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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
BELÉM - PARÁ
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
ITEC - INSTITUTO DE TECNOLOGIA
PPGEM - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
MECÂNICA
BELÉM - PARÁ
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
ITEC - INSTITUTO DE TECNOLOGIA
PPGEM - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
MECÂNICA
Auditórios são salas destinadas para apresentações musicais e verbais. As caracterı́sticas acústi-
cas que tornam um ambiente adequado para a música tornam, também, o ambiente limitado
para apresentações verbais, sendo a reciprocidade verdadeira. Dessa maneira, identificar o
ponto de equilı́brio acústico no projeto destes ambientes é um desafio constante. As conchas
orquestrais são elementos empregados no palco das salas cuja finalidade é beneficiar os músicos
promovendo retorno sonoro, ajudando-os a se ouvirem e ouvir uns aos outros. Assim o objetivo
desta pesquisa é avaliar a contribuição de um sistema de concha orquestral por meio de
simulação computacional na área da plateia do Auditório Benedito Nunes da UFPA. Foram
realizadas medições experimentais e então foi desenvolvido um modelo computacional a fim de
comparar as medições realizadas no auditório e os resultados simulados, para assim investigar os
seguintes parâmetros acústicos: tempo de reverberação T , tempo de decaimento inicial EDT ,
clareza C80 e definição D50 , na área da plateia, além de outros dois parâmetros na área do
palco que foram: suporte inicial STEarly e tardio STLate . Diante dos dados obtidos foi verificado
que a inserção de uma concha orquestral provoca alterações que são perceptı́veis tanto para os
músicos quanto para a plateia, além de evidenciar que o uso da concha orquestral no Auditório
Benedito Nunes resultou em uma melhora dos parâmetros destinados às apresentações verbais.
Auditorium are rooms designed for musical and verbal presentations. Acoustic characteristics
that make a suitable environment for music also make the local limited for verbal presentations,
reciprocity is true. In this way, identify acoustic equilibrium to design these environments is a
constant challenge. Orchestral shells are elements used on environmental to benefit musicians by
promoting a diffused field helping them to listen theirselfs and to listen better each other. Thus,
the aim of this research is evaluate the contribution of an orchestral shell system by means of
computational simulation in the audience area of the Auditório Benedito Nunes. Experimental
measurements were performed and a computational model was developed to compare the
measurements performed in auditorium and the simulated results to investigate the following
acoustic parameters: reverberation time T , early decay time EDT , clarity C80 and definition
D50 in the audience area, besides two other parameters in the area of the stage that were:
early and late support, STEarly and STLate . In view of the data obtained, it was verified that
the insertion of an orchestral shell causes changes that are perceptible both for musicians and
for the audience, besides evidencing that the use of the orchestral shell in the Auditorium Be-
nedito Nunes resulted in an improvement of the parameters destined to the verbal presentations.
dB Decibel
LISTA DE SÍMBOLOS
T Tempo de reverberação
D50 Definição
1 – INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.2 Objetivos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2 – REVISÃO DE LITERATURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1 TRABALHOS RELACIONADOS À INFLUÊNCIA DA CONCHA ORQUES-
TRAL NA ÁREA DA PLATEIA E DO PALCO . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 BREVE REVISÃO DE ALGUNS PARÂMETROS ACÚSTICOS OBJETIVOS
DE SALAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.1 Tempo de reverberação (T ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.2 Tempo de decaimento inicial (EDT ) . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.3 Índice de clareza (C80 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.4 Definição (D50 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.5 Suporte Inicial (STEarly ) e Suporte Tardio (STLate ) . . . . . . . . . 12
2.3 A NORMA ABNT NBR ISO 3382-1:2017 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.1 Obtenção dos parâmetros acústicos de salas através da resposta impulsiva 14
2.3.2 Diferença mı́nima perceptı́vel (JND) . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL EM ACÚSTICA DE SALAS . . . . . . . . 15
2.5 CONCHAS ORQUESTRAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 – METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 COLETA E TRATAMENTO DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2.1 Objeto de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2.2 Equipamentos de Medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2.3 Procedimentos de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 PROPOSTA DE CONFIGURAÇÃO DA CONCHA ORQUESTRAL . . . . . . 23
4 – RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.1 Resultados experimentais de medição acústica do auditório . . . . . . . . . . 26
4.2 ANÁLISE DA CONDIÇÃO ACÚSTICA DO AUDITÓRIO BENEDITO NUNES 29
4.3 PROCESSOS DA SIMULAÇÃO ACÚSTICA E CRIAÇÃO DO MODELO . . 30
4.3.1 Pontos de fonte e receptor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.3.2 Configurações de cálculo do programa . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.3.3 Coeficientes de espalhamento e transparência . . . . . . . . . . . . . 33
4.3.4 Coeficiente de absorção sonora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.4.1 Validação do T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.4.2 Validação do EDT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.4.3 Validação do C80 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.4.4 Validação do D50 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.5 RESULTADOS DA SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL COM A UTILIZAÇÃO
DA CONCHA ORQUESTRAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.5.1 Análise dos parâmetros T e EDT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.5.2 Análise dos parâmetros C80 e D50 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.5.3 Análise dos parâmetros na área do palco STEarly e STLate . . . . . . 41
5 – DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS EM RELAÇÃO AO USO DA CONCHA
ORQUESTRAL NO AUDITÓRIO BENEDITO NUNES . . . . . . . . . . . . 44
6 – CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
6.1 RECOMENDAÇÕES DE TRABALHOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . 48
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1
1 INTRODUÇÃO
Fonte: < http : //oglobo.globo.com/cultura/f undacao − orquestra − sinf onica − brasileira − divulga −
temporada − 2013 − 7470464 > Acesso em 13/09/2017.
Capı́tulo 1. INTRODUÇÃO 2
Várias são as formas geométricas que uma sala pode possuir, sendo que a seleção
dessa geometria deve estar associada com a finalidade de uso principal do ambiente, Figura 1.3.
Por exemplo, salas retangulares, denominadas caixa de sapato, apresentam boas condições
para música devido proporcionarem melhores reflexões laterais, contribuindo assim para que
o espectador se sinta envolvido pelo campo sonoro. Contrariamente, salas em formato de
leque são mais indicadas para a fala por proporcionarem um melhor campo de visão da fonte
propagadora de informação, bem como um menor tempo de reverberação, auxiliando em uma
melhor compreensão das palavras proferidas por um orador (BARRON, 2010; BRANDÃO,
2016; LONG, 2014).
1.2 OBJETIVOS
2 REVISÃO DE LITERATURA
Muitos são os estudos de parâmetros acústicos de salas, porém são poucos os trabalhos
que investigam a influência da concha orquestral na área da plateia. Sabe-se que sua função é a
de melhorar o campo sonoro na área da orquestra, mas não se pode negligenciar as alterações
que ela provoca nos parâmetros acústicos na área da plateia dos auditórios.
Bradley (1996) estudou as alterações dos parâmetros acústicos que a concha orquestral
pode provocar na área da audiência. Os resultados de suas medições, com e sem o uso de
concha orquestral, em três salas do tipo multiuso indicou melhorias que seriam perceptı́veis
para a plateia, além de determinar que o teto de uma concha orquestral tem papel fundamental
no aumento do nı́vel sonoro em baixas frequências.
Fu et al. (2015) realizaram medições experimentais e simulações acústicas na análise
de dois auditórios. Obtiveram resultados semelhantes aos de Bradley (1996) e concluı́ram que
a parede de fundo da concha orquestral é tão importante quanto o teto.
Maiorino (2013) estudou os efeitos da concha orquestral no Teatro Municipal de
Paulı́nia. Através de medições experimentais analisou cinco configurações possı́veis de uso
da concha orquestral no teatro. Para cada configuração foram encontrados resultados que
alteravam os parâmetros acústicos, como T , EDT e C80 na área da plateia.
Silva (2017), por sua vez, aproveitou os resultados experimentais de Maiorino (2013)
para criar e validar um modelo computacional do Teatro Municipal de Paulı́nia. Assim, pode
analisar outras configurações de uso da concha orquestral sem a necessidade de interromper o
uso do teatro. Testou ainda três novas configurações e obteve resultados semelhantes ao de
Maiorino (2013).
Os trabalhos acima citados contribuı́ram de forma excepcional para a execução desta
pesquisa, principalmente no que tange à avaliação da influência de conchas orquestrais, que
possam ser utilizadas em salas de concertos ou auditórios multiuso para melhorar o campo
sonoro na área do palco para músicos e sua contribuição na alteração de parâmetros acústicos
pré-determinados na área da plateia.
uso daquele ambiente. Embora cada ambiente seja único, é necessário saber quais os parâmetros
e faixas de valores são indicados como ideais para cada aplicação (BRANDÃO, 2016).
O que define os parâmetros relevantes e seus valores ótimos é o tipo de sinal acústico
que será mais empregado na sala. Também é importante saber que os valores ótimos de
parâmetros acústicos de uma sala destinada primordialmente à fala são os mesmos que a
deixam ruim para música e a reciprocidade é verdadeira (LONG, 2014).
Assim, serão apresentados o conceito de alguns parâmetros acústicos objetivos de
salas e os seus valores ideais. Como há uma grande variedade de parâmetros acústicos de salas,
os parâmetros analisados neste trabalho são: tempo de reverberação (T ), tempo de decaimento
inicial (EDT ), ı́ndice de clareza (C80 ), definição (D50 ), suporte inicial STEarly e suporte tardio
STLate . A escolha destes parâmetros foi realizada para verificar como o Auditório Benedito
Nunes se comporta, na área da plateia, para fins musicais (parâmetros: T , EDT e C80 ), e
para a palavra falada (parâmetros: T , EDT e D50 ). Também se viu necessária a avaliação da
condição acústica na área do palco (parâmetros: STEarly e STLate ).
0,161 · V
T = (2.1)
S·a
Onde V é o volume interno da sala (em m3 ), S é a área total das superfı́cies da sala
(em m2 ) e a é o coeficiente de absorção sonora médio das superfı́cies, dado por:
1 X
a= · Si αi (2.2)
S i
Sabine então denomina o tempo de reverberação como o tempo que a densidade
de energia leva para decair a 1 milionésimo da densidade de energia de estado estacionário
(BRANDÃO, 2016). A Figura 2.1 mostra como pode ser compreendido o comportamento do
tempo de reverberação.
O tempo de reverberação, a partir da definição de Sabine, mede quanto tempo a
densidade de energia leva para decair 60 dB, por isso é comumente chamado de T60 . Na
prática, dificilmente consegue-se obter uma redução de 60 decibels devido ao ruı́do de fundo
presente nas salas. Isso ocasionaria que a fonte sonora emitisse um nı́vel de pressão sonora
Capı́tulo 2. REVISÃO DE LITERATURA 8
(NPS) bastante elevado para que se conseguisse tal decaimento. Por isso é possı́vel medir o
tempo de reverberação extrapolando os valores até que alcancem os −60 dB. A Figura 2.2
mostra o ajuste de reta aplicado para o cálculo do T . Neste caso o tempo de reverberação
pode ser chamado de T20 ou T30 , dependendo do intervalo em que é analisado esse decaimento.
O tempo de reverberação é a medida de rapidez com a qual a densidade de energia é reduzida
em uma sala e não da duração da reverberação audı́vel (BRANDÃO, 2016).
seu uso. Uma boa sı́ntese dos resultados ideais para o tempo de reverberação é apresentado
por Cavanaugh, Tocci e Wilkes (2009 apud PINTO, 2012), onde é possı́vel ver o intervalo dos
valores ótimos do tempo de reverberação em função do tipo de uso da sala, Tabela 2.1.
Em geral, o que se pode observar é que salas destinadas à fala possuem um T pequeno,
com valores próximos de 1 s enquanto salas destinadas à música possuem um T ligeiramente
maior, que varia com o estilo musical (BRANDÃO, 2016).
Tabela 2.1 – Valores ideais recomendados do tempo de reverberação em função do uso da sala.
Valores de T Recomendados
Função da Sala
Limite Limite
Ideal
Mı́nimo Máximo
Drama 0,8 0,9 - 1,1 1,2
Salas de leitura e de
0,6 0,9 - 1,1 1,4
Conferência
Cinema 0,7 0,8 - 1,2 1,3
Pequenos teatros 1,1 1,2 - 1,4 1,5
Auditórios escolares 1,3 1,5 - 1,8 1,9
Auditórios com fins múltiplos 1,4 1,6 - 1,8 1,9
Grupos Musicais de dança 0,8 1,0 - 1,2 1,3
Comédia musical tipo
1,0 1,2 - 1,4 1,5
Brodway, operetas
Concertos semi-clássicos
com sistema de 1,1 1,2 - 1,6 1,9
Música
amplificação sonora
de câmara 1,2 1,4 - 1,7 1,9
Ópera 1,3 1,5 - 1,8 1,9
Coros 1,6 1,7 - 2,0 2,2
Sinfônica (romântica) 1,6 1,7 - 2,1 2,2
Orquestra 1,9 2,0 - 3,4 -
O tempo de decaimento inicial, EDT , pode ser considerado um parâmetro que melhor
se correlaciona com a reverberação. Este parâmetro nada mais é do que uma medida do tempo
de reverberação (T ), porém analisada somente a parte inicial da taxa de decaimento de nı́vel
de pressão sonora dentro da sala, que é entre 0 e −10 dB (BRANDÃO, 2016).
Como é analisada apenas a taxa inicial da curva de decaimento sonoro, o EDT é
altamente influenciado pelas primeiras reflexões da sala, e acaba sendo consideravelmente
dependente da posição entre fonte-receptor, variando mais ao longo do recinto do que o T .
Mesmo assim Brandão (2016) afirma que o EDT acaba se relacionando melhor com a fala
e com música com rápida sequência de notas, já que a cauda reverberante será mascarada
Capı́tulo 2. REVISÃO DE LITERATURA 10
pela próxima sı́laba ou nota. Desta forma, entende-se que o EDT é mais relacionado com
a reverberação percebida, enquanto que o parâmetro tempo de reverberação (T ) é mais
relacionado com as propriedades fı́sicas do auditório (BRANDÃO, 2016).
A norma ABNT NBR ISO 3382-1:2017 recomenda que tanto o tempo de reverberação
(T ), quanto o tempo de decaimento inicial (EDT ) sejam calculados. Como os dois parâmetros
variam com a frequência, para o EDT a recomendação é a obtenção de um valor único através
da média dos resultados para as frequências 500, 1000 e 2000 Hz.
Apesar do EDT delinear melhor a percepção de reverberância, diversas são as razões
para que o tempo de reverberação (T ) seja considerado o parâmetro objetivo básico e mais
importante, pois não depende significantemente da posição fonte-receptor, pode ser medido e
predito com acurácia razoável e custo moderado e vários outros parâmetros de acústica de
salas se relacionam com ele (BRANDÃO, 2016).
Figura 2.4 – Faixa de valores considerados ideais para a C80 separados por um ranking
definido por Beranek (2004).
A ABNT NBR ISO 3382-1:2017 é um pouco mais branda em relação aos valores do
Capı́tulo 2. REVISÃO DE LITERATURA 12
C80 . Considera que a faixa tı́pica vai de −5 ≤ C80 ≤ +5, sendo valores médios em frequência
(500 e 1000 Hz) em posições únicas para salas de concertos e salas multiuso não ocupadas de
até 25.000 m3 .
sendo um número único médio em frequência para as bandas de oitavas de 250, 500, 1000 e
2000 Hz. A faixa tı́pica de resultados é −24 ≤ STEarly ≤ −8, porém, quanto maior for este
valor, indica que as primeiras reflexões apresentam mais energia que o som direto e que a sala
fornece boas condições aos músicos, de forma que eles conseguem se escutar sem esforço.
" R 0,100 #
0,020
p2 (t)dt
STEarly = 10log · R 0,010 dB (2.5)
0
p2 (t)dt
Já o segundo, suporte tardio (STlate ), visa avaliar o grau no qual a sala suporta os
músicos, pois se a sala não possui a capacidade de suportar um conjunto de músicos a tendência
é que os músicos se esforcem mais para tocar, podendo ocasionar fadiga. Esta verificação se dá
através da razão entre a energia contida na cauda reverberante e a energia do som direto de
uma resposta impulsiva, ambos medidos a uma distância de 1,0 m a partir do centro de uma
fonte sonora omnidirecional (BRANDÃO, 2016). A ABNT NBR ISO 3382-1:2017 determina
que os valores do Suporte tardio sejam calculados através da Equação (2.6), sendo um número
único médio em frequência para as bandas de oitavas de 250, 500, 1000 e 2000 Hz. A faixa
tı́pica de resultados é −24 ≤ STLate ≤ −10, e quanto maior for este valor, maior será o suporte
oferecido pela sala aos músicos; quanto mais baixo for, mais os músicos terão dificuldades em
se ouvirem tocando.
" R 1,000 #
0,100
p2 (t)dt
STLate = 10log · R 0,010 dB (2.6)
0
p2 (t)dt
A forma de obtenção dos parâmetros acústicos de salas através da ABNT NBR ISO
3382-1:2017 pode ser realizada de duas maneiras, método do ruı́do interrompido e método da
resposta impulsiva, sendo este último o método empregado neste trabalho para obtenção dos
parâmetros acústicos objetivos necessários.
A instrumentação necessária para a medição através do método da resposta ao impulso
consiste em um gerador de sinais, um amplificador, uma fonte sonora omnidirecional, microfones,
placas de aquisição de sinais e um computador para processamento e análise dos sinais medidos,
Figura 2.5.
Fonte: Adaptado de Christensen e Koutsouris (2009), Hak, Wenmaekers e Luxemburg (2012), ABNT (2017).
A simulação tem se tornado, a cada dia, uma ferramenta útil para o desenvolvimento
de projetos em geral. Na acústica de salas o uso da simulação computacional ganhou bastante
espaço devido às vantagens que a simulação computacional oferece. Uma das grandes vantagens
é poder obter resultados de sistemas com comportamento próximo da realidade, uma vez que
por meio da simulação é possı́vel levar em consideração a geometria da sala, a distribuição
dos materiais em um ambiente, bem como a posição real da fonte e do receptor, sem ter a
necessidade de lidar com problemas fı́sicos, financeiros ou sociais, além da possibilidade de
alterar e testar condições especı́ficas de forma rápida que poderiam ser até mesmo impossı́veis
Capı́tulo 2. REVISÃO DE LITERATURA 16
mente, pensava-se que elas seriam absorvedoras em baixas frequências, mas estudos mostraram
que quando bem projetadas, as aberturas entre uma superfı́cie e outra da concha permitia que
as baixas frequências ressoassem no interior da caixa cênica e assim fossem projetadas para a
área da plateia. Devido ser confeccionada por materiais leves, este tipo de concha é a mais
utilizado em salas do tipo multiuso devido ser de fácil montagem, transporte e armazenamento
(LONG, 2014; MAIORINO, 2013), Figura 2.7.
Já as conchas combinadas são uma combinação das duas caracterı́sticas: podem
possuir partes de materiais densos e outras partes de materiais leves. Mesmo assim são pouco
usuais, devido necessitarem de um sistema mais dinâmico para sua montagem, implicando em
elevar o preço de sua instalação e manutenção do sistema de montagem.
Independentemente do tipo de concha orquestral, Long (2014) sugere alguns tipos
de configurações para que se tenha a solução ideal do melhor arranjo possı́vel em uma sala.
A profundidade é considerada o ponto crı́tico, e não pode ter mais de 12 m de profundidade.
Uma profundidade rasa acaba por reforçar o grave, uma vez que os contrabaixos, quando
dispostos ao longo da parede traseira, podem formar uma fonte em linha e acabam por serem
beneficiados por uma superfı́cie refletora por perto, maximizando assim a saı́da do som para a
área da plateia. A concha de orquestra deve ser mais estreita na parte de trás. A altura da
concha orquestral deve estar compreendida entre 10 e 13 m, porém em auditórios menores essa
dimensão pode ser reduzida, a fim de que a frente da concha possa corresponder ao proscênio.
Capı́tulo 2. REVISÃO DE LITERATURA 18
3 METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho está dividida em duas etapas. A primeira parte corres-
ponde às atividades experimentais, onde além dos projetos de planta baixa e arquitetônicos
do auditório cedidos pela administração do Centro de Eventos Benedito Nunes, as visitas
ao auditório proporcionou realizar uma série de atividades. As medições para obtenção dos
parâmetros acústicos da sala foi a primeira atividade desenvolvida, a fim de auxiliar na etapa
de validação do modelo tridimensional da sala para o estudo de proposição do uso de uma
concha orquestral para o Auditório Benedito Nunes. Posteriormente, foi realizada a verificação
de materiais empregados no Auditório Benedito Nunes, além de comparações de medidas
no ambiente entre o real executado e as medidas de projeto, uma vez que a execução de
determinadas partes do auditório pode sofrer alterações e que dificilmente seguem à risca um
projeto (SILVA, 2017; VORLÄNDER, 2008).
Após a junção das informações necessárias na primeira etapa, a segunda foi referente à
simulação computacional, onde foi concebido um modelo tridimensional do Auditório Benedito
Nunes, fiel à estrutura real, executada por meio do software Trimble SketchUp 2018. Apesar
do desenho ser semelhante à geometria do espaço do auditório, algumas superfı́cies puderam
ser simplificadas, visto que a atribuição de valores corretos dos coeficientes de absorção e
espalhamento às áreas de superfı́cies planas apresentam resultados satisfatórios em relação
a uma superfı́cie elevada. Dessa maneira, a simplificação de superfı́cies otimiza os cálculos
realizados pelo software.
Os coeficientes, de absorção e espalhamento são um dos fatores que mais influenciam
na acurácia de um modelo. Para a determinação desses coeficientes algumas plantas acústicas
foram úteis.
Mesmo dispondo de projetos acústicos, os valores dos coeficientes de absorção e
espalhamento para alguns materiais são difı́ceis de se encontrar. Primeiro o de espalhamento,
pois na literatura quase não há estudos publicados desses ensaios. Segundo o de absorção, que
em alguns casos, como por exemplo a parte que contém ripas de madeira espaçadas igualmente
sobrepostas em lã de vidro envolvida em tecido preto, são de estruturas de múltiplas camadas
e precisariam ser ensaiados em câmaras, já que são materiais montados na hora da execução
do auditório.
Visando aproximar as medições reais executadas no auditório foram utilizadas as
recomendações do software ODEON 10.1 que contém em sua biblioteca coeficientes de
materiais para atribuição desses dois parâmetros às superfı́cies do modelo, a fim de não termos
coeficientes artificiais.
A Figura 3.1 resume a metodologia aplicada nesta pesquisa.
Capı́tulo 3. METODOLOGIA 20
Fonte: Autor.
cabines para realização de tradução simultânea de até três idiomas. A área total construı́da
é aproximadamente 1.200,0 m2 e o volume interno estimado é de 4.120,0 m3 . O design do
ambiente é em formato de leque, sendo simétrico ao plano vertical central. A área da plateia
fica dividida em inferior e superior, sendo separadas por um patamar de circulação. A plateia
inferior é dividida em dois grupos de assentos e a plateia superior por três grupos, Figura 3.2.
A plateia inferior possui três corredores, sendo dois laterais e um central. Já a plateia superior
possui quatro corredores sendo dois nas extremidades e outros dois subdividindo a plateia em
três grupos de assentos. O forro do auditório é em gesso acartonado liso e dividido em 3 seções
sendo duas inclinadas e uma reta.
Fonte: Autor.
As paredes laterais são revestidas em placas de MDF laminadas nas cabines de tradução
e depósito de material, e réguas de madeira aplicadas sob lã de vidro (25 mm x 20 kg/m3 )
envolvidas em tecido preto. A parede de fundo do auditório, onde está situado a cabine de som,
possui acabamento em carpete aplicado sob alvenaria. O piso também é em carpete, porém
aplicado sob laje de concreto armado.
O palco do auditório possui uma área de 120,0 m2 , sendo 15,0 m de largura por 9,0 m
de comprimento, em suas maiores dimensões. É constituı́do de assoalho de madeira, freijó, sob
estrutura mista com treliças em aço e apoios de aço e madeira. A caixa cênica possui 1.320,0
m3 com pé direito de 11,0 m. Suas paredes de fundo são em alvenaria de reboco liso e pintadas
de preto. Os assentos são de um único modelo e fabricante. Possuem estrutura de metal e
plástico reforçado, sendo os assentos retráteis e com o mesmo estofado grosso revestido em
tecido na cor laranja dos encostos.
Capı́tulo 3. METODOLOGIA 22
Figura 3.3 – Setup e instrumentação para realização das medições experimentais no auditório.
foram posicionados nos centros e nas cadeiras próximas às paredes de cada setor da plateia,
estando todos a uma altura de 1,20 m acima do piso, Figura 3.4.
Para a alocação das posições de fonte é recomendado que sejam utilizadas no mı́nimo
duas posições, tendo sido escolhidas três posições no palco com altura de 1,5 m acima do piso,
Figura 3.4. Para cada posição de fonte (P1, P2 e P3) foi medido a resposta impulsiva da sala
para cada posição de microfone (1 a 13), totalizando assim 39 medições.
Fonte: Autor.
às sugestões de Long (2014), além de variações como inclinação das placas das conchas para
verificar a influência dessas alterações. As configurações foram enumeradas de 1 a 4.
A configuração 1, Figura 3.5, possui as paredes laterais levemente inclinadas aos eixos
laterais, com parede de fundo plana e teto plano.
Na Configuração 2, Figura 3.6, as paredes laterais são planas com parede de fundo
plana e teto da concha orquestral também plana.
A configuração 3, Figura 3.7, possui as paredes laterais e tetos inclinados e a parede
de fundo reta.
A última configuração, 4, Figura 3.8, possui teto inclinado e paredes laterais e de
fundo retas.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Capı́tulo 3. METODOLOGIA 25
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
26
4 RESULTADOS
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Figura 4.2 – Resultado do T obtido pela média das 39 medições realizadas (3 posições de
fonte e 13 de receptor), em função da frequência no intervalo de 125 a 4000 Hz
em bandas de oitava.
Fonte: Autor.
Figura 4.3 – Resultado do EDT obtido pela média das 39 medições realizadas (3 posições de
fonte e 13 de receptor), em função da frequência no intervalo de 125 a 4000 Hz
em bandas de oitava.
Fonte: Autor.
Capı́tulo 4. RESULTADOS 28
Figura 4.4 – Resultado do D50 obtido pela média das 39 medições realizadas (3 posições de
fonte e 13 de receptor), em função da frequência no intervalo de 125 a 4000 Hz
em bandas de oitava.
Fonte: Autor.
Figura 4.5 – Resultado do C80 obtido pela média das 39 medições realizadas (3 posições de
fonte e 13 de receptor), em função da frequência no intervalo de 125 a 4000 Hz
em bandas de oitava.
Fonte: Autor.
Capı́tulo 4. RESULTADOS 29
O parâmetro que se toma como base inicial para a caracterização acústica de uma sala
é o tempo de reverberação. Para tal, foram utilizados os resultados apresentados na Tabela 2.1,
para avaliação dos valores ideais do tempo de reverberação em função do tipo de uso da sala.
Tabela 4.2 – Comparação dos valores ideais do tempo de reverberação (média de 500 Hz a 1
kHz) em função do tipo de utilização da sala com o valor obtido no auditório
Benedito Nunes (1,33 s).
Os valores considerados ideais para a C80 de uma sala voltada à música podem
variar entre −4,0 e +4,0. Para o Auditório Benedito Nunes as bandas de 125 a 500 Hz se
apresentaram dentro deste intervalo, Figura 4.5.
Fonte: Autor.
Fonte: Adaptado de < https : //odeon.dk/acoustics simulation sof tware/workf low/ > Acesso em
15/05/2018.
Figura 4.8 – Variação dos resultados do T30 em relação a quantidade de raios selecionados.
(a) (b)
(c) (d)
Fonte: Autor.
Figura 4.9 – Variação dos resultados do T30 em relação a quantidade de raios selecionados.
(a) (b)
(c) (d)
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Coeficiente de
Material Espalhamento em
707 Hz
Área de audiência 0,6 - 0,7
Estruturas de edifı́cios irregulares com
0,4 - 0,5
0,3 - 0,5 m de profundidade
Estante de livros, com poucos livros 0,3
Alvenaria com juntas abertas 0,1 - 0,2
Alvenaria com juntas preenchidas sem reboco 0,05 - 0,1
Superfı́cies lisas em geral 0,02 - 0,05
Concreto liso pintado 0,005 - 0,02
Frequência (Hz)
Superfı́cie / Material
125 250 500 1000 2000 4000
Carpete piso 0,10 0,16 0,11 0,30 0,50 0,47
Carpete parede 0,09 0,08 0,21 0,26 0,27 0,37
Concha orquestral 0,10 0,03 0,01 0,03 0,06 0,08
Parede de alvenaria 0,03 0,03 0,03 0,04 0,05 0,07
Forro de gesso 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02
Placas de MDF Laminado 0,42 0,21 0,10 0,08 0,06 0,06
Cadeiras 0,35 0,45 0,57 0,61 0,59 0,55
Palco 0,15 0,11 0,10 0,07 0,06 0,07
Portas 0,14 0,10 0,06 0,08 0,10 0,10
Réguas de madeira sobre lã de vidro 0,26 1,00 1,00 0,75 0,54 0,33
Forro em lã de vidro da caixa cênica 0,26 1,00 1,00 0,75 0,54 0,33
Vidros 0,18 0,06 0,04 0,03 0,02 0,02
calibrado. Esta comparação foi realizada tendo como base os valores de JND determinados
pela norma ABNT NBR ISO 3382:2017 a qual recomenda uma variação inferior a uma unidade
do JND como sendo o menor erro aceitável. Este intervalo de 1 JND representa uma variação
imperceptı́vel pelo ouvinte. Contudo, Vorländer (1995) e Silva (2017) consideraram que uma
variação de até 2 unidades de JND ainda são consideradas aceitáveis.
4.4.1 Validação do T
Fonte: Autor.
Para o EDT, Figura 4.11, os valores permaneceram dentro dos limites de 1 JND
somente em duas frequências, 250 e 500 Hz. Para a frequência de 1000 Hz o valor permaneceu
dentro dos limites aceitáveis de até 2 JND. Uma variação nos resultados do EDT é esperada
uma vez que este parâmetro é mais sensı́vel a variações no decaimento e à posição do receptor
no auditório. Porém, por ser um parâmetro ligado diretamente ao tempo de reverberação
podemos considerá-lo válido devido à tendência das curvas dos resultados experimentais e
simulados estarem decaindo (os valores simulados do EDT se assemelham com o T experimental
Capı́tulo 4. RESULTADOS 36
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Na análise dos resultados obtidos para o tempo de reverberação, foi possı́vel notar
uma leve diminuição dos valores de T para todas as 4 configurações utilizadas. Os valores
médios do T ficaram no intervalo de 0,88 a 1,84 s, e a variação da diminuição do T causada
pelo enclausuramento da concha orquestral no intervalo de 0,14 a 0,52 s, Figura 4.14.
Outro detalhe peculiar é que não houve uma variação significativa do T entre as 4
configurações de possı́veis usos da concha orquestral. Como pode ser observado na Figura 4.14,
os resultados são praticamente os mesmos para cada uma das 4 configurações. Isso demonstra
que as inclinações propostas nas configurações não são suficientes para promover uma alteração
significativa na área da plateia.
A diminuição no tempo de reverberação não é esperada para todas as faixas de
frequências. Outros trabalhos, como os de Bradley (1996), Fu et al. (2015) e Silva (2017),
Capı́tulo 4. RESULTADOS 38
Fonte: Autor.
demostram que o tempo de reverberação tende a aumentar com o uso da concha orquestral.
Porém, esta inversão de resultados está associada a alguns fatores importantes. Devemos lembrar
que o tempo de reverberação é diretamente proporcional ao volume da sala e inversamente
proporcional a área de absorção dos materiais presentes na mesma, Equação (2.1). Logo, nos
trabalhos de Bradley (1996), Fu et al. (2015) e Silva (2017) o aumento do T está relacionado
com o fato da concha orquestral isolar elementos presentes na caixa cênica, como cortinas,
varas, cenários e outros materiais que ajudam na absorção sonora, fazendo com que os valores
de absorção sonora diminuam e, consequentemente, o tempo de reverberação aumente. No
auditório Benedito Nunes não há estes elementos que contribuem para a absorção sonora na
caixa cênica. Logo, o uso da concha orquestral contribui somente para a diminuição do volume
da mesma. Como o volume é diretamente proporcional ao valor do tempo de reverberação,
a diminuição do volume acarretará também na diminuição do tempo de reverberação. Outro
detalhe, como pode-se observar na Tabela 4.3, os coeficientes de absorção do material da concha
orquestral são levemente superiores aos coeficientes das paredes de alvenaria da caixa cênica.
Assim, o uso da concha orquestral nas 4 configurações propostas ocasionou no decaimento do
T no Auditório Benedito Nunes.
De forma análoga ao T , o EDT não poderia mostrar resultados diferentes, uma vez
que os dois parâmetros estão intimamente ligados. Logo, percebe-se também uma diminuição
do EDT após o emprego da concha orquestral independentemente das 4 configurações for
utilizadas, Figura 4.15.
Capı́tulo 4. RESULTADOS 39
Figura 4.14 – Comportamento dos resultados de T com uso das 4 configurações propostas de
concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado e seus limites
JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO 3382:2017 em
função da frequência.
Fonte: Autor.
Os resultados encontrados para D50 e C80 apresentam uma mesma tendência: aumento
significativo na banda de 125 Hz e pequenas variações nas demais bandas de frequências
analisadas.
Para o parâmetro D50 , Figura 4.16, após o uso da concha de orquestra a banda de
frequência de 125 Hz obteve um ganho significativo na definição. Saltou de 0,35 do modelo
validado para valores variando entre 0,43 e 0,47 para as 4 configurações. Dentre os valores do
intervalo das configurações o menor valor ficou para a configuração 2 e o maior valor para a
configuração 3. As configurações 1 e 4 obtiveram praticamente os mesmos valores: 0,45 e 0,46,
respectivamente. Nas frequências de 250 e 500 Hz obtém-se uma leve redução dos valores com
uso da concha em relação ao modelo de referência. Isso se dá devido à quantidade de energia
tardia que chega nos receptores ser maior que a quantidade de energia inicial. Isso pode estar
relacionado a reflexões excessivas na área do palco onde a concha está inserida, fazendo com
que essa energia inicial não chegue de forma rápida aos ouvintes nessas bandas de frequências,
uma vez que a definição avalia a energia que chega aos ouvintes nos primeiros 50 milissegundos
em relação a energia total da sala.
Na frequência de 1000 Hz a curva dos resultados voltam a ter a tendência de aumento,
mas somente a configuração 3 obtém resultados acima do modelo validado, porém todos os
resultados dentro dos limites JND. Para as frequências de 2000 a 4000 Hz todas as configurações
Capı́tulo 4. RESULTADOS 40
Figura 4.15 – Comportamento dos resultados de EDT com uso das 4 configurações propostas
de concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado e seus
limites JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO
3382:2017 em função da frequência.
Fonte: Autor.
proporcionaram aumento dos valores de D50 em relação aos valores do modelo validado, mas
somente a configuração 3 obtém resultados acima dos limites JND.
Para o C80 , Figura 4.17, os resultados com o uso da concha orquestral mostraram um
aumento de seus valores para quase toda a faixa de frequência analisada. Com destaque para a
banda de frequência de 125 Hz, que obteve resultados variando entre 1,45 e 2,12 dB, para as
4 configurações de concha, sendo o menor resultado para a configuração 2 e o maior para a
configuração 3. O aumento da clareza está relacionado às paredes da concha providenciarem
melhores reflexões e aumento na energia do som direto em relação à energia do som tardio que
chega aos expectadores.
Para as demais faixas de frequências analisadas, para as configurações 1, 2 e 4, a
variação da clareza ficou dentro dos limites JND, ou seja, uma variação imperceptı́vel. A exceção
ficou por conta da configuração 3 que além do aumento em 125 Hz obteve um aumento
também nas altas frequências, 1000 e 2000 Hz, fora dos limites JND.
O aumento do C80 na configuração 3 já era esperado, uma vez que possui tanto as
paredes laterais quanto o teto da concha orquestral inclinados. Em contrapartida, a configuração
2, obteve os menores resultados que todas as outras configurações. Isso porque as paredes
laterais e o teto da concha são planos, fazendo com que a energia inicial fique mais tempo na
área do palco, dentro da concha orquestral, chegando mais tarde à área dos expectadores. As
configurações 1 e 4 apresentaram resultados quase que idênticos, evidenciando que somente a
inclinação do teto, ou só das paredes laterais são capazes de aumentar a percepção de clareza
Capı́tulo 4. RESULTADOS 41
Figura 4.16 – Comportamento dos resultados de D50 com uso das 4 configurações propostas
de concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado e seus
limites JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO
3382:2017 em função da frequência.
Fonte: Autor.
Verificando os resultados obtidos para o suporte inicial, Figura 4.18, nota-se que houve
um aumento em comparação aos resultados apresentados pelo modelo validado. Este aumento
é devido ao sistema de concha orquestral funcionar como um elemento difusor acústico na
área do palco, beneficiando os músicos, já que proporciona um campo acústico difuso para
os mesmos. Quando a concha é inserida, independentemente da configuração, o valor médio
do STEarly aumenta em torno de 4 dB. A configuração 2 foi a que demonstrou o melhor dos
resultados para as posições de fonte 2 e 3. Os valores da posição 1 variaram muito pouco entre
si, 0,5 dB na maior diferença que foi entre as configurações 3 (−9,55) e 2 (−10,65).
Os resultados do suporte tardio, Figura 4.19, acabaram apresentando uma alteração
discreta com o uso da concha orquestral. Esta pequena variação é devido à energia da cauda
reverberante não ser suficientemente grande a ponto de poder aumentar o STLate , uma vez que
o STLate mede a razão entre a energia contida na cauda reverberante e a energia da resposta
ao impulso, de acordo com Subseção 2.2.5 e Equação (2.6) deste trabalho.
A configuração 2 mostrou os melhores resultados, uma variação de quase 3 dB para
as posições de fonte 2 e 3. As configurações 1 e 4 também apresentaram melhoras em relação
ao resultados do modelo validado, uma variação média correspondente aos resultados das
Capı́tulo 4. RESULTADOS 42
Figura 4.17 – Comportamento dos resultados de C80 com uso das 4 configurações propostas
de concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado e seus
limites JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO
3382:2017 em função da frequência.
Fonte: Autor.
três posições de fonte, de 1,15 dB e 0,40 dB respectivamente. O pior cenário ficou com a
configuração 3 que acabou por piorar os resultados do STLate . Apesar das pequenas variações
de resultados apresentadas pelas configurações 1, 3 e 4, estes resultados ficaram dentro dos
limites JND, o que torna este aumento ou diminuição do STLate para estas três configurações
imperceptı́veis aos músicos de acordo com a ABNT NBR 3382-1:2017.
Capı́tulo 4. RESULTADOS 43
Figura 4.18 – Comportamento dos resultados médios do STEarly com uso das 4 configurações
propostas de concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado
e seus limites JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO
3382:2017 em função das posições de fonte na área do palco.
Fonte: Autor.
Figura 4.19 – Comportamento dos resultados médios do STLate com uso das 4 configurações
propostas de concha orquestral em comparação aos valores do modelo calibrado
e seus limites JND mı́nimo e máximos estipulados pela norma ABNT NBR ISO
3382:2017 em função da posição da fonte na área do palco.
Fonte: Autor.
44
5 DISCUSSÃO
Tabela 5.1 – Comparação dos valores ideais do tempo de reverberação (média de 500 Hz a 1
kHz) em função do tipo de utilização da sala com o valor obtido no auditório
Benedito Nunes com uso da concha orquestral na configuração 3 (1,07 s).
Para a D50 , como mencionado anteriormente, resultados acima de 0,5 são considerados
Capı́tulo 5. DISCUSSÃO 45
satisfatórios tanto para salas destinadas à música quanto para a fala. Pode-se observar que a
banda de 125 Hz obteve um aumento em todas as 4 configurações analisadas. O destaque ficou
para a configuração 3 que obteve os melhores resultados com aumento também para as bandas
de 1000, 2000 e 4000 Hz. As demais configurações obtiveram resultados insatisfatórios, sendo
a configuração 2 a que obteve os piores resultados, principalmente por terem proporcionado
uma redução perceptı́vel nas bandas de 250 e 500 Hz.
Com o C80 , a variação dos resultados se mostrou tı́mida. Em sua maioria, os resultados
ficaram dentro dos limites de 1 JND. Como Beranek (2004) classificou os resultados ideais para
salas destinadas a música no intervalo de −4,0 e 0,0, o aumento na banda de 125 Hz para
todas as configurações propostas não foi a ideal. O destaque para o pior resultado ficou para a
configuração 3, que obteve aumento perceptı́vel nas altas frequências, bandas de 2000 e 4000
Hz, ou seja, fora do limite de 1 JND. Para as demais configurações, os resultados variaram
dentro dos limites de 1 JND, tonando assim a variação do C80 imperceptı́vel na área da plateia.
O STEarly demonstrou que a utilização do sistema de concha orquestral é valida para
melhorar o campo acústico na área do palco para os músicos. Todas as 4 configurações testadas
proporcionaram um aumento no suporte inicial, o que permite a criação de um campo difuso
ideal na área do palco, permitindo que os músicos consigam ouvir uns aos outros quando
em performance. Já os resultados do STLate não foram tão bons quanto os do STEarly , com
exceção da configuração 2 que conseguiu melhorar, mesmo que timidamente, este parâmetro.
Esta pequena melhora em uma única configuração se dá devido à sala não fornecer o suporte
necessário para os músicos, como já pôde-se observar em outras análises, através dos resultados
do T e do C80 , por exemplo, evidenciando ainda mais que a sala é melhor projetada para fala
do que para apresentações musicais.
46
6 CONCLUSÃO
Esta pesquisa teve como objetivo a verificação da contribuição de uso de uma concha
orquestral móvel por meio de simulações computacionais na área da plateia do Auditório
Benedito Nunes da UFPA. Atualmente não há uma concha orquestral disponı́vel no auditório,
assim, para a avaliação da contribuição de uso de uma concha orquestral móvel foi necessária
a criação de um modelo computacional tridimensional válido que representasse a sala de forma
que fosse possı́vel obter resultados coerentes.
Antes da criação do modelo computacional da sala, foi necessário realizar medições
acústicas na sala. Através destas medições foi possı́vel verificar o estado atual do Auditório
Benedito Nunes em função de alguns parâmetros acústicos como o tempo de reverberação,
tempo de decaimento inicial, clareza e definição. Após as medições experimentais detectou-se
que o Auditório Benedito Nunes possui um T ideal para 3 funções, e possui um T razoável para
outras 5 funções, Tabela 4.2. Nesta primeira análise do T foi possı́vel verificar que o Auditório
apresenta resultados medianos, variando bem sua funcionalidade, podendo ser usado tanto
para fins da palavra falada quanto para a música com utilização de sistema de som amplificado,
porém não apresentando um valor bom do T para uma orquestra sinfônica, por exemplo, ou
outros estilos musicais que não utilizam sistema de som amplificado.
Com os resultados dos dois outros parâmetros foi possı́vel complementar a interpretação
dos resultados apresentados do tempo de reverberação. Começando pelo D50 , notou-se que a
sala possui resultados satisfatórios para as médias e altas frequências, tornando assim a sala
boa para apresentações orais. Um leve decaimento no resultado da banda de 125 Hz fez com
que a sala não fosse tão boa para as baixas frequências, mas não tirando o mérito da boa
definição que a mesma apresenta, Figura 4.4.
Com os resultados do C80 verificou-se que a sala não apresenta perfis ideais para
médias e altas frequências somente para a baixa frequência, Figura 4.5. Com isso podemos
identificar que o Auditório Benedito Nunes é mais indicado para sua utilização em eventos que
destinem a voz como elemento principal. Apresentações musicais até podem ser realizadas,
mas com ressalva, uma vez que necessitam da utilização de sistema de som amplificado.
A criação do modelo tridimensional foi realizada conforme recomendações da literatura.
A utilização de superfı́cies simplificadas proporciona uma otimização no tempo de cálculo do
programa, bem como na obtenção de resultados satisfatórios. As etapas mais importantes e
demoradas foram a determinação dos coeficientes de absorção e espalhamento das superfı́cies,
mesmo o software ODEON disponibilizando uma biblioteca destes valores. A utilização destes
valores aproximados contribuem para a obtenção de erros e desvios nas curvas de avaliação da
eficácia do modelo. A utilização do programa baseia-se no método de tentativa e erro. Logo, a
construção do modelo validado do Auditório Benedito Nunes se deu através da comparação
entre os resultados experimentais e simulados, se os resultados simulados estavam dentro
Capı́tulo 6. CONCLUSÃO 47
dos limites JN D estipulados pela norma ABNT NBR ISO 3382-1 e pelas recomendações da
literatura.
Dentre os resultados obtidos da validação do modelo, o parâmetro T foi o que mostrou
melhores resultados. As duas curvas, experimental e simulada, praticamente se sobrepuseram e
claramente os resultados simulados apresentando valores dentro dos limites JN D para todas as
6 bandas de frequências analisadas. Os valores de EDT apresentaram a mesma tendência da
curva experimental, sendo que os resultados das bandas de frequência 250 e 500 Hz ficaram
dentro dos limites JN D. Esta variação era esperada devido este parâmetro ser mais sensı́vel
a variações no decaimento e à posição do receptor no auditório. Porém, consideramos este
parâmetro validado pois os resultados do EDT se assemelharam com os resultados do T e por
esses dois parâmetros estarem diretamente ligados um ao outro. Os resultados da validação
do C80 e do D50 se mostraram bastante satisfatórios; todos os resultados ficaram dentro dos
limites aceitáveis de até 2 JN D, com uma exceção para a banda de 125 Hz do D50 , mas a
tendência das curvas simuladas e experimentais são as mesmas, logo foi considerado como
resultado válido.
Para as 4 configurações de concha orquestral propostas, foram analisados os parâmetros
T , EDT , C80 e D50 para a área da plateia e mais dois parâmetros na área do palco relacionados
à condição acústica para os músicos, STEarly e STLate . Todos os resultados foram comparados
com os valores obtidos do modelo validado.
O primeiro parâmetro que foi avaliado em relação à utilização do sistema de concha
orquestral foi o T . Uma diminuição neste parâmetro foi observada para todas as 4 configurações
testadas além de apresentarem resultados muitos próximos entre si. A primeira conclusão
que obteve-se foi contrária aos resultados apresentados pela literatura, que a utilização do
sistema de concha orquestral provoca um aumento do T na área da plateia. Esses resultados de
diminuição do T foram justificados no Subseção 4.5.1. Assim, o enclausuramento causado pelo
uso da concha orquestral mostrou que de fato houve um desacoplamento entre os volumes
da caixa cênica e do restante do auditório. Outra conclusão foi que somente a inclinação de
paredes laterais e/ou tetos não são considerados úteis para a alteração deste parâmetro em
uma sala.
A configuração que mostrou as maiores alterações percebidas na área da plateia foi a
configuração 3. Assim, conclui-se que este arranjo é o melhor a ser usado em apresentações
que utilizam a palavra falada como sinal predominante, uma vez que apresentou melhores
resultados do parâmetro D50 , Figura 4.16. Obviamente apresentaria em seguida valores não
satisfatórios para o C80 , Figura 4.17. A configuração 3 quando avaliada em relação ao suporte
para os músicos na área do palco mostrou, assim como todas as outras, um aumento no
STEarly , porém quando a fonte adentra a área do palco, posições de fonte 2 e 3, obtêm-se os
resultados mais baixos, confirmando que esta configuração é mais indicada para a sala quando
destinada à palavra falada.
Já a configuração 2 apresentou melhores resultados de STEarly em relação às outras
Capı́tulo 6. CONCLUSÃO 48
configurações, Figura 4.18, corroborando que paredes laterais e teto quando não inclinados
tendem a manter a energia por mais tempo na área do palco, beneficiando assim os músicos.
Porém, a concha sozinha não foi capaz de alterar significativamente os valores de C80 na área
da plateia para que se enquadrassem dentro dos limites ideais propostos por Mehta, Johnson
e Rocafort (1999), pois os resultados se mantiveram dentro dos limites JN D. Quando a
configuração 2 é avaliada em relação ao D50 , nota-se que é onde se concentram os menores
resultados, como já era esperado. Assim, podemos dizer que a configuração 2 é mais indicada
para apresentações musicais no auditório Benedito Nunes.
As configurações 1 e 4 apresentaram a mesma tendência, e resultados com pouca
variação entre eles. Logo, conclui-se que a inclinação das paredes laterais da concha orquestral
proporciona a mesma mudança nos parâmetros acústicos na área da plateia do auditório
analisado que somente o teto inclinado. Os resultados destas duas configurações se mantiveram
entre os resultados das configurações 2 e 3 e que praticamente todas as mudanças causadas por
essas duas configurações ficaram dentro dos limites JN D, ou seja, imperceptı́veis. A exceção
se deu na análise do STEarly na fonte da posição 3 em que o resultado da configuração 1
foi melhor que a configuração 4, o que nos leva a entender que quanto mais ao fundo um
músico estiver, as paredes laterais inclinadas fornecem um melhor suporte do que somente o
teto inclinado.
Referências
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2010. 489 p. ISBN 0-203-87422-6. Citado na página 2.
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