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Samuel Gorberg
O ato de colecionar é tão antigo quanto o ser humano, pois a motivação para tal tem seu
embasamento em necessidades psicogênicas. A maioria das listas de necessidades humanas tende a
ser diversa em conteúdo e extensão e, apesar de haver pouca discórdia acerca das necessidades
fisiológicas, existe razoável desentendimento quanto às necessidades psicológicas.
Em 1938, o psicólogo Henry Murray preparou uma lista detalhada de vinte e oito necessidades
psicogênicas, a qual serviu de base para a elaboração de vários testes de personalidade ainda muito
usados, como por exemplo, a Tabela Edwards de Preferência Pessoal. Nesta lista, no item referente às
necessidades associadas a objetos inanimados, foram apresentadas:
1. AQUISIÇÃO
2. CONSERVAÇÃO
3. ORDEM
4. RETENÇÃO
5. CONSTRUÇÃO
A sensação de prazer derivada da posse, do colecionismo, contribui para a satisfação do indivíduo
e para a qualidade de vida como um todo.
Com a evolução das civilizações, itens colecionáveis tais como objetos de arte, livros e moedas
deram origem a belas coleções, tendo algumas sido preservadas. Mas este prazer era reservado à uma
minoria, a elite abastada.
Em 1º de outubro de 1870, quando o cartão-postal começou a ser vendido na Inglaterra, um cartão
ilustrado com propaganda para a Royal Polytechnic de Londres foi editado, disputando este exemplar a
honra de ter sido o primeiro cartão-postal de propaganda.
Indubitavelmente, as mais famosas estampas foram editadas pela Liebig’s Extract of Meat
Company Limited e suas subsidiárias em vários países, a partir de cerca de 1875 até 1960. Com os
esforços de Georg Christian Gibert, que havia montado fábrica experimental em Fray Bentos, no
Uruguai, foi registrada em Londres a companhia em 4 de dezembro de 1865, tendo o Barão de Mauá,
então em evidência na City, participado da primeira Junta Diretora. Tendo efetuado o devido
licenciamente junto ao químico Justus Liebig, a empresa adotou o seu nome para o extrato de carne
que fabricava pelo processo que este havia inventado.
“A bem dizer, o delírio do bilhete postal ilustrado só começa a inquietar-nos em 1904. Moda, a
princípio, passa , depois, a obsessão.”
As primeiras coleções de figurinhas e cromos editados no Brasil datam do final do século XIX.
Colocados como brindes em carteiras de cigarros, foram utilizadas como marketing promocional pelas
companhias Grande Manufactora de Fumos e Cigarros Veado ( José Francisco Corrêa & Cia – Rua da
Assembléia nos 94 a 98 – Rio de Janeiro ), Souza Cruz e Sudam, basicamente no eixo Rio – São
Paulo. Os protagonistas do movimento republicano até 1900, os animais do jogo do bicho, e as
artistas de cinema, teatro, e cabaré, foram os temas prediletos das coleções. Além da grande maioria
das estampas ou cromos apresentarem cuidadoso tratamento gráfico, o fato de algumas coleções
completas darem direito a prêmios estimulou ainda mais o interesse por elas, o que é possível
observar através de inúmeros anúncios de jornais daquele período, onde produto e respectivo brinde
são divulgados com idêntica importância.
Em 1917 o imigrante judeu alemão Paulo Stern, químico de profissão, estabelece-se com negócio de
essências na Rua São Pedro, rua esta que desapareceu quando da abertura da Av. Presidente
Vargas. Após o término da 1ª. Guerra Mundial, em 1919, aqui chega o irmão Ricardo Stern, que
ingressa na sociedade e a dinamiza. Face à disponibilidade de essência de eucalipto, planejaram os
irmãos Stern a construção de uma fábrica onde seriam manufaturados produtos para toalete. O
prédio foi inaugurado em 1924 e em 1926 foram iniciadas as vendas do sabonete EUCALOL.
Em 1928 surge no mercado brasileiro o álbum “Novo Mundo”, da Fábrica de Balas e Biscoitos
Novo Mundo ( Pedro Tarnowsky & Cia – Av. Celso Garcia no 230 – São Paulo ) , oferecendo prêmios
como bicicleta, rádio, relógio e máquina fotográfica aos que conseguissem completá-lo, sem que,
entretanto, tenha obtido grande sucesso, tanto é que não renovou a experiência. Restou-lhe a
primazia de ter lançado no Brasil o primeiro álbum, pois, até então, nenhuma figurinha ou cromo
tivera álbum para o seu colecionismo feito especialmente pela empresa promotora.
Em seguida, vários fabricantes de balas lançaram seus álbuns como “A Irlandeza”, “Atlas”,
“Bichos”, “Chiquinho Caramelo Premiado” e outros mais, sem que tenham alcançado o mesmo
sucesso de “A Hollandeza”.
“Monteiro Lobato foi um pioneiro também no campo dos álbuns de figurinhas, pois criou
para a Cia. Jardim dois dos seus mais famosos álbuns: “A Aventura do Barão de
Munchaussen” e “Um Sonho na Caverna”, atesta a companhia no rodapé desta página.
Quem viveu no Brasil após a 2ª Guerra Mundial e não se recorda das “Balas Fruna”? O
produto era bom, diferente da grande maioria das balas que usavam o marketing das
figurinhas premiadas para conquistarem o público consumidor. De qualquer forma, o
colecionismo incentivava as vendas, e a Falchi editou 4 álbuns, todos com artistas de
cinema. O último e mais famoso tinha a “figurinha difícil” de número 34, o artista Nils Aster.
Eu colecionei este álbum, e como muita gente, busquei em vão a “maldita” no 34.
Na década de 1950 repetir-se-ia o fenômeno que havia ocorrido cerca de 20 anos
antes com o álbum das balas “A Hollandeza”: as “Balas Ruth”, que movimentou a cidade do
Rio de Janeiro com vendas, trocas e buscas de figurinhas mais raras. Transformado em
obsessão, contagiou não só crianças mas também adultos. Quem tem cerca de 60 anos e
não se lembra das “Balas Ruth”? Só quem não teve infância...
Créditos:
Álbuns “Novo Mundo” – “Um sonho na caverna” – “Fruna” – “Ruth” – Acervo Prof. Margarida
Menezes
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