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OS 7 INIMIGOS

DO BANCÁRIO ESTRESSADO
E 13 ESTRATÉGIAS EFETIVAS PARA
ENFRENTÁ-LOS

ALEXANDRE SPINDOLA
Os 7 Inimigos do Bancário Estressado
e 13 estratégias efetivas para enfrentá-los
Alexandre Spindola

Revisor: Nicoly Gonçalves de Albuquerque Marinho


Capista: Carolina Fontoura Ojeda
Projeto gráfico: Editora Motres

CIP BRASIL — CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


D583d SPINDOLA, Alexandre.
Os 7 inimigos do bancário estressado e 13 estratégias efetivas
para enfrentá-los. Alexandre Spindola. 1ª edição. Porto Alegre - RS:
Editora Motres, 2019.
78p.; 14x21 cm
ISBN 978-65-5001-056-0
1. Administração 2. Guia 3. Estresse I. Título.
CDD 650 CDU 650.14 2

2019 © Todos os direitos são reservados de acordo com as Normas


de Leis e das Convenções Internacionais. Nenhuma parte deste livro
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito dos organizadores.
Dedicatória

Dedico este livro àquelas pessoas que, todos os dias, nos ajudam
a aprender o que fazer e o que não fazer, mesmo que elas não
saibam como conseguiram isso.
SUMÁRIO

Introdução 9

Capítulo 1
Entendendo o Estresse do Bancário 14

Capítulo 2
Os Inimigos do Bancário Estressado 24

Capítulo 3
Os Inimigos Externos 26

1º Inimigo - Constantes interrupções 27

2º Inimigo - Cobrança por metas difíceis 34

3º Inimigo - Baixa realização profissional 37

Capítulo 4
Inimigos Internos 48

4º Inimigo - Terceirização de culpa 49

5º Inimigo - Mindset fixo 57

6º Inimigo - O maior ladrão de energia de todos os tempos:


o smartphone. 60

7º Inimigo - Baixa inteligência emocional 65

Conclusão 75

Sobre o autor 77
Introdução

O atual ambiente de negócios, caracterizado por mudanças


rápidas, explosão de conhecimento, avanço tecnológico e intensa
competição, deu origem a uma séria ameaça psicológica em termos
de exaustão do trabalho: o estresse.
Dentro do vocabulário do bancário, essa é uma das palavras
mais comuns. Tanto que a expressão “bancário estressado” é quase
uma redundância, pois – salvo poucas exceções – bancário é, prati-
camente, sinônimo de estressado.
Diversos estudos nos últimos anos e relatos de funcionários
apontam essa profissão como uma das que possui maiores índices
de desgastes típicos do estresse ocupacional.
Além disso, existe um tipo de estresse intenso e que muitos des-
conhecem: a Síndrome de Burnout – estado de exaustão emocio-
nal, mental e física, causado pelo estresse excessivo e prolongado
no trabalho. Ocorre quando o profissional se sente sobrecarregado
e incapaz de atender às demandas constantes. À medida que essa
exaustão se prolonga, ele começa a perder o interesse ou a motiva-
ção que o levou a assumir aquele trabalho. E isso não teria porque
ser diferente para um bancário.
Diversas profissões são desafiadoras e estressantes, mas o ban-
cário aprende, desde cedo, que precisa lidar com um sistema de tra-
balho que tende a estressá-lo e desgastá-lo. Ele pode, por exemplo,
estar passando por um momento de “burnout” e não saber como
lidar com a situação. E é por isso que vamos conhecer neste livro os
maiores “inimigos” do bancário estressado – fatores estressantes,

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internos e externos – e algumas estratégias de como lidar com essas
situações.
Se você é ou já foi bancário, provavelmente teve de lidar com
“inimigos” como, por exemplo, as metas difíceis de atingir. Mas
veremos que as metas não são o fator principal, pois elas vêm, na
verdade, em segundo lugar, depois de um “inimigo” que é uma difi-
culdade inerente ao próprio sistema de trabalho bancário: a dificul-
dade de concentração profunda.
Para você entender de onde surgiu a ideia de escrever esse li-
vro, preciso contar um pouco da minha história.
Sempre gostei da área de desenvolvimento pessoal e, depois
me formar em Psicologia na Universidade de São Paulo em 2014, re-
tornei ao Rio Grande do Sul. Na época, tive dificuldades para atuar
na área de formação e tomei a decisão de realizar concursos públi-
cos, devido à possibilidade de estabilidade financeira.
Em 2015, fiz o concurso para um banco público e, depois de 2
anos de espera, fui chamado para a função de escriturário. Comecei
atendendo clientes Pessoa Física em uma agência na Zona Sul de
Porto Alegre. Era uma agência distante da minha casa, o tempo de
transporte entre ida e volta girava em torno de 3 horas por dia.
Após 8 meses, consegui transferência para uma agência mais
próxima da minha casa. Era a maior agência do banco, localizada
no centro da capital gaúcha. Ali, passei a atender clientes Pessoa
Jurídica, principalmente micro e pequenas empresas. Depois de 9
meses nesta nova agência, fui chamado para atuar em outro setor
do banco, o de Marketing Digital, através de um processo seletivo
que estava em andamento há alguns meses.
Neste período razoavelmente curto, porém de trabalho intenso,
atendendo clientes PF e PJ, tive a oportunidade de lidar com as di-
versas circunstâncias comuns à maioria dos bancos e agências. Pas-

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sei pela urgência de ter um rápido aprendizado do sistema e pro-
dutos bancários (principalmente os funcionários novos que, muitas
vezes, chegam à agência com pouco treinamento); compartilhei
com os colegas as dificuldades para atingir as metas da agência;
percebi os conflitos entre a demanda do banco, a gerência e a equi-
pe de atendimento; senti a sobrecarga de tarefas por haver poucos
funcionários; passei por contratempos ao lidar com os softwares do
banco, com problemas operacionais que dificultavam ou atrasavam
a soluções para os clientes, etc.
Após esse período nas agências, dividindo com os colegas as
dores do bancário estressado, decidi escrever este livro para com-
partilhar parte das minhas experiências e minha visão, como psicó-
logo, dos desafios estressantes que um bancário constantemente
vive.
Meu objetivo não é dizer ao bancário para simplesmente se
adaptar ao sistema de trabalho do banco. Também não quero pas-
sar uma imagem de que você deve ser o profissional mais produtivo
de todos e que sempre “bate as metas”.
É verdade que o ser humano aprecia, naturalmente, os desafios
e quer cumprir bem suas tarefas e compromissos. Mas você pode
ter percebido que, devido ao estresse no trabalho, alguma coisa
em seu interior talvez esteja adoecendo e você não sabe muito
bem o que fazer com isso.
Também, é fato, que existe um significativo tabu entre os ban-
cários em relação a busca de auxílio para encontrar formas de lidar
com o estresse no trabalho. Muitas vezes, os funcionários pensam
que falar sobre sua saúde mental prejudicará suas perspectivas de
carreira e que serão rotulados como “loucos”. Ou esperam apenas
da empresa, chefes e colegas, a responsabilidade para melhorar as
condições de trabalho – o que, geralmente, não acontece.

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Por isso, a finalidade deste livro é fornecer um conteúdo que
ajude o bancário estressado a entender melhor a situação que pas-
sa e sugerir estratégias de como lidar com essas situações e superá-
-las, tendo como base principal conhecimentos e práticas da psico-
logia, coaching psicológico e produtividade pessoal.
Em outras palavras, você perceberá que a principal mensagem
deste livro é “sim, ser bancário é desgastante e o banco até poderia
melhorar, mas o que você pode fazer frente a esta realidade, sem es-
perar que a empresa ou os outros mudem?”
Espero que você aproveite este livro e consiga colocar em práti-
ca, pelo menos, alguma dessas estratégias, não só no banco, como
também, na sua vida pessoal. Afinal, caro bancário, meu objetivo é
auxiliá-lo a melhorar não apenas sua relação com a profissão, mas
com sua vida, já que ela é mais importante do que as metas do tra-
balho. Para isso, buscaremos ampliar seu repertório de como enca-
rar o estresse do trabalho e conseguir dar passos para criar a vida
plena, rica e significativa que você deseja.
Grande abraço!
Alexandre Spindola

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“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo,
não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se
você se conhece, mas não conhece o inimigo, para
cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se
você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
perderá todas as batalhas.”
A Arte da Guerra – Sun Tzu

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CAPÍTULO 1
Entendendo o Estresse do Bancário

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as


velas do barco para chegar onde quer.”
Confúcio

A palavra estresse tem origem na palavra inglesa stress, que sig-


nifica “pressão”, “tensão” ou “insistência”. Foi utilizada inicialmente
na física, para indicar os impactos que os materiais sofrem ao serem
submetidos a cargas de pressão durante determinado tempo.
O estresse pode ser definido, na área da saúde, como uma rea-
ção do organismo com componentes psicológicos, físicos, mentais
e hormonais que ocorre quando surge a necessidade de uma adap-
tação grande a um evento ou situação de importância.
Foi o pesquisador húngaro Hans Selye quem realizou um dos
primeiros estudos sobre estresse, em 1936. Ele submeteu cobaias a
estímulos estressores e observou um padrão específico na resposta
comportamental e física dos animais.
O cientista dividiu os sintomas do estresse em três fases suces-
sivas: alarme, adaptação (ou resistência) e esgotamento.
Na fase de alerta, é quando nosso organismo sente que deve
reagir imediatamente a uma determinada situação, aumentando o
metabolismo do corpo. Podemos citar um alarme que é disparado,
uma sirene que passa na rua próxima ou, simplesmente, um telefone

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estridente que toca quando o bancário está buscando se concentrar
para escrever o parecer de uma operação de crédito.
Na adaptação, começam a existir as alterações no corpo e na
mente: dores musculares, cansaço excessivo, dores de cabeça. Ou
seja, a sensação que temos no final de uma jornada de trabalho.
Na última fase, o esgotamento, podem surgir falta de concen-
tração, instabilidade emocional e depressão. Foi após essa fase que
foi constatado o surgimento de doenças, tais como úlcera, hiperten-
são arterial, artrites e lesões no músculo cardíaco. O esgotamento
não ocorre em apenas um dia, mas após vários eventos em que o
corpo teve que se “adaptar aos alarmes” (etapas anteriores).

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Os dois tipos de estresse

Mas você sabia que existem


dois tipos de estresse?

1) Eustresse
O primeiro é o eustresse, também chamado de estresse po-
sitivo, que é a fase inicial – a do alerta. Nessa etapa o organismo
produz adrenalina que dá ânimo, vigor e energia, fazendo a pessoa
produzir mais e ser mais criativa.
A pessoa pode passar, inclusive, por períodos em que dormir e
descansar passa a não ter tanta importância. É a fase da produtivi-
dade.
O eustresse é considerado positivo porque motiva e estimula a
pessoa a lidar com a situação.

2) Distresse
Distresse é um termo para o estresse excessivo, ou seja, que
é maior que o necessário, a ponto de causar problemas ou sofri-
mento. É desencadeado por estímulos percebidos como ameaças e
associado a liberação de cortisol, adrenalina e noradrenalina. Isso
significa que é muito mais orgânico do que podemos imaginar, ou
seja, não é uma invenção ou coisa da nossa cabeça.

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Ocorre quando a pessoa ultrapassa seus limites e esgota sua
capacidade de adaptação, fazendo com que o organismo fique des-
tituído de nutrientes e a energia mental seja reduzida.
É devido ao distresse – e não ao eustresse – que a produtivi-
dade e capacidade de trabalho ficam prejudicadas, a qualidade de
vida diminui e, posteriormente, a pessoa pode vir a adoecer.
O distresse é associado, portanto, à relação entre a segunda e
terceira etapas: adaptação e esgotamento. Ou seja, quando ocorre
um desgaste na tentativa do organismo de lidar com fatores estres-
santes do ambiente, tais como:

-Urgência de tempo (tarefas para ontem, e-mails urgentes etc.);


-Responsabilidade excessiva;
-Falta de apoio (profissional ou pessoal);
-Sobrecarga de tarefas;
-Pressão por resultados em algo;
-Dinheiro (falta dele ou o que fazer quando se tem bastante);
-Problemas de saúde;
-Conflitos em relacionamentos (cobranças, críticas, falta de compreen-
são etc.);
-Má nutrição (torna a pessoa mais propensa a oscilações hormonais e
neurológicas que ampliam a sensação de desgaste);
-Privação do sono (pouco ou inadequado descanso dificultam a produ-
ção de melatonina, hormônio responsável pela sensação de descanso
do corpo);
-Tecnologia e sobrecarga da mídia (aliás, veremos nos próximos capítu-
los que esse fator estressante tem um poder de nos afetar muito maior
do que imaginamos).

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Resumindo: o distresse não é uma causa, mas sim
uma maneira de reagir frente a certos fatores (estres-
santes) da vida. E é essa forma de nosso organismo
reagir que ocasiona o desgaste físico, emocional e
mental ao qual estamos (infelizmente) “acostuma-
dos” a lidar em nossa época.

OBS.: Daqui em diante, quando usarmos o ter-


mo estresse estaremos sempre nos referindo
ao distresse, que é seu sentido mais comum.

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As consequências do estresse no trabalho bancário

O hábito do organismo reagir de maneira “desgastante” aos


constantes estímulos estressantes gera, inevitavelmente, uma série
de consequências no trabalho (não só para o bancário, mas qual-
quer outro profissional), conforme os seguintes exemplos:

•Queda de produtividade (o bancário realiza menos coisas com o tempo


que possui);
•Ausência ou atraso no trabalho (ele não faz questão de chegar no horá-
rio, já que o trabalho se tornou um “estímulo aversivo”, fonte de fatores
estressantes);
•Aumento do número de erros (inclusão equivocada de informações no
sistema, devido à diminuição da concentração, por exemplo);
•Atitudes mais autoritárias (quando gerentes repassam ordens de su-
periores de maneira exageradamente impositiva, sem levar em conta o
ponto de vista de sua equipe);
•Conflitos na equipe (desentendimentos, críticas, reclamações e fofocas
devido ao estado de tensão emocional).

A síndrome que “queima” o bancário: burnout


O termo burnout, surgido nos EUA na década de 70, se trata de
uma composição das palavras burn (“queima”) e out (“exterior”),
sugerindo um estresse crônico, mais associado ao mundo do tra-
balho, em que a pessoa sente perder a energia, o entusiasmo e o
interesse, comprometendo sua saúde e a performance profissional.
Ou seja, é um estado de tensão emocional e estresse crônico pro-
vocado por condições de trabalho desgastantes.

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As pesquisas na área demonstram que a síndrome afeta, princi-
palmente, dois tipos de profissionais.
O primeiro tipo são aqueles que prestam assistência ou são
responsáveis pelo desenvolvimento de outras pessoas, tais como:
médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, assistentes sociais,
agentes penitenciários, policiais, bombeiros, pastores, cuidadores
de pessoas com doenças degenerativas, entre outros. É comum ou-
vir de profissionais nesta situação a seguinte frase:“tenho que cui-
dar muito dos outros, mas não consigo cuidar de mim.”
O segundo tipo são aqueles cujas exigências são altas (como
metas difíceis), há muita pressão e comportamentos compreendi-
dos como agressivos (área de vendas, por exemplo). Envolve: ban-
cários, advogados, jornalistas, operadores de telemarketing, pro-
fissionais de TI, engenheiros e outros.
Só para termos uma ideia, segundo uma pesquisa publicada
pela International Stress Management Association do Brasil (Isma-
-BR), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros são vítimas da
Síndrome de Burnout, que também é considerada, por muitos es-
pecialistas, como o nível mais alto do estresse.
Um dos primeiros sintomas a serem notados por quem está
passando por um momento de Síndrome de Burnout é o de esva-
ziamento de energia. A pessoa sente uma exaustão física e mental
tão grande que não há final de semana ou férias que possam resol-
ver. Voltar para o trabalho passa a ser emocionalmente insustentá-
vel. Ela não sente que consiga se recuperar do desgaste no trabalho.
Com tamanha exaustão, surge a sensação de incapacidade
para trabalhar e a falta de concentração. Em alguns casos, há au-
mento da agressividade ou da passividade, o profissional começa
a se esconder, ou fica sempre em posição de defesa ou de conflito.

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A relação com os colegas e clientes também é atingida e a pes-
soa acaba se afastando dos demais e tende a se evadir dos compro-
missos.

Sensível diferença entre estresse e burnout


Em síntese, as diferenças entre estresse e burnout são as se-
guintes:

Estresse
•Esgotamento pessoal que interfere na vida do indivíduo, mas
não necessariamente na relação com o trabalho.
•Reação natural diante de uma emergência.
•Esgotamento físico.
•Hipersensibilidade.
•Redução da energia.

Burnout
•Síndrome que envolve atitudes e condutas negativas com os
usuários, clientes, organização e trabalho.
•Desilusão causada pelo excesso de situações estressantes.
•Esgotamento emocional.
•Falta de sensibilidade.
•Redução da motivação.

Tenho estresse/burnout. E agora?


Se você percebeu que está passando por um momento de es-
tresse ou burnout na sua vida, dou-lhe os parabéns! Isso significa

21
que você se deu conta de que seu corpo, emoções e mente estão
habituados a responder de maneira desgastante ao que está ocor-
rendo consigo mesmo e ao seu redor – podendo ser no trabalho e
circunstância da vida.
O pior é quando estamos em uma situação difícil como essa e,
por mais que estejamos sentindo os sintomas, não percebemos cla-
ramente a situação ou não queremos aceitá-la. Isso sim seria uma
infelicidade.
Mas o que pode ser feito a partir de agora?
Basicamente há duas possibilidades: adotar comportamentos
eficazes para lidar com a situação ou adotar comportamentos inefi-
cazes para lidar com a situação.
Na categoria dos eficazes, encontraremos diversas estratégias
e hábitos que ajudam a pessoa a diminuir o estresse e, até mes-
mo, a encontrar soluções para as suas causas, tais como: exercí-
cios físicos, alimentação saudável, suporte familiar e profissional,
um plano de ação para modificar aspectos da vida que precisem
ser modificados, entre outras. Geralmente são difíceis a curto prazo,
mas eficazes a longo prazo, pois demoram para dar resultado.
Na categoria dos comportamentos ineficazes, localizaremos
aqueles orientados, principalmente, para a distração e a fuga,
como: vícios em bebidas, drogas, sexo, excessos na alimentação,
absenteísmo (falta no trabalho ou, mesmo estando ali presente, es-
tar sempre com a “cabeça voando”), entre outros. Na maioria das
vezes são eficazes a curto prazo, mas ineficazes a longo prazo, e isso
faz com que tenhamos a tendência de buscá-los mais vezes como
primeira opção, já que nosso cérebro não foi programado para
pensar no longo prazo. Por isso, é difícil substituir um prazer ou
sensação imediata por uma gratificação ou conquista que leve mais
tempo.

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Portanto, para nos aprofundarmos nos aspectos dessas duas
categorias, veremos a partir de agora alguns dos principais fatores
estressantes (“inimigos”) do bancário estressado, em que se fun-
damenta o desgaste que proporcionam e 13 estratégias eficazes
de como enfrentá-los – tendo como base princípios de áreas da
psicologia, life coaching e técnicas de produtividade.

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CAPÍTULO 2
Os Inimigos do Bancário Estressado

Todo bancário tem alguns “inimigos” em comum, independen-


te de atuar em um banco público ou privado. Como inimigos, não
nos referimos a algo que tenha sido criado para destruí-lo, mas sim,
um desafio que faz parte de seu trabalho.
Alguns desses desafios podem ser superados e com outros nós
precisamos aprender a lidar. É o mesmo que dizer que alguns des-
ses “inimigos” podem ser “destruídos”, enquanto outros não, aos
quais precisamos nos adaptar.

E é por essa razão


que há duas classes de inimigos:
os externos e os internos.

A primeira classe está relacionada ao sistema do trabalho ban-


cário, seu ambiente e as circunstâncias, muitas vezes, desafiadoras
que fazem parte da rotina. São os mais nítidos e, portanto, os maio-
res alvos das frustrações e lamentações do bancário.

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É possível que com ações coletivas da classe ocorram melho-
rias, mas neste livro vamos tratar, principalmente, do que o bancá-
rio pode fazer por si mesmo. Ou seja, sem, necessariamente, espe-
rar que o sistema mude, já que o banco é uma empresa gigantesca,
extremamente complexa e possui um sistema que não tem como
ser modificado na velocidade que muitas vezes gostaríamos.
Na segunda – inimigos internos –, nos referimos as formas de
pensar, sentir e agir que sabotam nosso desenvolvimento profissio-
nal e, principalmente, a busca pelos objetivos mais importantes de
nossa vida.

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CAPÍTULO 3
Os Inimigos Externos

Os “inimigos” externos do bancário estressado são vários, des-


de o complexo sistema de trabalho que exige sua capacidade inte-
lectual e emocional, até travas e falhas no sistema que impedem a
execução das tarefas em determinados momentos.
Começaremos pelos externos por serem os mais nítidos e que,
por isso, são o maior alvo de nossas frustrações.

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1º Inimigo
Constantes interrupções

“Primeiro, deixe-me terminar. Então, interrompa.”

Brian Spellman

Talvez você diga que o primeiro e maior inimigo do bancário


estressado devesse ser a cobrança por metas no banco, já que é o
alvo do maior número de frustrações e lamentações relacionadas à
profissão.
Mas deixamos como segundo em nossa lista, porque há um mo-
tivo bastante específico que dificulta o atingimento das metas e que
é dificilmente percebido: o trabalho bancário possui constantes in-
terrupções. E por causa delas é que temos a contínua sensação de
que o que fazemos não é suficiente.
A chegada dos clientes para atender, os e-mails na caixa de
entrada, as notificações na comunicação interna (Skype ou outro
sistema, dependendo do banco) e, o fator mais estressante do ban-
cário que quer fazer um bom trabalho, o telefone (que pode tocar a
qualquer momento e necessita de uma rápida resposta).
Sim, as metas podem ser difíceis e exageradas em diversos mo-
mentos. E lembre-se, nosso objetivo aqui não é questionar o com-
plexo sistema do banco.
A questão é que fica menos difícil – para não dizer “mais fácil” –
cumprir nosso trabalho, quando começamos a aceitar o fato de que
o bancário tem uma função na qual as interrupções fazem parte da
sua rotina e, ao invés de apenas nos lamentarmos, devemos buscar

27
formas de lidar com essa realidade. Mas, para isso, precisamos pri-
meiro entender o impacto das interrupções em nosso cérebro.
O trabalho em escritórios abertos (que é o caso das agências
bancárias) colabora com a distração em massa, conforme apon-
tam experimentos realizados para um especial da televisão britâni-
ca, intitulado “The Secret Life of Office Buildings” (A Vida Secreta dos
Escritórios).“Se você está chegando ao trabalho e um telefone toca,
ele arruína sua concentração”, disse o neurocientista que realizou
os experimentos para o programa. “Mesmo que não esteja ciente no
momento, o cérebro responde às distrações.”
Problemas semelhantes se aplicam ao aumento de mensagens
em tempo real. Caixas de entrada de e-mail, em teoria, podem nos
distrair quando optamos por abri-las, enquanto os sistemas de
mensagens instantâneas (WhatsApp, Skype etc.) foram feitos para
estar sempre ativos, aumentando o impacto da interrupção.
A psicologia também nos ajuda a entender o elevado gasto de
energia cerebral no trabalho bancário através do Efeito Zeigarnik.
Bluma Zeigarnik, psicóloga e psiquiatra da antiga União Sovié-
tica, realizou um estudo sobre memória na década de 20 e verificou
que nos lembramos de tarefas não concluídas ou interrompidas
melhor do que das tarefas concluídas. Isso significa que uma ta-
refa que ainda está “em aberto” ocupa certo espaço mental, e só
quando é finalizada que conseguimos “esquecê-la”. Faça um pe-
queno teste: tente lembrar-se das tarefas já finalizadas hoje e das
pendências. O mais provável é que lembre mais rapidamente das
pendências.
Portanto, além do bancário ter várias interrupções diárias,
precisa lidar com uma elevada quantidade de tarefas inacabadas
(solicitações de clientes, e-mails, telefonemas, recados, ligações a
serem feitas etc.). E isso, ao final do expediente, gera a sensação

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de que o dia não foi produtivo, pois muitas coisas foram iniciadas e
poucas foram acabadas.
A melhor solução para o bancário (na verdade, para qualquer
profissional) seria ter momentos de deep work, que significa tra-
balho profundo. É um termo recente, apresentado pelo Dr. Cal
Newport, professor associado de ciência da computação na Uni-
versidade de Georgetown, que se refere à habilidade de se man-
ter concentrado profundamente em um trabalho. Segundo Cal,
essa é uma das mais valiosas habilidades que uma pessoa pode
trazer para sua profissão e à economia em geral. O deep work pro-
duz ativos valiosos, ideias inovadoras e resultados impactantes. No
entanto, está cada vez mais raro, porque é uma habilidade que não
aprendemos a desenvolver e muitos ambientes de trabalho pos-
suem estruturas e funções que dificultam que isso ocorra.
Deep work, por definição, é entediante (focar em uma coisa só
e não em estímulos novos) e o problema é que nosso cérebro foi trei-
nado para não tolerar o tédio. Principalmente nos últimos tempos,
quando basta surgir um pequeno sinal de possível tédio, que recor-
remos à busca de algum novo estímulo, como os smartphones, que
estão sempre à mão com suas diversas notificações de aplicativos
e redes sociais.
O fato é que, justamente quando ocorre esse foco profundo,
surgem “milagres”: a produtividade, criatividade e capacidade
de resolução de problemas aumentam drasticamente.
Além disso, existe um conceito interessante da Psicologia Posi-
tiva, chamado de flow, que em inglês significa “fluir”, sendo traduzi-
do como “experiências de fluxo”. É um estado mental, no qual uma
pessoa, quando realiza uma atividade, está totalmente imersa em
um sentimento de foco energizado, envolvimento total e prazer
no processo. Em essência, o flow é caracterizado pela completa ab-

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sorção do que se faz e uma espécie de perda resultante no senso de
espaço e tempo.
Segundo Mihály Csíkszentmihályi, psicólogo húngaro que usou
o termo flow pela primeira vez em 1975, quando temos uma tare-
fa desafiadora, mas não a capacidade de realizá-la, surge o estado
de ansiedade. Ou seja, sabemos que temos que fazer alguma coisa,
porém se, por algum motivo, percebemos que não conseguiremos,
ficamos ansiosos. É por isso, por exemplo, que o bancário recém-
-chegado à agência pode passar por picos de ansiedade quando ele
é cobrado por resultados ao mesmo tempo em que pouco conhece
os sistemas e procedimentos que deverá realizar.
Porém, se a tarefa é difícil ou complexa e temos a habilidade e
as condições adequadas para resolvê-la – e conseguimos a proeza
de nos desconectarmos de distrações –, conseguimos fluir e alcançar
maior rendimento no que realizamos.
Essa é uma realidade que talvez seja frustrante para o bancário,
porque, pelo menos nas horas de trabalho, ele não tem como esca-
par das interrupções. Entretanto, explica porque ele possui dificul-
dade de alcançar resultados excepcionais, mesmo que seja apenas
para tirar o atraso de suas tarefas pendentes: o bancário não con-
segue tempo suficiente para focar nas atividades e se envolver
de maneira concentrada e profunda. Isso elevaria seu índice de
produtividade e, consequentemente, sua satisfação por ter realiza-
do um trabalho bem feito.

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Mas Alexandre, o que eu
faço, já que não posso
mudar o banco? :(

Aqui vão duas estratégias que parecerão simples, mas são fun-
damentais para lidar com essa situação – inclusive para você ter
condições de aplicar todas as outras que veremos nos próximos ca-
pítulos.

1ª estratégia – Aceite que seu trabalho possui constantes in-


terrupções e que é, muitas vezes, entediante.
O simples fato de não lutar contra isso ajudará você a ter um
menor desgaste de energia. O complemento disso é o planejamen-
to e a organização para buscar ser o mais eficaz possível dentro dos
desafios presentes nas atribuições do bancário.
E é por essa razão que é ineficaz realizar reuniões ou treinamen-
tos sobre técnicas de produtividade com um bancário, sem levar em
conta as constantes distrações que ele passa e suas consequências
- inclusive para seu sistema nervoso.

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Alguém que simplesmente exija do funcionário ser mais pro-
dutivo e entregar resultados por causa das metas, mas sem levar
em conta as interrupções que ele está condicionado a passar, está
tocando em uma das suas maiores feridas e dificilmente haverá me-
lhora em seus resultados no trabalho.

2ª estratégia – Anote sempre as tarefas pendentes


O que quero dizer é que você crie, pouco a pouco, o costume de
anotar tudo que precisa ser feito.
E isso por um motivo bastante simples: você não pode confiar
na sua memória, acreditando que ela recordará de tudo.
Talvez seja difícil no começo, mas esse é um hábito que pode
ser desenvolvido e, na verdade, muitos bancários já o utilizam.
Fazer anotações e descarregar a mente é o princípio mais bá-
sico de diversos sistemas de organização pessoal, como o método
GTD – Getting Things Done –, mundialmente reconhecido como um
dos mais eficazes para aumentar a produtividade e realização pes-
soal. Não vou explicar aqui o método, mas você pode pesquisar ví-
deos no YouTube ou procurar o livro “A Arte de Fazer Acontecer: O
Método GTD – Getting Things Done”, de David Allen.
Em síntese, quando anotamos, deixamos nossa mente livre
para pensar em coisas mais importantes, como finalizar a tarefa
mais urgente no momento, sem ter pensamentos e preocupações
nos importunando o tempo todo, dizendo que não podemos esque-
cer de tal coisa.

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Dicas de leitura:
Deep Work, por Cal Newport;
Fluir, por Mihaly Csikszentmihalyi;
A Arte de Fazer Acontecer: O Método GTD – Getting Things
Done – Estratégias para aumentar a produtividade e reduzir
o estresse, por David Allen.

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2º Inimigo
Cobrança por metas difíceis

“Falta de direção, não falta de tempo, é o proble-


ma. Todos nós temos vinte e quatro horas por dia.”
Zig Ziglar

Ah, chegamos nas metas!


Palavra número um do vocabulário do bancário, entre os cole-
gas e superiores.
Não vamos entrar no mérito de, muitas vezes, as metas serem
abusivas ou extremamente difíceis, gerando no bancário uma an-
siedade maior do que a habitual.

Aliás, ao entrarmos nesse assunto, recordo de um colega


que disse certa vez: “As metas são como o Rocky Balboa, a
gente começa apanhando feio, mas no final batemos elas!”

Piadas à parte, independente das metas serem mais ou menos


difíceis variando conforme o banco ou da agência, o fato é que pre-
cisamos de métodos de organização e produtividade para geren-
ciarmos melhor nosso tempo, foco e energia no trabalho. Isso serve
para qualquer profissional e para um bancário não seria diferente.
Além do mais, só podemos falar sobre produtividade quando
sabemos que as distrações são uns dos maiores inimigos do bancá-
rio estressado, lembra?
E sabe por quê?

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Porque falar de produtividade parece fácil ou até mesmo óbvio.
Por exemplo, a frase “você precisa aumentar sua produção”, pode
ser uma mensagem terrível para pessoas perfeccionistas que já se
esforçam ao máximo – e mesmo assim se sentem afogadas entre
tantas tarefas incompletas.
O fato é que agora você sabe que precisa de métodos confiá-
veis para não se perder entre tantas tarefas e, ao mesmo tempo,
tirá-las da sua cabeça para diminuir seu desgaste mental e emo-
cional. Só assim faz sentido conhecer técnicas e aplicá-las.
Veremos então duas estratégias para enfrentar a cobrança por
metas difíceis.

3ª estratégia – Faça uma to do list diária.


To do list é um termo para “lista de coisas a fazer”.
Pode parecer simples demais e muitos bancários já fazem isso
instintivamente, porém, o simples fato de ter uma pequena lista
com as tarefas do dia já basta para organizar nossa mente para o
trabalho.
Você pode usar um papel ou até mesmo o computador (Bloco
de Notas ou o Sticky Notes do Windows). O importante é manter
uma lista de tarefas acessível.
O mais provável é que surjam interrupções, clientes e telefone-
mas enquanto você executa alguma coisa, mas sua cabeça não é
um computador. O esforço de ter que lembrar do que precisa ser
feito não compensa.
Portanto, ao ter uma lista disponível, você anota o que não pre-
cisa esquecer e, logo em seguida, retorna para finalizar a tarefa que
estava executando.
Em um outro momento você confere a anotação e faz o que pre-
cisa ser feito.

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4ª estratégia – Priorize o que deve ser feito.
Existe uma regra chamada 80/20 que se refere ao fenômeno em
que 20% das ações levam a 80% dos resultados.
Ao identificar quais são as poucas tarefas que mais impactam
no seu resultado, você pode colocá-las no topo da lista e concen-
trar-se nelas.
Claro que, muitas vezes, você terá que ser flexível e aceitar que a
agenda será modificada a qualquer momento. Basta ter um proble-
ma complexo com um cliente que está na sua frente e que demande
algumas horas, para que seu planejamento não possa ser colocado
em prática. Mas tão logo você fique livre novamente, atualize sua
“to do list” e siga as prioridades.
Resumindo as duas estratégias: trabalhe com a ajuda de uma
lista de tarefas para tirá-las da sua cabeça, buscando manter no topo
as de maior prioridade. Você nunca será um bancário que consegue
fazer tudo – pois sempre haverá pendências –, mas se agir assim
terá melhores condições de sofrer menos com a ansiedade e ter
mais momentos de sensação de dever cumprido.
Também sugiro que você leia o livro “Produtividade Para
Quem Quer Tempo”, do coach e palestrante Gerônimo Theml, uma
das maiores autoridades na área de produtividade do país. Neste
material você encontrará diversas sacadas para aumentar sua pro-
dutividade e realização não só profissional, mas, principalmente,
pessoal.

Dica de leitura:
Produtividade Para Quem Quer Tempo, por Gerônimo Theml.

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3º Inimigo
Baixa realização profissional

“A melhor maneira de realizar seus sonhos é acordar.”


Paul Valery

Agora que entendemos que as constantes interrupções di-


minuem a produtividade do bancário – e fica mais difícil para ele
atingir as (difíceis) metas –, chegamos à consequência natural deste
processo: a baixa realização profissional.
A baixa realização profissional indica a tendência da pessoa se
autoavaliar de forma negativa, sentindo-se infeliz e insatisfeita com
o seu desenvolvimento profissional, já que dificilmente alcança as
elevadas expectativas criadas. Ou seja, é quando fica muito difícil
bater as metas ou, simplesmente, conseguir finalizar tarefas que
mais se acumulam do que nosso tempo permite.
Neste caso, a pessoa pode evidenciar um sentimento de des-
contentamento pessoal, baixa autoestima, insuficiência, fracasso
profissional e desmotivação. O trabalho perde o sentido e passa a
ser um fardo e, por vezes, o bancário apresenta ímpetos de aban-
donar o emprego – sendo que, na maioria das vezes, ele gostaria
apenas de conseguir lidar melhor com a situação e sentir-se um fun-
cionário competente.
Não quero que você fique desanimado ao ler essas palavras!
Afinal, nosso objetivo aqui é conseguirmos ter maior clareza sobre
os desafios do trabalho no banco e encontrar estratégias para lidar
com eles. Mas essa é uma ferida constante do bancário e, como já
dissemos, antes de lançarmos todas as nossas lamentações sobre o

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sistema de trabalho, vamos ver o que podemos fazer por nós mes-
mos.
Para entendermos como lidar com a baixa realização profissio-
nal, vamos recorrer um pouco à Psicologia Positiva.
A Psicologia Positiva – como talvez o nome indique – não é sim-
plesmente “autoajuda” ou uma série de exercícios de repetições da
frase “eu estou feliz”. Trata-se de uma área da psicologia que estu-
da, cientificamente, o que faz a vida se tornar mais valiosa. Ela
estuda os pensamentos, sentimentos e comportamentos com foco
em pontos fortes ao invés de fraquezas, com a visão de construir a
vida que se quer criar em vez de apenas deixar de sofrer.
Em outras palavras, a Psicologia Positiva está preocupada com
a eudaimonia, termo grego que podemos traduzir neste contexto
como “a boa vida” ou simplesmente “felicidade”, e utilizada por di-
versos filósofos gregos antigos, dentre eles Aristóteles. Neste caso,
eudaimonia é a reflexão sobre o que tem maior valor na vida – os fa-
tores que mais contribuem para uma vida bem vivida e satisfatória.
Martin Seligman, ex-Presidente da Associação Americana de
Psicologia e fundador da psicologia positiva, criou um modelo com
cinco elementos centrais de bem-estar psicológico e felicidade.
É o chamado modelo PERMA, em que cada letra significa: Po-
sitive Emotions (Emoções Positivas), Engagement (Engajamento/
Compromisso), Relationship (Relacionamentos), Meaning (Signifi-
cado) e Accomplishment (Realização).

1) Emoções Positivas
É um dos aspectos mais óbvios para a felicidade. Ser capaz de
se concentrar em emoções positivas é mais do que apenas sorrir, é
a capacidade de ser otimista e ver o passado, presente e futuro de

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uma perspectiva positiva, ou seja, aprendendo o que se tenha que
aprender e seguir adiante.
Esta visão positiva da vida pode ajudar você não só no trabalho
bancário, mas, principalmente, nos relacionamentos e outras áreas
importantes da vida, inspirando-o a ser mais criativo.
Além disso, é importante fazermos uma distinção entre felici-
dade e prazer.
O prazer está ligado à satisfação das necessidades corporais de
sobrevivência, como sede, fome e sono. Já a felicidade vem da sa-
tisfação quando se conquista algo em que foi necessário esforço e
concentração. E é por esse motivo que o bancário sabe que seu tra-
balho nunca será um mar de rosas, mas gostaria de ser mais eficaz,
ao mesmo tempo que não precisasse se esgotar tanto.
Porém, como isso dificilmente acontece, o mais comum é que,
conforme o horário de término do expediente vai se aproximando,
ele vai sentindo cada vez mais necessidade do prazer de sair logo
do ambiente de trabalho.
Em outras palavras, o banco se torna, gradativamente, um estí-
mulo aversivo que gera dentro da pessoa uma quantidade elevada
de emoções negativas.

2) Engajamento
Segundo a Psicologia Positiva, é importante em nossa vida po-
der encontrar atividades que necessitam de nosso compromisso
total. Esse envolvimento ajuda a aprendermos, cultivarmos e nu-
trirmos nossa felicidade.
Todos nós precisamos de algo em nossas vidas que nos absorva
inteiramente no momento presente. Uma imersão feliz na tarefa ou

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atividade através do estado de fluxo (flow, citado no inimigo nº 1 –
Constantes Interrupções).
Esse tipo de “fluxo de envolvimento” é importante para ampliar
nossa inteligência, habilidades e capacidades emocionais.
É claro que é muito difícil atingir um estado de fluxo no banco.
Mas você pode compensar no engajamento com causas fora do ho-
rário de trabalho, como os estudos, prática de algum esporte, dan-
ça, tocar algum instrumento ou, até mesmo, realizar um trabalho
voluntário.
Você pode pensar que essas sugestões são do “senso comum”
e talvez já as tenha escutado várias vezes de familiares ou colegas.
Mas o nosso objetivo aqui, com os princípios da Psicologia Positiva,
é entender o motivo de precisarmos de engajamento. E essa razão
é bem clara: porque o engajamento nos ajuda a ter mais momentos
felizes, que compensarão os momentos difíceis e estressantes em ou-
tras áreas da vida.

3) Relacionamentos
Relacionamentos e conexões sociais são um dos aspectos mais
importantes da vida. Os seres humanos são animais sociais que
prosperam em conexão, amor, intimidade, e uma forte interação
emocional e física com outros seres humanos. Construir relaciona-
mentos positivos com seus pais, irmãos, colegas e amigos é impor-
tante para espalhar amor e alegria. Ter relações fortes lhe dá apoio
em momentos difíceis.
Além disso, conforme o Dr. Mitch Printein, psicólogo especialis-
ta em popularidade e autor do livro “Popular: Finding Happiness
and Success in a World That Cares Too Much About the Wrong
Kinds of Relationships” (com tradução livre para Popular: Encon-

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trando Felicidade e Sucesso em um Mundo que se Preocupa Demais
com os Tipos Errados de Relacionamentos), existem pesquisas que
mostram que os centros de dor em nosso cérebro são ativados
quando corremos o risco de ser isolados. Isso porque, numa pers-
pectiva evolucionária, o isolamento seria a pior coisa que podería-
mos fazer pela sobrevivência.
Dessa forma, conseguimos perceber que acaba sendo pratica-
mente uma questão de “sobrevivência” do bancário conseguir es-
tabelecer bons relacionamentos no trabalho – e mais ainda com a
família, onde ele poderá encontrar o maior apoio e conforto.
Não queremos dizer que todos os problemas do trabalho serão
resolvidos, mas bons relacionamentos aliviam a tensão emocional
inerente ao trabalho no banco.
A propósito, este será um dos principais diferenciais do bom lí-
der. Ele parte do princípio de que não é apenas o banco que possui
interesses, mas cada colega é um ser humano e seu ponto de vista
e modo de ser também precisam ser considerados. Portanto, o ge-
rente possui o enorme desafio de buscar um equilíbrio entre a busca
pelas metas da agência e o engajamento e satisfação dos colegas.
Aprender a se comunicar sem gerar ainda mais ansiedade na
sua equipe é um dos primeiros passos a serem aprendidos por um
bom líder. Neste caso, as habilidades de empatia e o autocontro-
le emocional são fundamentais e umas das mais poderosas ferra-
mentas de engajar equipes, mesmo em situações adversas. Tratare-
mos destes aspectos mais adiante, no capítulo sobre inteligência
emocional.

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4) Significado
Ter um propósito e um significado para o porquê de cada um de
nós estarmos vivendo é importante para criar uma vida com mais
felicidade e realização.
A Psicologia Positiva entende que, em vez de buscar apenas o
prazer ou a riqueza material, há um significado real para nossa vida.
Aproximar-se desse significado, que é único para cada pessoa, nos
dá uma maior razão de propósito de vida.
Em relação a esse ponto, também podemos citar elementos de
uma linha da psicologia que trata, basicamente, da busca do signi-
ficado: a logoterapia.
Desenvolvida por Viktor Frankl, um psiquiatra suíço, a logotera-
pia é uma psicoterapia fundamentada na busca pelo sentido. Tor-
nou-se conhecida após o lançamento do livro “Em Busca de Senti-
do – Um Psicólogo no Campo de Concentração”, em 1946, no qual
o autor expôs suas experiências como detento nas prisões nazistas.
O termo “logos” é uma palavra grega que significa “sentido”. As-
sim, a logoterapia nos remete à ideia de que os seres humanos são
mais motivados por uma busca por significado, indicando que o
significado da vida é a maior questão em nossas mentes e a princi-
pal fonte de estresse e ansiedade em nosso interior.
Trazendo ao contexto do bancário, quando ele se desconecta
de um propósito maior para estar nessa profissão – e isso facilmen-
te ocorre quando ele se sente preso ao sistema bancário –, seu es-
tresse é potencializado.
Mesmo sendo um trabalho repleto de desafios e “inimigos”, se
o bancário consegue ver significado naquilo que faz, terá melho-
res condições de lidar com as situações cotidianas no banco. Por
exemplo, a profissão bancária pode ser vista como um meio para

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conquistar algo importante na vida, como segurança financeira à
família, oportunidade de subsidiar outros interesses e hobbies, ou
uma etapa para crescimento profissional em outra área do banco
ou fora dele.

5) Realização
Realização é quando atingimos algo que tenha significado e
houve esforço e dedicação para conquistar.
Quando temos apenas um ideal do que queremos – às vezes
muito distante e praticamente impossível de realizar –, sem ações
que nos aproximam do objetivo, ficamos frustrados e cada vez mais
paralisados.
Não é que não possamos ter um grande objetivo ou desafio. A
questão é que precisamos dar passos até ele – e cada passo nos dará
a sensação de aproximação da nossa meta. Há momentos em que
os passos podem ser largos e acelerados, assim como há outros
em que é necessário aceitar que será um passinho de cada vez.
Ou seja: maior clareza nos objetivos da vida, pode nos ajudar a
alcançar coisas que nos darão uma sensação de realização. A ques-
tão é que você deve possuir metas realistas e que podem ser cum-
pridas – a curto, médio e longo prazo. E os esforços que você realizar
para atingi-las, mesmo que sejam considerados pequenos passos,
proporcionam uma sensação de satisfação. Portanto, ter realiza-
ções na vida é importante, pois nos impulsiona a nos esforçarmos
para prosperar e florescer.
Para finalizar, veremos algumas formas do bancário aplicar os
princípios do Modelo PERMA para aumentar sua realização profis-
sional e, mais do que isso, sua realização pessoal.

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5ª estratégia – Tome doses periódicas de emoções positivas
para buscar compensar as emoções negativas do ambiente de
trabalho.
Arturo Agüero, médico argentino e autor do livro “Emoções
que curam”, afirma que as emoções positivas podem desalojar a
carga negativa das sensações que, presas em nosso corpo, amea-
çam a nossa saúde.
Há diversas alternativas que você já deve ter ouvido falar sobre
estratégias de como lidar com as emoções negativas: psicoterapia,
meditação, exercícios físicos, terapias naturais, relaxamento em
casa etc.
Portanto, agora você tem um motivo a mais para não ignorar
essas recomendações: você necessita de injeções periódicas de
emoções positivas para diminuir o desgaste emocional no banco.

6ª estratégia – Encontre e desenvolva alguma experiência que


lhe permita ter ótimos momentos de fluxo.
Em outras palavras, tenha um hobby ou alguma atividade que
necessite de compromisso e engajamento.
Mas não é algo que simplesmente proporcione prazer – ver sé-
ries na Netflix é prazeroso, mas não gera estado de fluxo.
O que você precisa é localizar uma atividade com a qual possa
se sentir bem ao se engajar e organizar sua agenda para que ela te-
nha espaço na sua vida.
Não deixe as coisas que mais te motivam morrerem por causa
de uma agenda apertada.

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7ª estratégia – Melhore seus relacionamentos (pessoais e pro-
fissionais) com uma ação simples e eficaz: escute mais e fale
menos.
Provavelmente você pensará “lá vem ele de novo falando de
senso comum”, mas essa estratégia é autoexplicativa e você, com
certeza, já a ouviu diversas vezes.
Há um fundamento importante nela: as pessoas gostam mais
do que elas falam do que aquilo que os outros têm a dizer. No fun-
do, todos temos esse tipo de “egoísmo”. Não há como escapar dessa
realidade.
Encontraremos mais detalhes sobre essa estratégia na principal
obra de Dale Carnegie, escritor norte-americano e autor de um dos
maiores best-sellers na área de desenvolvimento pessoal: “Como
Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. Trata-se de um dos princi-
pais livros sobre o assunto.
Vale a pena conhecer e aplicar as diversas dicas ali entregues,
dentre elas a de tornar-se um bom ouvinte e encorajar as pessoas
a falarem. Isso permite uma aproximação e, se feita com sincerida-
de e empatia (habilidade de colocar-se no lugar da outra pessoa),
pode enriquecer qualquer tipo de relacionamento – entre familia-
res, amigos, colegas e clientes.

8ª estratégia – Busque refletir sobre o propósito de você estar


trabalhando no banco.
É para ter estabilidade financeira? Trabalhar seis horas e ter
tempo livre para outros interesses? É para conciliar com a faculda-
de? É para crescer na carreira? Será que o propósito de hoje mudou
em relação ao que tinha quando ingressou no banco?

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Não importa o propósito. O importante é você encontrar o seu
propósito, aquilo que realmente lhe dê significado.

9ª estratégia – Defina claramente as metas da sua vida, trace


uma rota de ação e atue sem enrolação (mas esteja aberto a
revisar os planos).
Estabelecer metas que nos motivam é animador. Traçar um pla-
no de como chegar até elas é entusiasmante. Mas a ação contínua
possui um sabor maravilhoso que só temos quando colocamos em
prática o que queremos – mesmo que sejam ações pequenas, mas
direcionadas ao alvo.
Helmuth von Moltke, marechal prussiano que viveu no século
XIX, autor de vários livros de temática militar, onde explicava suas
táticas de guerra, ficou conhecido com o pensamento de que “ne-
nhum plano resiste ao campo de batalha”. Ou seja, podemos ter
muitos planos para alcançar nossos objetivos (pessoais ou profis-
sionais). Mas precisamos aceitar que, na “batalha” – caminho em
busca do objetivo –, haverá eventos não previstos.
Portanto, ao mesmo tempo que o planejamento é muito impor-
tante, a capacidade de revisá-lo constantemente com base no que
está, de fato, ocorrendo em nossa vida ou trabalho, é fundamental.
É por isso tudo que o bancário possui uma oportunidade va-
liosa. Mesmo em um trabalho com momentos difíceis, ele pode, a
qualquer momento, refletir sobre como está sua vida hoje, reco-
nectar-se com seus objetivos profundos, buscar traçar as melhores
estratégias possíveis e colocá-las em prática. Sempre lembrando
que, a qualquer momento, talvez tenha que revisar tudo.

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Dicas de leitura:
Felicidade Autêntica, Martin Seligman
Em Busca de Sentido, Viktor Frankl
Emoções que Curam, Arturo Agüero
Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Dale Carnegie

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CAPÍTULO 4
Inimigos Internos

Agora que localizamos três grandes “inimigos” externos, pode-


mos ver o outro lado da moeda: o que trazemos dentro de nós e que
podem impactar diretamente na vida profissional, fazendo com que
tenhamos mais ou menos estresse e desgaste emocional.

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4º Inimigo
Terceirização de culpa

“No final do dia, que não haja desculpas,


explicações, nem arrependimentos.”

Steve Maraboli

“O trabalho no banco é muito desgastan-


te, não sei se compensa o salário que ganho.”

“Não consegui terminar o meu serviço


porque o sistema travou.”

“Não consigo ir para frente porque meu


gerente não se relaciona bem comigo e os co-
legas.”

É bem provável que você já tenha ouvido de algum colega fra-


ses como essas. Talvez você mesmo já as tenha pronunciado – ou,
pelo menos, pensado nelas.
Sabemos que se trata de um assunto bastante amplo, mas,
muitas vezes, passamos bastante tempo terceirizando a culpa pelas
dificuldades no trabalho e na vida.

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O que queremos observar aqui é que não somos tão responsá-
veis assim pelos problemas em si, mas pela forma que impactam
em nós e, mais do que isso, o que faremos dali em diante.
O problema é que, quando terceirizamos a responsabilidade
pelo que ocorre em nossa vida, estamos deixando-a nas mãos de
outra pessoa ou situação. Ou, em nosso caso, deixamos nas mãos
do sistema de trabalho, já que o banco é o culpado de tudo!
Para entendermos a estratégia para diminuir nossa terceiriza-
ção de culpa, vamos recorrer a alguns princípios da psicologia que
fazem parte da Terapia de Aceitação e Compromisso – do inglês
Acceptance and Commitment Therapy ou simplesmente ACT.
A Terapia de Aceitação e Compromisso é um modelo que envol-
ve terapia e princípios do coaching (no sentido de ajudar a pessoa a
criar uma aproximação do que é importante na sua vida), baseado
no uso do mindfulness (atenção plena) e encontro com os valores
pessoais. Quando aplicada em terapia, seu objetivo é aceitar as ad-
versidades e maximizar o potencial humano para uma vida rica, ple-
na e significativa; cultivar a saúde, a vitalidade e o bem-estar atra-
vés da vivência baseada em valores conscientes.
A ACT é um método terapêutico aplicado por um profissional
capacitado. Porém, vamos conhecer alguns de seus princípios que
podem ajudar o bancário a desenvolver flexibilidade psicológica –
capacidade de manter nossos pensamentos e emoções um pouco
mais leves e agir com base em valores de longo prazo (o que que-
remos para nossa vida), em vez de impulsos, pensamentos e senti-
mentos de curto prazo (frustrações com o trabalho).
Os 6 princípios fundamentais da ACT são:

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1) Aceitação
A aceitação é uma alternativa ao instinto natural de evitar expe-
riências negativas. É a escolha ativa de estar ciente e permitir esses
tipos de experiências sem tentar evitá-las ou alterá-las. A aceitação
não é uma meta da ACT, mas um método que permite encorajar
ações que levem a resultados positivos.
Ou seja, quando o bancário aceita seu trabalho como é e deixa
de lutar contra esse fato, permite a si mesmo buscar alternativas
para lidar melhor com seus desafios diários.

2) Defusão Cognitiva
A “defusão cognitiva” refere-se às técnicas que pretendem
mudar a maneira como um indivíduo interage com seus pensamen-
tos e sentimentos.
Esse princípio da ACT está relacionado ao mindfulness (“aten-
ção plena”), que é a qualidade ou estado de estar consciente de al-
guma coisa. Jon Kabat-Zinn, médico especialista ocidental em me-
ditação Zen e uma das maiores autoridades no assunto, também
define mindfulness como “prestar atenção de uma maneira particu-
lar: de propósito, no momento presente e sem julgar”.
O mindfulness é, portanto, uma atitude de aprender a tornar-se
mais consciente dos pensamentos e sentimentos. Isto é, mudar a
forma de pensar e sentir em vez de querer mudar o que está pen-
sando e sentindo.
Por exemplo: quando queremos fugir de um pensamento ou
sentimento desagradável, continuamos fusionados a ele e a an-
gústia não se dissipa. E as várias técnicas de mindfulness têm justa-
mente o objetivo de nos ajudar a desenvolver a habilidade de “de-
fusionar” (por isso o termo defusão cognitiva).

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Uma das melhores formas de treinar isso é fora do trabalho,
estando com pessoas importantes, fazendo coisas que tenham
significado ou, principalmente, em momentos de silêncio – sem
smartphone, computador ou televisão. Veja bem: aprender a “de-
fusionar-se” dos pensamentos e sentimentos desagradáveis não é
um luxo ou uma coisa bonita de se dizer, é uma necessidade para a
saúde mental e emocional de qualquer um de nós.

3) Contato com o Presente


Estar presente envolve experimentar ativamente o que está
ocorrendo sem tentar prever, mudar ou fazer juízos de valor sobre
o acontecimento.
Ou seja, um dos objetivos da ACT é promover um contato con-
tínuo com eventos psicológicos (internos) e ambientais (situações
externas) à medida que eles ocorrem. Em outras palavras: fazer com
que a pessoa experimente o mundo de maneira mais direta, para
que seu comportamento seja mais flexível e, assim, suas ações se-
jam mais consistentes com os valores que possui.
Podemos citar como exemplo uma das sensações mais comuns
do bancário após o horário do almoço: desejo intenso do término
do expediente – ou fuga do trabalho.
Não é errado querermos que o trabalho termine logo para po-
dermos sair de uma situação estressante ou fazer outras coisas que
nos sejam mais animadoras. Mas lembre-se: quanto mais intenso
for o julgamento de que estar ali é desgastante e insuportável,
maior será a angústia durante aquelas horas, impactando negati-
vamente em nosso contato com o presente.

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4) Eu como Contexto
O “Eu como Contexto” nos traz uma ideia simples de que a pes-
soa não é suas experiências, pensamentos ou emoções, mas sim
“algo” que tem a capacidade de observá-los. Em outras palavras,
não somos o que acontece conosco. Somos o que experimenta-
mos aquilo que acontece conosco.
Este princípio também pode ser compreendido como a capaci-
dade de auto-observação ou observar a si mesmo: o aspecto do
ser humano de conseguir observar seu mundo interior.
Em uma situação de conflito, por exemplo, com algum gerente,
colega ou cliente, a habilidade de observar a si mesmo será funda-
mental para que o bancário perceba, da maneira mais clara possí-
vel, o que está ocorrendo internamente e tenha, portanto, melhores
opções de escolha de como agir ou o que falar. Este princípio da
ACT, inclusive, possui íntima relação com uma dos pontos que vere-
mos mais adiante – a inteligência emocional.

5) Valores
Valores, neste contexto, são definidos como as qualidades que
escolhemos para trabalhar em um determinado momento.
Todos nós mantemos valores, consciente ou inconscientemen-
te, que direcionam nossos passos. Na ACT, são aplicados processos
e técnicas para ajudar a pessoa a viver sua vida de acordo com seus
valores – aquilo que é mais importante a ela.
O trabalho é significativo para todos nós devido à energia e tem-
po que gastamos nele e à necessidade da remuneração financeira.
Entretanto, é bastante comum que o ânimo e interesse de uma pes-
soa sejam profundamente abalados quando o trabalho é fonte de

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elevado estresse e, ao mesmo tempo, ela não esteja se aproximan-
do de seus valores e o que é mais importante na sua vida.
Se o bancário desenvolve essa visão, ele pode conciliar duas
coisas aparentemente antagônicas: aceitar o trabalho estressante
e comprometer-se com a busca por estratégias na sua vida que lhe
permitam criar uma vida rica e significativa.

6) Ação Comprometida
Finalmente, a ACT visa ajudar as pessoas a se comprometerem
com ações que aumentem seus objetivos de longo prazo e facilitem
sua tentativa de viver uma vida coerente com seus valores. Todos os
exercícios, técnicas e práticas da ACT destinam-se a ajudar as pes-
soas a alcançar seus objetivos por meio de mudanças positivas de
comportamento.
Em palavras mais diretas, esses princípios nos ajudam a parar
com a lamentação e partir para a ação.
Talvez você tenha achado esse discurso todo sobre aceitação
e compromisso bastante bonito, porém queira dizer exatamente o
seguinte: “mas Alexandre, meu trabalho realmente é culpado pelo
meu estresse e desgaste emocional!”
Sim. Concordo com esse ponto de vista. Como vimos desde o
início, há vários “inimigos” externos. Entretanto, nosso foco aqui
é a maneira como o bancário lida com tudo isso, pois é isso que
está ao seu alcance.
Mesmo nas situações mais adversas, uma pessoa sempre tem a
possibilidade de escolher como irá enfrentá-las, conforme o senti-
do que veja na sua busca. Dessa forma, ela pode aceitar a realidade
atual e assumir um compromisso consigo mesma de alcançar o ob-

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jetivo em questão, em vez de ser um eterno dependente de que as
condições externas sejam as mais favoráveis.
Sei que, na prática, não é tão simples quanto parece. Mas o im-
portante é que agora você já sabe que o inimigo terceirizador de
culpa tem o poder de travá-lo, pois faz você focar nos problemas
externos. Em vez disso, se você pesquisar e focar nas soluções con-
cretas e objetivas que estão verdadeiramente ao seu alcance, terá
melhores condições de sentir-se mais realizado na vida.
Agora temos fundamentos que nos ajudarão a compreender a
estratégia para enfrentar o inimigo terceirizador de culpa.

10ª estratégia – Aceite a situação atual, assuma a responsabili-


dade pela sua vida e crie um compromisso consigo mesmo de
aprender mais e melhorar, com paciência e consistência.
Aceite que os maiores “inimigos” estão dentro de você. São
seus hábitos e sua forma de reagir às situações. Não espere apenas
que o sistema de trabalho ou os colegas mudem para melhor. Se
isso ocorrer, aproveite! Mas busque seu desenvolvimento pessoal
para executar ações – no banco e fora dele – que o levem à vida
rica, plena e significativa que quer criar.
Além disso, o bancário que se desenvolve pouco a pouco no
mindfulness – habilidade de não ficar “preso” nos pensamentos e
sentimentos negativos que o trabalho desgastante gera – tem maio-
res chances de recuperar-se de momentos de estresse e ansiedade
de maneira mais rápida e eficaz.
Portanto: pare de terceirizar a culpa do seu estresse, desgaste e
frustração com o trabalho para o próprio banco. Proponha melho-
rias no que estiver ao seu alcance, mas aceite as dificuldades ine-
rentes à função. Assuma a responsabilidade de criar uma realidade

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melhor do que a atual e comprometa-se em buscá-la. Ou seja, bus-
que ter uma atitude de aceitação e compromisso – que, na verdade,
é um compromisso consigo mesmo.
Caso tenha interesse, você pode procurar um profissional (psi-
cólogo, psicoterapeuta que utiliza ACT ou coach qualificado) para
ajudá-lo neste processo.
Também sugerimos a leitura do livro “Get Out of Your Mind
and Into Your Life” (com tradução livre para “Saia da sua Mente
e Entre na sua Vida”), de Steven C. Hayes e Spencer Smith. Neste
material encontramos dicas valiosas para aplicar em nossas vidas
os princípios da ACT aqui citados.

Dicas de leitura:
Get Out of Your Mind and Into Your Life - The New Acceptan-
ce and Commitment Therapy, Steven C. Hayes & Spencer
Smith.
OBS.: Infelizmente, esta obra ainda não foi
traduzida para o português. :(

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5º Inimigo
Mindset fixo

“Posso aceitar o fracasso, todo mundo falha em algu-


ma coisa. Mas não posso aceitar não tentar.”
Michael Jordan

O mindset é um conceito utilizado pela psicóloga da Univer-


sidade de Stanford, Carol Dweck, em décadas de pesquisa sobre
realizações e sucesso – um conceito simples que pode fazer toda a
diferença.
Conforme a Dra. Dweck, podemos ter dois tipos de mindset:

1) Mindset Fixo
Neste mindset, a pessoa acredita que suas qualidades básicas,
como sua inteligência ou talento, são simplesmente traços fixos. Ela
gasta seu tempo feliz com sua inteligência ou talento (ou infeliz por
não tê-los), em vez de desenvolvê-los. Ela também acreditam que só
o talento cria sucesso – sem esforço.

2) Mindset de Crescimento
A pessoa com mindset de crescimento acredita que suas habili-
dades mais básicas podem ser desenvolvidas através de dedicação
e trabalho duro – o cérebro e o talento são apenas o ponto de par-
tida. Essa visão cria um amor pela aprendizagem e uma resiliência
que é essencial para uma grande realização. Praticamente todas as
grandes personalidades e pessoas bem-sucedidas tiveram essas
qualidades.

57
Trazendo para o ponto de vista do banco, podemos dizer que
o bancário com o mindset fixo pensa que é impossível mudar sua
situação atual. Ou seja, ele não vê possibilidade de melhorar sua
situação de vida ou condição de trabalho – mesmo que isso possa
demorar e ele precise ser resiliente.
O bancário pode, por exemplo, ter vários tipos de objetivos
para sua vida pessoal:

• crescer no banco, para uma função gerencial ou departamental;


• manter-se na mesma função, mas aumentar sua qualidade de vida
e contato com a família;
• estudar para um concurso;
• fazer uma faculdade para seguir em outra profissão;
• abrir um negócio próprio e conciliar com o banco ou pedir demis-
são para poder ter dedicação exclusiva.

O que todos esses


objetivos têm em comum?

Para alcançá-los, é necessário um mindset de crescimento.


Esse mindset é uma visão de que é possível desenvolver no-
vas maneiras de alcançar suas metas pessoais, como por exemplo:
aprender a ter maior autocontrole emocional ao lidar com o público
e os colegas; aperfeiçoar técnicas para lidar com uma grande quan-
tidade de informações e tarefas; desenvolver a habilidade de focar

58
no momento presente (mindfulness); ou gerenciar melhor os estu-
dos para um concurso, conciliando com o trabalho.
O mindset de crescimento impacta, inevitavelmente, em ques-
tões pessoais que aparentemente não têm a ver com o banco, como
a forma de conviver nos relacionamentos amorosos, no controle
financeiro e no desenvolvimento de algum hobby que deixa o ban-
cário mais feliz.
Portanto, nossa próxima estratégia é:

11ª estratégia – Crie um mindset de crescimento.


Se você não sabe como resolver um problema ou melhorar sua
(difícil) situação atual, estude, pesquise, leia, pergunte, medite, ou,
simplesmente, faça outra coisa (em vez de pensar no problema em
si). Mude a forma de pensar, de encarar, planeje algo que possa ser
feito e parta para a ação. Resolva seus problemas, não terceirize
a culpa, não espere que outros façam por você apenas por dó de
si próprio. Se não encontrou ainda uma forma de resolver, estude
mais, pesquise mais (com as informações que estão dentro de você
e fora). Se já encontrou como resolver, não enrole e faça o que pre-
cisa ser feito.
Ninguém nasce com essas características prontas. Isso é resul-
tado de um mindset de crescimento que está sendo desenvolvido
de propósito.

Dica de leitura:
Mindset – A Nova Psicologia do Sucesso, Carol S. Dweck.

59
6º Inimigo
O maior ladrão de energia de todos os tempos: o
smartphone.

“Não deixe o passado roubar seu presente.”


Terri Guillemets

No início do livro, vimos o impacto das interrupções em nossa


concentração e que elas podem ser de diversos tipos:

• a chegada de um cliente no meio da execução de uma tarefa;


• um e-mail urgente na caixa de entrada (mais urgente do que todos
os outros);
• o pedido de ajuda de um colega (ou a necessidade de ter de pedir
ajudar);
• a ocorrência de algo imprevisto durante o uso de um dos siste-
mas no computador;
• ou o telefone tocando em volume alto (mesmo que seja de um
colega).

Até aqui tudo bem. Estamos em um processo de aceitação de


que isso faz parte do trabalho.
Entretanto, há um inimigo sorrateiro e que tende a nos fazer
gastar muita energia mental e emocional: o smartphone.
Na verdade, não é que ele, em si, seja o inimigo, mas sim a for-
ma como o usamos.

60
Nem todos passam por essa situação, mas o fato é que o smart-
phone abre portas para a criação de hábitos que causam um grande
gasto de energia e que, quando exagerados, podem se tornar um
vício, como o vício em redes sociais.
Diversos estudos da psicologia e outras áreas apontam os im-
pactos do uso das redes sociais em nossas relações, conflitos e, in-
clusive, no cérebro.
O fato de rolarmos continuamente a tela para baixo para ver-
mos mais notícias no feed ou não conseguirmos ignorar um alerta
de notificação ocorrem porque as redes sociais, como Facebook,
Instagram e Twitter, ativam os centros de recompensa do cérebro.
Por exemplo: quando uma pessoa curte, comenta ou compar-
tilha algo que postamos, nosso cérebro libera dopamina – neuro-
transmissor responsável pela sensação de prazer. Isso, em si, não
é algo ruim. Porém, com o passar dos últimos anos – o Facebook
foi criado há muito pouco tempo, em 2004 –, nos acostumamos ao
intenso uso dos eletrônicos e redes sociais. Isso fez com que muitas
pessoas acabassem se tornando, pouco a pouco, viciadas nas re-
compensas que o uso destes sistemas de comunicação instantânea
proporcionam.
A propósito, o impacto da dopamina é tão forte que estudos
mostram que resistir ao desejo de tweetar é mais difícil do que
enfrentar o cigarro ou o álcool.
Usamos as redes sociais, porque queremos manter relações
com as pessoas. Como vimos no capítulo sobre o inimigo da baixa
realização profissional, os relacionamentos fazem parte da condi-
ção humana e são totalmente necessários. Mas nas redes sociais
também surge uma espécie de “efeito de reciprocidade”, e, por isso,
muitas vezes nos sentimos obrigados a corresponder o que outras

61
pessoas nos proporcionaram – como comentar, curtir e comparti-
lhar.
Entretanto, em um estudo realizado pela Universidade de Sal-
ford com usuários de redes sociais, dos 298 participantes, 50% afir-
maram que usar redes sociais como Facebook e Twitter deixam
suas vidas piores. Sua autoestima sofre quando comparam suas
conquistas com as de amigos ou outras pessoas online.
Além disso, esse assunto nos faz entrar em áreas ainda mais
profundas, como os relacionamentos, fobias sociais, autoestima e
dificuldades que muitos de nós temos de sermos aceitos.
Uma pessoa pode, sem perceber, desenvolver o vício em re-
des sociais como uma forma de fugir de emoções difíceis. Ou seja,
quando experimenta emoções de frustração, tristeza, abandono,
raiva ou infelicidade, ela recorre a um prazer imediato da comuni-
cação instantânea (pelo Facebook, WhatsApp, Twitter ou outra rede
social). Isso faz com que o cérebro libere mais dopamina, portanto
uma sensação de prazer, “aliviando” a dor emocional que sentia.
Posteriormente, esse processo se repete várias vezes até que, em
pouco tempo, é estabelecido um caminho neural no cérebro, tor-
nando ainda mais fácil que esse hábito se repita.
Quando se torna extremamente difícil da pessoa romper com
esse padrão, podemos dizer que é um vício. E tudo isso ocorre com
algo ao alcance da mão: o smartphone.
O hábito de verificar constantemente notificações de mensa-
gens e redes sociais pode prejudicar o bancário não só no momen-
to de trabalho – deixando-o angustiado para usar o smartphone –,
como também em qualquer momento que esteja se relacionando
com alguém, principalmente a família e amigos.
Independente do quanto você se encontra condicionado ao uso
deste aparelho e das redes sociais, a seguinte estratégia é válida.

62
12ª estratégia – Limite o tempo de uso das redes sociais e
aprenda a desligar o smartphone quando não precisar dele.

É uma estratégia bastante objetiva – mesmo que difícil em al-


guns momentos.
Muitas pessoas não conseguem manter o celular desligado ou
no modo avião, pois se tornaram viciadas no hábito de se comuni-
car através das redes sociais.
Caso seja o seu caso, lembre-se de que isso é um hábito forte-
mente arraigado nas rotinas de recompensa que o cérebro executa.
É por isso que a notificação no celular é tão perigosa, pois pode nos
condicionar a sempre despertar o desejo de ver o que nos envia-
ram. Isso dificulta ainda mais a concentração, que já é tão prejudi-
cada no trabalho bancário, conforme vimos no início do livro.
Portanto, limite o tempo em que você usa as redes sociais –
determine horários para isso – e aprenda a desligar o smartphone
quando não precisar dele.
De acordo com a pesquisa citada neste capítulo, dependendo
do caso, a pessoa pode passar por sintomas de abstinência ao se
“desconectar” da comunicação virtual por um tempo – sensação
de ansiedade, aperto no peito, medo de perder alguma informação
importante etc.
Também sugiro fortemente que você procure um profissional
para ajudá-lo, caso consiga admitir para si mesmo que necessita
mudar esse hábito de dependência da comunicação pelas redes so-
ciais. Digo isso porque é difícil alguém nessa situação aceitar que
pode receber alguma ajuda, já que o uso constante das redes so-
ciais é extremamente comum.
Lembre-se: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.

63
As redes sociais, ao mesmo tempo em que nos conferem diver-
sas facilidades na atual era da comunicação, também podem ser
fontes de sentimentos intensamente venenosos que afetam nossa
paz, tranquilidade e concentração – seja no trabalho ou fora dele.

64
7º Inimigo
Baixa inteligência emocional

“Nada pode impedir o homem com a atitude mental


correta para atingir seu objetivo; nada na Terra pode
ajudar o homem com a atitude mental errada”.
Thomas Jefferson

É provável que você não tenha aprendido na escola, e nem mes-


mo na faculdade, algo sobre conhecimentos bancários – só quando
começou a se preparar para entrar em algum banco público (atra-
vés de concurso) ou privado (em um processo seletivo). E depois
ficou bastante feliz quando foi chamado para a vaga, recebeu um
rápido treinamento e, logo no primeiro dia, percebeu que não sabia
nada e que teria que aprender muitas coisas na prática, buscando
por si mesmo através do método “tentativa e erro”.
Pense comigo: se esse conhecimento – que é técnico, intelec-
tual e informativo – nenhum de nós recebemos antes de trabalhar
no banco e vamos tendo que desenvolver “na marra”, imagina
quando entramos no campo das emoções? O mais provável é que
não tenhamos recebido nenhum preparo para lidar com elas – em
qualquer circunstância, ainda mais em um ambiente tão desgastan-
te emocionalmente como o trabalho bancário.
E é por isso que neste capítulo vamos tratar da inteligência
emocional (IE).
A inteligência emocional trata de identificar emoções (em nós e
nos outros), como relacionar-se com os outros e comunicar nossos
sentimentos. Também é chamada de Quociente Emocional (QE) e
é associada às soft skills (habilidades de gestão emocional e rela-

65
cionado), distinguindo-se das hard skills (“habilidades duras”, de
conhecimento teórico e técnico).
A IE é diferente da inteligência cognitiva – ou Quociente de In-
teligência (QI) –, com a qual geralmente estamos mais familiariza-
dos, já que é o tipo mais frequentemente referido quando a palavra
“inteligência” é usada. É também esse tipo de inteligência que ge-
ralmente é estimado através de testes com média de notas.
Inteligência emocional é o que usamos quando temos conver-
sas profundas sobre nosso relacionamento com o cônjuge, tenta-
mos lidar com uma criança indisciplinada, ou buscamos ter empatia
com colegas de trabalho e lidar com situações difíceis envolvendo
clientes.
O conceito de inteligência emocional já faz parte da psicologia
há várias décadas e foi usado por muitos autores e pesquisadores.
Mas foi com a obra “Inteligência Emocional”, escrita pelo psicólo-
go e jornalista Daniel Goleman, na década de 90, que a IE se tornou
tema de vários livros e discussões em programas de televisão, esco-
las e até empresas.
Neste livro, o autor apresentou cinco aspectos da inteligência
emocional e vamos conhecê-los agora.

1) Autoconsciência – Conhecer as próprias emoções


Autoconsciência é a habilidade de estar ciente e compreender
nossas emoções à medida que elas ocorrem e evoluem.
É equivocado pensar nas emoções como positivas ou negati-
vas. Em vez disso, deveríamos pensar nelas como apropriadas ou
inadequadas ao momento.
Por exemplo, a raiva ou tristeza são geralmente consideradas
emoções negativas. No entanto, podem ser emoções completa-

66
mente compreensíveis e apropriadas em certas circunstâncias. A
inteligência emocional nos permite exercer a auto-observação e
reconhecer nossa raiva e tristeza e entender por quê essa emoção
ocorreu.

2) Autorregulação Emocional – Como lidar com as emoções


Tendo aprendido a estar ciente de suas emoções, a habilidade
de autorregulação está relacionada a administrá-las de forma ade-
quada e proporcional.
As habilidades de autorregulação se relacionam com as emo-
ções que estamos sentindo em um dado momento ou em qualquer
circunstância e com o quão bem as gerenciamos. O autocontrole é
uma parte fundamental disso.
Na prática, quando a pessoa consegue perceber com mais cla-
reza o que está sentindo (autoconsciência), tem melhores condi-
ções de lidar com aquela emoção (autorregulação emocional).
Portanto, exercer a autorregulação ou autocontrole emocional
não tornará a circunstância agradável, mas o bancário pode, por
exemplo, sentir raiva de algum colega ou cliente e aprender a ob-
servar suas emoções, aceitá-las, respirar fundo e fazer o que tem
que ser feito. Essa é uma estratégia mais adequada ao momento
do que reagir mecanicamente devido a uma emoção forte e difícil.

3) Motivação – Clareza nos “motivos para a ação”


Motivação não é estar sempre feliz e sorridente para tudo e to-
dos – mesmo em circunstâncias desagradáveis. A motivação inclui
nosso impulso pessoal para melhorar, alcançar algo, manter um
compromisso com nossos objetivos ou a iniciativa para atuar em
oportunidades, inclusive com otimismo e resiliência.

67
A pessoa que desenvolve, pouco a pouco, a motivação, apren-
de a trabalhar em direção aos seus objetivos de forma consistente.
Mesmo quando se depara com um desafio, tenta encontrar alguma
alternativa ou um ponto positivo sobre a situação.
Portanto, quanto maior clareza o bancário tem sobre seus mo-
tivos para estar no banco ou o que quer alcançar na vida, maior
possibilidade ele terá para aceitar os desafios, planejar os próximos
passos e partir para a ação concreta. Ou seja, ele terá mais motivos
para a ação.

4) Empatia – Saber calçar os sapatos do outro


A empatia é uma consciência das necessidades e sentimentos
das outras pessoas, tanto individualmente como em grupos, e a ca-
pacidade de ser capaz de ver as coisas do ponto de vista dos outros.
Dessa forma, nos ajuda a desenvolver uma compreensão mais forte
das situações de outras pessoas.
A empatia pode ser difícil de alcançar. Uma forma para desen-
volvê-la é aprender a ouvir efetivamente as mensagens verbais e
não verbais dos outros, incluindo movimentos corporais, gestos e
sinais físicos de emoção. Também podem ser feitas perguntas para
descobrir mais sobre as pessoas e o que elas estão sentindo, além
de dar feedback para esclarecer que você entendeu corretamente
os sentimentos delas.
Além de que, uma das formas mais importantes de exercer a
empatia – em qualquer tipo de relacionamento, seja profissional ou
pessoal – é reconhecer e respeitar os sentimentos do outro, mesmo
que discordemos, e evitar fazer comentários ou declarações que jul-
guem, depreciem, rejeitem ou enfraqueçam.
Você poderá aprender mais sobre a importância desse princí-
pio de não julgar, não criticar e não condenar no livro “Como Fazer

68
Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, já citado neste
livro.
O bancário que vai buscando gradativamente aumentar a em-
patia tem a oportunidade de melhorar suas condições de trabalho
com os colegas e clientes. Um dos maiores benefícios é diminuir um
estresse que poderia ser muito maior caso não fosse empático com
as necessidades dos outros.

5) Habilidades Sociais – A arte de influenciar positivamente


os outros
O último aspecto da inteligência emocional é uma soma de
todos os anteriores, tornando-se um dos mais importantes: habili-
dades sociais, que envolvem uma série de aptidões interpessoais e
capacidades de relacionamento.
São, sobretudo, a habilidade de uma pessoa de comunicar seu
ponto de vista ao mesmo tempo em que constrói um relacionamen-
to mais confortável – seja em um casamento, com filhos, amigos,
colegas, chefes, subordinados ou clientes.
As habilidades sociais vão desde a liderança até arte de influen-
ciar e persuadir, gerenciar conflitos e como trabalhar em equipe.
Quanto mais uma pessoa é capaz de entender e administrar a si
mesma – observando suas emoções e desenvolvendo o autocontro-
le emocional –, mais ela pode entender as emoções e sentimentos
dos outros (empatia) e, finalmente, influenciá-los positivamente
(habilidades sociais).
Para o bancário, as habilidades sociais têm um impacto direto
na forma de se relacionar com os colegas e os clientes. Neste caso,
trabalhar a inteligência emocional poder ser o aspecto mais impor-
tante de seu desenvolvimento profissional e pessoal. Inclusive, pes-

69
quisas mostram que pessoas com níveis mais altos de inteligência
emocional desfrutam de carreiras e relacionamentos mais satisfa-
tórios e bem-sucedidos.
Desenvolver a inteligência emocional é parecido com fortalecer
músculos: requer tempo, paciência e constância. Por isso, a estraté-
gia para aumentar o QE é:

13ª estratégia – Estude conteúdos de inteligência emocional.


Infelizmente, não há algum exercício breve e simples para de-
senvolver rápida e espontaneamente a inteligência emocional. Se-
ria muita pretensão da minha parte dizer a você que simplesmen-
te faça alguma coisa para aumentar sua capacidade de perceber
e lidar com as emoções, desenvolver motivação, empatia e habili-
dades sociais. Inclusive, como psicólogo, sugiro que você fique de
olhos abertos a cursos que prometem um rápido desenvolvimento
nessa área – muitos deles online. Podemos aprender muito nestes
cursos (em formato de PDF ou vídeos), mas a aplicação prática e a
continuidade caberão a você, e é dessa maneira que conseguimos
desenvolver a inteligência emocional – gradativamente, durante
toda a vida.
Portanto, meu objetivo nessa estratégia é apresentar a você isso
que se chama inteligência emocional e sugerir que busque mais in-
formações sobre o assunto. Há livros, sites e canais no YouTube com
conteúdos relevantes sobre o tema. Assim você terá mais ferramen-
tas para, pouco a pouco, atingir maior clareza sobre a forma de lidar
com as próprias emoções.
O que queremos salientar é que, da mesma maneira que não
há milagres para perder peso, passar em um concurso ou fazer um

70
negócio crescer, não há métodos rápidos e fáceis para desenvolver
os aspectos da inteligência emocional. Não pense em atalhos.
Entretanto, qualquer um concordaria que quando uma pessoa
quer alcançar qualquer um dos resultados acima, ela pode se bene-
ficiar em buscar ajuda.
Quem pode ajudar quem quer emagrecer? Um personal trainer
e/ou nutricionista.
Quem pode ajudar a pessoa que quer passar em um concur-
so? Professores qualificados que conhecem as disciplinas da prova
– geralmente professores que já passaram pelo caminho do concur-
seiro.
Quem pode ajudar o profissional que quer empreender? Aquele
que já empreendeu – mesmo que seja um amigo, através de diálo-
gos – e, se possível, um mentor.
Agora podemos entender porque tantas vezes ouvimos falar
que realizar psicoterapia seria interessante, mas a grande maioria
de nós – bancários ou não – possui uma certa resistência para com-
preender isso. Mas não fique chateado: ter essa resistência é “nor-
mal” e, muitas vezes, esperado.
Uma pessoa que busca um profissional da área da psicologia
não é alguém necessariamente com um “problema” ou um “desa-
juste”. O que quero dizer é que qualquer pessoa interessada em en-
contrar formas mais adequadas de lidar consigo mesma pode ser
beneficiada com uma psicoterapia. Ou seja, não é para a pessoa
ficar rotulada com algum diagnóstico – depressão, ansiedade, bi-
polaridade, transtorno de pânico etc. Esses termos científicos são
formas de entender certos padrões de pensamento, emoções e
comportamento que estejam menos adequados à vida da pessoa.
E se for o caso, o diagnóstico dá uma visão para a pessoa buscar um

71
repertório de novas formas de lidar com a situação, com base nas
ajudas profissionais (psicólogo, psiquiatra e outras áreas da saúde).
Porém, muitas vezes um diagnóstico no sentido de “rótulo” não
será necessário. E o que realmente importa para o psicoterapeuta é
que a pessoa que ele presta um serviço, consiga desenvolver-se con-
forme aquilo que ela realmente precisa.
Confesso que este comentário é amplo, pois há diversas linhas
de terapia diferentes, com métodos distintos. E não é nosso objeti-
vo tratar sobre isso agora.
O que quero dizer com tudo isso é que quando percebemos que
desenvolver a inteligência emocional é algo útil (e necessário) para
qualquer pessoa, nossa visão sobre terapia pode mudar.
É comum que uma pessoa com desejo de emagrecer comece
pesquisando sobre o assunto em blogs e vídeos no YouTube. Talvez
isso já seja suficiente e ela, ao colocar certas dicas em prática, está
ótimo! O importante é ela ter os resultados que busca naquele mo-
mento.
Entretanto, pode ser que, em algum momento, ela sinta a ne-
cessidade de recorrer a um profissional capacitado – como um per-
sonal trainer e/ou nutricionista. Neste caso, estes profissionais irão
lhe ajudar por um tempo e, posteriormente, talvez possa seguir sem
o acompanhamento. Na prática, cada caso é um caso e não há fór-
mula específica.
Para a inteligência emocional é a mesma coisa: quem quer
desenvolvê-la, pode pesquisar mais sobre o assunto – em livros,
vídeos e, principalmente, começar com exercícios simples de au-
to-observação e mindfulness (atenção plena). E caso sinta neces-
sidade, procurar um profissional capacitado para lhe ajudar neste
processo.

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Aliás, aproveito para esclarecer o que quero dizer com “profis-
sional qualificado”.
Você pode procurar um psicólogo para fazer terapia ou um coa-
ch para realizar um processo de coaching. O importante é que sejam
profissionais qualificados – ou seja, preparados, com formação e
experiência – para ajudarem você na sua necessidade, no que você
precisa.
Mas então, quais as diferenças entre terapia e coaching? Não
é tão simples defini-las, pois ambos os métodos possuem algo im-
portante em comum: ajudar as pessoas a se desenvolverem. E há
alguns pontos que vamos considerar agora.

Diferenças entre psicoterapia e coaching


A psicoterapia ajuda a pessoa a lidar com situações da sua his-
tória, seu passado e a compreender melhor a formação de sua per-
sonalidade (padrões nas nossas formas de pensar, sentir e atuar).
Permite à pessoa ter contato com dores do passado – que podem
estar profundamente arraigadas nas suas emoções. Dessa forma, a
terapia oferece orientação, direção e, mais do que tudo, um espaço
de empatia para a pessoa acessar seu “mundo interior”, tornando
mais consciente os aspectos subconscientes. O relacionamento te-
rapeuta-cliente é geralmente de longo prazo – apesar de existirem
terapias breves, com cerca de 12 sessões, por exemplo.
Já o coaching, de um modo geral, possui um olhar direcionado
ao futuro, à clareza do que a pessoa quer para sua vida ou profissão,
e ao desenvolvimento de um plano para chegar até seus objetivos.
Busca capacitar a pessoa a desenvolver seus próprios problemas.
Enfoca a ação externa com resultados mensuráveis. É quase sempre
de curto prazo – geralmente de 8 a 12 sessões.

73
Portanto, a psicoterapia e o coaching não são abordagens con-
flitantes, mas sim complementares.
Há casos em que um método ou outro são mais indicados. Por
exemplo: se uma pessoa que lidar com uma questão emocional –
como após o falecimento de alguém querido, perda de um empre-
go, divórcio, alto índice de estresse no trabalho ou outro motivos –,
é a terapia que lhe ajudará.
Mas se ela está em um momento de razoável equilíbrio consigo
mesma, mas perdida em assuntos profissionais e o que fazer da sua
vida, o coaching pode ser mais apropriado.
Para facilitar, ambos podem ser realizados online. Há diversos
coaches que já fazem seus atendimentos via Hangout ou Skype e,
em maio de 2018, o Conselho Federal de Psicologia emitiu uma re-
solução permitindo o mesmo para psicólogos no Brasil.
Tudo depende da nossa necessidade no momento. E sem dúvi-
da, caso seja preciso e haja as condições adequadas, a pessoa pode
realizar os dois ao mesmo tempo sem qualquer prejuízo entre um
e outro.

Dica de leitura:
Inteligência Emocinal, Daniel Goleman.

74
Conclusão

Para finalizar, quero deixar aqui um poema que circula pela


internet sobre o principal companheiro na busca de melhorias em
nossa vida.

Eu sou seu companheiro constante.


Eu sou sua maior ajuda ou seu fardo mais pesado.
Eu vou te empurrar para frente ou vou te arrastar para o fracasso.
Eu estou completamente às suas ordens; metade do que você faz
pode me entregar e eu farei de forma rápida e correta.
Sou fácil de lidar, você só tem que ser firme comigo; mostre-me exa-
tamente como você quer que algo seja feito e depois de algumas
lições, eu farei automaticamente.
Eu sou o servo de todos os grandes homens e, oh! também de todos
aqueles que fracassaram.
Para aqueles que são grandes, eu os fiz grandes; e aqueles que fra-
cassaram, eu os fiz fracassar.
Não sou uma máquina, embora trabalhe com toda a precisão de
uma máquina, mas a inteligência do homem.
Você pode me usar para o lucro ou para a ruína, eu não me importo.
Leve-me, treine-me, seja firme comigo e colocarei o mundo aos seus
pés; seja indulgente comigo e vou destruir você.
Quem sou?
Eu sou um hábito!
(autor desconhecido)

75
Em síntese, neste livro tratamos de hábitos – sejam eles exter-
nos ou internos – que têm o poder de destruir um bancário e outros
que podem fortalecê-lo.
Se neste momento, sua vida ou seu trabalho estão bons, apro-
veite!
Mas se sente que algo está ruim, dando errado, que está pas-
sando por “provações” ou até mesmo sofrendo consequências de
atitudes equivocadas do passado, a solução é a mesma: aprender,
se capacitar, preparar-se para mudar – e enfrentar, da melhor ma-
neira possível, os inimigos que fazem o bancário ficar tão estressa-
do.
Se você chegou até aqui, agradeço sua atenção e espero tê-lo
ajudado de alguma forma a localizar-se melhor no momento atual
de sua vida – não só na área profissional, mas também na sua vida
como um todo. Afinal, as metas mais importantes são as da sua
própria vida.

76
Sobre o autor

Alexandre Spindola é Psicólogo (CRP RS/24460) pela Universi-


dade de São Paulo e possui formação em Coaching Psicológico pela
Academia do Psicólogo. Atuou como bancário, atendendo clientes
PF e PJ em um banco público entre 2017 e 2019. Palestrante há 10
anos de temas de autoconhecimento (Gnosis). É criador do blog O
Novo Bancário, que oferece conteúdo de Psicologia Positiva (méto-
do PERMA) e de como aplicar o Deep Work (trabalho profundo) no
dia a dia.
Para saber mais, acesse:
www.onovobancario.com.br

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