Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
À CIÊNCIA DOS
RESÍDUOS
SÓLIDOS
Eduardo Fleck
O autor outorga integrais e irrestritos direitos sobre a obra, para fins de comercialização e
para quaisquer outros fins, a Tatiana Correa Marson, CPF 730172800-04, RG3048650661.
PREFÁCIO
O autor
Nada na vida deve ser receado.
Tem apenas que ser compreendido.
[Marie Curie (1867-1934), Prêmio Nobel da Física em 1903]
1.1.1 Introdução
A década de 1970 foi marcada pela introdução, na vida cotidiana das pessoas,
das ideias advindas dos vocábulos poluição e contaminação ambiental, e da ideia vinculada à
destruição do ambiente natural, conceitos que até então permaneciam timidamente
restritos aos meios acadêmico e governamental. Como decorrência da primeira crise do
petróleo, associada, na verdade, à formação de um cartel das nações grandes produtoras, foi
enfatizada ao mundo a ideia da esgotabilidade dos recursos naturais. Mais do que isso, a
poluição das águas, do ar e do solo foram problemas paulatinamente sensivelmente
verificados pelas pessoas no seu dia-a-dia. Não somente os corpos d’água de superfície
foram paulatinamente se tornando inaptos para o lazer, como não raramente se assistiam
eventos de mortandade de peixes e contaminação de águas subterrâneas utilizadas para
beber por comunidades. Em certos locais, especialmente em pólos industriais o ar tornou-se
sensivelmente impróprio para a respiração. A partir dessa época, dada a notória vinculação
de tais problemas aos espaços culturais e à mídia em geral, apresentou-se ao grande público
a noção de que o Homem precisava administrar de forma científica e responsável o
ambiente em que vive, visando à perpetuação da sua própria espécie. Em palavras simples,
nasceu a noção de que as pessoas não mais poderiam simplesmente fazer aquilo que
simplesmente desejassem fazer, incluindo-se aí as atividades industriais e todas as demais
potencialmente ocasionadoras de emissões e modificações do ambiente. O desenvolvimento
a qualquer custo, assim pensado como ampliação na produção de produtos de consumo a
baixo custo, sem que se pensasse nos passivos e externalidades ocasionados, os quais se
voltariam contra as próprias comunidades, passou a ser substituído por sistemas formais, os
quais apontariam que tipos de atividades poderiam ser situadas nos diversos locais
específicos e sob que condições poderiam operar.
No Brasil, na década de 1980, após o estabelecimento do SISNAMA - Sistema
Nacional do Meio Ambiente (1981), iniciou-se a crescente surgência de novos diplomas
legais de caráter preservacionista, da fiscalização intensiva das fontes potencialmente
poluidoras e do desenvolvimento de tecnologias para o tratamento das emissões. A década
de 1990 trouxe consigo o acirramento da legislação ambiental, o aparecimento de normas
Essa reação, catalisada por enzimas presentes no interior das células dos seres
aeróbios, somente ocorrerá se, além do alimento (compostos de carbono), as células
receberem oxigênio (no caso dos animais, pela corrente sanguínea).
Enquanto que os seres terrestres são adaptados para coletar oxigênio a partir do
ar atmosférico, os seres aquáticos possuem estruturas especializadas em capturar as
pequenas concentrações de oxigênio que se encontram dissolvidas na água. Da nossa
experiência diária sabemos que se colocarmos uma pequena quantidade de sal em um copo
d’água, o sal sólido irá desaparecer da vista: ele irá se diluir na água, e não será possível
distinguir onde está a água e onde está o sal. Teremos uma solução chamada de água
salgada ou salmoura, o sólido estará dissolvido no líquido. Se misturarmos água e álcool
também não mais poderemos identificar fisicamente onde está a água e onde está o álcool:
haverá uma íntima associação entre as moléculas de água e as de álcool. Formou-se uma
solução líquido-líquido. Da mesma forma, os gases podem se diluir nos líquidos. O oxigênio
Fonte: o autor
Fonte: o autor
à alocação mais criteriosa possível dos recursos, que normalmente são insuficientes para a
satisfação de todas as demandas e necessidades, mesmo que isso se traduza nas difíceis
escolhas que determinem o menor número de doenças ou mesmo de óbitos em uma
determinada população. Isso pode, talvez, não se apresentar verdadeiro em Dubai, nos
Emirados Árabes, símbolo de riqueza, por exemplo, mas certamente é uma realidade
brasileira e dos países não inteiramente desenvolvidos.
Um exemplo trágico disso seria o de uma avenida de intenso trânsito de veículos,
em um município, que apresenta uma estatística de aproximadamente 50 óbitos por
atropelamento por ano em um dado trecho. O prefeito é informado do problema, e de que,
para solucioná-lo, deverá construir um sistema de guardrails e passarelas no local, para a
travessia segura dos pedestres, necessitando, para isto, alocar uma verba de US$
500.000,00. Decorrido um ano, o prefeito não determinou a execução da obra e mais meia
centena de pessoas perderam as suas vidas em decorrência de novos atropelamentos.
Costumamos pensar que a vida humana não pode ser avaliada em termos econômicos
(popularmente: a vida humana não tem preço). No exemplo, aparentemente tal afirmação
seria demagógica, pois a vida de cada pessoa que veio a falecer teria sido poupada a partir
de um investimento per capita de US$ 10.000,00 (= US$ 500.000,00/50 pessoas). O prefeito,
questionado pela imprensa local acerca da sua suposta indiferença com as vidas perdidas,
respondeu que o orçamento anual da prefeitura é escasso, que detinha US$ 500.000,00, mas
investiu o montante integralmente em uma rede de coleta de esgotos em um conjunto de
vilas populares, pois neste conjunto havia registro de uma média de 122 mortes anuais
decorrentes de doenças de veiculação hídrica, devido ao esgoto a céu aberto. A maioria das
vítimas eram crianças de até quatro anos de idade. Em suas palavras, “gostaria de ter
salvado 172 munícipes neste ano, mas preciso contentar-me em ter preservado 122 vidas”.
Dentro desse conceito de alocação eficiente de recursos escassos, o esgoto
gerado por uma vila de 2000 pessoas, se lançado em um riacho que cruza a mesma vila
poderá ocasionar sérios problemas de poluição das águas, tal refletindo-se negativamente
sobre a qualidade de vida das pessoas instaladas às margens do mesmo riacho e a jusante
(“águas abaixo”), possivelmente no rio de onde se captam as águas para abastecimento da
cidade. A instalação de sistemas de coleta de esgotos a montante e ao longo da mesma vila,
com uma estação de tratamento a jusante pode ser uma alternativa muito plausível para a
melhoria das condições sanitárias locais. Já o esgoto produzido por uma vila de 200 pessoas,
se lançado em um rio de enorme vazão, de talvez milhares de metros cúbicos por segundo,
poderá não ocasionar nem mesmo o rebaixamento das concentrações de oxigênio dissolvido
do corpo hídrico logo a jusante do emissário, não trazendo maiores problemas ao
ecossistema local. Poucas centenas de metros rio abaixo os compostos orgânicos advindos
do esgoto lançado poderão estar muito diluídos, e já parcialmente estabilizados através dos
mecanismos naturais de autodepuração do rio. Supondo que a comunidade mais próxima
situe-se muitos quilômetros águas abaixo, tal lançamento absolutamente não será sentido
por essa. Assim, se o prefeito da localidade investir recursos para a construção de uma
estação de tratamento de esgotos a montante (“águas acima”) do lançamento, neste rio
caudaloso, estará empregando tais recursos de uma maneira completamente desnecessária.
1.1.4 Contaminação
Falando-se em contaminação, exemplo clássico ocorreu em 1956, na até então
desconhecida cidade de Minamata, no Japão. O país ingressava no chamado período do
desenvolvimento a qualquer custo, quando, repentinamente, casos de habitantes com
dormência nas extremidades dos membros, perda da audição e da fala, deficiência visual e
distúrbios nervosos começaram a aparecer massivamente. Ao longo do tempo, problemas
mais graves apresentaram-se: pessoas com paralisia muscular e degeneração cerebral, mães
dando à luz crianças defeituosas, com comprometimento do desenvolvimento neural, com
alteração da estrutura cerebral e diminuição do tamanho da massa encefálica. Casos
inequívocos de que algo muito sério estava acontecendo com aquela comunidade.
Milhares de pessoas, que mais tarde saberiam que se contaminaram através da
ingestão de peixes, ainda tiveram que lutar durante vários anos para esclarecer a causa das
doenças e receber indenizações. Esse mistério só veio a ter solução três anos mais tarde,
quando as autoridades japonesas descobriram que uma indústria local lançava um efluente
líquido um rico em mercúrio, que, ao atingir a baía fluvial de Minamata, incorporava-se à
cadeia alimentar dos peixes. O mercúrio, sob condições naturais, no fundo do rio se converte
em metil-mercúrio. Esse composto se liga às partículas de matéria orgânica, que eram
consumidas pelos organismos da baía, a começar pelo plâncton (primeiro nível trófico). À
medida que subia um nível trófico na cadeia alimentar (plâncton mexilhões peixes),
ocorria uma elevação assustadora da concentração do composto nos tecidos dos seres
(mgHg/kg de tecido de organismo). A população, se alimentando desses peixes, apresentava
os sintomas da intoxicação.
O governo do Japão, em 1973, proibiu o consumo de peixes provenientes de
Minamata, e investiu milhões de dólares em pesquisas de como descontaminar as áreas
afetadas e sobre os efeitos do envenenamento. Foram levantados os casos de 2.951 pessoas
(entre vivos e já falecidos) que o governo japonês identificou como vítimas, mas tem-se dito
que o número real de indivíduos afetados seria muito superior a isso. Minamata é uma
região de pesca e a maioria das pessoas que adoeceram sobrevivia dessa atividade,
consumindo peixes regularmente.
Em 2001, Hollywood levou às salas de cinema do mundo a história de Erin
Brocowitch, que foi protagonista do caso de um processo milionário de indenização, movido
por um escritório de advocacia norte-americano contra uma indústria química que
contaminava o lençol freático de uma região com cromo hexavalente, pelos severos efeitos
ocasionados pelo consumo da água subterrânea captada nos poços locais, pela população
das cercanias da instalação industrial. Em função do filme o caso tornou-se
internacionalmente conhecido.
ação enzimática
n{(C6H10O5) + (H2O)} n(C6H12O6) (1.1-2)
fórmula mínima empírica glicose
representativa dos resíduos sólidos
Fonte: o autor
É triste pensar no fato de que a natureza fala e os seres humanos não a escutam.
(Vitor Hugo)
Nunca subestime a natureza, pois ela sempre faz justiça castigando a quem merece.
(Rahvok)
Esse reequilíbrio poderá ocorrer, inclusive, a partir da eliminação do ator causador da ação
indevida: o próprio Homem.
GLOSSÁRIO
ECOSSISTEMA: sistema que inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características
físico-químicas e as inter-relações entre ambos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
TOLENTINO, Mário; ROCHA FILHO, Romeu C. 1998. A química no efeito estufa. Química
Nova na Escola. nº 8, novembro de 1998.
1.2 CONCEITUAÇÃO,
CLASSIFICAÇÃO E
CARACTERÍSTICAS DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS
1.2.1 Introdução
Desde os primórdios da sua existência, o homem sempre produziu resíduos
sólidos em suas atividades rotineiras. Podemos imaginar um cenário pré-histórico com
ferramentas, utensílios e vestimentas rudimentares abandonadas ao tornarem-se
inservíveis, carcaças e ossadas de caças, restantes das refeições, abandonadas no solo.
Particularmente, após a II Guerra Mundial, a geração de resíduos sólidos incrementou-se
sobremaneira, como consequência do aumento da produção e consequente elevação da
oferta de produtos de consumo. Nos nossos dias, o atual desenvolvimento industrial oferece
uma ampla variedade de produtos para consumo imediato e de insumos para atividades
profissionais e industriais. Dada a sofisticação exigida para que os produtos deixem os
complexos industriais, submetam-se ao transporte ao atacado, e após, para sua distribuição
às casas de comércio, e nessas permaneçam à disposição dos consumidores por elevado
tempo sem perda das suas qualidades originais, uma grande variedade de embalagens
desenvolveu-se, incrementando os volumes de rejeitos produzidos em imóveis residenciais,
comerciais e industriais. A cultura dos produtos descartáveis vem-se destacando a partir do
início do Século XX como fenômeno de consumo em muitas sociedades, o que vem
rapidamente elevando a quantidade média de resíduos sólidos produzidos por habitante na
unidade de tempo, especialmente nos países ricos e nos emergentes. Essa mesma média
mostra-se severamente variável em função de fatores sazonais, culturais e econômicos
relacionados às comunidades. Se na Europa é vigente a cultura do não desperdício de
alimentos, reaproveitando-se-os sempre, nos Estados Unidos da América parte dos resíduos
é triturada e segue para a rede de esgotos, e em países muito pobres o consumo é
baixíssimo, pelo reduzido poder aquisitivo médio da população, e consequentemente a
geração de resíduos também é diminuta. A Tabela 1.2.1 apresenta estimativas para as
produções per capita de resíduos urbanos nos países europeus.
Tabela 1.2.1 – Produções per capita de resíduos sólidos urbanos em países europeus em
2012
Geração Geração Geração Geração
País País
[kg/(hab.ano)] [kg/(hab.d)] [kg/(hab.ano)] [kg/(hab.d)]
Estônia 8589 23,5 Áustria 1735 4,8
Bélgica 4999 13,7 Eslovênia 1701 4,7
Finlândia 3912 10,7 Islândia 1599 4,4
FYR of Macedônia 3714 10,2 França 1513 4,1
Holanda 2555 7,0 Espanha 1379 3,8
Bulgária 2456 6,7 Eslováquia 1250 3,4
República
Luxemburgo 2423 6,6 1197 3,3
Tcheca
Irlanda 2067 5,7 Portugal 1180 3,2
Grécia 2042 5,6 Hungria 1136 3,1
Romênia 2041 5,6 Lituânia 993 2,7
Noruega 1947 5,3 Chipre 964 2,6
Suécia 1927 5,3 Sérvia 931 2,6
Polônia 1883 5,2 Malta 922 2,5
Itália 1830 5,0 Latvia 895 2,5
Alemanha 1810 5,0 Turquia 766 2,1
Dinamarca 1788 4,9 Croácia 620 1,7
Reino Unido 1747 4,8
Fonte: EUROSTAT (2015)
1.2.2 Conceituação
A palavra lixo é historicamente utilizada, na língua portuguesa, para denominar
aquilo que não apresenta mais serventia, o qual se deseja descartar ou isolar. A palavra lixo
origina-se do latim lix, que significa cinzas, lixívia, ou lixa. Na língua espanhola o lixo é
denominado basura, enquanto que nos países de língua inglesa é denominado refuse,
garbage, ou solid waste (BIDONE e POVINELLI, 1999).
A definição introduzida pela NBR 10004, já em 1987, combina as palavras
resíduos e sólidos. A primeira deriva do latim residuu, que significa “o que sobra de
determinadas substâncias”, a segunda diferencia o estado de agregação em relação aos
líquidos e gases (BIDONE e POVINELLI, 1999). A expressão resíduos sólidos tem sido adotada no
meio técnico, em substituição ao termo lixo, principalmente porque o vocábulo resíduo
insere a ideia de “algo que resulta” de uma atividade, e que não necessariamente é algo sem
valor, sem utilidade, ao passo que a palavra lixo carrega consigo uma secular associação
pejorativa com algo que não mais apresenta nenhuma utilidade, nenhum valor, sendo
desprezível e objetável.
Um exemplo muito singelo do relativismo do conceito associado aos resíduos
sólidos: recebemos uma carta, sentamo-nos em nossa mesa de trabalho, e abrimos o
1.2.3 Classificação
Os resíduos sólidos podem ser classificados mediante vários critérios, como
periculosidade, biodegradabilidade, operacionalidade, procedência ou enquadramento nas
legislações, normas, portarias e resoluções diversas. Citamos, a seguir, algumas
classificações de interesse do ponto de vista gerencial. Como as classificações podem ser
consideradas diferentes “pontos de vista” para um mesmo resíduo, um determinado resíduo
terá um determinado enquadramento dentro de cada critério de classificação (assim, por
exemplo, o papelão, dependendo de sua origem, poderá ser ao mesmo tempo classificado,
possivelmente, como hospitalar, classe II-A, moderadamente degradável e reciclável).
a) Quanto à origem
Após muitos anos sem uma classificação formal, a Lei Federal 12.305/2010
finalmente instituiu a classificação nacional dos resíduos sólidos quanto á origem:
a.1) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em
residências urbanas;
1.2.4 Composição
As características dos resíduos sólidos produzidos pelas comunidades variam
essencialmente em função de fatores culturais e econômicos. A característica econômica
predominante de uma municipalidade, como essencialmente agrícola, comercial ou
industrial leva à geração de resíduos com diferentes composições. O poder aquisitivo de
cada comunidade, e, portanto, o acesso dos habitantes a certos bens de consumo e não a
outros, bem como a própria cultura de consumo de cada localidade resultarão em diferenças
qualitativas e quantitativas dos resíduos produzidos. A cultura do aproveitamento máximo
das sobras alimentares e embalagens também contribui para esses contrastes. Cita REICHERT
(1999) que, via de regra, os resíduos brasileiros apresentam percentuais de matéria orgânica
facilmente degradável virtualmente superiores a 50% em peso úmido, enquanto que nos
países desenvolvidos esse percentual costuma ser inferior a 25%. Exemplificando, a Tabela
1.2.2 apresenta as composições percentuais dos diferentes tipos de resíduos produzidos em
sete diferentes localidades do Brasil e do exterior.
tanto de resíduos perigosos quanto de recicláveis, os quais idealmente não deveriam ter sido
apresentados a essa modalidade de coleta.
Fonte: o autor
N = (Z.DP/E)2 (1.2-1)
de crescimento demográfico. Como base nesses dados, foi possível produzir uma tabela
como a 1.2.5.
No caso específico de Porto Alegre, não havia coincidência entre os limites das
áreas dos bairros e os limites dos roteiros de coleta, por vezes um roteiro de coleta
percorrido por um determinado caminhão contemplava pequenas partes de vários bairros.
Neste sentido, uma vez que os resíduos que ingressavam a partir das descargas dos
caminhões provinham de zonas de coleta e não de bairros especificamente, utilizou-se, para
cada zona de coleta o exercício de ponderação da sua renda familiar média, multiplicando-se
a renda familiar de cada bairro abrangido parcialmente por uma zona de coleta por um fator
de ponderação, que poderia ser número de habitantes da fração coletada, o número de
prédios ou a área abrangida pela zona de coleta. Embora mais desfavorável, a escolha pela
área abrangida pela zona de coleta foi adotada, pois para tal ponderação os dados
encontravam-se diretamente disponíveis.
Tabela 1.2.5 - Estratificação dos bairros de Porto Alegre com base nos dados do CENSO 2000
Total População
População
Estratos de Total estimada
Percentual
Bairros em 2008 (hab)
E: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
13 389.753 28,80%
situa-se abaixo de 3 salários mínimos
D: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
14 298.125 22,03%
situa-se entre 3 e 5 salários mínimos por economia
C: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
12 235.583 17,41%
situa-se entre 5 e 10 salários mínimos por economia
B: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
situa-se entre 10 e 20 salários mínimos por 27 308.817 22,82%
economia
A: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
12 121.199 8,95%
situa-se acima de 20 salários mínimos por economia
TOTAIS 78 1.353.477 100,00%
Fonte: o autor
Por exemplo, se uma zona de coleta “Y” tiver sua área composta por três frações
de bairros, “”, “” e “”, por exemplo, conhecendo-se as rendas médias familiares dos
bairros, R, R e R, e as frações de domicílios ou de habitantes ou de áreas dos bairros
dentro da zona (roteiro) de coleta, X, X e X, pode-se obter a renda média ponderada a
zona “Y”, RY:
Após proceder tal para todas as zonas de coleta, cada uma apresentou uma
renda familiar média ponderada, classificando-se em um dos cinco estratos.
Supondo-se N zonas de coleta a utilizar para fins de caracterização é razoável
pensar-se em utilizar números de zonas de coleta por estrato proporcional ao próprio
percentual que cada estrato representa na composição do município. Observe-se que o
critério de estratificação (limites inferior e superior em reais para cada estrato) utilizado
baseou-se no bom senso para a característica econômica de Porto Alegre, já que não há um
critério oficial nacionalmente padronizado para a classificação por renda. Supondo-se a
capacidade física de caracterização dos resíduos provenientes de duas zonas de coleta por
dia, para um universo de 128 zonas de coleta em Porto Alegre, supôs-se estatisticamente
razoável a caracterização dos resíduos de 32 zonas (25% do total). Assim, se N=32, temos:
Estrato “E”: 0,2880.N = 0,2880 x 32 = 9,21 ≈ 9 zonas de coleta;
Estrato “D”: 0,2203.N = 0,2203 x 32 = 7,05 ≈ 7 zonas de coleta;
Estrato “C”: 0,3566.N = 0,1741 x 32 = 5,57 ≈ 6 zonas de coleta;
Estrato “B”: 0,2559.N = 0,2282 x 32 = 7,30 ≈ 7 zonas de coleta;
Estrato “A”: 0,0965.N = 0,0895 x 32 = 2,87 ≈ 3 zonas de coleta.
A forma de cálculo utilizou os percentuais dos estratos na composição da
população de Porto Alegre apresentados na Tabela 1.2.5.
As atividades de campo, que constituem o âmago do processo de caracterização,
correspondem a um trabalho deveras árduo, que necessita pessoal previamente qualificado,
responsável e de elevada confiabilidade. A caracterização do resíduo proveniente de uma
zona de coleta, executada no espaço de tempo de um turno, pressupõe o trabalho de 5
operários e um coordenador. São necessários, como infra-estrutura física, um local coberto e
abrigado de ventos, bombonas de aproximadamente 125 litros de capacidade e recipientes
de menor capacidade para frações de resíduos pouco volumosas e balanças.
Ao findar do processo de caracterização do resíduo, assim recolhido e separado,
será obtido um produto como a Tabela 1.2.6.
A metodologia utilizada para a caracterização realizada em Porto Alegre em 2010
foi elaborada pelo autor. Diversas simplificações e assunções de pequenos erros decorrentes
de aspectos da metodologia fizeram parte dos trabalhos de preparação, tendo em vista os
recursos materiais, humanos e os dados disponíveis. O grande número de cargas
amostradas, e, em última instância a massa total de resíduos triados durante um ano inteiro
de trabalhos forneceram garantias adicionais de confiabilidade. Contudo, para cada situação
uma diferente metodologia deverá ser estabelecida, seja na caracterização de resíduos de
um município ou de uma empresa. A base estatística e o bom senso sempre deverão ser os
fornecedores do norte para a preparação dos trabalhos.
amputados em hospitais, podas e troncos de árvores, etc. Mas quimicamente, o que esses
resíduos representam?
Basicamente os nossos resíduos orgânicos são compostos por proteínas (tecidos
tanto de origem animal quanto vegetal), lipídios (ou seja, as gorduras vegetais e animais,
que se encontram presentes nos resíduos dos alimentos), carboidratos (que vão desde a
celulose, presente em tecidos vegetais até os açúcares, presentes na alimentação).
Questões operacionais dos serviços de limpeza urbana, bem como definições de
tecnologias a serem aplicadas ao tratamento dos resíduos, podem ser orientadas e
equipamentos projetados através das determinações elementares e físico-químicas
aplicadas aos resíduos, se conhecida a caracterização gravimétrica, tratada anteriormente.
Algumas determinações podem ser executadas em campo, outras necessitam da obtenção
de uma amostra representativa para análise laboratorial. A determinação da composição
elementar pode-se aplicar tanto à fração orgânica quanto à fração rejeito. A metodologia de
amostragem resume-se à tomada da fração desejada durante a caracterização gravimétrica,
encaminhando-a ao laboratório. A composição da amostra de rejeito para a determinação
de poder calorífico inferior e poder calorífico superior poderá contemplar apenas residuais
com poder calorífico, excluindo-se resíduos como pedras, terra, etc. Neste caso, após
determinação do poder calorífico das amostras, far-se-á a devida correção considerando as
subfrações não encaminhadas como amostras ao laboratório. As determinações
elementares e físico-químicas mais comuns são citadas a seguir.
pH
A determinação do pH dos resíduos geralmente apresenta pouca importância
prática. A matéria orgânica em início de degradação apresenta pH próximo à faixa 4,0-5,0,
em função do início da produção de ácidos orgânicos voláteis por biodegradação dos
compostos orgânicos. Pequenas variações podem resultar do excessivo espaço de tempo
entre a geração e a análise, possivelmente por baixa periodicidade de coleta, o que permite
o progresso do rito de degradação metabólica dos sólidos orgânicos. O pH pode ser obtido
tomando-se uma amostra de resíduo, colocando-a em contato dinâmico com uma massa de
água deionizada em proporção de 5% ou 20% da massa original da amostra, e, finalmente,
mergulhando um eletrodo de pH na solução (potenciometria direta).
previamente seco, à temperatura de 550oC, por duas horas. Sua determinação é importante
para o projeto de sistemas como a digestão anaeróbia controlada, sendo a geração de
metano diretamente associada a esse teor.
Teor de enxofre
O teor de enxofre dos resíduos pode ser determinado seguindo as orientações da
norma ASTM D4239 – “Standard Test Methods For Sulfur In The Analysis Sample Of Coal And
Coke Using High-Temperature Tube Furnace Combustion Methods”: a massa de resíduos é
queimada em corrente de oxigênio em forno a 1350oC. Nessas condições, todo o enxofre
disponível é convertido a SO2 e SO3, gases que são absorvidos em peróxido de hidrogênio
gerando ácido sulfúrico, que é então determinado.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
AMERICAN SOCIETY OF TESTING MATERIALS ASTM D5865-13, Standard Test Method for
Gross Calorific Value of Coal and Coke, ASTM International, West Conshohocken, PA,
2013.
BIDONE, F.R.A.; POVINELLI, J. 1999. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: EESC-
USP, 1999. 109 p.
BRASIL. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.
BURNLEY, Stephen J. A review of municipal solid waste composition in the United Kingdom.
Waste Management, 27(10) p. 1274–1285. 2007.
EUROSTAT. 2015 Statistical books. Luxembourg: Publications Office of the European Union,
2015. 222p.
FLECK, E.; REICHERT, G.A. 2016. Caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos
domiciliares de Porto Alegre – 2014/2015. IN: 10º SIMPÓSIO NACIONAL DE QUALIDADE
AMBIENTAL (2016). Porto Alegre, 19 a 21 de outubro de 2016. 8p.
PORTO ALEGRE. 2014. Lei Complementar 728 Institui o Código Municipal de Limpeza
Urbana, revoga as Leis Complementares 234, de 10 de outubro de 1990, 274, de 25 de
março de 1992, 376, de 3 de junho de 1996, 377, de 3 de junho de 1996, 591, de 23 de
abril de 2008, e 602, de 24 de novembro de 2008, e dá outras providências. DOPA de 10
de janeiro de 2014.
RIO DE JANEIRO. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. Armazém de dados. Rio
de Janeiro: IPP. Composição gravimétrica do lixo de 1995 a 2010. Disponível em:
<http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br>. Acedido em 09.03.2011.
USEPA: United States Environmental Protection Agency. Municipal Solid Waste in the
United States: 2009 Facts and Figures; United States Environmental Protection Agency,
Office of Solid Waste; December 2010.
1.3 FUNDAMENTOS DO
PROCESSO DE
DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
1.3.1 Introdução
Sabemos que se abandonarmos o nosso saco de resíduos da cozinha, cheio de
rejeitos alimentares, ao tempo, depois de alguns dias o material exalará mau cheiro.
Veremos que moscas, baratas, ratos e outros vetores se “interessarão” pelo material.
Encontraremos um líquido negro e extremamente malcheiroso no fundo do saco, enquanto
que o material sólido apresentará péssimo aspecto, aparentemente tendendo a se
liquefazer. Se nos perguntarem o que aconteceu com os resíduos, responderemos que eles
estão apodrecendo. Mas o que é, em verdade, o apodrecimento?
A matéria orgânica constituinte dos nossos resíduos consiste basicamente em
proteínas (carne, tecidos vegetais dos alimentos), carboidratos (açúcar, celulose) e gorduras
(tecidos gordurosos das carnes, resíduos de óleos vegetais). Todos esses materiais
apresentam internamente o que denominamos de energia interna ou energia química, ou
seja, os seus arranjos moleculares e ligações químicas armazenam energia para manterem-
se estáveis. O rompimento dessas ligações libera energia na forma de calor, e é exatamente
esse calor liberado que os organismos aproveitam para as suas funções corporais
energéticas, quando da sua alimentação. Quando falamos em organismos, estamos nos
referindo desde seres humanos até bactérias, passando por todos os organismos vivos.
Se fôssemos tentar definir o odor que sentimos quando aspiramos o ar que se
encontra dentro do saco com resíduos em processo de apodrecimento, talvez disséssemos
que parece uma mistura de ovo podre com vinagre e amônia. Bem, se assim fosse, não
estaríamos errados.
O apodrecimento pode ser chamado, em termos técnicos, de fermentação ou
digestão anaeróbia. O processo ocorre em ausência parcial ou total de oxigênio da
atmosfera. Quando enterramos resíduos sólidos, eles carregam consigo ainda uma pequena
A + B + Energia C + D (1.3-1)
F + G H + I + Energia (1.3-2)
ação enzimática
n{(C6H10O5) + (H2O)} n(C6H12O6) (1.3-5)
fórmula mínima empírica glicose
representativa dos resíduos sólidos
microrganismos aeróbios
n(C6H12O6) + 6n(O2) 6n(CO2) + 6n(H2O) + n(688.000 cal) (1.3-6)
glicose oxigênio dióxido de carbono água calor
Fase II – Acidogênese
Como já dissemos, se um leigo for questionado sobre que compostos químicos
estão presentes no resíduo em degradação, ou, mais simplesmente, “no resíduo que está
apodrecendo”, possivelmente referir-se-á a “um odor que parece uma mistura de amoníaco
com vinagre e ovo podre”. Na verdade, ele estará correto ao referenciar o odor típico de
amônia, produzida como produto final da degradação anaeróbia natural dos compostos
nitrogenados (que em uma primeira fase transformam-se em aminoácidos, e, após, em
amônia), o odor azedo provém dos ácidos voláteis, produtos naturais da degradação de
praticamente todos os compostos orgânicos dos resíduos, em condições de ausência de
oxigênio, e o odor de ovo podre, proveniente dos compostos reduzidos de enxofre,
produzidos quando os sulfatos e sulfitos presentes nos resíduos são utilizados como
oxidantes da matéria orgânica. A segunda fase do processo, caracterizada pela extinção do
oxigênio molecular do meio, tem como substratos básicos açúcares simples, aminoácidos,
glicerol e ácidos carboxílicos de cadeia longa, produtos da fase enzimática. Bactérias
sintetizadoras de ácidos orgânicos (acidogênicas) serão protagonistas de reações de quebra
de cadeias longas e produção de ácidos de cadeias curtas, álcoois, gás carbônico, hidrogênio,
amônia e sulfeto de hidrogênio. Os principais ácidos produzidos nesta fase são o acético, o
propiônico, o butírico, o isobutírico, o valérico e o isovalérico, mas há também produção de
ácido lático, fórmico e outros ácidos. Nesta fase a temperatura cai ao estado mesofílico (29-
45oC) e o pH do meio situa-se entre 5,2 e 6,8 (LIMA, 1995).
Como nos resíduos sólidos há apreciável concentração de sulfatos e sulfitos,
bactérias anaeróbias estritas denominadas sulforredutoras, extremamente versáteis na
metabolização de uma ampla gama de substratos, utilizarão tais compostos como aceptores
de elétrons e concorrerão com as bactérias fermentativas, acetogênicas e metanogênicas
pelos substratos disponíveis no meio, modificando as rotas metabólicas do processo
anaeróbio e produzindo os sulfetos, os mesmos que como comentamos anteriormente
conferem odor de ovo podre aos resíduos em degradação. Dois grupos de bactérias
sulforredutoras apresentam-se: (1) as que oxidam os substratos até acetato, destacando-se
os gêneros Desulfobulbus e Desulfomonas e a maioria das espécies dos gêneros
Desulfobacterium e Desulfonema; e (2) as que oxidam completamente os substratos
gerando gás carbônico. Nesse grupo incluem-se os gêneros Desulfobacter, Desulfococcus,
Desulfosarcina, Desulfobacterium e Desulfonema.
Fase IV – Metanogênese
Nesta fase, bactérias anaeróbias estritas produtoras de metano dominam o
meio. O pH eleva-se à faixa 6,8-7,2 e a temperatura permanece na faixa mesófila. As
bactérias metanogênicas são divididas em dois grupos de acordo com os substratos
utilizados: utilizadoras de acetato (acetoclásticas), e utilizadoras de hidrogênio
(hidrogenotróficas). O primeiro grupo, onde se destacam os gêneros Methanosarcina e
Methanothrix, é responsável por 60-70% da produção de metano, utilizando o grupo metil
do acetato (CHERNICHARO, 1997). O segundo grupo, que produz metano a partir de dióxido de
carbono e hidrogênio, engloba quase todos os tipos de bactérias metanogênicas conhecidas.
Os gêneros mais frequentemente isolados desse grupo são Methanobacterium,
Methanospirillum, e Methanobrevibacter. O consumo de hidrogênio é fundamental para o
rebaixamento de sua pressão parcial no meio, possibilitando a continuidade dos processos
metabólicos das fases anteriores.
LIMA (1995) expressou matematicamente as reações básicas das fases II, III e IV
conforme segue:
microrganismos hidrolisantes
e fermentativos
n(C6H12O6) 2n(CH3CH2OH) + 2n(CO2) + n(57.000 cal) (1.3-7)
glicose etanol dióx. carbono calor
microorganismos acetogênicos
e metanogênicos
2n(CH3CH2OH) + 2n(CO2) 2n(CH3COOH) + n(CH4) + n(CO2) (1.3-8)
etanol dióx. carbono ácido acético metano dióx. carbono
microrg. metanogênicos
2n(CH3COOH) + n(CH4) + n(CO2) 3n(CH4) + 3n(CO2) (1.3-9)
ácido acético metano dióx. carbono metano dióx. Carbono
Fonte: o autor
100
fase fase fase metânica fase metânica
aeróbia ácida instável estável
80
N2
CH4
Percentual no Biogás (%)
60
CO2
40
20
O2 H2
0
0 5 14 10 75
15 20 25 800
30 35 40 tempo
45 (d) 50
Toxidez e inibição
Os processos biológicos de estabilização dos substratos estão sujeitos a
problemas ocasionados pela presença de compostos que, em certas concentrações,
ocasionam a diminuição ou suspensão temporária (inibição) das atividades metabólicas dos
microorganismos, ou mesmo a morte desses (toxidez). Metais, cátions, ânions, bem como
macro e micronutrientes e os próprios substratos carbonáceos, fundamentais à manutenção
dos processos biológicos, quando em certas concentrações críticas podem produzir efeitos
inibitórios e, em muitos casos, deletérios. Por exemplo, durante a fase metanogênica do
processo anaeróbio, os ácidos voláteis respondem pela quase totalidade da massa
carbonácea em digestão; se as concentrações de certos ácidos atingirem determinados
patamares, tais ácidos tornar-se-ão inibidores da atividade das bactérias metanogênicas,
podendo levar o processo à paralisação temporária ou permanente.
Porém, um aspecto a ser considerado é a capacidade dos microorganismos
presentes em determinados meios a aclimatarem-se aos agentes inibidores, de modo a
reverterem-se quadros de paralisação das atividades bioquímicas. HILL e WRIGHT (1978)
afirmam que microorganismos aeróbios, anaeróbios e facultativos aclimatam-se inclusive a
certas concentrações da maioria dos pesticidas, através da ocorrência de fenômenos de
mutação e adaptação enzimática, enfatizando que pesticidas reaplicados a um ambiente, em
geral têm suas taxas de transformação microbiológica incrementadas, amplificando-se o
efeito em subsequentes aplicações. Entretanto, mesmo havendo potencial de aclimatação à
inibição, a presença de compostos tóxicos pode levar à completa desestabilização dos
processos metabólicos se a recuperação dos organismos atuantes não se der em tempo
hábil. Em reatores anaeróbios, as bactérias metanogênicas são os organismos que
apresentam menor taxa de crescimento celular, sendo, ao mesmo tempo, os mais
suscetíveis a inibição e toxidez. Se em um determinado evento inibitório a recuperação das
cepas metanogênicas não for rápida, haverá acúmulo de ácidos produzidos e não
consumidos, rebaixando o pH a níveis em que as mesmas não sobrevivem, originando o
chamado efeito de azedamento. Isso pode ocorrer pontualmente em um aterro sanitário,
por exemplo, porém como os aterros são sistemas dinâmicos, o efeito disso será transitório.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
HILL, I.R.; WRIGHT, S.J.L. 1978. Pesticide Microbiology. Academic Press Inc., 1978.
HMSO. 1995. Landfill design, construction and operation practice. London: Department of the
Environment. 289p. (Waste Management Paper 26B).
KASPAR, H.F.; WUHRMANN, K. 1978. Kinetic parameters and relative turnovers of some important
catabolic reactions in digesting sludge. Applied environmental microbiology, 36. pp.1-18.
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
MOSEY. F.E.; SWANWICK, J.D.; HUGHES, D.A. 1971. Factors affecting the availability of heavy
metals to inhibit anaerobic digestion. Water Pollution Control, 70. p.668-80.
POHLAND F.G.; HARPER, S.R. Critical Review and Summary of Leachate and Gas Production
from Landfills, EPA/600/2-86/073, US Environmental Protection Agency, Cincinnati,
1985.
SOUZA, M.E. 1982. Fatores que influenciam a digestão anaeróbia. In: SIMPÒSIO NACIONAL
DE FERMENTAÇÃO, 5., 1982. Viçosa. p.1-7.
TABASARAN, O. 1975. Uberlegungen zum problem deponiegas, mull and abfall. General
Electric Series Solid Waste Management Technology Assesment. Van Nordstrand
Reinhold Co.
1.4 BIOGÁS
O efluente gasoso do processo de digestão anaeróbia dos resíduos sólidos
orgânicos denomina-se biogás. O biogás é constituído basicamente pelos dois produtos
finais do processo de digestão anaeróbia, metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), além de
constituintes minoritários como hidrogênio molecular, nitrogênio molecular, monóxido de
carbono, amônia, óxido nitroso, traços de compostos orgânicos e compostos reduzidos de
enxofre (ácido sulfídrico, organossulfurados), além de outros compostos-traços, que
normalmente perfazem não mais do que 5% do volume do gás. A Figura 1.4.1 apresenta
queima de biogás em uma camisa acoplada a um dreno cilíndrico vertical em um aterro
sanitário.
Fonte: o autor
reação com uma espécie oxidante, o que na prática é levado a efeito utilizando-se o oxigênio
molecular em uma reação denominada combustão (PILLA, 1979).
G = Lo/2.e[-K1(t1/2-t)] (1.4-3)
Lo/2: 50% do volume máximo teórico de gás metano que será produzido (Nm3);
t1/2: tempo necessário para a decomposição de 50% da matéria orgânica (anos).
L = Lo/2.e[-K2(t1/2-t)] (1.4-4)
As constantes cinéticas e tempos de meia vida são estimados para três classes de
resíduos, conforme apresenta a Tabela 1.4.1.
GOMES (1980) apud LIMA (1995) cita uma produção observada de 248 Nm3 de
biogás por tonelada de resíduos em um aterro de São Paulo. ZALAUF (1980) apud LIMA (1995)
indica a possibilidade da produção de 370-400 Nm3 de biogás por tonelada de resíduos.
Esses valores citados possivelmente difiram em relação àqueles anteriormente citados
[BUSWELL e HATFIELD (1939) apud LIMA (1995)] em função do teor de umidade e do teor de
sólidos voláteis, porém são bastante úteis para fins práticos. Neste sentido, a adoção
conservadora de uma estimativa de geração de 300 Nm3 biogás/t de resíduos com 5700
kcal/Nm3 (60% de metano), resulta em uma produção de 1.710.000 kcal/t de resíduos
degradados ou 1989 kWh/t de resíduo. Essa energia seria suficiente para o abastecimento
mensal de 3-5 residências de médio consumo. Para uma produção municipal de resíduos de
1000 t/d, isso significaria uma produção de 2.000.000 kWh/(t.d) ou 60.000.000 kWh/mês, o
que poderia abastecer uma população de 120.000 residências. Essa estimativa ilustra bem o
potencial energético dos resíduos sólidos.
O dióxido de carbono é um produto final da digestão anaeróbia, por isso
constituinte majoritário do biogás. É classificado como um intermediário entre substâncias
tóxicas e não tóxicas, e seu principal risco relaciona-se a asfixia em ambientes pouco
oxigenados, onde sua concentração supere 5% em volume. Em contato com umidade (água),
forma o ácido carbônico (H2CO3) que contribui para o caráter corrosivo do biogás. O
monóxido de carbono resulta de uma oxidação incompleta do carbono, sendo detectado em
biogás em concentrações de até 3% (normalmente são muito mais baixas). Pode decorrer
também de combustão no seio do aterro em condições de escassez de oxigênio. Ocasiona
morte por asfixia acima de 5000 ppm.
O hidrogênio molecular é um gás desprovido de cor, odor ou toxidez, porém é
altamente inflamável, sendo explosivo a partir de 4% em volume. Produzido por bactérias
fermentativas e acetogênicas, é consumido por cepas metanogênicas.
O nitrogênio encontra-se fartamente disponível em resíduos e despejos
orgânicos, principalmente pela sua presença nas proteínas. Anaerobicamente é convertido a
amônia, que responde pelo equilíbrio:
de sílica que contêm ligações sílica (oxigênio com radicais orgânicos ligados a molécula de
sílica incluídos grupos metil e etil, ou compostos halogenados ou nitrogenados)].
Se faz necessária remoção do dióxido de carbono para que o gás tenha uma
composição com ampla predominância de metano, e evite-se o problema de acidez do CO2
na presença de umidade. Assim, ter-se-á um gás livre, tanto quanto possível, de compostos
corrosivos. O processo de aproveitamento ou “industrialização” do biogás compreende
basicamente as operações, que são resumidas a seguir:
remoção do dióxido de carbono: o CO2 é removido do biogás fazendo-se
passar o fluxo de gás por água a pressão, em contracorrente. Desta maneira,
parte do dióxido de carbono é absorvida fisicamente pela água e parte reage
com a mesma, formando o ácido carbônico, segundo a reação:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
FISCHER, C.; GANDOLLA, M; ARAGNO, M.. 1996. Procesos de generación de calor en torno a
un vertedero clausurado: causas del fenomeno y posibles consecuencias para su
gestion y seguridad. Residuos 30 (1996), ATEGRUS, España. p.30-38.
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
PILLA, L. 1979. Físico Química, vol. 2 - Livros Técnicos e Científicos S.A., Rio de Janeiro, 1980.
1.5 LIXIVIADO
1.5.1 Introdução
Uma das grandes desvantagens do método aterro sanitário é a geração de um
efluente líquido escuro e fétido, com elevada instabilidade termodinâmica devido à
presença de compostos não estabilizados derivados da decomposição parcial da matéria
orgânica, e com uma série de compostos naturais e sintéticos dissolvidos e dispersos. Tal
efluente, se não administrado e tratado corretamente, pode ocasionar séria depreciação à
qualidade de vida das populações próximas ao sítio de disposição de resíduos sólidos.
Diversas denominações foram atribuídas a esse líquido, entre outras, chorume,
sumeiro, purina, lixiviado, lixívia, líquido lixiviado, percolado e líquido percolado. A
denominação “chorume” tornou-se muito conhecida tanto popularmente quanto no meio
técnico. LUZ (1983) apud LIMA (1995) define chorume como o líquido advindo de três fontes:
(1) umidade natural dos resíduos sólidos (que se eleva sensivelmente nos períodos de
chuva); (2) água de constituição dos vários materiais, que sobra durante a decomposição; (3)
líquido proveniente da dissolução da matéria orgânica pelas exoenzimas bacterianas na fase
inicial da degradação da matéria orgânica. REICHERT (1999) ressalta que, além dos limites da
definição anterior, as águas precipitadas sobre o aterro, que atravessam a massa de resíduos
dissolvendo compostos solúveis e arrastando particulados, são responsáveis pela quase
totalidade dos volumes de efluente gerados, defendendo a adoção da denominação lixiviado
para o líquido, como tradução do termo inglês leachate (to leach = lixiviar) adotado nas
publicações em língua inglesa, ressaltando que tal descreve melhor as condições físicas em
que é gerado.
Em consonância com ambas as definições, FLECK (2003) considera chorume o
líquido proveniente dos fenômenos físicos, químicos e biológicos sofridos por um dado
volume de resíduos sólidos em um sistema fechado, sem trocas de matéria com o exterior, o
que conduz à primeira definição apresentada; considera lixiviado o efluente produzido em
aterro, considerado sistema aberto às trocas de massa, sujeito aos fenômenos hidrológicos
locais. A água residuária oriunda de um processo de percolação é, por definição, um líquido
percolado. No entanto, a sua característica como poluente advirá verdadeiramente do
processo de lixiviação dos compostos do meio em que percola. Se tal meio for isento de
compostos solúveis e de sólidos passíveis de suspensão, o líquido percolado não sofrerá
modificação em sua composição original, não motivando então ser denominado lixiviado. Eis
Fonte: o autor
resíduos sólidos de 1000 t/d significaria uma contribuição diária de cerca de até 600 m3/d
para a formação de lixiviado na instância do aterro somente em função desse fator. Em
períodos de intensa precipitação, a própria forma de acondicionamento dos resíduos
quando expostos nos logradouros para a coleta pode incrementar severamente o seu teor
final de umidade (coleta porta-a-porta, com disposição na frente do imóvel gerador e coleta
automatizada, com disposição em contêineres fechados).
O segundo fator é dependente (1) da hidrologia e climatologia regionais do
aterro e (2) de fatores operacionais e de projeto do mesmo aterro. Em um aterro
impermeabilizado e bem projetado, o papel da hidrologia local é eliminado uma vez que se
supõe nulo o ingresso de água por escoamento superficial ou subsuperficial provindo das
adjacências bem como por nascentes sitas na sua base. Precipitação, evaporação e
evapotranspiração (transpiração pelas plantas), bem como permeabilidade dos maciços de
aterro assumem, então, papel fundamental no balanço hídrico do sistema aterro. Em
localidades de clima seco e baixa precipitação anual não só a geração de lixiviado pode
tornar-se nula, como inclusive o teor de umidade da massa de resíduos aterrados pode-se
tornar fator limitante para o progresso da sua degradação biológica. Em localidades de clima
úmido e elevadas médias pluviométricas anuais, a geração de lixiviados tende a ser elevada.
Tendo em vista que em regiões de clima predominantemente úmido e chuvas
regulares a fração das águas de chuva precipitadas sobre as áreas de aterro que infiltra é o
fator predominante na geração dos lixiviados, o denominado Método Suíço apresenta uma
formulação racional bastante razoável para o cálculo da vazão média anual de geração de
lixiviados em um aterro (equação 1.5-1):
Q = P.A.K/(31.536.000) (1.5-1)
húmicas), (2) macrocomponentes inorgânicos tais como os íons cálcio, magnésio, sódio,
potássio, amônio, ferro, manganês, cloreto, sulfato e bicarbonato, (3) metais pesados, tais
como cádmio, cromo, cobre, chumbo, níquel e zinco e (4) compostos orgânicos xenobióticos,
originários de resíduos domésticos e químicos presentes em baixas concentrações
(hidrocarbonetos aromáticos, fenóis, pesticidas, etc.). Ilustrativamente, a Tabela 1.5.1
apresenta os resultados de algumas pesquisas da ocorrência de metais nos resíduos
brasileiros e suas fontes.
Tabela 1.5.1 – Fontes e concentrações médias de metais nos resíduos sólidos brasileiros
Concentração típica nos
1
Metal Fonte de ocorrência nos resíduos sólidos resíduos sólidos
brasileiros2
embalagens, diversos artigos domiciliares e
Alumínio Sem informação
industriais, cosméticos.
Antimônio embalagens de tintas, vernizes e solventes orgânicos. Sem informação
resíduos e embalagens de herbicidas, inseticidas e
Arsênio fungicidas, embalagens de tintas, vernizes e solventes Sem informação
orgânicos.
Bário cinzas de ruas*, resíduos de tintas, metais, couros. Sem informação
plásticos, matéria orgânica, metais não ferrosos,
Cádmio 3 mgCd/kg de resíduo
cinzas de ruas*, pilhas e baterias.
metais ferrosos, plásticos, couros, borrachas, matéria
Chumbo orgânica, restos de combustíveis, cinzas de ruas*, 167-282 mgPb/kg de resíduo
papel, pilhas e baterias, papelão.
metais ferrosos e não ferrosos, matéria orgânica,
Cobre couros, borrachas, plásticos, resíduos de tintas, 156 mgCu/kg de resíduo
inseticidas, cinzas de ruas*.
couros, matéria orgânica, metais ferrosos e não
ferrosos, plásticos, vidros, papéis, papelão,
Cromo 68 mgCr/kg resíduo
embalagens de tintas, vernizes e solventes orgânicos,
cinzas de ruas*.
metais ferrosos (fontes de uso domiciliar e industrial
Ferro Sem informação
variadas).
Manganês lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias. Sem informação
matéria orgânica, termômetros e manômetros,
Mercúrio papéis, plásticos, pilhas e baterias, lâmpadas 0,2 mgHg/kg de resíduo
fluorescentes.
couros, matéria orgânica, pilhas e baterias, plásticos,
Níquel 12 mgNi/kg de resíduo
vidros, papéis, borracha, cinzas de ruas*.
filmes fotográficos e radiográficos, resíduos de
Prata Sem informação
galvanoplastia.
Sódio, Potássio, matéria orgânica, entulhos de construção, cascas de
Sem informação
Cálcio, Magnésio ovos, ossos.
metais não ferrosos, matéria orgânica, plásticos,
Zinco 263-369 mgZn/kg de resíduo
papéis, borrachas, cinzas de ruas*.
* resíduos de varrição de ruas, provenientes das mais diversas fontes como papéis e objetos dispostos por transeuntes,
materiais carreados pelo vento e particulados de emissões aéreas de estabelecimentos industriais.
1 2
Fonte: SEGATO e SILVA, 2000; ROUSSEAUX et al., 1989)
A Figura 1.5.2 apresenta lixiviado de aterro sanitário sendo aduzido a uma lagoa
de equalização.
Fonte: o autor
GLOSSÁRIO
EVAPOTRANSPIRAÇÃO: soma das perdas de água do solo e pelas plantas, pelo seu processo
de transpiração.
BLENDA: mistura.
PRECIPITAÇÃO: no sentido mais usual significa chuva. Quando referente a metais significa
formação de compostos metálicos não solúveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ARRUDA, A.C.S.; TEIXEIRA, A.E.; MANDELLI, S.M.C.; PESSIN, N.; SILVA, A.R. 1995. Estudo do
comportamento de parâmetros físico-químicos relacionados ao processo de
estabilização de resíduos sólidos urbanos no Sistema de Remediação de São Giácomo
– Caxias do Sul – RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 18. Salvador. Anais. Salvador: ABES, 1995. 10p.
BIDONE, F.R.A.; POVINELLI, J. 1999. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: EESC-
USP, 1999. 109p.
CANZIANI, R.; COSSU, R. 1989. Landfill Hydrology and Leachate Production In: CHRISTENSEN,
T.H.; COSSU, R. AND STEGMANN, R. Sanitary Landfilling - Process, Technology, And
Environmental Impact. San Diego: Academic Press, 1989. p.185-212
DASS, P.; TAMKE, G.R.; STOFFEL, C.M. 1977. Leachate production at sanitary landfill sites.
Journal of the Environmental Engineering Division, Vol. 103, n.EE6, december/1977.
P.981-88.
FLECK, Eduardo. Sistema integrado por filtro anaeróbio de baixa taxa e banhado construído
aplicado ao tratamento de lixiviado de aterro sanitário. 2003, 323 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) – Porto
Alegre: Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS, 2003.
KEENAN, J.D.; STEINER, R.L.; FUNGAROLI, A.A. 1984. Landfilll leachate treatment. Journal WPCF,
Vol. 56, n.1. 1984. p.27-33.
KENNEDY, K.J.; LENTZ, E.M. 2000. Treatment of landfill leachate using sequencing batch and
continuous flow upflow anaerobic sludge blanket (UASB) reactors. Water Research Vol.
34, No. 14, p.3640-56, 2000.
LANGE, L.C.; AMARAL, M.C.S. Geração e Características do Lixiviado. In: GOMES, L.P. (org)
PROSAB – Resíduos Sólidos: Estudos de caracterização e tratabilidade de lixiviados de
aterros sanitários para as condições brasileiras. Rio de Janeiro: ABES, 2009. 360p.
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
ORTA L., M.T.; SÁNCHEZ G., J.; CRUZ R., R.; ROJAS V., M.N. 2000. Método de balance de agua
para la estimación de la generación de lixiviados en rellenos sanitarios. XXVII
CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Porto
Alegre, dezembro/2000. 9p.
QASIM, S.R.; CHIANG, W. 1994. Sanitary landfill leachate: generation, control and
treatment. Lancaster: Technomic Publishing Co., Inc., 339p.
ROCCA, C.C.R.; NARCHI, H.; LEÃO, M.L.G.; NABHAN, N.M.; CASTRO NETO, P.P. 1979.
Drenagem sub-superficial em aterros sanitários. CETESB: São Paulo, 1979. 38p.
ROUSSEAUX, P.; BORGES DE CASTILHOS JR., A.; VERMANDE, P.; NAVARRO, A. 1989. -
Estimativa da distribuição e dos teores dos metais pesados nas diversas frações dos
resíduos urbanos no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 15. Vol. 2 Tomo II, Belém, setembro/1989. Anais.
SEGATO, L.M.; SILVA, C.L., 2000. Caracterização do chorume do aterro sanitário de Baurú.
In: XXVII CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,
2000, Porto Alegre: ABES. 9p.
2.Resíduos sólidos:
Legislação, Classificação e
Gestão
2.1 A CLASSIFICAÇÃO
NACIONAL DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS
2.1.1 Introdução
Historicamente, a destinação de resíduos domiciliares, industriais, e de demais
fontes deu-se, no país, através da disposição inadequada e desqualificada no solo, em áreas
sem a mínima preparação estrutural e tecnológica para receber tais resíduos, os chamados
“lixões a céu aberto”. Esta era a realidade predominante na década de 1970 e
anteriormente. Aos poucos, iniciando-se a década de 1980, despertou um tímido mas
progressivo processo de preocupação social com os efeitos da disposição indiscriminada de
resíduos no ambiente. Uma pergunta surgente na mesma década foi a seguinte: “mesmo
que a área de disposição de resíduos sólidos detenha alguma qualificação, que tipos de
resíduos podem ser coletados e dispostos nessas áreas e que tipos de resíduos podem
proporcionar problemas à coleta, ao transporte, e aos próprios recursos naturais da área em
que forem dispostos, necessitando outro tipo de manejo e destinação?”.
Baseando-se em legislações, normas e portarias de países que já se encontravam
em mais adiantado estágio de estudos da matéria, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) constituiu comissão de estudos em meados da década de 1980 para a
elaboração de uma norma balizadora e regulamentadora, que viesse a orientar sobre a
periculosidade à saúde pública e ao ambiente natural dos diferentes resíduos sólidos e suas
composições. Estabelecendo critérios, uma classificação em três classes por periculosidade,
e fornecendo um rito de classificação e subsídios técnicos para essa tarefa, em 1987,
finalmente, a ABNT publicou a NBR 10004 – “Resíduos Sólidos”, e suas normas
complementares NBR 10005, NBR 10006 e NBR 10007, que determinavam procedimentos
padronizados para obtenção do extrato lixiviado de amostra de resíduos sólidos, para a
obtenção de extrato solubilizado de amostra de resíduos sólidos e para a própria
amostragem de resíduos, respectivamente.
A série de normas de 1987 foi referendada pelas legislações federal, estaduais e
municipais como instrumento para classificação de resíduos sólidos e para tomada de
decisão sobre as formas adequadas de seu manejo, tratamento e destinação. Como seria
Inflamabilidade
Um resíduo sólido é considerado inflamável se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007/2004, apresentar
qualquer uma das seguintes propriedades:
ser líquida e ter ponto de fulgor inferior a 60oC, determinado conforme ABNT
NBR 14598 ou equivalente, excetuando-se as soluções aquosas com menos de
24% de álcool em volume;
não ser líquida e ser capaz de, sob condições de temperatura e pressão de
25oC e 1 atm produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou por
alterações químicas espontâneas e, quando inflamada, queimar vigorosa e
persistentemente, dificultando a extinção do fogo;
ser um oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e, como
resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do fogo em outro
material;
Corrosividade
Um resíduo é caracterizado como corrosivo se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
ser aquosa e apresentar pH inferior ou igual a 2,0 ou superior ou igual a 12,5,
ou sua mistura com água na proporção 1:1 em peso produzir uma solução que
apresente pH inferior a 2 ou superior ou igual a 12,5;
ser líquida ou, quando misturada em peso equivalente de água, produzir um
líquido e corroer o aço (COPANT 1020) a uma razão maior que 6,35 mm/ano,
a uma temperatura de 55oC, de acordo com USEPA SW 864 ou equivalente.
Reatividade
Um resíduo é caracterizado como reativo se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar;
reagir violentamente com a água;
formar misturas potencialmente explosivas com a água;
gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quantidades suficientes para
provocar danos à saúde pública ou ao ambiente, quando misturados com a
água;
possuir em sua constituição CN- ou S-2 em concentrações que ultrapassem os
limites de 250 mg de HCN liberável por quilograma de resíduo ou 500 mg de
H2S liberável por quilograma de resíduo, de acordo com ensaio estabelecido
no USEPA-SW 846;
ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob ação de forte
estímulo, ação catalítica ou temperatura em ambientes confinados;
ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante ou
explosiva a 25oC e 1 atm;
ser explosivo, definido como uma substância fabricada para produzir um
resultado prático, através de explosão ou efeito pirotécnico, esteja ou não
esta substância contida em dispositivo preparado para este fim.
Toxicidade
Um resíduo é caracterizado como tóxico se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
quando o extrato obtido desta amostra, segundo a NBR 10005, contiver um
dos contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no
Anexo F da NBR 10004 (concentrações-limites máximas no extrato obtido no
ensaio de lixiviação). Neste caso, o resíduo deve ser caracterizado como tóxico
com base no ensaio de lixiviação;
possuir uma ou mais substâncias constantes no Anexo C da NBR 10004
(substâncias que conferem periculosidade aos resíduos) e apresentar
toxicidade. Para avaliação dessa toxicidade devem ser considerados os
seguintes fatores:
o natureza da toxicidade apresentada pelo resíduo;
o concentração dos constituintes no resíduo;
o potencial que o constituinte ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, tem para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições
impróprias de manuseio;
o persistência do constituinte ou qualquer produto tóxico de sua
degradação;
o potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, tem para degradar-se em constituintes não perigosos,
considerando a velocidade em que ocorre a degradação;
o extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, é capaz de bioacumulação nos ecossistemas;
o efeito nocivo pela presença de agente teratogênico (provoca alterações
fetais), mutagênico (provoca modificações no material genético),
carcinogênico (provoca ou eleva a incidência de câncer) ou ecotóxico
(provoca risco aos compartimentos ambientais), associados a substancias
isoladamente ou em decorrência de sinergismo entre as substâncias
constituintes do resíduo;
ser constituída por restos de embalagens contaminadas com substâncias
constantes nos anexos, da NBR 10004, “D” (substâncias agudamente tóxicas)
e “E” (substâncias tóxicas);
resultar de derramamentos ou de produtos fora de especificação ou do prazo
de validade que contenham substâncias constantes nos anexos, da NBR
10004, “D” (substâncias agudamente tóxicas) e “E” (substâncias tóxicas);
ser comprovadamente letal ao homem;
Patogenicidade
Um resíduo é caracterizado como patogênico se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007 contiver ou se houver
suspeita de conter, microorganismos patogênicos, proteínas virais, DNA ou RNA
recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmídios, cloroplastos,
mitocôndrias ou toxinas capazes de produzir doenças em homens, animais e vegetais. Os
resíduos gerados nas estações de tratamento de esgotos domésticos e os resíduos sólidos
domiciliares, excetuando-se os originados na assistência à saúde da pessoa ou animal, não
são classificados segundo critérios de patogenicidade.
A NBR 10004/2004 apresenta cinco listagens (anexos A, B, C, D e E) de resíduos e
substâncias perigosos, um anexo com concentrações-limites para diversas substâncias e
compostos no extrato de lixiviação (Anexo F), um anexo com concentrações-limites para
diversos elementos e compostos na solução obtida no ensaio de solubilização (Anexo G), e
um anexo com códigos para resíduos não perigosos:
Anexo A: Resíduos perigosos de fontes não específicas;
Anexo B: Resíduos perigosos de fontes específicas;
Anexo C: Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos;
Anexo D: Substâncias agudamente tóxicas;
Anexo E: Substâncias tóxicas;
Anexo F: Concentração-limite máxima no extrato obtido no ensaio de
lixiviação;
Anexo G: Padrões para o ensaio de solubilização;
Anexo H: Codificação de alguns resíduos classificados como não perigosos.
Os resíduos perigosos classificados pelas suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e patogenicidade são codificados da seguinte forma:
Código D001: qualifica o resíduo como inflamável;
Código D002: qualifica o resíduo como corrosivo;
Tabela 2.1.1 – Limites máximos, expressos em miligramas por litro, no extrato obtido no
ensaio de lixiviação
Espécie química Limite Espécie química Limite
Arsênio 1,0 Cloreto de vinila 0,5
Bário 70 Clorobenzeno 100
Cádmio 0,5 Clorofórmio 6,0
Chumbo 1,0 Cresol Total 200,0
Cromo total 5,0 o-Cresol 200,0
Fluoreto 150 m-Cresol 200,0
Mercúrio 0,1 p-Cresol 200,0
Prata 5,0 1,4-Diclorobenzeno 7.5
Selênio 1,0 1,2-Dicloroetano 1,0
Aldrin + Dieldrin 0,003 1,1-Dicloroetileno 3,0
Clordano (todos os isômeros 0,02 2,4-Dinitrotolueno 0,13
DDT (p, p´ DDT+ p, p´ DDD + p, p´ DDE) 0,2 Hexaclorobenzeno 0,1
2,4-D 3,0 Hexaclorobutadieno 0,5
Endrin 0,06 Hexacloroetano 3,0
Heptacloro e seus epóxidos 0,003 Metiletilcetona 200,0
Lindano 0,2 Nitrobenzeno 2,0
Metoxicloro 2,0 Piridina 5,0
Pentaclorofenol 0,9 Tetracloreto de carbono 0,2
Toxafeno 0,5 Tetracloroetileno 4,0
2,4,5-T 0,2 Tricloroetileno 7,0
2,4,5-TP 1,0 2,4,5-Triclorofenol 400,0
Benzeno 0,5 2,4,6-Triclorofenol 20,0
Benzo(a) pireno 0,07
Fonte: NBR 10004/2004
amostras 100% sólidas, e (3) para resíduo úmido contendo mais do que 0,5% de sólidos
particulados. Em caso de sabida presença de compostos voláteis (definidos como tais em
uma listagem da própria norma) na amostra, o procedimento para obtenção do extrato
lixiviado será conduzido em um extrator especial (extrator ZHE = Zero Head Space Extractor),
hermético, que permitirá a lixiviação dos voláteis; caso a amostra sabidamente não
contenha voláteis, a extração será efetuada em um agitador rotatório que operará a 30±2
rpm.
O extrator ZHE é composto por um frasco com pistão, sendo acoplados uma
linha de gás pressurizado em sua base e um filtro de 90 mm superiormente. O líquido
contendo voláteis é filtrado por aplicação de pressão de gás. As figuras 2.1.1 e 2.1.2
apresentam esquematicamente o agitador rotatório de frasco e o extrator ZHE.
As amostras sólidas a serem remetidas ao ensaio deverão passar pela peneira de
9,5 mm, caso contrário, a amostra deverá sofrer trituração. Se houver voláteis na amostra, a
trituração deverá ser conduzida com a amostra previamente resfriada a 4oC. A determinação
do teor de sólidos suspensos da amostra deverá ser cuidadosamente executada utilizando-
se filtragem com filtro de fibra de vidro de 0,6-0,8 m.
Fonte: o autor
Duas soluções de extração são padronizadas pela norma. Sendo preparadas com
água ultrapurificada, desionizada e isenta de orgânicos, recebem ácido acético para o
rebaixamento do seu pH. A denominada solução 1 apresenta pH = 4,93±0,05, e a solução 2
pH = 2,88±0,05. A partir de um teste padrão, adicionando-se 96,5 mL de água desionizada a
5 g da amostra, verifica-se se o pH do líquido agitado é inferior a 5,0. Caso positivo, a solução
1 deverá ser utilizada para a extração. Caso negativo, a partir da adição de 3,5 mL de HCl 1,0
N a quente, verifica-se o pH da solução. Se o pH da solução for inferior a 5,0 utiliza-se a
solução 1, caso contrário utiliza-se a solução 2. Os procedimentos para obtenção do extrato
lixiviado são diferentes para diferentes concentrações de sólidos suspensos:
Fonte: web
Tipos de amostradores
A NBR 10007/2004 padroniza amostradores para diferentes tipos de resíduos a
serem amostrados. Tais amostradores são:
Amostrador de Resíduo Líquido: constituído de um tubo de polietileno ou
vidro e um sistema de fechamento, composto por haste de PVC ligada a
tampão inferior de neoprene. É introduzido aberto, vagarosamente, no
líquido a ser amostrado, e, atingindo o fundo, é fechado puxando-se a haste.
Recomendado para amostragem de líquidos e lodos em tambores,
caminhões-tanques, barris e similares;
Amostrador de Grãos: é construído com tubos chanfrados, interno e externo,
normalmente de aço inoxidável. O tubo externo possui uma ponta cônica que
permite introdução na massa de resíduos. O amostrador é aberto ou fechado
a partir de rotação do tubo interno. Seu uso é indicado para sólidos em pó ou
granulados em sacos, tambores, barris, ou recipientes similares, montes ou
pilhas de resíduos quando o diâmetro de partícula for inferior a 0,6 cm;
Amostrador “Trier”: consiste em um tubo longo de aço inox, chanfrado em
quase todo o seu comprimento. A sua ponta e as bordas do chanfro são
afiadas para cortar o material a ser amostrado, quando do giro do amostrador
na massa. Seu uso é indicado para sólidos em pó ou granulados em sacos,
tambores, barris, ou recipientes similares, montes ou pilhas de resíduos,
quando os particulados não se encontram muito secos;
Pá: trata-se de uma pequena pá similar a uma pá de pedreiro, que é
simplesmente introduzida na massa a ser amostrada. Indicada para
amostragem de resíduos secos em tanques rasos e sobre o solo;
Trado: amostrador constituído de uma rosca ou broca acoplada a um suporte.
Podendo ser acionado manual ou mecanicamente, perfura o material a ser
amostrado, frequentemente o próprio solo, podendo destruir ou não o perfil
do material amostrado, dependendo de sua geometria. É indicado para
amostragem em tanques rasos ou no solo, a mais de 20 cm de profundidade;
GLOSSÁRIO
ÁGUA DESIONIZADA: Água que passou por processo para remoção dos íons solúveis de sua
composição, normalmente através de percolação por leito de carvão ativado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
2.2.1 O SISNAMA
Os aspectos legais que norteiam os serviços de saneamento básico provém da
legislação federal. Via de regra os órgãos municipais aos quais se outorgam os deveres e
prerrogativas da execução desses serviços não são órgãos atrelados ao Sistema Nacional do
Meio Ambiente. Todavia, muitos aspectos relacionados aos resíduos sólidos, principalmente
quando se trata das responsabilidades privadas e das infrações e crimes cometidas contra a
saúde pública e ao ambiente natural encontram regramentos específicos no CONAMA –
Conselho Nacional do Meio Ambiente.
O Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, instituído pela Lei Federal
6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto Federal 99.274, de 06 de junho
de 1990, é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal,
dos municípios e pelas fundações instituídas pelo poder público responsáveis pela proteção
e melhoria da qualidade ambiental e tem a seguinte estrutura:
I - Órgão superior: O Conselho de Governo;
II - Órgão consultivo e deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA;
III - Órgão central: O Ministério do Meio Ambiente – MMA;
IV - Órgão executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA;
V - Órgãos seccionais: Os órgãos ou entidades da administração pública federal
direta ou indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas
atividades estejam associadas à proteção da qualidade ambiental ou as de
disciplinamento do uso dos recursos ambientais, bem como os órgãos e
entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e
pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação
ambiental;
(a) o esgotamento sanitário, (b) a drenagem e o manejo das águas pluviais, (c) o
abastecimento de água potável e (d) a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos.
Relativamente ao braço resíduos sólidos, a lei define a limpeza urbana e o
manejo de resíduos sólidos como o conjunto de atividades, infra–estruturas, e instalações
operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final dos resíduos
domésticos e daqueles originados pelos serviços de varrição e limpeza dos logradouros e vias
públicas.
Apenas para ter–se a ideia da diferenciação entre o saneamento ambiental e o
saneamento básico, podemos pensar que estabelecimentos industriais produzem resíduos
que podem ser nocivos ao ambiente e à saúde pública. O poder público não pode estar
indiferente à sua função de fiscalizar a destinação de tais resíduos e esse trabalho
certamente está contido no bojo das atividades sanitárias. Da mesma forma, a apreensão de
alimentos sem condições de consumo expostos à venda também é uma atividade sanitária.
Mas tais atividades não se encontram no rol daquelas elencadas como serviços relacionados
a resíduos sólidos no âmbito do saneamento básico, as quais correspondem apenas aos
serviços de limpeza, manutenção do asseio e salubridade dos logradouros e correta
destinação do material recolhido.
Entre os princípios norteadores do saneamento básico podemos destacar o
caráter de universalização (todos atendidos, mesmo que para tal seja necessária uma
política de subsídios), a sustentabilidade financeira, ou seja, o custeio do sistema através de
institutos financeiros apropriados e direcionados exclusivamente às atividades, e o controle
social, entendido como a gerência democrática dos serviços pela sociedade civil,
empoderada para tal.
Em seu artigo 7o a Lei Federal 11.445/2007 estabelece o serviço público de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos como composto por (a) coleta,
transbordo e transporte dos resíduos públicos e domiciliares, (b) triagem, para fins de reuso,
reciclagem ou tratamento, compostagem e disposição final, e (c) varrição, capina e poda de
árvores em vias e logradouros públicos, além de outros serviços correlatos.
serviços prestados. Duas são as formas gerais de manutenção financeira de tais serviços:
através do recolhimento de taxas, ou do pagamento de tarifas. Via de regra, os serviços
públicos de limpeza urbana são providos financeiramente pela denominada taxa de lixo.
Isso, no entanto, não é regra. Em muitos municípios não existe um tributo exclusivo que
viabilize os serviços de limpeza urbana e de gestão dos resíduos sólidos.
Define–se taxa como o tributo destinado a uma finalidade específica, recolhido
por cada membro formal de uma comunidade de maneira compulsória e involuntária,
independentemente da contratação do serviço.
Define–se tarifa como uma receita proveniente da contratação voluntária para
execução de um serviço mensurável.
Exemplos bastante corriqueiros podem ser fornecidos para a compreensão da
diferença entre taxa e tarifa. Quando tomamos um ônibus, recolhemos uma tarifa, porque o
serviço de transporte somente está nos sendo prestado por nossa decisão de usá–lo. Se,
para percorrer–se o caminho entre o ponto de tomada do coletivo até o destino desejado
utilizássemos uma bicicleta, ou carro, ou o se percorrêssemos a pé, não seríamos tarifados.
Quando contratamos energia elétrica e fornecimento de água para nossa casa estaremos, ao
final do mês, pagando tarifas, que poderiam ser evitadas se detivéssemos um gerador de
energia próprio e um poço artesiano com outorga. Mais do que isso, haverá medição dos
serviços prestados, que será expressa em kWh de energia utilizados e metros cúbicos de
água consumidos. Em ambos os casos não estamos obrigados à contratação dos serviços
(ainda que a utilização de água subterrânea seja regulamentada e eventualmente seja
vedada por lei a todos os imóveis que contam com água tratada encanada no logradouro).
Quando os serviços públicos respondem por uma questão de mérito, o que
ocorre no caso da limpeza urbana, isto é, efetivamente há necessidade e imposição de que
os serviços sejam executados por uma questão de salubridade e saúde públicas,
independentemente da aprovação individual dos munícipes, o provimento dá–se por taxa. A
varrição das ruas, a coleta de resíduos e o seu devido tratamento, a limpeza de logradouros
públicos, são atividades que beneficiam a toda a comunidade indistintamente. Se o resíduo
sólido de um condomínio deixar de ser recolhido, ele estará comprometendo a salubridade e
estética de outras pessoas próximas ao condomínio, além dos próprios condôminos. Os
serviços de varrição e capina em frente a um terreno baldio podem até não “atingir”
diretamente o seu proprietário, que poderá residir a quilômetros do local, todavia o
logradouro estará sendo assistido por essa infra–estrutura.
Entre os estudiosos da temática dos resíduos sólidos e administradores há um
pensamento tão onírico quanto surrealista em comum: se em cada prédio do município o
veículo de coleta de resíduos parasse, pesasse o resíduo apresentado e tarifasse por massa,
preferencialmente adotando um critério não linear de tarifação, remetendo–se a conta ao
responsável pelo prédio, então as pessoas se esforçariam em separar os seus resíduos
recicláveis, em compostar a fração orgânica poduzida, em reaproveitar vários materiais.
Neste sentido, o serviço de coleta seria mensurável, e a adoção da tarifação traria
economias substanciais para a comunidade. Essa é uma tarefa difícil, não necessariamente
impossível.
Contudo, muitos serviços de limpeza urbana, por genéricos e inespecíficos que
são, jamais poderiam ser medidos. A limpeza urbana não pode ser tratada como um serviço
a ser prestado apenas por espontânea vontade de cada munícipe. Seu custeio terá de ser
rateado entre os munícipes, de uma forma socialmente justa. Alguns critérios são
necessários para a tarifação:
deve levar em conta a capacidade financeira da municipalidade;
deve ser concebida através de critério justo do ponto de vista social
forma de cálculo: normalmente leva em conta: (1) a região fiscal do município,
(2) a área do edificada do móvel (ou testada), (3) a forma de utilização do
imóvel (baldio, residencial, comercial, industrial);
A chamada Lei do Saneamento, Lei Federal 11.445/2007 estabelece que taxas e
tarifas sobre serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos poderão considerar:
a renda da população atendida;
as características dos lotes urbanos e áreas que neles podem ser edificadas;
peso ou volume médio gerados por habitante, por domicílio.
É bastante comum concederem–se isenções do pagamento de taxa de resíduos
em certos casos especiais, aspecto sujeito a legislação própria:
economias residenciais sitas em vilas populares: pela baixa capacidade
econômica de tais munícipes;
aposentados e pensionistas de baixo provento: pela baixa capacidade
econômica de tais munícipes;
templos religiosos: por aspectos próprios de legislação ou pelo seu caráter de
uso público;
sociedades beneficentes e entidades filantrópicas: por executarem o papel
assistencial que caberia ao Estado.
Algumas contestações são bastante frequentes com relação aos valores das taxas
de lixo: (1) a geração de resíduos não é necessariamente proporcional à área ou testada do
imóvel, mas a taxa o é; (2) costuma haver limitações regulamentares quanto aos volumes de
resíduos que podem ser apresentados às coletas ordinárias, e que muitas vezes são
independentes da área do imóvel ou mesmo da taxa cobrada; (3) vários resíduos não
perigosos, por questões de volume ou peso não são recolhidos pelas coletas normais,
havendo tarifação para o seu recolhimento, via coletas especiais.
A Lei 11.445/2007 estipula, em seu Art. 2º, inciso VII, que os serviços de
saneamento, tal qual o são os serviços públicos de limpeza urbana, devem operar de forma
eficiente e economicamente sustentável. Em muitos municípios a sustentabilidade não
ocorre, de modo que é necessária alocação de recursos de outras áreas para cobrir déficits
curto prazo; (3) da tendência de terceirização dos serviços públicos, oriunda da ideia (não
necessariamente correta) de que é mais simples e menos oneroso fiscalizar serviços do que
gerenciar trabalhadores; (4) da indisponibilidade, pelos setores públicos, de vultosos
recursos para implementação de obras e unidades de elevado custo, necessitando
financiamento privado e/ou exploração dos serviços decorrentes em parceria com entes
privados.
A Lei Federal 11.445/2007 estabelece as possibilidades neste sentido,
enfatizando a importância de que os titulares (em geral municípios, exceto em regiões
metropolitanas) tenham os seus planos de saneamento e adotem sistema regulatório.
Transcrevendo–se da Lei:
a) determinado condomínio;
b) localidade de pequeno porte, predominantemente ocupada por população de baixa
renda, onde outras formas de prestação apresentem custos de operação e manutenção
incompatíveis com a capacidade de pagamento dos usuários;
II – os convênios e outros atos de delegação celebrados até o dia 6 de abril de 2005.
§2o A autorização prevista no inciso I do §1o deste artigo deverá prever a obrigação de
transferir ao titular os bens vinculados aos serviços por meio de termo específico, com os
respectivos cadastros técnicos.
Art. 11. São condições de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação de
serviços públicos de saneamento básico:
I – a existência de plano de saneamento básico;
II – a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econômico–financeira
da prestação universal e integral dos serviços, nos termos do respectivo plano de
saneamento básico;
III – a existência de normas de regulação que prevejam os meios para o cumprimento
das diretrizes desta Lei, incluindo a designação da entidade de regulação e de fiscalização;
IV – a realização prévia de audiência e de consulta públicas sobre o edital de licitação,
no caso de concessão, e sobre a minuta do contrato.
§1o Os planos de investimentos e os projetos relativos ao contrato deverão ser
compatíveis com o respectivo plano de saneamento básico.
§2o Nos casos de serviços prestados mediante contratos de concessão ou de programa,
as normas previstas no inciso III do caput deste artigo deverão prever:
I – a autorização para a contratação dos serviços, indicando os respectivos prazos e a
área a ser atendida;
II – a inclusão, no contrato, das metas progressivas e graduais de expansão dos
serviços, de qualidade, de eficiência e de uso racional da água, da energia e de outros
recursos naturais, em conformidade com os serviços a serem prestados;
III – as prioridades de ação, compatíveis com as metas estabelecidas;
IV – as condições de sustentabilidade e equilíbrio econômico–financeiro da prestação
dos serviços, em regime de eficiência, incluindo:
a) o sistema de cobrança e a composição de taxas e tarifas;
b) a sistemática de reajustes e de revisões de taxas e tarifas;
c) a política de subsídios;
V – mecanismos de controle social nas atividades de planejamento, regulação e
fiscalização dos serviços;
Execução própria
Nesta modalidade, os serviços são executados por servidores públicos estáveis
contratados e remunerados para tal. Tais servidores são imbuídos de alguns poderes de
Estado, havendo sido concursados, e, neste sentido, teoricamente havendo comprovado
aptidão, conhecimento e habilidades para operar os diversos sistemas e executar os diversos
serviços.
Tem sido criticada a estabilidade no emprego que é legalmente atribuída aos
servidores, como um incentivo à baixa produtividade, e por isso é bastante comum a
mudança paradigmática de troca do cenário de serviços de execução própria pela
contratação de prestadores privados. A estabilidade é uma necessidade premente, no
sentido de evitar as comuns arbitrariedades contra os servidores e contra as próprias
instituições públicas, advindas da gestão política nem sempre qualificada ou ilibada. Por
outro lado, a partir da Constituição de 1988 o concurso público instituiu–se como única
forma de ingresso aos quadros efetivos do serviço público, de modo que, após decorridos
quase 30 anos, ano a ano encontra–se minimizando–se proporção entre servidores
efetivados sem concurso (aposentados ou em vias de tal) e servidores efetivados por
concurso. A qualidade dos processos seletivos, nos quais se avalie corretamente a
qualificação dos calouros, quanto aos requisitos de conhecimento, saúde e qualidade
mental/psíquica é a melhor forma de terem–se quadros qualificados nas instituições
públicas. Uma política salarial séria e qualificada, prevendo carreiras com progressão, ao
Contratação
Nesta modalidade, bastante comum para vários serviços públicos, ao invés de
contratarem–se servidores públicos para exercerem as atividades são contratados
prestadores privados de serviços. A contratação dá–se por licitação e os serviços contratados
são remunerados pelo poder concedente. Isto ocorre, por exemplo, em Porto Alegre, para
vários serviços, entre os quais coleta domiciliar de resíduos, capina, transporte de resíduos
sólidos ao destino final, coleta especial de resíduos, coleta de produção de varrição e focos
de resíduos e destino final dos resíduos sólidos. A forma de operacionalização através da
contratação é mais cômoda ao administrador público, uma vez que o mesmo não precisa
administrar pessoal, fazer investimentos em frota, licenciar e operar aterros, prover
manutenção de veículos e materiais. Entretanto, a terceirização pode eventualmente trazer
inconvenientes ao contribuinte: a experiência demonstra frequente os casos de
cumprimento deficiente e ineficaz dos serviços, erros nos faturamentos, decorrentes de
deficiências da fiscalização, além das terceirizações constituírem–se em um canal aberto à
corrupção, por superfaturamentos e financiamentos de campanhas políticas. No tocante a
serviços remunerados por produção, como no caso da coleta de resíduos remunerada por
tonelada recolhida, há sempre o risco de coletas irregulares e indevidas, uma vez que “tudo
o que a balança registra é dinheiro que entra”.
A contratação pode tornar–se uma maneira produtiva de operacionalização dos
serviços. Para isso é necessário que o órgão contratante detenha uma comissão de licitações
competente e sintonizada com a realidade do mercado e uma fiscalização atuante, que coíba
e puna os abusos e o descumprimento da qualidade dos serviços contratados. As licitações e
contratos são regidos pela Lei Federal 8.666/1993.
Consórcio Público
Em muitos casos torna–se vantajosa e econômica a associação de municípios
para a execução de serviços relacionados à limpeza urbana. Caso típico: tratamento de
resíduos. São apontadas vantagens dessa associação:
quando uma tecnologia somente se viabiliza para elevados aportes de
resíduos;
quando um município dispõe de área e outro sabe operar um aterro sanitário
ou outra tecnologia aplicada a resíduos sólidos;
quando é necessário um elevado aporte de recursos financeiros para viabilizar
Concessão
Delegação da exploração de serviços públicos a pessoa jurídica ou consórcio de
empresas, mediante licitação na modalidade de concorrência. Apresenta caráter mais
estável, no sentido de que os prazos de vigência proporcionem alocação de superiores
investimentos, na certeza de que serão remunerados pela exploração do serviço (tarifação).
Exemplo: coleta, varrição e tratamento de resíduos. Principal vantagem: modernização dos
sistemas e equipamentos quando o poder público não dispõe de recursos para os
investimentos. Regulamentada pela Lei Federal 8.987/1995.
Parceria Público–Privada
Contrato de concessão de serviços públicos em que efetivamente há
contraprestação de pecuniária do parceiro público ao parceiro privado (com ou sem
tarifação), vigente por não menos do que 5 e não mais do que 35 anos, cujo valor do
contrato seja superior a 20 milhões de reais, não se limitando meramente a fornecimento de
mão–de–obra, instalação de equipamentos e/ou execução de obra pública. Aplicável quando
Fonte: o autor
Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos
sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange:
I – investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:
a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra
forma de destinação ambientalmente adequada;
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
II – divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos
sólidos associados a seus respectivos produtos;
III – recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua
subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de
sistema de logística reversa na forma do art. 33;
IV – compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o Município,
participar das ações previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no
caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.
Art. 32. As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou
a reciclagem.
§1o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:
I – restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à
comercialização do produto;
II – projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível
com as exigências aplicáveis ao produto que contêm;
III – recicladas, se a reutilização não for possível.
§2 o O regulamento disporá sobre os casos em que, por razões de ordem técnica ou
econômica, não seja viável a aplicação do disposto no caput.
§3 o É responsável pelo atendimento do disposto neste artigo todo aquele que:
I – manufatura embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens;
II – coloca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou
produtos embalados, em qualquer fase da cadeia de comércio.
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem,
após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos
perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do
SISNAMA, do SNVS e do SUASA, ou em normas técnicas;
II – pilhas e baterias;
III – pneus;
IV – óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
Embora decorridos sete anos da sanção da Lei, nem todas as obrigações do setor
privado estão sendo cumpridas na prática. Observa–se que no que se refere a agrotóxicos
um sistema robusto de legislação e fiscalização já vinha, anos antes da Lei, garantindo a
logística reversa das embalagens. No que tange aos óleos lubrificantes, também já havia
farta legislação aplicada aos resíduos. O acordo setorial relativo a esses últimos resíduos foi
o primeiro firmado entre o setor produtivo e o poder público após a sanção da lei. Quanto a
pilhas e baterias e pneus inservíveis existem sistemas de logística reversa disponibilizados
especialmente em grandes cidades do país, todavia não alcançando toda a extensão do
território nacional. Embora já haja acordo setorial firmado para o caso das lâmpadas de
descarga, não há sistema de logística reversa em operação em meados de 2017. No caso dos
produtos eletroeletrônicos não há sistema de logística reversa em operação no país.
As definições da Lei 12.305 relativas aos resíduos especiais de amplo e difuso uso
na sociedade vêm atender a uma questão anteriormente sem solução: a responsabilidade
pelos resíduos. Muito comumente, após consumir um determinado produto ou ele tornar–
se inservível, o cidadão consciente procurava saber a forma correta de destiná–lo. Esse
resíduo poderia ser uma lâmpada fluorescente ou uma embalagem de veneno para ratos,
por exemplo, que são resíduos perigosos. Nada mais natural do que telefonar aos órgãos de
limpeza urbana e de meio ambiente do município para procurar saber como proceder para o
“descarte”. Todavia, não havia uma definição legal a respeito da responsabilidade sobre os
resíduos. A quem caberia? À prefeitura? Ao revendedor do produto? Ao próprio
consumidor? A periculosidade do resíduo automaticamente significaria ao mesmo a não
aceitação pelo setor de limpeza urbana, porque o aterro sanitário não pode legalmente
receber resíduos perigosos. O revendedor do produto novo sentia–se desobrigado a
participar de qualquer etapa de manejo do resíduo, até mesmo porque não conseguiria
remete–lo em retorno ao seu distribuidor. Ao consumidor só restaria a alternativa de
procurar uma empresa especializada no tratamento de resíduos perigosos. Todavia, via de
regra, este não seria atendido na qualidade de simples pessoa física geradora de tão
pequena quantidade de resíduo. Embora hoje ainda pouco se tenha evoluído em relação a
sistemas de logística reversa, a Lei deixa clara a responsabilidade privada pelo resíduo. Os
parágrafos 4º–8º do art. 33 da Lei estabelecem responsabilidades específicas:
art. 7º, XII: integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas
ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos;
art. 8º, IV: o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis;
art. 15, V: Plano Nacional de Resíduos Sólidos – metas para a eliminação e
recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação
econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
art. 17, V: Plano Estadual de Resíduos Sólidos – metas para a eliminação e
recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação
econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
art. 18, II: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos –
priorização de recursos da União aos municípios que implantarem a coleta
seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação
de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas
físicas de baixa renda;
art. 19, XI: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos –
programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial
das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se
houver;
art. 33, §3º, III: possibilidade do setor produtivo, responsável pela logística
reversa, atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação
de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
art. 36, §1º: para o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos atuar no sentido da valorização dos resíduos,
priorizará a organização e o funcionamento de cooperativas ou de outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
formadas por pessoas físicas de baixa renda, bem como sua contratação. A Lei
estabelece a não necessidade de licitação para a contratação de tais
cooperativas.
art. 42, III: priorização de linhas de financiamento e medidas indutoras para
implantação de infra-estrutura física e aquisição de equipamentos para
cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda;
art. 44, II: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
instituir normas com o objetivo de conceder incentivos fiscais, financeiros ou
creditícios projetos relacionados à responsabilidade pelo ciclo de vida dos
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
2.3 GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
unidade de triagem, se os resíduos recicláveis, por estarem sujos, têm baixo valor comercial?
De que adianta uma unidade de compostagem se o composto produzido estiver
contaminado com metais pesados e outros compostos químicos? De que adianta aterros
bem executados, se colocamos neles cada vez mais resíduos, em espaços cada vez mais
raros, principalmente em grandes centros urbanos? A solução está na procura de modelos
integrados, que pensem a questão desde o momento da geração dos resíduos, procurando
maximizar o reaproveitamento e a reciclagem. Para que isto seja possível, devemos evitar a
mistura, segregando os resíduos no momento da sua geração, já tendo em mente a sua
utilização futura, ou o processo de tratamento ao qual serão submetidos (REICHERT, 1999).
A forma de solução para tal problemática, tanto no âmbito de uma gestão
empresarial, quanto no âmbito de uma administração municipal, é denominada
gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Tal processo apresenta uma complexidade que
não se restringe a um setor administrativo, mas demanda o envolvimento e a colaboração
de todo o grupo social de que se compõe a estrutura administrativa (o corpo de
colaboradores, no caso de uma empresa, a população, no caso de um município). Os
gestores do sistema serão um grupo multidisciplinar, pois o modelo integrado a ser
concebido contempla aspectos científicos, administrativos, econômicos, sociais e
tecnológicos.
Basicamente, quatro são os fatores necessários que convergirão para a adoção e
o sucesso de um programa de gerenciamento integrado (REICHERT, 1999):
vontade política (querer fazer);
conhecimento técnico (saber fazer);
recursos financeiros (ter como fazer);
pessoal qualificado e engajado (poder fazer).
Um dos requisitos fundamentais para a implantação de um sistema de
gerenciamento integrado é (1) o conhecimento das características dos resíduos gerados.
Uma caracterização bem feita, que informe sobre quantidades absolutas e percentuais de
cada tipo de resíduo gerado, constituir-se-á no primeiro passo para um diagnóstico
situacional, visando orientar sobre que estratégias serão vislumbradas como apropriadas
para a realidade da empresa, instituição ou município.
O conhecimento (2) das metodologias de tratamento apropriadas para cada tipo
específico de resíduo bem como (3) o potencial de reciclagem dos resíduos e a realidade
mercadológica orientarão sobre a estratégia da segregação e a forma de destinação dos
mesmos. Se a variável econômica encontra-se, por força de lei, subordinada à variável
ambiental, ela não é menos importante quando dispuser de alguns graus de liberdade para
ser considerada. A variável sociológica, neste caso atrelada a um projeto de educação
socioambiental e responsabilidade solidária terá papel fundamental, considerados os
aspectos de redução e separação na origem. Neste sentido, são bases necessárias para a
implantação do gerenciamento integrado:
(a) Política dos 3R’s: reduzir, reutilizar e reciclar: a chamada redução na origem
é um dos pilares não só do plano de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos (PGIRS), como é também uma estratégia de educação socioambiental
visando enfrentar o agravamento do problema mundial do crescimento da
geração de resíduos sólidos. Se houver redução de emissão de resíduos nas
fontes geradoras, a partir de mudanças de hábitos de consumo, e
aproveitamento local dos resíduos previamente ao seu descarte, grande
parte dos problemas estará resolvida. Neste sentido, projetos como o da
compostagem caseira surgem para trabalhar-se dentro desse objetivo. A
política dos 3R’s apresenta algumas variantes de si própria, quando são
agregadas as ideias de recuperação e reeducação, por exemplo, agregando-
se novos R’s, e aí recebendo os nomes de política dos 4R’s, política dos 5R’s
e assim por diante;
(b) Mudança cultural: trabalho de base - a base cultural das pessoas que
tiveram sua educação fundamental anterior à década de 1990 não sofreu
um trabalho de educação socioambiental agressivo. Há ainda uma cultura
voltada ao descarte e não ao reaproveitamento. Essa cultura precisa ser
modificada na organização;
(c) Programa de educação socioambiental: o programa de educação
socioambiental vem ao encontro do objetivo de mudança do padrão cultural
dos indivíduos. A partir da conscientização, calcada na base científica do
problema da poluição e na ciência do valor agregado daquilo que
anteriormente era tratado como inutilidade, constrói-se a nova mentalidade
dos reais atores do sistema;
(d) Conhecimento e adequação à legislação ambiental: a legislação ambiental
surge como um marco para as modificações de paradigmas. Um diploma
legal teoricamente fundamenta-se na vontade popular, sendo um texto que
já passou pelo crivo da representação pública (política). É o fator motivante
das modificações, e, ao menos até que adeque-se novamente ao interesse
público, deve ser cumprido. É a partir da legislação e suas obrigações
decorrentes que as mudanças ocorrem: é menos caro modificar os sistemas
do que pagar as multas pela inadequação. Para a construção do PGIRS é
preciso conhecer-se as leis para projetarem-se sistemas compatíveis com
tais leis;
(e) Conhecimento científico-tecnológico: vivemos em uma época de intenso
desenvolvimento científico e tecnológico. No tocante ao manejo, tratamento
e destinação de resíduos sólidos também há marcante evolução do
conhecimento. É preciso conhecer os resíduos, suas características de
periculosidade e seu potencial poluidor, bem como a tecnologia e os
processos conhecidos para o seu tratamento mais eficiente, conjugando
aspectos ambientais e econômicos. Não existe PGIRS sem conhecimento
científico envolvido;
1
Plan-Do-Check-Act: método interativo de gestão de processos visando à melhoria contínua.
Fonte: o autor
TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGIRS)
1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração/Projeto do PGIRS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação/ Execução do PGIRS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Alvará de Localização e Funcionamento
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
- Descrição das Atividades Desenvolvidas
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área Construída
3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGIRS.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
-Lei Federal nº 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
-Lei Federal nº 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
*O campo unidade deverá ser preenchido com o volume ou a massa gerada em um determinado período de tempo.
Exemplos: m³/d, kg/mês, L/ano.
monumentos.
Armazenamento pré-coleta
Coleta informal; coleta pública; coleta de resíduos arbóreos; coleta dos
resíduos de parques e praças; coleta de resíduos sólidos de redes de
drenagem; coleta regular domiciliar; coleta automatizada de resíduos
Coleta sólidos domésticos; coleta de resíduos recicláveis (coleta seletiva); coleta de
resíduos públicos; coleta em Unidades Destino Certo; coleta de animais
mortos de grande porte; coleta da produção dos serviços de capina; coleta
de resíduos de serviços de saúde do Grupo B; serviços de coleta particulares.
Locais de entrega voluntária públicos e privados; estação de transbordo;
Transbordo e transporte
transporte de resíduos sólidos.
Unidades de triagem; Unidade de Triagem e Compostagem;
Tratamento e pré-tratamento
reaproveitamento de resíduo orgânico via suinocultura.
Aterro sanitário – unidade em utilização; áreas para empreendimentos de
tratamento e disposição final de rejeitos; aterro industrial; aterro para
Disposição final
resíduos da construção civil (RCC Classe “A”); histórico da disposição de
resíduos sólidos em Porto Alegre e levantamento de passivos.
Fluxograma atual do
gerenciamento de resíduos
sólidos
Estrutura administrativa,
Estrutura do Departamento Municipal de Limpeza Urbana; estrutura da
operacional, fiscalizatória e
GESTÃO E CONTROLE
Carências e deficiências
Transversalidades e
interfaces
Economia e Estatística (FEE-RS) informa que no futuro próximo a população de Porto Alegre
deverá registrar crescimento a taxas anuais decrescentes, que totalizará 5,07% no período
2010-2022, a partir de então a população total do município, em números absolutos, iniciará
processo de queda. Desse ponto vista, a cumprirem-se as previsões, não deverá incrementar-
se significativamente a população cliente dos serviços de limpeza urbana e gestão de
resíduos sólidos, podendo-se pensar na diversificação e qualificação dos serviços hoje em
execução.
tratamento e disposição final; (6) reduzir a disposição de resíduos em aterro sanitário; (7)
manter o aspecto de limpeza dos logradouros e áreas públicas; (8) reduzir o número de focos
de descarte irregular de resíduos sólidos; (9) elevar o controle sobre passivos ambientais
ocasionados pela disposição de resíduos sólidos; (10) elevar a suficiência financeira do órgão
titular dos serviços de limpeza urbana; (1) qualificar a gestão e as equipes gestoras; (11)
qualificar as ações de educação ambiental.
Cada ação de planejamento estabelecida foi então confrontada com cada
macrodiretriz do sistema de gestão de resíduos sólidos Para cada ação foi atribuído um
escore, o qual quantifica a importância relativa da sua consecução para o alcance de cada
macrodiretriz. A partir do estabelecimento desses quinhentos e cinquenta e dois confrontos
pôde-se estabelecer, para cada macrodiretriz, uma equação que pondera o resultado obtido,
a qualquer momento, em cada ação influente, obtendo-se um indicador de alcance da
mesma macrodiretriz.
O PMGIRS de Porto Alegre foi estabelecido oficialmente através do Decreto
18.461, de 20 de novembro de 2013, como primeiro instrumento de planejamento da gestão
de resíduos sólidos concluso na história de Porto Alegre, aduzindo o marco da instituição do
planejamento de Estado no setor correspondente. A sua implantação, em curso, encontra-se
na dependência de recursos financeiros e humanos, observando-se comumente que na fase
de concepção do planejamento costuma-se exercer o otimismo, posteriormente nem sempre
tal encontrando ressonância nos recursos disponíveis na vida real. Contudo, a mudança
paradigmática de estabelecer o método, a oficialidade e a publicidade no que se intenta
fazer, por si só já cumpre papel fundamental em um sistema antes regido pelo empirismo e
improviso. Porto Alegre buscará seguir inovando e qualificando a gestão de resíduos sólidos,
agora de forma mais efetiva. Em 2017 uma atualização do PMGIRS virá a lume, resultado do
amadurecimento daquilo que foi planejado em 2012-2013, desta vez não como um marco do
planejamento, mas como uma fotografia da situação e das intenções então vigentes,
orientadas pela prática e pelos cenários que os novos tempos nos apresentarão.
Fonte: o autor
diferenciados. Três foram as razões efetivas para que esse processo viesse a desencadear-se:
(1) nos dias de hoje tratar e destinar resíduos custa caro e (2) acirraram-se as fiscalizações
dos órgãos ambientais e da própria comunidade, e o pagamento de multas, por vezes muito
pesadas, traz sérios ônus às empresas e (3) o “comportamento ambiental” de uma empresa
tornou-se chave para aceitação de sua imagem e de seus produtos no mercado, o que se
intensificou sobremaneira, a partir do surgimento da norma ISO 14000. Tudo isso convergiu
para que o setor produtivo adotasse um conjunto de estratégias ordenadas denominado
produção mais limpa (P+L).
Produção mais limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica,
ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência
no uso das matérias-primas, da água e da energia, através da não geração, minimização ou
reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo. Esta abordagem induz inovações
nas empresas, dando um passo em direção ao desenvolvimento econômico sustentado e
competitivo, não apenas para elas, mas para todas as regiões que abrangem (TOCHETTO e
COUTINHO, 2004). A produção mais limpa pretende integrar os objetivos ambientais aos
processos de produção, a fim de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade
e periculosidade agregada.
A mudança paradigmática de uma produção industrial ortodoxa para a produção
via tecnologias limpas poderia ser traduzida através das diferentes preocupações dos
gestores de cada modelo. Enquanto que o primeiro se pergunta “o que poderei fazer com os
resíduos e emissões de minha empresa?”, o segundo se pergunta “de onde provêm nossos
resíduos e emissões, e porque se transformaram em residuais?”.
O fluxograma da Figura 2.3.3 apresenta o esquema geral de programação de um
processo de adoção de produção mais limpa.
A prioridade do sistema a ser adotado encontra-se à esquerda (minimização de
resíduos e emissões). No nível 1, o diagnóstico do processo já existente deverá questionar se
é possível reduzir na fonte. Possivelmente gestões de melhoria no uso do maquinário e em
sua calibração já surtam efeitos. Mas, mais do que isso, será necessário ter-se a coragem de
perguntar “não será necessário modificar meu processo?”, “não será necessário modificar
meu produto?”, “não será necessário modificar a minha tecnologia, investindo-se em
equipamentos mais eficientes e técnicas de superior desempenho?”, “deverei modificar
minhas matérias-primas?”. Essa avaliação será norteada por um conjunto de fatores
econômicos, ambientais e sociológicos. Qualquer que seja a decisão tomada, se o processo
ainda gerar resíduos, em um nível 2 aparece a reciclagem interna. Todo o potencial de
reaproveitamento dos residuais no próprio processo deve ser estudado. Ele pode
representar a não geração de determinados resíduos, ou pode retardar seu descarte ou
ainda fazer com que o material a descartar apresente menores demandas de tecnologias e
custos para ser tratado.
conhece?
3) Avaliação: Objetiva estabelecer um amplo conjunto de opções para pronta
aplicação e/ou para futuro detalhamento. As subfases são as seguintes:
3.1 Balanço material: sobre os fluxogramas de processo deverá ser
elaborado o balanço de massa e de energia, qualificando e
quantificando-se todos os ingressos de massa (matérias-primas) e
energias do sistema, tão bem como produtos (massa e energia
agregados) e resíduos e emissões (mássicos e energéticos). É um
trabalho eminentemente técnico;
3.2 Avaliação da geração de resíduos e emissões: consiste em avaliar o
balanço material e verificar se há compatibilidade econômica e técnica
entre insumos e produtos (+ subprodutos). Em outras palavras, avalia-se
a eficiência de cada processo, verificando-se onde, como e porque os
resíduos e emissões são gerados;
3.3 Geração de alternativas: é o cerne do processo: a partir da identificação
de processos pouco eficientes ou que possam ser aperfeiçoados,
escolher aqueles que devem imediatamente ser alterados;
3.4 Estabelecer hierarquia de opções: tendo sido efetuada e detalhada a
devassa na planta produtiva, serão elencados, por ordem de prioridade,
os processos a sofrerem modificação. Esta ordenação levará em conta a
facilidade e viabilidade individual de cada mudança processual.
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
detalhamento dos processos do ponto de vista de balanços de matéria e
energia;
compreensão detalhada das fontes e causas de geração de resíduos e
emissões e das ineficiências associadas aos processos;
conjunto ordenado de opções de modificação de processo.
4) Estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental: Objetiva selecionar as
opções de produção mais limpa que de fato serão aplicadas. As subfases são
as seguintes:
4.1 Avaliação preliminar: determinação do nível de detalhamento para
avaliação de cada opção e estabelecimento dos subsídios e informações
ainda necessários para esta avaliação;
4.2 Avaliação técnica: determinação de viabilidades técnicas das
modificações de processos e operações;
4.3 Avaliação econômica: determinação de viabilidades econômicas das
modificações de processos e operações. Frequentemente o fator
econômico é limitador de mudanças;
ozônio”, “papel não clorado”. Mesmo que em certos casos tais produtos nada mais façam do
que adequarem-se à legislação já vigente, em outros, a substituição do produto antigo pelo
novo pode ter elevado o seu preço ao consumidor, em decorrência do uso de matérias-
primas mais caras, porém, havendo condições financeiras, haverá boa aceitação pelo
consumidor, em função da noção de “pagar mais para preservar”.
O raciocínio preservacionista do consumidor poderá estender-se à outra ponta
do sistema: “quanto custa ao ambiente a extração da matéria-prima que origina o produto
que estou adquirindo?”. A compra de um carro movido a álcool poderá ser uma opção em
relação a um carro movido a gasolina, imaginando-se que o álcool é um combustível
ambientalmente mais amigável, em função de ser renovável, não relacionado à extração de
carbono fóssil fixado à geologia do planeta. Um determinado tipo de palmito muito
saboroso, proveniente de uma palmeira em extinção, poderá não ser consumido em função
de o consumidor preferir consumir o produto de uma planta que não esteja ameaçada.
Notoriamente, inserindo-se no setor produtivo a variável ambiental considerada
em um balanço que supere os limites físico-financeiros do setor produtivo, poder-se-á gerar
uma inversão na análise de viabilidade que se detinha, tão somente, à contabilidade
ambiental-financeira interna ao alambrado da indústria. Quando avaliamos o impacto ao
ambiente que um determinado produto ocasiona, desde a origem de seus insumos e
matérias-primas até o destino final dos seus residuais, estamos procedendo uma avaliação
de ciclo de vida (ACV).
Todo produto, não importa de que material seja constituído, papelão, vidro,
plástico, metal, ou qualquer outra matéria, provoca um impacto ambiental total que pode
ser considerado pelo somatório de todos os impactos parciais desde a extração das
matérias-primas e da geração da energia necessária à sua confecção, passando pelos
subprodutos gerados em seu consumo, até o seu destino final.
Uma pilha de mercúrio não impacta somente um recurso hídrico onde
possivelmente seja destinada. Quando o minério precursor do artefato foi extraído, a
atividade extrativista ocasionou impacto, quando o mesmo minério foi beneficiado, foi
necessário utilizar-se energia cuja geração hidrelétrica ou termoelétrica causou impacto,
quando a pilha fabricada foi distribuída, o seu transporte às casas de comércio ocasionou
geração de emissões de combustível fóssil. Se nos detivermos em todos os impactos
associados a todas as matérias-primas utilizadas no seu fabrico, a todos os consumos
energéticos e emissões devido à sua distribuição e aos impactos demandados pela sua
destinação final ou reciclagem, possivelmente estaremos relacionando dezenas de impactos
pontuais. Se a variável ambiental estiver nos norteando na decisão de comprar um rádio a
pilha ou a energia elétrica, nosso comparativo será efetuado, de um lado somando todos os
pequenos impactos relacionados à pilha e comparando-os com o impacto decorrente da
geração da quantidade de energia elétrica necessária para o rádio funcionar da mesma
maneira do que funciona com a pilha.
CHEHEBE (1998) apresenta um exemplo muito interessante: um proprietário de
um shopping center, movido por motivação preservacionista, após verificar que seus
70 anos de uso e muitos milhares de toneladas de couro curtido. Portanto seu impacto
agregado a um simples pedaço de couro para confecção de um sapato é irrelevante.
A unidade funcional a ser definida refere-se à performance solicitada de um
produto. Se o objetivo do sapato é calçar um par de pés, essa será a unidade funcional em
relação a uma análise comparativa, por exemplo, dos impactos produtivos do par de
sapatos, com aqueles referentes a um par de chinelos ou um par de sandálias.
A definição dos requisitos de qualidade está relacionada à confiabilidade e
aplicabilidade dos dados que serão levantados. Inserem-se aí variáveis de cunho estatístico
para significância dos dados, avaliação das fontes dos dados, critérios temporais e espaciais,
tecnológicos, além de outros requisitos. Não adianta quantificar o impacto da geração de
energia elétrica utilizada para a confecção do par de sapatos no Brasil utilizando-se uma
base de dados da França, onde a matriz energética é diferenciada. Também não adiantará
utilizarem-se dados referentes ao impacto ambiental do curtimento de couro ao tanino, se o
curtimento do couro que originou o sapato foi efetuado utilizando-se cromo como curtente.
O impacto da produção do sal de cromo utilizado não pode ser estimado a partir de dados
de um processo de fabricação do mesmo sal de 1940, se a tecnologia da época é hoje
obsoleta.
Na segunda fase, são obtidos os dados que conduzirão à ACV. O sistema em
estudo é dividido em unidades de processo e são levantadas todas as entradas e saídas do
sistema, através de balanços de massa e energia, conforme exemplifica a Figura 2.3.4.
Fonte: o autor
Ainda na segunda fase são levantados os dados para efetuar-se a ACV. Esse
levantamento é árduo e deverá ser simplificado, desconsiderando-se processos pouco
relevantes. Uma vez que, por exemplo, várias matérias-primas adquiridas pela empresa
fabricante, que está realizando o ACV dos seus produtos, sejam produzidas por
fornecedores, muitas vezes a confiabilidade do ACV passará pela fidedignidade das
informações prestadas por esses mesmos fornecedores, por exemplo, levantamento dos
resíduos dos processos de obtenção das matérias-primas, energia despendida na
manufatura dessas mesmas matérias-primas, etc.
Na terceira fase, de posse do fluxograma de processo, estabelecem-se as
categorias de impacto ambiental concernentes ao processo, por exemplo, efeito no
aquecimento global (medido em toneladas de dióxido de carbono), potencial de
eutrofização (medido em quilogramas de fosfato), potencial de toxicidade (medida como
massa corpórea que estaria exposta ao limite de toxicidade por quilograma de substância),
etc. Os “valores de impacto” concernentes a cada unidade de processo são calculados ou
estimados. Se houverem condições, poderá ser efetuada uma estimativa do impacto total,
obtendo-se um valor único, o que não é muito fácil, uma vez que há fortes objeções a
interconversão de formas diferentes de impacto em unidades intercambiáveis. Por exemplo,
obtenção de uma base que permita estimar quantas gramas de mercúrio emitido são
ambientalmente tão deletérios, por toxicidade, quanto o lançamento de um quilograma de
dióxido de enxofre, cujo efeito é acidificação da água, ou então a quantas toneladas de
fósforo emitido (precursor de eutrofização das águas e seus efeitos negativos sobre o
ambiente) corresponderá o efeito da emissão de uma tonelada de dióxido de carbono
(precursor de efeitos negativos sobre o clima global).
Na quarta fase é realizada uma avaliação global da ACV efetuada, revisando-se o
processo como um todo, verificando-se se algumas unidades de processo podem ser
abolidas do estudo, verificando-se a qualidade dos resultados obtidos, e estabelecendo-se
conclusões que poderão orientar mudanças de processos ou produtos.
Embora a ACV exista como instrumento de qualidade ambiental há mais de 35
anos, no Brasil a sua utilização ainda é incipiente. Contudo, apesar de em aplicação apenas
por grandes corporações, a Lei Federal 11.445/2007, que estabelece definições e marcos
regulatórios na área do saneamento já cita-a como instrumental de referência, o que deve
paulatinamente inseri-la nos contextos produtivos e públicos, como ferramenta técnica de
tomada de decisão.
A avaliação de ciclo de vida é baseada na obtenção de dados primários de
impacto, por exemplo, qual o impacto ambiental do lançamento de 1kg de fosfato em um
recurso hídrico ou qual o impacto da fabricação de 1 t de aço inox. Muitos desses dados já
foram determinados e existem em tabelas de livros especializados, todavia é sempre
necessário sondar-se se a fonte dos dados traduz as condições de contorno em que foram
obtidos. Como já foi mencionado, diferentes processos conduzem a diferentes impactos, por
isso torna-se necessário determinar reais impactos nas condições tecnológicas em que os
processos são levados a efeito. A ACV é executada matematicamente através da operação
com matrizes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BRASIL. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.
_____. Resolução CONAMA 275, de 25 de abril de 2001. Estabele o código de cores para os
diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e
transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. DOU
nº 117-E, de 19 de junho de 2001.
CHEHEBE, José R.B. 1998. Análise do ciclo de vida de produtos – Ferramenta gerencial da
ISO 14000. Ed. Qualitymark. Rio de Janeiro. 104p.
FLECK, Eduardo; REICHERT, G.A., BARBOSA, J.L.; HOFFMANN, M.S.; REIS, M.F.P. 2015. A
elaboração do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos de Porto
Alegre, RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 28.
Rio de Janeiro, Anais.... Rio de Janeiro: ABES, 2015. 8p.
3.Tratamentos Anaeróbio
e Aeróbio e Aspectos
Correlatos
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
GLOSSÁRIO
ZONA INSATURADA DO SOLO: perfil do solo no qual os vazios intersticiais entre os grãos de
terra não se encontram completamente ocupados por água: é a região que se situa acima do
lençol freático.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANNEPU, Ranjith Kharvel. 2012. Sustainable Solid Waste Management in India. Dissertation
(Mastering of Science in Earth Resources Engineering) - Columbia University. 189 f.
BIDONE, F.R.A.; POVINELLI, J. 1999. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: EESC-
USP, 1999. 109 p.
GOULART, Adriana Maira Rocha; BREJÃO, Antonio Sérgio; DE OLIVEIRA, Rosemeire; GOMES,
Sandra Ruri Fugita; TEIXEIRA, Elizabeth Pelosi; IRAZUSTA, Silvia Pierre. Gerenciamento
de Resíduos Sólidos Urbanos: Um panorama das regiões da Ásia e África. In: VI
WORKSHOP DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DO CENTRO PAULA SOUZA. 2011, São
Paulo. Annals. 11p.
HAIYUN, Xu. All the waste in China - The development of sanitary landfilling. Disponível em
http://www.waste-management-world.com/articles/print/volume-9/issue-
4/features/all-the-waste-in-china-the-development-of-sanitary-landfilling.html.
Acedido em 11.01.2014.
KIM, K.R., OWENS, G. Potential for enhanced phytoremediation of landfills using biosolids: a
review. Journal of Environmental Management, 91 (4), p. 791–797, 2010.
TANAKA, Nobutoshi; TOJO, Yasumasa; MATSUTO Toshihiko. Past, present, and future of
MSW landfills in Japan. J Mater Cycles Waste Manag., 7, 2005.
3.2 MONITORAMENTO DE
UNIDADES DE TRATAMENTO
DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Os sistemas de tratamento de resíduos sólidos, tanto urbanos quanto industriais
necessitam agregar uma atividade de apoio fundamental denominada monitoramento.
Qualquer empreendimento concebido e construído com a finalidade de processar resíduos
sólidos é um estabelecimento industrial potencialmente poluidor. Industrial, porque opera
com transformações naturais ou induzidas na matéria-prima que recebe (resíduos sólidos),
visando sua estabilização e, muitas vezes, o seu aproveitamento como massa e/ou precursor
de energia. Poluidor, tendo em vista que os resíduos sólidos constituem-se em matéria não
estabilizada, apresentando compostos de carbono, nitrogênio, além de uma imensa gama de
compostos químicos presentes em pequenas concentrações, entre os quais, destacam-se os
metais.
O monitoramento de um aterro sanitário ou outra estação de tratamento de
resíduos (como unidade de compostagem, por exemplo) subdivide-se em duas atividades
similares, mas com diferentes objetivos: (1) monitoramento operacional e (2)
monitoramento ambiental.
caracterizar os estágios e degradação da matéria aterrada. Três são os tipos de amostras que
podem ser utilizadas nesse processo:
(a) Amostras de lixiviados: o lixiviado pode ser considerado como a
solução/suspensão obtida dos resíduos aterrados, onde estarão presentes,
principalmente, os compostos hidrossolúveis. Sabe-se que as reações
químicas (e bioquímicas) dão-se somente em meio aquoso, bem como esse
meio é condição essencial para a sobrevivência dos organismos
decompositores. Portanto há uma grande associação entre os resíduos em
decomposição e a característica do lixiviado em contato, e, desta maneira, o
acompanhamento progressivo das características de um lixiviado é indicativa
do grau de estabilização do resíduo. No entanto é necessário manter-se uma
visão crítica do trabalho que se está executando: uma amostra de lixiviado
reflete as condições do resíduo em contato com o mesmo, porém há que se
atentar à sua representatividade: as concentrações naturalmente variarão
em função da pluviometria. Em épocas secas há tendência de concentração
de compostos no líquido, devido à diminuição do nível estático do lixiviado
na bacia; em épocas chuvosas há dois efeitos, (1) a diluição, por aumento do
volume de água e (2) a lixiviação de resíduos novos, concentrando o
lixiviado. Dependendo das condições de contorno, o efeito líquido poderá
ser de diminuição das concentrações no líquido ou sua elevação. Deve-se ter
em mente também que os processos de drenagem, difusão mássica e outros
associados tendem a produzir uma homogeneização do líquido em uma
célula, portanto o lixiviado não refletirá uma condição pontual, mas sim uma
condição média das famílias de idades dos resíduos aterrados.
Normalmente, para fins de amostragem de lixiviados são construídos poços
de monitoramento, sendo utilizados, também, os sistemas de drenagem de
lixiviado que o conduzem para fora das células. No caso de uma estação de
tratamento de lixiviados associada, o seu monitoramento estará relacionado
às características paramétricas indicativas de matéria orgânica, nitrogênio e
outros compostos os quais se deseja abater, bem como a parâmetros
relacionados aos próprios sistemas de tratamento;
(b) Biogás: o monitoramento de biogás não é tão frequente como o dos
lixiviados em função da maior dificuldade para amostragem bem como dos
custos das análises. Na realidade, excluídos os aspectos concernentes ao
aproveitamento energético do gás, seu monitoramento no sentido da
observação da estabilização dos resíduos relaciona-se basicamente à sua
vazão e ao percentual de metano encerrado pelo gás. O rebaixamento desse
percentual é tido como a primeira evidência de algum problema no processo
bioquímico de decomposição da matéria orgânica. No entanto, em um
sistema aberto como o aterro sanitário, não se prevê a predominância de
processos inibitórios por grandes períodos, como pode ocorrer em reatores
Fonte: o autor
3.2.3.1 Condutividade
É a propriedade característica de um determinado meio em conduzir corrente
elétrica. É definida como a corrente que atravessa um condutor cúbico de 1 cm de aresta,
submetido à tensão aplicada de 1 V.
k = (I x L)/(E x A) (3.2-1)
baixa (a água mais pura obtida em laboratório registrou 4,3 x 10-8 mho/cm).
Em águas naturais (doces ou pouco poluídas), as concentrações das espécies
iônicas são normalmente baixas. Neste caso haverá uma relação praticamente linear entre a
condutividade elétrica e o conteúdo de sólidos dissolvidos.
A condutividade das águas naturais ou pouco poluídas encontra-se na faixa de 10
a 1000 mho/cm, dependendo principalmente das condições geológicas locais. Neste
sentido, deve-se atentar ao fato de que certas águas naturais, ricas em sais minerais
oriundos da dissolução de rochas poderão apresentar condutividades da mesma ordem de
grandeza de águas poluídas.
No caso dos lixiviados de aterros sanitários a condutividade pode alcançar desde
alguns milhares a algumas dezenas de milhares de mho/cm. Assim o parâmetro adquire
importância para a verificação de possível contaminação das águas por lixiviados de aterro.
Todavia é preciso enfatizar que para altas concentrações de eletrólitos atuarão
forças de atração entre os íons, que resultam na redução da sua mobilidade. Logo, nessas
condições, a condutividade não terá mais uma relação de proporcionalidade com a
concentração iônica. Assim, quantitativamente, a condutividade fornecerá apenas uma
estimativa da concentração iônica da solução.
Deve-se lembrar que a condutividade é função também do grau de dissociação
das espécies ionizáveis (e, por consequência, do pH) e da temperatura. Desta maneira, ao
traçarem-se comparações entre resultados, idealmente seria interessante corrigir as
variações dessas condições de contorno. Em valores de pH elevados haverá tendência dos
metais em serem encontrados em formas não dissociadas, ao passo que em valores baixos
do pH há tendência da dissociação dos sais. Observa-se que a concentração dos metais
presentes nos lixiviados é rebaixada do início da operação até a estabilidade do processo de
degradação dos resíduos sólidos, em virtude do pH subir de aproximadamente 4,0 até 7,0 ou
mais ao longo do curso do processo.
Os estudos geofísicos baseiam-se na passagem induzida de corrente elétrica por
horizontes do solo, no sentido de obter-se o mapeamento da condutividade elétrica em
diferentes pontos e em diferentes profundidades, para reconhecimento de anomalias em
relação à condutividade considerada natural da matriz do solo. Os resultados de medições
de condutividade são normalmente expressos em mS/m, que relaciona-se com a unidade
usual mho/cm da seguinte forma:
Portanto:
3.2.3.2 Turbidez
A turbidez é entendida como o coeficiente de espalhamento e absorção da luz
pelas partículas em suspensão em água (ou outro líquido).
No caso de águas naturais, as partículas que conferem turbidez são normalmente
lodo, barro, partículas finas de matéria orgânica e inorgânica, plâncton e organismos
microscópicos, estando numa faixa de 10 nm a 0,1 mm de diâmetro de partícula. Os
despejos domésticos e industriais, além das partículas provenientes de processos erosivos e
de drenagem urbana, são as principais fontes antropogênicas de turbidez.
A turbidez pode variar sazonalmente com a atividade biológica na coluna d’água.
A turbulência em um corpo d’água num determinado momento pode resultar em variação
temporária da turbidez.
O parâmetro turbidez encontra-se diretamente relacionado com o parâmetro
sólidos suspensos totais. O método comumente utilizado para a medida de turbidez é a
nefelometria, que mede a dispersão da luz por partículas em suspensão em uma amostra
(unidade UNT - Unidade Nefelométrica de Turbidez). A unidade de expressão da turbidez
também é chamada de unidade de turbidez (uT) ou unidade de Jackson.
Uma água com 10 UNT apresenta uma ligeira nebulosidade, enquanto que uma
água com 500 UNT é praticamente opaca. Valores normais para as águas naturais giram
entre 1 e 100 UNT (GIASANTE, 1994).
A turbidez afeta a produção primária dos corpos hídricos, em função de limitar a
penetração da luz solar necessária à fotossíntese. A elevação da turbidez torna a água
objetável. As partículas responsáveis pela turbidez podem abrigar organismos patogênicos.
Naturalmente, lixiviados jovens, saturados em sólidos suspensos, apresentam
elevada turbidez, ao passo que os mais antigos, por efeitos de remoção, natural ou induzida,
de sólidos voláteis, tenderão a apresentarem-se mais límpidos, ainda que com coloração
característica negra.
3.2.3.3 Cor
A cor resulta do somatório dos comprimentos de onda não absorvidos pelo
líquido, principalmente em função das substâncias nela dissolvidas ou suspensas. Nesse
sentido define-se cor aparente como a causada por refração e reflexão da luz pelas
partículas em suspensão, e cor verdadeira como a produzida pelas substâncias dissolvidas na
água (que pode ser determinada em laboratório, após a centrifugação da amostra).
Os ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da decomposição da matéria orgânica
(sobretudo proveniente de vegetais) e os íons ferro e manganês são as principais origens
naturais da coloração das águas, ao passo que os esgotos domésticos e os industriais (como
os provenientes de tinturarias, tecelagem e produção de papel, por exemplo) são os
3.2.3.4 Odor
É um parâmetro que normalmente sugere atividade biológica maior do que a
normal e/ou poluição. O odor pode ser produzido por fitoplâncton e plantas aquáticas ou
matéria orgânica em decomposição. Rejeitos industriais e humanos podem também
produzir odores, diretamente, ou como resultado da atividade biológica estimulada.
O odor produzido depende de variáveis como a temperatura e o pH, no sentido
da estimulação ou inibição do metabolismo microbiológico e da volatilidade de alguns
poluentes.
A determinação do odor em uma amostra é levada a efeito através do olfato
humano, sofrendo variabilidade subjetiva proveniente de diferentes julgamentos. Assim, o
odor pode ser medido em termos da diluição de uma amostra até o ponto em que qualquer
odor perceptível seja eliminado (limiar de odor), ou determinado qualitativamente,
exercendo-se comparação entre o odor da amostra em análise e diversos padrões
previamente estabelecidos. Assim, temos o Quadro 3.2.1, convencionada para a
caracterização de odor (USP, 1970; DMAE, 1974).
3.2.3.5 Temperatura
A temperatura pode ser fisicamente definida como o grau de agitação das
moléculas de um meio, resguardando uma relação direta com a energia cinética média
dessas mesmas moléculas. Influi marcadamente sobre as características químicas, físicas e
biológicas das águas e despejos, estando então relacionada com praticamente todos os
parâmetros de avaliação/monitoramento destes. Como exemplos típicos desta influência,
podemos dizer que a temperatura de um corpo hídrico influi na florescência de certas algas,
3.2.3.6 Sabor
Normalmente o sabor é considerado como uma interação entre a sensação
gustativa (limitada a salgado, doce, azedo e amargo) e a sensação olfativa (odor). É uma
característica que pode tornar as águas para consumo mais ou menos objetáveis. É também
3.2.3.7 pH
O potencial hidrogeniônico é definido como o cologaritmo, na base 10, da
concentração dos íons hidrogênio (H+), variando entre 0 e 14 (limite ácido/limite alcalino),
com o valor 7 representando a condição de neutralidade. Os sólidos dissolvidos oriundos da
dissolução das rochas, os gases dissolvidos oriundos da atmosfera, os compostos resultantes
da oxidação da matéria orgânica e os produtos do processo de fotossíntese são os
constituintes responsáveis pelo pH de uma água natural. Despejos domésticos e industriais,
igualmente, alteram o pH das águas. Nas águas naturais o pH é controlado pelo balanço
entre o dióxido de carbono, íons carbonato e íons bicarbonato, bem como por outros
compostos naturais como os ácidos húmicos e fúlvicos.
Em efluentes líquidos em tratamento, bem como na digestão anaeróbia, o
monitoramento do pH é de fundamental importância, tendo em vista sofrer modificações
bastante sensíveis devidas aos mais diversos eventos possíveis.
O pH da maioria das águas naturais encontra-se entre 6,0 e 8,5, embora valores
menores possam ocorrer em águas com elevada concentração orgânica diluída e valores
maiores possam ocorrer em águas eutróficas, águas subterrâneas salgadas e lagos salgados.
Águas de minas ou contendo gases vulcânicos podem apresentar pH bastante baixo.
O pH, porém, deve ser compreendido como a “face externa” de um determinado
meio, visto que o mesmo pode conter compostos básicos e ácidos não dissociados, que
atuam como reservas alcalinas e ácidas, exercendo capacidade de tamponamento do meio.
Em esgotos sanitários, o pH normalmente está compreendido na faixa 6,5-7,5.
Na digestão anaeróbia, o pH evolui de valores reduzidos, próximos a 4,0, na fase
de produção de ácidos, à faixa de 6,8-7,2, característica da metanogênese, podendo
inclusive alcançar valores superiores a essa faixa: há indicações de que a digestão anaeróbia
x = P/p (3.2-4)
3.2.3.9 Sólidos
O conteúdo total de sólidos de uma amostra de água ou despejo é definido como
toda a matéria que permanece como resíduo após evaporação à temperatura de 103-105oC.
O material que possui significativa pressão de vapor nesta temperatura é perdido durante a
evaporação e não é definido como sólido.
Do conteúdo total de sólidos podemos distinguir dois subgrupos segundo as
dimensões das partículas sólidas. Os sólidos não-filtráveis (partículas com diâmetro superior
a 1m) e os sólidos filtráveis (dissolvidos + coloidais), conforme apresenta
esquematicamente a Figura 3.2.2.
Fonte: o autor
Na prática, adotam-se como sólidos suspensos aqueles retidos por filtração com
uma membrana de porosidade específica (sólidos não-filtráveis), sendo os sólidos dissolvidos
(na verdade, filtráveis) os não retidos. Os sólidos filtráveis compreendem as partículas
dissolvidas e as partículas em estado coloidal (em verdade estes últimos seriam não filtráveis
caso fossem utilizados ultrafiltros). Cada uma dessas categorias de sólidos pode ser também
classificada com base em suas volatilidades a 550-600°C. A fração orgânica oxidar-se-á a essa
temperatura, sendo eliminada como gás. A fração inorgânica permanecerá como cinza.
Dessa maneira temos mais quatro categorias de sólidos: sólidos suspensos voláteis (SSV:
correspondendo, grosso modo, à matéria orgânica não solubilizada), sólidos suspensos fixos
(SSF: correspondendo, grosso modo, à matéria mineral não solúvel), sólidos dissolvidos
voláteis (SDV: correspondendo, grosso modo, à matéria orgânica solúvel), sólidos dissolvidos
fixos (SDF: correspondendo, grosso modo, à matéria mineral solúvel).
Devem ser observadas as equivalências de notações utilizadas por diferentes
laboratórios e autores:
sólidos = resíduo;
filtráveis = dissolvidos (na prática);
não-filtráveis = suspensos.
Fonte: o autor
Fonte: web
3.2.3.11 Dureza
Definida como a concentração de cátions multimetálicos em solução, decorre de
certos sais que são encontrados na composição das águas, em maior ou menor
concentração, depreciando sua qualidade para vários fins. Os sais causadores de dureza são
geralmente bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio. Grandes
concentrações desses sais conferem sabor desagradável à água para a bebida, impedem a
formação de espumas pelos sabões (até que todos os sais minerais tenham sido
quimicamente precipitados pelo sabão), tornam a água imprópria para o cozimento e para
fins industriais, por formarem carbonatos insolúveis que se depositam como incrustações
em caldeiras e aquecedores, sobretudo em temperaturas elevadas. Em elevadas
concentrações, os cátions multimetálicos reagem com ânions da água, originando
precipitados.
A dureza pode ser classificada como dureza carbonato, e dureza não carbonato,
dependendo do ânion ao qual se encontra associada:
dureza carbonato: dureza associada à alcalinidade, com sensibilidade ao calor,
precipitando-se em elevadas temperaturas;
dureza não carbonato; demais formas de dureza.
3.2.3.12 Alcalinidade
A alcalinidade representa a medida das substâncias que conferem o
tamponamento alcalino ao meio, isto é, impedem a queda do pH quando da adição de
ácidos, por neutralizarem os mesmos. Os principais precursores da alcalinidade são os
bicarbonatos (HCO3-), os carbonatos (CO3-2), e os hidróxidos (OH-), que aparecem como
sólidos dissolvidos e cuja distribuição na água é função do pH. Na digestão anaeróbia o
monitoramento da alcalinidade é essencial, visto sua queda ser o primeiro indicativo de uma
inibição da metanogênese, o que, caso ocorra, virá acompanhado de uma ascensão das
concentrações de ácidos graxos voláteis. Na faixa de pH ótima para a digestão anaeróbia
(6,8-7,2) a capacidade de tamponamento do meio é dependente do sistema gás
carbônico/bicarbonato, em equilíbrio com a dissociação do ácido carbônico.
Indica a bibliografia que para valores de AI/AP> 0,3 ocorre distúrbio na digestão
anaeróbia (consumo excessivo de bicarbonatos = aumento dos ácidos graxos voláteis).
No monitoramento de águas a alcalinidade constitui-se em um parâmetro
especialmente sensível. Embora a alcalinidade das águas naturais, não poluídas, seja uma
função do meio geológico (dissolução de rochas), a matéria orgânica em decomposição,
aeróbia ou anaeróbia, libera gás carbônico como produto. Sua reação com a água gerará
alcalinidade. Da mesma forma, uma série de compostos presentes em despejos diversos
poderá ter efeitos de elevação ou consumo da alcalinidade, modificando-a em relação ao
seu patamar natural. Pequenas concentrações poluentes já alteram sensivelmente a
alcalinidade, daí por que se constitui em um excelente parâmetro de monitoramento de
águas.
Os processos oxidativos (tais quais a nitrificação) tendem a consumir alcalinidade
do meio, rebaixando o pH.
Fonte: o autor
Águas não poluídas têm valores de DBO5 em torno de 2,0 mg/L (ou menos),
enquanto que aquelas que receberam águas servidas podem registrar valores acima de 10
mgO2/L. Os efluentes de esgoto tratado têm valores de DBO5 variando entre 20 e 100
mgO2/L. O esgoto sanitário bruto tem usualmente DBO5 variando entre 100 e 400 mgO2/L.
No caso dos efluentes de aterro sanitário (lixiviados), os ácidos graxos voláteis são
responsáveis por cerca de 80% de sua carga orgânica (DBO5). Os valores da DBO para os
lixiviados variam com diversos fatores, sobretudo a diluição pela precipitação (chuvas) e a
operação do aterro. A DBO5 do lixiviado tende ao rebaixamento progressivo com o tempo
(devido à estabilização da matéria orgânica e o exaurimento dos maciços). Valores típicos da
DBO5 de lixiviados variam desde poucos milhares de mg/L até cinquenta mil ou mais dessas
unidades. Lixiviados de aterros encerrados há alguns anos têm sua DBO5 reduzida abaixo de
1000 mgO2/L.
concentrações dos ácidos no meio. Tal processo é conhecido como azedamento. Conforme
MCCARTY apud SOUZA (1982) concentrações de 6000 a 8000 mg/L de ácidos graxos voláteis
não são tóxicas à digestão anaeróbia, desde que o pH mantenha-se próxima à neutralidade.
Conforme DE LA TORRE apud SOUZA (1982) as bactérias acidogênicas podem suportar até
40.000 mg/L de ácidos graxos voláteis. A redução do pH produz ainda outro efeito de
inibição: manutenção dos ácidos graxos voláteis em moléculas não dissociadas que são
muito mais inibidoras do que as formas ionizadas. Há indicações de que o ácido propiônico
tem efeito bem mais tóxico do que os demais, apresentando toxicidade já a 1500 mg/L. Os
ácidos acético e butírico somente causam inibição a 6000 mg/L.
Levando-se em conta o exposto, verifica-se a importância de um contínuo
monitoramento dos ácidos graxos voláteis em meios anaeróbios, tais quais aterros sanitários
e seus sistemas de tratamentos de lixiviados. Um aumento de suas concentrações poderá
ser prenúncio de possível desequilíbrio do meio, embora isso seja muito improvável em
aterros sanitários.
3.2.3.16 Nitrogênio
O nitrogênio é um importante constituinte das proteínas vegetais e animais,
sendo essencial para os organismos vivos como nutriente de constituição corporal (função
plástica). Seu ciclo na natureza inclui formas inorgânicas (amônia, nitritos, nitratos,
nitrogênio molecular) que são convertidas em formas orgânicas pelas plantas e
microorganismos, sendo estas últimas novamente convertidas a formas inorgânicas por
processos biológicos. O ciclo do nitrogênio encontra-se representado na Figura 3.2.6.
Idealmente, o nitrogênio disponível à digestão anaeróbia deveria manter-se em
proporção de 1:30 em relação ao carbono orgânico total, assim como em proporção de 5:1
em relação ao fósforo. Todavia, no caso dos aterros sanitários, em geral encontra-se em
excesso relativamente à matéria carbonácea e ao fósforo.
Verifica-se que, com o processo de estabilização dos resíduos de aterro, há um
lento, mas progressivo, decréscimo do conteúdo de nitrogênio nos lixiviados. Isto é
explicado pela lenta redução microbiológica dos compostos de nitrogênio a N2 nas regiões
não saturadas dos maciços de aterro, e pela perda por NH3 (gasoso) no biogás.
Nitrogênio Orgânico
O nitrogênio orgânico consiste principalmente de proteínas, seus produtos de
decomposição (aminoácidos, uréia) e ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da sua
transformação bioquímica. Em águas naturais é formado principalmente por fitoplâncton e
bactérias, estando naturalmente sujeito a flutuações sazonais da comunidade biológica. O
nitrogênio orgânico facilmente degradável é denominado albuminóide.
Fonte: o autor
Nitrogênio Amoniacal
A amônia ocorre naturalmente em corpos d’água, sendo originária da quebra do
nitrogênio orgânico da matéria orgânica do solo da água, de vegetais em decomposição, da
excreção dos seres vivos, da redução do gás N2 (nitrogênio molecular) na água por
microorganismos redutores. Pode aparecer em corpos d’água como poluição por esgotos,
por efluentes industriais ou por efluentes de aterro sanitário de resíduos sólidos (lixiviados).
Águas não poluídas apresentam usualmente concentrações totais de amônia e seus
compostos inferiores a 0,2 mgN/L. Também são importantes fontes de amônia, em zonas
rurais, os fertilizantes, que são arrastados pelo escoamento superficial e por águas de
infiltração. Flutuações sazonais da concentração de amônia nas águas de superfície podem
Fonte: o autor
aclimatação pode haver metanogênese em lodos contendo até 5000 mg de N amoniacal por
litro.
Em águas de abastecimento a amônia interfere negativamente na cloração,
formando cloraminas.
Nitratos
O íon nitrato é uma forma comum de nitrogênio encontrada em águas naturais.
Fontes naturais de nitratos em águas incluem rochas ígneas, drenagens da terra e restos de
animais e plantas que terão o nitrogênio de constituição bioquimicamente oxidado a
nitratos por via aeróbia. Concentrações naturais de nitrato em águas raramente excedem
0,1 mgN/L. Em meio anaeróbio redutor os nitratos podem sofrer redução a nitritos por
processos bacterianos. A poluição de corpos superficiais e subterrâneos pode ser produzida
por arraste de fertilizantes, contaminação por efluentes industriais, esgotos ou lixiviados de
aterros sanitários. Pequenas contribuições antropogênicas elevam as concentrações de
nitrato a 5 mgN/L (GIASANTE, 1994). O grau de poluição sofrido pelo corpo hídrico pode elevar
as concentrações de nitrato até 200 mgN/L. Em lagos, concentrações de nitrato superiores a
0,2 mgN/L tendem a eutrofizar o meio. Registraram-se concentrações de nitrato de até 500
mgN/L em águas subterrâneas de áreas agrícolas onde utilizou-se extensiva e
periodicamente a adição de fertilizantes.
Em sistemas de tratamento de água normalmente pouco nitrato é removido.
Assim, é fundamental conhecerem-se as concentrações de nitratos das fontes, uma vez que
apresentam alto risco potencial à saúde humana.
Os nitratos, juntamente com a amônia, fornecem o nitrogênio passível de
utilização pelas bactérias.
Em esgoto sanitário bruto, normalmente a concentração de nitratos oscila entre
0,1 e 0,4 mg/L como N.
Nitritos
Os nitritos são encontrados em águas doces em concentrações normalmente
muito baixas (0,0001-1,0 mgN/L).
Em esgotos sanitários brutos a concentração de nitritos costuma variar entre
0,05 e 0,1 mg/L (respectivamente esgoto fraco e forte).
Os nitritos figuram como espécies tipicamente redutoras nos meios aeróbios,
sendo rapidamente oxidados a nitratos.
É indesejável a presença de nitritos em águas para consumo, devido a
ocasionarem cianose em lactantes.
3.2.3.17 Fósforo
O fósforo é normalmente encontrado em águas naturais como partículas
originárias da fragmentação das rochas que contêm esse elemento em sua composição e
como produto da decomposição da matéria orgânica. Na maior parte das águas de superfície
a concentração de fósforo varia entre 0,005 e 0,02 mgP/L na forma de fosfatos.
Concentrações de fosfatos tão baixas quanto 0,001 mg P/L podem ser encontradas em
algumas águas e tão altas quanto 200 mgP/L são detectadas em algumas águas salinas
interiores (GIASANTE, 1994). A concentração média encontrada em águas subterrâneas é de
3.2.3.18 Cloretos
A ocorrência de cloretos nas águas naturais é frequente em concentrações
baixas, normalmente inferiores a 5 ppm. Decorre do desgaste das rochas ígneas. O íon
cloreto é extremamente abundante nos esgotos e nos resíduos sólidos, tendo a particular
propriedade de apresentar alta mobilidade no solo. Desta maneira é um eficiente indicador
de poluição ambiental. O cloro é um micronutriente importante à digestão anaeróbia em
baixas concentrações. A presença do íon cloreto na água confere potencial corrosivo à
mesma (elevação do potencial redox). A maior objeção em relação aos cloretos na água para
consumo refere-se à depreciação das suas qualidades organolépticas (lhes confere sabor
desagradável).
3.2.3.19 Sulfatos
Em águas naturais (subterrâneas), os sulfatos derivam principalmente da gipsita
ou da anidrita (sulfatos de cálcio). Outros sulfatos importantes são o de magnésio e o de
sódio, que na água para consumo exercem efeito laxativo (principalmente acima de 1000
mg/L). Os sulfatos conferem gosto à água a partir 500 mg/L. Aparecem nos esgotos
sanitários brutos em concentração média de 10 mg/L.
Na digestão anaeróbia a presença de sulfatos origina sulfetos pela redução
microbiológica. Estes, por sua vez podem causar problemas ao processo. Estudos (SOUZA,
1982) afirmam que a digestão anaeróbia é inibida por concentrações de sulfatos acima de
6.750 mg/L. Recentemente, outros estudos [CHERNICHARO (1997)] demonstram que a inibição
das bactérias metanogênicas devido aos sulfatos é acentuada quando a relação DQO/SO4-2
atinge valores inferiores a 7,0, ocorrendo forte dependência do pH.
Em presença de elevadas concentrações de sulfatos, as bactérias sulforredutoras
(redutoras de sulfato) passam a competir com as fermentativas, o que pode levar a uma
alteração das rotas metabólicas da digestão anaeróbia. Em geral, ocorrerá redução das taxas
de formação de metano, sendo que inevitavelmente elevar-se-á a produção de gás sulfídrico
no meio.
3.2.3.20 Sulfetos
O gás sulfídrico (H2S) é tóxico, corrosivo e causa sérios problemas de odor e
sabor às águas. É letal aos peixes em concentrações de 1 a 6 mg/L.
Os sulfetos são gerados pela decomposição da matéria orgânica por via
anaeróbia, sendo agentes fortemente redutores. Provocam a depressão dos níveis de
oxigênio dissolvido nos cursos d’água gerando desequilíbrios ecológicos. Concentrações
menores do que 1,0 mg/L podem causar odor característico. Concentrações de
aproximadamente 2,8 mg/L de sulfetos são típicas dos efluentes domésticos (AMARAL, 1984).
Para as estações de tratamento os sulfetos também são problemáticos, uma vez que atuam
impedindo a floculação.
Os sulfetos na forma ionizada são tóxicos à digestão anaeróbia. Dados (VIEIRA e
SOUZA, 1981) indicam que, concentrações de 100 mg/L de sulfetos solúveis podem ser
toleradas sem aclimatação pela microbiota anaeróbia, e, com certa aclimatação,
concentrações de até 200 mg/L não ocasionam efeitos tóxicos relevantes. Devido à
capacidade de formarem compostos insolúveis com os metais pesados, os sulfetos
contribuem para a queda da toxidez em um meio anaeróbio concentrado em tais metais,
tendo em vista que na forma não ionizada nem os sulfetos nem os metais pesados são
agentes tóxicos.
Em baixas concentrações, os sulfetos são necessários para o crescimento
bacteriano. Conforme CHERNICHARO (1997), a quantidade requerida pelos organismos seria
próxima à do fósforo.
O H2S formado pela redução dos sulfatos dissocia-se em meio aquoso segundo as
equações (JANSEN apud CHERNICHARO, 1997):
A forma H2S é a mais tóxica para a digestão anaeróbia. A toxidez do HS- é menor,
e a forma S-2 não é encontrada na faixa de pH típica da digestão anaeróbia.
O H2S dissolve-se na fase líquida em equilíbrio com o gás. A sua solubilidade irá
diminuir com o aumento da porcentagem de metano na fase gasosa (CHERNICHARO, 1997).
Assim, o aumento da DQO afluente do processo anaeróbio, aumentando a produção de CH4,
produzirá diminuição da toxidez pelo efeito da saída de H2S para a fase gasosa. É assumido
que uma relação DQO/SO4-2 maior do que 10 é suficiente para impedir a toxidez por sulfetos.
3.2.3.21 Fenóis
Os fenóis provocam odor e sabor desagradável na água potável já em
concentrações de 50 a 100 ppb. Podem influenciar no teste da DBO por serem poderosos
bactericidas. São tóxicos aos peixes em concentrações de 1 a 10 mg/L. Apresentam
toxicidade ao homem somente em elevadas concentrações.
3.2.3.22 Cianetos
O íon cianeto é muito tóxico, devido à sua capacidade de inibir o metabolismo do
oxigênio. Os diversos cianetos simples ou complexos possuem toxicidades diversas em
função de suas respectivas capacidades de dissociação nos diversos meios. O organismo
humano normalmente aceita pequenas quantidades de alimentos que contêm cianeto
(palmito, alface, repolho, etc.), convertendo-o em sulfeto complexo não tóxico. A toxidez
dos cianetos aumenta com a temperatura, o pH e a redução de oxigênio dissolvido. A
concentração de 0,025 mgCN/L é considerada tóxica para os peixes, sendo os
microorganismos geralmente mais tolerantes.
A matéria orgânica é a principal fonte de cianetos nos resíduos sólidos. Diversas
fontes industriais poderão ser responsáveis pela ocorrência de cianetos em aterro sanitário
uma vez que seus resíduos sejam encaminhados para esses locais, a saber: galvanização,
clarificação de metais, fabricação de borracha, plásticos e fibras acrílicas.
3.2.3.23 Fluoretos
São encontrados em águas naturais em pequenas concentrações. Podem derivar
da fluorita, principal fluoreto das rochas ígneas, ou de algum do considerável número de
complexos minerais de que os fluoretos participam. É um elemento essencial em
concentrações reduzidas, tendo efeito benéfico no sentido da proteção dos dentes contra as
cáries. Concentrações elevadas, no entanto, ocasionam o escurecimento do esmalte dos
dentes que estão em formação (em crianças), problema conhecido como fluorose. Em geral,
concentrações de 1 a 2,5 mg/L oferecem apenas o efeito benéfico. Os padrões estabelecidos
para a água de consumo levam em conta as temperaturas médias das regiões. Os fluoretos
aparentemente não interferem no crescimento das plantas.
3.2.3.25 Surfactantes
Por esta designação compreendem-se os agentes tensoativos que reagem com o
azul de metileno. A sua presença em aterros sanitários deriva de resíduos domésticos e
industriais. Sua toxicidade é baixa, porém, apresentam o inconveniente de formar espumas
que tornam a água para consumo objetável. Os surfactantes podem ser biodegradáveis ou
não, conforme sua cadeia carbônica. A expressão analítica refere-se normalmente aos dois
representantes mais comuns, a saber, os alquilbenzenos sulfonatos (ABS), que não são
biodegradáveis, e os alquilbenzenos sulfonatos lineares (LAS) - biodegradáveis
aerobicamente, mas pouco biodegradáveis em ambientes anaeróbios. Os surfactantes,
especialmente os aniônicos, exercem inibição sobre os sistemas anaeróbios (KHALIL et al.,
1988), podendo em alguns sistemas específicos modificar as rotas metabólicas, dependendo
da sua concentração no meio.
3.2.3.27 Alumínio
É um metal encontrado em abundância nos solos e, por conseguinte, nas águas
naturais. Sua presença nos resíduos sólidos é abundante, principalmente devido à sua larga
3.2.3.28 Arsênio
Ocorre naturalmente como arsenopirita (AsFeS). É um constituinte frequente das
águas naturais, ocorrendo como traços inofensivos à saúde. Teores mais elevados ocorrem
em zonas ricas no minério ou como contaminação por lavagem superficial de solos onde são
aplicados inseticidas, herbicidas e fungicidas à base desse elemento.
O arsênio é muito tóxico e causa ao homem enfermidades como a dermatose
arsenical crônica, advinda do seu efeito cumulativo e mesmo o câncer de pele e talvez do
fígado.
Normalmente é elemento ausente nos lixiviados de aterros. Sua presença
indicaria disposição de resíduos de pesticidas no local.
3.2.3.29 Bário
É um cátion que, devido à sua solubilidade extremamente baixa quando da
ocorrência como sulfato, apresenta-se apenas como traços em águas naturais. Ocorre na
forma de carbonato em algumas fontes minerais e também é encontrado em efluentes de
mineração. O bário é considerado um estimulante muscular, especialmente do coração. É
também capaz de ocasionar bloqueio do sistema nervoso e, mesmo em doses pequenas ou
moderadas, vasoconstrição, com elevação da pressão sanguínea. Não aparenta ter efeitos
cumulativos. As principais fontes de bário nos resíduos são as cinzas de ruas, resíduos de
tintas, metais e couros.
3.2.3.30 Cádmio
Ocorre na natureza principalmente na forma de sulfeto, sendo também
encontrado associado ao chumbo. Sendo insolúvel em água é encontrado como sedimento
de fundo ou partículas em suspensão nas águas naturais.
O cádmio é extremamente tóxico ao homem, apresentando efeito cumulativo.
Sua acumulação se dá em diversos órgãos do corpo e origina uma extensa série de
enfermidades ligadas, sobretudo, ao sistema cardiovascular. Em zonas poluídas por cádmio
as culturas irrigadas com águas contaminadas pelo metal podem acumular concentrações
suficientes para apresentar risco ao homem que consome tais alimentos.
3.2.3.31 Chumbo
Devido à sua fraca solubilidade em água (aproximadamente 500 gL em água
branda e 3 gL em água dura) o chumbo apresenta-se apenas como traço em águas
naturais. Entretanto, em regiões ricas em galena (sulfeto de chumbo) sua concentração pode
alcançar 0,4 a 0,8 mgL. Outras formas naturais de ocorrência são como carbonato de
chumbo (cerusita), sulfato de chumbo (anglesita) e clorofosfato de chumbo (piromorfita).
Nos resíduos, a ocorrência de chumbo provém de metais ferrosos, plásticos,
couros, borracha, matéria orgânica, restos de combustíveis, cinzas de ruas, papéis e papelão.
Conforme ROUSSEAUX et al. (1989), os teores médios deste metal nos resíduos sólidos
brasileiros variavam, em finais dos anos 1980, entre 167-282 mgPb/(kg resíduo).
O chumbo e seus sais são extremamente tóxicos ao homem e aos animais e
possuem efeito cumulativo. Causam lesões nos sistemas neuromuscular, circulatório, no
cérebro e no trato digestivo. A toxicidade crônica ocorre quando da ingestão diária de 1,0
mg/L de chumbo, sendo denominada saturnismo.
Há indicações (AMARAL, 1984) de que há um deslocamento natural (geológico) de
5
1,8 x 10 toneladas de chumbo por ano no ambiente, e de que o deslocamento
(contaminação) de origem antropogênica é da ordem de 2,33 x 106 t/ano.
3.2.3.32 Cobre
Encontra-se na natureza na forma de cloretos, sulfatos (muito solúveis em água),
óxidos, sulfetos, carbonatos e hidróxidos (mais abundantes, porém pouco solúveis). Os
principais minérios de cobre são a cuprita, a pirita e a malaquita. Em águas naturais
apresenta-se em pequenas quantidades, sendo que a partir de pH 7 precipitam como
carbonato e hidróxido.
Nos resíduos sólidos o cobre aparece principalmente na matéria orgânica e
metais ferrosos, sendo fontes minoritárias o papel, couros, borrachas, plásticos, resíduos de
tintas e de inseticidas, cinzas de ruas e metais não ferrosos. Estimava-se, ao final da Década
de 1980 (ROUSSEAUX et al.,1989), que o seu teor nos resíduos brasileiros girasse em torno de
156 mgCu/(kg resíduo).
O cobre é um elemento-traço importante para as plantas, animais, homem e
microbiota anaeróbia, porém, em altas concentrações apresenta toxidez para todos esses
organismos. Há indicações de que esse metal é tóxico ao homem em quantidades de cerca
de 100 mg. Não possui efeito cumulativo.
3.2.3.33 Cromo
É um metal abundante na crosta terrestre (8 a 200 mg/kg) principalmente na
forma do minério cromita. Dificilmente é encontrado em águas naturais, devido à sua baixa
solubilidade em água. Embora o seu número de oxidação varie de +2 a +6, a forma trivalente
é a mais comumente encontrada na natureza.
O cromo na forma trivalente é essencial para o homem e para os animais como
elemento-traço, porém na forma hexavalente é extremamente tóxico, ocasionando desde
irritação das mucosas até câncer do pulmão.
Segundo os estudos de ROUSSEAUX et al. (1989), o teor médio de cromo nos
resíduos brasileiros era de 68 mgCr/(kg resíduo) nos finais da Década de 1980, e sua
ocorrência é devida principalmente aos couros, matéria orgânica, metais ferrosos e não
ferrosos, plásticos, vidros, papéis, papelão e cinzas de rua.
O monitoramento das concentrações de cromo tem importância estratégica na
digestão anaeróbia, uma vez que esse metal pesado não forma sulfetos suficientemente
insolúveis para inativar sua ação tóxica à microbiota. Conforme MOORE apud VIEIRA e SOUZA
(1981) uma concentração de 3 mg/L de cromo solúvel já causa inibição à digestão anaeróbia.
3.2.3.34 Ferro
É um constituinte normal das águas naturais. É elemento necessário ao corpo
humano (5 a 6 mg/dia), às plantas e aos animais. Apresenta-se, nas águas, dissolvido como
Fe+2 em concentrações de até 50 mg/L. Em contato com o oxigênio oxida-se a Fe+3
precipitando, devido à sua baixa solubilidade em pH alcalino ou moderadamente ácido,
como óxido férrico ou hidróxido férrico (a popularmente denominada ferrugem).
O efeito negativo do ferro na água para consumo diz respeito à qualidade
organoléptica, já que o mesmo confere sabor e cor à mesma, bem como manchas às
superfícies expostas à água contendo concentrações significativas do metal. Estima-se
(AMARAL, 1984) o movimento geológico de 2,5 x 107 t/ano de ferro, e a dispersão, por ação
antropogênica, de 3,19 x 108 t/ano do metal.
No que se refere à digestão anaeróbia, o ferro é um nutriente importante para a
metanogênese, ainda que possa causar inativação em altas concentrações.
O ferro é constituinte extremamente abundante nos resíduos, sendo suas fontes
as mais diversas, tendo em vista seu largo uso doméstico e industrial.
3.2.3.35 Manganês
É um metal quimicamente bastante semelhante ao ferro. Ocorre em águas
naturais ainda que normalmente em concentrações menores do que as encontradas para o
ferro. É um elemento essencial ao metabolismo animal e necessário ao desenvolvimento das
culturas vegetais. Seu excesso provoca toxidez aos organismos.
Em geral o maior problema apresentado pelo manganês refere-se à depreciação
da qualidade organoléptica das águas contendo concentrações apreciáveis do metal, que
ocasiona sabor e cor às mesmas.
3.2.3.36 Mercúrio
É um metal pesado extremamente denso e líquido a temperatura e pressão
ordinárias. Encontra-se amplamente distribuído no ambiente. Estima-se (AMARAL, 1984) que
3000 toneladas anuais sejam dispersas por movimentos geológicos, enquanto 7000
toneladas sejam dispersas pela ação do homem no mesmo período de tempo. Diversos são
os usos do mercúrio nas atividades industriais, podendo resultar em poluição ambiental.
O mercúrio apresenta efeitos cumulativos em plantas e animais. A metilação do
mercúrio é um processo natural e que ocorre em condições anaeróbias ou pouco aeróbias,
sendo fundamental no processo de bioacumulação do metal nas cadeias tróficas. Nesta
forma, os peixes podem acumular, em seus tecidos, concentrações do metal milhares de
vezes mais elevadas do que as das águas em que vivem.
A intoxicação aguda com mercúrio causa ao homem morte em 10 dias. A
intoxicação crônica ocasiona danos neurológicos, psicomotores e genéticos.
Conforme os trabalhos de ROUSSEAUX et al. (1989), o teor médio de mercúrio nos
resíduos brasileiros era de 0,2 mgHg/(kg resíduo) no final da Década de 1980. As principais
fontes de mercúrio nos resíduos domiciliares são a matéria orgânica, os papéis, os plásticos,
as lâmpadas fluorescentes e as pilhas.
3.2.3.37 Níquel
Ocorre na natureza em minérios sulfurosos, combinado, em proporções
majoritárias, com outros metais. Estima-se (AMARAL, 1984) que 3 x 105 t/ano de níquel sejam
deslocadas naturalmente, enquanto 3,58 x 105 toneladas anuais são deslocadas por ação
antropogênica.
Os estudos de ROUSSEAUX et al. (1989) indicam que as fontes mais comuns de
níquel nos resíduos brasileiros são a matéria orgânica, os plásticos, as pilhas, o vidro, os
papéis, o couro, a borracha e as cinzas de ruas. Os mesmos estudos indicavam uma
concentração média de 12 mgNi/(kg resíduos) nos finais da Década de 1980.
3.2.3.38 Prata
A prata não é encontrada com frequência nas águas naturais. Não é elemento
abundante na natureza e seus sais são insolúveis. O aparecimento de prata em águas
normalmente é indicativo de poluição. Estima-se (AMARAL, 1984) que 5 x 103 toneladas de
prata são deslocadas ao ano geologicamente, enquanto 7 x 103 toneladas são movimentadas
por ano pela ação do homem, espalhando-se pelo ambiente.
A prata apresenta ação tóxica ao homem, podendo ocasionar lesões irreversíveis
na pele além de outros problemas. Altas doses do metal podem ocasionar a morte do
indivíduo.
Nos resíduos, as fontes de prata são principalmente resíduos de filmes
fotográficos e radiográficos, tintas e resíduos de galvanoplastia.
3.2.3.39 Selênio
É um elemento quimicamente semelhante ao enxofre, frequentemente
acompanhando os sulfetos em veios minerais, podendo aparecer apenas como traços nas
águas naturais, geralmente encontrando-se nelas ausente.
O selênio pode ser encontrado, em altas concentrações, em regiões seleníferas.
Sua presença torna-se um problema, visto que certos vegetais apresentam capacidade de
extraí-lo e acumulá-lo em seus tecidos, transferindo-o ao gado que se alimenta desses
pastos, podendo tais animais sofrerem intoxicação crônica, aguda ou mesmo fatal. No
homem, o selênio pode causar intoxicação e cárie dentária além de possível ação
carcinogênica.
Apesar dos citados efeitos maléficos, o selênio é necessário como elemento-
traço ao desenvolvimento do homem, dos animais e das plantas, e como estimulante
nutricional à digestão anaeróbia.
3.2.3.40 Zinco
É encontrado na natureza usualmente como sulfeto, muitas vezes associado a
sulfetos de chumbo, cádmio, cobre e ferro. Devido à baixa solubilidade do sulfeto de zinco
em água, sua ocorrência em águas naturais pode ocorrer em sedimentos de fundo. É
encontrado como componente dos sistemas metabólicos de seres vivos, assim como em
Os resultados analíticos obtidos para uma amostra devem ser confrontados com
a série histórica do ponto de amostragem e com resultados provenientes de outro ponto, se
houver sentido real nessa comparação. Especificamente, recomenda-se as seguintes práticas
ao analista:
para análise de águas subterrâneas: os resultados devem ser confrontados (a)
com a série histórica de resultados para o ponto de amostragem, e, de
maneira muito especial, com a série histórica obtida anteriormente ao início
da operação do empreendimento potencialmente poluente; (b) com os
resultados referentes a amostras colhidas na mesma época em outros pontos
de amostragem de águas subterrâneas do sítio, e, de maneira muito especial,
com o denominado “ponto branco”, que é um ponto de amostragem que não
sofre potencial influência do empreendimento (montante); (c) é preciso que
sejam observados aspectos pontuais de eventos e condições que possam
conduzir à contaminação ou poluição da água nas imediações do ponto de
coleta, e que não traduzirão efeitos ocasionados pelo empreendimento
diretamente (por exemplo, presença abundante de fezes de animais próximas
a um ponto de amostragem tenderão a elevar as contagens de coliformes);
para análise de águas superficiais: (a) deve-se observar que certas
características alteram-se sazonalmente, em função de diferenças de
temperaturas ou da atividade fotossintética e isso deve ser levado em conta;
(b) em períodos de chuva, é comum o arraste de resíduos para as águas o que
pode modificar, em muito, certas condições do corpo hídrico; (c) corpos em
movimento, como arroios e córregos podem ter percursos muito longos a
montante do empreendimento, portanto, pode ser elevada a probabilidade
da existência de algum evento poluente a montante. Nesse sentido, é
necessário sempre confrontar os dados de jusante com os de montante; (d)
corpos de superfície variam sua vazão ao longo do ano, em função das
precipitações e estiagens: é necessário ter-se em mente que isso elevará as
concentrações se os despejos que tais corpos usualmente recebem
mantiverem-se constantes ao longo do período; (e) certas condições
específicas em lagoas e lagos podem levar à sua eutrofização. Iniciado o
processo ele tende a auto-alimentar-se através da morte e decomposição de
macrófitas, o que disponibilizará nutrientes ao meio;
lixiviados: para um aterro operando em estado estacionário há uma tendência
global à variação das características do lixiviado uma vez que paulatinamente
a idade média dos resíduos vai elevando-se, então é preciso sempre
confrontarem-se resultados com a série histórica. Outro aspecto fundamental
a ser observado refere-se ao balanço hídrico, uma vez que concentrações e
diluições poderão decorrer de chuvas e da operacionlidade da retirada de
lixiviados das células;
s2 = [(xi-Xmédio)2]/(N-1)] (3.2-21)
se t* for menor do que menor do que tcrítico, então é possível concluir que não
houve aumento significativo no parâmetro ao nível de significância adotado.
O teste para o parâmetro pH é bicaudal: t* é tomado em seu valor absoluto e
tcrítico calculado para t bicaudal, ou seja, se normalmente se utiliza um nível de significância
de 5% nas análises, para o pH deve utilizar-se 2,5%. Isso se dá em virtude de que tanto
elevação como rebaixamento de pH podem traduzir modificações.
Repetindo-se os resultados hipotéticos anteriormente citados:
montante: (a) 0,2 mgFe/L; (b) 18,0 mgFe/L; (c) 1,0 mgFe/L; (d) 7,0 mgFe/L;
jusante: (a) 7,0 mgFe/L, (b) 8,0 mgFe/L; (c) 6,0 mgFe/L, (d) 7,0 mgFe/L.
Desejamos verificar se há diferença significativa entre as concentrações de ferro
a montante e a jusante, então teremos:
(1) Cálculo das Médias:
montante: (0,2 +18+1+7)/4 = 6,55
jusante: (7+8+6+7)/4 = 7
Observe-se que as médias são próximas, porém a dispersão dos resultados em
torno da média no caso do ponto de montante é muito maior do que a dispersão dos
resultados em torno da média no caso dos resultados do ponto de jusante, portanto os
resultados de montante produzirão uma maior variância em relação aos relativos ao ponto
de jusante, cuja média é bem mais confiável.
(2) Cálculo das variâncias:
montante: [(0,2-6,55)2+(18-6,55)2+(1-6,55)2+(7-6,55)2)]/(4-1) = 67,47
jusante: [(7-7)2+(8-7)2+(6-7)2+(7-7)2)/(4-1) = 0,667
(3) Cálculo de t*:
t* = (7-6,55)/(0,667/4+67,47/4)0,5 = 0,109
(4) Cálculo de tcrítico:
Para o cálculo será adotado, conforme recomenda a norma, um nível de
significância de 5%. Para cada conjunto de resultados temos (4-1) = 3 graus de liberdade,
então encontraremos na interseção da terceira linha com a quinta coluna da tabela o valor
da distribuição de Student (2,353) que será o valor de tb e tm (o número de resultados das
coleções poderia ser diferente, e, nesse caso, teríamos tb e tm diferentes). Os parâmetros
Wm e Wb correspondem aos quocientes das variâncias pelos respectivos números de
resultados das coleções. Assim, temos:
Wm = 0,667/4 = 0,167;
Wb = 67,47/4 = 16,87;
tcrítico = (0,167 x 2,353 + 16,87 x 2,353)/(0,167+16,87) = 2,353
A natureza não invasiva dos métodos geofísicos (não afetam e não destroem
camadas selantes naturais ou artificiais), aliada ao baixo custo, rapidez e facilidade de
aplicação dos ensaios, torna-os particularmente adequados para aplicação na prospecção e
estudo de tais problemas. De uma forma geral a utilização de geofísica na caracterização de
uma área afetada por compostos poluentes consiste na detecção e mapeamento da área
afetada, profundidade da zona saturada, direção do fluxo subterrâneo e profundidade do
substrato rochoso. O estudo dessas características possibilita a avaliação indireta do nível de
poluição do local para orientar medidas de monitoramento e remediação do volume
afetado.
Fonte: o autor
R = ./S (3.2-24)
k = (I x )/(V x S) (3.2-25)
k = 1/ (3.2-26)
equações específicas para o arranjo e equipamento usados, pode ser obtido o valor da
resistividade aparente do meio, uma vez que esse normalmente não será isotrópico.
Existe uma relação entre o afastamento dos eletrodos de corrente e a
profundidade efetiva de pesquisa, devido ao fato de que pelo menos 50% da corrente
injetada pela superfície fluirá por uma linha localizada a uma certa profundidade “z” da
superfície (vide Figura 3.2.9). Neste sentido, a voltagem lida pelos eletrodos de medição será
proveniente do efeito da corrente que flui entre o nível do solo e a profundidade “z”, com
superior preponderância da resistividade do substrato nessa profundidade. Essa
profundidade será função do arranjo geométrico dos eletrodos.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ARRUDA, A.C.S.; TEIXEIRA, A.E.; MANDELLI, S.M.C.; PESSIN, N.; SILVA, A.R. 1995. Estudo do
comportamento de parâmetros físico-químicos relacionados ao processo de
estabilização de resíduos sólidos urbanos no Sistema de Remediação de São Giácomo
– Caxias do Sul – RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 18. Salvador. Anais. Salvador: ABES, 1995. 10p.
FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA – USP. 1970. Processos simplificados para exame e análise
de água - São Paulo, 1970
KHALIL, E.F.; GAMAL-EL-DIN, H.; EL-BASSEL,A.; LLOYD, D. et al. 1988. The Effects of
Detergents on Anaerobic Digestion, Applied Microbiology and Biotechnology (1988) 29:
p. 517-22
LIMA, Luís .M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
MIRANDA, J.M.; LUIS, J.F.; COSTA P.T.; SANTOS; F.M. Fundamentos de geofísica. Disponível
em https://www.passeidireto.com/arquivo/2046265/cap5. Acedido em 15 de abril de
2017.
ROUSSEAUX, P.; BORGES DE CASTILHOS JR., A.; VERMANDE, P.; NAVARRO, A. 1989. -
Estimativa da distribuição e dos teores dos metais pesados nas diversas frações dos
resíduos urbanos no Brasil - CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 15. Vol. 2 Tomo II, Belém, setembro/1989. Anais.
SOUZA, M.E. 1982. Fatores que influenciam a digestão anaeróbia. In: SIMPÓSIO NACIONAL
DE FERMENTAÇÃO, 5., 1982. Viçosa. p.1-7.
3.3 TRATAMENTO DE
LIXIVIADOS
3.3.1 Introdução
Devido à composição variável apresentada pelos lixiviados de diferentes aterros
e ao longo do tempo em um mesmo aterro, embora a princípio todos os processos de
tratamento de águas residuárias sejam aplicáveis, não há uma metodologia de tratamento
padronizada, eficiente e prontamente aplicável a todos os casos.
Também, no sentido da escolha de uma metodologia de tratamento, intervêm
fatores relacionados à existência de área e disponibilidade de recursos para implantação,
operação e manutenção de um sistema dedicado ao tratamento dos lixiviados, ou à
existência de estações locais de tratamento de esgotos com capacidade de absorção das
cargas geradas pelo aterro.
No caso da construção de um sistema dedicado, a escolha dos processos de
tratamento dependerá da área disponível, da disponibilidade econômica dos insumos
necessários e mesmo de fatores relacionados a topografia, hidrologia e climatologia local.
Neste sentido, a escolha por um sistema particular de tratamento de lixiviados
deve estar inserida no contexto amplo do planejamento técnico do aterro, ou, no caso de
aterros já em operação, no contexto das variáveis locais e possibilidades técnico-
econômicas. Em qualquer um dos casos, o fator econômico é preponderante, devendo ser
observados os critérios e padrões determinados pelo órgão ambiental de jurisdição.
O projeto de uma estação para tratamento de lixiviados não é tarefa simples,
uma vez que os efluentes líquidos dos aterros não apresentam um padrão de composição
como outros efluentes específicos. QASIM e CHIANG (1994) salientam que durante o período
de operação de uma estação de tratamento, além da modificação das características do
próprio lixiviado, leis e regulamentações modificar-se-ão, novas tecnologias surgirão
enquanto outras evoluirão, e fatores econômicos poderão modificar-se, de modo que será
requerida flexibilidade ao sistema proposto.
No Brasil é muito comum o tratamento conjunto de lixiviados com esgotos
domésticos. Embora muito se fale que tal tratamento consista “mais em uma diluição do que
tratamento propriamente dito”, a afirmativa não é necessariamente verdadeira. Um dos
Metais
A Resolução CONAMA 430/2011 estabelece limites para emissão relativos a
quinze espécies metálicas. No caso do estado do Rio Grande do Sul, assim como em outros
estados que possuem legislações próprias instituindo limites para emissão, tais limites são
mais conservadores do que os definidos pelo CONAMA. Para fins de um exercício, a Tabela
3.3.1 apresenta os limites instituídos no Rio Grande do Sul pela Resolução CONSEMA
continua
A observação da Tabela 3.3.1 leva a concluir que dos metais avaliados aqueles
que mais frequentemente apresentam-se em concentrações superiores aos seus respectivos
limites para e emissão são ferro, manganês, cromo e chumbo. Observa-se que, além dos
processos normais de quelação na matriz do aterro e biossorção no meio biológico aderido
aos resíduos em decomposição (aterro sanitário imaginado como um grande biofiltro
anaeróbio), em função da progressiva elevação do pH dos lixiviados com o envelhecimento
do aterro, é esperada progressiva precipitação dos metais, especialmente na forma de
sulfetos metálicos. Na instância do tratamento dos lixiviados, são esperadas importantes
remoções de metais por efeitos de biossorção em lodos biológicos, bem como por
precipitação em processos físico-químicos. Para fins do atendimento aos limites
estabelecidos, ao final de uma sequência de processos de tratamento, se necessário, pode-
se prever a alocação de um processo específico de precipitação química, havendo inúmeras
experiências apontando a conveniência da utilização de hidróxido de cálcio para tal.
Figura 3.3.1 - Estrutura molecular de um ácido húmico conforme JONES e BRYAN (1998)
lixiviados pode vir a ser exercida por compostos inorgânicos oxidáveis presentes. Os autores
concluíram que a DQO não deve ser utilizada como o único parâmetro indicativo da
quantidade de matéria orgânica presente no lixiviado. Já SOUTO (2009), enfatiza que o ensaio
da DBO não necessariamente determina a totalidade da matéria orgânica biodegradável,
podendo ser afetado negativamente pela utilização de uma semente microbiana não
aclimatada ao lixiviado, a qual sofrerá efeitos de inibição e/ou toxidez. Sendo assim, a razão
DBO5/DQO não seria suficientemente hábil para subsidiar a avaliação da biodegradabilidade
dos lixiviados. Os mesmos autores indicam que a possível contribuição inorgânica para os
valores da DQO possa ser estimada pelo quociente entre demanda química de oxigênio e
carbono orgânico dissolvido (DQO/COD). A determinação analítica do carbono orgânico total
(COT) é conduzida pela oxidação da fração orgânica a dióxido de carbono, em um forno a
alta temperatura, sendo o carbono orgânico oxidado quantificado por meio de analisador
infravermelho. O carbono orgânico dissolvido (COD) é determinado utilizando-se apenas a
fração de sólidos dissolvidos do efluente na determinação. A análise de COT considera as
parcelas biodegradáveis e não biodegradáveis da matéria orgânica, não sofrendo
interferência de outros átomos que estejam ligados à estrutura orgânica, quantificando
apenas o carbono presente na amostra.
3.3.3.1 Introdução
Comparativamente aos tratamentos de água e de esgotos, problemas com os
quais a humanidade se defronta desde a sua organização em núcleos urbanos, e que foram
estudados cientificamente desde o Século XIX, a questão relativa ao tratamento dos
orgânicos semivoláteis
LIXIVIADO MADURO
LIXIVIADO ANTIGO
sólidos dissolvidos
orgânicos voláteis
LIXIVIADO JOVEM
sólidos suspensos
pesticidas, pcb’s
patogênicos
imiscíveis
cianetos
metais
totais
Tecnologia
pH
Sedimentação A A NA NA NA NA NA NA NA NA P P P
Filtração em meio granular A AP NA NA NA NA NA NA NA NA P P P
Flotação NA A NA NA NA NA NA NA NA NA P M M
Neutralização NA NA A NA NA NA NA NA NA NA B B B
Precipitação/Floculação A A NA A A NA NA NA NA NA P M M
Oxidação/Redução AP AP NA NA A A NA A A A P M M
Adsorção em carvão ativado AP AP NA NA A A A A A A P M B
Air Stripping AP AP NA NA NA NA A NA NA NA P M M
Osmose Reversa AP AP AP A A A NA NA A A B B B
Ultrafiltração AP AP AP A A NA NA A A A M M M
Troca Iônica AP AP NA A A A NA NA AP NA B B B
Oxidação a úmido NA NA NA NA A A A A NA NA B M M
Lodo Ativado AP AP AP NA AP NA A A NA NA B M P
Reator em Bateladas Sequeciais AP AP AP NA AP NA A A NA NA B M P
Biodiscos Rotativos NA AP AP NA AP NA A A NA NA B B P
Filtros Aeróbios AP AP AP NA AP NA A A NA NA B B P
Cloração NA AP AP NA NA A NA NA NA A B M P
Legenda: (A) processo aplicável; (AP) processo aplicável após tratamento ou condicionamento preliminar; (NA) processo
não aplicável; (B) bom rendimento; (M) médio rendimento; (P) rendimento pobre.
Fonte: adaptado de MCARDLE et al. (1988) e IFEANYICHUKWU (2008)
Filtros anaeróbios
Os filtros anaeróbios constituem-se em unidades de tratamento em que as
reações bioquímicas de estabilização da matéria carbonácea contida na água residuária
ocorrem quando da passagem desta através de um leito de material suporte em que às
superfícies das unidades desse material aderem-se filmes bacterianos anaeróbios, além do
meio manter biomassa bacteriana anaeróbia dispersa retida em seus interstícios. Os
microorganismos devem estar aclimatados ao afluente para manter-se a estabilidade do
processo e da própria biomassa.
WU et al. (1988) utilizando um filtro anaeróbio de dois estágios com meio
suporte sintético (96,5% de vazios e 141 m2/m3) para tratar lixiviado bruto proveniente de
um aterro para resíduos domésticos e industriais reportaram eficiências de remoção de DQO
de 91%, 89% e 83% utilizando taxas de aplicação superficiais de 2,0, 2,7, e 3,8 kgDQO/(m2.d),
respectivamente. As eficiências de remoção de DBO5 foram superiores a 90%, e a remoção
de metais pelo biofiltro foi muito efetiva. Os autores verificaram que o processo de remoção
biológica deu-se quase que exclusivamente no primeiro reator e concluíram, através do
estudo da cinética do processo, que para o lixiviado utilizado, a taxa ótima de utilização de
substrato seria de 3,9 kgDQO/(m2.d), indicando esse valor para projetos de filtros anaeróbios
tratando lixiviados similares. CHIAN e DEWALLE (1976) utilizaram um filtro anaeróbio de
mistura completa para o tratamento de lixiviado bruto com 30 gDQO/L e uma razão
DBO5/DQO = 0,65, testando tempo de detenção hidráulica de 27 d. Os autores relataram
97% de remoção de DQO.
SCHAFER et al. (1986) utilizaram um filtro anaeróbio de fluxo ascendente com
meio suporte com índice de vazios de 95% e 114,8 m2/m3 para tratamento de lixiviado com
38.500 mgDBO5/L e 60.000 mgDQO/L. Utilizando tempos de detenção hidráulica (TDH)
superiores a 4,9 d (média: 7,4 d) e carga aplicada de 7,1 kgDBO5/(m3.d) obtiveram remoções
de DBO5 e sólidos suspensos totais de 95% e elevados rebaixamentos nas concentrações de
metais.
FLECK (2003) utilizou filtros anaeróbios de brita para tratamento de lixiviados
brutos sob diferentes tempos de detenção hidráulica durante um ano. O autor verificou que
a remoção de matéria carbonácea biodegradável nos filtros seguiu a cinética de 1ª ordem
estabelecida por YOUNG (1991) para esgotos, apenas corrigida de um fator de retardo,
chegando a uma equação para projetos de filtros anaeróbios tratando lixiviados (equação
3.3-1).
Reatores RAFA
Os reatores RAFA (Reator anaeróbio de manto de lodo e fluxo ascendente),
tradução do inglês UASB (upflow anaerobic sludge blanket reactor) são considerados as mais
eficientes unidades anaeróbias de crescimento suspenso desenvolvidas para tratamento de
efluentes. São unidades de crescimento suspenso e fluxo ascendente em que a velocidade
ascensional mantém o lodo em suspensão, contrabalançando a força gravitacional, de modo
que a água residuária percola através da lâmina de lodo, mantendo contato íntimo com a
microbiota anaeróbia.
KENNEDY et al. (1988) utilizaram reatores anaeróbios de manto de lodo para tratar
lixiviado com 19,5 gDQO/L, fazendo uso de uma taxa de recirculação de 4:1 e um pré-
tratamento para remoção de metais pesados do afluente. Utilizando uma taxa de aplicação
de 14,7 kgDQO/(m3.d) obtiveram eficiências de remoção de DQO da ordem de 94%
operando em fluxo descendente, e de 97% quando operando em fluxo ascendente.
MORAES e GOMES (1993) testaram o desempenho de um reator híbrido conjugado
de manto de lodo e filtro anaeróbio construído em escala de bancada, termostatizado a
35oC, para o tratamento de lixiviado bruto com 15,5gDQO/L e 10,2 gDBO5/L, utilizando
adição de fósforo para equilibrar a relação DQO:N:P. Trabalhando com tempos de detenção
hidráulica entre 0,99 e 5,78 d, correspondendo a taxas de aplicação de 0,91-15,71
kgDQO/(m3.d) e 0,6-10,37 kgDBO5/(m3.d), obtiveram eficiências de remoção de DQO entre
51,7 e 66% e de DBO5 entre 58,3 e 70,6%.
Lagoas de estabilização
Lagoas de estabilização constituem-se em grandes reservatórios relativamente
rasos de superfície livre onde um ecossistema formado por bactérias autotróficas e
heterotróficas, protozoários, algas, rotíferos e crustáceos mantém-se, utilizando o substrato
por um longo tempo de detenção. São unidades de baixo custo de instalação e manutenção
onde o oxigênio é provido principalmente pela ação do vento e de organismos
fotossintetizantes. De acordo com a profundidade e a carga orgânica aplicada, as lagoas
serão classificadas em aeróbias, facultativas ou anaeróbias. Em geral, para o tratamento de
lixiviados as lagoas não produzem efluente de elevada qualidade, sendo sua viabilidade
condicionada à disponibilidade de área.
Lagoas aeradas
As lagoas aeradas são uma variante das lagoas aeróbias, em que um sistema
mecânico insere oxigênio no meio líquido por agitação ou insuflamento, de modo que a
lagoa possa ter profundidade superior (normalmente 3-5 m) e menor área, sendo um
sistema compacto.
BOYLE e HAM (1974) testaram, em escala de bancada, o efeito da aeração sobre
lixiviados com 1550-8000 mgDBO5/L e 2700-9200 mgDQO/L. Utilizando tempos de detenção
de 5 dias e cargas orgânicas de 0,304-5,28 kgDBO5/(m3.d) e 0,544-6,08 kgDQO/(m3.d),
obtiveram remoções de DBO5 entre 2,5% e 93% e de DQO entre 30% e 93%. Embora no
experimento não tenha sido realizado controle da taxa de aeração, os autores concluíram
que a carga orgânica aplicada exerce marcada influência sobre a eficiência de remoção da
matéria carbonácea, tendo obtido seus melhores resultados com cargas de 0,576
kgDBO5/(m3.d) e 1,04 kgDQO/(m3.d). Apontaram intensa formação de espumas e difícil
separação sólido-líquido como desvantagens do tratamento.
Na Tabela 3.3.4 são apresentadas outras performances reportadas de lagoas
aeradas tratando lixiviados.
Na Figura 3.3.2 apresenta-se uma sequência de lagoa anaeróbia e lagoa aerada
tratando lixiviado.
Fonte: o autor
Lodos ativados
O processo de lodos ativados baseia-se no crescimento de organismos aeróbios
utilizando a matéria orgânica, através da inserção mecânica de oxigênio na água residuária,
havendo mistura por agitação ou fluxo bulk de corrente gasosa no meio líquido e formação
de flocos bacterianos ativos. Um decantador secundário promove a separação do efluente e
da massa de organismos (lodo), sendo parte dessa massa retornada ao sistema e parte
descartada.
PALIT e QASIM (1977) executaram testes em sistema de lodo ativado em reator de
mistura completa em escala de bancada, utilizando lixiviados gerados em recipientes
contendo resíduos sólidos compactados e diariamente irrigados, visando à obtenção de
dados cinéticos. O lixiviado bruto gerado apresentava pH = 5,1, 30,0 gDQO/L e 15,5 gDBO5/L,
tendo sido diluído de 22 a 26 vezes. Havendo-se mantido a temperatura em 21-25oC,
concentrações de oxigênio dissolvido no reator entre 6,1 e 6,5 mgO2/L, pH, vazão e
concentração afluente constantes ao longo dos testes, os autores trabalharam com a
variável sólidos suspensos no licor, utilizando concentrações de 2400, 1750, 1500 e 1200
mgSST/L (correspondendo a concentrações de sólidos suspensos voláteis entre 2184 e 1074
mgSSV/L). Os autores obtiveram eficiências de remoção de DQO entre 85% e 98,82% (média
89,13%) com TDH próximos a dois dias. Concluíram pela viabilidade do sistema de lodo
ativado para o tratamento de lixiviados, enfatizando problemas relativos à escassez de
fósforo nos lixiviados para a obtenção de relações equilibradas com a matéria carbonácea e
o nitrogênio, e a elevada taxa de decaimento bacteriano (kd) observada, sugerindo a
conveniência do tratamento conjunto de lixiviados e esgotos para contornar tais problemas.
Os coeficientes cinéticos obtidos pelo estudo foram os seguintes:
Y (coeficiente de produção celular) = 0,59 mgSSV/mgDQO
kd (coeficiente de decaimento microbiológico) = 0,115 d-1
Ks (concentração de substrato em que a sua taxa de utilização por unidade de
biomassa é a metade da máxima) = 182 mgDQO/L
Filtros aeróbios
Os filtros aeróbios, ao lado dos biodiscos rotativos, constituem-se nos mais
importantes sistemas aeróbios de tratamento com crescimento biológico aderido, sendo
utilizados para remoção de matéria carbonácea e nitrificação de águas residuárias.
Consistem em leitos dotados de meio suporte (pedra britada, areia, escória, unidades
sintéticas, etc.) com grande área específica, onde filmes biológicos desenvolvem-se aderidos,
e por espaços vazios por onde ocorre a passagem do líquido a tratar e do oxigênio
necessário aos processos biológicos oxidativos.
FLECK (2003) utilizou um filtro biológico aeróbio de baixa taxa, com meio suporte
constituído por brita nº 3 e aeração natural por convecção, para tratamento de lixiviados
efluentes de filtros anaeróbios. Para os lixiviados utilizados o autor obteve desempenho
satisfatório da unidade quando operando à taxa de 0,063 m3/(m2.d), a qual lhe permitiu
remoções de 53,17% de nitrogênio total de Kjeldahl (NTK), de 46,12% de nitrogênio (todas as
formas) e de 36,01% de DBO5.
Biodiscos rotativos
O sistema consiste de discos ligeiramente espaçados montados sobre um eixo
horizontal, parcialmente mergulhados no líquido a tratar, que giram vagarosamente de
modo que cada elemento de área dos cilindros perfaça ciclos alternados de exposição ao ar
e ao efluente em tratamento. Deste modo formam-se sobre as superfícies dos discos filmes
biológicos sujeitos a ciclos de aeração e adsorção de matéria orgânica. Com o crescimento
dos filmes ocorre o seu desprendimento dos discos, mantendo-se suspensos no líquido
devido à rotação, aumentando a eficiência do sistema (VON SPERLING, 1996).
SPENGEL e DZOMBAK (1991) testaram a eficiência de biodiscos rotativos no
tratamento de lixiviado antigo com 15-38 mgDBO5/L, 322-385 mgDQO/L, 156-171 mgNTK/L
e 7,2pH7,7 na remoção de matéria carbonácea e nitrogênio. Utilizando três unidades
experimentais em escala de bancada, cada qual composta por três estágios com dois
biodiscos por estágio, mantendo 40% de suas superfícies imersas no líquido, os autores
utilizaram taxas de aplicação volumétricas de 7,9 a 49,2 L/[(m2 de área de disco).d],
correspondendo a cargas orgânicas aplicadas de 0,21-1,3 gDBO5/[(m2 de área de disco).d],
2,8-18,4gDQO/[(m2 de área de disco).d] e 1,2-7,3 gN/[(m2 de área de disco).d]. Os tempos
de detenção variaram entre 0,77 e 0,12 d e os rotatores operaram a 2,3 rpm (rotações por
minuto). Para evitar o rebaixamento do pH decorrente da nitrificação, mantendo-o
praticamente constante, foi adicionada alcalinidade de 200 mgCaCO3/L na forma de
bicarbonato de sódio; fosfato de sódio foi adicionado ao afluente para manter a
concentração de fósforo em 10 mg/L. Os autores obtiveram remoções de DBO5, DQO e
amônia máximas de 38%, 80% e 98% respectivamente, reportando que os desempenhos das
unidades experimentais deram-se de modo inversamente proporcional às cargas aplicadas.
Outra unidade operou anaerobicamente, em sequência, para desnitrificação, obtendo-se
remoção de nitratos da ordem de 42%, havendo os autores adicionado 2,75 mg de metanol
por miligrama de nitrato como fonte carbonácea.
CASTILLO et al. (2006) obtiveram remoção de DQO de cerca de 52% utilizando um
biodisco a 6 rpm durante 24 horas.
específicos. Ainda que pesquisas sérias sejam empreendidas para obtenção de produtos
biotecnológicos, muito comumente os produtos comercializados não demonstram os
desempenhos proclamados por seus fabricantes e representantes.
GARCIA JR. et al. (1995) testaram três produtos biotecnológicos especificamente
indicados por seus respectivos fabricantes para o tratamento de lixiviados de aterros de
resíduos sólidos em lagoa aerada, utilizando as dosagens recomendadas por tais para tratar
lixiviados com 3000-11.000 mgDQO/L, paralelamente a um sistema de controle, operado em
idênticas condições, sem o uso dos aditivos. Os autores reportam que, utilizando 15 e 25
dias de tempo de detenção hidráulica, os sistemas de tratamento e de controle, operando
em fases com e sem adição de fósforo, obtiveram performances similares, atestando a
ineficácia relativa dos produtos utilizados. Todavia, novas pesquisas neste campo poderão
futuramente vir a revolucionar conceitos na área dos tratamentos biológicos.
Filtros percoladores
Os filtros percoladores constituem-se em biofiltros aeróbios em que a passagem
da água residuária se dá por um processo de percolação em um meio suporte particulado
(areia, argila, carvão ativado), sendo o tempo de contato determinado pela permeabilidade
do meio. As unidades operam contínua ou intermitentemente, de maneira que cada porção
do meio suporte possa reoxigenar-se entre aplicações consecutivas de afluente.
RICH e WAHLBERG (1990) reportaram a efetividade de nove filtros percoladores
intermitentes de areia, precedidos de lagoas facultativas ou aeradas, tratando esgotos
domésticos em escala plena. Os autores verificaram, comparativamente, a superior
eficiência dos filtros percoladores em relação a sistemas de lodos ativados e lagoas aeradas
na remoção de nitrogênio amoniacal, DBO5 e sólidos suspensos totais. COTRIM (1997) utilizou
filtros percoladores intermitentes para testar o tratamento de lixiviados antigos. Utilizando
uma taxa de aplicação superficial de 0,16 m3/(m2.d), correspondendo a uma carga orgânica
aplicada de 0,0287 kgDBO5(m3.d). O autor obteve resultados pouco expressivos utilizando
brita granítica, areia regular, cacos de tijolos e argila nodulizada como meios-suporte.
Utilizando aparas de couro wet blue, obteve reduções de 64% de DQO, 95% de DBO5 e de
92% de amônia; utilizando leito de carvão ativado as eficiências na remoção de DQO, DBO5 e
amônia foram de 68%, 79% e 89% respectivamente.
Fitorremediação
A metodologia de fitorremediação pode ser considerada como a combinação dos
processos de aspersão e recirculação com a participação de plantas, sobretudo árvores de
copa plantadas sobre áreas de aterro. O lixiviado é aspergido sobre as copas, sendo em
parte evaporado, em parte interceptado pelas folhas, ficando longo tempo disponível para a
evaporação. Uma maior ou menor fração cai sobre o solo e será, em parte, absorvida pela
vegetação e posteriormente evapotranspirada, em parte recirculada por percolação. Outro
efeito importante é o de absorção de nutrientes e metais pelas plantas. CURETON et al. (1991)
Banhados construídos
Banhados, terras úmidas, ou wetlands são sistemas terrestres em que o nível
superior do lençol freático mantém-se próximo à superfície do terreno de modo a manter
condições de solo saturado ao longo do ano todo, podendo apresentar lâminas d’água
aflorantes tipicamente inferiores a 0,6 m, que suportam o crescimento de plantas
emergentes (MARQUES, 1999). Tais plantas (1) oferecem superfície para a fixação de bactérias
autotróficas e heterotróficas através das raízes, rizomas e serapilheira, (2) proporcionam
efeito de filtragem e adsorção de poluentes, (3) transferem oxigênio molecular para a coluna
d’água (4) limitam o crescimento de algas pela restrição à penetração de luz solar, e (5)
absorvem nutrientes para o seu crescimento.
COSSU et al. (2000), além de efetuarem testes com plantas emergentes, testaram
o uso de espécies de Stenotaphrum secundatum (grama Santo Agostinho) em banhados de
fluxo subsuperficial aplicados ao tratamento de lixiviados com concentrações de 7802-
14.122 mgDQO/L, 2500-4000 mgDBO5/L, 3545-4704 mgNTK/L e pH = 8,3-8,4. Operando com
taxas entre 2,0 e 5,0 gDQO/(m2.d) os autores obtiveram remoções de DQO entre 17% e 77%,
e de NTK entre 62% e 86%, sem efeitos tóxicos às plantas. No entanto, utilizando lixiviado
pré-tratado, com 1083 mgDQO/L, 486 mgDBO5/L, 571 mgNTK/L e pH = 9,05 obtiveram
eficiência média negativa na remoção de DQO e morte das plantas, ainda que a remoção
média de NTK tenha se situado em 62%.
FLECK (2003) utilizou reator simulando banhado construído de fluxo subsuperficial
com cultivo de Typha latifolia para o polimento de lixiviados previamente tratados
sequencialmente em filtros anaeróbios e aeróbio. Durante o período de operação mais
estável do banhado-piloto utilizado no experimento foram registradas remoções de 58,18%
de DBO5, 40,71% de DQO, 26,96% de fósforo, 78,52% de NTK, 55,96% de nitrogênio (todas
as formas) e 34,24% de cromo total, havendo utilizado diluição de lixiviado aplicado à taxa
média de 4,17 mm/d, e cargas orgânicas médias aplicadas de 2,24 gDBO5/(m2.d), 1,05
gDQO/(m2.d), 1,05 gNTK/(m2.d) e 9,35 mgP/(m2.d). Ao final de 42 d de operação as
macrófitas encontravam-se vigorosas e com raízes sadias, estando aclimatadas a um meio
líquido com condutividade elétrica de 6370 mho/cm.
Coagulação/ floculação/sedimentação
Coagulação, floculação e sedimentação podem ser consideradas como um
conjunto integrado de processos de remoção de sólidos suspensos e coloidais do seio da
água residuária. Pela adição de compostos que desestabilizam as partículas coloidais
naturalmente não-sedimentáveis (coagulação), essas podem aglomerar-se em particulados
sedimentáveis (floculação) e serem removidas por gravidade (sedimentação). Efeitos
complementares de precipitação de sólidos dissolvidos ou de sua incorporação química aos
complexos formados levam a tecnologia a situar-se na interface dos processos físico-
químicos com os químicos.
THORNTON e BLANC (1973) utilizaram 0-1500 mg/L de cal e sulfato de alumínio para
tratar lixiviado com 3020 mgDBO5/L e 5033 mgDQO/L e pH = 6,3. em equipamento de jar-
test com agitadores operando por 1 min em alta rotação (mistura rápida), e por 15 min em
15-20 rpm, complementando-se o processo por residência por 30 min sem agitação para
sedimentação. Observaram remoções máximas de sólidos suspensos com 300 mg/L de
sulfato de alumínio (50% de remoção) e 450 mg/L de cal (85% de remoção). Como o
processo de coagulação-floculação com sulfato de alumínio produziu espumas e foi
ineficiente na remoção de cor, em uma segunda etapa os autores utilizaram apenas cal, em
concentrações de 0 a 1500 mg/L, obtendo remoções de DBO5 inferiores a 13% e de DQO
inferiores a 24%, com formação abundante de lodo e elevação do pH a 11,5 quando da
aplicação da taxa mais elevada. Os autores relatam obtenção de um sobrenadante límpido
com aplicação 900 mg/L de cal. Aplicando cal a lixiviado com 7385 mgDBO5/L e 12.923
mgDQO/L e pH = 5,3 as remoções de DQO alcançadas foram análogas, havendo porém
menor elevação do pH. Os autores verificaram altas remoções de ferro nos processos, bem
como o fato de as remoções de matéria orgânica estarem associadas à fração suspensa.
Concluíram pela viabilidade do processo somente quando conjugado a outros processos de
tratamento.
DANTAS (1982) testou, em escala de bancada, o tratamento de lixiviado em fase
acidogênica através de coagulação com sulfato de alumínio. Aplicando dosagem de 2000
mg/L do coagulante, obteve 37% de remoção de matéria carbonácea. Concluiu pela pouca
efetividade do tratamento em função dos seus elevados custos.
HO et al. (1974) trabalharam com diversos agentes coagulantes para verificar
remoção de matéria carbonácea, cor e ferro em lixiviados. Aplicando cal [Ca(OH)2] a diluição
de lixiviado bruto com concentração final de 10,65 gDQO/L obtiveram remoção de 99% de
ferro a partir de 870 mgCa(OH)2/L e um efluente muito clarificado com pH final 12 utilizando
1840 mg Ca(OH)2/L. A remoção de matéria carbonácea foi irrisória com tais dosagens.
Utilizando adição de 2700 mgCa(OH)2/L a lixiviado pré-tratado anaerobicamente com 558
mgDQO/L e 150 mgDBO5/L, obtiveram um efluente final clarificado amarelado com pH = 11,
sem concentração mensurável de ferro e com redução de DQO de apenas 10%. Utilizando
adição de 1400 mgCa(OH)2/L a lixiviado pré-tratado anaerobicamente e aerobicamente com
366 mgDQO/L e 40 mgDBO5/L, obtiveram um efluente final clarificado amarelado com pH =
11,5, sem concentração mensurável de ferro e com redução de DQO de 29%. Utilizando
sulfeto de sódio em dosagens de 0-1000 mgNa2S/L no tratamento de lixiviado com pH = 5,9-
6,1 e 10,65 gDQO/L obtiveram eficiências muito inferiores às obtidas com utilização de cal,
com grande formação de lodo. Utilizando sulfato de alumínio em dosagens de 0-1000
mgAl2(SO4)3/L no tratamento de lixiviado com pH inicial mantido em 7,0 e com 9,1 gDQO/L,
também obtiveram reduzidas remoções de DQO com grande formação de lodo. Com a
aplicação de 1000 mgFeCl3/L a lixiviado com 9100 mgDQO/L e pH = 7,0, os autores
obtiveram 16,3% de remoção de DQO, 97,6% de remoção de ferro e um efluente límpido
com pH final igual a 7,0.
KNUPP et al. (2009) testaram os coagulantes sulfato de alumínio e cloreto férrico
para a coagulação de lixiviados novos e maduros. Utilizando cloreto férrico em dosagens de
0,5 a 6,0 g/L, mistura rápida a 150 rpm durante 5 minutos, e lenta a 40 rpm durante 40
minutos, e havendo condicionado inicialmente o pH dos lixiviados a 10,0, obtiveram
eficiências máximas de 93% na remoção de turbidez, 93% na remoção de sólidos suspensos
totais e 73% na remoção de DQO. O tempo ótimo de sedimentação foi reportado como duas
horas. Os autores concluíram pela superior eficiência do cloreto férrico em relação ao sulfato
de alumínio.
WANG et al. (2002) utilizaram cloreto férrico para coagulação de lixiviado com
5800 mgDQO/L, 430 mgDBO5/L e pH = 7,6, obtendo 24% de remoção de DQO a partir de
uma dosagem de 1,0 g/L. Observaram que enquanto a remoção de cor foi tão mais efetiva
quanto maior a dosagem utilizada, após 500 mg/L a remoção de DQO incrementou-se
apenas lentamente. A remoção de DQO não se alterou significativamente entre os ajustes
iniciais de pH testados, de 3,0 a 8,0, rebaixando-se gradualmente com a elevação destes,
porém a redução da cor elevou-se significativamente com a redução do pH.
LIN e CHANG (2000) testaram cloreto de polialumínio (PAC) para tratamento
preliminar de lixiviado com pH = 7,8 e 1824 mgDQO/L. Observaram superior performance
em ajuste de pH em 5,0 e concentração de PAC de 200 mg/L, obtendo eficiências máximas
próximas a 70% de remoção de DQO. Os autores utilizaram 100 rpm durante 30 minutos
(mistura rápida) e 30 rpm durante 15 minutos (mistura lenta), utilizando adição de polímero
a uma concentração de uma décima parte da dosagem do coagulante. Os autores
determinaram uma relação de proporcionalidade linear entre a DQO inicial do lixiviado e a
dosagem de coagulante a utilizar para maximização da remoção de DQO. Tal fato evidencia a
conveniência de utilizar-se, corriqueiramente, em uma planta de tratamento, dada a
variabilidade sazonal das concentrações dos lixiviados, o teste de jarros para a determinação
das dosagens ótimas de coagulantes a utilizar.
GUO et al. (2010) utilizaram o processo de coagulação-floculação como última
etapa de uma sequência de unidades de tratamento de lixiviado. Os autores obtiveram
eficiência de 36% na remoção de DQO, em pH = 5,0, quando utilizando 800 mg/L de sulfato
férrico.
CASTRILLÓN et al. (2010) testaram cloreto férrico, sulfato de alumínio e policloreto
de alumínio, utilizando diferentes dosagens e ajustes iniciais de pH, para o tratamento de
lixiviados. Relataram eficiência de remoção de DQO de 34% aplicando 4,0 g/L de policloreto
de alumínio, em pH 6,5, a lixiviado novo, e eficiência de remoção de 73% de DQO, em pH
5,2, utilizando 1,7 g/L de cloreto férrico em lixiviado velho.
Estudos de coagulação-floculação aplicados a lixiviado com conteúdo de
nitrogênio amoniacal previamente removido por arraste com ar foram realizados por PI et al.
[(2009) apud TELLES, 2010)] visando à remoção de DQO e ao aumento da biodegradabilidade.
Os autores utilizaram os coagulantes policloreto férrico, cloreto férrico, polissulfato férrico e
sulfato de alumínio, variando concentrações na faixa de 100 a 1100 mg/L, em pH = 9,0. As
melhores eficiências de remoção de DQO, 43,6% e 37% respectivamente, foram obtidas
utilizando os coagulantes policloreto férrico e cloreto férrico, a 600 mg/L.
Ensaio realizado por RODRIGUES (2004) resultou em uma eficiência de remoção de
aproximadamente 44,8% e 57,5% para DQO e COD, respectivamente, no tratamento de
lixiviado, utilizando 700 mg/L de cloreto férrico e polieletrólito auxiliar, em pH = 4,0.
BILA (2000) realizou testes com quatro diferentes coagulantes (sulfato de
alumínio, cloreto férrico, Tanfloc SG® e Cloralfloc 18®) em conjunto com polieletrólitos,
aplicados ao tratamento do lixiviado do Aterro Metropolitano de Gramacho, Rio de Janeiro.
Os melhores resultados foram obtidos utilizando dosagens de cloreto férrico e de sulfato de
alumínio na faixa de 700-950 mg/L, em pH entre 4,0 e 5,0, alcançando eficiências de
remoção de DQO de 40% a 43% e de DBO5 de 39% a 40%.
TATSI et al. (2003) obtiveram, nos ensaios de coagulação-floculação aplicados a
lixiviado parcialmente estabilizado por recirculação, com DQO variando na faixa de 700-
15.000 mgO2/L, e pH previamente ajustado em 10,0, eficiência de remoção de DQO de 80%
utilizando de cloreto férrico a 2,0 gFe+3/L
GEWEHR (2012), juntamente com o autor, testou quatro diferentes coagulantes
(cloreto férrico, sulfato férrico, policloreto de alumínio (PAC), e tanino Tanfloc SG®) em
lixiviados previamente tratados em reator em bateladas sequenciais (RBS), objetivando à
remoção biológica de nitrogênio. Verificou a superior performance dos coagulantes férricos,
inclusive do ponto de vista financeiro, para remoção de cor, turbidez e DQO. Os resultados
otimizados da pesquisa são apresentados na Tabela 3.3.5.
Tabela 3.3.5 – Resultados de GEWEHR (2012) para ensaios de coagulação utilizando lixiviado
previamente tratado em RBS
Coagulante PAC Cloreto Férrico Sulfato Férrico Tanino
pH ótimo de ajuste 6,2 6,2 6,0 5,4
Dosagem ótima 2200 mgAl2O3/L 3200 mgFeCl3/L 1200 mgFe+3/L 7500 mg/L
Remoção de Turbidez* 97,1% 97,7% 97,3% 94,2%
Remoção de DQO 48,5% 51,8% 54,6% 22,2%
Remoção de Cor Verdadeira 91,5% 95,2% 94,1% 86,3%
pH Final 4,6 3,6 4,2 5,0
Fração da fase lodo gerada 45,5% 40% 39,5% 50%
Custo por m3 tratado R$ 9,77 R$ 4,63 R$ 4,37 R$ 16,35
*a turbidez foi determinada após filtração
Fonte: Gewehr (2012)
Processos de membrana
Os processos de membrana baseiam-se na passagem do lixiviado por um meio
semipermeável, de modo que poluentes nele fiquem retidos, produzindo um permeado de
melhor qualidade. Três processos básicos distinguem-se:
Filtração: constitui-se no processo simplificado de remoção por tamanho de
abertura de malha da membrana. A filtração comum remove apenas sólidos
grosseiros; a microfiltração remove bactérias e sólidos suspensos [diâmetro
de partícula superior a 0,1 m)], enquanto a ultrafiltração remove ainda
moléculas orgânicas de elevado peso molecular (diâmetro de partícula
superior a 0,0015 m); a nanofiltração remove partículas de massa molecular
superior a 20 Da (Da = Dalton = 1,66 x 10-27 kg);
Osmose Direta: consiste na passagem de água da constituição do lixiviado
através de uma membrana semipermeável para um meio com uma solução
salina concentrada (agente osmótico) devido à pressão osmótica gerada pelo
gradiente de concentração, até que ambas as soluções apresentem
concentrações iguais. A solução salina resultante é posteriormente
desidratada regenerando-se a concentração original para continuar o
processo. Conforme HARRIS et al. (2000) o processo extrai tipicamente 93% de
água do lixiviado;
Osmose Reversa: consiste no processo oposto à osmose direta, permitindo
remoção de sólidos dissolvidos. A passagem de água através de uma
membrana semipermeável, do lixiviado concentrado para uma solução menos
concentrada, é obtida pela aplicação de uma pressão superior à pressão
osmótica natural, de modo que os poluentes fiquem retidos na membrana. Os
produtos do processo são um permeado de alta qualidade e uma solução
salina concentrada que necessita tratamento ou correta destinação posterior.
Stripping de amônia
Um dos aspectos fundamentais da problemática dos lixiviados refere-se às
elevadas concentrações de nitrogênio, as quais podem alcançar 3000 mgNTK/L ou mais
[LEMA et al. (1988) reportaram concentração de 4010 mgNH4+-N/L em lixiviado de aterro
espanhol].
A amônia, em fase aquosa, encontra-se em um equilíbrio de duas formas, que são
a iônica (NH4+) e a molecular gasosa (NH3). A equação de equilíbrio pode ser escrita como em
3.3-2.
Observe que a equação 3.3-2 já foi apresentada, como equação 1.4-5. Este
equilíbrio depende do pH, e em pH = 11 estará praticamente totalmente deslocado para a
direita. O stripping de amônia é um processo físico de remoção da amônia gasosa do líquido,
principalmente devido à elevação da superfície total de contato da fase líquida com o meio
(atmosférico) circundante, de modo que efeitos de arraste e difusão molecular promovam a
sua passagem para este último. O processo de remoção da amônia livre do meio líquido
ocasiona progressivos deslocamentos do equilíbrio químico no sentido de sua formação. A
elevação da temperatura favorece o processo, uma vez que eleva a pressão parcial de vapor
da amônia. O processo de stripping é geralmente precedido de adição de álcalis para elevar
o pH do meio líquido e produzir elevadas concentrações relativas de amônia na forma
gasosa.
KEENAN et al. (1984) utilizaram uma lagoa com sistema de air stripping para
remoção preliminar de amônia de lixiviado com concentração média de 1001 mgN/L. O TDH
na lagoa era de 1,74 d, sendo a unidade precedida de um tanque de equalização e de um
reator cilíndrico de contato de fluxo ascendente operando com TDH de 1,7 h onde, através
da adição de uma solução de cal, obtinha-se elevação do pH, além de coagulação e
precipitação de metais pesados e parte da matéria orgânica do lixiviado. Os autores
reportam uma eficiência média de 50% de remoção de amônia obtida no sistema conjugado
coagulação-precipitação/air stripping, não reportando a quantidade de cal utilizada, o pH do
afluente à lagoa de remoção de amônia, tampouco detalhes operacionais dessa.
Evaporação
O processo aqui denominado evaporação consiste na redução dos volumes de
lixiviados através da vaporização de parte do seu conteúdo de água. O processo de
evaporação natural consiste na utilização da energia solar para aquecer o lixiviado,
requerendo elevada interface líquido-atmosfera, ou seja, elevadas áreas para construção de
lagoas de secagem. Uma proposta mais efetiva é a de utilização do potencial calorífico do
biogás gerado no aterro para aquecimento do lixiviado. A conversão de água líquida a 0oC a
vapor a 100oC demanda teoricamente 640 Mcal/m3. Conservadoramente, pode-se
considerar que 1,0 Nm3 de biogás produz, por combustão, 4000 kcal. Nesse sentido, seriam
necessários 160 Nm3 de biogás para a conversão de 1 m3 de água líquida presente no
lixiviado a 0°C a vapor a 100°C. A viabilidade prática da metodologia será função das
produções de lixiviado e biogás do aterro, bem como da capacidade calorífica deste último.
O sistema poderá ser proposto com ou sem recondensação da água. No primeiro caso
deverá haver maximização da recuperação de energia. O lançamento do vapor na
atmosfera, ou, após recondensação, em corpo receptor deverá obedecer à legislação
ambiental, visto que haverá conjunta vaporização de amônia, ácidos voláteis, álcoois e
outros compostos presentes no lixiviado.
Recirculação
A recirculação de lixiviados consiste na sua reaplicação na massa de resíduos, de
modo que percole pela zona não-saturada, entrando em contato com resíduos aterrados,
por fim alcançando a zona saturada. Tal processo é factível apenas em regiões onde o
balanço hídrico seja favorável à reinserção de líquido em célula de aterro. Diversos autores
recomendam o processo para aceleração da decomposição dos resíduos, uma vez que o
lixiviado recirculado contém apreciáveis concentrações de nutrientes e microrganismos
aclimatados ao meio em fermentação anaeróbia dos resíduos e a seus compostos inibidores.
No que se refere ao rebaixamento da carga poluente do efluente recirculado, a zona não-
saturada do aterro poderá atuar como um filtro aeróbio ou anaeróbio, dependendo da
forma de aplicação, onde ocorrerão, adicionalmente, efeitos de complexação e precipitação
de metais na matriz de percolação. ROBINSON e MARIS (1985), testando a recirculação de
lixiviados em um aterro em escala real observaram o decaimento de 40% da demanda
química de oxigênio em 20 meses, além de reduções significativas nas concentrações de
ácidos graxos voláteis (AGV) e metais, bem como elevação do pH. Tais resultados foram
confrontados com os de lixiviados gerados em uma área de aterro de resíduos adjacente à
do teste, utilizada como controle, verificando-se que o tratamento reduziu
significativamente o potencial poluidor do lixiviado em relação ao controle.
Um efeito negativo da recirculação é o incremento da concentração de amônia
no lixiviado (HARRIS et al., 2000). Contudo, a remoção de nitrogênio do lixiviado pode ser
obtida por um processo conjugado de aeração com nitrificação e recirculação. O lixiviado
originalmente recolhido, quando submetido a um processo de aeração com larga conversão
de amônia a nitratos, encontrará no meio anóxico do aterro condições ideais para sofrer
desnitrificação, uma vez que os nitratos exercerão papel de aceptores de elétrons dos
processos de oxidação de matéria carbonácea pelos organismos heterotróficos, sendo
produzido nitrogênio molecular como produto.
COSSU et al. (2000) apontam como desvantagens da recirculação a formação de
acúmulos de líquido em zonas semi-impermeáveis dos maciços de aterro, de altos
gradientes hidráulicos sobre a impermeabilização de base, de instabilidades geotécnicas e de
problemas na drenagem de biogás.
Aspersão
O processo de aspersão consiste no lançamento ao ar do lixiviado em gotículas
de reduzido diâmetro, favorecendo o processo de vaporização devido à elevação da área de
contato para troca de calor e massa entre ar e água, que será tanto mais efetiva quanto
maiores as temperaturas do lixiviado e do ambiente e menor a umidade relativa do ar. O
residual não evaporado, dependendo da área escolhida para a aspersão, sofrerá processos
de estabilização na matriz do solo. A técnica foi exaustivamente utilizada no Aterro Sanitário
Santa Tecla, sito em Gravataí, RS, sendo bastante bem sucedida em época de estiagem para
rebaixamento dos volumes de lixiviados gerados que efetivamente foram encaminhados à
estação de tratamento. Uma variação do processo é o landspreading, que consiste no
gotejamento ao solo do efluente, a partir de longos sistemas de tubulações perfuradas, de
maneira a que cada gotícula lançada detenha o tempo necessário para evaporação, sem
percolação e sem geração de escoamento superficial.
Precipitação química
Denomina-se precipitação química ao processo de rebaixamento da solubilidade
de uma espécie química a partir da modificação do pH do meio, ou de formação de sólido
por reação química, em ambos os casos, em decorrência da adição de um reagente. Pode-se
considerar a precipitação química como um misto de processo químico e físico-químico.
Embora a precipitação química possa ser inicialmente pensada como processo
aplicado à remoção de metais, pesquisas demonstram que o processo pode ter elevada
efetividade na remoção de matéria carbonácea e nitrogenada.
Hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio são os agentes de precipitação química
mais frequentemente utilizados não somente no tratamento dos lixiviados, mas em diversas
plantas de tratamento de efluentes, principalmente em função de constituírem-se em
agentes baratos e eficientes para ascensão do pH.
Dantas (1982) aplicou 7,0 g de cal por litro de lixiviado em fase acidogênica.
Obteve reduções de matéria carbonácea de 28% com tal dosagem e 31% com aeração
conjunta à dosagem de cal de 8 g/L.
RENOU et al. (2007) reportam experiências utilizando três diferentes agentes de
precipitação aplicados a diferentes lixiviados, resultados reportados na Tabela 3.3.6.
Oxidação química
Os processos de oxidação química visam, através da adição de certos compostos,
insolubilizar poluentes, gaseificá-los ou transformá-los em produtos inócuos, além de oxidar
matéria orgânica e outros compostos geradores de demanda de oxigênio.
HO et al. (1974) testaram a oxidação química de lixiviados utilizando cloro
gasoso, hipoclorito de cálcio e permanganato de potássio em aparato de jar-test. Os
experimentos foram conduzidos de modo a se verificarem as remoções de DQO e metais
(utilizando ferro como indicador) obtidas e a clarificação do sobrenadante, além da
produção de lodo decorrente. Os autores traçaram as seguintes considerações referentes
aos testes com os agentes oxidantes:
a utilização de cloro gasoso para tratamento de lixiviados não se apresentou
atraente. Além da baixa eficiência de remoção de DQO e grande quantidade
de lodo formado, a demanda do oxidante apresenta-se altíssima para
lixiviados concentrados. Toda amônia contida nos lixiviados oferece demanda
de cloro, sendo oxidada anteriormente à matéria carbonácea, gerando
compostos tóxicos (cloraminas);
a aplicação de hipoclorito de cálcio apresentou boas remoções de DQO, ferro
e cor, quando dosada acima de 4000 mg/L, porém a produção de lodo foi
elevada;
os resultados obtidos pela aplicação de permanganato de potássio foram
considerados desanimadores, dadas as altas dosagens requeridas para
obtenção de eficiência regular e à elevada formação de lodo.
Os principais resultados dos testes efetuados por HO et al. (1974) são
apresentados na Tabela 3.3.7.
Tabela 3.3.7 – Resumo dos principais resultados obtidos por Ho et al. (1974) na precipitação
química aplicada ao tratamento de lixiviados
Agente/ Ferro Aparên-
Dosagens DQO Remoção Remoção
(Dosagens pH pH Inicial ST final cia do
ótimas inicial de DQO de Ferro
testadas inicial final (mgFe/L) (mg/L) sobrena-
(mg/L) (mgO2/L) (%) (%)
em mg/L) dante
Cl2 Clarifica-
400 2,2 7,0* 340 3,7 12,6 94,6 1962
(0-1540) do
Cl2 Clarifica-
1200 1,75 7,0* 340 3,7 24,0 100 4200
(0-1540) do
Ca(OCl)2 Clarifica-
8000 9,0 7,0 1500 38 48,0 100 9274
(0-15.000) do
KMnO4 5,9- Clarifica-
500 5,8 10.650 330 3 99,09 6700
(0-10.000) 6,1 do
KMnO4 5,9-
10.000 5,8 10.650 330 16,8 - - -
(0-10.000) 6,1
*obtido por adição de ácido ou álcali
Fonte: HO et al. (1974)
Ozonização
Constituindo-se igualmente em um processo de oxidação química a aplicação de
ozônio (O3) apresenta uma série de vantagens no tratamento de águas residuárias:
alta reatividade com compostos refratários ao tratamento biológico ou ao
tratamento utilizando oxidantes químicos comuns;
alta eficiência na remoção de cor e odor de águas residuárias;
alta eficiência na remoção de patogênicos;
solubilidade em água do ozônio treze vezes superior à do oxigênio molecular.
HO et al. (1974) utilizaram uma corrente de oxigênio de 100 L/h com
aproximadamente 3,6% (25,7 mg/min) de ozônio para o tratamento de 200 mL de lixiviado
com 7162 mgDQO/L, 45 mgFe/L e pH = 7,3. Com um tempo de contato de 1 h os autores
obtiveram uma redução de DQO de 5,6% e de ferro de 82%; elevando o tempo de contato
para 4 h a remoção de DQO foi de 37,4% e a de ferro de 95,5%. Ambos os tempos de contato
produziram um efluente límpido, redução de dureza e de sólidos totais.
Processo Fenton
A oxidação química apresenta-se como um conjunto de metodologias de elevado
potencial para aplicação no tratamento de efluentes contendo compostos tóxicos e pouco
ou não biodegradáveis. Os processos oxidativos convencionais utilizam como agentes
oxidantes oxigênio, ozônio, cloro, hipoclorito de sódio, dióxido de cloro, permanganato de
potássio e peróxido de hidrogênio. Todavia, existem numerosos compostos que são
resistentes à ação direta dos agentes oxidantes convencionais. Nesses casos, torna-se
necessário recorrer aos denominados processos oxidativos avançados.
Genericamente, os processos oxidativos avançados encontram-se divididos em
dois grupos: (1) processos homogêneos e (2) processos heterogêneos. Os primeiros ocorrem
numa única fase e utilizam ozônio, peróxido de hidrogênio ou o denominado reagente de
Fenton como geradores de radicais hidroxila. Os segundos utilizam semicondutores como
catalisadores (dióxido de titânio, óxido de zinco, etc.) (TEIXEIRA, 2002). A utilização de
radiação ultravioleta e as propriedades semicondutoras do catalisador permitem a formação
dos radicais hidroxila, com consequente oxidação do efluente. A fotocatálise heterogênea
tem sido bastante estudada tanto com catalisador em suspensão como suportado em
reatores.
Algumas modalidades dos processos oxidativos avançados baseiam-se na
formação do radical hidroxila (OOH), que corresponde à conhecida hidroxila proveniente das
bases, apenas com um elétron desemparelhado. Tal radical apresenta potencial de oxidação
a pH = 0 muito elevado (E0= 2,3V) (CASTRO e FARIA, 2001), somente inferior ao do gás flúor, e é
capaz de reagir com quase todas as classes de compostos orgânicos. Tal reação pode,
idealmente, conduzir à formação de água e dióxido de carbono, ou produzir compostos
ainda não estáveis termodinamicamente, mas que se apresentem biodegradáveis, portanto
suscetíveis ao tratamento biológico complementar.
Em 1876, Henry J. H. Fenton observou as propriedades fortemente oxidantes de
uma solução reagente de peróxido de hidrogênio e íons ferro divalentes (Fe+2) (catalisador
da formação dos radicais hidroxila). Verificou que utilizando tal reagente, muitas moléculas
orgânicas podiam ser facilmente oxidadas. A Reação de Fenton, definida hoje como a
geração catalítica de radicais hidroxila a partir da reação em cadeia entre o íon ferroso e o
peróxido de hidrogênio em meio ácido, tem demonstrado elevada eficiência na oxidação de
compostos orgânicos tóxicos e/ou não biodegradáveis.
A Reação de Fenton é aplicada essencialmente no tratamento de águas
residuárias, lodos, e na remediação de solos contaminados. Entre os vários efeitos obtidos
com o tratamento utilizando o reagente de Fenton destacam-se:
degradação da matéria orgânica;
diminuição da toxicidade;
aumento da biodegradabilidade;
diminuição de DBO, DQO e COT;
remoção de cor e de odor.
Existem variadas limitações inerentes à utilização do reagente de Fenton. Alguns
compostos orgânicos, como o ácido acético, por exemplo, não são oxidados no processo. Por
outro lado, poderá haver formação de outros compostos finais ou intermediários que serão
igualmente tóxicos em relação aos compostos originais, e que comprometam a viabilidade
radicais hidroxila. Deste modo, a mesma concentração de radicais é obtida utilizando uma
menor concentração de íon ferroso. Este processo é conhecido por foto-Fenton. O processo
foto-Fenton tem obtido bastante sucesso na destruição e mineralização de pesticidas em
meio aquoso e em solos.
A utilização de íons ferro suportados em uma matriz porosa de zeólito surge
como alternativa à utilização de ferro em solução. Apesar de haver alguma remoção do ferro
suportado durante o processo de oxidação, a quantidade é relativamente baixa e não
interfere com os tratamentos biológicos posteriores.
LANGE et al. (2006), trabalhando com lixiviados com DQO entre 1900 e 2500
mgO2/L obtiveram remoções médias de DQO da ordem de 61%, havendo alcançado até 75%.
As remoções de nitrogênio amoniacal e total foram influenciadas pelas condições da reação,
sendo mais favoráveis em dosagens maiores de peróxido de hidrogênio e menores de ferro,
alcançando-se remoções de até 85% para as melhores condições e 10% para condições
menos favoráveis.
IVAN et al. (1999 apud KURT et al., 2002) apresentam um quadro com taxas de
aplicação de íons ferro e peróxido de hidrogênio e eficiências de remoção de DQO para
experimentos testando a oxidação de lixiviados, o que é reproduzido na Tabela 3.3.8.
Tabela 3.3.8 - Resultados de Ivan et al. (1999) experimentando o Reagente de Fenton para o
tratamento de lixiviados
+2 +2
DQO Fe H2O2 Remoção de Fe /DQO H2O2 /DQO
Tipo de lixiviado
(mg/L) (mg/L) (mg/L) DQO (%) (g/g) (g/g)
Lixiviado efluente de UASB 1500 300 200 70 0,28 0,18
Lixiviado efluente de tratamento
1100 900 900 63 1,30 1,30
anaeróbio/aeróbio
Lixiviado efluente de tratamento
1720 700 200 60 0,68 0,19
aeróbio
Lixiviado bruto 2000 200 1500 68 0,15 1,10
Fonte: IVAN et al. (1999 apud KURT et al., 2002)
eficiência da ordem de 11% na remoção de DQO quando invertida a ordem de adição dos
reagentes.
Tabela 3.3.9 - Resultados de Kurt et al. (2002) para as dosagens ótimas do Reagente de
Fenton no tratamento de diferentes lixiviados condicionados a pH = 3,0
Lixiviado efluente de
Lixiviado Lixiviado tratado
Características tratamento sequencial
bruto anaerobicamente
anaeróbio e aeróbio
DQO inicial (mg/L) 17.000 6700 1750
DBO5 inicial (mgO2/L) 14.000 3800 620
Relação DBO5 /DQO inicial 0,82 0,57 0,35
Dose ótima de Fe+2 (mg/L) 3000-4500 100 100
Dose ótima de H2O2 (mg/L) 30.000 5000 1860
Dose de H2O2 (% da demanda
85 35 50
teórica de oxigênio)
DQO final (mgO2/L) 6850 2380 440
DBO5 final (mgO2/L) 5950 1170 101
Relação DBO5 /DQO final 0,87 0,49 0,23
Remoção de DQO (%) 59 64,5 75
Remoção de DBO5 (%) 57,5 69,2 83,7
Remoção de Cor (%) 99 98 99
Remoção de Turbidez (%) - - 99
Fe+2/DQO (mg/mg) 0,18-0,26 0,015 0,057
Fe+2/ H2O2 (mg/mg) 0,1-0,15 0,02 0,054
Volume do lodo gerado (% do
20 10 10
volume da solução)
Fonte: Kurt et al. (2002)
desse não elevou a remoção de DQO. De outro modo, utilizando dosagens constantes de 5
g/L de peróxido de hidrogênio verificaram que aportes de ferro superiores a 1,5 gFe+2/L
igualmente não produziram superiores remoções. Utilizando 5 g/L de peróxido de
hidrogênio e 1,5 gFe+2/L fizeram, então, variar o tempo total de oxidação, pelo que
perceberam que além de 60 minutos não era obtida superior performance na remoção de
DQO, que apresentou-se em cerca de 75%.
DENG (2007) utilizando a razão H2O2/Fe+2 = 3:1, [H2O2] = 240 mM, e pH 3,0 obteve
remoção de DQO de lixiviados de 61%.
LOPEZ et al. (2004) obtiveram os seus melhores resultados aplicando o Processo
Fenton a lixiviado, a partir de uma relação H2O2/Fe+2 = 12:1, pH inicial de 3,0, e tempo de
reação de 2,0 horas, obtendo relação DBO5/DQO final de 0,5 e remoção de 60% da DQO. Já
GOTVAJN et al. (2008) alcançaram 86% de remoção da DQO utilizando Reativo de Fenton, com
elevação da biodegradabilidade do lixiviado e redução da toxicidade. As condições do ensaio
foram: pH = 4, razão H2O2/Fe+2 = 10:1 e tempo de 30 minutos, com temperatura mantida em
40oC.
GLOSSÁRIO
LICOR: também conhecido como licor misto: mistura do efluente em tratamento com o lodo
bacteriano.
GRADIENTE HIDRÁULICO: diferença de altitude entre dois pontos dividida pela distância
entre os mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BOYLE, W.C, HAM, B.K. Biological treatability of landfill leachate. Research Journal of Water
Polution Control Federation, v.46, n.5, p. 860-82, 1974.
BRASIL. 2011. Resolução CONAMA 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e
padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17
de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. DOU nº 92, de
16.05.2011.
BRUM, Mariana C. Remoção de ácido húmico da água por precipitação e flotação com a
utilização de surfatantes catiônicos. 2005. 75p. Dissertação Mestrado (Ciências em
Engenharia Metalúrgica e de Materiais). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE. 2005.
CASTRILLÓN L., NAVA Y. F., ULMANU M., ANGER I., MARAÑÓN E., 2010, Physico chemical and
biological treatment of MSW landfill leachate, Waste Management, v. 30, p. 228-235,
2010.
CASTRO, Joaquim Pedro; FARIA, Patrícia. Projecto de Investigação - Oxidação química com
Reagente de Fenton. Porto, Portugal: Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto. Julho de 2001. 37p.
CHIAN, Edward S.K.; DEWALLE, Foppe B. 1976. Sanitary landfill leachates and their
treatment. Journal of the Environmental Engineering Division, v.102, n.2, p. 411-431,
março/abril 1976.
COSSU, R.; HAARSTAD, K.; LAVAGNOLO, M.C.; LITTARRU, P. 2000. Removal of municipal solid
waste COD and NH4-N by phyto-reduction: A laboratory-scale comparison of terrestrial
and aquatic species at different organic loads. Ecological Engineering 16, p. 459-470.
2000.
CURETON, P.M.; GRONEVELT, P.H., McBRIDE, R.A. Landfill leachate recirculation: effects on
vegetation vigor and clay surface cover infiltration. Journal of Environmental Quality,
20. p. 17-24, 1991.
DENG, Yang. Physical and oxidative removal of organics during Fenton treatment of mature
municipal landfill leachate. Journal of Hazardous Materials, 146, p. 334–340, 2007.
DI LACONI, C.; RAMADORI, R.; LOPEZ, A. Combined biological and chemical degradation for
treating a mature municipal landfill leachate. Biochemical Engineering Journal, 31, p.
118-124, 2006.
EHRIG, H.J. Leachate Quality In: CHRISTENSEN, T.H.; COSSU, R. AND STEGMANN, R. Sanitary
Landfilling - Process, Technology, And Environmental Impact. San Diego: Academic
Press, 1989. cap. 4.2, p.213-219.
ESPINOSA LLORÉNS, María del Carmen; LÓPEZ, Matilde; PELLÓN, Alexis, ROBERT, Marlen;
DIAZ, Susana, GONZÁLEZ, Aimée; RODRÍGUEZ, Niurka; FERNÁNDEZ, Alejandro. 2010.
Análisis del comportamiento de los lixiviados generados en un vertedero de residuos
sólidos municipales de la ciudad de La Habana. Revista Internacional de Contaminação
Ambiental 26(4), p. 313-325, 2010.
FACCHIN, Joséni M.; COLOMBO, Mariúsa C.R.; COTRIM, Sérgio L.S.; REICHERT, Geraldo A.
2000. Avaliação do tratamento combinado de esgoto e lixiviado de aterro sanitário
na ETE Lami (Porto Alegre) após o primeiro ano de operação. In: CONGRESSO
INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 27, Porto Alegre, Anais...
Porto Alegre: ABES, dezembro de 2000. 11p.
FLECK, Eduardo. 2003. Sistema integrado por filtro anaeróbio, filtro biológico de baixa taxa
e banhado construído aplicado ao tratamento de lixiviado de aterro sanitário. Instituto
de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
Dissertação de Mestrado, 344p.
GARCIA JR., A.D.; GRANDIN, S.R.; ALEM SOBRINHO, P. 1995. Avaliação da adição de
produtos biotecnológicos em sistemas de lagoas aeradas tratando percolado de
aterro sanitário, em escala de laboratório. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 18. 1995, Salvador. Anais.... Salvador: ABES,
15p.
GIORDANO, Gandhi; MOREIRA, Fernando A.; VIEIRA NETO, Olegário F.; PINTO, Roberta N.M.;
CRUZ, Cleonice L.B.M. Tratamento do chorume da Central de Tratamento de Resíduos
– Candeias – PE. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 25. 2009, Recife. Anais... Recife: ABES. 10p.
GUO, Jin-Song; ABBAS A. A.; CHEN Y. P.;LIU Z. P.;FANG F.;CHEN P. Treatment of landfill
leachate using a combined stripping, fenton, SBR, and coagulation process. Journal of
Hazardous Materials, v.178, p. 699-705, 2010..
HARRIS, J.M.; PURSCHWITZ, D.E.; GOLDSMITH, JR., C.D. 2000. Leachate treatment options
for sanitary landfills. In: INTERCONTINENTAL LANDFILL RESEARCH SYMPOSIUM, 2000,
Lulea, Sweden. Annals... 16p.
HO, S.; BOYLE, W.C., HAM, R.K. 1974. Chemical treatment of leachates from sanitary landfills.
Journal WPCF, v.46, n.7, p. 1778-1791.
IFEANYICHUKWU, Madu Jude. New leachate treatment methods. Masters Thesis. 2008, 77f.
. Lund University, Sweden. 2008.
JONES, M.N., BRYAN, N.D, Colloidal properties of humic substance. Advances in Colloid and
Interface Science, v.78, p.1-48, 1998.
KANG, K.H.; SHIN, H.S.; PARK, H. Characterization of humic substances present in landfill
leachates with different landfill ages and its implications. Water Research, 36, p. 4023–
4032, 2002.
KANG, Y.W.; HWANG, K.Y. Effects of reaction conditions on the oxidation efficiency in the
Fenton process. Water Research, 34: p. 2786–2790, 2000.
KATSUMATA, H.; SADA, M.; KANECO, S.; SUZUKI, T.; OHTA, K.; YOBIKO, Y. Humic acid
degradation in aqueous solution by the photo-Fenton process. Chemical Engineering
Journal, 137, p. 225–230, 2008.
KEENAN, J.D.; STEINER, R.L.; FUNGAROLI, A.A. Landfilll leachate treatment. Journal WPCF, v.56,
n.1, p.27-33, 1984.
KENNEDY, K.J.; HAMODA, M.F.; GUIOT, S.G. Anaerobic treatment of leachate using fixed film
and sludge bed systems. Journal of the Water Pollution Federation, 60, p. 1675-1683,
1988.
KENNEDY, K.J.; LENTZ, E.M. 2000. Treatment of landfill leachate using sequencing batch and
continuous flow upflow anaerobic sludge blanket (UASB) reactors. Water Research,
v.34, n.14, p.3640-3656, 2000.
KINMAN, R.N.; STAMM, J.W.; NUTRINE, D.L. Reverse osmosis membrane fouling by sanitary
leachate and copper plating solutions. In: PROCEEDINGS OF THE 40th PURDUE WASTE
CONFERENCE. Purdue University, West Lafayette, 1985, Annals… Indiana, p. 467-475.
KNUPP, A. M.; MACHADO, L. V.; ZDRADEK, C. P.; BORGES, R. M.. Tratamento de lixiviado de
aterro sanitário por coagulação química. In: IV JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO
IFES/II JORNADA DE INICIAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO DO
IFES: Vitória. Anais... Vitória. 2 p.
KYLEFORS, K.; ECKE, H.; LAGERKVIST, A. Accuracy of COD test for landfill lechates. Water, Air
and Soil Pollution, v.146, p. 153-169, 2003.
LANGE, Liséte C.; ALVES, Juliana F.; AMARAL, Miriam C. S.; MELO JÚNIOR, Wilson R.
Tratamento de lixiviado de aterro sanitário por processo oxidativo avançado
empregando reagente de Fenton. Engenharia Sanitária e Ambiental, v.11, n.2, p.175-
183, abr/jun 2006.
LEMA, J.L.; IBANEZ, E.; CANALS, J. Anaerobic treatment of landfill leachates: kinetics and
stoichiometry. Environmental Technology Letters, v.8. p.555-564, 1988.
LI, Huo-sheng; ZHOU, Shao-qi; SUN, Yan-bo; FENG, Ping; LI, Jing-da. Advanced treatment of
landfill leachate by a new combination process in a full-scale plant. Journal of
Hazardous Materials, 172, p. 408–415, 2009.
LIN, Sheng H.; CHANG, Chih. Treatment of landfill leachate by combined electro-Fenton
oxidation and sequencing batch reactor method. Water Research, v.34, n.17, p. 4243-
4249, 2000.
LOPEZ, A.; PAGANO, M.; VOLPE, A. Fenton’s pré-treatment of mature landfill leachate. Itália
– Chemosphere, 54, p. 1005-1010, 2004.
McARDLE, J.L.; AROZARENA, M.M.; GALLAGHER, W.E. 1988. Treatment of hazardous waste
leachate. Noyes Data Corporation, New Jersey, 1988. 111p.
MÉNDEZ NOVELO, Roger Ivan; CASTILLO BORGES; Elba René; SAURI RIANCHO, María Rosa;
QUINTAL FRANCO, Carlos Alberto; GIÁCOMAN VALLEJOS, Germán; JIMÉNEZ CISNEROS,
Blanca. Comparación de cuatro tratamientos fisicoquímicos de lixiviados. Revista
Internacional Contamación Ambiental, v.25 n.3 México, ago. 2009.
PALIT, T.; QASIM, S.R. Biological treatment kinetics of landfill leachate. Journal of the
Environmental Engineering Division, 103(2), New York, p.353-63, April 1977.
PICCOLO, A. The supramolecular structure of humic substances. Soil Science, 166, p. 810-
832, 2001.
POVINELLI, Jurandyr; ALEM SOBRINHO, Pedro. Introdução. In: GOMES, L.P. (org) PROSAB –
Resíduos Sólidos: Estudos de caracterização e tratabilidade de lixiviados de aterros
sanitários para as condições brasileiras. Rio de Janeiro: ABES, 2009. 360p.
QASIM, S.R.; CHIANG, W. 1994. Sanitary landfill leachate: generation, control and
treatment. Lancaster: Technomic Publishing Co., Inc., 339p.
RICH, L.G.; WAHLBERG, E.J. 1990. Performance of lagoon intermittent sand filter systems.
Research Journal WPCF, v. 62, n.5, p. 697-699, 1990.
RIO GRANDE DO SUL. Resolução CONSEMA 73, de 20 de agosto de 2004. Dispõe sobre a
codisposição de resíduos sólidos industriais em aterros de resíduos sólidos urbanos no
Estado do Rio Grande do Sul. DOE 21.08.2004.
ROBINSON, H.D.; MARIS, P.J. The treatment of leachates from domestic waste in landfill
sites. Journal of Water Pollution Control Federation, v.57, n.1. p. 30-38, 1985.
SCHAFER P.E.; CARTER, J.L.; WOEFEL, G.C. 1986 First year’s operating performance of the
Omega Hills Landfill Pretreatment anaerobic filter . PROCEDINGS OF THE 41ST
PARDUE INDUSTRIAL WASTE CONFERENCE, PURDUE UNIVERSITY, West Lafayette,
Indiana, 1986. Anais… p.383-389.
SEGATO, L.M.; SILVA, C.L., 2000. Caracterização do chorume do aterro sanitário de Baurú.
In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 27.
2000, Anais... Porto Alegre: ABES. 9p.
SPENGEL, D.B.; DZOMBAK, D.A. Treatment of landfill leachate with rotating biological
contactors: bench-scale experiments. Research Journal of Pollution Control
Federation, 63. p.971-81, 1991.
THORNTON, R.J.; BLANC, F.C. Leachate treatment by coagulation and precipitation. Journal
of the Environmental Engineering Division, v. 99 n.EE4, p. 535-544, 1973.
WANG, Zong-ping; ZHANG, Zhe; LIN, Yue-juan; DENG, Nan-sheng; TAO, Tao; ZHUO, Kui.
Landfill leachate treatment by a coagulation–photooxidation process. Journal of
Hazardous Materials, B95, p.153–159, 2002.
WISZNIOWSKI, J.; ROBERT, D.; SURMACZ-GORSKA, J.; MIKSCH, K.; MALATO, S.; WEBER, J.V.
Solar photocatalytic degradation of humic acids as a model of organic compounds of
landfill leachate in pilot-plant experiments: influence of inorganic salts. Appl Catal, B,
53, 2004.
WU, Y.C.; HAO, O.J.; OU, K.C.; SCHOLZE, R.J. Treatment of leachate from a solid waste landfill
site using a two-stage anaerobic filter. Biotechnology and Bioengineering, New York,
v.30, p.661-667, 1988.
WU, Yanyu; ZHOU, Shaoqi; QIN, Fanghui; PENG, Huaping; LAI, Yanglan; LIN, Yiming. Removal
of humic substances from landfill leachate by Fenton oxidation and coagulation.
Process Safety and Environmental Protection: Transactions of the Institution of
Chemical Engineers, Part B; 88, 4; p. 276-284, 2010.
YOUNG, J.C. 1991. Factors affecting the design and performance of upflow anaerobic filters.
Water Science & Technology, 24, n.8, p.133-55, 1991.
sempre em uma proporção de 30:1, assim, a relação inicial deve estar entre
25:1 e 35:1. O prosseguimento do processo pode ser monitorado através da
relação C:N. É preciso, porém, considerar que há uma evolução do pH, que se
eleva ao longo do processo, o que, acompanhado pela geração de calor
proveniente dos processos metabólicos, cria condições propícias para a
remoção de nitrogênio do meio como gás amônia (NH3). O próprio excesso de
amônia livre de um composto não curado ocasiona toxidez às plantas. A
semicura do composto ocorre quando a relação alcança 18:1. DINDAL apud
LIMA (1995) afirma que uma relação C:N = 10:1 prenuncia que o composto
está curado, portanto, sem quantidades significativas de carbono degradável
para que sua aplicação no solo esteja livre de concorrência entre os
microorganismos heterotróficos e as plantas. Uma relação inicial elevada,
como 80:1 retardará o tempo de compostagem, em virtude de que faltará
nitrogênio aos organismos decompositores. Ao contrário, uma relação baixa
como 6:1 faz com que haja muita atividade inicial, havendo amonificação e
perda de parte do nitrogênio como amônia livre. Resíduos animais e uréia têm
sido indicados como fontes de nitrogênio para rebaixar a relação C:N.
70 14
13
60
12
50 11
Temperatura ( C)
10
o
40
9
pH
30 8
pH
20 7
temperatura 6
10
5
0 4
0 20 40 60 80 100 120 140 160
dias
Fonte: o autor
Conforme KIEHL (2002), há uma relação estreita entre o carbono orgânico total
e a DQO, em virtude da demanda de oxigênio ser proveniente da matéria
carbonácea. Essa relação é dada pela equação abaixo.
Sistemas de compostagem
A compostagem pode ser realizada de forma (1) natural ou (2) acelerada. A
compostagem acelerada pode ser feita em digestores ou em leira aerada estática.
(1) Compostagem natural: é o método clássico, em que o resíduo sólido urbano
é segregado, enviando-se a fração orgânica para trituração, peneiramento e
disposição em leiras. Irrigação e revolvimentos periódicos deverão manter
um ambiente com 40%-60% de umidade e oxigenado. A Figura 3.4.2
apresenta leiras de compostagem natural (observe-se o vapor d’água
desprendido das leiras, originado pela vaporização da umidade devido ao
aquecimento do material originado pela atividade microbiológica;
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BIDONE, Francisco R.B.; POVINELLI, Jurandyr. 1999. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São
Carlos, EESC-USP. 120p.
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
4.1 INTRODUÇÃO
Os resíduos especiais de ampla geração domiciliar e/ou profissional constituem-
se em uma preocupação às gerências públicas, visto serem gerados difusamente pela
população, em grande parte dos imóveis, residenciais ou não, ou em várias atividades
profissionais. Embora em 2010 tenha emergido o marco regulatório nacional que define
responsabilidades sobre tais resíduos sólidos, até o momento da edição do presente texto
muito pouco ocorreu de concreto em relação à denominada logística reversa no território do
país, a qual seria conduzida na forma de acordos setoriais a serem firmados entre as
entidades representativas dos fabricantes e importadores dos produtos de consumo e o
Ministério do Meio Ambiente, de modo a que na maior parte das vezes a destinação dos
resíduos perigosos ou indiretamente danosos à saúde pública e/ou ao ambiente, seja
desqualificada.
Em alguns casos, regramentos aplicados a tais resíduos são estabelecidos por
legislações de vigência local ou regional, mostrando-se insuficientes, incompletos ou
ineficazes. Via de regra, na melhor das hipóteses, a destinação da maior parte desses
resíduos dá-se a aterros sanitários para resíduos sólidos urbanos. Tais aterros não podem
receber resíduos enquadrados como perigosos segundo a NBR 10004/2004, e as próprias
legislações municipais estabelecem a proibição de seu encaminhamento a tais instâncias de
tratamento. Neste sentido, os movimentos que são observados são (1) a indevida
condenação pública dos órgãos locais, por não apresentarem soluções próprias para o
problema (em que pese a responsabilidade estar muito bem definida para o setor privado)
em comunidades providas de certa cultura ambientalista, (2) a ausência de qualquer noção
de como destinarem-se de forma qualificada muitos dos resíduos especiais gerados pelas
comunidades, (3) a destinação indevida, dos mesmos resíduos, a aterros sanitários para
resíduos sólidos urbanos ou, no pior dos casos, seu lançamento direto nos recursos naturais.
Se não houver, em determinado município, regulamentação para o destino de
domissanitários perigosos (“venenos”), por exemplo, não haverá conforto ao gestor
municipal de ser eventualmente amparado por uma legislação que isente o município da
responsabilidade sobre o destino de tais resíduos: ou haverá a disposição dos materiais
residuários em aterro sanitário, ou, mais desafortunamente, esses produtos serão lançados
na rede de esgotos.
O presente capítulo tratará dos principais resíduos especiais amplamente
gerados nos municípios, estabelecendo uma revisão das problemáticas em si, das legislações
aplicadas e das metodologias para o seu tratamento. Como será apresentado, para alguns
resíduos já há regulamentação legal efetiva ou mesmo acordo setorial em vigor (exemplo:
agrotóxicos, embalagens de óleos lubrificantes), para outros há regulamentações esparsas e
de efetividade discutível. Por fim, outros resíduos apresentam inclusive valor econômico
positivo (exemplo: óleos de fritura saturados). Sua correta destinação, a partir da criação de
um programa específico, que vinculará a cultura e o engajamento da comunidade,
dependerão unicamente da vontade política em fazê-lo.
Fonte: o autor
Solos
Os residuais de solos, provenientes de escavações e terraplanagens costumam
ser considerados materiais inertes e sem qualquer tipo de risco associado à sua composição
e estrutura. Em geral isso pode vir a ser correto, porém, em muitos casos, quando uma
amostra representativa de solo for encaminhada a laboratório para obtenção e análise do
extrato lixiviado e do extrato solubilizado, os resultados poderão ser surpreendentes,
especialmente se os substratos provirem de áreas industriais, postos de gasolina, áreas de
disposição irregular de resíduos ou terrenos em cujo subsolo passem dutos e canalizações
condutores de esgotos. Os residuais de escavações em áreas industriais poderão constituir-
se em substratos com vestígios de produtos químicos industriais ou mesmo residuais de
emissões aéreas e resíduos sólidos e líquidos que não tenham sido devidamente
gerenciados. Terrenos sitos nas proximidades de parques industriais podem conter, em seu
solo, o produto de anos de acumulação de particulados emitidos por via aérea, ou matérias-
primas granulares estocadas a céu aberto e carreadas pelo vento. Solos escavados,
provenientes de postos de gasolina, poderão conter residuais de combustíveis, em caso de
vazamento dos tanques de armazenamento. Solos provenientes de terrenos que serviram
como depósitos irregulares de resíduos sólidos podem conter materiais biodegradáveis e até
resíduos perigosos. Solos provenientes de escavações em redes de esgotos poderão conter
elevada carga biodegradável, classificando-se como residual da Classe II-A. Por fim, vários
substratos que se assemelham visualmente a solos escavados, como lodos de estações de
tratamento, resíduos de dragagens de canais e arroios e resíduos de limpeza e
desassoreamento de bocas-de-lobo poderão conter apreciáveis concentrações de
compostos biodegradáveis ou perigosos, sendo que sua disposição em aterros para resíduos
da construção civil ou uso direto para nivelamento e elevação de cotas de terrenos deve ser
vedada, no mínimo até o estabelecimento de sua classificação. Solos contendo apenas
matéria biodegradável, que se classificam como resíduos da Classe II-A poderão, em certos
casos, converter-se à Classe II-B, após sua deposição em leitos de secagem pelo tempo
suficiente para redução do teor de umidade, estabilização da matéria orgânica, volatilização
de certos componentes e redução de patógenos pela exposição ao sol. Outra possibilidade
para tais é a utilização do denominado landfarming, processo no qual os resíduos são
mantidos em condições aeróbias e de umidade controlada, para que microrganismos
estabilizem a matéria biodegradável presente. A fiscalização técnica competente associada
ao gerenciamento de resíduos da construção civil e aterros especiais para resíduos da
construção civil é fundamental neste sentido, de modo a proteger o ambiente de ações
irresponsáveis de certos proprietários de áreas e certos caçambeiros.
Materiais Cerâmicos
Praticamente toda a fração cerâmica pode ser beneficiada como agregado. As
frações de residuais de concretos estruturais e rochas naturais poderão constituir, por
reciclagem, agregados estruturais. No entanto as fases mais porosas como resíduos de
cerâmica vermelha, argamassas e cerâmica de revestimento conferem, ao concreto obtido
por reciclagem, características de inferior resistência e superior absorção de água. Se a
segregação nos canteiros de obras for eficiente, poderão ser obtidos concretos de baixa e de
elevada resistência. A dificuldade na segregação in loco pode ser resolvida através de
processos, por exemplo, de separação por diferença de densidade, obtendo-se frações
porosa e densa segregadas. No caso mais comum, em que não há separação de agregados, o
concreto obtido pelo beneficiamento terá sua utilidade restrita à produção de contra-pisos,
camada de sub-base de pavimentação, camadas drenantes, blocos de concreto e aplicações
em que não seja solicitada elevada resistência do material. O beneficiamento tradicional da
fração cerâmica é efetuado por britagem em equipamento de martelo e peneiramento.
Materiais Metálicos
Os residuais de metais de obras podem ter reciclagem em siderúrgicas. Especial
atenção deverá ser conferida a latas de produtos “químicos”, tais quais tintas, vernizes,
colas, protetores de corrosão, produtos anti-mofo e anti-cupim e solventes. Em geral as
embalagens de produtos perigosos são tidas como resíduos perigosos, em função dos
residuais de tais produtos que se mantêm aderidos ou adsorvidos nas paredes das
Madeira e Similares
A geração de madeiras mostra-se importante junto às obras civis. Residuais de
tapumes, estacas e outros elementos resultam em quantidades apreciáveis de madeiras sem
utilidade. A esses, somam-se residuais de aglomerados, que são basicamente uma
combinação de madeira com resinas aglomerantes. Duas são as utilizações mais comuns
para a fração madeira: (1) compostagem e (2) destinação à queima para recuperação de
energia. No primeiro caso, os projetos devem prever a picagem das madeiras puras (não
contemplados aglomerados, compensados e mdf) e a mistura com outros resíduos orgânicos
que otimizem a relação C:N. Em geral tais projetos de compostagem somente se viabilizam
em gestões municipais, ou quando as demais soluções para sua destinação apresentem
custos superiores em função de transporte e pagamento de tarifas para disposição. A
compostagem pode também operar dentro de uma estratégia de marketing ambiental da
empresa geradora. A destinação das madeiras para queima pode ser uma estratégia
interessante do ponto de vista financeiro: sua utilização como combustível pode dar-se em
fornos de olarias e diversas outras indústrias, economizando outros combustíveis.
Entretanto, especial atenção deve ser dada aos aglomerados e a madeiras contaminadas por
óleos e outros residuais, que provavelmente constituam-se em materiais impróprios para a
queima direta, sem controle de emissões. Todas as observações anteriores também se
aplicam aos resíduos vegetais, ricos em materiais celulósicos, bem como aos produtos
industriais da celulose, papel e papelão, que, caso não contaminados, são diretamente
recicláveis, apresentando valor econômico positivo para a reciclagem.
Resíduos de gesso
O gesso, como resíduo da construção civil, aparece principalmente em função de
sua utilização na forma de blocos para constituição de forros, na forma de revestimento
sobre a alvenaria, de material majoritário na confecção de paredes, e na forma de gesso
acartonado. O gesso natural (gipsita) corresponde a sulfato de cálcio bihidratado
(CaSO4.2H2O). As principais impurezas do gesso brasileiro são os compostos óxido de cálcio
(CaO), anidrido carbônico (CO2), óxido de magnésio (MgO), trióxido de alumínio (Al2O3) e
óxido férrico (Fe2O3) (JONH e CINCOTTO, 2003). O pH do gesso costuma situar-se na faixa da
neutralidade (6,6-6,9).
O gesso acartonado apresenta composição bastante mais complexa. Além da
gipsita, a composição apresenta papel (4% a 12%), fibra de vidro, vermiculita (as jazidas
dessa mica podem conter amianto), argilas (até 8%), amido, hidróxido de potássio (KOH),
agentes espumantes (sabões), agentes dispersantes, e agentes hidro-repelentes. Segundo
CARR e MUNN (1997) apud JONH e CINCOTTO (2003), o gesso acartonado norte-americano
contém boro (48,1 mg/kg), cromo (21,7 mg/kg), cobre (10,3 mg/kg), chumbo (3,6 mg/kg) e
mercúrio (1,2 mg/kg). Essas concentrações são preocupantes, uma vez que em função da
lixiviabilidade do material, seu extrato lixiviado poderá conduzir à classificação do resíduo na
Classe I da NBR 10004/2004. Não há riqueza de dados disponíveis sobre a composição do
gesso nacional. Nos canteiros de construção e nas demolições o gesso residuário poderá
estar contaminado com tintas, material asfáltico e outros contaminantes.
TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
(PGRCC)
1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração/Projeto do PGRCC
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação/Execução do PGRCC
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental (LP, quando for o caso)
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área a Ser Construída
3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGRCC.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
- Lei Federal 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
- Lei Federal 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
- Resolução CONAMA275/01, código de cores para os invólucros de resíduos.
- Resolução CONAMA 307/02, gestão dos resíduos da construção civil.
- Norma ABNT NBR 10.004/04, classificação de resíduos sólidos.
- Norma ABNT NBR 11.174/90, armazenamento de resíduos classe II.
- Norma ABNT NBR 12.235/92, armazenamento de resíduos classe I (perigosos).
- Norma ABNT NBR 15.112/04, áreas de transbordo e triagem.
- Norma ABNT NBR 15.113/04, projeto, implantação e operação de aterros.
- Norma ABNT NBR 15.114/04, projeto, implantação e operação Áreas de reciclagem.
- Norma ABNT NBR 15.115/04, execução de camadas de pavimentação.
- Norma ABNT NBR 15.116/04, pavimentação e preparo de concreto.
- Lei Estadual 11.520/00, Código Estadual do Meio Ambiente.
- Lei Estadual 9.921/93, dispõe sobre gestão dos resíduos sólidos.
- Lei Estadual 13.401/10, dispõe sobre destinação de resíduos classe I (perigosos).
- Decreto Estadual 38.356/98, dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos.
- Resolução CONSEMA/RS 109/05, Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil a ser elaborado pelos Municípios.
- Portaria FEPAM 16/10, disposição de resíduos classe I.
- Lei Municipal 728/14, Código Municipal de Limpeza Urbana.
- Lei Municipal 9.851/05, dispõe sobre recipientes de coleta de resíduos perigosos.
- Lei Municipal 10.847/10, Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil do Município de Porto Alegre.
- Decreto Municipal 9.367/88, dispõe sobre o manejo de resíduos sólidos.
- Decreto Municipal 18481/13, critérios e procedimentos para a Gestão dos Resíduos da
Construção Civil (SMURB-SMAM).
- Outra normativa qualquer que se julgue procedente para o PGRCC.
5. DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- Determinar e identificar as áreas de geração de resíduos.
- Caracterizar os resíduos sólidos gerados através de classificação por tipo (CONAMA
307/02, classes A, B, C e D e NBR 10.004 - Classes I, IIA e IIB) e quantificá-los por cada
área independente.
- Identificar os pontos de segregação dos resíduos sólidos, os quais estão munidos de
recipientes coletores. A coloração dos recipientes deve ser de acordo com a Resolução
CONAMA 275/01.
- Apresentar a Planilha de Diagnóstico disponibilizada no Anexo I deste Termo de
Referência devidamente preenchida. Caso a empresa tenha um modelo próprio de
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
______. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.
______. 2012. Resolução CONAMA 448, de 18 de janeiro de 2012. Altera os arts. 2º, 4º, 5º,
6º, 8º, 9º, 10 e 11 da Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente CONAMA. DOU nº 14, quinta-feira, 19 de janeiro de 2012.
_____. 2015. Resolução CONAMA 469, de 29 de julho de 2015. Altera a Resolução CONAMA
307, de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
a gestão dos resíduos da construção civil. DOU nº 144, de 30 de julho de 2015.
JOHN, Vanderley M.; AGOPYAN, Vahan. 2000. Reciclagem de resíduos da construção in:
SEMINÁRIO – RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES. São Paulo, SP.
JOHN, Vanderley M.; CINCOTTO, Maria Alba. 2003. Alternativas da gestão dos resíduos de
gesso . São Paulo: USP/PCC. 9p.
PORTO ALEGRE. 2010. Lei 10.847, de 9 de março de 2010. Institui o Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil do Município de Porto Alegre,
estabelece as diretrizes, os critérios e os procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil (RCCs) e dá outras providências. DOPA de 10.03.2010.
____________. 2014. Decreto 18.705, de 8 de julho de 2014. Altera o inc. vi do art. 1º, o art.
16 e inclui arts. 16-a, 16-b, 16-c, 16-d, 16-e, 16-f e 16-g ao Decreto nº 18.481, de 10 de
dezembro de 2013, que regulamenta a lei nº 10.847, de 9 de março de 2010, que institui
o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil do Município de
Porto Alegre. DOPA de 09.07.2014.
____________. 2014. Decreto 18.746, de 12 de agosto de 2014. Altera os arts. 4º, 5º, 21,
itens 5, 6.6, do Anexo I, item 3 do Anexo II, e o modelo de tabela para especificação e
quantificação de resíduos de ambos os anexos, do Decreto nº 18.481, de 10 dezembro
de 2013. DOPA de 28/08/2014.
SOUZA, U.E.L. et ai. 1999. Desperdício de materiais nos canteiros de obras: a quebra do
mito. PUC/EPUSP. São Paulo, 1999. Anais. 48p.
facilidade, gerando luz nesse processo. Este é o princípio funcional das lâmpadas de
descarga, categoria constituída por todas as lâmpadas que utilizam mercúrio em seu interior
e mesmo algumas isentas do metal. Dentro do envoltório de vidro de uma lâmpada
fluorescente, por exemplo, há argônio e vapor de mercúrio rarefeitos. Em cada extremidade
do tubo há um eletrodo sob a forma de um filamento, revestido com um óxido. Quando se
liga a lâmpada, os filamentos se aquecem e emitem elétrons: isso inicia a ionização do gás.
Um starter (disparador) interrompe então o circuito, automaticamente, fazendo cessar o
aquecimento dos filamentos. O reator, uma bobina de fio de cobre ligada à lâmpada, produz
imediatamente um impulso de alta voltagem, que quebra a rigidez dielétrica do gás. Essa
descarga aquece e vaporiza o mercúrio, cuja maior quantidade está inicialmente no estado
líquido. Os elétrons provenientes do filamento chocam-se com as moléculas do gás mercúrio
contidas no tubo, o que produz não só a excitação como também a ionização dos átomos.
Ionizados, os átomos do gás são acelerados pela diferença de voltagem entre os terminais
do tubo, e ao se chocarem com outros átomos provocam outras excitações. O retorno
desses átomos do estado excitado ao estado fundamental ocorre com a emissão de fótons
de energia, em comprimentos de onda correspondentes às radiações visível e ultravioleta
(invisível). A radiação ultravioleta, ao se chocar com o revestimento fluorescente do tubo
(diversos sais de fósforo), produz luz visível. Empregando-se misturas de materiais
fotoluminescentes diversos é possível obter diferentes tons de luz branca.
A composição do revestimento das lâmpadas fluorescentes é cuidadosamente
estudada de modo a fornecer o tom de branco mais adequado para as necessidades de lojas,
escritórios e residências. A vida útil das lâmpadas fluorescentes relaciona-se ao consumo da
poeira emissora de elétrons que recobre os cátodos. Como nas lâmpadas fluorescentes a
maior parte da potência fornecida é transformada em luz, seu rendimento pode ser até
cinco vezes superior ao rendimento das lâmpadas incandescentes, e sua vida útil atinge
médias de milhares de horas.
Desconsiderados os aspectos de apelo comercial que cercam os produtos,
enquanto que a defesa do consumo das lâmpadas de descarga conta com os argumentos de
suas superiores durabilidade, performance e eficiência energética, há movimentos
ambientalistas que se opõem à sua fabricação, em função da utilização de mercúrio e outros
metais pesados em sua composição. Uma ponderação séria e de cunho científico sobre tal
pauta deve utilizar-se de uma avaliação de ciclo de vida aplicada a comparar as lâmpadas de
descarga a outras tipologias, como a lâmpada de Led, considerando todos os impactos
ambientais, desde sua fabricação (incluindo-se impactos referentes às matérias-primas) até
a destinação dos seus residuais.
Normalmente, a periculosidade dos residuais de lâmpadas de descarga é
relacionada ao mercúrio, metal neurotóxico presente nos artefatos. Isso se encontra bem
assinalado na NBR 10004/2004. Todavia, a poeira fosforosa que reveste o tubo das lâmpadas
é constituída por vários metais mais ou menos tóxicos, conforme apresenta a Tabela 4.3.1.
Outras fontes de metais pesados nas lâmpadas são o vidro, que apresenta
chumbo em sua composição (no caso das lâmpadas de vapor de mercúrio), as poeiras
emissoras que recobrem os cátodos, que contém bário, os próprios eletrodos, que podem
conter cromo (ferro cromado), e as soldas, que em lâmpadas de vapor de mercúrio são de
chumbo.
Considerando-se, para efeito ilustrativo, a concentração-limite de mercúrio em
águas para potabilidade (0,001 mg/L, pela Portaria do Ministério da Saúde 2914/2011), uma
lâmpada de 40 W, apresentando um mínimo de 18 mg de mercúrio em sua composição,
apresentará potencial de levar 18 m3 de água originalmente isenta de mercúrio ao limite
para potabilidade. Todos os metais presentes na poeira fosforosa apresentam maior ou
menor inconveniente de dispersão no ambiente. Cádmio, chumbo e cromo são,
particularmente, muito problemáticos em função da sua ação sobre o ambiente e a saúde
pública.
A Tabela 4.3.2 apresenta as massas de mercúrio presentes em diferentes tipos
de lâmpadas. Como pode ser observado, em algumas lâmpadas temos massas de mercúrio
próximas a 0,5, ou mesmo 1,0 grama. Um grama de mercúrio lançada em um curso hídrico
leva 1000 m3 (1.000.000 litros) de água inicialmente isenta de mercúrio ao limite para
potabilidade.
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
...
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
Fonte: web
Fonte: web
(c) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão - Vapor de sódio de alta pressão
As lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão são utilizadas, em geral, para
iluminação de ruas, áreas abertas e indústrias. Utilizam uma mistura de sódio e mercúrio.
São muito eficientes e apresentam um rico espectro de emissão. Apresentam vida útil média
de 16.000 horas e eficiência de 100-150 lúmen/watt. A Figura 4.3.3 apresenta um artefato
desse tipo.
Fonte: web
(d) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão - Vapor de mercúrio de alta pressão
São lâmpadas normalmente utilizadas em entradas, decoração interior, fábricas
e vias de trânsito, apresentando vida útil aproximada de 8000 horas. Contêm cerca de 30
miligramas de mercúrio por unidade. São constituídas de um bulbo com nitrogênio sob baixa
pressão e um tubo de descarga operando a aproximadamente 10 atm. Não utilizam reator,
sendo que a ionização do gás argônio é produzida por um eletrodo auxiliar. A Figura 4.3.4
apresenta um artefato desse tipo.
Fonte: web
Fonte: web
inicia a ionização do gás. São comumente utilizadas em jardins, praças e iluminação pública.
Contêm mercúrio em sua composição. A Figura 4.3.6 apresenta uma lâmpada mista.
Fonte: web
Processamento a seco
O processamento a seco, embora apresente diversas variantes, baseia-se,
fundamentalmente nos processos de separação da poeira fosforosa, do mercúrio, e dos
pedaços de vidro e metal. O processamento dá-se em câmara fechada, com pressão
negativa. Basicamente, os processos a seco são divididos em processamento sem destilação
e com destilação.
O processo Lobbe Derconsa é um típico exemplo de processamento sem
destilação. As lâmpadas fluorescentes, após seleção prévia por tamanho, são encaminhadas
para um triturador, onde os casquilhos são cortados e os corpos das lâmpadas são
quebrados. Algumas partículas resultantes dessa quebra são sugadas e conduzidas a um
filtro úmido; entretanto, os outros materiais são submetidos a um moinho de martelos, que
lhes reduz o volume. Os metais ferrosos e não ferrosos são encaminhados, por uma cinta
transportadora, para o eletroímã, o qual vai permitir separar os metais (os casquilhos),
enquanto que o vidro, o pó de revestimento e alguns metais não ferrosos, não retirados
anteriormente, são conduzidos para um coletor de pó de ciclone dinâmico, onde vai ocorrer
a próxima separação dos vários materiais. O pó é também aspirado para o filtro úmido
enquanto que o vidro e os metais não ferrosos são separados e colocados em contentores
separados, de recepção de frações finais. Depois deste primeiro ciclo do processo, os
restantes constituintes do equipamento, ainda pouco diferenciados, são conduzidos pelos
transportadores vibro-oscilantes, sendo diretamente reencaminhados para o moinho de
martelos, de modo a que se repita o ciclo até que todo o material seja separado. O ar
existente na unidade, bem como as partículas poluentes, são sugados por um sistema de
aspiração e conduzidos ao filtro de mangas, ao qual se segue um filtro úmido. Na Figura
4.3.7 é apresentada a representação esquemática simplificada do processo.
ventilado em dois passos. Primeiramente o ar passa por um ciclone onde a maior parte do
pó é separada para um barril de 30 litros. Depois, o ar ventilado passa através de dois filtros
de mangas onde as partículas finas do pó são capturadas e depois disso descarregadas num
barril de 30 litros, o qual se encontra localizado num compartimento debaixo de cada filtro
de mangas. O ar fica então livre de pó fluorescente. Finalmente o ar é conduzido para os
quatro filtros de carvão ativado, para eliminar os restos de vapor de mercúrio, garantindo
que este não seja liberado para a atmosfera.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio
de Janeiro, 2004.
GAMA, Paulo H.R.P.; MORAES, Carlos H.V.; MARTINS, André R.S.; YAMACHITA, Roberto A.;
AOKI, Alexandre R. 2001. Rede cooperativa de reciclagem: uma proposta de
metodologia de trabalho para o progresso da humanidade buscando o
desenvolvimento sustentável. In: XVI SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E
TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Campinas, 2001. 6p.
RAPOSO, Cláudio 2001. Contaminação ambiental provocada pelo descarte não controlado
de lâmpadas de mercúrio no Brasil. Apresentação vinculado ao GT de lâmpadas de
descarga do CONAMA disponível em http://www.mma.gov.br/port/conama/. Acedido
em 12.03.2006.
SHINN, Melissa et al. 2001. Caracterização da situação de produção e gestão dos resíduos
de lâmpadas em Portugal. CIR, 2001. Portugal.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Reaproveitamento de pneus
Antes de se tornarem inservíveis, os pneus usados podem ser reformados para
que sua vida útil como equipamentos automotivos seja prolongada por mais alguns anos. No
Brasil a prática é permitida por lei desde que seja realizada com componentes que foram
utilizados em território nacional. Três são os tipos de reformas praticadas em pneus:
recapagem: quando somente a banda de rodagem é substituída. Há geração
de uma emenda indesejável na fixação da nova banda polimérica, que pode
comprometer seriamente a estabilidade do pneu, sob certas condições;
recauchutagem: além da substituição da banda, inclui a troca de um pedaço
da lateral do pneu;
remodelagem ou remoldagem: todo componente ganha nova cobertura.
A rigor, os três citados processos não constituir-se-iam propriamente em
reaproveitamento, e sim em reciclagem, visto as carcaças sofrerem processamento
industrial.
prensada como adicional na cobertura de asfalto das cidades. A borracha prensada torna a
superfície do asfalto muito mais resistente e durável. O processo é econômico porque pode
ser utilizado o equipamento convencional de construção de estradas. Experiências
internacionais mostram que a utilização de grânulos misturados ao betume, na proporção de
8-10% de borracha (90-92% de betume) confere uma resistência melhor do que o betume
sozinho. Essa mistura também apresenta maior resistência a baixas temperaturas. A alta
resistência aos impactos da camada de borracha-betume a baixas temperaturas e sua
adesão nas camadas inferiores faz com que não apareçam rachaduras nas superfícies das
estradas antes de dez anos. Do ponto de vista econômico, o aumento da longevidade do
piso compensa o aumento do custo para a confecção do mesmo.
Nas misturas asfálticas, existem dois processos - úmido e seco - de incorporação
dos pneus. No processo úmido (wet process) são adicionadas partículas finas de borracha ao
cimento asfáltico, produzindo um novo tipo de ligante denominado "asfalto-borracha". Já no
processo seco (dry process), partículas maiores de borracha substituem parte dos agregados
pétreos. Após a adição do ligante, formam um produto denominado "concreto asfáltico
modificado com adição de borracha".
No Brasil, para a utilização de pneus inservíveis em capas asfálticas, testes de
solubilização e lixiviação foram realizados, com o objetivo de classificar as amostras
(somente borracha, mistura asfáltica convencional e misturas asfálticas utilizando borracha
como agregado) através da detecção de metais pesados. Em São Paulo, esses ensaios são
uma exigência da CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, para fins
de construção de pistas experimentais, para comprovar que misturas asfálticas preparadas
com borracha de pneus não apresentam riscos potenciais ao ambiente e à saúde pública.
Co-processamento em fornos
A utilização de resíduos sólidos como fonte de energia é prática usual em muitos
países. Os Estados Unidos co-processam cerca de 1,2 milhões de t/ano de resíduo como
combustível alternativo, representando 19% do total de energia consumida para a
fabricação do cimento. Na França e na Alemanha o co-processamento dá conta de,
respectivamente, 42% e 12% da demanda de energia térmica. O Japão, através de um
programa de cooperação ambiental entre o governo e a indústria cimenteira, reaproveitou,
na Década de 2000, cerca de 27.000.000 de toneladas de resíduos, utilizados como
combustível alternativo.
Para a extração de energia, os pneus são utilizados como combustível em outros
processos, devido ao seu poder calorífico que é de 33,6 MJ/kg, sendo da mesma ordem de
grandeza que o do carvão mineral (25,2-29,4 MJ/kg) e o do combustível líquido (54,6-58,8
MJ/kg). Este alto poder calorífico incentiva sua utilização como combustível em processos de
incineração, economizando recursos naturais como o carvão e o petróleo. O calor produzido
pode ser utilizado nas indústrias de aço e de cimento. Há estimativas de que cada pneu
utilizado como combustível substitui o consumo de 9,4 litros de petróleo.
A indústria do cimento é uma das atividades industriais onde há mais elevado
consumo de energia. Fornos de clínquer requerem altas temperaturas (1800°C). O co-
processamento em fornos de clínquer, nos dias de hoje, é a solução para a destinação de
praticamente 100% das carcaças produzidas no Brasil, uma vez que tais carcaças moídas são
recebidas pelas cimenteiras sem custos para a indústria de pneumáticos
A queima de pneus, ou de qualquer outro resíduo em fornos de cimento, deve
seguir alguns critérios estabelecidos pelos órgãos de controle ambiental responsáveis dos
estados nos quais as cimenteiras estão instaladas. Este procedimento aplica-se ao
licenciamento de atividades de aproveitamento do resíduo sólido em fornos rotativos de
produção de clínquer. Atualmente a indústria de clínquer exige que as carcaças utilizadas
para co-processamento ingressem ao sistema previamente moídas. A Figura 4.4.3 apresenta
registros fotográficos do processamento das carcaças de pneus previamente ao seu envio ao
co-processamento.
(A) caçamba estacionária pronta para o transporte; (B) recepção da carga na planta de moagem; (C) destalonamento;
(D) condução das carcaças, via esteira, até o moinho; (E) separação magnética do aço presente no material picado; (F)
arames provenientes do destalonamento, que seguirão à reciclagem; (G) aparas de pneu picado, prontas para seguir ao
forno de clínquer.
Fonte: o autor
Pirólise
Apesar de ser comum tratar-se a pirólise como queima, essa é uma maneira
errônea de conceituar tal processo. Na pirólise não há a combustão, ocorrendo uma espécie
de destilação destrutiva, ou seja, o material é fracionado com a ação de calor de fonte
externa, e este fracionamento facilita a extração de materiais desejados, diferentemente da
queima, onde pela ação de altas temperaturas, os compostos são total ou parcialmente
destruídos por oxidação com oxigênio molecular, tendo como resultado cinzas, emissões
líquidas e gasosas (CAPONERO, 2000 apud MORAIS e GÜNTER, 2004). Esse processo foi utilizado
pela PETROBRÁS/SIX, no município de São Mateus do Sul, estado do Paraná, cuja planta
utilizou pneus conjuntamente com o mineral xisto betuminoso para extração de óleo, gás e
outros componentes. Na pirólise, emissões resultantes do emprego de pneus usados
juntamente com o xisto não são diferentes em qualidade das emissões resultantes da
pirólise do mineral xisto somente.
O óleo obtido no processo é utilizado como óleo combustível. O gás de síntese
produzido no processo de pirólise de pneus e xisto tem a mesma destinação que o atual gás
do processo. Atualmente o gás combustível é consumido integralmente pela indústria e o
equivalente ao gás liquefeito de petróleo, GLP, é engarrafado e distribuído pelas
revendedoras regionais de gás de cozinha (NOVICKI et al., 2000 apud MORAIS e GÜNTER, 2004).
O resíduo da pirólise de xisto e pneus tem indicação para uso em termelétricas devido ao
seu elevado poder calorífico. Por fim, há produção significativa de enxofre na pirólise de
xisto e pneus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
______. Decreto Federal 4592 de 11 de fevereiro de 2003. Acresce parágrafo ao art. 47-A do
Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, que dispõe sobre a especificação das
sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. DOU de
12.02.2003.
MORAIS, Carla M.P.; GÜNTER, Wanda M.R. 2004. Pneus inservíveis: um panorama da
problemática e formas de utilização desse resíduo no Brasil. In: XXIX CONGRESO DE LA
ASOCIACION INTERAMERICANA DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL, Anais, San
Juan, agosto de 2004. 5p.
Fonte: o autor
Alcalino ou
Relógios e equipamentos
Lítio Carbono Li Solvente Vários
fotográficos
Orgânico
Óxido de Aparelhos auditivos e
HgO Zn Alcalino Botão
mercúrio equipamentos fotográficos
Relógios eletrônicos e
Óxido de prata Ag2O Zn Alcalino Botão
calculadoras
Zinco Ar O2 Zn Alcalino Botão Aparelhos auditivos
Níquel-Metal-
MH NiO2 KOH Vários Telefones celulares
Hidreto (NiMH)
Alcalino ou
Íon Lítio Carbono Li Solvente Vários Telefones celulares
Secundárias
Orgânico
Telefones celulares,
Níquel cádmio NiO2 Cd Alcalino Vários ferramentas eletroportáteis
sem fio
Baterias Automotivas, luzes de
emergência, sistemas de
Chumbo ácido PbO2 Pb H2SO4 Retangular
alarme e equipamentos
hospitalares
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.
comumente chamado ranço. Embora possível, a purificação dos óleos com materiais
adsorventes não é considerada viável sob o ponto de vista econômico.
Neste sentido, para cada porção de óleo utilizado, parte é agregada aos
alimentos, sendo ingerida, parte é naturalmente volatilizada pelo calor, e parte significativa
sobra como óleo exaurido. Esse óleo apresenta-se impróprio para posterior aproveitamento
para novas frituras, devendo ser corretamente destinado. Felizmente, o óleo exaurido ainda
apresenta valor econômico positivo, por poder ser precursor de vários produtos industriais.
Isso diferencia os residuais de óleos comestíveis de vários outros resíduos, que apresentam
valor econômico negativo, tornando os primeiros bem mais simples em relação ao seu
correto encaminhamento à reciclagem.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Saponificação
A saponificação é uma reação que converte gorduras e compostos orgânicos de
cadeia longa, via ataque alcalino, em glicerina e sabão (carboxilatos de sódio, potássio, etc.).
A reação abaixo apresenta tal conversão.
CH2OOCR1 R1COONa
CH2OOCR2 + 3NaOH + H 2O CHOH(CH2OH)2 + R2COONa (4.6-1)
CH2OOCR3 R3COONa
óleo/gordura hidróxido de sódio água glicerina sabão
Não só os sabões têm utilidade, e, portanto, valor agregado: a glicerina pode ser
utilizada para fabricação de cosméticos, entrar na composição de produtos de limpeza, ou
ter utilização na produção de tintas alquídicas.
maior ponto de fulgor que o diesel convencional; (e) as matérias-primas apresentam nichos
de mercado específicos, diretamente associado a atividades agrícolas; (f) no caso do
biodiesel de óleo de fritura, se caracteriza por um grande apelo ambiental; e, finalmente, (g)
tem preço de produção relativamente superior ao diesel de petróleo. Entretanto, se o
processo de recuperação e aproveitamento dos subprodutos (glicerina e catalisador) for
otimizado, a produção de biodiesel pode ser obtida a um custo competitivo com o preço
comercial do óleo diesel, ou seja, aquele verificado nas bombas dos postos de
abastecimento. Por outro lado, enquanto combustível, o biodiesel necessita de algumas
características técnicas que podem ser consideradas imprescindíveis: a reação de
transesterificação deve ser completa, acarretando ausência total de ácidos graxos
remanescentes e o biocombustível deve ser de alta pureza, não contendo senão traços de
glicerina, de catalisador residual ou de álcool excedente.
Para a obtenção de biodiesel, a reação de transesterificação de óleos vegetais
com álcoois primários pode ser realizada tanto em meio ácido quanto em meio alcalino. A
reação de síntese, geralmente empregada a nível industrial, utiliza uma razão molar entre
óleo e álcool de 1:6, na presença de 0,4% de hidróxido de sódio ou de potássio, porque o
meio básico apresenta melhor rendimento e menor tempo de reação do que o meio ácido.
Por outro lado, o excesso de agente transesterificante (álcool primário) faz-se necessário
devido ao caráter reversível da reação. A reação de transesterificação é genericamente
apresentada:
do Brasil frente à escassez dos combustíveis fósseis. A crítica que tem-se insurgido contra os
combustíveis derivados de óleos vegetais baseia-se no fato de que a viabilidade econômica
do plantio de oleaginosas para produção de biocombustíveis realoca terras e mão-de-obra
que vinham sendo utilizadas na plantação de alimentos, diminuindo a oferta de tais
produtos agrícolas e elevando o seu preço no mercado. Ademais, a utilização de óleos
vegetais para a fabricação do biocombustível tem encarecido muito o preço do próprio óleo,
usado no preparo de alimentos, bem como o próprio preço dos grãos.
De uma certa forma, as experiências de implantação de programas de
arrecadação de óleos exauridos residuais em um município utilizam um rito de ações
consecutivas e métodos, que são indicados:
1) Como primeiro passo, verifica-se a possibilidade de colocação do resíduo no
mercado local, desta forma garantindo destino adequado aos montantes arrecadados. Neste
sentido, convênios e contratos devem ser estabelecidos com a indústria de reciclagem.
Igualmente, toda a questão logística envolvida deve ser avaliada, de modo que o custo da
coleta dos óleos em cada local designado (veículo, funcionários, combustível) seja muito
menor do que o valor do óleo recolhido. A criteriosa avaliação de tais questões de
viabilidade econômica e logística são pré-requisitos para poder-se iniciar o projeto;
2) Inicialmente implanta-se um projeto, com um nome fácil e de certo impacto
(citando exemplos, “Projeto de Entrega Voluntária de Óleo de Fritura – PEOF – Porto Alegre,
RS; “De Olho no Óleo” – São Caetano do Sul, SP; “Cata Óleo” – Ribeirão Preto, SP; “Coleta de
Óleo de Fritura Usado” – Guarulhos, SP), visando orientar a população sobre a importância
da reciclagem dos óleos residuários de fritura;
3) As entidades representativas da sociedade, como as câmaras de indústria e
comércio, movimentos ambientalistas, ONGs, associações de bairros e órgãos das
prefeituras são envolvidas, alavancando as ações necessárias para equacionar os problemas
já identificados, e muitas vezes elaborando etapas do macroprojeto;
4) Os projetos divulgam-se através de palestras nas escolas, associações de
bairros e comunidades. A divulgação também se dá através da distribuição, em residências e
condomínios, de panfletos que esclareçam bem a questão do recolhimento e reciclagem do
óleo de fritura, seu benefício para a preservação do ambiente e dos recursos naturais. Os
panfletos necessitam clareza, simplicidade e orientação precisa das ações dos moradores;
5) A forma de recolher e armazenar o óleo de fritura saturado no seu primeiro
momento, nas cozinhas, pode ser, após o mesmo esfriar na frigideira, acondicioná-lo em
garrafas PET (se possível transparentes, por possibilitarem visualizar-se melhor a qualidade
do produto), ou em vidros de conserva vazios. Quando cheios, os mesmos podem ser
facilmente encaminhados pela dona de casa ao recolhimento mais adequado. Deve-se
verificar se há condições para o recolhimento porta-a-porta das embalagens com óleo. Se
forem previstos problemas decorrentes de vandalismo ou catação de rua, conforme o grau
de evolução econômica e cultural da comunidade, poderá ser optada a criação de pontos de
entrega voluntária dos óleos;
conscientes puderam, inicialmente, encaminhar seu óleo residuário aos postos de recepção,
para os quais mantiveram-se coletas periódicas pelas indústrias conveniadas. Nos primeiros
dezoito meses de vigência estima-se que o projeto encaminhou qualificadamente à
reciclagem, aproximadamente 50.000 litros de óleos, que provavelmente teriam sido
lançados na rede de esgotos. A partir da visibilidade do projeto, e do reconhecimento
público de que o óleo apresenta valor agregado, efeitos multiplicadores como a geração de
convênios entre condomínios e recicladoras tem elevado substancialmente a quantidade de
óleo mensalmente encaminhado de maneira correta.
Finalmente, a preocupação de uma prefeitura com a destinação dos óleos de
fritura é imensamente salutar, em função da questão ambiental. Todavia, caso não haja
possibilidade prática imediata da criação de um projeto de reciclagem dos óleos, deve-se ter
em mente que o resíduo não é perigoso, e como tal deverá ser encaminhado juntamente
com o resíduo comum a aterro sanitário, onde não causará impacto ambiental, sendo
degradado por via biológica. Assim, se esse for o caso, a comunidade deverá ser orientada a
acondicionar os restos de óleos nos seus sacos plásticos que serão encaminhados à coleta
domiciliar, até que gerem-se as condições para iniciar o projeto de reciclagem no município.
GLOSSÁRIO
Os processos de degradação dos medicamentos ocorrem pelas vias (1) física, (2)
química e (3) biológica. Deve-se atentar ao fato de que os compostos químicos orgânicos,
que são os componentes ativos, em geral, encontram-se em concentrações muito baixas nas
composições medicamentosas. BARRIOS et al. (1995) citam que, embora ocorram reações
importantes das moléculas orgânicas com compostos presentes no ambiente, via de regra as
reações com agentes do meio como oxigênio, água e luz solar são os mecanismos mais
importantes da degradação dos medicamentos.
Os tipos mais importantes de degradação dos medicamentos são três:
hidrólise (solvólise): dá-se com alguns compostos, especialmente aqueles que
apresentam grupos carboxila (-COOH), amina (NH2) e hidroxila (OH);
oxidação: reação que dá-se principalmente pela interação de certos
compostos com o oxigênio do ar. Os principais grupos orgânicos de
medicamentos sujeitos à oxidação são (1) fenóis, (2) catecóis, (3) éteres, (4)
tióis, (5) tioéteres, (6) carboxilas, (7) nitritos e (8) aldeídos;
fotólise: em geral constitui-se de reações de decomposição catalisadas pela
luz solar, associando ou não outras reações como a de oxidação.
Outro fenômeno a ser citado é a degradação microbiológica de certos
medicamentos. De certa maneira, todos os compostos orgânicos sofrem ação
microbiológica, porém os produtos de degradação nem sempre são inócuos ou estáveis
termodinamicamente. Por outro lado diferentes são as refratariedades dos diversos
compostos medicamentosos. Alguns, como as vitaminas e xaropes são muito facilmente
degradados, outros são muito mais resistentes a ataques biológicos. As bactérias
apresentam imenso potencial de aclimatação a muitos compostos tóxicos, através de
adaptação e mutações. As interações dos microrganismos com os princípios ativos podem
levar, senão ao seu aproveitamento direto como substrato, à sua utilização como aceptores
de elétrons ou coadjuvantes em reações bioquímicas, levando à sua oxidação, à quebra de
cadeias carbônicas e anéis aromáticos e a muitas outras modificações nas suas estruturas
químicas.
Por fim, muitos compostos medicamentosos são muito voláteis, sendo
vaporizados em presença de ar e calor, o que pode ocorrer sob certas condições de
exposição ao ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio
de Janeiro, 2004.
BARRIOS, Claudia P.H.; VILLAGÓMEZ, Georgina F.; GÓMEZ, Jorge S. 1995. Manual para el
tratamiento y disposición final de medicamentos y fármacos caducos. Instituto
Nacional de Ecologia/CENAPRED. 1ª Ed. Ciudad de México. 88p.
_____. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.
FLECK, E.; REICHERT, G.A. 2016. Caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos
domiciliares de Porto Alegre – 2014/2015. IN: 10º SIMPÓSIO NACIONAL DE QUALIDADE
AMBIENTAL (2016). Porto Alegre, 19 a 21 de outubro de 2016. 8p.
VILLAGÓMEZ, Georgina F.; RIVERA, Patricia T. 2000. Propuesta para la disposición segura de
medicamentos caducos acumulados por situaciones de emergencia. In: XXVII
Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais. Porto Alegre,
2000. 18p.
um residual apresenta valor econômico, a solução dos problemas ambientais por ele
demandados resume-se à elaboração de sistemas logístico-econômico-ambientais viáveis.
Embora o residual de óleo lubrificante, por conter hidrocarbonetos seja
classificado como perigoso, as embalagens plásticas ou metálicas dos óleos lubrificantes não
têm sido tratadas como resíduos Classe I, podendo ser estocadas transportadas como
resíduos comuns e não como produto perigoso.
O poder calorífico do óleo usado é de 10.000 kcal/kg. Frequentemente esse
poder calorífico é aproveitado utilizando-se o óleo “queimado” como combustível. No
entanto, sob condições normais tal prática é vedada devido (1) à emissão de metais pesados
presentes no óleo como cádmio, chumbo e níquel, e (2) a constituir-se em utilização de um
produto de petróleo de alta qualidade para uma finalidade pouco nobre.
Aspectos tecnológicos
Existem vários processos para rerrefino de óleos lubrificantes, que basicamente
separam o óleo básico das impurezas, havendo correção de pH e, a posteriori, incorporação
de uma série de aditivos como detergentes, antioxidantes e outros para constituição de um
novo óleo, de qualidade semelhante ou mesmo superior àquele que o originou. Alguns
processos disponíveis são:
processo de extração por solvente (do Instituto Francês do Petróleo – IFP);
processo por destilação (Kinectics Technology International – KTI);
processo de ultrafiltração e adsorção;
processo Bernd Meinken;
A empresa Lwart®, especializada em transporte e reciclagem de óleos
lubrificantes, descreve, em seu web site, o processo de rerrefino de óleo lubrificante levado
a efeito em sua planta, o qual é reproduzido, a seguir:
1) Depois de descarregado numa caixa receptadora, o óleo usado passa por um
peneiramento e uma filtração para retenção de particulados grosseiros. A
desidratação se inicia com um pré-aquecimento do óleo até 80oC, antes de ser
enviando aos desidratadores. Numa operação em batelada, o óleo é
desidratado a 180oC em desidratadores com trocadores de calor externos, em
circulação forçada. A água e os solventes evaporados são condensados e
separados em um separador de fases. Os solventes são aproveitados como
combustível para os fornos e a água é enviada para tratamento;
2) Destilação Flash: Uma vez desidratado, o óleo é bombeado para dois fornos
onde é aquecido até uma temperatura de 280oC. Após o forno, o óleo entra
no sistema de vasos de flasheamento a autovácuo (a 20 mBar). Aqui são
separadas as frações leves do óleo usado: óleo neutro leve, óleo spindle e óleo
diesel. O óleo neutro leve entra na formulação de óleo com média
viscosidade. O óleo spindle é usado em formulações diversas. O óleo diesel é
para uso cativo. Essas frações precisam de um acabamento antes do seu uso;
3) Desasfaltamento: O óleo destilado é bombeado para dois fornos onde é
aquecido a uma temperatura de 380oC e enviado para os quatro
evaporadores de película em alto-vácuo (1 mBar). Nesta etapa é separada a
borra neutra do óleo. A borra neutra é composta pela maior parte degradada
do óleo lubrificante usado. Na sua composição, encontramos principalmente
polímeros, metais, resinas, aditivos, e compostos de carbono. A borra neutra
é empregada na fabricação de mantas e produtos asfálticos em geral;
4) Tratamento Químico: O óleo proveniente do desasfaltamento ainda possui
alguma quantidade de componentes oxidados. Para extraí-los, aplica-se ácido
sulfúrico que promove a aglomeração dos contaminantes, que sedimentam,
gerando a borra ácida. A borra ácida é um resíduo altamente poluente se
lançado ao ambiente, por isso à mesma deve ser conferido um tratamento
adequado. A borra ácida é lavada com água, neutralizada e desidratada
transformando-se em combustível. A água ácida gerada na lavagem desta
borra ácida é neutralizada com lama cal, produzida em fábrica de celulose,
transformando-se em gesso para corretivo de solo e a água neutralizada é
enviada para tratamento;
5) Clarificação e Neutralização: Após a sulfonação, o óleo é bombeado para os
reatores de clarificação e neutralização onde é adicionada a terra fuller. A
mistura óleo/terra é aquecida para promover a adsorção de compostos
indesejáveis. No final é adicionada a cal para neutralização do óleo;
6) Filtração: A mistura óleo/terra/cal passa por filtros prensa para separar a terra
e a cal. A terra usada pode ser empregada em indústrias cerâmicas e
cimenteiras. O óleo ainda passa por filtros especiais para eliminar os
particulados remanescentes. No final é obtido o óleo básico mineral
rerrefinado com as mesmas características do óleo básico virgem.
O processo Bernd Meinken, de tecnologia alemã, é empregado na indústria de
rerrefino gaúcha, e opera com termocraqueamento e evaporador pelicular, onde a
temperatura alcança a 365oC e a pressão é mantida muito baixa (750 milibares). São
removidos todos os contaminantes, produtos de degradação e aditivos, fazendo com que o
lubrificante não apenas retorne à qualidade inicial, mas a supere. Apenas 12% do volume
processado convertem-se em resíduo sólido, denominado borra ou asfalto, seguindo
normalmente para cimenteiras onde é co-processado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
_____. 1999. Portaria ANP 127, de 30 de julho de 1999. Regulamenta a atividade de coleta
de óleo lubrificante usado ou contaminado. DOU de 28.04.2000.
_____. 2012. Resolução CONAMA 450, de 06 de março de 2012. Altera os arts. 9 , 16, 19, 20,
21 e 22, e acrescenta o art. 24-A à Resolução 362/2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente, que dispõe sobre recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante
usado ou contaminado. DOU de 07.03.2012.
CREA-RS. 2005. Mais rigor no controle dos lubrificantes. Conselho em Revista. Ano II, nº 13.
CREA-RS; Porto Alegre, setembro de 2005. p.11-13.
4.9 EMBALAGENS DE
AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos são compostos químicos sintéticos utilizados na agricultura e
pastagens, com a finalidade de agregarem-se a esses, e assim preservá-los da ação danosa
de seres vivos predadores ou hospedeiros nocivos, além de substâncias e produtos,
empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
Existem cerca de 15.000 formulações para 400 agrotóxicos diferentes, sendo que cerca de
8000 formulações encontram-se licenciadas no país. O Brasil é um dos cinco maiores
consumidores de agrotóxicos do mundo.
O termo “agrotóxico” sugere uma composição de toxicidade utilizada em
agricultura. As expressões “defensivo agrícola”, utilizada nos meios de fabricação,
distribuição e consumo, e “produto defensivo fitossanitário”, conforme se deseja agregar à
legislação brasileira, levam consigo o viés de uma visibilidade do produto em função de sua
função precípua, desviando-a do seu caráter de toxicidade, que pode afetar as pessoas e
animais quando da aplicação, ou quando do consumo dos produtos agrícolas cultivados em
áreas de sua aplicação. Combatidos frontalmente por ambientalistas e preservacionistas e
defendidos por grandes produtores rurais como forma efetiva de elevar a produção, dessa
maneira rebaixando preços dos produtos agrícolas no mercado, em função de uma maior
oferta, os compostos químicos produzidos para esse fim necessitam de um manejo
cuidadoso para sua aplicação e também para o descarte das suas embalagens. O pequeno
agricultor brasileiro ainda chama o agrotóxico de remédio das plantas e não reconhece o
perigo que ele representa para a sua saúde e para o ambiente.
Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS, em
doze países da América Latina e Caribe, demonstrou que o envenenamento por produtos
químicos, principalmente por pesticidas, representa 15% de todas as doenças profissionais
notificadas. O índice pode parecer pequeno, porém a Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que apenas um sexto dos acidentes sejam oficialmente notificados e registrados e
que 70% dos casos de intoxicação ocorrem em países do Terceiro Mundo, sendo que os
inseticidas organofosforados são responsáveis por 70% das intoxicações agudas. O manuseio
inadequado de agrotóxicos é, assim, um dos principais responsáveis por acidentes de
trabalho no campo. A ação das substâncias químicas no organismo humano pode ser lenta e
demorar anos para manifestar efeitos. O uso de agrotóxicos tem ocasionado diversas vítimas
fatais, além de abortos, geração de fetos com malformação, elevação dos números de
suicídios, câncer, dermatoses e outras doenças. Segundo a OMS, ocorrem 20.000 óbitos/ano
em consequência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas nos países em
desenvolvimento como o Brasil.
O Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do planeta, supera em sete vezes a
média mundial de utilização de agrotóxicos [5,2 kg/(habitante.ano)]. A média brasileira, no
início dos anos 1980, era de 3,8 kg/(habitante.ano). Em 1986, o consumo elevou-se de
128.000 t/ano para 166.000 t/ano. O consumo cresceu, de 1964 para 1979, 421%, enquanto
que a produção das 15 principais culturas brasileiras, não ultrapassou um acréscimo de 5%
no mesmo período. Em 2016 o consumo estimado foi de 1.000.000 t (LUGLIO, 2016)
As embalagens vazias de agrotóxicos mantêm, em suas paredes, residuais dos
produtos, e, portanto, são consideradas resíduos perigosos. Ainda que haja um aparente
paradoxo em se aplicar muitos litros de produtos tóxicos no solo e depois preocupar-se com
reduzidos residuais presentes nas embalagens, a classificação estabelecida pela NBR
10004/2004 inclui tais embalagens na classe de risco ao ambiente e à saúde pública, em
função de toxicidade.
Os agrotóxicos são utilizados para combate de ácaros (acaricidas), fungos
(fungicidas), ervas daninhas (herbicidas), insetos (inseticidas) e nematóides (nematicidas). A
aplicação de um produto fitossanitário deve ser planejada de modo a evitar desperdícios e
sobras. Para isso é necessário considerar-se a dose a ser aplicada em função da praga e da
área a ser tratada.
A diferenciação de um agrotóxico, em função da sua utilização, modo de ação e
potencial ecotoxicológico ao homem, aos seres vivos e ao ambiente, obedece à classificação
do Quadro 4.9.1, segundo o Decreto 98.816/1990.
São instrumentos legais disciplinadores das atividades que se dão com
agrotóxicos no país:
Lei Federal 7802/1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências.
Decreto Federal 98.816/1990. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de
1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,
a propaganda comercial, a utilização, a importação e exportação, o destino
final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá
outras providências. Foi revogado pelo Decreto Federal 4074/2002.
Lei Federal 9974/2000. Altera a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe
sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e
embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.
Decreto Federal 4074/2002. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989,
que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos
resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências. DOU de 08.01.2002.
Resolução ANVISA RDC 48/2008. Dispõe sobre os procedimentos
administrativos para a reavaliação toxicológica de produtos técnicos e
formulados com base em ingredientes ativos com preocupação para a saúde e
altera dispositivos da RDC 10 de 22 de fevereiro de 2008. DOU, 08.07.2008.
Resolução CONAMA 465/2014. Dispõe sobre os requisitos e critérios técnicos
mínimos necessários para o licenciamento ambiental de estabelecimentos
destinados ao recebimento de embalagens de agrotóxicos e afins, vazias ou
contendo resíduos. DOU de 08.12.2014.
Aplicam-se as normas técnicas da ABNT:
NBR 13968/1997 - Embalagem rígida vazia de agrotóxico – Procedimentos de
lavagem.
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem,
após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos
perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do
SISNAMA, do SNVS e do SUASA, ou em normas técnicas.
proposta para anular vários avanços legais existentes na legislação brasileira em termos de
proteção à saúde pública, buscando brechas para a facilitação dos agrotóxicos, o que viria ao
encontro não somente dos interesses da indústria de agrotóxicos mas, principalmente, do
modelo do agronegócio brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
______. Lei 9974, de 06 de junho de 2000. Altera a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, que
dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização,
a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e
afins, e dá outras providências. DOU de 07.06.2000.
______. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 48, de 7 de julho de 2008. Dispõe
sobre os procedimentos administrativos para a reavaliação toxicológica de produtos
técnicos e formulados com base em ingredientes ativos com preocupação para a saúde
e altera dispositivos da RDC 10 de 22 de fevereiro de 2008. DOU, 08.07.2008.
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
UNESP. 2002. Gerenciamento de resíduos químicos. Normas gerais – revisão 2002. São
Paulo: UNESP, 2002: 14p.
radioterapia.
Resíduo farmacêutico: medicamento vencido, contaminado, interditado ou não
B.2 utilizado.
Resíduo químico perigoso: resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo, reativo,
B.3 genotóxico ou mutagênico, conforme a NBR 10004
Todos aqueles que não se enquadram nos tipos A e B, e, por sua semelhança aos
Classe C –
Resíduo
Comum
resíduos domésticos, não oferecem risco à saúde pública. Por exemplo: resíduo da
atividade administrativa, dos serviços de varrição e limpeza de jardins e restos
alimentares que não entraram em contato com pacientes.
Fonte: NBR 12808/1993
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Cultura e estoques de microrganismos; TRATAMENTO:
Resíduos de fabricação de produtos NÃO PODEM DEIXAR A UNIDADE SEM TRATAMENTO PRÉVIO.
biológicos (exceto hemoderivados); REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
Meios de cultura e instrumentais DESTINO FINAL:
utilizados para transferência, inoculação SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS,
ou mistura de culturas; TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
Resíduos de laboratórios de manipulação SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICIONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
genética.
A1 TRATAMENTO:
NÃO PODEM DEIXAR A UNIDADE SEM TRATAMENTO PRÉVIO.
Resíduos resultantes de atividades de REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
vacinação com microrganismos vivos ou QUANDO PROVENIENTES DE ATIVIDADE DE VACINAÇÃO
atenuados, incluindo frascos de vacinas PÚBLICA, DEVEM SER RECOLHIDOS EM RECIPIENTE RÍGIDO
com expiração do prazo de validade, com IMUNE A PERFURAÇÃO, CORTE E VAZAMENTO, ÀS SECRETARIAS
conteúdo inutilizado, vazios ou com DE SAÚDE PARA TRATAMENTO.
DESTINO FINAL:
restos do produto, agulhas e seringas. SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
continua
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Resíduos de atenção à saúde humana ou TRATAMENTO:
animal com suspeita ou certeza de ACONDICIONAMENTO EM SACOS VERMELHOS.
contaminação por agentes da classe de REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
risco 4, microrganismos com relevância
DESTINO FINAL:
epidemiológica, causadores de doenças SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
emergentes ou epidemiologicamente TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
importantes ou com mecanismo de SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICIONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
transmissão desconhecido.
TRATAMENTO:
A1 Bolsas transfusionais contendo sangue ou ACONDICIONAMENTO EM SACOS VERMELHOS.
REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
hemocomponentes rejeitadas por DE INATIVAÇÃO E QUE GARANTA DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA
contaminação ou má conservação, ou DAS ESTRUTURAS, TORNANDO-AS IRRECONHECÍVEIS.
com prazo de validade vencido, e aquelas SE O TRATAMENTO FOR EXECUTADO FORA DA INSTALAÇÃO
GERADORA, OS RESÍDUOS DEVEM SER RECOLHIDOS EM
oriundas de coleta incompleta;
RECIPIENTE RÍGIDO IMUNE A PERFURAÇÃO, CORTE E
Sobras de amostras de laboratório VAZAMENTO, PARA TRATAMENTO.
contendo líquidos corpóreos, recipientes DESTINO FINAL:
e materiais resultantes do processo de PODEM SER DESCARTADOS COMO RESÍDUOS DO GRUPO D;
SOBRAS DE AMOSTRAS DE LABORATÓRIO CONTENDO SANGUE
assistência à saúde, contendo sangue ou OU LÍQUIDOS CORPÓREOS PODERÃO SER DESTINADAS À REDE
líquidos corpóreos na forma livre. DE ESGOTOS, RESPEITADOS OS CONDICIONANTES DOS ÓRGÃOS
DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Carcaças, peças anatômicas, vísceras e RESÍDUOS COM ORGANISMOS DA CLASSE DE RISCO 4: REDUÇÃO
outros resíduos provenientes de animais DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
INATIVAÇÃO NO LOCAL DE GERAÇÃO E, POSTERIORMENTE,
submetidos a experimentação com DESTINAÇÃO À INCINERAÇÃO;
inoculação de microrganismos, bem OS DEMAIS RESÍDUOS: REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
A2 como suas forrações; COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE INATIVAÇÃO, QUE PODE SER
Cadáveres de animais suspeitos de FEITA FORA DO LOCAL DA GERAÇÃO MAS NÃO FORA DO LOCAL
DE SERVIÇO. DESTINAÇÃO: (1) CEMITÉRIO DE ANIMAIS OU (2)
portarem microrganismos de relevância EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS IDENTIFICADOS COMO “PEÇAS
epidemiológica com risco de ANATÔMICAS DE ANIMAIS” PARA DESTINAÇÃO A ATERRO
disseminação. SANITÁRIO LICENCIADO OU LOCAL LICENCIADO PARA
DESTINAÇÃO DE RSSS.
continua
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Peças anatômicas humanas, produto de
fecundação sem sinais vitais, com peso TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
(1) SEPULTAMENTO EM CEMITÉRIO, AUTORIZADO PELO ÓRGÃO
menor que 500 g ou estatura menor do
A3 que 25 cm, ou idade gestacional inferior a
COMPETENTE OU (2) INCINERAÇÃO OU CREMAÇÃO,
LICENCIADAS (NESTE CASO, COM ACONDICIONAMENTO EM
20 semanas, sem valor legal, científico ou SACOS VERMELHOS).
sem requisição de familiares.
Kits de linhas arteriais, endovenosas e
dialisadores;
Filtros de ar e gases aspirados de áreas
contaminadas; membrana filtrante de
equipamento médico-hospitalar e de
pesquisa e similares;
Sobras de amostras de laboratório (fezes,
urina, secreções) de pacientes não DESTINO FINAL:
A4 suspeitos de porte de agentes Classe 4, LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
agentes de relevância epidemiológica ou DE SERVIÇOS DE SAÚDE, SENDO ACONDICIONADOS EM SACOS
PLÁSTICOS BRANCOS-LEITOSOS.
risco de disseminação, ou doença
emergente, ou com mecanismo de
transmissão desconhecido, ou suspeita
de príons;
Resíduos de tecido adiposo
(lipoaspiração, lipoescultura, cirurgia
plástica).
Recipientes e materiais residuários de
assistência à saúde, sem sangue ou
fluidos corpóreos na forma livre;
Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e
outros resíduos de procedimentos
cirúrgicos, estudos anatomopatológicos
ou de diagnóstico; DESTINO FINAL:
Carcaças, peças anatômicas, vísceras e LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS DE
A4 outros resíduos de animais não SERVIÇOS DE SAÚDE, SENDO ACONDICIONADOS EM SACOS
PLÁSTICOS BRANCOS-LEITOSOS.
submetidos a experimentação com
inoculação de microrganismos e suas
forrações;
Cadáveres de animais provenientes de
serviços de assistência;
Bolsas transfusionais vazias ou com
volume residual pós-transfusão.
continua
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos,
materiais perfurocortantes ou
escarificantes e demais materiais TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
A5 resultantes de atenção à saúde de DEVEM SER INCINERADOS, CONFORME RDC ANVISA 305/2002.
indivíduos ou animais com suspeita ou
certeza de contaminação com príons.
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e
toxicidade.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
SEU TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DEVE SER A MESMA
Embalagens PRESCRITA PARA O PRODUTO OU MEDICAMENTO QUE
ACONDICIONA.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Pilhas e baterias de chumbo, cádmio e mercúrio DESTINAÇÃO CONFORME RESOLUÇÃO CONAMA 257/1999.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM (1) SEGUIR PARA ARIP OU (2) DESTINAÇÃO ESPECIAL DE
Resíduo contendo metais pesados RESÍDUOS LÍQUIDOS REGULAMENTADA PELO ÓRGÃO
AMBIENTAL REGIONAL.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Resíduos contendo mercúrio ACONDICIONAMENTO EM RECIPIENTES SOB SELO D’ÁGUA PARA
RECUPERAÇÃO DO METAL.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM (1) SEREM SUBMETIDOS A PROCESSO PARA
Resíduos de fixadores radiográficos RECUPERAÇÃO DA PRATA OU (2) DESTINAÇÃO ESPECIAL DE
RESÍDUOS LÍQUIDOS REGULAMENTADA PELO ÓRGÃO
AMBIENTAL REGIONAL.
Resíduos de produtos e insumos farmacêuticos sob
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
controle especial (Portaria Ministério da Saúde ATENDIMENTO DA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA EM VIGOR.
344/1998).
Medicamentos cuja formulação não ofereça risco à
saúde pública ou meio ambiente e outros químicos TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM SER DESTINADOS A REDE DE ESGOTOS, DESDE QUE
igualmente inócuos descartados por serviços ATENDIDAS AS PRESCRIÇÕES DOS ÓRGÃOS SANITÁRIOS
assistenciais de saúde, farmácias, drogarias, COMPETENTES.
distribuidores de medicamentos ou apreendidos.
continua
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e
toxicidade.
Resíduos de produtos cosméticos, quando
descartados por farmácias, drogarias e distribuidores
ou quando apreendidos; TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Reagentes de laboratório e recipientes contaminados SISTEMAS DE DESTINAÇÃO FINAL LICENCIADOS PARA A CLASSE
por esses; DO COMPONENTE DE MAIOR RISCO.
Efluentes de equipamentos automatizados de
análises clínicas.
Produtos hormonais e antimicrobianos, citostáticos,
antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos,
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
imunomoduladores, anti-retrovirais quando DISPOSIÇÃO FINAL ESPECÍFICA.
descartados por serviços de saúde, farmácias,
drogarias, distribuidores, ou apreendidos.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Excretas de pacientes tratados com quimioterápicos e ESGOTO, SE HOUVER ETE A JUSANTE; TRATAMENTO PRÉVIO NO
antineoplásicos PRÓPRIO ESTABELECIMENTO GERADOR, SE NÃO HOUVER ETE A
JUSANTE
GRUPO C
Materiais com radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de emissão estipulados
pela CNEN, cuja reutilização é imprópria ou não prevista.
ACONDICIONAMENTO:
SÓLIDOS: RECIPIENTES RÓGIDOS, FORRADOS COM PLÁSTICO
RESISTENTE; LÍQUIDOS: FRASCOS DE 2 L OU BOMBONAS,
RÍGIDOS, ESTANQUES, COM TAMPA ROSQUEÁVEL;
Rejeitos radioativos sólidos; PERFUROCORTANTES: ACONDICONADOS EM RECIPIENTES
Rejeitos radioativos líquidos; RÍGIDOS COM TAMPA E INSCRIÇÃO “PERFUROCORTANTES” E
Perfurocortantes contaminados com radionuclídeos. “REJEITO RADIOATIVO”.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
DECAIMENTO RADIOATIVO ORIENTADO PELA CNEN. APÓS
DECAIMENTO, TRATAR CONFORME SUA CLASSE DE RISCO E
PRESCRIÇÕES DA PRÓPRIA CNEN.
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Esgotos e águas servidas; DEVEM SOFRER TRATAMENTO PREVIAMENTE AO LANÇAMENTO
EM CORPO HÍDRICO, CASO NÃO HOUVER ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO A JUSANTE.
continua
Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
Os resíduos orgânicos, flores, resíduos de podas de
árvore e jardinagem, sobras de alimento e de pré-
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
preparo desses alimentos, restos alimentares de
PODEM SER ENCAMINHADOS AO PROCESSO DE COMPOSTAGEM
refeitórios e de outros que não tenham mantido (OU, ALTERNATIVAMENTE, OUTRO DESTINO LICENCIADO)
contato com secreções, excreções ou outro fluido
corpóreo
GRUPO E
Materiais perfurocortantes ou escarificantes.
ACONDICIONAMENTO
RECIPIENTES DE PAREDES RÍGIDAS, COM SIMBOLOGIA DE RISCO
INFECTANTE E INSCRIÇÃO “PERFUROCORTANTE”
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
O TRATAMENTO DEVE SER COMPATÍVEL COM O TIPO DE RISCO
(BIOLÓGICO, QUÍMICO, RADIOATIVO) DO RESÍDUO
Materiais perfurantes, cortantes e escarificantes PERFUROCORTANTE. DEVEM SOFRER TRATAMENTO E
DESTINAÇÃO ESPECÍFICOS EM FUNÇÃO DO SEU RISCO
BIOLÓGICO, QUÍMICO OU RADIOATIVO. EM CASO DE RISCO
BIOLÓGICO SEVERO, DEVEM SOFRER REDUÇÃO DA CARGA
MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE INATIVAÇÃO.
SERINGAS E AGULHAS UTILIZADAS NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE,
INCLUSIVE AS UTILIZADAS NA COLETA DE AMOSTRAS NÃO
NECESSITAM DE TRATAMENTO.
Fonte: RDC 306/2004 ANVISA
Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Cultura e estoques de microrganismos;
Resíduos de fabricação de produtos biológicos (exceto
hemoderivados);
Descarte de vacinas de microrganismos vivos ou
atenuados;
Meios de cultura e instrumentais utilizados para
transferência, inoculação ou mistura de culturas;
Resíduos de laboratórios de manipulação genética; TRATAMENTO:
Resíduos de atenção à saúde humana ou animal com REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
suspeita ou certeza de contaminação por agentes da COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
INATIVAÇÃO.
classe de risco 4, microrganismos com relevância
A1 DESTINO FINAL:
epidemiológica, causador de doença emergente ou (1) ATERRO SANITÁRIO LICENCIADO
epidemiologicamente importante ou com mecanismo de OU (2) LOCAL DEVIDAMENTE
transmissão desconhecido; LICENCIADO PARA DISPOSIÇÃO FINAL
DE RSSS.
Bolsas transfusionais contendo sangue ou
hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou má
conservação, ou com prazo de validade vencido, e aquelas
oriundas de coleta incompleta;
Sobras de amostras de laboratório contendo líquidos
corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo
de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos
corpóreos na forma livre.
Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos TRATAMENTO:
REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
provenientes de animais submetidos a experimentação
COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
com inoculação de microrganismos, bem como suas INATIVAÇÃO.
forrações; DESTINO FINAL:
A2 Cadáveres de animais suspeitos de portarem (1) ATERRO SANITÁRIO LICENCIADO,
(2) LOCAL DEVIDAMENTE
microrganismos de relevância epidemiológica com risco LICENCIADO PARA DISPOSIÇÃO FINAL
de disseminação. DE RSSS, OU (3) CEMITÉRIO DE
ANIMAIS.
continua
Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
TRATAMENTO:
Peças anatômicas humanas, produto de NÃO HÁ PREVISÃO DE TRATAMENTO ESPECÍFICO
fecundação sem sinais vitais, com peso menor PARA REDUÇÃO DE CARGA MICROBIANA.
DESTINO FINAL:
que 500 g ou estatura menor do que 25 cm, ou
A3 idade gestacional inferior a 20 semanas, sem
(1) SEPULTAMENTO EM CEMITÉRIO, AUTORIZADO
PELO ÓRGÃO COMPETENTE, (2) INCINERAÇÃO OU
valor legal, científico ou sem requisição de CREMAÇÃO, LICENCIADAS, OU (3) OUTROS
familiares. MÉTODOS ALTERNATIVOS APROVADOS PELO
ÓRGÃO AMBIENTAL DE JURISDIÇÃO.
Kits de linhas arteriais, endovenosas e
dialisadores, quando descartados;
Filtros de ar e gases aspirados de áreas
contaminadas; membrana filtrante de
equipamento médico-hospitalar e de pesquisa
e similares;
Sobras de amostras de laboratório (fezes,
urina, secreções) de pacientes não suspeitos
de porte de agentes Classe 4, agentes de
relevância epidemiológica ou risco de
disseminação, ou doença emergente, ou com TRATAMENTO:
mecanismo de transmissão desconhecido, ou NÃO HÁ PREVISÃO DE TRATAMENTO ESPECÍFICO
suspeita de príons; PARA REDUÇÃO DE CARGA MICROBIANA A MENOS
QUE HAJA EXIGÊNCIA PRÉVIA DO ÓRGÃO
A4 Resíduos de tecido adiposo (lipoaspiração, AMBIENTAL DE JURISDIÇÃO.
lipoescultura, cirurgia plástica); DESTINO FINAL:
Recipientes e materiais residuários de LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE
assistência à saúde, sem sangue ou fluidos RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE.
corpóreos na forma livre;
Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros
resíduos de procedimentos cirúrgicos, estudos
anatomopatológicos ou de diagnóstico;
Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros
resíduos de animais não submetidos a
experimentação com inoculação de
microrganismos e suas forrações;
Bolsas transfusionais vazias ou com volume
residual pós-transfusão.
continua
Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais
perfurocortantes ou escarificantes e demais TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
A5 materiais resultantes de atenção à saúde de DEVEM SER TRATADOS CONFORME
indivíduos ou animais com suspeita ou certeza PROCEDIMENTOS ORIENTADOS PELA ANVISA.
de contaminação com príons.
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade.
Produtos hormonais e antimicrobianos, citostáticos,
antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos,
imunomoduladores, anti-retrovirais quando descartados
por serviços de saúde, farmácias, drogarias,
distribuidores, ou apreendidos;
Resíduos e insumos farmacêuticos dos medicamentos
controlados pela Portaria 344/1998 do Ministério da
Saúde; TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
SEU TRATAMENTO, RECICLAGEM E DESTINO FINAL
Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; DEVEM DAR-SE A PARTIR DA AVALIAÇÃO DA SUA
Resíduos contendo metais pesados; CLASSIFICAÇÃO (NBR 10004/2004).
Reagentes de laboratório e recipientes contaminados por
esses;
Reveladores e fixadores radiográficos;
Efluentes de equipamentos automatizados de análises
clínicas;
Demais resíduos perigosos assim classificados pela NBR
10004.
GRUPO C
Materiais com radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de emissão
estipulados pela CNEN, cuja reutilização é imprópria ou não prevista.
Materiais de laboratório de pesquisa e ensino na área da
saúde, de laboratórios de análises clínicas e serviços de
medicina nuclear e radioterapia que contenham
radionuclídeos em quantidade superior aos limites de
emissão. Tais rejeitos somente serão considerados TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
resíduos após decorrido o tempo necessário de DECAIMENTO RADIOATIVO ORIENTADO PELA
decaimento radioativo necessário (Norma CNEN-NE- CNEN. APÓS DECAIMENTO, TRATAR CONFORME
SUA CLASSE DE RISCO.
6.02). Após alcançado o nível de decaimento necessário
os resíduos classificar-se-ão nas categorias de risco
biológico, químico ou de resíduo comum, devendo ser
encaminhados da forma preconizada para sua categoria
de risco.
continua
Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
Papel de uso sanitário;
Fraldas;
Absorvente higiênico;
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Peças descartáveis de vestuário; RECICLAGEM, REAPROVEITAMENTO COM A DEVIDA
Restos alimentares de pacientes; HIGIENIZAÇÃO, OU, EM CASO DE AUSÊNCIA DE
Material utilizado em antissepsia e hemostasia de POTENCIAL PARA TAL, ENCAMINHAMENTO PARA
ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS URBANOS
venóclises, equipo de soro; LICENCIADO.
Sobras de preparo de alimentos e restos do refeitório;
Resíduos administrativos, de varrição, podas e jardins;
Resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde.
GRUPO E
Materiais perfurocortantes ou escarificantes.
Lâminas de barbear, agulhas, scalps;
Ampolas de vidro;
Brocas;
Limas endodônticas;
Pontas diamantadas;
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
Tubos capilares;
DEVEM SOFRER TRATAMENTO E DESTINAÇÃO
Lâminas de bisturi; ESPECÍFICOS EM FUNÇÃO DO SEU RISCO
Lancetas; BIOLÓGICO, QUÍMICO OU RADIOATIVO.
Micropipetas;
Lâminas e lamínulas;
Espátulas;
Utensílios de vidro quebrados no laboratório.
Fonte: Resolução CONAMA 358/2005
Fonte: web
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DA SAÚDE (PGRSS)
1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração do PGRSS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação e Execução do PGRSS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Alvará de Localização e Funcionamento
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
- Descrição das Atividades Desenvolvidas
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área Construída
3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGRSS.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
- Lei Federal nº 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
- Lei Federal nº 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
- Resolução CONAMA nº 358/05, dispõe sobre o tratamento e disposição final de RSS.
- Resolução CONAMA nº 275/01, código de cores para os invólucros de resíduos.
- Resolução CONAMA nº 257/99, descarte de pilhas e baterias usadas.
- Resolução CONAMA nº 335/03, dispõe sobre o licenciamento de cemitérios.
- Norma ABNT NBR nº 10.004/04, classificação de resíduos sólidos.
- Norma ABNT NBR nº 11.174/90, armazenamento de resíduos classe II.
- Norma ABNT NBR nº 12.235/92, armazenamento de resíduos classe I (perigosos).
- Resolução ANVISA RDC nº 306/04, dispõe sobre gerenciamento de RSS.
- Lei Estadual nº 11.520/00, Código Estadual do Meio Ambiente.
- Lei Estadual nº 9.921/93, dispõe sobre gestão dos resíduos sólidos.
- Lei Estadual nº 13.401/10, dispõe sobre destinação de resíduos classe I (perigosos).
- Lei Estadual nº 10.099/94, dispõe sobre o gerenciamento de RSS.
- Decreto Estadual n° 38.356/98, dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos.
- Portaria FEPAM nº 34/09, Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR).
- Lei Municipal nº 728/14, Código Municipal de Limpeza Urbana.
- Lei Municipal nº 11.329/12, dispõe sobre o descarte de medicamentos vencidos.
- Lei Municipal nº 10.953/10, dispõe sobre o descarte de lâmpadas fluorescentes.
- Lei Municipal n° 9.851/05, dispõe sobre recipientes de coleta de resíduos perigosos.
- Lei Municipal Complementar nº 373/96, dispõe sobre o serviço funerário.
- Decreto Municipal nº 9.367/88, dispõe sobre o manejo de resíduos sólidos.
- Resolução COMAM nº 01/14, licenciamento de funerárias com tanatopraxia.
- Outra normativa qualquer que se julgue procedente para o PGRSS.
5. DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- Determinar e identificar as áreas de geração de resíduos.
- Caracterizar os resíduos sólidos gerados através de classificação por tipo (utilização de
legislações e normas pertinentes) e quantificá-los por cada área independente.
- Identificar os pontos de segregação dos resíduos sólidos, os quais estão munidos de
recipientes coletores.
- Apresentar a Planilha de Diagnóstico disponibilizada no Anexo I deste Termo de
Referência devidamente preenchida. Um modelo próprio da empresa que contenha pelo
menos as mesmas informações poderá ser utilizado.
6. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
6.1. Estrutura Organizacional
Definir responsabilidades gerenciais e operacionais dos profissionais envolvidos no
gerenciamento de resíduos sólidos dentro dos departamentos, unidades, núcleos e
O campo unidade deverá ser preenchido com o volume ou a massa gerada em um determinado
período de tempo. Exemplos: m³/d, kg/mês, L/ano.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BRASIL. 1979. Portaria Interministerial 53/1979. Estabelece normas aos projetos específicos
de tratamento e disposição de resíduos sólidos, bem como a fiscalização de sua
implantação, operação e manutenção.
_____. Resolução ANVISA RDC 305, de 14 de novembro de 2002. Ficam proibidos, em todo
o território nacional, enquanto persistirem as condições que configurem risco à saúde, o
ingresso e a comercialização de matéria-prima e produtos acabados, semi-elaborados
ou a granel para uso em seres humanos, cujo material de partida seja obtido a partir de
tecidos/fluidos de animais ruminantes, relacionados às classes de medicamentos,
cosméticos e produtos para a saúde, conforme discriminado. DOU de 18.11.2002.
_____. Resolução ANVISA RDC 33, de 25 de fevereiro de 2003. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. DOU de 05.03.2003.
_____. Resolução CONAMA 275, de 25 de abril de 2001. Estabelece código de cores para
diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva. DOU de 19.06.2001.
SCHNEIDER, Vania E.; RÊGO, Rita C. E.; CALDART, Viviane, ORLANDIM, Sandra M. 2001.
Manual de resíduos sólidos de serviços de saúde. São Paulo: CLR Balieiro Editores
Ltda. 173p.
5.1 INTRODUÇÃO
Já tratamos das duas metodologias mais comuns para o tratamento dos resíduos
sólidos municipais no país, o aterro sanitário e a compostagem. Essas metodologias são
largamente utilizadas principalmente pela ponderação de dois fatores muito relevantes, o
custo e o domínio tecnológico. Além das metodologias já consagradas em outras partes do
mundo, como a incineração e a digestão anaeróbia controlada, temos assistindo à surgência
de outras várias propostas para o tratamento dos resíduos sólidos não-perigosos e
perigosos, algumas já preconizadas há muitos anos, mas não operacionalizadas, como a
pirólise, outras se constituindo em promessas recentes, como o plasma térmico. Cada
metodologia proposta carrega consigo (1) maior ou menor nível de domínio tecnológico e
experimentação, (2) vantagens e desvantagens do ponto de vista ambiental, (3) vantagens e
desvantagens do ponto de vista econômico e (4) vantagens e desvantagens relacionadas à
geração de subprodutos valiosos e/ou úteis ou indesejáveis.
A problemática dos resíduos sólidos não se encontra, porém, restrita à geração
domiciliar: indústria, setores comerciais e de prestação de serviços, serviços de saúde
também são exemplos de geradores não domiciliares importantes, não só do ponto de vista
quantitativo, mas também considerada a geração de resíduos os quais necessitam manejo
especial e tratamento ou destinação muito qualificados, por periculosidade, por aspectos
legais, ou por demais fatores que os impeçam de serem tratados através de metodologias
usuais.
A indústria é um importante segmento gerador de resíduos sólidos. Não
somente os parques industriais serão geradores de resíduos tão comuns quanto os
domiciliares, provindos dos refeitórios, escritórios, sanitários e jardins, como também
gerarão maiores ou menores quantitativos de resíduos nas áreas industriais de produção.
Tais resíduos responderão por diferentes composições quali-quantitativas e, dependendo da
atividade fabril, poderão classificar-se nas três classes/subclasses definidas pela NBR
10004/2004: perigosos, não perigosos inertes e não perigosos não inertes. O desafio de
reduzirem-se os quantitativos gerados corresponde a um campo de ação profissional técnica
que poderá resultar em economias mensais muito significativas a essas corporações, e
encontra-se contemplado na estratégia das tecnologias limpas. Isso pode implicar em
modificações nos processos, nos equipamentos, nas matérias-primas ou até nos próprios
produtos.
padronização de operações;
conformidade em relação à legislação e normalização vigente.
Os requisitos principais a serem levados em conta para a eleição de locais para a
implantação de ARIPs são:
atendimento aos planos diretores municipais e diretrizes para a ocupação do
solo;
baixa densidade populacional da região e baixo valor comercial da área
(recomenda-se distância mínima de 500 metros de qualquer núcleo
populacional);
distância estrategicamente baixa em relação às fontes geradoras;
condições favoráveis de acesso;
condições hidrogeológicas favoráveis: lençol freático baixo, ausência de
corpos hídricos de superfície importantes nas proximidades, ausência de
mananciais subterrâneos de importância estratégica (a NBR 10157/1987
indica distância mínima de 200 metros em relação a qualquer curso d’água ou
coleção hídrica importante);
baixo índice de precipitação e elevado índice de evapotranspiração da região
de implantação;
subsolo constituído por depósito extenso de material granular fino e com
baixa permeabilidade;
adequada declividade do terreno (1%-20%, segundo a NBR 10157/1987);
reservas e jazidas de material a ser utilizado na confecção das células de
aterro e no sistema de impermeabilização disponíveis no sítio ou
proximidades;
área disponível para uma vida útil mínima de 10 anos (NBR 10157/1987).
A Tabela 5.2.1 apresenta uma sumarização das condições hidrogeológicas
desejáveis para áreas destinarem-se a ARIP e a aterro para resíduos da Classe II.
O aterro não pode ser executado em áreas sujeitas a inundações, em períodos de
recorrência de 100 anos.
As seguintes normas técnicas são aplicáveis na elaboração de projetos,
construção e operação de ARIPs:
NBR 8418/1984 – “Apresentação de projetos de aterros de resíduos
industriais perigosos”;
NBR 10157/1987 – “Aterros de resíduos perigosos – Critérios para projeto,
construção e operação”;
Tabela 5.2.1 – Condições hidrogeológicas desejáveis para uma área destinar-se a ARIP e para
destinar-se a aterro para resíduos da Classe II
Condição hidrogeológica mínima
Condição hidrogeológica favorável
aceitável
Classe de resíduos a
Espessura da Coeficiente de Espessura da Coeficiente de
serem aterrados
camada permeabilidade camada permeabilidade
insaturada* “K” (cm/s) insaturada* “K” (cm/s)
Classe I – Perigosos 3 10-7 1,5 5x10-5
Classe II – Não Perigosos 3 10-6 1,5 5x10-5
*Espessura medida na época de maior precipitação pluviométrica na região.
Fonte: NBR 10157/1987
As áreas eleitas para abrigarem ARIPs devem oferecer área útil para pelo menos
10 anos e sistema de drenagem de águas pluviais capaz de suportar uma chuva de pico com
25 anos de período de recorrência.
Alguns condicionantes importantes devem ser estabelecidos para o recebimento
de resíduos em ARIPs:
teor de umidade máximo: células de ARIPs são projetadas para a não geração
de percolados, portanto os resíduos recebidos devem resguardar um
determinado teor máximo de umidade. Se necessário devem ser utilizados
processos prévios de deságue ou secagem em leitos de secagem, filtros-
prensa, etc.;
classificação dos resíduos: todo resíduo aceito em uma célula de ARIP deve
ter sido previamente classificado utilizando-se os critérios expressos na NBR
10004/2004. A classificação não deve visar somente à obtenção do
enquadramento do resíduo nas classes de periculosidade, mas deve mapear
todos os seus riscos e as suas características de periculosidade e
incompatibilidade com outros resíduos;
compatibilidade dos resíduos: os resíduos destinados a uma célula de ARIP
devem respeitar critérios de compatibilidade mútua e com a geomembrana
utilizada na impermeabilização da célula. Não pode haver risco de explosão,
destruição do liner, geração de fumos tóxicos, reação violenta, detonação ou
explosão, ou geração de calor;
condicionamento dos resíduos: caso algumas características de determinado
resíduo possam pôr em risco a célula, o resíduo deverá sofrer processos
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Q = C.I.A (5.2-1)
Fonte: o autor
Segregação de resíduos
Quando se opera uma unidade para destinação de resíduos perigosos, deve-se
ter em mente que tais resíduos, quando em contato entre si, ou mesmo individualmente,
podem apresentar características como reatividade, explosividade, volatilidade, geração de
fumos tóxicos, aquecimento espontâneo, inflamabilidade, patogenicidade, corrosividade,
toxicidade, etc. Um estudo muito criterioso deverá conduzir a uma padronização interna de
segregação de resíduos, de maneira que sob nenhuma hipótese resíduos incompatíveis
entre si entrem em contato, colocando em risco a integridade do sistema e a segurança dos
operadores. EPA (1978) apud ROCCA et al. (1993), apresenta um quadro de
incompatibilidades entre resíduos que é reproduzida pelo Quadro 5.2.2.
GLOSSÁRIO
LINER: expressão inglesa que literalmente significa forro. Relacionada a aterro, significa a
membrana que reveste o solo para evitar o seu contato com os resíduos sólidos.
RECALQUE: termo utilizado em engenharia para designar o fenômeno que ocorre quando
uma edificação sofre um rebaixamento devido ao adensamento do solo sob si.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.
5.3 ESTABILIZAÇÃO E
SOLIDIFICAÇÃO
A estabilização consiste em uma técnica que visa tratar um resíduo sólido, em
geral perigoso, alterando a sua solubilidade, mobilidade ou toxidez. As transformações dão-
se por meio de reações químicas que fixam os elementos ou compostos tóxicos em
polímeros impermeáveis ou em cristais estáveis, melhorando ou não as características físicas
dos resíduos.
A solidificação consiste no envolvimento (encapsulamento) do material sólido,
em geral perigoso, por algum composto inerte, gerando blocos monolíticos resistentes ao
deslocamento dos elementos e compostos poluentes e contaminantes para fora dos blocos,
e melhorando sua integridade estrutural, e seus aspectos de manuseio e transporte. O
encapsulamento de cada partícula individual chama-se microencapsulamento, enquanto que
o encapsulamento de grandes massas de resíduos denomina-se macroencapsulamento.
Os principais objetivos dos sistemas de estabilização/solidificação são citados
(ROCCA et al., 1993):
melhorar as características físicas e de manuseio do resíduo;
diminuir a área superficial através da qual possa ocorrer transferência ou
perda de constituintes para o meio;
limitar a solubilidade de qualquer constituinte do resíduo;
destoxificar componentes do resíduo;
imobilizar constituintes perigosos.
Genericamente duas são as possibilidades de destinação do material solidificado:
sistemas de destino final: aterros sanitários e ARIPs;
aproveitamento de massa: fabricação de estruturas de construção e de
suporte (tijolos, briquetes, blocos construtivos, etc.).
Nem todos os tipos de resíduos justificam a aplicação de uma técnica de
estabilização/solidificação, pois há diferentes graus de compatibilidade dos diversos
constituintes dos resíduos com os agentes encapsulantes, solidificantes e aglutinantes,
ocasionando unidades monolíticas com maiores ou menores resistências estruturais físicas e
7) Técnicas de auto-solidificação
São processos aplicáveis a lodos com grandes quantidades de sulfito ou sulfato
de cálcio. Através da calcinação os sulfitos ou sulfatos de cálcio são parcialmente
desidratados, gerando um produto similar ao cimento. O produto é reintroduzido ao lodo,
juntamente com aditivos patenteados, gerando um produto com baixa permeabilidade,
similar à argamassa. As principais vantagens do processo são:
tempos curtos de endurecimento e cura;
o produto é estável, não biodegradável e não inflamável;
a formação de ligações químicas é efetiva para imobilização de metais
pesados;
aplicável a resíduos não completamente secos.
As desvantagens do processo são:
aplicável apenas a lodos contendo sulfitos ou sulfatos em elevada
concentração;
consumo energético na calcinação;
necessidade de equipamentos de mistura sofisticados e mão-de-obra
especializada.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.
5.4 LANDFARMING
O landfarming ou sistema de tratamento de resíduos no solo (STRS) é classificado
como uma técnica de tratamento biológico de resíduos no solo. Baseia-se na capacidade de
uma intensa atividade de microrganismos em degradar, destoxificar ou transformar
substratos orgânicos, conjuntamente com as propriedades químicas e físicas do solo, que
promovem efeitos de sorção, quelação, imobilização e outros relevantes que transformam
ou indisponibilizam os poluentes e contaminantes.
Como método biológico de tratamento, diferentes rotas bioquímicas estarão
associadas a diferentes condições do meio. Basicamente, havendo presença de oxigênio
molecular, os compostos de carbono metabolizáveis serão convertidos em água e dióxido de
carbono ou em compostos húmicos, os compostos nitrogenados serão nitrificados, isto é,
oxidados, gerando nitritos e nitratos. Se a rota for de fermentação anaeróbia (incomum), em
função de ausência de oxigênio molecular, serão gerados dióxido de carbono, metano,
compostos reduzidos de enxofre, gás amônia e outros compostos típicos do processo
anaeróbio. Serão necessários compostos aceptores de elétrons, ou, em outras palavras, com
elevado potencial de auto-redução, para que a metabolização anaeróbia ocorra, como
processo de oxi-redução em que se constitui. Diversos compostos, como nitratos, sulfatos e
mesmo compostos altamente tóxicos como pesticidas e herbicidas podem participar dos
processos metabólicos dos microrganismos, servindo como fonte de energia, fonte de
carbono ou aceptores de elétrons, sofrendo modificações químicas como decomposição,
oxidação, ruptura de anéis aromáticos, hidrólise, isomerização e outras modificações,
gerando produtos com características diferentes do original (HILL e WRIGHT, 1978). Todavia,
em função das particularidades dos compostos presentes na maior parte dos resíduos e do
potencial poluente dos produtos da degradação anaeróbia, como processo incompleto, é
preferível a manutenção de condições aeróbias no STRS, ainda que um horizonte anóxico
inferior possa, por vezes, apresentar-se interessante, principalmente para a desnitrificação.
Os produtos biotecnológicos, como cepas de bactérias especialmente
desenvolvidas para adaptação em ambientes adversos, e com metabolismo adequado ao
substrato a ser transformado, aparecem como opções interessantes, apesar de receberem
forte crítica em relação às possíveis consequências, não estudadas, de sua inserção nos
ecossistemas. Os órgãos ambientais de jurisdição avaliarão a possibilidade de utilização de
diferentes cepas biotecnológicas, estabelecendo proibições e restrições pertinentes.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Aragem do solo
A aragem do solo cumpre dois papéis fundamentais no landfarming:
Prover a mistura do resíduo com o solo, no sentido de maximizar os efeitos
físicos do substrato sólido e rapidamente incorporar microrganismos
presentes no solo aos resíduos a serem tratados;
Prover oxigenação do meio durante o processo, no sentido de maximizar os
processos oxidativos, em detrimento dos processos anaeróbios, incompletos e
geradores de produtos indesejáveis.
Controle do pH
O pH propício para o desenvolvimento bacteriano aeróbio encontra-se entre 6,5-
7,5. Em geral os solos tropicais são ácidos e há necessidade de correção do pH, levando-o
acima de 6,0. A biodegradação dos resíduos gera ácidos voláteis e húmicos, pelo que o pH
deverá ser monitorado nas células de landfarming. A maneira mais simples preconizada para
Adição de nutrientes
O balanceamento da relação entre matéria carbonácea a estabilizar, nitrogênio e
fósforo é fundamental para que o processo biológico ocorra a contento e sob taxas elevadas
de conversão. O nitrogênio cumpre função plástica nas células bacterianas, enquanto que o
fósforo relaciona-se aos processos energéticos das mesmas. Para diferentes composições de
resíduos são requeridas diferentes quantidades de nitrogênio e fósforo. ATLAS (1984) apud
ROCCA et al. (1993) citam como exemplo, para uma carga de 100 t de hidrocarbonetos de
refinaria, a aplicação de 500 kg de nitrogênio e 50 kg de fósforo.
Temperatura e umidade
A temperatura é um parâmetro fundamental nos processos biológicos de
tratamento. De uma maneira geral, entre limites, as taxas de biodegradação elevam-se com
a elevação da temperatura. Considera-se a faixa de 20oC a 30oC como adequada ao
landfarming. Abaixo de 5oC o processo torna-se excessivamente lento, inviabilizando-se.
Como para sistemas abertos, esta é uma variável sobre a qual não se dispõe de controle, o
conhecimento da climatologia local é pré-requisito para a tomada de decisão entre
construir-se o sistema de tratamento ou tratarem-se os resíduos através de outra
metodologia, ou, prevalecendo a primeira alternativa, caso ocorram estações frias, planejar
o sistema para operar parcialmente ao longo do ano.
A umidade é fator de controle essencial da operação, pois excesso de umidade
pode promover lixiviação da massa de solo e resíduos, bem como ocasionar anaerobiose
parcial ou total, o que é indesejável. Por outro lado, em regiões excessivamente secas pode
ser necessária irrigação do solo, pois sob condições de baixa umidade os processos
biológicos inibem-se ou cessam. É recomendável monitoramento contínuo do teor de
umidade, condicionando-o a 50-70% de sua capacidade de campo.
Encerramento
Após o esgotamento da vida útil do STRS, com a exaustão do solo, procede-se o
fechamento do empreendimento, que é executado a partir das orientações de um plano de
encerramento previamente aprovado pelo órgão ambiental de jurisdição. Devem ser
mantidos todos os registros de quantitativos e qualitativos das cargas recebidas, origem,
bem como todos os dados de relevância coletados ao longo da vida útil da unidade. Com
relação às células exauridas de landfarming, algumas alternativas a adotar são sugeridas por
EPA (1987) apud ROCCA et al. (1993):
remoção do solo contaminado a um ARIP ou descontaminado a um aterro
para resíduos Classe II;
execução de selamento com argila e/ou membrana sintética;
prosseguimento do monitoramento do lençol freático para verificação da
continência dos poluentes na célula;
remoção parcial do solo e selamento da célula;
remoção parcial do solo e colocação de cobertura vegetal;
apenas colocação de cobertura vegetal;
em muitos casos específicos, como os de tratamento de resíduos oleosos
(hidrocarbonetos) com baixas concentrações de metais, o produto da
estabilização por landfarming poderá ser um resíduo granular Classe II, pelo
que poderá ser destinado de maneira relativamente simplificada.
O sistema de landfarming necessita uma gestão qualificada e o estabelecimento
de condicionantes rígidos pelo órgão fiscalizador ambiental, uma vez que, quando mal
gerido, aproxima-se muito de uma disposição desqualificada de resíduos perigosos a céu
aberto (lixão).
No caso de regiões de elevado índice pluviométrico anual, em que grandes
fazendas de tratamento de resíduos operando sem cobertura são vedadas, a técnica evoluiu
para o processo biológico aeróbio conduzido em galpões ou terrenos cobertos. Operando de
maneira análoga, com inoculação, aeração forçada e reviramento, as unidades fechadas
detêm ainda a tiragem forçada de gases. Mesmo adotando-se outras nomenclaturas para o
processo, que então não é conduzido em uma fazenda (farm), o processo continua
resguardando uma perfeita analogia com a compostagem, podendo ser imaginado como
uma compostagem de resíduos perigosos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
HILL, I.R.; WRIGHT, S.J.L. 1978. Pesticide Microbiology. Academic Press Inc., 1978.
ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
5.6 INCINERAÇÃO
A prática de atear fogo é uma forma muito antiga de tratar e destinar os rejeitos
sólidos, reduzindo drasticamente o seu volume, tornado-os mais estáveis à putrefação,
processo que ocasiona incômodos. Após o consumo dos resíduos pelo fogo costumava-se
espalhar as cinzas pelo solo ou utilizá-las na agricultura. Com a expansão da ocupação
urbana, progressivamente a prática foi ocasionando incômodos às vizinhanças. Após sérios
estudos do processo, nas últimas décadas, tentando condicionar o processo à máxima
eficácia com o maior aproveitamento térmico possível, a incineração desponta como um dos
principais métodos para o tratamento de resíduos urbanos e perigosos, apesar de muito
contestada em função da emissão de efluentes gasosos tóxicos por sistemas operando sob
deficientes condições de retenção de emissões aéreas.
O primeiro incinerador construído para tratamento de resíduos sólidos urbanos
data de 1874, na Inglaterra (LIMA, 1995). No início do Século XX foram construídos muitos
equipamentos nos Estados Unidos e na Europa, solucionando o problema dos resíduos
sólidos em muitas cidades. No Brasil, incineradores começaram a ser construídos no final do
Século XIX, sendo colocadas em operação várias unidades de incineração durante o Século
XX. A partir da crise energética deflagrada no início da década de 1970, os sistemas têm sido
estudados cuidadosamente no sentido de, concomitantemente a tratarem resíduos,
recuperarem ao máximo a energia química contida nesses.
A incineração é um processo térmico para tratamento de resíduos que objetiva
destruir componentes orgânicos, reduzir o volume dos resíduos a serem aterrados, e
converter produtos perigosos em outros menos prejudiciais à saúde e ao ambiente. Ao
contrário dos processos biológicos, sua aplicação é bem mais inespecífica, isto é, bem menos
(mas não completamente) dependente das características do resíduo a tratar. Geralmente, a
incineração como processo eficiente, opera a temperaturas superiores a 1000oC.
A incineração pode ser definida como o processo de combustão controlada, em
que os resíduos sofrem oxidação a partir da reação em cadeia com oxigênio molecular,
desencadeada pelo aquecimento da matéria combustível. Os principais produtos da
combustão são:
dióxido de carbono (CO2), resultante da oxidação completa da matéria
carbonácea;
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Sistemas de incineração
A incineração é um processo caro para tratamento de resíduos sólidos,
especialmente os urbanos, desprovidos de periculosidade. CORNETT (1998) apud TOCCHETTO e
COUTINHO (2004) cita um incinerador construído próximo de Amsterdan, Holanda, em 1995,
que, para a capacidade de processamento de 2.000 t/d, requereu um investimento de US$
300.000.000,00 em equipamentos de incineração e outra quantia idêntica somente em
sistemas de controle de emissões atmosféricas. As autoras citam uma realidade de mercado
de US$ 200,00 a US$ 2.000,00 para o custo por tonelada de resíduo incinerado,
dependentemente do tipo de resíduo processado.
Os principais sistemas de incineração atualmente em operação são (1) fornos
rotativos, (2) fornos de injeção líquida, (3) fornos de grade móvel ou fixa, (4) forno de leito
fluidizado, (5) incinerador de plasma, (6) incinerador de câmaras múltiplas:
Fornos rotativos: são fornos ligeiramente inclinados sob um plano horizontal,
revestidos de material refratário. A fração volátil do resíduo sólido é
queimada em uma câmara secundária do forno e nesta câmara podem ser
injetados resíduos líquidos. Podem ser utilizados para tratamento térmico de
resíduos sólidos, líquidos e pastosos. O cilindro é normalmente inclinado em
relação à horizontal (2%-3%) apresentando 2-6 m de diâmetro e 6-12 m de
comprimento. A temperatura do forno rotativo varia entre 680oC e 1260oC,
enquanto que a temperatura no pós-queimador oscila entre 1100oC e 1300oC.
Fornos de injeção líquida: são fornos inclinados e revestidos internamente
com material refratário, podem ser horizontais ou verticais. Como o resíduo é
atomizado, há uma limitação com relação ao tamanho das partículas;
Forno de múltiplos estágios: composto por uma estrutura externa de aço e
revestida internamente com material refratário. Geralmente é composto por
Emissões gasosas
Vários são os compostos químicos que podem se inserir nos gases de combustão.
Sua emissão pode originar problemas à saúde pública e ao ambiente. Todavia, duas famílias
de compostos desenvolveram notoriedade pública nos últimos trinta anos, sendo usados
como ícones da representação dos “malefícios” originários dos processos de tratamento
térmico dos resíduos: tais compostos são conhecidos como dioxinas e furanos. As
policlorodibenzodioxinas e os policlorodibenzofuranos, conhecidos, respectivamente, como
dioxinas e furanos, constituem-se em um tema polêmico que tem requerido especial rigor
no controle das operações dos incineradores. As dioxinas e furanos se formam livremente na
natureza, existindo muitos compostos inofensivos. Formam-se inclusive no metabolismo
Figura 5.6.6 – Estruturas químicas das dioxinas (E) e dos furanos (D)
Fonte: o autor
emitido opiniões no sentido de esclarecer que a problemática das dioxinas e furanos não é
tão contundente quanto o alardeado junto à mídia. Atividades simples, como queimas em
lareiras, podem, igualmente, ser geradoras desses compostos. Ademais, incêndios em lixões
e aterros sanitários podem produzir quantidades muito superiores de dioxinas e furanos do
que um incinerador bem operado em toda a sua vida útil.
Há recomendações de que os resíduos a serem incinerados contenham teor de
cloro inferior a 30%, não só por ser o cloro precursor de dioxinas e furanos, mas também por
ser precursor do fosgênio (COCl2), um gás venenoso.
Os efluentes líquido e sólido (cinzas) provenientes da incineração de resíduos
deverão ser destinados de maneira correta: os líquidos deverão ser tratados para que
possam ser emitidos dentro dos padrões estabelecidos pela legislação. Os sólidos deverão
ser classificados segundo os procedimentos instituídos nas NBR 10004-10007, para definição
precisa das suas possibilidades de destinação final.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.
5.7 PIRÓLISE
A pirólise é um processo que vem sendo estudado desde o início da década de
1970, como uma alternativa para o tratamento de resíduos com recuperação de massa e
energia, isto é, tratamento não destrutivo. Consiste, basicamente, em uma decomposição
química dos resíduos, por ação de calor administrado em atmosfera controlada. O processo
é levado a efeito em condições de ausência ou no mínimo déficit de oxigênio. O processo
tem despertado grande interesse nos últimos anos, dada a promessa de operar em
condições de auto-suficiência energética, produzindo, ainda,’ produtos úteis, como gases e
óleos combustíveis bem como carbono na forma particulada.
As primeiras experiências com reatores de pirólise foram desenvolvidas por F.
Winkler no ano de 1926, na Alemanha. Próximo ao final da Segunda Guerra Mundial, os
alemães, utilizando os estudos de Winkler obtiveram dos resíduos gases combustíveis como
o metano e o isobutano (LIMA, 1995).
Nos EUA, na mesma década, o estudo da pirólise iniciou utilizando-se resíduos de
pneus, gerando gás com elevado poder calorífico, óleo e resíduos sólidos. No final da década
de 1960, estudos realizados nos EUA demonstraram que o processo de pirólise de resíduos
pode ser auto-sustentável energeticamente, pois os resíduos sólidos apresentam poder
calorífico suficiente para suprir o calor necessário ao processo, gerando energia excedente.
Estudos de SANNER et al. (1970) apud LIMA (1995) demonstraram que uma
tonelada de resíduos domiciliares pirolisados pode produzir os seguintes produtos:
10,88 kg de sulfato de amônia;
131 kg de char (carbono quase puro com 2.500-3.000 kcal/kg);
12,3 L de alcatrão;
9,46 L de óleo combustível;
435 L de álcoois;
331 Nm3 de gases combustíveis.
Na maioria dos casos, a pirólise ocorre por um mecanismo de radicais livres,
iniciado por traços de oxigênio ou outras impurezas oxidantes, que são incorporadas pelos
polímeros durante o seu processamento. Conforme PINTO (1979) apud LIMA (1995) e MUNIZ
(2004), os subprodutos da pirólise podem ser divididos em três grupos:
Fonte: o autor
Fonte: o autor
gases produzidos são queimados, com seu conteúdo energético convertendo-se em vapor
d’água para fins de calefação ou produção de potência, passando, após, por processos de
lavagem para remoção de particulados.
Gaseificação
A gaseificação é um processo térmico intermediário entre a incineração, que
opera em condições de excesso de oxigênio, e a pirólise, que ocorre em ausência desse gás
oxidante. O processo opera com combustão parcial da matéria conversível. A tecnologia é
utilizada para obtenção de combustíveis a partir de biomassa e é uma técnica interessante
para redução eficiente de volume de resíduos e conversão parcial desses a uma mistura
gasosa com baixo poder calorífico, gerando também efluentes líquido e sólido. Os tipos mais
comuns de reatores de gaseificação são (1) de leito fixo horizontal, (2) de leito fixo vertical,
(3) de leito fluidizado, (4) de leito múltiplo e (5) de leito rotativo. A geração de VOCs (volatile
organic compounds = compostos orgânicos voláteis) é baixa, podendo ser abatida por um
sistema eficiente de tratamento de gases.
O processo pode ser conduzido utilizando-se ar, oxigênio puro ou vapor d’água,
gerando diferentes produtos gasosos. Normalmente é utilizado carvão como combustível
para suprimento da demanda energética do processo. Em um gaseificador de leito fixo típico
os resíduos ingressam superiormente, em contracorrente com o ar, que é insuflado pela
parte inferior. O gás combustível formado sai pela parte superior, enquanto que as cinzas
saem por baixo. A utilização de oxigênio puro eleva a temperatura à ordem de 2000oC,
causando fusão das cinzas, que são removidas na forma de escória líquida.
Quando o ar é alimentado inferiormente na câmara de gaseificação, entra em
contato com o carvão, oxidando esse a gás carbônico e água. Tais produtos, em uma zona
redutora superior reagirão endotermicamente com o carvão, formando CO e H2, que
fornecerão o calor necessário, mais acima no reator, para as reações pirolíticas com os
resíduos que estão sendo tratados, e, ainda mais acima, para a pré-secagem dos mesmos na
entrada do gaseificador. TOCCHETTO e COUTINHO (2004) apresentam as reações ocorridas.
Fonte: o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.
plasma para recuperar ferro, zinco e chumbo das poeiras originárias da indústria siderúrgica,
o processo denominado Nemerow® (1991) (TOCHETTO e COUTINHO, 2004).
A Figura 5.8.1 apresenta, esquematicamente, o processo de plasma térmico para
o tratamento de resíduos. A Figura 5.8.2 apresenta um equipamento emissor de jato de
plasma. A Figura 5.8.3 apresenta um registro fotográfico de tocha de plasma.
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Fonte: o autor
Quase todos os gases industriais podem ser utilizados para se gerar uma tocha
de plasma. Gases como argônio, nitrogênio, hidrogênio, amônia, cloro, oxigênio e monóxido
de carbono, além do próprio ar, são frequentemente utilizados. Os resíduos tratados por
plasma podem ser processados (1) fazendo a tocha incidir diretamente sobre os mesmos ou
(2) promovendo-se um aquecimento prévio dos mesmos em uma câmara de gaseificação.
Sendo processados na tocha de plasma, imediatamente decompor-se-ão em compostos
mais simples. O processo ocorre porque as ligações químicas que mantêm átomos unidos e
elétrons girando ao redor de núcleos atômicos são rompidas pela enorme quantidade de
energia lançada sobre os resíduos.
Fonte: web
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
FELIPINI, C.L. 2005. Noções sobre plasma térmico e suas principais aplicações. Integração, nº
41. pp.147-51.
5.9 COPROCESSAMENTO
O denominado coprocessamento corresponde a uma técnica de incorporação de
resíduos no processo de fabricação de um produto, em geral clínquer (precursor do
cimento), servindo tais resíduos como combustíveis ou como matérias-primas, ocorrendo
sua destruição térmica eficiente e segura. Este processo de tratamento e destinação de
resíduos insere a importante vantagem de não produzir residuais a destinar, uma vez que há
incorporação das cinzas ao produto final. Havendo disseminado-se como metodologia nos
Estados Unidos, sua regulamentação no Brasil adveio com a Resolução CONAMA 264/1999.
A Resolução CONAMA 316/2002 estabeleceu outras determinações, como por exemplo, o
limite de emissão para dioxinas no coprocessamento.
As principais restrições à utilização da metodologia referem-se à sua aplicação
para queima de materiais clorados (precursores de dioxinas) e resíduos com elevadas
concentrações de metais pesados, que podem ser transferidos às emissões aéreas ou
incorporados ao cimento. Via de regra o grau de aplicabilidade eleva-se em função da
elevação do poder calorífico do resíduo, utilizado como substituto parcial de outros
combustíveis. Aplicações similares podem ser conseguidas em fornos industriais,
siderúrgicos ou caldeiras, desde que devidamente licenciados para tal, em função das
emissões sólidas, líquidas e gasosas oriundas de cada resíduo utilizado.
Os principais resíduos que podem ser coprocessados são:
borras oleosas;
borrachas não cloradas;
solventes;
ceras
resinas fenólicas e acrílicas;
elementos filtrantes de filtros de óleos;
lodos de estações de tratamento de efluentes;
EPIs contaminados;
carvão ativado exaurido;
borras ácidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
teor de umidade e mais elevado o seu peso específico. Tais características promovem uma
eficiência de queima maior.
Fonte: web
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SAMPAIO, Raquel P. 2014. Estudo de caso dos possíveis fatores deletérios causados pelo
combustível derivado de resíduos (CDR) em caldeiras voltadas à produção de energia
elétrica queimando principalmente bagaço de cana. USP - São Carlos. Dissertação de
mestrado. 162p.