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contos populares do mundo

Contos populares do mundo


Volume 1
Russo
Palestino
Celta
Árabe
Espanhol
Persa
Japonês
Seleção: Jô Andrada
contato@beenet.com.br

A Princesa Sapa
Russo
Há muito muito tempo havia um rei que tinha três filhos. Quando eles chegaram a uma
certa idade, o rei chamou-os e disse: "Meus queridos jovens, quero que
vocês casem para que possa ver meus netos antes de morrer." E seus filhos replicaram:
"Muito bem, Pai, dê-nos sua bênção. Com quem devemos casar?"
"Cada um de vocês deve tomar uma flecha, ir até a campina e atirá-la. Quando a flecha
cair, ali estará seu destino."
Então os filhos se curvaram diante do pai, e cada um tomou uma flecha e foi a campina
executar o que tinha sido determinado.
A flecha do mais velho caiu nos domínios de um nobre, e a sua filha apanhou-a. A flecha
do filho do meio caiu no quintal de um mercador, e a sua filha apanhou-a.
Mas a flecha do mais jovem, príncipe Ivan, voou e foi-se para lugar desconhecido. Ele
caminhou em sua busca, e já estava quase desistindo quando encontrou
um sapo sentado com a flecha em sua boca. O príncipe Ivan disse: "Sapo, sapo, devolva
minha flecha."
E o sapo replicou: "Case comigo!"
"Como eu posso casar com um sapo?"
"Case comigo, este é o seu destino."
Príncipe Ivan estava muito desapontando, mas o que ele poderia fazer? Ele juntou o sapo
e encaminhou-se para casa. O Rei celebrou os três casamentos: seu
filho mais velho com a filha do nobre, seu filho do meio com a filha do mercador e o
pobre príncipe Ivan com o sapo.
Um dia o Rei chamou os filhos e disse: "Quero ver qual de minhas noras é mais hábil com
a agulha. Deixe que cada uma me faça uma camisa."
Os filhos se curvaram em direção ao pai e saíram. Príncipe Ivan foi para casa e sentou-se
numa poltrona, muito desconsolado. O sapo apareceu pulando no
chão e disse-lhe: "Por que está tão triste, Príncipe Ivan? Está com algum problema?"
"Meu pai quer que você lhe faça uma camisa para amanhã de manhã."
Disse a sapa: "Não desanime, príncipe Ivan. Vá para a cama; a noite é mãe dos
conselhos." Então príncipe Ivan foi para a cama e o sapo esperou que ele fechasse
a porta, tirou sua pele de sapo e transformou-se em Vasilisa a sábia, uma donzela com
formosura além de qualquer comparação. Ela bateu suas mãos e exclamou:
"Criadas e amas, estejam prontas para trabalhar! Amanhã de manhã quero uma camisa
como meu próprio pai usaria!"
Quando Príncipe Ivan levantou-se na manhã seguinte, o sapo estava novamente no chão, e
numa mesa, enrolada numa fina toalha, a camisa. Príncipe Ivan ficou
encantado. Ele apanhou a camisa e levou-a ao seu pai. Ele encontrou o Rei recebendo os
presentes de seus outros filhos. Quando o mais velho entregou a
camisa o Rei disse: "Essa camisa será de um dos meus empregados"; quando o do meio
entregou o Rei disse: "Esta é boa somente para o banho". Príncipe Ivan
entregou sua camisa, finamente bordada em ouro e prata. O Rei tomou-a, olhou e disse:
"Agora esta sim é a camisa! Eu a vestirei nas melhores ocasiões!"
Os dois irmãos mais velhos foram para casa e disseram um ao outro: "Parece que rimos
antes da hora da esposa de Ivan - ela não é um sapo, e sim uma feiticeira."
Novamente o Rei chamou seus filhos: "Que suas mulheres me façam um pão para amanhã
de manhã" ele disse. Quero saber qual delas cozinha melhor.
Príncipe Ivan retornou à sua casa muito triste. A sapa perguntou-lhe: "Por que está tão
triste, príncipe?"
"O Rei quer que você lhe faça um pão para amanhã de manhã" replicou seu marido.
"Não se apoquente, Príncipe Ivan. Vá para a cama; a noite é a mãe de todos os conselhos."
As outras noras do rei que tinham rido da sapa na primeira vez, enviaram um velho criado
para ver como a sapa fazia seu pão. . Mas a sapa era astuciosa
e adivinhou o que elas queriam. Elas misturou a massa, quebrou os ovos, colocou água,
fez uma meleca e colocou no forno. O velho criado correu de volta
para as outras esposas e disse-lhes o que tinha visto a sapa fazer.
Então a sapa esperou que todos se afastassem e se transformou em Vasilisa a Feiticeira,
bateu palmas e gritou: "Criadas e amas, estejam prontas, trabalhem
logo! Amanhã pela manha quero um pão tão leve e branco como jamais nenhum ser
humano tenha experimentado."
Príncipe Ivan acordou pela manhã e encontrou sobre a mesa um pão que lhe pareceu o
melhor que já tivesse provado, todo enfeitado com belas figuras, que
ele levou imediatamente ao seu pai. O rei, ao experimentar o pão levado por Ivan,
exclamou: "Isso é o que chamo de pão! É tão bom que só serve para ser
comido nos feriados!"
E o Rei determinou que seus filhos trouxessem, no dia seguinte, suas esposas para um
banquete. Príncipe Ivan tornou-se sombrio novamente. A sapa, vendo-o
assim, perguntou: "Por que a tristeza, príncipe Ivan? Seu pai foi grosseiro com você?"
"Sapa, minha sapinha, como você poderia me ajudar? Meu pai quer que eu leve você ao
banquete, mas como pode você aparecer diante do povo como minha esposa?"
"Não se amofine, Ivan," disse a sapa. "Vá para a festa sozinho que eu vou depois. Quando
você ouvir uma batida e um estouro, não tenha medo. Se lhe perguntarem,
diga que somente é sua Sapinha pulando na caixa."
Então foi o príncipe Ivan, sozinho. Seus irmãos mais velhos levaram as esposas,
maquiadas e vestidas com roupas finíssimas. Eles aproveitaram para gozar
de Ivan: "E então, Ivan, não trouxe a sua esposa? Você poderia tê-la embrulhado num
lenço. Você não deveria deixá-la sozinha por aí, com tanta beleza.
Deve procurá-la no pântano!"
O Rei e seus filhos e noras e todos os convidados começaram o banquete. De repente,
houve uma batida e um estouro que foi ouvido em todo o palácio. Então
o príncipe Ivan disse: “Não tenham medo, boa gente, é apenas minha sapinha passeando
em sua caixa.”
Foi quando uma carruagem dourada, puxada por seis cavalos brancos parou em frente ao
palácio e Vasilisa, a Feiticeira, num vestido azul-turquesa clamado
de estrelas e com uma lua sobre sua cabeça, tomou Ivan pela mão e levou-o até a mesa do
banquete.
Os convidados começaram a comer, beber e se divertir. Vasilisa bebeu de seu copo e
derramou as sobras em sua luva esquerda. Então comeu e colocou os ossos
na luva direita. As esposas dos príncipes mais velhos viram-na fazendo isso e imitaram
seus gestos.
Quando a comilança acabou, era hora da dançar. Vasilisa convidou Ivan,e ambos
dançaram e rodopiaram, sob os olhares admirados de todos. Ela sacudiu então
sua luva esquerda e... apareceu um lago! Ela sacudiu a luva direita e cisnes começaram a
nadar no lago. O Rei e seus convidados ficaram impressionados
com tal maravilha.
Então as noras do rei foram dançar. Elas sacudiram uma das luvas, mas apenas vinho caiu
sobre os convidados; sacudiram a outra, mas apenas ossos roídos
caíram, sendo o Rei atingido na testa por um.
Enquanto isso, Ivan correu de volta para casa. Ele encontrou a pele do sapo e jogou-a no
fogo. Quando Vasilisa voltou para casa, procurou a pele mas não
conseguiu achá-la. Triste, falou a Ivan: “O que você fez? Tivesse esperado mais alguns
dias, eu seria sua para sempre. Mas agora, adeus. Procure-me além
das Trinta e Nove Terras, no Décimo Reino, onde Koshchei, o Imortal, vive.” Dizendo
isso, transformou-se num cuco cinza e voou pela janela. Príncipe Ivan,
desesperado, partiu em busca de sua esposa, Vasilisa. Caminhou, caminhou, que os seus
sapatos perderam as solas, e sua túnica se rasgou, e sua capa não
mais o protegia da chuva. No caminho, encontrou um homenzinho, muito muito velho.
"Bom dia, meu rapaz”, disse o velhinho. "Onde estás indo e qual a tua missão?”
Príncipe Ivan contou-lhe o acontecido.
"Ah, por que queimaste a pele, Ivan?" disse o velho. "Ela não era sua nem era seu direito
fazê-lo. Vasilisa ficou tão sábia quando seu pai, e por isso
ele se enraiveceu e transformou-a em sapo por três anos. Ah, bom, mas não vai ajudá-lo
agora. Pegue esse rolo de barbante e siga para o local que ele desenrolar.”
Ivan agradeceu ao homenzinho e seguiu a bola de barbante. Num campo aberto, ele
encontrou um urso. Ivan estava pronto a matá-lo quando ouviu-o falar em
voz humana: “Não me mate, príncipe Ivan, pois talvez precises de mim um dia."
Ivan então deixou o urso partir. Subitamente ele viu um marreco voando sobre sua cabeça.
Pegou sua arma e, quando foi atirar, ouviu o marreco falar com
voz humana: “Não me mate, Ivan, pois talvez precises de mim um dia.”
Ele poupou o pato e se foi. O mesmo aconteceu em seguida, só que com uma lebre e mais
uma vez ele poupou a vida do animal.
Caminhando ainda, Ivan chegou ao mar e viu um lúcio debatendo-se na areia. “Ah,
príncipe Ivan”, disse o peixe, “jogue-me de volta ao mar.”
Então, ele jogou o peixe de volta na água e continuou seguindo a bola de barbante, indo
parar numa floresta, onde encontrou uma cabana de madeira. Lá, estava
sentada Baba-Yaga, a bruxa, com uma vassoura na mão. Quando ela viu Ivan, disse:
"Ugh, ugh, sangue russo, nunca encontrado por mim, agora eu sinto cheiro
na minha porta. Quem é? ? Onde está?”
"Você poderia me dar comida e bebida e um banho de vapor antes," retorquiu Ivan. Então
Baba-Yaga deu-lhe um banho de vapor, alimentou-o e colocou-o na
cama. Então o Príncipe Ivan perguntou-lhe sobre sua mulher, Vasilisa a sábia.
"Eu sei, eu sei,"disse Baba Yaga. "Sua esposa está agora sob o poder de Koshchei, o
Imortal. Vai ser duro trazê-la de volta. Koshchei não é páreo para você.
As morte está na ponta de uma agulha. A agulha está num ovo. O ovo está num pato. O
pato está numa lebre; a lebre num cofre; o cofre no topo do mais alto
carvalho que Koshchei, o Imortal, s guarda como olhos de águia."
Ivan passou a noite com Baba-Yaga, e, pela manhã, ela mostrou o caminho até o
carvalho. Ele caminhou, caminhou, e chegou até carvalho, onde viu o cofre
de pedra n topo. Mas era muito difícil de atingir.
De repente, surgiu um urso e, jogando-se sobre a árvore, sacudiu-a de tal forma que o
cofre caiu, quebrou e se abriu. Do cofre saiu uma lebre que partiu
numa corrida. A outra lebre, cuja vida o príncipe havia poupado, disparou atrás da
primeira e capturou-a. De dentro dela saiu um pato, que partiu como
uma flecha pelo ar. Mas em seguida o pato, cuja vida Ivan havia poupado, partiu em sua
perseguição, e o fez soltar o ovo, que caiu no mar.
Ivan caiu em prantos. Como poderia achar o ovo no mar? Neste momento o lúcio, salvo
por Ivan, nadou até a borda da praia com o peixe em sua boca. Ivan quebrou
o ovo, pegou a agulha e quebrou sua ponta. Não demorou muito para Koshchei curvar-se
e gritar, mas tudo em vão. Caiu morto.
Ivan correu até o castelo de pedras brancas. Vasilisa correu em sua direção, abraçando-o,
beijou-o. E príncipe Ivan e Vasilisa voltaram para sua própria
casa e viveram em paz e felicidade até a velhice.

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O Caçador
Palestino
Era uma vez um homem quem era caçador, e seu nome era Caçador, também. Um dia, ele
estava caçando quando encontrou um cervo. Quando mirou no animal, o cervo
desapareceu. Ele mirou novamente e de repente o cervo se transformou num homem.
Caçador ficou apavorado. O homem chegou perto dele e disse: "Por que você
sempre caça cervos e pássaros? Você não sabe que eles têm um dono?" "Eu tenho que
alimentar minha família, e esta é sua única forma", replicou Caçador.
"Qual o tamanho de sua família?" Perguntou o homem. "Dois meninos, uma menina,
minha mulher e eu", respondeu Caçador, "e isso é o que nos mantêm vivos".
"Bem", disse o homem, "se eu lhe der dinheiro, você pára com isso?" "É claro", disse
Caçador, "assim que eu tiver dinheiro, nunca mais caçarei". Neste
momento, o homem pegou cinqüenta dinares e deu-os a Caçador. "Antes que você vá,
qual é seu nome?" o homem perguntou. "Sou Caçador, e você?" disse Caçador.
"Chamo-me Abdala", respondeu o homem, "e eu tenho uma família, como você".
Caçador chegou em casa, limpou sua arma e encostou-a na parede. Ele disse a sua mulher
que nunca mais iria caçar e que Deus lhe tinha dado uma fonte de
dinheiro. Porém, não muito depois, o dinheiro acabou, e Caçador pegou novamente sua
arma e saiu para caçar. Quando ele chegou na mata, encontrou o cervo
no mesmo lugar e na mesma hora. Ele mirou, e imediatamente o animal transformou-se
em Abdala. "Não tínhamos um acordo?" perguntou Abdala. "Mas o dinheiro
acabou", disse Caçador, "e nós quase morremos de fome". "Você vê aquela rocha?" disse
Abdala, "Sempre que você precisar de mim, apenas vá até ela e diga
'Ó irmão Abdala', e virei imediatamente." Então ele deu ao caçador outros cinqüenta
dinares.
Caçador voltou feliz para casa. Quando ele deu o dinheiro a sua esposa, ela exigiu saber
onde ele o tinha conseguido. Ele disse que tinha encontrado um
amigo que lhe prometera ajuda todas as vezes que necessitasse; Caçador somente tinha
que ir à rocha e chamá-lo. "Você é um homem pão-duro!" disse a esposa
de Caçador, "Você deveria convidá-lo a vir a nossa casa, nós poderíamos comer juntos e
reforçar essa amizade." Então Caçador voltou a rocha e chamou Abdala.
Após se desculpar por não convidá-lo, Abdala insistiu para que primeiro a família de
Caçador fosse a sua casa. Após combinarem para às oito da manhã, Caçador
voltou para casa para contar à esposa as novidades.
Caçador e sua família compraram um presente e se dirigiram à rocha com as crianças.
Quando eles lá chegaram, encontraram Abdala e sua família esperando.
Cada um da família Abdala deu boas-vindas a um membro da família Caçador e eles
sacudiram as mãos. Num piscar de olhos, eles estavam num mundo diferente.
A família Abdala preparou um banquete e convidou todos os vizinhos que trouxeram
presentes e dinheiro para Caçador e sua família. Após ficarem algum tempo,
Caçador e sua família juntaram os presentes e o dinheiro e foram para casa. Eles tinham
dinheiro suficiente para construir uma boa casa. Poucos meses depois,
num feriado, Caçador foi visitar seu amigo. Quando Abdala apareceu, ele segurou a mão
de Caçador e num piscar de olhos, eles estavam um lugar diferente.
Abdala deu mil dinares a Caçador.
Caçador pegou o dinheiro e foi para casa. Sua esposa disse que eles tinham o suficiente
para casar seu filho mais velho. Eles encontraram uma boa garota
para ele e marcaram a data do casamento. É claro que Caçador convidou Abdala e sua
família. Abdala disse a Caçador que preparasse uma sala separado para
ele e outras vinte pessoas e não deixar ninguém se aproximar deles. No dia do casamento,
todos da cidade foram convidados e Caçador fez o que Abdala pediu.
As pessoas podiam ver Caçador entrar na sala separada com bandejas cheias e sair com
elas vazias, sem no entanto poderem ver o que estava lá dentro.
Após todos irem embora, Abdala perguntou a Caçador se eles poderiam dar o presente da
noiva, e cada um deu um linda jóia. Antes de Abdala ir, ele disse
a Caçador que todos estavam convidados para sua casa a semana toda.
Uma dupla de ladrões da cidade sabiam onde a noiva tinha colocado sua caixa de jóias,
então entraram na casa e levaram. Quando Caçador e sua família voltaram
para casa, descobriram o roubo. Todos os Caçadores pediram ajuda a Abdala, que os
confortou e lhes disse que abrissem novamente a caixa das jóias. Eles
encontraram o dobro de jóias que havia inicialmente. Abdala virou-se para Caçador e
disse: "Na próxima vez, meu irmão, quando você for nos visitar, nós
protegeremos sua casa".

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A história da caveira
Celta
Era uma vez um granjeiro que tinha apenas um filho. Este filho morreu e o pai não quis ir
ao enterro porque antes houve uma briga entre eles. Passado um
tempo, morreu um vizinho e ele foi ao seu enterro. Depois da cerimônia e ainda estando o
granjeiro no cemitério, olhando distraído ao redor viu uma caveira.
Juntou-a e disse, pensativo:
- Gostaria de saber alguma coisa sobre ti...
E a caveira falou:
- Amanhã irei passar a noite contigo, se vieres passar outra noite comigo.
-Assim farei - disse o granjeiro.
No caminho de volta, encontrou um sacerdote e comentou o que tinha ocorrido. O
sacerdote lhe disse que deveria ter sonhado, posto que as caveiras não falam.
O granjeiro lhe contou que na noite seguinte seria visitado pela caveira, e o sacerdote
concordou em ir.
Assim, na noite seguinte, estavam o granjeiro e o sacerdote conversando quando, em
seguida, chamaram à porta e apareceu a caveira. Ela subiu à mesa e comeu
tudo que nela havia. Depois, saiu e desapareceu.
- Por que não falaste nada? inquiriu o granjeiro ao sacerdote.
-Por que TU não falaste?. respondeu o outro.
Na noite seguinte, como dia combinado com a caveira, o granjeiro foi até o cemitério e,
não vendo nada, desceu os três degraus que estavam junto à Igreja.
De pronto se encontrou no meio de um campo, cheio de homens que lutavam entre si. Ao
ver o granjeiro, perguntaram-lhe se procurava o crânio. Ao assentir,
eles disseram:
- Acaba de ir para o campo ao lado.
No outro campo viu homens e mulheres que lutavam entre si. - Estás procurando um
crânio? - perguntaram. Pois bem, acaba se ir ao campo do lado.
O granjeiro se foi ao campo do lado e viu uma grande casa. Ao entrar viu que era a
habitação de uma dama e uma criada. A dama caminhava de um lado a outro
da casa, e cada vez que chegava perto do fogo para se aquecer, a criada a empurrava.
Também lhe perguntaram se buscava um crânio e que se era isso, que
saira pela porta esquerda da casa e por ali saiu o granjeiro.
Ao entrar na casa contígua, encontrou a caveira e esta lhe perguntou se queria cear, com o
que assentiu o granjeiro. A caveira o conduziu a cozinha onde
estavam três mulheres. A caveira pediu a uma delas que servisse a ceia, e esta serviu pão
preto e uma jarra d’água, o que ele não conseguiu comer. Em seguida
pediu à segunda mulher que fizesse o mesmo, e ela serviu pior ao granjeiro do que a
primeira. Por fim a caveira pediu à terceira mulher, e esta serviu
uma deliciosa refeição, com uma profusão de pratos e excelentes vinhos.
Depois de comer, perguntou ao crânio o que tinha sido aquilo.
- Os homens que viste no primeiro campo se dedicavam a lutar entre si enquanto estavam
vivos, porque tinham terras próximas e se acostumavam a mover as
estacas e agora precisam lutar entre si para sempre. Os homens e mulheres que viste eram
casais casados que viviam a brigar e agora devem seguir eternamente
em brigas. A senhora que viste na casa e que a criada não deixava se aquecer fez o mesmo
com a criada, que um dia chegou molhada e com frio, e agora a
criada faz o mesmo com ela, até o dia do Juízo Final. As três mulheres na cozinha foram
minhas três esposas. Quando pedia à primeira que me preparasse
a ceia, me oferecia pão preto e água, a segunda ainda coisa pior mas a terceira me servia o
banquete que ceiaste.
A caveira então olhou lugubremente o lavrador e disse:
-E quanto a ti, foste trazido a este lugar por não querer ir ao funeral do teu filho, apesar de
teres ido ao de um vizinho. Assim, sugiro que, se queres
te salvar, vá onde enterraram teu filho e pede-lhe perdão e, caso o obtenhas, saiba que
desde o dia que saíste de casa até chegar aqui se passaram 700
anos.
O lavrador ficou petrificado e, como despertando de um sonho, se viu caminhando pelos
campos, por lugares que antes ele havia passado mas que haviam mudado
de forma pelo tempo transcorrido. Ao fim chegou ao cemitério e conseguiu localizar a
tumba do filho . Ali se ajoelhou e pediu perdão. O perdão a seu filho.
Por fim surgiu uma mão da tumba, que tomou a sua e ambos, pai e filho, subiram juntos
ao céu.

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História da donzela de pau


Árabe
Contam os livros do passado muitas histórias verdadeiras. Por exemplo, que um dia
quatro homens: um carpinteiro, um ourives, um alfaiate e um monge, foram
viagem. Depois de viajarem certo tempo, aconteceu terem que tiveram de passar a noite
numa região perigosa. Temendo ser agredidos por animais ferozes,
resolveram que cada um deles, por sua vez, vigiaria algum tempo. O primeiro foi o
carpinteiro. Enquanto os outros dormiam, sentiu-se ele invadido de cansaço
e, para afugentar o sono, pegou suas ferramentas. Derrubou uma árvore delgada, pôs-se a
talhar a madeira, e acabou formando uma figura de donzela, com
a cabeça, a mãos e os pés.
Depois foi a vez do ourives. Ao cabo de certo tempo, também este sentiu sono e procurou
em que se ocupar. Então seus olhos encontraram a donzela de pau.
Admirou a arte com que estava feita e, para não ceder à sonolência, também deu provas
de sua habilidade, fabricando para a estátua brincos, braceletes
e outros adornos femininos, com os quais a enfeitou maravilhosamente.
Terminada a vigília do ourives, o alfaiate, por seu turno, ao despertar, avistou, com forte
surpresa, o lindo figurino, e exclamou:
- Eu também tenho de mostrar a minha arte.
E fez um encantador vestido de festa para a donzela e vestiu-a da cabeça aos pés Quem a
visse sem saber que era apenas uma figura esculpida, toma-la-ia
por um ser vivo, tão parecido estava com um espírito encarnado.
Quando a vigília do alfaiate chegou ao fim, ele acordou o monge e foi deitar-se. Mal o
monge abriu os olhos, viu a formosa figura Teve a impressão de um
viandante a cujos olhos, em meio as trevas noturnas, de repente rebrilha uma luz - e
aproxima-se dela. Que viu? Uma linda figura - de tal formosura - que
nem ascetas -e anacoretas - a deixariam de adorar; - uma bela – donzela - sem-par; - suas
sobrancelhas, um oratório, para o amante -suplicante - rezar;
- os rubis dos lábios numa tez de marfim - prometiam prazeres sem fim. - logo o monge
os braços alçou. -implorando a Quem as almas criou:
O Deus todo-poderoso, - que do seio do nada brumoso -para os campos floridos do ser -
arrancaste o homem e a mulher,
tu, só tu, tens o poder - de fazer brotar do córtice duro -fruto doce, fofo, maduro; - ó Deus,
demonstra-me tua graça, -não me precipites na desgraça, --
ante os meus companheiros não me humilhe; eu te invoco, - empresta alma a este corpo
oco. -a fim de que goze da existência - exaltando a tua clemência.
Assim rezava com todo fervor. Como fosse homem de coração puro, o Senhor ouviu-lhe a
prece. Com sua inesgotável misericórdia, o Eterno presenteou a estátua
com uma alma, e mandou-a viver. Ela se tornou uma linda donzela, cola a vida ligada a
uma brilhante estrela; - começou a andar, - a se balancear, - como
os ciprestes oscilam no ar - e sem demora se pôs a falar, - e tudo o que dizia era gaio -
como a fala de um papagaio.
Ao chegar da aurora e, com ela, do Sol, delicia do mundo, as olhos dos quatro viandantes
caíram sobre o ídolo arrebatador chamado à vida durante a noite.
Apenas viram a esplêndida mulher, - uma louca paixão lhes invadiu o ser, - os anéis de
seus cabelos prenderam-nos em cadeias. - e feitos moscas ao redor
e candeias, voaram em torno dela, dementes, - e de paixão doentes - os quatro começaram
a brigar.
Sou eu - disse o carpinteiro - de sua vida o autor verdadeiro - Meu direito a vós outros
vence; - a mim, só a mim ela pertence
Porém o ourives falou assim:
Não lhe dei brincos, braceletes, enfim? Isso, como todos devei saber, - é metade da alma
de uma mulher. Ora, se tanto fiz por ela, claro que é minha esta
donzela.
Disse o alfaiate, por sua vez:
Despesas com da minha bolsa também fez; - vesti-a seda e brocado, - tomando o seu
encanto perfeito e acabado - comunicando-lhe um brilho tal - que acendeu
nela a chama vital. Portanto, sou eu o sou dono, - e a ninguém a abandono.
Mas o monge exclamou:
Não! - Tudo o que disseste é vão. Então esqueces me sua vida é fruto de minhas preces? -
Foi a mim que deu o Supremo Juízo, - como antegozo das huris do
Paraíso - Para mim a requisito; - meu direito é manifesto!.
Em poucas palavras. não encontraram outra saída a não ser si meter suas reivindicações à
decisão de um tribunal; e iam-se caminhar ao mais próximo, quando
aparece diante deles um viandante vestido de pano de chita. Logo os quatro resolvem
fazê-lo árbitro de sua divergência o aceitar qualquer sentença ele
pronunciasse. Chamaram-no, pois. e contaram-lhe minuciosamente todo o sucedido. Mas
logo o daroês viu a linda donzela - apaixonou-se por ela, - e, como
flauta plangente, entrou a gemer de repente, - refletiu uni momento, e, para curar o seu
próprio tormento, assim falou aos quatro viajantes:
- Ó muçulmanos que palavras estultas acabais de pronunciar! Não temeis o Todo-
Poderoso ao cometer tamanho crime querendo-me roubar minha legítima esposa?
Um de vós até ousa pretender havê-la talhado na madeira; outro ter pronunciado uma
prece por ela. Dizei, afinal, algo de razoável, algo de possível segundo
a lei divina! Esta é a minha mulher e as vestes e os objetos que ela usa, fui eu que mandei
fazê-los. Alguns dias atrás, houve entre nós uma briga sem
importância; aborrecida com isso, minha mulher deixou a casa esta noite. O desejo de
encontrá-la fez-me ir à procura dela. Graças a Deus consegui encontrá-la,
efetivamente. Cuidai vós outros pois, de não vos tonardes ridículos com conversas,
destituídas de qualquer fundamento.
Assim o daroês, em vez de resolver a contenda, sobrepujou as reivindicações dos quatro
viajantes, e então foram cinco a pretender cada um estar com razão
contra os demais. Em discussões e brigas chegaram a uma cidade, e sem demora se
dirigiram ao chefe de polícia para expor o seu caso. Mal o chefe de policia
viu a jovem, apaixonou-se por ela com veemência mil vezes maior do que a dos cinco
forasteiros, e, no intuito de obtê-la para si investiu deste modo contra
eles:
- Homens pérfidos, esta criatura era mulher de irmão mais velho. Este foi morto por
ladrões, que lhe roubaram a esposa. Mas, graças a Deus, sangue derramado
não se perde e vossos pés vos conduziram ao laço.
Destarte o chefe de policia terminou sendo um rival mais impetuoso ainda que os outros
cinco; mandou citá-los sem tardança perante a justiça e ele mesmo
os acompanhou ao cádi. Cada um se esforçava por explicar sua pretensão àquele
respeitável personagem, quando ele de súbito olhou para o rosto da mulher,
e
Surgiu-lhe ante os olhos formosa menina,
Dos pés a cabeça – graciosa, divina!
Altivo cipreste, perdido deixava,
Enfermo de amores, a quem fitava.
Quando o cádi viu ante si essa criatura, sentiu-se presa do desejo de possuí-la.
- Meus amigos, disse ele, a contenda que estais levantando é nula. Esta linda mulher é
uma escrava crescida em minha casa e tratada desde criança como se
fora minha filha. Seduzida por homens maus, abandonou-me, levando as jóias e as vestes
com que a vedes. Graças sejam dadas ao Altíssimo que ma restitui
mercê de vossa obsequiosidade. Espero que Deus, que tudo sabe, leve em conta o serviço
que me acabais de prestar e vos dê merecido prêmio.
Ao ouvir tais palavras, quatro dos competidores de apartaram, porque sabiam que o cádi
lhes poderia infligir humilhações e castigos sem que eles se pudessem
defender. Mas o darôes teve coragem para levantar a voz:
- Achas lícito, tu que pretender estar sentado no tapete do Profeta, não resolver uma
contenda de muçulmanos ortodoxos segundo a lei sagrada, mas, pelo
contrário, levantar tu mesmo uma pretensão, procurando arrebatar-nos esta donzela? Que
religião te autoriza semelhante injustiça? Como te atreverás a comparecer
amanhã, perante o Criador do mundo?
- Olha, ladrão de estátuas – respondeu o cádi, tu que por meios de jejuns encovaste as
faces para enganar as gentes; tu que pretender fazer crer que andas
curvado pelo temor de Deus, olha o provérbio que diz: “Um bom mentiroso deve ter não
só excelente memória, mas também uma inteligência penetrante e aguda.”
Onde a tua inteligência? Querendo contar-nos patranhas, procura, ao menos, dar-lhes uma
aparência decente. Será possível fazer um ser humano de um pedaço
de madeira? Renuncia a pretensões tão ridículas e vai-te para onde quiseres. Eu felizmente
recuperei minha escrava.
Havia no pátio do tribunal alguns cidadãos que assistiam à disputa. Referindo-se a estes,
disse o monge:
- Os cidadãos aqui presentes, como ignoram o verdadeiro estado das coisas, devem supor,
ó cádi, que a verdade está contigo Mas nós outros sabemos bem o
que aconteceu.Teme pois, a Deus, e, em respeito ao Santo Profeta, decide o caso segundo
a lei sagrada.
O cádi replicou ao monge, o monge por sua vez respondeu ao cádi com as palavras que
lhe pareceram mais violentas, e de pronto o diálogo se transformou em
veemente discussão.Os sete homens, todos mortalmente apaixonados, preparavam-se para
a luta. Porém, os mais razoáveis dos circunstantes deliberaram reconciliá-los
e disseram-lhes:
- Muçulmanos, a vossa contenda é um nó insolúvel, a menos que o Magnífico se digne
desatá-lo. Portanto, atendendo ao conselho de um ditado do Profeta que
nos foi transmitido:
Se a um caso da vida não sabes achar solução,
Consulta os que dormem seu sono debaixo do chão.
- Vamos todos juntos ao cemitério; ali vós rezareis e nós pronunciaremos o amém
Destarte se pode esperar que Aquele-Que-Tudo-Segura elucide o mistério.
A proposta foi aceita e transportaram-se todos ao cemitério, onde o monge, erguendo os
braços ao céu, e com lágrimas nos olhos, pronunciou com o mais intenso
fervor, esta oração:
- Ó Fortíssimo, cujo poder não tem lindas, - que os pensamentos mais secretos deslindas -,
cuja mente de antemão conhece – a nossa prece, - imploramo-te
que desates o nó, que nos causa tanto dó – e declares bondosamente – quem diz a verdade
e quem mente.
Quando acabou de pronunciar estas palavras, toda a assembléia exclamou a uma voz:
- Amém!
Nesse instante aconteceu que uma grande árvore, à qual se recostara a linda donzela
durante a oração, fendeu-se de súbito, engoliu a donzela, e novamente
se fechou, ficando como dantes. Dessa maneira se verificou mais uma vê a verdade da
misteriosa sentença: “Todas as coisas voltam a sua origem.”
Tal desfecho pôs fim a qualquer discussão. Com os olhos da certeza, todos reconheceram
que os quatro viajantes haviam dito a verdade e os outros homens
haviam mentido. Assim a razão dos peregrinos se manifesta – e desmascara-se a fraude
infesta. O darôes, o chefe de polícia e o cádi ali ficaram – e quedaram
– de todos desprezados – e envergonhados.
Mas os quatro peregrinos – apaixonados pelo lindo figurino, ficaram perplexos ao ver a
virgem – tornar destarte à sua origem.

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A Moura Torta
Espanhol
Havia um rei que tinha um filho, e quando este chegou à idade de casar, disse a seus pais:
- Quero me casar com a mulher mais formosa do mundo. Assim, vou
percorrer o mundo até encontrá-la.
Saiu do palácio e caminhou até chegar a uma fonte, onde parou para tomar água. Ao
inclinar-se para beber, viu que se refletiam três laranjas. Ergueu os
olhos e viu que de uma frondosa laranjeira pendiam três grandes e belas laranjas.
- Que saborosas devem ser, disse o príncipe, e dizendo isso, subiu na árvore e cortou as
três preciosas laranjas.
Partiu a primeira e, como por encanto, saiu dela uma jovem muito linda que, ao ver o
príncipe, lhe disse:
- Dá-me pão.
- Não posso, disse ele, porque não tenho.
- Então volto para minha laranja, disse a jovem, e desaparecendo, deixou a laranja intacta.
Partiu o príncipe a segunda laranja e da fruta saiu outra jovem, muito mais bela que a
primeira.
- Dá-me pão, disse ao príncipe.
- Não posso, pois não tenho, ele falou.
- Então volto para minha laranja. A laranja se fechou e ficou como antes.
O príncipe ficou pensativo e, decidiu conseguir pão, a fim de dar à ultima jovem da
laranja.
Assim pensava o jovem, quando coincidiu de passar por ali um cigano em seu coche.
- Amigo, gritou o príncipe - te darei uma moeda de ouro por um pedaço de pão.
Rapidamente o cigano desceu da carruagem e correu a levar o pão ao príncipe.
O príncipe ficou muito contente e satisfeito. Partiu a terceira laranja e, como havia
imaginado, do coração da fruta saltou uma jovem muito mais formosa
que as anteriores.
- Dê-me pão, ela disse.
O príncipe alegremente deu o pão à jovem, que em seguida falou: - Agora te pertenço,
podes fazer de mim o que quiseres.
- Contigo me caso, lhe disse o príncipe.
Como a jovem estava nua, o príncipe queria antes vesti-la para leva-la ao palácio. Deu
uma olhada na roupa do cigano que ainda permanecia ali, porem notou
que estavam muito sujas.
O príncipe então disse à jovem: - Espera aqui com este cigano até que eu volte com uma
roupa.
O cigano tinha uma filha que viajava com ele no coche, porem tinha dormido durante todo
o tempo em que a história das laranjas ocorria. Ao despertar no
momento em que o príncipe subia no cavalo, caiu de amores por ele.
Desceu logo do coche e foi perguntar ao seu pai o que estava acontecendo. Ele lhe contou
o ocorrido.
A cigana, vendo a jovem, lhe disse: - Deixa-me te pentear para que fiques mais bonita
para o regresso do príncipe.
A jovem consentiu, e enquanto a cigana penteava sua formosa cabeleira, sentiu que lhe
cravavam um alfinete na cabeça. No momento a dama da laranja se transformou
numa pomba. A cigana então tirou a roupa e se colocou no lugar onde estava a jovem.
O príncipe voltou e quando viu a cigana, disse: - Senhora! Como escureceste!
A cigana respondeu: - É que demoraste e acabou me queimando o sol.
O príncipe, acreditando ser a mesma jovem da laranja, levou a cigana ao palácio e se
casou com ela.
Um dia chegou uma pombinha ao jardim do rei e disse ao jardineiro: Jardineirinho do rei,
como está o príncipe com sua mulher?
- Umas vezes canta, porem mais vezes chora - disse o jardineiro. Todos os dias chegava a
pombinha e fazia a mesma pergunta ao jardineiro, até que este contou
ao príncipe.
O príncipe deu ordem ao jardineiro para que prendesse a pombinha. O jardineiro untou de
visgo a árvore onde diariamente pousava a pombinha e, quando esta
chegou para sua visita diária, ao querer voar, ficou presa à árvore, podendo apanha-la o
jardineiro e leva-la ao príncipe.
O príncipe se enamorou da pombinha. Colheu-a com carinho e ao acariciar-lhe a cabeça,
encontrou o alfinete que tinha sido cravado e retirou-o. Imediatamente
a pombinha se transformou na bela dama da laranja.
A formosa jovem contou sua aventura ao príncipe e, entrando os dois no palácio,
comunicaram o ocorrido ao rei.]
O rei, indignado, deu ordens para que imediatamente matassem a cigana, e o príncipe e a
dama da laranja se casaram e foram felizes para sempre.

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A donzela que era irmã de sete gênios


Conto persa
Era uma vez, no alto de uma montanha, no antigo Irã, que morava uma donzela que foi
adotada por sete gênios que a encontraram na floresta, enquanto caçavam.
Levaram-na ao castelo onde viviam e ali foi criada por uma velha ama até fazer 17 anos.
Era o dia de seu décimo sétimo aniversário, e estava tão formosa como a mais adorável
princesa da terra. Nesse dia, ao olhar pela janela, viu alguém se
aproximando pela pequena estrada que conduzia ao castelo.
Ama! ama! Que coisa é essa que vem subindo pela colina em direção ao castelo? Nunca
vi nada parecido em toda minha vida.
¡Senhorita Fátima! – gritou a criada, que era uma mulher horrorosa, com uma verruga na
cara – Afaste-se da janela. Isso que estás vendo é um ser humano
e não deves falar com ele porque teus sete irmãos ficariam furiosos.
Bobagem ama! – disse Fátima, que era bastante decidida e gostava de fazer coisas à sua
maneira. Vou abrir a janela e o chamarei, pois parece cansado. Tenho
certeza de que está perdido e faminto.
A criada começou a falar e falar, mas Fátima não lhe prestou a menor atenção e, abrindo a
janela, chamou o viajante com melodiosa voz:
Entre no castelo ser humano para que possa descansar e recuperar forças comendo e
bebendo algo. Estou só, pois meus irmãos estarão todo o dia caçando.
O estrangeiro era um príncipe chamado Nureddin, que havia perdido seu cavalo ao
passear pelas redondezas. Nureddin não pode evitar maravilhar-se com aquela
formosa jovem que o convidava do alto do castelo. A criada abriu as portas e, meia hora
depois, Nureddin se encontrava sentado com Fátima comendo uvas,
queijo e delicioso pão.
Fátima estava encantada com o jovem. Fez centenas de perguntas e ele falou do mundo
que havia além do castelo.
Preciso conhecer essas maravilhas – disse ela. Ah... se meus irmãos desejassem partir...!.
De nenhuma forma, jovem ama Fátima – repreendeu a criada que os servia – A senhorita
sabe que meus senhores nunca a deixarão partir do castelo, pois eles
são muito zelosos e dariam morte a este humano se o virem aqui.
Então eu mesma descobrirei a maneira de fugir do castelo – declarou Fátima. Assim verei
as maravilhas do mundo descritas por este jovem.
O príncipe não cabia em si de felicidade e prometeu a Fátima que a levaria ao reino tão
pronto tivesse descansado. Porém, antes que Fátima pudesse dizer
algo, foram ouvidos gritos que vinham da entrada e latidos de cães, mesclados a relinchos
de cavalos.
Oh, ser humano! – gritou a criada -. Esconda-se nesta arca pois meus senhores voltaram e
te farão em pedaços no momento que te virem.
Ainda que ela fosse um gênio e também detestasse os humanos, sabia que a sua jovem
ama havia gostado do jovem e por isso queria ajudá-lo.
Imediatamente o príncipe entrou na arca e Fátima o fechou com mão nervosa. Apenas
tinha se escondido, a porta se abriu e os sete irromperam na sala.
Irmã Fátima! Irmã Fátima, que temos para comer? – vociferou um deles, dando inicio a
um monumental barulho de vozes e risadas, enquanto tiravam suas enormes
botas. Fátima e a criada ajudaram, nervosas, a tirarem os casacos de pele.
- Ama, traga vinho. Estamos ardendo de sede!.
A velha saiu apressada para cumprir a ordem.
De repente os gênios, um depois do outro, começaram a fungar com seus enormes narizes
e gritaram enfurecidos:
Um homem, um homem! sinto o cheiro de um homem!.
Fátima ficou pálida e seu coração bateu violentamente. Dentro da arca o príncipe se
moveu e se cobriu com roupas para não ser descoberto.
- Alguém esteve aqui irmã Fátima, onde está?-. Todos os gênios se levantaram e
começaram a gritar furiosos. Iniciaram uma febril busca de um quarto a outro,
abrindo todas as portas, cheirando e bufando como bestas selvagens.
Estavam tão excitados que não lhes ocorreu, num primeiro momento, olhar a arca e
Fátima, aproveitando que estavam noutra sala do castelo, castelo, ajudou
o príncipe a sair.
Depressa, depressa, vou mostrar-te um caminho secreto para sair do castelo. Se não foges,
meus irmãos te farão em pedaços!
A noite estava caindo e se ouvia os gênios enfurecidos, verificando sala por sala de todo o
castelo. Fátima começou a sentir medo. Os dois correram de mãos
dadas em direção ao fogão e ali ela o ajudou a entrar na chaminé.
-Vem comigo Fátima!, vou te libertar deste terrível lugar - sussurrou o príncipe -. Ela
assentiu silenciosamente. Assim subiram pelas pedras da chaminé,
até que finalmente os recebeu uma noite carregada de estrelas.
- Onde estão os cavalos? - perguntou o príncipe com tom de urgência. Fátima o conduziu
ao estábulo. Silenciosamente, como duas sombras, eles deslizaram
por detrás do castelo. Os criados das cavalariças repartiam os dinheiros dos roubos do dia
e não viram como um par dos melhores alazões eram retirados
por Nureddin.
Quando estavam montados, o barulho dentro do castelo aumentou e os sete gênios viram,
à luz da lua, como fugiam os dois jovens, galopando através dos enormes
portões de entrada.
- Atrás deles! – rugiu o mais velho – vamos trazê-los vivos e os assaremos como duas
galinhas!.
Os cavalos galoparam como o vento, montanha abaixo, como animais encantados que
eram. Contudo, logo, vieram os sete gênios montando cavalos igualmente ligeiros
e fortes.
-Fátima volta. Perdoamos, porém deixa-nos matar este humano!
A jovem, assustada, podia ouvi-los gritando e sabia que não passaria muito tempo até que
os irmãos a alcançassem. Então ela revistou seu bolso e encontrou
uma semente mágica, e a lançou por cima de seu ombro esquerdo. No mesmo instante,
uma enorme planície de espinhos surgiu entre os gênios e os fugitivos.
Os cavalos dos gênios não puderam correr como antes, pois os espinheiros se enroscavam
em suas patas e os atrasavam, mas ao cabo de meia hora já estavam
em seu encalço e Nureddin perguntou:
-Fátima! que vamos fazer? Temos que detê-los pois estamos ainda a meio caminho do
reino de meu pai, no qual chegaremos ao amanhecer, se os gênios não nos
alcançarem.
-Não tenhas medo! – disse Fátima com bravura, e buscando mais uma vez dentro de seu
bolso – creio que posso fazer algo -. E lançou por cima de seu ombro
esquerdo uma pinha. Imediatamente surgiu um incrível bosque de árvores e os fugitivos
puderam galopar sem ser vistos.
Os intrépidos animais os levaram cada vez mais próximos às terras do príncipe. Fátima,
com os cabelos flutuando ao vento, começava a sentir-se a salvo
quando o príncipe olhou para trás e gritou:
-Ah! Nos alcançam de novo. Nos apanharão dentro em pouco a menos que algo os
detenha..
Fátima buscou em seu bolso, e já caía em desespero quando seus dedos se fecharam sobre
um grão de sal. Jogou-se para trás e imediatamente um espumoso mar
surgiu detrás dos cascos de seu cavalo e nele caíram os gênios e seus cavalos afogando-se,
pois os gênios não nadam bem em água salgada.
Fátima e Nureddin cavalgaram um pouco mais e quando o dia estava nascendo chegaram
à bela cidade de Nashapur.
Ali o palácio real brilhava com esplendor de ouro e turquesa, com pavões nas alamedas do
jardim exibindo cheios de pompa suas esplêndidas plumas.
Então os soldados das muralhas, vendo o príncipe se aproximar, fizeram soar as trombetas
de prata incrustadas de raras pedras preciosas.
Fátima foi recebida como uma princesa, e casou-se com o príncipe numa esplêndida festa
que durou sete dias e sete noites.
Os cavalos encantados que os levaram até ali desapareceram quando a lua estava cheia.
Eles sabiam que sua jovem ama era, apesar de tudo, um ser humano,
e preferiam viver a serviço dos gênios, pois esta é a lei mágica estabelecida quando o
mundo começou através de Salomão, rei dos magos e das bestas encantadas,
sobre quem seja a paz.

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A luta de sabres
Japão
Essa história transcorre no século 17, no Japão, durante um período de fome.
Um camponês não tinha com o que alimentar sua família e se recorda do costume que
promete forte recompensa àquele que seja capaz de desafiar e vencer o
mestre de uma escola de sabre.
Ainda que nunca houvesse tocado numa arma em sua vida, o camponês desafia o mestre
mais famoso da região. No dia fixado, diante de público numeroso, os
dois homens se enfrenta. O camponês, sem se mostrar impressionado pela reputação do
adversário, o espera com firmeza, enquanto o mestre de sabre estava
um pouco perturbado por tal determinação. Quem será este homem?, pensa. Jamais
nenhum vilão teria coragem de me desafiar. Não será uma armadilha de meus
inimigos?
O camponês, acuado pela fome, se adianta resolutamente até seu rival. O mestre vacila,
desconsertado pela total ausência de técnica de seu adversário. Finalmente,
retrocede movido pelo medo. Antes do primeiro assalto, o mestre sente que será vencido.
Baixa seu sabre e diz:
- Você é o vencedor. Pela primeira vez na vida seria abatido. Entre todas as escolas de
sabre, a minha é a mais renomada. É conhecida com o nome de "A que
num só gesto dá dez mil golpes". Posso perguntar-lhe, respeitosamente, o nome de sua
escola?
- A escola da fome. - responde o camponês.

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