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Introdução
Jamerson começa falando que a Utopia sempre foi uma questão política, sendo um
reflexo da época em que foi criada, bem como das condições políticas, sociais e econômicas
destas. O capitalismo tardio, com sua ideologia neoliberal e com a derrocada das sociedades
“socialistas” trouxera um ceticismo em relação as formas tradicionais de revolução. O
capitalismo é visto como invencível, sendo impossível conceber um sistema socioeconômico
alternativo. Os autores Utópicos, nesse contexto, são os responsáveis por conceber e imaginar
tais sociedades alternativas através da dialética entre Identidade e Diferença.
Para Fredrick a nossa imaginação é limitada por nosso modo de produção, sendo que
não há nada em nossa imaginação que não tenha antes passado por nossos sentidos. As nossas
fantasias são colagens feitas de pedaços do nosso presente e, portanto, a Utopia nada mais é
que uma reflexão do mundo em que vivemos, das suas condições, problemas e questões
contemporâneas. Cada época da sociedade produziu utopias que dialogaram diretamente com
as principais questões postas no momento.
“Uma sensação generalizada de que o capitalismo não seria somente o único sistema político
e econômico viável, mas que também não se poderia elaborar imaginariamente uma
alternativa coerente para esse estado de coisas (FISHER, 2009, p. 2).
O único antídoto imaginário a esse estado de coisas é justamente imaginar outros mundos
possíveis, mesmo que a tentativa fracasse redondamente. Como afirma Maria Elisa Cevasco,
“os romances de imaginação política muitas vezes se desenrolam em contextos regidos por
sistema alternativos, evidenciando o caráter histórico do que sempre tomamos como natural”
(CEVASCO, 2018, p. 11).
Dessa maneira, é possível compreender que o texto utópico é ambíguo e ambivalente, pois na
medida em que afirma uma diferença radical com o que vivenciamos, mostra-se igualmente
irrealizável, quando não, inimaginável (p. 20). Entretanto, de uma maneira curiosa, é
justamente esse exercício de imaginar o que não é capaz de existir que nos devolve, uma vez
mais, nosso próprio mundo. Em última análise, a invenção de Utopias nos deixa mais
conscientes de nossa limitação mental e ideológica de imaginar uma alteridade, reforçando, ao
final, que só a alteração histórica e a ação da prática cotidiana podem engendrar a mudança.”
O texto que inaugura o gênero literário da utopia é o texto seminal de Tomas Mores,
Utopia, publicado em 1517. Desse texto teve-se duas linhas diferentes: uma que visa uma a
realização de um programa utópico (como o socialismo e o comunismo) e uma outra em que o
impulso utópico está velado e se manifesta de formas sutis e encobertas (textos literários,
teoria política e social).
A utopia, o programa utópico, deve ter um compromisso com a clausura, bem como
com a totalidade que é nada mais que a combinação entre sistema e clausura.
Um dos pré-requisitos básicos para uma utopia ser criada é a existência de uma
situação social que admitia uma solução para os seus problemas. A utopia, nesse contexto, se
apresenta em um mundo onde existem importantes males sociais que devem ser sanados
através da extirpação do mal maior e não de uma forma idílica, como geralmente se
pressupõe. As intervenções diagnósticas dos utópicos, portanto, visam acabam com as fontes
de exploração e sofrimento o que pode ser alcançado após a remoção de todos os males
menores existentes.
Essas intervenções utópicas não são produtos dos desejos pessoais do escritor e sim
uma manifestação de uma realidade social específica através da visão de um autor. O utópico
representa através de formas dramáticas e estéticas as contradições de uma sociedade que está
em plena convulsão, já que, como o autor fala, o chamamento utópico é maior nesses
momentos de crise, de enclave. Isso tem como consequência a produção de utopias com
temáticas específicas produzidas em momentos específicos, como o socialismo em resposta
ao capitalismo industrial ou as utopias cyberpunks como respostas à revolução tecnológica.
Nesse capitulo o autor faz uma análise da obra seminal de Tomas More Utopia.
Os mundos utópicos imaginados não são criados do nada; eles são um compilados de
representações do mundo que existe a nossa volta. O texto de More é uma síntese de quatro
linguagens representacionais: os gregos, os incas, o medieval e o protestantismo. Esse texto é,
também, uma representação fantástica de um debate sobre a realidade concreta inglesa.
O anseio (ou desejo) pode tomar duas formas: a primeira é egoísta e serve somente ao
próprio escritor; e a segunda é uma versão disfarçada desse anseio que foi universalizado e
tornado interessante, através de teorias críticas ou de textos literários.
Nesse capitulo o autor fala sobre a Ficção cientifica e fantasia, apresentando suas
diferenças, similitudes e suas possibilidades de uso político.
Esse projeto foi batizado por Darcy Ribeiro de Universidade Necessária, um projeto
certamente utópico, pois pensava a Universidade a partir de um presente conturbado em
direção a um futuro mais promissor em que pudesse contribuir de forma efetiva nos avanços
estruturais do povo latino-americano
Quero dizer, ele vislumbrava, em chave utópica, uma Universidade enraizada no solo
brasileiro, uma Universidade que fosse capaz de problematizar as questões nacionais, única
forma de o país se libertar do atraso e da dominação das elites. “Uma Universidade”, diz ele,
“que não tem um plano de si mesma, carente de sua própria ideia utópica de como quer
crescer, sem a liberdade e a coragem de se discutir amplamente, sem um ideal mais alto, uma
destinação que busque com clareza, só por isto está debilitada e se torna incapaz de viver o
seu destino” (DARCY, 2018, p. 111). A utopia de Darcy Ribeiro era universalizar a educação
de modo que os pobres tivessem condições objetivas de uma vida digna, que a riqueza do país
fosse distribuída de tal forma que nenhum indivíduo passasse fome, que nenhuma criança
ficasse sem escola e educação, que a Universidade tivesse liberdade e coragem para projetar a
si mesma como elemento revolucionário. E esta é a função da utopia.