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PREVENÇÃO, ACOLHIMENTO E ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA


AS MULHERES - AVALIAÇÃO DE ALGUMAS AÇÕES EXECUTADAS NO
MUNICÍPIO DE CURITIBA NOS ULTIMOS CINCO ANOS

Marcia Venzel Messias1


Professor Orientador2

RESUMO

O objetivo geral deste estudo é avaliar algumas das políticas públicas para a mulher
implementadas no município de Curitiba, sendo que os objetivos específicos foram: estudar
de maneira breve o papel consolidado da mulher na sociedade brasileira; analisar
teoricamente o processo de avaliação de politicas públicas para compreender minimamente
como desenvolver esta análise; Analisar as ações da prefeitura municipal de Curitiba
enquanto politicas públicas para a mulher implementadas nos últimos cinco; avaliar três
politicas públicas de forma a procurar estabelecer mediante os critérios avaliativos, sua
efetividade para a população feminina. Tratou-se de um estudo exploratório e bibliográfico
associado com pesquisa e análise documental. Foram analisadas avaliativamente politicas
públicas para as mulheres adotadas pelo município de Curitiba, onde se pode observar que
estas adotam ações intersetoriais que possibilitaram que houvesse avanços importantes no
âmbito do enfrentamento à violência, do estímulo ao empreendedorismo, na atenção à saúde e
educação, entre outras áreas. Conclui-se que as políticas públicas destinadas às mulheres
caracterizam-se como políticas sociais, pois versam acerca de relações desiguais entre gêneros
e se fundamentam na busca da alteração destas relações visando uma maior equidade entre
ambos.

Palavras-chave: Políticas públicas. Mulher. Avaliação de políticas públicas. Município de


Curitiba.

1 INTRODUÇÃO

A violência e a falta de acesso a uma série de direitos estão presentes na realidade


que inúmeras mulheres enfrentam todos os dias no Brasil. De acordo com o que expõe
Waiselfisz (2015) ao traçar o Mapa da Violência no ano de 2015, destaca que a taxa de
feminicídio, que se constitui no assassinato havido devido a causas relacionadas ao gênero, no
município de Curitiba apresenta média maior que a nacional entre as capitais brasileiras. No
levantamento realizado em 2016 pelo Fórum de Segurança Pública (2017) mostra que o
município está em sexto lugar entre as capitais brasileiras com o maior número de casos de
1
Formação em Gestão Pública pelo Instituto Federal do Paraná, Pós-Graduando em Gestão Pública com
Habilitação em Políticas Públicas do Instituto Federal do Paraná, email - marcia.v.messias@gmail.com.
2
Formação profissional do orientador, e-mail
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estupro e em nono lugar nos casos de tentativa de estupro. Neste contexto, Waiselfisz (2015)
informa que no ano de 2015, com seis meses de funcionamento, a Casa da Mulher Brasileira,
cuja instalação pode ser identificada como uma politica pública para a mulher no município
de Curitiba atendeu mais de 3,5 mil mulheres vítimas de violência, fazendo a média de 20
atendimentos por dia.
Pode-se observar que no cenário que mostra os dados trazidos pelo Fórum de
Segurança Pública (2017), a construção de ações integrais que tenham como foco central as
mulheres enquanto indivíduos inteiros, é de suma importância para o enfrentamento da
violência, da ausência de acesso aos direitos fundamentais e para que sejam resolvidas as
questões presentes e possibilite a consolidação de perspectivas futuras mais positivas.
Por isso, enfatiza Pougy (2010) que as múltiplas implicações do fenômeno da
violência e da falta de acesso aos direitos fundamentais com as mulheres se constitui em
fenômeno complexo que não é fácil de se equacionar e demanda ações na seara da formulação
de políticas públicas que englobem o enfrentamento da violência e a formação de uma rede de
atendimento presente no cotidiano desta parcela da população.
Assim, percebe-se que o desafio a ser superado para a consolidação da política de
enfrentamento da violência contra a mulher se refere ao estimulo dado para a consolidação de
práticas de atenção que tenham como objetivo a revitalização da condição da mulher como
cidadã que se encontra em situação de violação de direitos em qualquer lugar onde ela se
manifesta (RIFIOTIS, 2006).
A análise e a agenda recomendadas pela ONU Mulheres predispõem que os avanços
em termos legais tem se consolidado ao longo das últimas décadas precisam receber o
respaldo de ações que afiancem a efetividade desses avanços na vida das brasileiras com a
participação de organizações de mulheres associadas com o poder público, movimentos
sociais mistos e pesquisadores como essencial para que se concretizem as políticas de
fortalecimento das mulheres (NOBRE, 2016).
De maneira geral, as políticas públicas para as mulheres têm sido desenvolvidas com
o objetivo principal focado na visão tradicional das mulheres no que se refere a questões
como a responsabilidade da mulher pela reprodução, educação dos filhos e cuidados com
idosos. Porém, a questão é maior que isso. As políticas públicas para a mulher precisam
diferenciar os processos de socialização entre homens e mulheres, lidar com a questão dos
conflitos surgidos dessas relações, criar possibilidades para que esta parcela da população
possa desenvolver uma maior autonomia. Essas diferenças são importantes quando se pensa
em resolver os problemas que surgem da natureza dos relacionamentos e padrões
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comportamentais dos sexos (BRANDT; LAVARDA; LOZANO, 2017). Diante disso, fazer
uma análise avaliativa de algumas políticas públicas para a mulher aplicadas no município de
Curitiba nos últimos cinco anos se justifica.
Desta feita, o objetivo geral deste estudo é avaliar subjetivamente três das políticas
públicas para a mulher implementada no município de Curitiba. Para que se possa alcançar
subsídios para este desenvolvimento foram necessários os seguintes objetivos específicos:
 Estudar de maneira breve o papel consolidado pela mulher na sociedade brasileira;
 Analisar teoricamente o processo de avaliação de politicas públicas para compreender
minimamente como desenvolver esta análise;
 Analisar as ações da prefeitura municipal de Curitiba enquanto politicas públicas para
a mulher implementadas nos últimos cinco;
 Avaliar três politicas públicas de forma a procurar estabelecer mediante os critérios
avaliativos, sua efetividade para a população feminina.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A MULHER NA SOCIEDADE BRASILEIRA

De acordo com Penschi (2004) foi através da força física que a maior parte das
sociedades humanas foram estruturadas e o lugar da mulher é delimitado entre as paredes de
sua casa. Conforme expõem Soares; Carvalho (2003), os papéis sociais desempenhados pela
mulher foram e são construídos e consolidados através da história, constituindo padrões de
comportamento que se modificam de tempos em tempos, em maior ou menor escala. Segundo
Mansur (2005) ao longo dos séculos a mulher foi passando por grandes mudanças que
desencadearam o que hoje se conhece por emancipação feminina.
Gontijo (2017) complementa que foi através desta transformação a mulher tem se
inserido na sociedade moderna, de consumo e ultrapassou os obstáculos de sua tradição, dos
usos e costumes, conforme a moral que lhe foi imposta e extrapolou seus próprios limites
saltando daquela antiga situação de dependência e de subordinação ao homem, para assumir
as rédeas de sua vida.
Algumas mulheres ainda se submetem à mentalidade machista e ultrapassada
sentindo dificuldades em abrir mão do controle da casa. Nestes casos, a sociedade deveria
fortalecer as mulheres para a luta pela igualdade, respeitando-a e contribuindo para que estas
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se deem conta de seu potencial para desenvolverem outras tarefas, que não apenas as do lar,
bem como outras habilidades e competências para serem muito mais do que meras donas de
casa, não permitindo que seus talentos sejam enterrados (PINHEIRO; MAXIMILIANO,
2006).
Probst; Ramos (2013) descrevem que a mulher tem assumido um maior número de
papéis desempenhados porque as identidades são sustentadas pelos relacionamentos de
papéis. Porém, segundo a autora, antigamente a mulher ocupava uma posição discriminada e
de absoluta inferioridade, na qual apenas era incumbida dos afazeres domésticos e da
educação dos filhos.
Segundo preleciona Tavares (2011), o Brasil segue se mostrando como um país
bastante desigual que expressa esta desigualdade muitas vezes por meio da violência, onde
concomitantemente ao estabelecimento novas metas para superar a pobreza e as persistentes
desigualdades de gênero, raça e etnia pelo governo, as mulheres ainda carregam as
consequências dessa pobreza, desigualdade e violência no seu cotidiano, demandando que o
poder executivo colabore desenvolvendo e implementando politicas públicas que façam a
promoção do empoderamento dessas mulheres de forma que possam transformar seu futuro.
Para que se possa compreender melhor as políticas públicas segue-se analisando-as
em termos do desenvolvimento do processo de avaliação das mesmas.

2.2 A AVALIAÇÃO DE POLITICAS PÚBLICAS: CONCEITOS E CRITÉRIOS

Segundo discutem Costa; Castanhar (2003) avaliar politicas públicas envolve a


apreciação ordenada e objetiva de um projeto ou programa, em processo de finalização ou em
plena vigência que considere o seu desempenho, implementação e resultados, com o objetivo
de determinar sua eficiência, efetividade, impacto, sustentabilidade e relevância em termos
dos objetivos propostos. A finalidade da avaliação é nortear os responsáveis pela tomada de
decisão, orientando-os no que se refere à continuidade, necessidade de correções ou mesmo
interrupção de uma determinada política ou programa.
Conforme coloca Rua (2004) a avaliação consiste em comparar um plano com os
seus resultados, utilizando critérios/indicadores específicos para conseguir algumas
conclusões. Com base no exposto pelo autor pode-se considerar a avaliação como
instrumento de controle poderoso porque pode dar subsídios ao p lanejamento e
reformulação de ações necessárias, bem como sua implementação. A avaliação serve de
suporte para se perceber quando existe a necessidade de promover ajustes e aperfeiçoamentos
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além de fundamentar o veto a implementação das mesmas quando o resultado da análise se


mostrar negativa.
De acordo com Costa; Castanhar (2003) os critérios que são empregados
normalmente para avaliar programas e projetos públicos são:
 Eficácia: onde se avalia a realização dos objetivos indicados;
 Eficiência: onde se analisa se os objetivos estão sendo realizados conforme os
parâmetros da estratégia escolhida e dentro dos custos definidos;
 Efetividade: onde se verifica o quanto e como os efeitos pretendidos estão sendo
alcançados;
 Impactos: onde se confere se houveram impactos indiretos ao longo do processo;
 Sustentabilidade: verificar se o programa ou projeto se sustenta ao longo do processo;
 Análise custo-efetividade: relacionado com a ideia de custo de oportunidade e ao
conceito de pertinência, é desenvolvido por meio da comparação de formas
alternativas da ação social para obter determinados impactos que podem ser gerados
pela politica para atender os objetivos com o menor custo;
 Satisfação do beneficiário: onde se avalia a atitude do usuário no que se refere à
qualidade do atendimento que está proporcionado pela referida politica;
 Equidade: onde se busca aferir o grau dos benefícios alcançados por uma politica e se
estão sendo distribuídos de maneira justa e compatível com a demanda dos usuários.
Contudo, neste estudo pretende-se desenvolver uma análise avaliativa de três
politicas públicas para a mulher no município de Curitiba, partindo da análise documental das
mesmas.

3 METODOLOGIA

Conforme destaca Gil (2008) um estudo dessa natureza aponta para a um estudo
exploratório, cuja finalidade é permitir uma aproximação do problema, de forma que possa ser
compreendido. A pesquisa bibliográfica forneceu o aporte teórico necessário para a pesquisa
documental e a análise avaliativa de três políticas públicas para as mulheres do município de
Curitiba-PR que foram desenvolvidas nos últimos cinco anos.
Segundo Ludke; André (1986) a análise documental está relacionada com a pesquisa
qualitativa porque complementa informações conseguidas por meio de outras técnicas ou
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ainda mostrando novos aspectos novos de um determinado tema ou problema, o que, neste
estudo, consistiu na análise avaliativa das políticas públicas para as mulheres.
As políticas públicas para as mulheres no município de Curitiba foram avaliadas por
meio análise documental e observação subjetiva dos seus efeitos e resultados. Para tanto,
foram selecionadas no site da prefeitura municipal/secretaria da mulher e a análise foi feita
com o disposto neste endereço eletrônico associada com informações pesquisadas on line.
De acordo com o que preconiza Santos (2000) os métodos de desenvolvimento de
uma pesquisa podem ser subdivididos em métodos de abordagem e métodos de
procedimentos. Neste estudo foi utilizado um enfoque dedutivo como método de abordagem e
em trabalho monográfico de natureza qualitativa como método de procedimento.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

A prefeitura de Curitiba integra as politicas públicas para as mulheres em quatro


áreas de atendimento (CURITIBA, 2017a):
 Educação - Educação para igualdade e cidadania.
 Saúde – Parto humanizado.
 Trabalho e renda - Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica das
mulheres, Curitiba Empreendedora e Espaços Empreendedor.
 Enfrentamento da violência - Patrulha Maria da Penha, Assessoria Jurídica Popular,
Casa da Mulher Brasileira e Casa de Maria.
Diante disso, passa-se a desenvolver uma análise avaliativa de três dessas politicas
públicas para a mulher no município de Curitiba.

4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE AVALIATIVA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA


AS MULHERES DO MUNICIPIO DE CURITIBA

4.1.1 Casa da Mulher Brasileira

A Casa da Mulher Brasileira é um espaço onde diversos órgãos públicos em rede


compartilham este espaço para atender integradamente mulheres em situação de violência,
promovendo entre outros, serviço de acolhimento e apoio psicossocial por assistentes sociais e
psicólogas, brinquedoteca, Delegacia da Mulher, Defensoria Pública, Juizado de Violência
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Doméstica e Familiar, Ministério Público, Patrulha Maria da Penha e programas destinados a


promover autonomia econômica das mulheres e brinquedoteca (CURITIBA, 2016).
A administração da Casa é feita totalmente pela Prefeitura de Curitiba com
vinculação a Coordenação de Políticas para Mulheres, contando com 65 funcionários
trabalhando em regime de escala de 24 horas todos os dias. As ações promovidas pela casa se
constituem em (CURITIBA, 2017a):

Triagem: ao chegar a Casa, as mulheres preenchem uma ficha cadastral e são


encaminhadas para outros serviços, de acordo com sua necessidade.
Acolhida psicossocial: as mulheres acolhidas passam por uma sessão com uma
psicóloga ou assistente social para avaliar sua situação e determinar que outras
medidas precisam ser tomadas. Caso estejam acompanhas de crianças, estas podem
esperar na brinquedoteca.
Delegacia da Mulher: local conta com uma delegada e dois escrivães para a
realização de boletins de ocorrência e devidos encaminhamentos.
Alojamento de passagem: garante estadia para mulheres em risco de morte e seus
dependentes por até 72 horas.
Defensoria Pública: realiza, principalmente, pedidos de medida protetiva para os
casos mais graves, que são emitidas em 24 horas em caráter de urgência.
Transporte: caso haja necessidade de serviços em outro local, como exame no
IML, é oferecido transporte. A mulher sempre vai acompanhada de uma funcionária
da Casa.
Autonomia econômica: setor responsável pela reinserção das mulheres no mercado
de trabalho por meio do encaminhamento para entrevistas de emprego.
Patrulha Maria da Pena: nos casos mais graves, faz visitas periódicas para
verificar se o agressor não está descumprindo a medida protetiva.

Trata-se de uma politica pública inovadora em termos de atendimento humanizado às


mulheres pela integração no mesmo espaço de serviços especializados que vão desde a
triagem e atendimento psicológico, até o direcionamento para diversos serviços especializados
como atendimento jurídico, atendendo atualmente 250 mulheres. Um novo serviço
disponibilizado pela casa é a colocação ou recolocação no mercado de trabalho em conjunto
com o Ministério do Trabalho. Este serviço devolve a mulher sua dignidade enquanto cidadã
que pode custear o seu sustento e de sua família.
A análise que se pode fazer pelos dados levantados é que a Casa da Mulher
Brasileira, devido a integração de serviços prestados promove atendimento efetivo das
mulheres que a buscam, buscando disponibilizar um processo conjunto que resolva os
problemas das mesmas de maneira efetiva. Contudo, acredita-se que devido a sua estrutura, a
casa atende poucas mulheres.
Quanto aos critérios de avaliação de políticas públicas defendidos por Costa;
Castanhar (2003) e outros estudiosos, acredita-se que a Casa da Mulher Brasileira
apresenta eficácia, eficiência e efetividade na realização dos objetivos propostos. Os
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impactos das ações se refletem no número de mulheres atendidas, contudo, ainda não impacta
diretamente na redução dos números da violência em Curitiba. A satisfação das mulheres
atendidas é expressa pelos resultados obtidos, contudo ainda não atingiu a sua totalidade,
mesmo que a qualidade do atendimento esteja cumprindo as premissas da referida politica.

4.1.2 Educação para Igualdade e Cidadania

O programa A educação para igualdade e cidadania se constitui em um dos eixos


basilares para que se construa uma sociedade igualitária entre homens e mulheres e, devido a
esta ideia foi integrada ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) pela
prefeitura de Curitiba (CURITIBA, 2017a).
Entre os programas e ações relacionados os programa tem-se (CURITIBA, 2017a):
 Cereja - Centro Regional de Educação de Jovens e Adultos que traz a possiblidade de
escolarização para jovens, adultos e idosos dispondo para cumprir seu objetivo de
salas de acolhimento para atender filhas/os de até nove anos das/os estudantes;
alimentação durante o período de permanência na unidade e curso profissionalizante
de informática com o apoio do Pronatec.
 Programa Mama Nenê que incentiva, apoia e promove o aleitamento materno nos 178
CMEIs e creches conveniadas à Prefeitura de Curitiba com flexibilidade de horários
para que as mães amamentem seus filhos e espaço especialmente preparado nas
creches destinadas a esse fim.
 Mais vagas em creches onde Curitiba tem 39,48% de crianças de 0 a 3 anos
frequentando creches públicas e privadas, sendo que este número é superior à média
brasileira que é de 23,55%.
 “Quem Ama, Abraça – Fazendo Escola” que se constitui em campanha que tem como
objetivo a conscientização de crianças e jovens a respeito da violência doméstica
contra a mulher, que em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres
(SPM) da Presidência da República e a Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH)
conseguiu integrar 184 escolas em nove regionais da cidade a campanha, que
constitui 100 mil estudantes da rede municipal de ensino.
 Projeto Equidade que tem como objetivo possibilitar às escolas da Rede Municipal de
Ensino de Curitiba direções mais igualitárias e constantes, trazendo maior qualidade
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para o atendimento prestado e contribuindo para que se construa uma boa escola.
Atualmente o projeto abrange 47 escolas.
 Mulheres Mil que junto com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec) pretende promover profissionalização, acesso ao ensino técnico e
a aumentar a escolaridade de mulheres jovens e adultas que recebem uma bolsa do
governo federal para frequentarem os cursos. Este programa se desenvolve a partir da
parceria com Instituto Federal do Paraná – IFPR e Secretaria da Mulher e da
Fundação de Ação Social – FAS.
Fazem parte das premissas deste programa o atendimento de mulheres, pois segundo
o Mapa do Analfabetismo de 2012 da Secretaria Municipal da Educação (SME), 65% das
pessoas com 15 anos ou mais não alfabetizadas residentes na capital paranaense são mulheres
que de maneira geral foram privadas do acesso à educação na idade certa devido a inúmeros
fatores como necessidade de trabalhar ou por dificuldade financeira.
Considera-se que se trata de uma politica pública de grande relevância porque o
sistema de ensino assume um papel de grande importância sociedade por se tratar de um dos
principais espaços de socialização, formação e disseminação de valores sociais, que
certamente corrobora os programas e ações previstos no programa.
Embora se possa presenciar os avanços na inclusão das mulheres no sistema de
ensino nas últimas décadas, percebe-se que a desigualdade de gênero tem repercussão direta
nas diferenças de remuneração entre homens e mulheres. E essas desigualdades de gênero
quando associadas com outras formas de desigualdade, tem como resultados inúmeras
violações de direitos das mulheres. As mulheres mais velhas quando comparadas às mais
jovens apresentam menor tempo de estudo e taxas mais elevadas de analfabetismo e, por
conseguinte, menos oportunidades no mercado de trabalho. Também as taxas de
analfabetismo se apresentam mais elevadas entre as mulheres negras.
Diante disso os critérios de avaliação de politicas públicas trazidos por Costa;
Castanhar (2003) neste caso mostram que os impactos do programa podem ser bastante
positivos ao longo do tempo na diminuição destas desigualdades. A equidade em termos de
dos benefícios alcançados por esta política pública está sendo obtida visto que os mesmos
estão sendo distribuídos de maneira justa e compatível com a demanda dos destinatários da
mesma.
Não foram encontrados disponíveis dados que corroborem sua eficácia, eficiência e
efetividade. Já sua sustentabilidade está comprovada diante da diminuição da evasão nos anos
iniciais da EJA que em 2012 era de 34% e em 2014 era de 17% e na ampliação do programa
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ao longo dos anos. O critério da equidade também se comprova porque houve os benefícios
deste programa tem alcançado uma faixa da população que demanda esta ação o que está
sendo cumprido de maneira justa. Assim o projeto atende os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODM) 2 - Garantir educação básica de qualidade para todos e 3 - Promover
igualdade entre os sexos e valorização da mulher (ODMBRASIL, 2017) e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 - Garantir educação inclusiva e equitativa de
qualidade, e promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos (ONU,
2017).

4.1.3 Parto Humanizado

A Secretaria Municipal da Mulher assumiu como objetivo a promoção da melhoria


das condições de vida da mulher curitibana quando passou a garantir direitos legalmente
constituídos, atuando juntamente com a Secretaria Municipal da Saúde na divulgação,
orientação e ampliação do acesso aos serviços de saúde. Neste contexto, tem buscado a
ampliação, qualificação e humanização do atendimento e da atenção integral à saúde da
mulher, dispondo para tal e serviços que contribuem na redução da morbidade e mortalidade
feminina, especialmente por causas evitáveis (CURITIBA, 2017a).
Assim, a Prefeitura de Curitiba implantou medidas para proteção de gestantes contra
a violência obstétrica a partir das recomendações propostas pela Portaria nº 1067 de 2005 do
Ministério da Saúde para o pleno atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que
envolvem (CURITIBA, 2017a):

 Toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de qualidade no


decorrer da gestação, parto e puerpério;
 Ao acompanhamento pré-natal adequado;
 De conhecer e ter assegurado o acesso à maternidade em que será atendida no
momento do parto;
 À assistência ao parto e ao puerpério e que essa seja realizada de forma
humanizada e segura;
 A mãe e o recém-nascido em situação de intercorrência obstétrica e neonatal têm
direito a atendimento adequado e seguro;
 As autoridades sanitárias dos âmbitos federal, estadual e municipal são
responsáveis pela garantia desses direitos;
 Toda gestante tem o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de
parto e pós-parto imediato de acordo com a Lei nº 11.108/05. 

Ciello et al. (2012) conceituam a violência obstétrica como atos gerados por condutas,
ações ou omissões dos profissionais de saúde de maneira direta ou indiretamente, no âmbito
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público e privado, que afetam o corpo e os processos de reprodução das mulheres que são
perpetrados devido a falta de humanização no tratamento, excesso de medicalização e
patologização de processos naturais.
De acordo com Franzon; Senna (2012), no caso da saúde pública, a manutenção da
integridade do corpo das mulheres bem como seu bem estar emocional parecem não ser de
grande relevância em termos de atendimento de saúde e prestação de cuidados. Neste caso
poucas são as abordagens que tenham como foco trazer a esta mulher satisfação com a
experiência de dar à luz. Segundo as autoras citadas, a Fundação Perseu Abramo realizou uma
pesquisa no ano de 2011, cujos resultados que repercutiram nacionalmente, onde 25% das
mulheres brasileiras expuseram ter passado por algum tipo de abuso ou maus tratos ao longo
do período em que foram assistidas nos partos.
Em Curitiba, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) em 2015 criou um canal para
o recebimento de denúncias de violência obstétrica por meio do Núcleo de Promoção da
Igualdade de Gênero da instituição (NUPIGE), mostrando uma elevação do número de relatos
de violência obstétrica. Em 2015, foram três casos, em 2016 foram nove relatos e em 2017 já
foram seis casos denunciados. Considerando-se os resultados de pesquisa publicada em 2010
pela Fundação Perseu Abramo trata-se de um número ainda baixo já que o problema atinge
uma em cada quatro brasileiras (BEM PARANÁ, 2017).
Analisando os critérios descritos por Costa; Castanhar (2003), da eficácia,
eficiência e efetividade da politica pública pode dizer que esta tem realizado seus objetivos
propostos pautado pelo aumento no número de denuncias apontados pelo Ministério
Público do Paraná, indicando que a informação tem sido mais veiculada. Portanto
houveram impactos gerados e o programa tem se sustentado ao longo do processo.
O critério da satisfação do beneficiário se mostra positivo visto o aumento das
denuncias realizadas de casos de violência obstétricas, mostrando que as usuárias tem
corroborado a qualidade do atendimento proporcionado por esta política pública, que atende o
critério da equidade, visto que a mesma tem propiciado os benefícios prognosticados pela
politica que tem atendido de maneira justa a todas as camadas da população.

5 CONCLUSÃO

Consolidar a cidadania é uma das condições para que se consolide uma igualdade
efetiva entre os gêneros, nesta seara, a historia da mulher na sociedade foi de exclusão do
conceito de igualdade, e, portanto, não se abriu um espaço para ela nas concepções de
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cidadania. Esta situação trouxe a necessidade da inclusão e do empoderamento da mulher no


país e no mundo.
A democracia avançou e se ampliou em termos da discussão de gênero ao incluir as
mulheres como público-alvo de políticas públicas, reconhecendo que mulheres e homens
apresentam os mesmos direitos, mas, que tem necessidades específicas que devem ser levadas
em consideração pelo governo. Pode-se observar que ter acesso a políticas públicas pode
trazer de maneira concreta melhoria das condições de vida das mulheres e possibilitar a esta
parcela expressiva da população brasileira uma valorização das suas contribuições para a
sociedade porque auxiliam na superação de valores equivocados e preconceitos que ainda
persistem, impedindo a plena realização das mulheres como cidadãs de direito e de fato.
Houveram nas últimas décadas momentos importantes e decisivos no
desenvolvimento de políticas públicas para as mulheres no Brasil que tiveram como impulso
movimentos globais que contam com a participação de ativistas e gestores brasileiros, que
levaram o país a desenvolver em pequeno espaço de tempo seu marco legal no sentido de
enfrentar a violência contra a mulher por meio de políticas públicas concretas para efetivar os
direitos desta parte da população especificamente. Para concluir este intento a Secretaria de
Políticas para as Mulheres vem desenvolvendo desde 2003 uma gestão coordenativa das
políticas públicas, que visa afiançar que União, estados e municípios, concomitantemente com
os múltiplos atores do Estado que tem relação direta com o tema, se dividam e
responsabilizem em termos de suas competências, para destinar uma atenção integral ao
problema da violência e não garantia dos direitos da mulher no país.
Conclui-se que as politicas avaliadas neste estudo mostram a disposição do
município de Curitiba em implantar e efetivar as políticas públicas voltadas para as mulheres
adotando ações intersetoriais que possibilitaram que houvesse avanços importantes no âmbito
do enfrentamento à violência, do estímulo ao empreendedorismo, na atenção à saúde e
educação, entre outras áreas. Contudo a extinção da Secretaria da Mulher pela atual
administração municipal traz preocupações em relação a garantia de politicas públicas para a
mulher, porque se pode ressaltar que as políticas públicas destinadas às mulheres
caracterizam-se como políticas sociais, pois versam acerca de relações desiguais entre gêneros
e se fundamentam na busca da alteração destas relações visando uma maior equidade entre
ambos.
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