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Trabalho Final da disciplina Ética e Bases Humanas no curso

de RTVI – 6° semestre Noturno campus Centro-Mocca

Caso Dandara dos Santos e a cobertura midíatica dos asssassinatos de travestis no


Brasil.¹

Alvanisio MANOEL, RA 20626970 ²


Andressa SISTO, RA 20544159 ²
Antonella VICHI, RA 20605131²
Barbara SIMÕES, RA 20570673 ²
Nádia LEDEDEV ³

Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP.

Resumo

O objetivo desse artigo é analisar, através da cobertura jornalística do caso de Dandara


Kataryne dos Santos, como ocorre o noticiamento dos assassinatos de transexuais e
travestis. Esse estudo visa entender qual a abordagem utilizada, como ocorre o
desenvolvimento, quais são suas bases e como isso afeta a visão do espectador sobre esse
determinado grupo de pessoas. Partindo do ponto de vista social, a pesquisa fará uma
análise do programa Profissão Repórter do dia 26/04/2017, que trata desse caso.

Palavras-chave

Travestis; jornalismo; Profissão Repórter, cobertura midiática.

1 Introdução

A população T, pertencente a sigla LGBT, abrange vários espectros. Aqui, trataremos


principalmente da história de Dandara, que se reinvidicava como travesti, uma identidade
latino - americana e autônoma. Estima-se que a expectativa de vida dessa população seja de
35 anos, em oposição ao 75,5 anos da população geral do Brasil. Segundo o ANTRA
(Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% das travestis trabalham como
profissionais do sexo. Todos esses fatores, combinados a falta de aceitação social e da
família, faz da população T vulnerável a todo tipo de violência.
A televisão, como meio de comunicação de grande alcance, tem uma responsabilidade
social com a população como um todo. A partir da análise do caso da travesti Dandara dos
Santos, analisaremos como ocorreu a cobertura desse assunto, qualentendimento do
midiático sobre as travestis e como isso influencia a visão do espectador sobre esse grupo
marginalizado.

¹ Trabalho apresentado como exigência para obtenção de nota na matéria de Ética e Bases Humanas no curso de RTVI.
² Autores. Estudantes de graduação do 6º semestre de Rádio e TV na Universidade Anhembi Morumbi.
³ Orientadora. Nádia Lebedev, docente nos cursos de Comunicação Social na Universidade Anhembi Morumbi.

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2 O Caso Dandara Kateryne dos Santos

Dandara dos Santos, 42 anos, morava no bairro de Bom Jardim, bairro pobre localizado na
região sudoeste de Fortaleza. Como grande parte das travestis do Brasil, sua história seguiu
um cruel destino: morreu cedo, por meio de um assassinato brutal.

O reconhencimento da identidade travesti veio aos 18 anos: até aquela idade, Dandara se
entendia como homem gay. Sua relação com a mãe era boa, apesar dessa não a tratar por
pronomes feminimos. Na região, tinha amigas que afirmavam seu bom humor e
descontração. Em entrevista ao portal NLucon, a amiga Labelle Rainbow declarou que a
amiga "era alegre, e portanto, vítima de chacota na região onde morava”.

Aos 25 anos veio tentar a vida em São Paulo: trabalhou como cabeleireira, mas acabou
retornando a sua cidade natal, aos 35 anos. Lá, sobrevivia trabalhando como diarista e da
venda de roupas usadas.

Em 15 de fevereiro de 2017, dia de seu assassinato, uma vizinha relata que Dandara estava
a caminho do mercado. Ali, ocorre um crime hediondo, onde nove jovens assassinam a
travesti Dandara, expondo ao Brasil a vulnerabilidade em que travestis e pessoas trans se
encontram. O motivo do crime tem nome: transfobia, ou seja, ódio contra a população de
travestis e transexuais. Em 2016, estima-se que 144 travestis e transexuais foram
assassinadas no país (Grupo de Gays da Bahia). Até o mês de março de 2017, o número já
estava em 23.

(frame retirado do programa Profissão Repórter sobre transfobia)

Como o assassinato de Dandara dos Santos diferencia-se desses outros caso? O assassinato
foi filmado e exposto nas redes sociais, obrigando o país a enxergar toda uma população
historicamente marginalizada. Os outros casos, infelizmente, são pobremente reportados,
devido a uma população que vê essas mortes como secundárias. Esse caso mobilizou os
movimentos LGBTs do Brasil, que exigiram respostas ao crime, punição aos assassinos e
leis que protejam essas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social.

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Nesse artigo, faremos uma análise da edição do “Profissão Repórter” do dia 26/04/2017,
que trata de transfobia. Nesse programa, os jornalistas Caco Barcellos e Monique Evelle
acompanham cinco casos: o assassinato de Dandara; a história de Bernardo, um jovem trans
e o processo de aceitação de sua família; a inauguração da Casa 1 (casa de acolhimento para
LGBTs em situação de rua); o homicídio de Ágatha (jovem transexual morta em Itapevi,
São Paulo); Alan, jovem expulso de casa por ser gay e Érika, travesti jogada de uma
passarela três dias antes do assassinato de Dandara.

O programa tem aproximadamente 30 minutos e trata superficialmente de cada caso. As


histórias as quais são dadas maior tempo de arte são as de Dandara e Bernardo.

3. Profissão Repórter - Transfobia

Analisaremos, a seguir, a parte da reportagem dedicada ao assassinato da travesti Dandara


dos Santos.

A reportagem começa com uma imagem do jornalista Caco Barcellos na Avenida Paulista,
centro da cidade de São Paulo. Conhecido por ser um local de encontro da população
LGBT, a avenida também ficou conhecida como o local da agressão homofóbica ao jovem
Luís Alberto Betonio, em novembro de 2010, que foi atingido por uma lâmpada, crime
cometido por Jonathan Lauton Domingues, de 24 anos, que foi condenado a uma pena de 9
anos.

A reportagem introduz a história de Dandara através do vídeo de seu assassinato, filmado


por um dos agressores. Nessa cena, aparecem três jovens espancando a travesti que está
jogada no chão. São eles: “Chineizinho”, Jean e Julio César.

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Segue para uma imagem de Dandara pedindo por misericórdia a seus agressores. No vídeo,
é possível ver que a mesma já se encontra severamente ferida.

Após o espancamento, os jovens colocam Dandara em um carrinho de mão e a levam a um


beco nas proximidades. No local, a apedrejam e matam com tiros no rosto.

Imagens do corpo de Dandara, mostradas pela amiga Vitória, que é investigadora da policia
e uma das responsáveis pela investigação do caso. Segundo Vitória, o espancamento durou
cerca de trinta minutos e foi presenciado por muitos vizinhos, que relataram a
impossibilidade de oferecer ajuda, por medo de ser agredidos.

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Nessa imagem, Caco Barcellos visita a delegacia onde estão detidos aproximadamente
quatro dos jovens envolvidos no caso. Nesse local, os parentes se comunicam com os
presos através de uma brecha na parede. É recebida a informação de que os jovens
envolvidos no assassinato se consideram inocentes.

Em depoimento, a Mãe de Dandara diz “não sei que porque precisou meu filho ser
massacrado pra que alertasse o pensamento da sociedade”.

A família organizou uma vigília em memória de Dandara dos Santos.

4. Conclusão

Durante o programa, é reportado de modo gráfico todos os acontecimentos hediondos. É


exibido o vídeo do espancamento e fotos do corpo de Dandara, de modo desnecessários e
desrespeitoso.
Nas entrevistas, é possível perceber que os jornalistas não tem total domínio do assunto,
pois a cada momento usam um pronome diferente para se referir a Dandara e se confundem
ao tratar de identidade de gênero e orientação sexual.
Faltou, por parte da edição do programa, a sensibilidade de detalhar mais a fundo a história,
criando uma biografia e humanizando a reportagem. Além disso, usando de boatos para
preencher as lacunas do ocorrido, como quando vizinhos dizem que Dandara estava com
um “cliente” na hora de seu assassinato.
É importante que a grande mídia esteja noticiando casos como esse, mas temos que
questionar quais são os danos dessa abordagem sensacionalista e despreparada. Para uma
sociedade transfóbica, com uma visão que marginaliza pessoas dessa classe, é importante
que se mostre o que esse pensamento causa na vida de pessoas trans. Porém, é necessário
cuidado para que não se fortaleça esse tipo de convicção, ao desrespeitar o gênero com o
qual Dandara de identifica ou ao presumir que seu sustento advinha de trabalho sexual.

5. Referências Bibliográficas

http://consciencia.blog.br/tag/daniela-andrade#.WPt-JtLyvIU

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http://www.nlucon.com/2015/02/expectativa-de-vida-de-travestis-e-de.html
https://inverta.org/jornal/edicao-impressa/488/social/dandara-dos-santos-vitima-de-
lgbtfobia-e-do-exterminio-da-periferia
https://universidadedocotidiano.catracalivre.com.br/o-que-aprendi/una/quem-foi-dandara-
dos-santos/
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39227148
http://www.nlucon.com/2017/03/quem-era-dandara-dos-santos-travesti.html
http://www.fafich.ufmg.br/nuh/2016/12/28/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-travestis-e-
transexuais-no-mundo/
http://www.midiamax.com.br/brasil/acusados-assassinato-dandara-santos-tem-prisao-
preventiva-decretada-335843
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/03/1869785-dandara-pedia-por-mim-diz-
mae-de-travesti-assassinada-no-ceara.shtml
http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/04/brasil-e-o-pais-mais-violento-do-
mundo-contra-travestis-e-transexuais.html
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/10/justica-condena-9-anos-acusado-de-agredir-
jovem-com-lampada-em-sp.html
https://extra.globo.com/casos-de-policia/policia-prende-nono-agressor-de-dandara-
delegada-ouve-outra-travesti-ferida-no-ce-21108377.html
http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/dandara/2017/03/09/noticia-especial-
dandara,852956/travesti-dandara-morre-em-fortaleza-video-mostra-execucao.shtml
http://www.nlucon.com/2017/03/governador-do-ce-diz-que-vai-se.html
http://www.nlucon.com/2017/03/quatro-adolescentes-acusados-de-matar.html
http://www.nlucon.com/2017/03/apos-video-brutal-vazar-policia.html

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