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Abertura melancólica.
Transição.
Doutor: Não... não! Você morreu há anos. Eu vi. Sem regenerações, sem possibilidades
de retornar. Eu tentei tantas vezes...
Mestra: Não me dê spoilers, querido.
Doutor: Spoilers? Então você não retornou?
Mestra: Não retornei e não morri, e nem pretendo.
Doutor: Que truque é este?
Mestra: Então você realmente não entende?
Doutor: Ohana atacará com apenas um aceno meu se você não...
Mestra: Eu sou a Mestra... ou o Mestre! Pronomes... enfim, sou alguém que você ainda
não possuiu o privilégio de conhecer.
Doutor: Eu não entendo. Qual exatamente é você?
Mestra: Pensa, preguiçoso! Você realmente me conhece?
Doutor: Eu não quero saber! Por favor, retire-se agora deste planeta!
Mestra: Pare homem! Não vim te ferir ou atacar. Estou apenas visitando um amigo. Um
amigo que se perdeu em meio a frustação e dor.
Doutor: Não! Eu não aceito que você apareça aqui e ache que possui o direito de me
considerar um perdido.
Mestra: Eu não o considero. Eu só vejo o que está na minha frente. Um homem perdido.
Sem companhia ou amores. Apenas um ser perdido e solitário.
Doutor: Você não tem o direito! Não entende e nunca entenderá o que eu perdi. Agora
saia deste planeta!
Mestra: Eu não entendo. Eu definitivamente não entendo, mas sei de quem é a culpa de
tudo: do Doutor. É claro que é! Um ser poderoso frágil que permitiu esses inferiores a
viajarem pela imensidão do desconhecido. Foi você e não outro quem permitiu a morte
de todos aqueles que se foram. Foi você quem os tirou de casa com sua nave especial
que torna sonhos em realidade. Foi você quem os fez confiar inteiramente na sua
capacidade de resolver qualquer problema. Foi você quem perdeu tudo e todos, e
principalmente, foi você quem perdeu a si mesmo!
Doutor: Você... você!
Mestra: Eu não tenho o direito?
Doutor: Você... está certa.
Mestra: (GARGALHA) Não, não estou! Eu não vim aqui para te colocar pra baixo.
Estou apenas dizendo umas verdades sem pensar nas consequências. Essa sou eu agora.
Doutor: Então o que veio fazer aqui?
Mestra: Uma visita. Apenas uma visita para ver você com os meus próprios olhos. O
Exílio do Doutor..., mas quem diria, hein? Exilado em um planeta vivo e inabitado por
civilizações. Ousado, preciso dizer.
Doutor: O que você quer de verdade? Pare de joguinhos! Eu não quero saber de sua
visita ou de seus conselhos!
Mestra: Como consegue ser tão tolo? Estou aqui, sua última pessoa. Sua última
companhia. Não seja tolo de me tratar mal pelos erros que ainda nem cometi. Não seja
tolo ao ponto de me irar e trazer de volta todo o meu orgulho. Não seja tolo ao ponto de
me enfurecer por tentar te estender a mão, nem que seja uma última vez! Não seja tolo
Doutor. Pare com esse absurdo agora e volte para a imensidão que abandonou!
Silêncio demorado.
Doutor: Um tolo. Sim, um tolo que vivia por aí salvando pessoas, sorrindo pelos cantos
e berrando lindos discursos. Houveram dor e aquele tolo as sentia, mas seguia em
frente, sempre em frente, sempre tolo. Por toda a minha vida, em sua grande parte, eu
perdoei muitos piores do que eu, mas nunca, nem por um momento passou-se por minha
cabeça, sentiu-se nesses corações que o único necessitado de perdão, era eu. Então
quando você me pergunta porque me exilei, porque me escondi neste local, neste
esquecido ponto do universo, nesse planeta esquecido, é pela vergonha! Pela vergonha
de não ter visto antes o real inimigo de todos que amei: eu, o Doutor! E hoje, hoje aqui
bem na sua frente contando estas coisas, eu percebo, sim, finalmente percebo, eu vivi
trinta e quatro regenerações, trinta e quatro rostos, sorrisos, lágrimas e mãos sujas de
sangue. Trinta e quatro regenerações e eu me arrependo de todas! Sim! Cada uma por
cada alma, cada dor e por cada adeus... eu me arrependo de todas.
Mestra (desconcertada e irônica): Acho melhor sentarmos como civilizados
Senhores do Tempo e desfrutarmos de um chá enquanto você... pira.
Transição.
Som de metais e martelos chocando-se com aço. Carros e naves cruzam caminhos
por cima da oficina, em vias aéreas. Colher em caneca.
Agath: Sabe, as vezes eu me esqueço de sentar e apreciar a beleza dos Três-Planetas.
Olha como é colorido lá em cima. Os prédios e todos aqueles carros e naves entre as
estruturas. É impressionante.
Neris: Se você acha lindo carros e naves cargueiras, precisa vir mais vezes ao Segundo.
E... o que você faz no Diário da Tríade?
Agath: Sirvo aos interesses do Conselho, é claro. Ou você acha que esse lance de
começarmos a trabalhar o aço Vórciânico é tão interessante para uma cobertura
jornalística? É propaganda política! Ainda mais depois das manifestações em prol de
uma democracia. O Conselho precisa mostrar aos povos que estamos evoluindo.
Neris: E estamos. Outro dia, li em um artigo que com o Vórciânico vamos decolar
séculos em anos! Finalmente teremos oportunidades na Cidade Baixa.
Agath: Mas as custas de quem? Esse aço não nos pertence, Neris. E por um acaso esse
artigo não seria do Diário da Tríade, seria?
Neris: É bem provável que sim.
Agath: Imaginei. Bom, podemos fazer a entrevista na forja? Preciso registrar você
forjando pelo menos alguma peça. Não me entenda mal, ordens do...
Neris: Do conselho... pensei que apenas a licença já era o suficiente, agora preciso
provar minha capacidade em vídeo?
Agath: Não é só com você. Todos nos três planetas farão. Até mesmo aqui nas oficinas
do quadrante.
Neris: Tudo bem. Melhor eu preparar um equipamento de proteção para você... e um
macacão, ficará quente lá. Uma pena esconder você, digo, é... é uma pena esconder esse
seu terninho por trás dessa velharia surrada.
Agath: Não parece uma velharia com você usando.
Neris: Ah... obrigado... é, vou pegar o macacão, fica à vontade aí!
Agath: Obrigado.
Transição.
Colher em xícara.
Mestra: Essa sua varanda possui realmente uma bela vista, preciso dizer.
Doutor: Ohana tem sido bela todos os dias.
Mestra: Como conseguiu convencer o planeta a te acolher?
Doutor: Não foi difícil. Apenas desmaterializei a TARDIS e me identifiquei. Ohana, há
muito tempo, estava sendo cobiçada por Sontarans. Realizaram uma única missão de
reconhecimento em rumo ao planeta, mas ao chegarem ao local...
Mestra: Ohana havia desaparecido... conheço a lenda.
Doutor: Exatamente. Não que ela necessitasse de ajuda, apenas alguns fenômenos
naturais dariam conta de destruir toda a civilização Sontaran, mas a TARDIS me trouxe
para cá e rapidamente, Ohana e eu resolvemos o dilema.
Mestra: E como conseguiu deslocar o planeta?
Doutor: Pensa que vou ensinar ao rato como comer do queijo sem acionar a ratoeira?
Jamais, mestra.
Mestra: Só estava tentando entender...
Doutor: Chega de suas perguntas. Como você me encontrou?
Mestra: E pensa que vou contar ao dono da casa por onde invadi sua despensa? Jamais,
Doutor.
Doutor: Chega com seus jogui...
Mestra: Você matou? Matou alguém nesse período que está vivendo?
Doutor: Não. Claro que não! Não matei pessoas... pelo menos.
Mestra: Então não está perdido ainda. Pretende se regenerar?
Doutor: O quê?
Mestra: Estou perguntando se seu declínio vai ser suficiente para encerrar sua vida.
Doutor: Eu entendi. Só não quero responder.
Mestra: Então não pretende. Tudo bem.
Mestra levanta-se. Som de passos em madeira.
Mestra: E a TARDIS, o que fará com ela depois? Inclusive está mais azul do que nunca,
querida. Por mais que ele não esteja te concedendo uma bela vida presa nessa varanda.
Sei que é uma ótima vista, mas também sei que não é a vista que quer.
Mestra arrasta a mão na TARDIS. Som robótico baixo.
Doutor: Tire suas mãos dela! Senta ou saia do planeta.
Mestra senta-se novamente. Passos sessam.
Mestra: Tudo bem, querido. Vamos direto ao ponto, o que houve?
Doutor: Não, não vou falar sobre isso.
Mestra: Tudo bem. Você sabe que tirou o pirulito da boca da criança, né? A criança é a
Terra, e o pirulito... você, é claro. Aquilo lá virou um caos. Toda aquela gente sofrendo,
desesperados sem saber se irão trabalhar e retornar para casa. Alguns ainda possuem
esperanças, outros, como você, as perderam. Você deu com uma mão e tirou com a
outra, Doutor.
Doutor: Então você quer que eu volte?
Mestra: Quero que volte a ser o homem que eu achava que conhecia! Quero que supere
tudo o que aconteceu. Vórcis jamais poderia ter sido salva!
Efeitos de ecos na última fala da Mestra “VÓRCIS JAMAIS PODERIA TER
SIDO SALVA”.
Todo som ambiente de Ohana desaparece instantaneamente. Efeito de sonho (ecos)
nas vozes dos personagens.
Sacha: Doutor!
Keva: É tarde demais.
Helen: Eu te amo!
Tiros de laser, explosões e gritos.
Respiração acelerada.
Som da energia regenerativa do Doutor.
Trigésimo terceiro Doutor chorando.
Trigésimo Terceiro: Não! NÃO! NÃÃÃÃÃO!
Som de regeneração atinge o ápice.
Mestra: Doutor? Doutor, querido, aonde você foi?
Doutor: Como sabe de Vórcis?
Mestra: O quê?
Doutor se levanta e agarra pescoço da mestra.
Mestra se engasga.
Doutor: Diga! Diga agora! Como sabe de Vórcis?! Como sabe que não poderia ter sido
salva. Como sabe? CONTA! Conta! Conta ou eu vou te...
Mestra (tentando falar enforcada): O que... você... se tornou?
Doutor solta a mestra.
Mestre tosse e respira intensivamente.
Doutor: Saia! Saia daqui agora!
Mestra: Não precisa ser assim.
Doutor: Ohana!
Trovoadas e raios são escutados ao fundo. Cada vez mais intensa, a tempestade soa
perigosa e assustadora. Todo o som, que antes era ventos e pássaros, torna-se em
uma tempestade torrencial.
Doutor: Você vai embora ou eu encerro todo o seu futuro, mesmo que isso cause
trilhões de paradoxos!
Mestra: Olhe para você. Olhe o que você se tornou!
Doutor: Pessoas como você me transformaram em quem sou hoje. Acabou a conversa.
Vai EMBORA!
Mestra: Tudo bem. Tudo bem.
Doutor: Ohana está de olho em você, caso tente algo! Agora suma daqui!
Mestra: Nos veremos de novo, Doutor. Lembre-se deste rosto.
Doutor: Sai!
Transição.
Neris: O que eu acho sobre as pesquisas feitas sobre o aço? Acho incríveis. São elas
quem irão impulsionar toda a evolução do uso do aço. Fiquei sabendo que há na
Universidade Imperial do Planeta Um, um laboratório que está estudando pílulas
compostas de nano Aço Vórciânico, o que iria ser revolucionário. No futuro, teríamos o
aço em nosso organismo. O estudo foca em conseguir fazer com que as pessoas
consigam gerar armaduras em seu corpo apenas por uma ordem mental do usuário.
Agath: Mas isso não seria ruim para a sua profissão?
Neris: Não. Eles não podem estudar se não fundirmos. Precisam dos nossos braços para
realizarem suas delicadezas cientificas.
Agath: Você pode me explicar o que vai fazer agora?
Neris: Ah é claro. Bom, depois de passar pela forja automática, esse procedimento é
realizado dentro daquela torre ali ó, por um sistema controlado por mim aqui neste
computador. Bem, depois da forja o aço precisa ser temperável em água quase
congelada. Vou solta-lo neste poço que possui 40 metros de profundidade, já que nesta
oficina também forjamos para a Força Aérea Imperial. Você vai querer ficar longe, isso
aqui está prestes a esquentar um pouco.
Som de maquinário e bips de alertas. Som de água resfriando aço em brasa.
Neris (gritando): E então, deixamos aí por um tempo, ou resfriamos mais o poço! O aço
precisa de extremos. Do mais quente ao mais frio!
Agath: Não é como se eu estivesse ouvindo a mesma explicação pela nona vez, é bem
legal assistir você explicando. Dá para notar o amor nos seus olhos!
Neris: Forjar para mim sempre foi o significado da minha vida. O calor, o som do aço
sendo forjado e, bom, o melhor: o resultado. Toda peça, minúscula ou desta proporção
que você está vendo, é a prova de que meu pai me forjou na mulher que sou. É a prova
de que ele fez um ótimo trabalho.
Agath: Eu concordo com você, o trabalho dele foi ótimo.
Neris: Ah... é, obrigado! Bom, você vai querer registrar essa imagem isso pela nona vez.
Vou retirar aço. Deixaria por mais tempo, mas você precisa cobrir todas as oficinas do
quadrante e eu...
Agath: Eu tenho tempo. Não se preocupe, deixe a peça esfriar mais e enquanto isso, me
conta mais sobre seu pai.
Neris: Certo... tudo bem. Ele se chamava Utih Metroza. Conheceu a minha mãe em um
bar. Ele se vangloriava por seus últimos trabalhos na forja quando ela o desmentiu na
frente dos amigos. O nome de solteira dela era Uguf Reita, e ela se apresentou como
“Uguf, a melhor ferreira do império”, e então eles foram a oficina e...
Voz de Neris desaparece aos poucos juntamente com a trilha.
Transição.
Transição.
Transição.
Transição.