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CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
Porto Alegre
2021
Gabriel Matheus Bernard Baum
Porto Alegre
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Prof. Dr. Carlos André Bulhões
Vice-Reitora: Profa. Dra. Patrícia Pranke
E-mail: dci@ufrgs.br
Gabriel Matheus Bernard Baum
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof.ª Ms. Marlise Maria Giovanaz
Orientadora
_______________________________________
Prof.ª Dra. Jussara Borges
Examinadora
_______________________________________
Prof.ª Ms. Ketlen Stueber
Examinadora
Agradecimentos
Public libraries and school libraries play an important sociocultural role. They
contribute to the education of students and readers, as well to their empowerment as
citizens. They also contribute to the democratization of access to knowledge. In this
sense, we wanted to find out if there are brazilian authors in that public and school
information spaces. Approach librarian practices in public and school libraries. Seek
to deepen the theme of this work and support it through document analysis of state
programs and policies such as PNLD and PCN. This study is a basic research with
qualitative approach and descriptive nature. The research instrument used was a
questionnaire sent to librarians and professionals in contact with this type of library
through Google Forms to conduct the data collection. The presentation of the data
was done through graphs that were created using the Google Forms. They are
arranged in the writing and include citations to comment on these results. The study
concludes that the presence of LGBTQIA+ literature in public and school libraries is
limited and its potential is insufficiently explored in the practice of professionals
working in these fields. The PCN guidelines and PNLD recommendations on
diversity, gender and sexuality are helpful but do not guarantee more diversity in
information centers and schools. A sensitive look at librarian’s practice and greater
consideration of the topic in curricula are needed.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................14
2.1 LGBTQIA+........................................................................................................... 14
3 METODOLOGIA..................................................................................................... 39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 58
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 62
1 INTRODUÇÃO
1 O termo LGBTfobia engloba outras violências sofridas pela comunidade, como a lesbofobia, a
bifobia e a transfobia, não restringindo-se apenas à homofobia, violência sofrida por homens
homossexuais. Consta no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 que será punida criminalmente
qualquer “discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. Em junho de 2019 o
STF definiu que ofender ou discriminar gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros está sujeito a
punição de um a três anos de prisão, prevista na Lei nº 7.716/89, que define os crimes resultantes
de preconceito de raça ou de cor. Assim como o crime de racismo, a LGBTfobia é crime inafiançável
e imprescritível.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 LGBTQIA+
era o caso de um de seus romances em que a protagonista lésbica era uma mulher
feliz e muito bem resolvida com sua sexualidade.
Ainda segundo o autor a partir de 1970, considerada geração marginal, “uma
nova geração de escritores [...] vertiam desibinadamente, na ficção, suas vivências,
seus afetos e suas angústias enquanto homossexuais”, é o caso do escritor
Aguinaldo Silva com o romance Primeira carta aos andrógenos (1975), livro com
diversos relatos, sendo um deles a história de um marinheiro e uma travesti, que
segundo “amam-se até à morte pelo fogo e sobem aos céus como dois anjos
redimidos pela força da carne”, assim fazendo referência ao sagrado e o profano. É
nessa mesma época que Trevisan (2018, p. 256) cita os contos de Caio Fernando
Abreu, nos quais o escritor apresenta “rapazes sonhadores [...] procurando amor na
cidade grande ou arrastando consigo uma sexualidade sem paz, descoberta às
vezes na figura de um sargento sádico, às vezes com ansiedade no corpo latejante
de um primo mais velho.”
A bolsa amarela de Lygia Bojunga, publicado pela primeira vez em 1976, segundo
eles o livro sobreviveu aos censores da ditadura militar, porém quatro décadas
depois, em 2019, sofreu tentativa de censura por ser considerado ideologia de
gênero. Segundo os autores o ato, ainda que não concretizado “descortina a latente
ameaça à livre expressão da atividade intelectual alicerçada no conservadorismo
nos dias de hoje”, ainda segundo eles o livro trata da história de
2 Grafia usada pelo autor em seu próprio texto, pois a considera mais adequada às especificidades
gramaticais do português.
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Trevisan (2018, p. 252-253) também relembra escritores como Lima Trindade, com
alguns contos homoeróticos e os escritores baianos Állex Leilla e Marcus Vinícius
Rodrigues, que segundo o autor apresentam “um olhar particular sobre o erotismo
feminino e masculino” O autor ainda destaca o autor Victor Heringer com o romance
O amor dos homens avulsos (2016) obra cujo “erotismo homossexual comparece de
forma invasiva, quase mórbida, nas lembranças de um velho.” Destaca também, a
premiada autora Natalia Borges Polesso com Amora (2015), através de seus contos
muito bem construídos ela aborda o cotidiano lésbico com “vigor rítmico e fina ironia,
mesmo quando melancólicos”. O autor ainda encerra com o livro E se eu fosse puta
(2016) da escritora Amara Moira, dizendo tratar-se de “uma autoficção
surpreendente pela elegância estilística e pelo desnudamento radical de sua
sexualidade avessa aos padrões bem-comportados.”
Apesar de trazer extensas referências literárias Trevisan (2018, p. 348) deixa
claro que o mercado editorial brasileiro foi se abrindo lentamente para a temática
LGBT, e só a partir do ano de 2014 é que foi possível encontrar livros destinados
aos jovens, estando ainda tais produções em um número bem menor do que se
comparadas com as produções juvenis de temática LGBT em países como os
Estados Unidos. No livro de contos e depoimentos intitulado Por que eu não consigo
gostar dele/dela? (2020) reúnem-se várias personalidades ligadas à literatura, como
escritores, tradutores, editores, bibliotecários e professores que refletem sobre a
temática LGBT na literatura, um dos depoimentos, o trecho abaixo, resume bastante
bem o depoimento da maioria dos envolvidos que ressaltam a importância de tal
temática, ainda mais no âmbito escolar:
através das suas múltiplas identidades construídas a partir das suas diferenças, e
ainda “vivências e experiências sociais, políticas e psicológicas de indivíduos que
dessa comunidade fazem parte”. O autor ainda diz que as sexualidades que diferem
da lógica binária não são aceitas e tratadas com naturalidade. Ainda segundo
Bortoletto (2019, p. 6) “a homofobia tem consequências sociais, psicológicas e
físicas que acrescentam na construção da identidade pessoal de cada indivíduo que
a comete e de quem é vítima dela.”
O autor através de um jogo de palavras diz que os BTQIA+ são colocados às
sombras do L e do G, “para alguns a comunidade é um espaço de acolhimento, para
outros mostra-se como um espaço onde também há de se tentar sobreviver.”
(BORTOLETTO, 2019, p. 20). Também traz a questão de que a comunidade
LGBTQIA+ é muito grande e diversa, contando com indivíduos únicos que travam
lutas individuais, lembra que mesmo em um lugar de diversidade a comunidade tem
o homem branco gay como o rosto mais popular, seguido pela mulher lésbica, todos
dentro de padrões, seria essa a rara representação nas mídias, é raro ou inexistente
as “retratações midiáticas de pessoas bissexuais, travestis, transexuais,
transgêneros, e mais raras ainda, senão inexistentes, são as das pessoas queers,
intersex, assexuados ou agêneros. (BORTOLETTO, 2019, p. 18)”
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB) “a cada 26 horas um LGBT+ é
assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o que confirma o Brasil como
campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.” (GGB, 2019, p. 13).
O país ainda tem um longo caminho a percorrer contra essas violências,
Bortoletto (2019, p. 7-8) também comprova isso através da sua pesquisa e traz
dados da organização não governamental chamada Transgender Europe (TGEu)
que monitora a morte de pessoas transgêneras e travestis no mundo todo, segundo
a pesquisa “o Brasil [...] lidera o ranking de país que mais mata transexuais e
travestis, sendo 868 mortes nos últimos oito anos”. O autor também traz dados da
ABGLT que comprovam que 73% de brasileiros na faixa etária dos 13 aos 21 anos
já sofreram algum tipo de homofobia na escola devido à sua orientação sexual.
Para Jesus (2012, p. 9) as pessoas conhecidas pela palavra transgênero,
transexuais e as travestis, adotam certos papeis de gênero que discordam do que
seria esperado de um determinado sexo (biológico) e isso é simplesmente uma
questão de identidade, e não um transtorno de saúde, pois somente em 2019 a
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Para Santos (2006 apud SILVA, 2018, p. 16) é muito complicado definir a
teoria queer solidificando seu conceito de forma a hegemonizá-la e normalizá-la.
Para Souza (2015 apud SILVA, 2018, p. 17) são conjuntos de conceitos de
especulações intelectuais. Jesus (2012) traz o queer como quem transita entre os
gêneros, é andrógeno. De forma muito simplificada, a identidade sexual é biológica,
a identidade de gênero é uma construção social, a orientação sexual se refere a
apaixonar-se romanticamente e fisicamente, o comportamento sexual somente à
experiência sexual.
A existência da comunidade é marcada por muita luta na tentativa da garantia
dos seus direitos, e alguns casos de sua sobrevivência ou existência, é o que
comprova uma pesquisa bibliométrica para verificar a temática social LGBTQIA+ na
comunicação científica na ciência da informação, nela foi identificado por Ferreira,
Viana e Oliveira (2020) que os assuntos “homofobia”, “preconceito” e “violência”
aparecem de maneira recorrente, o que sugere que a questão da violência é ainda
muito presente no cotidiano desse segmento, o que impactou diretamente as
pesquisas desenvolvidas. As autoras ainda pesquisam o aparecimento das
bibliotecas públicas em relação ao tema, a partir de uma certa recorrência elas ainda
afirmam que:
Trazer a Biblioteca Pública à tona significa reconhecer sua
contribuição para o desenvolvimento local e seu papel como agente
de transformação social. Compreende-se que, a partir do momento
que ela promove o acesso democrático ao livro, à leitura e à cultura,
contribui para a formação de cidadãos mais bem informados, críticos
e autônomos. (FERREIRA; VIANA; OLIVEIRA, 2020, p. 97)
A partir dos trechos acima é possível identificar o importante papel social das
bibliotecas públicas, e a crescente necessidade de trazer a temática LGBTQIA+ para
as práticas da biblioteca através da literatura e de atividades, para que assim haja
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Segundo Martins (1994) a leitura passa por três fases, apesar da autora ter
explicado cada uma das fases separadamente, ela deixa claro que em alguns casos
as fases podem não acontecer, ou acontecem ao mesmo tempo. A primeira fase de
leitura é a sensorial, aquela na qual usam-se os sentidos, através da exploração das
cores, cheiros, volumes, inclusive é o tipo de leitura que começa logo na infância e é
o que pode motivar para o ato da concretização da leitura do texto escrito. A
segunda é a leitura emocional, a autora define essa fase como a que se liberam
prazeres ou angústias, num processo de autoidentificação. Martins também fala que
esse tipo de leitura é tido como escapista, apesar de carregar um viés negativo,
esse escapismo pode significar uma fuga para outras realidades e abertura de novos
horizontes, além do relaxamento para reelaborar sentimentos difíceis de se lidar. E
por fim, a última fase é a leitura racional, aquela que é definida pela capacidade do
leitor questionar e dar sentido à sua individualidade e ao universo, alargando as
possibilidades de leitura de um texto através da realidade social, uma grande
diferença da leitura emocional é dialogar com o texto sem se deixar se envolver
meramente por motivos pessoais.
Martins (1994, p. 47) também traz o poder dos possuidores da palavra escrita
e do controle que as autoridades tentam exercer sobre o livro, “E há quem
literalmente perdeu a cabeça por tê-los escrito. Mas não são apenas religiosos os
pretextos de proibição. Os governos autoritários têm sido os maiores censores”
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preenchidas pelas crianças, num movimento que permite ao leitor aprender, refletir,
comparar, questionar, investigar, transformar e adquirir cultura, ao entrar em contato
com as mais diferentes visões de mundo.”
Em artigo publicado em revista, Corrêa et al. (2002) apontam a importância do
bibliotecário e do caráter essencial da biblioteca na escola. Além disso as
bibliografias especializadas, respectivamente, American Library Association (ALA,
1999); Organização dos Estados Americanos (1985); Hillesheim e Fachin (1999)
explicitam algumas funções do profissional bibliotecário, abaixo foram elencadas as
que se relacionam com o cumprimento do currículo e das políticas nacionais, assim
como as que auxiliam a leitura e formação do leitor, são elas:
Após a escolha dos livros pela equipe de avaliação foi criada uma lista com os
14 acervos da Categoria I - 6º e 7º anos e os outros 14 da categoria II - 8º e 9º anos,
totalizando 342 obras literárias com diferentes temáticas, a primeira categoria
contendo 173 obras, e a segunda categoria com as 169 restantes. O guia apresenta
o professor como quem irá escolher junto a direção da escola as obras, para isso ele
terá de analisar as resenhas e poderá ter o acesso digital das obras na íntegra, mas
a realidade é diferente, os professores terão de escolher dois acervos em cada
categoria, o que acaba por limitar essa oportunidade de escolha. A análise das
obras é feita com os mesmos critérios de escolha do edital explicitados em forma de
questionário no guia.
O guia de Seleção de Obras do PNLD, segundo Brasil (2018 p.36), traz
também expressa a necessidade de que “a escola dialogue com a diversidade de
formação e vivências para enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos
educativos.”
Analisando as resenhas dos livros foi possível encontrar poucos livros que
abrem margem para tratar da diversidade sexual e de gênero, e estão somente na
categoria de livros do 8º e 9º ano, são eles:
excepcional que mantém um longo casamento e aparenta ter uma ótima relação
com seu marido.
e apenas duas trazem aspectos positivos, mesmo uma delas tendo apenas um
conto, elas estão nos Acervos 24 e 28. Um fator que pode fazer com que as obras
não sejam escolhidas é a qualidade do restante dos livros que se encontram junto às
respectivas obras, pois o guia traz em algumas resenhas a identificação de baixa
qualidade editorial-gráfica, ortográfica ou literária e até conteúdo que expressa
algum tipo de preconceito. Mesmo que na maioria dos casos os livros apresentem
resenhas bem detalhadas, é possível que o conteúdo de alguns livros presentes nos
acervos traga a temática LGBTQIA+, porém através da análise feita a partir das
sínteses de cada livro disponibilizadas pelo PNLD não se identificou tal temática,
além das obras já comentadas. Lembra-se que alguns livros também podem
proporcionar maneiras com que o educador, assim como o bibliotecário, trate dos
assuntos através de outras questões de diferenças.
O PCN traz uma série de documentos que norteiam e são o esteio das
atividades e discussões pedagógicas realizadas na escola e em sala de aula, o
conjunto de documentos é encontrado no portal do Ministério da Educação (MEC) e
sua divisão principal é Ensino fundamental 1 e Ensino Fundamental 2, segundo
Brasil (1997, p. 4) o documento inclui “preocupações contemporâneas [...]
sexualidade e [...] questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do
ser humano.” Com o propósito de apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a
enfrentar o mundo como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, o MEC reforça
a importância de consolidar essas diretrizes.
Quanto ao tema de orientação sexual, o documento trata como algo inerente
à vida, que se expressa desde cedo, ele também traz questões de discriminação e
estereótipos vivenciados nos relacionamentos, assim como AIDS e gravidez
indesejada.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) vinculado ao
Ministério da Educação é responsável pelo PNLD, e segundo Brasil (c2017, não
paginado) é o programa mais antigo voltado à distribuição de obras didáticas aos
estudantes da rede pública, quando iniciou era chamado de Instituto Nacional do
Livro. Ao longo do tempo o programa teve diferentes nomes e formas de execução,
em 1997 foi publicado o primeiro guia de escolha das obras, já com critérios de
exclusão como os de preconceito e discriminação, prática que continua até o ano de
publicação do trabalho. O PNLD foi unificado ao Plano Nacional do Livro Didático
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3 METODOLOGIA
6 De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019, 42,7% dos
brasileiros se declararam como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como
amarelos ou indígenas. (IBGE, Educa, online, c2021)
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de ser invisível. Natalia Borges Polesso e Caio Fernando de Abreu já haviam sido
citadas por Trevisan (2018), ela como escritora destaque com seus contos sobre o
cotidiano lésbico no século XXI, e ele com um foco em personagens masculinos,
mas não restritamente, em busca do amor e da descoberta de suas sexualidades no
século XX na década de 70, ambos escritores marcam suas épocas e são ilustres
por suas obras. Um escritor e novelista, assim como Walcyr Carrasco, é Aguinaldo
Silva, ambos da mesma época, provavelmente apresentam certas semelhanças. É
interessante o que Trevisan (2018, p.34) disse sobre literatura LGBT e seus autores,
ainda mais quando falamos de Natalia, Caio, Walcyr e Aguinaldo que compartilham
essa capacidade em resistir “através da ironia, desmunhecação e riso, nutrindo um
descaso pelas normas de gênero e sexuais, distorcendo o uso da linguagem”.
trabalhavam, alguns deles achando até que não tinham tal responsabilidade, os
autores inclusive deixam claro que o bibliotecário não deve se eximir da participação
do ensino do aluno, e desenvolver atividades nessa temática seria importante para
esclarecer dúvidas, eliminar estereótipos, promover discussões e cessar
preconceitos.
A partir da análise dos dados obtidos parece haver um certo temor em
desenvolver atividades com literatura de temática LGBT, em certo ponto as
respostas de que às vezes ou raramente as atividades são desenvolvidas
demonstram a ausência, pois na realidade pouco se vê o desenvolvimento de tais
atividades, as respostas ainda entram em contradição quando cruzadas, das seis
pessoas que responderam “às vezes” apenas uma não apresentou nenhuma
barreira na aquisição de obras com temática LGBT, dos demais respondentes dois
trouxeram à falta de materiais, e os outros três trouxeram a reclamação da escola,
ou de outros funcionários da biblioteca. Muito do trabalho dessa temática está na
exigência dos alunos e sujeitos que se colocam nestes espaços.
É importante lembrarmos que, baseado em números trazidos pelo Grupo Gay
da Bahia (2019), o Brasil é líder em crimes contra as minorias. A Associação
Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT, 2016)
aponta na Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil que
estudantes se sentiram inseguros no espaço escolar, 60,2% por causa da sua
orientação sexual e 40,8% por causa da expressão de gênero, sendo assim verifica-
se o desconforto em trabalhar tais temas, em um país extremamente LGBTfóbico,
porém em mesma intensidade, se não mais intensamente, verifica-se a necessidade
da execução de atividades de temática LGBT, dentro e fora das escolas e
bibliotecas. Abaixo segue a figura referente às respostas obtidas nos questionários.
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ocupação e reivindicação dos LGBTs nesses espaços, mas para isso é preciso,
também, um certo estímulo, alguma abertura, compreensão e acolhimento.
No espaço para dúvidas e sugestões surgiram alguns comentários muito
importantes, alguns dos respondentes disseram temer a opinião de seus superiores,
e a negação de seus projetos, uma vez que já encontram dificuldades em exercer
alguns trabalhos. Um dos respondentes disse “Gostaria de trabalhar mais com essa
temática, mas é uma escola confessional, ainda enfrentamos barreiras, mas acredito
muito na biblioteca como esse espaço múltiplo de vozes e vivências. Uma biblioteca
para todes”. Outro respondente disse que o questionário o instigou a rever as
práticas na biblioteca e a procurar formação continuada em tal temática de extrema
importância. Em uma das respostas foi apontado também que a sociedade deveria
estar mais consciente e aberta para que a temática LGBTQIA+ ocupasse mais os
espaços. Um dos respondentes disse que a biblioteca é um lugar de “imparcialidade
política” e que o bibliotecário deveria atender o público sem se posicionar. A partir
dessa resposta salienta-se que estar a favor da presença de literatura de temática
LGBT se trata de atender às demandas da sociedade e dar visibilidade para uma
comunidade que existe e faz parte da realidade, porém ainda é massacrada, a
imparcialidade política aparece quando justamente não rechaçamos o preconceito e
não nos posicionamos em favor de que todos tenham acesso, estejam presentes e
sejam tratados com equidade.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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CRESWELL, John W.; PLANO CLARK, Vicki L. Designing and conducting mixed
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JÚNIOR, José Alexandre da; FREITAS, Diego. Uma introdução aos métodos
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http://dx.doi.org/10.1590/15174522-018004221. Acesso em: 29 ago. 2021.
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Nunes. Uma nova velha história: sobre censura e literatura LGBT+. In: Estudos de
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MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 1999.
MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. 19 ed., São Paulo: princípios, 1994.
RAMOS, Anna Claudia; SCHIMENECK, Antonio. Por que eu não consigo gostar
dele/dela? Rio de Janeiro: oficina Raquel, 2020. 108 p.
() Outros: ______________
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Você lembra de algum livro de temática LGBTQIA+ que já trabalhou? (se puder
especifique sua resposta)
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() Sim. () Não.
() Não é importante.
() Outros:_______________________________