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et à Dragan Becirovic
para a Ofelia, para o Guizos
«neste pais (...) onde as dactilógratas escrevem com um dedo, os amantes não
Muito obrigado.»
ANTÓNIO MARIA LISBOA, «Varech»
em
sorriso, fazia uma careta. Mas a Sr.a Bray nunca ouvira lalar
E, em vez dum
uma só carne
do assado queimado
descompóem-se
um no outro
cospem
tazem as malas
ca mulher volta
para casa
da r mae
co homem corre
mulher
para uma
antiga
que o recebe
de braços abertos
agora há só dois bebés
a berrar por Super Maxs
à porta de uma pastelaria
de Beja
com o ar condicionado
avariado
0 425
m CHMILLY
(2000
cOMEÇO
Chamilly regressa
Beja
ao convento de Marianna
passados anos
entra no convento
(o chão do convento
é de ladrilhos pretos
e brancos
como um tabuleiro
de xadrez ou damas)
Chamilly procura
Maria
dá com ela
dormir
no claustro
à sombra
de uma alfarrobeira
arranca-lhe uma costela
e faz com cla
uma Hauta
e do crånio de Marianna
faz uma cabaça
com que bebe água
do poço
que há no meio
do claustro
Chamilly transtorma-se
num sapo
po
426
COMEÇO2
Não
era so um pesadelo
e um sonho
Chamilly voltou
de facto
e dá com Marianna
adormir
debaixo da alfarrobeira
do claustro
mas ajoelha-se
perto de Marianna
debruça-see
sobre o seu regaço
pega-he nas mãos
do colo
beija-lhe as máos
e diz
Merci
Marianna abre os olhos
e diz Milly
Marianna atravessa
pomar
sonhar
Chamilly voltou
eé tão bom té-lo
de volta
427
D DE
CIUAMI1Y
(2000
Quando eu morrer
hei-de voltar
para buscar
oS instantes
quc nao vivi
ao pe de ti
Milly
alapados
como mortos
na carpecte trancesa
a imitar persa
que conheceu
melhores dias
Os melhores dias
da carpete
não coincidem
de Marianna
O abelo
de Milly
é beige
poR*
428
s olhos
são
cinzentos
azuis
violetas
ART POÉTIQUE
De l'amour
avant toute chose
L'Amour et l'Occident
T'Amour et l'Orient
T'Amour et le Nord
T'Amour et le Midi
'Amour
Chamilly
T tn cuAMLLY
429
2000)
Marianna abraça
milly
Chamilly raça
Marianna
Marianne, je t'aime
Chamilly. je t'aime
Milly
Milly, je t'aime
Chamilly tem
muito sono
adormecec
na cama de Marianna
Marianna a seu lado
não dorme
porque quer ver
Chamilly a dormir
Chamilly afinal
náo se esqueceu
de Marianna
430
entretantoo
havia sempre
outras mulheres
afazeres
Mais oque
todas as cartas
como nenhuma
carta
és tu NMilly
em carnee osso
ao pé de mim
(Mily Possoz tambémn
cstá muito comovida)
Marianna Alcoforado
acordou
OS termómetros
em Sevilha
marcam 470 C
Os sérvios
cortam narizes
e orelhas
numa clarcira da mata básnia
onde se confeccionam
43
narizes e orelhas
de silicone
para reparar Pedro e Inés
que dez anos de cavaquismoo
deixaram sentados
de cócoras
à beira dos túmulos abertos
a comer deliciosas
passas de Boliqueime
restaura Portugal
eo mundo
Mily Possoz
pinta-lhes
o retratoo
ela debaixo da alfarrobeira
responder-lhe Milly
ele debaixo da alfarrobeira
a perguntar-lhe Merci
o fato de Chamilly
é verde
hábito de Marianna
é encarnado
e sobre os dois
432
cai nupcial
o ceu
as cinco quinas
mais abaixo
dossel
que e a copa da alfarrobeira
da cama que é o chão
onde se dao
Eva e Adáo
cadela e cão
Milly chéri
tenho coisas
para te dizer
de viva vo0z
cartas de amor
nunca mais
agora só escrevo
cartas comerciais
Não quero
rer filhos
gosto muito
de foder
contigo
c com outros
mas de bebés
não gosto
uma vez
por oOutra
tem graça
mas sempre
Ea oL
CHILIY (COD 33
nao
os bebés deprimem-me
Se engravidar
faço abortos
por muito
que me custe
Custa-mne
muito
do Espírito Santo)
Ficas
no castelo de Beja
e eu aqui
no convento
com vento
(as janelas
techam ma
estao empenadas)
há uma passagem
subterranca
como noS romances
que liga
castelo e convento
podemos fechá-la
nao te quero
no convento
o outro é o Céu
com peugas
e cuecas sujas
Antes de chegares
pensava assim
mesmo que Milly volte
não quero foder
nunca mais quero foder
DO
434
o feitio das unhas dos pés
ea implantação dos cabelos
na nuca
do meu Milly chéri
mais tarde
ou mais cedo
vão-me meter nojo
nunca mais danço
nunca mais dou beijos
mas quem nao pensa
em foder
está fodido
mas agora
a mulher (eu)
deixa
pai e máe
capega-se
ao homem (tu)
esão ambos
uma carne
LIsbonne-mars 2000
(Mais
dans le calme
aimant
de tes bras, Milly
à Dieu
YImaginaire)
435
DECOMPOR EM FACTORES
Como o celeste
a tremer
tronco
como o agreste
a unir
vento
sal
assim é o
omnipresente
a dar
ar
a dar
vento
como o que treme
celeste
5al
como pão quotidiano
agreste
a ar
como o omnipresente
a tomar
tronco
como o que treme
agreste
sal
como o vento celeste
a tomar
verso
como o que une
transportar
tronco
assim é o omnipresente
a dar
morte
Evguéni Daienine in Action Poétique, n. 115, Paris, 1989 (uradução do ruso de d aRobe
reovista Bum ma
no n..
minha tradução, teita partir da tradução francesa, já tinha sido publiad
(esta a
po
436
NOTA DA AUTORA
Acho que era a Sylvia P'lath que estava convencida, por volta de 1950,
1eramantes e sem tazer v1agens. MaiS importante que amantes e viagens éter
ut cspaço próprio, um dominio, um território, uma casa, pelo menos um
com privacidade, como muito bem viu Virginia Woolf.
quarto
Para ser feliz não é preciso foder, ao contrário do que apregoam as revistas.
Neste meu tempo de horror económico, parece que tudo gira à volta das fo-
das. As todas que sempre se querem bodas, os meus contemporâneos são bem
intencionados. nAma e fode» escreveu o Luiz Pacheco. Claro! Mas não penso,
o contrário do que Roland Barthes afirma nos Fragments d'un discours amou-
eHx, que dans le calme aimant de tes bras, au diable, alors, l'Tmaginaire. E os
bebes: I u gostas de mim ou estas-me so a gozar:
Escrevi este meu livrinho, O regresso de Chamilly, ainda naquela fase da
minha vida, que acabou a 26 de Novembro de 1999 (data em que comecei a
er
SOZinha, a ter a casa toda para mim), em
que acreditava, como os meus
das (auecOO porque é que se faz tanta troça das solteironas não copula-
Ruben A.). Isso
eo m
iste co
alros quando falam, segundo Jorge de Sena
, Este meu livrinho pertence ainda a esse marialvismo que
e
Omo panodedefoda
atoNão
Sema
fundo epor isso eu náo gosto deste meu livrinho.
em foda, mas andei de livro em livro a mendigar o
u nãosem
vis que, afinal, Deus me deu e dá sempre em cada dia. Só que
ro
u
nao sabia. Acho que é a diz que só nos
ueixar de não Agustina que podemos
lO ser
Ser amados.
amad Mas nem disso nos podemos queixar porque
S E
Solnado uAgora é a mesma coisa». O Raul Solnado disse-me «Eu acho é quc
ror agora, publico este. Queria que fosse uma papoila. Saiu-me uma g
a este l i v o
a
Dieu me joue des tours. Mas acrescento esta nota. Tenciono voIt
438
.S. 2 POEMAS D0 DIA 10 DE JUNHO DE 2000
A vida é barroca
coisa entre moléculas
é claro que o cu
Torturante vaivém
da comunhao
à não-comunháo
com o outro
Infinita volúpia
inhndável horror
da soledade
(ex-comunhão)
bs CRAL 10001
439