romance is a ticket to paradise and hell I’ve been there and I like it – I knew you were gonna break my heart – mesmo assim volto à viagem (excerto de cinco poemas de amor - Leandro Muniz)
Em Domingo é impossível não pensarmos nas inquietações
suscitadas pela poética do tremor em Édouard Glissant que nos lembra que “tudo começa sempre com poemas”. Em todos os povos, o sustento da vitalidade radical se dá primeiro pela imaginação de uma língua escolhida (e não imposta) e de uma ação poética (criação) frente ao atavismo que nos marca a ferro. Sendo este a própria a fidelidade à imutabilidade da poesia e da língua, base do aniquilamento de uns sobre outros, do passado sobre o presente e das intensidades que nos abrem para futuros inesperados. Quando esse poliglotismo vital nos habita, somos generosamente obrigadas a lidar com o fato de que nossa língua não é única e que é justamente essa impossibilidade que nos traz o tônus para lidar com ímpeto atávico de todos dias (e tempos). Essa língua rebelde e desenfreada da poesia é o que possibilita o encontro conosco, com nossos antecessores, sucessores e povos de infinito quântico, dentro do todo-mundo. O pensamento do tremor em Glissant é ao mesmo tempo a errância e o inexpressável do mundo onde o pensamento por mundialidade é o que garante ao vivo uma certa continuidade frente ao pensamento de sistema e aos sistemas de pensamento. O tremor é o háptico que nunca se fixa e que se abre para o amanhã fazendo do todo-o-mundo o objeto mais alto de sua poesia. O que escorre por essa brecha é uma forma de agir e pensar desde o mundo inextricável, sem reduzi-lo às nossas próprias pulsões ou interesses enquanto habitantes de muitos mundos. O inumerável é exatamente a abundância de mundo diante do uno que concebe a própria falta de mundo e por isso justifica-se na homogenia como resultado das relações. O Todo-o-Mundo é um mundo em que “se entra em zonas de vizinhanças, mais do que se adquirem caracteres formais” e que por isso sua tradução derivaria sempre em um ato de criação. Tudo isso se encontra, em forças e em tremor, tudo está ali e germina nessa imensa anunciação. Em Domingo, quando nos inclinamos sobre os panos de pintura por meio da sensação, habitamos uma zona opaca e por isso não nos perdemos no incomposto regulamentar – desejo de ordem e mundialização. Pois o opaco é precisamente o que não pode se encaixar em uma teoria de construção de sentido pré-atribuída. O opaco é a relação. A poética que insiste em que haja um “consentimento em não ser um único ser”. Assumimos assim, em seu nível mais radical, uma forma de dizer sobre os labirintos e refúgios que nos conduzem à fissura do dique.
TA: Para começarmos gostaria de te propor um breve roteiro
de construção desse novo projeto. Ele recupera diversos procedimentos que você já vem exercitando na sua prática, mas, ao mesmo tempo, os aprofunda no sentido de concepção e co- habitação de um espaço. Como têm se dado essas relações?
LM: Faz tempo que penso no domingo como um dia de
experiências interessantes para o meu trabalho. Para aqueles que podem descansar, existe um clima de preguiça, muita atividade doméstica e esse sentimento misto entre o tédio e a ansiedade de começar a semana de novo. O ciclo dos dias me atrai profundamente. Entre a organização e a vertigem. Essa exposição só tem trabalhos novos e muito contextualizados entre si, mas são operações que já apareceram na minha prática, só que a cada vez ganham diferentes corpos. Comecei os Varais em 2018. Na época, eu replicava com pintura as estampas de embalagens de sacos de pipoca ou de lanches, daí achei que poderia estender isso para os tecidos. Eles dinamizam o espaço e me interessa pensar formas de expor. Um varal é essa situação limítrofe entre o modo de usar o objeto na casa e lidar com/criar uma situação expositiva ambígua, porque você tem uma frente e um verso, mas ainda se trata de uma superfície plana, uma lâmina. Também tinha o Google Imagens, porque ele dava um erro e você primeiro via um bloco de cor, depois a imagem, então a ideia de fazer só campos de cor de um dos lados do tecido e do outro as imagens veio daí. Sou bem organizado no processo de pesquisa e reflexão sobre quais imagens usar, mas a ação de pintar muda tudo e é sempre muito subjetivo quando acho que está pronto. Mais do que criar um estilo, gosto de lidar com essa plasticidade infinita da tinta. A mínima diluição, o uso de um pincel diferente, raspagens, coberturas, qualquer decisão muda completamente o conjunto. Penso cada Varal em relação ao contexto expositivo, tanto em termos de palheta quanto de imagens e estampas, embora eu sempre use tricoline com 2 metros de altura - as larguras variam de acordo com a indústria -, porque é uma escala que gera associações com o corpo e evoca narrativas. Também sempre tento pendurar em alturas parecidas, entre 2,20 e 2,40 metros, no máximo. Nesse caso, eu achei que todas as estampas e cores deveriam ser diferentes e a montagem um pouco incongruente, com ângulos que não se encontram, formando um espaço descontínuo. Acho que pintura tem sempre um dado psíquico, porque você tem a marca de um corpo e eu quis lidar com essa dispersão que estou sentindo hoje. Tenho um rigor na construção, mas o que me atrai é o difuso e não discursivo, embora eu escreva e fale muito como parte da minha prática, já que atuo como artista e curador, crítico e, frequentemente, professor. A paleta dos tecidos foi informada pelo desenho Tapetinho #6. É muito brasileiro esse objeto, o tapete feito de restos de malha tramadas. E amo tramas. Visualmente. Filosoficamente. É curioso porque tudo isso implica tempo. Não acho que eles são representações de tapetes, mas emulações do modo de fazer: desenho como quem trama os fios, sobrepondo e unindo as linhas. E qual é o limite entre essas coisas, na verdade? Perguntas que só se multiplicam e isso também me interessa: operações sintéticas, mas altamente polissêmicas. Mais do que falar “sobre” me interessa a sensação da coisa e como o ritmo, a velocidade, a relação e a intensidade (que pode ser tênue) são modos de comunicar. Ainda acho que faço arte por um desejo de criar memória sobre as coisas que vivo e de como materiais muito triviais condensam experiências sociais (de classe, raça, gênero), mas, em especial, existenciais. Marcar presenças e toda a dimensão política disso… E acho tudo muito ambíguo. Os trabalhos têm dois lados, são imagens e objetos, seriais e únicos, regulares e irregulares. Fico pensando nas múltiplas experiências que formam meu corpo que me fazem pensar e trabalhar assim. Desde morar na Zona Norte, perto do mato, portanto com uma outra experiência com a cidade de São Paulo, até as coisas que leio, com quem convivo e de como, no fundo, estou tentando escapar das sobredeterminações sobre meu corpo e minha subjetividade. Liberdade é uma experiência que me move, o que se reflete nas formas instáveis e nas múltiplas possibilidades que os trabalhos sempre têm, em geral séries, mas não progressivas e nunca concluídas.
TA: Você parece se colocar diante do cotidiano sem o desejo de
representá-lo. Ou melhor, como se escapando desse desejo fosse possível abrir espaço para se relacionar com as coisas ao redor pela sensação provocada por esse encontro. Como dar conta da presença das coisas pela sensação? Esse modo de relação com o cotidiano pode ser pensado em aspectos metodológicos?
LM: A presença das coisas. A textura dos dias. Objetos são só
sedimentações de relações e processos, não é? Talvez o cotidiano me interesse porque ele é inexorável. Para além dos grandes acontecimentos, tem sempre a comida, os fluxos do corpo, o pó que se acumula. O cotidiano dentro do espaço doméstico implica uma quantidade absurda de trabalho e isso tem novas configurações no nosso momento histórico, neoliberal, permeado pela internet e por empregos remotos. Estou com 29 anos e moro sozinho desde os 16, então isso informa meu olhar. O dia-a-dia tem ‘dores e delícias’, ‘rigores e delírios’, tudo isso me interessa. Fazer escolhas, aceitar perder e não ter medo disso. O cotidiano também me faz pensar na morte. Mas não me interesso pelo ‘encantamento do mundo’, nem pelo sentimento de ‘serendipity’, que é essa espécie de surpresa em meio a regularidade da vida, muito menos por ‘revelações e epifanias’. Mas a vibração das coisas me interessa. Acho que a vida é muito curta, talvez por isso não me interessa a representação, que além de uma estrutura política limitada, sempre implica uma ausência do objeto. Acho que opero por analogias, emulações, paralaxes… A coisa é a coisa, mas também é outras coisas. E como a gente vê as coisas? Quase como esse paradoxo de como você ouve a voz na sua cabeça e como os outros ouvem você. Há um desencontro, mas a gente tenta. Contato, comunicação. Nesse sentido, me interesso muito pelo toque. O cinza na tinta é diferente do cinza no tecido, embora tenham o mesmo pigmento. Cor me ajuda a pensar porque é um fenômeno completamente relacional, material, instável, contingente. O cotidiano também passa por aí: é uma experiência muito estética. Que condensa sua vivência de classe, gênero, raça, seu estado psíquico. E tudo isso se informa e se transforma mutuamente.
TA: Em nosso diálogo nós sempre mantemos uma certa atenção
aos relativismos apaziguantes das ideias bem como a uma lógica binária de construção do pensamento. Sabendo que essa atenção está em nosso horizonte, como podemos pensar as espessuras políticas e estéticas de uma perspectiva da experiência artística guiada pela sensação? Como a figuração absoluta nos modos de conceber e receber as práticas de arte nos distanciam de uma demora com as experiências do mundo e da possibilidade de vivenciar a diferença sem separação?
LM: Acho que se não idealizamos nem romantizamos a sensação,
o primeiro ponto é que fugimos do binarismo ocidental ‘mente x corpo’ e todas as consequências trágicas disso na vida, como a divisão de gênero e raça ou a separação entre “teoria e prática”. Se fugimos dessa dicotomia, podemos entender que a forma como sentimos é resultado de uma série de interações sociais e se reflete nas coisas que pensamos e como vivemos. E vice-versa. Sabendo disso, como me mover ativamente nessa dinâmica? Diferença sem separação, porque o mundo é um fluxo. Tudo isso traz de novo a questão do tempo. A suspensão temporal me interessa. O vento e a luz nos tecidos, uma parede desenhada inteira com um pincel fino. Não porque a dilatação temporal seja uma salvação, é mais uma questão de saúde mesmo. De entender e respeitar os ritmos do corpo e do que faz o coração bater de verdade. Nós lidamos com muitas contingências estando no Brasil em 2022 e trabalhando com arte. Mas há esses momentos que fazem valer a pena, reverberar e abrir espaços de indeterminação nos quais a gente possa sentir outras coisas e deixar que isso nos informe, nos leve a entender outros sentidos, a construir conhecimento de outros modos, abrir espaço entre as vértebras e oxigenar as ideias.
TA: Como o rigor e o delírio aparecem na exposição Domingo?
LM: Além da instalação com os varais que dá nome à mostra e do desenho-pintura Tapetinho #6, também tem a Camiseta rosa da série Cascas. Feita de vários pedacinhos de papel colados, ela é apresentada em um cabide e tem uma pintura com um grid preto. Diretamente na parede, também tem um desenho de um grid. Esse tem uma medida de 15 x 15 cm, remetendo a azulejos, mas me interessa, antes de tudo, a ideia de um mapeamento daquele espaço, que fica meio vazio, meio coberto por um padrão. Grids supostamente dizem respeito ao rigor. E no meu trabalho eles são todos tortos ou maleáveis. Delírio, desejo. Talvez também seja essa minha tentativa de fuga da dicotomia. Pesquiso cor porque amo cor. Pesquiso questões raciais na arte porque vivo isso e fico pensando em como manter minha liberdade em meio a um mundo esquadrinhado. Escrevo sobre arte porque faço arte. Mas essa associação rigor e delírio, rigor e desejo pode ser explosiva, porque é necessariamente multivocal e ambígua. Não por enfatizar uma dicotomia entre os termos, mas porque eles se tornam indissociáveis. Me interessa pensar criticamente que é uma exposição realizada em um lugar chamado Casa de Cultura do Parque, com uma arquitetura modernista. Ao mesmo tempo, fico curioso com os processos de identificação e contato que isso pode produzir. E embora as operações sejam todas altamente descritíveis e cheias de assuntos e conceitos que poderiam ser analisados em sua espessura histórica, me interessa o silêncio dessas imagens e poder compartilhar o fato de que o mundo me gera dúvidas com momentos dispersos, indiretos e oblíquos de compreensão. Mas, talvez essa mistura de rigor e delírio esteja na base de como vivo os dias e talvez eu faça arte, seja em qual atuação for, por um desejo de tornar isso público.
TA: Zofir Brasil, um dos artistas centrais em minha pesquisa e que
é também responsável por ritualizar parte dos nossos encontros, trabalhou até o seu falecimento em 1991 “prolongando a vida das coisas” desejando desobedecer o tempo dado à matéria e à materialidade da cultura. Ele lidava com objetos a partir de deslocamentos ou mesmo como insumos. Esse prolongamento aparece também com diferentes estratégias nos suportes do Bill Traylor, Noah Purifoy, Cicero Alves dos Santos e tantos outros nomes que temos trocado nesses últimos anos. Como você tem elaborado essa questão dentro da sua prática?
LM: No outro dia, em uma conversa com a Cinthia Marcelle, ela
me falou que “quem apropria é branco”. Lembro também de um comentário seu sobre o Marepe, de que o uso dos objetos na prática dele não se tratava exatamente de “apropriação”. Fico feliz em você trazer esses nomes. Poderíamos fazer uma lista imensa de corpos que nos habitam e vozes que nos falam. And ghosts are always travelling. Na arte também me interessa essa possibilidade, virtual que seja, de conversar com os mortos e tenho pensado em ‘correspondência como método’ como uma forma de definir meu modo de operar nas minhas diferentes atuações. Acho que nossa experiência no mundo em que vivemos é o material do nosso trabalho, então a comida que como, as pessoas que amo, as roupas que uso ou a tinta que compro têm que ser pensados em suas interações, afinal, os materiais (físicos, culturais ou psíquicos) não somem, apenas deslocam-se e tudo isso informa nossa imaginação enquanto trabalhadores da cultura. Mas, em termos de processo, para mim há um momento em que olho para as coisas e vejo associações com outras coisas, daí nascem os trabalhos. Em geral é quando algo trivial se conecta com a história, o íntimo com o público, ou o micro com o macro, o que acho que é uma das grandes potências da nossa prática: condensar essas conexões levando a pensar em outros sentidos.
TA: Em algum dos nossos horizontes o que estamos perseguindo
é a possibilidade de “errar e tentar” evitando a condenação dos discursos a priori dados às nossas formas de vida. Sabemos também que toda prática carrega um conjunto de discursos sejam eles sociais, históricos, materiais… Como defender uma prática “não discursiva” em relação a esses textos de antemão?
LM: Sinto que na arte contemporânea temos essa necessidade
hiper discursiva, que se reflete mesmo nas formas de circulação das obras, sempre atravessadas por statements. Eu escrevo sobre arte e sou o maior defensor de interpretações rigorosas sobre os trabalhos e acho que há uma série de complexidades novas no nosso contexto, desde a globalização, até a internet e um modo de circulação muito controlado por interesses privados e financeirizados. O não discursivo também diz coisas. Mas talvez coisas não programadas, não determinadas, que não sabemos de antemão e que talvez só vamos entender a posteriori. Nós dois fazemos análise e uma das primeiras coisas que aprendemos nesse processo é que há uma grande parte de nós que simplesmente não conhecemos. E aí a grande questão: para além das imagens que supostamente representam minha experiência no mundo - o que se agrava no caso de grupos historicamente oprimidos -, minha sensibilidade, como bicha, preto, trabalhador da cultura, dono de casa, etc etc etc, não atina com os discursos prontos sobre quem eu sou. Como elaborar isso e criar algum lugar comum para podermos conversar? Só vamos saber se continuarmos tentando. Talvez por isso eu não consigo me fixar em uma única linguagem ou mesmo prática. Ultimamente tenho escrito poesia. Amo música. Sou um grande interessado pela linguagem, por isso arte. Mas os meus momentos favoritos nesse universo são quando a própria linguagem mostra seus limites, ainda que tente comunicar coisas. Se pensarmos nas relações entre as imagens nos tecidos, por exemplo, ao mesmo tempo que evocam narrativas, discursos, são completamente não narrativas, arbitrárias, então existe uma tensão. Eu sempre pensei que mais do que criar um estilo, me interessava produzir um conjunto diverso de trabalhos (pinturas, objetos, textos, etc) e da relação entre eles, talvez surgir algum sentido. E, do conjunto de pequenas narrativas, apontar para o silêncio subjacente a elas. Te contei que, no outro dia, estava lavando louça e ouvindo uma palestra do Fred Moten quando ele disse “Music is my mother language”. Talvez se conecte com o que você pergunta. Mas há uma questão prática de viabilização de projetos, textos, exposições etc. Embora o sistema da arte movimente muito dinheiro, não raro os artistas são onerados. Então além da possibilidade de compartilhar o não discursivo de uma pintura de florzinhas ou de uma camiseta pendurada, também me interessa esse espaço na minha vida diária, para não sucumbir a uma vida profissional de puras demandas e talvez tentar manter a arte como um lugar de singularidade e exceção.
TA: Talvez o que esse debate, que extrapola os limites da
estética, nos diga, é sobre a urgência de imaginação de outros parâmetros de análise e relação com o próprio objeto/ação estética. Poderíamos pensar numa ética da sensação como uma ferramenta possível? Como algo que rompe com a dimensão do “hiper visível” para fazer irradiar uma outra possibilidade?
LM: A primeira imagem que me ocorreu foi a dos micélios dos
fungos. Para que o cogumelo brote, há uma rede imensa de filamentos sob a terra, fazendo o trabalho de transporte de nutrientes e de comunicação entre as partes. Também tenho pensado muito nos polvos, porque me sinto um pouco assim. A ideia mais óbvia é de lidar com vários braços no mundo, mas há outras camadas. Polvos se camuflam em forma, cor e movimento, emulando outros animais, pedras ou algas. Cada tentáculo pode agir autonomamente, então o corpo não é definido por um eixo centralizado orientado pela visão frontal. Eles podem ter veneno, podem mover-se rápida ou lentamente e há um caso curioso de polvos que saem de uma poça d’água, andam sobre a areia, para chegar em outra em busca de alimento. Também poderíamos pensar no trabalho das formigas e suas arquiteturas subterrâneas sempre mais fortes do que a parte que vemos na superfície. Sentir de outros modos implica pensar de outros modos. Sem dúvida a hiper visibilidade tem consequências trágicas na vida: ansiedade nas redes sociais, instrumentalização das relações, fear of missing out e a crença de que as imagens e os discursos valem por seu valor de face. Tudo isso oblitera o trabalho silencioso e invisível que estrutura os dias. Tenho me interessado pelo exercício da presença, que é uma expressão que ganhei de uma amiga e me marcou profundamente. Isso implica que estar aqui é escolher perder todo o resto e entender que há sempre algo que não capturo, que há sempre algo inconcluso e oculto, mas, especialmente, que as coisas têm outros lados.