram aos arquivos, , inaugurando outras abordagens de
estudo sobre a escravidão. Ganharam notoriedade temas como a formação de uma família
escrava, relações de gênero presentes no cativeiro, as diferenças entre escravidão urbana
e rural, além da análise de práticas e estratégias de liberdade e alforria, evidenciando
1
QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. Escravidão negra em debate. In: FREITAS, Marcos Cezar (Org.).
História e historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo. Contexto, 1998.
2
MARQUESE, Rafael de Bivar. As desventuras de um conceito: capitalismo histórico e a historiografia
sobre a escravidão brasileira. Revista História (São Paulo). 2013, n.169, pp.223-253.
14
principalmente a autonomia dos cativos e sua possibilidade de agir como sujeitos ativos
e atores sociais.
3
FREYRE, Gilberto. op cit, p. 69.
15
consequentemente, a uma miscigenação racial, assegurando a tentativa de colonização e
suas características de permanência. Outra condição favorável seria a aclimatação;
diferente de colonizadores oriundos de países de clima frio, Portugal teria um clima
parecido com o clima africano, assim, seus deslocamentos para os trópicos não geraram
grandes dificuldades de adaptação. Os mestiços nascidos na colônia, resultado das
relações entre brancos e mulheres de cor, estariam ainda mais ambientados ao clima
tropical fisicamente.
16
Na Bahia tem-se a impressão de que todo dia é dia de festa. Festa de
igreja brasileira com folha de canela, bolo, foguete, namoro.(FREYRE,
G. 2003, p. 372)
17
mucamas, irmãos de criação dos meninos brancos. Indivíduos cujo
lugar na família ficava sendo não o de escravos mas o de pessoas de
casa. Espécie de parentes pobres nas famílias européias. À mesa
patriarcal das casas-grandes sentavam-se como se fossem da família
numerosos mulatinhos. Crias. Malungos. Moleques de estimação.
Alguns saíam de carro com os senhores, acompanhando-os aos passeios
como se fossem filhos. ( FREYRE, G. 2003, p. 435)
4
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade
negra. 3ªed. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2008.
18
O fim do sistema escravista, em 1888, coloca aos pensadores brasileiros
uma questão até então crucial: a construção de uma nação e de uma
identidade nacional. Ora, esta se configura problemática, tendo em vista
a nova categoria de cidadãos: os ex-escravizados negros. Como
transformá-los em elementos constituintes da nacionalidade e da
identidade brasileira quando a estrutura mental herdada do passado, que
os considerava apenas como coisas e força animal de trabalho, ainda
não mudou? Toda a preocupação da elite, apoiada nas teorias racistas da
época, diz respeito à influência negativa que poderia resultar da herança
inferior do negro.5
De tudo que fica dito é fácil tirar a conclusão. Dos tres povos que
constituíram a actual população brasileira, o que um rastro mais
profundo deixou foi por certo o portuguez; segue-se-lhe o negro e
depois o indígena. À medida, porém, que acção directa das duas ultimas
tende a diminuir, com a internação do selvagem e a extincção do trafico
dos pretos, a influencia européa tende a crescer com a immigração e
pela natural propensão para prevalecer o mais forte e o mais hábil. O
mestiço é a condição dessa victoria do branco, fortificando-lhe o sangue
para habilital-o aos rigores de nosso clima.
É em sua fôrma ainda grosseira uma transição necessária e util, que
caminha para approximar-se do typo superior.7
5
MUNANGA, Kabengele, op cit. p. 48
6
ROMERO, Sylvio. História da litteratura brasileira.2.ed., melhorada pelo autor. Rio de Janeiro. H.
Garnier, 1902. p. 4.
7
ROMERO, Sylvio.op. cit. p. 91
19
O negro é adaptavel ao meio americano; é susceptível de aprender; não
tem as desconfianças do indio; pôde viver ao lado do branco, alliar-se a
elle. Temos hoje muitos pretos que sabem ler e escrever; alguns
formados em direito, medicina, ou engenharia; alguns commerciantes e
ricos; outros jornalistas e oradores. Ao negro devemos muito mais do
que ao indio; elle entra em larga parte em todas as manifestações de
nossa actividade. Cruzou muito mais com o branco. 8
Lilia Schwarcz esclarece que, para Nina Rodrigues, o maior problema vivenciado
no Brasil era a falta de uma homogeneidade étnica, fruto da mestiçagem. “Os grupos
negros, por sua vez, eram considerados em seu conjunto [...] um impedimento à
civilização branca, ou melhor ‘um dos fatores de nossa inferioridade como povo’”.10
Considerando portanto a heterogeneidade brasileira, para Nina Rodrigues, seria
necessário criar instrumentos jurídicos que diferenciassem as penas legais para cada
classe da população. Uma vez que não compartilham de uma mesma “cultura mental”,
algumas raças inferiores (negros, mestiços e indígenas) não seriam suficientemente
desenvolvidas (tal qual os brancos civilizados) e carregariam consigo a criminalidade e o
baixo nível psíquico de discernimento e consciência de livre-arbítrio.11
Que a cada phase da evolução social de um povo, e ainda melhor, a
cada phase da evolução da humanidade, se comparam raças
8
ROMERO, Sylvio.op. cit. p. 74.
9
RODRIGUES, Raimundo Nina. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brazil. Editora
Guanabara. 1995.
10
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil
1870-1930. São Paulo. Companhia das Letras, 1993. p. 208
11
RODRIGUES, Raimundo Nina. op cit. p. 112
20
anthropologicamente distinctas, corresponde uma criminalidade propria,
em harmonia e de accordo com o gráo do seu desenvolvimento
intellectual e moral.12
12
RODRIGUES, Raimundo Nina. op cit. p. 50.
13
QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. Escravidão negra em debate. In: FREITAS, Marcos Cezar (Org.).
Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998 p. 104.
14
Cf. PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo. Brasiliense, 2004
21
Durante o ano de 1951, a Unesco lançou o Programa de Pesquisas sobre as
Relações Raciais no Brasil, que tinha como objetivo financiar diversas pesquisas que
tratassem do tema, buscando compreender como se estruturava o equilíbrio e a tolerância
racial no país. O projeto foi motivado por uma demanda social sobre o passado recente;
devido à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto, o problema da raça entrou em
debate, de modo que se reivindicavam iniciativas de estudos sobre o tema. Longe de
reafirmar a tolerância racial brasileira, os resultados das pesquisas revelaram o contrário:
a inconsistência do mito da democracia racial no Brasil.
Em 1955, Florestan Fernandes e Roger Bastide, patrocinados pelo Projeto
UNESCO, publicam os resultados de suas pesquisas sobre as relações raciais em São
Paulo15. Para os autores, assim como São Paulo, o futuro do Brasil poderia ser o de uma
sociedade de classes moderna, mas onde a população de cor não estaria apta a integrar
esse cenário. Sendo comparada com o caso norte-americano, na realidade brasileira os
ex-escravos não tiveram meios de se integrar à sociedade capitalista, sendo excluídos do
mercado de trabalho formal.
Florestan Fernandes expõe que a escravidão servia como um elemento
fundamental para o desenvolvimento do capitalismo mercantil e criticava a visão
amenizadora da violência senhorial. Inseridos em uma sociedade estamentada, os negros
se encontravam relegados à condição de mercadoria, ou seja, faziam parte da sociedade
apenas como força de trabalho e propriedade de seu senhor.
15
BASTIDE, ROGER; FERNANDES, Florestan. Relações Raciais entre brancos e negros em São Paulo:
ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os efeitos do preconceito de cor no município de
São Paulo. São Paulo: Anhembi, 1955.
22
da circulação, tornando tal rede de negócios uma inexaurível mina de
ouro. 16
16
FERNANDES, Florestan . Circuito fechado: quatro ensaios sobre o “poder institucional”. São Paulo :
Globo, 2010. p. 33
17
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. Volume I - O legado da raça
branca. São Paulo. Dominus Editora. 1965. p. 193
18
ibid, p. 197.
23
mito da democracia racial passou a caracterizar a “ideologia racial brasileira” e difundir
generalizações sobre a questão da raça no Brasil.
Em 1966 Emilia Viotti publica o livro Da Colônia à Senzala, obra fruto de sua
tese de livre docência. Nele a historiadora busca compreender as transformações que
levaram à decadência do sistema escravista nas zonas cafeeiras em São Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro, tendo como método de análise o materialismo dialético. Para
Emilia Viotti, o fim da escravidão se insere em uma série de transformações do sistema
colonial, movidas pelas modificações do capitalismo, principalmente com a Revolução
Industrial, impossibilitando a manutenção da escravidão. Também se opondo a Gilberto
Freyre, Viotti considera que o racismo e o preconceito racial eram parte fundamental da
sociedade colonial, formando um sistema disciplinar baseado na violência e estruturas de
poder hierárquicas. A escravidão, vista como um sistema que constantemente gerava a
violência, tanto do escravo, quanto por parte do senhor, não poderia ser considerada
benevolente.
Como a sociedade brasileira fora moldada pela distinção racial entre brancos e
negros, entre dominantes e dominados, com a abolição esse sistema de valores e
costumes não desaparece e a população liberta continua dependente.
Octávio Ianni também tece críticas à obra de Freyre: para o sociólogo, um dos
problemas no estudo de Gilberto Freyre é seu a-historicismo, sua ausência de perspectiva
histórica. Freyre propõe uma história, uma série de acontecimentos, mas não
contextualiza os embates e tensões sociais que a permeiam: “explica os acontecimentos
sem preservar e incorporar interpretativamente os movimentos, desigualdades,
desequilíbrios, tensões ou antagonismos que expressam o andamento histórico”20. Para
Ianni, Freyre omite em suas obras a dialética das relações externas e internas ao se tratar
19
COSTA, Emília Viotti da Costa. Da senzala à colônia. São Paulo, Fundação Editora da Unesp, 1998, p.
335
20
IANNI, Octávio. Escravidão e história. Debate & crítica, São Paulo, p.131-144, 1975 . p. 140
24
da formação do escravismo no Brasil, pontuando apenas uma concepção social e cultural
e não tratando das relações econômicas capitalistas mercantis em que o Brasil se inseriu.
Deste modo, assim como outros integrantes da Escola Paulista, Ianni defende a
necessidade da análise do tema entendendo a existência uma dependência entre a
formação social do escravismo e as relações econômicas do capitalismo mundial.
21
MACHADO, Maria Helena P. T. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a história
social da escravidão. Revista Brasileira de História, v. 8, n. 16, p. 143-160, 1988. p. 145
25
O debate sobre o caráter violento da escravidão retorna à historiografia. A partir
da década de 1980, historiadores consideram que havia espaços de negociação dentro do
sistema escravocrata, entre senhores e escravos. Um sujeito escravizado teria a
possibilidade de utilizar estratégias para sobreviver e garantir um cativeiro mais brando.
Assim, se reforça a ideia de que os cativos tinham um papel social e possibilidade de
planejar seu destino, ainda que não fosse regra geral do sistema. Os trabalhos de Sidney
Chalhoub e Silvia Hunold Lara representam claramente esta visão, negando a ideia do
“escravo coisa”. Chalhoub expõe sua posição sobre a violência, se contrapondo às teorias
da historiografia marxista.
Chalhoub reitera seu ponto de vista, na conclusão de seu livro, alegando que
diferente da teoria do “escravo-coisa” proposta por Fernando H. Cardoso e Gorender, os
escravos se afirmavam enquanto humanos a partir de sua ação de revolta e resistência:
22
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte.
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 42.
23
CHALHOUB, Sidney. op. cit. 1990. p. 250
26
Silvia H. Lara salienta que a ênfase na análise macroeconômica e no caráter
violento da escravidão proposta pelos marxistas uspianos, reverberava uma “óptica
senhorial” e excludente, ainda que não fosse a intenção.24 A autora declara na introdução
de seu primeiro livro, que seu trabalho não se deterá em interceder pelo caráter
benevolente ou cruel da escravidão. Caberá sim compreender “o modo como senhores e
escravos viviam e percebiam sua prática”, como vivenciavam suas experiências,
resistências, práticas de liberdades e acomodação.25
Jacob Gorender é o principal crítico destas novas perspectivas sobre a história da
escravidão, apontando que seria uma aproximação do patriarcalismo de Gilberto Freyre, e
uma tentativa de se justificar o passado escravista26, contudo seus ataques não obtiveram
tanto êxito. No fim de 1990, Sidney Chalhoub publica na Folha de S. Paulo uma resenha
sobre o livro de Gorender, A escravidão reabilitada, dando início a uma discussão
acalorada nas páginas do periódico, juntamente com Gorender e Silvia H. Lara.
Esta nova tendência historiográfica se caracteriza agora por estudar fenômenos
históricos sob outras perspectivas, como as relações de gênero, demografia, laços de
família, questões religiosas, mentalidades, processos de alforria e busca por liberdade, os
embates, resistências e acomodações dentro das relações escravistas, etc. Diversos
trabalhos apontam para a existência de meios de negociação e relações de embate para a
obtenção de alforrias e de liberdade, seja pelo quilombismo, pelas fugas, por processos
institucionais, ou adesão aos movimentos abolicionistas.
Métodos e técnicas de pesquisa sobre demografia histórica também foram
utilizados para se analisar a escravidão brasileira. Tais avanços permitiram que se
descobrissem melhores indicações sobre a expectativa de vida, taxas de fecundidade,
mortalidade, faixas etárias e relações econômicas de tráfico e comércio. Fruto destas
iniciativas demográficas, desenvolveram-se também estudos sobre as características da
família escrava, que antes era desconsiderada pelos marxistas. Stuart Schwartz defende
que as relações de convivência complexas – compadrio, casamentos, concubinatos, etc –
em que se insere o conceito de família, devem ser analisadas a partir de seu próprio
tempo e de sua regionalidade, visto que não há uma explicação homogênea e nacional.
24
LARA, Silvia Hunold. Conectando Historiografias: a escravidão africana e o antigo regime na América
portuguesa. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia A. (Org.). Modos de governar: ideias e
práticas políticas no Império Português (séculos XVI-XIX). São Paulo: Alameda, 2005. p. 25.
25
LARA, Sílvia Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na Capitania do Rio de Janeiro,
1750-1808. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988. p. 21
26
Cf. GORENDER, Jacob. A escravidão reabilitada. São Paulo: Editora Ática, 1990.
27
“É possível reconciliar a perspectiva nova e mais matizada da família
escrava brasileira com as condições demográficas gerais e negativas da
escravidão brasileira devido às variações regionais e temporais. Em
certas áreas e em certas condições, prevaleciam estruturas familiares
mais estáveis e regimes demográficos mais saudáveis entre os escravos
brasileiros. Os estudos recentes estão procurando definir onde, quando e
por que tais condições prevaleciam. Apesar das diferenças, quase todos
os estudos deixam claro que o panorama tradicional da família escrava
relativamente a uma patologia social precisa de revisão rigorosa em que
a ausência de uniões formais sancionadas pela igreja e, portanto, o alto
índice de ilegitimidade entre os escravos não serve como prova da
ausência de vida familiar.27
27
SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru, SP: Edusc, 2001. p. 34
28
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil. A história do levante dos Malês (1835).
29
Cf. LARA, Silva Hunold. Campos da Violência. Escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro,
1750-1808. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988; MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Crime e
Escravidão. Trabalho, luta e resistência nas lavouras paulistas 1830-1888. São Paulo, Brasiliense.
ALGRANTI, Leila Mezan. O feitor ausente, Escravidão urbana do Rio de Janeiro. São Paulo. Vozes,
1998; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Crimes em comum: escravidão e liberdade sob a pena do Estado
imperial brasileiro (1830-1888) . São Paulo: Editora Unesp, 2011.
28
sobre as relações escravistas no sul dos Estados Unidos e no Caribe30. Revisitando fontes,
estes trabalhos representaram uma virada historiográfica, passando a compreender o
escravo como sujeito ativo e agente de transformação de sua realidade histórica.
Recuperando aspectos do cotidiano e da experiência dos escravos de forma ampla
passou-se a discutir os campos de resistência, acomodação e autonomia destes sujeitos
oprimidos no sistema escravista. Mesmo que inseridos em um sistema que a
desagregação familiar é uma possibilidade, a constituição de núcleos familiares e
relações afetivas e de parentesco foram fundamentais para a construção da autonomia.
A inexistência ou o silenciamento sobre a família cativa que se notava nos
trabalhos já citados de Nina Rodrigues, Gilberto Freyre e na historiografia marxista era
justificado por diversas questões. Questões raciais também entram em pauta, o discurso
racista impôs a ideia de inferioridade do negro, ou até a “anomia” e “a promiscuidade”
dos escravos.
A dificuldade em se formar núcleos familiares poderia ser explicada pela escassez
de mulheres e a maior quantidade de escravizados homens traficados, visto que nas
lavouras a demanda e o interesse senhorial em mão de obra masculina é superior. Como
também, alguns historiadores defendem a falta de interesse das classes senhoriais em
incentivar a concepção de crianças entre seus escravos, pois o gasto com a criação da
criança e os possíveis inconvenientes desta relação seria superior à compra de cativos
traficados. Robert Conrad31 descreve a situação demográfica sobre escravos até a
proibição do tráfico da seguinte maneira:
Com o tráfico já quase terminado em 1852, a pressão britânica foi
aliviada. Todavia, um golpe decisivo fora desfechado na escravatura
brasileira, já que a população de escravos dessa nação, segundo as
palavras do historiador norte-americano Philip D. Curtin,era "uma
população de escravos diminuindo naturalmente", dependendo do
tráfico africano para sua existência permanente. Uma variedade de
condições e políticas contribuíram para um excesso de mortes sobre os
nascimentos entre os escravos do Brasil e sua consequente incapacidade
para manterem seus números através da reprodução natural. Essas
condições incluíam uma proporção baixa de mulheres em relação para
os homens, escassez de casamentos e de vida familiar (ver Tabela 18,
para estatísticas de casamentos entre os escravos), a desatenção habitual
para com a prole dos escravos, o uso freqüente de severo castigo físico,
trabalho esgotante tanto para mulheres quanto para homens, roupas
inadequadas, alimentação e habitação deficientes e pouco higiênicas,
30
Sobre o tema, se destacam as obras de Eugene Genovese, Roll Jordan Rol1. The World the Slaves Made,
New York, Vintage Books, 1976 e o trabalho de Herbert Gutman, The Black Family in Slavery and
Freedom 1750-1925, New York, Pantheon Books, 1976.
31
CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira. 2º ed. 1978.
29
jun tamente com cuidados médicos-pouco eficientes, epidemias e (para
os africanos importados recentemente) um novo ambiente pouco
saudável. (CONRAD, R. 1978,p. 34-35)
32
FLORENTINO, Manolo. GÓES, José Roberto. A paz nas senzalas: Famílias escravas e tráfico atlântico,
Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1850. São Paulo: Editora Unesp, 2017.
33
Cf. Sahlins, M. Sociedades Tribais.
30
capaz de manter a paz, não existia. Assim, os integrantes deste grupo social se viam em
estado social de guerra já que todos teriam o direito de usar a força e guerrear. Mas,
apesar de ser sempre uma possibilidade, ela não se efetivava, havia uma prerrogativa de
se buscar manter a paz e lutar contra a guerra. As trocas materiais, os laços de parentesco
e rituais eram instrumentos capazes de manter relações recíprocas e laços de pacificidade.
(FLORENTINO, M; GOÉS, J. R; 2017, p. 27)
Os plantéis se caracterizavam como lugares propícios para conflitos e embates
entre escravos, devido a constante chegada de “estrangeiros” vindo do tráfico as relações
entre escravos nem sempre eram amigáveis. Manolo Florentino e José Roberto Goés
apontam que nos documentos reunidos para a escrita do livro perceberam a existência de
uma preferência dos escravos em uniões matrimoniais endogâmicas por naturalidade.
A busca pela paz e a cooperação entre escravos seria fundamental para sua
própria sobrevivência no sistema. O sistema escravista reproduzia constantemente o
elemento estrangeiro, o “diferente”, que ao mesmo tempo, passa a constituir o grupo de
escravos, o “igual”. Dessa forma, para os autores, os escravos buscavam criar elementos
de parentesco enquanto o tráfico e a necessidade de mão de obra insere o elemento
estrangeiro. “Espécie de meta-nós, era o parentesco escravo a possibilidade e o cimento
da comunidade cativa. Era o amálgama imprescindível a senhores e escravos, por
intermédio do qual se tecia a paz das senzalas.”(FLORENTINO, M; GÓES, J. R; 2017, p.
31)
O primeiro capítulo de Na senzala, uma flor34 se inicia com a descrição de um
requerimento feito por Luiz Gama, ao Presidente da Província, em junho de 1872. Nele o
rábula escreve defendendo o escravo Serafim, pais de dois filhos e casado com Romana,
também escrava. Seu senhor lhe ameaçava de morte para ter sua esposa (Romana) como
34
SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava,
Brasil Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999
31
manceba e prostitui-la. (SLENES, R. W. 1999, p.35) Para Slenes, o requerimento oferece
algo novo, que não era presente na historiografia sobre a família escrava, a união estável
e relativamente duradoura entre Serafim e Romana, visto que tinham dois filhos, e sua
capacidade de se opor e resistir à violência de seu senhor para defender sua família.
Robert W. Slenes em Na senzala, uma flor afirma discordar da tese de Paz nas
Senzalas, para ele, considerar a família escrava como fator estrutural para manutenção e
reprodução do escravismo seria inverter o raciocínio defendido pela Escola Paulista de
Sociologia. Para o autor, formar e manter vínculos familiares era uma forma de luta por
autonomia entre os escravos, as relações de familiaridade não enfraqueceram as
resistências, mas sim as fortaleciam, e para os senhores, tais relações lhes permitiam um
maior controle sobre seus cativos “os senhores médios e grandes de Campinas não só
olhavam com favor, mas incentivavam o casamento religioso de seus escravos”
(SLENES, R. 1999, p. 93). Portanto, a partir de Slenes, a família escrava não se
caracterizava como elemento pacificador, como defendem Florentino e Góes.
Por meio das recordações, práticas e tradições de origem africana os escravos
formavam identidades próprias e vínculos de solidariedade no ambiente violento e
patriarcal que se encontravam. Assim, sutilmente no âmbito familiar se engendraram
formas de resistência que iam além do aquilombamento e das fugas. Portanto, Slenes
discorda plenamente das ideias produzidas por uma historiografia que negava a
autonomia do escravo, e que enxergava uma dominação e manipulação do senhor sobre
seu escravo, o cativo exercia sem dúvidas, um papel histórico. Porém, não nega o caráter
violento da escravidão e não defende a brandura da escravidão.
32
Capítulo 2
2.1 – Escravidão e abolição retratada nos livros didáticos
35
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos. 4º ed. São Paulo.
Cortez, 2011. p. 300
36
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. op cit, p. 301.
37
Decreto nº 91.542, de 19 de Agosto de 1985 - Publicação Original. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1980-1987/decreto-91542-19-agosto-1985-441959-publicacao
original-1-pe.html . Acesso em 11/01/2022.
33
aquisição pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) de 2020,38
que selecionou obras didáticas e literárias destinadas ao uso de estudantes e professores
dos anos finais do ensino fundamental, tendo elas um ciclo de quatro anos de utilização
escolar. De acordo com esse edital, para serem aceitas, as coleções inscritas precisavam
respeitar e cumprir diversos critérios avaliativos regulamentados pelo MEC, tanto no que
refere à sua qualidade editorial e textual, quanto à sua abordagem teórico-metodológica,
o respeito às legislação e diretrizes educacionais, cidadania e ética, etc.
No item seguinte são listados alguns conceitos éticos básicos para convivência e
cidadania que as obras didáticas e literárias também precisam seguir, para, esta pesquisa,
destacaremos, em particular, os itens “a”, “c”, “e” e “f”.
38
BRASIL. Ministério da Educação. Edital consolidado PNLD 2020 -20/11/2020. EDITAL DE
CONVOCAÇÃO 01/2018 – CGPLI - EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA O PROCESSO DE
INSCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DE OBRAS DIDÁTICAS E LITERÁRIAS PARA O PROGRAMA
NACIONAL DO LIVRO E DO MATERIAL DIDÁTICO PNLD 2020. Brasília. MEC: Secretaria de
Educação Básica. 2018
34
como de qualquer outra forma de discriminação, violência ou violação
de direitos humanos.
b. Estar livre de doutrinação religiosa, política ou ideológica,
respeitando o caráter laico e autônomo do ensino público.
c. Promover positivamente a imagem de afrodescendentes,
considerando sua participação em diferentes trabalhos, profissões e
espaços de poder, valorizando sua visibilidade e protagonismo social;
d. Promover positivamente a imagem da mulher, considerando sua
participação em diferentes trabalhos, profissões e espaços de poder,
valorizando sua visibilidade e protagonismo social, com especial
atenção para o compromisso educacional com a agenda da
não-violência contra a mulher;
e. Promover positivamente a cultura e a história afro-brasileira,
quilombola, dos povos indígenas e dos povos do campo, valorizando
seus valores, tradições, organizações, conhecimentos, formas de
participação social e saberes;
f. Representar a diversidade cultural, social, histórica e econômica do
país;
g. Representar as diferenças políticas, econômicas, sociais e culturais de
povos e países;
h. Promover condutas voltadas para a sustentabilidade do planeta, para
a cidadania e o respeito às diferenças.
i. Estar isenta de publicidade, de marcas, produtos ou serviços
comerciais, exceto quando enquadrar-se nos casos referidos no Parecer
CEB nº 15 de 04/07/2000; (BRASIL, 2018, p. 39)
35
As disciplinas escolares, e aqui incluo a disciplina de história, não se desenvolvem
hierarquicamente de modo subalterno aos “saberes eruditos” da academia. Seus
conteúdos e currículos se transformam historicamente, e em consonância com o papel
social da escola.
A coleção “Araribá Mais História” teve sua primeira e única edição publicada em
2018, e é uma obra coletiva, ou seja, foi elaborada por diversos autores, sob supervisão
da Editora Moderna.40 O Manual do Professor se divide entre orientações gerais e
orientações específicas. As orientações gerais têm o mesmo conteúdo para toda a
coleção: apresentam a proposta teórico-metodológica em que se baseiam, desenvolvem
também textos orientadores para a formação e o ensino de história e expõem as diretrizes
para o componente curricular de História da Base Nacional Comum Curricular - BNCC.
Seguindo as orientações da BNCC, a coleção se desenvolve a partir de uma
perspectiva de História cronológica e integrada, que se justifica “pela necessidade de
utilizar um sistema de datação que permita localizar acontecimentos no tempo, identificar
sua duração e relacioná-los segundo critérios de anterioridade, simultaneidade e
posterioridade” (EDITORA MODERNA, p. XVII). Os autores também afirmam no
manual o empenho da obra em abordar narrativas do passado que tratem de questões
como a cultura material, relações sociais, disputas políticas, além de também afirmarem
que convidam o estudante a pensar historicamente e exercer um aprendizado crítico, e
encorajar o professor a problematizar as narrativas históricas (EDITORA MODERNA,
2018, p. XVIII.).
Em todos os volumes, o manual do aluno se divide em oito unidades, e
cada unidade reúne de dois a quatro capítulos. Seguindo as diretrizes da BNCC, o
volume do 7º ano apresenta a história do Brasil de forma cronológica, iniciando-se com a
expansão marítima, seguida do processo de colonização portuguesa até os últimos anos
39
BITTENCOURT, C. op cit, 2011. p. 39.
40
EDITORA MODERNA, obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna;
editora responsável Ana Claudia Fernandes. Araribá Mais: História 7º ano – Manual do professor. 1. ed. –
São Paulo: Moderna, 2018
36
do Brasil como colônia portuguesa. E a temática retorna no 8º ano a partir da crise do
sistema colonial, passando pela independência, o Primeiro e o Segundo Reinado, até
finalizar com um capítulo sobre o fim da escravidão.
Unidade III – América: terra de muitos povos Unidade III – A Era de Napoleão e as Independências
na América
Capítulo 6 – Os Astecas
Capítulo 6 - O império Napoleônico e a Revolução
Capítulo 7 – Os Incas de São Domingo
37
Unidade VI – A Economia açucareira Unidade VI – A era do imperialismo
Capítulo 14 – O principal negócio da colônia
Capítulo 13 - A Segunda Revolução Industrial
Capítulo 15 – Os holandeses no Nordeste
Capítulo 14 - O capital financeiro e a expansão
imperialista na África, na Índia e na China
Unidade VII – A expansão da América portuguesa Unidade VII – Brasil: da Regência ao Segundo
Reinado
Capítulo 16 – Os jesuítas na América portuguesa
Capítulo 15 – O período regencial (1831-1840)
Capítulo 17 – A expansão para o interior
Capítulo 16 – O Segundo Reinado
Capítulo 18 – A crise no império e as rebeliões na
colônia Capítulo 17 – O fim da escravidão no Brasil
Unidade VIII – A mineração no Brasil Colonial Unidade VIII – A expansão dos Estados Unidos no
século XIX
Capítulo 19 – A exploração de ouro e diamante
Capítulo 18 - A expansão para o Oeste e a Guerra
Capítulo 20 – A sociedade mineradora de Secessão
Quadro 1 - Estrutura de capítulos dos volumes do 7º e 8º ano da Coleção Araribá Mais História
41
EDITORA MODERNA, obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna;
editora responsável Ana Claudia Fernandes. Araribá Mais: História 7º ano. 1. ed. – São Paulo: Moderna,
2018. p 157
38
seguem exprimem diferentes visões sobre a escravidão. Trechos dos livros Casa-Grande
& Senzala, de Gilberto Freyre, A escravidão reabilitada, de Jacob Gorender, e uma
reprodução da aquarela Um jantar brasileiro, de Jean-Baptiste Debret, são reproduzidos
para se evidenciar a existência de diferentes visões entre os historiadores. Como
orientação aos professores o livro explica as perspectivas historiográficas da seguinte
forma:
39
desgastante dos escravizados das minas e a possibilidade de alforria dos escravizados de
ganho que viviam em pequenos centros urbanos. E, como orientação ao professor, é
discutida a prática do concubinato entre libertos e escravizados. (ANEXO 4)
40
influências dos ideais iluministas da Revolução Francesa a partir de trechos de dez
boletins Do Povo. Contudo, mesmo expondo e transcrevendo de forma acessível os
panfletos, os autores não apresentaram informações mais básicas sobre o panfleto como o
seu nome e suas datas de publicação.
O nono capítulo se intitula “Brasil independente” e inicia-se com um subcapítulo
sobre a chegada da família real ao Brasil. Posteriormente descrevem-se em outros
subcapítulos as mudanças ocorridas na Corte, a Revolução Pernambucana de 1817 e a
volta de D. João a Portugal. Por fim, discorre-se em uma página sobre o processo que
resultou na proclamação da independência e os grupos políticos envolvidos. O Capítulo
10 - Primeiro Reinado relata os movimentos de resistência interna e os processos para a
formação de um Estado nacional, também explica o processo de elaboração da
Constituição de 1823 e os grupos sociais envolvidos, principalmente proprietários rurais.
O capítulo se encerra com um tópico sobre a abdicação de D. Pedro I. De forma
resumida, a Unidade IV reserva grande parte de seu conteúdo para o relato de processos e
disputas políticas e econômicas, e muito pouco se fala sobre o cotidiano, as camadas
populares e a sociedade dos primeiros anos dos oitocentos.
Na sétima unidade, retoma-se a história do Brasil, iniciando-se, de acordo com
uma ordem cronológica, com o período regencial, para finalizar com a abolição da
escravidão. Os temas abordados são divididos entre os capítulos 15, 16 e 17. No capítulo
15 - O período regencial (1831-1840) se apresentam ao estudante os grupos políticos do
período regencial e as principais revoltas do período, sendo elas a Sabinada (1837); a
Revolta dos Malês (1835); a Balaiada (1838-1841); a Cabanagem (1835-1840); a Rusga
Cuiabana (1834) e a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Nos subtópicos de cada revolta
regencial os autores se preocuparam em identificar, ainda que brevemente, os grupos
sociais envolvidos e as motivações mais gerais dos movimentos. Os autores apontam que
“As rebeliões expunham também as fortes tensões sociais no interior do país, onde a
maioria da população era vítima da pobreza e da violência da escravidão.” (EDITORA
MODERNA, 2018, p. 197)
No Capítulo 16 – “O Segundo Reinado”, aborda-se o período que se inicia com a
proclamação da maioridade de D. Pedro II em 1840 e vai até o fim da década de 1870.
Neste capítulo são apresentadas as forças político-partidárias em embate, o Partido
Conservador e o Liberal, e a instituição do Poder Moderador do imperador. Além disso,
são apresentados dois conflitos do período: A Revolução Praieira (1848) e a Guerra do
Paraguai. Por fim, o capítulo traz informações sobre as atividades econômicas do
41
Segundo Reinado, principalmente o café. Muito pouco se diz sobre o sujeito escravo e as
camadas populares, suas aparições no capítulo se reduzem à charge conhecida De volta
do Paraguai, de Angelo Agostini, que relata um escravo que volta da Guerra do Paraguai
e vê a mãe amarrada em um tronco, e a uma fotografia de Marc Ferrez que mostra
escravos colhendo café em uma fazenda no Vale do Paraíba, de 1885. Cabe pontuar que
infelizmente, não há nenhuma problematização sobre os documentos expostos, o
contexto de sua criação e das intencionalidades dos autores. Na legenda atribuída à
charge de Agostini, sequer citam o periódico em que foi publicada42. ( ANEXO 6)
Nas duas páginas seguintes, o box “em debate” os autores aprofundam a discussão
sobre a historiografia da Guerra do Paraguai, citando um trecho do livro História do
Brasil, de Bóris Fausto, onde o historiador apresenta diferentes versões sobre o conflito: a
historiografia brasileira tradicional, a historiografia tradicional paraguaia, uma
historiografia focada no imperialismo inglês, ligada às correntes marxistas
latino-americanas e por fim e mais recentemente, uma perspectiva que se concentra em
analisar as relações dos próprios países envolvidos no evento.
O capítulo 17, intitulado “O fim da escravidão no Brasil”, trabalha com o declínio
do regime escravista, com a abolição e o pós-abolição. Ele caracteriza o processo como
lento e gradual e enfatiza as contradições do período, uma vez que, mesmo libertos, os
ex-escravos continuaram relegados a posições sociais subalternas e alguns ainda
mantinham vínculos com seus ex-senhores. Os autores apresentam as etapas que levaram
ao fim da escravatura: a pressão inglesa para o fim do tráfico, as leis abolicionistas, o
papel das campanhas abolicionistas da década de 1880 (citadas brevemente). Cabe
destacar que é mencionada a existência de uma rebeldia escrava contra a escravidão.
42
A caricatura foi publicada por Ângelo Agostini no periódico A vida fluminense, em 11 de junho de 1870.
Como legenda, abaixo o cartunista pública: “Cheio de glória, coberto de louros, depois de ter derramado
seu sangue em defesa da pátria e libertado um povo da escravidão, o voluntário volta ao seu país natal para
ver sua mãe amarrada a um tronco horrível de realidade!…”
42
Santos. Nessa região, escravos fugidos formaram o quilombo do
Jabaquara, que chegou a reunir cerca de 10 mil pessoas. (EDITORA
MODERNA, 2018, p.220)
A coleção História: escola e democracia foi aprovada pelo PNLD de 2020 e está
em sua primeira edição. Ela foi escrita por Flávio de Campos, Regina Claro e Miriam
Dolhnikoff, e publicada pela Editora Moderna.44 Flávio de Campos é formado em
História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em
História Social pela USP e doutor em História Social também pela USP. É professor de
História Medieval do Departamento de História da Universidade de São Paulo.45 Regina
Claro é bacharel em História pela USP e Mestre em História Social, com ênfase em
História da África, também pela USP. Ela desenvolve projetos de capacitação de
43
O trecho citado faz parte do artigo “Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo” In: Afro-Ásia, n.
14, p. 124,1983.
44
CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina; DOLHNIKOFF, Miriam.. História: escola e democracia: manual
do professor 1. ed. São Paulo: Moderna, 2018. (Coleção)
45
http://lattes.cnpq.br/9293196827164795. Acesso em 02/03/2022.
43
professores da rede pública de educação na área de História e cultura africana e
afro-brasileira em atendimento à Lei 10.639/03.46 Miriam Dolhnikoff é graduada em
História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, fez mestrado em História
Econômica pela Universidade de São Paulo e doutorado em História Econômica também
pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é docente da Universidade de São
Paulo no Departamento de História e no curso de Relações Internacionais.47
O material de apoio ao professor é dividido em quatro partes: um capítulo em que
discutem-se História e Historiografia, com textos explicativos sobre teoria e metodologia
da história, o papel do historiador, a virada metodológica e interpretativa na
historiografia, política e cultura, além de um subtópico sobre história e historiografia da
África. O segundo capítulo do material do professor apresenta as propostas de ensino da
coleção, suas preferências e o caminho metodológico que segue. Em seguida, um capítulo
se divide em textos suplementares sobre a História da África e sobre temas teóricos e
metodológicos, como as discussões sobre documentos históricos, memória coletiva,
crítica ao documento, história oral, música, leitura, periódicos, etc. Por fim, há diversas
referências bibliográficas sobre os temas: Educação e Ensino de História; História da
África; Teoria, metodologia e história; e Jogos, esportes e modalidades lúdicas.
O segundo capítulo, com as propostas de ensino da coleção, é fundamental para
que o professor de história conheça as perspectivas que o livro trilhará, quais seus
pressupostos básicos e referências bibliográficas.
Os autores reafirmam que, com o estabelecimento da BNCC, dos PCN e com a
criação do ENEM para o ingresso em universidades públicas, houve uma intensa
mudança nos currículos escolares como também no ensino de história. Tem fim a história
tradicional, que defende a memorização, o acúmulo de informações, datas importantes e
heróis nacionais. E se desenvolve uma história que busca ser crítica e transdisciplinar,
que exige do estudante competências e habilidades, e que se conecta com outras
disciplinas curriculares. E é no âmbito destas mudanças que a coleção procura se situar.
Os três autores reforçam também a necessidade de o conteúdo despertar o
interesse dos estudantes e de retratar as suas diversidades sociais e culturais, atribuindo
ao jovem um papel ativo e transformador da sociedade e do meio em que vive.
46
http://lattes.cnpq.br/4814006868831865 . Acesso em 02/03/2022.
47
http://lattes.cnpq.br/6801460391169350. Acesso em 02/03/2022.
44
É interessante notar que os autores assumem que os livros da coleção vão
incorporar a historiografia recente em seus conteúdos e propor atividades que vão além
da compreensão textual.
Nosso material não pretende substituir o professor. Até porque essa
coleção é o resultado de muitos anos de atividades pedagógicas de seus
autores. Procura auxiliar o professor ao oferecer uma visão de história
que tenta incorporar a historiografia recente e também ao propor uma
série de atividades diversificadas, das mais simples operações de
verificação e compreensão de leitura até análises de imagens, de
documentos escritos e mapas, instigando relações, associações e
comparações.(CAMPOS; CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. X)
45
do senso comum e muito menos da ausência de significação. É tentar
apresentar uma história viva e desenvolver a capacidade operativa e
decodificadora das engrenagens sociais simultaneamente à
compreensão e ao contínuo exercício de práticas lúdicas. É tentar
salientar e disseminar o prazer das operações reflexivas. Como na
Grécia Antiga, procura-se estabelecer a paidia (os jogos) em sua estreita
vinculação com a paideia (educação). (CAMPOS; CLARO;
DOLHNIKOFF, 2018, p. XII)
48
LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso em: 03/03/2022.
49
LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada
pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 03/03/2022.
46
Segundo Bimestre Segundo Bimestre
Capítulo 3 – Reforma Protestante e Reforma Capítulo 4 – A Revolução Francesa e o Período
Católica Napoleônico
47
sobre as quais são perguntados o local e a data de cada imagem, a atividade econômica
retratada e as relações estabelecidas entre elas. Espera-se, portanto, que os alunos leiam
as legendas de cada gravura e identifiquem espacialmente e temporalmente e consigam
vincular as imagens à questão das relações entre metrópole e colônia, além de
identificarem a atividade econômica comercial. É oportuno notar que os autores sugerem
ao professor leituras, tanto da historiografia “tradicional” quanto recentes, para que se
discuta em sala a questão historiográfica do sentido da colonização.
Posteriormente, o capítulo apresenta conteúdos referentes ao sistema de capitanias
hereditárias, suas divisões e o desempenho insatisfatório na grande maioria delas.
Seguem apresentando a criação do governo-geral na colônia, como forma de garantir o
domínio territorial. Os autores dissertam em um pequeno parágrafo sobre os chamados
“homens bons”, as pessoas às quais se permitia exercer funções públicas nas vilas e
cidades coloniais.
HOMENS-BONS
Nas vilas e cidades coloniais foram criadas as Câmaras Municipais
encarregadas de exercer as funções administrativas, judiciais, policiais e
financeiras na localidade. Nas eleições para as Câmaras Municipais só
podiam participar os chamados homens bons. Ou seja, homens de
posses, fazendeiros, clérigos, funcionários do Império e nobres
Excluíam-se, portanto, mulheres, escravizados, pobres, judeus,
estrangeiros e pessoas que desenvolvessem trabalhos manuais. Com
elevado grau de autonomia, as Câmaras eram o principal espaço de
expressão dos interesses dos poderosos dos municípios. (CAMPOS;
CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. 170)
Ao lado do parágrafo, o box “Tá ligado” ajuda o aluno a compreender o texto por
meio de perguntas e propostas de atividades. Neste caso, indagam os estudantes sobre
quais as funções das Câmaras Municipais e quem eram os chamados “homens-bons” na
sociedade colonial. O que leva o estudante, a partir da leitura do parágrafo ao lado, a
compreender sobre a participação política de alguns sujeitos e a exclusão de outros.
Os temas seguintes se propõem a apresentar as estruturas da economia colonial e a
conceituar termos como: latifúndio; monocultura; mercado externo; plantation;
mercantilismo, metalismo; balança comercial favorável; colonialismo; sistema colonial;
exclusivo metropolitano; pacto colonial; protecionismo, dentre outros. Contudo, o
capítulo traz também questões relativas à justiça e à Inquisição no período colonial.
Explicam então como os governadores-gerais, junto ao clero e aos ouvidores, tentaram
48
conter práticas consideradas imorais e o destino das populações marginalizadas que
foram julgadas por tais condutas.
O capítulo seguinte, A economia colonial e o tráfico negreiro (ANEXO 14 e 15),
se inicia também com a sondagem de conhecimentos prévios dos estudantes a partir de
imagens propostas. Uma delas é a pintura Engenho, de Frans Post, de 1644, e a outra é
uma gravura de Cícero Dias, nomeada como Casa-grande do engenho Noruega, antigo
Engenho dos Bois (Pernambuco), elaborada para o livro Casa-grande & Senzala, de
1933, de Gilberto Freyre. Perguntam-se ao leitor o suporte, a data e o tema de cada
imagem, quais atividades ligadas à vida cotidiana e à atividade comercial podem ser
percebidas em cada gravura, e quais os elementos comuns entre elas. Como sugestão de
resposta ao professor, os autores apontam que a primeira imagem, a pintura de Frans
Post, representa a paisagem do engenho de açúcar e da propriedade rural e a produção do
açúcar, já na segunda, a gravura de Cícero Dias, se observa a arquitetura de um engenho
de açúcar, além do cotidiano dos que ali moravam, tanto na casa-grande quanto na
senzala. Em ambas as imagens se veem as atividades do dia a dia dos colonos e
escravizados. Os autores afirmam que na gravura de Cícero Dias é possível perceber
49
capítulo trabalha com o seu objetivo central: diferenciar os conceitos de escravidão e
escravismo. Desta forma, desenvolvem textos seguintes sobre a escravidão na África,
conceituando o termo escravidão desde a Antiguidade, com o Egito, Mesopotâmia,
Grécia e sociedades africanas pré-coloniais e sua função social em tais regiões. Logo
após, exemplificam as táticas portuguesas para capturar africanos escravizados,
estimulando guerras entre povos africanos e oferecendo mercadorias em troca de
prisioneiros, além de contratarem pumbeiros (negros e mestiços contratados para comprar
escravizados dos chefes de aldeias) para adquirir mais mão de obra. O tráfico de
escravizados, que já ocorria no século XV, aumentou ainda mais quando se notou quão
lucrativa seria sua utilização na América portuguesa. Os autores descrevem alguns dos
reinos africanos que tinham parcerias com os portugueses e os principais portos
africanos. Contam brevemente que os próprios colonos também se interessavam em
participar do vantajoso tráfico negreiro, usando como exemplo o ocorrido com um
ex-escravizado:
50
Ao final do capítulo, a seção Quebra-cabeça propõe exercícios para que o
estudante retome as principais ideias do capítulo atual ou até de anteriores. No capítulo 9,
os autores procuraram reforçar os objetivos principais, comparar a escravidão na África e
na América, identificar os envolvidos no comércio negreiro e seus interesses, conceituar
termos, e diferenciar escravismo, escravidão e servidão medieval. (ANEXO 18)
Em seguida, na proposta de leitura complementar, é apresentado o texto
setecentista de André João Antonil. E como atividades se pede para os alunos elaborarem
um roteiro de informações sobre o texto, refletirem sobre a importância do trabalho
escravo para o autor do excerto, e por fim, redigir um diário de um dos personagens
fictícios da época. Como recomendação ao professor, os autores sugerem que na segunda
questão os alunos relacionem o trabalho manual e braçal do passado com a realidade
atual, marcada pela desvalorização de trabalhos braçais e manuais e pelo desemprego de
parte da população.(CAMPOS; CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p.197) Com os
personagens fictícios propostos pelos autores, se nota o interesse de ampliar a
compreensão do cotidiano e da sociedade da época: além dos tradicionais personagens
“senhor de escravos branco” e “escravo de lavoura”, outros personagens são sugeridos,
como o escravo recém chegado, o escravo doméstico, a escrava que trabalha na
casa-grande, uma escrava grávida, e por fim, a mulher do senhor de engenho. Além de
identificar “novos personagens”, a atividade manifesta na descrição de seus personagens,
os laços de família presentes no engenho. (ANEXO 19)
No décimo e último capítulo, “A sociedade escravista colonial”, os autores
apresentam de maneira admirável o cotidiano da sociedade escravista, relatando desde os
trabalhos exercidos pelos escravizados até as violências sofridas e as formas de
resistência. Apontam como objetivo central do capítulo
51
no espaço reservado às sugestões de respostas ao professor, os autores afirmam que a
capoeira tinha também a função de defesa: como um movimento de luta, proibida por
muito tempo, ela se caracterizou como instrumento de resistência. A imagem 2 é uma
litografia de Jean-Baptiste Debret, Aplicação de castigo de 1839, que mostra uma cena de
um castigo físico, em que um escravizado é amarrado e chicoteado por outra pessoa
negra, em um pelourinho, enquanto outros observam e aguardam sua vez. A imagem 3 é
uma pintura em óleo sobre tela, de Frans Post, intitulada Paisagem de várzea com cabana
de 1658, que retrata escravizados dançando e os autores defendem que mesmo com o
trabalho desgastante e árduo, era possível a organização de momentos de descontração e
sociabilidade. A litografia da imagem 4 foi produzida por Zacharias Wegener em 1641, e
é intitulada O homem negro, ela representa um homem negro armado, ao lado de um
tronco ao qual se encosta um escudo e sobre ela os autores reforçam que remete à
liberdade original que tinham, e que foi perdida no cativeiro. Todas imagens refletem
distintos momentos do cotidiano da escravidão, os castigos físicos, as resistências, os
momentos de lazer e a liberdade perdida. Ao final, os autores afirmam que “Essa
sociedade estava toda alicerçada no trabalho escravo e, ao mesmo tempo, os escravizados
eram tratados como objetos, sem vida e sem alma. Essas imagens mostram, ao contrário,
que eles sentiam dor, se divertiam, dançavam, enfim, eram humanos.” (CAMPOS;
CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. 201)
Nos subcapítulos a seguir, se expõem as funções e características dos grupos
sociais da colônia e é reafirmada a oposição que estruturava a sociedade dos séculos XV
e XVI: escravizados e senhores. Também se salienta que o prestígio dos outros grupos
sociais se determinava pela sua aproximação ou distanciamento da escravidão. A posse
de escravizados era símbolo de status social, portanto o chefe da família patriarcal, o
senhor de engenho, detinha o poder tanto econômico e político, quanto social. Em torno
da figura do chefe da família patriarcal, se agregaram escravizados, homens livres e
proprietários pobres, sendo oferecidas proteção e moradia nas fazendas, exigindo-se em
troca obediência e trabalho.
Os autores também caracterizam o trabalho escravo na América portuguesa,
explicando as maneiras de um negro recém chegado do continente africano se “adaptar”.
Argumentam que a manutenção do modelo escravista só era possível por meio da
violência constante, era por meio dela que o ser humano traficado se transformava em
escravizado. Identificam também os termos pelos quais os escravizados eram chamados
52
pelos homens brancos, ladinos ou boçais, dependendo de seu local de nascimento e de
seu ajuste ao cativeiro. (CAMPOS; CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. 203)
São apresentadas aos alunos não só as experiências do cativeiro no campo, como
também as experiências nas cidades, conceituando-se a exploração do trabalho dos
escravos de ofício, negros de ganho, pajens e mucamas, amas de leite e tigres.
A exploração do trabalho e do corpo das amas de leite é mais detalhada pelos
autores na seção de Leitura complementar (CAMPOS; CLARO; DOLHNIKOFF, 2018,
p. 206) “Aluga-se para pessoas de fino trato” (ANEXO 22). São exibidas duas fotografias
do século XIX de amas de leite com crianças brancas, e anúncios de jornal alugando o
trabalho das escravizadas. Aponta-se que tal prática era comum e que as mulheres
precisavam abrir mão de alimentar seus próprios filhos, para oferecer seu leite ao
filho de uma senhora branca. A abordagem de tal prática vincula-se à discussão anterior
sobre o cerne do escravismo, a qualificação do escravizado como uma mercadoria que
tem o propósito de gerar lucro.
As várias maneiras de resistência eram formas dese reagir à desumanização do
cativeiro e da violência. Os passados e raízes dos escravizados eram lembrados e
celebrados em conjunto ou individualmente, transformando os espaços de sociabilidade
do cativeiro em meios de se humanizar.
50
Os autores fazem referência no título do subcapítulo ao livro de Robert Slenes, Na senzala, uma flor, Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
53
vislumbre o ambiente que relatam, os autores utilizam a litografia Habitação de negros,
de Johann Moritz Rugendas. (fig.1)
Figura 1 - Excerto da página 207 do livro História: escola e democracia. 7º ano. 2018
54
Assassinatos de senhores, ataques, furtos, quebras de ferramentas e
máquinas eram formas de reagir à escravidão. Enganar o senhor era
também um meio de resistir às condições desumanas do cativeiro.
O suicídio era um ato de resistência individual extremo e último recurso
e alternativa para escapar definitivamente da escravidão. Entre as
explicações mais conhecidas para o suicídio de escravizados estão a do
banzo e o desejo de retorno à África em espírito. O banzo era a
profunda tristeza que se abatia sobre os africanos recém-chegados,
fazendo-os perder o apetite e a vontade de viver e levando-os à morte.
O suicídio seria uma forma de atravessar a Kalunga (o Mar Oceano) em
espírito e retornar à terra natal. (CAMPOS; CLARO; DOLHNIKOFF,
2018, p. 212)
55
filhos de senhores brancos com escravas. Nessa passagem, os autores também enfatizam
a feição paternalista do senhor de escravos e a instabilidade da sociedade mineradora, já
que o deslocamento de uma região para outra era comum, não se percebendo tanto uma
fixação em um só local. Neste capítulo os autores abordam igualmente a Inconfidência
Mineira e a Conjuração Baiana.
Os conteúdos dos capítulos são alternados entre história do Brasil e história geral,
propiciando que o educando compreenda as mudanças históricas de forma global,
relacionando as conjecturas nacionais com o contexto internacional. Deste modo, o
Capítulo 8 – “A independência do Brasil” analisa o processo emancipatório e suas
tensões sociais anteriores e posteriores, os movimentos contestatórios da primeira metade
do século XIX e as principais atividades econômicas presentes.
O capítulo se inicia contextualizando o Brasil frente aos movimentos opositores
ao sistema colonial, a pressão sofrida por Portugal e a possibilidade de invasão francesa,
com a consequente mudança da Corte Portuguesa para o Brasil e as mudanças ocorridas
na nova capital do Império, o Rio de Janeiro. Descrevem-se posteriormente as primeiras
revoltas do século XIX, a Revolta Pernambucana de 1817 e a Revolução do Porto, em
1820, que resultou no retorno de Dom João VI a Portugal. Mesmo com a independência
em 1822, e com a outorga da Constituição de 1824, destacam os autores, a escravidão
persistiu, tornando-se uma instituição legalmente inscrita no arcabouço jurídico e
institucional liberal do novo país, com a determinação do voto censitário, excluindo
grande parte da população.
O livro destrincha de forma instrutiva as mudanças políticas na formação do
Estado brasileiro, fazendo relação com as transformações sociais. Quanto às revoltas e
rebeliões do período regencial, elas são diferenciadas a partir da inscrição socialde seus
dirigentes:
56
escravizados, houve duas revoltas importantes, a dos Malês, em
Salvador (1835) e a terceira fase da Balaiada (1839-1841). (CAMPOS;
CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. 150, grifo do autor)
Como proposta da pesquisa, cabe aqui me deter as revoltas que contaram com a
participação de escravizados. A Revolta dos Malês, de 1835, é bem discutida e ganha
bastante visibilidade quando comparada a outras. Os autores afirmam o caráter religioso
do levante, visto que a revolta recebeu aquele nome devido à participação de
escravizados muçulmanos. Ocorrida na Bahia, a revolta tinha como maioria uma
população escravizada descendente de diversas etnias africanas, as quais são descritas ao
leitor. Apontam-se também os objetivos do movimento: tomar o poder e adquirir
liberdade de culto. A participação feminina também é citada, com os exemplos de Luísa
Mahin e Maria Felipa de Oliveira (fig. 2). Por fim, são apresentadas as consequências do
levante derrotado: prisões, julgamentos e devassas, além do temor das elites ao imaginar
a possibilidade de uma revolta escrava no Brasil assim como ocorreu no Haiti.
57
Figura 2 – Box Mulheres Guerreiras – História: escola e democracia-8º ano, p. 152.
58
fazendas. Como resposta à radicalização do movimento, o governo central promoveu
ataques e destruição de quilombos.
A forma como os movimentos são abordados pelo livro se mostra em consonância
com a legislação para as relações étnicoraciais e com a historiografia recente. Os autores
provocam a discussão sobre a participação ativa dos escravizados enquanto sujeitos
históricos, evidenciam a elaboração de estratégias por ambos os grupos para
reivindicarem seus direitos, e promovem a discussão dos meios aos quais os escravizados
recorriam para resistir à escravização.
O capítulo 12 – “O Segundo Reinado e a proclamação da República” – apresenta
como objetivos analisar a relativa estabilidade após a formação do Esado brasileiro, as
mudanças depois da Guerra do Paraguai, o fortalecimento do Exército como força
política, e o processo que levou ao fim da escravidão.
Os autores destacam ao professor, nas páginas iniciais do capítulo, suas
perspectivas ao trabalhar a temática da escravidão, destacando as permanências da
cultura afro-brasileira no país, elencando personagens negras importantes e
problematizando questões raciais:
59
barbarizar, não permitiria uma civilidade nos modelos europeus e impediria o
crescimento econômico.
A Inglaterra pressionava o governo brasileiro em favor da abolição com o
argumento de direito internacional. Mas delineiam que o principal motivo para a pressão
inglesa era evidentemente seus interesses econômicos. Quanto ao fim do tráfico,
defendem que a Lei Eusébio de Queiroz foi promulgada devido à intensa pressão
britânica e pelo receio da elite branca de uma possível guerra racial. (CAMPOS;
CLARO; DOLHNIKOFF, 2018, p. 239) Já a Lei do Ventre Livre, de 1871, é destacada
pelos autores como uma forma que o governo encontrou para realizar a abolição de forma
lenta e gradual, sem prejudicar os grandes proprietários e prevendo pagamento
indenizatório.
Também evidencia-se a atuação do movimento abolicionista, que ganhou força a
partir da década de 1870, e que se divide em três vertentes: abolicionistas vindos da elite:
jornalistas, estudantes, advogados e trabalhadores do comércio que se reuniam em clubes
pró-abolição e sociedades secretas; abolicionistas populares: quando o movimento ganha
mais apoio popular no fim do século, e passa a ocupar as ruas das cidades, com combate
à proposta de emancipação gradual e defesa de reformas profundas, que fossem capazes
de integrar o ex-escravizado como cidadão. Luís Gama, José do Patrocínio e André
Rebouças também têm suas histórias contadas como exemplos de abolicionistas
populares urbanos que se dedicavam à causa nas cidades, se apropriando dos periódicos
como instrumento de luta; e, por fim, a resistência a escravidão mobilizada pelos
chamados cometas e pelos caifazes, com o aumento do número de fugas das fazendas, o
que gerava um clima tenso entre proprietários e favorável aos abolicionistas. Pela pressão
dos movimentos abolicionistas e com a resistência escrava, o governo promulgou a Lei
dos Sexagenários, a segunda lei abolicionista do Brasil. (CAMPOS; CLARO;
DOLHNIKOFF, 2018, p. 240-241)
O livro destaca que a Abolição, em 1888, não significou a vitória dos movimentos
abolicionistas, pois o decreto assinado pela princesa foi realizou nenhuma medida de
integração do negro na sociedade para que exercecem sua cidadania de forma plena, os
escravizados foram libertados e abandonados à própria sorte (CAMPOS; CLARO;
DOLHNIKOFF, 2018, p. 242)
Os autores afirmam que, apesar das políticas de branqueamento, a cultura africana
ainda resistiria. Apresentam as danças e as músicas como uma das amostras da
apropriação da cultura africana aos interesses eruditos. O maxixe e o lundu, de origem
60
africana e comuns às camadas, eram antes vistos como um ataque à boa moral da época,
depois o incorporaram ao piano e retiraram a percussão africana, mudaram seus nomes e,
assim, eles passaram a ser tocados nos salões,por brancos e para brancos.
Como materiais complementares aos professores e alunos, o livro oferece diversas
possibilidades para se aprofundar sobre o tema. Se destaca o papel de intelectuais negros
que são protagonistas do passado e do presente, homens e mulheres que se dedicavam à
literatura, ao teatro, a música, evidenciando seus saberes e suas vozes.
2.1.3. Historiar
61
com isso a ampliação dos interesses e campos de estudo na historiografia. Defendem a
história como um campo de estudos aberto a interpretações: não é possível reconstituir o
passado de forma integral, não é possível que a história seja uma verdade pura e absoluta,
se entende que a construção do conhecimento histórico é constante, e por isso, ela está
sempre aberta a novas interpretações, e novos estudos. Por fim, apontam que o livro
62
Unidade 4 – Transformações no Brasil colonial Unidade 4 – Domínio das grandes potências
Capítulo 12 – Escravidão e tráfico de escravos no Capítulo 13 – Europa no século XIX
Atlântico
Capítulo 14 – Imperialismo na África e Ásia
Capítulo 13 – Conquistas e fronteiras
Capítulo 15 – América no século XIX
Capítulo 14 – Sociedade mineradora
63
levaram os portugueses a escravizar africanos (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p.
170-171).
Iniciando a Unidade 4, o Capítulo 12 trata sobre o processo de escravidão dos
africanos no Brasil, diferencia escravidão e escravismo, apresenta algumas formas de
resistência e alguns aspectos do cotidiano dos escravizados, além de sugerir que alunos
pesquisem sobre intelectuais e artistas negros.
Nas primeiras duas páginas do capítulo, há uma imagem de mulheres celebrando
uma homenagem a Iemanjá, em Salvador, e, ao lado, o box “Investigando”, onde se
indagam dos conhecimentos dos alunos sobre esse tema e se sugere a pesquisa sobre
alguns intelectuais (ANEXO 23 e 24). Nas páginas seguintes, os autores apresentam os
diferentes conceitos de escravidão, diferenciando a escravidão moderna da escravidão
antiga e da escravidão medieval. Eles mencionam também a escravidão na África e o
desenvolvimento da escravidão comercial. Ao trabalhar sobre o processo de se “tornar
escravo”, dividem-no em três etapas: a captura, o período nos navios negreiros e a venda
no mercado de escravos. As revoltas dentro dos navios negreiros também são brevemente
citadas como uma forma de resistir ao cativeiro (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p.
192-193). A biografia em primeira pessoa de Mahommah Baquaqua é apresentada aos
alunos como documento escrito sobre o tráfico negreiro, ao professor se reforça que tal
tipo de atividade pode fazer com que os alunos reflitam sobre a luta da escravidão a partir
da perpectiva dos sujeitos escravizados. (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 195)
De forma descritiva, enumeram os grupos e os países de origem dos escravizados
trazidos ao Brasil. Apontam também os agentes do tráfico e indicam onde cada povo
europeu comercializou escravos. A queda da demografia, o pouco desenvolvimento da
agricultura e da economia são indicados como impactos negativos do tráfico de escravos
na África. Já no Brasil, os impactos do tráfico são descritos a partir da análise de uma
tabela sobre o aumento do desembarque de africanos, do século XVI ao XIX (COTRIM;
RODRIGUES, 2018, p. 197).
No livro, o cotidiano dos sujeitos escravizados é dividido em dois subtópicos:
“Boçal e ladino” e “Trabalho na cidade e no campo”. No primeiro apresenta-se a
diferenciação que os colonizadores faziam a partir do conhecimento da língua
portuguesa. No segundo, fala-se sobre os escravos de ganho e se enumeram outros tipos
de trabalhos, indicando-se que eles iam além da agricultura e mineração. O papel dos
feitores e os castigos físicos públicos também são destacados, juntamente com o excesso
e as más condições de trabalho. Como formas de resistência, os autores destacam a luta
64
com conflitos contra a escravidão e as negociações com seus senhores. A fuga, o ataque
às plantações, as rebeliões e a formação de quilombos são descritas como resistências
conflituosas. Já as negociações são descritas em poucas linhas e de forma resumida:
A formação de quilombos é exposta também como uma forma de luta, não apenas
abrigando escravizados fugidos, mas também indígenas e brancos pobres. Os exemplos
do Quilombo dos Palmares e da figura de Zumbi são detalhados na página seguinte.
O capítulo 13 analisa as expansões territoriais e deslocamentos durante o período
colonial, as expedições dos bandeirantes e o papel dos jesuítas no projeto colonizador.
Nada se diz sobre o cotidiano de escravizados.
O capítulo 14 busca compreender a interiorização e a fundação de cidades devido
à mineração, além da dinâmica das populações das cidades mineradoras. Os autores se
detêm principalmente nos aspectos econômicos das sociedades mineradoras e no
controle de Portugal na exploração. Contudo, contam sobre a vida de Chica da Silva,
ex-escrava que conseguiu sua alforria e se tornou parte da elite. Quanto aos escravizados
nas minas, evidenciam a grande quantidade de mestiços e negros, insistem na violência
extrema da escravidão e, como forma de resistência escrava, citam as fugas, os
quilombos e as revoltas, mas nada explicam ou detalham. No box “Outras HISTÓRIAS”
oferecem um trecho sobre as irmandades negras e duas questões de interpretação de texto
para serem respondidas pelos alunos no caderno (ANEXO 25).
O volume do livro Historiar para o 8º ano contém em sua terceira unidade os
conteúdos sobre o período imperial brasileiro, abarcando desde o Primeiro Reinado até a
Proclamação da República54. O Capítulo 9, o primeiro da Unidade 3, estuda as principais
características do Primeiro Reinado no Brasil, as transformações sociais e territoriais, as
disputas entre sujeitos históricos, suas revoltas e os motivos que levaram ao seu fim. Em
54
COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime; Historiar: ensino fundamental, anos finais. 3. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2018. (Coleção). 8º ano.
65
seu início, é abordado o reconhecimento internacional da independência brasileira e a
organização institucional e simbólica nos primeiros anos do império: a elaboração de uma
Constituição pela Assembleia Constituinte, a criação de símbolos nacionais, o surgimento
dos partidos políticos da época. Os autores reforçam que, durante a Assembleia
Constituinte de 1823, a escravidão foi um tema debatido, indicando quea grande maioria
de seus deputados considerava a população negra um perigo e preferiu mantê-la sem
direitos, na condição jurídica depropriedade de outra pessoa, o que significou a
manutenção da escravidão no Brasil independente. Eles apresentam também a divisão
dos poderes da Constituição de 1824, conceituando o voto censitário e o regime do
padroado, problematizam seu caráter excludente, visto que a imensa maioria da
população não tinha propriedade e consequentemente, não participava da política.
(COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 136). Uma das revoltas tratadas no capítulo é a
Confederação do Equador. Focando na liderança de Frei Caneca e Cipriano Barata, os
autores citam superficialmente a problematização da pobreza de uma parte da população
e a defesa do fim do tráfico e da igualdade entre cidadãos como bandeira por parte de um
grupo de líderes do movimento.
O capítulo 10 se dedica a tratar do período regencial, caracterizado por ser
politicamente e socialmente agitado. Os autores apresentam a Revolta dos Malês, a
Cabanagem, e Farroupilha, a Sabinada e a Balaiada como revoltas provinciais
representativas da época. Dentre as motivações das revoltas, destacam que “estavam em
jogo questões como: fortalecer o poder central ou dar autonomia para as províncias;
manter ou abolir a escravidão; adotar a monarquia ou a república como forma de
governo.” (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 148) Nas suas primeiras páginas, o
capítulo esmiúça bem as divisões políticas e os partidos do período, diferenciando seus
objetivos, setores sociais, e líderes de destaque. Quanto às revoltas provinciais, apenas
uma página é reservada a cada uma, com exceção da Farroupilha, que ganha duas
páginas. Os autores oferecem ao professor como material complementar um texto que
trata das concepções historiográficas sobre a Revolta dos Malês, defendendo, em sua
conclusão, que, apesar de derrotado, o movimento abalou estruturas do sistema
escravista, tendo sido um movimento de resistência que almejava a liberdade (COTRIM;
RODRIGUES, 2018, p. 153). Na página seguinte, um boxe traz uma atividade para ser
respondida pelos alunos a partir da leitura do texto “Os legados da escravidão na
América”, desenvolvido pelos autores, contudo, não se oferece material de apoio ao
professor para fomentar a discussão em sala (ANEXO 26). No final do capítulo, a
66
seguinte questão é lançada aos estudantes: “Com base no que você aprendeu sobre a
Revolta dos Malês, na Bahia (1835), debata a seguinte afirmação: "Os escravizados eram
facilmente dominados pelos senhores". Como resposta sugerida ao professor temos:
“Tema para debate. Os alunos devem perceber que a Revolta dos Malês foi um exemplo
marcante de que os escravos lutavam pela liberdade. A resistência à escravidão assumiu
várias formas, dentre elas, a luta armada” (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 160). Tanto
a questão, quanto a sugestão de resposta é pouco desenvolvida, embora se afirme que se
trata de um tema para debate, o livro não oferece subsídios nem ao professor, nem ao
aluno para instigar as discussões, além disso, não se apresenta nenhum outro exemplo de
resistência além da luta armada.
O conteúdo do Capítulo 11 engloba todo o Segundo Reinado: analisa seus
embates políticos; caracteriza a economia cafeeira; o processo que levou ao fim do tráfico
negreiro; a chegada de imigrantes; a construção de um ideal de nacionalidade a partir do
Romantismo e da cultura popular. Assim como nos outros capítulos, as disputas políticas
e partidárias ganham destaque. A economia cafeeira também ganha enfoque no conteúdo
do capítulo para os alunos, nos boxes complementares, como atividade e com textos de
suporte ao professor. Já o fim do tráfico de escravos é pouco discutido, não se apresentam
aos alunos os motivos internos, e principalmente externos que levaram à promulgação da
Lei Eusébio de Queiroz em 1850. A Lei de Terras é caracterizada pelos autores,
informando-se que foi aprovada no mesmo ano em que se proibiu o tráfico (1850), e que
devido a sua configuração, muitas pessoas mais pobres não conseguiam comprovar o
usucapião da terra e ter direito a propriedade, fazendo com que o patrimônio dos grandes
proprietários se mantivesse e dificultando a acesso à terra dos mais pobres. Porém, não é
problematizada a relação da Lei de Terras com o fim da escravidão como um instrumento
que desvalorizou ainda mais o trabalho dos negros, já que financiou a vinda de colonos
estrangeiros livres, e como ela ainda é percebida na atualidade, com a tradição do
latifúndio no Brasil e os problemas de acesso à terra.
Os autores declaram que o Romantismo distorceu elementos culturais populares
para que se tornassem aceitos pela elite. Também apontam a capoeira como uma prática
para “superar as dificuldades do dia a dia” e para criar “laços de solidariedade e enfrentar
as violências do regime escravagista” (COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 177)
O capítulo 12 estuda os processos que resultaram no fim da monarquia e na
implantação da república; caracteriza a Guerra do Paraguai, suas diferentes visões e as
consequências; e analisa o movimento abolicionista e o posterior fim da escravidão.
67
(COTRIM; RODRIGUES, 2018, p. 180) Ao discutir o fim da escravidão, o livro defende
que a campanha abolicionista cresceu após a Guerra do Paraguai e que os abolicionistas
se manifestavam em comícios e nos periódicos, para, em seguida, apresentar uma
pequena biografia dos abolicionistas Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e
Chiquinha Gonzaga. Na página seguinte, descrevem a Lei do Ventre Livre e a Lei dos
Sexagenários. E defendem que estas leis permitiram aos senhores de escravos ganhar
tempo até a abolição, ao mesmo tempo em que levaram a uma intensificação da busca de
liberdade pelos meios legais e jurídicos. Logo em seguida afirmam que:
A coleção História sociedade & cidadania55 aprovada pelo PNLD de 2020, está
em sua quarta edição. Ela foi escrita por Alfredo Boulos e publicada pela editora FTD. O
55
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. Ensino Fundamental: anos finais. 4. ed.
São Paulo. FTD, 2018.
68
professor Alfredo Boulos Júnior possui doutorado em Educação pela PUC de São Paulo e
mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP).56 Suas coleções são
muito conhecidas e são uma das mais distribuídas pelo PNLD.
As orientações ao professor se dividem em oito capítulos em que se discorre sobre
a metodologia da disciplina de História, a metodologia de seu ensino, a legislação atual e
a BNCC, as seções e divisões do livro, projetos integradores e algumas orientações para
avaliação. No subcapítulo reservado à metodologia da área de história, o autor retoma
ideias básicas que constituem a disciplina: o compromisso do historiador de se voltar ao
passado a partir de demandas impostas por problemas do presente; a cautela para não se
deixar levar por anacronismos. Também apresenta textos caracterizando as três principais
correntes historiográficas da História e posiciona qual perspectiva a coleção se guiará.
O autor também elenca conceitos chave para o ensino de história, como “história”,
“tempo”, “cidadania”, “memória”, “identidade”, entre outros, e os conceitua com a ajuda
de textos teóricos.
Quanto ao ensino de história e sua metodologia, o autor também recorre aos
trabalhos da professora Circe Maria Bittencourt para defender a distinção do
conhecimento histórico de uma suposta transposição acadêmica. Também apresenta a
nova concepção de documento para a historiografia recente e orienta os professores
quanto ao seu uso. Textos sobre o uso de imagens e do cinema em sala de aula também
fazem parte do exemplar do professor. No material procura-se ainda relacionar o ensino
56
http://lattes.cnpq.br/1421259871718064. Acesso em: 28/03/2022.
69
de história com a cidadania e com a necessidade de se estudar a temática afro e indígena.
Boulos defende que é necessário que o tema entre em sala não apenas para se cumprir a
legislação, mas também para promover a cidadania entre os alunos, a tolerância, o
respeito e a identidade. No capítulo sobre a estrutura dos livros da coleção, se descreve a
função de cada boxe no texto, e as categorias de atividades que se encontram no final do
livro do aluno. O autor oferece ao professor um roteiro para orientar quando for
necessário fazer análises de documentos escritos.
Quanto à estrutura do livro do aluno, os conteúdos são divididos em capítulos,
que por sua vez, são divididos em quatro unidades. Mais uma vez, apenas os subcapítulos
que interessam à pesquisa serão citados.
História sociedade & cidadania – 7º ano História sociedade & cidadania – 8º ano
Unidade I Unidade I
Capítulo 1 – Povos indígenas: saberes e técnicas Capítulo 1 – Iluminismo
Unidade II Unidade II
Capítulo 3 – Mudanças na Europa feudal Capítulo 5 – Rebeliões na América portuguesa
70
Unidade IV Unidade IV
Capítulo 10 – Africanos no Brasil Capítulo 13 – Industrialização, imperialismo e
Havia escravidão na África antes dos europeus? resistência
Quadro 4 - Estrutura de capítulos dos volumes do 7º e 8º ano da coleção História sociedade &
cidadania.
57
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. Ensino Fundamental: anos finais. 4. ed.
São Paulo. FTD, 2018. (Coleção). 7º ano. p. 170.
71
senhores, tomavam iniciativas e buscavam viver do seu jeito
(BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 173).
72
plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senhores, negociando
melhores condições de vida e trabalho, fugindo sozinhos ou com
companheiros e formando quilombos. (BOULOS JÚNIOR, 2018. p.
189).
58
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. Ensino Fundamental: anos finais. 4. ed.
São Paulo. FTD, 2018. (Coleção). 8º ano.
73
compreensão e análise das revoltas em questão, se pode perceber a participação ativa dos
colonos reivindicando melhorias, se voltando contra companhias jesuíticas, exigindo a
redução de impostos e, inspirados por ideais iluministas, já no século XVIII, contestando
abertamente a legitimidade da submissão ao governo português. Salienta-se que, apesar
da reação da Coroa portuguesa prendendo e executando líderes do movimento, houve
mudanças proporcionadas por esses movimentos. A participação de afrodescendentes na
liderança de movimentos é destacada no material do professor no subcapítulo da
Conjuração Baiana. Além disso, outro texto de apoio discute o trabalho dos escravos na
cidade de Salvador na primeira metade do século XIX, onde se afirma que pelas péssimas
condições de vida em Salvador, e pelo intenso tráfico nos portos, a taxa de reprodução
entre escravos era muito baixa. Os senhores preferiam alugar escravos de ganho da
cidade e receber uma parte de seu trabalho. Estes escravos tinham a possibilidade de
guardar parte de seu ganho para comprar a sua alforria e ter atividades de lazer.
(BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 80)
O capítulo 8 se inicia temporalmente com a chegada da família real ao
Brasil e a transferência da Corte, caracteriza a Insurreição Pernambucana de 1817 e
apresenta o movimento português Revolução Liberal do Porto, que culminou no retorno
de D. João VI e na emancipação em 1822 por D. Pedro.
No capítulo seguinte se desenvolve uma análise sobre os primeiros anos do
reinado de D. Pedro I, as batalhas provinciais por independência, a legitimação da
emancipação por outros países e a escrita de uma nova constituição pela Assembleia
Constituinte, em 1823. Abordando apenas questões políticas, o capítulo se encerra com a
abdicação de D. Pedro I.
Em seguida, o capítulo 10 estuda o período regencial, dando ênfase em algumas
revoltas regenciais, como a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Revolta dos Malês, a
Sabinada e a Balaiada. Ao tratar da Revolta dos Malês, iniciada em 1835, o autor é breve
e aponta a exploração no trabalho e a perseguição religiosa como as motivações da
insurreição escrava e muito pouco se fala sobre a religião praticada. Como resultado da
revolta, indica-se que muitos revoltosos foram obrigados a retornar à África e aponta-se
a existência de uma tentativa de branqueamento por parte das autoridades da Bahia. Ao
professor, ressalta-se como encaminhamento do tema que uma maioria de mestiços e
negros da Bahia do século XIX era oprimida por uma minoria branca e que, entre os
oprimidos, os africanos livres ou libertos eram os que mais sofriam. Como forma de
resistência, organizavam-se em comunidades e cultuavam suas religiões (BOULOS
74
JÚNIOR, 2018. p. 165). Quanto às motivações da Sabinada (1837-1838), o autor aponta
o aumento de impostos e a possibilidade de convocação para lutar contra os farroupilhas
no sul do país. A participação escrava é relatada apenas quando em relação à convocação,
por parte dos rebeldes, para que escravizados lutassem a seu lado, com resposta negativa
por muitos deles (BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 166). Na Balaiada (1838 -1841), a
participação dos negros é relatada como tendo ocorrido desde o início do movimento de
cunho popular: junto aos bandos de indígenas, vaqueiros e desempregados, a população
quilombola atacava fazendas e defendia pautas como a expulsão de comerciantes
portugueses, substituição do governo provincial e fim da escravidão (BOULOS JÚNIOR,
2018. p. 167).
O capítulo 11 intitulado “Segundo Reinado: política, economia e guerra” se inicia
com a comparação de duas charges que retratam a Guerra do Paraguai – uma publicada
no Brasil e outra no Paraguai. A partir de questões norteadoras aos alunos, pretende-se
discutir as diferentes representações veiculadas por essas imagens e como elas
evidenciavam posicionamentos opostos. (BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 178) O capítulo
segue com questões políticas do período, se utilizando de charges e textos de apoio ao
professor para contextualizá-las. Ao fim do capítulo há subtópicos a respeito da pressão
inglesa para o fim do tráfico e do o tráfico entre províncias. O autor relata que, com a
aprovação da Lei Bill Aberdeen, o tráfico negreiro aumentou e o preço dos escravizados
também. O tráfico entre províncias se intensifica após 1850, com a Lei Eusébio de
Queiroz, e o acesso à terra para ex-escravos, imigrantes e pessoas pobres se torna ainda
mais difícil com a aprovação da Lei de Terras. Em seguida, Alfredo Boulos discute o
racismo biológico e as políticas e teorias de branqueamento, usando como exemplo a
pintura “A redenção de Cam” (BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 191).
O capítulo 12 se divide entre os seguintes temas: abolição, imigração e
indigenismo durante o Império. O que nos interessa mais de perto é o que é oferecido
aos leitores a respeito do processo abolicionista. O autor afirma que esse processo se
iniciou antes das leis abolicionistas e se estendeu pelo século XIX. Além da legislação, o
autor também enfatiza a resistência escrava e o movimento abolicionista como fatores
que levaram ao fim da escravidão. Como exemplos de resistência, ele cita a
desobediência, as fugas e revoltas, a quilombagem, os levantes urbanos e a busca por
liberdade religiosa (BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 204). O autor acentua bastante as
revoltas escravas, retornando os conteúdos presentes no capítulo anterior. Os textos de
apoio ao professor oferecem uma bibliografia com textos recentes sobre o tema. Quanto
75
ao movimento abolicionista, afirma-se que foi um movimento social que ganhou força na
segunda metade do século XIX e congregava defensores de “diferentes origens e cores”
(BOULOS JÚNIOR, 2018. p. 206). Um artigo da historiadora Hebe Maria Mattos é
apresentado no box “Para saber mais” (ANEXO 28), que traz breves biografias dos
líderes abolicionistas André Rebouças, José do Patrocínio, Luiz Gama e Joaquim
Nabuco. Em seguida, destaca-se a participação de artistas no movimento abolicionista,
como Angelo Agostini, e se acrescenta ao texto a charge conhecida como De volta do
Paraguai, com uma proposta de diálogo em classe, porém a imagem não conta com
legenda, citação de origem ou referência de publicação. Também é oferecido ao professor
um texto de apoio que lista a bibliografia e principais produções do artista ítalo-brasileiro
(ANEXO 29). Em seguida, enfatiza-se que o governo e a elite defendiam uma abolição
lenta e gradual, assim foram aprovadas as leis abolicionistas. Com a Lei do Ventre Livre,
de 1871, também se reconhece o direito do escravo poder juntar dinheiro para comprar
sua carta de alforria, conquistando a liberdade. Ao mesmo tempo, as campanhas
abolicionistas ganham força e crescem pelo país. Após quatorze anos da promulgação da
Lei do Ventre Livre, em 1885 se aprova a Lei dos Sexagenários, e sobre esta se declara
que ela trouxe insatisfação e acirrou ainda mais os ânimos e o movimento abolicionista,
unindo diferentes setores da sociedade. As relações entre escravizados e senhores para a
busca da alforria é discutida brevemente em um trecho de um artigo oferecido no
conteúdo para professores. Nele a autora evidencia que existiam estratégias cotidianas
estabelecidas entre escravizado/senhor para a obtenção da liberdade:
76
Por fim, o autor trata do Treze de Maio de 1888 como uma lei que foi também
resultado da pressão da campanha abolicionista e que foi comemorada em todo o país.
Contudo, na sessão de atividades do capítulo, um texto de apoio ao professor trata
das crianças após a Lei do Ventre Livre. Se antes de 1871 a presença de crianças em
documentos da época era muito rara, depois da promulgação da lei se tornou mais
comum a discussão sobre a infância escrava em periódicos, ações judiciais e debates
políticos. Além disso, no texto de apoio, o autor elenca diversos espaços e ocupações de
crianças escravas.60
De modo geral, o livro relata, de forma não muito extensa, a existência de famílias
escravas e sobre como eram meios de resistir ao cativeiro. O que já é louvável e merece
destaque, visto que incorpora no texto base discussões recentes sobre o tema e oferece
outras possibilidades de se pensar o cotidiano da colônia. Quanto à resistência dos
próprios escravizados, cita-se principalmente a quilombagem, a capoeira e as irmandades
religiosas.
2.1.5. História.doc
77
Política e Cultural da História do Brasil República.63 Sheila de Castro Faria possui
licenciatura e bacharelado em História pela UFF, assim como mestrado e doutorado na
mesma instituição. Seus principais temas de estudo são: escravidão, alforrias, Brasil
Colônia e Império. Atualmente é professora aposentada também da UFF64. Por fim,
Daniela Buono Calainho é graduada em História pela UFF, possui mestrado em História
Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em História pela
UFF. É professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisa
principalmente temas como inquisição, escravidão e religiosidades com ênfase em
História Moderna e História do Brasil65.
O Manual de apoio ao professor se divide em dois capítulos principais: um diz
respeito à fundamentação teórica e pedagógica da obra e o outro descreve o plano geral
dos volumes e sua adequação à BNCC.
A partir dos quatro critérios de enquadramento de coleções didáticas de História
propostos por Tania R. de Luca e Sônia R. Miranda,66 que são: tipo de abordagem,
perspectiva pedagógica, relações com o desenvolvimento da historiografia e perspectiva
programática, os autores se localizam e definem as perspectivas adotadas.
78
Os autores descrevem brevemente o percurso e contexto histórico dos livros
didáticos exclusivos sobre história do Brasil, apontando que esse padrão de publicação
entrou em declínio a partir do século XXI, com a Perspectiva Integrada – concepção
esta que foi adotada na coleção. Defendem que o estudo da história do Brasil inserida da
divisão temporal quadripartida é mais apropriada e benéfica ao aprendizado histórico,
pois "eurocêntrica ou não, a colocação do Brasil [...] em posição subordinada à dinâmica
internacional é mais fiel ao papel do país no processo histórico ocidental, onde ele se
inclui” (VAINFAS, R. et al. 2018, p. IX).
Como renovações teórico-metodológicas os autores acrescentam que os livros de
história recentes e também esta coleção contam com o recurso do hipertexto. Com ele o
conteúdo não precisa ser lido de forma linear e é integrado e dialoga com outros tipos de
textos, documentos e imagens. Assim, integrados ao hipertexto, descrevem o tratamento
dado aos documentos históricos e às imagens que compõem a coleção. Apontam que,
apesar de essenciais ao ensino de História, algumas vezes os documentos são inseridos
em livros didáticos como meio de comprovação do texto-base. Porém este procedimento
não é mais tão frequente nos livros de história recentes. Para a coleção História.doc, os
autores sustentam que a noção de documento precisa ser problematizada, dando
importância ao seu contexto de produção.
79
aspectos renovadores da coleção. A interdisciplinaridade começou a ser defendida pelos
historiadores desde o surgimento dos Annales a partir de 1930, quando se defende que a
escrita da história não se limite ao prisma político, mas abarque também o social e o
cultural, com as pesquisas acadêmicas dialogando com diversas disciplinas como a
Sociologia, Antropologia, a Psicologia, as Artes, dentre outras. A interdisciplinaridade no
ensino de história e nos livros didáticos também já é consensual. Os autores afirmam
seguir esse direcionamento enfatizando a Antropologia nos textos-base e a Geografia no
hipertexto. (VAINFAS, R. et al. 2018, p. XII)
Como inovação teórico-metodológica, os autores constroem as narrativas a partir
do que chamam de “Jogos de escala”. Defendem o uso do termo “inovação”, uma vez
que, para eles, tal proposta é uma ação de fato original em livros didáticos. Eles
apresentam pontos de vista e visões de diferentes grupos sociais contrapondo suas
narrativas no texto, com boxes, imagens, textos complementares, etc. Essa inovação,
como defendem, estabelece vínculo e familiaridade entre a história e o leitor, além disso,
ao articular eventos de perspectiva geral com episódios e personagens “menores”, se
contempla a metodologia de pesquisa da micro-história. “Em termos concretos, todos os
capítulos da coleção contêm uma narrativa microanalítica. Os temas de cada capítulo são
introduzidos por um personagem, algumas vezes por um episódio, raras vezes por um
grupo (personagem coletivo).” (VAINFAS, R. et al. 2018, p. XV) No quadro a seguir
estão descritos os capítulos presentes nos volumes do 7º ano e 8º ano da coleção
História.doc, e nos capítulos que interessam à pesquisa, temos a descrição que os autores
dão aos personagens e as narrativas abordadas como “Jogos de escala”.
80
Unidade 2 – Sociedades ameríndias e conquista Unidade 2 – Américas Independentes
europeia
Capítulo 4 – Movimentos de independência
Capítulo 3 – Impérios Asteca, Maia e Inca americanos
81
Capítulo 12 – Economia e sociedade na América
portuguesa
“Mestre de Campo Garcia d'Ávila Pereira de
Aragão, da poderosa família da Casa da Torre, da
Bahia, acusado de maus-tratos a seus escravos, na
segunda metade do século XVIII.” (VAINFAS, R.
et al. 2018, p. XVII)
67
MATTOS, Hebe; ABREU, Martha. Em torno das "Diretrizes curriculares nacionais para a educação
das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”: uma
conversa com historiadores. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 21, n. 41, 2008.
82
senhores/escravos. Para as historiadoras, é impossível estabelecer uma separação rígida
entre essas populações.
...que pessoas escravizando outras pessoas foi uma situação que sempre
existiu nas sociedades humanas, mas somente em alguns lugares e
épocas ela foi a base da economia? Foram os casos, por exemplo, da
Grécia e de Roma, na Antiguidade, e da América, no Período Moderno,
onde as pessoas submetidas à escravidão eram consideradas uma
mercadoria, podendo ser vendidas. A grande diferença é que, no
Período Moderno, o comércio de escravos pelo oceano Atlântico se
tornou uma atividade econômica muito lucrativa e fundamental para
suprir de mão de obra as lavouras da América. Muito diferente do
83
sistema de servidão medieval, em que o trabalhador não podia ser
comercializado, embora fosse vinculado a um senhorio. (VAINFAS, R.
et al. 2018, p. 195)
84
A possível “hipocrisia” de ser um liberto negro e depois se tornar capitão do mato
é discutida em uma das atividades do fim do capítulo, na sessão “O passado presente”.
No texto os autores defendem que história e memória são diferentes e que: “a história
"luta" contra a memória. A primeira se esforça para reconstruir o passado com base em
documentos. A segunda busca reconstruir uma história afinada com os valores de seu
tempo. Uma história, por assim dizer, oficial e politicamente correta” (VAINFAS, R. et
al. 2018, p. 221)
Os autores seguem afirmando que Henrique Dias, mesmo sendo negro, foi
retratado no século XIX por Varnhagen como herói nacionalo, enquanto que, no século
XXI, o Movimento Negro Unificado o descreveu como traidor da “raça negra”.
85
holandeses, seja na luta pela expulsão deles. Ele fez uma escolha. Foi
esta última escolha que a historiografia do século XIX celebrou. Foi a
primeira escolha que o Movimento Ne gro condenou no século XXI.
Isso comprova que Memória e História se opõem. E vale lembrar que a
atuação de Henrique Dias foi reconhecida pelo governo brasileiro em
1992 e 2012. Basta conferir as condecorações em governos muito
diferentes. (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 221)
86
urbanização da capital e a chegada da imprensa e de artistas; a volta de D. João para
Portugal e a independência; o Primeiro Reinado e a Constituição de 1824; e por fim, a
abdicação de Dom Pedro I. A personagem do capítulo é Maria Quitéria de Jesus
Medeiros.
O capítulo 7 se chama “Rebeliões no Brasil regencial”, mas vai além do período
em que o Brasil foi governado por regentes. São apresentadas questões políticas, como
as formações de grupos políticos e as ações das regências, como a criação da Guarda
Nacional e a instituição do Ato Adicional. Em seguida, são discutidas as revoltas
regenciais, afirmando-se que, apesar de suas pretensões, “Nenhuma delas, entretanto,
pretendia mudar profundamente a estrutura da sociedade. E nenhuma propôs realmente
acabar com a escravidão” (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 121). Descrevem em subcapítulos
específicos a Cabanagem, a Sabinada e a Balaiada, movimento no qual o personagem do
capítulo se insere. Cosme Bento das Chagas, ou Preto Cosme, foi um liberto que viveu no
Maranhão no mesmo período da Balaiada. Enquanto o movimento se organizava, o
quilombo formado por Preto Cosme surgiu como outra frente na luta. Escravos e libertos
foram soldados nas revoltas, porém não lhes era concedido o protagonismo na luta. Os
autores reforçam que mesmo com a participação de libertos e escravos, a abolição não se
tornou pauta de defesa destes movimentos; pelo contrário, muitos a temiam. Visto que a
maioria da população no Brasil era escrava e com o exemplo do que ocorreu no Haiti, a
elite temia revoltas escravas, o que fazia com que, de acordo com os autores, elas fossem
reprimidas com bastante violência. Como exemplos de revoltas escravas, são
apresentadas brevemente a Revolta das Carrancas, a Revolta dos Malês e a Revolta de
Manuel Congo. Ao final do capítulo se estudam a Farroupilha e o início do Segundo
Reinado. (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 125)
O capítulo 8, “A cafeicultura no Brasil escravista” tem como personagens os
primos Antônio e Francisco Clemente Pinto, investidores que enriqueceram com a
cafeicultura e com a mão de obra escrava. Neste capítulo se estudam o crescimento da
economia baseada no café e a crise do trabalho escravo. Os autores apresentam bem o
quadro demográfico no texto-base, nos boxes do hipertexto e no material ao professor,
relacionando o tráfico com a economia cafeeira e seu crescimento. Contudo, ao mesmo
tempo, destaca-se que a Inglaterra pressionava o governo imperial para a abolição do
tráfico, nesse contexto se cria a Lei de 7 de novembro de 1831, e posteriormente a Lei
Bill Aberdeen e a Lei Eusébio de Queiroz. Os autores realizam um trabalho
interdisciplinar nos elementos do hipertexto; no box “Outras histórias” oferecem o texto
87
de uma peça teatral e questões aos alunos para que elaborem interpretações sobre o
tráfico de escravos representado no teatro (ANEXO 30). Quanto aos personagens
retratados no capítulo, os autores defendem que os primos Clemente Pinto só
conseguiram enriquecer com o café devido à mão de obra escrava, e como em 1850 o
tráfico negreiro havia sido abolido, a mão de obra em suas fazendas era suprida pelo
tráfico interprovincial.
O capítulo 10, “Crise da escravidão e da monarquia no Brasil”, dá continuidade
aos conteúdos dos capítulos anteriores, analisando principalmente o declínio do regime
escravista e da monarquia. O personagem retratado no capítulo é o jornalista e
abolicionista José do Patrocínio. Como objetivos gerais do capítulo, os autores elencam:
88
seguida, com uma legenda abaixo, porém não se indica em qual periódico ela foi
publicada (ANEXO 32). No boxe “Outras histórias” os autores mostram como
funcionavam as rodas de expostos, relacionando-a com a vida de José do Patrocínio, que
foi batizado como exposto para não ser escravizado (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 182).
No subcapítulo seguinte, explicam a Lei do Ventre Livre e a possibilidade de compra da
alforria com o direito de pecúlio adquirido, e a Lei dos Sexagenários, apresentando
novamente uma charge de Angelo Agostini sobre o tema. Por fim, apontam que o
crescimento do movimento abolicionista, a fuga de escravos e a criação de quilombos
contribuíram para a abolição da escravidão (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 185). A seguir,
os autores descrevem que muitos libertos foram para as cidades em busca de emprego e
se formou o que conhecemos hoje como favelas. Também oferecem a reflexão sobre o
ideal de embranquecimento da população, com o boxe “Que há na imagem?” que traz o
quadro de Modesto Brocos, A redenção de Cam (VAINFAS, R. et al. 2018, p. 186). O
conteúdo seguinte do capítulo evidencia as razões e motivos que levaram ao fim do
império e à Proclamação da República em 1889.
A coleção Teláris História foi editada pela editora Ática e escrita por Cláudio
Vicentino e José Bruno Vicentino68. Cláudio Vicentino é licenciado em Ciências Sociais
pela USP, e José Bruno Vicentino tem licenciatura em História pela PUC-SP. Ambos são
professores de História no Ensino Fundamental, Médio e em cursos pré-vestibulares.
Se comparado com outras coleções, o Manual do Professor desta coleção é breve
e sucinto, diz muito pouco sobre temas teóricos no campo da história, e se reserva um
pouco mais a explicitar seu alinhamento com a BNCC. Reforçam o papel da história
como uma disciplina para se estimular a criticidade dos alunos, por meio da pesquisa e
dos questionamentos, e assim formar indivíduos críticos e responsáveis, capazes de
interpretar sua realidade. De acordo com os autores, todos os volumes da coleção
contarão com “conteúdos mais críticos e atividades mais atraentes” (VICENTINO, C.
2018, p. V)
Os autores também retomam a Diretrizes Curriculares Nacionais e a Lei nº
9.394/96 para relembrar a importância do ensino da cultura e história indígena, africana e
afro-brasileira no ensino de história, e da necessidade de materiais que combatam o
68
VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Teláris história. 1. ed. São Paulo. Ática, 2018.
(Coleção)
89
racismo em favor de uma educação e de uma sociedade igualitária. Sendo essa a proposta
da coleção, afirmam que buscam enfrentar os estereótipos relacionados a estes povos que
são comuns nos livros didáticos de história.
Quanto aos fundamentos da coleção, se diz que a coleção tem o objetivo de levar
o estudante a compreender os processos históricos de maneira abrangente, entendendo o
“encadeamento dos acontecimentos ao longo do tempo”. Os conteúdos são desenvolvidos
de forma cronológica e reúne o estudo da História Geral com a História do Brasil. Quanto
à disposição dos conteúdos nos volumes, os autores optaram por selecionar episódios
principais e emblemáticos para explicar a formação da nação, o que se justifica uma vez
que o Brasil teve um passado colonial e se insere em uma sociedade ocidental.
(VICENTINO, C. 2018, p. X). Nos tópicos seguintes, apresentam a estrutura da coleção,
seus capítulos, boxes, materiais e atividades, e enfatizam o alinhamento com a BNCC e
com seus pressupostos, como as competências emocionais e as habilidades.
90
Unidade 3 – Europa e a colonização da América Unidade 3 – Centros de poder e dominação colonial
da África e da Ásia
Capítulo 7 – O mercantilismo e a colonização da
América Capítulo 8 – Os Estados Unidos na século XIX
91
europeus e os destinos e números do tráfico. No Brasil, os autores explicam como era
feito o transporte dos escravizados e quais seus principais pontos de desembarque e
venda. Também explicam aos alunos o processo de mudança de mão de obra, e os
motivos pela escolha da mão de obra africana escravizada no Brasil. No subtópico
seguinte, descrevem o processo de compra de escravizados, quais cidades lideravam a
venda de cativos, e o cotidiano de violência presente quando se trabalhava no processo
de produção do açúcar. Quanto às formas de resistência, os autores citam as fugas, furtos,
incêndios e destruição de plantações; a recusa ao trabalho e o banzo; as práticas culturais,
como a capoeira e festividades; as uniões familiares; os cultos africanos, e por fim, os
quilombos. Nos boxes “Conheça mais” e “Trabalhando com documentos” trazem textos e
perguntas sobre as festividades de origem portuguesa e de origem africana presentes na
América portuguesa, relacionando-as com as religiões cultuadas. Ainda que brevemente,
o subtópico mostra que os africanos escravizados não aceitavam passivamente o
cativeiro, se uniam e formavam laços identitários e de apoio (VICENTINO, C. 2018, p.
216). Ao fim do capítulo, discorrem sobre a formação de quilombos como uma prática de
resistência coletiva, destacando como exemplo o Quilombo dos Palmares.
O capítulo 12 descreve a economia colonial com enfoque na produção açucareira
e a chegada dos holandeses no Brasil. Assim, descrevem também a formação da
sociedade açucareira, com senhores, escravizados e comerciantes, apresentando também
a estrutura dos engenhos de açúcar. Como texto complementar ao professor, apresentam
um trecho de um texto sobre as condições de vida nas senzalas, publicado na Revista
Superinteressante, (VICENTINO, C. 2018, p. 224). Ao fim do capítulo, como projeto
final do 2º semestre se propõe uma roda de conversa com o tema: O racismo no Brasil
atual. Na mesma proposta, apresentam o trecho de um texto de Darcy Ribeiro,
explicitando os duros castigos sofridos pelos escravizados ( ANEXO 33).
O capítulo 13 analisa a atividade mineradora na América portuguesa e a expansão
e o povoamento que ela gerou, além disso, também descrevem sobre as transformações
sociais e culturais permitidas a partir da mineração. Nesse sentido, os autores destacam
que o crescimento populacional nas regiões de mineração fez surgir uma população
marginalizada, e incluídos nessa população, tinhamos os negros alforriados. Além disso,
também citam a criação de irmandades religiosas para “homens de cor”
Na edição do 8º ano da coleção Teláris História, os conteúdos que aqui nos
interessam se iniciam a partir do Capítulo 3: “As rebeliões na América Ibérica”. Este
capítulo busca identificar os principais eventos rebeldes ocorridos na América Ibérica,
92
reconhecendo os diferentes grupos sociais participantes, as suas características e as suas
motivações. Inicialmente os autores apresentam os movimentos ocorridos na América
Portuguesa, e em seguida os movimentos espanhóis, são eles: a Revolta de Beckman
(1684); a Guerra dos Emboabas (1707-1709); a Guerra dos Mascates (1710-1711), a
Revolta de Filipe dos Santos (1720); a Conjuração Mineira (1789); a Conjuração Baiana
(1789); a Rebelião de Tupac Amaru (1780); o movimento comunero (1781). Os autores
defendem a abordagem conjunta das rebeliões ocorridas na América espanhola e na
América Portuguesa como uma forma de compreenderem a proximidade entre as duas
regiões: “O trabalho comparativo, identificando semelhanças e diferenças, é importante,
assim como a discussão da ideia de unidade nacional, ainda que os movimentos
estudados não tivessem ambições nacionais, segundo as análises historiográficas atuais.”
(VICENTINO, C. 2018, p. 50) Mesmo que a participação de sujeitos escravizados nos
movimentos em questão tenha sido pequena (com exceção da Conjuração Baiana),
reforçam que as resistência de escravizados ao cativeiro se deu em diferentes formas:
rebeliões, fugas, atentados, práticas culturais, etc.
93
emancipação passou a tornar-se dependente da Inglaterra. (VICENTINO, C. 2018, p.
117)
Na abertura da Unidade 4 “ O Brasil monárquico: Primeira e Segundo Reinado”
(ANEXO 34) os autores apresentam uma fotografia que retrata escravizados
aparentemente jovens, trabalhando na colheita do café no Rio de Janeiro no ano de 1882.
O autor da fotografia é Marc Ferrez. Os autores apontam em box do texto, que “ Os
escravizados trabalhavam desde os 7 anos. Aos 12 seu preço dobrava, pois já podiam
trabalhar mais, e aos 15 anos eram considerados adultos. Faziam parte das propriedades
da fazenda.” Declarados como parte dos bens, se pode inferir a partir da leitura destas
páginas iniciais que existe uma presença de cativos jovens trabalhando na agricultura.
Junto à imagem de Marc Ferrez, posiciona-se os retratos de D. Pedro I e D. Pedro II. No
material para os professores, os autores declaram que a relação entre escravidão e
manutenção da organização política do império será tratada ao longo dos capítulos
seguintes, e que a abolição foi um dos fatores que se somaram à crise de legitimidade da
monarquia e possibilitou a proclamação da República. (VICENTINO, C. 2018, p. 177)
O capítulo 11 tem como objetivos conhecer o cenário político, social e econômico
do Primeiro Reinado e entender os movimentos de contestação e resistência. Já na
abertura do capítulo, os autores apresentam uma obra que é a representação da Batalha do
Jenipapo (ANEXO 35), ocorrida no Piauí, a partir das perguntas norteadoras, o que se
busca compreender é que as batalhas pela independência foram conflituosas e que houve
a participação de vários grupos sociais, o que se opõe à ideia de que a independência se
deu de forma pacífica. (VICENTINO, C. 2018, p. 178). Destaca-se o caráter excludente
da primeira Constituição Brasileira, onde se instala o voto censitário e centraliza o poder
do governo na figura do imperador. O capítulo finaliza-se com o processo de desgaste do
reinado de D. Pedro I, sua volta para Portugal e com o início do período regencial.
O capítulo 12 estuda as características sociais, políticas e econômicas do período
regencial, descrevendo também as rebeliões que ocorreram no período, por fim, explica a
política indigenista no pós-independência. São descritas as seguintes rebeliões: A Revolta
Rural dos Papa-méis, a Insurreição Malê, a Sabinada, a Balaiada, a Cabanagem, e a
Revolução Farroupilha. A participação popular, principalmente de quilombolas e
escravizados, é brevemente citada nos subcapítulos sobre a Revolta Rural dos Papa-méis,
sobre a Balaiada e sobre a Cabanagem. Quanto à Insurreição dos Malês, o capítulo não
dedica ao tema muito espaço no livro do aluno, contextualiza o movimento e também a
94
etimologia da palavra “malês”. Para os professores, orientam que outros temas também
podem ser tratados e que as rebeliões eram também uma forma de resistência:
Orientações didáticas
Ao trabalhar a Insurreição Malê, diversos temas podem ser abordados,
como: religião dos africanos escravizados, identidade, resistência,
delação, etc. É importante destacar que os africanos não eram passivos;
eles empenharam-se em inúmeras formas de resistência (na produção,
na relação com os senhores, nas fugas) e de luta contra a escravização.
Destaque também as características dos africanos islamizados
conhecidos como malês, ressaltando que sob esse grupo se reuniam
diferentes etnias da costa ocidental africana e que muitos deles sabiam
ler e escrever em árabe. Além disso, como forma de aprofundar a
discussão em torno da resistência negra, é interessante propor a
elaboração de uma biografia de personalidades negras que participaram
de movimentos de resistência durante o Primeiro Reinado ou nas
Regências. O resultado do trabalho pode ser apresentado em forma de
seminário ou mural, de maneira que as informações pesquisadas sejam
compartilhadas com a classe. (VICENTINO, C. 2018, p. 196)
95
que a prática política vai muito além das eleições e da ocupação dos
cargos públicos, podemos afirmar que muitas mulheres atuaram
politicamente em momentos decisivos da história do Império. Um
exemplo foi sua participação no movimento abolicionista, nas décadas
de 1870 e 1880. Nos eventos culturais que promoviam a causa
antiescravista, cantoras, atrizes, compositoras, poetisas e espectadoras
ajudaram a arrecadar fundos para a libertação de escravizados,
colaborando para o fim do regime escravista. (VICENTINO, C. 2018, p.
213)
96
população escravizada entre 1832 a 1887, orientando também o professor a pontuar que a
partir do quadro se pode perceber que a elite agrária conseguiu dirigir uma abolição lenta
e gradual, de acordo com suas necessidades (ANEXO 39). A Lei Áurea é citada de forma
breve: “Em 13 de maio de 1888, finalmente, o Congresso brasileiro votou o fim
definitivo da escravidão em todo território nacional. A Lei Áurea foi assinada pela
princesa Isabel, que substituía dom Pedro II (o imperador estava na Europa)”
(VICENTINO, C. 2018, p. 238). A seguir, discutem o destino dos libertos, defendendo
que mesmo com a emancipação, a abolição não significou igualdade e acesso à cidadania
plenamente. Também como parte do capítulo, os autores apresentam as principais ações
afirmativas, como a Lei de Cotas (Lei 12.711 de 2012) e citam algumas outras, como a
Lei 12.288 de 2010, que cria o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 16.639 de 2003, sobre
o ensino de História e cultura afro-brasileira e africana em escolas, explicando sua
importância para a correção de desigualdades sociais da atualidade.
Os autores propõem aos alunos a elaboração de um projeto em cada semestre,
com o objetivo de exercer a cidadania problematizando temas atuais. O projeto proposto
para o segundo semestre sugere a elaboração de um folheto com o tema “As marcas da
escravidão no Brasil de hoje”. A proposta é dividida em dois momentos, se inicia na
unidade 3 e é finalizada na unidade 4. (ANEXO 40). Na abertura, os autores apresentam
os objetivos principais do projeto, como desenvolvê-lo, textos de apoio, e dicas para
pesquisa.
O projeto deste semestre envolve a produção de material informativo à
comunidade sobre a trajetória da escravidão no Brasil, passando pelas
dificuldades de inserção das comunidades afrodescendentes até as
atuais práticas de trabalho escravo que ainda persistem em nosso país.
Dessa forma, vocês vão mostrar às pessoas um pouco da trajetória da
escravidão no Brasil, bem como ajudar a conscientizá-las sobre a
importância da luta pela superação dos preconceitos. (VICENTINO, C.
2018, p. 142)
Como textos de apoio aos estudantes, oferecem trechos das obras das
historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling69 e Emília Viotti da Costa70. Sugerem que
o folheto contenha, no mínimo, três partes principais: “1. Um resumo da história da
escravidão no Brasil; 2. Os problemas atuais que a escravidão nos deixou; 3. A luta
contra o trabalho análogo à escravidão ainda existente no Brasil” (VICENTINO, C. 2018,
p. 142).
69
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015. p. 92.
70
COSTA, Emília Viotti da. A abolição. 8 ed. São Paulo: Ed. da Unesp, 2008. p. 137-138
97
Ao fim do capítulo 14 já espera-se que os alunos tenham finalizado a primeira
parte do projeto. Neste momento os autores discutem sobre o trabalho escravo na
atualidade, apresentando um texto de apoio e um trecho da Lei 2.848 de 194071 e
propõem que todo o material produzido seja impresso e distribuído pelos alunos. Ao fim
do projeto, os alunos e professores devem discutir sobre o processo de elaboração, as
possibilidades de aperfeiçoamento e refletir sobre o tema em conjunto (VICENTINO, C.
2018, p. ).
Lendo as orientações gerais aos professores percebe-se que não há nenhuma
discussão historiográfica e teórica sobre a História ou sobre o ensino de História, nem
mesmo um posicionamento prévio sobre as correntes historiográficas que a coleção irá
seguir. Esta suposição é comprovada ao analisar os capítulos dos volumes voltados para o
7º e 8º ano: é presente no material do aluno e do professor trechos de obras de
historiadores marxistas como também de historiadores pertencentes à nova historiografia,
contudo não se problematiza as diferentes perspectivas que tais obras têm sobre alguma
temática.
A coleção “Estudar História: das origens do homem à era digital” foi escrita
pelas historiadores Patrícia Ramos Braick e Anna Barreto, foi publicada pela editora
Moderna e se encontra em sua terceira edição72. Patrícia Ramos Braick foi professora da
educação básica de Belo Horizonte (MG) em escolas públicas e privados, era também
mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS)73. Patrícia Braick faleceu em abril de 2021. Anna Barreto é mestre em Ciências
com concentração em História Social pela USP-SP, e professora da rede pública e privada
de educação básica de São Paulo.
Os volumes do manual do professor desta coleção são divididos em duas partes, a
primeira parte contém orientações gerais, comuns a todos os volumes, a segunda contém
orientações específicas, com textos de aprofundamento voltados à série específica e com
o livro do estudante.
71
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e
indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.803.htm>.
72
BRAICK, Patrícia Ramos; BARRETO, Anna. Estudar história: das origens do homem à era digital:
manual do professor. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2018.
73
http://lattes.cnpq.br/4437246118895031. Acesso em 12/07/2022.
98
Nas orientações gerais as autoras expõem aos professores a proposta e estrutura
da coleção, oferecendo reflexões sobre a prática docente, sobre o ensino de história e
apresentando os pressupostos teóricos e metodológicos seguidos pela coleção. As
características das correntes teóricas da historiografia são discutidas e esmiuçadas pelas
autoras, reservando tópicos específicos para o materialismo histórico, para a História
Social Inglesa, para a Escola dos Annales, para História Cultural e recupera também a
trajetória da historiografia nacional desde a criação do IHGB até a expansão da
historiografia brasileira durante a década de 1990. Quanto ao posicionamento das autoras
frente às correntes teóricas da historiografia apresentadas, elas pontuam que as mudanças
teóricas influenciam nos livros didáticos e oferecem subsídios para seus conteúdos. A
coleção utiliza aportes de várias correntes, buscando tornar o ensino significativo aos
alunos. Considerando a história como uma disciplina dinâmica e buscando abarcar as
complexidades presente nas relações humanas no decorrer do tempo, as autoras propõem
uma articulação entre diferentes elementos de análise:
99
mulheres ao longo do tempo. O protagonismo de sujeitos que antes foram marginalizados
pela historiografia é relembrado e destacado pela coleção, incluindo a história
afro-brasileira.
Estudar História: das origens do homem à era digital Estudar História: das origens do homem à era
– 7º ano digital – 8º ano
74
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador:
Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. p. 95-103.
100
Unidade I – O surgimento da Modernidade Unidade I – O mundo ocidental em transformação
Capítulo 1: Os Estados europeus e o absolutismo Capítulo 1: Das Revoluções Inglesas à Revolução
monárquico Industrial
Unidade III – A construção do Império Português na Unidade III – Brasil: da crise do sistema colonial ao
América Segundo Reinado
Capítulo 7: Nordeste açucareiro Capítulo 6: Das rebeliões coloniais às lutas pela
emancipação na América portuguesa
Capítulo 8: Sociedade escravista e cultura
afro-brasileira Capítulo 7: Do Primeiro Reinado às Regências
Capítulo 11: Mercantilismo: uma economia de Capítulo 10: Os Estados Unidos no século XIX
transição
Capítulo 11: A nova ordem econômica e o
imperialismo
Quadro 7 - Estrutura de capítulos dos volumes do 7º e 8º ano da coleção Estudar História: das
origens do homem à era digital
101
chegada por portugueses na África no século XV, e após a chegada dos portugueses, se
consolidou o tráfico atlântico e a escravidão moderna. (BRAICK, P; BARRETO, A.
2018, p. 71-72) A coleção contém algumas seções extras, uma delas é a “Refletindo
sobre”. Neste subcapítulo do livro, essa seção questiona os alunos a respeito de práticas
racistas no dia a dia, e sugere que debatam com os colegas sobre o tema. Ao professor o
manual instrui que se problematize e desnaturalize práticas racistas. (ANEXO 42) Outra
seção que cabe aqui pontuar é a “História em construção”, que busca oferecer textos aos
alunos e os leva a compreender as mudanças e construções da historiografia e diferentes
perspectivas. Aqui, o texto publicado é de autoria das historiadoras Lilia Schwarcz e
Heloisa Starling75 e compara a escravidão moderna com a escravidão nas antigas
civilizações, colocando a violência como alicerce do sistema escravista moderno. Ao fim,
se tem uma pergunta interpretativa sobre o mesmo. (ANEXO 43)
O sujeito escravizado volta a aparecer no livro na Unidade III “A construção do
Império Português na América”, que se divide em três capítulos: capítulo 7 - “Nordeste
açucareiro”, capítulo 8 “Sociedade escravista e cultura afro-brasileira”, e capítulo 9
“Expansão das fronteiras da América portuguesa”. O capítulo 7 se detém principalmente
a analisar a economia açucareira nos anos iniciais da colônia, os escravizados ganham
espaço quando se discute sobre a organização dos engenhos e seus sujeitos: os senhores
de açúcar, os arrendatários, os trabalhadores livres, e os escravizados. Destaca-se a
lucratividade do tráfico como principal motivo para a substituição da mão de obra
escrava indígena pela africana, e descrevem as atividades realizadas pelos escravos nos
engenhos. Na seção “Refletindo sobre” as autoras instigam que os alunos exercem a
empatia e se coloquem no lugar dos africanos traficados. “[...]Como você imagina que
era ser levado de seu lugar de origem e separado de sua família à força para trabalhar em
um continente desconhecido? Debata com os seus colegas.” (BRAICK, P; BARRETO,
A. 2018, p. 129)
75
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015. p. 91.
102
• identificar os mecanismos do tráfico negreiro e os motivos que
levaram o Brasil a tornar-se o principal destino de africanos
escravizados no mundo;
• entender as características da sociedade escravista brasileira e suas
heranças culturais e sociais;
• conhecer o cotidiano dos negros escravizados e suas estratégias de
resistência contra a escravidão no Brasil;
• compreender a importância da influência cultural africana na formação
cultural brasileira;
• destacar a importância das religiões como um modo de manutenção da
identidade cultural dos africanos escravizados. (BRAICK, P;
BARRETO, A. 2018, p. 138)
103
formação de famílias se tornou um recurso para africanos reconstruírem seus laços
afetivos e recriar sua cultura. (BRAICK, P; BARRETO, A. 2018, p. 144)
No box “Saiba mais” apresentam formas que os escravizados africanos se
relacionavam em parentesco, como o apadrinhamento, as famílias de santo, e o malungo.
Para os professores, as autoras discorrem sobre a historiografia sobre famílias escravas, e
oferecem fontes bibliográficas para consulta. (ANEXO 45)
O subcapítulo seguinte discorre sobre os meios de resistência dos escravizados,
que já estavam presentes desde a viagem nos navios. Ao chegarem na colônia, e serem
submetidos a rotina de trabalho desgastante, muitos de rebelavam e reagiam ao cativeiro,
as autoras citam formas individuais de resistência, como fugas, greves de fome e
sabotagem, como também formas coletivas, como fugas em grupo e revoltas. Também
apontam formas de resistência disfarçadas, como o culto a orixás africanos associados
com santos católicos. E por fim, como atos de desespero, e depressão, citam o banzo e o
suicídio.
Os mocambos ou quilombos são descritos no subcapítulo seguintes como
comunidades de reuniam além de escravizados fugidos, brancos, pobres, indígenas, etc.
O Quilombo dos Palmares é dado como exemplo e discorrem sobre sua formação e seu
fim.
Ao fim do capítulo, como leitura complementar, as autoras publicam um trecho do
artigo “Amas de Leite” de Lorena Féres da Silva Telles76, junto com a pintura de Lucílio
de Albuquerque, Mãe preta, de 1912, e com uma fotografia de uma roda dos expostos
(ANEXO 46). As questões buscam a reflexão do estudante sobre as contradições na
condição das amas de leite, e o impacto que gerava na vida pessoal e familiar destas
mulheres. Além disso, questionam sobre a relação entre a pintura e o que foi apresentado
no texto. Por fim, perguntam aos alunos suas opiniões sobre os desafios atuais das
mulheres que trabalham na casa de outras pessoas e ainda exercem os serviços
domésticos na sua própria casa.
Como atividade complementar, o manual sugere que o professor aprofunde sobre
o tema pesquisando em jornais na Hemeroteca da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
sobre anúncios de aluguel de amas de leite.
Atividade complementar
76
TELLES, Lorena Féres da Silva, Amas de Leite. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos
Santos. Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. 1ºed. São Paulo. Companhia das Letras.
2018
104
Para aprofundar o estudo sobre o tema, solicite aos alunos que
pesquisem na hemeroteca on-line da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro anúncios oferecendo serviços de amas de leite. No período entre
1850 e 1859, há mais de 4 mil inserções de propagandas a respeito de
“aluguel” de ama de leite. (Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_04&P
agFis=3&Pesq=ama%20de%20leite>. Acesso em: 10 set. 2018). Outros
jornais da mesma época também podem ser consultados para verificar
se havia esse mesmo tipo de propaganda, como o Jornal do Commercio
de São Paulo ou o da Bahia (consultar o acervo disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 10 set. 2018).
Solicite aos alunos que separem quatro ou cinco anúncios e analisem as
fontes a partir das seguintes questões: qual é a data dos anúncios? O que
é anunciado? Quem é o anunciante? A quem se destina?
Espera-se que os alunos identifiquem que, no período da escravidão no
Brasil, as escravizadas que tinham possibilidade de amamentar (ou seja,
as que tinham dado à luz há pouco tempo), as chamadas amas de leite,
eram anunciadas pelos seus senhores como produtos a serem
alugados.(BRAICK, P; BARRETO, A. 2018, p. 148)
77
O trecho citado é parte da obra: FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portuguesa. São
Paulo: Atual, 2004. p. 65.
105
matrimônio, muitas mulheres se tornaram chefes em seus domicílios, pois conseguiam
uma relativa autonomia no mercado de trabalho. (ANEXO 47)
No volume do 8º ano a unidade a Unidade III desenvolve a história do Brasil
desde a crise do sistema colonial até o fim do Segundo Reinado, abarcando os capítulos
6, 7 e 8.
O capítulo 6 “Das rebeliões coloniais às lutas pela emancipação na América
portuguesa” ocupa-se em estudar inicialmente a crise de Portugal no século XVIII e as
reformas pombalinas, em seguida aborda a Conjuração Mineira e a Conjuração Baiana.
Também apresentam a conjuntura européia que resultou na vinda da família real para o
Brasil e as mudanças que ocorreram no Rio de Janeiro. Esclarecem também sobre a
Revolução Pernambucana em 1817 e a volta de D. João para Portugal em 1821. Por fim,
contextualizam o processo que levou à independência do Brasil, e revelam a situação dos
negros e indígenas com o fim da colonização.
Os sujeitos escravizados são retratados no capítulo 6 apenas no subcapítulo que
discorre sobre a Conjuração Baiana e no último subcapítulo, que apresenta a sua situação
no fim da colonização. As autoras defendem que as reivindicações dos conspiradores se
baseavam em ideais iluministas, que incluíam desde reformas mais gerais até as
exigências de camadas sociais menos favorecidas. A abolição da escravidão e a
implantação de uma república democrática também faziam parte do plano. Assim, essas
ideias atraíram também as camadas populares da sociedade, como pequenos
comerciantes, soldados, negros libertos e escravizados. Também alegam houve uma
repressão rápida do governo ao movimento no seu início, e que as penas aplicadas aos
conspiradores não foram as mesmas, suas condições sociais influenciaram nas sentenças
aplicadas. (BRAICK, P; BARRETO, A. 2018, p. 121) Nas últimas páginas do capítulo as
autoras reforçam que mesmo com a chegada da família real e com a independência,
negros e indíginas continuaram marginalizados socialmente. Os escravizados
continuaram sendo explorados nas atividades agrícolas, urbanas e mineradoras. Alegam
que alguns conseguiam comprar a alforria mas ainda conviviam com o preconceito e com
o estigma da escravidão. E que muitos também se envolveram em revoltas, como a
Conjuração Baiana e a formação de quilombos e a articulação de fugas. (BRAICK, P;
BARRETO, A. 2018, p. 130)
Uma das atividades do capítulo aprofunda a compreensão sobre a participação de
escravizados em mobilizações em busca de liberdade. O enunciado da questão afirma:
“Na Bahia, as guerras de independência terminaram em 2 de julho de 1823. Nesse
106
processo, houve algumas mobilizações de escravizadas, como demonstra o texto a
seguir:” Em seguida é apresentado um trecho da obra de João José Reis e Eduardo Silva,
“Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista”78 :
A primeira pergunta da questão indaga os alunos sobre o que o texto revela sobre
os escravos da Bahia em relação ao processo de independência. Como sugestão de
resposta ao professor as autoras escrevem:
O texto revela que alguns escravos que viviam na Bahia tiveram uma
ação política resultante da consciência do processo histórico em curso,
ao requererem, por escrito (o que revela também o letramento de alguns
escravos) e de forma organizada, sua libertação. Muitos escravos,
principalmente aqueles que nasceram no Brasil, se sentiam brasileiros e
no direito de obter a liberdade com a independência do país (BRAICK,
P; BARRETO, A. 2018, p. 132)
78
O trecho citado é parte da obra: REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência
negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
107
liberdade. Outros acontecimentos também revelam a participação do
povo, como a Batalha do Jenipapo, no Piauí, na qual sertanejos lutaram
para garantir a independência e a manutenção da unidade política
brasileira. (BRAICK, P; BARRETO, A. 2018, p. 132)
108
se ao completar 16 anos, irão exercer o direito de votar. (BRAICK, P; BARRETO, A.
2018, p. 138)
O sujeito negro e escravizado é visto novamente no decorrer do capítulo quando
tratam das revoltas regenciais. A Cabanagem é descrita como um conflito agravado pelo
“abismo social que separava a pequena elite de homens brancos, formada por
proprietários de terra e um grupo de ricos comerciantes de Belém (principalmente
portugueses), da maioria da população composta de indígenas, negros e mestiços”.
(BRAICK, P; BARRETO, A. 2018, p. 147) As autoras apontam que o movimento
ganhou força em 1834, mas que em 1840 foram derrotados. Contudo, houve uma
singularidade deste movimento no sentido de que grupos sociais diferentes, indígenas,
mestiços, e negros africanos se uniram contra a autoridade portuguesa, lutando por
direitos e liberdades, numa sociedade que se viu ainda mais abandonada pelo poder
central depois da abdicação de D. Pedro I.
A Revolta dos Malês, de 1835, é descrita no livro como a mais importante
rebelião de escravos urbanos de toda América. A ligação pelo trabalho e pelo ambiente
urbano formou uma rede de solidariedade entre escravos e libertos que propiciou uma
luta contra a escravidão. A revolta foi protagonizada por africanos de origem nagô e
haussá, e defendiam o fim da escravidão e da conversão forçada ao catolicismo.
Sobre a Revolta dos Farrapos, ocorrida no Rio Grande do Sul, diferente de outras
coleções, as autoras evidenciam o discurso incoerente da elite revoltosa em relação ao
trabalho escravo, e a participação dos negros no conflito. Um trecho do texto Guerreiros
descartáveis, de Vinicius Pereira de Oliveira e Cristian Jobi Salaini79 é apresentado, nele,
os autores destacam a participação negros, índios e mestiços em diversos setores, também
revelam que escravos participaram do conflito pela esperança de alforria, contudo, ela
não se concretizou.
79
O trecho citado é parte do artigo: OLIVEIRA, Vinicius Pereira de; SALAINI, Cristian Jobi. Guerreiros
descartáveis. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 58, jul. 2010. p. 48-49.
109
Apesar das promessas, em nenhum momento a República
Rio-Grandense libertou seus escravos. A questão da abolição era
controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo que o governo rebelde
prometia liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidade
do tráfico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava anúncios
de fugas de cativos. [...] Anos após o fim do conflito, vários líderes
farroupilhas ainda tinham escravos, como Bento Gonçalves [...], que
morreu deixando 53 cativos para seus herdeiros. (OLIVEIRA, V. P.;
SALAINI, C. J. 2010, p. 48-49 apud BRAICK, P; BARRETO, A. 2018,
p. 151)
80
MINORELLI, Caroline Torres; CHIBA, Charles Hokiti Fukushigue. Convergências história: EF anos
finais – manual do professor. 2. ed. São Paulo: Edições SM, 2018. 4 v.
110
trabalho em sala de temáticas sobre as relações étnico-raciais e ensino de história e
cultura afro-brasileira, africana e indigena também são descritas
111
Os capítulos analisados são os que estudam a história do Brasil colonial e
imperial, no volume do 7º ano nos interessam as unidades 7 e 8, e no volume do 8º ano as
unidades 4, 5 e 6. A tabela a seguir descreve a estrutura de todos os capítulos do volume
do 7º e 8º ano.
112
Capítulo 14 – A colonização da América do Norte
113
autor relata uma situação dentro de uma navio negreiro, em que devido uma tempestade,
os africanos escravizados foram mandados para o porão, lá eles buscaram
desesperadamente por ar. As perguntas sugeridas são: “1. A que situação os africanos
foram submetidos e como reagiram a ela? 2. Reflita sobre o relato e comente sobre sua
impressão em relação a esse documento histórico.” (MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H.
F; 2018, p. 185) As respostas sugeridas são:
114
luxo na Europa, e que com a produção no Brasil, o produto se tornou mais acessível. Por
meio de uma ilustração baseada na obra de André João Antonil81, descrevem sobre os
processos de produção do açúcar. Também explicam os papéis e funções de cada pessoa
no engenho, os escravizados e os trabalhadores livres, como os purgadores, mestres do
açúcar, feitores, e artesãos.
Ao descrever os modos de resistência à escravidão, apontam que poderiam ser
realizadas de forma indivual ou coletiva, e que era uma resposta dos escravizados ao
regime escravista e “às péssimas condições a que foram submetidos”.
81
A ilustração foi feita baseando-se na obra ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1982.
82
A referência publicada pelos autores é a seguinte: OLIVEIRA, Fernando Bueno. Quilombos brasileiros:
resistência, repressão e consolidação. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA: CULTURA.
SOCIEDADE E PODER, 4, 2014, Jataí. Anais. Jataí: UFG. p. 2. Disponível em:
<www.congressohistoriajatai.org/anais 2014/Link%20(286).pdf>. Acesso em: 2 out. 2018. Contudo, o site
se encontra fora do ar.
115
As diferentes formas de resistência resultavam das brutalidades a que
estavam submetidos, as quais foram muito bem expressas por Clóvis
Moura (1987). Diferentes formas de repressão foram praticadas pelos
senhores a fim de manter a "ordem" da escravaria, com a maior
intenção de evitar e/ou eliminar as eventuais fugas.
Por mais que grande parte das temáticas relacionadas a quilombo o
limite como elemento isolado do passado, não se preocupando em
estabelecer uma relação com a economia do Brasil Colônia e/ou do
Brasil Império, deve-se considerar que a força escrava esteve presente
na dinâmica econômica brasileira, em seus ciclos econômicos, com
exceção da fase industrial. Na realidade, as agressões a que os africanos
escravizados eram submetidos resultavam do medo dos senhores em
perder a mais importante peça geradora e mantenedora de suas rendas.
(OLIVEIRA, F. B. 2014. apud MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H. F;
2018, p. 190)
116
indígenas, em nada fala sobre escravizados. Já o capítulo 18 elenca como objetivos
“Compreender o contexto da descoberta do ouro na colônia portuguesa; conhecer o
cotidiano da nas vilas e cidades mineradoras; reconhecer as formas de resistência à
escravidão” (MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H. F; 2018, p. 224) Os sujeitos
escravizados são citados no capítulo no tópico que se refere ao trabalho nas minas. Ao
caracterizar os escravizados neste contexto, os autores apontam que eles eram a maior
parte dos trabalhadores e que seu trabalho era extremamente difícil, eram sujeitos a
longas jornadas e muitos deles eram vítimas de doenças. Defendem também, tendo como
base relatos da época, que escravizados que trabalhavam em minas dificilmente supera
sete anos de trabalho. Ainda no capítulo 18, os autores afirmam que a forma mais
expressiva de resistência de escravizados era a formação de quilombos, mas que, com o
desenvolvimento da mineração, outras formas de resistência surgiram (MINORELLI, C.
T; CHIBA, C. H. F; 2018, p. 230). Em seguida, discorrem sobre as irmandades religiosas
e celebrações. Os autores apontam que escravizados e livres podiam participar de
irmandades, e que era um ambiente de convívio e sociabilidade e assistência mútua, para
os escravizados, as irmandades poderiam contribuir para a compra da alforria. E que a
imposição da religião católica com as práticas religiosas de origem africana se
combinando, resultando em práticas de sincretismo religioso.
Ao final do livro do 7º ano, na seção “Aprenda mais” é sugerido aos alunos um
documentário realizado pela TV Senado intitulado “Brasil no olhar dos viajantes” com a
seguinte orientação: “Esse documentário de quatro episódios é disponibilizado no site da
TV Senado. Por meio de imagens, documentos e depoimentos de especialistas, você vai
conhecer como viajantes europeus viam Brasil no período colonial.”
No volume do 8º ano, a Unidade 4 compreende o capítulo 7 “Mudanças na
colônia” e o capítulo 8 “O Primeiro Reinado”. O capítulo 7 analisa as mudanças
ocorridas no Brasil entre o fim do século XVIII e início do XIX, compreendendo as
revoltas do período e o contexto que levou à independência. A presença dos negros
escravizados é citada no subtópico referente à Conjuração Baiana. Os autores apontam
que um dos objetivos dos revoltosos era o fim da escravidão. Com a ofensiva contra o
movimento, ele perde força e seus líderes são enforcados e esquartejados em público,
como uma uma forma de conter os ânimos e desencorajar possíveis futuros levantes de
escravizados. O capítulo explica a chegada da coroa portuguesa e as mudanças no Rio de
Janeiro, segue com o processo de independência, abarcando a Revolução Pernambucana,
A Revolução do Porto, o Dia do Fico, em 1821 e a independência em 1822.
117
O capítulo 8 contém 4 páginas e estuda todo o Primeiro Reinado: se apresenta as
principais características da Constituição de 1824 e se reafirma que a estrutura
socioeconômica do Brasil não se alterou, pois o documento reconhecia implicitamente a
escravidão. Aborda também a Confederação do Equador e a crise do Primeiro Reinado,
com a abdicação de D. Pedro I em 1831.
A Unidade 5 contempla o capítulo 9 “O período regencial” e o capítulo 10 “O
Segundo Reinado”. No capítulo 9 os autores enfatizam a instabilidade do período
regencial, demarcando cronologicamente os anos de Regências Unas e Regências Trinas.
Estudam também a Farroupilha, a Cabanagem e a Revolta dos Malês. A presença de
escravizados é citada dos subtópicos referentes à Cabanagem e à Revolta dos Malês. A
Revolta dos Malês (1835) é caracterizada pelos autores como um movimento organizado
exclusivamente por escravizados. Destacam que seus objetivos incluíam “a libertação de
escravos de origem muçulmana, além de garantir melhores condições de vida a eles e a
liberdade religiosa aos africanos”. (MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H. F; 2018, p. 129)
Ao fim do capítulo, a seção “Para investigar” (ANEXO 48) dispõe de três obras de
Debret (Os refrescos no Largo do Paço, depois do jantar, de 1835; Um jantar brasileiro,
de 1839; e As lavadeiras do rio das Laranjeiras, de 1839) por meio das quais analisam
descritivamente e interpretam o cotidiano brasileiro. Os autores descrevem elementos do
cotidiano presentes na primeira obra: Os refrescos no Largo do Paço, depois do jantar, de
Debret, e as outras duas obras servem de apoio para as questões. Os autores indagam o
leitor sobre o espaço, o trabalho e as condições sociais retratadas.
O capítulo 10 tem como objetivos a compreensão das principais características do
Segundo Reinado e o estudo do crescimento da economia cafeeira relacionada com a
expansão das ferrovias e a questão da mão de obra. Citam a Lei Eusébio de Queiroz
(1850) e em um boxe do capítulo, os autores abordam a pressão inglesa pela abolição da
escravidão e seus interesses econômicos. (MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H. F; 2018, p.
134) Descrevem também sobre o crescimento do cultivo de café e a urbanização de
algumas cidades a partir do século XIX. Como texto complementar ao professor, os
autores publicam um trecho da obra Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil
escravista83, de João José Reis e Eduardo Silva. O trecho defende que o sistema de
escravização por ganhos era uma forma híbrida de trabalho, entre escravo e assalariado, e
permitiu aos escravizados e libertos mais autonomia.
83
O trecho citado é do livro: REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociações e conflitos: a resistência
negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
118
Na unidade 6 do volume do 8º ano se encontram o capítulo 11 “Trabalho e
sociedade no Império” e o capítulo 12 “Do Império à República”. O capítulo 11 reforça o
caráter escravista da sociedade brasileira da época e aborda as condições sociais de
ex-escravizados e escravizados, também contextualiza a chegada de imigrantes no país, e
relata alguns aspectos da cultura durante o Segundo Reinado. O capítulo aponta sobre a
presença da mão de obra escrava em diversos espaços, e enfatiza que as condições de
vida de cada indivíduo variava de acordo com a região que estavam e com o trabalho que
faziam. Assim, o trabalho escravo no campo tinha características diferentes do trabalho
escravo na cidade, para representar o assunto, os autores publicam outras obras de
Debret.
O capítulo 12 “Do Império à República” trata sobre a Guerra do Paraguai, os
fatores que levaram à crise do Império, a abolição e a Proclamação da República. Como
causas da crise do Império, os autores destacam o movimento republicano, que surge
após a Guerra do Paraguai; o movimento abolicionista, a questão religiosa e a questão
militar. Ao retratar o fim da Guerra do Paraguai e as condições dos escravizados, o
capítulo também publica a charge de Angelo Agostini, De volta do Paraguai, de 1970.
No mesmo tópico, também descrevem a formação do movimento abolicionista,
argumentando que a abolição, desde 1850, já era um assunto discutido, porém, o
movimento abolicionista ganhou força principalmente a partir de 1880, com a publicação
de jornais defendendo a causa e com a adesão de diversas camadas sociais. Por meio de
um trecho da obra de Boris Fausto84 os autores pontuam que uma das formas que o
movimento abolicionista teve para apoiar à resistência escrava foi facilitando e
organizando fugas e rebeliões. Sem fazer relações explícitas no corpo do texto com
mudanças econômicas e sociais, a abolição da escravidão é citada, com a assinatura na
Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Contudo, descrevem que apesar da lei, a luta dos
africanos e afrodescendentes não teve fim.
No entanto, mesmo após essa conquista, a luta dos africanos e
afrodescendentes continuou, pois não houve no período pós-abolição
uma política que lhes garantisse uma vida digna. Sem acesso à terra, à
educação, à saúde ou à assistência econômica, muitos ex-escravizados
ficaram sem trabalho e sem meios de subsistência, e outros passaram a
trabalhar em troca de salários baixíssimos e em condições não muito
diferentes às da época da escravidão.
Além disso, continuaram a sofrer com o preconceito com a
discriminação, o que dificultou muito a inserção de les na sociedade, a
participação na vida política do pais e a garantia de direitos igualitários
como cidadãos. (MINORELLI, C. T; CHIBA, C. H. F; 2018, p. 164)
84
O trecho citado é do livro: FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2012. p. 187-188.
119
De forma geral, a coleção Convergências História, apresenta as temáticas sobre o
Brasil de forma muito simples e básica, isso pode ser percebido ao se comparar o volume
textual desta coleção com outras coleções. Além disso, a forma em que os temas são
abordados e as questões propostas aos alunos não condiz com a faixa etária de alunos de
7º e 8º ano e não estimulam a criticidade e o pensamento autônomo.
120
da sala de aula invertida, e a pesquisa em sala. Para os autores, a literatura em sala de
aula estimula não só a capacidade de leitura, mas a criatividade, a interpretação e a
imaginação, sendo crucial que se contextualize a obra literária estudada. (DIAS, A. M.;
GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018. p. XXXII) Já os jornais e revistas são
descritos como uma importante fonte de informação e capaz de auxiliar os estudantes na
formação de um pensamento crítico e seu uso é incentivado pelos autores sempre que for
possível. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. XXXIII)
Para tratar sobre as propostas teórico-metodológicas da coleção os autores
conceituam e contextualizam as mudanças na historiografia durante o século XIX. O
surgimento da Escola dos Annales é discutido, e se compara suas características com a
corrente filosófica positivista. Além disso, percorrem pelas gerações seguintes dos
Annales, até as perspectivas recentes da Nova História e da Nova História Cultural, que
consideram como referencial fundamental para a coleção.
Assim, consideramos referenciais importantes vários dos pressupostos
teóricos da Nova História Cultural e, também, da Nova História,
principalmente no que se refere à ideia de conhecimento histórico em
permanente construção, aberto à multiplicidade de fontes e análises e
favorável ao diálogo com outras disciplinas. As abordagens sugeridas
por essas correntes historiográficas propiciam a inclusão de temas e
perspectivas antes pouco valorizados, como a história do cotidiano, a
história feita sob o ponto de vista das minorias e a valorização das
manifestações populares, sem, com isso, desprezar as expressões
culturais advindas das elites letradas. Além disso, abrem espaço para
que se destaquem sujeitos históricos que geralmente estão ausentes no
discurso tradicional. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M.
C; 2018, p. XXXIV)
121
pontos de vista e intenções dos seus autores. Isso porque as fontes históricas,
por serem efeitos de ações humanas do passado, não carregam em si o passado
tal como ele aconteceu. Elas trazem, no entanto, a versão do autor sobre esse
acontecimento. Além disso, as fontes são sempre lidas de acordo com os
valores do momento histórico de quem as analisa. As perguntas fundamentais
feitas por aqueles que desejam analisar uma fonte histórica são: Quando?;
Quem?; Onde?; Para quem?; Para quê?; Por quê?; Como?. As ausências
dessas respostas também são dados importantes para a interpretação das fontes
históricas.
Esses pressupostos devem ser seguidos, e com ainda mais cuidado, ao utilizar
fontes iconográficas, pois utilizá-las de modo acrítico pode levar a equívocos
que devem ser evitados tanto por historiadores quanto por professores de
História. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p.
XXXIV)
122
Porém, nos primeiros capítulos dos livros da coleção trabalham temas teóricos e
metodológicos na área de história. O primeiro capítulo do volume do 7º ano, intitulado
“Construindo a História” aborda temas iniciais do estudo da história como produtora de
conhecimento, como o conceito de história e seus objetivos, as relações entre tempo e
história, rupturas e permanências e o tempo cronológico, tempo histórico. Também
conceitualiza os termos: sociedade, cultura, trabalho, política e economia. O material do
aluno aborda a historiografia como a produção de conhecimento pelos historiadores, e as
relações de sentido que produzem entre passado e presente. A seção “Explorando o tema”
traz ao estudante uma discussão sobre os diferentes tipos de fontes históricas. ((DIAS, A.
M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p.20)
No livro do estudante, no capítulo 8 “A colonização da América portuguesa” os
autores discutem sobre alguns aspectos da mão de obra escravizada e sobre a trajetória
dos africanos para o Brasil (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018,
p. 160). A discussão sobre o início da colonização no Brasil se inicia neste capítulo com
um tópico que trabalha a chegada dos europeus e suas relações com os povos indígenas
nas primeiras décadas do século XVI, aborda também as formas de exploração do
trabalho indígena e do território. O material apresenta também questões sobre a mão de
obra africana, explicando como os escravizados são capturados, transportados e vendidos
na colônia. No material reservado ao professor, há uma orientação para que se diferencie
as práticas de escravização na Antiguidade, na Idade Média e na Modernidade (DIAS, A.
M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 170). Em seguida, na seção “
História em construção” os autores aprofundam a discussão sobre a escravização de
africanos (ANEXO 49), e a partir de um texto explicativo, analisam as razões para o
tráfico de escravizados. O capítulo elenca características da realidade e cotidiano do
engenho de açúcar em uma ilustração, a representação mostra a senzala, as matas, a
casa-grande, citando o trabalho das amas de leite, as pequenas lavouras, etc (ANEXO
50). O capítulo continua com o conteúdo apresentando a chegada dos holandeses no
Brasil, e a administração de Maurício de Nassau. Por fim, antes da seção de atividades, é
trabalhado a resistência africana por meio dos quilombos na seção “Explorando o tema”
(DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 180). Por mais que
caracterizem a formação de quilombos como uma das formas mais importantes de
resistência, os autores citam também outras práticas, como a destruição de ferramentas, a
violência e a preservação de costumes e da cultura.
123
O capítulo 9 do volume do 7º analisa principalmente as formas de expansão do
território colonial, e os meios pelos quais Portugal buscou assegurar a exploração e
dominação territorial. Além de abordar o bandeirantismo, a formação das capitanias
hereditárias e a mineração, o capítulo apresenta também a formação social da população
colonial e as principais revoltas do período. As revoltas são vistas como causa de uma
tributação exagerada da Coroa e de conflitos territoriais e políticos. São exemplificadas
de forma breve a Guerra dos Emboabas, a Guerra dos Mascates, e a Revolta de Felipe
dos Santos, nada se diz sobre a participação popular nos movimentos. Em relação à
população colonial, ao tratar dos africanos e afrodescendentes o material do aluno afirma
que eram a principal mão de obra na colônia, e elencam espaços onde essa população
trabalhava. Ao professor, o material sugere que se comente sobre a incorporação violenta
desses povos na sociedade colonial, e que a partir da imagem apresentada no material do
aluno, uma aquarela que mostra africanas trabalhando como vendedoras de doces e uma
delas carregando uma criança branca, o professor comente sobre as escravas de ganho, e
diga que provavelmente, a criança branca é filha do proprietário da mulher negra (DIAS,
A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 202).
No volume no 8º ano, o capítulo 7 estuda o processo que levou à Independência
no Brasil, o capítulo 8 trata sobre os anos posteriores à Independência e como ela foi
consolidada, e por fim, o capítulo 9 objetiva-se a tratar sobre o Segundo Reinado.
O capítulo 7 se inicia abordando os ideais iluministas que influenciaram os
movimentos revoltosos no Brasil a partir do século XVIII, assim, a Conjuração Mineira e
a Conjuração Baiana são abordadas como exemplos. Os autores afirmam a defesa pelo
fim da escravidão e enfatizam a participação popular na Conjuração Baiana, alegando
que devido a situação de crise, pobres, escravizados e negros livres eram os que mais
sofriam, portanto aderiram ao movimento. E como forma de represália ao movimento, o
governo português agiu punindo os revoltosos, principalmente, os afrodescendentes.
(DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 147). O capítulo continua
abordando questões políticas entre Brasil e a Europa, a transferência da corte, o processo
de independência, e as mudanças na cidade do Rio de Janeiro, contudo, os autores
apontam que apesar disso, a situação da mão de obra escrava praticamente não se alterou:
A escravização de africanos e seus descendentes era uma prática
institucionalizada pelo governo português no Brasil. Ao longo de todo o
período Colonial, a principal mão de obra era a de pessoas escravizadas.
No final do período Colonial, a situação de indígenas e escravizados de
origem africana pouco mudou. A maioria continuou a ser subjugada e
tratada de maneira desumana pelos colonizadores. Os direitos dos
124
indígenas nem sequer eram citados nas primeiras legislações oficiais do
Brasil. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p.
155)
88
A legenda da imagem apenas informa que a aquarela foi produzida no século XIX. Porém,
especificamente, ela foi feita no ano de 1835.Cf: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3747
89
CAMPOS, Raimundo. Debret: cenas de uma sociedade escravista. São Paulo: Atual, 2001. p. 30-34. (O
olhar estrangeiro). Apud: DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 160
125
Neste mesmo capítulo trazem tópicos específicos para o estudo dos movimentos
de contestação ocorridos no período Regencial: o Levante dos Malês, a Cabanagem, e a
Revolução Farroupilha. No Levante dos Malês, ocorrido em 1835, os autores evidenciam
a participação da camada popular, já que o movimento foi organizado por escravizados e
ex-escravizados, estes insatisfeitos com suas condições de vida e trabalho buscaram
conquistar o poder na província da Bahia. No tópico seguinte, o capítulo apresenta as
principais “nações” africanas trazidas para o Brasil, e reforça a contribuição cultural
proviniente dos afrodescentes no Brasil. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI,
M. C; 2018, p. 186)
Ao discutir sobre a Cabanagem (1835-1840), a capítulo identifica o movimento
como uma revolta popular, já que indígenas, escravizados, ex-escravizados, pessoas
pobres e livres eram a maior parte da população e se encontravam insatisfeitos com as
péssimas condições de vida e com o autoritarismo do governador provincial.
Ao fim do capítulo, a seção “Explorando o tema” discorre sobre o cotidiano das
mulheres no século XIX. O texto aponta que a sociedade oitocentista era patriarcal, e que
de forma geral, as mulheres não tinham participação política, acesso à educação e eram
submissas a seus pais ou maridos. Sobre a mulher escravizada, explicam apenas que
desde muito cedo, ainda crianças, elas trabalhavam para seus senhores. Porém,
apresentam informações sobre algumas mulheres que desafiaram a sociedade patriarcal
da época: Anita Garibaldi, Narcisa Amália de Campos, Emereciana, Dionísia Gonçalves
Pinto, e Maria Quitéria de Jesus Medeiros. Destas, Emereciana é a única escravizada e
negra, e sobre ela afirmam:
Emereciana foi uma escravizada muçulmana que teve importante
participação no Levante dos Malês. Ela era responsável por distribuir os
amuletos protetores e transmitir informações aos participantes da
revolta. Quando o levante foi reprimido, Emereciana foi condenada a
receber 400 chicotadas como punição. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.;
PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 190)
126
Ao tratar sobre o trabalho escravizado nos cafezais, o livro afirma a total
dependência da mão de obra escravizada pela cafeicultura em todas suas etapas, além do
aumento do tráfico durante o século XIX para a manutenção da produção. É considerada
também a pressão sofrida pelo governo brasileiro pela Inglaterra para o fim do tráfico,
principalmente com a lei Bill Aberdeen, e como uma situação forçada, o governo
brasileiro precisou aprovar em 1850 a Lei Eusébio de Queiroz, abolindo o tráfico
internacional de escravizados. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C;
2018, p. 202) Como resistência à escravidão, as longas jornadas de trabalho e a
exploração, os autores relatam que muitos escravizados se trabalhavam de forma lenta,
quebravam instrumentos de trabalho, organizavam revoltas violentas e fugas. E a partir
destas fugas se formam os quilombos, comunidades de escravizados estruturadas em
lugares de difícil acesso. O texto diz que as fugas também eram um meio que os
escravizados utilizavam para negociar com seus senhores melhores condições de vida e
trabalho. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 204)
O tópico do capítulo que se refere a abolição da escravidão se inicia
contextualizando a formação do Movimento Abolicionista a partir de 1870, suas pautas
de defesa, organização, e a origem de seus membros, profissionais liberais, estudantes,
comerciantes, escravizados e ex-escravizados. A participação popular no movimento é
identificada pelos autores como peça fundamental para a abolição, as revoltas de
escravizados gerava medo aos fazendeiros proprietários de escravizados e manifestações
e comícios abolicionistas eram promovidos em diversas cidades do país. (DIAS, A. M.;
GRINBERG, K.; PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 224) A Lei Áurea é retratada no livro
como o resultado das pressões populares e do fortalecimento da abolicionismo no
Parlamento, sendo recebida com comemoração e festa “pelos ex-escravizados e pelos
abolicionistas em todas as regiões do Império” (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.;
PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 224)
A situação dos ex-escravizados após a abolição é discutida em seguida. Pontua-se
a importância da Abolição para a igualdade de todos perante a lei, porém na prática,
apenas a lei não foi suficiente para atingir de fato a igualdade social. Nesse contexto,
citam que como forma de apoio mútuo, ex-escravizados criaram “redes de solidariedade”
entre si.
Contudo, foi por meio da formação de redes de solidariedade que os
ex-escravizados puderam sobreviver e resgatar sua dignidade. Nessas
redes, eles se ajudavam mutuamente, arrecadando dinheiro para
comprar vestimentas e alimentos, além de trabalharem juntos na
127
construção de suas moradias. (DIAS, A. M.; GRINBERG, K.;
PELLEGRINI, M. C; 2018, p. 225)
A coleção Inspire História90 é também editada pela FTD e está em sua primeira
edição. Foi escrita por Reinaldo Seriacopi, bacharel em Letras pela USP e Gislane
Campos Azevedo Seriacopi, mestra em História Social pela PUC-SP.
O Manual do professor é dividido em três tópicos principais: pressupostos
teóricos da coleção, avaliação e bibliografia. Os autores apresentam um quadro resumido
da trajetória da disciplina de história no Brasil desde 1960, percorrendo as mudanças
legais com a adoção de políticas públicas e uma legislação educacional na década de
90
SERIACOPI, Gislaine Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. Inspire história: EF anos finais –
manual do professor. 1. ed. São Paulo: FTD, 2018. 4 v
128
1990 até chegar a adoção da BNCC em 2018, caracterizada pelos autores como “o mais
recente e importante marco na busca de melhoria da educação brasileira” (SERIACOPI,
G. C. A.; SERIACOPI, R. 2018, p. IX). Sobre os processos de ensino-aprendizagem, a
coleção sustenta que a escola é um lugar de construção de saberes marcado pela interação
entre diversos sujeitos, o professor tem principalmente o papel de mediador de conteúdos
entre os alunos e deve facilitar o processo de construção de conhecimentos. O aluno é
percebido como um sujeito no processo de aprendizagem que traz conhecimentos prévios
e noções históricas. (SERIACOPI, G. C. A.; SERIACOPI, R. 2018, p. XIV)
É no Manual do professor que os autores demarcam a metodologia utilizada na
coleção e os ideais teóricos que seguiram. Declaram seguir a BNCC e a historiografia
recente, com estratégias pedagógicas e historiográficas que considerem a diversidade
social e cultural, a diversidade étnica e os respeito às diferenças. Assim, ao abordar as
sociedades africanas, os autores relatam que buscaram considerar as várias culturas
africanas e sua pluralidade de histórias. Quanto aos povos indígenas, afirmam que a
coleção destaca sua importância para a formação do Brasil e sua diversidade cultural,
além de questões atuais que os envolvem, como o direito à terra e a preservação da
natureza. (SERIACOPI, G. C. A.; SERIACOPI, R. 2018, p. XV) Também afirmam que a
coleção valoriza a diversidade de sujeitos, e evita seguir “os grandes modelos
explicativos”:
Igualmente valorizamos, nesta coleção, a história de uma multiplicidade
de sujeitos, tais como minorias étnicas, mulheres, trabalhadores,
pessoas com deficiência - enfim, todos que constroem a História no seu
cotidiano. Ao realizar esse trabalho, procuramos evitar os grandes
modelos explicativos que se pautam apenas nos conceitos rígidos, como
de formação econômica e da luta de classes. Dessa maneira, buscamos
abordar, de modo integrado, as estruturas sociais, políticas, econômicas
e ideológicas das sociedades, nas quais se inserem as situações do
cotidiano. (SERIACOPI, G. C. A.; SERIACOPI, R. 2018, p. XV)
129
abordagem das histórias e culturas afro-brasileiras em sala de aula:
"voltar a atenção para a diversidade de experiências e identidades, trazer
experiências em que africanos e seus descendentes são atores sociais e
políticos, integrar essas experiências à história 'nacional' evitando a
criação de um 'nicho' de ensino 'afro-brasileiro' e fazer o uso de fontes
efetivas e expressivas.". (SERIACOPI, G.C.A.; SERIACOPI, R. 2018,
p. XVII-XVIII)
130
Capítulo 7 – A escravidão africana Capítulo 7 – Neocolonialismo
MAIS ATIVIDADES
Escrever uma manchete
Explique aos alunos o que é uma manchete e sua função em um jornal.
Peça que façam um titulo bastante convincente e escrevam um
parágrafo curto, denunciando os altos lucros dos traficantes de
escravizados e as condições degradantes dos navios com o objetivo de
convencer os leitores do jornal a serem contra o tráfico e a escravidão.
Apresente alguns argumentos da época nos quais os ativistas se
baseavam, como a humanidade dos africanos; a ganância de uns não
131
poder resultar no aprisionamento de outros; a abolição do tráfico e da
escravidão ser uma maneira de propor uma sociedade mais justa e
igualitária. (SERIACOPI, G.C.A.; SERIACOPI, R. 2018, p. 150)
132
escravidão, os escravizados fugiam, praticavam crimes, mulheres abortavam, diminuiam
o ritmo de trabalho, destruiam máquinas e objetos de trabalho, e também mantiam seus
costumes e crenças de origem.
No Capítulo 8 – A produção de açúcar e os holandeses analisa o processo de
ocupação do nordeste pelos holandeses, a formação da sociedade açucareira e a condição
de trabalhos dos escravizados nos engenhos. Neste capítulo, os autores destrincham as
partes de um Casa-grande a partir da obra de Cícero Dias, Casa-grande do Engenho
Noruega, antigo Engenho dos Bois, Pernambuco (1933). Nas orientações ao professor, os
autores situam este obra, e descrevem que foi utilizada como capa do livro Casa-grande
& Senzala, de Gilberto Freyre. Apontam a importância da obra de Freyre para os estudos
sobre o período colonial no Brasil, mas também pontuam que a escravidão e a produção
açucareira continuam sendo pesquisadas, e “apresentam versões inusitadas sobre o tema”:
133
a grande quantidade de negros representados na obra e a partir disso apontam que de fato,
os principais trabalhadores das minas eram os escravizados. É interessante também que o
texto problematiza a obra de Rugendas, descrevendo que é uma representação, uma
imagem que parte das escolhas particulares de quem a produziu, e que neste caso, não é
representado nenhum tipo de resistência por parte dos escravizados, mas elas ocorreram.
O volume do 8º ano retoma a História do Brasil com o Capítulo 4 – Rebeliões na
colônia: a Conjuração Mineira e a Conjuração Baiana, neste capítulo os autores reservam
um box específico para tratarem sobre a participação de negros nos movimentos
emancipacionistas. Eles apontam que não eram muito presentes na Conjuração Mineira,
pois o movimento não tinha a abolição como pauta, mas que estavam presentes na
Conjuração Baiana, que se iniciou com os membros da elite, mas que com o tempo,
abarcou representantes de camadas sociais mais baixas. Também vale notar outra
atividade proposta neste capítulo, os autores sugerem que em grupos, alunos realizem
pesquisas sobre temas que envolvam a população negra e apresentem os resultados, a
atividade tem como objetivo levar os alunos a refletir sobre as permanências da
escravidão na atualidade e a necessidade de políticas de reparação:
MAIS ATIVIDADE
Discriminação e resistência hoje
Compreender a permanência do racismo na sociedade brasileira e as
danosas consequências do escravismo é fundamental para o
aprofundamento da discussão sobre maneiras de reparação e construção
de uma sociedade mais igualitária
Os alunos devem se dividir em grupos de 4 a 5 integrantes e escolher
um dos temas abaixo:
✓ A população negra e a educação.
✓ A população negra e a saúde.
✓ A população negra e a segurança pública.
✓ A população negra e o trabalho.
✓ Organizações não governamentais que atuam pela causa negra.
O objetivo é observar e analisar os problemas atuais enfrentados pela
população negra, sem esquecer do peso do passado escravista e da
permanência do racismo.
• A pesquisa pode ser realizada em sites, livros e revistas. Sugira aos
alunos o uso de estatísticas do site do IBGE, com ênfase para o Mapa da
Violência e Retratos da Desigualdade de Gênero e Raça.
• Em data combinada, todos devem apresentar suas considerações. O
suporte para a apresentação pode variar de acordo com as possibilidades
do grupo: cartazes, panfletos, apresentações com multimídia ou orais.
• O tema evoca concepções de mundo e, portanto, atue observando o
respeito, a atenção para os dados estatísticos e a necessidade de
informações baseadas em argumentos e fatos. (SERIACOPI, G.C.A.;
SERIACOPI, R. 2018, p. 100-101)
134
Em seguida, o capítulo 6 – O Primeiro Reinado e o período regencial apresenta as
principais considerações sobre o período, além de identificar alguns aspectos sobre
revoltas regenciais. Os autores discutem no início do capítulo sobre o conceito de nação e
em seguida expõem as condições sociais após a independência, eles reforçam que apesar
da independência, uma grande parte da população era escravizada, as desigualdades
sociais eram enormes e a educação não era para todos. Apontam brevemente que alguns
escravizados conseguiram em caráter de exceção, construir casas de pau a pique,
preservando suas raízes e garantindo privacidade. Os autores oferecem também um texto
sobre a infância no Império, nele, diferenciam a educação ofertada para crianças da elite e
para crianças livres, pobres e escravizadas. A partir do texto, os autores sugerem ao
professor que indague os alunos sobre as desigualdades sociais, e identifique
semelhanças e diferenças entre o passado e o presente da educação no Brasil. A
escravidão é retratada em seguida no capítulo, a partir de um gráfico que apresenta os
números da entrada de africanos escravizados no Brasil de 1825 a 1840, uma fotografia
de Marc Ferrez de 1882 e perguntas se discute a ineficiência de algumas leis no Brasil, e
a tentativa de por fim ao tráfico negreiro. Mesmo com o tráfico tendo sido proibido, a
prática da escravidão continuava sem mudanças, pois ainda era legalmente aceita.
(SERIACOPI, G.C.A.; SERIACOPI, R. 2018, p. 1142-143) O capítulo também aborda a
Revolta dos Malês e a Sabinada em Salvador, apresenta os argumentos dos revoltosos, e
o resultado mal sucedido do movimento, seus principais líderes negros não são
abordados.
O oitavo capítulo intitula-se “O governo de D. Pedro II, e tem como principal
objetivo “conhecer os aspectos sociais, econômicos e políticos do Segundo Reinado”
(SERIACOPI, G.C.A.; SERIACOPI, R. 2018, p. 184) O capítulo analisa as disputas
políticas do período e oferece ao estudante algumas charges publicadas em periódicos da
época para uma melhor compreensão, são apresentadas charges da Semana Illustrada, O
Besouro, e O Mequetrefe. Além disso, também apresentam a primeira capa do jornal
pernambucano A Voz do Brasil. Neste capítulo, além das questões políticas e econômicas
que envolvem este período, os autores discutem também sobre a chegada de imigrantes
para o trabalho nas lavouras de café e suas dificuldades, as teorias racistas, as
desigualdades sociais do fim do século XIX e a falta do acesso à moradia. Ao abordar a
Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, os autores problematizam a “Lithografia do
Imperial Instituto Artístico - Honra e Gloria ao Ministério de 7 de março” - 1871, e
discutem como a imagem foi construída para exaltar o governo.
135
O último capítulo do volume do 8º ano finaliza o período do Segundo Reinado,
abordando a Guerra do Paraguai e o fim da escravidão. Todo o processo da Guerra do
Paraguai é descrito e explicado, desde seu início até os impactos da guerra para o Brasil.
Como material de apoio ao professor, são oferecidos trechos de textos acadêmicos e
sugestão de livros sobre as visões da historiografia sobre a Guerra do Paraguai e sobre a
participação de escravos no conflito. O capítulo relaciona a Guerra do Paraguai e a
pressão inglesa como alguns dos fatores que puseram a escravidão em xeque. Também
elenca a pressão inglesa para o fim do tráfico, as resistências dos escravizados e a
campanha abolicionista como fatores que levaram ao fim da escravidão. Os autores
expõem um anúncio de um escravo fugido de um jornal, também apresentam uma charge
de Ângelo Agostini, e a capa do jornal O abolicionista.
A coleção Inspire História oferece ao professor diversas referências
historiográficas recentes, além de atividades que visam o protagonismo estudantil e suas
vivências. As orientações didáticas são claras e oferecem ao professor perguntas que
levam ao debate em sala de aula e reconhecem as vivências e a realidade de cada
estudante como ponto de partida para a construção do conhecimento. A constituição de
laços familiares entre escravos é pontualmente citada pelos autores, mas não é uma
análise detalhada. Capas e charges de alguns jornais do século XIX também são
apresentadas. Além disso, não é feito uma discussão mais minuciosa sobre este tipo de
fonte e outras possibilidades de estudo e problematização
.
A coleção Geração Alpha História está em sua segunda edição e foi publicada
pela editora SM Educação. A obra é coletiva e sua editora responsável é Valéria Vaz,
licenciada em História pela Unesp, Especialista em Linguagens Visuais e Mestra em
Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM). O Manual do Professor é
dividido em cinco tópicos: “A coleção e o ensino de História”, “Estratégias e
abordagens”, “Organização da coleção”, “Textos de apoio” e “Bibliografia”. Em seu
primeiro tópico, a coleção traz textos que discutem a perspectiva de educação voltada
para competências e baseada em valores, e as competências da BNCC para a área de
Ciências Humanas e História. No tópico seguinte, a coleção faz algumas considerações
sobre as interações com outras disciplinas, discute alguns conceitos e formas de
136
avaliação. Por fim, no mesmo tópico, abordam formas de investigar e realizar pesquisas e
algumas possibilidades de fontes históricas, citando as imagens, filmes e textos. (SM
Educação, 2018, p. XII).
No tópico “Organização da coleção” é apresentado toda a estrutura do livro do
aluno, onde também se explica as seções, além disso também todos os conteúdos da
coleção, por ano e capítulo. As seções que aqui cabe destaque são a “História dinâmica” e
a seção “Arquivo Vivo ", nelas a coleção busca aproximar os alunos do trabalho e
pesquisa com fontes, e discutir sobre diferentes interpretações históricas sobre um tema.
Arquivo vivo
A seção Arquivo vivo promove o contato sistematizado dos alunos com
as fontes históricas, apresentando possíveis leituras de documentos
históricos de diversas naturezas e incentivando os alunos a realizar suas
análises, com base em seus conhecimentos.
História Dinâmica
Na seção História dinâmica propõe-se que o aluno tenha contato com
debates historiográficos ou que analise diversas interpretações e
controvérsias sobre temas do capítulo, de forma a esclarecer que a
disciplina não trabalha com verdades, mas com diferentes pontos de
vista e teorias científicas que tendem a se transformar de acordo com a
época.
Essa perspectiva serve como estímulo para que os alunos se
reconheçam como produtores de conhecimento e sujeitos
históricos.(SM Educação, 2018, p. XX).
Por fim, o tópico “Textos de apoio” oferece textos teóricos que buscam ajudar a
compreensão dos conteúdos do material do aluno, são apresentados textos de
historiadores tratando sobre historiografia, patrimônio, fontes históricas, tecnologia e
história africana, afro brasileira, indígena e estudos de gênero.
A estrutura de capítulos da coleção é diferente da grande maioria das outras
coleções aprovadas, existe um número maior de unidades, e cada uma delas conta com de
dois a três capítulos, distribuídos da seguinte maneira:
137
Unidade 2 – A Europa Ocidental no início da Era Unidade 2 –Iluminismo e independência dos Estados
Moderna Unidos
Capítulo 1 – Uma visão de mundo renovada
Capítulo 1 – O Iluminismo
Capítulo 2 – A Reforma Protestante
Capítulo 2 – A independência dos Estados Unidos
Capítulo 3 – A Contrarreforma da América
138
Unidade 8 – A África na América Portuguesa Unidade 8 – Os Estados Unidos no século XIX
Capítulo 1 – Os africanos na América portuguesa
Capítulo 1 – A expansão para o Oeste
Capítulo 2 – A sociedade do engenho
Capítulo 2 – A Guerra de Secessão
Quadro 11 - Estrutura de capítulos dos volumes do 7º e 8º ano da coleção Geração Alpha História
139
europeus e de seus descendentes na América considerava os
escravizados objetos, meras mercadorias.
Na América, os senhores de escravos não eram considerados donos
apenas da força de trabalho (como ocorria na África), mas também
donos dos seres humanos. Essa é uma das mais graves características do
tráfico de escravos nas Américas. (SM Educação, 2018, p. 190).
140
desta forma, o livro aponta a existência de eventos conflituosos entre indígenas e
portugueses entre 1650 e 1720. O segundo capítulo da unidade busca compreender a
atuação das missões jesuíticas na América portuguesa e os impactos negativos nos povos
indígenas, como também, neste capítulo, os autores criticam os valores eurocêntricos que
apoiavam os colonizadores e defendem que é preciso considerar as diferenças culturais e
prezar pela diversidade.
O terceiro capítulo busca identificar todo o processo de exploração de minas de
ouro e pedras preciosas na colônia, é analisada os conflitos existentes no período, bem
como o aparato político e econômico de controle da metrópole. Ao fim do capítulo é
descrito algumas características da sociedade mineira e seus grupos sociais. O capítulo
reforça que com a escassez de ouro por volta da segunda metade do século XVIII, a
violência contra indígenas aumentou ainda mais. Quanto à formação de núcleos urbanos
e da sociedade mineradora, o capítulo afirma que nas regiões de minas, pessoas de
origens diversas conviviam em um mesmo espaço. Contudo, a maioria da população era
de escravizados, estes sujeitos eram obrigados por seus proprietários a entregar uma
quantidade estipulada de ouro que extraiam, mas, se extraíssem mais, poderiam acumular
para comprar sua alforria. Além disso, muitos escravizados das regiões de minas se
organizavam em fugas e revoltas, ou formando quilombos para resistir ao cativeiro. O
acúmulo de ganhos também era possível com os escravos de ganho dos centros urbanos,
que poderiam exercer diversas funções, como sapateiros, mecânicos, etc.
No volume do 8º ano as unidades 5 e 6 abordam todo o período colonial, desde as
Reformas Pombalinas no século XVIII até a abolição. No primeiro capítulo da unidade 5
se aborda as razões para o processo de crise do sistema colonial, as revoltas e rebeliões
anticoloniais e a mudança da Corte de dom João VI para o Brasil. Ao fim do capítulo, na
seção “Arquivo vivo” é discutido sobre o caráter violento ou de negociação no sistema
escravista nas Américas. Com o título :”Zumbi, Pai João ou nenhum dos dois?” o livro
oferece um texto que aponta que ao se pensar sobre a escravidão no Brasil, se têm uma
percepção que ela foi um sistema de extrema violência e controle absoluto, neste sentido,
dois estereótipos são comuns para representar os escravizados: Zumbi, um escravo que se
rebelava e fugia, ou Pai João, um escravo que se conformava com a estrutura da
escravidão. Em seguida é descrita um tratado publicado no livro Negociação e conflito: a
resistência negra no Brasil escravista, de João José Reis, o tratado é intitulado: “Tratado
proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seus escravos durante o tempo em que se
conservavam levantados”, neste documento, os escravos negociam com seu senhor,
141
exigindo melhores condições de trabalho. É proposto então, perguntas aos estudantes,
para que reflitam sobre quem são os autores do documento, a quem ele se dirige, e do que
se trata e se os estereótipos de Zumbi ao Pai João são suficientes para caracterizar quem
escreveu o documento. A segunda fonte da seção é uma litografia de Johann Moritz
Rugendas, Batuque, de 1835, onde mulheres e homens escravizados dançam em roda.
Aos estudantes é questionado quem são estas pessoas, onde se passa a cena, e se esta
cena é algo comum ao se pensar em escravidão. Ao final, é perguntado se estes
documentos tratam de temas parecidos. Esta atividade é capaz de problematizar como
muitas vezes os escravos e a escravidão são estereotipados, e que talvez com estes
documentos, os estudantes entendam que as relações escravistas vão além de uma
dualidade, e que espaços de negociação e de sociabilidade entre escravizados eram
possíveis.
O segundo capítulo, “A independência do Brasil”, analisa principalmente aspectos
políticos, como as rupturas entre Portugal e a colônia, a Revolução Liberal do Porto, e a
própria independência e suas reações. O terceiro capítulo também pouco fala sobre
questões sociais, apenas reflete sobre a política indigenista durante o Império.
A unidade 6 trabalha questões sobre o período Regencial, suas características e
revoltas no período e sobre o Segundo Reinado. Seu primeiro capítulo analisa
características do período regencial, os embates e partidos políticos, e os principais
pontos de algumas revoltas. Em um infográfico baseado nas obras de José Murilo de
91
Carvalho e Bóris Fausto o livro didático descreve algumas características da
Cabanagem, Balaiada, Sabinada, e Farroupilha. (SM Educação, 2018, p. 144). Em tópico
específico, abordam o protagonismo de negros na Bahia na Revolta dos Malês. O livro
descreve a participação de escravizados de origem islâmicas que mantinham entre si
relações de solidariedade e a partir destas relações formaram resistência contra a
escravidão.
O segundo capítulo da unidade 6 se propõem a analisar principalmente questões
políticas do Segundo Reinado, como o Golpe da Maioridade, as revoltas liberais de São
Paulo e Minas Gerais, e a Guerra do Paraguai.
É no terceiro e último capítulo que analisam o movimento abolicionista e as
políticas de imigração do final do século XIX. Os autores contextualizam as razões para o
91
As fontes de pesquisa para o infográfico foram: José Murilo de Carvalho (Coord.). A construção
nacional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012; Boris Fausto. História concisa do Brasil São Paulo: Edusp, 2002;
Ronaldo Vainfas (Dir.). Dicionário do Brasil imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002
142
crescimento do abolicionismo no Brasil e os meios pelos quais ele se propagava. Além
disso, as leis abolicionistas também são descritas. A abolição é caracterizada como o
resultado de uma situação já impossível de se manter, a pressão inglesa, o movimento
abolicionista e as resistências de escravizados contribuíram para a assinatura da Lei
Áurea em 13 de maio de 1888.
Mesmo não deixando claro no manual do professor, a coleção se insere em uma
perspectiva de compreensão da Nova História. Em diversos textos da livro do aluno e em
sugestões de leitura e trecho de textos ao professor vários autores de uma historiografia
recente sobre a escravidão e a história do Brasil são citados: Lilia Schwarcz, João José
Reis, Angela Alonso, Ronaldo Vainfas, entre outros. Contudo, a coleção cita muito
brevemente a participação de escravos em revoltas regenciais, também não aprofunda
quando trata sobre o papel dos escravos e do movimento abolicionista para a abolição. A
formação de famílias entre escravos também não é um assunto detalhado.
92
Dados estatísticos. Programa do Livro. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Ministério da
Educação. Disponível em:
https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/pnld/dados-estatisticos. Acesso em:31,
janeiro, 2023.
93
BRASIL. Decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017 - Publicação Original. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2017/decreto-9099-18-julho-2017-785224-publicacaooriginal-
153392-pe.html. Acesso em 31/01/2023.
143
opções são oferecidas: um material único para cada escola, material único para cada
grupo de escolas, ou um material único para a rede.
Art. 18. Durante a etapa de escolha, por opção dos responsáveis pela
rede, a adoção do material didático será única:
I - para cada escola;
II - para cada grupo de escolas; ou
III - para todas as escolas da rede.
§ 1º Na hipótese de que trata o inciso I do caput, serão distribuídos os
materiais escolhidos pelo conjunto de professores da escola.
§ 2º Na hipótese de que tratam os incisos II e III do caput, serão
distribuídos os materiais escolhidos pelo conjunto de professores do
grupo de escolas para o qual o material será destinado. (BRASIL, 2017,
grifo nosso)
Pela leitura do artigo, se percebe que os critérios de escolha nem sempre serão
democráticos e autônomos, uma vez que durante a escolha dos materiais os responsáveis
pela rede escolhem qual modelo seguir, portanto existe a possibilidade de que não haja
um debate e uma escolha de fato democrática que envolva professores
Contando com todas as coleções didáticas, livros do aluno e manuais do
professor, foram adquiridos 10.320.469 livros da disciplina de História para os Anos
Finais do Ensino Fundamental, estes tiveram um custo de R $94.634.631,92. Pelo gráfico
a seguir (GRÁFICO 1) é perceptível que há uma grande discrepância na aquisição de
coleções. Enquanto a coleção História Sociedade e Cidadania têm cerca de 35,3% do
total, se configurando como a coleção mais adotada nas escolas públicas do Brasil, a
coleção Convergências conta com uma porcentagem de apenas 0,9%. Acredito que isto
pode ser explicado pelo longo legado e grande aceitação que a coleção de Alfredo Boulos
Júnior carrega enquanto autor de livros didáticos de História. Contudo, ao contrário, foi a
primeira vez que a coleção Convergências foi aprovada no PNLD.
144
GRÁFICO 1 - Quantidade total de exemplares adquiridos para a disciplina de História pelo PNLD de 2020
Comparando as obras aceitas nos editais do PNLD de 2017 94, com o edital de
2020, constatamos que algumas coleções se repetem (QUADRO 12). Além disso,
ordenando as coleções mais adquiridas em 2017 e 2020 e as comparando, verifica-se que
as três coleções mais adquiridas em 2017 (QUADRO 14) são as mesmas em 2020
(QUADRO 13).
94
Brasil. Ministério da Educação. PNLD 2017: guia de livros didáticos – ensino fundamental anos finais /
Ministério da Educação – Secretaria de Educação Básica SEB – Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Brasília, DF: 2015. Disponível em:
http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/escolha-pnld-2017 .
145
● JORNADAS.HIST - HISTÓRIA
● INTEGRALIS - HISTÓRIA
Quadro 12 - Coleções didáticas da disciplina de História aprovadas no PNLD de 2017 e no
PNLD de 2020
5º HISTORIAR 801.674
146
7º HISTÓRIA.DOC 586.824
95
BRASIL. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos: PNLD 2011 : História. – Brasília : Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
147
principais os autores se baseiam. O mesmo também ocorre na coleção Teláris História,
onde não há nenhuma discussão no manual do professor, e no decorrer dos capítulos se
apresenta trechos de textos de historiadores de perspectivas diferentes, sem nenhuma
explicação ou problematização.
Em relação a abordagem da historiografia sobre a escravidão e o caráter violento
do cativeiro, todas as coleções caracterizam a escravidão como um regime de trabalho
violento aos escravos, mas também esclarecem sobre as formas de resistência,
principalmente as fugas e a formação de quilombos. Nesse sentido, a abordagem feita na
coleção História.doc merece destaque. Ao trabalharem a relação da micro-história com
um contexto geral, a partir dos “jogos de escala”, os autores aproximam os estudantes ao
modo de se escrever a História e evidenciam histórias individuais para se explicar uma
conjuntura social ampla. No capítulo 12 do volume do 7º ano os autores discorrem sobre
Garcia d’Ávila Pereira de Aragão, membro de uma família poderosa na Bahia, que fora
acusado diversas vezes ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa por ser extremamente
violento com seus escravos, mas que, apesar dos inúmeros casos e testemunhos, o
processo contra Garcia d’Ávila foi arquivado e não houve pena alguma. A partir deste
caso, os autores sugerem ao professor que pontue que os casos de extrema violência não
eram comuns, mesmo acontecendo, a prática de ações extremas de violência não era
habitual.
Como o objetivo principal deste trabalho é discutir a inserção dos estudos sobre
família escrava nos livros didáticos, este é um ponto que aqui merece uma maior
investigação. No âmbito acadêmico este é um tema discutido e reconhecido, a isto se
deve o esforço de pesquisas que buscaram retomar a análise de fontes e propuseram
novas visões sobre o tema. No ambiente escolar esta questão pode não ser tão evidente ou
esclarecida.
Considerando o livro didático um dos principais materiais pedagógicos do
professor, e muitas vezes o alicerce na construção do conhecimento, como estes livros
abordam a formação de laços familiares entre escravos? De modo geral, a discussão
sobre a existência de famílias escravas e laços de familiaridade entre escravos é pouco
discutida nos livros didáticos. São poucas as coleções que reservam um subcapítulo
específico para se aprofundar no tema, como por exemplo, as coleções Estudar História:
das origens do homem à era digital e História: escola e democracia , que dentre as
coleções, foram as que mais se aprofundaram no tema. Além das autoras da coleção
Estudar História: das origens do homem à era digital oferecerem um subcapítulo
148
proprio, também apresentam um texto de apoio ao professor no manual,sugerem fontes e
referências para a pesquisa sobre a formação de famílias entre escravos, discutem sobre a
realidade das escravas vendidas e alugadas como amas de leite e relacionam o passado
com práticas da atualidade.
Na coleção História: escola e democracia se discute a exploração do trabalho das
amas de leite, e a as várias maneiras de reagir à desumanização da escravidão, dentre
elas, a formação de famílias laços familiares. Os autores se baseiam na alegoria da “flor
na senzala", de Robert Slenes e evidenciam as relações familiares como um dos
mecanismos de resistência e de ganho de pequenas conquistas, diferenciando-as das
relações familiares impostas pela Igreja Católica.
A coleção História Sociedade & Cidadania, ao descrever no volume do 7º ano o
cotidiano dos escravos na colônia, revela de forma breve as novas visões da historiografia
sobre famílias escravas. Já no volume do 8º ano o autor oferece ao professor sugestões de
leitura sobre os espaços ocupados e a representação das crianças após a Lei do Ventre
Livre.
No livro do aluno da coleção Araribá Mais História se reforça a ideia da
desagregação familiar como uma forma de violência aos escravos, não se fala sobre a
existência de famílias escravas e pontuam que o “cuidado para não ter descendentes” era
uma forma de resistência à escravidão. Contudo, no material do professor, sugerem que a
formação de famílias seria um meio de se criar laços de sociabilidade.
149
O documento que, para a escola histórica positivista do fim do século
XIX e do início do século XX, será o fundamento do fato histórico,
ainda que resulte da escolha, de uma decisão do historiador, parece
apresentar-se por si mesmo como prova histórica. A sua objetividade
parece opor-se à intencionalidade do monumento. Além do mais,
afirma-se essencialmente como um testemunho escrito. (LE GOFF, J.
1990, p. 536)
150
como monumento, o documento é visto como um vestígio produzido por homens do
passado e preservado ou não, por ações intencionais de poder destas gerações. “O
documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao
futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias” ( LE
GOFF, 1990, p. 549). Assim, para o historiador, não é relevante julgar a veracidade do
documento. O papel fundamental e objetivo do historiador é a crítica ao documento,
Questioná-lo sobre suas intencionalidades: quem o produziu? Por que? Para quem?
Verena Alberti elenca dois pontos principais para se trabalhar fontes históricas nas
aulas de História: a ampliação do conhecimento sobre o passado e a possibilidade de
compreender na prática como o conhecimento histórico se produz. O conhecimento
histórico pode ser ampliado quando o aluno tiver contato com fontes que o estimule e que
assim possa assimilar as nuances do passado e construir de fato um aprendizado efetivo.
Entender como se dá o trabalho do historiador também é uma das possibilidades com o
uso de fontes, levando o aluno a entender que a escrita da história é feita a partir das
perguntas que os historiadores fazem às fontes. (ALBERTI, V. 2019, p. 107).
Assim, Alberti pontua que quase toda a produção humana pode ser questionada
como fonte: documentos textuais (jornais, revistas, diários, testamentos, ações judiciais,
anúncios), vestígios arqueológicos, produções audiovisuais (filmes, novelas,
propagandas), imagens (fotografia, desenhos, HQ’s, mapas), obras de arte, arquitetura,
vestimentas, dentre outros. Mas apesar das perguntas específicas feitas para cada tipo de
documento, alguns questionamentos sobre identificação e intencionalidade são comuns a
todos: quem o produziu, onde produziu, quando produziu, e onde o documento se
encontra; Por que foi produzido? Para quem? Por que foi preservado? (ALBERTI, V.
2019, p. 108)
A autora afirma que a conceitualização de “documento/monumento” em sala de
aula para alunos, é claramente algo difícil de se compreender. Por isso, cabe ao professor
151
acostumar seus alunos a questionarem as condições de produção, preservação e difusão
de um documento, assim o conhecimento passa a ser mais interessante ao aluno.
O uso de fontes em sala pode ser uma forma de desenvolver a autonomia do
educando a partir de técnicas de pesquisa. Alberti sugere que o professor disponibilize
diversas fontes para que o estudante analise se guiando por perguntas, como exemplo ela
oferece a seguinte pergunta: “quem era a favor e quem era contra a abolição da
escravidão no Brasil, e por quê?”. Como fontes o professor poderia oferecer reportagens
de jornal, propagandas, debates, biografias etc, como também, oferecer materiais que não
se relacionam diretamente com o assunto abordado, para que desta forma, o estudante
saiba escolher o que lhe será necessário e útil. (ALBERTI, V. 2019, p. 112)
Entretanto, o professor deve ter claro que oferecer aos alunos métodos de
pesquisa não deve ser uma tentativa de transformá-los em “pequenos historiadores”96. O
que é ensinado no espaço escolar é diferente do que é ensinado nos cursos de História e
na academia. Suas necessidades e contextos não são os mesmos. Portanto, Bittencourt
alerta para o cuidado que o professor deve ter ao oferecer estes documentos como
materiais didáticos.
O professor traça objetivos que não visam à produção de um texto
historiográfico inédito ou a uma interpretação renovada de antigos
acontecimentos, com o uso de novas fontes. As fontes históricas em sala
de aula são utilizadas diferentemente. Os jovens e as crianças estão
"aprendendo História" e não dominam o contexto histórico em que o
documento foi produzido, o que exige sempre a atenção ao momento
propício de introduzi-lo como material didático e à escolha dos tipos
adequados ao nível e às condições de escolarização dos alunos.
(BITTENCOURT, C. 2011, p. 328)
96
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. op cit, p. 328
152
incorporação de fontes históricas nas aulas de História da educação básica. Os autores
entendem que o uso de fontes pode ser guiado pelo pressuposto de “crítica ao
documento”. Eles sugerem e pensam estratégias pedagógicas para que a partir da
problematização e crítica às fontes, os estudantes compreendam o conhecimento histórico
e hajam sobre a sua realidade97.
Os autores esclarecem que o critério de verdade, que relaciona relato e fato, era
comum na história tradicional, e pode se tornar perigoso se o professor utilizar esta
prerrogativa em suas aulas. Assumem que não é uma tarefa fácil desconstruir nos alunos
a ideia de que a história pode adquirir diferentes significados, dependendo da cultura ou
dos grupos sociais envolvidos. É a partir da necessidade que os professores sentem em
“provar” o que relatam, que muitas vezes se utilizam de fontes e documentos como
ilustração. Para os autores, seria mais proveitoso que invés de usar como prova do que é
dito, a fonte seja problematizada enquanto documento
É nesse contexto de dificuldades epistemológicas que se inclui o
problema do uso das fontes em sala de aula, via de regra, utilizadas
como prova e ilustração dos argumentos e descrições escritas,
decorrência de uma ânsia em dar realidade ao relato histórico. Um bom
exemplo disso pode ser visto numa aula de história na qual o professor
afirma as punições definidas para a Alemanha como decorrência da
derrota na Primeira Guerra Mundial e, em seguida, mostra artigos do
Tratado de Versalhes que corroboram suas afirmações. O problema
não é o fato de o professor levar o referido documento para a sala de
aula, mas utilizar a fonte para confirmar o que mencionou sobre o final
da Guerra, procedimento que define o caráter de prova do documento e
o caráter submisso do relato à fonte. Ao invés disso, o professor poderia
problematizar o Tratado de Versalhes, quanto ao papel que
desempenhou na época em que foi criado como um monumento.
(PEREIRA, N; SEFFNER, F. 2008, p. 122)
97
PEREIRA, Nilton Mullet; SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história? Sobre o uso de fontes
na sala de aula. Porto Alegre, Anos 90. Porto Alegre, v. 15, n. 28, p.113-128, dez. 2008.
153
agia, se manifestava, como se dava seu cotidiano, desde figuras ilustres até sujeitos
anônimos.
A professora Maria Helena R. Capelato em Imprensa e História do Brasil98 afirma
o valor dos jornais como objetos de estudo da história, alertando para alguns pontos que
merecem atenção do historiador, e detalhando como a imprensa retratou acontecimentos
importantes da história do Brasil.
Capelato reitera que os historiadores brasileiros no início do século XX
apresentavam dois posicionamentos a respeito do jornal como documento: ou o negavam
veementemente, declarando que eram fontes suspeitas e subjetivas demais; ou lhe
aceitavam completamente como prova fiel do passado. Seu posicionamento é que ambas
perspectivas estão erradas, declarando que “O jornal não é um transmissor imparcial e
neutro dos acontecimentos e tampouco uma fonte desprezível porque permeada pela
subjetividade” (CAPELATO, M. 1988, p. 21)
Se antes os historiadores entendiam o documento como um retrato fiel ou não dos
fatos do passado, com o movimento de crítica aos documentos iniciado pelos Annales, os
historiadores que se dedicam ao estudo da imprensa como fonte, passaram a tratá-la,
principalmente após a metade do século XX, de forma dessacralizada.
Assim, Capelato defende que alguns questionamentos sejam feitos para a análise
da “fonte-jornal” como: quem o produziu, para que, como, para quem? Além disso, o
jornal deve ser estudado em comparação com outras fontes, entendendo seus significados
explícitos e implícitos. (CAPELATO, M. 1988, p. 24)
Tanto no campo da história, quanto no jornalismo já é evidente que as notícias
jamais podem ser consideradas como um discurso neutro e imparcial. Portanto, ao
98
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Contexto. EDUSP. 1988.
154
analisar o conteúdo de um documento periódico, é necessário que se reflita e atente-se
sobre o papel do jornalista como um sujeito formador de opiniões e do periódico como
mercadoria de um sistema capitalista, portanto é um objeto onde se coincidem diversas
formas de poderes.
155
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HISTÓRIA
Manual Didático
FAMÍLIA E AFETIVIDADE
ESCRAVA NO SÉCULO XIX.
GABRIELA SANTOS ALMEIDA
Imagem I: Escravizada com o filho, Salvador - BA, em 1884. Marc Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles
Imagem 2 : Negras depois do trabalho. Victor Frond. 1861.
156
INTRODUÇÃO
O Brasil se destacou como o maior território escravista no hemisfério ocidental, além de ter
sido o último país a abolir a escravidão. Abolição esta que, como sabemos, não contou com políticas
de inclusão, como acesso à educação, incentivo ao emprego e à propriedade, mantendo os recém
libertos em condição de precariedade e pobreza. O projeto de sociedade moderna que se construiu
não integrou essa população à sociedade, a modernização se deu como um processo
institucionalizado de branqueamento populacional e com um discurso de uma suposta sociedade
mestiça e harmônica, baseada no mito da democracia racial.
Mais de cento e trinta anos já se passaram desde a assinatura da Lei Áurea, e o Brasil se
caracteriza como um país fortemente alicerçado em bases escravocratas, fundando e refundando o
racismo estrutural presente na atualidade: negros e negras recebem menores salários, quando
comparados com brancos; o jovem negro tem três vezes mais chance de ser assassinado do que um
jovem branco; mulheres negras são as que mais sofrem feminicídio e estupro; a população negra é
maioria nas penitenciárias e é aquela que tem o maior índice de analfabetismo e a menor
representação política.
A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os
descendentes de africanos negros dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e
educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou
tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos
com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a
que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de
discriminações. (BRASIL, 2013, p. 498)
157
Hebe Maria Mattos e Martha Abreu (2008) criticam o contraste/polarização de identidades que
é percebido em alguns trechos das “Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações
étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”, sem negar a sua
importância e necessidade para o combate às discriminações e ao racismo.
Se concordamos com as “Diretrizes” no sentido de que é importante “acabar com o modo falso e
reduzido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e de seus descendentes para a
construção da nação brasileira” (Brasil, 2004: 18), não podemos criar a expectativa de existência
de culturas cristalizadas no tempo ou preservadas intactas ao longo de tantas gerações. A
diversidade cultural brasileira, e sua tão propalada pluriculturalidade, deve ser pensada
levando-se em consideração os intercâmbios e as trocas culturais, de forma a colocar em
evidência a pluralidade da própria experiência negra no país. Persistentes são as ações e
políticas que mantêm e renovam as desigualdades e hierarquias raciais em nosso país. (ABREU,
M. MATTOS, H. 2008. p.17)
Hebe Mattos (2009), analisando o conteúdo dos PCN 's, sugere prioridades a serem seguidas
para o trabalho de formação do professor de história com o intuito de aproximá-lo das discussões
sobre o tema que se desenvolvem na academia. Dentre as quatro sugestões, destaco a seguinte:
É a partir desta proposta que este manual foi desenvolvido, com o objetivo principal de
incorporar perspectivas historiográficas recentes para o estudo do tema. Além disso, busca-se, com o
suporte de fontes históricas, reconhecer as diversas experiências de sujeitos escravizados e suas
diversas formas de lidar com a escravidão.
Feita a análise dos livros didáticos de História aprovados no PNLD de 2018 e que entraram em
circulação a partir do ano de 2020, se percebeu o déficit de temas relativos a laços de familiaridade
entre escravizados em uma grande parte das coleções. Visando oferecer uma opção de material de
apoio ao professor, este manual apresenta sugestões de excertos de fontes periódicas e discussões
historiográficas para a compreensão de temas relacionados aos laços de familía entre escravizados no
século XIX no Brasil, visto que tais relações foram importantes tanto para a manutenção do sistema
como também como forma de resistência por parte dos escravizados.
Parte das fontes aqui apresentadas foram citadas na obra de Gilberto Freyre O escravo nos
anúncios de jornais brasileiros do século XIX. Nela o sociólogo realiza um estudo antropológico sobre
as características físicas dos escravos anunciados nos jornais durante o século XIX. Sua pesquisa foi
feita a partir de anúncios dos jornais Diario de Pernambuco e do Jornal do Commercio (RJ).
158
Freyre reafirma a proficuidade dos jornais como objetos de pesquisa ao historiador, ainda que
em condições difíceis de acesso e manejo, os jornais e seus anúncios permitem o acesso à história do
Brasil no século XIX.
Quem tiver a pachorra de folhear a coleção de um dos nossos diários dos princípios ou do meado
do século XIX – o que exige um extremo cuidado, porque o papel muitas vezes se desmancha de
podre ou de velho nos dedos do pesquisador menos cauteloso –, quem tiver essa pachorra e esse
cuidado, há de acabar concluindo como o diplomata português: mais do que nos livros de
história e nos romances, a história do Brasil do século XIX está nos anúncios dos jornais.
(FREYRE, 1979, p. 7)
Para o sociológo, a história do Brasil oitocentista foi marcada pela escravidão e pela exploração
do escravo. Porém, ao defender o potencial de pesquisa dos jornais, Freyre pontua os preceitos
já defendidos em Casa-Grande & Senzala: uma certa suavidade e amabilidade nas relações
entre senhores e escravos.
E como essa história é até o fim do século, em grande parte, a história do escravo explorado,
aliás com certa suavidade - porque o Brasil nunca foi país de extremismos, tudo aqui tendendo a
amolecer-se em contemporizações, a adocicar-se em transigências - pelo senhor de engenho, em
geral gordo, um tanto mole, com rompantes, apenas, de crueldade, pela mulher, também gorda,
às vezes obesa, e pelo filho, pela filha, pelo capelão, pelo capitão-do-mato e pelo feitor do
senhor de engenho; como a história econômica do Brasil é, até a Abolição, em grande parte, a
história do trabalhador negro, a significação dos anúncios relativos a escravos toma-se capital.
(FREYRE, 1979, p. 7)
Porém, se era grande a quantidade de anúncios de escravos durante as primeiras décadas dos
oitocentos, com o crescimento dos movimentos abolicionistas a partir da segunda metade do século,
a publicação de tais anúncios diminuiu consideravelmente.
É natural – repita-se – que numa sociedade patriarcal e escravocrática como a nossa, no tempo
do Reino e do Império, os anúncios de maior significação fossem os de escravos: compras,
vendas, troca, aluguel, leilões e fugas. Anúncios que só vieram a desaparecer nos fins do século
XIX, aos brilhos mais intensos da campanha abolicionista. Os de "negros novos" desapareceram,
de certa altura em diante para o inglês não ver. Ao contrário de tudo o mais no Brasil –
observaria um amigo meu, fértil em reparos brilhantes.
Os negros fugidos foram se sumindo aos poucos, escondendo-se nos cantos das páginas,
encolhendo-se em tipo miúdo, perdendo seu antigo luxo de pormenores, de um realismo como
não há igual em nossa literatura, deixando de aparecer com títulos em negrita, às vezes avivados
pela figura – quase um borrão – de um negro com a trouxa às costas, fugindo da casa do sinhô.
Até que desapareceram de todo. Era a Abolição que se aproximava. Jornais que aderiam ao
movimento emancipador e por escrúpulos, até então desconhecidos, de dignidade jornalística,
recusavam-se a publicar anúncios de compra e venda de gente e sobretudo de fuga ou de
desaparecimento de escravos. Sociedades abolicionistas animavam e favoreciam a fuga dos
negros; e com tal eficiência que se faziam temer pelos proprietários de diários e não apenas
odiar pelos proprietários de escravos. (FREYRE, 1979, p. 15-16)
159
Essa “mudança” no caráter das publicações acompanha, é claro, as mudanças políticas da
sociedade. A partir da década de 1871 se torna comum em muitos jornais a publicação de declarações
de liberdade, principalmente de crianças filhas de escravos.
Lilia Moritz Schwarcz, no livro Retrato em Branco e Negro (1987), também realiza um trabalho
antropológico, partindo de jornais paulistas do fim do século XIX. Em sua obra, a autora estuda o
imaginário paulistano a partir dos periódicos e a imagem retratada sobre os negros nestes meios de
comunicação.
Ao analisar os anúncios de jornais, Schwarcz destaca que a sua maior fonte de renda advinha
dos anúncios. A grande maioria dos títulos tinha cerca de quatro páginas, e nelas, grande espaço era
reservado aos anúncios. Poderiam ser anúncios de venda, leilão ou aluguel de cativos, casas, objetos;
oferta e procura de serviços; fuga de escravos; produtos novos no mercado; propagandas de
estabelecimentos, etc.
A condição de “mercadoria” destes sujeitos fica clara não apenas nas mais diversas formas de
transações comerciais, mas também conseguimos notá-la ao reparar nos termos que são empregados
nos anúncios, como “peças”, “lote” de escravos, muitas vezes sendo comercializados junto com outros
objetos e bens.
160
Orientações iniciais
É importante reafirmar que fontes históricas comumente são objeto de pesquisa de
historiadores, e o professor deve usá-las em sala de modo diferente do que é feito na academia. Circe
Bittencourt (2011) defende que o professor deve adaptá-las ao nível dos seus alunos e selecioná-las de
acordo com seus objetivos pedagógicos. Deste modo, documentos com textos extensos demais,
vocabulário complexo e distante da realidade do aluno, e documentos inadequados às suas faixas
etárias podem, ao invés de despertar a curiosidade, gerar dificuldades de compreensão e rejeição.
(BITTENCOURT, C. 2011, p. 328)
Desta forma, a escolha dos materiais que aqui são disponibilizados se pautou principalmente
pela sua adequação ao ambiente escolar. Textos longos podem ser suprimidos para se focalizar em
questões específicas, palavras desconhecidas são elucidadas no glossário, e quando necessário é feita
a transcrição dos documentos.
Contudo o professor não deve se limitar a oferecer apenas a transcrição dos materiais, é
interessante que os alunos tenham acesso ao periódico por completo. E que o professor aborde as
características destes documentos: destaque se é um jornal diário ou uma revista ilustrada; apresente
suas seções: o cabeçalho, a equipe editorial, o folhetim, as publicações a pedido, os anúncios, dentre
outros; chame a atenção para o local e o ano em que era publicado
Nas páginas seguintes estão elencadas excertos de periódicos do século XIX em que seu
conteúdo se relaciona com a temática das relações familiares e dos laços afetivos entre escravos.
Inicialmente, o manual sugere uma sequência didática de três momentos, que abordam
características de fontes históricas, a representação feminina e familiar em jornais e propõem debates
e atividades de produção de texto. Em seguida, o manual apresenta textos de apoio e fontes históricas
sobre alguns temas que se relacionam à escravidão em Goiás, a família escrava, a maternidade e as
formas de resistência ao cativeiro
161
Sequência didática - Fontes históricas e relações familiares
entre escravos no Brasil do século XIX.
Esta sequência didática é voltada para alunos de 7º e 8º ano, para ser trabalhada na disciplina
de história. É preferível que seja aplicada em salas de 7º ano após os estudos referentes à colonização
do Brasil, escravidão e expansão das fronteiras. Para turmas de 8º ano, o ideal seria que a sequência
também fosse aplicada após o abordagem de conteúdos sobre as primeiras décadas do império,
escravidão, abolição e sociedade escravista.
Este material é dividido em três momentos, em que cada um trata sobre um tema específico
que se relaciona com os seguintes, levando ao fim, ao objetivo de que os estudantes compreendam as
diversas faces e representações das famílias escravas em jornais do século XIX. Supõe-se que cada
momento seja uma aula de cerca de 50 minutos, contudo, o professor pode modificar o tempo de cada
momento, ou a sua ordem, de acordo com suas necessidades e especificidades.
1º momento
Objetivos:
Desenvolvimento:
O conceito de fontes históricas geralmente é claro para o professor de história, mas pode não
ser tão óbvio para seus estudantes. Assim, inicialmente, o professor pode realizar uma espécie de
“avaliação diagnóstica”, sondando os conhecimentos prévios dos alunos, para em seguida preencher
as lacunas com o desenvolvimento e discussão do tema. Portanto, sugere-se que o professor indague
os alunos sobre o que eles entendem como “fonte”, “O que é uma fonte?”, e anote no quadro as
respostas dadas. Em seguida, questione os alunos sobre qual é o conceito específico de “fontes
históricas”, quais seus objetivos e características, e também registre no quadro as respostas.
1
DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2022. Disponível em: https://www.dicio.com.br/ . Acesso
em: 19/10/2022.
162
Fonte
Significado de Fonte:
substantivo feminino
- Água que brota da terra continuamente; nascente: fonte de água mineral.
- Chafariz ou bica de onde jorra água, geralmente localizados em praças, com fins
arquitetônicos ou de fornecimento de água.
- [Figurado] O que dá origem a algo ou é o princípio de alguma coisa; origem, causa: a eleição
é fonte do poder.
- [Figurado] Texto original de uma obra ou do qual são retiradas informações para um
trabalho.
- [Figurado] De onde provém uma informação: matéria com fontes seguras.
- [Figurado] Pessoa ou situação que revela as informações referentes a um determinado fato:
minha informação é de fonte segura.
A partir dos significados encontrados no dicionário e das respostas dadas pelos alunos, o
professor contextualiza o termo “fonte histórica” para a disciplina de história.
O professor deve enfatizar que, com a renovação e alargamento das fontes históricas, outros
materiais passaram a ser objeto de estudo entre historiadores, mas isso não significa que fontes
tradicionais perderam sua validade. Assim, fontes históricas são variadas. Aqui, sugere-se que o
professor elenque e apresente brevemente as seguintes fontes históricas:
Neste momento, após apresentar os tipos de fontes, o professor pode questionar a turma sobre
como o passado pode ser percebido nestas fontes, e se os alunos têm acesso a alguma fonte histórica
em suas casas ou em sua família. Ressaltar as fontes materiais e fontes orais como um exemplo mais
próximo à realidade dos estudantes.
Atividade:
Pode ser realizada de forma coletiva, com a exposição das respostas ao professor, em grupos de
alunos, ou individualmente. Independente da forma que seja feita, o professor deve apresentar aos
alunos dois ou mais tipos de fontes históricas, dependendo do tempo disponível. Como sugestões de
fontes, pode ser exposta a gravura aquarelada de Cícero Dias Casa Grande do engenho Noruega, antigo
engenho dos Bois, de 1933; e o recibo de venda do escravo Domingos, de propriedade de Francisco
163
Xavier Dias da Fonseca, em 15 de dezembro de 18582, e uma corrente de castigo, que faz parte do
acervo do Museu Afro Brasil3. O importante aqui, é que além de identificar a materialidade, os alunos
consigam refletir sobre o que cada fonte pode dizer de forma explícita e implícita, quais as motivações
de seus autores, como ela representa o passado e o que pode ser tipo através dela.
Figura 1: Casa Grande do engenho Noruega, antigo engenho dos Bois. Cícero Dias. 1933
2
FONSECA, Francisco Xavier Dias da. Recibo de venda de escravo. Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional. 1858.
Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mssI5_31_49.pdf
3
GUALBERTO, Tiago. Corrente de Castigo. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2016. Disponível em:
http://www.museuafrobrasil.org.br/docs/default-source/publica%C3%A7%C3%B5es/corrente-de-castigo.pdf?sfvrsn=0 .
Acesso: 14 dez. 2022.
164
Figura 2: Manuscrito. Recibo de venda de escravo. Rio de Janeiro. 1858 . Acervo da Biblioteca Nacional.
2º momento
Objetivos:
165
● Perceber as diferenças entre a maternidade para mulheres livres e para mulheres escravas;
● Compreender o papel da reprodução escrava para o sistema escravocrata e a importância da
maternidade para a cultura africana;
● Conhecer as formas de luta e de resistência ao cativeiro utilizadas por mulheres escravas.
Desenvolvimento:
Atividades:
Inicialmente o professor pode ler com os alunos ou oferecer impressos textos de apoio sobre o
tema. Os textos abaixo fazem parte dos tópicos “Mães e escravas” e “Amas de leite” deste manual.
Eles servirão como apoio para as atividades seguintes:
Amas de Leite
Lorena Telles (2018) menciona que as amas de leite e mucamas são figuras recorrentes em pinturas e
fotografias durante o período colonial e imperial, passando por vezes a imagem de carinho, cuidado e benevolência no
interior de uma escravidão doméstica. O que seria uma suposição errônea, pois, ao ser imposta a estas escravas a
função de amas de leite, sua relação com a maternidade e com seu próprio corpo se transforma.
As amas de leite prestavam serviços no ambiente doméstico e no interior da intimidade familiar de seus
senhores, as relações sociais eram tensas e o cotidiano de trabalho destas mulheres era constantemente vigiado. Por
amamentar e cuidar das crianças brancas de seus senhores, muitas das vezes a alimentação que recebia era melhor,
lhes eram oferecidas roupas e vestimentas de melhor qualidade e existia a possibilidade de alforria. Entretanto,
estavam submissas aos desejos e vontades de suas senhoras e senhores, poderiam sofrer castigos físicos e ataques
sexuais e tinham sua privacidade cerceada. Além disso, o aleitamento e criação de seus próprios filhos lhes era
negado, ou quando havia a possibilidade de se manterem próximas aos seus filhos, a prioridade de cuidado era
sempre da criança branca.
O comércio, venda e aluguel de mulheres que davam à luz era extremamente lucrativo, o que pode ser visto
também na grande quantidade de anúncios em jornais. Com o fim do tráfico em 1850, houve um déficit de escravas
em zonas urbanas, e a demanda por amas de leite cresceu ainda mais. Nem sempre as relações de compra, venda e
aluguel envolviam apenas um comprador e o vendedor, algumas dessas mulheres eram produto de negociações que
podiam incluir donos de Casas de Comissão, que lucravam taxas pelas transações.
A leitura dos anúncios de jornais nos revelam que a fuga era comum e uma das diversas formas de resistência
contra a exploração, seja antes de darem a luz, ou depois, com seus bebês, evitando possivelmente que fossem
separados.
Telles (2018) reforça que a partir da segunda metade do século XIX o discurso higienista oriundos das
faculdades de medicina ganhou força. Se desqualificava a amamentação de amas de leite e se incentivava o
aleitamento materno. Por sua origem africana, essas mulheres eram responsabilizadas por uma série de doenças e
males que podiam ser transmitidas através do leite. Contudo, a exploração do trabalho das amas de leite por mulheres
brancas representava status social, portanto, mesmo com os discursos médicos condenando a prática, ela não foi
extinta .
167
Com o movimento abolicionista, a crítica a esta prática sofre mudanças. O discurso do movimento é crítico à
utilização das amas de leite, essas mulheres passaram a ser vistas não mais como malfeitoras ou perversas, mas sim
como vítimas de um sistema. Jornalistas abolicionistas passaram a publicar denúncias de maus tratos, separação de
mães e filhos, e abandono de crianças por parte de alguns proprietários.
Bibliografia: TELLES, Lorena Féres da Silva. Amas de leite. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos.
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. 1ºed. São Paulo. Companhia das Letras. 2018
Mães e escravas
O reconhecimento pela historiografia da maternidade e da importância das mulheres para a manutenção da
escravidão foi tardio. Maria Helena Machado (2018) aponta que ainda é comum notar em muitos estudos sobre
escravidão em que se analisam os escravos como uma categoria única, sem delinear as diferenças das experiências
para homens e mulheres, uma vez que exerciam papéis diferentes e sofriam opressões diferentes.
Ser mulher, esposa ou mãe em um sistema escravista oferecia ainda mais desafios e ambiguidades: além da
maternidade (gravidez,lactação e criação de uma criança), ser casada e mãe implicava uma dupla jornada e uma dupla
submissão, ao marido e ao senhor e, apesar do sentimento prazeroso de ser mãe, as escravas precisavam lidar com a
possibilidade de serem separadas de seus filhos. Estudos sobre gênero e escravidão na Ámerica apontaram que em
sociedades africanas antigas o papel da mulher foi fundamental para a reprodução social e econômica, assim, com o
tráfico e a escravidão nas Américas, os senhores escravistas estimularam a reprodução e a maternidade em escravas
desde os primeiros anos da escravidão, mesmo havendo a obtenção de mão de obra barata pelo tráfico. Desta forma, o
corpo da mulher se tornou elemento central da reprodução escravista.
Ao colocarem a mulher escrava no papel de dupla produtora da riqueza escravista, os principios acima
elencados acabaram sublinhando a centralidade do corpo da escravizada como o próprio lócus da
escravidão. Seja estimulando a reprodução, seja negligenciando-a, os senhores de escravos tinham
sempre que considerar essa questão em suas estratégias de produção de riqueza. Em momentos em
que o tráfico atlântico supria adequadamente as demandas, os senhores tendiam a explorar mais o
trabalho produtivo, se negando a oferecer as condições mínimas para a reprodução. Para o Brasil, em
diferentes épocas e lugares, não são raros os documentos que mencionam a existência de mulheres
realizando trabalhos pesados às vésperas do parto, ou relatos que explicam como mulheres deram à
luz na roça enquanto carregavam pesos desproporcionais. (MACHADO, 2018, p. 337)
Machado (2018) afirma que, em sociedades africanas camponesas, ter uma família extensa era uma benção, e
para mulheres africanas ter filhos era também algo positivo. Portanto, criar filhos e produzir laços de afetividade era
uma maneira de resistir à opressão do cativeiro.
Resistindo constantemente à violência, aos abusos e aos ataques senhoriais, as mulheres escravizadas
lutavam também para manter o controle de seus corpos. Era conhecido o uso de métodos contraceptivos e abortivos
com ervas e plantas por escravas, como também atitudes mais extremas como a perfuração do utéro com objetos e o
infanticídio.
Tardiamente, apenas em 1869, proibiu-se a venda separada de mães e filhos menores de quinze anos no
Brasil. Porém, com a Lei do Ventre Livre (1871), a tutela do ingênuo passa para as mãos dos senhores ou do Estado,
contribuindo para a separação.
Nos jornais da primeira metade do século XIX, muitas vezes é comum encontrar anúncios de mulheres
escravas perdidas ou que fugiram com seus filhos, como também anúncios de venda ou aluguel de mulheres que
deram à luz recentemente.
No ano de 1871, com a efervescência do movimento abolicionista e com as discussões sobre a Lei do Ventre
Livre, os jornais se tornam um espaço para a publicação de discursos favoráveis e contra a escravidão e a lei. Além
168
disso, se torna comum nos anos próximos à abolição a publicação de cartas de liberdade; por meio delas os
proprietários informam ter concedido a liberdade para seus escravos, escravas e ingênuos.
Bibliografia: MACHADO, Maria H. P. T. Mulher, corpo e maternidade. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos
Santos. Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. 1ºed. São Paulo. Companhia das Letras. 2018
169
Caso 2 - Gazeta da Tarde (RJ) 15 de janeiro de 1881 nº 13
170
3º momento
Objetivos:
● Relacionar as diferenças entre a maternidade para mulheres livres e para mulheres escravas e a
sua representação nos meios de comunicação oitocentista.
● Relacionar a charge publicada no periódico Bazar Volante com o discurso racista biologizante
presente nas faculdades de medicina da época.
● Produzir um gênero textual a partir do tema proposto e dos textos e fontes trabalhadas na
sequência.
Desenvolvimento:
O Bazar Volante foi uma revista ilustrada semanal de oito páginas, fundada por Ernest
Rensburg, que circulou no Rio de Janeiro entre 1863 e 1867. Grande parte de suas charges
representavam e criticavam questões políticas, como por exemplo a Guerra do Paraguai. Washington
Kuklinski Pereira (2015) caracteriza a proposta da revista:
Publicada entre 1863 e 1867, contendo oito páginas, com caricaturas, romances, teratologia e
textos políticos, o Bazar Volante compôs o meio noticioso do Rio de Janeiro. O Bazar Volante
contou com a contribuição do caricaturista francês Joseph Mill. Além disso, a proposta do
semanário, publicado aos domingos, era proporcionar a interação entre os editores e o público
leitor. [...] Era comum encontrar anedotas formadas por texto e imagem que buscavam arrancar
risadas dos leitores, usando sempre cenas chistosas do cotidiano da sociedade carioca. Muitas
situações jocosas foram publicadas no semanário humorístico. As caricaturas que eram
publicadas nas páginas centrais do Bazar dedicavam-se a ilustrar piadas que circulavam de boca
em boca pelos cafés e bares do Rio de Janeiro. Situações constrangedoras representavam as
relações interpessoais vividas cotidianamente pelos leitores. [...] Portanto, a revista Bazar
Volante pode ser um grande instrumento utilizado pelo historiador para, a partir das caricaturas,
compreender o modo como se pensava no Rio de Janeiro do século XIX. (PEREIRA, 2015, p.36)
171
Na charge é representada uma ama de leite com uma criança branca em seu colo, e ao lado,
uma mulher branca, amamentando uma criança. Karolina Carula indica que publicações como a
veiculada no Bazar Volante tinham como público as famílias abastadas que utilizavam o serviço de
amas de leite. O periódico busca formar uma opinião pública incentivando o aleitamento materno e
desqualificando a figura da ama de leite. A mensagem que a imagem explicita é que uma mãe
cuidadosa e velosa não deveria entregar seus filhos ao cuidado de uma ama de leite escrava, que
estava impregnada com os maleficios da escravidão (CARULA, 2022, p. 139). O discurso higienista,
presente implicitamente na charge, era permeado pelas teorias racistas biologizantes do século XIX
que foram herdadas do pensamento europeu evolucionista e que viam o embranquecimento como
forma de evolução social. Devido à cor e à origem dessas mulheres, o aleitamento feito por elas era
visto como meio de propagação de doenças. Contudo, apesar dos discursos contrários, a exploração
do trabalho das amas de leite não foi extinta, pois era uma forma de delimitação de status social.
Atividades
Após a leitura dos textos de apoio e das discussões e atividades sobre as fontes apresentadas, leia a
proposta a seguir:
172
Imagine que você é uma escrava de nome Maria, de cerca de 25 anos, que trabalha servindo
como ama de leite dos filhos de seu senhor, que se chama Manoel Fernandes. Sua senhora, esposa
de Manoel, se chama Francisca, e deu à luz a seu “sinhozinho” faz poucas semanas. Você trabalhava
antes na lavoura, junto a outras escravas, mas decidiu manter a criança para talvez poder melhorar
suas condições e poder criar seu filho na casa-grande. Contudo, você não contava que lhe
separassem de seu filho, para que se dedicasse quase exclusivamente ao filho de sua senhora. Seu
filho agora estava sendo criado e amamentado por outras escravas na senzala. Alguma destas outras
escravas de seu senhor, que ainda estavam na senzala, cuidavam não só de seu filho, mas de outras
crianças, enquanto seu senhor não fechava o negócio de aluguel como amas de leite para outros
“sinhozinhos” na cidade ou em outras fazendas da região.
Esta manhã, enquanto você amamentava a cria de sua senhora, ela lia o jornal Bazar
Volante na sala ao lado. José trouxe da cidade a pedido de Dona Francisca o último exemplar da
folha que sai sempre aos domingos. José também era escravo de Manoel Fernandes, mas sua mãe, a
escrava Feliciana, também foi ama de Manoel. As más línguas dizem por aí que o falecido senhor
Joaquim Fernandes, pai de Manoel, se encontrava com Feliciana às escondidas, e que estes
encontros resultaram em José. Pouco tempo depois, a esposa de Joaquim descobre que esperava por
Manoel, seu primogênito. Joaquim queria sua escrava por perto e lhe escolheu para amamentar seu
filho, assim também pouparia os esforços de sua frágil mulher. Por bondade ou conveniência,
acabou permitindo também que a cria de Feliciana fosse criada próximo a mãe, na casa-grande. José
aprendeu a ler e escrever de forma razoável por conviver durante toda a infância com Manoel, assim
algumas vezes ouvia as aulas do professor que lecionava para Manoel. Mesmo crescendo juntos,
José tinha consciência que era propriedade de Manoel e conviviam de forma harmônica. José era
escravo de confiança de seu dono, frequentava a casa-grande, mandava recados, fazia compras na
cidade e realizava também algumas tarefas domésticas.
Dona Francisca pedia o Bazar Volante a José para que ficasse a par dos acontecimentos da
capital e para se divertir com as caricaturas e situações engraçadas ali retratadas. Muitas vezes você
a via rindo levemente sozinha ou compartilhando com José alguma pilhéria desenhada. Mas dessa
vez foi diferente, essa edição deixara a sinhá preocupada. Longe de fazer alguma piada ou zombaria,
a edição desta semana trouxe uma caricatura criticando a amamentação com amas de leite. Dona
Francisca comentou com José sobre a caricatura que viu, ela caracterizava o leite das escravas como
“mercenário” e relacionava a amamentação por amas com mães desnaturadas. Ela também
comentou que ouvira de alguns médicos da cidade que algumas escravas podem transmitir doenças
pelo leite. José rebateu dizendo que achava meio confuso e sem sentido, pois muitas escravas até
preferiam servir na casa-grande, e também alimentavam seus filhos com o mesmo leite. A conversa
não se estendeu por muito tempo, mas você escutou tudo o que disseram. O que você faria?
173
- Com a ajuda de José para escrever e enviar, Maria escreve uma carta endereçada ao
Bazar Volante. Maria se sentiu muito ofendida com o que escutou. Ela não tem
intenção alguma de adoentar o filho de sua senhora, e seu interesse é apenas ter
melhores condições de vida e criar seu filho bem, mesmo sendo uma escrava. Escreva
a carta de Maria para o Bazar Volante, expondo seus argumentos críticos à charge.
174
Famílias
175
Diario de Pernambuco (PE) -
Edição 00193 – 24 de agosto de
1854.
Noticiários e crimes
É impossível negar a presença da violência nas relações escravistas no Brasil O debate sobre o
caráter brando ou violento da escravidão no Brasil já é antigo, e conta com diferentes pontos de vista.
Frequentemente eram noticiados nos jornais impressos crimes e castigos envolvendo escravos.
Nas seções de ocorrências policiais eram diariamente publicadas a entrada e saída de detentos,
quando também eram descritos os motivos que haviam levado à captura, como “por suspeita de
serem escravos” ou “por vagabundagem”, por exemplo.
176
Diario de Pernambuco (PE). Edição 00262 (1) p. 2. 19 de
novembro de 1852
177
Diário do Rio de Janeiro (RJ) 1 de agosto de 1852
PERNAMBUCO.
Recife, 17 de julho de 1852, ás 6 horas da tarde.
RETROSPECTO SEMANAL.
Continuão a apparecer assassinatos pelo interior da província. Com data de 12 do corrente communicou-nos o nosso
correspondente da Gloria do Goitá que Joaquim José de Santa Anna fôra morto por João Ignacio, no dia 3 do corrente, no logar
denominado – Duarte Dias – por ter o infeliz ordenado a uma sua escrava, casada com o assassino, que não dormisse fôra de casa.
D’este modo vão a faca e o bacamarte dos sceleratos ceifando as vidas e destruindo toda segurança individual dos cidadãos,
pelos motivos mais frivolos!
No embate caprichoso e tyranico dos partidos politicos e dos odios individuaes são sempre diversas as versões que correm
sobre as causas de certos crimes e as fontes d’onde elles provem.
A acção da autoridade por motivos semelhantes muitas vezes se acha estorvada; e no meio da confusão de idéas e sentimentos
que então se levantão, quasi sempre em detrimento da moralidade e da vindicta pública, todos treme por si e pelos seus, não vendo
surgir um accordo firme e unanime em denunciar o crime com verdade, e punir o criminoso com todo o rigor da justiça, seja qual for a
sua cathegoria ou condição. Deus se compadeça de nós.
Casamentos e uniões
Gazeta da Tarde nº 96, 20 de outubro de 1880
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Na transcrição que se segue, o noticiário da Gazeta da Tarde transcreve e publica um caso de
um casal de escravos que desejavam se casar pela igreja católica, Miquelina e Theobaldino, e para isso
solicitaram para o proprietário de Theobaldino a permissão para o matrimônio. O consentimento para
o matrimônio é negado por João Maria de Souza, alegando que o casamento lhe prejudicaria
financeiramente. Ainda sim, a petição é despachada e os escravos se casam. O noticiário transcreve
que o proprietário defende seu direito de propriedade, garantido pelas leis do estado, e se mune do
art. 63§ 6º do Decreto de 25 de Abril de 1874, que declara que: “Art. 63. O assento de casamento
deverá conter necessariamente: [...] 6º A condição dos conjuges: se ingenuos, libertos, ou escravos, e
neste caso o nome do senhor, e a declaração do seu consentimento;”
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180
Jornal de Recife (PE) -Ano
1880\Edição 00279 (12 de dezembro
de 1880
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ATIVIDADE SUGERIDA:
Mães e escravas
O reconhecimento pela historiografia da maternidade e da importância das mulheres para a
manutenção da escravidão foi tardio. Maria Helena Machado (2018) aponta que ainda é comum notar
em muitos estudos sobre escravidão analisarem-se os escravos como uma categoria única, sem
delinear as diferenças das experiências para homens e mulheres, uma vez que exerciam papéis
diferentes e sofriam opressões diferentes.
Ser mulher, esposa ou mãe em um sistema escravista oferecia ainda mais desafios e
ambiguidades: além da maternidade (gravidez, lactação e criação de uma criança), ser casada e mãe
implicava uma dupla jornada e uma dupla submissão, ao marido e ao senhor, e apesar do sentimento
prazeroso de ser mãe, precisavam lidar com a possibilidade de se separar de seus filhos. Estudos sobre
gênero e escravidão na Ámerica apontaram que em sociedades africanas antigas o papel da mulher foi
fundamental para a reprodução social e econômica, assim, com o tráfico e a escravidão nas Américas,
os senhores escravistas estimularam a reprodução e a maternidade em escravas desde os primeiros
anos da escravidão, mesmo se houvesse a obtenção mão de obra barata pelo tráfico. Desta forma, o
corpo da mulher se torna elemento central da reprodução escravista.
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reprodução, seja negligenciando-a, os senhores de escravos tinham sempre que
considerar essa questão em suas estratégias de produção de riqueza. Em
momentos em que o tráfico atlântico supria adequadamente as demandas, os
senhores tendiam a explorar mais o trabalho produtivo, se negando a oferecer as
condições mínimas para a reprodução. Para o Brasil, em diferentes épocas e
lugares, não são raros os documentos que mencionam a existência de mulheres
realizando trabalhos pesados às vésperas do parto, ou relatos que explicam
como mulheres deram à luz na roça enquanto carregavam pesos
desproporcionais. (MACHADO, 2018, p. 337)
Machado (2018) afirma que em sociedades africanas camponesas, ter uma família extensa era
uma benção, e para mulheres africanas ter filhos era também algo positivo. Portanto, criar filhos e
produzir laços de afetividade era uma maneira de resistir à opressão do cativeiro.
Nos jornais da primeira metade do século XIX, muitas vezes é comum encontrar anúncios de
mulheres escravas perdidas ou que fugiram com seus filhos, como também anúncios de venda ou
aluguel de mulheres que deram à luz recentemente.
Existiam debates sobre a Lei do Ventre Livre desde a década de 1860, pois nesse momento, os
debates sobre a escravidão se tornaram mais comuns na cena política brasileira. Já que as demandas
183
sobre o tráfico de escravos já foram solucionada na década anterior. (MENDONÇA, p. 277) Soma-se a
isto, um cenário emancipacionista internacional e as resistências escravas.
A lei entrou em vigor em 28 de setembro de 1871, instituindo que os filhos de mães escravas,
nascidos a partir daquela data, seriam livres. Porém, até os 8 anos de idade, ficaria sob a guarda de seu
senhor, após os 8 anos, o senhor poderia escolher entre receber uma quantia de 600 mil-réis do
governo, ou usufruir dos serviços do menor de idade até os 21 anos.
Além disso, a lei também reconhecia o direito do escravo juntar dinheiro para a compra de sua
liberdade, sem a possibilidade de oposição de seu senhor. Reiterou a proibição de venda separada de
cônjuges escravos e filhos menores de 15 anos. Criou também o Fundo de Emancipação para alforrias
em municípios, e obrigou a matrícula de escravos em todo país, pois aquele que não fosse
matriculado, era considerado livre.
Joseli Mendonça (2018, p. 281) afirma que diversos pontos da lei contribuíram para as
expectativas e vontades senhoriais, assegurando uma abolição lenta e gradual, mas a lei também
permitiu disputas e processos conflituosos por parte de escravos, pois também lhe concederam
direitos. Assim, o abolicionismo também se mostrou presente nos tribunais em favor da liberdade de
escravos.
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Diario de Pernambuco. Ano 1859. Edição
00027. 4 de fevereiro de 1859
185
Diário do Rio de Janeiro (RJ) - Edição 00034 - 3 de
fevereiro de 1862
186
Diário do Rio de Janeiro (04/04/1871, p. 1)
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O elemento servil Se o escravo trabalha, tem tambem dias recem-nascido, mirando maior vantagem: os
São muitas e importantes as razões de descanso, e em quasi todas senão todas as serviços da escrava mãe, e de outras
contrárias a adopção do expediente da fazendas dispõem, com consentimento de constantemente empregadas em cuidar dos
libertação do ventre, e cada uma dellas seus senhores, de um pequeno praso de terra menores.
merecia estudo minucioso para o qual onde plantam para si e os seus, colhem e E o que será a roda official, a caridade
infelizmente não nos julgamos habilitados. vendem os fructos percebidos, com o que ministrada por empregados publicos em
Temas, entretanto, esperança de que estas constituem seus peculios. Estas concessões, sítios remotos, em cada freguezia? Será o
questões sejam levantadas da indifferença em vez de se restringirem, alargam-se. infanticídio em massa. Desgraçada troca: da
em que cahiram os negocios públicos Não se pense que as nossas fazendas são escravidão pela morte! Da escravidão, que é
Não póde convir a lavrador a criação na vastas prisões ou calabouços. Não: ao resgatavel, pela morte sem remedio!
fazenda do recem-nascido livre pela lei, e trabalho succede o repouso, mantida a ordem A caridade da lei começa a por separar a
nem a promettida indemnisação podel-o-ha com severa disciplina, como não póde deixar mãe do innocente filho e termina por expol o
seduzir; além de que tal indemnisação é por de ser, porém sem tormentos e barbaridades. em nome da liberdade a uma morte quase
demais insignificante e sujeita a muitas As cousas teem mudado muito. infallível! Não se calcula com as saudades da
contigências. A indemnização pelo trabalho Os vícios são castigados, porém ao bom mãe e com as inquietações que hão de
da criação não cobre as despezas e ficarão procedimento não falta recompensa. O resultar. A escrava quererá ver o filho; se o
ainda a descoberto os prejuizos por lucros impulso das idéas por si vae operando a senhor nega será um motivo de fuga, se
cessantes desejada transformação, e seus resultados consente terá de fazer uma viagem mais ou
A adiantada gravidez inhabilita a escrava serão mais efficazes do que todos os meios menos longa, que a arredará da fazenda com
para muitos serviços, por via de regra os mais legaes e coercitivos. prejuizo certo da boa ordem e disciplina. Se
úteis e urgentes. Este prejuizo é inevitavel Presentemente não ha dia de festa e encontra o filho vivo o póde distinguil-o de
porque os nossos lavradores não são tão alegria nas fazendas, que não seja celebrado outros, traz no coração com a saudade desejo
utilitários como os dessas colonias por actos de bem entendida emancipação. de tornal-o a vêr; se não o deixam ver, ou não
pertencentes a paizes aonde tanto se alardêa Em occasião de casamento da querida filha os póde por ter já fallecido, que duvidas e que
de humanidade. A espectativa do fructo, a paes invocam a protecção de Deus, libertando desesperos!
esperança de que pudesse vingar, crescer e um ou mais de seus morigerados e fiéis Ainda não é tempo de estudar a
prestar futuro serviços animavam a captivos. Na Europa julga-se com odio o praticabilidade dos asylos dos ingenuos da
tendencia christã de zelar dos senhor brasileiro: attribuem-lhe a crueldade lei, porém desde já póde-se duvidar que
recem-nascidos. As senhoras das fazendas, de um egoísmo sem freio e sem compaixão. produza os desejados effeitos
sempre mais generosas e compassivas, Manifesto engano. A indifferença gélida pelo Entretanto os humanitários falladores e
tomam assim a criação dos infelizes filhos próximo é virtude desses povos utilitarios, escriptores resolvem tudo
das escravas, que sob seu agasalho e que dão esmolas, como o contribuinte paga o peremptoriamente: se o senhor abandonar
protecção escapam muitas vezes dos carinhos tributo, sem o amor santo da caridade o ingenuo da lei, o Estado se incumbirá de
insensatos de suas estúpidas mães. Quando Voltemos a matéria sua criação!
um dia mão imparcial escrever "a historia da A criação do recem-nascido inhabilita a O estado não se póde incumbir de coisa
escravidão no Brasil, não esquecerá de pôr mãe para quasi todos os serviços pelo prazso alguma: o Estado somos todos nós. Quem ha
em relevo a caridade de nossas patricias. As de um ano. Calcule-se o valor do trabalho de pagar a enorme despeza dos asylos, os
paginas de sangue, de gemido e de diario da escrava, independente de qualquer ordenados dos empregados (santa
desesperos, hão de seguir-se as de caridade e outro despendio, com seus resguardos philantropia!) e os gastos da criação?
grandeza d’alma da virtuosa mãe dos necessarios, incommodos supervenientes, e Não ha de ser a philosophia que nada
desprotegidos: a brasileira. ver-se-ha que a indemnização pela criação produz; ha de ser a lavoura.
Esses poetas que tanto escrevem sobre a não póde convir ao proprietário. Ameaçam-nos sempre, quer quando nos
escravidão no Brasil e nada sabem, esses Attendam para o que se passa ahi na prometem indemnisações, quer quando se
philosophos da Europa que, no meio das Côrte, se de boa fé querem estudar esta obrigam a criar os filhos de nossos escravos.
misérias da prostituição e da fome dos gravíssima questão. Ainda, apezar da mania Ou uma ou outra cousa, ou talvez ambas, da
operarios, nos enviam conselhos e das estatísticas, não se sabe quantos escravos nossa pele ha de sahir.
provocações, não conhecem a vida do escravo nascem na capital do Imperio cada anno e Seja feita a vontade dos generosos
na generalidade dos estabelecimentos nem quantos morrem. Pois bem: os jornaes emancipadores, occupados em ler os
brasileiros de lavoura. annunciam amas de leite todos os dias e em relatorios do parlamento francez, os
O escravo não é considerado como um grande quantidade Que destino levam os inqueritos do inglez e as memorias dos
animal irracional, sem direitos e nem filhos das escravas? Vão para a roda, não da douradores de pílulas de saúde e regeneração
affectos: seus filhos não são gerados e fortuna, mas da morte. O senhor, habitante popular!
nascidos nas casas humildes nem nos do centro da civilisação, prefere libertar o Em fim de contas nós somos retrogrados,
abysmos sem ar e sem luz como succede recem-nascido pelo abandono á caridade barbaros e egoístas; os empregados publicos
nessas terras da civilisação e da liberdade. publica, mirando maior vantagem: os são civilisados, macios e generosos!
Pelo contrario, gosam aqui dos confortos da alugueis da escrava mãe. O interesse e só o Nós pagamos a liberdade e eles se
religião, de agasalhada habitação, teem interesse! proclamam libertadores!
medico, botica e farta subsistencia. Se uma O lavrador, que não é feito de melhor Podia ir adiante, porém tenho receio de
ou outra excepção sombrêa este não barro que o cortezão, sem interesse em criar fatigar os meus delicados leitores.
exagerado quadro incorre em geral reparo um ente livre, antes certo do prejuizo,
tambem abandonará á caridade official o O lavrador
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Este texto foi publicado na seção “Publicações a pedido”. Nele o autor se mantém em
anonimato, utilizando o pseudônimo “O Lavrador”, o que já se supõe que ele seja proprietário
de escravos e de terras. Ao ler o texto, percebe-se o tom sentimental ao se referir aos filhos de
escravas, sendo caracterizados como "vítimas", destacam-se a bondade e a “caridade” das
senhoras de escravos que cuidam dos filhos abandonados das irresponsáveis escravas: “As
senhoras das fazendas, sempre mais generosas e compassivas, tomam assim a criação dos infelizes
filhos das escravas, que sob seu agasalho e protecção escapam muitas vezes dos carinhos insensatos
de suas estúpidas mães”. Vale também notar que ele defende o caráter “humano” do proprietário
brasileiro, que permite que os seus escravos tenham tempo livre, formem família e tenham um
pedaço de terra. Contudo, o ponto principal do texto é a crítica à Lei do Ventre Livre,
argumentando-se que economicamente não é viável aos proprietários criar os filhos de suas
escravas, portanto muitos acabariam por abandoná-los nas rodas de expostos.
189
Goyaz - 17 de outubro de
1885 - nº 004
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Amas de leite
Lorena Telles (2018) menciona que as amas de leite e mucamas são figuras recorrentes
em pinturas e fotografias durante o período colonial e imperial, passando por vezes a imagem de
carinho, cuidado e benevolência no interior de uma escravidão doméstica. O que seria uma
suposição errônea, pois, ao ser imposta a essas escravas a função de amas de leite, sua relação
com a maternidade e com seu próprio corpo se transforma.
O comércio, venda e aluguel de mulheres que davam à luz era extremamente lucrativo, o
que pode ser visto também na grande quantidade de anúncios em jornais. Com o fim do tráfico
em 1850, houve um déficit de escravas em zonas urbanas, e a demanda por amas de leite cresceu
ainda mais. Nem sempre as relações de compra, venda e aluguel envolviam apenas um
comprador e o vendedor, algumas dessas mulheres eram produto de negociações que podiam
incluir donos de Casas de Comissão, que lucravam taxas pelas transações.
A leitura dos anúncios de jornais nos revelam que a fuga era comum e uma das diversas
formas de resistência contra a exploração, seja antes de darem a luz, ou depois, com seus bebês,
evitando possivelmente que sejam separados.
Telles (2018) reforça que a partir da segunda metade do século XIX o discurso higienista
oriundos das faculdades de medicina ganhou força. Se desqualificava a amamentação de amas
de leite e incentivava o aleitamento materno. Por sua origem africana, essas mulheres eram
responsabilizadas por uma série de doenças e males que podiam ser transmitidas através do
leite. Contudo, a exploração do trabalho das amas de leite por mulheres brancas representava
status social, portanto, mesmo com os discursos médicos condenando a prática, ela não foi
extinguida.
191
transmissão de todo tipo de doença. A origem africana das mulheres era agora
representada como metáfora para os perigos e males sociais que poderiam atingir
as crianças brancas, as famílias abastadas, e como um perigo para o futuro da
nação, a qual, nesse contexto, era imaginada a partir dos padrões europeus de
civilização. (TELLES, 2018, p. 337)
192
Bazar Volante, ano 1, n. 27, 27/03/1864, p. 8.
O Bazar Volante foi uma revista ilustrada que circulou no Rio de Janeiro entre 1863 e
1867. No desenho é representado uma ama de leite com uma criança branca em seu colo, e ao
lado, uma mulher branca, amamentando uma criança. Karolina Carula indica que publicações
como a veiculada no Bazar Volante tinham como público as famílias abastadas que utilizavam o
serviço de amas de leite. O periódico busca formar uma opinião pública incentivando o
aleitamento materno e desqualificando a figura da ama de leite. A mensagem que a imagem
explicita é que uma mãe cuidadosa e velosa não deveria entregar seus filhos ao cuidado de uma
ama de leite escrava, que estava impregnada com os maleficios da escravidão (CARULA, 2022, p.
139).
193
Gazeta da Tarde (RJ) 16 de novembro de 1880 nº 111
A Gazeta da Tarde era um jornal abolicionista de
propriedade de José do Patrocínio, no noticiário do
dia 16 de novembro de 1880, denuncia-se a
impunidade de uma situação envolvendo um senhor
de escravos e o filho de sua ama de leite. Um
senhor de escravos batiza o filho de uma de suas
escravas, e aluga a mulher recém parida como ama.
Percebendo que sem os cuidados da mãe a criança
não sobreviveria, o proprietário mudou o nome da
mãe, e entregou a criança para a Casa de
Misericórdia como se fosse de alguma mulher livre.
Nota-se a emotividade utilizada e a representação
das escravas como vítimas de seus senhores.
Questões Norteadoras
194
Crianças e adolescentes
Marília Ariza produz um texto crítico para a obra de Lília Schwarcz e Flávio Gomes
(2018), em que tece considerações sobre as experiências das crianças filhas de escravas. Para a
autora, até 1871, houve pouca presença e citação de crianças em documentos da época. Isso
muda a partir da Lei do Ventre Livre, que extingue a obrigatoriedade de o filho seguir a mãe,
tornando-se ingênuos a partir do dia 28 de setembro de 1871. A partir daí, as crianças e a
infância se tornaram motivos de debates nos jornais e ações judiciais. (ARIZA, 2018, p. 169)
Não se deve pensar sobre a vivência das crianças na colônia e no império a partir da
concepção de infância da atualidade. Nesse sentido, Ariza destaca que durante estes séculos, a
condição de “ser criança” era perpassada por conceitos e ideais de infância de origem medieval e
religiosa. (ARIZA, 2018, p. 171)
Muitas crianças eram separadas de suas mães, que iam se tornar amas de leite, e eram
criadas por outras escravas em condições precárias, ou poderiam ser abandonadas na roda dos
expostos por seus senhores.
Por volta dos doze anos já estavam aptas a realizar trabalhos que exigiam mais
capacidade física, e aos 14 já eram considerados maduros. Assim, seu preço de venda
aumentava.
195
O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. Gilberto Freyre. São Paulo.
Ed Nacional.1979. p. 61
Freyre aponta como as relações podem ser “amistosas” entre senhores e os filhos de seus
escravos, ou como revelam relações de propriedade. Contudo, vale problematizar essa primeira
declaração do sociólogo, já que o trecho do anúncio que o autor apresenta não afirma que a
criança era mimada por seus senhores, e provavelmente, este trecho é uma declaração de
liberdade, cujo autor teve a intenção de exaltar seus próprios feitos de benevolência.
Infelizmente, estas edições do Diario de Pernambuco não estão disponíveis no acervo digital da
Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
196
Diário do Rio de Janeiro (RJ) 1828 5 de
abril de 1828
197
Questões norteadoras
4
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. BRASIL. LEI nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
198
● Quais as diferenças entre as atividades realizadas entre crianças escravas meninas e
meninos? Nos anúncios de jornais quais “qualidades” se referem às meninas, e quais
“qualidades” se referem aos meninos?
● Quais as diferenças observadas entre crianças escravizadas e crianças livres?
● Na atualidade, quais leis garantem direitos às crianças? Essa legislação existia neste
período?
Para Palacín a realidade do trabalho escravo nas minas era sem dúvida exaustivo e
perigoso, ao qual se acrescentavam a má alimentação e as doenças, uma situação que levava
muitos escravos a fugirem para quilombos. “Se a existência de quilombos implica maus-tratos
para o escravo, em Goiás constituem um testemunho impressionante, pois praticamente não há
arraial sem a sombra de seu quilombo.”(1994, p. 79) As medidas do governo para evitar fugas e
combater quilombos eram duras e envolviam castigos públicos e físicos, prisão e
institucionalização das atividades dos capitães do mato. Mesmo que o trabalho nas minas tenha
sido tão árduo, Palacín indica que a possibilidade de liberdade nas minas era maior do que em
outras regiões, pois tornava possível acumular pecúlio para comprar a alforria, e realizar
pequenos furtos , além de favorecer a miscigenação.
Contudo, a vida do escravo nas minas, embora tão desolada, encerrava uma
esperança maior do que a das outras regiões: a de conseguir para si, ou para seus
descendentes, a liberdade. Mediante pequenos roubos acumulados, ou
trabalhando horas extras em benefício próprio, eram bastante numerosos os
escravos que conseguiam reunir em ouro o preço de sua liberdade. Para as
escravas, era igualmente mais fácil, nas minas, conseguir para si e seus filhos,
fruto da união com seus donos, a carta de alforria. Os 120 alforriados e mulatos
199
registrados na capitação de 1741 finham crescido em 1804 até 23.577, deles 7.992
negros livres e 15.582 mulatos. (PALACÍN,1994, p. 81)
Maria Lemke (2012, p.26) pontua que o trabalho historiográfico do Padre Luís Palacin e
do historiador Nasr Chaul defendem perspectivas opostas ao se tratar da “decadência” em
Goiás, contudo ambos historiadores reforçam aspectos conservadores sobre a sociedade de
Goiás. Os dois historiadores sugerem que após o apogeu do ouro a sociedade não conseguiria se
manter sem o apoio do Estado, como também para ambos, a população goiana até 1930, com a
chegada da “modernidade”, seria caracterizada fortemente por traços de inércia, marasmo,
imobilidade e ócio. Além disso, se caracterizava como um povo violento e com aversão aos
valores morais, cometendo crimes e se juntando por concubinato. Contudo, para Lemke (2012,
p. 27) a perspectiva defendida por estes historiadores não pode ser analisada fora de seus
contextos. Padre Palacin escreveu durante as décadas de 1970 e 1980, fortemente marcada por
tendências políticas e econômicas na historiografia, já Nasr Chaul, mesmo se vinculando a uma
perspectiva cultural, de abandono do viés marxista, ainda analisa a sociedade goiana
estruturalmente.
200
São interpretações a partir das quais conhecemos melhor a história, a
historiografia, seus modos e tempos de escrever. Palacin escrevia na
década de 1970-80, ainda um “tempo” historiográfico fortemente
vinculado às estruturas políticas ou econômicas. Chaul, por seu turno,
volta-se aos aspectos culturais da sociedade, tentando reconstruir e
desmontar a dureza daquela história de viés marcadamente marxista.
Porém, a uma abordagem estruturalista seguiu-se outra. Essas duas
vertentes sugerem uma sociedade profundamente homogênea quanto aos
costumes.
O alto índice de concubinato, por exemplo, foi interpretado como ausência
de valores morais e de laços familiares. “A maior parte das relações giraria
em torno do sexo”, segundo Chaul. São palavras idênticas às de Palacin,
nosso padre historiador, para quem um dos resultados do concubinato
seria “a tendência natural para o incesto.” (LEMKE, M, 2012, p.27)
Desta forma, é fundamental compreender que a historiografia recente sobre Goiás busca
não só problematizar a interpretação da "decadência", da imoralidade e imobilidade, mas
também repensar percepções historiográficas que desconsideravam a existência de famílias em
Goiás. Para isso, retorna aos documentos, e os reavalia amparando-se na produção
historiográfica nacional 5.
5
Cf. CASTRO, Hebe M. M. de. Das cores do silêncio. Os significados da liberdade no sudoeste escravista. Brasil,
século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993. FRAGOSO, João, BICALHO, Maria Fernanda e GOUVÊA, Maria
201
Embora eu não trate de patriarcado, procurei desfazer alguns equívocos
relativos ao conceito, pois a historiografia local assevera que “as famílias
eram extremamente raras em Goiás”. Assim, não se trata de advogar em
causa do pernambucano – pois bem sabemos que ele não precisa disso –
mas refletir sobre os resultados de algumas interpretações sobre Casa
Grande & Senzala para a história das famílias em Goiás. Ao contrário de
Brügger, somente tangenciei as possibilidades da documentação,
enfatizando as diferenças entre concubinato e casamento, sobretudo para
demonstrar que nem um, nem outro tipo de relação inviabilizou a
existência de famílias. Objetivei demonstrar que existiram famílias, não
importando se numa relação legitimada pela Igreja ou não. (LEMKE, M.
2012, p.30)
Maria Lemke destaca que foi a partir dos discursos de Saint Hillaire e Johann Pohl6 sobre
a grande quantidade de relações concubinárias em Goiás e o fato delas serem opostas à
formação de famílias que se disseminou a ideia que não existiam relações familiares na região.
Citando a concepção de Gilberto Freyre7 de que a família é a instituição colonizadora do Brasil,
Maria Lemke sugere que ela também possa ser pensada para a realidade das minas, e que não
haja outra justificativa para explicar as extensas relações de compadrio e amizade, que também
eram presentes em Goiás.
Considerar que o conceito família se reduz apenas à união matrimonial reduz as relações
apenas àquelas regulamentadas pela Igreja. De forma que o concubinato, mesmo não sendo
bem visto pela Igreja, não significava, como pensava os viajantes, uma decadência moral,
devassidão e ausência de laços familiares e afetivos. Justamente porque o conceito de família
durante a colônia não se reduz a laços consanguíneos ou à efetivação matrimonial.
de Fátima (org). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). RJ, Civilização
Brasileira, 2001.
FLORENTINO, Manolo. GÓES, José Roberto. A paz nas senzalas: Famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de
Janeiro, c. 1790-c. 1850. São Paulo: Editora Unesp, 2017. FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento:
fortuna e família no cotidiano colonial. RJ Nova Fronteira, 1998.
6
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à Província de Goiás. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975; POHL, Johann E.
Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; 1976; apud:
7
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal. 20 ed. Rio de Janeiro: José Olympio: INL-MEC, 1980. apud
202
pertencimento, e até “avesso de família”. É importante salientar que a
família poderia ser constituída tanto via casamento quanto por
concubinato. Aliás, como demonstrarei, algumas mulheres que tiveram
relações concubinais se casaram posteriormente, indicando que, por se
tratar de uma relação normalizada, o concubinato não foi óbice ao
casamento. O problema não são os índices de concubinato naquela
sociedade. O problema está em assumir as assertivas dos viajantes como
verdadeiras; não distinguir as características de cada tipo de relação,
tomar o concubinato como sinônimo de ausência de valores morais, ou a
união legitimada como única possibilidade de relação familiar. (LEMKE,
M. 2012, p.112)
Além do aquilombamento, das insurgências e das fugas, a alforria também era uma
estratégia para adquirir liberdade. Ela poderia ser condicional ou incondicional. Quando era
incondicional, partia da vontade do proprietário, não havia necessidade de o escravo pagar
nada. Já na alforria de forma condicional eram impostas algumas restrições, como o pagamento
de pecúlio ou prestação de serviços a partir do valor de mercado do escravo, que nem sempre
era um preço realmente justo. (MATTOSO, 2003)
Durante o período colonial em Goiás, assim como no restante do país, muitos escravos se
utilizavam de estratégias para se livrar da condição de escravizado. Maria Lemke (2008) enfatiza
que assim como em outras regiões de mineração, os escravos de Goiás tinham mais chance de
ter autonomia com seus senhores, portanto, desde o início da colonização em Goiás já havia
forros. (LEMKE, 2008, p. 87) Alguns estudiosos consideravam que o fato de haver libertos neste
período se relacionava com uma suposta benevolência de seus senhores, perspectiva alinhada
com uma concepção freyreana da colonização. Constatação esta que, sendo analisada por
pesquisas mais recentes, não se confirma. A alforria na pia de batismo era muitas vezes ligada a
esta hipótese, porém, o que se percebe é que este tipo de alforria era rara, e que na maioria dos
casos era paga, à vista ou em parcelas (PAIVA, 2000, apud LEMKE, 2008). Já durante o período
imperial, a mineração aurífera estava em declínio e a agropecuária em ascensão. Assim, o
pagamento das alforrias era feito com ouro, gado ou prestação de serviços (LEITE, 2000, apud,
LEMKE, 2008). Portanto, estas estratégias de pagamento se mostravam em consonância com o
cenário econômico da época.
203
liberdade nem sempre eram violentas ou combativas. Cartas de alforria de mulheres escravas e
notícias de liberdade nos jornais revelam que muitas vezes a liberdade, condicionada ou não,
era justificada pelos “bons serviços prestados” e por ideais de humanidade, generosidade e
qualidades religiosas. Thiago F. Sant’Anna (2008, p.55) aponta duas leituras possíveis para estes
casos em cartas de alforria: a análise destas cartas revela muitas vezes um tom de “concessão”
de seus proprietários, e não o resultado de uma “conquista” da escrava. Também é possível
refletir sobre os termos que remetem aos “bons serviços prestados”, já que a obediência aos
senhores por parte da escrava poderia facilitar sua alforria.
Se comparada com outras localidades, a produção de jornais em Goiás não era tão
numerosa, mas apesar disso, ela oferece uma maneira de compreender o pensamento e o
cotidiano do passado. A partir dos jornais nota-se que a afirmação de que relações familiares
não existiam na província de Goiás não se sustenta. Laços familiares, afetividade, amizades e
compadrio eram comuns tanto entre sujeitos livres como entre escravos.
204
Correio Official de Goyaz (GO) - 1837 a
1921. 26 de agosto de 1876. n 66
205
inventário. Contudo, com declarações escritas da vontade da falecida, o juiz concede a liberdade
à escrava. O autor declara que com a baixa da mulher no inventário, ficará “gosando de plena
liberdade uma mulher que mais tarde poderá ser uma bôa mãe de família”. Em seguida, relata
que com o valor acumulado
para pagar pecúlio de escravos
e a cota distribuída ao
município, dava a esperança
de “libertar duas familias alem
de 2 ou 3 ingenuos menores
de 8 annos que por força da lei
devem acompanhar a mãe”.
206
Thiago F. Sant’Anna (2013, p.92) aponta que o processo abolicionista em Goiás foi
diferente do que em algumas outras regiões. Grupos políticos e as elites goianas se mostravam
em consonância com a política empregada pelo governo imperial: um movimento de
emancipação lento e gradual. A transição entre a mineração para a agropecuária já resultaria em
uma diminuição da população escrava antes mesmo da abolição do tráfico negreiro, situação
diferente de outras regiões.
207
“ O Publicador Goyano” – 1885 a 1889. Ed. 15. 7 de Junho de 1885
208
“ O Publicador Goyano” – 1885 a 1889. Ed. 38. 15 de Novembro de 1885
Questões
Por muito tempo a historiografia se concentrou em estudar questões políticas, econômicas ou
até grandes feitos e heróis do passado. Nesse sentido, pesquisas que tratavam sobre grupos
populares e minoritários eram praticamente inexistentes. Contudo, sabemos que nas últimas
décadas houveram rupturas na historiografia e novas fontes e sujeitos históricos que antes eram
esquecidos passaram a ser levados em consideração nos ambientes acadêmicos. No Brasil, esse
movimento de ruptura se deu por volta da década de 1980, inspirados pela historiografia
estrangeira, historiadores passaram a ter uma perspectiva de análise mais cultural e social
frente à história. Tendo em vista essa prerrogativa e os conhecimentos adquiridos, discorra
sobre:
209
1. O papel do escravo passou a ser entendido como um sujeito transformador da sociedade,
incluído em um jogo de resistências e acomodações. Quais foram as formas e
instrumentos utilizados pela população escrava para buscar melhores condições de vida
e/ou garantir a liberdade?
2. Como a historiografia brasileira recente sobre a escravidão tratou a formação de famílias
escravas?
210
Referências
ABREU, Martha; MATTOS, Hebe. Em torno das “Diretrizes curriculares nacionais para a
educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana”: uma conversa com historiadores. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 21, nº 41,
janeiro-junho de 2008
FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São Paulo. Ed.
Nacional. 1979.
211
__________. Trabalho, família e mobilidade social – notas do que os viajantes não viram em
Goiás. c. 1770 – c. 1847. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
História, 2012.
MATTOS, Hebe Maria. O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil. In:
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias. 2 ed.
Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2009.
MATTOSO, Kátia M. de Queiroz. Ser escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense. 2003
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São
Paulo no final do século XIX. São Paulo. Companhia das Letras. 1987.
TELLES, Lorena Féres da Silva. Amas de leite. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio
dos Santos. Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. 1ºed. São Paulo. Companhia
das Letras. 2018
Fontes
Bazar Volante : Publica-se todos os Domingos (RJ) - 1863 a 1866 -
http://memoria.bn.br/DocReader/714194/1
212
Correio Official de Goyaz (GO) - 1837 a 1921. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/167487/2327
213
CONSIDERAÇÕES FINAIS
214
historiador, questionando e problematizando fontes históricas, e assim construindo
conhecimento histórico e podendo agir ativamente na sociedade e na sua realidade.
215
Coleções didáticas
BOULOS JR, Alfredo. História, Sociedade & Cidadania: EF anos finais – manual do
professor. 4. ed. São Paulo: FTD, 2018. 4 v.
BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar História: das origens do homem à era digital – manual
do professor (EF: anos finais). 3. ed. São Paulo: Moderna, 2018. 4 v.
CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina; DOLHNIKOFF, Miriam. História: escola e
democracia – manual do professor (EF: anos finais). 1. ed. São Paulo: Moderna, 2019.
4v.
COTRIM, Gilberto. Historiar – EF: anos finais – manual do professor. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018. 4 v.
DIAS, Adriana Machado. Vontade de Saber: História – EF: anos finais – manual do
professor. 2. ed. São Paulo, 2018. 4 v.
FERNANDES, Ana Claudia (ed). Araribá Mais:: História – manual do professor (EF:
anos finais). 1. ed. São Paulo: Moderna, 2018. v. 4.
MINORELLI, Caroline Torres; CHIBA, Charles Hokiti Fukushigue. Convergências
história: EF anos finais – manual do professor. 2. ed. São Paulo: Edições SM, 2018. 4 v.
NEMI, Ana Lúcia Lana; REIS, Anderson Roberti dos; MOTOOKA, Débora Yumi.
Geração Alpha história: EF anos finais – manual do Professor. 2. ed. São Paulo: SM
Edições, 2018. 4 v.
SERIACOPI, Gislaine Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. Inspire história: EF
anos finais – manual do professor. 1. ed. São Paulo: FTD, 2018. 4 v.
VAINFAS, Ronaldo. FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela
Buono. História.doc: EF anos finais – manual do professor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2018. 4v.
216
Referências
ABUD, Kátia Maria. Ensino de história. São Paulo: CENGAGE Learning, 2010.
ALBERTI, Verena. Fontes. In: FERREIRA, Marieta Moraes; OLIVEIRA, Margarida
Dias de. Dicionário de ensino de História. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos.
4º ed. São Paulo. Cortez, 2011
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e história do Brasil. São Paulo: Contexto.
EDUSP. 1988.
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo.
Dominus Editora. 1965;
FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São
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regime na América portuguesa. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia
A. (Org.) Modos de governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séculos
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LE GOFF, J. História e memória; tradução Bernardo Leitão. Campinas, SP Editora da
UNICAMP, 1990.
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos Periódicos. In: PINSKY,
Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
MACHADO, Maria Helena P. T. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção
para a história social da escravidão. Revista Brasileira de História, v. 8, n. 16, p.
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MENDONÇA, Joseli Nunes. Cenas da Abolição: escravos e senhores no Parlamento e
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PEREIRA, Nilton Mullet; SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história?
Sobre o uso de fontes na sala de aula. Porto Alegre, Anos 90. Porto Alegre, v. 15, n. 28,
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QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. Escravidão negra em debate. In: FREITAS, Marcos
Cezar (Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e negro: jornais, escravos e cidadãos
em São Paulo no final do século XIX. São Paulo. Companhia das Letras. 1987.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão
racial no Brasil 1870-1930. São Paulo. Companhia das Letras, 1993. p. 208
217
SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos. Dicionário da escravidão e
liberdade: 50 textos críticos. 1ºed. São Paulo. Companhia das Letras. 2018
ROMERO, Sylvio. História da litteratura brasileira.2.ed., melhorada pelo autor. Rio
de Janeiro. H. Garnier, 1902
MARQUESE, Rafael de Bivar. As desventuras de um conceito: capitalismo histórico e
a historiografia sobre a escravidão brasileira. Revista História (São Paulo). 2013,
n.169, pp.223-253.
218
ANEXOS
219
ANEXO 2 - Araribá Mais História Manual do Professor - 7º ano – Página 161
220
ANEXO 3 -Araribá Mais História - Manual do Professor - 7º ano – Página 162
221
ANEXO 4 - Araribá Mais História - Manual do Professor - 7º ano – Página 222
222
ANEXO 5 - Araribá Mais História -Manual do Professor - 8º ano – Página 111
223
ANEXO 6 - Araribá Mais História - Manual do Professor 8º ano – Página 209
224
ANEXO 7 -Araribá Mais História - Manual do Professor - 8º ano - Página 209
225
ANEXO 8 - Araribá Mais História - Manual do Professor - 8º ano- Página 209
226
ANEXO 9 - Quadro de conteúdos - História: escola e democracia - Manual do
professor - Página XIV
227
ANEXO 10 – Ícones para o(a) professor(a) - História: escola e democracia -
Manual do Professor - Página 5.
228
ANEXO 12 - História: escola e democracia - Manual do professor - 7º ano -
Página 164
229
ANEXO 13 - História: escola e democracia - Manual do professor - 7º ano -
Página 165
230
ANEXO 14 - História: escola e democracia - Manual do professor - 7º ano -
Página 180
231
ANEXO 15 - História: escola e democracia - Manual do professor - 7º ano -
Página 181
232
ANEXO 16 – O Reino do Ngola – História: escola e democracia – 7º ano -
Página 187
233
ANEXO 17 – Ginga, a rainha dos reinos de Ndongo e Matamba – História: escola
e democracia – 7º ano - Página 194
234
ANEXO 18 – QUEBRA-CABEÇA – História: escola e democracia – 7º ano -
Página 196
235
ANEXO 19 – Leitura Complementar – História: escola e democracia - Manual do
Professor– 7º ano - Página 197
236
ANEXO 20 - História: escola e democracia – 7º ano - Página 200
237
ANEXO 21 - História: escola e democracia – 7º ano - Página 201
238
ANEXO 22 - Leitura Complementar - História: escola e democracia – 7º ano -
Página 206
239
ANEXO 23 – Abertura do Capítulo 12 - Historiar 7º ano - Página 188
240
ANEXO 24 – Abertura do Capítulo 12 - Historiar 7º ano - Página 189
241
ANEXO 25 – Outras Histórias - Irmandades Negras. Historiar - Página 237.
242
ANEXO 26 - Os legados da escravidão na América - Página 154 - Historiar - 8º
ano.
243
ANEXO 27 – Leitura e escrita em História - Vozes do passado - História
sociedade & cidadania - 7º ano - Página 199
244
ANEXO 28 – Boxe “ Para saber mais” - Homens de Luta - História sociedade &
cidadania - 8º ano - 2018 - Página 206 e 207.
245
246
ANEXO 29 – História sociedade & cidadania - 8º ano - 2018 - Página 209.
247
ANEXO 30 – História.doc - 8º ano Manual do professor - 2018 - Página 148.
248
ANEXO 31 – História.doc - 8º ano - 2018 - Página 180.
249
ANEXO 32 – História.doc - 8º ano - 2018 - Página 181.
250
ANEXO 34 – Teláris história.doc - 8º ano - Abertura da Unidade 4 - Manual do
Professor 2018 - Página 176 e 177.
251
252
ANEXO 35 – Teláris história.doc - 8º ano - Abertura da capítulo 11 - Manual do
Professor 2018 - Página 178.
253
ANEXO 36 – Teláris história.doc - 8º ano - Manual do Professor 2018 - Página
210
254
ANEXO 37 – Teláris história.doc - 8º ano - Manual do Professor 2018 - Página
234
255
ANEXO 38 – Teláris história.doc - 8º ano - Manual do Professor 2018 -”Vivendo
no tempo dos abolicionistas no Brasil” – Página 236 e 237
256
257
ANEXO 39 – Teláris história.doc - 8º ano - Manual do Professor – Página 238
258
ANEXO 40 – Teláris história.doc - 8º ano - Manual do Professor – Projeto 2º
Semestre Páginas 142, 143; 232 e 233.
259
260
261
262
ANEXO 41 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano -
Manual do Professor – Página XLIV
263
ANEXO 42 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano -
Manual do Professor – Refletindo sobre – Página 71
264
ANEXO 44 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano -
Manual do Professor – Páginas 138 e 139
265
ANEXO 44 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano -
Manual do Professor – Página 144.
266
ANEXO 46 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano -
Manual do Professor – Páginas 148 e 149
267
ANEXO 47 – Estudar História: das origens do homem à era digital - 7º ano - Manual do
Professor – Páginas 185
268
ANEXO 48 – Convergências História- 8º ano - Manual do Professor – Páginas 130 e
131
269
ANEXO 49– Vontade de Saber História- 7º ano - Manual do Professor – Páginas 172 e
173
270
ANEXO 50 – Vontade de Saber História - 7º ano - Manual do Professor – Páginas 174 e
175
271
272