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UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Gabriel Matheus Bernard Baum

O Fruto Proibido das Bibliotecas: Literatura de Temática LGBTQIA+ nas


Unidades de Informação Públicas e Escolares

Porto Alegre
2021
Gabriel Matheus Bernard Baum

O Fruto Proibido das Bibliotecas: Literatura de Temática LGBTQIA+ nas


Unidades de Informação Públicas e Escolares

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em
Biblioteconomia pela Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª. Ms. Marlise Maria
Giovanaz.

Porto Alegre
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Prof. Dr. Carlos André Bulhões
Vice-Reitora: Profa. Dra. Patrícia Pranke

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO


Diretora: Profa. Dra. Ana Maria de Moura
Vice-diretora: Profa. Dra. Vera Regina Schmitz

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO


Chefe: Profa. Dra. Rita do Carmo Ferreira Laipelt
Chefe Substituta: Profa. Dra. Samile Andréa de Souza Vanz

COMISSÃO DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA


Coordenadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Dias
Coordenadora Substituta: Profa. Ms. Helen Rose Flores de Flores

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação


Departamento de Ciências da Informação
Rua Ramiro Barcelos, 2705.
CEP: 90035-007
Tel.: (51) 3308.2856 / (51) 3308.5138

E-mail: dci@ufrgs.br
Gabriel Matheus Bernard Baum

O Fruto Proibido das Bibliotecas: Literatura de Temática LGBTQIA+ nas


Unidades de Informação Públicas e Escolares

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em
Biblioteconomia pela Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª. Ms. Marlise Maria
Giovanaz.

Aprovado em: ____/____/_______.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________
Prof.ª Ms. Marlise Maria Giovanaz

Orientadora

_______________________________________
Prof.ª Dra. Jussara Borges

Examinadora

_______________________________________
Prof.ª Ms. Ketlen Stueber

Examinadora
Agradecimentos

Agradeço às possibilidades que me foram dadas ao ingressar em uma


universidade pública de excelência como a UFRGS, lá encontrei ótimos professores,
e ao longo dessa trajetória conheci colegas e funcionários excelentes que me
acolheram e dividiram vários momentos importantes comigo.
Agradeço aos colegas e amigos que, inclusive, me ajudaram a divulgar a
pesquisa e ofereceram seu tempo para trocas que foram muito importantes ao
decorrer da minha trajetória, deixo o nome de alguns como Adacir Flores, Carla
Cristina, Ingrid Kelly, Lucas Cardones, Lavínia Muniz, Samara Borges, Rafaella
Bordin, Eduarda Achterberg, Helena Harthmann, Nathalia Acosta, Sara Vargas,
Victória Dala Brida, Lucas Freitas, Joanna de Freitas, Maurício Coelho, José
Maurício Rosa da Silva, Henrique Cardoso, Adrian Fernanda, Lueci da Silva Silveira,
Josiene Niesciur, Heloísa Gedel, Stheve Balbinotti, Cássia Palópolo, Carolina
Carboni, Luise Coutinho, Gerusa Machado, Andreza Vasconcelos e Roselaine Bicca.
Agradeço a minha família, meu pai Enio, minha mãe Eliana e irmã Indi, sou
um dos primeiros de minha geração que pôde cursar o ensino superior, apesar de
tudo foi através do aporte e compreensão que me foi possibilitado a conclusão de
meus estudos.
Agradeço à profa. Marlise Giovanaz que com muita dedicação e paciência
orientou este trabalho. Agradeço também ao aceite da banca examinadora, à profa.
Ketlen Stueber e à profa. Jussara Borges. É uma honra ter uma banca com
professoras tão boas e competentes.
Agradeço por estar vacinado e não ter nenhuma perda nesses dois anos de
pandemia, mesmo em um momento feliz de término da graduação, lembro que
muitas são as pessoas afetadas de maneira trágica pela pandemia, alunos que não
conseguiram se manter na universidade, a saúde mental abalada, ataques às
minorias, o aumento das injustiças e o grande número de mortos, assim deixo aqui
meus sentimentos às mais de 600 mil vítimas da covid19 e da política de morte em
nosso país.
Agradeço a todos LGBT que vieram antes de mim, àqueles que colaboraram
através de suas existências e foram RESISTÊNCIA, para que fossemos finalmente
vistos e ouvidos.
Achava belo, a essa época, ouvir um poeta
dizer que escrevia pela mesma razão por
que uma árvore dá frutos. Só bem mais
tarde viera a descobrir ser um embuste
aquela afetação: que o homem, por fora,
distinguia-se das árvores, e tinha de saber a
razão de seus frutos, cabendo-lhe escolher
os que haveria de dar, além de investigar a
quem se destinavam, nem sempre
oferecendo-os maduros, e sim podres, e até
envenenados.
(Osman Lins)

Muito prazer, eu sou a nova Eva


Filha das travas, obra das trevas
Não comi do fruto do que é bom e do que é
mal
Mas dichavei suas folhas e fumei a sua erva
Muito prazer, a nova Eva
(Linn da Quebrada e Badsista)
RESUMO

As bibliotecas públicas e escolares têm um relevante papel sociocultural, e


contribuem muito para a formação do aluno leitor e seu empoderamento enquanto
cidadão. Também contribuem para a democratização do acesso ao conhecimento.
Nesse sentido, procurou-se verificar se há presença de autores de literatura com
temática LGBTQIA+ nos espaços de informação públicos e escolares brasileiros.
Abordou também as possíveis práticas do profissional Bibliotecário nas bibliotecas
Públicas e Escolares. Buscou-se aprofundar o tema do presente trabalho, assim
como embasá-lo através da análise documental de políticas como o Programa
Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN). O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa de natureza
básica, com abordagem qualitativa, de caráter descritivo tendo como instrumentos
de pesquisa um questionário aplicado via Google Forms para bibliotecários e
profissionais que tenham contato com essa tipologia de biblioteca, para assim fazer
o levantamento de dados. A apresentação dos dados se fez através de gráficos
geradas pelo próprio Forms, e estão dispostos na redação, trazendo citações para
comentar estes resultados. O trabalho conclui que a presença da literatura
LGBTQIA+ nas bibliotecas públicas e escolares é limitada e seu potencial é pouco
explorado nas práticas dos profissionais que atuam nesses espaços. As diretrizes do
PCN e recomendações do PNLD quanto à diversidade, gênero e sexualidade
ajudam, mas não são garantias de unidades de informação e escolas mais diversas,
ainda, há uma necessidade de um olhar mais sensível na prática profissional dos
bibliotecários, assim como maior adesão à temática no currículo do curso.

Palavras-Chave: Bibliotecas. LGBTQIA+. Literatura.


ABSTRACT

Public libraries and school libraries play an important sociocultural role. They
contribute to the education of students and readers, as well to their empowerment as
citizens. They also contribute to the democratization of access to knowledge. In this
sense, we wanted to find out if there are brazilian authors in that public and school
information spaces. Approach librarian practices in public and school libraries. Seek
to deepen the theme of this work and support it through document analysis of state
programs and policies such as PNLD and PCN. This study is a basic research with
qualitative approach and descriptive nature. The research instrument used was a
questionnaire sent to librarians and professionals in contact with this type of library
through Google Forms to conduct the data collection. The presentation of the data
was done through graphs that were created using the Google Forms. They are
arranged in the writing and include citations to comment on these results. The study
concludes that the presence of LGBTQIA+ literature in public and school libraries is
limited and its potential is insufficiently explored in the practice of professionals
working in these fields. The PCN guidelines and PNLD recommendations on
diversity, gender and sexuality are helpful but do not guarantee more diversity in
information centers and schools. A sensitive look at librarian’s practice and greater
consideration of the topic in curricula are needed.

Keywords: Libraries. LGBTQIA+. Literature.


LISTA DE FIGURAS

Quadro 1: Divulgação do Questionário em Grupos de Facebook..............................41


Figura 1: Capa da 35ª edição do livro Infantojuvenil datado do período da ditadura.18
Figura 2: Capa da 1ª edição do livro sugerido no PNLD. .......................................... 35
Figura 3: Identificação quanto à sexualidade. ........................................................... 44
Figura 4: Identificação quanto ao gênero. ................................................................. 45
Figura 5: Autodeclaração em relação à cor ou raça/etnia. ........................................ 46
Figura 6: Atuação dos respondentes na Biblioteca Pública ou Escolar. .................... 47
Figura 7: Livro LGBTQIA+ no PNLD. ........................................................................ 48
Figura 8: Personagens Gays, Lésbicas e Bissexuais. ............................................... 49
Figura 9: Personagens Transgêneros, Travestis e Transexuais. .............................. 49
Figura 10: Personagens com famílias Homoparentais. ............................................. 50
Figura 11: Capa da 1ª edição do livro mais citado pelos respondentes. ................... 51
Figura 12: Atividades desenvolvidas. ........................................................................ 54
Figura 13: Questões de diversidade e sexualidade nas bibliotecas. ......................... 56
LISTA DE ABREVIATURAS

ABGLT - Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis,


Transexuais e Intersexos

ALA - American Library Association

BNCC - Base Nacional Comum Curricular

BTQIA+ - Bissexuais, Travestis, Transsexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais,


Assexuais e mais

GGB - Grupo Gay da Bahia

IFLA - Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e Instituições

LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais/Transgêneros

LGBTTTQIAP+ - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis,


Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais Panssexuais e mais

MEC - Ministério da Educação

OMS - Organização Mundial da Saúde

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PNLD – Programa Nacional do Livro e do Material Didático

PRAPEDI - Práticas pedagógicas do Colégio de Aplicação da UFRGS em diálogo

SEB - Secretaria de Educação Básica

TGEu - Transgender Europe

UFPB - Universidade Federal da Paraíba

UFPR - Universidade Federal do Paraná

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................14

2.1 LGBTQIA+........................................................................................................... 14

2.2 Livro, Leitura e as Práticas do Bibliotecário................................................... 27

2.3 PNDL e PCN........................................................................................................ 32

3 METODOLOGIA..................................................................................................... 39

4 ANÁLISE DOS DADOS.......................................................................................... 43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 58

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 62

APÊNDICE A – MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA SER APLICADO VIA


GOOGLE FORMS...................................................................................................... 67
11

1 INTRODUÇÃO

As bibliotecas públicas e escolares possuem como algumas de suas funções


a democratização do acesso à informação, a promoção da prática de leitura, o apoio
à educação e o desenvolvimento pessoal do usuário. O espaço da escola, assim
como o da biblioteca escolar, e biblioteca pública é destinado aos usuários ou
alunos, sem distinção de gênero, idade, condição física, social e entre outras. Esse
modelo de biblioteca para todos é condizente com o que é expresso nas diretrizes
do Manifesto da Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e
Instituições, juntamente com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (IFLA/Unesco) para bibliotecas públicas. O Brasil é um país com
grandes índices de LGBTfobia1 (lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia),
inclusive no ambiente escolar, sendo assim é que preciso ter um olhar mais atento
para as questões da comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Trânsgêneros, Transsexuais, Queer, Interssexuais, Assexuais, Panssexuais e mais
(LGBTTTQIAP+).
O presente trabalho aborda a presença do livro literário de temática LGBT nas
bibliotecas escolares e públicas, além das práticas do bibliotecário com relação ao
material em um espaço de ensino e aprendizagem. A partir de suas produções
literárias adentra-se nas especificidades da comunidade LGBTQIA+. Com base para
a ampliação do tema sobre diversidade e sexualidade na escola traz-se, também, o
Programa Nacional do Livro (PNLD) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
O problema de pesquisa deste trabalho de conclusão de curso é: há
presença de autores de literatura com temática LGBTQIA+ nos espaços de
informação públicos e escolares brasileiros?
Os objetivos, geral e específicos, deste trabalho norteiam e pretendem
responder o problema apresentado anteriormente. Como objetivo geral temos a

1 O termo LGBTfobia engloba outras violências sofridas pela comunidade, como a lesbofobia, a
bifobia e a transfobia, não restringindo-se apenas à homofobia, violência sofrida por homens
homossexuais. Consta no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 que será punida criminalmente
qualquer “discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. Em junho de 2019 o
STF definiu que ofender ou discriminar gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros está sujeito a
punição de um a três anos de prisão, prevista na Lei nº 7.716/89, que define os crimes resultantes
de preconceito de raça ou de cor. Assim como o crime de racismo, a LGBTfobia é crime inafiançável
e imprescritível.
12

investigação da presença de autores de literatura com temática LGBTQIA+ nos


espaços de informação das escolas e bibliotecas públicas brasileiras. Como
objetivos específicos apresentam-se:
a) Identificar autores de literatura com temática LGBTQIA+ no Brasil;
b) Explorar as diretrizes referentes à sexualidade e diversidade no PNLD e no
PCN, focando a literatura temática LGBTQIA+;
c) Verificar a presença dos livros de temática LGBTQIA+ nas bibliotecas
públicas e escolares;
d) Identificar as práticas do profissional bibliotecário em relação à literatura de
temática LGBTQIA+.
O tema deste trabalho, para o autor, faz-se do seu interesse de estudo,
quando, na sua experiência escolar, educação de origem pública, é apenas possível
explorar a falta da literatura LGBT, do seu incentivo, ou da sua mera exploração,
tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. A diversidade sexual e de
gênero foram assuntos que não se encontravam em pauta ou abertos para
discussão. Assim no decorrer da vida acadêmica e da idade adulta é que o assunto
tornou-se objeto de curiosidade, inquietação, empoderamento, identificação e
também de aceitação, de si e do outro, salienta-se que mesmo na universidade o
tema é pouco, ou nem um pouco trabalhado, visto apenas em cursos como os de
extensão universitária o Literatura na escola oferecido pelo PRAPEDI (Práticas
pedagógicas do CAp/UFRGS em diálogo) e o Diálogos sobre Gênero e Sexualidade
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), segundo experiência do próprio autor.
O primeiro capítulo do livro “O Direito de Ler” de Silvia Castrillón, expõe a
leitura como um direito do cidadão - um direito histórico e cultural - por conseguinte a
leitura também é um ato que pode formar cidadãos, é um ato emancipador.
Entretanto a literatura com temática LGBTQIA+ muitas vezes é desprezada, assim
como outras literaturas um tanto quanto marginalizadas, como a literatura de
temática negra e a literatura feminista, temáticas transversais à literatura LGBT. Tal
comunidade precisa ver-se representada nos livros de literatura, assim como o
restante da sociedade precisa ter contato com o que lhes é desconhecido. Também
é importante ressaltar que o silenciamento dessa comunidade é fruto da
agressividade com que a LGBTfobia foi construída e é presente na nossa sociedade,
13

principalmente no Brasil, e é muito importante que todas as ferramentas disponíveis


sejam usadas em seu combate.
Reforça-se que, como fim último para o qual existe, o Estado tem o dever de
promover o bem comum e o pleno desenvolvimento de todos, o que inclui a
participação, a humanização e a inserção do LGBT através de políticas públicas. Por
esse motivo é imprescindível que o bibliotecário que se encontra neste espaço
público conheça meios que possibilitem e amparem a biblioteca na mediação desse
tema um tanto quanto delicado.
Justifica-se a necessidade de identificar a presença do livro com temática
LGBTQIA+, e quais as práticas do bibliotecário na promoção da diversidade na
biblioteca onde atua, a fim de que toda a escola se mobilize contra a LGBTfobia e
trabalhe de maneira conjunta na criação de um ambiente seguro e acolhedor, que
promova a igualdade levando em conta e valorizando as diferenças. Através do PCN
e do PNLD pode ser possível garantir que a presença do livro de temática
LGBTQIA+, assim como as práticas do bibliotecário tenham um embasamento de
diretrizes nas quais orienta-se o trabalho de temas que ajudem na construção e
expansão do repertório do aluno baseado nas questões de diversidade, pluralidade
cultural, orientação sexual e encontro com as diferenças.
Para além desses motivos, ou afirmações, o presente trabalho também se faz
necessário para que a produção acadêmica da comunidade LGBTQIA+ continue
crescendo, e que assim a comunidade se mostre presente na Ciência da
Informação, pois ainda há algumas lacunas a serem preenchidas nos estudos dessa
temática na área.
Para melhor compreensão dos elementos que constituem a pesquisa, o
referencial teórico foi dividido em três seções. Na primeira seção abordamos
questões subjetivas da comunidade LGBTQIA+, sua literatura e alguns entraves
enfrentados. Na segunda seção trouxemos algumas questões referentes à literatura
como direito e as práticas do bibliotecário explorando sua potencialidade. Na
terceira, e última, seção do referencial teórico analisamos orientações quanto à
sexualidade, gênero e diversidade no PCN e PNLD, voltando-se para as obras
literárias de temática LGBT presentes no programa. Após, temos o capítulo de
metodologia, seguido pela análise dos dados, encerrando com as considerações
finais.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Com o intuito de atender os assuntos que compõem o tema do presente


estudo, como a literatura de temática LGBT, o programa nacional do livro, os
parâmetros curriculares, e as bibliotecas, esta seção subdivide-se em três
subseções, sendo elas "LGBTQIA+”, "Livro, Leitura e as Práticas do Bibliotecário" e
"PNLD e PCN".

2.1 LGBTQIA+

Oliveira (2017, p. 15-16) em sua tese de doutorado em educação na


Universidade Federal do Paraná (UFPR) destaca uma das origens do preconceito
contra a homossexualidade surgindo entre os séculos XI e XIV, com a criminalização
pela Igreja Cristã do pecado da sodomia, que não existia nos mil primeiros anos do
cristianismo, e englobava todo o sexo não reprodutivo, tendo como principal alvo as
relações entre homens ou entre mulheres. A autora ainda salienta que a o diabo era
representado por um anjo nu de cor preta, tal cor representando a maldade

Assim, as representações do Diabo, ora preto, ora bicha, ora preto e


bicha, me foram apresentadas muito cedo, interferindo na maneira
como eu me via e como eu me relacionava com outras pessoas. [...]
O Diabo também foi associado à homossexualidade, sendo seus
agentes os homossexuais, os gays afeminados, os viados e as
bichas condenados ao fogo do inferno. (OLIVEIRA, 2017 p. 16)

Segundo Nunes (1987) através das noções e mecanismos de controle -


patriarcais tradicionais de origem judaico cristã - culturais, de família, de trabalho, de
linguagem, e religiosas - é que temos uma naturalização do preconceito e do
conservadorismo, assim o autor questiona a educação desses corpos que estão
inseridos numa lógica binária e de uma “normalidade” sexual

Por que o homem se sente forte, seguro e poderoso e a mulher se


apresenta mais dócil, meiga ou temerosa? Não é porque isso seja
ʽnaturalʼ. É que o homem é educado para ser dominador, forte,
altruísta, e a mulher é educada para ser submissa e contida.
(NUNES,1987 p. 10)

Na lógica binária que determina um comportamento social e sexual de


homens e mulheres, quando homens se relacionam sexualmente acabam
associados à uma imagem feminina, segundo Rodrigues (2005)
15

O conceito de gênero como culturalmente construído, distinto do de


sexo, como naturalmente adquirido, formaram o par sobre o qual as
teorias feministas inicialmente se basearam para defender
perspectivas ʽdesnaturalizadorasʼ sob as quais se davam, no senso
comum, a associação do feminino com fragilidade ou submissão, e
que até hoje servem para justificar preconceitos. (RODRIGUES,
2005, p.179).

Ainda é possível verificar que a mulher, simplesmente por existir,


independentemente de sua sexualidade, sofre tal opressão.
No mesmo sentido segundo Bortoletto (2019) a sigla LGBTTTQIAP+ tem
evoluído com o passar do tempo num percurso de construção de identidade através
dos anos para abarcar e dar maior visibilidade à outras sexualidades e gêneros na
identidade da comunidade, seria o caso de lésbicas, gays, bissexuais, travestis,
transexuais, transgêneros, queers, intersexo, agêneros, assexuados e mais.

Se antes o movimento se resumia com a sigla GLS (gays, lésbicas e


simpatizantes), a sua evolução, que se viu percorrendo uma grande
linha na criação de diversas outros siglas e alteração das já antes
existentes, hoje propõe como principal ideologia a inclusão de todas
as sexualidades tidas como diferentes do padrão heterossexual
cisgênera. (BORTOLETTO, 2019, p. 09)

Em seu livro o escritor, também jornalista e dramaturgo, Trevisan (2018, p.


27) chama atenção para o retrato da mulher na mídia, em que ela é extremamente
sexualizada e posta como o padrão “natural” de preferência heterossexual do
homem, para ele isso “evidencia a existência de uma distorção tornada sistema que
realiza, em todos os lugares e horas, uma propaganda implacável do casal
heterossexual como cabeça da família, tornada base da sociedade.”
É importante ressaltar a naturalidade com que essas agressões estão
inseridas no cotidiano, e muitas vezes passam despercebidas. Devemos justamente
questionar o que já foi cristalizado e tido como correto para que assim percebamos o
que pode machucar o outro, é o que traz Louro (2017)

[...] nosso olhar deve se voltar especialmente para as práticas


cotidianas em que se envolvem todos os sujeitos. São, pois, as
práticas rotineiras e comuns, os gestos e as palavras banalizados
que precisam se tornar alvos de atenção renovada, de
questionamento e, em especial, de desconfiança. A tarefa mais
urgente talvez seja exatamente essa: desconfiar do que é tomado
como “natural” [...] Afinal, é “natural” que meninos e meninas se
separem na escola, para os trabalhos de grupos e para as filas? É
preciso aceitar que “naturalmente” a escolha dos brinquedos seja
diferenciada segundo o sexo? (LOURO, 2017, p. 63).
16

Bortoletto (2019, p. 7) ainda mostra que a crítica contra a visão negativa de


homossexualidade ganhou força a partir dos anos 1970, inserida nos movimentos de
oposição à ditadura, continuou durante a redemocratização, sofreu com estigmas de
promiscuidade durante a epidemia de HIV-aids e tomou como apoio a constituição
federal de 1988, assim como grupos internacionais de ativistas dos direitos
humanos. Então, em 1995 surge a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) como a primeira organização que luta
pela inclusão de políticas públicas no Brasil, que conforme Simões e Facchini (2009,
p. 18), “[...] seu portal no início de 2008, contava com 141 grupos afiliados e 62
organizações colaboradoras”. Tais grupos e organizações, ainda hoje, continuam
mobilizados, tanto na cobrança pela efetivação das poucas políticas públicas
conquistadas, quanto na cobrança por outras que ainda se fazem necessárias.
No posfácio do livro “Neca” de Amara Moira, travesti feminista e doutora em
teoria e crítica literária, Coelho (apud MOIRA 2021, p. 30-31) traz uma reflexão
acerca do “pajubá”, linguagem descrita como “socioleto das travesti” presente nos
poemas e contos de “Neca”, a autora questiona a legitimação e divulgação realizada
pelo ENEM em uma espécie de tradução normativa gramatical, e completa que
talvez nem tudo devesse ser traduzido, trazendo o estranhamento e o
distanciamento como formas de interação, mantendo assim o sentido de
pertencimento e singularidade das travestis e uma lembrança dessa existência
coletiva construída às margens, na rua. Essa possibilidade de manter a
singularidade dos sujeitos trazida pela escritora acaba por desestabilizar um
entendimento moralista absoluto de uma pretensão fantasiosa da comunicação
universal. A partir disso o trabalho não pretende esmiuçar, nem definir
completamente quem compõem a comunidade e o que é ser LGBT, basta que se
entendam as resistências e as lutas que se dão diante da imposição de papéis de
gêneros e sexuais e da exclusão historicamente construída contra tal comunidade.
Trevisan (2018, p. 25-34) relembra que no conto Nas matinês do Cinema Íris
escrito em 1986 por Aguinaldo Silva, no qual um personagem visita um cinema para
encontros sigilosos entre homens, e no banheiro encontra escrita a frase “O cine Íris
também é Brasil” em claro deboche aos conservadores que tratavam a
homossexualidade como algo antinacionalista e não natural. O autor também chama
atenção sobre a capacidade da comunidade LGBT em resistir aos sistemas que os
17

controlam, através da ironia, desmunhecação e riso, nutrindo um descaso pelas


normas de gênero e sexuais, distorcendo o uso da linguagem, pois não há
mecanismos culturais que “compartimentalizem de modo insuperável o desejo”.
Segundo Trevisan (2018, p. 21; 117) a comédia musical de Hemílio Borba
Filho, Sobrados e mocambos (1972) em um jogo de cenas absurdas em tom de
denúncia faz uma crítica aos conservadores através do tribunal do Santo Ofício do
século XVI, que em uma de suas vindas ao Brasil se choca com os atos de
“sodomia”, no entanto fecha os olhos para fome e para as injustiças sociais. O
jornalista ainda diz que as civilizações sempre mantiveram “reservatórios negativos
[...] como bodes expiatórios nos momentos de crise e mal-estar, quando então, ela
ataca esses bolsões tacitamente tolerados.” Esse trecho, bem poderia explicar, o
afinco com que uma parcela da sociedade ataca os gêneros e sexualidades que
discordam do que foi imposto como natural, visando o desaparecimento de
quaisquer que sejam os resquícios de rebeldia, que para tal a literatura pode ter um
importante papel.
De acordo com Trevisan (2018, p. 240) as primeiras referências
homossexuais que se conhecem na literatura brasileira vêm do poeta erótico-satírico
Gregório de Matos, e do poeta romântico Álvares de Azevedo, sua trajetória de vida
inspirou um dos contos do livro O Cobrador (1979) de Rubem Fonseca, no qual o
poeta travestido narra para sua irmã como foi substituí-la em um encontro com um
de seus pretendentes.
Segundo Trevisan (2018, p. 254-255) a autora Cassandra Rios foi um
fenômeno de massa no contexto da literatura de entretenimento, “fazendo páreo
com Jorge Amado na década de 1970” mas sofreu forte censura sob a ditadura
militar de 1964, toda sua obra foi proibida, totalizando mais de 50 volumes. A autora
trazia relações entre mulheres lésbicas como tema de suas obras, inclusive trazia
elementos sadomasoquistas. O autor ainda diz que Cassandra foi acusada “à
esquerda e à direita, de se comprazer em descrever cenas amorosas entre
lésbicas”. Ele ainda afirma que a autora também causava polêmica por declarar
coisas que nem o mais progressista dos intelectuais diria publicamente como a frase
“homossexualismo era uma forma especial de amar”. A escritora inclusive foi
condenada a pagar multas à polícia e justiça por atentado à moral e bons costumes,
18

era o caso de um de seus romances em que a protagonista lésbica era uma mulher
feliz e muito bem resolvida com sua sexualidade.
Ainda segundo o autor a partir de 1970, considerada geração marginal, “uma
nova geração de escritores [...] vertiam desibinadamente, na ficção, suas vivências,
seus afetos e suas angústias enquanto homossexuais”, é o caso do escritor
Aguinaldo Silva com o romance Primeira carta aos andrógenos (1975), livro com
diversos relatos, sendo um deles a história de um marinheiro e uma travesti, que
segundo “amam-se até à morte pelo fogo e sobem aos céus como dois anjos
redimidos pela força da carne”, assim fazendo referência ao sagrado e o profano. É
nessa mesma época que Trevisan (2018, p. 256) cita os contos de Caio Fernando
Abreu, nos quais o escritor apresenta “rapazes sonhadores [...] procurando amor na
cidade grande ou arrastando consigo uma sexualidade sem paz, descoberta às
vezes na figura de um sargento sádico, às vezes com ansiedade no corpo latejante
de um primo mais velho.”

Figura 1: Capa da 35ª edição do livro Infantojuvenil datado do período da


ditadura

Fonte: BOJUNGA, 2012.

Segundo Malta, Flexor e Costa (2020 p.4) os escritores “Adelaide Carraro,


Cassandra Rios e Plínio Matos, foram rotulados de imorais e/ou promotores da
desordem” e censurados durante o período da ditadura, como consequência as
obras do período driblavam a repressão através das figuras de linguagem, como se
referem os autores “nas entrelinhas”. Conforme a figura 1 os autores também trazem
19

A bolsa amarela de Lygia Bojunga, publicado pela primeira vez em 1976, segundo
eles o livro sobreviveu aos censores da ditadura militar, porém quatro décadas
depois, em 2019, sofreu tentativa de censura por ser considerado ideologia de
gênero. Segundo os autores o ato, ainda que não concretizado “descortina a latente
ameaça à livre expressão da atividade intelectual alicerçada no conservadorismo
nos dias de hoje”, ainda segundo eles o livro trata da história de

[...] uma menina reprimida, Raquel, que esconde em uma bolsa


amarela três vontades: a de ser grande, a de ser um garoto e a de
ser escritora. Na narrativa, tomam forma temas de cunho social,
como o machismo que estrutura a sociedade, a transgeneridade, o
aborto. O tom fantasioso da obra contribui para que essas questões
permaneçam implícitas, fazendo ver mais claramente as
transformações da menina, que ganha confiança e força para
enfrentar o mundo e as lições de uma vida democrática. (MALTA;
FLEXOR; COSTA, 2020, p.3)

Trevisan (2018, p. 256-257) ainda traz outras referências literárias


importantes, como Silviano Santiago, autor de contos muito sensíveis e do livro
Stella Manhattan (1985), que foi “um dos primeiros romances com uma protagonista
transexual, situada num nível social muito superior ao da média das travestis
brasileiras.” O dramaturgo também destaca que tal escritor advogava em favor da
“necessidade de uma literatura engajadamente guei2, fato raro na vida literária
brasileira.” Outra referência literária é a obra de Herbert Daniel, composta por um
livro autobiográfico chamado Passagem para o próximo sonho (1982), relato de sua
participação “na guerrilha brasileira e seus problemas enquanto homossexual que,
após fugir do Brasil durante a ditadura [...] acabou [...] como porteiro numa [...] sauna
guei de Paris”.
O autor também cita o escritor potiguar Paulo Augusto, que em 1977 com
muita irreverência escreveu os seguintes versos: “Ser bicha é um estado de espírito,
/ de choque, de sítio/ de graça. /É ter parte com demônio, / aprendiz de feiticeiro./ É
estar entre, no meio, ser meta-de/ outros homens.” Ainda cita o autor Glauco
Mattoso, que igualmente ao Paulo Augusto, empregava “um sarcasmo demolidor
que o reporta à tradição de Gregório de Matos''. Já na década de 1990 Trevisan
(2018, p. 258-259) traz a figura do escritor Valdo Motta como “revelação de uma
poética inspiração homoerótica” ousando abordar o “sagrado a partir da

2 Grafia usada pelo autor em seu próprio texto, pois a considera mais adequada às especificidades
gramaticais do português.
20

desmunhecação e do obsceno” questionando o que há de mais contraditório no


catolicismo, no cristianismo e no mundo contemporâneo, afrontando preconceitos.
De acordo com Trevisan (2018, p. 516) nos anos 1980 “Mara Herzer, que, na
contramão de todas as dificuldades como interna da Febem, tornou-se Anderson
Herzer” foi um “jovem trans-homen atormentado por seus anseios”, ainda em vida
ele escreveu um relato autobiográfico chamado A queda para o Alto, e em 1982
acabou cometendo suicídio. Herzer precisou fazer-se um homem e tinha para isso
apenas modelos não trans, sendo um pioneiro, e assim disputando os vários
sentidos de ser “homem”, moldando novos modelos de masculinidades que levam
em conta o próprio corpo, e não somente corpos alheios ao seu, segundo Moira
(2017 apud TREVISAN, 2018, p. 517)
Segundo Santos (2018, p.89) a escritora Clarice Lispector em 1974 lançava o
seu sétimo livro de contos chamado A via crucis do corpo, nele, pela primeira vez
emergiam “protagonistas (umas mais, outras menos) declaradamente
homossexuais”. Muraro (1970 apud SANTOS, 2018 p. 90) ainda lembra que a
década de 1970 trouxe profundas transformações ao Brasil, as principais seriam o
“advento da pílula anticoncepcional e o fortalecimento de movimentos pelos direitos
das mulheres foram fatores importantes para que, por meio da distinção entre sexo e
reprodução, se repensasse o que hoje se conhece por papéis de gênero.” Mudanças
essas que reverberaram na literatura de Clarice e na literatura da época, o autor
ainda frisa que o ano em que a obra foi publicada o país se encontrava em meio à
ditadura militar “extremamente rígida no controle da moral e dos costumes,
amparada inclusive por decretos e leis que proibiam obras de cunho erótico ou
pornográficas. Ainda segundo Santos (2018, p. 105) Clarice “consegue, como se vê
em poucas obras, retratar um relacionamento lésbico cujos elementos comuns aos
relacionamentos heteronormativos são externos” no sentido que a autora não usa a
dominação por meio de papéis de gênero heteronormativos para construir o
relacionamento das personagens, ainda segundo ele “Há, sim, a tentativa de viver
dentro do espaço tempo possível, um relacionamento que inove os modos de vida
socialmente, florescido sob o signo da equidade, da harmonia e do desejo.”
O próprio Trevisan (2018, p. 549) também escreveu uma literatura de
inspiração homoerótica, porém o autor lamenta o silêncio em torno do seu romance
chamado Vagas notícias de Melinha Marchiotti (1984), segundo ele o romance era
21

“uma experimentação queer antecipada” em que trabalhou “experimentações


linguísticas e recursos de toda ordem para buscar uma vertente homoerótica radical,
inclusive na possiblidade de uma pornografia expressa poeticamente.” O autor ainda
diz que a literatura LGBT encorpou de forma tímida, às vezes em um tom
denunciante, ou erotizada “toscamente” resultando em uma pobre expressão
criativa, porém havia exceções como a do romance de Luís Capucho, Cinema Orly
(1999), o autor o descreve como uma “Narrativa desenfreada, com abordagem
quase caótica do caos do desejo dentro de um cinema carioca de pegação,
Capucho alinhavou uma sucessão de transgressões eróticas”
Trevisan (2018, p. 531; 546) ainda destaca a autora Vange Leonel, com “seus
livros inflamados [...] As crônicas de Lésbicas (1999), seguidas por Grrrls: Garotas
iradas (2001), até o romance Balada para as meninas perdidas (2003), no qual a
escritora explicitamente escrevia histórias lesbianas sobre meninas ʽdonas de siʼ que
não ʽpediam licença a ninguém' [...]”. Mais adiante o jornalista também relembra o
monólogo Um porto para Elizabeth (2001) de Marta Góes, cujo texto segundo ele
esquadrinhou “o estranhamento da poeta americana no Brasil, seu alcoolismo quase
suicida e a contraparte amorosa de sua relação, nem sempre tranquila, com Lota
Macedo Soares.”
O autor também comenta o surgimento de experimentações literárias LGBT
comuns na internet, muitas vezes anônimas e despudoradas que se multiplicavam,
trazendo assim uma vertente transgressiva do amor entre mulheres, reivindicando
que a mulher tome posse de si mesma, do seu corpo e dos seus prazeres, o autor
cita os poemas de Alessandra Safra, e de Marina Moura

Passado esse período inicial, no século XXI abriu-se caminho para


uma produção que veio priorizando a expressividade criativa, aliada
a uma abordagem temática mais destemida e segura de si.
Superando instrumentalizações reducionistas, uma nova geração de
escritores/as abriu portas inusitadas de expressão contemporânea.
(TREVISAN, 2018, p. 549)

Trevisan (2018, p. 551-552) também traz escritores de ficção homossexual


masculina, no caso, Bernardo Carvalho que segundo ele “problematizava e
questionava a natureza da paixão e do amor”; Nelson Luiz de Carvalho com seu livro
O terceiro Travesseiro (1998); Marcelino Freire com o livro de contos Balé Ralé
(2003) e Nossos ossos (2013), história de um homem apaixonado por um michê.
22

Trevisan (2018, p. 252-253) também relembra escritores como Lima Trindade, com
alguns contos homoeróticos e os escritores baianos Állex Leilla e Marcus Vinícius
Rodrigues, que segundo o autor apresentam “um olhar particular sobre o erotismo
feminino e masculino” O autor ainda destaca o autor Victor Heringer com o romance
O amor dos homens avulsos (2016) obra cujo “erotismo homossexual comparece de
forma invasiva, quase mórbida, nas lembranças de um velho.” Destaca também, a
premiada autora Natalia Borges Polesso com Amora (2015), através de seus contos
muito bem construídos ela aborda o cotidiano lésbico com “vigor rítmico e fina ironia,
mesmo quando melancólicos”. O autor ainda encerra com o livro E se eu fosse puta
(2016) da escritora Amara Moira, dizendo tratar-se de “uma autoficção
surpreendente pela elegância estilística e pelo desnudamento radical de sua
sexualidade avessa aos padrões bem-comportados.”
Apesar de trazer extensas referências literárias Trevisan (2018, p. 348) deixa
claro que o mercado editorial brasileiro foi se abrindo lentamente para a temática
LGBT, e só a partir do ano de 2014 é que foi possível encontrar livros destinados
aos jovens, estando ainda tais produções em um número bem menor do que se
comparadas com as produções juvenis de temática LGBT em países como os
Estados Unidos. No livro de contos e depoimentos intitulado Por que eu não consigo
gostar dele/dela? (2020) reúnem-se várias personalidades ligadas à literatura, como
escritores, tradutores, editores, bibliotecários e professores que refletem sobre a
temática LGBT na literatura, um dos depoimentos, o trecho abaixo, resume bastante
bem o depoimento da maioria dos envolvidos que ressaltam a importância de tal
temática, ainda mais no âmbito escolar:

É urgentemente necessário que jovens LGBTQIA+ se encontrem nos


livros para que não achem que estão fazendo algo errado, para que
não sintam que precisam se esconder. Da mesma forma é preciso
que os jovens não inseridos no grupo LGBTQIA+ também encontrem
tais personagens na literatura pois eles estão no mundo, são gente
como eles. [...] A Escócia agora inclui LGBTQIA+ no currículo
escolar, para que este reflita os alunos que o aprendem. [...] Para
que toda e qualquer pessoa seja representada e aceita [...] a
literatura há de ajudar a criar esse mundo onde ninguém mais se
sentirá excluído, errado, nem vítima de preconceito. (KEDHI apud
RAMOS; SCHIMENECK, 2020, p. 32)

Malta, Flexor e Costa (2020, p.2) citam os universos literários e a literatura


infantojuvenil como um “terreno frutífero para a transposição de sentidos,
23

possibilitando a germinação de ideias contra hegemônicas em sua pluralidade”. Os


autores apontam a relação “intrínseca entre escola e Igreja” como norte, ainda, de
grande parte da produção infantojuvenil de literatura brasileira, essa relação
ocasiona a resistência da ocupação e aparição de alguns temas sociais em tais
livros, além do forte teor utilitário e moralizante. Ainda segundo os autores "as
narrativas que discutem orientação sexual e expressões não binárias de gênero
esbarram em obstáculos, especialmente para compor as páginas destinadas a
crianças e a adolescentes.” Como exemplo dos esbarrões, os autores relembram o
ato de censura de algumas obras com conteúdo LGBT+ em 2019 que foram
consideradas impróprias por Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro na época.
Tal acontecimento ganhou grandes proporções quando o influenciador digital Felipe
Neto, com grande revolta, resolveu distribuir gratuitamente os livros da Bienal que
tratassem da temática LGBT. Segundo Malta, Flexor e Costa (2020, p.2) um dos
títulos distribuídos era justamente um que através da ficção mostraria a realidade e a
ascensão do conservadorismo, Ninguém Nasce Herói do escritor Eric Novello se
passa num Brasil repressor liderado por fundamentalistas religiosos que
“consideram o simples ato de distribuir livros nas ruas um sinal de rebeldia contra o
sistema.”
Os autores ainda citam outro caso de censura em 2019 o do livro
Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira, originado através da
exposição de mesmo nome que também foi censurada em Porto Alegre no ano de
2017, segundo Mendonça (2017 apud MALTA; FLEXOR; COSTA, 2020, p.4) o livro
foi “suprimido [...] do acervo das bibliotecas públicas”. Trevisan (2018, p. 475-476)
ainda traz outras informações interessantes sobre a exposição, segundo o mesmo o
caráter “transgressivo” da mostra era exposto sob obras como “Travesti da Lambada
e Deusa das Águas de Bia Leite, que apresentava com jocosidade irônica duas
figuras infantis expressamente ‘viadas’, numa referência ao bullying sofrido por
muitas crianças afeminadas”. O autor ainda destaca que um mês após a abertura da
exposição no Santander Cultural iniciaram-se protestos em frente ao prédio, com
reações exacerbadas em desaprovação à mostra, relatos de agressão aos visitantes
e pichações nos bancos Santander, acusando-os de pedofilia e zoofilia.
Em artigo publicado por Bortoletto (2019, p. 5-6), o autor busca mostrar o
histórico do desenvolvimento dos movimentos LGBTQIA+ a partir dos anos 1970
24

através das suas múltiplas identidades construídas a partir das suas diferenças, e
ainda “vivências e experiências sociais, políticas e psicológicas de indivíduos que
dessa comunidade fazem parte”. O autor ainda diz que as sexualidades que diferem
da lógica binária não são aceitas e tratadas com naturalidade. Ainda segundo
Bortoletto (2019, p. 6) “a homofobia tem consequências sociais, psicológicas e
físicas que acrescentam na construção da identidade pessoal de cada indivíduo que
a comete e de quem é vítima dela.”
O autor através de um jogo de palavras diz que os BTQIA+ são colocados às
sombras do L e do G, “para alguns a comunidade é um espaço de acolhimento, para
outros mostra-se como um espaço onde também há de se tentar sobreviver.”
(BORTOLETTO, 2019, p. 20). Também traz a questão de que a comunidade
LGBTQIA+ é muito grande e diversa, contando com indivíduos únicos que travam
lutas individuais, lembra que mesmo em um lugar de diversidade a comunidade tem
o homem branco gay como o rosto mais popular, seguido pela mulher lésbica, todos
dentro de padrões, seria essa a rara representação nas mídias, é raro ou inexistente
as “retratações midiáticas de pessoas bissexuais, travestis, transexuais,
transgêneros, e mais raras ainda, senão inexistentes, são as das pessoas queers,
intersex, assexuados ou agêneros. (BORTOLETTO, 2019, p. 18)”
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB) “a cada 26 horas um LGBT+ é
assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o que confirma o Brasil como
campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.” (GGB, 2019, p. 13).
O país ainda tem um longo caminho a percorrer contra essas violências,
Bortoletto (2019, p. 7-8) também comprova isso através da sua pesquisa e traz
dados da organização não governamental chamada Transgender Europe (TGEu)
que monitora a morte de pessoas transgêneras e travestis no mundo todo, segundo
a pesquisa “o Brasil [...] lidera o ranking de país que mais mata transexuais e
travestis, sendo 868 mortes nos últimos oito anos”. O autor também traz dados da
ABGLT que comprovam que 73% de brasileiros na faixa etária dos 13 aos 21 anos
já sofreram algum tipo de homofobia na escola devido à sua orientação sexual.
Para Jesus (2012, p. 9) as pessoas conhecidas pela palavra transgênero,
transexuais e as travestis, adotam certos papeis de gênero que discordam do que
seria esperado de um determinado sexo (biológico) e isso é simplesmente uma
questão de identidade, e não um transtorno de saúde, pois somente em 2019 a
25

Organização Mundial da Saúde (OMS) removeu o “transtorno de gênero” da sua


classificação de doenças, o que reforça a resolução federal do conselho de
Psicologia já existente em 2018.
Sexo é biológico, gênero é social, construído pelas diferentes
culturas. E o gênero vai além do sexo: O que importa, na definição
do que é ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou a
conformação genital, mas a autopercepção e a forma como a pessoa
se expressa socialmente. (JESUS, 2012, p. 9)

Para Santos (2006 apud SILVA, 2018, p. 16) é muito complicado definir a
teoria queer solidificando seu conceito de forma a hegemonizá-la e normalizá-la.
Para Souza (2015 apud SILVA, 2018, p. 17) são conjuntos de conceitos de
especulações intelectuais. Jesus (2012) traz o queer como quem transita entre os
gêneros, é andrógeno. De forma muito simplificada, a identidade sexual é biológica,
a identidade de gênero é uma construção social, a orientação sexual se refere a
apaixonar-se romanticamente e fisicamente, o comportamento sexual somente à
experiência sexual.
A existência da comunidade é marcada por muita luta na tentativa da garantia
dos seus direitos, e alguns casos de sua sobrevivência ou existência, é o que
comprova uma pesquisa bibliométrica para verificar a temática social LGBTQIA+ na
comunicação científica na ciência da informação, nela foi identificado por Ferreira,
Viana e Oliveira (2020) que os assuntos “homofobia”, “preconceito” e “violência”
aparecem de maneira recorrente, o que sugere que a questão da violência é ainda
muito presente no cotidiano desse segmento, o que impactou diretamente as
pesquisas desenvolvidas. As autoras ainda pesquisam o aparecimento das
bibliotecas públicas em relação ao tema, a partir de uma certa recorrência elas ainda
afirmam que:
Trazer a Biblioteca Pública à tona significa reconhecer sua
contribuição para o desenvolvimento local e seu papel como agente
de transformação social. Compreende-se que, a partir do momento
que ela promove o acesso democrático ao livro, à leitura e à cultura,
contribui para a formação de cidadãos mais bem informados, críticos
e autônomos. (FERREIRA; VIANA; OLIVEIRA, 2020, p. 97)

A partir dos trechos acima é possível identificar o importante papel social das
bibliotecas públicas, e a crescente necessidade de trazer a temática LGBTQIA+ para
as práticas da biblioteca através da literatura e de atividades, para que assim haja
26

uma maior inclusão nesses espaços, e até a diminuição da violência através da


conscientização.
Quando se procura literatura LGBTQIA+ são encontrados muitos livros
digitais, porém existem algumas editoras que publicam livros físicos com certa
frequência, ou até com exclusividade, algumas delas são: Vira Letra; Pade; Taverna;
Bazar do Tempo; Brejeira Malagueta; Nemesis; Urutau; Rico; Devires.
Provavelmente ainda há dificuldade de publicação, principalmente tratando-se de
grandes editoras, isso não ocorre somente por alguma crise econômica enfrentada,
mas é também fruto da opressão sofrida num contexto social e cultural, da criação
de uma imagem negativa e de um silenciamento:

A identidade é sempre uma negociação entre uma "auto-identidade"


definida por si mesma e uma “hetero-identidade” – definida pelos
outros. A situação relacional é que vai legitimar de forma positiva ou
negativa, a auto-identidade. Ou seja, numa relação de força entre os
grupos, a auto-identidade fica em desvantagem quando a hetero-
identidade estigmatiza o grupo dominado. Essa estigmatização dos
grupos minoritários leva tais grupos a um recolhimento para si de
uma identidade negativa. Desenvolve-se entre eles um fenômeno de
desprezo por si mesmo que está ligado à interiorização de uma
imagem construída pelos outros (hetero-identidade). (COUCHE,
1999 apud SOUZA, [2005?], p. 5).

Ainda relativo ao controle da literatura, Castro (2017) reflete sobre a literatura


brasileira e a formação do cânone, apesar dessa literatura ser marginalizada numa
tentativa de silenciamento, ela já existia, inclusive o autor cita o romance Bom-
Crioulo de Adolfo Caminha como um dos possíveis primeiros romances a tratar da
homossexualidade, no ano de 1895.

[...] nos deparamos com grande quantidade de escritos sob uma


ótica masculinizada, quase não se percebe publicações de grupos
denominados minoritários. A escrita feminina durante longos anos
esteve à margem do que se considerava uma literatura brasileira de
qualidade e digna de fazer parte do conjunto de publicações
canônicas. Da mesma forma, outros grupos sofreram com essa
marginalização na literatura brasileira – índios, negros e
homossexuais, sempre que representados na literatura, partiam de
um olhar masculino, branco e heterossexual. (CASTRO, 2017, p. 2)

Traz-se como exemplo dessa existência um livro clássico como o de Adolfo


Caminha que no século XIX já abordava a temática. Filho (2019) conceitua a
literatura contemporânea como aquela que não só representa o atual, mas à que
também é composta por “textos que dialoguem com seu próprio tempo a partir de
27

um viés não convencional, diferenciando, fornecendo novos meios de enxergar a


realidade.” (FILHO, 2019, p. 58). Nessa temática literária a existência de livros é
mais abundante, temos livros como Olívia tem dois Papais de Márcia Leite, Contos
Transantropológicos de Atena Beauvoir, Um Milhão de Finais Felizes de Vitor
Martins e entre outros. Porém, Filho (2019) afirma que o romance brasileiro
contemporâneo tem seu lugar ceifado no ensino básico em prol da valorização de
obras clássicas já consolidadas e sistematizadas na organização curricular.
Pode-se notar que há literatura clássica e há literatura contemporânea de
temática LGBTQIA+, e ambas podem ser introduzidas no espaço escolar. Desta
forma, o próximo capítulo irá abordar as possíveis práticas do bibliotecário em
relação a esse tipo de literatura na biblioteca escolar.

2.2 Livro, Leitura e as Práticas do Bibliotecário

Segundo Martins (1994) a leitura passa por três fases, apesar da autora ter
explicado cada uma das fases separadamente, ela deixa claro que em alguns casos
as fases podem não acontecer, ou acontecem ao mesmo tempo. A primeira fase de
leitura é a sensorial, aquela na qual usam-se os sentidos, através da exploração das
cores, cheiros, volumes, inclusive é o tipo de leitura que começa logo na infância e é
o que pode motivar para o ato da concretização da leitura do texto escrito. A
segunda é a leitura emocional, a autora define essa fase como a que se liberam
prazeres ou angústias, num processo de autoidentificação. Martins também fala que
esse tipo de leitura é tido como escapista, apesar de carregar um viés negativo,
esse escapismo pode significar uma fuga para outras realidades e abertura de novos
horizontes, além do relaxamento para reelaborar sentimentos difíceis de se lidar. E
por fim, a última fase é a leitura racional, aquela que é definida pela capacidade do
leitor questionar e dar sentido à sua individualidade e ao universo, alargando as
possibilidades de leitura de um texto através da realidade social, uma grande
diferença da leitura emocional é dialogar com o texto sem se deixar se envolver
meramente por motivos pessoais.
Martins (1994, p. 47) também traz o poder dos possuidores da palavra escrita
e do controle que as autoridades tentam exercer sobre o livro, “E há quem
literalmente perdeu a cabeça por tê-los escrito. Mas não são apenas religiosos os
pretextos de proibição. Os governos autoritários têm sido os maiores censores”
28

Candido (2011) traz a questão do direito à erudição, que está aqui


representada na figura do livro, fazendo um paralelo com os tipos de leitura, Cândido
porém acredita que a sociedade precise ser mais igualitária para que todos possam
acessar diferentes leituras e relembra o bom desempenho, na tentativa de remediar
a desigualdade, de Mário de Andrade na chefia do Departamento de Cultura de São
Paulo de 1935 a 1938, ressaltando a importância que o mesmo deu para a cultura
popular, pois o escritor entendia que as criações populares eram fonte das eruditas,
e que a arte vinha do povo.

Em nossa sociedade há fruição segundo as classes na medida em


que um homem do povo está praticamente privado da possibilidade
de conhecer e aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mário de
Andrade. Para ele, ficam a leitura de massa, o folclore, a sabedoria
espontânea, a canção popular, o provérbio. Estas modalidades são
nobres, mas é grave considerá-las como suficientes para a grande
maioria que, devido à pobreza e à ignorância, é impedida de chegar
às obras eruditas [...] para que a literatura chamada erudita deixe de
ser privilégio de pequenos grupos, é preciso que a organização da
sociedade seja feita de maneira a garantir uma distribuição equitativa
de bens [...] e neste domínio a situação é dramática em países como
o Brasil, onde a maioria da população é analfabeta [...] e vive em
condições que não permitem a margem de lazer indispensável à
leitura” (CANDIDO, 2011, p. 189).

Ainda segundo Candido (2011, p. 187) “a partir do período romântico, a


narrativa desenvolveu cada vez mais o lado social, como aconteceu no Naturalismo,
que timbrou em tomar como personagens centrais o operário, o camponês, o
pequeno artesão, o desvalido, a prostituta, o discriminado em geral.” É através
desses personagens reais que se têm uma literatura mais diversa, que possa tratar
vários aspectos da sociedade.
A bibliotecária colombiana, Silvia Castrillón (2011, p.16) em suas reflexões
parte da “convicção de que a leitura não é boa nem ruim em si mesma, de que ela é
um direito histórico e cultural e, portanto, político, que deve situar-se no contexto em
que ocorre.” A pesquisadora ainda cita a leitura como poder de exclusão, pois, por
exemplo, na idade média a igreja controlava os textos sagrados, já atualmente os
interesses econômicos é que controlam essa leitura. A autora deixa claro que há
tempos têm-se campanhas, planos e projetos para promover a leitura, mas são
praticados por quem nunca se importou com o bem-estar dos mais pobres, ou dos
que estão às margens, obviamente sempre há interesse num fortalecimento e
29

manutenção das relações de poder. O desenvolvimento e sua riqueza material não,


necessariamente, corresponde à riqueza e à diversidade cultural, quem detém o
poder e os meios econômicos pode vir a destruí-las.
Para Malta, Flexor e Costa (2020) as relações de poder do livro e da leitura
podem ser delimitadas a partir da promoção das potencialidades de capacidade
crítica e emancipação social, quase que, antagonizadas pela busca da verdade, e
universalidade dos saberes, colaborando assim para a manutenção do sistema
hegemônico, refutando as interpretações plurais. Malta, Flexor e Costa (2020, p.2)
apontam que “a censura ocupou as páginas da história para evitar a palavra escrita
antagônica, materializada de diversas formas, mas invariavelmente promovendo
violência simbólica.” Os autores ainda apontam “a produção literária polissêmica,
capaz de driblar os censores mais vorazes” como efeito rebote em tempos de
repressão, foi o caso da ditadura brasileira em 1964. Os autores ainda concluem:

O livro e a literatura, então, configuram-se como produções culturais


que, ao passo que promovem a emancipação e a criticidade do leitor,
criam também enquadramentos e fronteiras sociais, sendo alvo de
censura e de políticas públicas sugestivas de formas de pensar,
sentir, agir. (MALTA; FLEXOR; COSTA, 2020, p.3)

Muito semelhante às reflexões trazidas nos dos dois parágrafos anteriores, as


autoras Buendgens e Carvalho (2016) destacam a literatura no Brasil como
formadora, porém num aspecto negativo, silenciando o que se têm por ruim na
sociedade como a sexualidade, os conflitos de classe, as questões de diferença
racial, ou até a morte.
Assim como aconteceu com a literatura infantil na Europa, no Brasil a
literatura para crianças também foi utilizada na formação de
cidadãos, como divulgadora de valores ideológicos e moralizantes.
Com o desenvolvimento das cidades, era necessário transformar
uma sociedade rural em urbana e a escola teve papel fundamental
na consolidação do projeto de um Brasil moderno. Essa intenção
educativa acabou por levar, desde os contos clássicos, a
silenciamentos nos livros infantis a respeito das discussões acerca
das diferenças, de conflitos e de interesses dos jogos de poder [...]
(BUENDGENS; CARVALHO, 2016, p. 593).

As autoras mostram o lado de uma literatura pasteurizada, muito didática, que


não abre espaço para questionamentos, e acaba por trazer uma visão adulta com
uma lista de regras a serem seguidas, o que distingue esse texto didático e o texto
literário segundo as autoras é que “o texto literário deixa brechas para serem
30

preenchidas pelas crianças, num movimento que permite ao leitor aprender, refletir,
comparar, questionar, investigar, transformar e adquirir cultura, ao entrar em contato
com as mais diferentes visões de mundo.”
Em artigo publicado em revista, Corrêa et al. (2002) apontam a importância do
bibliotecário e do caráter essencial da biblioteca na escola. Além disso as
bibliografias especializadas, respectivamente, American Library Association (ALA,
1999); Organização dos Estados Americanos (1985); Hillesheim e Fachin (1999)
explicitam algumas funções do profissional bibliotecário, abaixo foram elencadas as
que se relacionam com o cumprimento do currículo e das políticas nacionais, assim
como as que auxiliam a leitura e formação do leitor, são elas:

● orientar e estimular os alunos em todos os aspectos da leitura, para que


encontrem prazer e satisfação crescente, avaliando-a e criticando;
● contribuir para a formação de um leitor autônomo em sua capacidade de
seleção, crítico e criativo em relação com a leitura;
● participar das atividades da escola, oferecendo-lhes serviços, bem como
desempenhar o seu papel na operacionalização das propostas curriculares;
● contribuir para o cumprimento dos objetivos formulados pelo sistema
educacional e expressos através das políticas nacionais;
● oferecer aos professores o material necessário à implementação de seus
currículos escolares.

Essas atribuições, conforme as autoras, estão em consonância com as


diretrizes do PNLD e do PCN quando buscam assegurá-las, também é possível que
através do incentivo à leitura crítica e do desenvolvimento da criatividade do aluno
seja possível encontrar um ambiente menos desigual e mais acolhedor.
Martins, Muszkat Menezes e Trevisol Neto (2016) trazem em uma pesquisa
feita com bibliotecários de escolas de Recife a importância de existir material
bibliográfico sobre gênero e sexualidade nas escolas, para que eles sejam usados
para esclarecer dúvidas, eliminar estereótipos, promover discussões e cessar
preconceitos.
[...] em seus diversos ambientes, momentos e situações e que de
diversas maneiras a escola interfere na construção da sexualidade
das/os adolescentes, seja pelo simples fato de promover o contato e
a interação entre as/os estudantes, seja incluindo conteúdos e
desenvolvendo estratégias de ensino que visem problematizar
31

posturas, crenças, mitos e tabus relativos à sexualidade ou, ainda,


permitindo que as/os educandas/os se expressem sobre o tema
manifestando suas inquietações. (RABELLO, 2012 p. 65 apud
MARTINS; MUSZKAT MENEZES; TREVISOL NETO, 2016, p. 95).

Os autores ainda trazem como resultado da pesquisa a dificuldade de acesso,


ou a inexistência de obras dessa temática e a timidez na procura de temas como
gênero, sexo, orientação sexual e homossexualidade. A pesquisa também
apresentou as atividades desenvolvidas pelos profissionais em relação ao tema, dos
15 entrevistados, apenas cinco haviam feito algum tipo de atividade, entre elas a
promoção de discussões, campanhas ou atividades de conscientização, de maneira
lúdica, assim como seleção e exposição de materiais, leitura nos anos iniciais,
criação de catálogos de acesso ao professor, contação de histórias, pesquisas sobre
aspectos históricos, produção de textos e tirinhas, elaboração de trabalhos
científicos sobre sexualidade e entre outros.
Os pesquisadores chamam atenção para alguns profissionais que achavam
que não tinham responsabilidade na execução dessas atividades, ou que não eram
procurados pelos professores para isso, Martins, Muszkat Menezes e Trevisol Neto
(2016) esclarecem que o bibliotecário não deve se eximir da participação do ensino
do aluno. Também listam as práticas que acreditam que o bibliotecário possa
desenvolver com a temática de gênero e sexualidade na escola, são elas:

● Realizar a hora do conto com títulos que abordem a temática para as


crianças;
● Desenvolver exposição de livros que abordem a temática quando for o dia da
família na escola, pois assim, integraria alunos, professores e pais;
● Organizar juntamente com a comunidade escolar uma semana temática
incluindo, depoimentos de alunos, professores e pais, com palestras,
exibições de filmes e documentários no qual seja possível dialogar sobre a
temática;
● Propor um clube de leitura que contemple títulos que abordem a temática de
sexualidade e gênero, possibilitando discutir questões relacionadas;
● Expor textos produzidos (em parceria com professores) pelos alunos no qual
possam discutir assuntos relacionados à temática.
32

A diversidade na leitura através da literatura auxilia nas questões de respeito


às diferenças com a intenção de melhoria do convívio, na autoestima do leitor, e é
uma prática educacional emancipatória, segundo Freire (1996) quem lê o mundo
acaba lendo melhor o texto, e vice-versa, por mais que se pense na leitura muitas
vezes como uma maneira de distração ou fuga da realidade, é nela que podemos
encontrar as expressões da nossa sociedade em diversos contextos.

2.3 PNDL e PCN

O edital do Plano Nacional do Livro Literário e do Livro Didático de 20203


(PNDL) traz expresso como objetivo convocar editores para o processo de aquisição
de obras didáticas e literárias, essas obras serão destinadas aos alunos e
professores das escolas de educação básica pública conforme certas condições e
especificações, neste capítulo pretende-se resumir e explicar do que trata o edital e
o guia do PNDL tratando-se do livro literário e das questões da escolha segundo os
critérios que atravessem questões LGBTQIA+ como temática literária.
O anexo IV do edital de Convocação do PNLD nos critérios de avaliação 2.1.2
intitulado “Observância aos princípios éticos necessários à construção da cidadania
e ao convívio social republicano”, segundo Brasil (2018, p. 38-39) podemos
encontrar exigências para que as obras estejam livres de “estereótipos ou
preconceitos de condição [...] de gênero, de orientação sexual [...] assim como [...]
qualquer outra forma de discriminação, violência ou violação de direitos humanos.”
As obras do programa também não devem possuir doutrinação religiosa, política ou
ideológica, e devem respeitar o caráter laico do país, assim como a autonomia do
ensino público, ainda é levantada a necessidade de representar a “diversidade
cultural, social, histórica, econômica, as diferenças sociais e culturais, além da
promoção de condutas voltadas à cidadania e respeito às diferenças.
O anexo IV do edital traz os critérios de avaliação de obras literárias, tanto em
inglês quanto em português, nele está explícito segundo a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) que nas etapas de ensino do sexto ao nono ano o aluno deve ser
formado como leitor-fruidor, exercendo sua plena cidadania, sendo capaz de
conhecer e reconhecer os diferentes jeitos de ser, pensar, sentir agir e reagir, além

3 Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/centrais-de-


conteudos/publicacoes/category/165-editais?download=13702:edital-consolidado-202020
Acesso em: 15 out. 2020.
33

de confrontar-se com o que é diferente, desenvolvendo assim uma atitude de


valorização e respeito pela diversidade.
Na mesma parte da adequação temática vê-se os sete temas de cada
categoria, a primeira é a categoria de número um que representa os temas dos livros
dos 6º e 7º anos, e respectivamente a categoria de número dois que representa os
8º e 9º anos, os assuntos referentes à diversidade sexual e de gênero poderiam
estar presentes em livros com temas abrangentes como:

Categoria 1 - Autoconhecimento, sentimentos e emoções, e Encontros com a


diferença;
Categoria 2 - Conflitos da adolescência e Encontros com a diferença, Outros,
Sociedade, política e cidadania.

Após a escolha dos livros pela equipe de avaliação foi criada uma lista com os
14 acervos da Categoria I - 6º e 7º anos e os outros 14 da categoria II - 8º e 9º anos,
totalizando 342 obras literárias com diferentes temáticas, a primeira categoria
contendo 173 obras, e a segunda categoria com as 169 restantes. O guia apresenta
o professor como quem irá escolher junto a direção da escola as obras, para isso ele
terá de analisar as resenhas e poderá ter o acesso digital das obras na íntegra, mas
a realidade é diferente, os professores terão de escolher dois acervos em cada
categoria, o que acaba por limitar essa oportunidade de escolha. A análise das
obras é feita com os mesmos critérios de escolha do edital explicitados em forma de
questionário no guia.
O guia de Seleção de Obras do PNLD, segundo Brasil (2018 p.36), traz
também expressa a necessidade de que “a escola dialogue com a diversidade de
formação e vivências para enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos
educativos.”
Analisando as resenhas dos livros foi possível encontrar poucos livros que
abrem margem para tratar da diversidade sexual e de gênero, e estão somente na
categoria de livros do 8º e 9º ano, são eles:

Acervos 24 e 28 - Exercícios de Amor - Lilia Virginia Martins Santos (o tema é


conflitos da adolescência, o livro possui uma personagem LGBT em um conto) e O
Beco do Pânico - Clovis Levi da Silva (os temas são Conflitos da adolescência,
34

Encontros com a diferença, Outros, Sociedade, política e cidadania, especificamente


o livro trata da bissexualidade);
Acervos 16 e 20 - O cidadão incomum - Juliana Tyemi e Pedro Ivo Barbosa (os
temas do livro são Ficção científica, mistério e fantasia, Sociedade, política e
cidadania, a obra pode falar brevemente da situação das travestis na cidade de São
Paulo);
Acervos 17 e 27 - Sozinha - Ana Mariza Filipouski (os temas presentes são
Conflitos da adolescência, Diálogos com a história e a filosofia, Sociedade, política e
cidadania, à obra trata de alguns conflitos da sexualidade).

Para trazer um exemplo positivo do conteúdo dessas obras apresento


resumidamente o livro Beco do Pânico, escrito por Clovis Levi, natural do Rio de
Janeiro, ele é autor, diretor, professor e crítico de teatro, o seu livro primeiramente foi
publicado em Portugal no ano de 2009, inclusive tal edição recebeu um selo de
recomendação do Plano Nacional de Leitura; Segundo Ventura (apud LEVI, 2012,
Orelha do livro) a história do livro “é definida [...] como um manifesto pela liberdade
de comportamento das minorias. Mas sem didatismo e sem ranço panfletário. A
questão da (bi)ssexualidade, por exemplo, é tratada com leveza e humor.” Também
segundo Bouer (apud LEVI, 2012, p. 7-8) o livro que acompanha a história de
Caíque a partir dos seus 6 anos de idade traduz “uma das características mais
comuns da adolescência - a dúvida.”, assim como traz questões do adolescente que
“busca caminhos, possibilidades e alternativas, mas que ainda luta contra limites e
conceitos impostos pelos mais velhos”, Bouer afirma ainda que as dúvidas sobre
orientação sexual podem causar conflitos emocionais que causam sofrimento, medo,
incertezas, isolamento, agressividade, depressão e podem levar ao suicídio. Beco
do Pânico é um livro fácil de ler, e através dele podem-se gerar ricas reflexões e
discussões, como as sobre violência na escola, lidar com as diferenças, origem
social, religião, ditadura militar, questionamento do que foi naturalizado, orientação
sexual, cotas, pensamento crítico, e papéis de gênero. O livro também trabalha de
maneira com que a história e seus desfechos não sejam tão detalhados, abrindo
margem para a imaginação, envolvimento do leitor, e questionamentos. É importante
ressaltar que o personagem principal, Caíque, é quem passa por essa fase de
descoberta de sua sexualidade e inclusive não é o único personagem LGBT do livro,
o outro é seu professor de teatro, um homem gay descrito como professor
35

excepcional que mantém um longo casamento e aparenta ter uma ótima relação
com seu marido.

Figura 2: Capa da 1ª edição do livro sugerido no PNLD.

Fonte: LEVI, 2012.

Foi identificado também que o livro Sozinha, de Ana Mariza Filipouski


realmente trata de conflitos de sexualidade, porém é um conflito baseado na
heterossexualidade, assim não sendo uma obra que traga questões LGBT. Já o livro
O cidadão incomum de Pedro Ivo traz alguns sérios problemas, em determinada
parte da história, ao revelar um segredo a um amigo, um personagem é indagado
pejorativamente se estaria saindo do armário. Outra passagem do livro traz uma
lenda na qual o tesouro de um Coronel, após a sua morte, é procurado por seus
escravos - diríamos escravizados - que acabam assombrados pelo espírito do
falecido, pois mesmo após tanto trabalho e nenhuma remuneração não seriam
dignos de tais tesouros, evidenciando um teor racista da obra. Quanto à passagem
do livro que fala sobre mulheres travestis, o escritor, enquanto descreve a vida
noturna no centro da cidade de São Paulo se refere a elas, no masculino, como
“travestis glamorosos, ou nem tanto”, e ainda em seguida usa termos como
“criaturas que vivem no limite da sobrevivência” ou “seres completamente
esquecidos” em contraponto ao que chama de “cidadão normal”, evidenciando assim
uma perda de cidadania e humanidade em tais descrições.
A partir de uma rápida análise é possível concluir que há um número
extremamente baixo de obras que podem abordar diversidade LGBT e sexualidade,
36

e apenas duas trazem aspectos positivos, mesmo uma delas tendo apenas um
conto, elas estão nos Acervos 24 e 28. Um fator que pode fazer com que as obras
não sejam escolhidas é a qualidade do restante dos livros que se encontram junto às
respectivas obras, pois o guia traz em algumas resenhas a identificação de baixa
qualidade editorial-gráfica, ortográfica ou literária e até conteúdo que expressa
algum tipo de preconceito. Mesmo que na maioria dos casos os livros apresentem
resenhas bem detalhadas, é possível que o conteúdo de alguns livros presentes nos
acervos traga a temática LGBTQIA+, porém através da análise feita a partir das
sínteses de cada livro disponibilizadas pelo PNLD não se identificou tal temática,
além das obras já comentadas. Lembra-se que alguns livros também podem
proporcionar maneiras com que o educador, assim como o bibliotecário, trate dos
assuntos através de outras questões de diferenças.
O PCN traz uma série de documentos que norteiam e são o esteio das
atividades e discussões pedagógicas realizadas na escola e em sala de aula, o
conjunto de documentos é encontrado no portal do Ministério da Educação (MEC) e
sua divisão principal é Ensino fundamental 1 e Ensino Fundamental 2, segundo
Brasil (1997, p. 4) o documento inclui “preocupações contemporâneas [...]
sexualidade e [...] questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do
ser humano.” Com o propósito de apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a
enfrentar o mundo como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, o MEC reforça
a importância de consolidar essas diretrizes.
Quanto ao tema de orientação sexual, o documento trata como algo inerente
à vida, que se expressa desde cedo, ele também traz questões de discriminação e
estereótipos vivenciados nos relacionamentos, assim como AIDS e gravidez
indesejada.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) vinculado ao
Ministério da Educação é responsável pelo PNLD, e segundo Brasil (c2017, não
paginado) é o programa mais antigo voltado à distribuição de obras didáticas aos
estudantes da rede pública, quando iniciou era chamado de Instituto Nacional do
Livro. Ao longo do tempo o programa teve diferentes nomes e formas de execução,
em 1997 foi publicado o primeiro guia de escolha das obras, já com critérios de
exclusão como os de preconceito e discriminação, prática que continua até o ano de
publicação do trabalho. O PNLD foi unificado ao Plano Nacional do Livro Didático
37

para o Ensino Médio (PNLEM) em 2005 e em 2017 com o Programa Nacional


Biblioteca da Escola (PNBE), segundo Brasil (c2018, não paginado), assim o
programa passou a atender o ensino médio e, também, a fornecer obras de
literatura. A junção dos programas pode significar uma tentativa de enfraquecê-los.
Na página de apresentação da Secretaria de Educação Básica (SEB) no
portal do MEC é possível encontrar uma breve apresentação da secretaria que
mostra a importância dessas políticas públicas de educação:

[...] atua na formulação de políticas para a educação infantil, o ensino


fundamental e o ensino médio. Em articulação com os sistemas de
ensino e participação social, também planeja, orienta e coordena a
implementação dessas políticas por meio da cooperação didático-
pedagógica, tecnológica, técnica e financeira. As ações
desenvolvidas visam à melhoria da qualidade das aprendizagens e
da valorização e qualificação dos docentes, com o objetivo de
garantir a igualdade de condições para acesso e permanência na
educação básica em consonância com o pleno desenvolvimento da
pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.
(BRASIL, c2018, online)

A importância do PNLD e do PCN se dá no momento que é possível


institucionalizar, referenciar, orientar e normatizar as práticas dentro da sala de aula,
e na biblioteca, pois através disso vem-se a ter diretrizes que podem ser fortemente
usadas nesse processo, porém é importante refletir sobre a efetividade dessas
políticas, assim como a Lei nº 10.639 que trata da obrigatoriedade do ensino do
conteúdo de história e cultura afro-brasileira, pode-se em alguns casos ser notadas
possíveis ineficiências. O PNLD e o PCN, assim como a Lei, trazem diretrizes que
apoiam e promovem a presença e o ensino de história e cultura afro-brasileira, mas
são mal executados ou deixados de lado, também o caso da literatura de temática
LGBTQIA+.
O edital mais recente do PNLD é o de 2022, e seu conteúdo muda bastante
se compararmos com o de 2020, mesmo a um olhar desatento, o documento não
cita nenhuma vez os temas sobre sexualidade e os conflitos da adolescência, não
fala em nenhum momento sobre a valorização da cultura, história e identidade afro-
brasileira. No entanto, o edital acrescenta a importância de valores cívicos e
patriotas, além de ressaltar a todo momento o caráter pedagógico das obras. O
edital mais recente, também, não faz menção aos livros estarem livres de doutrinas
religiosas, esses rápidos apontamentos podem levantar o questionamento de que o
38

PNLD está retrocedendo em várias questões, inclusive as que representam


assegurar o trabalho de questões importantes trazidas no presente trabalho para os
LGBTQIA+ nas escolas.
O leitor pode consultar o novo documento4 que orientam sobre o processo de
escolha dos livros de literatura para o ano de 2022, esses que estarão futuramente
nas bibliotecas escolares. A partir dessa consulta será possível verificar uma
desqualificação do programa em relação aos anos anteriores, é visível o processo
de conservadorismo que foi posto em andamento. Uma das questões principais
observadas no edital é o desaparecimento da literatura de temática LGBT, assim
como a desvalorização da cultura negra através da literatura.

4 Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/centrais-de-


conteudos/publicacoes/category/165-editais?download=14174:edital-consolidado-pnld-
2022-infantil-%E2%80%93-28-09-2020 Acesso em: 29 out. 2020.
39

3 METODOLOGIA

O trabalho se inicia com a pesquisa bibliográfica procurando identificar as


publicações já existentes sobre o tema, através das bases de dados como a Brapci,
a Scielo, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, e o Lume, então
identificamos algumas publicações que relacionavam o PCN com diversidade,
gênero e sexualidade, assim recorremos a leitura específica do volume 10 dos
parâmetros, intitulado Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.
Através da autora Silvia Castrillón (2011) que lembra do interesse no
fortalecimento e manutenção das relações de poder através de alguns programas de
leitura, é que pensamos em analisar o edital e guia de escolha de obras do PNLD
(2020), a edição concluída durante a escrita deste trabalho. Para fins de
comparação escolhemos o último Edital de Convocação para o processo de
inscrição e avaliação das obras didáticas e literárias do PNLD 2022, lançado em
2020.
Tratamos aqui da pesquisa e análise documental, ou seja, identificamos os
documentos que vieram a ser a base de argumentação deste trabalho, para que
assim fossem lidos e analisados, tais processos foram de extrema necessidade para
a escrita do referencial teórico.
Já através do autor João Silvério Trevisan, muito referenciado na primeira
subseção do trabalho, identificamos, a partir de 1970, vários autores brasileiros de
temática LGBTQIA+.
Os procedimentos metodológicos que delimitam o presente trabalho são o
tipo de pesquisa, a população e a amostra, os instrumentos da pesquisa, os
procedimentos de coleta e análise técnica dos dados e, por fim, os procedimentos
éticos. O tipo de pesquisa segundo a sua natureza, apresenta uma pesquisa básica,
cujo sentido segundo Gerhardt e Silveira (2009) é gerar novos conhecimentos para o
avanço da área de estudo.
Caracteriza-se por um estudo com abordagem quali-quantitativa ou mista,
Creswell e Plano Clark (2011) definem métodos mistos como um procedimento de
coleta, análise e combinação de técnicas quantitativas e qualitativas em um mesmo
desenho de pesquisa. Segundo os autores o uso de tal abordagem traz a vantagem
de integrar ambos os métodos e retirar o melhor de cada um para responder uma
40

questão específica, por exemplo, enquanto o método quantitativo apresenta


números e indicadores que podem ser trabalhados em gráficos e análises
estatísticas, o método qualitativo, como uma entrevista aberta, apresenta diferentes
perspectivas e delineia aspectos subjetivos do fenômeno estudado.
A população e amostra desta pesquisa foi composta por profissionais
bibliotecários que atuam em bibliotecas públicas e bibliotecas escolares, através
deles é que foi possível desenvolver o trabalho de conclusão de curso para
respondermos os objetivos específicos, e consequentemente o geral. O questionário
ainda trouxe a opção do técnico em biblioteconomia, esse que poderia estar inserido
no contexto de tais bibliotecas. Por fim, analisando os dados obtidos, consideramos
ainda respostas obtidas por estudantes de biblioteconomia, auxiliares ou assistentes
de bibliotecas, professores e uma artesã, os quais atuaram ou atuam em bibliotecas,
ou ainda, os estudantes que possuem vínculo direto com o currículo de bibliotecário,
todos apresentaram respostas valiosas para o estudo. Por nunca terem atuado em
nenhuma biblioteca pública ou escolar, dois respondentes foram excluídos das
respostas, um controlador de acesso e uma administradora, ambos não estavam
inseridos de nenhuma forma no contexto necessário para que suas respostas
fossem consideradas pertinentes. Têm-se, então, uma amostra não probabilística
que se dá por acessibilidade, nela o pesquisador irá intencionalmente buscar se
dirigir à elementos típicos da população escolhida no estudo.
O questionário foi postado no grupo de whatsapp “Biblioteconomia do Brasil”
no dia 27 de julho de 2021 às 15:15, o grupo é composto por 199 membros, seus
administradores se chamam Neusa, Simônia Amorim, Felix e Marcos Rodrigues.
Ainda, no dia 28 de julho às 17:33 o questionário foi divulgado por e-mail no Grupo
de Trabalho Bibliotecas pela Diversidade Sexual e Enfoque de Gênero5 da FEBAB
(Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e
Instituições).
O questionário também foi postado em diversos grupos de facebook
relacionados à biblioteconomia, sendo direcionado aos profissionais atuantes, ou
não, e estudantes do curso. No quadro 1 localizado na página seguinte é possível
verificar respectivamente os nomes dos grupos, seus administradores, a quantia de
membros, as reações das publicações e a data e horário das postagens.

5 O contato com o grupo se deu através do e-mail: gtbdeg-febab@googlegroups.com


41

Quadro 1 – Divulgação do Questionário em Grupos de Facebook


Grupo Administradores Membros Reações Data e
Horário
Bibliotecários Mauricio A. Júnior; 16,2 mil 4 reações e 2 27 de julho
do Brasil Ericka Martin; Pablo comentários 10:52
Jorge.
Biblioteconomi Alex Ribeiro; Ju Reis; 1,4 mil 8 reações e 8 29 de julho
a UFRGS Alex Borges; Edu comentários 15:41
Bueno; Fernando
Scheid.
Bibliotecárixs e Alex Ribeiro;Ju Reis; 211 1 reação e 17 29 julho
amigxs contra Alex Borges. visualizações 15:34
Coisonaro
Eu Apoio Elani Araujo. 529 4 reações 29 julho
Bibliotecas 15:32
Escolares!
Recode Trio Bibliotecas 973 1 reação 29 julho
Bibliotecas Conectadas; Alcíbano 15:32
Júnior; Cassi Lanzoni;
Ana Gonzalez; Hanna
Gledyz.
Bibliotecários Ana Suely Pinho 2,2 mil 1 reação 29 de julho
e Arquivistas Lopes. 15:31
Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

O instrumento de pesquisa escolhido para a realização do estudo, foi o


questionário (APÊNDICE A) composto por perguntas abertas e fechadas, que foi
preenchido por pessoas que atuam em bibliotecas públicas ou escolares. Segundo
Marconi e Lakatos (1999) o questionário é um instrumento de coleta de dados
constituído por perguntas ordenadas em série. Na pesquisa o questionário tem o
poder de atingir um maior número de pessoas, assim será possível gerar os dados
necessários para atingir os objetivos do projeto. A construção do questionário
adaptou algumas perguntas de um questionário já existente aplicado por Bulatowicz
(2017), e então foi aplicado para coletar dados, primeiramente de bibliotecários e
técnicos em biblioteconomia que trabalham em escolas públicas ou escolares, a
aplicação deu-se através do Google Forms. O objetivo da pesquisa é descritivo,
segundo Triviños (1987 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009) a pesquisa descritiva
exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse
tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade.
O procedimento de coleta e análise técnica dos dados buscou fazer um
levantamento através dos dados coletados nos questionários e teve por objetivo
42

questionar e conhecer nossa amostra. Para Fonseca (2002) apud Gerhardt e


Silveira (2009, p. 38) “apontam que este tipo de pesquisa é utilizado em estudos [...]
descritivos”. As autoras também dizem que “entre as vantagens dos levantamentos,
temos o conhecimento direto da realidade, economia e rapidez, e obtenção de
dados agrupados em tabelas que possibilitam uma riqueza na análise estatística”
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 38).
A aplicação dos questionários ocorreu no mês de outubro de 2021, esses
dados coletados foram observados a fim de identificar a presença da literatura de
temática LGBTQIA+ nas bibliotecas de escolas públicas e verificar sua importância
na atuação do bibliotecário quanto ao processo de empoderamento do leitor.
Os dados recebidos através do Google Forms foram apresentados em
gráficos gerados pelo Google Forms, dispostos na redação do trabalho, trazendo
citações de autores do referencial teórico para comentar estes resultados, eles não
serão retrabalhados.
Os respondentes foram apresentados à pesquisa através de uma pequena
apresentação textual no corpo do questionário, foram também informados sobre
seus detalhes. Considerando que as questões da pesquisa são de cunho pessoal,
haverá anonimato, e todos poderão deixar de participar do estudo a qualquer
momento sem nenhum prejuízo, bastando que não enviem suas respostas. Os
respondentes foram informados de que ao enviarem suas respostas autorizavam a
divulgação e o uso destas respostas na pesquisa. O e-mail do autor do trabalho foi
oferecido como forma de contato para que fossem feitos esclarecimentos aos
respondentes, se necessário.
43

4 ANÁLISE DOS DADOS

Para a coleta de dados o questionário foi aplicado no mês de junho de 2021,


foram considerados 33 respondentes, a média de idade dos respondentes foi
aproximadamente 41 anos, grande parte dos respondentes é formado por mulheres
heterossexuais, segundo as informações coletadas que serão mostradas, com mais
detalhes, abaixo.
Com relação à sexualidade a maior parte dos respondentes se declararam
heterossexuais, representando 69,7% da amostra, seguido por 15,2% que se
declararam gays, e 8,3% declaradamente bissexuais, a parte restante da amostra é
composta por uma pessoa pansexual e uma pessoa que preferiu não responder.
Ainda, dos 9 LGBTs que responderam ao questionário sete são bibliotecários. A
quantidade de pessoas que se declara fora da heteronormatividade é representativa,
portanto, o problema de pesquisa deste trabalho de TCC também mostra relevância
na medida em que o profissional da área faz parte da comunidade LGBT. A
presença de LGBTs, como alunos ou consulentes, que frequentam bibliotecas
escolares e públicas provavelmente apareça numa proporção similar, ou até maior
com relação à nossa amostra. Já falávamos anteriormente da desvantagem da
autoidentidade LGBT no momento que uma hétero-identidade é imposta e
estigmatiza negativamente esse grupo, criando sentimentos de desprezo e
interiorização, conforme (COUCHE, 1999 apud SOUZA, [2005?], p. 5). Assim faz-se
necessário o autorreconhecimento na literatura, servindo como espelho para que o
jovem LGBT possa se enxergar no outro, e em si, como uma possibilidade de
existência e afirmação da sua autoidentidade, e consequentemente sua identidade,
reconhecendo, inclusive, a presença dos seus próprios dilemas em suas leituras. A
figura abaixo explicita os dados apresentados no início do parágrafo.
44

Figura 3: Identificação quanto à sexualidade.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Em relação ao gênero dos respondentes, a maior parcela é composta por


mulheres, 24 no total, destas, 22 se identificaram como mulheres cisgênero, uma
apenas como mulher e uma como mulher transgênero. O questionário também foi
respondido por cinco homens cisgêneros, duas pessoas não binárias e ainda duas
pessoas que preferiram pela não identificação em relação ao gênero. Os
questionários foram divulgados especificamente em grupos de bibliotecários, a
diversidade sexual e de gênero apresentada pelos respondentes fugiu à ideia
conservadora do perfil de bibliotecário. Em pesquisa realizada nas bases de dados
Scielo e Brapci, buscando pelos termos perfil e bibliotecário, foi possível encontrar
artigos que confirmam a predominância de mulheres na profissão, porém não foi
possível identificar o perfil do bibliotecário quanto à sua sexualidade e gênero fora
dessa lógica binária, não encontrando nenhum estudo dentro da temática LGBT
sobre o perfil do bibliotecário, verifica-se a necessidade de que isso seja feito. Nossa
amostra identifica a presença dessa diversidade e a necessidade de que o currículo
também se atenha a trabalhar tais temas, abaixo é possível ver com mais detalhes
como os participantes se identificaram em relação ao gênero.
45

Figura 4: Identificação quanto ao gênero.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Dos 33 respondentes mais da metade se autodeclaram brancos, mais de 30%


pardos, um pouco mais de 15% pretos, e apenas 1 respondente se autodeclara
indígena. Comparando com pesquisa realizada pelo IBGE em 2019 6 que verifica
como os brasileiros se autodeclaram em relação a cor, identificamos certa
semelhança e proporção com os dados obtidos em nossa pesquisa, porém é
possível verificarmos um número maior de respondentes brancos, o que pode
significar que a educação, as universidades, os cursos de biblioteconomia e as
bibliotecas ainda sejam espaços acessados por quem possui mais privilégios, sendo
assim são espaços que silenciam e não refletem a total realidade - aqui também
podemos lembrar da Lei nº 10.639 sobre a obrigatoriedade do ensino do conteúdo
de história e cultura afro-brasileira e muitas vezes seu descumprimento diante de
uma educação colonizada baseada numa manutenção das relações de poder como
disse Silvia Castrillón (2011, p. 16) - a figura abaixo traz a porcentagem a fim
explicitar os dados levantados a partir das respostas obtidas.

6 De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019, 42,7% dos
brasileiros se declararam como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como
amarelos ou indígenas. (IBGE, Educa, online, c2021)
46

Figura 5: Autodeclaração em relação à cor ou raça/etnia.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

A amostra da pesquisa é composta também por 25 bibliotecários dos quais,


11 atuavam em bibliotecas públicas ou escolares quando responderam a esta
pesquisa, destes, oito são mulheres e três são homens. Destes 25, 15 responderam
já ter trabalhado em bibliotecas públicas ou escolares, destes, 12 são mulheres, das
quais 11 são cisgêneras e uma é transgênera, dois são pessoas não binárias e um
respondente é homem. Ainda, dos 25 bibliotecários identificados na pesquisa, oito
atuam em Porto Alegre.
A maior parte da amostra é composta por respondentes que atuam ou
atuaram na região sul, num total de 16, a segunda região que apresentou um
número significativo de respondentes foi a sudeste, com oito. Já as regiões norte e
nordeste, respectivamente, somaram seis e duas respostas. A região centro-oeste
não contou com nenhum respondente.
Na figura abaixo podemos concluir que quase 57,6% dos respondentes já
atuaram em uma Biblioteca Pública ou em uma Biblioteca Escolar, enquanto 42,4%
atuam em tais bibliotecas, dos dois respondentes que disseram nunca ter trabalhado
em uma biblioteca, apenas um é bibliotecário.
47

Figura 6: Atuação dos respondentes na Biblioteca Pública ou Escolar.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Grande parte dos respondentes conhece ou sabe o que é o PNLD, dos 33


respondentes apenas dois responderam não conhecer, e dois deixaram a questão
em branco. Quando perguntados se conheceram algum livro de temática LGBT
através do PNLD, apenas quatro dizem ter conhecido poucos livros, mais da metade
não lembra ter identificado tais livros, e outras 10 pessoas afirmam nunca ter
conhecido nenhum livro de temática LGBT através do PNLD.
Através das respostas apresentadas no parágrafo anterior identificamos que
essa literatura pode não estar recebendo o destaque que merece pelo programa. O
exercício da cidadania, o reconhecimento de outros jeitos de ser, pensar, sentir agir
e reagir, entrar em contato com o diferente e desenvolver uma atitude de valorização
e respeito pela diversidade - como propõe o programa – não se efetiva no memento
que dentre 342 obras apenas duas abordam diversidade dentro da temática LGBT.
É importante ressaltarmos que inúmeras são as partes do edital do PNLD
que trazem questões de diversidade, porém constata-se que os livros não
contemplam tão bem as exigências do edital, quando o assunto é diversidade de
gênero e sexual. No anexo III do edital de convocação do PNLD traz nas suas
considerações gerais uma de suas intencionalidades que seria a desnaturalização
de alguns aspectos presentes na sociedade e refletidos na escola, conforme
apontam Rodrigues (2005) e Louro (2017) ao se referirem à conceitos de gênero,
gestos e palavras banalizadas e a própria organização escolar.
48

[...] desnaturalizar qualquer forma de violência nas sociedades


contemporâneas, incluindo a violência simbólica de grupos sociais,
que impõem normas, valores e conhecimentos tidos como universais
e que não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas presentes
na comunidade e na escola. (BRASIL, 2018, p. 36)

O edital ainda salienta que, de modo especial entre os estudantes do Ensino


Fundamental, essas violências simbólicas dificultam a convivência e a
aprendizagem, “conduzindo ao desinteresse e à alienação, e não raro, à
agressividade e [...] fracasso escolar”. Tais dificuldades também são apontadas no
prefácio do livro O Beco do Pânico Levi (2012 apud BOUER), porém tal livro só
aparece tardiamente nos acervos destinados ao 8º e 9º ano.
A maior parte dos respondentes conheceu ou soube o que é o PNLD, apenas
dois respondentes, entre 31, não conheciam ou não sabiam do programa. A seguir a
figura apresenta a porcentagem dos respondentes que identificaram livros
LGBTQIA+ no programa:

Figura 7: Livro LGBTQIA+ no PNLD.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Quando falamos de temática LGBTQIA+ e consequentemente a presença


destes personagens na literatura promovida e presente nas bibliotecas, sem nos
referirmos ao PNLD, notamos que as respostas não são muito animadoras, mais de
21% não promove personagens gays, lésbicas ou bissexuais, mais de 12% não
sabem responder, 42,4% dizem que raramente promovem tais livros e apenas
24,2% dizem que às vezes promovem livros com esses personagens, como
podemos ver na figura abaixo:
49

Figura 8: Personagens Gays, Lésbicas e Bissexuais.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Já quando perguntados sobre livros com personagens transgêneros,


transexuais e travestis o número de respondentes que diz promover “ás vezes” cai
pela metade, para pouco mais de 12%, conforme a figura a seguir:

Figura 9: Personagens Transgêneros, Travestis e Transexuais.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

E quando perguntados sobre famílias homoparentais presentes na literatura


promovida nas bibliotecas as respostas mostram um número maior de respondentes
que trabalham com livros que apresentam tais personagens dessa outra
configuração familiar:
50

Figura 10: Personagens com famílias Homoparentais.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Esses números podem evidenciar que os personagens que mais aparecem


são aqueles mais representados pelas mídias. O homem gay branco e hétero é o
que ganha mais destaque entre os LGBT, como trouxe Bortoletto (2019). Trevisan
(2018, p.21) aponta que a sociedade ataca os gêneros e sexualidades que
discordam do que é imposto como natural e que tragam quaisquer resquícios de
rebeldia. Nesse sentido a família homoparental se faz mais presente no momento
que de certa forma provavelmente é formada por pessoas de um bom padrão social
que, ainda assim, obedecem às instituições como família, e até mesmo o
casamento, na contramão de pessoas transgêneras, transsexuais e travestis. Essas
últimas que seriam consideradas transgressoras, cujo a presença aparece em
menor número nas representações literárias.
Também foi questionada a presença de livros com outros personagens
LGBTs não especificados, porém nenhum respondente lembrou, ou disse ter
promovido algum material com algum outro personagem que fosse da comunidade,
além disso dois respondentes disseram que tais livros são raros.
Ao serem perguntados se lembravam de algum título de temática LGBTQIA+
trabalhados no espaço em que atuam ou atuaram, obtivemos respostas em comum
como a obra Amora de Natalia Polesso sendo citada três vezes, e duas vezes o
escritor Caio Fernando de Abreu e suas obras, outra autora citada foi Beca Albertalli,
quanto aos títulos específicos os respondentes trouxeram: George de Alex Gino;
Meus dois pais de Walcyr Carrasco; Amor entre Meninas de Shirley Souza; A arte de
ser normal; Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo; As vantagens
51

de ser invisível. Natalia Borges Polesso e Caio Fernando de Abreu já haviam sido
citadas por Trevisan (2018), ela como escritora destaque com seus contos sobre o
cotidiano lésbico no século XXI, e ele com um foco em personagens masculinos,
mas não restritamente, em busca do amor e da descoberta de suas sexualidades no
século XX na década de 70, ambos escritores marcam suas épocas e são ilustres
por suas obras. Um escritor e novelista, assim como Walcyr Carrasco, é Aguinaldo
Silva, ambos da mesma época, provavelmente apresentam certas semelhanças. É
interessante o que Trevisan (2018, p.34) disse sobre literatura LGBT e seus autores,
ainda mais quando falamos de Natalia, Caio, Walcyr e Aguinaldo que compartilham
essa capacidade em resistir “através da ironia, desmunhecação e riso, nutrindo um
descaso pelas normas de gênero e sexuais, distorcendo o uso da linguagem”.

Figura 11: Capa da 1ª edição do livro mais citado pelos respondentes.

Fonte: POLESSO, 2015.

Quando perguntados sobre a inclusão de literatura LGBTQIA+ através das


solicitações de compras, das 18 respostas obtidas oito eram apenas “Sim.” e uma
apenas “Não”, Dois respondentes disseram incluir a temática LGBT nas listas de
compras das bibliotecas em que atuam, outros dois responderam que estão se
inteirando e procurando livros para que possam incluir tal temática, dois
respondentes disseram que considerariam a temática se tivessem recursos para a
compra, um ainda acrescentou que a maior parte do acervo da biblioteca em que
52

atua é oriundo de doações. É importante lembrarmos que quando é evidenciada a


falta de recursos nas bibliotecas temos também a manutenção de poderes discutida
por autores como Castrillón (2011) através da falta de acesso. Três respondentes
afirmaram que incluem a temática LGBTQIA+ como incluiriam qualquer assunto,
para que a biblioteca atenda a todos usuários. Um respondente disse que não leva
em conta a inclusão de obras LGBT, pois as considera como as demais, tal resposta
pode trazer alguma contradição, no momento que não levando em conta um assunto
o respondente também não levaria em conta os demais.
A partir das respostas também identificamos as relações de poder que
garantem uma manutenção da hegemonia de saberes citadas por Malta, Flexor e
Costa (2020), no caso, três respondentes disseram não possuir o poder de escolha
dos livros ou dos assuntos trabalhados, um deles disse que os livros já vinham
selecionados, outro respondente citou o episódio de censura do Queermuseu como
a “pá de cal” de sua liberdade no local em que atuava. Lembramos que os autores
Malta, Flexor e Costa, (2020) e Trevisan (2018) já citaram a abrupta interrupção da
exposição em 2017 e a retirada do livro, originado da exposição, de bibliotecas
públicas em 2019. Por fim, escolhemos uma das respostas mais extensas para
evidenciarmos o que este trabalho já vem discutindo ao longo das páginas, a
importância da presença da literatura LGBT nas bibliotecas:

Sim. Tenho ampliado essa questão no acervo de literatura da escola,


é importante que os alunos se enxerguem nos textos. E para os
estudantes heterossexuais e cis a literatura tem o papel de
desenvolver a empatia, um passo importante se formos pensar em
uma sociedade mais igualitária e sem LGBTQIA fobia. (respondente)

Ao serem questionados sobre as atividades desenvolvidas nas bibliotecas


públicas e escolares, 45,5% dos respondentes afirmam que as bibliotecas em que
atuam não desenvolvem atividades de temática LGBT ou com literatura desta
temática, 6,1% não soube responder, 27,3% disseram que tais atividades são
realizadas raramente, 18,2% afirmaram que às vezes tal temática é trabalhada e
apenas um respondente afirmou que essas atividades são desenvolvidas com
bastante frequência. A porcentagem entre as respostas “não” e “não sei” somam
mais de 50%, podemos assim confirmar o que os autores foi posto por Martins,
Muszkat Menezes e Trevisol Neto (2016) que ao entrevistarem 15 bibliotecários,
apenas cinco haviam realizado atividades com temática LGBT nas bibliotecas onde
53

trabalhavam, alguns deles achando até que não tinham tal responsabilidade, os
autores inclusive deixam claro que o bibliotecário não deve se eximir da participação
do ensino do aluno, e desenvolver atividades nessa temática seria importante para
esclarecer dúvidas, eliminar estereótipos, promover discussões e cessar
preconceitos.
A partir da análise dos dados obtidos parece haver um certo temor em
desenvolver atividades com literatura de temática LGBT, em certo ponto as
respostas de que às vezes ou raramente as atividades são desenvolvidas
demonstram a ausência, pois na realidade pouco se vê o desenvolvimento de tais
atividades, as respostas ainda entram em contradição quando cruzadas, das seis
pessoas que responderam “às vezes” apenas uma não apresentou nenhuma
barreira na aquisição de obras com temática LGBT, dos demais respondentes dois
trouxeram à falta de materiais, e os outros três trouxeram a reclamação da escola,
ou de outros funcionários da biblioteca. Muito do trabalho dessa temática está na
exigência dos alunos e sujeitos que se colocam nestes espaços.
É importante lembrarmos que, baseado em números trazidos pelo Grupo Gay
da Bahia (2019), o Brasil é líder em crimes contra as minorias. A Associação
Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT, 2016)
aponta na Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil que
estudantes se sentiram inseguros no espaço escolar, 60,2% por causa da sua
orientação sexual e 40,8% por causa da expressão de gênero, sendo assim verifica-
se o desconforto em trabalhar tais temas, em um país extremamente LGBTfóbico,
porém em mesma intensidade, se não mais intensamente, verifica-se a necessidade
da execução de atividades de temática LGBT, dentro e fora das escolas e
bibliotecas. Abaixo segue a figura referente às respostas obtidas nos questionários.
54

Figura 12: Atividades desenvolvidas.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Dos 33 respondentes um optou por não responder essa questão, quando


perguntados sobre quais atividades haviam presenciado ou desenvolviam nas
bibliotecas em que atuavam, 15 respondentes disseram que nenhum tipo de
atividade era desenvolvido, 16 disseram ter presenciado pelo menos uma das
atividades listadas. As atividades mais desenvolvidas foram as rodas de discussão,
com 40%, a segunda foram os saraus, com 21,9%, seguida por exibição de filmes e
curtas 18,8% e produção de desenhos, cartazes, textos e entre outros. Ainda, outro
respondente acrescentou a divulgação de literatura, produtos e autores LGBTs nas
redes sociais como atividade desenvolvida pela biblioteca em que atua ou atuou. Por
fim, um dos respondentes acrescentou a orientação de dois trabalhos sobre a
população transsexual, travesti e transgênera, que foram desenvolvidos
interdisciplinarmente junto com professor de filosofia e apresentado em uma feira
nacional de iniciação científica.
Quando perguntados se já haviam tido propostas de atividades não
autorizadas nas unidades em que atuavam ou atuam, 75% respondeu nunca ter tido
problemas do tipo, contabilizando 24 respondentes, destes, somente 10
desenvolveram ou presenciaram atividades de temática LGBT, 11 respondentes que
sinalizaram alguma atividade desenvolvida disseram não ter suas atividades não
autorizadas, enquanto mais da metade dos que tentaram ou desenvolveram alguma
atividade tiveram problemas com a autorização ou polemização, reclamação, das
atividades propostas, o que é algo bastante desestimulante para qualquer
55

profissional que vá desenvolver ou trabalhar com a temática LGBT, mesmo que os


espaços escolares e das bibliotecas públicas se destinarem a todos sem distinção
de orientação sexual e de expressão de gênero, segundo diretrizes do Manifesto
IFLA/Unesco para bibliotecas públicas. Um dos respondentes disse ter sido
chamado à direção ao adquirir uma obra chamada Leah Fora de Sintonia, com
protagonismo lésbico, e ainda ressalta que a biblioteca escolar em questão contava
com um casal lésbico que frequentava a unidade assiduamente, identificamos uma
mobilização tanto da profissional, que acolheu com grande sensibilidade, como de
LGBTs que se fazem presentes no espaço. Um dos respondentes também disse ter
enfrentado algumas repressões em relação aos pais e familiares dos estudantes, por
ter desenvolvido uma roda de discussão em que o assunto era gênero. É muito
provável que a educação recebida por tais familiares foi muito mais rigorosa em
questões de imposição heteronormativa, e provavelmente teve uma base muito mais
religiosa, o que Nunes (1987) traz como os mecanismos de controle pautados em
valores extremamente patriarcais e conservadores de cultura, família e até mesmo
de linguagem, uma educação de lógica binária e normalização sexual.
Dos 32 respondentes que informaram o estado em que atuam ou atuavam,
analisarmos somente os que disseram já ter desenvolvido alguma atividade com
temática LGBTQIA+, sendo assim obtivemos 12 respondentes da região sul, quatro
da região sudeste, e dois da região norte.
Dos 33 respondentes, 32 responderam quando indagados se consideravam
importante o trabalho de questões de diversidade e sexualidade nas bibliotecas,
destes, 30 consideraram de extrema importância, um achou mais ou menos
importante, e um respondeu que é pouco importante trabalhar diversidade nas
bibliotecas escolares e públicas, como pode-se confirmar na figura abaixo.
56

Figura 13: Questões de diversidade e sexualidade nas bibliotecas.

Fonte: dados levantados no escopo da pesquisa.

Quando questionados sobre quais problemas haviam enfrentados quando


trabalharam questões de diversidade, das 28 respostas obtidas, 19 apontavam a
falta de materiais como um dos problemas, revelando também falta de contato ou a
ausência de materiais que abordem diversidade, como a literatura de temática
LGBT, literatura negra, literatura feminista, negra feminista e entre outras literaturas
que de forma geral abordam diferentes aspectos sociais e culturais. Sete
respondentes apontaram a reclamação de parentes de estudantes, também, sete
foram os que relataram a reclamação da própria escola, ou de colegas de trabalho
das unidades em que atuam ou atuaram, três disseram enfrentar problemas em
relação à reclamação dos estudantes.
Verifica-se, então, um incômodo quanto ao surgimento dessa temática nos
espaços escolares, em maior número à escola e aos familiares, que de longa data já
possuem crenças e tabus bem delineados, só depois em menor número aos alunos,
o que demonstra o importante papel das escolas, e bibliotecas, em relação ao que
foi trazido por Rabello (2012, p. 65) apud Martins; Muszkat Menezes; Trevisol Neto
(2016, p. 95) de que a partir desses espaços é possível interferir positivamente em
uma construção de sexualidade e de outras noções de gênero, diferentes do que já
foi posto como natural, assim promovendo interações e produzindo “estratégias de
ensino que visem problematizar posturas, crenças, mitos e tabus relativos à
sexualidade ou, ainda, permitindo que as/os educandas/os se expressem sobre o
tema manifestando suas inquietações”. Mais uma vez chama-se atenção para a
57

ocupação e reivindicação dos LGBTs nesses espaços, mas para isso é preciso,
também, um certo estímulo, alguma abertura, compreensão e acolhimento.
No espaço para dúvidas e sugestões surgiram alguns comentários muito
importantes, alguns dos respondentes disseram temer a opinião de seus superiores,
e a negação de seus projetos, uma vez que já encontram dificuldades em exercer
alguns trabalhos. Um dos respondentes disse “Gostaria de trabalhar mais com essa
temática, mas é uma escola confessional, ainda enfrentamos barreiras, mas acredito
muito na biblioteca como esse espaço múltiplo de vozes e vivências. Uma biblioteca
para todes”. Outro respondente disse que o questionário o instigou a rever as
práticas na biblioteca e a procurar formação continuada em tal temática de extrema
importância. Em uma das respostas foi apontado também que a sociedade deveria
estar mais consciente e aberta para que a temática LGBTQIA+ ocupasse mais os
espaços. Um dos respondentes disse que a biblioteca é um lugar de “imparcialidade
política” e que o bibliotecário deveria atender o público sem se posicionar. A partir
dessa resposta salienta-se que estar a favor da presença de literatura de temática
LGBT se trata de atender às demandas da sociedade e dar visibilidade para uma
comunidade que existe e faz parte da realidade, porém ainda é massacrada, a
imparcialidade política aparece quando justamente não rechaçamos o preconceito e
não nos posicionamos em favor de que todos tenham acesso, estejam presentes e
sejam tratados com equidade.
58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando iniciamos o estudo constatou-se a importância de que as bibliotecas


atendessem com equidade a todos, sendo assim se faz necessário a presença de
livros literários que representem as subjetividades dos leitores, também
identificamos as lacunas em relação às obras de literatura LGBTQIA+ e a temática
de gênero e sexualidade. Enfim, retornamos ao problema de pesquisa, identificar a
presença de autores brasileiros de literatura com temática LGBT nos espaços de
informação públicos ou escolares tendo em vista o PNLD e o PCN. Acredita-se que
o problema de pesquisa foi respondido com êxito através dos objetivos geral, e
específicos que também retomaremos. Acrescenta-se que o assunto está longe de
ser esgotado, a partir do trabalho realizado foi possível levantar discussões e
reflexões sobre a presença literária LGBT nesses espaços, assim como as práticas,
importantíssimas, que podem ser desenvolvidas pelos profissionais atuantes das
bibliotecas em relação ao tema.
Candido (2011) traz o acesso à erudição, representada na figura do livro,
como um direito de todos, e não um privilégio de poucos grupos como acontece em
sociedades desiguais. Ver-se representado e enxergar o outro, o diferente, faz parte
da construção de uma sociedade mais igualitária, e ajuda a romper com
preconceitos que estão enraizados em nossa sociedade. Ao decorrer do estudo
constatamos a presença da literatura LGBT nos espaços de informação, porém de
forma insuficiente e muito limitada, ainda que presente, em alguns casos somente
por descargo de consciência, assim sem explorar suas potencialidades. A biblioteca
enquanto e somente acervo não cumpre seu papel, uma leitura crítica, a
emancipação social, o fazer-se cidadão dentro de sua realidade são potenciais a
serem atingidos através do livro e leitura junto das práticas do bibliotecário ou dos
profissionais inseridos no contexto das bibliotecas.
Além de parecer causar incômodos, a literatura LGBTQIA+ também sofreu
inúmeras tentativas de desconsideração, diminuição, desvalorização, apagamento
ou generalização. Quando não se tem contato com essa temática é comum que
pensem que tal literatura, tão rica, trate somente de drogas, álcool e putaria, porém
até as cenas mais “apimentadas” desses livros tidos como devassos trazem um
grande significado, a possibilidade do encontro, da existência e da realização destas
59

pessoas - ao contrário da heterossexualidade compulsória e panfletização dos ideais


heteronormativos encontrados em outras obras.
Para respondermos ao primeiro dos objetivos específicos, identificar a
presença de autores de literatura temática LGBT no Brasil, consultamos boas fontes
de informação que trouxessem esses autores, através disso foram encontrados
autores LGBTs, livros da temática, e editoras que incansavelmente publicam tal
conteúdo.
Como segundo objetivo específico escolhemos explorar as diretrizes
referentes à sexualidade e diversidade no Programa Nacional do Livro e do Material
Didático e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Explicamos, ainda, que o
programa e os parâmetros foram escolhidos de maneira com que nos fosse
possibilitado comprovar a exigência formal, e abertura, para a temática literária
LGBT. A partir disso, também, foi possível verificar a distância entre as diretrizes do
PCN ou exigências do PNLD, principalmente em seu edital, e o que ocorre na
prática de fato. O PNLD traz poucas obras que dialogam com a temática do estudo,
e o PCN não garante que o assunto irá de fato estar presente nas bibliotecas
públicas, ou escolares, assim como nas práticas dos profissionais que estão nas
escolas e bibliotecas, porém ainda é uma boa ferramenta para que se estude, e se
cobre atuações mais condizentes com a realidade, visando o empoderamento dos
sujeitos, uma maior inclusão de todos, e a diminuição de violências.
Ainda tivemos mais dois objetivos específicos, consecutivamente, verificar a
presença dos livros de temática LGBTQIA+ nas bibliotecas de escolas e bibliotecas
públicas, assim como, identificar as práticas do profissional bibliotecário em relação
à literatura dessa temática, para esses dois objetivos usou-se um questionário com
abordagem mista que nos permitiu identificar algumas questões mais pontuais,
assim como outras mais subjetivas. Após aplicado, verificamos a presença, e a
ausência, de literatura LGBT nos acervos de bibliotecas públicas e escolares.
Também percebemos as tímidas tentativas de desenvolver assuntos relativos à
sexualidade e diversidade quando falamos de LGBTs. A existência de literatura e
práticas que abordem além do lesbianismo e da homossexualidade cisgênera é
quase nula.
Através da ausência de conteúdo, e das poucas práticas desenvolvidas,
verifica-se a importância do destaque dos estudos de gênero dentro da
60

biblioteconomia e seu currículo, pois esses estudos aparecem somente em alguns


nichos, como cursos de extensão e créditos eletivos, corroborando para que a
temática LGBT continue sendo invisibilizada nos espaços informacionais e nas
práticas do bibliotecário nestes espaços. É urgente e necessário que o profissional
bibliotecário tenha um olhar cada vez mais atento não somente à informação, mas
também às pessoas.
Como apontado anteriormente o novo edital do PNLD referente ao ano de
2022, suspende alguns trechos, como o das obras estarem livres de diversos
estereótipos, discriminações e preconceitos, ou estarem livres de doutrinação
religiosa, o edital ainda suspende a promoção positiva da cultura e história afro-
brasileira, quilombola e dos povos indígenas e do campo junto aos seus saberes,
valores e tradições. Em lugar disso, o novo documento traz o respeito ao homem e à
mulher em suas particularidades, diria que aqui é possível até que se faça referência
ao respeito de uma família tradicional brasileira, que nós sabemos ser representadas
pelas mesmas que aparecem em comerciais de margarina. Também é suprimido a
promoção de condutas voltadas para cidadania e respeito às diferenças, e inserido a
promoção dos valores cívicos, patriotismo e o respeito ao sentimento religioso, este
último que é muito abstrato, acredito que tal alteração até poderia trazer um
sentimento bem comum em grande parte das igrejas cristãs, como o de ódio aos
LGBTs, a LGBTfobia, pois nenhuma das alterações do documento foram feitas sem
alguma intenção. Inclusive, salienta-se aqui que a LGBTfobia é crime inafiançável,
porém ainda não são criminalizados os que se dizem contra homossexuais dentro
dos templos religiosos, apenas os que incitam discriminação e preconceito - mas
pergunto-me até que ponto essa extrema necessidade de externar a contrariedade à
uma relação entre iguais não é uma forma de incentivar a discriminação e
preconceito.
Enquanto os editais anteriores traziam a necessidade de convívio
democrático, uso democrático das tecnologias e o compromisso com os princípios
democráticos, o novo documento sequer traz a palavra. Os assuntos aqui
levantados ainda podem ser amplamente explorados, tanto na Ciência da
Informação, quanto em outras áreas. Recomendamos, ainda, que novos estudos
sejam feitos analisando o que as alterações nos editais representam para os livros
que serão selecionados e colocados nos guias de escolha de obras que futuramente
61

estarão nas bibliotecas escolares. Também há a possibilidade de verificar outras


temáticas no PNLD, como literatura negra, indígena, quilombola e outras mais.
Recomenda-se, principalmente, que sejam feitos estudos quanto ao perfil do
bibliotecário, focado nas questões de gênero e sexualidade, que foi uma das
vertentes encontradas durante o desenvolvimento da pesquisa.
62

REFERÊNCIAS

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lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes
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gays-bissexuais-travestis-e-transexuais-em-nossos-ambientes-educacionais/.
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convocação nº 02/2020 – CGPLI Edital de convocação para o processo de
inscrição e avaliação de obras didáticas, literárias e pedagógicas para o
programa nacional do livro e do material didático PNLD 2022. Brasília, 2020. 83
p. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/centrais-de-
conteudos/publicacoes/category/165-editais?download=14174:edital-consolidado-
pnld-2022-infantil-%E2%80%93-28-09-2020. Acesso em: 29 out. 2020

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63

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APÊNDICE A – MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA SER APLICADO VIA


GOOGLE FORMS.

Olá, sou aluno de graduação de Biblioteconomia da Universidade Federal do


Rio Grande do Sul, a fim de verificar a presença de livros LGBTQIA+ nas bibliotecas
públicas e escolares, e de dar visibilidade às questões do empoderamento do leitor
na sua subjetividade, gostaria de te pedir gentilmente para que responda de forma
sincera este questionário, pois ele trata da sua percepção e tem uma enorme
importância para a pesquisa na qual os dados aqui levantados serão analisados.

Abaixo deixo algumas explicações para você, caro respondente:


• Ao enviar suas respostas você autoriza que elas sejam divulgadas
nesta pesquisa;
• A maioria das perguntas está com uma caixa aberta para que você
escreva sua resposta caso não se sinta contemplado pelas opções
disponíveis;
• Grande parte das perguntas apresentam respostas de múltipla
escolha;
• O anonimato é garantido, e mesmo que você se identifique de alguma
maneira o autor se compromete em manter o mais rigoroso sigilo na
publicação da pesquisa;
• Não haverá nenhuma despesa ao participante;
• É garantido ao respondente solicitar e receber esclarecimentos antes,
durante e depois do desenvolvimento da pesquisa, para isso entrar em
contato com o endereço de e-mail: gabriel.matheus96@hotmail.com

Aluno Responsável: Gabriel Matheus Bernard Baum


Sob a orientação de: Profª Ms. Marlise Maria Giovanaz

Em que cidade e estado você atua/atuou em uma Biblioteca Pública/Biblioteca


Escolar? ____________________________

Qual a sua idade? _____________________

Como você se autodeclara em relação à cor ou raça/etnia?


68

() Preto. () Pardo. () Branco. () Indígena. () Amarelo. () Não sei responder.

() Prefiro não responder. Outros:_______________

Em relação à sexualidade, como você se identifica? (marque quantas precisar)

() Gay () Lésbica () Bissexual () Pansexual () Heterossexual ( ) Não sei responder ( )


Prefiro não responder ( ) Outro:____________

Em relação ao gênero, como você se identifica?


() Homem Transgênero. () Mulher Transgênero. () Homem Transexual.

() Mulher Transexual. () Travesti. () Homem Cisgênero. () Mulher Cisgênero.

() Não-Binárie. () Gênero-fluído. () Prefiro não responder.

() Outros: ______________

Qual a sua ocupação?

() Bibliotecário. () Técnico em Biblioteconomia. () Outros:________

Você atua ou atuou em uma Biblioteca Pública ou uma Biblioteca Escolar?

() Sim, atuo. () Sim, já atuei. () Nunca atuei. () Outros:______________

Você conhece ou sabe o que é o PNLD (Programa Nacional do Livro e do


Material Didático)? () Sim. () Não.

Você já conheceu algum livro de temática LGBTQIA+ através do PNLD?

() Sim. () Sim, poucos. () Não lembro. () Não.

Os livros que você promove na Biblioteca em que atua/atuou incluem


personagens Gays, Lésbicas ou Bissexuais?

() Com bastante frequência. () Às vezes. () Raramente () Não sei. () Não.


69

Os livros que você promove na Biblioteca em que atua/atuou incluem


personagens Transgêneros, Travestis, Transexuais?

() Com bastante frequência. () Às vezes. () Raramente () Não sei. () Não.

Os livros que você promove na Biblioteca em que atua/atuou incluem


personagens com famílias homoparentais?

() Com bastante frequência. () Às vezes. () Raramente. () Não sei. () Não.

Os livros que você promove na Biblioteca em que atua/atuou incluem outros


personagens LGBT? (especifique caso a resposta seja "Sim")

__________________________________________

Você lembra de algum livro de temática LGBTQIA+ que já trabalhou? (se puder
especifique sua resposta)

___________________________________________

Você leva em conta a inclusão de livros LGBTQIA+ na hora de solicitar livros?


(se puder especifique sua resposta)

__________________________________________

A biblioteca que você trabalha desenvolve atividades relacionadas com a


temática LGBTQIA+ ou com literatura LGBTQIA+?

() Com bastante frequência. () Às vezes. () Raramente. () Não sei. () Não.

Você já realizou ou presenciou alguma atividade com temática LGBTQIA+ na


biblioteca?

() Sarau literário. () Clube de leitura. () Roda de discussão.

() Produção de desenhos, cartazes, textos e entre outros. () Exibição de filmes e


curtas. () outros:______________________________________
70

Você já teve alguma proposta de atividade não autorizada por causa da


temática LGBTQ+? (sentindo-se confortável elabore uma resposta)

() Sim. () Não.

Você considera importante trabalhar questões de diversidade e sexualidade na


biblioteca?

() Sim, muito importante. () Sim, mais ou menos importante. () Pouco importante.

() Não é importante.

Você já enfrentou algum desafio quando trabalhou alguma questão de


diversidade? (marque quantas quiser)

() Reclamação de parentes dos estudantes. () Reclamação da própria escola.

() reclamação dos próprios estudantes. () Falta de materiais.

() Outros:_______________________________

Espaço para dúvidas e sugestões.


_____________________________________________________________

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