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Meu Namorado é o Papai Noel

— Como assim você não vai poder vir pro Natal?


— Amor...— Ele suspira do outro lado da linha.
— Nem vem com “amor"! — exclamo, fazendo minha mãe dar um pulo ao meu lado no
sofá. Sussurro um “desculpa” e retorno à ligação. — Eu não acredito que você não vai vir!
— Mari, eu sei que você queria que eu fosse pra finalmente conhecer a sua família,
mas também tenho uma família e minha mãe tá doida pra que eu passe o natal com ela.
— A sua mãe sabia e aceitou que você viesse pra cá passar o Natal comigo e com a
minha família! Por que do nada ela mudaria de ideia?
— Talvez porque ela tenha acabado de se divorciar e não vai ter mais o meu pai pra
passar o Natal com ela?
— Então traga ela junto com você, ué. Aí ninguém fica triste e passamos o Natal todos
juntos.
— Ela não quer sair de casa! Todos os Natais acontecem aqui, é uma tradição de
família.
— Tudo bem...— Engulo o nó na garganta. Estou decepcionada com ele, mas ao mesmo
tempo não quero ser uma namorada ruim, então apenas aceito.
— Tem certeza que tá tudo bem?
— Sim, tá. — Me esforço para deixar meu tom o mais “alegre” possível.
— No Natal que vem eu passo com você e a sua família. Tá bom?
— E se não estivermos mais juntos no próximo Natal? — Só a possibilidade de não
estarmos mais namorando no final do ano me assusta ao extremo. Por isso que tento dispensar
esse pensamento inseguro e ruim enquanto espero sua resposta.
— É claro que vamos estar juntos! Eu te amo demais pra te deixar e sei que não sou o
único. — Sorrio com suas palavras, tendo consciência de que ela está fazendo o mesmo. — No
Natal que vem ainda vamos estar namorando e vou conhecer a sua família.
— Vai mesmo?
— Eu vou, amor — ele usa um tom amoroso que me deixa toda derretida. — Agora
tenho que desligar, ainda falta terminar algumas decorações aqui. Te ligo mais tarde.
— Tá bom...Te amo.
— Te amo muito mais, amor. Tchau!
— Tchau.
Aperto o círculo vermelho e desligo a ligação, repetindo o ato com meu celular. Em
seguida deito a cabeça no encosto do sofá, fecho os olhos e respiro fundo.
— Filha.
Levanto a cabeça e encaro a mulher ao meu lado, que me olha curiosa.
— O que foi?
— Tá tudo bem? O Gabriel não vem mesmo?
Suspiro e tampo meu rosto com as mãos.
— Não. — Minha voz sai abafada.
— Ah, que pena! Queria muito conhecê-lo. — Destampo meu rosto e encaro meus
joelhos, cabisbaixa.
— Eu sei, mãe. Mas no próximo Natal ele vem pra cá.
— Hm...se for assim então tudo bem.
Ficamos alguns segundos em silêncio, até minha mãe fazer um barulho com a língua, o
que chama minha atenção até ela.
— Quer me ajudar a fazer os biscoitos?
Apenas assinto.
Biscoitos distraem a mente e preciso de uma distração, se não vou acabar chorando e
não quero passar o Natal assim.

...

Falta pouco tempo para o Natal. Minha casa está uma bagunça total com tantas crianças
e parentes falando alto. Mas é claro que isso não me incomoda, porque apesar da barulheira, a
magia do Natal prevalece e só faz com que tudo seja lindo e feliz.
Porém há um detalhe que me entristece e é a ausência do meu namorado nessa data tão
especial não somente para mim, mas para toda a minha família. É difícil não ficar triste sabendo
que não vou poder beijá-lo quando formos desejar um feliz Natal ou não vamos poder trocar
presentes. É triste.
— Crianças! — Meu pai grita, chamando a atenção de todos os pequenos que correm
em sua direção a param agrupados na frente do mais velho que sorri misterioso. — Vou contar
uma coisa pra vocês...— ele “sussurra”, enquanto se agacha pra ficar na mesma altura que os
mais novos. — O Papai Noel já tá chegando! — A casa é preenchida por gritos alegres e risadas
infantis. Sorrio com a cena, junto com a minha mãe e algumas tias.
— Tô ansiosa pra ver esse Papai Noel — minha mãe fala, arrancando risadas das
pessoas próximas.
Elas ficam conversando por um tempinho, então minha mãe vai até a cozinha e minhas
tias se separam pela residência.
Meu pai interage mais um pouco com as crianças e para ao meu lado, olhando para a
árvore de Natal, assim como eu.
— Lembro do tempo que também ficava alegre com a chegada do Bom Velhinho.
— Você não fica mais alegre, pai? — Encaro o grisalho.
— Fico. — Ele também me encara. — Mas agora eu sei que o Papai Noel pode ser
várias pessoas diferentes. — Nós dois rimos.
— Mas ele ou ela continuam sendo o Papai Noel, apesar disso. — Bato de leve o meu
braço com o dele e sorrio abertamente.
— É verdade, é verdade. — Ele ri. — Sua mãe me disse que o Gabriel não vem.
Meu sorriso se fecha e assinto, mesmo que meu pai não tenha feito uma pergunta.
— Fico muito triste. Ele parece ser um bom rapaz.
— Ele é, sim. Não quis deixar a mãe sozinha nesse Natal.
— Uma atitude muito bonita a dele. Já sei que é o cara certo pra você, filha.
Tal frase me deixa um pouquinho mais feliz.
O celular do meu pai vibra, denunciando uma nova mensagem e observo ele dar uma
olhada no aparelho antes de correr até a cozinha. Sigo o grisalho.
— O Papai Noel chegou — ele avisa para minha mãe que deixa o pudim de leite acima
do balcão. Fico com água na boca ao encarar a sobremesa, mas me contenho e presto a atenção
nos mais velhos.
— Já?! — Ela arregala os olhos. — Tá bom, junte as crianças na sala. Na verdade,
junte todo mundo lá. Mariana, vá ajudar seu pai com isso, eu cuido do Papai Noel.
Eu e meu pai vamos para a sala e não temos dificuldade em juntar todos naquele
cômodo. Algumas crianças estão sentadas em cima do tapete enquanto outras permanecem em
pé, ansiosas e trêmulas. Até eu estou ansiosa, mesmo que não acredite mais em Papai Noel.
Encaro o relógio na parede e vejo que falta menos de 2 minutos para o Natal.
— HO, HO, HO! FELIZ NATAL! — De repente um grito ecoa pela casa e as crianças
arregalam os olhinhos, olhando em volta à procura da origem do som. Os adultos fazem o
mesmo. — HO, HO, HO! — Agora o grito está mais próximo e todos fitam a entrada da sala.
Não demora muito para o Papai Noel aparecer no cômodo, causando uma euforia
ENORME nos pequenos que gritam, riem, batem palmas, continuam com os olhos tão
esbugalhados que podem saltar para fora e sorrisos gigantescos que cobrem quase todo o rosto.
Acompanho as crianças ao arregalar os olhos.
O que...?
— HO, HO, HO! Quantas crianças lindas! Tenho presentes para todas! — O Papai Noel
senta na cadeira enfeitada que minha mãe colocou num canto também enfeitado da sala e deixa
o saco grande e vermelho de presentes bem ao seu lado.
Eu não acredito...
— Quem será o primeiro ou a primeira à ganhar um presente? Só os que foram
bonzinhos e boazinhas esse ano serão presenteados!
As crianças gritam “Eu!” ou “Eu fui bonzinho/boazinha Papai Noel!”
Nem percebo quando minha mãe para ao meu lado e segura minha mão; meu pai faz o
mesmo com ela. Volto meu olhar para o “velho” barrigudo que chama as crianças pelos nomes e
dá em suas mãos seus devidos presentes, tirando uma foto com cada uma para depois chamar a
próxima.
Um bom tempo depois o saco está vazio e todos os pequenos estão com seus presentes.
Na verdade todo mundo recebeu um presente, menos eu.
— HO, HO, HO! Eu tenho que ir embora agora!
As crianças soltam exclamações tristes e uns até começam a chorar.
— Não chorem! Não chorem! Eu voltarei no próximo Natal! Vocês foram bons
meninos e meninas! Estou muito feliz!
— Tchau, Papai Noel! — Meus pais gritam e nossos parentes os imitam; os mais novos
também se juntam e todos se despedem do Bom Velhinho que acena várias vezes antes de ir
embora.
Cutuco minha mãe e esta me encara com um sorriso alegre.
— Sim, filha?
— Eu vou lá fora rapidinho.
Ela sorri mais ainda com minhas palavras e acho isso estranho.
— Tudo bem, querida. Mas não demore muito, daqui a pouco vou servir a ceia!
Aceno com a cabeça e deixo a sala. Saio de casa e desço os pequenos degraus em frente
a porta, então caminho pelo jardim, apenas ouvindo as vozes abafadas vindas de dentro da
residência e músicas natalinas tocando baixinho.
Avisto uma silhueta encostada na grande árvore que tanto brinquei na infância e me
aproximo com passos lentos.
— Ho, Ho, Ho, gatinha...
— Gabriel? — Cerro os olhos, tentando enxergar o rosto da pessoa em meio à falta de
luz naquela parte do Jardim.
— Não, não, não... Sou o Papai Noel e você é a moça mais linda que já vi!
A silhueta se desencosta da árvore e caminha na minha direção. Finalmente consigo ver
melhor a pessoa e minhas suspeitas se confirmam.
Meu namorado é o Papai Noel!
Gabriel para centímetros perto de mim e abaixa a barba branca, dando a visão de seu
rosto másculo e delicado ao mesmo tempo. Ele está sorrindo, sorrindo tão abertamente que
consigo ver todos os seus dentes alinhados.
O encaro confusa, sem saber o que falar.
— Oi...— Ele sussurra, abraçando minha cintura.
— O que você tá fazendo aqui? — Seguro seus ombros, sentindo o tecido aveludado da
roupa de Papai Noel que ele ainda usa. A única coisa que não faz mais parte do seu look é a
barriga grande.
— Vim passar o Natal com a minha namorada, ué. — Suspiro quando Gabriel coloca
uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Mas...você disse que não ia...
— Shiiiiu! — Ele encosta o indicador em meus lábios, o afastando segundos depois
quando percebe que não vou falar mais nada. — Eu só queria fazer uma surpresa. Desculpa se te
magoei, não era minha intenção.
— E a sua mãe?
— Ela foi passar o Natal com a Vovó. — Ele dá de ombros e solta um suspiro em
seguida. — Sabe, alguns dias atrás eu realmente não ia vir pra cá, mas foi a minha mãe que me
convenceu a vir e fazer essa surpresa, me garantindo que não ia passar o Natal sozinha e muitos
menos ficar triste por eu estar longe dela nesta data.
— Entendi.
— Então...o que achou dessa surpresa? — Gabriel me olha receoso.
Dou um tapa forte em seu peitoral e ele geme de dor enquanto esfrega o local.
— Não era a resposta que eu queria, mas tudo bem.
— Para de ser bobo — falo risonha. — Você mereceu esse tapa. — O olho séria.
— É, eu sei. — Ele encolhe os ombros.
Rio e deixo um selinho em seus lábios.
— Eu amei a surpresa, amor. — Gabriel suspira aliviado e ergue o olhar até mim. —
Obrigada por ter vindo.
— Não precisa agradecer. — Fecho os olhos, aproveitando do seu carinho em meu
rosto. — Eu tô tão feliz de estar aqui com você e a sua família. Falando em família, seus pais
são muito massa! — Abro os olhos e ele me lança um sorriso animado. Sorrio também. — Eles
me ajudaram bastante. Mas te conto isso com mais detalhes depois, porque agora tenho que
entregar o meu último presente como Papai Noel. — Ele levanta a barba de novo e dá meia
volta, pegando algo próximo da árvore. Gabriel volta para perto de mim e me dá uma caixa de
presente linda, abro ela e pego uma caixinha menor ali dentro; abro esta também e vejo um anel
delicado, com um diamante de tamanho médio no topo. Tampo minha boca com a mão livre e
ergo meu olhar até o homem na minha frente que sorri de canto.
— Quer casar com esse Papai Noel desengonçado que te ama muito?
Meus olhos marejam e meu coração bate rápido. Deixo as lágrimas caírem e abro um
sorriso sincero, assentindo freneticamente com a cabeça.
— Sim, sim, sim!
Pulo no colo do mais alto que me ergue no ar e roda nossos corpos. Ele me beija –
depois de abaixar a barba, é claro – enquanto me coloca em solo firme novamente.
— Eu te amo tanto, tanto...— Gabriel sussurra com a testa encostada na minha.
— Eu também te amo, meu amor. Amo muito! — sussurro de volta, deixando um
selinho longo em seus lábios.
Ele coloca o anel em meu dedo, enquanto ambos choramos.
— Esse é o melhor Natal da minha vida! — Gabriel ergue os braços pro alto e rio, antes
de encarar minha nova aliança.
— Tô noiva do Papai Noel...acho que tô sonhando.
— Se isso for um sonho, não quero acordar nunca mais. — Novamente minha cintura é
abraçada e encaro meu noivo que se aproxima e me beija de novo. Afasto nossas bocas, fazendo
o homem resmungar.
— Calma aí, Papai Noel. — Tampo a boca dele com minha mão, quando Gabriel tenta
mais uma vez juntar nossos lábios.
— Quero passar a noite inteira te beijando — ele confessa, deixando um selar na minha
palma ainda próxima da sua boca e me olhando fundo nos olhos.
Sorrio e aperto a ponta do seu nariz.
— Ainda não te dei seu presente. Ele tá guardado dentro do meu armário, porque pensei
que o Senhor não iria vir. — Cutuco seu peito e ele ergue as mãos em rendição.
— Então bora lá pegar meu presente. O Papai Noel também merece receber presente. —
Gabriel sorri de lado e nego com a cabeça, rindo.
— Só vai ganhar seu presente se ficar quietinho. — Olho séria para ele e o mais alto
finge fechar a boca com um zíper.
Reviro os olhos e entramos na residência, tomando o máximo de cuidado ao subir as
escadas, para que os pequenos não vejam o Papai Noel perambulando pela casa.
Quando já estamos dentro do cômodo, vou até o armário e pego o presente.
— A curiosidade bateu aqui. — Me viro em sua direção e Gabriel senta na minha cama.
Me aproximo e paro na sua frente, obrigando o moreno à inclinar um pouco a cabeça
para poder me olhar nos olhos. Mordo o lábio inferior e estendo o presente para ele, que baixa o
olhar e pega a embalagem das minhas mãos.
Aproveito que meu noivo está distraído rasgando o papel de presente contendo
pequenas renas bem fofinhas e puxo a touca da sua cabeça, botando na minha própria; sorrio
quando toco na bolinha branca no topo dela.
Demora alguns segundos para Gabriel finalmente conseguir abrir o papel de presente e
prendo a respiração assim que o que comprei para ele fica visível aos seus olhos.
Um nervosismo me consome quando o moreno não diz nada por vários segundos.
Ele não gostou...
— Meu Deus! — Dou um pulo com sua exclamação repentina. — Meu Deus! Eu não
acredito! — Gabriel ri, todo alegre enquanto retira a jaqueta de couro de dentro da embalagem.
Solto o ar com sua reação, me sentindo menos nervosa.
Sorrio e sento ao seu lado, o observando colocar a jaqueta com um sorriso enorme. Tal
peça não combina muito com a fantasia de Papai Noel, mas nele fica lindo.
— Gostou? — Recebo sua atenção e vejo um brilho animado em seus olhos.
— Eu adorei! — Ele beija meus lábios com rapidez. — Como você soube que eu estava
doido por essa jaqueta?
— Sua mãe me falou um tempinho atrás. — respondo, acompanhando seus movimentos
ao fechar o zíper da jaqueta.
— Obrigado, amor. — Ele entrelaça nossos dedos e me olha agradecido, mas ao mesmo
tempo apaixonado. Não estou muito diferente — Foi o melhor presente que eu recebi na vida!
— Aí já é exagero — falo, risonha. — Com certeza você já ganhou um presente incrível
e bem mais interessante que o meu.
Gabriel franze o cenho e balança a cabeça negativamente.
— Nana-nina-não. — Ele leva a mão livre até meu rosto e acaricia a pele da minha
bochecha. — O seu presente é o melhor, pode ter certeza.
— Tá sendo sincero? — Cerro meus olhos.
— Nunca fui tão sincero em todos os meus anos de vida. — Vejo sinceridade em seus
olhos e sorrimos um para o outro, mas antes que possamos nos beijar, a porta do meu quarto é
aberta e minha mãe me encara com uma expressão nervosa.
— Aí está você! Te procurei pela casa inteira!
Lembro que ela pediu para eu não demorar lá fora e abro um sorriso amarelo em sua
direção.
— Desculpa, mãe...esqueci da ceia.
Ela cruza os braços e me lança um olhar sério.
— Desça logo, todos já estão na mesa à sua espera. — Após falar isso, a mulher desvia
sua atenção para o sujeito ao meu lado e sorri doce. Bipolaridade que se chama. — Você
também, querido.
Olho para o meu noivo que retribui o sorriso e assente. Volto para a minha mãe que
aponta para um relógio imaginário em seu pulso antes de sumir do nosso campo de visão.
Gabriel solta uma risada baixinha e o encaro com uma sobrancelha erguida.
— Você e minha mãe parecem bem próximos.
— Simpatizei muuuito rápido com ela. — Ele dá de ombros e levanta da cama.
Gabriel retira sua jaqueta nova e a joga na minha direção, acertando em cheio meu rosto
já que não pego ela a tempo. Olho feio para o moreno e este segura o riso enquanto se desfaz da
fantasia e fica apenas com as roupas que já usava por baixo, que se resumem numa calça jeans
preta, rasgada nos joelhos e uma camiseta branca. Lhe entrego a jaqueta e ele a coloca de novo,
parando na frente do meu espelho para ver sua aparência.
— Tá parecendo um Badboy com essa jaqueta de couro e a calça rasgada. — comento, o
olhando de cima a baixo.
Tão lindo...
O moreno vira apenas a cabeça para me encarar e vejo um sorrisinho no canto dos seus
lábios.
— Só se você for a nerd que eu irei zoar, mesmo sendo complemente apaixonado por ti.
— Claro! — Gabriel sorri satisfeito. — Nos seus sonhos eu vou ser — completo,
piscando para ele e este revira os olhos, indo até a porta.
— Vamos?
— Vamos! — Levanto com um pulo e corro até o maior, segurando sua mão.
Nos juntamos à minha família na enorme mesa e logo meus parentes começam a
questionar quem é o rapaz bonito ao meu lado. Olho para Gabriel que me encara de volta,
sorrimos. Volto para os mais velhos e respiro fundo antes de responder:
— É o meu noivo.
Meu pai se afoga com o vinho que estava bebendo e minha mãe dá uns tapas fortes em
suas costas, tentando o ajudar. Assisto aquela cena com os olhos arregalados e suspiro aliviada
assim que o homem consegue se recuperar. Gabriel aperta nossas mãos e sorrio um pouco.
Os outros parentes permanecem em silêncio, surpresos e assustados com o recém
acontecimento.
— Como assim? — meu pai pergunta, entreolhando nós dois.
— Bom...pedi a mão da Mari não faz nem uma hora — Gabriel conta, escondendo
certos detalhes devido à presença das crianças.
— Você sabia que ele faria isso, querida? — Meu pai encara a esposa que assente de
vagar em resposta. Eu e o grisalho a olhamos indignados.
— O que? Ele quis me contar e eu, como a mãe bobona que sou, lhe dei permissão para
fazer o pedido — ela fala, encolhendo os ombros.
— Se eu soubesse que ele iria fazer esse pedido sem o meu consentimento, nem teria o
ajudado. — O moreno se encolhe ao meu lado, intimidado com o olhar sério do meu pai sobre
ele.
— Calma, querido. — Minha mãe leva sua mão até o ombro do grisalho e massageia o
local. — Não está vendo que está assustando nosso genro? Olha como nossa filha está feliz!
Não estrague esse momento só porque está bravo com ele.
Ele fuzila Gabriel com o olhar por mais alguns segundos e então suaviza sua expressão,
voltando a beber seu vinho.
— Desculpe por isso, Gabriel.
— Ah, tudo bem. Eu errei de não ter informado seu marido do pedido.
— Errou mesmo — meu pai murmura e recebe um olhar sério da minha mãe.
— Enfim, fico muito feliz de saber que agora estão noivos! Logo, logo virão os netinhos
e...
— Ok, mãe. Já entendemos o quanto está feliz — a interrompo com o meu rosto
queimando e quando olho para Gabriel, vejo que não está diferente.

...

O assunto de como meus pais falaram com Gabriel sem que eu soubesse chega e –
depois de meu avô levar as crianças para a sala – eles contam tudo em detalhes, me deixando
bem surpresa e ao mesmo tempo me sentindo enganada. Contudo, não fico irritada, pois eles
fizeram isso pensando na minha felicidade e só de saber que meus pais já gostam do meu noivo
é melhor do que qualquer coisa.
Após isso, a ceia segue alegre e cheia de conversas aleatórias.
Jurei que este Natal ia ser, de certa forma, triste por não conter a presença de Gabriel,
mas estava completamente errada. Ele veio e ainda se tornou o nosso Papai Noel, transformando
esta data tão especial, em algo memorável.
E isso só mostra que a magia do Natal prevalece em qualquer momento ou
circunstância.
Nos faz sorrir, chorar e até rir.
Nos faz felizes.
Natal serve para isso, para trazer felicidade e união...trazer amores, presentes e pedidos
de casamento.
Noiva do Papai Noel...quem diria.

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