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INTRODUÇÃO

À CIÊNCIA DOS
RESÍDUOS
SÓLIDOS

Eduardo Fleck
O autor outorga integrais e irrestritos direitos sobre a obra, para fins de comercialização e
para quaisquer outros fins, a Tatiana Correa Marson, CPF 730172800-04, RG3048650661.
PREFÁCIO

Produzir um material útil para introduzir os conceitos necessários àqueles que


iniciam carreiras em órgãos públicos e empresas privadas os quais têm a gestão de resíduos
sólidos como métier ou atividade legalmente necessária - este foi o conceito que norteou a
produção do presente trabalho. Na realidade do setor público brasileiro anualmente muitos
indivíduos são direcionados a órgãos e empresas públicas titulares dos serviços de limpeza
urbana e de gestão de resíduos sólidos por indicação das gestões ou via concurso público.
Embora muitos desses profissionais detenham formação acadêmica compatível com o
desenvolvimento dos serviços no campo profissional, muitas vezes não têm experiência
específica e acúmulo de conhecimentos na área específica.
No caso das empresas privadas, embora grandes corporações detenham, dentro
dos seus quadros, profissionais com formação específica (engenheiros ambientais,
engenheiros sanitaristas), os quais dominam matérias como tratamento de efluentes e
gestão de resíduos, em casos de empresas de menor porte, virtualmente o profissional
responsável pela área de processo ou de segurança do trabalho recebe a demanda adicional
de administrar os resíduos produzidos pela empresa, acumulando tal com as suas principais
atribuições. Muitos desses profissionais certamente jamais tiveram contato com a matéria,
necessitando rapidamente internalizar os conceitos básicos a ela relativos.
O presente volume deriva de uma série de cursos e palestras ministrados em
ambientes acadêmicos de Engenharia e Direito, para profissionais da área específica e para
leigos nos últimos 15 anos. A preocupação com a produção desse esforço residiu em obter-
se um material sólido para nivelamento, apresentando os aspectos básicos de tudo aquilo o
que vem sendo produzido em nome da qualificação da gestão de resíduos sólidos,
especialmente após a conformação do SISNAMA e a evolução da legislação centrada na
proteção do ambiente e da saúde pública.
Neste sentido, embora a matéria não possa ser dissociada dos conceitos técnicos
científicos a ela pertinentes, procurou-se produzir uma série de capítulos que possam ser, ao
menos parcialmente, assimilados mesmo por indivíduos de formação diversa da Engenharia,
de modo que a leitura também lhes será útil e proveitosa. Nos dias de hoje, com a
disponibilidade da Internet, conceitos desconhecidos que eventualmente aparecem nos
textos que lemos podem facilmente ser acessados e tornarem-se compreendidos em poucos
minutos através de uma busca simples utilizando um bom motor de buscas, motivo pelo qual
as leituras que hoje realizamos tornam-se muito mais acessíveis do que o “caminho das
pedras” que enfrentávamos há 30 anos atrás quando apreciávamos textos relativos a uma
área que não era do nosso inteiro domínio.
Assim, absolutamente não estamos aqui em presença de textos que esgotarão os
respectivos assuntos, mas sim os introduzirão aos leitores. A evolução dessa área de
conhecimento e desenvolvimento tecnológico acompanhou cronologicamente todos os
processos e esforços humanos na busca de ambientes mais saudáveis e do aproveitamento
dos materiais. Se lebrarmos os idos da década de 1970, naqueles tempos bastava aos
titulares dos serviços de limpeza urbana limpar bem a cidade (“especialmente quando o
senhor ministro vinha para uma inauguração”), dispondo os resíduos, sem qualquer tipo de
segregação prévia, nos vazadouros a céu aberto. As empresas utilizavam os mesmos
vazadouros para o encaminhamento dos seus resíduos, comuns e perigosos. Nos nossos dias
as multas e os processos judiciais encontram-se no aguardo de todos aqueles, gestores
públicos ou privados, que não qualificarem as suas gestões de resíduos. Tal conduziu e vem
conduzindo a que muitos profissionais dediquem-se à área específica do conhecimento em
resíduos sólidos, sua gestão e tratamento. No jargão popular, tais se constituem nos
lixólogos, os quais sofrendo a devido upgrade que a nomenclatrura técnica aduz, poderiam
chamar-se de residuológos. Não obstante a necessidade de atender à legislação, a
descoberta dos potenciais de aproveitamento mássico e energético dos resíduos têm
conduzido à instalação de muitos e variados negócios nas cidades, transformando o conceito
dos resíduos de meros passivos a fontes de renda.
Em um país com os déficits sanitários como o Brasil, muito há o que se fazer na
área do Saneamento. A verdadeira ferramenta para a ação é o conhecimento.

O autor
Nada na vida deve ser receado.
Tem apenas que ser compreendido.
[Marie Curie (1867-1934), Prêmio Nobel da Física em 1903]

Não se pode ensinar tudo a alguém,


pode-se apenas ajudá-lo a encontrar
por si mesmo.
(Galileu Galilei, 1564-1642)

Nenhuma mente que se abre para


uma nova idéia voltará a ter o
tamanho original.
(Albert Einstein)

O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância.


Todo o meu saber consiste em saber que nada sei.
(Sócrates)
SUMÁRIO

1 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E


BIODEGRADAÇÃO.................................................................................. 1
1.1 Poluição e ambiente: conceituação.................................................. 2
1.1.1 Introdução............................................................................................... 2
1.1.2 Poluição e contaminação........................................................................ 3
1.1.3 Relatividade do conceito de poluição..................................................... 6
1.1.4 Contaminação…………………………………………………………………………………….. 9
1.1.5 Os estágios da poluição………………………………………………………………………. 10
1.1.6 Resíduos sólidos como fonte de poluição e contaminação.................... 11
1.1.7 O efeito estufa……………………………………………………………………………………. 13
1.1.8 A Hipótese Gaia...................................................................................... 16
1.2 Conceituação, classificação e características dos resíduos
sólidos............................................................................................... 21
1.2.1 Introdução.............................................................................................. 21
1.2.2 Conceituação.......................................................................................... 22
1.2.3 Classificação............................................................................................ 24
1.2.4 Composição............................................................................................ 27
1.2.5 Caracterização Gravimétrica................................................................... 28
1.2.6 Caracterização Elementar....................................................................... 34
1.3 Fundamentos do processo de degradação anaeróbia dos resíduos
sólidos............................................................................................... 44
1.3.1 Introdução............................................................................................... 44
1.3.2 Fases do processo anaeróbio.................................................................. 46
1.3.3 Modelos da evolução de um aterro de resíduos sólidos......................... 52
1.3.4 Aspectos nutricionais, toxidez e inibição................................................ 54
1.4 Biogás............................................................................................... 61
1.5 Lixiviado............................................................................................ 69
1.5.1 Introdução............................................................................................... 69
1.5.2 Aspectos quantitativos da geração dos lixiviados................................... 70
1.5.3 Aspectos qualitativos dos lixiviados........................................................ 73
2 RESÍDUOS SÓLIDOS: LEGISLAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E GESTÃO................ 83
2.1 A classificação nacional de resíduos sólidos..................................... 84
2.1.1 Introdução............................................................................................... 84
2.1.2 A NBR 10004/2004 – “Resíduos Sólidos”................................................ 85
2.1.3 A NBR 10005/2004 – “Procedimento para obtenção de extrato
lixiviado de resíduos sólidos”.................................................................. 90
2.1.4 A NBR 10006/2004 – “Procedimento para obtenção de extrato
solubilizado de resíduos sólidos”............................................................ 94
2.1.5 A NBR 10007/2004 – “Amostragem de Resíduos Sólidos”..................... 96
2.2 Aspectos legais e de gestão.............................................................. 102
2.2.1 O SISNAMA.............................................................................................. 102
2.2.2 Legislação e regulamentações infralegais de interesse aplicados a
resíduos sólidos e aspectos correlatos.................................................... 108
2.2.3 Aspectos legais da administração municipal da limpeza urbana............ 117
2.2.4 A Lei Federal 12.305/2010 – “Política Nacional de Resíduos
Sólidos”.................................................................................................... 127
2.3 Gerenciamento de resíduos sólidos.................................................. 145
2.3.1 Gerenciamento integrado de resíduos sólidos: Plano de
Gerenciamento Integrado....................................................................... 145
2.3.2 Política dos 3R’s....................................................................................... 170
2.3.3 Produção Mais Limpa.............................................................................. 172
2.3.4 Avaliação de Ciclo de Vida....................................................................... 178
3 TRATAMENTOS ANAERÓBIO E AERÓBIO E ASPECTOS CORRELATOS....... 185
3.1 Aterro sanitário................................................................................. 186
3.2 Monitoramento de unidades de tratamento de resíduos sólidos.... 205
3.2.1 Monitoramento operacional................................................................... 205
3.2.2 Monitoramento ambiental...................................................................... 207
3.2.3 Características paramétricas relevantes das águas e lixiviados.............. 210
3.2.4 Avaliação dos resultados analíticos......................................................... 246
3.2.5 Noções de Métodos Geofísicos aplicados ao Monitoramento............... 252
3.3 Tratamento de lixiviados................................................................... 262
3.3.1 Introdução............................................................................................... 262
3.3.2 Análise das demandas de tratamento requeridas pelos lixiviados 263
maduros..................................................................................................
3.3.3 Revisão das tecnologias utilizadas para o tratamento de lixiviados....... 273
3.4 Estabilização aeróbia de resíduos sólidos: compostagem................ 314
4 RESÍDUOS SÓLIDOS ESPECIAIS: GESTÃO, TRATAMENTO
E DESTINAÇÃO....................................................................................... 326

4.1 Introdução........................................................................................ 327


4.2 Resíduos sólidos da construção civil................................................. 329
4.3 Lâmpadas de descarga...................................................................... 347
4.4 Pneumáticos inservíveis.................................................................... 365
4.5 Pilhas e baterias................................................................................ 380
4.6 Óleos vegetais de fritura exauridos.................................................. 391
4.7 Medicamentos vencidos................................................................... 402
4.8 Óleos lubrificantes residuários e suas embalagens........................... 416
4.9 Embalagens de agrotóxicos............................................................... 427
4.10 Resíduos de reagentes químicos....................................................... 439
4.11 Resíduos sólidos de serviços de saúde.............................................. 447
5 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E INDUSTRIAIS: ALTERNATIVAS PARA O
TRATAMENTO E A DESTINAÇÃO............................................................. 481
5.1 Introdução......................................................................................... 482
5.2 Aterros para resíduos sólidos industriais perigosos.......................... 485
5.3 Estabilização e Solidificação.............................................................. 501
5.4 Landfarming...................................................................................... 511
5.5 Digestão anaeróbia com recuperação energética............................ 520
5.6 Incineração........................................................................................ 536
5.7 Pirólise............................................................................................... 549
5.8 Plasma térmico.................................................................................. 558
5.9 Co-Processamento............................................................................ 564
5.10 Combustível Derivado de Resíduos – CDR........................................ 568
Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.Resíduos sólidos: Conceitos,


Características e
Biodegradação

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 1


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.1 POLUIÇÃO E AMBIENTE:


CONCEITUAÇÃO

1.1.1 Introdução
A década de 1970 foi marcada pela introdução, na vida cotidiana das pessoas,
das ideias advindas dos vocábulos poluição e contaminação ambiental, e da ideia vinculada à
destruição do ambiente natural, conceitos que até então permaneciam timidamente
restritos aos meios acadêmico e governamental. Como decorrência da primeira crise do
petróleo, associada, na verdade, à formação de um cartel das nações grandes produtoras, foi
enfatizada ao mundo a ideia da esgotabilidade dos recursos naturais. Mais do que isso, a
poluição das águas, do ar e do solo foram problemas paulatinamente sensivelmente
verificados pelas pessoas no seu dia-a-dia. Não somente os corpos d’água de superfície
foram paulatinamente se tornando inaptos para o lazer, como não raramente se assistiam
eventos de mortandade de peixes e contaminação de águas subterrâneas utilizadas para
beber por comunidades. Em certos locais, especialmente em pólos industriais o ar tornou-se
sensivelmente impróprio para a respiração. A partir dessa época, dada a notória vinculação
de tais problemas aos espaços culturais e à mídia em geral, apresentou-se ao grande público
a noção de que o Homem precisava administrar de forma científica e responsável o
ambiente em que vive, visando à perpetuação da sua própria espécie. Em palavras simples,
nasceu a noção de que as pessoas não mais poderiam simplesmente fazer aquilo que
simplesmente desejassem fazer, incluindo-se aí as atividades industriais e todas as demais
potencialmente ocasionadoras de emissões e modificações do ambiente. O desenvolvimento
a qualquer custo, assim pensado como ampliação na produção de produtos de consumo a
baixo custo, sem que se pensasse nos passivos e externalidades ocasionados, os quais se
voltariam contra as próprias comunidades, passou a ser substituído por sistemas formais, os
quais apontariam que tipos de atividades poderiam ser situadas nos diversos locais
específicos e sob que condições poderiam operar.
No Brasil, na década de 1980, após o estabelecimento do SISNAMA - Sistema
Nacional do Meio Ambiente (1981), iniciou-se a crescente surgência de novos diplomas
legais de caráter preservacionista, da fiscalização intensiva das fontes potencialmente
poluidoras e do desenvolvimento de tecnologias para o tratamento das emissões. A década
de 1990 trouxe consigo o acirramento da legislação ambiental, o aparecimento de normas

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 2


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

técnicas voltadas para o gerenciamento de resíduos e emissões e uma nova mentalidade


global nos meios sociais e produtivos.
As primeiras décadas do terceiro milênio estão sendo marcadas por uma série de
desastres naturais de grande repercussão, aos quais estamos nos acostumando a associar o
chamado aquecimento global ou efeito estufa. O problema, timidamente mencionado em
algumas obras literárias da década de 1970, tem recebido atenção mundial crescente, ao
ponto em que hoje, cada indivíduo do planeta que tenha acesso à informação é diariamente
bombardeado com notícias e novidades científicas referentes a esse novo tipo de poluição,
que poderia ser chamado de poluição térmica, mas cujos efeitos indiretos é que
verdadeiramente ocasionam prejuízos, e em uma escala global, portanto não restrita aos
limites políticos territoriais.

1.1.2 Poluição e contaminação


Eventos de impacto sobre a fauna, a flora e o meio natural sempre
acompanharam a trajetória do Planeta Terra. As catástrofes naturais como furacões,
terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, grandes incêndios e quedas de meteoros, bem
como as modificações cíclicas da temperatura global sempre ocasionaram, e ainda hoje
eventualmente ocasionam, modificações importantes no ambiente natural e em seus
habitantes. O planeta pode ser pensado como uma estrutura com certo grau original de
organização que vem, ao longo das eras, desorganizando-se, em função da dispersão natural
ou induzida pelo Homem de sua massa e de sua energia.
Todavia, em milhões de anos de história natural, manteve a Terra sua capacidade
de regenerar-se dos infortúnios ocasionados pela própria natureza e, há até alguns séculos
atrás, inclusive daqueles advindos da ação do meio biótico do planeta sobre o meio natural.
Contudo, com a evolução social e tecnológica da espécie humana, que ocasionou a
aglomeração de pessoas em grandes centros urbanos, e com o contínuo aprimoramento da
habilidade humana em forjar o seu conforto material a partir do processamento tecnológico
da massa e da energia, em muitos locais do planeta a capacidade de rápida autodepuração
dos ambientes foi superada pela taxa de produção de rejeitos, emissões e subprodutos da
exploração dos recursos. É bem fácil pensar que uma única família que gere dejetos e os
lance em um arroio não causará grandes problemas a esse corpo d’água. Já a população de
um bairro inteiro lançando dejetos sobre o arroio causará sérios problemas sanitários ao
mesmo. Se dividirmos a área total do planeta não coberta por oceanos pelo número atual de
habitantes, chegaremos a uma área média de dois hectares por pessoa. Com dois hectares
disponíveis cada cidadão teria condições de ser hábil na gerência dos seus excrementos, sem
causar degradação do ambiente pelos mesmos. O que verdadeiramente afeta o ambiente é
a elevada concentração de pessoas em apenas partes selecionadas do espaço geográfico
disponível. A essa ideia de uma ação que ocasione danos sensíveis e desequilíbrios ao
ambiente em velocidade superior à habilidade deste em recuperar-se se associou a palavra

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 3


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

“poluir”. A ideia de poluição está intimamente associada à ideia de um conjunto de fatores


limitantes ao crescimento e subsistência de um determinado ecossistema.
A poluição ambiental pode ser definida como toda ação ou omissão do homem
que, através de descarga de material ou energia sobre as águas, o solo ou o ar, ocasione um
desequilíbrio nocivo, seja de curto ou longo prazo, sobre o ambiente. Essa ideia é
frequentemente vinculada a uma visão de desperdício de massa e energia nos processos de
transformação da matéria.
Um equívoco bastante frequente ocorre ao confundirem-se os conceitos de
poluição e contaminação. Enquanto que a poluição é uma modificação introduzida no meio
e nas condições de sustentação da vida, que se reflete sobre os seres que habitam tal meio,
a contaminação é o lançamento, em um meio, de agentes químicos e/ou biológicos nocivos,
que agirão diretamente sobre a saúde dos organismos. Assim, enquanto que a contaminação
é um mecanismo que ocasiona prejuízo direto, a poluição é uma forma indireta de afetar, de
maneira nociva, a vida e a estabilidade dos seres vivos e de suas relações, com
consequências inclusive para o próprio meio abiótico.
Possivelmente dois sejam os exemplos icônicos universalmente conhecidos de
poluição: (1) a chaminé da qual sai fumaça, e (2) o lançamento de esgotos (“água” escura e
eventualmente dotada de espumas), a partir de uma manilha que desemboca em um riacho.
Relativamente a esse segundo cenário, sabemos que os peixes, como todos os seres
aeróbios, necessitam de oxigênio para manutenção do seu metabolismo, e, portanto, de sua
própria vida. Tais seres, assim como o próprio homem, utilizam compostos de carbono como
fonte de energia. O oxigênio que nós, os peixes, os animais em geral, e grande parte dos
microrganismos necessitamos, cumpre a função de participar de uma reação simples e
fundamental, que mantém a vida:

C (compostos de carbono) + O2  CO2 + Energia (1.1-1)

Essa reação, catalisada por enzimas presentes no interior das células dos seres
aeróbios, somente ocorrerá se, além do alimento (compostos de carbono), as células
receberem oxigênio (no caso dos animais, pela corrente sanguínea).
Enquanto que os seres terrestres são adaptados para coletar oxigênio a partir do
ar atmosférico, os seres aquáticos possuem estruturas especializadas em capturar as
pequenas concentrações de oxigênio que se encontram dissolvidas na água. Da nossa
experiência diária sabemos que se colocarmos uma pequena quantidade de sal em um copo
d’água, o sal sólido irá desaparecer da vista: ele irá se diluir na água, e não será possível
distinguir onde está a água e onde está o sal. Teremos uma solução chamada de água
salgada ou salmoura, o sólido estará dissolvido no líquido. Se misturarmos água e álcool
também não mais poderemos identificar fisicamente onde está a água e onde está o álcool:
haverá uma íntima associação entre as moléculas de água e as de álcool. Formou-se uma
solução líquido-líquido. Da mesma forma, os gases podem se diluir nos líquidos. O oxigênio

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 4


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molecular (O2) dissolve-se na água em concentrações muito baixas, de, no máximo (e


somente em condições excepcionais), aproximadamente 14,7 miligramas por litro, em
função da temperatura, da salinidade da água e da pressão atmosférica. Em um corpo
hídrico, há um balanço dinâmico entre o consumo de oxigênio por respiração pelos seres
aquáticos, a produção do oxigênio elementar por seres fotossintetizantes e as trocas de
gases entre a água e a atmosfera, conforme ilustra a Figura 1.1.1. A Figura 1.1.2 apresenta a
curva da variação da solubilidade do oxigênio em água a diversas temperaturas, a pressão
normal e salinidade nula.

Figura 1.1.1 – Balanço de oxigênio dissolvido em um corpo hídrico

Fonte: o autor

Assim como os peixes, bactérias e outros pequenos seres aeróbios também


conseguem retirar oxigênio das águas para promover a sua produção de energia. Se o
Homem não costuma alimentar-se de esgotos, os compostos carbonáceos nele presentes
são um ótimo alimento para muitos microrganismos. No momento em que um despejo de
esgoto entrar em contato com a água, bactérias e outros microrganismos aeróbios
encontrarão, no mesmo, alimento abundante, podendo reproduzir-se em larga escala e
muito rapidamente. A partir do seu metabolismo, com a utilização do oxigênio como agente
oxidante ou aceptor de elétrons, há produção de compostos orgânicos menos complexos do
que os originalmente presentes no esgoto (a energia advinda da oxidação dos compostos de
carbono resulta da própria transformação desses em compostos mais estáveis
termodinamicamente). Se a vazão de despejos (ou, mais propriamente, a carga orgânica
lançada, pensada como quilogramas de matéria não estabilizada lançados na unidade de
tempo) for elevada, todo oxigênio presente na água poderá ser rapidamente consumido
pelos microrganismos antes que o mesmo meio hídrico naturalmente consiga restabelecer,
através das trocas gasosas com a atmosfera, uma concentração mínima de oxigênio que
permita aos peixes e a outros seres aeróbios ainda continuarem respirando. Peixes e outros

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 5


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seres aquáticos que dependem de oxigênio morrerão em virtude da ausência de uma


concentração mínima de oxigênio hábil para sua respiração, e não por comprometimento
direto de seus organismos em função dos compostos presentes no esgoto (intoxicação). Isto
é um exemplo típico de poluição.

Figura 1.1.2 – Variação da solubilidade do oxigênio molecular em água pura a 1 atm em


função da temperatura

Fonte: o autor

É bastante comum ouvirmos falar em casos de mortandades maciças de peixes


em lagoas, arroios e rios, especialmente no verão. Nesse período de elevadas temperaturas,
dois mecanismos naturais concorrem para esse tipo de ocorrência quando neles temos
lançamentos de esgotos: (1) a capacidade da água em solubilizar oxigênio reduz-se
rapidamente com a elevação da temperatura, conforme apresenta a Figura 1.1.2; (2) a
elevação da temperatura acelera o metabolismo dos microorganismos, que consomem o
oxigênio e multiplicam-se muito mais rapidamente.

1.1.3 Relatividade do conceito de poluição


Possivelmente o lançamento, em um rio, de um óleo vegetal comum de preparo
de alimentos, em quantidade relativamente grande, não ocasione intoxicação dos peixes.
Contudo, esse óleo, não miscível em água, e menos denso do que essa, formará uma película
sobre o espelho d’água. Essa película dificultará, em muito, as trocas gasosas entre a água e
a atmosfera e consequentemente a própria reoxigenação da água, e, aos poucos os seres
consumirão o oxigênio ainda disponível, e após exauri-lo do meio morrerão. Como efeito

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 6


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

adicional, o óleo sob o sol se aquecerá muito e rapidamente, e o microplâncton superficial


morrerá em função do superaquecimento. Novamente, não se fala em contaminação, mas
sim em poluição.
Reproduzindo isso em um pequeno aquário com peixes, a partir da adição de um
litro de óleo de soja, provavelmente os peixes do aquário também morrerão. Podemos
então dizer que a água do aquário foi poluída. Se lançarmos, ao invés do óleo, esgoto no
aquário, novamente teremos um problema de poluição. Mas se essa mesma pequena
quantidade de óleo ou esgoto (poucos litros) for lançada em um rio, não haverá alteração
significativa do meio, tampouco isso acarretará morte de organismos. Os compostos
orgânicos presentes no esgoto ou no óleo, diluídos, acabarão servindo, inclusive, como
fontes alimentares, dentro das cadeias tróficas desse ecossistema aquático. Portanto, o
conceito de poluição por um despejo é relativo, estando essencialmente associado à questão
quantitativa. Sabemos também que, por um lado, as fezes de animais podem ser utilizadas
como um bom fertilizante para a terra. Mas as mesmas fezes, aplicadas em quantidades
elevadas, tornam-se um problema de poluição.
Uma água barrenta não é necessariamente uma água poluída. Alguns
mecanismos naturais dos corpos hídricos podem, a partir de turbilhonamentos, por
exemplo, ocasionar suspensão de partículas argilosas coloidais na água, que ficará com
aspecto turvo e coloração marrom-avermelhada. Essa água normalmente é objetável em
função da sua estética. Contudo, ao invés da água barrenta, poderíamos estar em presença
de uma água cristalina contendo organismos patogênicos. A água pode estar com bom
aspecto, sem odor e com boa palatabilidade, mas sua ingestão poderá originar uma doença
infecciosa no consumidor. Havendo necessidade iminente, seria muito mais razoável beber-
se a água barrenta do que a cristalina contaminada. Eis um outro aspecto que demonstra a
relatividade dos conceitos e a facilidade de cometerem-se equívocos relativamente à
questão da poluição e da contaminação.
Um efluente líquido de aterro de resíduos sólidos municipais pode, mesmo após
ter passado por um sistema robusto de tratamento, permanecer com coloração negra. O
mesmo líquido, após passagem por um sistema de carvão ativado, poderá sair clarificado,
pela remoção dos constituintes que lhe conferiam cor. Possivelmente, os mesmos
compostos e agentes contaminantes e poluentes residuais estejam presentes em ambos os
líquidos, o tratado e o não tratado com carvão ativado, mas haverá forte tendência de as
pessoas condenarem um eventual lançamento do líquido de cor negra, como crime
ambiental, e aprovarem o lançamento daquele já sem coloração, cristalino, exaltando a
“eficácia do tratamento que recebeu”. Eis um novo equívoco, derivado de nossa tendência
humana esteticista.
Quando falamos em ambiente natural e saneamento, é muito comum
cometermos equívocos, influenciados pelo conceito errôneo de que as variáveis ambiental e
econômica encontram-se dissociadas entre si. A gestão institucional de recursos,
principalmente a gestão pública, deve nortear-se permanentemente pelo conceito do que
poderíamos chamar de opção menos danosa. Desde que a economia é definida como a área
de estudo dos recursos escassos, permanentemente podemos associar uma gestão eficiente

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 7


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

à alocação mais criteriosa possível dos recursos, que normalmente são insuficientes para a
satisfação de todas as demandas e necessidades, mesmo que isso se traduza nas difíceis
escolhas que determinem o menor número de doenças ou mesmo de óbitos em uma
determinada população. Isso pode, talvez, não se apresentar verdadeiro em Dubai, nos
Emirados Árabes, símbolo de riqueza, por exemplo, mas certamente é uma realidade
brasileira e dos países não inteiramente desenvolvidos.
Um exemplo trágico disso seria o de uma avenida de intenso trânsito de veículos,
em um município, que apresenta uma estatística de aproximadamente 50 óbitos por
atropelamento por ano em um dado trecho. O prefeito é informado do problema, e de que,
para solucioná-lo, deverá construir um sistema de guardrails e passarelas no local, para a
travessia segura dos pedestres, necessitando, para isto, alocar uma verba de US$
500.000,00. Decorrido um ano, o prefeito não determinou a execução da obra e mais meia
centena de pessoas perderam as suas vidas em decorrência de novos atropelamentos.
Costumamos pensar que a vida humana não pode ser avaliada em termos econômicos
(popularmente: a vida humana não tem preço). No exemplo, aparentemente tal afirmação
seria demagógica, pois a vida de cada pessoa que veio a falecer teria sido poupada a partir
de um investimento per capita de US$ 10.000,00 (= US$ 500.000,00/50 pessoas). O prefeito,
questionado pela imprensa local acerca da sua suposta indiferença com as vidas perdidas,
respondeu que o orçamento anual da prefeitura é escasso, que detinha US$ 500.000,00, mas
investiu o montante integralmente em uma rede de coleta de esgotos em um conjunto de
vilas populares, pois neste conjunto havia registro de uma média de 122 mortes anuais
decorrentes de doenças de veiculação hídrica, devido ao esgoto a céu aberto. A maioria das
vítimas eram crianças de até quatro anos de idade. Em suas palavras, “gostaria de ter
salvado 172 munícipes neste ano, mas preciso contentar-me em ter preservado 122 vidas”.
Dentro desse conceito de alocação eficiente de recursos escassos, o esgoto
gerado por uma vila de 2000 pessoas, se lançado em um riacho que cruza a mesma vila
poderá ocasionar sérios problemas de poluição das águas, tal refletindo-se negativamente
sobre a qualidade de vida das pessoas instaladas às margens do mesmo riacho e a jusante
(“águas abaixo”), possivelmente no rio de onde se captam as águas para abastecimento da
cidade. A instalação de sistemas de coleta de esgotos a montante e ao longo da mesma vila,
com uma estação de tratamento a jusante pode ser uma alternativa muito plausível para a
melhoria das condições sanitárias locais. Já o esgoto produzido por uma vila de 200 pessoas,
se lançado em um rio de enorme vazão, de talvez milhares de metros cúbicos por segundo,
poderá não ocasionar nem mesmo o rebaixamento das concentrações de oxigênio dissolvido
do corpo hídrico logo a jusante do emissário, não trazendo maiores problemas ao
ecossistema local. Poucas centenas de metros rio abaixo os compostos orgânicos advindos
do esgoto lançado poderão estar muito diluídos, e já parcialmente estabilizados através dos
mecanismos naturais de autodepuração do rio. Supondo que a comunidade mais próxima
situe-se muitos quilômetros águas abaixo, tal lançamento absolutamente não será sentido
por essa. Assim, se o prefeito da localidade investir recursos para a construção de uma
estação de tratamento de esgotos a montante (“águas acima”) do lançamento, neste rio
caudaloso, estará empregando tais recursos de uma maneira completamente desnecessária.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 8


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A construção de um emissário eficaz resolveria o problema e economizaria recursos


preciosos para a aplicação em outros problemas sociais.

1.1.4 Contaminação
Falando-se em contaminação, exemplo clássico ocorreu em 1956, na até então
desconhecida cidade de Minamata, no Japão. O país ingressava no chamado período do
desenvolvimento a qualquer custo, quando, repentinamente, casos de habitantes com
dormência nas extremidades dos membros, perda da audição e da fala, deficiência visual e
distúrbios nervosos começaram a aparecer massivamente. Ao longo do tempo, problemas
mais graves apresentaram-se: pessoas com paralisia muscular e degeneração cerebral, mães
dando à luz crianças defeituosas, com comprometimento do desenvolvimento neural, com
alteração da estrutura cerebral e diminuição do tamanho da massa encefálica. Casos
inequívocos de que algo muito sério estava acontecendo com aquela comunidade.
Milhares de pessoas, que mais tarde saberiam que se contaminaram através da
ingestão de peixes, ainda tiveram que lutar durante vários anos para esclarecer a causa das
doenças e receber indenizações. Esse mistério só veio a ter solução três anos mais tarde,
quando as autoridades japonesas descobriram que uma indústria local lançava um efluente
líquido um rico em mercúrio, que, ao atingir a baía fluvial de Minamata, incorporava-se à
cadeia alimentar dos peixes. O mercúrio, sob condições naturais, no fundo do rio se converte
em metil-mercúrio. Esse composto se liga às partículas de matéria orgânica, que eram
consumidas pelos organismos da baía, a começar pelo plâncton (primeiro nível trófico). À
medida que subia um nível trófico na cadeia alimentar (plâncton  mexilhões  peixes),
ocorria uma elevação assustadora da concentração do composto nos tecidos dos seres
(mgHg/kg de tecido de organismo). A população, se alimentando desses peixes, apresentava
os sintomas da intoxicação.
O governo do Japão, em 1973, proibiu o consumo de peixes provenientes de
Minamata, e investiu milhões de dólares em pesquisas de como descontaminar as áreas
afetadas e sobre os efeitos do envenenamento. Foram levantados os casos de 2.951 pessoas
(entre vivos e já falecidos) que o governo japonês identificou como vítimas, mas tem-se dito
que o número real de indivíduos afetados seria muito superior a isso. Minamata é uma
região de pesca e a maioria das pessoas que adoeceram sobrevivia dessa atividade,
consumindo peixes regularmente.
Em 2001, Hollywood levou às salas de cinema do mundo a história de Erin
Brocowitch, que foi protagonista do caso de um processo milionário de indenização, movido
por um escritório de advocacia norte-americano contra uma indústria química que
contaminava o lençol freático de uma região com cromo hexavalente, pelos severos efeitos
ocasionados pelo consumo da água subterrânea captada nos poços locais, pela população
das cercanias da instalação industrial. Em função do filme o caso tornou-se
internacionalmente conhecido.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 9


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.1.5 Os estágios da poluição


BRAILE e CAVALCANTI (1979), ainda nos finais dos anos 1970, dividiram em três os
estágios subsequentes da poluição, diretamente relacionados aos estágios de
desenvolvimento social e industrial de uma determinada comunidade:
 Primeiro Estágio: Poluição Patogênica: ocasionada basicamente por
populações em baixo nível de desenvolvimento econômico, com infra-
estrutura deficiente. O uso de estações de tratamento pode prevenir
problemas sanitários neste estágio;
 Segundo Estágio: Poluição Total: aparece em sociedades em franco
desenvolvimento, devido ao crescimento das áreas urbanas e ao rápido
desenvolvimento industrial. Os corpos hídricos são muito afetados pela carga
poluidora lançada. A adoção de estações de tratamento de efluentes pode
minimizar os problemas decorrentes deste estágio;
 Terceiro Estágio: Poluição Química: aparece pelo uso intensivo da água,
gerado pelo aumento da população e da produção industrial. As águas
utilizadas retornam aos mananciais com concentrações adquiridas de sólidos
dissolvidos, que podem ocasionar não somente depreciação de suas
qualidades organolépticas, mas também demandas muito mais expensivas
para seu tratamento, demandando métodos sofisticados, bem como
problemas à saúde das populações, devido à contínua ingestão de água
contendo compostos altamente persistentes, em baixíssimas concentrações.
Nos dias de hoje, após quatro décadas da instituição de tais definições, em que
pese termos avançado no Brasil em termos do controle da poluição ocasionada por
atividades industriais, principalmente após a conformação do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) e seu principal instrumento, o licenciamento ambiental, ainda
sofremos com séria demanda associada ao tratamento dos esgotos e mesmo à sua própria
coleta em regiões de baixa renda. Portanto a poluição patogênica ainda é um sério problema
brasileiro. Da mesma forma, nas últimas décadas tem sido elevado o número de pesquisas
acadêmicas aplicadas à avaliação da ocorrência de várias espécies químicas contaminantes
nas águas de superfície. Pode-se citar, por exemplo, o caso da presença de compostos
hormonais em águas de rios, resultantes do descarte inadequado de medicamentos e
mesmo provenientes de esgotos hospitalares não tratados. A tais se atribui efeitos como,
por exemplo, a esterilização de populações. Portanto é preocupante a questão da antes
denominada poluição química, a qual poderia mais propriamente ser chamada
contaminação química.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 10


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.1.6 Resíduos sólidos como fonte de poluição


e contaminação
Se até agora algo foi dito em relação à poluição e à contaminação das águas,
tivemos sempre em mente a capacidade das águas agregarem, por diluição, compostos
poluentes ou contaminantes, o que nos traz diretamente à mente a ideia de água recebendo
despejos líquidos e formando uma solução ou suspensão com esses. Todavia, como já vimos
no caso do oxigênio molecular, as águas também podem dissolver gases, inclusive gases
tóxicos, que acabam por produzir alterações físicas, químicas e biológicas nos corpos
hídricos, além de agregarem-se à composição do ar atmosférico. Portanto não somente
despejos líquidos causam depreciação dos ecossistemas, mas também emissões gasosas. No
ambiente natural, não há uma verdadeira compartimentação entre o que é sólido, líquido e
gasoso. Há, em verdade, um equilíbrio dessas fases, variável em função das condições de
contorno, como temperatura, pressão, regime de ventos, umidade relativa, etc. Assim, o que
é poluição ou contaminação líquida, pode se transformar em sólida, o que é gasosa, em
líquida, e assim por diante.
E os resíduos sólidos? De que maneira afetam negativamente a vida dos animais,
plantas e do próprio Homem? Nossa experiência cotidiana com resíduos sólidos traz
imediatamente à nossa mente a lembrança de mau cheiro, moscas, baratas e ratos. Não há
dúvida de que esses infortúnios são relevantes: o mau cheiro por si só é desagradável, nos
provoca náuseas, deprecia nossa qualidade estética de vida, e os vetores que são atraídos
pelos resíduos em decomposição podem trazer doenças. Há também a questão de que
animais podem vir a se alimentarem desses resíduos, o que além de poder lhes prejudicar os
organismos, pode fazer com que se tornem hospedeiros de certos agentes, transferindo ao
Homem esses agentes, por ingestão da sua carne. Resíduos sólidos jogados no ambiente
podem ser precursores de incêndios. O que mais há, além disso?
Em primeiro lugar, os nossos resíduos sólidos não são isentos de contaminantes.
Não somente podemos transmitir aos resíduos certos agentes patogênicos, através do papel
higiênico e dos absorventes íntimos usados, como também é preciso lembrar dos diversos
resíduos que produzimos fora da nossa cozinha e do nosso banheiro. Até este momento
ainda nem consideramos as possibilidades que vêm dos hospitais e da indústria, caso os seus
resíduos não sejam adequadamente manejados e geridos. Ainda no caso dos resíduos
domiciliares, podemos estar falando de lâmpadas fluorescentes, pilhas especiais,
embalagens de inseticidas, restos de cosméticos e uma infinidade de outras coisas que
descartamos. Esses resíduos contêm componentes que ao entrarem em contato com a água
podem solubilizar-se, ocasionando maiores ou menores danos à qualidade dos corpos
hídricos superficiais e ao lençol freático.
Além disso, há um elo entre os microrganismos, a água e os resíduos sólidos. As
reações químicas, como, por exemplo, as reações bioquímicas do metabolismo dos
microrganismos, não ocorrem em meio sólido. Portanto se nossos resíduos forem
completamente secos, não serão degradados biologicamente, ou seja, não apodrecerão. Isso

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 11


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

é explicado pelo fato de os microrganismos não conseguirem absorver partículas sólidas de


grandes dimensões para o seu metabolismo. Todavia, sabemos que em geral nossos resíduos
orgânicos contêm certo teor de umidade. É pela extraordinária capacidade natural de alguns
tipos de bactérias expelirem enzimas, do seu interior para a água que circunda os sólidos e
as suas próprias células, que as macromoléculas dos resíduos podem ser convertidas
bioquimicamente em compostos mais simples, solúveis [vide reação simbólica 1.1-2,
proposta por LIMA (1995)], que por sua vez serão absorvidos por essas células bacterianas
como alimento. Esses produtos de degradação dos sólidos, biodegradáveis, também
poderão solubilizar-se nas águas, poluindo-as.

ação enzimática
n{(C6H10O5) + (H2O)}  n(C6H12O6) (1.1-2)
fórmula mínima empírica glicose
representativa dos resíduos sólidos

A reação (1.1-2) deve ser compreendida como simbólica ou genérica. Os


compostos poliméricos presentes nos resíduos sólidos são, principalmente, polissacarídeos,
proteínas e gorduras, sendo precursores, por degradação biológica, de diferentes produtos
intermediários. Esses compostos intermediários poderão chegar às águas dos rios ou ao
lençol freático, por exemplo, por arraste pelas águas de chuva que se precipitarem sobre os
resíduos em decomposição. Como tais compostos podem representar formas não
estabilizadas termodinamicamente, serão alimento potencial para outros microorganismos
presentes na água, que consumirão oxigênio. Eis o sentido da poluição por resíduos sólidos.
Portanto, as exoenzimas bacterianas cumprem o papel de romper a compartimentação
entre sólidos e líquidos. Todo sólido biodegradável abandonado acabará parcialmente
passando ao estado líquido, quando umidificado.
Esse mesmo sólido abandonado será precursor de certos gases, tanto se
apodrecer como se sua degradação se der de maneira aeróbia. Quando em decomposição
na ausência de oxigênio, os resíduos produzem um produto final gasoso denominado biogás.
O biogás é constituído basicamente por dois gases, o metano (CH4) e o dióxido de carbono
(CO2), além de constituintes minoritários como hidrogênio molecular, nitrogênio molecular,
monóxido de carbono, amônia, óxido nitroso, traços de compostos orgânicos e compostos
reduzidos de enxofre (ácido sulfídrico, organossulfurados), além de outros compostos-
traços, que normalmente perfazem não mais do que 1-5% do volume do gás. Dióxido de
carbono e metano são alguns precursores relevantes do problema ambiental mais
genericamente difundido nos dias de hoje: o aquecimento global, ou efeito-estufa. Mas no
que realmente consistiria esse problema?

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 12


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1.1.7 O efeito estufa


O Planeta Terra recebe energia do sol em uma distribuição espectral que vai
desde o ultravioleta até o infravermelho, com predominância dos comprimentos de onda da
luz visível (0,4 m a 0,7m). Da radiação solar total que chega ao planeta, 70% é absorvida,
sendo os 30% remanescentes espalhados ou refletidos. Dos 70% absorvidos, 51% são
absorvidos pela superfície, aquecendo o planeta e provocando reações químicas e
transformações físicas, sendo os 19% restantes absorvidos pela atmosfera.
O planeta irradia para o espaço uma quantidade de energia igual à que absorve
do sol. Do contrário, ele estaria continuamente aquecendo-se. Essa irradiação ocorre sob a
forma de radiação eletromagnética com comprimentos de onda predominantes na faixa
espectral entre 4 m e 100 m, correspondendo a uma distribuição espectral próxima à
teórica emitida por um corpo negro a –18oC. No entanto, sendo a temperatura média da
Terra 15oC, há uma diferença de 33oC entre o radiador teórico e o real. Essa diferença é
ocasionada pelo efeito estufa.
O efeito estufa dá-se pela presença, na atmosfera, de certos gases que absorvem
e irradiam radiação infravermelha. Aproximadamente 99% da constituição da mistura gasosa
denominada ar corresponde a moléculas de nitrogênio e oxigênio: tais gases não absorvem
radiação infravermelha. No entanto, água na forma de vapor, partículas líquidas de água,
dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre e os compostos
conhecidos como clorofluorcarbonetos (CFC’s) e hidroclorofluorcarbonetos (HCFC’s)
apresentam moléculas com a peculiar capacidade de absorver radiação infravermelha, tal
qual aquela emitida pela superfície terrestre. Essa capacidade de absorção de radiação na
região do infravermelho é característica da configuração molecular dos citados compostos,
em função dos padrões vibracionais e rotacionais das suas moléculas. Todas as moléculas
que apresentam os modos de vibração denominados deformação axial assimétrica e
deformação angular simétrica, no qual há alteração no momento dipolar molecular,
absorvem e irradiam na região do infravermelho. Explicando: a molécula do dióxido de
carbono, tomada como exemplo, é linear (Figura 1.1.3-A), com o átomo de carbono ligado a
dois átomos de oxigênio. O átomo de hidrogênio apresenta uma menor tendência de
deslocar os elétrons da ligação para si em relação ao oxigênio (eletroafinidade). Neste
sentido, os átomos de hidrogênio representam pólos positivos da ligação, enquanto o
oxigênio representa o negativo (cargas “parciais”). O momento dipolar entre duas cargas
elétricas +q e –q separadas pela distância l é dado pelo produto q x l. No estado
fundamental, o momento dipolar da molécula de CO2 é nulo, pois os dois dipolos se anulam.
No modo vibracional conhecido como deformação axial simétrica, ambos os dipolos
elétricos se anulam a qualquer tempo (Figura 1.1.3-B). Todavia, outro modo vibracional
dessa molécula é a deformação axial assimétrica, associada às rotações dos átomos (Figura
1.1.3-C). Nesse modo há um desbalanceamento entre os momentos dipolares no tempo,
que será responsável pela absortividade da molécula de CO2 na faixa em torno de 4,25 m.
Outro modo vibracional da mesma molécula é a deformação angular simétrica (Figura 1.1.3-
D), responsável pela absortividade na faixa em torno de 15 m.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 13


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 1.1.3 – Modos vibracionais da molécula de dióxido de carbono

Fonte: o autor

Os gases que absorvem radiação infravermelha passam a também emiti-la, em


todas as direções, inclusive de volta ao solo, que se manterá mais aquecido. Esse processo
não desbalanceia as quantidades de energia recebida e irradiada pela Terra, que são as
mesmas, apenas modifica a temperatura de equilíbrio da superfície do planeta, elevando-a,
originalmente, até 15oC, em média. Podemos dizer que, para cada incremento das
quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera, uma pequena quantidade de energia
solar recebida deixou de ser devolvida ao espaço, mantendo-se “sob o cobertor que cobre a
Terra”. Essa quantidade de energia é, porém, irrelevante e praticamente imperceptível
frente às quantidades diárias de energia recebidas e emitidas pelo planeta. Isso pode ser
percebido se considerarmos a preocupação com a elevação média de alguns décimos de
graus centígrados da temperatura da Terra em décadas, devido ao efeito estufa, frente à
elevação, por exemplo, de quinze a vinte graus na temperatura ambiente em poucas horas,
o que ocorre, por exemplo, com certa frequência no estado do Rio Grande do Sul. Todavia,
essa pequena quantidade de energia que foi recebida do sol e não foi devolvida ao espaço,
em função de uma elevação das concentrações dos gases que possuem a capacidade de
provocar tal efeito, vamos considerar, em um mês, por exemplo, eleva a temperatura média
do planeta em, talvez, em alguns milésimos de grau centígrado.
O efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida no planeta como a
conhecemos, porém tal efeito benéfico é produto de uma concentração de gases
originalmente equilibrada. O desequilíbrio, que modifica a temperatura média do planeta,
pode ser ocasionado pela diminuição ou elevação das concentrações dos gases responsáveis
pelo efeito estufa. No primeiro caso, teríamos, por redução de tais concentrações, o
resfriamento da superfície terrestre. No segundo caso, que é o hoje observado no planeta,
principalmente pelos incrementos na concentração de dióxido de carbono no ar, temos a
elevação da temperatura de equilíbrio. Embora isso não seja rapidamente sentido como
sensação térmica, esses pequenos e contínuos desequilíbrios térmicos ocasionam grandes
desequilíbrios no clima, que é produto de um complexo sistema de interações.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 14


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O metano apresenta molécula também com momento dipolar resultante não


nulo, portanto absorve e irradia radiação infravermelha, o que ocorre na faixa próxima a 7
m. Sua concentração na atmosfera é superior a 1,7 mL/m3, enquanto que há
aproximadamente 120 anos atrás era de 0,9 mL/m3 (TOLENTINO e ROCHA FILHO, 1998).
A relevância relativa de certo composto presente na atmosfera em relação a
atuar positivamente no incremento do efeito estufa possui dois componentes: (a) a
capacidade molecular intrínseca de absorver e emitir radiação infravermelha e (b) sua
persistência no ambiente. Como o dióxido de carbono é o composto mais relevante em
relação ao incremento do efeito estufa, por sua elevada geração em função da queima de
combustíveis fósseis e de vegetação, que podem ser considerados fontes de carbono fixado,
é tomado como padrão. Neste sentido, estudos científicos conduzem à conclusão de que o
metano é cerca de 23 vezes mais efetivo para o incremento do efeito estufa do que o
dióxido de carbono (o fator 21 também é frequentemente citado). Essa conclusão deve ser
corretamente compreendida: uma molécula de metano, por sua persistência no ambiente e
por sua capacidade de absorção/emissão de radiação infravermelha atuará de maneira tão
efetiva quanto 23 moléculas de dióxido de carbono no sentido do aquecimento do planeta.
Todavia, a proporção da geração de metano em relação à do dióxido de carbono é menor.
Há estimativas de que aproximadamente 13% do metano produzido globalmente derive da
degradação anaeróbia de resíduos sólidos, geração que somente é superada pela
fermentação entérica, ocorrida principalmente no rúmen de animais.
Devido ao fato de que o metano é muito mais pernicioso do que o dióxido de
carbono na produção do efeito estufa, desde o início dos anos 2000 os projetos associados à
captação pró-ativa do biogás de aterros sanitários em países não desenvolvidos ou em
desenvolvimento, para sua queima, a qual converte o metano em gás carbônico e água
permitiram aos empreendedores a obtenção dos chamados créditos de dióxido de carbono,
espécie de títulos com valor econômico definido pelo mercado, tendo em vista
compromissos de redução de emissões assumidos especialmente pelas nações mais
industrializadas. Esse sistema proveio do Protocolo de Kyoto (1997). Já que é muito mais
simples reduzir emissões de gases de efeito estufa provenientes de tecnologias mais
precárias e obsoletas, situadas no chamado Terceiro Mundo, foi assegurado às nações
economicamente mais abastadas cumprirem as suas metas de redução a partir da compra
dos créditos obtidos através de esforços efetuados nos países menos desenvolvidos.
Por fim, importante salientar que tudo o que foi dito anteriormente tem sido
questionado por alguns cientistas, os quais afirmam que o aquecimento do planeta não se
encontra vinculado a emissões antropogênicas e sim é resultado de um processo cíclico
natural da Terra.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 15


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.1.8 A Hipótese Gaia


A Hipótese Gaia, ou Hipótese Biogeoquímica foi originalmente proposta pelo
investigador britânico James Lovelock, em 1972, sob o nome de Hipótese de Resposta da
Terra. Propõe basicamente que o Planeta Terra comporte-se como um organismo vivo,
mantendo relações intrínsecas entre os seus componentes bióticos e físicos, de modo a
possibilitar a manutenção de um equilíbrio estável de condições internas, através de
pequenas regulações e ajustes dinâmicos efetuados ao longo dos tempos. O nome Gaia foi
adotado em referência à titã suprema da Terra da mitologia grega. A Hipótese sugere em
pensar-se o planeta como um único organismo vivo constituído de células vivas e de matéria
não-viva, tal qual os corpos dos animais e vegetais. O proponente e outros cientistas
atualmente consideram a Hipótese como uma verdadeira teoria científica, muito mais do
que uma mera proposição controversa de caráter exotérico.
Certas consequências, por vezes devastadoras, oriundas de ações antrópicas
sobre o ambiente natural têm levado, ao longo dos séculos, o Homem a pensar
subconscientemente e mesmo conscientemente na existência de um agente invisível,
imaterial e silencioso sediado na Terra a serviço do equilíbrio e de uma espécie de “justiça
natural”. Isso é observado na poesia produzida pelas pessoas ao longo dos tempos:

Em tudo que a natureza opera, ela nada faz bruscamente...


(Autor desconhecido)

É triste pensar no fato de que a natureza fala e os seres humanos não a escutam.
(Vitor Hugo)

Na natureza não há prêmios nem


punições – há apenas consequências.
(Robert G. Ingersoll)

A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil.


(Nicolau Copérnico)

A natureza não faz nada em vão.


(Aristóteles)

Nunca subestime a natureza, pois ela sempre faz justiça castigando a quem merece.
(Rahvok)

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Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

As reações do planeta às ações humanas podem ser entendidas como uma


resposta auto-reguladora desse imenso organismo vivo Gaia, que sente e reage
organicamente. Apesar das dificuldades no mundo científico de definir o que realmente seja
e signifique vida, essa teoria é uma nova forma de se entender o ambiente, pois considera
que o ser humano faz parte do todo e que o planeta é um ser que se auto-regula.
A teoria vem ganhando adesão a partir de um descolamento em relação ao
mainstream da ciência ortodoxa, materialista e linear constituída ao longo dos séculos.
Neste sentido as descobertas da física relativística, a partir de Albert Einstein, da mecânica
quântica, além da cibernética e da filosofia vêm modificando os paradigmas do pensamento,
considerada a noção de que a realidade das coisas não somente é tão complexa e estranha
quanto possamos imaginar, mas o é além dos caminhos que a nossa imaginação é capaz de
percorrer. A biologia hoje sabe, por exemplo, que certas células bacterianas são capazes de
enviar avisos químicos a toda uma colônia quando da aproximação de um agente agressor, o
que conduz a pensar-se na própria colônia como uma identidade coletiva e dotada de
inteligência. Atualmente não há unanimidade entre os cientistas a respeito de como
classificar uma futura máquina dotada de inteligência artificial superior à humana (robô), se
como um artefato dotado de vida ou não. Defensores da ideia de que uma criatura
cibernética seria dotada de vida argumentam que, por exemplo, o próprio ser humano não
seja mais do que uma estrutura material constituída por diferentes tecidos orgânicos dotada
de um software sofisticado, o qual lhe permite tomar decisões. Mais do que isso, há
correntes que defendem a ideia de que de fato não exista o livre arbítrio tão proclamado
como o que diferenciaria a vida do estado não vivo. Já foram levantadas hipóteses, aduzindo
abordagens metafísicas externas à praxis científica, de que os próprios minerais comportam-
se parcialmente como seres vivos, por que possuem um ciclo de nascimento, crescimento e
desintegração.
Um dos princípios indutores utilizados pelos defensores da Hipótese Gaia é o
fato de que a composição da atmosfera parece estar na direta dependência dos seres vivos.
Sem a presença dos seres fotossintetizantes o teor de gás carbônico na atmosfera seria
altíssimo, enquanto que o oxigênio teria concentrações muito baixas. Com a presença dos
seres fotossintetizantes, o dióxido de carbono é sequestrado para formar estruturas
orgânicas complexas, enquanto que o oxigênio é liberado na mesma reação. Essa redução do
dióxido de carbono na atmosfera favorece o resfriamento do planeta, já que esse gás é o
principal responsável pelo efeito estufa, influenciando em muito a temperatura do planeta.
Segundo esse argumento, a própria vida interferiu na composição da atmosfera, tornando-a
mais adequada à sobrevivência dos organismos.
Embora contraditória a questão do Efeito Estufa, temos assistido, em escala
mundial, o acirramento das secas, enchentes, temporais, furacões, tsunamis e todos os tipos
de eventos climáticos extremos. Frequentemente somos bombardeados com a ideia de que
esses desequilíbrios constituem a resposta natural à agressão desencadeada pelo uso
desenfreado dos combustíveis fósseis. Eis aí a ideia, colocada no nível consciente, de ação e
reação, ou crime e punição, ou simplesmente de o planeta estar buscando, através das
intempéries, um novo estágio de equilíbrio para a sua própria sobrevivência como ser vivo.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 17


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Esse reequilíbrio poderá ocorrer, inclusive, a partir da eliminação do ator causador da ação
indevida: o próprio Homem.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 18


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

ACEPTOR DE ELÉTRONS: espécie química que tem propensão a receber elétrons em um


processo de oxi-redução. É uma espécie oxidante, e que se reduz na instância da reação
química.

AERÓBIO: que se dá ou opera ou depende de oxigênio molecular (O2).

AUTODEPURAÇÃO: capacidade de um corpo hídrico em restabelecer as suas condições e


propriedades originais, através da ação de um conjunto de mecanismo físicos, químicos e
biológicos.

CONDIÇÕES DE CONTORNO: jargão empregado em Engenharia para designar o conjunto de


propriedades que circundam um dado processo ou fenômeno.

DISTRIBUIÇÃO ESPECTRAL: intervalo, entre dois limites, em que se situam os comprimentos


de onda característicos de um fenômeno.

ECOSSISTEMA: sistema que inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características
físico-químicas e as inter-relações entre ambos.

JUSANTE: considerado um certo fluxo e um ponto de referência, encontra-se à jusante de tal


ponto tudo aquilo que situa-se do lado de deslocamento positivo do ponto. Por exemplo,
dado um rio, encontra-se a jusante de um determinado ponto situado nesse rio a água que
já atravessou o ponto, considerado o fluxo do mesmo rio.

mgHg/kg: miligramas de mercúrio por quilograma.

m: micrômetro: a milionésima parte do metro, milésima parte do milímetro.

MONTANTE: considerado um certo fluxo e um ponto de referência, encontra-se à montante


de tal ponto tudo aquilo que situa-se do lado oposto ao deslocamento positivo em relação
ao ponto. Por exemplo, dado um rio, encontra-se a montante de um determinado ponto
situado nesse rio a água que ainda irá atravessar o ponto, considerado sentido de fluxo do
mesmo rio.

PROTOCOLO DE KYOTO: tratado internacional, firmado em 11 de dezembro de 1997, para


aduzir compromissos rígidos em relação às emissões de gases precursores de efeito estufa,
ocasionadores do aquecimento global. O Tratado instituiu metas principalmente para as
nações mais desenvolvidas.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 19


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRAILE, P. M.; CAVALCANTI, J. E. W. A. 1979. Manual de Tratamento de Águas Residuárias


Industriais. CETESB, São Paulo, 1979.

LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.

TOLENTINO, Mário; ROCHA FILHO, Romeu C. 1998. A química no efeito estufa. Química
Nova na Escola. nº 8, novembro de 1998.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 20


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.2 CONCEITUAÇÃO,
CLASSIFICAÇÃO E
CARACTERÍSTICAS DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS

1.2.1 Introdução
Desde os primórdios da sua existência, o homem sempre produziu resíduos
sólidos em suas atividades rotineiras. Podemos imaginar um cenário pré-histórico com
ferramentas, utensílios e vestimentas rudimentares abandonadas ao tornarem-se
inservíveis, carcaças e ossadas de caças, restantes das refeições, abandonadas no solo.
Particularmente, após a II Guerra Mundial, a geração de resíduos sólidos incrementou-se
sobremaneira, como consequência do aumento da produção e consequente elevação da
oferta de produtos de consumo. Nos nossos dias, o atual desenvolvimento industrial oferece
uma ampla variedade de produtos para consumo imediato e de insumos para atividades
profissionais e industriais. Dada a sofisticação exigida para que os produtos deixem os
complexos industriais, submetam-se ao transporte ao atacado, e após, para sua distribuição
às casas de comércio, e nessas permaneçam à disposição dos consumidores por elevado
tempo sem perda das suas qualidades originais, uma grande variedade de embalagens
desenvolveu-se, incrementando os volumes de rejeitos produzidos em imóveis residenciais,
comerciais e industriais. A cultura dos produtos descartáveis vem-se destacando a partir do
início do Século XX como fenômeno de consumo em muitas sociedades, o que vem
rapidamente elevando a quantidade média de resíduos sólidos produzidos por habitante na
unidade de tempo, especialmente nos países ricos e nos emergentes. Essa mesma média
mostra-se severamente variável em função de fatores sazonais, culturais e econômicos
relacionados às comunidades. Se na Europa é vigente a cultura do não desperdício de
alimentos, reaproveitando-se-os sempre, nos Estados Unidos da América parte dos resíduos
é triturada e segue para a rede de esgotos, e em países muito pobres o consumo é
baixíssimo, pelo reduzido poder aquisitivo médio da população, e consequentemente a
geração de resíduos também é diminuta. A Tabela 1.2.1 apresenta estimativas para as
produções per capita de resíduos urbanos nos países europeus.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 21


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.2.1 – Produções per capita de resíduos sólidos urbanos em países europeus em
2012
Geração Geração Geração Geração
País País
[kg/(hab.ano)] [kg/(hab.d)] [kg/(hab.ano)] [kg/(hab.d)]
Estônia 8589 23,5 Áustria 1735 4,8
Bélgica 4999 13,7 Eslovênia 1701 4,7
Finlândia 3912 10,7 Islândia 1599 4,4
FYR of Macedônia 3714 10,2 França 1513 4,1
Holanda 2555 7,0 Espanha 1379 3,8
Bulgária 2456 6,7 Eslováquia 1250 3,4
República
Luxemburgo 2423 6,6 1197 3,3
Tcheca
Irlanda 2067 5,7 Portugal 1180 3,2
Grécia 2042 5,6 Hungria 1136 3,1
Romênia 2041 5,6 Lituânia 993 2,7
Noruega 1947 5,3 Chipre 964 2,6
Suécia 1927 5,3 Sérvia 931 2,6
Polônia 1883 5,2 Malta 922 2,5
Itália 1830 5,0 Latvia 895 2,5
Alemanha 1810 5,0 Turquia 766 2,1
Dinamarca 1788 4,9 Croácia 620 1,7
Reino Unido 1747 4,8
Fonte: EUROSTAT (2015)

1.2.2 Conceituação
A palavra lixo é historicamente utilizada, na língua portuguesa, para denominar
aquilo que não apresenta mais serventia, o qual se deseja descartar ou isolar. A palavra lixo
origina-se do latim lix, que significa cinzas, lixívia, ou lixa. Na língua espanhola o lixo é
denominado basura, enquanto que nos países de língua inglesa é denominado refuse,
garbage, ou solid waste (BIDONE e POVINELLI, 1999).
A definição introduzida pela NBR 10004, já em 1987, combina as palavras
resíduos e sólidos. A primeira deriva do latim residuu, que significa “o que sobra de
determinadas substâncias”, a segunda diferencia o estado de agregação em relação aos
líquidos e gases (BIDONE e POVINELLI, 1999). A expressão resíduos sólidos tem sido adotada no
meio técnico, em substituição ao termo lixo, principalmente porque o vocábulo resíduo
insere a ideia de “algo que resulta” de uma atividade, e que não necessariamente é algo sem
valor, sem utilidade, ao passo que a palavra lixo carrega consigo uma secular associação
pejorativa com algo que não mais apresenta nenhuma utilidade, nenhum valor, sendo
desprezível e objetável.
Um exemplo muito singelo do relativismo do conceito associado aos resíduos
sólidos: recebemos uma carta, sentamo-nos em nossa mesa de trabalho, e abrimos o

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 22


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

envelope; enquanto passamos a ler a carta, inconscientemente amassamos o envelope e o


largamos em uma pequena lixeira sita abaixo da nossa mesa (neste momento o envelope
tornou-se resíduo, pois não mais nos interessa); em seguida, o telefone toca e a pessoa que
nos liga nos informa um número de telefone importante, que deveremos contatar; não há
papel sobre a mesa, e não desejamos macular o papel da carta que estamos lendo; nosso
recurso é o envelope residuário que está na lixeira: o retiramos da lixeira, desamassamos,
anotamos o recado e guardamos o envelope com todo cuidado para não ser perdido. Eis que
o mesmo papel de envelope que havia se tornado resíduo, agora é algo de extremo
interesse para nós.
Outro exemplo simples e absolutamente cotidiano refere-se a uma grande caixa
de papelão que acondicionava um aparelho de televisão que adquirimos. A caixa ocupa
espaço em nossa sala, e assim que retiramos o produto do seu interior a removemos para
que a mesma não atrapalhe o trânsito no recinto. Descemos à rua, e, num país como o
Brasil, logo aparecerá algum catador interessado nela, para vendê-la como papelão à
indústria da reciclagem. A mesma caixa que é um estorvo para nós, um resíduo, é também
uma fonte de renda importante para o catador e é matéria-prima para a fabricação de algum
artefato à base de papel reciclado que poderá, talvez, tornar-se a embalagem do próximo
eletrodoméstico que compraremos e abriremos em nossa casa.
Possivelmente o resíduo que mais ocasione ojeriza às pessoas seja a própria
matéria fecal humana. Ela resulta do processo de digestão dos alimentos no trato digestivo,
com a participação de bactérias decompositoras, e, como há possibilidade, no trato
intestinal, da produção de sulfetos e de outros compostos com odor altamente objetável, o
material fecal adquire odor desagradável. Os dejetos podem ser fontes de poluição, pois são
constituídos de matéria orgânica apenas parcialmente estabilizada, e podem conter agentes
patogênicos, caso seu gerador sofra de patologias ligadas a tais agentes. Mas nem mesmo
esse resíduo é isento de valor: há energia química armazenada nos compostos químicos
presentes nele, não aproveitada nos processos intestinais, portanto poderia sofrer, por
exemplo, um processo complementar de digestão anaeróbia controlada em um reator,
gerando o denominado biogás, rico em metano. Esse composto apresenta elevado poder
calorífico e, após remoção do restante dos componentes gasosos do biogás e da umidade,
pode ser utilizado como fonte energética de excelente qualidade.
A NBR 10004/2004, que veio substituir a norma original, publicada ainda em
1987, estabelece uma definição bastante ampla para resíduos sólidos:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem


industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam
incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles
gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados
líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou
corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas economicamente inviáveis em face à
melhor tecnologia disponível.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 23


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS – estabelecida pela Lei Federal


12.305/2010 aduz uma conceituação ainda mais abrangente para resíduo sólido:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades


humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Observe-se que em concordância com as definições, para fins de gestão não


apenas os resíduos que se encontram na forma física sólida são definidos como resíduos
sólidos, o que amplia o leque de responsabilidades do titular dos serviços de limpeza pública
e gestão de resíduos sólidos. Os resíduos em estado semissólido e os líquidos que não
possam ser diretamente descartados no sistema municipal de esgotos, bem como os
cilindros de gases diversos, independentemente da responsabilidade e da periculosidade,
também são itens aos quais o administrador municipal do sistema de limpeza urbana e
gestão de resíduos sólidos deverá estar atento.

1.2.3 Classificação
Os resíduos sólidos podem ser classificados mediante vários critérios, como
periculosidade, biodegradabilidade, operacionalidade, procedência ou enquadramento nas
legislações, normas, portarias e resoluções diversas. Citamos, a seguir, algumas
classificações de interesse do ponto de vista gerencial. Como as classificações podem ser
consideradas diferentes “pontos de vista” para um mesmo resíduo, um determinado resíduo
terá um determinado enquadramento dentro de cada critério de classificação (assim, por
exemplo, o papelão, dependendo de sua origem, poderá ser ao mesmo tempo classificado,
possivelmente, como hospitalar, classe II-A, moderadamente degradável e reciclável).

a) Quanto à origem
Após muitos anos sem uma classificação formal, a Lei Federal 12.305/2010
finalmente instituiu a classificação nacional dos resíduos sólidos quanto á origem:
a.1) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em
residências urbanas;

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 24


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

a.2) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de


logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
a.3) resíduos sólidos urbanos: os englobados nos conceitos a.1 e a.2;
a.4) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os
gerados nessas atividades, excetuados a.2, a.5, a.7, a.8 e a.10;
a.5) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas
atividades, excetuados a.3;
a.6) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais;
a.7) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme
definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente e do SNVS – Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária;
a.8) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos
e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da
preparação e escavação de terrenos para obras civis;
a.9) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e
silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas
atividades;
a.10) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
a.11) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou
beneficiamento de minérios;
b) Quanto à periculosidade
Desde 1987 a classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade é
matéria tratada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Atualmente a norma
técnica em vigência para tal finalidade é a NBR 10004/2004, sendo referendada por toda a
legislação nacional. Ela assim classifica os resíduos sólidos:
b.1) Resíduo Classe I: resíduo classificado como perigoso, devido a apresentar
uma das seguintes características: (1) toxicidade, (2) patogenicidade, (3)
reatividade, (4) inflamabilidade e (5) corrosividade ou, de alguma maneira
ser lesivo ao ambiente e/ou à saúde pública. A Lei Federal 12.305/2010
adiciona as características de carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade também como precursoras de periculosidade de um
resíduo;
b.2) Resíduo Classe II-A: resíduo classificado como não perigoso não-inerte.
Definido como todo aquele que não classifica-se como Classe I ou Classe II-
B. Pode ser, no entanto, biodegradável, poluente ou contaminante e altera

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 25


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

a potabilidade da água, mas não apresenta nenhuma das características de


periculosidade precursoras da classificação como Classe I;
b.3) Resíduo Classe II-B: resíduo classificado como inerte. É o resíduo que pode
ser mantido em contato com a água sem alterar a potabilidade da mesma.
c) Quanto à degradabilidade
c.1) Facilmente degradável: basicamente matéria-prima putrescível
(popularmente conhecido como resíduo orgânico);
c.2) Moderadamente degradável: papel, papelão e outros resíduos celulósicos;
c.3) Dificilmente degradável: trapos, couro, plásticos, borracha, madeira;
c.4) Não degradável: vidro, pedra, terra, etc.
d) Quanto à legislação. Exemplo: Lei Complementar 728/2014 – Código Municipal de
Limpeza Urbana de Porto Alegre
d.1) Resíduos sólidos de limpeza urbana são os originários da varrição e demais
serviços de limpeza executados nos logradouros públicos;
d.2) Resíduos sólidos ordinários domiciliares, para fins de coleta regular, são os
não recicláveis, produzidos em imóveis, residenciais ou não, que possam ser
acondicionados em sacos plásticos com volume igual ou inferior a 100
(cem) litros, compostos por resíduos orgânicos, de origem animal ou
vegetal, e rejeito, que são resíduos para os quais ainda não há
reaproveitamento ou reciclagem, e que possam ser destinados aos sistemas
de tratamento disponibilizados pelo Município;
d.3) Resíduos sólidos recicláveis, para fins de coleta seletiva, são os
potencialmente recicláveis, originários de atividades domésticas em
imóveis, residenciais ou não, devidamente acondicionados,
independentemente de seu volume, os quais serão destinados
preferencialmente às unidades de triagem cadastradas no órgão municipal
de limpeza urbana;
d.4) Resíduos sólidos especiais são aqueles que, por sua composição, massa
específica ou volume, necessitam de sistema de recolhimento diferenciado
ou tratamento específico, enquadrando-se em tal definição os resíduos
gerados em imóveis, residenciais ou não, que não possam ser dispostos na
forma estabelecida para a coleta regular, os resíduos gerados em imóveis
não residenciais oriundos de processos rurais, comerciais, industriais ou de
prestação de serviços, os resíduos gerados por atividades ou eventos
instalados em logradouros públicos, os resíduos gerados pelo comércio
ambulante e outros, por sua composição ou por ser objeto de legislação
específica.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 26


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.2.4 Composição
As características dos resíduos sólidos produzidos pelas comunidades variam
essencialmente em função de fatores culturais e econômicos. A característica econômica
predominante de uma municipalidade, como essencialmente agrícola, comercial ou
industrial leva à geração de resíduos com diferentes composições. O poder aquisitivo de
cada comunidade, e, portanto, o acesso dos habitantes a certos bens de consumo e não a
outros, bem como a própria cultura de consumo de cada localidade resultarão em diferenças
qualitativas e quantitativas dos resíduos produzidos. A cultura do aproveitamento máximo
das sobras alimentares e embalagens também contribui para esses contrastes. Cita REICHERT
(1999) que, via de regra, os resíduos brasileiros apresentam percentuais de matéria orgânica
facilmente degradável virtualmente superiores a 50% em peso úmido, enquanto que nos
países desenvolvidos esse percentual costuma ser inferior a 25%. Exemplificando, a Tabela
1.2.2 apresenta as composições percentuais dos diferentes tipos de resíduos produzidos em
sete diferentes localidades do Brasil e do exterior.

Tabela 1.2.2 – Composições percentuais de resíduos sólidos gerados em diferentes


localidades
Porto Estados
Rio de Campo Reino
Constituinte Alegre, RS Botucatu, Unidos da
Janeiro, RJ Grande, MS Unido
(% em massa) (2014- SP (2000)b América
(2010)c (2008)d (2006)f
2015)a (2009)e
Matéria Orgânica 61,4 74,11 55,0 57,2 27,8 20,2
Papel/papelão 9,9 7,61 16,4 13,2 28,2 37,1
Plástico 10,4 8,41 19,1 18,4 12,3 10,2
Vidro 2,1 1,99 3,0 1,6 4,8 9,3
Metais 1,1 3,86 1,4 1,7 8,6 7,3
Outros 15,1 4,02 5,1 7,9 18,3 15,9
a b c d e f
Fontes: FLECK e REICHERT (2016); OLIVEIRA e PASQUAL (2000); RIO DE JANEIRO (2011), BRASIL (2011); USEPA (2010); BURNLEY
(2007)

No que tange à destinação dos resíduos, diferentes formas de gerenciamento do


universo dos resíduos gerados por uma determinada comunidade específica conduzem a
diferentes composições dos resíduos que efetivamente ingressam nos aterros sanitários
municipais. Certamente municípios em que o poder público adote políticas de reciclagem,
reaproveitamento e segregação de resíduos perigosos terão composições quali-quantitativas
muito diferenciadas daqueles em que os aterros acolham indiscriminadamente todo o
universo de resíduos produzidos pela comunidade. A Tabela 1.2.3 apresenta os resultados da
caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos encaminhados à coleta domiciliar pelos
habitantes de Porto Alegre entre 2014 e 2015 (são os mesmos resultados organizados na
forma de grandes tipologias na segunda coluna da Tabela 1.2.2). Verifique-se a presença

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 27


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

tanto de resíduos perigosos quanto de recicláveis, os quais idealmente não deveriam ter sido
apresentados a essa modalidade de coleta.

Tabela 1.2.3 – Composição gravimétrica dos resíduos sólidos apresentados à coleta


domiciliar em Porto Alegre entre 2014 e 2015
% em % em
Tipologia Tipologia
massa massa
Embalagem Longa Vida 1,03 Cerâmica + Pedra + caliça 0,04
Jornal 2,45 Couros 0,50
Papel Limpo 0,07 Domissanitários Venenos 0,00
Papel Misto 3,22 Resíduos Eletroeletrônicos e de Informática 0,17
Papel Sujo 0,07 Gesso 0,00
Papelão 3,15 Lâmpadas Fluorescentes 0,02
Revista 0,12 Latas de Tintas 0,10
Alumínio 0,40 Madeira + Aglomerados 0,14
Metais Ferrosos 0,62 Medicamentos 0,01
Metais Não-Ferrosos 0,03 Óleo de Fritura 0,01
Isopor 0,40 Ossos 0,01
PET 1,36 Pilhas 0,01
Plástico Filme (Colorido) 1,74 Rejeito 1,60
Plástico Filme (Sacolas) 1,44 Resíduos de Saúde 0,02
Plástico Filme Incolor 1,32 Resíduos Sanitários 9,92
Plástico PVC 0,09 Trapos, Panos 3,05
Plástico Rígido 4,13 Vidros 1,90
Borracha 0,21 Matéria Orgânica Facilmente Decomponível 61,05
Matéria Orgânica
0,13
Mediamente Decomponível
Fonte: FLECK E REICHERT (2016)

1.2.5 Caracterização Gravimétrica


Como é possível determinar a composição dos resíduos sólidos produzidos em
um município, ou mesmo em uma empresa, de modo a obter-se uma tabela com resultados
fidedignos e confiáveis como a Tabela 1.2.3? O processo é denominado caracterização
gravimétrica, e para a realização do trabalho são necessários apenas balanças, algumas
bombonas e muito trabalho duro.
A caracterização física dos resíduos, também denominada quali-quantitativa ou
gravimétrica, busca determinar as frações mássicas de cada tipologia de resíduo dentro da
geração global. Pode ser executada (1) de maneira estatística, escolhendo-se zonas de coleta
representativas, quarteando resíduos provenientes das descargas, (2) através do
quarteamento da totalidade dos resíduos coletados no município (todas as zonas de coleta:
essa opção normalmente só se viabiliza para pequenas comunidades, devido ao volume de

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 28


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

trabalhos necessários), ou (3) executando-se coleta direta do resíduo apresentado em


logradouros e bairros previamente escolhidos mediante planejamento estatístico.
Mas no que consiste o citado quarteamento? O quarteamento é uma técnica
muito difundida para a extração de uma amostra significativa. Vamos dizer que a quantidade
de resíduos sobre a qual trabalhamos é muito grande, de modo a que se torne inviável
separar tudo. Então procedemos a uma cuidadosa mistura de toda a massa (Figura 1.2.1-A),
traçamos duas linhas imaginárias ortogonais entre si, que dividirão a massa em quatro
partes (Figura 1.2.1-B). Tomamos duas das quatro partes que estejam diagonalmente
dispostas entre si (vis-a-vis) e ignoramos as outras duas (Figura 1.2.1-C). Essas duas parcelas
consideradas são cuidadosamente misturadas e novamente divididas em quatro. O processo
segue até que tenhamos uma massa final compatível com a capacidade de trabalho de que
dispomos.

Figura 1.2.1 – O processo de quarteamento

Fonte: o autor

Os resíduos que passaram pelo quarteamento serão separados manualmente e


colocados em bombonas distintas. A maneira como a separação será executada dependerá
do grau de precisão desejado. Por exemplo, podemos recolher papel e papelão em uma
única bombona, ou podemos ter diferentes bombonas para papelão, papel limpo, papel,
sujo, jornais, etc. Ao final da separação completa da carga, cada fração é pesada
individualmente. Em alguns casos, como frequentemente o da matéria orgânica, utilizam-se
balanças de menor precisão e que suportem massas maiores. Para frações que representem
pequenas quantidades de materiais presentes são utilizadas balanças com precisão de
grama.
Conforme MOTTA (2003), os procedimentos para a caracterização do resíduo
proveniente de uma zona ou roteiro de coleta são os seguintes:
(1) Descarregamento dos resíduos provenientes dos veículos coletores, em pátio
coberto;
(2) Rompimento dos sacos plásticos e homogeneização dos resíduos;
(3) Quarteamentos sucessivos da massa de resíduos, até a obtenção de uma
alíquota de aproximadamente 300-400 kg;

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 29


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(4) Separação dos diversos componentes (papel, papelão, vidro, metais,


plásticos, borracha, matéria orgânica, resíduos de difícil caracterização, etc.);
(5) Pesagem das massas dos componentes separados. A massa de cada
componente, dividida pelo somatório das massas dos “n” componentes separados,
expressará a fração do componente no resíduo, sendo então percentualizada.
Todavia, antes de procederem-se os trabalhos físicos, deve-se atentar a que o
processo necessita de um planejamento estatístico para que os seus dados sejam
considerados válidos. Não adianta buscar os resíduos produzidos apenas pelos bairros do
município habitados por cidadãos economicamente abastados e proceder à sua
caracterização para que se queira que os resultados obtidos sejam representativos de toda a
população do município.
A primeira coisa a ser considerada é que o critério tido como fundamental para a
estratificação da população geradora do município é a renda familiar média, sobretudo
considerando-se o fato bem sabido de que a geração quali-quantitativa de resíduos
relaciona-se, mais do que com qualquer outro parâmetro, com o poder aquisitivo dos
habitantes geradores. Neste sentido, historicamente é esperada a geração de percentuais
baixos de embalagens de produtos de consumo sofisticados por famílias de baixa renda, ao
passo que a geração per capita desses ver-se-á superior junto às gerações dos estratos mais
abastados.
No caso da coleta direta de resíduos para a caracterização, ou seja, coleta
direcionada dos resíduos apresentados em domicílios selecionados, o número de residências
em um bairro ou uma unidade de gestão de referência que terá seus resíduos recolhidos
especialmente para a caracterização deve ser adotado via critério estatístico. Conforme
MOTTA (2003), conhecido o desvio padrão da geração per capita de resíduos em uma
determinada área de geração, escolhido o intervalo de confiança (Tabela 1.2.4) e admitido o
erro plausível para a determinação, pode ser determinado o número de residências que
deverão ser selecionadas nessa mesma área para o recolhimento de resíduos para a
caracterização, através da equação 1.2-1.

N = (Z.DP/E)2 (1.2-1)

N: número de domicílios a terem seus resíduos recolhidos para a caracterização;


Z: coeficiente do intervalo de confiança adotado (vide Tabela 1.2.4);
DP: desvio-padrão da geração das unidades residenciais;
E: fator de erro admitido.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 30


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.2.4 – Intervalos de confiança e valores Z


Intervalo de Confiança Z
90% 1,65
95% 1,96
99% 2,58
Fonte: MOTTA (2003)

O autor exemplifica, para um município de médio porte (200.000 habitantes),


afirmando comum para esse tipo de localidade uma geração per capita de 1,5 kg/(hab.d), 4
habitantes por residência, um DP de 30% (o que no caso de uma geração domiciliar de 6,0
kg/residência resultará em 1,8 kg/residência), o que, por sua vez, significa 7,8 kg/residência
≤ geração ≤ 4,2 kg/residência. Exemplifica o cálculo, admitindo um intervalo de confiança de
90% (Z=1,65) e um fator de erro de 0,2. Então tem-se:

N = (1,65 x 1,8/0,2)2 = 220 residências (1.2-2)

Assim, para esse trabalho de caracterização do exemplo, será necessária coleta


dos resíduos de pelo menos 220 residências para obter-se confiabilidade nos resultados da
caracterização.
No caso mais comum, as cargas de resíduos para caracterização serão recebidas
dos próprios caminhões de coleta, após cumprimento dos seus roteiros de coleta. O trabalho
completo consistiria em receber as cargas provenientes de todos os roteiros de coleta e
proceder-se para cada uma, individualmente, o quarteamento e a separação e pesagem dos
componentes. Esse trabalho, idealmente, deveria ser repetido certo número de vezes,
utilizando-se cargas de todos os diferentes dias da semana, bem como se estendendo pelas
quatro estações do ano, vista a sazonalidade do consumo de certos produtos em diferentes
épocas do ano. Ao final se faria a ponderação dos resultados dos roteiros de coleta em
relação às massas totais de resíduos geradas por cada roteiro. Isto pode ser possível para um
município pequeno, mas é completamente inviável para um grande município.
Para um grande município, com uma elevada geração de resíduos, a
caracterização gravimétrica poderá seguir critério estatístico específico, não se utilizando as
cargas provenientes de todos os roteiros de coleta, mas selecionando-se certo número de
roteiros representativo proporcional à própria estratificação econômica da localidade.
Para fins de exemplificação, passamos a apresentar a criterização utilizada pelo
autor para a caracterização gravimétrica levada a cabo em Porto Alegre no ano de 2010.
Os dados disponíveis do CENSO 2000 forneceram, à época, as rendas médias
familiares e as populações totais por bairro do município, bem como as taxas aproximadas

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 31


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

de crescimento demográfico. Como base nesses dados, foi possível produzir uma tabela
como a 1.2.5.
No caso específico de Porto Alegre, não havia coincidência entre os limites das
áreas dos bairros e os limites dos roteiros de coleta, por vezes um roteiro de coleta
percorrido por um determinado caminhão contemplava pequenas partes de vários bairros.
Neste sentido, uma vez que os resíduos que ingressavam a partir das descargas dos
caminhões provinham de zonas de coleta e não de bairros especificamente, utilizou-se, para
cada zona de coleta o exercício de ponderação da sua renda familiar média, multiplicando-se
a renda familiar de cada bairro abrangido parcialmente por uma zona de coleta por um fator
de ponderação, que poderia ser número de habitantes da fração coletada, o número de
prédios ou a área abrangida pela zona de coleta. Embora mais desfavorável, a escolha pela
área abrangida pela zona de coleta foi adotada, pois para tal ponderação os dados
encontravam-se diretamente disponíveis.

Tabela 1.2.5 - Estratificação dos bairros de Porto Alegre com base nos dados do CENSO 2000
Total População
População
Estratos de Total estimada
Percentual
Bairros em 2008 (hab)
E: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
13 389.753 28,80%
situa-se abaixo de 3 salários mínimos
D: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
14 298.125 22,03%
situa-se entre 3 e 5 salários mínimos por economia
C: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
12 235.583 17,41%
situa-se entre 5 e 10 salários mínimos por economia
B: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
situa-se entre 10 e 20 salários mínimos por 27 308.817 22,82%
economia
A: Bairros cuja média dos orçamentos familiares
12 121.199 8,95%
situa-se acima de 20 salários mínimos por economia
TOTAIS 78 1.353.477 100,00%
Fonte: o autor

Por exemplo, se uma zona de coleta “Y” tiver sua área composta por três frações
de bairros, “”, “” e “”, por exemplo, conhecendo-se as rendas médias familiares dos
bairros, R, R e R, e as frações de domicílios ou de habitantes ou de áreas dos bairros
dentro da zona (roteiro) de coleta, X, X e X, pode-se obter a renda média ponderada a
zona “Y”, RY:

RY = R.X + R.X + R.X (1.2-3)

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 32


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Após proceder tal para todas as zonas de coleta, cada uma apresentou uma
renda familiar média ponderada, classificando-se em um dos cinco estratos.
Supondo-se N zonas de coleta a utilizar para fins de caracterização é razoável
pensar-se em utilizar números de zonas de coleta por estrato proporcional ao próprio
percentual que cada estrato representa na composição do município. Observe-se que o
critério de estratificação (limites inferior e superior em reais para cada estrato) utilizado
baseou-se no bom senso para a característica econômica de Porto Alegre, já que não há um
critério oficial nacionalmente padronizado para a classificação por renda. Supondo-se a
capacidade física de caracterização dos resíduos provenientes de duas zonas de coleta por
dia, para um universo de 128 zonas de coleta em Porto Alegre, supôs-se estatisticamente
razoável a caracterização dos resíduos de 32 zonas (25% do total). Assim, se N=32, temos:
 Estrato “E”: 0,2880.N = 0,2880 x 32 = 9,21 ≈ 9 zonas de coleta;
 Estrato “D”: 0,2203.N = 0,2203 x 32 = 7,05 ≈ 7 zonas de coleta;
 Estrato “C”: 0,3566.N = 0,1741 x 32 = 5,57 ≈ 6 zonas de coleta;
 Estrato “B”: 0,2559.N = 0,2282 x 32 = 7,30 ≈ 7 zonas de coleta;
 Estrato “A”: 0,0965.N = 0,0895 x 32 = 2,87 ≈ 3 zonas de coleta.
A forma de cálculo utilizou os percentuais dos estratos na composição da
população de Porto Alegre apresentados na Tabela 1.2.5.
As atividades de campo, que constituem o âmago do processo de caracterização,
correspondem a um trabalho deveras árduo, que necessita pessoal previamente qualificado,
responsável e de elevada confiabilidade. A caracterização do resíduo proveniente de uma
zona de coleta, executada no espaço de tempo de um turno, pressupõe o trabalho de 5
operários e um coordenador. São necessários, como infra-estrutura física, um local coberto e
abrigado de ventos, bombonas de aproximadamente 125 litros de capacidade e recipientes
de menor capacidade para frações de resíduos pouco volumosas e balanças.
Ao findar do processo de caracterização do resíduo, assim recolhido e separado,
será obtido um produto como a Tabela 1.2.6.
A metodologia utilizada para a caracterização realizada em Porto Alegre em 2010
foi elaborada pelo autor. Diversas simplificações e assunções de pequenos erros decorrentes
de aspectos da metodologia fizeram parte dos trabalhos de preparação, tendo em vista os
recursos materiais, humanos e os dados disponíveis. O grande número de cargas
amostradas, e, em última instância a massa total de resíduos triados durante um ano inteiro
de trabalhos forneceram garantias adicionais de confiabilidade. Contudo, para cada situação
uma diferente metodologia deverá ser estabelecida, seja na caracterização de resíduos de
um município ou de uma empresa. A base estatística e o bom senso sempre deverão ser os
fornecedores do norte para a preparação dos trabalhos.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 33


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.2.6 – Exemplo de planilha produto da


caracterização gravimétrica de resíduos sólidos
Tipos de Resíduos Percentuais
Matéria Orgânica facilmente biodegradável %
Papel %
Papelão %
Vidro %
Ferrosos %
Metais Não-ferrosos %
Alumínio %
Tipo 1 %
Garrafas PET %
Plásticos
..... %
Tipo "n" %
Embalagens “Longa Vida” %
Pilhas %
Louça %
Couro %
Borracha %
Isopor %
Trapos %
Embalagem Longa Vida %
Madeira + Aglomerados %
Cerâmica + terra + pedra + caliça %
Folhas, galhos, arbóreos %
Resíduo de difícil caracterização %
Fonte: o autor

1.2.6 Caracterização Elementar


Conhecemos muitos materiais que as pessoas acondicionam e apresentam para
as diferentes coletas de que cada município dispõe. Sabemos que embalagens de metal e
vidro provenientes das cozinhas seguem preferencialmente à coleta seletiva, sabemos que
roupas e sapatos velhos e inservíveis são descartados na coleta dos rejeitos, sabemos que
muitas embalagens de papel e papelão são retiradas das casas para serem coletadas. Por
fim, sabemos que os resíduos do pré-preparo das alimentações e as sobras das refeições,
juntamente com os papéis e outros resíduos produzidos nos banheiros e sanitários também
são descartados. Conhecemos vidro, plásticos, metais e outros materiais residuários. Muitas
pessoas desconhecem, mas mesmo plásticos sofrem reações catalisadas por enzimas
bacterianas, transformando-se no ambiente. Metais, em certas condições, sofrem ataques
de bactérias, as quais os oxidam. Vidro, pelo que sabemos, é completamente inerte.
Todavia, concentrando-nos naquilo que denominamos matéria orgânica putrescível ou
biodegradável, do que estamos falando mesmo?
Como já dito, do ponto de vista macroscópico, estamos falando de resíduos
alimentares, carcaças de animais mortos, restos de madeira e papéis de banheiro, órgãos

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 34


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

amputados em hospitais, podas e troncos de árvores, etc. Mas quimicamente, o que esses
resíduos representam?
Basicamente os nossos resíduos orgânicos são compostos por proteínas (tecidos
tanto de origem animal quanto vegetal), lipídios (ou seja, as gorduras vegetais e animais,
que se encontram presentes nos resíduos dos alimentos), carboidratos (que vão desde a
celulose, presente em tecidos vegetais até os açúcares, presentes na alimentação).
Questões operacionais dos serviços de limpeza urbana, bem como definições de
tecnologias a serem aplicadas ao tratamento dos resíduos, podem ser orientadas e
equipamentos projetados através das determinações elementares e físico-químicas
aplicadas aos resíduos, se conhecida a caracterização gravimétrica, tratada anteriormente.
Algumas determinações podem ser executadas em campo, outras necessitam da obtenção
de uma amostra representativa para análise laboratorial. A determinação da composição
elementar pode-se aplicar tanto à fração orgânica quanto à fração rejeito. A metodologia de
amostragem resume-se à tomada da fração desejada durante a caracterização gravimétrica,
encaminhando-a ao laboratório. A composição da amostra de rejeito para a determinação
de poder calorífico inferior e poder calorífico superior poderá contemplar apenas residuais
com poder calorífico, excluindo-se resíduos como pedras, terra, etc. Neste caso, após
determinação do poder calorífico das amostras, far-se-á a devida correção considerando as
subfrações não encaminhadas como amostras ao laboratório. As determinações
elementares e físico-químicas mais comuns são citadas a seguir.

pH
A determinação do pH dos resíduos geralmente apresenta pouca importância
prática. A matéria orgânica em início de degradação apresenta pH próximo à faixa 4,0-5,0,
em função do início da produção de ácidos orgânicos voláteis por biodegradação dos
compostos orgânicos. Pequenas variações podem resultar do excessivo espaço de tempo
entre a geração e a análise, possivelmente por baixa periodicidade de coleta, o que permite
o progresso do rito de degradação metabólica dos sólidos orgânicos. O pH pode ser obtido
tomando-se uma amostra de resíduo, colocando-a em contato dinâmico com uma massa de
água deionizada em proporção de 5% ou 20% da massa original da amostra, e, finalmente,
mergulhando um eletrodo de pH na solução (potenciometria direta).

Massa específica (kg/m3)


O conhecimento da massa específica dos resíduos sólidos apresenta-se
importante para fins de dimensionamento de frota e roteiros de coleta de resíduos, bem
como para fins de cálculo de taxas e tarifas e previsão de estruturas para transbordo,
tratamento e destinação dos resíduos. Sendo os resíduos sólidos uma matéria compressível,
a massa específica medida será denominada aparente, e será necessário referenciamento da
instância em que a determinação é feita. A partir da geração do resíduo em uma
determinada economia, o mesmo poderá sofrer compressão manual pelo ensacamento para

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 35


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

apresentação à coleta. Os veículos coletores, via de regra, operam com sistema de


compactação das cargas. Por fim, os resíduos compactados sofrem certa descompactação
quando da descarga. A medida da massa específica pode ser efetuada utilizando-se
bombonas de volume conhecido, previamente taradas, para pesagem de cargas plenas de
resíduos em seu interior. Outro referenciamento importante é a descrição de se o resíduo
foi previamente desensacado para o enchimento das bombonas ou as mesmas foram cheias
com o material nas condições em que foi descarregado do caminhão coletor. O peso
específico pode ser severamente influenciado pelas condições meteorológicas, na medida
em que os resíduos apresentados à coleta possam absorver água precipitada. Idealmente a
coleta de amostras para determinação da massa específica deveria ser efetuada em dias de
tempo bom. Em todo caso, a massa específica aparente será sempre um valor aproximado,
não exato.

Teor de umidade (%H2O)


O teor de umidade dos resíduos sólidos pode ser compreendido como o
percentual total de água presente na massa dos resíduos. A água presente nos resíduos
sólidos deriva (1) da água de constituição dos produtos originais, que se tornaram resíduos,
(2) da água gerada nas reações químicas do processo incipiente de metabolização da matéria
orgânica presente e (3) da umidade do ambiente, cuja influência é marcante em dias de
chuva, a partir da disposição dos resíduos à coleta em local desabrigado. De modo inverso, a
operação de coleta e transporte dos resíduos, via de regra executada por caminhões
compactadores, tende a reduzir a umidade presente na massa, devido à drenagem por
compressão oriunda da compactação, depositando-se a água (lixiviado) em um
compartimento para recolhimento de líquidos da unidade de transporte. Segundo CESP
(1980) apud LIMA (1995), para os resíduos brasileiros o teor de umidade giraria, no início da
Década de 1980, em torno de 60%. Já BIDONE e POVINELLI (1999) indicam que 40% a 60% da
massa dos resíduos coletados e encaminhados a aterro sanitário correspondem a água, ou
seja, teor de umidade dos mesmos resíduos. Embora produza um resultado inexato, a
determinação do teor de umidade torna-se fundamental para subsidiar o estudo de sistemas
de tratamento, como por exemplo, a incineração, tendo-se em vista, neste caso particular,
que tal teor de umidade rebaixa consideravelmente o balanço energético. O teor de
umidade é determinado gravimetricamente, pesando uma amostra de resíduos
anteriormente e após processo de secagem a 105-110oC. Em laboratório, poderão ser
utilizadas as metodologias preconizadas para determinação da umidade do carvão, NBR
8293 – “Carvão mineral – Determinação da Umidade” ou ASTM D5142 – “Standard Test
Methods for Proximate Analysis of the Analysis Sample of Coal and Coke by Instrumental
Procedures”, que preconizam a determinação sob rígidas condições controladas de
temperatura, tempo e fluxo de ar. Todos os resultados das determinações analíticas a que os
resíduos serão submetidos são normalmente expressas pelo laboratório em base úmida,
conforme os procedimentos laboratoriais. A conversão dos teores para a base seca será
obtida matematicamente em função do teor de umidade. Para amostras de laboratório é

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 36


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

importante preservação a 4oC. Idealmente a coleta de amostras deveria ser efetuada em


dias de tempo bom.

Poder calorífico (kcal/kg)


O poder calorífico do resíduo sólido é definido como a quantidade de calor
liberada pela combustão de 1 kg do material. Conforme LIMA (1995), são pressupostos para a
determinação do poder calorífico: (1) que a temperatura da massa de resíduos apresente-se,
antes e após a combustão, em 20oC, (2) que os produtos da combustão do carbono e do
enxofre se encontrem integralmente oxidados, (3) que o nitrogênio não seja oxidado. O
denominado poder calorífico inferior (PCI) é determinado pela medida da variação de
temperatura da água que envolve uma bomba calorimétrica adiabática ocasionada pela
combustão do resíduo dentro da mesma bomba, em condições que o conteúdo de água de
constituição e água formada pela combustão apresentem-se em estado gasoso. O poder
calorífico superior (PCS) corresponde ao PCI somado ao calor devolvido pela condensação do
vapor d’água. LIMA (1995) indica que a fórmula de DI BARTOLOMEIS produz resultados
confiáveis no relacionamento entre PCS e PCI para os resíduos sólidos:

PCI = 10-4.(SV).(RS).(107,9.PCS/SV – 642) – 6.U (1.2-4)

PCI: poder calorífico inferior;


(SV): teor de sólidos voláteis do resíduo em base seca (%);
(RS): teor de resíduos secos (%);
PCS: poder calorífico superior;
U: teor de umidade do resíduo (%)

O procedimento laboratorial para determinação do poder calorífico superior é


normalizado pela ASTM 5865 – “Standard Test Method For Gross Calorific Value Of Coal And
Coke”. Como acontece em relação a outras normas técnicas, a determinação para resíduos
sólidos segue um roteiro concebido para análises de carvão. Além da equação experimental
supracitada, o poder calorífico inferior pode ser determinado contabilizando-se a água
formada, que será determinada estequiometricamente em função do teor de hidrogênio da
amostra, a ser determinado através das metodologias preconizadas pelas NBR 8631 –
“Carvão mineral – Análise Elementar” e ASTM D5373 – “Instrumental Determination Of
Carbon, Hydrogen, And Nitrogen In Laboratory Samples Of Coal And Coke”.

Teor de sólidos voláteis (gSV/kgresíduo)


O teor de sólidos totais voláteis, normalmente associado ao teor de matéria
orgânica dos resíduos, pode ser determinado gravimetricamente, por queima do resíduo,

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 37


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

previamente seco, à temperatura de 550oC, por duas horas. Sua determinação é importante
para o projeto de sistemas como a digestão anaeróbia controlada, sendo a geração de
metano diretamente associada a esse teor.

Teor de carbono (%C)


O denominado carbono orgânico total (COT) é obtido tratando-se a amostra com
a mistura sulfocrômica (ácido sulfúrico e dicromato de potássio: dicrometometria) (KIEHL,
2002). Tal determinação contempla o carbono de origem vegetal e animal, ou seja, aquele
de fácil biodegradação, não computando o carbono mineral. Multiplicando-se o COT,
expresso em porcentagem, pelo fator 1,8 se obtém, aproximadamente, o teor de matéria
orgânica dos resíduos, não incluídos materiais como borracha, plástico, etc. A determinação
do COT é importante, pois estabelece a quantidade de carbono decomponível em processos
como a digestão anaeróbia e a compostagem. A DQO do resíduo pode ser calculada a partir
do COT, pela seguinte equação (LOSSIN, 1971 apud KIEHL 2002):

DQO = 26,66 x COT (1.2-5)

DQO: demanda química de oxigênio (mg/g);


COT: carbono orgânico total (%).

Conforme LIMA (1995), o teor de carbono total de um determinado resíduo,


contemplando materiais não biodegradáveis como plásticos e borracha, é obtido pela
introdução de uma amostra em um sistema fechado em que são realizadas as operações de
purificação dos gases, pirólise/oxidação e absorção de gases. Nesta determinação, os
materiais carbonáceos são queimados em uma corrente de oxigênio, formando o dióxido de
carbono, o qual é absorvido por hidróxido de sódio em amianto (ascarita). O ensaio
padronizado para tal determinação, originalmente concebido para carvão, é preconizado
pelas normas NBR 8631 – “Carvão mineral – Análise Elementar” e ASTM D5373 –
“Instrumental Determination Of Carbon, Hydrogen, And Nitrogen In Laboratory Samples Of
Coal And Coke”. A amostra deve ser previamente cominuída a partículas menores do que
0,15 mm e o forno deve operar a 850-900oC. O oxigênio deve ser administrado a uma taxa
de 25 bolhas a cada 10 segundos, durante 12 horas. O material absorvente é pesado antes e
depois da absorção e o carbono total é então determinado por gravimetria. O conhecimento
do teor de carbono total pode ser importante para projetos de incineração.

Teor de hidrogênio (%H)


O teor de hidrogênio é determinado pela sua queima em uma corrente de
oxigênio, sendo a água resultante absorvida por perclorato de magnésio anidro (anidrona).

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 38


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O material absorvente é pesado antes e depois da absorção e o hidrogênio total é então


determinado por gravimetria. A metodologia é padronizada pelas normas NBR 8631 –
“Carvão mineral – Análise Elementar” e ASTM D 5373 – “Instrumental Determination Of
Carbon, Hydrogen, And Nitrogen In Laboratory Samples Of Coal And Coke”. Da mesma forma
do que ocorre na determinação de carbono total, a amostra deve ser previamente
cominuida a partículas menores do que 0,15 mm e o forno deve operar a 850-900oC. O
oxigênio deve ser administrado em 25 bolhas a cada 10 segundos, durante 12 horas.

Teor de fósforo (gP/ kgresíduo)


A determinação do teor de fósforo de uma amostra sólida seguirá uma
metodologia laboratorial de solubilização fracionada, que poderá contemplar calcinação,
ataque por ácidos e mesmo fusão dos produtos resultantes, determinando-se o fósforo por
espectrofotometria de absorção molecular UV-V.

Teor de enxofre
O teor de enxofre dos resíduos pode ser determinado seguindo as orientações da
norma ASTM D4239 – “Standard Test Methods For Sulfur In The Analysis Sample Of Coal And
Coke Using High-Temperature Tube Furnace Combustion Methods”: a massa de resíduos é
queimada em corrente de oxigênio em forno a 1350oC. Nessas condições, todo o enxofre
disponível é convertido a SO2 e SO3, gases que são absorvidos em peróxido de hidrogênio
gerando ácido sulfúrico, que é então determinado.

Teor de nitrogênio (gN/kgresíduo seco)


O nitrogênio total de Kjeldahl, correspondente ao somatório da amônia e do
nitrogênio na forma orgânica, e pode ser determinado através de digestão que converta
todo nitrogênio orgânico a amônia, conforme procedimento padronizado utilizando ácido
sulfúrico concentrado e óxido de mercúrio como catalisador. Após digestão o pH é elevado
de modo a facilitar a destilação da amônia, que, então, será determinada via titulação. A
determinação do nitrogênio total da amostra, contemplando-se as formas inorgânicas, é
padronizada pela norma ASTM D5373 – “Instrumental Determination Of Carbon, Hydrogen,
And Nitrogen In Laboratory Samples Of Coal And Coke”. A base da metodologia é a
conversão de todo o conteúdo de nitrogênio, via combustão, a NOx, que será então
determinado, calculando-se então, via estequiométrica, o teor de nitrogênio da amostra.

Teor de oxigênio (gO/kgresíduo)


Com a admissão de certo erro, o teor de oxigênio de uma amostra de resíduos
sólidos pode ser calculado pela subtração dos teores de carbono, hidrogênio, nitrogênio,
enxofre e cinzas de uma amostra. Para combustíveis fósseis, o resultado desse balanço de

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 39


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

massa resulta no teor de oxigênio + halogênios, sendo a metodologia preconizada pela


norma NBR 8631 – “Carvão mineral – Análise Elementar”.

Relação C/N (gC/gN)


A relação C/N é calculada a partir dos teores de carbono orgânico total e
nitrogênio (somatório de todas as formas) nos resíduos sólidos. É uma importante
determinação visto que essa relação indicará maior ou menor velocidade de estabilização da
matéria orgânica, o que é particularmente importante para processos como a compostagem
e a digestão anaeróbia.

Teores de metais (g / kgresíduo seco)


Os metais presentes nos resíduos podem ser determinados procedendo-se uma
digestão em meio ácido, de modo que esses integralmente migrem para a solução,
apresentando-se em forma solúvel. A determinação quantitativa de metais em amostras
líquidas será feita por espectrofotometria de emissão atômica.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 40


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

BIOGÁS: efluente gasoso originário da decomposição anaeróbia da material orgânica (vide


1.4)

CARBOIDRATOS: são compostos de função mista do tipo poliálcool-aldeído ou poliálcool-


cetona e outros compostos os quais, via hidrólise, transformam-se em poliálcoois-aldeídos e
poliálcoois-cetonas. São as biomoléculas mais abundantes na natureza, constituídas
principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio, podendo apresentar nitrogênio, fósforo
ou enxofre na sua composição.

DIGESTÃO ANAERÓBIA: processo de transformação da matéria orgânica em ausência de


oxigênio, em compostos mais estáveis, através da ação de enzimas bacterianas as quais
catalisam reações de oxi-redução dos constituintes da própria matéria em decomposição.

DQO: ensaio que visa determinar a quantidade de matéria estabilizável presente


quimicamente presente em um despejo ou sólido. O ensaio fornece uma estimativa da
quantidade de material instável, portanto poluente presente (vide 3.2.3.14).

ENERGIA QUÍMICA: expressão controversa, normalmente utilizada para referir-se ao


potencial que um determinado composto ou material de produzir calor em determinado
processo ou reação química. Tal energia encontra-se armazenada no material em seus
arranjos moleculares.

LIPÍDIOS: constituem um amplo grupo de compostos químicos orgânicos naturais presentes


nos seres vivos. São formados principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio, apesar de
também poderem conter fósforo, nitrogênio e enxofre, entre os quais se incluem gorduras,
ceras, esteróis, vitaminas, fosfolipídios, entre outros.

PROTEÍNAS: são macromoléculas biológicas constituídas por uma ou mais cadeias


de aminoácidos.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 41


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Proximate Analysis of the Analysis Sample of Coal and Coke by Instrumental
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_____________________________________. ASTM D5373-16, Standard Test Methods for


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Sulfur in the Analysis Sample of Coal and Coke Using High-Temperature Tube Furnace
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______. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Aproveitamento


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Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 42


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Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 43


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.3 FUNDAMENTOS DO
PROCESSO DE
DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

1.3.1 Introdução
Sabemos que se abandonarmos o nosso saco de resíduos da cozinha, cheio de
rejeitos alimentares, ao tempo, depois de alguns dias o material exalará mau cheiro.
Veremos que moscas, baratas, ratos e outros vetores se “interessarão” pelo material.
Encontraremos um líquido negro e extremamente malcheiroso no fundo do saco, enquanto
que o material sólido apresentará péssimo aspecto, aparentemente tendendo a se
liquefazer. Se nos perguntarem o que aconteceu com os resíduos, responderemos que eles
estão apodrecendo. Mas o que é, em verdade, o apodrecimento?
A matéria orgânica constituinte dos nossos resíduos consiste basicamente em
proteínas (carne, tecidos vegetais dos alimentos), carboidratos (açúcar, celulose) e gorduras
(tecidos gordurosos das carnes, resíduos de óleos vegetais). Todos esses materiais
apresentam internamente o que denominamos de energia interna ou energia química, ou
seja, os seus arranjos moleculares e ligações químicas armazenam energia para manterem-
se estáveis. O rompimento dessas ligações libera energia na forma de calor, e é exatamente
esse calor liberado que os organismos aproveitam para as suas funções corporais
energéticas, quando da sua alimentação. Quando falamos em organismos, estamos nos
referindo desde seres humanos até bactérias, passando por todos os organismos vivos.
Se fôssemos tentar definir o odor que sentimos quando aspiramos o ar que se
encontra dentro do saco com resíduos em processo de apodrecimento, talvez disséssemos
que parece uma mistura de ovo podre com vinagre e amônia. Bem, se assim fosse, não
estaríamos errados.
O apodrecimento pode ser chamado, em termos técnicos, de fermentação ou
digestão anaeróbia. O processo ocorre em ausência parcial ou total de oxigênio da
atmosfera. Quando enterramos resíduos sólidos, eles carregam consigo ainda uma pequena

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 44


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

quantidade de ar atmosférico em seus vazios (poros). Em pouco tempo, microrganismos que


utilizam oxigênio molecular para oxidar os compostos orgânicos dos resíduos a fim da
obtenção de energia exaurem o oxigênio do meio, e o mesmo meio se torna anóxico, e,
após, anaeróbio. A partir daí outros organismos, que independem do oxigênio para a sua
produção energética passam a aproveitar os compostos orgânicos remanescentes na massa
para a sua produção de energia.
Da química sabemos que as reações químicas, inclusive aquelas mediadas por
organismos (reações bioquímicas), podem ser endotérmicas ou exotérmicas:

A + B + Energia  C + D (1.3-1)

F + G  H + I + Energia (1.3-2)

A reação 1.3-1 é endotérmica, pois foi necessário adicionar energia às espécies


reagentes “A” e “B” para que a reação acontecesse. Ela é denominada reação não
espontânea. A energia adicionada será captada pelos produtos da reação “C” e “D”
concentrando-se em seus arranjos moleculares.
A reação 1.3-2 é exotérmica, porque ocorreu espontaneamente, sem a
necessidade de absorver energia. Na verdade a reação produziu energia na forma de calor
como produto. Se “F” for um composto orgânico e “G” for oxigênio molecular, a reação
simbolizará uma típica reação aeróbia.
Os organismos estão interessados em reações que liberem energia, exatamente
para absorverem tal energia para os seus processos vitais. Portanto somente aproveitarão
compostos que tenham propensão a participar de reações exotérmicas.
Após a extinção do oxigênio molecular que originalmente acompanha o resíduo
que foi aterrado, alguns tipos de bactérias aproveitam compostos inorgânicos que contêm
oxigênio em suas moléculas, como os nitratos e sulfatos, como espécies oxidantes. Com o
auxílio das suas enzimas, esses organismos conseguem promover reações das espécies
oxidadas com a matéria orgânica presente. Esse processo é dito anóxico:

C (matéria orgânica) + XO (composto oxidado)  CO2 + Outros Produtos + Energia (1.3-3)

Quando o oxigênio molecular e os compostos oxidantes se fizerem ausentes,


poderemos ter reações entre os próprios compostos presentes no meio, as quais
microrganismos aprenderam a mediar e catalisar através de suas enzimas:

C (matéria orgânica) + XY  Produtos + Energia (1.3-4)

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 45


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Esse tipo de reação se denomina anaeróbia. Devemos observar que ainda é um


tipo de reação exotérmica, porque produz energia como produto.
Todas as reações que acontecem com produção de energia produzem compostos
mais simples do ponto de vista termodinâmico do que os compostos que lhes deram origem.
As reações anaeróbias produzem menores quantidades de energia do que as reações em
que participam oxidantes fortes. Essa menor quantidade de energia interna significará
menor quantidade de energia passível de aproveitamento por organismos. Todavia
perpetua-se a regra de que energia emitida por uma reação significa produção de produtos
menos poluentes.
Via de regra, nas reações intermediadas por seres vivos há transferência de
elétrons entre os compostos que reagem. Portanto são chamadas de reações de oxi-redução.
Podemos pensar nos organismos como baterias, que captam a sua energia de um fluxo de
elétrons decorrente da diferença de potenciais eletroquímicos entre aquelas espécies que
estão reagindo. Nada muito diferente de uma pilha, que produz energia na qualidade de um
fluxo de elétrons devido a dois diferentes metais com diferença de potencial eletroquímico
que são colocados em contato. Em condições normais, um composto quando se oxida gera
um produto menos energético. Como regra geral, na natureza, a oxidação dos compostos
orgânicos é um processo provável (exotérmico) que produz produtos menos energéticos,
portanto menos poluentes. Nesse sentido, a degradação dos resíduos sólidos produz
produtos mais estáveis e menos impactantes ao ambiente. Esse serviço ambiental prestado
pelos microrganismos, os quais já foram chamados de “lixeiros da natureza” não ocorre por
outro motivo senão pela necessidade desses organismos em se alimentar. A alimentação é
cientificamente chamada de respiração ou metabolismo.
As reações catalisadas por organismos vivos utilizam enzimas, que são chamadas
catalisadores biológicos. Esses compostos possuem a peculiar propriedade de unir diferentes
moléculas e fazer com que interajam quimicamente, ou seja, reajam. Do contrário, os
processos reativos se dariam em tempos relativamente longos: imagine um pedaço de carne
esterilizado, portanto sem organismos vivos em si, colocado em contato com oxigênio
também estéril: quanto tempo levaria para que o pedaço se convertesse totalmente em gás
carbônico, água e outros produtos como óxidos de nitrogênio?

1.3.2 Fases do processo anaeróbio


A digestão anaeróbia é um processo biológico no qual substratos são, em
diversas etapas metabólicas, convertidos em compostos termodinamicamente mais estáveis,
através da ação de um sistema ecologicamente balanceado de microorganismos em uma
relação comensal (CHERNICARO, 1997). De uma maneira simplificada, pode-se dizer que o
equilíbrio do sistema biológico dos resíduos em degradação somente é possível se cada
“classe” de bactérias cumprir o seu papel, ou seja, metabolizar (degradar) os produtos de
degradação produzidos por outras “classes bacterianas”, não permitindo que tais produtos

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 46


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

acumulem-se no meio e concentrem-se, causando toxidez, e produzindo, como produtos,


compostos que serão necessários ao metabolismo de outros organismos, que, por sua vez,
os utilizarão.
O metano é o principal produto final da degradação em ambiente anaeróbio dos
resíduos sólidos. No entanto esse produto final do processo ainda possui elevada “energia
química” disponível, sendo removido devido à sua insolubilidade no meio aquoso que
circunda os resíduos em decomposição. Outros produtos finais são o gás carbônico (CO2), a
água, o gás sulfídrico (H2S) e a amônia (NH4+ ↔ NH3). Toda reação de oxidação necessita de
um oxidante, ou espécie que se reduzirá (receberá elétrons). Como já mencionado, os
processos metabólicos bioquímicos operam através de uma cadeia de transferência de
elétrons, retirando-os do composto que se oxidará (no caso, a matéria orgânica) e
transportando-os até um composto qualquer (aceptor de elétrons), que deverá estar
presente no meio apresentando tendência relativa a receber elétrons (reduzir-se). Devido à
rápida extinção do oxigênio molecular residual nos resíduos em degradação, no caso dos
reatores anaeróbios (como os aterros sanitários o são, por exemplo) os nitratos, sulfatos e o
dióxido de carbono assumem o papel de principais aceptores inorgânicos de elétrons (ou
seja, espécies oxidantes). Do ponto de vista bioquímico, o processo de degradação dos
resíduos sólidos pode ser dividido em etapas metabólicas distintas sucessivas. O processo
completo de conversão dos compostos carbonáceos aos produtos finais
termodinamicamente estáveis (água e dióxido de carbono) pode ser considerado como a
soma de cinco fases metabólicas: hidrólise enzimática, acidogênese, acetogênese,
metanogênese e oxidação metânica. Somente as três fases centrais são estritamente
anaeróbias, sendo a fase final aeróbia. A Figura 1.3.1, uma adaptação do apresentado em
HMSO (1995), ilustra o processo. As fases metabólicas são citadas a seguir:

Fase I - Hidrólise enzimática


A fase inicial da degradação dos resíduos sólidos dá-se em condições aeróbias,
Segundo LIMA (1995), tal fase é viabilizada pela habilidade das cepas aeróbias presentes nos
resíduos sólidos em aproveitar rapidamente o oxigênio dissolvido remanescente na massa
dos resíduos antes da sua extinção. Devido a isso, a temperatura do meio eleva-se ao estágio
mesófilo ou mesmo termófilo, podendo alcançar 68oC. O pH do meio encontra-se na faixa
4,0-5,0. Papel fundamental, nesta fase, é exercido pelas exoenzimas expelidas pelas
bactérias, as quais, externamente às células, catalisam as reações de hidrólise das
macromoléculas presentes (de lipídios, ácidos nucléicos, proteínas, carboidratos, etc.),
produzindo compostos solúveis de cadeias menores, os quais podem atravessar as paredes
celulares e serem metabolizados. LIMA (1995) expressou simbolicamente as reações que
ocorrem em tal fase (equações 1.3-5 e 1.3-6):

ação enzimática
n{(C6H10O5) + (H2O)}  n(C6H12O6) (1.3-5)
fórmula mínima empírica glicose
representativa dos resíduos sólidos

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 47


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 1.3.1 - Fases metabólicas da degradação biológica dos resíduos sólidos

Fonte: adaptado de HMSO (1995)

microrganismos aeróbios
n(C6H12O6) + 6n(O2)  6n(CO2) + 6n(H2O) + n(688.000 cal) (1.3-6)
glicose oxigênio dióxido de carbono água calor

Observe-se que a reação 1.3-5 já foi apresentada como reação 1.1-2.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 48


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Fase II – Acidogênese
Como já dissemos, se um leigo for questionado sobre que compostos químicos
estão presentes no resíduo em degradação, ou, mais simplesmente, “no resíduo que está
apodrecendo”, possivelmente referir-se-á a “um odor que parece uma mistura de amoníaco
com vinagre e ovo podre”. Na verdade, ele estará correto ao referenciar o odor típico de
amônia, produzida como produto final da degradação anaeróbia natural dos compostos
nitrogenados (que em uma primeira fase transformam-se em aminoácidos, e, após, em
amônia), o odor azedo provém dos ácidos voláteis, produtos naturais da degradação de
praticamente todos os compostos orgânicos dos resíduos, em condições de ausência de
oxigênio, e o odor de ovo podre, proveniente dos compostos reduzidos de enxofre,
produzidos quando os sulfatos e sulfitos presentes nos resíduos são utilizados como
oxidantes da matéria orgânica. A segunda fase do processo, caracterizada pela extinção do
oxigênio molecular do meio, tem como substratos básicos açúcares simples, aminoácidos,
glicerol e ácidos carboxílicos de cadeia longa, produtos da fase enzimática. Bactérias
sintetizadoras de ácidos orgânicos (acidogênicas) serão protagonistas de reações de quebra
de cadeias longas e produção de ácidos de cadeias curtas, álcoois, gás carbônico, hidrogênio,
amônia e sulfeto de hidrogênio. Os principais ácidos produzidos nesta fase são o acético, o
propiônico, o butírico, o isobutírico, o valérico e o isovalérico, mas há também produção de
ácido lático, fórmico e outros ácidos. Nesta fase a temperatura cai ao estado mesofílico (29-
45oC) e o pH do meio situa-se entre 5,2 e 6,8 (LIMA, 1995).
Como nos resíduos sólidos há apreciável concentração de sulfatos e sulfitos,
bactérias anaeróbias estritas denominadas sulforredutoras, extremamente versáteis na
metabolização de uma ampla gama de substratos, utilizarão tais compostos como aceptores
de elétrons e concorrerão com as bactérias fermentativas, acetogênicas e metanogênicas
pelos substratos disponíveis no meio, modificando as rotas metabólicas do processo
anaeróbio e produzindo os sulfetos, os mesmos que como comentamos anteriormente
conferem odor de ovo podre aos resíduos em degradação. Dois grupos de bactérias
sulforredutoras apresentam-se: (1) as que oxidam os substratos até acetato, destacando-se
os gêneros Desulfobulbus e Desulfomonas e a maioria das espécies dos gêneros
Desulfobacterium e Desulfonema; e (2) as que oxidam completamente os substratos
gerando gás carbônico. Nesse grupo incluem-se os gêneros Desulfobacter, Desulfococcus,
Desulfosarcina, Desulfobacterium e Desulfonema.

Fase III - Acetogênese


Nesta fase, ácidos de cadeia curta e demais produtos gerados na fase anterior
são convertidos a acetato, hidrogênio e dióxido de carbono por cepas especializadas
(bactérias acetogênicas). Durante a fase, a grande formação de hidrogênio faz com que o pH
do meio aquoso baixe. As conversões de propionato, butirato e etanol em acetato em
condições padrões são termodinamicamente desfavorecidas (G>0). A utilização do
hidrogênio pelas bactérias metanogênicas, sulforredutoras e outras presentes no meio são

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 49


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

mecanismos que evitam quedas bruscas do pH e promovem o deslocamento das reações de


formação de acetato no seu sentido direto, com liberação de energia livre para o meio.

Fase IV – Metanogênese
Nesta fase, bactérias anaeróbias estritas produtoras de metano dominam o
meio. O pH eleva-se à faixa 6,8-7,2 e a temperatura permanece na faixa mesófila. As
bactérias metanogênicas são divididas em dois grupos de acordo com os substratos
utilizados: utilizadoras de acetato (acetoclásticas), e utilizadoras de hidrogênio
(hidrogenotróficas). O primeiro grupo, onde se destacam os gêneros Methanosarcina e
Methanothrix, é responsável por 60-70% da produção de metano, utilizando o grupo metil
do acetato (CHERNICHARO, 1997). O segundo grupo, que produz metano a partir de dióxido de
carbono e hidrogênio, engloba quase todos os tipos de bactérias metanogênicas conhecidas.
Os gêneros mais frequentemente isolados desse grupo são Methanobacterium,
Methanospirillum, e Methanobrevibacter. O consumo de hidrogênio é fundamental para o
rebaixamento de sua pressão parcial no meio, possibilitando a continuidade dos processos
metabólicos das fases anteriores.
LIMA (1995) expressou matematicamente as reações básicas das fases II, III e IV
conforme segue:

microrganismos hidrolisantes
e fermentativos
n(C6H12O6)  2n(CH3CH2OH) + 2n(CO2) + n(57.000 cal) (1.3-7)
glicose etanol dióx. carbono calor

microorganismos acetogênicos
e metanogênicos
2n(CH3CH2OH) + 2n(CO2)  2n(CH3COOH) + n(CH4) + n(CO2) (1.3-8)
etanol dióx. carbono ácido acético metano dióx. carbono

microrg. metanogênicos
2n(CH3COOH) + n(CH4) + n(CO2)  3n(CH4) + 3n(CO2) (1.3-9)
ácido acético metano dióx. carbono metano dióx. Carbono

CHERNICHARO (1997) apresenta a reação de formação de metano pelas bactérias


metanogênicas hidrogenotróficas a partir do dióxido de carbono e do hidrogênio produzidos
na fase ácida:

CO2 + 4H2  CH4 + 2H2O (1.3-10)

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 50


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Fase V – Oxidação metânica


Metano e dióxido de carbono são os produtos finais do processo da digestão
anaeróbia dos resíduos sólidos. Enquanto o segundo produto é termodinamicamente estável
em condições normais, o primeiro apresenta elevada “energia química” disponível. Tal
energia pode ser aproveitada por cepas bacterianas aeróbias estritas (bactérias
metanotróficas), que podem colonizar sítios e imediações onde pontualmente as
concentrações de metano e oxigênio molecular façam-se presentes. A conversão de metano
a dióxido de carbono produz calor e pode ocasionar elevação da temperatura acima de 60oC
nos pontos em que ocorra, constituindo um risco potencial às instalações dos sítios de
disposição de resíduos e arredores (FISCHER et al., 1996). Esta fase inclui-se no processo de
degradação dos resíduos sólidos (dá-se em condições aeróbias), podendo ser considerada a
etapa final de um sistema de conversão bioquímica dos resíduos ao composto de carbono
mais estável termodinamicamente em condições normais, o dióxido de carbono.
A Figura 1.3.2 apresenta esquematicamente as transformações químicas que
ocorrem durante a degradação bioquímica anaeróbia dos compostos presentes nos resíduos
sólidos. O processo bioquímico pode ser descrito como constituído por fases sucessivas de
“liquefação” (da hidrólise enzimática à acetogênese) e “gaseificação” (que ocorre durante a
metanogênese). Em um sistema contínuo ou semi-contínuo, como um aterro sanitário,
ambas as fases ocorrerão simultaneamente.

Figura 1.3.2 – Transformações anaeróbias dos resíduos sólidos

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 51


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.3.3 Modelos da evolução de um aterro de


resíduos sólidos
Diferentes modelos, baseados, sobretudo, na composição do biogás gerado ao
longo do tempo, tentam descrever a evolução do aterro sanitário como instância de
degradação da matéria orgânica ao longo do seu tempo de vida. TABASARAN (1975) modela a
evolução do aterro em quatro fases:
Fase I – Aeróbia: com duração aproximada de duas semanas, até o final do
consumo do oxigênio remanescente na massa de resíduos, caracteriza-se pelas reações de
hidrólise enzimática de compostos insolúveis e de extensas cadeias carbonáceas e oxidação
dos produtos gerados, com temperatura podendo atingir o estágio termófilo e potencial
redox entre +800 e –100 mV;
Fase II – Ácida: com duração de sessenta dias, caracteriza-se pela formação de
ácidos e outros compostos de cadeia curta por organismos acidogênicos, bem como
produção de amônia e seus compostos a partir do nitrogênio orgânico. O pH do meio é baixo
(5,2-6,5) devido à intensa formação de ácidos ainda não metabolizados. A temperatura
mantém-se no estágio mesófilo, o potencial redox é inferior a –100 mV;
Fase III – Metânica Instável: com duração de dois anos caracteriza-se pelo
processamento dos ácidos gerados na fase anterior por bactérias metanogênicas, além de
conversão de compostos poliméricos semi-refratários a monômeros simples, para sua
metanização posterior. Ocorre estabilização da temperatura do meio próxima a 30oC, do pH
entre 6,8 e 7,2, e do potencial redox em torno de -300 mV. Os principais produtos desta fase
são o ácido acético, o dióxido de carbono e uma relativa parcela de metano. É possível
identificar-se ainda a presença de hidrogênio molecular, gás sulfídrico, indol, mercaptanas e
traços de outros compostos no biogás;
Fase IV – Metânica Estável: Esta fase caracteriza-se pela reduzida variabilidade
bioquímica, uma vez que praticamente todos os compostos complexos foram quebrados em
monômeros; as bactérias metanogênicas dominam seletivamente o meio; a temperatura
estabiliza-se próxima à ambiente, o pH estabiliza-se próximo à neutralidade; o potencial
redox varia entre -330 e -600 mV. O biogás compõe-se de aproximadamente 60% de metano
e 40% de gás carbônico. A duração da fase é virtualmente superior a dez anos.
A Figura 1.3.3 apresenta o modelo de TABASARAN (1975), estabelecendo fases do
processo em função da composição do biogás.
Um outro modelo, baseado em cinco fases de estabilização, é proposto por
POHLAND e HARPER (1985), conforme apresenta a Figura 1.3.4. As fases do modelo proposto
são descritas:
Fase I – Inicial: fase de disposição dos resíduos no solo com acúmulo de água e
início do processo de estabilização. Ocorre em condições aeróbias;

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 52


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Fase II – Transição: o maciço de aterro satura-se em água e inicia-se a formação


de lixiviado; com a extinção do oxigênio o meio torna-se redutor e inicia-se a anaerobiose
com nitratos e sulfatos no papel de aceptores de elétrons; inicia-se a produção de ácidos
graxos voláteis e gás carbônico;
Fase III – Formação de ácidos: ocorre a formação de ácidos voláteis de cadeia
longa e intermediária a partir dos processos de hidrólise enzimática e fermentação dos
resíduos; há liberação de nutrientes das macromoléculas processadas para o meio líquido o
que permite o crescimento microbiológico; há formação de hidrogênio molecular, que altera
as rotas bioquímicas predominantes;

Figura 1.3.3 - Modelo de TABASARAN para a evolução bioquímica de


um aterro sanitário

100
fase fase fase metânica fase metânica
aeróbia ácida instável estável

80
N2
CH4
Percentual no Biogás (%)

60

CO2
40

20
O2 H2

0
0 5 14 10 75
15 20 25 800
30 35 40 tempo
45 (d) 50

Fonte: o autor, baseado em TABASARAN (1975)

Fase IV – Fermentação metânica: Consumo intenso de ácidos voláteis com


formação expressiva de metano e dióxido de carbono. O potencial redox do meio é
rebaixado ao menor patamar; a concentração de matéria orgânica do lixiviado é
severamente rebaixada; há precipitação de metais devido à elevação do pH à faixa de
neutralidade;
Fase V – Maturação final: estabilização do material em digestão, com
consequente redução drástica da atividade microbiana e redução da produção de biogás;
reaparecimento do oxigênio molecular devido ao rebaixamento da pressão parcial de
metano e dióxido de carbono, com consequente elevação do potencial redox do meio;
humificação da matéria orgânica refratária.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 53


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 1.3.4 – Modelagem de fases de estabilização do aterro sanitário conforme POHLAND e


HARPER

Fonte: adaptado de POHLAND e HARPER (1985)

1.3.4 Aspectos nutricionais, toxidez e inibição


Aspectos Nutricionais
Para que os processos biológicos de tratamento sejam operados com sucesso, os
microorganismos devem ter suas necessidades nutricionais satisfeitas, isto é, os
macronutrientes e micronutrientes necessários devem encontrar-se disponíveis no meio, em
concentrações suficientes para garantir o crescimento da biomassa. No caso dos resíduos
sólidos, todos os nutrientes costumam encontrar-se presentes, ainda que as concentrações
de fósforo normalmente representem o fator limitante ao crescimento. Para cada
organismo, as quantidades relativas de nutrientes necessários serão função da composição
química elementar das células. Diferentes substratos e diferentes aceptores de elétrons
proporcionarão o desenvolvimento preferencial de diferentes cepas, com diferentes taxas
de crescimento específico, função da maior ou menor disponibilidade de matéria
carbonácea e aceptores de elétrons. CHERNICHARO (1997) apresenta, com base nas
concentrações de substrato carbonáceo, as quantidades relativas de nitrogênio e fósforo
requeridas para os processos anaeróbios:
 biomassa com baixo coeficiente de produção celular (Y=0,05 gSSV/gDQO).
Exemplo: degradação de ácidos graxos voláteis: DQO:N:P = 1000:5:1
(mgDQO/mgN/mgP);

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 54


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 biomassa com elevado coeficiente de produção celular (Y=0,15 gSSV/gDQO).


Exemplo: degradação de carboidratos: DQO:N:P = 350:5:1
(mgDQO/mgN/mgP).
O nitrogênio prontamente utilizável para o crescimento microbiológico é
fartamente disponível nos resíduos sólidos; praticamente todo o fósforo presente nos
resíduos sólidos é convertido a ortofosfatos. O enxofre é nutriente requerido para as
bactérias metanogênicas nas mesmas concentrações do fósforo, podendo ser obtido da
degradação da matéria orgânica (cisteína) ou da redução de sulfatos presentes nos resíduos.
Diversos metais e não-metais são requeridos em baixas concentrações como
micronutrientes, fazendo-se invariavelmente presentes nos resíduos sólidos.

Toxidez e inibição
Os processos biológicos de estabilização dos substratos estão sujeitos a
problemas ocasionados pela presença de compostos que, em certas concentrações,
ocasionam a diminuição ou suspensão temporária (inibição) das atividades metabólicas dos
microorganismos, ou mesmo a morte desses (toxidez). Metais, cátions, ânions, bem como
macro e micronutrientes e os próprios substratos carbonáceos, fundamentais à manutenção
dos processos biológicos, quando em certas concentrações críticas podem produzir efeitos
inibitórios e, em muitos casos, deletérios. Por exemplo, durante a fase metanogênica do
processo anaeróbio, os ácidos voláteis respondem pela quase totalidade da massa
carbonácea em digestão; se as concentrações de certos ácidos atingirem determinados
patamares, tais ácidos tornar-se-ão inibidores da atividade das bactérias metanogênicas,
podendo levar o processo à paralisação temporária ou permanente.
Porém, um aspecto a ser considerado é a capacidade dos microorganismos
presentes em determinados meios a aclimatarem-se aos agentes inibidores, de modo a
reverterem-se quadros de paralisação das atividades bioquímicas. HILL e WRIGHT (1978)
afirmam que microorganismos aeróbios, anaeróbios e facultativos aclimatam-se inclusive a
certas concentrações da maioria dos pesticidas, através da ocorrência de fenômenos de
mutação e adaptação enzimática, enfatizando que pesticidas reaplicados a um ambiente, em
geral têm suas taxas de transformação microbiológica incrementadas, amplificando-se o
efeito em subsequentes aplicações. Entretanto, mesmo havendo potencial de aclimatação à
inibição, a presença de compostos tóxicos pode levar à completa desestabilização dos
processos metabólicos se a recuperação dos organismos atuantes não se der em tempo
hábil. Em reatores anaeróbios, as bactérias metanogênicas são os organismos que
apresentam menor taxa de crescimento celular, sendo, ao mesmo tempo, os mais
suscetíveis a inibição e toxidez. Se em um determinado evento inibitório a recuperação das
cepas metanogênicas não for rápida, haverá acúmulo de ácidos produzidos e não
consumidos, rebaixando o pH a níveis em que as mesmas não sobrevivem, originando o
chamado efeito de azedamento. Isso pode ocorrer pontualmente em um aterro sanitário,
por exemplo, porém como os aterros são sistemas dinâmicos, o efeito disso será transitório.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 55


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A toxicidade por sais é normalmente associada ao cátion e não ao ânion.


Apresentando-se algum cátion em concentração tóxica, a presença no meio de algum ânion
específico que o precipite será efetiva para evitar o efeito indesejado. O Quadro 1.3.1
apresenta uma compilação de concentrações de inibição à metanogênese.

Quadro 1.3.1 – Coletânea de informações sobre concentrações inibitórias e tóxicas de


espécies químicas à metanogênese
Agente inibidor Concentrações teóricas de inibição
Concentrações de 6.000 a 8.000 mg/L não apresentam toxidez para
pH próximo à neutralidade.12 Rebaixamentos de pH deslocam o
equilíbrio para o predomínio das formas não dissociadas dos ácidos,
mais inibitórias do que as formas dissociadas.5
Ácidos Graxos Voláteis
Concentrações de 40.000 mg/L de ácidos voláteis são inibitórias
mesmo para os organismos acidogênicos.4
Individualmente, o ácido propiônico é muito mais tóxico do que os
demais ácidos voláteis.6
50 – 200 mgN/L: efeito benéfico;
200 – 1000 mgN/L: nenhum efeito adverso;
1500 – 3000 mgN/L: inibidor a elevados pH;
Amônia
>3000 mgN/L: tóxico.1
Van Velsen obteve estabilidade na metanogênese com concentrações
de amônia de 5000 mgN/L.13
Cádmio Inibidor/tóxico 180 mgCd/L individualmente.9
100-200 mgCa/L: estimulante;
Cálcio 2500-4500 mgCa/L: moderadamente inibidor;
8000 mgCa/L: fortemente inibidor.1
Chumbo Atividades de 10-7-10-9 móis/L são inibitórias.16
As bactérias anaeróbias aclimatam-se a concentrações de cianetos de
até 20 a 40 mgCN-/L sem inibição da metanogênese; doses de choque
Cianetos
de até 750 mgCN-/L causam inibição severa, porém há recuperação
da microbiota em pouco tempo.7
A inibição inicia na faixa de 0,5 a 0,9 mgCu/L. 2
Cobre A inibição é total a 170 mgCu/L quando em ausência de outras
espécies tóxicas.9
continua

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 56


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 1.3.1 – Coletânea de informações sobre concentrações inibitórias e tóxicas de


espécies químicas à metanogênese (continuação)
Agente inibidor Concentrações teóricas de inibição
Sulfetos: 100 mgH2S/L solúveis são tolerados sem aclimatação; 200
mg mgH2S/L são tolerados com aclimatação, acima de 200 mgH2S/L
há toxidez pronunciada.2
Khan e Trottier verificaram que todos os compostos de enxofre,
Compostos de Enxofre
exceto os sulfatos, ocasionam inibição a concentrações de 290
mgS/L.15
Sulfatos: Sheehan e Greenfield verificaram inibição a concentrações
de sulfato acima de 6750 mgSO4-2/L.13
Cromo Total Inibição a 3 mg/L de cromo solúvel.2
Fenóis Com aclimatação inibição inicia a 700 mgC6H5OH/L.8
Ferro Total 2600 mg/L de ferro total para inibição total.9
75-150 mgMg/L: estimulante;
Magnésio 1000-1500 mgMg/L: moderadamente inibidor;
3000 mgMg/L: fortemente inibidor.1
Lingle e Hermann verificaram que o mercúrio isoladamente não é
Mercúrio
tóxico a concentrações de 1560 mg/L.11
Fields e Agardy observaram estabilidade metanogênica
mesmo com adição de 1% de ar em relação ao volume do
Oxigênio lodo em digestão; adições instantâneas de 360mgO2/L não
causaram inibição, ao passo que houve inibição pela adição
instantânea de 1300 mgO2/L.14
200-400 mgK/L: estimulante;
Potássio 2500-4500 mgK/L: moderadamente inibidor;
12000 mgK/L: fortemente inibidor.1
100-200 mgNa/L: estimulante;
Sódio 3500-5500 mgNa/L: moderadamente inibidor;
8000 mgNa/L: fortemente inibidor.1
Início da inibição: 0,2 – 1,0 mg/L de zinco solúvel.2
Zinco
Inibição total do processo: 163 mg/L de zinco individualmente.9
continua

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 57


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 1.3.1 – Coletânea de informações sobre concentrações inibitórias e tóxicas de


espécies químicas à metanogênese (continuação)
Agente inibidor Concentrações teóricas de inibição
Estudos de F.E. Mosey (1976)10 demonstraram que o conjunto dos
metais pesados no lodo em digestão pode causar inibição, mesmo
que tais espécies encontrem-se em concentrações individuais aquém
das necessárias para inibição. F.E. Mosey definiu o parâmetro K para
representar o grau de toxicidade provocada pelo conjunto dos
metais pesados no lodo em digestão como:

K = (Zn/32,7 + Ni/29,4 + Pb/103,6 + Cd/56,2 + 0,67.Cu/31,8) / ST


Inibição conjunta por
zinco, níquel, chumbo, Onde: Zn, Ni,... = concentrações totais das espécies metálicas nos
cádmio e cobre lodos em digestão (mg/L); 32,7; 29,4; ... = massas equivalentes das
respectivas espécies no estado divalente; 0,67 = fator devido à
redução apenas parcial do cobre ao estado cuproso; ST =
concentração de sólidos totais no digestor (kg/L).
A partir de dados bibliográficos e empíricos o autor estabeleceu os
seguintes valores representativos de K:
K < 200 meq/kg – inibição improvável;
K  400 meq/kg – inibição total provável;
K > 800 meq/kg – inibição quase certa.
Surfactantes 600-900 mgABS/L; 600-900 mgLAS/L.11
1 2 3 4 5
Fontes: MCCARTY (1964) apud CHERNICHARO (1997); VIEIRA e SOUZA (1981); SOUZA (1982); [ DE LA TORRE e GOMA (1981); ANDREWS
6 7 8 9 10
(1969); MCCARTY e BROSSEAU (1963); YANG et al. (1980); NEUFELD (1980); MOSEY e HUGHES (1975); MOSEY (1976);
11 12 13 14 15
LINGLE E HERMANN (1975); MCCARTY e MCKINNEY (1961); VAN VELSEN (1979); FIELDS e AGARDY (1971); KHAN e TROTTIER
16
(1978)] apud SOUZA (1982); MOSEY, SWANWICK E HUGHES (1971)

No caso dos processos anaeróbios, além do controle das concentrações de


espécies tóxicas presentes no meio em digestão, o controle de certos parâmetros é indicado
para a previsão de efeitos tóxicos/inibitórios:
 DQO/SO4-2 – Esta relação fornece um indicativo do favorecimento ou não de
um desvio das rotas metabólicas normais em função da prevalência de
bactérias heterotróficas redutoras de enxofre e formação de H2S, composto
inibidor para bactérias metanogênicas, o que ocorre em presença de
concentrações relativas de sulfato elevadas. Assim, segundo CHERNICHARO
(1997):
o DQO/SO4-2<7 no afluente indica forte possibilidade de severa inibição das
bactérias metanogênicas;
o DQO/SO4-2>10 no afluente indica forte produção de biogás removendo H2S
da fase líquida, diminuindo seu efeito inibidor.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 58


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Sulfetos/Metais Pesados – Os sulfetos gerados pelas bactérias redutoras de


enxofre são úteis ao processo anaeróbio tendo em vista que sua fração
solúvel tem a propriedade de combinar-se com os metais pesados (exceto
com o cromo) formando sais insolúveis que não apresentam efeitos adversos
ao processo (somente a fração solúvel dos metais pesados apresenta efeitos
tóxicos ou inibitórios à digestão anaeróbia). Conforme CHERNICHARO (1997)
cerca de 1,8 a 2,0 miligramas de metais pesados são precipitados como
sulfetos metálicos pela presença de 1,0 mgS-2. Assim, verifica-se a
conveniência de que a relação S-2/Metais Pesados assuma valores entre 0,5 e
0,56.
 de acordo com RIPLEY et al. (1986) apud CHERNICHARO (1997), valores do
quociente alcalinidade intermediária/alcalinidade parcial > 0,3 indicam
distúrbios no processo de digestão anaeróbia. Conforme os estudos de KASPAR
e WHURMAN (1978), a relação ácidos graxos voláteis/alcalinidade parcial
quando assume valores menores ou iguais a 0,1 garante condições estáveis de
operação do processo anaeróbio.
Em geral, as questões de balanço de nutrientes e inibição não são problemas que
requeiram especial atenção em um aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, pensado
como um grande reator anaeróbio aberto. Todavia o monitoramento operacional do aterro
poderá indicar certas condições adversas, que podem relacionar-se com a composição
química dos resíduos produzida pela comunidade. Embora em estados como o Rio Grande
do Sul ocorra restrição legal à codisposição de resíduos domiciliares com resíduos
industriais, de uma certa forma é virtualmente restrito o alcance prático das fiscalizações ao
conhecimento da origem dos resíduos diariamente apresentados às coletas ordinárias
domiciliares.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 59


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CHERNICHARO, A.L. 1997. Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte: UFMG. 245 p.

FISCHER, C.; GANDOLLA, M; ARAGNO, M. 1996. Procesos de generación de calor en torno a


un vertedero clausurado: causas del fenomeno y posibles consecuencias para su gestion
y seguridad. Residuos 30 (1996), ATEGRUS, España. p.30-38.

HILL, I.R.; WRIGHT, S.J.L. 1978. Pesticide Microbiology. Academic Press Inc., 1978.

HMSO. 1995. Landfill design, construction and operation practice. London: Department of the
Environment. 289p. (Waste Management Paper 26B).

KASPAR, H.F.; WUHRMANN, K. 1978. Kinetic parameters and relative turnovers of some important
catabolic reactions in digesting sludge. Applied environmental microbiology, 36. pp.1-18.

LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.

MOSEY. F.E.; SWANWICK, J.D.; HUGHES, D.A. 1971. Factors affecting the availability of heavy
metals to inhibit anaerobic digestion. Water Pollution Control, 70. p.668-80.

POHLAND F.G.; HARPER, S.R. Critical Review and Summary of Leachate and Gas Production
from Landfills, EPA/600/2-86/073, US Environmental Protection Agency, Cincinnati,
1985.

SOUZA, M.E. 1982. Fatores que influenciam a digestão anaeróbia. In: SIMPÒSIO NACIONAL
DE FERMENTAÇÃO, 5., 1982. Viçosa. p.1-7.

TABASARAN, O. 1975. Uberlegungen zum problem deponiegas, mull and abfall. General
Electric Series Solid Waste Management Technology Assesment. Van Nordstrand
Reinhold Co.

VIEIRA, S.M.M.; SOUZA, M.E. 1981. Métodos analíticos para acompanhamento da


biodigestão. Energia, Vol. III, n. 15, Julho-Agosto, 1981. p.26-36.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 60


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.4 BIOGÁS
O efluente gasoso do processo de digestão anaeróbia dos resíduos sólidos
orgânicos denomina-se biogás. O biogás é constituído basicamente pelos dois produtos
finais do processo de digestão anaeróbia, metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), além de
constituintes minoritários como hidrogênio molecular, nitrogênio molecular, monóxido de
carbono, amônia, óxido nitroso, traços de compostos orgânicos e compostos reduzidos de
enxofre (ácido sulfídrico, organossulfurados), além de outros compostos-traços, que
normalmente perfazem não mais do que 5% do volume do gás. A Figura 1.4.1 apresenta
queima de biogás em uma camisa acoplada a um dreno cilíndrico vertical em um aterro
sanitário.

Figura 1.4.1 – Queima de biogás em aterro sanitário

Fonte: o autor

A composição do biogás varia em função das características dos substratos em


decomposição e do tipo de processo anaeróbio em curso. Normalmente o metano encontra-
se em percentagens de 40% a 70%, enquanto o dióxido de carbono apresenta-se em
percentuais entre 30% e 60% em volume no biogás. Uma vez que o metano apresenta-se
com baixa estabilidade termodinâmica em condições normais, sua molécula dispõe de
elevada energia interna disponível (energia química), que pode ser liberada a partir de

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 61


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

reação com uma espécie oxidante, o que na prática é levado a efeito utilizando-se o oxigênio
molecular em uma reação denominada combustão (PILLA, 1979).

CH4 + 2O2 → CO2 + 2H2O + 212,8 kcal/mol (1 atm, 25oC) (1.4-1)

O metano, principal componente do biogás, é um hidrocarboneto alifático


(alcano) constituído por um átomo de carbono e quatro átomos de hidrogênio, cuja
molécula é simétrica e apolar, portanto insolúvel em água. Apresenta massa molecular de
16,0426 g/gmol, não tem cheiro, cor ou sabor, mas outros gases presentes no biogás
conferem à mistura gasosa um ligeiro odor de alho ou de ovo podre. A 0oC e 1 atm de
pressão, supondo-se comportamento ideal, 1 m3 de metano conterá 716,11 gramas.
Apresenta, portanto, peso específico de 0,716 kg/m3, bastante inferior ao do ar, ponto de
fusão de –182,5oC e ponto de ebulição de –161,5oC. Considerada a equação (1.4-1), a
combustão de 1 m3 de metano teoricamente liberará 9499,35 kcal ou 39.771,87 kJ ou ainda
11,04 kWh.
Uma vez que o dióxido de carbono é um composto termodinamicamente estável,
desprezando-se a pequena influência dos constituintes minoritários, o poder calorífico do
biogás será uma função da fração volumétrica de metano na mistura.
A produção máxima de metano pela digestão anaeróbia pode ser prevista
estequiometricamente a partir da equação de Buswell (CHERNICHARO, 1997):

CnHaObNd + (n-a/4-b/2+3d/4)H2O → (n/2+a/8-b/4-3d/8)CH4 + (n/2-a/8+b/4+3d/8)CO2 + dNH3 (1.4-2)

Na equação 1.4-2, CnHaObNd representa a composição elementar do substrato


degradável anaerobicamente (resíduo sólido), a qual deve ser determinada para alimentar
os diversos coeficientes da equação. Conforme BUSWELL e HATFIELD (1939) apud LIMA (1995)
estima-se uma geração de 0,99 a 1,12 Nm3 de biogás por quilograma de matéria seca
digerida em sistemas fechados (biodigestores). A taxa de geração de biogás em um aterro
sanitário pode ser equacionada utilizando-se um modelo de 1ª ordem de duas fases,
conforme estabelece LIMA (1995), em que a quantidade de gás gerado em uma primeira fase,
compreendida entre o início da degradação e o tempo em que 50% da matéria degradável
do resíduo está estabilizada é dada, a qualquer tempo, por:

G = Lo/2.e[-K1(t1/2-t)] (1.4-3)

G: total de biogás produzido até o tempo t (Nm3);


K1: constante (ano-1);
t: tempo (anos);

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 62


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Lo/2: 50% do volume máximo teórico de gás metano que será produzido (Nm3);
t1/2: tempo necessário para a decomposição de 50% da matéria orgânica (anos).

Numa segunda fase, teremos a degradação da metade restante da matéria


estabilizável gerando biogás segundo o seguinte equacionamento:

L = Lo/2.e[-K2(t1/2-t)] (1.4-4)

L: total de biogás produzido após o tempo t (Nm3);


K2: constante (ano-1).

As constantes cinéticas e tempos de meia vida são estimados para três classes de
resíduos, conforme apresenta a Tabela 1.4.1.

Tabela 1.4.1 – Tempos de meia-vida e constantes cinéticas de degradação de resíduos


Categoria t1/2 (ano) K1 (ano) K2 (ano)
Resíduos de fácil degradação 1 3,91 1,56
Resíduos moderadamente degradáveis 2 1,96 0,978
Resíduos de difícil degradação 20 0,196 0,0978
Fonte: EMCON ASSOCIATES (1980) apud LIMA (1995)

GOMES (1980) apud LIMA (1995) cita uma produção observada de 248 Nm3 de
biogás por tonelada de resíduos em um aterro de São Paulo. ZALAUF (1980) apud LIMA (1995)
indica a possibilidade da produção de 370-400 Nm3 de biogás por tonelada de resíduos.
Esses valores citados possivelmente difiram em relação àqueles anteriormente citados
[BUSWELL e HATFIELD (1939) apud LIMA (1995)] em função do teor de umidade e do teor de
sólidos voláteis, porém são bastante úteis para fins práticos. Neste sentido, a adoção
conservadora de uma estimativa de geração de 300 Nm3 biogás/t de resíduos com 5700
kcal/Nm3 (60% de metano), resulta em uma produção de 1.710.000 kcal/t de resíduos
degradados ou 1989 kWh/t de resíduo. Essa energia seria suficiente para o abastecimento
mensal de 3-5 residências de médio consumo. Para uma produção municipal de resíduos de
1000 t/d, isso significaria uma produção de 2.000.000 kWh/(t.d) ou 60.000.000 kWh/mês, o
que poderia abastecer uma população de 120.000 residências. Essa estimativa ilustra bem o
potencial energético dos resíduos sólidos.
O dióxido de carbono é um produto final da digestão anaeróbia, por isso
constituinte majoritário do biogás. É classificado como um intermediário entre substâncias
tóxicas e não tóxicas, e seu principal risco relaciona-se a asfixia em ambientes pouco
oxigenados, onde sua concentração supere 5% em volume. Em contato com umidade (água),

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 63


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

forma o ácido carbônico (H2CO3) que contribui para o caráter corrosivo do biogás. O
monóxido de carbono resulta de uma oxidação incompleta do carbono, sendo detectado em
biogás em concentrações de até 3% (normalmente são muito mais baixas). Pode decorrer
também de combustão no seio do aterro em condições de escassez de oxigênio. Ocasiona
morte por asfixia acima de 5000 ppm.
O hidrogênio molecular é um gás desprovido de cor, odor ou toxidez, porém é
altamente inflamável, sendo explosivo a partir de 4% em volume. Produzido por bactérias
fermentativas e acetogênicas, é consumido por cepas metanogênicas.
O nitrogênio encontra-se fartamente disponível em resíduos e despejos
orgânicos, principalmente pela sua presença nas proteínas. Anaerobicamente é convertido a
amônia, que responde pelo equilíbrio:

NH4+ → NH3 + H+ (1.4-5)

Embora na faixa de pH típica da digestão anaeróbia menos de 2% da amônia


encontre-se em estado gasoso, essa fração poderá sair do meio aquoso e ser removida no
biogás. Óxido nitroso (N2O), óxido nítrico (NO) e nitrogênio molecular (N2) poderão também
estar presentes no biogás, como produtos da redução de nitratos e nitritos presentes nos
resíduos em digestão.
FISCHER et al. (1999) citam, com base em diversos estudos publicados a respeito
da composição do biogás de aterros sanitários de resíduos sólidos, que têm sido detectados
entre 100 e 200 compostos orgânicos como traços nos diferentes aterros investigados,
correspondendo a álcoois, cetonas, ésteres, furanos, ácidos orgânicos e compostos
sulfurados. Tais compostos, em geral, perfazem não mais do que 1-5% do volume total de
biogás gerado, e correspondem, em muitos casos, às frações volatilizadas de vários
compostos presentes em produtos industrializados que se tornaram resíduos.
O ácido sulfídrico (H2S) provém da quebra de algumas proteínas bem como da
imensa gama de resíduos domiciliares que contêm sulfatos na composição e pode ser
encontrado no biogás como traço ou em concentrações de até 1,0-1,5%. Invariavelmente,
seu odor característico, cujo limiar é muito baixo, denunciará sua presença no biogás. Sendo
altamente tóxico e altamente inflamável, paralisa o sistema olfativo quando encontrado em
concentração superior a 50 ppm, afeta o sistema nervoso acima de 400 ppm e pode
ocasionar morte por falência respiratória acima de 700 ppm (FISCHER et al., 1999). Dos
compostos organossulfurados, os mais tóxicos são as mercaptanas, que já foram
encontradas em concentrações superiores a 430 mg/m3 em biogás de aterro sanitário
[RETTENBERGER e STEGMANN (1996) apud FISCHER et al. (1999)]. Os compostos reduzidos de
enxofre conferem alta corrosividade ao biogás.
Os principais interferentes (compostos minoritários que causam problemas ao
aproveitamento do biogás) são o gás sulfídrico (H2S), os demais compostos de enxofre, o
dióxido de carbono (não dotado de poder calorífico) e os siloxanos [subgrupo de compostos

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 64


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

de sílica que contêm ligações sílica (oxigênio com radicais orgânicos ligados a molécula de
sílica incluídos grupos metil e etil, ou compostos halogenados ou nitrogenados)].
Se faz necessária remoção do dióxido de carbono para que o gás tenha uma
composição com ampla predominância de metano, e evite-se o problema de acidez do CO2
na presença de umidade. Assim, ter-se-á um gás livre, tanto quanto possível, de compostos
corrosivos. O processo de aproveitamento ou “industrialização” do biogás compreende
basicamente as operações, que são resumidas a seguir:
 remoção do dióxido de carbono: o CO2 é removido do biogás fazendo-se
passar o fluxo de gás por água a pressão, em contracorrente. Desta maneira,
parte do dióxido de carbono é absorvida fisicamente pela água e parte reage
com a mesma, formando o ácido carbônico, segundo a reação:

CO2 + H2O → H2CO3 (1.4-6)

 remoção da umidade: como passo seguinte ao processo anterior, a umidade


residual do gás saturado em água é retirada fazendo a corrente passar por
colunas de sílica-gel (forte adsorvedor de água). Alternativamente pode-se
utilizar o resfriamento para condensação da umidade;
 remoção do H2S: a remoção dos compostos sulfurosos em geral se dá através
da passagem do biogás por um meio contendo ferro com elevada superfície
de contato, de modo a que a integralidade dos compostos de enxofre reaja,
formando sulfeto férrico, assim removendo esses compostos do gás;
 remoção dos siloxanos: estes compostos são muito comuns na formulação de
shampoos, pastas de dentes, cremes, produtos de papel, tintas, óleos, e
outros produtos que geram residuais. Os compostos voláteis de sílica
incrustam-se nos motores, turbinas, caldeiras, etc., contribuindo para a
deterioração e mau funcionamento dos equipamentos. A adsorção com
carvão ativado é o método clássico para a remoção dos siloxanos. BRANCO
(2010) indica ainda outras metodologias infrequentemente utilizadas para tal
finalidade: absorção com solventes, condensação utilizando nitrogênio
líquido, biofiltração e hidrólise ácida ou alcalina.
 compressão e estocagem: Como fase final do processo, o gás é comprimido
até 200 kgf/cm2, sendo estocado em reservatórios cilíndricos de alta pressão.
A experiência pioneira do aproveitamento do metano dos aterros foi iniciada em
1973, nos primórdios da crise do petróleo, no aterro de Palos Verdes, estado da Califórnia,
EUA. A unidade de aproveitamento do gás de Palos Verdes iniciou sua operação em junho de
1975, produzindo gás equivalente ao gás natural. No Brasil, a experiência pioneira aconteceu
no aterro do km 14,5 da Rodovia Raposo Tavares, onde foi construída uma estação de
captação de gás, através de um financiamento do Conselho Nacional do Petróleo.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 65


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

As aplicações do biogás, após sua purificação, são as seguintes:


 combustível para veículos automotivos;
 uso como gás doméstico;
 industrial, como fonte energética;
 conversão em energia elétrica.
Experiências interessantes foram levadas a efeito no sentido do aproveitamento
do biogás para movimentar frotas de veículos públicos (caminhões coletores de resíduos,
ônibus urbanos, etc). A Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro –
COMLURB – apresentou uma experiência pioneira no Brasil neste sentido.
A utilização do metano como gás doméstico também tem ampla viabilidade
tecnológica, uma vez que seu poder calorífico é elevado (poder calorífico inferior: 11.900
kcal/kg), sendo um composto da mesma família do gás GLP (mistura de propano e butano).
Apesar de sua viabilidade, exploração e utilização do biogás, até o final da
década de 1990, enfrentaram alguns problemas:
 ceticismo dos compradores em potencial;
 incertezas quanto à taxa de geração do gás ao longo do tempo e quanto ao
volume total produzido,
 em alguns casos não é possível resolverem-se os problemas relativos à
flutuação na composição ou vazão do gás ou na demanda dos consumidores
(produção firme);
 o elevado custo do transporte do gás restringe o mercado a uma pequena
área geográfica;
 repercussões negativas quanto à associação ”gás-lixo” para certos fabricantes
de bebidas e alimentos;
 conceituação do aproveitamento do gás de aterro como investimento de alto
risco, em face da carência de informações relativas aos sistemas já
implantados até então;
 problemas mecânicos na captação do biogás de aterro, devido ao acentuado
recalque dos aterros, causando a danificação de poços e tubulações;
 difícil purificação do biogás de modo a inseri-lo dentro de certos padrões
restritos de composição.
Na presente década estão em curso vários projetos de aproveitamento do gás de
aterro, tendo vários dos problemas apontados sido superados. Podemos citar a experiência
da Companhia Rio-grandense de Valorização de Resíduos, empresa operadora de aterro
sanitário situado no município de Minas do Leão, RS, com o aproveitamento do biogás.
Tendo como base o mercado de títulos de redução de gases de efeito estufa, a empresa

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 66


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

inicialmente implantou um sistema de captação ativa e queima do biogás. Seu passo


seguinte, já pensando no aproveitamento energético do biogás, patamar superior à mera
queima, a empresa empreendeu pesquisas no sentido do tratamento do biogás para o seu
aproveitamento como combustível automotivo. No entanto, o eficaz tratamento de modo a
condicionar o gás veicular aos padrões restritivos em vigor levou à conclusão de
inviabilidade. Passo seguinte, a companhia implantou uma usina elétrica que utiliza o biogás
como combustível para movimentação de motores que produzem giro de turbinas, gerando
cerca de 8,5 MW.
No atual cenário mundial, face à presente busca de alternativas energéticas, em
função da crescente demanda industrial, das crescentes restrições ambientais à instalação
de usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares, as dificuldades e restrições têm sido
enfrentadas e superadas. Sendo o metano um dos precursores do efeito estufa, e, portanto,
havendo possibilidade de busca de créditos internacionais em projetos que contemplem a
otimização de sua captura e conversão a dióxido de carbono com aproveitamento
energético, basicamente seu aproveitamento tem-se constituído em uma tônica de gestão
competente nos sistemas municipais e privados de tratamento de resíduos sólidos e mesmo
de efluentes líquidos.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 67


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRANCO, Marta S.R.C. 2010. Avaliação do impacte da presença de siloxanos em sistemas de


aproveitamento de biogás. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, 162p.

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PILLA, L. 1979. Físico Química, vol. 2 - Livros Técnicos e Científicos S.A., Rio de Janeiro, 1980.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 68


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.5 LIXIVIADO

1.5.1 Introdução
Uma das grandes desvantagens do método aterro sanitário é a geração de um
efluente líquido escuro e fétido, com elevada instabilidade termodinâmica devido à
presença de compostos não estabilizados derivados da decomposição parcial da matéria
orgânica, e com uma série de compostos naturais e sintéticos dissolvidos e dispersos. Tal
efluente, se não administrado e tratado corretamente, pode ocasionar séria depreciação à
qualidade de vida das populações próximas ao sítio de disposição de resíduos sólidos.
Diversas denominações foram atribuídas a esse líquido, entre outras, chorume,
sumeiro, purina, lixiviado, lixívia, líquido lixiviado, percolado e líquido percolado. A
denominação “chorume” tornou-se muito conhecida tanto popularmente quanto no meio
técnico. LUZ (1983) apud LIMA (1995) define chorume como o líquido advindo de três fontes:
(1) umidade natural dos resíduos sólidos (que se eleva sensivelmente nos períodos de
chuva); (2) água de constituição dos vários materiais, que sobra durante a decomposição; (3)
líquido proveniente da dissolução da matéria orgânica pelas exoenzimas bacterianas na fase
inicial da degradação da matéria orgânica. REICHERT (1999) ressalta que, além dos limites da
definição anterior, as águas precipitadas sobre o aterro, que atravessam a massa de resíduos
dissolvendo compostos solúveis e arrastando particulados, são responsáveis pela quase
totalidade dos volumes de efluente gerados, defendendo a adoção da denominação lixiviado
para o líquido, como tradução do termo inglês leachate (to leach = lixiviar) adotado nas
publicações em língua inglesa, ressaltando que tal descreve melhor as condições físicas em
que é gerado.
Em consonância com ambas as definições, FLECK (2003) considera chorume o
líquido proveniente dos fenômenos físicos, químicos e biológicos sofridos por um dado
volume de resíduos sólidos em um sistema fechado, sem trocas de matéria com o exterior, o
que conduz à primeira definição apresentada; considera lixiviado o efluente produzido em
aterro, considerado sistema aberto às trocas de massa, sujeito aos fenômenos hidrológicos
locais. A água residuária oriunda de um processo de percolação é, por definição, um líquido
percolado. No entanto, a sua característica como poluente advirá verdadeiramente do
processo de lixiviação dos compostos do meio em que percola. Se tal meio for isento de
compostos solúveis e de sólidos passíveis de suspensão, o líquido percolado não sofrerá
modificação em sua composição original, não motivando então ser denominado lixiviado. Eis

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 69


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

a justificativa da nomenclatura adotada, que enfatiza o fenômeno de transformação dos


líquidos originais na sua forma final.
A Figura 1.5.1 apresenta lixiviados bruto e tratado anaerobicamente.

Figura 1.5.1 – Lixiviados (a) tratado


anaerobicamente (esquerda) e (b) bruto
(direita

Fonte: o autor

1.5.2 Aspectos quantitativos da geração dos


lixiviados
A geração do lixiviado acontece quando o teor de umidade dos resíduos excede a
capacidade de campo no local de disposição, definida como a máxima umidade retida em
um meio poroso sem produzir percolação.
De uma maneira simples, os volumes de lixiviados gerados em um aterro de
resíduos sólidos, tomado como volume de controle, dependem de dois fatores:
 os volumes de água que ingressam agregados aos resíduos sólidos, como
umidade;
 os volumes de água trocados entre o aterro e o ambiente externo.
O primeiro fator depende, além da própria composição média dos resíduos
sólidos gerados por uma comunidade, das condições climáticas locais e sazonais. BIDONE e
POVINELLI (1999) citam que, nas condições brasileiras, o teor de umidade dos resíduos sólidos
situa-se entre 40% e 60%, o que, por exemplo, para um município com geração diária de

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 70


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

resíduos sólidos de 1000 t/d significaria uma contribuição diária de cerca de até 600 m3/d
para a formação de lixiviado na instância do aterro somente em função desse fator. Em
períodos de intensa precipitação, a própria forma de acondicionamento dos resíduos
quando expostos nos logradouros para a coleta pode incrementar severamente o seu teor
final de umidade (coleta porta-a-porta, com disposição na frente do imóvel gerador e coleta
automatizada, com disposição em contêineres fechados).
O segundo fator é dependente (1) da hidrologia e climatologia regionais do
aterro e (2) de fatores operacionais e de projeto do mesmo aterro. Em um aterro
impermeabilizado e bem projetado, o papel da hidrologia local é eliminado uma vez que se
supõe nulo o ingresso de água por escoamento superficial ou subsuperficial provindo das
adjacências bem como por nascentes sitas na sua base. Precipitação, evaporação e
evapotranspiração (transpiração pelas plantas), bem como permeabilidade dos maciços de
aterro assumem, então, papel fundamental no balanço hídrico do sistema aterro. Em
localidades de clima seco e baixa precipitação anual não só a geração de lixiviado pode
tornar-se nula, como inclusive o teor de umidade da massa de resíduos aterrados pode-se
tornar fator limitante para o progresso da sua degradação biológica. Em localidades de clima
úmido e elevadas médias pluviométricas anuais, a geração de lixiviados tende a ser elevada.
Tendo em vista que em regiões de clima predominantemente úmido e chuvas
regulares a fração das águas de chuva precipitadas sobre as áreas de aterro que infiltra é o
fator predominante na geração dos lixiviados, o denominado Método Suíço apresenta uma
formulação racional bastante razoável para o cálculo da vazão média anual de geração de
lixiviados em um aterro (equação 1.5-1):

Q = P.A.K/(31.536.000) (1.5-1)

Q: vazão média anual (L/s);


P: precipitação média anual (mm);
A: área total da bacia de contribuição (m2);
K: coeficiente função do grau de compactação do aterro [conforme ROCCA et al. (1979), para
aterros fracamente compactados (0,40,7 t/m3): 0,25K0,50; para aterros fortemente
compactados (>0,7 t/m3): 0,15K0,25); onde  representa o peso específico dos
maciços de resíduos].

Para aterros situados em áreas de clima seco ou de baixos índices pluviométricos


anuais torna-se interessante, para uma previsão mais realista da geração de lixiviados,
utilizar-se um equacionamento que contemple as estimativas de todos os fluxos de água
para dentro e para fora do maciço do aterro, tomado como volume de controle, bem como o
armazenamento dentro desse. A partir de uma ampla revisão da literatura, FLECK (2003)
propôs uma equação geral de balanço de água na unidade de tempo (equação 1.5-2), como
segue:

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 71


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

LIX = P – PESDF + PESFD + U + G + B + R – E – SSOLO – SRS – FH – BG (1.5-2)

LIX: produção líquida de lixiviado na base do aterro;


P: precipitação;
PESDF: água de precipitação drenada superficialmente de dentro para fora da bacia do aterro;
PESFD: água de precipitação drenada superficialmente de fora para dentro da bacia do aterro;
U: água ingressa como umidade dos resíduos;
G: geração líquida de água nos processos bioquímicos de decomposição dos resíduos;
B: água infiltrada pela base devido ao nível piezométrico do lençol freático;
R: água ingressa por recirculação de lixiviados ou irrigação;
E: umidade perdida por evaporação + evapotranspiração real;
SSOLO: variação da umidade armazenada no solo do maciço;
SRS: variação da umidade armazenada nos resíduos sólidos;
FH: água ou lixiviado perdido por fluxo hidráulico no solo para fora do volume de controle;
BG: água perdida como umidade constituinte do biogás removido.

Evidentemente, certas condições de contorno tornam desprezíveis ou mesmo


nulos alguns termos dessa equação de balanço. Por exemplo, a utilização de
impermeabilização lateral e de base tem como efeito anular o ingresso de águas pela base,
bem como as trocas de água pelas laterais; a perfeita drenagem das águas de precipitação
de áreas lindeiras anula o ingresso de águas superficiais pelas adjacências; quando não se
pratica recirculação de lixiviados ou irrigação, fica anulado o termo correspondente.
A estimativa dos termos envolvidos, como evapotranspiração real (função de
variáveis climatológicas, tipo de solo e vegetação) e escoamento superficial (função do tipo
de solo, umidade precedente do solo, topografia e intensidade e duração das chuvas), via de
regra, não é trabalho fácil, tendo sido apresentadas várias metodologias para tal (DASS et al.,
1977; ROCCA et al., 1979; ORTA et al., 2000). Metodologias avançadas para tal finalidade têm
sido desenvolvidas gerando softwares computacionais. LANGE e AMARAL (2009) citam alguns
desses produtos, disponíveis no mercado:
 HELP (Hydrologic Evaluation of Landfill Performance);
 SWB (Serial Water Balance Method);
 MOBYDEC (Global Model for Landfill Hydrologic Balance);
 UNSAT-H (Unsaturated Soil Water and Heat Flow Model);
 MODUELO;
 SADES.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 72


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1.5.3 Aspectos qualitativos dos lixiviados


Até 1965, poucos indivíduos aperceberam-se ou deram importância ao fato de
que águas em contato com resíduos sólidos tornar-se-iam muito poluídas e contaminadas
(QASIM e CHIANG, 1994). Somente a partir do início da década de 1970, pesquisadores como
William C. Boyle, Robert K. Ham, Samuel Ho, Edward S. K. Chian e Foppe B. DeWalle
iniciaram estudos relativos à composição dessas águas residuárias, ao seu potencial de
impacto ao meio-ambiente, e às possibilidades metodológicas para o seu tratamento (FLECK,
2003). Observaram a variabilidade da sua composição em diferentes aterros e diferentes
épocas do ano e verificaram sua característica como água residuária usualmente cem ou
mais vezes concentrada do que o esgoto doméstico.
Composição e concentração dos lixiviados estão intimamente relacionadas com
(1) as características dos resíduos sólidos aceitos no aterro (KEENAN et al., 1984), (2) as
condições climáticas da região em que o sítio se situa, (3) a idade média e as condições
operacionais e de projeto do aterro. Resíduos de regiões cujos geradores produzam
diferentes percentuais de matéria orgânica e de resíduos não biodegradáveis, por exemplo,
poderão gerar lixiviados com diferentes características. O balanço hídrico do aterro,
consideradas as características pluviométricas locais, umidade relativa e intensidade dos
ventos, é de fundamental importância para se determinar se haverá suficiente umidade para
garantir a manutenção das reações bioquímicas na massa de resíduos (que se dão em fase
aquosa), e para preverem-se os graus de lixiviação e diluição das águas de percolação, o que
afeta diretamente a qualidade e a concentração dos lixiviados. O grau de compactação dos
resíduos, a profundidade do aterro, a interação do lixiviado com o ambiente e os demais
detalhes operacionais e de projeto são, também, fatores que determinam a qualidade do
lixiviado (QASIM e CHIANG, 1994). Desta maneira, características químicas, físico-químicas e
biológicas determinadas analiticamente em amostras de lixiviados deverão ser
compreendidas como condições resultantes de uma sobreposição de fases de estabilização
conjugadas com fatores operacionais e climáticos (ARRUDA et al., 1995).
De uma forma simplificada, o universo de compostos presentes nos lixiviados
pode ser subdividido em (1) compostos orgânicos e (2) compostos inorgânicos. Em ambiente
anaeróbio, a fração carbonácea biodegradável é praticamente toda convertida a ácidos
carboxílicos de cadeia curta (voláteis), e, sequencialmente, em metano. Uma fração, porém,
será convertida em compostos refratários à degradação anaeróbia (ácidos húmicos e
fúlvicos). Dos compostos inorgânicos, por seu turno, parte sofre transformações bioquímicas
anóxicas, atuando, via de regra, como reserva de aceptores de elétrons, sendo reduzidos no
processo de oxidação da matéria carbonácea, parte combina-se para formar sais mais ou
menos solúveis em função das condições de pH, e parte pode ser quelada e complexada pela
própria matéria humificada ou pelos complexos do solo.
Em seu modelo, CHRISTENSEN e KJELDSEN (1989) caracterizam o lixiviado como uma
solução aquosa contendo quatro grupos de poluentes/contaminantes: (1) material orgânico
dissolvido (ácidos graxos voláteis e compostos orgânicos refratários, como as substâncias

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 73


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

húmicas), (2) macrocomponentes inorgânicos tais como os íons cálcio, magnésio, sódio,
potássio, amônio, ferro, manganês, cloreto, sulfato e bicarbonato, (3) metais pesados, tais
como cádmio, cromo, cobre, chumbo, níquel e zinco e (4) compostos orgânicos xenobióticos,
originários de resíduos domésticos e químicos presentes em baixas concentrações
(hidrocarbonetos aromáticos, fenóis, pesticidas, etc.). Ilustrativamente, a Tabela 1.5.1
apresenta os resultados de algumas pesquisas da ocorrência de metais nos resíduos
brasileiros e suas fontes.

Tabela 1.5.1 – Fontes e concentrações médias de metais nos resíduos sólidos brasileiros
Concentração típica nos
1
Metal Fonte de ocorrência nos resíduos sólidos resíduos sólidos
brasileiros2
embalagens, diversos artigos domiciliares e
Alumínio Sem informação
industriais, cosméticos.
Antimônio embalagens de tintas, vernizes e solventes orgânicos. Sem informação
resíduos e embalagens de herbicidas, inseticidas e
Arsênio fungicidas, embalagens de tintas, vernizes e solventes Sem informação
orgânicos.
Bário cinzas de ruas*, resíduos de tintas, metais, couros. Sem informação
plásticos, matéria orgânica, metais não ferrosos,
Cádmio 3 mgCd/kg de resíduo
cinzas de ruas*, pilhas e baterias.
metais ferrosos, plásticos, couros, borrachas, matéria
Chumbo orgânica, restos de combustíveis, cinzas de ruas*, 167-282 mgPb/kg de resíduo
papel, pilhas e baterias, papelão.
metais ferrosos e não ferrosos, matéria orgânica,
Cobre couros, borrachas, plásticos, resíduos de tintas, 156 mgCu/kg de resíduo
inseticidas, cinzas de ruas*.
couros, matéria orgânica, metais ferrosos e não
ferrosos, plásticos, vidros, papéis, papelão,
Cromo 68 mgCr/kg resíduo
embalagens de tintas, vernizes e solventes orgânicos,
cinzas de ruas*.
metais ferrosos (fontes de uso domiciliar e industrial
Ferro Sem informação
variadas).
Manganês lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias. Sem informação
matéria orgânica, termômetros e manômetros,
Mercúrio papéis, plásticos, pilhas e baterias, lâmpadas 0,2 mgHg/kg de resíduo
fluorescentes.
couros, matéria orgânica, pilhas e baterias, plásticos,
Níquel 12 mgNi/kg de resíduo
vidros, papéis, borracha, cinzas de ruas*.
filmes fotográficos e radiográficos, resíduos de
Prata Sem informação
galvanoplastia.
Sódio, Potássio, matéria orgânica, entulhos de construção, cascas de
Sem informação
Cálcio, Magnésio ovos, ossos.
metais não ferrosos, matéria orgânica, plásticos,
Zinco 263-369 mgZn/kg de resíduo
papéis, borrachas, cinzas de ruas*.
* resíduos de varrição de ruas, provenientes das mais diversas fontes como papéis e objetos dispostos por transeuntes,
materiais carreados pelo vento e particulados de emissões aéreas de estabelecimentos industriais.
1 2
Fonte: SEGATO e SILVA, 2000; ROUSSEAUX et al., 1989)

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 74


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A Tabela 1.5.2 apresenta resultados provenientes da caracterização da fração


orgânica de lixiviados em diferentes aterros da Noruega e EUA.

Tabela 1.5.2 – Ácidos graxos voláteis (AGV) e compostos orgânicos em lixiviados


Gromno Bránásdalen Yaggeseth Taranrod Cedar Hills Kent Highland
Aterros
(Noruega) (Noruega) (Noruega) (Noruega) (EUA) (EUA)
Compostos mg/L mgC/L mg/L mgC/L mg/L mgC/L mg/L mgC/L mg/L mgC/L mg/L mgC/L
COT - 100 - 250 - 1700 - 800 - - - -
Carboidratos
24 10 37 15 54 22 113 46 - - - -
totais
Proteína total - - 181 94 144 75 - - - - - -
Ácido Acético <10 - 129 52 420 168 421 169 2750 1100 300 120
Ácido
<10 - 37 18 231 111 282 136 4375 2100 380 182
Propiônico
Ácido Butírico <10 - 12 7 681 368 318 172 5875 3173 260 140
Ácido
<10 - <10 - 78 42 32 17 - - 190 -
Isobutírico
Ácido Valérico <10 - <10 - 219 129 87 51 550 324 90 112
Ácido
<10 - <10 - 241 142 19 11 - - - -
Isovalérico
Ácido
- - - - - - - - 600 372 56
Capróico
Total de
compostos
10 185 1057 658 7069 610
orgânicos
identificados
*COT: carbono orgânico total; AGV: ácidos graxos voláteis
Fonte: JOHANSEN e CARLSON (1976)

Com o passar do tempo de vida útil de um aterro sanitário, progressivamente a


idade média dos resíduos aterrados eleva-se. Isso conduz a que paulatinamente os lixiviados,
pensados como blendas de líquidos que percolaram por diferentes microsítios da mesma
célula de aterro, modifiquem as suas características. A elevação do pH ao longo do tempo,
característica da predominância na fase metanogênica e o gradual rebaixamento da pressão
parcial dos gases produzidos pelo processo anaeróbio conduzem a efeitos como precipitação
de metais e elevação do potencial redox. Como um reator dinâmico, a célula em processo
anaeróbio promove metabolização da matéria carbonácea biodegradável, o que ocasiona a
elevação relativa percentual da matéria refratária presente. Por outro lado, o regime de
sucessivas retiradas dos lixiviados da célula conduz ao progressivo rebaixamento, no volume
de controle, das massas totais presentes de diversas espécies químicas, de modo a que
progressivamente novas cargas de resíduos recebidas não conseguirão repor. Neste sentido
não há uma composição típica para os lixiviados, há sim faixas de variação das características
que aproximadamente delimitam a preponderância de uma ou outra fase do processo
anaeróbio na célula de aterro. A Tabela 1.5.3 apresenta características típicas de lixiviados
jovens, maduros e antigos.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 75


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.5.3 – Características típicas dos lixiviados jovens, maduros e antigos


Lixiviado jovem
Lixiviado maduro Lixiviado antigo
(acidogênese
Característica (metanogênese (célula de aterro
/acetogênese
predominante) encerrada)
predominante)
pH 4,0 – 6,0 6,8 – 8,0 7,5 – 9,0
Demanda Bioquímica de Oxigênio – 5 dias
4000 – 40.000 1000 - 4000 50 - 550
(DBO5) (mgO2/L)
Demanda Química de Oxigênio (DQO)
15.000 – 60.000 2500 – 20.000 800 - 3200
(mgO2/L)
Relação DBO5/DQO 0,63 - 0,58 0,38 – 0,1 0,34 - 0,02
Fósforo (mgP/L) 6,0 – 9,0 14,0 – 18,0 5,0 – 23,0
Nitrogênio Total de Kjeldahl (NTK) (mgN/L) 200 - 600 1800 - 3400 600 – 2000
Condutividade (mho/cm) 4900 - 6300 23.000 – 29.000 7500 – 30.000
Sólidos Totais Fixos (mg/L) 1500 - 1900 9300 – 11.000 1800 - 8500
Sólidos Totais Voláteis (mg/L) 3300 - 4400 3700 - 4300 1100 – 1800
Alcalinidade (mgCaCO3/L) 2300 - 3400 9800 – 12.500 3200 – 9300
Coliformes Fecais (NMPF/100mL) 0 – 180.000 Ausentes Ausentes
Ferro (mgFe/L) 60,0 – 100,0 6,0 – 10,0 6,0- 14,0
Chumbo (mgPb/L) 0,1 – 0,12 0,14 – 0,24 0,04 – 0,11
Fonte: adaptado de LANGE e AMARAL (2009) e CANZIANI e COSSU (1989)

Diversos fatores podem alterar as concentrações dos lixiviados, especialmente os


fatores relacionados à diluição. Exemplo disso é um aterro em início de operação, o qual
apresenta uma grande superfície de bacia de contribuição: se as águas de precipitação sobre
a bacia integralmente entrarem em contato com os resíduos sólidos, em função da
declividade do terreno, haverá maximização da lixiviação. No caso mais comum, águas que
não precipitam diretamente sobre a massa de resíduos serão operacionalmente afastadas
das massas de resíduos e percolarão pelo solo nu, ocasionando apenas diluição do lixiviado
formado, na instância do exutório da bacia (célula de aterro). A relação DBO5/DQO, muito
utilizada como indicadora da biodegradabilidade dos lixiviados, carrega consigo a vantagem
de independer da diluição.
A Tabela 1.5.4 apresenta intervalos de variação das características físico-
químicas, químicas e microbiológicas de lixiviados de diferentes aterros brasileiros e do
mundo.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 76


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.5.4 - Intervalos de variação das características físico-químicas, químicas e


microbiológicas de lixiviados de diferentes aterros
Característica Físico-Química, 1 2 3 4 5
Jangurussu Extrema Baurú Lipówka Trail Road
Química ou Microbiológica
Condutividade Elétrica
- 1000-45.000 - - 1700-13.500
(mho/cm)
Potencial Redox (mV) - (-463)-(+133) - - -
pH 8,3-8,8 4,4-8,4 6,9-8,2 8,0 6,9-9,0
Oxigênio Dissolvido (mgO2/L) - 0 - - -
o
Sólidos Totais a 105 C (mg/L) 10.000-28.400 2019-29.020 - 240 -
o
Sólidos Totais Dissolvidos a 105 C
- 17.490* - - -
(mg/L)
o
Sólidos Totais Suspensos a 105 C
- 770* - 21 -
(mg/L)
o
Sólidos Totais Fixos a 550 C
- 584-14.090 - - -
(mg/L)
o
Sólidos Totais Voláteis a 550 C
- 450-11.220 - - -
(mg/L)
o
Sólidos Dissolvidos Fixos a 550 C
- 10.530* - - -
(mg/L)
Sólidos Dissolvidos Voláteis a
o - 6960* - - -
550 C (mg/L)
o
Sólidos Suspensos Fixos a 550 C
- 460* - - -
(mg/L)
Sólidos Suspensos Voláteis a
o - 5-310 - - -
550 C (mg/L)
Alcalinidade Total (mgCaCO3/L) 670-5050 320-14.920 8500-13.500 - -
Acidez (mgCaCO3/L) - 0-1350 - - -
Dureza (mgCaCO3/L) 138-600 - - - -
Cloretos (mgCl/L) 370-9768 3.190* 4300-6600 - 755,91-3035
4
4,30x10 -
Coliformes Totais (NMP/100mL) 8 - - - -
1,2x10
4
1,3x10 - 5
Coliformes Fecais (NMP/100mL) 6 0-2,8x10 - - -
2,4x10
Contagem de Bactérias 6
- 200-2,5x10 - - -
Heterotróficas (UFC/mL)
Demanda Bioquímica de Oxigênio
200-850 4,2-16.500 - 331 -
- 5 dias (mgO2/L)
Demanda Química de Oxigênio
657-12.267 14,4-31.200 66.000-96.000 1183 3210-9190
(mgO2/L)
Ácidos Graxos Voláteis (mgÁcido
60-10.200 - - -
Acético/L)
Nitrogênio Amoniacal (mgN/L) 2,9-1132 18-2845 750-1880 743 -
Nitrogênio Orgânico (mgN/L) - 0-2184 - - -
Nitrogênio Total de Kjeldahl
- 0,6-2970 - - -
(mgN/L)
-
Nitrato Total (mgNO3 /L) 10-1.445 0-199 650-1750 0,8 <2-11
-
Nitrito Total (mgNO2 /L) 0,43-4.261 0-1,4 7-20 Traços <1-5
Fósforo Total (mgP/L) 0,37-44,53 0,25-27,3 100-735 - <0,5-47,0
-3
Fosfato Total (mgPO4 /L) - 4,3-101 - - -
-2
Sulfatos (mgSO4 /L) - 0-1.319 3500-6000 - <20-165
Sulfetos (mgH2S/L) - 0-40 - - -
-2
Sulfitos (mgSO3 /L) - 40* - - -
Alumínio (mgAl/L) - 0-18,56 - - <0,02-0,92
continua

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 77


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 1.5.4 - Intervalos de variação das características físico-químicas, químicas e


microbiológicas de lixiviados de diferentes aterros (continuação)
Característica Físico-Química, 1 2 3 4 5
Jangurussu Extrema Baurú Lipówka Trail Road
Química ou Microbiológica
Arsênio (mgAs/L) - 0,002-0,01 - - -
Bário (mgBa/L) - 0,06-1,99 - - 0,006-0,164
Boro (mgB/L) - 5,1* - - 1,92-9,63
Cádmio (mgCd/L) - 0-0,05 - - <0,008-0,012
Cálcio (mgCa/L) - 100* - - 2,15-113,90
Chumbo (mgPb/L) ND 0-0,73 - - <0,04-0,06
Cobalto (mgCo/L) - 0,14* - - <0,008-0,011
Cobre (mgCu/L) - 0-1,34 105-365 - 0,008-0,061
Cromo Total (mgCr/L) 0,84 0-0,82 - - <0,015-0,092
Estanho (mgSn/L) - 1,68* - - -
Estrôncio (mgSr/L) - 0,2* - - 0,137-5,005
Ferro Total (mgFe/L) 46,14 2,38-365 70-500 - 1,28-4,90
Lítio (mgLi/L) - 0,14* - - 0,017-0,171
Magnèsio (mgMg/L ) - 460* - - 181,40-627,48
Manganês (mgMn/L) - 0,06-115 50-1200 - 0,028-1,541
Mercúrio (mgHg/L) - 0-0,01 - - -
Molibdênio (mgMo/L) - 0* - - 0,004-0,015
Níquel (mgNi/L) 1,48 0-0,34 - - 0,02-0,27
Potássio (mgK/L) - 2154* - - 161,9-1993,8
Prata (mgAg/L) - 0* - - -
Selênio (mgSe/L) - 0* - - -
Sódio (mgNa/L) - 2000* - - 672,40-1748,46
Vanádio (mgV/L) - 0* - - 0,31-0,32
Zinco (mgZn/L) 13,68 0-0,95 175-260 - 0,035-0,429
Fenóis (mgC6H5OH/L) - 0,05-4,8 - - -
Surfactantes (mgABS/L) - 0,078-0,33 - - -
-
Cianetos (mgCN /L) - 0* - - -
Fluoretos (mgF/L) - 0,65* - - -
Óleos e Graxas Totais (mg/L) - 0-58 - - -
ND: não detectado; (-): ausência de resultados disponíveis; (*): resultados pontuais
1
[Fontes: Lixão do Jangurussu, Fortaleza, Ceará; depósito de idade aproximada de 20 anos; monitoramento do efluente de
base entre maio/1996-abril/1997 (OLIVEIRA e MOTA, 1998);
2
Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre; período: junho/1997 (início da operação) a março/2002; faixas de
resultados referentes a lixiviados brutos e pré-tratados em filtro anaeróbio de base (FLECK, 2003);
3
Aterro Sanitário de Bauru, junho-julho/1999; coletado em uma bacia que recebe lixiviados de células de
diferentes idades (SEGATO e SILVA, 2000);
4
Valores médios relativos ao lixiviado produzido no Aterro Sanitário de Lipówka, município de Dabrowa Górnicza,
província de Katowice, Polônia (BOHDZIEWICZ et al., 2001);
5
Lixiviado procedente do Aterro Municipal Ottawa-Carleton Trail, Nepean, Canadá (KENNEDY e LENTZ, 2000)]

A Figura 1.5.2 apresenta lixiviado de aterro sanitário sendo aduzido a uma lagoa
de equalização.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 78


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 1.5.2 - Lixiviado de sendo bombeado a uma lagoa de equalização

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 79


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

PERCOLAÇÃO: passagem lenta de um líquido através de um meio filtrante.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO: soma das perdas de água do solo e pelas plantas, pelo seu processo
de transpiração.

VOLUME DE CONTROLE: jargão empregado em Engenharia para designar um determinado


volume imaginário (poliedro) demarcado em torno de um dado objeto, com o objetivo de
observar tudo aquilo que entra, sai ou permanece no poliedro. Serve sobretudo, para
estabelecerem-se balanços (“contabilidades”) de propriedades. Exemplo: balanço de calor
em torno do volume de controle que insere um incinerador: contabiliza calor que entra no
volume e calor que sai do volume, além de calor produzido interiormente ao mesmo
volume.

K: coeficiente de permeabilidade de um meio, expressa a velocidade que um líquido


desenvolve quando atravessando determinado meio. Frequentemente é utilizado para
quantificar a velocidade descendente de uma coluna d’água em um determinado solo.

ÁCIDOS HÚMICOS E FÚLVICOS: vide 3.3.2.

XENOBIÓTICOS: compostos químicos estranhos a um determinado meio. Normalmente se


refere a compostos que inexistem na natureza, sendo sintetizados artificialmente pelo
Homem.

BLENDA: mistura.

PRECIPITAÇÃO: no sentido mais usual significa chuva. Quando referente a metais significa
formação de compostos metálicos não solúveis.

Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 80


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

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Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 81


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Resíduos Sólidos: Conceitos,Características e Biodegradação 82


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.Resíduos sólidos:
Legislação, Classificação e
Gestão

NH4+ → NH3 + H+ (1.4-5)

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 83


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.1 A CLASSIFICAÇÃO
NACIONAL DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS

2.1.1 Introdução
Historicamente, a destinação de resíduos domiciliares, industriais, e de demais
fontes deu-se, no país, através da disposição inadequada e desqualificada no solo, em áreas
sem a mínima preparação estrutural e tecnológica para receber tais resíduos, os chamados
“lixões a céu aberto”. Esta era a realidade predominante na década de 1970 e
anteriormente. Aos poucos, iniciando-se a década de 1980, despertou um tímido mas
progressivo processo de preocupação social com os efeitos da disposição indiscriminada de
resíduos no ambiente. Uma pergunta surgente na mesma década foi a seguinte: “mesmo
que a área de disposição de resíduos sólidos detenha alguma qualificação, que tipos de
resíduos podem ser coletados e dispostos nessas áreas e que tipos de resíduos podem
proporcionar problemas à coleta, ao transporte, e aos próprios recursos naturais da área em
que forem dispostos, necessitando outro tipo de manejo e destinação?”.
Baseando-se em legislações, normas e portarias de países que já se encontravam
em mais adiantado estágio de estudos da matéria, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) constituiu comissão de estudos em meados da década de 1980 para a
elaboração de uma norma balizadora e regulamentadora, que viesse a orientar sobre a
periculosidade à saúde pública e ao ambiente natural dos diferentes resíduos sólidos e suas
composições. Estabelecendo critérios, uma classificação em três classes por periculosidade,
e fornecendo um rito de classificação e subsídios técnicos para essa tarefa, em 1987,
finalmente, a ABNT publicou a NBR 10004 – “Resíduos Sólidos”, e suas normas
complementares NBR 10005, NBR 10006 e NBR 10007, que determinavam procedimentos
padronizados para obtenção do extrato lixiviado de amostra de resíduos sólidos, para a
obtenção de extrato solubilizado de amostra de resíduos sólidos e para a própria
amostragem de resíduos, respectivamente.
A série de normas de 1987 foi referendada pelas legislações federal, estaduais e
municipais como instrumento para classificação de resíduos sólidos e para tomada de
decisão sobre as formas adequadas de seu manejo, tratamento e destinação. Como seria

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 84


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

esperado, a partir do avanço do conhecimento, das sofisticações tecnológicas e da própria


evolução econômica, as normas foram crescentemente necessitando de revisão e
atualização, inclusive para a correção de equívocos. Em 2004, após aprofundamento de
estudos e elaboração de revisões pela comissão CEET-00.01.34 – Comissão de Estudos
Temporária de Resíduos Sólidos –, instituída pela ABNT, e após circulação para consulta
pública, a série de normas de 1987 foi reformulada, sendo publicada uma nova série de
normas, hoje vigentes:
 NBR 10004/2004 – “Resíduos Sólidos”;
 NBR 10005/2004 – “Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de
resíduos sólidos”;
 NBR 10006/2004 – “Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de
resíduos sólidos”;
 NBR 10007/2004 – “Amostragem de resíduos sólidos".

2.1.2 A NBR 10004/2004 – “Resíduos Sólidos”


A NBR 10004/2004 deve ser compreendida como um roteiro normativo para
estabelecer a classificação de um determinado resíduo sólido em função do seu impacto
potencial à saúde humana, de animais e vegetais e ao ambiente, para que possa ser
adequadamente gerenciado. A classificação de um determinado resíduo envolve (1) a
identificação do processo ou da atividade que lhe deu origem, (2) a identificação de suas
características e constituintes e seu comparativo com as listagens e os padrões expressos na
norma. O roteiro de investigação para a classificação dos resíduos sólidos deve ter por base
as matérias-primas, insumos e os processos que originaram o resíduo. Os laudos de
classificação de resíduos devem especificar (1) a origem do resíduo, (2) a descrição do
processo de segregação e (3) a descrição dos critérios adotados para a escolha da coleção de
parâmetros analisados.
A NBR 10004/2004 estabelece duas classes e duas subclasses para a classificação
dos resíduos sólidos em função da periculosidade:
 Classe I: Resíduos Perigosos: são aqueles que, em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas podem apresentar risco
à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou
acentuando seus índices, e/ou risco ao ambiente, quando o resíduo for
gerenciado de forma inadequada.
 Classe II: Resíduos Não Perigosos: São aqueles que, em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas não apresentam risco à
saúde pública, tampouco risco ao ambiente, ainda que possam ser poluentes.
o Classe II-A: Resíduos Não Perigosos Não Inertes: São aqueles que não se

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 85


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

enquadram nas classes I e II-B, portanto não são perigosos tampouco


inertes, podendo apresentar características como biodegradabilidade,
combustibilidade e solubilidade em água.
o Classe II-B: Resíduos Não Perigosos Inertes: São aqueles que, amostrados
de forma representativa e submetidos a contato dinâmico e estático com
água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente (conforme ensaio
padronizado pela NBR 10006/2004), não solubilizam constituintes em
concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água,
excetuando-se cor, turbidez, dureza e sabor.
A questão referente a certo resíduo apresentar risco ao ambiente, conforme
definições das classes I e II deve ser compreendida de forma relativa: os resíduos
pertencentes à Classe II-A apresentam potencial poluidor, portanto não podem ser
gerenciados de forma desqualificada. Os resíduos pertencentes à Classe I podem ser, a
grosso modo, associados à ideia de contaminantes, apesar de várias características de
periculosidade relacionarem-se a riscos em seu manejo e ao potencial de ocasionar efeitos
físicos relevantes.
Cinco características são citadas pela NBR 10004 como precursoras de
periculosidade de um resíduo: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade. Uma sexta propriedade denominada radiatividade indubitavelmente insere
periculosidade a um resíduo, porém, em função de que à Comissão Nacional de Energia
Nuclear – CNEN – outorga-se competência exclusiva para legislar sobre materiais
radioativos, abstém-se a ABNT de incluir na sua classificação tal categoria. A norma NBR
10004 define tecnicamente todas as cinco características/propriedades que conferem
periculosidade aos resíduos:

Inflamabilidade
Um resíduo sólido é considerado inflamável se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007/2004, apresentar
qualquer uma das seguintes propriedades:
 ser líquida e ter ponto de fulgor inferior a 60oC, determinado conforme ABNT
NBR 14598 ou equivalente, excetuando-se as soluções aquosas com menos de
24% de álcool em volume;
 não ser líquida e ser capaz de, sob condições de temperatura e pressão de
25oC e 1 atm produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou por
alterações químicas espontâneas e, quando inflamada, queimar vigorosa e
persistentemente, dificultando a extinção do fogo;
 ser um oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e, como
resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do fogo em outro
material;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 86


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 ser um gás comprimido inflamável, conforme legislação federal sobre


transporte de produtos perigosos.

Corrosividade
Um resíduo é caracterizado como corrosivo se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
 ser aquosa e apresentar pH inferior ou igual a 2,0 ou superior ou igual a 12,5,
ou sua mistura com água na proporção 1:1 em peso produzir uma solução que
apresente pH inferior a 2 ou superior ou igual a 12,5;
 ser líquida ou, quando misturada em peso equivalente de água, produzir um
líquido e corroer o aço (COPANT 1020) a uma razão maior que 6,35 mm/ano,
a uma temperatura de 55oC, de acordo com USEPA SW 864 ou equivalente.

Reatividade
Um resíduo é caracterizado como reativo se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
 ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar;
 reagir violentamente com a água;
 formar misturas potencialmente explosivas com a água;
 gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quantidades suficientes para
provocar danos à saúde pública ou ao ambiente, quando misturados com a
água;
 possuir em sua constituição CN- ou S-2 em concentrações que ultrapassem os
limites de 250 mg de HCN liberável por quilograma de resíduo ou 500 mg de
H2S liberável por quilograma de resíduo, de acordo com ensaio estabelecido
no USEPA-SW 846;
 ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob ação de forte
estímulo, ação catalítica ou temperatura em ambientes confinados;
 ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante ou
explosiva a 25oC e 1 atm;
 ser explosivo, definido como uma substância fabricada para produzir um
resultado prático, através de explosão ou efeito pirotécnico, esteja ou não
esta substância contida em dispositivo preparado para este fim.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 87


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Toxicidade
Um resíduo é caracterizado como tóxico se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007, apresentar qualquer
uma das seguintes propriedades:
 quando o extrato obtido desta amostra, segundo a NBR 10005, contiver um
dos contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no
Anexo F da NBR 10004 (concentrações-limites máximas no extrato obtido no
ensaio de lixiviação). Neste caso, o resíduo deve ser caracterizado como tóxico
com base no ensaio de lixiviação;
 possuir uma ou mais substâncias constantes no Anexo C da NBR 10004
(substâncias que conferem periculosidade aos resíduos) e apresentar
toxicidade. Para avaliação dessa toxicidade devem ser considerados os
seguintes fatores:
o natureza da toxicidade apresentada pelo resíduo;
o concentração dos constituintes no resíduo;
o potencial que o constituinte ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, tem para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições
impróprias de manuseio;
o persistência do constituinte ou qualquer produto tóxico de sua
degradação;
o potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, tem para degradar-se em constituintes não perigosos,
considerando a velocidade em que ocorre a degradação;
o extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, é capaz de bioacumulação nos ecossistemas;
o efeito nocivo pela presença de agente teratogênico (provoca alterações
fetais), mutagênico (provoca modificações no material genético),
carcinogênico (provoca ou eleva a incidência de câncer) ou ecotóxico
(provoca risco aos compartimentos ambientais), associados a substancias
isoladamente ou em decorrência de sinergismo entre as substâncias
constituintes do resíduo;
 ser constituída por restos de embalagens contaminadas com substâncias
constantes nos anexos, da NBR 10004, “D” (substâncias agudamente tóxicas)
e “E” (substâncias tóxicas);
 resultar de derramamentos ou de produtos fora de especificação ou do prazo
de validade que contenham substâncias constantes nos anexos, da NBR
10004, “D” (substâncias agudamente tóxicas) e “E” (substâncias tóxicas);
 ser comprovadamente letal ao homem;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 88


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 possuir substância em concentração comprovadamente letal ao homem ou


estudos do resíduo demonstrarem uma DL50 oral para ratos (dose letal para
50% da população de ratos testados, quando administrado por via oral)
menor do que 50 mg/kg ou CL50 inalação para ratos (concentração de uma
substância que, quando administrada via respiratória, acarrete a morte de
50% da população de ratos exposta) menor que 2 mg/L ou uma DL50 dérmica
para coelhos (dose letal para 50% da população de coelhos testados, quando
ministrada em contato com a pele) menor que 200 mg/kg.

Patogenicidade
Um resíduo é caracterizado como patogênico se uma amostra representativa do
mesmo, obtida conforme procedimento estabelecido pela NBR 10007 contiver ou se houver
suspeita de conter, microorganismos patogênicos, proteínas virais, DNA ou RNA
recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmídios, cloroplastos,
mitocôndrias ou toxinas capazes de produzir doenças em homens, animais e vegetais. Os
resíduos gerados nas estações de tratamento de esgotos domésticos e os resíduos sólidos
domiciliares, excetuando-se os originados na assistência à saúde da pessoa ou animal, não
são classificados segundo critérios de patogenicidade.
A NBR 10004/2004 apresenta cinco listagens (anexos A, B, C, D e E) de resíduos e
substâncias perigosos, um anexo com concentrações-limites para diversas substâncias e
compostos no extrato de lixiviação (Anexo F), um anexo com concentrações-limites para
diversos elementos e compostos na solução obtida no ensaio de solubilização (Anexo G), e
um anexo com códigos para resíduos não perigosos:
 Anexo A: Resíduos perigosos de fontes não específicas;
 Anexo B: Resíduos perigosos de fontes específicas;
 Anexo C: Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos;
 Anexo D: Substâncias agudamente tóxicas;
 Anexo E: Substâncias tóxicas;
 Anexo F: Concentração-limite máxima no extrato obtido no ensaio de
lixiviação;
 Anexo G: Padrões para o ensaio de solubilização;
 Anexo H: Codificação de alguns resíduos classificados como não perigosos.
Os resíduos perigosos classificados pelas suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e patogenicidade são codificados da seguinte forma:
 Código D001: qualifica o resíduo como inflamável;
 Código D002: qualifica o resíduo como corrosivo;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 89


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Código D003: qualifica o resíduo como reativo;


 Código D004: qualifica o resíduo como patogênico;
Os resíduos constantes nas listagens A, B, D, E, F e H da NBR 10004/2004
recebem codificações com uma letra e três algarismos:
 os resíduos perigosos constantes no Anexo A são codificados pela letra F e são
originados de fontes não específicas;
 os resíduos perigosos constantes no Anexo B são codificados pela letra K e são
originados de fontes específicas;
 os resíduos classificados como perigosos em função da superação, no extrato
de lixiviação, dos limites expressos no Anexo F, são codificados com os
códigos D005 a D052;
 os códigos identificados pela letra P, constantes no Anexo D, são de
substâncias que, dada a sua presença, conferem periculosidade aos
resíduos, e serão adotados para codificar os resíduos classificados como
perigosos pela sua característica de toxicidade;
 os códigos identificados pela letra U, constantes no Anexo E, são de
substâncias que, dada a sua presença, conferem periculosidade aos resíduos,
e serão adotados para codificar os resíduos classificados como perigosos pela
sua característica de toxicidade;

2.1.3 A NBR 10005/2004 – “Procedimento para


obtenção de extrato lixiviado de resíduos
sólidos”
Denomina-se lixiviação o processo de incorporação de sólidos dissolvidos,
suspensos e miscelares em um líquido quando este percola (“infiltra”) por um determinado
meio poroso (ou seja, atravessa um meio poroso). A lixiviação é um processo importante em
aterros sanitários de resíduos sólidos, uma vez que dela resulta um efluente extremamente
poluente, gerado a partir da percolação das águas de chuva que se precipitam sobre os
aterros. Uma preocupação maior do que o potencial poluidor dos lixiviados de aterros
relaciona-se ao seu potencial de toxicidade, uma vez que, mesmo que o lixiviado de um
aterro em particular sofra tratamento prévio ao seu lançamento em um corpo hídrico,
alguns compostos podem apresentar-se refratários aos processos normais de tratamento,
não somente prejudicando esses, como se mantendo inalterados após os mesmos, sendo
enfim lançados nos arroios e rios, prejudicando os ecossistemas e retornando ao consumo
humano através das águas tratadas para potabilidade.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 90


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A metodologia de ensaio preconizada pela NBR 10005/2004 visa simular a


lixiviação em condições próximas àquelas que se dão em aterros sanitários, em que o pH
apresenta-se moderadamente ácido nas fases iniciais de degradação biológica dos resíduos,
o que facilita, por exemplo, a solubilização de metais.
O extrato lixiviado obtido deverá ser analisado em função dos possíveis
constituintes da amostra que estejam relacionados no Anexo F da NBR 10004/2004,
reproduzido na Tabela 2.1.1. A presença de um ou mais compostos em concentrações
superiores aos limites estabelecidos na mesma listagem confere periculosidade ao resíduo.
Caso nenhum dos constituintes supere seu respectivo limite e o resíduo não apresente
qualquer outra característica de periculosidade, será classificado como resíduo pertencente
à Classe II – não perigoso, e a continuidade do procedimento para sua classificação ocorrerá
a partir da obtenção do extrato solubilizado, conforme padronização da NBR 10006/2004,
para classificação como não perigoso inerte ou não perigoso não inerte.

Tabela 2.1.1 – Limites máximos, expressos em miligramas por litro, no extrato obtido no
ensaio de lixiviação
Espécie química Limite Espécie química Limite
Arsênio 1,0 Cloreto de vinila 0,5
Bário 70 Clorobenzeno 100
Cádmio 0,5 Clorofórmio 6,0
Chumbo 1,0 Cresol Total 200,0
Cromo total 5,0 o-Cresol 200,0
Fluoreto 150 m-Cresol 200,0
Mercúrio 0,1 p-Cresol 200,0
Prata 5,0 1,4-Diclorobenzeno 7.5
Selênio 1,0 1,2-Dicloroetano 1,0
Aldrin + Dieldrin 0,003 1,1-Dicloroetileno 3,0
Clordano (todos os isômeros 0,02 2,4-Dinitrotolueno 0,13
DDT (p, p´ DDT+ p, p´ DDD + p, p´ DDE) 0,2 Hexaclorobenzeno 0,1
2,4-D 3,0 Hexaclorobutadieno 0,5
Endrin 0,06 Hexacloroetano 3,0
Heptacloro e seus epóxidos 0,003 Metiletilcetona 200,0
Lindano 0,2 Nitrobenzeno 2,0
Metoxicloro 2,0 Piridina 5,0
Pentaclorofenol 0,9 Tetracloreto de carbono 0,2
Toxafeno 0,5 Tetracloroetileno 4,0
2,4,5-T 0,2 Tricloroetileno 7,0
2,4,5-TP 1,0 2,4,5-Triclorofenol 400,0
Benzeno 0,5 2,4,6-Triclorofenol 20,0
Benzo(a) pireno 0,07
Fonte: NBR 10004/2004

O processo padronizado pela NBR 10005/2004 prevê três procedimentos


diferenciados: (1) para amostra contendo menos de 0,5% de sólidos particulados, (2) para

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 91


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

amostras 100% sólidas, e (3) para resíduo úmido contendo mais do que 0,5% de sólidos
particulados. Em caso de sabida presença de compostos voláteis (definidos como tais em
uma listagem da própria norma) na amostra, o procedimento para obtenção do extrato
lixiviado será conduzido em um extrator especial (extrator ZHE = Zero Head Space Extractor),
hermético, que permitirá a lixiviação dos voláteis; caso a amostra sabidamente não
contenha voláteis, a extração será efetuada em um agitador rotatório que operará a 30±2
rpm.
O extrator ZHE é composto por um frasco com pistão, sendo acoplados uma
linha de gás pressurizado em sua base e um filtro de 90 mm superiormente. O líquido
contendo voláteis é filtrado por aplicação de pressão de gás. As figuras 2.1.1 e 2.1.2
apresentam esquematicamente o agitador rotatório de frasco e o extrator ZHE.
As amostras sólidas a serem remetidas ao ensaio deverão passar pela peneira de
9,5 mm, caso contrário, a amostra deverá sofrer trituração. Se houver voláteis na amostra, a
trituração deverá ser conduzida com a amostra previamente resfriada a 4oC. A determinação
do teor de sólidos suspensos da amostra deverá ser cuidadosamente executada utilizando-
se filtragem com filtro de fibra de vidro de 0,6-0,8 m.

Figura 2.1.1 – Representação esquemática do agitador rotatório de frasco

Fonte: o autor

Duas soluções de extração são padronizadas pela norma. Sendo preparadas com
água ultrapurificada, desionizada e isenta de orgânicos, recebem ácido acético para o
rebaixamento do seu pH. A denominada solução 1 apresenta pH = 4,93±0,05, e a solução 2
pH = 2,88±0,05. A partir de um teste padrão, adicionando-se 96,5 mL de água desionizada a
5 g da amostra, verifica-se se o pH do líquido agitado é inferior a 5,0. Caso positivo, a solução
1 deverá ser utilizada para a extração. Caso negativo, a partir da adição de 3,5 mL de HCl 1,0
N a quente, verifica-se o pH da solução. Se o pH da solução for inferior a 5,0 utiliza-se a
solução 1, caso contrário utiliza-se a solução 2. Os procedimentos para obtenção do extrato
lixiviado são diferentes para diferentes concentrações de sólidos suspensos:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 92


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 2.1.2 – Extrator ZHE

Fonte: web

1) Teor de sólidos igual a 100%:


1.1) Ausência de voláteis: é utilizada uma massa de amostra de 100±0,1 g e
uma massa de solução de lixiviação 20 vezes superior. No agitador
rotatório, a lixiviação dar-se-á durante 18±2 h, a 25oC e 30±2 rpm. O
extrato lixiviado será obtido por filtração do material com filtro de fibra
de vidro de 0,6-0,8 m;
1.2) Presença de voláteis: utiliza-se o extrator ZHE, no qual são inseridos 25 g
da amostra e solução de extração 1, previamente refrigerada a 4±2oC, até
a borda do frasco do extrator. O extrator sofrerá agitação durante 18±2 h,
a 23±2oC e 30±2 rpm. Após, o líquido será separado do sólido por
aplicação de pressão de gás e abertura de uma válvula superior do
extrator;
2)Teor de sólidos menor do que 0,5%:
2.1) Ausência de voláteis: obtém-se o extrato lixiviado através de simples
filtragem utilizando-se filtro de fibra de vidro de 0,6-0,8 m. Anota-se o
pH do filtrado;
2.2) Presença de voláteis: o procedimento, conduzido em extrator ZHE, é
análogo ao descrito em 1.2, apenas sem utilização de solução extratora;
3)Teor de sólidos superior a 0,5%:
3.1) Ausência de voláteis: (1) filtrar a amostra utilizando filtro de fibra de vidro
de 0,6-0,8 m, medir o volume obtido de fase líquida e armazenar a 4oC.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 93


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A seguir, (2) utiliza-se o procedimento de extração descrito em 1.1 para a


fase sólida, utilizando-se a solução extratora previamente definida pelo
teste já descrito. A massa de solução extratora utilizada deverá ser vinte
vezes superior à massa da fase sólida da amostra. Obtém-se o extrato
lixiviado através de simples filtragem utilizando-se filtro de fibra de vidro
de 0,6-0,8 m. Anota-se o pH do filtrado. Os filtrados de (1) e (2), sendo
compatíveis e não gerando separação de fases, são misturados e a
mistura será analisada. Caso contrário, os dois filtrados serão
separadamente analisados, expressando-se o resultado final por
ponderação;
3.2) Presença de voláteis: a extração será efetuada no extrator ZHE,
primeiramente utilizando-se massa de amostra de [2500/(% sólidos)] g
que será filtrada sob pressão, obtendo-se o filtrado 1; num segundo
momento, a fase sólida será extraída utilizando-se solução extratora 1 em
uma massa 20 vezes superior. Após agitação por 18±2 h, a 25oC e 30±2
rpm, obtém-se por filtração sob pressão, o filtrado 2. Em função da
compatibilidade de ambos, poderão ser analisados conjuntamente
(mistura), ou separadamente, expressando-se as concentrações analíticas
por ponderação.

2.1.4 A NBR 10006/2004 – “Procedimento para


obtenção de extrato solubilizado de
resíduos sólidos”
A NBR 10006/2004 padroniza o procedimento para obtenção do chamado
extrato solubilizado. O extrato obtido deverá ser analisado em função dos constituintes
presentes que estejam listados no Anexo G da NBR 10004/2004. Caso nenhum dos
constituintes supere seu limite estabelecido por tal listagem o resíduo será classificado como
pertencente à Classe II B – resíduo não perigoso inerte. Caso um ou mais constituintes
faça(m)-se presente(s) em concentração(ões) superior(es) ao(s) respectivo(s) limite(s)
expresso(s) no Anexo G, o resíduo será classificado como pertencente à Classe II A – não
perigoso não inerte. Os limites mencionados são baseados nos limites para potabilidade de
águas. Em geral, resíduos inertes dispensam maiores qualificações de áreas para sua
disposição, que ficam sujeitas a licenciamentos em função de drenagem pluvial e alguns
outros aspectos específicos, enquanto que resíduos não inertes necessitam disposição em
áreas licenciadas conforme critérios que garantam efetiva proteção dos ambientes regionais
à poluição, visto tais resíduos serem poluentes e/ou depreciarem a qualidade das águas. A
Tabela 2.1.2 reproduz os limites para o ensaio de lixiviação preconizados pela NBR
10006/2004. A Figura 2.1.3 apresenta esquematicamente o procedimento padronizado pela

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 94


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

NBR 10006/2004 para obtenção do extrato solubilizado.

Tabela 2.1.2 – Limites máximos, expressos em miligramas por litro,


no extrato obtido no ensaio de solubilização
Espécie química Limite Espécie química Limite
Alumínio 0,2 Fenóis Totais 0,01
Arsênio 0,01 Cloreto 250
Bário 0,7 Nitrato 10
Cádmio 0,005 Surfactantes 0,5
Chumbo 0,01 Hexaclorobenzeno 0,001
Cianeto 0,07 Sódio 200
Cromo total 0,05 Toxafeno 0,005
Ferro 0,3 2,4,5-T 0,002
Fluoreto 1,5 2,4,5-TP 0,03
Manganês 0,1 Sulfato (expresso em SO4) 250
Mercúrio 0,001 2,4-D 0,03
Prata 0,05 Endrin 0,0006
Selênio 0,01 Heptacloro e seu epóxido 0,00003
Zinco 5 Prata 0,05
Metoxicloro 0,02 Aldrin + Dieldrin 0,00003
Aldrin + Dieldrin 0,00003 Clordano (todos os isômeros) 0,0002
Fonte: NBR 10004/2004

Figura 2.1.3 – Esquematização do procedimento para


obtenção do extrato solubilizado

Fonte: o autor, baseado na NBR 10006/2004

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 95


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.1.5 A NBR 10007/2004 – “Amostragem de


Resíduos Sólidos”
A NBR 10007/2004 estabelece procedimentos padronizados para a amostragem
de resíduos sólidos, com vistas a submetê-los aos ensaios de lixiviação e solubilização, além
de outros que se façam necessários não só para o estabelecimento de sua classificação,
como também para procedimentos de caracterização e demais que possam ser considerados
importantes em quaisquer procedimentos auxiliares ao gerenciamento de resíduos, visando
o seu manejo e projetos de reciclagem de massa ou energia.
Uma amostragem não corresponde a uma simples coleta de material. A
amostragem é um procedimento que visa à separação de uma parcela do total, que
apresente as mesmas características e propriedades médias da massa desse total. Esta
parcela será então denominada amostra representativa. Podemos imaginar o cenário
corriqueiro de um monte cônico de resíduos particulados heterogêneos, de 2,5 m de altura.
O ato de tomar, com um pequeno balde, uma porção de sólidos em um ponto qualquer do
monte pode ser chamado de coleta de material, porém jamais de amostragem. A maneira
como os sólidos distribuem-se no monte pode ser dependente de um fator de forma ou
massa, bem como o teor de umidade e de voláteis tende a ser diferente em um ponto
externo, em contato direto com o ar, em relação a um ponto interno da massa. Para que
uma determinação analítica executada sobre uma porção de sólidos represente as condições
médias de toda a massa é preciso que tal porção provenha de um procedimento adequado
de separação da porção em relação ao total.
São definições importantes:
 amostra simples: parcela do montante total de resíduo a ser
analisado/estudado, obtida por um procedimento unitário de coleta em um
determinado ponto, profundidade ou momento;
 amostra homogênea: amostra obtida através da melhor mistura possível de
alíquotas de resíduos, tal que possua composição, consistência e
granulometria muito semelhante em todos os seus pontos;
 amostra composta: soma de alíquotas individuais provindas da fonte a ser
estudada, coletadas em diferentes pontos e/ou profundidades e/ou instantes,
de modo a constituir uma amostra homogênea;
 amostra representativa: parcela do resíduo a ser estudado, obtida através de
um processo de amostragem, que apresenta as mesmas características e
propriedades médias da massa total original do resíduo.
Dentro do escopo de proceder-se uma amostragem de resíduo, previamente ao
deslocamento ao campo, faz-se necessário traçar o planejamento da amostragem. Tal
planejamento compreende uma série de atividades e preparações que não poderão ser
traçadas quando já no local, necessitando definição prévia:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 96


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

1) Definição do objetivo da amostragem: devem ser definidos os objetivos


relacionados ao trabalho de amostragem;
2) Pré-caracterização do resíduo: a partir do conhecimento prévio do processo
que deu origem ao resíduo, quando em campo haverá uma melhor
possibilidade de mapearem-se todos os fatores influentes na geração e
composição do resíduo. Durante o processo de amostragem, deverá ser
especificado o processo de origem, o estado físico, a temperatura, o volume
aproximado coletado e todas as demais informações que sejam relevantes
para a perfeita caracterização da amostra, o que será reportado, após, no
laudo de classificação;
3) Determinação das análises laboratoriais a serem executadas: de acordo com a
pré-caracterização do resíduo, que contempla a identificação do processo de
origem, deverão ser definidos todos os parâmetros analíticos (físicos, físico-
químicos e biológicos) a serem analisados;
4) Plano de amostragem: de posse de todas as informações preliminares e do
conhecimento do processo e das instalações onde será feita a amostragem,
serão selecionados os tipos de amostradores convenientes, de acordo com o
estado físico e a forma de acondicionamento dos resíduos, a forma de
amostragem (simples, composta), o número de pontos de coleta, os volumes
que deverão ser coletados, a forma de preservação das amostras e os
cuidados e equipamentos de proteção necessários à tarefa.
São fatores fundamentais a serem considerados no processo de amostragem:
 seleção do amostrador: os resíduos a serem coletados podem apresentar-se
em diversas formas, como líquidos multifásicos, sólidos de granulometria
irregular, etc.; podem estar contidos em recipientes de diversos formatos.
Além do mais, as características dos resíduos a serem amostrados podem ser
incompatíveis com o material de construção de alguns amostradores, bem
como alguns amostradores disponíveis podem comportar volumes menores
do que os necessários ao procedimento. É fundamental definirem-se
previamente os amostradores indicados a cada processo de amostragem. Os
amostradores devem ser descontaminados previamente à amostragem e,
igualmente, depois de concluído o trabalho;
 seleção dos pontos de amostragem e quantidade de amostras simples a
serem coletadas: para obterem-se amostras compostas (ou mesmo simples)
representativas, deverão ser definidos os pontos corretos para as tomadas de
amostras simples e o número de amostras simples ou mesmo compostas a
serem tomadas. Para obtenção da faixa de variação da concentração de um
resíduo, a NBR 10007/2004 indica uma tomada mínima de três amostras
simples;
 volume da amostra: o volume coletado deverá ser compatível com as

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 97


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

necessidades do laboratório analítico, em função do número de parâmetros a


serem analisados e seu número de repetições. Comumente será necessário
dividir a amostra em alíquotas para diferentes formas de preservação, em
função dos diferentes parâmetros solicitados;
 identificação das amostras e elaboração da ficha de coleta: as amostras
deverão ser identificadas através de inscrições ou etiquetas nos recipientes de
acondicionamento. Uma ficha com a identificação das amostras por nome,
características, temperatura e demais dados de campo deverá acompanhar as
amostras na sua remessa ao laboratório.

Tipos de amostradores
A NBR 10007/2004 padroniza amostradores para diferentes tipos de resíduos a
serem amostrados. Tais amostradores são:
 Amostrador de Resíduo Líquido: constituído de um tubo de polietileno ou
vidro e um sistema de fechamento, composto por haste de PVC ligada a
tampão inferior de neoprene. É introduzido aberto, vagarosamente, no
líquido a ser amostrado, e, atingindo o fundo, é fechado puxando-se a haste.
Recomendado para amostragem de líquidos e lodos em tambores,
caminhões-tanques, barris e similares;
 Amostrador de Grãos: é construído com tubos chanfrados, interno e externo,
normalmente de aço inoxidável. O tubo externo possui uma ponta cônica que
permite introdução na massa de resíduos. O amostrador é aberto ou fechado
a partir de rotação do tubo interno. Seu uso é indicado para sólidos em pó ou
granulados em sacos, tambores, barris, ou recipientes similares, montes ou
pilhas de resíduos quando o diâmetro de partícula for inferior a 0,6 cm;
 Amostrador “Trier”: consiste em um tubo longo de aço inox, chanfrado em
quase todo o seu comprimento. A sua ponta e as bordas do chanfro são
afiadas para cortar o material a ser amostrado, quando do giro do amostrador
na massa. Seu uso é indicado para sólidos em pó ou granulados em sacos,
tambores, barris, ou recipientes similares, montes ou pilhas de resíduos,
quando os particulados não se encontram muito secos;
 Pá: trata-se de uma pequena pá similar a uma pá de pedreiro, que é
simplesmente introduzida na massa a ser amostrada. Indicada para
amostragem de resíduos secos em tanques rasos e sobre o solo;
 Trado: amostrador constituído de uma rosca ou broca acoplada a um suporte.
Podendo ser acionado manual ou mecanicamente, perfura o material a ser
amostrado, frequentemente o próprio solo, podendo destruir ou não o perfil
do material amostrado, dependendo de sua geometria. É indicado para
amostragem em tanques rasos ou no solo, a mais de 20 cm de profundidade;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 98


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Caneca com Braço Telescópico (extensor): trata-se de um recipiente simples


acoplado a um braço extensor através de uma braçadeira. É também
frequentemente denominado amostrador de lagoas. Recomendada para
amostragem em líquidos ou lodos em tanques abertos e lagoas;
 Garrafa Amostradora Pesada: trata-se de uma garrafa de aço, ou outro
material compatível com o líquido a ser amostrado, cuja massa deverá ser
apropriada para imersão no líquido, e que possui dois cabos, (1) um para
abaixá-la e suspendê-la e (2) outro solidarizado à sua tampa, que será puxado
quando o amostrador encontrar-se na profundidade desejada. A partir do
cessar do borbulhamento, puxa-se o cabo de fechamento pelo tampão e o
coletor será içado com a amostra em seu interior. Recomendada para
amostragem em líquidos ou lodos em tanques abertos e lagoas;
 Garrafa “Van Dorn”: consiste em um cilindro aberto em ambas as
extremidades, duas rolhas de material compatível e um cabo com
mensageiro. Quando posicionado na profundidade desejada, solta-se o
mensageiro que comunica o esforço às rolhas que fecham o amostrador.
Recomendada para amostragem em líquidos ou lodos em tanques abertos e
lagoas;
A NBR 10007/2004 estabelece orientações gerais para os procedimentos de
amostragem, utilizando-se os amostradores acima descritos, bem como as formas indicadas
de preservação e armazenagem das amostras.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 99


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

ÁGUA DESIONIZADA: Água que passou por processo para remoção dos íons solúveis de sua
composição, normalmente através de percolação por leito de carvão ativado.

PONTO DE FULGOR: É a temperatura mais baixa na qual um composto se vaporiza em


quantidade suficiente para formar uma mistura inflamável com o ar, pelo contato com uma
chama.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 100


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 2000. NBR 14598 - Produtos de petróleo -


Determinaçãodo ponto de fulgor pelo aparelho devaso fechado Pensky-Martens. Rio
de Janeiro, 2000.

_______________________________________. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio


de Janeiro, 2004.

_______________________________________. 2004. NBR 10005 - Procedimento para


obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

_______________________________________. 2004. NBR 10006 - Procedimento para


obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

_______________________________________. 2004. NBR 10007 - Amostragem de


Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 101


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.2 ASPECTOS LEGAIS E DE


GESTÃO

2.2.1 O SISNAMA
Os aspectos legais que norteiam os serviços de saneamento básico provém da
legislação federal. Via de regra os órgãos municipais aos quais se outorgam os deveres e
prerrogativas da execução desses serviços não são órgãos atrelados ao Sistema Nacional do
Meio Ambiente. Todavia, muitos aspectos relacionados aos resíduos sólidos, principalmente
quando se trata das responsabilidades privadas e das infrações e crimes cometidas contra a
saúde pública e ao ambiente natural encontram regramentos específicos no CONAMA –
Conselho Nacional do Meio Ambiente.
O Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, instituído pela Lei Federal
6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto Federal 99.274, de 06 de junho
de 1990, é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal,
dos municípios e pelas fundações instituídas pelo poder público responsáveis pela proteção
e melhoria da qualidade ambiental e tem a seguinte estrutura:
I - Órgão superior: O Conselho de Governo;
II - Órgão consultivo e deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA;
III - Órgão central: O Ministério do Meio Ambiente – MMA;
IV - Órgão executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA;
V - Órgãos seccionais: Os órgãos ou entidades da administração pública federal
direta ou indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas
atividades estejam associadas à proteção da qualidade ambiental ou as de
disciplinamento do uso dos recursos ambientais, bem como os órgãos e
entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e
pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação
ambiental;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 102


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

VI - Órgãos locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle


e fiscalização das atividades referidas no inciso anterior, nas suas respectivas
jurisdições.
A atuação do SISNAMA efetiva-se mediante articulação coordenada dos órgãos e
entidades que o constituem, observado o seguinte:
 acesso da opinião pública às informações relativas às agressões ao ambiente e
às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA;
 regionalização das medidas emanadas do SISNAMA pelos estados, Distrito
Federal e municípios, elaborando normas e padrões supletivos e
complementares.
As normas e padrões dos estados, do Distrito Federal e dos municípios podem
fixar parâmetros de emissão, ejeção e emanação de agentes poluidores, observada a
legislação federal.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, instituído pela Lei Federal
6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo
Decreto Federal 99.274/1990, alterado pelo Decreto Federal 2.120/1997 e pelo Decreto
Federal 3.942/2001, é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA.
O CONAMA é composto de plenário, câmaras técnicas e grupos de trabalho. É
presidido pelo Ministro do Meio Ambiente. A secretaria executiva do CONAMA é exercida
pelo Secretário Executivo do MMA.
O Conselho é um colegiado, representativo dos atores sociais interessados na
área ambiental, dos três níveis de sociedade. A composição do Plenário é feita da seguinte
forma:
 Ministro de Estado do Meio Ambiente, que o preside;
 Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente, na condição de seu
Secretário-Executivo;
 um representante do IBAMA;
 um representante da Agência Nacional de Águas - ANA;
 um representante de cada um dos ministérios, das secretarias da Presidência
da República e dos Comandos Militares do Ministério da Defesa, indicados
pelos respectivos titulares;
 um representante de cada um dos governos estaduais e do Distrito Federal,
indicados pelos respectivos governadores;
 oito representantes dos governos municipais que possuam órgão ambiental
estruturado e Conselho de Meio Ambiente, com caráter deliberativo, sendo:
a) um representante de cada região geográfica do país;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 103


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

b) um representante da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente


- ANAMMA;
c) dois representantes de entidades municipalistas de âmbito nacional;
 vinte e dois representantes de entidades de trabalhadores e da sociedade
civil, sendo:
a) dois representantes de entidades ambientalistas de cada uma das regiões
geográficas do país;
b) um representante de entidade ambientalista de âmbito nacional;
c) três representantes de associações legalmente constituídas para a defesa
dos recursos naturais e do combate à poluição, de livre escolha do
Presidente da República;
d) um representante de entidades profissionais, de âmbito nacional, com
atuação na área ambiental e de saneamento, indicado pela Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES;
e) um representante de trabalhadores indicado pelas centrais sindicais e
confederações de trabalhadores da área urbana (Central Única dos
Trabalhadores - CUT, Força Sindical, Confederação Geral dos Trabalhadores
- CGT, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria - CNTI e
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio - CNTC), escolhido
em processo coordenado pela CNTI e CNTC;
f) um representante de trabalhadores da área rural, indicado pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG;
g) um representante de populações tradicionais, escolhido em processo
coordenado pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável das
Populações Tradicionais - CNPT;
h) um representante da comunidade indígena indicado pelo Conselho de
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil - CAPOIB;
i) um representante da comunidade científica, indicado pela Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC;
j) um representante do Conselho Nacional de Comandantes Gerais das
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares - CNCG;
k) um representante da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza -
FBCN;
 oito representantes de entidades empresariais, sendo:
a) três representantes indicados pela Confederação Nacional da Indústria;
b) um representante indicado pela Confederação Nacional da Agricultura;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 104


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

c) dois representantes indicados pela Confederação Nacional do Comércio;


d) um representante indicado pela Confederação Nacional do Transporte;
e) um representante indicado pelo setor florestal.
 um membro honorário indicado pelo plenário;
 Integram também o plenário, na condição de conselheiros convidados, sem
direito a voto:
a) um representante do Ministério Público Federal;
b) um representante dos Ministérios Públicos Estaduais, indicado pelo
Conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça;
c) um representante da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente
e Minorias da Câmara dos Deputados.
Cada uma das 11 câmaras técnicas é composta de 7 conselheiros, que elegem
um presidente e um relator. Os Grupos de Trabalho (GT) são criados por tempo determinado
para discutir tecnicamente as matérias em tramitação no Conselho e propor o texto das
resoluções a serem levadas às câmaras técnicas.
O CONAMA reúne-se ordinariamente a cada três meses no Distrito Federal,
podendo realizar reuniões extraordinárias fora do Distrito Federal, quando necessário.
É da competência do CONAMA:
 estabelecer, mediante proposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, dos demais órgãos integrantes do
SISNAMA e de Conselheiros do CONAMA, normas e critérios para o
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser
concedido pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e municípios e
supervisionado pelo referido Instituto;
 determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas
e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados,
requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como às
entidades privadas, informações, notadamente as indispensáveis à apreciação
de Estudos Prévios de Impacto Ambiental e respectivos relatórios, no caso de
obras ou atividades de significativa degradação ambiental, em especial nas
áreas consideradas patrimônio nacional;
 decidir, após o parecer do Comitê de Integração de Políticas Ambientais, em
última instância administrativa, em grau de recurso, mediante depósito
prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA;
 determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de
benefícios fiscais concedidos pelo poder público, em caráter geral ou

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 105


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de


financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
 estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da
poluição causada por veículos automotores, aeronaves e embarcações,
mediante audiência dos Ministérios competentes;
 estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção
da qualidade do ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos
ambientais, principalmente os hídricos;
 estabelecer os critérios técnicos para a declaração de áreas críticas, saturadas
ou em vias de saturação;
 acompanhar a implementação do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC conforme disposto no inciso I do art. 6º da
Lei Federal 9.985, de 18 de julho de 2000;
 estabelecer sistemática de monitoramento, avaliação e cumprimento das
normas ambientais;
 incentivar a criação, a estruturação e o fortalecimento institucional dos
conselhos estaduais e municipais de meio ambiente e gestão de recursos
ambientais e dos comitês de bacia hidrográfica;
 avaliar regularmente a implementação e a execução da política e normas
ambientais do país, estabelecendo sistemas de indicadores;
 recomendar ao órgão ambiental competente a elaboração do Relatório de
Qualidade Ambiental, previsto no inciso X do art. 9o da Lei Federal 6.938, de
1981;
 estabelecer sistema de divulgação de seus trabalhos;
 promover a integração dos órgãos colegiados de meio ambiente;
 elaborar, aprovar e acompanhar a implementação da Agenda Nacional do
Meio Ambiente, a ser proposta aos órgãos e às entidades do SISNAMA, sob a
forma de recomendação;
 deliberar, sob a forma de resoluções, proposições, recomendações e moções,
visando o cumprimento dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente;
 elaborar o seu regimento interno.
O CONAMA legisla por meio de resoluções, quando a matéria se tratar de
deliberação vinculada à competência legal, através de moções, recomendações ou
deliberação quando versar sobre matéria de qualquer natureza relacionada com a temática
ambiental.
As reuniões do CONAMA são públicas e abertas a toda a sociedade.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 106


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os estados possuem estruturas análogas à estrutura federal de meio ambiente,


com coordenação pelas secretarias estaduais, que dispõem de seu conselho estadual de
meio ambiente e sua agência estadual de controle de poluição, fundação ou empresa
pública. São funções outorgadas aos conselhos estaduais de meio ambiente (base: SISNAMA
do Rio Grande do Sul):
 propor a Política Estadual de Proteção ao Meio Ambiente, para homologação
do governador, bem como acompanhar sua implementação;
 estabelecer, com observância da legislação, normas, padrões, parâmetros e
critérios de avaliação, controle, manutenção, recuperação e melhoria da
qualidade do ambiente natural, artificial e do trabalho;
 estabelecer diretrizes para a conservação e preservação dos recursos e
ecossistemas naturais dos estados;
 deliberar sobre recursos em matéria ambiental, sobre conflitos entre valores
ambientais diversos e aqueles resultantes da ação dos órgãos públicos, das
instituições privadas e dos indivíduos;
 colaborar na fixação das diretrizes para a pesquisa científica nas áreas de
conservação, preservação e recuperação do ambiente e dos recursos naturais;
 estabelecer critérios para orientar as atividades educativas, de
documentação, de divulgação e de discussão pública, no campo da
conservação, preservação e melhoria do ambiente e dos recursos naturais;
 estimular a participação da comunidade no processo de preservação,
conservação, recuperação e melhoria da qualidade ambiental;
Analogamente aos sistemas federal e estaduais de meio ambiente, vários
municípios já possuem sistemas próprios de meio ambiente, aos quais, a partir de
instrumentos infra-legais outorgam-se algumas atribuições originalmente pertinentes ao
sistema estadual, de modo à promoção da descentralização. Os sistemas municipais contam
como os seus respectivos conselhos, nos quais a sociedade civil é empoderada para exercer
discussões e deliberações sobre materiais de caráter ambiental. Os conselhos atuam em
caráter consultivo e deliberativo, com competência para propor e formular políticas
municipais de meio ambiente e acompanhar sua execução. Associada ao sistema, uma
secretaria, fundação ou empresa pública atua como órgão executivo fiscalizador. De acordo
com a constituição orgânica de cada município, competências de fiscalização podem ser
descentralizadas nas diversas instâncias de governo.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 107


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.2.2 Legislação e regulamentações infra-


legais de interesse aplicados a resíduos
sólidos e aspectos correlatos
A legislação ambiental brasileira evoluiu, dos primeiros tímidos passos
estabelecidos no início da década de 1980 até o período atual, em que há uma nítida
tendência de equiparação à legislação ambiental vigente nos países desenvolvidos, ainda
que, notoriamente, haja um grande contraste entre o patamar de regulamentação desejado
e a capacidade econômica do país de adequar-se a essa qualificação.
As regulamentações dão-se em diferentes instâncias legais. Em uma escala
hierárquica, a Constituição Federal e as constituições estaduais estabelecem diretrizes na
área de saneamento. As regulamentações efetivam-se a partir das leis federais, estaduais e
municipais ordinárias e dos seus decretos regulamentadores. Os conselhos de meio
ambiente e as agências nacionais, nos seus níveis hierárquicos, expedem regulamentações
por resoluções e portarias. Os órgãos executivos de meio ambiente expedem portarias e
normas técnicas. Como regra geral, a hierarquia das esferas administrativas, federal,
estadual e municipal necessita ser obedecida. As regulamentações federais devem ser
ratificadas pelas regulamentações estaduais, que as podem restringi-las, mas jamais
contrapô-las. Por sua vez as regulamentações municipais devem ratificar aquelas das esferas
superiores, igualmente podendo ser mais restritivas, jamais se contrapondo.
A partir da década de 1980, e marcadamente durante as décadas de 1990, 2000
e 2010 uma extensa coleção de leis, decretos e resoluções foram expedidos,
regulamentando aspectos relativos ao ambiente, poluição e, especificamente, gestão,
tratamento e destinação de resíduos sólidos. Deve fazer parte da biblioteca digital de todo
gestor ou profissional da área dos resíduos sólidos a coleção de regulamentos aplicáveis à
sua área de atuação, seja no poder público, seja na iniciativa privada. Alguns regulamentos
aplicam-se diretamente aos resíduos sólidos, outros apresentam importantes interfaces com
a temática. Certamente os instrumentos legais mais importantes são a Lei Federal
11.145/2007, conhecida como Lei do Saneamento, a Lei Federal 12.305/2010, Política
Nacional de Resíduos Sólidos e o seu decreto regulamentador, Decreto Federal 7404/2010.
No âmbito federal é preciso conhecer-se basicamente as leis e os decretos federais, as
resoluções do CONAMA e as resoluções e portarias da ANVISA – Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. Com o advento da internet, nos dias de hoje torna-se efetivamente fácil
obterem-se os textos dos regulamentos, e, mais do que isso, não incomumente conseguimos
encontrar análises jurídicas sobre os mesmos em web-sites de escritórios de advocacias e
outros. O trabalho de coleta de legislação deve continuar para que se obtenham os
regulamentos estaduais e municipais, expressos por leis ou por resoluções de conselhos.
Citaremos, a seguir, os principais regulamentos direcionados a resíduos sólidos
em âmbito federal.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 108


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Leis e decretos federais:


 Decreto Federal 50.877/1961 Dispõe sobre o lançamento de resíduos tóxicos
ou oleosos nas águas interiores ou litorâneas do País e dá outras providências;
 Lei Federal 6.437/1977 – Configura infrações à legislação sanitária federal,
estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências;
 Portaria Federal Interministerial 53/1979 – Resíduos sólidos;
 Lei Federal 6.938/1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências;
 Lei Federal 7347/1985 – Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico e turístico e dá outras providências;
 Lei Federal 7.802/1989 – Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências;
 Decreto Federal 98.816/1990 – Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de
1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,
a propaganda comercial, a utilização, a importação e exportação, o destino
final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá
outras providências;
 Decreto Federal 99.274/1990 – Regulamenta a Lei 6.902, de 27 de abril de
1981, e a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente
sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências.
 Lei Federal 8.666/1993 – Estabelece normas gerais sobre licitações e
contratos administrativos pertinentes a obras, serviços (inclusive de
publicidade), compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
 Lei Federal 8.987/1995 – Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
prestação de serviços públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal,
e dá outras providências;
 Lei Federal 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 109


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Decreto Federal 3.179/1999 – Dispõe sobre a especificação das sanções


aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências;
 Decreto Federal 3.694/2000 – Altera e inclui dispositivos ao Decreto 98.816
de 11 de janeiro de 1990, que dispõe sobre o controle e a fiscalização de
agrotóxicos, e dá outras providências;
 Lei Federal 9.966/2000 – Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização
da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou
perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências;
 Lei Federal 9.974/2000 – Altera a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que
dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos
resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências;
 Lei Federal 10.165/2000 – Altera a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos e
formulação e aplicação, e dá outras providências;
 Decreto Federal 3.828/2001 – Altera e inclui dispositivos ao Decreto n°
98.816, de 11 de janeiro de 1990, que dispõe sobre o controle e a fiscalização
de agrotóxicos e dá outras providências;
 Decreto Federal 4.074/2002 – Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de
1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,
a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino
final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá
outras providências.
 Lei Federal 11.079/2004 – Institui normas gerais para licitação e contratação
de parceria público-privada no âmbito da administração pública;
 Lei Federal 11.107/2005 – Dispõe sobre normas gerais de contratação de
consórcios públicos e dá outras providências;
 Lei Federal 5.940/2006 – Institui a separação dos resíduos recicláveis
descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta
e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas
dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 110


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Decreto Federal 6.017/2007 – Regulamenta a Lei no 11.107, de 6 de abril de


2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos;
 Lei Federal 11.145/2007 – Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento
básico; altera as Leis 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio
de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995;
revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências;
 Decreto Federal 6.514/2008 – Dispõe sobre as infrações e sanções
administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo
federal para apuração destas infrações, e dá outras providências;
 Decreto Federal 7.217/2010 – Regulamenta a Lei 11.445, de 5 de janeiro de
2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e dá
outras providências;
 Lei Federal 12.305/2010 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências;
 Decreto Federal 7.404/2010 – Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto
de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê
Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê
Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras
providências;
 Decreto Federal 8.211/2014 – Altera o Decreto 7.217, de 21 de junho de
2010, que regulamenta a Lei 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece
diretrizes nacionais para o saneamento básico;
 Lei Federal 13.019/2014 – Estabelece o regime jurídico das parcerias
voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a
administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de
mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público;
define diretrizes para a política de fomento e de colaboração com
organizações da sociedade civil; institui o termo de colaboração e o termo de
fomento; e altera as Leis nos 8.429, de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de
março de 1999.
As resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente aplicadas a resíduos
sólidos são citadas a seguir (Fonte: página eletrônica do CONAMA):
 Resolução CONAMA 005, Ano: 1985 – Dispõe sobre o licenciamento das
atividades de transporte, estocagem e uso de pentaclorofenol e
pentaclorofenato de sódio – Data: 20.11.1985Publicação DOU: 22.11.1985;
 Resolução CONAMA 001, Ano: 1986 – Dispõe sobre critérios básicos e
diretrizes gerais para o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA – Data:
23.01.1986 – Publicação DOU: 17.02.1986.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 111


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 001–A, Ano: 1986 – Dispõe sobre transporte de


produtos perigosos em território nacional – Data: 23.01.1986 – Publicação
DOU: 04.08.1986;
 Resolução CONAMA 011, Ano: 1986 – Dispõe sobre alterações na Resolução
186 – Data: 18.03.1986 – Publicação DOU: 02.05.1986;
 Resolução CONAMA 007, Ano: 1987 – Dispõe sobre a regulamentação do uso
do Amianto. Asbestos no Brasil – Data: 16.09.1987 – Publicação DOU:
22.10.1987;
 Resolução CONAMA 009, Ano: 1987 – Dispõe sobre a realização de
Audiências Públicas no processo de licenciamento ambiental – Data:
03.12.1997 – Publicação DOU: 05.07.1990;
 Resolução CONAMA 001, Ano: 1988 – Dispõe sobre o Cadastro Técnico
Federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental – Data: 13.06.1988
– Publicação DOU: 15.06.1988;
 Resolução CONAMA 005, Ano: 1988 – Dispõe sobre o licenciamento
ambiental de obras de saneamento. – Data: 15.06.1988 – Publicação DOU:
16.11.1988;
 Resolução CONAMA 002, Ano: 1991 – Dispõe sobre o tratamento a ser dado
às cargas deterioradas, contaminadas ou fora de especificações – Data:
22.08.1991 – Publicação DOU: 20.09.1991;
 Resolução CONAMA 006, Ano: 1991 – Dispõe sobre a incineração de resíduos
sólidos provenientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos,
desobriga da incineração – Data: 19.09.1991 – Publicação DOU: 30.10.1991;
 Resolução CONAMA 005, Ano: 1993 – Estabelece definições, classificação e
procedimentos mínimos para o gerenciamento de resíduos sólidos oriundos
de serviços de saúde, portos e aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários
– Data: 05.08.1993 – Publicação DOU: 31.08.1993;
 Resolução CONAMA 024, Ano: 1994 – Exige anuência prévia da CNEN –
Comissão Nacional de Energia Nuclear, para toda a importação ou exportação
de material radioativo, sob qualquer forma e composição química, em
qualquer quantidade – Data: 07.12.1994 – Publicação DOU: 30.12.1994;
 Resolução CONAMA 037, Ano: 1994 – Adota definições e proíbe a importação
de resíduos perigosos – Classe I – em todo o território nacional, sob qualquer
forma e para qualquer fim, inclusive reciclagem e reaproveitamento – Data:
30.12.1994 – Publicação DOU: 06.01.1995;
 Resolução CONAMA 019, Ano: 1996 – Regulamenta critérios de impressão de
legenda em peças que contém amianto (asbestos) – Data: 24.10.1996 –
Publicação DOU: 07.11.1996;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 112


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 021, Ano: 1996 – Suspende a eficácia da Resolução


CONAMA 8, de 11 de outubro de 1996 – importação de sucata de chumbo na
forma baterias automotivas usadas – Data: 24.10.1996 – Publicação DOU:
07.11.1996;
 Resolução CONAMA 022, Ano: 1996 – Revoga a Resolução CONAMA 8, de 11
de outubro de 1996 – importação de sucata de chumbo na forma baterias
automotivas usadas – Data: 03.12.1996 – Publicação DOU: 06.12.1996;
 Resolução CONAMA 228, Ano: 1997 – Dispõe sobre a importação de
desperdícios e resíduos de acumuladores elétricos de chumbo – Data:
20.08.1997 – Publicação DOU: 25.08.1997;
 Resolução CONAMA 237, Ano: 1997 – Regulamenta os aspectos de
licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente
– Data: 22.12.1997 – Publicação DOU: 22.12.1997;
 Resolução CONAMA 264, Ano: 2000 – Licenciamento de fornos rotativos de
produção de clínquer para atividades de co–processamento de resíduos –
Data: 26.08.1999 – Publicação DOU: 20.03.2000;
 Resolução CONAMA 267, Ano: 2000 – Proibição de substâncias que destroem
a camada de ozônio – Data: 14.09.2000 – Publicação DOU: 11.12.2000;
 Resolução CONAMA 273, Ano: 2000 – Dispõe sobre prevenção e controle da
poluição em postos de combustíveis e serviços – Data: 29.11.2000 –
Publicação DOU: 08.01.2001;
 Resolução CONAMA 275, Ano: 2001 – Estabelece código de cores para
diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva – Data: 25.04.2001 – Publicação
DOU: 19.06.2001;
 Resolução CONAMA 281, Ano: 2001 – Dispõe sobre modelos de publicação
de pedidos de licenciamento – Data: 12.07.2001 – Publicação DOU:
15.08.2001;
 Resolução CONAMA 306, Ano: 2002 – Estabelece os requisitos mínimos e o
termo de referência para realização de auditorias ambientais – Data:
05.07.2002 – Publicação DOU: 19.07.2002;
 Resolução CONAMA 307, Ano: 2002 – Estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil – Data:
05.07.2002 – Publicação DOU: 17.07.2002;
 Resolução CONAMA 313, Ano: 2002 – Dispõe sobre o Inventário Nacional de
Resíduos Sólidos Industriais – Data: 29.10.2002 – Publicação DOU: 22.11.2002;
 Resolução CONAMA 314, Ano: 2002 – Dispõe sobre o registro de produtos
destinados à remediação e dá outras providências – Data: 29.10.2002 –
Publicação DOU: 20.11.2002;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 113


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 316, Ano: 2002 – Dispõe sobre procedimentos e critérios


para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos – Data:
29.10.2002 – Publicação DOU: 20.11.2002;
 Resolução CONAMA 319, Ano: 2002 – Dá nova redação a dispositivos da
Resolução CONAMA 273, de 29 de novembro de 2000, que dispõe sobre
prevenção e controle da poluição em postos de combustíveis e serviços –
Data: 04.12.2002 – Publicação DOU: 19.12.2002;
 Resolução CONAMA 334, Ano: 2003 – Dispõe sobre os procedimentos de
licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de
embalagens vazias de agrotóxicos – Data: 03.04.2003 – Publicação DOU:
19.05.2003;
 Resolução CONAMA 335, Ano: 2003 – Dispõe sobre o licenciamento
ambiental de cemitérios – Data: 03.04.2003 – Publicação DOU: 28.05.2003;
 Resolução CONAMA 340, Ano: 2003 – Dispõe sobre a utilização de cilindros
para o envasamento de gases que destroem a Camada de Ozônio, e dá outras
providências. – Data: 25.09.2003 – Publicação DOU: 03.11.2003;
 Resolução CONAMA 348, Ano: 2004 – Altera a Resolução CONAMA 307, de 5
de julho de 2002, incluindo o amianto na classe de resíduos perigosos. – Data:
16.08.2004 – Publicação DOU: 17.08.2004;
 Resolução CONAMA 357, Ano: 2005 – Dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências – Data: 17.03.2005 – Publicação DOU: 18.03.2005.
 Resolução CONAMA 358, Ano: 2005 – Dispõe sobre o tratamento e a
disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. –
Data: 29.04.2005 – Publicação DOU: 04.05.2005;
 Resolução CONAMA 362, Ano: 2005 – Dispõe sobre o recolhimento, coleta e
destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado – Data:
23.06.2005 – Publicação DOU: 27.06.2005;
 Resolução CONAMA 368, Ano: 2006 – Altera a Resolução CONAMA 335 de
03.04.2003 sobre licenciamento de cemitérios – Data: 28.03.2006 –
Publicação DOU: 29.03.2006;
 Resolução CONAMA 371, Ano: 2006 – Estabelece diretrizes aos órgãos
ambientais para o cálculo, cobrança, aplicação, aprovação e controle de
gastos de recursos advindos de compensação ambiental, conforme a Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC e dá outras providências – Data: 05.05.2006
– Publicação DOU: 06.05.2006;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 114


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 375, Ano: 2006 – Define critérios e procedimentos, para


o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de
esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências – Data:
29.08.2006 – Publicação DOU: 30.08.2006;
 Resolução CONAMA 378, Ano: 2006 Define os empreendimentos
potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional para
fins do disposto no inciso III, §1o, art. 19 da Lei no 4.771, de 15 de setembro
de 1965, e dá outras providências– Data: 19.10.2006 – Publicação DOU:
20.10.2006;
 Resolução CONAMA 380, Ano: 2006 – Define critérios e procedimentos, para
o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de
esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências – Data:
29.08.2006 – Publicação DOU: 30.08.2006;
 Resolução CONAMA 381, Ano: 2006 Retifica a Resolução CONAMA 375/06 –
Define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto
gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos
derivados, e dá outras providências – Data: 31.10.2006 – Publicação DOU:
07.11.2006;
 Resolução CONAMA 382, Ano: 2006 – Estabelece os limites máximos de
emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas – Data: 26.12.2006 –
Publicação DOU: 02.01.2007;
 Resolução CONAMA 386, Ano: 2006 – Altera o art. 18 da Resolução CONAMA
316, de 29 de outubro de 2002 – Data: 27.12.2006 – Publicação DOU:
29.12.2006;
 Resolução CONAMA 401, Ano: 2008 – Estabelece os limites máximos de
chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no
território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento
ambientalmente adequado, e dá outras providências – Data: 04.11.2008 –
Publicação DOU: 05.11.2008;
 Resolução CONAMA 402, Ano: 2008 – Altera os artigos 11 e 12 da Resolução
335, de 3 de abril de 2003 – Data: 17.11.2008 – Publicação DOU: 18.11.2008;
 Resolução CONAMA 404, Ano: 2008 – Estabelece critérios e diretrizes para o
licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos
sólidos urbanos, revoga a Resolução CONAMA 308/2002 – Data: 11.11.2008 –
Publicação DOU: 12.11.2008;
 Resolução CONAMA 416, Ano: 2009 – Dispõe sobre a prevenção à
degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação
ambientalmente adequada, e dá outras providências – Data: 30.09.2009 –
Publicação DOU: 01.10.2009;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 115


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 420, Ano: 2009 – Dispõe sobre critérios e valores


orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas
e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas
– Data: 29.12.2009 – Publicação DOU: 30.12.2009;
 Resolução CONAMA 422, Ano: 2010 – Estabelece diretrizes para as
campanhas, ações e projetos de Educação Ambiental, conforme Lei 9.795, de
27 de abril de 1999, e dá outras providências - Data: 23.03.2010 – Publicação
DOU: 24.03.2010;
 Resolução CONAMA 424, Ano: 2010 – Revoga o parágrafo único do art. 16 da
Resolução CONAMA 401/200 – Data: 22.04.2010 – Publicação DOU:
23.04.2010;
 Resolução CONAMA 431, Ano: 2011 – Altera o art. 3o da Resolução 307, de 5
de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA,
estabelecendo nova classificação para o gesso. Data: 24.05.2011 – Publicação
DOU: 25.04.2011;
 Resolução CONAMA 448, Ano: 2012 – Altera os arts. 2º, 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e
11 da Resolução 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA – Data: 18.01.2012 2008 – Publicação DOU: 19.01.2012;
 Resolução CONAMA 450, Ano: 2012 Altera os arts. 9, 16, 19, 20, 21 e 22, e
acrescenta o art. 24–A à Resolução 362, de 23 de junho de 2005, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que dispõe sobre recolhimento,
coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. – Data:
18.01.2012 – Publicação DOU: 19.01.2012;
 Resolução CONAMA 452, Ano: 2012 – Dispõe sobre os procedimentos de
controle da importação de resíduos, conforme as normas adotadas pela
Convenção da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de
Resíduos Perigosos e seu Depósito. – Data: 02.07.2012 – Publicação DOU:
02.07.2012;
 Resolução CONAMA 454, Ano: 2012 – Estabelece as diretrizes gerais e os
procedimentos referenciais para o gerenciamento do material a ser dragado
em águas sob jurisdição nacional. – Data: 01.11.2012 – Publicação DOU:
10.01.2013;
 Resolução CONAMA 460, Ano: 2013 – Altera a Resolução CONAMA 420, de
28 de dezembro de 2009, que dispõe sobre critérios e valores orientadores de
qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e dá outras
providências – Data: 30.12.2013 – Publicação DOU: 03.01.2014;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 116


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Resolução CONAMA 463, Ano: 2014 – Dispõe sobre o controle ambiental de


produtos destinados à remediação – Data: 29.07.2014 – Publicação DOU:
30.07.2014;
 Resolução CONAMA 465, Ano: 2014 – Dispõe sobre os requisitos e critérios
técnicos mínimos necessários para o licenciamento ambiental de
estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens de agrotóxicos e
afins, vazias ou contendo resíduos – Data: 05.12.2014 – Publicação DOU:
08.12.2014;
 Resolução CONAMA 469, Ano: 2015 – Altera a Resolução CONAMA 307, de
05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
a gestão dos resíduos da construção civil. – Data: 29.07.2015 – Publicação
DOU: 30.07.2015;

São instrumentos da ANVISA direta ou indiretamente relacionados aos resíduos


sólidos:
 Portaria ANVISA 321/1997 – Domissanitários;
 Portaria ANVISA 344/1998 – Fármacos Controlados;
 Resolução da Diretoria Colegiada RDC ANVISA 217/2001 – Portos;
 Resolução da Diretoria Colegiada RDC ANVISA 50/2002 – Projetos
Estabelecimentos de Saúde;
 Resolução da Diretoria Colegiada RDC ANVISA 342/2002 – PGRS Portos
Aeroportos.
 Resolução da Diretoria Colegiada RDC ANVISA 306/2004 – Resíduos sólidos
de serviços de saúde;
 Resolução da Diretoria Colegiada RDC ANVISA 56/2008 – Resíduos Sólidos
em Portos e Aeroportos;

2.2.3 Aspectos legais da administração


municipal da limpeza urbana
O marco regulatório do setor do saneamento básico no Brasil foi instituído em
2007, a partir da Lei Federal 11.445. Importante compreender que o saneamento básico
constitui um subconjunto daquilo que é denominado saneamento ambiental, incluindo os
serviços de base a serem prestados pelo ente público. A lei define como saneamento básico

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 117


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(a) o esgotamento sanitário, (b) a drenagem e o manejo das águas pluviais, (c) o
abastecimento de água potável e (d) a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos.
Relativamente ao braço resíduos sólidos, a lei define a limpeza urbana e o
manejo de resíduos sólidos como o conjunto de atividades, infra–estruturas, e instalações
operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final dos resíduos
domésticos e daqueles originados pelos serviços de varrição e limpeza dos logradouros e vias
públicas.
Apenas para ter–se a ideia da diferenciação entre o saneamento ambiental e o
saneamento básico, podemos pensar que estabelecimentos industriais produzem resíduos
que podem ser nocivos ao ambiente e à saúde pública. O poder público não pode estar
indiferente à sua função de fiscalizar a destinação de tais resíduos e esse trabalho
certamente está contido no bojo das atividades sanitárias. Da mesma forma, a apreensão de
alimentos sem condições de consumo expostos à venda também é uma atividade sanitária.
Mas tais atividades não se encontram no rol daquelas elencadas como serviços relacionados
a resíduos sólidos no âmbito do saneamento básico, as quais correspondem apenas aos
serviços de limpeza, manutenção do asseio e salubridade dos logradouros e correta
destinação do material recolhido.
Entre os princípios norteadores do saneamento básico podemos destacar o
caráter de universalização (todos atendidos, mesmo que para tal seja necessária uma
política de subsídios), a sustentabilidade financeira, ou seja, o custeio do sistema através de
institutos financeiros apropriados e direcionados exclusivamente às atividades, e o controle
social, entendido como a gerência democrática dos serviços pela sociedade civil,
empoderada para tal.
Em seu artigo 7o a Lei Federal 11.445/2007 estabelece o serviço público de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos como composto por (a) coleta,
transbordo e transporte dos resíduos públicos e domiciliares, (b) triagem, para fins de reuso,
reciclagem ou tratamento, compostagem e disposição final, e (c) varrição, capina e poda de
árvores em vias e logradouros públicos, além de outros serviços correlatos.

2.2.3.1 Cobrança pelos serviços


A boa administração pública, via de regra, consiste na alocação eficiente dos
recursos escassos de uma comunidade. Dada a realidade econômica do Brasil, assim como a
de outros países do Terceiro Mundo e “emergentes”, mais do que uma conduta ilibada dos
administradores e uma dedicação plena dos servidores públicos, torna–se necessária a
criatividade para a gestão. Lamentavelmente, é bastante comum o notório despreparo
técnico de muitos administradores responsáveis por pastas como a da limpeza urbana, a da
água e dos esgotos, a da drenagem urbana e a do meio ambiente, somente para citar
algumas áreas onde prepondera o critério partidário ao técnico na indicação dos dirigentes.
Basicamente, os serviços públicos municipais são mantidos pelas comunidades
através dos recursos dos munícipes, via de regra usuários diretos ou indiretos de todos os

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 118


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

serviços prestados. Duas são as formas gerais de manutenção financeira de tais serviços:
através do recolhimento de taxas, ou do pagamento de tarifas. Via de regra, os serviços
públicos de limpeza urbana são providos financeiramente pela denominada taxa de lixo.
Isso, no entanto, não é regra. Em muitos municípios não existe um tributo exclusivo que
viabilize os serviços de limpeza urbana e de gestão dos resíduos sólidos.
Define–se taxa como o tributo destinado a uma finalidade específica, recolhido
por cada membro formal de uma comunidade de maneira compulsória e involuntária,
independentemente da contratação do serviço.
Define–se tarifa como uma receita proveniente da contratação voluntária para
execução de um serviço mensurável.
Exemplos bastante corriqueiros podem ser fornecidos para a compreensão da
diferença entre taxa e tarifa. Quando tomamos um ônibus, recolhemos uma tarifa, porque o
serviço de transporte somente está nos sendo prestado por nossa decisão de usá–lo. Se,
para percorrer–se o caminho entre o ponto de tomada do coletivo até o destino desejado
utilizássemos uma bicicleta, ou carro, ou o se percorrêssemos a pé, não seríamos tarifados.
Quando contratamos energia elétrica e fornecimento de água para nossa casa estaremos, ao
final do mês, pagando tarifas, que poderiam ser evitadas se detivéssemos um gerador de
energia próprio e um poço artesiano com outorga. Mais do que isso, haverá medição dos
serviços prestados, que será expressa em kWh de energia utilizados e metros cúbicos de
água consumidos. Em ambos os casos não estamos obrigados à contratação dos serviços
(ainda que a utilização de água subterrânea seja regulamentada e eventualmente seja
vedada por lei a todos os imóveis que contam com água tratada encanada no logradouro).
Quando os serviços públicos respondem por uma questão de mérito, o que
ocorre no caso da limpeza urbana, isto é, efetivamente há necessidade e imposição de que
os serviços sejam executados por uma questão de salubridade e saúde públicas,
independentemente da aprovação individual dos munícipes, o provimento dá–se por taxa. A
varrição das ruas, a coleta de resíduos e o seu devido tratamento, a limpeza de logradouros
públicos, são atividades que beneficiam a toda a comunidade indistintamente. Se o resíduo
sólido de um condomínio deixar de ser recolhido, ele estará comprometendo a salubridade e
estética de outras pessoas próximas ao condomínio, além dos próprios condôminos. Os
serviços de varrição e capina em frente a um terreno baldio podem até não “atingir”
diretamente o seu proprietário, que poderá residir a quilômetros do local, todavia o
logradouro estará sendo assistido por essa infra–estrutura.
Entre os estudiosos da temática dos resíduos sólidos e administradores há um
pensamento tão onírico quanto surrealista em comum: se em cada prédio do município o
veículo de coleta de resíduos parasse, pesasse o resíduo apresentado e tarifasse por massa,
preferencialmente adotando um critério não linear de tarifação, remetendo–se a conta ao
responsável pelo prédio, então as pessoas se esforçariam em separar os seus resíduos
recicláveis, em compostar a fração orgânica poduzida, em reaproveitar vários materiais.
Neste sentido, o serviço de coleta seria mensurável, e a adoção da tarifação traria
economias substanciais para a comunidade. Essa é uma tarefa difícil, não necessariamente

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 119


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

impossível.
Contudo, muitos serviços de limpeza urbana, por genéricos e inespecíficos que
são, jamais poderiam ser medidos. A limpeza urbana não pode ser tratada como um serviço
a ser prestado apenas por espontânea vontade de cada munícipe. Seu custeio terá de ser
rateado entre os munícipes, de uma forma socialmente justa. Alguns critérios são
necessários para a tarifação:
 deve levar em conta a capacidade financeira da municipalidade;
 deve ser concebida através de critério justo do ponto de vista social
 forma de cálculo: normalmente leva em conta: (1) a região fiscal do município,
(2) a área do edificada do móvel (ou testada), (3) a forma de utilização do
imóvel (baldio, residencial, comercial, industrial);
A chamada Lei do Saneamento, Lei Federal 11.445/2007 estabelece que taxas e
tarifas sobre serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos poderão considerar:
 a renda da população atendida;
 as características dos lotes urbanos e áreas que neles podem ser edificadas;
 peso ou volume médio gerados por habitante, por domicílio.
É bastante comum concederem–se isenções do pagamento de taxa de resíduos
em certos casos especiais, aspecto sujeito a legislação própria:
 economias residenciais sitas em vilas populares: pela baixa capacidade
econômica de tais munícipes;
 aposentados e pensionistas de baixo provento: pela baixa capacidade
econômica de tais munícipes;
 templos religiosos: por aspectos próprios de legislação ou pelo seu caráter de
uso público;
 sociedades beneficentes e entidades filantrópicas: por executarem o papel
assistencial que caberia ao Estado.
Algumas contestações são bastante frequentes com relação aos valores das taxas
de lixo: (1) a geração de resíduos não é necessariamente proporcional à área ou testada do
imóvel, mas a taxa o é; (2) costuma haver limitações regulamentares quanto aos volumes de
resíduos que podem ser apresentados às coletas ordinárias, e que muitas vezes são
independentes da área do imóvel ou mesmo da taxa cobrada; (3) vários resíduos não
perigosos, por questões de volume ou peso não são recolhidos pelas coletas normais,
havendo tarifação para o seu recolhimento, via coletas especiais.
A Lei 11.445/2007 estipula, em seu Art. 2º, inciso VII, que os serviços de
saneamento, tal qual o são os serviços públicos de limpeza urbana, devem operar de forma
eficiente e economicamente sustentável. Em muitos municípios a sustentabilidade não
ocorre, de modo que é necessária alocação de recursos de outras áreas para cobrir déficits

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 120


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

orçamentários. Conforme o IBGE (2011), na região sul do país o percentual de cobrança


pelos serviços dedicados a resíduos sólidos é aproximadamente 75%, na região sudeste
pouco mais do que 50%, na região centro–oeste pouco mais do que 20% e nas regiões norte
e nordeste pouco mais do que 10%.
Em geral, a taxa de lixo corrigida por índices inflacionários aplicados ao imposto
predial territorial urbano, não leva em conta em sua correção os custos crescentes,
originários das sofisticações decorrentes da legislação. De um modo simplista, é bastante
comum entre os gestores de resíduos sólidos a frase “não é possível fazer gestão de resíduos
sólidos com os mesmos recursos de quando se tinha lixão!” No caso de taxa de lixo vinculada
a um imposto (IPTU) baseado na formalidade fundiária, uma parcela considerável da
população, moradora de áreas sem regularização fundiária, fica isenta da taxa, ainda que
produza resíduos e que seus logradouros recebam os serviços de limpeza pública. Os
próprios contribuintes frequentemente não se dão conta da extensão dos investimentos
necessários (e sempre crescentes) na área da limpeza urbana, e naturalmente posicionam–
se contra a eventual ideia de uma elevação da taxa, em subsídio cruzado, para obtenção da
sustentabilidade do órgão de limpeza pública.
Em alguns casos específicos, o órgão ou secretaria de limpeza urbana pode
tarifar serviços, de natureza não pública, como por exemplo:
 limpeza de terrenos baldios privados (que pode mesmo ser compulsória, em
função do interesse público);
 coleta e destinação de resíduos comerciais e industriais;
 remoção de entulhos de obras;
 capina de áreas particulares;
 tratamento de resíduos sólidos de serviços de saúde;
 fornecimento de mão–de–obra para a capacitação externa.

2.2.3.2 Forma de execução dos serviços públicos


A execução dos serviços públicos desfruta hoje de várias modalidades amparadas
e regulamentadas pela legislação, que, a partir de meados da década de 1990,
paulatinamente veio a estabelecer regramentos para facultar as parcerias entre diferentes
entes públicos, para possibilitar que agentes privados possam realizar elevados
investimentos no sentido de qualificar os serviços prestados a um município com a certeza
do ressarcimento, para permitir que agente privado possa, conjuntamente com as entidades
públicas empreender sistemas de elevados porte e custo, com a certeza do ressarcimento.
Tais regramentos derivam (1) das limitações orçamentárias dos setores públicos, o que tem–
se apresentado como uma realidade inegável nos últimos anos; (2) da necessidade de
contratarem–se serviços de elevada qualidade, factibilizados a partir de elevada qualificação
material e humana de prestadores privados, os quais não seriam possíveis para contratos de

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 121


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

curto prazo; (3) da tendência de terceirização dos serviços públicos, oriunda da ideia (não
necessariamente correta) de que é mais simples e menos oneroso fiscalizar serviços do que
gerenciar trabalhadores; (4) da indisponibilidade, pelos setores públicos, de vultosos
recursos para implementação de obras e unidades de elevado custo, necessitando
financiamento privado e/ou exploração dos serviços decorrentes em parceria com entes
privados.
A Lei Federal 11.445/2007 estabelece as possibilidades neste sentido,
enfatizando a importância de que os titulares (em geral municípios, exceto em regiões
metropolitanas) tenham os seus planos de saneamento e adotem sistema regulatório.
Transcrevendo–se da Lei:

Art. 8o Os titulares dos serviços públicos de saneamento básico poderão delegar a


organização, a regulação, a fiscalização e a prestação desses serviços, nos termos do art. 241
da Constituição Federal e da Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005.
Art. 9o O titular dos serviços formulará a respectiva política pública de saneamento
básico, devendo, para tanto:
I – elaborar os planos de saneamento básico, nos termos desta Lei;
II – prestar diretamente ou autorizar a delegação dos serviços e definir o ente
responsável pela sua regulação e fiscalização, bem como os procedimentos de sua atuação;
III – adotar parâmetros para a garantia do atendimento essencial à saúde pública,
inclusive quanto ao volume mínimo per capita de água para abastecimento público,
observadas as normas nacionais relativas à potabilidade da água;
IV – fixar os direitos e os deveres dos usuários;
V – estabelecer mecanismos de controle social, nos termos do inciso IV do caput do art.
3o desta Lei;
VI – estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado com o Sistema
Nacional de Informações em Saneamento;
VII – intervir e retomar a operação dos serviços delegados, por indicação da entidade
reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos documentos contratuais.
Art. 10. A prestação de serviços públicos de saneamento básico por entidade que não
integre a administração do titular depende da celebração de contrato, sendo vedada a sua
disciplina mediante convênios, termos de parceria ou outros instrumentos de natureza
precária.
§1o Excetuam–se do disposto no caput deste artigo:
I – os serviços públicos de saneamento básico cuja prestação o poder público, nos
termos de lei, autorizar para usuários organizados em cooperativas ou associações, desde
que se limitem a:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 122


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

a) determinado condomínio;
b) localidade de pequeno porte, predominantemente ocupada por população de baixa
renda, onde outras formas de prestação apresentem custos de operação e manutenção
incompatíveis com a capacidade de pagamento dos usuários;
II – os convênios e outros atos de delegação celebrados até o dia 6 de abril de 2005.
§2o A autorização prevista no inciso I do §1o deste artigo deverá prever a obrigação de
transferir ao titular os bens vinculados aos serviços por meio de termo específico, com os
respectivos cadastros técnicos.
Art. 11. São condições de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação de
serviços públicos de saneamento básico:
I – a existência de plano de saneamento básico;
II – a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econômico–financeira
da prestação universal e integral dos serviços, nos termos do respectivo plano de
saneamento básico;
III – a existência de normas de regulação que prevejam os meios para o cumprimento
das diretrizes desta Lei, incluindo a designação da entidade de regulação e de fiscalização;
IV – a realização prévia de audiência e de consulta públicas sobre o edital de licitação,
no caso de concessão, e sobre a minuta do contrato.
§1o Os planos de investimentos e os projetos relativos ao contrato deverão ser
compatíveis com o respectivo plano de saneamento básico.
§2o Nos casos de serviços prestados mediante contratos de concessão ou de programa,
as normas previstas no inciso III do caput deste artigo deverão prever:
I – a autorização para a contratação dos serviços, indicando os respectivos prazos e a
área a ser atendida;
II – a inclusão, no contrato, das metas progressivas e graduais de expansão dos
serviços, de qualidade, de eficiência e de uso racional da água, da energia e de outros
recursos naturais, em conformidade com os serviços a serem prestados;
III – as prioridades de ação, compatíveis com as metas estabelecidas;
IV – as condições de sustentabilidade e equilíbrio econômico–financeiro da prestação
dos serviços, em regime de eficiência, incluindo:
a) o sistema de cobrança e a composição de taxas e tarifas;
b) a sistemática de reajustes e de revisões de taxas e tarifas;
c) a política de subsídios;
V – mecanismos de controle social nas atividades de planejamento, regulação e
fiscalização dos serviços;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 123


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

VI – as hipóteses de intervenção e de retomada dos serviços.


o
§3 Os contratos não poderão conter cláusulas que prejudiquem as atividades de
regulação e de fiscalização ou o acesso às informações sobre os serviços contratados.
§4o Na prestação regionalizada, o disposto nos incisos I a IV do caput e nos §§1o e
2o deste artigo poderá se referir ao conjunto de municípios por ela abrangidos.
Art. 12. Nos serviços públicos de saneamento básico em que mais de um prestador
execute atividade interdependente com outra, a relação entre elas deverá ser regulada por
contrato e haverá entidade única encarregada das funções de regulação e de fiscalização.
§1o A entidade de regulação definirá, pelo menos:
I – as normas técnicas relativas à qualidade, quantidade e regularidade dos serviços
prestados aos usuários e entre os diferentes prestadores envolvidos;
II – as normas econômicas e financeiras relativas às tarifas, aos subsídios e aos
pagamentos por serviços prestados aos usuários e entre os diferentes prestadores
envolvidos;
III – a garantia de pagamento de serviços prestados entre os diferentes prestadores dos
serviços;
IV – os mecanismos de pagamento de diferenças relativas a inadimplemento dos
usuários, perdas comerciais e físicas e outros créditos devidos, quando for o caso;
V – o sistema contábil específico para os prestadores que atuem em mais de um
Município.
§2o O contrato a ser celebrado entre os prestadores de serviços a que se refere o caput
deste artigo deverá conter cláusulas que estabeleçam pelo menos:
I – as atividades ou insumos contratados;
II – as condições e garantias recíprocas de fornecimento e de acesso às atividades ou
insumos;
III – o prazo de vigência, compatível com as necessidades de amortização de
investimentos, e as hipóteses de sua prorrogação;
IV – os procedimentos para a implantação, ampliação, melhoria e gestão operacional
das atividades;
V – as regras para a fixação, o reajuste e a revisão das taxas, tarifas e outros preços
públicos aplicáveis ao contrato;
VI – as condições e garantias de pagamento;
VII – os direitos e deveres sub–rogados ou os que autorizam a sub–rogação;
VIII – as hipóteses de extinção, inadmitida a alteração e a rescisão administrativas
unilaterais;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 124


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

IX – as penalidades a que estão sujeitas as partes em caso de inadimplemento;


X – a designação do órgão ou entidade responsável pela regulação e fiscalização das
atividades ou insumos contratados.
§3o Inclui–se entre as garantias previstas no inciso VI do §2o deste artigo a obrigação
do contratante de destacar, nos documentos de cobrança aos usuários, o valor da
remuneração dos serviços prestados pelo contratado e de realizar a respectiva arrecadação e
entrega dos valores arrecadados.
§4o No caso de execução mediante concessão de atividades interdependentes a que se
refere o caput deste artigo, deverão constar do correspondente edital de licitação as regras e
os valores das tarifas e outros preços públicos a serem pagos aos demais prestadores, bem
como a obrigação e a forma de pagamento.
Art. 13. Os entes da Federação, isoladamente ou reunidos em consórcios públicos,
poderão instituir fundos, aos quais poderão ser destinadas, entre outros recursos, parcelas
das receitas dos serviços, com a finalidade de custear, na conformidade do disposto nos
respectivos planos de saneamento básico, a universalização dos serviços públicos de
saneamento básico.
Parágrafo único. Os recursos dos fundos a que se refere o caput deste artigo poderão
ser utilizados como fontes ou garantias em operações de crédito para financiamento dos
investimentos necessários à universalização dos serviços públicos de saneamento básico.

Execução própria
Nesta modalidade, os serviços são executados por servidores públicos estáveis
contratados e remunerados para tal. Tais servidores são imbuídos de alguns poderes de
Estado, havendo sido concursados, e, neste sentido, teoricamente havendo comprovado
aptidão, conhecimento e habilidades para operar os diversos sistemas e executar os diversos
serviços.
Tem sido criticada a estabilidade no emprego que é legalmente atribuída aos
servidores, como um incentivo à baixa produtividade, e por isso é bastante comum a
mudança paradigmática de troca do cenário de serviços de execução própria pela
contratação de prestadores privados. A estabilidade é uma necessidade premente, no
sentido de evitar as comuns arbitrariedades contra os servidores e contra as próprias
instituições públicas, advindas da gestão política nem sempre qualificada ou ilibada. Por
outro lado, a partir da Constituição de 1988 o concurso público instituiu–se como única
forma de ingresso aos quadros efetivos do serviço público, de modo que, após decorridos
quase 30 anos, ano a ano encontra–se minimizando–se proporção entre servidores
efetivados sem concurso (aposentados ou em vias de tal) e servidores efetivados por
concurso. A qualidade dos processos seletivos, nos quais se avalie corretamente a
qualificação dos calouros, quanto aos requisitos de conhecimento, saúde e qualidade
mental/psíquica é a melhor forma de terem–se quadros qualificados nas instituições
públicas. Uma política salarial séria e qualificada, prevendo carreiras com progressão, ao

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 125


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

invés de simples bonificações funcionais por afinidades político–eleitorais, é a maneira de


manter–se os trabalhadores interessados no serviço e atuando de maneira competente.
Mais do que isso, a substituição da gerência meramente política por gerência
profissionalizada certamente conduz à extinção dos grandes problemas existentes no serviço
público.

Contratação
Nesta modalidade, bastante comum para vários serviços públicos, ao invés de
contratarem–se servidores públicos para exercerem as atividades são contratados
prestadores privados de serviços. A contratação dá–se por licitação e os serviços contratados
são remunerados pelo poder concedente. Isto ocorre, por exemplo, em Porto Alegre, para
vários serviços, entre os quais coleta domiciliar de resíduos, capina, transporte de resíduos
sólidos ao destino final, coleta especial de resíduos, coleta de produção de varrição e focos
de resíduos e destino final dos resíduos sólidos. A forma de operacionalização através da
contratação é mais cômoda ao administrador público, uma vez que o mesmo não precisa
administrar pessoal, fazer investimentos em frota, licenciar e operar aterros, prover
manutenção de veículos e materiais. Entretanto, a terceirização pode eventualmente trazer
inconvenientes ao contribuinte: a experiência demonstra frequente os casos de
cumprimento deficiente e ineficaz dos serviços, erros nos faturamentos, decorrentes de
deficiências da fiscalização, além das terceirizações constituírem–se em um canal aberto à
corrupção, por superfaturamentos e financiamentos de campanhas políticas. No tocante a
serviços remunerados por produção, como no caso da coleta de resíduos remunerada por
tonelada recolhida, há sempre o risco de coletas irregulares e indevidas, uma vez que “tudo
o que a balança registra é dinheiro que entra”.
A contratação pode tornar–se uma maneira produtiva de operacionalização dos
serviços. Para isso é necessário que o órgão contratante detenha uma comissão de licitações
competente e sintonizada com a realidade do mercado e uma fiscalização atuante, que coíba
e puna os abusos e o descumprimento da qualidade dos serviços contratados. As licitações e
contratos são regidos pela Lei Federal 8.666/1993.

Consórcio Público
Em muitos casos torna–se vantajosa e econômica a associação de municípios
para a execução de serviços relacionados à limpeza urbana. Caso típico: tratamento de
resíduos. São apontadas vantagens dessa associação:
 quando uma tecnologia somente se viabiliza para elevados aportes de
resíduos;
 quando um município dispõe de área e outro sabe operar um aterro sanitário
ou outra tecnologia aplicada a resíduos sólidos;
 quando é necessário um elevado aporte de recursos financeiros para viabilizar

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 126


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uma determinada tecnologia e deseja–se manter a operação integralmente


pública (ainda que contratação e concessão sejam prerrogativas dos
consórcios);
 o custo unitário do tratamento de resíduos apresenta–se decrescente em
função dos quantitativos: fator de escala;
 a operação consorciada gera a constituição de menor número de passivos
ambientais;
 pelo maior número de entidades públicas empreendendo, maior é a facilidade
na atração de investimentos e financiamentos.
Os consórcios públicos são regidos pela Lei Federal 11.107/2005, que estipula:
 consórcio público: associação pública ou pessoa jurídica de direito privado;
 consórcio adquire as prerrogativas de órgão de administração podendo
contratar, conveniar, desapropriar ou ser contratado;
 consórcio pode contratar ou conceder serviços;
 o representante legal de consórcio público deve ser o prefeito de um dos
municípios conveniados;
 os municípios consorciados poderão ceder servidores ao consórcio, de acordo
com suas legislações próprias;
 não é permitido ao consórcio público contratar ou conceder poderes de
planejamento, regulação e fiscalização.

Concessão
Delegação da exploração de serviços públicos a pessoa jurídica ou consórcio de
empresas, mediante licitação na modalidade de concorrência. Apresenta caráter mais
estável, no sentido de que os prazos de vigência proporcionem alocação de superiores
investimentos, na certeza de que serão remunerados pela exploração do serviço (tarifação).
Exemplo: coleta, varrição e tratamento de resíduos. Principal vantagem: modernização dos
sistemas e equipamentos quando o poder público não dispõe de recursos para os
investimentos. Regulamentada pela Lei Federal 8.987/1995.

Parceria Público–Privada
Contrato de concessão de serviços públicos em que efetivamente há
contraprestação de pecuniária do parceiro público ao parceiro privado (com ou sem
tarifação), vigente por não menos do que 5 e não mais do que 35 anos, cujo valor do
contrato seja superior a 20 milhões de reais, não se limitando meramente a fornecimento de
mão–de–obra, instalação de equipamentos e/ou execução de obra pública. Aplicável quando

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 127


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da necessidade de vultosos investimentos. Exemplo de Aplicação: Construção de sistemas de


grande porte para tratamento de resíduos. A parceria público–privada é regulamentada pela
Lei Federal 11.079/2004.

2.2.4 A Lei Federal 12.305/2010 – “Política


Nacional de Resíduos Sólidos”
Após duas décadas de tratativas no Congresso Nacional sobre a instituição de um
texto legal que constituísse o marco regulatório federal da área dos resíduos sólidos, no
segundo dia do mês de agosto do ano de 2010 o presidente da República sancionou a Lei
Federal 12.305, a qual instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Tal regulamento, o
qual institui princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações a serviço da gestão
científica dos resíduos sólidos é considerado um instrumento avançado, todavia, sete anos
após a sua sanção ainda é muito limitada a sua aplicação. O Decreto Federal 7.404, de 23 de
dezembro de 2010, regulamentou a Lei 12.305. A Figura 2.2.1 apresenta o ordenamento do
texto da lei.
Os principais institutos advindos da Lei podem ser citados:
 a logística reversa;
 os planos de resíduos sólidos;
 o sistema de informações sobre resíduos sólidos;
 a regulamentação acerca dos resíduos perigosos;
 os mecanismos financeiros voltados à gestão dos resíduos sólidos;
 o apoio aos catadores de resíduos recicláveis e reutilizáveis e à formação de
suas cooperativas de trabalho.
A PNRS estabelece uma série de definições importantes:
 Resíduos Sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante
de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
 Coleta Seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme
sua constituição ou composição;
 Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 128


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tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e


economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada;

Figura 2.2.1 – Ordenamento do texto da Lei Federal 12.305/2010

Fonte: o autor

 Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de


atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar
o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os
impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do
ciclo de vida dos produtos;
 Logística Reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a
viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial,
para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada;
 Gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca
de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões
política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a
premissa do desenvolvimento sustentável;
 Gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 129


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final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal


de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei.
No contexto de tais definições, a Lei cumpre o importante papel de instituir a
univocidade de conceitos que anteriormente sofriam por interpretações distintas. Coleta
seletiva sempre foi sinônimo de recolhimento de resíduos com potencial de reciclabilidade,
todavia a definição da Lei encerra o fato de que tal recolhimento é apenas uma das
modalidades que podem ser implantadas de coleta seletiva: poderemos ter coleta seletiva
de orgânicos, coleta de seletiva de rejeitos e assim por diante.
A definição referente a rejeitos afasta a matéria orgânica, especialmente porque
a mesma apresenta potencial de aproveitamento. Podemos imaginar, por exemplo, em uma
cidade, uma coleta seletiva de resíduos alimentares a qual remeterá o material coletado a
uma fábrica de rações, constituída dentro dos critérios sanitários específicos. Por outro lado,
o material orgânico apresenta potencial de geração de energia útil, compreendida a energia
química interna que os compostos não estabilizados apresentam.
Na Lei, há uma clara distinção entre os vocábulos gerenciamento e gestão. A
palavra gerenciamento refere–se às atividades alocadas ao manejo dos resíduos, enquanto a
palavra gestão é empregada no sentido de considerarem–se envolvidos aspectos políticos,
econômicos, ambientais, culturais e sociais, logicamente remetendo–a a ação do Estado.
Outra frequente confusão conceitual à qual a Lei dedica–se a pacificar refere–se
a destinação final e disposição final. A destinação final abriga todas as possibilidades de
encaminhamento dos resíduos, como a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a
recuperação e o aproveitamento energético, englobando também a disposição final em
aterros, os quais serão unicamente os destinos para aqueles resíduos que não apresentam
qualquer viabilidade de aproveitamento mássico ou energético.
A definição utilizada para logística reversa vem estabelecer o conceito para a
citada expressão, já muito utilizada nas duas últimas décadas, todavia sem instituição em
texto legal.
A Lei 12.305 estabelece, finalmente, uma classificação oficial para as tipologias
de resíduos com relação à origem, conforme já apresentado em 1.2.3.
A Lei 12.305 engloba, sob a definição ciclo de vida dos produtos todos os
aspectos concernentes ao mesmo do berço ao túmulo: desde a questão da obtenção das
matérias–primas necessárias ao seu fabrico até a destinação dos resíduos produzidos pelo
seu consumo. Responsabiliza todos os atores do território nacional pelo ciclo de vida dos
produtos:
 poder público: responsável pelas políticas públicas, pelo regramento e
fiscalização, pela execução de serviços de natureza pública;
 setor empresarial: cadeia integrada que parte do fabrico dos produtos que
gerarão resíduos, até a comercialização dos mesmos produtos. Ao setor

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 130


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empresarial cabe restituir os resíduos decorrentes do consumo dos produtos


pela sociedade (logística reversa);
 pessoas físicas: cidadãos e consumidores de produtos que gerarão resíduos e
que deverão cumprir seu papel cidadão integrado às políticas públicas,
sobretudo exercendo a segregação dos resíduos e o seu encaminhamento
correto às redes de coletas e logística reversa.
A Lei 12.305 institui, em seu artigo 14, os planos de resíduos sólidos, desta
maneira aduzindo a proposta de planejamento tanto das funções de manejo como de
gestão:
 o Plano Nacional de Resíduos Sólidos;
 os planos estaduais de resíduos sólidos;
 os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos
de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas;
 os planos intermunicipais de resíduos sólidos;
 os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos;
 os planos de gerenciamento de resíduos sólidos.
Enquanto que o plano nacional e os planos estaduais dedicam–se à instituição de
instrumentos políticos de gestão, os planos municipais, microrregionais e intermunicipais
aplicam–se exatamente aos titulares do Saneamento Básico, portanto deverão neles estar
contempladas as tarefas dedicadas à limpeza urbana e à gestão de resíduos sólidos. Os
planos intermunicipais são aplicados aos consórcios de municípios para a gestão dos
resíduos sólidos, objetivo perseguido pela Lei. Os planos de regiões metropolitanas aplicam–
se atais regiões, em geral conurbadas, para as quais o Supremo Tribunal Federal
compreende a titularidade dos serviços de saneamento básico como da coletividade dos
municípios e não dos mesmos isoladamente. A divisão dos estados em microrregiões para
fins de gestão de resíduos sólidos é aspecto também sugerido pela Lei, inclusive há previsão
de prioridade para acesso a recursos da União aos estados que instituírem as microrregiões.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos tem previsto pela lei o seguinte termo de referência:
 diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos;
 proposição de cenários, incluindo tendências internacionais e
macroeconômicas;
 metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir
a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada;
 metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de
disposição final de resíduos sólidos;
 metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 131


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e


recicláveis;
 programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas;
 normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União, para a
obtenção de seu aval ou para o acesso a recursos administrados, direta ou
indiretamente, por entidade federal, quando destinados a ações e programas
de interesse dos resíduos sólidos;
 medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos
sólidos;
 diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos
sólidos das regiões integradas de desenvolvimento instituídas por lei
complementar, bem como para as áreas de especial interesse turístico;
 normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de
resíduos;
 meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito nacional,
de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social.
A Lei prevê um horizonte de 20 anos para os planos federal e estaduais, com
atualizações a cada quatro anos. No caso dos municípios, o Decreto 7404 prevê a revisão dos
planos conjuntamente com a elaboração dos planos plurianuais.
No caso específico dos estados, o seu papel é bastante claro:
 promover a integração da organização, do planejamento e da execução das
funções públicas de interesse comum relacionadas à gestão dos resíduos
sólidos nas regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;
 controlar e fiscalizar as atividades dos geradores sujeitas a licenciamento
ambiental pelo órgão estadual do SISNAMA;
 a atuação do Estado deve apoiar e priorizar as iniciativas de soluções
consorciadas ou compartilhadas entre dois ou mais Municípios.
Os termos de referência para os planos estaduais e municipais estipulados pela
Lei são apresentados em 2.3.1.1.
A Lei condiciona o acesso a recursos federais aos estados e municípios à
existência dos respectivos planos de resíduos.
Os planos de gerenciamento de resíduos sólidos são aplicáveis a
estabelecimentos públicos titulares de saneamento básico, indústrias, serviços de saúde,
estabelecimentos geradores de resíduos perigosos ou não equiparados aos domiciliares,
empresas de construção civil, mineradoras, setores de transportes, portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e de passagens de fronteira e

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 132


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

responsáveis por atividades agrossilvopastoris. Os planos de gerenciamento têm o seu


termo de referência definido no art. 21 da Lei:
 descrição do empreendimento ou atividade;
 diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, contendo a
origem, o volume e a caracterização dos resíduos, incluindo os passivos
ambientais a eles relacionados;
 identificação dos responsáveis por cada etapa do gerenciamento de resíduos
sólidos;
 definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas do
gerenciamento de resíduos sólidos sob responsabilidade do gerador;
 identificação das soluções consorciadas ou compartilhadas com outros
geradores;
 ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de
gerenciamento incorreto ou acidentes;
 metas e procedimentos relacionados à minimização da geração de resíduos
sólidos e, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA, do
SNVS e do SUASA, à reutilização e reciclagem;
 se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos;
 medidas saneadoras dos passivos ambientais relacionados aos resíduos
sólidos;
 periodicidade de sua revisão, observado, se couber, o prazo de vigência da
respectiva licença de operação a cargo dos órgãos do SISNAMA.
Tais planos, aplicados a empreendimentos, são considerados partes constituintes
do processo de licenciamento ambiental e sua gênese deve observar alinhamento aos planos
municipais de gestão integrada. O Decreto 7404 prevê a possibilidade de apresentação de
plano de gerenciamento coletivo para estabelecimentos situados em uma mesma região e
que exerçam atividades características de um mesmo setor produtivo e que possuam
mecanismos formalizados de governança coletiva ou de cooperação em atividades de
interesse comum.
No tocante à responsabilidade compartilhada sobre os resíduos sólidos, a Lei
estabelece responsabilidades ao setor privado que anteriormente inexistiam:

Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos
sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange:
I – investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 133


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra
forma de destinação ambientalmente adequada;
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
II – divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos
sólidos associados a seus respectivos produtos;
III – recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua
subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de
sistema de logística reversa na forma do art. 33;
IV – compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o Município,
participar das ações previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no
caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.
Art. 32. As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou
a reciclagem.
§1o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:
I – restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à
comercialização do produto;
II – projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível
com as exigências aplicáveis ao produto que contêm;
III – recicladas, se a reutilização não for possível.
§2 o O regulamento disporá sobre os casos em que, por razões de ordem técnica ou
econômica, não seja viável a aplicação do disposto no caput.
§3 o É responsável pelo atendimento do disposto neste artigo todo aquele que:
I – manufatura embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens;
II – coloca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou
produtos embalados, em qualquer fase da cadeia de comércio.
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem,
após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos
perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do
SISNAMA, do SNVS e do SUASA, ou em normas técnicas;
II – pilhas e baterias;
III – pneus;
IV – óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 134


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

V – lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;


VI – produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
§1o Na forma do disposto em regulamento ou em acordos setoriais e termos de
compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas previstos no
caput serão estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou
de vidro, e aos demais produtos e embalagens, considerando, prioritariamente, o grau e a
extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.
§2o A definição dos produtos e embalagens a que se refere o §1o considerará a
viabilidade técnica e econômica da logística reversa, bem como o grau e a extensão do
impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.
§3o Sem prejuízo de exigências específicas fixadas em lei ou regulamento, em
normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA e do SNVS, ou em acordos setoriais e termos
de compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, cabe aos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V
e VI ou dos produtos e embalagens a que se referem os incisos I e IV do caput e o §1o tomar
todas as medidas necessárias para assegurar a implementação e operacionalização do
sistema de logística reversa sob seu encargo, consoante o estabelecido neste artigo,
podendo, entre outras medidas: I – implantar procedimentos de compra de produtos ou
embalagens usados; II – disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e
recicláveis; III – atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o §1o.

Embora decorridos sete anos da sanção da Lei, nem todas as obrigações do setor
privado estão sendo cumpridas na prática. Observa–se que no que se refere a agrotóxicos
um sistema robusto de legislação e fiscalização já vinha, anos antes da Lei, garantindo a
logística reversa das embalagens. No que tange aos óleos lubrificantes, também já havia
farta legislação aplicada aos resíduos. O acordo setorial relativo a esses últimos resíduos foi
o primeiro firmado entre o setor produtivo e o poder público após a sanção da lei. Quanto a
pilhas e baterias e pneus inservíveis existem sistemas de logística reversa disponibilizados
especialmente em grandes cidades do país, todavia não alcançando toda a extensão do
território nacional. Embora já haja acordo setorial firmado para o caso das lâmpadas de
descarga, não há sistema de logística reversa em operação em meados de 2017. No caso dos
produtos eletroeletrônicos não há sistema de logística reversa em operação no país.
As definições da Lei 12.305 relativas aos resíduos especiais de amplo e difuso uso
na sociedade vêm atender a uma questão anteriormente sem solução: a responsabilidade
pelos resíduos. Muito comumente, após consumir um determinado produto ou ele tornar–
se inservível, o cidadão consciente procurava saber a forma correta de destiná–lo. Esse
resíduo poderia ser uma lâmpada fluorescente ou uma embalagem de veneno para ratos,
por exemplo, que são resíduos perigosos. Nada mais natural do que telefonar aos órgãos de
limpeza urbana e de meio ambiente do município para procurar saber como proceder para o

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 135


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

“descarte”. Todavia, não havia uma definição legal a respeito da responsabilidade sobre os
resíduos. A quem caberia? À prefeitura? Ao revendedor do produto? Ao próprio
consumidor? A periculosidade do resíduo automaticamente significaria ao mesmo a não
aceitação pelo setor de limpeza urbana, porque o aterro sanitário não pode legalmente
receber resíduos perigosos. O revendedor do produto novo sentia–se desobrigado a
participar de qualquer etapa de manejo do resíduo, até mesmo porque não conseguiria
remete–lo em retorno ao seu distribuidor. Ao consumidor só restaria a alternativa de
procurar uma empresa especializada no tratamento de resíduos perigosos. Todavia, via de
regra, este não seria atendido na qualidade de simples pessoa física geradora de tão
pequena quantidade de resíduo. Embora hoje ainda pouco se tenha evoluído em relação a
sistemas de logística reversa, a Lei deixa clara a responsabilidade privada pelo resíduo. Os
parágrafos 4º–8º do art. 33 da Lei estabelecem responsabilidades específicas:

§4o Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou


distribuidores, dos produtos e das embalagens a que se referem os incisos I a VI do caput, e
de outros produtos ou embalagens objeto de logística reversa, na forma do §1o.
§5o Os comerciantes e distribuidores deverão efetuar a devolução aos fabricantes ou aos
importadores dos produtos e embalagens reunidos ou devolvidos na forma dos §§3o e 4o.
§6o Os fabricantes e os importadores darão destinação ambientalmente adequada aos
produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a
disposição final ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão competente
do SISNAMA e, se houver, pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.
§7o Se o titular do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, por
acordo setorial ou termo de compromisso firmado com o setor empresarial, encarregar–se
de atividades de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes nos sistemas de logística reversa dos produtos e embalagens a que se refere
este artigo, as ações do poder público serão devidamente remuneradas, na forma
previamente acordada entre as partes.
§8o Com exceção dos consumidores, todos os participantes dos sistemas de logística
reversamanterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente e a outras
autoridades informações completas sobre a realização das ações sob sua responsabilidade.

O art. 36 da Lei obriga os municípios a instituírem sistemas de reaproveitamento


de resíduos. A coleta seletiva de recicláveis é o primeiro procedimento óbvio para tal.
Todavia, a Lei 12.305 determina que se o poder público executar qualquer etapa de manejo
dos resíduos de responsabilidade privada, terá que ser ressarcido por tal. No caso dos
resíduos–alvos das coletas seletivas de recicláveis, esmagadora maioria será constituída de
embalagens de produtos. Embora tais embalagens, confeccionadas em plásticos, vidro,
metais e outros materiais possuam valor econômico positivo, que o encaminhamento de tais
a organizações de catadores seja uma forma hábil de gerar renda a populações pobres, não

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 136


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

se encontra em prática a remuneração do setor público pela coleta e transporte de tais


resíduos, os quais deveriam, idealmente, serem captados na sociedade pelos seus
respectivos dos produtos de consumo.
A Lei 12.305 considera como geradores de resíduos perigosos aqueles que geram
resíduos perigosos em sua atividade produtiva, cuja atividade envolva o comércio de
produtos que possam gerar resíduos perigosos e cujo risco seja significativo a critério do
órgão ambiental; que prestam serviços que envolvam a operação com produtos que possam
gerar resíduos perigosos, que executem coleta, transporte, transbordo, armazenamento,
tratamento, destinação e disposição final de resíduos ou rejeitos perigosos. A Lei estabelece
condicionantes à instalação de empreendimento ou atividade que gere ou opere com
resíduos perigosos:
 comprovar capacidade técnica e econômica, além de condições para prover
os cuidados necessários ao gerenciamento desses resíduos;
 cadastrar–se no Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos
coordenado pelo IBAMA;
 manter responsável técnico pelo gerenciamento dos resíduos perigosos;
 elaborar plano de gerenciamento de resíduos perigosos e submetê–lo ao
órgão competente do SISNAMA e, se couber, do SNVS,
 informar anualmente ao órgão competente do SISNAMA e, se couber, do
SNVS, sobre a quantidade, a natureza e a destinação temporária ou final dos
resíduos sob sua responsabilidade.
A lei estabelece que no licenciamento ambiental o órgão licenciador do SISNAMA
pode exigir a contratação de seguro de responsabilidade civil por danos causados ao
ambiente ou à saúde pública.
No âmbito dos instrumentos financeiros, a Lei estabelece a possibilidade de o
poder público destinar linhas de financiamento para (a) prevenção e redução da geração de
resíduos sólidos no processo produtivo; (b) desenvolvimento de produtos com menores
impactos à saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida; (c) implantação de
infra-estrutura física e aquisição de equipamentos para cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas
de baixa renda; (d) desenvolvimento de projetos de gestão dos resíduos sólidos de caráter
intermunicipal; (e) estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa; (f)
descontaminação de áreas contaminadas; (g) desenvolvimento de pesquisas voltadas para
tecnologias limpas aplicáveis aos resíduos sólidos; (h) desenvolvimento de sistemas de
gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao
reaproveitamento dos resíduos.
A Lei 12.305 é muito incisiva em relação à inclusão dos catadores e suas
cooperativas nos sistemas de manejo de resíduos sólidos. As citações a tal repetem–se ao
longo do texto:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 137


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 art. 7º, XII: integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas
ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos;
 art. 8º, IV: o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis;
 art. 15, V: Plano Nacional de Resíduos Sólidos – metas para a eliminação e
recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação
econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
 art. 17, V: Plano Estadual de Resíduos Sólidos – metas para a eliminação e
recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação
econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
 art. 18, II: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos –
priorização de recursos da União aos municípios que implantarem a coleta
seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação
de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas
físicas de baixa renda;
 art. 19, XI: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos –
programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial
das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se
houver;
 art. 33, §3º, III: possibilidade do setor produtivo, responsável pela logística
reversa, atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação
de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;
 art. 36, §1º: para o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos atuar no sentido da valorização dos resíduos,
priorizará a organização e o funcionamento de cooperativas ou de outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
formadas por pessoas físicas de baixa renda, bem como sua contratação. A Lei
estabelece a não necessidade de licitação para a contratação de tais
cooperativas.
 art. 42, III: priorização de linhas de financiamento e medidas indutoras para
implantação de infra-estrutura física e aquisição de equipamentos para
cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda;
 art. 44, II: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
instituir normas com o objetivo de conceder incentivos fiscais, financeiros ou
creditícios projetos relacionados à responsabilidade pelo ciclo de vida dos

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 138


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

produtos, prioritariamente em parceria com cooperativas ou outras formas de


associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por
pessoas físicas de baixa renda.
Da mesma forma, o Decreto 7404/2010 dedica vários regramentos em benefício
da agregação dos catadores aos sistemas de manejo de resíduos bem como um título inteiro
dedicado ao desenvolvimento da integração de tais indivíduos ao sistema.
O Decreto Federal 7404/2010, regulamentador da Lei 12.305 constituiu o
denominado Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no qual são
partícipes Ministério do Meio Ambiente (Coordenação), Casa Civil da Presidência da
República, Ministério das Cidades, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Ministério da Saúde, Ministério de Minas e Energia, Ministério da Fazenda, Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Ciência e
Tecnologia, Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, bem como
outros eventualmente convidados, entre instituições públicas e empresas privadas. O
Comitê tem função precípua de dinamizar o cumprimento das determinações e metas da Lei
12.305. São suas atribuições:
 elaboração e avaliação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos;
 estudos para a desoneração tributária de produtos recicláveis e reutilizáveis;
 definir as informações complementares ao Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos Perigosos;
 formular estratégia para a promoção e difusão de tecnologias limpas para a
gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos;
 estudos referentes a linhas de financiamento de instituições financeiras
federais;
 incentivar a pesquisa e o desenvolvimento nas atividades de reciclagem,
reaproveitamento e tratamento dos resíduos sólidos;
 propor medidas para a implementação dos instrumentos e efetivação dos
objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos;
 definir e avaliar a implantação de mecanismos específicos voltados para
promover a descontaminação de áreas órfãs;
 implantar ações destinadas a apoiar a elaboração, implementação, execução e
revisão dos diversos planos de resíduos sólidos;
 contribuir, por meio de estudos específicos, com o estabelecimento de
mecanismos de cobrança dos serviços de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos urbanos pelos seus respectivos titulares.
A Lei 12.305 estabelece três mecanismos para que sejam conformados os

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 139


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

sistemas de logística reversa:


 acordos setoriais, podendo ter abrangência federal, regional ou municipal: são
atos de natureza contratual, firmados entre o poder público e os fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes, visando a implantação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;
 regulamentos expedidos pelo Poder Público (decreto do Poder Executivo,
precedido de análise técnica e econômica do Comitê Orientador e consulta
pública);
 termos de compromisso.
Para o cumprimento do estabelecido, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes ficam responsáveis pela realização da logística reversa no
limite da proporção dos produtos que colocarem no mercado interno, conforme metas
progressivas, intermediárias e finais, estabelecidas no instrumento que determinar a
implementação da logística reversa.
O Decreto Federal 7404/2010 institui, também, o denominado Comitê
Orientador para Implantação de Sistemas de Logística Reversa, composto pelo Ministro de
Estado do Meio Ambiente (Presidente), Ministro de Estado da Saúde, Ministro de Estado do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento e Ministro de Estado da Fazenda, contando com Grupo Técnico de
Assessoramento, composto por técnicos dos ministérios, exceto Fazenda, e convidados de
estados, municípios e sociedade civil. São atribuições do Comitê Orientador:
 estabelecer a orientação estratégica da implementação de sistemas de
logística reversa;
 definir as prioridades e aprovar o cronograma para o lançamento de editais
de chamamento de propostas de acordo setorial de iniciativa da União;
 fixar cronograma para a implantação dos sistemas de logística reversa;
 aprovar os estudos de viabilidade técnica e econômica;
 definir as diretrizes metodológicas para avaliação dos impactos sociais e
econômicos dos sistemas de logística reversa;
 avaliar a necessidade da revisão dos acordos setoriais, dos regulamentos e
dos termos de compromisso que disciplinam a logística reversa no âmbito
federal;
 definir as embalagens que ficam dispensadas, por razões de ordem técnica ou
econômica, da obrigatoriedade de fabricação com materiais que propiciem a
reutilização e reciclagem;
 definir a forma de realização da consulta pública relativa a proposta de
implementação de sistemas de logística reversa;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 140


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 promover estudos e propor medidas de desoneração tributária das cadeias


produtivas sujeitas à logística reversa e a simplificação dos procedimentos
para o cumprimento de obrigações acessórias relativas à movimentação de
produtos e embalagens sujeitos à logística reversa;
 propor medidas visando incluir nos sistemas de logística reversa os produtos e
embalagens adquiridos diretamente de empresas não estabelecidas no País,
inclusive por meio de comércio eletrônico.
Os acordos setoriais federais se darão ou por iniciativa do setor produtivo, ou
por iniciativa do poder público federal, através da Ministério do Meio Ambiente, a partir dos
chamados editais de chamamento. O Decreto 7404 especifica o conteúdo mínimo dos
acordos setoriais:
 indicação dos produtos e embalagens objeto do acordo setorial;
 descrição das etapas do ciclo de vida em que o sistema de logística reversa se
insere;
 descrição da forma de operacionalização da logística reversa;
 possibilidade de contratação de entidades, cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais recicláveis ou reutilizáveis, para
execução das ações propostas no sistema a ser implantado;
 participação de órgãos públicos nas ações propostas, quando estes se
encarregarem de alguma etapa da logística a ser implantada;
 definição das formas de participação do consumidor;
 mecanismos para a divulgação de informações relativas aos métodos
existentes para evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a seus
respectivos produtos e embalagens;
 metas a serem alcançadas no âmbito do sistema de logística reversa a ser
implantado;
 cronograma para a implantação da logística reversa, contendo a previsão de
evolução até o cumprimento da meta final estabelecida;
 informações sobre a possibilidade ou a viabilidade de aproveitamento dos
resíduos gerados, alertando para os riscos decorrentes do seu manuseio;
 identificação dos resíduos perigosos presentes nas várias ações propostas e os
cuidados e procedimentos previstos para minimizar ou eliminar seus riscos e
impactos à saúde humana e ao ambiente;
 avaliação dos impactos sociais e econômicos da implantação da logística
reversa;
 descrição do conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 141


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

participantes do sistema de logística reversa no processo de recolhimento,


armazenamento, transporte dos resíduos e embalagens vazias, com vistas à
reutilização, reciclagem ou disposição final ambientalmente adequada,
contendo o fluxo reverso de resíduos, a discriminação das várias etapas da
logística reversa e a destinação dos resíduos gerados, das embalagens usadas
ou pós–consumo e, quando for o caso, das sobras do produto, devendo
incluir: (a) recomendações técnicas a serem observadas em cada etapa da
logística, inclusive pelos consumidores e recicladores, (b) formas de coleta ou
de entrega adotadas, identificando os responsáveis e respectivas
responsabilidades, (c) ações necessárias e critérios para a implantação,
operação e atribuição de responsabilidades pelos pontos de coleta, (d)
operações de transporte entre os empreendimentos ou atividades
participantes, identificando as responsabilidades e (e) procedimentos e
responsáveis pelas ações de reutilização, de reciclagem e de tratamento,
inclusive triagem, dos resíduos, bem como pela disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos;
 cláusulas prevendo as penalidades aplicáveis no caso de descumprimento das
obrigações previstas no acordo.
As propostas de acordo setorial advindas de iniciativa do setor produtivo ou
convocação através de edital de chamamento serão encaminhadas ao Ministério do Meio
Ambiente, que fará a análise do material, também disponibilizando–o para consulta pública,
em que órgãos e entidades públicas e privadas poderão remeter suas opiniões, contestações
ou ratificações. Passo seguinte, o Ministério encaminhará ao Comitê Orientador, o qual
poderá aceitar a proposta, ou solicitar complementações aos autores ou ainda determinar o
arquivamento do processo, por inconsistência da proposta. A Figura 2.2.2 ilustra o
mecanismo de avaliação das propostas.
Os termos de compromisso visando o estabelecimento de logística reversa serão
firmados pelo poder público e o setor privado responsável (a) nas hipóteses em que não
houver, em uma mesma área de abrangência, acordo setorial ou regulamento específico,
consoante estabelecido neste Decreto ou (b) para a fixação de compromissos e metas mais
exigentes que o previsto em acordo setorial ou regulamento.
O Sistema Nacional de Informações Sobre a Gestão de Resíduos Sólidos – SINIR –
é outra instituição decorrente da Lei e do Decreto. Objetiva a centralização de todas as
informações sobre resíduos sólidos existentes no país, inclusas a gestão dos resíduos, as
estatísticas e indicadores relativos, os planos públicos e privados e a logística reversa. O
SINIR serve como importante instrumento para diagnósticos visando a implementação ou
atualização das políticas públicas.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 142


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 2.2.2 – Rito de avaliação das propostas de acordo setorial

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 143


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2011. Atlas de Saneamento


2011. Rio de Janeiro. 268p.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 144


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.3 GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS

2.3.1 Gerenciamento integrado de resíduos


sólidos: plano de gerenciamento
integrado
Durante muito tempo o conceito de manejo de resíduos sólidos restringiu-se à
execução dos serviços de limpeza e coleta. Nos ambientes comerciais, industriais e mesmo
domiciliares, tal conceito estava restrito a limpar, juntar resíduos, ensacá-los, e apresentá-
los ao recolhimento. Do ponto de vista municipal, o grande interesse restringia-se a “limpar
a cidade”, executar coleta de resíduos de boa qualidade e manter a limpeza dos logradouros
públicos, executar varrições de meio-fio, bem como capinas. As questões da segregação e da
destinação dos resíduos foram historicamente negligenciadas.
Com o avanço da consciência sobre a questão da poluição relacionada a resíduos
sólidos, a própria legislação ambiental sofisticou-se, passando a exigir formas de destinação
qualificadas dos resíduos sólidos, ao invés de simples lançamento no solo, a céu aberto. A
partir desse fato, o fator econômico tornou-se preponderante internamente a tal questão:
tratar resíduos sólidos é caro, portanto, que resíduos realmente necessitam de tratamento,
quais os resíduos que podem ser destinados de forma mais simplificada, e, mais do que isso,
que resíduos podem ser fonte de renda e quais resíduos podemos transformar em outros
materiais, menos poluentes e até dotados de valor econômico?
Muitas das soluções que têm sido propostas para o manejo e a destinação de
resíduos sólidos trazem em si o erro de proporem-se a ser auto-suficientes, ou seja, sozinhas
conseguirem resolver este grave problema que é o tratamento adequado dos resíduos
sólidos (REICHERT, 1999). Soluções isoladas e estanques, que não contemplam a questão dos
resíduos do momento de sua geração até a destinação final, passando pelo seu tratamento,
mesmo sendo boas em princípio, não conseguem trazer solução para o problema como um
todo. De que adianta uma coleta e uma limpeza pública bem feitas, se os resíduos são
destinados a um lixão? De que adianta coleta seletiva, se não há uma estrutura de
beneficiamento dos materiais ou um estudo de mercado para a venda? De que adianta uma

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 145


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

unidade de triagem, se os resíduos recicláveis, por estarem sujos, têm baixo valor comercial?
De que adianta uma unidade de compostagem se o composto produzido estiver
contaminado com metais pesados e outros compostos químicos? De que adianta aterros
bem executados, se colocamos neles cada vez mais resíduos, em espaços cada vez mais
raros, principalmente em grandes centros urbanos? A solução está na procura de modelos
integrados, que pensem a questão desde o momento da geração dos resíduos, procurando
maximizar o reaproveitamento e a reciclagem. Para que isto seja possível, devemos evitar a
mistura, segregando os resíduos no momento da sua geração, já tendo em mente a sua
utilização futura, ou o processo de tratamento ao qual serão submetidos (REICHERT, 1999).
A forma de solução para tal problemática, tanto no âmbito de uma gestão
empresarial, quanto no âmbito de uma administração municipal, é denominada
gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Tal processo apresenta uma complexidade que
não se restringe a um setor administrativo, mas demanda o envolvimento e a colaboração
de todo o grupo social de que se compõe a estrutura administrativa (o corpo de
colaboradores, no caso de uma empresa, a população, no caso de um município). Os
gestores do sistema serão um grupo multidisciplinar, pois o modelo integrado a ser
concebido contempla aspectos científicos, administrativos, econômicos, sociais e
tecnológicos.
Basicamente, quatro são os fatores necessários que convergirão para a adoção e
o sucesso de um programa de gerenciamento integrado (REICHERT, 1999):
 vontade política (querer fazer);
 conhecimento técnico (saber fazer);
 recursos financeiros (ter como fazer);
 pessoal qualificado e engajado (poder fazer).
Um dos requisitos fundamentais para a implantação de um sistema de
gerenciamento integrado é (1) o conhecimento das características dos resíduos gerados.
Uma caracterização bem feita, que informe sobre quantidades absolutas e percentuais de
cada tipo de resíduo gerado, constituir-se-á no primeiro passo para um diagnóstico
situacional, visando orientar sobre que estratégias serão vislumbradas como apropriadas
para a realidade da empresa, instituição ou município.
O conhecimento (2) das metodologias de tratamento apropriadas para cada tipo
específico de resíduo bem como (3) o potencial de reciclagem dos resíduos e a realidade
mercadológica orientarão sobre a estratégia da segregação e a forma de destinação dos
mesmos. Se a variável econômica encontra-se, por força de lei, subordinada à variável
ambiental, ela não é menos importante quando dispuser de alguns graus de liberdade para
ser considerada. A variável sociológica, neste caso atrelada a um projeto de educação
socioambiental e responsabilidade solidária terá papel fundamental, considerados os
aspectos de redução e separação na origem. Neste sentido, são bases necessárias para a
implantação do gerenciamento integrado:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 146


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(a) Política dos 3R’s: reduzir, reutilizar e reciclar: a chamada redução na origem
é um dos pilares não só do plano de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos (PGIRS), como é também uma estratégia de educação socioambiental
visando enfrentar o agravamento do problema mundial do crescimento da
geração de resíduos sólidos. Se houver redução de emissão de resíduos nas
fontes geradoras, a partir de mudanças de hábitos de consumo, e
aproveitamento local dos resíduos previamente ao seu descarte, grande
parte dos problemas estará resolvida. Neste sentido, projetos como o da
compostagem caseira surgem para trabalhar-se dentro desse objetivo. A
política dos 3R’s apresenta algumas variantes de si própria, quando são
agregadas as ideias de recuperação e reeducação, por exemplo, agregando-
se novos R’s, e aí recebendo os nomes de política dos 4R’s, política dos 5R’s
e assim por diante;
(b) Mudança cultural: trabalho de base - a base cultural das pessoas que
tiveram sua educação fundamental anterior à década de 1990 não sofreu
um trabalho de educação socioambiental agressivo. Há ainda uma cultura
voltada ao descarte e não ao reaproveitamento. Essa cultura precisa ser
modificada na organização;
(c) Programa de educação socioambiental: o programa de educação
socioambiental vem ao encontro do objetivo de mudança do padrão cultural
dos indivíduos. A partir da conscientização, calcada na base científica do
problema da poluição e na ciência do valor agregado daquilo que
anteriormente era tratado como inutilidade, constrói-se a nova mentalidade
dos reais atores do sistema;
(d) Conhecimento e adequação à legislação ambiental: a legislação ambiental
surge como um marco para as modificações de paradigmas. Um diploma
legal teoricamente fundamenta-se na vontade popular, sendo um texto que
já passou pelo crivo da representação pública (política). É o fator motivante
das modificações, e, ao menos até que adeque-se novamente ao interesse
público, deve ser cumprido. É a partir da legislação e suas obrigações
decorrentes que as mudanças ocorrem: é menos caro modificar os sistemas
do que pagar as multas pela inadequação. Para a construção do PGIRS é
preciso conhecer-se as leis para projetarem-se sistemas compatíveis com
tais leis;
(e) Conhecimento científico-tecnológico: vivemos em uma época de intenso
desenvolvimento científico e tecnológico. No tocante ao manejo, tratamento
e destinação de resíduos sólidos também há marcante evolução do
conhecimento. É preciso conhecer os resíduos, suas características de
periculosidade e seu potencial poluidor, bem como a tecnologia e os
processos conhecidos para o seu tratamento mais eficiente, conjugando
aspectos ambientais e econômicos. Não existe PGIRS sem conhecimento
científico envolvido;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 147


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(f) Conhecimento do mercado: no tocante ao reaproveitamento e à reciclagem,


é fundamental conhecerem-se os mercados de resíduos sólidos. Se um
determinado resíduo for, por exemplo, compostável, combustível e matéria-
prima para algum outro produto tecnológico, devemos contabilizar quais os
retornos financeiros líquidos advindos da venda de um composto orgânico
preparado a partir da compostagem de tal resíduo, qual o retorno de sua
venda como combustível, qual o retorno de sua comercialização como
resíduo reciclável. Se todos os procedimentos forem viáveis legalmente e
ambientalmente (avaliação de ciclo de vida), deverá ser escolhido aquele
que trouxer maior retorno financeiro à organização, todavia sempre
engajando a variável ambiental à escolha;
(g) Licenciamentos: os licenciamentos ambientais constituem um passo
importante do processo. Cada vez mais os órgãos ambientais estão imbuídos
de poder para regulamentar todas as atividades que dizem respeito à gestão
dos resíduos. O licenciamento evita o descumprimento da legislação vigente,
bem como endossa os procedimentos adotados, no sentido de evitar
impasses e a constituição de passivos;
(h) Plano de gerenciamento interno com especificidades da instituição: cada
organização é única, no sentido de suas peculiaridades, seus procedimentos,
sua tecnologia e padrão cultural dos seus colaboradores. Uma solução
adotada para um município “A” ou uma empresa “B”, poderá ser totalmente
inadequada aos padrões de um município “C” ou de uma empresa “D”.
Conhecer-se a si próprio é fundamental para projetar o próprio futuro;
(i) Monitoramento do processo: todo plano deve constituir um ciclo fechado,
no sentido de sua gestão. É necessário projetar-se o feedback, ou seja, a
constituição de um sistema de indicadores que possa traduzir se os
resultados obtidos correspondem ao projetado, e se a participação dos
atores é satisfatória. Não há méritos em qualquer projeto que não preveja
como avaliar os seus resultados. A administração dos processos deve
conhecer e aplicar o PDCA1.
As vantagens advidas da implantação do gerenciamento integrado para a
organização são:
(a) redução de custos para a instituição: atualmente, cada vez mais a visão
laissez-faire vem perdendo espaço em relação uma ação pró-ativa,
principalmente porque a segunda traz maior economia de recursos.
Objetivamente, nos dias atuais, a adoção de uma estratégia end-of-pipe
(geramos e descartamos) custa muito caro, pois os sistemas de tratamento e
disposição de resíduos disponíveis demandam vultosos investimentos. Não
obstante tal, a ausência de segregação dos resíduos insere à sua totalidade a

1
Plan-Do-Check-Act: método interativo de gestão de processos visando à melhoria contínua.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 148


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

atribuição global das características do pior dos seus constituintes. Portanto,


a menos que a organização desfrute de uma deficiência do sistema público
de fiscalização ambiental, podendo lançar de forma desqualificada seus
rejeitos, a adoção do PGIRS trará economias importantes para a mesma;
(b) imagem da organização dentro do ponto de vista do marketing ambiental:
há anos atrás, o poder público recebia certas críticas por exercer a
fiscalização ambiental, notificar, autuar e mesmo processar e prender; hoje
há um processo inverso: a conscientização ambiental das pessoas foi tão
estimulada pela mídia ao longo dos anos, que se elevou a um patamar que
supera os recursos materiais e humanos dos órgãos públicos para fazer
cumprir-se a lei, e as organizações públicas e empresas privadas são
veementemente criticadas e denunciadas por ação ou omissão no sentido
de permitir ou ocasionar degradação ambiental. Se um administrador
público deseja capitalizar-se politicamente e se um empreendedor deseja
continuar com uma imagem favorável da sua empresa frente ao grande
público consumidor, deverá engajar-se em projetos que insiram uma
imagem de responsabilidade ambiental por sua organização. Isso hoje não é
mais meramente demagógico, é a realidade estampada no dia-a-dia.
Qualquer empresário ou administrador público sério hoje tem essa
preocupação;
(c) certificações ambientais e prêmios em qualidade ambiental: com o advento
das séries de normas ISO, mais do que para um fator de visibilidade
empresarial, a adoção do PGIRS tornou-se uma necessidade para que as
organizações possam concorrer em certos mercados, bem como buscar
financiamentos. Tais normas além de preverem a adoção do PGIRS, contam
com ferramentas sofisticadas de decisão que conduzem inclusive à
modificação de processos e operações nas indústrias, inserindo a variável
ambiental em um elevado status dentro da organização fabril.
As etapas necessárias para a implantação do sistema de gestão integrada em
uma organização são as seguintes:
(a) diagnóstico local do problema (levantamento de resíduos e especificidades
da instituição): a etapa inicial do PGIRS deve responder às questões “quais
resíduos são produzidos?”, “onde os resíduos são produzidos?”, “por que os
resíduos são produzidos?”, e ”o que é feito com os resíduos?”. As perguntas
não se limitam a essas quatro: na verdade será necessária a execução de
uma verdadeira devassa nos processos e atividades responsáveis pela
produção de resíduos, para o estabelecimento do diagnóstico situacional. O
profissional ou a equipe encarregada da tarefa possivelmente encontrará
uma série de absurdos, desperdícios, irregularidades e fatores que atentam
contra a saúde e a segurança dos colaboradores. Provavelmente, em um
sistema que ainda não sofreu ações de qualificação, a simples investigação e
algumas modificações pontuais emergenciais já serão fator de economia e

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 149


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

elevação da salubridade das condições dos locais de trabalho.


(b) formação de comissão/equipe multidisciplinar e multiplicadores: todos os
colaboradores, no caso de uma empresa, e toda a população, no caso de um
município, serão atores do sistema. Todavia, para a gestão do projeto
deverão ser convocados indivíduos que detenham conhecimento técnico,
administrativo ou sociológico, ou detenham especial potencial de
relacionamento com os colaboradores, no sentido de (1) multiplicarem o
conhecimento e a importância do projeto, e (2) fiscalizarem o cumprimento
das obrigações dos implicados. A equipe será responsável também por
monitorar o processo, bem como buscar os subsídios teóricos, legais e
tecnológicos e efetuar os licenciamentos necessários, para que o projeto
como um todo ocorra a contento, com resultados positivos;
(c) conhecimento da legislação e normalização específicas e benchmarking: a
equipe técnica alocada ao projeto deverá buscar todas as informações
necessárias para que segregação, manejo, reciclagem, tratamento,
destinação de resíduos e os “n” aspectos correlatos sejam bem
compreendidos para a busca das fórmulas de maior viabilidade ambiental e
econômica. Uma série de subsídios deverá ser buscada junto à bibliografia
especializada, órgãos ambientais licenciadores, mercado de recicláveis,
mercado tecnológico de tratamento, etc. O benchmarking é uma estratégia
interessante: “vamos ver como está fazendo quem já sabe como fazer”;
(d) elaboração de sistema de padronização interna (nomenclatura, cores,
símbolos): se haverá uma segregação dos resíduos na origem e nos locais
especialmente destinados para abrigo temporário de resíduos (e deverá
haver!), nada mais lógico do que padronizar os recipientes que receberão
resíduos, de modo que cada colaborador possa relacionar
inconscientemente, por exemplo, a cor de um recipiente com o tipo de
resíduo que tal recipiente recebe. Cada recipiente poderá também receber
um código que identifique a sua proveniência, para uso após a transferência
dos resíduos à área externa de armazenamento. Cada caçamba estacionária
ou outro contentor externo também será padronizado e codificado para
efeitos de organização. A Figura 2.3.1 apresenta uma ilustração da
padronização de contentores segundo a normalização vigente (Resolução
CONAMA 275/2001);

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 150


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 2.3.1 – Contentores para resíduos com cores padronizadas


pela Resolução CONAMA 275/2001

Fonte: o autor

(e) adoção de sistema de logística adequado às necessidades da instituição:


para que cada colaborador tenha sempre diante de si um ou mais
contentores à disposição para o recebimento dos resíduos, para que tais
contentores sejam descarregados em uma área externa, para que cada
caçamba ou contentor externo receba somente os resíduos apropriados
para o destino que será dado após seu transporte, para que não haja
geração de vetores, tampouco acumulação de resíduos além da capacidade
dos contentores externos, para que não haja ingresso de umidade nos
resíduos, para que os resíduos não fiquem à mercê de estranhos e animais,
e, enfim, para que todo o sistema de armazenamento interno e externo e
destinação funcione a contento, um plano logístico deverá ser elaborado,
contemplando a compra dos insumos necessários (bombonas, sacos para
resíduos, lixeiras, caçambas estacionárias), a alocação de colaboradores para
o manejo, a contratação de serviços de limpeza, tratamento, transporte,
reciclagem e destinação de resíduos, e a própria reavaliação logística
periódica, em função de modificações de processo e de geração de resíduos;
(f) manejo de resíduos respeitando leis e normas – segregação: a segregação
dos resíduos é a chave primária para o sucesso do projeto. segregando-se os
resíduos na origem, evitando-se as misturas, evita-se transferir
periculosidade de um para outro e evita-se depreciar a qualidade de um
determinado resíduo para o reaproveitamento e a reciclagem, mantendo
seu valor original. A legislação e a normalização deverão sempre ser
conhecidas e respeitadas para o sucesso e regularidade do projeto
empreendido;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 151


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(g) programas de treinamento permanente: embora todo projeto “decole” a


partir de um programa robusto de treinamento e qualificação, o
treinamento deve ser visto como uma atividade periódica e permanente,
uma vez que há rotatividade de mão-de-obra nas empresas e há
crescimento populacional nos municípios. Além do mais, tecnologia e
legislação modificam-se, aprimorando-se com o decorrer do tempo.
Dependendo do nível cultural dos atores envolvidos e do seu grau de
estímulo, poderá, com o tempo, ocorrer decaimento no nível de adesão dos
envolvidos. Portanto a requalificação dos multiplicadores e a reciclagem dos
envolvidos deverá ser cíclica e permanente;
(h) monitoramento (feedback) e auto-avaliação: não há mérito em qualquer
projeto que não preveja a qualificação, quantificação e avaliação dos seus
resultados, com realimentação do sistema, para corrigir erros e aperfeiçoar
procedimentos. Assim, um sistema de indicadores simples e eficientes
deverá ser associado ao projeto. Tais indicadores deverão ser quantitativos,
para que possa ser observada sua evolução com o tempo. As avaliações
programadas deverão permitir aos gestores do projeto deliberar
modificações em sua estrutura ou procedimentos, de modo a obter-se o
aperfeiçoamento. Todos os envolvidos deverão ser cientificados da evolução
do projeto para certificarem-se de quanto os seus esforços estão sendo
efetivos para a melhoria das condições, ou quanto se deve ainda melhorar as
atividades.
A partir do advento da Lei Federal 12.305/2010 estabeleceram-se
responsabilidades de planejamento aos gestores públicos e privados. À união, aos estados, e
principalmente aos municípios, titulares dos sistemas de saneamento básico, foram
estabelecidas as obrigações da construção, renovação e manutenção de planos de gestão de
resíduos sólidos. Às empresas foi estabelecida a obrigação da construção dos planos de
gerenciamento de resíduos sólidos. Se por um lado, isso originou uma demanda, por outro
lado os termos de referência oriundos da legislação forneceram guias úteis para o
planejamento da gestão de resíduos sólidos. Exemplificando, os itens a seguir reproduzem o
modelo do termo de referência adotado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente para a
construção dos necessários plano de gerenciamento pelos estabelecimentos privados de
Porto Alegre.

TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PGIRS)

1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 152


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração/Projeto do PGIRS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação/ Execução do PGIRS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Alvará de Localização e Funcionamento
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
- Descrição das Atividades Desenvolvidas
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área Construída
3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGIRS.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
-Lei Federal nº 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
-Lei Federal nº 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 153


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

- Lei Federal nº 9.974/00, Alteração da Lei Federal nº 7.802/89 sobre agrotóxicos,


seus componentes e afins.
- Resolução CONAMA nº 275/01, código de cores para os invólucros de resíduos.
- Resolução CONAMA nº 257/99, descarte de pilhas e baterias usadas.
- Resolução CONAMA nº 258/99, coleta e destinação final ambientalmente adequada
dos pneumáticos inservíveis.
- Norma ABNT NBR nº 10.004/04, classificação de resíduos sólidos.
- Norma ABNT NBR nº 11.174/90, armazenamento de resíduos classe II.
- Norma ABNT NBR nº 12.235/92, armazenamento de resíduos classe I (perigosos).
- Lei Estadual nº 11.520/00, Código Estadual do Meio Ambiente.
- Lei Estadual nº 9.921/93, dispõe sobre gestão dos resíduos sólidos.
- Lei Estadual nº 13.401/10, dispõe sobre destinação de resíduos classe I (perigosos).
- Lei Estadual nº 11.019/00, Descarte e destinação final de pilhas com Mercúrio
metálico, lâmpadas e baterias.
- Decreto Estadual n° 38.356/98, gestão dos resíduos sólidos.
- Decreto Estadual nº 45.554/2008, descarte e destinação final de pilhas que
contenham mercúrio metálico, lâmpadas fluorescentes, baterias de telefone celular
e demais artefatos que contenham metais pesados no Estado do Rio Grande do Sul.
- Portaria FEPAM nº 016/2010, controle da disposição final de resíduos classe I.
- Lei Municipal nº 728/14, Código Municipal de Limpeza Urbana.
- Lei Municipal nº 10.953/10, dispõe sobre o descarte de lâmpadas fluorescentes.- Lei
Municipal nº 9.851/05, dispõe sobre recipientes de coleta de resíduos perigosos.
- Lei Municipal nº 11.384/2012, regras para a destinação final ambientalmente
adequada do lixo eletrônico produzido no Município de Porto Alegre.
- Decreto Municipal nº 9.367/88, dispõe sobre o manejo de resíduos sólidos.
- Resolução COMAM nº 06/2006,
- Outra normativa qualquer que se julgue procedente para o PGIRS.
5. DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- Determinar e identificar as áreas de geração de resíduos.
- Caracterizar os resíduos sólidos gerados através de classificação por tipo (utilização
de legislações e normas pertinentes) e quantificá-los por cada área independente.
- Identificar os pontos de segregação dos resíduos sólidos, os quais estão munidos de
recipientes coletores.
- Apresentar a Planilha de Diagnóstico disponibilizada no Anexo I deste Termo de
Referência devidamente preenchida. Um modelo próprio da empresa que contenha
pelo menos as mesmas informações poderá ser utilizado.
6. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
6.1. Estrutura Organizacional
Definir responsabilidades gerenciais e operacionais dos profissionais envolvidos no
gerenciamento de resíduos sólidos dentro dos departamentos, unidades, núcleos e
setores da empresa, bem como verificar a sua qualificação para a execução do
serviço.
6.2. Programa de Redução na Fonte Geradora

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 154


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Estabelecer, se possível, meta de redução de geração da quantidade de resíduos,


especificando métodos de reaproveitamento e rotinas de segregação na origem.
6.3. Coleta Interna
Descrever os métodos de acondicionamento interno de resíduos, especificando os
coletores utilizados nas áreas da empresa para cada grupo de resíduo, informando
seu volume e demonstrando sua identificação através de relatório fotográfico.
Apresentar os procedimentos de higienização dos recipientes de coleta e dos
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) utilizados.
6.4. Transporte Interno
Definir como ocorre o transporte dos resíduos internamente, relacionando os
equipamentos utilizados, delineando procedimentos a serem adotados em caso de
rompimento ou vazamento dos recipientes. Apresentar planta baixa demonstrando as
rotas internas dos resíduos.
6.5. Armazenamento Temporário
Descrever a área de armazenamento temporário, onde os resíduos aguardam a
coleta da transportadora para destinação final, no que tange à identificação da área,
à impermeabilização do piso, à cobertura, à ventilação, à drenagem de líquidos
lixiviados e de derramamentos acidentais, ao isolamento e sinalização, ao
acondicionamento adequado (de acordo com as classificações dos resíduos), ao
controle da operacional, e ao treinamento de funcionários. Apresentar planta baixa
demonstrando o acesso dos veículos transportadores e a localização de cada tipo de
resíduo.
6.6. Tratamento
Descrever detalhadamente, caso sejam aplicados no empreendimento, os métodos
utilizados para pré-tratamento ou efetivo tratamento de resíduos gerados dentro da
área da empresa.
6.7. Transporte Externo
Especificar a frequência, dia da semana e horário típicos da coleta para cada
classificação de resíduo, bem como os tipos de veículos coletores. Identificar as
empresas responsáveis por todas as coletas de resíduos através das seguintes
informações: nome, endereço, telefone, número da Licença de Operação e dados do
responsável técnico. Informar o funcionamento da logística de transporte até a
destinação final. Caso necessário, anexar as cópias das licenças ambientais das
empresas transportadoras. Anexar modelo de Manifesto de Transporte de Resíduos
(MTR) utilizado pela empresa para encaminhamento de resíduos perigosos. Incluir
plano de contingência adotado pelo transportador para eventuais ocorrências de
acidentes.
6.8. Destinação Final
Descrever os princípios tecnológicos de tratamento ou destinação final adotados para
cada classificação de resíduos. Apresentar as cópias das licenças ambientais das
unidades receptoras dos resíduos, bem como os contratos com as empresas e os
últimos comprovantes de destinação final dos resíduos.
6.9. Programa de Educação Ambiental

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 155


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Dentro de um Programa de Educação Ambiental, desenvolver atividades de


conscientização e treinamento para os funcionários da empresa e terceirizados.
Aprimorar, de modo análogo, a conscientização do público usuário do
empreendimento. Apresentar metas e cronogramas de atividades, e relatar
resultados atingidos.
6.10. Monitoramento
Descrever os procedimentos internos de coleta de dados e a organização da rotina de
trabalho necessários para o monitoramento da aplicação do PGIRS. Descrever a
periodicidade de vistoria do responsável pela execução do PGIRS. Informar a
periodicidade prevista para revisão do PGIRS. Apresentar cronograma para
adequação da operação da empresa ao PGIRS, para aqueles itens que ainda não
estão consolidados.
7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA
Deverá ser apresentada a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), ou
documento equivalente, do profissional responsável pela elaboração / projeto do
PGIRS. Também deverá ser apresentada a ART, ou documento equivalente, do
profissional responsável pela implementação / execução do PGIRS. O mesmo
profissional poderá responder pelas duas etapas. A decisão pela habilitação ou não
de determinado profissional para assumir as responsabilidades do plano cabe aos
conselhos profissionais. As previsões de início e fim das atividades do responsável
técnico na ART deverão ser condizentes com o tempo utilizado para exercê-las. A
substituição do(s) profissional(is) informados deverá ser comunicada à SMAM. No
Anexo II encontra-se um modelo de ART.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Legislação Federal, disponível em http://www2.planalto.gov.br.
- Legislação Estadual, disponível em http://www.fepam.rs.gov.br.
- Legislação Municipal, disponível em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normativas do CONAMA, disponíveis em http://www.mma.gov.br/conama.
- Normativas do COMAM, disponíveis em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normas Técnicas ABNT NBR, disponíveis em http://www.abnt.org.br.
- Resoluções ANVISA, disponíveis em
http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/home.
9. ANEXOS
Poderão ser apensados ao PGIRS tantos anexos quanto forem julgados importantes
para elucidação dos itens supracitados

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 156


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ANEXO I - PLANILHA DE DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS


RESÍDUO QUANTIDADE UNIDADE CLASSIFICAÇÃO DESTINAÇÃO
GERADO NBR FINAL
10004/2004

*O campo unidade deverá ser preenchido com o volume ou a massa gerada em um determinado período de tempo.
Exemplos: m³/d, kg/mês, L/ano.

ANEXO II – MODELO DE ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA DO PGIRS

2.3.1.1 Planos de gestão de resíduos sólidos


Em 2 de agosto de 2010 foi publicada a Lei Federal 12.305, a qual instituiu a
Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS –, no país. Fruto de quase duas décadas de
debates das representações dos diversos segmentos da sociedade junto ao Congresso
Nacional, a PNRS cumpre a função de estabelecer o marco regulatório do setor da limpeza
urbana e gestão de resíduos sólidos no Brasil. O diploma legal pode ser considerado como
um instituto muito avançado para um país em que, ainda, nas suas unidades federativas,
apenas excepcionalmente verificam-se quaisquer esforços para a condução planejada do
manejo público dos resíduos sólidos.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 157


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Entre outros estabelecimentos aduzidos pela Lei 12.305, o instrumento instituiu


a obrigação de a União, os estados e os municípios constituírem os seus programas de
gestão de resíduos sólidos. Importante mencionar que a Lei estabelece uma diferenciação
entre os vocábulos gerenciamento e gestão. O primeiro refere-se às atividades relacionadas
ao manejo de resíduos de geração própria, o que basicamente refere-se a pessoas físicas e
jurídicas, geradoras de resíduos e aos seus esforços para o manejo correto e aprimorado dos
resíduos. O segundo refere-se à ação estatal, que mais do que manejadora de resíduos deve
constituir-se em instituidora de políticas públicas e de efeitos multiplicadores e mecanismos
econômicos visando o aprimoramento da redução de geração, do manejo e da valorização
dos resíduos. Desta forma, a Lei Federal 12.305/2010 institui a obrigação da produção de
planos de cunho político às três esferas administrativas.
Para os planos estaduais a Lei Federal 12.305/2010 fornece, em seu art. 17, o
termo de referência básico para a sua confecção, ou seja, o seu conteúdo mínimo
obrigatório:
 diagnóstico, incluída a identificação dos principais fluxos de resíduos no
Estado e seus impactos socioeconômicos e ambientais;
 proposição de cenários;
 metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir
a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada;
 metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de
disposição final de resíduos sólidos;
 metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social
e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis;
 programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas;
 normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos do Estado, para a
obtenção de seu aval ou para o acesso de recursos administrados, direta ou
indiretamente, por entidade estadual, quando destinados às ações e
programas de interesse dos resíduos sólidos;
 medidas para incentivar e viabilizar a gestão consorciada ou compartilhada
dos resíduos sólidos;
 diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos
sólidos de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;
 normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de
resíduos, respeitadas as disposições estabelecidas em âmbito nacional;
 previsão, em conformidade com os demais instrumentos de planejamento
territorial, especialmente o zoneamento ecológico-econômico e o

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 158


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

zoneamento costeiro, de: a) zonas favoráveis para a localização de unidades


de tratamento de resíduos sólidos ou de disposição final de rejeitos; b) áreas
degradadas em razão de disposição inadequada de resíduos sólidos ou
rejeitos a serem objeto de recuperação ambiental;
 meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito estadual,
de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social.
Portanto, o termo de referência remete aos estados as funções de articulação e
regramento. No caso do município, o termo de referência apresenta um perfil mais
contundente, uma vez que se tratam dos titulares dos serviços de saneamento básico,
portanto executores das tarefas de limpeza urbana e gestão de resíduos:
 diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território,
contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de
destinação e disposição final adotadas;
 identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente
adequada de rejeitos, observado o plano diretor de que trata o §1o do art. 182
da Constituição Federal e o zoneamento ambiental, se houver;
 identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou
compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de
economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos e as formas de
prevenção dos riscos ambientais;
 identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos a plano de
gerenciamento específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística
reversa na forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de seu
regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA e
do SNVS;
 procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída
a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos e observada a Lei
11.445, de 2007;
 indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;
 regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos
sólidos de que trata o art. 20, observadas as normas estabelecidas pelos
órgãos do SISNAMA e do SNVS e demais disposições pertinentes da legislação
federal e estadual;
 definição das responsabilidades quanto à sua implementação e
operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos
sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do poder público;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 159


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e


operacionalização;
 programas e ações de educação socioambiental que promovam a não
geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos;
 programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial
das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se
houver;
 mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda,
mediante a valorização dos resíduos sólidos;
 sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança
desses serviços, observada a Lei nº 11.445, de 2007;
 metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com
vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada;
 descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na
coleta seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art. 33, e de
outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos;
 meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da
implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos
sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas de logística reversa previstos no
art. 33;
 ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa de
monitoramento;
 identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos,
incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras;
 periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de
vigência do plano plurianual municipal.
O autor coordenou o grupo técnico de construção do Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS – de Porto Alegre em 2013. O Plano de Porto Alegre
tem sido considerado uma referência importante para vários municípios do país os quais se
têm aplicado à tarefa de construir os seus próprios planos. Em 2015 o autor, conjuntamente
com outros membros do citado grupo técnico publicaram a metodologia utilizada de
construção do PMGIRS de Porto Alegre no 28º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária
e Ambiental (FLECK et al., 2015). A seguir, tal artigo é reproduzido:

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 160


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O conceito de gerenciamento integrado de resíduos sólidos, devidamente


acolhido no texto da Lei 12.305, utiliza, no seu nascedouro, a compreensão de que (1) o
resíduo sólido pode constituir um ativo financeiro, isto é, apresentar valor econômico
positivo, (2) diferentes resíduos apresentam diferentes riscos ao ambiente e à saúde pública
e (3) diferentes potenciais para sua eficaz submissão a diferentes tratamentos, os quais
apresentam diferentes custos e externalidades associadas, (4) o estabelecimento da
segregação dos resíduos sólidos na origem é fator de barateamento do custo global
envolvido no seu manejo. Mais do que isso, evidencia-se a pouca efetividade de soluções
isoladas e estanques, ainda que, a princípio, bem aplicadas sejam, dentro do contexto global
dos serviços direcionados ao manejo de resíduos sólidos em uma municipalidade. O conceito
de gerenciamento integrado conduz ao entendimento de que toda e qualquer ação unitária
voltada ao manejo dos resíduos detenha planejamento prévio inserido no contexto global da
gestão, mapeados todos os impactos e externalidades relativos à sua adoção, de modo a que
o conjunto organizado de todas as ações conduza ao melhor resultado global possível. Isso
requer, especialmente, trabalharem-se interfaces diversas, construindo-se um modelo
realmente integrado, por vezes sacrificando-se certos parâmetros pontualmente voltados à
idealidade a uma ação específica a fim de que o resultado global dos processos integrados
não seja prejudicado.
Visando implantar tais conceitos no âmbito dos municípios e estruturas
municipais consorciadas, dos estados e da própria União, a PNRS, de forma inteligente,
estabeleceu a vinculação entre os financiamentos federais aos estados, municípios e
consórcios e a necessária existência de planos de resíduos sólidos, estabelecendo
indiretamente, desta forma, compromisso aos entes federados, com prazo de dois anos para
a consecução.
Em Porto Alegre a construção do PMGIRS iniciou-se em 2012, alguns meses antes
do término do prazo estabelecido pela Lei 12.305 para a finalização do instrumento. Optou, o
Município, pela execução da construção via recursos humanos próprios, técnicos do seu
Departamento Municipal de Limpeza Urbana, tendo sido nomeada uma comissão de seis
engenheiros e uma psicopedagoga para tal tarefa. O grupo técnico foi auxiliado pelos
préstimos de dois estagiários e de uma engenheira da secretaria do meio ambiente do
Município.
O desafio da construção do plano de gestão integrada passou pelas mesmas
etapas comuns ao estabelecimento de qualquer instrumento de planejamento:
a) Diagnóstico: o primeiro passo para o planejar-se constitui em vislumbrar-se a
situacionalidade da gestão, iniciativas relevantes existentes e lacunas do sistema a serem
supridas;
b) Prognóstico: o planejamento, originalmente pensado como o conjunto de
proposições para a elevação da qualidade e supressão das lacunas dos serviços e da gestão e
o seu arranjo harmônico, precisará basear-se não somente na situação reinante, mas
também na previsão dos cenários futuros de curto, médio e longo prazos;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 161


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

c) Planejamento: cerne do plano, traz como produto uma coleção de ações


objetivas, com metas e indicadores de efetividade, podendo a mesma coleção subdividir-se
em conjuntos de ações alternativas associadas a diferentes cenários futuros. Muito
comumente o planejamento será artificialmente compartimentado, cada capítulo referindo-
se a uma macroetapa da gestão ou do manejo dos resíduos. Todavia essa compartimentação
não deverá subjugar o caráter de integração do planejamento.
A tarefa inicial da construção remeteu-se à produção do termo de referência,
compreendido como o compêndio de todos os aspectos a serem mapeados, nas instâncias do
diagnóstico e do prognóstico e de todos os tópicos a necessariamente integrarem o
planejamento.
Quando encerrado o texto básico do Diagnóstico, a partir do levantamento de
todas as informações históricas e atualizadas sobre os serviços e a gestão, inclusos dados
financeiros e administrativos, os executores realizaram três eventos seguidos do que ficou
conhecido como Oficinas do Planejamento, em que técnicos e gestores de todos os órgãos do
Poder Executivo, tais quais órgãos de meio ambiente, obras, planejamento, serviço social,
habitação e outros puderam emitir a sua opinião externa ao executor sobre o presente
cenário da limpeza urbana e da gestão de resíduos sólidos. Em uma segunda série de
eventos, denominados Oficinas de Análise Integrada, técnicos e gestores desses mesmos
órgãos da administração municipal estabeleceram: (a) o mapeamento das iniciativas
relevantes existentes no setor da limpeza urbana e gestão de resíduos sólidos, e (b) a
identificação das carências e deficiências do sistema. Os produtos dessa etapa foram
inseridos no texto do Diagnóstico do PMGIRS, tornando-o pronto para a avaliação externa.
Finalmente, em audiência pública convocada a fim de submeter-se o Diagnóstico
a entidades da sociedade civil e dos munícipes em geral, visando ao acolhimento de críticas,
sugestões e contribuições, o Diagnóstico do PMGIRS pôde ser consolidado.
Dentro do escopo do Prognóstico, além do mapeamento das questões
demográficas, de modo a prever-se a evolução do número de geradores no território
municipal, importante papel residiu em detectarem-se os vetores da expansão urbana. O
planejamento dos serviços e da gestão dos resíduos sólidos deverá orientar-se
territorialmente de modo a garantir o alcance da sua universalização. Da mesma forma,
procedeu-se à rápida revisão das tecnologias modernamente disponíveis, tanto para a
execução dos serviços corriqueiros, quanto para o tratamento dos resíduos sólidos,
alternativas que podem conduzir à adoção de soluções que impliquem em reduções de
custos, elevação da eficiência na execução de tais serviços, e aproveitamento dos potenciais
mássicos e energéticos dos resíduos sólidos. Esse mapeamento pode mesmo prever a
eventual inevitável adoção de metodologias e equipamentos que estejam sendo aprovados
em diversas partes do mundo.
A gestão dos resíduos sólidos encontra-se direcionada e limitada pelos
instrumentos legais existentes. Todo o arcabouço legal existente nas esferas municipal,
regional e federal foi mapeado, para fins da gênese de um planejamento robusto e inserto na
legalidade, como, aliás, não poderia dar-se de forma diferente.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 162


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O Planejamento, fase derradeira e cerne do Plano, baseou-se nos dois capítulos


pregressos. O passado e o presente são os alicerces das construções futuras. Portanto,
determinadas anteriormente quais são as iniciativas hábeis existentes e bem conduzidas e
quais são as lacunas a se preencher, e mapeadas as realidades e demandas que o futuro
trará como qualidade necessária aos serviços e à gestão, puderam ser concebidos núcleos de
planejamento.
Concluso o esboço do capítulo Planejamento, duas oficinas de trabalho foram
convocadas para a sua apreciação, reconhecimento de lacunas ainda existentes e
recebimento de sugestões de complementação. A primeira oficina reuniu técnicos de quase
todas as secretarias, autarquias e empresas públicas do Município de Porto Alegre. A
segunda oficina reuniu representantes da sociedade civil, dos mais diversos segmentos, tais
quais universidades, federações comerciais e industriais, comitês e comissões diversos,
Ministério Público, sindicatos, etc.
Em audiência pública realizada em sequência, a população teve oportunidade de
apreciar o PMGIRS de Porto Alegre, tendo sido todas as sugestões e críticas coletadas, e se
não contempladas na versão final do texto, elencadas para apreciação no futuro próximo. No
evento, certos segmentos da sociedade externaram a sua preocupação de que o PMGIRS
fosse remetido à Casa Legislativa para que então, na forma de lei, tivesse garantida a sua
perenidade. Há que se considerar que, de modo diverso a um plano diretor de saneamento, o
PMGIRS é um plano eminentemente operacional, e como tal orienta serviços e modelos de
gestão. A sua flexibilidade é condição sine qua non para a sua aplicabilidade. Além das
incertezas de um futuro prospectado como possível pelo Prognóstico, ações com metas
estabelecidas podem apresentar-se como inadequadas em um futuro próximo, dadas todas
as variáveis implícitas em um processo de gestão pública. Neste sentido, e utilizando-se as
melhores ferramentas da gestão de processos, o PMGIRS foi construído de modo a
apresentar toda a maleabilidade necessária a que ações sejam reavaliadas, reescritas, bem
como prazos redefinidos, dentro da ideia de planejar/fazer/medir/refazer. Ao contrário disso,
um texto legislativo conferiria engessamento ao planejamento e impossibilidade de
efetuarem-se as necessárias correções ao modelo que a prática demonstraria como
adequadas. A oficialização do PMGIRS de Porto Alegre deu-se por decreto municipal em
novembro de 2013.
O produto final, texto do PMGIRS de Porto Alegre, inicia, após uma introdução,
com uma rápida revisão do histórico da gestão dos resíduos sólidos em Porto Alegre,
apresentando, sucintamente, estratégias utilizadas desde meados do Século XIX até os dias
atuais para a limpeza da cidade e disposição dos resíduos sólidos. O capítulo seguinte
reporta os procedimentos metodológicos adotados para a construção do Plano.
Finalmente, o quarto capítulo, propriamente denominado Diagnóstico, dedica-se
à descrição minuciosa de todos os serviços empreendidos pelo Departamento Municipal de
Limpeza Urbana, inclusos os respectivos custos, de aspectos administrativos e financeiros do
mesmo departamento executor, e finaliza com a descrição dos produtos obtidos nas oficinas
de análise integrada.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 163


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Na Tabela (a) apresentam-se esquematicamente os conteúdos da Fase


Diagnóstico do PMGIRS de Porto Alegre. O capítulo seguinte, denominado Prognóstico, tem o
seu conteúdo esquematicamente apresentado na Tabela 2.

Tabela (a): Conteúdo do Diagnóstico do PMGIRS de Porto Alegre


Geração
Caracterização
Varrição manual; capina; roçada de vias públicas; raspagem; limpeza de
arroios; limpeza de terrenos, áreas verdes e instalações públicas; pintura de
Serviços de limpeza urbana
meio-fio; limpeza de praias; lavagem de logradouros; limpeza de
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

monumentos.
Armazenamento pré-coleta
Coleta informal; coleta pública; coleta de resíduos arbóreos; coleta dos
resíduos de parques e praças; coleta de resíduos sólidos de redes de
drenagem; coleta regular domiciliar; coleta automatizada de resíduos
Coleta sólidos domésticos; coleta de resíduos recicláveis (coleta seletiva); coleta de
resíduos públicos; coleta em Unidades Destino Certo; coleta de animais
mortos de grande porte; coleta da produção dos serviços de capina; coleta
de resíduos de serviços de saúde do Grupo B; serviços de coleta particulares.
Locais de entrega voluntária públicos e privados; estação de transbordo;
Transbordo e transporte
transporte de resíduos sólidos.
Unidades de triagem; Unidade de Triagem e Compostagem;
Tratamento e pré-tratamento
reaproveitamento de resíduo orgânico via suinocultura.
Aterro sanitário – unidade em utilização; áreas para empreendimentos de
tratamento e disposição final de rejeitos; aterro industrial; aterro para
Disposição final
resíduos da construção civil (RCC Classe “A”); histórico da disposição de
resíduos sólidos em Porto Alegre e levantamento de passivos.
Fluxograma atual do
gerenciamento de resíduos
sólidos

Estrutura administrativa,
Estrutura do Departamento Municipal de Limpeza Urbana; estrutura da
operacional, fiscalizatória e
GESTÃO E CONTROLE

Secretaria Municipal do Meio Ambiente.


gerencial
Aspectos financeiros do
DMLU
Contratos e convênios
Iniciativas e capacidade de
educação ambiental
Informações gerenciais
Iniciativas relevantes
existentes
INTEGRADA
ANÁLISE

Carências e deficiências

Transversalidades e
interfaces

O crescimento vegetativo da população é aspecto de especial interesse, pois o


volume de demandas atribuídas ao executor do sistema é função direta do número de
habitantes do município. No caso de Porto Alegre, levantamento efetuado pela Fundação de

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 164


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Economia e Estatística (FEE-RS) informa que no futuro próximo a população de Porto Alegre
deverá registrar crescimento a taxas anuais decrescentes, que totalizará 5,07% no período
2010-2022, a partir de então a população total do município, em números absolutos, iniciará
processo de queda. Desse ponto vista, a cumprirem-se as previsões, não deverá incrementar-
se significativamente a população cliente dos serviços de limpeza urbana e gestão de
resíduos sólidos, podendo-se pensar na diversificação e qualificação dos serviços hoje em
execução.

Tabela (b): Conteúdo do Prognóstico do PMGIRS de Porto Alegre


Crescimento populacional
Mudanças na economia e evolução da geração
de resíduos sólidos urbanos
Desenvolvimento urbanístico
Coleta e transporte; triagem centralizada; tratamento biológico;
Tecnologias de gerenciamento e tratamento
tratamento térmico; aterro sanitário; reciclagem de materiais; cenário
de resíduos sólidos urbanos
atual da destinação de resíduos na Europa.
A Lei do Saneamento e suas consequências; a Política Nacional de
Efeitos resultantes da alteração de políticas
Resíduos Sólidos e suas consequências; a legislação municipal e suas
públicas
consequências.
Consórcios públicos; consórcios públicos de resíduos sólidos –
Perspectivas para a gestão associada com
legislação; perspectivas de gestão associada com municípios da
municípios da região
região.

Neste sentido, as seções subsequentes do Prognóstico exploram as estimativas


em relação ao desenvolvimento da economia e suas relações com a geração quali-
quantitativa dos resíduos sólidos e em relação aos vetores de expansão urbana no território
do município.
Por fim, fez-se a sondagem das tendências tecnológicas aplicadas ao manejo de
resíduos sólidos no mundo contemporâneo, estabeleceu-se a estimativa da influência que as
políticas públicas e a legislação recente deverão exercer sobre a geração quali-quantitativa
dos resíduos, e foram sondadas as oportunidades e conveniências para a gestão
regionalizada dos resíduos sólidos, via consórcio intermunicipal de que Porto Alegre venha a
ser município signatário.
A partir dos estudos reportados, tendo-se em vista o status atual da gestão, as
iniciativas relevantes e as oportunidades de melhoria, identificou-se que todas as ações nas
áreas da limpeza pública e da gestão de resíduos sólidos podem ser situadas em cinco
grandes eixos, os quais tornaram-se os denominados eixos do planejamento do PMGIRS:
1) Geração de resíduos sólidos, incorporando todos os aspectos entre a geração
propriamente dita dos resíduos e sua apresentação às diferentes coletas;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 165


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2) Coleta e transporte, compreendidos como elementos de um eixo fundamental,


contemplando as diversas coletas diferenciadas e os modais dos transportes dos resíduos aos
seus diferentes destinos, tais quais reciclagem ou disposição de rejeitos;
3) Tratamento e disposição final, compreendidos como o conjunto de serviços
alocados, na forma da lei, à maximização do aproveitamento do material recolhido pelas
diferentes coletas, e à disposição dos rejeitos;
4) Qualificação do ambiente urbano: aqui se reúnem todas as atividades
conduzidas em prol da melhoria dos aspectos de salubridade e estética dos logradouros e
ambientes públicos. Neste eixo estão contempladas atividades como varrição, capina,
roçado, limpeza de áreas públicas, pintura de meio-fio, conservação de monumentos e
viadutos;
5) Sistemas de gestão e estratégia: eixo considerado como o braço de gestão do
PMGIRS. Ele induz algo novo para a gestão de Porto Alegre, tendo em vista que sempre
houve dificuldade para se planejar a gestão futura, uma vez que os compromissos e
demandas imediatas jamais permitiram o chamado “parar-se para pensar”. A gestão e
estratégia compreende gestão financeira, gestão administrativa e organizacional e gestão do
planejamento.
Desta maneira, antevendo os objetivos finais do sistema de gestão de resíduos
sólidos, são identificadas as diretrizes e as estratégias associadas a tal alcance A partir das
diretrizes e estratégias surgiram os núcleos unitários do planejamento. Através dessa
metodologia de análise, Porto Alegre identificou as diretrizes subordinadas aos seus eixos de
gestão, para fins do Plano denominadas programas: (1) em Geração de Resíduos Sólidos: (a)
Aplicação do Princípio dos 3R’s; (b) Gestão dos geradores especiais e (c) Educação
socioambiental; (2) em Coleta e Transporte: (a) Manutenção dos serviços de coleta e
transporte; (3) em Tratamento e disposição final: (a) Geração de trabalho e renda; (b)
Redução do envio de resíduos sólidos urbanos para aterro; (4) em Qualificação do ambiente
urbano: (a) Manutenção da limpeza urbana; (5) em Sistemas de gestão e estratégia: (a)
Sustentatibilidade financeira; (b) Ferramentas de Gestão; (c) Qualificação organizacional.
O Grupo Técnico que conduziu a construção do PMGIRS de Porto Alegre detectou,
finalmente, a oportunidade da gênese de ações unitárias de planejamento, as quais
preencheriam adequadamente os arcabouços das diretrizes (programas) na forma de
estratégias, ou caminhos para a realização. Neste sentido, os cinco eixos e dez programas
abrigaram e classificaram as ações unitárias assim estabelecidas. Assim, cada ação de
planejamento do PMGIRS de Porto Alegre abrigou-se sob um eixo de gestão e um programa
de eixo; para cada ação foram estabelecidos os seus objetivos, o cenário atual do objeto e
um indicador para a medição do seu desenvolvimento; foi nominado um líder para a sua
consecução; foram estabelecidas as suas metas para o imediato, curto, médio e longo prazo.
As ações foram desdobradas em suas etapas unitárias para consecução, com respectivos
cronogramas, bem como foram nominados líderes para a execução de cada etapa e possíveis
fontes de financiamento para tal. As ações estabelecidas são apresentadas na Tabela (c).

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 166


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela (c): Conteúdo do Planejamento do PMGIRS de Porto Alegre


(1.1.1) Estabelecer regramento para o controle dos geradores de
resíduos sólidos sujeitos a plano de gerenciamento específico, conforme
Programa 1.1 art. 20, ou a sistema e de logística reversa, conforme art. 33 da Lei
Aplicação dos 3R’s Federal 12.305/2010.
(1.1.2) Qualificar e integrar a fiscalização do Município, com vistas a
estabelecer ações efetivas de cumprimento das leis.
EIXO 1 GERAÇÃO (1.2.1) Elaborar diretrizes para planos de gerenciamento de resíduos e
DE RESÍDUOS Programa 1.2 logística reversa para geradores de resíduos sólidos, incluindo resíduos
SÓLIDOS Gestão dos seletivos. Definir meios para controle e fiscalização da implementação e
Geradores Especiais operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos e
logística reversa, atendidos os artigos 20 e 33 da Lei Federal
12.305/2010.
Programa 1.3
(1.3.1) Planejar a educação ambiental do DMLU em sintonia transversal
Educação
com os setores pertinentes da PMPA.
Socioambiental

(2.1.1) Elaborar os projetos necessários para licitar e contratar coleta


automatizada (nova etapa) até dezembro de 2013.
Programa 2.1 (2.1.2) Concluir estudos e projeto para o licenciamento e implantação
Manutenção dos de nova estação de transbordo, na zona norte de Porto Alegre.
EIXO 2 COLETA E
serviços de coleta e (2.1.3) Readequação técnica e ambiental da Estação de Transbordo da
TRANSPORTE
transporte Lomba do Pinheiro (ETLP).
(2.1.4) Concluir e implantar o projeto "Coleta Certa".
(2.1.5) Estabelecer regras para o transporte e demais etapas do
gerenciamento integrado para geradores de resíduos especiais.
(3.1.1) Implantar Novas unidades de triagem / qualificar a estrutura das
Programa 3.1 atuais unidades de triagem.
Geração de (3.1.2) Criar atrativos para a ocupação plena dos postos de trabalho
Trabalho de Renda existentes, gerados pela comercialização dos resíduos recicláveis.
(3.1.3) Desenvolver estudo/projeto piloto conjunto para a contratação
EIXO 3
de cooperativa/associação de catadores, para execução da coleta
TRATAMENTO E seletiva.
DISPOSIÇÃO (3.2.1) Mapear e propor ações para a recuperação de passivos
FINAL ambientais causados pela disposição pretérita de resíduos sólidos.
Programa 3.2 (3.2.2) Ampliar o reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos por
Redução do envio meio de projetos que visem o reaproveitamento e a reciclagem de
de RSU pra aterro materiais.
(3.2.3) Desenvolver projeto e implantar alternativa para a destinação de
resíduos especiais (podas, resíduos da construção civil, lodos, resíduos
de dragagem) para órgãos públicos e empresas privadas.
(4.1.1) Ampliar a quantidade de Unidades Destino Certo (UDC’s) e de
Pontos de Entrega Voluntária de resídus (PEV’s).
(4.1.2) Qualificar as instalações atualmente existentes nos sanitários
EIXO 4 Programa 4.1
públicos, bem como qualificar capacitar os zeladores desses espaços.
QUALIFICAÇÃO Manutenção da
(4.1.3) Reduzir ações de prevenção e alternativas para o descarte de
DO AMBIENTE limpeza pública
resíduos.
URBANO
(4.1.4) Reduzir as disposições irregulares RSU ("focos de lixo"),
contemplando ações de prevenção e alternativas para o descarte de
resíduos.
continua

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 167


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela (c): Conteúdo do Planejamento do PMGIRS de Porto Alegre (continuação)


(5.1.1) Incrementar a comercialização de produtos e serviços.
Programa 5.1 (5.1.2) Organizar e garantir a atualização sistemática dos custos de
Sustentabilidade limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
Financeira (5.1.3) Estudar, planejar e projetar alternativas com base em novas
tecnologias para a execução dos serviços de manejo de resíduos sólidos.
(5.2.1) Concluir o Plano Diretor de Resíduos Sólidos.
(5.2.2) Definir responsabilidades para implementação e
operacionalização do PMGIRS, incluindo etapas do Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos, conforme art. 20 da Lei Federal
12.305/2010, ao encargo do poder público.
EIXO 5 SISTEMAS (5.2.3) Desenvolver projeto unificado para efetivar e disseminar a
DE GESTÃO E comunicação de projetos, iniciativas, legislação pertinentes ao manejo
ESTRATÉGIA Programa 5.2 de resíduos sólidos.
Ferramentas de (5.2.4) Desenvolver e manter atualizado um banco de dados contendo
Gestão especificações e padrões de qualidade dos serviços de manejo de
resíduos sólidos.
(5.2.5) Acompanhamento, prevenção, correção e monitoramento do
PMGIRS.
(5.2.6) Implantar estruturas de gestão do PMGIRS (Comitê Diretor – CD
– e Grupo Técnico Gestor – GTG); e estruturas internas de controle
operacional e de planejamento do DMLU (CCO – Centro de Controle
Operacional – e ASSTEPLAD – Assessoria Técnica de Planejamento e
Desenvolvimento).
(5.3.1) Definir indicadores de desempenho operacional e ambiental, com
metas, dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos.
Programa 5.3 (5.3.2) Qualificar estrutura física e gestão de recursos humanos do
EIXO 5 SISTEMAS Qualificação titular dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
DE GESTÃO E Organizacional (5.3.3) Estabelecer a periodicidade de revisão do PMGIRS, observado
ESTRATÉGIA prioritariamente o período de vigência do plano plurianual municipal –
PPA.
(5.3.4) Criar módulos de capacitação dos servidores com vistas ao
nivelamento dos conhecimentos com fins à aplicação dos preceitos da
Lei Federal 12.305/2010 e do PMGIRS.

De maneira ortogonal a essa disposição do planejamento em eixos, programas e


ações, definiram-se as chamadas macrodiretrizes da gestão, as quais estabelecem os
objetivos finais do sistema de gestão de resíduos sólidos, respondendo às perguntas “por quê
existe o sistema de gestão de resíduos e limpeza urbana?”, “o que é esperado que o sistema
faça e atinja?” Deste modo, os núcleos unitários do planejamento devem, em última análise,
ser estabelecidos para fins do alcance das macrometas. Se uma coleta seletiva de resíduos
secos recicláveis é instituída, seu objetivo parcial será coletar cem por cento dos resíduos de
tal tipologia apresentados pela população. Contudo, essa ação unitária conspirará para um
objetivo maior, ou macrodiretriz, que poderá ser maximizar os aproveitamentos mássicos e
energéticos dos resíduos sólidos gerados no município No momento da concepção do
capítulo Planejamento, foram elencadas as macrodiretrizes fundamentais da gestão para
Porto Alegre, as quais são citadas: (1) reduzir a geração de resíduos sólidos na origem; (2)
aumentar a correta segregação e o descarte adequado pelos geradores; (3) garantir a
regularidade e continuidade dos serviços de coleta dos resíduos domésticos; (4) aumentar a
eficiência logística dos serviços de coleta; (5) garantir a disponibilidade dos serviços de

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 168


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

tratamento e disposição final; (6) reduzir a disposição de resíduos em aterro sanitário; (7)
manter o aspecto de limpeza dos logradouros e áreas públicas; (8) reduzir o número de focos
de descarte irregular de resíduos sólidos; (9) elevar o controle sobre passivos ambientais
ocasionados pela disposição de resíduos sólidos; (10) elevar a suficiência financeira do órgão
titular dos serviços de limpeza urbana; (1) qualificar a gestão e as equipes gestoras; (11)
qualificar as ações de educação ambiental.
Cada ação de planejamento estabelecida foi então confrontada com cada
macrodiretriz do sistema de gestão de resíduos sólidos Para cada ação foi atribuído um
escore, o qual quantifica a importância relativa da sua consecução para o alcance de cada
macrodiretriz. A partir do estabelecimento desses quinhentos e cinquenta e dois confrontos
pôde-se estabelecer, para cada macrodiretriz, uma equação que pondera o resultado obtido,
a qualquer momento, em cada ação influente, obtendo-se um indicador de alcance da
mesma macrodiretriz.
O PMGIRS de Porto Alegre foi estabelecido oficialmente através do Decreto
18.461, de 20 de novembro de 2013, como primeiro instrumento de planejamento da gestão
de resíduos sólidos concluso na história de Porto Alegre, aduzindo o marco da instituição do
planejamento de Estado no setor correspondente. A sua implantação, em curso, encontra-se
na dependência de recursos financeiros e humanos, observando-se comumente que na fase
de concepção do planejamento costuma-se exercer o otimismo, posteriormente nem sempre
tal encontrando ressonância nos recursos disponíveis na vida real. Contudo, a mudança
paradigmática de estabelecer o método, a oficialidade e a publicidade no que se intenta
fazer, por si só já cumpre papel fundamental em um sistema antes regido pelo empirismo e
improviso. Porto Alegre buscará seguir inovando e qualificando a gestão de resíduos sólidos,
agora de forma mais efetiva. Em 2017 uma atualização do PMGIRS virá a lume, resultado do
amadurecimento daquilo que foi planejado em 2012-2013, desta vez não como um marco do
planejamento, mas como uma fotografia da situação e das intenções então vigentes,
orientadas pela prática e pelos cenários que os novos tempos nos apresentarão.

O PMGIRS de Porto Alegre, confeccionado a partir da metodologia descrita e


disponível para consultas na página eletrônica do Departamento Municipal de Limpeza
Urbana da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, pode constituir-se em um modelo
disponível a serviço da parcial inspiração aos municípios para construírem os seus planos.
Certamente ele é o resultado de uma determinada metodologia de raciocínio e trabalho
específica à época utilizada, certamente não a única possível, jamais considerada por seus
autores como um estado-da-arte não superável. O fundamental é saber-se que cada
município é único em suas particularidades e vocações, e nenhum plano pronto pode ser
simplesmente adaptado à realidade local. É bastante comum no Brasil a ação de empresas
pouco qualificadas que elaboram um determinado instrumento de planejamento e buscam
comercializá-lo a diferentes clientes públicos, mesmo sabedores das diferenças regionais, as
quais tornarão o plano impraticável na maioria dos casos.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 169


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.3.2 Política dos 3R’s


Um dos instrumentos norteadores do PGIRS (Plano de Gerenciamento Integrado
de Resíduos Sólidos) e da própria política de educação socioambiental, e que se popularizou
a partir do plano de ação instituído pela Agenda 21 é a política dos 3 R’s. Baseada nas letras
“r” iniciais das palavras redução, reutilização e reciclagem, o princípio constitui-se de
estratégias para diminuir a exploração de recursos naturais e diminuir o impacto das
atividades resultantes da vida em sociedade. De uma maneira mais direta, a política do 3R’s
tem como objetivo diminuir a produção de resíduos sólidos em todas as instâncias em que
são gerados. Assim, os 3 R’s podem ser definidos, de forma ordenada:
 redução: pode ser considerada a mais importante das três ações.
Paradoxalmente é também a de mais difícil alcance. Reduzir passa por
mudanças nos padrões de produção e de consumo, e pode supor
investimentos. Na realidade industrial, por exemplo, a redução da geração de
resíduos em um determinado processo pode resultar de modificações no
processo, na tecnologia associada, nas matérias-primas ou mesmo em
substituição ou regulagem de algum equipamento. A redução da geração de
resíduos no âmbito do consumo pode resultar de modificação nos padrões
culturais de consumo por uma sociedade. Exemplos disso seriam a adequação
da preparação de alimentos, visando evitar sobras, a utilização de cascas e
outras partes constituintes de certos alimentos que normalmente são
descartadas e a postura de evitar consumir produtos comercializados com
uma carga excessiva de embalagens;
 reutilização: após a geração de um resíduo, a reutilização consistirá em
aproveitar o resíduo para uma finalidade específica, antes de pensar-se em
enviá-lo à reciclagem ou a um destino final. As sobras de um almoço, com um
pouco de criatividade, poderão constituir o jantar de uma família ou a
alimentação de um animal, desta maneira não sendo descartado o alimento
remanescente; o papel remanescente de um sistema de impressão poderá ser
aproveitado, confeccionando-se blocos para anotações, retardando a
destinação do papel para a reciclagem; um banho de cromo para curtimento,
em um curtume, poderá ser reutilizado, sob certas condições, sendo fator de
redução do consumo de cromo na indústria; garrafas de vidro, ao invés de
serem enviadas à reciclagem de vidro, podem ser utilizadas para guardar
determinados produtos, após sua limpeza, desinfecção ou descontaminação.
A reutilização suscita a criatividade;
 reciclagem: quando for necessário gerar o resíduo, e quando não houver
forma direta de reutilização, o resíduo poderá, conforme suas características,
sofrer transformações tecnológicas, de modo a constituir-se em matéria-
prima para um outro produto. Este é um princípio que hoje move todo um
mercado no país e no mundo. Não só papel usado pode transformar-se em

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 170


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

papel reciclado, vidro quebrado transforma-se novamente em um artefato de


vidro, mas também pneus usados podem transformar-se em asfalto ou óleo
combustível e isopor pode transformar-se em solado de sapato. A cada dia
que passa, a criatividade e a pesquisa científica têm trazido potencial de
reciclagem para mais e mais tipos de resíduos. Possivelmente a garrafa PET
(de polietilenotereftalato) seja um dos melhores exemplos disso: quando
surgiu, não apresentava reciclabilidade, representando um verdadeiro
problema para os sistemas de esgotos e cursos d’água, pela disposição
irregular. Hoje, a partir da tecnologia de reciclagem, alcança elevado preço no
mercado de recicláveis.
A hierarquia dos 3R’s inicia-se pela redução, ação mais importante, intermedia-
se na reutilização e tem seu nível inferior na reciclagem. A Figura 2.3.2 esquematiza o
sistema dos 3R’s. Se puder ser evitada a geração dos resíduos a partir da mudança de
hábitos de produção e consumo, esse será um passo fundamental. Da fração que não pôde
deixar de ser gerada, poder-se-á pensar em reaproveitá-la. Se tal não for possível,
pensaremos em reciclagem, e, se não houver possibilidade de reciclagem, haverá destinação
final. Se houver reaproveitamento, quando esgotado o potencial de reaproveitamento há de
se pensar em reciclagem. Não havendo reciclabilidade, o resíduo deverá ser destinado.

Figura 2.3.2 – Política dos 3R’s

Fonte: o autor

À clássica concepção de política dos 3R’s têm-se agregado alguns novos


princípios norteadores, como reeducação e recuperação, o que tem gerado a expansão da
abrangência desse fundamento instrumental de gestão, surgindo então as chamadas política
dos 4R’s, política dos 5R’s e outras denominações, a gosto de cada doutrinador, válidas, ao
menos até o momento de tornarem-se redundantes.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 171


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2.3.3 Produção mais limpa


Até algumas décadas atrás, a preocupação empresarial residia somente em
produzir produtos mais competitivos a custos mais baixos. Anteriormente à introdução da
variável ambiental no sistema produtivo, os custos com a destinação dos resíduos sólidos,
líquidos e gasosos não se apresentavam relevantes para as organizações. No momento em
que se iniciou o processo de conscientização social sobre a necessidade de preservação do
ambiente e sobre a agressão que os residuais dos processos produtivos ocasionavam sobre a
fauna, flora, ar, solo e recursos hídricos, originando as primeiras legislações que
regulamentaram a matéria e estipularam condições para o lançamento e disposição de
efluentes, os parques industriais encontravam-se despreparados para a rápida adaptação ao
novo sistema vigente. Surgida a necessidade de tratarem-se efluentes e disporem-se
corretamente resíduos, os sistemas produtivos passaram a adotar estratégias baseadas em
suas próprias realidades: processos fabris sem otimização do aproveitamento da matéria e
da energia, ausência de segregação de resíduos e correntes efluentes. Assim, as tecnologias
que puderam ser adotadas baseavam-se no chamado end-of-pipe process (método do fim-
de-tubo), em que os residuais dos parques produtivos, montanhas de resíduos misturados e
correntes compostas de diferentes efluentes líquidos provenientes de áreas produtivas
diversas necessitavam formas de tratamento ou disposição arrojadas e onerosas.
Imaginemos uma indústria em que temos um setor que gera 100 m3/d de um
efluente líquido rico em matéria orgânica, mas isento de qualquer contaminante químico, e,
em outro setor, temos a geração de 1 m3/d de um efluente rico em cádmio. Para tais
correntes efluentes, teremos a indicação da aplicação de dois diferentes sistemas de
tratamento: um tratamento biológico para a primeira corrente, e um tratamento mais
sofisticado, físico-químico ou químico, para a segunda. Se a empresa, durante anos,
misturou os efluentes e os emitiu, e, em determinado momento foi obrigada a emitir
somente após o cumprimento de padrões para emissão, seu problema será tratar 101 m3/d
de efluente contendo matéria orgânica e cádmio. Se a mesma empresa gera diversos tipos
de resíduos sólidos, de todas as classes de periculosidade, a mistura desses será um resíduo
único, não-homogêneo, mas que deverá ser tratado como resíduo pertencente à Classe I –
perigoso. A segregação dos resíduos e efluentes será fator de economia para a empresa, por
demandar tecnologias sofisticadas e caras a frações menores dos totais de efluentes e
resíduos sólidos produzidos. Mas outras perguntas que poderiam ser feitas são: (1) é
realmente necessário utilizar cádmio no processo, e nas quantidades em que ele é
utilizado?; (2) é justificada a produção de todo o resíduo sólido produzido diariamente pela
fábrica, ou com modificações nos processos, maquinário e matérias-primas poder-se-á obter
redução dos quantitativos gerados, a serem destinados?
A evolução da legislação ambiental e da normalização de qualidade ambiental
levou o setor produtivo não só a adotar medidas visando à correção dessas incoerências
grosseiras, como também o levou a rever seus processos produtivos, no sentido de verificar
se tais não ocasionavam desperdícios absurdos de matéria, energia e se tais desperdícios
não justificavam a adoção de diferentes tecnologias ou mesmo a produção de produtos

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 172


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

diferenciados. Três foram as razões efetivas para que esse processo viesse a desencadear-se:
(1) nos dias de hoje tratar e destinar resíduos custa caro e (2) acirraram-se as fiscalizações
dos órgãos ambientais e da própria comunidade, e o pagamento de multas, por vezes muito
pesadas, traz sérios ônus às empresas e (3) o “comportamento ambiental” de uma empresa
tornou-se chave para aceitação de sua imagem e de seus produtos no mercado, o que se
intensificou sobremaneira, a partir do surgimento da norma ISO 14000. Tudo isso convergiu
para que o setor produtivo adotasse um conjunto de estratégias ordenadas denominado
produção mais limpa (P+L).
Produção mais limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica,
ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência
no uso das matérias-primas, da água e da energia, através da não geração, minimização ou
reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo. Esta abordagem induz inovações
nas empresas, dando um passo em direção ao desenvolvimento econômico sustentado e
competitivo, não apenas para elas, mas para todas as regiões que abrangem (TOCHETTO e
COUTINHO, 2004). A produção mais limpa pretende integrar os objetivos ambientais aos
processos de produção, a fim de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade
e periculosidade agregada.
A mudança paradigmática de uma produção industrial ortodoxa para a produção
via tecnologias limpas poderia ser traduzida através das diferentes preocupações dos
gestores de cada modelo. Enquanto que o primeiro se pergunta “o que poderei fazer com os
resíduos e emissões de minha empresa?”, o segundo se pergunta “de onde provêm nossos
resíduos e emissões, e porque se transformaram em residuais?”.
O fluxograma da Figura 2.3.3 apresenta o esquema geral de programação de um
processo de adoção de produção mais limpa.
A prioridade do sistema a ser adotado encontra-se à esquerda (minimização de
resíduos e emissões). No nível 1, o diagnóstico do processo já existente deverá questionar se
é possível reduzir na fonte. Possivelmente gestões de melhoria no uso do maquinário e em
sua calibração já surtam efeitos. Mas, mais do que isso, será necessário ter-se a coragem de
perguntar “não será necessário modificar meu processo?”, “não será necessário modificar
meu produto?”, “não será necessário modificar a minha tecnologia, investindo-se em
equipamentos mais eficientes e técnicas de superior desempenho?”, “deverei modificar
minhas matérias-primas?”. Essa avaliação será norteada por um conjunto de fatores
econômicos, ambientais e sociológicos. Qualquer que seja a decisão tomada, se o processo
ainda gerar resíduos, em um nível 2 aparece a reciclagem interna. Todo o potencial de
reaproveitamento dos residuais no próprio processo deve ser estudado. Ele pode
representar a não geração de determinados resíduos, ou pode retardar seu descarte ou
ainda fazer com que o material a descartar apresente menores demandas de tecnologias e
custos para ser tratado.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 173


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 2.3.3 – Esquema geral do processo de produção mais limpa

Fonte: o autor, baseado em material de domínio público

Se a geração de resíduos for inevitável, a medida a ser estudada será a


reciclagem externa ao processo produtivo. Surgem aí duas possibilidades: (1) reciclagem do
potencial mássico e energético dos resíduos ou (2) retorno aos ciclos biogênicos, ou seja,
aproveitamento da matéria e da energia pela própria natureza, que é recicladora por
excelência. Ainda aí, poder-se-á auferir retornos financeiros: a compostagem de orgânicos é
um processo biogênico que fornece um produto com valor econômico positivo.
Um projeto de implantação de produção mais limpa em uma corporação é
administrativamente composto por cinco fases: (1) planejamento e organização, (2) pré-
avaliação, (3) avaliação, (4) estudo de viabilidade, (5) implementação. Tais fases são
definidas e conceituadas a seguir:
1) Planejamento e organização: Objetiva estabelecer entre gestores, acionistas e
colaboradores a importância do desenvolvimento do projeto e as suas
vantagens econômicas e mercadológicas e definir equipes de trabalho, metas
em escala macro e identificar obstáculos a serem superados. As subfases são
as seguintes:
1.1) Compromisso dos corpos gerencial e funcional: convencimento do
capital humano da empresa da importância do trabalho e
estabelecimento do comprometimento de todos;
1.2) Definição da equipe de trabalho: organização da equipe de atores e
multiplicadores do projeto;
1.3) Estabelecimento dos macro-objetivos do projeto: delineamento, em

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 174


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

escala macro, dos objetivos que se deseja alcançar;


1.4) Identificação de obstáculos: identificar os principais obstáculos, em
escala macro, dos pontos de vista econômico, gerencial, institucional e
sociológico que serão enfrentados para a implantação do projeto e
vislumbrar-se soluções para tal.
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
 compromisso da alta gerência e do corpo funcional, após terem tomado
ciência da importância do projeto;
 organograma e equipe de trabalho formados e oficializados;
 compromisso institucional em garantir todos os recursos necessários –
financeiros, humanos, logísticos, técnico-científicos;
 identificação concisa e coerente das metas a serem atingidas;
 identificação e solucionamento de todos os obstáculos mapeados.
2) Pré-avaliação: Objetiva estabelecer um diagnóstico situacional, ou, em outras
palavras, conhecer a empresa de uma maneira mais efetiva para poder
modificá-la. As subfases são as seguintes:
2.1 Desenvolvimento de fluxogramas dos processos: esquematização dos
processos, isoladamente e de maneira inter-relacional, obtendo-se os
flow-sheet que descreverão as instalações, o fluxo de matérias através
do sistema e os equipamentos;
2.2 Avaliação de entradas e saídas: avaliação comparativa entre entradas e
saídas, traçando-se estimativas, com base no bom senso, da eficiência
de cada processo;
2.3 Seleção de focos para interação do projeto: com base nos fluxogramas e
nas avaliações de entradas e saídas, estabelecer os processos-alvos do
projeto de produção mais limpa;
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
 lay-out elaborado do parque produtivo;
 fluxogramas de processos elaborados;
 estabelecidos os pontos, processos ou atividades que serão alvos de
atuação do projeto;
 estabelecidos os processos em que notoriamente há necessidade de
intervenção e que, com baixos investimentos, tornar-se-ão muito mais
eficientes econômica e ambientalmente;
 estabelecimento da auto-avaliação e autocrítica: empresa conhece a
eficiência de seus processos, imagina que conhece ou declaradamente não

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 175


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

conhece?
3) Avaliação: Objetiva estabelecer um amplo conjunto de opções para pronta
aplicação e/ou para futuro detalhamento. As subfases são as seguintes:
3.1 Balanço material: sobre os fluxogramas de processo deverá ser
elaborado o balanço de massa e de energia, qualificando e
quantificando-se todos os ingressos de massa (matérias-primas) e
energias do sistema, tão bem como produtos (massa e energia
agregados) e resíduos e emissões (mássicos e energéticos). É um
trabalho eminentemente técnico;
3.2 Avaliação da geração de resíduos e emissões: consiste em avaliar o
balanço material e verificar se há compatibilidade econômica e técnica
entre insumos e produtos (+ subprodutos). Em outras palavras, avalia-se
a eficiência de cada processo, verificando-se onde, como e porque os
resíduos e emissões são gerados;
3.3 Geração de alternativas: é o cerne do processo: a partir da identificação
de processos pouco eficientes ou que possam ser aperfeiçoados,
escolher aqueles que devem imediatamente ser alterados;
3.4 Estabelecer hierarquia de opções: tendo sido efetuada e detalhada a
devassa na planta produtiva, serão elencados, por ordem de prioridade,
os processos a sofrerem modificação. Esta ordenação levará em conta a
facilidade e viabilidade individual de cada mudança processual.
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
 detalhamento dos processos do ponto de vista de balanços de matéria e
energia;
 compreensão detalhada das fontes e causas de geração de resíduos e
emissões e das ineficiências associadas aos processos;
 conjunto ordenado de opções de modificação de processo.
4) Estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental: Objetiva selecionar as
opções de produção mais limpa que de fato serão aplicadas. As subfases são
as seguintes:
4.1 Avaliação preliminar: determinação do nível de detalhamento para
avaliação de cada opção e estabelecimento dos subsídios e informações
ainda necessários para esta avaliação;
4.2 Avaliação técnica: determinação de viabilidades técnicas das
modificações de processos e operações;
4.3 Avaliação econômica: determinação de viabilidades econômicas das
modificações de processos e operações. Frequentemente o fator
econômico é limitador de mudanças;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 176


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.4 Avaliação ambiental: avaliação de impactos positivos e negativos de


cada mudança. De certo modo esta avaliação é preponderante, visto o
projeto estar calcado em um desejo de superior performance ambiental
da empresa;
4.5 Seleção de opções: todos os levantamentos efetuados no estudo de
viabilidade passarão por uma matriz de decisão que produzirá a lista das
opções de modificações que serão factualmente implantadas.
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
 seleção das intervenções – mudanças em processos – que serão de fato
efetuadas, por serem as mais viáveis;
 documentação dos resultados esperados para cada opção elencada.
5) Implementação das intervenções/modificações e planos de continuidade:
Objetivam implementar as opções selecionadas, monitorar e avaliar os
resultados efetuando pequenas correções necessárias (feedback) e perpetuar
o processo de requalificação, que deve ser permanente na organização. As
subfases são as seguintes:
5.1 Preparação do plano de implementação: desenvolvimento de um
cronograma de implementação das intervenções e modificações nos
processos, descrevendo os recursos humanos e financeiros necessários
para sua execução;
5.2 Implementação: Aquisição e instalação de novos equipamentos,
modificação de matérias-primas, fluxos, fontes energéticas,
procedimentos, e, enfim, adoção dos novos processos;
5.3 Monitoramento e avaliação: obter os novos balanços de massa dos
novos processos, avaliar eficiências produtivas e geração de resíduos e
emissões. Comparar os dados reais com aqueles projetados e
esperados;
5.4 Ajuste fino: com base no conhecimento tecnológico, proceder a
pequenos ajustes necessários para a otimização de cada novo processo
(feedback);
5.5 Realimentar o projeto de produção mais limpa: preparar cronograma de
ações para a retomada do projeto de produção mais limpa, em um novo
ciclo do PDCA, visando manter a empresa alinhada à realidade
econômica, tecnológica e ambiental vigente.
Ao final desta fase, deverão ser produzidos os seguintes resultados:
 implementação dos novos processos (produção mais limpa);
 monitoramento, avaliação e ajuste fino das modificações e intervenções
implantadas;

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 177


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 preparação e projeção do novo ciclo de trabalhos visando o contínuo


aprimoramento do processo de desenvolvimento de produção mais
limpa.

2.3.4 Avaliação de Ciclo de Vida


Na tarefa de gerenciar resíduos e emissões originadas em processos produtivos,
de modificarem-se processos, procedimentos, matérias-primas e equipamentos em busca de
uma redução nos custos produtivos associados ao tratamento dos resíduos e das emissões é
lógico estabelecerem-se balanços de massa e energia, sempre associados à variável
econômica: por esta visão não adianta utilizar-se uma nova matéria-prima que gere menores
residuais se o custo do tratamento dos residuais excedentes utilizando-se o insumo antigo
for inferior ao custo excedente da nova matéria-prima. Porém, possivelmente se for
considerado neste raciocínio o valor agregado do residual excedente da nova opção, como
matéria-prima para algum produto reciclável, talvez a nova opção obtenha um balanço
positivo em relação à antiga.
Todavia, esse é um raciocínio de cunho interno da empresa. Se os limites do
raciocínio detiverem-se somente aos limites do parque produtivo, várias questões
ambientais receberão apenas tratamento econômico para serem avaliadas. Porém, em
função da crescente escassez de várias matérias-primas, do crescimento da consciência
ambiental dos consumidores e da própria sensibilização expressa nas modernas legislações
ambientais, hoje não mais é possível, em uma moderna organização industrial, efetuar-se
apenas uma avaliação econômica dos aspectos relacionados ao consumo de matérias-primas
e energia e geração de resíduos e emissões. Quando finalmente a logística reversa prevista
na Lei Federal 12.305/2010 estiver consolidada no país, o setor produtivo necessariamente
terá que internalizar os custos da busca e tratamento dos resíduos provenientes do consumo
dos produtos.
A questão visibilidade da empresa frente ao grande público consumidor ilustrar-
se-ia através do exemplo de uma emissão, por determinada empresa, de um efluente muito
poluente ou de características tóxicas em um determinado rio em uma cidade. Mesmo que a
fiscalização local seja deficiente e impute ao poluidor uma determinada multa pecuniária
inferior ao custo do tratamento prévio ao lançamento, a imagem da empresa e a aceitação
dos seus produtos ficarão severamente comprometidos após o evento.
Notoriamente, a inserção, no mercado, de produtos que gerem grandes
quantidades de residuais, embalagens ou subprodutos de consumo, bem como operem com
elevado consumo energético vem trazendo insatisfação aos consumidores conscientes, cada
vez mais preocupados com as consequências pouco amigáveis ao ambiente de tais produtos.
Há bastante tempo a indústria apercebeu-se disso e iniciou um processo de modificação em
seus conceitos fabris. Não é toa que diariamente somos bombardeados com propagandas
como “produto 100% biodegradável”, “alvejante sem cloro”, “inofensivo à camada de

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 178


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ozônio”, “papel não clorado”. Mesmo que em certos casos tais produtos nada mais façam do
que adequarem-se à legislação já vigente, em outros, a substituição do produto antigo pelo
novo pode ter elevado o seu preço ao consumidor, em decorrência do uso de matérias-
primas mais caras, porém, havendo condições financeiras, haverá boa aceitação pelo
consumidor, em função da noção de “pagar mais para preservar”.
O raciocínio preservacionista do consumidor poderá estender-se à outra ponta
do sistema: “quanto custa ao ambiente a extração da matéria-prima que origina o produto
que estou adquirindo?”. A compra de um carro movido a álcool poderá ser uma opção em
relação a um carro movido a gasolina, imaginando-se que o álcool é um combustível
ambientalmente mais amigável, em função de ser renovável, não relacionado à extração de
carbono fóssil fixado à geologia do planeta. Um determinado tipo de palmito muito
saboroso, proveniente de uma palmeira em extinção, poderá não ser consumido em função
de o consumidor preferir consumir o produto de uma planta que não esteja ameaçada.
Notoriamente, inserindo-se no setor produtivo a variável ambiental considerada
em um balanço que supere os limites físico-financeiros do setor produtivo, poder-se-á gerar
uma inversão na análise de viabilidade que se detinha, tão somente, à contabilidade
ambiental-financeira interna ao alambrado da indústria. Quando avaliamos o impacto ao
ambiente que um determinado produto ocasiona, desde a origem de seus insumos e
matérias-primas até o destino final dos seus residuais, estamos procedendo uma avaliação
de ciclo de vida (ACV).
Todo produto, não importa de que material seja constituído, papelão, vidro,
plástico, metal, ou qualquer outra matéria, provoca um impacto ambiental total que pode
ser considerado pelo somatório de todos os impactos parciais desde a extração das
matérias-primas e da geração da energia necessária à sua confecção, passando pelos
subprodutos gerados em seu consumo, até o seu destino final.
Uma pilha de mercúrio não impacta somente um recurso hídrico onde
possivelmente seja destinada. Quando o minério precursor do artefato foi extraído, a
atividade extrativista ocasionou impacto, quando o mesmo minério foi beneficiado, foi
necessário utilizar-se energia cuja geração hidrelétrica ou termoelétrica causou impacto,
quando a pilha fabricada foi distribuída, o seu transporte às casas de comércio ocasionou
geração de emissões de combustível fóssil. Se nos detivermos em todos os impactos
associados a todas as matérias-primas utilizadas no seu fabrico, a todos os consumos
energéticos e emissões devido à sua distribuição e aos impactos demandados pela sua
destinação final ou reciclagem, possivelmente estaremos relacionando dezenas de impactos
pontuais. Se a variável ambiental estiver nos norteando na decisão de comprar um rádio a
pilha ou a energia elétrica, nosso comparativo será efetuado, de um lado somando todos os
pequenos impactos relacionados à pilha e comparando-os com o impacto decorrente da
geração da quantidade de energia elétrica necessária para o rádio funcionar da mesma
maneira do que funciona com a pilha.
CHEHEBE (1998) apresenta um exemplo muito interessante: um proprietário de
um shopping center, movido por motivação preservacionista, após verificar que seus

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 179


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

sanitários geram grandes quantidades de toalhas de papel residuárias, decide retornar ao


método convencional e utilizar toalhas de pano. A princípio, parece uma estratégia muito
razoável, pois a geração de resíduo foi eliminada. Porém, com o uso intensivo, as toalhas
precisarão ser lavadas. Isto significa utilizar-se água, consumir-se energia e utilizarem-se
detergentes, que serão lançados à rede de esgotos. O tratamento de água consome energia
e produtos químicos; a geração da energia elétrica que faz a máquina de lavar funcionar
ocasiona impactos ambientais; o lançamento de detergentes impacta o corpo hídrico
receptor. Eis que a mudança simplesmente transferiu a poluição, de um processo para
outro. Mas afinal, qual das duas opções é menos impactante? Somente um estudo apurado
dos somatórios dos impactos associados a cada uma das opções poderá trazer a resposta.
Poderíamos citar outros exemplos clássicos de tomada de decisão para avaliação
de performance ambiental que seriam resolvidos pela ACV: (1) fabricar refrigerantes em
embalagens de vidro retornáveis ou de PET?; (2) vender leite em garrafas de plástico ou de
vidro? Essas decisões, tomadas do ponto de vista ambiental, diferem daquelas que
comparam o preço de mercado do vidro ao preço do plástico para fabricarem-se as garrafas,
por exemplo.
A ideia da avaliação de ciclo de vida é oriunda da década de 1970, e direcionava-
se principalmente à avaliação comparativa entre embalagens de produtos. O conceito de um
sistema de contabilidade que pudesse, oniricamente, quantificar todos os impactos
ambientais associados a um determinado produto, desde a extração das matérias-primas até
a destinação final do seu resíduo produzindo um valor em uma escala absoluta, é uma ideia
bastante lógica. A avaliação de ciclo de vida pretende, senão produzir tal quantificação de
uma maneira precisa e inconteste, produzir um valor ou um conjunto de valores que possam
exprimir, dentro de uma ideia de grandeza, sob certos limites, o impacto total resultante da
“existência” dos produtos. A avaliação de ciclo de vida foi, finalmente, no início da década de
1990, padronizada e universalizada na série ISO 14000, após estabelecimento de sistemas
normativos próprios em países da Europa e no Canadá, que em nada contribuíram para uma
harmonização de processos de certificação de qualidade.
A prática associada ao processo de concepção de uma ACV levou ao
estabelecimento, por experts no assunto, de várias ponderações e estabelecimento de
limites para que a tarefa seja realmente factível, dentro de um horizonte compatível de
tempo, custos e trabalho técnico. De outra, forma, a ACV pode ser pensada como um
trabalho interminável e redundante. Se desejamos estabelecer o impacto total resultante da
fabricação de um sapato, podemos pensar no gado que originou o couro, estimar o impacto
do metano gerado pelo seu rúmen no aquecimento global, o impacto de seus dejetos no
solo e no lençol freático, o impacto dos produtos químicos utilizados para o curtimento do
couro, o impacto do corte da madeira usada para fabricação do tanque rotativo de
curtimento, o impacto da energia elétrica produzida para a rotação do tanque de
curtimento. Mas como a energia elétrica necessita de torres e condutores metálicos para
sua distribuição, a produção do metal também origina impactos na sua extração e necessita
de energia elétrica no seu beneficiamento. Tal energia é conduzida por condutores
metálicos, como já dito. Verifica-se, que se não forem estabelecidos critérios limitadores

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 180


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

dentro de um bom senso, o trabalho será interminável.


A padronização de procedimento estabelece um rito composto de quatro fases
para o estabelecimento de uma avaliação de ciclo de vida. Tais fases são:
1) Definição de objetivo e escopo:
1.1) Propósito;
1.2) Limites;
1.3) Unidade funcional;
1.4) Definição de requisitos de qualidade;
2) Análise de inventário:
2.1 Estabelecimento de entradas e saídas;
2.2 Coleta de dados: matérias-primas, energia, manufatura, transportes;
3) Avaliação de impacto:
3.1 Classificação: saúde ambiental, saúde humana, exaustão dos recursos
naturais;
3.2 Caracterização;
3.3 Valoração;
4) Interpretação:
4.1 Identificação dos principais problemas;
4.2 Avaliação;
4.3 Análise de sensibilidade;
4.4 Conclusões.
Na primeira fase deve ser estabelecido o propósito do trabalho, que pode ser
comparar dois processos industriais ou dois produtos alternativos no sentido de estabelecer
uma escolha, decidir sobre a forma de tratamento de um resíduo menos impactante ao
ambiente, ou, quem sabe, estabelecer um critério científico para poder-se efetuar marketing
ambiental em relação à performance de um determinado produto ou processo. Poderia ser,
por exemplo, o comparativo sobre se é melhor ambientalmente reciclar papel sujo ou enviá-
lo a um aterro, se realmente a reciclagem do alumínio faz da embalagem “latinha” preferível
em relação à garrafa, ou se a destruição de determinado resíduo via incineração é
ambientalmente melhor do que seu aterramento em um aterro para resíduos perigosos.
Devem, também, ser estabelecidos limites para a análise, procurando tornar o
trabalho factível, sem perda da confiabilidade. Assim são escolhidas as hipóteses
simplificadoras, abstraindo-se certos elementos e correntes, por não serem relevantes. O
tanque rotativo de curtimento, confeccionado com madeira e metal também apresenta seu
impacto, na avaliação do impacto ocasionado pelo sapato. Porém, poderá estar intacto após

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 181


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

70 anos de uso e muitos milhares de toneladas de couro curtido. Portanto seu impacto
agregado a um simples pedaço de couro para confecção de um sapato é irrelevante.
A unidade funcional a ser definida refere-se à performance solicitada de um
produto. Se o objetivo do sapato é calçar um par de pés, essa será a unidade funcional em
relação a uma análise comparativa, por exemplo, dos impactos produtivos do par de
sapatos, com aqueles referentes a um par de chinelos ou um par de sandálias.
A definição dos requisitos de qualidade está relacionada à confiabilidade e
aplicabilidade dos dados que serão levantados. Inserem-se aí variáveis de cunho estatístico
para significância dos dados, avaliação das fontes dos dados, critérios temporais e espaciais,
tecnológicos, além de outros requisitos. Não adianta quantificar o impacto da geração de
energia elétrica utilizada para a confecção do par de sapatos no Brasil utilizando-se uma
base de dados da França, onde a matriz energética é diferenciada. Também não adiantará
utilizarem-se dados referentes ao impacto ambiental do curtimento de couro ao tanino, se o
curtimento do couro que originou o sapato foi efetuado utilizando-se cromo como curtente.
O impacto da produção do sal de cromo utilizado não pode ser estimado a partir de dados
de um processo de fabricação do mesmo sal de 1940, se a tecnologia da época é hoje
obsoleta.
Na segunda fase, são obtidos os dados que conduzirão à ACV. O sistema em
estudo é dividido em unidades de processo e são levantadas todas as entradas e saídas do
sistema, através de balanços de massa e energia, conforme exemplifica a Figura 2.3.4.

Figura 2.3.4 – Entradas e saídas nas unidades de processo da fabricação de sapato

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 182


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Ainda na segunda fase são levantados os dados para efetuar-se a ACV. Esse
levantamento é árduo e deverá ser simplificado, desconsiderando-se processos pouco
relevantes. Uma vez que, por exemplo, várias matérias-primas adquiridas pela empresa
fabricante, que está realizando o ACV dos seus produtos, sejam produzidas por
fornecedores, muitas vezes a confiabilidade do ACV passará pela fidedignidade das
informações prestadas por esses mesmos fornecedores, por exemplo, levantamento dos
resíduos dos processos de obtenção das matérias-primas, energia despendida na
manufatura dessas mesmas matérias-primas, etc.
Na terceira fase, de posse do fluxograma de processo, estabelecem-se as
categorias de impacto ambiental concernentes ao processo, por exemplo, efeito no
aquecimento global (medido em toneladas de dióxido de carbono), potencial de
eutrofização (medido em quilogramas de fosfato), potencial de toxicidade (medida como
massa corpórea que estaria exposta ao limite de toxicidade por quilograma de substância),
etc. Os “valores de impacto” concernentes a cada unidade de processo são calculados ou
estimados. Se houverem condições, poderá ser efetuada uma estimativa do impacto total,
obtendo-se um valor único, o que não é muito fácil, uma vez que há fortes objeções a
interconversão de formas diferentes de impacto em unidades intercambiáveis. Por exemplo,
obtenção de uma base que permita estimar quantas gramas de mercúrio emitido são
ambientalmente tão deletérios, por toxicidade, quanto o lançamento de um quilograma de
dióxido de enxofre, cujo efeito é acidificação da água, ou então a quantas toneladas de
fósforo emitido (precursor de eutrofização das águas e seus efeitos negativos sobre o
ambiente) corresponderá o efeito da emissão de uma tonelada de dióxido de carbono
(precursor de efeitos negativos sobre o clima global).
Na quarta fase é realizada uma avaliação global da ACV efetuada, revisando-se o
processo como um todo, verificando-se se algumas unidades de processo podem ser
abolidas do estudo, verificando-se a qualidade dos resultados obtidos, e estabelecendo-se
conclusões que poderão orientar mudanças de processos ou produtos.
Embora a ACV exista como instrumento de qualidade ambiental há mais de 35
anos, no Brasil a sua utilização ainda é incipiente. Contudo, apesar de em aplicação apenas
por grandes corporações, a Lei Federal 11.445/2007, que estabelece definições e marcos
regulatórios na área do saneamento já cita-a como instrumental de referência, o que deve
paulatinamente inseri-la nos contextos produtivos e públicos, como ferramenta técnica de
tomada de decisão.
A avaliação de ciclo de vida é baseada na obtenção de dados primários de
impacto, por exemplo, qual o impacto ambiental do lançamento de 1kg de fosfato em um
recurso hídrico ou qual o impacto da fabricação de 1 t de aço inox. Muitos desses dados já
foram determinados e existem em tabelas de livros especializados, todavia é sempre
necessário sondar-se se a fonte dos dados traduz as condições de contorno em que foram
obtidos. Como já foi mencionado, diferentes processos conduzem a diferentes impactos, por
isso torna-se necessário determinar reais impactos nas condições tecnológicas em que os
processos são levados a efeito. A ACV é executada matematicamente através da operação
com matrizes.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 183


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.

_____. Resolução CONAMA 275, de 25 de abril de 2001. Estabele o código de cores para os
diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e
transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. DOU
nº 117-E, de 19 de junho de 2001.

CHEHEBE, José R.B. 1998. Análise do ciclo de vida de produtos – Ferramenta gerencial da
ISO 14000. Ed. Qualitymark. Rio de Janeiro. 104p.

FLECK, Eduardo; REICHERT, G.A., BARBOSA, J.L.; HOFFMANN, M.S.; REIS, M.F.P. 2015. A
elaboração do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos de Porto
Alegre, RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 28.
Rio de Janeiro, Anais.... Rio de Janeiro: ABES, 2015. 8p.

REICHERT, Geraldo A. 1999. Gerenciamento integrado de resíduos sólidos: uma proposta


inovadora. Ciência & Ambiente, Ed. UFSM, N. 18, Lixo Urbano, Janeiro/Junho de 1999,
Santa Maria, pp. 53-68.

TOCHETTO, Marta R.L.; COUTINHO, Heloise L. 2004. Gerenciamento de resíduos sólidos


industriais. Apostila de curso. ABES-RS. 97p.

Resíduos Sólidos: Legislação, Classificação e Gestão 184


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.Tratamentos Anaeróbio
e Aeróbio e Aspectos
Correlatos

NH4+ → NH3 + H+ (1.4-5)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 185


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.1 ATERRO SANITÁRIO


Coleta e concentração dos resíduos para posterior queima ou disposição no solo
foram os procedimentos inicialmente adotados pela humanidade para livrar-se dos seus
resíduos sólidos. Dados os avanços tecnológicos, nos nossos dias algumas soluções eficientes
e eficazes para o tratamento dos resíduos sólidos se encontram consolidadas, enquanto
outras se encontram em fase de aprimoramento tecnológico ou de viabilização econômica.
Porém, ainda hoje a disposição de resíduos prevalece, especialmente no mundo
industrialmente e economicamente não plenamente desenvolvido, como a metodologia
predominante de destinação dos resíduos sólidos produzidos pelas comunidades. Tal
prática, em função das vantagens associadas à sua relativa simplicidade e baixo custo frente
a outros métodos, sofreu um processo de sofisticação tecnológica e permanece como um
método ambiental e economicamente viável, através da adoção de sistemas de proteção do
entorno dos sítios, de controle sanitário, de garantia da estabilidade estrutural da obra, de
minimização e controle dos subprodutos gerados e de otimização do tratamento dos
resíduos no solo, denominado aterro sanitário.
Conforme EUROSTAT (2013), em 2010 cerca de 45% dos resíduos sólidos
produzidos pelos vinte e oito países da União Européia tinham a disposição em aterro como
forma de destinação final adotada. Já nos Estados Unidos da América (EUA), em 2009, 54,3%
dos resíduos sólidos produzidos tinham como destino os 1908 aterros sanitários existentes
no território do país, além de outras formas de destinação no solo (USEPA, 2010). No
Canadá, em 2010, cerca de 95% dos resíduos sólidos produzidos tinham como destino final
aterros sanitários (KIM; OWENS, 2010).
Na China, em 2006, 43,2% dos resíduos sólidos resultantes dos processos de
triagem para reciclagem seguiram para aterros sanitários, 7,7% foram incinerados, 1,9%
foram compostados e o restante seguiu para disposições irregulares no solo (HAIYUN, 2014).
A Índia produz cerca de 920 milhões de toneladas anuais de resíduos, 840 milhões das quais
seguem para aterro sanitário ou disposição a céu aberto. Estudos revelam que cerca de 90%
dos resíduos sólidos urbanos produzidos no país são depositados inadequadamente em
lixões (ANNEPU, 2012).
Em 2012, nos países emergentes do sudeste da Ásia, mais de 50% dos resíduos
sólidos foram dispostos em lixões, 10-30% em aterros sanitários, 2-5% foram incinerados e
menos de 15% foram compostados (DHOKHIKAH; TRIHADININGRUM, 2012). A situação nos países
não desenvolvidos da Ásia e na África não é melhor, sendo que em alguns países as frações

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 186


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

de resíduos gerados efetivamente coletados são pequenas, e dessas, frações reduzidas


seguem para algum destino minimamente qualificado (GOULART et al., 2011).
Conforme AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS (2010), a Austrália mantém forte
dependência dos aterros sanitários como forma de destinação final dos seus resíduos
sólidos, sendo que a maior parte dos resíduos não reciclados tem esse destino. A mesma
fonte informa que em 2007 mais de 21,3 milhões de toneladas de resíduos gerados no país
seguiram para aterros instalados no seu território.
No Japão, de modo diverso, em 2000 apenas 6% dos resíduos sólidos gerados
seguiram para disposição no solo sem prévio tratamento (TANAKA et al., 2005).
A Tabela 3.1.1 apresenta os dados referentes à destinação dos resíduos sólidos
gerados no Brasil, provenientes da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 (IBGE,
2010). Observa-se que mais de 97% dos resíduos gerados no país naquele ano tiveram como
destino a disposição no solo, qualificada ou não.

Tabela 3.1.1 – Destinação dos resíduos sólidos brasileiros em 2008


Destino Quantitativo (t/d) Percentuais
Aterro sanitário 110.044,40 58,3%
Aterro controlado 36.373,20 19,4%
Lixão 37.360,80 19,8%
Unidade de compostagem 1.519,50 0,8%
Unidade de triagem para reciclagem 2.592,00 1,4%
Incineração 64,80 <0,1%
Vazadouros em áreas alagáveis 35,00 <0,1%
Locais não fixos sem informação -
Outras unidades 525,20 0,3
Total 188.814,90 100%
Fonte: IBGE (2010)

Conforme levantamentos de ABRELPE (2012), em 2012 existiam no Brasil 5565


unidades de disposição de resíduos sólidos no solo, sendo 2213 dessas unidades aterros
sanitários, 1773 aterros controlados e 1579 lixões.
Algumas objeções importantes são feitas aos aterros sanitários como solução
para os resíduos sólidos:
 o método não estabiliza completamente os compostos orgânicos, e,
sobretudo, tem eficácia limitada nas transformações de resíduos perigosos e
compostos tóxicos a produtos de menor periculosidade;
 a redução volumétrica sofrida pelos resíduos é importante, mesmo assim é
limitada. Há crescente escassez de áreas adequadas para a constituição de
novos aterros sanitários;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 187


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 o efluente líquido gerado nos aterros é muito poluente, contendo inclusive


inúmeros microconstituintes que apresentam características de toxidez ou
outras adversas aos ecossistemas. Os sistemas de proteção do lençol freático
a esse líquido apresentam limites estatísticos de segurança;
 há geração de um gás inflamável, explosivo e com vários microconstituintes
tóxicos, cujos principais componentes são metano e dióxido de carbono, gases
responsáveis pelo efeito estufa;
 devido aos recalques diferenciais do solo, ocasionados pela lenta degradação
dos resíduos, são necessárias várias décadas para alcançar-se uma relativa
estabilidade que permita o aproveitamento da área, limitada, em geral, a fins
não residenciais;
 embora se utilizem materiais de impermeabilização de excelente qualidade,
como argila compactada com baixíssima permeabilidade e geomembranas
sintéticas, devido principalmente a esforços ocasionados pelos processos em
andamento nos aterros, como recalques diferenciais, há possibilidade do seu
rompimento, ocasionando passagem de lixiviados para o solo original.
Embora hoje, cada vez mais estejam sendo desenvolvidas tecnologias
alternativas para o tratamento e disposição dos resíduos sólidos, especialmente levando-se
em conta a possibilidade de reciclagem de massa e energia, provavelmente, em função de sua
disseminação cultural e de seu custo relativamente baixo, os aterros sanitários permanecerão
predominando durante muito tempo como opção adotada, especialmente em municípios
carentes de recursos financeiros. Em países como a Alemanha, por exemplo, considera-se que
o aterro sanitário não é uma metodologia que ofereça segurança aos ambientes regionais,
sobretudo em função de que as tecnologias de impermeabilização das áreas (via de regra
substratos impermeáveis compactados como argilas, e membranas sintéticas impermeáveis)
apresentam falhas estatisticamente prováveis para cada unidade de área impermeabilizada
(fraturas no substrato, cortes e rasgos nas membranas produzidos por resíduos
perfurocortantes ou por esforços demandados pelos maciços). Neste sentido, os aterros estão
virtualmente dedicando-se a receber resíduos já altamente estabilizados por outros processos
(como a compostagem).
Três são os tipos de disposição de resíduos no solo verificados num país como o
Brasil, e que ocasionam certa confusão conceitual:
1) lixão: é uma área que recebe resíduos sem nenhum tipo de preparação de
base ou procedimento operacional específico. Os lixões são áreas altamente
degradadas, que proporcionam a poluição das águas de superfície e do lençol
freático, do ar, do solo, geração de vetores (como moscas, ratos, insetos,
etc.), ameaçam as circunvizinhanças, não possuem controle e fiscalização do
ingresso de resíduos e frequentemente incendeiam-se. É o pior tipo de
disposição de resíduos sólidos, embora seja ainda o mais frequente no
Terceiro Mundo. A Figura 3.1.1 apresenta o registro fotográfico de um lixão;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 188


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2) aterro controlado: é uma condição intermediária entre um lixão e um aterro


sanitário, frequentemente aproximando-se muito do primeiro. É a
denominação apropriada da forma de disposição praticada em uma área que
recebe resíduos sólidos respeitando uma série de critérios, porém sem o
rigor dos procedimentos, técnicas operacionais e investimentos de uma área
de aterro licenciada. Normalmente tais áreas não apresentam
impermeabilização de base, ou se tal existe, não segue critérios rígidos de
execução, e há alguma operação associada, como, possivelmente, um nível
mínimo de compactação de resíduos e drenagens de lixiviados e biogás.
Normalmente não há tratamento dos lixiviados, embora frequentemente
sejam construídos tanques e lagoas que retardam o seu lançamento a um
corpo hídrico e possibilitam alguma depuração natural do líquido. A Figura
3.1.2 apresenta o registro fotográfico da operação em um suposto aterro
controlado;
3) aterro sanitário: aterro sanitário, na verdadeira acepção da terminologia, é
uma forma de disposição segura de resíduos sólidos, sob rígidos critérios
técnicos de engenharia que visam confinar resíduos devidamente
compactados em uma área selecionada conforme critérios específicos,
impermeabilizada por sistema simples (com argila compactada) ou múltiplo
(contemplando, além de substrato argiloso compactado, membranas
sintéticas impermeáveis ou outros sistemas). Os sistemas contemplam ainda,
execução de drenagem periférica de águas pluviais, drenagem de lixiviados e
de biogás, sendo tais subprodutos encaminhados para tratamento. A Figura
3.1.3 apresenta um aterro sanitário.

Figura 3.1.1 – Lixão a céu aberto

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 189


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.1.2 – Operação em aterro controlado

Fonte: o autor

Figura 3.1.3 – Aterro sanitário

Fonte: o autor

Os aterros de resíduos sólidos podem ser considerados reatores bioquímicos


abertos, de operação contínua, nos quais predominam as condições anaeróbias e a
interação de diferentes espécies microbianas presentes no ecossistema, atuando em
diferentes fases metabólicas ao longo do volume útil disponibilizado pelo sítio. Exercendo-se
um comparativo com reatores anaeróbios fechados (biodigestores), algumas diferenças
fundamentais entre ambos seriam:

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 190


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 enquanto o reator possui uma carga fixa e praticamente homogênea em


todos os seus pontos, o aterro contempla uma série de cargas, com suas
respectivas idades, interagindo entre si ao longo do espaço físico disponível;
 em um reator fechado e controlado, o estabelecimento de um balanço de
massa é perfeitamente factível e a produção de gases pode ser medida bem
como a fase gasosa removida do reator, propiciando o deslocamento do
equilíbrio químico no sentido da formação desses gases (objetivo do processo
anaeróbio). No caso dos aterros, tal balanço é deveras complexo: sua
modelagem inclui fenômenos naturais (precipitação, evaporação,
evapotranspiração) e operacionais (drenagem de gases, percolação e
drenagem de lixiviados);
 no caso dos reatores fechados, as rotas bioquímicas são previsíveis e
monitoráveis, bem como existe possibilidade de intervenção nas mesmas, a
partir da modificação das condições de contorno (temperatura, pressão,
composição do reator). Já no caso dos aterros existe uma superposição de
idades das cargas distribuídas ao longo do espaço físico, cada qual
atravessando o seu respectivo estágio no processo anaeróbio, sofrendo
influência de fatores locais (pontuais) como temperatura e teor de umidade.
Existe a interação entre essas famílias de idades, principalmente através dos
processos de percolação e recirculação de lixiviados (caso este procedimento
operacional seja levado a efeito) e transporte difusivo de massa entre os
diversos pontos. A intervenção no processo biológico do sistema aterro é
possível, porém deveras mais difícil e onerosa;
 no caso do aterro, existem condições propícias ao desenvolvimento de
processos ausentes ou pouco significativos nos reatores fechados como os
fenômenos de complexação e adsorção pelo solo;
 a ocorrência de uma curta fase aeróbia pode ser evitada ou minimizada nos
reatores fechados, ao passo que ocorrerá inevitavelmente nos aterros, sendo
que sua duração será determinada principalmente por fatores operacionais
como grau de compactação dos resíduos e altura das camadas de aterro.
Embora conhecidas as comunidades biológicas e as rotas bioquímicas de
degradação dos resíduos sólidos, os aterros diferenciar-se-ão uns dos outros em função de
fatores externos, como clima, temperatura, precipitação pluviométrica, etc. Porém, também
determinadas condições de contorno internas ou operacionais, influenciarão no
desempenho desses sistemas de tratamento de resíduos: grau de compactação,
granulometria dos resíduos, eficiência do sistema de drenagem de águas pluviais do entorno
e adoção de sistema de avaliação e inspeção de resíduos prévio ao aceite.
Segundo a American Society of Civil Engineering, um aterro sanitário é um
método de disposição que não provoca prejuízos ou ameaças à saúde e à segurança, utiliza
princípios de engenharia de modo a confinar os resíduos no menor volume possível,
cobrindo-o com uma camada de solo ao final do trabalho de cada dia, ou mais vezes, se

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 191


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

necessário (BIDONE e POVINELLI, 1999). Do sistema popularmente conhecido como lixão,


realidade em grande parte dos municípios do Brasil e do Terceiro Mundo, para o sistema
tecnológico aterro sanitário, derivam várias vantagens: evitam-se (1) a proliferação de
vetores, (2) o espalhamento de resíduos pelas cercanias, (3) a possibilidade de alimentação
de animais com material potencialmente infectante, (4) a possibilidade de instalação de
famílias de catadores, e, sobretudo, (5) a poluição do solo e das águas de superfície e do
lençol freático. A Figura 3.1.4 apresenta um registro de um típico lixão a céu aberto onde é
praticada catação por indivíduos em situação precária. A Figura 3.1.5 apresenta um registro
de disposição de resíduos industriais em lixão acompanhado por catadores presentes no
sítio.
Conforme estipula a Resolução CONAMA 237/1997, tratamento e destinação de
resíduos sólidos urbanos consistem em atividades sujeitas ao licenciamento ambiental pelo
órgão regional ambiental de jurisdição. Essa exigência resulta na sofisticação das unidades
licenciadas de modo a que se minimizem os riscos de prejuízos aos ambientes naturais onde
tais atividades são locadas e os infortúnios às comunidades lindeiras, bem como se
procedam às devidas compensações por eventuais impactos produzidos que, em maior ou
menor grau, são consequências inevitáveis de tais empreendimentos. O licenciamento
ambiental dos empreendimentos dá-se em três fases:

Figura 3.1.4 – Catação em lixão

Fonte: o autor

(a) Obtenção de Licença Prévia (LP): responde a pergunta: o empreendimento


pode ser projetado no local escolhido e da maneira imaginada?
(b) Obtenção da Licença de Instalação (LI): responde a pergunta: o
empreendimento, tal qual projetado, é viável ambientalmente e pode ser
construído?

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 192


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(c) Obtenção da Licença de Operação (LO): responde a pergunta: o


empreendimento, já construído, apresenta condições de iniciar operação
harmonicamente com o ambiente regional?

Figura 3.1.5 – Disposição de resíduo industrial em lixão

Fonte: o autor

Essas três fases do processo de licenciamento são sequenciais. A não obtenção


de qualquer uma das licenças resulta na não instalação do empreendimento, ou, no mínimo,
na modificação do projeto ou das suas condições de contorno.
Para fins de instalação de aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos,
inicialmente, o empreendedor deve promover estudos locacionais, com vistas à definição de
áreas apropriadas para a instalação do futuro aterro sanitário. É salutar que esses estudos
prevejam pelo menos três áreas viáveis, considerando uma série de critérios específicos. Tais
critérios, para uma área poder abrigar um aterro sanitário para resíduos sólidos urbanos, são
estabelecidos pela NBR 13896/1997 – “Aterros de resíduos não perigosos: critérios para
projeto, implantação e operação”:
 deve ser propícia à minimização de efeitos de eventuais impactos ambientais
ocasionados;
 deve ter aceitação pela comunidade;
 seu uso para aterro deve estar de acordo com zoneamentos e planos
diretores municipais;
 deve disponibilizar o uso por longos períodos (área disponível para receber e
confinar resíduos);
 a topografia deve ser adequada, com declividades entre 1% e 30%;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 193


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 a geologia deve ser favorável, de preferência deve haver um depósito natural


homogêneo e extenso de material com coeficiente de permeabilidade inferior
a 10-6 cm/s;
 a zona insaturada do solo deve ter uma espessura não inferior a 3 m;
 não deve situar-se próxima a coleções hídricas importantes (a NBR
13896/1997 menciona uma distância mínima de 200 m);
 distância a núcleos populacionais: recomenda-se que a área situe-se a mais de
500 m de qualquer núcleo populacional, com vistas a evitar depreciação da
qualidade de vida das comunidades;
 acessos e distância dos núcleos de coleta de resíduos: envolvem os fatores
custo e logística, pois os resíduos a serem encaminhados demandarão
transporte, e, possivelmente, uma estação de transferência (transbordo);
 vegetação: a existência de cinturões verdes é interessante, pois os mesmos
melhoram o aspecto estético e contribuem para evitar disseminação de
odores e detritos carreados pelo vento.
Há questões que devem ser tratadas com muito cuidado pelas administrações
municipais ou empreendedores privados, quando esses objetivam licenciar uma área para
constituir aterro sanitário. Primeiramente é preciso verificar a viabilidade de eventual
desapropriação das áreas eleitas (no caso de administração municipal). Em segundo lugar, é
importante que a locação de um aterro sanitário não se dê em área sujeita a conflitos e
oposição. O chamado efeito NIMBY (= not in my backyard, significando, “não em meu
quintal dos fundos”) corresponde, no jargão dos lixólogos, à conhecida oposição daquelas
comunidades ou proprietários de terras lindeiros ao local onde se deseja instalar o aterro:
“aterro sanitário é importante, precisamos de local para dispor resíduos, reconheço que o
projeto do aterro é bom, mas... ...não no meu quintal, construam o aterro longe de mim!”.
Em terceiro lugar, é preciso que a administração municipal obtenha apoio político para a
implantação do aterro. Nada mais corriqueiro no Brasil do que a oposição política a uma
determinada administração conseguir capitalização política para a derrubada de um projeto
como tal, buscando apoio em certas ONGs e organizações ambientalistas para obter endosso
popular contra o projeto. Aí não estão, geralmente, inseridos valores técnicos ou ambientais,
mas simples política partidária.
A solicitação de Licença Prévia é encaminhada pelo empreendedor, na fase de
planejamento do empreendimento, através de requerimento-padrão, que deve vir
acompanhado (1) da informação sobre alternativas locacionais com todos os estudos
biológicos, climatológicos e físicos dos locais, (2) de estudo completo sobre geração quali-
quantitativa de resíduos no município e sistema de gerenciamento adotado pela
administração e (3) de documento municipal que ateste a compatibilidade do
empreendimento com o plano diretor.
Frente à documentação encaminhada e de informações sobre o porte do
empreendimento, bem como da estimativa do potencial de impacto da instalação, o órgão

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 194


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ambiental decidirá sobre a necessidade ou não de EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e


respectivo Relatório de Impacto Ambiental). O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) consiste
em um estudo elaborado por equipe multidisciplinar, com a análise do impacto potencial da
implantação do empreendimento. Contemplará, no mínimo, as seguintes atividades:
 diagnóstico ambiental da área, previamente à implantação do
empreendimento: meios físico, biológico e sócio-econômico;
 descrição do projeto;
 etapas de planejamento, construção e operação;
 delimitação da área de influência do empreendimento;
 descrição dos possíveis impactos e externalidades do empreendimento;
 identificação de medidas mitigadoras (preventivas);
 programa de monitoramento dos impactos.
Por seu turno, o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) consiste em documento
produzido a partir do Estudo de Impacto Ambiental, que contemplará, no mínimo:
 objetivos e justificativas do projeto;
 descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas;
 a síntese dos estudos de diagnóstico ambiental da área de influência;
 a descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da
atividade no horizonte temporal, e formas de sua identificação;
 a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência;
 a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação
aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderem ser evitados;
 o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
 recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões).
Se o órgão ambiental exigir apresentação de EIA/RIMA, este será analisado e
aprovado ou não pelo mesmo órgão. Em caso de necessidade, o mesmo órgão solicitará
complementações dos estudos ao empreendedor. Em ambos os casos, da aprovação ou da
dispensa de EIA/RIMA, o próximo passo será a realização de audiência pública. Se não
subsistir fato que demonstre a impropriedade do empreendimento tal qual planejado, no
local definido, o órgão ambiental expedirá a Licença Prévia (LP). A Licença Prévia (LP)
constitui-se em um ato administrativo que assegura ao empreendedor que a área escolhida
e o tipo de empreendimento são viáveis, portanto o mesmo poderá elaborar seu projeto
executivo para fins de obtenção da Licença de Instalação (LI). A LP traz consigo condições e
restrições que deverão ser seguidas durante a concepção do projeto.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 195


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O projeto executivo do aterro (empreendimento) será elaborado atendendo às


condições e restrições expressas na LP. Será, então, encaminhado ao órgão ambiental, como
anexo de requerimento, e esse irá se manifestar, após avaliação e estudos, sobre a
viabilidade de concessão da Licença de Instalação. Essa licença constitui-se numa
autorização para que o empreendimento se instale. No caso dos aterros sanitários, após a
obtenção da LI, iniciam-se as obras de preparação da base (impermeabilização), de
drenagem pluvial, de instalação de balança e prédios de apoio e, enfim, toda a infra-
estrutura do empreendimento. Na LI, vários condicionantes serão estabelecidos,
principalmente no que diz respeito à execução de obras de apoio e início do monitoramento.
Executada toda a base infra-estrutural do aterro sanitário, o órgão ambiental
manifestar-se-á sobre o pleito da Licença de Operação. Deferido, o empreendimento poderá
iniciar operação. A Licença de Operação (LO) constitui-se numa autorização para que o
empreendimento inicie a sua operação. Contudo, estabelece várias condicionantes que
devem ser cumpridas para a sua manutenção como autorização. Condicionantes bastante
comuns referem-se à emissão de relatórios de monitoramento, fornecimento de dados
quali-quantitativos sobre os resíduos recebidos e tratamento dos subprodutos (lixiviado,
biogás), bem como cumprimento de práticas operacionais e de projeto. A Figura 3.1.6
apresenta esquematicamente o rito do licenciamento ambiental.
A NBR 8419/1984 – “Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos
sólidos urbanos” estabelece estruturas e métodos operacionais que garantirão a eficiência
do aterro sanitário como sistema de tratamento de resíduos sólidos:
 sistema de impermeabilização: embora seja recomendável a locação de
aterros em áreas de geologia apresentando substrato de baixa
permeabilidade, será indispensável a preparação da área com
impermeabilização de base, de forma a constituir uma bacia estanque de
confinamento. A impermeabilização, que deve ser executada na base e nos
taludes, poderá utilizar substrato argiloso compactado e/ou geomembrana
sintética. Frequentemente, ambos os sistemas são alocados, constituindo um
duplo sistema de impermeabilização. É desejável que a argila empregada,
após conveniente compactação, apresente índice de permeabilidade não
superior a 10-7 cm/s. Entre as geomembranas disponíveis destaca-se a de
PEAD (polietileno de alta densidade), amplamente utilizada por sua
resistência, preço e afinidade com diversos compostos potencialmente
presentes nos resíduos;
 sistema de drenagem de lixiviados: com vistas à manutenção da capacidade
de suporte dos maciços, a água precipitada infiltrada deve ser rapidamente
drenada, através de uma malha de drenagem, normalmente constituída por
manilhas de concreto repletas de brita nº 5, sendo conduzida ao fundo da
célula, onde outras estruturas permitirão sua drenagem ao meio externo, a
uma estação de tratamento ou outro sistema disponível. Muito comumente
este sistema está ligado a um sistema de reirrigação (reinoculação) do aterro;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 196


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.1.6 – Rito do licenciamento ambiental

Fonte: o autor

 sistema de drenagem de gases: o biogás é o subproduto gasoso do processo


de digestão anaeróbia dos resíduos, sendo constituído por uma mistura de
metano, dióxido de carbono e muitos outros gases em concentrações muito
baixas. O biogás é inflamável em função do metano, normalmente presente
em concentrações de 40%-60%, e que é passível de explosão espontânea
quando em concentração de 5% a 15% no ar. Da mesma forma que para os
lixiviados, deve ser constituído um sistema eficiente de drenagem do biogás,
permitindo sua ascensão (mais leve do que o ar). Se essa drenagem não for
bem executada poderão advir sérios problemas ao aterro por sobrepressão
interna, originada pelo gás. Normalmente a malha de drenagem horizontal de
lixiviados também conduz o biogás, que drena em contracorrente com o

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 197


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

líquido, sendo interligada aos drenos verticais de gás. Normalmente utilizam-


se camisas deslizantes, que são cilindros vazados sem fundo, que são repletos
por brita e, à medida que as camadas de resíduos se sobrepõem, vão sendo
puxadas para cima, formando drenos cilíndricos de pedras. Normalmente
esses drenos verticais apresentam 1,0 m de diâmetro e são afastados um do
outro de 30 m a 50 m. Normalmente às pontas de drenagem são adaptados
queimadores para a combustão do gás. Alternativamente, o gás pode ser
aproveitado, após purificação, como combustível. Modernamente, a partir do
Protocolo de Kyoto, torna-se muito vantajosa a captação ativa de biogás de
aterro para fins de geração de energia, recebendo-se créditos referentes à
redução de emissão, pela não emissão do gás metano, um dos principais
vilões do efeito estufa;
 sistema de drenagem de águas pluviais: no sentido de evitar grandes gerações
de lixiviados e dificuldades operacionais, as águas precipitadas fora da bacia
do aterro devem ser afastadas do sítio, através de um sistema de drenagem
bem projetado. Águas de nascentes e córregos devem ser canalizadas para
fora do sítio e águas precipitadas sobre áreas de aterro já seladas também
deverão ser convenientemente drenadas;
 sistema de compactação de resíduos: os resíduos devem ser compactados a
fim de ocuparem o menor volume possível, elevando a vida útil do sítio, e
adquirirem melhor característica de suporte. Normalmente obtém-se um bom
grau de compactação operando-se em rampa de 3:1 (H:V), em três a cinco
passadas com trator de esteiras;
 sistema de tratamento de lixiviados: o lixiviado gerado em um aterro, mesmo
que retido por longos tempos de detenção no seio do mesmo, apresentará
elevadas concentrações de matéria orgânica, nitrogênio, especialmente na
forma amoniacal, ácidos voláteis, metais e outros compostos, não podendo
ser emitido sem prévio tratamento. Deverá ser projetado um tanque de
equalização interligado à ponta de drenagem dos lixiviados, na base do aterro,
com vistas a amortecimentos de vazão e equalização. Desse tanque, o
lixiviado sofrerá tratamento no próprio sítio ou será encaminhado para uma
estação externa, com vistas à sua estabilização e remoção de constituintes até
que esteja em condições de atendimento aos padrões para emissão;
 sistema de acessos viários: para o aterro, recebendo resíduos transportados
por caminhões coletores e/ou carretas de grande capacidade, é necessário
que o sistema viário externo seja projetado de forma a que o tráfego não
ocasione demasiados problemas à vizinhança, como projeção de detritos e
poeira. O sistema interno de acesos deve garantir, mesmo em dias de chuva,
plena trafegabilidade dos veículos, necessitando para isso receber camadas de
brita ou outro material de pavimentação;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 198


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 cobertura diária: ao final de cada ciclo de trabalho os resíduos compactados


devem receber uma camada de 10 a 15 cm de terra ou saibro, com vistas a
inibir a proliferação de vetores, a emissão de odores e o espalhamento de
material pelo vento, colaborando-se, assim, ainda para a questão estética nos
horários sem operação. Reiniciada a operação a camada anteriormente
disposta poderá ser removida;
 sistema de controle, segregação e de inspeção de resíduos: resíduos perigosos
e alguns outros tipos específicos são incompatíveis com aterros para resíduos
sólidos urbanos. Associado ao aterro deve ser estabelecido um plano de
gerenciamento que vise cadastrar todas fontes geradoras particulares,
inspecionar as cargas de resíduos enviadas e treinar os operadores para
detectar, mesmo que junto à frente de serviço, eventuais resíduos
incompatíveis, para que possam ser retirados e encaminhados a um
tratamento específico;
 sistema de selamento final: encerrada a operação de cada célula de aterro
deverá a mesma receber uma cobertura com material de baixa
permeabilidade, como argila, recebendo, por fim, nova vegetação rasteira,
com fins a minimizar a infiltração de águas e conter a erosão. Em alguns casos
podem ser utilizadas geomembranas para selamento, ainda que isso
comumente ocorra apenas nos aterros para resíduos industriais perigosos;
 plano de encerramento: faz parte do projeto de um aterro sanitário a
descrição de como e quando o aterro será encerrado e a manutenção que
será mantida. Deve ser previsto também o aproveitamento futuro da área;
 plano de monitoramento: deverá ser estabelecido um plano de
monitoramento que visará (1) detectar possíveis impactos do
empreendimento aos recursos naturais tais como lençol freático e corpos
hídricos de superfície, (2) monitoramento da eficiência do sistema no
tratamento dos resíduos sólidos e (3) monitoramento da eficiência do sistema
de tratamento de lixiviados (se houver);
 plano de emergência: deve prever ações de emergência no caso de eventuais
acidentes e falhas estruturais, listando todos os eventos possíveis e suas ações
corretivas padronizadas, indicando todas as pessoas e órgãos que devam ser
contatados e listando todos os equipamentos de segurança existentes e sua
localização.
Outras estruturas necessárias a um aterro sanitário:
 cercas: de tela ou arame farpado visam conter invasão por parte de animais e
catadores, bem como reter papéis e detritos carreados pelo vento;
 cinturão verde: se não houver vegetação natural no entorno do sítio podem
ser cultivadas espécies de rápido crescimento, de modo a melhorarem o

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 199


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

aspecto estético e contribuírem para evitar disseminação de odores e detritos


carreados pelo vento;
 portaria: serve para controle da entrada no aterro e como estrutura de apoio
para os processos de inspeção das cargas apresentadas, com vistas a evitar o
aceite de resíduos perigosos e outros incompatíveis com o aterro;
 balança: alocada próximo à entrada do aterro, visa registrar as massas de
resíduos recebidos, substratos de trabalho como caliça e argila e a possível
saída de lixiviados, que eventualmente sigam para uma estação externa de
tratamento. Como há previsão de custos ou receitas advindos de todos esses
materiais recebidos ou remetidos, a balança efetua as medições que serão
convertidas em faturamentos;
 instalações de apoio operacional: escritório, vestiários, sanitários, refeitórios,
áreas de descanso e lazer;
 almoxarifado: para guarda de máquinas, ferramentas e utensílios diversos, de
frequente utilização;
 pátio para estocagem de material: área onde se concentram materiais de
construção como argila, brita, tubos, manilhas, etc.;
 galpões para abrigo de veículos: destinam-se à guarda das máquinas pesadas
em períodos sem operação ou para pequenos reparos;
 iluminação: é imprescindível nos aterros, especialmente quando tiverem
operação noturna;
 sinalização: devem ser afixadas, junto à entrada, e em determinados pontos
do cercamento do sítio, tabuletas com o dizer “Não Entre”.
No tocante à concepção das células de aterro, três formas básicas de operação
são utilizadas, a citar:
(a) Método da trincheira: aplicável quando o sítio for plano ou levemente
inclinado. Segundo BIDONE e POVINELLI (1999) o método justifica-se para
pequenas comunidades, com produções diárias de resíduos não superiores a
10 t, ou em áreas degradadas pela exploração de recursos como carvão,
saibro e argila (que já apresentam cavas e trincheiras). As trincheiras são
abertas com escavadeiras e o material escavado é conduzido para alguma
outra utilização dentro ou fora do aterro. O resíduo introduzido na trincheira
é compactado contra os taludes, coberto ao final de cada jornada e há um
selamento final após o total preenchimento da célula.
(b) Método da meia encosta: utilizado em áreas de encostas. O aterro é
executado depositando-se um certo volume de resíduo no solo, sendo
compactado por trator de esteiras em camadas até atingir 3-4 m de altura.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 200


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Em seguida o trator escora, na parte oposta da operação, o material para


cobertura dos resíduos compactados, formando as células.
(c) Método da área: é uma metodologia considerada pouco aconselhável, ainda
que esteja em pleno uso. Consiste na execução de uma célula positiva, isto
é, construída a partir do relevo original, dispondo-se resíduos e terra de
modo a formar uma trincheira inicial, sobre a qual outras cargas irão sendo
compactadas até a consolidação de um horizonte. A partir desse, inicia-se
um novo horizonte, de modo que a conformação da célula vai tornando-se
tronco-piramidal. Faz-se necessária construção de diques no entorno da
célula, de modo a drenar água de escoamento superficial, que poderá
contaminar-se com resíduos ou lixiviado aflorante, conduzindo-a ao
tratamento.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 201


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

ZONA INSATURADA DO SOLO: perfil do solo no qual os vazios intersticiais entre os grãos de
terra não se encontram completamente ocupados por água: é a região que se situa acima do
lençol freático.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 202


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 204


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.2 MONITORAMENTO DE
UNIDADES DE TRATAMENTO
DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Os sistemas de tratamento de resíduos sólidos, tanto urbanos quanto industriais
necessitam agregar uma atividade de apoio fundamental denominada monitoramento.
Qualquer empreendimento concebido e construído com a finalidade de processar resíduos
sólidos é um estabelecimento industrial potencialmente poluidor. Industrial, porque opera
com transformações naturais ou induzidas na matéria-prima que recebe (resíduos sólidos),
visando sua estabilização e, muitas vezes, o seu aproveitamento como massa e/ou precursor
de energia. Poluidor, tendo em vista que os resíduos sólidos constituem-se em matéria não
estabilizada, apresentando compostos de carbono, nitrogênio, além de uma imensa gama de
compostos químicos presentes em pequenas concentrações, entre os quais, destacam-se os
metais.
O monitoramento de um aterro sanitário ou outra estação de tratamento de
resíduos (como unidade de compostagem, por exemplo) subdivide-se em duas atividades
similares, mas com diferentes objetivos: (1) monitoramento operacional e (2)
monitoramento ambiental.

3.2.1. Monitoramento operacional


O denominado monitoramento operacional objetiva avaliar permanentemente a
eficiência dos sistemas de tratamento na estabilização dos resíduos sólidos. No caso dos
aterros sanitários, basicamente, deseja verificar se a bioestabilização da matéria orgânica
ocorre a contento, e, portanto, o material aterrado está paulatinamente transformando-se
em matéria humificada, portanto mais estável termodinamicamente e com menor potencial
poluidor. Além de algumas manifestações físicas observáveis em aterros, como, por
exemplo, recalques de solo por adensamento e por transformação dos resíduos em gás, e
diminuição da vazão de biogás drenado, que são indicadores de evolução do processo,
basicamente utilizam-se procedimentos de amostragem e análise laboratorial para

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 205


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

caracterizar os estágios e degradação da matéria aterrada. Três são os tipos de amostras que
podem ser utilizadas nesse processo:
(a) Amostras de lixiviados: o lixiviado pode ser considerado como a
solução/suspensão obtida dos resíduos aterrados, onde estarão presentes,
principalmente, os compostos hidrossolúveis. Sabe-se que as reações
químicas (e bioquímicas) dão-se somente em meio aquoso, bem como esse
meio é condição essencial para a sobrevivência dos organismos
decompositores. Portanto há uma grande associação entre os resíduos em
decomposição e a característica do lixiviado em contato, e, desta maneira, o
acompanhamento progressivo das características de um lixiviado é indicativa
do grau de estabilização do resíduo. No entanto é necessário manter-se uma
visão crítica do trabalho que se está executando: uma amostra de lixiviado
reflete as condições do resíduo em contato com o mesmo, porém há que se
atentar à sua representatividade: as concentrações naturalmente variarão
em função da pluviometria. Em épocas secas há tendência de concentração
de compostos no líquido, devido à diminuição do nível estático do lixiviado
na bacia; em épocas chuvosas há dois efeitos, (1) a diluição, por aumento do
volume de água e (2) a lixiviação de resíduos novos, concentrando o
lixiviado. Dependendo das condições de contorno, o efeito líquido poderá
ser de diminuição das concentrações no líquido ou sua elevação. Deve-se ter
em mente também que os processos de drenagem, difusão mássica e outros
associados tendem a produzir uma homogeneização do líquido em uma
célula, portanto o lixiviado não refletirá uma condição pontual, mas sim uma
condição média das famílias de idades dos resíduos aterrados.
Normalmente, para fins de amostragem de lixiviados são construídos poços
de monitoramento, sendo utilizados, também, os sistemas de drenagem de
lixiviado que o conduzem para fora das células. No caso de uma estação de
tratamento de lixiviados associada, o seu monitoramento estará relacionado
às características paramétricas indicativas de matéria orgânica, nitrogênio e
outros compostos os quais se deseja abater, bem como a parâmetros
relacionados aos próprios sistemas de tratamento;
(b) Biogás: o monitoramento de biogás não é tão frequente como o dos
lixiviados em função da maior dificuldade para amostragem bem como dos
custos das análises. Na realidade, excluídos os aspectos concernentes ao
aproveitamento energético do gás, seu monitoramento no sentido da
observação da estabilização dos resíduos relaciona-se basicamente à sua
vazão e ao percentual de metano encerrado pelo gás. O rebaixamento desse
percentual é tido como a primeira evidência de algum problema no processo
bioquímico de decomposição da matéria orgânica. No entanto, em um
sistema aberto como o aterro sanitário, não se prevê a predominância de
processos inibitórios por grandes períodos, como pode ocorrer em reatores

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 206


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

fechados. Possivelmente, devido a isso, muitos aterros não associem um


monitoramento de biogás tão efetivo quanto o de lixiviados;
(c) Sólidos aterrados: via de regra, dois são os parâmetros de importância no
monitoramento de sólidos aterrados: (1) umidade e (2) carbono orgânico
total. O teor de umidade não costuma ser uma preocupação em climas
úmidos, mas poderá ser fator determinante da interrupção do processo de
estabilização dos resíduos em climas muito secos. O resíduo aterrado pode
ser dividido em fração inerte e fração orgânica. Esta segunda é normalmente
referida a sólidos que volatilizam a 550oC, porém contemplará também
resíduos relativamente inertes como borrachas e plásticos. A determinação
do carbono orgânico total estará mais próxima da fração de compostos
ainda não estabilizados, idealmente convertidos em dióxido de carbono e
metano. No entanto esta determinação somente terá sentido se executada
ao longo do tempo, em frações de resíduos representativas das mesmas
idades, uma vez que parte do carbono será convertido em compostos
orgânicos refratários como os ácidos fúlvicos e húmicos. Normalmente as
amostras são coletadas com trados e sondas e referidas à profundidade na
qual foram colhidas.

3.2.2 Monitoramento ambiental


O monitoramento ambiental, por sua vez, visa verificar a eficiência das obras de
engenharia e sistemas de proteção ambiental alocados à estação de tratamento de resíduos
na proteção do ambiente circunvizinho. Em sistemas de disposição como aterro sanitário,
visará basicamente verificar se o isolamento das células executado através dos sistemas de
impermeabilização está sendo eficiente no sentido de confinar resíduos, lixiviado e biogás na
bacia constituída, sem que tais migrem para fora da área, ocasionando depreciação da
qualidade do solo, da água e do ar. Se por um lado contempla a observação das estruturas e
inspeção dos procedimentos operacionais, vale-se principalmente das análises das águas de
superfície e do lençol freático, que idealmente não deverão estar poluídas por lixiviados e
biogás. Uma série de parâmetros podem ser alocados para a investigação, porém duas
referências serão importantes para traçarem-se quaisquer conclusões: (1) a qualidade da
água de montante, isto é, aquela que seguramente não sofreu nenhuma influência do
empreendimento potencialmente poluente e (2) a qualidade original da água, isto é, aquela
representativa das condições anteriores à instalação do empreendimento. Neste sentido é
fundamental que o programa de monitoramento inicie-se previamente ao início das obras
de implantação da estação de tratamento de resíduos, bem como seja executado estudo
hidrogeológico da área, sobretudo para verificar os sentidos de fluxos dos mananciais de
superfície e lençol freático, identificação de aquíferos suspensos, etc.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 207


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No caso das águas de superfície correntes, como córregos e arroios os pontos de


monitoramento locados deverão corresponder a porções do corpo que se situem:
 fora da área de influência da estação de tratamento de resíduos, porém em
um ponto suficientemente próximo tal que contribuições de outras fontes
poluentes já tenham sofrido um certo grau de depuração natural: esse será
um ponto de montante;
 em pontos onde eventual influência da estação possa ser bem evidenciada:
esses serão pontos de jusante;
No caso de açudes e lagoas, como pontos fixos, a série de resultados obtidos ao
longo do tempo poderá indicar alterações decorrentes do empreendimento.
Para a amostragem de águas do lençol freático são construídos poços de
monitoramento, em um número mínimo de quatro: um a montante e três a jusante do
empreendimento, conforme orientação da pesquisa hidrogeológica prévia. A NBR
13895/1997 - "Construção de Poços de monitoramento e amostragem", estipula critérios
construtivos e de perfil para os poços de monitoramento. A Figura 3.2.1 apresenta um perfil
típico de poço de monitoramento de águas do lençol freático.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 208


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.2.1 – Perfil de poço de monitoramento do lençol freático

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 209


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.2.3 Características paramétricas relevantes


das águas e lixiviados
Vários parâmetros podem ser adotados para o acompanhamento da evolução
das características tanto das águas quanto dos lixiviados. Parâmetros inespecíficos são
aqueles os quais não se relacionam diretamente a um contaminante ou poluente específico,
sua variação sinalizando que alguma alteração importante de concentração desses no
líquido deve ter ocorrido. Por exemplo, a elevação da condutividade elétrica de uma
amostra em relação a outra amostra coletada pregressamente sinaliza que ocorreu uma
variação nas concentrações das espécies iônicas presentes. A variação do pH indica variação
do equilíbrio entre as formas presentes precursoras de acidez e de alcalinidade. As
demandas de oxigênio, tanto bioquímica quanto química são parâmetros inespecíficos muito
importantes, pois contabilizam a quantidade de matéria não estável presente na amostra,
ainda que não indiquem a composição dessa matéria. Parâmetros específicos são aqueles
que definem com precisão as concentrações de espécies bem definidas, como fósforo,
cromo, nitrogênio amoniacal, etc.

3.2.3.1 Condutividade
É a propriedade característica de um determinado meio em conduzir corrente
elétrica. É definida como a corrente que atravessa um condutor cúbico de 1 cm de aresta,
submetido à tensão aplicada de 1 V.

k = (I x L)/(E x A) (3.2-1)

k: Condutividade elétrica (ohm-1cm-1 = siemens.cm-1 = mho/cm)


I: Corrente elétrica (A);
E: Diferença de Potencial Elétrico (V);
L: Comprimento do condutor (cm);
A: Área da seção reta do condutor (cm2)

No caso das soluções eletrolíticas, a condutividade elétrica será função da


presença de compostos ionizáveis, das suas respectivas concentrações, dos seus graus de
dissociação, das cargas elétricas dos íons, das suas respectivas mobilidades e da temperatura
da solução.
No caso das águas naturais, águas servidas, esgotos e lixiviados de aterro, é
conveniente expressar a condutividade em mho/cm (=10-6 mho/cm) ou mmho/cm (=10-3
mho/cm) devido à ordem de grandeza dos resultados. A condutividade da água pura é muito

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 210


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

baixa (a água mais pura obtida em laboratório registrou 4,3 x 10-8 mho/cm).
Em águas naturais (doces ou pouco poluídas), as concentrações das espécies
iônicas são normalmente baixas. Neste caso haverá uma relação praticamente linear entre a
condutividade elétrica e o conteúdo de sólidos dissolvidos.
A condutividade das águas naturais ou pouco poluídas encontra-se na faixa de 10
a 1000 mho/cm, dependendo principalmente das condições geológicas locais. Neste
sentido, deve-se atentar ao fato de que certas águas naturais, ricas em sais minerais
oriundos da dissolução de rochas poderão apresentar condutividades da mesma ordem de
grandeza de águas poluídas.
No caso dos lixiviados de aterros sanitários a condutividade pode alcançar desde
alguns milhares a algumas dezenas de milhares de mho/cm. Assim o parâmetro adquire
importância para a verificação de possível contaminação das águas por lixiviados de aterro.
Todavia é preciso enfatizar que para altas concentrações de eletrólitos atuarão
forças de atração entre os íons, que resultam na redução da sua mobilidade. Logo, nessas
condições, a condutividade não terá mais uma relação de proporcionalidade com a
concentração iônica. Assim, quantitativamente, a condutividade fornecerá apenas uma
estimativa da concentração iônica da solução.
Deve-se lembrar que a condutividade é função também do grau de dissociação
das espécies ionizáveis (e, por consequência, do pH) e da temperatura. Desta maneira, ao
traçarem-se comparações entre resultados, idealmente seria interessante corrigir as
variações dessas condições de contorno. Em valores de pH elevados haverá tendência dos
metais em serem encontrados em formas não dissociadas, ao passo que em valores baixos
do pH há tendência da dissociação dos sais. Observa-se que a concentração dos metais
presentes nos lixiviados é rebaixada do início da operação até a estabilidade do processo de
degradação dos resíduos sólidos, em virtude do pH subir de aproximadamente 4,0 até 7,0 ou
mais ao longo do curso do processo.
Os estudos geofísicos baseiam-se na passagem induzida de corrente elétrica por
horizontes do solo, no sentido de obter-se o mapeamento da condutividade elétrica em
diferentes pontos e em diferentes profundidades, para reconhecimento de anomalias em
relação à condutividade considerada natural da matriz do solo. Os resultados de medições
de condutividade são normalmente expressos em mS/m, que relaciona-se com a unidade
usual mho/cm da seguinte forma:

1 mS/m = 1mmho/m = 1000 mho/m = 10 mho/cm (3.2-2)

Portanto:

(mho/cm) = (mS/m) x 10 (3.2-3)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 211


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.2.3.2 Turbidez
A turbidez é entendida como o coeficiente de espalhamento e absorção da luz
pelas partículas em suspensão em água (ou outro líquido).
No caso de águas naturais, as partículas que conferem turbidez são normalmente
lodo, barro, partículas finas de matéria orgânica e inorgânica, plâncton e organismos
microscópicos, estando numa faixa de 10 nm a 0,1 mm de diâmetro de partícula. Os
despejos domésticos e industriais, além das partículas provenientes de processos erosivos e
de drenagem urbana, são as principais fontes antropogênicas de turbidez.
A turbidez pode variar sazonalmente com a atividade biológica na coluna d’água.
A turbulência em um corpo d’água num determinado momento pode resultar em variação
temporária da turbidez.
O parâmetro turbidez encontra-se diretamente relacionado com o parâmetro
sólidos suspensos totais. O método comumente utilizado para a medida de turbidez é a
nefelometria, que mede a dispersão da luz por partículas em suspensão em uma amostra
(unidade UNT - Unidade Nefelométrica de Turbidez). A unidade de expressão da turbidez
também é chamada de unidade de turbidez (uT) ou unidade de Jackson.
Uma água com 10 UNT apresenta uma ligeira nebulosidade, enquanto que uma
água com 500 UNT é praticamente opaca. Valores normais para as águas naturais giram
entre 1 e 100 UNT (GIASANTE, 1994).
A turbidez afeta a produção primária dos corpos hídricos, em função de limitar a
penetração da luz solar necessária à fotossíntese. A elevação da turbidez torna a água
objetável. As partículas responsáveis pela turbidez podem abrigar organismos patogênicos.
Naturalmente, lixiviados jovens, saturados em sólidos suspensos, apresentam
elevada turbidez, ao passo que os mais antigos, por efeitos de remoção, natural ou induzida,
de sólidos voláteis, tenderão a apresentarem-se mais límpidos, ainda que com coloração
característica negra.

3.2.3.3 Cor
A cor resulta do somatório dos comprimentos de onda não absorvidos pelo
líquido, principalmente em função das substâncias nela dissolvidas ou suspensas. Nesse
sentido define-se cor aparente como a causada por refração e reflexão da luz pelas
partículas em suspensão, e cor verdadeira como a produzida pelas substâncias dissolvidas na
água (que pode ser determinada em laboratório, após a centrifugação da amostra).
Os ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da decomposição da matéria orgânica
(sobretudo proveniente de vegetais) e os íons ferro e manganês são as principais origens
naturais da coloração das águas, ao passo que os esgotos domésticos e os industriais (como
os provenientes de tinturarias, tecelagem e produção de papel, por exemplo) são os

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 212


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

principais contribuintes antropogênicos à cor. O plâncton também pode colaborar para


conferir à água uma cor aparente.
A cor de uma água relaciona-se à sua qualidade organoléptica, podendo
ocasionar rejeição, especialmente pelo fato de sugerir contaminação, o que pode ou não se
mostrar verdadeiro.
A cor, juntamente com a turbidez, determinam a profundidade até onde a luz é
transmitida. Tal irá comandar a quantidade de produção primária, através do controle da
taxa de fotossíntese das algas presentes no corpo d’água.
A medida da cor faz-se pela comparação da amostra com uma série de diluições
de cloroplaninato de potássio ou cobalto clorídrico. As unidades de medida são chamadas
unidades de platina cobalto baseadas em 1 mgPt.L-1. Tal unidade também é comumente
denominada Unidade Hazen (uH). As águas naturais variam da faixa de menos do que 5
mgPt.L-1 (águas muito claras) a 300 mgPt.L-1 (águas muito escuras). No tratamento para
potabilidade, a partir de 25 mgPt.L-1 usualmente procede-se coagulação química seguida de
filtração. Abaixo de 5 mgPt.L-1 usualmente águas para potabilidade dispensam coagulação.
Os lixiviados de aterros jovens costumam apresentar uma coloração escuro-
esverdeada, ao passo que lixiviados mais antigos apresentarão coloração preta. Tratamentos
aeróbios tendem a condicionar os lixiviados a uma coloração marrom.

3.2.3.4 Odor
É um parâmetro que normalmente sugere atividade biológica maior do que a
normal e/ou poluição. O odor pode ser produzido por fitoplâncton e plantas aquáticas ou
matéria orgânica em decomposição. Rejeitos industriais e humanos podem também
produzir odores, diretamente, ou como resultado da atividade biológica estimulada.
O odor produzido depende de variáveis como a temperatura e o pH, no sentido
da estimulação ou inibição do metabolismo microbiológico e da volatilidade de alguns
poluentes.
A determinação do odor em uma amostra é levada a efeito através do olfato
humano, sofrendo variabilidade subjetiva proveniente de diferentes julgamentos. Assim, o
odor pode ser medido em termos da diluição de uma amostra até o ponto em que qualquer
odor perceptível seja eliminado (limiar de odor), ou determinado qualitativamente,
exercendo-se comparação entre o odor da amostra em análise e diversos padrões
previamente estabelecidos. Assim, temos o Quadro 3.2.1, convencionada para a
caracterização de odor (USP, 1970; DMAE, 1974).

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 213


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 3.2.1 – Padrões para caracterização do odor


Código Natureza do odor Descrição (tal como odor de)
A Aromático cânfora, cravo, lavanda, limão
Ac Pepino “Synura”
B Balsâmico (flórido) gerânio, violeta, baunilha
Bg Gerânio “Asterionella”
Bn Nastúrcio “Afanizomenon”
Bs Adocicado “Coelosphaerium”
Bv Violeta “Mallomonas”
C ou Cv Químico resíduos industriais ou tratamento de reagentes
Cc Clorado cloro livre
Ch Hidrocarboneto resíduos de refinaria de óleo
Cm Medicinal fenol e iodofórmio
Cs Sulfuroso (saturado) gás sulfídrico ou ovos podres
D Desagradável (muito desagradável)
Df De peixe “Uroglenopsis”, Dinobryon
Dp De chiqueiro “Anabaena”
Ds Putrefaciente (séptico) Água de Esgoto
E De terra (terroso) terra molhada
Ep Turfento turfa
G De grama grama esmagada
M Mofado palha decomposta
Mm ou Mn Bolorento adegas molhadas
V Vegetal vegetais de raiz
Fontes: USP (1970); DMAE (1974)

O odor relaciona-se à qualidade organoléptica da água, podendo torná-la


objetável para vários fins. Embora nem sempre odor pronunciado signifique presença de
poluentes e/ou contaminantes, haverá uma rejeição à água proporcional à sua elevação.
Os lixiviados de aterro possuem odor característico, proveniente principalmente
da amônia e dos sulfetos presentes, tendendo tal a ser mais pronunciado em lixiviados
jovens do que em antigos. Sua presença como poluente de uma água pode ser facilmente
evidenciada devido ao baixíssimo limiar de odor dos sulfetos.

3.2.3.5 Temperatura
A temperatura pode ser fisicamente definida como o grau de agitação das
moléculas de um meio, resguardando uma relação direta com a energia cinética média
dessas mesmas moléculas. Influi marcadamente sobre as características químicas, físicas e
biológicas das águas e despejos, estando então relacionada com praticamente todos os
parâmetros de avaliação/monitoramento destes. Como exemplos típicos desta influência,
podemos dizer que a temperatura de um corpo hídrico influi na florescência de certas algas,

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 214


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

na solubilidade do oxigênio, na concentração de dióxido de carbono, na solubilidade das


espécies ionizáveis e, por conseguinte no pH e no potencial redox. Os processos biológicos
são diretamente afetados pela temperatura, sendo que as atividades bioquímicas
intensificam-se com o aumento da mesma. Em relação aos mananciais de superfície, a
elevação das temperaturas na época de verão pode tornar críticas as condições das águas,
devido a uma maior respiração microbiológica concomitante a um decréscimo natural da
solubilidade do oxigênio.
Termômetros são utilizados para a medição de temperaturas, através da medida
da expansão/contração volumétrica de um líquido confinado, sendo o termômetro de
mercúrio o mais largamente utilizado. Outros termômetros disponíveis utilizam outras
propriedades, como a variação da resistividade elétrica com a temperatura para o seu
funcionamento. A determinação da temperatura faz-se por imersão do bulbo do
termômetro no corpo d'água ou efluente, até o momento em que a altura da coluna de
mercúrio estabilize-se, ou, no caso de termômetros digitais, até a estabilização do valor
apresentado no display.
A temperatura da água varia em função das transferências de calor entre os
corpos hídricos, a atmosfera e o solo. A radiação solar é a principal fonte direta de energia
que provoca o aquecimento da água. Despejos, principalmente industriais, podem modificar
a temperatura das águas, ocasionando impactos diretos pela modificação abrupta das
características influenciadas pela temperatura (principalmente concentração de oxigênio
dissolvido e modificação das taxas de respiração microbiológica). É fundamental a
associação entre a determinação do oxigênio dissolvido de uma água ou efluente e a
temperatura da amostra no momento de sua coleta.
Quando no seio do aterro os lixiviados manter-se-ão em uma faixa de
temperaturas relativamente independente das temperaturas ambientes. Em épocas de frio,
estarão mais aquecidos, devido ao calor produzido pela atividade microbiológica. Em épocas
muito quentes o relativo isolamento térmico produzido pelas camadas de resíduos aterrados
proporcionará ao lixiviado manter-se em temperaturas mais baixas do que as ambientes.
A água apresenta um elevado calor específico, definido como a quantidade de
calor para elevar o líquido em 1oC. Devido a tal, as modificações na temperatura ambiente
demorarão a transmitirem-se, principalmente às águas de superfície. Pela manhã as águas
de superfície estarão mais frias do que o ambiente, ao cair da tarde tais águas iniciarão o
lento processo de perda de calor, mantendo-se em temperaturas em geral mais elevadas do
que a do ambiente ao início da noite.

3.2.3.6 Sabor
Normalmente o sabor é considerado como uma interação entre a sensação
gustativa (limitada a salgado, doce, azedo e amargo) e a sensação olfativa (odor). É uma
característica que pode tornar as águas para consumo mais ou menos objetáveis. É também

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 215


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

uma informação que pode, qualitativamente, indicar, na água, a presença de poluentes ou


mesmo do cloro utilizado na desinfecção.
O sabor é determinado através do paladar humano, estando sujeito a
variabilidades subjetivas provenientes de diferentes julgamentos humanos. Há ainda a
restrição de que somente podem ser analisadas amostras de água em que haja a total
garantia de não haverem constituintes tóxicos, infectantes ou outros de risco, para que haja
o resguardo da saúde do profissional que irá executar a degustação. Neste sentido é um
teste de maior aplicabilidade a águas destinadas à potabilidade. Normalmente o teste visa
identificar-se a diluição correspondente ao limiar da sensibilidade a qualquer sabor diferente
do sabor natural da água, conferido pelos seus sais dissolvidos.
O sabor pode originar-se da presença de sólidos em suspensão ou solução, gases
dissolvidos (por exemplo, H2S), matéria orgânica em decomposição, algas e despejos
industriais diversos.

3.2.3.7 pH
O potencial hidrogeniônico é definido como o cologaritmo, na base 10, da
concentração dos íons hidrogênio (H+), variando entre 0 e 14 (limite ácido/limite alcalino),
com o valor 7 representando a condição de neutralidade. Os sólidos dissolvidos oriundos da
dissolução das rochas, os gases dissolvidos oriundos da atmosfera, os compostos resultantes
da oxidação da matéria orgânica e os produtos do processo de fotossíntese são os
constituintes responsáveis pelo pH de uma água natural. Despejos domésticos e industriais,
igualmente, alteram o pH das águas. Nas águas naturais o pH é controlado pelo balanço
entre o dióxido de carbono, íons carbonato e íons bicarbonato, bem como por outros
compostos naturais como os ácidos húmicos e fúlvicos.
Em efluentes líquidos em tratamento, bem como na digestão anaeróbia, o
monitoramento do pH é de fundamental importância, tendo em vista sofrer modificações
bastante sensíveis devidas aos mais diversos eventos possíveis.
O pH da maioria das águas naturais encontra-se entre 6,0 e 8,5, embora valores
menores possam ocorrer em águas com elevada concentração orgânica diluída e valores
maiores possam ocorrer em águas eutróficas, águas subterrâneas salgadas e lagos salgados.
Águas de minas ou contendo gases vulcânicos podem apresentar pH bastante baixo.
O pH, porém, deve ser compreendido como a “face externa” de um determinado
meio, visto que o mesmo pode conter compostos básicos e ácidos não dissociados, que
atuam como reservas alcalinas e ácidas, exercendo capacidade de tamponamento do meio.
Em esgotos sanitários, o pH normalmente está compreendido na faixa 6,5-7,5.
Na digestão anaeróbia, o pH evolui de valores reduzidos, próximos a 4,0, na fase
de produção de ácidos, à faixa de 6,8-7,2, característica da metanogênese, podendo
inclusive alcançar valores superiores a essa faixa: há indicações de que a digestão anaeróbia

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 216


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

possa processar-se satisfatoriamente em uma faixa de pH entre 6,0 e 8,0, em casos


extremos.
O rebaixamento excessivo do pH na fase metanogênica determina a inibição das
bactérias metanogênicas (as mesmas são muito mais sensíveis ao pH baixo do que aos
ácidos que o determinam). Com o decorrer da estabilização da matéria orgânica e o
consumo dos ácidos, há uma tendência à elevação do pH, podendo alcançar valores
superiores a 8,0.
A queda do pH, no processo anaeróbio, pode ser indicativo de que toda a
alcalinidade disponível no meio foi consumida e o processo corre sério risco de ser
interrompido pela acumulação de ácidos. Nessas condições, fica enfatizada a importância do
monitoramento do pH dos meios em processo anaeróbio. Qualquer desvio da faixa ótima
ensejará um aprofundamento das pesquisas sobre as condições do meio, buscando a
eventual correção. Também o pH rege o processo de precipitação de metais tóxicos por
sulfetos, fundamental à manutenção da metanogênese.
O crescimento microbiológico é afetado pelo afastamento do pH em relação à
neutralidade, o que pode afetar sensivelmente sistemas de tratamento de esgotos e
efluentes diversos. Da mesma forma, o pH influencia a eficiência dos processos físico-
químicos de tratamento.
Em comparações estatísticas entre médias de resultados para o parâmetro pH
não é aconselhável utilizarem-se os valores brutos do pH, pelo fato de tais valores seguirem
uma escala logarítmica e sim se converterem os resultados pontuais às respectivas
concentrações de hidrônio, calcularem-se as médias, e só então se fazerem as comparações
via análise de variância. Médias de concentrações de hidrônio significativamente diferentes
podem corresponder a médias de médios de pH sem diferença significativa, o que mascara o
resultado.

3.2.3.8 Oxigênio Dissolvido


Os gases dissolvem-se nos líquidos na qualidade de solutos, formando soluções.
Suas proporções nas soluções são função das pressões que exercem sobre o líquido. Para
soluções ideais é válida a expressão:

x = P/p (3.2-4)

x: solubilidade do gás na solução;


P: pressão parcial do gás em contato com a solução;
P: pressão de vapor do gás a uma dada temperatura.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 217


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Assim, o oxigênio atmosférico em contato com a água dilui-se na mesma,


variando sua solubilidade com a salinidade, com a pressão atmosférica (ou, mais
especificamente, sua pressão parcial na atmosfera) e com a temperatura (cujo aumento
diminui a solubilidade dos gases nos líquidos). A variação da solubilidade com a temperatura
é dada pela equação:

ln (1/2) = Hs.(T2-T1)/[R.(T1.T2)] (3.2-5)

Na equação 3.2-5 1 e 2 são as solubilidades às temperaturas T1 e T2, e Hs é o


calor de solução do gás no líquido.
O comportamento real das soluções de gases em líquidos em contato com o gás
diverge em maior ou menor grau do comportamento ideal equacionado acima. Assim, na
prática utilizam-se tabelas e ábacos para fornecer as solubilidades reais em função da
temperatura. No caso do oxigênio dissolvido em água, parâmetro de ampla utilização no
saneamento, utilizam-se tabelas e ábacos relacionando solubilidade, temperatura e
salinidade. A Tabela 3.2.1 apresenta as concentrações de saturação de água em oxigênio
para a situação idealizada de pressão atmosférica de 1 atm e salinidade nula. Usualmente
em águas pouco poluídas e a baixas altitudes em relação ao nível do mar é válida a
aproximação de 0% de salinidade e pressão de 760 mmHg para a determinação da
solubilidade, adotando-se os citados dados tabelados.

Tabela 3.2.1 - Concentrações de saturação de oxigênio em água para a situação idealizada de


P = 1 atm e salinidade nula
o o o o
T( C) mgO2/L T( C) mgO2/L T( C) mgO2/L T( C) mgO2/L
0,0 14,60 11,0 11,02 22,0 8,73 33,0 7,17
1,0 14,20 12,0 10,77 23,0 8,56 34,0 7,05
2,0 13,81 13,0 10,53 24,0 8,40 35,0 6,93
3,0 13,45 14,0 10,29 25,0 8,24 36,0 6,82
4,0 13,09 15,0 10,07 26,0 8,09 37,0 6,72
5,0 12,76 16,0 9,86 27,0 7,95 38,0 6,61
6,0 12,44 17,0 9,65 28,0 7,81 39,0 6,51
7,0 12,13 18,0 9,45 29,0 7,67 40,0 6,41
8,0 11,83 19,0 9,26 30,0 7,54
9,0 11,55 20,0 9,08 31,0 7,41
10,0 11,28 21,0 8,90 32,0 7,29
Fonte: o autor

A utilização do parâmetro oxigênio dissolvido baseia-se no fato de que em águas


poluídas há um consumo ativo do oxigênio em solução pela respiração dos microorganismos
aeróbios e/ou facultativos (ou seja, pelas reações bioquímicas que utilizam oxigênio) em
velocidade superior ao processo de recomposição do oxigênio da atmosfera para a solução.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 218


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O quociente entre o oxigênio dissolvido medido num determinado momento e a


solubilidade do oxigênio em água nas condições de temperatura, salinidade e pressão em
que a medida foi efetuada é chamado saturação em oxigênio, e representa a condição de
equilíbrio dos dois processos descritos acima.

Saturação em Oxigênio = %O2 = (OD x 100)/Solubilidade (3.2-6)

%O2: saturação em oxigênio;


OD: oxigênio dissolvido medido;
Solubilidade: Solubilidade do oxigênio em água à temperatura, pressão e salinidade
(tabelado).

A saturação em oxigênio calculada para uma amostra de água fornecerá um


indicativo do consumo ativo de oxigênio para estabilização de compostos orgânicos, desta
forma evidenciando a condição sanitária da mesma água. Quanto mais próxima à saturação
de 100%, teoricamente menos poluída encontrar-se-á a água.
Com a elevação da temperatura, há uma tendência de os níveis de oxigênio
dissolvido tornarem-se críticos, visto que há um efeito de diminuição da sua solubilidade em
água concomitantemente à elevação das taxas de reações bioquímicas, consumidoras de
oxigênio.
Em águas subterrâneas geralmente as concentrações de oxigênio dissolvido são
baixas, presumivelmente por que o oxigênio em solução na água que infiltra no solo é gasto
durante sua descida na oxidação da matéria orgânica lá existente e a reaeração da zona
saturada do solo é um processo pouco efetivo. Ainda assim, em águas de até 30 m de
profundidade os teores de oxigênio são mensuráveis (2,0-5,0 mgO2/L) (GIASANTE, 1994).
Variações do oxigênio dissolvido em águas de superfície podem ocorrer num
período de 24 h, em função das variações de temperatura e da atividade fotossintética de
plantas e algas.
Águas não poluídas costumam apresentar concentrações pouco inferiores a 10
mgO2/L às temperaturas médias. Concentrações de 5,0 mgO2/L podem afetar adversamente
a sobrevivência das comunidades biológicas, ocasionando a morte dos peixes mais
exigentes. Abaixo de 2,0 mgO2/L todos os peixes estarão mortos (VON SPERLING, 1995).
Elevados níveis de poluição levarão a 0% de saturação (0,0 mgO2/L), configurando o estado
de anaerobiose do corpo hídrico. Lixiviados de aterro, em condições normais, encontram-se
em anaerobiose (0% de oxigênio dissolvido), seja pela pouca penetração de ar nos maciços
onde é gerado, seja pelo rápido consumo do eventual oxigênio disponível em função da sua
elevada concentração orgânica.
Além do natural processo de reaeração das águas, a atividade fotossintética
produz oxigênio molecular como produto, o que pode levar, em águas contendo elevadas

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 219


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

concentrações de algas, a uma supersaturação, ou seja, concentração medida de oxigênio


dissolvido superior à própria solubilidade à dada temperatura, pressão e salinidade. O
turbilhonamento produz uma elevada área de contato da água com a atmosfera, portanto
poderá pontualmente levar a água a uma condição transiente, conduzindo a concentrações
medidas superiores àquelas de equilíbrio sob tais condições de contorno. Neste sentido,
para a determinação do oxigênio dissolvido postula-se evitar amostragens a jusante de
cachoeiras e anteparos, preferindo-se regiões de calmaria, bem como executar a coleta de
uma maneira acuradamente lenta, desde a retirada da amostra até o seu acondicionamento
no frasco e preservação.

3.2.3.9 Sólidos
O conteúdo total de sólidos de uma amostra de água ou despejo é definido como
toda a matéria que permanece como resíduo após evaporação à temperatura de 103-105oC.
O material que possui significativa pressão de vapor nesta temperatura é perdido durante a
evaporação e não é definido como sólido.
Do conteúdo total de sólidos podemos distinguir dois subgrupos segundo as
dimensões das partículas sólidas. Os sólidos não-filtráveis (partículas com diâmetro superior
a 1m) e os sólidos filtráveis (dissolvidos + coloidais), conforme apresenta
esquematicamente a Figura 3.2.2.

Figura 3.2.2 – Distribuição dos sólidos

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 220


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Na prática, adotam-se como sólidos suspensos aqueles retidos por filtração com
uma membrana de porosidade específica (sólidos não-filtráveis), sendo os sólidos dissolvidos
(na verdade, filtráveis) os não retidos. Os sólidos filtráveis compreendem as partículas
dissolvidas e as partículas em estado coloidal (em verdade estes últimos seriam não filtráveis
caso fossem utilizados ultrafiltros). Cada uma dessas categorias de sólidos pode ser também
classificada com base em suas volatilidades a 550-600°C. A fração orgânica oxidar-se-á a essa
temperatura, sendo eliminada como gás. A fração inorgânica permanecerá como cinza.
Dessa maneira temos mais quatro categorias de sólidos: sólidos suspensos voláteis (SSV:
correspondendo, grosso modo, à matéria orgânica não solubilizada), sólidos suspensos fixos
(SSF: correspondendo, grosso modo, à matéria mineral não solúvel), sólidos dissolvidos
voláteis (SDV: correspondendo, grosso modo, à matéria orgânica solúvel), sólidos dissolvidos
fixos (SDF: correspondendo, grosso modo, à matéria mineral solúvel).
Devem ser observadas as equivalências de notações utilizadas por diferentes
laboratórios e autores:
sólidos = resíduo;
filtráveis = dissolvidos (na prática);
não-filtráveis = suspensos.

Desta forma temos:

(ST) = (STF) + (STV) (3.2-7)

(ST) = (STD) + (STS) (3.2-8)

(STS) = (SSF) + (SSV) (3.2-9)

(STD) = (SDF) + (SDV) (3.2-10)

(STF) = (SDF) + (SSF) (3.2-11)

(STV) = (SDV) + (SSV) (3.2-12)

ST: sólidos totais a 105oC;


STD: sólidos totais dissolvidos a 105oC;
STS: sólidos totais suspensos a 105oC;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 221


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

STF: sólidos totais fixos a 550oC;


STV: sólidos totais voláteis a 550oC;
SDF: sólidos dissolvidos fixos a 550oC;
SDV: sólidos dissolvidos voláteis a 550oC;
SSF: sólidos suspensos fixos a 550oC;
SSV: sólidos suspensos voláteis a 550oC.

A Figura 3.2.3 esquematiza a divisão dos sólidos conforme filtração e ignição a


o
550-600 C.

Figura 3.2.3 – Divisão dos sólidos em função de filtrabilidade e estabilidade à ignição

Fonte: o autor

O conhecimento apenas do conteúdo de sólidos totais de um efluente é de


reduzido interesse. Importante é o conhecimento do desdobramento em sólidos fixos e
voláteis, em suspensão e dissolvidos.
A grande maioria dos sólidos voláteis é constituída por matéria orgânica
(biodegradável e não biodegradável) e a grande maioria dos sólidos fixos corresponde a
matéria mineral.
Em tratamento de efluentes, os métodos biológicos objetivam remover sólidos
voláteis (matéria orgânica) e os tratamentos físicos e químicos prestam-se para remover os
sólidos suspensos e dissolvidos. Conforme VIEIRA e SOUZA (1981), na digestão anaeróbia de
resíduos domésticos a faixa de conversão de matéria orgânica encontra-se entre 0,3 e 0,6
litros de gás/grama de sólidos voláteis.
Sólidos Sedimentáveis: o teor de sólidos sedimentáveis de uma amostra é
definido como o volume de sólidos que se deposita no fundo de um Cone Inmhoff (vide

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 222


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.2.4), após um tempo determinado de repouso do líquido (usualmente 1 hora). O


conhecimento do conteúdo de sólidos sedimentáveis por litro objetiva prever a formação de
bancos de lodo nos corpos hídricos receptores dos efluentes, bem como prever a
quantidade de sólidos que pode ser removida por sedimentação em decantadores primários,
nas estações de tratamento. As portarias que estabelecem limites de emissão de efluentes
comumente estabelecem limites para as concentrações de sólidos sedimentáveis ou sólidos
suspensos totais no efluente.

Figura 3.2.4 – Cone Inmhoff

Fonte: web

Para efeito de ilustração, são apresentadas, abaixo, as concentrações típicas de


sólidos em um esgoto sanitário bruto:
 sólidos totais: 200-1000 mg/L;
 sólidos dissolvidos fixos: 50-200 mg/L;
 sólidos dissolvidos voláteis: 50-300 mg/L;
 sólidos suspensos fixos: 30-100 mg/L;
 sólidos suspensos voláteis: 70-400 mg/L;
 sólidos sedimentáveis em 1 hora: 2-20 mg/L.
Em sistemas de tratamento, normalmente a concentração de sólidos suspensos
voláteis é interpretada como massa bacteriana dispersa, ou seja, quantidade de
microorganismos suspensos no meio, responsável pela estabilização dos compostos
presentes.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 223


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.2.3.10 Potencial Redox


O potencial redox ou de oxi-redução (Eh) de um meio caracteriza sua capacidade
de oxidação ou redução, ou seja, de aceitar ou doar elétrons. Esta capacidade está
relacionada a compostos e íons existentes no meio. O oxigênio, o ferro, o enxofre e alguns
sistemas orgânicos são os compostos mais influentes na variação do Eh.
Em águas naturais o Eh pode variar entre -500 mV e +700 mV. Águas
subterrâneas e de superfície contendo oxigênio dissolvido são usualmente caracterizadas
por uma faixa de valores entre +100 mV e +500 mV. O potencial redox dos meios anaeróbios
é virtualmente negativo. O gás sulfídrico, os sulfetos e os nitratos são compostos que
conferem apreciável capacidade redutora ao meio.
Na água potável as tensões variam de -100 a +100 mV. Efluentes clorados
apresentam tensões próximas a +1000 mV.
Na biodigestão anaeróbia, a fase inicial é caracterizada pelos valores positivos do
Eh (meio oxidante), promovendo a ação dos microorganismos aeróbios. Na fase anaeróbia o
Eh variará entre -330 e -600 mV (LIMA, 1995), caracterizando o desenvolvimento dos
organismos anaeróbios. A transição entre os dois estágios torna-se possível pela existência
dos organismos facultativos.
A medida do potencial redox é realizada através de eletrodo de oxi-redução,
preferivelmente in loco. Essa determinação está sujeita a uma série de erros e imprecisões
sendo que muitas vezes os resultados analíticos não são confiáveis.

3.2.3.11 Dureza
Definida como a concentração de cátions multimetálicos em solução, decorre de
certos sais que são encontrados na composição das águas, em maior ou menor
concentração, depreciando sua qualidade para vários fins. Os sais causadores de dureza são
geralmente bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio. Grandes
concentrações desses sais conferem sabor desagradável à água para a bebida, impedem a
formação de espumas pelos sabões (até que todos os sais minerais tenham sido
quimicamente precipitados pelo sabão), tornam a água imprópria para o cozimento e para
fins industriais, por formarem carbonatos insolúveis que se depositam como incrustações
em caldeiras e aquecedores, sobretudo em temperaturas elevadas. Em elevadas
concentrações, os cátions multimetálicos reagem com ânions da água, originando
precipitados.
A dureza pode ser classificada como dureza carbonato, e dureza não carbonato,
dependendo do ânion ao qual se encontra associada:
 dureza carbonato: dureza associada à alcalinidade, com sensibilidade ao calor,
precipitando-se em elevadas temperaturas;
 dureza não carbonato; demais formas de dureza.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 224


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Grosso modo, classifica-se a água quanto à dureza em quatro níveis:


 até 50 mgCaCO3/L: branda;
 entre 50 e 150 mgCaCO3/L: dureza moderada (não objetável para a maioria
dos usos, porém objetável para fins industriais);
 entre 150 e 300 mgCaCO3/L: água dura (objetável para todos os usos);
 superior a 300 mgCaCO3/L: água muito dura (objetável para todos os usos).
Além do sabor desagradável, a água dura pode ter efeito laxativo. Entretanto não
há relação direta entre a dureza da água e problemas sanitários. VON SPERLING (1995) cita que
foi verificada correlação entre elevação da dureza e menor incidência de doenças cardíacas.

3.2.3.12 Alcalinidade
A alcalinidade representa a medida das substâncias que conferem o
tamponamento alcalino ao meio, isto é, impedem a queda do pH quando da adição de
ácidos, por neutralizarem os mesmos. Os principais precursores da alcalinidade são os
bicarbonatos (HCO3-), os carbonatos (CO3-2), e os hidróxidos (OH-), que aparecem como
sólidos dissolvidos e cuja distribuição na água é função do pH. Na digestão anaeróbia o
monitoramento da alcalinidade é essencial, visto sua queda ser o primeiro indicativo de uma
inibição da metanogênese, o que, caso ocorra, virá acompanhado de uma ascensão das
concentrações de ácidos graxos voláteis. Na faixa de pH ótima para a digestão anaeróbia
(6,8-7,2) a capacidade de tamponamento do meio é dependente do sistema gás
carbônico/bicarbonato, em equilíbrio com a dissociação do ácido carbônico.

CO2 + H2O  H2CO3  HCO3- + H+ (3.2-13)

HCO-3 + OH-  CO3-2 + H2O (3.2-14)

O CO2 proveniente da metanogênese e dissolvido é a fonte para a formação do


ácido carbônico e do íon bicarbonato.
Os ácidos graxos voláteis formados em meio anaeróbio são neutralizados
formando sais de ácidos voláteis, que contribuem para a alcalinidade do meio em pH entre
3,75 - 5,75:

CH3COONa + H2O  CH4 + CO2 + NaOH  CH4 + NaHCO3 (3.2-15)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 225


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A amônia, obtida através da conversão microbiológica das proteínas e


aminoácidos, leva a formação do bicarbonato de amônia:

NH3 + H2O + CO2  NH4+ + HCO3- (3.2-16)

A alcalinidade total do meio é a soma da alcalinidade de bicarbonatos (mais


importante por exercer tamponamento na faixa ótima de pH da digestão anaeróbia) e dos
sais de ácidos voláteis (de reduzida importância por exercerem tamponamento alcalino
somente em faixa de pH demasiadamente ácida para o processo anaeróbio).
A alcalinidade de bicarbonatos, chamada alcalinidade parcial (AP) é obtida
titulando-se uma amostra até pH 5,75, enquanto que a alcalinidade devida aos sais de ácidos
voláteis, chamada alcalinidade intermediária (AI) é determinada titulando-se até pH 4,3.
A equação de Bloodgood e McCarty expressa a alcalinidade total do meio
anaeróbio:

AT = AB + 0,85.0,83.AV = AB + 0,71.AV (3.2-17)

AT: alcalinidade total (mgCaCO3/L);


AB: alcalinidade de bicarbonatos (mgCaCO3/L);
AV: concentração de ácidos graxos voláteis;
0,85: fator de correção que considera 85% de ionização dos ácidos até o ponto final da
titulação;
0,83: fator de conversão de (mg de ácido acético/L) para (mgCaCO3/L).

Indica a bibliografia que para valores de AI/AP> 0,3 ocorre distúrbio na digestão
anaeróbia (consumo excessivo de bicarbonatos = aumento dos ácidos graxos voláteis).
No monitoramento de águas a alcalinidade constitui-se em um parâmetro
especialmente sensível. Embora a alcalinidade das águas naturais, não poluídas, seja uma
função do meio geológico (dissolução de rochas), a matéria orgânica em decomposição,
aeróbia ou anaeróbia, libera gás carbônico como produto. Sua reação com a água gerará
alcalinidade. Da mesma forma, uma série de compostos presentes em despejos diversos
poderá ter efeitos de elevação ou consumo da alcalinidade, modificando-a em relação ao
seu patamar natural. Pequenas concentrações poluentes já alteram sensivelmente a
alcalinidade, daí por que se constitui em um excelente parâmetro de monitoramento de
águas.
Os processos oxidativos (tais quais a nitrificação) tendem a consumir alcalinidade
do meio, rebaixando o pH.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 226


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Embora sem significado direto com a qualidade de água para potabilidade, a


alcalinidade excessiva pode ocasionar sabor amargo à mesma (VON SPERLING, 1995).

3.2.3.13 Demanda Bioquímica de Oxigênio


É o parâmetro mais importante para medição da concentração de poluição
orgânica biodegradável das águas residuárias. Esta determinação envolve a medida do
oxigênio dissolvido consumido pelos microorganismos, durante 5 dias, à temperatura
constante de 20oC, na oxidação bioquímica da matéria orgânica presente.
Para obterem-se resultados significativos, a amostra a analisar precisa ser
convenientemente diluída a fim de que nutrientes e oxigênio estejam presentes durante o
período de incubação. Caso necessário, a água de diluição é semeada com uma cultura
bacteriana aclimatada ao despejo. A cultura que é utilizada para a preparação da água de
diluição contém grande número de bactérias saprófitas que oxidam a matéria orgânica, e
certo número de bactérias autotróficas, que oxidam a matéria não carbonácea. Estima-se
que 60-80% da carga oxidável biologicamente seja estabilizada em cinco dias e 95-99% num
período de vinte dias.
A estabilização biológica dá-se em duas fases:
 1ª fase: ataque dos compostos carbonáceos,
 2ª fase: ataque da matéria não carbonácea, como a amônia, produzida
durante a hidrólise das proteínas. Algumas das bactérias autotróficas são
capazes de utilizar o oxigênio do meio para oxidar a amônia a nitritos e
nitratos.
A Figura 3.2.5 apresenta a demanda do oxigênio utilizado com o decorrer do
tempo durante os dois estágios da estabilização biológica.
O teste da DBO tende a simular, em nível experimental, o que ocorrerá na
prática se o despejo for encaminhado a um corpo hídrico, ou seja, a estabilização da matéria
biodegradável, a partir do consumo de oxigênio molecular. O teste fornece a “concentração
de poluição orgânica biodegradável” do efluente líquido. O quociente entre a DBO e a DQO
(esta, em geral superior à primeira), de um efluente, é um indicativo razoável da
biodegradabilidade do mesmo.
Além da DBO5 (DBO exercida em cinco dias) há a DBO20 (DBO exercida em vinte
dias), também consagrada. A duração do teste (cinco ou vinte dias) tem razões específicas:
em cinco dias a maior parte da demanda de oxigênio da matéria orgânica carbonácea está
satisfeita, e, em vinte dias a demanda necessária para a estabilização da matéria nitrogenada
está satisfeita.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 227


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.2.5 – Fases da estabilização bioquímica de uma água residuária

Fonte: o autor

Águas não poluídas têm valores de DBO5 em torno de 2,0 mg/L (ou menos),
enquanto que aquelas que receberam águas servidas podem registrar valores acima de 10
mgO2/L. Os efluentes de esgoto tratado têm valores de DBO5 variando entre 20 e 100
mgO2/L. O esgoto sanitário bruto tem usualmente DBO5 variando entre 100 e 400 mgO2/L.
No caso dos efluentes de aterro sanitário (lixiviados), os ácidos graxos voláteis são
responsáveis por cerca de 80% de sua carga orgânica (DBO5). Os valores da DBO para os
lixiviados variam com diversos fatores, sobretudo a diluição pela precipitação (chuvas) e a
operação do aterro. A DBO5 do lixiviado tende ao rebaixamento progressivo com o tempo
(devido à estabilização da matéria orgânica e o exaurimento dos maciços). Valores típicos da
DBO5 de lixiviados variam desde poucos milhares de mg/L até cinquenta mil ou mais dessas
unidades. Lixiviados de aterros encerrados há alguns anos têm sua DBO5 reduzida abaixo de
1000 mgO2/L.

3.2.3.14 Demanda Química de Oxigênio


É um importante teste utilizado para medir o conteúdo de matéria orgânica das
águas residuárias e naturais, através da sua oxidação em meio ácido, utilizando um forte
agente oxidante (em geral, dicromato de potássio). O oxigênio equivalente da matéria
orgânica expressa pela DQO é em geral mais alto do que o expresso pela DBO, visto o
processo químico oxidar, além dos compostos orgânicos facilmente putrescíveis, outros
orgânicos de difícil decomposição, bem como minerais (sulfetos, nitritos, etc). Sua
importância traduz-se pela rapidez do teste (usualmente três horas) bem como pela
conveniência em amostras que contenham substâncias tóxicas ou inibitórias aos organismos

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 228


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

decompositores, inviabilizando o teste da DBO. Em certos despejos, para que a ação


oxidante do dicromato possa desenvolver-se plenamente há necessidade de introdução de
catalisadores, como, por exemplo, o sulfato de prata. O lixivado de aterros sanitários é um
exemplo de líquido residual com essa característica.
Algumas substâncias orgânicas (tolueno, piridina, etc.) não são atacadas
fortemente pelo dicromato, embora o possam ser pela oxidação biológica, justificando-se a
ocorrência peculiar de certos despejos com DBO superior à DQO.
Normalmente o teste da DQO contempla 90% do oxigênio teoricamente
necessário, segundo as reações estequiométricas de oxidação dos compostos puros (reação
completa), para estabilizá-los (BRAILE e CAVALCANTI, 1979).
Águas de superfície não poluídas apresentam DQO de 20 mgO2/L ou menos.
Águas que receberam efluentes podem apresentar DQO superior a 200 mgO2/L (GIASANTE,
1994). Esgotos sanitários brutos apresentam DQO variando entre 250 e 1000 mgO2/L. Para
esses últimos, usualmente a relação DBO/DQO é igual ou muito próxima de 0,4. Os lixiviados
de aterro sanitário apresentam DQO variando desde poucos milhares de miligramas por litro
até valores já registrados de 100.000 mg/L. Conforme bibliografia específica (ARRUDA et al.,
1995) a relação DBO5/DQO durante a predominância da fase ácida da digestão anaeróbia
assume valores superiores a 0,4 e durante a predominância da fase metanogênica, valores
inferiores a 0,4. Outras informações [BORGES DE CASTILHOS JR. (1993)] dão conta que 80% da
DQO medida é devida às formas carbonáceas existentes nos lixiviados de aterros. Com a
progressiva estabilização dos resíduos de aterro a DQO gradualmente assume valores mais
baixos, enquanto que a relação DBO5/DQO igualmente diminui progressivamente.

3.2.3.15 Ácidos Graxos Voláteis


Os ácidos graxos voláteis são produtos típicos da primeira fase da digestão
anaeróbia (fase acidogênica), gerados a partir dos produtos da hidrólise e fermentação da
matéria orgânica complexa (proteínas, lipídios, polissacarídeos). São chamados ácidos
voláteis por que podem ser destilados à pressão atmosférica.
Os ácidos acético e propiônico (2 e 3 carbonos respectivamente) são os mais
importantes gerados no processo anaeróbio, havendo também a formação dos ácidos
fórmico, butírico, valérico, capróico (1, 4, 5, 6 carbonos na cadeia, respectivamente), láticos,
fúlvicos e húmicos. Conforme dados experimentais (BORGES DE CARTILHOS JR., 1993) os ácidos
graxos voláteis correspondem a 80% da carga orgânica poluente dos lixiviados de aterro.
A digestão anaeróbia processa-se com um equilíbrio entre a produção de ácidos
graxos voláteis pelas bactérias acidogênicas e o seu imediato consumo pelas
metanogênicas. Em caso de algum tipo de inibição das bactérias metanogênicas, pode haver
acúmulo de ácidos graxos voláteis no meio, o que ocasionará primeiramente o consumo da
alcalinidade (compostos de tamponamento alcalino) sem variação do pH, e, após, um rápido
decréscimo deste, acumulação de ácidos no meio, inibição das bactérias metanogênicas, e,
por fim, inibição das próprias bactérias acidogênicas, como consequência de altas

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 229


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

concentrações dos ácidos no meio. Tal processo é conhecido como azedamento. Conforme
MCCARTY apud SOUZA (1982) concentrações de 6000 a 8000 mg/L de ácidos graxos voláteis
não são tóxicas à digestão anaeróbia, desde que o pH mantenha-se próxima à neutralidade.
Conforme DE LA TORRE apud SOUZA (1982) as bactérias acidogênicas podem suportar até
40.000 mg/L de ácidos graxos voláteis. A redução do pH produz ainda outro efeito de
inibição: manutenção dos ácidos graxos voláteis em moléculas não dissociadas que são
muito mais inibidoras do que as formas ionizadas. Há indicações de que o ácido propiônico
tem efeito bem mais tóxico do que os demais, apresentando toxicidade já a 1500 mg/L. Os
ácidos acético e butírico somente causam inibição a 6000 mg/L.
Levando-se em conta o exposto, verifica-se a importância de um contínuo
monitoramento dos ácidos graxos voláteis em meios anaeróbios, tais quais aterros sanitários
e seus sistemas de tratamentos de lixiviados. Um aumento de suas concentrações poderá
ser prenúncio de possível desequilíbrio do meio, embora isso seja muito improvável em
aterros sanitários.

3.2.3.16 Nitrogênio
O nitrogênio é um importante constituinte das proteínas vegetais e animais,
sendo essencial para os organismos vivos como nutriente de constituição corporal (função
plástica). Seu ciclo na natureza inclui formas inorgânicas (amônia, nitritos, nitratos,
nitrogênio molecular) que são convertidas em formas orgânicas pelas plantas e
microorganismos, sendo estas últimas novamente convertidas a formas inorgânicas por
processos biológicos. O ciclo do nitrogênio encontra-se representado na Figura 3.2.6.
Idealmente, o nitrogênio disponível à digestão anaeróbia deveria manter-se em
proporção de 1:30 em relação ao carbono orgânico total, assim como em proporção de 5:1
em relação ao fósforo. Todavia, no caso dos aterros sanitários, em geral encontra-se em
excesso relativamente à matéria carbonácea e ao fósforo.
Verifica-se que, com o processo de estabilização dos resíduos de aterro, há um
lento, mas progressivo, decréscimo do conteúdo de nitrogênio nos lixiviados. Isto é
explicado pela lenta redução microbiológica dos compostos de nitrogênio a N2 nas regiões
não saturadas dos maciços de aterro, e pela perda por NH3 (gasoso) no biogás.

Nitrogênio Orgânico
O nitrogênio orgânico consiste principalmente de proteínas, seus produtos de
decomposição (aminoácidos, uréia) e ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da sua
transformação bioquímica. Em águas naturais é formado principalmente por fitoplâncton e
bactérias, estando naturalmente sujeito a flutuações sazonais da comunidade biológica. O
nitrogênio orgânico facilmente degradável é denominado albuminóide.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 230


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.2.6 – Ciclo do nitrogênio na natureza

Fonte: o autor

No esgoto bruto a concentração de nitrogênio orgânico varia, em geral, entre 10


e 35 mgN/L (esgoto sanitário fraco e forte respectivamente).
Na fase ácida da digestão anaeróbia, os aminoácidos serão transformados em
ácidos voláteis, amônia e outros compostos. Posteriormente, na fase metanogênica, os
ácidos formados serão convertidos em metano.

Nitrogênio Amoniacal
A amônia ocorre naturalmente em corpos d’água, sendo originária da quebra do
nitrogênio orgânico da matéria orgânica do solo da água, de vegetais em decomposição, da
excreção dos seres vivos, da redução do gás N2 (nitrogênio molecular) na água por
microorganismos redutores. Pode aparecer em corpos d’água como poluição por esgotos,
por efluentes industriais ou por efluentes de aterro sanitário de resíduos sólidos (lixiviados).
Águas não poluídas apresentam usualmente concentrações totais de amônia e seus
compostos inferiores a 0,2 mgN/L. Também são importantes fontes de amônia, em zonas
rurais, os fertilizantes, que são arrastados pelo escoamento superficial e por águas de
infiltração. Flutuações sazonais da concentração de amônia nas águas de superfície podem

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 231


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ocorrer naturalmente como resultado da morte e decomposição de organismos aquáticos,


particularmente fitoplâncton e bactérias (sobretudo em águas nutricionalmente ricas). Os
esgotos contêm amônia precipitada a carbonato, resultante da hidrólise da uréia da urina.
Juntamente com os nitratos, a amônia fornece o nitrogênio passível de assimilação pelas
bactérias. Em esgoto sanitário bruto, a concentração de nitrogênio amoniacal normalmente
oscila entre 15 e 50 mg/L como N.
A amônia pode ser encontrada como gás dissolvido (NH3) ou na forma iônica
+
(NH4 ), segundo o equilíbrio:

NH3 + H2O  NH4+ + OH- Kb = 1,8 x 10-5 (3.2-18)

A reação expressa em 3.2.18 equivale à já apresentada 1.4-5. A Figura 3.2.7


apresenta a distribuição percentual das formas iônica e gasosa (molecular) da amônia em
função do pH.

Figura 3.2.7 – Equilíbrio da amônia em função do pH

Fonte: o autor

Na digestão anaeróbia o equilíbrio da amônia é importante, uma vez que a


amônia gasosa é inibidora em concentrações superiores a 150 mg/L. Estudos (VIEIRA; SOUZA,
1981) indicam os efeitos de distintas faixas de concentrações de nitrogênio amoniacal,
conforme apresenta a Tabela 3.2.2.
Em pH superior a 7,5 concentrações de nitrogênio amoniacal de 1500 mgN/L
podem tornar-se inibidoras. Conforme VAN VELSEN apud SOUZA (1982), havendo suficiente

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 232


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

aclimatação pode haver metanogênese em lodos contendo até 5000 mg de N amoniacal por
litro.
Em águas de abastecimento a amônia interfere negativamente na cloração,
formando cloraminas.

Tabela 3.2.2 – Concentrações de amônia e inibição da anaerobiose


concentração amoniacal (mgN.L-1) efeito observado
50 - 200 benéfico
200 - 1000 nenhum efeito adverso
1500 - 3000 inibidor a altos pH
acima de 3000 tóxico
Fonte: VIEIRA e SOUZA (1981)

A amônia, nos resíduos sólidos, provém, além da degradação da matéria


orgânica, de fertilizantes, produtos para limpeza, carne preservada com amônia e produtos
para preservação de madeira.

Nitratos
O íon nitrato é uma forma comum de nitrogênio encontrada em águas naturais.
Fontes naturais de nitratos em águas incluem rochas ígneas, drenagens da terra e restos de
animais e plantas que terão o nitrogênio de constituição bioquimicamente oxidado a
nitratos por via aeróbia. Concentrações naturais de nitrato em águas raramente excedem
0,1 mgN/L. Em meio anaeróbio redutor os nitratos podem sofrer redução a nitritos por
processos bacterianos. A poluição de corpos superficiais e subterrâneos pode ser produzida
por arraste de fertilizantes, contaminação por efluentes industriais, esgotos ou lixiviados de
aterros sanitários. Pequenas contribuições antropogênicas elevam as concentrações de
nitrato a 5 mgN/L (GIASANTE, 1994). O grau de poluição sofrido pelo corpo hídrico pode elevar
as concentrações de nitrato até 200 mgN/L. Em lagos, concentrações de nitrato superiores a
0,2 mgN/L tendem a eutrofizar o meio. Registraram-se concentrações de nitrato de até 500
mgN/L em águas subterrâneas de áreas agrícolas onde utilizou-se extensiva e
periodicamente a adição de fertilizantes.
Em sistemas de tratamento de água normalmente pouco nitrato é removido.
Assim, é fundamental conhecerem-se as concentrações de nitratos das fontes, uma vez que
apresentam alto risco potencial à saúde humana.
Os nitratos, juntamente com a amônia, fornecem o nitrogênio passível de
utilização pelas bactérias.
Em esgoto sanitário bruto, normalmente a concentração de nitratos oscila entre
0,1 e 0,4 mg/L como N.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 233


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Uma vez que representam o estado final da mineralização da matéria orgânica


nitrogenada, os nitratos encontram-se presentes em praticamente todas as águas da
natureza, ao menos como traços.
Concentrações de 20 mgN/L de nitrato são responsáveis pela
metahemoglobinemia ou cianose em crianças com poucos meses de idade. A patologia é
caracterizada pela fixação de nitritos (produtos da redução dos nitratos pelas bactérias
redutoras presentes no trato intestinal dos lactantes) na hemoglobina do sangue, reduzindo
a oxigenação dos tecidos.

Nitritos
Os nitritos são encontrados em águas doces em concentrações normalmente
muito baixas (0,0001-1,0 mgN/L).
Em esgotos sanitários brutos a concentração de nitritos costuma variar entre
0,05 e 0,1 mg/L (respectivamente esgoto fraco e forte).
Os nitritos figuram como espécies tipicamente redutoras nos meios aeróbios,
sendo rapidamente oxidados a nitratos.
É indesejável a presença de nitritos em águas para consumo, devido a
ocasionarem cianose em lactantes.

Nitrogênio Total de Kjeldahl


O nitrogênio total de Kjeldahl (NTK) é também, muitas vezes, denominado
simplesmente nitrogênio total. Tal denominação é errônea, uma vez que sua determinação
não contempla os nitratos e nitritos, mas corresponde ao simples somatório do nitrogênio
orgânico e do amoniacal, ou seja, toda matéria nitrogenada que digerida e convertida a
amônia em laboratório seja determinada.
Em esgoto sanitário bruto, em geral, a concentração de NTK oscila entre 25 e 85
mgN/L.

3.2.3.17 Fósforo
O fósforo é normalmente encontrado em águas naturais como partículas
originárias da fragmentação das rochas que contêm esse elemento em sua composição e
como produto da decomposição da matéria orgânica. Na maior parte das águas de superfície
a concentração de fósforo varia entre 0,005 e 0,02 mgP/L na forma de fosfatos.
Concentrações de fosfatos tão baixas quanto 0,001 mg P/L podem ser encontradas em
algumas águas e tão altas quanto 200 mgP/L são detectadas em algumas águas salinas
interiores (GIASANTE, 1994). A concentração média encontrada em águas subterrâneas é de

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 234


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

0,02 mgP/L. Águas com concentrações superiores de fósforo indicam contaminação,


especialmente por detergentes ou lavagem de fertilizantes.
O fósforo é, geralmente, o nutriente limitante para o crescimento das algas e,
portanto, controla a produtividade primária de um corpo d’água. Neste sentido é
particularmente importante o controle das concentrações de fósforo em mananciais para
abastecimento. O descontrole dos níveis de fósforo e a possível eutrofização de um meio são
inconvenientes para os equipamentos das estações de tratamento de água e para a própria
qualidade sanitária do corpo hídrico.
Sendo um nutriente fundamental para as bactérias anaeróbias, recomenda-se
normalmente que sua concentração nos resíduos a serem digeridos obedeça às relações
DBO:P<100, N:P=5 e C:P=150 (fósforo na forma biodegradável).
O fósforo aparece atualmente nos esgotos em concentrações aproximadas a 20
mgP/L. As principais fontes de fósforo nos resíduos de aterro sanitário são a matéria
orgânica e os resíduos de detergentes.
Os fosfatos agem como agentes de tamponamento alcalino do meio anaeróbio,
sendo contribuintes para a alcalinidade potencial do mesmo.

3.2.3.18 Cloretos
A ocorrência de cloretos nas águas naturais é frequente em concentrações
baixas, normalmente inferiores a 5 ppm. Decorre do desgaste das rochas ígneas. O íon
cloreto é extremamente abundante nos esgotos e nos resíduos sólidos, tendo a particular
propriedade de apresentar alta mobilidade no solo. Desta maneira é um eficiente indicador
de poluição ambiental. O cloro é um micronutriente importante à digestão anaeróbia em
baixas concentrações. A presença do íon cloreto na água confere potencial corrosivo à
mesma (elevação do potencial redox). A maior objeção em relação aos cloretos na água para
consumo refere-se à depreciação das suas qualidades organolépticas (lhes confere sabor
desagradável).

3.2.3.19 Sulfatos
Em águas naturais (subterrâneas), os sulfatos derivam principalmente da gipsita
ou da anidrita (sulfatos de cálcio). Outros sulfatos importantes são o de magnésio e o de
sódio, que na água para consumo exercem efeito laxativo (principalmente acima de 1000
mg/L). Os sulfatos conferem gosto à água a partir 500 mg/L. Aparecem nos esgotos
sanitários brutos em concentração média de 10 mg/L.
Na digestão anaeróbia a presença de sulfatos origina sulfetos pela redução
microbiológica. Estes, por sua vez podem causar problemas ao processo. Estudos (SOUZA,
1982) afirmam que a digestão anaeróbia é inibida por concentrações de sulfatos acima de
6.750 mg/L. Recentemente, outros estudos [CHERNICHARO (1997)] demonstram que a inibição

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 235


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

das bactérias metanogênicas devido aos sulfatos é acentuada quando a relação DQO/SO4-2
atinge valores inferiores a 7,0, ocorrendo forte dependência do pH.
Em presença de elevadas concentrações de sulfatos, as bactérias sulforredutoras
(redutoras de sulfato) passam a competir com as fermentativas, o que pode levar a uma
alteração das rotas metabólicas da digestão anaeróbia. Em geral, ocorrerá redução das taxas
de formação de metano, sendo que inevitavelmente elevar-se-á a produção de gás sulfídrico
no meio.

3.2.3.20 Sulfetos
O gás sulfídrico (H2S) é tóxico, corrosivo e causa sérios problemas de odor e
sabor às águas. É letal aos peixes em concentrações de 1 a 6 mg/L.
Os sulfetos são gerados pela decomposição da matéria orgânica por via
anaeróbia, sendo agentes fortemente redutores. Provocam a depressão dos níveis de
oxigênio dissolvido nos cursos d’água gerando desequilíbrios ecológicos. Concentrações
menores do que 1,0 mg/L podem causar odor característico. Concentrações de
aproximadamente 2,8 mg/L de sulfetos são típicas dos efluentes domésticos (AMARAL, 1984).
Para as estações de tratamento os sulfetos também são problemáticos, uma vez que atuam
impedindo a floculação.
Os sulfetos na forma ionizada são tóxicos à digestão anaeróbia. Dados (VIEIRA e
SOUZA, 1981) indicam que, concentrações de 100 mg/L de sulfetos solúveis podem ser
toleradas sem aclimatação pela microbiota anaeróbia, e, com certa aclimatação,
concentrações de até 200 mg/L não ocasionam efeitos tóxicos relevantes. Devido à
capacidade de formarem compostos insolúveis com os metais pesados, os sulfetos
contribuem para a queda da toxidez em um meio anaeróbio concentrado em tais metais,
tendo em vista que na forma não ionizada nem os sulfetos nem os metais pesados são
agentes tóxicos.
Em baixas concentrações, os sulfetos são necessários para o crescimento
bacteriano. Conforme CHERNICHARO (1997), a quantidade requerida pelos organismos seria
próxima à do fósforo.
O H2S formado pela redução dos sulfatos dissocia-se em meio aquoso segundo as
equações (JANSEN apud CHERNICHARO, 1997):

H2S  H+ + HS- (3.2-19)

HS-  H+ + S-2 (3.2-20)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 236


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A forma H2S é a mais tóxica para a digestão anaeróbia. A toxidez do HS- é menor,
e a forma S-2 não é encontrada na faixa de pH típica da digestão anaeróbia.
O H2S dissolve-se na fase líquida em equilíbrio com o gás. A sua solubilidade irá
diminuir com o aumento da porcentagem de metano na fase gasosa (CHERNICHARO, 1997).
Assim, o aumento da DQO afluente do processo anaeróbio, aumentando a produção de CH4,
produzirá diminuição da toxidez pelo efeito da saída de H2S para a fase gasosa. É assumido
que uma relação DQO/SO4-2 maior do que 10 é suficiente para impedir a toxidez por sulfetos.

3.2.3.21 Fenóis
Os fenóis provocam odor e sabor desagradável na água potável já em
concentrações de 50 a 100 ppb. Podem influenciar no teste da DBO por serem poderosos
bactericidas. São tóxicos aos peixes em concentrações de 1 a 10 mg/L. Apresentam
toxicidade ao homem somente em elevadas concentrações.

3.2.3.22 Cianetos
O íon cianeto é muito tóxico, devido à sua capacidade de inibir o metabolismo do
oxigênio. Os diversos cianetos simples ou complexos possuem toxicidades diversas em
função de suas respectivas capacidades de dissociação nos diversos meios. O organismo
humano normalmente aceita pequenas quantidades de alimentos que contêm cianeto
(palmito, alface, repolho, etc.), convertendo-o em sulfeto complexo não tóxico. A toxidez
dos cianetos aumenta com a temperatura, o pH e a redução de oxigênio dissolvido. A
concentração de 0,025 mgCN/L é considerada tóxica para os peixes, sendo os
microorganismos geralmente mais tolerantes.
A matéria orgânica é a principal fonte de cianetos nos resíduos sólidos. Diversas
fontes industriais poderão ser responsáveis pela ocorrência de cianetos em aterro sanitário
uma vez que seus resíduos sejam encaminhados para esses locais, a saber: galvanização,
clarificação de metais, fabricação de borracha, plásticos e fibras acrílicas.

3.2.3.23 Fluoretos
São encontrados em águas naturais em pequenas concentrações. Podem derivar
da fluorita, principal fluoreto das rochas ígneas, ou de algum do considerável número de
complexos minerais de que os fluoretos participam. É um elemento essencial em
concentrações reduzidas, tendo efeito benéfico no sentido da proteção dos dentes contra as
cáries. Concentrações elevadas, no entanto, ocasionam o escurecimento do esmalte dos
dentes que estão em formação (em crianças), problema conhecido como fluorose. Em geral,
concentrações de 1 a 2,5 mg/L oferecem apenas o efeito benéfico. Os padrões estabelecidos
para a água de consumo levam em conta as temperaturas médias das regiões. Os fluoretos
aparentemente não interferem no crescimento das plantas.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 237


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

As fontes de fluoretos nos resíduos sólidos são os aerossóis, produtos para


higiene dentária, preservantes de madeira e certas tinturas têxteis.

3.2.3.24 Óleos e Graxas


Este parâmetro diz respeito a um grupo de compostos, a saber, triglicerídeos,
ácidos graxos, sabões, graxas, ceras, óleos e outros que podem ser extraídos pela hexana e
não volatilizam nas condições do teste. Tais compostos podem conferir odor e sabor à água
para consumo, tornando-a objetável. A presença das mesmas é frequente nos resíduos
sólidos e nos esgotos. Tanto podem provir de fontes animais e vegetais quanto de fontes
minerais.

3.2.3.25 Surfactantes
Por esta designação compreendem-se os agentes tensoativos que reagem com o
azul de metileno. A sua presença em aterros sanitários deriva de resíduos domésticos e
industriais. Sua toxicidade é baixa, porém, apresentam o inconveniente de formar espumas
que tornam a água para consumo objetável. Os surfactantes podem ser biodegradáveis ou
não, conforme sua cadeia carbônica. A expressão analítica refere-se normalmente aos dois
representantes mais comuns, a saber, os alquilbenzenos sulfonatos (ABS), que não são
biodegradáveis, e os alquilbenzenos sulfonatos lineares (LAS) - biodegradáveis
aerobicamente, mas pouco biodegradáveis em ambientes anaeróbios. Os surfactantes,
especialmente os aniônicos, exercem inibição sobre os sistemas anaeróbios (KHALIL et al.,
1988), podendo em alguns sistemas específicos modificar as rotas metabólicas, dependendo
da sua concentração no meio.

3.2.3.26 Coliformes Totais, Coliformes Fecais, Contagem de


Bactérias Heterotróficas, Escherichia coli
O grupo de bactérias coliformes inclui todos os bacilos aeróbios e facultativos os
quais adquirem cor rosa com a coloração de Gram (bactérias Gram-negativas), são não
esporulados, fermentam a lactose com produção de aldeído e gás em 24-48 h a 35-37oC. São
bactérias em forma de bastonetes de 0,2-0,3 m, capazes de crescer na presença de sais
biliares ou outros compostos ativos de superfície (surfactantes) com propriedades similares
de inibição de crescimento. No que se refere às técnicas de detecção, consideram-se
pertencentes a esse grupo todos os organismos que na técnica dos tubos múltiplos
fermentam a lactose a 35oC e no caso da técnica de membrana filtrante, aqueles que
produzem colônias escuras, com brilho metálico, a 35oC em meios de cultura do tipo Endo,
no prazo de 24 h.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 238


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os coliformes fecais constituem um subgrupo dos totais. Também chamados


coliformes termotolerantes, são definidos como o conjunto dos bacilos que apresentam
todas as características já mencionadas, porém à temperatura de incubação de 44,5±0,2oC.
Dentre os coliformes fecais, a Escherichia coli é o mais abundante, respondendo
por cerca de 90% dos coliformes fecais encontrados nas fezes de animais de sangue quente
(entre eles o homem). Esta espécie é a única exclusivamente fecal, sendo indicadora, por
excelência, de contaminação dos corpos hídricos por excretas.
As bactérias do grupo coliforme (total) apresentam-se nos animais de sangue
quente em concentrações de 106 a 109 organismos por grama de fezes, porém, seu
significado sanitário é restrito, uma vez que se fazem presentes em número elevado nas
águas naturais, solo e vegetais não poluídos.
Os coliformes fecais encontram-se nas excretas humanas em número médio de
7
1,3 x 10 organismos/(g fezes). A Tabela 3.2.3 apresenta os valores médios de coliformes
fecais por grama de fezes para vários animais (MENDONÇA et al., 1990).
Os coliformes fecais são constituintes naturais da flora intestinal, não sendo
patogênicos. Seu significado sanitário reside no fato de que sua presença é um indicativo da
contaminação do manancial por excretas. Caso algum dos indivíduos responsáveis por tal
contaminação seja portador de doença infecciosa, há uma grande probabilidade de que a
água em questão possa conter organismos patogênicos. Pesquisas (LISBOA, 1987) indicam
que existe proporcionalidade entre as concentrações de coliformes fecais de diversos
mananciais e as respectivas contagens de organismos patógenos.

Tabela 3.2.3 – Número médio de


coliformes fecais por grama de fezes
de diversos animais
Número médio de
animal coliformes
fecaisgrama de fezes
galinha 1,3 x 106
peru 2,9 x 105
pato 3,3 x 107
porco 3,3 x 106
ovelha 1,6 x 107
vaca 2,3 x 105
Fonte: MENDONÇA (1990)

O grupo dos coliformes fecais foi escolhido como indicador de contaminação


devido ao fato de serem pouco mais resistentes aos meios e tratamentos do que os
patógenos em geral, apresentarem-se em quantidades elevadas nas excretas, serem

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 239


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

passíveis de remoção em estações de tratamento de efluentes e de águas para consumo e


por sua determinação analítica ser mais simples e bem menos onerosa economicamente do
que a de outros organismos, especialmente os patogênicos. Ressalta-se, porém, que, sob
determinadas condições, certos vírus podem apresentar-se mais resistentes do que os
coliformes fecais. Destaca-se aí a importância do conhecimento prévio do corpo hídrico que
se deseja monitorar e as contribuições que o mesmo sofre, para definirem-se necessidades
específicas de análises mais sofisticadas.
Em efluentes de aterros sanitários de resíduos sólidos as contagens de
coliformes totais são numerosas, juntamente com aquelas de diversos outros
microorganismos. Os coliformes fecais se fazem presentes, oriundos de resíduos sanitários,
porém para longos tempos de residência, são substituídos, no processo de seleção, por
outros organismos. Podem aparecer nos lixiviados de aterro, porém tendem a ser eliminados
em filtros anaeróbios ou outros processos de tratamento de longo tempo de retenção.
No monitoramento de águas próximas a aterros de resíduos sólidos, o
aparecimento de elevado número de coliformes totais poderá, conjuntamente com outros
resultados avaliados, significar contaminação por lixiviados, desde que descartada a
contribuição de outros despejos. Uma contagem expressiva de coliformes fecais indica que
muito provavelmente a contaminação dá-se por esgotos ou excretas “in natura”.
Bactérias heterotróficas são organismos que necessitam de moléculas de alta
energia química disponível para o seu crescimento, diferindo das autotróficas, que são
sintetizadoras de tais moléculas a partir da energia disponível no meio e de moléculas
simples (como o dióxido de carbono). A maior parte das bactérias são heterotróficas, e,
portanto, o seu metabolismo está relacionado à transformação de compostos complexos em
outros, mais simples, com liberação de energia. São organismos ativos nos processos
aeróbios e anaeróbios. A contagem de bactérias heterotróficas (Pour Plate Method) é um
método analítico em que de 1 mL de amostra são feitas diluições que serão incubadas a 35 +
0,5oC por 48 h em “plate count agar” (agar padrão) de modo a desenvolverem-se colônias,
sendo atribuída a cada colônia uma UFC (unidade formadora de colônia). Analisadas
sucessivas diluições, a estimativa das UFC é efetuada a partir do momento em que uma
diluição n formar colônia e a diluição imediatamente superior n+1 não formar.
Contagens elevadas de bactérias heterotróficas relacionar-se-ão com
disponibilidade de matéria orgânica biodegradável no meio, e poderão significar presença de
poluição. Todavia diferentes substratos orgânicos poderão produzir superiores ou inferiores
crescimentos bacterianos, em função de sua biodegradabilidade. Superado um evento
poluente (no tempo ou no espaço) haverá um decréscimo natural das contagens de
bactérias hetrotróficas no meio.

3.2.3.27 Alumínio
É um metal encontrado em abundância nos solos e, por conseguinte, nas águas
naturais. Sua presença nos resíduos sólidos é abundante, principalmente devido à sua larga

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 240


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

utilização em bens de consumo, sobretudo embalagens. Em altas concentrações, o alumínio


afeta o crescimento das culturas vegetais, estando sua presença nos solos diretamente
relacionada à acidez dos mesmos.
Atualmente o alumínio está sendo considerado um metal neurotóxico,
responsável por certas doenças degenerativas do sistema nervoso central. Encontram-se em
estudo os mecanismos de sua ação patológica.

3.2.3.28 Arsênio
Ocorre naturalmente como arsenopirita (AsFeS). É um constituinte frequente das
águas naturais, ocorrendo como traços inofensivos à saúde. Teores mais elevados ocorrem
em zonas ricas no minério ou como contaminação por lavagem superficial de solos onde são
aplicados inseticidas, herbicidas e fungicidas à base desse elemento.
O arsênio é muito tóxico e causa ao homem enfermidades como a dermatose
arsenical crônica, advinda do seu efeito cumulativo e mesmo o câncer de pele e talvez do
fígado.
Normalmente é elemento ausente nos lixiviados de aterros. Sua presença
indicaria disposição de resíduos de pesticidas no local.

3.2.3.29 Bário
É um cátion que, devido à sua solubilidade extremamente baixa quando da
ocorrência como sulfato, apresenta-se apenas como traços em águas naturais. Ocorre na
forma de carbonato em algumas fontes minerais e também é encontrado em efluentes de
mineração. O bário é considerado um estimulante muscular, especialmente do coração. É
também capaz de ocasionar bloqueio do sistema nervoso e, mesmo em doses pequenas ou
moderadas, vasoconstrição, com elevação da pressão sanguínea. Não aparenta ter efeitos
cumulativos. As principais fontes de bário nos resíduos são as cinzas de ruas, resíduos de
tintas, metais e couros.

3.2.3.30 Cádmio
Ocorre na natureza principalmente na forma de sulfeto, sendo também
encontrado associado ao chumbo. Sendo insolúvel em água é encontrado como sedimento
de fundo ou partículas em suspensão nas águas naturais.
O cádmio é extremamente tóxico ao homem, apresentando efeito cumulativo.
Sua acumulação se dá em diversos órgãos do corpo e origina uma extensa série de
enfermidades ligadas, sobretudo, ao sistema cardiovascular. Em zonas poluídas por cádmio
as culturas irrigadas com águas contaminadas pelo metal podem acumular concentrações
suficientes para apresentar risco ao homem que consome tais alimentos.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 241


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Estudos (ROUSSEAUX et al., 1989) demonstram que no caso dos resíduos


brasileiros, as principais fontes de cádmio são os plásticos, a matéria orgânica, os metais não
ferrosos, as cinzas de ruas e as pilhas Ni-Cd. O teor médio de cádmio estimado para os
resíduos brasileiros, no final dos anos 1980, giraria em torno de 3 mgCd/(kg resíduo).

3.2.3.31 Chumbo
Devido à sua fraca solubilidade em água (aproximadamente 500 gL em água
branda e 3 gL em água dura) o chumbo apresenta-se apenas como traço em águas
naturais. Entretanto, em regiões ricas em galena (sulfeto de chumbo) sua concentração pode
alcançar 0,4 a 0,8 mgL. Outras formas naturais de ocorrência são como carbonato de
chumbo (cerusita), sulfato de chumbo (anglesita) e clorofosfato de chumbo (piromorfita).
Nos resíduos, a ocorrência de chumbo provém de metais ferrosos, plásticos,
couros, borracha, matéria orgânica, restos de combustíveis, cinzas de ruas, papéis e papelão.
Conforme ROUSSEAUX et al. (1989), os teores médios deste metal nos resíduos sólidos
brasileiros variavam, em finais dos anos 1980, entre 167-282 mgPb/(kg resíduo).
O chumbo e seus sais são extremamente tóxicos ao homem e aos animais e
possuem efeito cumulativo. Causam lesões nos sistemas neuromuscular, circulatório, no
cérebro e no trato digestivo. A toxicidade crônica ocorre quando da ingestão diária de 1,0
mg/L de chumbo, sendo denominada saturnismo.
Há indicações (AMARAL, 1984) de que há um deslocamento natural (geológico) de
5
1,8 x 10 toneladas de chumbo por ano no ambiente, e de que o deslocamento
(contaminação) de origem antropogênica é da ordem de 2,33 x 106 t/ano.

3.2.3.32 Cobre
Encontra-se na natureza na forma de cloretos, sulfatos (muito solúveis em água),
óxidos, sulfetos, carbonatos e hidróxidos (mais abundantes, porém pouco solúveis). Os
principais minérios de cobre são a cuprita, a pirita e a malaquita. Em águas naturais
apresenta-se em pequenas quantidades, sendo que a partir de pH 7 precipitam como
carbonato e hidróxido.
Nos resíduos sólidos o cobre aparece principalmente na matéria orgânica e
metais ferrosos, sendo fontes minoritárias o papel, couros, borrachas, plásticos, resíduos de
tintas e de inseticidas, cinzas de ruas e metais não ferrosos. Estimava-se, ao final da Década
de 1980 (ROUSSEAUX et al.,1989), que o seu teor nos resíduos brasileiros girasse em torno de
156 mgCu/(kg resíduo).
O cobre é um elemento-traço importante para as plantas, animais, homem e
microbiota anaeróbia, porém, em altas concentrações apresenta toxidez para todos esses
organismos. Há indicações de que esse metal é tóxico ao homem em quantidades de cerca
de 100 mg. Não possui efeito cumulativo.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 242


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Há estimativas (AMARAL, 1984) de que a dispersão anual geológica do metal seja


da ordem de 3,75 x 105 t, enquanto que a dispersão pela ação do homem seja de 4,5 x 106
t/ano.

3.2.3.33 Cromo
É um metal abundante na crosta terrestre (8 a 200 mg/kg) principalmente na
forma do minério cromita. Dificilmente é encontrado em águas naturais, devido à sua baixa
solubilidade em água. Embora o seu número de oxidação varie de +2 a +6, a forma trivalente
é a mais comumente encontrada na natureza.
O cromo na forma trivalente é essencial para o homem e para os animais como
elemento-traço, porém na forma hexavalente é extremamente tóxico, ocasionando desde
irritação das mucosas até câncer do pulmão.
Segundo os estudos de ROUSSEAUX et al. (1989), o teor médio de cromo nos
resíduos brasileiros era de 68 mgCr/(kg resíduo) nos finais da Década de 1980, e sua
ocorrência é devida principalmente aos couros, matéria orgânica, metais ferrosos e não
ferrosos, plásticos, vidros, papéis, papelão e cinzas de rua.
O monitoramento das concentrações de cromo tem importância estratégica na
digestão anaeróbia, uma vez que esse metal pesado não forma sulfetos suficientemente
insolúveis para inativar sua ação tóxica à microbiota. Conforme MOORE apud VIEIRA e SOUZA
(1981) uma concentração de 3 mg/L de cromo solúvel já causa inibição à digestão anaeróbia.

3.2.3.34 Ferro
É um constituinte normal das águas naturais. É elemento necessário ao corpo
humano (5 a 6 mg/dia), às plantas e aos animais. Apresenta-se, nas águas, dissolvido como
Fe+2 em concentrações de até 50 mg/L. Em contato com o oxigênio oxida-se a Fe+3
precipitando, devido à sua baixa solubilidade em pH alcalino ou moderadamente ácido,
como óxido férrico ou hidróxido férrico (a popularmente denominada ferrugem).
O efeito negativo do ferro na água para consumo diz respeito à qualidade
organoléptica, já que o mesmo confere sabor e cor à mesma, bem como manchas às
superfícies expostas à água contendo concentrações significativas do metal. Estima-se
(AMARAL, 1984) o movimento geológico de 2,5 x 107 t/ano de ferro, e a dispersão, por ação
antropogênica, de 3,19 x 108 t/ano do metal.
No que se refere à digestão anaeróbia, o ferro é um nutriente importante para a
metanogênese, ainda que possa causar inativação em altas concentrações.
O ferro é constituinte extremamente abundante nos resíduos, sendo suas fontes
as mais diversas, tendo em vista seu largo uso doméstico e industrial.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 243


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.2.3.35 Manganês
É um metal quimicamente bastante semelhante ao ferro. Ocorre em águas
naturais ainda que normalmente em concentrações menores do que as encontradas para o
ferro. É um elemento essencial ao metabolismo animal e necessário ao desenvolvimento das
culturas vegetais. Seu excesso provoca toxidez aos organismos.
Em geral o maior problema apresentado pelo manganês refere-se à depreciação
da qualidade organoléptica das águas contendo concentrações apreciáveis do metal, que
ocasiona sabor e cor às mesmas.

3.2.3.36 Mercúrio
É um metal pesado extremamente denso e líquido a temperatura e pressão
ordinárias. Encontra-se amplamente distribuído no ambiente. Estima-se (AMARAL, 1984) que
3000 toneladas anuais sejam dispersas por movimentos geológicos, enquanto 7000
toneladas sejam dispersas pela ação do homem no mesmo período de tempo. Diversos são
os usos do mercúrio nas atividades industriais, podendo resultar em poluição ambiental.
O mercúrio apresenta efeitos cumulativos em plantas e animais. A metilação do
mercúrio é um processo natural e que ocorre em condições anaeróbias ou pouco aeróbias,
sendo fundamental no processo de bioacumulação do metal nas cadeias tróficas. Nesta
forma, os peixes podem acumular, em seus tecidos, concentrações do metal milhares de
vezes mais elevadas do que as das águas em que vivem.
A intoxicação aguda com mercúrio causa ao homem morte em 10 dias. A
intoxicação crônica ocasiona danos neurológicos, psicomotores e genéticos.
Conforme os trabalhos de ROUSSEAUX et al. (1989), o teor médio de mercúrio nos
resíduos brasileiros era de 0,2 mgHg/(kg resíduo) no final da Década de 1980. As principais
fontes de mercúrio nos resíduos domiciliares são a matéria orgânica, os papéis, os plásticos,
as lâmpadas fluorescentes e as pilhas.

3.2.3.37 Níquel
Ocorre na natureza em minérios sulfurosos, combinado, em proporções
majoritárias, com outros metais. Estima-se (AMARAL, 1984) que 3 x 105 t/ano de níquel sejam
deslocadas naturalmente, enquanto 3,58 x 105 toneladas anuais são deslocadas por ação
antropogênica.
Os estudos de ROUSSEAUX et al. (1989) indicam que as fontes mais comuns de
níquel nos resíduos brasileiros são a matéria orgânica, os plásticos, as pilhas, o vidro, os
papéis, o couro, a borracha e as cinzas de ruas. Os mesmos estudos indicavam uma
concentração média de 12 mgNi/(kg resíduos) nos finais da Década de 1980.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 244


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No âmbito da digestão anaeróbia, o níquel é um nutriente importante às


bactérias anaeróbias. Seu excesso, porém, provoca inibição.
O níquel é considerado tóxico às plantas e a algumas comunidades aquáticas. No
homem pode provocar dermatites em indivíduos sensíveis e afetar nervos cardíacos e
respiratórios.

3.2.3.38 Prata
A prata não é encontrada com frequência nas águas naturais. Não é elemento
abundante na natureza e seus sais são insolúveis. O aparecimento de prata em águas
normalmente é indicativo de poluição. Estima-se (AMARAL, 1984) que 5 x 103 toneladas de
prata são deslocadas ao ano geologicamente, enquanto 7 x 103 toneladas são movimentadas
por ano pela ação do homem, espalhando-se pelo ambiente.
A prata apresenta ação tóxica ao homem, podendo ocasionar lesões irreversíveis
na pele além de outros problemas. Altas doses do metal podem ocasionar a morte do
indivíduo.
Nos resíduos, as fontes de prata são principalmente resíduos de filmes
fotográficos e radiográficos, tintas e resíduos de galvanoplastia.

3.2.3.39 Selênio
É um elemento quimicamente semelhante ao enxofre, frequentemente
acompanhando os sulfetos em veios minerais, podendo aparecer apenas como traços nas
águas naturais, geralmente encontrando-se nelas ausente.
O selênio pode ser encontrado, em altas concentrações, em regiões seleníferas.
Sua presença torna-se um problema, visto que certos vegetais apresentam capacidade de
extraí-lo e acumulá-lo em seus tecidos, transferindo-o ao gado que se alimenta desses
pastos, podendo tais animais sofrerem intoxicação crônica, aguda ou mesmo fatal. No
homem, o selênio pode causar intoxicação e cárie dentária além de possível ação
carcinogênica.
Apesar dos citados efeitos maléficos, o selênio é necessário como elemento-
traço ao desenvolvimento do homem, dos animais e das plantas, e como estimulante
nutricional à digestão anaeróbia.

3.2.3.40 Zinco
É encontrado na natureza usualmente como sulfeto, muitas vezes associado a
sulfetos de chumbo, cádmio, cobre e ferro. Devido à baixa solubilidade do sulfeto de zinco
em água, sua ocorrência em águas naturais pode ocorrer em sedimentos de fundo. É
encontrado como componente dos sistemas metabólicos de seres vivos, assim como em

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 245


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

verduras e cereais. É um elemento essencial para o crescimento dos animais, incluindo o


homem (que dele necessita 15 miligramas ao dia), apesar de apresentar efeito adverso a
algumas espécies marinhas. Em altas doses é tóxico ao homem. É micronutriente essencial
às plantas, sendo tóxico quando em altas concentrações.
Estima-se (AMARAL, 1984) que 3,7 x 105 toneladas de zinco são anualmente
deslocadas geologicamente, enquanto 3,93 x 106 t/ano são dispersas no ambiente por ação
do homem.
Nos resíduos sólidos o zinco apresenta-se, sobretudo, na matéria orgânica,
borrachas, metais não ferrosos, plásticos, papel e cinzas de ruas. Sua concentração média no
resíduo brasileiro oscilava em torno de 263-369 mgZn/(kg resíduo) no final da Década de
1990 (ROUSSEAUX et al. (1989).
O zinco é elemento-traço essencial para a digestão anaeróbia, como nutriente.
Porém, em concentrações elevadas causa inibição do processo anaeróbio.

3.2.4 Avaliação dos resultados analíticos


As coleções de resultados analíticos referentes a uma amostra podem não
resguardar apreciável sentido prático quando analisadas isoladamente. Um exemplo muito
simples disso seria traçar considerações sobre a concentração de ferro verificada em uma
amostra de água subterrânea de um poço. Em certos ambientes naturais, as concentrações
naturais do metal em água excedem em dezenas de vezes os limites estabelecidos nas
portarias de potabilidade, estando isso relacionado diretamente à geologia local. Qualquer
comentário traçado, necessariamente deve apoiar-se em dados pré-existentes da qualidade
das águas locais.
A tarefa de análise dos resultados do monitoramento demanda, em muitos
momentos, certo grau de subjetividade e de experiência do analista, que deve ponderar o
conjunto de resultados para traçar o perfil sanitário da amostra em análise.
Frequentemente, por mais elaboradas que sejam as metodologias de amostragem, certos
fatores inserem erros que conduzem à coleta e envio ao laboratório de uma amostra não
significativa. Também, com certa frequência, há presença de interferentes nos métodos
analíticos presentes nas amostras e, por fim, erros de análise também ocorrem. Um exemplo
do que pode ocorrer é submeter uma determinada amostra de efluente ao teste da
demanda bioquímica de oxigênio em 5 dias: se o laboratório não utilizar uma semente
devidamente aclimatada ao efluente, o resultado obtido poderá ser muito inferior à
verdadeira demanda obtida em condições otimizadas. Nesse mesmo ensaio, mesmo que
seja utilizada uma semente aclimatada ao tipo de substrato metabolizável, a presença de
algum agente inibidor à microbiota na amostra também conduzirá a um resultado pouco
realístico em termos de quantificação da matéria carbonácea biodegradável presente.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 246


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os resultados analíticos obtidos para uma amostra devem ser confrontados com
a série histórica do ponto de amostragem e com resultados provenientes de outro ponto, se
houver sentido real nessa comparação. Especificamente, recomenda-se as seguintes práticas
ao analista:
 para análise de águas subterrâneas: os resultados devem ser confrontados (a)
com a série histórica de resultados para o ponto de amostragem, e, de
maneira muito especial, com a série histórica obtida anteriormente ao início
da operação do empreendimento potencialmente poluente; (b) com os
resultados referentes a amostras colhidas na mesma época em outros pontos
de amostragem de águas subterrâneas do sítio, e, de maneira muito especial,
com o denominado “ponto branco”, que é um ponto de amostragem que não
sofre potencial influência do empreendimento (montante); (c) é preciso que
sejam observados aspectos pontuais de eventos e condições que possam
conduzir à contaminação ou poluição da água nas imediações do ponto de
coleta, e que não traduzirão efeitos ocasionados pelo empreendimento
diretamente (por exemplo, presença abundante de fezes de animais próximas
a um ponto de amostragem tenderão a elevar as contagens de coliformes);
 para análise de águas superficiais: (a) deve-se observar que certas
características alteram-se sazonalmente, em função de diferenças de
temperaturas ou da atividade fotossintética e isso deve ser levado em conta;
(b) em períodos de chuva, é comum o arraste de resíduos para as águas o que
pode modificar, em muito, certas condições do corpo hídrico; (c) corpos em
movimento, como arroios e córregos podem ter percursos muito longos a
montante do empreendimento, portanto, pode ser elevada a probabilidade
da existência de algum evento poluente a montante. Nesse sentido, é
necessário sempre confrontar os dados de jusante com os de montante; (d)
corpos de superfície variam sua vazão ao longo do ano, em função das
precipitações e estiagens: é necessário ter-se em mente que isso elevará as
concentrações se os despejos que tais corpos usualmente recebem
mantiverem-se constantes ao longo do período; (e) certas condições
específicas em lagoas e lagos podem levar à sua eutrofização. Iniciado o
processo ele tende a auto-alimentar-se através da morte e decomposição de
macrófitas, o que disponibilizará nutrientes ao meio;
 lixiviados: para um aterro operando em estado estacionário há uma tendência
global à variação das características do lixiviado uma vez que paulatinamente
a idade média dos resíduos vai elevando-se, então é preciso sempre
confrontarem-se resultados com a série histórica. Outro aspecto fundamental
a ser observado refere-se ao balanço hídrico, uma vez que concentrações e
diluições poderão decorrer de chuvas e da operacionlidade da retirada de
lixiviados das células;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 247


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 biogás: o monitoramento do biogás deverá fornecer, sobretudo, as


quantidades relativas de metano e dióxido de carbono e a vazão será um
indicativo relativo do nível de estabilização da matéria aterrada;
 sólidos aterrados: essa determinação deve ser executada após o
encerramento de uma célula, pois resultados de amostras coletadas durante a
operação não representarão necessariamente a realidade da camada
amostrada, que poderá conter material lixiviado das camadas subjacentes.
Após o encerramento da célula, os resultados serão mais confiáveis;
Para fins de comparação dos resultados analíticos obtidos no monitoramento de
diferentes pontos de amostragem, ou de um mesmo ponto em diferentes épocas, os
resultados singelos de uma única amostragem não apresentam significado estatístico.
Tomemos, por exemplo, concentrações de ferro em dois pontos de monitoramento, um a
montante, outro a jusante do empreendimento, em uma determinada data:
 montante: 0,2 mgFe/L;
 jusante: 7,0 mgFe/L.
Seria por demais simplista concluir-se que há um evento poluente entre ambos
os pontos: os resultados são pontuais. Verifique-se a série de resultados do semestre para os
mesmos pontos:
 montante: (a) 0,2 mgFe/L; (b) 18,0 mgFe/L; (c) 1,0 mgFe/L; (d) 7,0 mgFe/L;
 jusante: (a) 7,0 mgFe/L, (b) 8,0 mgFe/L; (c) 6,0 mgFe/L, (d) 7,0 mgFe/L.
Pode-se verificar que os resultados de montante apresentaram-se dentro de
uma faixa muito mais ampla de variação do que os de jusante. Essa variação em torno da
média é denominada estatisticamente de variância. Quanto menor a variância de um
conjunto de dados, mais confiável será a representatividade da média desse conjunto.
Quanto menores as variâncias individuais de dois conjuntos de dados, mais representativa
será a diferença entre suas médias, a fim de estabelecerem-se conclusões. É lógico que
quanto maior o número de dados (resultados) disponíveis, mais confiável será a média de
uma determinada coleção. A variância de um conjunto de dados é dada por:

s2 = [(xi-Xmédio)2]/(N-1)] (3.2-21)

Onde s2 é a variância, xi são os valores individuais de uma coleção de dados,


Xmédio é média aritmética dessa coleção de dados, e N é o número total de dados.
A NBR 13896/1997 - “Aterros de resíduos não perigosos: critérios para projeto,
implantação e operação” estabelece uma metodologia baseada na análise de variância,
utilizando a distribuição “t” de Student para comparar dois conjuntos de dados e concluir
sobre a significância da diferença entre as médias. Isto permite, de forma científica,
traçarem-se considerações sobre diferenças de características entre conjuntos de resultados

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 248


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

referentes ao mesmo ponto obtidos em diferentes épocas (especialmente períodos anterior


à instalação do empreendimento e pós-instalação) e coleções obtidas na mesma época para
diferentes pontos. Assim, a norma denomina:
 Xm: Média dos resultados do parâmetro no ponto avaliado;
 Sm2: Variância dos resultados do parâmetro no ponto avaliado;
 Nm: Número de resultados do parâmetro no ponto avaliado;
 Xb: Média dos resultados do parâmetro no "ponto branco";
 Sb2: Variância dos resultados do parâmetro no "ponto branco";
 Nb: Número de resultados do parâmetro no "ponto branco";
Os denominados “ponto avaliado” e “ponto branco” também podem ser
entendidos como “período em avaliação” e “período pré-operacional”, no caso de
comparações efetuadas sobre resultados do mesmo ponto. Calculadas as médias e
variâncias, define-se t* como segue:

t* = (Xm-Xb)/[(Sm2/Nm) + (Sb2/Nb)]0,5 (3.2-22)

O numerador da equação supra é a diferença entre as médias. No denominador, cada


quociente s2/N será tanto menor quanto menor for a variância e maior for o número de
resultados que produza a média, ou seja, o denominador será tanto menor quanto maiores
confiabilidades detiverem as médias. Quanto menor o denominador e quanto maior o
numerador (diferença entre as médias), tanto maior será o valor de t*. Quanto maior o valor
de t* mais significativa será a diferença entre as médias. O denominado tcrítico é dado pela
equação:

tcrítico = (Wb.tb + Wm.tm)/(Wb+Wm) (3.2-23)

Em que Wb = Sb2/Nb e Wm = Sm2/Nm, e tb e tm são valores da distribuição “t”


de Student:
 tb: valor tabelado de t (monocaudal) para (Nb-1) graus de liberdade e um
determinado nível de significância;
 tm: valor tabelado de t (monocaudal) para (Nm-1) graus de liberdade e um
determinado nível de significância;
Os valores da distribuição “t” de Student são tabelados. A Tabela 3.2.4 reproduz
a tabela anexa à norma previamente citada, com valores para a distribuição. Para cada
conjunto de resultados, o número de graus de liberdade será o número de resultados

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 249


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

disponíveis menos um. A norma indica trabalhar-se com 5% de significância. Buscam-se na


tabela então tm e tb.

Tabela 3.2.4 – Distribuição “t” de Student


Nível de Significância
40% 30% 20% 10% 5% 2,50% 1% 0,50% 0,05%
1 0,325 0,727 1,376 3,078 6,314 12,706 31,821 63,657 636,62
2 0,289 0,617 1,061 1,886 2,92 4,303 6,965 9,925 31,598
3 0,277 0,584 0,978 1,638 2,353 3,182 4,541 5,541 12,924
4 0,271 0,569 0,941 1,533 2,132 2,776 3,747 4,604 8,61
5 0,267 0,559 0,92 1,476 2,015 2,571 3,365 4,032 6,869
6 0,265 0,553 0,906 1,44 1,943 2,447 3,143 3,707 5,959
7 0,263 0,549 0,896 1,415 1,895 2,365 2,365 3,499 5,408
8 0,262 0,546 0,889 1,397 1,86 2,306 2,896 3,355 5,041
9 0,261 0,543 0,883 1,383 1,833 2,262 2,821 3,25 4,781
10 0,26 0,542 0,879 1,372 1,812 2,228 2,764 3,169 4,587
Número de graus de liberdade (N-1)

11 0,26 0,54 0,876 1,363 1,796 2,201 2,718 3,106 4,437


12 0,259 0,539 0,873 1,356 1,782 2,179 2,681 3,055 4,318
13 0,259 0,538 0,87 1,35 1,771 2,16 2,65 3,012 4,221
14 0,258 0,537 0,868 1,345 1,761 2,145 2,624 2,977 4,14
15 0,258 0,536 0,866 1,341 1,753 2,131 2,602 2,947 4,073
16 0,258 0,535 0,865 1,337 1,746 2,12 2,583 2,921 4,015
17 0,257 0,534 0,863 1,333 1,74 2,11 2,567 2,898 3,965
18 0,257 0,534 0,862 1,33 1,734 2,101 2,552 2,878 3,922
19 0,257 0,533 0,861 1,328 1,729 2,093 2,539 2,861 3,883
20 0,257 0,533 0,86 1,325 1,725 2,086 2,528 2,845 3,85
21 0,257 0,532 0,859 1,323 1,721 2,08 2,518 2,831 3,819
22 0,256 0,532 0,858 1,321 1,717 2,074 2,508 2,819 3,792
23 0,256 0,532 0,858 1,319 1,714 2,069 2,5 2,807 3,767
24 0,256 0,531 0,857 1,318 1,711 2,064 2,492 2,797 3,745
25 0,256 0,531 0,856 1,316 1,708 2,06 2,485 2,787 3,726
26 0,256 0,531 0,856 1,315 1,706 2,056 2,479 2,779 3,707
27 0,256 0,531 0,856 1,314 1,703 2,052 2,473 2,771 3,69
28 0,256 0,53 0,856 1,313 1,701 2,048 2,467 2,763 3,674
29 0,256 0,53 0,854 1,311 1,699 2,045 2,462 2,756 3,659
30 0,256 0,53 0,854 1,31 1,697 2,042 2,457 2,75 3,646
40 0,255 0,529 0,851 1,303 1,684 2,021 2,423 2,704 3,551
60 0,254 0,527 0,848 1,296 1,671 2 2,39 2,66 3,46
120 0,254 0,526 0,845 1,289 1,658 1,98 2,358 2,617 3,373
0,253 0,524 0,842 1,282 1,645 1,96 2,326 2,576 3,291
8

Fonte: NBR 13896/1997

Calculados t* e tcrítico, comparam-se os valores obtidos e conclui-se:


 se t* for igual ou maior do que tcrítico, então é possível concluir que houve
aumento significativo no parâmetro ao nível de significância adotado;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 250


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 se t* for menor do que menor do que tcrítico, então é possível concluir que não
houve aumento significativo no parâmetro ao nível de significância adotado.
O teste para o parâmetro pH é bicaudal: t* é tomado em seu valor absoluto e
tcrítico calculado para t bicaudal, ou seja, se normalmente se utiliza um nível de significância
de 5% nas análises, para o pH deve utilizar-se 2,5%. Isso se dá em virtude de que tanto
elevação como rebaixamento de pH podem traduzir modificações.
Repetindo-se os resultados hipotéticos anteriormente citados:
 montante: (a) 0,2 mgFe/L; (b) 18,0 mgFe/L; (c) 1,0 mgFe/L; (d) 7,0 mgFe/L;
 jusante: (a) 7,0 mgFe/L, (b) 8,0 mgFe/L; (c) 6,0 mgFe/L, (d) 7,0 mgFe/L.
Desejamos verificar se há diferença significativa entre as concentrações de ferro
a montante e a jusante, então teremos:
(1) Cálculo das Médias:
 montante: (0,2 +18+1+7)/4 = 6,55
 jusante: (7+8+6+7)/4 = 7
Observe-se que as médias são próximas, porém a dispersão dos resultados em
torno da média no caso do ponto de montante é muito maior do que a dispersão dos
resultados em torno da média no caso dos resultados do ponto de jusante, portanto os
resultados de montante produzirão uma maior variância em relação aos relativos ao ponto
de jusante, cuja média é bem mais confiável.
(2) Cálculo das variâncias:
 montante: [(0,2-6,55)2+(18-6,55)2+(1-6,55)2+(7-6,55)2)]/(4-1) = 67,47
 jusante: [(7-7)2+(8-7)2+(6-7)2+(7-7)2)/(4-1) = 0,667
(3) Cálculo de t*:
t* = (7-6,55)/(0,667/4+67,47/4)0,5 = 0,109
(4) Cálculo de tcrítico:
Para o cálculo será adotado, conforme recomenda a norma, um nível de
significância de 5%. Para cada conjunto de resultados temos (4-1) = 3 graus de liberdade,
então encontraremos na interseção da terceira linha com a quinta coluna da tabela o valor
da distribuição de Student (2,353) que será o valor de tb e tm (o número de resultados das
coleções poderia ser diferente, e, nesse caso, teríamos tb e tm diferentes). Os parâmetros
Wm e Wb correspondem aos quocientes das variâncias pelos respectivos números de
resultados das coleções. Assim, temos:
 Wm = 0,667/4 = 0,167;
 Wb = 67,47/4 = 16,87;
tcrítico = (0,167 x 2,353 + 16,87 x 2,353)/(0,167+16,87) = 2,353

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 251


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(5) Conclusão: t* é muito menor do que tcrítico, portanto a diferença entre as


médias não é significativa a 5%.
No exemplo, as médias apresentaram-se muito próximas, no entanto, pequenas
diferenças muitas vezes são altamente significativas. Suponhamos que os quatro resultados
obtidos para montante fossem iguais ou muito próximos a 6,55 e os quatro resultados
obtidos para jusante fossem iguais ou extremamente próximos a 7,00. Nesse caso as
variâncias seriam nulas ou muito próximas de zero, as médias seriam altamente
representativas e efetivamente sua diferença teria elevada significância.
Embora a metodologia apresentada seja a mais apropriada para uma análise
crítica dos resultados do monitoramento, frequentemente são utilizados padrões expressos
em portarias como referenciais de comparação. A utilização dos limites para potabilidade,
para balneabilidade e para classificação das águas, no intuito da avaliação sanitária de uma
determinada água, se por um lado não é significativa no sentido de traçarem-se conclusões
sobre a influência ou não do empreendimento sobre as águas regionais, por outro lado pode
servir para estabelecer um perfil da qualidade da água. Frequentemente os
empreendimentos para tratamento de resíduos sólidos recebem a acusação (justa ou
injusta) de estarem poluindo ou contaminando determinados mananciais. Ainda que a
avaliação isolada da qualidade de uma água de jusante em geral não estabeleça a
propriedade ou não das críticas, poderá concluir pela sua qualificação para os diversos usos,
independentemente da influência do potencial poluidor do empreendimento. Assim, pode-
se verificar sob que aspectos mantém-se a potabilidade de uma determinada água de lençol
freático, que talvez seja consumida sem tratamento a jusante, pode-se estabelecer se
determinado corpo de superfície presta-se à balneabilidade, o que muitas vezes ocorre nas
proximidades de um aterro, e pode-se concluir se houve modificação do enquadramento de
um corpo d’água de montante para jusante.

3.2.5 Noções de métodos geoelétricos


aplicados ao saneamento
Os denominados métodos geoelétricos de prospecção inserem-se dentro de uma
coleção maior de metodologias da denominada geofísica aplicada. Esse ramo tecnológico do
conhecimento baseia-se prospecção das estruturas geológicas através da determinação
remota das suas propriedades. As rochas e demais substratos apresentam diferentes
propriedades e, portanto, apresentarão diferentes respostas a perturbações induzidas.
Assim, conforme BRAGA (1997), a geofísica aplicada divide-se da maneira apresentada na
Figura 3.2.8.
A Geofísica Ambiental é a área da Geofísica que estuda, avalia e procura soluções
que possam minimizar os efeitos danosos ocasionados pela disposição de resíduos e
efluentes em interação direta com o ambiente.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 252


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A natureza não invasiva dos métodos geofísicos (não afetam e não destroem
camadas selantes naturais ou artificiais), aliada ao baixo custo, rapidez e facilidade de
aplicação dos ensaios, torna-os particularmente adequados para aplicação na prospecção e
estudo de tais problemas. De uma forma geral a utilização de geofísica na caracterização de
uma área afetada por compostos poluentes consiste na detecção e mapeamento da área
afetada, profundidade da zona saturada, direção do fluxo subterrâneo e profundidade do
substrato rochoso. O estudo dessas características possibilita a avaliação indireta do nível de
poluição do local para orientar medidas de monitoramento e remediação do volume
afetado.

Figura 3.2.8 – Divisão da geofísica aplicada

Fonte: o autor

Dentre os métodos geofísicos, os métodos geoelétricos baseiam-se nas


diferentes propriedades elétricas dos diferentes substratos, tais quais resistividade,
permeabilidade magnética e constante dielétrica para a determinação das diferentes seções
geológicas da parte superior da crosta terrestre. Tais métodos, em geral, baseiam-se na
medição de uma propriedade a partir de um campo artificialmente originado.
Dos métodos geoelétricos existentes, destaca-se, para aplicação em prospecção
de plumas de poluição/contaminação, a metodologia de medição de eletrorresistividade
(sondagem elétrica) através da indução de corrente elétrica em um meio geológico.
Conforme a Lei de Ohm, há uma relação de proporcionalidade entre a
intensidade de um campo elétrico aplicado (voltagem) e a corrente elétrica originada. A
constante de proporcionalidade, que é função do meio, é denominada resistência elétrica
(R). A resistência elétrica do meio será função da geometria do mesmo e da propriedade
intrínseca do material de constituição em resistir à passagem de corrente elétrica. Essa
propriedade intrínseca é denominada resistividade (). A resistência elétrica será, então,

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 253


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

uma função da resistividade do material que compõe o meio, do comprimento do condutor


e da seção do mesmo.

R = ./S (3.2-24)

R: resistência elétrica (ohm = V/A);


: resistividade (ohm.m);
: comprimento do condutor (m);
S: área da seção do condutor (m2)

A condutividade elétrica de um meio, inversamente à resistividade é definida


como:

k = (I x )/(V x S) (3.2-25)

k: Condutividade elétrica (ohm-1m-1 = siemens.m-1 = mho/m)


I : Corrente elétrica (A);
V: Diferença de potencial elétrico (V);

Assim, temos que:

k = 1/ (3.2-26)

É usual, em saneamento, expressar-se condutividade elétrica em mho/cm, dada


a ordem de grandeza dos resultados. Desta maneira, a Tabela 3.2.5 apresenta equivalências
para condutividades.

Tabela 3.2.5 – Equivalências para condutividades


A condutividade de... ...corresponde a...
1 mho/m = 1 S/m 1000 mmho/m = 1000 mS/m
6 6
1 mho/m = 1 S/m 10 mho/m = 10 S/m
1 mho/m = 1 S/m 10.000 mho/cm = 10.000 S/cm
1 mmho/m = 1 mS/m 1000 mho/m = 1000 S/m
1 mmho/m = 1 mS/m 10 mho/cm = 10 S/cm
Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 254


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os diferentes meios físicos apresentam diferentes resistividades. No caso das


rochas, a resistividade será função do tipo de matriz, da porosidade, da textura, da
distribuição dos poros, da resistividade do líquido presente nos poros e dos processos que
ocorrem nas superfícies de contato entre a matriz e as fases fluidas (MIRANDA et al.). A Tabela
3.2.6 apresenta a variação da resistividade para diversos materiais (obs.: uma resistividade
de 104 ohm.m corresponde a uma condutividade de 1 mho/cm).

Tabela 3.2.6 – Resistividades de alguns materiais


Material Resistividade (ohm.m)
-5
Pirita 5x10 – 1,2
-3 7
Hematita 8x10 – 10
-5 5
Magnetita 9x10 – 10
3 6
Quartzo 5x10 – 10
13
Sal Gema 50 – 10
6
Granito 100 – 10
4 6
Diorito 10 – 10
Grafite 10 - 100
9
Arenito 1 – 10
1 7
Calcário 7x10 – 10
Margas 5 – 100
Argila 1-10
Fonte: MIRANDA et al.

Se considerarmos individualmente o comportamento dos minerais poderemos


agrupá-los. Teremos assim, o grupo dos metais, em que predomina a condução eletrônica e
onde a resistividade varia entre 10-6 ohm.m e 10-4 ohm.m. (condutividades entre 108 e 1010
mho/cm). No grupo dos minerais, o comportamento se assemelha aos semicondutores,
que inclui materiais bons condutores (como a covelite) e maus condutores (como o quartzo).
Neste grupo a condutividade é muito influenciada pela temperatura, aumentando com ela.
O terceiro grupo é formado pelos minerais com condutividades muito baixas apresentando
habitualmente valores de resistividade superiores a 107 ohm.m (condutividades inferiores a
0,001 mho/cm).
A condutividade das águas subterrâneas pouco profundas varia entre 103 e 106
mho/cm (MIRANDA et al.), em função da sua salinidade, ainda que em condições usuais
águas de lençóis freáticos superiores apresentem condutividades normalmente inferiores a
100 mho/cm (10 mS/m).
No método da eletrorresistividade, uma corrente elétrica contínua é injetada no
solo através de dois eletrodos de corrente, denominados A e B, dispostos de forma
apropriada. Outros dois eletrodos, normalmente denominados M e N, são
convenientemente posicionados e utilizados para a leitura da diferença de potencial
originada pela passagem da corrente injetada no meio. A partir de tal leitura, utilizando-se as

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 255


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

equações específicas para o arranjo e equipamento usados, pode ser obtido o valor da
resistividade aparente do meio, uma vez que esse normalmente não será isotrópico.
Existe uma relação entre o afastamento dos eletrodos de corrente e a
profundidade efetiva de pesquisa, devido ao fato de que pelo menos 50% da corrente
injetada pela superfície fluirá por uma linha localizada a uma certa profundidade “z” da
superfície (vide Figura 3.2.9). Neste sentido, a voltagem lida pelos eletrodos de medição será
proveniente do efeito da corrente que flui entre o nível do solo e a profundidade “z”, com
superior preponderância da resistividade do substrato nessa profundidade. Essa
profundidade será função do arranjo geométrico dos eletrodos.

Figura 3.2.9 – Correntes que atravessam diferentes seções geológicas em um ensaio


geoelétrico

Fonte: o autor

Demonstra-se que resistividade aparente pode ser calculada conhecendo-se as


distâncias entre os eletrodos, a corrente “I” aplicada e a diferença de potencial lida nos
eletrodos de medição.
Normalmente, os equipamentos geoelétricos fornecem além da leitura da
voltagem, a leitura da resistividade aparente (a). Essa resistividade pode ser considerada
uma média ponderada das resistividades dos substratos presentes entre a superfície do solo
e a profundidade “z” (conforme mencionado, com predominância da resistividade do
material na profundidade “z”).
Duas técnicas geoelétricas são utilizadas nos trabalhos de campo: (a) a sondagem
elétrica vertical (SEV) e (b) o caminhamento elétrico. No caso da SEV, a resistividade é
medida de maneira pontual, a partir de medidas efetuadas na superfície do terreno

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 256


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No arranjo mais comumente utilizado no Brasil, dentro da técnica SEV, o Arranjo


de Schlumberger, a distância entre os eletrodos A e B é muito maior (normalmente mais de
cinco vezes) a distância entre os eletrodos de leitura M e N. Enquanto os últimos
permanecem fixos, a uma distância “a” entre si, os eletrodos de corrente são
progressivamente afastados, o que permite leituras da resistividade aparente a
profundidades crescentes (Figura 3.2.10).

Figura 3.2.10 – Desenvolvimento de uma SEV pelo Arranjo de Schlumberger

Fonte: o autor

Como produto da sondagem, normalmente as resistividades aparentes são


plotadas em função das distâncias AB/2, em gráfico log x log, conforme Figura 3.2.11.
A partir da alimentação de diferentes leituras de resistividades para uma
determinada profundidade, o que é obtido para iguais espaçamentos AB de eletrodos
instalados em diversos pontos de uma mesma área, em programas computacionais
específicos que realizam interpolações, podem ser obtidas curvas de resistividade ou
condutividade em que a propriedade recebe diferentes tonalidades de cor, em um
gradiente, ao longo do espaço xy (horizontal), plotadas sobre a planta da área. Uma coleção
de cartas é obtida para diferentes profundidades de sondagem (Figura 3.2.12).

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 257


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 3.2.11 – Plotagem de uma SEV

Fonte: o autor

Figura 3.2.12 – Carta de condutividade ao longo do espaço xy para uma profundidade


estabelecida

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 258


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

TAMPONAMENTO: efeito de resistência à modificação do pH levada a efeito por espécies


químicas específicas.

ISOTRÓPICO: porção de matéria na qual as propriedades mantém-se inalteradas em todos


os seus pontos.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 259


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

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Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 261


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.3 TRATAMENTO DE
LIXIVIADOS

3.3.1 Introdução
Devido à composição variável apresentada pelos lixiviados de diferentes aterros
e ao longo do tempo em um mesmo aterro, embora a princípio todos os processos de
tratamento de águas residuárias sejam aplicáveis, não há uma metodologia de tratamento
padronizada, eficiente e prontamente aplicável a todos os casos.
Também, no sentido da escolha de uma metodologia de tratamento, intervêm
fatores relacionados à existência de área e disponibilidade de recursos para implantação,
operação e manutenção de um sistema dedicado ao tratamento dos lixiviados, ou à
existência de estações locais de tratamento de esgotos com capacidade de absorção das
cargas geradas pelo aterro.
No caso da construção de um sistema dedicado, a escolha dos processos de
tratamento dependerá da área disponível, da disponibilidade econômica dos insumos
necessários e mesmo de fatores relacionados a topografia, hidrologia e climatologia local.
Neste sentido, a escolha por um sistema particular de tratamento de lixiviados
deve estar inserida no contexto amplo do planejamento técnico do aterro, ou, no caso de
aterros já em operação, no contexto das variáveis locais e possibilidades técnico-
econômicas. Em qualquer um dos casos, o fator econômico é preponderante, devendo ser
observados os critérios e padrões determinados pelo órgão ambiental de jurisdição.
O projeto de uma estação para tratamento de lixiviados não é tarefa simples,
uma vez que os efluentes líquidos dos aterros não apresentam um padrão de composição
como outros efluentes específicos. QASIM e CHIANG (1994) salientam que durante o período
de operação de uma estação de tratamento, além da modificação das características do
próprio lixiviado, leis e regulamentações modificar-se-ão, novas tecnologias surgirão
enquanto outras evoluirão, e fatores econômicos poderão modificar-se, de modo que será
requerida flexibilidade ao sistema proposto.
No Brasil é muito comum o tratamento conjunto de lixiviados com esgotos
domésticos. Embora muito se fale que tal tratamento consista “mais em uma diluição do que
tratamento propriamente dito”, a afirmativa não é necessariamente verdadeira. Um dos

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 262


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

fundamentais problemas associados ao tratamento dos lixiviados encontra-se na elevada


concentração de amônia e de compostos húmicos, os quais conferem elevado grau de
inibição microbiológica ao efluente. Através da diluição de pequenos volumes de lixiviado
em um efluente menos concentrado reduzem-se as concentrações e o efluente final
apresenta-se bem mais propenso ao metabolismo bacteriano do que o lixiviado puro.
A osmose reversa tem sido reconhecida como um método realmente eficiente,
em que pese o seu elevado custo, o qual pode chegar a US$ 40,00 por metro cúbico.
Relataremos diversas experiências utilizando várias metodologias distintas. O
leitor deve-se atentar ao fato de que algumas tecnologias, embora não propiciem
alcançarem-se os padrões para emissão, podem proporcionar elevadas eficiências
associando reduzidos custos, de modo a que um efluente bem menos concentrado possa ser
submetido a posteriori a uma metodologia avançada ou ao tratamento conjunto com
esgotos, de modo obter-se um efluente final pronto para o lançamento. O autor, por
exemplo, trabalhou com filtros anaeróbios de pedra, verificando que para longos tempos de
detenção pode-se chegar a até 80% da eliminação da demanda de oxigênio dos lixiviados,
sem custos de operação. Da mesma forma, o autor verificou que a coagulação-floculação
utilizando coagulantes férricos proporciona elevadas remoções de cor, turbidez e DQO a
custo bastante baixo. Devemos, porém, atentar ao fato de que não há, neste momento, uma
“receita de bolo” pronta para utilização em todos os casos indistintamente. Embora alguns
autores no mundo reportem experiências bem sucedidas e estarem conseguindo emitir
efluentes dentro dos seus respectivos padrões para emissão, o tratamento de lixiviados
ainda persiste como um desafio, sendo estudado no mundo inteiro, principalmente com o
intuito de se produzir uma solução simples, pouco onerosa, e aplicável a qualquer
composição do efluente.
Todavia, antes de pensarmos em tecnologias para o tratamento dos lixiviados
cabe responder-se à pergunta “quais são as reais demandas de tratamento que os lixiviados
apresentam?” Durante um curto espaço de tempo após o início da operação de um aterro
sanitário, os lixiviados gerados apresentam-se verde-escuros, com elevadas demandas de
oxigênio, baixas concentrações de nitrogênio, baixos valores de pH e elevadas concentrações
de metais. Ao cabo de alguns meses, a partir da predominância da fase acidogênica e
gradual início da metanogênese o líquido torna-se negro, elevam-se as concentrações de
nitrogênio e rebaixam-se as demandas de oxigênio e as concentrações dos metais, bem
como eleva-se o pH. Desconsiderando-se esse primeiro período, bem como o período de
tempo que sucederá ao encerramento do aterro, teremos a geração de um lixiviado com
características razoavelmente situadas entre limites. Esse é o denominado lixiviado maduro,
que corresponde basicamente ao efluente produzido pelos aterros em operação em estado
estacionário, o caso mais comum que encontraremos.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 263


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.3.2 Análise das demandas de tratamento


requeridas pelos lixiviados maduros
Como já anteriormente mencionado, os lixiviados de aterros sanitários
respondem por composições complexas, cujas concentrações das diversas espécies químicas
neles presentes dependem de vários fatores, sobretudo das composições médias dos
resíduos recebidos pelos aterros e pelo regime de chuvas de cada localidade. No estado do
Rio Grande do Sul, por exemplo, a partir da vigência da Resolução do Conselho Estadual do
Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul – CONSEMA – 73/2004, aos aterros
sanitários municipais não mais se mantém facultado o recebimento de cargas de resíduos
sólidos provenientes de processos industriais. A progressiva publicação de instrumentos
legais que vedam o descarte, a aterros, de resíduos sólidos especiais provenientes de
produtos de amplo e difuso consumo social, aliado à crescente consciência ambiental das
comunidades e às soluções, paliativas ou definitivas, constituídas para encaminhamento de
tais resíduos a destinos mais adequados, conduzem à progressiva diminuição do grau médio
de periculosidade dos resíduos ingressos nos sítios municipais de disposição final de resíduos
sólidos, o que, por sua vez, conduz à superior biodegradabilidade das cargas, à diminuição
da toxicidade e à melhoria da tratabilidade dos lixiviados por eles gerados.
Os instrumentos que estabelecem os padrões nacionais para emissão de
efluentes em corpos hídricos de superfície no país são as resoluções CONAMA 357/2005 e
430/2011. Utilizando os dados provenientes (1) de estudos reportados pela bibliografia
especializada e (2) provenientes do monitoramento de lixiviados de aterros sanitários
operados em estado estacionário, podemos estabelecer um exercício para inferir quais as
necessidades de tratamento associadas aos lixiviados. As demandas de tratamento dos
lixiviados podem ser divididas nas seguintes categorias:
 metais;
 características primárias, estéticas e microbiológicas: pH, sólidos, odor, cor,
turbidez e coliformes termotolerantes;
 nutrientes: nitrogênio e fósforo;
 matéria carbonácea biodegradável e recalcitrante;
 outras espécies químicas, incluindo as responsáveis por toxicidade.

Metais
A Resolução CONAMA 430/2011 estabelece limites para emissão relativos a
quinze espécies metálicas. No caso do estado do Rio Grande do Sul, assim como em outros
estados que possuem legislações próprias instituindo limites para emissão, tais limites são
mais conservadores do que os definidos pelo CONAMA. Para fins de um exercício, a Tabela
3.3.1 apresenta os limites instituídos no Rio Grande do Sul pela Resolução CONSEMA

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 264


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

128/2006 para 21 espécies metálicas, bem como dados provenientes do monitoramento de


nove aterros sanitários operando em regime estacionário e resultados típicos para lixiviados
maduros, estabelecidos pelos estudos de EHRIG (1989). O autor optou por tomar os limites
estabelecidos para o Rio Grande do Sul para tal exercício por abrangerem maior número de
espécies metálicas e serem mais restritos.

Tabela 3.3.1 – Concentrações de metais nos lixiviados maduros provenientes de diferentes


aterros sanitários
Metal /
Aterro a b c d e f g h i L
(N=103); (N=81); (N=349 ); (N=17); (N=SI);
Alumínio
ND-5; N+: ND-10,5; ND-64 ; - 7,9-8,5; <0,02-0,92; - - - 10,0
(mgAl/L) 0 N+: 1 N+: 7 N+: 0 N+: 0
(N=1); (N=SI); M:
Arsênio (N=2); ND;
0,013; N+: - - - - - 0,155; N+: 0,005-1,6 0,1
(mgAs/L) N+: 0
0 SI
(N=SI);
(N=89); (N=75); (N=213);
Bário 0,006-
ND-7,72; ND-96; N+: ND-4,28; - - - - - 5,0
(mgBa/L) N+: 1 1 N+: 0
0,164; N+:
0
(N=SI);
Boro
- - - - - 1,82-9,63; - - - 5,0
(mgB/L) N+: SI
(N=20); (N=17); (N=SI);
(N=102); (N=79); (N=372); (N=SI); M:
Cádmio 0,005- 0,001- <0,008- 0,0005-
ND-0,05; ND-0,07; ND-0,037; - 0,015; N+: 0,1
(mgCd/L) N+: 0 N+: 0 N+: 0
0,605; N+: 0,158; N+: 0,012; N+:
SI
0,14
SI SI 0
(N=SI);
(N=103); (N=81); (N=373); (N=20); (N=17);
Chumbo <0,04- (N=SI); M: (N=SI); M:
ND-8,0; 0,03-0,75; ND-0,4; <0,02; N+: 0,016-0,9; 0,008-1,02 0,2
(mgPb/L) N+: 12 N+: 43 N+: 13 SI N+: SI
<0,06; N+: ND; N+: SI 0,41; N+: SI
0
(N=SI);
Cobalto <0,008-
- - - - - - - 0,004-0,95 0,5
(mgCo/L) 0,011; N+:
0
(N=17); (N=SI);
(N=102); (N=81); (N=371); (N=SI); M:
Cobre 0,056- 0,008-
ND-5,0; 0,04-0,26; ND-0,371; - - 0,775; N+: 0,004-1,4 0,5
(mgCu/L) N+: 7 N+: 0 N+: 0
0,388; N+: 0,061; N+:
SI
0 0
Cromo (N=SI);
(N=102); (N=81); (N=372 ); (N=20); (N=17);
<0,015- (N=SI); M:
Total 0,002-1,8; 0,06-3,2; ND-1; N+: 0,05-0,56; 4,74-14,35;
0,092; N+: 0,84; N+: SI
- 0,03-1,6 0,5
(mgCr/L) N+: 2 N+: 24 7 N+: SI N+: SI
0
Cromo
(N=SI); M:
Hexava-
- - - - - - - 0,215; N+: - 0,1
lente SI
(mgCr+6/ L)
Estanho
- - - - - - - - 0,03-45 4,0
(mgSn/L)
Ferro (N=103; (N=81); (N=372); (N=17); (N=SI); (N=SI); M:
(N=20);
Total 0,56-28; 0,95-51; 0,76-335;
2,2-11,36
7,72-164,4; 1,28-4,90; 46,14; N+: - 3-280 10,0
(mgFe/L) N+: 6 N+: 12 N+: 154 N+: SI N+: 0 SI
(N=SI);
Lítio 0,017-
- - - - - - - - 10,0
(mgLi/L) 0,171; N+:
0
Manganês (N=SI);
(N=103); (N=81); (N=372); (N=17);
0,028-
(mgMn/ ND-6,3; 0,14-5; N+: 0,04-36,5; - 0,12-1,49;
1,541; N+:
- - 0,03-45 1,0
L) N+: 17 10 N+: 3 N+: SI
SI
(N=102); (N=80); (N=359); (N=SI); M:
Mercúrio 0,0002-
ND-0,01; ND-0,004; ND-0,023; - - - - 0,175; N+: 0,01
(mgHg/L) N+: 0 N+: 0 N+: 3 SI
0,05

continua

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 265


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.1 – Concentrações de metais nos lixiviados maduros provenientes de


diferentes aterros sanitários (continuação)
Metal /
Aterro a b c d e f g h i L
Molibdê- (N=SI);
nio 0,004-
- - - - - - - 0,5
(mgMo/ <0,015; N+:
0
L)
(N=17);
(N=103); (N=81); (N=372); (N=SI);
Níquel 0,319- (N=SI); M:
ND-0,67; 0,2-0,77; ND-0,79; - 0,02-0,27; - 0,02-2,5 1,0
(mgNi/L) 0,387; N+: 1,48; N+: SI
N+: 0 N+: 0 N+: 0 N+: 0
0
(N=21); (N=17);
Prata 0,004- 0,037-
- - - - - - - 0,1
(mgAg/L) 0,065; N+: 0,039; N+:
0 0
Selênio (N=2); ND; (N=1); ND;
- - - - - - 0,05
(mgSe/L) N+: 0 N+: 0
(N=SI);
Vanádio
- - - - - 0,31-0,32; - - - 1,0
(mgV/L) N+: 0
(N=SI);
(N=103); (N=81); (N=20); (N=17); (N=SI); M:
Zinco (N=325); 0- 0,035- (N=SI); M:
0,006-3,9; 0,48-2,75; 0,07-0,21; 0,43-5,8; 13,68; N+: 0,03-4,0 2,0
(mgZn/L) 140; N+: 5 0,429; N+: 3,22; N+: SI
N+: 2 N+: 1 N+: SI N+: SI SI
0
*M: média dos resultados do período; N: número de resultados analíticos disponíveis; ND: não detectado; N+: número de
resultados analíticos que superam o limite para emissão; SI: sem informação
**(a) Aterro da Extrema, Porto Alegre (1998-2013); (b) Aterro Santa Tecla, Gravataí, RS (1998-2004); (c) Aterro Zona Norte,
Porto Alegre (1991-2013); (d) Aterro Sanitário de Belo Horizonte, Minas Gerais (2010); (e) Aterro de Mérida, Mérida,
Yucatan, México (2002-2003); (f) Aterro de Ottawa-Carleton Trail Road, Ottawa, Canadá; (g) Aterro do Jangurussu,
Fortaleza, Ceará (1996-1997); (h)Aterro de Calle, Havana, Cuba (2004); (i) Características dos Lixiviados em Fase
Metanogênica (Ehrig, 1989); L: limites para emissão estabelecidos no estado do Rio Grande do Sul.
a,b,c d e f g h
Fontes: FLECK (2014); MORAVIA (2010); MÉNDEZ et al. (2009); KENNEDY e LENTZ (1999); OLIVEIRA E MOTA (1998), ESPINOSA
I L
LLÓRENS (2010), EHRIG (1989); RIO GRANDE DO SUL (2006).

A observação da Tabela 3.3.1 leva a concluir que dos metais avaliados aqueles
que mais frequentemente apresentam-se em concentrações superiores aos seus respectivos
limites para e emissão são ferro, manganês, cromo e chumbo. Observa-se que, além dos
processos normais de quelação na matriz do aterro e biossorção no meio biológico aderido
aos resíduos em decomposição (aterro sanitário imaginado como um grande biofiltro
anaeróbio), em função da progressiva elevação do pH dos lixiviados com o envelhecimento
do aterro, é esperada progressiva precipitação dos metais, especialmente na forma de
sulfetos metálicos. Na instância do tratamento dos lixiviados, são esperadas importantes
remoções de metais por efeitos de biossorção em lodos biológicos, bem como por
precipitação em processos físico-químicos. Para fins do atendimento aos limites
estabelecidos, ao final de uma sequência de processos de tratamento, se necessário, pode-
se prever a alocação de um processo específico de precipitação química, havendo inúmeras
experiências apontando a conveniência da utilização de hidróxido de cálcio para tal.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 266


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Características paramétricas físicas,“estéticas” e microbiológicas


No Quadro 3.2.1 são reproduzidos os limites e exigências expressos aplicados no
país e no estado do Rio Grande do Sul para pH, coliformes termotolerantes e para
características de ordem física e estética em relação à emissão de efluentes líquidos.
Os lixiviados jovens apresentam cor esverdeada, odor fétido muito pronunciado
e pH virtualmente inferior a 6,0. Com o decorrer da vida útil do aterro, os lixiviados, então
maduros, apresentarão cor negra, forte odor especialmente decorrente da amônia, dos
ácidos voláteis e dos sulfetos. Devido ao efeito de filtragem física no seio do aterro, os
lixiviados não apresentam materiais flutuantes e sólidos grosseiros, e, em geral, suas
concentrações de sólidos suspensos totais e sedimentáveis são pouco elevadas. Devido a
efeitos de saponificação dos óleos e gorduras presentes no lixiviado, há intensa formação de
espumas quando o efluente encontra-se sob agitação. O pH de um lixiviado maduro
proveniente de um aterro sanitário em estado estacionário virtualmente apresentará valores
superiores a 7,0 e inferiores a 9,0. Deve-se ressaltar que os processos de tratamento
biológicos e físico-químicos são muito efetivos na remoção de cor, turbidez, odor e sólidos
suspensos. O pH de um lixiviado efluente a um sistema de tratamento será função dos
processos e ajustes a que for submetido, ainda que geralmente situe-se dentro da faixa
adequada para emissão.

Quadro 3.2.1 - Limites e exigências expressos na Resolução CONSEMA


128/2006 e pelo CONAMA 430/2011 para pH e parâmetros de ordem física
e estética para emissão de efluentes líquidos
Parâmetro/Característica Limite/Condição para emissão
Sólidos Sedimentáveis em 1 hora
1,0 (Rio Grande do Sul)
(mL/L)
o Eficiência mínima de remoção de 20%, após
Sólidos Totais Suspensos a 105 C
desarenação (CONAMA)
Não deve conferir mudança de cor
Cor verdadeira no corpo hídrico receptor (Rio
Grande do Sul)
Espumas Virtualmente ausentes (Rio Grande do Sul)
Sólidos grosseiros e materiais
Ausentes (CONAMA, Rio Grande do Sul)
flutuantes
Livre de odor desagradável (Rio Grande do
Odor
Sul)
5,0-9,0 (CONAMA); 6,0 – 9,0 (Rio Grande do
pH
Sul)
3 5
NMPF < 10 - 10 ou remoções de 95,0-
Coliformes termotolerantes 99,0%, função da vazão de lançamento (Rio
Grande do Sul)
o
< 40 C, variação de temperatura do corpo
o
Temperatura receptor não deverá exceder a 3 C no limite
da zona de mistura (CONAMA)
Fonte: RIO GRANDE DO SUL (2006), BRASIL (2005), BRASIL (2011)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 267


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

As concentrações máximas de sólidos suspensos totais permitidas para


lançamento em corpos de superfície no Rio Grande do Sul são estabelecidas como uma
função da vazão de lançamento, variando entre 50 e 180 mg/L, ao passo que o CONAMA
estabelece uma eficiência mínima de remoção. Tais concentrações, no lixiviado efluente de
um sistema de tratamento, serão função da efetividade das unidades que promovam
sedimentação dos sólidos biológicos e físico-químicos (decantadores), bem como poderão
ser obtidas reduções utilizando-se sistemas físicos dedicados relativamente simples a
jusante.
As contagens de coliformes termotolerantes ou Escherichia coli, organismos
indicadores da virtual presença de patógenos, normalmente não são elevadas nos lixiviados
maduros, em função das condições reinantes no aterro apresentarem-se mais favoráveis ao
desenvolvimento de outras cepas heterotróficas, estabelecendo-se, via seleção biológica,
elevada supressão das cepas fecais e patógenas, o que se incrementa nas unidades de
tratamento biológico, químico e físico-químico.
Embora a temperatura dos lixiviados, quando no seio do aterro, seja mais
elevada do que a temperatura ambiente na estação fria, após a passagem do lixiviado pelos
sistemas de tratamento há tendência de o mesmo estabilizar-se à temperatura ambiente.

Nutrientes: nitrogênio e fósforo


Os lixiviados gerados em regiões nas quais o percentual de matéria orgânica na
composição dos resíduos sólidos seja expressivo, apresentarão concentrações de nitrogênio,
nas formas orgânica e amoniacal, muito expressivas, podendo alcançar e inclusive superar o
patamar de 4000 mgN/L, sendo essa questão reconhecida como o mais relevante problema
no tratamento dos lixiviados de aterros sanitários.
Também, via de regra, as concentrações de fósforo presentes nos lixiviados
superam o limite para lançamento, sendo ambos, nitrogênio e fósforo, fatores de
eutrofização dos corpos receptores, traduzindo-se tal como crescimento excessivo de
bactérias filamentosas, fungos, micro e macro algas e outros organismos vivos que
geralmente ocasionam desequilíbrio ecossistêmico nos corpos receptores. Adicionalmente,
o nitrogênio nas formas orgânica e amoniacal exerce demanda de oxigênio, podendo, por
depleção das concentrações de oxigênio dissolvido (OD), ocasionar mortandade de espécies
aquáticas ou mesmo anaerobiose no corpo receptor. A oxidação do nitrogênio conduz à
geração de nitratos e nitritos na água, compostos precursores da metahemoglobinemia,
também conhecida como doença do bebê azul, originada pela ligação estável entre o íon
nitrito e a hemoglobina do sangue, o que ocasiona asfixia.
A amônia livre (NH3) exerce toxicidade sobre os organismos vivos. Conforme
SILVA, F. (2009), para peixes, as concentrações letais de amônia livre variam de 2,5 a 25
mgN/L. Tais limites são função da espécie de peixe considerada, da temperatura e do pH da
água, além da presença concomitante de outras espécies químicas na mesma água.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 268


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A Resolução CONAMA 357/2005 estabelece concentração máxima de 20 mgN/L


para o nitrogênio amoniacal para emissão. No caso do Rio Grande do Sul a concentração
máxima total de fósforo no efluente é estabelecida em função das vazões de lançamento,
centrando-se em 1,0-4,0 mgP/L. No caso do nitrogênio, o limite se traduz na necessidade de
elevadas eficiências de remoção, frequentemente acima de 99%. O fósforo é o nutriente
normalmente escasso em relação à relação DQO:N:P requerida para otimização dos sistemas
biológicos de tratamento dos lixiviados, mas excessivo em relação aos padrões para emissão.
Suas concentrações, ao final de um sistema de tratamento serão função de diversos
aspectos específicos, podendo ser aplicadas metodologias específicas para seu abatimento
como procedimento final prévio à emissão. Tal aspecto apresenta-se altamente relevante,
pois fósforo é, normalmente, o nutriente limitante nos corpos hídricos para o início da
eutrofização.

Matéria carbonácea: DBO5 e DQO e COT


A estabilização da matéria carbonácea termodinamicamente instável presente
nos efluentes diversos constitui-se em um dos objetivos fundamentais do estudo do
tratamento de efluentes, sobretudo do denominado tratamento biológico. Principalmente
(mas não exclusivamente) à carga carbonácea biodegradável dos efluentes está associado o
conceito de poluição dos recursos hídricos: os compostos carbonáceos presentes nos
efluentes constituem-se em substratos para o metabolismo, e, portanto, para o crescimento
microbiológico, o que em corpos d’água resulta em um consumo adicional do oxigênio
dissolvido presente, necessário também ao metabolismo de outras espécies aquáticas,
estabelecendo-se competição e desequilíbrio das condições ambientais.
Os lixiviados são águas residuárias que apresentam demanda de oxigênio muito
mais elevada do que os esgotos domésticos. Embora as concentrações das espécies químicas
e poluentes orgânicos associados ao esgoto sanitário sejam pouco variáveis, no caso dos
lixiviados de aterros sanitários, como já anteriormente referido, ocorre uma ampla faixa de
variação das características, em função das diversas condições de contorno. Para cada célula
de um hipotético aterro haverá uma forte relação, a cada momento, entre as demandas de
oxigênio dos lixiviados e a relação entre a taxa de ingresso de resíduos e os quantitativos já
aterrados (idade média da célula de aterro).
Os métodos biológicos são muito efetivos na estabilização da matéria
carbonácea biodegradável, podendo-se, por exemplo, como já se mencionou, alcançar 80%
de remoção utilizando-se um simples filtro biológico anaeróbio, operado sob tempo de
detenção hidráulica suficientemente elevado (FLECK, 2003). Em complementação, exaurido o
potencial anaeróbio de estabilização, os métodos aeróbios podem conduzir a importantes
remoções adicionais de matéria carbonácea. Todavia, certo percentual da matéria
carbonácea presente nos lixiviados apresentar-se-á não suscetível à degradação biológica,
seja por via anaeróbia, anóxica ou aeróbia: é a denominada matéria orgânica refratária ou
recalcitrante. Vários estudos conduzem à conclusão de que tal fração é constituída pelos
denominados compostos húmicos (BRUM, 2005).

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 269


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Durante a estabilização bioquímica dos resíduos na instância dos aterros, a


fração biodegradável dos compostos orgânicos diminui, enquanto substâncias húmicas
refratárias, principalmente ácidos húmicos e fúlvicos, progressivamente ocupam o seu lugar
(WISZNIOWSKI et al., 2004). Estudos têm demonstrado que a maior parcela dos compostos
encontrados como matéria orgânica dissolvida em lixiviados tratados biologicamente
corresponde a substâncias húmicas (KANG et al., 2002). Tais compostos apresentam
comportamento químico como ligantes aniônicos, com capacidade de ligar-se a orgânicos
tais como inseticidas, herbicidas e pesticidas presentes nos lixiviados (KANG et al., 2002;
NANNY e RATASUK, 2002), bem como contribuem para cor e odor (KANG et al., 2002; KATSUMATA
et al., 2008). WU et al. (2010) citam um percentual de aproximadamente 83% de substâncias
húmicas na fração orgânica dos lixiviados de aterros sanitários.
Compostos diversos podem oferecer dificuldade à biodegradação por diversos
fatores (SILVA, A., 2002): (1) estrutura química complexa desprovida de grupos funcionais
reativos; (2) a molécula pode exercer ação tóxica sobre a microflora ou ainda inativar
enzimas chaves do metabolismo celular; (3) a molécula pode se complexar ou interagir com
elementos ou compostos químicos tornando-se pouco acessível às enzimas extracelulares e
à posterior metabolização.
GIORDANO et al. (2009) utilizaram precipitação química com hidróxido de cálcio
como primeira unidade do seu sistema de tratamento de lixiviados, objetivando à remoção
dos compostos húmicos. Conforme os autores, seus estudos apontam para o fato de que tais
compostos, além de responsáveis por DQO recalcitrante, originam severa inibição aos
sistemas biológicos aeróbios de tratamento. As substâncias húmicas (SH) correspondem à
matéria orgânica presente no ambiente que se origina da decomposição de plantas e
microorganismos. Em águas naturais as SH apresentam concentrações variando desde 20
μg/L (em aquíferos), até 30 mg/L (em águas superficiais). Constituem 40-60% do carbono
orgânico dissolvido na água natural e apresentam um peso molecular entre 500 e 5000
unidades de massa atômica (uma). Tais compostos são formados aproximadamente 50% por
carbono, 35-40% por oxigênio, 4-5% por hidrogênio, 1-2% por nitrogênio e menos de 1% por
enxofre e fósforo. Os grupos funcionais importantes presentes nas SH são os carboxílicos e
os fenólicos (JONES e BRYAN, 1998). JONES e BRYAN (1998) dividem as substâncias húmicas em
três classes de compostos:
 Ácidos fúlvicos – compostos solúveis em água em todas as condições de pH;
 Ácidos húmicos – solúveis em pH > 2;
 Húmus (humina) – insolúvel em quaisquer faixas de pH.
Segundo uma teoria proposta por PICCOLO (2001) os ácidos fúlvicos seriam
agregados formados por pequenas moléculas constituídas em maior concentração por
grupos oxigenados do que os ácidos húmicos. Assim essas moléculas menores
permaneceriam estáveis em solução pela repulsão de cargas negativas, devido à dissociação
desses compostos oxigenados.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 270


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Na Figura 3.3.1 é apresentada a estrutura molecular de um ácido húmico


segundo JONES e BRYAN (1998). De acordo com os autores, essas macromoléculas apresentam
certa complexidade química e estrutural, o que torna difícil a sua caracterização, sendo que
vários métodos de determinação de massa molecular de polímeros têm sido aplicados à
análise de tais compostos, incluindo medidas de propriedades coligativas, técnicas de
cromatografia, ultrafiltração, ultracentrifugação e viscometria.

Figura 3.3.1 - Estrutura molecular de um ácido húmico conforme JONES e BRYAN (1998)

Fonte: JONES e BRYAN (1998)

Normalmente utiliza-se a relação DBO5/DQO para indicação do grau de


biodegradabilidade de um efluente. Quanto menor o valor da relação, tanto menor
biodegradabilidade será atribuída a tal água residuária. Todavia, estudos realizados por
KYLEFORS et al. (2003) apontam para que o parâmetro DQO, normalmente utilizado para
estimar a quantidade de matéria orgânica total presente em uma água residuária, não se
adequa a esse fim no caso de lixiviados de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos: os
resultados de tais estudos demonstraram que a terça parte dos valores de DQO dos

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 271


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

lixiviados pode vir a ser exercida por compostos inorgânicos oxidáveis presentes. Os autores
concluíram que a DQO não deve ser utilizada como o único parâmetro indicativo da
quantidade de matéria orgânica presente no lixiviado. Já SOUTO (2009), enfatiza que o ensaio
da DBO não necessariamente determina a totalidade da matéria orgânica biodegradável,
podendo ser afetado negativamente pela utilização de uma semente microbiana não
aclimatada ao lixiviado, a qual sofrerá efeitos de inibição e/ou toxidez. Sendo assim, a razão
DBO5/DQO não seria suficientemente hábil para subsidiar a avaliação da biodegradabilidade
dos lixiviados. Os mesmos autores indicam que a possível contribuição inorgânica para os
valores da DQO possa ser estimada pelo quociente entre demanda química de oxigênio e
carbono orgânico dissolvido (DQO/COD). A determinação analítica do carbono orgânico total
(COT) é conduzida pela oxidação da fração orgânica a dióxido de carbono, em um forno a
alta temperatura, sendo o carbono orgânico oxidado quantificado por meio de analisador
infravermelho. O carbono orgânico dissolvido (COD) é determinado utilizando-se apenas a
fração de sólidos dissolvidos do efluente na determinação. A análise de COT considera as
parcelas biodegradáveis e não biodegradáveis da matéria orgânica, não sofrendo
interferência de outros átomos que estejam ligados à estrutura orgânica, quantificando
apenas o carbono presente na amostra.

Outras espécies químicas


Na Tabela 3.3.2 são apresentados características de lixiviados brutos
provenientes do monitoramento de seis aterros sanitários operando em regime estacionário
e resultados típicos para lixiviados maduros, estabelecidos pelos estudos de EHRIG (1989).
Tais são comparados com os limites para emissão no estado do Rio Grande do Sul.

Tabela 3.3.2 – Concentrações de espécies químicas nos lixiviados maduros provenientes de


diferentes aterros sanitários
Óleos e
Óleos e
Cianeto Graxas Sulfetos Surfac-
Fenóis Fluoreto Graxas
Aterro/Composto (mgCN/ Animais e (mgH2S tantes
(mg/L) (mgF/L) Minerais
L) Vegetais /L) (mg/L)
(mg/L)
(mg/L)
(N=101);
(N=2); (N=103); (N=3);
a 0,001- (N=1); (N=1);
Aterro da Extrema ND; N+: - ND-40; ND-2,19;
76; N+: ND; N+: 0 15; N+: 1
0 N+: 22 N+: 1
63
(N=3);
(N=1); (N=81); (N=1);
b 0,04-
Aterro Santa Tecla ND; N+: - ND-66; 0,5; N+:
1,78; N+:
0 N+: 48 0
2
c (N= 278); 0-1970; N+:
Aterro Zona Norte - - - - -
94
(N=17); (N=17);
d
Aterro de Mérida - - - 4-62; N+: 30-705; -
SI N+: SI
continua

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 272


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.2 – Concentrações de espécies químicas nos lixiviados maduros provenientes


de diferentes aterros sanitários (continuação)
Óleos e
Óleos e
Cianeto Graxas Sulfetos Surfac-
Fenóis Fluoreto Graxas
Aterro/Composto (mgCN/ Animais e (mgH2S tantes
(mg/L) (mgF/L) Minerais
L) Vegetais /L) (mg/L)
(mg/L)
(mg/L)
(N=SI);
Aterro de Ottawa-Carleton Trail
e - - <1; N+: - - - -
Road, Ottawa, Canadá
0
(N=SI);
(N=SI); (N=SI);
Aterro de Calle, Havana, Cuba M:
f M:0,175; - (N=SI); M: 2,58; N+: SI - M: 0,49;
(2004) 0,055;
N+: SI N+: SI
N+: SI
Características dos Lixiviados em
Fase Metanogênica (Ehrig, 1989) 0,04-90 0,04-44 - - - - -
g

Limites para emissão no Rio


Grande do Sul (Resolução 0,2 0,1 10,0 10 30 0,2125 2
h
CONSEMA 128/2006)
M: média dos resultados do período; N: número de resultados analíticos; ND: não detectado; N+: número de resultados
analíticos que superam o limite para emissão; SI: sem informação
a,b,c d e f j k
Fontes: FLECK (2014); MÉNDEZ et al. (2009); KENNEDY e LENTZ (1999); ESPINOSA LLÓRENS (2010), EHRIG (1989); RIO GRANDE
DO SUL (2006).

Os óleos e graxas presentes nos lixiviados apresentam taxas relevantes de


degradação principalmente em sistemas biológicos aeróbios, devendo atender aos limites
para emissão ao final de um conjunto de processos de tratamento adequadamente
planejado. Os tensoativos, de uso difuso, correspondem a moléculas lineares altamente
biodegradáveis as quais serão facilmente consumidas nos processos biológicos aeróbios de
tratamento. Os fenóis são compostos que podem ser destruídos por processos oxidativos
avançados, como o Processo Fenton (CASTRO e FARIA, 2001). Os sulfetos são oxidados a
sulfatos em processos aeróbios.

3.3.3 Revisão das tecnologias utilizadas para


o tratamento de lixiviados

3.3.3.1 Introdução
Comparativamente aos tratamentos de água e de esgotos, problemas com os
quais a humanidade se defronta desde a sua organização em núcleos urbanos, e que foram
estudados cientificamente desde o Século XIX, a questão relativa ao tratamento dos

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 273


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

lixiviados de aterros de resíduos sólidos pode ser considerada um assunto relativamente


novo. Devido à tradição de sua aplicação aos esgotos durante décadas, os métodos
biológicos, físicos e físico-químicos usuais foram as estratégias inicialmente adotadas pelos
engenheiros, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, para o tratamento dos lixiviados
(POVINELLI e ALEM SOBRINHO, 2009). A limitada eficácia de tais métodos conduziu,
principalmente a partir do início da década de 1990, à experimentação de metodologias de
tratamento mais sofisticadas aplicadas aos lixiviados.
Os métodos de tratamento de lixiviados podem ser subdivididos
fundamentalmente em três grandes categorias: (1) biológicos, (2) físicos e físico-químicos e
(3) químicos.
No Quadro 3.3.2 é apresentada uma matriz que relaciona as principais categorias
de espécies presentes na composição e as idades dos lixiviados com a efetividade de alguns
processos de tratamento na sua remoção, conforme MCARDLE et al. (1988) e IFEANYICHUKWU
(2008). Os tratamentos indicados não esgotam todas as possibilidades.
No Quadro 3.3.3 é apresentada uma síntese dos processos modernamente
utilizados para o tratamento de lixiviados [adaptado de HARRIS et al. (2000) e IFEANYICHUKWU
(2008)].

Quadro 3.3.2 – Efetividade dos sistemas de tratamento na remoção de constituintes dos


lixiviados
óleos, graxas e líquidos

orgânicos semivoláteis

LIXIVIADO MADURO

LIXIVIADO ANTIGO
sólidos dissolvidos

orgânicos voláteis

LIXIVIADO JOVEM
sólidos suspensos

pesticidas, pcb’s

patogênicos
imiscíveis

cianetos
metais
totais

Tecnologia
pH

Sedimentação A A NA NA NA NA NA NA NA NA P P P
Filtração em meio granular A AP NA NA NA NA NA NA NA NA P P P
Flotação NA A NA NA NA NA NA NA NA NA P M M
Neutralização NA NA A NA NA NA NA NA NA NA B B B
Precipitação/Floculação A A NA A A NA NA NA NA NA P M M
Oxidação/Redução AP AP NA NA A A NA A A A P M M
Adsorção em carvão ativado AP AP NA NA A A A A A A P M B
Air Stripping AP AP NA NA NA NA A NA NA NA P M M
Osmose Reversa AP AP AP A A A NA NA A A B B B
Ultrafiltração AP AP AP A A NA NA A A A M M M
Troca Iônica AP AP NA A A A NA NA AP NA B B B
Oxidação a úmido NA NA NA NA A A A A NA NA B M M
Lodo Ativado AP AP AP NA AP NA A A NA NA B M P
Reator em Bateladas Sequeciais AP AP AP NA AP NA A A NA NA B M P
Biodiscos Rotativos NA AP AP NA AP NA A A NA NA B B P
Filtros Aeróbios AP AP AP NA AP NA A A NA NA B B P
Cloração NA AP AP NA NA A NA NA NA A B M P
Legenda: (A) processo aplicável; (AP) processo aplicável após tratamento ou condicionamento preliminar; (NA) processo
não aplicável; (B) bom rendimento; (M) médio rendimento; (P) rendimento pobre.
Fonte: adaptado de MCARDLE et al. (1988) e IFEANYICHUKWU (2008)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 274


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 3.3.3 – Resumo dos processos modernamente utilizados para tratamento de


lixiviados
TECNOLOGIA DE
VANTAGENS DESVANTAGENS RESIDUAIS
TRATAMENTO
Disponibilidade de área ou
Baixo Custo;
tanque;
Equalização Flexibilidade Operacional; Lodo.
Geração de odores;
Redução de carga de choque.
Emissões aéreas.
PROCESSOS BIOLÓGICOS CLÁSSICOS
Minimização de volume de reator;
Processo automatizado; Alta demanda energética
Reator em
Processo adaptável a flutuações de para aeração;
Bateladas Lodo biológico.
vazão e qualidade do afluente; Requer operadores
Sequenciais
Boa remoção de amônia; qualificados.
Dispensa decantador secundário.
Fácil operação; Geração de odor;
Disponibilidade de dados cinéticos Elevados demanda
e elevada experiência relatada; energética, custo e
Lodo Ativado Boa qualidade do lixiviado necessidade de operadores Lodo biológico.
tratado; qualificados;
Apresenta flexibilidade para Não aplicável a lixiviados
obtenção de nitrificação. antigos.
Vulnerabilidade a cargas
Baixo investimento necessário; de choque e deficiente
Baixa produção de lodo; equalização do afluente;
Baixo ou inexistente consumo Não há remoção de
Reatores UASB Lodo biológico e biogás
energético nitrogênio;
Elevada eficiência de remoção de Susceptível a inibição por
DBO5 para lixiviado jovem; metais e/ou espécies
químicas diversas;
Elevada área requerida,
Baixo investimento necessário;
especialmente quando
Facilidade de operação;
requeridas elevadas
Diluição do lixiviado por águas de
eficiências;
Lagoas de chuva; Sedimentos e lodo
Geração de odores;
Estabilização Podem apresentar elevadas biológico.
Emissões aéreas;
remoções de matéria carbonácea e
Demanda garantia de
nitrogenada quando
proteção da segurança dos
convenientemente dimensionados.
operadores.
Elevada demanda
Processos de energética;
Sistemas compactos;
Crescimento Baixa nitrificação para Lodo biológico.
Operação aeróbia ou anaeróbia.
Aderido médias e altas taxas de
aplicação.
continua

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 275


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 3.3.3 – Resumo dos processos modernamente utilizados para tratamento de


lixiviados (continuação)
TECNOLOGIA DE
VANTAGENS DESVANTAGENS RESIDUAIS
TRATAMENTO
PROCESSOS BIOLÓGICOS “NATURAIS”
Processo contra-indicado
para lixiviados
concentrados;
Operação simplificada; Dependência de variáveis
Banhados Boa opção de polimento de climáticas; Plantas colhidas
Construídos lixiviado pré-tratado. Demanda de extensas periodicamente.
Solução ecológica. áreas;
Parâmetros de projeto
ainda insuficientemente
desenvolvidos.
Necessidade de poda e
remoção de árvores;
Operação simplificada; Demanda sistema de
Fitorremediação Geração de madeira; irrigação permanente; Árvores removidas.
Solução ecológica. Geração de odores;
Dependência de variáveis
climáticas.
PROCESSOS FÍSICOS E FÍSICO-QUÍMICOS
Lodo (se o processo for
Baixo custo;
combinado com
Rebaixamento da carga efluente;
Sedimentação Residual de sólidos. precipitação química pode
Geralmente combinada com
haver grande residual de
precipitação química.
metais).
Remoção de sólidos pouco
Alta demanda energética;
Flotação sedimentáveis; Lodo.
Geração de odores.
Remoção de óleos e graxas.
Boa remoção de sólidos suspensos
Custo elevado;
Filtração e substâncias húmicas (após os Filtrado.
Requer retro-lavagem.
processos biológicos).
Boa remoção de amônia (>90%), Custo elevado;
Stripping de
sem necessidade de tratamento Operação deficiente em Amônia livre.
amônia
preliminar. baixas temperaturas.
Remoção da maioria dos
compostos orgânicos e metais;
Alto custo;
Carvão atomizado pode
Manuseio do carvão;
suplementar sistema de lodos
Processo não-seletivo;
Adsorção com ativados; Carvão usado;
Não aplicável a lixiviados
Carvão Ativado Podem ser obtidas elevadas Lodo.
jovens;
remoções de DQO em lixiviados
Em geral requer pré-
antigos;
filtração.
Utilizado principalmente para
polimento do efluente.
continua

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 276


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 3.3.3 – Resumo dos processos modernamente utilizados para tratamento de


lixiviados (continuação)
TECNOLOGIA DE
VANTAGENS DESVANTAGENS RESIDUAIS
TRATAMENTO
PROCESSOS FÍSICOS E FÍSICO-QUÍMICOS (continuação)
Remoção de sólidos coloidais; Manuseio de químicos;
Fácil operação; Custo dos químicos; Lodo, no caso de processo
Coagulação Pode proporcionar elevadas Doses excessivas podem combinado com
remoções de DQO em lixiviados impactar processos sedimentação.
maduros e antigos. subsequentes.
Manuseio de argilas;
Tratamento em um estágio;
Argilas Adsortivas Elevado custo; Lodo.
Remoção de óleos e graxas.
Manuseio de lodo.
PROCESSOS TÉRMICOS
Processo dependente da
Sistema compacto;
vazão e qualidade do Efluente muito
Sistema de fácil operação;
Evaporação biogás gerado pelo aterro; concentrado;
Grande rebaixamento da vazão
Problemas de corrosão dos Gases de combustão.
efluente.
equipamentos.
Boa remoção de orgânicos voláteis
Orgânicos voláteis e
e amônia;
amônia;
Destilação Eficiência energética; Complexidade operacional
Efluente concentrado;
Sistema compacto;
Gases de combustão.
Gera efluente de alta qualidade.
PROCESSOS DE MEMBRANA
Custo elevado;
Processo adequado como
Requer retro-lavagem;
Microfiltração preparação do efluente para Efluente da retro-lavagem.
Não remove sólidos
outros processos de membrana.
dissolvidos.
Alta qualidade do efluente, em
Custo elevado;
Ultrafiltração preparação para a osmose Efluente da retro-lavagem.
Requer retro-lavagem;
reversa.
Alta qualidade do efluente,
Custo elevado;
Nanofiltração remoções de DQO superiores a Efluente da retro-lavagem.
Requer retro-lavagem;
70%.
Colmatação biológica da
membrana;
Necessidade de adaptar
Remoção de sólidos dissolvidos;
equipamento à escala da Solução altamente
Facilidade de operação;
Osmose Reversa vazão afluente; concentrada em poluentes.
Geração de efluente de alta
Elevada demanda Efluente da retro-lavagem.
qualidade.
energética;
Elevado custo de
manutenção.
continua

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 277


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 3.3.3 – Resumo dos processos modernamente utilizados para tratamento de


lixiviados (continuação)
TECNOLOGIA DE
VANTAGENS DESVANTAGENS RESIDUAIS
TRATAMENTO
PROCESSOS QUÍMICOS
Fácil operação;
Remoção de metais;
Condicionamento do pH do Custo e manuseio de Lodo, no caso de processo
Precipitação
efluente para cumprimento de químicos; combinado com
química
padrão de emissão; Geração de odores. sedimentação.
Possibilidade de importantes
remoções de nitrogênio e fósforo.
Necessidade de
Remoção seletiva de ânions e regeneração das resinas de Regenerante gasto;
Troca Iônica
cátions. troca; Efluente de retro-lavagem.
Manuseio de químicos;
Elevado custo;
Demanda garantia de
Processo não seletivo;
proteção da saúde dos
Vários oxidantes químicos
Oxidação química operadores; Lodo.
disponíveis;
Pode haver dependência
Remoção de amônia.
de controle de pH e uso de
catalisadores.
Elevado custo dos
Remoção de compostos reagentes;
carbonáceos recalcitrantes; Demanda garantia de
Processos
Pode promover remoções de DQO proteção da saúde dos
oxidativos Lodo.
da ordem de 45-85%; operadores;
avançados
O Processo Fenton é de Pode haver dependência
aplicabilidade direta e simples. de elevado consumo de
energia.
Fonte: adaptado de HARRIS et al. (2000); IFEANYICHUKWU (2008)

3.3.3.2 Métodos biológicos


Os métodos biológicos de tratamento baseiam-se no fato de que organismos
vivos utilizam-se de compostos com potencial energético presentes nas águas residuárias
para suas funções vitais, oxidando-os e convertendo-os em subprodutos menos energéticos,
e de compostos com potencial oxidativo (aceptores de elétrons), reduzindo-os, bem como
absorvem outros compostos presentes no meio para suas funções (micronutrientes),
removendo-os do meio, além de atuarem em processos físicos como filtragem, adsorção e
bioacumulação.
Os processos biológicos subdividem-se, grosso modo, em aeróbios e anaeróbios.
Nos primeiros, a presença de oxigênio molecular como aceptor de elétrons propicia
condições para a estabilização completa dos compostos biodegradáveis com energia interna
disponível, gerando produtos termodinamicamente estáveis (gás carbônico e água); nos
segundos os processos de estabilização dão-se em função de diferenças de potenciais de oxi-
redução entre compostos presentes no meio, proporcionando reações catalisadas por

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 278


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

enzimas celulares, até o limite da equalização dos potenciais, ou da capacidade de


metabolização de certos compostos remanescentes pelos organismos, quando cessam os
processos, ainda na presença de substratos e produtos não estáveis.
Ainda que os processos diferenciem-se em relação à estabilidade dos produtos
finais, até determinado grau de estabilização os processos anaeróbios apresentam elevada
eficiência de remoção, cabendo aos processos aeróbios a estabilização do remanescente
biodegradável. Neste sentido, o comparativo de vantagens e desvantagens dos processos
pode orientar a decisão em relação à primeira unidade biológica de um sistema, dadas as
condições específicas em que for implantada. No Quadro 3.3.4 é apresentado um
comparativo deste tipo.

Quadro 3.3.4 – Comparativo entre sistemas aeróbios e anaeróbios


Sistemas Anaeróbios Sistemas Aeróbios
 Baixa produção de sólidos.  Alta produção de sólidos.
 Geralmente associados aos consumos energéticos
 Baixo ou nenhum consumo energético.
necessários para introdução de oxigênio no meio.
 Custos operacionais reduzidos.  Custos operacionais superiores.
 Demanda de área variável com energia introduzida
 Baixa demanda de área.
no sistema.
 Baixos custos de implantação.  Custos de implantação superiores.
 Produção de metano (fonte energética
 Perda da energia do sistema na forma de calor.
aproveitável.
 Potencial superior de inibição e toxidez (bactérias
 Inferior potencial de inibição/toxidez.
metanogênicas).
 Partida lenta do sistema.  Partida rápida do sistema.
 Preservação da biomassa sem alimentação por  Preservação da biomassa sem alimentação por
prolongado tempo. curto período de tempo.
 Remoção insatisfatória de patogênicos  Elevada remoção de patogênicos
 Geração de maus odores.  Não há geração de maus odores.
 Pode haver remoção de demanda
 Não há remoção efetiva de nutrientes.
nitrogenada por nitrificação.
Legenda: negrito: vantagem relativa.
Fontes: CHERNICHARO (1997); VAN HAANDEL e LETTINGA (1994)

No caso de países de clima quente, como o Brasil e parte significativa do mundo


subdesenvolvido e em desenvolvimento, o tratamento anaeróbio de lixiviados pode oferecer
eficiências de remoção de matéria carbonácea biodegradável superiores a 80%, pelo que a
adoção de um sistema anaeróbio como primeira unidade de tratamento no caso geral
justifica-se plenamente do ponto de vista econômico.
Quaisquer que sejam os processos biológicos adotados para o tratamento, a
adoção de uma bacia de equalização para manter as características do afluente ao sistema
sem variações bruscas, evitando cargas de choque, faz-se necessária.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 279


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A seguir apresenta-se a descrição sumária e relatos de experiências do uso de


alguns sistemas biológicos no tratamento de lixiviados.

Filtros anaeróbios
Os filtros anaeróbios constituem-se em unidades de tratamento em que as
reações bioquímicas de estabilização da matéria carbonácea contida na água residuária
ocorrem quando da passagem desta através de um leito de material suporte em que às
superfícies das unidades desse material aderem-se filmes bacterianos anaeróbios, além do
meio manter biomassa bacteriana anaeróbia dispersa retida em seus interstícios. Os
microorganismos devem estar aclimatados ao afluente para manter-se a estabilidade do
processo e da própria biomassa.
WU et al. (1988) utilizando um filtro anaeróbio de dois estágios com meio
suporte sintético (96,5% de vazios e 141 m2/m3) para tratar lixiviado bruto proveniente de
um aterro para resíduos domésticos e industriais reportaram eficiências de remoção de DQO
de 91%, 89% e 83% utilizando taxas de aplicação superficiais de 2,0, 2,7, e 3,8 kgDQO/(m2.d),
respectivamente. As eficiências de remoção de DBO5 foram superiores a 90%, e a remoção
de metais pelo biofiltro foi muito efetiva. Os autores verificaram que o processo de remoção
biológica deu-se quase que exclusivamente no primeiro reator e concluíram, através do
estudo da cinética do processo, que para o lixiviado utilizado, a taxa ótima de utilização de
substrato seria de 3,9 kgDQO/(m2.d), indicando esse valor para projetos de filtros anaeróbios
tratando lixiviados similares. CHIAN e DEWALLE (1976) utilizaram um filtro anaeróbio de
mistura completa para o tratamento de lixiviado bruto com 30 gDQO/L e uma razão
DBO5/DQO = 0,65, testando tempo de detenção hidráulica de 27 d. Os autores relataram
97% de remoção de DQO.
SCHAFER et al. (1986) utilizaram um filtro anaeróbio de fluxo ascendente com
meio suporte com índice de vazios de 95% e 114,8 m2/m3 para tratamento de lixiviado com
38.500 mgDBO5/L e 60.000 mgDQO/L. Utilizando tempos de detenção hidráulica (TDH)
superiores a 4,9 d (média: 7,4 d) e carga aplicada de 7,1 kgDBO5/(m3.d) obtiveram remoções
de DBO5 e sólidos suspensos totais de 95% e elevados rebaixamentos nas concentrações de
metais.
FLECK (2003) utilizou filtros anaeróbios de brita para tratamento de lixiviados
brutos sob diferentes tempos de detenção hidráulica durante um ano. O autor verificou que
a remoção de matéria carbonácea biodegradável nos filtros seguiu a cinética de 1ª ordem
estabelecida por YOUNG (1991) para esgotos, apenas corrigida de um fator de retardo,
chegando a uma equação para projetos de filtros anaeróbios tratando lixiviados (equação
3.3-1).

E = 100 [1 – (TDH/24)-0,4] (3.3-1)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 280


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Na equação 3.3-1 E representa a eficiência de remoção de matéria carbonácea


biodegradável, expressa como DQO ou DBO5, e TDH é o tempo de detenção hidráulica do
lixiviado no filtro.

Reatores RAFA
Os reatores RAFA (Reator anaeróbio de manto de lodo e fluxo ascendente),
tradução do inglês UASB (upflow anaerobic sludge blanket reactor) são considerados as mais
eficientes unidades anaeróbias de crescimento suspenso desenvolvidas para tratamento de
efluentes. São unidades de crescimento suspenso e fluxo ascendente em que a velocidade
ascensional mantém o lodo em suspensão, contrabalançando a força gravitacional, de modo
que a água residuária percola através da lâmina de lodo, mantendo contato íntimo com a
microbiota anaeróbia.
KENNEDY et al. (1988) utilizaram reatores anaeróbios de manto de lodo para tratar
lixiviado com 19,5 gDQO/L, fazendo uso de uma taxa de recirculação de 4:1 e um pré-
tratamento para remoção de metais pesados do afluente. Utilizando uma taxa de aplicação
de 14,7 kgDQO/(m3.d) obtiveram eficiências de remoção de DQO da ordem de 94%
operando em fluxo descendente, e de 97% quando operando em fluxo ascendente.
MORAES e GOMES (1993) testaram o desempenho de um reator híbrido conjugado
de manto de lodo e filtro anaeróbio construído em escala de bancada, termostatizado a
35oC, para o tratamento de lixiviado bruto com 15,5gDQO/L e 10,2 gDBO5/L, utilizando
adição de fósforo para equilibrar a relação DQO:N:P. Trabalhando com tempos de detenção
hidráulica entre 0,99 e 5,78 d, correspondendo a taxas de aplicação de 0,91-15,71
kgDQO/(m3.d) e 0,6-10,37 kgDBO5/(m3.d), obtiveram eficiências de remoção de DQO entre
51,7 e 66% e de DBO5 entre 58,3 e 70,6%.

Lagoas de estabilização
Lagoas de estabilização constituem-se em grandes reservatórios relativamente
rasos de superfície livre onde um ecossistema formado por bactérias autotróficas e
heterotróficas, protozoários, algas, rotíferos e crustáceos mantém-se, utilizando o substrato
por um longo tempo de detenção. São unidades de baixo custo de instalação e manutenção
onde o oxigênio é provido principalmente pela ação do vento e de organismos
fotossintetizantes. De acordo com a profundidade e a carga orgânica aplicada, as lagoas
serão classificadas em aeróbias, facultativas ou anaeróbias. Em geral, para o tratamento de
lixiviados as lagoas não produzem efluente de elevada qualidade, sendo sua viabilidade
condicionada à disponibilidade de área.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 281


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Reatores anaeróbios de crescimento suspenso


Considera-se aqui reator anaeróbio de crescimento suspenso a unidade que
consiste em um tanque que opera com ou sem mistura, através do simples contato do
lixiviado com o lodo anaeróbio em crescimento suspenso para estabilização.
BOYLE e HAM (1974) estudaram o tratamento anaeróbio de lixiviados com 10.600
mgDQO/L e 8400 mgDBO5/L em escala de bancada. Utilizando lodo anaeróbio provindo de
um sistema de tratamento de esgotos como semente, aplicaram, em dois reatores com
tempos de detenção hidráulica de 10 e 12,5 d, cargas de 0,192-0,396 kgDQO/(m3.d) e 0,078-
0,318 kgDQO/(m3.d) respectivamente. Obtiveram eficiências de remoção de DQO de 93,4% e
94,5%, de DBO5 de 98,0% e 98,8% e de SSV (sólidos suspensos voláteis) de 52,0% e 62,5%,
respectivamente. Em um segundo momento, utilizando diluições do seu lixiviado de
trabalho, testaram a relação entre carga orgânica aplicada e eficiências de remoção.
Utilizando tempo de detenção hidráulica de 5-20 d e cargas orgânicas aplicadas entre 0,432
e 2,16 kgDQO/(m3.d) obtiveram remoções de DQO e DBO5 superiores a 90% em todos os
reatores. Concluíram, no âmbito das taxas aplicadas, que não há relação significativa entre a
carga orgânica aplicada e a eficiência de remoção, porém que existe uma correlação entre
tal eficiência e o tempo de detenção hidráulica. Testando o efeito da temperatura sobre a
eficiência de remoção da matéria carbonácea, os autores concluíram que há marcada
diferença entre as eficiências obtidas a 11oC e a 23oC. Concluíram os estudos afirmando que
o tratamento anaeróbio é muito eficiente para tempos de detenção hidráulica superiores a
10 dias e temperaturas entre 23oC e 30oC.
LEMA et al. (1988) utilizaram reatores anaeróbios em escala de bancada,
mantidos a 37oC, para tratar lixiviados com 21,48-23,72 gDQO/L e 1,55-4,01 mgNH4+-N/L
utilizando tempos de detenção hidráulica de 5-35 d. Utilizando lodo de uma planta de
tratamento de esgoto a 10% em peso como semente e adição de fosfato para taxas de
aplicação superiores a 1,3 kgDQO/(m3.d) os autores obtiveram os resultados apresentados
na Tabela 3.3.3.

Tabela 3.3.3 – Resultados do experimento de LEMA et al. (1988)


Tempo de Detenção Hidráulica (d) 35 29 24 18 15 12,5 8 5,2
3
Carga Orgânica Aplicada [kgDQO/(m .d)] 0,61 0,74 0,89 1,19 1,60 1,89 2,83 4,29
DQO afluente (mg/L) 21480 21480 21480 23720 23720 23720 22320 22320
3 3
Taxa de Produção de Biogás [m /(m .d)] 0,31 0,37 0,45 0,54 0,69 0,81 1,03 0,99
Remoção de DQO (%) 84,7 83,8 84,0 83,4 76,8 74,0 65,6 43,8
Fonte: LEMA et. al. (1988)

Lagoas aeradas
As lagoas aeradas são uma variante das lagoas aeróbias, em que um sistema
mecânico insere oxigênio no meio líquido por agitação ou insuflamento, de modo que a

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 282


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

lagoa possa ter profundidade superior (normalmente 3-5 m) e menor área, sendo um
sistema compacto.
BOYLE e HAM (1974) testaram, em escala de bancada, o efeito da aeração sobre
lixiviados com 1550-8000 mgDBO5/L e 2700-9200 mgDQO/L. Utilizando tempos de detenção
de 5 dias e cargas orgânicas de 0,304-5,28 kgDBO5/(m3.d) e 0,544-6,08 kgDQO/(m3.d),
obtiveram remoções de DBO5 entre 2,5% e 93% e de DQO entre 30% e 93%. Embora no
experimento não tenha sido realizado controle da taxa de aeração, os autores concluíram
que a carga orgânica aplicada exerce marcada influência sobre a eficiência de remoção da
matéria carbonácea, tendo obtido seus melhores resultados com cargas de 0,576
kgDBO5/(m3.d) e 1,04 kgDQO/(m3.d). Apontaram intensa formação de espumas e difícil
separação sólido-líquido como desvantagens do tratamento.
Na Tabela 3.3.4 são apresentadas outras performances reportadas de lagoas
aeradas tratando lixiviados.
Na Figura 3.3.2 apresenta-se uma sequência de lagoa anaeróbia e lagoa aerada
tratando lixiviado.

Figura 3.3.2 – Sequência de lagoas anaeróbia e aerada tratando lixiviado

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 283


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.4 – Performances de lagoas aeradas tratando lixiviados


DQO
Razão Remoção de
afluente Afluente tratado TDH (d) Fonte
DBO5/DQO DQO (%)
(mgO2/L)
15.800 0,45 Lixiviado bruto 98 10 Cook e Foree (1974)
3550 0,64 Lixiviado bruto 77 0,6 Karr (1972)
500 0,52 Lixiviado bruto 58 0,3 Pohland (1972)
Efluente de filtro
510 - 22 1 Foree e Reid (1973)
anaeróbio
Efluente de filtro
1000 - 17 7 Chian e DeWalle (1976)
anaeróbio
Fonte: CHIAN e DEWALLE (1976)

Lodos ativados
O processo de lodos ativados baseia-se no crescimento de organismos aeróbios
utilizando a matéria orgânica, através da inserção mecânica de oxigênio na água residuária,
havendo mistura por agitação ou fluxo bulk de corrente gasosa no meio líquido e formação
de flocos bacterianos ativos. Um decantador secundário promove a separação do efluente e
da massa de organismos (lodo), sendo parte dessa massa retornada ao sistema e parte
descartada.
PALIT e QASIM (1977) executaram testes em sistema de lodo ativado em reator de
mistura completa em escala de bancada, utilizando lixiviados gerados em recipientes
contendo resíduos sólidos compactados e diariamente irrigados, visando à obtenção de
dados cinéticos. O lixiviado bruto gerado apresentava pH = 5,1, 30,0 gDQO/L e 15,5 gDBO5/L,
tendo sido diluído de 22 a 26 vezes. Havendo-se mantido a temperatura em 21-25oC,
concentrações de oxigênio dissolvido no reator entre 6,1 e 6,5 mgO2/L, pH, vazão e
concentração afluente constantes ao longo dos testes, os autores trabalharam com a
variável sólidos suspensos no licor, utilizando concentrações de 2400, 1750, 1500 e 1200
mgSST/L (correspondendo a concentrações de sólidos suspensos voláteis entre 2184 e 1074
mgSSV/L). Os autores obtiveram eficiências de remoção de DQO entre 85% e 98,82% (média
89,13%) com TDH próximos a dois dias. Concluíram pela viabilidade do sistema de lodo
ativado para o tratamento de lixiviados, enfatizando problemas relativos à escassez de
fósforo nos lixiviados para a obtenção de relações equilibradas com a matéria carbonácea e
o nitrogênio, e a elevada taxa de decaimento bacteriano (kd) observada, sugerindo a
conveniência do tratamento conjunto de lixiviados e esgotos para contornar tais problemas.
Os coeficientes cinéticos obtidos pelo estudo foram os seguintes:
 Y (coeficiente de produção celular) = 0,59 mgSSV/mgDQO
 kd (coeficiente de decaimento microbiológico) = 0,115 d-1
 Ks (concentração de substrato em que a sua taxa de utilização por unidade de
biomassa é a metade da máxima) = 182 mgDQO/L

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 284


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 k (taxa máxima de utilização de substrato por unidade de biomassa) = 1,8


mgDQO/mgSSV
KEENAN et al. (1984) utilizaram um sistema de lodos ativados constituído de dois
tanques de aeração operando com difusores que forneciam 14,2 m3/min de ar e dois
decantadores secundários, para tratar lixiviado com 18,5 gDQO/L e 8-12,5 gDBO5/L. A
unidade era precedida de um tanque de equalização, um reator de contato de fluxo
ascendente para coagulação-floculação-sedimentação e uma lagoa de remoção de amônia.
Utilizando adição de fósforo, e trabalhando com TDH mínimo de 6,6 h e taxa superficial de
aplicação máxima de 20,4 m3/(m2.d) os autores obtiveram, operando as unidades em
paralelo e em série respectivamente, remoções de 97,4% e 71,1% de sólidos suspensos, de
94,9% e 94,6% de DQO, de 99,1% e 94,3% de DBO5, de 88,7% e 99,4% de amônia, além de
grande efetividade na redução das concentrações de metais. Os autores reportaram que a
unidade operou mais efetivamente quando a concentração de SSV no licor e a relação F/M
(alimento/microrganismos) mantiveram-se em 6000-12.000 mg/L e 0,12-0,32 d-1,
respectivamente; reportaram sérios problemas gerados pela má separação sólido-líquido
nos decantadores secundários, e consideraram a manutenção de concentrações baixas de
amônia do afluente (149-423 mgNH4+-N/L), como uma das causas do sucesso do tratamento,
por evitar a inibição do sistema biológico.
QASIM e CHIANG (1994) analisando resultados reportados por vários pesquisadores
que utilizaram sistema de lodos ativados para tratamento de lixiviados traçaram as seguintes
generalizações:
 O processo produz remoções de DBO5 e DQO entre 90% e 99% e de metais
entre 80% e 99%;
 Condições operacionais indicadas: (1) concentração de SSV no licor: 5000-
10.000 mg/L; (2) Razão F/M: 0,02-0,06 d-1; (3) TDH: 1-10 d; Tempo de
retenção de sólidos: 15-60 d; (4) Requerimentos nutricionais: (DBO5:N:P =
100:3,2:0,5);
 Aeração excessiva conjuntamente com altas concentrações de metais
contribuem para a formação de espumas, que podem ser reduzidas
utilizando-se aeração mecânica e/ou agentes antiespumantes;
 A presença de inibidores, bem como a deficiência de nutrientes podem
incrementar o tempo requerido para a bioestabilização do lixiviado.

Filtros aeróbios
Os filtros aeróbios, ao lado dos biodiscos rotativos, constituem-se nos mais
importantes sistemas aeróbios de tratamento com crescimento biológico aderido, sendo
utilizados para remoção de matéria carbonácea e nitrificação de águas residuárias.
Consistem em leitos dotados de meio suporte (pedra britada, areia, escória, unidades
sintéticas, etc.) com grande área específica, onde filmes biológicos desenvolvem-se aderidos,

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 285


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

e por espaços vazios por onde ocorre a passagem do líquido a tratar e do oxigênio
necessário aos processos biológicos oxidativos.
FLECK (2003) utilizou um filtro biológico aeróbio de baixa taxa, com meio suporte
constituído por brita nº 3 e aeração natural por convecção, para tratamento de lixiviados
efluentes de filtros anaeróbios. Para os lixiviados utilizados o autor obteve desempenho
satisfatório da unidade quando operando à taxa de 0,063 m3/(m2.d), a qual lhe permitiu
remoções de 53,17% de nitrogênio total de Kjeldahl (NTK), de 46,12% de nitrogênio (todas as
formas) e de 36,01% de DBO5.

Biodiscos rotativos
O sistema consiste de discos ligeiramente espaçados montados sobre um eixo
horizontal, parcialmente mergulhados no líquido a tratar, que giram vagarosamente de
modo que cada elemento de área dos cilindros perfaça ciclos alternados de exposição ao ar
e ao efluente em tratamento. Deste modo formam-se sobre as superfícies dos discos filmes
biológicos sujeitos a ciclos de aeração e adsorção de matéria orgânica. Com o crescimento
dos filmes ocorre o seu desprendimento dos discos, mantendo-se suspensos no líquido
devido à rotação, aumentando a eficiência do sistema (VON SPERLING, 1996).
SPENGEL e DZOMBAK (1991) testaram a eficiência de biodiscos rotativos no
tratamento de lixiviado antigo com 15-38 mgDBO5/L, 322-385 mgDQO/L, 156-171 mgNTK/L
e 7,2pH7,7 na remoção de matéria carbonácea e nitrogênio. Utilizando três unidades
experimentais em escala de bancada, cada qual composta por três estágios com dois
biodiscos por estágio, mantendo 40% de suas superfícies imersas no líquido, os autores
utilizaram taxas de aplicação volumétricas de 7,9 a 49,2 L/[(m2 de área de disco).d],
correspondendo a cargas orgânicas aplicadas de 0,21-1,3 gDBO5/[(m2 de área de disco).d],
2,8-18,4gDQO/[(m2 de área de disco).d] e 1,2-7,3 gN/[(m2 de área de disco).d]. Os tempos
de detenção variaram entre 0,77 e 0,12 d e os rotatores operaram a 2,3 rpm (rotações por
minuto). Para evitar o rebaixamento do pH decorrente da nitrificação, mantendo-o
praticamente constante, foi adicionada alcalinidade de 200 mgCaCO3/L na forma de
bicarbonato de sódio; fosfato de sódio foi adicionado ao afluente para manter a
concentração de fósforo em 10 mg/L. Os autores obtiveram remoções de DBO5, DQO e
amônia máximas de 38%, 80% e 98% respectivamente, reportando que os desempenhos das
unidades experimentais deram-se de modo inversamente proporcional às cargas aplicadas.
Outra unidade operou anaerobicamente, em sequência, para desnitrificação, obtendo-se
remoção de nitratos da ordem de 42%, havendo os autores adicionado 2,75 mg de metanol
por miligrama de nitrato como fonte carbonácea.
CASTILLO et al. (2006) obtiveram remoção de DQO de cerca de 52% utilizando um
biodisco a 6 rpm durante 24 horas.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 286


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tratamento combinado com esgotos


O tratamento de lixiviados em estações de tratamento de esgotos,
conjuntamente com esgotos domésticos consiste em uma prática muito difundida no
mundo, em função dos elevados custos de implantação e operação de estações de
tratamento dedicadas a lixiviados nos próprios sítios de disposição final de resíduos sólidos,
bem como pela vantagem obtida pela diluição dos lixiviados, sobretudo pelo rebaixamento
das concentrações de espécies inibidoras aos tratamentos biológicos. A viabilidade da
aplicação de tal metodologia para cada situação estará condicionada à viabilidade
econômica do transporte dos lixiviados do aterro até a estação de tratamento, e à
capacidade dessa em absorver as cargas carbonácea e de nutrientes, bem como de
compostos tóxicos e inibidores biológicos, sem perda da capacidade de atender aos padrões
para emissão de efluentes.
BOYLE e HAM (1974) testaram o tratamento conjunto de esgotos e lixiviados em
um aparato de bancada simulando unidade de lodo ativado com um tempo de detenção de
23 horas sob aeração estendida seguida por 1 hora de sedimentação. A concentração de
sólidos suspensos voláteis foi mantida em 2500 mg/L. O lixiviado utilizado, com 10.820
mgDQO/L e 8790 mgDBO5/L foi adicionado ao esgoto em proporções de 1%, 2%, 5%, 10% e
20% em volume. Embora os autores não tenham controlado a taxa de aeração, concluíram
que, para lixiviados com 10.000 mgDQO/L há viabilidade de tratamento conjunto com
esgotos utilizando-se proporções de lixiviado de até 5%. Proporções superiores geraram lodo
excessivo, condições deficientes de separação do lodo, bem como carência de oxigenação.
FACCHIN et. al (2000), estudando os efeitos do tratamento conjunto de lixiviados
gerados em aterro sanitário e esgotos sanitários verificaram a viabilidade da metodologia
quando empregada seguindo rígido controle das cargas afluentes e monitoramento contínuo
das unidades de tratamento. Sob diferentes tempos de detenção hidráulica o sistema
composto por uma lagoa anaeróbia, uma facultativa e três de maturação foi alimentado com
afluentes contendo percentuais de 0,1 a 10,7% em volume de lixiviado (média 3,2%). O
principal problema relatado pelos autores diz respeito ao efeito tóxico das elevadas
concentrações de nitrogênio amoniacal do afluente composto (>28 mgN/L) para certas algas
ativas das lagoas facultativas (clorofíceas), ocasionando efeitos ecossistêmicos indesejáveis
nessas unidades, proporcionando anaerobiose ao longo de todo o sistema de tratamento e
ensejando o desenvolvimento de algas produtoras de toxinas. Deste modo, as cargas
limitantes para o tratamento conjunto dos lixiviados com esgotos foram as de nitrogênio na
forma amoniacal. HENRY (1985) estudando o tratamento conjunto de lixiviados e esgotos
constatou que os lixiviados utilizados, quando misturados em proporção de 2% com esgotos
sanitários, podem ser tratados com sucesso. Porém, tais resultados precisam de uma
adaptação à realidade dos lixiviados de aterros brasileiros antes de sua aplicação.

Tratamento com produtos biotecnológicos


Tornou-se relativamente comum a oferta de produtos à base de cepas
selecionadas ou geneticamente alteradas para bioestabilização de diferentes substratos

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 287


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

específicos. Ainda que pesquisas sérias sejam empreendidas para obtenção de produtos
biotecnológicos, muito comumente os produtos comercializados não demonstram os
desempenhos proclamados por seus fabricantes e representantes.
GARCIA JR. et al. (1995) testaram três produtos biotecnológicos especificamente
indicados por seus respectivos fabricantes para o tratamento de lixiviados de aterros de
resíduos sólidos em lagoa aerada, utilizando as dosagens recomendadas por tais para tratar
lixiviados com 3000-11.000 mgDQO/L, paralelamente a um sistema de controle, operado em
idênticas condições, sem o uso dos aditivos. Os autores reportam que, utilizando 15 e 25
dias de tempo de detenção hidráulica, os sistemas de tratamento e de controle, operando
em fases com e sem adição de fósforo, obtiveram performances similares, atestando a
ineficácia relativa dos produtos utilizados. Todavia, novas pesquisas neste campo poderão
futuramente vir a revolucionar conceitos na área dos tratamentos biológicos.

Filtros percoladores
Os filtros percoladores constituem-se em biofiltros aeróbios em que a passagem
da água residuária se dá por um processo de percolação em um meio suporte particulado
(areia, argila, carvão ativado), sendo o tempo de contato determinado pela permeabilidade
do meio. As unidades operam contínua ou intermitentemente, de maneira que cada porção
do meio suporte possa reoxigenar-se entre aplicações consecutivas de afluente.
RICH e WAHLBERG (1990) reportaram a efetividade de nove filtros percoladores
intermitentes de areia, precedidos de lagoas facultativas ou aeradas, tratando esgotos
domésticos em escala plena. Os autores verificaram, comparativamente, a superior
eficiência dos filtros percoladores em relação a sistemas de lodos ativados e lagoas aeradas
na remoção de nitrogênio amoniacal, DBO5 e sólidos suspensos totais. COTRIM (1997) utilizou
filtros percoladores intermitentes para testar o tratamento de lixiviados antigos. Utilizando
uma taxa de aplicação superficial de 0,16 m3/(m2.d), correspondendo a uma carga orgânica
aplicada de 0,0287 kgDBO5(m3.d). O autor obteve resultados pouco expressivos utilizando
brita granítica, areia regular, cacos de tijolos e argila nodulizada como meios-suporte.
Utilizando aparas de couro wet blue, obteve reduções de 64% de DQO, 95% de DBO5 e de
92% de amônia; utilizando leito de carvão ativado as eficiências na remoção de DQO, DBO5 e
amônia foram de 68%, 79% e 89% respectivamente.

Fitorremediação
A metodologia de fitorremediação pode ser considerada como a combinação dos
processos de aspersão e recirculação com a participação de plantas, sobretudo árvores de
copa plantadas sobre áreas de aterro. O lixiviado é aspergido sobre as copas, sendo em
parte evaporado, em parte interceptado pelas folhas, ficando longo tempo disponível para a
evaporação. Uma maior ou menor fração cai sobre o solo e será, em parte, absorvida pela
vegetação e posteriormente evapotranspirada, em parte recirculada por percolação. Outro
efeito importante é o de absorção de nutrientes e metais pelas plantas. CURETON et al. (1991)

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 288


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

enfatizam a importância de que a camada de cobertura do aterro onde far-se-á o plantio


apresente permeabilidade suficiente para evitar elevado escoamento superficial bem como
para possibilitar a manutenção da aeração das raízes, evitando efeitos deletérios à
vegetação. No tocante à seleção das espécies, os autores citam como principais requisitos
adaptabilidade às condições climáticas locais, alto potencial de evapotranspiração,
tolerância à umidade do solo e à pressão osmótica decorrente do contato com a água
residuária com alta salinidade, rapidez de estabelecimento das mudas, habilidade no
controle da erosão, elevada superfície folhar e potencial de ressemeadura.

Banhados construídos
Banhados, terras úmidas, ou wetlands são sistemas terrestres em que o nível
superior do lençol freático mantém-se próximo à superfície do terreno de modo a manter
condições de solo saturado ao longo do ano todo, podendo apresentar lâminas d’água
aflorantes tipicamente inferiores a 0,6 m, que suportam o crescimento de plantas
emergentes (MARQUES, 1999). Tais plantas (1) oferecem superfície para a fixação de bactérias
autotróficas e heterotróficas através das raízes, rizomas e serapilheira, (2) proporcionam
efeito de filtragem e adsorção de poluentes, (3) transferem oxigênio molecular para a coluna
d’água (4) limitam o crescimento de algas pela restrição à penetração de luz solar, e (5)
absorvem nutrientes para o seu crescimento.
COSSU et al. (2000), além de efetuarem testes com plantas emergentes, testaram
o uso de espécies de Stenotaphrum secundatum (grama Santo Agostinho) em banhados de
fluxo subsuperficial aplicados ao tratamento de lixiviados com concentrações de 7802-
14.122 mgDQO/L, 2500-4000 mgDBO5/L, 3545-4704 mgNTK/L e pH = 8,3-8,4. Operando com
taxas entre 2,0 e 5,0 gDQO/(m2.d) os autores obtiveram remoções de DQO entre 17% e 77%,
e de NTK entre 62% e 86%, sem efeitos tóxicos às plantas. No entanto, utilizando lixiviado
pré-tratado, com 1083 mgDQO/L, 486 mgDBO5/L, 571 mgNTK/L e pH = 9,05 obtiveram
eficiência média negativa na remoção de DQO e morte das plantas, ainda que a remoção
média de NTK tenha se situado em 62%.
FLECK (2003) utilizou reator simulando banhado construído de fluxo subsuperficial
com cultivo de Typha latifolia para o polimento de lixiviados previamente tratados
sequencialmente em filtros anaeróbios e aeróbio. Durante o período de operação mais
estável do banhado-piloto utilizado no experimento foram registradas remoções de 58,18%
de DBO5, 40,71% de DQO, 26,96% de fósforo, 78,52% de NTK, 55,96% de nitrogênio (todas
as formas) e 34,24% de cromo total, havendo utilizado diluição de lixiviado aplicado à taxa
média de 4,17 mm/d, e cargas orgânicas médias aplicadas de 2,24 gDBO5/(m2.d), 1,05
gDQO/(m2.d), 1,05 gNTK/(m2.d) e 9,35 mgP/(m2.d). Ao final de 42 d de operação as
macrófitas encontravam-se vigorosas e com raízes sadias, estando aclimatadas a um meio
líquido com condutividade elétrica de 6370 mho/cm.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 289


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.3.3.3 Métodos físicos e físico-químicos


Os métodos denominados físicos baseiam-se na remoção dos poluentes ou
modificação das características da água residuária através de retenção mecânica ou ação de
forças de caráter físico. Os processos físico-químicos baseiam-se na remoção dos poluentes
por contato com meios físicos específicos ou por modificação quimicamente induzida das
características físicas do meio. A seguir apresentaremos a descrição de processos e relatos
de experiências utilizando tais estratégias aplicadas ao tratamento de lixiviados.

Coagulação/ floculação/sedimentação
Coagulação, floculação e sedimentação podem ser consideradas como um
conjunto integrado de processos de remoção de sólidos suspensos e coloidais do seio da
água residuária. Pela adição de compostos que desestabilizam as partículas coloidais
naturalmente não-sedimentáveis (coagulação), essas podem aglomerar-se em particulados
sedimentáveis (floculação) e serem removidas por gravidade (sedimentação). Efeitos
complementares de precipitação de sólidos dissolvidos ou de sua incorporação química aos
complexos formados levam a tecnologia a situar-se na interface dos processos físico-
químicos com os químicos.
THORNTON e BLANC (1973) utilizaram 0-1500 mg/L de cal e sulfato de alumínio para
tratar lixiviado com 3020 mgDBO5/L e 5033 mgDQO/L e pH = 6,3. em equipamento de jar-
test com agitadores operando por 1 min em alta rotação (mistura rápida), e por 15 min em
15-20 rpm, complementando-se o processo por residência por 30 min sem agitação para
sedimentação. Observaram remoções máximas de sólidos suspensos com 300 mg/L de
sulfato de alumínio (50% de remoção) e 450 mg/L de cal (85% de remoção). Como o
processo de coagulação-floculação com sulfato de alumínio produziu espumas e foi
ineficiente na remoção de cor, em uma segunda etapa os autores utilizaram apenas cal, em
concentrações de 0 a 1500 mg/L, obtendo remoções de DBO5 inferiores a 13% e de DQO
inferiores a 24%, com formação abundante de lodo e elevação do pH a 11,5 quando da
aplicação da taxa mais elevada. Os autores relatam obtenção de um sobrenadante límpido
com aplicação 900 mg/L de cal. Aplicando cal a lixiviado com 7385 mgDBO5/L e 12.923
mgDQO/L e pH = 5,3 as remoções de DQO alcançadas foram análogas, havendo porém
menor elevação do pH. Os autores verificaram altas remoções de ferro nos processos, bem
como o fato de as remoções de matéria orgânica estarem associadas à fração suspensa.
Concluíram pela viabilidade do processo somente quando conjugado a outros processos de
tratamento.
DANTAS (1982) testou, em escala de bancada, o tratamento de lixiviado em fase
acidogênica através de coagulação com sulfato de alumínio. Aplicando dosagem de 2000
mg/L do coagulante, obteve 37% de remoção de matéria carbonácea. Concluiu pela pouca
efetividade do tratamento em função dos seus elevados custos.
HO et al. (1974) trabalharam com diversos agentes coagulantes para verificar
remoção de matéria carbonácea, cor e ferro em lixiviados. Aplicando cal [Ca(OH)2] a diluição

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 290


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

de lixiviado bruto com concentração final de 10,65 gDQO/L obtiveram remoção de 99% de
ferro a partir de 870 mgCa(OH)2/L e um efluente muito clarificado com pH final 12 utilizando
1840 mg Ca(OH)2/L. A remoção de matéria carbonácea foi irrisória com tais dosagens.
Utilizando adição de 2700 mgCa(OH)2/L a lixiviado pré-tratado anaerobicamente com 558
mgDQO/L e 150 mgDBO5/L, obtiveram um efluente final clarificado amarelado com pH = 11,
sem concentração mensurável de ferro e com redução de DQO de apenas 10%. Utilizando
adição de 1400 mgCa(OH)2/L a lixiviado pré-tratado anaerobicamente e aerobicamente com
366 mgDQO/L e 40 mgDBO5/L, obtiveram um efluente final clarificado amarelado com pH =
11,5, sem concentração mensurável de ferro e com redução de DQO de 29%. Utilizando
sulfeto de sódio em dosagens de 0-1000 mgNa2S/L no tratamento de lixiviado com pH = 5,9-
6,1 e 10,65 gDQO/L obtiveram eficiências muito inferiores às obtidas com utilização de cal,
com grande formação de lodo. Utilizando sulfato de alumínio em dosagens de 0-1000
mgAl2(SO4)3/L no tratamento de lixiviado com pH inicial mantido em 7,0 e com 9,1 gDQO/L,
também obtiveram reduzidas remoções de DQO com grande formação de lodo. Com a
aplicação de 1000 mgFeCl3/L a lixiviado com 9100 mgDQO/L e pH = 7,0, os autores
obtiveram 16,3% de remoção de DQO, 97,6% de remoção de ferro e um efluente límpido
com pH final igual a 7,0.
KNUPP et al. (2009) testaram os coagulantes sulfato de alumínio e cloreto férrico
para a coagulação de lixiviados novos e maduros. Utilizando cloreto férrico em dosagens de
0,5 a 6,0 g/L, mistura rápida a 150 rpm durante 5 minutos, e lenta a 40 rpm durante 40
minutos, e havendo condicionado inicialmente o pH dos lixiviados a 10,0, obtiveram
eficiências máximas de 93% na remoção de turbidez, 93% na remoção de sólidos suspensos
totais e 73% na remoção de DQO. O tempo ótimo de sedimentação foi reportado como duas
horas. Os autores concluíram pela superior eficiência do cloreto férrico em relação ao sulfato
de alumínio.
WANG et al. (2002) utilizaram cloreto férrico para coagulação de lixiviado com
5800 mgDQO/L, 430 mgDBO5/L e pH = 7,6, obtendo 24% de remoção de DQO a partir de
uma dosagem de 1,0 g/L. Observaram que enquanto a remoção de cor foi tão mais efetiva
quanto maior a dosagem utilizada, após 500 mg/L a remoção de DQO incrementou-se
apenas lentamente. A remoção de DQO não se alterou significativamente entre os ajustes
iniciais de pH testados, de 3,0 a 8,0, rebaixando-se gradualmente com a elevação destes,
porém a redução da cor elevou-se significativamente com a redução do pH.
LIN e CHANG (2000) testaram cloreto de polialumínio (PAC) para tratamento
preliminar de lixiviado com pH = 7,8 e 1824 mgDQO/L. Observaram superior performance
em ajuste de pH em 5,0 e concentração de PAC de 200 mg/L, obtendo eficiências máximas
próximas a 70% de remoção de DQO. Os autores utilizaram 100 rpm durante 30 minutos
(mistura rápida) e 30 rpm durante 15 minutos (mistura lenta), utilizando adição de polímero
a uma concentração de uma décima parte da dosagem do coagulante. Os autores
determinaram uma relação de proporcionalidade linear entre a DQO inicial do lixiviado e a
dosagem de coagulante a utilizar para maximização da remoção de DQO. Tal fato evidencia a
conveniência de utilizar-se, corriqueiramente, em uma planta de tratamento, dada a

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 291


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

variabilidade sazonal das concentrações dos lixiviados, o teste de jarros para a determinação
das dosagens ótimas de coagulantes a utilizar.
GUO et al. (2010) utilizaram o processo de coagulação-floculação como última
etapa de uma sequência de unidades de tratamento de lixiviado. Os autores obtiveram
eficiência de 36% na remoção de DQO, em pH = 5,0, quando utilizando 800 mg/L de sulfato
férrico.
CASTRILLÓN et al. (2010) testaram cloreto férrico, sulfato de alumínio e policloreto
de alumínio, utilizando diferentes dosagens e ajustes iniciais de pH, para o tratamento de
lixiviados. Relataram eficiência de remoção de DQO de 34% aplicando 4,0 g/L de policloreto
de alumínio, em pH 6,5, a lixiviado novo, e eficiência de remoção de 73% de DQO, em pH
5,2, utilizando 1,7 g/L de cloreto férrico em lixiviado velho.
Estudos de coagulação-floculação aplicados a lixiviado com conteúdo de
nitrogênio amoniacal previamente removido por arraste com ar foram realizados por PI et al.
[(2009) apud TELLES, 2010)] visando à remoção de DQO e ao aumento da biodegradabilidade.
Os autores utilizaram os coagulantes policloreto férrico, cloreto férrico, polissulfato férrico e
sulfato de alumínio, variando concentrações na faixa de 100 a 1100 mg/L, em pH = 9,0. As
melhores eficiências de remoção de DQO, 43,6% e 37% respectivamente, foram obtidas
utilizando os coagulantes policloreto férrico e cloreto férrico, a 600 mg/L.
Ensaio realizado por RODRIGUES (2004) resultou em uma eficiência de remoção de
aproximadamente 44,8% e 57,5% para DQO e COD, respectivamente, no tratamento de
lixiviado, utilizando 700 mg/L de cloreto férrico e polieletrólito auxiliar, em pH = 4,0.
BILA (2000) realizou testes com quatro diferentes coagulantes (sulfato de
alumínio, cloreto férrico, Tanfloc SG® e Cloralfloc 18®) em conjunto com polieletrólitos,
aplicados ao tratamento do lixiviado do Aterro Metropolitano de Gramacho, Rio de Janeiro.
Os melhores resultados foram obtidos utilizando dosagens de cloreto férrico e de sulfato de
alumínio na faixa de 700-950 mg/L, em pH entre 4,0 e 5,0, alcançando eficiências de
remoção de DQO de 40% a 43% e de DBO5 de 39% a 40%.
TATSI et al. (2003) obtiveram, nos ensaios de coagulação-floculação aplicados a
lixiviado parcialmente estabilizado por recirculação, com DQO variando na faixa de 700-
15.000 mgO2/L, e pH previamente ajustado em 10,0, eficiência de remoção de DQO de 80%
utilizando de cloreto férrico a 2,0 gFe+3/L
GEWEHR (2012), juntamente com o autor, testou quatro diferentes coagulantes
(cloreto férrico, sulfato férrico, policloreto de alumínio (PAC), e tanino Tanfloc SG®) em
lixiviados previamente tratados em reator em bateladas sequenciais (RBS), objetivando à
remoção biológica de nitrogênio. Verificou a superior performance dos coagulantes férricos,
inclusive do ponto de vista financeiro, para remoção de cor, turbidez e DQO. Os resultados
otimizados da pesquisa são apresentados na Tabela 3.3.5.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 292


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.5 – Resultados de GEWEHR (2012) para ensaios de coagulação utilizando lixiviado
previamente tratado em RBS
Coagulante PAC Cloreto Férrico Sulfato Férrico Tanino
pH ótimo de ajuste 6,2 6,2 6,0 5,4
Dosagem ótima 2200 mgAl2O3/L 3200 mgFeCl3/L 1200 mgFe+3/L 7500 mg/L
Remoção de Turbidez* 97,1% 97,7% 97,3% 94,2%
Remoção de DQO 48,5% 51,8% 54,6% 22,2%
Remoção de Cor Verdadeira 91,5% 95,2% 94,1% 86,3%
pH Final 4,6 3,6 4,2 5,0
Fração da fase lodo gerada 45,5% 40% 39,5% 50%
Custo por m3 tratado R$ 9,77 R$ 4,63 R$ 4,37 R$ 16,35
*a turbidez foi determinada após filtração
Fonte: Gewehr (2012)

Processos de membrana
Os processos de membrana baseiam-se na passagem do lixiviado por um meio
semipermeável, de modo que poluentes nele fiquem retidos, produzindo um permeado de
melhor qualidade. Três processos básicos distinguem-se:
 Filtração: constitui-se no processo simplificado de remoção por tamanho de
abertura de malha da membrana. A filtração comum remove apenas sólidos
grosseiros; a microfiltração remove bactérias e sólidos suspensos [diâmetro
de partícula superior a 0,1 m)], enquanto a ultrafiltração remove ainda
moléculas orgânicas de elevado peso molecular (diâmetro de partícula
superior a 0,0015 m); a nanofiltração remove partículas de massa molecular
superior a 20 Da (Da = Dalton = 1,66 x 10-27 kg);
 Osmose Direta: consiste na passagem de água da constituição do lixiviado
através de uma membrana semipermeável para um meio com uma solução
salina concentrada (agente osmótico) devido à pressão osmótica gerada pelo
gradiente de concentração, até que ambas as soluções apresentem
concentrações iguais. A solução salina resultante é posteriormente
desidratada regenerando-se a concentração original para continuar o
processo. Conforme HARRIS et al. (2000) o processo extrai tipicamente 93% de
água do lixiviado;
 Osmose Reversa: consiste no processo oposto à osmose direta, permitindo
remoção de sólidos dissolvidos. A passagem de água através de uma
membrana semipermeável, do lixiviado concentrado para uma solução menos
concentrada, é obtida pela aplicação de uma pressão superior à pressão
osmótica natural, de modo que os poluentes fiquem retidos na membrana. Os
produtos do processo são um permeado de alta qualidade e uma solução
salina concentrada que necessita tratamento ou correta destinação posterior.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 293


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A osmose reversa é considerada um processo de alta performance para o


tratamento de lixiviados (QASIM; CHIANG, 1994). Sua utilização, ao longo dos anos, tem sido
limitada em função do elevado custo das membranas necessárias ao processo. Todavia,
recentes informações dão conta de que a China vem dispondo no mercado internacional
membranas com custos progressivamente mais baixos.
CHIAN e DEWALLE (1976), utilizando o processo com membranas de acetato de
celulose para tratamento de lixiviado com 53.300 mgDQO/L reportaram remoções de DQO
entre 56% e 89%; tratando lixiviados efluentes de filtro anaeróbio e de lagoa aerada
obtiveram, respectivamente 98% e 95% de remoção de DQO. Os seus estudos enfatizam a
sensibilidade das membranas ao pH, observando a seletividade das mesmas às formas
dissociadas dos ácidos voláteis em relação às não-dissociadas. Nos estudos, a remoção de
sólidos totais dissolvidos (STD) alcançou 99%. KINMAN et al. (1985), utilizando uma taxa de
aplicação de 2,50 m3/m2 e uma pressão de trabalho de 1400 a 1700 kN/m2 obtiveram 97%
de redução de orgânicos, 97,5% de remoção de STD e rebaixamento das concentrações dos
metais aos limites da detecção analítica.

Stripping de amônia
Um dos aspectos fundamentais da problemática dos lixiviados refere-se às
elevadas concentrações de nitrogênio, as quais podem alcançar 3000 mgNTK/L ou mais
[LEMA et al. (1988) reportaram concentração de 4010 mgNH4+-N/L em lixiviado de aterro
espanhol].
A amônia, em fase aquosa, encontra-se em um equilíbrio de duas formas, que são
a iônica (NH4+) e a molecular gasosa (NH3). A equação de equilíbrio pode ser escrita como em
3.3-2.

NH4+  NH3 + H+ Kb = 1,8x10-5 (3.3-2)

Observe que a equação 3.3-2 já foi apresentada, como equação 1.4-5. Este
equilíbrio depende do pH, e em pH = 11 estará praticamente totalmente deslocado para a
direita. O stripping de amônia é um processo físico de remoção da amônia gasosa do líquido,
principalmente devido à elevação da superfície total de contato da fase líquida com o meio
(atmosférico) circundante, de modo que efeitos de arraste e difusão molecular promovam a
sua passagem para este último. O processo de remoção da amônia livre do meio líquido
ocasiona progressivos deslocamentos do equilíbrio químico no sentido de sua formação. A
elevação da temperatura favorece o processo, uma vez que eleva a pressão parcial de vapor
da amônia. O processo de stripping é geralmente precedido de adição de álcalis para elevar
o pH do meio líquido e produzir elevadas concentrações relativas de amônia na forma
gasosa.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 294


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

KEENAN et al. (1984) utilizaram uma lagoa com sistema de air stripping para
remoção preliminar de amônia de lixiviado com concentração média de 1001 mgN/L. O TDH
na lagoa era de 1,74 d, sendo a unidade precedida de um tanque de equalização e de um
reator cilíndrico de contato de fluxo ascendente operando com TDH de 1,7 h onde, através
da adição de uma solução de cal, obtinha-se elevação do pH, além de coagulação e
precipitação de metais pesados e parte da matéria orgânica do lixiviado. Os autores
reportam uma eficiência média de 50% de remoção de amônia obtida no sistema conjugado
coagulação-precipitação/air stripping, não reportando a quantidade de cal utilizada, o pH do
afluente à lagoa de remoção de amônia, tampouco detalhes operacionais dessa.

Tratamento com complexos argilosos


Os complexos argilosos são produtos à base de bentonita modificada com
polímeros e produtos químicos para prover tratamento de óleos, sulfatos, fosfatos e metais.
Através da passagem do lixiviado pelo leito argiloso, tais poluentes são microencapsulados
nos retículos do meio. Com a adição de cal, a formação de reações pozolâmicas completa o
processo gerando uma massa de sólidos argilosos e poluentes fortemente agregados por
forças eletrostáticas e de Van der Walls. Conforme HARRIS et al. (2000) o processo completo
não excede o período de um minuto.

Aplicação em leitos de vermicomposto


REICHERT (1999) propôs a utilização de leitos de material orgânico compostado e
maturado em presença de minhocas (vermicompostagem) para o tratamento de lixiviados,
em função das características quelantes e adsorventes do húmus presente no material.
Aplicando lixiviados relativamente já atenuados (900 mgDQO/L; 652 mgNTK/L) sob taxas de
2,1-6,4 L/(m2.d), correspondendo a 13-40 L/(m3.d) obteve reduções de DQO superiores a
50%, de metais entre 55% e 90%, e de NTK superiores a 98% utilizando insuflamento de ar.
Concluiu pela excelência da alternativa, especialmente para remoção de NTK, ainda que
ressaltando a necessidade de tratamento subsequente, especialmente para a remoção dos
nitratos gerados no processo.

Evaporação
O processo aqui denominado evaporação consiste na redução dos volumes de
lixiviados através da vaporização de parte do seu conteúdo de água. O processo de
evaporação natural consiste na utilização da energia solar para aquecer o lixiviado,
requerendo elevada interface líquido-atmosfera, ou seja, elevadas áreas para construção de
lagoas de secagem. Uma proposta mais efetiva é a de utilização do potencial calorífico do
biogás gerado no aterro para aquecimento do lixiviado. A conversão de água líquida a 0oC a
vapor a 100oC demanda teoricamente 640 Mcal/m3. Conservadoramente, pode-se
considerar que 1,0 Nm3 de biogás produz, por combustão, 4000 kcal. Nesse sentido, seriam
necessários 160 Nm3 de biogás para a conversão de 1 m3 de água líquida presente no

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 295


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

lixiviado a 0°C a vapor a 100°C. A viabilidade prática da metodologia será função das
produções de lixiviado e biogás do aterro, bem como da capacidade calorífica deste último.
O sistema poderá ser proposto com ou sem recondensação da água. No primeiro caso
deverá haver maximização da recuperação de energia. O lançamento do vapor na
atmosfera, ou, após recondensação, em corpo receptor deverá obedecer à legislação
ambiental, visto que haverá conjunta vaporização de amônia, ácidos voláteis, álcoois e
outros compostos presentes no lixiviado.

Recirculação
A recirculação de lixiviados consiste na sua reaplicação na massa de resíduos, de
modo que percole pela zona não-saturada, entrando em contato com resíduos aterrados,
por fim alcançando a zona saturada. Tal processo é factível apenas em regiões onde o
balanço hídrico seja favorável à reinserção de líquido em célula de aterro. Diversos autores
recomendam o processo para aceleração da decomposição dos resíduos, uma vez que o
lixiviado recirculado contém apreciáveis concentrações de nutrientes e microrganismos
aclimatados ao meio em fermentação anaeróbia dos resíduos e a seus compostos inibidores.
No que se refere ao rebaixamento da carga poluente do efluente recirculado, a zona não-
saturada do aterro poderá atuar como um filtro aeróbio ou anaeróbio, dependendo da
forma de aplicação, onde ocorrerão, adicionalmente, efeitos de complexação e precipitação
de metais na matriz de percolação. ROBINSON e MARIS (1985), testando a recirculação de
lixiviados em um aterro em escala real observaram o decaimento de 40% da demanda
química de oxigênio em 20 meses, além de reduções significativas nas concentrações de
ácidos graxos voláteis (AGV) e metais, bem como elevação do pH. Tais resultados foram
confrontados com os de lixiviados gerados em uma área de aterro de resíduos adjacente à
do teste, utilizada como controle, verificando-se que o tratamento reduziu
significativamente o potencial poluidor do lixiviado em relação ao controle.
Um efeito negativo da recirculação é o incremento da concentração de amônia
no lixiviado (HARRIS et al., 2000). Contudo, a remoção de nitrogênio do lixiviado pode ser
obtida por um processo conjugado de aeração com nitrificação e recirculação. O lixiviado
originalmente recolhido, quando submetido a um processo de aeração com larga conversão
de amônia a nitratos, encontrará no meio anóxico do aterro condições ideais para sofrer
desnitrificação, uma vez que os nitratos exercerão papel de aceptores de elétrons dos
processos de oxidação de matéria carbonácea pelos organismos heterotróficos, sendo
produzido nitrogênio molecular como produto.
COSSU et al. (2000) apontam como desvantagens da recirculação a formação de
acúmulos de líquido em zonas semi-impermeáveis dos maciços de aterro, de altos
gradientes hidráulicos sobre a impermeabilização de base, de instabilidades geotécnicas e de
problemas na drenagem de biogás.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 296


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Aspersão
O processo de aspersão consiste no lançamento ao ar do lixiviado em gotículas
de reduzido diâmetro, favorecendo o processo de vaporização devido à elevação da área de
contato para troca de calor e massa entre ar e água, que será tanto mais efetiva quanto
maiores as temperaturas do lixiviado e do ambiente e menor a umidade relativa do ar. O
residual não evaporado, dependendo da área escolhida para a aspersão, sofrerá processos
de estabilização na matriz do solo. A técnica foi exaustivamente utilizada no Aterro Sanitário
Santa Tecla, sito em Gravataí, RS, sendo bastante bem sucedida em época de estiagem para
rebaixamento dos volumes de lixiviados gerados que efetivamente foram encaminhados à
estação de tratamento. Uma variação do processo é o landspreading, que consiste no
gotejamento ao solo do efluente, a partir de longos sistemas de tubulações perfuradas, de
maneira a que cada gotícula lançada detenha o tempo necessário para evaporação, sem
percolação e sem geração de escoamento superficial.

3.3.3.4 Métodos químicos


Os métodos químicos empregam reagentes químicos, os quais aplicados aos
lixiviados resultam em reações químicas que transformam compostos presentes nas
composições dos lixiviados em produtos termodinamicamente mais estáveis ou que possam
ser removidos fisicamente do efluente.

Precipitação química
Denomina-se precipitação química ao processo de rebaixamento da solubilidade
de uma espécie química a partir da modificação do pH do meio, ou de formação de sólido
por reação química, em ambos os casos, em decorrência da adição de um reagente. Pode-se
considerar a precipitação química como um misto de processo químico e físico-químico.
Embora a precipitação química possa ser inicialmente pensada como processo
aplicado à remoção de metais, pesquisas demonstram que o processo pode ter elevada
efetividade na remoção de matéria carbonácea e nitrogenada.
Hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio são os agentes de precipitação química
mais frequentemente utilizados não somente no tratamento dos lixiviados, mas em diversas
plantas de tratamento de efluentes, principalmente em função de constituírem-se em
agentes baratos e eficientes para ascensão do pH.
Dantas (1982) aplicou 7,0 g de cal por litro de lixiviado em fase acidogênica.
Obteve reduções de matéria carbonácea de 28% com tal dosagem e 31% com aeração
conjunta à dosagem de cal de 8 g/L.
RENOU et al. (2007) reportam experiências utilizando três diferentes agentes de
precipitação aplicados a diferentes lixiviados, resultados reportados na Tabela 3.3.6.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 297


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.6 - Resultados da precipitação química aplicada a lixiviados


Razão
DQO do
DBO5/DQO do pH do meio Agente de precipitação Remoção Fonte
lixiviado
lixiviado
BAIG et al.
1585 0,07 8,2 Ca(OH)2 1g/L 27% de DQO
(1999)
MgCl2.6(H2O)+Na2HPO4.12( 40% de DQO;
7511 0,19 8,22 H2O) - (Razão Mg: 98% de LI et al. (1999)
NH4:PO4=1:1:1) amônia
MgCl2.6(H2O)+Na2HPO4.12(
98% de LI e ZHAO
65-1047 - 7,79-8,52 H2O) - (Razão Mg:
amônia (2001)
NH4:PO4=1:1:1)
35.000 - Estruvita (Razão OZTURK et al.
0,5 – 0,6 5,6 – 7,0 50% de DQO
50.000 Mg:NH4:PO4=1:1:1) (2003)
Fonte: RENOU et al. (2007)

Oxidação química
Os processos de oxidação química visam, através da adição de certos compostos,
insolubilizar poluentes, gaseificá-los ou transformá-los em produtos inócuos, além de oxidar
matéria orgânica e outros compostos geradores de demanda de oxigênio.
HO et al. (1974) testaram a oxidação química de lixiviados utilizando cloro
gasoso, hipoclorito de cálcio e permanganato de potássio em aparato de jar-test. Os
experimentos foram conduzidos de modo a se verificarem as remoções de DQO e metais
(utilizando ferro como indicador) obtidas e a clarificação do sobrenadante, além da
produção de lodo decorrente. Os autores traçaram as seguintes considerações referentes
aos testes com os agentes oxidantes:
 a utilização de cloro gasoso para tratamento de lixiviados não se apresentou
atraente. Além da baixa eficiência de remoção de DQO e grande quantidade
de lodo formado, a demanda do oxidante apresenta-se altíssima para
lixiviados concentrados. Toda amônia contida nos lixiviados oferece demanda
de cloro, sendo oxidada anteriormente à matéria carbonácea, gerando
compostos tóxicos (cloraminas);
 a aplicação de hipoclorito de cálcio apresentou boas remoções de DQO, ferro
e cor, quando dosada acima de 4000 mg/L, porém a produção de lodo foi
elevada;
 os resultados obtidos pela aplicação de permanganato de potássio foram
considerados desanimadores, dadas as altas dosagens requeridas para
obtenção de eficiência regular e à elevada formação de lodo.
Os principais resultados dos testes efetuados por HO et al. (1974) são
apresentados na Tabela 3.3.7.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 298


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 3.3.7 – Resumo dos principais resultados obtidos por Ho et al. (1974) na precipitação
química aplicada ao tratamento de lixiviados
Agente/ Ferro Aparên-
Dosagens DQO Remoção Remoção
(Dosagens pH pH Inicial ST final cia do
ótimas inicial de DQO de Ferro
testadas inicial final (mgFe/L) (mg/L) sobrena-
(mg/L) (mgO2/L) (%) (%)
em mg/L) dante
Cl2 Clarifica-
400 2,2 7,0* 340 3,7 12,6 94,6 1962
(0-1540) do
Cl2 Clarifica-
1200 1,75 7,0* 340 3,7 24,0 100 4200
(0-1540) do
Ca(OCl)2 Clarifica-
8000 9,0 7,0 1500 38 48,0 100 9274
(0-15.000) do
KMnO4 5,9- Clarifica-
500 5,8 10.650 330 3 99,09 6700
(0-10.000) 6,1 do
KMnO4 5,9-
10.000 5,8 10.650 330 16,8 - - -
(0-10.000) 6,1
*obtido por adição de ácido ou álcali
Fonte: HO et al. (1974)

Ozonização
Constituindo-se igualmente em um processo de oxidação química a aplicação de
ozônio (O3) apresenta uma série de vantagens no tratamento de águas residuárias:
 alta reatividade com compostos refratários ao tratamento biológico ou ao
tratamento utilizando oxidantes químicos comuns;
 alta eficiência na remoção de cor e odor de águas residuárias;
 alta eficiência na remoção de patogênicos;
 solubilidade em água do ozônio treze vezes superior à do oxigênio molecular.
HO et al. (1974) utilizaram uma corrente de oxigênio de 100 L/h com
aproximadamente 3,6% (25,7 mg/min) de ozônio para o tratamento de 200 mL de lixiviado
com 7162 mgDQO/L, 45 mgFe/L e pH = 7,3. Com um tempo de contato de 1 h os autores
obtiveram uma redução de DQO de 5,6% e de ferro de 82%; elevando o tempo de contato
para 4 h a remoção de DQO foi de 37,4% e a de ferro de 95,5%. Ambos os tempos de contato
produziram um efluente límpido, redução de dureza e de sólidos totais.

Processo Fenton
A oxidação química apresenta-se como um conjunto de metodologias de elevado
potencial para aplicação no tratamento de efluentes contendo compostos tóxicos e pouco
ou não biodegradáveis. Os processos oxidativos convencionais utilizam como agentes
oxidantes oxigênio, ozônio, cloro, hipoclorito de sódio, dióxido de cloro, permanganato de
potássio e peróxido de hidrogênio. Todavia, existem numerosos compostos que são

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 299


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

resistentes à ação direta dos agentes oxidantes convencionais. Nesses casos, torna-se
necessário recorrer aos denominados processos oxidativos avançados.
Genericamente, os processos oxidativos avançados encontram-se divididos em
dois grupos: (1) processos homogêneos e (2) processos heterogêneos. Os primeiros ocorrem
numa única fase e utilizam ozônio, peróxido de hidrogênio ou o denominado reagente de
Fenton como geradores de radicais hidroxila. Os segundos utilizam semicondutores como
catalisadores (dióxido de titânio, óxido de zinco, etc.) (TEIXEIRA, 2002). A utilização de
radiação ultravioleta e as propriedades semicondutoras do catalisador permitem a formação
dos radicais hidroxila, com consequente oxidação do efluente. A fotocatálise heterogênea
tem sido bastante estudada tanto com catalisador em suspensão como suportado em
reatores.
Algumas modalidades dos processos oxidativos avançados baseiam-se na
formação do radical hidroxila (OOH), que corresponde à conhecida hidroxila proveniente das
bases, apenas com um elétron desemparelhado. Tal radical apresenta potencial de oxidação
a pH = 0 muito elevado (E0= 2,3V) (CASTRO e FARIA, 2001), somente inferior ao do gás flúor, e é
capaz de reagir com quase todas as classes de compostos orgânicos. Tal reação pode,
idealmente, conduzir à formação de água e dióxido de carbono, ou produzir compostos
ainda não estáveis termodinamicamente, mas que se apresentem biodegradáveis, portanto
suscetíveis ao tratamento biológico complementar.
Em 1876, Henry J. H. Fenton observou as propriedades fortemente oxidantes de
uma solução reagente de peróxido de hidrogênio e íons ferro divalentes (Fe+2) (catalisador
da formação dos radicais hidroxila). Verificou que utilizando tal reagente, muitas moléculas
orgânicas podiam ser facilmente oxidadas. A Reação de Fenton, definida hoje como a
geração catalítica de radicais hidroxila a partir da reação em cadeia entre o íon ferroso e o
peróxido de hidrogênio em meio ácido, tem demonstrado elevada eficiência na oxidação de
compostos orgânicos tóxicos e/ou não biodegradáveis.
A Reação de Fenton é aplicada essencialmente no tratamento de águas
residuárias, lodos, e na remediação de solos contaminados. Entre os vários efeitos obtidos
com o tratamento utilizando o reagente de Fenton destacam-se:
 degradação da matéria orgânica;
 diminuição da toxicidade;
 aumento da biodegradabilidade;
 diminuição de DBO, DQO e COT;
 remoção de cor e de odor.
Existem variadas limitações inerentes à utilização do reagente de Fenton. Alguns
compostos orgânicos, como o ácido acético, por exemplo, não são oxidados no processo. Por
outro lado, poderá haver formação de outros compostos finais ou intermediários que serão
igualmente tóxicos em relação aos compostos originais, e que comprometam a viabilidade

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 300


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

de aplicação do tratamento, o que torna necessário o acompanhamento do processo através


da realização de testes de toxicidade (PARRA CARDONA, 2001).
O radical hidroxila pode atuar sob vários mecanismos diferentes como um
eletrófilo ou como um nucleófilo, atacando moléculas orgânicas pela abstração de
hidrogênio ou acoplando-se em duplas ligações em anéis aromáticos (hidroxilação),
produzindo compostos oxidados, inclusive em posições substituídas, produzindo reações
como desmetoxilação, desalogenação, desalquilação, desnitração, desaminação e
descarboxilação e removendo elétrons (SILVA, F., 2009; MORAVIA, 2010).
O Processo Fenton clássico pode ser compreendido como a conjunção de quatro
estágios sucessivos (KANG e HWANG, 2000):
 ajuste inicial de pH, visando à otimização das condições para a maximização
da formação do radical hidroxila: normalmente ajustado entre 3,0 e 5,0;
 reação de oxidação: formação do radical hidroxila, a partir da adição, ao
efluente, de ferro divalente e peróxido de hidrogênio, com ataque aos
compostos oxidáveis;
 neutralização e coagulação: elevação do pH à faixa 6,0-9,0, por adição de
álcali, ocasionando desestabilização dos colóides presentes no sistema;
 precipitação: formação de hidróxido férrico coloidal e arraste de compostos
desestabilizados com formação e sedimentação de lodo físico-químico.
Wu et al. (2010), pesquisando a remoção de DQO e de substâncias húmicas em
lixiviados, fizeram variar o pH inicial das oxidações Fenton, mantendo todas as outras
condições de contorno idênticas, pelo que obtiveram remoções de substâncias húmicas
entre 20% e 60% e de DQO entre 15% até superior a 60%. Observaram as superiores
remoções em pH = 4,0.
Na ausência de ferro não se verifica formação de radicais hidroxila. Elevando-se a
dosagem de ferro e fixando todos os outros parâmetros, obtêm-se maiores remoções de
DQO. Porém, a partir de uma dada concentração crítica, a elevação da dosagem de ferro não
promove superiores remoções. Tal fato leva a crer que existe uma quantidade ótima de
catalisador a utilizar. Vários estudos indicam que uma razão molar de H2O2:Fe de 5:1
provoca uma remoção de DQO e de cor que não são incrementadas pela adição de uma
maior quantidade de ferro. ALVES (2004) utilizou relações H2O2/DQO = 2 g/g e H2O2/Fe+2 = 20
g/g, aplicadas a lixiviado com pH ajustado em 4,0, sob tempo de reação de 15 minutos,
obtendo remoções de 71,4%-72,6% de COT, 75%-89% de DQO e 95,9%-96,2% de cor.
Wu et al. (2010) reportam que, em seus ensaios, a dosagem de ferro influenciou
a remoção de DQO por coagulação marcadamente a relações baixas entre os reagentes
([H2O2]/[Fe+2] < 3,0), mas não a relações extremamente elevadas ([H2O2]/[Fe+2] > 6,0).
A formação de lodos férricos revela-se como o grande inconveniente do processo
Fenton clássico. Para aproveitar as vantagens do processo Fenton e minimizar a formação de
lodos, estudou-se a aplicação de radiação ultravioleta como coadjuvante na formação de

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 301


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

radicais hidroxila. Deste modo, a mesma concentração de radicais é obtida utilizando uma
menor concentração de íon ferroso. Este processo é conhecido por foto-Fenton. O processo
foto-Fenton tem obtido bastante sucesso na destruição e mineralização de pesticidas em
meio aquoso e em solos.
A utilização de íons ferro suportados em uma matriz porosa de zeólito surge
como alternativa à utilização de ferro em solução. Apesar de haver alguma remoção do ferro
suportado durante o processo de oxidação, a quantidade é relativamente baixa e não
interfere com os tratamentos biológicos posteriores.
LANGE et al. (2006), trabalhando com lixiviados com DQO entre 1900 e 2500
mgO2/L obtiveram remoções médias de DQO da ordem de 61%, havendo alcançado até 75%.
As remoções de nitrogênio amoniacal e total foram influenciadas pelas condições da reação,
sendo mais favoráveis em dosagens maiores de peróxido de hidrogênio e menores de ferro,
alcançando-se remoções de até 85% para as melhores condições e 10% para condições
menos favoráveis.
IVAN et al. (1999 apud KURT et al., 2002) apresentam um quadro com taxas de
aplicação de íons ferro e peróxido de hidrogênio e eficiências de remoção de DQO para
experimentos testando a oxidação de lixiviados, o que é reproduzido na Tabela 3.3.8.

Tabela 3.3.8 - Resultados de Ivan et al. (1999) experimentando o Reagente de Fenton para o
tratamento de lixiviados
+2 +2
DQO Fe H2O2 Remoção de Fe /DQO H2O2 /DQO
Tipo de lixiviado
(mg/L) (mg/L) (mg/L) DQO (%) (g/g) (g/g)
Lixiviado efluente de UASB 1500 300 200 70 0,28 0,18
Lixiviado efluente de tratamento
1100 900 900 63 1,30 1,30
anaeróbio/aeróbio
Lixiviado efluente de tratamento
1720 700 200 60 0,68 0,19
aeróbio
Lixiviado bruto 2000 200 1500 68 0,15 1,10
Fonte: IVAN et al. (1999 apud KURT et al., 2002)

KURT et al. (2002) testaram, em escala de bancada, o tratamento de lixiviados (1)


bruto, (2) pré-tratado anaerobicamente e (3) pré-tratado sequencialmente anaeróbica e
aerobicamente, utilizando o reagente de Fenton. Para tal, rebaixaram o pH das amostras a
3,0 utilizando ácido sulfúrico 1N, agitaram as misturas por um minuto a 500 rpm e, após, por
duas horas a 30 rpm. Por fim, elevaram o pH das amostras a 9,0, com 20 minutos de mistura,
utilizando NaOH 1N. O tempo necessário para sedimentação relatado foi de uma hora.
A Tabela 3.3.9 relata os melhores resultados obtidos por KURT et al. (2002) para
os três tipos de lixiviados supra-referidos, inicialmente condicionados a pH = 3,0, variando
dosagens de ferro e de peróxido de hidrogênio. Ressaltam os autores, a necessidade de
aplicar primeiramente o sulfato ferroso, e somente após, o peróxido de hidrogênio. Essa
observação também é enfatizada por LI et al. (2009), que informam uma redução de

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 302


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

eficiência da ordem de 11% na remoção de DQO quando invertida a ordem de adição dos
reagentes.

Tabela 3.3.9 - Resultados de Kurt et al. (2002) para as dosagens ótimas do Reagente de
Fenton no tratamento de diferentes lixiviados condicionados a pH = 3,0
Lixiviado efluente de
Lixiviado Lixiviado tratado
Características tratamento sequencial
bruto anaerobicamente
anaeróbio e aeróbio
DQO inicial (mg/L) 17.000 6700 1750
DBO5 inicial (mgO2/L) 14.000 3800 620
Relação DBO5 /DQO inicial 0,82 0,57 0,35
Dose ótima de Fe+2 (mg/L) 3000-4500 100 100
Dose ótima de H2O2 (mg/L) 30.000 5000 1860
Dose de H2O2 (% da demanda
85 35 50
teórica de oxigênio)
DQO final (mgO2/L) 6850 2380 440
DBO5 final (mgO2/L) 5950 1170 101
Relação DBO5 /DQO final 0,87 0,49 0,23
Remoção de DQO (%) 59 64,5 75
Remoção de DBO5 (%) 57,5 69,2 83,7
Remoção de Cor (%) 99 98 99
Remoção de Turbidez (%) - - 99
Fe+2/DQO (mg/mg) 0,18-0,26 0,015 0,057
Fe+2/ H2O2 (mg/mg) 0,1-0,15 0,02 0,054
Volume do lodo gerado (% do
20 10 10
volume da solução)
Fonte: Kurt et al. (2002)

KURT et al. (2002) apresentam a reação de decomposição do peróxido de


hidrogênio, como segue:

2H2O2 → 2H2O + O2 (3.3-3)

Assim, estequiometricamente, para cada miligrama de oxigênio produzida, que


poderá teoricamente ser pensada como origem de um miligrama de oxigênio molecular para
estabilização de demanda do efluente, serão demandadas 2,125 mg de peróxido de
hidrogênio.
DI LACONI et al. (2006) estudaram diferentes variações de dosagens de peróxido
de hidrogênio e ferro no tratamento de lixiviado. Mantendo o aporte constante de 550
mgFe+2/L verificaram que a partir de 3 g/L de peróxido de hidrogênio o incremento da adição

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 303


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

desse não elevou a remoção de DQO. De outro modo, utilizando dosagens constantes de 5
g/L de peróxido de hidrogênio verificaram que aportes de ferro superiores a 1,5 gFe+2/L
igualmente não produziram superiores remoções. Utilizando 5 g/L de peróxido de
hidrogênio e 1,5 gFe+2/L fizeram, então, variar o tempo total de oxidação, pelo que
perceberam que além de 60 minutos não era obtida superior performance na remoção de
DQO, que apresentou-se em cerca de 75%.
DENG (2007) utilizando a razão H2O2/Fe+2 = 3:1, [H2O2] = 240 mM, e pH 3,0 obteve
remoção de DQO de lixiviados de 61%.
LOPEZ et al. (2004) obtiveram os seus melhores resultados aplicando o Processo
Fenton a lixiviado, a partir de uma relação H2O2/Fe+2 = 12:1, pH inicial de 3,0, e tempo de
reação de 2,0 horas, obtendo relação DBO5/DQO final de 0,5 e remoção de 60% da DQO. Já
GOTVAJN et al. (2008) alcançaram 86% de remoção da DQO utilizando Reativo de Fenton, com
elevação da biodegradabilidade do lixiviado e redução da toxicidade. As condições do ensaio
foram: pH = 4, razão H2O2/Fe+2 = 10:1 e tempo de 30 minutos, com temperatura mantida em
40oC.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 304


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

RECALCITRANTE: material orgânica de muito difícil estabilização, resistente à grande maioria


dos tratamento.

mgNH4+-N/L: miligramas de nitrogênio na forma de amônio.

LICOR: também conhecido como licor misto: mistura do efluente em tratamento com o lodo
bacteriano.

PERMEADO: líquido que atravessou um meio semi-permeável.

GRADIENTE HIDRÁULICO: diferença de altitude entre dois pontos dividida pela distância
entre os mesmos.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 305


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

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Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3.4 ESTABILIZAÇÃO AERÓBIA


DE RESÍDUOS SÓLIDOS:
COMPOSTAGEM
A compostagem consiste na reciclagem natural biogênica da fração orgânica dos
resíduos sólidos, que, irrigados e revolvidos em condições geralmente aeróbias, a partir das
reações metabólicas de microorganismos aliadas a processos físicos e químicos, conduz à
obtenção de um material estabilizado, humificado, de qualidades excepcionais para o
condicionamento de solos agrícolas. A compostagem equivale ao processo natural que
ocorre com resíduos orgânicos abandonados ao solo, porém, como metodologia, provê um
material estabilizado em menor tempo e com maior segurança do ponto de vista ambiental.
Tal material, mesmo apresentando concentrações modestas de nitrogênio, fósforo e
potássio, os chamados macronutrientes, apresenta uma série de micronutrientes essenciais
para o crescimento vegetal, além de excelente poder quelante, capacidade de troca
catiônica, condição granulométrica e pH apropriados. A estabilização da matéria orgânica,
através da oxidação e humificação, transforma resíduos sólidos em um produto não ofensivo
ao ambiente. O fato de, a partir de um sério precursor potencial de poluição, quer sejam os
resíduos sólidos, obter-se um produto útil e com valor agregado constitui-se em uma
conciliação de interesses, que faz com que a compostagem esteja hoje ocupando cada vez
mais uma posição de destaque como metodologia de tratamento de resíduos sólidos
urbanos, notoriamente na Europa, em que as diretivas políticas ambientais voltam-se a
limitar a utilização da metodologia aterro sanitário para resíduos orgânicos não
estabilizados. Nesse continente, notoriamente na República da Alemanha, o direcionamento
dos resíduos orgânicos ao processo de compostagem visa, principalmente, a sua
estabilização termodinâmica, e não a utilização em solos agriculturáveis.
O processo de compostagem remonta períodos imemoráveis, em que,
especialmente na Ásia, agricultores formavam montes de resíduos que eram eventualmente
revolvidos e, após maturação, incorporados no solo. No início do Século XX ocorreram as
primeiras tentativas de sistematização científica do processo.
O processo é basicamente dividido em três fases (KIEHL, 2002):
 fase fitotóxica: início da estabilização, com produção de ácidos e toxinas. É
identificada pelo aquecimento da matéria orgânica em compostagem e

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 314


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

evolução de dióxido de carbono e vapor d’água. Nessa fase o material não


pode ser adicionado ao solo agriculturável;
 fase de semicura: fase de estabilização dos compostos químicos em que o
composto não é mais danoso a plantas e sementes; inicia-se entre 10 e 20
dias após o início da compostagem;
 cura, maturação ou estabilização: corresponde à humificação da matéria
orgânica, quando o composto alcança o auge de suas propriedades, com a
mineralização da matéria orgânica.
O material compostado agrega ao solo sais minerais que serão absorvidos pelas
raízes das plantas, e húmus, que é um condicionador das propriedades físico-químicas e
microbiológicas do solo. O composto é tido por muitos como um condicionador de solos,
contudo, dadas as suas características de fornecedor de elementos essenciais à vida, é, na
verdade, um fertilizante orgânico, como a própria legislação brasileira o classifica.
Segundo KIEHL apud LIMA (1995), a compostagem pode ser classificada segundo
(1) a biologia envolvida, (2) a temperatura, (3) o ambiente e (4) o processamento:
(1) Quanto à biologia envolvida:
 Processo aeróbio: processo mais frequentemente adotado, havendo presença
de ar, elevação da temperatura e desprendimento de gás carbônico e vapor
d’água;
 Processo anaeróbio: conduzido na ausência de ar. A temperatura não se eleva
apreciavelmente e há desprendimento dos gases metano, sulfídrico e outros.
Não é costumeiramente adotado;
 Processo misto: combinação dos dois processos, com início aeróbio e
prosseguimento anaeróbio, a partir da depleção do oxigênio. Pode ocorrer
que um processo que se deseja manter aeróbio, por condições de excesso de
umidade (clima) ou deficiência de operação (reviramento) ocorra em parte
aerobicamente, em parte anaerobicamente.
(2) Quanto à temperatura:
 Processo Criofílico: ocorre a baixa temperatura, próxima à ambiente. É a
condição normal após a montagem da leira, principalmente em função da
volatilização da água presente na decomposição da massa;
 Processo Mesofílico: ocorre em temperaturas entre 25oC e 43oC, com
atividade biológica. Inicia-se pouco tempo após a montagem da leira;
 Processo Termofílico: ocorre em temperaturas entre 50oC-55oC, podendo
alcançar até 85oC. Inicia-se após o final da fase mesófila, com elevada
atividade microbiológica, podendo ser mantido por boa parte do tempo de
compostagem a partir de condições específicas. É bastante desejável em
função de eliminar considerável fração dos patogênicos presentes.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 315


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(3) Quanto ao ambiente:


 Processo Aberto: compostagem realizada a céu aberto, em pátio de
maturação;
 Processo Fechado: processo conduzido em digestores, bioestabilizadores ou
células de fermentação, com elevado grau de controle.
(4) Quanto ao processamento:
 Processo Estático: aquele em que o revolvimento da massa em compostagem,
para oxigenação, é feito esporadicamente;
 Processo Dinâmico: aquele em que a massa em digestão é revolvida
continuamente, ou a oxigenação é fornecida por aeração forçada.
À compostagem de resíduos sólidos urbanos devem-se agregar, como pré-
requisitos, os processos prévios de (1) triagem, em que metais, resíduos inorgânicos,
eventuais sobras de tintas, pilhas, lâmpadas e embalagens de produtos perigosos devem ser
removidos, pois além de não serem biodegradáveis incorporarão compostos tóxicos e/ou
indesejáveis no composto orgânico, comprometendo sua viabilidade para a aplicação na
agricultura, devido ao risco de bioacumulação nos tecidos vegetais e (2) trituração, para que
haja superfície de ataque biológico suficientemente grande para que o processo dê-se em
um intervalo de tempo desejável.

Parâmetros de controle da evolução da compostagem


A compostagem ocorre como um sistema dinâmico de evolução de composição e
de propriedades do meio. Neste mesmo sentido, conhecendo-se a evolução natural do
processo e intercedendo para a manutenção das condições de contorno, é possível
monitorar-se o seu andamento, controlando-o, para que produza os resultados desejados.
São parâmetros de monitoramento e controle:
 Temperatura: na fase inicial, criófila, com temperatura próxima à ambiente, a
atividade microbiológica produz calor, que eleva a temperatura da leira à fase
mesófila. Se o processo prosseguir a contento, em alguns dias, haverá
passagem à fase termófila, mantendo-se. O retorno à fase mesófila, entre 30
e 60 dias após o início do processo, indica que o composto está semicurado. A
cura será evidenciada pelo retorno à temperatura ambiente, entre 90 e 120
dias de compostagem. É claro que o descrito somente será verdadeiro se não
houver ocorrido algum problema (ausência de umidade, toxidez aos
microorganismos, etc.) que tenha interrompido o processo microbiológico.
 pH: os resíduos animais e vegetais brutos apresentam reação ácida. Se houver
decomposição anaeróbia inicial dos resíduos previamente à formação das
leiras, há início de produção de ácidos orgânicos voláteis, principalmente
ácido acético. Com a compostagem, a matéria orgânica libera bases e há

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 316


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

formação de ácido húmico, e, por reação entre esses, formação de humatos


alcalinos (KIEHL, 2002). Como consequência disso, há elevação do pH,
passando por 7,0 (neutralidade) e elevando-se a 8,0. Com a amonificação do
nitrogênio orgânico, há prosseguimento da elevação do pH até próximo de
9,0. Finalmente, com a nitrificação de parte da amônia, na fase final da
compostagem, há rebaixamento do pH até próximo de 8,0. A Figura 3.4.1
apresenta a evolução do pH e da temperatura ao longo do processo de
compostagem.
 Matéria orgânica: o processo de oxidação da matéria orgânica transforma
parte do conteúdo em água e dióxido de carbono. Portanto haverá uma perda
da massa original ao longo do processo. A matéria orgânica total dos resíduos
pode ser desdobrada em (1) compostável e (2) não compostável. Resíduos de
animais e vegetais degradam-se facilmente, mas lignina, ceras, resinas e
graxas são de difícil ou lenta degradação. KIEHL (2002) indica que os resíduos
devem conter 40% ou mais de matéria compostável para a obtenção de
composto de boa qualidade. A matéria orgânica total pode ser determinada,
em percentual, por ignição de uma amostra de resíduos a 550oC. O carbono
orgânico total corresponde a uma determinação laboratorial, podendo
também ser estimado dividindo-se a matéria orgânica total pelo fator 1,8.
Prevê-se que 50% da massa de matéria orgânica é metabolizada no processo,
convertendo-se em água e dióxido de carbono, principalmente nos primeiros
40-60 dias de compostagem.
 Teor de cinzas: as cinzas são consideradas a parte inorgânica do material em
compostagem, elevando o seu teor ao longo do processo. Sua determinação é
feita por ignição a 550oC. As cinzas solubilizadas por ácido clorídrico 1:1 e
filtradas em papel filtro correspondem ao material mineral solúvel, que estará
disponível às raízes das plantas. O teor de cinzas solúveis eleva-se ao longo da
compostagem.
 Nitrogênio total: o nitrogênio provém das proteínas animais e vegetais e
encontra-se sempre em proporção maior do que o fósforo e o potássio.
Mesmo havendo perdas de nitrogênio no processo, sua proporção na massa
eleva-se ao longo da compostagem.
 Relação C:N: No processo de compostagem assume papel preponderante a
relação entre as quantidades de carbono e nitrogênio da matéria em
decomposição. Como processo essencialmente aeróbio, os compostos
carbonáceos biodegradáveis são convertidos em dióxido de carbono e água. O
nitrogênio é um nutriente limitante do processo, devido a sua importância
fundamental no crescimento microbiológico (formação dos tecidos dos
organismos), reciclando-se no próprio material, a partir do decaimento
microbiológico a partir do momento da escassez de substrato carbonáceo
para a metabolização. Os microrganismos absorvem carbono e nitrogênio

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 317


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

sempre em uma proporção de 30:1, assim, a relação inicial deve estar entre
25:1 e 35:1. O prosseguimento do processo pode ser monitorado através da
relação C:N. É preciso, porém, considerar que há uma evolução do pH, que se
eleva ao longo do processo, o que, acompanhado pela geração de calor
proveniente dos processos metabólicos, cria condições propícias para a
remoção de nitrogênio do meio como gás amônia (NH3). O próprio excesso de
amônia livre de um composto não curado ocasiona toxidez às plantas. A
semicura do composto ocorre quando a relação alcança 18:1. DINDAL apud
LIMA (1995) afirma que uma relação C:N = 10:1 prenuncia que o composto
está curado, portanto, sem quantidades significativas de carbono degradável
para que sua aplicação no solo esteja livre de concorrência entre os
microorganismos heterotróficos e as plantas. Uma relação inicial elevada,
como 80:1 retardará o tempo de compostagem, em virtude de que faltará
nitrogênio aos organismos decompositores. Ao contrário, uma relação baixa
como 6:1 faz com que haja muita atividade inicial, havendo amonificação e
perda de parte do nitrogênio como amônia livre. Resíduos animais e uréia têm
sido indicados como fontes de nitrogênio para rebaixar a relação C:N.

Figura 3.4.1 – Evolução típica do pH e da temperatura ao longo da compostagem

70 14
13
60
12
50 11
Temperatura ( C)

10
o

40
9
pH

30 8
pH
20 7
temperatura 6
10
5
0 4
0 20 40 60 80 100 120 140 160
dias
Fonte: o autor

 DQO: Demanda Química de Oxigênio: a demanda de oxigênio em 5 dias de


um determinado material corresponde à quantidade de oxigênio necessária
para estabilização (oxidação) da sua carga carbonácea. O monitoramento da
DQO do material em compostagem fornece um indicativo, a cada momento,

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 318


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

do seu grau de estabilização e cura. KIEHL (2002) estabelece que o composto


cru apresenta uma demanda de oxigênio próxima a 900 mgO2/g, enquanto
que o material curado apresenta uma demanda química pouco superior a 300
mgO2/g. A Tabela 3.4.1 apresenta alguns dados típicos referentes ao
monitoramento do composto ao longo do processo.

Tabela 3.4.1 – Correspondência entre valores dos parâmetros de


acompanhamento ao longo da compostagem
Carbono
Nitrogênio (%) Relação C:N DQO (mgO2/g)
Orgânico (%)
33,84 0,84 36/1 902
25,36 1,21 21/1 676
18,47 1,02 18/1 492
11,28 1,06 10/1 300
Fonte: KIEHL (2002)

Conforme KIEHL (2002), há uma relação estreita entre o carbono orgânico total
e a DQO, em virtude da demanda de oxigênio ser proveniente da matéria
carbonácea. Essa relação é dada pela equação abaixo.

DQO (mgO2/g) = Carbono Orgânico (%) x 26,66 (3.4-1)

 Umidade: o controle da umidade é fator crítico na compostagem. Umidade


excessiva pode ocasionar anaerobiose, principalmente nas frações inferiores
da massa, bem como não elevação da temperatura. Umidade excessivamente
baixa pode ocasionar perda do processo, pois as reações bioquímicas dão-se
em fase aquosa. A umidade desejada para o processo encontra-se entre 40%
e 60%.
 Oxigenação: a presença de oxigênio é fundamental para a manutenção de um
processo aeróbio. Neste sentido, o revolvimento, estático ou dinâmico é
fundamental. Processos operando com aeração forçada dão resultados
satisfatórios, porém, em geral, não são preferidos.
 Odor: é um parâmetro que inicialmente pode parecer subjetivo, porém, com
a experiência, pode-se distinguir entre o odor natural dos resíduos e o odor
proveniente de processos anaeróbios indesejados, onde se destacam o forte
cheiro dos sulfetos e o da evolução da amônia livre excessiva.
PINTO apud LIMA (1995) cita uma série de efeitos satisfatórios da aplicação do
composto orgânico no solo:

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 319


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 retenção da umidade do solo em períodos de secas;


 prevenção contra a erosão;
 aumento da permeabilidade à água durante os períodos de chuva;
 melhoria das propriedades biológicas do solo, com aperfeiçoamento de sua
microestrutura;
 fornecimento de elementos-traços, balanceado com a ação do húmus
presente;
 fornecimento de alguma quantidade de macronutrientes;
 prevenção da lixiviação do nitrogênio orgânico.
KIEHL (2002) cita outras qualificações do composto orgânico agregado ao solo
agriculturável:
 agregação e estruturação do solo: o composto funciona como agente
cimentante, agregando e estruturando o solo;
 melhora a porosidade do solo: na reestruturação que ocasiona, aumenta a
quantidade de vazios, o que permite maior aeração de raízes, melhoria da
drenagem interna, com aumento da capacidade de armazenamento de água,
menores perdas por erosão e melhor controle da temperatura interna;
 melhora os aspectos de densidade e plasticidade do solo, tornando-o mais
apto para a agricultura;
 melhora a absorção de micronutrientes, como vários metais, pelas plantas,
através do seu processo de quelação pelo húmus;
 elevação da capacidade de troca catiônica do solo, trinta vezes superior às
médias dos solos nacionais, por exemplo;
 quelação de excessos de metais do solo, que, em quantidades limitadas, são
micronutrientes, mas a partir de certas concentrações poderão tornar-se
tóxicos;
 elevação do poder de tamponamento do solo, através dos colóides e húmus
presentes, o que ocasiona maior resistência dos solos a mudanças bruscas em
sua química ocasionadas por fatores naturais ou não.
A compostagem pode dar-se em leiras triangulares, trapezoidais ou montes de
resíduos. Normalmente utiliza-se o formato triangular, para evitar acúmulo superior de
águas de chuva, e altura entre 1,5-1,8 metros. Leiras excessivamente altas comprometem a
aeração, e ocasionam compactação da base, ambos os fenômenos ocasionando
anaerobiose. Com a compostagem, haverá redução do volume da leira, da ordem de 17%-
33%.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 320


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Sistemas de compostagem
A compostagem pode ser realizada de forma (1) natural ou (2) acelerada. A
compostagem acelerada pode ser feita em digestores ou em leira aerada estática.
(1) Compostagem natural: é o método clássico, em que o resíduo sólido urbano
é segregado, enviando-se a fração orgânica para trituração, peneiramento e
disposição em leiras. Irrigação e revolvimentos periódicos deverão manter
um ambiente com 40%-60% de umidade e oxigenado. A Figura 3.4.2
apresenta leiras de compostagem natural (observe-se o vapor d’água
desprendido das leiras, originado pela vaporização da umidade devido ao
aquecimento do material originado pela atividade microbiológica;

Figura 3.4.2 – Compostagem natural

Fonte: o autor

(2) Compostagem acelerada: visando o processamento mais rápido, o


composto pode ser preparado através de digestores e/ou aeração forçada:
(2.1) Compostagem com digestor: é um processo de característica
industrial, que normalmente opera com mecanização. Um sistema
como este conta com um fosso de recepção e pólipo para alimentação,
separador eletromagnético de metais ferrosos, separadores
pneumáticos e balísticos e sistema de tratamento de águas residuárias.
O coração do processo é o processamento em digestor, em geral
rotativo, que promove movimentação dos resíduos, homogeneizando-
os, esfacelamento de materiais frágeis, revolvimento dos sólidos,
inoculação de toda a massa homogeneamente com microrganismos,
uniformização, melhoria da aeração e uniformização da temperatura

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 321


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

em todos os pontos. Essa otimização de condições não é possível em


leiras comuns;
(2.2) Compostagem com leira estática aerada: neste caso, formam-se leiras
de composto, porém não há revolvimento, sendo as condições
aeróbias mantidas por injeção de ar. Uma tubulação de 10 cm de
diâmetro, perfurada, ligada a um exaustor, é colocada na base da leira.
Sobre a tubulação dispõe-se uma camada de 15-20 cm de cavacos de
madeira. Acima dessa camada monta-se a leira. Por cima da leira é
disposta uma camada de 30 cm de espessura de composto curado,
para manter a temperatura elevada e evitar proliferação de odores.
Intermitentemente é feita aspiração do ar contido na leira, que se
renova. A Figura 3.4.3 ilustra, esquematicamente, um processo em
leira estática aerada.

Figura 3.4.3 – Esquematização de um processo em leira estática aerada

Fonte: o autor

A Figura 3.4.4 apresenta a consistência final do composto curado.

Figura 3.4.4 – Aspecto do composto


orgânico de resíduos sólidos curado

Fonte: o autor

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 322


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

LIMA (1995) cita os principais sistemas de compostagem particulares


estabelecidos no Brasil e no mundo. Muitos deles já sofreram modificações sensíveis em
relação às suas características originais: (a) Sistema Chinês, (b) Sistema Indore, (c) Sistema
Beccari, (d) Sistema Fermascreen, (e) Sistema CETESB, (f) Sistema Carel-Fouché-Languepin,
(g) Sistema Varro, (h) Sistema Arnhem, (i) Sistema Comlurb, (j) Sistema Dano, (k) Sistema
Fairfeld-Hardy, (l) Sistema Fairfeld-Hardy-Di Bartolomeis, (m) Sistema Windrow, (n) Sistema
Biorapid, (o) Sistema T.U.C., (p) Sistema Kiehl, (q) Sistema Vermicomposting.
Conforme BIDONE e POVINELLI (1999), no Brasil, três são os sistemas de
compostagem bem difundidos: (1) Processo Dano, (2) Processo Windrow e (3) Processo em
leiras estáticas aeradas (já apresentado).
O processo Dano utiliza uma fossa de recepção que bascula os resíduos até uma
esteira transportadora, onde há triagem manual, com remoção da fração não orgânica. Um
eletroímã separará, a seguir, os metais ferrosos. O bioestabilizador do processo é um cilindro
de 25-30 m de comprimento e 3,5 m de diâmetro, que gira continuamente, fazendo com que
os resíduos sejam triturados por abrasão, durante 2-3 dias. Há introdução de ar na massa e
são monitorados temperatura, pH e umidade. Após a fermentação, os resíduos são
peneirados e os inertes removidos da massa. Por fim, o material irá para o pátio de
maturação, onde permanecerá por 60-120 dias.
No sistema Windrow, os resíduos são inicialmente triados, moídos, umidificados
e dispostos em leiras para digerir e compostar. Há remoção manual de trapos, vidros e
plásticos e remoção magnética de metais ferrosos. Os remanescentes são triturados em um
moinho de martelos e misturados com lodos de esgotos em um misturador, onde
permanecem por duas horas, até formar uma pasta. A pasta é transferida a um pátio, onde
há o enleiramento, sendo as leiras reviradas periodicamente. Após um período de
fermentação, o material é peneirado e armazenado em leiras protegidas das chuvas (LIMA,
1995).

Compostagem de resíduos industriais


Certos resíduos sólidos industriais apresentam elevados teores de matéria
orgânica compostável, podendo sofrer o processo de humificação da mesma maneira que os
resíduos urbanos orgânicos. Porém, para que o processo possa viabilizar-se, bem como o
composto gerado ser utilizado, é necessária rigorosa avaliação técnica no sentido da
caracterização do material, verificando-se se o mesmo não apresentará, após compostagem,
compostos químicos prejudiciais às plantas ou mesmo poluentes e contaminantes em forma
disponível. KIEHL (2002) cita os requisitos para tratamento de tais resíduos:
 relação C:N inicial entre 25:1 e 35:1;
 umidade inicial em torno de 55%, podendo ser superior se o material for mais
grosseiro;
 porosidade do material entre 40% e 60%;

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 323


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 a leira deve atingir a fase termófila, porém não ultrapassando 70oC.


Embora um dos pontos críticos da compostagem de certos resíduos industriais
possa relacionar-se com metais pesados, BIDONE (1995) obteve sucesso no processo de
compostagem de resíduos de curtimento ao cromo, utilizando minhocas no processo como
“mini-usinas” de processamento de resíduos (vermicompostagem), proporcionando a
formação de caminhos para a renovação do ar interior das leiras. O cromo foi, em grande
parte, imobilizado no húmus.
A compostagem de resíduos industriais pode, no mínimo, tornar-se atrativa do
ponto de vista de pré-condicionamento dos resíduos para um processo subsequente de
inertização, aterramento em aterro para resíduos sólidos industriais perigosos (ARIP0 ou co-
processamento, dependendo, evidentemente, da composição de cada resíduo, que deverá,
obrigatoriamente, ser constituído predominantemente por matéria orgânica compostável.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 324


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BIDONE, Francisco R.B. 1995. A vermicompostagem de resíduos de curtume, brutos e


previamente lixiviados, utilizando composto de lixo orgânico urbano como substrato.
São Carlos, USP. Tese de Doutorado. 184p.

BIDONE, Francisco R.B.; POVINELLI, Jurandyr. 1999. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São
Carlos, EESC-USP. 120p.

KIEHL, Edmar José. 2002. Manual de Compostagem. Piracicaba: Edição do autor.

LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.

Tratamentos Anaeróbio e Aróbio e Aspectos Correlatos 325


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.Resíduos Sólidos Especiais:


Gestão, Tratamento e
Destinação

NH4+ → NH3 + H+ (1.4-5)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 326


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.1 INTRODUÇÃO
Os resíduos especiais de ampla geração domiciliar e/ou profissional constituem-
se em uma preocupação às gerências públicas, visto serem gerados difusamente pela
população, em grande parte dos imóveis, residenciais ou não, ou em várias atividades
profissionais. Embora em 2010 tenha emergido o marco regulatório nacional que define
responsabilidades sobre tais resíduos sólidos, até o momento da edição do presente texto
muito pouco ocorreu de concreto em relação à denominada logística reversa no território do
país, a qual seria conduzida na forma de acordos setoriais a serem firmados entre as
entidades representativas dos fabricantes e importadores dos produtos de consumo e o
Ministério do Meio Ambiente, de modo a que na maior parte das vezes a destinação dos
resíduos perigosos ou indiretamente danosos à saúde pública e/ou ao ambiente, seja
desqualificada.
Em alguns casos, regramentos aplicados a tais resíduos são estabelecidos por
legislações de vigência local ou regional, mostrando-se insuficientes, incompletos ou
ineficazes. Via de regra, na melhor das hipóteses, a destinação da maior parte desses
resíduos dá-se a aterros sanitários para resíduos sólidos urbanos. Tais aterros não podem
receber resíduos enquadrados como perigosos segundo a NBR 10004/2004, e as próprias
legislações municipais estabelecem a proibição de seu encaminhamento a tais instâncias de
tratamento. Neste sentido, os movimentos que são observados são (1) a indevida
condenação pública dos órgãos locais, por não apresentarem soluções próprias para o
problema (em que pese a responsabilidade estar muito bem definida para o setor privado)
em comunidades providas de certa cultura ambientalista, (2) a ausência de qualquer noção
de como destinarem-se de forma qualificada muitos dos resíduos especiais gerados pelas
comunidades, (3) a destinação indevida, dos mesmos resíduos, a aterros sanitários para
resíduos sólidos urbanos ou, no pior dos casos, seu lançamento direto nos recursos naturais.
Se não houver, em determinado município, regulamentação para o destino de
domissanitários perigosos (“venenos”), por exemplo, não haverá conforto ao gestor
municipal de ser eventualmente amparado por uma legislação que isente o município da
responsabilidade sobre o destino de tais resíduos: ou haverá a disposição dos materiais
residuários em aterro sanitário, ou, mais desafortunamente, esses produtos serão lançados
na rede de esgotos.
O presente capítulo tratará dos principais resíduos especiais amplamente
gerados nos municípios, estabelecendo uma revisão das problemáticas em si, das legislações

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 327


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

aplicadas e das metodologias para o seu tratamento. Como será apresentado, para alguns
resíduos já há regulamentação legal efetiva ou mesmo acordo setorial em vigor (exemplo:
agrotóxicos, embalagens de óleos lubrificantes), para outros há regulamentações esparsas e
de efetividade discutível. Por fim, outros resíduos apresentam inclusive valor econômico
positivo (exemplo: óleos de fritura saturados). Sua correta destinação, a partir da criação de
um programa específico, que vinculará a cultura e o engajamento da comunidade,
dependerão unicamente da vontade política em fazê-lo.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 328


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.2 RESÍDUOS SÓLIDOS DA


CONSTRUÇÃO CIVIL
As construções e demolições constituem-se em atividades rotineiras, dado o
crescimento das cidades, consequência do desenvolvimento social e econômico das
comunidades. Em grandes cidades, a produção de resíduos da construção civil, tais como
caliça, terra, sobras de concreto, madeiras, latas de tinta, de solventes e de massa corrida,
vidros, cerâmicos, gesso, argila bentonítica, papel, papelão, torna-se muito relevante,
ocupando um percentual, em relação aos volumes e tonelagens totais de resíduos sólidos
produzidos em tais municipalidades, bastante significativo, especialmente em períodos de
estabilidade monetária e crescimento econômico. Tais volumes intensificam-se quando da
construção de grandes obras municipais de drenagem, esgotamento sanitário, adução de
água ou implementação de novos acessos viários. Pela sua geração difusa, o lançamento e a
acumulação de tais resíduos em logradouros públicos e privados pode tornar-se
preocupante se houverem deficiências nos modelos municipais gestão de resíduos e se a
população não houver alcançado um patamar cultural satisfatório em relação à sua postura
cidadã ambiental e urbanística.
A destinação desqualificada de resíduos da construção civil poderá ocasionar
degradação ambiental e, consequentemente, da própria qualidade de vida das populações.
Mesmo quando considerados somente a fração relativamente inerte dos resíduos de
construção e demolição, não somente há perda da qualidade estética dos locais de
disposição dos resíduos, como também tais resíduos poderão constituir habitats para a
reprodução de vetores e problema à microdrenagem pluvial. Conforme BRITO FILHO (1999)
apud JOHN e AGOPYAN (2000), no início dos anos 2000 a Prefeitura de São Paulo recolhia
diariamente cerca de 4000 toneladas de resíduos de construção e demolição, gastando
mensalmente R$ 4.500.000,00 somente para isso. A Figura 4.2.1 apresenta um registro
fotográfico de uma típica disposição indevida de resíduos da construção civil em área
pública, cenário muito frequente nas metrópoles brasileiras.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 329


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.2.1 – Disposição irregular de resíduos da construção civil em


área pública

Fonte: o autor

A destinação de resíduos da construção civil a aterros sanitários municipais é


indesejável em qualquer modelo de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Os aterros
municipais para resíduos sólidos urbanos domiciliares têm a função de confinarem os
rejeitos, conforme definidos na Lei Federal 12.305/2010, e estabilizarem parcialmente a
fração biodegradável neles contida. Se por um lado, os resíduos da construção civil são de
difícil degradação biológica ou mesmo, em geral, não biodegradáveis, por outro existem
rejeitos, como as embalagens de solventes, de adesivos e de preservantes da madeira, cuja
disposição, nesses aterros, é vedada, em função de aspectos de periculosidade. Acima de
tudo, grande parcela dos resíduos da construção civil pode ser reaproveitada ou reciclada, e
dentro de um modelo de aproveitamento de recursos e minimização dos custos relativos à
destinação final, faz-se necessária a adoção de mérito pela reciclagem da massa e da energia
disponíveis em tais resíduos. Dentro da crescente evolução da legislação ambiental e dos
regramentos estabelecidos pelas agências e conselhos nacionais, principalmente a partir do
início da década de 1990, em 5 de julho de 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
expediu a Resolução 307, que estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a
gestão dos resíduos da construção civil. Tal resolução foi modificada em 2012 pela Resolução
448, e em 2015, pela Resolução 469. O regramento estabelecido dividiu os resíduos
produzidos pela construção civil em quatro classes:
 Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais
como:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 330


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

o de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de


outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de
terraplanagem;
o de construção, demolição, reformas e reparos de edificações:
componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento
etc.), argamassa e concreto;
o de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em
concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidos nos canteiros de obras;
Tais resíduos deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou
encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil Classe A de
reservação de material para usos futuros, sendo dispostos de modo a permitir
a sua utilização ou reciclagem futura;
 Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como
plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros. Deverão seguir
para a reciclagem;
 Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias
ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua
reciclagem/recuperação. Transporte e destinação seguirão conforme normas
específicas;
 Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais
como solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais
e outros. Equivalem aos resíduos da Classe I, conforme classificação
estabelecida pela NBR 10004/2004. Transporte e destinação seguirão
conforme normas específicas.
Outras definições importantes da resolução são apontadas:
 fica proibida a disposição dos resíduos da construção civil em aterros de
resíduos domiciliares, em áreas de bota fora, em encostas, corpos d’água,
lotes vagos e em áreas protegidas por lei;
 estabelece, como instrumento de gestão a ser construído, o Plano Integrado
de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a ser elaborado pelos
municípios e pelo Distrito Federal, que incorporará (a) o Programa Municipal
de Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil e (b) projetos de
gerenciamento de resíduos da construção civil;
 como diretrizes para o Programa Municipal de Gerenciamento dos Resíduos
da Construção Civil, a resolução menciona o cadastramento de áreas, públicas
ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporário
de pequenos volumes, em conformidade com o porte da área urbana
municipal, possibilitando a destinação posterior dos resíduos oriundos de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 331


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

pequenos geradores às áreas de beneficiamento e o estabelecimento de


processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e de disposição
final de resíduos.
Academicamente, os resíduos da construção civil são frequentemente
denominados resíduos de construção e demolição (RCD). Embora no Brasil as pesquisas e a
prática da reciclagem dos RCD seja relativamente recente, é reportada a prática extensiva de
reciclagem de entulhos para a reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial, citando-se
hoje a Holanda como país mais evoluído neste sentido.
Os RCD ocupam um percentual elevado no total de resíduos sólidos gerados na
maioria das cidades do país e do mundo. No Brasil, tal percentual varia entre 41% e 70% em
cidades de médio e grande porte (PINTO, 1999 apud JOHN e AGOPYAN, 2000). Enquanto que as
estimativas internacionais apontam para uma geração entre 130 e 3000 quilogramas de
resíduos de construção e demolição produzidos por habitante ao ano, a estimativa mediana
para várias cidades pesquisadas por PINTO (1999) apud JOHN E AGOPYAN (2000) é de 510
kg/(hab.ano).
Costuma-se considerar os RCD como inertes frente à definição estabelecida pela
NBR 10004/2004, todavia esse é um erro clássico, principalmente em função da potencial
contaminação dos entulhos, nos canteiros de obras e áreas de demolição, com outros
resíduos, como tintas, óleos e outros materiais perigosos. Mesmo que tal não ocorra, a
condição para classificação de um resíduo na Classe II-B, isto é, a não depreciação de uma
água potável em contato com o resíduo, não comprometendo sua potabilidade, não ocorre
frequentemente. De uma maneira geral, a água em contato com tais resíduos, nas condições
do ensaio padronizado pela NBR 10006/2004 tem modificado o seu pH e sua dureza, em
função das características químicas dos resíduos e da presença frequente de sais de cálcio e
magnésio (embora a modificação da dureza não implique na classificação do resíduo na
Classe II-A). Resíduos de demolições de prédios industriais podem conter espécies químicas
adsorvidas e absorvidas ao longo de anos pela geração de fumos e derramamentos nas áreas
industriais.
A utilização dos RCD vulgarmente como material para aterramento de áreas
baixas carrega consigo o problema da não segregação e do baixo nível de controle técnico do
processo. É bastante comum observar-se a deposição, em áreas baixas, de RCD misturados
com resíduos tipicamente domiciliares biodegradáveis. Tal procedimento pode constituir-se
em uma solução barata para caçambeiros destinarem os resíduos, evitando longos percursos
até aterros municipais para entulhos, bem como o recolhimento de tarifas de disposição
final, e ainda evitando a execução da triagem. Proprietários de áreas baixas, por sua vez,
podem paulatinamente elevar as cotas de seus terrenos, valorizando-os. Essas ocorrências
são comuns, ainda que se dêem à margem da lei.
Os resíduos da construção civil podem ser agrupados em cinco grandes grupos:
1) solos: solos de escavações e residuais de areias e terras;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 332


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2) materiais “cerâmicos”: rochas naturais, concreto, argamassas e base de


cimento e cal, resíduos de cerâmica vermelha (tijolos e telhas), cerâmica
branca (revestimento), cimento amianto, gesso e vidro;
3) materiais metálicos: aço para concreto armado, latão, chapas de aço
galvanizado;
4) madeira e similares: resíduos de madeiras e aglomerados, restos de vegetais,
papéis e papelão;
5) resíduos de risco químico: latas de tintas e solventes, materiais betuminosos,
adesivos, embalagens de insumos “químicos” para construção.
Embora a reciclagem dos RCD como fator de redução na geração de resíduos seja
sempre uma ação necessária, ela é limitada, uma vez que existem impurezas na matéria-
prima, e ela baseia-se em custos e novos patamares de desenvolvimento tecnológico (SOUZA
et al., 1999). Assim, nem todos os RCD são prontamente recicláveis e a viabilidade de sua
reciclagem deve necessariamente estar consubstanciada em análises econômicas e de ciclo
de vida. Os benefícios da reciclagem dos RCD são relacionados:
 redução da utilização de recursos naturais não-renováveis quando
substituídos por resíduos recicláveis;
 redução da utilização de áreas necessárias para destinação final de RCD;
 redução do dispêndio energético para obtenção das matérias-primas, a partir
da utilização de resíduos para sua obtenção (por exemplo, no co-
processamento);
 redução da poluição.

Solos
Os residuais de solos, provenientes de escavações e terraplanagens costumam
ser considerados materiais inertes e sem qualquer tipo de risco associado à sua composição
e estrutura. Em geral isso pode vir a ser correto, porém, em muitos casos, quando uma
amostra representativa de solo for encaminhada a laboratório para obtenção e análise do
extrato lixiviado e do extrato solubilizado, os resultados poderão ser surpreendentes,
especialmente se os substratos provirem de áreas industriais, postos de gasolina, áreas de
disposição irregular de resíduos ou terrenos em cujo subsolo passem dutos e canalizações
condutores de esgotos. Os residuais de escavações em áreas industriais poderão constituir-
se em substratos com vestígios de produtos químicos industriais ou mesmo residuais de
emissões aéreas e resíduos sólidos e líquidos que não tenham sido devidamente
gerenciados. Terrenos sitos nas proximidades de parques industriais podem conter, em seu
solo, o produto de anos de acumulação de particulados emitidos por via aérea, ou matérias-
primas granulares estocadas a céu aberto e carreadas pelo vento. Solos escavados,
provenientes de postos de gasolina, poderão conter residuais de combustíveis, em caso de
vazamento dos tanques de armazenamento. Solos provenientes de terrenos que serviram

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 333


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

como depósitos irregulares de resíduos sólidos podem conter materiais biodegradáveis e até
resíduos perigosos. Solos provenientes de escavações em redes de esgotos poderão conter
elevada carga biodegradável, classificando-se como residual da Classe II-A. Por fim, vários
substratos que se assemelham visualmente a solos escavados, como lodos de estações de
tratamento, resíduos de dragagens de canais e arroios e resíduos de limpeza e
desassoreamento de bocas-de-lobo poderão conter apreciáveis concentrações de
compostos biodegradáveis ou perigosos, sendo que sua disposição em aterros para resíduos
da construção civil ou uso direto para nivelamento e elevação de cotas de terrenos deve ser
vedada, no mínimo até o estabelecimento de sua classificação. Solos contendo apenas
matéria biodegradável, que se classificam como resíduos da Classe II-A poderão, em certos
casos, converter-se à Classe II-B, após sua deposição em leitos de secagem pelo tempo
suficiente para redução do teor de umidade, estabilização da matéria orgânica, volatilização
de certos componentes e redução de patógenos pela exposição ao sol. Outra possibilidade
para tais é a utilização do denominado landfarming, processo no qual os resíduos são
mantidos em condições aeróbias e de umidade controlada, para que microrganismos
estabilizem a matéria biodegradável presente. A fiscalização técnica competente associada
ao gerenciamento de resíduos da construção civil e aterros especiais para resíduos da
construção civil é fundamental neste sentido, de modo a proteger o ambiente de ações
irresponsáveis de certos proprietários de áreas e certos caçambeiros.

Materiais Cerâmicos
Praticamente toda a fração cerâmica pode ser beneficiada como agregado. As
frações de residuais de concretos estruturais e rochas naturais poderão constituir, por
reciclagem, agregados estruturais. No entanto as fases mais porosas como resíduos de
cerâmica vermelha, argamassas e cerâmica de revestimento conferem, ao concreto obtido
por reciclagem, características de inferior resistência e superior absorção de água. Se a
segregação nos canteiros de obras for eficiente, poderão ser obtidos concretos de baixa e de
elevada resistência. A dificuldade na segregação in loco pode ser resolvida através de
processos, por exemplo, de separação por diferença de densidade, obtendo-se frações
porosa e densa segregadas. No caso mais comum, em que não há separação de agregados, o
concreto obtido pelo beneficiamento terá sua utilidade restrita à produção de contra-pisos,
camada de sub-base de pavimentação, camadas drenantes, blocos de concreto e aplicações
em que não seja solicitada elevada resistência do material. O beneficiamento tradicional da
fração cerâmica é efetuado por britagem em equipamento de martelo e peneiramento.

Materiais Metálicos
Os residuais de metais de obras podem ter reciclagem em siderúrgicas. Especial
atenção deverá ser conferida a latas de produtos “químicos”, tais quais tintas, vernizes,
colas, protetores de corrosão, produtos anti-mofo e anti-cupim e solventes. Em geral as
embalagens de produtos perigosos são tidas como resíduos perigosos, em função dos
residuais de tais produtos que se mantêm aderidos ou adsorvidos nas paredes das

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 334


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

embalagens. Este é um limitador para a reciclagem das embalagens: em geral as licenças


operacionais das siderúrgicas estabelecem restrições ao processamento térmico das
mesmas embalagens, em função da volatilização e emissão de compostos tóxicos. Neste
sentido, possivelmente muitas embalagens devam ser encaminhadas a aterros para resíduos
industriais perigosos ou para estabelecimentos especialmente constituídos e licenciados
para descontaminação de embalagens, caso haja viabilidade econômica. Alternativamente
siderúrgicas poderão dispor de processos específicos e sistemas de abatimento de poluição
aérea que lhes permitam receber tais resíduos e aproveitá-los.

Madeira e Similares
A geração de madeiras mostra-se importante junto às obras civis. Residuais de
tapumes, estacas e outros elementos resultam em quantidades apreciáveis de madeiras sem
utilidade. A esses, somam-se residuais de aglomerados, que são basicamente uma
combinação de madeira com resinas aglomerantes. Duas são as utilizações mais comuns
para a fração madeira: (1) compostagem e (2) destinação à queima para recuperação de
energia. No primeiro caso, os projetos devem prever a picagem das madeiras puras (não
contemplados aglomerados, compensados e mdf) e a mistura com outros resíduos orgânicos
que otimizem a relação C:N. Em geral tais projetos de compostagem somente se viabilizam
em gestões municipais, ou quando as demais soluções para sua destinação apresentem
custos superiores em função de transporte e pagamento de tarifas para disposição. A
compostagem pode também operar dentro de uma estratégia de marketing ambiental da
empresa geradora. A destinação das madeiras para queima pode ser uma estratégia
interessante do ponto de vista financeiro: sua utilização como combustível pode dar-se em
fornos de olarias e diversas outras indústrias, economizando outros combustíveis.
Entretanto, especial atenção deve ser dada aos aglomerados e a madeiras contaminadas por
óleos e outros residuais, que provavelmente constituam-se em materiais impróprios para a
queima direta, sem controle de emissões. Todas as observações anteriores também se
aplicam aos resíduos vegetais, ricos em materiais celulósicos, bem como aos produtos
industriais da celulose, papel e papelão, que, caso não contaminados, são diretamente
recicláveis, apresentando valor econômico positivo para a reciclagem.

Resíduos de risco químico


Os resíduos de risco químico podem ser denominados “resíduos perigosos da
construção civil”, e são aqueles oriundos de produtos químicos auxiliares para a construção
civil, como tintas, vernizes, adesivos, protetores de corrosão, produtos anti-mofo e anti-
cupim, solventes, etc. Todos esses produtos apresentam compostos químicos perigosos, via
de regra por toxicidade, classificando-se seus residuais e embalagens como resíduos Classe I
– perigosos. Via de regra observa-se que pouca atenção é dada a tais resíduos: em geral
seguem ou para a coleta domiciliar, ensacados, ou via caçambas, juntamente com outros
resíduos de obras, para aterros para resíduos da construção civil. Uma terceira possibilidade,
que descuidadamente pode parecer ambientalmente mais amigável, constitui-se no seu

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 335


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

encaminhamento à reciclagem. A rigor, como já mencionado, é provável que a grande


maioria das embalagens ainda contenha residuais dos produtos, de modo que as
concentrações mássicas de certos constituintes (mg de constituinte/kg de embalagem)
remetam tais à Classe I da NBR 10004/2004. Assim sendo, a não ser que a indústria de
reciclagem disponha de licenciamento específico para processamento de tais embalagens
visando recuperação dos materiais, seu encaminhamento bem-sucedido à reciclagem dar-
se-á exclusivamente em função de falhas na fiscalização. Tendo em vista que a
responsabilidade no pós-consumo ainda carece de aprofundamento no país, dificilmente
haverá encaminhamento verticalizado das embalagens do consumidor até o fabricante, que,
sob certas condições, poderia mesmo reaproveitá-las. Uma opção por vezes disponível,
ainda que não gratuita, é o encaminhamento a empreendimentos especializados na
descontaminação dessas embalagens, para seu posterior encaminhamento à reciclagem.
Tais empresas, através de métodos físicos e químicos separam os residuais dos produtos das
embalagens. Enquanto que as embalagens seguem para a reciclagem, os residuais seguirão
para tratamento, que em geral dar-se-á por inertização/estabilização/encapsulamento,
incineração ou co-processamento, ou simplesmente serão conduzidos a aterros para
resíduos industriais perigosos, se não forem inflamáveis. A rigor, o encaminhamento a um
empreendimento para descontaminação de tais resíduos deverá mostrar-se viável frente à
opção de encaminhamento das embalagens a aterros para resíduos industriais perigosos,
dos pontos de vista ambiental, financeiro e de ciclo de vida.

Resíduos de gesso
O gesso, como resíduo da construção civil, aparece principalmente em função de
sua utilização na forma de blocos para constituição de forros, na forma de revestimento
sobre a alvenaria, de material majoritário na confecção de paredes, e na forma de gesso
acartonado. O gesso natural (gipsita) corresponde a sulfato de cálcio bihidratado
(CaSO4.2H2O). As principais impurezas do gesso brasileiro são os compostos óxido de cálcio
(CaO), anidrido carbônico (CO2), óxido de magnésio (MgO), trióxido de alumínio (Al2O3) e
óxido férrico (Fe2O3) (JONH e CINCOTTO, 2003). O pH do gesso costuma situar-se na faixa da
neutralidade (6,6-6,9).
O gesso acartonado apresenta composição bastante mais complexa. Além da
gipsita, a composição apresenta papel (4% a 12%), fibra de vidro, vermiculita (as jazidas
dessa mica podem conter amianto), argilas (até 8%), amido, hidróxido de potássio (KOH),
agentes espumantes (sabões), agentes dispersantes, e agentes hidro-repelentes. Segundo
CARR e MUNN (1997) apud JONH e CINCOTTO (2003), o gesso acartonado norte-americano
contém boro (48,1 mg/kg), cromo (21,7 mg/kg), cobre (10,3 mg/kg), chumbo (3,6 mg/kg) e
mercúrio (1,2 mg/kg). Essas concentrações são preocupantes, uma vez que em função da
lixiviabilidade do material, seu extrato lixiviado poderá conduzir à classificação do resíduo na
Classe I da NBR 10004/2004. Não há riqueza de dados disponíveis sobre a composição do
gesso nacional. Nos canteiros de construção e nas demolições o gesso residuário poderá
estar contaminado com tintas, material asfáltico e outros contaminantes.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 336


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Além da presença dos metais e outros compostos que podem inserir


periculosidade aos resíduos de gesso, o material tem sua aceitação a aterros para resíduos
urbanos (biodegradáveis) muito restrita, em função da presença de sulfatos. Tal presença
tende a incrementar o desenvolvimento de bactérias utilizadoras de sulfatos e sulfitos como
aceptores de elétrons (espécies oxidantes) em suas reações bioquímicas de metabolização
da matéria orgânica (compostos biodegradáveis presentes nos resíduos), inibindo o
desenvolvimento das cepas metanogênicas, naturais participantes da relação comensal que
leva à estabilização parcial dos resíduos em aterros sanitários. O maior problema
relacionado ao desenvolvimento das bactérias sulforredutoras é a redução dos sulfatos a gás
sulfídrico (H2S), que é um gás altamente tóxico e inflamável.
Após ter sido considerado um resíduo sem potencial de aproveitamento pela
Resolução CONAMA 307/2002 (Classe C), o mercado demonstrou ser possível o seu
reaproveitamento. A gipsita é utilizada na fabricação do clínquer em fornos, com o objetivo
de controlar o tempo de cura, embora se deva adotar um controle rigoroso no processo para
minimizar a reação do sulfato do gesso com os aluminatos do cimento, que conduz à
formação da etringita, composto expansivo precursor de tensões que levam à desagregação
das peças de concreto. O aproveitamento do gesso proveniente de obras, para tal fim, tem
se mostrado viável, especialmente se o reaproveitador for remunerado para recebê-lo.
Outra aplicação do gesso residuário que se tem consolidado é como corretivo de solos. Na
verdade o gesso não serve para ó condicionamento do pH dos solos agriculturáveis, mas
como fonte dos nutrientes cálcio e enxofre bem como para a remoção do excesso de
alumínio dos solos.
A Resolução CONAMA 448/2012 veio estabelecer algumas adequações da
Resolução 307 à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2015, a Resolução CONAMA 469
incluiu o gesso e as latas de tintas contendo apenas um filme seco aderido ás suas paredes
internas como resíduos da Classe B, portanto recicláveis. Embora a contrariedade de setores
técnicos a aceitar as latas como resíduos não necessariamente passíveis de tratamento
como resíduos Classe I (NBR 10004/2004), em sua página eletrônica o CONAMA
disponibilizou estudos que comprovariam que as formulações atuais de tintas não mais
utilizam pigmentos que conferem periculosidade às embalagens.
Citando Porto Alegre como exemplo, o município instituiu através de lei (Lei
10.847/2010) o seu Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, o
qual definiu como pequenos geradores aqueles produtores de até 0,5 m3/d de resíduos
sólidos da construção civil, originando pequenas estações de transbordo denominadas
Unidades Destino Certo, para o recebimento gratuito de tais resíduos, os quais provêm,
sobretudo, de pequenas reformas. Para os grandes geradores, sobretudo a indústria da
construção civil foi originada a necessidade de confecção de plano de gerenciamento dos
resíduos da construção civil, o qual se vincula aos licenciamentos ambientais das obras. O
termo de referência, originado pelo Decreto 18.746/2014 para a confecção de tal plano é
apresentado na sequência.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 337


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
(PGRCC)

1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração/Projeto do PGRCC
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação/Execução do PGRCC
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental (LP, quando for o caso)
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área a Ser Construída

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 338


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGRCC.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
- Lei Federal 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
- Lei Federal 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
- Resolução CONAMA275/01, código de cores para os invólucros de resíduos.
- Resolução CONAMA 307/02, gestão dos resíduos da construção civil.
- Norma ABNT NBR 10.004/04, classificação de resíduos sólidos.
- Norma ABNT NBR 11.174/90, armazenamento de resíduos classe II.
- Norma ABNT NBR 12.235/92, armazenamento de resíduos classe I (perigosos).
- Norma ABNT NBR 15.112/04, áreas de transbordo e triagem.
- Norma ABNT NBR 15.113/04, projeto, implantação e operação de aterros.
- Norma ABNT NBR 15.114/04, projeto, implantação e operação Áreas de reciclagem.
- Norma ABNT NBR 15.115/04, execução de camadas de pavimentação.
- Norma ABNT NBR 15.116/04, pavimentação e preparo de concreto.
- Lei Estadual 11.520/00, Código Estadual do Meio Ambiente.
- Lei Estadual 9.921/93, dispõe sobre gestão dos resíduos sólidos.
- Lei Estadual 13.401/10, dispõe sobre destinação de resíduos classe I (perigosos).
- Decreto Estadual 38.356/98, dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos.
- Resolução CONSEMA/RS 109/05, Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil a ser elaborado pelos Municípios.
- Portaria FEPAM 16/10, disposição de resíduos classe I.
- Lei Municipal 728/14, Código Municipal de Limpeza Urbana.
- Lei Municipal 9.851/05, dispõe sobre recipientes de coleta de resíduos perigosos.
- Lei Municipal 10.847/10, Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil do Município de Porto Alegre.
- Decreto Municipal 9.367/88, dispõe sobre o manejo de resíduos sólidos.
- Decreto Municipal 18481/13, critérios e procedimentos para a Gestão dos Resíduos da
Construção Civil (SMURB-SMAM).
- Outra normativa qualquer que se julgue procedente para o PGRCC.
5. DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- Determinar e identificar as áreas de geração de resíduos.
- Caracterizar os resíduos sólidos gerados através de classificação por tipo (CONAMA
307/02, classes A, B, C e D e NBR 10.004 - Classes I, IIA e IIB) e quantificá-los por cada
área independente.
- Identificar os pontos de segregação dos resíduos sólidos, os quais estão munidos de
recipientes coletores. A coloração dos recipientes deve ser de acordo com a Resolução
CONAMA 275/01.
- Apresentar a Planilha de Diagnóstico disponibilizada no Anexo I deste Termo de
Referência devidamente preenchida. Caso a empresa tenha um modelo próprio de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 339


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Planilha que contenha as mesmas informações, porém apresentadas no padrão da


empresa, esta poderá ser protocolada.
6. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
6.1. Estrutura Organizacional
Definir responsabilidades gerenciais e operacionais dos profissionais envolvidos no
gerenciamento de resíduos sólidos dentro da obra.
6.2. Programa de Redução na Fonte Geradora
Estabelecer, se possível, meta de redução de geração da quantidade de resíduos,
especificando métodos de reaproveitamento e rotinas de segregação na origem.
6.3. Coleta Interna
Descrever os métodos de acondicionamento interno de resíduos, especificando os
coletores utilizados nas áreas da empresa para cada grupo de resíduo, informando
seu volume e demonstrando sua identificação através de modelo a ser implantado.
Apresentar os procedimentos de coleta dos resíduos.
6.4. Transporte Interno
Definir como ocorre o transporte dos resíduos internamente, relacionando os
equipamentos utilizados, delineando procedimentos a serem adotados em caso de
rompimento dos recipientes. Apresentar planta baixa demonstrando rotas/fluxos
internos dos resíduos.
6.5. Armazenamento Temporário
Descrever e apresentar projeto da área de armazenamento temporário, onde os
resíduos aguardam a coleta de transportadora licenciada pela SMAM para
destinação final, indicando os aspectos referentes à impermeabilização do piso, à
cobertura, à ventilação, ao isolamento e sinalização, ao acondicionamento adequado
(de acordo com as classificações dos resíduos) e ao treinamento de funcionários.
Apresentar planta baixa demonstrando o acesso dos veículos transportadores e a
localização de cada tipo de resíduo.
6.6 Manifesto de Transporte de Resíduos da Construção Civil (MTRCC-POA)
O MTRCC é um documento emitido com a finalidade de controle da geração,
transporte e destinação final dos Resíduos da Construção Civil (RCC) no município de
Porto Alegre. É uma espécie de nota fiscal de destinação de RCC. Os Resíduos da
Construção Civil das classes A, B e C, conforme classificação da Resolução CONAMA
nº 307/2002, serão controlados na sua geração, transporte e destinação final através
do MTRCC-POA. Já os resíduos perigosos, classe D, serão controlados pelo MTR da
FEPAM. Caso a Autorização de Manifesto de Resíduos da Construção Civil já tenha
sido emitida, uma cópia dessa deverá ser anexada ao PGRCC.
6.7. Transporte Externo
Especificar a frequência, dia da semana e horário típicos da coleta para cada
classificação de resíduo, bem como os tipos de veículos coletores. Identificar as
transportadoras responsáveis por todas as coletas de resíduos através das seguintes
informações: nome, endereço, telefone e número da Licença Ambiental da
Transportadora. Anexar as cópias das licenças ambientais das empresas
transportadoras. Anexar modelo de Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 340


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

utilizado pela empresa para encaminhamento de resíduos perigosos. Incluir plano de


contingência adotado pelo transportador para eventuais ocorrências de acidentes
(resíduos classe I).
6.8. Destinação Final
Descrever como é dada a destinação final adotada para cada classificação de
resíduos. Apresentar as cópias das licenças ambientais das unidades receptoras dos
resíduos. Caso alguns resíduos sejam destinados como material de empréstimo para
loteamentos, é importante citar no PGRCC a licença ambiental deste
empreendimento. Nesta licença deve constar a condicionante que autoriza a
utilização de materiais de empréstimo (aterro, saibro, brita, argila, areia) pelo órgão
ambiental competente, dando preferência a resíduos reutilizáveis, classe A, oriundos
da construção civil.
6.9. Programa de Educação Ambiental
Dentro de um Programa de Educação Ambiental, desenvolver atividades de
conscientização e treinamento para os funcionários do empreendimento. Visar à
otimização do uso dos materiais da obra, reduzindo ao máximo o desperdício.
Apresentar metas e cronogramas de atividades e relatar resultados atingidos.
6.10. Monitoramento
Descrever os procedimentos internos de coleta de dados e a organização da rotina de
trabalho necessários para o monitoramento da aplicação do PGRCC. Deve ser
informada a periodicidade de vistoria do responsável pela execução do PGRCC.
7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA
Deverá ser apresentada a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), ou documento
equivalente, do profissional responsável pela elaboração/ projeto e
execução/implementação do PGRCC. O mesmo profissional poderá responder pelas duas
etapas. A decisão pela habilitação ou não de determinado profissional para assumir as
responsabilidades do plano cabe aos conselhos profissionais. As previsões de início e fim
das atividades do responsável técnico na ART deverão ser condizentes com o tempo
utilizado para exercê-las. A substituição do(s) profissional(is) informados deverá ser
comunicada à SMAM. No Anexo II encontra-se um exemplo de ART.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Legislação Federal, disponível em http://www2.planalto.gov.br.
- Legislação Estadual, disponível em http://www.fepam.rs.gov.br.
- Legislação Municipal, disponível em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normativas do CONAMA, disponíveis em http://www.mma.gov.br/conama.
- Normativas do COMAM, disponíveis em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normas Técnicas ABNT NBR, disponíveis em http://www.abnt.org.br.
9. ANEXOS
Poderão ser apensados ao PGRCC tantos anexos quanto forem julgados importantes para
a elucidação dos itens supracitados.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 341


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ANEXO I – TABELA PARA ESPECIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


Classificação
Quan- Uni- Tranpor- Destino
Resíduo Gerado CONAMA NBR
tidade dade Tador Final
307/2007 10004/2004
Argamassa (cimento, cal areia) A IIB
Azulejos, pisos e pedras (mármores e granitos) A IIB
Concreto (cimento, cal, areia, brita) A IIB
Asfalto de decapagem A IIB
Solo de decapagem de terraplenagem e escavação A IIA
Solo de decapagem com restos vegetais e solos moles A IIA
Borrachas de vedação B IIB
Papéis diversos e papelão B IIB
Fios (PVC + cobre) B IIB
Embalagens metálicas B IIB
Embalagens plásticas B IIB
Artefatos de PVC, PEAD e PBD B IIB
Acrílicos e policarbonatos B IIB
Isopor B IIB
Plásticos diversos B IIB
Metais (alumínio, cobre, ferro, aço) e tubulações B IIB
Vidros B IIB
Esponjas, feltros e carpetes B IIB
Madeiras brutas B IIB
Serragem B IIB
Gesso e materiais oriundos do gesso B IIB
Tecidos - EPI's não contaminados B IIB
Tecidos - EPI's contaminados D I
Ferramentas diversas contaminadas D I
Embalagens metálicas contaminadas D I
Latas de tinta usadas D I
Embalagens plásticas contaminadas D I
Rolo de pintura de lã ou espuma D I
Tintas, solventes e vernizes D I
Combustível, óleo e graxas D I
Materiais têxteis contaminados D I
Produtos com amianto D I
Madeira beneficiada (com pintura, tratamento contra
D I
insetos, etc)
Resíduos orgânicos D I
Resíduo sanitário D I
Resíduo comum de atividades Administrativas D I
Outros
O campo unidade deverá ser preenchido com o volume ou a massa gerada em um determinado período de tempo. Exemplos: m³/d, kg/mês, L/ano.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 342


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ANEXO II – MODELO DE ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA PGRCC

A lei municipal de Porto Alegre originou, também, a necessidade de


licenciamento pelas empresas transportadoras de resíduos da construção civil, bem como
originou a necessidade de utilização de Manifesto de Transporte de Resíduos da Construção
Civil (MTRCC). O Manifesto constitui-se de um termo declaratório emitido em três vias, (1)
uma via fica retida junto ao gerador, após ser devolvida pelo transportador, devidamente
assinada pelo proprietário do local ou pelo empreendedor responsável pelo local de destino
dos resíduos, (2) uma via ficará retida junto ao local de destino dos resíduos, e (3) uma via
fica retida junto ao transportador. O MTRCC constitui um mecanismo para fins de
fiscalização no sentido de minimizarem-se as disposições irregulares dos RCC. A autorização
para a impressão dos blocos de MTRCC é obtida junto ao órgão ambiental local, por
transportadores e empreendedores. A Figura 4.2.2 apresenta o modelo do MTRCC instituído
em Porto Alegre.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 343


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.2.2. – Manifesto de Transporte de Resíduos Sólidos da Construção Civil de Porto


Alegre

Fonte: Porto Alegre, Decreto Municipal 18.705 (2014)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 344


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

INERTIZAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO/ENCAPSULAMENTO: A estabilização consiste em uma


técnica que visa tratar um resíduo sólido alterando a sua solubilidade, mobilidade ou toxidez
através de reações químicas. A estabilização ou encapsulamento consiste no envolvimento
do material por algum composto inerte, gerando blocos resistentes ao deslocamento dos
elementos e compostos poluentes e contaminantes para fora de si.

CO-PROCESSAMENTO: processo térmico que utiliza residuais como combustível ou matéria-


prima, ocasionando a destruição de tais, sendo as cinzas resultantes incorporadas ao
produto final sem ocasionar perda das suas qualidades.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 345


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. Resolução CONAMA 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e


procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. DOU nº 136, de 17 de
julho de 2002.

______. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.

______. 2012. Resolução CONAMA 448, de 18 de janeiro de 2012. Altera os arts. 2º, 4º, 5º,
6º, 8º, 9º, 10 e 11 da Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente CONAMA. DOU nº 14, quinta-feira, 19 de janeiro de 2012.

_____. 2015. Resolução CONAMA 469, de 29 de julho de 2015. Altera a Resolução CONAMA
307, de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
a gestão dos resíduos da construção civil. DOU nº 144, de 30 de julho de 2015.

JOHN, Vanderley M.; AGOPYAN, Vahan. 2000. Reciclagem de resíduos da construção in:
SEMINÁRIO – RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES. São Paulo, SP.

JOHN, Vanderley M.; CINCOTTO, Maria Alba. 2003. Alternativas da gestão dos resíduos de
gesso . São Paulo: USP/PCC. 9p.

PORTO ALEGRE. 2010. Lei 10.847, de 9 de março de 2010. Institui o Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil do Município de Porto Alegre,
estabelece as diretrizes, os critérios e os procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil (RCCs) e dá outras providências. DOPA de 10.03.2010.

____________. 2014. Decreto 18.705, de 8 de julho de 2014. Altera o inc. vi do art. 1º, o art.
16 e inclui arts. 16-a, 16-b, 16-c, 16-d, 16-e, 16-f e 16-g ao Decreto nº 18.481, de 10 de
dezembro de 2013, que regulamenta a lei nº 10.847, de 9 de março de 2010, que institui
o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil do Município de
Porto Alegre. DOPA de 09.07.2014.

____________. 2014. Decreto 18.746, de 12 de agosto de 2014. Altera os arts. 4º, 5º, 21,
itens 5, 6.6, do Anexo I, item 3 do Anexo II, e o modelo de tabela para especificação e
quantificação de resíduos de ambos os anexos, do Decreto nº 18.481, de 10 dezembro
de 2013. DOPA de 28/08/2014.

SOUZA, U.E.L. et ai. 1999. Desperdício de materiais nos canteiros de obras: a quebra do
mito. PUC/EPUSP. São Paulo, 1999. Anais. 48p.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 346


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.3 LÂMPADAS DE DESCARGA


A iluminação consome aproximadamente 24% de toda a energia elétrica gerada
no Brasil (RAPOSO et al., 2001). A crescente demanda de energia dos setores produtivo e
residencial, associada à questão das eventuais deficiências dos setores responsáveis pela
geração energética têm levado a visíveis modificações nos padrões de consumo.
Notoriamente, na questão relativa à iluminação após a última grande crise energética
nacional, ocorrida na Década de 2000, desencadeada pelo rebaixamento dos níveis dos
reservatórios responsáveis pela geração hidrelétrica, na qual está baseada grande parte da
matriz energética do país, lâmpadas incandescentes foram maciçamente substituídas por
lâmpadas de descarga fluorescentes. Neste sentido, observou-se o empreendimento de uma
ostensiva campanha pelo governo federal, orientando os consumidores a adotarem a
utilização de lâmpadas fluorescentes tubulares e compactas em detrimento das lâmpadas de
filamentos incandescentes, em função da superior performance energética das primeiras em
relação às últimas.
No tocante ao seu funcionamento, as lâmpadas incandescentes, cujo fabrico já
foi encerrado por lei, produzem energia luminosa a partir da passagem de corrente elétrica
por um delgado filamento metálico de tungstênio, metal de elevado ponto de fusão
(3410oC), o que provoca intenso aquecimento do mesmo (atingindo temperaturas entre
2327 e 2727oC), dissipando energia na forma de luz visível e calor. O filamento opera dentro
de um bulbo de vidro repleto de gás inerte, em geral argônio, para (1) evitar ao máximo a
sublimação do filamento, o que enegreceria em pouco tempo o filamento, e (2) evitar sua
oxidação pelo oxigênio, caso tal fizesse-se presente no bulbo. A vida útil média de tais
lâmpadas é bastante curta (1000 horas) devido ao progressivo estrangulamento do
filamento com o uso. Sua eficiência de conversão de potência aplicada em energia luminosa
é bastante baixa (estimada em 6%, 10-15 lúmen/watt) em função da maciça geração de
energia calorífica. As lâmpadas halógenas são uma variante das incandescentes, em que o
filamento é encerrado em um tubo de quartzo contendo substâncias halógenas, como
bromo e iodo. Quando a lâmpada é ligada, tais substâncias evaporam e capturam partículas
de tungstênio ejetadas pelo filamento. Com o desligamento da lâmpada, tais partículas,
combinadas com os halogenetos, precipitam-se sobre o filamento, obtendo-se um efeito de
regeneração, o que duplica a vida útil de tais lâmpadas em relação às comuns de filamento.
Em condições normais, o ar e os gases dificilmente conduzem corrente elétrica
se estiverem sob pressões muito altas (como, por exemplo, a pressão normal atmosférica).
Gases e vapores rarefeitos, contudo, permitem a passagem de eletricidade com relativa

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 347


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

facilidade, gerando luz nesse processo. Este é o princípio funcional das lâmpadas de
descarga, categoria constituída por todas as lâmpadas que utilizam mercúrio em seu interior
e mesmo algumas isentas do metal. Dentro do envoltório de vidro de uma lâmpada
fluorescente, por exemplo, há argônio e vapor de mercúrio rarefeitos. Em cada extremidade
do tubo há um eletrodo sob a forma de um filamento, revestido com um óxido. Quando se
liga a lâmpada, os filamentos se aquecem e emitem elétrons: isso inicia a ionização do gás.
Um starter (disparador) interrompe então o circuito, automaticamente, fazendo cessar o
aquecimento dos filamentos. O reator, uma bobina de fio de cobre ligada à lâmpada, produz
imediatamente um impulso de alta voltagem, que quebra a rigidez dielétrica do gás. Essa
descarga aquece e vaporiza o mercúrio, cuja maior quantidade está inicialmente no estado
líquido. Os elétrons provenientes do filamento chocam-se com as moléculas do gás mercúrio
contidas no tubo, o que produz não só a excitação como também a ionização dos átomos.
Ionizados, os átomos do gás são acelerados pela diferença de voltagem entre os terminais
do tubo, e ao se chocarem com outros átomos provocam outras excitações. O retorno
desses átomos do estado excitado ao estado fundamental ocorre com a emissão de fótons
de energia, em comprimentos de onda correspondentes às radiações visível e ultravioleta
(invisível). A radiação ultravioleta, ao se chocar com o revestimento fluorescente do tubo
(diversos sais de fósforo), produz luz visível. Empregando-se misturas de materiais
fotoluminescentes diversos é possível obter diferentes tons de luz branca.
A composição do revestimento das lâmpadas fluorescentes é cuidadosamente
estudada de modo a fornecer o tom de branco mais adequado para as necessidades de lojas,
escritórios e residências. A vida útil das lâmpadas fluorescentes relaciona-se ao consumo da
poeira emissora de elétrons que recobre os cátodos. Como nas lâmpadas fluorescentes a
maior parte da potência fornecida é transformada em luz, seu rendimento pode ser até
cinco vezes superior ao rendimento das lâmpadas incandescentes, e sua vida útil atinge
médias de milhares de horas.
Desconsiderados os aspectos de apelo comercial que cercam os produtos,
enquanto que a defesa do consumo das lâmpadas de descarga conta com os argumentos de
suas superiores durabilidade, performance e eficiência energética, há movimentos
ambientalistas que se opõem à sua fabricação, em função da utilização de mercúrio e outros
metais pesados em sua composição. Uma ponderação séria e de cunho científico sobre tal
pauta deve utilizar-se de uma avaliação de ciclo de vida aplicada a comparar as lâmpadas de
descarga a outras tipologias, como a lâmpada de Led, considerando todos os impactos
ambientais, desde sua fabricação (incluindo-se impactos referentes às matérias-primas) até
a destinação dos seus residuais.
Normalmente, a periculosidade dos residuais de lâmpadas de descarga é
relacionada ao mercúrio, metal neurotóxico presente nos artefatos. Isso se encontra bem
assinalado na NBR 10004/2004. Todavia, a poeira fosforosa que reveste o tubo das lâmpadas
é constituída por vários metais mais ou menos tóxicos, conforme apresenta a Tabela 4.3.1.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 348


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 4.3.1 - Metais presentes na composição da poeira


fosforosa de uma lâmpada fluorescente
Concentração Massa Aproximada em uma
Metal
(mg/kg) lâmpada padrão de 40W (mg)
Alumínio 3.000 12,0-18,0
Antimônio 2.300 9,2-13,8
Bário 610 2,44-3,66
Cádmio 1.000 4,0-6,0
Cálcio 170.000 680-1020
Chumbo 75 0,3-0,45
Cobre 70 0,28-0,42
Cromo 9 0,036-0,054
Ferro 1.900 7,6-11,4
Magnésio 1.000 4,0-6,0
Manganês 4.400 17,6-26,4
Mercúrio 4.700 18,8-28,2
Níquel 130 0,52-0,78
Sódio 1.700 6,8-10,2
Zinco 48 0,192-0,288
Fonte: TRUESDALE apud FUNASA (2001).

Outras fontes de metais pesados nas lâmpadas são o vidro, que apresenta
chumbo em sua composição (no caso das lâmpadas de vapor de mercúrio), as poeiras
emissoras que recobrem os cátodos, que contém bário, os próprios eletrodos, que podem
conter cromo (ferro cromado), e as soldas, que em lâmpadas de vapor de mercúrio são de
chumbo.
Considerando-se, para efeito ilustrativo, a concentração-limite de mercúrio em
águas para potabilidade (0,001 mg/L, pela Portaria do Ministério da Saúde 2914/2011), uma
lâmpada de 40 W, apresentando um mínimo de 18 mg de mercúrio em sua composição,
apresentará potencial de levar 18 m3 de água originalmente isenta de mercúrio ao limite
para potabilidade. Todos os metais presentes na poeira fosforosa apresentam maior ou
menor inconveniente de dispersão no ambiente. Cádmio, chumbo e cromo são,
particularmente, muito problemáticos em função da sua ação sobre o ambiente e a saúde
pública.
A Tabela 4.3.2 apresenta as massas de mercúrio presentes em diferentes tipos
de lâmpadas. Como pode ser observado, em algumas lâmpadas temos massas de mercúrio
próximas a 0,5, ou mesmo 1,0 grama. Um grama de mercúrio lançada em um curso hídrico
leva 1000 m3 (1.000.000 litros) de água inicialmente isenta de mercúrio ao limite para
potabilidade.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 349


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tabela 4.3.2 – Quantitativos de mercúrio presentes nos diferentes tipos de lâmpadas


Tipo de Lâmpada Potência (W) Vida Média (h) mg mercúrio/lâmpada
80 12.000 49,56
125 15.000 106,20
Vapor de Mercúrio 250 15.000 221,25
400 15.000 389,40
70 16.000 65,89
150 24.000 247,08
Vapor de Sódio 250 24.000 443,04
400 24.000 852,00
Fluorescente Comum 40 7.500 20
Fluorescente Compacta 26 10.000 7
Fonte: GAMA et al. (2001)

A via respiratória é a mais importante forma de contaminação humana por


mercúrio, podendo ocorrer por quebra das lâmpadas de descarga em acidentes ou por
desconhecimento dos riscos associados à prática do seu reaproveitamento. Em 2001, a
FUNASA estimou que no Brasil tenha ocorrido uma dispersão para o ambiente natural de
cerca de 600 kg de mercúrio, somente por falta de gerenciamento adequado dos residuais
de lâmpadas de descarga.
À ação do mercúrio metálico são atribuídos bronquite aguda, cefaléia, catarata,
tremor, fraqueza, insuficiência renal crônica, edema pulmonar agudo, pneumonia,
diminuição da libido e da capacidade intelectual, parestesia (alucinações) e insegurança; à
ação dos sais inorgânicos de mercúrio são atribuídos cegueira, dermatite esfoliativa,
gastroenterite aguda, gengivite, nefrite crônica, síndromes neurológicas e psiquiátricas
diversas; ao metil-mercúrio, resultante da metilação do mercúrio por ação microbiológica,
são atribuídos dano cerebral e físico ao feto, síndromes neurológicas múltiplas com
deterioração física e mental (tremores, disfunções sensoriais, irritabilidade, perdas da visão,
audição e memória, convulsões e morte).

Legislação aplicada ao gerenciamento do resíduo


As lâmpadas de descarga contendo mercúrio classificam-se como resíduos
perigosos (ABNT NBR 10004/2004) principalmente em função do citado metal neurotóxico.
O CONAMA – Conselho Nacional do Meio-Ambiente – instituiu, ainda em 2001, um grupo
técnico para estudar a questão e produzir uma minuta de resolução estabelecendo
responsabilidades, o que se mostrou infrutífero. Até 2010 verificou-se o advento de
inúmeros textos legais aprovados em municípios e estados do país, de pouca eficácia. A
definição acerca da responsabilidade sobre os resíduos de lâmpadas de mercúrio somente
adveio em 2010, através da Lei Federal 12.305, a qual institui:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 350


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
...
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

Aspectos tecnológicos do produto e do resíduo


O Quadro 4.3.1 apresenta a classificação geral das lâmpadas de descarga
estabelecido pela bibliografia especializada e pelas páginas eletrônicas de diversos
fabricantes. As lâmpadas contendo mercúrio mais largamente utilizadas no Brasil são a
fluorescente tubular de 40 W e a lâmpada de alta pressão de vapor de mercúrio de 400 W
(RAPOSO et al., 2001).

Quadro 4.3.1 – Classificação geral das lâmpadas de descarga


TUBULARES*
FLUORESCENTES
COMPACTAS*
DE INDUÇÃO*
IODETOS METÁLICOS*
LÂMPADAS DE DESCARGA
ALTA VAPOR DE MERCÚRIO*
NÃO PRESSÃO VAPOR DE SÓDIO*
FLUORESCENTES VAPORES METÁLICOS*
BAIXA VAPOR DE SÓDIO
PRESSÃO SÓDIO-XENON
LÂMPADAS MISTAS DE FILAMENTO E DESCARGA*
*lâmpadas que apresentam mercúrio em sua composição
Fonte: o autor

Seguem, a seguir, as descrições das lâmpadas de descarga existentes no


mercado.

(a) Lâmpadas fluorescentes tubulares e compactas


A Figura 4.3.1 apresenta, respectivamente, lâmpadas fluorescentes tubular linear
(A), circular (B) e compacta (C).
As lâmpadas fluorescentes apresentam, na sua composição, fósforo e
quantidades relativamente pequenas de mercúrio, pelo que, podem ser consideradas como
precursoras de resíduos perigosos. Sua utilização é universal e seus formatos os mais
diversos. Têm normalmente uma vida útil entre 8.000 (compactas) e 12.000 horas, e uma
eficiência luminosa de 60 a 100 lúmen/watt.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 351


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.3.1 – Lâmpadas fluorescentes

Fonte: web

Os componentes das lâmpadas fluorescentes são descritos:


 bulbo: normalmente um tubo linear de vidro. Pode também ser um tubo
curvado para formar um círculo ou um “U”;
 mercúrio: uma quantidade pequena (5 a 20 mg, dependendo da lâmpada ser
compacta ou normal) de mercúrio líquido, para fornecer o vapor de mercúrio;
 poeira fosforosa: o tubo é revestido com um composto de fósforo, Sr5(PO4)3F,
pequenas quantidades de elementos de terras raras e antimônio, a funcionar
como um ativador. Este ativador, através de interações da mecânica quântica,
permite que o mercúrio, o estrôncio e as terras raras interajam de uma
maneira que possibilita um estado excitado do estrôncio. Os elétrons ejetados
pela excitação do mercúrio (radiação ultravioleta) são absorvidos pelos
compostos, emitindo luz no espectro visível. A cor da luz varia em função da
composição da poeira fosforosa;
 cátodo: cátodos quentes em cada ponta da lâmpada, revestidos com
materiais ativadores que emitem os elétrons. Normalmente são constituídos
por bobinas de arame de tungstênio;
 protetor de eletrodo: para manutenção do máximo fluxo luminoso. Este
protetor reduz efetivamente o escurecimento da lâmpada;
 tubo de escape: durante o processo de fabricação, o ar é sugado através deste
tubo e substituído por gás inerte;
 base: usada para ligar a lâmpada ao circuito elétrico e para servir como
suporte;
 gás: normalmente argônio ou uma mistura de gases inertes a baixa pressão;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 352


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 fios de ligação: ligam aos pinos na base e conduzem a corrente entre os


cátodos e o arco de mercúrio;
 prensa de haste: contém espaços selados ao ar à volta dos fios de entrada e
elementos necessários para acompanhar a expansão e retração do vidro e
manter a campânula em condições herméticas.

(b) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão - Iodetos Metálicos


As lâmpadas não fluorescentes operam a partir da geração de um arco voltáico
em um bulbo contendo gases condutores, diferenciando-se das fluorescentes, que operam
com gases ionizados a baixas pressões. São artefatos que utilizam em sua composição
iodetos metálicos, terras raras, tálio ou compostos de césio e estanho. Além da presença
dessas espécies químicas, a presença de cerca de 20 miligramas de mercúrio por unidade
lhes confere periculosidade. Sua utilização preferencial dá-se em indústrias e zonas abertas.
Têm uma vida útil de 8000 horas e uma eficiência luminosa de 60-100 lúmen/watt. A Figura
4.3.2 apresenta um artefato desse tipo.

Figura 4.3.2 – Lâmpada de iodeto metálico

Fonte: web

(c) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão - Vapor de sódio de alta pressão
As lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão são utilizadas, em geral, para
iluminação de ruas, áreas abertas e indústrias. Utilizam uma mistura de sódio e mercúrio.
São muito eficientes e apresentam um rico espectro de emissão. Apresentam vida útil média
de 16.000 horas e eficiência de 100-150 lúmen/watt. A Figura 4.3.3 apresenta um artefato
desse tipo.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 353


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.3.3 - Lâmpada de vapor de sódio de alta pressão

Fonte: web

(d) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão - Vapor de mercúrio de alta pressão
São lâmpadas normalmente utilizadas em entradas, decoração interior, fábricas
e vias de trânsito, apresentando vida útil aproximada de 8000 horas. Contêm cerca de 30
miligramas de mercúrio por unidade. São constituídas de um bulbo com nitrogênio sob baixa
pressão e um tubo de descarga operando a aproximadamente 10 atm. Não utilizam reator,
sendo que a ionização do gás argônio é produzida por um eletrodo auxiliar. A Figura 4.3.4
apresenta um artefato desse tipo.

Figura 4.3.4 – Lâmpada de vapor de mercúrio de alta pressão

Fonte: web

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 354


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(e) Lâmpadas não fluorescentes de alta pressão de vapores metálicos


São semelhantes às lâmpadas de vapor de mercúrio de alta pressão, porém
utilizam iodetos metálicos conjuntamente com o mercúrio. Suas versões incluem artefatos
dependentes ou não de reatores. São utilizadas para iluminação de lojas de departamentos,
estádios de futebol, indústria e outras aplicações. As lâmpadas de vapores metálicos
encontram-se disponíveis em potências que vão desde 10 W até 1800 W, apresentando
rendimentos na base de 100 lúmen/W.

(f) Lâmpadas não fluorescentes de vapor de baixa pressão


Esta categoria inclui as lâmpadas de vapor de sódio de baixa pressão e de sódio-
xenon. Em sua composição, o único componente que representa periculosidade é o sódio,
inflamável e corrosivo. São utilizadas em iluminação pública, tendo uma vida média útil de
9000 horas e uma eficiência muito elevada: 150-200 lúmen/watt. A Figura 4.3.5.A apresenta
uma lâmpada de sódio de baixa pressão e as figuras 4.3.5.B e 4.3.5.C apresentam lâmpadas
de sódio-xenon.

Figura 4.3.5 – Lâmpadas de vapor de baixa pressão

Fonte: web

(g) Lâmpadas mistas de filamento e descarga


São artefatos que combinam os princípios de funcionamento de aquecimento de
filamento e descarga de corrente em alta pressão. A presença do filamento incandescente
melhora o espectro luminoso emitido e dispensa o uso de reator, uma vez que o filamento

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 355


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

inicia a ionização do gás. São comumente utilizadas em jardins, praças e iluminação pública.
Contêm mercúrio em sua composição. A Figura 4.3.6 apresenta uma lâmpada mista.

Figura 4.3.6 – Lâmpada mista

Fonte: web

Estimativas da geração de lâmpadas residuárias


A comercialização de lâmpadas e outros artefatos comuns é ampla, difusa, e não
é controlada pelo Poder Público (como já o são os explosivos, produtos químicos precursores
de explosivos, matérias-primas para o refino de entorpecentes e produtos farmacêuticos).
Não há, pelo que se sabe, portanto, possibilidade de quantificação direta do número de
lâmpadas de descarga comercializado em um determinado município na unidade de tempo.
Portanto é necessário efetuarem-se estimativas, utilizando-se modelos e assumindo a
possibilidade da ocorrência de erros, mesmo grosseiros, neste processo.
Diferentes informações, procedentes de diferentes fontes, dão conta de que no
Brasil seriam consumidas entre 200 e 250 milhões de lâmpadas fluorescentes por ano.
De posse de uma estimativa relativa à comercialização global de lâmpadas no
país, uma metodologia de estimativa da absorção de lâmpadas no município ou região (e,
portanto, da geração de igual quantidade de artefatos residuários) corresponde à
multiplicação do montante nacional fabricado pelo quociente entre a população do
município e a população total do país. Como esta metodologia não leva em conta as
diferenças culturais e econômicas (e, portanto, os perfis de consumo) regionais, uma
metodologia ainda mais indicada consistiria em multiplicar-se o montante comercializado no
país pela fração do município ou região no PIB nacional.
Todavia, com o advento da lâmpada Led, pode-se prever que comunidades com
diferentes poderes aquisitivos façam diferentes opções pelas fluorescentes e pelas Led, pelo
que as estimativas efetuadas conforme métodos anteriormente mencionados podem ter
elevado o seu erro devido a esse fator.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 356


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Descontaminação de lâmpadas de descarga


Embora existam diversos processos específicos desenvolvidos e em
desenvolvimento para descontaminação de lâmpadas de descarga, de uma maneira geral, os
processos baseiam-se em duas tecnologias de tratamento, que podem ser grosseiramente
denominadas (1) processamento a seco e (2) processamento por via úmida.

Processamento a seco
O processamento a seco, embora apresente diversas variantes, baseia-se,
fundamentalmente nos processos de separação da poeira fosforosa, do mercúrio, e dos
pedaços de vidro e metal. O processamento dá-se em câmara fechada, com pressão
negativa. Basicamente, os processos a seco são divididos em processamento sem destilação
e com destilação.
O processo Lobbe Derconsa é um típico exemplo de processamento sem
destilação. As lâmpadas fluorescentes, após seleção prévia por tamanho, são encaminhadas
para um triturador, onde os casquilhos são cortados e os corpos das lâmpadas são
quebrados. Algumas partículas resultantes dessa quebra são sugadas e conduzidas a um
filtro úmido; entretanto, os outros materiais são submetidos a um moinho de martelos, que
lhes reduz o volume. Os metais ferrosos e não ferrosos são encaminhados, por uma cinta
transportadora, para o eletroímã, o qual vai permitir separar os metais (os casquilhos),
enquanto que o vidro, o pó de revestimento e alguns metais não ferrosos, não retirados
anteriormente, são conduzidos para um coletor de pó de ciclone dinâmico, onde vai ocorrer
a próxima separação dos vários materiais. O pó é também aspirado para o filtro úmido
enquanto que o vidro e os metais não ferrosos são separados e colocados em contentores
separados, de recepção de frações finais. Depois deste primeiro ciclo do processo, os
restantes constituintes do equipamento, ainda pouco diferenciados, são conduzidos pelos
transportadores vibro-oscilantes, sendo diretamente reencaminhados para o moinho de
martelos, de modo a que se repita o ciclo até que todo o material seja separado. O ar
existente na unidade, bem como as partículas poluentes, são sugados por um sistema de
aspiração e conduzidos ao filtro de mangas, ao qual se segue um filtro úmido. Na Figura
4.3.7 é apresentada a representação esquemática simplificada do processo.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 357


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.3.7 – Representação esquemática do processo Lobbe Derconsa

Fonte: o autor, baseado em Lobbe Derconsa apud SHINN et al., 2001)

Outra modalidade de processamento a seco é o processo com separação


mecânica e destilação. Um processo patenteado que tipicamente ilustra esta modalidade é o
MRT (Mercury Recovery Technologies). A Figura 4.3.8 apresenta esquematicamente o
processo. No MRT Compact Crush and Separation Plant, que trabalha com lâmpadas
fluorescentes de todo tipo, faz-se inserção das lâmpadas manualmente, sendo todas as
outras funções desempenhadas automaticamente. O processo realiza-se em sub-pressão.
Após inserção manual das lâmpadas pelo alimentador no equipamento, ocorre a sua
trituração por um moinho de martelos. Seguem-se várias etapas de separação dos vários
produtos, as quais se iniciam com a sucção dos pedaços resultantes da trituração por um
sistema de transporte de ar, sendo conduzidos para a primeira torre de separação, onde as
partículas de maior dimensão (vidro e metal) são separadas desse sistema, enquanto que as
partículas de menor dimensão (pó de fósforo) continuam no sistema de transporte de ar. Os
pedaços de vidro e metal são descarregados através de um tambor rotativo, indo serem
separados com a ajuda de uma peneira, a qual se encontra sob o tambor rotativo. Os
pedaços de metal separados vão alimentar um triturador para maior redução do tamanho.
Após o passo de redução, os pedaços de metal são sugados por um sistema de
transporte de ar até à segunda torre de separação e novamente descarregados num tambor
rotativo. O vidro e o metal dão entrada num tapete rolante, passando, em seguida, por um
separador magnético. As partes separadas magneticamente são elevadas e conduzidas para
um recipiente metálico e as partes não magnéticas são descarregadas em outro recipiente.
O vidro vai alimentar um martelo para maior redução do seu tamanho. As peças de vidro são
então conduzidas por um sistema de transporte de ar para a terceira torre de separação. O
vidro é descarregado num tapete rolante que o conduz a um tambor rotativo, onde vai ser
tratado de forma a remover na totalidade o pó de fósforo que apresentava, alguns minutos
antes de ser colocado fora do contentor via tapete rolante, onde finalmente é recolhido. O
pó fluorescente que está presente e segue o sistema de transporte de ar é separado do ar

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 358


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ventilado em dois passos. Primeiramente o ar passa por um ciclone onde a maior parte do
pó é separada para um barril de 30 litros. Depois, o ar ventilado passa através de dois filtros
de mangas onde as partículas finas do pó são capturadas e depois disso descarregadas num
barril de 30 litros, o qual se encontra localizado num compartimento debaixo de cada filtro
de mangas. O ar fica então livre de pó fluorescente. Finalmente o ar é conduzido para os
quatro filtros de carvão ativado, para eliminar os restos de vapor de mercúrio, garantindo
que este não seja liberado para a atmosfera.

Figura 4.3.8 – Representação esquemática do Processo MRT – Compact Crush and


Separation Plant

Fonte: o autor, baseado em AMBICARE apud SHINN et al. (2001)

Processamento por via úmida


O processo via úmida ou químico pode ser dividido em duas etapas: (1) fase de
esmagamento e (2) fase de contenção do mercúrio. A fase de esmagamento difere do
tratamento térmico, porém, por ser realizada com lavagem do vidro. Assim, a quebra das
lâmpadas ocorre sob uma cortina de água, evitando que o vapor de mercúrio escape para a
atmosfera. A mistura de vidro e partes metálicas é então lavada, separando-se vidro e
metais para a reciclagem. O líquido de lavagem contendo o mercúrio e o pó de fósforo é
então filtrado ou precipitado, separando-se o pó de fósforo. O líquido já filtrado/separado
passa então por um tratamento químico com Na2S, Na2SO3 ou NaHSO3; o mercúrio é
transformado em HgS (precipitado), um composto sólido insolúvel em água. Após o
tratamento, uma nova filtragem separa o mercúrio precipitado como HgS da água. A água
pode ser reutilizada no processo. Tanto o pó de fósforo quanto o mercúrio precipitado
podem ser tratados por destilação, recuperando-se o mercúrio metálico que é encaminhado
para a reciclagem. Algumas empresas, porém, encaminham ambos os materiais para aterros.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 359


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Um fator adicional a ser comentado é que, no processo químico, existe a


utilização de água – um bem natural que se tem tornado mais e mais escasso ao longo das
décadas. É importante que tais processos promovam a contínua reciclagem interna das
águas de lavagem, para minimizar possíveis impactos ambientais. A Figura 4.3.9 apresenta
esquematicamente o flow-sheet do processo via úmida.
A descontaminação de lâmpadas de descarga, como processo tecnológico
específico e dependente de investimentos vultosos, tem despontado como uma
oportunidade de negócio. O número de plantas de descontaminação licenciadas no
território nacional ainda é pequeno. As empresas detentoras das licenças frequentemente
associam-se a representantes regionais e empresas licenciadas para transporte de produtos
perigosos para oferecerem logística adequada para coleta e transporte entre as longas
distâncias, da geração à planta de tratamento. Os preços dos serviços oferecidos variam,
conforme os quantitativos encaminhados, centrando-se hoje em cerca de R$ 1,50 por
lâmpada coletada, transportada e tratada. Infelizmente verifica-se que, por motivos
logísticos, os serviços são oferecidos apenas para grandes geradores ou para grandes
passivos de lâmpadas, não se disponibilizando ao pequeno gerador.

Figura 4.3.9 – Flow-sheet genérico do processo via úmida

Fonte: o autor, baseado em ECOLUX (2000) apud ZANICHELLI et al. (2004)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 360


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A logística reversa de lâmpadas de descarga


Não à toa o fato de que um dos primeiros acordos setoriais firmados no país
tivesse como signatários as associações das empresas relacionadas ao setor de iluminação: a
dispersão do mercúrio no ambiente ocasionada pela má gestão das lâmpadas de descarga é
um aspecto central quando considerada as consequências da ausência de destinação
disponível para resíduos de amplo e difuso consumo nas comunidades.
Conforme informado no sítio eletrônico do SINIR
(http://www.sinir.gov.br/web/guest/acordo-setorial-de-lampadas-fluorescentes-de-vapor-
de-sodio-e-mercurio-e-de-luz-mista), a discussão e negociação de tal acordo foi longa e
iniciou-se a 05.05.2011, estendendo-se até os momento imediatamente anteriores à sua
referida assinatura.
Em 05.05.2011 o Comitê Orientador, CORI, criou e instalou o Grupo Técnico
Temático de Lâmpadas, GTT de Lâmpadas, destinado à elaboração da proposta de minuta do
edital de chamamento e do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica da Implantação da
Logística Reversa de Lâmpadas – EVTE de Lâmpadas.
Com a aprovação, pelo CORI, do EVTE de Lâmpadas e da minuta do Edital de
Chamamento, a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano expediu em 03.07.2012
edital de chamamento convocando o setor afeito à produção de uma proposta de acordo
setorial para a logística reversa das lâmpadas de descarga e de luz mista. Tal foi publicado no
DOU de 05.07.2012. O prazo para apresentação de propostas de Acordo Setorial de
Lâmpadas foi fixado em 120 dias pelo edital e, no início de novembro do mesmo ano, foram
apresentadas duas propostas ao Ministério do Meio Ambiente. Iniciou-se, então, parte final
de discussão e negociação para a implantação da logística de Lâmpadas que demorou mais
de dois anos e envolveu os proponentes e o poder público federal, representado pelo CORI
por meio de sua presidente, a Ministra do Meio Ambiente, assessorada pela Secretaria de
Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do mesmo Ministério, no desempenho das funções de
Secretaria Executiva do CORI.
O Acordo Setorial de abrangência nacional para implantação do Sistema de
Logística Reversa de Lâmpadas Fluorescentes de Vapor de Sódio e Mercúrio e de Luz Mista
foi assinado no dia 27.11.2014 e teve seu extrato publicado no DOU de 12.03.2015.
Firmatários de tal acordo foram, por um lado o Ministério do Meio Ambiente, por outro a
Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (ABILUMI), a Associação
Brasileira da Indústria de Iluminação (ABILUX), a Confederação Nacional do Comércio (CNC)
e um total de 63 empresas entre signatárias e aderentes.
Em sua cláusula segunda, o Acordo Setorial determina que o sistema de logística
reversa compreende os produtos colocados no mercado, por fabricantes ou importadores, a
partir de 03 de Agosto de 2010. Portanto estabelece que os passivos anteriores a tal data
não são de responsabilidade dos respectivos importadores. O mesmo artigo centra o foco da
logística reversa no consumidor pessoa física, prevendo apenas a possibilidade de sua
extensão às pessoas jurídicas.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 361


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Estabelece o Acordo que a logística reversa seja operacionalizada por uma


pessoa jurídica sem fins lucrativos especialmente criada para tal fim. Neste sentido foi
instituída a Associação Brasileira Para Gestão da Logística Reversa de Produtos de
Iluminação – Reciclus. Tal entidade é mantida pelos fabricantes e importadores de lâmpadas.
A contribuição de cada fabricante ou importador ao total referido no parágrafo anterior
deve corresponder à proporção da quantidade de lâmpadas que tenha colocado no
mercado.
O Acordo prevê a instalação de dois tipos de pontos a serviço do sistema:
 pontos de entrega: locais determinados nos termos do sistema de logística
reversa, para fins de entrega pelo gerador domiciliar de resíduos,
recebimento e armazenamento temporário das lâmpadas descartadas. Além
dos pontos constituídos no âmbito do sistema, postos originados por
iniciativas de distribuidores e comerciantes poderão vir a ser contemplados,
integrando o sistema;
 pontos de consolidação: locais determinados nos termos do sistema de
logística reversa, para fins de armazenamento das lâmpadas descartadas
provenientes dos pontos de entrega ou via gerador não domiciliar de
resíduos.
Desta forma, prevêem-se pontos de entrega como locais licenciados com
pequena capacidade de armazenamento, e pontos de consolidação unidades licenciadas
como locais contando elevadas com áreas construídas.
O mecanismo descrito no Acordo Setorial para a logística reversa das lâmpadas é
descrito:
 os geradores domiciliares devem entregar as lâmpadas descartadas de forma
adequada, ou seja, separadas das demais frações de resíduos sólidos
domiciliares, em pontos de entrega ou por meio de coletas eventuais,
conforme previsto no sistema;
 os geradores não domiciliares que aderirem ao sistema, nos termos da
cláusula décima segunda, devem realizar a triagem e armazenar as lâmpadas
descartadas, separadas das outras frações de resíduos sólidos, utilizando os
recipientes e/ou pontos de consolidação que podem ser disponibilizados ou
especificados pela entidade gestora. Não há previsão de gratuidade para o
atendimento de pessoas jurídicas pelo sistema;
 o responsável pelo ponto de entrega ou o gerador não domiciliar de resíduos
que aderir ao sistema, quando for atingida a capacidade dos recipientes, deve
emitir um pedido de retirada que deve ser enviado para a entidade gestora
responsável;
 a empresa contratada para realizar o transporte de lâmpadas descartadas
receberá o pedido da entidade gestora responsável por coletar o recipiente e

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 362


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

deve transportá-lo para seu destino, o qual pode ser um ponto de


consolidação, um reciclador ou ainda, no caso de rejeitos, um aterro sanitário.
O sistema de pontos de entrega a ser constituído contemplará os municípios com
população superior a 25.000 habitantes, o que deverá atender a dois terços da população do
país. Para os municípios menores está prevista a realização de coletas móveis periódicas. O
sistema proposto pelo Acordo prevê a adoção de metas progressivas de recuperação dos
residuais de lâmpadas.
Em meados de 2017 ainda não havia sido implantado o sistema de logística
reversa de lâmpadas, embora em sítios eletrônicos dos firmatários encontre-se expressa a
afirmativa de que em 2017 a implantação terá início.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 363


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio
de Janeiro, 2004.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE/FUNASA. 2001. Lâmpadas fluorescentes e o risco à saúde.


Relatório Final. 2001, 3p.

_____. MINISTÉRIO DA SAÚDE/FUNASA. 2011. Portaria MS Nº 2914, de 12 de dezembro de


2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade. DOU de 14.12.2011.

______. SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTE URBANO. 2011. Chamamento para


a elaboração de Acordo Setorial para Implantação da Logística Reversa de Lâmpadas
Fluorescentes, de Vapor de Sódio e Mercúrio e de Luz Mista. DOU de 05.07.2012.

_____. SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTE URBANO. 2015. Acordo Setorial


para implantação do Sistema de Logística Reversa de Lâmpadas Fluorescentes de
Vapor de Sódio e Mercúrio e de Luz Mista, de 27 de novembro de 2014. DOU de
12.03.2015.

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Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 364


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.4 PNEUMÁTICOS INSERVÍVEIS


Pneumáticos são artefatos largamente utilizados nas atividades humanas
corriqueiras. Seu uso mais frequente dá-se na forma de pneus e câmaras para veículos
automotores e bicicletas, ainda que outros artigos similares existam. Do ponto de vista
ambiental a problemática relaciona-se, sobretudo, aos pneus inservíveis.
No século XIX, o norte-americano Charles Goodyear descobriu o processo de
vulcanização, deixando casualmente caírem borracha e enxofre no fogão. Mais tarde, a
Alemanha começou a industrializar borracha sintética obtida a partir do petróleo. Desta
maneira, as antigas rodas de madeira e ferro foram substituídas por pneus de borracha, que
melhor absorvem os impactos das rodas com o solo, elevando o conforto e a segurança dos
veículos. A Figura 4.4.1 apresenta esquematicamente a estrutura de um pneu.

Figura 4.4.1 – Estrutura de um pneu

Fonte: o autor

Os componentes da estrutura dos pneus são abaixo especificados:


 Carcaça: é a parte resistente do pneu, constituída de lona(s) de poliéster,
nylon ou aço. Retém o ar sob pressão que suporta o peso total do veículo. Nos
pneus radiais as cinturas complementam sua resistência;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 365


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Talões: são constituídos internamente de arames de aço de elevada


resistência, e têm por finalidade manter o pneu acoplado ao aro sem permitir
vazamento de ar;
 Banda de Rodagem: é a parte do pneu que entra diretamente em contato
com o solo. Formada por um composto especial de borracha que oferece
grande resistência ao desgaste. Seus desenhos constituídos por partes cheias
(biscoitos) e vazias (sulcos), oferecem desempenho e segurança ao veículo;
 Flancos: protegem a carcaça de lonas. São dotados de uma mistura especial
de borracha com alto grau de flexibilidade.
Dois são os tipos de carcaças de pneus: radial e diagonal. A Figura 4.4.2
apresenta esquematicamente os dois tipos de carcaça.

Figura 4.4.2 – Representação esquemática de pneus radial (E) e diagonal (D)

Fonte: o autor

 Carcaça Radial: um pneu de constituição radial possui uma carcaça formada


por uma ou mais lonas cujos cordonéis estão dispostos de forma paralela e no
sentido radial, sendo estabilizada pelas cinturas sob a banda de rodagem.
 Carcaça Diagonal (ou Convencional): um pneu de constituição diagonal,
também chamado de convencional, possui uma carcaça formada por lonas
têxteis cruzadas umas em relação às outras.
O pneu radial é composto, basicamente, pela banda de rodagem e aro de aço. A
banda de rodagem é composta por borracha vulcanizada. Nos pneus diagonais, a estrutura
interna é a base de tecidos. Conforme LUND (1993) apud CARVALHO (2004) a banda de
rodagem é composta por carbono (83%), hidrogênio (7%), oxigênio (2,5%), enxofre (0,3%),
cinzas (6%).

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 366


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os pneumáticos, quando isentos de impregnação por óleos minerais ou outros


produtos perigosos, não se constituem em resíduos perigosos, sendo frequentemente
classificados na Classe II-B – resíduos não perigosos inertes – da classificação estabelecida
pela NBR 10004/2004 da ABNT. Neste sentido, o pneu limpo nem mesmo depreciaria a
qualidade da água para o consumo humano quando em contato com a mesma. Não sendo
biodegradável, estima-se que sua degradação, por fenômenos físicos e químicos, demande
tempo em uma ordem de grandeza de 400 anos.
Não sendo resíduos perigosos, os pneumáticos não apresentam características
de inflamabilidade (apesar de apresentar combustibilidade), patogenicidade, toxicidade,
corrosividade ou reatividade. Embora se façam presentes metais pesados e outros
compostos tóxicos na composição dos pneus, as matrizes poliméricas indisponibilizam tais
espécies, de modo que o extrato lixiviado obtido pela metodologia padronizada pela NBR
10005/2004 provavelmente não apresentaria concentrações relevantes de espécies
químicas que conferem periculosidade. O seu inconveniente, após tornarem-se resíduos
(carcaças), consiste no fato de que, pelos seus formatos e sua resistência ao corte, (1)
dificultam os processos de coleta, compactação em aterros sanitários e aterramento; (2)
pela impermeabilidade da borracha, formam bolsões de líquidos e gás nos aterros, podendo
comprometer os aspectos de drenagem das áreas. Quando os pneus são compactados
inteiros, tendem a retornar à sua forma original, acumulando gases, líquidos, causando
movimentações na massa de resíduos aterrada, rompendo o selamento superior do aterro,
permitindo a entrada de águas de chuva que formarão lixiviado (BLUMENTHAL, 1993, apud
MORAIS e GÜNTER, 2004).
Os pneus, quando descartados inadequadamente em rios, arroios e córregos
promovem o assoreamento desses. Quando queimados, ocasionam liberação de fumos
tóxicos. Quando descartados em áreas baldias e a céu aberto, em função da acumulação de
água em seu interior vazado, promovem a proliferação de vetores, sendo fatores
importantes de comprometimento sanitário, atentando gravemente contra a saúde pública.
O problema ganha vulto principalmente em função da proliferação das larvas do mosquito
Aedes aegypti, vetor transmissor da dengue que se tornou epidêmica em algumas regiões do
país.
Segundo dados de 2016, disponibilizados na página eletrônica da Associação
Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), nesse ano a produção nacional de pneus
aproximou-se das 68 milhões de unidades, sendo 63,4% direcionada à reposição, 18,2%
direcionada às montadoras de veículos e 18,5% direcionada à exportação.
Segundo LUND (1993) apud CARVALHO (2004), nos Estados Unidos as carcaças de
pneus representavam 1,2% de todos os resíduos sólidos em 1993. Em 1990 a geração per
capita de carcaças nesse país foi de 1,25 unidades residuárias. Em 2005, 65,5%, ou seja, 180
milhões de pneus velhos estariam em aterros sanitários e 2 a 3 bilhões estariam em
estoques à céu aberto no mesmo país. Em agosto de 2003 havia uma estimativa de
100.000.000 de pneus no Brasil depositados em locais impróprios.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 367


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Legislação aplicada ao resíduo


A preocupação com a acumulação indevida de pneus em áreas urbanas e rurais,
principalmente devido ao risco sanitário advindo da acumulação de água nos volumes
vazados das carcaças e consequente disseminação de vetores, conduziu à regulamentação
de sua destinação, em 1999, através da Resolução 258 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (hoje revogada). As principais determinações de tal resolução foram as seguintes:
 foi atribuída obrigação aos fabricantes e importadores de pneus e
pneumáticos em relação ao recolhimento e destinação ambientalmente
correta dos residuais (artefatos inservíveis) em uma proporção anualmente
crescente em relação aos quantitativos fabricados e importados. A Tabela
4.4.1 apresenta essa proporção. Deve-se atentar ao fato de que, se por um
lado a resolução estabelecia um mecanismo que, se cumprido, ocasionaria
gradualmente a extinção do problema relativo à destinação de pneus, visto
que, já a partir em 2005, fabricantes e importadores deveriam estar
recolhendo quantidades de carcaças superiores aos quantitativos de artefatos
novos colocados no mercado de consumo, por outro lado não estabelecia
garantias, a cada consumidor, de que seus residuais seriam recolhidos em
tempo hábil. Recolhidas as cotas estipuladas, as carcaças excedentes
teoricamente não necessitariam recolhimento.
 no quinto ano de vigência da Resolução (2005), o CONAMA, após avaliação a
ser procedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, deveria ter reavaliado a norma e os
procedimentos estabelecidos na resolução (todavia, tal ocorreu apenas nos
finais de 2009);

Tabela 4.4.1 – Relação entre quantitativos de pneumáticos fabricados e importados e


quantitativos que deveriam ser destinados pelos fabricantes e importadores conforme
Resolução CONAMA 258/1999 (revogada)
Para cada...
... deveriam ser Para cada... ... deveriam ser
... pneus novos
A partir de 1º de destinados... ... pneus destinados...
fabricados* no
janeiro de... ... pneus reformados ... pneus
país ou
inservíveis. importados ... inservíveis.
importados**...
2002 4 1
2003 2 1
2004 1 1 4 5
2005 4 5 3 4
*não encontravam-se inclusos nesta determinação pneus exportados pelo país ou que acompanham veículos exportados;
**incluíam-se aí os pneus que acompanham os veículos importados.
Fonte: Resolução CONAMA 258/1999 (revogada)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 368


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 as empresas fabricantes de pneumáticos ficaram obrigadas, a partir de 1º de


janeiro de 2002, a comprovar junto ao IBAMA, anualmente, a destinação final,
de forma ambientalmente adequada, das quantidades de pneus inservíveis
estabelecidas na Resolução, correspondentes às quantidades fabricadas;
 a partir da data de publicação da Resolução ficou proibida a destinação final
inadequada de pneumáticos inservíveis, tal qual a disposição em aterros
sanitários, mar, rios, lagos ou riachos, terrenos baldios ou alagadiços, e a
queima a céu aberto;
 os fabricantes e os importadores poderiam criar centrais de recepção de
pneus inservíveis, a serem localizadas e instaladas de acordo com as normas
ambientais e demais normas vigentes, para armazenamento temporário e
posterior destinação final ambientalmente segura e adequada;
 os distribuidores, os revendedores e os consumidores finais de pneus, em
articulação com os fabricantes, os importadores e o poder público, deveriam
colaborar na adoção de procedimentos, visando implementar a coleta dos
pneus inservíveis existentes no país.
As resoluções do CONAMA 23/1996 e 235/1998 estabeleceram a proibição da
importação de vários tipos de resíduos, entre eles os pneumáticos usados, o que trouxe
certos impactos ao mercado nacional, uma vez que era comum a importação de pneus meia-
vida, provenientes principalmente da Europa, que eram diretamente comercializados no
país, gerando em pouco tempo, novas sucatas. Outra prática comum na Década de 2000 era
a remoldagem de pneus, uma prática industrial muito bem estabelecida que transformava
pneus meia-vida europeus em produtos novos, a partir de um processo que reconstituía por
completo o pneu.
Conforme a indústria da remoldagem, o mercado de pneus remoldados
necessitaria carcaças de boa qualidade (importadas) para o processo de remoldagem, sendo
as carcaças nacionais consideradas inadequadas ao processo, dadas as condições brasileiras.
O problema da proibição da importação de carcaças foi, em parte, até meados da década de
2000, solucionado pelos remoldadores através de um acordo firmado por pressão do
Tribunal Arbitral do Mercosul, que resultou no Decreto da Presidência da República Nº 4592,
em que se estabeleceu como exceção às citadas leis, a possibilidade de importarem-se
carcaças provenientes de partes do Mercosul, havendo tal sido conduzido pela indústria de
remoldagem. Outros mecanismos utilizados para possibilitar a importação de carcaças foram
as liminares judiciais impetradas pelo segmento industrial da remoldagem, liderada pela
paranaense BS Colway.
Complementarmente à Resolução CONAMA 258/1999, em 21 de março de 2002,
o CONAMA aprovou a Resolução 301/2002, que, principalmente, em função da proibição da
importação de pneus estabelecida pelas resoluções supracitadas e da preocupação com
pneumáticos advindos de bicicletas e outros veículos, modificou a anterior. Os principais
pontos da Resolução 301/2002 a serem destacados são:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 369


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 não somente fabricantes de pneus automotivos deveriam cumprir o


estipulado na Resolução 258/1999 em relação à destinação de artefatos
inservíveis, mas também fabricantes de pneumáticos para bicicletas;
 estendeu a responsabilidade da implementação de coleta dos pneus
inservíveis existentes no país também a reformadores e consertadores de
pneumáticos;
 estendeu os regramentos da Resolução 258 também aos importadores de
pneus usados (carcaças) que entravam no território nacional por força de
decisão judicial.
A cassação da licença de importação de duas grandes empresas de remoldagem,
entre elas a BS Colway, pela Secretaria de Comércio Exterior, acarretou em ações, que foram
conduzidas pela ABIP – Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados – ao
Supremo Tribunal Federal. Em dezembro de 2007, o STF manteve a suspensão da licença de
importação das duas empresas. A ABIP ofereceu, pouco tempo após, denúncia contra a
Michelin do Brasil por descumprimento da Resolução CONAMA 258/1999, e contra o
presidente do IBAMA por não estabelecer autuação dessa empresa em função do ocorrido.
Não obstante, a BS Colway obrigou-se a demitir centenas de colaboradores e a encerrar
programas nas áreas social e ambiental em função da proibição da importação de matéria-
prima para sua principal atividade.
Em 2009 o CONAMA expediu a Resolução 416, revogando as resoluções 258 e
301 e instituindo novos estabelecimentos à indústria de pneumáticos, importadores,
distribuidores, revendedores, destinadores e consumidores. A partir da instituição da nova
resolução importadores e fabricantes ficaram obrigados a destinar um pneu inservível para
cada pneu novo colocado no mercado, sendo a destinação obrigatoriamente declarada
anualmente via Cadastro Técnico Federal do IBAMA. Para tais fins foi instituída unidade de
peso, sendo utilizado o fator 0,3 para corrigir a massa do pneu inservível em relação à massa
do pneu novo. A Resolução instituiu o Plano de Gerenciamento de Coleta, Armazenamento e
Destinação de Pneus Inservíveis a ser confeccionado por fabricantes e importadores, com
conteúdo mínimo estabelecido:
 descrição das estratégias para coleta dos pneus inservíveis, acompanhada de
cópia de eventuais contratos, convênios ou termos de compromisso, para este
fim;
 indicação das unidades de armazenagem, informando as correspondentes
localização e capacidade instalada, bem como informando os dados de
identificação do proprietário, caso não sejam próprias;
 descrição das modalidades de destinação dos pneus coletados que serão
adotadas pelo interessado;
 descrição dos programas educativos a serem desenvolvidos junto aos agentes
envolvidos e, principalmente, junto aos consumidores;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 370


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 número das licenças ambientais emitidas pelos órgãos competentes relativas às


unidades de armazenamento, processamento, reutilização, reciclagem e
destinação;
 descrições de programas pertinentes de auto-monitoramento.
A Resolução estabeleceu a obrigatoriedade, por fabricantes e importadores, de
implantação de pelo menos um ponto de recebimento de pneus inservíveis para cada
município do país com mais de 100.000 habitantes, restando aos demais municípios serem
atendidos por soluções regionalizadas.
A Resolução estabeleceu a obrigatoriedade de as revendas de pneus receberem
e armazenarem pneus inservíveis de seus clientes quando das trocas, podendo se constituir
em pontos de recebimento também de carcaças de outras origens. Veda a destinação final
de pneus em condições de reforma.
Por fim, a Resolução atribui ao IBAMA a responsabilidade de controle e
fiscalização do processo de destinação das carcaças.
A RECICLANIP, pessoa jurídica instituída pela ANIP para funcionar como o seu
braço encarregado da logística reversa e destruição dos pneumáticos inservíveis informa em
seu web-site (http://www.reciclanip.org.br/v3/), que em meados de 2017 mais de 3,8
milhões de toneladas de pneumáticos inservíveis já foram destruídos a partir dos seus
programas. Em abril de 2017 já haviam sido implantados 1008 pontos para recepção de
carcaças no país. Na mesma página eletrônica a RECICLANIP oferece parceria para com as
prefeituras para a constituição de novos pontos de recebimentos de carcaças.

Estimativa da geração do resíduo


Conforme dado informal fornecido pela ANIP ao autor, cada veículo produz, em
média, anualmente, a substituição de um pneu, podendo-se adotar a base do número de
carcaças anualmente produzidas como igual ao número da população flutuante de
automóveis de um determinado município ou região. Já MAGANHA (1999) apud MORAIS e
GÜNTER (2004) estabelece uma estimativa mais conservadora, de uma média mundial de
reposição de dois pneus por veículo anualmente. Conforme dados da produção nacional já
informados, 43.020.800 pneus novos fabricados em 2018 destinaram-se à reposição. Em
2015 acreditava-se que o país detinha uma frota de 42.600.000 veículos automotores
(exceto motocicletas). O cálculo confirma a previsão de substituição de uma unidade por
veículo anualmente. As estimativas da geração de pneumáticos inservíveis em determinado
município ou região podem utilizar os seguintes modelos:
 1 pneu/(veículo.ano): então, seguindo a estimativa da ANIP, o número de
carcaças produzidas anualmente será igual ao número de veículos do
município ou região;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 371


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Consumo proporcional à população: consiste em multiplicar o montante de


pneus comercializados no país durante o ano pela fração populacional do
município ou região em relação ao país. É uma estimativa pobre;
 Consumo proporcional ao PIB: consiste em multiplicar o montante de pneus
comercializados no país durante o ano pela fração do município ou região no
PIB nacional;
 Consumo função da fração da frota: é possivelmente o melhor modelo:
consiste em multiplicar a fração dos veículos do município ou região na frota
nacional pelo montante de pneus comercializados no país durante o ano
(todavia não leva em conta padrões de consumo, como rápida substituição de
pneus parcialmente gastos, diretamente relacionados ao poder aquisitivo da
comunidade).
Para efeito das estimativas de carcaças inservíveis potencialmente abandonadas,
deve-se ter em mente que pneus convencionais prestam-se muito bem a aproveitamentos
simples, como fabricação de artigos de borracha e não apresentam a dificuldade operacional
de corte dos pneus radiais (que apresentam aço na estrutura), portanto apresentam valor
econômico positivo, podendo ser conduzidos à reciclagem.

Aspectos relacionados à destinação/tratamento/reaproveitamento dos pneus


inservíveis
Diversas são as possibilidades de aproveitamento das sucatas de pneumáticos.
Os pneus podem ser reciclados inteiros ou picados. Quando picados, apenas a banda de
rodagem é reciclada e quando inteiro, há inclusão do aro de aço. São citadas as formas de
aproveitamento:
a) reaproveitamento:
 recauchutagem, recapagem ou remoldagem: produção de um novo
pneumático a partir da carcaça de um antigo. A recauchutagem dos pneus
é vastamente utilizada no Brasil, atingindo 70% da frota de transporte de
carga e passageiros;
 cortados em tiras, são muito utilizados na fabricação de estofamentos,
onde, pela elevada resistência, formam uma base com elevada capacidade
de suporte de peso;
 equipamentos para playground: obstáculos ou balanço, em baixo dos
brinquedos ou nas madeiras para amenizar as quedas e evitar acidentes;
 confecção de muros de arrimo;
 utilização para constituição de guardrails para pistas de corridas de cavalo,
motocross, corridas de bicicletas, motocicletas ou carros de corrida, ou
eventos que necessitem de uma limitação da faixa a percorrer;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 372


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 sinalização rodoviária e pára-choques de carros;


 para a contenção de erosão do solo: pneus inteiros associados a plantas de
raízes grandes podem ser utilizados para ajudar na contenção da erosão do
solo;
 criação de recifes artificiais para reprodução de animais marinhos;
b) reciclagem: aproveitamento após processamento:
 para a fabricação de pisos industriais, pisos de canchas poliesportivas, sola
de sapato, tapetes de automóveis, tapetes para banheiros, borracha de
vedação: depois do processo de desvulcanização, via adição de óleos
aromáticos, resulta uma pasta, a qual pode ser usada para produzir tais
produtos, entre outros;
 fabricação de pavimentos para estradas (asfalto ecológico): o pó gerado
pela recauchutagem e restos de pneus moídos podem ser misturados ao
asfalto aumentando sua elasticidade e durabilidade;
 fabricação de concreto com borracha (substituindo o agregado mineral);
 co-processamento: como combustível de forno para produção de cimento,
cal, papel e celulose: o pneu é combustível, apresentando elevado poder
calorífico (pneus de passeio: 7800 kcal/kg; pneus de veículos de transporte:
6300 kcal/kg), comparável ao carvão;
 pirólise: processamento térmico para produção de subprodutos com
aproveitamento de matéria e/ou energia, gerando gás de síntese
combustível, óleos combustíveis, enxofre e sucata de aço;

Reaproveitamento de pneus
Antes de se tornarem inservíveis, os pneus usados podem ser reformados para
que sua vida útil como equipamentos automotivos seja prolongada por mais alguns anos. No
Brasil a prática é permitida por lei desde que seja realizada com componentes que foram
utilizados em território nacional. Três são os tipos de reformas praticadas em pneus:
 recapagem: quando somente a banda de rodagem é substituída. Há geração
de uma emenda indesejável na fixação da nova banda polimérica, que pode
comprometer seriamente a estabilidade do pneu, sob certas condições;
 recauchutagem: além da substituição da banda, inclui a troca de um pedaço
da lateral do pneu;
 remodelagem ou remoldagem: todo componente ganha nova cobertura.
A rigor, os três citados processos não constituir-se-iam propriamente em
reaproveitamento, e sim em reciclagem, visto as carcaças sofrerem processamento
industrial.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 373


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de recauchutagem de pneus.


Considera-se que as sucessivas recauchutagens elevem em 100% a vida útil dos pneus,
proporcionando uma economia de cerca de 80% no dispêndio de matéria-prima e energia
em relação à produção de pneus novos. Um pneu que sofreu recapagem ou recauchutagem
apresenta uma vida útil média de 15.000 km, podendo ser novamente recapado.

Produção de artefatos após desvulcanização


A borracha é um polímero formado por inúmeras cadeias de carbono e que se
mostra muito frágil a variações da temperatura. A borracha natural fica muito amolecida em
altas temperaturas, e em temperaturas muito baixas ela se quebra. Para sanar esse
problema e tornar a borracha um material resistente, utiliza-se o processo de vulcanização.
O processo consiste em inserir cadeias de sulfetos nas cadeias de carbono da borracha para
deixá-la mais resistente.
Depois que a borracha vulcanizada é utilizada, surge o problema de o que fazer
com seus rejeitos. No caso dos pneus, grandes quantidades de borracha são utilizadas na
fabricação, e o desgaste normal leva à perda de apenas 1% do material polimérico. O
restante do material, 99%, é inutilizado, constituindo desperdício de material de alto valor.
A desvulcanização é possível através da quebra das pontes de sulfeto entre as
cadeias poliméricas, buscando a obtenção de um material que possa ser reutilizado. Tal
processo opera através de uma digestão da borracha em vapor d’água e produtos químicos
como álcalis e óleos minerais. O material desvulcanizado encontra-se pronto para a
confecção de artigos de borracha diversos, como tapetes de automóvel, solados de sapato,
borrachas de vedação, etc. No Brasil já há tecnologia em escala industrial que regenera
borracha por processo a frio, obtendo um produto reciclado com elasticidade e resistência
semelhantes às do material virgem. Além disso, a técnica utiliza solventes capazes de
separar o tecido e o aço dos pneus, permitindo o seu reaproveitamento. Cortados em lascas,
os pneus velhos são transformados em pó de borracha, purificado por um sistema de
peneiras. O pó é moído até atingir a granulação desejada e, em seguida, passa por
tratamento químico para possibilitar a desvulcanização da borracha. Em autoclaves
giratórias, o material recebe oxigênio, calor e forte pressão, que provocam o rompimento de
sua cadeia molecular. Assim, a borracha é passível de novas formulações. Ela sofre um refino
mecânico, ganhando viscosidade, para depois ser prensada. No final do processo, o material
ganha a forma de fardos de borracha regenerada. Eles são misturados com outros
ingredientes químicos para formar uma massa de borracha, que é moldada ao passar por
uma calandra e um gabarito. Numa bateria de prensas, a borracha é vulcanizada, formando
os produtos finais, como tapetes de carro e solas de sapato.

Incorporação ao asfalto – “asfalto ecológico”


Países como o Canadá e os Estados Unidos já utilizam pneus em capa asfáltica há
algumas décadas. No Canadá, tem sido usada a técnica para a utilização de pneus na forma

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 374


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

prensada como adicional na cobertura de asfalto das cidades. A borracha prensada torna a
superfície do asfalto muito mais resistente e durável. O processo é econômico porque pode
ser utilizado o equipamento convencional de construção de estradas. Experiências
internacionais mostram que a utilização de grânulos misturados ao betume, na proporção de
8-10% de borracha (90-92% de betume) confere uma resistência melhor do que o betume
sozinho. Essa mistura também apresenta maior resistência a baixas temperaturas. A alta
resistência aos impactos da camada de borracha-betume a baixas temperaturas e sua
adesão nas camadas inferiores faz com que não apareçam rachaduras nas superfícies das
estradas antes de dez anos. Do ponto de vista econômico, o aumento da longevidade do
piso compensa o aumento do custo para a confecção do mesmo.
Nas misturas asfálticas, existem dois processos - úmido e seco - de incorporação
dos pneus. No processo úmido (wet process) são adicionadas partículas finas de borracha ao
cimento asfáltico, produzindo um novo tipo de ligante denominado "asfalto-borracha". Já no
processo seco (dry process), partículas maiores de borracha substituem parte dos agregados
pétreos. Após a adição do ligante, formam um produto denominado "concreto asfáltico
modificado com adição de borracha".
No Brasil, para a utilização de pneus inservíveis em capas asfálticas, testes de
solubilização e lixiviação foram realizados, com o objetivo de classificar as amostras
(somente borracha, mistura asfáltica convencional e misturas asfálticas utilizando borracha
como agregado) através da detecção de metais pesados. Em São Paulo, esses ensaios são
uma exigência da CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, para fins
de construção de pistas experimentais, para comprovar que misturas asfálticas preparadas
com borracha de pneus não apresentam riscos potenciais ao ambiente e à saúde pública.

Concreto com borracha


Um instituto denominado Via Viva®, em finais da Década de 2000, elaborou uma
nova tecnologia na fabricação de concreto, capaz de abrandar as consequências dos
acidentes de trânsito, além de colaborar com a preservação do ambiente. Trata-se do
Concreto DI® (Deformável e Isolante), utilizado para a construção de barreiras rodoviárias,
que ficam mais elásticas e absorvem mais impacto.
O diferencial do Concreto DI® está em sua composição. Pneus sem utilidade são
misturados ao concreto, o que lhe confere maior resistência à compressão. O Instituto
firmou parceria com a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) e com o
Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de São Paulo para colocar em prática o
projeto. As barreiras rodoviárias compostas de concreto com borracha já foram construídas
em alguns pontos da cidade de São Paulo. O primeiro foi na Rodovia Raposo Tavares, no final
de 2003, e o segundo, no final da Marginal Tietê, no final de 2004. Segundo o engenheiro
responsável, na Marginal foram construídos cerca de 1 km de barreiras, o que equivale ao
uso de 10.000 pneus. Isso representa quase 10% do que foi retirado na última limpeza do rio
homônimo (120.000 pneus, aproximadamente).

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 375


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Co-processamento em fornos
A utilização de resíduos sólidos como fonte de energia é prática usual em muitos
países. Os Estados Unidos co-processam cerca de 1,2 milhões de t/ano de resíduo como
combustível alternativo, representando 19% do total de energia consumida para a
fabricação do cimento. Na França e na Alemanha o co-processamento dá conta de,
respectivamente, 42% e 12% da demanda de energia térmica. O Japão, através de um
programa de cooperação ambiental entre o governo e a indústria cimenteira, reaproveitou,
na Década de 2000, cerca de 27.000.000 de toneladas de resíduos, utilizados como
combustível alternativo.
Para a extração de energia, os pneus são utilizados como combustível em outros
processos, devido ao seu poder calorífico que é de 33,6 MJ/kg, sendo da mesma ordem de
grandeza que o do carvão mineral (25,2-29,4 MJ/kg) e o do combustível líquido (54,6-58,8
MJ/kg). Este alto poder calorífico incentiva sua utilização como combustível em processos de
incineração, economizando recursos naturais como o carvão e o petróleo. O calor produzido
pode ser utilizado nas indústrias de aço e de cimento. Há estimativas de que cada pneu
utilizado como combustível substitui o consumo de 9,4 litros de petróleo.
A indústria do cimento é uma das atividades industriais onde há mais elevado
consumo de energia. Fornos de clínquer requerem altas temperaturas (1800°C). O co-
processamento em fornos de clínquer, nos dias de hoje, é a solução para a destinação de
praticamente 100% das carcaças produzidas no Brasil, uma vez que tais carcaças moídas são
recebidas pelas cimenteiras sem custos para a indústria de pneumáticos
A queima de pneus, ou de qualquer outro resíduo em fornos de cimento, deve
seguir alguns critérios estabelecidos pelos órgãos de controle ambiental responsáveis dos
estados nos quais as cimenteiras estão instaladas. Este procedimento aplica-se ao
licenciamento de atividades de aproveitamento do resíduo sólido em fornos rotativos de
produção de clínquer. Atualmente a indústria de clínquer exige que as carcaças utilizadas
para co-processamento ingressem ao sistema previamente moídas. A Figura 4.4.3 apresenta
registros fotográficos do processamento das carcaças de pneus previamente ao seu envio ao
co-processamento.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 376


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.4.3 – Beneficiamento das carcaças de pneus para produção de combustível

(A) caçamba estacionária pronta para o transporte; (B) recepção da carga na planta de moagem; (C) destalonamento;
(D) condução das carcaças, via esteira, até o moinho; (E) separação magnética do aço presente no material picado; (F)
arames provenientes do destalonamento, que seguirão à reciclagem; (G) aparas de pneu picado, prontas para seguir ao
forno de clínquer.
Fonte: o autor

Pirólise
Apesar de ser comum tratar-se a pirólise como queima, essa é uma maneira
errônea de conceituar tal processo. Na pirólise não há a combustão, ocorrendo uma espécie
de destilação destrutiva, ou seja, o material é fracionado com a ação de calor de fonte
externa, e este fracionamento facilita a extração de materiais desejados, diferentemente da
queima, onde pela ação de altas temperaturas, os compostos são total ou parcialmente
destruídos por oxidação com oxigênio molecular, tendo como resultado cinzas, emissões
líquidas e gasosas (CAPONERO, 2000 apud MORAIS e GÜNTER, 2004). Esse processo foi utilizado
pela PETROBRÁS/SIX, no município de São Mateus do Sul, estado do Paraná, cuja planta

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 377


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

utilizou pneus conjuntamente com o mineral xisto betuminoso para extração de óleo, gás e
outros componentes. Na pirólise, emissões resultantes do emprego de pneus usados
juntamente com o xisto não são diferentes em qualidade das emissões resultantes da
pirólise do mineral xisto somente.
O óleo obtido no processo é utilizado como óleo combustível. O gás de síntese
produzido no processo de pirólise de pneus e xisto tem a mesma destinação que o atual gás
do processo. Atualmente o gás combustível é consumido integralmente pela indústria e o
equivalente ao gás liquefeito de petróleo, GLP, é engarrafado e distribuído pelas
revendedoras regionais de gás de cozinha (NOVICKI et al., 2000 apud MORAIS e GÜNTER, 2004).
O resíduo da pirólise de xisto e pneus tem indicação para uso em termelétricas devido ao
seu elevado poder calorífico. Por fim, há produção significativa de enxofre na pirólise de
xisto e pneus.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 378


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANIP. Anip produção e vendas 2016. Disponível em


http://www.anip.com.br/arquivos/producao-vendas.pdf. Acedido em 30.04.2017.

BRASIL. Resolução CONAMA 23 de 12 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as definições e o


tratamento a ser dado aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela
Convenção da Basiléia sobre o controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos
perigosos e seu Depósito. DOU nº 13, de 20 de janeiro de 1997.

______. Resolução CONAMA 235 de 7 de janeiro de 1998. Altera o anexo 10 da Resolução


CONAMA 23, de 12 de dezembro de 1996. DOU nº 6 de 9 de janeiro de 1998.

______. Resolução CONAMA 258 de 26 de agosto de 1999. Determina que as empresas


fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar
destinação final ambientalmente adequada aos pneus inservíveis. DOU nº 230 de 02 de
dezembro de 1999.

______. Resolução CONAMA 301 de 21 de março de 2002. Altera dispositivos da Resolução


258, de 26 de agosto de 1999, que dispõe sobre Pneumáticos. DOU nº 166, de 28 de
agosto de 2003.

______. Decreto Federal 4592 de 11 de fevereiro de 2003. Acresce parágrafo ao art. 47-A do
Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, que dispõe sobre a especificação das
sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. DOU de
12.02.2003.

______. Resolução CONAMA 416 de 30 de setembro de 2009. Dispõe sobre a prevenção à


degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente
adequada, e dá outras providências. DOU de 01.10.2009.

CARVALHO, Juliana. 2004. Ficha Técnica: Pneus. EP-USP-PCC. Disponível em


http://www.reciclagem.pcc.usp.br/pneus.htm.

RECICLANIP. Reciclanip o ciclo sustentável do pneu. Disponível em


http://www.reciclanip.org.br/v3/. Acedido em 30.04.2017.

MORAIS, Carla M.P.; GÜNTER, Wanda M.R. 2004. Pneus inservíveis: um panorama da
problemática e formas de utilização desse resíduo no Brasil. In: XXIX CONGRESO DE LA
ASOCIACION INTERAMERICANA DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL, Anais, San
Juan, agosto de 2004. 5p.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 379


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.5 PILHAS E BATERIAS


Pilhas ou acumuladores são artefatos de ampla e disseminada utilização pela
população, que, a partir de um processo químico de oxi-redução espontânea, irreversível
(pilha primária: não recarregável) ou reversível (pilha secundária: recarregável), convertem
energia química em força eletromotriz, cuja intensidade (corrente) é variável em função da
constituição química do aparato, função de sua aplicação. Em função do seu princípio de
funcionamento específico, são geradores de corrente contínua, ao contrário do que ocorre
em relação à rede de energia elétrica, que fornece corrente alternada, segundo uma
determinada frequência (normalmente 50-60 Hz). Baterias são acumuladores recarregáveis
ou conjuntos de pilhas interligados em série ou em paralelo.
Visto que a função das pilhas, baterias e acumuladores é originar uma corrente
elétrica que deverá passar por um circuito (do aparelho o qual deseja-se fazer funcionar), o
princípio de funcionamento de qualquer artefato deste tipo baseia-se em uma diferença de
potencial elétrico entre dois materiais. Os elétrons, sendo corpúsculos dotados de carga
negativa os quais orbitam núcleos atômicos em virtude de forças de atração, ligam-se a
átomos e moléculas, de maneira mais ou menos estável, em função de forças de natureza
física ou química (a rigor, sempre de natureza física). Quando dois materiais diferentes são
colocados em contato, haverá uma tendência de migração de elétrons de um para outro, a
uma velocidade que dependerá das diferenças entre as estabilidades relativas dos elétrons
quando ligados a um e a outro, obedecido o princípio universal de busca de estados menos
energéticos por toda a matéria.
Essa estabilidade relativa não pode ser medida isoladamente, mas sim
conectando-se diferentes meios físicos: a medida da corrente elétrica, ou fluxo de elétrons
gerado fornecerá o valor da diferença de potencial elétrico originalmente presente entre os
diferentes materiais. De maneira mais organizada, o estudo da eletroquímica convencionou
um eletrodo padrão, o eletrodo de hidrogênio, que é constituído por platina imersa em
solução ácida, sobre a qual borbulha-se gás hidrogênio. Na platina são depositadas
partículas coloidais de platina (a chamada platina preta), a qual catalisa a reação reversível e
direta, permitindo, assim, que o equilíbrio se estabeleça rapidamente. O gás hidrogênio é
quimioadsorvido como átomos de hidrogênio na platina.
Um eletrodo isolado não provoca o aparecimento de uma diferença de potencial
elétrico, portanto não ocasiona deslocamento de elétrons e não constitui uma pilha.
Convencionou-se como 0,00 V (zero volt) o potencial do Eletrodo Padrão de Hidrogênio.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 380


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Deve-se observar que só há significado eletroquímico em uma diferença de potencial,


portanto serão necessários dois eletrodos ligados entre si por um meio condutor,
normalmente uma solução eletrolítica, para constituir-se uma diferença de potencial
elétrico. Ligando-se diferentes eletrodos ao eletrodo padrão de hidrogênio, as diferenças de
potencial (voltagens) geradas, e que podem ser medidas através de um ampèremetro,
constituem os potenciais padrões de tais eletrodos (uma vez que o potencial do eletrodo
padrão, por convenção, é zero). A diferença entre potenciais de oxi-redução de dois
eletrodos fornecerá a diferença de potencial elétrico (voltagem) gerada na pilha constituída
por ambos. Portanto, quanto maior essa diferença, maior a voltagem da pilha.
Em uma pilha, haverá sempre um sentido de migração dos elétrons, buscando a
situação fisicamente mais estável para si. Assim, o eletrodo que receber o fluxo de elétrons
será denominado eletrodo de redução ou cátodo, enquanto que o eletrodo que perder
elétrons será chamado eletrodo de oxidação ou ânodo. Por exemplo, se tivermos uma barra
de zinco mergulhada em uma solução de Zn+2 (sulfato de zinco) e uma barra de cobre
mergulhada em uma solução de Cu+2 (sulfato de cobre), ligarmos as barras por um condutor
elétrico e as soluções por um condutor eletrolítico (ponte salina), como ilustrado na Figura
4.5.1, haverá uma migração de elétrons da barra de zinco para a barra de cobre. O zinco
metálico (barra) em estado de valência zero será convertido em Zn+2 e passará para a
solução, enquanto que parte dos íons Cu+2 da solução em contato com a barra de cobre
passará à valência zero, depositando-se na barra como cobre sólido. Nessas condições, um
circuito elétrico poderá ser alimentado com a corrente elétrica gerada, se intercalado no
condutor entre as barras, fazendo um aparelho funcionar. As denominadas meias-reações
ou semi-reações que ocorrem são as seguintes:

Zn(s)  Zn+2 + 2e- (reação anódica) (4.5-1)

2e- + Cu+2  Cu s) (reação catódica) (4.5-2)

A reação global ocorrida na pilha é:

Zn(s) + Cu+2  Zn+2 + Cu(s) (4.5-3)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 381


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.5.1 – Pilha de zinco e cobre (“Pilha de Daniel”)

Fonte: o autor

A constituição química das pilhas e baterias está relacionada, basicamente, à


força eletromotriz que devem fornecer, em função do equipamento o qual devem alimentar
e às questões relativas à sua durabilidade. O Quadro 4.5.1 apresenta a constituição das
principais pilhas e baterias utilizadas no Brasil.
As pilhas e baterias que utilizam cádmio, mercúrio e chumbo em seus sistemas
eletroquímicos, conforme a ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica,
representante dos fabricantes brasileiros de pilhas e baterias, apresentam superiores
performance, confiabilidade e durabilidade, portanto, especialmente quando destinadas a
prover funcionamento de equipamentos de medicina, militares e outros para os quais não
possam tolerar-se falhas no funcionamento, são, até o presente momento, insubstituíveis.
Mesmo que muitos tipos de pilhas comuns não utilizem cádmio, chumbo e
mercúrio nos sistemas eletroquímicos, tais metais costumam ser utilizados na constituição
dos artefatos como protetores de corrosão. Assim, mesmo pilhas utilizadas em rádios
portáteis e lanternas também podem conter tais metais pesados em sua composição, ainda
que em concentrações mássicas menos elevadas. Tais metais podem, também, ocorrer em
concentrações reduzidas como impurezas presentes nas matérias-primas de fabricação das
pilhas.
É crescente, também, a utilização de pilhas recarregáveis de níquel-metal-
hidreto, em substituição aos artefatos que operam com o sistema níquel-cádmio,
especialmente para utilização em telefones celulares, máquinas fotográficas e walkman.
Os principais efeitos dos metais à saúde humana e animal são bem conhecidos.
Relativamente aos efeitos dos metais constituintes dos principais tipos de pilhas e baterias
comercializados no país, cabe citar:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 382


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.5.1 – Pilhas e baterias mais utilizadas no Brasil


ESPÉCIE ESPÉCIE
ELETRÓLITO FORMATOS USO COMUM
TIPO REDUZIDA OXIDADA
Brinquedos, lanternas,
Cloreto de Zinco
Zinco carvão MnO2 Zn Cilíndrico walkman, controle remoto,
ou Amônio
etc.
Brinquedos, lanternas,
Alcalino
Alcalina MnO2 Zn Cilíndrico walkman, controle remoto,
etc.
Primárias

Alcalino ou
Relógios e equipamentos
Lítio Carbono Li Solvente Vários
fotográficos
Orgânico
Óxido de Aparelhos auditivos e
HgO Zn Alcalino Botão
mercúrio equipamentos fotográficos
Relógios eletrônicos e
Óxido de prata Ag2O Zn Alcalino Botão
calculadoras
Zinco Ar O2 Zn Alcalino Botão Aparelhos auditivos
Níquel-Metal-
MH NiO2 KOH Vários Telefones celulares
Hidreto (NiMH)
Alcalino ou
Íon Lítio Carbono Li Solvente Vários Telefones celulares
Secundárias

Orgânico
Telefones celulares,
Níquel cádmio NiO2 Cd Alcalino Vários ferramentas eletroportáteis
sem fio
Baterias Automotivas, luzes de
emergência, sistemas de
Chumbo ácido PbO2 Pb H2SO4 Retangular
alarme e equipamentos
hospitalares
Fonte: o autor

 ao cádmio são associados câncer, disfunção renal, disfunções digestivas


(náusea, vômito, diarréia), problemas pulmonares e pneumonite (quando
inalado);
 ao chumbo são associados anemia, disfunção renal, dores abdominais (cólica,
espasmo e rigidez), encefalopatia (sonolência, manias, delírio, convulsões e
coma), neurite periférica (paralisia) e problemas pulmonares;
 lítio pode ocasionar disfunção renal, disfunção do sistema neurológico, sendo
cáustico sobre a pele e mucosas (hidróxido de lítio);
 ao manganês associam-se disfunção do sistema neurológico, efeitos
neurológicos diversos, gagueira e insônia;
 mercúrio: problemas já expostos no capítulo referente às lâmpadas de
descarga;
 níquel pode ser precursor de câncer;
 zinco ocasiona alterações no quadro sanguíneo, particularmente ferritina e
hematócrito.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 383


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Legislação aplicada ao resíduo


A partir do consenso de que a disposição indiscriminada de pilhas e baterias
deveria ser vedada, devendo-se regulamentar, em esfera federal, a responsabilidade no pós-
consumo, o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente – constituiu um grupo técnico
de estudos, cuja evolução dos trabalhos conduziu à elaboração e aprovação de uma
resolução (Resolução CONAMA 257/1999) disciplinando a matéria. Muito controvertida e
combatida frontalmente por ambientalistas e por grande parte da comunidade científica
nacional, a resolução estabeleceu algumas definições e regulamentações, cujos pontos
principais são os seguintes:
 pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo, cádmio,
mercúrio e seus compostos, bem como os produtos eletro-eletrônicos que as
contenham integradas em sua estrutura de forma não substituível, após seu
esgotamento energético, tiveram obrigatória sua devolução, pelos usuários,
aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica
autorizada pelas respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou
importadores, para adoção de procedimentos de reutilização, reciclagem,
tratamento ou disposição final ambientalmente adequada;
 a partir de 1º de janeiro de 2001, fabricação, importação e comercialização de
pilhas e baterias passaram a dever atender aos limites: (1) até 0,010% em
peso de mercúrio, quando do tipo zinco-manganês e alcalina-manganês; (2)
até 0,015% em peso de cádmio, quando dos tipos alcalina-manganês e zinco-
manganês; (3) até 0,200% em peso de chumbo, quando dos tipos alcalina-
manganês e zinco-manganês. Às pilhas e baterias que cumpriram tais limites
foi facultada a disposição conjunta ao resíduo domiciliar, em aterros sanitários
licenciados;
 ficaram proibidos lançamento de pilhas, baterias e acumuladores de qualquer
tipo e constituição a céu aberto, tanto em áreas urbanas como rurais, queima
a céu aberto ou em recipientes, instalações ou equipamentos não adequados,
lançamento em corpos d'água, praias, manguezais, terrenos baldios, poços ou
cacimbas, cavidades subterrâneas, em redes de drenagem de águas pluviais,
esgotos, eletricidade ou telefone, ou em áreas sujeitas à inundação;
 relativamente aos artefatos constituídos por chumbo, cádmio e mercúrio,
tornou-se obrigatório, a partir de 2000, nas matérias publicitárias e nas
embalagens constar, de forma visível, as advertências sobre os riscos à saúde
humana e ao ambiente, bem como a necessidade de, após seu uso, serem
devolvidos aos revendedores ou à rede de assistência técnica autorizada para
repasse aos fabricantes ou importadores.
A indústria notoriamente adequou-se às concentrações estabelecidas para
mercúrio, cádmio e chumbo como componentes auxiliares, protetores de corrosão nas
pilhas e baterias. Relativamente aos artefatos que operam com um dos três metais citados

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 384


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

no sistema eletroquímico verificou-se, igualmente, adequação dos responsáveis, provendo


pontos para recolhimento nos municípios, geralmente associados às assistências técnicas.
Ainda em 1999, a Resolução CONAMA 263 complementou a anterior,
estabelecendo um limite máximo de 25 mg de mercúrio por artefato fabricado ou
importado, quando for do tipo pilha miniatura e botão.
À época, enquanto que parcela expressiva da comunidade científica discordava
frontalmente do argumento de que pilhas e baterias que contenham cádmio, mercúrio e
chumbo em concentrações inferiores aos limites estabelecidos pela resolução CONAMA 257
não constituiriam problema ambiental a aterros municipais para resíduos sólidos,
fabricantes, importadores e suas representações postulavam a propriedade da destinação
de tais resíduos conjuntamente aos resíduos domiciliares. À época um eminente professor
postulou que a partir de uma estimativa nacional da geração de pilhas residuais por
habitante por ano, a disposição das pilhas comuns, justamente aquelas que utilizam cádmio,
mercúrio e chumbo apenas como protetores de corrosão, atendendo outras funções
internas ou como impurezas, e não como agentes do processo eletroquímico significaria, em
uma cidade com população de um milhão de habitantes, uma destinação anual de 4,25 kg de
mercúrio, 8,5 kg de cádmio e 170 kg de chumbo na forma de pilhas, a aterros.
Além da problemática relacionada à contaminação ambiental, existem os riscos à
saúde diretamente relacionados às pilhas, baterias e acumuladores. O vazamento de
eletrólitos, em geral ácidos ou alcalinos, pode levar à corrosão da pele ou queimaduras. São
informações divulgadas via internet: (1) em dezembro de 2004 uma bateria de telefone
celular explodiu ferindo uma empregada doméstica em Neves Paulista, SP. A empresa
fabricante, em nota, reconheceu o problema, que pode ocorrer se o artefato for submetido
a temperaturas superiores a 60oC, informando que “o caso é raro e as causas estão sendo
investigadas”; (2) o mesmo ocorreu com um pacote com pilhas de níquel-metal-hidreto e
íons lítio, que explodiu dentro de uma agência dos Correios e Telégrafos de Campinas, SP.
Finalmente, A Resolução CONAMA 401 de 04.11.2008, veio retificar a resolução
257, estabelecendo critérios mais rígidos para a fabricação e o gerenciamento dos resíduos
de pilhas e baterias. São destaques dessa resolução:
 os fabricantes ou importadores de pilhas e baterias deverão estar inscritos no
Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras,
apresentar, anualmente, laudo de composição de seus produtos emitido por
laboratório acreditado junto ao INMETRO e apresentar ao órgão ambiental de
jurisdição plano de gerenciamento de pilhas e baterias que contemple
destinação adequada dos resíduos. A eventual licença de importação estará
condicionada à apresentação de tal plano. O IBAMA poderá, quando baseado
em informações de inconformidade dos produtos, proceder a análises para
fins de quantificação dos teores de metais pesados, sob custeio de fabricantes
e importadores;
 os estabelecimentos que comercializam pilhas e baterias, bem como as
assistências técnicas autorizadas por fabricantes e importadores ficam

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 385


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

responsabilizados de receber as pilhas e baterias inservíveis dos usuários, em


devolução;
 para as pilhas e baterias portáteis e estabelecem-se novos limites máximos
para a concentração mássica dos metais pesados: 0,0005% de mercúrio,
0,002% de cádmio e 0,1% de chumbo. Para pilhas-botão e pilhas-miniatura
fica estabelecido o limite de 2,0% em peso de mercúrio; para baterias
chumbo-ácido limitam-se mercúrio a 0,005% e cádmio a 0,01%, em massa;
 fica obrigatório fazer-se constar, nas embalagens das pilhas e baterias, bem
como nos materiais publicitários, mensagem orientando os consumidores a
procederem à devolução dos resíduos aos revendedores ou à rede de
assistência autorizada.
A Recomendação 08/2008 do Ministério do Meio Ambiente estabelece a
recomendação, ao Ministério da Fazenda, de redução de tributação sobre a fabricação de
pilhas recarregáveis, como forma de acelerar o estímulo à substituição das pilhas comuns
primárias pelas secundárias. Outra recomendação do mesmo ministério sugere o
acirramento sobre a fiscalização do contrabando de pilhas e baterias para dentro do
território nacional.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei Federal 12.305/2010 –, estabelece,
em seu artigo 33, a responsabilidade do setor privado em relação à logística reversa de
pilhas e baterias:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística
reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma
independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
...
II - pilhas e baterias;
Estimativas da geração do resíduo
Tal qual como ocorre com relação a outros artefatos de amplo consumo, não há
um efetivo controle sobre a comercialização de pilhas em determinado município ou região.
Notoriamente, grandes quantidades de pilhas comuns e baterias de relógios provindas do
exterior, através de contrabando, são comercializadas através da informalidade. Conforme
SAMPAIO (2016) no Brasil são produzidas anualmente 1.200.000.000 (um bilhão e duzentos
milhões) de pilhas e 400 milhões de baterias. A estimativa do consumo em uma localidade
pode ser efetuada, tomando o quantitativo supracitado (ou quantitativos mais atualizados,
desde que bem referenciados), adotando-se modelos em que ponderem-se a participação
do município no PIB nacional e/ou a sua fração populacional em relação ao país.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 386


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Duas são as maneiras disponíveis para destinar adequadamente pilhas e


baterias: (1) aterro em células para resíduos industriais perigosos e (2) processos de
reciclagem de metais.

Aterro para resíduos industriais perigosos


Uma solução simples para a destinação apropriada de pilhas e baterias constitui-
se nos aterros para resíduos industriais perigosos (ARIPs). Tais unidades, que necessitam
responder a critérios rigorosos para seu licenciamento, constituem-se em conjuntos de
células onde são depositados resíduos perigosos, observando-se critérios de compatibilidade
química, constituindo passivos ambientais de alta responsabilidade e sofisticado
monitoramento. Diferem dos aterros sanitários para resíduos sólidos urbanos (que também
são estruturas com elevado grau de sofisticação, para a preservação ambiental)
principalmente em função de apresentarem dupla camada de impermeabilização, dreno
testemunha e telhado de cobertura durante todo o período de operação, até a efetivação de
seu selamento superior, pois a massa de resíduos não pode receber águas de precipitação.
A grande crítica que é feita aos ARIPs baseia-se no fato de constituírem passivos
ambientais, isto é, apesar de todo o cuidado, investimentos, tecnologia e responsabilidade
envolvidos, os resíduos aterrados permanecem indefinidamente em sua forma original ou
em forma muito semelhante, resguardando suas características de periculosidade ad
eternum.

Processos de reciclagem de metais


Devido a pressões políticas e novas legislações ambientais, que regulamentaram
a destinação de pilhas e baterias em diversos países do mundo alguns processos foram
desenvolvidos visando à reciclagem dos residuais de pilhas e baterias. Para promover a
reciclagem de pilhas, é necessário, inicialmente, o conhecimento da sua composição.
Infelizmente, não há uma correlação entre o tamanho ou formato das pilhas e a sua
composição. Em diferentes laboratórios têm sido realizadas pesquisas de modo a
desenvolver processos para reciclar as baterias usadas ou, em alguns casos, tratá-las para
uma disposição segura. Os processos de reciclagem de pilhas e baterias podem seguir três
linhas distintas: (1) a baseada em operações de tratamento de minérios (mineralurgia), (2) a
baseada em hidrometalúrgica ou (3) a baseada em pirometalúrgica.
No processo hidrometalúrgico as pilhas, após moagem prévia, sofrem lixiviação
por ácido hidroclórico ou sulfúrico, que solubiliza os metais, os quais passam para a fase
aquosa. A fase aquosa é purificada através de operações de precipitação química e
eletrólise. O processo opera, geralmente, a temperaturas não superiores a 100oC.
Recuperam-se, pelo processo, zinco, dióxido de magnésio, cádmio e níquel.
No processo pirometalúrgico, após moagem, o ferro é separado
magneticamente; uma queima inicial permite a recuperação do mercúrio e do zinco nos
gases de saída. O resíduo é então aquecido a 1000oC, na presença de um agente redutor,

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 387


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ocorrendo, nesta etapa, a reciclagem de manganês e zinco. A base do processo é a


evaporação de cada metal à sua temperatura de ebulição precisa, com posterior
condensação.
Algumas vezes esses processos são específicos para a reciclagem de pilhas,
outras vezes as pilhas são recicladas juntamente com outros tipos de materiais. Alguns dos
processos patenteados conhecidos são citados a seguir:
 Processo SUMITOMO: Processo japonês totalmente pirometalúrgico de custo
bastante elevado, é utilizado na reciclagem de todos os tipos de pilhas, menos
as do tipo Ni-Cd;
 Processo RECYTEC: Processo utilizado na Suíça e Holanda desde 1994, que
combina pirometalurgia, hidrometalurgia e mineralurgia. É utilizado na
reciclagem de todos os tipos de pilhas e também lâmpadas fluorescentes e
tubos diversos que contenham mercúrio. Esse processo não é utilizado para a
reciclagem de baterias de Ni-Cd, que são separadas e enviadas para uma
empresa que faça esse tipo de reciclagem. O investimento deste processo é
menor em relação ao investimento necessário ao Processo Sumitomo,
entretanto os custos de operação são maiores;
 Processo ATECH: Basicamente mineralúrgico e, portanto, com custo inferior
aos processos anteriores, utilizado na reciclagem de todas as pilhas;
 Processo SNAM-SAVAM: Processo francês, totalmente pirometalúrgico para
recuperação de pilhas do tipo Ni-Cd;
 Processo SAB-NIFE: Processo sueco, totalmente pirometalúrgico para
recuperação de pilhas do tipo Ni-Cd;
 Processo INMETCO: Processo norte-americano da INCO (Pennsylvania, EUA),
foi desenvolvido inicialmente com o objetivo de recuperar poeiras metálicas
provenientes de fornos elétricos. Entretanto, o processo pode ser utilizado
para recuperar também resíduos metálicos provenientes de outros processos,
e as pilhas Ni-Cd se enquadram nestes outros tipos de resíduos;
 Processo WAELZ: Processo pirometalúrgico para recuperação de metais
provenientes de poeiras. Basicamente o processo se dá através de fornos
rotativos. É possível recuperar metais como zinco, chumbo e cádmio. As
baterias de Ni-Cd, muitas vezes, são recuperadas separadamente das outras
devido a dois fatores importantes, um é a presença do cádmio, que promove
algumas dificuldades na recuperação do mercúrio e do zinco por destilação, o
outro é dificuldade de se separar o ferro e o níquel.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 388


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Reciclagem de baterias de Ni-Cd


Assim como no caso geral de pilhas e baterias, existem dois métodos estudados
para a reciclagem desse tipo de bateria, um seguindo a rota pirometalúrgica e outro
seguindo a rota hidrometalúrgica. Até o momento não foi possível o desenvolvimento de um
processo economicamente viável utilizando a rota hidrometalúrgica. Assim, os processos de
reciclagem atualmente empregados são baseados na rota pirometalúrgica de destilação do
cádmio. Apesar de serem constituídas por metais pesados perigosos, as baterias de Ni-Cd
são recicláveis. Já existem na Europa, Japão e EUA indústrias que reciclam esse tipo de
bateria. Em geral, os materiais produzidos na reciclagem dessas baterias são: (1) cádmio com
pureza superior a 99,95%, que é vendido para as empresas que produzem baterias, (2)
níquel e (3) ferro utilizados na fabricação de aço inoxidável. Na França isto é feito utilizando-
se o processo SNAM–SAVAM e na Suécia utiliza-se o processo SAB-NIFE. Ambos os processos
fazem uso de um forno totalmente fechado, no qual o cádmio é destilado a uma
temperatura entre 850oC e 900oC, conseguindo-se uma recuperação do cádmio com pureza
superior a 99,95%. O níquel é recuperado em fornos elétricos por fusão-redução. A
produção de óxido de cádmio em fornos abertos é descartada devido ao fato de se ter uma
condição de trabalho extremamente insalubre. Nos EUA a empresa INMETCO (International
Metal Reclamation Company), que é uma subsidiária da INCO (The International Nickel
Company), é a única empresa que tem permissão para reciclar baterias de Ni-Cd, utilizando
processo à alta temperatura. Esse processo está em operação desde dezembro de 1995. O
processo utilizado pela INMETCO, assim como o SNAM-SAVAM e o SAB-NIFE, é baseado na
destilação do cádmio. Nesse processo, o níquel recuperado é utilizado pela indústria de aço
inoxidável. O cádmio fica nos fumos misturado com zinco e chumbo, indo para uma outra
empresa para posterior separação. A reciclagem de baterias de Ni-Cd nem sempre se
apresentou economicamente favorável devido à constante flutuação do preço do cádmio,
ainda assim, são estudadas alternativas para a reciclagem visando melhorar os processos
existentes ou ainda criarem-se novos.
Há informações de que o custo da reciclagem de pilhas e baterias no exterior gira
em torno de R$ 7.000,00 por tonelada. No Brasil, a empresa considerada precursora no
trabalho, situa-se no município de Suzano, estado de São Paulo. Em junho de 2005 a mesma
oferecia o seu serviço de reciclagem por R$ 990,00 por tonelada de pilhas e baterias.
Conforme o representante da empresa, após desmontagem, separação e classificação, os
respectivos componentes são encaminhados ao processo químico para obtenção de sais e
óxidos metálicos utilizados em indústrias cerâmicas, refratárias, de colorifício cerâmico, de
vidro e de química em geral, que também são exportados para Japão, Inglaterra e
Dinamarca.
Atualmente, conforme informação da ABINEE ao autor, as pilhas e baterias
residuárias recolhidas pelos sistemas de logística reversa estão sendo encaminhadas para a
empresa Votorantim Metais, situada em Juiz de Fora, MG, ao custo de cerca de R$ 140,00
por tonelada de resíduos.
O Programa ABINEE recebe pilhas já destinou adequadamente 11,5 milhões de
toneladas de pilhas residuárias, conforme informado na página eletrônica da associação

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 389


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(ABINEE, 2017). O Programa estabeleceu um conjunto de pontos para entrega voluntária de


pilhas e baterias no país, o qual contempla as principais cidades do país, contudo não se
estendendo a todos os municípios. Tais pontos situam-se, sobretudo, em supermercados.
Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente antecipou-se, desde meados da
Década de 2000 estabelecendo condicionante nas licenças ambientais dos grandes
revendedores obrigando a manter recebimento de pilhas inservíveis.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 390


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA – ABINEE. 2017 Web-site:


http://www.abinee.org.br/. Acedido em 03.05.2017.

BRASIL. 1999. Resolução CONAMA 257, de 30 de junho de 1999. DOU de 22.07.1999.

______. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.

______. 1999. Resolução CONAMA 263, de 12 de novembro de 1999. DOU de 22.12.1999.

______. 2008. Resolução CONAMA 401, de 04 de novembro de Ano: 2008. Estabelece os


limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas
no território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento
ambientalmente adequado, e dá outras providências. DOU de 05.11.2008.

SAMPAIO, S. 2016. Descarte e reciclagem de pilhas e baterias. Disponível em


http://www.peteletricaufes.com/single-post/2016/05/23/Descarte-e-reciclagem-de-
pilhas-e-baterias-1. Acedido em 03.05.2017.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 391


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.6 ÓLEOS VEGETAIS DE


FRITURAS EXAURIDOS
Óleos vegetais são larga e universalmente consumidos para a preparação de
alimentos nos domicílios e em estabelecimentos industriais e comerciais. A importância da
utilização de óleos no preparo de alimentos é indiscutível: a fritura é uma operação de
preparação rápida e confere aos alimentos características únicas de saciedade, aroma, sabor
e palatabilidade. Em estabelecimentos comerciais utilizam-se fritadeiras elétricas
descontínuas com capacidades que variam de 15 a 350 litros, cuja operação normalmente
atinge temperaturas entre 180-200oC. Já em indústrias de produção de empanados,
salgadinhos e congêneres, o processo de fritura é normalmente contínuo e a capacidade das
fritadeiras pode ultrapassar 1000 litros.
No processo de fritura, o alimento é submerso em óleo quente na presença de
ar, e, assim, o óleo é exposto à oxidação, interagindo com uma série de agentes (ar, água,
alta temperatura e componentes dos alimentos que estão sendo fritos) que ocasionam
modificações em sua estrutura, especialmente quando utilizado por um longo período,
gerando compostos responsáveis por odor e sabor desagradáveis, incluindo substâncias que
podem causar riscos à saúde do consumidor, tais como irritação do trato gastrointestinal,
diarréia, dentre outros. A água proveniente do próprio alimento conduz alterações
hidrolíticas, o oxigênio que entra em contato com o óleo a partir de sua superfície,
desencadeia alterações oxidativas e a temperatura em que o processo ocorre, resulta em
alterações térmicas que se enquadram também no âmbito das alterações oxidativas.
No processo de fritura contínua utilizada pelas indústrias, ocorre a hidrólise, que
é responsável pela formação de ácidos graxos livres. Já no processo de fritura descontínua,
empregada por lanchonetes, restaurantes, pastelarias e no uso caseiro, dentre outros,
ocorrem reações de oxidação, hidrólise e polimerização. As substâncias advindas dessas três
reações são chamadas de compostos polares totais.
À medida que o óleo alcança o estágio de degradação, as reações de oxidação
estão avançadas e há produção de moléculas complexas e compostos voláteis que liberam
aroma desagradável. Neste ponto, a fritura produz muita fumaça e, consequentemente, o
alimento tem sua vida de prateleira diminuída, aroma, sabor e aspecto desagradáveis,
excesso de óleo absorvido e o centro do alimento, às vezes, não totalmente cozido. O óleo
torna-se escuro, viscoso, tem sua acidez aumentada e desenvolve odor desagradável,

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 392


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

comumente chamado ranço. Embora possível, a purificação dos óleos com materiais
adsorventes não é considerada viável sob o ponto de vista econômico.
Neste sentido, para cada porção de óleo utilizado, parte é agregada aos
alimentos, sendo ingerida, parte é naturalmente volatilizada pelo calor, e parte significativa
sobra como óleo exaurido. Esse óleo apresenta-se impróprio para posterior aproveitamento
para novas frituras, devendo ser corretamente destinado. Felizmente, o óleo exaurido ainda
apresenta valor econômico positivo, por poder ser precursor de vários produtos industriais.
Isso diferencia os residuais de óleos comestíveis de vários outros resíduos, que apresentam
valor econômico negativo, tornando os primeiros bem mais simples em relação ao seu
correto encaminhamento à reciclagem.

Aspectos de composição dos óleos de fritura novos e exauridos


As gorduras e óleos são produtos naturais constituídos por misturas de ésteres
derivados do glicerol e de ácidos graxos com cadeias de 8 a 24 átomos de carbono, com
diferentes graus de insaturação, sendo denominados triglicerídios ou triacilgliceróis. A Figura
4.6.1 apresenta a estrutura genérica das gorduras e óleos.

Figura 4.6.1 – Estrutura genérica de uma


gordura ou óleo

Fonte: o autor

As gorduras e os óleos são formados por misturas de triglicerídios. Os diferentes


ácidos graxos formadores dos triglicerídios conferem diferentes características às gorduras e
óleos. As gorduras animais possuem cadeia química com elevado grau de saturação, isto é,
formada apenas por ligações simples. Óleos vegetais podem apresentar cadeia
monoinsaturada, como no caso do azeite de oliva ou polinsaturada, como no caso do óleo
de girassol. O óleo de soja comercial, por exemplo, é formado por uma mistura centrada em
cinco ácidos graxos principais, o palmítico (9,9%-12,2%), o esteárico (3,0%-54%), o oléico
(17,7%-26,0%), o linoléico (49,7%-56,9%) e o linolênico (5,5%-9,5%). Os cinco ácidos
constituem aproximadamente 95% da mistura. Ácidos láurico, mirístico, araquídico, erúcico
e outros se fazem presentes em proporções individuais inferiores a 1%. Tal qual o óleo de
soja, grande parte dos óleos vegetais comerciais apresentam composições bastante
uniformes.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 393


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

As rancificações oxidativa e hidrolítica produzem ácidos carboxílicos, e, portanto


elevam a acidez do óleo. A Figura 4.6.2 apresenta esquematicamente os processos de
degradação dos óleos.

Figura 4.6.2 – Processos de degradação dos óleos

Fonte: o autor

Problemas ocasionados pelo descarte inadequado de óleos exauridos


Após exauridos, os óleos não mais se prestam para novas frituras, em função de
conferirem sabor e odor desagradáveis aos alimentos, bem como adquirirem características
químicas comprovadamente nocivas à saúde. Não havendo utilização prática para os
residuais domésticos e comerciais, em geral são lançados na rede de esgotos. Essa ação
ocasiona vários problemas entre o ralo no qual são lançados e o curso hídrico e/ou estação
de tratamento que os receberá misturados ao esgoto:
 os óleos emulsificam-se com a matéria orgânica normalmente presente nos
efluentes de lavagens residenciais, comerciais e industriais, ocasionando
entupimentos em caixas de gordura e tubulações;
 quando lançados diretamente em bocas-de-lobo ocasionam obstruções, em
função de emulsificarem-se, formando pastas (material emulsificado),
inclusive retendo resíduos sólidos. Em alguns casos a desobstrução de
tubulações necessita a utilização de produtos químicos tóxicos;
 em grande parte dos municípios brasileiros há ligação de esgotos cloacais à
rede pluvial e a arroios. Nesses corpos hídricos, em função de sua
imiscibilidade com a água e sua inferior densidade, há tendência à formação
de filmes oleosos na superfície dos corpos hídricos, o que dificulta a troca de
gases com a atmosfera, ocasionando depleção das concentrações de oxigênio
e anaerobiose, com morte de peixes e outras criaturas aeróbias. Na rede de
esgotos, os entupimentos podem ocasionar pressões que conduzem à
infiltração do esgoto no solo, poluindo o lençol freático ou havendo refluxo à
superfície;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 394


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 os óleos ingressos nos sistemas municipais de tratamento (ETEs) dificultam o


tratamento, podendo encarecê-lo em até 45%;
 no ambiente, quando em condições anaeróbias, pode haver metanização dos
óleos, contribuindo para o efeito estufa;
 quando não houver tratamento de esgotos prévio ao lançamento ao corpo
receptor, elevam-se as concentrações de óleos totais e vegetais nesse,
depreciando sua qualidade para vários fins, podendo pontualmente modificar
pH e diminuir as trocas gasosas na instância desse corpo receptor. A
temperatura do óleo sob o sol pode chegar a 60oC, matando animais e
vegetais microscópicos.

Estimativa da geração do resíduo


Não há um diagnóstico elaborado da situação real do Brasil em relação à
utilização e descarte de óleos para frituras. Estima-se que em um país com elevado índice de
pobreza como o Brasil, em muitos casos os óleos somente sejam descartados após várias
reutilizações. São dados publicados sobre o assunto:
 descarte mensal de óleo de fritura por família: 800 mL (Organização das
Nações Unidas);
 segundo a fonte “www.radiobras.gov.br” (2005), a Grande Porto Alegre
geraria “120 t/mês de óleo de cozinha saturado, dos quais metade é reciclada
e transformada em cola e tinta para uso industrial”.
As informações devem ser consideradas apenas aproximações, constituindo-se
apenas em um referencial da ordem de grandeza do consumo e produção do resíduo. O tipo
de alimento preparado, e, portanto, a incorporação do óleo nesse, bem como o padrão de
consumo, ou seja, o grau de reutilização do óleo na preparação dos alimentos, influenciam
diretamente tanto as quantidades consumidas quanto os quantitativos residuais.
Considera-se uma estimativa de geração mensal de um litro de óleo residual por
domicílio como razoável, o que conduziria, por exemplo, no município de Porto Alegre, a
uma geração mensal domiciliar de 450 m3 de óleo exaurido, correspondendo a
aproximadamente 400 t. No entanto deve-se considerar a estimativa como grosseira.
Em função de sua constituição química, os óleos vegetais residuais prestam-se
para a fabricação de produtos como sabões e sabonetes, resinas para tintas, adesivos, massa
de vidraceiro e combustível. Neste sentido, desde que haja logística para sua coleta, os
residuais adquirem valor econômico, já sendo coletados e processados em várias localidades
do país. Citam-se, a seguir, os aproveitamentos mais frequentes dos óleos vegetais de fritura
exauridos.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 395


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Saponificação
A saponificação é uma reação que converte gorduras e compostos orgânicos de
cadeia longa, via ataque alcalino, em glicerina e sabão (carboxilatos de sódio, potássio, etc.).
A reação abaixo apresenta tal conversão.

CH2OOCR1 R1COONa
CH2OOCR2 + 3NaOH + H 2O  CHOH(CH2OH)2 + R2COONa (4.6-1)
CH2OOCR3 R3COONa
óleo/gordura hidróxido de sódio água glicerina sabão

Não só os sabões têm utilidade, e, portanto, valor agregado: a glicerina pode ser
utilizada para fabricação de cosméticos, entrar na composição de produtos de limpeza, ou
ter utilização na produção de tintas alquídicas.

Fabricação de resinas para tintas


Alguns óleos insaturados são apropriados para utilização no fabrico de tintas
(tintas a óleo). Os óleos que se prestam a esse fim são denominados secativos, devido à
propriedade de absorverem oxigênio do ar, formando pontes de oxigênio entre as
moléculas, secando através de uma reação de polimerização auto-oxidativa. Outra
possibilidade é a reação de triglicerídios com a glicerina, gerando um monoglicerídio que,
reagindo com um ácido bifuncional, gera uma resina alquídica, muito utilizada no fabrico das
tintas alquídicas.

Aproveitamento em rações para animais


Os óleos exauridos são utilizados para o preparo de rações para animais.
Contudo, alguns compostos resultantes da rancificação oxidativa ou hidrolítica apresentam
nocividade à saúde dos animais. Tais animais tornam-se impróprios para o consumo
humano, pois estudos demonstram que a ingestão de gorduras oxidadas por cobaias, dentre
outras consequências, aumenta a peroxidação dos cromossomos.

Fabricação de combustível: Biodiesel


O biodiesel foi definido pela National Biodiesel Board dos Estados Unidos como o
derivado mono-alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes
renováveis como óleos vegetais ou gordura animal, cuja utilização está associada à
substituição de combustíveis fósseis em motores de ignição por compressão (motores do
Ciclo Diesel). Enquanto produto, pode-se dizer que o biodiesel tem as seguintes
características: (a) é virtualmente livre de enxofre e aromáticos; (b) tem alto número de
cetano, (c) possui teor médio de oxigênio em torno de 11%; (d) possui maior viscosidade e

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 396


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

maior ponto de fulgor que o diesel convencional; (e) as matérias-primas apresentam nichos
de mercado específicos, diretamente associado a atividades agrícolas; (f) no caso do
biodiesel de óleo de fritura, se caracteriza por um grande apelo ambiental; e, finalmente, (g)
tem preço de produção relativamente superior ao diesel de petróleo. Entretanto, se o
processo de recuperação e aproveitamento dos subprodutos (glicerina e catalisador) for
otimizado, a produção de biodiesel pode ser obtida a um custo competitivo com o preço
comercial do óleo diesel, ou seja, aquele verificado nas bombas dos postos de
abastecimento. Por outro lado, enquanto combustível, o biodiesel necessita de algumas
características técnicas que podem ser consideradas imprescindíveis: a reação de
transesterificação deve ser completa, acarretando ausência total de ácidos graxos
remanescentes e o biocombustível deve ser de alta pureza, não contendo senão traços de
glicerina, de catalisador residual ou de álcool excedente.
Para a obtenção de biodiesel, a reação de transesterificação de óleos vegetais
com álcoois primários pode ser realizada tanto em meio ácido quanto em meio alcalino. A
reação de síntese, geralmente empregada a nível industrial, utiliza uma razão molar entre
óleo e álcool de 1:6, na presença de 0,4% de hidróxido de sódio ou de potássio, porque o
meio básico apresenta melhor rendimento e menor tempo de reação do que o meio ácido.
Por outro lado, o excesso de agente transesterificante (álcool primário) faz-se necessário
devido ao caráter reversível da reação. A reação de transesterificação é genericamente
apresentada:

CH2OOCR meio ácido ou básico


CH2OOCR + R-OH  CHOH(CH2OH)2 + 3R-O-O-CO-R’ (4.6-2)
CH2OOCR
óleo/gordura álcool glicerina ésteres (biodiesel)

Pesquisadores demonstraram que a alcoólise com metanol é tecnicamente mais


viável do que a alcoólise com etanol, particularmente se esse corresponde ao etanol
hidratado, cujo teor em água (4-6%) retarda a reação.
Embora a transesterificação apresente-se como principal processo de conversão
de óleos em biodiesel, o combustível pode também ser obtido por processo de
craqueamento térmico, a altas temperaturas, utilizando-se um catalisador que remove os
compostos oxigenados corrosivos. Isso pode ser muito importante em caso de elevação do
preço do álcool no mercado nacional.
O biodiesel é um combustível biodegradável e reduz determinadas emissões
poluentes, como dióxido de carbono, enxofre, monóxido de carbono e dióxido de enxofre.
Os motores a óleo vegetal possibilitam uma redução de 78% das emissões de dióxido de
carbono, gás responsável por efeito estufa, fenômeno que está alterando o clima do planeta.
A emissão de enxofre é reduzida em 98% e a de monóxido de carbono reduz de 11% a 53%
com o uso do biodiesel. A não emissão de dióxido de enxofre auxilia a diminuição da
ocorrência da chuva ácida. O biodiesel tem sido tratado como uma das grandes alternativas

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 397


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

do Brasil frente à escassez dos combustíveis fósseis. A crítica que tem-se insurgido contra os
combustíveis derivados de óleos vegetais baseia-se no fato de que a viabilidade econômica
do plantio de oleaginosas para produção de biocombustíveis realoca terras e mão-de-obra
que vinham sendo utilizadas na plantação de alimentos, diminuindo a oferta de tais
produtos agrícolas e elevando o seu preço no mercado. Ademais, a utilização de óleos
vegetais para a fabricação do biocombustível tem encarecido muito o preço do próprio óleo,
usado no preparo de alimentos, bem como o próprio preço dos grãos.
De uma certa forma, as experiências de implantação de programas de
arrecadação de óleos exauridos residuais em um município utilizam um rito de ações
consecutivas e métodos, que são indicados:
1) Como primeiro passo, verifica-se a possibilidade de colocação do resíduo no
mercado local, desta forma garantindo destino adequado aos montantes arrecadados. Neste
sentido, convênios e contratos devem ser estabelecidos com a indústria de reciclagem.
Igualmente, toda a questão logística envolvida deve ser avaliada, de modo que o custo da
coleta dos óleos em cada local designado (veículo, funcionários, combustível) seja muito
menor do que o valor do óleo recolhido. A criteriosa avaliação de tais questões de
viabilidade econômica e logística são pré-requisitos para poder-se iniciar o projeto;
2) Inicialmente implanta-se um projeto, com um nome fácil e de certo impacto
(citando exemplos, “Projeto de Entrega Voluntária de Óleo de Fritura – PEOF – Porto Alegre,
RS; “De Olho no Óleo” – São Caetano do Sul, SP; “Cata Óleo” – Ribeirão Preto, SP; “Coleta de
Óleo de Fritura Usado” – Guarulhos, SP), visando orientar a população sobre a importância
da reciclagem dos óleos residuários de fritura;
3) As entidades representativas da sociedade, como as câmaras de indústria e
comércio, movimentos ambientalistas, ONGs, associações de bairros e órgãos das
prefeituras são envolvidas, alavancando as ações necessárias para equacionar os problemas
já identificados, e muitas vezes elaborando etapas do macroprojeto;
4) Os projetos divulgam-se através de palestras nas escolas, associações de
bairros e comunidades. A divulgação também se dá através da distribuição, em residências e
condomínios, de panfletos que esclareçam bem a questão do recolhimento e reciclagem do
óleo de fritura, seu benefício para a preservação do ambiente e dos recursos naturais. Os
panfletos necessitam clareza, simplicidade e orientação precisa das ações dos moradores;
5) A forma de recolher e armazenar o óleo de fritura saturado no seu primeiro
momento, nas cozinhas, pode ser, após o mesmo esfriar na frigideira, acondicioná-lo em
garrafas PET (se possível transparentes, por possibilitarem visualizar-se melhor a qualidade
do produto), ou em vidros de conserva vazios. Quando cheios, os mesmos podem ser
facilmente encaminhados pela dona de casa ao recolhimento mais adequado. Deve-se
verificar se há condições para o recolhimento porta-a-porta das embalagens com óleo. Se
forem previstos problemas decorrentes de vandalismo ou catação de rua, conforme o grau
de evolução econômica e cultural da comunidade, poderá ser optada a criação de pontos de
entrega voluntária dos óleos;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 398


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

6) As garrafas ou vidros com o óleo de fritura usado podem ser armazenados em


recipientes maiores (tambores) ou esvaziados em bombonas. Na maioria das experiências de
recolhimento de óleo, utilizam-se bombonas de 20 litros, em função de melhor manuseio e
menor tempo de espera até o envio à recicladora, o que resulta em uma melhor qualidade
final, visto que o óleo saturado, ao ficar muito tempo armazenado, oxigena-se mais,
elevando sua acidez através de reações de rancificação, o que deprecia o seu valor de
mercado;
7) Os locais e a disposição dos tambores receptadores de pets ou vidros e das
bombonas podem variar conforme a forma de recolhimento ou coleta. O mais lógico seria
cada condomínio residencial destinar um espaço onde colocar os tambores (organizado
pelos moradores e/ou funcionários). As bombonas de 20 L destinadas ao óleo de fritura
seriam mais indicadas para alocação em pontos de entrega voluntária (como centrais de
órgãos públicos, restaurantes cadastrados que participem do projeto, associações de bairro,
postos de gasolina, etc.). As residências não condominiais podem acondicionar o óleo de
fritura usado em PETs ou vidros, aguardar o dia da coleta seletiva ou encaminhá-los aos
pontos de coleta, onde os mesmos serão esvaziados nas bombonas e as garrafas plásticas e
os vidros vazios separados para a coleta seletiva;
8) Trabalho feito junto às grandes empresas que possuem refeitórios coletivos,
ou instituições de ensino (restaurantes de universidades e cantinas de colégios), hospitais e
instituições militares (quartéis e academias militares), que também produzem muito óleo de
fritura usado, também seria de grande valia. Poderiam ser firmados convênios com tais
geradores, fornecendo, o gestor do projeto, amparo técnico no sentido da melhor disposição
e acondicionamento dos residuais;
9) Em um contato com a secretaria local de indústria e comércio pode ser obtida
listagem de cadastro de todos os bares e restaurantes do município, realizando-se trabalho
dirigido a esses estabelecimentos, primeiro de esclarecimento, através da distribuição de
panfletos informativos, mostrando a importância da reciclagem do óleo de fritura, em
seguida vindo tais estabelecimentos a serem cadastrados, fornecendo regularmente o óleo
de fritura saturado. Dispor-se-iam bombonas para armazenar o óleo, e quando da coleta,
trocar-se-iam por outras vazias;
10) Por fim, com a evolução do sistema e a disponibilização do
recolhimento/entrega voluntária o município poderá legislar sobre o tema, tornando a
separação e o recolhimento, por empresas e por munícipes, obrigatório.
O autor, juntamente com outros colegas de trabalho técnicos e não-técnicos,
criou, em Porto Alegre, o Projeto de Entrega Voluntária de Óleos de Fritura, abreviadamente
denominado PEOF. Tal programa, instituído em junho de 2007, estabeleceu-se através de
convênio com quatro indústrias recicladoras de óleos vegetais exauridos, que os
transformavam em biodiesel, alimento para animais e energia. Desta maneira, 24 instalações
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana da prefeitura de Porto Alegre espalhadas
pelo território do município e quase 100 outras instalações, públicas e privadas, abrigaram
bombonas para recepção do óleo pelos geradores. Através da divulgação, os munícipes

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 399


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

conscientes puderam, inicialmente, encaminhar seu óleo residuário aos postos de recepção,
para os quais mantiveram-se coletas periódicas pelas indústrias conveniadas. Nos primeiros
dezoito meses de vigência estima-se que o projeto encaminhou qualificadamente à
reciclagem, aproximadamente 50.000 litros de óleos, que provavelmente teriam sido
lançados na rede de esgotos. A partir da visibilidade do projeto, e do reconhecimento
público de que o óleo apresenta valor agregado, efeitos multiplicadores como a geração de
convênios entre condomínios e recicladoras tem elevado substancialmente a quantidade de
óleo mensalmente encaminhado de maneira correta.
Finalmente, a preocupação de uma prefeitura com a destinação dos óleos de
fritura é imensamente salutar, em função da questão ambiental. Todavia, caso não haja
possibilidade prática imediata da criação de um projeto de reciclagem dos óleos, deve-se ter
em mente que o resíduo não é perigoso, e como tal deverá ser encaminhado juntamente
com o resíduo comum a aterro sanitário, onde não causará impacto ambiental, sendo
degradado por via biológica. Assim, se esse for o caso, a comunidade deverá ser orientada a
acondicionar os restos de óleos nos seus sacos plásticos que serão encaminhados à coleta
domiciliar, até que gerem-se as condições para iniciar o projeto de reciclagem no município.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 400


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

NÚMERO DE CETANO: A tendência de um combustível para os motores a Diesel queimar


espontaneamente é indicado pelo seu número de cetano: quanto mais alto este índice,
maior é sua capacidade de combustão dentro do motor. E quanto mais elevada esta, maior a
redução no atraso da ignição e, portanto, um funcionamento mais regular do motor.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 401


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.7 MEDICAMENTOS VENCIDOS


Denominam-se fármacos ou drogas todas as substâncias químicas que
interatuam com os organismos vivos. Os medicamentos são aquelas composições químicas
utilizadas para prevenir ou modificar estados patológicos, aliviar sintomas ou explorar
estados fisiológicos para benefício de quem os recebe. São composições úteis no
diagnóstico, prevenção e tratamento das enfermidades humanas, animais e vegetais. Sendo
produtos genericamente utilizados, em função das enfermidades, são difusamente
comercializados e utilizados. Os resíduos de medicamentos correspondem às próprias
composições não consumidas em seu prazo de validade, às matérias-primas vencidas e às
embalagens residuais, impregnadas com o material medicamentoso. As composições
químicas apresentam diferentes características de degradabilidade e instabilidade a diversos
agentes, portanto, decorrido certo tempo ou havendo sofrido ação de certas condições (luz,
umidade, etc.) podem não mais corresponder à composição originalmente fabricada.
No âmbito do descarte dos residuais provindos do consumo de medicamentos
(abstraem-se aqui, por exemplo, resíduos considerados como de risco biológico, como
seringas e agulhas), dois problemas são identificados:
 procedimento de manejo, ou seja, se houver disposição de residuais de
medicamentos nos passeios públicos, à coleta municipal de resíduos, poderá
haver reaproveitamento dos mesmos por triadores e catadores, o que poderá
comprometer sua saúde se houver administração, ou pode mesmo haver
retorno dos produtos à rede de comercialização. O mesmo poderá ocorrer se
a área de disposição de resíduos do município não for qualificada e nela
houver a presença de catadores;
 Destinação a aterros sanitários ou outras áreas de disposição: pode ocasionar
problemas de contaminação ambiental e outros problemas.
No sentido estritamente relacionado à destinação dos residuais de
medicamentos a aterros sanitários (ou aterros controlados, ou lixões, no pior dos casos),
alguns efeitos importantes adversos podem ser citados, que, de certa forma, justificam a
preocupação com a sua destinação:
 os aterros para resíduos sólidos urbanos são sistemas de estabilização
microbiológica de resíduos sólidos biodegradáveis, que operam através do
metabolismo de bactérias e outros organismos e de suas enzimas.
Antibióticos, antibacterianos e quaisquer medicamentos que tenham como

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função precípua ou efeito secundário ação deletéria sobre agentes biológicos,


produzirão redução ou extinção temporária dos processos metabólicos
bacterianos nos microsítios onde o resíduo for disposto. Embora teoricamente
isso seja previsível, não há evidências de tal efeito prático em aterros,
possivelmente em função da dificuldade de monitorarem-se tais eventos,
devido à diluição dos agentes e princípios ativos na massa e na fase líquida
dos aterros e lixões. Neste sentido, também, em geral o aporte desse tipo de
resíduo, em comparação com os demais resíduos urbanos é percentualmente
pequeno. FLECK e REICHERT (2016) verificaram que os medicamentos vencidos
correspondem a 0,02% do material presente nos resíduos apresentados para
a coleta ordinária domiciliar em Porto Alegre, o que se traduz em 220 kg
diários;
 No que se refere especificamente a agentes antibióticos, conforme cita a
literatura, há uma permanente adaptação dos agentes patogênicos a essas
composições medicamentosas: a cada administração de um determinado
antibiótico, há eliminação de um grande percentual dos indivíduos do agente
biológico que está sendo combatido. A patologia é superada pelo paciente no
momento em que os poucos indivíduos remanescentes não apresentam mais
potencial de superar as defesas imunológicas corpóreas. Contudo, tais
indivíduos sobreviventes tornam-se resistentes, imunes ao antibiótico,
gerando descendentes igualmente resistentes. Isso pode ocorrer na instância
de um aterro sanitário, ocasionando o surgimento de cepas resistentes.
Novamente, esta é uma projeção teórica, que possivelmente não se efetive
devido à agressividade do meio, inóspito aos organismos patogênicos, que,
conforme estudos já publicados, não sobrevivem à seleção natural, à
competição com os organismos heterotróficos que participam ativamente da
digestão anaeróbia dos resíduos;
 O principal problema relacionado à disposição de resíduos de fármacos em
áreas de disposição, mesmo que qualificadas, refere-se à incorporação, à fase
aquosa, de compostos químicos possivelmente muito refratários à
estabilização ou a transformações químicas. Tais compostos presentes nos
lixiviados, no caso de áreas não qualificadas, migrarão para cursos d’água
e/ou ao lençol freático, contaminando-os. No caso de aterros
impermeabilizados, com tratamento de lixiviados, se houver elevada
refratariedade dos compostos medicamentosos, tais poderão, não somente
serem lançados intactos com o efluente tratado aos corpos receptores, como
inclusive retornarem ao consumo, através da água tratada. Já existem estudos
científicos os quais tentam correlacionar a disposição de produtos hormonais
com a parcial esterilização de comunidades.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 403


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Legislação aplicada ao gerenciamento do resíduo


Em 1993, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA – expediu a
Resolução 05/1993, que estabeleceu uma classificação para resíduos sólidos de serviços de
saúde em quatro grupos. O denominado Grupo B, resíduos que apresentam risco potencial à
saúde pública e ao ambiente devido às suas características químicas, contemplou os
seguintes tipos de resíduos:
a) drogas quimioterápicas e produtos por elas contaminados;
b) resíduos farmacêuticos (medicamentos vencidos, contaminados, interditados
ou não-utilizados);
c) demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR
10004 da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos).
A Resolução CONAMA 05/1993 não atribui responsabilidades sobre o tratamento
e disposição dos resíduos de medicamentos.
Em 2001 uma nova resolução do CONAMA (283/2001) veio atualizar
procedimentos em relação à Resolução 05/1993. Esta nova resolução estabelece que (1) os
medicamentos vencidos, alterados, interditados, parcialmente utilizados ou impróprios para
consumo devem ser devolvidos ao fabricante ou importador, por meio do distribuidor, (2)
que até julho de 2002 os fabricantes e importadores deverão introduzir mecanismos para
operacionalizar a sua logística reversa; (3) que o manuseio e transporte dos resíduos de
medicamentos é co-responsabilidade de importadores, distribuidores, comerciantes,
farmácias de manipulação e serviços de saúde. Todavia o sistema proposto não vigorou, e a
citada resolução foi posteriormente revogada, pelo advento da Resolução CONAMA
358/2005.
A Resolução CONAMA 358/2005 define como fármacos, cujo manejo e
destinação devem ser qualificados, em função de riscos ao ambiente e à saúde pública, os
produtos hormonais, antimicrobianos, citostáticos, antineoplásicos, imunossupressores,
digitálicos, imunomoduladoladores e antiretrovirais e insumos e resíduos relativos aos
medicamentos controlados pela Portaria 344/1998 do Ministério da Saúde:
a) produtos hormonais: hormônios são substâncias produzidas pelo organismo
para regular a atividade de órgãos vitais. São muito comumente utilizados
para anticoncepção e retardo de consequências do envelhecimento;
b) antimicrobianos: são substâncias produzidas por organismos ou sintetizadas,
que destroem organismos ou impedem seu desenvolvimento;
c) citostáticos: os medicamentos citostáticos incluem uma série de substâncias
de distinta natureza química, utilizados principalmente, mas não
exclusivamente, no tratamento farmacológico de enfermidades neoplásicas
(câncer), como terapia única ou acompanhada de outras medidas
terapêuticas. Projetados para provocar a morte de células, não distinguem
exatamente entre células cancerosas e sãs. A maioria dos citostáticos

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 404


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apresentam características mutagênicas, carcinogênicas, teratogênicas e


embriotóxicas em experimentos com animais. São atribuídas aos citostáticos
mais de dez propriedades adversas à saúde humana e animal. Apresentam
elevado nível de ação em relação a células e tecidos com elevada capacidade
de proliferação;
d) antineoplásicos: são os compostos conhecidos como quimioterápicos, que
apresentam ação sobre os mecanismos celulares. Apesar de agirem mais
incisivamente contra as células cancerosas, devido às suas diferenças
metabólicas em relação às células normais, não têm ação plenamente
seletiva, agindo deleteriamente sobre algumas células sãs também;
e) imunossupressores: correspondem a uma extensa classe de agentes, cuja
ação é direcionada ao efeito específico desejado, que pode ser uma simples
ação anti-inflamatória, até evitar-se a rejeição de um órgão transplantado.
Atuam, através de mecanismos específicos, rebaixando os sistemas
imunológicos do corpo, evitando, então, reações advindas de tais sistemas
que ocasionam desconforto, dor ou outras consequências;
f) digitálicos: são medicamentos de origem natural, produzidos a partir de
plantas como a Digitalis purpúrea e a Digitalis lanata, que apresentam
propriedades de toxicidade. São utilizados em doenças do coração, como
arritmias e insuficiência cardíaca;
g) imunomoduladores: são medicamentos que não interagem diretamente no
agente infeccioso ou tumor, mas sim na cadeia imunológica natural do
organismo, ocasionando a amplificação do efeito imunológico, evitando os
efeitos indesejáveis da utilização de antivirais potentes;
h) antiretrovirais: retrovírus são vírus de RNA, que é reversamente transcrito em
cópias de DNA de dupla fita no interior da célula hospedeira. Retrovírus
incluem HIV e agentes causadores de câncer em vertebrados. Os
antiretrovirais agem por mecanismos que impedem a replicação dos vírus ou
impedem que novas cópias dos vírus infectem novas células;
i) medicamentos controlados – Portaria Ministério da Saúde 344/1998: tratam-
se de psicotrópicos, anabolizantes, antiretrovirais, insumos para fabricação de
narcóticos.
À luz da NBR 10004/2004, grosso modo todos os resíduos de medicamentos
podem ser considerados resíduos perigosos. Esta ideia provém do fato de que, embora
concebidos e fabricados para agirem no sentido da recuperação da saúde e do bem estar de
pessoas e animais, os medicamentos alteram estados fisiológicos de indivíduos para os quais
sua utilização for cientificamente prescrita. Sua eventual ação sobre indivíduos saudáveis,
atuando especificamente sobre um desequilíbrio que nesses inexiste, pode levar ao prejuízo
à saúde dos mesmos. Neste sentido, todo medicamento administrado de forma indevida,
sem uma criterização responsável, traz problemas à saúde dos indivíduos, e então, dentro

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 405


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dessa conceituação, tornar-se-á um resíduo perigoso. Quando considerado o fato de sua


modificação por mecanismos naturais ou desencadeada por sua exposição ao ambiente,
amplifica-se seu potencial de periculosidade, centrado na questão da toxicidade.

Aspectos constitucionais dos medicamentos


O potencial de agressão ao ambiente, o potencial de degradação e as
metodologias de estabilização e tratamento dos compostos medicamentosos estão
diretamente relacionados às suas estruturas químicas. Os medicamentos podem ser
preparados através de compostos naturais, compostos sintéticos, produtos
biotecnologicamente obtidos, compostos produzidos por organismos, derivados do sangue e
a partir de outras fontes.
Três são as características que afetam a estabilidade dos medicamentos, e,
portanto, o critério de propriedade de sua administração a organismos ou não:
 degradação química dos princípios ativos;
 formação de produto tóxico derivado da decomposição ou degradação dos
princípios ativos;
 instabilidade, que pode diminuir a sua biodisponiblidade (propriedade de
liberar de forma dosificada o componente ativo no organismo).
Existem diversos critérios para o estabelecimento de classificações para os
medicamentos. Uma das mais comumente empregadas é a classificação em função de sua
ação farmacológica ou uso terapêutico. O Quadro 4.7.1 estabelece uma classificação
utilizando essa base.

Quadro 4.7.1 – Classificação dos medicamentos quanto à sua ação


Grupo Descrição Medicamentos
 agonistas colinérgicos
Drogas que atuam nas  agentes colinesterasa
1 sinapses e uniões  atropina
neuroefectoras  escopolamina
 drogas simpaticomiméticas
 anestésicos
 gases terapêuticos
 hipnóticos
Drogas que atuam sobre o
2  sedantes
sistema nervoso central
 antiepiléticos
 opióides
 analgésicos
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 406


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Quadro 4.7.1 – classificação dos medicamentos quanto à sua ação


(continuação)
Grupo Descrição medicamentos
 histaminas
 derivados lipídicos
3 Anti-inflamatórios
 tratamento antiasma
 analgésicos antipiréticos
 sais de sódio
4 Íons e sais
 sais de potássio
 xantinas
Drogas que afetam o  diuréticos osmóticos
5 sistema renal e o  compostos mercuriais
metabolismo de eletrólitos  tiacidas e sulfonamidas
 inibidores da anidrasa carbônica
 nitratos orgânicosanti-hipertensivos
6 Agentes cardiovasculares  glucosídios cardíacos
 anti-arrítmicos
 controle da acidez
 controle de úlceras
Fármacos que afetam
7  motilidade gastro-intestinal
funções intestinais
 produção de ácidos biliares e
sucos digestivos
 oxitocina
Fármacos que afetam a  prostaglandinas
8
motilidade uterina  alcalóides
 agentes tocolíticos
 anti-helmínticos
Quimioterapia para  anti-protozoários
9
infecciones parasitarias  anti-maláricos
 amebicidas
 sulfonamidas
 penicilinas
 trimetropina
 cefalosporinas
 sulfametoxasol
 antimicóticos
Quimioterapia para
10  quinolonas
infecções microbianas
 antivirais
 antibióticos
 aminoglucosídeos
 tetraciclinas
 cloranfenicol
 eritromicina
continua

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Quadro 4.7.1 – classificação dos medicamentos quanto à sua ação


(continuação)
Grupo Descrição medicamentos
 agentes alquilantes
 hormônios
Quimioterapia com
11  antimetábolitos
agentes antineoplásicos
 antibióticos
 isótopos radioativos
 azatioprina
 clorambucil
12 Inmunossupresores
 ciclofosfamida
 metotrexato
 anticoagulantes
Agentes que atuam sobre
13  trombolíticos
os componentes do sangue
 antiplaquetários
 adenohipoficiárias
 tireóide e antitireóidia
 estrogênios e progesterona
 andrógenos
14 Hormônios
 adrenocorticotrófica
 insulina
 paratireóidia
 derivado esteróidíco de vitamina d
 hidrosolúveis (complexo b e ácido
15 Vitaminas ascórbico)
 lipossolúveis (a, d, k, e)
 antihistamínicos
Medicamentos do sistema
16  expectorantes
respiratório
 antitusígenos
Fonte: GOODMAN e GILMAN (1980) apud BARRIOS et al.(1995)

Os processos de degradação dos medicamentos ocorrem pelas vias (1) física, (2)
química e (3) biológica. Deve-se atentar ao fato de que os compostos químicos orgânicos,
que são os componentes ativos, em geral, encontram-se em concentrações muito baixas nas
composições medicamentosas. BARRIOS et al. (1995) citam que, embora ocorram reações
importantes das moléculas orgânicas com compostos presentes no ambiente, via de regra as
reações com agentes do meio como oxigênio, água e luz solar são os mecanismos mais
importantes da degradação dos medicamentos.
Os tipos mais importantes de degradação dos medicamentos são três:
 hidrólise (solvólise): dá-se com alguns compostos, especialmente aqueles que
apresentam grupos carboxila (-COOH), amina (NH2) e hidroxila (OH);
 oxidação: reação que dá-se principalmente pela interação de certos
compostos com o oxigênio do ar. Os principais grupos orgânicos de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 408


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medicamentos sujeitos à oxidação são (1) fenóis, (2) catecóis, (3) éteres, (4)
tióis, (5) tioéteres, (6) carboxilas, (7) nitritos e (8) aldeídos;
 fotólise: em geral constitui-se de reações de decomposição catalisadas pela
luz solar, associando ou não outras reações como a de oxidação.
Outro fenômeno a ser citado é a degradação microbiológica de certos
medicamentos. De certa maneira, todos os compostos orgânicos sofrem ação
microbiológica, porém os produtos de degradação nem sempre são inócuos ou estáveis
termodinamicamente. Por outro lado diferentes são as refratariedades dos diversos
compostos medicamentosos. Alguns, como as vitaminas e xaropes são muito facilmente
degradados, outros são muito mais resistentes a ataques biológicos. As bactérias
apresentam imenso potencial de aclimatação a muitos compostos tóxicos, através de
adaptação e mutações. As interações dos microrganismos com os princípios ativos podem
levar, senão ao seu aproveitamento direto como substrato, à sua utilização como aceptores
de elétrons ou coadjuvantes em reações bioquímicas, levando à sua oxidação, à quebra de
cadeias carbônicas e anéis aromáticos e a muitas outras modificações nas suas estruturas
químicas.
Por fim, muitos compostos medicamentosos são muito voláteis, sendo
vaporizados em presença de ar e calor, o que pode ocorrer sob certas condições de
exposição ao ambiente.

Tratamento de medicamentos vencidos e inservíveis


Os medicamentos residuais, como quaisquer outros resíduos especiais, devem
ser classificados em função dos critérios estabelecidos pela NBR 10004/2004. Via de regra os
aspectos de periculosidade dos medicamentos referem-se à toxicidade (dos compostos ou
dos produtos de degradação), ainda que sejam formulações administradas a seres vivos. No
tocante à sua disposição em células de aterro, pensada como maneira mais usual de
destinação, sua periculosidade pode ser referenciada ao seu potencial de alteração das
condições químicas e biológicas ambientais, classificando-se, em muitos casos, como
resíduos pertencentes à Classe I – Perigosos.
A solução mais desejável, em uma primeira instância, seria a devolução
verticalizada dos medicamentos residuários, do usuário ao estabelecimento farmacêutico,
deste ao distribuidor, e deste último ao fabricante que, detentor da tecnologia e do
conhecimento técnico específico poderia proceder:
1) seleção dos medicamentos que possam ter seus constituintes reciclados,
dentro de critérios técnicos e legais;
2) seleção e agrupamento dos medicamentos por tipo de destinação ou
tratamentos mais indicados;
3) pré-tratamento físico ou químico com vistas à redução de volume ou
condicionamento preliminar ao tratamento;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 409


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4) encaminhamento aos tratamentos ou destinos tecnicamente indicados para


cada categoria.
Os tratamentos mais recomendáveis para resíduos de medicamentos são
elencados por EPA apud BARRIOS et al. (1995):
 tratamentos físicos e químicos;
 solidificação;
 disposição em aterro sanitário municipal;
 confinamento (aterro para resíduos perigosos);
 incineração.
A incineração a temperaturas superiores a 1200oC é tida como a melhor forma
de tratamento dos residuais de medicamentos, visto promover a oxidação completa dos
compostos orgânicos medicamentosos. Evidentemente a questão relativa às emissões
gasosas deve ser considerada e será necessário que o incinerador seja especificamente
licenciado para o tratamento desse tipo de resíduo. Frequentemente, o custo da incineração
supera R$ 2000,00/t. O confinamento em células de aterros especiais para resíduos
industriais perigosos também é uma solução factível, no entanto enfrenta a crítica de não
constituir-se em um sistema de tratamento, com destruição do resíduo ou conversão a
produtos menos perigosos, e sim, tão somente, um confinamento controlado, por tempo
indeterminado. O valor praticado por administradores de aterros para resíduos perigosos
para recebimento de medicamentos pode superar US$ 150,00/m3.
Certos medicamentos apresentam elevada biodegradabilidade, não
apresentando características de elevada periculosidade (tampouco os subprodutos de sua
degradação são resíduos perigosos). A sua codisposição com resíduos urbanos em aterros
municipais poderia ser uma solução barata e factível, desde que autorizada pelo órgão
ambiental de jurisdição. Muitas formulações, como por exemplo, xaropes e vitaminas, por
sua elevada biodegradabilidade, poderiam ser, até mesmo, descartadas no sistema
municipal de esgotos, pois não inserirão apreciável carga orgânica ao sistema, desde que
lançados em quantidades limitadas, e não ocasionarão inibição da atividade microbiológica,
sendo, em muitos casos, os componentes ativos, nutrientes para os organismos
heterotróficos presentes.
Tratamentos físicos e químicos aplicáveis a medicamentos inservíveis são
altamente específicos a cada classe de compostos químicos presentes. Tais tratamentos são
objetos de estudos e pesquisas, que devem ser conduzidos para cada formulação específica,
procurando-se avaliar, a partir das fórmulas químicas de cada composto, que tipos de reação
produzirão produtos isentos de toxicidade ou outros inconvenientes à saúde pública e ao
ambiente. O processamento físico poderá conduzir a modificações químicas (por exemplo,
por radiações) ou simplesmente reduzir volumes ou condicionar os resíduos para um
tratamento, inertização ou confinamento posterior.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 410


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os métodos oxidativos avançados, os quais operam com a formação de radicais


livres altamente oxidantes têm sido apontados como soluções viáveis para a inteira
conversão dos medicamentos até moléculas simples biodegradáveis.
A solidificação consiste na imobilização do resíduo em uma matriz cerâmica ou
polimérica. Frequentemente o processo é denominado inertização ou encapsulamento. Tal
procedimento pode ser muito efetivo para imobilizar diversos tipos de constituintes perigosos,
merecendo estudos mais aprofundados em relação a que tipo de matriz deverá ser utilizada para
cada tipo específico de resíduo. VILLAGÓMEZ e RIVERA (2000) estabelecem um sistema simples de
inertização, prontamente aplicável, que pode ser muito útil. Embora, a rigor tal
procedimento necessite licenciamento ambiental específico para constituir-se em uma
solução para a destinação de medicamentos inservíveis, em função da realidade hoje vigente
nos municípios, poderia ser uma alternativa muito mais interessante do que a simples co-
disposição desqualificada com os demais resíduos municipais. O sistema de VILLAGÓMEZ e
RIVERA (2000) é descrito abaixo:
1) Disponibilizar um tambor de aço ou plástico que esteja descontaminado de
compostos e residuais perigosos;
2) Abrir a tampa superior do tambor e dobrá-la para fora;
3) Preencher 75% da capacidade volumétrica do tambor com os resíduos de
medicamentos em forma sólida ou semi-sólida (devem evitar-se grandes
quantitativos do mesmo medicamento no mesmo tambor, de modo a não
constituírem-se concentrações expressivas de um mesmo composto químico
na instância do tambor);
4) Completar o tambor com uma mistura de cal/cimento/água em uma
proporção de 15:15:5 (em peso);
5) Fechar a tampa superior, de preferência com uma costura de solda;
6) Dispor o tambor fechado em aterro sanitário, juntamente com grandes
quantidades de outros resíduos municipais.
BARRIOS et al. (1995) citam especificamente algumas classes de medicamentos,
indicando vias de tratamento:
 vitaminas: são compostos não tóxicos, altamente biodegradáveis, e essenciais
ao metabolismo microbiológico. Poderiam ser eliminados na rede de esgotos
ou destinados com os resíduos domiciliares para aterros sanitários (sujeito às
legislações e ao endosso dos órgãos ambientais);
 antibióticos: apresentam toxidez e interferem diretamente nos ecossistemas.
Se não forem incinerados, deve-se proceder sua inativação química através de
hidrólise ácida ou alcalina ou inativação por calor. Em casos de emergência,
podem ser diluídos, permanecendo em solução por semanas para favorecer a
hidrólise, para depois a solução ser descartada na rede de esgotos;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 411


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 produtos biológicos: soros, vacinas, antitoxinas: apresentam risco de ordem


biológica, necessitando, previamente à disposição, tratamento específico para
eliminação da carga microbiana: autoclavagem, exposição a microondas,
incineração ou inativação química;
 analgésicos: de leves (ácido acetilsalicílico) até pesados (morfina) as
composições apresentam diversos graus de toxidez e biodegradabilidade.
Para cada tipo específico de analgésico devem ser estudadas a sua toxicidade
e biodegradabilidade, no sentido de nortear o procedimento a ser adotado:
tratamento químico ou disposição em sistemas de degradação biológica.
Enfim, a questão relativa aos medicamentos residuais necessita uma efetiva
regulamentação federal, baseada em critérios jurídicos (responsabilidade no pós-consumo) e
técnicos (indicação das formas de tratamento e/ou disposição de cada classe específica de
medicamentos, considerados critérios de ordem técnica e econômica). A Lei Federal
12.305/2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos, não faz menção aos vocábulos
medicamento e fármaco. Pela sua relevância, os medicamentos poderiam ter sido feitos
constar no art. 33 da Lei, o qual estipula responsabilidade direta sobre a logística reversa
para alguns tipos de resíduos, todavia tal não ocorreu.
Apesar de tal, o Ministério do Meio Ambiente, através do Comitê Orientador,
expediu o Edital 02/2013, publicado no Diário Oficial da União de 10 de outubro de 2013, de
chamamento para a elaboração de acordo setorial para implantação de sistema de logística
reversa de resíduos de medicamentos no país. O edital estabelece algumas metas a serem
cumpridas (disponível em............................................................................................................
http://www.sinir.gov.br/documents/10180/15303/EDITAL_MEDICAMENTO_DOU). A ideia é
atingir, até o quinto ano após a assinatura do acordo setorial, 100% dos municípios com
população superior a 100 mil habitantes, no qual a destinação final ambientalmente correta
adequada deverá abranger 100% dos resíduos recebidos. Outra meta é alcançar até o quinto
ano, também após a assinatura do documento, 5.522 pontos de coleta de medicamentos em
todo o país. Nesse mesmo período, outro objetivo é recolher 3.79 kg de resíduos por mês,
por ponto de coleta.
Até abril de 2014 o setor farmacêutico enviou três diferentes propostas para o
acordo setorial de medicamentos, todavia não se observou real evolução do processo até
meados de 2017.
No web-site do SINIR pode ser encontrado um trabalho técnico prospectivo
sobre a questão da logística reversa dos medicamentos elaborado por Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial – ABDI ............................................................................................
(http://www.sinir.gov.br/documents/10180/13560/EVTE-MEDICAMENTOS/91d54031-327c-
43a4-8246-9a0128bc10b4).
Em Porto Alegre institui-se a responsabilidade dos estabelecimentos
farmacêuticos receberem os medicamentos vencidos e dar-lhes destinação legal e
ambientalmente adequada, através da Lei Municipal 11.329/2012, pelo que, se a fiscalização
mostrar-se eficiente, o problema pode ser considerado resolvido. Certamente o custo com a

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 412


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

disposição ou tratamento qualificados dos residuais de medicamentos inserirá um custo


adicional à planilha dos comerciantes, todavia isso pode ser agregado aos preços dos
produtos, como aliás, nada diferente disso espera-se em relação a qualquer processo de
logística reversa de qualquer resíduo.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 413


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI. 2013. Logística reversa


para o setor de medicamentos. Disponível em
http://www.sinir.gov.br/documents/10180/13560/EVTE-MEDICAMENTOS/91d54031-
327c-43a4-8246-9a0128bc10b4. Acedido em 04.05.2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio
de Janeiro, 2004.

BARRIOS, Claudia P.H.; VILLAGÓMEZ, Georgina F.; GÓMEZ, Jorge S. 1995. Manual para el
tratamiento y disposición final de medicamentos y fármacos caducos. Instituto
Nacional de Ecologia/CENAPRED. 1ª Ed. Ciudad de México. 88p.

BRASIL. Resolução CONAMA 005, de 05 de agosto de 1993. Estabelece definições,


classificação e procedimentos mínimos para o gerenciamento de resíduos sólidos
oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários.
DOU de 31.08.1993.

_____. 1998. Portaria Ministério da Saúde 344/1998 de 12 de maio de 1998. Aprova o


Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

_____. Resolução CONAMA 283, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre o tratamento e a


destinação final dos resíduos dos serviços de saúde. DOU de 01.10.2001.

_____. Resolução CONAMA 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a


disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências DOU de
04.05.2005.

_____. 2010. Lei 12.305 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. DOU de 02 de agosto de
2010.

FLECK, E.; REICHERT, G.A. 2016. Caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos
domiciliares de Porto Alegre – 2014/2015. IN: 10º SIMPÓSIO NACIONAL DE QUALIDADE
AMBIENTAL (2016). Porto Alegre, 19 a 21 de outubro de 2016. 8p.

PORTO ALEGRE. 2012. Lei 11.329, de 3 de agosto de 2012. Estabelece procedimentos a


serem adotados para o descarte de medicamentos vencidos e de suas embalagens no
Município de Porto Alegre. DOPA, 08.08.2012.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 414


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

VILLAGÓMEZ, Georgina F.; RIVERA, Patricia T. 2000. Propuesta para la disposición segura de
medicamentos caducos acumulados por situaciones de emergencia. In: XXVII
Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais. Porto Alegre,
2000. 18p.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 415


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.8 ÓLEOS LUBRIFICANTES


RESIDUÁRIOS E SUAS
EMBALAGENS
O óleo lubrificante constitui-se em uma mistura de hidrocarbonetos saturados e
aromáticos provenientes do refino do petróleo, e que recebeu uma série de aditivos
especiais para otimização de sua função lubrificante. Praticamente 60% do óleo produzido
no país destinam-se ao uso automotivo, principalmente para motores a diesel, sendo o
restante utilizado em motores estacionários, sistemas hidráulicos, ferramentas de corte e
turbinas.
Apenas um litro de óleo lubrificante pode comprometer a superfície de até mil
metros quadrados de um corpo hídrico e a potabilidade de um milhão de litros de água
(CREA, 2005). No Brasil, e mesmo no mundo, estima-se que grandes quantidades (em geral,
no mínimo 50%) do óleo lubrificante comercializado não sejam recicladas, sendo os residuais
lançados no sistema de esgotos. O principal problema associado a esse lançamento dá-se
pela formação de uma película sobrenadante de óleo sobre as lâminas d’água dos recursos
hídricos, o que dificulta as trocas de gases entre a água e a atmosfera, e dificulta a passagem
de luz solar, resultando no prejuízo dos processos de respiração e fotossíntese. Conforme
CEMPRE (2005) o óleo lubrificante apresenta uma demanda bioquímica de oxigênio da
ordem de 2.000.000-4.000.000 mgO2/kg.
O desgaste de um óleo lubrificante relaciona-se com a decomposição de certos
aditivos do óleo, a incorporação de resíduos de combustão (degradação termoxidativa) e de
pirólise, de limalhas de desgaste do motor, de borras, ácidos orgânicos, aromáticos
polinucleares potencialmente carcinogênicos, resinas, lacas e de infiltração de gasolina não
queimada. O óleo básico que originou o óleo lubrificante, após o uso, salvo uma fração que é
efetivamente queimada no motor, mantém-se praticamente inalterado, sendo passível de
recuperação por processos tecnológicos.
No Brasil, são consumidos cerca de um milhão de metros cúbicos, ou seja, um
bilhão de litros de óleo lubrificante por ano, dos quais menos de 25% retorna para a
reciclagem. O óleo queimado, portanto, apresenta valor econômico positivo, podendo
alcançar cerca de R$ 0,95/litro (em geral o valor é bem menor). Neste sentido, sempre que

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 416


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

um residual apresenta valor econômico, a solução dos problemas ambientais por ele
demandados resume-se à elaboração de sistemas logístico-econômico-ambientais viáveis.
Embora o residual de óleo lubrificante, por conter hidrocarbonetos seja
classificado como perigoso, as embalagens plásticas ou metálicas dos óleos lubrificantes não
têm sido tratadas como resíduos Classe I, podendo ser estocadas transportadas como
resíduos comuns e não como produto perigoso.
O poder calorífico do óleo usado é de 10.000 kcal/kg. Frequentemente esse
poder calorífico é aproveitado utilizando-se o óleo “queimado” como combustível. No
entanto, sob condições normais tal prática é vedada devido (1) à emissão de metais pesados
presentes no óleo como cádmio, chumbo e níquel, e (2) a constituir-se em utilização de um
produto de petróleo de alta qualidade para uma finalidade pouco nobre.

Legislação aplicada ao resíduo líquido (óleo usado)


A primeira regulamentação federal aplicada aos óleos lubrificantes usados foi
expedida pelo CONAMA, em 1993 (Resolução 09/1993), basicamente proibindo todas as
formas de disposição, queima e incineração dos óleos e estabelecendo regulamentações
para conduzi-los à reciclagem, através do chamado rerrefino.
Em junho de 2005 a Resolução CONAMA 09/1993 foi substituída por uma nova
resolução (362/2005). Tal resolução viria a ser complementada/retificada pela Resolução
CONAMA 450/2012. Os principais destaques das resoluções são:
 todo óleo lubrificante usado ou contaminado deverá ser encaminhado a
processo de rerrefino ou processo tecnológico de superior performance
ambiental, a critério do órgão ambiental de jurisdição;
 produtores e importadores de óleo lubrificante acabado são obrigados a
coletar quantidades de óleo usado proporcionais aos volumes de produto que
tenham comercializado (os percentuais são estabelecidos por portaria
conjunta dos Ministérios do Meio Ambiente e Minas e Energia, não podendo
ser inferiores a 30%). Agência Nacional do Petróleo (ANP) e IBAMA são
responsáveis pela fiscalização do cumprimento do proposto. A coleta e
transporte, sujeitos a licenciamento, poderão ser executados pro empresa
contratada;
 produtores e importadores de óleo lubrificante acabado deverão prestar, no
âmbito do Cadastro Técnico Federal, informações relativas à produção de óleo
lubrificante e geração, coleta e destinação dos óleos lubrificantes usados ou
contaminados, na forma e nos prazos definidos em instrução normativa do
IBAMA, concernentes a (a) óleos lubrificantes, comercializados por tipos,
incluindo os dispensados de coleta, (b) coleta contratada, por coletor e (c)
óleo rerrefinado adquirido, por rerrefinador.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 417


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 proibidos lançamentos e disposições dos óleos usados no solo e recursos


hídricos, bem como sua queima;
 fabricantes e importadores deverão vincular, às embalagens, informações
sobre os danos potenciais ao ambiente e à saúde pública ocasionados pela
disposição desqualificada dos óleos;
 revendedores de óleos lubrificantes ficam obrigados a licenciarem instalações
adequadas para substituição do óleo usado e recolhimento, de forma segura,
do óleo lubrificante usado ou contaminado, e o receberem dos usuários;
 geradores de óleo usado deverão necessariamente entregar o resíduo nos
postos de substituição.
As resoluções da ANP 17 e 18 de 2009 inferem responsabilidades aos geradores
e importadores de óleos lubrificantes de óleos acabados:
 ficam obrigados a coletar ou a garantir a coleta de óleo lubrificante usado ou
contaminado na proporção de óleo acabado que comercializam, bem como
destinar o óleo lubrificante usado ou contaminado para o rerrefino ou
qualquer outra utilização licenciada pelo órgão ambiental competente,
conforme a Resolução CONAMA 362/2005, ou outra que venha a substituí-la.
Para cumprimento da obrigação prevista, o importador de óleo lubrificante
acabado poderá celebrar contrato com pessoa jurídica autorizada pela ANP
para o exercício da atividade de coleta de óleo lubrificante usado ou
contaminado ou obter autorização da mesma ANP para o exercício da
atividade de coleta de óleo lubrificante usado ou contaminado;
 o percentual mínimo de óleo lubrificante usado ou contaminado a ser
coletado deve observar Portaria Interministerial dos Ministérios de Minas e
Meio Ambiente;
 para fins de comprovação de coleta e correta destinação do óleo lubrificante
usado ou contaminado coletado, o fabricante ou importador deverá exigir do
coletor contratado os certificados de recebimento de óleo lubrificante usado
ou contaminado emitidos pelo rerrefinador, mantendo-os sob sua guarda,
para fins fiscalizatórios, pelo prazo de cinco anos;
 caso o destino do óleo lubrificante usado ou contaminado esteja enquadrado
na exceção prevista no §3º, art. 3º, da Resolução CONAMA 362/2005
(comprovada, perante o órgão ambiental competente, a inviabilidade de
destinação ao rerrefino, qualquer outra utilização do óleo lubrificante usado
ou contaminado dependerá de licenciamento ambiental), o fabricante ou
importador deverá exigir do coletor contratado cópia da licença expedida pelo
órgão ambiental competente em nome do destinatário autorizando essa
destinação excepcional, bem como toda a documentação fiscal que a
comprove;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 418


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 para o cálculo do volume mensal mínimo de óleo lubrificante usado ou


contaminado a ser coletado, será utilizado o volume médio de
comercialização de óleo lubrificante acabado verificado no trimestre anterior
ao mês de competência, descontado o volume de comercialização de óleo
lubrificante acabado dispensado de coleta, que não integra a base de cálculo.
Quando o produto importado destinar-se a consumo próprio, o volume a ser
utilizado para o cálculo do volume mensal mínimo de óleo lubrificante usado
ou contaminado a ser coletado deverá considerar o volume dessa importação;
 São considerados óleos lubrificantes acabados, para fins de envio de dados de
movimentação, os destinados a (a) motores do ciclo Otto ou Diesel, (b)
engrenagem automotiva, diferencial e transmissões, (c) engrenagens em
geral, (d) equipamentos agrícolas, (e) sistemas hidráulicos e turbinas, (f)
compressores, (g) equipamentos pneumáticos, máquinas operatrizes e
têxteis, (h) tratamento térmico, (i) óleo de corte integral com teor de óleo
básico acima de 70%, (j) trocador de calor, (k) proteção temporária, (l)
pulverização agrícola, (m) correntes de motosserra, (n) indústrias onde o óleo
lubrificante integre o produto final ou o processo, não gerando resíduo, (o)
estampagem, (p) motores de dois tempos, (q) sistemas selados que não
exijam troca ou que impliquem perda total do óleo, (r) solúveis, (s) fabricação
de óleos lubrificantes a base de asfalto, (t) exportação, incluindo aqueles
incorporados em máquinas e equipamentos destinados à exportação. Não
integrarão a base de cálculo para apuração do volume de óleo lubrificante
usado ou contaminado a ser coletado, os óleos lubrificantes referidos em (k) e
(t), os óleos lubrificantes acabados comercializados entre produtores, entre
importadores ou entre produtores e importadores, autorizados pela ANP.
São atribuídas aos coletores de óleos usados ou contaminados, obrigações
instituídas pela Resolução ANP 20/2009:
 obter autorização para o exercício da atividade, passando pelas fases de
habilitação e obtenção da outorga de autorização;
 emitir ao gerador certificado de coleta do óleo usado;
 informar ao produtor e ao importador de óleo lubrificante acabado
contratante os volumes de óleo lubrificante usado ou contaminado coletados,
discriminados por mês e unidade federativa;
 manter atualizados os documentos e os requisitos das fases de habilitação e
outorga da autorização para o exercício da atividade de coleta de óleo
lubrificante usado ou contaminado;
 informar previamente, à ANP, as alterações que pretender efetuar em suas
instalações, relacionadas com a capacidade de armazenamento,
encaminhando projeto de ampliação ou modificação para fins de obtenção de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 419


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

autorização de construção ou de operação da base de armazenamento de


coleta de óleo lubrificante usado ou contaminado;
 enviar à ANP, mensalmente, até o dia 15 (quinze) do mês subsequente, por
meio de arquivo eletrônico definido pela ANP, os dados de movimentação de
óleo lubrificante usado ou contaminado;
 treinar seus empregados ou terceiros contratados quanto ao correto
transporte, manuseio e entrega dos óleos lubrificantes usados ou
contaminados coletados, assim como manter plano de ação implantado para
situações de emergência e de mitigação de acidentes;
 adotar as medidas necessárias para evitar que o óleo lubrificante usado ou
contaminado venha a ser misturado com produtos químicos, combustíveis,
solventes, água e outras substâncias, inviabilizando a sua reciclagem;
 indicar, nas laterais e parte traseira dos tanques dos caminhões coletores, em
letra (fonte) arial, no tamanho compatível ao espaço, os seguintes dizeres:
ÓLEO LUBRIFICANTE USADO - COLETOR AUTORIZADO ANP Nº ___ (citar o
número da Autorização);
 manter, pelo prazo de cinco anos, e tornar disponível aos funcionários da ANP
ou de órgãos conveniados, em sua base de armazenamento de óleo
lubrificante usado ou contaminado, a documentação, inclusive notas fiscais,
certificados de coleta de óleo usado e os certificados de recebimento,
relativos aos volumes de óleo usado coletados e entregues ao rerrefino, bem
como licença do órgão ambiental competente para os casos em que o óleo
lubrificante não seja destinado para o rerrefino;
 apresentar, no ato da coleta, ao gerador de óleo usado ou contaminado,
documento que comprove a autorização na ANP;
Os geradores do resíduo deverão:
 recolher os óleos lubrificantes usados ou contaminados de forma segura, em
lugar acessível à coleta, em recipientes adequados e resistentes a
vazamentos, de modo a não contaminar o ambiente;
 alienar os óleos lubrificantes usados ou contaminados exclusivamente ao
ponto de recolhimento ou coletor autorizado, exigindo a apresentação pelo
coletor das autorizações emitidas pelo órgão ambiental competente e pelo
órgão regulador da indústria do petróleo para a atividade de coleta e a
emissão do respectivo certificado de coleta.
 manter para fins de fiscalização, os documentos comprobatórios de compra
de óleo lubrificante acabado e os certificados de coleta de óleo lubrificante
usado ou contaminado, pelo prazo de cinco anos.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 420


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Em 08.04.2016 passou a vigorar a Portaria Interministerial 100/2016, a qual


estabeleceu percentuais mínimos de óleo lubrificante usado ou contaminado coletados a
serem calculados de acordo com a participação no mercado de óleo lubrificante acabado dos
produtores e importadores de óleo lubrificante acabado, por região e em todo o país. Na
Tabela 4.8.1 são reproduzidos os percentuais expressos na norma.

Tabela 4.8.1 – Percentuais mínimos de recolhimento de óleo usado em relação ao óleo


acabado utilizado nas regiões do país
Regiões
Ano Centro- Brasil
Nordeste Norte Sudeste Sul
Oeste
2016 33 32 36 42 38 38,9
2017 34 33 36 42 38 39,2
2018 35 35 37 42 39 39,7
2019 36 36 38 42 40 40,1
Fonte: Portaria Interministerial 100/2016

Aspectos tecnológicos
Existem vários processos para rerrefino de óleos lubrificantes, que basicamente
separam o óleo básico das impurezas, havendo correção de pH e, a posteriori, incorporação
de uma série de aditivos como detergentes, antioxidantes e outros para constituição de um
novo óleo, de qualidade semelhante ou mesmo superior àquele que o originou. Alguns
processos disponíveis são:
 processo de extração por solvente (do Instituto Francês do Petróleo – IFP);
 processo por destilação (Kinectics Technology International – KTI);
 processo de ultrafiltração e adsorção;
 processo Bernd Meinken;
A empresa Lwart®, especializada em transporte e reciclagem de óleos
lubrificantes, descreve, em seu web site, o processo de rerrefino de óleo lubrificante levado
a efeito em sua planta, o qual é reproduzido, a seguir:
1) Depois de descarregado numa caixa receptadora, o óleo usado passa por um
peneiramento e uma filtração para retenção de particulados grosseiros. A
desidratação se inicia com um pré-aquecimento do óleo até 80oC, antes de ser
enviando aos desidratadores. Numa operação em batelada, o óleo é
desidratado a 180oC em desidratadores com trocadores de calor externos, em
circulação forçada. A água e os solventes evaporados são condensados e
separados em um separador de fases. Os solventes são aproveitados como
combustível para os fornos e a água é enviada para tratamento;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 421


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

2) Destilação Flash: Uma vez desidratado, o óleo é bombeado para dois fornos
onde é aquecido até uma temperatura de 280oC. Após o forno, o óleo entra
no sistema de vasos de flasheamento a autovácuo (a 20 mBar). Aqui são
separadas as frações leves do óleo usado: óleo neutro leve, óleo spindle e óleo
diesel. O óleo neutro leve entra na formulação de óleo com média
viscosidade. O óleo spindle é usado em formulações diversas. O óleo diesel é
para uso cativo. Essas frações precisam de um acabamento antes do seu uso;
3) Desasfaltamento: O óleo destilado é bombeado para dois fornos onde é
aquecido a uma temperatura de 380oC e enviado para os quatro
evaporadores de película em alto-vácuo (1 mBar). Nesta etapa é separada a
borra neutra do óleo. A borra neutra é composta pela maior parte degradada
do óleo lubrificante usado. Na sua composição, encontramos principalmente
polímeros, metais, resinas, aditivos, e compostos de carbono. A borra neutra
é empregada na fabricação de mantas e produtos asfálticos em geral;
4) Tratamento Químico: O óleo proveniente do desasfaltamento ainda possui
alguma quantidade de componentes oxidados. Para extraí-los, aplica-se ácido
sulfúrico que promove a aglomeração dos contaminantes, que sedimentam,
gerando a borra ácida. A borra ácida é um resíduo altamente poluente se
lançado ao ambiente, por isso à mesma deve ser conferido um tratamento
adequado. A borra ácida é lavada com água, neutralizada e desidratada
transformando-se em combustível. A água ácida gerada na lavagem desta
borra ácida é neutralizada com lama cal, produzida em fábrica de celulose,
transformando-se em gesso para corretivo de solo e a água neutralizada é
enviada para tratamento;
5) Clarificação e Neutralização: Após a sulfonação, o óleo é bombeado para os
reatores de clarificação e neutralização onde é adicionada a terra fuller. A
mistura óleo/terra é aquecida para promover a adsorção de compostos
indesejáveis. No final é adicionada a cal para neutralização do óleo;
6) Filtração: A mistura óleo/terra/cal passa por filtros prensa para separar a terra
e a cal. A terra usada pode ser empregada em indústrias cerâmicas e
cimenteiras. O óleo ainda passa por filtros especiais para eliminar os
particulados remanescentes. No final é obtido o óleo básico mineral
rerrefinado com as mesmas características do óleo básico virgem.
O processo Bernd Meinken, de tecnologia alemã, é empregado na indústria de
rerrefino gaúcha, e opera com termocraqueamento e evaporador pelicular, onde a
temperatura alcança a 365oC e a pressão é mantida muito baixa (750 milibares). São
removidos todos os contaminantes, produtos de degradação e aditivos, fazendo com que o
lubrificante não apenas retorne à qualidade inicial, mas a supere. Apenas 12% do volume
processado convertem-se em resíduo sólido, denominado borra ou asfalto, seguindo
normalmente para cimenteiras onde é co-processado.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 422


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Logística reversa das embalagens de óleo lubrificante


O Ministério do Meio Ambiente publicou Edital de Chamamento Público
01/2011, de 28 de dezembro de 2011, no Diário Oficial da União em 29.12.2011,
convocando o setor afeito a apresentar proposta de acordo setorial para as embalagens de
óleos lubrificantes. Após a gênese da proposta, a qual passou pelas instâncias previstas pelo
Decreto Federal 7404/2010, o Acordo Setorial para Implantação do Sistema de Logística
Reversa de Embalagens Plásticas de Óleo Lubrificante foi assinado um ano após, no dia
19.12.2012 e teve seu extrato publicado no DOU de 07.02.2013. Ele tem como objetivo
garantir a destinação final ambientalmente adequada das embalagens plásticas usadas de
óleos lubrificantes de um litro ou menos. Trata-se do primeiro sistema de logística reversa
instituído nos termos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O mesmo foi firmado pela
ministra do Meio Ambiente e pelas seguintes entidades signatárias:
 Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de
Lubrificantes – SINDICOM;
 Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC;
 Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes –
FECOMBUSTÍVEIS;
 Sindicato Interestadual das Indústrias Misturadoras e Envasilhadoras de
Produtos Derivados de Petróleo – SIMEPETRO;
 Sindicato Nacional do Comércio Transportador-Revendedor-Retalhista de
Combustíveis – SindiTRR;
 Sindicato Interestadual do Comércio de Lubrificantes – SINDILUB.
O sistema foi dividido em 03 fases de implantação:
 Etapa 1 - Implantação do sistema nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste
(excluídos os estados do Piauí e do Maranhão). Esta etapa objetivou cobrir
70% dos municípios até 2014 e 100% dos municípios das unidades federativas
abrangidas até o final de 2016, recolhendo as embalagens disponibilizadas
pelos postos de serviços e concessionárias de veículos;
 Etapa 2 - Implantação do sistema nas Regiões Centro-Oeste e Norte além da
inclusão dos estados do Maranhão e Piauí recolhendo-se as embalagens
disponibilizadas pelos postos de serviços e concessionárias de veículos;
 Etapa 3 - Expansão do sistema para os demais segmentos de comercialização
além dos postos de serviços e concessionárias de veículos.
O sistema de logística reversa conta com a contratação de empresas coletoras
das embalagens, denominadas unidades de recebimento itinerante, com centrais de
recebimento, onde, em geral, procede-se a drenagem dos residuais de óleo contidos nas
embalagens, os quais são comercializados como óleo usado. Os serviços de coleta destinam-
se atualmente a postos de combustíveis e grandes revendedores, não atendendo oficinas

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 423


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

mecânicas e outros estabelecimentos, considerados consumidores. No entanto, tais


consumidores, assim como aqueles que utilizam os óleos diretamente em seus veículos têm
garantida a devolução das embalagens junto aos comerciantes do produto.
As embalagens encaminhadas às centrais de recebimento poderão ser
encaminhadas ou a empresas licenciadas para proceder à reciclagem de tais, ou a centrais
maiores, mantidas pelos fabricantes e importadores. Todo o sistema de translado das
embalagens, desde a coleta por unidades móveis até a reciclagem é monitorado,
registrando-se em sistema eletrônico as pesagens, assim como o é o sistema de logística
direta do produto novo. Da mesma forma, o acordo incumbe a União de monitorar todo o
sistema, de modo a obter condições de avaliar o seu percentual de efetividade.
Como exemplo, na Região Metropolitana de Porto Alegre encontra-se sediada
uma empresa contratada para a coleta das embalagens, a qual pode ser contatada por um
telefone 0800 (ligação gratuita). Atendendo a todo o estado do Rio Grande do Sul, dispõe de
uma central onde são drenadas e armazenadas as embalagens, as quais, após, seguem
diretamente para uma empresa recicladora de plástico (polietileno de alta densidade -
PEAD) licenciada. Além de atender aos comerciantes, inclusos os postos de combustíveis, a
empresa encontra-se oferecendo contratos para os municípios, para que esses, após
constituírem postos para recebimento das embalagens por consumidores tais quais oficinas
mecânicas e indivíduos que procedem à troca de óleo em suas residências, recebam coletas
por unidades móveis, oportunizando, desta maneira, a correta condução dos resíduos.
Em maio de 2017, o sítio eletrônico que assessora o sistema
(https://www.joguelimpo.org.br/institucional/index.php) informava que mais de 564
milhões de embalagens já haviam sido recolhidas e recicladas desde 2005.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 424


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. 2005. Resolução CONAMA 09, de 31 de agosto de 1993. Estabelece definições e


torna obrigatório o recolhimento e destinação adequada de todo o óleo lubrificante
usado ou contaminado. DOU de 01.10.1993.

_____. 1999. Portaria ANP 127, de 30 de julho de 1999. Regulamenta a atividade de coleta
de óleo lubrificante usado ou contaminado. DOU de 28.04.2000.

_____. 2005. Resolução CONAMA 362, de 23 de junho de 2005. Dispõe sobre o


recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. DOU
de 27.06.2005.

_____.2009. Resolução ANP 17, de 18 de junho de 2009. DOU de 19.06.2009.

_____.2009. Resolução ANP 18, de 18 de junho de 2009. DOU de 19.06.2009.

_____.2009. Resolução ANP 20, de 18 de junho de 2009. DOU de 19.06.2009.

_____.2010. Decreto Federal 7404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº


12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria
o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador
para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. DOU de
23.12.2010.

_____.2011. SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTE URBANO. Edital de


chamamento público. DOU de 29.12.2011.

_____.2013. SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTE URBANO. Extrato de acordo


setorial. DOU de 07.02.2013.

Resolução ANP 20, de 18 de junho de 2009. DOU de 19.06.2009.

_____. 2012. Resolução CONAMA 450, de 06 de março de 2012. Altera os arts. 9 , 16, 19, 20,
21 e 22, e acrescenta o art. 24-A à Resolução 362/2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente, que dispõe sobre recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante
usado ou contaminado. DOU de 07.03.2012.

_____. Portaria Interministerial 100, de 08 de abril de 2016. DOU de 11.04.2016.

CEMPRE. 2005. Óleo lubrificante usado – mercado para rerrefino (disponível em


http://www.cempre.org.br/fichas_tecnicas_oleo.php)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 425


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CREA-RS. 2005. Mais rigor no controle dos lubrificantes. Conselho em Revista. Ano II, nº 13.
CREA-RS; Porto Alegre, setembro de 2005. p.11-13.

LWART Rerrefino de óleos lubrificantes. Disponível em http://www.lwart.com.br. Acedido


em 03.09.2005.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 426


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.9 EMBALAGENS DE
AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos são compostos químicos sintéticos utilizados na agricultura e
pastagens, com a finalidade de agregarem-se a esses, e assim preservá-los da ação danosa
de seres vivos predadores ou hospedeiros nocivos, além de substâncias e produtos,
empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
Existem cerca de 15.000 formulações para 400 agrotóxicos diferentes, sendo que cerca de
8000 formulações encontram-se licenciadas no país. O Brasil é um dos cinco maiores
consumidores de agrotóxicos do mundo.
O termo “agrotóxico” sugere uma composição de toxicidade utilizada em
agricultura. As expressões “defensivo agrícola”, utilizada nos meios de fabricação,
distribuição e consumo, e “produto defensivo fitossanitário”, conforme se deseja agregar à
legislação brasileira, levam consigo o viés de uma visibilidade do produto em função de sua
função precípua, desviando-a do seu caráter de toxicidade, que pode afetar as pessoas e
animais quando da aplicação, ou quando do consumo dos produtos agrícolas cultivados em
áreas de sua aplicação. Combatidos frontalmente por ambientalistas e preservacionistas e
defendidos por grandes produtores rurais como forma efetiva de elevar a produção, dessa
maneira rebaixando preços dos produtos agrícolas no mercado, em função de uma maior
oferta, os compostos químicos produzidos para esse fim necessitam de um manejo
cuidadoso para sua aplicação e também para o descarte das suas embalagens. O pequeno
agricultor brasileiro ainda chama o agrotóxico de remédio das plantas e não reconhece o
perigo que ele representa para a sua saúde e para o ambiente.
Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS, em
doze países da América Latina e Caribe, demonstrou que o envenenamento por produtos
químicos, principalmente por pesticidas, representa 15% de todas as doenças profissionais
notificadas. O índice pode parecer pequeno, porém a Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que apenas um sexto dos acidentes sejam oficialmente notificados e registrados e
que 70% dos casos de intoxicação ocorrem em países do Terceiro Mundo, sendo que os
inseticidas organofosforados são responsáveis por 70% das intoxicações agudas. O manuseio
inadequado de agrotóxicos é, assim, um dos principais responsáveis por acidentes de
trabalho no campo. A ação das substâncias químicas no organismo humano pode ser lenta e
demorar anos para manifestar efeitos. O uso de agrotóxicos tem ocasionado diversas vítimas
fatais, além de abortos, geração de fetos com malformação, elevação dos números de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 427


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

suicídios, câncer, dermatoses e outras doenças. Segundo a OMS, ocorrem 20.000 óbitos/ano
em consequência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas nos países em
desenvolvimento como o Brasil.
O Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do planeta, supera em sete vezes a
média mundial de utilização de agrotóxicos [5,2 kg/(habitante.ano)]. A média brasileira, no
início dos anos 1980, era de 3,8 kg/(habitante.ano). Em 1986, o consumo elevou-se de
128.000 t/ano para 166.000 t/ano. O consumo cresceu, de 1964 para 1979, 421%, enquanto
que a produção das 15 principais culturas brasileiras, não ultrapassou um acréscimo de 5%
no mesmo período. Em 2016 o consumo estimado foi de 1.000.000 t (LUGLIO, 2016)
As embalagens vazias de agrotóxicos mantêm, em suas paredes, residuais dos
produtos, e, portanto, são consideradas resíduos perigosos. Ainda que haja um aparente
paradoxo em se aplicar muitos litros de produtos tóxicos no solo e depois preocupar-se com
reduzidos residuais presentes nas embalagens, a classificação estabelecida pela NBR
10004/2004 inclui tais embalagens na classe de risco ao ambiente e à saúde pública, em
função de toxicidade.
Os agrotóxicos são utilizados para combate de ácaros (acaricidas), fungos
(fungicidas), ervas daninhas (herbicidas), insetos (inseticidas) e nematóides (nematicidas). A
aplicação de um produto fitossanitário deve ser planejada de modo a evitar desperdícios e
sobras. Para isso é necessário considerar-se a dose a ser aplicada em função da praga e da
área a ser tratada.
A diferenciação de um agrotóxico, em função da sua utilização, modo de ação e
potencial ecotoxicológico ao homem, aos seres vivos e ao ambiente, obedece à classificação
do Quadro 4.9.1, segundo o Decreto 98.816/1990.
São instrumentos legais disciplinadores das atividades que se dão com
agrotóxicos no país:
 Lei Federal 7802/1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências.
 Decreto Federal 98.816/1990. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de
1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,
a propaganda comercial, a utilização, a importação e exportação, o destino
final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá
outras providências. Foi revogado pelo Decreto Federal 4074/2002.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 428


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.9.1 – Classificação dos agrotóxicos


Classe Classificação Identificação DL50 (mg/kg)* Dose Letal**
Extremamente
I Faixa vermelha Até 5 1 pitada - algumas gotas
tóxicos
II Altamente tóxicos Faixa amarela 5-50 algumas gotas -1 colher de chá
Medianamente 1 colher de chá - 2 colheres de
III Faixa azul 50-500
tóxicos sopa
Pouco tóxicos 500-5000 2 colheres de sopa- 1 copo
Muito pouco
IV Faixa verde Mais de 5000 1 copo – 1 litro
tóxicos
*DL50 = Dose necessária para matar metade das cobaias testadas.
** Dose capaz de matar uma pessoa adulta.
Fonte: baseado no Decreto Federal 98.816/1990

 Lei Federal 9974/2000. Altera a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe
sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e
embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.
 Decreto Federal 4074/2002. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989,
que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos
resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências. DOU de 08.01.2002.
 Resolução ANVISA RDC 48/2008. Dispõe sobre os procedimentos
administrativos para a reavaliação toxicológica de produtos técnicos e
formulados com base em ingredientes ativos com preocupação para a saúde e
altera dispositivos da RDC 10 de 22 de fevereiro de 2008. DOU, 08.07.2008.
 Resolução CONAMA 465/2014. Dispõe sobre os requisitos e critérios técnicos
mínimos necessários para o licenciamento ambiental de estabelecimentos
destinados ao recebimento de embalagens de agrotóxicos e afins, vazias ou
contendo resíduos. DOU de 08.12.2014.
Aplicam-se as normas técnicas da ABNT:
 NBR 13968/1997 - Embalagem rígida vazia de agrotóxico – Procedimentos de
lavagem.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 429


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 NBR 14719/2001 - Embalagem rígida vazia de agrotóxico – Destinação final da


embalagem lavada.
 NBR 14935/2003 - Embalagem vazia de agrotóxico – Destinação final de
embalagem não lavada – Procedimento.
A legislação federal disciplina a destinação final de embalagens vazias de
agrotóxicos e determina as responsabilidades para o agricultor, o revendedor, o fabricante e
para o governo, na questão de educação e comunicação. O não cumprimento dessas
responsabilidades poderá implicar em penalidades previstas na legislação específica e na Lei
de Crimes Ambientais (Lei Federal 9605/1998), como multas e até pena de reclusão.
A Lei 7802 de 11.07.1989 dispõe sobre a pesquisa, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle,
a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências. Em relação às embalagens fabricadas para acondicionar os agrotóxicos, a Lei
estabelece em seu artigo 6º:

I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento, evaporação,


perda ou alteração de seu conteúdo;
II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados pelo conteúdo ou
de formar com ele combinações nocivas ou perigosas;
III - devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes, de forma a não sofrer
enfraquecimento e a responder adequadamente às exigências de sua normal conservação;
IV - devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído ao ser aberto pela
primeira vez.
Parágrafo único. - Fica proibido o fracionamento ou a reembalagem de agrotóxicos e afins
para fins de comercialização, salvo quando realizados nos estabelecimentos produtores dos
mesmos.

O decreto regulamentador, 98.816/1990 determina, ainda, a que nas


embalagens devem constar em destaque, em alto relevo ou outra forma, informações que
determinem o seu não reaproveitamento. Além disso, a embalagem e a rotulagem dos
agrotóxicos e afins devem ser feitas de maneira a impedir que sejam confundidas com
produtos de higiene, farmacêuticas, alimentares, dietéticos, bebidas, cosméticos ou
perfumes.
O artigo 7º da Lei estabelece, entre outras determinações, que os rótulos
contenham informações sobre os equipamentos a serem utilizados e sobre o destino final
das embalagens.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 430


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A Lei Federal 9974/2000, a qual estabelece alterações e complementações às


obrigações instituídas pela Lei 7802, estipula, com relação às embalagens de agrotóxicos,
que sejam fabricadas e modo a facilitar as operações de lavagem, classificação, reutilização e
reciclagem. Determina, também, que os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins
deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos
comerciais em que foram adquiridos, de acordo com as instruções previstas nas respectivas
bulas, no prazo de até um ano, contado da data de compra, ou prazo superior, se autorizado
pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de
recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente.
A mesma Lei estabelece que as empresas produtoras e comercializadoras de
agrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação das embalagens
vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados, após a devolução pelos usuários,
e pela dos produtos apreendidos pela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou
em desuso, com vistas à sua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e
instruções dos órgãos registrantes e sanitário-ambientais competentes. Estabelece que para
serem comercializado ou expostos à venda em todo o território nacional, os agrotóxicos e
afins são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, redigidos em português, que
contenham, entre outros dados informações sobre os equipamentos a serem usados e a
descrição dos processos de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente, procedimentos para
a devolução, destinação, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização das embalagens
vazias e efeitos sobre o ambiente decorrentes da destinação inadequada dos recipientes.
No que diz respeito ao destino das embalagens vazias de agrotóxicos, são
responsabilidades instituídas pelo Decreto Federal 4074/2002, o qual veio substituir o
Decreto 98.816:
(1) Compete ao agricultor:
 preparar as embalagens vazias para devolvê-las nas unidades de recebimento.
Embalagens rígidas laváveis: efetuar a lavagem das embalagens (tríplice
lavagem ou lavagem sob pressão). Embalagens rígidas não laváveis: mantê-las
intactas, adequadamente tampadas e sem vazamento. Embalagens flexíveis
contaminadas: acondicioná-las em sacos plásticos padronizados;
 armazenar na propriedade, em local apropriado, as embalagens vazias até a
sua devolução;
 transportar e devolver as embalagens vazias, com suas respectivas tampas e
rótulos, para a unidade de recebimento indicada na nota fiscal pelo canal de
distribuição, no prazo de até um ano, contado da data de sua compra. Se,
após esse prazo, permanecer produto na embalagem. é facultada sua
devolução em até seis meses após o término do prazo de validade. É facultada
ao usuário a devolução de embalagens vazias a qualquer posto de
recebimento ou centro de recolhimento licenciado por órgão ambiental
competente e credenciado por estabelecimento comercial;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 431


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 manter em seu poder, para fins de fiscalização, os comprovantes de entrega


das embalagens (um ano), a receita agronômica (dois anos) e a nota fiscal de
compra do produto.
Embalagens laváveis são aquelas rígidas (plásticas, metálicas e de vidro) que
acondicionam formulações líquidas de agrotóxicos para serem diluídas em água (de acordo
com a norma técnica NBR 13968/1997). Embalagens não laváveis são todas aquelas flexíveis
e rígidas que não utilizam água como veículo de pulverização. Incluem-se nesta definição as
embalagens secundárias não contaminadas rígidas ou flexíveis.
No caso da calda no tanque do pulverizador, o seu volume deve ser calculado
adequadamente para evitar grandes sobras no final de uma jornada de aplicação. O
pequeno volume de calda que sobrar deve ser diluído em água e aplicado nas bordaduras da
área tratada ou nos carreadores. Se o produto que estiver sendo aplicado for um herbicida,
o repasse em áreas tratadas poderá causar fitotoxicidade e deve ser evitado. Se a sobra for
um produto concentrado, este deve ser mantido em sua embalagem original. O produtor
deve certificar-se de que a embalagem está fechada adequadamente e armazenar a mesma
em local seguro. Caso o produto venha a se tornar impróprio para utilização ou cair em
desuso, deve ser consultado o registrante através do telefone indicado no rótulo para sua
devolução e destinação final.
O procedimento da tríplice lavagem consiste em:
a) esvaziar completamente o conteúdo da embalagem no tanque do
pulverizador;
b) adicionar água limpa à embalagem até um quarto do seu volume;
c) tampar bem a embalagem e agitá-la por 30 segundos;
d) despejar a água de lavagem no tanque do pulverizador;
e) repetir duas vezes esta operação;
f) inutilizar a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.
A lavagem sob pressão somente pode ser realizada em pulverizadores com
acessórios adaptados para esta finalidade e consiste nos seguintes passos:
a) encaixar a embalagem vazia no local apropriado do funil instalado no
pulverizador;
b) acionar o mecanismo para liberar o jato de água;
c) direcionar o jato de água para todas as paredes internas da embalagem por
30 segundos;
d) a água de lavagem deve ser transferida para o interior do tanque do
pulverizador;
e) inutilizar a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.
(2) Compete aos comerciantes:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 432


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 disponibilizar e gerenciar unidades de recebimento para a devolução de


embalagens vazias pelos usuários/agricultores;
 executar o recolhimento e destinação de embalagens contendo produtos
impróprios para utilização ou em desuso;
 dispor de instalações adequadas para recebimento e armazenamento das
embalagens vazias devolvidas pelos usuários, até que sejam recolhidas pelas
respectivas empresas titulares do registro, produtoras e comercializadoras,
responsáveis pela destinação final dessas embalagens. Se não tiverem
condições de receber ou armazenar embalagens vazias no mesmo local onde
são realizadas as vendas dos produtos, os estabelecimentos comerciais
deverão credenciar posto de recebimento ou centro de recolhimento,
previamente licenciados, cujas condições de funcionamento e acesso não
venham a dificultar a devolução pelos usuários;
 no ato da venda do produto, informar aos usuários/agricultores sobre os
procedimentos de lavagem, acondicionamento, armazenamento, transporte e
devolução das embalagens vazias;
 informar o endereço da sua unidade de recebimento de embalagens vazias
para o usuário, fazendo constar esta informação no corpo da nota fiscal de
venda do produto;
 fazer constar, dos receituários que emitir, as informações sobre destino final
das embalagens;
 implementar, em colaboração com o poder público e empresas registrantes,
programas educativos e mecanismos de controle e estímulo à lavagem e à
devolução das embalagens vazias por parte dos usuários.
Todo comerciante de agrotóxico é obrigado (Lei 9.974/2000) a disponibilizar local
de recebimento de embalagens vazias, devidamente licenciado. É recomendável, por
questões práticas e financeiras, formarem-se associações regionais montadas para construir
e gerenciar as unidades de recebimento, atendendo assim o que determina a legislação. O
órgão a ser consultado para informações a respeito da matéria é o Instituto Nacional de
Processamento de Embalagens Vazias – INPEV, uma entidade sem fins lucrativos voltada a
promover, em todo o Brasil, a correta destinação das embalagens vazias de defensivos
agrícolas [telefone: (11) 3069-44.00; http://www.inpev.org.br/fale-conosco/index]. I INPEV é
mantido por empresas associadas, sobretudo fabricantes de agrotóxicos.
(3) Compete ao Fabricante:
 providenciar o recolhimento, e dar a destinação final adequada às
embalagens vazias devolvidas às unidades de recebimento em, no máximo,
um ano, a contar da data de devolução pelos usuários/agricultores;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 433


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 implementar, em colaboração com o poder público, programas educativos e


mecanismos de controle e estímulo à lavagem e à devolução das embalagens
vazias por parte dos usuários/agricultores;
 executar o recolhimento e destinação de embalagens contendo produtos
impróprios para utilização ou em desuso;
 alterar os modelos de rótulos e bulas para que constem informações sobre os
procedimentos de lavagem, armazenamento, transporte, devolução e
destinação final das embalagens vazias.
As unidades de recebimento devem ser ambientalmente licenciadas para o
recebimento das embalagens e podem ser classificadas em postos ou centrais, de acordo
com o tipo de serviço efetuado:
Postos de Recebimento: unidades que se destinam ao recebimento, controle e
armazenamento temporário das embalagens de agrotóxicos e afins, vazias ou contendo
resíduos, até que as mesmas sejam transferidas à central ou diretamente à destinação final
ambientalmente adequada, licenciadas ambientalmente segundo critérios estabelecidos
pela Resolução CONAMA 465/2014. Tais estabelecimentos são mantidos ou credenciados
por um ou mais estabelecimentos comerciais ou conjuntamente com os fabricantes.
Devendo contar com, no mínimo, 80 m2 de área, realizam os seguintes serviços:
 recebimento de embalagens lavadas e não lavadas;
 inspeção e classificação das embalagens entre lavadas e não lavadas;
 emissão de recibo confirmando a entrega das embalagens;
 encaminhamento das embalagens às centrais de recebimento.
Centrais de Recebimento: unidade que se destina ao recebimento, controle,
redução de volume, acondicionamento e armazenamento temporário de embalagens de
agrotóxicos e afins, vazias ou contendo resíduos, que atenda aos consumidores,
estabelecimentos comerciais e postos, até a retirada das embalagens e resíduos para a
destinação final ambientalmente adequada. As centrais são mantidas ou credenciadas por
um ou mais fabricantes e registrantes, ou conjuntamente com comerciantes. Devendo
contar com, no mínimo, 160 m2 de área, realizam os seguintes serviços:
 recebimento de embalagens lavadas e não lavadas (de agricultores, postos e
estabelecimentos comerciais licenciados);
 inspeção e classificação das embalagens entre lavadas e não lavadas;
 emissão de recibo confirmando a entrega das embalagens;
 separação das embalagens por tipo (PET, COEX, PEAD MONO, metálica,
papelão);
 compactação das embalagens por tipo de material;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 434


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 emissão de ordem de coleta para que o INPEV providencie o transporte para o


destino final (reciclagem ou incineração).
Os estabelecimentos comerciais, postos de recebimento e centros de
recolhimento de embalagens vazias fornecerão comprovante de recebimento das
embalagens onde deverão constar, no mínimo: (a) nome da pessoa física ou jurídica que
efetuou a devolução, (b) data do recebimento, e (c) quantidades e tipos de embalagens
recebidas. Deverá ser mantido à disposição dos órgãos de fiscalização sistema de controle
das quantidades e dos tipos de embalagens recebidas em devolução, com as respectivas
datas.
A questão relativa às embalagens de agrotóxicos é um exemplo de como uma
regulamentação eficiente, relativa ao pós-consumo, pode conduzir a um sistema organizado
de correto encaminhamento de resíduos perigosos. No âmbito da gestão municipal, cabe
apenas a fiscalização do cumprimento do regulamentado, buscando-se orientar
usuários/agricultores para que cumpram as determinações legais e não se exponham a
riscos desnecessários. A atuação firme frente a todos os entes da cadeia, da produção até o
consumo, é necessária, principalmente para que o cumprimento das obrigações garanta que
um cenário de abandono de embalagens de produtos altamente tóxicos em um ambiente
natural qualquer jamais ocorra.
Embora a questão referente às embalagens de agrotóxicos detenha uma
regulamentação eficaz, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei Federal 12.305/2010 –,
reforçou, em seu artigo 33, as obrigações atribuídas ao setor privado:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem,
após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos
perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do
SISNAMA, do SNVS e do SUASA, ou em normas técnicas.

Segundo o INPEV (2017) mais de 429.000 t de embalagens já foram recolhidas e


corretamente destinadas no país. Ainda segundo o Instituto, em 2012, 94% das embalagens
primárias de defensivos agrícolas (aquelas que entram em contato direto com o produto)
foram retiradas do campo e enviadas para a destinação ambientalmente correta, um
percentual muito acima da média mundial.
A principal notícia recente referente aos agrotóxicos no país refere-se ao Projeto
de Lei 3200/2015, o qual pretende flexibilizar regras para a utilização de agrotóxicos no país.
O PL é frontalmente combatido por organizações ambientalistas, que o acusam de ser uma

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 435


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

proposta para anular vários avanços legais existentes na legislação brasileira em termos de
proteção à saúde pública, buscando brechas para a facilitação dos agrotóxicos, o que viria ao
encontro não somente dos interesses da indústria de agrotóxicos mas, principalmente, do
modelo do agronegócio brasileiro.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 436


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1997. NBR 13968 – Embalagem rígida


vazia de agrotóxico procedimentos de lavagem. Rio de Janeiro, 1997.

________________________________________. NBR 14719 – Embalagem rígida vazia de


agrotóxico – Destinação final da embalagem lavada. Rio de Janeiro, 2001.

________________________________________. NBR 14935 – Embalagem vazia de


agrotóxico - Destinação final de embalagem não lavada – Procedimento. Rio de
Janeiro, 2003.

________________________________________. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio


de Janeiro, 2004.

BRASIL. Lei 7802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a


produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências. DOU de 12.07.1989.

______. Decreto 98.816, de 11 de janeiro de 1990. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho


de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial,
a utilização, a importação e exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o
registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências. DOU de 12.01.1990.

______. Lei 9974, de 06 de junho de 2000. Altera a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, que
dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização,
a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e
afins, e dá outras providências. DOU de 07.06.2000.

______. Decreto 4074, de 04 de janeiro de 2002. Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de


1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial,
a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o
registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências. DOU de 08.01.2002.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 437


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

______. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências. Dou de 13.02.1998.

______. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 48, de 7 de julho de 2008. Dispõe
sobre os procedimentos administrativos para a reavaliação toxicológica de produtos
técnicos e formulados com base em ingredientes ativos com preocupação para a saúde
e altera dispositivos da RDC 10 de 22 de fevereiro de 2008. DOU, 08.07.2008.

______. 2014. Resolução CONAMA 465, de 05 de dezembro de 2014. Dispõe sobre os


requisitos e critérios técnicos mínimos necessários para o licenciamento ambiental de
estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens de agrotóxicos e afins,
vazias ou contendo resíduos. DOU de 08.12.2014.

INPEV. 2017. http://www.inpev.org.br/index. Acedido em 06.05.2017.

LUGLIO, A. 2016. Consumo de agrotóxicos no Brasil. Disponível em


http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/alessandra-luglio/consumo-de-
agrotoxicos-no-brasil/. Acedido em 06.05.2017.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 438


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.10 RESÍDUOS DE REAGENTES


QUÍMICOS
Todos os materiais, sob determinadas condições, são passíveis de reação
química. Por essa conceituação, todos os materiais seriam reagentes químicos. Entretanto,
para efeitos práticos, são considerados reagentes químicos os compostos, em geral com
elevado grau de pureza, produzidos e acondicionados para utilização em laboratórios de
controle de qualidade, de pesquisas, de análises químicas e clínicas e de instituições de
ensino. É intrigante verificar-se, em muitas instituições, escolas e empresas, a total ausência
de responsabilidade técnica sobre a manutenção dos laboratórios e o gerenciamento dos
reagentes em uso e dos resíduos, o que expõe permanentemente indivíduos a riscos
desnecessários. A Figura 4.10.1 apresenta um cenário corriqueiro que um técnico chamado a
auxiliar na destinação de resíduos de laboratório encontra.

Figura 4.10.1 – Frascos de reagentes químicos

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 439


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No caso de indústrias há clara tendência à organização e à responsabilidade


tanto em relação aos químicos que constituem as matérias-primas, como em relação aos
reagentes dos setores de controle de qualidade.
A periculosidade dos compostos químicos (ácidos, hidróxidos, sais, óxidos,
compostos orgânicos) está associada a várias características, e seus residuais poderão
responder por uma ou mais características de toxicidade, inflamabilidade, corrosividade e
reatividade. Embora alguns compostos químicos sejam isentos de periculosidade, tais
correspondem a uma fração relativamente pequena.
Não há uma regra geral para condução do tratamento de resíduos de reagentes
químicos, tendo em vista as especificidades dos diferentes compostos. Fundamentalmente,
o conhecimento das características dos mesmos compostos e das possibilidades tecnológicas
para o seu reaproveitamento ou destinação (desde tão simples quanto co-disposição com
resíduos urbanos, no caso de compostos não perigosos até tão sofisticadas quanto a
incineração) norteará o técnico envolvido com o gerenciamento na adoção da estratégia
mais adequada ambiental e economicamente. Se por um lado não há como deixar de gerar
resíduos em um laboratório, JARDIM (2005) enfatiza que a execução de um projeto de
gerenciamento bem estruturado, utilizando conceitos de minimização, não geração e
segregação é a chave para evitarem-se acidentes e minimizarem-se os custos com o
tratamento dos resíduos. O autor elenca uma série de atividades de gerenciamento e de
modificação de posturas que levam à efetivação de um melhor controle e redução de custos
e de riscos no trato com reagentes e seus residuais. Adaptamos o rito estabelecido pelo
citado autor, que é apresentado a seguir:
1) inventário do passivo: o primeiro passo da implantação do gerenciamento de
resíduos em um laboratório é proceder a identificação dos resíduos nos
estados sólido, líquido e gasoso, abandonados, muitas vezes sem
identificação, em armários, capelas, estufas e embaixo de pias. É muito
comum encontrarem-se, dentro de erlenmeyers, soluções preparadas e não
identificadas (muitas vezes em duas fases), sais dentro de recipientes de
vidros não identificados e reagentes antigos em frascos já sem rótulo ou com
rótulo ilegível. Esta é uma etapa árdua e que exige paciência. A experiência
química poderá nortear o processo de identificação, partindo de
características como cor e odor. Dentro do rito de identificação é importante
que se inicie com a avaliação das características de periculosidade
(corrosividade, inflamabilidade, toxicidade, reatividade), ainda que tais
avaliações necessitem, muitas vezes, do próprio conhecimento de composição
para serem efetivadas. Somente a partir de uma razoável identificação das
características do resíduo podem-se avaliar as possibilidades de tratamento. O
autor anteriormente citado apresenta sugestões de análises simplificadas que
podem ser úteis, que são reproduzidas no Quadro 4.10.1. O passivo deve
gerar uma listagem completa com a identificação de cada resíduo específico,
o seu quantitativo e a sua forma de acondicionamento.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 440


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.10.1 – Procedimentos simples para caracterização preliminar de um resíduo


laboratorial
Teste a ser realizado Procedimento a ser seguido
Adicione uma gota de água e observe se há a formação de chama, geração
Reatividade com água
de gás, ou qualquer outra reação violenta.
Adicione 1 gota de cloroamina-T e uma gota de ácido barbitúrico/piridina
Presença de cianetos
em 3 gotas de resíduo. A cor vermelha indica teste positivo.
Na amostra acidulada com HCl, o papel embebido em acetato de chumbo
Presença de sulfetos
fica enegrecido quando na presença de sulfetos.
pH Usar papel indicador ou pHmetro.
A oxidação de um sal de Mn+2, de cor rosa claro para uma coloração escura
Resíduo oxidante
indica resíduo oxidante.
Observa-se a possível descoloração de um papel umedecido em 2,6-
Resíduo redutor
dicloro-indofenol ou azul de metileno.
Enfie um palito de cerâmica no resíduo, deixe escorrer o excesso e
Inflamabilidade
coloque-o na chama.
Coloque um fio de cobre limpo e previamente aquecido ao rubro no
Presença de
resíduo. Leve à chama e observe a coloração: o verde indica a presença de
halogênios
halogênios.
Solubilidade em água Após o ensaio de reatividade, a solubilidade pode ser avaliada facilmente.
Fonte: JARDIM (2005)

2) inventário do ativo: para fins de gerenciamento da geração futura de resíduos


é importante que sejam listados todos os compostos químicos em utilização
no laboratório, que fatalmente gerarão resíduos com o tempo. Embora para
frascos acondicionados de maneira correta preveja-se elevada durabilidade
dos rótulos, seria importante ciclicamente efetuar revisão;
3) pesquisa de reaproveitamento, estocagem e disposição final: para cada
reagente utilizado no laboratório, especificamente, e para cada residual
identificado, deverão ser pesquisados reaproveitamentos e possibilidades de
destinação. O reaproveitamento poderá, em muitos casos, ser logrado no
próprio laboratório (por exemplo, um resíduo ácido poderá, sob certas
condições, ser aproveitado em um ensaio onde se requeira uma simples
redução de pH). Deverá ser efetuada uma ampla pesquisa sobre
possibilidades de aproveitamento de certos residuais em indústrias da região
e deverão ser verificadas condições específicas para o tratamento de cada
composto pelos processos tecnológicos disponíveis regionalmente (como
incineração, co-processamento, aterros para resíduos perigosos e processos
de inertização/encapsulamento). Se houver um projeto de bolsa de resíduos
na região, este constituir-se-á em uma oportunidade de destinação,
possivelmente sem custos, ou até com receita. Alguns resíduos apresentam
baixa periculosidade e alta biodegradabilidade podendo ser lançados, com
elevado grau de diluição, na rede de esgotos. UNESP (2002) apresenta uma

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 441


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

coleção de resíduos químicos que podem ser lançados, sem maiores


problemas, na rede de esgotos (devem-se verificar as questões legais locais
previamente ao descarte):
Orgânicos:
 álcoois com menos de 5 carbonos;
 dióis com menos de 8 carbonos;
 glicerol;
 açúcares;
 aldeídos alifáticos com menos de 7 carbonos;
 amidas: R-CONH2 e R-CONHR c/menos de 5 carbonos, RCONR2
com menos de 11 carbonos;
 aminas alifáticas com menos de 7 carbonos;
 ácidos carboxílicos com menos de 6 carbonos e seus sais de
amônia, sódio e potássio;
 ésteres com menos de 5 carbonos;
 cetonas com menos de 6 carbonos;
 açúcares, amido, aminoácidos e sais de ocorrência natural, ácido
cítrico e seus sais (de sódio, potássio, magnésio, cálcio e amônio);
ácido lático e seus sais (de sódio, potássio, magnésio, cálcio e
amônio);
Inorgânicos
 cátions: Al+3, Ca+2, Cu+2, Fe+2, Fe+3, Li+, Mg+2, Na+, NH4+, Sn+2, Sr+2,
Zn+2, Zr+2;
 ânions: BO3-3, B4O7-2, Br- , CO3-2, Cl-, HSO-3, I-, NO3-, SO4-2, SCN- SO3-
2
, OCN-;
 sulfatos, fosfatos, carbonatos de sódio, potássio, magnésio, cálcio,
estrôncio, bário e amônio;
 óxidos de boro, magnésio, cálcio, estrôncio, alumínio, silício,
titânio, manganês, ferro, cobre, cobalto e zinco;
 cloretos de sódio, potássio e magnésio;
 fluoretos de cálcio;
 boratos de sódio, potássio, magnésio e cálcio;
Materiais assemelhados a resíduos domésticos

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 442


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 compostos com DL50> 500 mg/kg, não inflamáveis ou reativos,


com toxicidade crônica baixa;
Outros materiais de laboratório não contaminados com produtos
químicos perigosos:
 adsorventes cromatográficos: sílica, alumina, etc.;
 material de vidro;
 papel de filtro;
 luvas e outros materiais descartáveis.
Conforme indica UNESP (2002), em laboratórios:
 em geral, podem ser descartados diretamente na pia (após diluição de 100
vezes e sob água corrente) os compostos solúveis em água (pelo menos 0,1
g ou 0,1 mL/3 mL de água) e com baixa toxicidade. Para os orgânicos é
preciso que também sejam facilmente biodegradáveis;
 compostos com ponto de ebulição inferior a 50oC não devem ser
descartados na pia, mesmo que extremamente solúveis em água e pouco
tóxicos;
 misturas contendo compostos pouco solúveis em água, em concentrações
abaixo de 2% podem ser descartadas na pia;
 compostos com características ácido-base pronunciadas (pH<6 ou pH>8)
deverão ser neutralizados antes do descarte;
 Compostos com odor forte devem ser neutralizados/destruídos, diluídos
pelo menos 1000 vezes com água e depois descartados sob água corrente.
4) adoção de gestão padronizada dos resíduos químicos, através de uma
hierarquização de atitudes, as quais seguem:
4.1) otimização de rotinas no laboratório: consiste em (1) evitarem-se
desperdícios de água e energia elétrica através do reciclo de água
potável utilizada em resfriamento nos condensadores, por exemplo, e
gestão eficiente de fornos e equipamentos elétricos, (2) bem como
controlar-se o estoque de reagentes no laboratório, evitando que este
acabe constituindo-se em um almoxarifado;
4.2) mudança de escala: normalmente utilizam-se em ensaios laboratoriais
quantitativos de 1 a 25 g de reagentes sólidos e 10 a 250 mL de
reagentes líquidos. A mudança de escala, para utilização de massas
inferiores a 1,0 g e volumes de poucos mililitros levará à redução
significativa da geração de resíduos, bem como melhorará as questões
de salubridade no laboratório e diminuirá as quantidades de vidrarias
necessárias. Porém isso ensejará todo um protocolo de validação

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 443


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

analítica, para que os ensaios e determinações convertidos a uma


microescala detenham validade científica;
4.3) substituição de reagentes e procedimentos: as metodologias analíticas
devem consolidar-se no sentido de sua adequação e da fidedignidade
dos resultados. No entanto, tais encontram-se permanentemente em
curso de modificações, para que se possa operar com reagentes menos
perigosos, o que leva à redução de riscos aos laboratoristas e de
periculosidade dos resíduos. A atenção à substituição de métodos é um
upgrade importante que deve ser buscado continuamente, de modo a
adotarem-se novos procedimentos consagrados, que levem à obtenção
de resultados igualmente confiáveis, porém utilizando reagentes menos
agressivos;
4.4) reuso: o item 3 deve conduzir a procedimentos de aproveitamento dos
resíduos no próprio laboratório ou externamente;
4.5) reciclagem: o mesmo item 3 deve conduzir a possibilidades de
processamento de resíduos que gerem produtos de interesse, como por
exemplo, recuperação de solventes por destilação, aproveitamento de
metais nobres presentes em resíduos, recuperação de catalisadores,
etc.;
4.6) segregação de resíduos: os diferentes residuais terão diferentes
encaminhamentos, portanto faz-se necessária sua segregação (evitar a
mistura), com vistas a que não se formem passivos compostos de
multicaracterísticas de periculosidade. Por exemplo, solventes clorados
não costumam ter aceitação em incineradores devido ao seu potencial
de formação de dioxinas e furanos, portanto devem ser segregadas
correntes de halogenados e não halogenados. Resíduos contendo
metais pesados podem ter um processamento especial, como por
exemplo, por encapsulamento, não sendo apropriado misturá-los com
resíduos isentos de tais metais. Assim, de acordo com o levantamento
de ativos e o conhecimento das possibilidades disponíveis para
encaminhamento, diversas correntes de resíduos de características
peculiares serão estabelecidas, de acordo com a sua destinação (à
incineração, à reciclagem, ao co-processamento, ao aterro para resíduos
perigosos, ao encapsulamento, etc.);
4.7) sistema de referenciamento dos residuais gerados: é preciso que haja
um controle de todos os resíduos gerados e soluções preparadas, no
sentido de que sejam identificados, através de rótulo, com as indicações
de composição, data de preparo ou geração e responsável pelo
material. Deve-se constituir um banco de registros com os mesmos
dados e com os registros de baixas (resíduos e soluções enviadas para

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 444


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

reciclagem ou destinação final), de modo a evitar novamente a


formação de um passivo;
4.8) responsabilidade técnica e certificação ambiental: a responsabilização e
a documentação são passos importantes em busca da qualificação. Todo
laboratório deve ter um responsável técnico, preferencialmente com
anotação de responsabilidade técnica no conselho profissional. Todos os
usuários do laboratório e responsáveis da instituição devem manter
telefone/endereço de contato com o responsável para eventuais
ocorrências. Todo resíduo encaminhado ao reaproveitamento ou
tratamento deve demandar uma certificação pela empresa que
processá-lo, com vistas à comprovação documental da gestão dos
resíduos.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 445


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

JARDIM, Wilson F. 2005. Gerenciamento de resíduos químicos. UNICAMP: Campinas, 2005.


19p.

UNESP. 2002. Gerenciamento de resíduos químicos. Normas gerais – revisão 2002. São
Paulo: UNESP, 2002: 14p.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 446


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

4.11 RESÍDUOS SÓLIDOS DE


SERVIÇOS DE SAÚDE
Resíduos sólidos de serviços de saúde são definidos, pelas normas brasileiras de
terminologia, classificação, manuseio e coleta de tais tipologias de resíduos como “resíduos
resultantes das atividades exercidas por estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde”. A preocupação secular com os resíduos gerados em hospitais provém de registros
históricos de indivíduos que adquiriram doenças ao manusear resíduos gerados nesses
estabelecimentos, pelo fato de tais conterem vírus e microrganismos provenientes de
pessoas infectadas em tratamento, e que se concentraram ou mesmo se desenvolveram em
meio aos resíduos armazenados em tais ambientes. Embora, ao longo do tempo, a
preocupação tenha residido principalmente nos resíduos gerados em hospitais, toda uma
série de estabelecimentos onde se produzem resíduos contaminados por sangue, excreções,
secreções, tecidos e saliva provenientes de potenciais portadores de doenças transmissíveis,
são geradores de resíduos de potencial risco biológico, que se inserem na Classe I da
classificação estabelecida pela NBR 10004/2004, em função de sua característica de
potencial patogenicidade. Com o avanço da medicina e dos procedimentos, assumem, cada
vez mais, papel relevante, outros tipos de resíduos perigosos: os de risco químico, ou seja,
que apresentam características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade, e
aqueles de risco radioativo. Modernamente, as resoluções das agências federais brasileiras
de meio ambiente e de vigilância sanitária elencam uma série de estabelecimentos como
geradores de resíduos sólidos de serviços de saúde:
 serviços de atendimento à saúde humana e animal;
 serviços de assistência domiciliar à saúde humana e animal;
 trabalhos de campo;
 laboratórios analíticos de produtos para a saúde;
 necrotérios, funerárias e serviços onde se realiza embalsamamento
(tanatopraxia e somatoconservação);
 serviços de medicina legal;
 drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação;
 estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 447


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 centros de controle de zoonoses;


 distribuidores de produtos farmacêuticos;
 importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para
diagnósticos in vitro;
 unidades móveis de atendimento à saúde;
 serviços de acupuntura;
 serviços de tatuagem;
 outros similares.
Embora resíduos de risco químico e radioativo sejam preocupação corrente, sua
geração, na instância de um serviço de saúde é bem menor do que a geração de resíduos
com características de risco biológico, e o seu potencial de periculosidade pode ser muito
bem controlado através de uma boa gestão, visto não apresentarem um componente
dinâmico, o que no caso dos resíduos de risco biológico pode ser compreendido como
crescimento celular e geração de toxinas ao longo do tempo de armazenagem do resíduo.
Tais resíduos conterão microrganismos que podem apresentar multirresistência ao ambiente
hospitalar, em função da ação seletiva de antibióticos e quimioterápicos. Os organismos e
toxinas presentes nos resíduos poderão exercer sua ação sobre pacientes com defesas
imunológicas suprimidas por processos patológicos, pela severidade dos tratamentos a que
foram submetidos ou pelo uso de imunossupressores, sobre idosos, recém-nascidos e sobre
outros indivíduos que, pelo simples fato de procurarem o serviço de saúde, provavelmente
apresentem alguma debilidade que os torna mais suscetíveis à contração de doenças.
Além dos pacientes, os profissionais da área médica e paramédica, bem como os
funcionários encarregados do manuseio dos resíduos dentro e fora dos estabelecimentos,
pela frequência com que se aproximam dos resíduos potencialmente infectantes, ficam
submetidos a uma razoável probabilidade de aquisição de enfermidades transmissíveis pelos
agentes biológicos presentes nos resíduos. Alguns resíduos gerados nos ambientes de
tratamento de saúde são instrumentais utilizados em procedimentos invasivos, como
lâminas, scalps e agulhas. Tais são denominados perfurocortantes, por sua peculiar
característica de poderem ocasionar ferimentos por punção, corte ou escarificação, desta
forma praticamente inoculando vírus, bactérias e outros microrganismos nos organismos dos
indivíduos que vierem a sofrer ferimentos decorrentes do manuseio de tais resíduos.
Retirados dos ambientes em que foram gerados, os resíduos sólidos de serviços
de saúde (RSSS) oferecerão risco a quem eventualmente a eles tiver acesso. Dentro da
realidade nacional vigente, suspeita-se que boa parcela dos resíduos de risco biológico ainda
é recolhida por coletas ordinárias, sendo os resíduos encaminhados a vazadouros. Os
indivíduos alocados a essas coletas em geral não dispõem de EPI adequado para o manuseio
e, frequentemente, os vazadouros e lixões concentram catadores, animais e outros
indivíduos interessados em executar triagem dos resíduos para fins de sua sobrevivência.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 448


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No Brasil, o primeiro instrumento que disciplinou o manejo de resíduos sólidos


de serviços de saúde foi a Portaria Interministerial 53/1979, que em seu item VI
determinava: “todos os resíduos sólidos portadores de agentes patogênicos, inclusive os de
estabelecimentos hospitalares e congêneres, assim como alimentos e outros produtos de
consumo humano condenados, deverão ser adequadamente acondicionados e conduzidos
em transporte especial, nas condições estabelecidas pelo órgão estadual de controle de
poluição e preservação ambiental e, em seguida, obrigatoriamente incinerados”.
Em 1991, após pressões de movimentos ambientalistas, que se posicionavam
contrários ao emprego de incineradores no país, a Resolução CONAMA 06/1991 revogou a
obrigatoriedade da incineração como forma única de tratamento de RSSS.
No início de 1993, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – expediu
uma coleção de quatro normas referentes a RSSS:
 NBR 12807/1993 – “Resíduos de serviços de saúde – Terminologia”;
 NBR 12808/1993 – “Resíduos sólidos de serviços de saúde – Classificação”;
 NBR 12809/1993 – “Manuseio de resíduos de serviços de saúde –
Procedimento”;
 NBR 12810/1993 – “Coleta de resíduos de serviços de saúde – Procedimento”.
O conjunto de normas estabeleceu padronizações para os procedimentos de
coleta interna e externa, armazenamento e manuseio dos RSSS, pela primeira vez
disciplinando o assunto com certa rigidez científica. A NBR 12808 estabeleceu, pela primeira
vez, a classificação dos RSSS. Essa classificação é apresentada no Quadro 4.11.1.
Somente em 1993 o CONAMA expediu resolução referente aos resíduos de
serviços de saúde, de portos, aeroportos e de terminais ferroviários, estabelecendo uma
classificação para os resíduos sólidos de serviços de saúde. A Resolução 05/1993 estabelece
uma série de procedimentos a serem aplicados a resíduos provenientes dos serviços de
saúde ou àqueles que por serem provenientes de áreas endêmicas possam oferecer risco
biológico. Essa resolução estabeleceu uma nova classificação para os RSSS, que, em termos
gerais segue a mesma linha da classificação estabelecida pela NBR 12808/1993, mas que
ocasionou grande confusão em virtude de também estabelecer classes A, B e C e ainda uma
classe D, apenas a classe A harmonizando-se com a também denominada “Classe A” da NBR
12808/1993. Em linhas gerais, a classificação estabelecida pela Resolução CONAMA 05/1993
é a seguinte:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 449


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.1 – Classificação dos RSSS conforme a NBR 12808/1993


Classe Tipo Descrição
Biológico: cultura, inóculo, mistura de organismos e meio de cultura inoculado
proveniente de laboratório clínico ou de pesquisa, vacina vencida ou inutilizada,
A.1 filtro de gases aspirados de áreas contaminadas por agentes infectantes e
Classe A – Resíduos Infectantes

qualquer resíduo contaminado por estes materiais.


Sangue e hemoderivados: bolsa de sangue após transfusão, com prazo de validade
A.2 vencido ou sorologia positiva, amostra de sangue para análise, soro, plasma e
outros subprodutos.
Cirúrgico, anatomopatológico e exsudado: tecido, órgão, feto, peça anatômica,
A.3 sangue e outros líquidos orgânicos resultantes de cirurgia, necropsia e resíduos
contaminados com esses materiais.
A.4 Perfurante ou cortante: agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro.
Animal contaminado: carcaça ou parte de animal inoculado, exposto a
A.5 microrganismos patogênicos ou portador de doença infecto-contagiosa, bem
como resíduos que tenham estado em contato com este.
Assistência ao paciente: secreções, excreções e demais líquidos orgânicos
A.6 procedentes de pacientes, bem como resíduos contaminados por estes materiais,
inclusive restos de refeições.
Rejeito radioativo: material radioativo ou contaminado com radionuclídeos
B.1 proveniente de laboratórios de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e
Classe B –
Resíduo
Especial

radioterapia.
Resíduo farmacêutico: medicamento vencido, contaminado, interditado ou não
B.2 utilizado.
Resíduo químico perigoso: resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo, reativo,
B.3 genotóxico ou mutagênico, conforme a NBR 10004
Todos aqueles que não se enquadram nos tipos A e B, e, por sua semelhança aos
Classe C –
Resíduo
Comum

resíduos domésticos, não oferecem risco à saúde pública. Por exemplo: resíduo da
atividade administrativa, dos serviços de varrição e limpeza de jardins e restos
alimentares que não entraram em contato com pacientes.
Fonte: NBR 12808/1993

 Grupo A: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio


ambiente devido à presença de agentes biológicos (basicamente os mesmos
resíduos elencados nos tipos A.1-A.6 da NBR 12808/1993);
 Grupo B: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio
ambiente, devido às suas características químicas (quimioterápicos e resíduos
contaminados por tais, resíduos farmacêuticos, e produtos perigosos
conforme a NBR 10004);
 Grupo C: rejeitos radioativos;
 Grupo D: resíduos comuns, não pertencentes aos demais grupos.
A questão relacionada à classificação dos RSSS, e, principalmente à sua
destinação e à necessidade de passarem por tratamento preliminar à disposição final, com
vistas à redução das concentrações de organismos patogênicos gerou muita controvérsia ao

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 450


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

longo da década de 1990. Haviam posições antagônicas provindas de especialistas em


diversas áreas. De certa forma, posições conservadoras, no sentido de considerar perigoso,
por patogenicidade, todo e qualquer tipo de resíduo que manteve contato com qualquer
paciente, eram defendidas especialmente por empresas fornecedoras de serviços de
tratamento de RSSS e de insumos para seu acondicionamento e transporte, ao passo que,
por vezes, opiniões bastante liberais sobre o assunto eram proferidas por especialistas das
áreas médicas, especialmente da infectologia e epidemiologia. A questão, sendo
frequentemente lançada às esferas políticas regionais, originou o estabelecimento de
posições de cunho meramente político-partidário, infelizmente na maioria das vezes
completamente desprovidas do mínimo embasamento científico. Felizmente,
posicionamentos sérios, maduros e científicos, providos de bases técnico-acadêmicas e
fundamentados em pesquisas sérias, conduziram e permanecem conduzindo as discussões
em patamares mais elevados.
Deve-se atentar ao fato de que há muitos paradoxos, do ponto de vista prático,
envolvidos na questão do risco biológico de resíduos sólidos. A rigor, qualquer resíduo
domiciliar comum que tenha entrado em contato com indivíduos poderá portar certo
número de organismos patogênicos. Muitas pessoas são portadoras de microrganismos
patogênicos de alta virulência, mas podem não ter desenvolvido as respectivas
enfermidades, ou podem estar no início do seu desenvolvimento, ainda assintomático. Por
fim, pessoas portadoras de doenças transmissíveis podem estar convivendo com as mesmas,
sem estarem sendo tratadas, ou recebendo tratamento em seus domicílios. Os resíduos
produzidos por essas pessoas, principalmente o papel higiênico usado e os absorventes
íntimos, conterão patogênicos, e nem por isso serão usualmente considerados, para fins de
coleta e destinação, resíduos de risco biológico. Por mais elaborada que seja uma
determinada classificação, jamais poderá solucionar todos os paradoxos que coexistem.
O autor, em 2004 palestrando sobre a temática resíduos sólidos de serviços de
saúde em um evento do conselho de odontólogos do Rio Grande do Sul, foi questionado
sobre “por quê o dentistas precisam esterilizar o seu material cirúrgico entre intervenções
com diferentes pacientes ao passo que não é obrigatório aos restaurantes esterilizar os
talheres, os quais serão também utilizados por diferentes clientes?”.
Entretanto, a evolução do conhecimento e das negociações sociais direciona,
paulatinamente, o processo a um equilíbrio ou “meio-termo”, em que, observando-se os
paradoxos, será inferida uma criterização da classificação mais ou menos moderada e mais
ou menos conservadora, de modo que possam ser assegurados os requisitos de proteção à
saúde pública e ao ambiente, porém evitando-se o desperdício de recursos de forma inútil.
SCHNEIDER et al. (2001) inferem que a transmissão de doenças por agentes
biológicos não se dá de maneira direta, independentemente de características dos resíduos
e do hospedeiro. Para tanto, citam que são necessárias quatro condições para que um
determinado resíduo transmita doenças a um determinado indivíduo:
 dose infectante necessária, ou seja, concentração necessária de vírus ou
bactérias presentes no resíduo;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 451


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 capacidade de transmissão do agente infeccioso (diferenciada para os


diferentes agentes);
 resistência do hospedeiro em contato com o resíduo, oriunda da eficiência do
seu sistema imunológico, da vacinação, do próprio antecendente de contato
com o agente infeccioso e do estado de saúde do indivíduo quando do
contato;
 porta de entrada: a forma de penetração do patógeno no organismo
hospedeiro: via respiratória, inalação, cutânea ou por injeção.
Em 2001 o CONAMA expediu uma nova resolução (283/2001) versando sobre
resíduos sólidos de serviços de saúde, de forma a complementar certos aspectos da
Resolução 05/1993. A Resolução 283/2001 apresentou-se ainda como um documento
conservador. Um aspecto importante dessa resolução, e que viria a ser revogado mais tarde
a partir da revogação da própria resolução, é a obrigação da devolução verticalizada de
medicamentos residuários, ao fabricante.
Em 2003 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária expediu a Resolução da
Diretoria Colegiada nº 33 (RDC ANVISA 33/2003) tratando do mesmo assunto, RSSS. Essa
resolução, com regramentos contrastando frontalmente com os expressos nas resoluções
anteriores do CONAMA, apresentou-se muito mais liberal, retirando do grupo de risco
biológico vários resíduos, inclusive, no caso mais dramático, bolsas de sangue com residuais
inferiores a 50 mL. O impasse foi gerado, muito provavelmente por uma visão mais
operacional da ANVISA, voltada à gestão interna dos resíduos nos estabelecimentos de
saúde (“intra-muros”), contrastando com uma visão de cunho mais ambiental do CONAMA
(voltada para fora dos muros do hospital). A RDC 33/2003 originou um novo grupo de
classificação de resíduos, o “Grupo E”, constituído por materiais perfurocortantes,
contemplados, até então, no Grupo A das resoluções do CONAMA.
Em função de serem contraditórias as citadas resoluções, a partir de uma
indefinição dos limites que cada agência nacional teria para regulamentar o assunto, em
2004 foi constituído um grupo técnico com participantes da Agência e do Conselho, visando
à harmonização das regulamentações. Este objetivo, de fato, foi alcançado, e as resoluções
CONAMA 283/2001 e ANVISA RDC 33/2003 foram revogadas pelas novas resoluções, ANVISA
RDC 306/2004 e CONAMA 358/2005, harmônicas entre si, que, embora sejam textos mais
liberais em relação às antigas resoluções do CONAMA, mantêm restrições importantes para
a grande maioria dos resíduos de saúde que mantiveram contato com pacientes, que
continuam inclusos no grupo de risco biológico.
São definições importantes da RDC 306/2004 da ANVISA:
 não é aplicada a indústrias de produtos para a saúde e a fontes radioativas
seladas (que devem seguir determinações da Comissão Nacional de Energia
Nuclear – CNEN);
 Art. 2º - Compete à Vigilância Sanitária dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal, com o apoio dos Órgãos de Meio Ambiente, de Limpeza

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 452


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Urbana, e da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, divulgar, orientar


e fiscalizar o cumprimento desta Resolução;
 Art. 3º - A vigilância sanitária dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal, visando o cumprimento do Regulamento Técnico, poderão
estabelecer normas de caráter supletivo ou complementar, a fim de adequá-lo
às especificidades locais;
A RDC 306/2004, além de instituir sacos de cor vermelha para acondicionamento
de determinados resíduos do Grupo A, exige incineração como forma única de tratamento
em vários casos. O Quadro 4.11.2 apresenta a classificação instituída pela RDC 306/2004.

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Cultura e estoques de microrganismos; TRATAMENTO:
 Resíduos de fabricação de produtos NÃO PODEM DEIXAR A UNIDADE SEM TRATAMENTO PRÉVIO.
biológicos (exceto hemoderivados); REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
 Meios de cultura e instrumentais DESTINO FINAL:
utilizados para transferência, inoculação SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS,
ou mistura de culturas; TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
 Resíduos de laboratórios de manipulação SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICIONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
genética.
A1 TRATAMENTO:
NÃO PODEM DEIXAR A UNIDADE SEM TRATAMENTO PRÉVIO.
 Resíduos resultantes de atividades de REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
vacinação com microrganismos vivos ou QUANDO PROVENIENTES DE ATIVIDADE DE VACINAÇÃO
atenuados, incluindo frascos de vacinas PÚBLICA, DEVEM SER RECOLHIDOS EM RECIPIENTE RÍGIDO
com expiração do prazo de validade, com IMUNE A PERFURAÇÃO, CORTE E VAZAMENTO, ÀS SECRETARIAS
conteúdo inutilizado, vazios ou com DE SAÚDE PARA TRATAMENTO.
DESTINO FINAL:
restos do produto, agulhas e seringas. SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 453


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Resíduos de atenção à saúde humana ou TRATAMENTO:
animal com suspeita ou certeza de ACONDICIONAMENTO EM SACOS VERMELHOS.
contaminação por agentes da classe de REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
DE INATIVAÇÃO.
risco 4, microrganismos com relevância
DESTINO FINAL:
epidemiológica, causadores de doenças SE HOUVER DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
emergentes ou epidemiologicamente TRATAR COMO RESÍDUO DO GRUPO D;
importantes ou com mecanismo de SEM DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ESTRUTURAS:
ACONDICIONAR EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS.
transmissão desconhecido.
TRATAMENTO:
A1  Bolsas transfusionais contendo sangue ou ACONDICIONAMENTO EM SACOS VERMELHOS.
REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III
hemocomponentes rejeitadas por DE INATIVAÇÃO E QUE GARANTA DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA
contaminação ou má conservação, ou DAS ESTRUTURAS, TORNANDO-AS IRRECONHECÍVEIS.
com prazo de validade vencido, e aquelas SE O TRATAMENTO FOR EXECUTADO FORA DA INSTALAÇÃO
GERADORA, OS RESÍDUOS DEVEM SER RECOLHIDOS EM
oriundas de coleta incompleta;
RECIPIENTE RÍGIDO IMUNE A PERFURAÇÃO, CORTE E
 Sobras de amostras de laboratório VAZAMENTO, PARA TRATAMENTO.
contendo líquidos corpóreos, recipientes DESTINO FINAL:
e materiais resultantes do processo de PODEM SER DESCARTADOS COMO RESÍDUOS DO GRUPO D;
SOBRAS DE AMOSTRAS DE LABORATÓRIO CONTENDO SANGUE
assistência à saúde, contendo sangue ou OU LÍQUIDOS CORPÓREOS PODERÃO SER DESTINADAS À REDE
líquidos corpóreos na forma livre. DE ESGOTOS, RESPEITADOS OS CONDICIONANTES DOS ÓRGÃOS
DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e RESÍDUOS COM ORGANISMOS DA CLASSE DE RISCO 4: REDUÇÃO
outros resíduos provenientes de animais DA CARGA MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
INATIVAÇÃO NO LOCAL DE GERAÇÃO E, POSTERIORMENTE,
submetidos a experimentação com DESTINAÇÃO À INCINERAÇÃO;
inoculação de microrganismos, bem OS DEMAIS RESÍDUOS: REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
A2 como suas forrações; COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE INATIVAÇÃO, QUE PODE SER
 Cadáveres de animais suspeitos de FEITA FORA DO LOCAL DA GERAÇÃO MAS NÃO FORA DO LOCAL
DE SERVIÇO. DESTINAÇÃO: (1) CEMITÉRIO DE ANIMAIS OU (2)
portarem microrganismos de relevância EM SACOS BRANCOS-LEITOSOS IDENTIFICADOS COMO “PEÇAS
epidemiológica com risco de ANATÔMICAS DE ANIMAIS” PARA DESTINAÇÃO A ATERRO
disseminação. SANITÁRIO LICENCIADO OU LOCAL LICENCIADO PARA
DESTINAÇÃO DE RSSS.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 454


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Peças anatômicas humanas, produto de
fecundação sem sinais vitais, com peso TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
(1) SEPULTAMENTO EM CEMITÉRIO, AUTORIZADO PELO ÓRGÃO
menor que 500 g ou estatura menor do
A3 que 25 cm, ou idade gestacional inferior a
COMPETENTE OU (2) INCINERAÇÃO OU CREMAÇÃO,
LICENCIADAS (NESTE CASO, COM ACONDICIONAMENTO EM
20 semanas, sem valor legal, científico ou SACOS VERMELHOS).
sem requisição de familiares.
 Kits de linhas arteriais, endovenosas e
dialisadores;
 Filtros de ar e gases aspirados de áreas
contaminadas; membrana filtrante de
equipamento médico-hospitalar e de
pesquisa e similares;
 Sobras de amostras de laboratório (fezes,
urina, secreções) de pacientes não DESTINO FINAL:
A4 suspeitos de porte de agentes Classe 4, LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS
agentes de relevância epidemiológica ou DE SERVIÇOS DE SAÚDE, SENDO ACONDICIONADOS EM SACOS
PLÁSTICOS BRANCOS-LEITOSOS.
risco de disseminação, ou doença
emergente, ou com mecanismo de
transmissão desconhecido, ou suspeita
de príons;
 Resíduos de tecido adiposo
(lipoaspiração, lipoescultura, cirurgia
plástica).
 Recipientes e materiais residuários de
assistência à saúde, sem sangue ou
fluidos corpóreos na forma livre;
 Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e
outros resíduos de procedimentos
cirúrgicos, estudos anatomopatológicos
ou de diagnóstico; DESTINO FINAL:
 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS DE
A4 outros resíduos de animais não SERVIÇOS DE SAÚDE, SENDO ACONDICIONADOS EM SACOS
PLÁSTICOS BRANCOS-LEITOSOS.
submetidos a experimentação com
inoculação de microrganismos e suas
forrações;
 Cadáveres de animais provenientes de
serviços de assistência;
 Bolsas transfusionais vazias ou com
volume residual pós-transfusão.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 455


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior
virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos,
materiais perfurocortantes ou
escarificantes e demais materiais TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
A5 resultantes de atenção à saúde de DEVEM SER INCINERADOS, CONFORME RDC ANVISA 305/2002.
indivíduos ou animais com suspeita ou
certeza de contaminação com príons.
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e
toxicidade.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
SEU TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DEVE SER A MESMA
 Embalagens PRESCRITA PARA O PRODUTO OU MEDICAMENTO QUE
ACONDICIONA.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Pilhas e baterias de chumbo, cádmio e mercúrio DESTINAÇÃO CONFORME RESOLUÇÃO CONAMA 257/1999.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM (1) SEGUIR PARA ARIP OU (2) DESTINAÇÃO ESPECIAL DE
 Resíduo contendo metais pesados RESÍDUOS LÍQUIDOS REGULAMENTADA PELO ÓRGÃO
AMBIENTAL REGIONAL.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Resíduos contendo mercúrio ACONDICIONAMENTO EM RECIPIENTES SOB SELO D’ÁGUA PARA
RECUPERAÇÃO DO METAL.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM (1) SEREM SUBMETIDOS A PROCESSO PARA
 Resíduos de fixadores radiográficos RECUPERAÇÃO DA PRATA OU (2) DESTINAÇÃO ESPECIAL DE
RESÍDUOS LÍQUIDOS REGULAMENTADA PELO ÓRGÃO
AMBIENTAL REGIONAL.
 Resíduos de produtos e insumos farmacêuticos sob
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
controle especial (Portaria Ministério da Saúde ATENDIMENTO DA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA EM VIGOR.
344/1998).
 Medicamentos cuja formulação não ofereça risco à
saúde pública ou meio ambiente e outros químicos TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
PODEM SER DESTINADOS A REDE DE ESGOTOS, DESDE QUE
igualmente inócuos descartados por serviços ATENDIDAS AS PRESCRIÇÕES DOS ÓRGÃOS SANITÁRIOS
assistenciais de saúde, farmácias, drogarias, COMPETENTES.
distribuidores de medicamentos ou apreendidos.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 456


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e
toxicidade.
 Resíduos de produtos cosméticos, quando
descartados por farmácias, drogarias e distribuidores
ou quando apreendidos; TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Reagentes de laboratório e recipientes contaminados SISTEMAS DE DESTINAÇÃO FINAL LICENCIADOS PARA A CLASSE
por esses; DO COMPONENTE DE MAIOR RISCO.
 Efluentes de equipamentos automatizados de
análises clínicas.
 Produtos hormonais e antimicrobianos, citostáticos,
antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos,
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
imunomoduladores, anti-retrovirais quando DISPOSIÇÃO FINAL ESPECÍFICA.
descartados por serviços de saúde, farmácias,
drogarias, distribuidores, ou apreendidos.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Excretas de pacientes tratados com quimioterápicos e ESGOTO, SE HOUVER ETE A JUSANTE; TRATAMENTO PRÉVIO NO
antineoplásicos PRÓPRIO ESTABELECIMENTO GERADOR, SE NÃO HOUVER ETE A
JUSANTE
GRUPO C
Materiais com radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de emissão estipulados
pela CNEN, cuja reutilização é imprópria ou não prevista.
ACONDICIONAMENTO:
SÓLIDOS: RECIPIENTES RÓGIDOS, FORRADOS COM PLÁSTICO
RESISTENTE; LÍQUIDOS: FRASCOS DE 2 L OU BOMBONAS,
RÍGIDOS, ESTANQUES, COM TAMPA ROSQUEÁVEL;
 Rejeitos radioativos sólidos; PERFUROCORTANTES: ACONDICONADOS EM RECIPIENTES
 Rejeitos radioativos líquidos; RÍGIDOS COM TAMPA E INSCRIÇÃO “PERFUROCORTANTES” E
 Perfurocortantes contaminados com radionuclídeos. “REJEITO RADIOATIVO”.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
DECAIMENTO RADIOATIVO ORIENTADO PELA CNEN. APÓS
DECAIMENTO, TRATAR CONFORME SUA CLASSE DE RISCO E
PRESCRIÇÕES DA PRÓPRIA CNEN.
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Esgotos e águas servidas; DEVEM SOFRER TRATAMENTO PREVIAMENTE AO LANÇAMENTO
EM CORPO HÍDRICO, CASO NÃO HOUVER ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO A JUSANTE.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 457


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.2 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução RDC
ANVISA 306/2004 (continuação)
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
 Os resíduos orgânicos, flores, resíduos de podas de
árvore e jardinagem, sobras de alimento e de pré-
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
preparo desses alimentos, restos alimentares de
PODEM SER ENCAMINHADOS AO PROCESSO DE COMPOSTAGEM
refeitórios e de outros que não tenham mantido (OU, ALTERNATIVAMENTE, OUTRO DESTINO LICENCIADO)
contato com secreções, excreções ou outro fluido
corpóreo
GRUPO E
Materiais perfurocortantes ou escarificantes.
ACONDICIONAMENTO
RECIPIENTES DE PAREDES RÍGIDAS, COM SIMBOLOGIA DE RISCO
INFECTANTE E INSCRIÇÃO “PERFUROCORTANTE”
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
O TRATAMENTO DEVE SER COMPATÍVEL COM O TIPO DE RISCO
(BIOLÓGICO, QUÍMICO, RADIOATIVO) DO RESÍDUO
 Materiais perfurantes, cortantes e escarificantes PERFUROCORTANTE. DEVEM SOFRER TRATAMENTO E
DESTINAÇÃO ESPECÍFICOS EM FUNÇÃO DO SEU RISCO
BIOLÓGICO, QUÍMICO OU RADIOATIVO. EM CASO DE RISCO
BIOLÓGICO SEVERO, DEVEM SOFRER REDUÇÃO DA CARGA
MICROBIANA COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE INATIVAÇÃO.
SERINGAS E AGULHAS UTILIZADAS NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE,
INCLUSIVE AS UTILIZADAS NA COLETA DE AMOSTRAS NÃO
NECESSITAM DE TRATAMENTO.
Fonte: RDC 306/2004 ANVISA

A Resolução CONAMA 358/2005 estabelece alguma definições importantes:


 Agente de Classe de Risco 4 (elevado risco individual e elevado risco para a
comunidade): patógeno que representa grande ameaça para o ser humano e
para os animais, representando grande risco a quem o manipula e tendo
grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro, não existindo
medidas preventivas e de tratamento para esses agentes;
 líquidos corpóreos: (1) cefalorraquidiano, (2) pericárdico, (3) pleural, (4)
articular, (5) ascítico e (6) amniótico;
 príon: estrutura protéica alterada relacionada como agente etiológico das
diversas formas de encefalite espongiforme;
 Nível III de inativação microbiana: inativação de bactérias vegetativas, fungos,
vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e microbactérias com redução igual ou
maior do que 6Log10, e inativação de esporos do bacilo stearothermophilus
ou de esporos do bacilo subtilis, com redução igual ou maior que 4Log10;
São destaques da resolução:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 458


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Art. 4º Parágrafo 1º - Cabe aos órgãos ambientais dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios, a fixação de critérios para determinar quais serviços
serão objetos de licenciamento ambiental, do qual deverá constar o Plano de
Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS;
 Art. 8º - Os veículos utilizados para coleta e transporte externo dos resíduos
de serviços de saúde devem atender às exigências legais e normas da ABNT;
 as estações de transferência de resíduos de serviços de saúde devem estar
licenciadas pelo órgão ambiental competente;
 os resíduos não caracterizados no Apêndice I da resolução (classificação por
grupos: A, B, C, D e E) devem estar contemplados no PGRSS, seguindo
orientações do órgão ambiental e da legislação vigente;
 os resíduos do Grupo A não podem ser reciclados, reutilizados ou
reaproveitados, inclusive para a alimentação animal.
A resolução adota, também, o denominado “Grupo E”, que se refere aos
resíduos perfurocortantes, determinando o seu tratamento em compatibilidade com o tipo
de contaminação a que foram submetidos.
A Quadro 4.11.3 apresenta a sumarização da classificação estabelecida pela
Resolução CONAMA 358/2005.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 459


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Cultura e estoques de microrganismos;
 Resíduos de fabricação de produtos biológicos (exceto
hemoderivados);
 Descarte de vacinas de microrganismos vivos ou
atenuados;
 Meios de cultura e instrumentais utilizados para
transferência, inoculação ou mistura de culturas;
 Resíduos de laboratórios de manipulação genética; TRATAMENTO:
 Resíduos de atenção à saúde humana ou animal com REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
suspeita ou certeza de contaminação por agentes da COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
INATIVAÇÃO.
classe de risco 4, microrganismos com relevância
A1 DESTINO FINAL:
epidemiológica, causador de doença emergente ou (1) ATERRO SANITÁRIO LICENCIADO
epidemiologicamente importante ou com mecanismo de OU (2) LOCAL DEVIDAMENTE
transmissão desconhecido; LICENCIADO PARA DISPOSIÇÃO FINAL
DE RSSS.
 Bolsas transfusionais contendo sangue ou
hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou má
conservação, ou com prazo de validade vencido, e aquelas
oriundas de coleta incompleta;
 Sobras de amostras de laboratório contendo líquidos
corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo
de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos
corpóreos na forma livre.
 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos TRATAMENTO:
REDUÇÃO DA CARGA MICROBIANA
provenientes de animais submetidos a experimentação
COMPATÍVEL COM NÍVEL III DE
com inoculação de microrganismos, bem como suas INATIVAÇÃO.
forrações; DESTINO FINAL:
A2  Cadáveres de animais suspeitos de portarem (1) ATERRO SANITÁRIO LICENCIADO,
(2) LOCAL DEVIDAMENTE
microrganismos de relevância epidemiológica com risco LICENCIADO PARA DISPOSIÇÃO FINAL
de disseminação. DE RSSS, OU (3) CEMITÉRIO DE
ANIMAIS.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 460


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
TRATAMENTO:
 Peças anatômicas humanas, produto de NÃO HÁ PREVISÃO DE TRATAMENTO ESPECÍFICO
fecundação sem sinais vitais, com peso menor PARA REDUÇÃO DE CARGA MICROBIANA.
DESTINO FINAL:
que 500 g ou estatura menor do que 25 cm, ou
A3 idade gestacional inferior a 20 semanas, sem
(1) SEPULTAMENTO EM CEMITÉRIO, AUTORIZADO
PELO ÓRGÃO COMPETENTE, (2) INCINERAÇÃO OU
valor legal, científico ou sem requisição de CREMAÇÃO, LICENCIADAS, OU (3) OUTROS
familiares. MÉTODOS ALTERNATIVOS APROVADOS PELO
ÓRGÃO AMBIENTAL DE JURISDIÇÃO.
 Kits de linhas arteriais, endovenosas e
dialisadores, quando descartados;
 Filtros de ar e gases aspirados de áreas
contaminadas; membrana filtrante de
equipamento médico-hospitalar e de pesquisa
e similares;
 Sobras de amostras de laboratório (fezes,
urina, secreções) de pacientes não suspeitos
de porte de agentes Classe 4, agentes de
relevância epidemiológica ou risco de
disseminação, ou doença emergente, ou com TRATAMENTO:
mecanismo de transmissão desconhecido, ou NÃO HÁ PREVISÃO DE TRATAMENTO ESPECÍFICO
suspeita de príons; PARA REDUÇÃO DE CARGA MICROBIANA A MENOS
QUE HAJA EXIGÊNCIA PRÉVIA DO ÓRGÃO
A4  Resíduos de tecido adiposo (lipoaspiração, AMBIENTAL DE JURISDIÇÃO.
lipoescultura, cirurgia plástica); DESTINO FINAL:
 Recipientes e materiais residuários de LOCAIS LICENCIADOS PARA A DISPOSIÇÃO FINAL DE
assistência à saúde, sem sangue ou fluidos RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE.
corpóreos na forma livre;
 Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros
resíduos de procedimentos cirúrgicos, estudos
anatomopatológicos ou de diagnóstico;
 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros
resíduos de animais não submetidos a
experimentação com inoculação de
microrganismos e suas forrações;
 Bolsas transfusionais vazias ou com volume
residual pós-transfusão.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 461


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO A
Resíduos com possível presença de agentes biológicos, que por suas características de
maior virulência ou concentração podem apresentar risco de infecção.
Subgrupo Caracterização Tratamento/Destinação
 Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais
perfurocortantes ou escarificantes e demais TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
A5 materiais resultantes de atenção à saúde de DEVEM SER TRATADOS CONFORME
indivíduos ou animais com suspeita ou certeza PROCEDIMENTOS ORIENTADOS PELA ANVISA.
de contaminação com príons.
GRUPO B
Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, em função de características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade.
 Produtos hormonais e antimicrobianos, citostáticos,
antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos,
imunomoduladores, anti-retrovirais quando descartados
por serviços de saúde, farmácias, drogarias,
distribuidores, ou apreendidos;
 Resíduos e insumos farmacêuticos dos medicamentos
controlados pela Portaria 344/1998 do Ministério da
Saúde; TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
SEU TRATAMENTO, RECICLAGEM E DESTINO FINAL
 Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; DEVEM DAR-SE A PARTIR DA AVALIAÇÃO DA SUA
 Resíduos contendo metais pesados; CLASSIFICAÇÃO (NBR 10004/2004).
 Reagentes de laboratório e recipientes contaminados por
esses;
 Reveladores e fixadores radiográficos;
 Efluentes de equipamentos automatizados de análises
clínicas;
 Demais resíduos perigosos assim classificados pela NBR
10004.
GRUPO C
Materiais com radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de emissão
estipulados pela CNEN, cuja reutilização é imprópria ou não prevista.
 Materiais de laboratório de pesquisa e ensino na área da
saúde, de laboratórios de análises clínicas e serviços de
medicina nuclear e radioterapia que contenham
radionuclídeos em quantidade superior aos limites de
emissão. Tais rejeitos somente serão considerados TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
resíduos após decorrido o tempo necessário de DECAIMENTO RADIOATIVO ORIENTADO PELA
decaimento radioativo necessário (Norma CNEN-NE- CNEN. APÓS DECAIMENTO, TRATAR CONFORME
SUA CLASSE DE RISCO.
6.02). Após alcançado o nível de decaimento necessário
os resíduos classificar-se-ão nas categorias de risco
biológico, químico ou de resíduo comum, devendo ser
encaminhados da forma preconizada para sua categoria
de risco.
continua

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 462


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 4.11.3 – Classificação dos resíduos sólidos de serviços de saúde pela Resolução
CONAMA 358/2005 (continuação)
GRUPO D
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde e ao meio
ambiente, sendo equiparados a resíduos domiciliares.
 Papel de uso sanitário;
 Fraldas;
 Absorvente higiênico;
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Peças descartáveis de vestuário; RECICLAGEM, REAPROVEITAMENTO COM A DEVIDA
 Restos alimentares de pacientes; HIGIENIZAÇÃO, OU, EM CASO DE AUSÊNCIA DE
 Material utilizado em antissepsia e hemostasia de POTENCIAL PARA TAL, ENCAMINHAMENTO PARA
ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS URBANOS
venóclises, equipo de soro; LICENCIADO.
 Sobras de preparo de alimentos e restos do refeitório;
 Resíduos administrativos, de varrição, podas e jardins;
 Resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde.
GRUPO E
Materiais perfurocortantes ou escarificantes.
 Lâminas de barbear, agulhas, scalps;
 Ampolas de vidro;
 Brocas;
 Limas endodônticas;
 Pontas diamantadas;
TRATAMENTO E DESTINO FINAL:
 Tubos capilares;
DEVEM SOFRER TRATAMENTO E DESTINAÇÃO
 Lâminas de bisturi; ESPECÍFICOS EM FUNÇÃO DO SEU RISCO
 Lancetas; BIOLÓGICO, QUÍMICO OU RADIOATIVO.
 Micropipetas;
 Lâminas e lamínulas;
 Espátulas;
 Utensílios de vidro quebrados no laboratório.
Fonte: Resolução CONAMA 358/2005

As taxas de geração de RSSS estão diretamente correlacionadas às taxas de


crescimento de descartáveis utilizados no atendimento aos pacientes. SCHNEIDER et al. (2001)
estimam um crescimento do quantitativo médio gerado por dia por leito em 3% ao ano, que
seria decorrente de uma taxa de 5% a 8% no crescimento do uso de descartáveis ao ano. A
geração diária média de resíduos por leito no Brasil estaria girando em torno de 3 kg em
2001.

Segregação, acondicionamento, transporte interno, armazenamento e


transporte externo de resíduos sólidos de serviços de saúde
O acondicionamento de resíduos sólidos de serviços de saúde, considerados os
diferentes grupos de risco, deve ser feito em recipientes plásticos (exceto para resíduos
radioativos) identificados pela coloração padronizada pela Resolução CONAMA 275/2001.
Na prática, tendo em vista a dificuldade à adaptação à multiplicidade de cores prevista para

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 463


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

os diversos tipos de resíduos recicláveis, é costumeiro adotar-se um recipiente apenas para


o acondicionamento de todos os resíduos recicláveis, em geral de cor verde ou transparente,
um recipiente para recebimento de resíduos do grupo D não recicláveis (preto ou marrom),
um recipiente para resíduos do grupo A (branco-leitoso ou vermelho, conforme a
classificação, com simbologia de risco biológico) e um recipiente de paredes rígidas para os
resíduos perfurocortantes (também com simbologia de risco infectante).
A ABNT expediu uma série de normas técnicas para acondicionamento de
resíduos sólidos, no que tange às embalagens:
 NBR 9190/1985 – “Sacos plásticos para acondicionamento de lixo –
Classificação”;
 NBR 9191/1993 – “Especificação dos sacos plásticos para acondicionamento
de lixo”;
 NBR 9195/1993 – “Sacos plásticos para acondicionamento de lixo:
determinação da resistência à queda livre”;
 NBR 9196/1993 – “Determinação da resistência à pressão do ar”;
 NBR 9197/1993 – “Saco plástico para acondicionamento de lixo -
Determinação da resistência ao impacto de esfera”;
 NBR 13055/1993 – “Sacos plásticos para acondicionamento de lixo:
Determinação da capacidade volumétrica”;
 NBR 13056/2000 - “Sacos plásticos para acondicionamento de lixo: verificação
da transparência”;
 NBR 13853/1997 – “Coletores para resíduos de serviços de saúde perfurantes
e cortantes: requisitos e métodos de ensaio”.
O acondicionamento dos resíduos do grupo A é normalmente feito em sacos
plásticos brancos-leitosos, com uma espessura de parede de 10-12 m e simbologia de risco
infectante. Os sacos devem ser preenchidos até dois terços de sua capacidade. A Resolução
RDC 306/2004 da ANVISA insere uma divisão no tocante ao acondicionamento de resíduos
do grupo A, estipulando coloração vermelha para alguns tipos específicos de resíduos de
risco biológico. Isso insere o inconveniente de ocasionar confusão com a padronização
instituída pela Resolução CONAMA 275/2001, que estipula a cor vermelha para
acondicionamento de resíduos de plásticos.
Para os sacos confeccionados para resíduos do Grupo A, a NBR 9191/1993
estipula que o símbolo de substância infectante seja posicionado a um terço da altura (de
baixo para cima) e ocupe, no mínimo, 5% da face do saco. Nesta, deverá também constar a
identificação do fabricante. A Figura 4.11.1 apresenta a simbologia mencionada.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 464


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.11.1 – Simbologia de substância infectante

Fonte: web

Os recipientes para perfurocortantes deverão, igualmente, apresentar o nome


do fabricante e a simbologia de risco, sendo utilizados até dois terços da capacidade. Embora
vários tipos de recipientes sejam adequados ao acondicionamento de perfurocortantes, hoje
é universalizado o uso de caixas de papelão de alta resistência ao corte e à punção,
especialmente fabricadas para esse fim (Descartex®, Descarpack®, etc.).
Embora a Resolução CONAMA 275/2001 indique a cor marrom para resíduos
orgânicos (Grupo D), o uso da cor preta ainda predomina (a cor preta é preconizada, pela
mesma resolução, para resíduos de madeira).
A Figura 4.11.2 apresenta um registro fotográfico típico da disposição de
recipientes para acondicionamento de resíduos em um hospital.

Figura 4.11.2 – Acondicionamento de RSSS

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 465


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A segregação dos RSSS na origem é o primeiro e fundamental passo de um


sistema de manejo. O tratamento de resíduos de risco biológico ou químico dependerá
sempre de tecnologia disponível, e poderá custar dezenas de vezes mais do que a destinação
dos resíduos comuns (Grupo D). Todo resíduo não segregado é automaticamente incluso na
categoria de risco daqueles resíduos com os quais se encontra misturado.
A NBR 12809/1993 padroniza os procedimentos atinentes ao manejo interno de
resíduos de serviços de saúde. A ilustração da Figura 4.11.3 apresenta esquematicamente
esse manejo.
A coleta externa de RSSS do Grupo A deverá ser executada com veículo que
atenda às especificações da NBR 14652/2001 – Coletor-transportador rodoviário de resíduos
de serviços de saúde - requisitos construtivos inspeção-resíduos grupo ‘A’, sendo a fonte
móvel de poluição licenciada pelo órgão ambiental de jurisdição como fonte móvel de
poluição. Deverá adequar-se a toda legislação vigente para transporte de produtos
perigosos. A Figura 4.11.4 apresenta a sinalização de risco a ser utilizada nas unidades de
transporte de resíduos de risco biológico.

Figura 4.11.3 - Manejo dos resíduos de serviços de saúde

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 466


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.11.4 – Rótulo de risco e painel se segurança


padronizados para o transporte de resíduos de serviços de
saúde do Grupo A

Fonte: o autor

Plano de gerenciamento de resíduos sólidos de serviços de saúde


A Resolução CONAMA 05/1993 estabeleceu, pela primeira vez, a necessidade de
elaboração, em cada serviço de saúde, de um plano de gerenciamento dos resíduos sólidos
gerados, a ser submetido à aprovação pelos órgãos ambientais e de saúde de jurisdição. O
PGRSS deverá especificar o técnico responsável pelo gerenciamento da unidade geradora
(com anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho profissional), bem como
uma série de procedimentos padronizados que convirjam para um gerenciamento eficaz dos
resíduos, conduzindo-os a tratamentos e reaproveitamentos específicos que maximizem a
proteção à saúde e ao ambiente, bem como estejam orientados pelas questões econômicas
e operacionais. SCHNEIDER et al. (2001) elencam aspectos a serem observados para a
construção do PGRSS:
 classificação e quantificação de todos os resíduos gerados em cada serviço de
especialidade médica e em cada unidade de apoio;
 seleção de alternativas técnicas e procedimentos para gerenciamento interno
de resíduos, identificando os recursos humanos e materiais necessários;
 elaboração de planos de emergência eficazes para situações como
derramamentos de líquidos infecciosos e falhas de equipamentos;
 elaboração de programas permanentes de capacitação dos recursos humanos
envolvidos na geração e no gerenciamento;
O termo de referência para a confecção do plano de gerenciamento de resíduos
sólidos de serviços de saúde em Porto Alegre é transcrito:

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 467


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

TERMO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DA SAÚDE (PGRSS)

1. DADOS GERAIS
1.1. Identificação do Empreendedor
- Identificação
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.2. Profissional de Contato
- Identificação
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.3. Responsável Técnico pela Elaboração do PGRSS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
1.4. Responsável Técnico pela Implementação e Execução do PGRSS
- Identificação
- Número do Registro Profissional
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
2. DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1. Identificação do Empreendimento
- Razão Social
- Nome Fantasia
- CNPJ
- Alvará de Localização e Funcionamento
- Ramo de Atividade
- Número da Licença Ambiental
- Endereço Completo
- Telefone de Contato
- Correio Eletrônico (E-mail)
- Representante Legal
- Número Total de Funcionários
- Descrição das Atividades Desenvolvidas
2.2. Estrutura Física
- Planta Baixa do Empreendimento
- Planta Baixa da Área de Armazenamento Temporário de Resíduos
- Área Total
- Área Construída

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 468


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apresentar em uma listagem os conceitos importantes e suas respectivas definições
para o desenvolvimento e execução do PGRSS.
4. NORMATIVAS DE REFERÊNCIA
- Lei Federal nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente.
- Lei Federal nº 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais.
- Lei Federal nº 12.305/10, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
- Resolução CONAMA nº 358/05, dispõe sobre o tratamento e disposição final de RSS.
- Resolução CONAMA nº 275/01, código de cores para os invólucros de resíduos.
- Resolução CONAMA nº 257/99, descarte de pilhas e baterias usadas.
- Resolução CONAMA nº 335/03, dispõe sobre o licenciamento de cemitérios.
- Norma ABNT NBR nº 10.004/04, classificação de resíduos sólidos.
- Norma ABNT NBR nº 11.174/90, armazenamento de resíduos classe II.
- Norma ABNT NBR nº 12.235/92, armazenamento de resíduos classe I (perigosos).
- Resolução ANVISA RDC nº 306/04, dispõe sobre gerenciamento de RSS.
- Lei Estadual nº 11.520/00, Código Estadual do Meio Ambiente.
- Lei Estadual nº 9.921/93, dispõe sobre gestão dos resíduos sólidos.
- Lei Estadual nº 13.401/10, dispõe sobre destinação de resíduos classe I (perigosos).
- Lei Estadual nº 10.099/94, dispõe sobre o gerenciamento de RSS.
- Decreto Estadual n° 38.356/98, dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos.
- Portaria FEPAM nº 34/09, Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR).
- Lei Municipal nº 728/14, Código Municipal de Limpeza Urbana.
- Lei Municipal nº 11.329/12, dispõe sobre o descarte de medicamentos vencidos.
- Lei Municipal nº 10.953/10, dispõe sobre o descarte de lâmpadas fluorescentes.
- Lei Municipal n° 9.851/05, dispõe sobre recipientes de coleta de resíduos perigosos.
- Lei Municipal Complementar nº 373/96, dispõe sobre o serviço funerário.
- Decreto Municipal nº 9.367/88, dispõe sobre o manejo de resíduos sólidos.
- Resolução COMAM nº 01/14, licenciamento de funerárias com tanatopraxia.
- Outra normativa qualquer que se julgue procedente para o PGRSS.
5. DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
- Determinar e identificar as áreas de geração de resíduos.
- Caracterizar os resíduos sólidos gerados através de classificação por tipo (utilização de
legislações e normas pertinentes) e quantificá-los por cada área independente.
- Identificar os pontos de segregação dos resíduos sólidos, os quais estão munidos de
recipientes coletores.
- Apresentar a Planilha de Diagnóstico disponibilizada no Anexo I deste Termo de
Referência devidamente preenchida. Um modelo próprio da empresa que contenha pelo
menos as mesmas informações poderá ser utilizado.
6. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
6.1. Estrutura Organizacional
Definir responsabilidades gerenciais e operacionais dos profissionais envolvidos no
gerenciamento de resíduos sólidos dentro dos departamentos, unidades, núcleos e

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 469


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

setores da empresa, bem como verificar a sua qualificação para a execução do


serviço.
6.2. Programa de Redução na Fonte Geradora
Estabelecer, se possível, meta de redução de geração da quantidade de resíduos,
especificando métodos de reaproveitamento e rotinas de segregação na origem.
6.3. Coleta Interna
Descrever os métodos de acondicionamento interno de resíduos, especificando os
coletores utilizados nas áreas da empresa para cada grupo de resíduo, informando
seu volume e demonstrando sua identificação através de relatório fotográfico.
Apresentar os procedimentos de higienização dos recipientes de coleta e dos
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) utilizados.
6.4. Transporte Interno
Definir como ocorre o transporte dos resíduos internamente, relacionando os
equipamentos utilizados, delineando procedimentos a serem adotados em caso de
rompimento ou vazamento dos recipientes. Apresentar planta baixa demonstrando as
rotas internas dos resíduos.
6.5. Armazenamento Temporário
Descrever a área de armazenamento temporário, onde os resíduos aguardam a
coleta da transportadora para destinação final, no que tange à impermeabilização do
piso, à cobertura, à ventilação, à drenagem de líquidos lixiviados e de derramamentos
acidentais, ao isolamento e sinalização, ao acondicionamento adequado (de acordo
com as classificações dos resíduos), ao controle da operacional, e ao treinamento de
funcionários. Apresentar planta baixa demonstrando o acesso dos veículos
transportadores e a localização de cada tipo de resíduo.
6.6. Tratamento
Descrever detalhadamente, caso sejam aplicados no empreendimento, os métodos
utilizados para pré-tratamento ou efetivo tratamento de resíduos gerados dentro da
área da empresa.
6.7. Transporte Externo
Especificar a frequência, dia da semana e horário típicos da coleta para cada
classificação de resíduo, bem como os tipos de veículos coletores. Identificar as
empresas responsáveis por todas as coletas de resíduos através das seguintes
informações: nome, endereço, telefone e dados do responsável técnico. Informar o
funcionamento da logística de transporte até a destinação final. Caso necessário,
anexar as cópias das licenças ambientais das empresas transportadoras. Anexar
modelo de Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) utilizado pela empresa para
encaminhamento de resíduos perigosos. Incluir plano de contingência adotado pelo
transportador para eventuais ocorrências de acidentes.
6.8. Destinação Final
Descrever os princípios tecnológicos de tratamento ou destinação final adotados

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 470


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

para cada classificação de resíduos. Apresentar as cópias das licenças


ambientais das unidades receptoras dos resíduos.
6.9. Programa de Educação Ambiental
Dentro de um Programa de Educação Ambiental, desenvolver atividades de
conscientização e treinamento para os funcionários da empresa e terceirizados.
Aprimorar, de modo análogo, a conscientização do público usuário
do empreendimento. Apresentar metas e cronogramas de atividades, e relatar
resultados atingidos.
6.10. Monitoramento
Descrever os procedimentos internos de coleta de dados e a organização
da rotina de trabalho necessários para o monitoramento da aplicação do
PGRSS. Descrever a periodicidade de vistoria do responsável pela execução
do PGRSS. Informar a periodicidade prevista para revisão do PGRSS. Apresentar
cronograma para adequação da operação da empresa ao PGRSS, para
aqueles itens que ainda não estão consolidados.
7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA
Deverá ser apresentada a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), ou
documento equivalente, do profissional responsável pela elaboração / projeto
do PGRSS. Também deverá ser apresentada a ART, ou documento equivalente,
do profissional responsável pela implementação / execução do PGRSS.
O mesmo profissional poderá responder pelas duas etapas. A decisão
pela habilitação ou não de determinado profissional para assumir as responsabilidades
do plano cabe aos conselhos profissionais. As previsões de início
e fim das atividades do responsável técnico na ART deverão ser condizentes
com o tempo utilizado para exercê-las. A substituição do(s) profissional(is)
informados deverá ser comunicada à SMAM. No Anexo II encontra-se um
exemplo de ART.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Legislação Federal, disponível em http://www2.planalto.gov.br.
- Legislação Estadual, disponível em http://www.fepam.rs.gov.br.
- Legislação Municipal, disponível em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normativas do CONAMA, disponíveis em http://www.mma.gov.br/conama.
- Normativas do COMAM, disponíveis em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam.
- Normas Técnicas ABNT NBR, disponíveis em http://www.abnt.org.br.
- Resoluções ANVISA, disponíveis em http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/home.
9. ANEXOS
Poderão ser apensados ao PGRSS tantos anexos quanto forem julgados importantes
para elucidação dos itens supracitados.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 471


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

ANEXO I - PLANILHA DE DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS


RESÍDUO DESTINAÇÃO
QUANTIDADE UNIDADE CLASSIFICAÇÃO
GERADO FINAL
RDC NBR
306/04 10004

O campo unidade deverá ser preenchido com o volume ou a massa gerada em um determinado
período de tempo. Exemplos: m³/d, kg/mês, L/ano.

ANEXO II - MODELO DE ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA DO PGRSS

Tratamento de resíduos sólidos de serviços de saúde


Conforme SCHNEIDER et al. (2001), o primeiro equipamento para tratamento de
resíduos hospitalares foi um incinerador, instalado em 1891, em um hospital de New York.
A partir do advento da AIDS, grande atenção pública voltou-se para os
procedimentos de higiene hospitalar, reafirmando-se a necessidade de tratamento de todos
os resíduos sólidos que entraram em contato com pacientes, muito mais em função do
desconhecimento geral das pessoas acerca de aspectos de infectologia do que de uma real
necessidade. Contudo, apesar de diferentes pareceres técnicos e divergências, mesmo entre
especialistas, a legislação tem conduzido à necessidade da redução drástica das contagens
de microrganismos nos resíduos, previamente à sua destinação final. Essa necessidade
insere elevados custos às unidades geradoras e reforça, em muito, a necessidade de uma
gerência eficaz dos resíduos, de modo a que somente aqueles realmente potencialmente

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 472


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

infectantes sejam conduzidos a um tratamento mais sofisticado do que os tratamentos e


destinos normais para resíduos comuns (Grupo D).
Os métodos de tratamento distinguem-se, basicamente, quanto ao seu objetivo
em esterilização e desinfecção:
 esterilização: é a destruição completa de todas as formas de vida microbiana
existentes no resíduo;
 desinfecção: é um procedimento que elimina significativa parcela ou todos os
microrganismos patogênicos, não eliminando, contudo, esporos bacterianos,
desta maneira não eliminando por completo o risco biológico de um
determinado resíduo.
Para fins de disposição dos resíduos sólidos tratados a aterros sanitários, destino
final preponderante no país, o tratamento preliminar cumpre as funções de eliminar
organismos viáveis, inclusive formas bacterianas esporuladas, que poderiam desenvolver-se
a partir de uma modificação das condições inóspitas do meio (por exemplo, se os esporos
mantiverem-se na fase líquida dos aterros, o lixiviado, mesmo após o tratamento do líquido).
Os vírus apresentam a especial propriedade de auto-cristalização, podendo tornar-se ativos
quando as condições do meio tornarem-se propícias.
Considera-se morte de um agente microbiológico a incapacidade de reprodução,
a qual é verificada em ensaio padronizado, da contagem de unidades formadoras de colônia
em placa. Possivelmente, após um determinado tratamento, um determinado organismo
faça-se presente em determinada contagem, mas se as células do mesmo organismo não
mantiver sua capacidade de reprodução, considera-se que houve morte.
Considera-se que a destruição de microrganismos segue uma cinética de
primeira ordem, portanto o decaimento do número de organismos vivos obedecerá a uma
função logarítmica em função do tempo. A Figura 4.11.5 apresenta uma curva típica de
destruição de microrganismos onde são plotados o logaritmo do número de sobreviventes
versus o tempo de tratamento. O valor D, na curva, é o tempo necessário para destruição de
90% dos organismos viáveis. Esse valor é frequentemente utilizado para comparar
destruições de diferentes organismos utilizando-se o mesmo processo e destruições do
mesmo organismo utilizando-se diferentes processos. O tempo é uma variável fundamental
de controle dos processos de esterilização e desinfecção.
A verificação da eficácia dos sistemas de tratamento é efetuada através da
utilização de indicadores químicos e biológicos:
 indicadores químicos: normalmente são utilizadas fitas que adquirem
coloração à temperatura mínima de eficiência do processo. Apresentam
significado restrito, pois não são indicadores da redução da carga de
patógenos;
 indicadores biológicos: utilizam-se culturas de organismos resistentes que
estejam fisicamente acondicionadas de modo a sofrerem ação do agente de

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 473


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

desinfecção/esterilização. Normalmente são utilizados como padrões culturas


com 106 esporos das espécies Bacillus stearothermophillus e Bacillus subtilis.

Figura 4.11.5 – Curva de destruição dos microrganismos

Fonte: o autor

As resoluções em vigor normalmente referem-se ao Nível III de inativação


microbiana, que significa inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus lipofílicos e
hidrofílicos, parasitas e microbactérias com redução igual ou maior do que 6Log10
(99,9999% de redução), e inativação de esporos do bacilo stearothermophilus ou de esporos
do Bacillus subtilis, com redução igual ou maior que 4Log10 (99,99% de redução);
SCHNEIDER et ai. (2001) citam as tecnologias mais comuns para o tratamento de
RSSS de risco infectante:
 processamento a seco: dá-se em estufas e fornos e opera pela destruição
térmica das células a altas temperaturas (normalmente 165oC-170oC), por um
período de duas horas ou mais;
 processamento por radiações ionizantes: este método utiliza o princípio da
destruição de patogênicos por radiólise de suas moléculas de água, e emprega
normalmente raios gama, ultravioleta, infravermelho e feixes de elétrons. É
altamente eficiente, porém o custo associado aos equipamentos é elevado;
 processamento por gases: certos gases como o óxido de etileno e o cloro são
esterilizantes e, portanto, podem ser utilizados para esterilização de
instrumentais cirúrgicos. A aplicação da metodologia para resíduos leva o
inconveniente de associar grandes quantidades de gases altamente tóxicos e,
portanto, submeter operadores a riscos;

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 474


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 processamento por plasma: opera pela decomposição dos materiais expostos


a uma tocha de plasma a milhares e graus centígrados. É um sistema
altamente sofisticado e eficiente, mas oneroso, que se encontra em
desenvolvimento;
 desinfecção química: opera com substâncias que destroem agentes
infecciosos, como peróxido de hidrogênio, ácidos, álcalis e quaternários de
amônia. Operam com ineficiência no caso do resíduo conter grandes
quantidades de matéria orgânica. Por vezes utiliza-se prévia trituração
mecânica;
 incineração: opera com eliminação de patogênicos por combustão,
proporcionando, ainda, reduções de volume frequentemente superiores a
90%. É altamente efetivo, porém o custo do tratamento é elevado e o mesmo
carrega consigo o estigma da poluição por emissões gasosas, que apresenta
grande visibilidade e rejeição pelas comunidades, embora um sistema bem
operado e qualificado possa garantir operação segura e não impactante;
 processamento a vapor: normalmente denominado autoclavagem, opera
através da destruição dos organismos por termocoagulação das proteínas
citoplasmáticas utilizando vapor saturado sob pressão superior à atmosférica.
O vapor é o agente esterilizante, e deve ser fornecido à câmara com 100% de
umidade relativa, pois a formação de gotas d’água poderia criar uma barreira
que dificulta a remoção do ar e a secagem posterior do material. A eficácia do
método residirá na transferência de calor latente do vapor ao material que se
deseja esterilizar, promovendo a coagulação das proteínas celulares. As
condições de operação normalmente referenciadas para o processo ser bem
sucedido são 30 minutos a 121oC e 4 minutos a 132oC. Embora seja
normalmente proclamado como processo de efetiva esterilização, sua
eficiência será função, além do controle das variáveis tempo e temperatura,
das características específicas do material em tratamento. Quanto mais denso
for o resíduo, maior dificuldade o vapor saturado encontrará em penetrá-lo, o
que se torna crítico em relação a peças anatômicas, por exemplo.
 processamento por microondas: combina emissão de microondas com vapor,
podendo operar sob diferentes condições, obtendo-se simples desinfecção ou
esterilização. Normalmente o resíduo é inicialmente triturado para a melhoria
da eficácia do processo, após, recebe uma injeção de vapor a alta
temperatura (130oC) e será encaminhado a uma câmara onde será submetido
a uma bateria de equipamentos geradores de microondas (2450 MHz)
durante 30 minutos. Em algumas variantes do processo, operam-se ciclos de
vapor a alta pressão e vácuo, para otimização do processo. A Figura 4.11.6
apresenta um equipamento de processamento de resíduos por microondas.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 475


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 4.11.6 – Equipamento de processamento de RSSS por microondas

Fonte: o autor

Uma última metodologia proposta, a de valas sépticas, que opera com o


confinamento dos resíduos em uma vala impermeabilizada, com adição de um manto de cal
virgem sobre os mesmos, tem sido considerada ineficaz para a remoção da característica de
risco biológico, pelo que tende a cair em desuso.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 476


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

TANATOPRAXIA: é a técnica de conservação e reconstituição de cadáveres, cujo principio


está na aplicação de um líquido conservante e desinfetante, o que permite uma conservação
temporária do corpo por vários dias, no máximo 30 dias.

SOMATOCONSERVAÇÃO: técnica de preparação de cadáveres para retardar ou impedir o


processo de decomposição durante determinado tempo.

SCALP: é um dispositivo agulhado, bastante utilizado em infusões venosas de curta duração.


Ele é indicado para procedimentos rápidos porque, durante a utilização do dispositivo, a
agulha permanece dentro da veia do paciente, podendo causar lesões em caso de
movimentação.

6log10: é uma notação convencional: significa o número 99,9999. Como os processos


térmicos de destruição de microrganismos operam relacionando tempos para destruição de
90% dos organismos viáveis, um determinado tempo obterá essa eficiência, duplicando-se o
tempo, obter-se-á 99% e assim por diante. A relação da destruição com o tempo é
logarítmica (base 10), então o número que prece “log” indica o número de iguais períodos a
que foi submetido o resíduo. Como cada período destrói 90%, um novo igual período
adicionará 90% sobre o restante do período anterior, acrescentando um novo “9” ao valor
representativo da eficiência.

ARIP: aterro para resíduos industriais perigosos (vide 5.2)

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 477


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1985. NBR 9190/1985 – Sacos plásticos


para acondicionamento de lixo – Classificação. Rio de Janeiro, 1985.

_______________________________________. 1993. NBR 9191/1993 – Especificação dos


sacos plásticos para acondicionamento de lixo. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 9195/1993 – Sacos plásticos


para acondicionamento de lixo: determinação da resistência à queda livre. Rio de
Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 9196/1993 – Determinação da


resistência à pressão do ar. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 9197/1993 – Saco plástico para


acondicionamento de lixo - Determinação da resistência ao impacto de esfera. Rio de
Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 12807 - Resíduos de serviços de


saúde – Terminologia. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 12808 - Resíduos sólidos de


serviços de saúde – Classificação. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 12809/1993 – Manuseio de


resíduos de serviços de saúde – Procedimento. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 12810/1993 – Coleta de


resíduos de serviços de saúde – Procedimento. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 13055/1993 – Sacos plásticos


para acondicionamento de lixo: Determinação da capacidade volumétrica. Rio de
Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1993. NBR 13056/2000 - Sacos plásticos


para acondicionamento de lixo: verificação da transparência. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 1997. NBR 13853/1997 Coletores para


resíduos de serviços de saúde perfurantes e cortantes: requisitos e métodos de ensaio.
Rio de Janeiro, 1993.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 478


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

_______________________________________. 1997. NBR 14652/2001 - Coletor-


transportador rodoviário de resíduos de serviços de saúde - Requisitos de construção e
inspeção - Resíduos do grupo A. Rio de Janeiro, 1993.

_______________________________________. 2004. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio


de Janeiro, 2004.

BRASIL. 1979. Portaria Interministerial 53/1979. Estabelece normas aos projetos específicos
de tratamento e disposição de resíduos sólidos, bem como a fiscalização de sua
implantação, operação e manutenção.

_____. 1998. Portaria Ministério da Saúde 344/1998 de 12 de maio de 1998. Aprova o


Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

_____. Resolução ANVISA RDC 305, de 14 de novembro de 2002. Ficam proibidos, em todo
o território nacional, enquanto persistirem as condições que configurem risco à saúde, o
ingresso e a comercialização de matéria-prima e produtos acabados, semi-elaborados
ou a granel para uso em seres humanos, cujo material de partida seja obtido a partir de
tecidos/fluidos de animais ruminantes, relacionados às classes de medicamentos,
cosméticos e produtos para a saúde, conforme discriminado. DOU de 18.11.2002.

_____. Resolução ANVISA RDC 33, de 25 de fevereiro de 2003. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. DOU de 05.03.2003.

_____. Resolução ANVISA RDC 306, de 07 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o


Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. DOU de
10.12.2004.

_____. Resolução CONAMA 006, de 19 de setembro de 1991. Dispõe sobre a incineração de


resíduos sólidos provenientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos,
desobriga da incineração. DOU de 30.10.1991.

_____. Resolução CONAMA 005, de 05 de agosto de 1993. Estabelece definições,


classificação e procedimentos mínimos para o gerenciamento de resíduos sólidos
oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários.
DOU de 31.08.1993.

_____. Resolução CONAMA 275, de 25 de abril de 2001. Estabelece código de cores para
diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva. DOU de 19.06.2001.

_____. Resolução CONAMA 283, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre o tratamento e a


destinação final dos resíduos dos serviços de saúde. DOU de 01.10.2001.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 479


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

_____. Resolução CONAMA 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a


disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências DOU de
04.05.2005.

SCHNEIDER, Vania E.; RÊGO, Rita C. E.; CALDART, Viviane, ORLANDIM, Sandra M. 2001.
Manual de resíduos sólidos de serviços de saúde. São Paulo: CLR Balieiro Editores
Ltda. 173p.

Resíduos Sólidos Especiais: Gestão, Tratamento e Legislação 480


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.Resíduos Sólidos Urbanos e


Industriais: Alternativas para o
Tratamento e a Destinação

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 481


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.1 INTRODUÇÃO
Já tratamos das duas metodologias mais comuns para o tratamento dos resíduos
sólidos municipais no país, o aterro sanitário e a compostagem. Essas metodologias são
largamente utilizadas principalmente pela ponderação de dois fatores muito relevantes, o
custo e o domínio tecnológico. Além das metodologias já consagradas em outras partes do
mundo, como a incineração e a digestão anaeróbia controlada, temos assistindo à surgência
de outras várias propostas para o tratamento dos resíduos sólidos não-perigosos e
perigosos, algumas já preconizadas há muitos anos, mas não operacionalizadas, como a
pirólise, outras se constituindo em promessas recentes, como o plasma térmico. Cada
metodologia proposta carrega consigo (1) maior ou menor nível de domínio tecnológico e
experimentação, (2) vantagens e desvantagens do ponto de vista ambiental, (3) vantagens e
desvantagens do ponto de vista econômico e (4) vantagens e desvantagens relacionadas à
geração de subprodutos valiosos e/ou úteis ou indesejáveis.
A problemática dos resíduos sólidos não se encontra, porém, restrita à geração
domiciliar: indústria, setores comerciais e de prestação de serviços, serviços de saúde
também são exemplos de geradores não domiciliares importantes, não só do ponto de vista
quantitativo, mas também considerada a geração de resíduos os quais necessitam manejo
especial e tratamento ou destinação muito qualificados, por periculosidade, por aspectos
legais, ou por demais fatores que os impeçam de serem tratados através de metodologias
usuais.
A indústria é um importante segmento gerador de resíduos sólidos. Não
somente os parques industriais serão geradores de resíduos tão comuns quanto os
domiciliares, provindos dos refeitórios, escritórios, sanitários e jardins, como também
gerarão maiores ou menores quantitativos de resíduos nas áreas industriais de produção.
Tais resíduos responderão por diferentes composições quali-quantitativas e, dependendo da
atividade fabril, poderão classificar-se nas três classes/subclasses definidas pela NBR
10004/2004: perigosos, não perigosos inertes e não perigosos não inertes. O desafio de
reduzirem-se os quantitativos gerados corresponde a um campo de ação profissional técnica
que poderá resultar em economias mensais muito significativas a essas corporações, e
encontra-se contemplado na estratégia das tecnologias limpas. Isso pode implicar em
modificações nos processos, nos equipamentos, nas matérias-primas ou até nos próprios
produtos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 482


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Todavia, dificilmente será alcançada a sempre tão almejada onírica emissão


zero. Em geral não subsistem grandes preocupações com os resíduos das áreas
administrativas: esses serão coletados pelo serviço público de limpeza urbana. É claro que
em uma corporação arrojada haverá preocupação em segregar os diferentes tipos de
resíduos gerados nas áreas administrativas: o orgânico para a coleta pública ou, quem sabe,
para a compostagem; o reciclável para venda, os especiais (lâmpadas de descarga, pilhas,
cartuchos de impressoras, etc.) para os respectivos destinos apropriados. Porém, a grande
problemática ambiental, ocupacional e econômica recai sobre a gerência dos resíduos
provenientes das áreas industriais de processo.
Em geral as legislações eximem os municípios de coletarem, transportarem e
destinarem resíduos industriais. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, a legislação
vigente institui a responsabilidade dos geradores industriais pela totalidade dos seus
resíduos gerados em processos, independentemente de sua classificação por periculosidade,
os quais não podem seguir para aterros sanitários municipais. Ao mesmo tempo em que o
referido diploma legal define a fonte industrial geradora como responsável por seus
resíduos, na verdade, até a extinção dos mesmos, permite que os serviços públicos
municipais sejam contratados para o manejo dos resíduos industriais gerados
administrativamente. Esse regramento provavelmente tenha resultado da ideia de que, ao
menos à época do seu estabelecimento, no caso da maioria dos municípios gaúchos, não
havia uma gerência técnica qualificada nos órgãos de limpeza urbana, bem como, em muitos
casos, os municípios nem mesmo tivessem uma área qualificada para disposição de seus
resíduos sólidos. Como resultado disso, inevitavelmente, incrementaram-se os custos para
destinação dos resíduos industriais de processo da Classe II, por seu encaminhamento
necessariamente dar-se, então, preferencialmente a aterros para resíduos industriais não
perigosos, ou para outras destinações cujos custos são mais expensivos do que a modicidade
(relativa) das tarifas de destinação final a aterros municipais.
As citadas orientações legais reforçaram a necessidade de aguçarem-se os
sentidos, no propósito de diminuírem-se as gerações e elevarem-se os reaproveitamentos e
reciclagens interna e externa dos resíduos sólidos industriais. De certa maneira isso tudo
acelera o inevitável processo rumo às estratégias de produção mais limpa. Outrossim,
elevou-se a necessidade de os técnicos conhecerem os mercados de reciclagem e os
processos e serviços disponíveis para o tratamento ou destinação dos diferentes tipos de
resíduos industriais. Cada tipo de resíduo, por suas características físicas e químicas, terá um
ou mais processos tecnológicos preferenciais para o seu tratamento. Centrando-se na ideia
de que a responsabilidade legal sobre um resíduo somente deixa de existir, para o seu
gerador, quando tal resíduo extingue-se, ou seja, desaparece fisicamente, talvez agregado a
um outro produto, talvez reciclado como massa ou energia, têm sido preferidos processos
de tratamento em que os resíduos deixam de existir como tais, como é o caso do
processamento térmico de resíduos em unidades de fabricação de clínquer, em que os
resíduos, além de fornecerem energia ao processo, têm suas cinzas incorporadas ao produto
final. Desaparecidos os resíduos e os subprodutos do seu processamento, desaparece a
responsabilidade do gerador.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 483


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Neste capítulo serão apresentados processos aplicáveis a resíduos urbanos e


industriais, procurando-se ressaltar suas aplicabilidades e suas vantagens e desvantagens.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 484


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.2 ATERRO PARA RESÍDUOS


INDUSTRIAIS PERIGOSOS
Um aterro para resíduos industriais perigosos (ARIP) pode ser definido como
uma metodologia de disposição de resíduos no solo que, fundamentada em critérios de
engenharia e normas operacionais adequadas, garante um confinamento seguro dos
resíduos em relação à proteção do ambiente regional e à saúde pública. A NBR 8418/1984
assim o define: “Técnica de disposição de resíduos industriais perigosos no solo, sem causar
danos ou riscos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais,
método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos industriais
perigosos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com
uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se
for necessário”.
Um ARIP pode ser pensado como uma forma segura e ao mesmo tempo barata
de solução imediata para a destinação dos resíduos perigosos. Contudo, este sistema sofre a
grande crítica de não se constituir em um tratamento, pois não contempla um sistema de
transformação/estabilização da matéria e da energia contida nos resíduos, consistindo em
um mero confinamento seguro. Outra pesada crítica refere-se à questão da responsabilidade
sobre tais aterros. A legislação infere responsabilidade solidária sobre os eventuais
problemas ambientais ocasionados por unidades de tratamento e disposição de resíduos
sólidos a todos os geradores, e não somente ao operador do sistema. Como os resíduos
aterrados em ARIP manter-se-ão praticamente inalterados ad eternum, a responsabilidade
dos geradores não cessará, como ocorre em relação a sistemas em que há eliminação física
(descaracterização ou mesmo desaparecimento) dos resíduos.
Os ARIPs devem ser concebidos prevendo-se a adoção de medidas de proteção
ambiental:
 localização adequada;
 projeto técnico qualificado;
 implantação de infra-estrutura adequada;
 implantação de sistema de monitoramento e controle de
poluição/contaminação;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 485


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 padronização de operações;
 conformidade em relação à legislação e normalização vigente.
Os requisitos principais a serem levados em conta para a eleição de locais para a
implantação de ARIPs são:
 atendimento aos planos diretores municipais e diretrizes para a ocupação do
solo;
 baixa densidade populacional da região e baixo valor comercial da área
(recomenda-se distância mínima de 500 metros de qualquer núcleo
populacional);
 distância estrategicamente baixa em relação às fontes geradoras;
 condições favoráveis de acesso;
 condições hidrogeológicas favoráveis: lençol freático baixo, ausência de
corpos hídricos de superfície importantes nas proximidades, ausência de
mananciais subterrâneos de importância estratégica (a NBR 10157/1987
indica distância mínima de 200 metros em relação a qualquer curso d’água ou
coleção hídrica importante);
 baixo índice de precipitação e elevado índice de evapotranspiração da região
de implantação;
 subsolo constituído por depósito extenso de material granular fino e com
baixa permeabilidade;
 adequada declividade do terreno (1%-20%, segundo a NBR 10157/1987);
 reservas e jazidas de material a ser utilizado na confecção das células de
aterro e no sistema de impermeabilização disponíveis no sítio ou
proximidades;
 área disponível para uma vida útil mínima de 10 anos (NBR 10157/1987).
A Tabela 5.2.1 apresenta uma sumarização das condições hidrogeológicas
desejáveis para áreas destinarem-se a ARIP e a aterro para resíduos da Classe II.
O aterro não pode ser executado em áreas sujeitas a inundações, em períodos de
recorrência de 100 anos.
As seguintes normas técnicas são aplicáveis na elaboração de projetos,
construção e operação de ARIPs:
 NBR 8418/1984 – “Apresentação de projetos de aterros de resíduos
industriais perigosos”;
 NBR 10157/1987 – “Aterros de resíduos perigosos – Critérios para projeto,
construção e operação”;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 486


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 NBR13895/1997 – “Construção de poços de monitoramento e amostragem –


procedimento”;
 NBR 10004/2004 – “Resíduos Sólidos”.

Tabela 5.2.1 – Condições hidrogeológicas desejáveis para uma área destinar-se a ARIP e para
destinar-se a aterro para resíduos da Classe II
Condição hidrogeológica mínima
Condição hidrogeológica favorável
aceitável
Classe de resíduos a
Espessura da Coeficiente de Espessura da Coeficiente de
serem aterrados
camada permeabilidade camada permeabilidade
insaturada* “K” (cm/s) insaturada* “K” (cm/s)
Classe I – Perigosos 3 10-7 1,5 5x10-5
Classe II – Não Perigosos 3 10-6 1,5 5x10-5
*Espessura medida na época de maior precipitação pluviométrica na região.
Fonte: NBR 10157/1987

As áreas eleitas para abrigarem ARIPs devem oferecer área útil para pelo menos
10 anos e sistema de drenagem de águas pluviais capaz de suportar uma chuva de pico com
25 anos de período de recorrência.
Alguns condicionantes importantes devem ser estabelecidos para o recebimento
de resíduos em ARIPs:
 teor de umidade máximo: células de ARIPs são projetadas para a não geração
de percolados, portanto os resíduos recebidos devem resguardar um
determinado teor máximo de umidade. Se necessário devem ser utilizados
processos prévios de deságue ou secagem em leitos de secagem, filtros-
prensa, etc.;
 classificação dos resíduos: todo resíduo aceito em uma célula de ARIP deve
ter sido previamente classificado utilizando-se os critérios expressos na NBR
10004/2004. A classificação não deve visar somente à obtenção do
enquadramento do resíduo nas classes de periculosidade, mas deve mapear
todos os seus riscos e as suas características de periculosidade e
incompatibilidade com outros resíduos;
 compatibilidade dos resíduos: os resíduos destinados a uma célula de ARIP
devem respeitar critérios de compatibilidade mútua e com a geomembrana
utilizada na impermeabilização da célula. Não pode haver risco de explosão,
destruição do liner, geração de fumos tóxicos, reação violenta, detonação ou
explosão, ou geração de calor;
 condicionamento dos resíduos: caso algumas características de determinado
resíduo possam pôr em risco a célula, o resíduo deverá sofrer processos

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 487


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

físicos ou químicos que removam tais características, como solidificação,


encapsulamento, neutralização ou tratamento químico.
Os ARIPs são projetados e construídos como estruturas de engenharia que
associam às barreiras naturais de proteção ambiental (frutos da escolha apropriada das
áreas), barreiras criadas pelo homem. Com relação aos seus objetivos, os ARIPs podem ser
projetados e operados (1) para recebimento de resíduos sólidos oriundos de uma
determinada empresa ou ramo de atividade, associando critérios relativos aos tipos
específicos de resíduos que receberão, (2) para recebimento de resíduos perigosos de uma
comunidade industrial consorciada, ou (3) como unidades projetadas à prestação de serviços
a uma comunidade industrial difusa, portanto comercializando o serviço de confinamento de
resíduos com diferentes características. As células de ARIP poderão ser executadas acima da
superfície original do terreno ou em trincheiras. A Figura 5.2.1 apresenta um perfil estrutural
básico de uma célula de aterro para resíduos industriais perigosos.

Figura 5.2.1 – Esquema de célula de ARIP

Fonte: o autor

São elementos constituintes de uma célula de ARIP:


 duplo sistema de impermeabilização inferior, constituído por uma
geomembrana sintética (liner) e uma camada de substrato impermeável, que
pode ser argila compactada;
 impermeabilização superior, normalmente constituída por geomembrana
sintética (liner);

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 488


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 selamento superior de célula: normalmente utiliza-se uma camada altamente


permeável sobre o liner superior, para drenagem de águas de precipitação e
uma cobertura final de solo da própria região;
 dreno de percolados: embora seja indesejável a geração de percolados, há
necessidade de construção de um dreno inferior, localizado sobre a
geomembrana inferior por onde possa drenar o percolado eventualmente e
indesejavelmente gerado, sendo o dreno ligado a uma tubulação que conduza
o percolado para fora da célula, ao sistema de tratamento (especial cuidado
deve ser tomado na confecção do sistema, pois a tubulação atravessará o
sistema de impermeabilização);
 dreno testemunha: logo abaixo da geomembrana inferior e acima do
substrato impermeável que forma, com a primeira, o sistema de dupla
impermeabilização inferior, uma camada de brita ou outro material drenante
onde se insere uma tubulação perfurada, servirá como dreno testemunha,
recebendo eventuais vazamentos do sistema confinado pela geomembrana,
que denunciarão problemas de ruptura dessa, ou má execução de sua
instalação;
 poço de inspeção: um poço tubular diretamente ligado ao dreno testemunha
eventualmente receberá percolado proveniente da célula. Através do
constante monitoramento do poço de inspeção poderão ser detectadas
eventuais falhas no sistema de impermeabilização da célula e serem tomadas
medidas corretivas emergenciais;
 telhado superior de operação: normalmente é exigível que uma célula de
ARIP opere com um sistema de cobertura superior à área operacional, móvel
ou fixo, no sentido de evitar, durante todo o período de operação da célula,
de sua construção até o seu selamento, o ingresso de águas de precipitação,
desta maneira resguardando-se sua operacionalidade ininterrupta, bem como
se evitando a geração de lixiviado.
A Figura 5.2.2 apresenta uma pequena célula de ARIP impermeabilizada e com
cobertura, pronta para início de operação.
A infra-estrutura de um ARIP deverá contemplar (ROCCA et al., 1993):
 isolamento da área, através de cerca, para evitar entrada de pessoas
estranhas e animais;
 placas de sinalização e identificação do local nas entradas e cercas, com os
dizeres “Perigo – Não Entre”;
 cinturão verde em todo o perímetro da área, para melhorar a estética e
impedir a visibilidade para o interior;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 489


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.2.2 – Célula de ARIP

Fonte: o autor

 guarita para controle de entrada de veículos;


 balança rodoviária para pesagem e registro das cargas recebidas;
 portaria de fiscalização e triagem;
 escritório, para atividades administrativas;
 laboratório para execução de análises expeditas (pH, teor de umidade, etc.);
 pátio para estocagem de materiais tais como brita, areia, tubos, etc.;
 pátios para estocagem de resíduos, e de contingência, seguindo orientações
normativas da NBR 12235/1992 (o tempo máximo de armazenamento de
resíduos perigosos, conforme a NBR 8418/1984 será de 90 dias);
 sistema de iluminação, para operação noturna, e energia permanentemente
disponível para acionamento de equipamentos de emergência;
 banheiros e refeitórios;
 sistemas de comunicação interna e externa;
 acessos qualificados às frentes de aterro, para utilização em quaisquer
condições do tempo;
Os sistemas de proteção ambiental que devem ser alocados a um aterro para
resíduos perigosos são elencados:
a) Sistema de drenagem de águas pluviais: o projeto de um ARIP deverá
contemplar um sistema de drenagem das águas de chuva que precipitam a
montante e sobre as células, durante e após a conclusão das operações.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 490


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Normalmente a operação de cada célula é efetuada com telhado ou sistema


de cobertura, portanto não há precipitação direta sobre a célula, embora a
precipitação sobre o telhado deva ser considerada, pois gera volume de água
lateralmente. As estruturas drenantes devem ser dimensionadas para uma
chuva de pico com período de retorno de 25 anos. Normalmente são
utilizadas estruturas em meia-cana de concreto ou canais de seção
trapezoidal. A vazão a ser drenada é calculada pelo denominado método
racional:

Q = C.I.A (5.2-1)

Onde Q é a vazão a ser drenada (m3/s); C é o coeficiente de escoamento


superficial, função do tipo de cobertura, declividade e tipo de solo; A é a área
de contribuição (m2) e I é a intensidade da chuva crítica (m/s). Tal intensidade
pode ser estimada utilizando-se equações hidrológicas e dados característicos
regionais.
b) sistemas de impermeabilização: os sistemas de impermeabilização visam
confinar os resíduos na célula, impedindo o ingresso de águas de precipitação
após a conclusão da mesma, e impedir a infiltração de poluentes,
especialmente eventuais líquidos percolados, durante e após a sua operação.
Um sistema de impermeabilização deve responder aos seguintes requisitos:
 estanqueidade;
 durabilidade;
 resistência mecânica;
 resistência a intempéries;
 compatibilidade com os resíduos aterrados.
É muito comum a combinação de argila compactada a 10-7 cm/s na base e
geomembrana sintética sobre essa primeira camada. As geomembranas
devem cumprir vários requisitos importantes:
 resistência a ataques químicos e compatibilidade com os resíduos
aterrados;
 resistência às intempéries, suportando ciclos de frio/calor e umidade/estio;
 flexibilidade suficiente para resistir aos esforços de instalação e operação,
sem apresentar falhas;
 resistência à laceração, punção e abrasão que podem provir de materiais
aterrados;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 491


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 facilidade de execução de emendas e reparos em campo.


Muitos tipos de polímeros têm sido utilizados para confecção de
geomembranas sintéticas. Com diferentes características e propriedades,
cada polímero apresenta um potencial específico frente a cada situação
específica. Destacam-se, no mercado, as geomembranas de borracha butílica,
de borracha de etileno-propileno, de cloreto de polivinila, de polietileno de
alta densidade e de polietileno clorossulfonado. O Quadro 5.2.1 apresenta
características, vantagens e desvantagens dos diversos materiais. Dentre os
materiais empregados para impermeabilização de aterros, não só ARIPs, mas
também aterros sanitários municipais, aterros para resíduos industriais Classe
II e lagoas de tratamento, destaca-se a geomembrana de polietileno de alta
densidade (PEAD), por sua elevada resistência mecânica, durabilidade e
compatibilidade com uma gama variada de resíduos. A Figura 5.2.3 apresenta
amostras de geomembranas de PEAD;

Quadro 5.2.1 – Características das principais membranas sintéticas


Material Características Vantagens Desvantagens
Copolímero de
Baixa permeabilidade a vapor d’água Baixa resistência a
isobutileno com e gás; estabilidade térmica; solventes de
Borracha butílica pequenas resistência a intemperismo e a hidrocarbonetos e óleos
quantidades de
ozônio; resistência à tração, ruptura e de petróleo. Difícil de
isopreno. punção. reparar e emendar.
Resistência a ozônio, radiação
Família dos ultravioleta, ao envelhecimento, à Não é recomendada para
Borracha de termopolímeros de abrasão, e à penetração de água; solventes de petróleo e
etileno-propileno etileno, propileno e tolerância aos extremos de solventes halogenados.
(EPDM) hidrocarbonato não temperatura; alta flexibilidade; Difícil de remendar e
conjugado. resistência a ácidos, álcalis, silicatos, reparar.
fosfatos e salmoura diluídos.
Sofre ataque de muitos
orgânicos, incluindo
Resistência à tração, punção,
Polímero do hidrocarbonetos,
Cloreto de absorção e alongamento; boa
monômero de cloreto solventes e óleos. Não é
Polivinila (PVC) resistência a inorgânicos; facilidade
de vinila. recomendada para
de emendar.
exposição às intempéries
e à radiação ultravioleta.
Resistência a óleos e solventes; baixa
Polietileno de Polímero Sujeita à rachadura e à
permeabilidade a vapores de água e
Alta Densidade termoplástico punção. Difícil para
gás; resistência às intempéries e a
(PEAD) baseado em etileno. manusear em campo.
altas temperaturas.
Família de polímeros Resistência a ozônio, luz ultravioleta,
Polietileno resultantes da reação intempéries e extremos de
Baixa resistência à tração
Clorossulfonado de polietileno com temperatura; resistência a ácidos e
e a óleos.
(CSPE) cloro e dióxido de álcalis; resistência à punção;
enxofre. facilidade para emendar.
Fonte: ROCCA et al. (1993)

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 492


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.2.3 – Amostras de geomembrana de PEAD

Fonte: o autor

c) Sistemas de detecção de vazamentos: os sistemas de detecção de vazamentos


são constituídos por (1) drenos-tetemunhas e (2) poços de inspeção.
Normalmente as estruturas drenantes são colchões de brita com tubo-guia,
que conduzem eventuais vazamentos entre a geomembrana e o substrato
argiloso até o poço de inspeção. Pode ser constituído um sistema de drenos-
testemunhas com, por exemplo, locação de testemunhas também abaixo do
substrato argiloso. Um sistema de coleta (bombeamento) de líquidos
percolados poderá ser associado aos poços de inspeção, no sentido do seu
recolhimento, em caso de falha no sistema;
d) Sistema de drenagem de gases: embora a geração de gases em um ARIP não
seja desejável, ela pode ocorrer devido à inserção de matéria orgânica
biologicamente metabolizável nos resíduos ou devido à inserção de
compostos voláteis ou reativos entre si (situação vedada, mas passível de
ocorrência na prática). Os drenos são constituídos por tubos verticais
perfurados envoltos em camisas de brita, distantes entre si de 30 a 70 metros.
Os gases, caso não aproveitados, devem ser queimados;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 493


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

e) Sistema de drenagem e coleta de líquidos percolados: a drenagem de


percolados deve ser projetada de forma a evitar entupimentos e manter uma
lâmina de percolado máxima de 30 cm sobre a impermeabilização. O sistema
de tratamento a jusante deverá proporcionar um efluente final que atenda
aos padrões de emissão, ou, alternativamente, deverá ser alocado sistema de
transporte licenciado do efluente a uma estação para tratamento, caso a
estação local não cumpra o papel satisfatoriamente. O sistema de tratamento
deve ser monitorado pelo menos quatro vezes por ano;
f) Sistema de monitoramento do aquífero freático: devem ser construídos pelo
menos 4 poços de monitoramento na área do aterro, locados em pontos
estrategicamente escolhidos em função da dinâmica do lençol freático que
atravessa a área em que se situa o aterro. Dos quatro poços, um deverá
situar-se a montante da área de potencial impacto poluidor e três a jusante.
Os poços deverão ser construídos obedecendo-se aos critérios normativos da
NBR 13895/1997. Muito provavelmente, em um empreendimento do porte e
significância de um ARIP, o órgão ambiental exigirá uma rede de
monitoramento bem mais complexa do que os simples quatro poços
fundamentais.
Um ARIP deverá ser operado e gerenciado seguindo padronizações estabelecidas
em planos de ação. Os planos a serem estabelecidos são os seguintes:
 Manutenção do licenciamento ambiental: os procedimentos para a
manutenção da licença de operação deverão ser cumpridos. Incluem-se aí os
condicionantes expressos na licença vigente emitida pelo órgão ambiental,
como envio de relatórios de monitoramento, de resultados de análises de
amostras de águas subterrâneas, e de planilhas de cargas recebidas, contendo
dados quantitativos, qualitativos e dados sobre a origem dos resíduos
recebidos e confinados. Deverá o empreendedor atentar-se aos prazos
estabelecidos pelo órgão licenciador para protocolo de documentação para
solicitação de renovação de licença operacional;
 Plano de registro de cargas recebidas, com registro de fontes geradoras,
quantitativos (peso e volume), composições qualitativas, resultados de
análises realizadas no resíduo, datas e horários de recebimento, local de
disposição dentro da área do aterro e demais registros que se façam
importantes;
 Plano de amostragem de resíduos, contemplando a determinação das
características dos resíduos ingressos, visando verificar-se se a fonte geradora
está executando bem sua segregação interna e se os resíduos enviados são
compatíveis com o aterro, e, portanto, com as determinações contratuais
firmadas entre gerador e operador do sistema;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 494


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 Plano de inspeção e manutenção: identifica uma série de atividades


rotineiras a serem executadas visando à manutenção das estruturas e da
qualificação do empreendimento no sentido da proteção ambiental. Incluem-
se aí verificações periódicas em drenos, bermas, diques, bombas,
equipamentos de emergência, equipamentos de monitoramento, etc.;
 Plano de emergência: contempla uma série de providências emergenciais
previamente estipuladas que deverão ser postas em operação em caso de
emergência. As informações do plano incluem (1) coleção de possíveis
incidentes e ações a serem tomadas, (2) relação de coordenadores das ações
de emergência, seus telefones e endereços atualizados, (3) relação de EPIs
alocados, incluindo localização e forma de utilização, e (4) relação de
organismos e entidades a serem contatados no caso de eventual acidente,
com telefones, endereços, e responsáveis dos serviços a serem acionados, (5)
manual de procedimentos de emergência, (6) relação de equipamentos
alocados às situações de emergência, com sua localização e forma de
utilização;
 Plano de fechamento e encerramento: deverá contemplar (1) o projeto e a
construção da cobertura final, (2) a data aproximada do encerramento, (3) os
usos programados da área no futuro, (4) as atividades de manutenção pós-
fechamento e (5) a previsão das despesas de manutenção no pós-
fechamento;
 Plano de monitoramento do aquífero freático: o plano de monitoramento
orientará os procedimentos de avaliação comparativa da qualidade da água
do lençol freático a montante e a jusante da área de eventual impacto, a
iniciarem execução previamente à instalação do empreendimento,
estendendo-se após o encerramento do aterro. O plano deverá incluir: (1)
número de poços alocados e sua localização, (2) coleção de parâmetros
alocados ao monitoramento, (3) procedimentos padronizados para coleta e
preservação de amostras, incluindo equipamentos a serem utilizados, (4)
periodicidade de amostragens (não inferior a quatro ao ano, executadas de
três em três meses), (5) avaliação da qualidade do aquífero freático
anteriormente à instalação do empreendimento. Dependendo dos critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental licenciador, em função das coleções
hídricas da área do empreendimento, poderá ser solicitado também um plano
de monitoramento de águas superficiais;
 Plano de medição de recalques: conforme determinação da NBR 8418/1984,
devem ser efetuadas medições de eventuais recalques das células de aterro
durante a operação e após a conclusão do aterro, indicando-se a metodologia
de medição empregada.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 495


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Segregação de resíduos
Quando se opera uma unidade para destinação de resíduos perigosos, deve-se
ter em mente que tais resíduos, quando em contato entre si, ou mesmo individualmente,
podem apresentar características como reatividade, explosividade, volatilidade, geração de
fumos tóxicos, aquecimento espontâneo, inflamabilidade, patogenicidade, corrosividade,
toxicidade, etc. Um estudo muito criterioso deverá conduzir a uma padronização interna de
segregação de resíduos, de maneira que sob nenhuma hipótese resíduos incompatíveis
entre si entrem em contato, colocando em risco a integridade do sistema e a segurança dos
operadores. EPA (1978) apud ROCCA et al. (1993), apresenta um quadro de
incompatibilidades entre resíduos que é reproduzida pelo Quadro 5.2.2.

Quadro 5.2.2 – Incompatibilidade de resíduos


Grupo 1-A Grupo 1-B
 Lamas ácidas
 Soluções ácidas
 Lama de acetileno
 Ácidos de bateria
 Líquidos fortemente alcalinos
 Líquidos de limpeza alcalinos  Líquidos diversos de limpeza
 Líquidos alcalinos corrosivos  Eletrólitos ácidos
 Líquido alcalino de bateria  Líquidos utilizados para gravação de metais
 Águas residuárias alcalinas  Componentes líquidos de limpeza
 Lama de cal e outros álcalis corrosivos  Banhos de decapagem e outros ácidos corrosivos
 Soluções de cal  Ácidos gastos
 Soluções cáusticas gastas  Mistura de ácidos residuais
 Ácido sulfúrico residual
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 1-A com os do Grupo 1-B: geração de calor, reação
violenta
Grupo 2-A Grupo 2-B
 Resíduos de asbestos  Solventes de limpeza de componentes eletrônicos
 Resíduos de berílio  Explosivos obsoletos
 Embalagens vazias contaminadas com pesticidas  Resíduos de petróleo
 Resíduos de pesticidas  Resíduos de refinaria
 Outras quaisquer substâncias tóxicas  Resíduos com óleo e outros inflamáveis e explosivos
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 2-A com os do Grupo 2-B: geração de substâncias tóxicas
em caso de fogo ou explosão
Grupo 3-A Grupo 3-B
 Alumínio
 Berílio
 Cálcio
 Lítio
 Resíduos dos Grupos 1-A ou 1-B
 Magnésio
 Potássio
 Sódio
 Zinco em pó, outros metais e hidretos metálicos
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 3-A com os do Grupo 3-B: fogo ou explosão, geração de
hidrogênio gasoso inflamável
continua

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 496


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.2.2 – Incompatibilidade de resíduos (continuação)


Grupo 4-A Grupo 4-B
 Resíduos concentrados dos grupos 1-A ou 1-B
 Cálcio
 Lítio
 Álcoois
 Hidretos metálicos
 Potássio
 Soluções aquosas em geral
 Sódio
 SO2, Cl2, SOCl2, PCl3, CH3, SiCl3 e outros resíduos
reativos com água
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 4-A com os do Grupo 4-B: fogo, explosão, geração de gases
inflamáveis ou tóxicos
Grupo 5-A Grupo 5-B
 Álcoois
 Aldeídos
 Hidrocarbonetos halogenados  Resíduos concentrados do Grupo 1-A ou 1-B
 Hidrocarbonetos nitrados e outros compostos
orgânicos reativos e solventes  Resíduos do Grupo 3-A
 Hidrocarbonetos insaturados
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 5-A com os do Grupo 5-B: fogo, explosão, ou reação
violenta.
Grupo 6-A Grupo 6-B
 Soluções gastas de cianetos e sulfetos  Resíduos do Grupo 1-B
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 6-A com os do Grupo 6-B: geração de gás cianídrico ou
sulfídrico.
Grupo 7-A Grupo 7-B
 Cloratos e outros oxidantes fortes
 Cloro, Cloritos
 Ácido crômico  Ácido acético e outros ácidos orgânicos
 Hipocloritos  Ácidos minerais concentrados
 Nitratos  Resíduos do Grupo 2-B
 Ácido nítrico fumegante  Resíduos do Grupo 3-A
 Percloratos  Resíduos do Grupo 2-B
 Peróxidos
 Permanganatos
Efeitos da mistura de resíduos do Grupo 7-A com os do Grupo 7-B: fogo, explosão, ou reação
violenta.
Fonte: EPA (1978) apud ROCCA et al. (1993)

São condições específicas determinadas pela NBR 10157/1987 em relação à


operação de ARIPs:
 não devem ser aceitos resíduos inflamáveis ou reativos, exceto após passarem
por tratamento específico que remova tais características;
 não podem ser dispostos resíduos com percentuais mássicos inferiores a 15%
de sólidos totais, por não suportarem cobertura, a não ser em caso de co-
disposição, adequadamente planejada;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 497


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 os resíduos precursores de emissões gasosas importantes devem ter sua


disposição evitada;
 as embalagens vazias devem ser reduzidas a volumes mínimos, ou, se com
conteúdo (até 90% do volume total), devem estar íntegras.

No Brasil o preço praticado para o recebimento de resíduos Classe I em ARIPs


gira em torno de US$ 100/t, podendo sofrer variações em função das tipologias de resíduos
enviadas.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 498


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

GLOSSÁRIO

LINER: expressão inglesa que literalmente significa forro. Relacionada a aterro, significa a
membrana que reveste o solo para evitar o seu contato com os resíduos sólidos.

RECALQUE: termo utilizado em engenharia para designar o fenômeno que ocorre quando
uma edificação sofre um rebaixamento devido ao adensamento do solo sob si.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 499


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1984. NBR 8418 - Apresentação de


projetos de aterros de resíduos industriais perigosos. Rio de janeiro, 1984.

________________________________________. 1987. NBR 10157 - Aterros de resíduos


perigosos – Critérios para projeto, construção e operação. Rio de janeiro, 1987.

________________________________________. 1992. NBR 12235 – Armazenamento de


resíduos sólidos perigosos. Rio de Janeiro, 1992.

________________________________________. 1997. NBR 13895 - Construção de poços


de monitoramento e amostragem – procedimento. Rio de janeiro, 1997.

________________________________________. 2004. NBR 10004 – Resíduos sólidos. Rio


de janeiro, 2004.

ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 500


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.3 ESTABILIZAÇÃO E
SOLIDIFICAÇÃO
A estabilização consiste em uma técnica que visa tratar um resíduo sólido, em
geral perigoso, alterando a sua solubilidade, mobilidade ou toxidez. As transformações dão-
se por meio de reações químicas que fixam os elementos ou compostos tóxicos em
polímeros impermeáveis ou em cristais estáveis, melhorando ou não as características físicas
dos resíduos.
A solidificação consiste no envolvimento (encapsulamento) do material sólido,
em geral perigoso, por algum composto inerte, gerando blocos monolíticos resistentes ao
deslocamento dos elementos e compostos poluentes e contaminantes para fora dos blocos,
e melhorando sua integridade estrutural, e seus aspectos de manuseio e transporte. O
encapsulamento de cada partícula individual chama-se microencapsulamento, enquanto que
o encapsulamento de grandes massas de resíduos denomina-se macroencapsulamento.
Os principais objetivos dos sistemas de estabilização/solidificação são citados
(ROCCA et al., 1993):
 melhorar as características físicas e de manuseio do resíduo;
 diminuir a área superficial através da qual possa ocorrer transferência ou
perda de constituintes para o meio;
 limitar a solubilidade de qualquer constituinte do resíduo;
 destoxificar componentes do resíduo;
 imobilizar constituintes perigosos.
Genericamente duas são as possibilidades de destinação do material solidificado:
 sistemas de destino final: aterros sanitários e ARIPs;
 aproveitamento de massa: fabricação de estruturas de construção e de
suporte (tijolos, briquetes, blocos construtivos, etc.).
Nem todos os tipos de resíduos justificam a aplicação de uma técnica de
estabilização/solidificação, pois há diferentes graus de compatibilidade dos diversos
constituintes dos resíduos com os agentes encapsulantes, solidificantes e aglutinantes,
ocasionando unidades monolíticas com maiores ou menores resistências estruturais físicas e

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 501


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

potenciais de lixiviação. De uma maneira geral considera-se a tecnologia aplicável,


sobretudo, a resíduos inorgânicos, havendo sérias restrições à fixação de resíduos com mais
de 10-20% de orgânicos em sua constituição, via de regra porque tais interferem nos
fenômenos físicos e químicos de agregação. Em geral, para resíduos orgânicos são mais
efetivos os processos de tratamento via degradação biológica, pirólise e incineração.
Quando encaminhados ao processo de estabilização/solidificação, resíduos com elevados
percentuais de componentes orgânicos geralmente passam por processos de destilação ou
extração por solventes, ainda que algumas instalações possam processá-los em mistura com
grandes proporções de resíduos inorgânicos.
Os processos de estabilização/solidificação são genericamente classificados em
dois tipos:
 fixação inorgânica: utiliza aglomerantes, como cimento, cal, silicatos e argila;
 encapsulamento: utiliza polímeros orgânicos específicos.
A seguir são abordados os principais processos e técnicas clássicos disponíveis:

1) Processo à base de cimento


O cimento é uma mistura de silicatos de cálcio obtida a partir da queima da
mistura de cal, argila e outros silicatos, a altas temperaturas. A adição de água ao cimento
ocasiona, em cada grão, o aparecimento e crescimento de fibrilas, que se emaranham umas
às outras, unindo-se lateralmente em lâminas. Resíduos adicionados a essa mistura acabam
sendo agregados a essa estrutura fibrilar, imobilizando-se na massa monolítica. Além disso,
metais presentes no resíduo sofrem captura e acabam incorporados à estrutura cristalina
formada pelo cimento. Por fim, o pH elevado da mistura é favorável a que metais sofram
conversão a carbonatos e hidróxidos insolúveis. O processo é muito recomendável para o
tratamento de lamas, resíduos com metais pesados, sulfetos, asbesto, látex e plásticos
rígidos. No entanto, sais solúveis de manganês, estanho, zinco, cobre e chumbo, além de
alguns sais de sódio, podem retardar o endurecimento da massa. Sulfatos presentes no
resíduo podem acarretar fragmentação do material solidificado, a partir da formação de
sulfa-aluminato de cálcio hidratado. Alguns aditivos, como o silicato de sódio podem
ocasionar precipitação dos cátions prejudiciais à cura.
Alguns estudos indicam a conveniência de impregnação dos blocos monolíticos
em polímeros, por imersão em monômeros, para preenchimento dos poros. Após
aquecimento do material há polimerização, com consequente melhora da resistência e
durabilidade do material, que se torna também mais refratário à lixiviação.
O lodo a ser processado é alimentado em um secador, para remoção do excesso
de umidade, seguindo em uma correia transportadora para um misturador, onde são
introduzidos água, cimento e aditivos. A mistura homogeneizada segue para moldadores,
onde será curada em blocos após 28 dias.
As principais vantagens do processo à base de cimento são:

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 502


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 matéria-prima abundante e barata;


 tecnologia bem conhecida;
 dispensa secagem dos resíduos, pois o processo de cura utiliza água;
 aplicabilidade a vários tipos de resíduos como oxidantes fortes e ácidos,
graças à alcalinidade do cimento;
 possibilidade de selamento dos blocos com agentes de revestimento,
diminuindo a lixiviabilidade.
As desvantagens do processo são:
 necessidade de grandes quantidades de cimento em relação às quantidades
de resíduos;
 elevado peso dos blocos formados;
 lixiviabilidade dos blocos, no caso de tratamento de alguns tipos específicos
de resíduos, como soluções levemente ácidas;
 formação de amônia, a partir de resíduos com íon amônio, devido ao elevado
pH do sistema.

2) Processo à base de cal e materiais pozolânicos (não incluindo cimento)


Os materiais pozolânicos contêm partículas silicosas, que combinadas com a cal,
na presença de água, produzem um material com propriedades similares ao concreto.
Materiais pozolânicos comumente usados incluem cinzas, poeiras de forno de cimento e
escória de alto-forno, que são produtos residuais com pouco valor comercial, e que
solidificados com resíduos perigosos, produzem solução para ambos os resíduos. O sistema é
muito parecido com o anteriormente descrito utilizando cimento. As principais vantagens do
processo são:
 os produtos sólidos obtidos apresentam características de manuseio e
permeabilidade melhores do que as do resíduo original;
 o sistema dispensa sofisticação de equipamentos;
 o processo químico é bem conhecido;
 não há rachaduras originárias de sulfatos;
 não há necessidade de secagem prévia.
As desvantagens do processo são:
 elevado peso dos blocos monolíticos formados;
 há possibilidade de lixiviação de certos componentes.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 503


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

3) Processo à base de cimento e materiais pozolânicos


O sistema que utiliza cimento conjuntamente com materiais pozolânicos pode
proporcionar produtos de melhor qualidade, a partir de reações entre a sílica livre e o
cimento, elevando resistência e durabilidade. Materiais como silicatos solúveis, géis de sílica
hidratada e argilas podem melhorar muito a qualidade do produto final.

4) Processo à base de polímeros


Termoplásticos como asfalto, betume e polietileno, que amolecem ao
aquecimento e endurecem ao resfriamento são comumente empregados para solidificar
resíduos. Previamente secos, os resíduos são misturados ao termoplástico aquecido em um
tambor metálico. Após resfriamento, uma massa sólida pode ser extrudada. Podem ser
requeridos aquecimentos a 130oC-230oC e a quantidade de polímero empregada é
normalmente elevada (normalmente 1:1 ou 1:2 de material fixador para resíduo, em base
seca).
O processo não é aplicável a solventes orgânicos e sais oxidantes, como nitratos,
cloretos e percloratos, que reagem com o termoplástico, ocasionando a sua deterioração,
podendo também gerar fogo. Sais desidratáveis, tais quais o sulfato de sódio ocasionam
elevação da plasticidade do polímero, portanto são indesejáveis. As principais vantagens do
processo são:
 taxas de lixiviação muito reduzidas em relação aos sólidos produzidos a partir
de cimento ou pozolânicos;
 volume do produto final reduzido, pois o processo ocorre a seco;
 estabilidade química e biológica dos produtos formados;
 alta aderência entre resíduos e termoplásticos.
As desvantagens do processo são:
 necessidade de mão-de-obra e equipamento sofisticados;
 processo não aplicável a materiais que volatilizam ou decompõem-se a
elevadas temperaturas;
 poluição, em alguns casos, por geração de óleos e odores desagradáveis;
 consumo elevado de energia em função de secagem e aquecimento;
 problemas relacionados à aplicação de oxidantes fortes: fogo e deterioração
dos polímeros;
 a reidratação de sais desidratados adicionados ao termoplástico ocorrerá
lentamente se a mistura for embebida em água, havendo expansão e
fragmentação dos blocos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 504


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5) Técnicas à base de polímeros


Nestas técnicas são utilizados polímeros termofixos, como uréia-formaldeído,
poliéster e butadieno. O pré-polímero é adicionado aos resíduos em um misturador. À
mistura é então adicionado um catalisador, ainda sob mistura. Previamente à polimerização
o processo de mistura é encerrado. O material polimerizado não forma ligações com o
resíduo, e sim uma massa esponjosa que o captura. Os líquidos presentes no resíduo original
não são capturados, permanecendo após a polimerização, necessitando destinação correta.
As principais vantagens do processo são:
 necessidade de menores quantidades de solidificantes do que nos demais
processos;
 o resíduo tratado é geralmente desidratado, mas não necessariamente seco.
Entretanto, o polímero solidificado deve estar seco antes da sua disposição
final;
 produtos finais mais leves;
 não é necessária administração de calor ao processo;
 a resina solidificada não é inflamável.
As desvantagens do processo são:
 não há reação entre solidificante (resina) e resíduos, portanto, caso haja
ruptura do sólido final, haverá migração de poluentes/contaminantes;
 necessidade de controle efetivo do pH entre 1,5±0,5 para rápida
polimerização, caso contrário não haverá incorporação dos resíduos à massa
formada, por depositarem-se;
 líquidos presentes no resíduo não são incorporados à massa, necessitando
tratamento;
 corrosividade dos catalisadores, ácidos fortes, necessitando-se equipamentos
especiais de mistura e containeres impermeáveis;
 liberação de fumos perigosos quando da polimerização;
 biodegradabilidade de algumas resinas, principalmente aquelas do sistema
uréia formaldeído.

6) Técnicas de encapsulamento superficial


Nestas técnicas os resíduos são prensados, aglomerados ou entamborados,
finalizando-se com um revestimento superficial de poliuretano, resina de fibra de vidro ou
misturas desses, que é aplicado a pincel ou spray. Devido a problemas de adesão entre
resíduos e revestimento, estudos conduziram a um sistema que utiliza uma solução de
acetona e 1,2–polibutadieno modificado, que é adicionada a 3%-4% ao resíduo previamente

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 505


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

seco, permitindo maior adesão do revestimento. Quando o revestimento for mantido


intacto não há lixiviação de poluentes/contaminantes. Todavia o processo é dispendioso
devido ao elevado custo dos equipamentos necessários, energia e encapsulantes. Há riscos
de fogo e existe necessidade de mão-de-obra qualificada.

7) Técnicas de auto-solidificação
São processos aplicáveis a lodos com grandes quantidades de sulfito ou sulfato
de cálcio. Através da calcinação os sulfitos ou sulfatos de cálcio são parcialmente
desidratados, gerando um produto similar ao cimento. O produto é reintroduzido ao lodo,
juntamente com aditivos patenteados, gerando um produto com baixa permeabilidade,
similar à argamassa. As principais vantagens do processo são:
 tempos curtos de endurecimento e cura;
 o produto é estável, não biodegradável e não inflamável;
 a formação de ligações químicas é efetiva para imobilização de metais
pesados;
 aplicável a resíduos não completamente secos.
As desvantagens do processo são:
 aplicável apenas a lodos contendo sulfitos ou sulfatos em elevada
concentração;
 consumo energético na calcinação;
 necessidade de equipamentos de mistura sofisticados e mão-de-obra
especializada.

8) Técnicas de transformação em vidro, materiais sintéticos ou cerâmicos


São técnicas aplicáveis a resíduos altamente perigosos, como os radioativos,
visto que os produtos solidificados apresentam baixíssima lixiviabilidade. Baseia-se na fusão
de resíduos com sílica ou outros materiais para formar vidro ou materiais cerâmicos. As
principais vantagens do processo são:
 elevado grau de contenção dos resíduos;
 baixo custo dos aditivos utilizados (sienite e cal).
As desvantagens do processo são:
 volatilização de componentes tóxicos, devido às elevadas temperaturas do
processo;
 elevado consumo de energia;
 necessidade de equipamentos sofisticados e mão-de-obra especializada.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 506


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Um desafio importante que vem sendo alvo de pesquisas é a produção de sólidos


que possam prestar-se, com segurança, a uma aplicação prática segura, por exemplo, como
material de construção. Esta é uma forma de transformar resíduos perigosos em artefatos
úteis, que, se por um lado por si só não resgatam os investimentos alocados aos processos
(auto-sustentabilidade econômica), por outro podem, do ponto de vista econômico,
viabilizar a escolha da metodologia de tratamento, mesmo porque inexoravelmente os
resíduos necessitarão dispêndio de recursos para sua destinação.
TOCHETTO e COUTINHO (2004) apresentam uma síntese das incompatibilidades
entre diferentes resíduos e resíduos e aditivos nos processos de solidificação, que é
reproduzida no Quadro 5.3.1.
Dos processos de solidificação disponíveis, ROCCA et al. (1993) destacam aqueles
a base de silicatos como mais versáteis em relação aos tipos de resíduos que se
compatibilizam. Os autores apresentam uma tabela de compatibilidades que é reproduzida
pelo Quadro 5.3.2.

Quadro 5.3.1 – Incompatibilidade entre materiais nos processos de solidificação


Os materiais... ...são incompatíveis com... ...provocando...
...bases, lama de acetileno, ...ácidos, lamas ácidas e ...geração de calor ou reação
soluções alcalinas... soluções ácidas... violenta.
...liberação de substâncias
...materiais tóxicos, resíduos de ...solventes em geral, resíduos
tóxicas em presença de calor ou
berílio, pesticidas... de petróleo...
explosão.
...metais reativos: alumínio, ...explosão, fogo, geração de
...ácidos ou bases fortes...
magnésio, sódio... hidrogênio.
...geração de gás cianídrico ou
...cianetos, sulfetos, soluções... ...ácidos...
sulfídrico.
...substâncias orgânicas:
...ácidos, bases fortes e ...fogo, explosão, reação
aldeídos, hidrocarbonetos,
metais... violenta.
halogenados...
...oxidantes fortes: cloro, ...materiais inflamáveis, metais,
...fogo, explosão e reação
nitratos, hipocloritos, hidrocarbonetos orgânicos e
violenta.
peróxidos... ácidos orgânicos...
Fonte: TOCHETTO e COUTINHO (2004)

A busca por processos que ao mesmo tempo produzam


estabilização/solidificação de resíduos especiais Classe I ou Classe II-A e gerem produtos
úteis tem conduzido a diversas experiências e à obtenção de diferentes materiais finais. A
Figura 5.3.1 apresenta um tijolo que incorpora de maneira segura lodo proveniente do
tratamento de água.
A partir da mistura de resíduos diversas como orgânicos, plásticos e
incorporando resíduos Classe I é possível, utilizando processo patenteado o qual opera com

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 507


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

temperatura e pressão específicas, obter a denominada madeira ecológica, que é um


material de elevada resistência e serve como substituto da madeira comum para vários fins.
A Figura 5.3.2 apresenta um registro fotográfico do produto final do processo.
Uma empresa brasileira desenvolveu um produto denominado solidificador de
resíduos. Na forma de um sólido granulado, o material quando adicionado a vários
diferentes resíduos no estado líquido produz um material gelificado, com características
mecânicas de um sólido, permitindo a simplificação do seu manejo e transporte, e mesmo a
sua destinação a um aterro para resíduos industriais (GERAIS, 2017).

Figura 5.3.1 – Tijolo o qual incorporou resíduos do processo de coagulação-floculação de


água para potabilidade

Fonte: o autor

Figura 5.3.2 – Madeira ecológica

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 508


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.3.2 – Compatibilidade entre resíduos e técnicas de solidificação


Tipo de tratamento
Compo- Baseado em
Solidificação Baseado em Encapsula- Formação de
nente do Baseado em cal e Auto-
por polímero mento vidro e
resíduo cimento materiais cimentação
termoplástico orgânico superficial cerâmicos
pozolânicos
RESÍDUOS ORGÂNICOS
Muitos Muitos
impedem o impedem o Podem Necessitam
Orgânicos Os resíduos
Solventes endurecimen- endurecimen- retardar o primeiramen- Risco de fogo
podem decompõem-se
orgânicos e to, pode to, pode endurecimen- te serem por
evaporar por a altas
óleos ocorrer ocorrer to dos absorvidos pela aquecimento
aquecimento temperaturas
emanação de emanação de polímeros matriz sólida
vapores vapores
Compatível:
Sólidos Podem
Boa, frequente- Boa, frequente- Possibilidade muitos Os resíduos
orgânicos retardar o Risco de fogo
mente mente de uso como materiais de decompõem-se
(resinas, endurecimen- por
aumenta a aumenta a agentes encapsula- a altas
plásticos, to dos aquecimento
durabilidade durabilidade ligantes mento são temperaturas
alcatrão) polímeros
plásticos
RESÍDUOS INORGÂNICOS
Podem ser Podem ser Podem ser
O cimento Podem ser
Resíduos neutralizados encapsulados neutralizados
neutraliza os Compatível Compatível neutralizados e
ácidos antes da antes da formando sais
ácidos incorporados
incorporação incorporação de sulfato
Podem causar
Altas
deterioração Compatível se
Podem causar Podem causar temperaturas
dos materiais houver a
Oxidantes Compatível Compatível ruptura da ruptura da podem causar
de presença de
matriz e fogo matriz reações
encapsulament sulfatos
indesejáveis
o
Podem
retardar o
Podem
endurecimento
desidratar e
e causar Compatível em
Sulfatos Compatível reidratar Compatível Compatível Compatível
fragmentação a muitos casos
causando
não ser que use
fissuramento
cimento
especial
Facilmente Podem
lixiviados do retardar o
Compatível se
material endurecimen-
Podem houver Compatível em
Haletos cimentado. to. A maior Compatível Compatível
desidratar presença de muitos casos
Podem parte é
sulfatos
retardar o facilmente
endurecimento lixiviada
pH ácido Compatível se
Mateis solubiliza os houver Compatível em
Compatível Compatível Compatível Compatível
pesados hidróxidos presença de muitos casos
metálicos sulfatos
Compatível se
Materiais
houver
radioati- Compatível Compatível Compatível Compatível Compatível Compatível
presença de
vos
sulfatos
Fonte: ROCCA et al. (1993)

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 509


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.

GERAIS. 2017. Ultra solid. Disponível em


http://www.geraissolidificacao.com.br/produtos_solidificacao_residuos_ultra_solid.asp.
Acedido em 27.05.2017.

TOCHETTO, Marta R.L.; COUTINHO, Heloise L. 2004. Gerenciamento de resíduos sólidos


industriais. Apostila de curso. ABES-RS. 97p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 510


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.4 LANDFARMING
O landfarming ou sistema de tratamento de resíduos no solo (STRS) é classificado
como uma técnica de tratamento biológico de resíduos no solo. Baseia-se na capacidade de
uma intensa atividade de microrganismos em degradar, destoxificar ou transformar
substratos orgânicos, conjuntamente com as propriedades químicas e físicas do solo, que
promovem efeitos de sorção, quelação, imobilização e outros relevantes que transformam
ou indisponibilizam os poluentes e contaminantes.
Como método biológico de tratamento, diferentes rotas bioquímicas estarão
associadas a diferentes condições do meio. Basicamente, havendo presença de oxigênio
molecular, os compostos de carbono metabolizáveis serão convertidos em água e dióxido de
carbono ou em compostos húmicos, os compostos nitrogenados serão nitrificados, isto é,
oxidados, gerando nitritos e nitratos. Se a rota for de fermentação anaeróbia (incomum), em
função de ausência de oxigênio molecular, serão gerados dióxido de carbono, metano,
compostos reduzidos de enxofre, gás amônia e outros compostos típicos do processo
anaeróbio. Serão necessários compostos aceptores de elétrons, ou, em outras palavras, com
elevado potencial de auto-redução, para que a metabolização anaeróbia ocorra, como
processo de oxi-redução em que se constitui. Diversos compostos, como nitratos, sulfatos e
mesmo compostos altamente tóxicos como pesticidas e herbicidas podem participar dos
processos metabólicos dos microrganismos, servindo como fonte de energia, fonte de
carbono ou aceptores de elétrons, sofrendo modificações químicas como decomposição,
oxidação, ruptura de anéis aromáticos, hidrólise, isomerização e outras modificações,
gerando produtos com características diferentes do original (HILL e WRIGHT, 1978). Todavia,
em função das particularidades dos compostos presentes na maior parte dos resíduos e do
potencial poluente dos produtos da degradação anaeróbia, como processo incompleto, é
preferível a manutenção de condições aeróbias no STRS, ainda que um horizonte anóxico
inferior possa, por vezes, apresentar-se interessante, principalmente para a desnitrificação.
Os produtos biotecnológicos, como cepas de bactérias especialmente
desenvolvidas para adaptação em ambientes adversos, e com metabolismo adequado ao
substrato a ser transformado, aparecem como opções interessantes, apesar de receberem
forte crítica em relação às possíveis consequências, não estudadas, de sua inserção nos
ecossistemas. Os órgãos ambientais de jurisdição avaliarão a possibilidade de utilização de
diferentes cepas biotecnológicas, estabelecendo proibições e restrições pertinentes.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 511


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A tecnologia de landfarming é considerada interessante por proporcionar o


tratamento e disposição final simultâneos de uma grande variedade de resíduos, perigosos e
não-perigosos, sólidos e líquidos a um custo relativamente baixo (internacionalmente US$
2,00-80,00/m3).
O tratamento dos resíduos é feito através de aplicação controlada dos mesmos
na superfície ou no interior do horizonte superficial do solo, segundo taxas de aplicação
superficiais compatíveis com a capacidade depuradora dos microrganismos e do próprio
substrato (solo), empregando-se práticas de manejo e sistemas de monitoramento
convenientes. Evidentemente, nem todos os tipos de resíduos apresentam compatibilidade
com esse sistema tecnológico, visto que alguns tipos apresentarão taxas de degradação
biológica reduzidas, necessitando áreas enormes de aplicação. As aplicações mais frequentes
do lanfarming referem-se ao tratamento de resíduos oleosos de refinarias de petróleo, solos
contaminados e lodos industriais. A opção tecnológica tem sido muito utilizada para
tratamento de solo contaminado com vazamento de combustíveis, provenientes de postos
de combustíveis. Compostos clorados ou nitrogenados são, em geral, de difícil estabilização
em landfarming, contudo a viabilidade da tecnologia para cada tipo de resíduo ou composto
precisa ser avaliada através de ensaio de tratabilidade, em que sejam determinadas taxas de
transformação/degradação. Efetivamente, o sistema de landfarming presta-se somente à
destinação de resíduos que sejam biodegradáveis.
Os critérios para projeto, implantação e operação de landfarming devem seguir
as especificações da norma NBR 13894/1997 – “Tratamento no solo”.
A escolha de áreas para constituição de landfarming deve seguir critérios
estabelecidos de acordo com as conveniências tecnológica e ambiental:
 devem ser eliminadas as áreas de proteção ambiental ou de proteção de
mananciais;
 devem ser evitadas áreas com litologia muito permeável, lençol freático
elevado, com falhas ou fraturas geológicas, e zonas de recarga de aquíferos ou
com aquíferos importantes de superfície ou subsuperfície;
 devem ser evitadas áreas com declividade superior a 5%;
 deve ser avaliada a direção predominante dos ventos em relação aos centros
urbanos próximos;
 áreas com elevado índice pluviométrico deverão ser evitadas.
Escolhida uma determinada área para acolhimento do projeto, esta deverá ser
detalhada através da realização de análises. Deverão ser levantadas características
pedológicas, geológicas e hidrogeológicas do sítio, deverão ser tomadas amostras de solo
para verificação das espessuras dos horizontes de material geológico, granulometria,
permeabilidade, porosidade, capacidade de retenção de água, pH, capacidade de troca
catiônica (CTC) e fertilidade. Tais propriedades orientarão os cálculos das taxas de aplicação
(projetos de tratamento).

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 512


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A Figura 5.4.1 apresenta um perfil esquemático de um sistema clássico de


tratamento de resíduos no solo (landfarming). Basicamente, a célula de STRT apresenta dois
perfis:

Figura 5.4.1 – Representação esquemática de célula de landfarming

Fonte: o autor

 camada reativa: perfil superior, com aproximadamente 0,50 m de espessura,


onde ocorrem os principais fenômenos biológicos e físicos de estabilização e
imobilização dos compostos presentes nos resíduos;
 zona de tratamento: camada com aproximadamente 1,0 metro de espessura,
responsável pela minimização dos riscos de fuga dos poluentes para o
ambiente.
A concepção moderna de um sistema de landfarming, dependendo das
particularidades da área escolhida e das exigências do órgão ambiental de jurisdição, poderá
contemplar a utilização de uma camada inferior de material impermeável, como argila
compactada ou mesmo geomembrana sintética.
O projeto e a operação de um sistema de landfarming devem ser elaborados e
conduzidos no sentido de (1) proverem a proteção ambiental necessária e (2) monitorarem a
efetividade dos processos de estabilização dos resíduos destinados. ROCCA et al. (1993) citam
que, frequentemente, sistemas mal operados ou sem monitoramento efetivo transformam-
se em unidades parecidas com lixões a céu aberto, em que não há efetiva estabilização dos
resíduos, ocorrendo elevado risco ambiental para a região. Notoriamente, uma série de
sistemas e procedimentos devem ser alocados a um STRS, conforme segue:

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 513


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Sistema de controle de água


A água é o veículo de dispersão de poluentes e contaminantes por excelência. A
importância da execução de um sistema de controle de água é crescente em função do
índice pluviométrico de uma região e inversamente crescente em função do potencial de
evapotranspiração regional. O sítio de landfarming deverá dispor de sistema de drenagem
pluvial que desvie toda a água precipitada a montante. A água precipitada sobre as células
de landfarming, idealmente deveria ser mantida na célula para evitar a dispersão de
poluentes e contaminantes. Contudo, em regiões de intensa precipitação e baixa
evapotranspiração deverá ser associado um sistema de tratamento de efluentes líquidos aos
sítios de landfarming. Condições climáticas como a reinante no estado do Rio Grande do Sul,
por exemplo, com elevados índices pluviométricos e baixa evapotranspiração, devido à
elevada umidade relativa do ar, limitam muito a aplicabilidade do landfarming,
especialmente porque frequentemente ocasionam anaerobiose dos sistemas, bem como
promovem efetiva lixiviação dos resíduos que, ao invés de sofrerem estabilização nas
células, têm sua carga de matéria orgânica e contaminantes transferida para a fase líquida.

Sistema de alocação de unidades de tratamento


Um sítio de landfarming pode abrigar uma única grande célula ou várias células,
dependendo principalmente das características dos resíduos a tratar:
 sistema de célula individual: aplica-se principalmente ao tratamento de
resíduos em quantidades limitadas ou de fácil degradabilidade. Nesse sistema
toda a área disponível constitui uma grande célula;
 sistema de ampliação progressiva de unidades: neste sistema a área é dividida
em subáreas, em que serão construídas as células. É adotado frequentemente
no caso de rápida saturação do solo, como em landfarming alocado ao
tratamento de resíduos com elevadas concentrações de metais;
 sistema de rotação: Sistema mais comum, empregando certo número de
células construídas que receberão, rotativamente, resíduos com rápido
potencial de estabilização. Quando a última célula encerrar sua capacidade, a
primeira já estará totalmente estabilizada e pronta para novamente receber
resíduos.

Caracterização e monitoramento de solo, resíduos e solução do solo


O monitoramento operacional de um landfarming é tarefa essencial para
avaliação das taxas de aplicação e da efetividade da unidade de tratamento. O solo deverá
ser monitorado, determinando-se granulometria, permeabilidade, porosidade, capacidade
de retenção de água, pH, capacidade de troca catiônica (CTC), fertilidade, carbono orgânico
total (COT), nitrogênio e fósforo. Os resíduos que ingressam no sistema deverão ser
analisados para os parâmetros densidade, teor de água, sólidos totais, óleos e graxas (no

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 514


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

caso comum de resíduos oleosos), compostos orgânicos voláteis e extraíveis, pH e metais.


Na verdade, esse leque de análises deverá ser ampliado, tendo em vista as características
particulares dos resíduos que estiverem em tratamento. A mistura solo-resíduo deverá ser
monitorada segundo todos os parâmetros citados e outros de interesse, considerando-se os
constituintes dos resíduos os quais se deseja estabilizar ou imobilizar.
O monitoramento ambiental dá-se em duas instâncias:
 monitoramento do lençol freático: através de poços de monitoramento,
locados minimamente um a montante da área de potencial impacto e três a
jusante da mesma;
 monitoramento da solução do solo: objetiva, principalmente, verificar-se a
percolação de lixiviados entre substratos, verificando-se se há passagem de
poluentes entre as camadas da célula e dessa para o solo. Os equipamentos
de amostragem de líquidos normalmente são locados na interface entre a
camada reativa e a zona de tratamento e entre esta última e o solo natural,
ou abaixo da geomembrana, se esta estiver presente. O denominado lisímetro
de sucção (vide Figura 5.4.2) é um equipamento normalmente utilizado para
coleta de líquido entre microporos do solo. Através de uma bomba de
vácuo/pressão é produzida pressão negativa no seu interior, o que força a
entrada de líquido, que pode ser levado à superfície através de pressão
positiva. Para o caso de solos permeáveis com grande volume de macroporos
é normalmente utilizado o amostrador de drenagem livre, que é uma caixa de
vidro ou aço inox com aberturas, que é colocada em uma abertura feita no
solo. As amostras são retiradas por meio de sucção (vide Figura 5.4.3).

Figura 5.4.2 – Lisímetro de sucção

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 515


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.4.3 – Amostrador de drenagem livre

Fonte: o autor

Técnica de aplicação do resíduo


A aplicação do resíduo no solo deverá ser conduzida de maneira a promover a
máxima homogeneização de distribuição, evitando-se concentrar resíduos em um ou mais
pontos. Basicamente, a metodologia de aplicação irá variar em função das características do
resíduo. Para resíduos com baixos teores de sólidos os métodos aplicados poderão ser a
aspersão ou a injeção subsuperficial. Para resíduos com menores teores de água poder-se-á
optar pela disposição via lanço ou pela simples deposição no solo.

Aragem do solo
A aragem do solo cumpre dois papéis fundamentais no landfarming:
 Prover a mistura do resíduo com o solo, no sentido de maximizar os efeitos
físicos do substrato sólido e rapidamente incorporar microrganismos
presentes no solo aos resíduos a serem tratados;
 Prover oxigenação do meio durante o processo, no sentido de maximizar os
processos oxidativos, em detrimento dos processos anaeróbios, incompletos e
geradores de produtos indesejáveis.

Controle do pH
O pH propício para o desenvolvimento bacteriano aeróbio encontra-se entre 6,5-
7,5. Em geral os solos tropicais são ácidos e há necessidade de correção do pH, levando-o
acima de 6,0. A biodegradação dos resíduos gera ácidos voláteis e húmicos, pelo que o pH
deverá ser monitorado nas células de landfarming. A maneira mais simples preconizada para

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 516


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

correção do pH consiste em adicionar-se calcário, em proporções que são calculadas a partir


de testes de incubação com o solo a corrigir durante 30 dias, construindo-se curvas de
neutralização. Logicamente, o tratamento de resíduos com diferentes características
químicas promoverá, a partir de sua mistura com o solo, diferentes valores de pH, devendo
cada caso ser estudado.

Adição de nutrientes
O balanceamento da relação entre matéria carbonácea a estabilizar, nitrogênio e
fósforo é fundamental para que o processo biológico ocorra a contento e sob taxas elevadas
de conversão. O nitrogênio cumpre função plástica nas células bacterianas, enquanto que o
fósforo relaciona-se aos processos energéticos das mesmas. Para diferentes composições de
resíduos são requeridas diferentes quantidades de nitrogênio e fósforo. ATLAS (1984) apud
ROCCA et al. (1993) citam como exemplo, para uma carga de 100 t de hidrocarbonetos de
refinaria, a aplicação de 500 kg de nitrogênio e 50 kg de fósforo.

Temperatura e umidade
A temperatura é um parâmetro fundamental nos processos biológicos de
tratamento. De uma maneira geral, entre limites, as taxas de biodegradação elevam-se com
a elevação da temperatura. Considera-se a faixa de 20oC a 30oC como adequada ao
landfarming. Abaixo de 5oC o processo torna-se excessivamente lento, inviabilizando-se.
Como para sistemas abertos, esta é uma variável sobre a qual não se dispõe de controle, o
conhecimento da climatologia local é pré-requisito para a tomada de decisão entre
construir-se o sistema de tratamento ou tratarem-se os resíduos através de outra
metodologia, ou, prevalecendo a primeira alternativa, caso ocorram estações frias, planejar
o sistema para operar parcialmente ao longo do ano.
A umidade é fator de controle essencial da operação, pois excesso de umidade
pode promover lixiviação da massa de solo e resíduos, bem como ocasionar anaerobiose
parcial ou total, o que é indesejável. Por outro lado, em regiões excessivamente secas pode
ser necessária irrigação do solo, pois sob condições de baixa umidade os processos
biológicos inibem-se ou cessam. É recomendável monitoramento contínuo do teor de
umidade, condicionando-o a 50-70% de sua capacidade de campo.

Encerramento
Após o esgotamento da vida útil do STRS, com a exaustão do solo, procede-se o
fechamento do empreendimento, que é executado a partir das orientações de um plano de
encerramento previamente aprovado pelo órgão ambiental de jurisdição. Devem ser
mantidos todos os registros de quantitativos e qualitativos das cargas recebidas, origem,
bem como todos os dados de relevância coletados ao longo da vida útil da unidade. Com

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 517


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

relação às células exauridas de landfarming, algumas alternativas a adotar são sugeridas por
EPA (1987) apud ROCCA et al. (1993):
 remoção do solo contaminado a um ARIP ou descontaminado a um aterro
para resíduos Classe II;
 execução de selamento com argila e/ou membrana sintética;
 prosseguimento do monitoramento do lençol freático para verificação da
continência dos poluentes na célula;
 remoção parcial do solo e selamento da célula;
 remoção parcial do solo e colocação de cobertura vegetal;
 apenas colocação de cobertura vegetal;
 em muitos casos específicos, como os de tratamento de resíduos oleosos
(hidrocarbonetos) com baixas concentrações de metais, o produto da
estabilização por landfarming poderá ser um resíduo granular Classe II, pelo
que poderá ser destinado de maneira relativamente simplificada.
O sistema de landfarming necessita uma gestão qualificada e o estabelecimento
de condicionantes rígidos pelo órgão fiscalizador ambiental, uma vez que, quando mal
gerido, aproxima-se muito de uma disposição desqualificada de resíduos perigosos a céu
aberto (lixão).
No caso de regiões de elevado índice pluviométrico anual, em que grandes
fazendas de tratamento de resíduos operando sem cobertura são vedadas, a técnica evoluiu
para o processo biológico aeróbio conduzido em galpões ou terrenos cobertos. Operando de
maneira análoga, com inoculação, aeração forçada e reviramento, as unidades fechadas
detêm ainda a tiragem forçada de gases. Mesmo adotando-se outras nomenclaturas para o
processo, que então não é conduzido em uma fazenda (farm), o processo continua
resguardando uma perfeita analogia com a compostagem, podendo ser imaginado como
uma compostagem de resíduos perigosos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 518


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1997. NBR 13894 – Tratamento no solo.


Rio de Janeiro, 1997.

HILL, I.R.; WRIGHT, S.J.L. 1978. Pesticide Microbiology. Academic Press Inc., 1978.

ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 519


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.5 DIGESTÃO ANAERÓBIA COM


RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA
A digestão anaeróbia, em si, não consiste em uma novidade tecnológica. O
processo de digestão anaeróbia é um roteiro normal de degradação de matéria orgânica que
continuamente ocorre, há milhões de anos, em todos os lugares, em maior ou menor
velocidade, onde houver ausência parcial ou total de oxigênio, umidade suficiente e
presença de nutrientes. A rota anaeróbia conduz à formação de compostos não
completamente estabilizados, sendo os principais produtos finais gasosos o metano (CH4) e
o dióxido de carbono (CO2). Enquanto esse último composto é estável, o primeiro é um
hidrocarboneto com elevado poder calorífico. O efluente gasoso do processo é denominado
biogás. Aspectos relacionados à digestão anaeróbia de resíduos e ao biogás foram
apresentados em capítulos precedentes.
O biogás foi utilizado para aquecer água de banho na Assíria já no Século X a.C.,
bem como na Pérsia durante o século XVI. Com o avanço da pesquisa científica, no século
XVII, Jan Baptista Van Helmont associou a geração de um gás inflamável com o decaimento
da matéria orgânica. Também Alessandro Volta, em 1776, mostrou que havia uma relação
entre a quantidade de decaimento da matéria orgânica e a quantidade de gás inflamável
produzido. Em 1808, Sir Humphry Davy demonstrou a produção de metano a partir da
digestão anaeróbia de esterco bovino.
Em muitos países asiáticos a digestão anaeróbia tem sido utilizada há milhares
de anos, em áreas rurais, para produção de biogás a partir de estrume e resíduos vegetais
digeridos em equipamentos rudimentares, fornecendo energia aos pequenos produtores
rurais e pecuaristas de muitas regiões. Estima-se em milhões o número de pequenos
digestores operando ainda hoje em propriedades rurais, especialmente na China e na Índia.
A primeira pesquisa em escala real da digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos com
recuperação de energia foi efetuada, nos estados Unidos, pela empresa RefCom, em 1978
(BRABER, 1995, apud DMLU, 2004).
Nos últimos quinze anos o estudo da digestão anaeróbia com recuperação
energética foi retomado com maior intensidade, com grande número de plantas-piloto e em
escala real sendo implantadas, principalmente na Europa. Nesse continente, o grande
crescimento na utilização do processo verificado nas últimas duas décadas deve-se
basicamente a dois fatores: (1) os altos preços da energia e (2) as restrições ambientais

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 520


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

relativas à disposição de matéria orgânica em aterros sanitários, evento relacionado às


dificuldades para a implantação de novos aterros ou expansão dos existentes.
De uma maneira geral, a digestão anaeróbia com recuperação energética pode
ser descrita como uma composição de quatro estágios: (1) pré-tratamento, (2) digestão dos
resíduos, (3) recuperação do biogás e (4) tratamento dos resíduos. A maioria dos sistemas
requer pré-tratamento dos resíduos para se obter uma massa homogênea. Este pré-
processamento envolve separação ou triagem dos materiais não biodegradáveis e trituração.
A triagem tem por objetivo a remoção de materiais reaproveitáveis como vidros, metais, ou
plásticos ou não desejáveis como pedras e madeira.
Dentro do digestor, a massa é diluída para obter-se a concentração de sólidos
desejada, e permanece no interior do reator por um determinado tempo de detenção. Para
a diluição, pode ser utilizada água de torneira, lodo de esgoto, esgoto doméstico, ou a
próprio líquido efluente do reator, em recirculação. Um trocador de calor é usualmente
requerido para manter a temperatura na faixa desejada. O biogás obtido no processo é
purificado e armazenado em gasômetros. Em caso da massa efluente do digestor encontra-
se com umidade por demais elevada, faz-se necessário um processo de secagem do mesmo,
sendo o efluente líquido utilizado para recirculação ou enviado para uma estação de
tratamento.
Nos anos 2000 várias plantas foram construídas para tratamento de resíduos
sólidos urbanos na Europa, não necessariamente segregados na fonte. Conforme De Baere
(2003) apud DMLU (2004), o continente contava à época com uma capacidade instalada para
processamento de 2,5 milhões de toneladas por ano, distribuída em 86 plantas.

Parâmetros intervenientes e de controle da digestão anaeróbia


O crescimento microbiológico é de fundamental importância na digestão
anaeróbia. Tal crescimento será influenciado por condições de contorno do reator, que
devem ser otimizadas e monitoradas. São citados os principais fatores intervenientes:
 composição dos resíduos: a composição dos resíduos sólidos urbanos é
variável de comunidade para comunidade e sazonalmente. Em uma carga de
resíduos sólidos urbanos teremos (1) uma fração orgânica biodegradável
(resíduos de cozinha, sobras alimentares, resíduos de jardinagem, (2) uma
fração de materiais recicláveis (papel, papelão, plásticos e outros sintéticos,
vidro e metais), e (3) uma fração de resíduos não biodegradáveis (pedras,
areia, madeira, ossos, etc.). A primeira fração é a que deve ser submetida ao
processo de digestão anaeróbia. Os sólidos voláteis (SV) presentes nos
resíduos sólidos são o resultado da subtração das cinzas obtidas após ignição
a 550oC dos sólidos totais. Os sólidos voláteis são subdivididos em sólidos
voláteis biodegradáveis (SVB) e sólidos voláteis refratários (SVR). O
conhecimento da fração de SVB ajuda na melhor definição da
biodegradabilidade dos resíduos totais, da geração de biogás, da taxa de

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 521


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

aplicação e da relação C/N. A lignina, encontrada nas madeiras, é um material


complexo de difícil degradação por bactérias anaeróbias e representa a fração
SVR nos resíduos orgânicos municipais. Em geral, resíduos orgânicos de
cozinha, os quais apresentam umidade mais elevada, são mais propícios à
degradação anaeróbia, e resíduos com alto teor de lignina e celulose, como
resíduos de podas e jardinagem, são mais indicados para a degradação
aeróbia (compostagem);
 taxa de aplicação: taxa de carga orgânica (TCO) pode ser compreendida como
a medida da capacidade de conversão biológica de um sistema de digestão
anaeróbia. A unidade de medida é usualmente kgSV/(m³.d). Se alimentarmos
um sistema acima da sua capacidade (TCO máxima), poderemos ter baixa
produção de biogás devido ao acumulo de compostos inibitórios como ácidos
graxos no interior do digestor. A TCO é um parâmetro de controle
particularmente importante em sistemas contínuos. MATA-ALVAREZ et al.
(1992) apud DMLU (2004) descrevem que a taxa de alimentação utilizada em
uma planta sita em Barcelona foi de 6,4 kgSV/(m³.d) para resíduos
alimentares mais papel, e de 3,3 kgSV/(m³.d) para orgânicos de frutas e
vegetais. A Tabela 5.5.1 apresenta alguns resultados de desempenho de
reatores [GALLERT et al. (2003) apud DMLU (2004)].

Tabela 5.5.1 – Desempenho em reatores em escala real e de laboratório


Parâmetro Escala Real Escala de Laboratório
Volume do digestor (m³) 1.350 9,41
Tempo de detenção (d) 12 – 20 5,7 - 10
Taxa de alimentação [kg DQO/(m³.d)] 4,3 – 8,5 8,5 – 15
DQO dos sólidos em suspensão (g/L) 85 - 100 86 – 107
Remoção de DQO (%) 60 – 70 61 – 58
Porcentagem de metano no biogás 65 – 63 69
Fonte: GALLERT et al. (2003) apud DMLU (2004)

 pH: bactérias anaeróbias, especialmente as metanogênicas, são sensíveis a


condições ácidas no reator e podem ser inibidas. A faixa de pH ideal para a
metanogênese é de 6,8-7,2, ainda que o sistema possa operar
satisfatoriamente entre 5,5 e 8,5. Durante a digestão, as fases acidogênica e
metanogênica produzem diferentes valores de pH. O processo operará com
possível sobreposição de fases biológicas (sistema contínuo), portanto poderá
ser necessária correção do pH, que pode ser feita pela adição de cal ou outro
agente alcalino ou pela recirculação do lixiviado gerado durante o processo.
Esta última opção é normalmente suficiente, sendo também a mais prática. A
amônia, gerada a partir da rota anaeróbia de degradação do nitrogênio eleva
o pH e pode ser um fator inibitório;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 522


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 temperatura: há basicamente duas faixas de temperatura que resultam em


condições ótimas para a produção de biogás: as faixas mesofílica e termofílica.
A faixa mesofílica situa-se entre 20oC-40°C e a temperatura ótima encontra-se
entre 30°C-35°C. A faixa termofílica situa-se entre 50°C-60°C. Tem sido
demonstrado que a utilização das temperaturas mais elevadas, típicas da faixa
termofílica reduz o tempo de detenção necessário no reator, bem como
produz um composto mais desinfectado (elimina patógenos);
 relação Carbono Nitrogênio (C/N): representa a relação entre as quantidades
de carbono e de nitrogênio presentes na matéria orgânica. O valor ótimo para
relação C/N encontra-se entre 20 e 30. Uma relação C/N alta é indicativa de
rápido consumo de nitrogênio pelas bactérias metanogênicas, o que resulta
em uma baixa produção de biogás. Por outro lado, uma relação C/N baixa
ocasiona acúmulo de amônia e o pH pode vir a exceder 8,5, ocorrendo toxidez
às bactérias metanogênicas. Uma relação C/N ótima pode ser atingida através
da mistura de resíduos, como resíduo urbano com lodo de esgoto ou esterco
animal;
 tempo de detenção hidráulica (TDH): este é um fator fundamental de projeto,
que se condiciona às características do resíduo que sofre o processo e às
condições de contorno do reator. O fator econômico envolve-se no sentido
que, como processo de primeira ordem, o grau de degradação do material em
digestão avançará lentamente com o tempo a partir de 60%-70% de
conversão. O tempo de detenção para tratamento de resíduos em processos
mesofílicos varia de 10 a 40 dias. Na faixa termofílica são requeridos menores
TDH. Reatores de alta taxa de sólidos, operando em condições termofílicas,
costumam ter TDH de 14 dias;
 mistura: é um parâmetro operacional importante, pois os resíduos frescos
devem rapidamente ser colocados em contato com microorganismos
anaeróbios e adquirirem a temperatura e o pH do meio. O objetivo da mistura
no interior do reator é colocar em contato os resíduos frescos com os
microrganismos presentes na massa já digerida. O tipo de equipamento e o
nível de mistura dependem do tipo de reator e do teor de sólidos contidos no
reator;
 outros parâmetros: outros parâmetros importantes são (1) a porcentagem de
mistura na co-digestão de resíduos urbanos com lodo de esgotos ou resíduos
industriais, (2) a separação na origem (qualidade do sistema de
triagem/separação), (3) a redução do tamanho das partículas para uma maior
produção de biogás [MATA-ALVAREZ et al. (2000) apud DMLU (2004)
recomendam tamanho de partícula da ordem de 2,2 a 1,1 mm, mas citam que
tamanhos de 5 a 20 mm também são utilizados] e (4) pré-tratamento para
aumentar a solubilização (fase que limita a produção de gás) com adição de
NaOH ou NH4OH;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 523


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Tipos de sistema de digestão anaeróbia


Basicamente os métodos ou tipos de sistemas utilizados para tratar
anaerobicamente resíduos sólidos urbanos podem ser classificados nas seguintes categorias:
(1) estágio único, (2) múltiplo estágio e (3) batelada. Tais categorias podem ser ainda
classificadas com base no teor de sólidos totais (ST) contidos na massa do reator. Sistemas
com baixo teor de sólidos têm menos de 15% de ST, com médio teor de sólidos apresentam
15%-20% de ST, e com alto teor de sólidos, 22%-40%.
A principal desvantagem dos sistemas com baixo teor de sólidos é o grande
volume de água utilizado, resultando num grande volume necessário de reator e elevados
custos para tratamento do efluente líquido. Sistemas com alto teor de sólidos requerem
menores volumes de reator por unidade de processamento, mas em contrapartida
requerem equipamentos mais caros. Porém são mais robustos e têm altas taxas de carga
orgânica.

a) Processos de estágio único: processos de estágio único utilizam um único


reator para as fases de acidogênese e metanogênese. Podem operar tanto com baixo teor
de sólidos quanto com alto teor de sólidos.

Baixo teor de sólidos (BTS) ou úmidos


O processo de estágio único de BTS é atrativo devido à sua simplicidade. Tem
sido utilizado há décadas para o tratamento de lodos e efluentes líquidos. O reator mais
utilizado é o reator de mistura completa e agitação permanente. A alimentação do resíduo é
efetuada na mesma taxa em que é feita a retirada do material digerido. Geralmente o tempo
de detenção varia entre 14 e 28 dias, dependendo do tipo de alimentação e temperatura.
São exemplos de sistemas úmidos de BTS as seguintes plantas comerciais:
WASSA®, da Finlândia, ECOTEC®, na Alemanha, e SOLCON®, no Complexo Disney nos EUA. O
Quadro 5.5.1 sumariza vantagens e desvantagens do sistema úmido de estágio único.

Alto teor de sólidos (ATS) ou secos


O avanço dos sistemas de ATS ou secos deu-se como consequência dos estudos
da década de 1980, resultando em alta produção de biogás com resíduos não diluídos. São
exemplos os processos DRANCO®, KOMPAGÁS® e VALORGA®, processos termofílicos, o que
ocorre exceto em algumas plantas VALORGA® (mesofílico) com tempo de detenção entre 14
e 20 dias. O Quadro 5.5.2 sumariza vantagens e desvantagens do sistema seco de estágio
único.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 524


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.5.1 – Vantagens e desvantagens do sistema úmido de estágio único


Critério Vantagens Desvantagens
 Curto-circuito;
 Inspirado em processos  Formação de espumas;
Técnico
conhecidos  Abrasão devido à areia;
 Pré-tratamento mais complicado.
 Diluição de compostos  Sensibilidade a cargas de choque e inibição;
Biológico
inibidores em água fresca  Perda de SV com os plásticos e inertes.
 O equipamento para lidar com
 Alto consumo de água;
Econômico e lodos é mais barato
 Maior consumo de energia para aquecer
Ambiental (compensado pelo volume
um volume maior.
maior dos reatores)
Fonte: VANDEVIVERE, et al. (2002) apud DMLU (2004)

Quadro 5.5.2 – Vantagens e desvantagens de sistemas secos de estágio único


Critério Vantagens Desvantagens
 Sem partes móveis no interior do
reator;  Resíduos muito úmidos (TS<20%)
Técnico  Robusto (não necessita remoção de não podem ser tratados
plásticos e inertes); sozinhos.
 Sem curto-circuito.
 Menor perda de SV no pré-tratamento;  Pequena capacidade de diluição
Biológico  Maior TCO (mais biomassa); com água de substância
 Menos suscetível à inibição. inibidoras.
 Pré-tratamento mais barato e reatores  Necessidade de equipamentos
menores; mais robustos e caros para o
Econômico e
 Completa higienização; manejo da massa em digestão
Ambiental
 Utilização de pequeno volume de água; (compensado por reatores
 Requer menos aquecimento. menores e mais simples).
Fonte: VANDEVIVERE et al. (2002) apud DMLU (2004)

b) Processos multi-estágio: A introdução dos processos multi-estágio de digestão


anaeróbia objetivou melhorar o processo de digestão, utilizando diferentes reatores para os
diferentes estágios da rota anaeróbia, possibilitando a flexibilidade necessária para otimizar
cada uma das fases. Tipicamente, dois reatores são utilizados, o primeiro para hidrólise,
acidogênese e acetogênese e o segundo para a metanogênese. No primeiro reator, o tempo
de detenção é limitado pela taxa de hidrólise da celulose. No segundo, pela taxa de
crescimento microbiológico.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 525


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Baixo teor de sólidos (BTS) ou úmidos


Processos multi-estágio BTS apresentam problemas parecidos com os dos
sistemas estágio único BTS, como curto-circuito no interior do reator, formação de espuma,
formação de camadas de diferentes densidades, pré-tratamento caro. Adicionalmente, tais
processos são tecnicamente mais complexos e requerem um custo de investimento maior.
Alguns dos processos multi-estágio BTS que estão operando são o processo PACQUES®
(Holanda), BTA® (Alemanha, Canadá) e BIOCOMP® (Alemanha).

Alto teor de sólidos (ATS) ou secos


A principal vantagem citada pelos que defendem os processos multi-estágio de
ATS é a possibilidade de alimentação com altas taxas de carga orgânica (TCO), [da ordem de
10 kgSV/(m³.d) e 15 kgSV/(m3.d) para os processos BTA® e BIOPERCOLAT®,
respectivamente]. Isto se dá devido à maior retenção de biomassa com a utilização de
biofilme de leito fixo, o que aumenta a resistência das bactérias metanogênicas às elevadas
concentrações de amônia.
Recentemente, os sistemas de estágio único também têm atingido altas TCO,
anulando assim esta vantagem dos sistemas multi-estágio. O Quadro 5.5.3 apresenta
vantagens e desvantagens dos processos de multi-estágio.

Quadro 5.5.3 – Vantagens e desvantagens de sistemas multi-estágio


Critério Vantagens Desvantagens
Técnico  Flexibilidade de projeto.  São complexos
 Maior viabilidade para
resíduos com baixo teor de
celulose, como o resíduo de
Biológico  Menor produção de biogás
cozinha;
 Única tecnologia viável para
C/N<20.
Econômico e  Menor quantidade de metais
 Maior investimento
Ambiental pesados no resíduo.
Fonte: VANDEVIVERE et al. (2002) apud DMLU (2004)

c) Processos em batelada: Reatores em batelada são alimentados, submetidos à


digestão, sendo então esvaziados e carregados novamente. Embora possam parecer aterros
sanitários em vasos, sistemas em batelada diferem de aterros por terem continua
recirculação do lixiviado e por serem operados a temperaturas mais elevadas. Há três tipos
de sistemas em batelada: (1) reator simples de estágio único, (2) reatores sequenciais em
batelada, e (3) reator híbrido associado a reator de fluxo ascendente de manto de lodo
(UASB). A Figura 5.5.1 apresenta esquematicamente as três configurações (VERMA, 2002,
apud DMLU, 2004).

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 526


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.5.1 – Tipos de reatores em batelada: A: estágio único, B: batelada sequencial, C:


Híbrido Batelada/RAFA

Fonte: o autor, baseado em VERMA (2002) apud DMLU (2004)

Sistemas em batelada detêm a vantagem de serem tecnicamente simples,


baratos e robustos. Entretanto, requerem uma área de implantação maior comparando-se
com sistemas de estágio único ATS uma vez que são muito menores e suas TCO são duas
vezes menores. Outra desvantagem é a sedimentação de material no fundo do reator
inibindo a digestão e o risco de explosão quando da descarga do reator.
Um exemplo deste tipo de reator é o BIOCEL® (Holanda), que em processo de
batelada em reator simples trata, desde 1997, 35.000 t/ano de resíduos separados na fonte,
na cidade de Lelystad.
Relativamente à questão do número de estágios, segundo muitos pesquisadores,
a esperada vantagem da separação dos estágios para digestão anaeróbia de resíduos sólidos
urbanos não é verificada na prática, nas plantas em escala real. Segundo DE BAERE (2003)
apud DMLU (2004), mais de 92% das plantas existentes operam em estágio único, ocorrendo
hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese no mesmo reator.
Relativamente à questão da temperatura do processo, historicamente a maioria
das plantas de tratamento anaeróbio de lodos e efluentes industriais eram mesofílicas (35 a
40°C). Isto se dava devido aos altos custos de aquecimento e à operação mais instável dos
sistemas termofílicos (50 a 60°C). No entanto, em 2003 a capacidade de tratamento de
plantas termofílicas na Europa era de 604.000 t/ano em 34 plantas, o que equivalia a 40%
das plantas em operação [DE BAERE (2003) apud DMLU (2004)]. Para o tratamento de

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 527


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

resíduos sólidos os benefícios de sistemas termofílicos são superiores aos de efluentes


líquidos e de lodos, devido às necessidades de hidrólise dos substratos sólidos e à destruição
dos patógenos presentes no resíduo sólido urbano. A grande produção de biogás resultante
da degradação anaeróbia dos resíduos sólidos viabiliza o tratamento termofílico, ainda
recuperando-se energia ou vapor para outros fins.
Relativamente à questão concernente à diluição, os primeiros sistemas utilizados
foram de BTS ou úmidos. Já em 1993 a capacidade instalada de sistemas de ATS superou os
de BTS. Na Holanda foram construídas algumas grandes plantas com sistema de BTS
(úmidos) em 2002 e 2003. Em 2003, da capacidade total instalada na Europa, 54%
correspondia a sistemas secos (ATS) e 46% a sistemas úmidos (BTS) (DE BAERE, 2003, apud
DMLU, 2004).
São vantagens do emprego da metodologia de digestão anaeróbia controlada
com recuperação de energia para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos:
 elevação da vida útil dos aterros sanitários;
 retirada da fração orgânica dos resíduos urbanos, que é a fração que resulta
em odores desagradáveis e geração de lixiviados de elevada carga poluente
nos aterros sanitários;
 coleta de todo o biogás gerado (em aterros o índice de recuperação de biogás
é de 30% a 40%), portanto, ao mesmo tempo em que há recuperação
energética, evita-se a emissão de poluentes (metano, gases reduzidos de
enxofre, amônia);
 a massa sólida efluente do processo pode ser compostada.
São problemas associados ao processo de digestão anaeróbia controlada:
 a natureza (composição) dos resíduos pode variar dependendo da localização
(zona de geração) e da sazonalidade (estação do ano);
 eventual mistura ineficiente de RSU e lodo de esgoto pode afetar a eficiência
do processo;
 podem ocorrer obstruções de canalizações por pedaços grandes de resíduos,
principalmente em sistemas contínuos.

Sistemas comerciais de digestão anaeróbia


Seis são os processos industriais patenteados de digestão anaeróbia com
recuperação de energia historicamente predominantes, sobretudo na Europa: VALORGA®,
DRANCO®, BTA®, WAASA®, KOMPOGÁS® e LINDE-KCA®. Os sistemas são sumariamente
descritos a seguir.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 528


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

(a) Sistema VALORGA®


A tecnologia VALORGA® foi inicialmente desenvolvida na França e mais tarde
pela Steinmuller Valorga Sarl, uma subsidiária da companhia alemã Steinmuller Rompf
Wassertechnik GmbH. Inicialmente desenvolvida para tratar somente resíduos orgânicos, foi
adaptada para tratamento de resíduos sólidos urbanos separados na fonte.
O processo da planta VALORGA® consiste de seis etapas: (1) recebimento e
processamento do resíduo, (2) digestão anaeróbia, (3) cura do composto, (4) utilização do
biogás, (5) tratamento de efluentes gasosos, e (6) uma unidade opcional de tratamento de
efluente (quando o mesmo não for remetido a ETE municipal). A planta inclui balança para
pesagem dos caminhões, local fechado para descarga com tratamento do ar, separador
eletromagnético e triagem para retirada de outros materiais, e triturador para redução do
tamanho das partículas. Depois disso, o resíduo é alimentado continuamente à unidade de
digestão anaeróbia.
Na unidade de digestão anaeróbia (digestor ou reator) os resíduos são
misturados com o lixiviado recirculado numa massa com cerca de 20 a 35% de teor de
sólidos, dependendo do tipo de resíduo. Portanto, o uso de água é mínimo. O digestor pode
operar tanto em fase mesofílica quanto em termofílica.
O reator VALORGA® é um cilindro vertical de concreto com cerca de 20 m de
altura e 10 m de diâmetro interno. Há uma parede vertical interna em toda a extensão
vertical e a dois terços do diâmetro do reator. Esta repartição interna minimiza a formação
de curto-circuito e assegura fluxo contínuo em toda a extensão do reator. Os orifícios para
alimentação e retirada da massa digerida ficam localizados nos dois lados desta parede. A
mistura do material em digestão é feita pela injeção de biogás a alta pressão através de
orifícios na base do reator. Não há partes mecânicas e a manutenção se resume à limpeza
periódica dos orifícios da base do digestor.
Após a digestão o material digerido passa por um filtro-prensa para retirada do
excesso de umidade. O lixiviado é usado na recirculação e o excesso tratado (in situ ou em
ETE), e a parte sólida é enviada à planta de compostagem.
O Quadro 5.5.4 sumariza as principais características do sistema VALORGA®.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 529


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.5.4 – Principais características das plantas com tecnologia VALORGA®


Característica Valor
Reator úmido ou seco, e teor de sólidos (%) Seco, TS = 25 a 35%
Número de estágios Único
Tempo de retenção (TDH) 18 a 25 dias (média 21 d)
Tipo de reator Vertical bipartido, alimentação pela base
Produção de biogás (Nm³/t RSU) 80 a 160 (220 a 270 m3/t SV)
Uso de biogás produzido na própria planta

(%)
Sistema de mistura do resíduos no interior Recirculação biogás aquecido e a alta pressão pela
do reator base do reator
Temperatura Mesofílica (40°C) ou Termofílica (55°C)
Fonte: DMLU (2004)

(b) Sistema DRANCO®


O processo DRANCO® é um sistema de digestão anaeróbia com estágio único e
alto teor de sólidos (“seco”). Pode tratar os mais diferentes tipos de resíduos. Opera numa
temperatura de 50°C a 58°C, com tempo de detenção de 20 dias. A alimentação é feita
continuamente pelo topo do reator e o material digerido é retirado pelo fundo, também
continuamente. Também apresenta sistema de retirada do excesso de água e compostagem
final por um período de duas semanas.
O único processo de mistura é o que ocorre pela descida por gravidade da massa
de resíduos pelo reator. O lixiviado é recirculado para ajustar a concentração de sólidos nos
resíduos alimentados. A produção de biogás é da ordem de 100 a 200 m³/t de resíduo e é
utilizado como calor e eletricidade. Cerca de 50% do biogás é utilizado na própria planta,
sendo o restante vendido.
A Figura 5.5.2 apresenta o diagrama do processo DRANCO®. No Quadro 5.5.5 são
apresentadas as principais características das plantas DRANCO®.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 530


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.5.2 – Fluxograma operacional do Processo DRANCO®

Fonte: o autor, baseado em DMLU (2004)

Quadro 5.5.5 – Principais características das plantas com tecnologia DRANCO®


Característica Valor
Reator úmido ou seco, e teor de sólidos (%) Seco, TS = 20 a 50%
Número de estágios Único
Tempo de detenção (TDH) 13 a 30 dias
Tipo de reator Vertical, alimentação pelo topo
Produção de biogás (Nm³/t RSU) 100 a 200
Uso de biogás produzido na própria planta

(%)
Sistema de mistura do resíduos no interior
Recirculação da massa sólido em digestão
do reator
Temperatura Termofílica
Fonte: DMLU (2004)

(c) Sistema BTA®


O processo BTA® foi desenvolvido na década de 1980 pela empresa
Biotechnische Abfallverwertung GmbH de Munique, Alemanha. É um sistema multi-estágio
úmido (BTS) para tratamento de resíduos sólidos urbanos que podem ser compostados ou
reciclados.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 531


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O processo combina sofisticado processo de pré-tratamento e tecnologias de


separação em ambiente fechado e altamente automatizado. As duas principais etapas do
processo BTA® são a “hidroliquefação” (hydropulping), um processo que remove
contaminantes (plástico, vidro e metais) e homogeneiza os resíduos, produzindo uma massa
orgânica em suspensão que flui através de um “sistema hidrodinâmico de remoção de
materiais grosseiros” (hydrodynamic de-gritting system) para remoção quaisquer cacos de
vidro, pequenas pedras ou areia ainda presentes. O Quadro 5.5.6 apresenta as
características do processo.

Quadro 5.5.6 – Principais características das plantas com tecnologia BTA®


Característica Valor
Reator úmido ou seco, e teor de sólidos (%) Úmido
Número de estágios Único e Dois Estágios
Tempo de detenção (TDH) –
Tipo de reator Vertical
Produção de biogás (Nm³/t RSU) 80 a 120
Uso de biogás produzido na própria planta (%) –
Sistema de mistura dos resíduos no interior do reator Recirculação do líquido
Fonte: DMLU (2004)

(d) Sistema WAASA®


O processo WAASA® foi desenvolvido pela empresa CITEC (Finlândia).
Inicialmente projetado para ser um sistema úmido, mesofílico e de estágio único,
atualmente esta tecnologia pode operar tanto em condições mesofílicas quanto termofílicas.
O sistema tem sido testado para vários tipos de resíduos, incluindo a mistura de
resíduos sólidos urbanos separados mecanicamente com biossólidos, e opera numa faixa de
10% a 15% de teor de sólidos. O reator vertical consiste de tanque simples, embora tenha
sido dividido internamente para criar uma câmara de pré-digestão (o fabricante refere-se a
isto como sendo “reatores gêmeos” de dois estágios, prevenindo a ocorrência de curto-
circuito).
A mistura é efetuada através de injeção de biogás pela base do reator. As
principais características destra tecnologia são apresentadas no Quadro 5.5.7.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 532


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.5.7 – Principais características das plantas com tecnologia WAASA®


Característica Valor
Reator úmido ou seco, e teor de sólidos (%) Úmido, TS = 10 a 15%
Número de estágios Único
Tempo de retenção (TDH) 20 d (mesofílico) e 10 d (termofílico)
Tipo de reator Vertical
Produção de biogás (Nm³/t RSU) 100 a 150
Uso de biogás produzido na própria planta (%) 20 a 30%
Sistema de mistura dos resíduos no interior do reator Recirculação de biogás pela base
Temperatura Mesofílico e Termofílica
Redução de volume / redução de massa 60% / 50 a 60%
Fonte: DMLU (2004)

(e) Sistema KOMPOGÁS®


A companhia suíça KOMPOGÁS® foi estabelecida no final de 1980, com a
primeira planta sendo instalada em Rümlang, Suíça, no ano de 1991, com apoio do governo
suíço e do Cantanado de Zurique.
Para produzir energia a partir de resíduos de jardinagem e resíduos orgânicos
separados na fonte, os contaminantes com alto teor de sólidos são removidos antes de
entrarem no sistema de digestão seca, estágio único e termofílico. A alimentação é feita
diariamente em reatores cilíndricos; o sistema contínuo de digestão ocorre horizontalmente,
ajudado pela lenta rotação e a ação intermitente de saliências (ranhuras) no interior do
reator (que também servem para homogeneizar, desgastar, e suspender novamente
materiais mais pesados). O sistema requer cuidadoso ajuste do teor de sólidos em torno de
23% a 28% dentro do reator. Com teor de sólidos mais baixo, materiais pesados como areia
e cacos de vidro podem descer e acumular-se no interior do reator.
O tempo de retenção é em torno de 15 a 20 dias. Durante este tempo ocorre
eliminação de germes e sementes de ervas daninhas. Por questões construtivas, o volume
do reator KOMPOGÁS® é limitado a capacidades de 15.000 a 25.000 t/ano, sendo os
reatores instalados em paralelo para atingir a capacidade instalada. O Quadro 5.5.8
apresenta as principais características da tecnologia.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 533


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Quadro 5.5.8 – Principais características das plantas com tecnologia KOMPOGÁS®


Característica Valor
Reator úmido ou seco, e teor de sólidos (%) Seco, TS = 23 a 28%
Número de estágios Único
Tempo de retenção (TDH) 15 a 20 dias
Tipo de reator Cilindro horizontal com rotação
Produção de biogás (Nm³/t RSU) 130
Uso de biogás produzido na própria planta (%) –
Sistema de mistura do resíduos no interior do reator Rotação do cilindro
Temperatura Mesofílica e Termofílica
Fonte: DMLU (2004)

(f) Sistema LINDE-KCA®


O processo tem tecnologia da empresa austríaca Austrian Energy & Environment,
e é de propriedade da alemã Linde-KCA-Dresden GmbH. O primeiro digestor deste tipo foi
construído em 1985 baseado na digestão úmida. O processo úmido de dois estágios conta
com um tanque onde se realiza a hidrólise e uma opção de aeração intermediária, seguida
da unidade de metanização. Uma das características do processo é a remoção automática de
contaminantes (materiais pesados e materiais leves), na etapa de pré-tratamento
combinando um mecanismo de dissolução dos resíduos, uma peneira rotativa em plano
inclinado e um reator com retro-alimentação projetado para a recirculação de biogás pela
base através de um tubo seco, por onde pode ser injetado também calor (vapor).
A digestão seca (ATS) pode tanto ser mesofílica quanto termofílica e acontece
num reator retangular de concreto de fluxo contínuo horizontal. O ajuste da concentração
de ácidos é feito ao longo do processo de digestão. No interior do digestor há uma série de
agitadores dispostos transversalmente. Na base há uma esteira para a retirada e transporte
da massa digerida. Podem ser utilizados resíduos com teor de sólidos de 15% a 45%, com
uma produção de 100 m³ de biogás por tonelada de resíduos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 534


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA. 2004. Projeto Ecoparque. Não


publicado. 286p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 535


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.6 INCINERAÇÃO
A prática de atear fogo é uma forma muito antiga de tratar e destinar os rejeitos
sólidos, reduzindo drasticamente o seu volume, tornado-os mais estáveis à putrefação,
processo que ocasiona incômodos. Após o consumo dos resíduos pelo fogo costumava-se
espalhar as cinzas pelo solo ou utilizá-las na agricultura. Com a expansão da ocupação
urbana, progressivamente a prática foi ocasionando incômodos às vizinhanças. Após sérios
estudos do processo, nas últimas décadas, tentando condicionar o processo à máxima
eficácia com o maior aproveitamento térmico possível, a incineração desponta como um dos
principais métodos para o tratamento de resíduos urbanos e perigosos, apesar de muito
contestada em função da emissão de efluentes gasosos tóxicos por sistemas operando sob
deficientes condições de retenção de emissões aéreas.
O primeiro incinerador construído para tratamento de resíduos sólidos urbanos
data de 1874, na Inglaterra (LIMA, 1995). No início do Século XX foram construídos muitos
equipamentos nos Estados Unidos e na Europa, solucionando o problema dos resíduos
sólidos em muitas cidades. No Brasil, incineradores começaram a ser construídos no final do
Século XIX, sendo colocadas em operação várias unidades de incineração durante o Século
XX. A partir da crise energética deflagrada no início da década de 1970, os sistemas têm sido
estudados cuidadosamente no sentido de, concomitantemente a tratarem resíduos,
recuperarem ao máximo a energia química contida nesses.
A incineração é um processo térmico para tratamento de resíduos que objetiva
destruir componentes orgânicos, reduzir o volume dos resíduos a serem aterrados, e
converter produtos perigosos em outros menos prejudiciais à saúde e ao ambiente. Ao
contrário dos processos biológicos, sua aplicação é bem mais inespecífica, isto é, bem menos
(mas não completamente) dependente das características do resíduo a tratar. Geralmente, a
incineração como processo eficiente, opera a temperaturas superiores a 1000oC.
A incineração pode ser definida como o processo de combustão controlada, em
que os resíduos sofrem oxidação a partir da reação em cadeia com oxigênio molecular,
desencadeada pelo aquecimento da matéria combustível. Os principais produtos da
combustão são:
 dióxido de carbono (CO2), resultante da oxidação completa da matéria
carbonácea;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 536


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 SOx, principalmente dióxido de enxofre (SO2), resultante da oxidação do


enxofre constituinte da matéria em combustão;
 nitrogênio (N2), proveniente do ar usado como fonte de oxigênio;
 oxigênio (O2), proveniente do ar em excesso, não utilizado;
 água (H2O), proveniente da umidade original dos resíduos e das próprias
reações de oxidação;
 ácido clorídrico (HCl), proveniente dos compostos clorados;
 NOX, formado em elevadas temperaturas, principalmente a partir do
nitrogênio do ar;
 cinzas, escórias de metais, vidros e pedras.
A incineração, por ser um processo realizado na presença de oxigênio, difere da
gaseificação, que ocorre com deficiência de oxigênio e da pirólise, que ocorre em ausência
total ou quase total desse gás oxidante.
As reações de oxidação são exotérmicas, portanto o processo de combustão gera
energia na forma de calor (calor de combustão). Contudo, devido ao habitualmente elevado
conteúdo de umidade dos resíduos sólidos urbanos e industriais, às perdas de calor pelo
aquecimento de inertes não combustíveis, à demanda do aquecimento do ar de combustão
e a eventuais dificuldades de transferência de calor às massas de resíduos inseridas no
incinerador, frequentemente torna-se necessária utilização de combustível auxiliar.
Quando a combustão é incompleta, podem aparecer monóxido de carbono (CO)
e particulados compostos basicamente de carbono finamente dividido. Quando a combustão
é realizada em elevadas temperaturas pode haver dissociação do nitrogênio, surgindo
compostos oxidados como NO e N2O5.
O rendimento do processo fundamenta-se em dois princípios básicos:
 provimento da quantidade necessária de ar para maximizar a combustão;
 transferência eficaz de calor do processo ao material a ser incinerado.
Logicamente, a transferência de calor dependerá basicamente do tempo de
residência do resíduo no reator e da turbulência ocasionada pelo sistema de grelhas.
A incineração destina-se a, além de tratar termicamente resíduos urbanos, a
transformar compostos tóxicos e outros perigosos em subprodutos inócuos, além de
remover patogenicidade de certos resíduos, como os hospitalares. ROCCA et al. (1993)
indicam que resíduos com poder calorífico inferior (PCI) superior a 4700 kcal/kg prestam-se
muito bem à incineração, sem necessitar de combustível auxiliar.
Duas temperaturas são importantes no processo: a temperatura de ignição é
aquela em que ambos, o material combustível e o oxigênio devem alcançar para iniciar um
lento processo de oxidação. A temperatura de inflamação é aquela em que se consuma a
mudança da oxidação lenta para a combustão propriamente dita.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 537


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O dimensionamento de um sistema de incineração é complexo e a performance


do sistema está atrelada à qualidade do equipamento incinerador, no sentido de promover a
melhor mistura possível entre ar e resíduos e a melhor transferência de calor a esses
últimos. As características dos resíduos a serem incinerados interferirão significativamente
no projeto do equipamento incinerador, devido aos requisitos na quantidade
estequiométrica de ar a ser provida. Basicamente, para os resíduos orgânicos, as principais
reações de relevância são as de oxidação do carbono, do hidrogênio e do enxofre (LIMA,
1995):

C + O2  CO2 H = -97.200 kcal/mol (5.6-1)


2H2 + O2  2H2O H = -136.400 kcal/mol (5.6-2)
S + O2  SO2 H = -71.040 kcal/mol (5.6-3)

LIMA (1995) exemplifica que, com base em uma composição elementar


característica de 47,8% de carbono, 7,6% de hidrogênio, 42,7% de oxigênio, 1,6% de
nitrogênio e 0,3% de enxofre, do resíduo domiciliar de São Paulo, a estequiometria conduz à
necessidade de 2,518 kg de ar por quilograma de resíduo.
Outras reações importantes que ocorrem na incineração de resíduos são:

C + CO2  2CO (5.6-4)


H2 + Cl2  2HCl (5.6-5)
H2O + Cl2  2HCl + 0,5O2 (5.6-6)
“Metais” + O2  “Óxidos Metálicos” (5.6-7)
S + O2  SOx (5.6-8)
N + O2  NOx (5.6-9)

O universo de reações possíveis no processo de incineração, tanto na câmara de


combustão como em outras instâncias do equipamento será função dos resíduos que
estiverem sendo processados. Devido à extensa gama de resíduos industriais existentes e ao
elevado número de compostos presentes em diversas concentrações nesses, muitas
diferentes possibilidades ocorrem.
Os processos de incineração de resíduos sólidos urbanos ou industriais podem
ser classificados em dois grandes grupos: (1) estáticos ou em batelada e (2) dinâmicos ou
contínuos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 538


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Incineradores estáticos ou em bateladas


Caracterizam-se por funcionamento intermitente. Operam em quatro fases: (a)
alimentação do forno, (b) combustão dos resíduos, (c) resfriamento e tratamento dos gases
e produtos de combustão e (d) emissão dos gases e escórias. Os equipamentos apresentam
tecnologia simples. O processamento inicia-se pela disposição dos resíduos na câmara de
combustão através de um dispositivo, em geral superior. O processamento dá-se com a
utilização de combustíveis líquidos ou gasosos (óleo ou gás). A partir do calor gerado e do
insuflamento de ar, os gases de combustão e voláteis passam para a câmara de
resfriamento. No estágio final, a cinza precipita-se por dispositivos próprios, o gás de
combustão passa por trocadores de calor onde se resfria e um sistema de lavagem de gases
remove dióxido de carbono e particulados. São equipamentos apropriados para pequenos
estabelecimentos. Nos últimos anos, dada a preocupação com relação aos compostos
tóxicos emitidos no processo de incineração, têm-se tornado obrigatórios sistemas
sofisticados de tratamento e filtragem de gases, pelo que os pequenos incineradores
inviabilizam-se em função dos elevados custos, dando-se preferência a sistemas mais
robustos.

Incineradores dinâmicos ou contínuos


Caracterizam-se por funcionamento ininterrupto. Operam em seis estágios: (a)
alimentação do forno, (b) secagem dos resíduos, (c) combustão dos resíduos, (d)
resfriamento dos gases e outros produtos de combustão, (e) filtragem e tratamento dos
gases da combustão e (f) emissão dos gases e escórias. Tais equipamentos podem incinerar
milhares de toneladas de resíduo urbano por dia ou podem ser especialmente concebidos e
projetados para incineração de grandes quantidades diárias de resíduos industriais. São bem
mais complexos do que os incineradores em batelada. A Figura 5.6.1 apresenta esquema
típico de um incinerador contínuo.

Figura 5.6.1 – Esquema típico de incinerador contínuo

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 539


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Os resíduos são dispostos em um fosso, que pode ser construído em concreto,


alvenaria ou metal. Sua introdução na câmara de secagem dá-se através de um pólipo. Nesta
câmara, haverá perda de grande parte do conteúdo de umidade dos resíduos, com melhora
do seu poder calorífico. Os resíduos secos passam então por uma grelha, na câmara de
combustão, onde sofrem a combustão. A grelha opera atiçando os resíduos, melhorando seu
contato com o comburente (ar). O ar necessário é injetado na parte inferior da grelha, por
dispositivos mecânicos. No estágio seguinte, os gases de combustão são arrastados até um
trocador de calor, onde sofrem resfriamento, em uma torre. A seguir, passarão por
dispositivos especiais de filtragem e abatimento de particulados. Por fim, os gases serão
exauridos através de sistemas apropriados, sendo lançados por uma chaminé, que deve ser
convenientemente projetada para sua dispersão na atmosfera. Da mesma maneira que para
os incineradores em batelada, a legislação ambiental hoje preconiza a utilização de sistemas
de filtragem de efluentes gasosos especiais, caros e sofisticados, para retenção de
compostos muito tóxicos, presentes em concentrações baixas. Comumente, o equipamento
associa uma câmara de pós-combustão em sequência à câmara de combustão, para
oxidação dos gases provenientes da queima dos resíduos.
Certos dispositivos devem efetivamente fazer-se presentes em um incinerador
de resíduos sólidos. Há diferenciações importantes no caso da incineração de resíduos
sólidos urbanos, em que os aportes são enormes, e resíduos sólidos industriais, em que o
sistema opera com quantidades limitadas:
 balanças, portas e fossas: são sistemas alocados à incineração de quantidades
relativamente grandes de resíduos, servindo para o registro e controle das
quantidades a serem processadas e sua estocagem até a inserção no
equipamento de incineração;
 dispositivos de extração/alimentação: são equipamentos de alimentação do
incinerador, extraindo resíduos do ponto de armazenamento temporário
(fossa) e inserindo-os na primeira câmara do incinerador. Em geral trabalha-se
com guindastes hidráulicos, esteiras transportadoras ou caçambas tipo pólipo;
 câmara de secagem: também denominada antecâmara de combustão,
destina-se à redução do conteúdo de umidade do resíduo, de modo a elevar o
seu poder calorífico efetivo. Opera através da transferência de calor da
câmara de combustão por contato e proximidade com essa. Em geral o
resíduo previamente seco será alimentado na câmara de combustão através
de um sistema gaveta-êmbolo;
 câmara de combustão: é um recinto construído de tijolos refratários e
revestimento de isolamento térmico ou aço, podendo ser fixa ou rotativa.
Nesse local, dar-se-á a combustão dos resíduos. Em alguns casos há duas
câmaras, a de combustão e a de pós-combustão;
 grelhas: são dispositivos de extrema importância, visto proporcionarem,
através de movimentos oscilatórios, o melhor contato possível entre os
resíduos e o ar, elevando a superfície de oxidação. As grelhas mais

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 540


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

comumente utilizadas são as de esteiras rotativas, as de degraus móveis, as


de cilindros ou as compostas de dois desses sistemas acoplados. A Figura 5.6.2
apresenta grelhas de cilindros;

Figura 5.6.2 - Grelha de cilindros

Fonte: o autor

 alimentadores: representam o conjunto de estruturas, tubulações,


ventiladores e válvulas que cumprem a primordial função de fornecer o ar
necessário à combustão. Ventiladores de ar primário fornecem o ar necessário
à combustão dos resíduos, localizando-se, normalmente, abaixo ou
lateralmente às grelhas; ventiladores de ar secundário fornecem ar para a
oxidação dos gases gerados na combustão, localizando-se, geralmente, na
parte superior da câmara de combustão, e ventiladores de ar terciário
executam a tiragem forçada dos gases de combustão;
 queimadores: são dispositivos de partida (e/ou manutenção) do processo. Em
geral esses dispositivos promovem uma atomização do óleo combustível,
misturando-o com o resíduo em incineração;
 dispositivos de recuperação de energia: dentro da visão objetiva de
recuperação energética dos sistemas, evitando-se o desperdício, são utilizadas
caldeiras com trocadores de calor para converter a energia gerada em vapor,
através do contato das superfícies metálicas dos trocadores com os gases
resultantes da combustão. Se for associada uma turbina ao sistema, poderá
haver a conversão da energia em eletricidade;
 sistemas de tratamento de gases de combustão: o principal problema
ambiental associado à incineração, e que torna o processo alvo de duras
críticas, se refere à geração de emissões gasosas importantes. Sistemas de
retenção de particulados são invariavelmente necessários, visto a produção
de particulados, até mesmo grosseiros, na incineração. Porém, tais podem ser
abatidos tranquilamente utilizando-se sistemas relativamente simples. As

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 541


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

emissões gasosas, no entanto, requerem muito mais atenção e estudos, em


função de, dependentemente da composição do resíduo incinerado, poderem
contemplar compostos muito tóxicos. Os principais dispositivos de tratamento
de emissões gasosas são citados:
Ciclones: são dispositivos cilíndrico-cônicos simples, de baixo custo e baixo
consumo energético, que operam através da formação de um fluxo em espiral
do gás de combustão. Dentro do equipamento as partículas serão projetadas
nas paredes, perdendo energia e depositando-se no fundo. Os dois tipos mais
comuns de ciclones são o tangencial e o axial. Os bons equipamentos
garantem abatimentos superiores a 80%, embora a sua eficiência restrinja-se
a partículas maiores de 5 m. A Figura 5.6.3 apresenta ilustrativamente um
ciclone tangencial;
Filtro de mangas: constituem-se em filtros de tecido em forma cilíndrica que
recebem o gás de combustão e que retêm particulados por filtragem no
tecido. A eficiência dos filtros eleva-se à medida do uso, com a deposição de
sólidos nos poros do tecido;
Câmaras gravitacionais: são anteparos sequenciais em que, as partículas
colidem com os anteparos à medida que o gás passa por eles, sendo retidas.
As partículas maiores e mais densas serão retidas antes, enquanto que as
menores e menos densas serão progressivamente coletadas nas câmaras
seguintes. A Figura 5.6.4 apresenta a ilustração de uma câmara gravitacional;

Figura 5.6.3 – Ciclone tangencial

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 542


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.6.4 – Câmara gravitacional

Fonte: o autor

Precipitadores eletrostáticos: baseiam-se na criação de um campo elétrico


que irá atrair partículas eletrostáticas. Sua eficiência vincula-se a uma série de
variáveis como dimensão das partículas, composição física e química dos
gases, temperatura de operação, resistência elétrica das partículas, poder de
aderência das cinzas e umidade dos gases. Podem ser de estágio único, ou de
dois estágios, se houver necessidade de pré-ionizador.
Torres de lavagem: operam através do borrifamento de água ou outro fluido
viscoso em regime de alta pressão sobre os gases de combustão, removendo
particulados, e solubilizando dióxido de carbono e outros componentes
gasosos solúveis no fluido utilizado. Os lavadores Venturi (vide Figura 5.6.5) e
os ciclones scrubber são os equipamentos mais comuns Há coalescência de
partículas de água formadas a partir do gás saturado que sai do incinerador;

Figura 5.6.5 – Lavador venturi

Fonte: o autor

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 543


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Torres de enchimento: são equipamentos recheados de material de


enchimento, como anéis de Rasching ou anéis de Pall, alocados para permitir
um melhor contato entre o líquido solvente, alimentado superiormente e o
gás de combustão. São muito utilizadas em incineradores de injeção líquida,
pelo fato de o gás de combustão não conter excesso de particulados;
Torres de pratos: utilizam pratos associados a borbulhadores em diversos
estágios, no sentido de proporcionar contato íntimo entre solvente e gás de
combustão. São mais indicadas do que as torres de enchimento para gases
com excesso de particulados, pois não apresentam o problema de
entupimento;
Dispositivos de tiragem de gases: em geral são utilizados sistemas
ventilador/chaminé, em que os ventiladores têm suas pás voltadas para trás e
a chaminé efetua o lançamento a uma altura conveniente para a dispersão
dos gases.

Sistemas de incineração
A incineração é um processo caro para tratamento de resíduos sólidos,
especialmente os urbanos, desprovidos de periculosidade. CORNETT (1998) apud TOCCHETTO e
COUTINHO (2004) cita um incinerador construído próximo de Amsterdan, Holanda, em 1995,
que, para a capacidade de processamento de 2.000 t/d, requereu um investimento de US$
300.000.000,00 em equipamentos de incineração e outra quantia idêntica somente em
sistemas de controle de emissões atmosféricas. As autoras citam uma realidade de mercado
de US$ 200,00 a US$ 2.000,00 para o custo por tonelada de resíduo incinerado,
dependentemente do tipo de resíduo processado.
Os principais sistemas de incineração atualmente em operação são (1) fornos
rotativos, (2) fornos de injeção líquida, (3) fornos de grade móvel ou fixa, (4) forno de leito
fluidizado, (5) incinerador de plasma, (6) incinerador de câmaras múltiplas:
 Fornos rotativos: são fornos ligeiramente inclinados sob um plano horizontal,
revestidos de material refratário. A fração volátil do resíduo sólido é
queimada em uma câmara secundária do forno e nesta câmara podem ser
injetados resíduos líquidos. Podem ser utilizados para tratamento térmico de
resíduos sólidos, líquidos e pastosos. O cilindro é normalmente inclinado em
relação à horizontal (2%-3%) apresentando 2-6 m de diâmetro e 6-12 m de
comprimento. A temperatura do forno rotativo varia entre 680oC e 1260oC,
enquanto que a temperatura no pós-queimador oscila entre 1100oC e 1300oC.
 Fornos de injeção líquida: são fornos inclinados e revestidos internamente
com material refratário, podem ser horizontais ou verticais. Como o resíduo é
atomizado, há uma limitação com relação ao tamanho das partículas;
 Forno de múltiplos estágios: composto por uma estrutura externa de aço e
revestida internamente com material refratário. Geralmente é composto por

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 544


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

6 a 12 câmaras onde o ar injetado resfria a coluna e os braços de arraste. O ar


quente circula da parte superior para o fundo conservando o calor;
 Forno de grade móvel ou fixa: constituído por 2 câmaras, neste sistema é
necessário combustível para início e manutenção da queima. O suprimento de
ar é fundamental para garantir a turbulência necessária para misturar o ar e o
resíduo controlando a formação de particulados;
 Forno de leito fluidizado: é constituído por um vaso recheado de material
inerte, geralmente areia, a uma temperatura de 450-850oC. O ar é injetado
pela parte inferior com o objetivo de manter o leito em suspensão. Os
resíduos e o combustível auxiliar são injetados radialmente em pequenas
quantidades e ao entrarem em combustão devolvem o calor retirado do leito.
 Incinerador de plasma: neste processo a energia elétrica transformada em
plasma (gás ionizado eletricamente condutivo, constituído de partículas
carregadas e de nêutrons) age transferindo e convertendo energia. Essa
energia libera elétrons que quebram as ligações entre moléculas quase
instantaneamente, sendo que o resfriamento rápido impede a recombinação
de tais moléculas. O capítulo relativo ao processo de plasma térmico
apresenta mais detalhes sobre a metodologia;
 Incinerador de câmaras múltiplas: constituído geralmente por 3 câmaras
refratárias. Basicamente são de dois tipos: (1) tipo retorta – onde os gases
fluem através das câmaras distribuídas em “V” e (2) tipo em linha – onde as
câmaras são construídas em série. A alimentação, a ignição e a queima se dão
na primeira câmara, os gases voláteis provenientes da oxidação parcial
passam para a segunda câmara onde ocorre a combustão turbulenta da
mistura. Esses gases são conduzidos para a terceira câmara onde ocorre a
combustão final. Este equipamento pode ser utilizado para resíduos sólidos e
líquidos. Os resíduos líquidos são atomizados juntamente com o ar e
necessitam de um tempo de residência maior e combustível auxiliar, caso o
poder calorífico seja baixo.

Emissões gasosas
Vários são os compostos químicos que podem se inserir nos gases de combustão.
Sua emissão pode originar problemas à saúde pública e ao ambiente. Todavia, duas famílias
de compostos desenvolveram notoriedade pública nos últimos trinta anos, sendo usados
como ícones da representação dos “malefícios” originários dos processos de tratamento
térmico dos resíduos: tais compostos são conhecidos como dioxinas e furanos. As
policlorodibenzodioxinas e os policlorodibenzofuranos, conhecidos, respectivamente, como
dioxinas e furanos, constituem-se em um tema polêmico que tem requerido especial rigor
no controle das operações dos incineradores. As dioxinas e furanos se formam livremente na
natureza, existindo muitos compostos inofensivos. Formam-se inclusive no metabolismo

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 545


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

humano, mas também em incêndios florestais, erupções vulcânicas e na decomposição de


matéria orgânica, sem causar danos. Porém, também se formarão como consequência da
atividade humana, em processos como recuperação de metais, siderurgia, produção de
agrotóxicos, compostagem, trânsito de automóveis, queimas caseiras (churrasqueira,
lareira), tratamento de efluentes, e reciclagem de cobre de fiação. Esses compostos também
se formam na combustão, em baixa temperatura, dos plásticos, de pesticidas clorados, de
papel branqueado e de substâncias usadas para a conservação da madeira. A superior taxa
de formação de dioxinas e furanos relaciona-se com uma maior concentração de monóxido
de carbono. Assim, na incineração, as temperaturas de operação devem ser mantidas altas e
os níveis de monóxido de carbono baixos para reduzir os riscos de que dioxinas e furanos se
formem (TOCCHETTO e COUTINHO, 2004).
Existem, na natureza, uma grande diversidade de dioxinas, que são moléculas
formadas por dois anéis benzênicos ligados por dois átomos de oxigênio com número
variado de átomos de cloro, que podem estar ligados em oito posições diferentes. Existem,
ao todo, 75 formas de dioxinas cloradas, sendo que cada uma apresenta toxidez diferente. A
mais tóxica é a 2,3,7,8-TCDD (Tetra-Cloro-Dibenzo-Dioxina), com quatro átomos de cloro,
ligados nas posições 2, 3, 7 e 8. Os furanos são moléculas semelhantes às dioxinas e se
diferenciam por possuírem um oxigênio a menos. Existem 135 moléculas de furanos. A
Figura 5.6.6 apresenta as estruturas de uma dioxina e um furano.

Figura 5.6.6 – Estruturas químicas das dioxinas (E) e dos furanos (D)

Fonte: o autor

Dos 210 tipos de dioxinas e furanos (PCDD/F) existentes, apenas 17 compostos


são tóxicos. Como esta toxidez é diferente para cada molécula, desenvolveu-se um sistema
de quantificação de toxidez único: conferiu-se à dioxina mais tóxica, a 2,3,7,8-TCDD, o valor
de toxidez 1. Para as outras, foi desenvolvido um Fator de Toxidez Equivalente (TEQ), que
compara sua toxidez à toxidez da 2,3,7,8-TCDD. Então, uma dioxina com TEQ de 0,01 é 100
vezes menos tóxica do que a 2,3,7,8-TCDD. A formação de dioxinas está condicionada à
disponibilidade de matéria orgânica, oxigênio e cloro. A reação é catalisada por enzimas
e/ou temperaturas de cerca de 200oC a 400oC, por este motivo as dioxinas podem ser
formadas novamente depois que os fluxos de gás deixarem a câmara de combustão, ou seja,
na câmara da pós-combustão.
Embora haja muita controvérsia sobre o assunto, com militâncias ambientalistas
posicionando-se a favor da extinção dos incineradores, e com tentativas de desmistificação
por parte de operadores e revendedores dos equipamentos, pesquisadores sérios têm

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 546


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

emitido opiniões no sentido de esclarecer que a problemática das dioxinas e furanos não é
tão contundente quanto o alardeado junto à mídia. Atividades simples, como queimas em
lareiras, podem, igualmente, ser geradoras desses compostos. Ademais, incêndios em lixões
e aterros sanitários podem produzir quantidades muito superiores de dioxinas e furanos do
que um incinerador bem operado em toda a sua vida útil.
Há recomendações de que os resíduos a serem incinerados contenham teor de
cloro inferior a 30%, não só por ser o cloro precursor de dioxinas e furanos, mas também por
ser precursor do fosgênio (COCl2), um gás venenoso.
Os efluentes líquido e sólido (cinzas) provenientes da incineração de resíduos
deverão ser destinados de maneira correta: os líquidos deverão ser tratados para que
possam ser emitidos dentro dos padrões estabelecidos pela legislação. Os sólidos deverão
ser classificados segundo os procedimentos instituídos nas NBR 10004-10007, para definição
precisa das suas possibilidades de destinação final.

Legislação aplicada ao tratamento térmico de resíduos:


 Resolução CONAMA: Nº 264, Ano: 2000 - "Licenciamento de fornos rotativos
de produção de clínquer para atividades de co-processamento de resíduos" -
Data da legislação: 26/08/1999 - Publicação DOU: 20/03/2000;
 Resolução CONAMA: Nº 316, Ano: 2002 - "Dispõe sobre procedimentos e
critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de
resíduos" - Data da legislação: 29/10/2002 - Publicação DOU: 20/11/2002.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 547


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.

ROCCA, Alfredo C.C. et al. 1993. Resíduos Sólidos Industriais. 2ª Edição. São Paulo: CETESB.
233p.

TOCHETTO, Marta R.L.; COUTINHO, Heloise L. 2004. Gerenciamento de resíduos sólidos


industriais. Apostila de curso. ABES-RS. 97p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 548


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.7 PIRÓLISE
A pirólise é um processo que vem sendo estudado desde o início da década de
1970, como uma alternativa para o tratamento de resíduos com recuperação de massa e
energia, isto é, tratamento não destrutivo. Consiste, basicamente, em uma decomposição
química dos resíduos, por ação de calor administrado em atmosfera controlada. O processo
é levado a efeito em condições de ausência ou no mínimo déficit de oxigênio. O processo
tem despertado grande interesse nos últimos anos, dada a promessa de operar em
condições de auto-suficiência energética, produzindo, ainda,’ produtos úteis, como gases e
óleos combustíveis bem como carbono na forma particulada.
As primeiras experiências com reatores de pirólise foram desenvolvidas por F.
Winkler no ano de 1926, na Alemanha. Próximo ao final da Segunda Guerra Mundial, os
alemães, utilizando os estudos de Winkler obtiveram dos resíduos gases combustíveis como
o metano e o isobutano (LIMA, 1995).
Nos EUA, na mesma década, o estudo da pirólise iniciou utilizando-se resíduos de
pneus, gerando gás com elevado poder calorífico, óleo e resíduos sólidos. No final da década
de 1960, estudos realizados nos EUA demonstraram que o processo de pirólise de resíduos
pode ser auto-sustentável energeticamente, pois os resíduos sólidos apresentam poder
calorífico suficiente para suprir o calor necessário ao processo, gerando energia excedente.
Estudos de SANNER et al. (1970) apud LIMA (1995) demonstraram que uma
tonelada de resíduos domiciliares pirolisados pode produzir os seguintes produtos:
 10,88 kg de sulfato de amônia;
 131 kg de char (carbono quase puro com 2.500-3.000 kcal/kg);
 12,3 L de alcatrão;
 9,46 L de óleo combustível;
 435 L de álcoois;
 331 Nm3 de gases combustíveis.
Na maioria dos casos, a pirólise ocorre por um mecanismo de radicais livres,
iniciado por traços de oxigênio ou outras impurezas oxidantes, que são incorporadas pelos
polímeros durante o seu processamento. Conforme PINTO (1979) apud LIMA (1995) e MUNIZ
(2004), os subprodutos da pirólise podem ser divididos em três grupos:

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 549


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 gases, compostos de hidrogênio, metano, dióxido de carbono, monóxido de


carbono, vapor d’água, alcanos, alcenos e formaldeído;
 combustível líquido de hidrocarbonetos, álcoois, ácidos orgânicos de elevado
peso específico e baixo teor de enxofre. Há produção, também, de gases
corrosivos como cloreto de hidrogênio e brometo de hidrogênio;
 char (carbono praticamente puro) e resíduos sólidos de vidro, metais e
escória.
Os processos de pirólise classificam-se em:
(a) Sistemas de alta temperatura como os sistemas TORRAX® e URDC®;
(b) Sistemas convencionais, como LANDGARD-MONSANTO®, AUSTIN®, GARRET®,
LURGI® e KOPPERS-TOTZEK®. Estes, por sua vez são divididos em sistemas
projetados para maximizar a produção de combustíveis líquidos e sistemas
projetados para maximizar a produção de combustíveis gasosos.
A pirólise difere essencialmente do processo de incineração, pois enquanto esta
última é exotérmica, a pirólise é um processo endotérmico, uma vez que é necessária
energia para a quebra das ligações químicas das macromoléculas. O esquema básico do
processo de pirólise consiste de cinco fases, conforme apresenta a Figura 5.7.1.
As temperaturas dos reatores de pirólise variam entre 300oC e 1600oC. A Figura
5.7.2 apresenta, com mais detalhes, as zonas de um típico reator pirolítico.
No processo clássico de pirólise, o reator é alimentado superiormente,
penetrando os resíduos na zona de secagem por gravidade, onde perdem água através da
passagem, em contracorrente, dos gases oriundos da zona pirolítica. Ingressarão, a seguir,
na zona pirolítica, onde há controle efetivo de temperatura e oxigênio.
Como observado na Figura 5.7.2, três são as zonas específicas do reator
pirolítico:
 zona de secagem: nesta zona os gases de pirólise aquecem os resíduos
ingressos no sistema, reduzindo o seu teor de umidade. Em uma primeira
zona, a 100oC, há pré-secagem do resíduo, que passará então por uma zona
inferior, de secagem propriamente dita, onde encontrará uma temperatura
de 200oC;
 zona de pirólise: nesta zona ocorrem os processos de volatilização, oxidação e
fusão, em temperaturas entre 300oC e 1600oC, sendo obtidos os produtos
álcoois, combustíveis, alcatrão, etc.;
 zona de resfriamento: nesta fase os resíduos sólidos gerados pelo processo
são coletados (char, escória e cinzas).

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 550


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.7.1 – Representação esquemática do processo de pirólise

Fonte: o autor

Figura 5.7.2 – Reator pirolítico clássico

Fonte: o autor

Os caminhos possíveis das reações pirolíticas são (MUNIZ, 2004):


a) decomposição em monômeros;
b) fragmentação das cadeias principais em outras de tamanho variável;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 551


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

c) decomposição e fragmentação simultâneas;


d) eliminação de inorgânicos simples;
e) eliminação de cadeias laterais.
A elevação da temperatura na pirólise de resíduos eleva a formação percentual
de gases e reduz a formação de líquidos e sólidos. A elevação da temperatura também
ocasiona diminuição do residual de carbono, devido à sua conversão em gases segundo as
reações:

C + H2O(g)  CO(g) + H2(g) (5.7-1)


C + CO2(g)  2CO(g) + H2(g) (5.7-2)

A elevação da temperatura ocasiona a diminuição do teor de condensados


orgânicos devido às reações de cracking, sendo formados, sobretudo, gases como o
hidrogênio molecular, o monóxido de carbono e o metano. O total de água presente diminui
com a elevação da temperatura, devido às reações:

CO(g) + H2O  CO2(g) + H2(g) (5.7-3)


CH4(g) + H2O (g)  CO(g) + 3H2(g) (5.7-4)

Acima de 800oC a reação (5.7-3) torna-se termodinamicamente provável no seu


sentido inverso, em função da elevação das concentrações de hidrogênio molecular,
portanto ocorre a conversão de dióxido de carbono em monóxido de carbono.
Os picos de produção de etano, etileno e metano ocorrem a 650oC, 800oC e
900oC respectivamente.
O processo de pirólise funciona satisfatoriamente para tratamento de resíduos
de composição conhecida, como pneus e xisto betuminoso ou polímeros diversos. Sua
utilização para tratamento de resíduos domiciliares sofre o problema da variabilidade do seu
poder calorífico superior, em função da própria variabilidade da composição sazonal dos
resíduos gerados, do seu teor de umidade e do seu teor de sólidos voláteis. O processo
adequa-se bem ao tratamento de resíduos orgânicos, sendo, porém, pouco efetivo para
tratamento de resíduos contendo metais e outros compostos inorgânicos. A tecnologia é
considerada adequada para o tratamento de bifenilas policloradas, dioxinas e
hidrocarbonetos aromáticos. Entretanto, o aproveitamento, o tratamento e a destinação dos
diversos efluentes líquidos, sólidos e gasosos deve ser cautelosamente previsto, o que inclui
sistemas de controle de poluição, pois os produtos são intermediários, não sendo, em geral,
termodinamicamente estáveis.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 552


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

A viabilidade econômica de uma planta comercial de pirólise de resíduos sólidos


industriais é determinada em função do tipo de resíduo industrial, do tipo de combustível
produzido, da escolha e capacidade dos equipamentos que compõem a linha de produção,
do valor comercial dos resíduos processados e dos combustíveis produzidos. Além disso, por
ser a pirólise um tratamento térmico que consome considerável quantidade de energia, é
necessário utilizar os produtos gerados como forma de integração energética total ou
parcial, minimizando, desta forma, os custos do processo (MUNIZ, 2004).
A planta da Petrobrás de São Mateus do Sul, estado do Paraná, atualmente
utiliza o processo Petrosix, que consiste na pirólise de xisto betuminoso. Há mais de uma
década o processo associava pneus inservíveis, obtendo-se um óleo de boa qualidade sendo
utilizado como óleo combustível e como aditivo de asfaltos. O negro de fumo gerado foi
aplicado como carga ou modificador de asfaltos especiais além de insumo para
termelétricas. Todavia o processo mostrou-se muito oneroso para a indústria de pneus,
responsável pela logística reversa das carcaças. As emissões provenientes da queima do óleo
e do gás de pirólise de xisto e pneus são comparáveis às de outros processos de combustão
de óleos combustíveis convencionais.
Em temperaturas acima de 400°C, uma cadeia linear de polímero é tão instável
que se decompõe espontaneamente em pequenas moléculas, depois de certo período de
tempo, mesmo sem penetração de ar, de outros gases reativos ou de compostos de efeito
catalítico. Por isso a pirólise é realizada acima dessa temperatura. A pirólise pode ser
aplicada tanto para polímeros termoplásticos como para termorrígidos. Neste sentido, ela
surge como uma possível alternativa para a reciclagem terciária de plásticos industriais.
KAMINSKY (1991) apud MUNIZ (2004) verificou que, no processo de pirólise, a
presença de cloretos em polímeros, como por exemplo, no caso do policloreto de vinila
(PVC), há liberação de cloreto de hidrogênio, causando problemas de corrosão, o que pode
catalisar reações de polimerização e condensação. Além disso, a presença de cloro em um
processo térmico pode levar à formação de dioxinas e furanos. Portanto, cloretos devem ser
eliminados antes de submeterem-se resíduos plásticos a processos térmicos como a pirólise.
No processo projetado por Monsanto Envirochem Systems, Inc. (sistema
Landgard-Monsanto) (LIMA, 1995) os resíduos são inicialmente dispostos em uma fossa de
recepção, sendo conduzidos por uma garra tipo pólipo para um moinho. Após a trituração,
os resíduos são conduzidos a um silo de estocagem, que serve como regulador, permitindo o
funcionamento do sistema de forma contínua. O coração do processo é um reator cilíndrico
horizontal revestido internamente com material refratário, que é alimentado com óleo
combustível para o suprimento da demanda de energia necessária ao processo. A
alimentação com oxigênio (comburente) deve ser tal que apenas provenha a necessidade
para combustão do óleo. Embora o processo de pirólise seja definido como uma quebra de
cadeias carbônicas na ausência de oxigênio, diversos sistemas utilizam o oxigênio molecular
para combustão parcial de resíduos, com vistas à geração de calor e melhoria do
rendimento. Os resíduos entram no reator de pirólise em contrafluxo ao combustível. Após a
efetivação das reações pirolíticas os resíduos sólidos serão resfriados e segregados por
flotação, magnetismo e ciclonagem, obtendo-se as frações metálica, vítrea e o char. Os

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 553


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

gases produzidos são queimados, com seu conteúdo energético convertendo-se em vapor
d’água para fins de calefação ou produção de potência, passando, após, por processos de
lavagem para remoção de particulados.

Gaseificação
A gaseificação é um processo térmico intermediário entre a incineração, que
opera em condições de excesso de oxigênio, e a pirólise, que ocorre em ausência desse gás
oxidante. O processo opera com combustão parcial da matéria conversível. A tecnologia é
utilizada para obtenção de combustíveis a partir de biomassa e é uma técnica interessante
para redução eficiente de volume de resíduos e conversão parcial desses a uma mistura
gasosa com baixo poder calorífico, gerando também efluentes líquido e sólido. Os tipos mais
comuns de reatores de gaseificação são (1) de leito fixo horizontal, (2) de leito fixo vertical,
(3) de leito fluidizado, (4) de leito múltiplo e (5) de leito rotativo. A geração de VOCs (volatile
organic compounds = compostos orgânicos voláteis) é baixa, podendo ser abatida por um
sistema eficiente de tratamento de gases.
O processo pode ser conduzido utilizando-se ar, oxigênio puro ou vapor d’água,
gerando diferentes produtos gasosos. Normalmente é utilizado carvão como combustível
para suprimento da demanda energética do processo. Em um gaseificador de leito fixo típico
os resíduos ingressam superiormente, em contracorrente com o ar, que é insuflado pela
parte inferior. O gás combustível formado sai pela parte superior, enquanto que as cinzas
saem por baixo. A utilização de oxigênio puro eleva a temperatura à ordem de 2000oC,
causando fusão das cinzas, que são removidas na forma de escória líquida.
Quando o ar é alimentado inferiormente na câmara de gaseificação, entra em
contato com o carvão, oxidando esse a gás carbônico e água. Tais produtos, em uma zona
redutora superior reagirão endotermicamente com o carvão, formando CO e H2, que
fornecerão o calor necessário, mais acima no reator, para as reações pirolíticas com os
resíduos que estão sendo tratados, e, ainda mais acima, para a pré-secagem dos mesmos na
entrada do gaseificador. TOCCHETTO e COUTINHO (2004) apresentam as reações ocorridas.

CH1,2O0,5 + 0,6 O2  0,2C + 0,5CO2+ 0,5CO + 0,4H2 + 0,2H2O (5.7-5)


C + O2  CO2 (5.7-6)
C + CO2  2CO (5.7-7)
C + H2O  CO + H2 (5.7-8)
CO + 3H2  CH4 + H2O (5.7-9)

A Figura 5.7.3 apresenta esquematicamente a rota do processo de gaseificação.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 554


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.7.3 – Representação esquemática do processo de gaseificação

Fonte: o autor

As principais configurações de reatores de gaseificação são (a) downdraft


gasifier, (b) updraft gasifier, (c) crossflow gasifier, (d) gaseificador de leito fluidizado e (e)
gaseificador de leito fluidizado com recirculação. Na configuração updraft gasifier há um
movimento em contracorrente do gás, que é injetado pelo fundo e o resíduo sólido (ou,
genericamente, a biomassa), que é alimentado por cima. O gás produzido apresenta
elevados teores de alcatrão. Na configuração downdraft gasifier o gás é alimentado a um
terço da altura do reator, o que origina uma zona redutora abaixo da zona de combustão,
resultando em um produto gasoso com menores teores de alcatrão. A configuração
crossflow gasifier opera com uma taxa de fornecimento de gás elevada, gerando
turbilhonamento e resultando em um efluente gasoso de características intermediárias. As
configurações em leito fluidizado são extremamente eficientes, operando com ou sem
recirculação de particulados (meio suspenso).
Os principais produtos não gasosos da gaseificação são cinzas e material
particulado (sólidos). Os principais compostos obtidos no processo são dióxido de carbono
(CO2), monóxido de carbono (CO), metano (CH4) e hidrogênio (H2) (gases) e ácidos e vapores
condensados de alcatrão (líquidos). A temperatura da zona de oxidação costuma variar entre
700oC e 2000oC, rebaixando-se a 800oC-1100oC na zona redutora (endotérmica).
Os principais parâmetros que influenciam a gaseificação são (1) as características
químicas do material a gaseificar, (2) o seu poder calorífico, (3) a umidade e (4) o tamanho
de partícula, (5) a pressão do sistema, e (6) o agente de gaseificação (ar, oxigênio, vapor).
Como exemplo de conversão, um sistema de leito fixo (Sistema Purox)
gaseificando resíduos sólidos urbanos produz um efluente gasoso com aproximadamente

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 555


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

25% de gás hidrogênio, 40% de monóxido de carbono, 25% de dióxido de carbono e 5% de


metano.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 556


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LIMA, L.M.Q. 1995. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ª Ed. São Paulo: Hemus. 265p.

MUNIZ, Ana.R.C. 2004. Otimização da operação de um reator de pirólise de resíduos


sólidos industriais. Universidade Federal de Santa Catarina: Tese de doutorado. 215p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 557


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.8 PLASMA TÉRMICO


O processo de tocha de plasma é um dos mais modernos avanços da tecnologia
aplicada ao tratamento de resíduos, ainda que não seja, na verdade, de desenvolvimento e
utilização tão recentes na Engenharia, havendo sua utilização iniciado na década de 1960. O
termo plasma foi utilizado pela primeira vez em 1929, pelo cientista norte-americano Irving
Langmuir, para denominar um gás parcialmente ionizado [KETTANY e HOYAUX (1973) apud
FELIPINI (2005). O estado de plasma é comumente chamado de o quarto estado da matéria.
No estado sólido as moléculas vibram em posições fixas, elevando-se o grau de vibração com
a elevação da temperatura, até que a configuração física do material lhe permita fluir. Neste
momento o material passou para a forma líquida. Com a adição de mais calor, em
determinado momento as moléculas adquirirão, a partir de quebra das ligações físicas que
as mantêm próximas, superior liberdade, passando o material ao estado gasoso. Com a
continuidade do aquecimento, a cerca de 2000oC as moléculas do gás começam a
dissociarem-se em estado atômico; a 3000oC, os átomos são ionizados, pela perda de parte
dos elétrons. Neste momento o material se encontrará na forma de plasma. Estima-se que
cerca de 99% da matéria do universo encontre-se em estado de plasma. Exemplos de plasma
formado naturalmente são a corona solar, nebulosas, aurora boreal e relâmpagos.
O plasma pode ser produzido instantaneamente pela passagem de um gás
através de um arco elétrico mantido entre um cátodo e um ânodo, sendo, portanto, um gás
ionizado condutor de eletricidade. O processo pode conduzir o gás a elevadíssimas
temperaturas, frequentemente superiores a 10.000oC, podendo atingir até cerca de
50.000oC. Considera-se que o aquecimento se dá devido às colisões entre os elétrons que
formam a corrente do arco voltaico e as moléculas do gás. Tal gás apresenta-se
eletricamente neutro e mais condutivo do que o gás original que lhe deu origem. A eficiência
de transformação de uma tocha de plasma está em cerca de 85-90% da energia elétrica
utilizada na geração do plasma.
O denominado plasma térmico tem sido utilizado no mundo inteiro nos
últimos 50 anos em diversos processos industriais, incluindo desde metalurgia (aquecimento
de peças, lingotamento contínuo, produção de ferro-ligas e outros), à produção de novos
materiais (como zircônia, sílica ultra-pura e compósitos) e mais recentemente para o
tratamento de resíduos potencialmente perigosos (decomposição de organoclorados,
refusão de cinzas de incineração, tratamento de solos contaminados, tratamento de
resíduos hospitalares). A SKF Stell Company desenvolveu um processo com tecnologia de

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 558


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

plasma para recuperar ferro, zinco e chumbo das poeiras originárias da indústria siderúrgica,
o processo denominado Nemerow® (1991) (TOCHETTO e COUTINHO, 2004).
A Figura 5.8.1 apresenta, esquematicamente, o processo de plasma térmico para
o tratamento de resíduos. A Figura 5.8.2 apresenta um equipamento emissor de jato de
plasma. A Figura 5.8.3 apresenta um registro fotográfico de tocha de plasma.

Figura 5.8.1 – Sistema de tratamento de resíduos por plasma térmico

Fonte: o autor

Os gases e os sólidos fluem em contracorrente através do forno, que é um


cilindro de aço inoxidável. A escória fundida escoa pela base a cerca de 1450oC, enquanto
que o gás, constituído por hidrocarbonetos e outros produtos de compostos orgânicos
parcialmente decompostos, sai pelo topo da fornalha a 600-800oC.
Conforme FELIPINI (2005) em um sistema de plasma térmico típico de tratamento
de resíduos sólidos, chamado plasma de arco não transferido, a potência empregada pode
chegar a 30 MW, a tensão de trabalho a 6000 V e a corrente a 2000 A. Em função dessa
elevada potência necessária, as pesquisas que visam o aproveitamento da tecnologia para
aplicação aos resíduos sólidos comuns municipais buscam a recuperação da energia
empregada. Embora a eficiência da conversão da energia elétrica em térmica, há uma perda
de 10-15%, a qual, para potências tão elevadas, é considerável em valores absolutos. Além
de considerar essa perda, o balanço energético deve considerar a eficiência da recuperação
de energia calorífica através de um processo utilizando trocadores de calor para produzir
vapor que moverá uma turbina elétrica. Um saldo positivo importante a ser considerado diz
respeito aos produtos gasosos pirolisados, os quais produzem a recuperação parcial da
energia interna dos resíduos originais ao serem utilizados como combustíveis.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 559


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Figura 5.8.2 – Equipamento emissor de tocha de plasma

Fonte: o autor

Figura 5.8.3 – Tocha de plasma incidindo sobre filamento metálico

Fonte: o autor

Quase todos os gases industriais podem ser utilizados para se gerar uma tocha
de plasma. Gases como argônio, nitrogênio, hidrogênio, amônia, cloro, oxigênio e monóxido
de carbono, além do próprio ar, são frequentemente utilizados. Os resíduos tratados por
plasma podem ser processados (1) fazendo a tocha incidir diretamente sobre os mesmos ou
(2) promovendo-se um aquecimento prévio dos mesmos em uma câmara de gaseificação.
Sendo processados na tocha de plasma, imediatamente decompor-se-ão em compostos
mais simples. O processo ocorre porque as ligações químicas que mantêm átomos unidos e
elétrons girando ao redor de núcleos atômicos são rompidas pela enorme quantidade de
energia lançada sobre os resíduos.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 560


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

No segundo processo (duas câmaras: gaseificação e plasma) há gaseificação da


parte orgânica e fusão da parte inorgânica na primeira câmara e decomposição de gás e do
líquido formados, na segunda câmara, chamada reator de plasma. Após o processamento, o
gás de plasma tem seu conteúdo calorífico aproveitado e deverá ser tratado em sistemas de
filtragem e lavadores de gases, para evitarem-se emissões aéreas indesejáveis. Os materiais
inorgânicos, silicatos vítreos, sobrenadarão a fase metálica líquida. Após a solidificação
formam um composto vítreo de cor negra (matriz vítrea) e altíssima dureza, muito similar a
um mineral de origem vulcânica. Parte dos metais, mesmo os pesados, ficam encapsulados
nesse material. Uma massa metálica também resultará do processamento como subproduto
(matriz metálica). A Figura 5.8.4 apresenta as matrizes formadas no processo.

Figura 5.8.4 – Matrizes metálica e vítrea

Fonte: web

Testes de lixiviação e de solubilização já comprovaram que metais pesados e


outros componentes perigosos ficam totalmente aprisionados na matriz vítrea. Os metais
presentes nas matrizes vítrea e metálica podem ser recuperados, pois muitos possuem valor
econômico agregado, como níquel, zinco e cobre. O material vítreo pode ser utilizado para
pavimentação, revestimentos cerâmicos e material isolante térmico e elétrico.
O método de plasma está ganhando importância para a fusão de sucata de
metais, ligas, alumínio contido em rejeitos, lamas de eletrodeposição, recuperação de
metais de catalisadores exaustos e cinzas de incineração. A redução de volume dos materiais
sólidos obtidos chega a trezentas vezes à obtida em relação aos demais métodos térmicos. O
processo pode ser utilizado para todos os tipos de resíduos, inclusive agrotóxicos, PCBs,
organoclorados, biológicos, e resíduos nucleares.
As principais vantagens do sistema de tocha de plasma podem ser citadas:
 elevadas temperaturas causam rápida e completa pirólise dos compostos
orgânicos e fundem e vitrificam resíduos inorgânicos, encapsulando metais
pesados e outros compostos perigosos;
 os produtos vitrificados são similares a um mineral de alta dureza;

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 561


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

 recuperação mássica de materiais de interesse econômico;


 elevada eficiência energética;
 reduções de volume extremamente elevadas, superiores a 99%;
 o processo apresenta elevado grau de controle;
 as ligações químicas são quebradas diretamente, sem passar por reações
químicas;
 apresenta possibilidade de utilização em unidades móveis;
 aplicação ilimitada em relação a tipos de resíduos a serem tratados.
 alta densidade de energia possibilita a construção de reatores com menores
dimensões para as mesmas capacidades; também favorece a construção de
equipamento móvel;
 o uso de energia elétrica reduz a vazão total de gás, dessa forma resultando
em menores instalações para processamento dos gases exaustos; grande
número de opções de gases para produção do plasma torna flexível o controle
sobre os fatores químicos do processo;
 com menores instalações e alta densidade de energia, os tempos de partida e
paralisações são reduzidos;
 favorece a pirólise de substâncias sensíveis à radiação ultravioleta, como os
organoclorados.
As desvantagens do sistema são:
 o consumo energético do sistema é muito grande, portanto requer
investimentos vultosos, e, portanto, deve ser associado a um mercado de
produção de resíduos bem estabelecido;
 a tecnologia não dispensa um sofisticado sistema de tratamento de gases, tal
como a incineração, para a retenção dos metais voláteis e gases ácidos, bem
como outros compostos tóxicos;
 pode haver geração de compostos parcialmente oxidados, como o monóxido
de carbono;
 no que diz respeito à produção de dioxinas e furanos, não é totalmente claro
que se possa garantir inequivocamente maior vantagem sobre as tecnologias
de incineração mais avançadas nem com as técnicas mais simples de
gaseificação.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 562


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

TOCHETTO, Marta R.L.; COUTINHO, Heloise L. 2004. Gerenciamento de resíduos sólidos


industriais. Apostila de curso. ABES-RS. 97p.

FELIPINI, C.L. 2005. Noções sobre plasma térmico e suas principais aplicações. Integração, nº
41. pp.147-51.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 563


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.9 COPROCESSAMENTO
O denominado coprocessamento corresponde a uma técnica de incorporação de
resíduos no processo de fabricação de um produto, em geral clínquer (precursor do
cimento), servindo tais resíduos como combustíveis ou como matérias-primas, ocorrendo
sua destruição térmica eficiente e segura. Este processo de tratamento e destinação de
resíduos insere a importante vantagem de não produzir residuais a destinar, uma vez que há
incorporação das cinzas ao produto final. Havendo disseminado-se como metodologia nos
Estados Unidos, sua regulamentação no Brasil adveio com a Resolução CONAMA 264/1999.
A Resolução CONAMA 316/2002 estabeleceu outras determinações, como por exemplo, o
limite de emissão para dioxinas no coprocessamento.
As principais restrições à utilização da metodologia referem-se à sua aplicação
para queima de materiais clorados (precursores de dioxinas) e resíduos com elevadas
concentrações de metais pesados, que podem ser transferidos às emissões aéreas ou
incorporados ao cimento. Via de regra o grau de aplicabilidade eleva-se em função da
elevação do poder calorífico do resíduo, utilizado como substituto parcial de outros
combustíveis. Aplicações similares podem ser conseguidas em fornos industriais,
siderúrgicos ou caldeiras, desde que devidamente licenciados para tal, em função das
emissões sólidas, líquidas e gasosas oriundas de cada resíduo utilizado.
Os principais resíduos que podem ser coprocessados são:
 borras oleosas;
 borrachas não cloradas;
 solventes;
 ceras
 resinas fenólicas e acrílicas;
 elementos filtrantes de filtros de óleos;
 lodos de estações de tratamento de efluentes;
 EPIs contaminados;
 carvão ativado exaurido;
 borras ácidas.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 564


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

TOCHETTO e COUTINHO (2004) citam algumas conclusões de estudos efetuados


utilizando-se resíduos orgânicos e inorgânicos na fabricação de cimento, e que ainda geram
controvérsias:
 os compostos orgânicos são inteiramente destruídos no processo, devido à
alta temperatura do processo, da ordem de 1400oC. Esta alta temperatura é
mantida por vários minutos, tempo necessário para a formação do clínquer,
substrato que confere as propriedades hidráulicas ao cimento. Nas análises do
clínquer não são encontrados compostos orgânicos, o que comprova a
eficiência do processo;
 os compostos inorgânicos de maior importância são os metais pesados, mas
eles não são estranhos ao processo, pois estão presentes no carvão, óleo e
matérias-primas do processamento, fazendo parte da estrutura cristalina do
clínquer, sem prejudicar a qualidade do produto;
 não existem diferenças na lixiviabilidade dos metais, entre um cimento
fabricado utilizando combustíveis tradicionais e um cimento fabricado
utilizando resíduos industriais como insumo alternativo. Alguns estudos
mostram que as emissões gasosas da indústria cimenteira são muito
pequenas, normalmente liberando um décimo da quantidade de
hidrocarbonetos emitidos por um automóvel.
O processo não deve ser aplicado a resíduos domiciliares, explosivos, radioativos,
organoclorados, pilhas e baterias, precursores de dioxinas e furanos como o PVC,
agrotóxicos e resíduos de risco biológico.
O pneu residual é um material de excelência, com ótima performance no
processo de coprocessamento, devido ao seu elevado poder calorífico, superior ao do
carvão. Cada pneu de veículo de passeio produz cerca de 7800 kcal/kg, enquanto que pneus
de veículos transporte geram aproximadamente 6300 kcal/kg. Normalmente sua utilização
dá-se em uma proporção de 3%-15% em relação às fontes combustíveis classicamente
utilizadas. Diversas fábricas de cimento na Europa e nos Estados Unidos estão processando
pneus em seus fornos. No Brasil, dada a obrigação legal de fabricantes e importadores de
pneus de destinarem as carcaças, a metodologia tem sido largamente utilizada, como uma
alternativa à pirólise.
A produção do cimento é sintetizada abaixo:

argila + calcáreo + areia + compostos de ferro = clínquer (5.9-1)


clínquer + gesso finamente moído = cimento (5.9-2)

As variáveis de controle do processo são a alimentação da matéria-prima, a


exaustão e o combustível; as variáveis de estado são a temperatura na zona de queima, o
teor de oxigênio na queima e a temperatura no fundo do forno.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 565


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Em muitos casos, dependendo dos tipos de resíduos coprocessados, poderá


haver melhoria nas características do cimento, e até mesmo economia das matérias-primas,
além da economia de combustíveis. O coprocessamento necessita licenciamento ambiental.
Os metais antimônio, arsênio, berílio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, prata e tálio
devem ser monitorados no processo, sendo as quantidades relativas de resíduos precursores
desses metais no cimento e nas emissões aéreas adicionadas somente após estudos
específicos.
O processamento das matérias-primas exige temperaturas superiores a 1400oC,
enquanto que a temperatura dos gases chega a 2000oC. Neste sentido, resíduos com alto
poder calorífico serão bem-vindos ao processo como substitutos de outras fontes
combustíveis, trazendo economia de recursos e ao mesmo tempo recebendo destinação
apropriada. Eliminando-se os resíduos, por sua descaracterização completa, desaparecem as
responsabilidades do gerador dos mesmos, o qual, nos casos em que tais resíduos fossem
enviados a aterros e outros sistemas em que permaneceriam praticamente intactos por
muitos anos, seria ad eternum solidariamente responsável por eventuais impactos
ambientais ocasionados pelas unidades de seu recebimento e confinamento. O
coprocessamento tem-se constituído na metodologia preferida por muitas grandes
empresas para tratamento/destinação dos seus resíduos, pelo motivo acima explanado. Esse
fato tem levado empresas especializadas em tratamento de resíduos a executarem o
preparo de misturas (“blends”) para envio ao coprocessamento. Tais empresas não detêm
fornos industriais licenciados para a atividade, porém encarregam-se de receber resíduos
especiais de diferentes proveniências, com diferentes composições e, após análise e
classificação dos mesmos, efetuam uma preparação industrial em que percentuais de
diferentes resíduos são dosados, de modo a constituir uma mistura que apresente um poder
calorífico minimamente adequado (2000 kcal/kg ou superior) e concentrações mássicas de
diversos constituintes dentro dos limites exigidos para que a mistura possa seguir para o
coprocessamento. Conveniando-se a cimenteiras, tais empresas encaminharão os blends ao
coprocessamento seguro. Neste sentido, resíduos, que em função de baixos poderes
caloríficos ou elevadas concentrações de certas espécies químicas não seriam factíveis de
coprocessamento, podem ser inclusos nas misturas sem perda apreciável da qualidade das
mesmas misturas.
Além dos pneus inservíveis, também restos de tintas, borras e solventes, além de
muitos outros resíduos com bom poder calorífico podem, consideradas as restrições
estabelecidas, serem coprocessados.
Precipitadores eletrostáticos e outros equipamentos de proteção de emissões
atmosféricas devem ser alocados aos sistemas, para evitar a dispersão de poeiras
contaminadas com metais pesados, que deverão retornar ao processo após sua coleta.
O processo de coprocessamento pode também ser levado a efeito, em condições
satisfatórias, em fornos siderúrgicos, caldeiras ou outros tipos de fornos industriais, desde
que observadas as condições necessárias para tal, principalmente relacionadas à questão
das emissões atmosféricas.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 566


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. 1999. Resolução CONAMA 264, de 26 de agosto de 1999. Licenciamento de fornos


rotativos de produção de clínquer para atividades de co-processamento de resíduos.
DOU de 20.03.2000.

______. 2002. Resolução CONAMA 316, de 29 de outubro de 2002. Dispõe sobre


procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de
resíduos. DOU de 20.11.2002.

TOCHETTO, Marta R.L.; COUTINHO, Heloise L. 2004. Gerenciamento de resíduos sólidos


industriais. Apostila de curso. ABES-RS. 97p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 567


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

5.10 COMBUSTÍVEL DERIVADO


DE RESÍDUOS - CDR
Os resíduos sólidos domiciliares apresentam poder calorífico decorrente da
energia química interna presente em suas moléculas. A atratividade pela ideia de produzir, a
partir dos resíduos sólidos, um material com bom poder calorífico para utilização como
combustível, levou ao desenvolvimento da tecnologia de produção do CDR – combustível
derivado de resíduos. Tal tecnologia visa ao afastamento, da massa de resíduos sólidos
urbanos, das frações indesejáveis e não dotadas de poder calorífico, como materiais
metálicos, bem como a redução do teor de umidade do material em processamento.
A produção de combustíveis derivados de resíduos não é um processo recente. O
método foi inicialmente desenvolvido como uma alternativa à queima imediata dos resíduos
municipais, em vez disso transformando-os em um material combustível passível de
transporte e armazenamento em condições sanitárias favoráveis. A produção de CDR
é mundialmente difundida e muito bem consolidada nos Estados Unidos, Japão e Europa.
Um grande número de empresas detém o conhecimento de diferentes processos para a sua
produção. No Brasil, no estado de São Paulo, o CDR é produzido ainda de forma incipiente a
partir de resíduo industrial e domiciliar ou misto (SAMPAIO, 2014). Genericamente, o
processamento dos resíduos é levado a efeito através de um sistema composto pelas
seguintes etapas:
 trituração primária: rasgamento dos sacos;
 tambor rotativo: eliminação de materiais úmidos e pesados;
 separação de metais ferrosos (a maioria dos metais ferrosos retirados
correspondem a aço e ferro);
 separação de metais não ferrosos (a maioria dos metais não ferrosos retirados
corresponde a alumínio, latão e cobre);
 trituração principal;
 separação aerodinâmica: utilização de um soprador para separar o CDR mais
leve do CDR mais pesado;
 trituração final.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 568


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

O CDR pode ser uma alternativa viável para a substituição da biomassa


convencional, pois tem poder calorífico inferior (PCI) relativamente bom, baixo teor de
metais, moderado teor de cloro e propriedades adequadas para o manuseio, entre outras
vantagens que o habilitam para o uso na produção de vapor e energia, dependendo da
tecnologia de combustão aplicada. A transformação do resíduo em CDR reduz e
homogeneiza a umidade, melhora a distribuição de tamanhos, reduz os teores de cloro,
sódio, flúor e potássio, e consequentemente reduz os problemas relacionados à corrosão,
tornando o material em combustão menos agressivo aos equipamentos que entram em
contato consigo.
O CDR pode ser produzido seguindo duas diferentes metodologias: (1) via
separação úmida ou (2) via separação seca. No processo úmido, o resíduo bruto entra em
um tambor rotativo, separando-se o resíduo em dois fluxos a partir do peneiramento. O
material que não atravessa a tela do tambor rotativo constitui a maior parte dos resíduos
sólidos urbanos. A parcela que passa pela tela é composta por areia, vidro, terra, entre
outros. Cada fluxo de resíduos é enviado para sistemas processadores. Estes sistemas são
formados por grandes agitadores-martelo do tipo rotor, em que é adicionada água para
macerar o resíduo até formar uma lama que passa por placas perfuradas instaladas no fundo
dos digestores. Esta lama é bombeada para os ciclones, que separam a parte orgânica da
parte inorgânica através da ação da força centrífuga. A fração inorgânica, pesada, consiste
principalmente de pequenos pedaços de metal, cerâmica, pedra, osso, areia, terra e vidro,
que são transportados para a unidade de reciclagem de minerais. A fração orgânica, leve,
passa para um tanque agitado antes da desidratação e é descarregada no tanque de
armazenagem. Os equipamentos apresentam aberturas que permitem a remoção dos
grandes pedaços, em particular metais, que são transportados para um imã permanente
rotativo para a separação de metais ferrosos e não ferrosos. Os metais não ferrosos são
submetidos a uma espécie de coleta para a recuperação de alumínio fundido ou laminado,
cobre, latão, zinco e bronze.
Na separação seca, o resíduo bruto passa por trituradores tipo martelo para
reduzir o tamanho da partícula para quatro polegadas. Os materiais ferrosos são
recuperados por separadores magnéticos. Eventualmente ocorre uma segunda trituração,
reduzindo ainda mais o tamanho das partículas. As fases finais de processamento podem
envolver a classificação a ar para remover as frações leves da carga seguida por, em alguns
casos, a densificação para produzir um combustível em forma de peletes ou briquetes.
Muitos transportadores podem ser utilizados durante estes processos, como esteiras,
transportadores vibratórios, roscas ou uma combinação deles.
O CDR pode ser comercializado para uso de terceiros ou queimado no local de
origem, em um forno para aproveitamento energético. A queima de resíduos ou CDR em
caldeiras dedicadas demanda equipamentos extremamente onerosos, pois necessitam de
materiais de constituição nobres para evitar-se corrosão. Para evitar esse problema muitas
plantas queimam o CDR como co-combustível, ou seja, como integrante de uma mistura
com outros combustíveis sólidos, tais como carvão e biomassa.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 569


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

Em alguns casos, jornal empacotado e papelão são removidos manualmente a


partir dos resíduos de entrada. A maioria dos sistemas de CDR nos Estados Unidos
incorporam todos os materiais orgânicos para a produção do combustível, enquanto muitos
sistemas de CDR desenvolvidos na Europa separam principalmente papel e plástico. Entre os
métodos de separação apresentados e as possíveis combinações entre eles, o método mais
comum é a separação a seco, pois permite ser adaptado para produzir várias qualidades de
CDR, dependendo principalmente da extensão da separação de materiais inorgânicos e de
componentes de papel e plásticos à fração orgânica biodegradável. A separação a seco
agrega também a vantagem de não elevar a umidade do resíduo. Não existem especificações
industriais para o CDR, mas existem diversas variações nas propriedades físicas e químicas
do combustível. Para fornecer um padrão de classificação dos diversos tipos de CDR para uso
industrial, a American Society for Testing and Materials (ASTM), desenvolveu um sistema de
classificação do CDR em sete categorias, conforme apresentado no Quadro 5.10.1.

Quadro 5.10.1 – Tipos de CDR conforme ASTM


Classificação Descrição
Resíduo Sólido Urbano (RSU) bruto como combustível nas condições de
CDR-1 (RSU)
descarte
RSU processado para tamanho de partículas grosseiras com ou sem separação
CDR-2 (c-CDR)
de metais, 95% em peso menor que 6 polegadas (152 mm)
RSU processado e picado com separação de metais, vidros e outros orgânicos,
CDR-3 (fofo-CDR)
tamanho de partículas 95% em peso menor que 2 polegadas (51 mm).
RSU processado e triturado até a forma para pulverizar com separação de
CDR-4 (p-CDR) metais, vidros e outros orgânicos, com tamanho de partículas 95% em peso
passando por uma peneira de mesh 10 (abertura de 2 mm)
RSU processado e densificado (comprimido) para formas de peletes,
CDR-5 (d-CDR)
briquetes ou cubetes
CDR-6 RSU processado para queimar como combustível líquido
CDR-7 RSU processado para queimar como com combustível gasoso.
Fonte: [SCHLOTTHAUER (1986) e PICHTEL (2005)] apud SAMPAIO, 2014

Contratos para fornecimento de CDR muitas vezes incorporam exigências que


dizem respeito aos teores de umidade, cinzas, voláteis e carbono fixo, carbono, hidrogênio,
nitrogênio, oxigênio, enxofre, poder calorifico superior (PCS), cloro, flúor, chumbo, cádmio e
mercúrio (SAMPAIO, 2014), de modo a que o adquirente poderá certificar-se da performance
esperada do combustível e de suas prováveis emissões. Enxofre, nitrogênio e conteúdo total
de cloro fornecem um guia para possíveis problemas de emissões gasosas (SAMPAIO, 2014). A
classificação das cinzas resultantes da combustão estará diretamente associada aos teores
de metais pesados presentes no combustível.
Variações nas propriedades físicas e químicas do CDR devido a diferentes fontes,
época do ano, e os métodos de triagem de resíduos dificultam a apresentar valores de
análise médios. A Tabela 5.10.1 apresenta propriedades físicas e químicas dos resíduos.
Observa-se que quanto mais processado é o RSU, maior é seu poder calorífico, menor o seu

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 570


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

teor de umidade e mais elevado o seu peso específico. Tais características promovem uma
eficiência de queima maior.

Tabela 5.10.1 – Propriedades dos CDRs


Propriedades CDR-2 CDR-3 CDR-4
Tamanho (mm) 95% <152 <51 <2
Umidade (%) 15-25 12-20 1-5
Teor de Cinzas (%) 12-20 15-20 10-20
Poder calorífico Superior (kJ/kg) 10.467-12.793 11.630-13.956 15.119-17.445
3
Peso específico (kg/m ) 48-112 32-96 400-560
Conversão de resíduo sólido urbano em CDR
70-80 55-65 -
(%)
Fonte: [SCHLOTTHAUER (1986) e PICHTEL (2005)] apud SAMPAIO, 2014

Na sua forma mais simples, o CDR apresenta-se como um material bruto na


forma de flocos. Alternativamente, podem ocorrer processos adicionais que transformarão o
CDR em combustível adensado e pelotizado (ou em forma de cubos), o que facilitará o
transporte e armazenagem. A Figura 5.10.1 apresenta a consistência de um determinado
CDR já pronto para transporte, armazenagem e queima.

Figura 5.10.1 – CDR finalizado

Fonte: web

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 571


Introdução à Ciência dos Resíduos Sólidos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

SAMPAIO, Raquel P. 2014. Estudo de caso dos possíveis fatores deletérios causados pelo
combustível derivado de resíduos (CDR) em caldeiras voltadas à produção de energia
elétrica queimando principalmente bagaço de cana. USP - São Carlos. Dissertação de
mestrado. 162p.

Resíduos Sólidos: Urbanos e Insutriais: Alternativas para o Tratamento e a Destinação 572

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